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6º Encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) Área temática: Política Externa Brasileira A Odebrecht na Política Externa Brasileira: Antes e Durante a Lava Jato Patrícia Mara Cabral de Vasconcellos - Universidade Federal de Rondônia (UNIR). De 25 a 28 de julho de 2017. PUC Minas - Belo Horizonte, MG (Campus Coração Eucarístico)

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6º Encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Área temática: Política Externa Brasileira

A Odebrecht na Política Externa Brasileira:

Antes e Durante a Lava Jato

Patrícia Mara Cabral de Vasconcellos - Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

De 25 a 28 de julho de 2017.

PUC Minas - Belo Horizonte, MG (Campus Coração Eucarístico)

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A Odebrecht na Política Externa Brasileira: Antes e Durante a Lava Jato.

Patrícia Mara Cabral de Vasconcellos1

Resumo: O artigo tem por objetivo analisar o papel da Odebrecht na política externa Brasileira na América do Sul, no período de 2003 a 2014, portanto antes da disseminação do conteúdo das investigações da Lava Jato, e, também no período posterior, em especial, os anos de 2015 e 2016, com as repercussões das delações premiadas. As construtoras brasileiras ocuparam um lugar de destaque na Política Externa Brasileira, em especial, no governo Lula, sendo agentes de promoção e execução das obras de infraestrutura, com financiamentos do BNDES, no processo de integração sul-americana. Os discursos do governo brasileiro aliavam o apoio à exportação de serviços de empresas brasileiras e uma maior integração entre os povos. A ideia se materializava através da Integração Infraestrutura Sul americana (IIrsa), em grande parte com capital brasileiro. Para além, havia discursos do próprio presidente em favor das grandes construtoras, bem como a transmissão de uma imagem do Brasil Potência, tanto em capital, quanto em tecnologia. A Odebrecht, neste caso, era a construtora com maior valor de financiamento concedido pelo BNDES, segundo dados do Banco, no período de 2009 a 2013, e a empresa com maior atuação na América do Sul, comparada com Andrade Gutierrez, Camargo Correa, OAS, Mendes Jr. Com a repercussão da Lava-Jato nota-se como consequência imediata uma perda da capacidade de liderança do Brasil, deixando o país de ser referência em capacidade política, de capital e de agentes na condução do processo de integração de infraestrutura, por uma imagem marcada por corrupção e obras de má qualidade. Com isso, conclui-se que entre o antes e o durante a Lava Jato, há um impacto não somente do ponto de vista econômico e na perspectiva das empresas, mas também, um reverso no processo de integração sul americano e da própria imagem do Brasil e de sua diplomacia.

Palavras-chave: Brasil, Odebrecht, Política Externa.

1 Docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia. Membro da

Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo. Vice-coordenadora do Laboratório Amazônico de Estudos em América Latina (LabLat). E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

As construtoras brasileiras ocuparam um lugar de destaque na política externa

brasileira, em especial, no governo Lula, transformando-se em agentes de promoção e

execução das obras de infraestrutura, com financiamentos do BNDES, no processo de

integração sul-americana. Os discursos do governo brasileiro aliavam o apoio à

exportação de serviços de empresas brasileiras e uma maior integração entre os povos. A

ideia se materializava através da Integração Infraestrutura Sul americana (IIrsa), em

grande parte com capital brasileiro. Para além, havia discursos do próprio presidente em

favor das grandes construtoras, bem como a transmissão de uma imagem do Brasil

potência, tanto em capital, quanto em tecnologia.

Com a repercussão da operação Lava Jato e consequente prisão preventiva do

presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em 19 de junho de 2015, condenado em 8

de março de 2016 pelo juiz Sérgio Moro a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção,

lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa2, abre-se uma lacuna entre o

discurso do Brasil potência e a realidade do Brasil em crise econômica e ética. Assim, as

implicações de ordem interna refletem na política externa. Afinal, como poderia a maior

empresa de engenharia brasileira, condenada na Justiça, com seu presidente preso, estar

ao lado dos discursos brasileiros de promoção de desenvolvimento e integração?...

Em dezembro de 2016, a Odebrecht, em uma espécie de acordo de leniência,

confessou o pagamento de propina a agentes públicos de doze países, entre eles

Argentina, Equador, Peru e Venezuela. Em 17 de abril de 2017, em sentença proferida

nos Estados Unidos, a empresa foi condenada a pagar US$ 2,6 bi em multas3. Na fase

mais recente da Operação Lava Jato, a partir de 2017, há a investigação sobre a

concessão e as garantias dadas para a obtenção de financiamento pelo Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Dado o contexto, tem-se o intuito de analisar o papel da Odebrecht na política

externa brasileira na América do Sul, no período de 2003 a 2014, portanto antes da

2 A sentença refere-se a contratos para obras do Programa de Aceleração do Crescimento, em

especial, as propinas nas obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), da refinaria Abreu e Lima (Rnest, PE) e da refinaria Getúlio Vargas (Repar, PR). BERGAMO, Mônica; ROCHA, Graciliano. Marcelo Odebrecht é condenado a 19 anos e 4 meses de prisão. São Paulo. Folha de S.Paulo. 08/03/2016. Disponível em:‹http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1747575-marcelo-odebrecht-e-condenado-a-19-anos-e-4-meses-de-prisao.shtml›. Acesso em: 20 mai. 2017. 3 BARROCAL, André. Delação da Odebrecht nos Estados Unidos sacode a América Latina.

Carta Capital, 04/02/2017. Disponível em: ‹ https://www.cartacapital.com.br/internacional/delacao-da-odebrecht-nos-eua-sacode-a-america-latina›. Acesso em: 19 mai. 2017.

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disseminação do conteúdo das investigações da Lava Jato e também no período

posterior, em especial, os anos de 2015 e 2016, com as repercussões das delações

premiadas. A análise divide-se em três partes.

Na primeira parte, apresenta-se como o governo Lula enfatizou o processo de

integração sul-americano e qual foi a centralidade da estratégia de promoção da

internacionalização das empresas brasileiras. Demonstra-se como a conjuntura

promovida pela IIRSA juntamente com o propósito brasileiro de criar empresas

estratégicas confluíram para a expansão da atuação das empresas brasileiras da América

do Sul, em especial as construtoras.

No segundo momento, examina-se como se deu a expansão da Odebrecht nos

países da América do Sul, no período de 2003 a 2014. Indica-se quais foram os países

com maior atuação da empresa e para quais obras foram obtidos recursos através do

BNDES na linha pós-embarque. Assim, traça-se um panorama sobre pontos

emblemáticos da atuação da empresa e os principais atores políticos envolvidos. Do

ponto de vista da política externa, salientam-se possíveis impactos nas relações bilaterais

do Brasil com os seus vizinhos.

Na terceira parte, dedica-se a compreender a abrangência e fundamentos da

operação Lava Jato e, em consequência, sua implicação para a configuração das

diretrizes da política externa brasileira. Com a repercussão das investigações nota-se,

como consequência imediata, uma perda da capacidade de liderança do Brasil, deixando

de ser o país de referência em capacidade política, de capital e de agentes na condução

do processo de integração de infraestrutura.

Com isso, conclui-se que entre o antes e o durante a Lava Jato, há um impacto

não somente do ponto de vista econômico e na perspectiva das empresas, mas também,

um reverso no processo de integração sul-americano e da própria imagem do Brasil e de

sua diplomacia.

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INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL E INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

BRASILEIRAS.

De forma recorrente, a América do Sul é dita como prioridade para a política

externa brasileira (PEB). No entanto, como ressaltam os autores Almeida, 2004; Santos,

2014; Cervo e Lessa, 2014; Cornetet, 2014, durante o governo Lula, a região, para além

do discurso retórico, foi contemplada com ações e dedicação política do presidente no

intuito de fomentar a estratégia de integração regional. Durante o governo Lula,

reformulam-se as diretrizes da PEB aliando-as ao paradigma novo-desenvolvimentista, no

qual a internacionalização das empresas brasileiras é um elemento-chave. Desse modo,

como um componente de desenvolvimento para o Brasil e seu entorno, há um elo entre a

política externa promovida a partir de 2002 e a promoção de uma política com o objetivo

de incentivar a criação de empresas estratégicas que atuem no mercado externo.

A percepção sobre o papel das empresas transnacionais no desenvolvimento e na

política externa é questão controversa que perpassa a discussão sobre o Estado e o país

anfitrião na dicotomia entre dominantes e explorados. Na atualidade, pode-se aferir que a

visão sobre a atuação das transnacionais transformou-se, mas que contradições

permanecem pautadas em perspectiva histórica (Bresser-Pereira, 1978). Contudo, nos

últimos quinze anos, aprimora-se na política interna brasileira a visão de que a

internacionalização é um fator-chave para o desenvolvimento e a inserção no mercado

mundial. Uma visão que não carrega os aspectos negativos de exploração capitalista.

Esta é uma nova fase, uma “nova internacionalização” (Evans, 2007).

Um diferencial do governo Lula e de sua política externa foi, portanto, o fomento

mais explícito da defesa das transnacionais brasileiras e o incentivo ao mercado externo

(Menezes, 2010). Para além da defesa teórica, para Cervo (2009), foi no governo Lula

que a conjuntura e as condições estruturais foram propícias para a política de

internacionalização de empresas. Naquele momento, segundo o autor, três condições

estavam presentes: empresas capacitadas e competitivas, empresas com habilidades

gerenciais e know-how e por fim, o apoio do Estado.

Assim, visualiza-se que dois fatos ocorrem em paralelo. De um lado, a

intensificação na agenda do governo Lula dos processos de integração da América do

Sul. De outro, o apoio governamental centrado em linhas de financiamento do BNDES e

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na aprovação de uma política industrial condizente com a estratégia de direcionamento ao

mercado externo com a escolha de setores e empresas estratégicas.

A relação entre as construtoras brasileiras e o Estado brasileiro alinhou-se na

conjuntura expressa pela IIRSA e pela responsabilidade do Brasil em conduzir o

processo. Assim, o Brasil tomava atitudes que o colocavam na figura de líder do

desenvolvimento regional da América do Sul (Santos, 2014), enquanto as empresas

transnacionais (grandes construtoras) demonstravam-se capacitadas para atuarem no

mercado externo e serem agentes ou instrumentos na consecução do interesse brasileiro.

Em 2013, a Fundação Dom Cabral (FDC) realizou uma pesquisa com o intuito de

apreender o quanto as empresas percebiam o impacto das diretrizes da PEB no processo

de internacionalização. Dentre os impactos citados, está o fato de o governo buscar a

integração bilateral e a integração sul-americana. Este é o aspecto, segundo 39,68% das

empresas participantes da pesquisa, que mais favoreceu a internacionalização das

multinacionais nos últimos 10 anos (FDC, 2013).Evidencia-se, assim, a disposição do

governo em suas relações político-diplomáticas e não somente em financiamentos

No que se refere aos recursos disponibilizados pelo BNDES, o gráfico a seguir

demonstra a evolução dos desembolsos da linha BNDES Pós-embarque das exportações

para as obras de infraestrutura na América do Sul, no período de 1998 a 2016.

Gráfico 1: Desembolsos do BNDES Pós-embarque: obras de infraestrutura na América do Sul.

Fonte: BNDES – Central de Downloads (adaptado)

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Nota-se um aumento dos valores do desembolso a partir de 2004, com queda do

valor em 2006; provavelmente em decorrência de ser um ano eleitoral, atingindo o valor

mais alto em 2011 e declínio a partir de 2013. Em especial, em 2016, nota-se que não

houve desembolsos, o que já é consequência da crise econômica interna e das

condenações da Lava Jato, tendo em vista que todas as grandes empreiteiras brasileiras

estão envolvidas e, portanto, tornaram-se inaptas aos negócios com o poder público.

O interesse do governo brasileiro em contribuir para a superação dos gargalos da

infraestrutura na América do Sul residiu no objetivo de integrar os mercados, promover

novas rotas para as mercadorias, ou seja, incrementar o seu comércio externo e,

consequentemente, fortalecer o seu entorno regional. Santos (2014) ao analisar os

discursos do governo Lula para a América do Sul relata o reconhecimento das assimetrias

regionais e a disposição em colaborar para superá-las. Priorizar a América do Sul para o

Brasil era uma forma de motivar o desenvolvimento e buscar uma nova inserção no

sistema internacional.

Avaliando a ponta do iceberg e não o seu mundo submerso, demonstra-se a

elaboração positiva de uma proposta conjunta de superação de desigualdades

econômicas aliada, no caso brasileiro, a uma parceria com empresas que se

configuravam como capacitadas para colaborar com a execução da proposta. As

justificativas para esta aliança residiam na possibilidade de exportação de produtos de

maior valor agregado como é o caso dos serviços de engenharia e no mérito de ser um

setor intensivo em conhecimento e capaz de colaborar com o desenvolvimento dos países

(Mazzolo;Oliveira Jr; Gião).

Contudo, ainda que o discurso econômico-comercial de cooperação e integração

perpasse a ideia de uma política solidária e humana, também se refere a uma disputa de

poder que envolve acesso a mercados, vantagens econômicas e influência em foros

multilaterais. Nota-se que quando se elencam os pontos positivos da expansão das

transnacionais, dentre os fatores apontados estão o acesso aos mercados, o estímulo às

relações bilaterais, o aumento do poder de barganha e de conhecimento, bem como a

promoção do soft power (Ricupero, Barreto, 2007; Coelho, Oliveira, 2016; Gilpin, 2002).

A política externa e o apoio à internacionalização das empresas são aspectos em

constante construção e reformulação. Diversas críticas foram impostas ao modelo

proposto, independente das revelações da Lava Jato, como a escolha dos setores

estratégicos, o privilégio concedido aos grandes conglomerados e a ausência de

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transparência entre os setores públicos e privados (Garcia, 2011; Almeida, 2009).

Todavia, houve no governo Lula uma centralidade na promoção da internacionalização de

empresas. A Odebrecht como a maior empresa de engenheira brasileira ocupou um lugar

de destaque e expandiu os seus negócios. A América do Sul, ao lado da África, foi o

mercado e o palco político do enlace do Brasil com as construtoras.

A ODEBRECHT NA AMÉRICA DO SUL DE 2003 A 2014.

As atuais grandes empresas de engenharia brasileiras foram fundadas na década

de 40 e 50. A primeira delas, a Camargo Corrêa, teve origem em Jaú, São Paulo, em

1939. Em seguida, a Odebrecht foi fundada em 1944, em Salvador, Bahia. Em 1948, a

Andrade Gutierrez e, em 1953, a Mendes Júnior e a Queiroz Galvão.

Quanto ao processo de internacionalização, as empresas de engenharia

brasileiras iniciaram suas atividades na década de 1970. A empresa Mendes Júnior foi a

primeira a exercer atividades no exterior, construindo a hidrelétrica de Santa Isabel, na

Bolívia, em 1969. A Odebrecht inicia a sua internacionalização na América do Sul

construindo em 1979 a hidrelétrica de Charcani V, em Arequipa, Peru.

Nas duas últimas décadas, a Odebrecht consolidava-se como a maior empreiteira

do país. Em 2013, a empresa foi eleita pelo décimo sétimo ano consecutivo a primeira

colocada no ranking da engenharia brasileira, segundo a revista “O Empreiteiro”4. Em

2014, a FDC anunciava que a construtora Odebrecht era a 1ª colocada no Ranking FDC

das Multinacionais Brasileiras. Este quadro altera-se em 2015 quando o presidente da

empresa, Marcelo Odebrecht é preso, em 19 de junho, acusado de corrupção.

O grupo Odebrecht tem presença em 24 países além do Brasil, com 128 mil

integrantes de 80 nacionalidades (Odebrecht-site). Na América do Sul é a construtora

brasileira com maior número de obras. Em termos comparativos, no período de 1978 a

2013, a Camargo Corrêa possuía 19 obras ou contratos em andamento, a Andrade

Gutierrez, 14 e a Odebrecht 108 obras ou contratos em andamento (Vasconcellos, 2015).

Um número em média cinco vezes maior que das outras duas empresas brasileiras. No

período, a Odebrecht executou obras no Chile, Argentina, Equador, Colômbia, Bolívia,

Peru, Uruguai e Paraguai.

4 Ranking 500 Grandes da Construção – 2013. Fonte: Revista "O Empreiteiro" - Julho de 2013. Elaboração:

Banco de Dados-CBIC. Disponível em: ˂http://cbic.org.br/˃. Acesso em: 10 jan. 2014.

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A diplomacia e a política de exportação de serviços do BNDES contribuíram para a

atuação da Odebrecht na América do Sul a partir de 2002. Contudo, mensurar o quanto

da expansão dos negócios ocorreu tendo como fator preponderante o apoio

governamental e o quanto pela capacidade da própria empresa é uma variável difícil de

afirmar. Uma tendência pode ser avaliada através dos desembolsos do BNDES para a

empresa quanto ao país destino. Na linha Pós-Embarque do BNDES, no período de 2002

a 2015, a Odebrecht teve 13 contratos aprovados em três países Argentina, Equador e

Venezuela, conforme tabela a seguir:

Tabela 1: Odebrecht: BNDES – Pós-Embarque, período de 2002 a 2015.

País Obra Ano da contratação

Venezuela

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS PARA A CONSTRUCAO DO TRECHO EL VALLE-LA RINCONADA, COM 6,2 KM DE EXTENSAO, 3 ESTAÇÕES E 1 INTERCÂMBIO INTERMODAL, INTEGRANTE DA LINHA 3 DO METRÔ DE CARACAS/VENEZUELA.

2004

Venezuela

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DESTINADOS A CONSTRUCAO DA LINHA II DO METRO DE LOS TEQUES, NA VENEZUELA, COM 12 KM DE EXTENSAO E 6 ESTACOES EM SEU PERCURSO.

2009

Venezuela EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DESTINADOS A CONSTRUCAO DA LINHA V DO METRO DE CARACAS, NA VENEZUELA.

2009

Venezuela EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DESTINADOS À CONSTRUÇÃO DA LINHA 5 DO METRÔ DE CARACAS 2015

Venezuela EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DESTINADOS À CONSTRUÇÃO DA LINHA 2 DO METRÔ DE LOS TEQUES 2015

Equador

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS PARA A CONSTRUCAO DA USINA HIDROELETRICA (UHE) MANDURIACU, COM CAPACIDADE INSTALADA DE 60 MW, LOCALIZADA NA BACIA HIDROGRAFICA DO RIO GUAYLLABAMBA NO CENTRO-NORTE DO EQUADOR.

2012

Equador

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE PARA O PROJETO DE IRRIGACAO TRASVASE DAULE VINCES PARA OTIMIZAR O APROVEITAMENTO DOS RECURSOS HIDRICOS PROXIMOS AO RIO DAULE.

2013

Argentina EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DESTINADOS A AMPLIAÇAO DA CAPACIDADE DE TRANSPORTE DO GASODUTO GENERAL SAN MARTIN.

2005

Argentina

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DESTINADOS ·A AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE DE TRANSPORTE DA REDE DE GASODUTOS TRONCAIS DE TGS E TGN, NA ARGENTINA.

2007

Argentina

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS PARA EXPANSÃO DA CAPACIDADE DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL DAS MALHAS DOS GASODUTOS OPERADOS POR TGS E TGN, A SER IMPLEMENTADO PELA DISTRIBUIDORA CAMMESA.

2007

Argentina

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA PARA CONSTRUÇÃO DA PLANTA DE TRATAMENTO E DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DE PARANÁ DE LAS PALMAS, NA REPÚBLICA DA ARGENTINA.

2010

Argentina EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA AO NOVO PROJETO DE AMPLIACAO DO GASODUTO SAN MARTIN, EM OPERACAO PELA CONCESSIONARIA TGS.

2011

Argentina

EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA PARA O PROJETO, DENOMINADO ADEQUAÇÕES DE CAMMESA MÓDULO III, DE AMPLIAÇÃO DO GASODUTO SAN MARTÍN, NA REPÚBLICA DA ARGENTINA.

2012

Fonte: Elaboração Própria com base em BNDES.

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A tabela 1 suscita questionamentos sobre a prevalência dos três países para

exportação de serviços. Seriam os instrumentos de apoio do governo direcionados a

determinados países, facilitando o acesso a esses mercados? Há uma prioridade das

obras nesses países por parte do Brasil? Em que medida o mercado foi conquistado

somente pela construtora sem qualquer forma de apoio? Uma hipótese é que há uma

dificuldade nos países para os quais houve o desembolso do BNDES de outras formas de

financiamento, fazendo dos recursos do Banco a alternativa possível.

Por parte do Estado brasileiro, há um interesse na América do Sul como um todo,

como já demonstrado, contudo, a aproximação das construtoras responde a uma

demanda e a uma conjuntura na qual estão inseridos os mecanismos públicos de

promoção da internacionalização. A tabela acima poderia indicar, por exemplo, uma

prioridade de estreitamento das relações bilaterais do Brasil com esses três países.

A primeira etapa de expansão do gasoduto de San Martin, inaugurado em 12 de

julho 2005, representa a primeira obra concluída na Argentina com a utilização de

recursos do BNDES. No caso do gasoduto de San Martin, o valor comprometido pelo

BNDES foi adiantado pela Petrobras. Em telegrama diplomático, expressou-se a

importância desse financiamento para o fortalecimento da relação bilateral. Assim, afirma-

se no documento “a presença da Petrobras na Argentina e essa obra são provas de que a

relação subiu a um novo patamar de qualidade e complexidade, que relativiza ainda mais

os conflitos pontuais que marcam a relação bilateral” (Brasemb Buenos Aires para

exteriores em 14/07/20055).

Mais do que a atuação com respaldo da linha de financiamento do BNDES na

Argentina, Venezuela e Equador, a ausência de financiamentos para obras no Peru, país

no qual a atuação da Odebrecht é constante desde a década de 90, pode revelar

mecanismos de expansão para além da participação do governo brasileiro. Neste caso, a

política do BNDES de oferecer financiamento para a exportação de serviços de

engenharia não teria sido um diferencial para a atuação no país, entretanto, a

aproximação Brasil-Peru fez-se por meio dos projetos de integração viabilizados a partir

de 2002. Na diplomacia, como exemplo, em especial a partir de 2006, o intercâmbio de

visitas de presidentes (sete encontros entre os presidentes no período de 2006 a 2010) é

um indicativo da aproximação.

5 Correspondência Diplomática. Brasemb Buenos Aires para exteriores em 14/07/2005. Fonte: Arquivos do

Itamaraty.

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A atuação das empreiteiras brasileiras na América do Sul não ocorreu sem

denúncias de obras de má qualidade ou pagamentos de propinas. A Odebrecht teria

reconhecido o pagamento de US$ 29 mi em propinas, entre os anos de 2005 a 2014, para

agentes públicos peruanos para ganhar as licitações. Estas, portanto, teriam ocorrido nos

governos de Alejandro Toledo, Alan García e Ollanta Humala. O ex-presidente Alejandro

Toledo, por exemplo, teria recebido R$62 mi para conciliar os interesses na construção da

Rodovia Interoceânica6. Durante o governo Ollanta Humala (2011-2016) foram 12 obras

realizadas e que estão em investigação.

As investigações da Lava Jato implicaram em 2016 na suspensão dos

desembolsos do Banco. Foram suspensos 25 contratos em andamento de cinco

construtoras brasileiras – Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e

Camargo Corrêa - em 9 países da América Latina e África (BNDES-site). A suspensão foi

pautada em uma consulta à Advocacia Geral da União (AGU) que recomendou a

reanálise do crédito, considerando o avanço da obra, o risco e a legalidade do crédito. Na

América do Sul foram suspensas obras de dois países: Argentina e Venezuela.

Denota-se que, com uma expansão expressiva e com uma atuação contestada, a

Odebrecht, com apoio explícito ou implícito do governo brasileiro, tornou-se o ator central

nos impactos da Lava Jato nas relações do Brasil com seus países vizinhos.

A OPERAÇÃO LAVA JATO: UMA CRISE INTERNA COM DERIVAÇÕES NA POLÍTICA

EXTERNA.

A Operação Lava Jato, de acordo com o Ministério Público Federal, é uma

investigação, iniciada a partir de março de 2014, sobre a corrupção e a lavagem de

dinheiro envolvendo desvios de recursos da Petrobras. No esquema, as empreiteiras

brasileiras organizavam-se em cartéis ou “clube” das construtoras que distribuíam, como

um jogo, os contratos entre si e pagavam propinas a representantes públicos. Ao

explicitar no que consiste a Lava Jato, o Ministério Público Federal afirma:

6 TOLA, Raúl. Após caso Odebrecht, Peru estabelece que corrupção grave não prescreverá. El País, 03/03/

2017. Disponível em: ‹http://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/02/internacional/1488479220_991501.html›. Acesso em 25 abr. 2017.

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Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa. (Lava Jato - site)

Em novembro de 2014, quando as principais construtoras brasileiras tiveram o seu

nome citado no escândalo de corrupção da Petrobras, em sua defesa, elas alegaram que

eram reféns dos agentes públicos, que para a liberação de recursos aditivos decorrentes

de necessidades surgidas durante a execução da obra (contratada legalmente através de

licitação), era exigido o pagamento de propina. Caso as empresas não se submetessem à

“exigência” dos agentes públicos poderiam ter o pagamento postergado por um tempo

inviável para o fluxo de caixa da empresa ou mesmo não receberem o recurso, o que as

deixaria com um rombo orçamentário. O vice-presidente da Mendes Jr, Sérgio Cunha

Mendes, é um dos empresários que, preso durante a operação Lava-Jato em 17 de

novembro de 2014, apresentava esta fala em sua defesa (Valor, 17/11/20147).

Em 2010, Marcelo Odebrecht, em entrevista ao Estadão, ponderava sobre a

cultura de desconfiança presente na sociedade brasileira na relação da empresa com o

governo. Reafirmava que a Odebrecht era a maior empresa de engenharia do país e, em

decorrência, seria natural e por mérito o seu vínculo com o governo, no caso com a

Petrobras. Assim, haveria uma falácia e um fator prejudicial na visão de desconfiança que

se estabelecia o que poderia afastar as empresas privadas das negociações públicas na

tentativa de proteger sua imagem. A fala de Marcelo Odebrecht ocultava, certamente, o

caráter ilícito e ilegítimo de uma aproximação entre o público e privado.

Das 39 pessoas denunciadas na primeira ação da Lava Jato, 25 eram

relacionadas a empreiteiras. Em agosto de 2016, na fase da operação denominada

“Resta Um”, o foco das investigações foi a construtora Queiroz Galvão. O nome atribuído

à ação da Polícia Federal foi uma alusão ao cartel das empresas sendo a Queiroz Galvão

a última que faltava ser apreendida (Estadão, Infográficos Lava Jato). Em 2016, a Queiroz

Galvão também é a única, ou última, das grandes empreiteiras a receber financiamento

pelo BNDES na linha pós-embarque. Nos anos anteriores, 2014 e 2015, os desembolsos

ainda foram concedidos para a Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS (BNDES – site).

7 Lava Jato: saiba quem são os alvos da PF. Valor, 14/11/2014. Disponível em:

˂http://www.cartacapital.com.br/politica/lava-jato-saiba-quem-sao-os-alvos-da-pf-2834.html˃. Acesso em 16

nov. 2014.

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De toda forma, pela perspectiva do Brasil, de promoção das empresas via

financiamento do BNDES nota-se de imediato uma consequência que é a ausência de

empresas de grande porte, capacitadas, com know-how, tais como descritas por Cervo

(2009) e, sobretudo, que não estejam condenadas em processos de corrupção para

apresentarem os projetos a serem financiados pelo Banco. De certo modo, isto trava a

iniciativa brasileira de integração de infraestrutura regional sul-americana. Adicionalmente,

autores como Cervo e Lessa (2014) e Saraiva (2014) visualizavam, durante o governo

Dilma, a diminuição da capacidade do Estado brasileiro em arcar com os custos da

integração. A crise financeira indicava que a liderança do Brasil estava no seu exercício

limite. Consequentemente, com a lacuna dos agentes executores, com recursos escassos

e com a imagem abalada, o discurso integracionista na América do Sul é proferido no

vazio.

Em janeiro de 2017, o BNDES retomou os financiamentos da carteira de

exportação de bens e serviços de engenharia e construção que haviam sido suspensos.

O financiamento foi concedido a Queiroz Galvão para a construção do Corredor Logístico

que liga Puente San Juan I a Goascorán, em Honduras (BNDES – site). Entretanto, há

uma tendência para a diminuição de concessão a novos desembolsos. Em 2016, o diretor

da área de comércio exterior do Banco, Ricardo Ramos, estimava que poderia não haver

exportação de serviços de engenharia, até 2018 ou 2019, em decorrência do

envolvimento das empreiteiras na Lava Jato (Agência Brasil, 11/10/20168). Além disso, o

BNDES tornou o sistema de concessão de crédito mais rígido. Uma das mudanças

impostas para a concessão dos financiamentos foi que antes o BNDES não avaliava a

obra em sua totalidade, mas somente a parte para a qual era solicitado o crédito. Agora,

há uma avaliação sobre o custo total da obra e sua viabilidade.

Em termos de mercado e de equilíbrio na balança de pagamentos, a lacuna

deixada pelas empreiteiras brasileiras no mercado externo também produz impactos.

Santos (2006) avalia que além da expressividade no PIB, o setor de serviços, em especial

o de engenharia, é um dos poucos setores que geravam superávit na balança de

pagamentos. A tendência é também de alteração neste cenário.

Somando-se aos aspectos econômicos, dissemina-se uma imagem negativa do

Brasil perante os demais países, como reflexo da apuração da corrupção cometida pelas

8 GANDRA, Alana. BNDES suspende financiamentos a empreiteiras investigadas pela Lava

Jato. Disponível em: ‹http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-10/bndes-endurece-criterios-para-apoio-exportacao-de-servicos-de-engenharia›. Acesso em 20 mai. 2017.

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empreiteiras brasileiras no Brasil e no exterior. Como exemplo, divulga-se que o Brasil

“deixou de ser o subcontinente do século XXI para se tornar uma vergonha escondida”9

Cabe destacar que antes das investigações da Lava Jato, o Brasil já sofria críticas,

em especial, por parte de movimentos sociais dos países vizinhos, de promover uma

política imperialista através de suas transnacionais. Assim, no discurso haveria uma

política terceiro-mundista, mas, na prática, o Brasil disseminava uma política capitalista-

imperialista. Visão que é reforçada após apurações da Lava Jato.

Não há duvidas que o Brasil perde prestígio. Em um contexto pós-Lava Jato

aponta-se que o país pode voltar a ter um protagonismo positivo na América do Sul se

conseguir ser um exemplo de política de combate à corrupção. Nestes termos, Stuenkel,

em artigo publicado no El País10, afirma que a crise poderia ser um momento para

fortalecer as instituições democráticas, fazendo do combate à corrupção um lema da

política externa. Assim, a Lava Jato seria um ponto de reflexão na governança econômica

e na relação dos agentes privados e públicos. Esta é a mesma alternativa apontada por

Spektor, em coluna da Folha de São Paulo11, para a qual o Brasil deveria reforçar os

compromissos internacionais de pró-transparência e anticorrupção. Enfim, ser o país de

combate à corrupção: um lema simples de difícil execução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

De fato, a relação do Brasil com os grandes conglomerados da construção é

comprometedora ao unir interesses privados na ilicitude dos agentes públicos. Ainda

assim, em essência, não se trata de não impulsionar a internacionalização das empresas

brasileiras, de não financiar obras nos países vizinhos, mas de ter clareza quanto ao seu

9 NAVALÓN, Antonio. Empreiteira é um vírus que ameaça eliminar grande parte da classe

política da América Latina. El país. 30 jan 2017. Disponível em:

‹http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/29/opinion/1485727865_995165.html?rel=mas›Acesso em: 20 mai. 2017. 10

STUENKEL, Oliver. Política externa é peça-chave para futuro do combate à corrupção no Brasil. Disponível em:

‹http://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/13/opinion/1489439674_745413.html› Acesso em: 15 mai. 2017. 11

SPEKTOR, Mathias. Roubalheira contaminou a política externa, mas há espaço para mudança. Folha de S. Paulo, 20/04/2017. Disponível em: ‹http://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2017/04/1877062-roubalheira-contaminou-a-politica-externa-mas-ha-espaco-para-mudanca.shtml›. Acesso em: 25 abr. 2017.

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papel de Estado que defende a transparência, a autonomia dos povos e uma gestão com

oportunidades para diversos setores e empresas.

Não há como negar que a Operação Lava Jato ultrapassou as fronteiras. A

ausência de respostas diplomáticas e jurídicas aos países que se veem infiltrados nessa

rede de corrupção agrava a posição do Brasil, de tal forma, que não é possível mensurar,

no momento, o quanto isto afetará outras empresas, outros setores e a própria proposta

de desenvolvimento do Brasil para a América do Sul e de seu modelo de inserção

internacional.

Há pelo menos dois pontos que merecem destaque: primeiro, a percepção

negativa que envolve a relação público-privada do governo com as empresas no sentido

de que há um favorecimento em prol de um grupo restrito e, segundo, considerações que

apontam para denúncias de corrupção, superfaturamento e desrespeito às normas

ambientais que seriam, por força do forte vínculo entre empresas-Estado,

desconsideradas pelos agentes públicos. Complementarmente, a relação do governo

brasileiro com a Odebrecht suscita dúvidas sobre o quão contaminado está o sistema

público-privado.

Se há uma hierarquia na divisão de trabalho internacional em que as empresas

transnacionais configuram o lugar que será ocupado pelo país, qual é o lugar do Brasil? A

conjuntura da Lava Jato testa as qualidades de liderança do país. Qual o peso do

desprestígio da política brasileira? Como retomar a transparência e a confiança nas

relações públicas e internacionais?

A América do Sul desmembra-se nas relações intermediadas por Odebrecht e

demais empreiteiras brasileiras. Sofre um reverso no processo de integração regional.

Impacto semelhante deve ser sentido nas relações do Brasil com a África. A política

externa do Brasil para o continente pauta-se nas mesmas premissas de fomento das

relações Sul-Sul, superação das desigualdades e apoio ao desenvolvimento. Neste

sentido, a exportação de serviços de engenharia e a atuação da Odebrecht encontraram a

conjuntura e o discurso político propício à sua atuação. A Odebrecht na África atuou nos

seguintes países Gana, Angola, Moçambique e África do Sul.

Por fim, das menores consequências, deve-se desejar que a Lava Jato seja uma

pausa para separar o que é legítimo em uma política de Estado e de suas transnacionais,

dos elementos que tornam o processo ilegítimo. Certamente, um desafio para toda a

sociedade.

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