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8/3/2019 A Ordem Consitucional Economica
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A Ordem Constitucional Econmica:
Balano Dos 20 (Vinte) Anos De VignciaDa Constituio Brasileira De 1988
*Ricardo Maurcio Freire Soares: Doutor e Mestre em Direito pela UniversidadeFederal da Bahia. Professor dos cursos de graduao e ps-graduao em Direito
(Especializao/Mestrado/Doutorado) da Universidade Federal da Bahia.
Professor e Coordenador do Ncleo de Estudos Fundamentais da Faculdade Baiana
de Direito. Professor do Curso Juspodivm e da Rede Telepresencial LFG.
Professor-convidado da Universit degli studi di Roma (Itlia). Presidente da
Comisso de Estudos Constitucionais da OAB-Ba. Membro do Instituto dos
Advogados Brasileiros e do Instituto dos Advogados da Bahia. Palestrante e
consultor jurdico.
SUMRIO: Introduo. 1. Constituio econmica, liberalismoe intervencionismo estatal. 2. Os contornos da ordem
econmica na Constituio de 1988. Concluso. Referncias.
RESUMO: O presente artigo cientfico procura desenvolveruma anlise crtica da ordem econmica na Constituio
brasileira de 1988, a fim de explicar os aspectos mais
relevantes da evoluo recente do constitucionalismo
econmico no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Constituio Estado Direitos sociais -Ordem econmica.
ABSTRACT: The present scientific article search to developa critical analysis of the economic order in the Brazilian
Constitution of 1988, to explain the important aspects of
the recent evolution of the economic constitutionalism in
Brazil.
KEY-WORDS: Constitution State Social rights Economicorder.
INTRODUO
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A proposta do presente artigo cientfico consiste em
desenvolver um exame crtico do tratamento oferecido pela
Constituio brasileira de 1988 ordem econmica,
evidenciando, assim, os elementos mais relevantes daevoluo recente do constitucionalismo econmico ptrio.
Para tanto, sem pretenso de esgotar o tema, o trabalho
buscar abordar os seguintes aspectos: a relao entre o
constitucionalismo econmico, liberalismo e
intervencionismo estatal; os caracteres fundamentais da
ordem econmica na Constituio de 1988; e a exposio das
necessrias notas conclusivas.
1. CONSTITUIO ECONMICA, LIBERALISMO E INTERVENCIONISMOESTATAL
Durante os sculos XVIII e XIX, o constitucionalismo
ocidental se desenvolveu na esteira das revoluesliberais
e individualistas que marcaram a ascenso poltica da
burguesia. O iderio liberal propugnava um modelo de
Estado-mnimo, que no promovesse ingerncias no livre jogo
das foras do mercado, as quais, supostamente, atravs das
condutas particulares dos agentes econmicos, garantiriam a
distribuio equnime das riquezas na sociedade.
Nesse contexto, foram as Constituies entendidas como
diplomas legislativos fundamentais, que se limitariam a
descrever a estrutura do Estado e assegurar os direitosindividuais dos cidados (vida, liberdade, igualdade,
propriedade, segurana), sem prescrever normas que pudessem
embaraar a dinmica natural do sistema econmico.
No outro o entendimento de J.J. Gomes Canotilho (2003,
p.110), para quem o pensamento liberal considerou como
princpio fundamental da constituio econmica, implcita
nos textos constitucionais liberais, o princpio de que, na
dvida, se devia optar pelo mnimo de restries aos
direitos fundamentais economicamente relevantes, tais como
a propriedade, a liberdade de profisso, indstria ou
comrcio.
O liberalismo baseava-se, portanto, na livre circulao da
riqueza, figurando o contrato como o instrumento jurdico
capaz de viabilizar as transaes econmicas, alimentando a
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crena de que os acordos contratuais permitiriam o
equilbrio harmnico dos interesses, sem a necessidade de
que o Estado interviesse no mercado, espao cativo das
operaes privadas.
No incio do sculo XX, com o agravamento dos problemas
sociais gerados pelo sistema capitalista, emergiu uma
vigorosa reao aos postulados liberais, culminando com a
constatao de que previso abstrata da liberdade econmica
e da isonomia formal poderiam ocultar profundas injustias.
Decerto, a igualdade consagrada nas Constituies modernas
pecava pela total discrepncia com a realidade social,
marcada pela concentrao do capital e pela assimetria nas
relaes entre os proprietrios dos meios de produo e
trabalhadores, bem como nas operaes econmicas entre
fornecedores e consumidores.
Diante dessa situao de flagrante desequilbrio entre os
agentes econmicos do mercado capitalista, tornou-se
necessria a pronta ingerncia do chamado Estado Social
(Welfare State), a fim de relativizar os dogmas liberais da
autonomia volitiva, da obrigatoriedade do contrato e da
igualdade formal dos agentes econmicos, tendo em vista a
realizao da justia social.
Como salienta Norberto Bobbio (1998, p. 403), a crise do
liberalismo gerou o nascimento do Estado interventivo, cada
vez mais envolvido no financiamento e na administrao deprogramas de seguro social, pelo que as primeiras formas de
Welfare State visavam a contrapor-se ao socialismo real,
dando origem a formas singulares de poltica econmica que
modificaram a fisionomia capitalista do Estado
contemporneo.
O fortalecimento do movimento operrio, a formao dos
primeiros sindicatos e a crise estrutural do sistema
financeiro capitalista impulsionaram a progressiva
substituio do Estado-mnimo de ndole liberal-burguesa
por um verdadeiro Estado-intervencionista, que passou
planificar o espao de produo e distribuio de riquezas,corrigindo os abusos do poder econmico e, ao mesmo tempo,
protegendo os cidados mais desfavorecidos.
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Com a transio histrica do Estado-liberal para Estado-
intervencionista, passaram a ser desenvolvidas polticas
pblicas de concretizao da isonomia material, mediante o
implemento de prestaes capazes de socializar os
institutos do contrato e da propriedade privada, alm derealizar os direitos econmicos dos cidados (trabalho,
educao, sade, moradia, previdncia, assistncia social).
Seguindo o magistrio autorizado de Orlando Gomes (1986, p.
16), pode-se dizer que, ao longo do processo de
consolidao dessas transformaes do capitalismo,
legitimou-se a interveno do Estado na vida econmica como
forma de limitar a propriedade privada e a liberdade de
contratar, realizando-se, assim, a nova idia de uma funo
social do Direito.
Em face dessas vertiginosas transformaes, oconstitucionalismo ocidental passou a ser reformulado,
contemplando, gradativamente, normas capazes de regular o
novo fenmeno do intervencionismo estatal no mercado
capitalista. Isso ocorreu atravs da previso, no texto das
Constituies, de um conjunto de regras e princpios
jurdicos voltado para a disciplina das relaes entre
Estado e agentes econmicos: a denominada ordem
constitucional econmica.
Como pontifica Gilmar Ferreira Mendes (2008, p. 1354), a
regulao constitucional da atividade econmica um
acontecimento histrico relativamente recente, associadoque est passagem do Estado Liberal ao Estado Social, com
o fenmeno da socializao do sistema capitalista de
produo, nos albores do sculo vinte, marcando a transio
do liberalismo ao intervencionismo estatal.
Nesse sentido, a Constituio mexicana de 1917 e,
sobretudo, da Constituio germnica de Weimar, datada de
1919, tornaram-se os marcos desse novo constitucionalismo
econmico, ao prescrever a interveno do Estado na
estrutura econmica capitalista, em nome da concretizao
de uma vida social potencialmente mais justa.
No mbito do sistema jurdico brasileiro, coube,
originariamente, Carta Magna de 1934 a previso de uma
ordem constitucional econmica, inaugurando, assim, uma
rica tradio do constitucionalismo ptrio, que se revelou
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presente em todas as Constituies posteriores, como na
Carta Constitucional de 1988.
2. OS CONTORNOS DA ORDEM ECONMICA NA CONSTITUIO DE 1988
Com o advento da Constituio brasileira de 1988, smbolo
do processo de redemocratizao poltico-social brasileira,
a ordem econmica passou a merecer um novo tratamento, mais
consentneo com a reafirmao dos direitos fundamentais dos
cidados.
Como bem refere Jos Afonso da Silva (1995, p. 720), as
normas integrantes da ordem constitucional econmica
adquiriram grande importncia, buscando atribuir fins ao
Estado, esvaziado pelo liberalismo econmico. Essa
caracterstica teleolgica conferiu-lhes relevncia e
funo de princpios gerais de toda a ordem jurdica,tendente a instaurar um regime de democracia substancial,
ao determinarem a realizao de fins sociais, atravs da
atuao de programas de interveno na ordem econmica, com
vistas realizao da justia social.
No obstante a Constituio-cidad tenha mantido as bases
de um Estado intervencionista no campo econmico-social, a
inspirao autocrtica da ideologia da segurana nacional
restou superada, sendo substituda pelo modelo de um
constitucionalismo econmico democrtico, voltado para a
realizao inequvoca da justia social.
Segundo as lies de Uadi Bulos (2007, p.1237), o
Legislador Constituinte de 1988 optou por um ordenamento
econmico composto, visto que a ordem econmica na Carta de
1988 est impregnada de princpios e solues
contraditrias, ora abrindo brechas para a hegemonia de um
capitalismo neoliberal, ora enfatizando o intervencionismo
sistemtico, aliado ao dirigismo planificador, ressaltando
at elementos socializantes.
Certamente, o papel do Estado brasileiro na ordem econmica
da Carta Magna vigente no pode ser compreendido sem a
interpretao lgico-sistemtica de outros relevantescomandos constitucionais, tais como o art. 1, que
estabelece constituir-se a Repblica Federativa do Brasil
em Estado Democrtico de Direito, tendo, como fundamentos,
a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores
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sociais do trabalho e da livre iniciativa, bem como o art.
3, que arrola, dentre os objetivos fundamentais da
Repblica Federativa do Brasil: a construo de uma
sociedade livre, justa e solidria; a garantia do
desenvolvimento nacional; a erradicao da pobreza e amarginalizao, bem como a reduo das desigualdades
sociais e regionais.
De todos esses princpios fundamentais, sobreleva a
dignidade da pessoa humana, pois, como ressalta Andr Ramos
Tavares (2003, p. 138), a ordem econmica pode ser
vislumbrada como a projeo dessa relevante norma
constitucional, j que a dignidade da pessoa humana ou a
existncia digna tem, por bvio, implicaes econmicas,
pelo que a liberdade e a igualdade caminham com a
dignidade, resguardando-se a todos agentes sociais as
condies materiais mnimas de subsistncia.
Embasado nessa principiologia de ndole democrtica,
marcada pela primazia da dignidade da pessoa humana, previu
o Legislador Constituinte de1988, no Ttulo VII, arts. 170
a 192, a ordem econmica e financeira, disciplinando os
princpios gerais da atividade econmica, a poltica
urbana, a poltica agrcola, fundiria e a reforma agrria,
bem como as normas que regem o sistema financeiro nacional.
Decerto, no art. 170, a Constituio Federal de 1988
enuncia que a ordem econmica fundada na valorizao do
trabalho humano e na iniciativa privada, tendo por escopoassegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da
justia social. Verifica-se, nesse relevante dispositivo, a
constitucionalizao de um rol mais extenso de princpios
da ordem econmica, tais como: a valorizao do trabalho
humano e da livre iniciativa, a liberdade de exerccio da
atividade econmica, a soberania nacional econmica, a
propriedade privada, a funo social da propriedade, a
livre concorrncia, a defesa do consumidor, a defesa do
meio ambiente, a reduo das desigualdades regionais e
sociais, a busca do pleno emprego e o tratamento favorecido
para as empresas de pequeno porte.
Como inovaes da Constituio Federal de 1988 no campo da
principiologia da ordem constitucional econmica, merecem
destaque, pela estreita conexo com a tutela da dignidade
da pessoa humana, a defesa do consumidor, a defesa do meio
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ambiente, a reduo das desigualdades regionais e sociais,
a busca do pleno emprego e o tratamento favorecido para as
empresas de pequeno porte, princpios esses no mencionados
expressamente na Constituio brasileira de 1946.
Ao examinar o art. 170 da Carta Magna, sustenta Eros Grau
(2003, p. 218) que se trata de uma proposta principiolgica
de conciliao dialtica entre diversos elementos scio-
ideolgicos, ora sinalizando para o capitalismo e a
configurao de um Estado liberal, ora apontando uma opo
pelo socialismo e pela organizao de um Estado
intervencionista, a revelar um compromisso entre as foras
polticas liberais e as reivindicaes populares de justia
social no mercado capitalista.
De outro lado, no art. 172, a Carta Magna de 1988
estabelece que a lei disciplinar, com base no interessenacional, os investimentos de capital estrangeiro,
incentivar os reinvestimentos e regular a remessa de
lucros, assim como, no art. 173, ressalva-se que a
explorao direta de atividade econmica pelo Estado s
ser permitida quando necessria aos imperativos da
segurana nacional ou a relevante interesse coletivo, no
podendo as empresas pblicas e as sociedades de economia
mista gozarem de privilgios fiscais no extensivos s do
setor privado, prevendo-se ainda que a lei reprimir o
abuso do poder econmico que vise dominao dos mercados,
eliminao da concorrncia e ao aumento arbitrrio dos
lucros.
Outrossim, merece registro o art. 174 da Constituio-
cidad, ao preceituar que o Estado, como agente normativo e
regulador da atividade econmica, exercer, na forma da
lei, as funes de fiscalizao, incentivo e planejamento,
sendo este determinante para o setor pblico e indicativo
para o setor privado, tendo em vista o desenvolvimento
nacional equilibrado, o cooperativismo e outras formas de
associativismo.
Como bem salienta Alexandre de Moraes (2008, p. 798),
apesar de o texto constitucional de 1988 ter consagrado umaeconomia descentralizada de mercado, autorizou o Estado a
intervir no domnio econmico como agente normativo e
regulador, com a finalidade de exercer as funes de
fiscalizao, incentivo e planejamento indicativo ao setor
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privado, sempre com observncia aos princpios
constitucionais da ordem econmica.
No art. 175, a Carta Magna disciplina a relao econmica
entre Estado e particulares, quando estabelece que incumbeao Poder Pblico, na forma da lei, diretamente ou sob
regime de concesso ou permisso, sempre atravs de
licitao, a prestao de servios pblicos, cabendo lei
dispor sobre o regime das empresas concessionrias e
permissionrias de servios pblicos, o carter especial de
seu contrato e de sua prorrogao, bem como as condies de
caducidade, fiscalizao e resciso da concesso ou
permisso, os direitos dos usurios, a poltica tarifria e
a obrigao de manter servio adequado.
No que concerne a monoplios do Estado Brasileiro,
prescreve o art. 176 que as jazidas, em lavra ou no, edemais recursos minerais e os potenciais de energia
hidrulica constituem propriedadedistinta da do solo, para
efeito de explorao ou aproveitamento, e pertencem
Unio, garantida ao concessionrio a propriedade do produto
da lavra, assim como o art. 177 preceitua que constituem
propriedade da Unio: a pesquisa e a lavra das jazidas de
petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos; a
refinao do petrleo nacional ou estrangeiro; a importao
e exportao dos produtos e derivados bsicos resultantes
das atividades previstas nos incisos anteriores; o
transporte martimo do petrleo bruto de origem nacional ou
de derivados bsicos de petrleo produzidos no Pas, bemassim o transporte, por meio de conduto, de petrleo bruto,
seus derivados e gs natural de qualquer origem; a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a
industrializao e o comrcio de minrios e minerais
nucleares e seus derivados, com exceo dos radioistopos
cuja produo, comercializao e utilizao podero ser
autorizadas sob regime de permisso.
Outras inovaes relevantes da Constituio brasileira em
1988 em matria de ordem econmica esto presentes no art.
179, ao estabelecer que os entes federativos devem
dispensar s microempresas e s empresas de pequeno porte,tratamento jurdico diferenciado, visando a incentiv-las
pela simplificao de suas obrigaes administrativas,
tributrias, previdencirias e creditcias, ou pela
eliminao ou reduo destas por meio de lei, assim como no
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art. 180, ao prescrever que Unio, Estados, Distrito
Federal e Municpios devem promover e incentivar o turismo
como fator de desenvolvimento social e econmico.
No tocante poltica urbana, merecem registro tanto o art.182, ao estabelecer que a poltica de desenvolvimento
urbano, executada pelo Poder Pblico municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e
garantir o bem- estar de seus habitantes, quanto o art.
183, ao prever o usucapio urbano para aquele que possuir
como sua rea urbana de at duzentos e cinqenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposio, utilizando-a para sua moradia ou de sua famlia,
adquirir-lhe- o domnio, desde que no seja proprietrio
de outro imvel urbano ou rural.
Em relao poltica agrcola, fundiria e reforma
agrria, a ordem econmica da Constituio brasileira de
1988 intensificou a socializao da propriedade, devendo
ser destacados os seguintes dispositivos:
- o art. 184, ao estabelecer que compete Unio
desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrria, o imvel rural que no esteja cumprindo sua funo
social, mediante prvia e justa indenizao em ttulos da
dvida agrria;
- o art. 186, ao prever que a funo social cumprida
quando a propriedade rural atende, simultaneamente, aosrequisitos de aproveitamento racional e adequado,
utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e
preservao do meio ambiente, observncia das disposies
que regulam as relaes de trabalho e a explorao que
favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores;
- o art. 187, ao preceituar que a poltica agrcola ser
planejada e executada na forma da lei, com a participao
efetiva do setor de produo, envolvendo produtores e
trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercializao, de armazenamento e de transportes;
- o art. 188, ao prever que a destinao de terras pblicas
e devolutas ser compatibilizada com a poltica agrcola e
com o plano nacional de reforma agrria;
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- o art. 189, ao estabelecer que os beneficirios da
distribuio de imveis rurais pela reforma agrria
recebero ttulos de domnio ou de concesso de uso,
inegociveis pelo prazo de dez anos;
- o art. 191, ao contemplar que aquele que, no sendo
proprietrio de imvel rural ou urbano, possua como seu,
por cinco anos ininterruptos, sem oposio, rea de terra,
em zona rural, no superior a cinqenta hectares, tornando-
a produtiva por seu trabalho ou de sua famlia, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe- a propriedade, sendo vedado,
contudo, o usucapio de imveis pblicos.
Ademais, no que concerne ao sistema financeiro nacional,
estabelece o art. 192 da Carta Magna atual que o sistema
financeiro nacional, estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do Pas e a servir aosinteresses da coletividade, em todas as partes que o
compem, abrangendo as cooperativas de crdito, ser
regulado por leis complementares que disporo, inclusive,
sobre a participao do capital estrangeiro nas
instituies que o integram.
De outro lado, o compromisso tico-social de um
constitucionalismo econmico dirigente que tambm motivou
o Poder Constituinte de 1988 a reservar uma posio de
destaque aos direitos sociais, antes mesmo de descrever a
estrutura do Estado e a prpria ordem econmica em sentido
estrito, prevendo-os logo no captulo II, quando elenca, noart. 6o, os direitos sociais a educao, a sade, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia
social, a proteo maternidade e infncia, a
assistncia aos desamparados, assim como prev um rol mais
extenso de direitos dos trabalhadores urbanos e rurais
(art. 7), a liberdade de associao profissional ou
sindical (art. 8), a amplitude para o exerccio do direito
de greve (art. 9), a participao dos trabalhadores e
empregadores nos colegiados dos rgos pblicos em que seus
interesses sejam objeto de discusso e deliberao (art.
10) e o direito de eleio, nas empresas de mais de
duzentos empregados, de um representante destes com afinalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto
com os empregadores (art. 11).
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Ademais, irmanada com os valores e finalidades da ordem
econmica, ganhou a ordem social espao mais dilatado e
relativamente autnomo na Constituio Federal de 1988, nos
arts. 193 a 232, que tratam da seguridade social, da
educao, da cultura, do desporto, da cincia e tecnologia,da comunicao social, do meio ambiente, da famlia, da
criana, do adolescente, do idoso e dos ndios. Dentre os
referidos dispositivos, sobreleva, inegavelmente, o art.
193 da Carta Magna, ao preceituar que a ordem social tem
como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-
estar e a justia sociais.
Como bem salienta Pedro Lenza (2008, p. 709), o art. 193 da
Carta Magna, ao estabelecer que a ordem social tem como
base o primado do trabalhoe como objetivos o bem-estar e a
justia sociais, revela perfeita harmonia com a ordem
econmica, que tambm se funda, nos termos do art. 170, navalorizao do trabalho humano e na livre iniciativa,
assegurando a todos existncia digna, conforme os ditames
da justia social, afastando, assim, a idia liberal
clssica para consagrar uma perspectiva de Estado Social de
Direito e uma concepo humanizada do mercado capitalista.
Por derradeiro, cumpre salientar que a ordem econmica da
Constituio brasileira de 1988 sofreu algumas mudanas em
seu espectro poltico-ideolgico, aps as sucessivas
reformas constitucionais ocorridas a partir da dcada de 90
(noventa). Em nome da implemento de um projeto neoliberal e
da correlata internacionalizao da economia no mundoglobalizado, o poder constituinte reformador promoveu a
minimizao da ingerncia do Estado no cenrio econmico-
social, a privatizao de diversos pblicos e a abertura da
economia nacional para investimentos do capital
estrangeiro.
Nesse diapaso, valem ser mencionadas, cronologicamente, as
seguintes alteraes no texto constitucional:
- a supresso do conceito nacionalista de empresa
brasileira e a sua substituio por empresa constituda sob
as leis brasileiras e que tenha sua sede e administrao noPas (Emenda Constitucional n 6, de 1995);
- a possibilidade, na ordenao do transporte aqutico, do
transporte de mercadorias na cabotagem e a navegao
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interior serem feitas por embarcaes estrangeiras, devendo
a lei dispor sobre a ordenao dos transportes areo,
aqutico e terrestre, devendo, quanto ordenao do
transporte internacional, observar os acordos firmados pela
Unio, atendido o princpio da reciprocidade. (EmendaConstitucional n 7, de 1995);
- a relativizao do monoplio da Unio sobre a explorao
econmica de jazidas de petrleo ou gs natural,
permitindo-se Unio contratar com empresas estatais ou
privadas a realizao dessas atividades (Emenda
Constitucional n 9, de 1995);
- a mudana do regime jurdico da empresa pblica, da
sociedade de economia mista e de suas subsidirias que
explorem atividade econmica de produo ou comercializao
de bens ou de prestao de servios, para maximizao daeficincia administrativa (Emenda Constitucional n 19, de
1998);
- a mitigao do intervencionismo estatal no sistema
financeiro nacional, com a revogao da limitao anual de
juros reais de doze por cento (Emenda Constitucional n 40,
de 2003);
- a relativizao do monoplio da Unio sobre a pesquisa, a
lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a
industrializao e o comrcio de minrios e minerais
nucleares e seus derivados, com a exceo criada para osradioistopos cuja produo, comercializao e utilizao
podero ser autorizadas sob regime de permisso aos
particulares (Emenda Constitucional n 49, de 2006).
Destarte, o Legislador Constituinte de 1988 optou por uma
ordem econmica mais democrtica e comprometida com os
direitos fundamentais da pessoa humana, suprimindo a
orientao autocrtica da ideologia nacional e contemplando
princpios jurdicos muitas vezes contraditrios, ora
abrindo brechas para a hegemonia de um capitalismo liberal,
ora enfatizando o intervencionismo estatal, aliado ao
dirigismo planificador e socializante dos poderes pblicos.
CONCLUSO
Em face de tudo quanto foi exposto, pode-se sintetizar que:
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- o iderio liberal defendia um modelo de Estado-mnimo,
que no promovesse ingerncias no livre jogo das foras do
mercado, as quais, supostamente, atravs das condutas
particulares dos agentes econmicos, garantiriam adistribuio equnime das riquezas na sociedade;
- as Constituies liberais foram entendidas como diplomas
legislativos fundamentais, que se limitariam a descrever a
estrutura do Estado e assegurar os direitos individuais dos
cidados (vida, liberdade, igualdade, propriedade,
segurana), sem prescrever normas que pudessem embaraar a
dinmica natural do sistema econmico;
- a situao de flagrante desequilbrio entre os agentes
econmicos do mercado capitalista tornou-se necessria a
pronta ingerncia do chamado Estado Social, pararelativizar os dogmas liberais da autonomia volitiva, da
obrigatoriedade do contrato e da igualdade formal dos
agentes econmicos, tendo em vista a realizao da justia
social;
- o constitucionalismo do ocidente, em sua fase social,
passou a ser reformulado, contemplando, gradativamente,
normas capazes de regular o novo fenmeno do
intervencionismo estatal no mercado capitalista, atravs da
previso, no texto das Constituies, de um conjunto de
regras e princpios jurdicos voltado para a disciplina das
relaes entre Estado e agentes econmicos, conformando adenominada ordem constitucional econmica;
- a Constituio mexicana de 1917 e, sobretudo, da
Constituio germnica de Weimar, datada de 1919, tornaram-
se os smbolos desse novo constitucionalismo econmico, ao
prescrever a interveno do Estado na estrutura econmica
capitalista, em nome da concretizao de uma vida social
potencialmente mais justa, processo esse que se iniciou no
Brasil com a Carta Magna de 1934 para alcanar a Carta
Constitucional de 1988;
- a hipertrofia do Estado brasileiro, no contextoideolgico da polarizao entre o capitalismo e o
socialismo, justificou-se pela preservao do valor supremo
da segurana nacional, guindado condio de princpio
norteador da interpretao e aplicao da Carta
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Constitucional de 1967, em face da suposta ameaa de uma
revoluo socialista, que pudesse coletivizar os meios-de-
produo e implementar um governo socialista;
- o Legislador Constituinte de 1967 estabeleceu uma ordemeconmica e social marcada pelo paradigma de um Estado
intervencionista, nacionalista e centralizador, incumbido
de planejar o desenvolvimento controlado das foras
produtivas do sistema capitalista, a fim de mitigar o
acirramento da luta entre classes sociais e manter um
regime poltico de natureza autocrtica;
- a Constituio ptria de 1988, smbolo do processo de
redemocratizao poltico-social brasileira, previu uma
ordem constitucional econmica mais consentnea com a
reafirmao dos direitos fundamentais dos cidados;
- a Constituio-cidad manteve as bases de um Estadointervencionista no campo econmico-social, superando,
todavia, a inspirao autocrtica da ideologia da segurana
nacional em favor de um modelo de um constitucionalismo
econmico democrtico, voltado para a realizao da justia
social;
- o Legislador Constituinte de 1988 optou por uma ordem
econmica mais democrtica e comprometida com os direitos
fundamentais da pessoa humana, suprimindo a orientao
autocrtica da ideologia nacional e contemplando princpios
jurdicos muitas vezes contraditrios, ora abrindo espaopara a hegemonia de um capitalismo liberal, ora enfatizando
o intervencionismo estatal.
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