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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES-UCAM Projeto de pós graduação a vez do mestre A Organização Burocrática e a Reforma do Estado Por Yuri Rosário Duarte Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES-UCAM

Projeto de pós graduação a vez do mestre

A Organização Burocrática e a Reforma do Estado

Por

Yuri Rosário Duarte

Rio de Janeiro

2004

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Agradecimentos

Agradeço ao Ministério Público do Estado do Rio de

Janeiro pela oportunidade de fazer este curso.

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“Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de

homens concordam e pactuam, cada um dos outros, que a qualquer homem

ou assembléia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de

representar a pessoa de todos eles, todos sem exceção, tanto os que

votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar

seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e

serem protegidos dos restantes homens.”

Tomas Hobbes de Malmesbury

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RESUMO

Estamos vivendo um importante momento para análise e avaliação

da administração pública, com a busca de novos caminhos e soluções que

nos ajude a acompanhar as grandes mudanças que estão ocorrendo em todo

o mundo.

O presente trabalho analisa as características da organização

burocrática diante do programa de reforma da estrutura do Estado. Também

faz considerações sobre o seu papel nos vários setores em que participa,

inclusive sua atuação nos serviços públicos prestados à população.

A partir de uma retrospectiva de todos as propostas de reformas do

aparelho estatal ocorridas neste país, o estudo analisa seus resultados. E,

também, analisa o novo programa de reforma do Estado em cada setor

específico.

O objetivo deste estudo é melhorar a compreensão do atual programa

de reforma, diante dos conceitos da burocracia - modelo adotado pela

administração pública deste país - e contribuir para o seu êxito e na

recuperação do prestígio do governo perante a sociedade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1 - ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA

I - BUROCRACIA - CONCEITO PAGINA 11II - CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA PAGINA 17III - A ESTRUTURA BUROCRÁTICA PAGINA 26IV - CRÍTICA AO MODELO BUROCRÁTICO PAGINA 27V - A ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA NO BRASIL PAGINA 33

CAPÍTULO 2 - REFORMA DO ESTADO

I - A REFORMA DO APARELHO DO ESTADO PAGINA 40II - REVISÃO DOS MODELOS ANTERIORES PAGINA 42III - A NOVA REFORMA ADMINISTRATIVA PAGINA 54IV - REFORMA FISCAL PAGINA 62V - REFORMA DA PREVIDÊNCIA PAGINA 66VI - IMPORTÂNCIA DE UMA REFORMA ADMINISTRATIVA PAGINA 70

CONCLUSÃO PAGINA 70

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA PAGINA 79

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INTRODUÇÃO

Os problemas existentes na administração pública vêm sendo

estudados pôr vários teóricos da administração com o intuito de melhor

solucioná-los. Para compreender melhor esses problemas, pode-se levar em

consideração a descrição feita pôr Peter Drucker que os classificou de

“pecados mortais da administração pública” (Drucker 1990:36) que podem

ser descritos como objetivos grandiosos e que tem como única razão

justificar programas que não têm condições de alcançar o objetivo

anunciado. O autor faz algumas proposições à administração pública que

evitariam estes pecados, são eles: a) evitar fazer várias coisas ao mesmo

tempo, não estabelecendo prioridades, pôr isso deve-se fragmentar seus

esforços para se alcançar melhores resultados; b) possuir um quadro

funcional mais reduzido evitando o “superestafe” e se atendo a manter

funcionários mais competentes e produtivos; c) ser mais dogmático

experimentando apenas opções de sucesso comprovado; d) ser capaz de

avaliar suas metas e se os objetivos estão realmente sendo alcançados, e pôr

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fim, ser capaz de abandonar um programa fracassado não insistindo ou

mantendo políticas sem resultados.

Evitando-se estes “pecados mortais”, a administração pública teria

alguma condição de alcançar seus propósitos e melhorar seu desempenho

na área de serviços. O mau desempenho das instituições de serviço público,

em si, é um dos fatores que mais contribuem para o desprestígio do

governo.

O governo tem se distanciado do seu objetivo principal que é atender

as necessidades básicas da população e como conseqüência vem perdendo

seu prestígio a cada dia. O cidadão comum já está acostumado com os

péssimos serviços prestados pelas empresas públicas e já não acredita mais

e nem confia em seus serviços.

Muito se tem discutido a respeito dos rumos da administração

pública diante das mudanças que vem ocorrendo no mundo atual.

Liberalismo, burocracia, qualidade na prestação de serviços, reengenharia,

globalização etc. são temas muito discutidos, apesar de nem sempre bem

compreendidos. A maioria dos países vêm adotando novas formas de

administração com a intenção de superar seus problemas no setor

burocrático. Alguns até reinventando o governo através de processos

inovadores de gestão orientando suas ações pôr missões e pôr resultados.

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No momento fala-se muito em desestatização e a idéia do “privado”

vem ganhando espaço como uma meta a ser alcançada, enquanto a idéia do

“público” está associado a obsolência e a corrupção. Esta associação

apressada de privatização e a garantia de eficiência esconde mazelas

próprias de qualquer estrutura mal administrada.

Modelos administrativos que deram certo na iniciativa privada vêm

sendo aplicado no serviço público, mas deve-se ter cuidado ao aplicá-los,

pois, existem muitas características que diferenciam uma organização

pública de uma privada e que devem ser consideradas. É preciso conhecer a

natureza do serviço público, a missão do órgão público e as normas que o

regem e escolher o modelo que melhor se encaixa nesta estrutura.

A ineficiência dos serviços públicos é dependente daqueles que o

prestam e de como o seu trabalho é visto pela sociedade. O desprestígio e a

deterioração da imagem do funcionário público contribuem para piorar esta

relação. Para superar esta questão o atual programa de Reforma

Administrativa do Governo brasileiro tem insistido na valorização do

servidor público, assim como sua capacitação. Não podemos esquecer que

administrar o serviço público é administrar pessoas que estruturam sua

imagem profissional, muitas vezes, sobre ruínas. Seu maior desafio é

desenvolver um trabalho de qualidade sobre uma estrutura que está

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passando pôr um processo de desmanche contaminado pela descrença

geral.

Deve-se considerar, todavia, que o planejamento inadequado de um

programa de Reforma Administrativa pode levar ao desmonte de estruturas

institucionais que terão de ser resgatadas mais tarde, caso os resultados não

atinjam o sucesso esperado. Para a sociedade, os custos da atual reforma do

Estado brasileiro podem ser elevados, porém, isso não implica em negar a

necessidade de realizar reformas profundas no aparelho estatal que já se

tornou obsoleto e ineficiente, não cumprindo o seu papel de servir a

sociedade.

Para melhor entendimento das questões acima, o presente trabalho

analisa as características da burocracia, do serviço público e das questões

gerenciais que envolvem a organização burocrática. Suas características

específicas, suas necessidades e carências são analisadas como uma forma

de melhor compreender o processo de reforma do aparelho do Estado no

Brasil.

Nesta análise são consideradas as características da administração

pública, buscando um melhor entendimento das suas disfunções. Assim

como o programa de reforma da estrutura administrativa do Estado para

evitar o seu sucateamento e buscar melhores formas de gestão do

patrimônio público. A gestão dos recursos humanos também são

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analisados, uma vez que as organizações se constróem ou se destroem pelo

desempenho das pessoas que nelas trabalham, pôr isso se faz necessário a

realização de programas de treinamento, remuneração e reconhecimento

que fazem com que os funcionários bem preparados desempenhem melhor

suas funções.

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Capítulo 1 - ORGANIZAÇÃO

BUROCRÁTICA

I - Burocracia - Conceito

A burocracia é um modelo de organização desenvolvido a partir da

racionalidade, que visa o aumento da eficiência com a utilização critérios

coerentes de controle.

O conceito de burocracia foi desenvolvido pôr Max Weber (1864-

1920) que, através de estudos, formulou um “tipo ideal” de organização

estruturada na utilização de instrumentos normativos, indispensáveis à

racionalização das atividades e tarefas administrativas. A normatividade

apesar de ser considerada como um dos princípios da burocracia, era

apenas um meio para atingir o “tipo ideal” de organização weberiana,

caracterizada como uma “abstração”.

Segundo Blau ( apud Etzioni, 1981) a burocracia concebida pôr

Weber pode ser descrita como um mecanismo social que aumenta a

eficiência da administração; como forma de organização social apresenta

características próprias, características essas, formais e com eficiência

operacional superior.

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A burocracia também pode ser vista como estratégia

institucionalizada para alcançar objetivos na organização, conjugando

esforços dos seus funcionários. Ela define os métodos de conduta social

com o objetivo de transformar os problemas excepcionais em obrigações

rotineiras e capaz de coordenar os encargos especiais.

A burocracia ganhou relevância quando demonstrou que a

racionalidade leva à eficiência e à coerência com emprego mínimo de

esforços para obtenção de um máximo de resultados. Também mostrou ser

um sistema social em que a divisão do trabalho é racionalmente realizada e

que se pode administrar segundo critérios de eficiência.

Uma causa do crescimento da burocracia foi a busca da eficiência

pelo mundo moderno devido as muitas dificuldades existentes na

administração, devido ao crescimento da industrialização, do

desenvolvimento tecnológico e do crescimento dos sistemas sociais.

Weber, em sua teoria, afirma que o grande instrumento da

superioridade da administração burocrática é o saber profissional

especializado, cujo caráter imprescindível está condicionado pelas

características da técnica e da economia modernas da produção de bens.

A burocracia tem um caráter racional, uma vez que sua conduta é

dominada pela norma, finalidade, meio e impessoalidade objetiva. Pelo seu

caráter racional, a burocracia destrói formas estruturais de dominação que

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não tenham este mesmo caráter. A burocracia, para Weber, é antes de mais

nada organização, sendo um sistema racional em que a ação social

identifica-se com a coerência da relação entre meios e fins. Também é um

tipo de poder caracterizado pelo formalismo, pela estrutura hierárquica,

pelo predomínio de normas escritas e da impessoalidade no recrutamento

dos quadros e no atendimento ao público. Segundo Nogueira (1977:142),

algumas características básicas do seu estudo estão resumidas abaixo:

1. “Na burocracia moderna impera o princípio das atribuições oficiais,

fixas, ordenadas, em geral, de acordo com regras, leis ou disposições do

regulamento administrativo. As atividades, os deveres e os poderes de

mando estão determinados de modo fixo e delimitados pôr normas. A

rígida divisão do trabalho exige o emprego de pessoal especializado e o

cumprimento, pôr parte deste, de seus deveres oficiais.

2. Na burocracia, impera o princípio da hierarquia funcional e da

tramitação, isto é, um sistema firmemente organizado de mando e

subordinação mútua das autoridades mediante uma inspeção das

inferiores pelas superiores, oferecendo ao dominado a possibilidades

solidamente regulada de apelar de uma autoridade inferior a uma

instância superior.

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3. A administração moderna baseia-se em documentos conservados em

borradores ou minutas, e num corpo de empregados subalternos e de

escreventes de toda classe.

4. A atividade burocrática especializada - e é esta a especificamente

moderna - pressupõe normalmente uma conscienciosa aprendizagem

profissional. Isto é válido tanto para os chefes e empregados modernos

de uma empresa privada como para os funcionários públicos.

5. O desempenho de um cargo propriamente dito exige o pleno rendimento

do funcionário, a despeito da circunstância de que possa estar bem

determinado o tempo em que esteja obrigado a permanecer no escritório

cumprindo seus deveres.

6. O desempenho do cargo pôr parte dos funcionários realiza-se segundo

normas gerais, mais ou menos fixas, mais ou menos exaustivas,

suscetíveis de serem aprendidas” .

No modelo burocrático as considerações pessoais devem ser

excluídas dos assuntos oficiais para manter a imparcialidade e a eficiência

nesses assuntos. Para Nogueira (op. cit. 144-5) “nas organizações

burocráticas os empregos qualificam-se tecnicamente, encontrando-se o

empregado protegido dos desejos arbitrários”. Os estudos do autor também

mostram que as promoções e outras técnicas de remanejamento de pessoal

favorecem o desenvolvimento da lealdade para com a organização e o

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espirit de corps entre seus membros. Concluiu, ainda, que “o efeito

combinado das características da burocracia consiste em criar as condições

sociais que levem cada membro da organização a atuar de um modo -

lógico ou não, desde seu ponto de vista - que permita o alcance racional dos

objetivos da organização”.

A superioridade técnica da burocracia é reconhecida nas sociedades,

mas estas se opõem ao fenômeno da burocratização como uma ameaça à

ética, moral e à liberdade individual e a desumanização que o crescimento

da burocracia traz consigo.

A burocratização é uma tendência de se combinar traços

comportamentais padronizando-os

para a formalização e hierarquização interna. Seria uma forma eficiente de

alcançar efetividade organizacional. Este processo pode ser visto como

uma conseqüência da industrialização em qualquer sistema político, pois,

para Weber em sua análise do desenvolvimento social, a sociedade se

moderniza quando atinge um estágio racional de organização burocrática

legal.

Deve-se considerar que o desenvolvimento da burocracia está

relacionado com a economia monetária que, pôr sua vez, assegura a

existência da estrutura burocrática. Dessa forma, a falta de economia

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monetária provoca mudanças que podem levar a uma transformação dessa

estrutura. Como a administração tributária alimenta a burocratização, a

ocorrência de mudanças no sistema, pode induzir modificações no aparato

burocrático e no processo de burocratização1

1 A política sócio-econômica de um país é definida pelo seu sistema tributário e havendo alguma mudança neste sistema, como decorrência, provocará uma transformação da política econômica.

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II- Características da Organização Burocrática

A burocracia se legitima através do poder racional-legal. Em seu tipo

ideal puro, as organizações são sistemas sociais racionais, impessoais e

dirigidos pôr administradores profissionais em condições de controlá-las

completamente.

A organização burocrática é o tipo de sistema social dominante nas

atuais sociedades, sendo um modelo de administração onde predomina a

dominação. A burocracia é também uma forma de poder que se estrutura

através das organizações burocráticas.

O racionalismo está presente nos estudos de administração em geral,

pois as organizações são também fruto desse mesmo racionalismo. A

racionalização está presente em todos os setores da vida do homem

moderno, inclusive na estrutura dos sistemas sociais de que participa. É o

administrador que racionaliza, que organiza os sistemas sociais,

transformando-os em burocracia. Portanto, a burocracia representa a

divisão do trabalhos de forma racional e a especialização das funções. É um

processo que busca o aumento de produtividade e a eficiência, exigindo o

mínimo de esforços, e de custos para obter o máximo dos resultados.

O formalismo da burocracia é baseado na autoridade derivada de um

sistema de normas racionais, escritas e exaustivas, que definem as relações

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de mando e subordinação, e a distribuição das atividades a serem

executadas de forma sistemática de acordo com os seus objetivos. A

administração é formalmente planejada, organizada, e sua execução

realiza-se através de documentos escritos.

A organização formal significa a inter-relação entre membros com

indivíduos ou grupos coordenando seus esforços para a realização de um

objetivo. Para Selznick (apud Etzioni, 1981:348) ao criticar este modelo,

afirma que “a formalização limita o esvaziamento das organizações e reduz

o número das decisões exigidas da liderança” .

Na burocracia a autoridade deriva de normas racionais-legais que

conferem à pessoa investida de autoridade poder de coação sobre os

subordinados e coloca à sua disposição meios coercitivos de impor

disciplina. A autoridade baseia-se em normas que são obedecidas pôr meio

de coação. Existem várias formas de dominação, já citadas, em função da

autoridade suprema.

As normas, que tradicionalmente, são escritas e exaustivas, pouco

mudam e são obedecidas através das gerações. Este não é o caso da norma

racional que precisa ser modificada a todo instante, adaptando-se aos novos

fatos que surgem no ambiente. A necessidade de escrever as normas

burocráticas, de formalizá-las, acentua-se ainda mais devido ao caráter

exaustivo que elas tendem a ter. Elas têm como finalidade cobrir todas as

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áreas da organização, prever as ocorrências e enquadrá-las dentro de um

comportamento definido. Ajudam a alta administração a manter o controle

mais firmemente, reduzindo o âmbito de decisão dos administradores

subordinados, como também facilita o trabalho destes. As diretrizes

contidas nas normas norteiam os funcionários nas suas ações, assim como

as normas organizacionais e disciplinares, nos métodos e rotinas. O

comportamento dos participantes da organização torna-se mais previsível,

mais preciso e mais controlável. O objetivo de tornar exaustivas as normas

só pode ser cumprido na medida em que elas são escritas e formalmente

promulgadas em forma de estatutos, regulamentos e regimentos.

Este comportamento é criticado pois a pessoa fica presa a estas

normas tornando-a mesquinha e competitiva. O ser humano passa a

depender de ordens, sentindo-se ameaçado e se estas são transformadas ou

alteradas, sente-se desamparado. Tal a influência exercida pelos

instrumentos de racionalidade que, para Weber, quanto mais desenvolvida

for a burocracia, mais difícil se torna sua destruição, pois a burocratização

é vista como instrumento de socialização das relações de dominação e é um

recurso de poder de primeira classe para aquele que dispõe do aparato

burocrático.

Outra característica da organização burocrática é a hierarquia. Este

sistema é organizado através de mando e subordinação mútua das

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autoridades sob a supervisão dos inferiores pelos superiores. Neste sistema,

o subordinado pode apelar da decisão de uma autoridade inferior a uma

autoridade superior.

A organização, neste tipo de sistema, possui forma piramidal. Um

superior possui um determinado número de subordinados sob suas ordens.

Para Weber a burocracia plenamente desenvolvida possui uma hierarquia

cuja funções são “monocráticas”, ou seja, existe apenas um chefe para cada

subordinado. Este sistema torna a “administração mais rápida e com

diretrizes constantes, livre dos compromissos e variações da opinião da

maioria” (Nogueira, 1977:231).

Além da forma hierárquica, a organização burocrática apresenta uma

divisão horizontal do trabalho, em que as diferentes atividades são

distribuídas de acordo com os objetivos a serem atingidos. É o chamado

processo de departamentalização. De acordo com o tipo ideal de

burocracia, segundo Weber, a divisão do trabalho em funções é realizada

em termos de cargos abstratamente definidos e não de pessoas.

A impessoalidade é uma característica fundamental nas organizações

burocráticas. A administração é realizada sem consideração às pessoas.

Estas só são consideradas no momento em que ocupam cargos. Segundo

Prestes Motta (1980), no seu livro Introdução à Organização burocrática,

este aspecto demonstra o caráter estritamente impessoal do poder de cada

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indivíduo, que não deriva da personalidade do indivíduo, como é o caso da

liderança carismática, mas da norma que cria o cargo e define suas

atribuições. Assim como a autoridade, a obediência dos subordinados

também é impessoal porque eles estão seguindo uma norma impessoal e

não pôr consideração à pessoa da autoridade.

Este caráter da burocracia é definido pôr Weber quando ele fala que

ela obedece ao princípio da administração sem emoções. A burocracia se

desenvolve melhor quando se desumaniza, não existindo sentimentos,

favoritismos, gratidão, simpatia e antipatia. A atitude do administrador

neste modelo é imparcial e objetivo para ser justo ao dirigir a organização.

O critério de escolha de funcionários numa organização burocrática

considera principalmente o aspecto profissional, e não há lugar para o

nepotismo. Os administradores são profissionais que possuem

conhecimento técnico especializado, obtido geralmente através de

treinamento especial2.

A figura do especialista é valorizada nas organizações burocráticas,

principalmente nas de grandes dimensões, onde o uso do conhecimento

especializado é essencial para a eficiência do funcionamento. O

administrador profissional burocrático tem em seu cargo sua única ou pelo

menos principal atividade. Seu cargo é sua principal fonte de renda e dele

2 No Brasil a escolha é feita através de concurso público com critérios específicos ao cargo, utilizados no processo de seleção.

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deriva, fundamentalmente, seu prestígio e posição social. Esta

exclusividade é uma das principais características da burocracia. Este

princípio só tem razão de existir num tipo de sistema social com pequenas

desigualdades e com uma economia equilibrada.

O formalismo, o caráter impessoal e o caráter profissional que são

próprios das organizações burocráticas, tornam previsíveis o

comportamento dos membros da organização. Pôr causa da precisão,

rapidez e uniformidade das burocracias, é possível prever e calcular com

relativo grau de certeza o comportamento dos seus subordinados, como eles

reagirão às comunicações recebidas, sua rotina e que tipos de decisão

poderão tomar em face de determinadas situações. A importância da

previsão na organização burocrática é que ela permite o planejamento e o

seu controle, pois é através dela que se estabelecem as metas a serem

atingidas, seja, pela organização como pelos seus funcionários. Pode ser

feito um controle pôr antecipação evitando as distorções entre o planejado e

o realizado assegurando a sua eficiência. Esta situação, às vezes, não se

efetiva pois as previsões podem falhar algumas vezes tornando a

organização ineficiente e desorganizada. A estes fenômenos Merton (1957)

chama de “disfunções”, são os efeitos não previstos e nem desejados pela

burocracia, que decorrem do excesso de burocratização, do formalismo

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exagerado, da impessoalidade que não vê o funcionário como um

indivíduo.

O crescimento da administração burocrática floresceu com o

desenvolvimento tecnológico que tornou a empresa mais complexa e de

grandes dimensões. A burocracia tornou-se uma opção de administração a

fim de melhor planejar e controlar a produção.

Pôr causa da complexidade tecnológica houve um aumento das

atividades administrativas e pôr conseqüência um maior grau de

burocratização. O desenvolvimento tecnológico proporcionou ao mundo

moderno a produção em massa de produtos padronizados e mais baratos.

Esse tipo de produção só foi possível quando as grandes empresas

passaram a dominar a economia dos países industrializados. Essas

empresas passaram a ter a necessidade de controlar melhor o mundo a sua

volta, de depender menos da ocorrência.

Assim surgem os sistemas oligopolistas que adotam o modelo

burocrático para administrar eficientemente as grandes empresas que se

formaram neste período. À medida que o controle pôr supervisão direta do

proprietário sobre a maioria dos subordinados vai se tornando difícil, as

relações pessoais entre os indivíduos vão sendo sobrepujadas pelas relações

funcionais. A sobrevivência da organização começa a depender da

contratação de administradores e técnicos profissionais competentes, dada a

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crescente complexidade das tarefas administrativas e tecnológicas tendendo

a burocratização.

Thompson, no seu livro Moderna Administração (1967), fala da

especialização dividindo-a em dois tipos: a especialização de tarefas e de

pessoas. A especialização de tarefas refere-se ao elemento de trabalho

especificado - abrangendo atividades mais específicas - enquanto a

especialização de pessoas refere-se à adaptação do indivíduo às condições

de sua existência.

A primeira representa a redução de atividades para simples e

repetitivas rotinas que tende a microdivisão de trabalho. A execução dessas

rotinas produz pouca mudança no indivíduo.

A segunda é um processo social. Ela estimula os homens a

reconhecerem suas mútuas dependências. Os dois conjuntos de

necessidades, pessoal e social, refletem o fato de que os sistemas

organizacionais devem promover o encontro de metas pessoais dos

participantes e a meta externa da organização formal e objetiva. A coesão é

uma necessidade organizacional devida à interdependência criada pela

especialização, que faz a realização das metas da organização dependerem

da cooperação. A meta da organização depende de cooperação que cresce

mais como o progresso de especialização.

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A predominância do espírito do racionalismo na burocracia reflete a

grande influência dos especialistas científicos e técnicos nas decisões da

organização. Como conseqüência, a preponderância desse espírito de

racionalismo torna o processo decisório muito mais produtivo.

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III- A Estrutura Burocrática

As organizações burocráticas possuem uma estrutura baseada em

algumas dimensões delineadas pôr Weber como: divisão do trabalho,

hierarquia de autoridade, normas extensivas, separação entre administração

e propriedade, salário e promoção baseados na competência técnica.

Richard Hall (apud Etzioni, 1976:33) sistematiza estas dimensões

atribuindo-lhes um contexto mais amplo:

1. “Divisão do trabalho baseado na especialização funcional.

2. Uma definida hierarquia de autoridade.

3. Um sistema de normas englobando os direitos e deveres dos ocupantes

de cargos.

4. Um sistema de procedimentos que ordenam a atuação no cargo.

5. Impessoalidade das relações interpessoais.

6. Promoção e seleção segundo a competência técnica”.

Estas dimensões estão mais presentes na burocracia de tipo ideal e

menos presentes nas organizações não-burocratas. Hall conclui que estas

dimensões existem de fato ao longo de um contínuo, e que esses contínuos

são mensuráveis. Como método de mensuração, Hall utilizou duas

alternativas: a observação das ações dos participantes da organização e a

utilização de entrevistas com os participantes da organização. As respostas

foram orientadas para as dimensões estruturadas.

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IV- Crítica ao modelo burocrático

O modelo burocrático desenvolvido pôr Weber é objeto de muitas

críticas devido a sua rigidez e disfunções que surgiram. O papel do homem,

neste modelo, é analisado considerando a perda do controle do indivíduo

sobre o seu próprio destino. Thompson (1967:13) vê o indivíduo

burocrático como um impotente e alienado. Mas reconhece que alguns são

capazes de manobrar bem a organização para alcançar importantes metas

próprias. Contudo, outros se fecham nos padrões burocráticos aceitando-os

até como proteção do mundo exterior.

Thompson vê a burocracia moderna como uma adaptação de velhas

formas de organização, que foram alteradas para se adaptarem aos

requisitos da especialização. A burocracia moderna procura enquadrar a

especialização à antiga estrutura hierárquica. Existe uma lacuna entre a

autoridade e a especialização, e esta lacuna aumenta de acordo com o

progresso tecnológico, como conseqüência da especialização. A causa

disso é a rapidez em que as modificações tecnológicas ocorrem em

comparação com as disfunções culturais das funções hierárquicas que são

rígidas. Esta situação produz tensões e reduz a vontade de cooperar. Pode

ser vista como a mais sintomática característica da burocracia moderna.

Outra crítica às organizações burocráticas é a aparente lentidão para

agir ou modificar, pois esta está amarrada à rotina. Sob certas condições

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normais, não se pode esperar que as organizações fundadas na

especialização e suas rotinas reajam imediatamente a cada estímulo.

A resistência às modificações também pode ser chamada de “atraso

cultural” e não é inerente apenas às organizações burocráticas mas a todas

as instituições. A especialização exige alguma garantia de estabilidade para

que as pessoas tenham tempo suficiente para adquiri-la.

Internamente a organização burocrática é uma estrutura complexa de

interdependência técnica, superimposta a uma estrita hierarquia de

autoridade. A interestrutura é caracterizada pôr uma preocupação com o

ideal monístico. A instituição burocrática é monocrática. É um sistema de

relações de funções superiores e subordinadas, em que a superior é a única

fonte de influência legítima sobre a subordinada. Todos da organização se

encontram em tal relação.

O modelo burocrático representa um sistema social mecanicista que

muda de aspecto quando se introduz o homem como elemento

transformador da abstração do “tipo ideal” para a realidade. Anteriormente

falou-se que a burocracia se desumaniza quanto mais se desenvolve. Na

citação de Weber sobre a superioridade técnica da burocracia, sua alta

precisão, sua eficiência, ele a comparou com uma máquina. Weber estudou

a burocracia de uma forma abstrata e estática e não dinamicamente,

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considerando os sentimentos, as necessidades, as crenças e os valores do

homem dentro da organização.

O excesso de burocratização, de formalismo e despersonalização

podem levar a uma “disfunção” que é a imprevisibilidade. Foi pôr causa

destes excessos que resultou uma concepção de burocracia como sinônimo

de ineficiência, representada pôr excesso de papéis, pôr funcionários

medíocres, incapazes de tomar decisões, mal treinados, corruptos etc.

As organizações para se assegurarem da previsibilidade do

comportamento dos seus membros, formalizam a relação entre eles através

de despachos pôr escrito, inúmeras normas, regulamentos, regimentos e

estatutos. E, também, garantem o cumprimento das regras instituindo um

complexo sistema de incentivos e punições.

Como conseqüência dessa administração, o funcionário torna-se um

especialista, não pôr possuir conhecimentos profissionais, mas porque

conhece integralmente todas as normas da instituição. O cumprimento

dessas normas desenvolve no funcionário uma disciplina baseada em

sentimentos que envolvem devoção ao dever, limitação da sua autoridade e

uma metódica realização das atividades de rotina, segundo Merton (1957).

O funcionário passa a atribuir grande importância as normas, resultando

numa distorção das finalidade e objetivos das próprias normas.

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A burocratização tem uma outra conseqüência causada pelo seu

excesso que reduz o desempenho dos funcionários a um nível mínimo

aceitável, segundo Gouldner (1954). Este nível mínimo de desempenho é

causado pelo cumprimento das normas que dá uma pequena margem de

liberdade de ação para o funcionário, que com o tempo passa a se contentar

com ele. Ao mesmo tempo que ele se prende às normas para dirigir suas

ações, ele apresenta resistência ao padrão de comportamento imposto pela

administração. Isso ocorre quando seu desempenho é medido em função da

simples observância ou não das normas existentes. Esse problema pode ser

contornado caso exista um sistema de promoção que valoriza mais o mérito

que a antiguidade.

O acúmulo de papéis é outra disfunção da burocracia que deriva do

excesso de formalismo e de que tudo que ocorre na organização deve ser

documentado. Este procedimento está correto, pois uma das vantagens da

burocracia é ser exercida através de documentos escritos que são

arquivados convenientemente. Estes documentos possuem naturezas

diversas como atos constitutivos da organização, seus estatutos, seus

regulamentos básicos, notas, faturas, relatórios etc. São esses documentos

que permitem a racionalização do trabalho, pois promove a comunicação

eficiente dentro da organização. Os documentos também são uma forma de

controle.

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O excesso de documentos é o grande problema, pois o grande desafio

é saber até onde empregar este artifício para não atrapalhar o andamento

dos processos. Uma administração eficiente é capaz de controlar o volume

de documentos num processo evitando, assim, os excessos.

Outra distorção da burocracia é o desentendimento que existe entre o

funcionário burocrático e o público. Este desentendimento ocorre pôr causa

do formalismo e da despersonalização que caracterizam a administração

burocrática. Motta e Pereira (1980:61) dizem que “o funcionário

burocrático tende a permanecer distante, impessoal, face aos problemas que

os indivíduos externos à organização lhe apresentam”.

A burocracia impõe um padrão de comportamento aos funcionários

como exigência de conformidade. Este padrão tem como base a disciplina e

o respeito às normas racionais-legais. Para Motta e Pereira (1980:63) “a

legitimidade do poder burocrático deriva da norma que o legaliza”.

A imposição de um padrão de comportamento gera conflitos devido

ao eventual desrespeito às normas e à estrutura da organização. Esse

desrespeito traduz-se no não reconhecimento de líderes naturais.

A burocracia racional de Weber compreende a organização formal

definida pôr Udy Jr.(1976:52), no livro Sociologia da Burocracia, como

“qualquer grupo social empenhado na consecução de objetivos explícitos e

declarados, através de esforços manifestamente coordenados”. Udy

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seleciona 7 características da burocracia que reformula apresentando-as da

seguinte forma:

a) “Uma estrutura hierárquica de autoridade é considerada como presente

se a organização possuir três ou mais níveis de autoridade

b) Um quadro administrativo especializado é mencionado se um número

qualquer de pessoas na organização estiver encarregado unicamente de

trabalhos que não sejam físicos.

c) As gratificações são consideradas como diferenciadas segundo o cargo

sempre que o fato for mencionado, seja com relação à quantidade ou

espécie de gratificação.

d) Supõe-se que uma organização possui objetivos limitados se, no caso da

amostra aqui utilizada, estiver exclusivamente comprometida com a

produção de bens materiais.

e) A ênfase no desempenho é considerada presente se o total da

gratificação depender inteiramente da quantidade ou qualidade do trabalho

executado.

f) A participação segmentar é considerada presente se a participação

basear-se em qualquer espécie de acordo mútuo limitado.

g) As gratificações compensatórias são mencionadas se os membros de

maior autoridade distribuírem recompensas aos de menor autoridade em

troca de sua participação.”

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V- A Organização burocrática no Brasil

A burocracia se desenvolveu no Brasil utilizando os mesmos

princípios que outros países, porém com algumas peculiaridades própria. O

Estado assume um papel transformador a partir da década de 30, com

Getúlio Vargas. Anteriormente o poder político estava nas mãos dos

produtores de café, elite agrária dominante, que detinha o poder. Os

acordos eram feitos conforme seus próprios interesses. Nessa época, os

burocratas eram escolhidos em função dos critérios e interesses dessa elite,

não havendo separação entre o público e o privado. De modo geral não

havia cidadão, mas servidor de algum patrão e o conceito de nação era

limitado e confundido com o Estado territorial. Em conseqüência, a noção

de cidadania e interesse comum não existia. Analisando-se a questão sob

ótica dos conceitos de Weber sobre dominação, o que existia no país era

uma sociedade estruturada através de um sistema de dominação

patrimonialista, com um reduzido aparato burocrático que servia apenas a

interesses pessoais das pessoas que compunham o poder.

Com o fim da República Velha, o novo Estado que surge se

aproxima mais da idéia de Res publica, possuindo mais autonomia ganha

pela perda da hegemonia da elite agrária. O Estado se transforma em

representação direta do povo, construindo e promovendo uma democracia

de massas e um conjunto de mudanças em sua estrutura.

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A partir da Revolução de 30, tem início a construção da nação, com a

noção de igualdade, de direitos do cidadão e do interesse comum do

aparelho social e das políticas dirigidas aos interesses do trabalhador

urbano e da indústria. Esta transformação do Estado, estruturada no modelo

weberiano, mostra os laços da relação sistema racional-legal com o aparato

burocrático. Monta-se um aparelho do Estado voltado para a elaboração e

implementação de políticas, a criação de carreiras técnicas e a classificação

de cargos para o exercício das atividades do serviço público. Mesmo neste

contexto a oligarquia agrária continua participando, dando o apoio político

e material necessários à restruturação do Estado. Nessa fase, entretanto,

ainda permanecem as relações clientelistas como traço importante do

sistema político.

O papel assumido pelo novo Estado é o de promotor do processo de

industrialização do país e de seu desenvolvimento, inserindo o Brasil no

mercado externo. O país assume o papel de potência industrial mudando

seu perfil agroexportador, com a construção de um aparato técnico,

centralizado no Estado, para regulação econômica e a ação direta na

produção, formando uma burocracia detentora de conhecimento técnico e

especializado dirigido para o projeto de industrialização.

Para a aceitação dessas idéias modernistas pôr parte das elites, foi

preciso manter as práticas clientelistas, abrindo, concomitantemente, a

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participação maior da sociedade neste projeto, garantindo, todavia, poder

suficiente para a elite assumir sua condição autoritária. Não só durante o

Estado Novo (1937-45) como em meio ao movimento de expansão e

diferenciação da indústria promovido pelo Plano de Metas do governo

Juscelino Kubitschek, vigorou esta política clientelista permeando todo o

sistema político “democrático”.

Durante o governo de Juscelino, grupos executivos desenvolveram

no Estado uma burocracia paralela que dirigia os seguimentos econômicos

e produtivos situados, em parte, na administração indireta, onde podiam

conduzir a estratégia de governo de expansão industrial com menos pressão

política.

No período de 30 à 64 construiu-se um sistema financeiro nacional e

uma nova burocracia, ocupando uma posição de destaque no processo de

elaboração e execução das políticas econômicas, na condução das finanças

públicas e na restruturação institucional dos vários governos deste período.

Foi neste momento que surgiu o Banco do Brasil com a seção de estudos

econômicos do Ministério da Fazenda, criada em 1934; o Departamento de

Administração do Serviço Público - Dasp, criado em 1937; a

Superintendência da Moeda e do Crédito - Sumoc, criada em 1945;

Assessoria Econômica da Presidência da República, criada em 1951; O

Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDE, criada em 1952; a

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Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste - Sudene, criada em

1959.

Neste momento forma-se o setor produtivo do Estado com uma

burocracia diferenciada surgindo o “executivo das empresas públicas”. Esta

burocracia se mantinha longe do Estado e possuía uma identidade híbrida

que promovia e participava do processo de desenvolvimento do país.

Enquanto se promovia o crescimento industrial, se legitimava como

empresariado do Estado de desenvolvimento capitalista. No governo

Vargas cria-se a Companhia Siderúrgica Nacional e a Vale do Rio Doce.

Este processo de produção vai se expandir até o final da década de 70,

destacando-se a criação da Petrobrás em 1953.

Essas empresas recebiam recursos públicos oriundos de uma

poupança forçada da sociedade e do crédito externo. O período de

industrialização durou de 1930 a 1980 e o Estado foi o principal investidor

neste setor, ampliando sua autonomia e participação na economia. O

Estado recebeu apoio das elites em troca da estatização dos custos privados

da industrialização, o que dificultou ao Estado solucionar as crises

econômicas produzidas neste período.

Todo este movimento desenvolvimentista formou dentro do Estado

uma burocracia profissionalizada, com conhecimento técnico e capacitação

capaz de dar seqüência ao projeto de industrialização. O Estado continuou

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a expandir-se com o regime militar, com a implantação de 302 novas

empresas estatais, a partir de 1964 (Tojal, 1997:63). Também vigorava,

neste período autoritário, um sistema judiciário precário, sem controle

sobre as instituições e as relações sociais emergentes e, principalmente,

sobre a estrutura administrativa do Estado.

As estatais do setor produtivo nacional desenvolveram um tipo de

burocracia que se aproximava das organizações privadas, adquirindo parte

de sua racionalidade dentre seus executivos. Também foi criada uma rede

de cumplicidades pessoais entre os interesses público e privados,

desenvolvendo um jogo político em torno de objetivos econômicos e de

poder. Este processo dificultou o desenvolvimento de projetos políticos

autônomos, pois estes deveriam coincidir com os interesses do Estado. Os

acordos e alianças pessoais eram feitos dentro dos objetivos pactuados pelo

governo e os capitais privado e estrangeiro.

Este processo desenvolvimentista durou até o início da década de 80,

diminuindo seu ritmo pôr causa da crise financeira internacional, que levou

o Estado a perder o apoio do empresariado, e da sua falência fiscal. A

estrutura do projeto de industrialização se mostrou frágil pela falta de

sustentação financeira e tecnológica. O Estado foi perdendo poder para

promover a política de estabilização devido a debilidade do pacto entre ele

e o empresariado que, neste momento, já não recebia a mesma “proteção”

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de antes. Enquanto isso, agravava-se a crise financeira que levou a uma

crise política, tornando o regime militar em vigor, ingovernável. Com o

enfraquecimento do pacto entre Estado e capitais, a ideologia

desenvolvimentista cedeu lugar a uma mais liberalizante que exigia a

redução da participação do Estado na economia. Essa transformação

ideológica induziu à reflexão sobre a necessidade de reorganização da

estrutura estatal e da administração pública.

O processo de reforma do aparelho do Estado começou com o

governo Sarney, sendo intensificada a partir da gestão de Collor e Itamar

Franco, continuando no governo do atual presidente Fernando Henrique

Cardoso. O atual programa de reforma pretende reestruturar o Estado,

marcando a separação entre o público e o privado e entre o Estado e o

mercado. O que se busca atualmente é promover uma mudança da

burocracia patrimonialista para a racional - gerencial.

Dentro desta nova proposta de governo, a intenção é evoluir do

modelo burocrata para o gerencial, estabelecendo controles a posteriori,

aumentando a autonomia administrativa e mudança da visão do cidadão

como cliente e não mais como um contribuinte.

A restruturação do Estado vem prosseguindo em ritmos variados,

influenciado pôr agentes públicos que participam do cenário político atual,

sendo remanescentes do período autoritário. Com este novo governo,

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alcançou-se uma relativa estabilidade político-econômica, favorecendo

mudanças nos segmentos burocráticos.

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Capítulo 2 - A REFORMA DO ESTADO

I - A Reforma do Aparelho do Estado

A reforma do Estado ocorre num momento em que o país enfrenta

uma séria de crises nos diversos setores do governo. Questiona-se com

maior ênfase o papel do Estado na economia, no setor produtivo e na área

social, uma vez que seu desempenho nestes setores tem declinado a cada

dia. Politicamente, o governo tem perdido apoio de vários segmentos da

sociedade, decorrente da crise que o país vem enfrentando e da falta de

perspectiva de solução.

Não é a primeira vez que se fala em reforma administrativa no

aparelho do estado. O moderno Estado Administrativo foi estruturado,

inicialmente, nas décadas de 30 e 40, durante o governo de Getúlio Vargas,

através da primeira Reforma Administrativa planejada que o país conheceu.

Este modelo foi substituído na década de 60 quando o Estado

institucionalizou o seu papel intervindo na área produtiva nacional. Ambos

os modelos foram desenvolvidos em períodos autoritários.

Em 1985, com a redemocratização, o Governo civil da Nova

República tentou, sem sucesso, adaptar as velhas estruturas governamentais

aos novos papéis determinados pela Constituição de 1988. Em 1990 o

Governo Collor implementou mais um processo de Reforma

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Administrativa, ainda em desenvolvimento, em busca de uma redefinição

do papel do Estado e de um novo modelo de Administração Pública, a nível

federal.

O Governo de Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de tornar

o Estado mais eficiente e moderno, no início do seu governo, propôs ampla

reforma administrativa, fiscal e previdenciária, ainda em processo de

aprovação pelo legislativo.

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II- Revisão dos Modelos Anteriores

É preciso fazer uma análise dos acontecimentos anteriores para

compreender melhor as atuais disfunções do Estado brasileiro e os diversos

modelos de Reforma Administrativa apresentados ao longo do tempo,

consubstanciados em três períodos distintos.

O primeiro período, vigorou da década de 1930 à 1960 com início

efetivo em 1937, quando se desenvolveu todo um esforço de inovação e

mudança do aparelho governamental. As premissas fundamentais eram a

reforma do sistema de pessoal, a implantação e simplificação de sistemas

administrativos e das atividades de orçamento, para dar maior eficiência à

Administração Pública Federal. Neste período foi criado o DASP -

Departamento Administrativo do Serviço Público - a grande agência de

modernização do primeiro processo planejado de Reforma Administra.

A característica mais marcante deste período foi de dar maior ênfase

à reforma dos meios (atividades de administração geral) do que à reforma

dos fins (atividades substantivas).

Esta Reforma obedeceu a uma orientação autocrática e impositiva

pôr ocorrer num período ditatorial (1937-1945) o que contribuiu para que a

Administração assumisse características de um sistema fechado. Com

ênfase na administração de pessoal, o DASP tentou universalizar o sistema

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do mérito no Brasil. Obteve relativo êxito durante o período, mas, já no

início do processo de redemocratização em 1945, foram nomeados os

primeiros extranumerários do serviço civil. Era o embrião das 104 tabelas

Especiais que persistiram até 1985 e significaram o desvio do modelo de

administração de pessoal implantado.

Este modelo se estendeu à área de material, através da tentativa de

simplificação e de padronização da compra de material de consumo e

material permanente e ao orçamento usado como plano administrativo. Este

etapa visava uma revisão da estrutura da Administração Pública Federal e a

uma atualização de sistemas e métodos governamentais, configurando a

implantação do modelo clássico da Administração Pública. Este modelo de

reforma entrou em colapso após 1945, com a queda do Estado Novo.

Somente sete anos mais tarde - em 1952 - esboçou-se um novo ciclo, que se

estendeu pôr dez anos, durante os quais se realizaram estudos e foram

elaborados projetos que não chegaram a se concretizar.

Foi a partir da década de 50 que começou a se configurar um projeto

nacional de desenvolvimento. Constatou-se a profunda ineficiência do

instrumental administrativo que pretendia respaldar a ação do Estado

brasileiro. A medida objetivava a reorganização em termos de prazos e

resultados. Essa nova consciência de ação governamental surge com a

“década do desenvolvimento” - em 1950 - proposta pela ONU, simbolizada

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no Brasil pelo Governo Juscelino Kubitscheck e seu Plano de Metas (1955-

1960).

O segundo período começou a partir de 1964, com o modelo clássico

praticamente substituído a partir de 1967. Nessa época estava se

consolidando o modelo chamado “administração para o desenvolvimento”,

voltado para a expansão da intervenção do Estado na vida econômica e

social e para a descentralização das atividades do setor público, tendo como

premissas básicas a substituição de funcionários estatutários pôr celetistas e

a criação de entidades da Administração Descentralizada para realização de

intervenção econômica do Estado.

A tentativa de modernização do aparelho do Estado especialmente a

partir da década de 60, teve como conseqüência a multiplicação da

Administração Indireta: fundações, empresas públicas, sociedades de

economia mista e autarquias. A expansão e a multiplicação de novos

centros da Administração Indireta buscavam maior agilidade e

flexibilidade de atuação dessas entidades, melhor atendimento às

demandas do Estado e da sociedade, facilidade de aporte de recursos e

facilidade de recrutamento, seleção e remuneração de pessoal.

Em sua maior parte, essas entidades eram pessoas jurídicas de direito

privado (cerca de 55%), fundações ou sociedades civis ou

concessionárias do setor público. Este fato demonstrava que,

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basicamente, o Estado estava procurando a flexibilidade que a legislação

comercial e civil proporcionava e que o Direito Administrativo não

possibilitava para promover sua pretendida descentralização.

Registrou-se, também, até certo ponto, uma expansão de

Administração Direta, fundamentalmente através do desmembramento

de Ministérios. Mas, sem dúvida, predominou no modelo o crescimento

da Administração Indireta a tal ponto que existe hoje uma dicotomia

entre o Estado tecnocrático e moderno, representado pelas entidades da

Administração Indireta, e o Estado burocrático, formal e defasado, que é

o Estado da Administração Direta, apesar da Reforma Administrativa de

março de 1990.

Somente em 1967, e com base nos estudos anteriores, foi editado o

Decreto-lei n.º 200, introduzindo profundas alterações na organização e

funcionamento do Estado Administrativo legado pela II República.

Para atingir os objetivos era preciso adotar uma política de

descentralização em três planos: dentro dos quadros da Administração

Federal; da Administração governamental para a órbita privada; e da

União para os governos locais.

Nesse contexto, a edição do Decreto-lei n.º 200 representou, sem

dúvida, um segundo momento importante nas tentativas de Reforma

Administrativa promovidas pela Administração Pública brasileira, ao

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estabelecer uma nova abertura conceitual, permitindo acelerar um

processo de adaptação da máquina administrativa para torná-la mais

eficaz, especialmente através da expansão da Administração Indireta.

O Decreto-lei n.º 200 apenas facilitou o processo de mudança de

andamento estabelecendo alguns preceitos adequados à evolução da

Administração Federal. A partir de sua implementação consolidou-se o

modelo de administração para o desenvolvimento que marcou, até hoje,

a evolução da Administração Pública.

O terceiro período, surgiu após 1985 e vigora até os nossos dias. O

clima político-institucional dos governos autoritários gerou um modelo

organizacional que se caracterizou pela centralização através de um

complexo aparelho burocrático. Um dos grandes desafios da Nova

República era reverter esse quadro transformando o aparelho

administrativo em ente reduzido, orgânico, eficiente e receptivo às

demandas da sociedade. A Reforma Administrativa proposta pelo governo

Sarney pretendia resgatar compromissos com as mudanças, promovendo a

reorganização do Estado que se encontrava com a máquina governamental

desarticulada, anacrônica, desestimulada e cada vez mais distante da

sociedade que ansiava pôr democracia.

O complexo e difícil caminho rumo a um regime democrático, a crise

econômica e as desigualdades sociais, além das distorções administrativas,

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tais como: a imagem do serviço público como fonte geradora de privilégios

e ineficácia; as 104 tabelas especiais e emergenciais criadas desde 1946,

com 396 níveis de vencimentos, 97 tipos de gratificações e os 100 mil

empregados que ingressaram no serviço público sem concurso durante o

período autoritário; as superposições de tarefas e conflitos de atribuições,

eram dificuldades que interferiam no projeto de reforma (SEDAP, 1988).

Em processos de Reforma Administrativa, a Administração Pública

precisa ser repensada para produzir mudanças e atender às demandas da

sociedade. O desafio dos anos 80 foi instalar sistemas administrativo que

pudessem acelerar o desenvolvimento e possibilitar ao País o uso efetivo de

seus recursos. No entanto, o complexo processo de Reforma Administrativa

vincula-se ao contexto econômico, social, político e cultural do País, não

podendo ser tratado somente com ênfase sob os aspectos legal e técnico.

No Governo da Nova República, segundo Marcelino (1995),

considerava-se a reforma um processo dinâmico e permanente que deveria

permear toda a máquina administrativa no esforço de novos modelos

gerenciais que lhe permitissem atender, de forma adequada, às exigências e

aspirações da sociedade brasileira. A Reforma possuía princípios que o

Governo considerava essenciais para a reorientação da Administração

Pública como a restauração da cidadania para prover os cidadãos de meios

para realização de seus direitos, obedecendo aos critérios de universalidade

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e acesso irrestrito; democratização da ação administrativa em todos os

níveis do governo, através de:

1. dinamização, redução do formalismo e transparência dos mecanismos de

controle;

2. controle do Poder Executivo pelo Poder Legislativo e pela sociedade ;

3. articulação e proposição de novas modalidades organizacionais de

decisão, execução e controle administrativo-institucional;

descentralização e desconcentração da ação administrativa com o

objetivo de situar a decisão pública próxima do local de ação, além de

reverter o processo de crescimento desordenado da Administração

Federal; revitalização do serviço público e valorização do servidor;

melhoria dos padrões de desempenho a fim de promover a alocação mais

eficiente de recursos.

Em março de 1985, o Governo Civil tomou a primeira medida de

Reforma Administrativa, designando um Ministro Extraordinário para

Assuntos de Administração, que passou a supervisionar o antigo DASP.

Em 31 de julho de 1985 foi instalada a Comissão Geral do Plano de

Reforma Administrativa para atuar em projetos específicos de avaliação da

Administração Pública Federal e de definição de diretrizes para áreas

prioritárias como a própria organização da Administração Federal, a área

de recursos humanos, ou ainda a informatização do setor público.

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A Comissão de Reforma trabalhou de agosto de 1985 a fevereiro de

1986, quando suas atividades foram interrompidas em razão da prioridade

dada ao Plano Cruzado. A partir de abril reiniciou-se o processo de

Reforma Administrativa com um grupo de estudos informais, a ser

implantado pelos próprios órgãos que o executariam. Após 6 meses

surgiram as primeiras medidas efetivas de desenvolvimento do programa

de Reforma. O programa tinha três objetivos fundamentais: racionalização

das estruturas administrativas, formulação de uma política de recursos

humanos e contenção de gastos públicos.

Do ponto de vista de estrutura havia o objetivo de fortalecer e

modernizar a Administração direta uma vez que a tendência era investir na

Administração Indireta. Tentou-se, mais uma vez, fortalecê-la retornando

às raízes do modelo clássico de administração. Como conseqüência, houve

uma tentativa de reverter o processo de crescimento da Administração

reduzindo o número de órgãos e entidades superpostos ou duplicados. Para

isso foi elaborada uma primeira versão da Lei Orgânica da Administração

Pública Federal, que substituiria o Decreto lei no 200.

Do ponto de vista dos recursos humanos, havia um claro objetivo de

valorização da função pública e de renovação dos quadros. A SEDAP,

através da instituição de uma nova Secretaria de Recursos Humanos e da

FUNCEP - Fundação Centro de Formação do Servidor Público,

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desenvolveria o pessoal do setor público, especialmente através da ENAP -

Escola Nacional de Administração Pública e CEDAM - Centro de

Desenvolvimento da Administração Pública. Este promoveria o

treinamento e reciclagem dos servidores públicos a serem eventualmente

remanejados. A ENAP se encarregaria de formar quadros de carreira e

novos quadros de dirigentes do setor público.

Existia, ainda, o objetivo de se promover a avaliação do desempenho

do servidor, através da institucionalização do sistema de mérito, graças ao

novo Plano de Carreira, ao Estatuto do Funcionalismo Público e a um

Plano de Retribuições. Pode-se dizer que a atuação da SEDAP obteve

relativo sucesso em iniciativas de reforma como a implantação da ENAP e

alguns instrumentos na área de serviços gerais. Da maior importância foi o

desenvolvimento do Cadastro Nacional do Pessoal Civil - CNPC - um

instrumento essencial para a reforma do serviço civil. A SEDAP não teve

sucesso, no entanto, no desenvolvimento de uma nova política de recursos

humanos. Na verdade, os princípios promovidos pela SEDAP e aceitos

pelos legisladores sob a forma de um regime jurídico único e um sistema de

carreiras (ingresso, desenvolvimento, classificação, promoção e

remuneração), está quase tudo pôr fazer.

A Reforma do Governo Collor se deu em 15 de março de 1990. Essa

reforma tinha o objetivo de racionalização do setor público, recuperando-

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se a capacidade de gestão e controle de suas atividades. O saneamento da

ação deveria contemplar a correção das distorções e ineficiência embutidas

que deram causa à desarticulação interna, com a prevalência de unidades

descentralizadas e o crescimento exagerado do corporativismo. A

apropriação do Estado pôr segmentos de sua própria burocracia contrapôs-

se aos interesses globais da sociedade, segundo o documento Diretrizes de

Ação do Governo Collor.

O Programa de Reforma Administrativa iniciou-se com uma ampla

restruturação ministerial, objetivando rever a estrutura então vigente,

herança ainda da era Getulista, desdobrada no tempo, com competências,

atribuições e objetivos definidos, evitando-se conflitos e superposições

entre ministérios e dentro deles. Os ministérios foram reduzidos de 18 para

12 (incluindo os militares) e fez parte desse programa a priorização das

atividades-fim, limitando-se a não mais que 30% os recursos a serem

utilizados nos órgãos-meio. A modernização organizacional permitiu a

reincorporação à Administração Direta das funções de Governo que

estavam inadequadamente atribuídas à Administração Indireta.

No caso das empresas do setor produtivo, o novo Governo procurou

aumentar o controle e avaliação de seu desempenho e produtividade; tornar

mais visíveis e disponíveis ao público as informações referentes a esse

desempenho; implantar procedimentos de fiscalização e auditoria interna e

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dar seguimento ao processo de extinção e privatização de atividades

próprias ao setor privado ou desnecessárias ao Estado.

A proposta de reformar a máquina estatal sempre foi consenso

nacional. Na verdade esse discurso tem constado na plataforma de todos os

candidatos à Presidência da República, mas ainda não foi tentada uma

reforma global de forma sucessiva, devido a impossibilidades políticas e

técnicas. Daí a tentativa de reformar as áreas prioritárias. Isto é

particularmente verdadeiro no caso do serviço civil, ponto central de

qualquer processo reformista.

A tradição e a extensão do clientelismo político do serviço civil, a

falta de cultura quanto ao sistema do mérito, o corporativismo dos

servidores, o patriarcalismo da classe dirigente e as iniquidades do sistema

de remuneração de servidores públicos são obstáculos que só podem ser

enfrentados com tempo e muita vontade política. No caso da remuneração,

um fator importante a considerar é a exaustão das finanças públicas.

A avaliação das tentativas de Reformas Administrativas planejadas

realizadas até hoje demonstra a insuficiência desses processos, pelo menos

em termos de melhoria da eficácia e eficiência da ação pública.

As propostas de Reformas Administrativas surgem a partir do novo

papel intervencionista que o Estado assumiu, no Brasil e na América

Latina, após a década de 30 e da necessidade de melhorar a capacidade de

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gestão. Foi a percepção desta necessidade que levou os países da região a

realizar, nos últimos 30 anos, amplos programas de Reforma

Administrativa com resultados duvidosos.

Marcelino (1955) no seu artigo Em busca do Estado moderno, afirma

que as Reformas promovidas até agora foram inadequadas devido a

aspectos como: a elaboração segundo modelos ou concepções de realidade

não ajustáveis à realidade brasileira; atuação preferencial sobre os meios,

não estando direcionados para o objetivo de instrumentação das políticas

do setor público; falta de concepção de estratégia que permita a viabilidade

de projetos de acordo com políticas de superação de resistências,

acomodação de conflitos, adequação aos recursos disponíveis e

determinações de finalidade no tempo.

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III- A Nova Reforma Administrativa

Para o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a reforma

Administrativa está diretamente ligada à reforma do Estado cujo objetivo é

superar a crise fiscal e para o crescimento da economia através da

estabilidade dos preços e do financiamento das inversões. As reformas são

orientadas para o mercado e para a justiça social.

O programa de reforma do Estado dirigido pelo Ministro Luiz Carlos

Bresser Pereira, pretende promover mudanças na estrutura do aparelho

estatal e seu pessoal e revisar o atual modelo burocrático clássico. Seu

objetivo é torná-lo mais barato e mais eficiente para melhor atender a

população. Em síntese, reformar o Estado significa dar uma resposta

positiva ao problema fundamental que ponteou o último quarto deste

século: a crise do Estado.

O Brasil tem vivido uma crise econômica nos últimos 15 anos que

manteve engessada a renda dos habitantes que conviveram com taxas altas

de inflação. Em 1994, com o Plano Real, foi reduzida a taxa de inflação a

níveis razoáveis. Este plano criou condições para a retomada do

crescimento, contudo, somente o Plano Real não é capaz de assegurar a

estabilização dos preços e nem o desenvolvimento econômico.

Com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, renasce a

proposta de se realizar uma nova reforma geral do Estado, especialmente

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no seu aparelho e no seu pessoal. Esta reforma busca diferenciar o núcleo

burocrático do Estado e o setor de serviços sociais e de infra-estrutura.

Este programa pretende tornar o Estado moderno, social

democrático, desempenhando as funções essenciais que lhe são próprias,

possuindo um núcleo burocrático exercitando as funções exclusivas do

Estado, com um setor de serviços sociais e de obras de infra-estrutura. O

núcleo burocrático corresponde aos 3 poderes, legislativo, judiciário e

executivo, assim como engloba as forças armadas, a polícia, a diplomacia,

a arrecadação de impostos, a administração do Tesouro Público e a

administração de pessoal do Estado. Este núcleo burocrático está voltado

para as funções de governo de forma exclusiva: legislar e tributar,

administrar a justiça, garantir a segurança e a ordem interna, defender o

país contra o inimigo externo, e estabelecer políticas públicas de caráter

econômico, social, cultural e de meio ambiente.

O Ministro Bresser Pereira (1995) no seu artigo La Reforma del

Aparato del Estado y la Constituición brasileña explica que neste núcleo se

encontram carreiras exclusivas do Estado, são elas: as carreiras dos

militares e da polícia, os juízes e os promotores de justiça, os fiscais e os

diplomatas.

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Ao setor de serviços cabe a execução de ações com qualidade aos

cidadãos. Pôr setor de serviços entende-se os serviços sociais e de obras de

infra-estrutura, quando realizados pelo Estado.

Para o atual governo, reconstruir o Estado significa superar a crise

fiscal e revisar as estratégias de intervenção no plano econômico e social,

abandonar as intervenções diretas e adotar formas reguladoras que

assegurem: uma administração pública mais flexível e eficiente; reduzir seu

custo; garantir melhor qualidade ao serviço público, em particular os

serviços sociais do Estado; valorizar o servidor público perante a

sociedade, ao mesmo tempo em que valoriza seu próprio trabalho,

aumentar sua motivação.

Ainda na administração pública, o programa pretende a

profissionalização do serviço público, protegendo-o contra o clientelismo e

a corrupção. Também visa a combater os excessos deste tipo de

administração que a tornam cara e ineficiente causado pôr: excesso de

rigidez e formalismo; desconfiança nas pessoas; centralização dos

processos e procedimentos.

Para a promoção destas mudanças é necessário uma reforma na

constituição de 1988, que tornou a administração pública rígida e

burocratizada. Em contrapartida, o Estado precisa definir com clareza suas

políticas públicas de caráter regulador na execução dos serviços sociais.

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Para isso precisa descentralizar, tornar mais flexível e eficiente os seus

procedimentos, dando aos órgãos prestadores de serviço autonomia

financeira e administrativa.

Bresser define flexibilidade na administração pública da seguinte

forma (Pereira, 1995):

1. permitir a existência de mais de um regime jurídico dentro do Estado, de

maneira a permitir que a administração direta volte a adquirir autonomia

e flexibilidade de gerência e financeira;

2. manter o regime jurídico estatutário somente para funcionários que

exercem funções no núcleo burocrático do Estado;

3. Conservar a estabilidade rígida prevista na atual constituição, segundo a

qual pode ser despedido o servidor que tiver cometido uma falta grave,

para as carreiras cujo exercício o funcionário necessite de proteção da

estabilidade, dadas as ameaças a que pode estar sujeito;

4. despedir o servidor que tenha baixo desempenho ou pôr excesso de

pessoal e assegurar indenização para o funcionário despedido nestas

condições;

5. possibilitar a existência de concursos internos para até 10% dos

concursos públicos, de maneira a estimular o desenvolvimento do

pessoal;

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6. definir os critérios para estabelecer carreiras fundamentais no núcleo

burocrático do Estado;

7. criar um projeto de lei para aumento de salário do servidor de qualquer

dos três poderes, garantindo a isonomia salarial, ao contrário da idéia de

isonomia como um direito subjetivo do servidor.

O programa de reforma não pretende acabar com a estabilidade de

emprego, ela pretende flexibilizá-la, mantendo-a para as carreiras

exclusivas do Estado. Os demais funcionários poderão ser despedidos

utilizando-se critérios como desempenho, excesso de pessoal etc. Todo

servidor competente e trabalhador que valoriza seu próprio trabalho será

beneficiado.

O sistema atual se mostra extremamente rígido, em que todos os

funcionários possuem estabilidade, a qual só se perde através de um

processo administrativo em que prove que o funcionário cometeu uma falta

gravíssima como roubo ou assassinato.

A Reforma da Previdência também faz parte do programa de

Reforma do Estado. Até agora o Estado se mostrou ser um mal gestor dos

fundos de capitalização e a Previdência possui hoje, um déficit muito

grande e incapaz de remunerar dignamente aqueles que dependem dela

para viver.

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Existem outros projetos para a Reforma Constitucional que também

são essenciais para o programa de reforma do Estado, como a

descentralização dos serviços sociais do Estado, distribuindo-os para os

estados e municípios. Esta última reforma se dará através da conceção de

autonomia financeira e administrativa das entidades de serviço do Estado,

em particular o de serviço social, como as Universidades, as escolas

técnicas, os hospitais, os museus, os centros de investigação e o próprio

sistema de previdência.

Faz parte do projeto do Ministério de Administração completar o

processo de profissionalização do administrador público. O administrador

médio deve ter curso superior e os altos administradores devem ter curso de

mestrado em administração, economia ou ciências políticas e matérias

afins. Os altos administradores ficariam destinados a ocupar cargos

superiores de todos os setores da administração pública, onde forem

necessários. O que se procura é um modelo de recrutamento e formação

misto, como o modelo norteamericano onde seus altos administradores são

recrutados nos cursos de pós-graduação do país. Há, também, o modelo

francês que possui sua própria escola nacional que forma administradores

públicos.

O programa de reforma do atual governo já está sendo implementado

através de propostas que são submetidas à votação pelo legislativo, assim

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como propostas de privatização de empresas estatais. A alienação dessas

empresas tem contribuído para a retirada do Estado do setor produtivo

existindo muitas dificuldades a serem vencidas e muita análise para que a

implementação do programa não acarrete prejuízos à sociedade.

O processo de privatização das empresas estatais ganhou força no

Governo Collor, perdendo um pouco seu ritmo no governo Itamar Franco.

No governo Fernando Henrique Cardoso, este programa voltou a ter

importância tendo sido privatizadas várias empresas siderúrgicas e do setor

elétrico.

A privatização foi um instrumento utilizado pelo governo para sanear

seus débitos. No momento, o Estado brasileiro consome aproximadamente

33% do PIB em todas os níveis, enquanto a carga tributária é de 25% do

PIB (Melo Neto, 1995:34). Podemos conferir que as despesas já estão fora

do controle do Estado enquanto os resultados e a eficiência dos serviços só

tem piorado. Como os índices de produtividades das estatais brasileiras são

baixos e falta recursos financeiros para investir em infra-estrutura, a

privatização passou a ser uma boa opção para o governo se recuperar

financeiramente.

A privatização de empresas estatais, questionada no mundo

todo, foi incrementada a partir da expansão das idéias liberais que tiveram

ascensão quando os países desenvolvidos enfrentaram, durante os anos 70,

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profunda crise econômica. Dessa forma, países como Estados Unidos e

Inglaterra formularam um intenso programa de privatização, reduzindo os

gastos públicos, provocando, entretanto, efeitos diretos sobre a área social

com a diminuição da proteção ao trabalhador. Hoje estes países, e outros

que também aderiram a esta politica, continuam enfrentando sérios

problemas econômicos e sociais (Gonçalves, 1994).

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IV- Reforma Fiscal

A Reforma Fiscal faz parte do conjunto de reformas do Estado. Ela

pretende reduzir o tamanho do Estado, racionalizar os gastos públicos,

simplificar o processo de tributação, combater a evasão e à sonegação. O

governo tem enfrentado muitas dificuldades neste setor devido a falta de

mobilização da sociedade em torno do problema fiscal para fazer pressão

aos interesses corporativos que fazem resistência ao programa.

Existe o argumento de que a redução do ônus tributário que recai

sobre o contribuinte brasileiro só poderá ser diminuído efetivamente

quando se reduzir o financiamento do setor público, determinado pôr uma

administração mais racional, que promova corte nos gastos e privatize

serviços. No caso do financiamento, a simplificação tributária poderá evitar

a multiplicação de tributos, a complexidade e instabilidade das normas e da

injustiça do sistema fiscal brasileiro.

É preciso considerar os objetivos da Reforma Fiscal antes de

implementá-las. Para o contribuinte, o objetivo está claro, é a redução da

sua contribuição e a certeza da aplicação dos recursos em benefícios à

sociedade. Para o governo a Reforma Fiscal significa uma saída para a

solução da crise econômica e a recuperação da credibilidade política. Como

existem conflitos entre o Estado, diversas categorias de contribuintes,

setores de atividade, e regiões do pais, o resultado final do processo

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depende daqueles com maior capacidade de articulação e de

convencimento.

Para que o resultado final da Reforma Fiscal atinja a todos os

beneficiários de forma positiva é preciso considerar alguns aspectos como a

responsabilidade, a visibilidade, o equilíbrio e a solidariedade.

A responsabilidade está relacionada à recuperação da ética tributária.

É o contribuinte satisfeito com a aplicação dos recursos públicos pelo

Estado, compensado pelo sacrifício do pagamento do imposto, e pela

redução dos sucessivos escândalos associados à corrupção e ao

clientelismo. Para se alcançar esta situação é necessário um maior controle

da sociedade sobre o gasto público. Para uma aplicação de recursos mais

transparente seria necessário que o Estado financiasse determinados setores

de acordo com recursos obtidos com base em tributos de sua competência.

Segundo Rezende “A ética tributária não é restaurada pela punição. Ela é

uma decorrência do reconhecimento da função social do tributo e do papel

que o Estado deve desempenhar no atendimento das necessidades coletivas

da população” (Rezende, 1995:155).

A visibilidade do gasto público e dos tributos para seu financiamento

são requisitos básicos para a restauração da responsabilidade. A vinculação

de impostos específicos para as despesas torna o gasto mais visível, mas

também torna mais rígida a utilização dos recursos públicos. Conhecer a

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natureza dos impostos que são utilizados para financiar gastos também

torna este processo mais visível. Como exemplo temos Impostos sobre a

renda, sobre o consumo e sobre a propriedade. Ao contrário, os impostos

que incidem comumente sobre a produção, as vendas, e as operações

financeiras não deixam visíveis sua aplicação. O fato de existir esses tipos

de contribuições e de manter a sociedade desinformada sobre a sua

aplicação, torna mais fácil para o governo aumentar seus gastos e

desperdício sem resistências.

O equilíbrio depende de um Estado descentralizado, e menos

intervencionista, pois com uma economia com características tão desigual

em todos os seus setores, este processo se torna mais complexo. O mais

difícil é criar um modelo fiscal que torne a contribuição das empresas

proporcional aos seus tamanhos, que evite prejuízos aos segmentos mais

desprotegidos da sociedade e que não sejam cancelado os incentivos e

subsídios de setores importantes que deles depende a sua sobrevivência.

Este modelo também deve assegurar uma repartição de responsabilidade

mais equilibrada. Buscar o equilíbrio significa buscar uma solução

compatível com a heterogeneidade das situações até aqui consideradas.

É importante rever a finalidade e objetivo dos impostos e que eles

sejam aplicados de forma justa com o apoio da sociedade. Esses recursos

devem estar voltados para o desenvolvimento econômico e para prover de

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serviços públicos as regiões mais necessitadas. Também os incentivos

fiscais devem dar lugar, quando possível, a um programa preferencial de

investimentos voltado para a melhoria da infra-estrutura econômica das

regiões menos desenvolvidas.

A sociedade baseia-se no princípio de cada um contribuir um pouco

para o bem de todos, pois assim é possível reduzir a carga tributária que

incide em cada cidadão. Este princípio pode ser aplicado no campo dos

direitos sociais e nas relações trabalhistas em que estão compreendidos os

encargos previdenciários e as demais contribuições sociais no custo de

produção que afetam diretamente a competitividade da empresa brasileira.

O ponto fraco da Reforma Fiscal está no sistema previdenciário que inclui

a Previdência, programas de saúde e assistência que são mantidos pelo

sistema de seguridade social. A contribuição compulsória de empregados

para a previdência é objeto de outro programa de reforma, que é o da

Previdência.

Finalmente, para financiar o gasto público deve-se deixar claro os

recursos derivados de poucos tributos, tornando-os mais abrangente e

possuindo alíquotas fixadas em níveis moderados para poder ampliar o

universo de contribuintes. Estes recursos devem sustentar as atribuições do

governo e preservar o desejável equilíbrio regional.

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V- Reforma da Previdência

Os fatores que afetam a taxa de crescimento da economia brasileira

são o déficit fiscal e taxa de poupança, que estão indiretamente associados

ao modelo previdenciário do país. Manter o atual modelo implica em

aumentar o déficit público causado pelo desequilíbrio atuarial da

Previdência social. O resultado, é um déficit de caixa causado pelo

envelhecimento progressivo da população e da diminuição da poupança

agregada da economia. Se modificar o atual sistema previdenciário,

reduzindo seu desequilíbrio, isso afetará diretamente as finanças públicas e

o nível de poupança (Giambiagi, 1994).

O programa de Reforma da Previdência do atual governo está focado

na previdência pública que é considerado como questão fundamental para a

superação da crise fiscal do Estado. Para Bresser Pereira (1995:20), a grave

crise dos sistemas previdenciários público e privado se derivam de uma

concepção equivocada do que deve ser a aposentadoria. O sistema de

pensão existe para garantir uma aposentadoria digna para aqueles que não

podem mais trabalhar e não para garantir um segundo salário a indivíduos

que ainda tem capacidade para trabalhar.

Os sistemas previdenciários garantidos pelo Estado, em todo o

mundo são sistemas de distribuição, onde os funcionários ativos pagam

cotas referentes as pensões dos inativos e pensionistas. Neste sistema de

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distribuição é preciso que haja um equilíbrio entre o número de

contribuintes e o número de aposentados que se beneficiam deste sistema.

No Brasil ocorre que muitos se aposentam pôr volta dos 50 anos de

idade, entre estes estão altos funcionários públicos e professores. O

número de aposentados cresce mais em relação ao número de trabalhadores

ativos e com a redução da taxa de natalidade, esta estrutura tende a se

modificar mais rapidamente. Pôr isso a crise financeira da previdência se

apresenta como prioridade para sua superação. É uma crise que tende a se

agravar na medida em que a relação entre os jovens que contribuem à

Previdência vai diminuindo.

No caso da Previdência pública a situação fica pior, pois as

contribuições dos funcionários é menor que o prazo dos pensionistas. O

Estado tem que financiar 1/5 do custo anual das pensões dos inativos. Este

sistema só sobrevive porque o Tesouro paga a diferença. Para sanear estes

problemas o governo tem no seu projeto de reforma um programa de

reforma da Previdência.

O programa do Ministro Bresser apresenta regras adotadas pela

previdência privada que, se aplicadas à previdência pública, poderiam

garantir um custo razoável para o sistema de previdência:

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a) aposentadoria pôr idade corrigida pôr tempo de serviço, fazendo com

que os funcionários se aposentem pôr volta dos 60 anos, dez anos a mais

do que acontece agora;

b) o valor da aposentadoria, baseado nas últimas remunerações recebidas,

deverá ser proporcional a contribuição e não integral, mantendo o

previsto pela Constituição de 20%.

Ainda analisando o caso da previdência pública, o Ministro informa

que deve ser efetuado uma base de cálculo atuarial. Considerando a

contribuição dos funcionários e do Estado para aposentadoria, as idades

médias em que o funcionário começa a contribuir, se aposenta e falece, e

considerando o retorno razoável do fundo virtual, será possível calcular e

estabelecer pôr lei a proporção média dos últimos salários do funcionário

que constituirá sua aposentadoria. Os cálculos aplicados ficarão em torno

de 80% do salário referencia.

Está claro que o atual sistema é muito caro para o Estado e precisa

ser reformulado, inclusive para garantir uma remuneração mais digna aos

que dele dependem. Com a intensão de se evitar um déficit maior, as

propostas de reforma da Previdência social apresentadas pelo atual

governo, convergem para a criação de um regime misto, que preserva os

mecanismos típicos do regime de representação ampliando para a formação

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de fundos de capitalização individuais e o fortalecimento dos fundos de

pensão.

Para garantir este programa é preciso que se fortaleça os

mecanismos de fiscalização do sistema, tanto na concessão de

aposentadorias pelo INSS como na aplicação dos fundos de pensão em

geral. Deve-se acabar com as fraudes no sistema e nos sistemas financeiros

pôr parte das instituições que venham a receber novos depósitos e garantir

a segurança dos aposentados e pensionista de hoje. Essas medidas

propiciam maior justiça e equidade na contribuição.

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VI- Importância de uma Reforma Administrativa

A reforma administrativa não deve ser vista como solução das falhas

do governo, pois nem todas as causas são de origem administrativa.

Parte da ineficiência das organizações públicas são de origem

administrativa e da falta de habilidades gerenciais. A própria estrutura do

sistema não ajuda a vencer os problemas que dele decorrem. As condições

de trabalho dos funcionários muitas vezes não permitem que se preste um

serviço eficiente e de qualidade, ocasionando, assim, frustrações pôr ter que

trabalhar com situações desfavoráveis e também pela baixa qualidade da

vida funcional.

Não são poucas as dificuldades enfrentadas pelos funcionários

públicos, que devem lutar diariamente contra a inércia, as diversas pressões

e as condições operacionais desfavoráveis.

O excesso de normas e procedimentos levam a um atraso no

andamento do processo tornando-o demorado e ineficiente. Isso

compromete a imagem do serviço público e dos seus servidores perante a

sociedade.

As soluções dos problemas para tornar os órgãos mais eficientes são

muitas, Paulo Motta propõe que seja feita uma análise que deve,

primeiramente, fazer um levantamento das condições, necessidades,

demandas e apoio da população atendida. A simples análise dos objetivos,

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funções e procedimentos dos órgãos pode levar a soluções que em nada

modificarão a situação precária existente.

Motta diz que a problemática administrativa está relacionada a

infra-estrutura política e isso pode ser melhor entendido ao analisar as

funções desempenhadas pelo Estado na Sociedade. Para o autor, atribuir

novas funções ao Estado e a Reforma Administrativa não são suficientes

para garantir eficiência, eficácia ou justiça social.

A Constituição e as leis que regem a administração pública

não garantem seu êxito. O sucesso da administração democrática depende

da prática política desses valores, como as formas gerenciais que se

utilizam na administração dos assuntos públicos.

“A ausência de uma prática de administração democrática

produz na população incredulidade e desconfiança a respeito da capacidade

de governo dos políticos e burocratas” (Motta, 1994:10). Assim, as

estruturas administrativas do governo são vistas como incapazes de

alcançar os interesses da população.

A Reforma Administrativa está diretamente relacionada com a

credibilidade da população no Estado. Esta credibilidade precisa ser

recuperada para possibilitar o aumento da capacidade administrativa do

governo e de seus funcionários. As bases ética e morais da ação

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governamental devem ser reforçadas para mudar sua imagem diante da

sociedade.

Atualmente, “as bases para uma gestão pública democrática

tendem a ser definidas pelos direitos de controle público, as obrigações

sociais claramente estabelecidas e os ideais de melhor profissionalização do

serviço público” (Motta, 1994:10).

Segundo Motta é necessário estabelecer uso do poder político-

administrativo dentro dos limites do bem comum, assim como garantir

mecanismos de participação, supervisão e controle que facilitem o uso

democrático do poder.

Para Motta (op. cit.:11), entre os atuais fatores de pressão

sobre a gestão governamental pode-se destacar:

1.demandas pôr formas mais democráticas de gestão governamental;

2.novas expectativas sobre um desempenho mais eficiente e eficaz da

administração pública;

3.demandas pôr mais e melhores serviços pôr parte do governo;

4.aceitação de um novo papel do Estado, com redimensionamento de

suas funções;

5.pressão para desconcentrar a máquina administrativa do Estado

unidas às pressões para a descentralização e a gestão pública comunitária;

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6.maior politização de funcionários que, como classe ou como

grupos profissionais diversos, articulam interesses coletivos para interferir

na política pública;

7.pressões para a reconstrução da ética na gestão e nos assuntos

políticos;

8.demandas de maior transparência e responsabilidade pública.

Na gestão pública está compreendido o sentido social, político e

econômico que faz parte dos parâmetros da vida organizacional das

instituições públicas. A infra-estrutura da administração pública é

determinada pelo tipo de relação entre Estado e sociedade. Quanto maior os

laços, aumentando os direitos de cidadania e tornando o Estado espelho da

sociedade.

Na realidade o que se presencia hoje é justamente o inverso, vemos o

Estado como instrumento de poder servindo a grupos privilegiados que

dominam parte da máquina administrativa. O Estado tem respondido

menos aos interesses da sociedade e mais aos de grupos preferenciais.

Esses grupos atuam de forma a obter a cooperação, ajuda e proteção mútua

de seus membros, pôr meio de canais formais de administração, mas

também através de organizações informais como uma rede de apoio, de

comunicação e de interação ligada pôr laços de natureza política, religiosa,

parentesco, etc.

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As tentativas de Reforma Administrativas planejadas e

realizadas até hoje demonstram a insuficiência desses processos, pelo

menos em termos de melhoria da eficácia e eficiência da ação pública.

As reformas promovidas se mostram inadequadas diante da

realidade, uma vez que já foram utilizados modelos ou concepções de

realidade não ajustáveis à realidade brasileira. Os meios utilizados não

direcionados para o objetivo de instrumentação das políticas do setor

público. Há falta de uma concepção estratégica que permita a viabilidade

de projetos de acordo com políticas de superação de resistências,

acomodações de conflitos, adequação aos recursos disponíveis e

determinações de finalidade no tempo.

Outras medidas adotadas para a promoção da reforma, como

extinção de órgãos e entidades e de demissão e disponibilidade de

servidores, provocam insegurança e inércia dos funcionários públicos

levando a quase paralisação da máquina, refletindo negativamente no

processo reformista.

Pôr outro lado, os projetos voltados para a melhora de

qualidade dos serviços através de formação, aperfeiçoamento e treinamento

dos servidores, demoram a ser implementados. O enxugamento do Estado e

da (construção) de gastos públicos estão sendo parcialmente cumpridos,

mesmo comprometendo a prestação do serviço.

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A reforma administrativa não pode ser vista como salvação das

distorções sociais existentes. Tornar a administração pública eficiente e ágil

nas respostas às demandas da população é uma tarefa extremamente

complexa. Sua característica autocrática e impositiva concentrada nos

meios orientada para instrumentos, métodos e processos são difíceis de ser

alterados para uma gestão mais ágil e moderna.

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CONCLUSÃO A burocracia serviu como modelo pôr um longo tempo e continua

servindo ainda hoje para alguns tipos de organização. Com as

transformações nas relações de trabalho causadas pelo desenvolvimento

tecnológico, as organizações públicas estão buscando novas formas de

administração substituindo, assim, o modelo burocrático pôr outros mais

flexíveis. Contudo, o princípio da racionalidade da burocracia, que busca a

eficiência e utiliza critérios coerentes de controle, são difíceis de serem

substituídos.

A organizações públicas brasileira seguem o modelo burocrático com

sua estrutura hierárquica, regida pôr normas rígidas e centralizadas. Devido

a sua atuação na prestação de serviços, este modelo está sendo questionado.

O Estado centralizador que não atende às necessidades da sociedade faz

com que se busque outras alternativas de gestão como terceirização,

parcerias com o setor privado e privatização das empresas estatais.

A administração burocrática se expandiu com o desenvolvimento

tecnológico que tornou as organizações mais complexas e de grandes

dimensões. São muitas as dificuldades para substituir este pôr outro modelo

de administração, o que se pode fazer é torná-lo mais flexível e menos

centralizador dando às organizações estatais autonomia administrativa para

gerir seus recursos de forma independente.

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Hoje a administração pública está em questão, pois se busca a

modernização do Estado alterando seu perfil patrimonialista para um

gerencial-racional. Esta questão se intensificou devido a crise nos diversos

segmentos do governo, exigindo que se faça uma profunda mudança no

aparelho estatal. O papel do Estado empresário, negligenciando a área

social, fez com que seu prestígio diminuísse perdendo apoio de vários

segmentos da sociedade.

Não é a primeira vez que se fala em reforma administrativa, outros

governos anteriores promoveram algum tipo de reforma, mas o atual

governo precisa realizar uma reforma efetiva no seu aparelho no sentido de

vencer a crise fiscal e fazer com que a economia volte a crescer, reduzindo

as injustiças sociais.

O programa de Reforma do Estado inclui a reforma na administração

pública alterando sua estrutura para toná-lo mais econômico, flexível e

eficiente. Neste programa de reforma está incluída a reforma constitucional

que é essencial para a maior descentralização dos serviços públicos para

estados e municípios. O projeto de reforma fiscal também faz parte do

conjunto de reformas do Estado que pretende diminuir o seu tamanho,

racionalizar seus gastos, simplificar a tributação e combater a sonegação.

Neste projeto de reforma está incluída a reforma da previdência que afeta a

taxa de crescimento da economia pôr gerar déficit fiscal e na taxa de

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poupança. O atual sistema previdenciário já se tornou inviável necessitando

de mudanças que garantam aos pensionistas e aposentados benefícios

dignos, evitando, também, as fraudes e desvios de receita.

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