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ISSN 2176-1396 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES Marzely Gorges Farias 1 - UDESC Zelindro Ismael Farias 2 - PROVITA/SC Soeli Francisca Mazzini Monte Blanco 3 - UDESC Fábio Manoel Caliari 4 - UDESC Eixo Educação e Direitos Humanos Agência Financiadora: Fundo Elas e PAEx Resumo A formação integral das pessoas, em todas as fases da vida e em todos os espaços sociais, é condição inegável para analisar argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação, posicionando-se criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem a cidadania e os direitos humanos das mulheres e das meninas. Destarte, o desafio de universidades brasileiras direciona-se para uma intervenção na solução deste problema de relevância sociocultural e espacial por meio de um processo educativo, científico e cultural. A partir da temática educação em direitos humanos e políticas públicas, esta pesquisa qualitativa exploratória, realizada tecnicamente em fontes documentais e bibliográficas, objetiva, do ponto de vista das premissas sócio-históricos, na perspectiva da questão dos direitos humanos das mulheres, analisar o conteúdo das normativas da Organização das Nações Unidas (ONU) - ratificados pelos Estados Membros, como o Brasil. Para tanto, visa contribuir com uma formação docente crítica, em respeito a dignidade humana, à equidade e ao diálogo de saberes entre docentes e discentes, que possibilite, no sistema de ensino e nas escolas, ações pedagógicas preferencialmente, de forma transversal e integradora - em prol da eliminação das discriminações e violências contra mulheres e meninas, em especial, dos indicadores de estupro e de feminicídio. Considerando que, na concepção humanista da 1 Doutora em Engenharia Mecânica: Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Técnica de Braunschweig - Alemanha. Professora do Curso de Pedagogia a Distância da UDESC/CEAD. Professora Adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Pesquisadora do Laboratório de Políticas Públicas e Direitos Humanos do CEAD/UDESC - Brasil. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Planejamento Territorial e Urbano e Desenvolvimento Socioambiental: UDESC/FAED. Coordenador de segurança do Programa de proteção à vitimas e testemunhas PROVITA/SC. Pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas e Direitos Humanos CEAD/UDESC. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UDESC/CEAD, Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação UDESC/CEAD. Professora Adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Pesquisadora do Laboratório de Políticas Públicas e Direitos Humanos do CEAD/UDESC. E-mail: [email protected] 4 Doutorando em Educação Tecnologia Educativa pela Universidade do Minho (Portugal), Professor do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da UDESC/CEPLAN. Professor Assistente da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E A QUESTÃO DA

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES

Marzely Gorges Farias1 - UDESC

Zelindro Ismael Farias2 - PROVITA/SC

Soeli Francisca Mazzini Monte Blanco3 - UDESC

Fábio Manoel Caliari4 - UDESC

Eixo – Educação e Direitos Humanos

Agência Financiadora: Fundo Elas e PAEx

Resumo

A formação integral das pessoas, em todas as fases da vida e em todos os espaços sociais, é

condição inegável para analisar argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e

nos meios de comunicação, posicionando-se criticamente em relação a conteúdos

discriminatórios que ferem a cidadania e os direitos humanos das mulheres e das meninas.

Destarte, o desafio de universidades brasileiras direciona-se para uma intervenção na solução

deste problema de relevância sociocultural e espacial por meio de um processo educativo,

científico e cultural. A partir da temática educação em direitos humanos e políticas públicas,

esta pesquisa qualitativa exploratória, realizada tecnicamente em fontes documentais e

bibliográficas, objetiva, do ponto de vista das premissas sócio-históricos, na perspectiva da

questão dos direitos humanos das mulheres, analisar o conteúdo das normativas da Organização

das Nações Unidas (ONU) - ratificados pelos Estados Membros, como o Brasil. Para tanto, visa

contribuir com uma formação docente crítica, em respeito a dignidade humana, à equidade e ao

diálogo de saberes entre docentes e discentes, que possibilite, no sistema de ensino e nas

escolas, ações pedagógicas – preferencialmente, de forma transversal e integradora - em prol

da eliminação das discriminações e violências contra mulheres e meninas, em especial, dos

indicadores de estupro e de feminicídio. Considerando que, na concepção humanista da

1 Doutora em Engenharia Mecânica: Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Técnica de

Braunschweig - Alemanha. Professora do Curso de Pedagogia a Distância da UDESC/CEAD. Professora Adjunta

da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Pesquisadora do Laboratório de Políticas Públicas e

Direitos Humanos do CEAD/UDESC - Brasil. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Planejamento Territorial e Urbano e Desenvolvimento Socioambiental: UDESC/FAED. Coordenador

de segurança do Programa de proteção à vitimas e testemunhas – PROVITA/SC. Pesquisador do Laboratório de

Políticas Públicas e Direitos Humanos CEAD/UDESC. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Professora do curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas da UDESC/CEAD, Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação – UDESC/CEAD.

Professora Adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Pesquisadora do Laboratório de

Políticas Públicas e Direitos Humanos do CEAD/UDESC. E-mail: [email protected] 4 Doutorando em Educação – Tecnologia Educativa pela Universidade do Minho (Portugal), Professor do curso

de Bacharelado em Sistemas de Informação da UDESC/CEPLAN. Professor Assistente da Universidade do Estado

de Santa Catarina (UDESC). E-mail: [email protected]

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Educação, este desafio está presente na formação integral aspirando à reorientação de estilos de

vida coletivos e individuais com vista à proteção dos direitos humanos e expansão da cidadania

das mulheres e meninas para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

Palavras-chave: Educação em Direitos Humanos. Direitos Humanos das Mulheres. Formação

Docente. Violência de Gênero. Organização das Nações Unidas (ONU).

Introdução

Analisar argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de

comunicação, posicionando-se criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem

os direitos humanos das mulheres e das meninas é condição inegável da formação integral das

pessoas em todas as fases da vida e em todos os espaços sociais.

Destarte, o desafio de universidades brasileiras direciona-se para uma intervenção na

solução deste problema de relevância sociocultural e espacial por meio de um processo

educativo, científico e cultural. Processo esse dimensionado como uma ação política,

estratégica democratizante do conhecimento com metodologias para assessorar e colaborar com

o sistema de ensino e as escolas, a sociedade civil e o poder público. Uma educação com

equidade de gênero aspirando a minimização da reprodução de discriminações e os seus

impactos na própria sociabilidade e sobrevivência de mulheres e meninas.

Diante da premissa da indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão, a opção por

cursos de formação docente (inicial e continuada) se justifica dado o fato de serem estas as

pessoas referências em suas comunidades, seja no litoral e, principalmente, no interior. Aliado

a isto, ainda, destaca-se a abrangência e a responsabilidade deste público em suas intervenções

pedagógicas e gerenciais. Por fim, destaca-se a possibilidade de estimular este segmento social

a se envolver com tais questões, tornando-se um público parceiro e qualificado para a

operacionalização de políticas públicas nas comunidades interna e externa das escolas. Neste

sentido, a mobilização e construção do conhecimento sobre a delimitação da temática – políticas

públicas e educação em direitos humanos das mulheres e meninas - permite integrá-los em

projetos de ensino, pesquisa e extensão (inclusive de intervenção pedagógica nas disciplinas de

estágio curricular supervisionado). Ações transversais estas que visam contribuir para uma

formação docente integral, numa perspectiva humanista, que respeita a dignidade humana e o

diálogo de saberes entre docentes e discentes. Possibilitando, dessa forma, segundo a

Organização das Nações Unidas (ONU), a implementação dos princípios de empoderamento

das mulheres, em todas as dimensões socioespaciais e em todas as fases da vida, com vista à

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redução dos indicadores de violências de gênero, principalmente dos indicadores de estupro e

de feminicídio.

Dessa forma, observado as diretrizes do Decreto nº 7.037/2009 - que aprovou o

Programa Nacional de Direitos Humanos -, este artigo tem como objetivo apresentar, no

contexto de um projeto de pesquisa e de um programa de extensão universitária, uma análise

do conteúdo das normativas da ONU na perspectiva dos direitos humanos das mulheres e das

meninas. Contribuindo, assim, na construção do conhecimento necessário à formação docente

crítica - nos cursos de licenciatura e pedagogia - possibilitando incorporar a abordagem deste

tema contemporâneo - que afeta a vida humana em escala global - às propostas pedagógicas do

sistema escolar e das escolas, preferencialmente de forma transversal e integradora.

Para tanto, segundo o delineamento metodológico para o atendimento do objetivo,

realizou-se uma pesquisa qualitativa exploratória, com consulta técnica documental e

bibliográfica, para a qualificação e contextualização de reflexões acerca dos conceitos e

premissas sócio-históricas na questão dos direitos humanos das mulheres presentes nos

conteúdos dos documentos da ONU. Para dar conta do objetivo, este artigo está estruturado em

três partes. Nessa introdução, demonstra-se, a partir da problemática, a relevância, justificativa

e o objetivo da pesquisa. O desenvolvimento trata do aprofundamento da discussão sobre o

objetivo da pesquisa - para a definição da metodologia - com a finalidade de apresentar a

fundamentação teórica e a análise dos resultados fundamentada nos conteúdos dos documentos

da ONU. A terceira, e última, parte apresenta as considerações finais e se encerra com a

apresentação das referências.

Desenvolvimento

A construção das discriminações de gênero estão diretamente relacionadas as diferenças

socialmente construídas que são naturalizadas, isto é, são atribuídas a uma suposta essência

masculina ou feminina com diferentes papéis e lugares sociais, que implicam diferentes valores

e capacidades atribuídos a mulheres e homens na sociedade e, consequentemente, acesso

desigual a recursos, oportunidades e benefícios.

No contexto da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL-MEC, 2017), o

compromisso da escola de propiciar uma formação integral, balizada pelos direitos humanos e

princípios democráticos, considera a necessidade de desnaturalizar qualquer forma de

discriminação e de violência na sociedade contemporânea. Destarte, a escola como espaço

formador e orientador para a cidadania consciente, crítica e participativa abarca a

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responsabilidade do desenvolvimento desta compreensão pelos educandos como sujeitos com

histórias e saberes, que são construídos nas interações, tanto do entorno social quanto do

universo da cultura midiática e digital, portanto, sujeitos que devem exercer o poder de análise

e de crítica sobre o desrespeito aos direitos humanos fundamentais. Ações pedagógicas –

preferencialmente de forma transversal e integradora -, observado os direitos de aprendizagem,

devem, portanto, estimular a formação ética - elemento fundamental para a formação das novas

gerações -, auxiliando os educandos a construir um sentido para solidariedade e de

responsabilidade para valorizar o respeito aos direitos humanos, e a participação e o

protagonismo de movimentos sociais – como grupos de mulheres segundo a teoria crítica -

voltados para o bem comum.

Dessa maneira, ações pedagógicas sobre a história da Organização das Nações Unidas

e a questão dos direitos humanos das mulheres contribui para o adensamento de conhecimentos

sobre a participação no mundo social e a reflexão sobre questões sociais, éticas e políticas,

possibilitando a formação integral dos educandos e o desenvolvimento da autonomia

intelectual, bases para uma atuação crítica e orientada por valores democráticos, tanto em suas

interações sociais presenciais e midiáticas. A mobilização e construção de conhecimento sobre

os conteúdos dos instrumentos jurídicos da ONU, ratificados pelo Estado Brasileiro, permite a

abordagem pelo docente – formado em cursos de licenciatura e pedagogia com conteúdos em

direitos humanos e políticas públicas - e o entendimento pelo educando sobre as premissas

sócio-históricas dos direitos humanos das mulheres, que podem resultar em: 1) analisar o papel

das mulheres segundo a divisão sexual do trabalho; /2) relacionar as conquistas de direitos

políticos, sociais e civis à atuação de grupos de mulheres (movimentos sociais feministas e de

apoio à mulheres); /3) compreender a importância da Organização das Nações Unidas (ONU)

e os propósitos dessa organização à proteção dos direitos fundamentais das mulheres; /4)

relacionar a origem da Declaração dos Direitos Humanos Universais ao processo de formação

e proteção dos direitos das mulheres; e, /5) compreender as transformações no debate sobre as

questões de violência de gênero no Brasil.

Diante deste objetivo amplamente apresentado, deve-se fazer, assim, a exposição dos

caminhos para o cumprimento da proposta de pesquisa científica segundo a abordagem e as

técnicas de pesquisa.

Explicitação da Metodologia da Pesquisa

Miriam Goldemberg (2004) destaca em seu livro sobre a arte de pesquisar, que

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[...] quando falo de Metodologia estou falando de um caminho possível para a

pesquisa científica. O que determina como trabalhar e o problema que se quer

trabalhar: só se escolhe o caminho quando se sabe aonde se quer chegar (p. 14).

Maria Cecília de Souza Minayo (1994, p. 18) estabelece que as concepções teóricas de

abordagem subsidiam o diálogo com a prática, portanto, as teorias são

[...] explicações parciais da realidade e que estas cumprem importantes papéis,

esclarecendo melhor o objeto de investigação, auxiliando no levantamento dos

questionamentos, do problema com mais propriedade. Desta forma, permitindo

melhor organização, ‘iluminando’ a analise dos dados (grifo nosso).

Neste sentido, Minayo (1994, p. 14) estabelece o seu significado de metodologia da

pesquisa como sendo

[...] o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade.

Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método),

os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a

criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua

sensibilidade)”

Goldenberg e Minayo destacam a importância da compreensão da realidade do

problema a ser investigado para a definição da metodologia. Neste caso concreto, para uma

formação docente integral, em uma perspectiva humanista, deve-se correlacionar o impacto dos

fatores sócio-históricos de discriminação e violência de gênero na mobilização de grupos

organizados de mulheres em prol de declarações internacionais à proteção dos direitos humanos

das mulheres, que foram auspiciados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Neste

sentido, Newton Duarte (1999, p. 13) nos traz uma afirmativa sobre a relação entre a formação

das pessoas e a importância do processo sócio-histórico:

[...] a formação de todo ser humano e sempre um processo que sintetiza de forma

dinâmica todo um conjunto de elementos produzidos pela história humana. Em outras

palavras, a singularidade de toda ação educativa e sempre uma singularidade histórica

e social.

Isto posto, pode-se estabelecer que a metodologia desta pesquisa científica é o conjunto

de procedimentos racionais, sistemáticos e técnicos que propiciam o caminho a ser seguido na

construção do conhecimento acerca da realidade sócio-histórica da adoção pela ONU de

declarações sobre os direitos humanos das mulheres como instrumentos normativos para a

transformação social com vista à eliminação da discriminação e violências de gênero.

No atendimento dos objetivos desta abordagem qualitativa, o delineamento

metodológico observa a classificação da pesquisa com base em seus objetivos como

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exploratória - pela aproximação e familiarização com o problema -, através da investigação

acerca do conteúdo dos tratados internacionais da ONU na questão sobre os direitos humanos

das mulheres. Por fim, segundo os procedimentos técnicos da pesquisa, este refere-se à fontes

documentais para a abordagem conceitual, sócio-histórica e normativa visando a qualificação

de reflexões contextualizadas. Precisamente, a pesquisa bibliográfica integra livros,

publicações em periódicos e impressos diversos, e a pesquisa documental aborda Convenções,

declarações e plataformas da ONU e consequentes atos vinculativos nos Estados Membros –

como o Brasil - como políticas públicas, legislações e programas.

Referencial Teórico

O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer

uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica

em invenção e em reinvenção (PAULO FREIRE).

A obra Mulheres Brasileiras nos Espaços Púbicos e Privados (VENTURI;

RECAMAN; DE OLIVEIRA, 2004) é o resultado de uma pesquisa de opinião pública, que foi

realizada, no ano 2000, pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e Serviço Social do Comércio

(SESC). Esta pesquisa foi atualizada dez anos depois, na qual foram integradas novas questões

e perspectivas na obra intitulada Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado:

Uma Década de Mudanças na Opinião Pública (VENTURI, 2013). Questões tais como: Divisão

Sexual do Trabalho, Feminismo e Violência Doméstica.

A história do século XIX revela que havia, na sociedade de modo geral, uma nítida

divisão entre domínio público e privado. Os homens ‘pertenciam’ à esfera pública,

pois desempenhavam de forma predominante o papel de provedor da família, e as

mulheres ‘pertenciam’ à esfera privada, uma vez que o cuidado do lar funcionava

como atividade de contrapartida dado o sustento financeiro do marido. Nessa

dicotomia entre o público e o privado se consubstanciou a divisão sexual do

trabalho, homens provedores e mulheres cuidadoras (DE SOUZA; GUEDES, 2016,

internet)

Dessa maneira, classificou-se a divisão sexual do trabalho como Trabalho

Reprodutivo e Trabalho Produtivo. O trabalho reprodutivo pertence ao espaço privado,

caracterizado por atividades não remuneradas e não tem valor econômico atribuído como, por

exemplo, gestação e parto (reprodução); criação (cuidado) dos filhos e planejamento familiar;

trabalho doméstico (preparação dos alimentos), e cuidado da casa e da saúde da família. Por

sua vez, o trabalho produtivo, no espaço público, refere-se a produção de bens e serviços com

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valor de troca, sendo normalmente remunerado e, consequentemente, com valor econômico

contabilizado nos indicadores econômicos de um país, portanto, representando respeito e poder.

A divisão sexual do trabalho foi objeto de pesquisa em diversos países, notadamente

sob o impulso de movimentos com orientação política e crítica, entre eles, destacadamente o

movimento feminista. No início dos anos 1970, na França, ocorreu o reconhecimento de que

a condição da mulher nas sociedades é determinada por processos de desigualdades estruturais,

segundo três eixos: Gênero, Raça e Classe social. Seja, gênero como um eixo da matriz de

desigualdade da sociedade, que interfere nos direitos humanos e consequentemente na

dignidade humana.

Mas como alterar esta realidade?

Milton Santos (1999), em sua obra “A natureza do espaço: espaço e tempo: razão e

emoção”, ensina que o conhecimento das questões históricas sobre os chamados grupos

excluídos tem uma participação efetiva nas questões do desenvolvimento territorial e

socioambiental pela construção do espaço com objetos e ações. Destarte, na relação mulher-

espaço-inovação, Milton Santos (2008), em sua abordagem sobre ‘o espaço e as rugosidades

do espaço’, nos leva à reflexões sobre o impacto do avanço das mulheres, no espaço público e

privado, e como isto se relaciona aos pretendidos objetivos do desenvolvimento sustentável das

organizações da nações unidas:

os espaços, isto é, a mescla de estruturas que os caracterizam, são, a cada momento,

mais ou menos infensos (adversos), mais ou menos abertos, a influências novas. Há

desse modo, uma receptividade específica dos lugares, ocupados ou vazios, aos fluxos

de modernização ou inovação (p. 160).

A ‘cegueira de gênero’ – mais infensa nos espaços do mercado de trabalho - prejudica

as mulheres, porque não se leva em consideração as discriminações de gênero a que, muitas

vezes, estas estão submetidas como, entre outras, à violência, opressão, desigualdade de poder

nas relações, dupla ou tripla jornadas, necessidade de creche e assédio no trabalho.

Diante de tais constatações, depara-se com a importância da temática feminismo como

teoria crítica, que analisa e desconstrói os conhecimentos que não reconhecem tais

discriminações, portanto, é transformacional, que acredita nas potencialidades do ser humano,

porque visa a mudança em busca de uma sociedade com equidade social, política e econômica.

Historicamente, o Feminismo reúne atitude e movimento para atuar e realizar tais

mudanças. Segundo a professora Clair Castilhos Coelho – representante do Brasil, em 1995, na

Convenção da ONU sobre Mulheres (Convenção de Pequim) -, a ‘cegueira de gênero’ afetou

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até mesmo a era do humanismo, por excluir as mulheres como portadoras dos direitos de

cidadania no primeiro documento político a estabelecer o princípio da universalidade. Embora

as mulheres tenham participado ativamente na luta por este ideal durante a revolução francesa,

este documento foi intitulado Declaração dos direitos do homem e do cidadão (FRANÇA, 1789,

Declaration des droits de l’homme et du citoyen). Em decorrência deste fato, tentando assegurar

também às mulheres esses direitos, Olympe de Gouges - revolucionária, historiadora e

jornalista – redigiu a Declaração dos direitos da mulher e da cidadã (FRANÇA, 1791).

Estas declarações são documentos históricos importantes, pois no século XX, em 1948,

foram utilizadas para a elaboração da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, que

tem como principio fundante a justiça social e a equidade de direitos entre homens e mulheres.

Declaração esta adotada pela ONU e pelos seus Estados Membros, que acordaram em promover

os direitos humanos de todas as pessoas por meio de pactos e convenções. São instrumentos

jurídicos vinculativos, ou seja, significa que os Estados Membros, como o Brasil, têm a

obrigação de cumprir todas as suas disposições. Entretanto, diante de situações de manifesto

desrespeito a estes, fez-se necessário também elaborar instrumentos específicos sobre os

direitos humanos da mulher e o combate às formas específicas de discriminação de que estas

são vítimas.

Neste sentido, o surgimento da concepção de cidadania das mulheres foi fundamentada

na ideia do reconhecimento e da ampliação de direitos humanos das mulheres (civis, políticos,

sociais, culturais). O quadro 1 demonstra esse grande número de instrumentos para ações de

fomento a cidadania feminina, resultado destas inúmeras e permanentes mobilizações com

participação ativa, em todas as regiões do mundo, de grupos e organizações feministas e de

apoio à mulheres (capital social).

Quadro 1- Instrumentos jurídicos da ONU e do Brasil.

Ano Instrumento

1945 Criação da ONU

[..] principal diretriz de atuação é encorajar o respeito aos Direitos Humanos e liberdades fundamentais

para todos e todas, independentemente de raça, sexo, língua ou religião (Carta das Nações Unidas,

1945, p. 35)

1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos –

Princípio fundante: Os direitos humanos são universais, indivisíveis e inalienáveis.

1948 Convenção Interamericana sobre a Concessão dos Direitos Civis à Mulher.

Outorga às mulheres os mesmos direitos civis de que gozam os homens.

Promulgada no Brasil pelo decreto presidencial no 31.643/1952.

1951 Convenção da OIT/ONU no. 100 –

Dispõe sobre igualdade de remuneração entre a mão-de-obra masculina e a mão-de-obra feminina

em trabalho de valor igual.

Assinada pelo Brasil em 1957 e Promulgada pelo Decreto 41.721/57.

1952 Convenção da OIT/ONU no 103 - Dispõe sobre o amparo materno.

Assinada pelo Brasil em 1965 e promulgada pelo Decreto 58820/1966.

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1953 Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher: “Determina o direito ao voto em igualdade de

condições para mulheres e homens, bem como a elegibilidade das mulheres para todos os organismos

públicos em eleição e a possibilidade, para as mulheres, de ocupar todos os postos públicos e de

exercer todas as funções públicas estabelecidas pela legislação nacional”.

Convenção aprovada pelo Congresso Brasileiro mediante decreto legislativo no 123/1955 e

promulgação pelo decreto presidencial no 52.476/1963.

1957 Convenção sobre a Nacionalidade das Mulheres Casadas.

1958 Convenção da OIT/ONU sobre a Discriminação em matéria de Emprego e Profissão.

1960

UNESCO/ONU - Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino, destacando

no Art. 1o: “entende-se por discriminação toda a distinção, exclusão, limitação ou preferência que, com

fundamento na raça, cor, sexo, [..], tenha a finalidade ou efeito de destruir ou alterar a igualdade de

tratamento no domínio de educação” (ONU, 1960, grifo nosso).

1962 Convenção sobre o Consentimento para Contrair Matrimônio, Idade Mínima e Registo de Casamento.

1975 I Conferência Mundial sobre a Mulher - Cidade do México - direito da mulher à integridade física,

inclusive a autonomia de decisão sobre o próprio corpo e o direito à maternidade opcional em defesa

dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres.

1979 II Conferência Mundial sobre a Mulher – Copenhague. Convenção sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1979). É o primeiro tratado internacional que

dispõe amplamente sobre os direitos humanos das mulheres com 2 eixos: 1. promover os direitos da

mulher na busca da igualdade de gênero; 2. reprimir quaisquer discriminações contra as

mulheres. Visa o exercício e gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por meio de

uma agenda de atividades para os Estados participantes, a saber legislação específica e ações especiais,

visando a igualdade entre mulheres e homens, inclusive assegurando igual acesso e oportunidades na

vida política e pública, assim como em educação, saúde e emprego.

No Brasil, o Congresso Nacional ratificou a assinatura, com reservas em 1984, suspensas pelo decreto

legislativo no. 26/1994. Promulgada por meio do decreto no. 4.377/2002.

1981 Convenção da OIT/ONU no. 156 – Estende aos homens a responsabilidade sobre a família.

Pendente de ratificação pelo Estado Brasileiro.

1985 III Conferência Mundial Sobre a Mulher – Nairóbi. Aprovada estratégias de aplicação voltadas para

o progresso da mulher. O Fundo de Contribuições Voluntárias das Nações Unidas para a Década da

Mulher é convertido no Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM).

1992 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio de Janeiro: “Pede-

se urgência aos Governos [...] estabelecer procedimentos jurídicos, constitucionais e administrativos

para transformar os direitos reconhecidos em leis nacionais e devem tomar medidas para implementá-

los, a fim de fortalecer a capacidade jurídica da mulher de participar plenamente e em condições de

igualdade nas questões e decisões relativas ao desenvolvimento sustentavel.” (Agenda 21, Art. 24.4,

1992, p.37).

1993 II Conferência Mundial sobre Direitos Humanos reafirma que todos os direitos humanos são

interdependentes, indivisíveis e universais: “Os direitos das mulheres e das crianças do sexo

feminino constituem uma parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais. A

participação plena e igual das mulheres na vida política, civil, econômica, social e cultural, e a

erradicação de todas as formas de discriminação com base no sexo constituem objetivos prioritários da

comunidade internacional (Art. 18 da Declaração e Programa de Ação de Viena, p.36)’.

Adoção pela ONU da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres

1994 Convenção da ONU sobre População e Desenvolvimento (CIPD) - marco na evolução de direitos das

mulheres, especialmente no que tange à capacidade de tomar decisões sobre sua própria vida.

A saúde reprodutiva da mulher é um direito humano e um elemento fundamental da equidade de

gênero.

Metas até 2015: 1) redução da mortalidade infantil e materna; /2) o acesso à educação, especialmente

para as meninas; e, /3) o acesso universal a uma ampla gama de serviços de saúde reprodutiva,

incluindo o planejamento familiar.

1994 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher - Belém

do Pará.

Assinada pelo Brasil em 1995. Promulgada pelo decreto nº 1973, em 1º de agosto de 1996.Define

como violência contra a mulher “qualquer ato ou conduta baseada nas diferenças de gênero que cause

morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na

esfera privada” (Convenção, 1994, p.37).

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1995

IV Conferência Mundial sobre a Mulher - “Igualdade, Desenvolvimento e Paz” –

Além dos direitos, as mulheres reclamam a efetivação [...] de políticas públicas. assinada por 184

países, [..] objetivos estratégicos e medidas para a superação da situação de discriminalização,

marginalização e opressão vivenciadas pelas mulheres (p. 38). (Declaração e Plataforma de Ação de

Pequim).

Ações estratégicas em 12 areas tematicas: “Direitos Humanos das Mulheres; Direitos das Meninas;

Educação e Capacitação de Mulheres; Violência contra as Mulheres; Mulheres e pobreza; Mulheres e

Saúde; Mulheres e Economia; Mulheres no Poder e na liderança; Mecanismos institucionais para o

Avanço das Mulheres; Mulheres e a mídia; Mulheres e Meio Ambiente; e, Mulheres e Conflitos

Armados (grifo nosso)”.

Sobre a interrupção voluntária da gravidez, o Plano de Ação aprovado recomendou a revisão das leis

punitivas para a questão. Assinado pelo Brasil em 1995.

1995 15 de outubro - Dia Internacional da Mulher Trabalhadora Rural. Data estabelecida na IV

Conferência sobre a Mulher (Pequim, 1995). Destaque ao papel que as mulheres do campo

desempenham na garantia da segurança alimentar e na erradicação da pobreza no meio rural.

2000 Declaração dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM/ONU: Igualdade de gênero e o

empoderamento da mulher como condição vital para a consecução de todas os outros objetivos.

2004 Brasil: I Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2004-2007)

2006 Lei no 11.340 – Lei Maria da Penha dispõe sobre a violência doméstica e familiar, Art. 1o Cria

mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o

do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Mulheres, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a

Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

2007 II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2008-2012)

2008 Declaração da ONU apenando violações dos direitos humanos com foco na orientação sexual e na

identidade de gênero.

2009 Lei nº 112 (Lei de prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas)

Lei nº 12.015 - altera o Título IV do Código Penal Brasileiro passa a vigorar com as seguintes

alterações: Dos crimes contra a dignidade humana, Capítulo I: combate aos crimes contra a liberdade

sexual: (estupro, Violação sexual mediante fraude, assédio sexual). Art. 213 - constranger alguém,

mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se

pratique outro ato libidinoso.

2010 Criação ONU Mulheres - Entidade visa equidade de Gênero para acelerar o progresso e atendimento

das demandas para o empoderamento qualificado de mulheres e meninas e redução da violência de

gênero.

2011 Convenção OIT - Trabalho Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos (Genebra).

2012 Lei Nº 12.737 Dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos – Lei Carolina Dickmann

relacionada à vitimização das mulheres e meninas nas redes sociais.

2013 III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015)

2015 Lei do Feminicídio nº 13.104 - Extremo do espectro de violência - morte intencional de uma mulher

pelo condição de ser uma mulher, que tem como motivações para o crime o ódio, desprezo ou

sentimento de perda da propriedade sobre a mulher. Pena aumentada para crimes contra a mulher

por ser mulher.

2015 Transformando Nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável - revisou

ODM/ONU (2000) para ODS/ONU (2015) “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a

igualdade de gênero e o empoderamento qualificado das mulheres“

2015 ONU/UNESCO - Fórum mundial de educação (FME 2015)

Declaração de Incheon (Coreia do Sul) - “Educação 2030” com vistas a implementar o objetivo no 4

dos ODS/ONU “Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades

de aprendizagem ao longo da vida para todos”.

2016 Conferência Brasileira de Direitos da Mulher – Brasília, 10 a 13/05/2016

2016 Pena aumentada para crimes de estupro coletivo (art. 213 no Código Penal).

Fonte: Dados do site da ONU e do Observatório Brasileiro de Gênero.

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11875

Resultados e Discussões

A leitura crítica do quadro 1 sobre os instrumentos jurídicos internacionais e daqueles

ratificados pelo Brasil permite observar a intencionalidade dos diplomas para a proteção aos

direitos fundamentais das mulheres, sendo: direito à vida, à segurança, à educação, à cultura,

à alimentação, à moradia, ao acesso a justiça, ao lazer, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao

respeito e a convivência familiar e comunitária.

Helena de Faria e Mônica de Melo (1998, p. 373) manifestam necessária obviedade

sobre a proteção aos direitos humanos das mulheres, em decorrência do processo sócio-

histórico de exclusão da mulher.

Embora os principais documentos de direitos humanos e praticamente todas as

constituições da era moderna proclamem a igualdade de todos, essa igualdade,

infelizmente, continua sendo compreendida em seu aspecto formal e estamos ainda

longe de alcançar a igualdade real, substancial entre mulheres e homens. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher

(1979) foi, dentro de todas as convenções da ONU, a que mais recebeu reservas por

parte dos países que a ratificaram. E em virtude da grande pressão das organizações

não governamentais é que houve o reconhecimento de que os direitos das mulheres

também são direitos humanos, ficando consignado na Declaração e Programa de

Viena (Item 18) que ‘os direitos humanos das mulheres e meninas são inalienáveis

e constituem parte integral e indivisível dos direitos humanos universais [..].

A Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a

Mulher (CEDAW em inglês) foi auspiciada pela Assembleia Geral da ONU em 18 de

dezembro de 1979, e entrou em vigor em 3 de setembro de 1981. A Convenção é constituída

por um preâmbulo e 30 artigos, sendo que 16 deles contemplam direitos substantivos que

devem ser respeitados, protegidos, garantidos e promovidos pelo Estado (Brasileiro). Em

seu artigo 1º, a Convenção define “discriminação contra a mulher” como sendo:

[..] toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou

resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,

independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher,

dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico,

social, cultural e civil ou em qualquer outro campo (ONU, CEDAW, 1979).

No Brasil, os movimentos feministas e de apoio à mulheres desenvolveram, também,

ações estratégicas e democráticas com vista à assinatura e à promulgação pelo Estado Brasileiro

dos tratados internacionais. Cite-se o caso concreto da Convenção de Viena ratificado pelo

Decreto Legislativo n° 93/1983 e promulgada pelo decreto presidencial no 89.460/1984, cuja

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ementa destacava, infelizmente, as reservas ao diploma internacional, que foram suspensas,

em 1994, pela pressão dos movimentos feministas. Vejamos:

O Estado brasileiro ratificou a Convenção da Mulher em 1984. Ao fazê-lo, o Brasil

formulou reservas aos artigos 15, parágrafo 4º, e artigo 16, parágrafo 1º, alíneas (a),

(c), (g) e (h), e artigo 29. As reservas aos artigos 15 e 16, retiradas em 1994, foram

feitas devido à incompatibilidade entre a legislação brasileira, então pautada pela

assimetria entre os direitos do homem e da mulher. A reserva ao artigo 29, que não

se refere a direitos substantivos, é relativa a disputas entre Estados partes quanto à

interpretação da Convenção e continua vigorando. Quanto ao Protocolo Adicional à

Convenção, o Brasil se tornou parte em 2002. (BRASIL, OBSERVATÓRIO DE

GÊNERO, 2013)

Em 2015, durante a reunião de avaliação dos resultados da implementação da

Convenção de Pequim (ONU, 1995), a ONU Mulheres concluiu que “nas unidades federativas

do Brasil todas as 12 temáticas permanecem sendo desafios importantes a serem alcançados”

(internet). Entre estas temáticas, o Sistema da ONU oferece atenção particular para a questão

da violência contra as mulheres, haja vista que é uma questão que não pode esperar. Destarte,

o quadro 1 evidencia esta intencionalidade de proteção ao direito à vida da mulher em vários

diplomas internacionais e brasileiros. Estes diplomas abrigam legalmente a mulher não apenas

no seu ambiente domestico e familiar, mas tambem “em qualquer relação intima de afeto, na

qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente da coabitação

(Lei Maria da Penha /2006, Art. 5o, III).

A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres auspiciada, em

1993, pela Assembleia Geral da ONU, apresenta definições claras e compreensivas sobre os

direitos a serem aplicados para assegurar a eliminação da violência contra as mulheres em todas

as suas formas. Esta declaração representou um compromisso por parte dos Estados em relação

às suas responsabilidades, e um compromisso da comunidade internacional em geral para a

eliminação da violência contra as mulheres. Em 2006, no atendimento à esse compromisso

internacional, o Brasil promulgou a Lei Maria da Penha. Em 2007, o tema do Dia Internacional

das Mulheres foi “Acabar com a impunidade da violência contra Mulheres e Meninas”. Em

2008, a ONU lançou a campanha global plurianual “Unidos pelo Fim da Violência contra as

Mulheres“. Em 2009, o Brasil promulgou a lei no 112/2009, que dispõe o regime jurídico para

a prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas.

Para tanto, a Convenção do Conselho da Comunidade Europeia para a Prevenção e o

Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica foi bem precisa sobre os

aspectos da violência de gênero:

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a Violência contra as mulheres constitui uma violação dos direitos humanos e é

uma forma de discriminação contra as mulheres, abrangendo todos os atos de

violência de gênero que resultem, ou possam resultar, em danos ou sofrimentos

físicos, sexuais, psicológicos ou econômicos para as mulheres, incluindo a ameaça

de tais atos, a coação ou a privação arbitrária da liberdade, tanto na vida pública como

na vida privada. A ‘violência doméstica’, abrange todos os atos de violência física,

sexual, psicológica ou econômica que ocorrem na família ou na unidade doméstica,

ou entre cônjuges ou ex-cônjuges, ou entre companheiros ou ex-companheiros, quer

o agressor coabite ou tenha coabitado, ou não, com a vítima. ja o ‘Gênero’ refere-se

aos papéis, aos comportamentos, às atividades e aos atributos socialmente construídos

que uma determinada sociedade considera serem adequados para mulheres e homens.

Para tanto, a ‘violência de gênero’ exercida contra as mulheres abrange toda a

violência dirigida contra a mulher por ser mulher ou que afeta

desproporcionalmente as mulheres (CONSELHO DA COMUNIDADE

EUROPEIA, 2011, p. 5, grifo nosso).

No Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, em 25 de

novembro, divulgação de dados de crimes contra a mulher ratificam esta posição da ONU em

atenção ao direito à vida da mulher.

No Brasil, mesmo depois da entrada em vigor da Lei Maria da Penha (2006), segundo

o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (BRASIL/IPEA), a partir de pesquisa de Garcia et

al. (2015), os indicadores de feminicídio elevaram-se em todas as suas unidades federativas.

Segundo Waiselfisz, “em relação ao número de homicídios femininos, o país ocupa a 5º posição

internacional, em uma lista de 83 países” (2015, p. 72). Dados estes que justificaram a Lei

Federal no 13.104/2015 – Lei do Feminicídio, que aumenta, no código penal brasileiro, a pena

de CRIME CONTRA MULHER POR SER MULHER.

Entre 1980 e 2010 foram assassinadas mais de 92 mil mulheres, sendo que 47,5%

apenas na última década. A pesquisa indica que 68,8% desses homicídios ocorreram

nas residências das vítimas, e para as mulheres da faixa etária entre 20 e 49 anos, 65%

deles foram cometidos por homens com os quais elas mantinham ou mantiveram um

relacionamento amoroso. O relatório alerta ainda que altos níveis de feminicídio,

com frequência, são acompanhados por uma grande tolerância quanto à violência

contra as mulheres e, em muitos casos, são resultado dessa própria tolerância (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015, p. 257, grifo nosso).

Diante destes fatos, segundo a ONU Mulheres – criada em 2010 com a finalidade de

zelar pelos direitos humanos das mulheres -, os ODS (Objetivos do Desenvolvimento

Sustentável) devem orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional

segundo a Agenda 2015-2030, sucedendo e atualizando os ODM (Objetivos do

Desenvolvimento do Milênio). Entre as principais ações está o empoderamento qualificado de

mulheres e meninas - pela educação humanista - com vista à redução de violências de gênero,

que impactam em todos os espaços sociais e em todas as fases da vida, com graves

consequências para a sociedade brasileira e mundial.

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O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das

mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares de resguardá-la de toda a

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão

(LEI MARIA DA PENHA, 2006, Art. 3o, § 1o, grifo nosso).

Finalizando, faz-se importante destacar que o quadro referencial teórico utilizado na

construção do saber social para a elaboração de instrumentos jurídicos internacionais - sob os

auspícios da ONU e promulgados pelo Estado Brasileiro - observou a compreensão de gênero

no campo do conhecimento cientifico, que são contribuições advindas principalmente da

história, da política, da sociologia, da antropologia, da filosofia, da cultura, da psicologia

social e da pedagogia.

Considerações Finais

Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o

mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça

social se implante antes da caridade (PAULO FREIRE).

Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN, 2013), a educação em Direitos Humanos

das Mulheres soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação

humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

Convenções, Resoluções, Declarações, Plataformas e Recomendações internacionais

concluídas sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU) – e seus organismos

especializados (ONU Mulheres, UNESCO, OIT, OMS, entre outros) - reafirmam a crença nos

direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa e na igualdade de direitos da

mulher e do homem. Neste norte, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reafirma o

principio da não discriminação e proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais

em dignidade e direitos e que toda pessoa pode invocar todos os direitos e liberdades

proclamadas nos instrumentos jurídicos da ONU, sem distinção alguma, inclusive de sexo. Os

Estados-parte da ONU, como o Brasil, tem a obrigação de garantir ao homem e a mulher a

igualdade de gozo de todos os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos.

Movimentos sociais organizados – como os movimentos feministas - preocupados,

contudo, com o fato de que, apesar destes diversos instrumentos, a mulher continue sendo

objeto de grandes discriminações, que viola os princípios da equidade de direitos e do respeito

da dignidade humana, dificultando a participação da mulher - nas mesmas condições que o

homem - na vida política, social, econômica e cultural de seu país, constituindo um obstáculo

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ao aumento do bem-estar da sociedade e da família. Bem como dificultando o pleno

desenvolvimento das potencialidades da mulher no desempenho do trabalho produtivo, que

pode conduzi-la ou mantê-la em situações de pobreza, na qual a mulher tem um acesso mínimo

a alimentação, saúde, educação, capacitação e oportunidades de emprego, assim como a

satisfação de outras necessidades.

A participação máxima da mulher, em igualdade de condições com o homem, em

todos os campos, e indispensável para o desenvolvimento pleno e completo de um país, o

bem-estar do mundo e a causa da paz. Sobre a grande contribuição da mulher ao bem-estar da

família e ao desenvolvimento da sociedade, ate agora não plenamente reconhecida, deve ser

destacada a importância social da maternidade e a função dos pais na família e na educação dos

filhos, e conscientes de que o papel da mulher na procriação não deve ser causa de

discriminação, mas sim que a educação dos filhos exige a responsabilidade compartilhada entre

homens e mulheres e a sociedade como um conjunto. Para tanto, deve-se reconhecer que para

alcançar a plena igualdade entre a mulher e homem e necessario modificar o papel tradicional

tanto do homem como da mulher na sociedade e na família, superando a clássica divisão sexual

do trabalho.

Resolvidos a aplicar os princípios enunciados nos Diplomas da ONU sobre a proteção

e expansão dos direitos humanos das mulheres e, para isto, a adotar as medidas necessárias a

fim de suprimir discriminações em todas as suas formas e manifestações – principalmente na

forma de violências de gênero -, o Estado Brasileiro, impulsionados por movimentos sociais

feministas e de apoio à mulheres, promulgou políticas públicas, legislações, programas e planos

de direitos humanos que exigem a abordagem da temática direitos humanos na Educação Básica

e no Ensino Superior, preferencialmente de forma transversal e integradora, em prol da

construção de uma sociedade democrática, inclusiva e com justiça social.

Neste sentido, a Universidade deve responder as demandas do poder público e da

sociedade e, nesta via de mão dupla, oportunizar espaços autorais para reflexões e de produção

de saberes na área de educação em direitos humanos nos cursos de formação docente, numa

concepção humanista - transformadora e crítica - articulada em respeito a “indissociabilidade

do ensinar-aprender” visando a formação integral das pessoas – dessa e das próximas gerações

- como mecanismo para a redução e eliminação das discriminações em todas as suas formas de

manifestações seja nas interações sociais ou midiáticas, notadamente as que abarcam violências

de gênero em todas as fases da vida da mulher e em todas as classes sociais.

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