A Origem Do Zero

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A origem do número zero na civilização humana e seu avanço no intelecto

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC/SP

    DARICE LASCALA PADRO

    A ORIGEM DO ZERO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE

    MATEMTICA

    So Paulo

    2008

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC/SP

    DARICE LASCALA PADRO

    A ORIGEM DO ZERO

    Dissertao apresentada Banca Examinadora

    da Pontifcia Universidade Catlica de So

    Paulo, como exigncia parcial para obteno

    do ttulo de MESTRE PROFISSIONAL EM

    ENSINO DE MATEMTICA , sob a orientao

    da Professora Dra. BARBARA LUTAIF

    BIANCHINI .

    So Paulo

    2008

  • Banca Examinadora

    ________________________________________

    ________________________________________

    ________________________________________

  • Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta

    Dissertao por processos de fotocopiadoras ou eletrnicos.

    Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus queridos e amados filhos Camila Lascala

    Martins Padro e Hlio Lascala Martins Padro que acreditaram e contriburam

    para que eu realizasse este sonho.

    As palavras muito obrigada no so suficientes para expressar o

    sentimento de gratido que experimento pelo fato de vocs existirem na minha

    vida. Sempre presentes nas horas difceis durante a trajetria deste trabalho,

    sempre apoiando e dando foras para que tudo desse certo.

    Meus filhos, vocs participaram dos meus momentos de ansiedade,

    desespero e desnimo, sempre valorizando minha capacidade e fazendo com que

    eu acreditasse nos frutos do meu esforo, oferecendo carinho e amor.

    Queridos filhos, agradeo a vocs pela fora, consolo, nimo. E,

    sobretudo, comprovarem que tudo vale a pena, desde que exista amor.

  • AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, agradeo a DEUS por me conceder a vida e todas as

    oportunidades que surgiram ao longo desta trajetria, ensinando-me a confiar

    Nele.

    Agradeo aos meus filhos Hlio e Camila pela pacincia e compreenso

    durante os perodos em que estive ausente e por terem respeitado e acreditado

    neste sonho.

    Ao meu marido Hlio que tanto me incentivou e colaborou para que eu

    pudesse realizar este trabalho.

    Aos meus pais Dirce e Dario, oferecendo seus prstimos, me

    incentivando e rezando para que tudo desse certo.

    s minhas queridas irms Dilma, Dione e Dbora pelo carinho e afeto.

    Em especial Dione que colaborou para que este trabalho fosse realizado.

    minha orientadora e amiga, Professora Doutora Barbara Lutaif

    Bianchini pela dedicao incondicional e confiana depositada em mim, sempre

    me incentivando e colaborando para que tudo fosse realizado da melhor maneira

    possvel.

    Ao Professor Doutor Benedito Antonio da Silva e Professora Doutora

    Leila Zardo Puga que aceitaram participar da Banca Examinadora, por suas

    orientaes e contribuies para que este trabalho fosse finalizado.

    Ao Professor Doutor Nlson Jos Machado pelas orientaes.

  • s minhas colegas de curso Carla, Adriana e Rosana, que sempre se

    mostraram amigas e, nos momentos difceis, souberam expressar palavras de

    carinho e nimo, alm de colaborarem com inmeras sugestes.

    Liana Sayuri Takagi Minsoni, pela sua pacincia e contribuio.

    Ao Thomas Wollan pela sua contribuio.

    Secretaria da Educao do Estado de So Paulo que concedeu a

    bolsa mestrado e tornou possvel a realizao desse sonho.

  • RESUMO

    Este trabalho uma pesquisa bibliogrfica que tem como objetivo investigar as

    dificuldades que surgiram ao longo da histria para que o zero fosse considerado um

    elemento integrante da matemtica. Os trabalhos citados abordam, de alguma forma, o

    zero. So eles: Sentidos Atribudos ao zero por alunos da 6 srie, artigo de Salvador e

    Nacarato (2003), apresentado na ANPED 2003; Sentido do zero de Guimares,

    dissertao de Mestrado PUCSP 2008; A Histria do Zero, artigo de Pinedo e

    Sbardelotto 2004, publicado no boletim eletrnico n3 Jnior do Grupo de Ensino e

    Pesquisa em Educao Matemtica CEFET Paran unidade Sudoeste - Campus Pato

    Branco. Neste trabalho mostramos a importncia do conhecimento da histria da

    matemtica para uma melhor compreenso do conceito a ser estudado. O

    desenvolvimento desta pesquisa se deu por meio de um levantamento histrico sobre as

    civilizaes que introduziram o zero em seus sistemas de numerao, evidenciando as

    dificuldades encontradas, at que chegassem a uma denotao para o vazio. A

    civilizao babilnica utilizou um sistema de numerao posicional sexagesimal e atribuiu

    um smbolo para indicar a ausncia de uma ou mais ordens na representao de um

    nmero. O povo maia utilizou um sistema de numerao posicional de base vinte, com

    uma irregularidade no valor relativo terceira ordem. Este povo representou a ausncia

    de uma ou mais ordens com o smbolo de uma concha. O sistema de numerao criado

    pelos chineses foi baseado em um sistema hbrido, no qual foi atribudo um smbolo para

    indicar a ausncia de ordens, que chamaram de ling. A civilizao hindu desenvolveu um

    sistema de numerao posicional de base dez e usou um smbolo para representar a falta

    de uma ordem, associado ao nada. Mais tarde esse smbolo tornou-se um nmero, o

    zero. Assim foi possvel descrever a trajetria da origem do zero nas civilizaes citadas

    anteriormente, conhecendo as dificuldades enfrentadas pelos povos.

    Palavras-Chave: origem do zero, zero algarismo, zero nmero.

  • ABSTRACT

    The objective of this research paper is to study the origins of ZERO and the different

    challenges that have emerged throughout history before ZERO was considered an integral

    part of mathematics. The references below all show ZERO in different contexts: Sentidos

    Atribudos ao Zero por alunos da 6 srie, article by Salvador and Nacarato (2003),

    presented at ANPED 2003; Sentido do Zero, by Guimares, masters dissertation

    PUCSP 2008; A Histria do Zero, by Pinedo and Sbardelotto (2004) published on

    electronic bulletin n3 Junior of Mathematics Education Knowledge and Research Group

    CEFET Paran southwest unity Pato Branco Campus. This study shows how

    significant studying the history of mathematics is for improving the understanding of the

    researched subject. The basis for this paper is a historical survey on earlier civilizations

    which introduced ZERO in their numerical system, furthermore analyzing the mathematical

    challenges they encountered before finally arriving at a definition for nothing. The

    Babylonian civilization developed a positional sexagecimal system where they assigned a

    symbol to indicate the absence of a value in a numerical sequence. The Mayan people

    invented a positional numerical system based on 20, with an irregularity in the value

    relative to the third order. The Mayans assigned a sign in the shape of a shell to

    symbolize the absence of a value (zero). The numerical system established by the

    Chinese was a hybrid system where a symbol called ling indicated the absence of a

    value (zero).The Hindu civilization developed a numerical positional system based on 10,

    and also used symbols to indicate the absence of a value (nothing). Later this symbol

    became a number, the zero as we know it today. Thus by studying the difficulties

    overcome by these civilizations, it was possible to describe the development of ZERO from

    its origins until it became an integral part of numerical system.

    Keywords: origin of zero, zero algarism, the number zero.

  • LISTA DE FIGURAS

    CAPTULO II

    Figura 2.1 Nmeros egpcios (GUIMARES, 2008, p.35)..... .... 27

    Figura 2.2 Nmeros gregos (GUIMARES, 2008, p.36)... ........ 28

    Figura 2.3 Nmeros babilnicos (GUIMARES, 2008, p.37)..... 29

    Figura 2.4 Smbolos da numerao maia (GUIMARES, 2008, p.40)....... ........ . .... ............ ........ ... ... .. ............ ....... 29

    Figura 2.5 Representao do nmero 79, no sistema de numerao maia (GUIMARES, 2008, p.41)..... ..... ....... ..... ..... .. 30

    CAPTULO III

    Figura 3.1 Mapa do atual Paquisto, antiga civi l izao indiana (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 44).. ............ .... ... 42

    Figura 3.2 Mapa do Imprio Babilnico (COTRIM, 1995, p. 50)........ ........ ....... . ........... ........ ..... ... ............ ....... 44

    Figura 3.3 Smbolos da numerao babilnica (adaptada IFRAH, 1997, p.295).. ..... ........ ......... . .... ... ..... ....... 45

    Figura 3.4 Representao dos nmeros 25, 615 e 4 305, no sistema de numerao babilnico (IFRAH, 1997, p.240). 45

    Figura 3.5 Representao do nmero 10 804, no sistema de numerao babilnico (EVES, 2004, p.36)........... . ...... 46

    Figura 3.6 Mapa da regio dos maias (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 32)..... ... .. ............ ........ ..... ... . ........... ...... 47

    Figura 3.7 Representao dos dezenove primeiros nmeros do sistema de numerao dos maias (IFRAH, 1997, p.639)....... . ........ ... ............ .... .... ...... .. ............ ... ... 48

    Figura 3.8 Representao do nmero 21, no sistema de numerao maia (adaptada IFRAH, 1997, p.640)... ............ ...... . 48

  • Figura 3.9 Representao do nmero 4 399, no sistema de numerao maia (IFRAH, 1997, p.640)... ............ ..... 49

    Figura 3.10 Representao do nmero 1 087 200, no sistema de numerao maia (IFRAH, 1997, p.641)... ............ ..... 50

    Figura 3.11 Crdex de Dresden (IFRAH, 1997, p.642)... .......... 51

    Figura 3.12 Transcrio das menes numricas que f iguram no documento anterior (IFRAH, 1997, p.642)....... . 53

    Figura 3.13 Mapa da China (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 37)........ ........ ....... .. .......... ........ ..... ... . ........... .... 54

    Figura 3.14 Sinais numricos do sistema de numerao chins (IFRAH, 1997, p.551).... .. ........ . ......... ... .... 55

    Figura 3.15 Representao do nmero 9 564 no sistema de numerao chins (adaptada IFRAH, 2001, p.236)... 56

    Figura 3.16 Representao do nmero 504 no sistema de numerao chins (adaptada IFRAH, 1997, p.556)...... . ......... ... ............ ... ..... ...... .. ............ .. .. 56

    Figura 3.17 Representao do nmero 504 no sistema de numerao chins, com um smbolo para o zero (adaptada IFRAH, 1997, p.556)....... ... ............ ..... 57

    Figura 3.18 Mapa da regio da ndia e Arbia Saudita (Disponvel em www.webbusca.com.br/atlas/mapas/asia.gif . Acesso em 14 jul.2008).... .... ........ ..... ........ .. .. ..... 58

    Figura 3.19 Representao do nmero 7 629 na numerao hindu (IFRAH, 2001, p.266).... ... ........ ......... . ...... .. .... ... 59

    Figura 3.20 Representao do nmero 9100 na numerao hindu (IFRAH, 2001, p.285).... ... ........ ......... . ...... . ..... .... 60

    Figura 3.21 Evoluo da representao dos algarismos indo-arbicos (SILVEIRA, 2001, p.9).... ... .. ............ ..... 63

    Figura 3.22 Linha do tempo dos principais acontecimentos relacionados origem do zero....... ..... ...... .... .. ... 64

  • LISTA DE QUADROS

    CAPTULO II

    Quadro 2.1 Sntese dos diferentes signif icados do zero (adaptado SALVADOR; NACARATO, 2003, p. 3)... 22

    Quadro 2.2 Sentidos atribudos ao zero (SALVADOR; NACARATO, 2003, p. 5)... ... ........ ....... ......... ... ... 23

    Quadro 2.3 Escrita dos nmeros hindus (Adaptada GUIMARES, 2008, p. 46).... . ....... ..... ........... . .... . 31

    CAPTULO III

    Quadro 3.1 Notao dos nmeros da f igura 3.11(IFRAH, 1997, p.643)....... . ........ ... ............ .... .... ...... .. ............ ... . 53

    Quadro 3.2 Cronologia dos acontecimentos relacionados ao zero (adaptado SILVEIRA, 2001, p. 5-10)........ ..... 65

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ANPED = Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em

    Educao

    CEFET = Centro Federal de Educao Tecnolgica

    EBRAPEM = Encontro Brasileiro de Estudantes de Ps-Graduao

    em Educao Matemtica

    ENEM = Encontro Nacional de Educao Matemtica

    GEPEM = Grupo de Ensino e Pesquisa em Educao Matemtica

    GPEA = Grupo de Pesquisa em Educao Algbrica

    NCTM = National Council of Teachers Mathematics

    PCN = Parmetros Curriculares Nacionais

    PUCSP = Pontif cia Universidade Catlica de So Paulo

    UNESP = Universidade do Estado de So Paulo

    UNICAMP = Universidade de Campinas

    USP = Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    CAPTULO I 1. A PESQUISA.................................................................................................... 16 1.1 Introduo................................................................................ 16

    1.2 Questo de pesquisa e objetivo.............................................. 18

    1.3 Desenvolvimento da pesquisa................................................. 19

    CAPTULO II

    2. REVISO BIBLIOGRFICA............................................................................. 20

    2.1 Sentidos atribudos ao zero, Salvador e Nacarato

    3 momentos............................................................................ 20

    2.2 Sentido do zero, Guimares.................................................... 24

    2.3 Histria do nmero zero, Pinedo e Sbardelotto....................... 32

    2.3.1 Antes de Cristo................................................................ 33

    2.3.1.1 Os Babilnios...................................................... 33

    2.3.1.2 Os Olmecas......................................................... 33

    2.3.1.3 Parmenides.......................................................... 33

    2.3.1.4 Na China.............................................................. 33

    2.3.1.5 Os gregos............................................................. 34

    2.3.2 Depois de Cristo.............................................................. 34

    2.3.2.1 Ptolomeu.............................................................. 34

    2.3.2.2 Os maias............................................................. 34

    2.3.2.3 Os indianos......................................................... 35

    2.3.2.3.1 Varahamihica........................................ 36

  • 2.3.2.3.2 Brahmagupta......................................... 36

    2.3.2.3.3 Mahavira................................................ 36

    2.3.2.3.4 Al-khwarizmi.......................................... 37

    2.3.2.3.5 Gelbertd Aurillac................................... 37

    2.3.2.3.6 Ibz Ezra................................................. 37

    2.3.2.3.7 Bhaskara............................................... 37

    2.3.2.3.8 Fibonacci............................................... 38

    2.3.2.3.9 Sacrobosco........................................... 38

    2.4 Consideraes sobre as pesquisa.......................................... 39

    CAPTULO III

    3. A ORIGEM DO ZERO NA HISTRIA............................................................... 40 3.1 Importncia da histria da matemtica no ensino.................. 40

    3.2 A civilizao babilnica........................................................... 43

    3.3 A civilizao maia................................................................... 47

    3.4 A civilizao chinesa............................................................... 54

    3.5 A civilizao hindu.................................................................. 57

    3.6 Linha do tempo relacionada origem do zero....................... 64

    3.7 Cronologia............................................................................. 65

    3.8 O nmero................................................................................ 68

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 70 REFERNCIAS................................................................................................... 72

  • CAPTULO I

    1 A PESQUISA

    1.1. Introduo

    A escolha inicial do tema de pesquisa surgiu quando percebemos as

    dificuldades que os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

    apresentavam ao efetuar operaes envolvendo o nmero zero.

    Quando lecionvamos na 8 srie de uma escola particular da Zona

    Norte da cidade de So Paulo, ensinando equao do 2 grau, observamos que

    os alunos erravam no clculo do discriminante (na resoluo da equao do 2

    grau, o aluno utilizava a seguinte frmula ,.2

    ..42

    a

    cabbx

    = em que cab ..42

    chamado de discriminante), quando o termo independente c era zero. Eles

    simplesmente desprezavam o zero, efetuando o produto entre o nmero quatro e

    o coeficiente a.

    O fator que nos motivou a realizar esse trabalho foi o desejo de

    conhecer, esclarecer e aprender um pouco mais a respeito do zero.

    Da o interesse em investigar como e em que contexto o zero surgiu

    na histria das civilizaes. Esta pesquisa mostra quais foram as dificuldades

    apresentadas nos sistemas de numerao at que o conceito do zero foi institudo

    na matemtica.

    Durante as leituras sobre o tema, percebi a necessidade de aprofundar

    o estudo do zero para uma melhor compreenso de como tudo aconteceu ao

    longo da histria da matemtica.

    Este trabalho est faz parte do projeto A Teoria Elementar dos

    Nmeros no Ensino Bsico e Licenciatura , que faz parte de outro maior

    intitulado Qual a lgebra a Ser Ensinada na Formao de Profes sores?,

  • 17

    inserido linha de pesquisa Matemtica na Estrutura Curricular e Formao de

    Professores do Programa de Estudos de Ps-Graduados da Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo, subgrupo de pesquisa de Educao

    Algbrica conhecido como GPEA. Segundo a descrio do projeto de pesquisa:

    Este grupo concebe a Teoria Elementar dos Nmeros como parte integrante da lgebra do Ensino Bsico, conforme resultado de seus estudos. O objetivo das pesquisas desse projeto investigar o estatuto que esse assunto tem no campo institucional (PCN, Programas, NCTM, etc.), no campo docente (professores do ensino superior, mdio, fundamental e infantil) e no campo discente (alunos de todos os segmentos). Os resultados dessas pesquisas visam contribuir para a sensibilizao sobre a contribuio dos estudos sobre o tema no desenvolvimento do fazer matemtico como demonstrar, conjecturar, diversificar estratgias para resoluo de problemas que envolvam nmeros inteiros .

    ______________

    Texto disponvel em: . Acesso em 02 de jul.2008.

  • 18

    1.2 Questo de pesquisa e objetivo

    Diante do interesse de investigar o zero, responderemos seguinte

    questo de pesquisa:

    Quais foram as dificuldades encontradas pelas civilizaes, ao longo da

    histria, at institurem o zero como um elemento integrante da

    matemtica?

    Certamente este trabalho no responder questo na sua ntegra,

    mas despertar o interesse pelo assunto, j que foram observadas poucas

    pesquisas sobre o tema.

    Por meio da presente pesquisa foi feito um levantamento histrico da

    origem do zero, e relatado o surgimento desse algarismo e nmero nas

    civilizaes babilnica, maia, chinesa e indiana.

  • 19

    1.3 Desenvolvimento da pesquisa

    O desenvolvimento deste trabalho foi feito por meio de uma pesquisa

    bibliogrfica, com a finalidade de conhecer as dificuldades enfrentadas pelas

    civilizaes que surgiram na histria da origem do zero.

    A pesquisa bibliogrfica a modalidade de estudo que se prope a realizar anlises histricas de estudos ou processos tendo como material de anlise documentos escritos e/ou produes culturais garimpados a partir de arquivos e acervos. (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p.71).

    Segundo Kche (2001), o investigador faz um levantamento de

    trabalhos e livros que abordam o tema, com o objetivo de analisar e avaliar as

    principais teorias e assim compreender o desenvolvimento do processo do objeto

    de investigao.

    O objetivo da pesquisa bibliogrfica, portanto, o de conhecer e analisar as principais contribuies tericas existentes sobre um determinado tema [...] (2001, p. 122).

    No captulo 2, foi feita uma reviso bibliogrfica sobre pesquisas que

    retratam a questo do zero. Entre elas, Sentidos Atribudos ao zero por alunos da

    6 srie de Nacarato e Salvador, apresentado na ANPED 2003; Sentido do zero

    de Guimares, dissertao de Mestrado PUCSP - 2008 e A Histria do Zero de

    Pinedo e Sbardelotto 2004.

    Finalmente, no captulo 3, sistematizamos os acontecimentos

    relacionados histria do zero, encerrando o trabalho com nossas consideraes

    finais.

  • 20

    CAPTULO II

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    Esta pesquisa consta de um levantamento bibliogrfico de artigos,

    dissertaes e teses, referente a citaes a respeito do zero, que contribuem

    para responder questo de pesquisa proposta. Dissertaes e teses foram

    pesquisadas em sites da PUC-SP, UNICAMP, UNESP, USP e universidades

    federais. Os artigos foram procurados em revistas cientficas como: BOLEMA e

    Revista do Professor de Matemtica; em anais de congressos como: ENEM,

    ANPED e EBRAPEM; e no Grupo de Ensino e Pesquisa em Educao

    Matemtica GEPEM do CEFET Paran unidade Sudoeste-Campus Pato

    Branco.

    Nessa busca, encontramos apenas trs trabalhos que abordam a

    histria da origem do zero.

    Eis algumas pesquisas:

    2.1 Sentidos Atribudos ao zero por alunos da 6 s rie

    (Salvador; Nacarato, 2003)

    O artigo de Salvador e Nacarato (2003), apresentado na ANPED 2003,

    descreve uma pesquisa feita com 39 alunos de 6 srie, com idades entre 12 e 14

    anos da Escola Pblica Estadual de So Paulo, no perodo de fevereiro/2002 a

    abril/2002, quando as autoras (pesquisadoras) perceberam a dificuldade dos

    alunos em estudar os nmeros inteiros relativos.

    O referencial terico dessa pesquisa foram os trabalhos de Caraa

    (1989) e Glaeser (1985). Caraa (1989 apud SALVADOR; NACARATO, 2003) que

  • 21

    foram essenciais para a compreenso do Princpio das leis formais, colaborando

    para o entendimento de aspectos epistemolgicos dos campos numricos e

    Glaeser (1985 apud SALVADOR; NACARATO, 2003) na compreenso dos

    obstculos epistemolgicos, em que as autoras destacam dois:

    [...] dificuldade em unificar a reta numrica manifesta pela

    diferenciao qualitativa entre quantidades positivas e negativas,

    pela concepo da reta como mera justaposio de duas semi-

    retas opostas, ou, ainda, por desconsiderao do carter

    simultaneamente dinmico e esttico dos nmeros; e ambigidade

    dos dois zeros: zero absoluto e zero como origem. Estes

    obstculos despertaram nosso interesse por envolverem a

    questo do zero no campo dos nmeros relativos. (SALVADOR;

    NACARATO, 2003, p. 1).

    O trabalho teve como objetivos:

    - discutir as questes histricas e epistemolgicas relacionadas ao zero;

    - identificar os sentidos que os alunos atribuem ao zero e a transformao deles no decorrer da prtica pedaggica.

    Na investigao das autoras, a questo central foi Quais sentidos so

    atribudos ao zero pelos alunos de 6 srie ao iniciarem o estudo dos nmeros

    relativos e quais contribuies a prtica pedaggica traz a esse processo de

    elaborao conceitual?

    No primeiro momento da pesquisa, as autoras pediram que os alunos

    respondessem questo Qual o significado do zero para voc? e entregassem

    por escrito na aula seguinte. Esta fase refere-se sondagem inicial e decorreu

    sem a interferncia das pesquisadoras. Os alunos receberam explicaes durante

    as aulas em que introduziram o estudo da reta numrica, destacando o zero como

    origem.

    Durante duas semanas, os alunos tiveram contato com atividades e

    jogos relacionados com nmeros negativos, com a histria do zero, temperatura,

    transaes comerciais e com a reta numrica. Aps esse perodo, chamado de

  • 22

    segundo momento pelas autoras, foi feita a mesma pergunta para que os alunos

    respondessem em sala de aula. O objetivo desse momento era perceber se os

    alunos atribuam novos sentidos ao zero.

    Quando as pesquisadoras concluram o estudo dos nmeros relativos

    fizeram a mesma questo para que fosse respondida pelos alunos em sala de

    aula, chamando esta fase de terceiro momento. Esse momento teve como

    objetivo se os alunos atribuam novos sentidos para o zero, aps o estudo dos

    nmeros relativos.

    As pesquisadoras apresentaram um quadro com a sntese dos

    diferentes significados atribudo ao zero, o que as levou a uma reflexo dos

    aspectos pedaggicos relacionados a eles.

    Quadro 2.1 Sntese dos diferentes significados do zero (adaptado SALVADOR;

    NACARATO, 2003, p.3)

    Significados do

    zero

    Caractersticas

    Zero como

    elemento de

    contagem

    Cardinal de um conjunto vazio;

    nem sempre considerado um

    nmero natural; de natureza

    discreta; impregnado de

    quantidade.

    Zero como valor

    posicional

    Representa as ordens vazias, zero

    como algarismo; impregnado de

    quantidade.

    Zero como dado

    operatrio

    Elemento neutro da adio; anula

    o produto em uma multiplicao;

    a = 1; 0 indeterminado;

    impregnado de quantidade.

    Zero como

    origem

    De natureza contnua; surge para

    unificao da reta numrica no

    campo dos reais; impregnado de

    quantidade.

  • 23

    A partir destes resultados, as pesquisadoras procuraram documentos

    oficiais a exemplo da Proposta Curricular para o Ensino de Matemtica de 1 grau

    do Estado de So Paulo e os Parmetros Curriculares Nacionais com o objetivo

    de verificar se esses documentos contemplavam os significados do zero

    apresentado na tabela.

    Na anlise desses documentos identificaram que na Proposta

    Curricular so poucas as consideraes pedaggicas em relao ao zero e nos

    PCN (1997) no conseguiram identificar citaes ao conceito do zero.

    Ao trmino dos trs momentos da pesquisa, as pesquisadoras

    elaboraram uma tabela identificando os sentidos que os alunos atriburam ao zero.

    Quadro 2.2 - Sentidos atribudos ao zero (SALVADOR; NACARATO, 2003, p.5)

    Sentidos para o zero 1 momento 2 momento 3 momento

    Zero absoluto (contagem) 62% 46% 33% Zero como medida (origem) 38% 49% 46% Zero como valor posicional 44% 31% 54% Zero como dado operatrio 21% 31% 38%

    Analisando a tabela, as autoras atribuem esses resultados ao trabalho

    pedaggico. No primeiro momento, os alunos traziam apenas o conhecimento das

    sries anteriores, mas depois das intervenes feitas pelas pesquisadoras,

    acreditavam que um nmero significativo de alunos pudesse explicitar os sentidos

    do zero. A sistematizao do conhecimento no aconteceu de maneira linear.

    _______________

    A Proposta Curricular que as autoras se referem Proposta Curricular para o Ensino de Matemtica 1 grau . So Paulo, 1988.

  • 24

    Para as autoras, Salvador e Nacarato:

    Os conceitos tm histria tanto para a rea de conhecimento quanto para o prprio sujeito. Assim, o zero teve sua histria no desenvolvimento da matemtica e tem tambm sua histria para cada um dos alunos envolvidos nesta pesquisa. O fato de, em cada um desses momentos, alguns sentidos para o zero terem emergidos mais que outros no significa, necessariamente, que tenham ou no sido incorporados pelos alunos. Provavelmente, o aluno explicitou, em cada um desses momentos, os sentidos que para ele eram significativos, aqueles que o marcaram mais, ou aqueles que estavam sendo abordados e, portanto, seriam de expectativa da pesquisadora. (2003, p. 5-6).

    As autoras acreditam que os alunos no tm uma base de informaes

    suficiente a respeito da conceituao do zero, pois as discusses entre docentes

    em relao ao tema so raras.

    A insero da trajetria histrica do zero possibilitou-nos compreender o quanto a sua criao pelas civilizaes antigas foi complexa. Pensar no nada e ter que associar algo a esse nada deve ter sido provavelmente muito difcil para essas civilizaes. Mas, mesmo com condies precrias e limitadas em termos tecnolgicos, se comparadas s atuais, ousaram e conseguiram com xito criar um smbolo para representar o nada, motivados por necessidades de ordem prtica. Nesse sentido, a prtica pedaggica poderia recuperar essa trajetria para problematizar o prprio conceito do zero. (SALVADOR; NACARATO, 2003, p. 15).

    Neste artigo percebemos a importncia de o aluno conhecer a trajetria

    histrica do zero para compreender melhor seu conceito. Alm disso, traz para o

    meio acadmico informaes sobre a forma como os alunos atribuem sentidos ao

    zero.

    2.2 Sentido do zero (Guimares, 2008) Na dissertao de Mestrado de Guimares (2008), intitulada Sentido do

    Zero encontramos um estudo focado para os sentidos atribudos ao zero por

    alunos de diferentes idades da escolaridade obrigatria.

  • 25

    A autora realizou entrevistas em escolas pblicas da cidade de Taubat

    SP, formulando a seguinte questo O que para voc o zero?. As entrevistas

    com os alunos do Ensino Infantil ao Ensino Mdio Regular e Educao de jovens

    e adultos, foram feitas oral, individualmente e em grupo. Foram tambm

    realizadas de forma coletiva e oral em 4 classes, de 20 alunos em mdia, da

    Educao Infantil (3 a 7 anos). E individualmente com 37 entrevistados do Ensino

    Fundamental e Ensino Mdio.

    Com o trmino desta etapa do trabalho, a autora leu a obra Os zeros e

    os Infinitos Vergani (1991 apud GUIMARES, 2008) que trabalhou a seguinte

    questo Escreva com suas palavras o que para voc zero. A questo foi

    formulada para 170 alunos de 7 e 8 sries do Ensino Fundamental, 1 e 3 anos

    do Ensino Mdio Regular e 1 e 3 anos do Ensino Mdio Educao de Jovens e

    Adultos, de forma individual e escrita.

    O fenmeno estudado por Guimares (2008) foi o zero, e a partir de

    uma reflexo aps a coleta de dados localizou as unidades de significados,

    apoiando-se em Garnica (1997 apud GUIMARES, 2008), por meio de discursos

    e descries dos alunos. A autora criou quatro unidades de significados. So elas:

    [...] os sentidos atribudos ao zero pelos alunos: o zero como tcnica matemtica, o zero conceitual, o zero como uma tcnica social e o zero como uma metfora. (GUIMARES, 2008, p. 27).

    Em suas anlises, Guimares (2008, p. 63-64) descreveu os critrios de

    cada unidade de significados.

    Zero como tcnica matemtica: entrevistas referentes s tcnicas para

    explicar o zero no contexto matemtico acadmico.

    Zero conceitual: entrevistas em que os alunos procuram o conceito do

    zero, ou ainda buscam uma explicao para o zero, no s dentro como tambm

    fora do contexto matemtico. Exemplos: tem valor, vazio, etc.

  • 26

    Zero como uma tcnica social: entrevistas em que o zero aparece com

    uma tcnica usada em vrios momentos sociais. Um exemplo o zero como nota

    em prova escolar.

    Zero como metfora: expresses idiomticas que utilizam o zero como

    metfora. Exemplos: zero esquerda e comear do zero.

    O Programa Etnomatemtica de DAmbrosio (2002 apud GUIMARES,

    2008) foi utilizado como referencial terico para analisar e localizar as unidades

    de significados.

    Segundo Guimares,

    ETNOMATEMTICA TICAS (maneiras, modos, tcnicas) de MATEMA (explicar, conhecer, entender, lidar, conviver) em diversas ETNOS (realidade natural e sociocultural). Os alunos de diferentes idades, sries, crenas (ETNOS) utilizaram de diferentes maneiras, modos, tcnicas (TICAS) para explicar, entender (MATEMA) o zero. (2008, p. 28).

    A autora traz os depoimentos dos alunos que participaram da pesquisa,

    caracterizando-os de acordo com critrios destacados anteriormente.

    Na Educao Infantil, foi realizada uma entrevista oral e em grupo com

    alunos entre 3 e 7 anos de idade. A pergunta realizada foi o que significava para

    eles o zero.

    No primeiro momento a questo foi feita aos alunos de 3 anos e no se

    obteve resposta. A autora ento insistiu, formulando de outra maneira a mesma

    questo: apontando para uma mesa vazia, perguntou quantos lpis havia sobre a

    referida mesa. Os alunos comearam falar vrios nmeros.

    Para as crianas de 3 a 6 anos, a autora fez a mesma pergunta e as

    respostas variaram entre diferentes nmeros, inclusive o zero. J os alunos na

    faixa etria entre 6 e 7 anos, responderam com o zero, ou que no havia nada

    sobre a mesa.

  • 27

    No Ensino Fundamental, Guimares (2008) descreve o depoimento de

    cada aluno e os caracteriza nas unidades de significados. Na entrevista com os

    estudantes de 1 a 4 sries ningum se referiu ao zero como uma metfora.

    Ensino Mdio, 1 a 3 sries, e ensino de jovens e adultos EJA, o

    procedimento foi o mesmo do ensino fundamental.

    No captulo O ZERO NA HISTRIA, Guimares (2008) faz citaes

    relacionadas aos Sistemas de Numerao e o zero.

    Os egpcios, h mais de 5 000 anos, tinham um sistema aditivo de

    numerao com inscrio para os seguintes nmeros:

    Figura 2.1 Nmeros egpcios (GUIMARES, 2008, p. 35)

    Como esse sistema de numerao no era posicional no havia

    necessidade do algarismo zero.

  • 28

    Os gregos sofreram uma influncia dos egpcios ao utilizar letras no

    lugar dos desenhos egpcios, desenvolvendo um sistema mais sofisticado. Como

    mostra a figura:

    Figura 2.2 Nmeros gregos (GUIMARES, 2008, p. 36)

    Os gregos tiraram da representao do nmero sua caracterstica de referncia de quantidade e como utilizavam o princpio aditivo na escrita dos nmeros, no era necessrio a presena do zero algarismo. (GUIMARES, 2008, p. 37).

    O sistema de numerao romana tambm utilizava o princpio aditivo e

    letras. Dessa forma no precisavam do algarismo zero.

  • 29

    A partir das citaes feitas por Guimares (2008) em relao aos

    sistemas de numerao e o zero nas civilizaes babilnica, maia, hindu e

    chinesa, aprofundaremos a questo em captulo posterior.

    Os babilnios tinham um sistema posicional (o valor do algarismo

    dependia da posio ocupada por ele) de base sessenta e utilizavam apenas dois

    smbolos:

    Figura 2.3 Nmeros babilnicos (GUIMARES 2008, p. 37)

    At o nmero 59, utilizavam o princpio aditivo e, a partir da, era

    utilizado o sistema posicional. Quando faltava uma ordem, deixavam um espao

    entre os smbolos, para indicar o algarismo zero. Para evitar dvidas em relao

    a esses espaos, por volta de 300 a.C., os babilnios criaram um smbolo para o

    zero: duas cunhas inclinadas. Assim:

    O sistema de numerao maia apresentava-se na base vinte e utilizava

    apenas trs smbolos:

    Figura 2.4 Smbolos da numerao maia (GUIMARES, 2008, p. 40)

    At o nmero dezenove, usavam o princpio aditivo, com os smbolos

    acima. A partir do nmero vinte, representavam de maneira vertical, de cima para

    baixo. Conforme a figura:

  • 30

    Figura 2.5 Representao do nmero 79, no sistema de numerao maia (GUIMARES, 2008, p. 41)

    O zero algarismo surge nos sistemas de numerao Babilnica e Maia. Os Maias utilizavam o zero algarismo em todas as posies, diferente dos Babilnios, que s o utilizaram nas posies intermedirias. Os indianos apropriaram-se das idias babilnicas e as aperfeioaram, formando o nosso atual sistema de numerao decimal. (GUIMARES, 2008, p. 44).

    O sistema de numerao hindu utilizava nove algarismos distintos, o

    princpio aditivo e a base que era dez. Como esse sistema era muito limitado,

    segundo Ifrah (1998) e os hindus tinham interesse pela astronomia, houve a

    necessidade de aprimor-lo, atribuindo uma palavra para cada um dos nove

    nmeros, da seguinte maneira:

  • 31

    Quadro 2.3 Escrita dos nmeros hindus (Adaptada GUIMARES, 2008, p. 46)

    Nmero Palavra

    1 eka

    2 dvi

    3 tri

    4 catur

    5 paca

    6 sat

    7 sapta

    8 asta

    9 nava

    O nmero era escrito da esquerda para a direita, comeando pela

    unidade simples, vindo em seguida as potncias de dez. Para simplificar essa

    escrita, os indianos tiraram os nomes das classes e deixaram a localizao dos

    algarismos. Ento para representar o nmero 3 709, utilizavam a seguinte

    notao: nava sapta sata ca tri sahasra (nove, sete centos e trs mil).

    Ainda numa forma verbal, nasceu o sistema de posio indiano. Para a escrita de nmeros como 301 no bastava dizer Um Trs, facilmente os sbios indianos contornaram esta situao recorrendo a palavra snya, que significa vazio. (GUIMARES, 2008, p. 46).

    Os nmeros eram representados em um baco, agora da direita para a

    esquerda como usamos atualmente deixando um espao vazio na ausncia de

    uma ordem numrica, dando origem ao zero. O zero foi simbolizado por um ponto.

    Algumas modificaes ocorreram na representao dos algarismos

    indianos e estas foram introduzidas na imprensa no sculo XV.

    Foram os rabes que divulgaram esse sistema de numerao, e por

    isso os algarismos hoje so conhecidos como indo-arbicos.

  • 32

    Em sua pesquisa, Guimares (2008) aponta alguns aspectos da origem do

    zero ao longo da histria, mas tambm categoriza os sentidos que alunos de

    diversas idades atribuem ao zero. A divulgao desses dados importante para o

    meio acadmico, pois assim possvel conhecer um pouco sobre como os alunos

    entendem o zero.

    2.3 Histria do Nmero Zero (Pinedo e Sbardelotto, 2004)

    Nesse artigo publicado no boletim do Grupo de Ensino e Pesquisa em

    Educao Matemtica GEPEM em 2004, Pinedo e Sbardelotto discorrem sobre

    a origem da notao do zero nos diferentes momentos da histria, nas diversas

    civilizaes, entre outras a babilnica, a chinesa, a maia e a indiana.

    Os autores concluram que as civilizaes babilnica, chinesa, maia e

    hindu descobriram o princpio de posio e foram as primeiros da histria que

    puderam representar um nmero qualquer.

    As civilizaes babilnica e maia s utilizavam o zero para representar a

    ausncia das unidades de uma ordem. Assim o zero foi institudo para representar

    a quantidade nula, s como algarismo.

    Pinedo e Sbardelotto (2004) fazem uma retrospectiva do surgimento do

    zero desde os primrdios at os dias de hoje, para um melhor entendimento de

    sua importncia ao longo dos tempos.

    O trabalho dividido em:

  • 33

    2.3.1 Antes de Cristo

    2.3.1.1 Os Babilnios

    Por volta de 1 200 a.C., os babilnios segundo Pinedo e Sbardelotto

    (2004) no conheciam o conceito do zero e utilizavam um sistema posicional

    cuneiforme, de base sessenta, conhecido na Mesopotmia. Em aproximadamente

    400 a.C., usavam no lugar vazio, ou seja, na falta de uma potncia de

    sessenta. Outra notao que representava o vazio era , em

    aproximadamente 700 a . C.

    2.3.1.2 Os Olmecas

    Em 1 000 a.C. essa civilizao, considerada a mais antiga da Costa do

    Golfo do Mxico e antecessora dos maias, inventou um sistema de numerao

    posicional, em que o zero estava includo.

    2.3.1.3 Parmnides (500 a.C.)

    Foi um filsofo grego, que criou O Paradoxo do Julgamento Negativo,

    que diz: se uma afirmao declara que certa coisa existe ento sua negativa

    indicar algo que no existe; ora, uma frase sobre algo que no existe uma frase

    sobre nada e ento impossvel. Em seus dilogos, Plato utiliza esse paradoxo

    para concluir que impossvel existir grandeza nula.

    2.3.1.4 Na China (400 a.C.)

    Nessa poca, os chineses usavam um baco para fazer clculos e na

    ausncia de dezena, deixavam casa vazia para indicar o zero. Mas esse

  • 34

    procedimento foi insuficiente, ento incluram alguns signos na numerao

    chinesa para representar potncias de dez. Mais tarde, no sculo VII d.C., os

    sbios chineses instituram o zero.

    2.3.1.5 Os gregos

    Ao que se sabe os gregos e romanos no conheciam o zero, portanto

    no havia um sistema de numerao posicional. O signo 0 (zero) era usado por

    matemticos envolvidos com a astronomia, de uma forma simblica. Esse fato

    explicado por algumas teorias.

    Uma dessas teorias explica que micron a primeira letra da palavra grega oudewn (nada, a saber). Anteriormente a essa designao, o micron restringia-se a representar o nmero 70. (PINEDO; SBARDELOTTO, 2004, p. 4).

    2.3.2 Depois de Cristo

    2.3.2.1 Ptolomeu (150 d.C.)

    Em seu livro Syntaxis Mathemtica (Almagesto em rabe) usa o

    algarismo zero para representar os nmeros de tabelas trigonomtricas e

    astronmicas. No sistema sexagesimal, ele utiliza o zero medial e final (por

    exemplo: 205 e 250). Os registros desse livro so apenas cpias e por esse

    motivo h controvrsias sobre se o smbolo usado para representar o zero era a

    letra grega micron (nosso smbolo zero).

    2.3.2.2 Os maias (250 900 d.C.)

    Esse povo da Amrica Central (hoje: Mxico Meridional e Guatemala)

    desenvolveu um sistema de nmero de posio usando o algarismo zero. O

    Uaxactun um artefato produzido pelos maias, considerado um dos documentos

  • 35

    mais antigos a apresentar um zero, para indicar a ausncia de uma ou mais

    ordens do sistema de base vinte. Esse sistema era utilizado principalmente para

    o registro do tempo em calendrios.

    O Pestac o mais antigo documento encontrado que relata o sistema de numerao posicional dos Maias usando o zero, este documento datado de 665 d.C. Neste sistema usavam o desenho de uma concha ou de um caracol para representar simbolicamente o zero, que era chamado de xixim . (PINEDO; SBARDELOTTO, 2004, p. 5).

    2.3.2.3 Os indianos

    Esse povo foi o primeiro que reconheceu o sistema de posio com os

    algarismos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e o elemento zero. Como utilizavam o baco

    para realizar clculos, na ausncia de uma ordem deixavam um sulco vazio.

    Assim surgiu a necessidade de um smbolo para representar esse espao, que

    foi um ponto chamado de snya, no perodo entre os sculos III e IV, segundo o

    manuscrito de Bakhshali. A palavra snya significa vazio e indica casa nula.

    Entrou para o rabe como sifr, que significa vago. E foi transliterado para o latim como zephirum ou zephyrum em meados de 1200, mantendo-se seu som, mas no seu sentido. A partir disso ocorreram mudanas sucessivas, e a palavra tornou-se zeuero, zepiro e cifre. (PINEDO; SBARDELOTTO, 2004, p. 6).

    _______________________________

    Transliterao: em sentido estrito, um mapeamento de um sistema de escrita em outro. Tenta ser sem perdas, isto , o leitor informado deve poder reconstruir a ortografia original de palavras transliteradas que desconhece. Para consegui-lo, deve definir convenes complexas sobre como transliterar letras que no tm correspondncia direta na escrita de destino. Disponvel em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Translitera%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em 14 jul.2008.

  • 36

    Os autores citam nomes de pessoas famosas que, de alguma forma se

    referiram ao zero. So eles:

    2.3.2.3.1 Varahamihica (505 - 587)

    Matemtico indiano que utilizou um crculo para indicar o algarismo

    zero, no seu livro Panca Siddhantika.

    A matemtica indiana comeou a usar o zero em meados de 650. O

    zero foi concebido como nmero para representar a quantidade de nenhum

    objeto. Com o surgimento dos nmeros negativos, a idia do nmero zero ficou

    mais abstrata. Os matemticos indianos Brahmagupta, Mahavira e Bhaskara

    escreveram seus livros, tentando buscar solues para as operaes aritmticas

    de adio, subtrao, multiplicao e diviso entre os nmeros negativos e o zero.

    2.3.2.3.2 Brahmagupta (598 670)

    Em seu livro Brahmasphuta Siddhanta, o matemtico explica operaes

    envolvendo o zero, atravs de regras para a adio, subtrao, multiplicao e

    diviso. Em sua poca, conseguiu perceber a relao que havia nos clculos. S

    no conseguiu explicar corretamente a diviso de um nmero por zero, afirmando

    que n/0 e zero dividido por zero zero.

    2.3.2.3.3 Mahavira (800 870)

    Por volta de 830 d.C., ele escreveu sua obra prima, Ganita Sara

    Samgraha, que foi uma atualizao do livro de Brahmagupta. Mas ainda no

    conseguiu explicar de maneira correta a diviso de um nmero por zero,

    afirmando que: Um nmero permanece inalterado quando dividido por zero.

  • 37

    2.3.2.3.4 Al-khwarizmi (790 850)

    Esse matemtico divulgou o sistema posicional decimal e suas tcnicas

    de clculo para o mundo Islmico e o zero para o mundo rabe, atravs de seu

    livro Al-khawarizmi on the Hindu.

    2.3.2.3.5 Gelbert d Aurillac (950 1003)

    Foi um monge francs, que mais tarde tornou-se Papa. Em 980 viajou

    pela Espanha Islmica e conheceu o sistema de numerao indiano. Tentou

    transmitir para o Mundo Cristo as tcnicas de clculo no baco, mas talvez no

    entendesse bem, em particular, a importncia do zero. Assim sua tentativa

    fracassou.

    2.3.2.3.6 Ibn Ezra (1092 1167)

    Foi um rabino que pela primeira vez tratou do problema do valor da

    posio, no ocidente. Destacou as vantagens dos sinais indianos e salientou a

    importncia do zero. Escreveu trs tratados que levaram os smbolos indianos e

    as idias de fraes para as pessoas instrudas da Europa. Em seu trabalho, O

    livro do nmero, aponta o sistema decimal para os inteiros, com valores de

    posio. O zero era chamado de galgal (roda o crculo).

    2.3.2.3.7 Bhaskara (1114 1185)

    Conseguiu expressar o problema da diviso de um nmero por zero,

    afirmando que: Uma quantidade dividida por zero se torna uma frao com

    denominador igual a zero. Esta frao determina uma quantidade infinita.

    (PINEDO; SBARDELOTTO, 2004, p.8).

  • 38

    Esta colocao no estava correta a de Bhaskara, pois ao afirmar que

    =0

    n, estaria correto dizer que zero multiplicado por infinito deveria ser igual a n,

    ou seja, qualquer nmero. O que seria um absurdo, pois todos os nmeros seriam

    iguais. No entanto, ele revelou propriedades corretas envolvendo o zero. Como 0

    =0 e 00 = .

    2.3.2.3.8 Fibonacci (1175 -1240)

    Chamado Leonardo de Piza, Fibonacci foi um matemtico que em uma

    de suas viagens pelo Isl, conheceu e aprendeu a utilizar o sistema indiano.

    Escreveu o livro Lber Abaci e junto com a obra de al-khwarizmi on the Hindu Art

    of Reckoning, o sistema indo-arbico foi introduzido no Mundo Cristo. Nessa

    poca, o zero era visto com desconfiana e Fibonacci no lhe deu maior

    destaque. Simplesmente tratou-o como os outros algarismos. Esse matemtico foi

    o responsvel pela comunicao do sistema de numerao indo-arbico Europa.

    2.3.2.3.9 Sacrobosco (1200 1256)

    Foi o responsvel pela divulgao do sistema posicional decimal e de

    suas tcnicas de clculo na comunidade cientfica, atravs de sua obra

    Algorismus Vulgaris. A aceitao do sistema pelos comerciantes e pela populao

    exigiu tempo. Houve uma resistncia muito grande ao novo sistema, uma vez que

    por muitos sculos haviam recorrido aos nmeros romanos e ao baco por muitos

    sculos.

    Entre os sculos XII e XIII, os trabalhos deixados pelo matemtico

    Jordano Nemorrios, nas reas de aritmtica, lgebra, geometria e estatstica,

    viabilizaram a divulgao da numerao rabe na Alemanha.

    Pinedo e Sbardelotto (2004) concluem que os babilnios e os maias

    inventaram um signo para o zero com o objetivo de marcar a ausncia de uma

  • 39

    ordem, mas no atriburam o estatuto de um nmero para indicar a quantidade

    nula.

    Com a introduo do conceito do nmero zero pelos hindus, foi possvel

    verificar os vrios aspectos do zero: nmero, numeral e algarismo.

    Nesse artigo de Pinedo e Sbardelotto (2004), observando cada etapa do

    desenvolvimento da humanidade no sentido do conhecimento, pudemos constatar

    as dificuldades encontradas pelos matemticos no estudo do zero. Os autores

    mostram, de maneira muito clara, os fatos que envolveram a descoberta do zero.

    2.4 Consideraes sobre as pesquisas

    As pesquisas citadas contriburam muito para este trabalho, pois a partir

    delas foi possvel conhecer os fatos histricos que marcaram a trajetria da

    descoberta do zero nas antigas civilizaes. Alm disso, pudemos avaliar a

    importncia do aluno ter acesso a essa histria, para que ele tenha um melhor

    entendimento do conceito do zero.

    Comparando os trabalhos apresentados por Salvador e Nacarato (2003)

    e os estudos de Guimares (2008), observamos certa semelhana entre eles, j

    que Guimares citou e de alguma forma se inspirou no trabalho de Salvador e

    Nacarato. Em seus trabalhos so investigados os sentidos que alunos de diversas

    faixas etrias atribuem ao zero.

    A pesquisa de Pinedo e Sbardelotto (2004) foi utilizada como inspirao

    para este trabalho, pois retrata a histria do zero.

  • 40

    CAPTULO III

    3 A ORIGEM DO ZERO NA HISTRIA

    3.1 Importncia da histria da matemtica no ensino

    Struik (1985 apud NAKAMURA, 2008, p. 19 -20) mostra em seu trabalho

    alguns aspectos que tornam a histria da matemtica mais atrativa. Entre esses

    aspectos, destacaremos alguns:

    As pesquisas dos autores clssicos, alm de gratificante em si mesmo,

    podem ser um importante auxiliar no ensino e na pesquisa;

    Possibilitam um campo mais abrangente, em que especialistas da rea de

    matemtica e de outras reas podem encontrar interesses em comum;

    Proporcionam uma melhor compreenso dos conceitos da educao

    matemtica no passado e no presente;

    Tornam possvel ilustrar e deixar mais interessante o ensino da matemtica

    atravs de historietas.

    Mendes (2001) considera importante o uso da Histria da Matemtica

    como recurso de ensino e faz a seguinte reflexo:

    [...] o professor poder us-la como fonte de enriquecimento pedaggico e conduzir suas atividades num caminhar crescente, em que o aluno investigue, discuta, sintetize e reconstrua as noes matemticas anteriormente vistas como definitivas sem que o aspecto histrico tivesse sido usado para despertar o interesse de quem as aprende. (p. 32).

  • 41

    Aps a anlise dos trabalhos citados, percebemos que o conceito do

    zero bastante complicado, pois a noo de algarismo diferente da noo de

    nmero. Talvez s seja possvel atingir a noo de zero, quando for possvel

    quantificar o nada.

    Neste captulo, pretendemos fornecer uma viso geral da origem e

    evoluo do conceito de algarismo e de nmero zero, desenvolvido nas antigas

    civilizaes, fazendo uma anlise sobre os fatos histricos relacionados ao zero.

    O algarismo zero surgiu aps os outros, de modo independente, nas

    vrias civilizaes. Essa inveno revolucionou a matemtica, at que fosse

    reconhecido, como um elemento de grande importncia.

    Para Schenberg (2001), os gregos apresentavam dificuldades em

    aceitar o conceito do vcuo e a existncia do vazio. Portanto os gregos no

    conseguiram criar o nmero zero, pois o zero o nada.

    Parece que os indianos tinham uma idia do mundo muito diferente da dos gregos. A idia indiana dos nmeros era mais moderna. Eles consideravam os nmeros como smbolos operacionais, alm de serem coisas. Em particular eles j reconheciam a importncia deste nmero zero, que justamente a unidade do grupo aditivo dos inteiros. Alm de suas caractersticas algbricas, a idia do vazio era um elemento fundamental no deus hindu, pois no fundo o vazio era identificado como a divindade. (p. 30).

    Apesar da inveno do zero ter sido atribuda aos hindus, pois foram

    eles que criaram o nmero e o algarismo, outros sistemas de numerao

    desenvolveram o conceito parcial do zero, ou seja, s do algarismo.

    Provavelmente, segundo Kaplan (2001), o zero teria aparecido pela

    primeira vez entre os sculos IV e III a.C., na civilizao fencia, que instituiu a

    notao posicional. Essa notao necessitaria de um smbolo para representar a

    ausncia da unidade de uma ordem.

  • 42

    H evidncias de que no Vale do Indo4 (Mohenjo Daro Harappa) era

    usado um smbolo circular representando o zero em rguas graduadas.

    Figura 3.1 Mapa do atual Paquisto, antiga civilizao indiana (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 44)

    _______________

    4 A civilizao do vale do Indo, fica no Paquisto atual. O nome que tem sido usado, desde a dcada de 80 Civilizao Harappeana (devido cidade de Harappa), at porque essa foi uma cultura que se espalhou por uma rea extensa e no apenas pelo vale do rio Indo. Em 1947, a ndia foi dividida em ndia e Paquisto. O Paquisto se formou em torno do vale do rio Indo, centro sul da sia. No oeste est limitado pelos montes Suliman, ao norte est o Himalaia. Nas divisas com a ndia e o Ir existem desertos. O Paquisto atual faz fronteiras com o Ir, Afeganisto, China e ndia. O rio Indo, nasce no Tibet e corta o pas de norte a sul, escoa no Mar Arbico formando um imenso delta.

    Disponvel em: . Acesso em 1 abril 2008.

  • 43

    Segundo Dantzing (1970),

    Vemos, portanto, que nenhum progresso era possvel at que se inventasse um smbolo para uma classe vazia, um smbolo para o nada, o nosso zero moderno. A mentalidade concreta dos antigos gregos no podia conceber o vazio como um nmero, e no endossaram o vazio com um smbolo. (p.40).

    Vejamos algumas civilizaes que apresentaram avanos na trajetria

    da inveno do zero.

    3.2 A civilizao babilnica

    A civilizao babilnica apresentou um sistema de numerao admirvel

    para a poca, pois era a posio do algarismo que de fato determinava o seu

    valor.

    A Babilnia est localizada na Mesopotmia, a 80 km ao sul de Bagdh.

    Fundada por volta de 2 000 a.C. pelo povo amorita, que veio do deserto da Arbia,

    chegou Mesopotmia e se instalou na Babilnia.

    A Mesopotmia uma regio do Oriente localizada entre os rios

    Eufrates e Tigre. O significado de Mesopotmia na lngua grega terra entre

    rios, como mostra o mapa a seguir:

  • 44

    Figura 3.2 Mapa do Imprio Babilnico. (COTRIM, 1995, p. 50)

    Como a base do sistema babilnico era sexagesimal (base sessenta),

    os nmeros de 1 at 59 eram representados de maneira aditiva, utilizando dois

    smbolos: um cravo vertical representando a unidade e uma asna

    representando 10 unidades. Conforme figura:

  • 45

    Figura 3.3 Smbolos da numerao babilnica (Adaptada IFRAH, 1997, p.295)

    Esses smbolos eram agrupados bem juntos, formando o equivalente a

    uma nica cifra.

    A partir do nmero 60, o sistema passava a ser posicional, ou seja, os

    valores dependiam da posio em que se encontravam e eram lidos da direita

    para a esquerda, deixando um espao adequado entre os grupos de smbolos.

    Em muitas representaes numricas, o contexto exclua a ambigidade

    do valor, mas em alguns casos, como por exemplo, o nmero 25 poderia ser

    confundido com o 615 ou com o 4 305.

    Figura 3.4 Representaes dos nmeros 25, 615 e 4 305, no sistema de numerao

    babilnico (IFRAH, 2001, p.240)

    Os escribas babilnios no tinham um smbolo para indicar a posio

    vazia, mas com a inteno de tentar solucionar esse problema e evitar confuses,

    deixaram um espao vazio para indicar com clareza a passagem de uma ordem

    sexagesimal para a outra, pois essas notaes eram muito parecidas.

    Durante quinze sculos, os matemticos e astrnomos babilnios

    ignoraram esse fato. Ento houve a necessidade de usar um smbolo para

    representar esse espao, que no poderia ser nada. Muitas vezes os escribas

    omitiam esse espao. Era difcil simbolizar a ausncia de duas ou mais ordens de

  • 46

    unidades consecutivas. No sculo III a.C., os matemticos e astrnomos

    babilnios usaram o zero para representar a ausncia de unidades sexagesimais.

    Posteriormente este espao foi substitudo por um sinal cuneiforme

    (duplo prego oblquo, ou dois pregos sobrepostos), para que no surgissem

    dvidas. Criou-se um smbolo para indicar a ausncia de uma potncia de

    sessenta, representado pela notao .

    Segundo Eves (2004),

    Este smbolo era, portanto, apenas um zero parcial, pois um zero verdadeiro serve para indicar as potncias ausentes da base tanto no meio como no final dos nmeros, como o caso de nossos 304 e 340. No sistema de numerao babilnico, ento, 10 804 aparecia como: (p. 36).

    Figura 3.5 Representao do nmero 10 804 no sistema de numerao babilnico (EVES, 2004, p. 36)

    O sentido dado ao zero pelos sbios da poca foi de vazio (ausncia de

    unidade de uma ordem), considerando-o, portanto, como algarismo. E no como

    nmero, resultado de uma subtrao, como em vinte menos vinte. Julgavam

    desnecessria a representao dessa quantidade.

    Vazio e nada j eram concebidos, mas ainda no eram considerados

    sinnimos. (IFRAH, 2001, p. 243).

  • 47

    3.3 A civilizao maia

    O povo maia habitou a Amrica Central (atualmente o Mxico Meridional

    e a Guatemala) durante mais de 1 000 anos, com inicio na era Crist.

    Figura 3.6 Mapa da regio dos maias (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 32)

    Esse povo desenvolveu um sistema de numerao muito complexo que

    tinha como base a vintena e as potncias de vinte, talvez pelo fato de os

    ancestrais contarem os dedos dos ps e das mos.

    Os nicos registros numricos da civilizao maia de que se tem notcia,

    referem-se astronomia. Essa numerao foi estruturada por meio de smbolos,

    pontos e traos e no efetuavam operaes aritmticas. Provavelmente os

    smbolos serviam para mostrar os clculos j efetuados, com o emprego de um

    instrumento semelhante a um baco.

    Os maias, para representarem os nmeros de um at dezenove

    utilizavam pontos e traos, aos quais atribuam o valor de um e de cinco,

  • 48

    respectivamente. Posicionavam os smbolos na vertical e na horizontal, de forma

    aditiva. Da seguinte maneira:

    Figura 3.7 Representao dos dezenove primeiros nmeros do sistema de numerao dos maias (IFRAH, 1997, p.639)

    Os nmeros superiores a vinte eram escritos verticalmente e as ordens

    eram somadas. Nos nmeros compostos por duas ordens, o algarismo da primeira

    ordem ficava no patamar inferior e o da segunda ordem no patamar superior e era

    multiplicado por vinte.

    Para a representao do nmero 21 (1x20 + 1), usavam a seguinte

    notao:

    Figura 3.8 Representao do nmero 21 no sistema de numerao maia (Adaptada IFRAH, 1997, p.640)

  • 49

    No havendo essa regularidade, o algarismo da terceira ordem, era

    colocado no patamar superior ao da segunda ordem e representava mltiplos de

    360.

    A notao do nmero 4 399 era:

    Figura 3.9 Representao do nmero 4 399 no sistema de numerao maia (Adaptada IFRAH, 1997, p.640)

    Para as ordens seguintes, usavam a base vinte, ou seja, a quarta

    ordem vale vinte vezes a ordem inferior que 20x360 = 7 200, a quinta ordem

    vale 20x7 200 = 144 000 e assim por diante.

    Devido a essa irregularidade, os sbios maias no puderam desfrutar da

    descoberta do sistema posicional nos campos do clculo e da aritmtica.

    No caso da ausncia de certa ordem, os maias atriburam um smbolo,

    semelhante a uma concha ou caramujo, que representaria o algarismo zero.

    Assim o nmero 1 087 200, era indicado:

  • 50

    Figura 3.10 - Representao do nmero 1 087 200 na numerao maia

    (Adaptada IFRAH, 1997, p.641) Os manuscritos de Cdex de Dresden5 mostram a existncia do zero para

    indicar a falta de uma ordem.

    ____________

    5Tratado de astronomia e adivinhao copiada no sculo IX , redigido trs ou quatro

    sculos antes. (IFRAH, 2001, p. 250).

  • 51

    Figura 3.11 Cdex de Dresden (IFRAH, 1997, p. 642)

  • 52

    Figura 3.12 Transcrio das menes numricas que figuram no documento anterior

    (IFRAH, 1997, p. 642)

  • 53

    Quadro 3.1 - Notao dos nmeros da figura 3. 11 (IFRAH, 1997, p.643)

    Temos provas, por estes registros, de que os sbios maias descobriram

    o princpio posicional e inventaram o zero.

    As descobertas no foram um fenmeno partilhado por todos os povos ao mesmo tempo. Este o caso do conceito de zero, que os povos ocidentais precisaram esperar a Idade Mdia para que lhes fosse transmitido pelos rabes, que tinham, por sua vez, recebido dos sbios da ndia. (IFRAH, 1997, p. 643).

    As descobertas mais importantes dos maias foram: utilizao de um

    sistema de numerao vigesimal com notao posicional e um smbolo especial

    para o zero.

  • 54

    3.4 A civilizao chinesa

    O povo chins h mais de trs mil anos, j utilizava um sistema de

    numerao decimal.

    Figura 3.13 Mapa da China (BIANCHINI; PACCOLA, 2001, p. 37)

    Esse sistema era formado por treze sinais, sendo que nove

    correspondentes s unidades de um a nove, e quatro s potncias de dez (dez,

    cem, mil e dez mil).

  • 55

    So eles:

    Figura 3.14 Sinais numricos do sistema de numerao chins (IFRAH, 1997, p. 551)

    Esse sistema de numerao era baseado em um princpio hbrido, ou

    seja, aplicava-se o princpio multiplicativo para indicar as dezenas, centenas,

    milhares e dezenas de milhares (multiplicando-se o algarismo de um a nove pelas

    dezenas, centenas, etc.) e o princpio aditivo para somar as dezenas, centenas,

    milhares e dezenas de milhares indicadas. Assim, para representar o nmero

    9 564, faziam a decomposio da seguinte forma:

  • 56

    9 x 1000 + 5 x 100 + 6 x 10 + 4

    Figura 3.15 Representao do nmero 9 564 no sistema de numerao chins (Adaptada IFRAH 2001, p.236)

    Dessa maneira no era necessrio um smbolo para representar o zero

    nesse sistema de numerao. Para representar o nmero 504, bastaria decomp-

    lo assim:

    5 x 100 + 4

    Figura 3.16 - Representao do nmero 504 no sistema de numerao chins (Adaptada IFRAH, 1997, p.556)

    S a partir do sculo VIII d.C., com a influncia dos hindus, os sbios

    chineses passaram a utilizar um smbolo para representar o zero na falta de uma

    ou mais potncias de dez, evitando, assim, qualquer erro de interpretao.

    Utilizam at hoje a palavra ling e o signo para indicar o zero chins. Portanto o

    nmero 504 passou a ser representado desta maneira:

  • 57

    5 x 100 + 0 + 4

    Figura 3.17 - Representao do nmero 504 no sistema de numerao chins, com um smbolo para o zero (Adaptada IFRAH, 1997, p.556)

    3.5 A civilizao hindu

    Segundo Ifrah (2001), os historiadores do incio do sculo XX contam

    que o nosso sistema de numerao decimal teria tido sua origem no comeo da

    era crist, na Grcia antiga.

    No sculo V d.C., no norte da ndia, surgiu o antecedente do nosso

    sistema moderno de numerao, com as bases de clculo que so usadas at

    hoje. Documentos comprovam que esse fato foi proclamado pelos rabes, a quem

    foi atribuda esta descoberta, juntamente com a indiana.

  • 58

    Figura 3.18 Mapa da regio da ndia e Arbia Saudita6

    O sistema de numerao dos indianos era constitudo por nove

    algarismos distintos. Esses smbolos, mais tarde, originaram o que chamamos de

    algarismos indo-arbicos. Embora eles ainda no usassem a regra de posio,

    j consideravam a base dez e o princpio aditivo. Sendo assim, tinham uma

    representao diferente para cada nmero.

    Para representar o nmero 7 629, era preciso colocar os algarismos

    nesta ordem 7 000, 600, 20 e 9, como vemos a seguir:

    ____________________________

    6Disponvel em . Acesso em 14 jul. 2008

  • 59

    Figura 3.19 Representao do nmero 7 629 na numerao hindu (IFRAH, 2001,

    p.266)

    Esse sistema de numerao no podia representar nmeros muito

    elevados, portanto no supria a necessidade dos astrnomos.

    Para tentar resolver esse problema, os hindus representavam os nmeros

    por meio da escrita, atribuindo-lhes um nome em snscrito (lngua hindu que

    vigorou durante muito tempo). Esse fato levaria descoberta do princpio

    posicional e do zero.

    Varahamihira (500 d.C.) foi um famoso sbio indiano que utilizou um

    pequeno crculo para representar o algarismo zero. Escreveu o livro Panca-

    Siddhantika. provvel que os indianos, desde 300 d.C., j estivessem usando

    um ponto, que era chamado de pujyam, para denotar o zero.

    O povo hindu utilizava o baco, que eram meros sulcos feitos na areia,

    onde colocavam pedras, para realizar seus clculos. Cada sulco era a

    representao de uma ordem decimal, da direita para a esquerda, ou seja,

    primeiro a ordem das unidades, depois dezenas e assim por diante.

    Para representar o nmero 109, colocavam-se nove pedras no primeiro

    sulco das unidades, deixava-se o segundo sulco das dezenas vazio e colocava-se

    uma pedra no terceiro sulco das centenas.

    Ento surge a necessidade de se representar esse sulco vazio, que foi

    representado pelo desenho de um ponto em negrito que chamaram de snya,

    que significa vazio ou lacuna e era utilizado para indicar casa nula. Assim, o zero

    foi inventado.

  • 60

    Segundo Ifrah,

    [...] nem tudo estava pronto. Os nove algarismos no estavam ainda submetidos ao princpio de posio, aplicando-se esta regra, por ora, apenas s palavras. Quanto ao zero, por enquanto ele era apenas oral. (2001, p. 270).

    Assim, os calculadores da poca perceberam que podiam representar

    os prprios smbolos dos algarismos no baco e no mais as pedras, aplicando a

    regra de posio, ou seja, o valor do algarismo dependeria da sua posio no

    baco. Mas nesse momento, os nmeros eram representados da direita para a

    esquerda. Ento o nmero 9 100 era representado assim:

    Figura 3.20 - Representao do nmero 9 100 na numerao hindu (IFRAH, 2001, p.285)

    A maneira pela qual o snya indiano se transformou no zero atual constitui um dos captulos mais interessantes na histria da cultura. Quando os rabes do sculo X adotaram a numerao indiana, traduziram o snya indiano por sua prpria palavra, sifr, que significa vazio, em rabe. Quando a numerao indo-arbica foi primeiramente introduzida na Itlia, sifr foi latinizado para zephhirum. Isso aconteceu no incio do sculo XIII, e durante os cem anos seguintes a palavra sofreu uma srie de mudanas que culminaram no italiano zero. (DANTZING, 1970, p.40).

    Brahmagupta (628 d.C.) foi um grande conhecedor indiano da

    matemtica, considerado o pai da aritmtica. Em seu livro Brahmasphuta

    Siddhanta, ele utiliza os numerais rabes inclusive o zero, nas operaes de

    adio, subtrao, multiplicao, diviso e outras fundamentais. Alm disso,

    popularizou o conceito do zero, categorizando-o como samkhya, ou seja, nmero.

    Nesse livro ele ainda definiu regras para os clculos com o zero como: nmero

  • 61

    multiplicado por zero resulta em zero; a soma e a diferena de um nmero com

    zero resulta nesse nmero, entre outras.

    Segundo Boyer (1996), [...] Brahmagupta estragou um pouco as coisas

    afirmando que 0 00 = , e na delicada questo de 0a para 0a ele no se

    comprometeu. (p.150).

    No sculo IX, Mohammed ibm-Musa al-Khowarizmi 7, aps ter

    aprendido a realizar clculos com o livro Brahmasphuta Siddhanta de

    Brahmagupta, escreveu o livro Clculo com os Numerais Indianos (al arqan al

    hindu), adotando os numerais hindus na matemtica muulmana. Por meio desse

    livro, divulgou-se no mundo islmico, o sistema posicional decimal, suas tcnicas

    de clculo e o zero.

    O nome de al-Khowarizmi, aps muitas transformaes, deu origem a

    palavra algarismo.

    Em 1 202 d.C., Leonardo de Pisa, um comerciante italiano conhecido

    como Fibonacci, escreveu o livro Liber Abaci (Livro do baco), aps ter feito

    viagens pelo norte da frica e tomado conhecimento do sistema de numerao

    hindu. Tambm reconheceu a superioridade dos algarismos rabes, comparados

    aos romanos.

    _______________________

    7 al- Khowarizmi ou al-Khwarizmi: Brilhante conhecedor da matemtica e astrnomo persa-muulmano nascido provavelmente na regio de Khwarizm, sul do mar de Aral, na sia central, descobridor do Sistema de Numerao Decimal e dos dez smbolos, que hoje so conhecidos como algarismos indo-arbicos, e introdutor desses numerais e dos conceitos da lgebra na matemtica europia. Disponvel em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/MohameMK.html. Acesso em 12/07/2008.

  • 62

    Esse livro contm assuntos relacionados Aritmtica e lgebra e teve

    um papel importante na Europa, pois foi atravs dele, que os europeus

    conheceram os algarismos e o sistema indo-arbico.

    Fibonacci demonstra certa desconfiana em relao ao zero quando faz

    uma distino de nomenclatura, excluindo-o da categoria dos algarismos e

    considerando-o um sinal.

    Sacrobosco era um mestre ingls e, baseado em al-Khowarizmi e

    Fibonacci escreveu, em 1 219, o livro Algorismus vulgaris, em que tratou de

    tpicos como adio, subtrao, multiplicao, diviso. Este livro Algorismus

    vulgaris tornou-se o mais popular nas universidades medievais, pois por meio dele

    o sistema posicional decimal e suas tcnicas de clculo foram divulgados na

    comunidade cientfica ocidental.

    Esse sistema foi sendo absorvido pelos comerciantes e pela populao

    europia de uma forma lenta, pois a maioria das pessoas continuou utilizando os

    numerais romanos e o clculo com bacos ainda por vrios sculos.

    O smbolo do zero e a idia de vazio, nulo, no-existente s foram

    levados para a Europa a partir do sculo VIII d.C. juntamente com os outros

    algarismos e aps a aceitao dos algarismos arbicos. Difundiu-se esse termo,

    zero, como snya, que em rabe se tornou shifr e foi latinizado para zephirum,

    depois zfiro, zefro e, por fim, zero.

    A representao grfica do zero demorou cerca de 400 anos para ser

    incorporado ao sistema decimal indo-arbico de numerao.

    A evoluo da representao dos algarismos desde os utilizados pelos

    indianos na poca de Brahmagupta, at os usados hoje, apresenta-se da seguinte

    forma:

  • 63

    Figura 3.21 Evoluo da representao dos algarismos indo-arbicos (SILVEIRA, 2001, p.9)

    Lendo de cima para baixo:

    Indo-arbico atual

    Algarismos indo-arbicos medievais

    Letras rabes eventualmente usadas como algarismos

    Algarismos rabes atuais

    Algarismos rabes de 800 d.C.

    Algarismos Devangari 8 primitivos, anteriores a Brahmagupta

    Algarismos Devangari da poca de Brahmagupta

    ______________

    8 Devangari: Sistema de escrita utilizado para o registro da lngua snscrita. Disponvel em: . Acesso em 12 jul. 2008.

  • 64

    3.6 Linha do tempo relacionada origem do zero

    Figura 3.22 Linha do tempo dos principais acontecimentos relacionados origem do zero

    Meados do sculo III a.C.

    Sculo IV d.C.

    Sculo V d.C.

    Aproximadamente sculo VIII d.C.

    Descoberta da regra de posio e

    do zero pelos hindus

    Surgimento, na Babilnia, do primeiro zero conhecido na

    histria

    poca provvel do surgimento do zero

    no sistema de numerao maia

    Sbios chineses, influenciados pelos hindus, puderam

    dispor do zero

  • 65

    3.7 Cronologia

    O quadro a seguir, mostra os principais fatos relacionados ao zero no decorrer da histria.

    Quadro 3.2 Cronologia dos acontecimentos relacionados ao zero (adaptada SIVEIRA, 2001, p. 5-10)

    ANO FATOS 3000 a. C.

    Vale do Indo (Mohenjo Daro e Harappa): h evidncia de aparente uso de smbolo circular indicando o valor zero em rguas graduadas. (Os documentos da Civilizao do Vale do Indo tm resistido a dezenas de tentativas de decifrao.

    3 000 a.C.

    O olho de Horus : sistema de representao e clculo com fraes inventado pelos egpcios e por muitos sculos usados pelos comerciantes da regio mediterrnea; envolto em misticismo, trabalhava com fraes binrias entre zero e um, sendo que um estava identificado com a pureza absoluta e zero impureza absoluta.

    2 000 a.C.

    O Sistema cuneiforme foi inventado na Mesopotmia, pelos babilnios; apesar de ser um sistema de numerao posicional, os mesopotmicos ainda no tinham a noo de algarismo zero.

    400 a.C. Os chineses deixam casa vazia, em caso de zero, em seus bacos de mesa.

    300 a.C.

    Os mesopotmicos: os matemticos e astrnomos passam a usar um algarismo zero medial zero para representar a ausncia de unidades sexagesimais, (como 205 no nosso sistema decimal) em suas tabelas astronmicas, no usavam zero inicial ou final (como em 250 no sistema decimal).

    200 a.C.

    A palavra snya (significa vazio, em snscrito) usada para indicar casa nula na escrita de numerais. Mais tarde, as casas nulas passaram a ser indicadas por um ponto, o qual era chamado de pujyam.

    350 d.C.

    Os maias produzem um artefato, o Uaxactun - Stela 18 e 19, que o documento mais antigo que deixaram contendo meno ao zero. Esse artefato no usa o sistema posicional; o mais antigo documento maia usando zero e o sistema posicional o Pestac - Stela 1, datado de 665 d.C., conforme informou Michael Closs.

  • 66

    500 d.C.

    Varahamihira , famoso matemtico indiano, usa um pequeno crculo para denotar o algarismo zero em seu livro Panca-siddhantika. Especula-se que desde 300 d.C. os indianos vinham usando um ponto, o pujyam, para denotar o zero.

    628 d.C.

    Brahmagupta , matemtico indiano, em seu livro Brahma-sputa siddhanta, eleva o zero categoria dos samkhya (ou seja, dos nmeros) ao dar as primeiras regras para se calcular com o zero: um nmero multiplicado por zero resulta em zero; a soma e a diferena de um nmero com zero resulta neste nmero etc.).

    850 d.C.

    Al-Khwarizmi , aps ter aprendido a calcular ao estilo indiano com o Siddhanta de Brahmagupta, escreveu um livro de aritmtica chamado (provavelmente) Clculo com os Numerais Indianos (al arqan al hindu ); esse livro foi quem fez a divulgao do sistema posicional decimal, e respectivas tcnicas de clculo, no mundo islmico. Junto com isso veio a divulgao do zero no mundo entre os povos de lngua rabe; dos nomes snya, pujyam e sbra, usados no livro de Brahmagupta, al-Khwarizmi adotou o terceiro para denotar o zero e da a evoluo;sbra; siphra ou sifr (rabe); cifra e outras variantes nas lnguas europias ; zephirum (pronncia latina do sifr) e da o termo moderno: zero.

    1 200 d.C.

    Fibonacci , que havia aprendido a calcular no sistema indiano em suas viagens de estudo pela frica islmica, escreve seu famoso livro, o Liber abaci, o qual, junto com a traduo latina da aritmtica de al-Khwarizmi foram os grandes introdutores do sistema indo-arbico no Mundo Cristo e dois dos mais importantes livros da histria da humanidade. Fibonacci ainda via o zero com desconfiana e isso pode ser percebido pelo modo que usava para se referir aos algarismos: novem figure indorum (os nove algarismos indianos) e o hoc signum 0... quod arabice zephirum appelatur (o sinal zero).

  • 67

    1 250 d.C.

    Sacrobosco , baseado em al-Khwarizmi e Fibonacci, escreve seu Algorismus vulgaris o qual tornou-se o livro de matemtica mais popular nas universidades medievais e, assim, divulgou definitivamente o sistema posicional decimal e suas tcnicas de clculo na comunidade cientfica de ento; a adoo desse sistema pelos comerciantes e resto da populao foi bem mais lenta, e eles continuaram a usar os numerais romanos e o clculo com bacos ainda por vrios sculos. Na figura temos alguns passos da evoluo dos algarismos, desde os usados pelos indianos da poca de Brahmagupta, passando pelos algarismos usados pelos povos rabes e chegando aos algarismos que usamos no Mundo Cristo.

  • 68

    3.8 O nmero

    Relataremos segundo Mendes (2006), algumas noes de nmero

    apresentadas desde os tempos mais antigos e faremos algumas reflexes.

    Os estudos arqueolgicos mostram que os sistemas numricos

    surgiram para que o homem pudesse representar de alguma forma, quantidades

    referentes a riquezas, bens, ou at mesmo para a realizao de alguns clculos.

    Para isso houve a necessidade da criao de cdigos para identificar esses

    nmeros e de estratgias para efetuar as operaes aritmticas, pois a memria

    humana tinha dificuldade em calcular grandes quantidades.

    Aqui faremos uma reflexo: o zero como nmero no representava

    nenhuma quantidade, assim podemos pensar que no haveria necessidade de

    representao, pois era uma situao que antecedia a aquisio do bem ou da

    riqueza, que seria representada pelo nmero 1. Em situaes do dia-a-dia,

    dificilmente se utilizava o zero em uma operao.

    A aritmtica surgiu pela necessidade de medir, comparar, fazer

    equivalncias etc., e mais uma vez no houve a necessidade de operaes

    aritmticas com o nmero zero, pois no h medida representada por este

    nmero.

    Nessas reflexes percebemos que a representao do zero no

    comum em certas situaes presentes no dia-a-dia de cada indivduo,

    principalmente nos primeiros anos de vida. Talvez, em relao humanidade, isso

    tenha acontecido de uma maneira semelhante: os povos primitivos, assim como

    no sentiram a necessidade de utilizar o nmero zero para representar a ausncia

    de objetos. Nem mesmo na aritmtica essa representao foi necessria as

    crianas.

    Hoje sabemos que a inveno do zero revolucionou a humanidade e

    contribuiu para avanos tecnolgicos.

  • 70

    CONSIDERAES FINAIS

    A presente pesquisa bibliogrfica tenta responder seguinte questo:

    Quais foram as dificuldades encontradas pelas civilizaes, ao longo da histria,

    at institurem o zero como um elemento integrante da matemtica?

    Pelo levantamento histrico realizado, percebemos que, apesar das

    civilizaes babilnica, maia e chinesa apresentarem dificuldades para dar uma

    representao ao vazio, elas conseguiram instituir um smbolo para o algarismo

    zero.

    O povo hindu foi capaz de conceber em relao ao zero o conceito

    completo: como nmero idia de quantidade nula; e como algarismo smbolo

    usado para representar a ausncia de uma ordem numrica.

    Nesta breve histria, observamos que a inveno do zero foi muito difcil

    para as antigas civilizaes. A princpio, o zero foi institudo como algarismo, pela

    necessidade de se representar o vazio em certa ordem do nmero.

    Talvez por este fato, at hoje associamos a idia do zero com o nada,

    o que muitas vezes gera uma m interpretao por parte das pessoas nas

    operaes que envolvem o zero.

    O povo que mais colaborou com o nosso sistema de numerao atual

    foi o hindu. Mas essa criao no foi de um s homem nem apenas dos povos

    indianos, pois com o decorrer dos sculos as idias foram aperfeioadas e

    difundidas pelos rabes. Da o nome do nosso sistema de numerao, indo-

    arbico.

    A trajetria histrica do zero, segundo Salvador e Nacarato (2003),

    ajuda-nos a entender melhor como a idia do nada foi associada a algo desse

    nada e como se criou um smbolo para representar o nada.

  • 71

    Guimares (2008) mostra a importncia do algarismo zero nas vrias

    posies, comeo, meio e fim, e na construo do sistema de numerao decimal.

    O trabalho apresentado por Pinedo e Sbardelotto (2004) mostra a

    importncia da descoberta do zero em um sistema posicional, proporcionando

    avanos na matemtica.

    As dificuldades apresentadas na conceituao do zero ao longo da

    histria hoje proporcionam avanos em suas aplicaes, mas ainda causam

    algumas dvidas.

    A inveno de zero tornou possvel uma notao perfeita e coerente dos

    nmeros, permitindo que qualquer pessoa efetuasse clculos sem precisar das

    mos ou de contadores mecnicos.

    Atualmente o nmero e o algarismo zero so instrumentos poderosos e

    indispensveis para clculos e para o desenvolvimento da matemtica e de outras

    cincias.

    Deixamos como sugesto que mais trabalhos sejam desenvolvidos com

    os alunos, para que um dia o conceito do zero seja totalmente entendido por

    todos, no s no meio acadmico da matemtica. Assim, a histria do zero ser

    mais conhecida, e seu conceito melhor compreendido.

  • 72

    REFERNCIAS

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