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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. 000-000 T. Colasante ISSN ????-???? A PAISAGEM RURAL COMO UM ATRATIVO PARA O TURISMO RURAL: ESTUDO DE CASO NA ESTRADA DOS PIONEIROS – REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA-PR TATIANA COLASANTE Universidade Estadual Paulista - Unesp Campus de Presidente Prudente [email protected] RESUMO - O presente artigo discute as novas funcionalidades do meio rural brasileiro, sobretudo, a partir da década de 1980, com o início do Turismo Rural no país. Esta atividade vem contribuindo para dinamizar a economia rural, especialmente, na agricultura familiar. O estado do Paraná passou por diversos ciclos de exploração econômica que contribuíram para a sua ocupação territorial. Na década de 1990, assim como já vinha acontecendo em outras regiões do país, ocorre a inserção da atividade turística no meio rural, mais especificamente, na região norte do estado. Dentre muitos elementos de atratividade que o meio rural fornece, o destaque da pesquisa recai sobre a paisagem rural que por intermédio das modificações naturais e antrópicas, torna-se elemento singular para o turismo rural. Utilizando metodologias de análise para averiguar o grau de potencialidade das paisagens rurais, o recorte espacial da pesquisa é a Estrada dos Pioneiros, localizada na Região Metropolitana de Londrina, norte do Paraná. Palavras chave: Turismo rural, paisagem rural, norte do Paraná, Região Metropolitana de Londrina, Estrada dos Pioneiros. ABSTRACT - This article discusses the new features of the Brazilian countryside, especially from the 1980s, with the onset of Rural Tourism in the country. This activity has contributed to boost the rural economy, especially in family farming. The state of Paraná has undergone several cycles of economic exploitation that contributed to its territorial occupation. In the 1990s, as already happened in other regions of the country, occurs the inclusion of tourism in rural areas, more specifically, in the northern region of the state. Among many elements of attractiveness to the countryside provides the highlight of the research is on the rural landscape through the natural and anthropogenic changes, become singular elements for rural tourism. Using analysis methodologies to ascertain the degree of potentiality of rural landscapes, the spatial area of research is the Estrada dos Pioneiros, located in the Metropolitan Region of Londrina, Paraná northern. Key words: Rural Tourism, rural landscape, northern Parana, Metropolitan Region of Londrina, Estrada dos Pioneiros. 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o meio rural vem passando por diversas transformações que resultaram, dentre outros aspectos, em alterações nas relações de produção e trabalho, decorrentes de múltiplos processos, como a modernização na agricultura e a globalização. Nessa perspectiva, as atividades agropecuárias, especialmente, a agricultura familiar, acabaram enfrentando problemas que contribuíram para que os pequenos produtores buscassem alternativas de sobrevivência frente às novas formas de organização do trabalho no campo. Ao mesmo tempo, este novo cenário que o meio rural brasileiro apresenta, sobretudo, a partir da década de 1980, com a inserção efetiva da atividade turística no campo, vem oferecendo uma nova dinamização na economiza dos pequenos produtores, além de conferir experiências diferenciadas para o turista, que vem buscar no campo, muitos elementos que o meio urbano não oferece, como o contato com a natureza.

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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1.

p. 000-000

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A PAISAGEM RURAL COMO UM ATRATIVO PARA O TURISMO RURAL: ESTUDO DE CASO NA ESTRADA DOS PIONEIROS –

REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA-PR

TATIANA COLASANTE

Universidade Estadual Paulista - Unesp Campus de Presidente Prudente [email protected]

RESUMO - O presente artigo discute as novas funcionalidades do meio rural brasileiro, sobretudo, a partir da década de 1980, com o início do Turismo Rural no país. Esta atividade vem contribuindo para dinamizar a economia rural, especialmente, na agricultura familiar. O estado do Paraná passou por diversos ciclos de exploração econômica que contribuíram para a sua ocupação territorial. Na década de 1990, assim como já vinha acontecendo em outras regiões do país, ocorre a inserção da atividade turística no meio rural, mais especificamente, na região norte do estado. Dentre muitos elementos de atratividade que o meio rural fornece, o destaque da pesquisa recai sobre a paisagem rural que por intermédio das modificações naturais e antrópicas, torna-se elemento singular para o turismo rural. Utilizando metodologias de análise para averiguar o grau de potencialidade das paisagens rurais, o recorte espacial da pesquisa é a Estrada dos Pioneiros, localizada na Região Metropolitana de Londrina, norte do Paraná. Palavras chave: Turismo rural, paisagem rural, norte do Paraná, Região Metropolitana de Londrina, Estrada dos Pioneiros. ABSTRACT - This article discusses the new features of the Brazilian countryside, especially from the 1980s, with the onset of Rural Tourism in the country. This activity has contributed to boost the rural economy, especially in family farming. The state of Paraná has undergone several cycles of economic exploitation that contributed to its territorial occupation. In the 1990s, as already happened in other regions of the country, occurs the inclusion of tourism in rural areas, more specifically, in the northern region of the state. Among many elements of attractiveness to the countryside provides the highlight of the research is on the rural landscape through the natural and anthropogenic changes, become singular elements for rural tourism. Using analysis methodologies to ascertain the degree of potentiality of rural landscapes, the spatial area of research is the Estrada dos Pioneiros, located in the Metropolitan Region of Londrina, Paraná northern. Key words: Rural Tourism, rural landscape, northern Parana, Metropolitan Region of Londrina, Estrada dos Pioneiros.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o meio rural vem passando por diversas transformações que resultaram, dentre outros aspectos, em alterações nas relações de produção e trabalho, decorrentes de múltiplos processos, como a modernização na agricultura e a globalização. Nessa perspectiva, as atividades agropecuárias, especialmente, a agricultura familiar, acabaram enfrentando problemas que contribuíram para que os pequenos produtores buscassem

alternativas de sobrevivência frente às novas formas de organização do trabalho no campo.

Ao mesmo tempo, este novo cenário que o meio rural brasileiro apresenta, sobretudo, a partir da década de 1980, com a inserção efetiva da atividade turística no campo, vem oferecendo uma nova dinamização na economiza dos pequenos produtores, além de conferir experiências diferenciadas para o turista, que vem buscar no campo, muitos elementos que o meio urbano não oferece, como o contato com a natureza.

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Neste quadro, torna-se necessário que os atrativos rurais sejam explorados mediante os princípios da sustentabilidade para garantir que este produto turístico não seja efêmero, mas que seja aproveitado, inclusive, a médio e longo prazo. Ressalta-se, assim, que a paisagem rural como elemento fundamental na composição do cenário turístico rural seja conservada nos seus aspectos físicos, naturais e culturais, de modo a conferir a singularidade buscada pelos turistas.

Enquanto espaço visível, a paisagem é formada por um conjunto de elementos morfológicos e que muitas vezes, em virtude de processos históricos acaba sendo modificada pela ação humana. Se, por um lado, essa descaracterização pode acarretar em impactos ambientais graves, por outro, a inserção de elementos culturais pode reforçar a identidade do lugar, de onde se destaca a dimensão simbólica da paisagem rural. Sendo assim, além de possuir uma dinâmica própria, que nem sempre se detecta de imediato, a paisagem apresenta também uma vertente cultural, na qual o homem é o principal agente modificador.

Para se analisar o potencial turístico de uma paisagem rural, faz-se necessária a utilização de uma metodologia, assim como ocorre com outros atrativos turísticos. Especificamente, neste trabalho, a discussão foi feita a partir de duas metodologias específicas: os seis elementos de análise da paisagem cênica discutidos no guia The Roadscape Guide e as onze características da paisagem rural descritas nas normas NRB-30 (U.S. Department.of the Interior, National Park Service).

Como recorte espacial deste trabalho, foi escolhida a Estrada dos Pioneiros, localizada na Região Metropolitana de Londrina (RML), especificamente o trecho que engloba a área periurbana de Londrina, pois, esta área vem sofrendo intervenções urbanas recentes, que podem comprometer ainda mais a integridade do trecho. Embora, não seja turística comercialmente, a Estrada dos Pioneiros possui uma importância histórica e cultural para a região, que pode vir a ser aproveitado como elemento de atração para o turismo rural.

2 A GÊNESE HISTÓRICA E ECONÔMICA DO ESTADO DO PARANÁ

O estado do Paraná (Figura 1), localizado na

região sul do Brasil, possui uma população aproximada de 10.500.000 habitantes (IBGE, 2010). Uma das características da ocupação territorial do estado é seu processo desigual e descontínuo entre as diferentes regiões. O início do povoamento remete ao período colonial, através de disputas territoriais entre Portugal e Espanha. A maior parte do atual território paranaense pertencia à Espanha. Em função disso, durante o século XVI, houve a instalação de vários povoados e reduções jesuíticas espanholas. Grande parte do território paranaense pertencia à Província del Guayrá, que tinha uma população indígena de milhares de pessoas, na qual desenvolviam o plantio de milho, mandioca, criação de gado e extração de erva mate. Com a destruição das

reduções pelos bandeirantes paulistas, no final do século XVI, novos conflitos fizeram com que a demarcação do território paranaense ficasse comprometida (FAJARDO, 2008).

Figura 1: Localização do estado do Paraná com relação à

América do Sul. Fonte: Ipardes (2013) Historicamente, o estado passou por diversos tipos

de ciclos de exploração e que podem ser relacionados com a formação e evolução das regiões. Para auxiliar neste entendimento, Konzen e Zaparolli (1990) elencaram os seis principais ciclos de exploração que contribuíram para o processo de ocupação:

A) Escravo-indígena: esta fase de ocupação tem início com o estabelecimento de reduções jesuíticas espanholas no século XVI, especialmente, na região onde hoje estão localizadas as cidades de Paranaguá e Curitiba, com objetivo de catequização dos índios.

B) Mineração: a partir do século XVI, tem-se uma busca constante pelo ouro, que segue até o início do século XX e, com isso, o surgimento dos primeiros povoados de origem portuguesa no litoral do Paraná.

C) Tropeirismo: no início do século XVII, as tropas vinham do Rio Grande do Sul em direção à Sorocaba para comercialização de animais. À medida que faziam paradas para descanso, tem-se o surgimento de importantes núcleos populacionais.

D) Erva-mate: durante praticamente todo o século XIX, a erva-mate – planta originária do Paraná – foi a

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principal atividade econômica do estado e, a partir dela tem-se um desenvolvimento técnico, especialmente, do entorno de Curitiba, com a construção de estradas e a instalação de indústrias.

E) Madeira: no período entre o final do século XIX e início do século XX, a madeira passou a fazer parte das exportações paranaenses, resultando na instalação de várias madeireiras, sobretudo na região norte.

F) Café: a partir da crise na exploração da erva-mate e o avanço da exploração da madeira, o café passou a ganhar importância na produção do estado. A cafeicultura foi predominante no norte do Paraná, onde era quase uma extensão das lavouras paulistas.

Ainda com relação ao norte do Paraná, Muller (2007, p. 34) afirma que somente a partir do século XIX a colonização foi feita de forma efetiva, com a fundação da Colônia Militar de Jataí em 1855, que tinha por objetivo a proteção da área ameaçada pelos paraguaios e a fundação dos aldeamentos de São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo da Serra, constituindo assim, pequenos centros de povoamento.

A partir de 1862, com o desenvolvimento da cafeicultura, o norte do Paraná passa por uma nova fase de ocupação. Hauresko e Moteka (2008) explicam que vinham ocupar as terras, principalmente, mineiros e paulistas, em virtude da decadência das antigas zonas produtoras (no Estado de São Paulo e Minas Gerais). Este período marcado pela intensa imigração para o norte do Paraná, conhecido como a “marcha para oeste do café” fez com que surgissem vários núcleos habitacionais: Colônia Mineira (1862), Santo Antônio da Platina (1866), Venceslau Brás e São José da Boa Vista (1867), conforme Bragueto (2007). Acrescenta-se neste período também a presença do migrante nordestino vindo, sobretudo, da Bahia, que ficavam na zona rural, onde trabalhavam como posseiros ou peões, segundo Wachowicz (1987).

Durante este período próspero da lavoura cafeeira, que contribuiu para que o Paraná se tornasse o maior produtor do Brasil, houve um verdadeiro fenômeno populacional, com rápida ocupação territorial. Após o ano de 1929, a colonização no norte do Paraná é caracterizada por aquilo que Bragueto (2007) denomina de “colonização nos moldes capitalistas”, empreendida pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital inglês e que, posteriormente, viria a ser chamada de Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), quando esta foi vendida a empresários brasileiros. Padis (1981) destaca também a ocupação de terras na região pelas companhias Bratac e a Nambei Tochikubushiri, ambas de capital japonês e que resultou no surgimento de duas cidades: Assaí e Uraí, constituídas, essencialmente, de imigrantes japoneses. Tem-se assim, um período decisivo para o norte do estado, que passa a ser incorporado na economia de mercado e, com isso, surge uma série de mudanças do ponto de vista socioespacial nesta região, conferindo-lhe certas especificidades territoriais, conforme relata Fajardo (2006, p. 106):

A estrutura montada na colonização dirigida permitia que se formasse no norte paranaense um impressionante arranjo territorial em que núcleos urbanos bem próximos uns aos outros, estavam interligados por estradas e ferrovias que davam acesso à região. Com pleno desenvolvimento da cafeicultura, uma série de armazéns e unidades de beneficiamento consolida essa rede de escoamento da produção cafeeira construída. O fator econômico mostra-se mais uma vez, na associação entre os esforços públicos de ocupar a região com os projetos imobiliários privados, como grande definidor territorial.

A partir da década de 1970, especificamente, em

1975, quando as plantações de café são dizimadas pela geada, a produção cafeeira entra em crise. A maioria dos agricultores era composta por pequenos proprietários que adquiriram suas terras das companhias colonizadoras e, para superar este momento crítico, muitas cooperativas agrícolas começaram a mudar sua estratégia de atuação, atendendo aos interesses do Estado em desestimular a produção cafeeira em detrimento das lavouras “modernas”, destacando-se soja e trigo, segundo Serra (2008). Neste entendimento, destaca-se que o norte paranaense foi ocupado, essencialmente, em função dos interesses da expansão agrícola, aproveitando-se de zonas ainda desocupadas. Como resultado, o norte do estado passa a ser caracterizado pelo seu forte perfil baseado, principalmente, na agroindústria.

Para reiterar essas profundas mudanças na estrutura agrária paranaense, verifica-se nos estudos de Tsukamoto (2011) realizados sobre o norte do Paraná, uma indicação de que a industrialização do campo resultou em uma significativa alteração tanto na distribuição fundiária quanto nas relações sociais de produção. Dessa forma, o Censo Agropecuário de 1970 demonstra que o café predominava em 66% da área cultivada, enquanto no Censo de 1995/96, o café é representado por apenas 9%, sendo substituído pela soja com 61% do total. 2.1 As transformações no meio rural paranaense e sua interface com o turismo

Para Santana e Souza (2013), frente à importância da agricultura familiar para o cenário brasileiro, é fundamental “[...] criar ou adaptar alternativas de sustentabilidade, visto que os centros urbanos se encontram repletos de moradores e trabalhadores, sendo relevante evitar o crescente êxodo rural”. Nesse sentido, o turismo rural torna-se um forte aliado, pois, pode contribuir para o incremento da renda familiar. Além disso, o turismo rural pode trazer outras séries de benefícios, como valorização cultural, resgate de tradições, conservação do meio rural, auto-estima da população de baixa renda, maior envolvimento comunitário e associativismo.

Como pioneiro do turismo rural no Brasil, Cury (2012) explica que foi o município de Lages, em Santa

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Catarina, na década de 1980, período em que começaram a ser discutidas questões relacionadas às leis ambientais para áreas protegidas e crescia o interesse do público por atividades de lazer em áreas rurais. Essa valorização da cultura no campo possibilitou uma maior fonte de renda para os proprietários rurais, especialmente os produtores familiares.

A partir da década de 1990, o meio rural paranaense passou a ser articulado com a atividade turística, que já se consolidava em outras regiões do país. Para Hespanhol e Souza (2012, p. 181), no “[...] espaço rural multifuncional, o turismo passa a ser reconhecido pelo governo, em suas distintas escalas [...], como atividade econômica que pode gerar renda, aumentar o número de empregos diretos e indiretos, [...] estimular o desenvolvimento local”. Dessa forma, o meio rural passa a ser um elemento de atração para o turismo, trazendo novas configurações territoriais para o campo.

No Paraná, destaca-se o município de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) como pioneiro nas atividades do turismo rural, através da criação do roteiro Circuito Italiano de Turismo Rural, em 1999. Este Circuito possui cerca de 30 quilômetros de extensão e passa por sete comunidades. Tem como objetivo mostrar aos turistas, alguns costumes e tradições dos imigrantes italianos que se reterritorializaram na região (PAIXÃO et.al., 2000).

Essas territorialidades que são resultantes da apropriação simbólica do território, também se tornam um elemento de atratividade, pois, no Brasil, a partir deste processo, são elaborados roteiros temáticos, levando em consideração aspectos de formação territorial, como o Caminho dos Tropeiros; os antigos engenhos de cana de açúcar no Nordeste; o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, entre outros. Assim, não é somente o fator locacional que deve ser visto como diferencial do turismo rural em relação a outros tipos de turismo, mas outros aspectos como, processo histórico de ocupação territorial e características paisagísticas regionais (CURY, 2012).

Porém, segundo informações da Secretaria de Estado e Turismo do Paraná (2013), no norte do Paraná, foi a Pousada das Alamandas, no município de Rolândia, em 1992, que deu início ao turismo rural nesta região. O local era uma antiga fazenda de café, que foi reestruturada para receber turistas. Com esta experiência positiva, foi criada, em 2006, a Agência de Desenvolvimento Turístico do Norte do Paraná (ADETUNORP). Essa agência de fomento do turismo é iniciativa de um grupo de empresários e pessoas interessadas na atividade turística e tem como objetivo principal desenvolver e integrar o turismo regional no norte do Paraná. A intenção é integrar os seus 92 municípios, implantando e ampliando a atividade turística, de forma que isso resulte em otimização do uso dos recursos materiais, financeiros e humanos; melhoria na qualidade de vida da população; aumento da renda per capita, da oferta de emprego e da agregação de valores à produção regional (ADETUNORP, 2013).

As reuniões da ADETUNORP são mensais e itinerantes, nos municípios que demonstram interesse no desenvolvimento do turismo. Com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Secretaria de Estado e Turismo do Paraná (Setu), algumas Rotas já foram elaboradas e estão aptas para a comercialização, como a Rota do Rosário, que abrange os municípios de Bandeirantes, Siqueira Campos, Jacarezinho, Tomazina, Ribeirão Claro e Carlópolis. Além deste, a Rota da Águas em Carlópolis e Ribeirão Claro cujo potencial é focado na pesca e lazer (ADETUNORP, 2013). Para o Ministério do Turismo, o turismo em áreas rurais pode ser compreendido como:

Todas as atividades praticadas no meio não urbano, que consiste de atividades de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta: Turismo Rural, Turismo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Saúde, Turismo Cultural, Turismo Esportivo, atividades estas que se complementam ou não. (BRASIL, 2010, p. 17)

Tendo em vista a diversidade de atividades que

podem ser realizadas pelos turistas em áreas rurais, é importante ressaltar a importância das paisagens que compõe o meio rural, pois, fazem parte destes cenários turísticos e contribuem para criar uma atmosfera de harmonia com a natureza. Nesse sentido, reitera-se a relevância de se conservar as paisagens rurais enquanto patrimônio cultural, que expressam territorialidades particulares do meio rural e que devem ser compreendidas como elementos históricos fundamentais no processo de evolução das configurações territoriais.

2.2 As paisagens rurais como atrativo turístico

Historicamente, os indivíduos sempre necessitaram

estabelecer um contato com a natureza, seja como forma de apropriação ou apenas para contemplação e lazer. Ao longo da evolução das sociedades, esta relação foi se modificando, passando de uma condição de endeusamento para os povos primitivos, que não sabiam como explicar os fenômenos da natureza e, por isso, atribuíam os acontecimentos aos deuses, até os dias de hoje, quando a concepção da natureza relaciona-a com uma simples mercadoria para o sistema capitalista, no qual a natureza é intensamente explorada até se esgotarem todos os seus recursos.

Para Bertrand (1971, p. 2), a paisagem pode ser entendida como “[...] o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução”. Dessa forma, a paisagem é uma combinação de elementos físicos, biológicos e antrópicos e que devem ser compreendidos como um sistema dinâmico que sofre alterações constantes e, por isso, não pode ser analisada apenas sob um único aspecto.

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Segundo Santos (1996), a paisagem se assemelha a uma fotografia, na qual as formas exprimem as heranças das sucessivas relações entre homem e natureza. Já Salgueiro (2001, p. 37) comenta que: “A paisagem surge na pintura em conseqüência da ruptura com a visão teológica medieval”, o que desperta um novo interesse pela natureza, valorizando o “[...] território como espetáculo estético”. Schier (2003) chama a atenção para a diferenciação entre paisagem natural e a paisagem cultural. Para ele, a paisagem natural diz respeito aos elementos naturais, enquanto a paisagem cultural é uma construção do homem como ser cultural que cria e recria espaços.

Verifica-se, portanto, que a paisagem não é imutável, muito menos passiva. Ela tem dinâmica, natural e/ou induzida pelo homem e, por isso, é heterogênea e possui tempos e usos diferenciados. A paisagem enquanto herança de tempos pretéritos ainda comporta elementos da contemporaneidade, possibilitando assim, a coexistência de tempos diferenciados. Santos (1988) explica que as mudanças nas paisagens podem ser de ordem estrutural ou funcional. Dessa forma, nota-se que em determinadas paisagens, os ritmos variados que se processam ao longo do dia, trazem novas funções, como por exemplo, as alternações entre dia e noite em uma área rural, quando as atividades agrícolas são intensas do nascer até o por do sol e à noite, com o cessar das atividades, só existe o silêncio e o repouso. Por outro lado, as mudanças na paisagem podem ser de natureza estrutural, quando existe uma intervenção nas formas, como, por exemplo, a construção de hotéis-fazenda, alterando assim, a paisagem rural. Para Almeida (2006, p. 32):

Uma paisagem é sempre o resultado de um fluir de acontecimentos sobre um determinado espaço. Esses acontecimentos são tanto de origem natural como [...] de origem humana. Significa que na paisagem esta inscrita de modo indelével a marca das acçôes das comunidades humanas que aí estiveram ou viveram.

Por toda essa conotação simbólica que a paisagem

possui, Rodrigues (1999, p. 47) afirma que “[...] ler a paisagem é muito mais complexo do que o ver e perceber a paisagem. Envolve uma visão de mundo, consciente e inconsciente, sempre subjetiva e permeada pelo imaginário”. Talvez, devido a esta complexidade que envolve o conceito de paisagem e sua interpretação, só recentemente discutiu-se a necessidade de preservação das paisagens enquanto patrimônio histórico e cultural.

Internacionalmente, esse debate teve início a partir de 1990, com a inclusão da categoria paisagem cultural pelo Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1992 e a Recomendação Nº R (95) 9, do Comitê dos Ministros do Conselho da Europa em 1995, como explicam Baldi et. al. (2012). Segundo essa Recomendação, a Paisagem Cultural pode ser compreendida como:

[...] partes específicas, topograficamente delimitadas da paisagem, formadas por várias combinações de agenciamentos naturais e humanos, que ilustram a evolução da sociedade humana, seu estabelecimento e seu caráter através do tempo e do espaço e quanto de valores reconhecidos têm adquirido social e culturalmente em diferentes níveis territoriais, graças à presença de remanescentes físicos que refletem o uso e as atividades desenvolvidas na terra no passado, experiências ou tradições particulares, ou representação em obras literárias ou artísticas, ou pelo fato de ali haverem ocorrido fatos históricos. (IPHAN, 1995, p. 3).

No Brasil, em 2007, foi realizado o Seminário

Semana do Patrimônio – Cultura e Memória na Fronteira, no município de Bagé – RS, que resultou na elaboração da chamada Carta de Bagé ou Carta da Paisagem, cujo objetivo principal é defender as paisagens culturais em geral e, mais especificamente, do território dos Pampas e das paisagens culturais de fronteira (ICOMOS, 2007). Neste documento, recomenda-se que “[...] o tombamento não é o instrumento adequado para a preservação da Paisagem Cultural, uma vez que é limitado e em geral não dá diretrizes de uso e gestão” (BALDI et. al. 2012, p. 3). Conforme a Carta de Bagé ou Carta da Paisagem Cultural, de 2007, no seu Artigo 2, fica estabelecido que:

A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza e, reciprocamente, da natureza com homem, passíveis de leituras espaciais e temporais. (ICOMOS, 2007, p. 2)

Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN) instituiu a Chancela da Paisagem Cultural, que

[...] não é um instrumento de proteção em si, mas sim uma outorga de valor que deve ter como base um plano geral onde poderão ser orquestrados diversos instrumentos, como o próprio tombamento, o registro, planos de desenvolvimento, a legislação ambiental e instrumentos urbanísticos (BALDI et. al, 2012, p. 4)

Verificando a importância da paisagem enquanto

formação natural e cultural, o elemento rural também se torna essencial na análise, tendo em vista que abrange elementos naturais e também culturais, através de atividades agrícolas, rebanhos, benfeitorias e outros atributos típicos do meio rural. Por ser uma atividade econômica que se apropria e consome espaços, o turismo também se apropria do meio rural.

Como já mencionado, o turismo rural é um importante segmento da atividade e que vem se expandindo no Brasil. Por esta razão, a paisagem rural também pode ser compreendida como um recurso para a atividade turística, pois, é ela que confere os aspectos cênicos que compõe o produto turístico rural.

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Conceitualmente, a paisagem rural pode ser concebida como

[...] o ponto de encontro entre dois tipos de eixos, ou duas dimensões, que se desenrolam a vários níveis ligados entre si: 1) uma composta pela integração entre a base física e biológica e a influência e construção humanas, ao longo do tempo, resultando na materialidade da paisagem, com as suas potencialidades e limitações, assim como no seu carácter, ou identidade; 2) e uma outra composta pela cadeia de relações socioeconómicas e condições culturais que determinam as decisões sobre a paisagem; este eixo contempla aspectos que vão desde a economia global e a procura social em geral, até às politicas e instrumentos de gestão, o contexto local e o perfil individual de quem toma decisões no quotidiano sobre a gestão ou sobre o uso da paisagem (PINTO-CORREIA, 2007, p. 69).

Porém, nem toda paisagem rural tem potencialidade turística. É necessário levar em consideração alguns aspectos como beleza cênica, acessibilidade, peculiaridade, historicidade etc. Por ser subjetiva, a escolha dos elementos que irão compor uma paisagem rural para fins turísticos, deve ser realizada através de metodologias específicas, aliadas ao olhar crítico do profissional de turismo para identificar os melhores locais a serem visitados.

Almeida (2006) explica que em meados do século XX teve início um movimento de análise da paisagem que se preocupava corn a sua avaliação qualitativa, ou seja, procurava limitar ao máximo os componentes subjetivos dessa percepção através de indicadores objetivos correspondentes a variáveis quantitativas. Um dos principais estudiosos dessa temática, Kevin Lynch, na década de 1950, nos Estados Unidos, introduziu processos de descrição fisionômica das paisagens urbanas. Em 1968, na Grã Bretanha, K. D. Fines, propôs um método valorativo da paisagem em que esta era avaliada como um todo e a partir daí, tinha-se uma nota global, que podia indicar paisagens exuberantes ou paisagens feias.

Na década de 1980, Kevin Lynch retoma os estudos e propõe outra perspectiva de análise da paisagem, dessa vez, através de pares de fotografias, tiradas em trechos previamente escolhidos. Seguindo essa mesma linha de qualificação da paisagem, A. Bailly, na mesma década, buscou identificar as ligações entre as imagens mentais que os indivíduos tinham de um determinado espaço e as respectivas estruturas espaciais. Ressalta-se que em todos os casos, a subjetividade do observador também pode influenciar nas preferências paisagísticas, que varia de acordo com a faixa etária e o grau de escolaridade, por exemplo. Até os próprios animais possuem preferências por determinados trechos de paisagem (ALMEIDA, 2006).

Todo esse diferencial que a paisagem rural possui em comparação às paisagens urbanas, quase como se fossem opostas, possibilita, portanto, que a paisagem rural se torne um atrativo turístico. Porém, a apropriação desse elemento pelo turismo, pode trazer alguns pontos negativos, assim como ocorre em outros segmentos do

turismo. A harmonia, o contato com a natureza e a sensação de paz, podem se transformar em agressões ao meio ambiente, descaracterização da cultura local, entre outros aspectos. Assim, a paisagem rural se torna algo artificializado e sua beleza cênica pode ser comprometida. Por isso, ressalta-se a importância de um planejamento turístico para o meio rural, que consiga proteger algumas especificidades que a paisagem rural comporta, de preferência, com a colaboração das comunidades inseridas no processo para que haja maiores esforços para a proteção da história e modos de vida dessas localidades.

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Historicamente, quando chegaram à região norte

do Paraná, em 1929, o grupo de funcionários da CTNP se estabeleceu, inicialmente, na Colônia Militar de Jatay (atual município de Jataizinho, localizado a cerca de 80 quilômetros de Londrina). Em frente à Colônia, na margem esquerda do rio Tibagi, ficava o Aldeamento Indígena de São Pedro de Alcântara, coordenado pelo de Frei Timotheo de Castelnuovo, onde estavam os índios coroados e cayuás. Como explica Stier (2004), a ex-Colônia Jatahy já estava instalada desde 1851 na região. O grupo da CTNP, ali comprou uma tropa de burros de carga e montaria e prosseguiram até as terras adquiridas pela Companhia, situadas a 22 quilômetros além da margem esquerda do rio Tibagi.

A antiga Colônia Militar de Jatay era a última localidade alcançada pela estrada, pois, do rio em diante, era necessária a abertura de picada no meio da floresta. Para servir de guia, o grupo contratou um índio e, no dia 21 de agosto, os desbravadores deixaram a antiga colônia de Jatay e começaram a atravessar o rio, como detalha Cavazotti (2007, s.p.):.

Na ausência de ponte ou balsa, os animais vão a nado, um por um. Os homens seguem de canoa: enquanto uns remam, outros seguram os cabestros dos burros. Após várias - e perigosas - travessias, os desbravadores, seus animais e mantimentos chegam na outra margem. A partir dali, começa a dura caminhada até o local denominado Patrimônio Três Bocas, atual Londrina onde começavam os 515 mil alqueires comprados pela companhia - sendo 450 mil junto ao governo do Paraná, por 8.712 contos de réis. A viagem foi feita com grande sacrifício, em marcha lenta, por um caminho escuro, barrento e cheio de tocos e buracos.

Dessa forma, verifica-se que durante o trajeto entre

Jataizinho e Londrina, os pioneiros enfrentaram diversas adversidades, como a fuga de animais. Cavazotti (2007) explica que o caminho percorrido entre o rio Tibagi e o primeiro acampamento da CTNP ficou conhecido como ‘‘Estrada dos Pioneiros’’(Figura 2). O local onde os pioneiros acamparam quando chegaram a Londrina é o atual ‘‘Marco Zero’’ da cidade que, infelizmente, também se encontra em estado de má conservação na paisagem urbana atual.

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O norte do Paraná, devido ao seu processo de ocupação mais recente do que as demais regiões do estado, ainda é carente em ações que envolvam proteção ao patrimônio histórico e cultural. Isso porque no Brasil, ainda se privilegiam ações preservacionistas para cidades consideradas “históricas”, ou seja, aquelas mais antigas e que fizeram parte da história nacional. Assim, os bens patrimoniais de valor, estão concentrados, sobretudo, na RMC, onde se localizam municípios mais antigos, como apontam Colasante e Calvente (2012).

Entretanto, levando em consideração que a região norte do Paraná foi a pioneira no desenvolvimento do turismo rural do estado, será proposto o aproveitamento da Estrada dos Pioneiros enquanto atrativo turístico, por possuir características peculiares da paisagem rural, além

de possuir uma importância fundamental no processo de ocupação de Londrina.

Para isso, foram selecionados alguns pontos relevantes da paisagem que pudessem identificar os elementos significativos da estrada, no sentido de desvendar qual a sua característica mais marcante. A análise se concentrou no trecho de Londrina (Figura 3), que historicamente foi o percurso feito na chegada dos pioneiros no município antes de buscar um local efetivo de ocupação.

Nesse aspecto, foram feitas algumas discussões a respeito de quais elementos seriam interessantes conservar para que pudesse ser considerada uma paisagem cênica e, eventualmente, servir para a contemplação de observadores ou turistas, por exemplo.

Figura 2: Localização da Estrada dos Pioneiros, sentido Jataizinho-Londrina. Fonte: Google Earth (2013). Adaptado

por: Colasante (2013)

Figura 3: Localização do trecho analisado, na área periurbana de Londrina, zona leste da cidade. Fonte: Google Earth (2013). Adaptado por: Colasante (2013)

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4 METODOLOGIA Como metodologia para análise da paisagem rural

da Estrada dos Pioneiros, utilizou-se duas referências bibliográficas que contém diretrizes específicas para esta atividade: A) o guia The Roadscape Guid: Tools to Preserve Scenic Road Corridors, elaborado pela Champlain Valley Greenbelt Alliance (CVGA), que auxilia comunidades a conservar áreas que têm potencial cênico e; B) normas NRB-30, elaboradas pelo U.S. Department.of the Interior, National Park Service. Ambos os documentos são publicados originalmente nos Estados Unidos.

Na primeira referência, The Roadscape Guide, a análise dos elementos da paisagem foi feita levando-se em consideração seis elementos os quais são atribuídos uma pontuação - de 1 a 3 -, onde o 1 indica aspectos desfavoráveis e/ou menos relevantes, até chegar no número 3, que indica a cotação máxima na qualidade cênica da paisagem. Os seis elementos de análise são:

I. Contraste: elementos claramente discerníveis e diferentes que coexistem na paisagem.

II. Ordem: recursos naturais e culturais que formam padrões de organização na paisagem.

III. Camada: sucessão de elementos da paisagem que proporcionam uma sensação de profundidade à paisagem.

IV. Ponto focal: ponto para o qual o olho é direcionado inevitavelmente para algum elemento que domina a paisagem.

V. Singularidade: características que são únicas ou simbólicas da região

VI. Integridade: atributos naturais ou culturais que permanecem praticamente inalterados ao longo do tempo.

A segunda referência metodológica utilizada que são as normas NRB-30, dize respeito às características das estradas rurais, baseadas em uma classificação de onze elementos que contribuem para a análise da paisagem rural, bem como das forças naturais e culturais que a moldaram:

a. Usos e atividade: os diferentes usos da terra, tais como agricultura, mineração, pecuária, lazer, eventos sociais, comércio ou indústria, que deixam uma marca na paisagem.

b. Padrões e organização espacial: a organização da terra em grande escala depende da relação entre os principais componentes físicos, relevo predominante e os recursos naturais existentes. A organização é refletida nos sistemas rodoviários, os padrões de campo, a distância entre fazendas, a proximidade a fontes de água e orientação das estruturas ao sol e ao vento.

c. Resposta ao Ambiente Natural: principais características naturais, como montanhas, pradarias, rios, lagos, florestas e pastagens, que influenciam na localização e organização das comunidades rurais.

d. Tradições culturais: afetam a maneira com que a terra é utilizada. As crenças religiosas, costumes sociais, identidade étnica e ofícios e habilidades podem ser hoje evidentes em ambas as características físicas e usos da terra.

e. Redes de circulação: dizem respeito ao transporte de pessoas, mercadorias e matérias-primas a partir de um ponto para outro, como trilhas de gado e trilhas, estradas, canais, estradas principais, e até pistas de pouso.

f. Demarcações de Fronteira: delineiam as áreas de posse e uso da terra, como uma fazenda inteira ou um intervalo aberto. Eles também separam áreas menores com funções especiais, como um campo cercado ou curral fechado. Cercas, muros, linhas de árvores, cercas, valas de irrigação ou drenagem, estradas, riachos, rios e comumente marcado limites históricos.

g. Vegetação do uso do solo: os vários tipos de vegetação têm uma relação direta com os padrões estabelecidos ao longo do uso da terra. A vegetação inclui não só as culturas, árvores ou arbustos plantados para fins agrícolas e ornamentais, mas também as árvores que cresceram ao longo de estradas ou em campos abandonados.

h. Edifícios, estruturas e objetos: elementos das atividades humanas relacionados com a ocupação e uso da terra. Sua função, materiais, data, condição de métodos de construção e localização, refletem o histórico de atividades, costumes, gostos e habilidades das pessoas que os construíram e usaram.

i. Agrupamento: conjunto de construções, cercas e outras características que podem ser vistas em uma fazenda, rancho, ou complexo de mineração, resultado da função, tradição social, clima, ou outras influências, cultural ou natural.

j. Sítios Arqueológicos: locais de atividades pré-histórica ou histórica, resultantes em fundações, ruínas, mudanças na vegetação etc. Eles podem fornecer informações valiosas sobre os caminhos que a terra tem sido utilizada, os padrões da história social, ou os métodos e extensão das atividades, tais como transporte, moagem, serração de madeira, ou extração.

k. Elementos de pequeno porte: como uma ponte rústica ou placas na estrada que contribuem para a configuração histórica da paisagem rural.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

Percorrendo a Estrada dos Pioneiros no trecho de

Londrina, vários elementos chamam atenção com relação à paisagem. Em primeiro lugar, a forte expansão urbana na zona leste de Londrina a partir da construção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a área se tornou valorizada e sofreu uma série de intervenções urbanas, como construção de vias de acesso e de condomínios residenciais. Dessa forma, quando se inicia o trajeto, o observador/turista se depara com o loteamento de uma área para a construção de um condomínio fechado, o Parque Tauá Paysage.

Esse processo demandou o asfaltamento do trecho paralelo à Estrada dos Pioneiros, o que resulta em uma paisagem que comporta dois caminhos: um de terra batida, que remete à história e aos elementos naturais e outro que reflete a modernidade e o surgimento de

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elementos urbanos no espaço rural (ver figuras 4 e 5). Ironicamente, em uma das frases do slogan do empreendimento, consegue-se ler: “Faça sua história aqui”.

Figura 4: Pavimentação de um trecho paralelo à Estrada dos Pioneiros, em Londrina, contrastando com a estrada de terra, que remonta o percurso feito pelos pioneiros.

Fonte: Colasante (2013) Continuando o trajeto, o observador/turista se

depara com elementos de contraste, marcados pelo tom amarelado do trigo e do chão de terra vermelha e o céu azul. A sinuosidade da estrada remete a um caminho interminável, com sensação de um labirinto de elementos rurais e que nos remete a tempos pretéritos, quando os pioneiros tiveram que atravessar grandes percursos de difícil acesso (Figura 6).

Figura 5: Plantão de vendas de lotes do condomínio Parque Tauá Paysage, logo no início da Estrada dos

Pioneiros. Fonte: Colasante (2013) Essa parte da paisagem também denota os

atributos de usos e atividade, já que evidencia os diferentes usos da terra, no caso, a agricultura. Trata-se, portanto, de uma paisagem utilitária, com a utilização do solo para o plantio de cultura, onde a diversidade de cores interagindo na paisagem acaba sendo agradável aos olhos, mesmo com a exploração da terra. Este percurso, inclusive, é utilizado por ciclistas que buscam um pouco de aventura na região (Figura 7) e também poderia, futuramente, ser uma atividade oferecida aos turistas que realizam a Rota do Café, que contempla o Turismo Rural nas antigas fazendas de café da região.

Figura 6: Elementos de contraste na sinuosidade de uma curva na Estrada dos Pioneiros. Fonte: Colasante (2013).

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Figura 7: Casal de ciclistas se aventura por um dos

trechos da Estrada. Fonte: Colasante (2013) Em outro trecho da Estrada, tem-se uma ampla

vista da cidade de Londrina (Figura 8). Em meio a este campo aberto, observa-se um pequeno resquício de vegetação, na qual se localiza uma fazenda, que pode ser considerada uma divisão de propriedade, conforme as características da paisagem rural estabelecidas pela norma NRB-30. A visão da cidade sofre uma interferência devido às instalações da UTFPR, que contrastam com outras edificações pela sua cor em tom laranja. Com relação aos elementos de análise da paisagem, propostos no The Roadscape Guide, pode-se notar elementos de contraste, devido à presença de elementos distintos; ordem, caracterizada por diversas camadas, refletidas nos diferentes planos de observação: plantio de trigo, fragmento florestal e verticalização da cidade e; e singularidade, devido às características únicas dessa vista, que não se encontra em nenhum outro ponto da Estrada.

Figura 8: Neste ponto, é possível observar o contraste da

paisagem rural, que ainda apresenta resquícios de fragmento florestal, com a paisagem urbana, marcada pela intensa verticalização, ao fundo. Fonte: Colasante (2013)

No ponto seguinte, o observador/turista se depara

com uma seqüência de árvores, contrastando com a uniformidade do primeiro plano. Pela presença das árvores de forma ordenada, consideram-se relevantes os

elementos de ordem e também as camadas, evidenciando os diferentes tipos de vegetação que compõe a paisagem.

Os diferentes tons de verde da paisagem acabam por marcar as diferentes camadas existentes na paisagem, trazendo um contraste entre as mesmas, ao mesmo tempo em que evidenciam um ordenamento dos diversos planos de observação (Figura 9).

Figura 9: Corredor de árvores, denotando atributo de

ordem na paisagem. As diferentes cores que compõe o visual são elementos de contraste. Fonte: Colasante

(2013) Ao longo do trajeto, observa-se uma árvore,

contrastando com a uniformidade da paisagem (Figura 10). A presença desse único exemplar pode ser considerado um elemento de raridade/singularidade, pois, é próprio dessa parte da estrada e também um ponto focal, pois leva o observador/turista a voltar sua visão para a árvore, conforme o The Roadscape Guide.

Segundo Nasser (apud ALMEIDA, 2006), existe uma tendência genérica entre os observadores de paisagens a serem atraídos por elementos naturais, como a visualização de copas de árvores. Assim, este é um dos elementos que, possivelmente, poderá atrair a atenção de um público amplo.

Figura 10: A presença de uma única árvore nesse ponto do trajeto evoca um atributo de singularidade e também

um ponto focal. Fonte: Colasante (2013)

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O próximo ponto analisado é uma curva da Estrada, na qual se pode observar interferência da ação humana, através da construção de postes da rede elétrica e do uso e atividade do solo, com a plantação de trigo (Figura 11). A presença de diferentes elementos em um único ponto e que leva a uma curva no fim da estrada, leva o observador/turista a instigar sua imaginação, tentando desvendar o que pode ser encontrado mais adiante do trajeto.

Figura 11: Neste trecho, a paisagem rural sofre a

interferência de atividades antrópicas, marcada pelo uso agrícola e pela instalação de postes de energia elétrica.

Fonte: Colasante (2013)

Ao final do trecho da Estrada dos Pioneiros na área periurbana de Londrina, observa-se a linha férrea que passa por Ibiporã (Figura 12), município limítrofe de Londrina. Segundo as normas NRB-30, pode ser classificado com uma paisagem com presença de redes de circulação (no caso, a linha férrea), que remetem ao transporte de pessoas, mercadorias e matérias-primas a partir de um ponto para outro, além de apresentar elementos singulares (próprios da região).

Com a realização desse trajeto breve focado no trecho de Londrina, o observador/turista consegue fazer uma volta à história, através do processo de colonização de Londrina confrontando com a paisagem dos dias atuais. Verifica-se que, em vários trechos, a Estrada dos Pioneiros desaparece em virtude da expansão urbana e a terra vermelha, característica do norte do Paraná, cede lugar ao asfalto. Justamente para mostrar o resquício do que ainda pode ser considerado como paisagem rural, foi escolhido o trecho que contempla a área rural de Londrina. Entretanto, alterações urbanas recentes, como a construção de um condomínio fechado na região, poderão comprometer a preservação da estrada neste trecho específico.

Embora Londrina não seja, em termos funcionais, voltada para a atividade turística, recentemente, este potencial tem sido discutido e culminou com a consolidação da Rota do Café, cuja temática envolve o patrimônio histórico deixado por antigas fazendas de café na região.

Figura 12: O final do trajeto analisado é marcado por uma rede de circulação. Fonte: Colasante (2013)

Pela ênfase no caráter rural que está sendo

colocada em discussão para o desenvolvimento do turismo nesta região, poderiam ser aproveitadas algumas paisagens rurais que contribuíssem para o fomento desse produto turístico, como a Estrada de São Rafael, no

município de Rolândia, a Estrada de Coroados, na zona Sul de Londrina e a própria Estrada dos Pioneiros que, mesmo contendo uma importância histórica, vem sendo destruída através de impactos ambientais, como devastações e lixo acumulado ao longo do trajeto.

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Com a presença de várias fazendas na região, poderiam ser realizadas parcerias com a Rota do Café para que esse percurso fosse contemplado e, com isso, poderiam ser realizadas ações efetivas de planejamento turístico para a conservação da Estrada dos Pioneiros, já que não é somente no trecho de Londrina que vem ocorrendo a omissão, mas em vários trechos, a Estrada que, na essência, era rural, se tornou urbana, com a descaracterização total desse importante elemento da história da região.

6 CONCLUSÕES

O artigo demonstrou, através de discussões

teóricas, a importância da paisagem rural como atrativo turístico. Ao compreender o processo de ocupação territorial do Paraná e, posteriormente, o norte do Paraná, possibilita relacionar os vários ciclos econômicos com a ocupação dos municípios. Os recentes processos estruturais que o meio rural brasileiros vem passando, contribuiu para a emergência de novas atividades econômicas que pudessem dinamizar a economiza rural, especialmente, dos agricultores familiar.

No bojo dessas transformações, destaca-se o turismo rural que, inicialmente, desenvolvido em Santa Catarina, se disseminou por todo o país, gerando fonte de renda e emprego para as famílias no campo. Dentre os vários atrativos que o meio rural oferece, destacou-se a paisagem rural, pois, ela fornece os elementos necessários para a composição da história e das características peculiares do meio rural.

Essa paisagem rural comporta as várias fases de desenvolvimento do meio rural, conservando partes do meio natural e do meio cultural e que, por isso, devem ser concebidas como um patrimônio histórico e cultural. Nesse entendimento, a paisagem como simples instrumento de contemplação, torna-se um bem patrimonial de grande valor para a comunidade local e também para os turistas.

Como acumulação de tempos e de diferentes usos, a paisagem acaba portando um sentido cultural muito forte, como a paisagem rural da Estrada dos Pioneiros, objeto de estudo da pesquisa. Entretanto, cabe enfatizar que muitos elementos históricos na região não são valorizados nem como uma questão educacional para a população (que até desconhece a importância da Estrada dos Pioneiros), muito menos como recurso turístico.

Na verdade, essa destinação da paisagem à utilização de atividades agrícolas é uma constante no país e seu uso enquanto contemplação cênica ainda é recente. Pelo seu valor histórico na formação de Londrina e região, a Estrada dos Pioneiros deveria, pelo menos conter algumas placas interpretativas que indicassem o caminho e ressaltassem alguns aspetos importantes para o observador, como o possível local de travessia que os pioneiros utilizaram para cruzar o Tibagi ou do Aldeamento de São Pedro de Alcântara.

Conforme ocorre a expansão urbana, muitos desses pontos acabam perdendo seus valores cênicos e também

históricos, seja pelo fluxo de veículos, pavimentação, verticalização e/ ou desmatamento. Por isso, seria interessante um planejamento que contemplasse as rotas históricas da região, não só visando seu aproveitamento turístico, mas, principalmente como forma de conservar a identidade cultural da população local.

Pensar na conservação das paisagens culturais envolve uma série de discussões, especialmente, quando se tem o desenvolvimento econômico como prioridade. A manutenção das estradas rurais e seus elementos singulares contribuem para a proteção da memória e do patrimônio histórico-cultural.

Importante destacar que muitos outros atributos da paisagem rural na Estrada dos Pioneiros podem ser utilizados como elementos de atratividade para o turismo rural, ou seja, a potencialidade não se esgota apenas com os pontos selecionados nessa pesquisa, que se concentrou no trecho de Londrina, a fim de ressaltar a importância e a urgência em se efetivar ações que visem à sua integridade, no sentido de manter viva a memória do trajeto que os pioneiros fizeram quando chegaram para ocupar o município na década de 1920.

Nos pontos analisados, o que mais se notou a ausência foi o elemento de integridade, caracterizado pela presença de atributos naturais ou culturais que permanecem praticamente inalterados ao longo do tempo, segundo orientação do The Road Scape Guide. Pelo fato de ser uma estrada que remonta às origens de colonização do município de Londrina, é importante destacar que em nenhum ponto percorrido, existe a conservação de elementos históricos, pelo contrário. Excetuando a estrada de terra, os demais elementos da paisagem estão descaracterizados.

Como já se discutiu, a interpretação da paisagem é subjetiva e mesmo levando em consideração metodologias específicas, cabe ao planejador de turismo ter o discernimento de escolher os elementos principais que podem contribuir para a contemplação do turista, sendo, portanto, esta análise, apenas uma contribuição ao estudo da paisagem rural. Dessa forma, a importância histórica desse percurso não se reflete na atualidade, marcada pelo descaso, inclusive, com a falta de sinalizações indicando os principais pontos da estrada e da falta de projetos que visem à proteção da Estrada enquanto patrimônio histórico da região

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