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A PARTIR PEDRA http://a-partir-pedra.blogspot.pt/ Colectânea de textos Maçónicos Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues ANO 2015 ANO 2015

A PARTIR PEDRA · Mensagem do Grão-Mestre da GLLP/GLRP no Dia do Maçom 2015 64. Sessão de Equinócio da Primavera da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP

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A PARTIR PEDRA

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/

Colectânea de textos Maçónicos

Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues

ANO 2015ANO 2015

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Contents

Sobre o "Método Maçónico"... 1

Os olhos azuis 6

Sobre o "Método Maçónico" (II)... 10

Formalismos na Maçonaria… 16

Sugestão Musical para a Coluna da Harmonia “LosHermanos” de Atahualpa Yupanqui...

20

Política e Maçonaria Regular... 24

“Perseverar…” 31

Campanha VER MAIS: relatório 36

"Curiosidade, voyerismo, ou simplesmente, requintesde malvadez…?!"

39

"Jornal-i-smos..." 48

Uma pequena história, um grande e fraternosignificado!

51

Perspetivas “reais”… 56

Mensagem do Grão-Mestre da GLLP/GLRP no Dia doMaçom 2015

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Sessão de Equinócio da Primavera da Grande LojaLegal de Portugal/GLRP…

67

"Páscoas"... 69

Introdução a uma merecida exceção 72

Relacionamento “inter-frates” 77

25 de Abril... uma singela reflexão 82

1º de Maio, Dia do Trabalhador ( e do maçom, digoeu!)...

88

ÉTICA? ÉTICA... ÉTICA! 93

"Os que ficam pelo caminho" (republicação) 103

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP àAssembleia de Grande Loja no equinócio da primavera

107

No século XXI fará sentido ser-se maçon? - I 117

No século XXI fará sentido ser-se maçon? - II 121

Os limites da Tolerância (republicação) 126

O maçom e o conflito (republicação) 130

Maçonaria "tóxica" ?! 133

Maçonaria - Uma grande Família: Princípios e Deveres 138

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Sobre o nosso patrono Mestre Affonso Domingues(republicação)

146

L'égalite est la base de toute liberté (republicação) 149

Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"?(republicação)

156

O que os maçons acreditam? 160

A Cadeira de Salomão (republicação) 162

A Cadeia de União (republicação) 166

Maçonaria em Loja (republicação) 169

Maçonaria, uma Instituição universal e cosmopolita. 174

O Vigésimo Quarto Venerável Mestre 184

Igualdade, Diversidade, Tolerância (republicação) 189

O Silêncio dos Aprendizes (republicação) 193

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP àAssembleia de Grande Loja no Equinócio de Outono

199

5 de Outubro, revolução e maçonaria (republicação) 205

O quinto Grão-Mestre 208

“Valerá a pena ser Maçom no século XXI ?” 212

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O Vigésimo Quinto Venerável Mestre 218

O Silêncio dos Aprendizes (republicação) 222

Jorge Manuel do Carmo Pereira de Almeida(1958-2015), maçom afável

228

Um Maçon e a sua religiosidade (republicação)... 232

A "Hipótese Deus" (Autor: João Anatalino) 237

Compromisso (republicação) 249

Verdade 255

O Dever, caminho para a realização (republicação) 260

Boas Festas! 264

Maçons, "livres-pensadores"... 267

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Sobre o "Método Maçónico"...

January 05, 2015

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Muito se fala e especula sobre o que é e o que será o tãopropalado “método maçónico”.

Ele não é mais que um método de busca, estudo e aprendizagemque auxilia o maçom ao longo da sua vida.

Tal como outros métodos de estudo ou de vida, ele não é melhor nem pior, mas é o que o maçom utiliza.

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O maçom através da sua busca incessante deinformação/conhecimento, a procura da dita “Luz”,o leva aquestionar os motivos, as razões, os porquês….

“O que é?”, “O que será?”,“O porquê?” e “Para que serve?” sãopara os maçons, tal como para os profanos, a base do caminho desuplantação das suas dúvidas, sejam elas mundanas ou maiselevadas.

Ele nunca se irá prender a sofismas e dogmas irrisíveis ou inclusivea cepticismos vãos que o levarão a um caminho de busca sem fimou qualquer retorno palpável.

Ele mesmo, através do seu empenho e trabalho, combate osdogmas instalados sem que tenham razão aparente para existirem.Ele debate, questiona, aprende, e principalmente procura as razõespara tal… Nunca se ficando com “é assim porque tem de ser…”.Tal afirmação e suas semelhantes não lhe servem como respostaspara as suas dúvidas. Ele quer mais… E por isso procura! E faz!

Tal como as três afirmações bíblicas, muito usadas por váriascorrentes esotéricas (a Maçonaria é uma delas) “ Bate e ela seabrirá… Procura e acharás… Pede e receberás…”, é através dessabusca e desejo de conhecimento que o maçom até ao fim dos seusdias será impelido a trabalhar e estudar de forma empenhada,nunca ficando contente ou satisfeito com o que vai obtendo. Elequer mais e procura/faz por isso! E é essa atitude de nãoresignação, de “nunca baixar os braços”, que é fundamental para ométodo maçónico.

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“Se tens dúvidas, trabalha para as combater”… Este podia ser ummote de incentivo ao maçom, tal como tantos outros que existem eque guiam ou incentivam o maçom ao longo da sua vida.

-Por isso, sempre que alguém ouvir falar de um eventual métodomaçónico, saberá à partida que se trata de um método de trabalhoe não algo de conspirativo como algumas mentes mais“conspurcadas” ou menorescomo eu as considero, tentam fazeracreditar.-

O maçom ao longo da sua caminhada, tem uma atitude pró-ativa.Isto é, ele não é uma pessoa de se encolher, de ficar de braçoscruzados sem nada fazer. Ele estuda, trabalha, debate, ensina.Nunca se ficando pelo que obtém nem o tomando como garantido.

Tudo na vida é transitório, uma espécie de devir. E como tal,apenas tendo atitudes que visem obter evolução pessoal,progressão cultural, entre outras…, é que o maçom se poderáafirmar entre os demais.

Hoje em dia já não basta ao maçom ser reconhecido pelos seusirmãos como tal, ele deve ser reconhecido pelos outros como tal.Um Homem Livre e de Bons Costumes!

E para se ser um Homem Livre e de Bons Costumes, ao maçom não lhe servirá apenas ser alguém com uma moralidade acima da média, ou que apenas pratique a caridade e a solidariedade com o

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próximo.

É através do conjunto destas e de outras qualidades, que o maçomdesenvolve o seu método pessoal de vida. O Método Maçónico étambém isso. Uma forma de viver.

E é também partilhando essa forma de estar com os demais, queele aprende, se cultiva e se informa. Tudo o que ele adquirir nopercurso dessa caminhada, não será apenas dele, será também dequem o rodeia. Pois apesar de o maçom trabalhar a suapedrabruta, ele não o faz de forma solitária. Ao seu lado estarão sempreos seus irmãos, que lhe servirão de amparo e o conduzirão norumo certo, e que ele por sua vez, também ensinará e ampararáquando assim tiver de o fazer.

Por isso, não só na sua Loja Maçónica, no seu Templo, deve omaçom trabalhar tanto para ele bem como para os demais, masacima de tudo, deve ele no mundo profano manter essa conduta.Pois os ganhos adquiridos, os tão profanos “lucros” serão para acomunidade, porque o Maçom não busca distinções no que faz.Faz e assim continua a fazer… Para o bem comum!

E quanto mais rápido ele interiorizar essa ideia na sua mente, maisfacilmente progredirá como pessoa, o tal “aperfeiçoamento moral”,tão caro à filosofia maçónica.

E se o Homem não deseja progredir, anda cá na Terra a fazer oquê, realmente?

A ver os dias a passar?!

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E porque não tornar esses dias mais agradáveis para ageneralidade?

Essa é também uma das obrigações do maçons; e para tal, comopode alguém contribuir para um mundo melhor, se não partir de si,a vontade de se tornar em algo melhor…

O método maçónico serve para isso, exclusivamente !

PS: Este texto foi escrito e publicado originalmente pormim aqui em duas partes, mas dada a sua relevânciae contemporaneidade, decidi que deveria ser republicadonovamente e neste espaço em particular.

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Os olhos azuis

January 08, 2015

Apesar da baixa temperatura na rua, reinava a boa disposição:acabara mais um dia de trabalho. Trocávamos as últimasdespedidas, quando notámos uns olhos azuis que,confrangedoramente mudos, procuravam os nossos.

Aproximara-se, sem que notássemos, um vulto de casaco grosso -à moda antiga - na postura destruída de quem já viu melhores dias.Não o envolvia, porém a antecipada nuvem de álcool e tabaco, emuito menos o incontornável e penetrante cheiro da rua. De pé, aum metro de nós, interpelava-nos com o olhar, mas a boca não seabria, qual mola teimosamente contida, presa sabe-se lá em quê,mas desesperada por se libertar.

- Boa tarde, posso ajudá-lo?

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E os olhos azuis, impotentes e embaraçados perante os váriossegundos de imobilidade a que aquela boca se votou até que, acusto, lá acabou por deixar escapar qualquer coisa:

- Queria apanhar o autocarro para...

"O autocarro para". E a boca, entreaberta, como quem aguardavaordens; os olhos, suplicantes, imploravam pela palavra que faltava."Queria apanhar o autocarro para".

- Para...? - ainda tentei.

- O autocarro... Para...

E de novo aqueles olhos azuis, sempre aqueles olhos azuis,fitando-nos aflitivamente, ora a um, ora ao outro. Quase se via achama mortiça debatendo-se em vão, ansiando por espalhar luz ecalor, mas mais não logrando que evitar apagar-se.

- Quer ir para casa?

- Sim.

- E sabe onde é a sua casa? - perguntou o meu colega.

De novo. a custo, balbuciante, tentou responder - mas semsucesso.

- Aaaa... em...

Não havia dúvidas. Tínhamos, perante nós, uma criança perdida,presa no corpo de um octogenário. E aqueles olhos, sempreaqueles olhos, frágeis e desvalidos, surpreendidos como um balãoque se esvazia e, mirrado e reduzido a uma massa informe, tenta,não obstante - e evidentemente sem êxito - manter a compostura ea forma que teve outrora.

- Em Loures.

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Ah. Lembrou-se.

- Mas como é que veio parar aqui?

- Estive com o meu filho, mas o autocarro teve um acidente... bateunum... num ligeiro... ainda esperei uma hora, mas eles nãoarrancavam... tive que vir a pé...

- Disse que mora em Loures? Mora com alguém?

De novo, uma pausa, e depois a resposta, titubeante e aosarranques:

- A minha mulher morreu. A minha filha não me atende, está emCoimbra. É médica, a minha filha.

- Mas mora com alguém?

- Estive com o meu filho... ele está desempregado há quase umano...

- Tem o contacto da sua filha ou do seu filho? Tem telemóvel?

- Não... Só tenho aqui 5 euros para o táxi...

- E tem identificação consigo?

Sem uma palavra, entregou-me a carteira - de plástico, com trêsdocumentos e um recibo da farmácia, sem hesitação, sem defesa,sem reserva.

- Venha connosco, que eu levo-o a casa.

Após uma troca de murmúrios com quem me acompanhava, acabeiantes por levá-lo à esquadra mais próxima onde, após ter feito umabreve descrição da situação a um dos agentes, o entreguei emmãos experientes que o acolheram com prontidão.

...

Essa noite custou-me adormecer. Aqueles confundidos olhos azuis não me largavam, testemunho implacável da minha própria mortalidade, da indignidade da doença, e da velhice que, inflexível,

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nos rouba aos poucos e aos bocados. E eu, mais dado a fazer quea remoer, dei por mim acossado e impotente em face quer do quevi quer do que me espera - do que nos espera a todos - nãoobstante vivermos, tantas vezes, como se não morrêssemos nunca.

Acabei por fazer as pazes com o sono, depois de ter, difusamente eentre bocejos, aceite que o que é inevitável não deveaterrorizar-nos, mas antes, pelo contrário, impelir-nos a aproveitarmelhor cada um dos nossos dias.

Estamos no início de um novo ano. Faço votos de que cada um denós saiba e consiga - ou, pelo menos, tente - agir no sentido deaproveitar cada um desses dias de modo a não se arrepender nemdo que fez nem do que deixou por fazer, e que tenhamos a fortunade não darmos por nós a vaguear, perdidos, à mercê de quem nosestenda a mão - mas que, se tal acontecer, possamos encontrar,no nosso caminho, uma mão amiga.

Paulo M.

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Sobre o "Método Maçónico" (II)...

January 12, 2015

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Um pouco por todas as correntes do pensamento humano,a “dúvida” sempre esteve presente e como tal foi precursora deConhecimento. Se nos casos dos Racionalistas e Existencialistas, adúvida foi a “catalisadora” do ato de pensar, nas correntesPositivistas, Cepticistas e Empiristas da Filosofia foi mesmo a basedo próprio pensamento. E se “pensar” é a base do MétodoMaçónico , a “dúvida” é um dos instrumentos pelos quais estemétodo pode ser aplicado.

Não apenas duvidando por duvidar, ou questionando apenas por questionar. A dúvida ou a questão, terão sempre um motivo,

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um“porquê?”.

Aliás, já o maçom e livre-pensador Voltaire (François Marie Arouetde seu nome e que viveu entre 21/11/1694 a 30/05/1778) afirmouque “a dúvida foi transformada num método de conhecimento ”.

E foi de certa forma, aplicando esta premissa, que o Homem foiimpulsionado a evoluir.

Ao se duvidar (de algo), cria-se a vontade ou necessidade de seagir, de procurar, de pensar. Não bastará aquilo que nos éapresentado, mas pretender-se-á mais qualquer coisa, nem queseja para complementar, cimentar ou até negar aquilo que já existe.

O Homem ao longo da história tendo a dúvida e o desconhecidocomo ponto de partida, levou-o a que inúmeras vezes fosseobrigado a sair da sua “zona de conforto” para obter oconhecimento ou as respostas que ambicionava ter. Ter este tipode atitude permitiu aos pensadores do período iluminista da nossahistória, questionarem os ideais e dogmas da sua época efomentarem então o livre-pensamento.

Nesses tempos, o Homem sentia-se refém dos dogmas que lhe eram apresentados e que os mesmos quando aplicados ortodoxamente lhe cerceavam a sua liberdade pessoal. E na sequência de um período renascentista, em que floresceram novas ideias que tornavam o Homem no centro de tudo (a figura do “Homem de Vitrúvio” de Leonardo da Vinci é um bom exemplo disso) e também no seguimento de um período inquisitorial que deixou várias baixas nas mentalidades que se consideravam mais avant-garde ou fora do status quo contemporâneo, houve quem sentisse que o mundo necessitava de mudar, e mudar para

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algo de diferente daquilo que existia.

Já não bastava ao Homem olhar para cima, para Deus, e crer quetudo ocorreria mediante intervenção divina, mas que esse olhardeveria se virar para dentro, para o seu interior.

O Homem sentiu que deveria ser ele a base de tudo, a “origem”, o“ponto no meio do círculo”, e essa sensação, essa necessidade demudar, criou novas formas de pensamento, novas formas deolhar as coisas, algumas das quais muito diferentes das queexistiam nesses tempos, nomeadamente no que toca a direitos egarantias do Ser Humano.

Hoje em dia, temos a certeza que após os “ventos iluministas” quepassaram e que criaram algumas “tempestades” por esse mundofora, a sociedade como se conhecia mudou e evoluiu bastante epara melhor. Hoje o Homem pode fazer quase tudo aquilo queanteriormente lhe estava vetado, quer fosse por lei quer fossepelo modus vivendi da época.

O Homem atualmente é detentor de vários direitos e garantias noque toca à sua liberdade pessoal. Na generalidade dos países (faloassim, porque em pleno século XXI a liberdade ainda é limitada emalguns locais) o Homem pode falar abertamente e expor as suasideias, pode reunir para debater e também lhe é possível semanifestar pelo que considere válido e que seja mais útil àsociedade em que está inserido. E isso tudo apenas foi possívelporque existiu gente que pensasse, que questionasse eprincipalmente que duvidasse. E no meio dessa gente,encontravam-se os maçons.

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E os maçons ao absorverem os ideais renascentistas eposteriormente os ideais iluministas, sentiram tambémque a “dúvida” poderia ser o ponto de partida para que pudessemevoluir também. Uma vez que se o homem era o “centro” de tudo, oque existiria para lá do seu “corpo”, das suas “fronteiras”, seria decerta maneira, desconhecido ou por descobrir. E foi nessemomento, em que os maçons passaram a especular(duvidar/questionar), que se criaram as condições para seremconstituidas as “fundações” da Maçonaria atual, designada porMaçonaria Especulativa.

Desse modo, os maçons deixaram de construir fisicamente parapassarem a construir filosoficamente tendo como utensíliosprincipais do seu trabalho o seu pensamento, os seus novos ideais,o debate de ideias, partindo das suas dúvidas e ansiando por maisconhecimento. E isso foi concretizado, porque gradualmenteatravés da incorporação dos pensamentos racionalistas epositivistas na doutrina maçónica, foi possível alcançar aquilo queatualmente ainda é dado a vivenciar nas lojas maçónicas.Refletindo, analisando e debatendo nas sua lojas maçónicas, osmaçons de antanho propiciaram - e de que maneira!- o progressoda sociedade de então, não obstante ainda o continuarem a fazernos dias de hoje.

Tanto que o facto de os maçons estarem entre aqueles que decidiram “pensar” e que não ficaram retidos a dogmas ou ao receio da possibilidade de poderem perder a sua vida por usufruírem desse direito natural (pensar por tornou-os personas non gratas para algumas instituições que existem ainda atualmente, sejam elas corporativistas, religiosas ou políticas. Pensar diferente ou criar um ambiente propício ao

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livre-pensamento e ao debate de ideias ainda hoje causa alguns“amargos de boca” aos maçons. O livre-pensar tem essasconsequências. Uma vez que os defensores de totalitarismos e deditaduras sejam elas de que tipo forem ou até mesmo osapologistas da anarquia em si, nunca poderão “ver com bons olhos”uma fraternidade constituida por quem assume que pensa e queprincipalmente duvida daquilo que lhe é apresentado de qualquerforma, sem justificação prévia e sem que tenha interesse para ageneralidade dos povos.

Por isso é que nada é pior para o ser humano do que ter uma“atitude de carneiro”, uma atitude seguidista, de agir apenassomente porque sim ou porque os outros assim o fazem, sem seanalisar os “porquês?” e os “comos?” deste mundo, assumindodesta forma as consequências de uma atitude que uma grandeparte das vezes pouco lhe será a mais favorável ou a que melhor oservirá.

- Não pensar acarreta sempre custos - .

E por mais “doloroso” ou difícil que esse processo possa aparentarou por maior prejuízo que se possa assacar ao modo de pensar,será sempre mais relevante para a humanidade o Homem usar asua “cabecinha” e pensar por si do que deixar que outrem o façapor ele.

E mesmo que se pense de forma diferente da generalidade, tal nãoserá importante porque por vezes na diferença e/ou valorizandoesta diferença, está o caminho para o conhecimento.

- Quantas vezes não estivemos certos de algo e depois acabámos por constatar que aquilo que era diferente ou que divergia do nosso

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raciocínio era na realidade o que estaria correto?!-

Assim, é possível considerar-se na prática, que o métodomaçónico é um método de questionamento que apesar de poderser usado de um modo muito amplo na Maçonaria, se for aplicadode uma forma mais estrita, será sempre no sentido de umaauto-análise e busca interior que o maçom fará per si e que olevará através de uma senda espiritual que lhe proporcionará emúltima instância uma redescoberta de si mesmo.

Questionando(-se), debatendo, aprendendo,compreendendo, modificando(-se) e partilhando o que se sabe; emsuma, aplicando o método maçónico, será para os maçons maisuma forma de poderem trabalhar no seu auto-aperfeiçoamento. Emesmo que não o consigam executar na sua plenitude, pois podesempre supor-se tal como utópico, quem viver desta formasentir-se-á sempre realizado e grato pelas conquistas que vier aalcançar ao longo da sua vida, pois as mesmas foram conseguidascom o seu esforço, com o seu sacrifício, com a sua dedicação, masque principalmente foram obtidas com ou através do seu“pensamento ”!

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Formalismos na Maçonaria…

January 19, 2015

(imagem proveniente de Google Images)

Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se tratarempor irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçónica éuma Irmandade de carácter fraternal.

Mas para além deste hábito, existe outro que costuma fazer algumaconfusão aos recém-chegados. É o facto de todos no seu tratohabitual se tratarem por “tu”.

Independentemente da idade, do grau ou da qualidademaçónica (cargo que se represente em Loja ou na Obediência),todos, mas mesmo todos, se tratam por “tu”.

Enquanto na vida profana é habitual as pessoas tratarem-se comalguma deferência, nomeadamente tratarem-se por “você” ou por“senhor” ou até mesmo pelo título académico que detenham, naMaçonaria não existe esse distanciamentopessoal. Quando seaborda um irmão, é por “tu isto…” ou “tu aquilo…” É “tu” e prontos!

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Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons nãointeressam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhena sua vida profissional. Em Loja todos sãos iguais entre si. Desdeo mais desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questõesde metais, não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficarsempre fora de portas do Templo. Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria apar da tolerância e do espírito fraternal.

E como entre irmãos não há lugar para deferências ou"salamaleques", é mais salutar e sensato o tratamento por “tu” quepor outra coisa qualquer. Desse modo, aos recém-chegados dá-selhes a confiança necessária para se enturmarem com os maisantigos na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se quemantenham dessa forma, um espírito jovem e reverencial que atodos agrada. Aos mais jovens é que normalmente causa algumdesconforto em tratar alguém mais velho em idade por uma formatão simples de tratamento, mas com o tempo esse pequenodesconforto passa e é normal que depois nem se note a diferençade trato nem a idade do irmão com quem se interage.

Esta forma de tratamento entre pessoas, foi dos hábitos que mais“estranheza” me causaram nos meus tempos de neófito.

É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se, depoisentranha-se…”

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Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam instituições,associações ou grupos onde o Homem se reúna, existe sempreuma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com alguémhierarquicamente superior, devido às funções que lhe sãoacometidas, nunca poderia ser igual à que os outros membrosterão entre si. E como afirmei acima, se na Maçonaria os seusobreiros se tratam entre si como irmãos e no trato normal por “tu”,não deixa de ser interessante que quando se trata de alguém comfunções diretivas, esse tratamento seja enaltecido.

Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que ocupe umcargo relevante na estrutura maçónica o trate na mesma por “tu”, adiferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e funçãoocupada em si e não à pessoa em concreto. Por isso é que éhabitual se ouvir falar em “Venerável Mestre”, “Respeitável Irmão” e“Muito Respeitável Grão-Mestre” entre outros apelidos que seconheçam e que existem, que servem apenas para diferenciar umirmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas enada mais.

Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tu”, pois se hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar numa das colunas. E

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quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e semfunções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar algumafunção importante na estrutura maçónica. E este tipo de tratamentopossibilita uma transição entre colunas ou funções sem qualquertipo de sobressaltos.

Concluindo, se as designações dos cargos maçónicos ou dostítulos dos graus maçónicos que existem poderem sugerir algumasvezes que o tratamento entre irmãos possa derivar em"pantominices", essa assumpção está bastante errada. Otratamento entre irmãos é sempre feito da forma mais simples quese conhece, utilizando simplesmente o pronome “tu”.

E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de uma formasimples e elementar.

PS: Texto adaptado deste outro, também escrito e publicado pormim.

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Sugestão Musical para a Coluna da Harmonia “LosHermanos” de Atahualpa Yupanqui...

January 26, 2015

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A música que hoje publico, “Los Hermanos” , e que em relação àqual poderia ter feito a sua respetiva análise quantoà simbólica maçónica que se pode encontrar nela, não a farei.

E não a farei apenas porque o simbolismo intrincado nela ébastante explícito, bem como quero deixar ao critério de quem aouve ou mais abaixo lê a sua letra, fazer esse tipo de exercício.

Esta canção pertence a um autor, compositor e músico argentinoque nunca foi membro da Maçonaria, tendosido inclusive perseguido e encarcerado pelo regime de JuanDomingo Péron (que era maçom) por ter pertencido durante algumtempo ao Partido Comunista Argentino.

O autor desta canção, o argentino Héctor Roberto Chavero(31/01/1908-23/05/1992), mais popularmente conhecido por“Atahualpa Yupanqui” , legou-nos uma música que eu não poderiadeixar de salientar neste espaço e também de a enaltecer, dada abeleza e o sentido fraterno contidos nela.

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(Para quem afirmou acima que não faria qualquer análise, expressoaqui uma dica quanto a algum simbolismo que se possa encontrarimplícito na canção).

A letra da canção que mais abaixo se encontra publicada, está noseu castelhano original e dada a familiaridade entrea língua portuguesa e a língua espanhola, creio que também seráfácil a quem ler a respetiva letra, efetuar a sua tradução ecompreender o que está escrito, caso contrário, tem apossibilidade de aceder a uma tradução desta canção aqui .

Assim, deixo-vos uma das mais bonitas composições que já tive aoportunidade de conhecer e que encerra em si algum tipo desimbolismo maçónico:

“Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contarEn el valle, la montaña

En la pampa y en el mar

Cada cual con sus trabajosCon sus sueños, cada cualCon la esperanza adelanteCon los recuerdos detrás

Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contar

Gente de mano caliente Por eso de la amistad

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Con uno lloro, pa llorarlo Con un rezo pa rezar

Con un horizonte abierto Que siempre está más allá Y esa fuerza pa buscarlo

Con tesón y voluntad

Cuando parece más cercaEs cuando se aleja más

Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contar

Y así seguimos andandoCurtidos de soledad

Nos perdemos por el mundoNos volvemos a encontrar

Y así nos reconocemosPor el lejano mirar

Por la copla que mordemosSemilla de inmensidad

Y así, seguimos andandoCurtidos de soledad

Y en nosotros nuestros muertosPa que nadie quede atrás

Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contar

Y una novia muy hermosaQue se llama ¡libertad!”

Também eu, tal como Héctor Roberto Chavero, tenho tantos irmãos que não os conseguirei contar, cada um com o seu trabalho, com o seu feitio, com as suas singularidades pessoais, guardando na

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lembrança os que já partiram e auxiliando os que ainda por cá seencontram; semeando a fraternidade, caminhamos juntos e livres,alimentados pela esperança de um dia podermos vir a criar ummundo que seja melhor…para todos!

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Política e Maçonaria Regular...

February 02, 2015

(imagem proveniente de Google Images)

O próprio título desta publicação poderá parecer por si só umapossível contradição.

Uma analogia direta entre política e Maçonaria Regular nuncapoderá ser feita em concreto porque em Maçonaria Regular não sediscute política. E muito simplesmente porque tal não é permitidopelas suas próprias regras, os seus Landmarks, que no seu sextoartigo impede que este tipo de discussão possa ter lugar numa lojamaçónica.

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O próprio Rui Bandeira, autor deste blogue, já teve oportunidade deexpressar a sua opinião, tanto neste texto bem como na suarespetiva “caixa de comentários” foram debatidas outrasperspetivas sobre o assunto…

Mas no que ao tema deste post concerne, a proibição existente emrelação à abordagem de temas políticos numa sessão maçónica éapenas em relação à discussão e debate de ideias relativas àpolítica partidária. Porque abordando a política como conceito emsi, conceito este como sendo algo que é assumidamentenecessário para quem vive na sociedade, a postura da MaçonariaRegular é diferente.

O conceito político, quando abordado no seu sentido lato, épermitido seja em debates meramente filosóficos ou que tratem detemas sociológicos ou antropológicos. Nestes casos, as ideologiassão facilmente postas de parte. Pelo que efetivamente nunca sediscute se o pensamento político de “direita” ou de “esquerda”, ouse uma monarquia ou república serão os melhores sistemaspolíticos a serem vivenciados pela sociedade.

Salientando também que, devido ao cumprimento do referidoLandmark, não se discute se uma religião é melhor ou pior queoutra. Política e Religião em Maçonaria Regular encontram-se nomesmo patamar.

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- Alíás atrevo-me a dizer que para a Maçonaria Regular, ambosestes conceitos estão colocados naquelas prateleiras muito altasque é usual se ter em casa, em que sabemos que as coisas láestão, mas que não as conseguimos alcançar…-

Estas concepções de vida, políticas ou religiosas, a seremdiscutidas, apenas o serão em em sentidos latos e meramentefilosóficos. Até porque geralmente estes temas, a par da clubitedesportiva, são os temas que mais dividem o Homem e fraturam asociedade, e a Maçonaria quer-se como sendo um centroagregador de pessoas e nunca como sendo o seu foco de divisão.

Assim, relativamente à política partidária, cada maçom seguirá aspolíticas ou sentir-se-á representado pelo partido político queconsiderar que será o que melhor o representa ou que aplica e/oudefende as ideias que para si são consideradas como sendo as quemaior valência deverão ser seguidas pela sociedade civil. E apenasisso.

Não obstante, é do conhecimento público em geral, que váriosmaçons são membros ativos de vários partidos políticos, muitosdeles mesmo pertencentes a alas muito distantes politicamente ecom um ideário político muito diferente e bastante divergente até.

E isso é lhes possível porque são livres para o fazer.

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Em nada a Maçonaria os impede de tal. Nem como instituição, nemos próprios maçons entre si, como membros desta Augusta Ordem.Cada um fará o que lhe aprouver quanto ao caminho que preferirpercorrer, seja partidário ou não, e respeitará do mesmo modo, ocaminho que o seu irmão decidir prosseguir…

Estes últimos parágrafos serão talvez alguns dos quais que maisconfusão farão aos profanos e que podem suscitar certas teoriasconspiratórias, uma vez que, pode-se sempre supor que, comopoderá alguém que não se revê politicamente noutra pessoa, e quepor vezes em debates mais acalorados, sejam eles no hemiciclo,sejam eles em qualquer tipo de campanha, em que algumas vezespodem inclusive roçar a falta de respeito, para depois dentro deportas ou na sua intimidade, serem amigos e considerarem-secomo Irmãos?!

A própria questão encerra a sua própria resposta.

Não temos nós irmãos, familiares e amigos que têm opiniõescontrárias às nossas?

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Não levam eles, em alguns casos, vidas muito diferentes da quelevamos?

Não têm eles concepções de vida muito distantes daquelas queconsideramos como sendo as mais válidas?

Quantas vezes em debates de ideias mais acesos, não noschateámos e depois tudo ficou resolvido como nada se passasse?

Sim, todos nós na nossa vida, passamos ou alguma vez passámospor esta situação.

E fraternidade é isso mesmo, é ter bastante respeito pelo próximo,consagrar o direito à diferença de opinião, ser tolerante em relaçãoa diferentes pontos de vista, e ter uma postura coerente no âmbitodo debate.

Por isso é que a Maçonaria sobreviverá per si, independentementedo posicionamento político dos seus membros.

Tudo devido ao sentimento fraternal que estes têm entre si e queos fará colocar de parte qualquer antagonismo que possa ser motivado, neste caso, por questões político-partidárias.

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E depois no que toca à questão partidária, esta não se coloca àMaçonaria mas sim ao Povo, que como integrante fundamental dasociedade tem o dever de participar nela e contribuir para o seuprogresso.

Assim, cabe ao maçom, sendo ele mais um elemento que faz partedo povo, participar como cidadão e como parte interessada nestaquestão.

O compromisso que o maçom assume com a Ordem é umcompromisso de ordem moral e ética, e que não envolve sequer,qualquer forma de política neste comprometimento.

Pelo que nada melhor que o seu exemplo e conduta para servir deparadigma aos outros.

Logo, pelos seus valores, o maçom nunca poderá agirimpulsivamente nem de forma irrefletida, porque para além de nãoser a forma de correta para alguém agir, e depois porque está empermanência debaixo do jugo da sociedade; assim o maçom queseja ativo políticamente na sociedade em que está inserido, deveobservar sempre o cumprimento dos valores maçónicos.

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Porque estes valores em nada colidem com a liberdade de ninguéme muito menos com os direitos de todos.

E se hoje em dia vivemos como vivemos, uma boa parte resultoude um trabalho imenso e intenso por vezes, que alguns maçons deoutrora tiveram e que propiciaram para que hoje em dia possamosusufruir das condições que temos e que nos permitem ambicionarpor mais e melhor...

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“Perseverar…”

February 09, 2015

Quando em Maçonaria se afirma que esta é uma instituiçãoiniciática, que promove o progresso e evolução da humanidade,através do auto-aperfeiçoamento dos seus membros, só se podedizer que tal só é possível, se existir uma enorme “dose” deperseverança na atitude dos seus membros.

Tanto que esta qualidade a par de outras também importantes, édas que talvez, no meu entender, seja de maior relevância para osmaçons.

É somente tendo uma atitude perseverante que o maçom poderáalmejar atingir os objetivos a que se proporá, nomeadamente noque toca ao seu aperfeiçoamento pessoal.

Tal como na vida profana, apenas agindo de forma perseverante e laboriosa, é que alguém consegue obter alguma coisa a que se

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proponha a ter ou alcançar. Nada cai nas nossas mãos de “mãobeijada” e até é habitual se afirmar que “não há almoços grátis”;logo apenas trabalhando em prol de algo, se consegue alcançar ouaceder a tal.

E ser perseverante não é nada mais que ter uma atitude positivaface às contrariedades da vida, ter a coragem necessária paraultrapassar essas adversidades que se vão atravessando no nossocaminho, apreendendo algo com essas situações menos positivas,transformando-as numa motivação suplementar que potenciará anossa vontade de atingir as metas a que inicialmente nospropusemos a atingir e fundamentalmente ter a noção de queapenas com o nosso empenho e com o nosso trabalho é que talpoderá ser possível. Nada mais simples que isto.

Mas apesar de toda esta aparente simplicidade, alguns problemasse poderão colocar; uma vez que não é na teoria em si, que acimaexplicitei e que se suporá de fácil concretização, mas será na parteprática que vamos encontrar as maiores dificuldades a ultrapassar.

É verdade que custa agir de uma forma plenamente perseverante atodo o momento, pois nem sempre temos a motivação necessária enem sempre conseguimos encarar a vida com o respeito e com anobreza que ela merece ser vivida.

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Quantas vezes não acordámos nós sem ter vontade de nada fazer,estando deprimidos e de “mal com a vida”?!

E com a trágica ideia de que tudo o que possamos fazer nãocorrerá como o esperado?

Ou que tudo o que façamos (nesses dias) será visto como algonegativo ou ineficaz?

Tal acontece e sempre acontecerá…

Somos humanos e nem sempre temos as “defesas” que queremoster e nem sempre tudo pode decorrer como desejaríamoscomo sucedesse. Essa variável é que torna a vida ser interessanteem ser vivida.

Parece antitética a afirmação que fiz, mas é a verdade.

Se fosse tudo sempre igual, teríamos tanto prazer em viver?

Talvez, por uns tempos, porque depois da rotina instalada tudoseria igual, tanto o “dia como a noite” não teriam diferença sequer…

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Por isso é que também é necessário ao ser humano que por vezesalgo considerado como negativo ou menos positivo, possaacontecer. Essas más experiências serão novas lições a seremadquiridas e as consequências dessas situações permitem semprenovas aprendizagens que a longo prazo serão assumidas (emalguns casos) como uma mais valia na vida de cada um. Mas compaciência e com um espírito resiliente até, tal será ultrapassável.

- Naturalmente que estou a falar num sentido muito amplo.Ninguém deseja passar por situações traumáticas ou que lhes sejaprejudicial e/ou que prejudique outros por isso, apenas para“aprender a viver”... -

E “baixar os braços” e ter uma atitude de resignação e derrotistaface a esses momentos negativos que por vezes sucedem nanossa vida, não nos trará nada de benéfico, apenas infelicidade etristeza. Por isso somente uma atitude pode prevalecer. Serperseverante!

E se com o nosso sentimento de perseverança conseguirmoscativar outros, através da prossecução do nosso exemplo, na nossaforma de estar e de agir no meio que nos rodeia, para que tambémeles possam atuar da mesma forma nas suas vidas ou pelo menossentirem-se inspirados para tal, tanto melhor.

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- Não temos de ser líderes nem guias espirituais, mas comomaçons, temos a obrigação de fomentar e de exercer na sociedadeos valores que assumimos como nossos e como tal, devemosambicionar e propormo-nos a agir de forma a que o progresso e aevolução dos povos possa suceder sem altercações de maior. -

E se com a nossa atitude conseguirmos mudar a forma de vida dosoutros e torná-la em algo melhor ou em algo que lhes proporcionealcançar as “ferramentas” para que isso possa ser ambicionável, talé do mais gratificante que se possa sentir. Seja porque através danossa própria atitude, conseguimos transformar a vida dos outrospara melhor, bem como em relação à nossa vida pessoal, estapoderá ter uma perspetiva em que pelo menos a maioria das coisasa que nos proponhamos a cumprir, poderão de facto serexequíveis. Apenas ficando por cumprir aquilo que não dependerásomente de nós próprios ou da nossa boa vontade. Mas essavariável sempre existirá…

Por isso, não podemos tudo, mas podemos fazer algo para que talpossa acontecer…

Post Scriptum:Artigo originalmente publicado por mim na ediçãoonline da revista “Cerberus Magazine” e que pode serconsultado aqui.

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Campanha VER MAIS: relatório

February 16, 2015

Entre a segunda quinzena de setembro e a primeira quinzena dedezembro, esteve em curso a campanha VER MAIS, de angariaçãode óculos usados graduados para enviar para distribuição gratuitaentre a população necessitada da Beira, em Moçambique. Muitasboas-vontades corresponderam. Devemos agora nós correspondera essas boas-vontades, efetuando o relatório do que foi feito com oproduto da generosidade de todos os que colaboraram.

A campanha permitiu angariar SETECENTOS pares de óculos, umnúmero que excedeu as expectativas iniciais dos organizadores dacampanha. A todos os que contribuíram, um sentidoagradecimento!

Custos com a angariação: Zero euros.

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O passo seguinte foi medir as lentes de todos esses óculos eefetuar a afinação, manutenção e limpeza dos mesmos. Para tanto,pedimos e obtivemos a cooperação de alguns técnicos deoptometria que, graciosamente, ofereceram o seu tempo e adisponibilidade das suas máquinas e ferramentas e efetuaram essetrabalho. Em poucas semanas, todos os pares de óculosangariados estavam limpos, afinados, medidos e etiquetados com ainformação das graduações das suas lentes.

Custo com a medição e afinação dos óculos: Zero euros.

O desafio seguinte foi enviar todo esse material, devidamenteacondicionado, para a Beira. A quantidade e peso não permitia quefossem em bagagem de mão... Alguém deitou mãos à obra, fez unstelefonemas, efetuou algumas insistências, apelou a algumasconsciências e logrou que uma entidade assegurasse o transportee entrega dos setecentos pares de óculos ao nosso representantena Beira, sem imputar quaisquer custos por isso..

Assim, custos com o transporte: Zero euros.

Enquanto tudo isto se passava, o elemento de ligação na Beirasolicitou e obteve o apoio de responsáveis de óticas locais, que sedisponibilizaram a, gratuitamente, classificarem e medirem asdeficiências visuais de elementos da população carenciados - demeios e de óculos -, de forma a assim se conseguir fornecer o parde óculos efetivamente adequado à necessidade de cada pessoa. Esta generosa intervenção das óticas em nada as prejudicacomercialmente, pois sabem que as pessoas carenciadas que lhessão enviadas para exame, por falta de meios económicos para tal, não lhes poderiam adquirir óculos.

Está em curso a distribuição de óculos.

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Custos nos exames dos carenciados e na distribuição dos óculosdisponíveis: Zero euros e zero meticais.

Custos para quem recebe óculos no âmbito da campanha VERMAIS: Zero euros e zero meticais.

Na Beira já há pessoas que conseguem VER MAIS!

Conseguiu-se isto, sem o dispêndio de um cêntimo ou de umcentavo de metical, graças a um esplêndido conjunto deboas-vontades - de todos aqueles que doaram óculos já sem usopara si, de todos os que nos ajudaram a receber os óculos doados,dos óticos e optometristas que classificaram, mediram, afinaram,limparam e etiquetaram os óculos oferecidos, de quemprovidenciou e garantiu o transporte dos setecentos pares deóculos para a Beira, lá na Beira de quem referencia os carenciadose das óticas que permitem "casar" a necessidade de cada um como par de óculos disponível mais adequado, enfim, todos os quederam um pouco de si e do seu tempo para que objetos que eramaqui já inúteis tenham voltado a ganhar utilidade e ajudem a VERMAIS quem disso necessita e só graças ao contributo de VÓStodos pode deles beneficiar.

A todos VÓS o mais sentido agradecimento e o mais calorosoabraço. Façam, todos e cada um de VÓS, porque o merece oprecioso contributo de todos e cada um de VÓS, o favor de sesentirem felizes com o objetivo conseguido. Pelo menos tão felizescomo eu me senti ao escrever este texto!

Rui Bandeira

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"Curiosidade, voyerismo, ou simplesmente, requintes demalvadez…?!"

February 23, 2015

Hoje infelizmente trago à baila um tema que me causaalgum amargo de boca, daqueles amargos criados por umqualquer espinho purulento que se possa ter na garganta...

Seja por mesquinhez humana, seja meramente por curiosidade ousimples voyerismo sobre o que se passa na vida de outrem,os tugas são uns “cuscos” por natureza…

A curiosidade sobre a forma de como o seu amigo, vizinho oucolega de trabalho vive ou age, geralmente faz partedo imaginário coletivo do povo português.

Saber o que aqueles fazem nas suas vidas, nas suas profissões,quais as suas amizades, os seus gostos e “desgostos”, levaram aque as redes sociais crescessem de forma exponencial ao longodos últimos anos e não apenas em Portugal, mas no resto domundo também.

Quantos de nós aderiu ou ainda pertence a uma rede deste tipo?

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Quantos de nós fomenta e desenvolve a suas amizades econhecimentos nestas redes sociais?

Uns porque querem de facto interagir com os seus amigos, outrosapenas por quererem conhecer a vida que essas pessoas levam…

Como seres humanos, somos competitivos por natureza - essafaceta animal está intrincada no nosso ADN - e isso leva-nos acomparar o que fazemos com o que os outros fazem.

E algumas vezes nessa “competição”, a comparação entre estilosde vida é geralmente o que mais acontece. Saber que alguém temuma vida “melhor” ou “pior” que a sua, para alguns, é o que de mais gratificante têm na sua vida, o que só demonstra a sua pequenezde espírito.

E quando esta curiosidade abrange não exclusivamente osconhecidos, mas que se alarga a outras pessoas, sendo estaspersonalidades conhecidas na sociedade, tal propicia a existênciade um “género literário” que tem vários seguidores não só emPortugal como também por esse mundo fora. Geralmente tal édesignado por literatura “cor-de-rosa”, até porque habitualmentequem seriam os maiores consumidores deste género literário eramas mulheres. Coisa que está a mudar na atualidade.

Quem não costuma folhear algumas páginas deste tipo derevistas?

Nem que seja meramente para ajudar a passar o tempo de esperanum consultório médico ou numa paragem de autocarro? Mesmoque não seja necessariamente para cuscar sobre a vida dealguém…

Mas não é particularmente sobre este género literário que eu queroelucubrar, mas sobre outro género, o do tipo informativo. Daqueleque serve mesmo para informar e não o contrário.

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Assim, durante a passada semana, uma publicação supostamentemediática e de cariz hipoteticamente informativo – será?! - com umtítulo suis generis de dia da semana e que curiosamente nemsequer é publicada nesse dia cujo o nome enverga, - opçãoeditorial ou marketing, quiçá?- voltou à carga com o temaMaçonaria e a vida interna das principais Obediências do nossopaís, nomeadamente a GLLP/GLRP da qual faço parte, e logocomo manchete principal e como sendo o tema capa de revista.

Naturalmente que neste texto, bem como em outro qualquer,apenas posso expressar a minha opinião, sendo apenas por elaque sou responsável.

Sou um cidadão adulto e livre, mas acima de tudo cumpridor dasregras cívicas e das leis do meu país.

E como tal, se tenho deveres a cumprir, também por sua vez, tereidireitos que me são adstritos.

E um deles é o direito a associar-me e a reunir-me com quem eubem entender, desde que tal não seja criminalmente punível.

E a expressar o que por bem eu entender, desde que tal nãoofenda ou comprometa o bom nome de algo ou de alguém.

E se falei assim anteriormente, é porque quero que fique inculcadona mente de quem me lê, o que eu penso e sinto sobre esteassunto em particular.

E uma vez que, sendo reconhecido como maçom e principalmente porque faço parte da Maçonaria Regular, - apenas posso falar daquilo que vivencio -, sei que nada se passa no seu interior que atente a nossa república nem a nossa democracia legitimamente eleita. Até porque tal nunca poderia ocorrer, porque qualquer Obediência Regular compromete-se em honrar e respeitar as regras do país onde se insira, bem como os maçons seus filiados,

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juram sempre submeter-se às leis desse país em concreto. E nemo poderiam de fazer de outra forma, pois antes de serem maçons,são cidadãos, tal como os outros, com as mesmas obrigações edireitos.

Nem acima nem abaixo, mas ao mesmo nível…

Logo, porque “carga de água” é assim tão importante saber o quese faz no interior de uma Loja Maçónica?

Não vou rebater esta questão com os habituais argumentos e quesão já por demais conhecidos, mas vou salientar principalmente ocaso do voyerismo sobre a vida particular de alguém.

Não temos todos nós direito à nossa privacidade e a respeitartambém o direito à privacidade dos nossos pares?

Não incorreremos nós em alguma forma de crime por usurpar essedireito a alguém?

O direito à privacidade é algo do mais importante que um serhumano poderá ter, e inclusive está resguardado na nossaConstituição da República no seu Artigo 26º, Ponto 1.

Alguém poder fazer na sua intimidade o que entender, partilhar asua vida com quem bem entender, é algo que não deve estardependente da curiosidade de ninguém.

Por isso, qualquer coisa que se faça na nossaintimidade/privacidade, será apenas do nosso entendimento. Nós éque sabemos se queremos tornar público ou não o que fazemos.Quem se quer resguardar, tem sempre essa possibilidade e essedireito.

Quantos de nós, reserva apenas para si, para a sua família ou paraas suas amizades o que faz?

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Quantos de nós também poderá ter uma vida pública, e por issoestar menos resguardado, mas que tal, foi uma decisão que tomou,uma opção que fez?!

Muitos com certeza.

Mas muitos também optaram por manter a sua vida “secreta”.

Por isso, o secretismo ou a discrição em relação a algo, nãodeveria comprometer quem desta forma prefere viver.

Porque será que quando não sabemos o que alguém faz,ocorre-nos a ideia que estará a fazer algo de errado ou aconspirar?

Apenas porque não conhecemos a sua vida?

E com que direito temos, para conhecer a sua vida? Se não fomosescolhidos ou convidados para tal?

É sobre isto que interessa refletir.

Os maçons não são melhores nem piores que os outros cidadãos,membros ou não de associações conhecidas ou que não integrematé sequer qualquer associação.

O que os maçons tentam fazer é melhorar a sua vida através deuma via espiritual, num contexto iniciático, por forma a que leve emultima instância a um progresso geral social e ao seuaperfeiçoamento pessoal em concreto. E isto não tem nada demais.

Se o maçom cumpre determinado ritual ou ritualística inerente àprossecução deste seu caminho, tal apenas lhe diz respeito a simesmo.

O que interessa saber se faz este ou aquele gesto, se tem esta ouaquela postura corporal? Se apenas a quem o pratica, é importanteo conhecer?!

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Para mera cultura geral, será?! E porquê?

Que vantagens esse conhecimento trará a quem tem acesso deforma incorreta a esses conhecimentos?

Apenas conhecer, será?! Porque nada poderá fazer com eles…

Comparo isso à situação de estarmos com fome e termos diante denós uma mesa farta e que estamos impedidos de lhe aceder.Sabemos que os alimentos estão lá, mas não os poderemossaborear. E é isto que acontece a quem acede a conhecimentosque não lhe dizem diretamente respeito. Conhecem, mas nãocompreendem nem tiram partido disso. São conhecimentos vaziosde conteúdo e de sensação.

E mais uma vez, volto eu à carga…

Porque é assim tão importante saber o que os maçons fazem?

Terão de reunir de porta aberta? E porquê? Com que motivo? Senada de errado estarão a fazer?

Pode acontecer por vezes, e não estou a assumir que tal assimseja ou que ocorra, que certos desentendimentos possam existir.Somos seres humanos e nem sempre concordamos ou gostamosdas atitudes que outros possam ter para connosco. E ter atitudesmenos próprias e menos nobres poderão ocorrer por isso.

O que é importante fazer é tentar evitar tais comportamentosatravés do uso do diálogo e de uma sempre presente tolerância esensatez.

- Não somos robots, logo somos feitos de carne e sentimentos...-

Mas questiono, terão essas situações de vir ao conhecimento dopúblico?

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Qual será a sua relevância?

Quando nos chateamos com amigos e colegas, também vamos acorrer por a “boca no trombone”?

Vamos informar meio mundo que aconteceu isto ou aquilo?

Não resguardamos essas situações para a nossa privacidade?

Então porque teriam de os maçons, nos seus hipotéticosdesentendimentos, agir dessa forma?

E qual o interesse real que tal teria para a comunidade? Senãoapenas por mera cusquice ou exibicionismo?!

Mas o pior que eu considero que sucede, é que exista gente queaufira algo com essas situações. Quando violar a privacidade dealguém se torna numa fonte de rendimento.

Naturalmente que não critico quem trabalha honestamente nemqual seja a sua fonte de rendimento, desde que justa e honesta,mas também não posso deixar de criticar quem à conta da vidaprivada de outrem, governa a sua vida.

Será tal legítimo?!

E quando essa forma de trabalhar, menos válida no meu entender,tenta criar a ideia na generalidade das pessoas de que quem seresguarda da vida pública e que se reúne discretamente, queconspira, que corrompe, que age de forma deliberadamenteimprópria ou com uma conduta marginal, para mim, roça quase acriminalidade.

Até porque quem trabalha desta forma, com as assumpções quefaz, impregna na mente da generalidade das pessoas de que quemse resguarda, independentemente de ser um grupo de pessoas ouuma somente, estará a fazer algo de errado. O que nem sempre éa verdade!

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O problema é que estes temas do secreto e do discreto vendem…E por venderem, existe sempre alguém interessado em comprar…Independentemente de comprar “gato por lebre” ou da legitimidadecom que tal lhe é dado a conhecer.

E uma vez que tal é recorrente, seria interessante a quem assim ofaz, fazer a devida reflexão se a sua atitude é a mais correta ou seo fator-dinheiro é mais importante que a dignidade e a privacidadedo ser humano.

Para mais, quando repisa constantemente sobre os mesmosassuntos, muitos dos quais nem sempre corretos ou verdadeiros.

E resguardarem-se na sombra das fontes também não será amelhor atitude. Até porque com esse argumento poderão especularo que quiserem e sobre o que quiserem, com as consequênciasque conhecemos para as personalidades cujos nomes possam serreferidos.

Até porque existe gente que poderá ser prejudicada na sua vidaprofissional ou no seu seio familiar por apenas ter o seu nomereferido ou associado a algo, mesmo que tal não seja verídico.

- As piores condenações são geralmente as que são feitas na"praça pública" e bem sabemos que nem sempre serão julgamentos corretos ou assertivos -.

Não me importa se o assunto é um tema importante ou não, o queme interessa de facto é saber se a obtenção da (provável)informação foi obtida com o consentimento do interveniente e se amesma é a verdadeira. Isso sim é que é relevante!

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Para além de que uma informação argumentada pelo própriointerveniente terá sempre um valor que não teria se a informaçãofosse simplesmente especulada ou contendo alguma subjetividaderelativa.

É por isso que creio que na maioria das vezes em que o tema“Maçonaria” vem à baila do conhecimento público, será quasesempre por algo que não tem interesse para a comunidade, masapenas com o sentido de se “vender manchetes” e de se obterreceitas à custa da vida particular de outrem.

Assim, continuo sem perceber se é por mera curiosidade, se porvoyerismo ou se por algum requinte de malvadez, este tipo deatitude persecutória que alguns supostamente informantes terão.

Sei é que se não houvessem determinados curiosos, não haverialugar para tanta (des)informação…

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"Jornal-i-smos..."

March 02, 2015

Durante este fim de semana numa edição de um jornal diário quetem como título uma letra vogal do alfabeto, encontra-se umareportagem que apesar de contar alguns erros, naturais de quemnão percebe ou anda nestas andanças de maçonarias e afins…, étotalmente diferente e divergente do outro "artigo" que inspirou omeu texto anterior.

De facto, esta reportagem que veio a público este fim de semana,tenta ter um perfil informativo e não conspirador, tenta demonstrar oque é a Maçonaria e mostrar um pouco o que existe para lá do véuda discrição e do secretismo.

Naturalmente que não estou a fazer a apologia desta reportagem nem do respetivo jornal, mas quando se quer informar realmente, a atitude a tomar é sempre diferente de quando se tenta impregnar

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na mente de alguém algo que poderá estar longe da realidade.

Aliás algumas das personalidades que foram abordadas nocontexto desta reportagem são pessoas com responsabilidades naMaçonaria em geral, pelos cargos que envergam ou que jáocuparam. E isto traz uma credibilidade extra para os artigos quecompõem esta reportagem, que ela não teria se fosse feita de outraforma.

- Quem sabe falar de Maçonaria, serão os maçons. Porque avivem, porque a fazem e a constroem dia após dia. Osoutrosapenas podem tentar especular sobre o assunto, com oserros e as lacunas na informação que poderão surgir dessaatitude.-

A reportagem no seu geral não está isenta de alguns erros, queconsidero superficiais e de quem tenta num curto espaço abordarmuita coisa ao mesmo tempo. O que por norma acaba por sempreacontecer quando queremos compilar muita informação e temospouco espaço para o fazer. Falar da História da Maçonaria, dos seuRituais próprios, Processo de Recrutamento e demais temasabordados por esta reportagem, nunca será fácil para quem nãoviveu os mesmos e apenas os pode especular ou basear-se no queoutrem lhe possa contar.

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Mas apesar dos erros existentes, gostei da fluidez dos artigos ecom a preocupação - assim me o parece - –que o jornalistaresponsável pela elaboração dos textos teve em não opinartransversalmente sobre o tema da reportagem.

Mais reportagens deste género houvessem e as pessoas nãoandariam sempre tão curiosas sobre o que é e o que a Maçonariafaz…

Apesar deste tema ser sempre um tema bastante comercializável,desta vez, tenho a ideia que não foi este o mote para a reportagem,mas uma consequência da mesma…

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Uma pequena história, um grande e fraterno significado!

March 09, 2015

A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, como todas asoutras lojas maçónicas, recebe, na qualidade de visitantes, Ir:. dasmais diversas e variadas nacionalidades. Por aqui, na Loja MestreAffonso Domingues, temos gosto em fazê-lo e, segundo dizem osIr:. que o GADU faz questão de colocar no nosso caminho,fazemo-lo bem.

Assim aconteceu, com um Ir:. oriundo da IIr. da Loja Fênix, n. 4053do Grande Oriente do Brasil – GOB que, na sua “despedida”,brindou os obreiros da Respeitável Loja Mestre Affonso Dominguesnº 5, com a prancha hoje aqui transcrita na íntegra.

Ainda em sessão, solicitei autorização ao Ir:., pois é ainda Aprendize, como tal, não pode publicar textos, nem utilizar da palavra emsessão, o qual aceitou prontamente.

Como seu Ir:. é uma honra o poder publicar em seu nome, estabelissima prancha, como obreiro da Respeitável Loja MestreAffonso Domingues, foi compensador tê-lo por cá e, estou certoque o GADU, irá proporcionar novamente que os nossos caminhosse cruzem.

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Portanto, a prancha que aqui vão ler, foi lida em loja, em sessãoritual, por um Ir:. visitante que assina a autoria da mesma, euDaniel Martins apenas proporciono ao universo do A Partir Pedra, asua leitura em âmbito alargado.

Meu querido Ir:., obrigado, mais uma vez pelas tuas palavras, bemhajas e, estou certo, até breve.

Uma pequena história, um grande e fraterno significado!

Vou contar uma história para vocês, meus IIr. Serei breve, sereileve. Uma história ainda em reflexão, uma história que ainda estásendo vivida e que foi possibilitada pelo G.A.D.U.

Quando se fala em projeto logo se indica qual o seu âmbito:profissional, pessoal, familiar, e por ai vai. Embora indicando edividindo nossos projetos, aqueles de maior importância teminserção e interação direta com nossas vidas pessoal e profissional,profana e fraterna. Afinal, o que é de mais importante é (ou deveriaser) partilhado.

E essa pequena história foi compartilhada com vocês.

No dia 01 de novembro de 2014 cheguei em Lisboa, Portugal, parauma estadia de 120 dias, foco profissional, meu Estágio deDoutoramento em Direito, foco pessoal, uma experiência familiarcertamente inesquecível. Não cheguei só. Cheguei com minhafamília: esposa e filho.

A viagem começou muito antes da chegada em Lisboa no dia 01 denovembro. Iniciou de certa forma quando constituímos os laçosfamiliares, 12 anos atrás, e com a chegada do nosso filho.

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Quero dizer com isso que 120 dias distante do nosso meio comum,ao mesmo tempo em que um sonho, uma perspectiva maravilhosaque seria vivida, seria um grande desafio para 3 pessoas. Afinal,estaríamos sozinhos vivendo a experiência de estar em umcontinente, um país, uma cidade, muitas milhas além de casa.

Assim que decidimos pela viagem anunciei em minha Loja, perantemeus queridos IIr. da Loja Fênix, n. 4053 do Grande Oriente doBrasil – GOB. De imediato VM, 1 e 2 Vig., IIr. Mestres indicaram:“Deves procurar nossos IIr. em Portugal! Contate o Grande Orientepara te indicar o caminho dos IIr.”

Contatei o Grande Oriente do Brasil e em pouco tempo recebi umaresposta: “Meu Ir. Somente é permitida a visitação a Ir. MM., comoés Ap.’.M.’. não pode realizar visitas. Mas como li em seu pedidoque irá com sua família, por longo período, necessitará estar emambiente fraterno, por isso, autorizo e encaminharei suadocumentação”.

Logo na semana de chegada a Lisboa, percebi que estaria seguroe em família. Fui recebido muitíssimo carinhosamente pelo Ir. JoséRuah na GLLP/GLRP, o qual de pronto deixou as portas abertas eindicou a RL Mestre Affonso Domingues, n. 5 para quefreqüentasse no período em que estivesse em Lisboa.

Na primeira oportunidade, dia 12 de novembro de 2014, visitei pelaprimeira vez a RL Mestre Affonso Domingues, n. 5. Fui recebidosem formalidades pelos IIr. Em seguida tive a oportunidade devisitar outras L. da GLRP, mas retornei somente a RL. MestreAffonso Domingues, n. 5.

E aqui esta pequena história passa a ter um grande e fraternosignificado.

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A RL Fênix, n. 4053, minha Loja Matter, tem uma verdadeiraegrégora familiar. A egrégora que lá se firma é o mais purosentimento e congregação de energias de pessoas que convivemem união fraterna, nos seus mais diversos graus e qualidades.Minha casa fraterna!

Embora com somente 6 visitas a RL Mestre Affonso Domingues, n.5, me senti em uma verdadeira egrégora familiar. E aqui, meus IIr.,sinto que a egrégora que se firma é, também, o mais purosentimento e congregação de energias de pessoas que convivemem união fraterna.

Durante este período de 120 dias tive mais vínculo com alguns IIr.do que outros, o que é normal, mas sem dúvida sempre muito bemrecebido por todos, realmente me senti em casa.

Algo que reparei e senti é que os IIr. que aqui estão querem estaraqui, realmente estão aqui além da presença física. Isso faz da RLMestre Affonso Domingues uma verdadeira Loja. Para quem chegaa RL Mestre Affonso Domingues isso faz toda a diferença.

Percebi que os IIr. que aqui estão, por óbvio, entraram naMaçonaria, mas, também, e o mais complexo, que infelizmente nãoacontece sempre, a Maçonaria também entrou nos IIr. Com issonão estou a dizer que a RL Mestre Affonso Domingues não tenhaproblemas, necessidades... afinal, se fosse perfeita, o querestaria?!

Quero dizer com essas poucas palavras que a convivência fraterna com os IIr. da RL Mestre Affonso Domingues fez a total diferença no decorrer dos 120 dias que aqui estivemos. A segurança que senti e sinto por estar entre vocês auxilia imensamente em fortificar a segurança que passei e passo para minha família durante a estada em Lisboa. Saber que possuímos uma família grande, com

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muitos IIr. Em pé e à Ordem, faz a total diferença.

Regressaremos ao Brasil no próximo sábado, dia 28. Retornarei aoseio fraterno de minha Loja Matter, estou com saudades dos IIr.que lá estão. O que também é certo é que sentirei saudades detodos vocês, assim como serei eternamente agradecido pela formaque fui acolhido pela RL Mestre Affonso Domingues, n. 5.

Fica o registro de que sempre estarei Em pé e à Ordem para todosos IIr. da RL Mestre Affonso Domingues, e que o referido registronão seja um Adeus, mas um até breve.

Afinal, não se está distante quando se mantém perto no coração, etodos vocês estão em meu coração.

São palavras simples, porém sinceras, e assim me despeço detodos.

Que o GADU ilumine todos os IIr. e suas respectivas famílias.

Ir. José Carlos Kraemer Bortoloti

Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.

Lisboa, Portugal, 25 de fevereiro de 2015

Daniel Martins

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Perspetivas “reais”…

March 16, 2015

Quem já teve a oportunidade de ler algum texto que eu vouescrevendo, porventura já terá reparado que algumas vezescostumo afirmar que na mais simples coisa se pode encontrar apresença da Arte Real.

Naturalmente que só vislumbramos algo se o conhecermos, bemcomo reciprocamente, que só poderemos encontrar aquilo queefetivamente procuramos.

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Aliás, existe até mesmo um silogismo religioso e iniciático que dizque “quem procura, encontra”.

E eu acrescento que pode mesmo encontrar!

Pode é nem sempre ser tão lesto como se poderia desejar, mascom trabalho, empenho, paciência e muita perseverança, tal poderáser concebível.

Mas por vezes é possível encontrarmos algo mesmo que nãoestejamos à procura de alguma coisa e essa descoberta, algumasvezes fascinante, é algo que nos pode motivar e impelir para ir maisalém, demonstrando de certa maneira, que o caminho queescolhemos tomar é o que melhor se nos aplica.

Por isso, não são raras as vezes que encontro a presença daminha(/nossa) arte, em coisas tão simples como em frases ditaspor alguém que nem sempre está identificado com os princípios devida que observo, ou em canções ou músicas que nem sempre sãoaquelas intemporais ou mais comerciais que é usual conhecermosou outras que poderíamos relacionar com algo mais místico oumetafísico até, ou inclusive até mesmo em simples construçõesonde a presença da Maçonaria poderia ser assumidamente dadacomo inexistente.

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Quando encontro algo que relaciono direta ou indiretamente com aArte Real é porque detenho um conhecimento que me permitereconhecer essa presença, ou pelo menos, a supor.

Mas tudo isto, apenas pode ser feito através da minha perspetiva,da minha visão, dos meus princípios morais e da minha experiênciade vida. É a perspetiva que tenho sobre tal, que me permite essefacto.

Pois as mesmas coisas, os mesmos objetos, as mesmas músicas,poderão na perspetiva de outrem, pouco ou nada ter a ver com aopinião que tenho sobre essas mesmas coisas. Tudo na vidadepende da nossa perspetiva e da nossa opinião e é a nossaperspetiva que tudo define.

Aquilo que eu vejo e sinto, podem outros também o ver e sentir, talcomo outros poderão nunca o fazer…

Mas aquilo que eu vejo, sinto, saboreio ou toco, apenas poderáacrescentar mais valias à minha vida se eu tiver a noção dissomesmo, caso contrário apenas serão meras sensações que sentireie que pouco ou nada me trarão de novo ou de positivo para o queeu espero da vida.

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Todavia, enquanto eu olho para algo através da vista de alguémreconhecido como maçom, um estudante de Teosofia, umRosa-Cruz, um membro de outra via iniciática qualquer ou quetenha alguma perspetiva espiritual diferente da minha, encontraráoutras coisas que não me serão possíveis encontrar.

Primeiro, porque não as procuro, mas principalmente porque nãoas conheço. E sem as conhecer, nunca me será possível asreconhecer…

Todavia, alguém não iniciado nestas “andanças”, também não oconseguirá fazer porque não as conhece, e também porque semas conhecer, também não as poderá identificar.

O que poderá fazer no entanto, é tentar perceber o que é aquiloque observa, e quanto muito, se auxiliado corretamente, éapreender, através da boca de quem lhe vai debitando noções oupercepções daquilo que estará à sua frente.

O que é sempre diferente de reconhecermos algo e aquilo que nosdizem que será ou que poderá ser na realidade…

- Existem sensações que são necessárias vivê-las, experimentá-las, para se saber verdadeiramente o que são… As nossas experiências, as nossas vivências são determinantes na

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nossa vida, pois elas são responsáveis por aquilo que somos, poraquilo que pensamos e por aquilo que fazemos…-

Quantas vezes não estivemos nós em excursões ou em visitas amuseus, castelos, igrejas, espaços culturais, etc, onde fomosguiados por alguém?

E em ocasiões em que tal era a primeira ou a segunda vez quevisitávamos esses locais?

E que à medida em que íamos ouvindo o nosso guia, íamosadquirindo novas percepções sobre o que estávamos a ver?

Ou em visitas posteriores aos mesmos lugares, em queobservávamos já com olhos diferentes aquilo que estávamos acontemplar, fruto dos conhecimentos que fomos ganhandoentretanto?!

A nossa opinião bem como a nossa perspetiva sobre algo émutável, evolui.

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Já alguém dizia que só “os ignorantes não mudam de opinião” equem não muda, não consegue progredir. E sem progredir, oHomem estagna, definha…

Por isso é tão importante a perspetiva que temos das coisas equanto menos ambígua for essa perspetiva mais depressapoderemos definir aquilo que encontramos ou aquilo queobservamos como sendo (o) verdadeiro e/ou o mais correto.

E a nossa experiência de vida, o nosso empirismo, terá um papelfulcral no auxílio de validar aquilo que se nos é apresentado pelavida.

Através da nossa experiência é nos possível adquirir uma visão dascoisas, que sem ela, não nos seria possível obter.

Não basta se olhar alguma coisa simplesmente olhando, há que seolhar com olhos de quem quer ver…

E isso é o mais importante, porque só agindo assim poderemosalcançar o conhecimento, atuando de forma deliberada e tendo anoção do que (o) estamos a fazer .

A nossa perspetiva será sempre a “nossa”. Outros terão as “deles”.

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Devido a diferentes experiências de vida, diferenças culturais,sociais, económicas e educacionais, existem várias formas de seolhar e analisar a mesma coisa.

Tanto que na maioria das vezes, temos como opinião que, se asperspetivas dos outros forem semelhantes à nossa, facilitam-nos onosso inter-relacionamento humano, e que se forem contrárias oudivergentes às perspetivas que temos, possibilitam-nos outrasnovas aprendizagens e também a comunhão e partilha dediferentes pontos de vista, originando o debate dessas diferentes ideias. Sendo isto, algo que considero também como bastantenecessário para o progresso humano.

E é para o progresso do ser humano que os maçons trabalham!Seja através da sua ação no mundo profano, seja através do seutrabalho nas suas lojas maçónicas…

Por tudo isto, dependendo apenas da perspetiva que se poderá teracerca de algo, foi-me possibilitado fazer esta reflexão queconvosco partilhei.

Foi apenas a minha perspetiva que enunciei e nada mais.

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Se correta, se errada, apenas outrem a poderá sufragar e dar-lhe ovalor que considerar que ela valha.

Quanto a mim e para aquilo que pretendo da vida, por enquanto,vai servindo perfeitamente…

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Mensagem do Grão-Mestre da GLLP/GLRP no Dia doMaçom 2015

March 23, 2015

O dia do Maçom decalca a sua celebração sobre a data denascimento de George Washington, primeiro presidente dos EUA eI.: Maçom.

E quando penso em George Washington e outros Grandes da nossa espécie, ponho-me a cogitar sobre uma escala adjetival que ordene o valor dos Homens, todos os homens: os de bons costumes e os restantes. Frequentemente desenha-se-me a seguinte proposta: humanóides; homens; homens inteligentes; homens sábios; homens génios; homens profetas. E a riqueza ou a pobreza não contam para a minha escala. Quando digo inteligentes, não me restrinjo apenas aos aspetos enquadrados pela ciência, ou pelas artes, mas incluo antes os latos universos do cognitivo e do afetivo; quando digo sábio, não me restrinjo apenas ao saber livresco, mas antes alargo a todos os saberes e artes que

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emanam da vida e a sublimam; quando digo génios, não me refiroapenas a figuras que a história consagrou, mas também a muitosoutros que viveram uma relação de humildade tal com a históriaque esta os esqueceu e ignorou e nem da lei da morte os deixoulibertar; quando digo profetas, não me refiro apenas aos escolhidose enviados, aos ditos profetas clássicos, tal Cristo ou Maomé, mastambém a outros, que nascem no seio da humanidade apenas cadaquinhentos, mil ou dois mil anos, e que concretizam profeciasfantásticas e absolutas: para um país, para uma ciência, para umdesporto, para uma arte, para a bondade e cidadania dos homens...

E penso nestas coisas que parecem tontices, porque também gostode pensar nas centenas de grandes maçons com que gosto deencher a boca, professando o seu nome a rogo de exemplo, quefez com que a humanidade progredisse e ficasse melhor, e quetanto orgulham a Maçonaria Universal e a nossa Augusta Ordem. Ea ditadura dos números não me deixa esquecer aquele número,grande, de homens que foram, ou são, maçons e que nuncasouberam honrar, nem a humanidade, nem a maçonaria. E digoisto porque é verdade meus II.:. É verdade, porque não bastapertencer à Maçonaria, para ser-se Maçom: é sobretudo precisoque pratiquemos e incorporemos os Valores que a Maçonariaprofessa e defende há tantas centenas de anos. E quandodefendemos e praticamos os Valores, não deixamos espaçosvazios para desvarios e extremismos loucos que enchem todos osdias jornais e televisões.

E celebrar o dia do Maçom também deve ser isso: celebrar o dia do Homem, que pode até nem sequer ser inteligente, nem sábio, nem génio, nem profeta, mas é Homem de Valores, porque incorporou e pratica todos os dias os valores pelos quais a Maçonaria sempre

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lutou, e que fizeram com que a humanidade pulasse e avançasseno sentido certo: tudo o resto é pura vanidade e desperdício, ecedo o bom Maçom aprendeu, que meia palavra lhe bastaria...

E era esta a mensagem forte que hoje vos queria comunicar, e delaimbuídos, continuaremos o nosso caminho, fazendo o mundo maisfeliz, e por contágio, sermos todos mais felizes, cumprindo osPrincípios e os Valores, para consolidar a edificação da nossaOrdem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto doUniverso.

Júlio Meirinhos

Grão Mestre

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Sessão de Equinócio da Primavera da Grande Loja Legalde Portugal/GLRP…

March 30, 2015

Por altura do Equinócio da Primavera, e também celebrando estecomo o é habitual, reuniu em Assembleia Magna a Grande LojaLegal de Portugal/GLRP, num local a coberto da indiscrição deprofanos.

Estiveram presentes bastantes Irmãos provenientes de váriasRespeitáveis Lojas e de várias localidades do nosso país, do Norteao Sul, do Oriente ao Ocidente , como gostamos de dizer emmaçonês.

Nesta digníssima Sessão Maçónica tratou-se do que havia de setratar e falou-se do que se deveria falar, ou não fosse ela umasessão mais administrativa...

Mais uma vez, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 esteve presente com uma parte do seu quadro de Oficiais de Loja

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bem como com elementos do seu quadro de obreiros que integramo corpo do Grão-Mestrado.

De salientar ainda o contributo que esta mesma Respeitável Lojadeu em relação à Regulamentação da Grande Loja Legal dePortugal/GLRP, no âmbito da elaboração de uma proposta dedeterminado documento, demonstrando que não só se encontra àOrdem bem como ficou patente que trabalha a bem da mesma nasua generalidade…

Finalizando, algo que se pôde constatar das conclusões retiradasdesta Assembleia Geral é de que a Maçonaria Regular portuguesase encontra em franco crescimento e que se encontra de “boasaúde”…

E que é assim que ela deve permanecer, acrescento eu!

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"Páscoas"...

April 06, 2015

Depois de findo este tempo de “passagem” pela Páscoa, nãoimportando tanto qual, se a Pessach, a Páscoa Cristã ou inclusive a“Páscoa” pagã, o que me importa reter é a reflexão que nos podeser proporcionada pela vivência desta dita quadra festiva.

Tanto judeus como cristãos epagãos celebraram por estes dias,algo que nas suas praxis religiosas convida à partilha.

Nos povos judaicos e cristãos é hábito as famílias se juntarem àmesa e repartir o pão – a “comida”- numa ceia que para cada umdestes povos tem um significado especial.

Os judeus partilhando o pão ázimo é lhes relembrado não só otempo de exílio pelo deserto do Sinai após a sua “fuga” do Egipto,mas principalmente e também, a passagem do anjo que“condenou” os primogénitos egípcios, após a “maldição divina”.

Por sua vez, os povos que baseiam a sua religião no Cristianismo, habitualmente na quinta-feira de Endoenças (mais vulgarmente conhecida por quinta-feira santa), também costumam partilhar uma

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refeição que tem origem na Eucarístia Crística, quando Jesus, oCristo, partilhou a sua última refeição com os seus apóstolos.

- Até mesmo na Maçonaria em determinado grau, nesta mesmadata, é usual existir uma refeição eucarística baseada nesta mesma“refeição” e também na ceia mitraica, o que torna esta refeição emalgo de especial e muito diferente do usual ágape fraternal que secostuma efetuar após as reuniões maçónicas-.

Já da celebração feita pelos povos ditos pagãos encontramos nosdias de hoje algumas reminiscências de outras épocas em que secelebrava a Ostara. Festividade esta, em que para além de secelebrar o Equinócio da Primavera, se festejava também afertilidade e o "renascimento" da natureza. E desses cultos pagãos,encontramos não a partilha de pão, mas sim de ovos.

Hoje em dia é costume em quase todos os “países ocidentalizados”serem ofertados ovos, mas principalmente serem oferecidos ovosde chocolate, estes últimos mais ao gosto das crianças.

-No nosso país, é também habitual nesta altura do ano se oferecero conhecido " folar pascal", uma espécie de bolo que contém noseu interior ovos cozidos-.

No fundo e de forma transversal a estas religiões, encontramosnesta quadra uma ideia generalizada de partilha, da dádiva de algo.

O que poderia se supor que existisse apenas na celebração do Natal cristão ou nas festividades do Dia dos Reis (festas de tradição cristã), tornando essa quadra festiva um pouco mais comercial do que deveria o ser, viemos encontrar um paralelismo interessante entre estas religiões no que toca à partilha de alguma coisa nesta época em que vivemos.

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Neste caso em concreto e que no fundo motivou a escrita destetexto, existe a partilha de algo substancial ao ser humano, algo queé a base da sua vida, a Alimentação.

Queiramos nós todos também nas nossas vidas, nas nossaspráticas, sejam elas religiosas ou de cariz mais profano, partilhartambém algo de importante ou que seja considerado como tal, comquem mais o necessite, tendo sempre em mente que a vida não éapenas "vida" em determinadas épocas ou quadras festivas, masque o é durante o decorrer de todo o ano. Não esperemos nóspelas "Páscoas" da nossa vida para fazer e partilhar o Bem...

Esta foi a reflexão que esta Páscoa me deixou e que muitoabertamente partilhei com todos Vocês…

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Introdução a uma merecida exceção

April 13, 2015

(O texto que se segue foi proferido em sessão da Loja MestreAffonso Domingues. Creio que fala por si. Quanto à identidade dohomenageado, nós, os seus Irmãos, conhecemo-la - e isso basta,para ele e para nós...)

Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,

Respeitáveis Grande Oficiais,

Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia,

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Venerável Mestre,

Meus Irmãos, em todos os vossos graus e qualidades,

A Loja Mestre Affonso Domingues vai fazer algo que nunca fez emvinte e cinco anos, algo que, precisamente para conferir valor esignificado ao que vai ocorrer, tenciona que, nos próximos vinte ecinco anos, em muito raras e escolhidas ocasiões, se é que emalguma, volte a fazer: homenagear um dos nossos!

Fazemo-lo pela primeira vez em vinte e cinco anos, e tencionamosmuito parcamente voltar a fazê-lo nos próximos vinte e cinco anos,não porque tenhamos algum problema em relação a homenagens,mas simplesmente porque na cultura, na matriz, da nossa Loja estáprofundamente impresso que aqui cada um de nós está paraprocurar ser melhor, para buscar fazer melhor, com o auxílio dosseus Irmãos e auxiliando os seus Irmãos a igualmente todos osdias melhorarem mais um pouco. Nesta Loja, desde sempre que osmais antigos instilam nos mais novos a noção de que osimplesmente bom não chega, sendo corrente, mesmo atérotineiro, que trabalhos dos nossos obreiros sejam áspera e porvezes impiedosamente criticados... porque são apenas bons!

Nesta Loja, o mínimo que exigimos de nós próprios é ser melhores, porque, no nosso padrão, o Ótimo não é nunca o objetivo final, é apenas um necessário degrau para se atingir a Excelência, aquele patamar em que por vezes - ainda que sempre fora do alcance da

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nossa mão, por mais que estiquemos o braço - se conseguevislumbrar a humanamente inatingível Perfeição.

Porque esta é a nossa cultura, a nossa matriz, não somos muitodados a homenagens aos nossos, porque aqui ser melhor do quebom é um simples cumprimento do dever, sem direito a especialmenção, ser ótimo é um ponto de passagem que confere apenasdireito a um breve e discreto louvor, atingir a Excelência é oobjetivo.

No entanto, hoje, aqui e agora a Loja entendeu ser imperativo dajustiça prestar fraterna homenagem a um dos nossos, porque lhereconhece a Excelência. Excelência enquanto cidadão, homem defamília, profissional e maçom. Aquele que hoje gostosamentevamos homenagear é um maçom que é muitíssimo mais que umhomem bom, muito mais do que um homem que se tornou melhor– afinal de contas, não fazendo mais do que a sua obrigação aoestar entre nós - é bem mais do que um ótimo homem e maçom. Aquele que hoje vamos homenagear pertence ao muito restritonúmero daqueles que se impõe que reconheçamos como umExcelente homem e Excelente maçom, alguém que faz com quecada um de nós pense, de si para consigo, que “quando eu forgrande gostava de ser como ele”.

Todos nós, os que aqui estamos reunidos, buscamos entender o sentido da vida e procuramos que a nossa vida tenha significado.

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Sobre o sentido da vida, cada um saberá a que conclusões chegou.Sobre o significado da vida do Irmão que hoje está no centro dasnossas atenções, a homenagem que agora se inicia pretendeprecisamente assegurar-lhe que a sua vida, o seu caráter, a suapostura, a sua fraternidade, a sua disponibilidade, representaram erepresentam um profundo significado para todos e cada um de nós,que é apenas justo hoje demonstrar-lhe.

Quis – e bem – toda a Loja envolver-se neste reconhecimento aonosso Irmão. Assim, seguidamente serão apresentadas trêspranchas dedicadas a ele, à sua figura, à sua ação, ao que elerepresenta para todos nós, uma apresentada em representação daColuna dos Aprendizes, uma outra em nome da Coluna dosCompanheiros, a terceira pronunciada por mandato dos demaisMestres da Loja. Seguir-se-á ainda uma pequena e despretensiosasurpresa que esperamos agrade ao nosso Irmão e, naturalmente,no que toca à Loja, a voz de quem toda a Loja representa, a doVenerável Mestre.

Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,

Respeitáveis Grande Oficiais,

Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia

Venerável Mestre,

Meus Irmão, em todos os vossos graus e qualidades,

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É com um enorme sentido de privilégio e de honra que declaroaberta a merecida homenagem ao nosso muito prezado Irmão ...

Rui Bandeira

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Relacionamento “inter-frates”

April 20, 2015

O texto que hoje publico é motivado por umagradável convívio entre pessoas que observam osmesmos princípios e costumes de vida em que tive o prazer departicipar e para o qual fui amavelmente convidado. Aliás, pelaspresenças neste encontro quase que me apraz dizer que se tratoude um “almoço de família”…

Fica assim desta forma aqui explicitado publicamente o meuagradecimento a quem organizou tal refeição.

Posto isto, vou "aflorar" um pouco acerca do relacionamentomaçónico entre irmãos.

Noutra ocasião – noutro texto – já tive a oportunidade de abordar o relacionamento entre maçons e suas famílias particulares, por isso venho agora focar-me noutro ponto deste mesmo tipo de

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relacionamento.

Os maçons consideram-se irmãos entre si, logo dessa forma, comopartes integrantes de uma “grande família”, que também éassumidamente universal.

É habitual após a realização das reuniões/sessões maçónicasexistir uma refeição – ágape – entre quem esteve presente durantea realização dessas reuniões/sessões onde habitualmente seconvive e se tratam assuntos que nada (em geral) tenham a havercom os assuntos tratados em maçonaria. Os irmãos conversam,debatem, abordam temas variados sem ter a preocupação ou aobrigação de cumprir com os preceitos que são obrigados arespeitar no interior da sua Respeitável Loja.

Também é habitual que membros de uma mesma Obediênciavisitem outras Respeitáveis Lojas filiadas nessa mesma Obediênciae assim conhecerem outros irmãos e poderem conviver com eles,mas principalmente também conhecer os trabalhos realizados poressas Respeitáveis Lojas, algo que é fulcral para a aprendizagem ecaminhada maçónica que o maçom se propõe a fazer.

Quanto a visitas a outras Obediências, o mesmo já dependerá do reconhecimento que exista entre elas. Estando vetada a visita de membros de Respeitáveis Lojas que não sejam reconhecidas pela sua Obediência de origem, e o mesmo reciprocamente. Sendo que se tal proibição não for observada, esse comportamento poderá ser

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passível disciplinarmente mediante o regulamento que exista emvigor na Obediência em questão.

Mas apesar do que afirmei nos dois parágrafos anteriores, issosomente se aplica de forma ritualista. Uma vez que nada proíbe ouimpede o convívio entre pessoas fora do “mundo da Maçonaria”.Fora das Respeitáveis Lojas é habitual irmãos da mesmaObediência ou de Obediências “diferentes” se cruzarem emanterem relações de amizade ou cordiais entre si.

Algo que eu considero que seja até “saudável” que aconteça,porque muitos até são colegas académicos ou de trabalho, vizinhose/ou até mesmo familiares na sua vida profana, e como tal nãohaveria outra forma de ser. Teriam sempre de se relacionar entresi. - Não há volta a dar -.

Assim e como o Homem é um “animal social” logo faria todo osentido que pessoas que vivem mediante determinados princípiosse relacionassem entre si no “mundo profano”.

Não será nada de estranho nem é algo que possa ser consideradocomo anormal ou bizarro sequer!

Aliás é mesmo habitual serem organizados “eventos brancos” – eventos abertos a profanos – onde os intervenientes são membros das mais variadas organizações maçónicas que existem bem como outras pessoas que nada têm a haver com a Maçonaria na sua

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generalidade e que se calhar também nunca terão alguma ligação aela. Numa larga maioria das vezes, quem frequenta este tipo deeventos é gente que apenas gosta do tema "Maçonaria" e que oestuda, investiga, mas que depois não se interessa por dar orespetivo "passo".

Normalmente este tipo de eventos são debates, tertúlias ousimpósios onde habitualmente a Maçonaria é o tema principal, masonde pode qualquer outro tema ser abordado ou designado comofoco ou temática a ser abordada.

Na prática o que é de interesse é o salutar debate e trocas deideias pelas partes presentes nesses encontros, para além doconvívio e o relacionamento fraternal que possa decorrer entremaçons, demonstrando dessa maneira que na realidade “existealgo mais que nos aproxima do que aquilo que nos separa ”.

Estes convívios que por vezes ocorrem, permitem também aexistência de um diálogo aberto e franco sem quaisquerpreconceitos que possam existir entre pessoas com origensdiferentes.

- É através do debate de diferentes pontos de vista e de determinados conceitos que possam ser divergentes, que a

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evolução na e da Maçonaria pode ser concretizada bem como oprogresso da sociedade em geral -.

No entanto, não é obrigatório que tal aconteça a curto trecho nem amédio prazo sequer, ou se alguma vez tal sucederá.

O que importa reter é que os princípios que todos dizem subscreverse tornem os pontos fulcrais da forma de viver de cada um, seja nasua vida profana, seja na sua vida maçónica.

E se caminharem todos lado a lado, tanto melhor… a Sociedade sóterá a ganhar.

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25 de Abril... uma singela reflexão

April 27, 2015

Comemora-se hoje mais um feriado referente ao 25 de Abril.

Como todos bem sabemos, este feriado celebra o fim da ditadurado Estado Novo, época durante a qual as liberdades e direitos damaioria do povo se encontravam cerceados.

O 25 de Abril, ou a revolução efetuada nesse dia e mais tarde conhecida com o sugestivo epíteto de “revolução dos cravos”, independentemente de muitos concordarem ou não com os seus

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fins programáticos, numa coisa todos terão de concordar, trouxealguma da liberdade de expressão que antes não existiria.

Liberdade de expressão esta que me permite neste momento estara debitar estas singelas linhas,” liberdade de expressão” que meautoriza a que eu o possa assim fazer apenas por me apetecer tal.

Para além disso, consignou o “direito à livre reunião entre pessoas”,direito esse eu que orgulhosamente usufruo na sua plenitude.Permitindo-me estar com quem eu quero quando o assim desejo ouposso.

Trouxe também o “direito à livre circulação”, que a todos dará muitojeito. Qualquer pessoa pode circular por onde quiser eprincipalmente às horas que desejar.

Com estes não tão singelos direitos outorgados pela “revolução doscravos”, que não são tão simples assim como poderão aparentarpela forma de como os descrevi, é permitido que a Maçonariapossa subsistir - e perseverar, digo eu! – nos dias que correm.

Se tal “revolução” não tivesse acontecido, nem maçons nem o povo na sua generalidade poderiam vivenciar tais direitos, mas saberiam

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pelo menos dar-lhe o valor que os mesmos teriam, porquesimplesmente não os poderiam experienciar. E como quase tudo navida, normalmente só damos valor a algo quando tal é inalcançávelou que se o tenha perdido. Singularidades da vida, é o que meapraz dizer...

Hoje em dia e passados já mais de quatro décadas desta revoluçãocomeça a por-se em questão esta dita revolução, seja pelo espaçotemporal a que aconteceu seja porque uma grande parte dapopulação já ter nascido depois desta insurreição e não ter “sentidona pele” o estado retrógrado em que se vivia então, no sentido deque estas ditas “liberdades” serão mesmo liberdades ou garantiasbásicas para a evolução da sociedade ou meramente algo que sepode prescindir em detrimento de outra coisa qualquer e a qualquercusto também...

O povo ou os seus “mandatários”, libertaram-se de um sistemaanti-democrático para se submeterem a um jugo financeiro atual, tala dependência que temos dos sistemas bancários e instituiçõeseconómico-financeiras. Poderes estes não controlados pela “forçado voto”. - O que se pode tornar perigoso a curto e médio prazopara as "liberdades" da generalidade -.

Naturalmente que nos primeiros tempos em “liberdade” muitas coisas erradas aconteceram fruto da inebriação coletiva do recente fim da ditadura. Aconteceram coisas positivas outras nem tanto,

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mas foram essas coisas que nos trouxeram até aqui e que nosdesenvolveram a nossa identidade atual.

O que somos atualmente?

Passámos de uma sociedade em que a grande parte dos seuscidadãos viveria com salários pequenos e condições de trabalholimitadas para uma sociedade contemporânea consumista eexcessivamente materialista e capitalista.

Quantos de nós, principalmente os da minha geração (quenasceram entre 1975 e 1990) souberam dar valor ou reconheceralgum mérito à liberdade que temos e que usufruímos?!

Alguns com certeza. Outros falarão de liberdade apenas como umneologismo criado pelos tempos vigentes, pois nunca – felizmente!-sentiram ou partilharam dos sentimentos que os seus pais ou avóspartilhavam.

E falei da minha geração porquê?

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Porque neste momento também já não são somente filhos de umarevolução, mas sim pais e alguns até mesmo avós, e caberá a estageração transmitir estes valores e ideais de Liberdade às geraçõesatuais. Primeiro porque as faixas etárias estão muito próximas, depoisporque falam uma “linguagem” muito semelhante, e finalmentenuma boa parte dos casos, serão os ídolos destas gerações, logogente que é escutada e observada no seu quotidiano. Logo maisfacilmente sob escrutínio das gerações atuais.

É que apesar de a Liberdade ser um conceito demasiado amplo, omesmo não pode ser vago. Quando se fala em liberdade, convémexplicitar depois qual liberdade a que nos referimos, uma vez que anossa liberdade termina quando começa a do nosso semelhante, ese duas “liberdades” colidirem entre si, obviamente que não haveráqualquer liberdade; existirá sim, a liberdade de um prevalecendosobre a do próximo, e isso em última instância não é sequerLiberdade mas outra coisa qualquer…indigna de lhe ser outorgadoesse nome.

Hoje, 25 de Abril de 2015, num ano de eleições legislativas, numano em que a maioria dos cidadãos portugueses terá na sua mão oseu destino e o destino dos próximos anos, convirá que todosfaçam a sua reflexão, que meçam os prós e os contras, que metamna “balança” as suas ideias, os seus desígnios, e se preparem parao “grande dia”.

Já não falta tanto tempo assim…

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É que se alguma liberdade esta revolução nos trouxe foi a liberdadede decisão e de opção pela agremiação política que melhor poderános representar a nós próprios bem como decidir o destino dasnossas vidas e dos nossos concidadãos.

Agora o que importará é que todos exerçamos esse direito, essaregalia que nos foi concedida, porque depois e porque vivemosnum sistema democrático, teremos de nos submeter à decisão docoletivo do eleitorado.

Por ora, que saibamos viver em liberdade e que saibamos partilharessa liberdade com o nosso semelhante.

25 de Abril, Sempre!!!

PS: Este texto foi escrito este sábado, dia 25 de Abril, e apenaspublicado hoje por opção editorial minha.

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1º de Maio, Dia do Trabalhador ( e do maçom, digo eu!)...

May 04, 2015

Depois de ter publicado no texto anterior uma reflexão sobre o 25de Abril, hoje venho publicar outro texto mas desta vez motivadopelo “1º de Maio”.

O que poderá aparentar que transformei este espaço de liberdadecom politiquices e afins… Mas nada de mais errado!

Quem não leu o texto anterior e apenas viu as letras do títulopoderia supor tal, aceito isso.

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Mas quem leu o texto anterior na integra e se for ler este textotambém, no final constatará que “politiquismos” não existem,mesmo que a Política seja um conceito necessário para a vida dascivilizações e seu progresso.

Mas o que me importa abordar neste texto é o contexto de trabalhoque se pode assacar da celebração do feriado do “ 1º de Maio”.

Festeja-se esse dia por este mundo fora para celebrar o Dia doTrabalhador, logo de todos nós.

Mas num sentido mais estrito da palavra “trabalhador”, tambémaqui os maçons podem considerar esse dia com um dia seu. Epasso a explicar.

O maçom considera-se alguém que labora o seu interior – o seuíntimo – para o bem da sociedade em geral. Logo utiliza geralmentecomo metáfora ou alegoria do seu trabalho pessoal a construção deum templo em si mesmo, lapidandoe burilando a “pedra bruta” queé ele próprio.

E este trabalho não é nada fácil por sinal.

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Posso até afirmar que para algumas pessoas é uma tarefa bastanteárdua e com algum sacrifício pelo meio.

Moldarmos o nosso carácter, a nosso postura, o nossocomportamento e os nosso pontos de vista habituais, quegeralmente apenas estão visados para nós próprios e raramentepara os outros, é bastante difícil. Talvez seja uma tarefa tãohercúlea como a construção das pirâmides do Egipto ou a GrandeMuralha da China…

Pois nunca foi fácil para ninguém perceber que poderá estar erradoem relação a algo ou que tem se “mudar” a si próprio se quiserevoluir como ser pensante.

Evoluir nunca foi fácil para o Homem, logo ele teve de trabalharpara isso suceder.

Instruíu-se, educou-se, formou-se, fez múltiplas coisas para que lhefosse possível alcançar o que hoje em dia tem e experencia. Masneste conjunto de ações que fez, algo é aceitável por todos, oHomem “trabalhou”; umas vezes com maior proveito outras vezesnem tanto, mas aprendeu com isso e soube ultrapassar essesmomentos que aconteceram pelo meio.

O Homem unicamente pelo seu trabalho, prosperou…

- E é isso que deve ser também festejado num dia como este.-

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E o maçom sendo ele também um trabalhador no mundo profano eprincipalmente no meio maçónico, deve ele sentir também ahomenagem em causa efetuada neste dia, nesta celebração.

No interior das suas Respeitáveis Lojas, os maçons trabalham nassuas Pranchas, trazendo alguma "luz" aos seus irmãos, debatemas suas ideias e aprendem - neste caso, reitera - um conjunto deprincípios que deverão empregar no mundo profano, por forma aque possam ser válidos cidadãos no local onde vivam ou para opaís que os acolham.

Pode a generalidade da população desconhecer o trabalhomaçónico que se faz em prol da sociedade, mas o maçom não odescura porque o conhece e sabe que muitas vezes o que foiconquistado pela sociedade deve-se ou deveu-se ao trabalho dosseus irmãos. E por isso mesmo compete ao maçom preservar essetrabalho feito e se possível levá-lo a uma fasquia superior, casotenha condições para isso.

Pode a sociedade (dependendo dos países em questão) nãoconhecer o que fazemos, mas temos de o continuar a fazer, nemque seja por nós próprios e pelos outros que pensam e vivem talcomo nós…

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O que nos espera será sempre: trabalhar, trabalhar e trabalhar…

PS: Texto escrito ao fim da tarde do “primeiro de Maio” e publicadohoje por opção editorial minha.

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ÉTICA? ÉTICA... ÉTICA!

May 11, 2015

O tema comum do nosso encontro de hoje é ÉTICA. Mas será quetodos temos a mesma noção deste termo? Não arriscarei muito seafirmar que, se fizéssemos um rápido inquérito entre todas e todosos presentes, obteríamos respostas diversas... Acho portanto útilmaçar-vos alguns minutos com uma referência ao que os Mestre dafilosofia entenderam, ao longo do tempo, sobre o significado deÉtica.

Para Sócrates , a Ética consistia no conhecimento, de forma a vislumbrar, através da felicidade, o fim, o objetivo, dos nossos atos. A Ética tinha como propósito preparar o homem para se conhecer a si próprio, uma vez que, precisamente, é o Conhecimento a base do ato ético. Essencial era o Conhecimento da Lei, das normas sociais vigentes, porquanto, para Sócrates, a obediência à Lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Em suma, para Sócrates, o Conhecimento que subjazia à Ética não se limitava à mensagem do Oráculo de Delfos, o conhecido aforismo do “Conhece-te a ti

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mesmo” – ainda hoje um dos pressupostos ideológicos daMaçonaria especulativa -, mas abrangia necessariamente oconhecimento, a obediência e a atuação respeitadora das leisvigentes na Sociedade, condição essencial para a existência emanutenção do corpo social.

Já para Aristóteles , a Ética podia ser definida como uma busca dafelicidade dentro do âmbito do ser humano, se o Homem seesforçar a atingir a sua excelência. A Felicidade como objetivo eracentral no conceito aristotélico de Ética e consistia na realizaçãohumana e no sucesso que o Homem pretendia obter, para talagindo no seu mais alto grau de excelência, através dodesenvolvimento das suas qualidades de caráter. Esta noção deaperfeiçoamento, de aprimoramento das nossas caraterísticas, embusca da maior aproximação possível da Perfeição também é caraao ideário maçónico.

Platão construiu o seu conceito de Ética em torno da finalidade da condução do Homem ao Bem, um dos valores arquetipicamente existentes no mundo ideal, no plano dos Deuses, que os homens apenas podiam aspirar a emular. Em face deste arquétipo do Bem, a vida humana não se poderia resumir apenas à busca do prazer, mas dever-se-ia dedicar a atingir o valor mais alto do Bem. Para tal, era essencial a ideia da Ordem, ou da Justa Proporção, que consistia no equilíbrio de diversos elementos desembocando no mesmo e justo fim. Designadamente, o Bem atingia-se através da atuação na justa medida, do equilíbrio, entre o Prazer e a Inteligência. Tal Bem, evidentemente – falamos do fundador do Idealismo... – não consistia nas coisas materiais, mas em tudo aquilo que permitia o engrandecimento da alma, ou seja, a ética platónica ensinava que acima dos prazeres, riquezas ou honras

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estava a prática das Virtudes – outro conceito que indubitavelmenteintegra o cerne do pensamento maçónico.

Voltando agora a atenção para a Idade Média, verificamos queSanto Agostinho – talvez o melhor exemplo do pensamentodominante em dez séculos de História do Pensamento Ocidental –tinha, não surpreendentemente, uma noção completamentediferente do conceito de Ética. No paradigma agostiniano, a ÉticaHumana dependia de dois polos: por um lado, Deus, o SupremoBem; por outro, o Pecado Original, afetando toda a Humanidade.Por via deste, o Homem não era intrinsecamente Bom enecessariamente que seria levado ao Mal e aos vícios da carne, anão ser que lograsse seguir uma vida virtuosa, em Deus. ParaAgostinho, a atuação ética pressupunha o domínio da naturezahumana, conspurcada pelo Pecado original, mediante uma vidavirtuosa, através da qual seria possível aceder à Salvação. Paraele, a verdadeira Felicidade está na esperança da Salvação e,portanto, depende da Vida Eterna. Assim, embora Agostinhopartilhasse com Aristóteles a noção da essencialidade da práticadas virtudes e do aprimoramento individual, porque para ele Deus éo princípio e o fim de todas as coisas, a Felicidade é inatingível nodecorrer da vida humana, só sendo alcançada junto de Deus naVida Eterna, para tal sendo indispensável a conduta ética, isto é, avida virtuosa.

Oposto à visão agostiniana da Ética é o conceito que dela teve Nicolau Maquiavel . Refletindo na esfera do Poder, sua obtenção, manutenção e exercício, mas facilmente se extrapolando o seu pensamento para a conduta humana em geral, Maquiavel define como valores essenciais a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, tudo se subordinando a eles, custe o que custar.

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Assim, uma ação só numa perspetiva histórica pode vir a serconsiderada boa ou má, consoante o resultado com ela obtido emprol dos ditos valores essenciais. Esta crua visão facilmente podeser considerada como anética, pois põe o acento tónico nos fins,nos objetivos, cuja obtenção ou não justificaria ou não a açãorealizada. Mas a simples recusa desta noção é, a meu ver,insuficiente. Importa ainda anotar o primeiro aparecimento daprioridade absoluta do coletivo sobre o individual. O indivíduo podeser sacrificado, sem qualquer limite, em prol do interesse coletivo,considerando Maquiavel ser tal perfeitamente ético... se resultar!Esta noção veio a ser desenvolvida amplamente, designadamentepela corrente materialista, nos séculos XIX e XX e, neste últimoséculo, temos visto várias consequências da sua aplicação.Adiante, que a companhia não é das melhores...

Descartes retoma o conceito de que a Ética constitui a realizaçãoda Sabedoria, suficiente para a Felicidade, a qual é por eleconsiderada “a melhor existência que um ser humano pode teresperança de alcançar”. Para ele, a Ética assenta em dois pilaresessenciais: a Virtude e a Felicidade, aquela entendida como umadisposição da vontade para efetuar escolhas de acordo com o juízoda Razão sobre o Bem, esta singelamente entendida como atranquilidade. A noção cartesiana da ética redunda assim nacompatibilização das visões socrática, aristotélica e platónica sobreo tema. O Renascimento na sua mais evidente expressão…

A obra-prima de Baruch de Spinoza tem para nós, maçons, o sugestivo título de A Ética demonstrada à maneira dos geómetras. Está dividida em cinco partes, nas quais trata sucessivamente do Ser, do Homem, dos Afetos, da Servidão humana e da Liberdade. Para Spinoza, a razão e os afetos não se opõem. A própria razão é

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um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades dealegria na vida e evitar ou terminar as circunstâncias causadoras detristeza. Em suma, a Razão é ela mesma um afeto tendente àFelicidade. A ética de Spinoza é a ética da alegria, só ela nosconduz ao amor e à felicidade. Para ele, a Ética não resulta doaltruísmo, bondade ou solidariedade, mas da própria condiçãonatural. Está mais próximo dos clássicos gregos do que de SantoAgostinho. Tal como aqueles, para Spinoza a Felicidade é oobjetivo último da ação humana.

Locke acreditava que a Ética tem que ser demonstradaracionalmente, pois nenhuma regra de conduta moral é válida se asua necessidade não for fundamentada através da Razão. Paraele, os principais fundamentos (racionais, obviamente) das regrasmorais são a busca da Felicidade e o propósito de evitar adeterioração da Sociedade.

A propósito de Razão, o teórico da Razão Pura, Immanuel Kant,relativamente ao conceito de Ética não estabelece nenhum bem oufim que tenha de ser alcançado e não se pronuncia sobre o quetemos de fazer, apenas sobre como devemos atuar. Para ele, o queimporta é a intenção, a coerência entre a Lei e a ação, não o fim.Situa-se claramente nos antípodas do florentino Maquiavel. Sealguma aproximação lhe detetamos é ao pensamento de Sócrates.

Nietsche rejeita uma visão moralista do mundo e atribui os valoreséticos ao campo das emoções, não da Razão. Para ele, o HomemÉtico é aquele que não reprime os seus instintos, desejos eemoções, concretizando-os em atos libertários. Dificilmente sepoderia conceber um conceito mais individualista do que este!

Habermas considera que a Ética depende da valorização da Diferença e da Liberdade Humana, impondo que a Diferença seja

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equiparada à normalidade. A Ética projeta-se em valores como aVida, a Solidariedade, a Cooperação, a Amizade.

Finalizo esta excursão por vários Mestres da filosofia com areferência a Peter Singer , filósofo australiano da Ética Prática.Para Singer, em termos de aplicação prática, Ética e Moral sãosinónimos e enfaticamente ele chama a atenção para algo de quepudemos aperceber-nos ao longo do enunciado de pensamentoscom que os venho maçando: a Ética NÃO É um conjunto deproibições. Como ele cristalinamente ilustra, mentir emcircunstâncias normais é um mal – mas no caso de uma pessoavivendo na Alemanha nazi a quem a Gestapo batesse à porta àprocura de judeus, mentir negando a existência de judeusescondidos nas águas-furtadas da casa era o eticamenteadequado...

Para Singer, Ética é uma perspetiva que concede à Razão umpapel importante nas decisões e os juízos éticos devem serformulados de um ponto de vista universal, isto é, os interessesindividuais ou de grupo não valem mais do que os outros interessesde outros indivíduos ou de outros grupos. O juízo ético é aqueleque procura, em relação a cada problema, determinar a solução oua conduta que possibilite o maior bem, entendido como a maior emelhor satisfação das necessidades possível – ou seja, a maiorFelicidade!

Feita esta resenha do pensamento de vários Mestres, verificamos que, na diversidade dos seus pensamentos, podemos detetar uma linha comum, talvez um pouco surpreendente: a Ética tem essencialmente a ver com a busca e o anseio humanos pela Felicidade! As normas, as imposições ou proibições de condutas que normalmente associamos à Ética não são o cerne do conceito,

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mas as condições para a viabilização dessa busca humana daFelicidade.

Entendemos assim facilmente porque há em diferentes épocas elatitudes tão diferentes conceitos de Ética: porque as condições devida e de enquadramento social de cada época e latitude tornaramdiferentes as formas de busca e de tentativa de concretização dohumano anseio pela Felicidade.

Sendo assim, compreende-se que é normal a primeira afirmaçãoque hoje fiz: cada um dos presentes terá uma diferente noção deÉtica porque, embora de forma porventura subtil, a Felicidade quecada um busca é diferente da dos demais, é própria, pessoal eintransmissível.

Mas, sendo assim, que denominador comum poderei eu sugerirhoje, aqui e agora, sobre Ética, de forma que seja aceitável para osapressados espíritos de hoje, inundados de informação tãoabundante que nem sequer logramos, por vezes, sobre ela incidirum juízo verdadeiramente crítico?

Sem grande preocupação de rigor científico – por evidente econfessada falta de capacidade para tal -, mas procurando ilustrar oconceito de uma forma sugestiva, gostaria de vos propor umentendimento de Ética que julgo ser uma noção completa, isto é,com princípios, meios e fins:

ÉTICA É O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM ADETERMINAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS MEIOS À NOSSADISPOSIÇÃO PARA ATINGIRMOS OS FINS A QUE NOSPROPOMOS.

Atenção que Ética não é uma declaração de princípios. Ética é a utilização dos princípios por cada um adotados. Um solene conjunto de princípios, por muito bonitos ou consensuais que

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sejam, que serve apenas para eles serem invocados, declarados,apregoados, mas que na realidade não são utilizados, é como acoleção de porcelanas da minha tia-avó: só serve para estarexposta na sala e ser exibida às visitas! Não passa de bacocamanifestação de vaidade e fútil exibição de pretensaspreciosidades, alegadamente valiosas, mas realmente inúteis! Emnada e para nada releva ou interessa apregoar ou invocar ouproclamar solenes princípios se estes não passarem de palavrassoltas em ocasiões julgadas oportunas e não forem efetivamentepraticados.

A Ética não está nos princípios declarados, está nos princípiospraticados. Não está nas palavras, está nos atos. Não está nosconsensos formados, está nas cooperações levadas a cabo. Nãoestá nas intenções, está nas concretizações. Não está nasjustificações, está nas consequências. Não está dentro de cada umde nós, está no que cada um de nós projeta para o exterior de si.

A Ética não é um conceito estático, é uma aplicação dinâmica. OHomem não É ético. O Homem sempre, em cada momento,renova-se e FAZ-SE Ético, em cada decisão, em cada escolha, emcada ato.

Só temos verdadeiramente Valores, ou seja, Princípios, se osutilizamos SEMPRE para conformarmos os nossos atos naconcretização dos nossos objetivos (e sempre é sempre: quandonos convém e principalmente quando não nos convém).

PRINCÍPIOS que determinam os nossos MEIOS para atingirmos osnossos FINS – esta a noção de Ética que considero adequada paratodos.

E esta noção de Ética, bem vistas as coisas, não é limitadora, é construtora. Construtora da nossa personalidade e da nossa

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conduta. Construtora da nossa imagem de nós perante nóspróprios. Construtora do conceito que granjeamos dos outros emrelação a nós. Construtora do que somos, do que fazemos, do queconseguimos. Construtora do sentido das nossas vidas.Construtora das nossas vitórias, mas também construtora dasuperação dos nossos desaires. Construtora da nossa Vida, donosso lugar na Vida e da nossa legítima fruição da Vida.Construtora, em suma, da nossa FELICIDADE.

Afinal os Mestres tinham razão! Por isso os reconhecemos comotal!

Rui Bandeira

9/5/2015

Colóquio da GLFP A Maçonaria no século XXI

Painel Desafios éticos no Mundo atual

Bibliografia:

https://jfariaadvogados.wordpress.com/2010/01/27/a-etica-de-socrates/,consultado em 8/4/2015.

http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-em-aristoteles/23318/ ,consultado em 8/4/2015.

http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-platonica-e-aristotelica/87414/, consultado em 8/4/2015.

https://sentadonalua.wordpress.com/2012/07/12/a-etica-de-santo-agostinhoconsultado em 11/4/2015.

http://descartesfilosofia.blogspot.pt/p/etica.html, consultado em11/4/2015.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel , consultado em11/420/15.

http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=79 , consultadoem 11/4/2015.

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_%28livro%29 , consultadoem 11/4/2015.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_Espinoza , consultado em11/4/2015.

http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20%C3%89TICA%20DEESPINOSA.pdf, consultado em 11/4/2015.

http://www.efdeportes.com/efd129/a-etica-revisitada-olhares-atraves-da-historia.htm, consultado em 11/4/15

http://afilosofiadaintegracao.blogspot.pt/2009/03/etica-de-kant.html ,consultado em 11/4/2015.

Peter Singer, Ética Prática, consultada em 11/4/2015, emhttp://docente.ifrn.edu.br/edneysilva/etica-pratica

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"Os que ficam pelo caminho" (republicação)

May 18, 2015

Hoje republico um texto de um dos membros do painel deescritores deste blogue.

O texto em questão é da autoria do Paulo M. e para além de ser umtexto que reflete um pouco sobre a caminhada e a busca pessoalde cada um pode fazer na Maçonaria. Para além disso suscitou umdebate interessante na sua "caixa de comentários".

O texto pode ser lido no seu original aqui.

Agora faço a transcrição do respetivo texto:

""Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade!" Assim escreveu o Rui Bandeira num texto publicado em 2008, ainda não tinha eu recebido o meu avental branco. Na altura, quando o li, achei estranho o tom, a naturalidade, e o que tomei por critérios de seleção apertadíssimos. Recordo-me de ter pensado algo como "Estes tipos não brincam em serviço...

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Devem ser bestialmente exigentes, e só escolhem os melhorespara progredir... Isto devem ser chumbos de três em pipa..."

Estava tão enganado!

Com o tempo vim a perceber que dificilmente a Loja "chumbava"fosse quem fosse, a não ser nas circunstâncias mais excecionais,mas que, não obstante, o Rui tinha razão: havia muitos que ficavampelo caminho. Mas se a Loja não chumbava ou impedia aprogressão, quem o fazia então? Ora... o próprio, quemmais?! Comecei a perceber que por detrás de cada nome que erachamado no início da sessão pelo Secretário e a que se seguia umsilêncio em vez de ser anunciada a presença se encontrava umIrmão que não viera. E que os nomes que eu ouvia repetidamente ea que não associava uma cara eram de Irmãos que, de todo, nãoapareciam.

Uns - já Mestres - haviam-se desencantado, suponho, com a rotinada vida da Loja, e tinham agora outros entreténs - razão por quenão punham os pés numa Sessão fazia tempo. Outros tinham,simplesmente, prioridades - frequentemente profissionais oufamiliares - que se impunham sobre a presença em Loja, ou nãotinham de todo disponibilidade para integrar a Linha deSucessão assumindo um Ofício. Uns e outros lá iam aparecendo,uns mais e outros menos frequentemente, mas algunsdesapareciam completamente de circulação.

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A outros - ainda Companheiros - sucedia perderem o estímulo, ounão aguentarem tanto tempo sem poder falar e sem ser exaltados aMestre. Ao fim de um tempo, também alguns destes começavam afaltar, a envolver-se pouco, e a certa altura eram, também eles, umdesses nomes que se ouve e se associa a uma cara, mas que setem uma certa nostalgia de não ver há meses...

Por fim, alguns Aprendizes eram iniciados, achavam graça à coisa,mas não tinham vida nem disponibilidade para pertencer a umaLoja que se reúne duas vezes por mês em dias e horas certos.Outros, quiçá mal conduzidos ou defeituosamente escrutinados,acabavam por se aperceber que a Maçonaria não lhes fazia vibrarcorda nenhuma, e desapareciam.

Alguns interiorizavam que não queriam mais pertencer àMaçonaria, e pediam para sair. Outros, divididos entre o querer e onão poder, não assumiam a impossibilidade de permanecer, e iamficando sem ficar. A certa altura, já nem as quotas pagavam, nemasseguravam os "mínimos olímpicos" da assiduidade - nós nemsomos esquisitos: uma presença por ano basta-nos - e tinha que selhes chamar a atenção para que cumprissem com os seus deveres.

E de facto confirmei ser precisamente assim, como o Rui tinha dito: há os que ficam pelo caminho, e os que vão progredindo de degrau

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em degrau, uns mais depressa e outros mais lentamente. Porvezes, alguns metem-se por becos sem saída e, ou adormecem, oucorrigem o percurso. Mas se é sempre triste vermos um irmãosentar-se na beira do caminho, descalçar as botas e adormecerencostado a uma árvore - pois sabemos que a maioria ficará alipara sempre - já nos enche de orgulho ver um irmão subir mais umdegrau, assumir mais uma responsabilidade, receber mais umreconhecimento.

Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que oescolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - poispara isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estespertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado,desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé.E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só paraaqueles que de facto queiram - e façam por isso."

Autor: Paulo M.

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Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP àAssembleia de Grande Loja no equinócio da primavera

May 25, 2015

A importância dos Princípios e Valores

Homenagem a Amadeu Ferreira

(Amadeu Ferreira (1950-2015), personalidade multifacetada: professor universitário, jurista impulsionador da criação dos estudos de Valores Mobiliários na Universidade e co-redator do Código de "Valores Mobiliários", 15 anos vice-presidente da CMVM, escritor, poeta, romancista, contista, dramaturgo, ficcionista, ensaísta, tradutor, assumindo o seu nome civil ou vários pseudónimos, entre eles Fracisco Niebro, Marcus Miranda e Fonso Roixo. Génio, inteligência, cultura, simpatia, bondade, e sobretudo muita

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simplicidade, são qualidades que coloca ao serviço das causas queabraça, entre elas a cultura e a literatura mirandesas,entregando-se a tarefas hercúleas que tornam Amadeu Ferreira afigura cimeira da literatura mirandesa. Para além da sua vastíssimaobra literária em português e mirandês, publicou traduções paramirandês de Camões – poesia lírica e Os Lusíadas, de grandeparte da poesia de Fernando Pessoa, nomeadamente aMensagem, da maior parte dos poetas portugueses do século XX,mas também dos latinos Horácio, Catulo e Virgílio, e ainda de "OsQuatro Evangelhos", a partir da Vulgata latina de São Jerónimo,assim como "O Cântico dos Cânticos - O Mais Alto Cantar deSalomão". A respeito das muitas traduções que realizou paramirandês, referiu à imprensa: "É preocupação minha que osprincipais poetas da humanidade também falem em mirandês".Muitos dos seus poemas já se encontram traduzidos em váriaslínguas. Comendador da Ordem do Mérito da RepúblicaPortuguesa desde 2004, a sua biografia "O Fio das Lembranças –Biografia de Amadeu Ferreira", da autoria de Teresa MartinsMarques, publicou-se na Âncora Editora em Março 2015.)

No passado 1 de Março, partiu para o Oriente Eterno um dosmaiores amigos que tive: Amadeu Ferreira. Apesar de ser apenasquatro anos mais velho que eu, desde os meus dezasseis anos queo seu exemplo e linha de pensamento moldaram a minha forma deser para sempre. Mirandês de nascença e de vida, foi GrandeHomem em variadíssimos domínios, por isso, em depoimento quefiz para a sua biografia lançada pela Âncora editora no passado 5de Março, escrevi:

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"Para mim falar do Amadeu Ferreira, é sobretudo celebrar oHomem, que pode até nem ser inteligente, nem sábio, nem génio,nem profeta, mas que é antes de mais Homem de Valores, porqueincorporou e pratica todos os dias os valores que fizeram com quea humanidade pulasse e avançasse no sentido certo: tudo o resto évanidade. Obrigado Amadeu, fui um sortudo dos maiores, porquecruzei o tempo e a vida de um Profeta".

Amadeu Ferreira não era maçom, mas várias vezes nosacompanhou em ágapes de Grande Loja, porque subscrevia porinteiro os valores nobres da maçonaria.

Hoje, aqui, conjuntamente convosco, não posso deixar de evocar asua memória, citando depoimento seu, para a sua única neta, queconta agora com apenas seis meses de idade, onde ele lhe deixacomo único conselho para a vida, pautar-se e reger-se porPrincípios e Valores fundamentais: todos nós podemos ser essaneta, e todos nós podemos ser continuadores geracionais da suamensagem, uma verdadeira mensagem maçónica.

E Amadeu Ferreira dirige-se nestes moldes à neta:

"O caminho que cada um tem de seguir para viver a sua vida, é umcaminho que ele próprio tem de encontrar e não seguir caminhosalheios. Pode haver sugestões, pode haver dicas, pode haver tudoisso, mas cada um tem de encontrar o seu caminho. Se o nãoquiser fazer ou não o conseguir fazer, fica perdido. Isto é a primeiraideia que eu quero deixar. Uma ideia de confiança na pessoa, umaideia de autoconfiança em si própria para encontrar o seu caminho,porque de facto enquanto vivermos, nunca chegamos ao fim docaminho. O caminho é uma procura constante.

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Não há respostas prévias, não há soluções que as pessoastenham. Por isso, vamos encontrando a resposta a cada momento,vamo-la adaptando, ajustando. A ideia de que há sistemasfilosóficos e morais que nos dão resposta para tudo é uma ilusão.Todo o pensamento deve ser guiado por princípios e valores, maseu não consigo ver mais do que dois ou três desses princípiosfundamentais, daqueles que valem a pena. Tendo em conta aminha experiência de vida, há três princípios ou valores queconsidero fundamentais: a liberdade, a humanidade e apositividade.

Primeiro, um princípio de liberdade, sem o qual não temosdignidade, nem nos autonomizamos como pessoas. O princípio daliberdade constitui e alberga o fundamento da dignidade humana.Ser livre significa pensar pela sua cabeça, mas de acordo com asua experiência, com a experiência que temos em cada momento.

Depois um segundo princípio, que é um princípio de humanidade.O importante são as pessoas. Nós temos de viver com as pessoas.Temos de respeitar as pessoas, compreendê-las, orientarmo-nospara elas, mesmo quando nos desiludem. As pessoas são o maisimportante que há no mundo. Portanto, esse princípio dehumanidade, é absolutamente essencial. Como costumo dizer: aspessoas são o único monumento que existe à face da terra, tudo oresto é obra.

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Há um terceiro princípio essencial, a que costumo chamar princípiode positividade, isto é: vale sempre a pena fazer coisas. O mundopode ser transformado. Temos de ter ideias no sentido detransformar o mundo. O mundo não está feito, não está acabado,temos capacidade de intervir nele e portanto, cada um de nós podeintervir nesse mundo e pode ajudar a transformá-lo, porque desde omomento em que nascemos, o mundo já não é o mesmo, só pelosimples facto de termos nascido. Isso traz-nos umaresponsabilidade muito grande. A ideia de que não vale a penafazer nada, de que vai tudo sempre a bater ao mesmo, é uma ideiafalsa.

Este princípio de positividade, de que vale a pena interagir comocidadãos de corpo inteiro, não ser indiferente, é inquestionável.

Estes princípios de liberdade, de humanidade e de positividade,são irrenunciáveis, absolutamente essenciais e sem os quais, avida não faz sentido. Sem os quais a dignidade humana não temfundamento".

Também eu meus queridos irmãos, me tenho esforçado para incutir estes princípios fundamentais na ação dos maçons, por isso referi na minha prancha de tomada de posse como G:.M:: "...no nosso tempo, a liberdade, passou de mera ordem metafísica, para um plano, em que deve afirma-se como a primeira exigência do maçom moderno". Já em relação ao princípio de Humanidade, referi: "Não nascemos maçons, tornamo-nos maçons. E detrás disto há a ideia de que somos os criadores da nossa própria realidade, seja

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fantástica ou seja a realidade que realiza, por isso cada maçom, noseio da comunidade fraterna de irmãos, é responsável pela suaprópria humanização, porque esta não lhe é dada originalmente,ela é fruto de uma luta que edifica a construção permanente: acriação, a luz, a retidão, a separação permanente entre a luz e astrevas, uma caminhada humanística que nos deve constantementeaproximar do próximo".

Relativamente ao princípio de Positividade, fazer todos os diaspequenas coisas para transformar o mundo, foi sempre o grandedesígnio da maçonaria universal, e com perseverança, muita coisatemos conseguido, mas temos que continuar.

E continua Amadeu Ferreira, a falar assim para a neta:

"Eu faço derivar todo o comportamento humano a partir destesprincípios, incluindo o meu. Se falha algum deles, ficamos mancos,desorientamo-nos, perdemo-nos. São princípios que apontam paraum caminho que não é linear, mas difícil. É um caminho que, emrelação a cada um deles, nós nos enganamos, temos de andarpara trás e para a frente, para ajustar agulhas, em relação aosquais muitas vezes não sabemos que rumo seguir.

Temos que o procurar constantemente. Com a certeza de que todos esses princípios comportam riscos elevadíssimos. Aliás, viver, é uma coisa maravilhosa, mas é um risco. Onde não há risco não há ganho. Por isso vamos encontrar pessoas que apesar de tudo são uns escroques que nos fazem mal, mas não podemos desistir da humanidade, porque se nós perdermos a nossa própria

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humanidade, coisificamo-nos e portanto, perdemos também essadignidade.

Vamos encontrar um Planeta Terra mau, pessoas maldosas, quenos fazem mal, inclusivamente, pessoas que nos querem mal.Encontramos guerras desde o início da humanidade, holocaustos,mas aplicar o princípio da positividade à humanidade é possível,pois ela pode ser transformada. Já fomos selvagens, já fomoscanibais. Houve alturas em que saíamos de umas guerras para asoutras. Só vivíamos de sangue, em que a profissão mais nobre eraa profissão de guerreiro e a profissão dos nobres era a guerra. Nósjá vivemos esse tempo. Hoje não é assim, mas o que vemos hojepelo mundo fora? Gente a matar-se, gente que não quer saber unsdos outros.

Apesar de tudo, este princípio da humanidade tem de serinquestionável e não desistir. O princípio da não desistênciaperante a capacidade que temos de melhorar as coisas, nem queseja um grãozinho. E não podemos ter a pretensão de ver o quemelhoramos, muitas vezes não vemos. A nossa passagem é comoa marca de água nas notas de banco, não se vê, mas está lá. E,quando se trata de um momento como nas notas, de marca deágua, de ver, de distinguir o verdadeiro do falso, isso ajuda.

Olhamos para a vida, para a terra, vemos todos os grãozinhos de poeira que estão deitados? Não vemos, mas estão lá. Fazem

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montanhas, quando se multiplicam por milhões. E os atos humanostambém são assim. Quando se multiplicam por milhões, os atosbons produzem resultados. Às vezes há retrocessos, porque ahistória não caminha sempre para a frente e nós temos de tercapacidade para aguentar esses recuos. Mas esse princípio defacto positivo, de capacidade de transformação, de confiança emnós é absolutamente essencial.

Perante este princípio, não há lugar a desistência, não há lugar afugas, porque às vezes, apetece-nos fugir, mas temos de enfrentar.Este princípio de humanidade conjugado com a nossa liberdade,que nos ajuda a encontrar o nosso caminho e não o dos outros.

Diria à minha neta: sê tu mesma dentro deste caminho, livre comintervenção de cidadã, com intervenção positiva, no sentido de queo mundo é transformável. O mundo onde nasceste não estátotalmente feito, sobrou um bocadinho para tu fazeres. Não hágrandes coisas, grandes feitos, isso não existe. Todas as coisasque nós fazemos são pequenas coisas. E as únicas grandes coisasque há são as pequenas coisas. Um sorriso, um amigo que se faz,uma mão que se dá.

E nunca em circunstância alguma, fazermos aquilo que nosenvergonha a nós próprios e nos obriga a olhar para o chão. Temosde olhar para cima. Espinha direita! Isto é a coisa mais simples queexiste e mais complicada ao mesmo tempo.

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Eu faria derivar todo o potencial destes princípios e desta postura.Tudo o que nós temos na vida é uma conquista. Cada dia é umaconquista, cada instante é uma conquista e isto conduz-nos a umprincípio de humildade. Humildade no sentido de liberdade, devariação, de não chegar a conclusões, de positividade, detransformabilidade das coisas".

E reparem bem meus irmãos, também este princípio de humildadedeve estar bem presente no maçom, porque quem se humilha serásempre exaltado.

E termina assim Amadeu Ferreira a carta à sua neta:

"Estou convencido de que a minha neta, tal como a humanidade,irá encontrando o seu caminho, e muito me orgulharei, se for umapessoa de princípios e valores, como estes que referi, na base dasua dignidade, da sua vida e da sua felicidade, porque felicidadeem geral não existe. O que há são momentos felizes que nósconstruímos. A felicidade é uma construção nossa e nósconstruímos esses momentos de felicidade, fruto do momento quevivemos. A felicidade é equilíbrio com nós próprios, nada mais queisso. Não é uma coisa do outro mundo, não é o céu na terra. Issodo céu é uma chatice.

Fora disto, que mais eu lhe poderia querer dizer? Mais nada. Istodar-lhe-á alegria, que é uma coisa fantástica, permitir-lhe-áencontrar o sorriso certo e mais bonito em cada momento, que é acoisa que mais nos pode fazer bem".

E para terminar, também eu quero vincar a importância dos sorrisos, por isso referi na prancha do último solstício: "já ouvi dizer que não se riem os animais, talvez, sarcasticamente as hienas, e

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nós queremos tanto aprender o valor do riso fraterno, por issopediremos sempre muito pouco: apenas ser felizes, e talvez assimfaçamos o mundo mais feliz, e por contágio, sejamos também nóstodos mais felizes".

E com esta singela, mas sentida homenagem a Amadeu Ferreira,Homem de Princípios e Valores, foi uma mensagem forte que hojevos quis deixar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho,fazendo o mundo mais feliz e, por contágio, sermos todos maisfelizes, cumprindo os Princípios e Valores, para consolidar aedificação da nossa Ordem, a bem da Humanidade,

À Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Lisboa, 21 de Março 6015

Júlio Meirinhos

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No século XXI fará sentido ser-se maçon? - I

June 01, 2015

Chama-se "Idade das Luzes" ao período que decorreu desde 1650até 1780, aproximadamente. Nesse período, as forças intelectuaise culturais na Europa Ocidental davam preponderância à razão, àanálise e ao individualismo, por oposição às linhas tradicionais daautoridade. Esta visão era promovida por filósofos e pensadoresnos círculos em que estes se movimentavam, como ascoffeehouses, que eram estabelecimentos comerciais onde seconsumia café, chá e chocolate - mas não bebidas alcoólicas - eonde se trocavam ideias desde as mais fúteis - como a moda daépoca, os escândalos da semana ou a coscuvilhice do dia - aoutras mais elevadas - como as ciências naturais, as últimasdescobertas e invenções, e mesmo as mais recentes ideias ecorrentes da filosofia.

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Estas novas ideias desafiavam frontalmente a autorizade deinstituições profundamente enraizadas no tecido social,especialmente a Igreja Católica, e a possibilidade de reformar asociedade através da tolerância, ciência e ceticismo era temapermanente. Muitas das ideias discutida, por porem em causa aautoridade da Igreja e da Coroa, poderiam ser interpretadas comoheresia, traição ou ambas. Era, assim, essencial alguma discriçãona sua discussão. Urgia encontrar-se locais discretos ondepudessem ser debatidas.

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Numa altura em que o tijolo - mais barato, fácil e rápido de produzir- tinha substituído a pedra quase na sua totalidade, as lojasmaçónicas operativas que nesta altura ainda existiam -chamar-lhes-íamos hoje algo como "associações de construtorescivis" - seriam mais ou menos tão anacrónicas como as nossasatuais associações desportivas e culturais de bairro, que sósubsistem graças a um balcão de "comes e bebes" cuja exploraçãosuporta as despesas correntes e vai adiando uma morte anunciada.Constituíam, assim, local privilegiado de encontro discreto de quempretendesse encontrar-se em local menos exposto do que umacoffeehouse.

Havia, contudo, um obstáculo: muitas eram de acesso reservado a membros. Os verdadeiros artífices da pedra já quase não existiam, encontrando-se os seus filhos agora no seu lugar, dando continuidade a antigos usos e costumes relacionados com a profissão, transmitindo de geração em geração segredos centenários cujo propósito se perdera havia muito e constituiam a aura de um certo mistério que era apenas transmitida a novos membros. As necessidades complementares de uns e outros terão

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levado a que os pensadores fossem aceites como membros daslojas maçónicas operativas. Não havia, pelos primeiros, qualquerinteresse em perturbar o que já existia, pelo que todos os antigosusos se mantiveram. Porém, ao introduzir o debate filosófico ecientífico, os novos membros terão acabado por conduzir osantigos grémios a um rumo totalmente distinto. Com o tempo, asligações ao trabalho da pedra foram-se transformando em merasreferências simbólicas, e as ideias passaram a constituir aquilo que,de facto, se trabalhava. Surgia a maçonaria especulativa e foi nestecontexto que, em 1717, foi fundada a Grande Loja Unida deInglaterra - há quase 3 séculos, portanto.

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Poderia dizer-se - e há quem diga - que a maçonaria, surgindo poroposição a um statu quo, é "inimiga" das instituições que sãocontrárias aos princípios do racionalismo, da dúvida metódica, ouda tolerância religiosa. É uma forma falaciosa de colocar as coisas.A maçonaria não confronta religiões, antes defende ideias; não sefoca nas instituições, mas antes no indivíduo; mas, acima de tudo,longe de ser "contra" o que quer que seja, é antes "a favor" de quecada um possa exercer a liberdade de decidir o seu futuro, deescolher o seu lugar no mundo, e de construir, no seu interior, aidentidade que o faça mais feliz.

Num mundo em que a tolerância é constantemente posta em causa, em que a autoridade militar, religiosa e económica se sobrepõe, frequentemente, à autoridade moral, aos princípios e aos bens maiores, e em que o pensamento é desvalorizado a favor da ação (tantas vezes mal orientada...), a maçonaria continua constituir a egrégora emanente de quantos acreditam que a existência humana não é "só isto" e que, inconformados com o que

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são hoje, almejam a ser melhores - e aqui, cada um sabe de si, e oque escolheu para se aperfeiçoar.

É esta, a meu ver, a ideia basilar da maçonaria: a de que é possível- e desejável - a construção de uma sociedade em que cada um,contribuindo com a sua diversidade no garante de que a tolerânciae o respeito mútuo serão princípios universais e reciprocados,possa ser feliz à sua maneira. E isto continua a ser pertinente, hojecomo há três séculos.

Paulo M.

http://en.wikipedia.org/wiki/Age_of_Enlightenment

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No século XXI fará sentido ser-se maçon? - II

June 08, 2015

Uma das características da maçonaria é a sua aparente aversão por tudo quanto seja novo. Aqui, a maçonaria trai claramente a sua raiz anglo-saxónica tradicionalista, com a primazia do costume sobre o estatuído, da tradição sobre a modernidade, em suma, da imutabilidade sobre a inovação. Esta tendência é, simultaneamente, uma das suas maiores fraquezas e uma das suas maiores forças. Em 300 anos a maçonaria não mudou grande coisa; de facto, os princípios da maçonaria são, hoje, os mesmos que eram há 300 anos. Houve, porém, suficiente bom-senso

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aquando da sua instituição para que estes se tivessem mantidorelevantes até aos dias de hoje. Contudo, à boa formaanglo-saxónica, os tais "princípios" não estão propriamente escritosnuma lista - precisamente do mesmo modo que o Reino Unido nãotem uma Constituição, mas se considera ser esta o conjunto dosdocumentos legais, sentenças judiciais, costumes, tratados e outros- contrariamente com o que sucede com a maioria dos países, quetêm uma constituição escrita e claramente delimitada. Podeconsiderar-se, todavia, que os que se seguem corresponderão,grosso modo, ao que a Maçonaria tem como propósito.

Tornar homens bons em homens melhores. A maçonaria nunca pretendeu ser um refúgio de homens caídos, ou um reformatório de almas perdidas. Não cura o alcoolismo, não dá aconselhamento psiquiátrico, e muito menos transforma bandidos em anjos. A maçonaria sempre teve, e terá, elevados padrões de exigência moral que se aplicam quer aos seus membros quer àqueles que pretendem sê-lo, e por isso os seus regulamentos e costumes preveem especificamente que pessoas que enfermem das limitações acima descritas não integrem as suas fileiras - e sejam mais tarde discretamente afastadas se a triagem não tiver sido eficaz. O estrito cumprimento das leis dos países em que está implantada, bem como o dos deveres cívicos, familiares, laborais e religiosos, são algo que se espera - mais, se exige - de qualquer maçon, sob pena de eventual exclusão ou mesmo expulsão da Ordem. Quanto à forma como, cumpridos estes requisitos mínimos, um homem bom se torna melhor, essa dependerá exclusivamente da vontade de cada um, daquilo que escolha melhorar e de onde pretenda chegar. É um caminho estritamente individual e profundamente pessoal, do qual a maioria nunca fala ao longo de

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toda uma vida.

Fomentar e nutrir o amor fraternal. Organizados em lojas e reunindo-se regularmente em sessões - que, tipicamente, contam entre uma e três dezenas de presenças - os maçons executam rituais razoavelmente semelhantes em todo o mundo, o que torna as cerimónias maçónicas num elo de ligação, numa experiência comum entre homens oriundos das mais diversas proveniências entre quem se fomenta o espírito de grupo e as ligações próximas e de longo prazo. Ao atravessar barreiras sociais, económicas, raciais, religiosas e políticas a maçonaria congrega homens que, de outro modo, nunca se teriam conhecido, e aqui se tratam entre si por "irmão" e por tu, independentemente das posições, cargos e honrarias que uns e outros tenham ou mereçam (ou não...) dentro ou fora da maçonaria. A fraternidade e a tolerância são valores preponderantes por serem conducentes à harmonia que se procura e que é essencial ao bom funcionamento das lojas e da sociedade em geral. Construir e promover a auto-confiança. A loja constitui um microcosmos da sociedade envolvente, quer na sua diversidade, quer na multiplicidade de ofícios que aí existem. Tal como uma associação tem o seu presidente, o seu tesoureiro, o seu secretário, etc., também em cada loja há ofícios semelhantes - e alguns outros diferentes - que vão sendo ocupados sucessivamente por diferentes pessoas. No processo, não só estas prestam um serviço à loja, como recebem da loja a possibilidade de enriquecer a sua experiência no exercício do cargo. Aprende-se, assim, coisas simples - e fastidiosas, mas necessárias! - como elaborar um ata; outras, atemorizantes para tantos, como falar em público

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exprimindo uma ideia que antecipadamente se tenha elaborado; ouperceções mais profundas, como a de que um cargo é, ou deveser, acima de tudo, a prestação de um serviço, e não umamanifestação de poder.

Cultivar a solidariedade. Os maçons são encorajados a tomar parteativa na comunidade, e a prestar auxílio aos mais carenciados namedida das possibilidades de cada um. Se bem que a maçonarianão seja uma instituição de beneficência, no sentido de que estenão é o seu propósito fundamental, é esta, contudo, uma dasvertentes de enriquecimento pessoal que fomenta e promove. Nemsempre o auxílio prestado é em espécie; rapidamente se aprendeque a maior dádiva é que cada um dê um pouco de si, seja do seutempo, do seu saber, ou mesmo do seu sangue - como a LojaMestre Affonso Domingues tem promovido intermitentemente háum número apreciável de anos.

Buscar a Verdade. Nem as lojas são locais de culto, nem asssessões e rituais maçónicos foram concebidos enquanto substitutode uma ida à igrejam templo, mesquita ou similar. A maçonariaregular exorta cada um dos seus membros a cumprir os deveresque a sua crença lhe imponham. Simultaneamente, o princípio datolerância é constantemente recordado, especialmente no queconcerne a tolerância religiosa, uma vez que esta estámatricialmente na origem da Maçonaria. Espera-se de cada um queprocure (e cumpra com) a Verdade que lhe seja mais adequada, eque aceite a diversidade de percursos que, frequentemente, serãotantos quanto aqueles que os percorrem.

Baixar a guarda. Reduzida ao essencial, pode dizer-se que a maçonaria proporciona aos seus membros um contexto onde, por algum tempo, se podem refugiar das lutas e fadigas do mundo

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exterior, despir as cotas de malha e baixar as espadas das lutas dodia-a-dia. É para isso que se cultiva um ambiente de confiança, eque os assuntos fraturantes e a própria discórdia são deixados àporta do Templo. Longe de constituir um momento de fraqueza,esta vulnerabilização deliberada acaba por se traduzir nummomento te repouso, de descontração, e mesmo de um certoabandono, que ajuda a retemperar-nos as forças. Como se vê, a maçonaria só aparentemente é avessa ao que énovo; a mensagem da maçonaria é que, de tão intemporal, nãocarece, porventura, de modernização...

Paulo M.

http://www.dummies.com/how-to/content/how-freemasonry-is-still-relevant-today.html

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Os limites da Tolerância (republicação)

June 15, 2015

Durante algumas semanas irei republicar alguns textos já escritos epublicados por alguns dos autores do blogue que considero atuaise de grande relevância para conhecimento dos leitores quefrequentam este espaço.O artigo de hoje foi escrito pelo Rui Bandeira e pode ser lido no seuoriginal aqui.

"Quando se fala de Tolerância, é frequente vir à baila a questãodos seus limites. Existe alguma tendência para se considerar existiralgo de contraditório entre a Tolerância e a consideração deexistência de limites à mesma. A meu ver, esta é uma falsaquestão, que um pouco de reflexão facilmente resolve.

Antes do mais, é preciso entender que o conceito de Tolerância se aplica a crenças, a ideias, ao pensamento e respetiva liberdade, às pessoas e sua forma, estilo e condições de vida, mas nada tem a ver com o juízo sobre atos. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar, independentemente da sua diferença em relação a si e ao seu entendimento, a crença alheia, as ideias e o pensamento de outrem, pois a liberdade de crença e de pensamento são expressões fundamentais da dignidade humana. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar o outro, quaisquer que sejam as diferenças que vejamos nele em relação a nós, porque o outro é essencialmente igual a mim, não ferindo essa essencial igualdade as particulares diferenças entre nós existentes. Mas não é do domínio da Tolerância o juízo sobre os atos. O juízo sobre atos

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efetua-se em função da moral e das regras sociais e legaisvigentes.

Explicitando um pouco mais: tenho o dever de aceitar alguém que pense de forma diferente da minha, que tenha uma crença religiosa diferente da minha, uma orientação sexual diferente da minha, um estilo de vida diferente do meu. Mas já não tenho idêntico dever em relação a atos concretos desse outro que se revelem violadores da lei, da moral ou da própria noção de Tolerância. Designadamente, não tenho que tolerar manifestações de intolerância em relação a mim, às minhas crenças e convicções, tal como não só não tenho que tolerar como não devo fazê-lo atos criminosos, cruéis, degradantes ou simplesmente violadores das consensuais regras de comportamento social. Temos o dever de tolerar, de aceitar, a diferença - no estilo, nas ideias, nas crenças, no aspeto ou nas condições individuais. Por outro lado, temos o direito e o dever de ajuizar, de exercer o nosso sentido crítico, relativamente a ações concretas. Ninguém vive isolado da Sociedade e todos têm de cumprir as regras sociais que viabilizam a sã convivência de todos com todos. Consequentemente, é uma simples questão de bom senso que devemos aceitar, valorizar, integrar as diferenças. Quem é diferente, tem direito a sê-lo. Quem pensa diferente, tem o direito de assim fazer. Mas, por outro lado, o direito à diferença não legitima a atuação desconforme com as regras sociais, legais, morais, em vigor na Sociedade em causa. Ninguém pode pretender só gozar das vantagens sem suportar os inconvenientes. Quem vive em Sociedade tem o direito de exigir que esta e os demais

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aceitem as suas diferentes ideias, conceções, condição. Mas tem o correlativo dever de respeitar as normas sociais, legais e morais vigentes. Se o não quiser fazer, deve afastar-se para onde vigorem normas que esteja disposto a seguir. As Sociedades evoluem e é bom que assim seja. Também por isso é inestimável e rica a diferença. Também por isso devemos aceitá-la e aceitar que quem defende ideias ou conceções ou condições diversas da norma procure convencer os demais da bondade das suas escolhas. Isso é Liberdade, isso é Democracia. Nem uma, nem outra subsistem sem a indispensável Tolerância da Diversidade. Mas precisamente por isso - afinal porque quem quer e merece ser respeitado tem o dever de respeitar - o direito de defesa das ideias e convicções, o direito a tentar convencer os demais, o direito a pregar a evolução pretendida, não se confunde com qualquer pretensão de agir como se pretende, se em contrário da lei, do consenso social, da postura moral da Sociedade em que se está inserido. Resumindo: a Tolerância obriga a respeitar a Diversidade e a diferença; impõe a aceitação da divulgação, da busca de convencimento, mesmo da propaganda das ideias ou conceções diversas. Mas não que se aceitem condutas prevaricadoras do que está legal e socialmente vigente - enquanto o estiver. Por isso entendo que os domínios da Tolerância e do Juízo sobre os atos concretos são diferentes. As ideias, as conceções, as condições confrontam-se, debatem-se, mutuamente se influenciam, enfim interagem no domínio da Liberdade e, assim, da mútua Tolerância. Os atos, esses, necessariamente que têm de respeitar o

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estabelecido enquanto estabelecido estiver. Se assim não for, oque é aplicável à violação do consenso social não é a Tolerância -é a Justiça, seja sobre a forma de Justiça formal, seja enquantocensura social seja no domínio do juízo individual. Portanto, onde tem lugar a Tolerância, esta não tem limites. Ondehá limites, sejam legais, sejam de normas sociais ou morais, não seestá no domínio da Tolerância, mas no domínio do tão justo quantopossível juízo concreto sobre atos concretos." Rui Bandeira

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O maçom e o conflito (republicação)

June 22, 2015

O texto que republico hoje saiu da pena do Rui Bandeira e pode serconsultado aqui e tem uma perspetiva com a qual subscrevo naíntegra.

"O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não.Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis.Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: aforça, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, acooperação, a hierarquização, etc..

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto comoqualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desdelogo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar aTolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nemleva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelocontrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bemgerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bemgerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor soluçãopossível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecera melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir! Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz.

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E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmenteconflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas umaaparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, deuma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, daverdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de,condescentemente, admitir que o outro tenha uma posiçãodiferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que atenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é umabase de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressupostofilosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - pormaioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposiçãodo seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e onosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescentesuperioridade. É a consequência da nossa consciência daIgualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitávelcorolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém estáerrado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerâncianão é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demaisrepeti-lo.

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos

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os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidarmelhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar,determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugarpredispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmenteadquire a consciência de que existem várias, e por vezesinsuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver,conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dosinteresses inicialmente em confronto.

E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o queimplica entender) a posição do outro.

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática dosilêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do querealmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolveros problemas que ouça expostos.

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender aoOutro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende omaçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através dabusca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Atravésda gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente,mais bem sucedido."

Rui Bandeira

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Maçonaria "tóxica" ?!

June 29, 2015

Naturalmente que quem ler o título da publicação de hoje por certoficará reticente com o que poderá encontrar nela pelo facto daafirmação escrita por mim ser um tanto forte. Mas desengane-se oleitor, uma vez que, aquilo que o título poderá encerrar não será naverdade o mais correto, apesar de ser uma assunção que paraalguns detratores da Ordem Maçónica seria o quanto bastaria ummaçom fazer para que todas as opiniões e ideias que têm daMaçonaria serem as "verdadeiras". O que não é o que pretendocom a afirmação que fiz nem é a constatação da realidade em quevivemos.

Quando eu falo em Maçonaria “tóxica” naturalmente que não posso afirmar tal sobre uma tão proba e augusta Ordem como o é na realidade a Maçonaria. Abordo sim, os seus elementos, os maçons. Pois uma coisa é a Instituição Maçónica em si, outra coisa totalmente diferente são os membros que a compõem; Homens com as suas virtudes - e que na sua larga maioria é gente que as tenta enaltecer e potenciar-, mas também com os seus defeitos próprios e naturais. O que importa realmente é o que fazer com

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estes últimos que citei…

Todavia, não querendo eu efetuar uma análise extensiva sobre oassunto em si mas apenas abordando a toxicidade existente naMaçonaria num sentido lato, quero eu dizer e reafirmando o queatrás disse, a Maçonaria nunca poderá ser tóxica na sua vivêncianem na sua praxis, mas antes sim, os seus membros. E esta sua toxicidade - dos seus obreiros - apenas poderá porvir do seucarácter, da sua conduta, da sua forma de viver e estar…

Parece que fiz uma afirmação austera demais e inglória?!

Não!

Disse apenas o que se pode constatar na realidade.

Se a Maçonaria é formada por pessoas com vários caracteres efeitios, existem os “bons maçons” mas infelizmente também,existem aqueles maçons cuja forma de estar intoxica a Ordem queos acolheu e que em última instância acabarão por (tentar) intoxicaros demais.

Quando falo em maçons “tóxicos”, estes são aqueles maçons quenão trabalham em prol da Ordem, não aprendem nem desejamaprender, nem estão sequer motivados para tal; não secomprometendo com nada e se o fazem, fazem-no por "obrigação"e os resultados dessas ações serão por demais evidentes; nãopraticam os ensinamentos ou os ideais da Maçonaria tanto na suavida pública como no seu foro privado, que se abstêm decomparecer nas sessões ordinárias da sua Respeitável Loja; que asua conduta é diferente daquilo que dela tanto propalam, mas quetambém para além disso, nas suas condutas profanas geralmentesão pessoas que envenenam as suas relações profissionais,familiares e fraternais - isto, se as tiverem (!) - E se os há…

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Uns sentem-se tão cheios de si, empertigados pelos seus“pedestais” e “medalhas”, outros falando por boca alheia semmeditar no que estão a dizer, cedendo o seu melhor bem que é oseu “pensamento” a outrem, preferindo ser instrumentalizadoscomo “marionetas” a bel-prazer de quem melhor possa atribuirencómios à sua pessoa ou até mesmo se submeterem a aqueles aquem possam retirar qualquer tipo de benefício ou dividendo para sipróprios, manipulando a longa lista de contatos a que podem teracesso pelo simples facto de terem entrado numa Ordem universale com elevado número de membros.Estes serão aqueles que geralmente se diz que "entraram naMaçonaria, mas que ela nunca entrou neles..."Os tais afamados "erros de casting"!

Mas apesar destas situações que confirmo a sua existência – nadaque não seja natural nas várias instituições ou grupos sociais que oHomem integre; a Maçonaria é o “espelho” da sociedade em que seinsere (!) – “não podemos tomar o todo por alguns” e a maioriasuplanta amplamente esses poucos que o tempo sempre seencarrega de extirpar – quais cancros sociais – e são esses - amaioria - que no fundo fazem e refazem as instituições por ondepassam, limpando e renovando a imagem que por vezes se tornaimunda, pelas atitudes que de lés-a-lés são tornadas públicas, porgente que, talvez, nunca deveria ter sido cooptada pela Ordem.

O que se pode concluir é que a toxicidade existente na Maçonaria não é uma toxicidade "química" mas antes um certo tipo de toxicidade social e comportamental de uma parte ínfima dos seus obreiros.

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E que estas pessoas que intoxicam a Instituição Maçónica acabampor dar algum eco e razão aos detratores da Ordem, pois nãopoderemos nós nunca olvidar que os maiores inimigos daMaçonaria são e serão sempre os Maçons, disso tenho eu acerteza .

E o que fazer com estes “seres tóxicos” que deambulam por umatão Augusta Ordem?

Dar-lhes “corda” suficiente para se “enforcarem”?

Entregar-lhes o “combustível” e o “detonador” necessário para se“queimarem”?

Deixá-los "caminhar até à ponta do precipício e incitá-los a saltar"?

Ou tentar lhes demonstrar que o caminho que por ora seguem éum caminho para o “abismo”, possivelmente sem retorno, e que setomado de forma inadvertida ainda poderá ter regresso ao trilhocorreto?

Algumas vezes pensei que a última sugestão/possibilidade seria amais certa. Mas hoje em dia começo a ficar titubeante com adecisão a tomar. Se devo tomar a decisão que se suporia comosendo a mais correta ou se aquela que melhor me servirá…

De facto todos na nossa vida pessoal e em situações extremas, temos sempre uma atitude de “sobrevivência” e por isso mesmo temos a tendência de olharmos para o nosso “umbigo” e esquecer por breves instantes o bem comum. - O que não deveria acontecer, mas como humanos que somos, tal é sempre mais forte. Não podemos negar a nossa natureza e existência animal ! -. Queira eu por isso e principalmente com o auxílio do Grande

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Arquiteto, com a sua Luz e Sabedoria, tomar sempre as melhoresdecisões que possa tomar em qualquer momento e agir de forma aque os meus pares, principalmente os que me reconhecem e queeu reconheço como tal - eles saberão por certo quem serão - nuncase sintam envergonhados pela minha conduta, seja estademonstrada através de ações, omissões e/ou palavras... Porquese por vezes é necessário se falar e muito dizer (nem que seja paracriar certo "ruído de fundo"), noutras situações será preferível não ofazer sequer. Aliás sempre retive para mim que o "poder" do silêncio reside nãoquando nada se diz, por nada se ter para falar; mas antes sim,quanto muito temos para dizer e preferimos conscientemente nosmanter calados...

Quanto aos seres tóxicos que por aí deambulam, esses, terão defazer por eles…Até porque se afirmam que também nem sabem ler nem escrever,alguns até mesmo dificilmente conseguiriam soletrar... até mesmo asua língua materna!

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Maçonaria - Uma grande Família: Princípios e Deveres

July 06, 2015

Comunicação à Assembleia de Grande Loja no Solstício de Verão

e comemoração do XXIV Aniversário da Grande Loja

Lisboa 27 de Junho de 6015

Acolhemos hoje o solstício de Verão, o dia mais longo, onde agrande vitória da luz sobre a escuridão se concretiza na suaplenitude: e assim tem que ser para todos os maçons, sempre a luzdos ancestrais princípios e valores, a triunfar sobre os medos e astrevas dos obscurantismos.

Comemoramos também hoje o vigésimo quarto aniversário da nossa Grande Loja, que vive um tempo de plena asserção institucional, forte afirmação internacional, grande crescimento em

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obreiros e lojas, que está a materializar antigos desideratos, taluma sede própria que se consolida e engalana.

Ainda neste dia de hoje e sempre quero que celebremos a nossagrande e fraterna família maçónica.

Como podeis constatar meus Irmãos, nas suas mais variadasdimensões, podemos bem dizer que hoje é não só um dia grande,como também um grande DIA: três comemorações em uma: nãohaverá detergente que se lhe iguale em luz.

Desde há muitos séculos, agrupando indivíduos com ancestraiscomuns, ou unidos por laços afetivos, que a família se afirma comoa unidade básica da sociedade: e é isso que a nossa AugustaOrdem tem que ser: UMA GRANDE FAMÍLIA.

Enriquece-nos, engrandece-nos, valoriza-nos a existência de vários clãs, cada um diferenciado pelo ritual que pratica, herdado dos mesmos ancestrais ascendentes, mas todos irmanados pelo mesmo apego aos princípios e valores de liberdade, de ética, de humanidade. Enquanto agregação social, a nossa Augusta Ordem, a nossa FAMÍLIA, tem que ser capaz de assumir funções de proteção e socialização dos seus membros, abrigando e acomodando a transmissão da nossa cultura inalienável de

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princípios e valores, o que implica ao mesmo tempo, sermoscapazes de assegurar a continuidade, e proporcionar um esquemaforte de referência aos membros, dando assim resposta cabal porum lado às necessidades intrínsecas de todos os Irmãos que aincorporam, e por outro às necessidades da sociedade em que nosinserimos.

Dizendo de outra forma: na família maçónica temos direitos que sematerializam sobretudo na fraternidade entre os irmãos, mas muitomais que isso, o maçom tem sobretudo obrigações e deveres paratraçar caminhos para um futuro mais humano, formando líderescapazes em sólidos princípios éticos e morais.

Porque não basta pertencer à Maçonaria para se ser Maçom: ésobretudo preciso que incorporemos os Valores que a Maçonariaprofessa.

Todo o maçon se une através de juramentos a esta fantásticaordem iniciática que é a Maçonaria.

E já Thomas More sublinhava, “quando um homem faz um juramento, tem que entregar a honra como fiador, porque outra coisa não lhe é exigida para afiançar o juramento”! Se rompemos o juramento, perdemos a honra e deixamos de ser idóneos, deixamos

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portanto de ser maçons: e os maçons, ou são inteiros e honrados,ou então são apenas arremedos que arrefecem à sombra de vultosque se interpõem no feixe que a luz projeta.

Hoje como sempre, a maçonaria regular que não é uma realidadeestática, muito pelo contrário, deve combater a tirania e lutar pelaconstrução de uma Sociedade mais Justa e Perfeita, pelapromoção da Igualdade de Oportunidades, e este desideratoapenas é possível, se os mações forem contumácios agentes queacima de tudo defendem e constroem uma sociedade melhor: paradesvarios, bastam os milhões de profanos.

Cada Maçon, todos os dias, deve ser capaz de colocar mais umgrão, nem que de pó seja, sobre a grande muralha da construçãode sociedades mais justas.

O grande rio da liberdade, apenas se engrandece, secontinuamente vir o seu caudal engrossar, por isso todos os diastemos que ser todos nós a alimenta-lo de gotas, quem mais opoderá fazer? E não tenhamos medo, porque os trasbordos eoutros riscos do exercício da nossa própria liberdade, apenas nósmesmos os podemos controlar e enfrentar.

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Pertencemos a esta ordem iniciática que já conta com séculos deexistência, que muita catedral já construiu, e apenas por isso,somos levados a pensar que já tudo está edificado: puro engano!

Vós que como eu, amiúde viajais de avião, aprendei com as liçõesque vos ensina a paisagem que de cima avistais: quandoatravessamos cordilheiras montanhosas, erguem-se altaneiras eduras as rochas, imponentes gritos vindos do fundo do tempo,feridas já cicatrizadas das convulsões da Terra ainda quente, quedurante milhões de anos a chuva e o vento não pararam de lambere que as nuvens de vez em quando acariciam.

E para nós apenas estas frias e duras rochas merecem respeito,enquanto o nosso mirar despreza totalmente os pequenos líquenesque lhe colonizam a pele rugosa, as ervas e as plantas rasteirasque as entornam, porque o nosso olhar ainda não soube aprender,que apenas estes se decidiram verdadeiramente a conquista-las,contando com o tempo como aliado: as rochas vão-se desfazendo,ainda que num tempo muito longo, mas as ervas e os líquenesteimosos renascem a cada ano e o seu verde não pára deconquistar terreno, pois a sua fragilidade é o melhor disfarce paraenganar uma dureza fragilidade que nós queremos ver comoinexpugnável: se o nosso respeito vai todo para a imponência dasrochas e das altas montanhas, e às ervinhas e líquenes apenasdesprezo reservamos, isso mostra como ainda tanto temos paraandar no caminho da sabedoria, do amor e da liberdade.

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E assalta-nos depois a paisagem monótona da imensa einterminável planície centro-europeia, mar fundo de terra fértil,verdejante, que as ervinhas, os líquenes e outras plantinhas jáconquistaram às duras e imponentes rochas.

E agarra-se agora aos nossos olhos, a miragem azul-turquesa domar Mediterrâneo, que esconde negros e profundos rifts centrais,gargantas abertas por onde sobe a lava quente primordial vinda domanto da Terra, sempre pronta a edificar novas cadeiasmontanhas, feitas de rocha fria erguida: e nós temos que saber,que enquanto maçons, somos as ervas e os líquenes que já asespreitam, e que iremos fazer delas imensas planícies férteis everdejantes que darão alimento para quem ainda passa fome, eque esse gesto será verdadeira liberdade para os que ainda nãoconhecem o segredo que ensina a arte de bem saber mirar e durar.

Por esta parábola meus irmãos, apenas vos quis explicar agrandeza da humildade das ervas e dos líquenes, e mostrar-vostambém que o céu e o inferno têm paredes meias e que começasempre por ser impercetível a passagem de um para outro, e que asolidariedade entre os homens é sempre o ponto mais feliz dachegada.

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Tratemos todos os humanos de igual forma, sem distinção de raça,de classe, de género, de orientação sexual, todos como iguais eirmãos; combatamos a vã e vil ambição, o orgulho, o erro opreconceito, a ignorância, a mentira, o fanatismo, os integrismos, asuperstição: flagelos da Humanidade, estorvos ao verdadeiroprogresso; pratiquemos a justiça, promovamos a salvaguarda dosdireitos humanos; pratiquemos a tolerância relativamente à escolhareligiosa, à escolha de opinião política; deploremos todos estesaspetos, mas sobretudo esforcemo-nos para reconduzir o mundoaos caminhos de uma humanidade verdadeiramente humana,Solidariedade Maçónica, pura humilde fraternal,onde a felicidade seresplandece em cada um dos rostos que perfazem a humanidade.

E são estes meus Irmãos, os grandes deveres que nos esperamtodos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos ossegundos: tudo será humildade e tudo se fará então urgência paraedificar um mundo melhor.

E neste tempo solsticial, a União da grande família dos maçons, éde rigor: façamos o mundo mais feliz, mais humano e por contágio,sejamos todos mais felizes.

E era esta a mensagem forte que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, cumprindo os princípios e deveres, para consolidar a edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande

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Arquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos

Grão Mestre

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Sobre o nosso patrono Mestre Affonso Domingues(republicação)

July 13, 2015

A republicação de hoje versa sobre o patrono da Respeitável Lojaque alberga os autores deste blogue.E nunca é demais relembrar quem foi esta personagem históricaque emprestou o nome à nossa Loja.

O texto original foi publicado pelo J.Paiva Setúbal eencontra-se aqui.

"MESTRE AFFONSO DOMINGUES que viveu na segunda metadedo Sec. XIV (morreu na Batalha em 1402) é uma personagemsobre a qual existem muitas lendas e mistérios e pouca informaçãoconfirmada.

De facto há fortes dúvidas sobre a data e local de nascimento,assim como sobre a sua própria vida há muitas incógnitas, algumasdelas resultantes do texto que Alexandre Herculano dedicou aoMosteiro da Batalha e à famosa Abóbada da Casa do Capítulo.

Historicamente parece certo que Affonso Domingues foi, realmente,o desenhador/arquitecto do projecto geral inicial do Mosteiro deSanta Maria da Vitória e que terá sido com ele a dirigir a construçãoque o Mosteiro foi iniciado.

Entretanto por razões de idade, de saúde (a história diz que cegou) ou outras quaisquer, na altura os responsaveis pelas obras eram colocados e substituidos de acordo com os humores e favores dos

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monarcas (nada como actualmente, em que já não há monarcas...),Affonso Domingues foi substituido na condução da obra por um talDavid Huguet ou Ouguet, sobre o qual também há muitas dúvidas,não se sabendo se era irlandês, flamengo, catalão ou mesmoportuguês.

De resto o Mosteiro da Batalha ( ou de Santa Maria da Vitória) tevevários outros intervenientes (Mateus Fernandes, Fernão Évora,Boitaca, ...) mas sobre o “nosso” Mestre Affonso Domingues recaide facto a autoria principal do projecto e talvez da construção.

Affonso Domingues viveu em Lisboa (não há a certeza de ali ternascido) na freguesia da Madalena e teve alguma intervenção(mais aprendizagem do que intervenção realizadora) na obra da Séde Lisboa, que lhe serviu de inspiração para o projecto da Batalhaque mais tarde desenharia.

Quanto à afirmação “a Abóbada não caiu, a Abóbada não cairá”assim como a sua morte após 3 dias e 3 noites sem comer,sentado debaixo da Abóbada, no meio da Sala do Capítulo daBatalha, é definitivamente uma boa “estória” de AlexandreHerculano que serviu para exaltação dos valores Pátrios em plenoSec. XIX.

De Affonso Domingues pouco mais há na história.

Em Lisboa, na freguesia de Sta.Engrácia/Monte Pedral, resta umarua com o seu nome, essa sim “verdadeiramente importante” já queeste escriba ali nasceu... e já agora na mesma linha de informação,também o Algueirão tem uma rua Mestre Afonso Domingues, umasvezes com um “f”, outras com os dois “ff” originais, umas vezes como “Mestre” outras sem ele !

Posto isto, se a lenda é mais atraente que a realidade, poissigamos a lenda!

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Ao fim e ao cabo, onde começa uma e acaba a outra?"

JPSetúbal

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L'égalite est la base de toute liberté (republicação)

July 20, 2015

O texto que hoje é republicado é datado de 2009 e foi escrito pelo Jean-Pierre Grassi, obreiro também ele da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5. Foi escrito em francês e irei manter a sua integralidade nesta republicação. "Ou serait-ce le contraire? Ou bien alors, est-ce que l’un de ces mots a-t-il un sens sans le second? Ou bien encore, est-ce que ces mots, égalité et liberté, ne sont-ils pas dénués de sens? Du moins dans l’absolu. Serait-ce une hérésie que de dire que Egalité et Liberté sont en soi deux mots abstraits? Voyons. La définition de l’égalité est relativement simple, c’est l’absence complète de distinction entre les hommes sous le rapport des droits: égalité civile, sociale, politique, ... Or nous savons que cet état d’égalité n’existe pas. Qu’elle soit naturelle, acceptée ou imposée, la différence entre les hommes a toujours existée. La liberté, par définition, est l’absence de contrainte; mais il n’existe pas de liberté absolue. Que se soit la liberté de conscience, la liberté morale, la liberté du culte, la liberté de la presse, la liberté syndicale, ... elle sera toujours limitée, ou conditionnée, par des

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règles établies par la communauté à laquelle on appartient. En définitive, la liberté, telle qu’on l’entend, est de pouvoir faire tout ce qui n’est pas interdit. Et si ce n’était pas le cas, ce serait l’anarchie, la démocratie directe, comme l’exposait Platon. Cette doctrine qui libère l’individu de toute forme de contrainte. Nous revenons à l’abstraction. Alors? Alors remontons dans le temps, plus précisément les 20, 21, 23, 24 et 26 août 1789. Que se passa-t-il alors? Les représentants du peuple Français, constitués en Assemblée Nationale, ont résolu d’exposer, dans une déclaration solennelle, les droits naturels, inaliénables et sacrés de l’homme. Ce fut la “Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen” dont la première phrase de l’Article premier est: Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits. En théorie, cette simple phrase constituée de dix mots résolvait un problème aussi vieux que l’homme est homme. En réalité, et justement parce que l’homme est homme, il n’a pu réaliser les idéaux contenus dans cette phrase, tout au moins jusqu’en cette veille du XXIème siècle. Et cela malgré cette autre grande affirmation que fut la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, adoptée et proclamée le 10 décembre 1948 par l’Assemblée Générale des Nations Unies, et

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dont l’article premier est: Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité. Remarquons au passage que, dans ce premier article, apparaît le mot “Fraternité” qui, lié à “Liberté” et “Egalité”, constitue non seulement la devise de la France mais aussi, depuis le milieu du dix-neuvième siècle, le ternaire sacré de la Maçonnerie. Traditionnellement en France, on a toujours opposé la Liberté de 1789 et l’Egalité de 1793. L’égalité de droit a sans cesse progressé. Ce progrès continue, mais semble presque au bout, à son terme, en tout cas dans nombreux pays. Dans le même temps où l’on est arrivé presque à la perfection de l’égalité de droit, on a vu s’aggraver les inégalités de fait. Il y a d’abord les handicaps naturels, ils sont normaux et il ne faut pas chercher à les nier en essayant de cloner les gents intelligents! Il existe et il existera toujours des différences. D’ailleurs, quand Plantagenêt disait que “l’égalité n’implique pas le nivellement des valeurs”, il sentait bien ce qu’il y avait d’absurde dans cette notion trop absolue d’«égalité». Ces inégalités sont de sources diverses; l’intelligence de l’individu, son hérédité, ses conditions familiales, son aptitude à la

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scolarisation, sa citoyenneté, la localisation géographique de son habitat et, principalement, ses revenus! Les inégalités sociales sont dramatiques, l’écart entre les revenus les plus élevés et les plus modestes se creuse chaque jour plus, et les inégalités deviennent de moins en moins supportables car le fatalisme n’est plus de mise, les écarts sociaux sont consciemment perçus. Sans compter que d’autres inégalités se sont sans doute aussi aggravées, ce sont les inégalités entre peuples. Jusqu’à présent, on a largement raisonné en termes d’égalité au sein d’une nation, c’est oublier les inégalités entre les pays riches et les pays pauvres, en Europe et dans le Monde, et celles là sont gigantesques. Il suffit de se pencher sur le phénomène européen qui prône la liberté de circulation à l’intérieur de ses frontières mais qui interdit, en même temps, son accès aux gens du Sud. Ce n’est ni l’égalité des droits, ni l’égalité des conditions. C’est également oublier le préambule de la Déclaration universelle des droits de l’homme qui rappelle que les peuples ont proclamé leur foi dans les droits fondamentaux de l’homme, dans la dignité des valeurs de la personne humaine, dans l’égalité des droits des hommes et des femmes, et qu’ils se sont déclarés résolus à favoriser le progrès social et à instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberté plus grande. Cette vision, lorsqu’elle est appliquée, a normalement un caractère

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fonda- mentalement nationaliste, même si notre Europe joue un rôle positif par sa redistribution et ses fonds de péréquation. Dans ce cas précis, l’Europe est l’image d’une nation globale, limitée à l’espace géographique de ses états membres. Des étudiants portugais écrivaient dans une thèse sur la Révolution Française: “Au long des 200 dernières années, l’égalité, par le biais du développement social, n’a fait que augmenter les inégalités, et la fraternité a été abandonnée en un monde qui a placé l’affirmation des Etats Nationaux au dessus de la solidarité entre les peuples.” L’égalité est-elle la base de toute liberté? Qu’est-ce que l’on entend par «liberté»? Ce qui consiste à faire tout ce qui ne nuit pas à autrui? L’exercice des droits naturels de chaque homme qui n’a de bornes que celles qui assurent aux autres membres de la société la jouissance de ces mêmes droits? L’égalité des conditions est une utopie; elle n’est ni possible, ni d’ailleurs souhaitable car, paradoxalement, négatrice de la liberté. Ce qui pourrait être même dangereux, c’est l’accent mis sur la liberté; la liberté absolue tue l’égalité de même que l’égalité absolue tue la liberté. Personne n’a encore trouvé le bon point d’équilibre sans que l’un détruise l’autre. Les bornes de cette liberté ne peuvent être déterminées que par la

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loi. Et la loi, par définition, est égale pour tous. Donc, une certaine égalité est la base d’une certaine liberté. Il n’existe pas d’absolu. Ce qui est souhaitable, comme le réfère la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, c’est que ce concept soit humanisé par un sentiment qui parait indissociable de son contenu: la fraternité. Et afin qu’elle prenne tout son sens et qu’elle soit réellement applicable, et appliquée, la devise Maçonnique, “Liberté, Egalité, Fraternité”, devra être toujours associée à la solidarité, à la tolérance et à l’universalité. Mais même en Maçonnerie l’égalité n’est pas la base de la liberté. Du moins, l’égalité n’est pas toujours synonyme de liberté. Dans un Ordre qui prône la Tolérance, il existe des règles auxquelles les Maçons doivent se soumettre. Ce sont les Landmarks (ou Règles, ou Statuts, ou Limites) qui dictent quelle doit être l’attitude du Frère dans la Maçonnerie, et par extension, dans le monde profane. Même si, comme le dit Jean Boucher, “En Maçonnerie, contrairement à ce qui a lieu dans la plupart des autres groupements humains, chaque Frère garde une liberté entière; il ne peut ni ne doit recevoir aucun mot d’ordre susceptible d’influencer ses actes”, le Maçon devra respecter néanmoins les règles édictées par les règlements de sa Loge et de sa Grande Loge. Il ne pourra

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évoquer “au dehors” ce à quoi il a participé “à l’intérieur”, saconscience étant liée, dans ce cas, au jurement qu’il fait lors de lafermeture des travaux de sa Loge de Saint-Jean. L’Initié, lorsqu’il est fait Maçon, cet homme «libre et de bonnerenommée» s’entendra appeler “Frère” par ses nouveaucorreligionaires. Il pourrait imaginer que, de ce fait, il sera leur égalet qu’il jouira des mêmes libertés qu’eux. Il n’en est rien. Il lui faudraattendre d’être Maître pour pouvoir user de la parole en Loge, àl’instar de tous les Apprentis et Compagnons. Pour conclure, rappelons que l’égalité absolue entre les hommesexiste, une fois et une seule, au long de leurs existences. Le jour oùle Grand Architecte de l’Univers nous appellera auprès de lui, àl’Orient Eternel, le jour où, effectivement, nous ne serons plus librede notre choix. C’est l’heure du Jugement Final où l’homme n’estplus maître de son destin Ce jour-là, cette égalité totale finalement obtenue sera synonymed’absence totale de liberté, quelle qu’elle soit." Jean-Pierre GRASSI

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Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"? (republicação)

July 27, 2015

Tenho andado a fazer uma "reciclagem" de alguns dos textos queeu considero oportunos para serem republicados de tempos atempos para nova leitura ou para uma "leitura em primeira-mão".

Tais textos, por norma, já têm bastante tempo passado desde a suapublicação original, logo deste modo, alguns leitores poderão nuncaos ter lido por se encontrarem no "arquivo" do Blogue, e dada a suacontemporaneidade, considero que devem novamente "vir a lume"como é usual se dizer.

Posto isto, o texto de hoje foi escrito pelo Paulo M. e pode serconsultado no seu original aqui .

"Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"?

Os maçons tratam-se, entre si, por "irmão", tratamento que éexplicitamente indicado a cada novo maçon após a sua iniciação.Imediatamente após terminada a sessão de Iniciação é normal quetodos os presentes cumprimentem o novo Aprendiz com efusivosabraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos "meu irmão", "meuquerido irmão" e "bem vindo, meu irmão",recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que serecebeu na semana anterior.

O que seria um primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro "tratamento de choque", num momento de alguma estranheza e, quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando estes nos tratam - e esperam que os tratemos - por irmão... e por tu! Sim, que outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em

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privado - que as conveniências sociais podem ditar, em público,distinto tratamento.

O primeiro momento de estranheza depressa se esvai - e osencontros seguintes encarregam-se de tornar naturalíssimo taltratamento, a ponto de se estranhar qualquer "escorregadela" quepossa suceder, como tratar-se um Irmão na terceira pessoa... Aí,logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido, e logo passa aachar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, umpolítico no ativo, ou um professor universitário. E de facto assim é:entre irmãos não há distinção de trato.

Não se pense, todavia, que todos se relacionam do mesmo modo.Afinal, não somos abelhas obreiras, e mesmo entre essas há asque alimentam a rainha ou as larvas, as que limpam a colmeia, e asque recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons sãodiferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam amaçonaria de forma igual. É natural que um se aproxime mais deoutro, mas tenha com um terceiro um relacionamento menosintenso. Não é senão normal que, para determinados assuntos,recorra mais a um irmão, e para outros a outro - e podemos estar afalar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre umponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoçonum dia em que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossafrente, sem que se fale sequer da dor que nos moi a alma.

Mas não serão isto "amigos"? Porquê "irmãos"? Durante bastante tempo essa questão colocou-se-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por "irmão" em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta

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outra coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta queme satisfizesse. Não é, certamente, a única possível - mas é a queconsegui encontrar.

Quando nascemos, fazêmo-lo no seio de uma família que nãotemos a prerrogativa de escolher. Ninguém escolhe os seus pais ouirmãos de sangue; ficamos com aqueles que nos calham. O maisnatural é que, em cada núcleo familiar, haja regras conducentes àsua própria preservação e à de todos os seus elementos, regrasque passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É,igualmente, natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência,seja reforçado por laços afetivos que o suplantam a ponto de que opropósito inicial seja relegado para um plano inferior. É, assim,frequente que, especialmente depois de atingida a idade adulta,criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os nossosirmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa,em certa medida, os meros laços de parentesco.

Do mesmo modo, quando se é iniciado numa Loja - e a Iniciação é um "renascimento" simbólico - ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse nascido numa família numerosa. Neste registo, os maçons têm, uns para com os outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula famíliar. Porém, do mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços que os unem, mas não estabelecem outros

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laços para além destes. Pode acontecer - e acontece. Mas averdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro decada Loja, cada maçon encontre, de entre os seus irmãos, grandesamigos - e como são sólidos os laços de amizade que seestabelecem entre irmãos maçons!

Paulo M. "

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O que os maçons acreditam?

August 03, 2015

Como utopia pessoal, cada maçom propõe elevar seu status paraser social, na medida das suas próprias competências, guiado poruma escola iniciática que fundou-a sobre princípios morais.

Acredita na necessidade de tolerar a opinião contrária, respeitandoa diversidade de crenças religiosas e diferentes filosofias de vida.

Então, acredita em tolerância como resseguro à liberdade depensamento, ela age como uma rede de contenção nos debates eteste, tornando-se permanentemente formado, Maçom em umhomem com a capacidade de ouvir, compreender e agir.

Acredita na democracia como uma teia onde as diversas formas depensamento e de crenças que estão interligadas dentro de que,tendo respeito pelos outros e tolerância de divergência, comopropõe uma sociedade fraterna e progressista.

Eu, Mestre Maçom acredito na ciência, como representante do progresso, mas guiada por valores eternos como a igualdade de

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Justiça;lealdade sobre a igualdade de oportunidades.

Acreditar na liberdade e fraternidade como utopias que homemdeveria propor e funciona dentro do templo, através do estudo dasnormas morais e em favor de uma atitude ética consistente emtodas as áreas onde atuam.

O Maçom acredita na razão que permite-lhe descobrir a naturezadas coisas, compreendê-los e respeitá-los, mas ao mesmo tempo,ele acredita na importância das doutrinas religiosas e tradiçõesculturais como formadores do homem Sentimental.

Acredita na possibilidade de um novo humanismo capaz depriorizar, acima de pessoal, corporativa e os interesses nacionais, apreservação do habitat de todos os seres.

Acreditar nos meios pacíficos de resolução de conflitos, o Maçomopôs-se ao fanatismo político ou religioso em todos que colocamem risco a vida das pessoas.

Maçom acredita e é guiado por duas trilogias fundamentais quesintetizam seu intelecto: ciência, justiça e trabalho e na liberdade,igualdade e fraternidade.

Por isso Sou Maçom

Pedro Abreu,

M.’.M.’. da RLMAD

PS: Texto da autoria do Pedro Abreu, Mestre Maçom, pertencenteao quadro de obreiros da Respeitável Loja Mestre AffonsoDomingues nº5

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A Cadeira de Salomão (republicação)

August 10, 2015

O texto que hoje foi "reciclado" é um texto da autoria do Rui Bandeira e evoca a "Cadeira de Salomão", ou seja, o trono ou local que ocupa o Venerável Mestre no oriente da sua Loja, e que pode ser consultado originalmente aqui . Deste modo aqui fica o texto para o (re)lerem... "Denomina-se de Cadeira de Salomão a cadeira onde toma assento o Venerável Mestre da Loja quando a dirige em sessão ritual. Em si, não tem nada de especial. É uma peça de mobiliário como outra qualquer. É como qualquer outra cadeira. Porventura (mas não necessariamente) um pouco mais elaborada, com apoio de braços, com maior riqueza na decoração, com mais cuidado nos acabamentos. Ou não... Como quase tudo em maçonaria, a Cadeira de Salomão tem um valor essencialmente simbólico. Integra, conjuntamente, com o malhete de Venerável e a Espada Flamejante (esta apenas nos ritos que a usam), o conjunto de artefatos que simbolizam o Poder numa Loja maçónica. Ninguém, senão o Venerável Mestre, usa o malhete respetivo. Ninguém, senão ele, utiliza a Espada Flamejante. Só ele se senta na Cadeira de Salomão. A Cadeira de Salomão destina-se, pois, tal como os outros dois

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artefatos referidos, a ser exclusivamente utilizada pelo detentor do Poder na Loja. Assim sendo, importante e significativo é o nome que lhe é atribuído. Não se lhe chama a Cadeira de César ou oTrono de Alexandre. Sendo um atributo do Poder, não se distingue pelo Poder. Antes se lhe atribui o nome do personagem que personifica a Sabedoria, a Prudência, a Justa Sageza. Ao fazê-lo, está-se a indiciar que, em Maçonaria, o Poder, sempre transitório, afinal ilusório, sobretudo mais responsabilidade que imperiosidade, só faz sentido, só é aceite, e portanto só é efetivo e eficaz se exercido com a Sabedoria e a Prudência que se atribui ao rei bíblico. Quem se senta naquela cadeira dispõe, no momento, do poder de dirigir, de decidir, de escolher o que e como se fará na Loja. Mas, em maçonaria, se é regra de ouro que não se contraria a decisão do Venerável Mestre, porque tal compromisso se assumiu repetidamente, também é regra de platina que, sendo-se livre, não se é nunca obrigado a fazer aquilo com que se não concorda. O Poder do Venerável Mestre é indisputado. Mas, para ser seguido, tem de merecer a concordância daqueles a quem é dirigido. E esta só se obtém se as decisões tomadas forem justas, forem ponderadas, forem prudentes. O Poder em maçonaria vale o valor intrínseco de cada decisão. Nem mais, nem menos. A Cadeira de Salomão é pois o lugar destinado ao exercício do Poder em Loja, com Sabedoria e Prudência. Sempre com a noção de que não é dono de qualquer Poder, que só se detém (e transitoriamente) o Poder que os nossos Irmãos em nós delegaram, confiando em que bem o exerceríamos.

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Não está escrito em nenhum lado, não há nenhuma razão aparente para que assim tenha de ser. Mas quase todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sentem que esta os transformou. Para melhor. Não porque esta Cadeira tenha algo de especial ou qualquer mágico poder. Porque a responsabilidade do ofício, o receber-se a confiança dos nossos Irmãos para os dirigirmos, para tomar as decisões que considerarmos melhores, pela melhor forma possível, por vezes após pronúncia dos Mestres da Loja em reunião formal, outras após ter ouvido conselho de uns quantos, outras ainda em solitária assunção do ónus, transforma quem assumiu essa responsabilidade. A confiança que no Venerável Mestre é depositada pelos demais é por este paga com o máximo de responsabilidade. Muito depressa se aprende que o Poder nada vale comparado com o Dever que o acompanha. Que aquele só tem sentido e só é útil e é meritório se for tributário deste. A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão não lhe permite distinguir se é confortável ou não. Não é apta a que sinta que se encontra num plano superior ou central ou especial em relação aos demais. A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão vê todos os rostos virados para ele. Aguardando a sua palavra. Correspondendo a ela, se ela for adequada. Calmamente aguardando por correção, se e quando a palavra escolhida não for adequada. A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão fá-lo instantaneamente compreender que está ali sentado... sem rede! E depois faz o seu trabalho. E normalmente faz o seu trabalho

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como deve ser feito, como viu outros antes dele fazê-lo e comomuitos outros depois dele o farão. E então compreende que nãoprecisa de rede para nada. Que o interesse é precisamente não terrede... Quem se senta na Cadeira de Salomão aprende a fazer a tarefamais complicada que existe: dirigir iguais!" Rui Bandeira

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A Cadeia de União (republicação)

August 17, 2015

O texto que hoje Vos trago é uma republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira que aborda um dos pontos altos de uma Sessão Maçónica bem como o esplendor do simbolismo da fraternidade que a Ordem evoca. Trata-se da "Cadeia de União". O texto original pode ser lido aqui . "Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União. É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos. A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão! É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que

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beneficia da força comum do grupo. A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto. A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais. A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários). A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na

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busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos osespíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, namesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas omesmo... A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto.É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porqueguardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto provao contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quemnunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, acomunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assimunidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seusignificado só é plenamente apreendido por quem nele participa,uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado quenão se ensina. Aprende-se vivendo-o! Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagemfúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então,têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamamde ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nemregularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boavontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boavontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos." Rui Bandeira

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Maçonaria em Loja (republicação)

August 24, 2015

O texto de hoje saiu da pena do J. Paiva Setúbal na época em queteve os "destinos" da Respeitável Loja Mestre Affonso Dominguesnº5 nas suas mãos. Ou seja, foi escrito e publicado durante o seuVeneralato, que decorreu durante os anos profanos de 2007 e2008.

Trago-Vos este texto porque considero que ele faz uma reflexãobastante certeira sobre o que a Loja espera dos seus obreiros. Acontemporaneidade deste texto é inegável, e por isso mesmo,decidi partilhá-lo com aqueles que possivelmente não terão tidoacesso a ele, por se encontrar nos "confins" do blogue, mastambém àqueles a quem tal nunca poderá passar despercebido,sendo que nunca é tarde demais para salientar esta reflexão que foiefetuada na altura por quem a escreveu e que a decidiu partilharcom os leitores nessa época, cabendo agora a mim, ter a mesmadeferência para com os atuais leitores...

Apesar de o texto poder ser consultado aqui, deixo-Vos para vossaleitura agora o respetivo texto.

"Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base desustentação, a Loja.

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E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, aonível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura selevanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade. Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito. Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria. Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura. Apenas isso. Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem. É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na

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Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados. O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo. Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade. É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto. Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria ! Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente. A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja. Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor. Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora. De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !

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O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…). Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso. Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva. São a arrogância, a vaidade e a ambição. Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho. Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque. Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”. Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras. Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças. Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é

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fácil. O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença. E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação éuma exigência."

J.P. Setúbal

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Maçonaria, uma Instituição universal e cosmopolita.

August 31, 2015

Nos séculos XV e XVI devido à necessidade dese construírem várias construções de cariz religioso ao longo detoda a Europa, e para mais facilmente circular entre reinos epoderem trabalhar, os operários da construção civil da épocafiliavam-se em agremiações de tipo sindical para que desse modolhes fosse possível arranjar trabalho e exigirem alguns direitos emelhores salários. O que deu origem aos termos “pedreiros-livres”e “franco-maçons”, uma vez que eles estavam livres dospagamentos de certos tributos e de portagens nos reinos ondetrabalhavam.

E como o trabalho que os construtorestinham de executar era normalmente demorado, apesar de ser um trabalho nómada, (porque quando finalizavam uma obra seguiam para outras terras, para outros trabalhos), reuniam-se no seio dessas associações ou grémios que eram denominadas por “guildas de construtores” para

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poderem conseguir manter a sua coesão e união enquanto grupode operários especializados e também para que lhes fosse possíveltransmitir e ensinar os segredos da sua arte a coberto dos olharesindiscretos de quem não pertencia a este ofício. Criando dessemodo um tipo de fraternidade entre eles.

Mais tarde, nos finais do século XVI, quando as grandesconstruções religiosas (catedrais e abadias) se encontravamfinalizadas e como não existiam nenhumas grandes obras a sereminiciadas a longo prazo, e como o número de membros destasguildas começavam a decair, estes grémios de construtorescomeçaram a aceitar como seus membros, elementos de outrasprofissões dos locais onde se estabeleciam dada a curiosidade queestes tinham em relação ao que se passava e discutia no interiordestas associações.

O que consequentemente em virtude dos temas que nessas lojas agora se debatiam, que já não eram somente dedicados à construção de edifícios e porventura também da entrada destes novos membros, designados por “maçons aceites”, veio este movimento a dar origem a uma transformação deste tipo de maçonaria, assumidamente operativa, numa maçonaria de cariz especulativo. Um género de maçonaria que já não trataria das construções físicas, mas que em seu lugar, tratariam de um tipo de construção espiritual. Aproveitando os maçons especulativos, o vasto simbolismo que os construtores detinham e que passaram a tomar como seus. Assumindo que em vez de construírem espaços

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para glorificar o divino, seriam eles o seu próprio templo a cultuar.

E já no decorrer do século XVII, quando os partidários dos Stuart(casa real) vindos de Inglaterra e fugindo ao seu regime vigente,trouxeram consigo para o continente os seus ideiais maçónicos,aproveitaram a liberdade que lhes era concedida na França eabriram lojas (especulativas) onde se pudessem reunir e ondepudessem discutir as formas de resistência necessárias para oslevar de novo ao poder em Inglaterra.

Sendo que no interior dessas lojas para além de conseguiremmanter a sua união enquanto grupo de resistentes e debater queposições deveriam ser tomadas neste tipo de luta, tambémconseguiam assim manter aceso o espírito fraternal que tinhamentre eles.

Mais tarde, pela entrada nestas lojas de outras personalidades quenada tinham a haver com o espírito de resistência para o qual estetipo de lojas tinha sido criado bem como da criação de outras novaslojas maçónicas em terras francesas formadas por franceses e/ouestrangeiros, a expansão em França estava lançada.

Na restante Europa, a expansão maçónica estava também em marcha, fosse pela transformação das lojas operativas (guildas de construtores) em lojas especulativas, bem como da criação de lojas militares itinerantes ou lojas locais onde a burguesia da época se reuniria para debater as novas ideias que viam a luz do dia nesses

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tempos.

- O que se pode constatar é que independentemente da suadenominação (operativos/especulativos), os maçons sempre sereuniram em alguma espécie de agremiação para debater as suasideias, deixando de fora gente que não considerassem como“bem-vindos” ou que não lhes trouxessem qualquer mais valia parao debate de ideias. -

E já no século XVIII, os maçons impulsionados pelo ideáriomaçónico e pelo idealismo das Luzes e com o auxílio indireto daexpansão colonialista europeia para as “novas terras dasAméricas”, contribuíram relevantemente para o estabelecimento daMaçonaria nesses locais.

Fosse nas ilhas caribenhas ou no próprio continente americano, em qualquer porto em que os barcos vindos da “velha Europa” aportassem, traziam consigo maçons que para além das relações comerciais que teriam com os povos nativos, se viriam a estabelecer de forma permanente nestas terras. E estes maçons apoiados pelo facto de nestes lugares existirem também lojas maçónicas formadas por militares – uma das maiores fontes do expansionismo maçónico no mundo deve-se a este tipo de Lojas que costumam estar associadas a um determinado batalhão ou companhia militares – conseguiram em alguns casos, montar uma estrutura local e que não fosse nómada como é o caso da

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generalidade das lojas militares maçónicas. Desta forma ficaramestabelecidas as raízes para o crescimento e consolidação daOrdem nas colónias americanas. E não obstante o aumento daimigração europeia para as Américas e com a transformaçãodestas povoações em grandes metrópoles posteriormente, tambéma Maçonaria teve um crescimento proporcionalmente direto e hojeem dia estimam-se que na totalidade do continente americanoexistam mais de 5 milhões de maçons.

Para além do colonialismo americano, também o colonialismoafricano e asiático pelos povos europeus possibilitou a chegada daMaçonaria a estas partes do mundo e se estabelecer de uma formamais ou menos gradual face à cultura e sistemas políticos vigentesnesses países.

Atualmente, do norte ao sul do globo terrestre, a Maçonariaencontra-se implantada em quase toda a parte. Sobressaindoassim o carácter universal desta Augusta Ordem. E,independentemente do regime político, desde que seja consideradocomo democrático, a Maçonaria convive de forma natural com asleis do local onde se encontra estabelecida. Seja em paísesmonárquicos (um bom exemplo que temos é o continente europeu,onde a Monarquia, nos países nórdicos, se encontra consolidada)ou países republicanos (exemplificados pelo continente americano,que na sua totalidade é formado porrepúblicas democraticamente eleitas), com governos eleitosdesignados de direita ou de esquerda, a Maçonaria existe.

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Porque apesar da alternância dos poderes políticos, a Maçonariasempre persistirá. E o fará, porque ela própria não tem doutrinapolítica, a Maçonaria está num patamar acima das discussõespartidárias ou de qualquer questão que possa dividir os Homens.

A Ordem Maçónica é uma instituição agregadora de pessoas porisso nunca poderia fomentar a divisão entre elas.

Todavia, a Ordem não impede que os seus membros exerçam nomundo profano os seus deveres e direitos cívicos conformeos princípios que escolham praticar na suas vidasprofanas, sejam eles políticos (ou outros) que considerarem quelhes sejam mais favoráveis ou com os quais melhor se identifiquem.E isso pode ser verificado pela prática política de alguns maçonsque participam efetivamente no mundo político sem que tenhamqualquer diligência maçónica nesse sentido - Agindo somente coma sua convição e o seu pensamento.-

Nomeadamente se pode dizer o mesmo no que respeita às suasfiliações associativas, tenham elas o cariz que tiverem ou à religiãoque os maçons decidam (ou não, no caso de Maçonarias Liberais)observar. E isto pode acontecer porque o compromisso que setoma com a Maçonaria é um compromisso de ética e de respeito naobservância dos valores morais existentes; logo este compromissoestará acima de qualquer tipo de política ou agremiação. Sendo porisso que me é possível afirmar neste contexto que : “O maçomfaz,a Ordem apenas observa…”.

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O próprio cosmopolitismo que é inerente à Maçonaria permite taisfactos.

A Maçonaria ao deter um carácter universalista e progressista queultrapassa qualquer fronteira e por se reger por valores deigualdade, fraternidade e de solidariedade entre os seus membros,propiciou que a ação dos seus afiliados no mundo profano seja umreflexo dos seus próprios valores. E como os valores maçónicossão valores que são transversais à sociedade e ao mundo em si,não existe um lugar onde um maçom não possa se encontrar ouque esteja impossibilitado de agir…

Logo, ao ter a Maçonaria criado as bases para o diálogo e para odebate de ideias nas suas lojas e tendo posteriormente transferidoestas competências também para o espaço público, sendo as lojasmaçónicas consideradas como centros formadores de opinião e oespaço público como sendo o local de aplicação das vontadesprofanas, fomentou na sociedade a ideia que a tolerância aplicadade forma salutar na discussão de ideias, contribuiria para aobtenção de consensos sem que se tivesse de passar por umqualquer conflito para chegar a tal.

Apenas discutindo e debatendo com respeito e elevação é que é possível se criarem as condições válidas para se poder chegar a

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um determinado consenso que possa ser valorizado como sendo omelhor para ser aplicado ou cumprido pelos intervenientes nadiscussão. Nem sempre a posição dominante prevalece, mas sim aopinião que fará mais sentido para a generalidade. E isso somenteé possível se existir algum sentido de tolerância e respeito pelopróximo e de se ter a capacidade de nos sentirmos comointegrantes de algo superior a nós próprios. Copiando a sociedadedesta forma, uma praxismaçónica há muito existente.

No entanto quando se fala em Sociedade, Civismo ou inclusive emPolítica, abordamos conceitos que estão para além de nós, e amelhor forma de se conseguir ou atingir o bem comum, para alémde um diálogo franco e tolerante, é reconhecer no outro a suadiferença de opinião como algo que pode fazer evoluir e enaltecer odebate público. Por isso no seio da Maçonaria Regular não seaborda política partidária mas poder-se-á em determinado contexto,abordar a Política como sendo mais um conceito necessário aquem vive em sociedade. Sociedade esta, que já não será apenaso local onde nos encontramos ou em que vivemos, mas o mundona sua plenitude.

Mas apesar de toda esta evolução civilizacional que nos foi permitido alcançar, a própria Instituição Maçónica dada a sua linguagem simbólica e do seu carácter quase indecifrável aos profanos, conseguiu permanecer quase inalterada desde a sua origem até à atualidade. O que facilita e permite que em qualquer parte do mundo (mediante a respetiva tradução linguística, se

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necessária) a qualquer iniciado nos mistérios da Maçonaria poderreconhecer facilmente aquilo que observa ou escuta. Tanto que aonível da ritualística maçónica, para os maçons que visitem outrospaíses e tenham a honra de serem acolhidos nas lojas maçónicaslocais, mesmo que não compreendam a língua nativa, conseguemestar sempre integrados no ritual que se pratique nas lojasmaçónicas - pois o conhecem -, e mesmo as mais ligeirasadaptações que possam ter ocorrido fruto do tempo ou detraduções feitas aos rituais originais, esse cumprimento do ritualserá sempre perceptível para quem o assiste.

E dado que a forma como hoje em dia o Homem se desloca pelomundo também evoluiu, e que esta “viagem pelo mundo”, seja emtrabalho ou em turismo, pode ser feita de uma forma bastante maislesta que antigamente, também a nossa visão do mundo foievoluindo. Já não olhamos para nós como pertencentes a um lugarsomente mas como pertencentes ao mundo na sua globalidade.Apesar das diferentes identidades nacionais se manterem - e aindabem!- o resto se vai esbatendo. As relações económicas, judiciáriase culturais entre países atualmente são de tal forma evoluídas nasua interação, que em determinado país poderemos conhecer ousaber o que se passará noutro qualquer, bem como nos é permitidodeslocar sem qualquer entrave à circulação. O que é sempredeterminante para o modo de vida que atualmente levamos.

E devido ao facto de o maçom ser alguém que se considera livre e que vive e exerce a sua liberdade em qualquer parte, o maçom é

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um “cidadão do mundo”, isso permitiu-lhe que lutasse tambémpelos valores em que acredita e que acima de tudo são os valoresda Maçonaria. Assim, foi através da sua ação por este mundo fora,que foi possível criar as bases para a implantação ereconhecimento de garantias ao nível dos Direitos Humanos, odireito à escola pública, o direito à saúde pública, a laicização dosestados (no sentido de que nenhuma religião se sobreponha ouseja enaltecida em detrimento das restantes), o ataque ao trabalhoinfantil e a emancipação da Mulher, entre outras lutas das quais osmaçons fizeram e ainda fazem parte pelo mundo fora.

Assim, em jeito de conclusão, combater as trevas, a tirania e aignorância, propiciando o progressivo bem-estar da humanidade,são os labores que os maçons assumem para com a sociedade eapenas tal é exequível globalmente porque a Maçonaria é universale cosmopolita.

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O Vigésimo Quarto Venerável Mestre

September 07, 2015

Para o ano maçónico de 2013/2014, o obreiro consensual paraassegurar o exercício do ofício de Venerável Mestre e,consequentemente, candidato único proposto por todos os Mestrespresentes na sessão para o efeito destinada, foi J. D..

J. D. era um dos mais antigos obreiros da Loja, sempre muitoparticipativo nela. Aquando da crise da cisão, desgostou-se eafastou-se. Anos depois, ainda bem antes da reunificação, voltou.Com a naturalidade dos nossos, reintegrou-se. A seu tempo,assegurou a função de Segundo Vigilante, um Segundo Vigilanteexigente, que muito bem formou os seus Aprendizes. Na alturaprópria assegurou a função de Primeiro Vigilante e ultimou aformação de toda uma geração de obreiros da Loja Mestre AffonsoDomingues. Era chegado o tempo de mais um dos históricosobreiros da Loja a dirigir e a sua eleição - como sempre na LojaMestre Affonso Domingues - foi consensual.

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Duas semanas passadas sobre a eleição, ainda em pelo período deexercício de funções do seu antecessor, J. D. faz saber aos maisantigos que, provavelmente, o melhor era ele renunciar a exercer omandato para que fora eleito, pois era possível que ascircunstâncias da sua vida privada o obrigassem a ausentar-se dopaís precisamente no ano do seu Veneralato.

Os mais antigos falam uns com os outros, consultam-se, pesamprós e contras, avaliam riscos, procuram superar as perplexidadesde uma situação inédita. Em mais de vinte anos de Loja, nuncasucedera, efetivamente, situação semelhante, nunca um VenerávelMestre eleito comunicara, ainda antes da sua instalação, apossibilidade de poder ocorrer situação altamente prejudicial para oexercício do seu mandato.

Não obstante a perplexidade, o consenso não foi difícil. Desde logo,estava em causa um antigo e muito considerado obreiro, que hámuito já provara merecer a confiança da Loja para a dirigir e nãoapetecia a ninguém que afinal não viesse a exercer o ofício paraque justamente fora eleito. Aliás, estava-se perante umapossibilidade, não uma certeza... E, afinal, se o problema viesse asurgir, a Loja haveria de o resolver, como anteriormente resolveratodos os problemas com que se deparara...

O sentimento unânime foi, assim, que J. D. não deveria renunciar,deveria ser instalado e exercer o seu mandato e, se seconcretizassem as circunstâncias que o levassem a ter de seausentar do país, então se resolveria o problema.

J. D. foi, assim, instalado, escolheu o seu Quadro de Oficiais, anunciou o seu programa, começou a exercer funções e... pouco tempo passado, a possibilidade mostrou-se inevitabilidade: os mais antigos e o Quadro de Oficiais foram por ele informados que ia ter

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de estar vários meses fora do país.

O facto de o pior cenário se concretizar não abalou, porém, a Loja.O alerta que, ainda antes de iniciar funções, J. D. formulara já tinhapermitido que se pensasse como se iria resolver o problema queporventura se viesse a colocar: bastava cumprir o que estavaregulamentado! E o que está, na GLLP/GLRP, regulamentado éque, ocorrendo impedimento temporário do Venerável Mestre emfunções, a administração transitória da Loja será assegurada peloPrimeiro Vigilante e a direção das sessões pelo Ex-Venerável.

Todavia, um outro problema havia ainda que superar: a Loja nãotinha ex-Venerável, pois que o Venerável Mestre anterior - comoaliás tinha, em devido tempo, informado a Loja, saira do seuQuadro de Obreiros, encontrando-se a dirigir uma outra Loja. Nadaque tolhesse a Loja Mestre Affonso Domingues! Recorrer-se-ia aoVenerável anterior a esse e, se necessário, ao anterior a esse...Mas, aqui chegados, a Loja resolveu cumprir o espírito da soluçãomas inovar na sua execução: nada obrigava a que, na ausênciasimultânea do Venerável Mestre em funções e do seuex-Venerável, as sessões da Loja fossem sempre dirigidas pelomesmo antigo Venerável...

Ficou então resolvido que, enquanto durasse o impedimento de J.D., as sessões da Loja seriam sucessivamente dirigidas por cadaum dos antigos Veneráveis que permaneciam no quadro deobreiros da Loja.

E foi assim que, mais de quinze anos passados, o José Ruah voltou a dirigir uma sessão da Loja - agora sem o espetro de cisão a assombrar o seu desempenho... -, quase tantos anos passados eu voltei a sentar-me na Cadeira de Salomão, e o Nuno L. e o A. Jorge e o João F. e ..., e... e... (é melhor não prosseguir na lista,

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senão ainda me esqueço de algum e é injustiça que não quero cometer...). Em resumo, se não todos, quase todos os antigos Veneráveis ainda integrando o quadro da Loja foram assegurando a direção das sessões, sempre por convocação do Primeiro Vigilante, que, entretanto e contactando à distância com o Venerável Mestre em exercício, ia "segurando as pontas" administrativas da Loja. Foi a situação ideal? Não foi, claro! Foi uma solução de recurso, que o ideal é ser o VM em funções a poder assegurá-las. A administração da Loja processou-se com normalidade? Claro que não! Uma administração de substituição, ainda que temporária, é sempre um "governo de gestão" que só assegura o dia-a-dia e houve problemas de fundo cujo tratamento teve de ser postergado. Foi uma má situação ou uma situação desconfortável? Foi, claramente, uma situação que gostaríamos que não tivesse ocorrido, mas... verdade, verdadinha, acabou por nos dar muito gozo ultrapassar! Foi uma espécie de "ó tempo, volta para trás", de relembranças dos mais antigos, de os mais novos verem os mais antigos, "ao vivo e a cores" a dirigir sessões, enfim, o espírito de entreajuda da Mestre Affonso Domingues no seu melhor! Sobretudo, como muito bem pontuou o José Ruah no seu texto"Do problema que não foi, à solução pelo desafio", "de repente Irmãos que andavam um pouco afastados chegaram-se mais para perto. Vieram para ajudar, com a sua presença mas não só, com as suas

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ideias, com as suas formas de ver e de fazer.

E tiramos mais uma lição, a da disponibilidade".

Sobretudo, confirmámos a nós próprios que, juntos e cooperandouns com os outros, haverá muitos poucos problemas resolúveis quea Loja Mestre Affonso Domigues não consiga resolver a contento!

O J. D. acabou por vir a concluir que o seu impedimento não lhepermitia reassumir com utilidade o efetivo exercício do ofício e,lealmente, renunciou ao mandato, possibilitando a eleição de umnovo Venerável, que dirigisse a Loja até ao final do ano maçónico -e assim veio a ser um Venerável Mestre que dirigiu apenas duas outrês sessões.

Mas seguramente que não deixou a Loja pior do que a recebeu.Deixou-a mais unida, mais ciente de que a união do grupo lhepossibilitará sempre descobrir e executar as soluções para todos osproblemas que, tendo solução, se lhe deparem. Tem um lugarhonroso na galeria dos nossos antigos Veneráveis!

Rui Bandeira

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Igualdade, Diversidade, Tolerância (republicação)

September 14, 2015

O texto que hoje é "reciclado" é um texto que o RuiBandeira escreveu à cerca de 2 anos e que pode serconsultadoaqui , mas cuja atualidade persistirá durante muitosmais...Assim deixo-Vos o texto abaixo publicado para a Vossa leitura:

"Igualdade, Diversidade, Tolerância

Os maçons prezam a Igualdade. Esta está na matriz genética doque é a Maçonaria. Na Loja, todos são essencialmente iguais,mesmo que alguém dirija, alguém assista quem dirige, alguémensine e alguém aprenda. Porque todos foram e potencialmenteserão tudo, todos fizeram e potencialmente farão tudo em Loja. Adignidade da condição humana é exatamente igual em todos ecada um, quaisquer que sejam as suas habilitações, as suasaptidões, as suas realizações. Cada maçom está entre iguaisquando está entre os seus Irmãos. Mais: cada maçom reconhece epreza a essencial Igualdade entre todos os membros da espéciehumana, independentemente de cores de pele, de nacionalidades,de crenças, de lugares ou de estilos de vida.

Os maçons prezam, também, e em igual medida, a Diversidade e o corolário desta, a diferença. Em Loja, é patente a riqueza advinda do confronto e da cooperação de diferentes experiências, capacidades, opiniões, formações. Por isso, não tiveram nem têm normalmente êxito avulsas experiências de criação de Lojas "monocolores", de médicos ou de músicos ou do que quer que seja,

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acumulação de experiências semelhantes que, por regra mais cedodo que tarde, se revela entediante e pouco apelativa. Os maçonsaprendem e praticam o inestimável valor da diversidade,aprofundam o estimulante potencial da diferença. Cada umcontribui com as suas valências, os seus saberes, os seus gostos,as suas experiências, em suma, com a sua individualidade, paraenriquecer o grupo e os demais. E cada uzm aprende,enriquece-se, com o que depara de diferente, com diversos pontosde vista que lhe aguçam e estimulam o intelecto e o espírito crítico.

A Igualdade não pressupõe, não se faz, de similitude. A Igualdadeaceita, resulta, da multitude de diferenças que existem naDiversidade.

A Tolerância é a ferramenta que harmoniza a Igualdade e a Diversidade. Entender que os nossos iguais não deixam de o ser porque pensam diferente de nós, aceitar que as diferenças de aspeto, de cor de pele, de experiências, de culturas, não afetam a essencial Igualdade da natureza humana, expressa na individualidade de cada um, é a natural postura que permite, mais do que possibilitar, mais do que meramente compatibilizar, efetivamente rentabilizar a Diversidade existente na Igualdade. Por isso a Tolerância não emerge de qualquer sentimento de pretensa superioridade do que tolera em relação ao tolerado; pelo contrário, a Tolerância pressupõe, enraíza-se, cresce a partir da noção de que o outro é essencialmente igual a mim e acessória e inevitavelmente apresenta diferenças em relação a mim. Diferenças que é estulto julgar, catalogar ou, pior, ridicularizar ou ostracizar; pelo contrário, diferenças que me enriquecem na medida em que as considerar, com elas aprender, integrar nos meus saberes, nas minhas posturas, na minha individualidade - que, por natureza, é

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diferente de todas as demais...

A Igualdade é o campo que cada ser humano tem em comum, osolo que todos pisamos, a terra que a todos nós molda. ADiversidade são as diferentes culturas que sobre essa terra comumse semeiam, granjeiam e, a seu tempo, se colhem, todasdiferentes, todas importantes, apesar das suas diferenças, afinaldevido às suas diferenças. A mesma terra dá o cereal de que se fazo pão, cria o fruto de que se fabrica o vinho, desenvolve o algodãode que se faz tecido. A Tolerância é a alfaia que trabalha a terra esemeia, granjeia e colhe as culturas.

A essencial Igualdade de todos os seres humanos é umaindispensável base com um inestimável potencial, concretizadonuma miríade de diferenças que constituem a formidável riqueza daDiversidade. A Tolerância é o meio pelo qual se aproveita opotencial e se cria a riqueza, a forma como, assumindo a comumbase de partida, se propicia a inestimável infinidade de caminhosque podem ser traçados, cruzados, percorridos por iguais comdiferentes anseios e diversas caraterísticas, sementes diversaslançadas à mesma terra produzindo inumerável variedade defrutos.

Compreender que todos somos essencialmente iguais, valorizar asdiferenças inerentes à nossa individualidade, articular o que écomum com o que é diverso com a harmonia da Tolerância, sãocaraterísticas imanentes da Maçonaria, presentes desde sempre nasua matriz formadora. Para os maçons, reconhecer a Igualdade eTolerar, isto é, aceitar, valorizar e aproveitar a Diferença, é purarotina, algo tão natural como respirar.

No dia em que todos em toda a Humanidade conseguirem compreender e praticar que o ser humano, sendo essencialmente

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Igual aos seus semelhantes só se valoriza. se potencia, se realizapelo exercício e aproveitamento das suas diferenças, constituindo oconjunto de todas elas a enriquecedora Diversidade da espéciehumana, tão mais enriquecedora e propiciadora do progresso e dobem comum quanto mais bem Tolerada, aceite, fomentada for portodos e cada um, nesse dia finalmente as trevas do obscurantismoserão vencidas pela Luz da razão.

Para que esse dia chegue trabalham, dia a dia, incansáveisformiguinhas obreiras, os maçons. Esta a Grande ConspiraçãoMaçónica! Esta a Nova Ordem Mundial por que anseiam! Osmaçons e todas as pessoas de bem e livres de preconceitos!"

Rui Bandeira

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O Silêncio dos Aprendizes (republicação)

September 21, 2015

O texto que hoje remeto para Vossa leitura é um texto do já"longínquo" ano de 2009 e saiu da pena do A.Jorge e retrata a suaexperiência enquanto Aprendiz e o que ele sentiu durante esseperíodo em relação ao silêncio que lhe era imposto pela Loja.- Silêncio este que é imposto a todos os Aprendizes eCompanheiros durante o seu tempo de frequência nesses graus -.

Aqui fica o seu testemunho:

"Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dosaprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos,dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minhaaprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, esperoque, como Maçon.

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:.B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houvedesde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria euconviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja.Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia seruma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu meaguentava....

Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar calado significava para mim quase que uma prova de fraqueza ou ignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundo profano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmente

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preferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizernada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – senão podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer?Durante este período, passei por várias fases evolutivas:equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinhapara dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientesde desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparaçõesentre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria namesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minhapermanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já quedecidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante osilêncio, principalmente a partir do momento em que conclui serinútil preocupar-me em construir uma argumentação que depoisnão teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissemoutras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a formamais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava aser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de formaconsciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a umanova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para sóescutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar enão por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um processo intencional, lento, com avanços e retrocessos mas extremamente agradável - sentir que começava a descobrir os outros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. De forma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depois

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entre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvirfrases como “não sei porquê, mas agora é mais agradávelconversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nosprocessos negociais, em que cada argumento antecipado podeconstituir uma vantagem para os outros, descobri também que oescutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudopreparar melhor a argumentação necessária à consecução deestratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de umasabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seusaprendizes e companheiros, para os preparar para a construção doTemplo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar emloja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendoapenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidadea um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão erecepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para umaatitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seussentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver,ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave desteprocesso de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligartodas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas ediferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusõesque lhe permitam uma visão cada vez mais elevada dasobservações que faz. Esta deve ser a maior preocupação doiniciado.

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O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra desilêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão,permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases,estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. Nosilêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinandominuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com asigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, InveniesOccultum Lapidem), que na sua tradução para português significa:"desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderásencontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profanotransforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assumeo papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante daPedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará nohomem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando lutapara transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderáutilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templointerior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seu estágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira e

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superficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejammelhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzirao Aprendiz a necessidade da reflexão como método detransformação interna. Embora indirectamente, é possívelestabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do1º grau, nomeadamente:

• Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões,submeter a sua vontade e realizar novos progressos naMaçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon devedesafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes deconsultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lheum método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexãoque o levará a ponderar os seus juízos de valor em função deconhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.

• Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelaros segredos que me foram confiados”, que pressupõe não sódedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade deresponder ou reagir após um processo de interiorização evaloração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornarinconsciente e natural.

• Na resposta “Porque todas as forças destinadas adesenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiroconcentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece anecessidade de um trabalho interior prévio em que o silenciopode e deve ser uma peça fundamental.

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Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o terconhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este meproporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentamna sabedoria milenar do grupo e que constitui como que umtirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase deutilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmentepara um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição setransforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria,fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da suaevolução e do seu crescimento interior."

A. Jorge em 27.04.6000

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Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP àAssembleia de Grande Loja no Equinócio de Outono

September 28, 2015

Da Regularidade:

Enquanto Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal,encerro nesta Grande Loja de hoje, um ciclo completo: doissolstícios: dois equinócios: um ano solar, fecho com o compassomaçónico um círculo justo e perfeito.

Antes de mais, agradecer a todos: as horas felizes, os sorrisos, aforça, as ajudas, a lealdade, a harmonia, o companheirismo fiel efraterno.

Dizer ainda que crescemos em Obreiros e em Lojas, que nos fortalecemos, que nos consolidamos, que aumentamos a nossa

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estruturação e eficácia, o nosso rigor, e através de uma sede deGrande Loja renovada e mais fina e ritualmente adornada, damoscorpo a uma melhor imagem de nós, mais bela, espaço repositórioda história e memória da nossa Obediência, mais condizente, maisjusta e perfeita.

Sendo a nossa sede local onde trabalham 21 Lojas nos doistemplos ali consagrados, é no entanto o espaço de todos osMações e de todas as Lojas da G■ L■ L■ P■ /G■ L■ R■ P■ , visitávelpor Irmãos, Famílias e profanos em horários pré-determinados.

Mantivemos e reforçamos os nossos relacionamentosinternacionais credibilizando ainda mais a nossa Grande Loja edemos corpo ao reforço estratégico dos laços da lusofonia.

E por fim conversar convosco sobre Regularidade. E falar-vosdeste tema, porque somos uma grande Obediência Maçónica quese filia com total plenitude na Regularidade Maçónica, a maiorfamília maçónica do planeta, que conta já com muitos séculos detradição.

Por vezes somos levados a não valorizar suficientemente a realimportância da nossa Regularidade, porque nos esquecemos quefuncionamos tal uma orquestra sinfónica, totalmente afinada:embora o maestro seja fundamental para marcar o tempo, cadamúsico tem que cuidar do seu instrumento, da sua partitura, da suamelodia, manter-se a si próprio aprumado e ensaiado, estar atentoe seguir escrupulosamente o tempo que a batuta do maestro dita,para se poder atingir a coesão e a coerência, para se poder realizaruma execução com unidade interpretativa, em plena harmonia.

E embora o maestro conte imenso, cada um dos restantes elementos conta igualmente imenso. Obrigado a todos por mantermos esta contínua harmonia, obrigado a cada um pelo papel

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fundamental que tem sido capaz de interpretar e desempenhar.

A regularidade maçónica é filiação que se conquista arduamente, érealidade que se merece depois de conseguida a harmonia, mas étambém realidade que se mede ininterruptamente, e que por issose pode perder a cada nova sinfonia que a nossa orquestra queirainterpretar, porque a maléfica tentação da cacofonia espreitainsistentemente, o individualismo desintegrador ameaça todos osdias, mas eu garanto-vos que serei sempre um devorador dedesunião, um comedor de egocentrismos, um maestro da união eda harmonia.

Não queiramos apenas acreditar nas nuvens de algodão quedescobrimos pelas janelas dos aviões, porque elas já foram beber atodas as gotas de orvalho, a todos os rios, a todos os lagos, a todosos mares, a todos os oceanos! Também assim se forma aregularidade maçónica universal, tal uma cadeia que se irmanaatravés de elos que são cada Irmão, cada Loja, cada Grande Loja,cada confederação de Grandes Lojas, continuamente escrutinadaspela Grande Loja Unida de Inglaterra: tal uma romã, a tal meligranaque em várias ocasiões já vos falei.

Sem complexos, servilismos ou perda de soberania da nossaObediência, a Grande Loja Unida de Inglaterra é uma autoridadeindisputável no que a questões de Regularidade dizem respeito,não só porque é a Grande Loja fundadora da Maçonaria tal como aconhecemos mas porque ao longo dos anos emitiu e produziudoutrina sobre a Regularidade constituindo-se assim um referencialincontornável.

E se perdermos a regularidade o que seremos? Pura e total insignificância! Um grupo de homens livres que quer muito ser maçon, mas a quem mais ninguém no mundo lhe reconhece essa

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qualidade, porque deixamos de emanar luz, para ser apenasreflexo de passageiras venturas, olvidado que já foi o farolprimordial que nos alicerça na nascente, que através da distância edo tempo se purificou, sem que qualquer ilusão ou miragem ovenha reinventar, amortalhando assim a resplandecência da purezainicial: e nada mais que grandes ilusões permanecerão, grandesvazios, grandes dissidências e desuniões, paraísos falsostotalmente perdidos.

Pode haver a tentação de deixarmos subir através de nós avontade de noite, trazida por um ímpeto silêncio que acaricia a peledos nossos egoísmos, enquanto se estende um imenso lençol depesada sombra aniquiladora, tão serena que até dá tempo àconcretização de todas as grandes destruições, que nosprecipitarão em plena garganta de todos os precipícios.

Mas nós preferimos antes sonhar o rio da união como quieta lagoaque não tem que suportar o arrepio, nem tolerar saltos incertos eousados de contrabandistas que navegam no fio da navalha dosabismos, porque a eternidade Regular, nunca acabará de passar,por isso seguiremos em justo e harmonioso silêncio, o silêncio justoda tradição e da universalidade, para não sermos esmagados pelasdesilusões!

E vou continuar a falar-vos do tema da regularidade, mas agora de uma outra regularidade, a regularidade democrática em que o nosso País, o nosso querido Portugal, já se mantem há mais de quarenta anos. E falar desta regularidade democrática, porque se vão mais uma vez desenrolar eleições livres no próximo dia 4 de Outubro, o ato popular e universal que consubstancia a regularidade democrática de cada estado e que a Maçonaria tanto lutou. E não me atrevendo a opinar sobre os partidos políticos que

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a elas concorrem, creio constituir elemento relevante, o GrãoMestre alertar todos os maçons da sua Augusta Ordem, para quesejam cidadãos intervenientes mas inteiros, agentes plenos decidadania, que nunca deixarão o seu país derivar paraobscurantismos e outros regimes totalitários, por isso serãoagentes valorizadores da democracia plena e portanto do atopopular mais sagrado das democracias modernas: as eleiçõeslivres.

Dizer ainda que durante estas últimas quatro décadas vividas emdemocracia, Portugal mudou radicalmente para melhor, tendo sidocapaz de responder cabalmente a vários grandes desígnios ecausas nacionais tal: a liberdade, a democracia, a descolonização,a infra-estruturação básica, a Europa, o desenvolvimento.

Mas ficam-nos ainda vários grandes desígnios nacionais porresolver, e dentro dos mais prementes, penso ser muito importantefrisar três fundamentais: a coesão e justiça social, a coesão ejustiça territorial, o respeito e defesa do ambiente.

Coesão e justiça Social para que sejamos realmente capazes deamenizar os sofrimentos dos mais desprotegidos e frágeis, não osdeixando em sofrimento à beira da estrada.

Coesão e justiça territorial, de forma a esbatermos o fosso que secavou entre o litoral mais povoado, mais rico e desenvolvido e ointerior em contínuo e total abandono, caminhando a passos largospara o total despovoamento, muito mais pobre, profundamentedeprimido e muito menos desenvolvido que a finíssima faixa litoral.

E por fim o respeito e defesa do ambiente, porque apenas temoseste país e este planeta para viver, e temos o dever de os deixaraos nossos vindouros, pelo menos em tão bom estado de saúde,como aquele que recebemos dos nossos ascendentes.

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É ainda importante frisar, que foi apenas no mês passado, que pelaprimeira vez um presidente em exercício nos EUA, o nosso IrmãoBarack Obama, pisou o Ártico americano, para enfatizar anecessidade do combate drástico ao aquecimento global: e nós porcá não queremos nada que o nosso litoral se afunde, nem o nossointerior se erme!

E neste tempo de equinócio, a União da grande família dos maçonsregulares, é de rigor: façamos o mundo mais feliz, e por contágio,sejamos todos mais felizes.

E era esta a mensagem simples que hoje vos queria comunicar, edela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente,harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da nossaRegularidade Maçónica, como a regularidade democrática paraPortugal, para continuar a consolidação e edificação da nossaAugusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do GrandeArquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos

Grão Mestre

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5 de Outubro, revolução e maçonaria (republicação)

October 05, 2015

O texto que hoje republico para Vossa leitura celebra hoje 5 anos efoi escrito pelo Paulo M. e pode ser consultado no seuoriginal aqui; sendo que na data da sua publicação teve umagradável debate de ideias na sua "caixa de comentários".

Assim, aqui fica o respetivo texto:

"5 de Outubro, revolução e maçonaria

Não pode deixar-se passar a data de 5 de Outubro - aniversário daimplantação da República em Portugal - sem se falar na Maçonaria.É público e conhecido o papel que a maçonaria teve neste evento.De facto, a revolução não só terá sido promovida, arquitetada eexecutada - pelo menos em parte - por maçons, como a maçonariaterá na mesma participado ativamente de forma institucional.

O que poucos saberão é que tal modo de atuação é daqueles quedistingue a Maçonaria Regular da Maçonaria Liberal. Não sequestiona o mérito da causa, mas a forma e os meios utilizados. Defacto, as razões invocadas para a revolução - o despotismopolítico-religioso, a ausência de liberdade de culto e da liberdade deconsciência que se viviam no regime de então - são válidas emeritórias, e pode mesmo dizer-se que pertencem ao ideáriomaçónico. Todavia, algumas questões de fundo separaminexoravelmente as duas correntes da Maçonaria - Regular eLiberal - e podem ser apreciadas neste contexto.

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Por um lado, tomemos a questão da discussão de política e religiãoem loja. Pelo que se sabe, esta revolução - como outras - foipreparada durante sessões de loja. Forçosamente se discutiu omérito desta política sobre aquela e - sabendo-se que haviamaçons quer na fação republicana quer na monárquica -certamente houve vozes minoritárias que viram os seus Irmãos, asua Loja, e mesmo a sua Obediência, agirem como um corpo naprossecução de objetivos e de ideias contrários aos seus. Por fazerprevalecer, na escala dos valores, a harmonia fraterna, é que amaçonaria regular proíbe essas discussões, para que não seestabeleçam partidos opostos dentro das lojas, para que estas nãoescolham lados, e para que as grandes lojas não manifestempreferências que poriam, em qualquer dos casos, uns "de dentro" eoutros "de fora".

Por outro lado, atente-se a que a maçonaria regular exige dos seus membros que sejam cidadãos cumpridores das leis do país. Ora, esta questão tem duas consequências. Por um lado, de forma mais imediata, implica que caso um maçon seja condenado pelo sistema judicial civil por um crime que tenha cometido, sofrerá quase que por certo uma sanção disciplinar no seio da sua Obediência, sanção essa que poderá mesmo constituir a sua expulsão (mas, evidentemente, ninguém é expulso por algo como uma multa de estacionamento). Por outro lado, esta exigência reflete-se nas Obediências, não sendo reconhecidas a nível internacional aquelas que, para existirem, impliquem que os seus membros cometam alguma ilegalidade; por exemplo, se as leis do país passarem a proibir a Maçonaria, e mesmo assim uma Grande Loja continue a existir - cometendo uma ilegalidade - ser-lhe-á retirado o reconhecimento internacional por parte das outras Grandes Lojas

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regulares.

Tais condicionantes - a proibição de discussão política e religiosa, ea obrigação de cumprimento da lei do Estado - não se verificam naMaçonaria Liberal. Cada maçon que pertença a uma Obediência daMaçonaria Regular é livre de agir como a sua consciência lhe dite econtinuar a ser maçon - desde que não cometa nenhum crime.Participar de - e, especialmente, promover - uma revolução,atentando contra os órgãos do Estado, é um crime contra o mesmoEstado, e não é considerado pela Maçonaria Regular uma formaaceitável de se agir. Entendimento diametralmente oposto tem aMaçonaria Liberal, que argumenta que uma lei injusta não temlegitimidade, que crime seria observá-la, e que promove o seuderrube.

Dois pontos de vista.Duas formas de agir.Duas Maçonarias."

Paulo M.

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O quinto Grão-Mestre

October 12, 2015

O quinto Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi Mário Martin Guia. Foieleito em 16 de dezembro de 2006 e instalado em 24 de março de2007 para o exercício do seu primeiro mandato. Foi reeleito paraum segundo mandato em 7 de março de 2009 e reinstalado em 28do mesmo mês. Não veio, por opção própria, a completar essesegundo mandato, encurtando-o em cerca de seis meses, de formaa programar a instalação do seu sucessor para uma altura propíciaa que essa instalação decorresse com a presença de muitas eimportantes delegações estrangeiras.

Este detalhe demonstra bem como Mário Martin Guia dedicou especial preocupação e cuidado às relações internacionais. No decorrer dos seus mandatos, efetuou várias - e algumas prolongadas e esgotantes - viagens dedicadas ao estreitamento dos laços entre a GLLP/GLRP e as Potências Maçónicas Regulares da Europa, de África, dos Estados Unidos e da América do Sul. Foi com ele que a GLLP/GLRP assumiu papel de relevo na

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Confederação Maçónica Iberoamericana, onde integra a sua ZonaVI, conjuntamente com o Grande Oriente do Brasil e as GrandesLojas de Espanha, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru eUruguai.

Dedicou grande atenção às relações com as ObediênciasMaçónicas africanas. Foi no decorrer do seu mandato que aGLLP/GLRP apadrinhou a constituição da Grande Loja deMoçambique, tendo Martin Guia sido o Grão-Mestre Consagranteda referida Grande Loja e o Grão-Mestre Instalador do seu primeiroGrão-Mestre, dirigindo uma cerimónia em que também intervierammais três Grão-Mestres em exercício: o Grão-Mestre da Costa doMarfim, que foi o Primeiro Grande Vigilante Consagrante eInstalador, o das Maurícias, que interveio como Segundo GrandeVigilante Consagrante e Instalador, e o da Rússia, que impôs oavental de Grão-Mestre ao recém-instalado líder da novaObediência.

Reforçou também os laços de amizade e cooperação com asObediências europeias.

Em todas as ocasiões e cerimónias solenes em que participou,Martin Guia usava, não um ricamente bordado a dourados aventalde Grão-Mestre, mas um simples avental branco, com um discretobordado na mesma cor nas suas orlas (que fora executado por umasua familiar). Resultado: dava mais nas vistas o discreto e singeloavental branco do Grão-Mestre português do que toda a ricaparafernália dos dirigentes das maiores potências maçónicas!

Internamente, soube rodear-se de uma equipa mista de maçons experientes, de que era exemplo o seu muito eficiente Grande Secretário, e de alguns elementos que introduziu nas lides da Grande Loja. Dirigiu os destinos da Grande Loja delegando nos

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seus colaboradores, mas sempre deixando bem claro o quepretendia fosse feito. Nesse aspeto, o tio Mário (como nós, osirreverentes novos Grandes Oficiais carinhosa e nem sequer muitosecretamente lhe chamávamos) era implacável: sempre com umsorrio nos lábios, um brando tom de voz e uma postura simpática,dava as suas instruções, pedia (ele nunca mandava, pedia; mas osseus pedidos eram sempre satisfeitos - ou então ele voltava apedir, a lembrar, a insistir, sempre com toda a calma e sorrisoprazenteiro, vencendo com a sua persistente brandura a maisempedernida das resistências...) e fazia com que as suasinstruções fossem cumpridas.

Como Grão-Mestre, Martin Guia foi um conservador inteligente:soube chamar a si os espíritos jovens, os que mostravam maisirreverência, os mais predispostos a experimentarem coisas novas(e a correr riscos...), integrando-os nas lides da Grande Loja,aconselhando-os, dando-lhes responsabilidades, mas"mantendo-lhes as rédeas curtas", para que os generososentusiasmos não fossem demasiado imprudentes e não causassemestragos irremediáveis. Os mais antigos foram contactando com eenquadrando o entusiasmo dos mais novos. Estes foramaprendendo e matizando com a sensatez da realidade airreverência da sua inexperiência inicial.

Martin Guia efetuou, assim, uma tranquila transição de gerações nadireção da Grande Loja. Sem perturbações. Paulatinamente. Com osaber-fazer que só a experiência de uma vida bem vivida permiteadquirir.

Ao terminar os seus dois mandatos, tinha feito o que queria e deixou uma Obediência unida, organizada, bem enquadrada e bem relacionada externamente, com uma renovação gradualmente feita

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dos seus quadros dirigentes, enfim, uma Obediência pronta paraevoluir a evolução que as condições lhe propiciassem.

Martin Guia, de uma forma muito lúcida, dizia - muitas vezes lhoouvi dizer, sobretudo no seu segundo mandato - que sabia bemque o seu sucessor ia ser diferente dele, ia fazer diferente dele, iatomar decisões que seriam diferentes das que ele tomaria. Masacrescentava sempre que assim é que deveria ser: cada um partiado caminho aberto pelo seu antecessor para desbravar o seupróprio caminho.

A evolução tranquila conservadoramente efetuada por Martin Guiadeixou a Grande Loja preparada para a evolução futura.

O quinto Grão-Mestre, Mário Martin Guia, foi um excelenteGrão-Mestre, cujo mandato é grato recordar.

Obrigado, tio Mário!

Rui Bandeira

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“Valerá a pena ser Maçom no século XXI ?”

October 19, 2015

Aqui há alguns tempos atrás o Paulo M. elaborou através da suapena dois textos em formato de “mini-seriado” que me motivaram areflexão que partilho convosco hoje e cuja questão central figuravana seguinte pergunta “No século XXI fará sentido ser-seMaçom?” e que é uma questão bastante pertinente para todos osMaçons, independentemente do seu Grau ou Qualidade, ou seja,independentemente do grau que detenham na sua caminhadamaçónica e do cargo que ocupem nas estruturas maçónicas(Respeitáveis Lojas ou na Obediência Maçónica em si).

Esta pergunta que serve de tema para o texto de hoje é umareflexão e questionamento que faço a mim próprio diariamente.

Será que valerá a pena nos dias de hoje, que em pleno século XXI,num tempo tão avançado tecnologicamente, mediaticamente etcetc etc… continuar a existir uma instituição como a Maçonaria emesmo assim existir quem queira fazer parte integrante dela,nomeadamente eu inclusive?!

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Será que existe qualquer mais valia para a Sociedade existirempessoas que integrem Ordens de cariz iniciático e fraternal como aMaçonaria?

Com que interesse essas pessoas, nos tempos que correm,ambicionam entrar numa Obediência Maçónica?

Estas questões com que me deparo no meu dia-a-dia encerramelas próprias as suas respostas, a meu ver.

Poderá aparentar alguma estranheza responder a uma únicaquestão (tema central) com outras três dúvidas/questões. Mas defacto elas fazem todo e qualquer sentido!

À primeira questão que se me apresenta, posso afirmar que sim!

Faz todo o sentido existir uma Ordem como a Maçonaria, uma vezque a Maçonaria é uma Ordem iniciática e ritualística, universal efraterna, filosófica e progressista, firmada no livre-pensamento e natolerância entre as pessoas, tendo por objectivo o desenvolvimentoespiritual do homem com vista à construção de uma sociedademais livre, justa e igualitária. Ordem esta que se preocupa emformar os seus membros para além de lhes propiciar as“ferramentas filosóficas e inteletuais” de forma a que possampotenciar as suas melhores qualidades pessoais, polindo o seucomportamento, de maneira a evitar a prática de atitudesdesviantes ou consideradas como erráticas ou indignas pelasociedade vigente.

Com esta última afirmação, posso eu responder também à minhasegunda dúvida.

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Não obstante o desenvolvimento intelectual e tecnológico dasociedade atual, a Maçonaria terá sempre lugar no tempo e nahistória, ou não fosse ela também uma instituição secular. Asinstituições vivem de pessoas e da sua comunhão e contato entresi, partilhando o que se sabe, aprendendo e obtendoconhecimentos que não se detinham, por forma a formar-se umacadeia de partilha que se funcionando em pleno poderá fomentar oprogresso da Sociedade no geral e das pessoas no singular. Eexiste algo que nem a própria tecnologia nem o mediatismo econsumismo atual poderá fazer.Esse “algo” apenas poderá ser encontrado na vivência e práticaespiritual de cada um de nós. E poderá ser aí que residirá aimportância da existência de instituições que se interessem poresse “lado”.

A espiritualidade de cada um depende da sua cultura, educação eda sua experiência de vida. Uma prática espiritual pessoaldependerá sempre do que se ambiciona e se pretende da vida e doque já se obteve até então. E a maioria das vezes o problema seráno que já se obteve ou não, e o que se fazer para se obter tal.Alguns sentem que necessitam de muito para viver, outros nemtanto assim… O que poderá levar a comportamentos e práticasincorretas na procura e obtenção daquilo que se poderá considerarcomo aquilo que fará falta para completar ou complementar a suavida.

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Se na sua vivência mundana, alguém denotar em si mesmo umaatitude ou comportamento errado, se decidir retornar ao “caminhocerto”, com certeza tal será benéfico para todos; mas para o próprioserá o reconhecimento das suas falhas e um sinal de humildade emquerer mudar para “melhor”. Para os restantes, que o acompanhamna sua vida, será a demonstração de um altruísmo e nobreza que oajudarão, por certo, no futuro, a ter uma prática social que serádigna de alguém que se considera livre, mas principalmente debons costumes. E isso será reconhecido por quem o tiver que ofazer!

Saber o que está correto, certo ou errado e escolher sabiamente ocaminho a seguir não está ao alcance de todos, e é gente assimque, por norma, interessa à Maçonaria. Gente que não é perfeita nosentido estrito da palavra, mas que procura aperfeiçoar-se a simesmo, através do trabalho, do estudo, do relacionamento fraternalcom os restantes membros, mas fundamentalmente através de umprocesso de auto-conhecimento, ou seja, do “conhecer-se a sipróprio”. Isto tudo (é) feito através de uma via espiritual.

No entanto, a observação da boa conduta e boas práticas de maçons reconhecidos na sociedade poderá também a suscitar a vontade de profanos a entrar na Maçonaria, uma vez que tal poderá despontar o interesse destes em elevarem também a sua conduta e forma de estar na vida pela simples observação da ação da

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Maçonaria e dos seus membros na sociedade de que fazem parteintegral.

Todavia, certamente que quem deseja fazer bem, “praticar o Bem”,não necessita de ser maçom para o fazer. Tal dependeexclusivamente da vontade de cada um! Mas sendo maçom, tal nãoé excepção, mas sim uma das regras que o deverão nortear nassuas práticas e condutas sociais.

A Maçonaria não é um clube social, benemerente ou filantrópico emexclusivo. - Não é apenas isso e é muito mais!-

Se alguém desejar entrar na Maçonaria para socializar, exercer a sua caridade ou filantropia, aumentar a sua lista de contatos pessoais e/ou fazer amigos, para isso já existem outras instituições para tal. Instituições que cuidam em exclusivo desses assuntos. Quem vier ou desejar entrar para a Maçonaria para isso somente, irá perder o seu tempo e fará perder tempo à Ordem e aos seus membros. A Maçonaria apesar de ter estas preocupações – que tem!- tem também outras que estão para além do que é mensurável e visível. E tal encontrar-se-à na componente espiritual e iniciática que a Ordem encerra em si e que propicia aos seus filiados. E isto apenas estará ao alcance daqueles que compreenderem a Ordem, percebam os seus fins e desígnios. Ou não fosse por isso também

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que a formação é gradual e exponencial, para que o conhecimentoseja obtido integralmente, mas passo a passo…

Concluindo, ao efetuar o somatório de toda estas reflexões que fiz,chego à conclusão que sim, vale a pena ser Maçom no século XXIe possivelmente também nos séculos vindouros...

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O Vigésimo Quinto Venerável Mestre

October 26, 2015

Com a renúncia do Vigésimo Quarto Venerável Mestre, a Loja deparou-se com uma situação inédita para resolver. Já anteriormente ocorrera uma renúncia do Venerável Mestre a meio do mandato, a do Sétimo Venerável Mestre, José Ruah. Então, a Loja designou para lhe suceder o Primeiro Vigilante, que completou o mandato e foi reeleito para exercer um mandato completo. Mas agora esta solução não era possível, pois o Primeiro Vigilante em funções informou que ou completaria o mandato interrompido, ou exerceria o mandato completo que se iniciasse em setembro seguinte, mas não estava disponível para exercer o ofício de Venerável Mestre durante ano e meio. Analisado o problema e as várias propostas de solução que foram sendo apresentadas, a solução - como frequentemente sucede quando se debate em conjunto, com lealdade, seriedade e espírito

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de compromisso - acabou por ser uma que ninguém vira à partida, um verdadeiro "ovo de Colombo", uma solução tão evidente, tão lógica, tão à vista que, com alguma perplexidade, alguns de nós se interrogaram como não tinham pensado nisso antes. Um dos Mestres fundadores da Loja, constando na carta-patente original da Loja como o seu primeiro Primeiro Vigilante, Hélder V., muito pouco tempo depois da fundação da Loja tivera que a abandonar, cumprindo missão, determinada pelo Grão-Mestre Fundador, de trabalhar em outra Loja. Durante mais de duas décadas, trabalhou em várias Lojas, auxiliando-as com a sua experiência e capacidade organizativa. Ao longo desse tempo, por várias vezes visitara a Mestre Affonso Domingues e ia mantendo contacto connosco. Cerca de um ano antes - talvez um pouco menos - regressara formalmente à Loja e reintegrara o seu Quadro de Obreiros. Exercera, por várias vezes e sob a direção de vários Grão-Mestres, diversas funções como Grande Oficial. Possuía a qualidade de Mestre Instalado. Detinha, assim, as condições regulamentarmente exigidas para poder, de imediato, ser eleito Venerável Mestre da Loja. Não se incomodava rigorosamente nada em exercer o ofício por um tempo mais curto do que a normal duração do mandato. Disponibilizou-se para completar o tempo do mandato do Venerável Mestre que renunciara mantendo em funções todo o o Quadro de Oficiais em exercício. Era o elemento ideal para assegurar a condução dos destinos da Loja pelo cerca de um semestre que faltava até a altura normal para um novo Venerável ser eleito e instalado. Parecia impossível como nenhum de nós se lembrara antes de que

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tínhamos ali à mão de semear um Venerável Mestre "chave na mão", pronto e disponível para resolver o problema! Corrijo: acho que pelo menos um de nós se lembrou disso - e foi quem lhe deu a cotovelada (virtual) incitando-o a que se chegasse à frente... Foi assim que, num abrir e fechar de olhos, de repente, todos se aperceberam que aquela era a solução melhor do que todas as outras que estávamos a analisar e, sem prévia combinação, com um consenso imediata e facilmente estabelecido (como nós, na Mestre Affonso Domingues, nos orgulhamos de frequente e quase rotineiramente conseguir) o Hélder, o nosso muito querido amigo e Irmão Hélder foi, por unanimidade, eleito Vigésimo Quinto Venerável Mestre. O tempo de exercício do seu mandato foi curto - cerca de metade do normal - e não deu para muito fazer. Mas deu para atalhar ao que estava a perfilar-se como o maior problema da Loja: a recuperação do seu equilíbrio financeiro. As tarefas administrativas e financeiras são sempre as primeiras a sofrer em períodos excecionais e a Loja, num período de crise económica que implicava alguma mobilização dos fundos reservados para solidariedade, após um ano em que efetuara diversas iniciativas, mas também gastara algum dinheiro com elas, e meio ano com o Venerável Mestre ausente e com o Primeiro Vigilante a assegurar a gestão corrente estava a necessitar de dar atenção à sua situação financeira. Hélder V., conhecido de todos pela sua bonomia e boa-disposição, fez questão de demonstrar que "conhaque é conhaque e serviço é

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serviço" e exerceu o ofício não hesitando em pôr de lado, quandotal entendeu necessário, essa sua bonomia e exercer a sua funçãocom autoridade e exigência. Foi o Venerável Mestre adequado para repor a Loja e os seustrabalhos no trilho da rotina, após um período de quase"autogestão" que, embora agradável e incentivador da união entretodos os obreiros da Loja, não deixou de ser um período deanormalidade. Findo o seu breve mandato, a Loja estava de novo em velocidadede cruzeiro e pronta para seguir o seu caminho sob a orientação doseu sucessor. Sem dúvida que Hélder V. prestou um bom serviço à Loja,corrigindo, na ocasião certa, os desequilíbrios que detetou erepondo o equilíbrio e o rumo da Loja. Indubitavelmente quecumpriu a sua obrigação de a deixar melhor do que a recebera.Com ele, acabou na normalidade um ano que começara em gestãoexcecional. Rui Bandeira

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O Silêncio dos Aprendizes (republicação)

November 02, 2015

O texto que hoje republico é um texto da autoria do A.Jorge eaborda a sua experiência pessoal em relação ao "silêncio" que éimposto aos Aprendizes. Silêncio este que todos os Maçonsalguma vez experimentaram... Para uns, algo difícil, para outros,algo necessário... Cada um com a sua experiência própria.

Aqui fica o texto, que pode ser consultado no seu original aqui ecuja "Caixa de Comentários" originou um debate interessante eesclarecedor.

"O Silêncio dos Aprendizes

Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dosaprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos,dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minhaaprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, esperoque, como Maçon.

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:.B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houvedesde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria euconviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja.Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia seruma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu meaguentava....

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Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar caladosignificava para mim quase que uma prova de fraqueza ouignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundoprofano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmentepreferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizernada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – senão podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer?Durante este período, passei por várias fases evolutivas:equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinhapara dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientesde desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparaçõesentre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria namesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minhapermanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já quedecidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante osilêncio, principalmente a partir do momento em que conclui serinútil preocupar-me em construir uma argumentação que depoisnão teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissemoutras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a formamais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava aser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de formaconsciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a umanova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para sóescutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar enão por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um

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processo intencional, lento, com avanços e retrocessos masextremamente agradável - sentir que começava a descobrir osoutros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. Deforma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depoisentre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvirfrases como “não sei porquê, mas agora é mais agradávelconversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nosprocessos negociais, em que cada argumento antecipado podeconstituir uma vantagem para os outros, descobri também que oescutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudopreparar melhor a argumentação necessária à consecução deestratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de umasabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seusaprendizes e companheiros, para os preparar para a construção doTemplo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar emloja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendoapenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidadea um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão e recepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para uma atitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seus sentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver, ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave deste processo de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligar todas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas e diferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusões

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que lhe permitam uma visão cada vez mais elevada dasobservações que faz. Esta deve ser a maior preocupação doiniciado.

O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra desilêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão,permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases,estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. Nosilêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinandominuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com asigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, InveniesOccultum Lapidem), que na sua tradução para português significa:"desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderásencontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profanotransforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assumeo papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante daPedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará nohomem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando lutapara transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderáutilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templointerior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as

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palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seuestágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira esuperficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejammelhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzirao Aprendiz a necessidade da reflexão como método detransformação interna. Embora indirectamente, é possívelestabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do1º grau, nomeadamente:

• Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões,submeter a sua vontade e realizar novos progressos naMaçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon devedesafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes deconsultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lheum método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexãoque o levará a ponderar os seus juízos de valor em função deconhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.

• Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelaros segredos que me foram confiados”, que pressupõe não sódedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade deresponder ou reagir após um processo de interiorização evaloração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornarinconsciente e natural.

• Na resposta “Porque todas as forças destinadas a desenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiro concentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece a necessidade de um trabalho interior prévio em que o silencio

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pode e deve ser uma peça fundamental.

Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o terconhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este meproporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentamna sabedoria milenar do grupo e que constitui como que umtirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase deutilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmentepara um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição setransforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria,fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da suaevolução e do seu crescimento interior.

A. Jorge em 27.04.6000"

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Jorge Manuel do Carmo Pereira de Almeida (1958-2015),maçom afável

November 09, 2015

Para alguns de nós era o Jorge Pereira de Almeida. Outrosconheciam-no melhor por Manuel do Carmo, parte do seu nomeque utilizava enquanto autor e artista plástico. Ele era ambos eambos eram um só, ele, um maçom afável, que era estimado portodos os elementos da Loja que com ele privaram.

Foi advogado, autor de quinze livros publicados sobre relações internacionais, arte e filosofia (só para referir três: Um Café pelo Aqueduto (Dinalivro), O Método Alternativo (Guimarães Editores), Caixa para Pensar (Verbo), o seu último trabalho editado), empresário, artista plástico. Foi assessor da Presidência do Conselho de Ministros no VII Governo Constitucional, professor de Relações Internacionais no ISLA, assessor na Fundação Oliveira

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Martins, Presidente da ONG Latin American Studies Institute, efundador e Presidente da Manuel do Carmo Foundation,organização sem fins lucrativos sedeada em New York com oobjetivo de angariar fundos para promover o diálogo entre asculturas europeia e norte-americana.

Foi tudo isso, teve uma vida cheia e produtiva. Mas foi, para nósacima de tudo o mais, um dos nossos, da Loja Mestre AffonsoDomingues.

Infelizmente, os mais novos não tiveram oportunidade de contactarcom ele. Há vários anos lidando com sérios problemas de saúde,não lhe era possível comparecer na Loja. Os contactos com eleeram sobretudo telefónicos, sobretudo para ir sabendo como ia elelutando com as doenças que o afetavam. Apesar da gravidade dassuas doenças, manteve sempre uma inesgotável força, força deviver, de lutar contra a doença, de superar e de se superar. Etambém um assinalável otimismo. Mesmo ao telefone, sentia-se osorriso que embalava a sua conversa. Esse otimismo manteve-seaté ao limite da impossibilidade, até ao momento em que ficouevidente que não venceria a sua luta. Quando isso sucedeu, a suafibra continuou a revelar-se e sobreveio a apaziguadora resignação,sempre de mãos dadas com a sua proverbial boa disposição. Aforma como lidou com as suas doenças, como encarou comnaturalidade a perspetiva da sua mais próxima do que longínquamorte, a serenidade (é a palavra certa) com que encarou o fim,estando já muito próximo dele, foi um exemplo para todos nós.

Aliás, hesitei um pouco em o adjetivar como maçom afável ou como maçom sereno. Teve ambas as qualidades. Optei pela primeira qualificação, quer porque foi qualidade que manteve sempre, na saúde e na doença, nos tempos felizes e nas alturas agrestes, quer

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porque foi talvez a caraterística mais marcante para todos os quecom ele privavam.

O Jorge estava bem em qualquer lado, com qualquer pessoa. Esobretudo foi um homem que lidou sempre com os outros com umaextrema amabilidade, sempre atencioso, sempre calmo esorridente, sempre dando a sensação de que ouvia o que lhediziam com a máxima atenção, sempre fazendo com que cada umse sentisse como o mais importante para ele, ali e naquelemomento. O Jorge não se limitava a ser educado, a ser amável, aser atencioso. O Jorge era tudo isso e transmitia ainda o gosto deestar a falar com o interlocutor. Mesmo quando porventuradiscordava dele, isso não impedia que o interlocutor sentisse queera um prazer debater com ele, que as concordâncias oudiscordâncias eram menos detalhes, que o importante era estaremjuntos e conversarem e trocarem pontos de vista.

À medida que a sua saúde se deteriorava, a nossa preocupaçãoaumentava. O Irmão Hospitaleiro foi visitá-lo e encontrou-o já muitoenfraquecido, muito frágil. Tinha a noção que o seu fim neste planode existência estava próximo. Encarava o facto com serenidade,escudado na sua fé de que a morte não era o fim, mas apenas umapassagem. Mesmo frágil, mesmo fraco, mesmo vendo a morte játendo virado a esquina e aproximando-se, interessou-se em saberdos demais irmãos da Loja. Ao saber que íamos homenagear onosso decano (em idade), fez questão lhe oferecer um dos seusúltimos trabalhos, e um outro à Loja, confiando-os ao IrmãoHospitaleiro para que os entregasse aos destinatários, e solicitouque o irmão decano que ia ser homenageado lhe autografasse umdos seus (dele, decano) livros. Infelizmente, não foi já possíveldevolver-lhe o livro autografado...

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O Jorge Pereira de Almeida, o Manuel do Carmo, teve uma vidacheia e bem sucedida. Nós recordá-lo-emos sobretudo pelacaraterística que mais nos tocou: como um Irmão extremamenteafável, com quem foi sempre um prazer privar e que nos deixasaudades. Voltaremos a encontrar-nos quando trilharmos o mesmocaminho em que ele nos precedeu. E de algo estou certo: o nossoreencontro será agradável, como agradável foi sempre o nossoconvívio.

Até ao nosso reencontro, Jorge!

Rui Bandeira

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Um Maçon e a sua religiosidade (republicação)...

November 16, 2015

Hoje o texto que republico é da autoria de um Mestre Maçompertencente ao quadro de obreiros da Respeitável Loja que acolheeste blogue e também ele mesmo, um membro do seu painel deautores, e que tem como confissão religiosa, o Islão.E dado o que se passou nos últimos dias aqui perto em Paris, seráinteressante recordar o pensamento de um muçulmano,o Alexandre T..Até porque não se deve nem se pode confundir a "árvore com afloresta"...

"Um Maçon e a sua religiosidade"

Pode um Maçon ser um Homem crente? Pode um Maçon ser um Homem praticante de uma fé/crença? Perguntas que muitos fazem, respostas que poucos as conseguem entender, pois por isso mesmo hoje decidi apresentar-vos a visão de um Maçon, face à sua vivência enquanto Maçon e enquanto Muçulmano. O que diferencia um Maçon Muçulmano de ou outro qualquer Maçon, seja ele Cristão, Judeu, Deísta, Budista e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo. Deixo-vos a minha opinião suportada por uma vivência de um momento muito especial no que respeita à pratica Religiosa e a Observância Maçónica daqueles que são os princípios da

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Maçonaria, falo da Liberdade, da Igualdade, do Direito ao Livre Arbítrio, dos Bons Costumes e da Tolerância e Respeito. O mês de Ramadão de 1435/2014. - Um mês de Ramadão terminado! - O dia de Eid al-Fitr comemorado! E agora, agora vamos a mais um balanço: Um mês de reflexão, de observação interior e de avaliação dos limites, limites esses que nem sempre julgamos poderem ser atingidos. Um mês de auto disciplina física e intelectual, um mês onde acima de tudo a mente esteve, tanto quanto possível, apenas fixada no bem, na família, nos amigos, na partilha, no fazer o bem e deixar de lado todas as intenções e pretensões pessoais, ou seja um mês de trabalho individual para melhorar a minha postura, ação e atitude face ao colectivo e à sociedade. Pois bem, do ponto de vista pessoal e é isso que interessa, pois cada um deve começar o trabalho por si mesmo e nunca pelos outros, digo-vos que o meu Ramadão foi completado a 100%. No que respeita à convicção de fé/crença essa sai reforçada, olhando à mesma como um processo de evolução e aperfeiçoamento pessoal, no entanto esclareço que neste tema de fé/crença, cada um tem o direito em optar pelo processo/caminho

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que bem entender, desde que essa seja a sua vontade e opçãofeita de forma livre e consciente. Esta minha escolha é mais um processo, adicionado a outros, como qual me sinto bem e através do qual tenho vindo a reforçar asminhas convicções, enquanto Homem Livre e de Bons Costumes(assim espero ser reconhecido) o qual me tem ajudado a percorreresta minha caminhada. O que me torna diferente dos outros, findo o Ramadão?

Bem na verdade NADA! Exactamente “NADA”, não consigo encontrar nada que me diferencie de todos os Meus Irmãos Maçons, sejam eles Cristãos, Judeus, Deístas, Budistas e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo. Em nada e em caso algum tenho o direito, ou posso sentir-me diferente, seja para melhor e ou para pior, apenas porque escolhi este ou aquele caminho, reconheço hoje, tal como sempre fiz, todos os Meus Irmãos de igual forma, sem qualquer diferença originada por qualquer Credo, Estatuto Social, Convicção Ideológica, Clubismo Desportivo e ou Opção Filosófica. Depois desta caminhada chego à conclusão que na minha fé/crença, bem como todos os rituais e práticas executadas, em nada me tornam diferente e têm apenas os seguintes objetivos:

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1 Tornar o Homem mais Humilde e menos Egocêntrico, pois a prática de nos dirigirmos ao Grande Arquiteto Do Universo, tem como principal objectivo tornar-nos mais Humildes aquando lidamos com todas as formas de vida, por Ele criadas. 2 Tornar o Homem totalmente consciente de que esta Caminhada (Vida) é apenas uma etapa de aprendizagem e que por isso mesmo devemos de olhar muito mais para o que está ao nosso lado e não apenas para o reflexo da nossa própria imagem no Espelho, pois quando a Luz se extingue também o nosso reflexo nos abandona e ai só quem está ao nosso lado e DEUS/YHVH/ALLAH, nos pode dar a mão. 3 Tornar o Homem mais consciente daquilo que são as necessidades de todos aqueles que jejuam permanentemente para lá do Ramadão, os quais jejuam infelizmente porque não tem meios para se poder alimentar, vestir e ou ter uma habitação condigna. 4 Tornar o Homem mais “Homem” e menos “Entidade Divina”, POIS neste período todos são elevados à mesma condição, O Rico, O Pobre, O Doutor, O Ignorante, O Inteligente, O sem Curso Superior, O Sacerdote, O Crente, O Homem e A Mulher, todos, mas mesmo todos, são iguais, todos passam pela mesma privação independentemente daquilo que são perante, ou aparentam ser, independentemente dos Rótulos e Medalhas com que se apresentam, ou se possam vir a apresentar no seu dia-a-dia Profano e ou Sagrado. Por isso findo este processo apenas quero deixar um registo de

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desejo: Que O Grande Arquiteto Do Universo nos proteja a todos dasTrevas que vamos encontrando ao Longo desta nossa Caminhada(Vida), que a Luz do Sol, direta e ou na Lua refletida, nos Ilumineaté que a Meia Noite do nosso Dia chegue e que lá no OrienteEterno, onde todos nos voltemos a Reconhecer e a Reencontrar,sejamos o reflexo daquilo que aqui fizemos, pois lá seremosapenas mais uma Luz, junto de todas as outras, sem qualquerdistinção, diferença e ou diferenciação. Disse! Alexandre T.

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A "Hipótese Deus" (Autor: João Anatalino)

November 23, 2015

Neste blogue, por regra, publicam-se textos da autoria de Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. No entanto, ocasionalmente publicam-se também textos de outros autores, quando se entende que, pela sua qualidade e interesse, se justifica essa publicação aqui - desde que, bem entendido, se disponha de autorização para se proceder à mesma, dada por quem dispõe de legitimidade para a dar. O texto que se segue, da autoria de JOÃO ANATALINO, escritor brasileiro, foi originalmente publicado no sítio da Internet deste escritor (http://www.joaoanatalino.recantodasletras.com.br/), e a sua republicação aqui é efetuada ao abrigo da licença Creative

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Commons que o referido autor concede, no mencionado sítio daInternet. Vale (muito) a pena lê-lo!

A “HIPÓTESE DEUS”

Não faz muito tempo que os cosmologistas começaram a aceitar a possibilidade de que o universo pode ser uma estrutura perfeitamente planejada e que ele está sendo construído de certo modo. A crença de que ele era estático e igual em toda parte passou a ser substituída pela ideia de um “ser” em constante evolução, onde as leis naturais funcionam como uma espécie de “constituição” reguladora desse processo. Nesse sentido, esses cientistas começaram até a considerar a possibilidade da chamada ‘Hipótese Deus”, admitindo finalmente a existência de uma Mente Universal na origem desse planejamento. Essas constatações tem sido facilitada pelos próprios métodos científicos utilizados por esses estudiosos em suas investigações, que mostram, na organização estrutural da matéria física, uma perturbadora semelhança com a organização do próprio universo em sua estrutura cósmica. Com essas coincidências, perfeitamente prováveis por medições científicas, já não é mais possível admitir, de pleno, que o universo seja regido unicamente por leis mecânicas, sem uma Vontade a organizar esse processo, como antes se admitia no meio científico. Laplace, por exemplo, dizia que Deus era uma hipótese perfeitamente desnecessária. Mas quando se olha a estrutura de um átomo e a estrutura de um sistema planetário, não se pode deixar de perceber a estreita semelhança entre as duas. É nesse sentido que a pesquisa da estrutura da íntimo da matéria tem revelado aos cientistas o segredo da constituição do universo, e nele cada vez mais se nota a presença

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de uma “Vontade” que o governa. Hoje se sabe que o universo é constituído de tal modo que é difícil,se não impossível, não pensar em uma ordem natural a gerir oprocesso da sua formação. Essa constatação é feita pelo fato deque se pode reconhecer, no processo de geração da matériauniversal, a existência de três funções que seriam impossíveis deser encontradas em uma ordem puramente mecanicista:a complexidade, que permite aos elementos componentes damatéria física se organizar em graus de complexidade cada vezmaiores; a mutabilidade, que permite a mudança gradativa de suascomposições e a perenidade, que admite a mudança de suaestrutura sem, no entanto, eliminar as propriedades particulares deseus componentes. Tudo isso só é possível na existência de umSistema perfeitamente planejado, como bem o definiu Mallowe.[1]

Em um de seus mais interessantes trabalhos, o físico Stephen Hawking situa o início do tempo no momento de nascimento do universo conhecido, momento esse chamado de

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big-bang.[2] Assim, o tempo, para os cientistas, começou junto com o espaço, e por isso ele sempre é representado por duas linhas que começam em um ponto zero e se alongam na mesma proporção, em setas orientadas em duas dimensões: a dimensão do tempo, que nos faz pensar em eternidade e a dimensão do espaço, que nos faz pensar em infinidade. Quando se começa a especular sobre esse tema, surge a intrigante pergunta: Se foi Deus que fez o universo, o que Ele era e o que fazia antes de começar a fazê-lo? Ele já existia antes disso? Ou Ele “nasceu” junto com o universo? “Há cerca de 15 bilhões de anos”, escreve Hawking, “ todas (as galáxias) teriam estado umas sobre as outras, e a densidade teria sido enorme. Esse estado foi denominado átomo primordial pelo sacerdote católico Georges Lemaiter, o primeiro a investigar a origem do universo que agora chamamos de big-bang.” A partir desse momento, segundo essa tese, o universo, que estava contido nessa região extremamente carregada de energia, tornou-se uma imensa bolha de gás que nunca mais deixou de se expandir.[3] A Bíblia, ao registrar esse fato não é menos metafórica e misteriosa do que os compêndios científicos que procuram explicar como o universo nasceu. Ela fala que “no início Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia e as trevas cobriam a face do abismo.” E então, do meio ás trevas Deus fez sair a luz. E Deus viu que a luz era boa e por isso a separou das trevas.[4] O texto bíblico parece sugerir que Deus já existia antes de começar a fazer o universo. Assim, Ele não pode ser o universo, como sustentam os adeptos do panteísmo, que identificam Deus com a

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sua própria criação, como se esta fosse algo capaz de existir por si própria.[5] A Bíblia identifica Deus como “o Espírito que movia-se sobre as águas.” Expressão enigmática que nunca pode ser explicada a contento dentro da lógica comum, já que, se o mundo ainda era pura trevas e a terra era informe e vazia, que “águas” eram essas sobre as quais o Espírito de Deus se movia? Pois, ao que parece, elas já existiam antes de Deus separar a luz das trevas. Assim, a Bíblia nos dá uma identificação e uma ideia do que era Deus antes de começar o mundo: Ele era “Espírito”, seja qual for o significado que o cronista bíblico quisesse dar á essa expressão. Mas não responde á segunda pergunta: O que Ele fazia antes de começar o mundo? Essas especulações se tornaram tão intrigantes que os próprios rabinos israelenses, produtores e comentadores da Bíblia, tiveram que quebrar a cabeça para responder á multiplicidade de perguntas que surgiram a esse respeito. Foi então que nasceu, entre os mestres cabalistas, a chamadaGrande Assembleia Sagrada, que se refere a um grupo de rabinos dedicados ao estudo da personalidade do Ser Supremo, sua natureza e seus atributos. Das especulações produzidas por esse grupo surgiu a chamadaSiphra Dtzenioutha, conhecido como o “Livro do Mistério Oculto”, parte mais misteriosa do Sepher há Zhoar, a bíblia cabalista. [6] Para responder á intrigante pergunta de quem era Deus e o que fazia antes de começar a fazer o universo físico, esses estudiosos criaram os conceitos de “Existência Negativa” e “Existência Positiva” termos utilizados pelos cultores da Kabbalah mística para designar Deus “antes” e “depois” de fazer o mundo. Nesse sistema,

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Deus (Ain em hebraico), é visto como uma forma de "energia" que em dado momento expandiu-se para fora de si mesmo, tornando-se o universo material (Ain Sof Aur- ■■■ ■■■ ). Esse termo, na Kabbalah, significa Luz Ilimitada. É a luz que se espalhou pelo nada cósmico, dando origem a tudo que existe. Essa visão mística do nascimento do universo, expressa no Livro do Mistério Oculto (Siphra Dtzenioutha), é definida com a misteriosa frase “antes que o equilíbrio se consolidasse, o semblante não tinha semblante”[7]. Aqui está inserta a estranha idéia de que antes de fazer o mundo, ou seja, antes de Deus manifestar-se como existência no mundo das realidades sensíveis, Ele já existia como potência, que embora não manifesta, já continha todos os atributos do universo manifestado. Ele já era todas as coisas, que viviam uma “existência negativa”, na qual a mente humana não pode penetrar justamente porque ela só pode conceber um plano de existência positiva, onde as ações podem ser identificadas e suas causas recenseadas. Agora, como capturar uma realidade que está além da nossa capacidade de mentalização? Sabemos que ela existe porque suas manifestações emanam para o plano da realidade sensível e é causa de fenômenos observáveis e mensuráveis. Quem sabe definir o que é a eletricidade, por exemplo? Sabemos como ela se manifesta, como atua e até já aprendemos a usá-la para as nossas finalidades, mas o que ela é nenhum cientista, ou filósofo, até agora, ousou afirmar. “Antes que o equilíbrio se manifestasse, o semblante não tinha semblante” é uma forma metafórica de explicar aquilo que a nossa linguagem não consegue articular num discurso lógico. Então os cabalistas recorrem á metáfora, ou ao símbolo, para dizer que a criação divina já existia antes de existir. Ou seja, antes que o

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universo adquirisse uma forma, ele já estava na Mente de Deus, como presença sem forma, sem nome, impossível de ser pensado pela mente humana. Era o próprio Caos primordial, no dizer dos filósofos gnósticos, que ao “vazar” para além de si mesmo adquiriu uma organização. Deus já era antes de ser o universo. Ou como diz Rosenroth “o universo inteiro é a vestimenta da Divindade: Ele não apenas contém tudo, mas também Ele mesmo é tudo e existe em tudo”. Essa é outra maneira de dizer que Deus, em sua Existência Negativa, é o “Espírito que se move sobre as águas” e na sua “Existência Positiva”, ele é o próprio universo.[8] Outra visão dessa realidade pode ser posta em forma de analogia, seguida de um símbolo mediato. Os cultores da Kabbalah mística dizem que “Deus é pressão”, e que sua manifestação no mundo das realidades fenomênicas tem a forma de um círculo cujo centro está em toda parte e cuja circunferência está em parte alguma. Sabemos que todo círculo tem um centro e uma circunferência. O centro é o ponto de onde ele emana e a circunferência uma corda que o limita. Dizer que o centro do círculo está em toda parte e que sua circunferência está em parte alguma é falar de um espaço que não começa em ponto algum e não acaba em lugar nenhum, uma dimensão sem início nem fim. Ou como diz MacGregor Mathers, “ O oceano sem limites da luz negativa não procede de um centro, pois não o possui. Ao contrário, é essa luz negativa que concentra um centro, a qual é a primeira das sefiroths, manifestas, Kether, a Coroa.” [9] Assim, essa idéia da divindade supre a necessidade que a mente humana tem de situar um início para o universo e imaginar, não um

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fim para ele, mas uma finalidade. Destarte, a dimensão daExistência Negativa é um momento anterior á qualquermanifestação da Divindade no terreno das realidades positivas, ouseja, um estado latente de potência concentrada em si mesma, queem dado momento cedeu á “pressão” interna da sua própriapotencialidade e “gerou a si mesmo”. Figurativamente, o big-bangseria o “parto de Deus”, o qual, simbolicamente poderia serrepresentado por um ponto dentro do círculo, como o faz MadameBlavatsky em sua cosmogonia da Criação.

Em analogia ao conceito bíblico de criação, poderíamos dizer que o big-bang dos cientistas equivale ao momento em que Deus “separou a luz das trevas”, ou seja, o momento em que o Grande Arquiteto do Universo “pensou” o universo, na tradição maçônica. Essa é a base da formidável arquitetura universal que a inteligência dos sábios rabinos de Israel conceberam e que a sensibilidade

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mística dos espíritos que não se contentam em viver no estreito território que a linguagem lógica nos obriga a permanecer adotou. Entre estes estão os maçons espiritualistas, que veem na sua Arte muito mais do uma mera prática social derivada de uma tradição que incorpora ideias esotéricas. O conceito de que Deus é o Grande Arquiteto do Universo tem sido empregado em muitos sistemas de pensamento e o cristianismo místico o tem adotado em várias de suas manifestações. Ilustrações de Deus como o arquiteto do universo podem ser encontradas nas nossas Bíblias desde os primeiros séculos da Idade Média e tem sido regularmente empregadas pelos doutrinadores cristãos de todas as tendências. São Tomás de Aquino, um dos mais respeitados filósofos da Igreja Católica, sustentou a existência de um Grande Arquiteto do Universo, que seria a Primeira Causa de todas as coisas. Por seu turno, João Calvino, um dos mais influentes divulgadores da Reforma Protestante, também se refere á Deus como sendo uma espécie de Arquiteto, pois seu trabalho de construção do universo material, o cosmo, e do universo espiritual (a humanidade em sua história moral) assemelha-se á construção de um grande edifício.[10] Na Maçonaria, o termo Grande Arquiteto do Universo é uma metáfora que, na sua origem, tem inspiração cabalística. Era um termo aplicado á divindade pelos maçons operativos, construtores de catedrais e grandes obras públicas, que viam em Deus o autor dos planos estruturais do edifício cósmico e por analogia, da humanidade. Nesse sentido, o mundo físico e mundo espiritual eram construídos a partir de uma estratégia desenvolvida por Deus, que como se fosse um arquiteto, pensava os planos do universo e

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seus mestres (os anjos) e pedreiros (os homens) o construíam. Essa era uma idéia extraída da interpretação cabalística da Bíblia, pois a Kabbalah vê o universo como se fosse um edifício sendo construído em dez etapas de manifestação da potência divina, que é simbolizada na chamada Árvore da Vida, ou Árvore Sefirótica, símbolo de extraordinário conteúdo esotérico, que se presta às mais diversas analogias e ilações, unindo a mística das antigas religiões do oriente com as modernas descobertas da física atômica. O termo “Grande Arquiteto do Universo” também foi apropriado pela filosofia gnóstica, sistema de pensamento onde o Criador “gera” um casal real (Cristo e Sofia, o primeiro par de eons), a partir do qual a sabedoria (gnosis) é trazida para o mundo. Através da atuação desse “casal cósmico”, nascem os “eons” (anjos, para uns, arquétipos para outros) que orientam os homens em suas ações. Constrói-se assim, o mundo e o homem, com o Grande Arquiteto traçando os planos estruturais e seus agentes trabalhando para executá-los. Assim, o Grande Arquiteto do Universo, que os maçons, em sua linguagem simbólica, abreviam para G. '. A.' .D. '. U. '. , é o termo utilizado para representar Deus em seu trabalho de arquitetura cósmica. Os anjos são seus mestres supervisores e os homens seus pedreiros. Fecha-se, dessa forma, o círculo místico que explica a forma maçônica de pensar um começo do universo e abre-se, para todos os temas do seu catecismo, uma justificativa do porque a Arte Real os trata desse modo. O G.‘. A.’. D.’. U.’., portanto, é um símbolo que representa a “Hipótese Deus” dos cientistas, pois somente através dessa ferramenta linguística a mente humana pode conceber realidades

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que estão fora do alcance da seu alcance lógico. Qualquer coisa, para ser entendida, precisa ter um começo. Deus éo começo. Não satisfaz ao maçom pensar nele como um ancião debarbas brancas, semelhante a um velho patriarca bíblico, queprocura criar e manter sua família confinada ás tradições de um clã,nem se comunga, na Maçonaria, com a visão – por muitoschamada de científica – que vê a Divindade orientando umprocesso de criação que se assemelha ao trabalho de umpecuarista selecionando crias para melhorar a sua espécie. Aocontrário, aqui a idéia é a de que aqui estamos como funcionáriosDele, construindo alguma coisa que Ele arquitetou. Por isso omaçom é o pedreiro da obra universal e Deus é o Grande Arquitetodo Universo. Destarte, para a Maçonaria, a Hipótese Deus já estásuficientemente provada.

[1] Eugene Franklin Mallove (1947 – 2004) The QuickeningUniverse –St Martins Pr; 1º edition, 1987.

[2] Stephen Hawking- Uma Breve Históriado Tempo- Círculo doLivro, 1988

[3] O universo em uma casca de nóz, citado, pg. 22

[4] Gênesis, 1: 3

[5] O panteísmo é a crença de que Deus é a própria natureza e nãose distingue dela como entidade. Nesse sentido, Deus(theos) é o“tudo”(pan), e só existe como um princípio, uma energia, que dágeração a tudo que existe, mas não existe independente dessetudo. Nesse sentido, Deus seria o próprio universo, com suas leisfísicas e morais.

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[6] Knor Von Rosenroth- A Kabbalah Revelada- Madras, 2010

[7] Idem, pg. 65

[8] A Kabbalah Revelada, op citado, pg 63

[9] Citado por Dion Fortune- Cabala Mística, pg 36

[10] Institutos da Religião Cristã , 1536.

DO LIVRO KABBALAH PARA MAÇONS- NO PRELO

João Anatalino

Publicado neste blogue no uso da licença Creative Commons,constante no sítio da publicação original destetexto, http://www.joaoanatalino.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=5439823

Rui Bandeira

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Compromisso (republicação)

November 30, 2015

O texto que hoje revê a luz é da autoria do Rui Bandeira e assentanaquilo que enquanto alguns possam considerar como deveres ouobrigações conforme do seu ponto de vista e forma de estar, eu,pessoalmente, considero tal como "qualidades". Qualidades essasque acho que devem ser intrínsecas aos maçons.Desta forma abaixo Vos deixo transcrito o referido texto e quetambém ele pode ser consultado na sua versão original aqui.

"Compromisso

Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entrecada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se atravésdo que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição dosucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numapalavra: COMPROMISSO.

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quemnão está, não participa). COMPROMISSO em relação aocumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto aopagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estruturatem custos, que necessariamente têm de ser equitativamentesuportados por todos os que a integram). COMPROMISSO emrelação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dosresultados do seu esforço.

Uma Loja maçónica potencia, acrescenta, valoriza, através de todo o grupo, a valia individual de cada um. É um fermento que auxilia

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no crescimento da massa que cada um amassa. Mas o fermento denada serve se não houver farinha para amassar ou se ninguém sedispuser a executar ou a cooperar na tarefa de fazer a massa...

Uma Loja maçónica vale a soma do valor de cada um dos seusobreiros, acrescentada da mais-valia resultante das sinergias,complementaridades e eficiências geradas pela cooperação nogrupo. Mas de nada serve o valor que potencialmente algumelemento possa dar ao grupo. Só importa o que efetivamente dê,transmita, acrescente.

Uma Loja de eminentes pessoas que se juntem apenas dar contadas respetivas eminências mas se não deem ao trabalho deproduzir, fazer, compartilhar, pode ser uma eminente Loja - masestá na iminência de ser um completo e absoluto fracasso!

Por seu turno, uma Loja que agrega homens comuns, semparticular engenho, sem especial importância, sem extraordináriainteligência, se estes dedicada e persistentemente trabalharem,partilharem, propuserem projetos, debaterem e executarem alguns,fará sucessivamente pequenas coisas, modestosempreendimentos, pequenas obras - mas o conjunto do que faráterá cada vez mais significado. Cada um sentir-se-á satisfeito comcada pequena conquista e propenso a continuar a ajudar, acolaborar, a propor, a fazer.O esforço de cada um, devidamentecoordenado, propicia resultados coletivos visíveis. Essa Loja podeser de formiguinhas - mas será uma Loja bem mais satisfatória doque a "eminente" Loja de homens eminentes que nada façam alémde observarem as suas mútuas "eminências"...

O COMPROMISSO tem de ser persistente, constante. De pouco vale hoje o que se fez de bom há anos atrás. Será uma história bonita, mas é já passado. Serve como exemplo, como inspiração,

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mas não substitui o trabalho de hoje para lograr a realização deamanhã.

O maçom que se queixa de que a sua Loja nada faz, que assessões "são sempre a mesma coisa", se só faz essa constataçãoe nada mais faz para superar aquilo de que se queixa, esse éprecisamente um dos culpados da situação que acusa. É estultoqueixar-se que "a Loja não tem projeto". O que há a fazer é tomar ainiciativa de fazer, ele próprio, algo que considere valha a pena serfeito - por pequeno, por modesto que seja. E, pelo exemplo epersuasão, levar outros da Loja a também tomarem a iniciativa defazer pequenas coisas. Ao fim de algum tempo, três, cinco, dez,vinte pequenas coisas feitas já constituem algo que se veja, algoque merece alguma satisfação pelo dever cumprido...

Ou então, em vez de se aguardar, expectante mas indolentemente, que a Loja imagine, descubra, prepare, debata, organize e execute o fantástico, importantíssimo e relevantíssimo projeto que gravará a letras de ouro o nome da Loja nos anais da História Maçónica e quiçá mereça uma nota de rodapé nos manuais do ensino elementar das futuras gerações, talvez seja melhor conceber um pequeno projeto, dar vida a uma ideia cuja forma final ainda nem sequer se saberá qual vai ser, combinar com dois ou três dos seus Irmãos e começarem a executar. Não é necessário que toda a Loja formalmente adote o projeto (mas convirá que não se trate de iniciativa que mereça a discordância da Loja...). Dois ou três começam. Dois ou três ou quatro dão os primeiros passos de algo que é feito em nome da Loja, enquanto elementos da Loja. Se efetivamente a ideia tiver pernas para andar, mais cedo do que mais tarde os demais ajudarão, incentivarão, participarão. E, quando nos damos conta, o projeto é já mesmo o projeto da Loja -

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não dos dois, três ou quatro que o iniciaram - e terá condiçõespara ser prosseguido enquanto houver Loja...

Na Loja Mestre Affonso Domingues nunca nos preocupámos emfazer grandes organizações. Tudo o que na nossa Loja se foifazendo começou da mesma maneira: dois ou três ou quatroconversam e avançam, os outros vão dar uma ajuda e, sem dissonos darmos conta, o que se faz é já de todos, é já da Loja. Foiassim que começaram as ações de doação de sangue - e há maisde dez anos que periodicamente ajudamos neste campo. Por vezescom poucas doações, outras vezes com mais gente a associar-se.Mas faz-se! Quem começou já não está na Loja há muito tempo.Os mais novos nem sequer ouviram falar dele. Mas a semente quelançou germinou e, mais de dez anos passados, uns anos mais,outros anos menos, os frutos continuam. É um contributo modesto,quase apenas umas gotas no oceano das necessidades,sabemo-lo. Mas persistirmos em dar esse contributo modesto eesperamos continuar a fazê-lo por muitos mais anos. É do conjuntode todos os modestos contributos que se satisfazem asnecessidades de sangue no País.

Este blogue começou por ideia de um, concretização de outro eimediata adesão de um terceiro. Os três autores iniciais nãocriaram o "seu" blogue. Criaram um "blogue escrito por maçons daLoja Mestre Affonso Domingues". Oito anos passados, outros sejuntaram, mais de 1.300 textos estão à disposição de quem osquiser ler. E espero que continue mesmo quando já nenhum dosmentores iniciais nele escrever...

O sítio da Loja foi criado por iniciativa de um, com a ajuda de outro, foi remodelado e mantido por um terceiro, que conta agora com a ajuda de um quarto e os contributos de todos os obreiros da Loja.

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Contém já um enorme acervo de textos postos à disposição dequalquer pessoa.

A Loja não gastou um minuto sequer a discutir se criava um sítio naInternet ou se mantinha um blogue. Uns avançaram, outrosajudaram, todos contribuem quando é preciso ou têmdisponibilidade. Mas a obra está feita e está à vista de todos. E nãoé obra do Manuel, do António ou do Joaquim. É obra dos obreirosda Loja Mestre Affonso Domingues.

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm umCOMPROMISSO com a Loja. É estarem presentes. É tudo livre elealmente debaterem, sem o mínimo problema, tolerando asposições divergentes, cada um concordando ou discordandoquando assim o entender, e todos sermos um grupo unido esolidário. É cada um sentir-se à vontade para arrancar com umprojeto, executar uma ideia, pedindo e obtendo, ou obtendo mesmosem pedir, o apoio e a colaboração de outros obreiros - se valer apena e for necessário, de toda a Loja.

O COMPROMISSO dos maçons da Loja Mestre AffonsoDomingues não é de fazer a mais importante e merecedora deelogios obra que o espírito humano possa conceber, O seuCOMPROMISSO é ajudar o seu Irmão a levar a cabo a sua ideia, éavançar com a execução das nossas ideias, sabendo que algum oualguns dos nossos Irmãos estará ou estarão presentes com a suaajuda.

O nosso COMPROMISSO na Loja Mestre Affonso Domingues é irfazendo, em cada momento, o que for preciso para ajudar. Assimfazemos. Às vezes mais, às vezes menos, às vezes muito, àsvezes pouco, às vezes bem, às vezes nem tanto assim. Mas, bemvistas as coisas, sempre algo se faz!

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Rui Bandeira "

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Verdade

December 07, 2015

Depois de ter dedicado um texto ao primeiro termo da divisautilizada pela maçonaria de língua inglesa, Amor fraternal, e umsegundo texto dedicado ao segundo termo, Auxílio, encerro o ciclocom algumas considerações sobre o terceiro termo da trilogia,Verdade.

Este tema, já foi soberbamente tratado neste blogue pelo Paulo M., num conjunto de cinco textos que intitulou "Perceção, verdade e tolerância", que facilmente pode ser localizado através do marcador

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Verdades. Em muito concisa, e por isso grosseira, súmula, noprimeiro desses textos, assinala-se a limitação dos nossos sentidose do nosso cérebro no que toca ao reconhecimento do quedesignamos por verdade. No segundo, as limitações que alinguagem coloca à transmissão da verdade percecionada. Noterceiro, a diferença entre a ciência e a fé, entre o que se sabe serverdade e o que se crê o seja. No quarto desses textos, refere-secomo cada uma das várias religiões possui, não uma, mas a (sua)verdade, a qual é incompatível, pelo menos na sua totalidade, comas igualmente absolutas verdades das demais religiões.Finalmente, no último desses textos, assinala-se que a maçonarianão toma partido entre religiões, até porque "não pretende, aocontrário da Religião, tratar da relação entre o Homem e o seuCriador; apenas trata da relação entre o Homem e o Homem".

Mas então se os nossos sentidos e o nosso cérebro são suscetíveisde ser enganados na determinação da verdade, que Verdade éessa que a Maçonaria enfatiza na sua divisa? Se a nossalinguagem é inevitavelmente imperfeita na transmissão da Verdade,que Verdade transmitem os maçons? Se o que se sabe serverdade em bom rigor não é completa e absolutamentedemonstrável, apenas se pode almejar a concluir que não estádemonstrado ser falso, e se há verdades que não são passíveis deserem demonstradas pela razão, qual, afinal, o objeto da Verdadeda divisa maçónica?

A meu ver, a resposta está, não na busca do Absoluto, mas na descoberta do individual. A Verdade Absoluta é inatingível aos humanos, pelo menos neste plano da existência. Pelo método

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científico, a Humanidade vai-se cada vez mais aproximando dafixação de muitos aspetos da Verdade - mas frequentemente, cadanovo avanço num aspeto acaba por impor a conclusão de que oque se tinha por certo noutro aspeto, afinal não é verdadeiro.Muitas "verdades" científicas de ontem está hoje comprovado queafinal não são tão verdadeiras. Quantas verdades científicas hojeindiscutivelmente aceites amanhã se comprovará afinal não serembem assim? A crença, ou a fé, bem vistas as coisas, não passa deum (necessário?) artifício que nós, imperfeitos humanos, utilizamospara conformarmos a nossa necessidade de atingir a verdade àinevitabilidade da impossibilidade de satisfação dessa necessidade.

A Verdade que importa, a Verdade da divisa, então não estará no inatingível conceito absoluto, mas apenas - e muito é! - em cada um de nós. A Verdade que interessa é a Verdade do que cada um É. Não é isto de pouca monta! Cada um tomar consciência da sua Verdade, do que efetivamente É, despojado de todas as máscaras, artifícios e armaduras que a Vida nos constrange a usar para (sobre)vivermos em Sociedade, não é tarefa simples nem fácil. Os nossos instintos básicos (desde logo o de sobrevivência), combinados com os condicionamentos da nossa educação e aprendizagem, condicionam-nos, desde muito cedo e muito profundamente a escondermos as nossas imperfeições, incapacidades, fraquezas, dos outros. Aprendemos que estas imperfeições, incapacidades, fraquezas, são vulnerabilidades que constituem alvos para os ataques de outrem. Por isso, desde a mais tenra infância vamo-nos condicionando (viciando?) a escondê-las de todos os outros. E acabamos por o fazer tão bem, mas mesmo tão bem, que até o escondemos de nós próprios! Acabamos por fingir para nós próprios sermos algo diferente do que

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na realidade somos. Essa inconsistência entre a nossa imagem -perante os outros e perante nós próprios - e a nossa verdadeiranatureza, mais tarde ou mais cedo paga-se, por vezes com preçoelevado. O nosso desconforto com a inconsistência entre o quesomos e o que nos obrigamos a mostrar (e a mostrar-nos...)paulatinamente vai pesando, vai-nos limitando, vai-nos afetando,vai-nos desgastando. Alguns sentem-no como um simples cansaço(quão disparatado é classificar de simples o cansaço de nóspróprios...), que vamos gerindo com uma férias ou uns momentosde cumplicidade e recolhimento com os nossos entes queridos.Outros vão cada vez gerindo pior a situação e sobrevêm asdepressões, as perdas do gosto da vida...

A solução está em perder o receio e adquirir a capacidade deespreitar por debaixo da armadura, por detrás da máscara,ignorando os artifícios, e confrontarmo-nos com o que realmentesomos, identificando as nossas forças, mas também as nossasfraquezas, as nossas virtudes e os nossos vícios, os nossosanseios e os nossos medos. Essa audácia permite-nosreconhecermo-nos de novo a nós próprios, como realmente somose não como mostramos, possibilita-nos a lufada de ar fresco doreencontro com a nossa pureza - a pureza que julgávamos perdidae que, afinal, cada um de nós conserva, só que que subjugada,embrulhada, tapada, escondida, por mil e um artifícios, máscaras,armaduras e desculpas.

Esse trabalho de redescoberta da nossa Verdade é propiciado pelavivência maçónica. E é libertador. Da ganga que insensivelmentefomos acumulando, do peso de tudo o que usamos para nosescondermos. Torna-nos mais livres e mais leves!

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Mais: os maçons aprendem não apenas a redescobrir a Verdadeque efetivamente são e escondem dentro de si, mas também apartilhar essa Verdade com os seus Irmãos, permitindo-se despojardas suas defesas perante estes - porque sabem que, em Loja eentre as Colunas de seus Irmãos estão seguros e protegidos elivres de ataques. Assim cada um não só pode ver-se como naVerdade é, como também pode ter a noção de como realmente sãoos seus Irmãos. E essa mútua transparência permite que todos sedescubram, afinal, tão profundamente iguais, no fundo das suasincomensuráveis diferenças! Talvez isto permita perceber porque ecomo se estabelecem os fortes e profundos laços entre os maçons!

A Verdade da divisa é, afinal, a Verdade inerente a cada um, porele redescoberta e posta em comum com os seus Irmãos.

É na franca exposição da Verdade que cada um é que se possibilitaidentificar o Auxílio de que cada um carece e do que cada um podeprestar e a todos envolver no Amor Fraternal.

Rui Bandeira

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O Dever, caminho para a realização (republicação)

December 14, 2015

O texto que hoje republico por o considerar deveras relevante para tal, viu a"luz" há cerca de 2 anos, em Novembro de 2013, e hoje tal como nessa altura, era e é um texto bastante interessante para ler, reler e fundamentalmente, reter(!). O Rui Bandeira escreve de uma forma bastante simples e de uma forma acessível a quem pouco ou nada sabe sobre a Arte Real, eu inclusive que debito umas tenras linhas de quando a quando, apenas posso afirmar que pouco sei, e mesmo assim já é muito para mim. Aproveito para fazer aqui o meu reparo e o agradecimento ao Rui por aquilo que nos ensina e partilha com a sua sabedoria e conhecimentos adquiridos pela sua experiência, tanto maçónica como profana, porque uma não é indiferente à outra... e desejar que assim o continue a fazer por muito tempo. E como o texto versa o "Dever", aqui ficou também demonstrado por mim um dever que deveria ser natural ao ser humano, a "Gratidão". Todavia, se agradecer algo a alguém deveria ser natural como afirmei, fazê-lo nem sempre é fácil para quem o faz e também para quem o recebe, pois tal pode ser constrangedor quando se faz algo sem se esperar qualquer tipo de recompensa. E nisso o Rui fá-lo muito bem! Ensina, informa, corrige, debate e partilha o que sabe e conhece sem esperar por qualquer tipo de retribuição. Fá-lo porque considera um dever o fazer e nada mais.

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Pondo agora de parte as loas que teço ao Rui, senão em vez de lhelevar um avental terei de lhe levar um babete no próximo encontro(just kidding) - Elogios estes, todos eles atribuídos a quem osmerece!- deixo-Vos com o texto que ele escreveu:

"O Dever, caminho para a realização

Os maçons falam muito de Dever. É natural. O aperfeiçoamentoindividual a que se dedicam implica, inevitavelmente, queidentifiquem o que têm a corrigir e definam como fazer a correção,isto é, o que se deve fazer para melhorar.

O caminho do maçom não é uma avenida de direitos, é uma veredade deveres a cumprir. Mais: um conjunto de deveres que omaçom escolhe cumprir.

Na ética maçónica, em primeiro lugar vem a obrigação, ocumprimento dos deveres - só depois se atenta nos direitos.Porque o caminho é este, não há constrangimentos nem vergonhasna reclamação ou no exercício dos direitos, porque se interiorizouque estes são o reverso correspondente aos deveres que secumprem. Assim, o cumprimento do dever é preâmbulo doexercício do direito - nunca o oposto.

Esta postura, que é o oposto do facilitismo e do hedonismo tão propalados por certos media comummente referidos de cor-de-rosa, que insidiosamente vão influenciando as mentes mais frágeis ou menos avisadas, é, no entanto, a mais consistente com as caraterísticas da espécie humana - as caraterísticas que nos permitiram evoluir, descer das árvores, deixar de ser meros caçadores-recoletores, nos possibilitaram aprender a produzir o

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que necessitamos para consumir e até mais do que aquilo quenecessitamos, enfim, o que nos fez chegar, como espécie, aoestádio atual (no melhor e no pior...) e nos fará, creio-o firmemente,evoluir sempre mais e mais.

Ao contrário do que se possa levemente pensar, desde a maistenra infância que o bicho-homem valoriza mais o que deve fazer, oque esforçadamente conquista, o que trabalhosamente obtém, doque aquilo que recebe sem esforço, fonte porventura de prazerimediato, mas arbusto sem raiz sólida para segurar o interesse pormuito tempo. Todos aqueles que educam crianças verificam que,ao contrário do que as próprias julgam, elas não apreciam tantoassim - e, no fundo, temem - a liberdade total, a possibilidade defazerem o que querem, quando querem, como querem. Se issolhes for temporariamente possibilitado, poderão extasiar-se perantea ausência de limites, mas não tarda muito que procurem oaconchego, a segurança, a certeza das fronteiras, dos limites, dasrestrições - contra as quais tanto refilam, mas que tão securizantessão. Afinal de contas, quando não há limites, como se podetransgredir? Como se pode forçar barreira inexistente para ir alémdela? E o crescimento, a evolução humana, da criança como daespécie, é feito de transgressões, de ultrapassagens de barreiras,de partidas para o incerto apenas possíveis porque se sabe que, see quando necessário, se pode recuar e voltar para o certo eseguro...

O dever é, pois, essencial para a espécie humana. Para o cumprire, por vezes, para o transgredir, aceitando os riscos e asconsequências, mas também buscando o além para lá dohorizonte...

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Os direitos possibilitam-nos satisfação e conforto, mas sãoredutores, limitadores, meras pausas agradáveis, obviamentenecessárias, mas afinal fatores de simples manutenção, não deconquista ou avanço. Os direitos gozam-se e, ao gozarem-se,fica-se - não se vai, nem se avança. É no cumprimento do dever,com o esforço e o custo que isso necessariamente implica, que seavança, se conquista, se constrói, se vai além.

Gozar os direitos é obviamente bom e agradável. Mas, bem vistasas coisas, cumprir os deveres, ainda que tal implicando trabalho,custo, esforço, é melhor. Porque no fim do cumprimento do deveracaba por estar sempre um prémio. Por vezes de simples, massaborosa, satisfação. Outras vezes com vitórias, com prazeres,com ganhos que não se teria se se tivesse mantido no simplesgozo dos direitos que já se tinha, sem mais nada fazer. A áureamediocridade pode ter brilho - mas não deixa de continuar a sermediocridade...

Os maçons falam muito do Dever, dão atenção aos seus deveres,cumprem os seus deveres. Não por serem masoquistas. Pelocontrário: por entenderem que é assim que conseguem realizar-se.E a realização pessoal é mais do que meio caminho andado para afelicidade...

Rui Bandeira "

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Boas Festas!

December 21, 2015

Entrámos na reta final do ano civil, quando o ambiente e a disposição nos relembram a cada momento que é a altura das Festas. As Festas por alturas do solstício de inverno (no hemisfério norte) são assinaladas desde a mais remota Antiguidade. O dia do solstício de inverno constitui o máximo do esforço, da privação, da falta de luz e de calor. É o menor dia do ano, é a maior noite do ano. Porque sentiu a Humanidade a necessidade de festejar este tão soturno, breve e desagradável dia? Porque marca o ponto de

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viragem, porque assinala a ocasião em que finda o tempo de tudopiorar, de cada dia que vem ser um pouco menor que o anterior ecada noite um pouco maior, para tudo começar a melhorar, apaulatinamente, dia a dia, aumentar o tempo em que o Sol nosilumina e a diminuir o tempo em que a escuridão da noite nosincomoda.

Sempre admirei esta capacidade do bicho-homem de festejar, deassinalar o momento em que o mau é pior, em que se bate nofundo, porque ela significa que a Humanidade tem a importantecaraterística de preservar a Esperança e de ver para além domomento. Quando se bate no fundo, daí para a frente é sempre asubir. Quando se atinge o máximo de escuridão, daí em diante aluz continuamente aumenta. O festejo do pior momento é afinal ofestejo da noção de que o pior passou, a partir de agora o pior vaisendo cada vez menos mau, cada vez mais facilmente suportável,até que saímos do tempo e do território do pior e passamos a estarna altura do melhor.

Na Grécia antiga eram as Festas Dionisíacas, nos tempos daantiga Roma estas festividades eram as Saturnálias, na sociedadeeuropeia cerca dos últimos dois mil anos é o Natal. Evoluem associedades, sucedem-se os costumes e as crenças, mas o básicocontinua no âmago dos homens: a celebração por volta do solstíciode inverno, chame-se-lhe o que se lhe chamar, é feita. As tribosprimitivas refugiavam-se nas suas cavernas, de volta do fogo,reunindo a tribo em torno da prole. Hoje, bem vistas as coisas, nãoagimos de forma muito diferente...

É chegado o tempo de cada um de nós se dedicar à sua família, de fortalecer os laços com o seus. É um tempo de pausa, que reforça os nossos grupos de gente chegada. As famílias - todo o tipo de

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famílias, das mais convencionais às mais arrojadas e liberais -reagrupam-se e cada um relembra a si mesmo que, por muitoindividualista que cada um seja, no fundo, no fundo, somosinapelavelmente todos animais gregários.

E este mergulhar no interior do grupo dos nossos mais próximosrevigora-nos para prosseguirmos o nosso caminho, reconforta-noscom o rememorar dos tempos em que éramos meninos,recorda-nos que, façamos nós o que façamos, corramos o riscoque corrermos, afastemo-nos o que nos afastarmos, existe sempreuma retaguarda onde somos bem-vindos, onde nos podemosacolher, aonde vale sempre a pena voltar.

As luzes são bonitas, os presentes são agradáveis, as mesas fartassão reconfortantes, as comemorações e as cerimónias dos nossoshábitos e das nossas crenças são aprazíveis, mas, para mim, oessencial é este retorno, esta necessidade, de anualmentesuperarmos a altura mais fria, mais desagradável, mais negra, doano junto dos nossos, entre os que nos são queridos. Em conjunto.Juntos. E festejar o facto de juntos superarmos o tempo difícil erumarmos a melhores dias.

Festas Felizes!

Rui Bandeira

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Maçons, "livres-pensadores"...

December 28, 2015

Aqui há uns tempos em conversa com um amigo sobredeterminado tema, disse-lhe eu isto: “eu apenas te mostro o mapa,caberá a ti escolheres o caminho”. E de facto esta é a realidade emque temos de viver. Ou seja, nós somos as nossas “escolhas”, nóssomos as “decisões” que tomamos e as ações que decidimospraticar.

Por mais que uns nos digam para irmos para a “esquerda” , outrospara a “direita” e alguns inclusive nos digam para seguir pelo“meio”, a decisão final sairá de nós próprios, da nossa vontade,independentemente das indicações e dos conselhos querecebamos e que possam nos auxiliar na decisão a tomar.

Se decidirmos agir de certa maneira, coincidindo ou não com o quea generalidade ou somente com o que alguns considerem sobre tal, foi a nossa mente que o decidiu.

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Assim, todos nós na nossa Vida somos - e seremos sempre -responsáveis por aquilo que decidirmos, sejam ações ou palavras eaté mesmo pelos mais simples pensamentos.- Fomos nós que os criamos/produzimos, logo somos nósresponsáveis por eles, por inerência-.

Por mais influências que recebamos externamente, é o nossoíntimo, o nosso “Soi”, que irá efetuar a escolha do queconcretamente iremos fazer.

Será a mais correta?!

Será a mais eficaz?!

Será a mais proveitosa?!

O que sabemos é que é a nossa decisão e apenas isso. Foi o queoptámos por decidir. E que tal decisão seja sempre tomada emconsciência com os princípios que advoguemos e com os quais nossintamos devidamente identificados.

-Sejamos honestos, íntegros e coerentes nas nossas decisões!-

Os maçons, “livres-pensadores” como orgulhosamente seassumem, devem ter bem a noção de tal. Não bastará assumir algoou determinada coisa para depois não se praticar isso na realidade.

É sempre esperado que um maçom use o seu bom senso e osseus bons costumespara decidir, se possível sempre, da melhorforma possível face às situações que a vida lhe apresenta.

-Tem o dever de agir dessa forma!-

O que poderá acontecer, e muitas vezes é inevitável tal, é que nemsempre as decisões tomadas possam ser as melhores ou maiscorretas, uma vez que o maçom, tal como outro ser humanoqualquer, também erra, mas como maçom tem a obrigação deaprender com esse erro e evitá-lo no seu futuro.

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E aqui assumo que os maçons também erram, infelizmentealgumas vezes e talvez, digo eu, vezes demais. Mas como omaçom é alguém que busca evoluir espiritualmente, ele tambémestará susceptível de efetuar mudanças no seu comportamento;logo também as suas decisões serão influenciadas pelasmudanças/”transformações” que sofrer e as suas atitudes serevelarão melhor no seu comportamento e carácter. Tudo isto emprol do seu auto-aperfeiçoamento enquanto ser humano.

Isso será o tal “polimento”, o tal “burilamento da pedra bruta” quena Maçonaria tanto se fala.

Os vícios ou erros comportamentais que possam ter existido na suaconduta no passado, deverão ficar aí mesmo, no passado. E “comode passado apenas vivem os museus” (como é usual se afirmar),no momento da Iniciação, no momento em que o recém neófitoencontra a sua primeira centelha da Luz, nasce como uma novapessoa, um “novo Homem”, e como tal terá acesso a “ferramentassociais e espirituais” que poderá utilizar para melhor atingir o seu“nirvana”, por assim dizer.

O que interessa por vezes não é o mapamas o caminho que seseguiu, mesmo para o nosso auto-aperfeiçoamento, o que importaé que decidimos livremente as decisões que tomámos e queescolhemos sempre, mediante o que a vida nos vai apresentando emediante as condições que temos, mas que foram as melhoresdecisões que considerámos que podíamos e/ou devíamos tomar outer tomado. Isso sim, é o mais importante nisto tudo.

Este caminho que seguimos é feito sozinho(somos nós que o temos que fazer) mas não é solitário(pois outros o fazem também) e temos ter a consciência e a noção disto. Se olharmos para o lado veremos alguém a viver as mesmas

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situações ou outras, com decisões tomadas semelhantes oucompletamente diferentes daquelas que, se fosse connosco,tomaríamos. A vida é isto mesmo, cheia de imponderáveis e é essauma das mais valias de viver, a cada passo dado, a cada momento,nunca sabemos o que se seguirá, apenas o podemos tentar prevere nada mais.

O que concluindo posso afirmar é que independentemente dasdecisões e escolhas que tomemos, somos nós que o deveremosfazer e não outrem. E por elas nos responsabilizarmos. São estasdecisões que nos definem como pessoas!

A grande diferença que temos em relação aos restantes seresvivos é a nossa “massa cinzenta” e que é devido a ela quepudemos livremente pensar.É altura de a começarmos a valorizar mais e principalmente em acomeçar a usar de uma forma correta e eficiente.

E posto isto, porque não… pensar?!