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A Pedagogia de Jesus - J. M. Price(1).pdf

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    J. M. Price

    A PEDAGOGIA DE JESUS

    O Mestre por Excelncia

    3 edio

    JUERP

    Digitalizado por Daniel-Tech

    http://semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htm

    Nossos e-books so disponibilizados gratuitamente, com a nica finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que no tem condies econmicas

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    SEMEADORES DA PALAVRA e-books evanglicos

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    Traduo autorizada do original em ingls

    JESUS THE TEACHER (edio revista de 1954)

    feita pelo Rev. Waldemar W. Wey.

    Anteriormente publicado sob o ttulo: Jesus, o Mestre por Excelncia. 268.6 Price, J. M. A pedagogia de Jesus; o mestre por excelncia. Traduo do Rev. Waldemar W. Wey 3 edio Rio de Janeiro RJ JUERP - 1980 Ttulo original em ingls: Jesus the Teacher. 1. Pedagogia Religiosa I. Ttulo II. Jesus o Mestre por Excelncia

    Junta de Educao Religiosa e Publicaes da Conveno Batista Brasileira Caixa Postal 320 CEP: 20.000 Rua Silva Vale, 781 - Cavalcanti - CEP: 21.370 Rio de Janeiro - RJ - Brasil Impresso em grficas prprias 3.000 / 1980

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    SUMRIO

    Prefcio .......................................... ............................................ 5 1. A Idoneidade de Jesus Para Ensinar ..................................... 6 2. Caractersticas dos Discpulos de Jesus .................................. 17 3. O Objetivo do Ensino de Jesus ... ............................................ 28 4. Princpios Subjacentes Obra de Jesus .................................. 39 5. Como Jesus Usava Seu Material de Ensino ............................ 51 6. Sua Maneira de Dar Lies ......... ............................................ 63 7. Alguns Mtodos Usados por Jesus ....................................... 74 8. Outros Mtodos de Que Jesus Lanou Mo .......................... 85 9. Resultados do Seu Labor ....................................................... 96

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    PREFCIO

    Este livro a resultante do trabalho de aulas dadas sobre educao

    religiosa no Seminrio do Sudoeste e de palestras feitas para professores de Escolas Bblicas Dominicais em igrejas, em reunies de congressos e de convenes regionais de Escolas Bblicas Dominicais, e em cursos intensivos.

    Esta obra no pretende ser uma apresentao exaustiva ou erudita de Jesus como mestre. O objetivo deste volume extrair da vida e dos ensinos de Jesus aquelas verdades que possam dar aos professores melhor viso e maior estmulo em sua gloriosa tarefa.

    Nosso estudo parte do sentimento de que os professores de Escola Bblica Dominical so hoje efetivamente a maior fora para o ensino e a prtica do bem, de que laboram sob dificuldades e desencorajamentos mui fortes e de que, para o bendito labor em que esto empenhados, precisam muito e muito de inspirao e de maior preparo.

    Agradecemos s vrias editoras que nos concederam a devida licena para as citaes que fazemos, bem como os que leram o manuscrito e nos externaram sua crtica construtiva e seu indispensvel incentivo. Que este livro seja uma bno para os professores e outros mais que esto vivamente empe-nhados na gloriosa obra de educao religiosa de nossa gente. *

    J. M. Price

    * As citaes do Novo Testamento so tiradas da verso da Imprensa Bblica Brasileira baseada na traduo em Portugus de Joo Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em Hebraico e Grego, 2 Impresso.

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    A IDONEIDADE DE JESUS PARA ENSINAR Ningum esteve melhor preparado, e ningum se mostrou mais idneo para

    ensinar do que Jesus. No que toca s qualificaes, bem como noutros mais respeitos, Jesus foi o mestre ideal. Isto verdade tanto visto do ngulo divino' como do humano. No sentido mais profundo, Jesus foi "um mestre vindo da parte de Deus". Muitos elementos contriburam para prepar-lo eficientemente para o magistrio. Alguns elementos eram meramente humanos; outros, divinos; alguns lhe eram inerentes, e outros, ele os desenvolveu. Quando os consideramos, nos sentimos estimulados e inspirados para cumprir nossa tarefa de professor. 1 . A Encarnao da Verdade

    O elemento mais importante na qualificao de qualquer professor

    justamente aquilo que ele em si. Todos reconhecemos que um s exemplo vale por cem ou mil conselhos. " Aquilo que voc troveja to alto que no posso ouvir o que voc diz." A melhor encadernao para os Evangelhos no o marroquim: , sim, a pele humana. Foi este fato que levou o Presidente Garfield a dizer que, no seu entender, a universidade ideal era uma tora de madeira, tendo John Hopkins numa extremidade e um estudante na outra. Foi esta verdade que levou Emerson dizer que o que mais importa no o que aprendemos, e, sim, com quem aprendemos. Foi ainda este fato que levou o notvel superintendente Stephen Tyng a responder a um quesito do regimento interno de sua Escola Bblica Dominical: "Sinto muito, mas no posso concordar".

    "A verdade encarnada a nica verdade espiritual que consegue apelar de

    modo efetivo. Por isso, cada professor deve sentir bem fundo em seu corao que sua pessoa a lio que mais apela ao corao do aluno." Isto de fato assim, porque a verdade mais se apanha do que se ensina. A influncia inconsciente mais poderosa do que a consciente. "As palavras do professor s chegam at onde as projeta a fora propulsora duma vida piedosa." o peso do machado que o faz penetrar mais fundo na rvore que se quer derrubar. Por isso o professor de Escola Bblica Dominical deve ser alguma coisa para poder eficientemente dizer alguma coisa. "A vida do professor a vida' do seu ensino."

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    Foi aquilo que eles foram que conseguiu dar ao mundo professores da estatura de Arnold, de Rugby; de Phelps, de Yale; de Broadus, do Seminrio do Sul; e de Carroll, do Seminrio do Sudoeste.

    Jesus foi a encarnao viva da verdade. Ele disse: "Eu sou... a verdade"

    (Joo 14:6). Ele foi cem porcento aquilo que ensinou. Fosse qual fosse o assunto, ele o encarnava e ensinava com transbordamento de toda a sua vida. S. D. Gordon disse: "Jesus tinha j feito antes de fazer, viveu aquilo que depois ensinou viveu tudo antes de ensinar, e viveu tudo bem mais do que pde ensinar." C. S. Beardslee assim se expressou sobre Jesus: "Sua grande alma deu lugar bem grande para que o Esprito Santo o ungisse inteira e completamente... Olhando para os olhos dele, voc v a luz em sua inteireza... Ele tinha ilimitadas reservas de verdade, de majestade, de beneficncia, de entusiasmo, de pacincia, de persistncia, de longanimidade... Ele mostrou aos que dependiam de outros como deviam confiar; aos servos, como servir; aos governadores, como dirigir; aos vizinhos, como serem amigos; ao necessitado, como orar; ao sofredor, como suportar; e a todos os homens, como morrer... Ele o ensino modelar para todas as pocas." Esta encarnao da verdade proveio de duas coisas. Do fato de ele ser Deus

    e possuir as perfeitas qualidades de Deus. Foi ele o nico ser perfeito. Ele difere de ns em qualidade e tambm em grau. Por isso jamais poderemos nos aproximar de sua perfeio. Tambm a sua encarnao da verdade proveio do fato de ele ter estudado e experimentado a verdade, e feito dela parte de si mesmo. "Jesus crescia em sabedoria" (Luc. 2: 52). Jesus aprendeu como filho e como irmo dentro de seu lar, pelo estudo e freqncia sinagoga, e tambm com as experincias naturais da vida humana. Experimentou tentaes que diziam respeito conservao de sua prpria vida, considerao social e ambio do poder. O escritor da Carta aos Hebreus diz: "Convinha que ele (Deus)... fizesse dele, pelo sofrimento, o pioneiro da perfeita salvao deles" (Heb. 2:10).

    A encarnao da verdade pelo mestre afetava o seu ensino pelo menos de duas maneiras. Em primeiro lugar, dava-lhe um tom de autoridade que se no via nos escribas e rabinos do seu tempo os professores oficiais dos dias de Jesus. A sabedoria destes era mais aquela vinda de fora, era matria de oitiva, ensinavam mais citando autoridades e a tradio. A sabedoria de Jesus vinha de dentro e no precisava de escoras ou de confirmao. "Este mestre era diferente. No citava ningum, e apresentava sua prpria palavra como suficiente." Portanto, ensinava com clareza meridiana, com convico e poder. O povo "se admirava do seu ensino, porque ele os ensinava como quem tinha autoridade, e no como os escribas" (Mar. 1:22). O fato de viver aquilo que ensinava tambm inspirava confiana naquilo que dizia. O povo viu corporificado no que ele praticava aquilo que ele queria que eles fizessem. Anotavam como ele

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    se comportava diante da tristeza, da crtica, do desapontamento, da perseguio. O seu modo de viver reforava e dava peso quilo que dizia. "A maior coisa que seus discpulos aprenderam de seus ensinos no foi a doutrina, e, sim, sua influncia. At a ltima hora de suas vidas, a maior coisa foi o terem eles estado com Jesus." Por isso, "designou doze para estarem com ele" (Mar. 3:14).

    Como mestres humanos podemos demonstrar em nossa vida "o delineamento do Cristo que mora em ns". Somente assim podemos estar na altura deste primeiro teste de habilitao ou idoneidade. 2 . O Desejo de Servir

    Um dos elementos essenciais para a qualificao de um professor o

    interesse que deve ter pelo povo e o desejo de servi-lo bem, de ajud-lo. Sem esta qualidade, o mestre ser "como o metal que soa, ou como o cmbalo que retine", muito embora conhea bem a Bblia, o discpulo e os mtodos de ensino. Nada pode suprir a falta de interesse pelo bem-estar de nossos semelhantes. Saber enfrentar uma grande classe, possuir boas estatsticas, ou conhecer de sobejo os melhores mtodos de ensino no constituem substituto apropriado para aquele profundo interesse que devemos ter pelo prximo.

    Por outro lado, amando e desejando servir bem a nossos alunos, teremos

    suprido em boa parte as deficincias de conhecimentos e de tcnica. Algumas personalidades pouco prometedoras que conhecemos se tornaram timos professores de adolescentes (a idade mais crtica); e isto se explica pelo fato de terem amado verdadeiramente os alunos daquela idade. Mais cedo ou mais tarde, os discpulos compreendem esse amor e interesse do professor, e a eles respondem. Todo o mundo ama aquele que ama.

    Brilhou sempre no carter de Jesus esse interesse profundo pelo bem-estar

    de todos. Jesus se interessava mais por pessoas do que por credos, cerimnias, organizaes ou equipamento. Via o povo "como ovelhas sem pastor" (Mar. 6:34). Se Will Rogers podia dizer que nunca viu uma pessoa de quem no gostasse, o que no poderamos dizer de Jesus a este respeito?! Quando os fariseus criticaram os discpulos de Jesus por haverem colhido espigas no dia de sbado, ele os defendeu, dizendo: "O sbado foi feito por causa do homem, e no o homem por causa do sbado" (Mar. 2:27). Quando aquele jovem avarento e egocentralizado fez Jesus parar na estrada para lhe perguntar qual o caminho que conduz vida, diz o evangelista que "Jesus, contemplando-o, o amou" (Mar. 10:21). Na ocasio em que certo homem atacado de lepra suplicou a Jesus que o curasse, ele se sentiu todo tomado de profunda simpatia por aquele sofredor, e "estendendo a mo, tocou-o" (Mar. 1:41). Seu corao encheu-se de afeio pe-los escribas que viviam a critic-lo, pelos ciumentos fariseus, pelos desprezados

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    e odiados publicanos, pelos pecadores malquistes, pelo cego, pelo surdo, pelo coxo.

    Ele sempre amou a todos e se interessava vivamente por seus problemas.

    "Ele encarnou e revelou todo o amor de Deus, e se compadeceu dos homens por todos os seus males e padecimentos."7 O Mestre no s se interessou pelos problemas humanos, mas sempre buscou fazer alguma coisa para solucion-los. Revelou sempre genuno esprito missionrio, e afirmava repetidamente que viera para servir, e no para ser servido (Mat. 20:29). No se julgou to cansado que no pudesse conversar sobre a gua da Vida com uma decada junto ao poo de Sicar. No achou que lhe seria desdouro visitar em sua prpria casa um malquisto coletor de impostos. No deu ouvidos crtica dos lderes religiosos e se associou com pecadores, para tir-los do seu pecado. Nas parbolas da ovelha e da dracma perdidas e do filho prdigo, Jesus mostrou que realmente estava interessado em tudo. Seu corao se derretia de simpatia por um mundo necessitado, e suas mos secundavam e espalhavam essa simpatia por meio de servio e ajuda.

    Esta atitude foi a caracterstica de todos os grandes mestres que passaram

    por este mundo. Foi a atitude de Pantenus, que fundou em Alexandria, ao lado duma universidade pag, a primeira escola crist; de Benedito, quando organizou uma ordem de mestres em Monte Cassino, ordem que grandemente influenciou a Europa por trs sculos; de Geraldo Groote, ao fundar a sociedade dos Irmos da Vida Simples, que ensinariam crianas pobres; de Loiola, ao constituir a ordem dos jesutas para ensinar os jovens; e de Roberto Raikes ao inaugurar o glorioso movimento da Escola Dominical que hoje se estende pelo mundo todo. O vivo desejo de servir indispensvel ao ensino vitorioso. 3 . A Crena no Ensino

    Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar os ideais, as atitudes

    e a conduta do povo em geral. Ele no se distinguiu primeiramente como orador, como reformador, nem como chefe, e, sim, como mestre. Vemos perfeitamente que ele no pertenceu classe dos escribas e rabinos que interpretavam minuciosamente a Lei. No. Ele ensinou. De forma alguma se distinguiu ele como "agitador da massa popular". No comprometeu sua Causa com apelos em reunies populares, com prticas ritualistas, ou com manobras polticas, no. Ele confiou sua Causa aos prolongados e pacientes processos de ensino e de treinamento. L. A. Weigle diz: "Jesus lanou mo do mtodo educativo, e no do mtodo de fora poltica, ou de propaganda, ou do poder." E J. A. Marquis acrescenta: "A principal ocupao de Jesus foi o ensino. Algumas vezes ele agiu como curador, outras vezes operou milagres, pregou frequentemente; mas foi sempre o Mestre. Ele no se ps a ensinar porque no tivesse outra coisa a

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    fazer; mas, quando no estava ensinando, estava fazendo qualquer outra coisa. Sim, ele fez do ensino o agente principal da redeno."

    A nfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de em geral ser ele

    reconhecido como Mestre. " luz dos Evangelhos, vemos que seus discpulos e contemporneos o tornavam como mestre." Ele foi mesmo chamado Mestre, Professor ou Rabi; e tudo isto, traz em seu bojo a mesma idia geral expressa por Nicodemos quando disse:: "Rabi, sabemos que s mestre vindo da parte de Deus" (Joo 3:2). Nos Evangelhos, Jesus chamado mestre nada menos de quarenta e cinco vezes, e nunca se fala nele como pregador. L. J. Sherril diz que, somando-se todos os termos equivalentes a mestre, temos o total de sessenta e um.11 Norman Richardson anota que o vocbulo Mestre usado sessenta e seis vezes na Verso King James; cinqenta e quatro vezes derivado da palavra grega que significa professor ou mestre.12 Fala-se em Jesus ensinando, quarenta e cinco vezes; e onze apenas pregando, e, assim mesmo, pregando e ensinando, como vemos cm Mateus 4:23 "ensinando em suas sinagogas e pregando o evangelho do reino". Chamavam-no mestre no apenas os doze, mas tambm outros mais discpulos seus.

    Outrossim, Jesus a si mesmo se chamava Mestre, dizendo: "Vs me

    chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou" (Joo 13:13). Tambm dizia ser "a luz", vocbulo que traz a idia de instruo. Nesta linha de pensamento, interessante notar que Joo Batista sempre foi mais chamado pregador que mestre.

    Outra indicao desta nfase sobre o ensino . a terminologia empregada

    para descrever os seguidores e a mensagem de Jesus. No so eles chamados sditos, servidores ou camaradas. A palavra cristo s empregada trs vezes em o Novo Testamento para caracteriz-los e assim mesmo uma vez como zombaria. No entanto, vemos a palavra discpulo, que significa aluno ou aprendiz, empregada 243 vezes, para referir-se aos seguidores de Jesus. A mensagem de Jesus diz-se ser ensino (39 vezes), e sabedoria (seis vezes), no dando tanto a ideia de preleo ou sermo. A expresso Sermo do Monte no usada pelos escritores do Novo Testamento. Mateus apenas diz "E ele se ps a ensin-los, dizendo..." (Mat. 5:2). Tal pea deve ser intitulada O Ensino do Monte, e no O Sermo do Monte.

    Tambm se revela bem a nfase do Mestre em ensinar no modo entusiasta

    e at agressivo pelo qual externou sua atividade educadora. Ele ensinava em qualquer lugar e a toda hora no Templo, nas sinagogas, no monte, nas praias, na estrada, junto ao poo, nas casas, em reunies sociais, em pblico e em particular. "Relutava mesmo em curar, preferindo aproveitar a oportunidade para apresentar sua mensagem." Mateus diz "Andava Jesus por toda a Galilia, ensinando nas sinagogas deles, e proclamando as boas-novas do

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    reino, e curando todas as doenas e enfermidades entre o povo" (Mat. 4:23, traduo de Goodspeed). Toda a obra de Jesus estava envolta em atmosfera didtica, e no tanto num ar de prelees ardentes, pois observamos que os ouvintes se sentiam vontade para lhe fazer perguntas, e ele, por sua vez, lhes propunha questes e problemas.

    Ele preparou um grupo de mestres para que levassem avante sua obra.

    "No decorrer dos ltimos dias de sua trabalhosa vida, ele se dedicou ao ensino e preparo do pequeno grupo de discpulos que a ele se agregara." E ele os enviou aos confins da terra para que fizessem discpulos (para que matriculassem na escola de Cristo), a batiz-los (uma ordenana educadora) e a instru-los na observncia de todas as coisas que lhes tinha mandado (Mat. 28:19,20). Jesus cria muito e muito no ensino, requisito este indispensvel a qualquer professor. Ele se dedicou ao ensino e sempre dignificou tal vocao. "A maior glria da profisso do mestre est no fato de haver Jesus Cristo escolhido ser mestre, quando se viu face a face com aquilo que tinha a realizar na vida." George H. Palmer percebeu bem este esprito, quando assim se ex-pressou "Creio tanto no ensino que, se necessrio fosse, pagaria pelo privilgio de ser mestre em.vez de receber algo por ensinar." 4 . O Conhecimento das Escrituras

    Outra coisa essencial num professor o conhecimento das Escrituras,

    porque este o primeiro material que vai usar. Jesus se mostrou perfeitamente qualificado neste particular. Prova-o o episdio de sua tentao, quando enfrentou os esforos do diabo, que pretendia confundi-lo com citaes das Escrituras (Mat. 4:1-11). Prova-o a conversa na estrada de Emas, quando Jesus explicou os ensinos das Escrituras relativos sua Pessoa (Luc. 24:27). No decorrer do seu ministrio, Jesus citou passagens de pelo menos vinte livros do Velho Testamento e mostrou estar perfeitamente familiarizado com o contedo dele. De fato, ele o conhecia to bem que chegou mesmo a contrastar sua precariedade com a inteireza daquilo que ele ensinava (Mat. 5:17-48). Jesus no s conhecia as Escrituras, como tambm as assimilou de tal modo que as podia aplicar livre e perfeitamente s necessidades e ocorrncias do dia.

    Sua maestria no provinha s de sua divindade, mas tambm de seus

    estudos. Iniciara-os na infncia, dentro do lar judeu, onde se respirava atmosfera profundamente religiosa e educativa. B. A. Hinsdale diz: "At mesmo os deveres domsticos, cumpridos pela me de famlia, moldavam o carter dos filhos segundo a disciplina nacional."

    E Haroldo Wilson quem afirma: Mesmo estando ele (o menino judeu)

    ainda nos braos da me, seus olhos vem j muitos objetos cuja significao

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    religiosa lhe ser oportunamente explicada por ela." Dentre tais hbitos figurava o de beijar os dedos que apanhariam os pergaminhos das Escrituras guardados por sobre a porta, ou os filactrios usados no pulso ou na testa; j a criana judia via as orlas coloridas da veste exterior de seu pai lembrando-lhes os mandamentos do Senhor; escutava as oraes e aes de graas dirias, notadamente s refeies; aprendia a guardar o sbado, admirando-se ao ver acender-se o fogo e a lmpada sabticos: tomava parte nas festas anuais, como a da Pscoa e a dos Tabernculos; assistia solene oferta a Deus do primognito do rebanho e da manada. Assim, foi que Jesus aprendeu as Escrituras no seu lar, e ali cresceu em sabedoria como em estatura. "Nazar est presente duas vezes, ou mais, em tudo quanto Jesus disse."

    Jesus tambm aprendeu na sinagoga, pois, nos dias dele, estava ela

    espalhada por todos os lugares, e a freqncia a ela era hbito arraigado, quando no coisa obrigatria. Lucas diz: "No sbado Jesus entrou na sinagoga, como efa' seu costume" (Luc. 4:16). Wilson acha que Jesus ia sinagoga pelo menos uma vez em cada sbado, e isso por vinte anos ou mais. Nela havia exerccios religiosos aos sbados, nas segundas e quintas-feiras, nos dias de festa e nos de jejum. A sinagoga era instituio puramente educacional ou instrutora. L a Lei (os cinco primeiros livros da Bblia) era lido por uma pessoa, um intrprete explicava um versculo de cada vez, aplicando a leitura vida do povo em geral. Assim, se lia toda a Lei de trs em trs anos e meio, mais ou menos como se d hoje com nossas lies uniformizadas. A segunda leitura do dia era tirada dos profetas, sendo lidos e explicados trs versculos de cada vez. Desta natureza foi a leitura que Jesus fez na sinagoga de Nazar, registrada em Lucas 4:17-19. Algumas vezes faziam-se perguntas para que os assistentes res-pondessem. Ainda recitavam tambm em unssono certas passagens escritursticas. Assim foi que Jesus aprendeu a Lei e os profetas, habilitando-se para refutar os rabinos e perguntar-lhes: "No lestes?"

    Ligada sinagoga havia uma escola elementar para meninos, que

    funcionava nos dias da semana. Criava-se onde existissem vinte e cinco alunos, e era obrigatria a freqncia. Na verdade no se admitia que um judeu ortodoxo vivesse em lugares sem escola; caso vivessem em lugares separados por um rio, ambas as localidades deviam ter sua escola, a no ser que se vencesse o rio por uma ponte. O menino judeu comeava a freqentar a escola aos seis anos, e estudava as Escrituras at os dez, comeando pelo Levtico. Estudava a Lei, a histria, os profetas e a poesia, recebendo, assim, educao religiosa e moral, e enfronhando-se dos ritos e cerimnias de sua gente. Dos dez aos quinze anos, estudava as interpretaes orais da Lei, e aos treze tornava-se "filho da Lei" e membro responsvel da congregao da sinagoga. "Percebe-se que Jesus co-nhecia de cor quase todas as Sagradas Escrituras no s pelas citaes diretas que delas fazia, mas tambm pelas numerosas aluses que fez Lei, a Isaas, a Jeremias, a Daniel, a Joel, a Osias, a Miquias, Zacarias e Malaquias, e

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    principalmente os Salmos", afirma o cnego Farrar. Jesus mostrou seu preparo no s quando, aos doze anos, enfrentou os rabis no Templo, mas tambm nas crises mais apertadas, frente aos mais severos crticos de todos os tempos. 5 . Compreenso da Natureza Humana

    Ao lado do conhecimento das Escrituras, coisa igualmente importante a

    compreenso da natureza humana. Na verdade, esta uma qualificao muitssimo necessria ao professor, porque no se pode aplicar a Bblia vida a no ser que se compreenda bem o aluno e suas necessidades. Todo aquele que lida com a natureza humana deve conhecer alguma coisa a esse respeito. Assim como o mdico precisa diagnosticar antes de receitar qualquer remdio tambm o professor precisa compreender a vida humana e seus problemas, para depois aplicar o remdio escriturstico. Em ltima anlise, estamos ensinando pessoas, e no a Bblia. As prprias Escrituras foram dadas para ensinar, corrigir e disciplinar "para que o homem de Deus seja completo" (II Tim. 3:17). Importa, pois, e muito, que o mestre de religio compreenda as pessoas com quem vai lidar.

    Jesus no s compreendeu a mente judia em geral, quanto as suas faces

    e seitas, mas foi tambm um mestre na penetrao do corao e na compreenso daquilo que se passava no ntimo de cada indivduo. A Bblia diz que "ele bem sabia o que havia no homem" (Joo 2:25). Moffatt traduz assim: "Bem sabia ele o que estava na natureza humana." certo que ningum jamais penetrar todo o contedo desta afirmativa. O Mestre, sem dvida, escafandrou a vida humana at suas maiores profundezas. Certamente ele podia dizer se seus ouvintes eram bons ou maus, atentos ou desatentos, amigos ou inimigos, interessados em seu ensino ou no, compreendendo-o ou confundindo-o, concordando com ele ou discordando e o criticando. Se Jesus no possusse esse conhecimento, estaria inabilitado para os ensinar de modo eficiente como o fez, e teria cado nas artimanhas preparadas tantas vezes por seus inimigos. Tendo tal conhecimento, pde descobrir as habilidades de seus aprendizes, bem como suas necessidades, atitudes e motivos, e ensin-los luz do que deles conhecia. "Do ponto de vista pedaggico, a intuio de Jesus foi o elemento primordial de sua maravilhosa eficincia como Mestre.

    Pelo menos meia dzia de exemplos evidenciam que Jesus tinha acurada

    viso do ntimo da natureza humana e mesmo do prprio pensamento do povo. Os escribas pensavam l consigo que Jesus estava blasfemando, ao declarar ao paraltico que seus pecados estavam perdoados, mas "Jesus, conhecendo-Ihes os pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos coraes?" (Mat. 9:4). Quando os discpulos lamentavam o haver Jesus dito que deveriam comer a sua carne e beber o seu sangue, para terem vida, "Jesus, sabendo por si mesmo que

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    seus discpulos murmuravam das suas palavras, disse-lhes: ...Mas entre vs h alguns que no crem." Pois Jesus sabia desde o princpio quais eram os que no criam, e quem o havia de trair" (Joo 6:61, 64).

    Quando os fariseus e os herodianos procuraram apanh-lo em alguma

    palavra, Jesus, percebendo a hipocrisia deles, disse-lhes: "Por que me experimentais?" (Mar. 12:15). Ao ver Natanael, disse: "Eis um verdadeiro israelita em. quem no h dolo!" (Joo 1:47). Quanto samaritana, Jesus pediu que chamasse o marido, e ela lhe respondeu que no tinha marido, Jesus lhe respondeu: "Disseste bem que no tens marido; porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens no teu marido" (Joo 4:17,18). Jesus conhecia as pessoas e ensinava para solucionar-lhes as suas necessidades profundas e ocultas, no poucas vezes desconhecidas delas prprias. 6 . Domnio da Arte

    No afirmamos aqui que Jesus consciente e propositadamente estudasse os

    mtodos e processos de ensino, e deliberadamente buscasse segui-los. possvel que sim, mas provavelmente assim no fez. Admitimos que ele tinha uma soma de conhecimentos que perfeitamente o habilitava para a tarefa de mestre. Intuitivamente, ou por assimilao, foi um mestre, um tcnico, em mtodos de ensino. Ele no anunciou propriamente nenhum princpio psicolgico especial, nenhuma teoria de educao, nenhuma prtica pedaggica; no obstante, ele mostrou conhecer perfeitamente todos os seus elementos principais e os usou de maneira mais que eficiente. Empregou mtodos com perfeita liberdade e eficincia. Parece at que os descobria e aplicava de modo natural. Com a inteireza de suas fontes e recursos, aproveitou bem todas as oportunidades de ensinar, e empregou sempre, e para cada caso, o mtodo justo e adequado. Distinguiu-se e adiantou-se tanto dos mais mestres deste mundo que W. A. Squires mui apropriadamente deu a uma obra sua este ttulo The Pedagogy of Jesus in the Twilight of Today (A Pedagogia de Jesus no Crepsculo de Nossa Era). Os maiores mestres de nossa era ainda no se puseram em dia com Jesus. Sempre temos algo a aprender com ele.

    Conclumos que Jesus foi consumado mestre na arte de ensinar, quando

    vemos que ele praticamente empregou aqui e ali, pelo menos em embrio, os mtodos usados hoje em dia perguntas, prelees, histrias, conversas, discusses, dramatizaes, lies objetivas, planejamentos e demonstraes. Pormenorizadamente estudaremos este assunto no lugar prprio, noutro captulo. Vemos ainda que Jesus conhecia perfeitamente a arte de ensinar pelos processos de que lanou mo, pois, quando analisamos suas partes componentes, descobrimos que suas lies tinham exrdio, desenvolvimento e concluso sempre muito apropriados. Tambm daremos maior ateno a isto

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    mais tarde. Ele tratava diretamente dos assuntos, com ilustraes mui adequadas, aplicando sempre muito bem seu ensino a situao e ao momento. Na arte de ensinar, foi mestre de mo cheia.

    Buscando dominar bem esta difcil e gloriosa arte, bem andaremos se

    seguirmos o exemplo que Jesus nos deixou. A dedicao, o entusiasmo e a fdelidadeao ensino no ressarciro a falta de conhecimento dos mtodos de ensino, nem desculparo um ensino fraco e precrio. Em regra, ningum nasce mestre. Os mestres se fazem. Pelo menos, como j se disse, os mestres "no nascem feitos". Necessrio se faz o estudo cuidadoso, e tambm prtica prolongada e paciente. Esperamos que para este fim o presente volume contribua de algum modo. verdade que devem ser compulsados e estudados outros mais livros sobre este assunto, bem como livros que tratam dos alunos e das suas necessidades. Do ponto de vista humano, sabemos que Deus pode usar com muito maior proveito um professor preparado do que um que pouco ou nada sabe. Urge procurarmos ser a nossos olhos, e aos olhos de nossos alunos, os melhores mestres que se possa encontrar.

    Quando olhamos para Jesus, e o vemos luz de sua perfeita personalidade,

    do seu espirito de servir, de sua confiana no ensino, do seu conhecimento das Escrituras e da humanidade, do seu domnio dos mtodos e processos de ensino, conclumos que ele foi o mestre melhor qualificado que o mundo j conheceu. Ele foi de fato "o Mestre dos mestres", ou "o Mestre Magistral", como o caracterizou Horne no ttulo de sua obra. Ou, como bem o disse J. L. Corzine: "Jesus mais do que o Mestre Mor. Ele o Mestre Incomparvel."

    "Qualquer pedra de beira de estrada, qualquer tripea tomada por

    emprstimo a um tugrio, sentando-se Jesus a, transforma-se num trono de autoridade e sabedoria universal, invejado por soberanos e pontfices."25 Jesus o nosso modelo incomparvel, e sempre temos o que aprender com seus m-todos e mensagens. Como disse Marta: "O Mestre est a" (Joo 11:28). "Ao contrrio dos mestres religiosos do seu tempo, Jesus ensinou com sua prpria autoridade. No ensinou como os escribas, que repetiam e citavam dizeres de outros. Jesus falou movido pela consciente paixo da verdade que fervilhava no seu ntimo.

    Sugestes Auxiliares para o Ensino deste Captulo

    Esboo no Quadro-negro 1. Encarnao da Verdade 2. Desejo de Servir 3. Crena no Ensino

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    4. Conhecimento das Escrituras 5. Compreenso da Natureza Humana 6. Domnio da Arte de Ensinar

    Tpicos para Discusso 1. Por que to importante viver aquilo que se ensina? 2. Vale alguma coisa o desejo de servir, de ajudar? 3. Por que Jesus se dedicou tanto ao ensino? 4. Qual a instituio religiosa moderna mais parecida com a escola elementar anexa sinagoga?

    5. Ser mesmo mui importante conhecer e entender o aluno? 6. Como Jesus aprendeu a ensinar?

    Perguntas para Reviso e Exame 1. Como a encarnao da verdade realizada por Jesus afetou o ensino dele? 2. Diga como foi Jesus reconhecido como mestre. 3. Enumere algumas coisas que Jesus conhecia acerca da natureza humana.

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    CARACTERTICAS DOS DISCPULOS DE

    JESUS

    Ilude-se quem pensa terem sido ideais e modelares as pessoas que Jesus ensinou, mesmo incluindo-se os doze apstolos. Caracteres bblicos muitssimos distanciados de ns, temos que conceb-los em nossa imaginao. Certo foram muito humanos como ns, com essas imperfeies e fraquezas naturais criatura humana, pois que esta sempre a mesma em todas as pocas. Embora mudem as condies ambientais, a natureza humana em sua essncia sempre a mesma.

    Isto verdade no que respeita a todos os sculos, climas e graus de cultura.

    Will Rogers retratou perfeitamente isto, quando falando das conquistas da conferncia da paz na Europa, assim se expressou: "Resta apenas uma pequena coisa a ser trabalhada agora: o problema da natureza humana." E assim sempre. Examinando aqueles que Jesus ensinou, como mestres colheremos muita matria informativa e sugestiva, e mesmo encorajadora. Jesus lidou com um grupo mais ntimo de seguidores, outro maior de discpulos e outro, maior ainda, de crticos e indiferentes. 1. O Grupo de Imaturos

    Este grupo de pessoas com que Jesus lidou estava mui longe da perfeio,

    quando Jesus iniciou sua obra junto deles. Mesmo ao contemplar sua obra, ainda eram imperfeitos. Eram - caracteres ideais apenas em embrio. Eram santos apenas em estgio de fabricao. Preenchiam muito bem um dos trs requisitos que George A. Coe sugere para o ensino a imaturidade. Assim tinham eles que caminhar muito e muito, com muita pacincia, para se tornarem cristos crescidos e maduros. Na longa estrada do aprendizado, experimentariam muitas decepes e desnimos. Somente algum que tivesse uma alentadora viso do futuro, movido do infinito amor e pacincia, e de persistente energia e perseverana, se aventuraria a tomar como alunos este grupo de pessoas e fazer deles o que o Mestre Jesus fez.

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    No preciso vasculhar muito o Novo Testamento para se ver quo imaturos e imperfeitos eram aqueles que Jesus tomou como discpulos. Joo, que depois se tornou o discpulo amado, no sabia controlar seu gnio, e falhou muito quando se encolerizou contra os descaridosos samaritanos, aos quais Jesus queria revelar seu amor e o amor de seus discpulos. Simo, a quem se daria o nome de Pedro (pedra), no demonstrou possuir aquela solidez e firmeza que tal nome sugeria, pois prometera a Jesus que estaria firme a seu lado ainda que os mais desertassem, e dentro de poucas horas no s negou a Jesus, jurando por trs vezes que nem o conhecia, mas o negou com uma linguagem desusada e lamentvel.

    Tom mostrou-se to duro e obstinado em no acreditar na ressurreio de

    Jesus que tal atitude exigiu esforos especiais do Mestre no sentido de lhe provar satisfatoriamente esse glorioso acontecimento. Judas, aps vrios anos de companheirismo e aprendizado com o Mestre, no progrediu tanto a ponto de sentir-se preparado para resistir tentao de tra-lo por trinta moedas de prata! Os discpulos de Jesus sofriam a enfermidade de desenvolvimento retardado, quando no de perversidade progressiva.

    Apanhar este pequeno grupo de indivduos sem preparo e que quase nada

    prometiam, e form-los em pessoas bem desenvolvidas e preparadas, que constituam gloriosa inspirao para o mundo, foi um verdadeiro milagre da arte de ensinar e exercitar. Jesus jamais foi suplantado por qualquer outro mestre; foi e suprema inspirao e encorajamento para os mestres cristos de todas as pocas. Ningum pode avaliar devidamente as possibilidades latentes num moo ou numa moa aparentemente inaproveitvel, nem o que se possa fazer com eles. O velho professor dos Irmos da Vida Simples ao tirar seu chapu na presena de seus discpulos, e ao dizer-lhes que no sabia se tinha ali sua frente algum que seria maior que o imperador, nem podia imaginar que naquela sua classe estivesse entre seus alunos o menino que, homem feito, iria abalar os fundamentos do mundo Martinho Lutero!

    privilgio nosso, pelo ensino que transmitimos, mudar vidas hoje imaturas

    e aparentemente insignificantes, e desenvolv-las em caracteres marcantes e notveis. Um ferreiro aleijado apanhou nas ruas um grupo de quatro meninos aparentemente ociosos e que nada prometiam, e passou a ensin-los pacientemente. Viveu o suficiente para ver tornar-se um deles missionrio em terras estrangeiras, outro, membro do gabinete do presidente de sua ptria; o terceiro secretrio particular tambm dum presidente; e o quarto aquele que chegou a ocupar a presidncia dos Estados Unidos da Amrica do Norte Warren G. Harding!

    2 . Impulsivos ou Impetuosos

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    Os discpulos de Jesus no eram apenas imaturos. Pior que isso: haviam tido na vida um desenvolvimento errado e falho. Alguns deles eram mesmo gente governada s por impulsos. Pedro era assim, e foi o campeo dos impetuosos. "Era homem impulsivo e precipitado, qual regato que desce clere e desabaladamente montanha abaixo, atirando-se de encontro s rochas da baixada. Reagia repentinamente. Falava e agia, para depois pensar." Temos exemplo vivo disso, quando se lanou ao mar, em certa manh bem fria, c nadou at a praia para chegar perto de Jesus, quando poderia ter feito isso com seu barco (Joo 21:7). Outro exemplo temos quando pediu a Jesus que lhe banhasse tambm as mos e o rosto, logo aps haver dito a Jesus que lhe no consentiria lavar seus ps; e quando Jesus lhe disse que, nesse caso, Pedro no teria parte com ele, submeteu-se (Joo 13:9). E exemplo mais vivo ainda temos quando Pedro, com rpido golpe de sua espada, decepou a orelha direita do servo do sumo sacerdote (Joo 18:10).

    Joo tambm no se mostrou menos impetuoso. Tanto que Jesus o chamou

    "filho do trovo". Diz Carlos R. Brown: "Ele mostrou ser filho da tempestade. Houve ocasies em que teve exploses fortes e terrveis. Certas vezes, em sua ira ou entusiasmo, agia qual redemoinho impetuoso," qual poderoso furaco. Mui longe de se revelar homem calmo, paciente, sofredor e manso, era de carter violento." Manifestou isso quando, com outros discpulos, entrou numa vila de samaritanos para arrumar pouso para o Mestre; ante a recusa de hospedagem, ele se indignou tanto que disse a Jesus: "Senhor, queres que mandemos descer fogo do cu para consumir esta gente?" (Luc. 9:54). Caminhou muito este apstolo, at chegar a escrever em sua Primeira Carta, cap. 4, versculo 8: "Quem no ama, no conhece a Deus."

    Outros que no pertenciam ao crculo ntimo de Jesus mostravam-se

    igualmente impulsivos. Simo, chamado Zelote, como este apelido indica, pertencia a um partido poltico muitssimo radical. Afirma Brown: "Podia ele ser vantagem ou desvantagem. Era como o vapor em alta presso que pode levar de encontro aos arrecifes qualquer barco sem piloto, ou queimar seus passageiros, causando-lhes a morte." Fosse ele pessoalmente radical, ou no, o fato que pelo menos pertencia a um grupo revolucionrio quando Jesus o chamou para segui-lo.

    Joo Batista, por sua vez, era tambm homem de temperamento forte. No

    nos parece de incio um moderado conservador, quando surge de seus jejuns e se movimenta de c para l a pregar o evangelho do arrependimento a uma gerao m e perversa. "Apareceu ele com olhos flamejantes, e apresentar sua formidvel mensagem. De linguagem escaldante, despertava e abalava as conscincias mais empedernidas."4 Tinha ele o temperamento ds reformadores. O prprio Mateus no se mostrava tambm muito conservador, no. Diz, no caso dele, T. R. Glover: "O publicano do grupo era tambm do mesmo tipo; mostrava-

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    se pronto a deixar seus afazeres e os costumes de famlia revelando tambm natureza impulsiva e corao quente."

    Era to impetuoso o carter daqueles discpulos e doutros mais, que Jesus

    sempre lhes frisava que deviam pesar bem as coisas antes de agir. Eram neles traos to salientes que, se algum os propusesse para o pastorado de alguma igreja importante de nossos dias, esta se veria na necessidade de im-por-lhes algumas condies. Lembremo-nos, no entanto, de que dantes como agora, no so os conservadores, os intelectuais c os calmos, e, sim, os agressivos, os aventureiros e os destemidos que fazem progredir mais a obra do Reino de Deus. O aluno que nos d mais trabalho para conter"e orientar, c mesmo para disciplinar, pode ser justamente aquele que mais conseguir na vida. Podemos agradecer a Deus pelos homens impulsivos, s quando sabiamente orientados. 3. Pecadores

    O Mestre no s teve que lidar com pessoas de carter subdesenvolvido e

    de fortes impulsos, mas tambm de acentuadas tendncias para o pecado. Conquanto alguns deles se tornassem depois cristos de elevado carter, nem sempre foram to anglicos como os pinta a nossa imaginao ou alguns artistas da tela. Havia neles altos e baixos, instintos e impulsos que, no controlados pelos ideais cristos, inevitavelmente os teriam arrastado a grandes e irremediveis males. Assim aconteceu em parte, e vemos que eles fizeram coisas que. mais tarde provavelmente desejariam ver retiradas dos registros.

    Na verdade, alguns dos quais Jesus ensinou e cujas vidas foram

    transformadas por ele, tinham vivido em graves pecados. Basta lembrar que um deles, conquanto viesse a gozar por alguns anos da companhia de Jesus," tornando-se mesmo o tesoureiro do colgio apostlico, por fim chegou a vender o Mestre por trinta moedas de prata.

    Mas Judas no foi o nico, mesmo do crculo ntimo de Jesus, a ser

    arrastado por tendncias pecaminosas, ao menos temporariamente. Pedro mentiu e jurou para ocultar sua identidade e se escapar de situao embaraosa. Joo no s deu asas a seu temperamento e preconceitos, mas tambm ao orgulho, e chegou a pleitear o privilgio de assentar-se destra de Jesus. E Tiago se associou a ele, igualmente desejoso de posio social e poltica. "Houve atritos entre eles, pois eram homens de no pequenas ambies. Mesmo na ocasio da ltima Ceia, os coraes deles giravam ao redor de tronos" (Mar. 9:33;10: 37; Luc. 22:24). De fato, o grupo todo de discpulos pensava mais em grandezas materiais.

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    Afora o crculo dos doze, vemos Zaqueu, o coletor de impostos, homem que tinha grande amor pelo dinheiro e que cobrava mais do que era devido, roubando assim ao povo necessitado. E tambm Maria Madalena, com sete demnios a seu crdito. E ainda a mulher pecadora que lhe lavou os ps com suas lgrimas e os enxugou com seus cabelos. E ainda a mulher de vida livre a quem ensinou .beira do poo, a qual tivera um rosrio de cinco maridos. E ainda aqueles acusadores da mulher adltera, os quais desapareceram quando Jesus lhes disse que quem estivesse sem pecado fosse o primeiro a comear a apedrej-la, conforme ordenava a lei. No; aqui vemos perfeitamente que a classe de alunos ensinada por Jesus em nada apresentava aquelas condies ideais para um mestre ideal. Ao contrrio, eram tais alunos gente das mesmas paixes nossas, e de paixes que no poucas vezes os dominavam por completo. Orgulho, ambio e luxria argamassavam a vida deles, e tudo aquilo desafiava os preceitos e a influncia de Jesus.

    O que foi verdade ento, o ainda hoje. Nunca se sabe o que sero os

    nossos alunos de hoje. Sabemos, no entanto, que instintos no controlados inevitavelmente arrastam runa. Num rapaz de belo fsico podem estar aninhadas fortes tendncias para o crime, foras que, no controladas, certamente o levaro para a penitenciria. E isso tem sucedido inmeras vezes. Essa jovem culta e de modos gentis, que parece trazer no rosto a marca legtima da inocncia, pode muito bem estar abrigando dentro de si certos ideais e paixes que, desenvolvidas, a arrastaro a uma vida vergonhosa. Isso temos visto de contnuo na sociedade de que fazemos parte. Nenhum professor pode ler todos os maus pensamentos e propsitos ocultos no corao de seus alunos. Muitos de ns podemos dizer o que John Bradford disse de si prprio, ao ver passar por ele um criminoso conduzido por agentes policiais: "No fora a graa de Deus, ali estaria John Bradford." Urge aprendermos a esmagar sempre as tendncias pecaminosas e imprimir em nosso carter a semelhana de Cristo. 4. Perplexos

    As pessoas a quem Cristo ensinou viam-se muitas vezes desafiadas por

    inmeras perplexidades e problemas, e assim procuravam a Cristo para que ele os resolvesse. Certo que s vezes vinham a ele tangidos pela hipocrisia, pois queriam peg-lo nalguma palavra. Jesus de imediato reconhecia isso, e, no entanto, lhes dava ateno, levando-os a tirar por si mesmos a concluso certa. Traziam-lhe assuntos mui variados, tratando quase todos de problemas da vida cotidiana. Respondendo-lhes, Cristo no s ajudava a quantos ensinava pessoal-mente, mas a inmeros outros pelos sculos em fora. O fato de Joo haver declarado que o mundo todo no poderia conter todos os livros necessrios para o registro de todos os ensinos de Cristo nos leva a perceber que no conhecemos muitos assuntos ento levados considerao de Cristo.

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    Conhecemos, no obstante, bom nmero de problemas pessoais e ntimos, que tratam de modo vital de muitas fases da vida humana. Temos, por exemplo, o pedido feito por certo homem, para que Jesus tratasse da repartio da herana com o irmo dele, uma demonstrao de legtima defesa. Tambm temos registrados vrios casos de ambio e de prestgio social, apresentados pelos discpulos quando deram de querer saber de Jesus qual deles era o maior. Alis, este um desejo mui natural e humano. O moo rico desejava saber como poderia alcanar a vida eterna. Esse era o seu problema, e, ao que parece, tambm de Nicodemos. Outros queriam saber se Cristo era Deus, se deviam tolerar outros trabalhadores que no andavam com ele, quando e como deviam prestar culto a Deus; queriam saber algo da ressurreio, dos maiores mandamentos, algo sobre o jejum, de como poderiam expulsar demnios, e outras coisas mais. Discutiam e lhe apresentavam tambm problemas pessoais, como o orgulho, a ira, a luxria, a aflio, a cobia. Vemos que eram os mesmos problemas que hoje enfrentamos no sculo das luzes.

    Tambm surgiram problemas de natureza social que diziam respeito s relaes de uns para com os outros. Simo Pedro queria muito saber quantas vezes deveria perdoar a quem o houvesse ofendido: s sete vezes, ou deveria ir alm? (Mat. 18:21-35). Os fariseus, maldosos, fizeram-lhe esta pergunta perigosa: " lcito a um homem repudiar sua mulher por qualquer causa?" (Mat. 19:3). Semelhantemente, os saduceus, sequiosos por demonstrar a impossibilidade da ressurreio, perguntaram a Jesus a quem pertenceria no outro mundo a mulher que aqui houvesse desposado sete homens (Mat. 22: 23-33). Um doutor da lei, querendo justificar seu egosmo, levantou diante de Cristo, uma questo mais larga sobre o problema da boa vizinhana, perguntando-lhe "Quem meu prximo?"

    Outro problema, muitssimo melindroso naqueles dias, dizia respeito

    deslealdade para com o governo, quanto ao pagamento das taxas. Tal problema foi apresentado a Jesus quando os escribas e principais sacerdotes lhe perguntaram se era lcito pagar tributo a Csar (Luc. 20:22). Tambm surgiu a questo do sbado, quando os discpulos de Jesus lanou mo da imaginao, e lhes falou duma ovelha cada num valo e dum rei em caminho para a guerra. Outros problemas incluam dar e receber, o orar, o servio, o esprito de crtica, a vingana.

    luz dessas muitas perguntas e problemas, parece-nos que Jesus gastou

    grande parte do seu tempo mais a resolver problemas pessoais do que mesmo a ensinar de modo geral. E parece que foi assim mesmo. Os problemas da vida humana quase sempre so os mesmos; e, resolvendo aqueles dos homens do seu tempo, Jesus lanou muita luz sobre os nossos problemas de hoje, mormente quando vemos que ele tratou mais de princpios fundamentais que de remdios especficos. Assim, Jesus aparece como conselheiro e como instrutor,

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    justamente como devemos ser, caso queiramos servir de maneira valiosa e vital queles de nossos alunos que hoje enfrentam problemas mui srios e complicados. Ningum jamais resolveu problemas e perplexidades como Jesus, e ningum como ele apresentou princpios gerais de maior ajuda e valia. Ele se revelou mestre consumado e divino, tanto no aconselhar como no ensinar. 5. Ignorantes

    Asseverar que os discpulos de Jesus tinham mente obscurecida e

    endurecida, bem como esprito perplexo, parece quase que adicionar insulto injria. Mas v-se que no, quando buscamos ter uma viso completa da situao em que Jesus se viu frente a eles. Seus discpulos provinham em maior parte das baixas camadas sociais e no da classe alta, e por isso no tinham aquele fundo cultural que soem ter os de classe mais elevada. Eram, assim, gente mui imperfeita. No estavam preparados para compreender muitas coisas, dado que a mente deles no estava habilitada a apanhar toda a verdade.

    Mas no era esta a nica dificuldade. Uma concepo materialista da via e a ideia ritualista da religio muito os prejudicavam, visto que as verdades espirituais se discernem espiritualmente. Tanto a ignorncia, como errados pontos de vista, embaraavam bastante o trabalho do Mestre. coisa bem difcil erradicar a confuso mental e a rotina intelectual. E Jesus teve que enfrentar como nenhum outro mestre essas duas coisas. Conquanto fosse ele verdadeiro especialista no aclarar a verdade, registra-se que ele no foi bem compreendido por muitos ou foi mal interpretado por muito tempo pelo povo em geral, pelos lderes religiosos, e mesmo por aqueles do seu crculo ntimo. Ele escolheu um grupo pequeno, visando prepar-lo para a liderana, embora no pudessem eles entender, e muito menos explicar a outros, os princpios que eram a pedra angular da f que deviam propagar.... Nos trs anos que Jesus gastou a ensin-los, tais discpulos foram para ele constante decepo."

    Forte exemplo dessa incompreenso vemos no que respeita ao que Cristo

    lhes ensinou sobre a natureza do Reino. Apesar de tudo quanto lhes ensinara sobre a natureza pessoal, ntima e subjetiva do Reino, os discpulos continuaram a esperar um reino temporal que se baseasse no poder material, como os demais reinos da terra. E isso era verdade mesmo em se tratando dos discpulos mais ntimos de Jesus, como Tiago e Joo, que chegaram a pleitear um lugar direita e outro esquerda primeiro-ministro e secretrio de estado.

    V-se claro igualmente que Jesus no foi compreendido quanto ao que lhes

    ensinou acerca da ressurreio, tanto sua como nossa. Conquanto lhes houvesse dito que ressuscitaria ao terceiro dia, ningum esperou tal acontecimento. Pelo contrrio, ficaram surpresos com a ressurreio de Jesus.

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    Como vemos nos Evangelhos, um dos discpulos de Jesus, Tom, exigiu provas cabais para se convencer. At mesmo o propsito de sua morte no lhes ficara bem claro, pois que Paulo nos fala da cruz como pedra de tropeo para os judeus. Mesmo as exigncias importantes e aparentemente simples para o disci-pulado parece no terem ficado bem claras na mente do prprio Nicodemos, um dos homens mais preparados do seu tempo!

    A despeito da clareza do pensamento de Jesus e da vivacidade com que o

    expressava, os seus discpulos mais brilhantes e mais interessados deixaram de apanhar todo o seu sentido. Creio no ser exagero afirmar que, durante todo o seu ministrio, Jesus de contnuo se sentiu desapontado ante a inabilidade e a vagarosidade demonstrada pelos discpulos em compreender as verdades que lhes ensinava. Se isso se deu com Jesus, no devemos ficar admirados de que acontea tambm conosco. E assim como ele jamais se sentiu desanimado por isso, tambm ns, como mestres, nunca devemos nos desencorajar, mas avanar pacientemente como ele fez. O que Jesus disse de Pedro devemos dizer tambm de cada aluno "Tu s... tu sers." 6 . Cheios de Preconceitos

    Parece que tudo quanto j dissemos suficiente, mesmo para Jesus. Eram seus discpulos imaturos, pecadores, intempestivos, de mente tardia e

    apoucada. Mas no podemos parar aqui, visto que o quadro ainda no est completo. As atitudes mentais deles em nada favoreciam a recepo das verdades apresentadas por Jesus. Pelo menos o que depreendemos acerca deles, ou da mor parte deles, no que respeita a certas coisas.

    Joo abrigava dentro de si tais preconceitos que no admitia que pessoa

    fora do seu grupo expulsasse demnios e fizesse o bem (Mar. 9:38). Na verdade, o preconceito subjazia raiz de muitos dos problemas j mencionados. Na Parbola do Semeador, a primeira qualidade de solo descrita o que fica beira do caminho - terra dura e impenetrvel, na qual a semente no entra muito facilmente (Mat. 13:3-23). Temos aqui uma descrio perfeita da atitude assumida por indivduos cheios de preconceitos e de mente fechada, os quais no querem nem pensar na verdade que lhes apresentada. Evidentemente, Jesus teve que lidar com pessoas assim, quando disse, essa parbola, visto haver ensinado como enfrentar as necessidades da vida. O professor de Escola Bblica Dominical tem tambm que enfrentar situaes idnticas. Assim, trate-se de ensinar a converso, o dzimo, a temperana ou qualquer outro assunto, o professor encontrar nos seus alunos prticas e preconceitos tais que fortemente os impediro de encarar com corao aberto tais assuntos. Dificilmente

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    encontrar o professor um aluno completamente despido de preconceitos. A intolerncia pior do que a ignorncia.

    Quando Jesus falou da ressurreio, encontrou a desdenhosa oposio dos

    saduceus aristocratas e racionalistas, os quais, tentando levar Jesus ao ridculo, apresentaram a questo do futuro esposo da mulher que nesta vida se casara sete vezes. Os saduceus eram os crticos intelectuais do tempo de Cristo. Quando Jesus buscou mostrar o amor de Deus para com toda e qualquer criatura, ainda que pecadora, viu-se diante das intelectuais adagas dos orgulhosos fariseus, que se julgavam muito bons para se associarem com pecadores e publicanos. Assim, Jesus teve que forjar a Parbola do Filho Pr-digo, ou apresentar o contraste entre o fariseu e o publicano em orao diante de Deus. Quando o jovem rico se ajoelhou a seus ps e humildemente lhe indagou como alcanar a vida eterna, pareceu-lhe estar na presena de uma pessoa de corao aberto. Mas, dizendo-lhe que vendesse tudo e .desse aos pobres, e o 6eguisse, viu mudar-se o rosto do moo e "ele se foi triste, porque possua muitos bens" (Mar. 10:22).

    Jesus teve que lidar igualmente com alunos cheios de preconceitos.

    Queriam muitos deles ter cheio seu estmago e ver curadas suas doenas, mas sem qualquer interferncia em seus interesses e sem qualquer mudana em seus hbitos. E o mundo age assim ainda hoje. Todos querem ser curados e libertos do castigo eterno. Mas, quando se lhes fala em arrependimento, em servir a Cristo, em sacrifcio e na cruz, perdem todo o interesse e se vo. coisa mui difcil convencer um homem e lev-lo a negar-se a si mesmo. Os maiores obstculos encontrados por professores e mestres so essas mentes fechadas e cheias de preconceitos. 7. Instveis

    Se os discpulos de Jesus se mostrassem dispostos a levar avante de modo

    fiel aquilo que houvessem entendido e recebessem tudo com mente aberta, j seria coisa mui maravilhosa. Mas, assim no fizeram. A perversidade humana tamanha que a vontade, bem como o intelecto e os afetos, se mostram depravados. Isto verdade quanto aos discpulos daquele tempo, e tambm quanto aos de nossos dias. Muitos no tiveram coragem de abandonar outros interesses e encarar corajosamente as durezas e decepes naturais do caminho cristo. Assim, diminuiu o interesse de muitos, e at mesmo os maiores amigos de Jesus hesitaram em avanar com ele. O quadro que Jesus nos pinta do solo raso e fraco, onde a semente cresceu rpido, mas logo murchou ao sol abrasador, tima descrio dessa instabilidade.

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    Ento, como agora, a tentao, a tribulao, a perseguio, mui logo dizimam as fileiras. Marquis diz: "Bom nmero de gente se apresentou para seguir o Mestre, mas logo esfriou seu entusiasmo e o deixou. Jesus no podia ret-los. Aps trs anos desse ensino o melhor que o mundo j conheceu tendo falado Jesus a milhares de pessoas, ficou apenas este nmero de 120, e muitos destes ainda precisaram de ser reanimados pelo Seu ministrio ps-ressurreio." Que quadro do resultado de toda uma vida do maior professor que o mundo j viu! At cultos sem valor parecem ter conseguido mais em nossos dias.

    Bom exemplo de fraqueza o caso do jovem rico, a que nos referimos h

    pouco, o qual, embora interessado e inteligente, no se sentiu com foras para abrir mo dos seus bens e ir aps Cristo. Que estupenda oportunidade perdeu ele, de companheirismo com Cristo, de servir a Deus, e mesmo de celebrizar-se como cristo! Outro caso j referido o de Pedro que, aps prometer ser fiel at o fim ainda que os outros desertassem, voltou as costas a Jesus e o negou com juramento, vendo-se rodeado por pessoas estranhas.

    Em certa poca do seu ministrio, a debandada de discpulos foi tal que

    Jesus pateticamente se voltou para os poucos que lhe ficaram fiis, e perguntou: "No quereis vs tambm vos retirar?" (Joo 6:67). Mesmo depois de sua crucificao, vemos que seus amigos mais leais voltaram ao seu primitivo ofcio, tendo dado a causa como completamente perdida. Aqueles onze homens corriam de c para l, como ovelhas assustadas, emboscando-se nas trevas, para fugir ao dedo indicador dos inimigos de Cristo em Jerusalm."

    Se todas essas coisas se deram com Jesus, que esteve sempre muito alm

    daquilo que podemos ser, e, se sua obra no tempo foi tida como decepo e derrota, em nada nos devemos surpreender quando vemos que nossos esforos parecem no render coisa alguma. Quando se faz muito, mais fcil tomar uma classe do que conserv-la, e quando no poucos alunos e alunas deixam as classes da Escola Bblica Dominical, mal chegam juventude, urge lembrar do Grande Mestre, e tomarmos alento.

    Se o leitor sentir que este captulo desencorajador, lembre-se de que,

    apesar de todas aquelas dificuldades, e obstculos, Jesus avanou pacientemente e conseguiu fazer daquele grupo o mais eficiente corpo de discpulos e mestres que o cristianismo j teve em toda a sua histria. T. R. Glover diz: "O maior milagre da histria parece ter sido este: a transformao que Cristo conseguiu operar naqueles homens." Fortalecidos por seus ensinos, pela sua.-ressurreio e pelo Esprito, saram a transformar o mundo, e dez deles deram sua prpria vida para levar avante aquela divina cruzada. Assim iniciaram eles a cristandade na obra da evangelizao mundial. "A julgar pelos resultados, Jesus lanou a maior gerao de mestres que o mundo conheceu

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    doze homens, que mais tarde viraram o mundo de pernas para o ar." Como conseguiu Jesus formar neles esse carter invencvel o que iremos ver nos captulos seguintes. At aqui procuramos ver nossos discpulos luz daqueles aos quais Jesus ensinou, e compreender mais claramente a nossa tarefa de mestres, bem como buscamos nimo e coragem para ensinar com fidelidade e pacincia.

    Sugestes Auxiliares para o Ensino do Segundo Captulo Esboo no Quadro-negro 1. Imaturos 2. Impulsivos 3. Pecadores 4. Perplexos 5. Ignorantes 6. Cheios de Preconceitos 7. Instveis

    Tpicos para Discusso 1. Classifique os doze apstolos segundo o temperamento deles. 2. Apresente outros exemplos que provem que eles eram imaturos. 3. Quais as razes psicolgicas do pecado? 4. Contraste os problemas dos dias de Jesus com os de nossos dias. 5. Por que os discpulos de Jesus no podiam apanhar bem os ensinos dele? 6. Discuta as causas dos preconceitos. 7. D algumas razes que levaram muitos a perder seu interesse pela causa de Cristo.

    Assuntos para Reviso e Exame 1. Discuta o carter impulsivo de Pedro e de Joo; 2. Apresente fatos que ilustrem tendncias pecaminosas nos discpulos. 3. Quais alguns dos problemas e ideologias que estavam desafiando os discpulos de Jesus?

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    O OBJETIVO DO ENSINO DE JESUS

    Uma das coisas que mais ajudam no ensino o ter objetivos claros e especficos. Muitos professores trabalham meses e meses sem objetivo definido, a no ser o de apresentar o material que se lhes forneceu. Isto responde por muita incria, vacuidade e falta de interesse. Sem um alvo certo e preciso, definha-se o ensino por falta de perspectiva, de propsito e de objetividade. E tambm no se poder avaliar os resultados do ensino, pois que no visa a coisa definida; e, assim, no sabemos para onde ele se dirige e nem onde chegar.

    Com Jesus, as coisas caminhavam de modo mui diferente. Ele nunca

    ensinava somente pelo fato de ser chamado a ensinar. Ele sempre tinha um propsito e fins definidos a atingir. Sabia muito bem o que queria, e caminhava nesse sentido. Sabia para onde ia e de maneira firme caminhava para a consecuo do seu objetivo sem olhar para oposies ou derrotas. "Vim para que tenham vida" (Joo 10:10). Buscou, assim, "transformar as vidas de seus discpulos, e, por meio deles, transformar outras vidas e regenerar a sociedade humana". Muitas coisas esto includas neste seu objetivo geral. 1. Formar Ideais Justos

    Os ideais so no mundo as foras impessoais mais poderosas para a

    construo do carter. Eles so como a carta, o mapa, o guia para o curso da vida. Em grande parte controlam nossa conduta. Assim que surtos instintivos so largamente dominados por eles. Um jovem pode recusar tomar um gole de pinga, ou deixar de dar uma tragada, ou de danar, unicamente por causa dum ideal que abraou. Certo jovem deixou de tomar parte numa noitada alegre com seus amigos s pelo fato de lembrar que nenhum de seus parentes mais velhos jamais fora culpado de tais prticas. W. S. Athearn tem grande razo quando diz: "Os ideais so as polias pelas quais elevamos nossa natureza a nveis mais altos." Eles determinam a eficcia de nossos anseios emocionais e pesam em nossas resolues.

    Os resultados dos compromissos de trs consagrados cristos de agirem

    como mordomos de Deus, no que respeita a suas posses, podem ser

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    inteiramente diversos, muito embora os trs sejam igualmente sinceros. Um deles pode achar que deve dar quando a isso se sentir inclinado, e s dar quando o pastor o mover a isso; o segundo pode achar que deve pagar o dzimo nada mais, nada menos seja qual for a sua renda; j o terceiro pode achar que tudo pertence a Deus e que deve dar a Deus mais do que nove dcimos. So os ideais que fazem a diferena nos resultados de suas resolues. Assim, o conhecimento apropriado necessrio ao viver apropriado. No se pode viver melhor do que aquilo que se conhece. A conduta reta ou certa tem sua raiz na reta compreenso. Assim, aquilo que amolda os ideais do povo determina em larga escala o seu destino.

    Por isso, Jesus buscou formar ideais retos e justos. "Sede perfeitos como

    perfeito o vosso Pai celestial" (Mat. 5:48). Ele procurou de modo especial dar a todos uma compreenso mais clara da natureza de Deus e de sua atitude para com a humanidade.

    Jesus apresenta Deus mais como o Pai cheio de amor que se sente mal

    com os pecados do homem, e no tanto como um monarca sem corao que no se interessa pela humanidade necessitada. As parbolas da dracma perdida, da ovelha transviada e do filho prdigo revelam o corao de Deus. Jesus nos apresenta o homem como transviado e necessitado da influncia regeneradora do Esprito de Deus, se quiser ele entrar no Reino de Deus. Isto se v na conversa de Jesus com Nicodemos (Joo 3:1-14). No Ensino do Monte, especial-mente nas Beatitudes, Jesus esboou as qualidades e prticas que devem caracterizar os cidados do Reino, tanto na vida particular como em suas relaes pblicas. Ele alertou a todos contra o orgulho, a cobia, a raiva para com outro irmo, e contra o olhar para a mulher, cobiando-a. Ele props uma filosofia para guiar nossa conduta, que, afinal a coisa mais importante na vida, como, alis, descobriu W. J. McGlothlin, quando percebeu que um homem o seguia num parque noite e estava ele mais interessado na filosofia da vida humana do que mesmo em saber se tal homem era mais forte do que ele, se se tratava de um negro, ou se este trazia consigo uma garrucha.

    O povo corria para Jesus, porque ele o alimentava com verdades que seu

    corao desejava ansiosamente. Os professores de Escola Bblica Dominical devem aprender bem a lio que este fato contm: nossos alunos afluiro, se os alimentarmos regularmente. Assim como h pssaros que sistematicamente voltam s mesmas praas de certas cidades da Europa central, porque certas pessoas em seu testamento deixaram importncias especiais para a alimentao regular deles ali, tambm nossos alunos viro sempre s nossas aulas, se lhes dermos algo que valha a pena. Toda a responsabilidade na sustentao duma Escola Bblica Dominical no descansa sobre os ombros dos visitadores da Escola, no. A responsabilidade maior recai sobre o ensino que deve ser enriquecido com a visitao. Deve haver um impulso que venha de dentro para

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    fora atravs da instruo, bem como um apelo que venha de fora para dentro, atravs da persuaso. "Nenhuma poro de entusiasmo, nenhum colorido anedtico, e nenhuma fluncia de elocuo poder substituir o conhecimento que se transmite ao aluno."

    Nestes dias em que tanto se enfatiza no ensine a soluo de problemas e o

    tratamento das situaes da vida, no esqueamos a necessidade de plantar verdades divinas na mente de nossos alunos e de construir slidos ideais de vida. Ideais e sentimentos mais elevados so necessrios para dar unidade vida, afirmam os psiclogos. "Assim como pensa em seu corao, assim o homem" (Prov. 23:7). 2 . Firmar Convices Fortes

    Jesus no ficou apenas a transmitir conhecimentos sobre assuntos morais e

    espirituais. Foi mais adiante. Ele bem sabia que s o conhecimento ou a informao no venceria os desejos instintivos e o mau ambiente. Pode-se conhecer bem os males acarretados pela perverso sexual, o perigo das bebidas alcolicas e da jogatina, e no obstante viver-se escravizado a um ou a todos esses vcios. Tm-se encontrado em casa de m fama homens com folhetos religiosos e at Evangelhos em seus bolsos. Um pobre vagabundo que surgiu certa vez num acampamento de colegiais leu o grego to fluentemente como o ingls, que o grupo de estudantes acabou tirando-lhe o chapu e com ele levantou uma coleta para que o infeliz pudesse comprar mais cachaa!

    Pode-se dizer que resultou aquilo em mal maior, e, na verdade, algum

    diplomado daquele colgio esteve ligado quela troa lamentvel. Mais de quinhentos diplomados tm sido salvos nos cortios da cidade de New York, alguns dos quais l tinham ido para realizar obra de soerguimento moral. O Mestre nunca se iludiu pensando que basta o conhecimento para curar o homem de seus males. Quando ele disse: "A verdade vos libertar" (Joo 8:32), disse isso aos judeus que criam nele, e condicionou essa afirmativa permanncia deles em sua palavra.

    Assim, pois, o Mestre tanto buscou aprofundar as convices como implantar

    a verdade. Noutras palavras: Ele reconhecia a necessidade de despertar o sentimento e desenvolver atitudes. Seu alvo final era a vontade. Ele reconhecia, como ns tambm, que a verdade deve possuir luz e tambm calor para ser eficaz. Deve desenvolver-se o sentimento de obrigao, como afirma W. A. Squires: "Ele tratou da vida em sua plenitude, e no meramente do processo mental de seus alunos. Ele nutriu a vida emotiva, bem como a vida intelectual de seus discpulos." Com esse propsito, buscou despertar interesse por certos assuntos e tambm proporcionar informaes sobre eles. Sempre estavam em

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    seus lbios perguntas como estas: "Que vos parece?" (Mat. 18:12). "Que pensais vs do Cristo?" (Mat. 22:42). Assim, despertando meditaes posteriores sobre o assunto, despertava o interesse e aprofundava as convices. Tambm apelava de contnuo ao amor, aos sentimentos de afeto. Belo exemplo de seu esforo, no sentido de aprofundar a lealdade de Pedro, vemos na pergunta que lhe fez trs vezes: "Amas-me mais do que estes?" (Joo 21:15-17).

    Semelhantemente valeu-se do temor e do dio para firmar as convices,

    inclusive o temor do inferno e o dio ao pecado. Tambm enfatizou recompensas e punies. Falando sobre o juzo futuro, descreveu pessoas condenadas s trevas exteriores, dizendo: "ali haver choro e ranger de dentes" (Mat. 25:30).

    luz dessa nfase, no podemos negar que os discpulos, ouvindo tais

    palavras, ficassem profundamente emocionados com a importncia e a veracidade de suas afirmativas. Jesus despertava, ento, atitudes pr ou contra esses assuntos apresentados. Bem faremos ns em seguir o exemplo de Jesus, porque, se queremos que nosso ensino alcance os resultados desejados; nossos alunos precisam sair de nossas aulas percebendo bem o valor das verdades ali estudadas e debatidas, levando consigo a firme resoluo de fazerem algo no sentido de praticar o que ouviram. Somente desta forma se dar s verdades ensinadas aquela nfase precisa, coisa to necessria nestes tempos em que no se d grande valor a assuntos srios, chegando mesmo no poucos a troar e rir das verdades religiosas. O ensino deve fortalecer, e no enfraquecer as con-vices. A juventude deve ser fortalecida no seu ntimo, e assim estar preparada para viver bem num ambiente depravado. Quando Rudyard Kipling levou seu filho a um passeio de barca e se lhe disse que o rapaz havia pulado ngua e morreria certamente caso o pai no o acudisse, ele apenas disse: "No; isso no acontecer, pois o rapaz sabe o que faz." Devemos desenvolver em nossos alunos convices to fortes para que eles se mantenham resolutos e invencveis. 3 . Converter a Deus

    A principal tarefa do professor propriamente relacionar seu discpulo com

    Deus. este o ato religioso inicial do indivduo, e o mais importante. Dado que o aprender no fica completo sem uma resposta da parte do aluno, assim tambm o ensino de religio no se completa sem que o indivduo responda a Deus. Nunca estaremos retamente relacionados conosco ou com nossos semelhantes, enquanto no o estivermos com Deus. esta a nica base para se obter vida genuinamente integrada e unificada. Assim como a agulha magntica oscila e no se firma enquanto no aponta para o norte, igualmente o indivduo vagueia enquanto no se relaciona com Cristo. Josh Billings tem razo ao afirmar que "s teremos corridas de cavalos limpas e honestas quando tivermos uma

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    raa humana honesta". A retido s aparece quando a gente se converte a Deus. este o alicerce de todo o progresso moral.

    Todas as atividades da vida devem ser dirigidas deste centro. o maior

    ajustamento da vida. "A alma de toda cultura a cultura da alma." Esto certos os catlicos romanos ao afirmarem que problemas como o do sexo s se resolvem luz do temor e do amor de Deus. Isto verdade tambm no que toca temperana e paz mundial. Assim disse Cristo: "Buscai primeiro o reino de Deus e sua justia, e todas estas coisas vos sero acrescentadas" (Mat. 6:33). Ele disse tambm: "Se no vos arrependerdes (mudardes vossa mente), todos de igual modo perecereis" (Luc. 13:3). Ele disse ainda ao culto Nicodemos: "Quem no nascer de novo (de cima) no pode ver o reino de Deus" (Joo 3:3). Assim Cristo primeiro cuidou de levar o povo converso a Deus e essa tambm a nossa grande obra como professores.

    A experincia da converso descrita como nascimento, ressurreio,

    iluminao, novo corao, mudana de mente. Pode variar na forma conforme o temperamento, a idade, a cultura e o grau de pecado; mas em todos os casos envolve a harmoniosa relao da pessoa humana com a divina. Pode ser uma experincia sem alarde ou do tipo revolucionrio; pode ser gradativa ou repentina; pode ser dominantemente intelectual, emotiva, ou volitiva; pode ser mais viva libertao do pecado ou mais sensvel marcha para a retido. Em cada caso, porm, h uma entrega a Deus e o transpor da linha divisria para se entrar na vida crist.

    Da converso resultam novos motivos, novos interesses e novas atividades.

    "Amars o Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e com todas as tuas foras" (Mar. 12:30). esta a experincia que transforma o mundo. "O convertido hotentote da frica est mais perto do centro da vida do que o mais culto pago da Amrica."

    A me do governador Joseph W. Folk dizia pura verdade ao afirmar que

    no se orgulhara tanto de Joe no dia em que ele assumira as rdeas do governo como quando ele se filiara sua igreja (batista). Cada professor de Escola B-blica Dominical deve ensinar, orar e agir para que cada aluno submeta sua vida a Deus o quanto mais cedo possvel. Cada um de seus alunos deve ser levado a dizer como o filho prdigo: "Levantar-me-ei e irei ter com meu pai" (Luc. 15:18). 4. Relacionar com os Outros

    O viver cristo envolve relaes retas para com o homem, assim como para

    com Deus. Na verdade, ambas estas coisas acham-se envolvidas na mesma experincia. Quando Jesus resumiu o primeiro mandamento, acrescentou isto

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    nossa relao para com Deus "amars o teu prximo como a ti mesmo" (Mar. 12:31). Ao enfatizar a doutrina das recompensas na eternidade, Jesus disse que tais recompensas se baseiam no ter dado comida ao faminto, gua ao sedento, roupas ao nu, no tratar bem o estrangeiro, o enfermo e os presos (Mat. 25: 35,36). Joo foi mais longe, dizendo: "Se algum diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmo, mentiroso" (I Joo 4:20).

    Isto significa que somos convertidos como seres sociais mais do que seres

    independentes. Devemos estar em harmonia com os homens tanto quanto com Deus. Henry C. King disse certa vez: "A religio est serzida com todas as relaes, tendncias e esforos humanos, indeslindavelmente mesclada com todas elas. E devemos compreender que sua glria est no num majesttico isolamento, e, sim, nessa capacidade de permear e dominar toda a vida." Jesus buscou harmonizar uns com os outros, bem como convert-los a Deus. E ele espera que faamos o mesmo.

    Vrias coisas so envolvidas nesta obra de levar os homens a manter boas

    relaes entre si. Em primeiro lugar, Jesus enfatizou o evangelho do amor, como indica o mandamento j referido. Jesus foi mais alm, e disse: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Joo 13:34). Ele sabia que o verdadeiro amor derrubaria todas as barreiras. Assim, alertou a todos contra o dio, recomendando: "Orai por aqueles que vos perseguem" (Mat. 5:44). No podem existir boas relaes quando reina o dio. Na verdade, o dio o primeiro passo para o homicdio. Jesus enfatizou tambm, e muito, a necessidade do esprito pacifista, e disse: "Bem-aventurados os pacificadores, porque sero chamados filhos de Deus" (Mat. 5:9). Sobre a pureza sexual, disse: "Qualquer que olha para uma mulher, cobiando-a, j em seu corao cometeu adultrio com ela" (Mat. 5:28).

    A nfase que deu, e igualmente sua atitude, nos ajudam a pr de lado as

    bebidas alcolicas, os preconceitos raciais, a resolver os problemas entre patres e empregados, e a eliminar a guerra. Se relaes pacficas dominarem os setores todos, j elas se estabelecero no por intermdio de diplomatas encolarinhados, a beber cocktails e inebriantes junto a mesas de conferncias internacionais, e, sim, por meio de Escolas Bblicas Dominicais e doutros professores dum mundo construdo por uma juventude sadia, que ento manter atitudes retas e justas para com pessoas de todos os climas, cores, classes e credos. 5 . Resolver os Problemas da Vida

    Em todos os seus ensinos Jesus nunca se esqueceu dos problemas ntimos

    de seus ouvintes, e sempre buscou resolv-los, para fazer deles discpulos felizes e unificados. "Seu ensino essencial e inteiramente ocasional... tirado de emer-

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    gncias do dia e da hora, do contato com o povo, de conversas e incidentes." A nfase dada por Cristo era sobre a prpria vida e no sobre coisas materiais. Sem contar o Ensino do Monte, a maior parte dos seus ensinos registrados era para ajudar indivduos a resolverem problemas especficos que os desafiavam. Ele no empregou termos gerais, como religioso, espiritual, tico e consciente, mas acorooou virtudes particulares. At parece que ele disse as bem-aventuranas por ver diante de si pessoas que estavam lutando com problemas referentes ao orgulho, impureza, tristeza e a outros mais.

    Certo velho professor de latim disse que no ensinava latim, e, sim, a alunos;

    igualmente o Mestre no ensinava propriamente a verdade, e sim, a pessoas, e as Escrituras e outros materiais eram apenas meios para esse fim. At mesmo o versculo das Escrituras que enfatiza a inspirao diz que elas no so em si um fim, mas que so "teis para ensinar... para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra" (II Tim. 3:16,17). "Jesus sempre visava a prpria vida, mais do que o intelecto."

    Podemos ver que ele de fato enfatizava isso quando estudamos todo o seu

    ministrio. Ele citou vinte livros dos trinta e nove do Velho Testamento, em seus ensinos, e sempre em relao com algum problema ou situao que estava embaraando seus discpulos. Ao lidar com a mulher junto ao poo, se aprofundou na vida dela para lhe revelar sua necessidade. Conversando com Nicodemos, colocou seu dedo justamente \o ponto fraco do seu farisasmo formalista e lhe ensinou a lio da necessidade e natureza da converso. Quando o buscou o jovem rico e lhe perguntou o que devia fazer para herdar a vida eterna, Jesus fez perguntas at que o moo descobrisse que suas posses constituam seu capital problema, e da Lhe aconselhou o que devia fazer de suas propriedades.

    Provavelmente o exemplo mais frisante o daquele homem que quis que

    Jesus induzisse seu irmo a dividir com ele a herana, e isto precisamente quando Jesus estava falando sobre os cuidados e a providncia de Deus. Aquele pedido estava completamente fora de ordem, em inteira desarmonia com a ocasio, e, assim, mui natural seria que Jesus ignorasse aquela solicitao ou repreendesse o intruso, e prosseguisse em sua mensagem. Mas o Mestre dos mestres no fez nada disso. Percebendo a cobia que lavrava no corao daquele homem, desviou-se um bocado do que vinha dizendo e lhe deu uma lio sobre o valor da vida humana, lio que tem sido grande bno para todo o mundo. Disse, ento, a parbola do rico prspero e insensato que construiu celeiros e tulhas mais vastas para recolher sua enorme colheita, e com tal ilustrao levou aquele ganancioso a perceber sua lamentvel atitude de cobia (Luc. 12:13-21).

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    Se deve hoje em dia em nossas Escolas Bblicas Dominicais enfatizar mais uma coisa que outra, esta a verdade capital: ensinemos alunos, e no lies. O moto de cada professor deve ser este: "ensino que tem finalidade certa, para o aluno saber como viver". O professor de adultos que no permite que um aluno faa perguntas, alegando que o tempo escasso e que " preciso dar toda a lio", no descobri;' ainda qual a funo principal do mestre. Quando necessrio, devemos at nos desviar da lio do dia para atender necessidade da classe. Muitos pregadores assim fazem em seus sermes. George W. Truett nos conta que certa vez pregou um sermo inteiro para beneficiar certo ouvinte dum grande auditrio. Mas, assim fazendo, beneficiou a muitos do auditrio, bem como Jesus ajudou a humanidade de todos os sculos, desviando-se de sua mensagem formal para satisfazer s necessidades de um indivduo cobioso. Se nada aprendemos de todo neste estudo de Jesus como mestre, no esqueamos nunca que ele ensinou para resolver as necessidades e problemas da vida. 6 . Formar Caracteres Maduros

    Jesus desejava no apenas obter uma resposta definida para seus ensinos,

    e nem s resolver por meio deles problemas especficos da vida. Ele olhava ainda mais para diante, e desejava assim, desenvolver em seus seguidores aquelas graas que lhes possibilitariam conjurar suas fraquezas e vcios e fazer deles caracteres fortes, ntegros e verdadeiramente cristos. Carlos F. Kent assim se expressa a respeito dos objetivos de Jesus: "Livrar os homens de cederem s tentaes que sorrateiramente assaltam cada homem e cada mulher; ajud-los a vencer as paixes que se precipitam sobre eles; libertar o altivo coletor de sua ganncia; a mulher da rua, daquelas influncias que quase irresistivelmente a prendem e arrastam." Jesus buscou criar e desenvolver virtudes positivas, tais como a honestidade, a humildade, a pureza, o altrusmo, a bondade, o sacrifcio, que enobrecem o carter, firmam a conduta e alegram o viver. Desejou para seus discpulos uma vida o mais humanamente possvel, liberta do pecado.

    Muitos fatos da vida de Jesus provam cabalmente este seu glorioso objetivo.

    Ele denunciou corajosamente os fariseus que viviam a religio de modo exterior e que intimamente no passavam de consumados hipcritas. Um dos quadros mais vivos pintados por Jesus est na sua parbola do fariseu e do publicano a orarem no templo. O fariseu publicamente se ufanava de sua bondade e religio, enquanto o contrito publicano suplicava a misericrdia divina para si, pobre pecador. Jesus fez pouco das oraes formalistas, dos jejuns, das ddivas ocas, dos dzimos por obrigao, e louvou as atitudes apropriadas e naturais, que procedem do corao. Ensinou a seus discpulos que deviam ir alm das prescries da lei e dos profetas, e os ajudou a olhar mais para os motivos e intenes do que para os ritos exteriores.

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    A ira e o homicdio so coisas condenveis; e o olhar para uma mulher,

    cobiando-a, to pecaminoso quanto o adultrio. Os discpulos de Jesus deviam proceder honesta e sinceramente, com juramento ou sem ele; deviam colocar-se acima da vingana, chegando mesmo, quando esbofeteados numa face, a mostrar a outra para ser ferida; deviam amar e considerar seus inimigos como amigos. Jesus ensinou que o cristo deve crescer como as plantas "primeiro a erva, depois a espiga, e por ltimo o gro cheio na espiga" (Mar. 4:28). Aconselhou a Pedro que alimentasse os cordeiros, as pequenas ovelhas e as ovelhas (Joo 21:15-17). Ensinou que "o cu no se conquista de um salto, mas que devemos construir a escada pela qual subiremos da terra aos elevados cus, e que l chegaremos de etapa em etapa".

    Para que a experincia de seus discpulos fosse verdadeira, completa e

    permanente, Jesus exigiu, que eles pensassem bem no custo e nas dificuldades antes de resolverem segui-lo; exigiu que se certificassem bem de que o afeto que tinham por ele sobrepujava a todas as afeies temporais e terrenas; exigiu que renunciassem a tudo quanto possussem, que tomassem diariamente a sua cruz e o seguissem. Jesus mostrou-se bem mais interessado na qualidade de seus seguidores do que na quantidade deles; importou-se mais com o valor deles do que com o seu nmero; mais com resultados permanentes do que com xitos temporrios.

    Se queremos seguir o exemplo dele, urge reconhecermos que importa mais

    obter uma resposta genuna e sincera do que uma adeso imediata e impensada; urge ver que nossa tarefa apenas se iniciou, quando algum de nossos alunos se converte; e que nossa obra de mestres formar nele "o homem maduro, medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef. 4:13). W. E. Hatcher disse bem: "Pelo menos to importante salvar aquilo que j temos como salvar o que ainda est perdido." E J. B. Gambrell afirmou: "Os batistas tm evangelizado e batizado, mas no tm ensinado. Disto decorrem muitos dos seus males." 7 . Preparar para o Servio Cristo

    A tarefa final do Mestre dos mestres foi preparar e treinar seus discpulos

    para que espalhassem por todo o mundo os seus ensinamentos. Grande parte do fim de seu ministrio ele dedicou a essa tarefa. Ficaram to bem preparados que eles e seus sucessores conseguiram arrebanhar maior nmero de seguidores que qualquer outro grupo de mestres religiosos. Foram eficientssimos, conquanto no pertencessem ao grupo de mestres e tcnicos dos escribas e rabinos. No tiveram treinamento profissional especfico, mas, aps aquele breve perodo de preparao com Jesus, tornaram-se os mestres mais consumados deste mundo. Os onze, os setenta, e outros mais iniciaram o ensino da

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    mensagem em sua marcha para conquistar o mundo, e at hoje essa gloriosa cruzada ainda no cessou. O ensino deles percorreu todo o globo terrestre e mo-dificou a marcha da histria.

    Vrios elementos fizeram parte daquele treinamento. Jesus disse a seus

    discpulos: "Vinde aps mim; eu farei de vs pescadores de homens" (Mat. 4:19). Tambm "selecionou doze, para estarem com ele, e para envi-los a pregar" (Mar. 3:14). O primeira, e provavelmente o mais importante aspecto do treinamento deles foi a associao pessoal com Jesus, aprendendo eles mediante o exemplo e a imitao. Eles viram como Jesus simpatizava com o povo, como o confortava, alimentava, curava; e, assim, apanharam o seu esprito. A segunda fase foi mediante o ouvir os incomparveis ensinos de Jesus, em vrias circunstncias, e sobre grande srie de assuntos. Aprenderam "ouvindo com os ouvidos". Por fim, Jesus lhes confiou servios prticos concedendo-lhes que balizassem os conservos. Tambm enviou os doze numa excurso de ensinamento e prdica, e depois os setenta em misso semelhante. Quando voltaram, reuniu-os para ouvir seus relatrios, proporcionando-lhes assim direo e superviso.

    Assim aprenderam eles com o exemplo de Jesus, com suas instrues e

    com suas atividades prticas. Nenhum grupo de mestres teve melhor treinamento que eles. Quando, por fim, estavam preparados, Jesus os enviou, dizendo-lhes: "Fazei discpulos de todas as naes, batizando-os em nome do Pai, c do Filho, e do Esprito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado" (Mat. 28:19-20). Jamais se fez depender tanto de to poucos, eles fielmente deram contas daquilo que se lhes confiou.

    Como mestres, devemos reconhecer que o treinamento de outros uma

    tarefa a ns confiada. De nossas classes de hoje podem sair os lderes voluntrios de nossas futuras Escolas Bblicas Dominicais, de nossas Unies de Treinamento, de nossas Sociedades Femininas, de Jovens e de Homens. Tambm desses nossos alunos podero sair pastores, tcnicos de educao religiosa, pregadores leigos, missionrios a terras estranhas e outros mais lderes da Igreja de Cristo. Embora no atinjamos toda a verdade, ao afirmar que somos salvos para servir, vemos que, sem dvida, esta uma parte do dever de cada cristo. Cada obreiro, portanto, deve ser treinado, e o professor de Escola Bblica Dominical responsvel por uma parte dessa tarefa.

    vista de todos estes fatos, maravilhoso anotarmos quo largos e vastos

    eram os objetivos de Jesus. Abrangiam a todos e a cada um dos aspectos da natureza humana os pensamentos, os sentimentos e a vontade, incluam todas as nossas relaes para com o nosso corpo, para com os outros e para com Deus. Cobrem cada fase de nossa atividade pessoal, domstica, eclesistica e profissional. Em resumo, Jesus buscou criar "o homem perfeito

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    para uma sociedade perfeita". E a realizao desses objetivos significa a vinda do Reino de Deus terra.

    Sugestes Auxiliares para o Ensino do Terceiro Captulo Esboo no Quadro-negro 1. Formar Ideais Justos 2. Firmar Convices Fortes 3. Converter a Deus 4. Relacionar com os Outros 5. Resolver os Problemas da Vida 6. Formar Caracteres Maduros 7. Preparar para o Servio Cristo

    Tpicos para Discusso 1. Mostre a importncia dos ideais. 2. Que que a convico adiciona verdade? 3. Por que necessria a resposta, ou a reao, ao ensino? 4. Como se pode assegurar a paz mundial? 5. Apresente alguns problemas da vida de seus alunos. 6. Que que estava errado na religio dos fariseus? 7. Qual dos mtodos de treinamento empregados por Jesus foi o mais eficiente?

    Assuntos para Reviso e Exame

    1. Apresentar provas escritursticas da maneira pela qual Jesus buscou resolver os problemas da vida.

    2. Mostrar a nfase que o Mestre deu ao desenvolvimento do carter. 3. Por que meios Jesus treinou seus discpulos para o servio cristo?

    4

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    PRINCPIOS SUBJACENTES OBRA DE

    JESUS

    primeira vista parece que o ministrio instrutor de Jesus no se arraigava em nenhum princpio particular. Parecia mais uma espcie de atividade espontnea, sem qualquer subjacente filosofia definida. Contudo, no este o caso. Estava muito longe de ser um processo acidental ou a esmo. Quanto mais estudamos a obra de Jesus, mais vemos que ela se baseava em princpios substanciais. Com efeito, tais princpios no foram apresentados em muitas palavras. Mas esto claros na obra de Jesus, e aparecem quando nos pomos a examin-la. Anotaremos aqui alguns desses princpios. 1. Jesus Olhava para Longe

    evidente que Jesus olhou para longe ao escolher seus auxiliares. Olhando

    l da altitude divina, pde ver neles aquilo que eles e seus companheiros nq_ podiam enxergar. Olhava suas possibilidades futuras, e no meramente suas presentes qualificaes. Por exemplo, viu naquele Simo impulsivo, radicalista e vacilante um carter forte, corajoso e vigoroso, e por isso lhe deu o nome de Pedro (pedra). Semelhantemente, viu naquele Joo muito jovem e descaridoso ("filho do trovo") um carter bem mais amoroso e compreensivo, e mesmo "o discpulo amado". Jesus podia descobrir num fariseu cheio de orgulho ou numa mulher de m vida possibilidades que ningum enxergava. Afirma Br