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ApresentaçãoApresentaçãoApresentação
A poesia é a arte da linguagem humana, ela comunica antes mesmo de ser compreendida, nos faz refl etir, nos faz agir. Aos poetas é mais fácil expressar o sentimento e as lutas através da palavra e
é neste sentido que apresentamos este caderno, assim chamado “A vida dos atingidos por barragens em poesia”.
Ele é fruto de um processo vivenciado no último período pelos (as) militantes que participaram da Escola Nacional de Formação Política do MAB e por militantes que tem se dedicado para transcrever suas criticas, seus sentimentos, sua vivência em poesia.
Queremos que este caderno sirva de subsídio para animar nossa mística, para reforçar nossos passos na construção de uma sociedade socialista e para nos movimentar na direção de uma vitória na luta da classe trabalhadora. E que a nossa energia de lutadores/as contagie a todos/as, e a nossa poesia ajude a construir a Soberania Energética e Popular que sonhamos.
Aos poetas, militantes do MAB que contribuíram com esta produ-
ção, nosso muito obrigado. E a todos (as) os (as) militantes, desafi amos que continuem com esta prática de escrever e falar da vida do povo, das lutas, da resistência e das conquistas. Poetizemos sobre nosso profundo desejo de liberdade e para a valorização da cultura do povo!
Água e energia não são mercadorias!
Movimento dos Atingidos por BarragensMarço de 2010
Apresentação ....................................................................................... 01
A Marcha .............................................................................................. 05
Abril de todo dia ................................................................................... 06
Afogados na mágoa ............................................................................. 07
Barragem de Machadinho .................................................................... 08
Carta do Rio Tocantins endereçada ao Rio Xingu ..................................... 10
Barragens não ....................................................................................... 11
Causas e conseqüência de uma barragem ......................................... 12
Cordel da História SubmersaAtingidos por barragens e MAB X CEMIG .................................................... 14
Cordel dos rios com barragens ............................................................ 27
Deus não construiu barragens ............................................................. 29
Este poema que vos deixo ................................................................... 30
Excluídos? ............................................................................................ 33
Hê Xingu .............................................................................................. 35
Filhos e Filhas da Esperança ............................................................... 36
Guerreiros de Luta ............................................................................... 37
Ferrete Curaçá BA ................................................................................. 40
Lembrança de criança .......................................................................... 41
Memória ............................................................................................... 42
Mensagem do Rio Maranhão ............................................................... 43
Modelo Energético ............................................................................... 44
Modo de produção asiático .................................................................. 45
Sumário
Mulher .................................................................................................. 46
O Brasil que eu quero .......................................................................... 47
O Diabo ................................................................................................ 48
O Grande Encontro .............................................................................. 50
O grito .................................................................................................. 51
O Modelo Barrageiro ............................................................................ 52
O Xingu pede socorro .......................................................................... 53
Os quatro projetos ................................................................................ 54
Ousadia de Ser .................................................................................... 55
Poesia para um Amigo ......................................................................... 56
Por que Companheiro??? .................................................................... 58
Rebeldia ............................................................................................... 59
Rio Tocantins ........................................................................................ 60
Rio Xingu .............................................................................................. 61
Ser capaz de ser Mulher ...................................................................... 62
Sobre a Barragem de Manso ............................................................... 63
Caderno de Poesias 5
Há um brilho no olharuma tremenda esperançaem quem marcha.
De passo em passoé grande o cansaçoSe alguém perguntaNão, não cansado.A vontade de vencer é maiorque a dor nos pés.
Empunhamos bandeirasde dignidadeJá não somoso Cristo crucifi cado aceitando a morte.
Marchamosessa é a nossa liberdadede não baixar a cabeçarumar o horizonteem busca do Sol.
A MarchaA MarchaA MarchaAutora: Alexandra Borba
6 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Abril de todo diaAbril de todo diaAbril de todo diaAutor: Moisés Ribeiro
Já faz um tempo que balas rasgaram o tempo e o espaço e assassinaram a vida, a memória e a razão
Já faz um tempo que ouço um grito de dor numa mistura de lamento e ódio contra os jagunços fardados da morte
Já faz um tempo que esperamos pela justiça de um estado que nega a vida em favor de capim e cerca
Já faz um tempo que sonhamos caminhar por uma terra de liberdade, sem que na curva sejamos ceifados da vida e da esperança
Já faz um tempo que a luta se torna árdua e a memória teima em lembrar aqueles que tombaram antes de nós
Já faz um tempo que marcamos essa terra com nossos pas-sos fi rmes, ainda que marcados de sangue e dor e caminhamos rumo ao horizonte de nossas vidas e lembranças
Já faz um tempo que teimamos em caminhar e dobrar as curvas das estradas e massacrar com a beleza de nossas crianças e a sabedoria de nossos velhos a violência escondida atrás de fardas e fuzis
Já faz um tempo que teimamos em caminhar e derrubamos as cercas do latifúndio, da violência, da ignorância e do ódio
Mas há um abril de todo dia que me lembra as balas que ras-garam o tempo e o espaço e assassinaram a 13 anos a esperança daqueles que tombaram na curva...
Mas não foram capazes de matar a memória que continua viva naqueles que teimam em viver e plantar as sementes de uma nova era.
Caderno de Poesias 7
Todo este meu sofrimento é causado por um projeto. Uma laje de concreto atacou o Rio Uruguai, por vingança a água sai afogan-do a natureza até lá onde a onda vai.
Até meu lindo arvoredo lá onde fazia meus versos fi cou tudo submerso, morreu minha felicidade, mesmo contra minha vontade vendo tudo embaixo da água com o coração cheio de mágoa eu me bandiei pra cidade.
Minha junta de boi manso me obriguei a chamar na faca. A brasina, minha vaca, não vejo mais no curral. Meu cachorro po-licial, com certeza já morreu ou então vive como eu sofrendo do mesmo mal.
O Adão, o Antônio e o Ciqueira, meus três primeiros vizinhos, uns foram pra Carazinho, outros pra Parobé. Meus fi lhos e minha mulher viviam sempre risonhos, hoje andam tão tristonhos nem ouvir meus versos quer.
Mas eu não perdi a esperança. De um dia organizar esta massa e eleger alguém que faça realmente um Brasil novo. Que mate a fome do povo, faça a Reforma Agrária e devolva minha área pra mim ser feliz de novo.
Afogados na mágoaAfogados na mágoaAfogados na mágoaAutor: Celso Moretti
8 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Apenas 30 famíliasCom a força da amizadeCom a mesma fi nalidadeAté as crianças mostraram fi rmezaPois conheciam a realidade
O sangue fervia nas veiasPra mostrar quem vai mandarO governo não pode tudo se o povo se organizarPos mostraráQuem é que sabe lutar
Até hoje tentamos entender Como conseguiram enfrentar Mais de mil policiais Apoio não podia faltar Dos deputados juntos ao movimento Até as religiões passaram A nos ajudar
A cada etapaOutra fonte de esperança Seguindo em frente Lutando, com confi ança Encarando os obstáculosFormando uma grande aliança
Não viramos nossas costas Porque tínhamos que progredir No dia 25 de julho Tivemos o momento de decidir Agora acertamos as contas Porque soubemos onde ir
Barragem de MachadinhoBarragem de MachadinhoBarragem de MachadinhoAutora: Roberta da Silva
Caderno de Poesias 9
Dormindo no chão duro Faltando conforto e comida Valeu a pena Essa experiência vividaQue vamos valorizar Porque faz de nossa vida
O grande comentário Foi de noite a viagem Pra conquistar seus direitos Em cima de uma barragem Nós devemos permanecer unidos Pois ninguém lutou sozinho O motivo de estarmos juntos Foi a barragem de Machadinho
Agora é hora de lembrarmos Cada data marcada Cada ideal buscadoCada vitória esperada Essa historia não acaba aqui Mas esta luta esta conquistada.
10 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Carta do Rio Tocantins Carta do Rio Tocantins Carta do Rio Tocantins endereçada ao Rio Xinguendereçada ao Rio Xinguendereçada ao Rio Xingu
Autor: Francisco Nunes de Freitas
Bom dia, meu amigo rio Xingu
Estou te escrevendo para saber como você estar, as suas mar-gens, suas praias, suas matas, suas belezas, suas riquezas, suas águas, seus Paraná, o cantar de seus pássaros, com seus sorrisos e assobios ao nascer do sol, as belezas de suas várzeas, a alegria de seus habitan-tes ribeirinhos, os seus peixes, tudo deve estar muito bonito, então, se conserve sempre assim.
Estou lhe orientando enquanto você tem vida, eu não quero que aconteça com você o que aconteceu com amigo, meu amigo rio Xingu. Me enganaram, os meus habitantes, não teve ninguém que me orientas-se, iludiram meus povos e eu cai na armadilha como se fosse uma caça. Perdi uma parte de minha vida, afogaram as minhas matas, minhas vár-zeas, meus castanhais e toda a minhas riquezas. Não escutei mas o s cantos dos pássaros e nem os sussurros das minhas cachoeiras, e com isso uma parte dos meus habitantes foram embora, as minhas águas não são mas as mesmas, acabaram os meus lindos remansos, minhas lindas cachoeiras, meus lindos pedras, tudo isso se afogou.
Estou muito triste pelo que fi zeram comigo; me apertaram ao meio, de uma parte fi quei seco, e de outra parte fi quei enxada,da parte seca os meus ribeirinhos estão sofrendo, não tem mais peixes, meu leito está completamente deteriorado, e o meu povo estar totalmente revoltado. Da parte enxada só me resta um monstruoso lago, uma enorme barra-gem construída para favorecer os tubarões, os poderosos que planejam somente os lucros, fi car sempre mais ricos. Com tantas cobiças, não sei até quando vou conseguir agüentar, estão me afogando aos poucos. E eu não quero que aconteça com você o que aconteceu comigo, me afogando na sua própria água. Você tem povo pra lutar por sua defesa e se precisar de minha ajuda mesmo assim como estou, mandarei meu povo que luta por seus direitos para te defender junto ao seu povo. Não quero que você tenha uma historia triste quanto foi a minha, perder tudo e nunca mais ter de volta aquilo que um dia eu já tive.
Do amigo RIO TOCANTINS.
Caderno de Poesias 11
Derrubar as matas,Matar os igarapés,Destruir a fl ora e a fauna,Querem barrar o Xingu.
Dizem que é para o nosso bem,Dizem que é para o crescimento da região,Dizem que é para a soberania do país,Dizem que precisamos de Belo Monte.
Prometem resolver a saúde de todos,Propõem asfaltar a Transamazônica.Falam que é o fi m do desemprego,Dezoito mil para os nossos vinte mil.
Índios não são importantes, não é gente,Ribeirinhos não contam, não é gente.Que se dane o meio ambiente,Eles prometem artifi cializar outro.
Chega de dormência,Chega de fi carmos assistindo,Vamos à luta, o rio é nosso.Barragem não!!!
Barragens nãoBarragens nãoBarragens nãoAutor: Rogério de Sousa Januário
12 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Causas e consequenciaCausas e consequenciaCausas e consequenciade uma barragemde uma barragemde uma barragem
Autora: Rosa Aguiar
Um dia chegou aqui o pessoal do Movimento dos Atingidos por BarragensPorém eu não sabia o que era issoMas descobri que tinha muita coragem.
Antes todo mundo revoltadoComo medo de acontecer o pior E ter que sair de suas terrasPara fi car só.
Começamos a fazer reuniões E discutir como seria a nossa vidaSe - ganharia terraOu fi caríamos sem moradia.
O pessoal da empresa chegouE disse que nada iria acontecerFalou que pagaria nossas terras Com toda arvore que fosse nascer.
No começo acreditamosMas algo deu errado Disseram que nossas terras valiam poucoE as árvores quase nada
Já tínhamos o mabE mostramos que somo forteE fazemos mobilizações Desafi amos a própria morte.
De repente uma surpresaOs pais estavam revoltadosAs mochinhas se arrumaramPor que mais de 4 mil homens chegaram.
Caderno de Poesias 13
Todos lindos e legais Começaram a trabalharAs meninas suspiravamA cada homem que iria passar.
Algumas delas se envolveramE ganharam vários juramentosDisseram que tinham motos e carrosMuito dinheiroE que entre eles iam dar casamento.
Mas algo deu erradoDepois do envolvimento A barriga começa a crescer e vem o sofrimentoCom o fi lho nos braços sem nem um atendimento
Entre os juramentos Eles dizem que menina moça Na primeira vez não pega doença e nem gravidezO que importa é o amorO resto é tudo contentamento.
Outras que sabiam não sentiram nada Por que exigiam prevenção No começo discutiram Mas usaram camisinha na relação
Para você que sonha com a felicidadeJamais trace sem prevenção Pode pegar uma DSTE ate AIDS na hora da gozação.
A história que acabaram de ouvir É de causas e conseqüênciasDe uma barragemPode ate parecer mentiraMas é a pura verdade!CUIDE-SE!!
14 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
1- Na voz de quem se esforçaPara falar sem chorar,Nos olhos de quem vê a desgraçaSem uma lágrima rolar, A dor ao olhar as águasQue fez sua história afundar.
2- Sorrindo mostra a foto
Do seu casarão afogado.O sorriso disfarça a dorAo lembrar do seu passado.Tem orgulho ao falar do pai,Um homem muito estimado.
3- Fala do velho Brancola
Como um exemplo a seguir,Do respeito ao agricultorQue honrou até partir,O fi lho faz seu escudoQue o ajuda resistir.
4- Esta é a história do Dedé
Pela barragem de Fumaça atingido.Mistura de revolta e lutaJunto com o povo sofrido, Que viu naquela terraA história e o trabalho perdidos.
Cordel da História SubmersaCordel da História SubmersaCordel da História SubmersaAtingidos por barragens e MAB x CEMIGAtingidos por barragens e MAB x CEMIGAtingidos por barragens e MAB x CEMIG
Autora: Araci Cachoeira
Caderno de Poesias 15
5- A fartura hoje é lembrança
Pois viu tudo desabar.O paiol de mantimentosQue sustentava seu lar,A pocilga e o curralCom o casarão se afundarem.
6- As frutas que nunca faltavamNo pomar do coração.Quanta gente ganhava o pão,Hoje a água cobre tudoSe foi casa e plantação.
7- Este fato não é isolado
Se repete em muitos lugares.As barragens vão aumentandoSão muitos que fi cam sem lares,Vendo seu sonho ir pros ares.
8- Entre as muitas narrativas
Desta dura realidade,Ouvi os moradores de ItuetaContando a grande maldade, Que os levaram à infelicidade.
9- Quando chega o tal Consórcio
Prometendo o céu e a terra,Faz uma falsa propagandaAí é que o povo se ferra,A barragem engole tudoA história de vida se enterra.
16 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
10- Hoje o povo de Itueta
Lamenta a destruiçãoChora a cidade perdidaChora a falta do seu chão.Itueta nova é tristeMuita gente tem depressão.
11- Itueta Nova é retrato
Do desmando do poder.O povo não tem escolha É obrigado a sobreviver,Numa cidade sem baseQue a maldade fez nascer.
12- A ilusão de conforto
Que a casa nova aparenta,Não esconde a dor da perdaA saudade que enfrenta,Além da saudade a mágoaAté criança lamenta.
13- Uma cidade nasce aos poucos
Vai crescendo dia a dia.Os costumes, as culturasSão os pilares de sabedoria,Os moradores fincam raízesCom fatos, tristeza e alegria.
14- Se puser abaixo uma luta
Um trabalho, uma cidade,Construir uma cidade novaToda base é falsidade,É um sonho aniquiladoEstá fora da realidade.
Caderno de Poesias 17
15- A casa novinha em folha,
Que o desalojado recebe,Não tem a magia da conquistaQue todo sonho concebe,O desgosto da mudançaPor todo lado percebe.
16- É nova a farmácia
O campinho, a padaria,É novo o posto, o açougueA loja, a mercearia,Se tudo é novo, entãoPor que não traz alegria?
17- Porque uma cidade assim
Por uma maldade traçadaNão deixa o idoso contenteNão empolga a meninada,É pouca gente que gostaDa Itueta Nova montada.
18- Acho não ser tão difícil
Uma resposta achar.Imagine sua infânciaVivida em um lugar,Onde nadava e pescava,Onde podia brincar.
19- Imagine a família
Cultivando o que comer,Tendo frutas no quintalQue cuidou e viu crescer,O seu pé de rosa brancaQue tanto viu fl orescer.
18 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
20- Pense na construção
De um projeto de vida,A esperança, o carinhoA estrada percorrida,De repente tudo acabaA caminhada é interrompida.
21- O direito é ultrajado
Os costumes não têm mais,Com a cultura afogadaTudo ficou para trás,Só resta a saudade constanteQue o tempo não desfaz.
22- Tudo que na barragem afundou
Nunca será esquecido,Por mais que queiram enganarTudo que foi perdido,Por muito tempo fará Que se lembre do ocorrido.
23- Todo dia de finado
Vai doer no coração,Pois somente o cemitérioDeserto naquele chão,Restou como testemunha da destruição.
24- Se um povo não tem direito
De seus mortos zelarTem sua história roubadaSeu passado vai ficar Com uma página rasgada no tempoNum canto a desmantelar.
Caderno de Poesias 19
25- Os relatos de ItuetaDe Caldeirões, de Fumaça,Aimorés, Candonga e IrapéEntre tantas que se passam,É o resultado das barragensQue destroem e trazem desgraça.
26- Enganam e desapropriamCom projetinhos implantadosBenefi ciando algunsDeixando outros lesadosCalam a boca de muitos Para fi carem parados.
27- O Consórcio Vale e CEMIG
Ganham bilhões em dinheiro,O Estado apóia tudoPelo capital estrangeiro,Ajuda outros paísesExcluindo o brasileiro.
28- No início parece lindo
Tudo que a empresa ofereceDepois do projeto instaladoNão recebe o que merece,Mas já é tarde demaisO povo chora e padece.
29- Depois que já está roubado
Que o povo vai procurar,Correr atrás do prejuízoE a empresa processarA empresa vai enrolandoDeixando o tempo passar.
20 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
30- Por isso que eu aproveitoE neste cordel vou avisando,Procure saber bem antesO que anda se passando,Busque apoio do MABQue ao povo está ajudando.
31- O MAB para quem não sabe
Nasceu para enfrentarO poder das hidrelétricasQue os rios fazem pararMAB – Mov. Atingidos por Barragens -Não tem medo de lutar.
32-Com o MAB estudando formas
Procurando as soluções,Vai ajuntando atingidos,Que hoje já somam milhões, Vivendo de forma injustaAmargando as recordações.
33-A luta que o MAB hoje trava
Fazendo o povo se unirCausa raiva aos poderososQue mandam sem dó perseguirA polícia é mandadaPara o MAB destruir.
34- Mas o que sofre um atingido
É um caso sem dimensão,Que ele enfrenta o poderO medo transforma em ação,Em busca dos seus direitosEncara com garra a opressão.
Caderno de Poesias 21
35- No Brasil, por toda parteTem rio que já foi barrado,Mas é em Minas GeraisQue o confronto está acirrado,Este ponto do paísÉ hoje o mais cobiçado.
36- Quem pensa que a energia
Que aqui se faz gerarAjuda aos mineirosSua vida melhorarPrecisa fi car sabendoO que agora vou contar.
37-Minas Gerais produz energia
Para multinacionais,Com o sistema interligadoVai para outras capitaisTocar fábricas estrangeirasE outros projetos mais.
38- Neste engano de progresso
Vou alertar de novo,As empresas consomem a energiaQuem paga a conta é o povoCom tanto juro embutidoO conforto vira estorvo.
39-A população economiza
Para a indústria esbanjar.Vão tomando banho frioPara a conta baixarEnquanto as grandes empresasDe braçada vão nadar.
22 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
40- Para você entenderO que se dá no dia a diaSessenta e seis reais paga o grandePelo mesmo tanto de energiaO pobre pagar seiscentos e cinqüenta,Vejam a grande covardia.
41-Uma indústria gasta energia
Paga pouco o que consomeA população gasta poucoE, às vezes, passa até fomePagando um absurdo de luzPara manter limpo o nome.
42- Falta dinheiro para roupa
Falta remédio e o pãoMas tem que contribuirCom tamanha exploraçãoEncher o bolso das grandesEmpresas desta nação.
43-A classe média é depenada
Mas não encara a realidadeConforma-se por ter luxoPrefere a tranqüilidadeEstá fazendo papel de trouxaFingindo ser de bondade.
44- Eles também pagam a conta
Acima do seu padrãoClasse média e pobrezaEstão comendo na mão Dos que gastam energiaPara virarem tubarão.
Caderno de Poesias 23
45- Não falo de pequena indústriaPois esta também está lascadaFalo de multinacionaisQue embolsam a bolada E mandam para o exteriorA riqueza aqui tirada.
46- A pequena indústria se vira,
Às vezes, vai à falênciaJuros e contas de luzÉ sempre uma pendênciaMal sabe que a grande indústriaA afundou na carência.
47- Pagou uma fortuna por mil KW
Outro também gastou e só pagou 10%Ganhou nas costas do fracoTeve um grande crescimentoEsta é a grande injustiçaDa CEMIG e seu fornecimento.
48- Por isto é grande a revolta
O povo já está cansado.Ou a CEMIG toma vergonhaOu enfrenta o resultado.O grande levante se formaCansamos de fi car calados.
49- Não queremos mais ser vítimaDa mais cara conta de luz,O grito que hoje ecoaA marcha que o MAB conduzÉ de isenção para os pobres E que para os demais se reduz.
24 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
50-A redução da tarifaNão empobrece a empresa,A CEMIG ganha bilhõesÉ uma potência em riqueza,É vergonhoso ajudarPor o povo na pobreza.
51- Os 100 KW grátis
É o mínimo que pode fazer.Já que deixou muita genteNa miséria a sofrer,Quando tomou suas terrasPara as barragens fazer.
52- Reduzir as altas taxas
Rever impostos cobrados,Já que mentiu para o povoQue seria beneficiadoCumpra pelo menos a parteDo que tanto tem falado.
53- Ter uma casa iluminada
Não é esmola nem favor,É um direito conquistadoCom sangue e muito clamor.No alicerce das barragensMoram histórias de pavor.
54- Está pago há muito tempoA eletricidade geradaMinas é a grande centralEstá toda interligadaNão é justo nossa gentePagar pra ser massacrada.
55- Daqui para frente meu povoQuando de um projeto ouvir,Que vai em algum lugarNova barragem construir,Saibam que é falso o que dizDo progresso que vai vir.
56- Energia no local produzida
Chega imediatamente Pela rede interligadaPelo Brasil em frenteRompendo até as fronteirasEnganando nossa gente.
57- Pensando que uma hidrelétrica
Beneficia o lugar,O povo só abre o olhoQuando sente desabar, Tudo que ao longo da vidaExistia no lugar.
58- O tal emprego que gera
É só durante a construçãoPorque depois dela prontaVem a grande decepçãoSó um computador trabalhaO operário fica na mão.
59- É preciso pensar muito
Ter coragem para enfrentar,Não vender por qualquer preçoPorque depois vai chorar,Quem tem sua terra inundadaPara sempre vai lamentar.
Caderno de Poesias 25
60- Dinheiro de indenizaçãoÉ dinheiro amaldiçoado,Com o tempo acaba deixandoSó lembrança do passado,De desgosto vão morrendoVendo seu sonho afogado.
61- Sofre o trabalhador
Pois perdeu onde plantar,Sofre quem tinha terraE deixou desapropriar,Só não sofre a hidrelétricaQue é quem manda no lugar.
62- Por isso mais uma vez
Conclamo a população,Venha juntar-se ao MABVem buscar explicação,E conhecer seus direitosPara encarar o furacão.
63- Venha enquanto há tempo
De poder se organizar,Porque uma grande tragédiaJá se faz anunciar,Mais de mil novas barragensNo Brasil querem implantar.
64- Sei que estão espantados
Com tamanha ousadiaA luz não é para brasileirosConsumir no dia a dia,É que lá no exteriorQuerem nossa energia.
26 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
65- Para entender melhorComo o mundo vai lucrar,Outros países têm pouca águaNão pode energia gerar,Então no Brasil fabricaO que eles querem lá.
66- É a tal exportaçãoQue consome a eletricidadeQue a gente paga caroAchando que é para a cidadeFicar toda iluminadaAjudando a humanidade.
67- A taxa de iluminação
Que do seu bolso tira,Ajuda fundir o ferroQue para o estrangeiro se mandaDe lá volta em peça prontaDe novo o roubo se arma.
68- Somos roubados na conta
Para ajudar a exportaçãoRoubados também na compraOs produtos da naçãoQue trazem o juro embutidoNo preço da produção.
69- A indústria estrangeira se instala
Porque o Brasil lhe ofereceJuro baixo e luz de graçaEntão a empresa cresceExportam produtos baratosA sobra aqui encarece.
70- Por isso ninguém precisaDe mais barragens fazerGerar energia para indústriaPara outros países crescer,Não pode ser do BrasilFazendo seu povo sofrer.
71- Já que o sistema energético
Quer outros países ajudar,Que faça também no BrasilO povo benefi ciar,A energia mais cara do mundoNão vamos mais aceitar.
72- Pela soberania do Brasil
Agora grita o povão,Chega de levar os lucrosDeixando o brasileiro na mão,Se quiser ajudar lá foraOlhem primeiro a nação.
Se eu disser tudo que sei
Que trazem o juro embutido
69- A indústria estrangeira se instala
Caderno de Poesias 27
“... Porque as grandes barragensCausam um enorme problema,Pois os peixes fi cam presos,Na época da piracema,Por isso é que estão minguando,E eu sigo denunciandoNas linhas deste poema.
Hoje os peixes são escassos,Água pura já não tem,As industrias poluindo,Os agrotóxicos tambémVão envenenando as águas,Aumentando as minhas mágoasAnte tamanho desdém.
O IBAMA fecha os olhosÀ cruel devastação,As nossas matas frondosasEstão virando carvão,Enquanto tudo desabaO leito do rio se acabaSem a mínima proteção.
Pois as matas ciliaresEstão sendo destruídas,A mineração tambémEspalha torpes feridasCom descargas de mercúrioTrazendo sinistro augúrio,Ceifando silvestres vidas.
Cordel dos rios com barragemCordel dos rios com barragemCordel dos rios com barragemAutor: Erivaldo da Silva Santos
28 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Quanto mais as águas baixam Mais aumenta esse meu tédio, Acabando os nossos peixes, O pequeno, o grande, o médio, Se não mudarem os planos, Creio que em poucos anos, Surubim nem “pra remédio”.
Quero o fim do latifúndio, Com seus capangas cruéis, Que atuam na surdina A mando dos coronéis, Expulsando os ribeirnhos, Semeando mais espinhos Onde só havia vergéis.
Que as áreas quilombolas Tenham reconhecimento, Que chegue logo o fim Do grande padecimento E que o sangue inocente Agora seja semente Do fecundo nascimento...” Em São Francisco, a Saga de um Rio
Caderno de Poesias 29
Há Deus em tudo, neste mundoEncontramos Deus no brotar das águas,Em meio à dureza das rochasOu no frio extremo dos pólos.
Deus aparece nos contornos dos rios,De ponto em ponto, acrescenta na paisagemOs nas pequenas, médias e grandes cachoeiras,Que aparecem nos declives, rio abaixo.
Posso ver Deus nas correntezas do Xingu,Nas águas escuras do Tapajós,Nas pororocas do rio AmazonasE nos botos, pirararas e tartarugas da Amazônia.
Só não consigo ver Deus,No represar de um rio para acumulação capitalista,Na destruição de vidas animais e vegetaisNo envenenamento das águas.
Deus não construiu represas,Não disse: “Faça-se a barragem”, Deus não quer que matem os animais,Ele quer apenas que vivamos com dignidade.
Deus não construiu barragensDeus não construiu barragensDeus não construiu barragensAutor: Rogério de Sousa Januário
30 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Os Rios da minha terra, Já não levam sonho à fl or das águas,Ficam presos nas barragens...Do Guadiana ao Sabor, não há Salvador?
Exóticos peixes vorazesEspalham terror nos leitos antes suaves,Grita o muge e o saramugo:- Ai o peixe-gato, aqui há gato!
- E se nadarmos para outro lado?Pergunta o barbo júnior esperançado.Há perca-sol e achigã...Cuidado! Cuidado!
Nem mais um rio Selvagem...Há que fazer outra barragem?
Submergiram a aldeia da luz,Preferem as trevas do poder cego,Dinheiro a rodos e mercenáriosFazem andar os betonários...
Alta tensão anda à solta...Micro-geração a conta gotas;Renovável na hora só a clicar,um dia inteiro a tentar!
Entra outra estrada na Mata dos Medos,Fere o velho pinhal e seus segredosDe Sesimbra a Almeirim,Invadem as matas, assim...
Este poema que vos deixo...Este poema que vos deixo...Este poema que vos deixo...Autora: Rosa da Horta
Caderno de Poesias 31
Na teia da especulação,Entram os bancos, pois então...Na ilusão da habitação,Venha receber, de cheque na mão...
E na senda do progressoEntra muito papel e sigla única:Para ao PINzinho ter acessoMuitos milhões dão “utilidade pública”.
Isto só visto, contando ninguém diria:Que dano infame: deixar fechar a Sorefame!É só favores à “Alta-Europa”,É só interesse na Rodovia!
Agora a pressa é tanta,Aceleram no asfalto com grande lataMuito álcool a regar a janta,Vão-se espetando em sucata.
O que vem de fora é que é bomE vem de caminhão na auto-estrada,Economia a esvair, dinheiro compressa a sair...
Nas linhas que eram de ferro,Acompanhava-se a paisagemEmbalados por montes e cerrosVinha o sonho e a miragem.
Abríamos a janela em andamentoA sentir o cheiro de cada lugar,Olhos em lágrimas, cabelos ao ventoHavia saudades no ar...
Agora carruagens climatizadas,Passam a grande velocidade,A ver estações fechadasFoi tudo embora pra cidade.
32 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Sobre a linha minha e TuaQue já nem sabia a idade,Venha a verdade nua e cruaHaja coragem e frontalidade.
Verdes campos, poucas searasMas sendo poucas e já rarasEntra a semente da patente,Quem se importa com a gente?
Abelhas que se cuidem...Pólen doce pode ser fatalSe ao milho o vão buscar,Esperamos que não vos faça mal...
Ser integral não está na moda,O que está a dar são os partidosE nessas mentes fragmentadasCultiva-se bola e outras touradas.
Queremos Abril à força mil,Mas ninguém mexe uma palha,E nos medos de silêncio vilEstendem a mão à migalha.
Em versos como os do AleixoEste apelo vos deixo:
Ou muito me engano, ou já é tempoDe parar com o lamento,Haja força e confiançaReacenda-se a esperança!!
Caderno de Poesias 33
Sabe aquele mendigo: cego, trêmulo, em farrapos, aos gritos, na Rodoviária de Manhuaçu? Somado a milhares de outros, em qual-quer lugar do Mundo [“Desafortunados da vida, fazer o quê”!?], descarregam a consciência de muita gente que crê: Na assistência de uma cesta, menos que básica;Na caridade de uma fé, mais que falsa;Na vulgaridade da vida, que anda parca;Numa miséria doída, para quem a morte é descaso,no completo anonimato.
Mesmo no túmulo, o defunto pobre vira pesquisa, número, projeto, que aquece os negócios, por certo, e se torna dis-curso infl amado na boca do político safado, que fala bem – e muito! - do coitado. E a morte de mais um mendigo [feito ferida antiga: se curada, perde o seu sentido!] alimenta a vida pobre de outro e mais outro – centenas - que vivem carentes e morrerão como indigentes.
Sabe aquele menino: pobre, pançudo, magro, de olhos esbugalha-dos, lá de Santa Efi gênia? Aquele fi ozinho de vida, quase um fazer de conta, faz pose, vira retrato, fi ca bem na ‘bela’ foto: Sem nomeCara de fomeEm pele e osso [Quanto pior, melhor!].Sua sombra gira mundo,arrecada milhões, talvez, engorda ONGs:Que montam projetosQue aninham algumas centenas de técnicosParasitas: bem alimentadoscom a imagem faminta do menino pobre.
Excluídos?Excluídos?Excluídos?Autor: Antonio Claret Fernandes
34 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Sabe aquele trabalhador que, após as férias-prêmio, foi demitido da Vale e virou desempregado? Aquele operário que alimentou com pranto e dor a gula do Capital, agora se junta às vítimas do desemprego estrutural [Ou circunstancial] e continua movendo a acumulação desmedida.Em nome do desemprego:Pressiona-se o operárioReduzem-se os direitosMingua o salário.
O mendigo em traposA criança barrigudaO operário no olho da ruaSupostamente excluídosFuncionam como excedentes: ‘Exército de reserva’De um sistema inconseqüente.
Caderno de Poesias 35
Como estais cheioTuas águas revoltasEm torno de ti mesmo
Mostras como és...PotenteImpotente
Imaginemos tu cortadoPor uma barragemDesalojas genteAlojas poderes, doenças, destruiçãoCorrentezas fortesCobrem as cachoeiras
Águas que vãoÁguas que vem Águas que morremÁguas que vingamÁguas que são apenas Águas xinguanas
He Xingu...
Hê XinguHê XinguHê XinguAutor: João de Castro
36 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Filhos e Filhas da Esperança!!!Filhos e Filhas da Esperança!!!Filhos e Filhas da Esperança!!!Autor: Moisés Ribeiro
Já nos feriram o rostoJá nos machucaram a almaJá nos abriram o peito com a lança da violênciaJá tentaram nos roubar os sonhos, as utopias, as alegriasJá tentaram nos fazer esquecer as lutas, as vitórias, os mártires e também as derrotas
Já tentaram nos roubar o companheirismo, a indignação, a realidade e a lealdade. Já tentaram nos roubar a memória, apagar nossos passos e esconder a história
Mas somos fi lhos e fi lhas da esperança, herdeiros das lutas e das resistências, da beleza e da amizade
Então gritemos juntos, façamos ouvir nossas vozes nas pra-ças, nas estradas, nos viadutos e tribunais anunciando o novo tempo que faz urgente
Sim! Gritemos todos, pois somos companheiros, lutadores e cons-trutores de sonhos e utopias, de esperança e alegrias
Somos fi lhos da esperança que em levante de fúria rompe as cercas do latifúndio e abre o horizonte da nova história que se avizinha
Somos fi lhos da esperança, pois quando muitos tombam, outros tantos já se levantam e empunham a bandeira dos sonhos e da ternura, da indignação e da rebeldia
Somos fi lhos e fi lhas da esperança que não perece jamais!
Caderno de Poesias 37
Guerreiros de LutaGuerreiros de LutaGuerreiros de LutaAutor: João Aparecido
Cito alguns pernambucanos,Guerreiros de coração,Lembro o velho Virgulino,O chamado Lampião,
Fez algumas coisas erradas,As vezes por precisão,Com muito sangue nas veias,Não gostou das coisas alheias,Sempre brigou com razão.
Não esqueço Maria Bonita,A mulher do capitão,Jamais o abandonou, em qualquer situação,Foi muito pelo contrário, lhe deu muita empolgação,
Nunca foi de brincadeira,Foi uma grande guerrilheira,Na história do sertão.
Homenageio o Fugêncio,Com muita satisfação,Andou por muitos lugares, pra ajudar a população,
Ensinando todo povo,Fazer reivindicação.Acampou aqui, ali,Pautando reunião,
Chegou em Santa Maria,Foi vítima de uma covardia,Lhe botaram no caixão.
38 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
O velho Luiz Gonzaga,Sempre com linda canção,Estrelas de muitos palcos, em toda essa região,Sempre nas festas juninas, comandou animação,
Puxou fole em terreiro,Pra velho e rapaz solteiro,Derramar suor no chão.
Tem a Margarida Alves,Jamais deixo de lembrarDe fazer o seu poema,Para aqui eu recitar,
Foi guerreira nordestina,Dia e noite sem parar,Brigou com dignidade,Por uma simples igualdade,
Que é difícil conquistar,Mas na luta eu insisto,Pois o que não é difícil,Ganhamos sem sacrifício,Sem saber valorizar.
Falo aqui do velho Chico,Riqueza da região,Agredido por barragensParando a circulação
Tema de riacho secoAmeaçando o sertãoPra quem olha com bons olhosÉ grande a preocupação
Caderno de Poesias 39
Difícil é encararAceitar a situação,E pra fi car mais complicadoVem breve uma punhalada,Uma tal de transposição.
Vamos aí juntos ao MABLutar pra que isso acabe,Essa ousada intenção.
Foi falado de Pernambuco,O que eu consegui lembrar,Pois até o tempo é poucoPra podermos relatar,
A história é muito longaE gostosa de contar,Guerreiros que deram o sanguePra esse país mudar,Terra de gente bacana,Gostosa de se morar.Se escuta as correntezas,O canto do Sabiá,
Ribeirinha ou sequeiraTem sempre o que apreciar.O forró a noite inteira,Vai até o sol raiar
Esse paraíso lindo,Tão querendo transformar,Me desculpe a má notícia,Num mundo capitalista,Não podemos aceitar
40 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Ferrete Curaçá BAFerrete Curaçá BAFerrete Curaçá BAAutor: Antonio Mauro da Silva
Eu moro lá no FerreteLugar aonde eu nasciNunca pensei que um diaFosse embora de lá.
Eu vim da minha cidadePor nome de CuraçáCom meu amigo João TelesPra com vocês partilhar.
Ferrete fi ca no rioE todos podem aprovarComo prova do divinoE São Francisco é o seu lar.
O rio do São FranciscoJamais eu vou esquecerDas riquezas que ele temPra nos oferecer.
Nunca pensei que um diaEu fosse me amedrontarCom pessoas que não sabemO amor de um lugar.
Lugar este que nós temosO que te oferecerHistórias de muitos anosQue nos veio enriquecer.
Quero dizer a vocês,Que prestem bem atenção,Lá nós temos terra e águaPara fazer plantação.
Vivemos em uma trincheiraQue é de arrepiarCom construção de barragemPara nos desassossegar.
Caderno de Poesias 41
Se a barragem for feitaMeu Deus o que vou fazerCom tanta água no rioE nós sem poder beber.
Pra defender nosso rioDigo de coraçãoEstou disposto ir pra lutaCom todos os meus irmãos.
Agradeço a Deus do céuCom todos que aqui estãoAo MAB como parceiroOrientando a nação.
Naquele lugar bonitoAonde eu me crieiCom ilhas e terras boasPra cultivar o que sei.
O rio do São FranciscoTem muitas coisas por láAs águas que nele temAmeaça se apagar.
As cachoeiras tão belasQue é de admirarCom os barulhos das águasDe muito longe escutar.
Barragem Riacho SecoVai ser a destruiçãoDo povo do São FranciscoQue vive da plantaçãoPra sustentar a famíliaDa terra a produção
Caderno de Poesias 42
Ainda me lembro naquele tempo de criançaQue tinha esperança de tudo prevalecer.Tempo querido aquele campo tão fl oridoAs frutas começam dá.
Lembro-me daquele pé de amora de cravo e alecrimOnde toda tarde eu brincava aliMas num fechar de olho tudo veio a apagarPois o lugar que amo hoje debaixo da água está.
Tirou meu direito de tarde ali brincar Há como mamãe chorou quando viuSua casinha com as outras coisas naufragarSobraram apenas lembranças daquele lindo lugar.
Mas hoje existe um povo bastante lutadorÉ chamado de MABO povo se agrupou para buscar nossos direitosQue a empresa levou.
Hoje de peito aberto uma coisa vou dizer A bandeira do MAB levo até morrer.
Lembrança de criançaLembrança de criançaLembrança de criançaAutora: Lucilia
Caderno de Poesias 43
São tantas as balas que ceifaram vidasQue me dilaceram a memória Rasgam-me o peito E mancham a história
A memória clama, Mas a voz emudece, Cala-se com a violência da morte, Estúpida e desnecessária
A luta renasce em cada corpo tombadoE incomoda o fosso da morte
A memória lamenta a perda da vidaE lança chamas de revoltaNa estrada
No dia de hoje não quero lembrar da dor,Mas da história dos mártires Que vivem continuamente No caminhar de nossos passos teimososE na memória de nossas lutas
MemóriaMemóriaMemóriaAutor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 44
Saudade
Saudade...
Saudade de como era antes
Saudade de tomar banho, lavar roupas
Saudade de brincar de mergulhar
Saudade de ver os peixinhos nadando
Saudade das pedras e das cataporas
Saudades de bronzear sobre elas
Saudades das cachoeiras sobre as pedras
Saudade das areias e as graminhas
Saudades dos matos a linda natureza e dos barrancos...
Saudade dos tempos que passaram
Saudades daquela vida maravilhosa
Saudades de um rio prateado
Enfi m saudades... e quantas saudades
Quem nunca sentiu saudades
Jamais viveu e sonhou.
Mensagem do Rio MaranhãoMensagem do Rio MaranhãoMensagem do Rio MaranhãoAutora: Mara Reyjane
Caderno de Poesias 45
O modelo energéticoÉ coisa de admirarOs grandes capitalistasBotando para arrombar
O roubo da energiaNão podemos admitirA conta de energiaMais cara a existir
Cara só para os pobresPras grandes empresas nãoPra eles sai bem de graçaPos não tem desculpas não
Por isso nós somos contraA essas grandes construçãoDe muitas hidrelétricasPra acabar com a nação.
Modelo EnergéticoModelo EnergéticoModelo Energético
Caderno de Poesias 46
Se concentre, fi que atento, preste bastante atenção,Vou falar de um absurdo, um modo de produção,Me refi ro ao asiático, Um sistema de opressãoCausador de muita angústia,Por ser uma causa injusta, merece revolução.O poder centralizado, comanda a exploração,O déspota por ser chefe, leva vida de barão.Tranqüilo e assocegado, folgado com razãoVive apenas dando ordens e lucrando a produção.O poder que se encarrega a grandes obras realizar,Em benefício da sociedade, para todos lhe adorar,Mas quer saber a verdade,Vamos ter que analisar,O camponês é explorado, obrigado a trabalhar.O mesmo inexperiente não sabia reivindicar e ainda tinha os tri-butos para o coitado pagar.O cretino desse déspota não pensava em se esforçar,Vivia do suor alheio, pra sua vida organizar,Covardia sem limite, ele usava sem parar,E os outros viviam miséria, humilhados a Deus dará.Lembrando as velhas palavrasDo Virgulino, Rei do Cangaço,O déspota é merecido de encontrar um cabra macho,Daqueles ignorantes, sem medo de fazer bagaçoPra lhe dar umas boas lapadasBem no fi o do espinhaço
Modo de produção asiáticoModo de produção asiáticoModo de produção asiáticoAutor: João Aparecido
Caderno de Poesias 47
Poderias ser apenas mulher e o mundo já seria maravilhoso.Mas quiseste ser mais, muito mais
Quiseste ser mãe, amiga, companheira, esposa, guerreira, frágil, forte
Quiseste ser imagem e semelhança de Deus em seu infi nito amor e encheste o mundo de magia e beleza
És forte quando a dor te exige lágrimas, mas és meiga e grandiosa quando a maternidade te exige ternura e sorriso
És mistério quando o mundo tenta desvendar teu serde forma machista e egoísta
És fruto, és folha, és árvore, és raiz da magia que inunda os olhos daqueles que conseguem te olhar além das aparências
És o néctar da fl or da vidaÉs o brilho que o sol destilaÉs da lua magia
És universo a nos abraçar em nossa tão pequenez humanidadeÉs a imensidão de um amor tão maternal e heróico És o sorriso mais lindo a encantar meus olhos
És Joana, Catarina, dançarinaÉs Rosa, apaixonada e tão meninaÉs Socorro, Francisca, Chica, Da SilvaÉs moça, mulher e tão divina!!!
MulherMulherMulherAutor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 48
Quero um Brasil sem fomeSem guerras que matam homensTiram o direito de viverPor que nosso Brasil de hoje em diaAs drogas fazem companhia do conviver.
Quero um Brasil alfabetizado onde os nomesPodem ser assinados, nos documentos a suasLetras possam ter.
Por isso com carinho eu choro todo dia em cada amanhecerPedindo ao meu senhor que ilumineO caminho de cada educadorPara os educadores ensinar com carinho e amorPara que no futuro sejamos todos vencedores.
O Brasil que eu queroO Brasil que eu queroO Brasil que eu queroAutora: Lucilia
Caderno de Poesias 49
Eu vi o Diabo:Catinguento Sarnento Nojento Sob a barba dos profetas de Aleijadinho Aleijados. Calados. Sua boca escancarada engolia montanhas:Solapando-asRemovendo-asTocando-as com um beijo de traição. Nas suas tripas de aço, minério vomitado na plataforma,Enchendo 70 vagões em uma horaAquecendo a economia, na gula do poder. Seu grito estridenteSua fumaça ardenteSua barriga latenteSua mente substantiva Mente verbalmenteEngana a genteExpulsa gente.
Eu vi o Diabo:VorazSarcástico BestialEnfi ando seu focinho tortoMonstruosoEntre o Paraopeba e o Camapuã.Espírito de porcoRevirando a terraQuebrando a história passada
O DiaboO DiaboO DiaboAutor: Antônio Claret Fernandes
Caderno de Poesias 50
SoterradaRompendo-lhe a veia:Fonte de vida.Engolindo diariamente duzentos mil litros de água tratadaDefecando concreto Destilando sangue:Do trabalhador capacitado, enganado,Do operário empregado, explorado,Da terra mãe, violada.
Eu vi o Diabo:Amigo da onçaNojento No palácio do Governador De gravata De ternoEm tempos modernosInfernoNa tinta suja de um DecretoLegal?O Império é a lei!
Eu vi o Diabo:Não tinha chifreNão soltava fogoNem balançava o raboMas era o Diabo.
Caderno de Poesias 51
No seio terno da terra plantei a esperança de um novo diaNo alvorecer da manhã colhi tua amizadeNo entardecer aprendi a sonhar
Na penumbra da noite colhi os frutos das estrelasNo passar das horas fi camos companheirosRenovamos nossos sonhos e alegrias
Fincamos os pés descalços com teimosia E barramos os projetos da morte e do capital
... E tudo começou num grande encontroOnde eu e você nos encontramos
... E tudo começou num grande encontroOnde a esperança nasceu, renasceu, renovou-see nos apontou o caminho
... E tudo tornou-se encontro no grande palco da vidaOnde somos personagens vivos da história
Onde voltaremos a nos encontrar?No lugar onde a memória se faz viva e conta a históriaDos nossos sonhos e da esperança que habita nossos corações
... E tudo começou num grande encontro de alegria,amizade e partilhaNa terra dos Piquis rumo à terra dos Castanhais
O Grande EncontroO Grande EncontroO Grande EncontroAutor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 52
Um copo de água, por favor! Um copo de água, por favor!Neste momento de desespero, Um copo de água, por favor!
O que?É proibido beber água! Como vou matar minha sede?Comendo papéis! Lambendo tomadas! Engolindo concreto!
Não me oprima! Só quero um copo de água!Não mereço um copo de água?Então você também pagara caro por isso.
Devolva-me a terra; Devolva-me o rio; Devolva-me o sorriso Não se esqueça dos peixesNão quero nada artifi cial
Como fazer isto? Você sabe muito bem.Nós o avisamos, Mas você sempre nos ignorou.
Preserve os rios; A terra ; O trabalhador.Ajude a construir a soberania,Preserve a vidaUse a água para a vida,E não como passaportePara morte.
Quero Terra! Quero água! Quero vida!Quero mostrar minha raizMostrar que pertenço a esta terraQue sou parte desse povoQue marcha; Que luta; Que sofreE a acima de tudo, fazem parte da história.
O gritoO gritoO gritoAutor: Josemar Evangelista de Souza
Caderno de Poesias 53
A beira do rio tem mataTem povo e plantações milMas o modelo energéticoQuer parar os rios do Brasil
Isso é luta de classesEmpresas enfrentam povo e vice versaCom medo de além das casas, As suas vidas sejam submersas
Nosso projeto é diferenteNosso projeto é do novoNão é dos capitalistasEle é um projeto do nosso povo
Pra essa luta é o nosso planoQue vem num ritmo frenético Em busca de um país soberanoE um novo modelo energético
E nesse novo modeloTem várias fontes de energiaA água, os ventos, biomassaE o sol do dia a dia
São muitas alternativasNão é apenas represasMas não pensam no bem do povoSó no lucro das empresas
O Modelo BarrageiroO Modelo BarrageiroO Modelo BarrageiroAutores: Jadir Bonacina e Valter Israel da Silva
Desalojam nosso povoCom este projeto injusto
Pois através das barragensTem energia a baixo custo
Mas isso não se refl eteNa conta pra nós pagar
Pois apesar de ser barataCaro querem nos cobrar
Por isso estamos na lutaE não pretendemos parar
Pois aí tem algo erradoE temos que denunciar
As conseqüências do modeloTodos estão percebendo
O povo pagando caro Meia dúzia enriquecendo.
Caderno de Poesias 54
Querem destruir o nosso rioE construir um muro alto.Querem escavar os igarapésPra formar um grande lago.
Coitada da linda AltamiraQue vai virar passagem de chacina.O Xingu não incomoda ninguém,Com barragem vai ser bem mais fundo.
Não precisamos da energia novaEsta obra a nós não dobraSó benefi cia alguns alguénsA miséria vai muito mais além.
Só queremos dignidade,Chega de tanto roubo.A situação não tem idadeO Xingu, pra nós pede socorro!
O Xingu pede socorroO Xingu pede socorroO Xingu pede socorroAutor: Rogério de Souza Januário
Caderno de Poesias 55
Num pedaço da Zona da MataUma grande empresa chegouCom a idéia de barrar o rioQuatro projetos apresentou.
A barragem JurumirimQuer nos tirar de nosso lugarSó porque a empresa é ricaDo lado deles o governo está.
O pessoal da usina Canta GaloEstá querendo nossa informaçãoMas se nós abrir o bicoO rio virará uma tremenda inundação.
Nova Brito é uma PCHFuncionava com muito vaporFoi fi cando velhinhaDesagradando o Sr. Doutor.
Novo projeto apresentaramPara o Lula aprovarUm Eia / Rima falsoConseguiram assinarComo a empresa é muito ricaA Nova Brito querem aumentar.
Bom Retiro eu não conheçoOu se quer já ouvi falarO que penso que deve serUm bom lugar de morar
A empresa chegouCom a idéia de construirUma barragem progredirE o sossego de Bom Retiro destruir.
Os quatro projetosOs quatro projetosOs quatro projetosAutores: Leandro Paulo Alves e Fernando Carlos da Silva Alves
Caderno de Poesias 56
Tenho em mim a ousadia da vidaA ousadia de viver cantando, acreditando no amanhã
Tenho em mim a ousadia de ser homem e mulherDe ser criança, jovem, moço, senhorDe ser ancião e te falar da vida
Tenho em mim a ousadia de fazer a história – a nova históriaE construir a vida que palpita na pétala do dia-a-dia
Tenho em mim a ousadia da indignaçãoAnte àqueles que nos ferem o direito à vida
Tenho em mim a ousadiaDa esperança a cada manhã
Tenho em mim a ousadia De ser ousado a cada noite
Guardo de ti a lembrançaDe seres ousada diante da vida
Guardo de nós a lembrançaDa ousadia de sermos nós mesmos
A ousadia de ser pessoaDe amar e ser amado
A ousadia de ser enfi mOusado!
Ousadia de SerOusadia de SerOusadia de SerAutor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 57
Se me falas de amor, te falo da esperança, parceira e mestra na caminhada. Se me falas da dor que te acomete o corpo, te falo da esperança que acalenta a alma
Se me falas de sonhos que povoam tua mente, te falo da esperan-ça que constrói o novo amanhã. Se me falas de saudade que te dói no coração, te falo da esperança que enche o peito de alegria
Se me falas de luta, te falo da esperança renascida em cada pas-so. Se me falas daqueles que tombaram, te falo da esperança que os mesmos semearam. Se me falas das cercas do latifúndio,te falo da esperança que rompe os arames
Se me falas da bala que rasga a negritude da noite E irrompe na carne destroçada daqueles Que lutam contra os senhores da terra, Te falo da esperança que nasce com o sangue Que toca o chão tão desejado
Se me falas da noite escura que cai como um manto sobre nossas cabeças, te falo da esperança que nasce com cada alvorecer. Se me falas da chuva que molha o chão castigado das lutas, Te falo da esperança que brota como semente de um novo caminhar
Se me falas da tarde que fi nda o dia e começa a noite, Te falo da esperança que cintila nas estrelas
Se me falas de amigos, te falo da esperança que me cinge o ombro sempre à tua disposição e do coração que se abre para te recebernum grande e fraternal abraço, de amizade e companheirismo.
Poesia para um AmigoPoesia para um AmigoPoesia para um AmigoAutor: Moisés Ribeiro
58 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Por que tanta dor no rosto do menino?Por que tanta desesperança no rosto da menina?Por que tanta injustiça nos ferem a alma companheiro?!
Por que tantas cercas nos roubam o direito à terra e à liberdade?Por que tanta fome, quando há tanto alimento?Por que tanto sangue derramado quando se busca a justiça?Por que companheiro?!
Por que tanta ganância quando o que há é sufi ciente para todos?Por que tanto desrespeito com o direito mais elementar da vida?Por que falta dignidade e sobra tanta corrupção?Por que não se educa nosso povo com a educação que liberta?Por que companheiro?!
Por que a vida perde o sentido diante do valor do dinheiro?Por que não se globaliza a solidariedade,o companheirismo e a justiça?Por que não se valoriza o ser em troca do ter?Por que não se planta para alimentar nosso povo?Por que não se cultiva a ternura, a rebeldia e a indignação?Por que companheiro?!
Então porque lutamos companheiro?Por que abrimos trilhas na noite escura da morte?Por que pisamos o chão da história e deixamos nossos rastros?Por que rompemos as cercas – que são malditas –e plantamos a semente da esperança?É porque somos irmãos e irmãs, somos camaradas, somos solidários, somos lutadores e lutadoras e porque seremos sempre companheiros e companheiras.
Por que Companheiro???Por que Companheiro???Por que Companheiro???Autor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 59
Hoje já ninguém mais chora a dor da perda?Por ventura se perdeu a rebeldia na longa caminhada?Penetra, pois na sombra do caminho E fi nca tua bandeira com os sonhos da juventudeCarregada de rebeldia e de horizonte
Planta para pra ti e para teus fi lhos a rebeldia daquelesQue não sossegam o coração apenas em uma estradaE por isso cativam a rebeldia por toda a vida
Guarda na memória a rebeldia dos que lutaramContra as cercas que nos impediam de caminharRumo à nossa liberdade
Transforma em sonhos a rebeldia que queima Em teu peito, pois já não há tempo a perder
Vem... Traça teu caminho e percorre a longa estradaMais não deixa a rebeldiaQue ela é tua aliada
Guarda-a no peitoNa lembrançaCativa sua forçaEmbebeda-se em sua força e magia
E fi nca tua bandeira na rebeldia dos sonhosDa juventudeDa vida E da história
RebeldiaRebeldiaRebeldiaAutor: Moisés Ribeiro
60 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Eu sou o rio Tocantins, mas hoje estou diferente Acabaram a minha riqueza, que era para toda gente Umas partes me afogaram, e a outra está doenteA riqueza que eu estou gerando é dólares de montão Não é para o trabalhador, é para o tubarãoAcabaram o que eu tinha, por causa da ambição.
Falando sobre este rio, recordo a minha infânciaA alegria de viver sempre, no meu tempo de criançaCorrendo na tua margem, inocente com esperança Sem saber que a longos anos, o homem transformava O rio Tocantins passou ser um oceanoNunca mais vi suas belezas, um instante não me esqueçoNem mesmo estou conformado, em não vê tuas cachoeirasSufocado em um grande lago, de cobiçais aos estrangeirosCom ambição certamente pra ganhar muito dinheiro.
Falando do teu passado, recordo o presente E vejo no teu futuro, Imagino que está doente Tão triste olho tua margem, a vida da tua genteSem ter o que fazer, por que esta diferente.
Rio TocantinsRio TocantinsRio TocantinsAutor: Francisco Nunes de Freitas
Caderno de Poesias 61
Lar de peixes, tartarugas, jacarés...Fonte de vida, inspiração,E com certeza fonte de muitas paixões.
Não sei o que mais tu tens,Se são pedras ou bancos de areia,Não sei se corres pra esquerda ou direita,Mas sei que és lindo!
Tanta beleza, tanta riqueza, tantas correntezas,Tantas lendas, tantas ilhas, tantas fi lhas.De Gurupá ao Mato Grosso, que alvoroço,Quase que ouço você clamar.
Não deixemos, por favor, não deixemQue o capital, minhas águas venha represar,Não me façam para dentro de minhas fi lhas avançarE de outras eu me retirar.
O que será de minhas belas águasEm uma lagoa a parar,O que farei a minha irmã fl orestaQuando nela minhas águas adentrar.
Temo pelas minhas fi lhas, sem meu amparo,Temo por minhas fi lhas, com meu excesso,Temo pela natureza, com o meu desequilíbrio;Temo pela população, com minha anunciada morte!
Há que se cuidar da vida!
Gritando a poesia...Deixas esse rio ser meuE também ser teu!
Rio XinguRio XinguRio XinguAutor: Rogério de Souza Januário
62 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
Um dia alguém ousou chamar-te “sexo frágil”, que insanidade!Acho que esse alguém nasceu de um acidente e não da beleza e do encanto da maternidade como nósComo ser frágil alguém capaz de desenvolver e proteger em suas entra-nhas a vida que foi gerada e fazê-la fl orescer com a magia do amor?
Se és capaz de ser “mulher” quando tantos te querem objeto e ten-tam te relegar ao papel de ser submisso, é porque de ti emana a magistral força capaz de romper barreiras e construir o amor quan-do apenas espinhos teimam em brotar
Se para ti é possível fazer da vida uma oração e transformar a dor em canção, é porque a ternura é tua linguagem e a vida um cons-tante aprendizado de encanto e magia
Se o mundo é belo é porque em ti encontra a fonte da beleza e a inspiração para ser habitado de forma racional e humana
Sem tu o que seríamos?Porque viveríamos?Que sentido teríamos?
Se és capaz de ser tão humana, então seremos sempreSeres extremamente necessitados de tua presença e tua beleza
Pudera eu fazer de cada dia um jardim para te oferecer a beleza, o perfume e a ternura das fl ores
Mulher menina, mulher tão lindaMulher ternura, mulher doçuraMulher tão intensa, tão verdadeira, tão profundaMulher mistério que se desnuda pra vidacomo há encantar meus dias!
Ser capaz de ser MulherSer capaz de ser MulherSer capaz de ser MulherAutor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 63
O Brasil é um país, rico em mineração, por isso tornou-se alvo de grande exploração, por aqueles que não tem, respeito a preser-vação, dentro do seu egoísmo, só tem a destruição, não respeita a natureza, não agem com previsão, de um dia poder falar, que somos grande nação.
A saudade que eu tenho, da minha terra querida, é que me induz, fazer verso, para esquecer da lida, deitado em minha rede, começo a memorar, trazer de volta o passado, através do meu pensar, meu coração fi ca triste e minha alma abatida, recordando o passado, que trás tristeza pra vida.
Para recordar a vida, dou ordem a liberdade, de usar meu pensamento para explorar a saudade, dos belos tempos passado, na minha casa empalhada, as coisa lá era dura, mas não me falta-va nada, antes da Furnas chegar com a sua trapalhada.
O Rio Quilombo, o Casca e o Manso, com seu canal com suas lindas nascen-tes, não existia coisa igual, a Furnas não tem direito, de nos tratar como réu, porque sei que existe lei, que irá desmantelar a sua trama cruel.
Esta gente sofredora, que en-contro no caminho, sempre lembrando das fl ores, sem esquecer dos espinhos,
Sobre a Barragem de MansoSobre a Barragem de MansoSobre a Barragem de MansoAutor: Antônio José
64 MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens
outrora éramos alegres, porque éramos vizinhos, num lugar mara-vilhoso, por nome Giovazinho.
A Eletro-Norte faz projeto, e a Furnas concretiza, a vida dos ribeirinhos, com ousadia inferniza, não respeita seus direitos, para lhe expulsar improvisa, lhe tira de qualquer jeito, mas não dá o que precisa.
A lembrança que eu tenho hoje, é só tristeza e mágoa, a saudade do passado, sei que o tempo não apaga, porque o que eu mais gostava hoje está debaixo d’água, vou lutar por minha terra, que Furnas danificou, junto com meus companheiros, irei seja onde for, quero outra terra igual a que ela nos tirou, que-remos toda justiça no processo que parou, o INCRA um órgão de peso, que a Furnas subornou, o INCRA nos deu a terra e a Furnas nos tirou.