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A Política de Concorrência na Europa e os Cidadãos Comissão Europeia

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ComissãoEuropeia

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A Política de Concorrência na Europa

e os Cidadãos

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Comissão Europeia

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Encontram-se disponíveis numerosas outras informações sobre a União Europeia na redeInternet, via servidor Europa (http://europa.eu.int)

Fotos: capa (avião) e fotos páginas 8, 15, 17, 26, 29 e 32:Mediateca Comissão Europeia

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2000

ISBN 92-828-9369-3

© Comunidades Europeias, 2000Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

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ÍndicePrefácio do comissário Mario Monti

Introdução: alguns pontos de referência

Controlo das operações de concentração de empresas

Princípio e regras

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

Acordos restritivos da concorrência e abusos de posição dominante

Princípio e regras

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

Liberalização

Princípio e regras

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

Controlo dos auxílios estatais

Princípio e regras

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

Fichas práticas

Questões mais frequentes

Apresentar uma denúncia

Endereços das autoridades de concorrência

Informações sobre a política de concorrência

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acção da Comissão Europeia no âmbito da sua política de concorrência tem

repercussões directas no dia-a-dia dos cidadãos da União Europeia. A redução dos preços

das comunicações telefónicas, o acesso de um número cada vez maior de cidadãos ao

transporte aéreo ou a possibilidade de comprarem um automóvel no país da Comunidade em

que os preços são mais atraentes são alguns dos resultados concretos desta acção. Outros

domínios da política de concorrência comunitária, talvez menos visíveis, produzem igualmente

efeitos positivos para o cidadão da União Europeia. O controlo das concentrações de empresas,

por exemplo, garante a diversidade dos bens de grande consumo e a existência de preços

baixos para o consumidor final. Do mesmo modo, o controlo dos auxílios estatais, ao contribuir

para a coesão económica e social, contribui igualmente para a criação de empregos viáveis e

estáveis em toda a União. Sejam consumidores, aforradores, utilizadores dos serviços públicos,

assalariados ou contribuintes, os cidadãos da União beneficiam dos resultados da política de

concorrência nos diversos aspectos da sua vida diária.

A política de concorrência desenvolvida pela Comissão Europeia, mas também pelos tribunais e

pelas autoridades nacionais da concorrência, tem por objectivo manter e desenvolver uma concor-

rência eficaz no mercado comum, agindo sobre a estrutura dos mercados e o comportamento dos

agentes económicos. A concorrência entre as empresas tem por efeito, nomeadamente, apoiar a

inovação, reduzir os custos de produção, aumentar a eficiência económica e, por conseguinte,

reforçar a competitividade da nossa economia, designadamente em relação aos nossos principais

parceiros comerciais. As empresas, incentivadas pela concorrência, propõem assim nos mercados

produtos e serviços competitivos em termos de preço e de qualidade.

Em primeiro lugar, estes produtos e serviços competitivos beneficiam as empresas intermédias

que ganham assim em eficácia e podem, por seu turno, repercutir esses ganhos de

produtividade no seu processo de produção. A abertura das indústrias de rede à concorrência,

por exemplo, deu origem sobretudo ao reforço da competitividade da indústria europeia, que

pôde beneficiar de serviços de transportes, de telecomunicações e de energia mais eficazes e

mais baratos. A generalização do processo de concorrência contribui, deste modo, para reforçar

o tecido industrial do mercado interno, dando um apoio claro às políticas a favor do emprego.

Em segundo lugar, a concorrência traduz-se para o consumidor final numa oferta diversificada

de produtos e serviços a preços mais baixos, permitindo-lhe uma liberdade de escolha. Assim, a

política de liberalização produziu efeitos concretos para os utilizadores em termos de redução

de tarifas e de acesso a novos serviços. Um estudo recente revelou que o preço de certas

comunicações telefónicas tinha descido 35%.

Prefácio A

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A Comissão Europeia exerce um controlo exclusivo sobre os auxílios estatais concedidos pelas

autoridades públicas dos Estados-Membros. Os auxílios estão sujeitos a um princípio de

proibição previsto no Tratado, na medida em que ao favorecerem certas empresas podem

causar um prejuízo aos concorrentes dos outros Estados-Membros, chegando por vezes a pôr

em perigo a sua sobrevivência e, consequentemente, o emprego dos seus trabalhadores.

A Comissão só concede uma derrogação ao princípio da proibição se os auxílios se revestirem

de interesse comunitário.

Em certos casos, os auxílios estatais apenas visam manter artificialmente actividades que

deixaram de satisfazer os critérios de eficiência económica, provocando distorções da concorrên-

cia relativamente às empresas do mesmo sector de actividade que continuam a ser eficientes.

Por vezes, os auxílios estatais só têm um efeito de placebo para essas empresas em dificuldade.

Cite-se o caso de 30% das empresas da antiga Alemanha de Leste, que beneficiaram de

auxílios estatais e que encerraram dois anos após a concessão dos auxílios. A política comunitá-

ria prefere privilegiar medidas que restaurem a competitividade das empresas, como os planos

de reestruturação, e que permitam garantir um regresso à viabilidade das empresas e assegu-

rar empregos duradouros. Além disso, tais auxílios afectam gravemente os mercados e prejudi-

cam as empresas concorrentes que se esforçam para se manterem competitivas. Por

conseguinte, a acção da Comissão Europeia em relação a estas últimas constitui uma protecção

contra discriminações injustificadas do ponto de vista económico.

Comprometi-me especialmente em reforçar a transparência no domínio do controlo dos auxílios

estatais, para que o cidadão da União possa estar melhor informado sobre a realidade dos

montantes envolvidos, mas também sobre a acção de controlo da Comissão nesta matéria.

Solicitei, nomeadamente, que fosse elaborado um registo dos auxílios que permita repertoriar o

conjunto das decisões da Comissão em matéria de auxílios estatais e um quadro de controlo

para poder verificar o respeito das regras relativas aos auxílios estatais pelos Estados-Membros.

Devemos também aperfeiçoar a análise económica dos auxílios concedidos com vista a uma

melhor avaliação do seu custo e incidência no mercado interno. Estou convencido de que a

transparência pode suscitar um maior envolvimento dos cidadãos e dos seus representantes na

política de controlo dos auxílios.

Na medida em que a concorrência permite aos cidadãos europeus uma melhoria da sua quali-

dade de vida e do seu poder de compra, têm o direito de esperar que a Comissão Europeia,

bem como os tribunais e as autoridades de concorrência nacionais, eliminem os obstáculos à

concorrência e defendam assim os seus interesses. A política de concorrência da Comissão

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Mario MONTIComissário responsável pela concorrência

Europeia responde totalmente a esta exigência. Contribui para a qualidade e diversidade dos

bens colocados no mercado, incentiva a inovação tecnológica e a eficiência económica e

promove preços equitativos para os utilizadores.

Todavia, a política de concorrência da Comissão Europeia não se limita a proteger os consumi-

dores dos riscos a que estão sujeitos. Procura também preservar e estimular a sua capacidade

de participação no mercado como agentes de concorrência, a fim de contribuírem para o

processo concorrencial. Garantir que o consumidor está apto a fazer escolhas que podem

influenciar o comportamento das empresas é igualmente garantir um funcionamento concorren-

cial dos mercados.

Em suma, a Comissão Europeia e os seus serviços responsáveis pela concorrência alimentam

grandes expectativas relativamente aos consumidores e às suas organizações. Graças ao seu

conhecimento do funcionamento diário dos mercados, nomeadamente dos mercados de

grande consumo, as organizações de consumidores estão em condições de comunicar à

Comissão Europeia informações de interesse comunitário através de denúncias ou de contac-

tos informais. Estas informações podem permitir aos serviços da Comissão Europeia dar início a

procedimentos de investigação relativamente a práticas que falseiam o jogo da concorrência. As

organizações de consumidores podem igualmente estabelecer este tipo de relações com as

autoridades nacionais de concorrência, se os dados referentes a práticas anticoncorrenciais

apresentarem um carácter mais nacional do que comunitário.

A presente brochura tem um duplo objectivo: informar o cidadão dos benefícios concretos da

política europeia de concorrência e procurar suscitar o seu interesse e participação na execução

desta política da União. Gostaria que os cidadãos europeus respondessem favoravelmente a

esta expectativa.

Estou convencido de que uma aplicação rigorosa da política de concorrência é a melhor das

garantias para assegurar a liberdade económica. Esta liberdade económica, exercida num

quadro de regras adequadas, constitui uma condição necessária para o desenvolvimento de

uma sociedade de liberdades, na qual a livre concorrência constitui uma liberdade pública, com

repercussões não só no ambiente económico, mas também na organização da sociedade civil.

É neste contexto que a política de concorrência pode ser considerada uma política dos

«cidadãos».

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Tratado da União Europeia recorda nos seus princípios que osEstados-Membros e a Comunidade instituem uma política económica «condu-zida de acordo com o princípio de uma economia de mercado aberto e delivre concorrência».

A política comunitária da concorrência tem um objectivo preciso que consiste nadefesa e desenvolvimento de uma concorrência eficaz no mercado comum. Aconcorrência é um mecanismo fundamental na economia de mercado que põeem jogo a oferta (dos produtores e dos comerciantes) e a procura (dos clientesintermédios e dos consumidores). Do lado da oferta são propostos no mercadoprodutos ou serviços que se esforçam por corresponder às exigências daprocura, que, por seu turno, pretende a melhor relação qualidade/preço doproduto ou serviço de que necessita. A resposta mais eficaz resulta do

confronto entre as várias ofertas. Assim, a concorrên-cia leva cada um dos proponentes a procurar separada-mente os meios para atingir este equilíbrio entre quali-dade e preço, a fim de satisfazer o melhor possível aprocura. A concorrência constitui, portanto, uminstrumento simples e eficaz que garante aos consumi-dores um nível de excelência em termos de qualidadee de preço dos produtos e serviços. Além disso, aconcorrência implica as empresas na via dacompetitividade e da eficiência económica. Esta políticapode fortificar o tecido industrial e comercial comunitá-

rio, permitindo-lhe fazer face à competitividade dos nossos principais parceiros efornecer às empresas comunitárias os meios necessários para se lançarem elaspróprias à conquista dos mercados externos.

Para ser eficaz, a concorrência pressupõe que o mercado tenha uma ofertaconstituída por agentes independentes entre si, sujeitos à pressão

IntroduçãoAlguns pontos de referência

O

A política comunitáriada concorrência temum objectivo preciso

que consiste na defesae desenvolvimento de

uma concorrênciaeficaz no mercado

comum.

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concorrencial das várias ofertas. É por isso que o direito da concorrência tempor objectivo preservar a capacidade dos proponentes de exercerem essapressão no mercado, proibindo os acordos ou práticas que possam impedi-la.

A política europeia da concorrência assenta num quadro legislativo comunitárioinstituído essencialmente pelo Tratado, ou seja, pelos artigos 81.º a 90.º doTratado CE. Importa ainda acrescentar o regulamento do Conselho relativo aocontrolo das operações de concentração. Assim, com base nestes textosfundamentais, a política de concorrência articula-se em torno de quatro grandesdomínios de acção:

• A repressão dos acordos restritivos da concorrência e dos abusos de posiçãodominante (como, por exemplo, a condenação de um acordo de fixação depreços entre concorrentes).

• O controlo das concentrações de empresas (como, por exemplo, a proibição deuma fusão de dois grandes grupos que os levaria a dominar o mercado).

• A liberalização dos sectores económicos sujeitos a monopólio (como, porexemplo, a abertura do sector das telecomunicações à concorrência).

• O controlo dos auxílios estatais (como, por exemplo, a proibição de umasubvenção do Estado com vista à manutenção em actividade de uma empresadeficitária, sem perspectivas de viabilidade).

O direito comunitário tem em vista defender o mercado comum e incentivar aconcorrência neste vasto espaço económico. Por conseguinte, só é aplicado seas práticas em causa forem susceptíveis de afectar o comércio entre osEstados-Membros. Com efeito, um acordo entre os padeiros de uma cidadeque fixa o preço do pão nessa cidade não teria qualquer incidência no mercadocomunitário. Como tal, o direito europeu não se aplica neste tipo de situações,que em contrapartida poderão ser abrangidas pelo direito nacional daconcorrência. As disposições comunitárias em matéria de concorrência só sãoaplicadas no caso de existência de uma situação em que as trocas comerciaissão afectadas.

A Comissão Europeia é o órgão competente para tratar estas questões. Emalguns casos, o poder de controlo é partilhado com os tribunais e asautoridades de concorrência dos Estados-Membros (artigos 81.º e 82.º),noutros a Comissão detém o controlo exclusivo (controlo das concentrações dedimensão comunitária e controlo dos auxílios estatais). O controlo é partilhadoquando se trata de uma regra de aplicação geral que abrange o conjunto da

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Comunidade. A Comissão Europeia, assim como os tribunais nacionais, devemfazer respeitar essa regra. O controlo é exclusivo quando está expressamenteprevisto por uma disposição legislativa. Os Estados-Membros pretenderam criaruma entidade única de controlo no caso das concentrações importantes, tendopara o efeito designado a Comissão Europeia. No que diz respeito aos auxíliosestatais, apenas uma autoridade supranacional e independente está emcondições de se pronunciar sobre o carácter ilegal dos auxílios concedidos pelosEstados-Membros. Esta autoridade é a Comissão Europeia.

Por último, importa referir que a maioria dos Estados-Membros dispõe de umalegislação nacional própria que lhes permite abordar as questõesanticoncorrenciais (acordos restritivos, abusos de posição dominante econcentrações). O direito nacional permite, nomeadamente, condenar aspráticas que não têm efeitos a nível do comércio entre os Estados-Membros.

Os regulamentos de aplicação prevêem um procedimento rigoroso. Conferempoderes de investigação e de inquérito aos agentes da Comissão Europeia. Noâmbito destes procedimentos, estão garantidos os direitos de defesa, bemcomo o respeito dos segredos comerciais.

A acção da Comissão não teria qualquer eficácia se os seus controlos nãofossem acompanhados de decisões e sanções. No domínio da legislaçãoanti-trust, além de declarar a proibição de um acordo ou formular injunçõespara pôr termo a práticas anticoncorrenciais, a Comissão tem igualmentecompetência para aplicar coimas às empresas que utilizaram comportamentosanticoncorrenciais. O montante das coimas é calculado em função dagravidade e da duração da infracção. Entre as práticas mais graves refira-se,por exemplo, os cartéis de preços ou os abusos das empresas em situação dequase monopólio. Ao estabelecer o montante da coima, a Comissão Europeiatem em conta circunstâncias agravantes (por exemplo, a reincidência) ouatenuantes (colaboração da empresa, por exemplo). As coimas podem ir até10% do volume de negócios da empresa em causa a nível mundial.

Em matéria de controlo dos auxílios estatais, a Comissão Europeia tem o poder deordenar que os auxílios concedidos ilegalmente sejam reembolsados pelos bene-ficiários às autoridades públicas que os concederam. O Estado-Membro deveproceder à sua recuperação, sem prazo, de acordo com os procedimentos previs-tos no direito nacional.

As decisões da Comissão são susceptíveis de recurso para o Tribunal de PrimeiraInstância e para o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.

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Acordosrestritivos da concorrênciae abusos de posição dominante

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Princípioe regras de concorrência

Princípio

Certos acordos entre empresas constituem um obstáculo à livre concorrência. Oexemplo mais comum é o dos acordos de preços, os famosos cartéis, em que asempresas estabelecem entre si o nível dos preços, de modo a que oscompradores não possam fazer intervir a livre concorrência entre osfornecedores e beneficiar de preços competitivos. Esta situação traduz-se, para oconsumidor final, numa inflação dos preços no mercado. Outros acordos têmpor objectivo ou efeito determinar outras condições de funcionamento dosmercados: por exemplo, estabelecer quotas de produção por empresa ourepartir os mercados entre as empresas. Este tipo de acordos é proibido naComunidade Europeia porque falseia a concorrência e prejudica os váriosagentes do mercado.

Por exemplo, nos acordos de preços, as empresas, em vez de se esforçarempara propor novos produtos ou serviços de qualidade e a preços atraentes,

limitam-se a explorar uma situação que criarame em que o cliente não pode escolher entrevários preços, tipos de produtos ou modos dedistribuição. Nestas condições, as empresas emcausa deixam de se preocupar em ser realmente

competitivas no mercado, não tendo qualquer incentivo para inovar nem para

Certos acordos entre empresasconstituem um obstáculo à livre

concorrência.

Acordos restritivos da concorrência

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artigo

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reduzir os seus custos de produção. Por conseguinte, lançam no mercadoprodutos ou serviços cada vez mais obsoletos e a preços elevados.

A médio prazo, estas empresas estão condenadas a sofrer inopinadamente asconsequências da entrada no mercado de um concorrente que não faz partedo acordo, vendo-se confrontadas com uma crise grave que pode provocardespedimentos ou mesmo o encerramento das empresas. Os trabalhadores,subcontratantes, comerciantes, etc. serão por seu turno afectados por esta crise.Além disso, o nível artificialmente elevado dos preços reflecte-se nos custosdos utilizadores intermédios, vítimas dos comportamentos anticoncorrenciaisdos seus fornecedores, que dificultam o dinamismo destas empresas. Porúltimo, o consumidor final paga os produtos ou serviços mais caros, dispõe deuma escolha mais reduzida e não beneficia de quaisquer progressos técnicosou económicos.

O comportamento anticoncorrencial de algumas empresas prejudica, assim, oconjunto dos agentes no mercado e justifica a intervenção das autoridadespúblicas. Nos últimos três anos, a Comissão Europeia tratou em média mais de400 casos anuais relativos a acordos restritivos da concorrência.

Direito comunitário (artigo 81.º)

Os acordos restritivos da concorrência são proibidos pelo artigo 81.º do Tratado CE.Estes acordos são considerados nulos quando apresentam as seguintes caracterís-ticas:

• São concluídos entre empresas.

• Provocam uma restrição considerável da concorrência num determinadomercado. Estes acordos podem consistir na fixação de preços de compra ou devenda ou noutras condições de transacção. Podem igualmente dizer respeito arestrições de produção, nos mercados, ao desenvolvimento técnico ou aosinvestimentos. Estes acordos podem ainda repartir os mercados ou as fontes deabastecimento entre os concorrentes. Podem, por último, conduzir a certaspráticas comerciais discriminatórias que dão origem a desvantagens a nível daconcorrência para as empresas que não fazem parte dos acordos. Tais acordossão considerados restritivos de concorrência na medida em que entravamsubstancialmente o jogo normal da oferta e da procura.

No entanto, alguns acordos podem ter efeitos que favorecem a concorrência, namedida em que implicam, por exemplo, um progresso técnico ou uma melhoriada distribuição. Para estes, o direito comunitário prevê a possibilidade de umaisenção da proibição, porque têm um efeito positivo no mercado. Para beneficiarde uma isenção devem estar reunidas quatro condições:

• O acordo melhora a produção, a distribuição ou promove o progressoeconómico.

• Uma parte equitativa do lucro resultante do acordo é reservada aos utilizadoresintermédios ou finais.

• A restrição da concorrência é indispensável para a realização destas duas primei-ras condições.

• A concorrência não é eliminada relativamente a uma parte substancial dos bensou serviços em causa.

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o 81.°

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VO direito comunitário permite conceder uma isenção a um acordo específico entreempresas, mas também a categorias de acordos da mesma natureza, porexemplo, os acordos de distribuição.

Actualmente, só a Comissão Europeia é que tem competência para aplicar estadisposição do artigo 81.º, que permite conceder uma isenção a um acordo restri-tivo da concorrência. Para obter uma isenção individual, as empresas devem notifi-car os seus acordos à Comissão Europeia. Nos últimos anos a Comissão recebeuem média mais de 200 notificações anuais de empresas. Em 1999, a ComissãoEuropeia propôs que se pusesse termo a este sistema de notificação centralizadode todos os acordos de empresas. De facto, muitos dos acordos que são notifica-dos não colocam problemas sérios de concorrência. A Comissão espera assimpoder afectar melhor os seus recursos à luta contra os acordos que prejudicamrealmente a concorrência no mercado comum, em especial os cartéis. AComissão pretende igualmente que as autoridades nacionais da concorrência e ostribunais nacionais se envolvam mais directamente na aplicação das regras comu-nitárias da concorrência.

Para além da notificação formal pelas empresas, a Comissão exerce igualmente oseu controlo na sequência de denúncias apresentadas por concorrentes ouclientes (149 em 1999) ou ainda de indícios relativos a práticas anticoncorrenciaisque dão origem a procedimentos de investigação por iniciativa dos serviços daComissão (77 em 1999).

Uma vez que do ponto de vista jurídico estes acordos são nulos, a ComissãoEuropeia tem competência para proibir os acordos restritivos da concorrência eaplicar coimas às empresas. Pode também, em certas condições, concederisenções a determinados acordos restritivos da concorrência. Além disso, aComissão Europeia possui poderes de investigação que lhe permiteminspeccionar as instalações das empresas a fim de encontrar elementos de provade acordos secretos.

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

Cartel proibido no sector do aquecimento urbano Em Outubro de 1998, a Comissão Europeia interveio para pôr termo a umcartel entre produtores de condutas de aquecimento urbano que fixavamconjuntamente os preços e as condições da sua participação nos concursospúblicos. Este cartel, criado na Dinamarca no final de 1990, foi posteriormentealargado à Alemanha e a outros Estados-Membros. A partir de 1994 enloba atotalidade do mercado europeu. Na Alemanha e na Dinamarca estas empresastinham posto em prática um sistema para falsear os procedimentos dos concur-sos: era escolhido um «favorito» para ganhar cada contrato, apresentando osoutros membros do cartel ofertas mais elevadas. Além disso, os membros docartel distribuíam entre si os mercados nacionais e fixavam conjuntamente os

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preços das condutas de aquecimento urbano. Os compradores das condutas, ouseja, principalmente as autarquias locais, eram assim obrigados a recorrer ao«mesmo» fornecedor, sem terem efectivamente possibilidade de escolha entreofertas concorrentes e a um preço competitivo. A Comissão Europeia aplicou àsempresas envolvidas neste cartel uma coima total de cerca de 92 milhões deeuros. Neste caso concreto, a prática anticoncorrencial causou prejuízos àsempresas que não faziam parte do cartel, as quais eram sistematicamenteexcluídas dos mercados, bem como às entidades locais e, consequentemente,aos contribuintes.

Cartel proibido no sector do açúcar Dois produtores de açúcar e dois negociantes de açúcar do Reino Unido tinhamadoptado uma estratégia concertada de aumento dos preços nos mercados doaçúcar. Este acordo traduzia-se para o consumidor final em preços de compramais elevados do que os resultantes da livre concorrência. A Comissão Europeiaproibiu o acordo em 1998 e aplicou coimas às empresas. O montante global dascoimas ascendeu a mais de 50 milhões de euros.

Acordo objecto de isenção no sector da televisãodigital A Comissão Europeia concedeu uma isenção a um acordo relativo à criação deuma empresa comum denominada Open, celebrado entre quatro empresas,incluindo a BskyB e a British Telecom, duas empresas britânicas dos sectores datelevisão digital e das telecomunicações. A Open oferecerá novos serviços de

televisão digital interactiva no Reino Unido. Na sequênciada criação desta nova empresa, os bancos, ossupermercados ou as agências de viagem, por exemplo,poderão oferecer serviços interactivos aos consumidoresbritânicos através da televisão. O acesso a estes serviçosfar-se-á graças a um descodificador. Perante as inegáveisvantagens para o consumidor, a Comissão não colocouobjecções ao acordo. No entanto, a BskyB e a British

Telecom, que detinham importantes posições de mercado nos sectores em quea Open passaria a operar, desapareciam como potenciais concorrentes, podendoassim ser eliminada uma parte substancial da concorrência no mercado britânicoda televisão digital interactiva. Por conseguinte, antes de dar o seu acordo, aComissão assegurou-se de que continuaria a existir concorrência após a criaçãoda Open. Assim, os compromissos assumidos pelos accionistas da Openpermitirão o acesso de terceiros ao mercado. Poderão, nomeadamente, teracesso aos descodificadores da Open, bem como aos canais de cinema e dedesporto da BskyB. Por último, os descodificadores concorrentes dos da Openpoderão igualmente desenvolver-se no mercado sem qualquer obstáculo. AComissão actuou neste caso com uma dupla preocupação: facilitar aaparecimento de novos serviços de televisão digital interactiva e garantir aconcorrência no mercado. Por conseguinte, o consumidor britânico éduplamente beneficiado.

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Princípioe regras de concorrência

As empresas eficientes são levadas a conquistar os mercados, a ponto de setornarem por vezes dominantes. O facto de terem esta posição dominante não écondenável em si mesmo, uma vez que se trata do resultado da sua eficiênciaeconómica. Se, pelo contrário as empresas aproveitam o seu poder para impedira concorrência, estamos perante uma prática anticoncorrencial consideradaabusiva. Portanto, o que é condenável é o abuso da posição dominante.

Uma empresa encontra-se em posição dominante quando dispõe de um podereconómico tal que lhe permite actuar no mercado sem ter em conta a reacçãodos concorrentes ou dos clientes intermédios ou finais. Nestas circunstâncias, aempresa em posição dominante poderá ser tentada a abusar desta situação paraaumentar os seus rendimentos e consolidar a sua influência no mercado, enfra-quecendo ou eliminando os seus concorrentes ou, ainda, obstruindo o acessode novos candidatos ao mercado. Poderá agir no que diz respeito aos outrosagente do mercado de maneira injusta, impondo, por exemplo, preços decompra ou de venda exorbitantes ou, ainda, conferindo vantagens discriminató-rias a certos clientes, a fim de dominar o seu comportamento. Estas práticasperturbam a concorrência e são condenadas pela Comissão Europeia, sendoobjecto de pesadas sanções.

Os cidadãos têm razões para recear estes abusos, que se traduzem em preçosmais elevados, numa menor variedade de produtos e serviços e em condiçõescomerciais injustas.

Princípio

Abusos de posição dominante

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artigo 82.°

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Direito comunitário (artigo 82.º)

O artigo 82.º do Tratado CE proíbe os abusos de posição dominante. Para que severifique um abuso de posição dominante devem estar reunidas as seguintescondições:

• A empresa detém uma posição dominante. Para avaliar o poder económico daempresa, a Comissão tem em conta a sua quota de mercado, mas tambémoutros factores, como a presença de concorrentes credíveis, a existência de umarede de distribuição própria, o acesso privilegiado a matérias-primas, etc., emsuma, todos os factores que permitem efectivamente à empresa subtrair-se àscondições normais da concorrência.

• A empresa domina o mercado comum ou uma «parte substancial» do mercadocomum.

• Alguns exemplos de abuso de posição dominante: a empresa pratica preçosdemasiado elevados em prejuízo dos consumidores ou preços demasiadobaixos, a fim de excluir do mercado concorrentes mais fracos ou novos candida-tos; a empresa confere vantagens discriminatórias, tais como prémios defidelidade, a certos clientes que aceitem a política comercial do fornecedor emmatéria de revenda.

Não existe nenhum regime de isenção para os abusos de posição dominante.

A Comissão tem competência para proibir, mediante decisão, estes abusos e paraaplicar coimas às empresas que os cometem. Nos últimos dois anos(1998-1999), a Comissão adoptou uma dezena de decisões de proibição.

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Abuso de posição dominante no sector dadistribuição dos gelados Na sequência de uma denúncia apresentada pela empresa Mars, a Unilever foiobjecto de uma acção por abuso de posição dominante. De facto, a Unileverfornecia gratuitamente arcas congeladoras aos revendedores na Irlanda, com a condição de distribuírem apenas os seus produtos. Esta prática obrigavainúmeros distribuidores a proporem apenas a venda dos gelados produzidospela Unilever. Assim, o consumidor irlandês tinha uma escolha de geladosmuito reduzida. Tendo em conta a posição dominante da Unilever no mercado,esta condição de exclusividade foi considerada um abuso pela ComissãoEuropeia.

Abuso de posição dominante no mercado dosserviços de transporte aéreo oferecidos pelasagências de viagens Em Julho 1999, na sequência de uma denúncia apresentada pela companhiaVirgin Airways, a Comissão Europeia intentou uma acção contra a BritishAirways por abuso de posição dominante. O abuso consistia na instituição deum sistema de fidelização que originava um encerramento do mercado dosserviços de transporte aéreo oferecidos pelas agências de viagens para osconcorrentes da British Airways. Com efeito, acompanhia aérea British Airways oferecia a certasagências de viagens britânicas comissões suplemen-tares quando estas mantinham ou excediam, emrelação ao ano anterior, o montante das suas vendasde bilhetes de avião da British Airways. Este sistematinha por efeito reforçar a fidelidade das agênciasjunto da British Airways e desencorajava-as depropor os seus serviços a outras companhias aéreas.Uma vez que a British Airways tinha uma posição

Alguns exemplos da acção da Comissão Europeia

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/dominante, esse regime de fidelização constituía um entrave real ao acesso aomercado por parte das companhias aéreas concorrentes. Dado que as agênciasprivilegiavam a companhia que oferecesse a comissão mais alta, praticamentesó eram propostos aos clientes bilhetes de avião da British Airways, ainda queos serviços dos concorrentes fossem mais vantajosos. A Comissão considerouque esta prática, que afectava o mercado dos serviços de transporte aéreooferecidos pelas agências de viagem, constituía um abuso de posiçãodominante.

Abuso de posição dominante na organização doCampeonato Mundial de Futebol Em 20 de Julho de 1999, a Comissão adoptou uma decisão formal contra oComité Francês Organizador do Campeonato Mundial de Futebol («CFO») reali-zado em 1998 em França. O CFO tinha o monopólio da organização do evento,incluindo a venda de bilhetes. As modalidades de venda dos bilhetes para ascompetições finais foram consideradas discriminatórias e susceptíveis de consti-tuir um abuso de posição dominante. De facto, o sistema de venda destesbilhetes favorecia os consumidores que tivessem possibilidade de fornecer umendereço em França, em detrimento dos consumidores residentes noutrospaíses. Os amadores de futebol que não fossem residentes franceses e que

desejassem assistir às finaisdo Campeonato Mundialeram assim fortementeprejudicados em relação aos primeiros. A Comissãocondenou o CFO.

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Princípioe regras de concorrência

Princípio

A concentração de empresas através de fusão, aquisição ou criação de umaempresa comum tem normalmente efeitos positivos para os mercados. O agru-pamento das actividades das empresas permite obter sinergias em diversosdomínios, como por exemplo na investigação e desenvolvimento de novosprodutos, ou ainda proceder a reestruturações que reduzirão os custos deprodução ou de distribuição da nova empresa. As empresas tornam-se assimmais eficazes nos mercados. A concorrência intensifica-se e o consumidor finalbeneficiará de melhores produtos a preços mais justos.

No duplo contexto da globalização das trocas comerciais e do aprofundamentodo mercado interno comunitário, as empresas são levadas a concentrar-se paraatingir a dimensão que lhes permitirá manterem-se competitivas e activas emmercados que são cada vez mais vastos. O movimento das concentrações naUnião Europeia não parou de crescer nos últimos anos.

No entanto, são proibidas pelo Tratado as concentrações que dão origem àcriação ou ao reforço de uma posição dominante, a fim de impedir os abusosdaí resultantes. Uma empresa encontra-se em posição dominante quando está

Controlo das operações de concentração de empresas

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em condições de actuar no mercado sem ter emconta a reacção dos concorrentes, dosfornecedores ou dos consumidores.Nomeadamente, pode permitir-se aumentar osseus preços em relação aos dos seusconcorrentes sem temer quaisquer perdas delucros. Todos os agentes do mercado, emespecial os consumidores, têm razões para temero aparecimento destas estruturas dominantes,que poderão traduzir-se num aumento depreços, numa redução da oferta de produtos ou

ainda na redução da capacidade inovadora das empresas. Por estes motivos, aUnião Europeia criou um sistema preventivo do controlo das concentrações dedimensão comunitária que, se necessário, pode levar à proibição da operaçãoprevista. Foram criados sistemas idênticos nos Estados-Membros para controlaras concentrações de dimensão nacional.

A opinião pública nem sempre compreende que a Comissão autorize umaoperação de concentração quando, em certos casos, está em causa umaredução dos postos de trabalho. Importa ter presente que o objectivo daComissão na sua acção de controlo consiste em manter uma concorrênciaeficaz nos mercados, que constitui uma garantia de crescimento e porconseguinte de empregos viáveis. É provável, porém, que a curto prazo aprocura de uma melhoria da competitividade das empresas através de fusõesou de aquisições se traduza em reestruturações e, por conseguinte, numa perdade postos de trabalho. No entanto, não podemos esquecer que a melhoria dacompetitividade das empresas é a única forma capaz de responder aoimperativo de crescimento, gerador de actividades e de empregos estáveis eduradouros.

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São proibidas pelo Tratadoas concentrações que dão

origem à criação ou ao reforço de uma

posição dominante, a fim de impedir os abusos

daí resultantes.

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règulamenton.°4064/89

Direito comunitário (Regulamento n.° 4064/89)

O regulamento relativo ao controlo das operações de concentração de empresasrege desde 1990 o sistema comunitário de controlo deste tipo de operações ebaseia-se nos seguintes princípios:

• A Comissão Europeia dispõe do exclusivo do controlo das operações dedimensão comunitária. As empresas têm assim uma entidade única decontrolo, o que facilita os seus contactos administrativos e lhes garante umaigualdade de tratamento. A dimensão comunitária de uma concentração édeterminada a partir de limiares baseados no volume de negócios realizadopelas empresas objecto da concentração. Os limiares principais são o limiarmundial (5 mil milhões de euros) e o limiar comunitário (250 milhões deeuros). Abaixo destes limiares, o controlo é exercido pelas autoridadesnacionais com base em legislação própria.

• As operações de concentração de dimensão comunitária são obrigatoriamentenotificadas à Comissão para obter a sua autorização, antes de se realizarem.Desde a entrada em vigor do regulamento das concentrações, em 1990,registou-se um rápido aumento do número de notificações à Comissão, emespecial nos últimos anos, com uma taxa de crescimento anual de cerca de30%. Actualmente, a Comissão recebe perto de 300 notificações por ano.

• Após uma análise da operação que pode durar até um mês, a Comissãodecide autorizá-la ou dar início a um procedimento de investigação de quatromeses, se considerar que poderá ser criada ou reforçada uma posiçãodominante.

• No termo deste procedimento, a Comissão pode autorizar a concentração,acompanhada ou não de condições, ou proibi-la, nomeadamente quando asempresas não estão em condições de propor soluções adequadas para osproblemas apontados pela Comissão. Estas «condições» de autorização sãomuitas vezes constituídas pela cessão a concorrentes de activos, departicipações noutras empresas ou de patentes, etc.

• A grande maioria dos casos notificados é objecto de uma decisão deaprovação após o primeiro mês de apreciação (+90%). Num mercado emfase de integração, as concentrações que dão origem à criação ou ao reforçode uma posição dominante são na realidade pouco comuns.

• No final do procedimento de quatro meses, a maioria dos casos é resolvidaatravés de uma autorização condicional. A autorização da Comissão baseia-seentão nos compromissos das empresas de procederem a cessões de naturezadiversa que permitam restaurar condições de concorrência adequadas após aoperação. Estes compromissos implicam um exame muito rigoroso pelosserviços da Comissão. Nalguns casos, a operação de concentração não é auto-rizada porque não só conduz à criação ou ao reforço de uma posiçãodominante como as empresas não estão em condições de propor soluçõesque resolvam os problemas de concorrência apontados pela Comissão.

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Alguns exemplos da acçãoda Comissão Europeia

Concentrações no sector da grande distribuição

Nos últimos anos, inúmeras empresas do sector da grande distribuição notifica-ram à Comissão Europeia projectos de fusão. Cite-se, a título de exemplo, aKesko/Tuko (1997), a Rewe/Mainl (1999) e a Carrefour/Promodès (2000)(grande distribuição no sector alimentar na Finlândia, Áustria, França e

Espanha). Nos casosfinlandês e austríaco, aComissão Europeia consi-derou que a concentraçãodestas cadeias dedistribuição daria origemà criação de posiçõesdominantes e que impor-tava, no primeiro caso,proibir a operação e, nosegundo, aceitar assoluções propostas pelasempresas que consistiamessencialmente na cessão

de certos estabelecimentos a concorrentes. A fusão Carrefour/Promodèstraduziu-se numa autorização sob condição de cessão de uma importante parti-cipação no capital de um concorrente. A análise das condições de concorrênciaa nível local foi efectuada pelas autoridades nacionais de concorrência, namedida em que a operação provocava uma série de problemas de concorrênciamuito circunscritos. A Comissão Europeia agiu no sentido de manter ou restau-rar uma situação concorrencial, a fim de permitir que o consumidor continuassea beneficiar de uma escolha entre várias marcas, de preços atraentes e de umadiversidade de produtos de grande consumo.

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Concentração no sector dos seguros

Os titulares de apólices de seguros e os aforradores, nomeadamente em Itália,deverão retirar benefícios das soluções propostas pelas empresas no âmbito daaquisição da INA pela Generali, duas grandes empresas de seguros dedimensão internacional. A análise preliminar da operação levou a ComissãoEuropeia a exprimir sérias dúvidas quanto à sua compatibilidade com o direitocomunitário. Com efeito, a concentração teria dado à nova entidade quotas demercado consideráveis no que se refere ao fornecimento em Itália de diversosprodutos no ramo do seguro de vida. Além disso, o inquérito revelou a existên-cia de relações entre as duas empresas e os seus principais concorrentessusceptíveis de coordenar o seu comportamento em matéria de seguros e deinvestimento. Em Janeiro de 2000, a Comissão Europeia autorizou o projectode aquisição, mediante a condição de as partes venderem, como tinhamproposto, as participações que detinham em certas filiais, reduzindo assim assuas quotas de mercado para menos de 30%, e de porem termo às relaçõesque mantinham com os seus concorrentes. Deste modo, foram restauradas emItália as condições para uma concorrência efectiva num sector da economia queinteressa bastante aos cidadãos.

Concentração no sector dos produtos petrolíferos

Pode considerar-se que os cidadãos franceses e os viajantes que atravessam aFrança serão os principais beneficiários da actuação da Comissão Europeia noprocesso TotalFina/Elf Aquitaine. A fusão deactividades destes dois grandes operadoresno mercado francês dos produtos petrolífe-ros teria provocado a criação de umaposição dominante em vários mercados.Após a operação, a TotalFina e a Elfficariam em condições de dominar umagrande parte da rede logística em França ede aumentar o custo do abastecimento dosdistribuidores independentes, em especialdos supermercados, que desempenham

A fusão de actividadesdestes dois grandes

operadores no mercadofrancês dos produtos

petrolíferos teriaprovocado a criação de

uma posição dominanteem vários mercados.

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/um papel importante no mercado francês. Com efeito, estes últimoscontribuíram para reduzir o preço dos combustíveis em França e para os mantera níveis mais baixos. Além disso, a combinação das estações de abastecimentode combustíveis da TotalFina e da Elf nas auto-estradas francesas teria dado aonovo grupo uma quota de mercado de cerca de 60%. A Comissão Europeiaconsiderou que tal poder de mercado provocaria um aumento dos preços nummercado já caracterizado por preços elevados. Por último, a TotalFina e a Elftornar-se-iam o primeiro operador do mercado do GPL, que é utilizado para oaquecimento. A fim de resolver os problemas de concorrência detectados, anova entidade TotalFina/Elf comprometeu-se a revender uma parte importantedas actividades em causa a concorrentes. Por exemplo, propôs vender 70estações serviços nas auto-estradas francesas a concorrentes. A acção daComissão Europeia teve em vista manter a competitividade dos mercados doscombustíveis em França e fazer com que os consumidores continuassem abeneficiar de uma oferta de produtos petrolíferos a preços justos.

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As autoridades dos Estados-Membros podem conferir direitos especiais, nomea-damente de monopólio, a empresas públicas ou privadas com vista aodesempenho de uma missão de interesse económico geral em sectores comoos correios, os transportes ferroviários ou a produção e distribuição deelectricidade. Estes direitos especiais são geralmente uma contrapartida dosencargos subjacentes ao desempenho da missão de serviço público confiada àempresa. Contudo, não devem ultrapassar o estritamente necessário para o

cumprimento dessa missão. Caso contrário,suscitam, do ponto de vista do direito comu-nitário, situações restritivas da concorrência.

Os monopólios confiados a empresas, desdeque não se justifiquem por uma missão deinteresse económico geral, conduzem namaioria dos casos a preços elevados, aserviços menos eficientes e a atrasos emtermos de inovação ou de investimentos. Poreste motivo, a Comissão consideranecessário introduzir a concorrência, no

quadro das regras do Tratado, nos sectores sujeitos a monopólio, com vista amelhorar a qualidade do serviço prestado e a reduzir o nível dos preços.

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Princípio

Liberalização

As autoridades dosEstados-Membros podem conferirdireitos especiais, nomeadamente

de monopólio, a empresaspúblicas ou privadas com vista ao

desempenho de uma missão deinteresse económico geral.

Princípio e regras de concorrência

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+

Muito frequentemente, estes monopólios dizem— ou diziam — respeito às indústrias de rede(transportes, energia e telecomunicações).Nestes sectores de actividade importa distinguir ainfra-estrutura e os serviços oferecidos por essamesma infra-estrutura. Embora seja

frequentemente difícil a criação de uma segunda infra-estrutura concorrente porrazões atinentes aos custos de investimento e também à eficácia económica, emcontrapartida é possível e desejável criar condições de concorrência a nível dosserviços oferecidos. A Comissão desenvolveu por isso uma abordagem que privile-gia a separação das infra-estruturas das actividades comerciais. Assim, a infra-estrutura torna-se simplesmente o veículo da concorrência. Ainda que o direito depropriedade exclusiva da infra-estrutura possa subsistir (a rede telefónica ou eléc-trica, por exemplo), a empresa em situação de monopólio deve facultar o acessoà sua rede a terceiros que pretendam concorrer nos serviços que oferece atravésdessa mesma rede (comunicações telefónicas ou consumo de electricidade). Éeste o princípio geral em que assentam as directivas comunitárias em matéria deliberalização.

De um modo geral e tendo em conta ossectores de actividade em causa, a abertura àconcorrência não só tem efeitos positivospara os utilizadores intermédios e contribuipara a melhoria global da competitividade danossa economia como beneficia igualmenteos consumidores finais graças a preços maisbaixos e a serviços mais eficazes.

A introdução da concorrência no sector das telecomunicações, por exemplo,constitui o exemplo mais bem sucedido do processo de liberalização. A concor-rência a que são agora sujeitos os operadores públicos, até aqui com omonopólio a nível de infra-estruturas e dos serviços, por parte de novasempresas de telecomunicações traduziu-se numa baixa significativa das tarifas(até -35% no caso de certas comunicações) e numa melhoria global do serviçoprestado aos utilizadores: qualidade das prestações, multiplicação das ofertas deserviços e inovação tecnológica. Inserida no contexto de um sector económicoem plena expansão, dinamizada pela emergência da Internet e do comércioelectrónico, a liberalização das telecomunicações induz a competitividade e acriação de empregos.

A abertura à concorrêncianão só tem efeitos positivos para osutilizadores intermédioscomo beneficia igualmente os consumidores finais.

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artigo 86.º

Direito comunitário (artigo 86.º)Com vista à realização deste princípio da abertura dos mercados sujeitos amonopólio, a Comissão Europeia dispõe de diferentes instrumentos.

• A Comissão vela por que os Estados-Membros, ao conferirem direitosespeciais ou exclusivos, respeitem as disposições comunitárias em matéria deconcorrência. A Comissão está particularmente empenhada em evitar que asautoridades nacionais, ao definirem as condições de exercício de missões deinteresse geral confiadas a empresas, ultrapassem o estritamente necessáriopara o cumprimento desta missão.

• Além disso, a Comissão Europeia possui um instrumento de incentivo àabertura dos mercados. Pode, conforme os casos, adoptar ou propor aoConselho e ao Parlamento Europeu uma directiva em matéria de liberalização.Trata-se de um texto comunitário que fixa um objectivo comum a atingir portodos, objectivo que cada Estado-Membro deve consagrar na sua legislação eimplementar. Foi esta a via seguida pela União Europeia para introduzir aconcorrência nos mercados das telecomunicações, transportes, serviçospostais, electricidade e gás. A Comissão Europeia está empenhada emassegurar a realização destes objectivos.

• Por último, a Comissão Europeia controla o respeito efectivo das regras comu-nitárias de concorrência por parte das empresas titulares de direitos especiaisou exclusivos. Nos casos em que as autoridades nacionais encarregam umaempresa específica do desempenho de uma missão de interesse económicogeral, a Comissão Europeia deve respeitar, no âmbito do controlo, a missãoespecífica confiada à empresa. Na realidade, a aplicação das regras de concor-rência não deve comprometer o cumprimento dessa missão específica.

Telefones móveis em Espanha

A liberalização da telefonia móvel na Europa foiintroduzida por uma directiva comunitária de 1996 queabriu à concorrência o mercado das comunicaçõesmóveis e pessoais. No final de 1996, a ComissãoEuropeia verificou que o segundo operador de telefoniamóvel em Espanha, a Airtel Movil, tinha sido obrigada apagar cerca de 510 milhões de euros para operar nomercado espanhol, enquanto a Telefónica, a empresapública, fora autorizada a prestar os seus serviços de GSMsem qualquer contrapartida financeira. De facto, aquelemontante correspondia a um terço dos investimentos

Alguns exemplos da acçãoda Comissão Europeia

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necessários para assegurar a cobertura de todo o território espanhol. Assim, aTelefónica beneficiara de uma vantagem competitiva sobre o seu novo

concorrente e podia consolidar a sua posiçãodominante no mercado da telefonia móvel. Porconseguinte, a Comissão Europeia solicitou aoGoverno espanhol que devolvesse os 510milhões de euros à Airtel Movil ou quepropusesse medidas de correcção equivalentes.Ao restabelecer o equilíbrio entre a Telefónica ea Airtel Movil, a Comissão Europeia procurouestimular a concorrência para maior benefíciodos utilizadores de telefones portáteis emEspanha, que passaram a contar com novosserviços e com preços mais baixos. Em Abril de

1997, a Comissão Europeia foi informada das medidas de correcção previstaspelo Governo espanhol para pôr termo à distorção da concorrência.

Publicidade televisiva na Bélgica A Comissão Europeia proibiu o direito exclusivo em matéria de publicidade tele-visiva conferido à estação privada VTM pela Comunidade Flamenga da Bélgica. Aconcessão à VTM do direito exclusivo de transmitir, a partir da Flandres,mensagens publicitárias televisivas destinadas ao público flamengo equivalia aexcluir do mercado operadores de outros Estados-Membros que pretendesseminstalar-se na Bélgica para transmitirem através da rede belga de teledistribuiçãomensagens de publicidade televisiva destinadas ao público flamengo. AComissão Europeia considerou não existir qualquer relação entre, por um lado,o objectivo declarado de política cultural que visava preservar o pluralismo daimprensa escrita flamenga e, por outro, a concessão na Flandres de ummonopólio a nível da televisão comercial privada à VTM. Estas medidasconstituíam, incontestavelmente, uma forma de discriminação cujos efeitosproteccionistas atingiam também os telespectadores belgas da ComunidadeFlamenga, visto limitarem a sua possibilidade de escolha em matéria deestações de televisão.

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Ao restabelecer o equilíbrio

entre a Telefónica e a Airtel Movil,

a Comissão Europeiaprocurou estimular a

concorrência paramaior benefício dos

utilizadores detelefones portáteis

em Espanha.

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O Tratado proíbe os auxílios estatais que falseiam a concorrênciaintracomunitária. Com efeito, ao favorecerem certas empresas ou certasproduções em detrimento de outras empresas ou produções, estes auxílios sãoelementos graves que perturbam a concorrência. Em certos casos, no entanto,em conformidade com as derrogações previstas no Tratado, a Comissão toma emconsideração as repercussões positivas dos auxílios no conjunto da UniãoEuropeia e autoriza-os quando se justificam, por exemplo, por razões atinentes aodesenvolvimento regional ou à promoção de certas políticas de interesse comum(protecção do ambiente, investigação e desenvolvimento, formação, etc.).

Os auxílios concedidos pelas autoridades nacionais destinam-se, em geral, aapoiar uma empresa, uma actividade económica ou uma região, contribuindo

para o seu pleno desenvolvimento ou para atenuar assuas dificuldades. À primeira vista, e em especial naperspectiva dos beneficiários, os auxílios estataisafiguram-se positivos. Contudo, muitas vezes limitam-sea adiar reestruturações inevitáveis e nem semprepermitem à empresa recuperar a sua competitividade.

Além disso, numa perspectiva mais lata, nomeadamente a das empresas concor-rentes que não beneficiam de qualquer subvenção, os auxílios estatais sãoconsiderados como uma discriminação injustificada que as prejudica. Com

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Princípio

Controlo dos auxílios estatais

Princípioe regras de concorrência

O Tratado proíbe os auxílios estatais

que falseiam a concorrência

intracomunitária.

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efeito, estas são obrigadas a desenvolver, sem contarem com apoios externos,esforços suplementares para manterem a sua competitividade face às que bene-ficiam de auxílios estatais e não tiveram de reduzir os seus custos de produçãonem de financiar programas de desenvolvimento ou de diversificação. Asempresas que não beneficiaram de auxílios podem mesmo sentir dificuldadesque se repercutirão na sua competitividade e no emprego dos seustrabalhadores. Por conseguinte, a prazo é o mercado no seu conjunto que sofreas consequências dos auxílios estatais e é a própria competitividade daeconomia europeia que é posta em causa.

No entanto, alguns auxílios podem ser autorizados se contribuírem para odesenvolvimento de regiões especialmente desfavorecidas, para sanar umaperturbação grave da economia de um Estado-Membro, para fomentar a realiza-ção de certas actividades e de certas práticas de interesse comum para oconjunto dos Estados-Membros ou ainda quando se trata de auxílios de caráctersocial. Os auxílios às regiões especialmente desfavorecidas, por exemplo,permitem a essas regiões recuperar o seu atraso de desenvolvimento e alcançaras outras regiões desenvolvidas, tornando-se seus pares e concorrentes. Logoque estas regiões ultrapassem as suas dificuldades, nada justifica que continuema beneficiar de auxílios ao desenvolvimento. Seria uma situação discriminatóriarelativamente às regiões desenvolvidas que não recebem qualquer auxílio.Atinge-se nessa altura, portanto, o ponto em que a Comissão Europeia considera

os auxílios ao desenvolvimento regionalinjustificados e contrários ao objectivo de coesãoeconómica e social consagrado no Tratado. Domesmo modo, os auxílios à reestruturação dasempresas podem igualmente ser autorizados setiverem um carácter excepcional e estiverem associa-dos a um plano de reestruturação que permita àempresa recuperar a sua viabilidade.

Apesar do princípio geral de proibição dos auxílios estatais, entre 1996 e 1998 oseu montante ascendeu a 93 mil milhões de euros na Comunidade, ou seja,250 euros por cidadão da União Europeia. A Comissão Europeia considera estemontante demasiado elevado.

O controlo dos auxílios estatais pela Comissão tem um impacte não negligenciá-vel no dia-a-dia dos cidadãos e tem principalmente três efeitos benéficos. Porum lado, contribui para limitar a concessão de auxílios àquilo que é estritamentenecessário e evita assim que sejam desperdiçados recursos públicos. Dado quevisa impedir distorções da concorrência intracomunitária contrárias à realizaçãodo mercado único, o controlo dos auxílios contribui para o desenvolvimentoeconómico da União e consequentemente para a promoção do emprego. Porúltimo, o controlo dos auxílios contribui para a melhoria do nível de vida e dobem-estar dos cidadãos, autorizando exclusivamente a concessão de auxíliosque prossigam objectivos de interesse comum, como por exemplo o desenvolvi-mento das regiões desfavorecidas, a promoção das PME, da investigação edesenvolvimento e da formação, ou ainda a recuperação de empresas tempora-riamente em dificuldade e que, graças a auxílios adequados e controlados comrigor, retomarão o seu lugar de agentes de prosperidade e de criadores deemprego, plenamente capazes de participarem no mercado único.

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article 87 et 88

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Direito comunitário (artigos 87.º e 88.º)

O artigo 87.º do Tratado CE proíbe os auxílios concedidos pelos Estados-Membrosatravés de recursos estatais, independentemente da sua forma, que falseiem ouameacem falsear a concorrência favorecendo certas empresas ou certas produções.

Um auxílio pode ser concedido sob diversas formas, de que se destacam assubvenções, as bonificações de juros e as isenções fiscais. Pode ainda ser conce-dido sob a forma de garantia estatal ou aquisição de uma participação pública,bem como através do fornecimento pelo Estado de bens ou serviços emcondições preferenciais.

Nos termos do artigo 87.º, podem ser autorizados alguns auxílios:

• os auxílios de natureza social concedidos a consumidores individuais;

• os auxílios destinados a remediar os danos causados por calamidades naturais;

• os auxílios destinados:

— a promover o desenvolvimento de certas regiões especialmente desfavorecidas em conformidade com os critérios comunitários,

— a fomentar a realização de um projecto importante de interesse europeucomum ou a sanar uma perturbação grave da economia de um Estado-Membro,

— a facilitar o desenvolvimento de certas actividades ou regiões económicas— e a promover a cultura e a conservação do património, quando, nos dois últimos casos, não alterem as condições das trocas comerciais num sentido contrário ao interesse comum.

A Comissão Europeia adoptou uma série de textos destinados a clarificar a suapolítica em matéria de auxílios estatais, que são designados por«enquadramentos» ou «orientações». Estes textos referem-se às regiões comatraso de desenvolvimento, à investigação e desenvolvimento, ao emprego eformação, às pequenas e médias empresas, à protecção do ambiente ou àrecuperação e reestruturação de empresas em dificuldades. Nestes casos aComissão Europeia tem uma atitude em princípio favorável, desde que a concor-rência não seja falseada numa medida contrária ao interesse comum.

A Comissão Europeia tem competência exclusiva para o controlo dos auxíliosestatais, visto que os prejuízos causados por estes auxílios ao funcionamento domercado comum só podem ser apreciados por uma autoridade independente. Étambém responsável pelo exame dos novos auxílios que os Estados-Membrostencionam conceder e que lhe devem ser previamente notificados. Em seguida, aComissão toma uma decisão quanto à aprovação ou proibição desses auxílios.

A Comissão examina ainda os auxílios concedidos pelos Estados-Membros semqualquer notificação ou antes da sua autorização. Frequentemente, a Comissãotoma conhecimento de auxílios por denúncias apresentadas por empresas. Caso oauxílio se venha a revelar incompatível é proibido e, se necessário, será exigido aoEstado-Membro que o concedeu ilegalmente que recupere os montantes pagos.Por conseguinte, o beneficiário do auxílio proibido é obrigado a proceder aorespectivo reembolso.

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Auxílios autorizados

Auxílios ao desenvolvimento de bairros urbanos desfavorecidosNa sequência da notificação pela França, em Outubro de 1996, do «Pacto deRelançamento da Cidade», a Comissão Europeia adoptou uma posição emprincípio favorável aos auxílios em bairros urbanos em situação difícil. Certasintervenções financeiras do Estado a favor de empresas podem revelar-senecessárias devido a deficiências estruturais e aos custos suplementares associa-dos à implantação nestes bairros. O objectivo destes auxílios consiste ematenuar, ou mesmo ultrapassar, os diversos problemas (emprego,desenvolvimento, etc.) que caracterizam certas zonas urbanas. Os habitantesdestas zonas urbanas em situação difícil são os beneficiários imediatos destesauxílios, relativamente aos quais a Comissão manifesta uma atitude tolerante,em especial se estiverem associados a outros programas comunitários de desen-volvimento dos bairros desfavorecidos.

Auxílios regionais a favor das PME Em Fevereiro de 1998, a Comissão aprovou auxílios no montante de 1,89

milhões de euros a favor do desenvolvimentodas PME do sector do turismo na zona deDoñana, no Sul de Espanha. Estes auxílios àsPME visavam principalmente fomentar oinvestimento na criação de novas actividadesturísticas, bem como na formação relacionadacom profissões do sector do turismo. Destemodo, estes auxílios iriam contribuir para o

desenvolvimento duradouro desta região menos favorecida da União. Narealidade, a Andaluzia é uma região que beneficia de uma derrogação emmatéria de auxílios estatais, prevista no Tratado, dado o seu nível de vidaanormalmente baixo em relação à média comunitária.

Auxílios autorizados mediante determinadas condições

Auxílios no sector dos transportes aéreosA liberalização dos transportes aéreos na Europa levou a maior parte das

companhias nacionais a adoptarem planos dereestruturação e de recapitalização que lhespermitissem assegurar a recuperação da suacompetitividade. Assim, em 1997 a ComissãoEuropeia autorizou, sujeito a diversas condições, opagamento à Alitalia de um auxílio de 1,4 milmilhões de euros. Na sua apreciação da viabilidadedo plano de reestruturação e dos compromissosassumidos pelas autoridades italianas (por

Alguns exemplos da acçãoda Comissão Europeia

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exemplo, a gestão da empresa segundo critérios comerciais), a Comissão teveem conta a inexistência de qualquer medida discriminatória a favor da Alitalia,bem como o facto de esta empresa não possuir qualquer influência dominantesobre os preços. A Comissão Europeia considerou que este auxílio era susceptí-vel de facilitar o desenvolvimento do sector dos transportes aéreos na Europa,sem afectar as trocas comerciais na Comunidade num sentido contrário aointeresse comum. Neste processo, a actuação da Comissão Europeia pautou-sepela dupla preocupação de manter no mercado dos transportes aéreos umaempresa em vias de recuperação e sem prejudicar a concorrência, permitindoaos consumidores beneficiarem ao mesmo tempo dos serviços da Alitalia e dosseus concorrentes.

Auxílios proibidos

Auxílios no sector dos veículos automóveis As autoridades alemãs previram conceder à Volkswagen um auxílio de 398 milhões de euros, destinados a investimentosem duas unidades de produção na Alemanha. Este auxílio veio juntar-se a outros já autorizadospela Comissão Europeia. Assim, a Comissão consi-derou que uma parte deste auxílio adicional afectavaa concorrência intracomunitária num sentidocontrário ao interesse comum, pelo que adoptouuma decisão parcialmente negativa para ummontante de 123 milhões de euros. Alguns mesesdepois o Governo alemão informou a ComissãoEuropeia de que a Volkswagen havia reembolsado os auxílios ilegais. Através da sua acção, a Comissão visa garantir condições equitativas de funcionamentodo mercado automóvel na Europa. Além disso, permite que os Länder daAlemanha Oriental readquiram o dinamismo económico (auxílios autorizados),evitando simultaneamente que um número demasiado importante de auxíliosestatais cause prejuízos às outras empresas do sector que não beneficiam detais auxílios. Esta política equilibrada permite manter a competitividade e oemprego no mercado comum e beneficia, em última análise, todos os trabal-hadores do sector automóvel. Além disso, ao dissuadir as autoridades nacionaisde recorrerem sistematicamente aos auxílios, a Comissão Europeia contribuitambém para a redução das despesas públicas e, portanto, de certa forma parareduzir a pressão fiscal.

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Esta série de perguntas e de respostas que interessam o grandepúblico deve permitir aos cidadãos da União Europeia avaliar oâmbito de aplicação do direito da concorrência através de situa-ções concretas que se lhe podem deparar no seu dia-a-dia.

QUESTÕES MAIS FREQUENTES

A imprensa anuncia a fusão de duas grandes cadeias desupermercados. Passarão a ser o primeiro grupo nacional e umdos três primeiros na União. Na minha zona e arredores sóexistem dois grandes supermercados, um de cada uma destasduas cadeias. Actualmente, estes dois supermercados praticamuma concorrência acesa a nível dos preços e das promoções.Devo recear que, após a fusão, a situação se altere e que aconcorrência desapareça? Se este receio se vier a concretizar,que poderá fazer a Comissão?

É provável que a fusão suscite problemas de concorrência, nomeadamente naszonas onde antes da concentração só existiamsupermercados das duas cadeias em causa. Narealidade, muito provavelmente o novo grupoficará nestas zonas com uma posição dominanteque lhe permitirá praticar preços elevados oureduzir a gama de produtos oferecidos aos consu-midores. Nestas condições, a Comissão Europeiapode proibir esta fusão se a mesma tiverdimensão comunitária e conduzir à criação ou aoreforço de uma posição dominante. A Comissãopode igualmente autorizar a operação se as

partes oferecerem compromissos susceptíveis de restaurar a concorrência. Porexemplo, vender certos supermercados a concorrentes viáveis, em especial naszonas onde as duas cadeias implicadas na fusão possuem cada uma um estabele-cimento. Se a fusão não tiver dimensão comunitária, as autoridades nacionais daconcorrência podem, em princípio, actuar neste mesmo sentido. Os processosKesko/Tuko, Rewe/Meinl e Carrefour/Promodès, já mencionados, ilustram estasituação.

Fusões de cadeias de supermercados.Quais os seus efeitos?

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Compra de um automóvel em toda aComunidade. Que possibilidades existem?

Tentei adquirir um automóvel num país da Comunidade ondenão tenho residência porque verifiquei, graças à publicação daComissão relativa ao preço dos automóveis na União, queexistia uma diferença de preço para o mesmo veículo entre omeu país de residência e o outro Estado-Membro. O meuconcessionário informou-me que eu não podia adquirir esteautomóvel no estrangeiro, visto o construtor proibir aos seusconcessionários as vendas transfronteiras. Será verdade? Estasituação suscita problemas do ponto de vista da concorrência?

Se a afirmação do concessionário fosse verídica, estar-se-ia perante um problemagrave, visto tal proibição constituir um obstáculoàs trocas comerciais no mercado comum e aaceitação por parte dos concessionários de nãovenderem veículos a não residentes constituiriaum acordo restritivo da concorrência no mercadocomum. Em 1998, a Comissão condenou aVolkswagen AG, aplicando-lhe uma pesada coima

de 102 milhões de euros porque o construtor alemão tinha proibido os seusconcessionários italianos de satisfazerem clientes alemães e austríacos, atraídospelos preços mais baixos praticados na Itália.

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Aumento do preço da gasolina nasestações de serviço. Resultado de umacordo?

Os preços da gasolina aumentaram no mesmo montante e nomesmo dia em todas as estações de serviço da minha região.

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Vou anualmente de férias para uma ilha do mar Mediterrâneo.Por hábito, tomava o ferry da empresa «Les Voyages d’Ulysse»,que das três empresas que operam no porto era a que praticavapreços mais interessantes. Ora, este ano verifiquei que os preçostinham aumentado consideravelmente e que as três empresastinham alinhado as respectivas tarifas. Tratar-se-á do resultadode um acordo anticoncorrencial?

Ao que tudo indica, a conjugação do aumento dos preços com o alinhamento dastarifas das três empresas, na medida em que são as únicas a operar na zonaportuária, constitui um indício de concertação entre as três empresas. O aumentodos preços, por si só, poderá justificar-se pelo aumento dos custos de exploração(aumento do combustível, renovação da frota, novos serviços a bordo, etc.), masnão existe qualquer razão objectiva para que as três empresas registem umaumento simultâneo dos custos e que conduza a um alinhamento de tarifas, em

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Aumento de preço simultâneo emvários países da Comunidade. Indício de um acordo?

Este aumento representa um acordo restritivo da concorrência?Devo apresentar uma denúncia à Comissão Europeia?

Um aumento simultâneo e idêntico dos preços não resulta necessariamente deuma concertação. Pode ser consequência de um aumento fiscal ou do preço dopetróleo bruto, ligado a uma crise internacional, por exemplo. Quando nenhumadestas explicações se confirma, é de admitir que na raiz deste aumento seencontre um acordo entre estações de serviço ou entre as empresas do sectorpetrolífero. Deverão ser efectuadas investigações para confirmar ou afastar essaeventualidade. Na medida em que este aumento simultâneo e idêntico tenha umcarácter local, é sem dúvida preferível informar-se junto das autoridades nacionaisdo que dirigir-se à Comissão. Assim, no final de Novembro de 1999, asautoridades italianas da concorrência deram início a um procedimento deinvestigação relativamente a um alegado acordo entre os produtores de produtospetrolíferos no sector da distribuição dos combustíveis em Itália.

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especial visto a situação prevalecente anteriormente se caracterizar por uma forteconcorrência. Por conseguinte, pode razoavelmente presumir-se que as trêsempresas acordaram entre si este aumento e este alinhamento tarifário, com oobjectivo de neutralizar a concorrência e realizar lucros em detrimento dosutilizadores, que não têm outras alternativas para chegar à ilha em causa. Namedida em que esta situação possa afectar vários Estados-Membros, será sensatoinformar a Comissão Europeia. Aliás, registou-se uma situação análoga em rotasentre a Itália e a Grécia, tendo a Comissão condenado as empresas de transportee aplicado uma coima.

Perfumes, só nas perfumarias. E aliberdade de escolha do consumidor?

A minha mulher pediu-me para comprar um perfume francêspara o aniversário da minha sogra. Tentei adquiri-lo numsupermercado, mas a vendedora respondeu-me que o perfumeem causa só era vendido em perfumarias. A exclusividade devenda de que a perfumaria beneficia é lícita?

Embora a Comissão Europeia preferisse que os produtos estivessem disponíveisem maior número e a melhor preço, independentemente da rede de distribuição,aceita, não obstante, que certos produtos sejam objecto de contratos específicosque reservam a sua distribuição a estabelecimentos que reúnem diversas condiçõesobjectivas de ordem qualitativa, como por exemplo a sua exposição noestabelecimento ou a presença de pessoal qualificado que possa prestar umserviço específico. No caso das perfumarias, este serviço consiste noaconselhamento do cliente, no ensaio do produto e na oferta de amostras, porexemplo. Estes acordos são autorizados por se considerar que a priori melhoram adistribuição dos produtos. Se o supermercado reunir os critérios objectivos definidospelo fornecedor do perfume, poderá, em princípio, comercializar esses produtos;todavia, de um modo geral, os proprietários de supermercados não estão dispostosa efectuar os investimentos exigidos pelos fornecedores, em especial propor à clientela um serviço de apresentação e de ensaios dos produtos.

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A Comissão declara ilegal um auxílioestatal. Qual a justificação naperspectiva dos despedimentos?

A Comissão declarou ilegal um auxílio estatal que tinha sidoconcedido à empresa onde trabalho. A empresa terá de reembol-sar ao Estado este auxílio. Tememos que esta decisão provoquedespedimentos. Não compreendo a atitude da Comissão.

A política de controlo dos auxílios estatais é frequentemente mal compreendida,nomeadamente pelos cidadãos que sofrem directamente as consequências dadecisão da Comissão. Com efeito, sempre que a Comissão Europeia obriga umaempresa a reembolsar um auxílio ilegal e esse reembolso tem consequênciasfinanceiras adversas para a empresa, a reacção imediata do cidadão, empresárioou trabalhador, será necessariamente negativa. No entanto, o controlo dos auxíliosnão visa comprometer a viabilidade das empresas. Pelo contrário, pretende-se queas empresas recuperem uma vitalidade duradoura. Com efeito, a ComissãoEuropeia proíbe os auxílios estatais que adiam as reestruturações necessárias àrecuperação da competitividade das empresas e que mantêm artificialmentepostos de trabalho que irão desaparecer a curto prazo.

A Comissão proíbe ainda estes auxílios estatais porque criam distorções da concor-rência a nível das empresas ou regiões que efectuaram essas reestruturações sembeneficiar de qualquer auxílio. Assim, um auxílio concedido a uma empresa paramanter temporariamente uma actividade e postos de trabalho pode causar dificul-dades a inúmeras empresas e a milhares de trabalhadores que não beneficiam deauxílios estatais.

Em contrapartida, a Comissão Europeia é favorável aos auxílios à reestruturaçãoconcedidos a empresas em dificuldade quando conduzem a restaurar de maneiraduradoura a competitividade dessas empresas.

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lLiberalização dos serviços de interessegeral. Que vantagens para o cidadão?

A abertura à concorrência dos sectores antigamente em regimede monopólio não põe em causa as missões de serviço de inte-resse geral? As empresas privadas têm objectivos diferentes dosserviços públicos e receio que a procura do lucro possa impelirestas empresas a abandonarem actividades não lucrativas ou aadoptarem práticas menos rigorosas relativamente à segurançaou protecção da saúde pública. Que pode o cidadão esperar depositivo da liberalização?

No sector dos transportes aéreos ou das telecomunicações, por exemplo, a libera-lização proporcionou aos consumidores vantagens em termos de preços e deoferta de serviços, sem comprometer a segurança dos voos ou o acesso aoserviço de telecomunicações em zonas geográficas isoladas. Este êxito deve-se à

política de liberalização equilibrada prosseguida naUnião Europeia. Favorecendo a concorrência entreoperadores, garantia de competitividade e deredução dos custos, esta política reconhece simulta-neamente o papel dos serviços de interesse geralpara assegurar a coesão económica e social daUnião. É por isso, por exemplo, que os serviçosbásicos, como o ensino obrigatório ou a segurança

social, são em princípio excluídos do processo de liberalização. Além disso, aComissão incita os Estados-Membros a instituírem autoridades reguladoras dosmercados liberalizados, a fim de impedir práticas lesivas para os utilizadores inter-médios e finais. Por conseguinte, o cidadão tem muito a ganhar com a política deliberalização: preços mais baixos, serviços mais vastos e mais eficazes e a garantiade um controlo por parte das autoridades públicas.

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APRESENTAR UMA DENÚNCIA

Se a alegada restrição da concorrência afectar as trocas comerciais entre osEstados-Membros de maneira sensível, o cidadão pode admitir a hipótese deiniciar uma acção com base no direito comunitário e dirigir-se à ComissãoEuropeia, se considerar que o caso afecta vários Estados-Membros ou aComunidade no seu conjunto, ou aos tribunais ou autoridades daconcorrência nacionais, se considerar que só é afectado um Estado-Membro.

Em contrapartida, se for evidente que a restrição não afecta as trocascomerciais entre os Estados-Membros, o cidadão deve dirigir-seexclusivamente aos tribunais ou autoridades de concorrência nacionais, combase no direito nacional da concorrência.

No seu dia-a-dia, o cidadão da União Europeia pode deparar com indícios decomportamentos anticoncorrenciais como os que acabam de ser expostos:aumentos simultâneos e aparentemente não justificados dos preços, recusa emsatisfazer encomendas entre dois Estados-Membros da Comunidade, etc. Verificaque a concorrência é consideravelmente afectada. Nesses casos podeapresentar uma denúncia.

A quem?

Como iniciar uma acção junto daComissão Europeia?

Assim que o cidadão tiver respondido a estas questões, que tipo de acção podeprosseguir? Essencialmente existem dois tipos de acções.

1. O cidadão pode dirigir-se individualmente às autoridades europeias ounacionais. Corre contudo o risco de a sua denúncia ser isolada e não permitir àComissão Europeia conferir ao assunto um interesse comunitário suficiente paraagir.

2. O cidadão pode chamar a atenção de uma organização de consumidorespara o problema com que se deparou. Se a restrição de concorrência afecta demaneira sensível o mercado comum, é provável que a organização de consumi-dores tenha já recebido algumas queixas ou cartas a respeito desse problema. Aorganização poderá então contactar outras associações nacionais ou europeias e

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apresentar uma denúncia fundamentada, em nome dos consumidores da União,e demonstrar o interesse comunitário da mesma. Por razões de eficácia, tantopara o cidadão como para as autoridades públicas, a acção colectiva afigura-sepreferível.

Para apresentar uma denúncia individual ou colectiva à Comissão Europeia,basta uma simples carta, que deverá incluir os seguintes elementos:

• nome e endereço da pessoa que apresenta a denúncia;

• identificação da(s) empresa(s) contestada(s);

• elementos que comprovem o interesse legítimo na questão dapessoa que apresenta a denúncia;

• descrição clara do objecto da denúncia e motivos que levam apensar que a prática contestada constitui uma infracção às regrasdo direito comunitário da concorrência.

Qual a sequência que é dada ao assuntopela Comissão Europeia?

A Comissão, quando recebe uma denúncia, pode agir de duas maneiras.

1. A Comissão considera que os elementos constantes da denúnciaconstituem indícios sérios de uma prática anticoncorrencial reprovável à luzdas regras de concorrência consagradas no Tratado e dá início a uma investiga-ção para confirmar ou afastar a hipótese de existência de uma infracção.Trata-se do procedimento «ex officio». Se a investigação comprovar a situaçãocontestada, a Comissão, após as etapas processuais requeridas, poderá adoptaruma decisão que determine a proibição dos acordos, uma injunção no sentidode ser posto termo às práticas ou a aplicação de coimas.

2. A Comissão, após o exame da denúncia, considera que o caso não constituiuma infracção às regras da concorrência ou que não apresenta interessecomunitário suficiente. Na segunda hipótese, a Comissão pode transmitir oprocesso às autoridades de concorrência do Estado-Membro onde a prática sefaz essencialmente sentir, autoridades nacionais que poderão ter interesse emagir.

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AONDE SE DIRIGIR?

Comissão Europeia Direcção-Geral daConcorrência (DG COMP)

Rue de la Loi 200 B-1049 Bruxelles Tel.: (32-2) 299 11 11 Fax: (32-2) 295 01 38

Autoridades nacionais deconcorrência

Portugal

Ministério da EconomiaDirecção-Geral do Comércio e da ConcorrênciaAv. Visconde de Valmor, 72P-1050-242 Lisboa CodexTel.: 217 91 91 00E-mail: [email protected]

Conselho da ConcorrênciaAv. da República, 79P-1094 Lisboa CodexTel.: 217 93 40 49

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INFORMAÇÕES SOBRE A POLÍTICA DE CONCORRÊNCIAA Direcção-Geral da Concorrência (DG COMP) divulga informações sobre as suasactividades de diversas formas.

Publicações por via electrónica

Na Internet, através do servidor Europa (http://europa.eu.int). Aqui poderáencontrar, por exemplo, a legislação, os acórdãos do Tribunal de Justiça ou doTribunal de Primeira Instância, as decisões da Comissão, os comunicados deimprensa, a revista da DG COMP, artigos e discursos do comissário, etc.

Publicações em papel

Jornal Oficial das Comunidades Europeias

Relatório Geral sobre a Actividade da União Europeia

Relatório Anual sobre a Política de Concorrência

Relatório sobre os Auxílios Estatais na União

Revista da DG COMP: «The Competition Policy Newsletter».

Estes documentos podem ser adquiridos junto do:

Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias L-2985 Luxembourg

Portugal

Distribuidora de Livros Bertrand Lda.

Grupo Bertrand, SA

Rua das Terras dos Vales, 4-A

Apartado 60037

P-2700 Amadora

Tel.: (351) 214 95 90 50

Impresa Nacional-Casa da Moeda, EP

Rua Marquês Sá da Bandeira, 16-A

P-1050 Lisboa Codex

Tel.: (351) 213 53 03 99

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SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DAS COMUNIDADES EUROPEIAS

L-2985 Luxembourg

ISBN 92-828-9369-3

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8K

D-28-00-397-P

T-C