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A POLÍTICA EDUCACIONAL PARA JOVENS E ADULTOS NO PARANÁ: SEJAM ELES LIVRES OU PRIVADOS DE LIBERDADE
Ana Lucia Tomaz Cardoso/[email protected]
Embora as campanhas de alfabetização, promovidas durante as décadas de
1940 e 1960, em âmbito nacional tenham apresentado relativo êxito
demonstrado na redução dos índices de analfabetismo, não havia nesse
período a garantia do direito da continuidade dos estudos. Nas reformas
educacionais ocorridas no Brasil desde a década de 1930, a avaliação,
progressão e certificação da escolaridade fora do processo regular de ensino
sempre foi mantida através dos exames de madureza1. Os exames
representavam para jovens e adultos a principal forma de certificação ou via de
progressão de estudos em função da “alta seletividade do processo,
insuficiência de escolas públicas, impossibilidade de freqüência e situação
socioeconômica do país” (ENS, 1981, p. 26).
No Paraná, a criação do Sistema Estadual de Ensino e do Conselho Estadual
de Educação2 (CEE) possibilitou a organização de uma legislação que
normatizou a abertura de cursos noturnos, inclusive com a sugestão de
elaboração de currículos específicos. No ano de 1966, o professor Anízio
Silva, diretor do Curso Madureza “São Paulo” de Londrina, realizou uma
consulta junto ao CEE, sobre a possibilidade de um estabelecimento poder
cumprir, no curso noturno, um calendário letivo que não coincidisse com o ano
civil e que as férias escolares fossem reduzidas3.
Com a autorização do CEE, foi colocado em funcionamento um curso ginasial
noturno, para maiores de 16 anos de idade, com 150 dias letivos por série, com
férias escolares reduzidas e ano letivo não coincidente com o ano civil. Em
1967, foi autorizada a abertura do curso colegial supletivo nos mesmos moldes
1 A Reforma Francisco Campos (1931) que organizou o ensino por séries, com obrigatoriedade de freqüência e controle de resultado; as Leis Orgânicas do Ensino Secundário, da década de 40 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 4.024/61, que possibilitava a formação cursos supletivos, os exames de madureza, a redução da idade mínima de 18 para 16 anos para o ginásio e de 20 para 19 para o exame colegial (Art. 99 da referida Lei).2 O Conselho Estadual de Educação foi criado através da Lei 4978/64.3 Segundo a Lei 4024/61, o período letivo noturno das séries ginasiais era de 150 dias letivos.
do ginasial, e a solução encontrada em Londrina, espalhou-se pelo Paraná,
pois a mesma mostrou-se como alternativa para os alunos que não queriam
voltar para o ensino regular ou prestar os exames de madureza (ENS, 1981).
Em 1969, o CEE, através da Resolução 31/69, criou uma estrutura curricular
para o ensino primário supletivo, sendo dividida em dois níveis: o primeiro
corresponderia a 1ª e 2ª séries, e o segundo a 3ª e 4ª série, com idade mínima
para ingresso de 14 anos, duração mínima de 200 dias letivos e programas
adequados à faixa etária. (ENS, 1981).
A disseminação desses cursos supletivos e a diversidade de calendários letivos
fizeram com que o CEE estabelecesse um calendário único para os cursos
supletivos de calendário diferenciado, que continuaram em funcionamento até
1976, quando tiveram de adequar-se a Lei 5692/71.
Ainda na década de 70, no Paraná, estava em andamento o Mobral e o Projeto
Minerva com suas classes de alfabetização e Educação Integrada; os grupos
escolares noturnos; e os cursos profissionalizantes de escolas particulares. O
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC) ofertavam cursos de qualificação e havia
ainda os exames supletivos. Segundo ENS (1981) os principais problemas no
atendimento a jovens e adultos no período foram a
estrutura da ação educativa fragmentada, recursos humanos não preparados para atender á faixa etária do Ensino Supletivo, currículos idênticos ao do sistema regular, necessidade de material didático adequado, cursos muito extensos calendários letivos rígidos, alto índice de evasão (ENS, 1981, p.73).
A partir da publicação da Lei 5692/71 e do Parecer 699/72, a primeira
manifestação normativa do CEE ocorreu em 1972, através da Deliberação
33/72 que fixou normas para a realização de exames supletivos de 1º e 2º
graus. No documento, o CEE, determinou que os exames fossem “realizados
nas mesmas épocas, com idêntica orientação administrativa e técnica sujeitos
ao controle direto da Secretaria de Educação e Cultura” (PARANÁ, 1972, p.
253).
Os exames constavam de três áreas de estudo: Comunicação e Expressão,
Estudos Sociais e Ciências. A realização dos exames ocorreria em três
momentos distintos durante o ano civil nos estabelecimentos de ensino da rede
2
estadual autorizado e de forma descentralizada, coincidindo as datas pré-
estabelecidas pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado. À Secretaria
de Educação caberia a elaboração, a reprodução, distribuição e a correção das
provas e aos estabelecimentos de ensino da rede estadual autorizado as
inscrições dos alunos e a aplicação das provas supervisionadas pelos Núcleos
de Ensino ou Inspetorias de Ensino.
Segundo Ens (1981) o Paraná foi o primeiro estado no Brasil, que a partir de
1977 realizou exames de suplência profissionalizante com o objetivo de “atingir
um grande número de pessoas já possuidoras de qualificação profissional, a
ser reconhecida mediante os referidos exames, em nível de 2º Grau” (ENS,
1981, p. 114). Os primeiros exames de suplência profissionalizantes foram de
Química e de Secretariado.
Em 1980 a Secretaria de Educação do Estado ampliou a oferta de exames de
suplência profissionalizante incluindo Agricultura, Eletrônica,
Telecomunicações, Radiologia Médica, Patologia Clinica e Auxiliar de
Enfermagem. O último exame de suplência profissionalizante ocorreu em julho
de 1998 para Auxiliar de Enfermagem.
A Deliberação 020/73 do CEE normatizou os cursos supletivos, reiterando as
finalidades do Ensino Supletivo conforme estava na Lei 5692/71 e nas funções
descritas no Parecer 699/72, do Conselho Federal de Educação. O documento
ora citado determinou que o ensino supletivo no Paraná fosse ofertado através
das seguintes denominações: Curso Supletivo de 1º Grau, Curso Supletivo de
2º Grau, Curso Supletivo de Aprendizagem, de Qualificação Profissional, de
Habilitação Profissional e de Atualização Profissional e de Atualização de
Conhecimentos. A idade mínima de ingresso para os cursos de 1º Grau
equivalente às quatro séries iniciais seria de 14 anos e 16 anos para o curso
supletivo correspondente da 5ª à 8ª série do 1º grau. Para o 2º grau, a idade
mínima para ingresso seria de 18 anos.
A Deliberação estabelecia que a carga horária do Curso Supletivo de 1º grau
teria duração mínima de 2880 horas, sendo dividida em seis períodos de 480
horas: os dois primeiros para as séries iniciais e os demais para as quatro
séries finais do 1º grau; e os Cursos Supletivos de 2º grau com a habilitação no
nível técnico deveriam ter uma carga horária de 1890 horas divididas em três
períodos de 630 horas (PARANÁ, 1973). No ano de 1975 a Deliberação 022/75
3
ampliou a carga horária dos cursos de 2º grau, Suplência de Educação Geral,
para 1920 horas, sendo 640 por período. (PARANÁ, 1975).
Em relação aos cursos de Aprendizagem e de Qualificação Profissional, a
Deliberação 020/73 do CEE, sugeria que os mesmos poderiam ser ofertados
por empresas a alunos de 14 a 18 anos que tivessem concluído estudos
referentes às quatro séries iniciais do 1º grau, visando à qualificação para o
trabalho. Os cursos de Habilitação Profissional, segundo o documento
destinavam-se aos maiores de 18 anos que já tivessem concluído o 2º grau e
tinha como objetivo a formação de técnicos.
Já os cursos de Suprimento ou Atualização de Conhecimentos eram cursos
considerados livres e que não davam direito ao prosseguimento de estudos. A
Deliberação 020/73 determinou ainda a extinção dos cursos de Calendário
Especial e que “os alunos fora da faixa etária matriculados nos atuais cursos
regulares, a partir de 1974, deveriam integrar gradativamente classes do
Ensino Supletivo, de acordo com o Plano Estadual de Educação” (PARANÁ,
1973).
No início da década de 80 havia no Paraná, segundo ENS (1981, p.37), 513
cursos de suplência de 1º e 2º graus; destes, 257 eram cursos mantidos pelo
governo do estado quase que exclusivamente no 1º grau, e os outros 256
cursos eram mantidos pela rede particular quase em sua totalidade no 2º Grau.
Mesmo sem possuir dados oficiais de alunos matriculados na rede pública
estadual e na rede privada, observamos que houve uma preferência na oferta
de um nível de ensino, o 1º grau, deixando um vácuo na oferta do 2º Grau o
que favoreceu a iniciativa privada.
Para ENS (1981), o Ensino Supletivo no Paraná reforçava o que devia
combater que era a desigualdade de oportunidades no acesso à escolarização,
já que a restrita oferta pública de Ensino Supletivo obrigava uma grande
parcela dos jovens e adultos paranaenses a custear seus estudos.
Apesar de terem sido criados pelo MEC a partir de 1974, e o mesmo ter
financiado a capacitação de pessoal e implementação dos Centros de Estudos
Supletivos até 1980, sendo a partir daí mantidos e coordenados pelos sistemas
estaduais, foi somente em 1981 que começou a funcionar o primeiro CES4 na 4 A denominação atual de Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos advém da Resolução nº 4561/99 do Conselho Estadual de Educação. Antes os mesmos estabelecimentos foram denominados de Centro de Estudos Supletivos(CES) por meio da
4
capital do estado, Curitiba. Com freqüência livre, avaliação no processo e
organização por módulos, os CES deveriam ofertar estudos a partir do 3º
período (5ª série), mas com idade mínima de 18 anos completos; e no 2º grau
o ingresso dar-se-ia aos 21 anos completos (PARANÁ, 1994a).
A Deliberação 034/84 do CEE manteve a estruturação dos cursos de suplência
nas suas funções de educação geral e profissionalizante, como previa a Lei
5692/71. Fixou a idade de 14 anos para o ingresso em qualquer período do
curso de 1º grau e a idade de 18 anos para o 2º grau, desde que estivesse
inserido no mercado de trabalho; caso contrário a idade seria 21 anos
completos para a matrícula. Houve a ampliação da carga horária dos cursos de
suplência de educação geral: 3320 horas-aula para o 1º grau e 1950 horas-
aula para o 2º grau. Os exames supletivos mantiveram a idade mínima exigida
na Lei 5692/71, mas criaram o Exame de Equivalência, correspondente as
quatro primeiras séries. Em relação aos CES, a matrícula por disciplina e
freqüência facultativa continuaria e criou-se a oportunidade da descentralização
em Núcleos Avançados de Ensino Supletivo – NAES5 (PARANÁ, 1994b).
Segundo entendimento do DEJA os exames destinam-se a candidatos que, a
partir de suas experiências de vida, vinculadas à apropriação de saberes ao
longo de sua história escolar e não escolar, se inscrevem na rede publica
estadual para a aferição destes saberes e, obtendo êxito, prosseguirem seus
estudos e/ou serem certificados na educação básica. (PARANÁ, 2007)
Até 2003 no Paraná era prevista a realização dos exames convencionais em
quatro etapas: na primeira às provas eram das disciplinas de Língua
Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna; na segunda, eram de História e
Geografia; na terceira, Ciências e Biologia e na quarta etapa Matemática,
Física e Química para a Fase II (5ª a 8ª) do Ensino Fundamental e Ensino
Médio e nove etapas de exame on line6 para a Fase II (5ª a 8ª) do Ensino
Resolução nº 035/80 do CEE; depois, em 1998, através da Resolução nº3120/98 passaram a ser chamados de Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância (CEAD).5Núcleos Avançados de Ensino Supletivo (NAES) eram unidades escolares descentralizadas, na mesma modalidade de CES, que ofertavam ensino supletivo de 1º grau. Por não terem autonomia administrativa estavam vinculados a um CES, que expedia a certificação dos concluintes. Em 1995, havia 32 NAES no Paraná, que tiveram suas atividades encerradas por terem poucos alunos ou transformaram-se em CES pelo crescimento de suas matrículas e apresentação de projeto especificado para isso.
6 No Exame On line, o candidato realiza a avaliação diretamente no computador, em laboratórios de informática devidamente credenciados pela SEED. As vagas são destinadas a candidatos adventistas (em função do exames convencionais serem aos sábados, no período
5
Fundamental e Ensino Médio conforme a ordem: Língua Portuguesa e Língua
Estrangeira Moderna, Matemática, História e Geografia, Ciências e Biologia;
Física e Química; repetia-se a seqüência excluindo História e Geografia. Para a
Fase I (1ª a 4ª) a etapa era composta por uma prova que versava sobre Língua
Portuguesa, Matemática e Ciências da Natureza (História, Geografia e
Ciências) e a mesma etapa repetia-se ao longo do ano. A partir de 2004 o
DEJA com autorização do CEE reorganizou a oferta dos exames reduzindo
para três etapas a Fase II do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, duas
etapas para a Fase I do Ensino Fundamental e para 4 etapas o exame on line.
Além de termos no Paraná as provas do exame impressas e via on line,
também são oferecidas em braille.
Em 2007 a Resolução 1783/2007 do Conselho Estadual de Educação
estabeleceu que a realização dos exames supletivos a nível de Fase II do
Ensino Fundamental e Ensino Médio ocorreriam em duas etapas anuais, sendo
uma em junho e outra em novembro. A primeira etapa ofertaria no Ensino
Fundamental Fase II as disciplinas de Língua Portuguesa7, Língua Estrangeira
Moderna(Inglês) e Ciências e no Ensino Médio as disciplinas de Língua
Portuguesa e Literatura, Língua Estrangeira Moderna(Inglês), Biologia,
Química, Filosofia e Sociologia. Na segunda etapa as disciplinas seriam na
Fase II Matemática, História e Geografia e no Médio Matemática, História,
Geografia e Física. Para se considerar aprovado na disciplina o candidato tem
que ter nota mínima de seis em cada uma, podendo refazer a prova no ano
seguinte somente na disciplina em que for reprovado.
Desde 1999 a SEED, através do DEJA, com autorização do MEC e do
Ministério das Relações Exteriores realiza exames supletivos para brasileiros
residentes no Japão, e desde 2006 os exames foram ofertados para brasileiros
em processo de privação de liberdade em uma unidade penitenciaria japonesa
e em uma escola de disciplina para adolescentes também no Japão. A partir de
2005 os exames são ofertados para brasileiros residentes na Europa e como
ocorre no Paraná é gratuito ficando a cargo do Estado o ônus financeiro que
vespertino), trabalhadores por turno, viajantes e candidatos ou educandos retidos em apenas uma disciplina.7 Nas provas de Língua Portuguesa tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio o candidato é obrigado a fazer uma produção de texto que tem peso 6 e a parte de conhecimentos da língua tem peso 4.
6
inclui a organização, aplicação, correção e o deslocamento de funcionários até
os países onde serão aplicados os exames.
As Deliberações 013/86 e 19/91 fizeram alterações em relação à idade para o
ingresso e na carga horária mínima dos cursos. O primeiro documento fixou a
idade de 14 para ingresso no Ensino Supletivo de 1º Grau e de 18 anos para o
2º grau. O segundo documento aumentou a carga horária dos cursos: 1º Grau
com 3650 horas, sendo 1650 para as quatro séries iniciais, o primeiro nível
com 990 horas e o segundo nível com 660; e 2000 horas nas quatro séries
finais do 1º Grau, que seriam divididas em quatro períodos de 500 horas cada.
Já o 2º grau teria 2200 horas, divididas em dois períodos de 550 horas e um
período de 1100 horas (PARANÁ, 1994b).
As medidas tomadas em relação à Educação de Jovens e Adultos no Paraná
durante a década de 80 e início da década de 90 versaram basicamente sobre
a questão da idade e da carga horária dos cursos. Já as medidas tomadas na
segunda metade da década de 90 buscavam alterar a forma de oferta e
organização dos cursos ou criar novos mecanismos de atuação, especialmente
por meio dos Centros de Estudos Supletivos e da organização.
Paralelamente a estes acontecimentos o Plano de Ação da Secretaria de
Estado da Educação – Gestão 1995-1998 no que diz respeito à EJA,
estabeleceu treze ações, norteadas pelo eixo da “Agilização dos Mecanismos
do Sistema na Relação Escola-Trabalho-Cidadania”, que eram
1- reestruturação curricular dos cursos técnicos profissionalizantes; 2- revisão das propostas de avaliação de aprendizagem; 3- fortalecimento da parceria com as empresas; 4- ordenação da oferta de curso técnico profissionalizantes; 5- elaboração de pesquisa de demanda e egressos; 6- criação de unidades regionais de atendimento ao Ensino Supletivo, através dos Centros de Estudos Supletivos; 7- descentralização dos Exames de Educação Geral nas unidades pólos; 8- reestruturação do Supletivo Seriado; 9- transformação dos NAES em CES de 1º grau; 10- estabelecimento de critérios para priorização de regiões para criação de CES nas sedes dos Núcleos Regionais de Educação; 11- reavaliação dos convênios com empresas; 12- criação de condições de infra-estrutura para viabilizar a implantação e implementação do Ensino à Distância (PARANÁ, 1995b, p. 13).
As ações desencadeadas pela SEED/DEJA, no período, começaram a tomar
forma com a criação dos CES – Pólos, que ocorreu através da Resolução
4284/95 onde ficou determinada a criação de 10 estabelecimentos de ensino
7
que seriam denominados como CES – Pólo, cujas áreas de atuação
abrangeriam diversos Núcleos Regionais de Educação e abarcariam todo o
estado8.
Inicialmente o documento explicita as competências dos CES – Pólos, que
deveriam basear-se na busca de uma solução mais democrática na gestão do
sistema, na descentralização de responsabilidades como mecanismo de
participação, e no desenvolvimento de uma nova forma de gestão que dava
importância às escolas como busca de autonomia e espaço das ações
educativas. Segundo o documento a criação dos CES – Pólos tinha como
objetivo descentralizar as ações administrativas, financeiras e pedagógicas do DESU/SEED, atribuindo aos CES – Pólos novas competências com a finalidade de desconcentrar ações ora centralizadas no DESU e dar identidade à Educação de Jovens e Adultos” (PARANÁ, 1995c, p.2).
Outra atribuição seria arrecadar recursos financeiros para produzir material
didático específico para a EJA, organizar cursos de capacitação aos
professores da EJA, ampliar o atendimento em EJA e coordenar o processo de
descentralização dos exames supletivos.
Em 1995 o Conselho Estadual de Educação publicou a Deliberação 16/95, que
estabeleceu novas regras de funcionamento dos CES. Manteve a matrícula por
disciplina, não fixou carga horária mínima para as disciplinas, manteve a idade
mínima para ingresso (14 para o 1º grau e 18 para o 2º), estipulou que a oferta
seria exclusiva a estabelecimentos públicos. A denominação deixou de ser por
níveis e passou a ser Fase I para 1ª a 4ª séries e Fase II para 5ª a 8ª série.
Essa nomenclatura se mantém até os dias atuais. A Deliberação 16/95 CEE
apresentou duas inovações para os padrões da época: a primeira na oferta de
momentos coletivos nos CES e a segunda inovação foi a possibilidade dos
CES implantarem o Posto Avançado do CES denominado de PAC.
Até 1995 os CES trabalhavam apenas com atendimento individualizado, sem
uma metodologia de ensino específica. Como material didático utilizava
módulos de estudos escritos e não gravados do TeleCurso - Fundação Roberto
8 Os estabelecimentos de ensino constituídos como CES – Pólos foram os seguintes: CES de Curitiba, CES de Ponta Grossa, CES de Guarapuava, CES de Pato Branco, CES de Cascavel, CES de Umuarama, CES de Paranavaí, CES de Maringá, CES de Londrina e CES de Jacarezinho (PARANÁ, 1995d, p. 14).
8
Marinho, os professores orientavam os alunos a estudarem determinadas
unidades, os alunos estudavam sozinhos em casa para realizar as avaliações
em um momento presencial na escola. Essa forma aberta e flexível de
atendimento foi um dos fatores do alto índice de evasão, pois os alunos, diante
de alguma dificuldade de aprendizagem ou por falta de hábito e disciplina para
os estudos, acabavam por desistir do curso, desaparecendo da escola.
Diante dos altos índices de evasão, alguns CES, especificamente o de
Maringá, tentaram enfrentar essa situação criando momentos coletivos,
ministrados pelos professores das disciplinas, com aulas expositivas e
cronograma de horário que incluía início e término da disciplina, dias e horários
pré-determinados das aulas. O empenho mostrou-se relativamente eficaz
sendo estendido aos outros CES por meio da Deliberação 016/95 (PARANÁ,
1998).
A segunda inovação referia-se à implantação de Posto Avançado do CES que
seria o atendimento descentralizado. Em Maringá desde 1994, o CES
desenvolvia um projeto pedagógico denominado Descentralização Técnico-
Administrativo-Pedagógico do Ensino Supletivo de 1º Grau, que acabou por se
transformar segundo a Deliberação 016/95 no Posto Avançado do CES (PAC).
Esse projeto tinha como objetivo levar para cinco escolas de bairros da
periferia de Maringá a oferta do ensino supletivo da Fase II, ocupando escolas
municipais e estaduais ociosas no período noturno, com atendimento individual
e coletivo, matrícula por disciplina e cronograma de aulas pré-estabelecido.
Pelo projeto a matrícula e a certificação ficariam a cargo do CES de Maringá e
a contratação dos professores seria de responsabilidade da SEED.
Pela Deliberação 016/95, o PAC somente poderia atender alunos da Fase II e
nos municípios onde houvesse o CES, nos Núcleos Regionais de Educação e
Casas Familiares Rurais. Deveria ser implantado em bairros onde não
houvesse oferta de Ensino Supletivo no período noturno e onde houvesse
turmas da Descentralização da Fase I. Em 1997, a Deliberação 07/97 estendeu
a possibilidade de implantação do PAC aos pequenos municípios onde não
havia a oferta de educação de jovens e adultos e também aos postos indígenas
e comunidades rurais. (PARANÁ, 1997a).
O Conselho Estadual de Educação publicou em 1996, a Deliberação 10/96
que aprovou uma reestruturação dos cursos supletivos, conhecidos como
9
supletivo seriado9, mantidos pela Secretaria de Estado da Educação. A
proposta de reestruturação havia sido solicitada pelo Departamento de Ensino
Supletivo da própria SEED. Conforme o documento, os cursos supletivos
passaram a ser organizados por blocos de disciplinas, de duração semestral,
prevendo atendimento individual de uma hora, com presença facultativa para o
aluno e atendimento coletivo, com presença obrigatória. A promoção seria feita
por blocos de disciplinas e caso não conseguisse aprovação, o aluno poderia
freqüentar cursos de férias a serem ofertados no CES.
Partindo do princípio de que a escola vai até ao aluno a Instrução Conjunta nº
03/97-DG/SUED estabeleceu os critérios para a implantação da
Descentralização da Fase I e Postos Avançados dos CES (PAC) para
atendimento da Fase II onde a baixa demanda educacional não justificava a
implantação da estrutura de uma escola. Isso possibilitou a milhares de jovens
e adultos paranaenses o retorno ao processo de escolarização já que teriam a
oportunidade de freqüentar um curso de EJA próximo de sua moradia.
Os PACs aumentaram consideravelmente o atendimento e o número de
matrículas na EJA. No ano de 1998 havia 823 turmas de Ensino Fundamental
e com a conclusão nos anos subseqüentes, os alunos passaram a solicitar a
oferta descentralizada do Ensino Médio que somente foi autorizada em 2002.
Em 2008 havia no Paraná 1931 turmas do Ensino Fundamental e 1707 do
Ensino Médio totalizando 3638 turmas de APEDs10 (PARANÁ, 2008, p.8).
A descentralização das ações do DEJA ampliou-se no início de 1998 por meio
da Resolução 691/98, quando os CES – Pólos passaram de 10 para 32
estabelecimentos de ensino. Todos os municípios que tinham uma sede do
Núcleo Regional de Educação teriam um estabelecimento do CES.
A Deliberação apontou ainda os projetos que deveriam ser realizados pelos
CES – Pólo que eram: a abertura de um curso de magistério para professores
não-habilitados; o Projeto Rural Educar; a implantação do curso de 1º Grau
Supletivo – Função Qualificação em Agricultura nas Casas Familiares Rurais; o
9 Pela Lei 5692/71 cada semestre equivalia a uma série do ensino regular, onde eram ofertadas todas as disciplinas da grade curricular, simultaneamente, com freqüência obrigatória, sendo ministrados exclusivamente no período noturno, em escolas regulares. 10 Com a nova Proposta Pedagógica implantada em 2006 os Postos Avançados do CES (PAC) passam a ser denominados de Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDs). (PARANÁ, 2007, p. 13).
10
Posto Avançado do CES; a reestruturação dos Cursos de 1º e 2º Graus
Supletivos; e a aplicação dos Exames de Suplência de Educação Geral.
Segundo a SEED, em 1995 existiam no Paraná em torno de 4000 professores
leigos ou professores não-habilitados no Magistério atuando em salas de aula
de 1ª a 4ª séries. Tal constatação motivou o DEJA a propor um curso de
Magistério vinculado à escolarização na modalidade de EJA o qual não se
efetivou já que o próprio Estado queria extinção dos cursos profissionalizantes
em funcionamento, em especial os cursos de magistério.
O conhecimento da situação de professores leigos no Paraná, tida como
vexatória, acabou por gerar uma mobilização pela continuidade e conclusão da
educação básica desses profissionais, já que muitos não tinham sequer
concluído o 1º Grau. Além disso, as discussões em curso da LDBEN indicavam
a exigência de habilitação mínima do Magistério para a atuação docente. Os
CEEBJAs elaboraram material especial, propuseram uma organização
presencial diferenciada ou mesmo contribuíram para a preparação desses
professores para prestarem os Exames de Suplência.
O Rural Educar buscava articular as diversas ações de alfabetização de jovens
e adultos existentes na área rural do estado. O projeto pretendia tecer as
diretrizes básicas para o trabalho de alfabetização, a produção de material
didático especifico para os trabalhadores rurais, cursos de capacitação para
alfabetizadores e a articulação entre os estabelecimentos de ensino,
movimentos populares e organizações não-governamentais que atuavam na
EJA (PARANÁ, 1995c).
A falta de prioridade no combate ao analfabetismo de jovens e adultos por
parte do governo e a difícil alocação de recursos financeiros para o projeto
tornaram limitada a atuação nesse campo. Sendo assim, a alfabetização e
escolarização dos educandos da Fase I restringiram-se aos convênios com as
ONGs e aos municípios por meio da Descentralização.
Já o curso de 1º Grau Supletivo – Função Qualificação em Agricultura nas
Casas Familiares Rurais foi proposta da SEED para a escolarização e
certificação dos alunos atendidos no Programa Casa Família Rural – Escola do
Campo. O Programa Casa Familiar Rural – Escola do Campo foi instituído pelo
Decreto 3106/94, cuja implantação ficou a cargo das Secretarias de
11
Desenvolvimento Urbano, Educação, Agricultura e Abastecimento, Fazenda e
Planejamento.
A Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil
(ARCAFAR), organização não-governamental, foi responsável pela
implantação e coordenação do projeto nos municípios paranaenses. O objetivo
era evitar o êxodo rural e criar condições de sobrevivência econômica dos
agricultores e seus familiares, sendo assim propunha a educação e
aprimoramento técnico como meio de fixação dos filhos dos agricultores em
suas comunidades. Combinava períodos de estudo intensivos nas Casas
Familiares alternados com períodos de aplicação do que foi aprendido em suas
residências e propriedades (PARANÁ, 1995c).
O projeto durou até o ano de 1998 em virtude das dificuldades para
contratação de professores para trabalharem nessa sistemática. Mais tarde
transformou-se em Posto Avançado CES resolvendo, em parte, os problemas
encontrados. Quando assumiu o governo, Roberto Requião através da SEED
retomou o projeto e deu novos encaminhamentos; um deles foi no que tange à
seleção dos professores. Atualmente os mesmos são selecionados dentre os
docentes do quadro próprio do magistério paranaense, acabando com a
rotatividade dos professores que influenciava de forma negativa o projeto.
Em 1999, a Deliberação 012/99 antecipou-se às Diretrizes Curriculares
Nacionais e procurou expressar “a necessidade de reestruturação das
Instituições que ofertam Educação de Jovens e Adultos”, bem como dar
significado operacional ao texto da Lei 9394/96 (PARANÁ, 1999a, p.10).
Sendo assim, o documento identificou a clientela que era em sua maioria
composta por trabalhadores que formavam três grupos diferenciados: o
primeiro era constituído por alunos que não tiveram acesso à escola; o
segundo grupo por alunos que cursaram algumas séries e abandonaram a
escola; e o terceiro por alunos que acumularam reprovações e por defasagem
de idade optaram por curso noturno. Finaliza o estudo concluindo que o retorno
desses alunos ao sistema de ensino se deve a imposição do mercado de
trabalho “pois os setores geradores de emprego da sociedade moderna
passam a exigir do cidadão contemporâneo, níveis cada vez mais complexos
de conhecimentos, competências e habilidades” (PARANÁ, 1999a, p. 11).
12
Em relação à parte legal, a Deliberação 012/99 buscou explicitar os elementos
que deveriam compor as propostas pedagógicas dos estabelecimentos que
ofertariam EJA e fixou a idade de 14 anos para o ingresso no ensino
fundamental e 16 para o ensino médio. Determinou que os cursos devessem
ser organizados de forma presencial, com freqüência obrigatória de 75% da
carga horária total do curso, ou à distância, conforme legislação em vigor. Em
relação à carga horária, estabeleceu que para o Ensino Fundamental fosse de
3200, sendo 1300 horas para a Fase I e 1900 horas para a Fase II, e de 1600
horas de efetivo trabalho escolar para o Ensino Médio.
A publicação do Parecer CNE/CEB 11/2000 e da Resolução CNE/CEB
01/2000, que instituíram as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
de Jovens e Adultos, refletiu-se no Paraná na elaboração da Deliberação
08/2000 (PARANÁ, 2000). Em relação à Deliberação 012/99 diverge em três
aspectos que são: em relação à idade para ingresso no Ensino Médio que
passou a ser 17 anos; em relação à organização temos a forma semi-
presencial nos cursos de EJA; e em relação à carga horária mínima, houve
uma redução para 1200 horas para a Fase I, 1200 horas para a Fase II e
também 1200 horas para o Ensino Médio.
A procura desenfreada de vagas nos CEEBJAs pelos alunos em 2001, com o
objetivo de acelerarem a conclusão do Ensino Médio e ingressarem no Ensino
Superior, motivou a publicação da Deliberação 07/2001, de cunho restritivo. O
referido documento fixava a idade mínima para a conclusão do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio, respectivamente 15 e 18 anos. Estabelecia
que o aproveitamento de estudos, de séries e disciplinas concluídas por
exames, somente seria utilizado se o aluno realizasse uma avaliação na qual o
mesmo ficaria dispensado no máximo em 50% dos conteúdos e da carga
horária a ser cumprida na disciplina (PARANÁ, 2001a). Apesar das “boas
intenções” da Deliberação que pretendia conter práticas de aceleração de
estudos em alguns CEEBJAs, o referido documento acabou por prejudicar
milhares de alunos que tinham sido aprovados em algumas disciplinas
ofertadas nos exames supletivos e tinham optado por terminar o restante das
disciplinas nos CEEBJAs.
O ensino ofertado nos CEEBJAs até 2001 não possuía uma proposta
pedagógica apenas planos de ação orientados pelas Deliberações emitidas
13
pelo CEE. Isso fez com que a escolarização ofertada através dos cursos nos
CEEBJAs não tivesse uma carga horária mínima a ser cumprida pelo aluno; a
matrícula poderia ser realizada em qualquer época do ano; as disciplinas
estavam divididas em módulos; as avaliações eram feitas de diferentes formas
pelos estabelecimentos de ensino e o educando poderia comparecer nos
CEEBJAs somente para realizar as avaliações; e o professor ficava à
disposição do aluno para dar as orientações pertinentes ao conteúdo e para
aplicação das provas. As disciplinas concluídas através dos exames podiam
ser aproveitadas integralmente para o histórico escolar e a certificação do
Ensino Fundamental ou Ensino Médio.
Diante da diversidade de encaminhamentos pedagógicos realizados nos
CEEBJAs, tais como a implementação de momentos pedagógicos organizados
para atender coletivamente os alunos como uma das estratégias para reduzir
os índices de evasão, a multiplicidade de materiais didáticos utilizados e
diferentes tempos de conclusão, houve a necessidade de unificar e padronizar
o trabalho pedagógico. A unificação era necessária em função do crescente
número de matrículas, realização de trabalhos diferenciados, flexibilidade de
horário, calendário letivo diferenciado de atendimento ininterrupto por motivos
de férias e atendimento a diferentes perfis sócio-educacionais.
Em 2001, o Departamento de Educação de Jovens e Adultos (DEJA) instituiu
uma Proposta Pedagógica unificada para os Centros Estaduais de Educação
Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA) no Paraná, em que ficou definido que
seria ofertada na forma semi-presencial o Ensino Fundamental Fase I e Fase II
e o Ensino Médio, com matrícula por disciplina, organizados em momentos
presenciais e não presenciais, sendo que 30% da carga horária total do curso
seria na forma presencial e 70% na forma não presencial. (PARANÁ, 2007)
A matriz curricular contemplava as disciplinas da base comum, com avaliações
no processo e uma avaliação estadual final, conforme previa a Resolução
01/2000-CEE. Para atender a este dispositivo legal, a SEED criou um Banco
Estadual de Itens, através de sistema on-line, que era mensalmente alimentado
pelos professores da rede pública estadual que atuavam na EJA. Essa forma
de organização curricular foi cessada no início de 2006.
Na forma presencial os cursos de escolarização de jovens e adultos eram
ofertados exclusivamente no período noturno na Fase II do Ensino
14
Fundamental e Ensino Médio, sendo divididos em quatro etapas, cada uma
delas com a duração de um semestre, com a matrícula realizada por etapas e
com avaliação no processo. Esta forma de organização curricular foi
gradativamente sendo cessada até que a partir de 2007 passou a vigorar
somente a forma semi-presencial de atendimento. (PARANÁ, 2007).
Em 2003, na gestão Requião, foi elaborado um diagnóstico amplo dessa
modalidade de ensino, culminando na necessidade de rever as políticas
educacionais de EJA do Estado enfocando a organização curricular das
escolas. O Departamento de Educação de Jovens e Adultos (DEJA) organizou
diversos encontros com professores de EJA, discutindo as razões sócio-
políticas e educacionais que constituem essa modalidade de forma a
desencadear a reflexão e caracterização dos desafios presentes que
culminaram com a elaboração das Diretrizes Curriculares Estaduais da
Educação de Jovens e Adultos(DCE/EJA) que orientaram a organização
curricular de todas as escolas que ofertavam a Educação de Jovens e Adultos
no Paraná.
Esse documento teve como base as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação de Jovens e Adultos, não havendo diferenças mas semelhanças no
que tange aos fundamentos e funções da EJA, às questões de bases históricas
e legais vigentes, à situação da EJA no contexto social e econômico e ao
direito à educação. O que destoa as DCN das DCE é que as segundas trazem
especificidades da EJA no Paraná como o levantamento do perfil de
educandos que procuram a EJA no Paraná; o estabelecimento de eixos
articuladores do currículo na EJA; e orientações metodológicas que podemos
traduzir como um manual de encaminhamento do processo ensino-
aprendizagem.
Esse documento foi o fruto das discussões promovidas pelo Departamento de
Educação de Jovens e Adultos e que aconteceram ao longo dos anos 2004 e
2005 e representaram o resultado de uma produção coletiva que contou com a
participação dos professores e funcionários que atuavam na EJA. Deve ser
entendido como “parte de um processo dialógico, da prática pedagógica dos
educadores, da sua permanente formação,” devendo “assegurar os espaços
fundamentais de reflexão, reescrita e atualização, pela constante construção de
uma educação de qualidade para todos.” (PARANÁ, 2006, p. 15)
15
O princípio norteador dos trabalhos foi “compreender o sentido do processo
educacional na vida dos educandos-trabalhadores que não tiveram acesso ou
continuidade da escolarização na denominada idade própria” assumindo
enquanto meta “propostas viáveis para que o acesso, a permanência e o
sucesso nos estudos estejam assegurados” através de “políticas públicas e
recursos para manter e melhorar a qualidade do ensino nas escolas” e o
“compromisso do Estado em atender a população, enquanto houver demanda.
(PARANÁ, 2006, p. 27-28).
Quanto à ação pedagógica as DCE estabeleceram três eixos articuladores em
sua proposta curricular: primeiro a cultura, segundo o trabalho e o terceiro o
tempo. No documento acultura compreende a forma de produção da vida material e imaterial e compõe um sistema de significações envolvido em todas as formas de atividade social e se a cultura abarca toda produção humana, inclui, também, o trabalho e todas as relações que ele perpassa; o trabalho compreende, assim, uma forma de produção da vida material a partir da qual se produzem distintos sistemas de significação. É a ação pela qual o homem transforma a natureza e transforma-se a si mesmo. Portanto, a produção histórico-cultural atribui à formação de cada novo individuo, também essa dimensão histórica; o tempo dos educandos da EJA é definido pelo período de escolarização e por um tempo singular de aprendizagem, bem diversificado, tendo em vista a especificidade dessa modalidade de ensino que considera a disponibilidade de cada um para a dedicação aos estudos. (Paraná, 2006, p. 32-33, grifo nosso).
A proposta curricular presente nas DCE orienta uma ação pedagógica que
conduza o docente a expressar os interesses dos educandos oferecendo os
conhecimentos necessários para a compreensão histórica da sociedade
utilizando metodologias que dêem oportunidades a todos os envolvidos no
processo ensino-aprendizagem, condições adequadas para a satisfação das
necessidades de aprendizagem que conduzam ao desenvolvimento político
pedagógico e social do educando.
Nesse contexto a atuação do docente da EJA é fundamental para que os
educandos percebam que “o conhecimento tem a ver com o seu contexto de
vida, que é repleto de significação” (Paraná, 2006, p.40) e que considere as
heterogeneidades indicadas por Cury (Brasil, 2000) e utilize em sua prática
uma abordagem pedagógica que permita atender as especificidades dos
alunos.
16
A produção coletiva desse documento mostrou que o sistema educacional deve
ser o agente norteador para a concretização de ações comprometidas com os
interesses das classes populares, as quais almejam autonomia com
participação no sentido da redução da exclusão social na qual vivem.
Ainda em 2005 tivemos novas mudanças na EJA através da Deliberação
06/2005 (PARANÁ, 2005) em relação à idade para ingresso, estabelecendo 18
anos de idade tanto para o Ensino Fundamental como para o Médio e
determinando a gratuidade da EJA no Paraná. Mas uma ação judicial
impetrada pelo sindicato das escolas particulares suspendeu a aplicação dessa
Deliberação. O Parecer 174/08 do Conselho Estadual de Educação do Paraná
decidiu pela manutenção do art. 7º da Deliberação nº 06/2005 que dizArt. 7º Considera-se como idade para matrícula: I – nas séries iniciais do ensino fundamental, compreendidas como de 1ª a 4ª séries, a idade mínima de 15 (quinze) anos completos; II – nas séries finais do ensino fundamental e médio a idade mínima de 18 (dezoito) anos completos. (PARANÁ, 2008, p. 4)
A partir de 2006 passou a vigorar a nova proposta pedagógica que institui a
forma presencial na EJA, contemplando cem por cento da carga horária total
da grade curricular – 1440h/a, com a avaliação no processo. A matrícula
continuou sendo por disciplina em qualquer tempo, podendo o educando
escolher a organização individual ou coletiva. A organização coletiva destina-se
preferencialmente “àqueles que têm a possibilidade de freqüentar com
regularidade as aulas, a partir de um cronograma pré-estabelecido” e a
organização individual seria para aqueles alunos “que não têm possibilidade de
freqüentar com regularidade as aulas” (PARANÁ, 2007, p. 12-13).
Os CEEBJAs e PACs mais tarde denominado de APEDs constituíram-se como
o principal mecanismo de atendimento de jovens e adultos paranaenses que
buscavam a escolaridade e consequentemente a certificação. A flexibilidade
na oferta, a dinamicidade para realizar matrículas, a multiplicidade de
atendimentos descentralizados, a possibilidade de aproveitamento de estudos
concluídos anteriormente e a perspectiva de conclusão dos estudos de forma
rápida levaram de volta aos bancos escolares jovens e adultos que em algum
momento de suas vidas deixaram de estudar.
Podemos afirmar que os trabalhadores pressionados pelas exigências do
mercado de trabalho buscaram nos bancos escolares uma forma de viabilizar
17
sua empregabilidade, pois segundo Oliveira “cresce a procura pela educação
como forma de se proteger, tanto da possibilidade de demissão, quanto do
próprio desemprego” (2001, p. 113).
No sistema prisional paranaense, o processo de escolarização, começou
através de uma parceria entre a SEJU e a SEED por meio de um acordo
especial de amparo técnico, assinado em 1º de fevereiro de 1982 que tinha por
objetivo proporcionar aos presos e aos funcionários do sistema penitenciário do
Paraná a escolarização, nível de 1º e 2º Graus, através da modalidade de
ensino supletivo. No Paraná, segundo o Departamento Penitenciário do Estado
do Paraná (DEPEN) existem aproximadamente 15.000 pessoas privadas de
liberdade.
Inicialmente a escola funcionava como um Centro de Orientação de
Aprendizagem (COA) vinculado ao Centro de Estudos Supletivos de Curitiba
(CES), onde professores preparavam os alunos para os exames de
equivalência correspondentes as quatro primeiras séries do 1º Grau e aos
exames supletivos de educação geral aplicados pelo CES de Curitiba
conforme as Resoluções Conjuntas da SEED e SEJU nº 80/82 e 1707/82
assinados em 28/06/82, supervisionado pelo Departamento de Ensino
Supletivo (DESU). Através da Resolução 2088/87 SEED, o Centro de
Orientação de Aprendizagem passou a ser um Núcleo Avançado de Estudos
Supletivo Dr. Mario Faraco (NAES).
Em 1995, foi autorizado pela SEED através da Resolução 2104/95, a
realização de avaliação do rendimento escolar dos alunos do curso supletivo
de 1º Grau durante o processo ensino aprendizagem, alterando assim a
estrutura e funcionamento ao ofertar estudos com avaliação no processo
ensino aprendizagem. O NAES Doutor Mario Faraco tornou-se Centro de
Estudos Supletivos de 1º e 2º Graus Dr. Mario Faraco atendendo oito unidades
prisionais do sistema semi-aberto e fechado de Curitiba e região metropolitana.
A construção de diversas penitenciárias nos municípios do interior do Estado exigiu a
ampliação deste processo de escolarização, que estava centrado nas unidades prisionais
da capital do Estado. No interior do Estado temos três Centros Estaduais de Educação
Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA) com uma estrutura técnica-administrativa-
docente completa e quatro Ações Pedagógicas Descentralizadas (APED) que são
18
estruturas vinculadas a CEEBJAs do município onde está localizado a Unidade Penal
contado apenas com professores e coordenação pedagógica. O quadro mostra a
localização dos CEEBJAs e APEDs no Paraná.
UNIDADE ESCOLAR PENITENCIÁRIAS ATENDIDAS
CEEBJA Dr. Mario Faraco
Penitenciária Central do Estado (PCE),
Penitenciária Feminina do Paraná (PFP),
Centro de Detenção e Ressocialização do
Paraná (CDRP), Casa de Custódia de
Curitiba (CCC), Penitenciária Estadual de
Piraquara (PEP), Complexo Médico Penal
(CMP), unidades de regime fechado e
Penitenciaria Feminina de Regime Semi-
aberto (PFA), Colônia Penal Agrícola (CPA),
unidades de regime semi-aberto.
CEEBJA Prof. Odair Pasqualini Penitenciaria Estadual de Ponta Grossa
(PEPG) e Centro de Ressocialização de
Ponta Grossa (CRAPG).
CEEBJA Prof. Dr. Manoel Machado Penitenciaria Estadual de Londrina (PEL) e
Centro de Detenção e Ressocialização de
Londrina (CDRL)
CEEBJA Prof. Tomires M. de Carvalho Penitenciária Estadual de Maringá
APED de Guarapuava Penitenciaria Estadual de Guarapuava (PEG)
Centro de Ressocialização de Guarapuava
(CRAG).
APED de Cascavel Penitenciaria Estadual de Cascavel e Centro
de Detenção e Ressocialização de Cascavel
(CDRCAS)
APED de Foz do Iguaçu Penitenciaria Estadual de Foz do Iguaçu
(PEF)
APED de Francisco Beltrão Centro de Detenção e Ressocialização de
Francisco BeltrãoFonte: www.depen.pr.gov.br – elaboração própria.
Com a expansão destas ações e parcerias entre a SEJU e a SEED visando o
processo de escolarização e a contribuição na ressocialização do apenado, o
DEPEN criou a Divisão de Educação (DIED), subordinado a Escola
Penitenciária para coordenar os programas e políticas da área da educação.
Enquanto a Escola Penitenciária cuida da formação e escolarização dos
servidores do Sistema Penitenciário, a Divisão de Educação ficou encarregada
19
de coordenar junto com a SEED, o processo de escolarização dos privados de
liberdade através da CEEBJAs e APEDs.
A parceria entre a SEJU e a SEED, resultou por parte da primeira a infra-
estrutura e da segunda os profissionais da educação e a proposta pedagógica.
Para ingresso nas escolas e APEDs que funcionam nas unidades prisionais, os
profissionais devem ser professores/funcionários concursados na rede estadual
de ensino e participaram do processo seletivo, quando da abertura do edital de
vagas, organizado pela SEJU/SEED com a finalidade de selecionar entre os
inscritos os que atendem os critérios exigidos para as especificidades desta
Escola.
A Proposta Pedagógica aprovada pelo Conselho Estadual de Educação do
Paraná vai além da educação formal apostando no desenvolvimento dos
valores humanos. Os CEEBJAs e as APEDs não conseguem levar o
conhecimento sistematizado a todos os apenados, primeiro em função do
espaço escolar e segundo porque precisam da autorização da equipe de
segurança, mesmo que o na Lei de Execução Penal nº 7210/84, artigo 17,
assegure que “a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a
formação profissional do preso e do internado”.
No Paraná, como em outros estados do Brasil, a cada 18 horas de estudo ou
trabalho, é comutado um dia na pena. O processo de ressocialização dos
internos necessariamente, conta com a articulação da educação e o trabalho
que não se limita meramente à oferta isolada de cursos regulares de formação
escolar ou profissional, mas tem uma dimensão mais ampla que exige a
definição de uma política que contemple uma formação integral do interno,
política essa que possa harmonizar todas as ações desenvolvidas pelo
sistema, na área da educação formal ou informal, reunindo sob uma filosofia
comum e concentrando esforços de todos para alcançar a finalidade da
ressocialização.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, artigo
37, prescreve que “a educação de jovens e adultos será destinada aos que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na
idade própria”. Trata-se de restabelecer um direito constitucional que foi
negado a esta população com uma diversidade cultural, política e social.
20
Uma pesquisa realizada pelo DEPEN em dezembro de 2007, revelou que cerca
de 65% dos apenados não concluíram o Ensino Fundamental, sendo assim as
ações educacionais nos CEEBJAs e APEDs estruturam-se da seguinte forma
em relação a organização: coletiva é oferecido aos educandos um cronograma
que estipula o período, dias e horário das aulas, apresentando a data de início
e término de cada disciplina, garantindo a integralidade do currículo. Destinam-
se aqueles que têm a partir do cronograma estipulado, a possibilidade de
freqüentar com regularidade às aulas. Esse tipo de organização predomina nas
APEDs e individual destina-se aos educandos que não tem possibilidade de
freqüentar com regularidade as aulas, sendo oferecido um cronograma que
estipula o período, dias e horários das aulas, contemplando o ritmo próprio do
educando, respeitando os saberes já apropriados.
Na matrícula, caso o educando opte pela organização individual, pode fazer
sua matrícula a qualquer tempo e no coletivo nas datas estipuladas pelo
cronograma elaborado pela Escola. Em relação ao rendimento escolar, o
educando deverá atingir no mínimo a nota 6,0 (seis) para ser aprovado na
disciplina.
A Matriz Curricular é composta da seguinte forma: Ensino Fundamental – Fase I Língua Portuguesa, Matemática e Estudos da Sociedade e Natureza –
1440h/a; Ensino Fundamental – Fase II Língua Portuguesa e Matemática
272h/a, Língua Estrangeira Moderna, História, Geografia e Ciências 192h/a,
Educação Física e Artes 64 h/a; Ensino Médio Língua Portuguesa e Literatura
e Matemática 208h/a, Língua Estrangeira Moderna, História, Geografia,
Biologia, Física e Química 128h/a, Educação Física, Artes, Sociologia e
Filosofia 64h/a.
A proposta pedagógico-curricular da EJA do Paraná é a mesma tanto nas
unidades prisionais quanto nos centros de ressocialização como para as
demais escolas de educação de jovens e adultos do Estado. Ela possibilita a
flexibilização de horário, organização do tempo escolar, levando em
consideração o perfil do educando e os saberes apropriados ao longo de sua
vida.
Seja fora ou dentro dos muros das prisões a promessa e a possibilidade de
recuperar o “tempo perdido” de modo relativamente rápido tem funcionado para
milhares de jovens e adultos oprimidos no Paraná. Infelizmente o estigma de
21
educação inferior, complementar, aligeirada, sem qualidade tem permeado a
Educação de Jovens e Adultos no Paraná. Nesse contexto, considerar a
educação de jovens e adultos como uma via para solucionar os problemas de
baixa escolaridade de uma parcela da população paranaense e
consequentemente dos problemas sociais parece mascarar as mazelas
presentes no mercado de trabalho e as contradições das relações sociais
capitalistas.
Mais uma vez a educação se apresenta como estratégia para a manutenção
das relações capitalistas e na crise em que o capital está e com a destruição de
parte das forças produtivas, a intensificação da exploração dos trabalhadores,
o aumento do desemprego, bem como a busca de novos mercados, a questão
da escolarização aparece como uma das respostas necessárias à crise do
trabalho e enquanto integração social, reduz as possibilidades de conflitos e
tensões por meio da criação de padrões aceitáveis de convivência social.
REFERÊNCIAS
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Parecer 11/2000. Brasília. 2000.
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Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 1981.
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_______. Deliberação 08/00. Curitiba. 2000.
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