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1 A POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA E O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA MARIA LUISA DA COSTA FOGARI Eixo Temático: Desenvolvimento e Políticas Públicas. Resumo: Esse resumo adveio da atividade avaliativa entregue para a disciplina: “Desarollo humano sostenible y politicas sociales. Evolucion del paradigma del desarollo con enfasis en la concepcion de desarollo humano sostenible”, oferecida pela pós-graduação em Serviço Social UNESP/Franca. O estudo procurará demonstrar que a questão racial é um assunto que precisa ser desbravado nas análises, formulações e execuções das políticas públicas brasileiras. Desse modo, os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Relatório do Desenvolvimento Humano, poderão ser instrumentos para a aplicabilidade das ações. Nessa linha investigativa, selecionamos como objetivo geral: analisar a condição do negro brasileiro, diante das propostas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Considerando a notoriedade da pesquisa, adotamos como metodologia, a revisão de literatura. Ao final, considerou-se adequado qualificar as políticas públicas destinadas à saúde, educação, renda e longevidade aos negros. Palavras-Chave: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), questão racial, negros, políticas públicas. Abstract: This summary was the product of the activity an evaluation delivered to the discipline: “Desarollo humano sostenible y politicas sociales. Evolucion del paradigm del desarollo con enfasis en la concepcion de desarollo humano sostenible”, offered by the post-graduate degree in Social Service-UNESP/Franca. The study will seek to demonstrate that the racial question is an issue that needs to be desbravado in the analyses, formulation and execution of brazilian public policies. In this way, the data of the Institute of Applied Economic Research and the Human Development Report, can be instruments for the applicability of the actions. In this line of research, we selected as a general objective: to analyze the condition of the black brazilian in the face of the proposals of the Human Development Index (HDI). Considering the notoriety of the research, we adopted as a methodology, literature review. At the end, it is considered appropriate to qualify the public policies on health, education, income and longevity to the blacks. Keywords: The Human Development index (HDI), the racial question, blacks, and public policy 1 INTRODUÇÃO Identidade Compositor: Jorge Aragão Elevador é quase um templo Exemplo pra minar teu sono Sai desse compromisso Não vai no de serviço Se o social tem dono, não vai... Quem cede a vez não quer vitória Somos herança da memória Temos a cor da noite Filhos de todo açoite Fato real de nossa história Se o preto de alma branca pra você É o exemplo da dignidade Não nos ajuda, só nos faz sofrer Nem resgata nossa identidade [...]

A POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA E O ÍNDICE DE … · Na empreitada de escrever sobre as condições do povo negro, ... a morte instantânea nas senzalas, ... de segurança e de possibilidades

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A POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA E O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

MARIA LUISA DA COSTA FOGARI

Eixo Temático: Desenvolvimento e Políticas Públicas. Resumo: Esse resumo adveio da atividade avaliativa entregue para a disciplina: “Desarollo humano sostenible y politicas sociales. Evolucion del paradigma del desarollo con enfasis en la concepcion de desarollo humano sostenible”, oferecida pela pós-graduação em Serviço Social UNESP/Franca. O estudo procurará demonstrar que a questão racial é um assunto que precisa ser desbravado nas análises, formulações e execuções das políticas públicas brasileiras. Desse modo, os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Relatório do Desenvolvimento Humano, poderão ser instrumentos para a aplicabilidade das ações. Nessa linha investigativa, selecionamos como objetivo geral: analisar a condição do negro brasileiro, diante das propostas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Considerando a notoriedade da pesquisa, adotamos como metodologia, a revisão de literatura. Ao final, considerou-se adequado qualificar as políticas públicas destinadas à saúde, educação, renda e longevidade aos negros. Palavras-Chave: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), questão racial, negros, políticas públicas. Abstract: This summary was the product of the activity an evaluation delivered to the discipline: “Desarollo humano sostenible y politicas sociales. Evolucion del paradigm del desarollo con enfasis en la concepcion de desarollo humano sostenible”, offered by the post-graduate degree in Social Service-UNESP/Franca. The study will seek to demonstrate that the racial question is an issue that needs to be desbravado in the analyses, formulation and execution of brazilian public policies. In this way, the data of the Institute of Applied Economic Research and the Human Development Report, can be instruments for the applicability of the actions. In this line of research, we selected as a general objective: to analyze the condition of the black brazilian in the face of the proposals of the Human Development Index (HDI). Considering the notoriety of the research, we adopted as a methodology, literature review. At the end, it is considered appropriate to qualify the public policies on health, education, income and longevity to the blacks. Keywords: The Human Development index (HDI), the racial question, blacks, and public policy

1 INTRODUÇÃO Identidade

Compositor: Jorge Aragão Elevador é quase um templo Exemplo pra minar teu sono

Sai desse compromisso Não vai no de serviço

Se o social tem dono, não vai... Quem cede a vez não quer vitória

Somos herança da memória Temos a cor da noite Filhos de todo açoite

Fato real de nossa história Se o preto de alma branca pra você

É o exemplo da dignidade Não nos ajuda, só nos faz sofrer

Nem resgata nossa identidade [...]

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O objetivo deste artigo é analisar por meio de revisão bibliográfica a condição do

negro brasileiro, diante das propostas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O apanhado histórico demonstrou as precariedades dos afro-brasileiros, nos levando a

questionar: O que é IDH? Qual é a relação entre o IDH e comunidade negra?

2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Contexto histórico: a vida dos negros

Entre contos, romances, pesquisas e estudos, a história do negro brasileiro foi escrita,

dando teores e comprovações às pesquisas realizadas no século XXI. Na empreitada de

escrever sobre as condições do povo negro, Castro Alves no livro: “Os Escravos”, contou em

versos e estrofes a vida moribunda dos negros:

O escravo então foi deitar-se, Pois tinha de levantar-se Bem antes do sol nascer, E se tardasse, coitado, Teria de ser surrado, Pois bastava escravo ser [...] (ALVES, 2007, p. 4).

O compêndio “As vítimas-algozes: quadros da escravidão”, de Joaquim Manoel de

Macedo (2010), traz relatos que assombraram a vida dos escravizados. Para Macedo (2010),

no período colonial, o comerciante, dono das tabernas situadas geralmente nas zonas rurais,

agia de má fé ao negociar com escravos frequentadores do local. Desta forma:

[...] sem consciência, paga com abuso duplo e escandaloso a garrafas de aguardente, a rolos de fumo, e a chorados vinténs o café, o açúcar e os cereais que os escravos furtam aos senhores; e cúmplice no furto efetuado pelos escravos, é ladrão por sua vez, roubando a estes nas medidas e no preço dos gêneros (MACEDO, 2010, p. 1).

Causa estranheza quando o escritor analisa a relação entre latifundiários e

escravizados, de forma naturalizada. Quem são os furtadores? Os escravizados? Ou, quem

lhes roubava a vida, o suor de seu trabalho, a saúde, o prazer e a liberdade?

Para o autor, as vítimas são sempre os algozes senhores proprietários das terras e dos

negros. Ora, entre as entranhas das transições sociais, econômicas e culturais, vivenciávamos

no Brasil a busca pela dignidade e identidade civil dos escravizados.

José Lins do Rego, em “Fogo Morto”, explica de forma lúdica o status do senhor de

engenho, que quando procurava um negro fugitivo, em conversa com um sertanejo vizinho as

suas terras, disse-lhe: “- Eu sei que os senhores são homens de trato, de engenho, de muita

lordeza [...]” (REGO, 1997, p.137).

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As laudas do livro contam que ali o senhor constituiu riquezas, inclusive se uniu em

matrimônio a uma prima, que era afeiçoada a casa e agregados. Nesse feito, “[...] Levantou o

engenho, comprou moenda, vasilhame, e dois anos após a sua chegada na Santa Sé, tirara a

primeira safra [...]” (REGO, 1997, p.122). Em nome das safras, das hortas, jardins, criações e,

enfim, de todos os afazeres laborais das zonas rurais e urbanas, a realidade e perversidade da

escravização ousaram rebater nas condições nefastas no cotidiano destes seres humanos.

Voltando aos clássicos, Ribeiro (1995, p. 117) descreve: “Conscritos nos guetos da

escravidão é que os negros brasileiros participam e fazem o Brasil participar da civilização de

seu tempo.”

Vítimas da opressão social, com calosidades na alma; alma ferida, subjetivamente

massacrada após anos escravizados, a morte instantânea nas senzalas, uma vez que o

proprietário: “era homem duro, era homem para amanhecer no roçado, de cacete na mão

como feitor, fazendo a negrada raspar mato, furar terra, plantar cana. Não havia chuva que o

impedisse de sair de casa, não havia sol quente que lhe metesse medo” (REGO, 1997, p. 123).

Foi deste modo, que se acumularam riquezas no Brasil, debaixo do rigor e chicote dos

feitores e/ou capitães do mato, que estavam a serviço da oligarquia e monarquia ibérica. “A

casa-grande como um palácio, por toda parte a fartura de uma riqueza que não se escondia

[...]” (REGO, 1997, p. 129).

E assim, em meados de maio de 1888, com a “abolição”, ao deixarem as fazendas

dotadas de contradições (riqueza x miséria), foram abandonados à própria sorte, sem pão,

telhado, enfim um gracejo ao menos, para iniciar um novo contexto histórico. Então, os ex-

escravizados “da Santa Fé se foram para os outros engenhos. [...] Até as negras da cozinha

ganharam o mundo. E o Santa Fé1 ficou com os partidos no mato, com o negro Deodato sem

gosto para o eito, para a moagem que se aproximava” (REGO, 1997, p. 148).

Na realidade, essa política estratégica e perversa, os coagiu a não ser e, nem ter

vínculo no mercado de trabalho. Era um mundo distante daquele que conheciam, inclusive em

relação à força de trabalho, que era roubada pretensiosamente pela oligarquia. Assim, foram

coagidos e obrigados a enfrentar uma realidade adversa e estranha a eles. Todavia,

protestaram e protestam contra a imposição desse status quo enquanto trabalhadores negros,

instituindo as cotas afirmativas no Brasil contemporâneo que estão “arrancando amarras”

antes impensáveis. Enfim, pode-se dizer que se começa a ser um mundo também de negros. Na sociedade capitalista e como trabalhador assalariado, ele desfruta de uma posição social e pode associar-se livremente para alterar o status quo. A classe não o

1 Este era nome do engenho em que se passa o romance “Fogo Morto” de José Lins do Rego.

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expulsa, integra-o ao sistema de trabalho e estrutura social do modo de produção capitalista. Ele pode ser, assim, duplamente revolucionário como proletário e como negro. Se não conta com razões imperativas para defender a ordem existente, ele tem muitos motivos para negá-la, destruí-la e construir uma ordem nova, na qual raça e classe deixem de ser uma maldição [...] (FERNANDES, 1989, p. 10).

Fernandes (1989, p.56) ainda expõe que o negro, ao adentrar ao mercado de trabalho

pós-abolição, encontra as mesmas condições insalubres e cruéis das fazendas. E continua a

explicar que para deixarem o status de escravizados, ao adotarem a liberdade, são lhes

impressos vários adjetivos pejorativos, carregados de estigmas.

Para tornar possíveis e efetivos os direitos sociais dos negros brasileiros e para que a

raça e classe deixem de ser uma maldição, como dito por Fernandes (1989), em outubro de

2010, aprovou-se o Estatuto da Igualdade Racial, base legislativa que preconiza a

formalização de políticas públicas em vários âmbitos da vida cotidiana. Eles são:

Uma parcela da população que representa, atualmente, 50,6% da sociedade. E que se encontra em situação desprivilegiada, tanto no mercado de trabalho, quanto no que diz respeito à escolarização, às condições de moradia, à qualidade de vida e saúde, de segurança e de possibilidades de ascensão social (BRASIL, 2010).

Todavia, no século XXI, ainda se encontram segregados nos cativeiros

contemporâneos (nas zonas urbanas, rurais e quilombos), a mercê do Estado, que proporciona

políticas sociais que precisam ser repensadas.

Após a apresentação das condições dos escravizados nas senzalas, na condição de

cativos, segue-se com esse estudo buscando dados mais profícuos sobre os negros na

realidade social brasileira. Então, passamos para a compreensão do IDH.

2.2 O conceito de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

A abordagem do conceito e dos principais desafios para alcançarmos o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), principalmente nos países periféricos, a exemplo do Brasil,

é o que norteará este tópico. Esta análise embasará nosso foco de estudo – o IDH e a questão

racial brasileira.

O IDH é visualizado como um “instrumento” para avaliar as políticas públicas

destinadas à população, principalmente nas três dimensões: renda, saúde e educação (PNUD,

2012). Ele é obra de Mahbub ul Haq, que teve a ajuda do indiano Amartya Sen, ganhador do

premio Nobel de Economia de 1998. Essa medição:

[...] não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da ‘felicidade’ das pessoas, nem indica ‘o melhor lugar no mundo para se viver’.

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Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH [...] (PNUD, 2012).

Em relação ao IDH, o Brasil caiu uma posição em 2014, da 74ª para a 75ª, entre 188

países, porém recebendo uma nota um pouco maior: 0,755 (nota anterior era 0,752)2

(SCHREIBER, 2015). Segundo Balzon, secretária do Relatório do Desenvolvimento Humano

no Brasil – RDH, a crise econômica ainda não interferiu no IDH porque as mudanças

decorrentes das recessões podem ser sentidas em longo prazo, porque mudanças na educação

e na expectativa de vida não afetam rapidamente o índice, porém a renda o afeta com maior

rapidez. Com crise prolongada, “a média de anos de escolaridade pode cair, por exemplo, se

mais jovens pararem de estudar cedo para começar a trabalhar e complementar a renda da

família” (SCHREIBER, 2015, online), o que acabará afetando o IDH.

Para explicar a representatividade do IDH, Griffin (2001) relatou que após anos

considerando que o aumento do PIB traria bem estar à população mundial, um novo

paradigma de desenvolvimento humano se principia nos anos oitenta, do século XX. Segundo

ele, duas razões reforçaram esta teoria. Para a primeira, o processo de desenvolvimento

aumentaria a qualidade de vida dos indivíduos, prevenindo doenças, acesso a conhecimentos

etc. Concluiu que o desenvolvimento humano não está relacionado à renda nacional, que não

deverá ser utilizada como indicador de nível de desenvolvimento. O segundo ponto destacou

que para obtermos o desenvolvimento deveremos aumentar a acumulação de capital, de bens

industriais e equipe. Por outro lado, apoiado em Schultz, deve-se valorizar a acumulação de

capital humano, pois a educação: [...] é predominantemente uma atividade de investimento realizado para o fim de aquisição de capacitações que oferece satisfações futuras ou que incrementa rendimentos futuros das pessoas como um agente produtivo. [...] Proponho, por isso mesmo, tratar a educação como um investimento e tratar suas consequências como uma forma de capital. Dado que a educação se torna parte da pessoa que a recebe (SCHULTZ, 1973 p. 109 apud, LOUREIRO; LOPES, 2015, p. 7-8).

O problema dessa questão é saber como a educação está e será ofertada nos países

periféricos. A favor ou contra os ideais mercadológicos e eurocêntricos dos países centrais,

através do Fundo Monetário Nacional, Banco Mundial etc.?

Apoiada em Ruckstadter (2005), observa-se que a educação, na perspectiva do Banco

Mundial, será munida de intenções econômicas apenas, pois o capital humano, exposto por

Schultz na década de 1960, originou-se como uma derivação do neoliberalismo. O Relatório

do Banco Mundial mostra a influência da teoria do capital humano, num de seus parágrafos,

2 Destaca-se que quanto mais perto de 1, melhor a medida do IDH.

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quando propõe: A melhoria das aptidões e da capacidade do trabalhador é essencial para o êxito econômico numa economia global cada vez mais integrada e competitiva. Os investimentos em capital humano podem melhorar o padrão de vida familiar, expandindo as oportunidades, aumentando a produtividade, atraindo investimentos de capital e elevando a capacidade de auferir renda. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 45 apud RUCKSTADTER, 2005).

Ora, com o ingresso da globalização e do neoliberalismo na América Latina, os

moradores dos países periféricos através do Consenso de Washington são agrilhoados pela

política de ajustes financeiros, que trouxe corte de gastos públicos e oferecimento de políticas

sociais pontuais. Estas ações geraram uma massa humana empobrecida, aquém dos serviços

sociais elementares, frente às crescentes privatizações.

La UNICEF reaccionó contra la ortodoxia afirmando que era no sólo posible sino deseable diseñar programas de ajuste que protegieran a los pobres del grave deterioro de las rentas y preservara de los recortes del gasto público la salud básica, la alimentación, la protección de La infancia y los servicios educativos. Este enfoque, llamado ‘ajuste con rostro humano’, constituía un gran desafío frente a las corrientes dominantes e hizo más que cualquier publicación anterior por ‘situar primero a las personas’ (GRIFFIN, 2001, p. 15).

Para demonstrar a realidade dos países, desde 1990 o PNUD publica anualmente o

“Relatório de Desenvolvimento Humano” que retrata, aos responsáveis pelos programas, que

as desigualdades poderiam ser revertidas com políticas operacionais (GRIFFIN, 2001).

Expõe-se que, o IDH considera quatro pontos importantes: expectativa de vida; taxa de

alfabetização de adultos; taxa de alfabetização (ensino primário); renda, educação e poder de

consumo; este último visualizado como um item que empodera, que concede a capacidade das

ações humanas (GRIFFIN, 2001).

Conclui-se, então, que o PIB não determina o desenvolvimento humano de um país,

porém está atrelado à distribuição de renda. Ou seja, ter renda significa acessar os bens

culturais, como educação, que transforma politicamente os cidadãos, através da participação

na construção, formulação e gerenciamento das políticas públicas.

Para alcanzar la equidad, la política social debe influir en los determinantes estructurales de la distribución del ingreso: educación, empleo, distribución de la riqueza y dependencia demográfica, así como sobre sus dimensiones étnicas y de género. Estos factores son la clave de la transmisión intergeneracional de la desigualdad y la pobreza. Por lo tanto, romper estos encadenamientos intergeneracionales es la clave de una estrategia social exitosa. Esto debe reflejarse particularmente en políticas integradas de apoyo a los más pobres (OCAMPO, 2001, p. 15).

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Após as explanações, entende-se que as determinantes para o desenvolvimento

humano relacionam-se à importância da coletividade, democracia e participação expressiva da

população em vulnerabilidade, seja econômica, cultural, social, de gênero, religião ou racial.

É exitoso pensarmos numa nação que leve em consideração sua formação histórica-social, a

heterogeneidade de seu povo, destacando principalmente as tradições culturais.

Yáñez (2001, p. 2) escreveu que uma década de informações do desenvolvimento

humano, do PNUD mostra que: “los países de mejor desempeño en el IDH son también los

que han tenido un mayor progreso económico y social, y también que los países más pobres

son a su vez los de más bajo desarrollo humano”.

Para Yañes (2001), o desenvolvimento humano permite ao homem por meio do

trabalho ter maior produção de bens e serviços, o que resulta numa vida menos precária, com

saúde, educação e qualidade de vida. Para ele, um dos problemas dos países em

desenvolvimento é a igualdade de oportunidades, pois os filhos de famílias pobres não

possuem as mesmas oportunidades e o capital social dos abastados.

La política social debe atender a esa desventaja inicial para eliminarla a través de intervenciones que discriminen positivamente a los pobres y procuren la movilidad ascendente. Pero la política económica también debe ser sensible al respecto, ya que al incrementar la productividad del trabajo de los pobres desatan el círculo virtuoso del desarrollo: al elevar la empleabilidad de los más pobres, las empresas disponen de una mano de obra más calificada con la que gana eficacia y productividad; si los mercados funcionan correctamente, las rentas del trabajo deberían beneficiarse de las mejoras de productividad; más rentas debería también provocar una demanda mayor que incentive a una mayor inversión productiva que responda a la nueva demanda, impulsando el crecimiento económico (YAÑES, 2001, p. 20).

Concorda-se que as políticas sociais têm papel fundamental na construção de uma

sociedade mais justa e igualitária que busque a liberdade e autonomia, principalmente aos

mais pobres, ou seja, para aqueles que não dispõem de oportunidades, a exemplo da

população negra brasileira, que ainda aguarda o incentivo, a entrada no mercado de trabalho,

enquanto profissional capacitado, capaz de produzir/consumir e contribuir para o crescimento

econômico do país. El peligro mayor es que llegados a este punto, aumenten los delitos con violencia o el narcotráfico, y con ello se entre en una situación de deterioro social irreversible, y los costos de la intervención social tenga que ser tan elevada que sea económicamente inaccesible para los países económicamente más atrasados (YANES, 2001, p. 23).

Na intenção de investigar a importância da aferição do IDH para o quesito racial,

apresentaremos o último item deste estudo, onde concluiremos nossas abordagens.

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2.3 O IDH e a questão racial brasileira: embates e dilemas

Em 2000, 191 países acordaram em exterminar com a extrema pobreza, lançando

metas, com oito objetivos no milênio: 1. redução da Pobreza; 2. atingir o ensino básico

universal; 3. igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4. reduzir a mortalidade na

infância; 5. melhorar a saúde materna; 6. combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; 7.

garantir a sustentabilidade ambiental e 8. estabelecer uma pareceria mundial para o

desenvolvimento (PNUD, 2010).

A partir dos dados acima, é notório destacar que esses objetivos não poderão ser

considerados no Brasil, país que tem como pano de fundo a questão racial. Contudo, este item

não está especificado entre os oito objetivos apontados.

Ora, falamos dos afro-brasileiros, sujeitos desse estudo, que: “Segundo o Censo 2010,

43,1% da população brasileira declararam pardos e o maior percentual desse contingente

estava na Região Norte (66,9%), sendo que todas as regiões revelaram percentuais acima dos

35%, exceto o Sul, com 16,5%” (BRASIL, 2013). A seguir, serão mostrados dados sobre a

inserção dos negros na educação, saúde e assistência social.

Assim, em 2009, as pessoas negras de quinze anos ou mais contemplavam 6,7 % de

estudos e as brancas 8,4% (IPEA, 2011). Na educação infantil, “em 2009, 20,2% das crianças

brancas entre 0 e 3 anos estavam matriculadas em creches, contra apenas 16,7% de crianças

negras” (IPEA, 2011, p. 21). Em idade incompatível no ensino médio, “a taxa de distorção

idade série atinge 41,0% dos jovens negros, contra 26,9% dos jovens brancos. No entanto,

atinge 38,2% das jovens negras, contra 24,1% das mulheres brancas” (IPEÁ, 2011, p.21).

Segundo (MARTINS, 2014) a ministra do Desenvolvimento Social: “[...] divulgou

um trabalho de decomposição dos beneficiários do Brasil Sem Miséria, que inclui o

Bolsa Família, o Brasil Carinhoso e o Pronatec, entre outros. Cerca de três quartos dos

beneficiados, mostra o levantamento, são negros”. E, assim, seu texto comprova

pontuando nesses dados que a maioria dos usuários atendidos desses programas

sociais assistencialistas são descendentes dos escravizados.

Em se tratando da área da saúde, no ano de 2008, quanto ao número de atendimento no

Sistema Único de Saúde (SUS), “a população negra representa 67%, e a branca, 47,2% do

público total atendido” (IPEA, 2011, p. 23). E, quanto ao plano privado 34,9% eram brancos e

17,2% negros (IPEA, 2011, p. 23).

Os dados acima mostram que o acesso às áreas da saúde, assistência social e educação

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é desigual, comprovando que a questão racial deverá ser considerada, analisada, pesquisada e

aplicada na gestão pública nacional. “Assim, é necessária uma ação política do Estado e da

romper com os padrões de desigualdade” (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

DESENVOLVIMENTO, 2005, p. 117).

Após a demonstração em números das mazelas sociais, econômicas e sociais que se

fazem presentes entre os negros no Brasil, entende-se que, em termos classificatórios, o PIB

deveria equiparar-se ao IDH, que visa analisar o desenvolvimento humano, porém se encontra

a passos lentos no nosso país. Precisa ter-se a articulação entre: renda, educação e saúde para

a superação das desigualdades e melhoria do IDH, levando-se em consideração as condições

do grupo social em seu meio. Enfim, vê-se que é uma questão de acesso, de oportunidades

concretas, via políticas públicas.

Apreendemos que existem espaços democráticos de discussões e o Estatuto da

Igualdade Racial (BRASIL, 2010) tem como objetivo garantir as leis, documentos, decretos

aos afro-brasileiros. Porém, os direitos só desabrocharão a partir da união entre os

movimentos negros e representantes do poder público.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desse estudo, consideramos importante a construção coletiva, da melhoria e

igualdade de oportunidades aos afro-brasileiros, que visem à universalidade dos direitos

sociais, das políticas públicas através de ações afirmativas.

Será relevante introduzir-se estes temas nos debates, fóruns públicos/privados, visando

fortalecer a participação popular nas discussões sobre a questão racial.

Contudo, o IDH ou desenvolvimento humano no Brasil deverá levar em consideração

suas conquistas e peculiaridades/pluralidades, primando pela qualidade das políticas públicas,

em detrimento as ações quantitativas no quesito racial, ampliando a perspectiva para a saúde,

educação, renda e longevidade.

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