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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A PRESENÇA DAS MULHERES NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: UM PANORAMA DE DESIGUALDADE Anna Carolina Venturini 1 Resumo: Este estudo pretende contribuir para a discussão sobre a participação das mulheres nas universidades brasileiras. A pesquisa utiliza dados quantitativos para traçar um panorama da participação feminina no ensino superior brasileiro e descrever a distribuição das mulheres nas diferentes áreas de conhecimento e níveis hierárquicos. A metodologia adotada foi a análise descritiva dos seguintes dados: Censo da Educação Superior divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), bancos de dados com informações dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Censos Demográficos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e informações constantes no site do CNPq e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os dados demonstram que, apesar do rápido processo de inserção das mulheres no ensino superior, tal avanço continua lento em algumas áreas e níveis hierárquicos. As mulheres representam a maioria dos concluintes de cursos de graduação e de pós-graduação stricto senso (mestrado e doutorado), mas a maior parte dos cargos de docência continuam sendo ocupados por homens. A inserção das mulheres em posições de prestígio e alto poder decisório e a concessão de bolsas de produtividade em pesquisa também permanece desproporcional. Os indicadores também mostram que a inclusão na educação superior também não abrangeu de forma proporcional todos os grupos que compõe a população brasileira, especialmente os pretos e pardos. Palavras-chave: Ensino Superior. Universidade. Pesquisa Científica. Mulheres. Gênero. Introdução Por muitos anos a educação superior foi considerada um privilégio masculino e a presença das mulheres nas universidades brasileiras era bastante reduzida. Tal situação apenas começa a se alterar na década de 1970, com o início de questionamentos a respeito da posição social e econômica da mulher e o maior acesso do contingente feminino às universidades. O propósito do presente artigo é traçar um panorama da participação feminina no ensino superior brasileiro, de modo a descrever a distribuição das mulheres nas diferentes áreas de conhecimento e níveis hierárquicos. O estudo pretende contribuir para a discussão sobre a participação das mulheres nas universidades brasileiras, em razão da importância do acesso às universidades no alcance de maior equidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho e na organização da sociedade em geral. Além dos dados de gênero, o estudo também contém um recorte 1 Doutoranda em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora visitante na Universidade de Harvard (EUA - 2017). E-mail: [email protected].

A PRESENÇA DAS MULHERES NAS UNIVERSIDADES …...UM PANORAMA DE DESIGUALDADE Anna Carolina Venturini1 ... dos homens, como na área de Ciências Sociais, Negócios e Direito, em que

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A PRESENÇA DAS MULHERES NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS:

UM PANORAMA DE DESIGUALDADE

Anna Carolina Venturini1

Resumo: Este estudo pretende contribuir para a discussão sobre a participação das mulheres nas

universidades brasileiras. A pesquisa utiliza dados quantitativos para traçar um panorama da

participação feminina no ensino superior brasileiro e descrever a distribuição das mulheres nas

diferentes áreas de conhecimento e níveis hierárquicos. A metodologia adotada foi a análise

descritiva dos seguintes dados: Censo da Educação Superior divulgado pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), bancos de dados com informações dos

currículos cadastrados na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), Censos Demográficos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e informações constantes no site do CNPq e da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os dados demonstram que, apesar do

rápido processo de inserção das mulheres no ensino superior, tal avanço continua lento em algumas

áreas e níveis hierárquicos. As mulheres representam a maioria dos concluintes de cursos de

graduação e de pós-graduação stricto senso (mestrado e doutorado), mas a maior parte dos cargos

de docência continuam sendo ocupados por homens. A inserção das mulheres em posições de

prestígio e alto poder decisório e a concessão de bolsas de produtividade em pesquisa também

permanece desproporcional. Os indicadores também mostram que a inclusão na educação superior

também não abrangeu de forma proporcional todos os grupos que compõe a população brasileira,

especialmente os pretos e pardos.

Palavras-chave: Ensino Superior. Universidade. Pesquisa Científica. Mulheres. Gênero.

Introdução

Por muitos anos a educação superior foi considerada um privilégio masculino e a presença

das mulheres nas universidades brasileiras era bastante reduzida. Tal situação apenas começa a se

alterar na década de 1970, com o início de questionamentos a respeito da posição social e

econômica da mulher e o maior acesso do contingente feminino às universidades.

O propósito do presente artigo é traçar um panorama da participação feminina no ensino

superior brasileiro, de modo a descrever a distribuição das mulheres nas diferentes áreas de

conhecimento e níveis hierárquicos. O estudo pretende contribuir para a discussão sobre a

participação das mulheres nas universidades brasileiras, em razão da importância do acesso às

universidades no alcance de maior equidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho e na

organização da sociedade em geral. Além dos dados de gênero, o estudo também contém um recorte

1 Doutoranda em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(UERJ). Pesquisadora visitante na Universidade de Harvard (EUA - 2017). E-mail: [email protected].

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racial, visto que a relação entre gênero, raça e escolaridade é relevante para a compreensão das

desigualdades históricas existentes no acesso ao ensino superior brasileiro.

A metodologia adotada foi a análise descritiva dos seguintes dados: Censo da Educação

Superior divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP), bancos de dados com informações dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Censos Demográficos

divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e informações constantes no

site do CNPq e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Primeiramente foram analisados os dados relativos ao ingresso das mulheres em cursos de

graduação. Em seguida, analisamos indicadores sobre a conclusão de cursos de pós-graduação pelo

contingente feminino, bem como sua distribuição nas grandes áreas do conhecimento, na concessão

de bolsas e na docência. Por fim, o estudo analisa a participação das mulheres nos principais órgãos

consultivos da educação superior no Brasil. Não se pretende esgotar o debate a respeito da inclusão

das mulheres na academia, mas sim traçar um panorama da participação das mulheres em diversos

níveis e esferas do ensino superior brasileiro através da consolidação de dados que possam

contribuir para discussões e análises futuras.

Acesso à universidade e aos cursos de graduação

Durante muito tempo a população brasileira foi marcada por uma desigualdade histórica no

processo de escolarização, no qual o contingente masculino era mais escolarizado do que o

feminino. Apenas na década de 1970 a situação de inferioridade social e econômica da mulher passa

a ser questionada e o acesso às universidades passa a exercer um papel importante para que seja

alcançada maior equidade entre homens e mulheres na sociedade brasileira (Barroso & Mello, 1975,

p. 47). Dados do Censo Demográfico do IBGE indicam que em 1970 as mulheres representavam

26,6% da população com nível universitário, proporção esta que subiu para 45,5% em 1980

(Guedes, 2008, p. 124). Barroso e Mello (1975) sustentam que, apesar de em 1970 as mulheres

representarem a maioria dos formandos do ensino médio, a participação delas era predominante no

curso normal, o que reduzia suas chances de ingresso nas universidades em razão dos vestibulares

exigirem um currículo de orientação mais acadêmica como o curso científico. Tal cenário fazia com

que as mulheres portadoras do diploma de professora primária tivessem suas opções de cursos mais

limitadas e focassem em cursos nas áreas de ciências humanas ou letras, enquanto os homens – em

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sua maioria concluintes do ensino científico – possuíam mais chances de ingressar em cursos

socialmente mais valorizados, como os de ciências biológicas e exatas (Barroso & Mello, 1975, p.

48-50).

A análise do processo de escolarização feminina e sua inserção em cursos superiores é

fundamental, pois o acesso às universidades representa a possibilidade de ascensão social e

concorrência por melhores postos de trabalho, bem como a ocupação de espaços tradicionalmente

ocupados por homens (Guedes, 2008, p. 121). Não se pode esquecer que o acesso à educação

formal é uma das principais vias de mobilidade social, sendo essencial a obtenção de diplomas de

ensino superior para a qualificação e ascensão social (Marteleto, 2012; Costa Ribeiro, 2006, p. 855).

Assim, a educação exerce um papel fundamental na distribuição de oportunidades aos indivíduos,

influenciando diretamente o processo de mobilidade.

É possível sustentar que as últimas décadas foram marcadas por um processo de

democratização do ensino superior para ambos os sexos, especialmente para as mulheres, uma vez

que hoje há uma maior proporção de mulheres que completam o ensino fundamental, médio e,

também, o ensino superior. Dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo INEP indicam

que em 2015 as mulheres representaram 59,88% dos estudantes que concluíram cursos de

graduação presenciais no Brasil. Conforme demonstrado no gráfico abaixo, o percentual de

mulheres que concluíram cursos de graduação presenciais manteve-se próximo a 60% no período de

1999 a 2015, o que comprova a tese da consolidação da inserção feminina nas instituições de ensino

superior.

Gráfico 1: Série temporal de concluintes em cursos de graduação presenciais segundo o sexo.

Fonte: Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. INEP.

59,88%59,25%59,62%58,77%60,57%62,91%61,30%

40,12%40,75%40,38%41,23%39,43%37,09%38,70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

2.015 2.014 2.013 2.012 2.011 2.010 2.009 2.008 2.007 2.006 2.005 2.004 2.003 2.002 2.001 2.000 1.999

Feminino Masculino

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No entanto, é importante ressaltar que a aparente igualdade ou superioridade numérica das

mulheres nos cursos de graduação não representa uma real equidade entre os gêneros, visto que

apesar da expansão feminina em diversas carreiras, há uma tendência de maior peso feminino nas

carreiras de menor prestígio (Guedes, 2008, p. 125). Tal tendência se comprova com os dados

constantes das Estatísticas de Gênero (IBGE, 2014):

Apesar da superioridade escolar feminina, pois, conforme exposto, a população adulta

feminina tem maior nível de instrução que a masculina, os resultados no mercado de

trabalho não favorecem as mulheres. A Tabela 17 mostra que as áreas gerais de formação

nas quais as mulheres de 25 anos ou mais de idade estão em maior proporção, isto é,

Educação (83,0%) e Humanidades e Artes (74,2%), são justamente aquelas que registram

os menores rendimentos médios mensais entre as pessoas ocupadas (R$ 1 810,50 e R$ 2

223,90, respectivamente), independentemente do setor onde essas pessoas trabalhem. Além

disso, o rendimento feminino não se iguala ao masculino em nenhuma das áreas gerais,

conforme evidencia a razão entre o rendimento das mulheres e o rendimento dos homens.

Esse diferencial se mantém mesmo quando a proporção de mulheres se torna equivalente à

dos homens, como na área de Ciências Sociais, Negócios e Direito, em que as mulheres

recebiam apenas 66,3% do rendimento dos homens. Esse valor médio do rendimento abarca

tanto as escolhas por profissões e carreiras diferentes entre homens e mulheres dentro dessa

área geral, por exemplo, a de Ciências Sociais, Negócios e Direito, quanto uma possível

discriminação por gênero no mercado de trabalho, entre outros fatores. (IBGE, 2014, p.

107)

Além das questões de gênero, o ensino superior brasileiro também é historicamente marcado

por uma grande desigualdade racial. Até a criação dos programas de reservas de vagas, os alunos

negros2 (pretos e pardos), indígenas e provenientes de escolas públicas eram excluídos das

universidades públicas, visto que as vagas, especialmente as dos cursos de maior prestígio e mais

disputados, eram preenchidas quase em sua totalidade por estudantes brancos e oriundos de escolas

particulares (Vieira, 2006, p. 376).

De acordo com levantamento das políticas de ação afirmativa elaborado pelo GEMAA

(Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa), houve um incremento expressivo na

presença de pretos e pardos nas universidades federais. Em 2003 os pretos representavam 5,9% dos

alunos e pardos 28,3%, enquanto em 2014 esses números aumentaram para 9,8% e 37,8%,

respectivamente, de forma que no agregado fomos de 34,20% de pretos e pardos no total de alunos

para 47,57% (GEMAA, 2015, p.3-4).

2 Para fins do presente trabalho, a categoria” negro” irá se referir à junção de pretos e pardos.

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52,23%47,77%

Proporção de mestres e doutores por sexo

Sexo Feminino

Sexo Masculino

Dados divulgados pela Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

(SEPPIR)3 indicam que as ações afirmativas tiveram um efeito positivo na inclusão de estudantes

negros no ensino superior. Entre 2013 e 2015, a política de cotas criada pela Lei Federal n°

12.711/2012 garantiu o acesso de aproximadamente 150 mil estudantes negros em instituições de

ensino superior no país. Ademais, a nota divulgada pela Secretaria também indica que dentre os

jovens de 18 e 24 anos que cursavam ou haviam concluído o ensino superior, os negros

representavam 1,8% e os pardos, 2,2% em 1997, percentuais estes que, no ano de 2013, subiram

para 8,8% e 11%, respectivamente. Os dados apresentados atentam para a persistência das

desigualdades entre brancos e negros no acesso aos cursos de graduação, mas demonstram que a

adoção de ações afirmativas representou um passo importante no sentido de redução dessas

desigualdades.

Conclusão de cursos de pós-graduação e acesso à docência

No que se refere à proporção de mulheres que concluíram cursos de pós-graduação stricto

senso (mestrado e doutorado), dados estatísticos divulgados pelo CNPq indicam que as mulheres

representam 52,23% dos mestres e doutores brasileiros atuantes nas áreas de ensino e pesquisa e

também em funções administrativas, técnicas e outras. Se analisarmos a distribuição de mestres e

doutores de acordo com a atividade, nota-se que há maior participação feminina em funções

administrativas e técnicas (53,67%) do que em atividades de ensino e pesquisa (49,71%). Constata-

se um equilíbrio na distribuição por sexo nas atividades de ensino e pesquisa, visto que os

percentuais de homens e mulheres são próximos.

Gráfico 2 e 3: Proporção de mestres e doutores por sexo e por atividade

3 http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/noticias/2016/03-marco/em-3-anos-150-mil-negros-ingressaram-em-universidades-

por-meio-de-cotas

49,71%

53,67%

50,29%

46,33%

Ensino e Pesquisa

Admistrativa Técnico eoutras

Distribuição por sexo segundo atividade

Sexo Masculino Sexo Feminino

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Fonte: Elaboração da autora a partir dos Dados Estatísticos – Distribuição por Sexo, Faixa Etária e Grande Área de Atuação

disponíveis no Painel Lattes – CNPq.

Ao separar os dados relativos a mestres e doutores, constata-se que há maior proporção de

mulheres portadoras do título de mestre (54,54%) do que do título de doutora (48,47%). A opção

das mulheres por continuar estudando e serem a maioria em cursos de mestrado e doutorado pode

estar relacionada a existência de menos alternativas no mercado de trabalho, enquanto o abandono

do curso universitário e da pós-graduação pelos homens pode ter relação com à necessidade de

trabalhar e à representação tradicional do homem como provedor da família (Guedes, 2008, p. 127).

Segundo a análise Estatísticas de Gênero divulgada pelo IBGE em 2014, o atraso escolar atinge

mais fortemente os homens em diversos níveis e pode estar relacionado aos diferentes papéis de

gênero que antecipam sua entrada no mercado de trabalho. O estudo indica que em 2010, a

proporção de jovens de 15 a 17 anos de idade que só trabalhavam foi quase o dobro entre os

homens, se comparada à das mulheres (7,6% e 4,0%, respectivamente).

Gráfico 4: Proporção de mestres e doutores segundo sexo

Fonte: Elaboração da autora a partir dos Dados Estatísticos disponíveis no Painel Lattes – CNPq.

No entanto, é importante ressaltar que apesar das mulheres representarem a maioria dos

portadores de títulos de mestrado e doutorado, tal superioridade não se reflete em outros aspectos da

pesquisa científica no Brasil. Uma análise da distribuição de bolsas de pesquisa do CNPq no ano de

2015 (Tabela 1) demonstra que as mulheres são maioria em quatro tipo de bolsas no país (iniciação

científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado). Nota-se, portanto, que há uma prevalência de

bolsistas mulheres nas modalidades iniciantes da pesquisa acadêmica brasileira.

Tabela 1: Número de bolsas-ano de acordo com a modalidade e sexo do bolsista, 2015.

Bolsas-ano das principais modalidades segundo sexo do bolsista - 2015

Bolsas no país

Modalidades Mulheres Homens

Quantitativo % Quantitativo %

54,54%

48,47%

45,46%

51,53%

Mestres

DoutoresSexo Masculino

Sexo Feminino

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Iniciação Científica 16.338 59% 11.380 41%

Mestrado 4.807 52% 4.353 48%

Doutorado 4.143 51% 4.020 49%

Pós-Doutorado 959 56% 749 44%

Produtividade em Pesquisa 5.013 36% 9.092 64%

Estimulo à inovação para Competitividade

8.438 49% 8.681 51%

Outras 10.741 45% 13.054 55%

Total 50.438 50,44% 51.330 49,56%

Fonte: CNPq/AEI. Elaboração da autora.

Entretanto, na modalidade de “produtividade em pesquisa”, a qual é considerada a

modalidade mais importante e valorizada de produção científica, os homens ainda são a maioria

(64%). A bolsa de produtividade em pesquisa é destinada aos pesquisadores que desfrutam de um

alto reconhecimento entre seus pares e possui uma dinâmica distinta das demais modalidades de

bolsa oferecidos no Brasil (Guedes et. al, 2015), sendo estruturada em três categorias: sênior,

pesquisador 1 (subdividida em níveis) e pesquisador 2. A categoria sênior se situa no topo da

hierarquia e é acessível apenas aos pesquisadores que comprovarem a prévia posse da bolsa na

categoria 1 (níveis A ou B) por, pelo menos, 15 anos (consecutivos ou não).

Estudo sobre os bolsistas de produtividade em pesquisa (PQ) do CNPq indica que há “uma

desproporção por sexo entre os agraciados com a PQ, incongruente com o número e o grau de

qualificação acadêmica alcançado pelas mulheres nas últimas décadas” (Guedes et. al, 2015, p.

370). Os autores do estudo destacam que tal desproporção possui relação com o fato das áreas mais

contempladas pela PQ serem as de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, áreas estas marcadas

pela baixa representatividade feminina, enquanto a grande área de Linguística, Letras e Artes –

tradicionalmente feminina – possui o menor número de PQs.

Ademais, Moema Guedes (2014) ressalta que a participação feminina nas bolsas de

produtividade diminui conforme sobe o nível hierárquico:

Enquanto entre os pesquisadores avaliados na categoria 2F (mais baixa) as mulheres

representam 29,5%, nas categorias 1 A quanto e Sênior (mais altas) o peso feminino cai

para apenas 23,7% e 24,4% respectivamente. [...]

Esses dados mostram que também no campo científico há uma clara dificuldade de

progressão feminina se tomamos como referência a dinâmica masculina. Evidentemente

estas distribuições mudam significativamente dentro das grandes áreas e ao longo das séries

históricas. Chama atenção, no entanto, a manutenção da baixa proporção de mulheres no

segmento de bolsistas de produtividade no período recente. O quadro avançou pouco nos

últimos dez anos. (GUEDES, 2014, p. 6-7)

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Também chamam atenção os dados relativos à composição racial dos cursos de pós-

graduação no Brasil. Apesar da ausência de dados e estudos aprofundados a respeito do acesso dos

diversos a tais cursos, dados iniciais retirados dos Censos Demográficos demonstram que este nível

educacional é composto predominantemente por brancos, bem como possui intensas desigualdades

regionais, étnico-raciais e econômicas (Rosemberg, 2013).

O argumento da exclusão dos negros do ambiente acadêmico também é corroborado por

dados do Censo Demográfico do IBGE de 2000 e 2010. De acordo com relatório de pesquisa da

Fundação Carlos Chagas elaborado por Amélia Artes, os negros (pretos e pardos) representam

apenas 15,2% dos doutores titulados e 19,3% dos mestres, o que corresponde a 18,1% do total de

titulados (Artes, 2015, p. 45). Ao comparar os dados do Censo de 2000 e 2010, Amélia Artes

demonstrou que o percentual de negros titulados na pós-graduação aumentou de 11% em 2000 para

18,1% em 2010 (Artes, 2015, p. 43), percentuais estes que estão longe de espelhar a composição

racial da população brasileira.

Partindo de uma análise do banco de dados divulgado pelo CNPq com informações sobre

gênero e raça declarado pelos doutores em seus currículos na Plataforma Lattes, constata-se que os

detentores de títulos de pós-graduação stricto senso no Brasil são predominantemente brancos.

Dentre todos os doutores registrados na plataforma Lattes e que declararam sua raça e cor – o que

corresponde a 78,77% dos doutores - os titulados declarados brancos representam 79,01%,

enquanto há apenas 3,05% de pretos, 15,29% de pardos e 0,42% de indígenas.

Os dados demonstram que a composição racial dos doutores não está sequer próxima da

composição racial média do país segundo o Censo de 2010, principalmente no que se refere aos

pretos e pardos. De acordo com dados do Censo de 2010 do IBGE, 47,73% dos habitantes do país

se declararam brancos, 43,13% pardos, 7,61% pretos, 1,09% amarelos e 0,43% indígenas. Nota-se,

assim, que os percentuais de pretos e pardos são muito inferiores à média nacional, menos da

metade da proporção, enquanto os percentuais de brancos e amarelos são superiores à média e há

equilíbrio no percentual de indígenas. Na distribuição por raça/cor e sexo dos doutores, a sub-

representação de doutoras pretas, pardas e indígenas é ainda menor: em torno de três vezes menor à

média nacional para pretos e pardos.

Gráficos 5 e 6: Proporção de doutores segundo cor/raça e sexo4

4 As proporções indicadas no gráfico se referem aos doutores registrados na plataforma Lattes e que declararam sua raça e cor – o

que corresponde a 78,77% dos doutores.

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Fonte: Elaboração da autora a partir de banco de dados dos currículos Lattes disponibilizado pelo CNPq.

A baixa participação de pretos e pardos em cursos de pós-graduação está relacionada a um

processo histórico de exclusão desses grupos das universidades brasileiras, não apenas na pós-

graduação, como também cursos de graduação.

Distribuição de Mestres e Doutores nas Grandes Áreas

A CAPES organiza as áreas de conhecimento em níveis hierárquicos, os quais abrangem

nove grandes áreas: Ciências Exatas e da Terra5, Ciências Biológicas6, Engenharias7, Ciências da

Saúde8, Ciências Agrárias9, Ciências Sociais Aplicadas10, Ciências Humanas11, Linguística, Letras e

Artes e a área Multidisciplinar12.

Os dados da base de dados da Plataforma Lattes sobre a distribuição de mestres e doutores

de acordo com a grande área de atuação13 mostram que há maior concentração de mulheres em

5 A grande área de Ciências Exatas e da Terra inclui especialidades como: Matemática, Probabilidade e Estatística, Ciência da

Computação, Astronomia, Física, Química e Geociências. 6 A grande área de Ciências Biológicas inclui especialidades como: Biologia Geral (Genética, Morfologia, Fisiologia, Bioquímica,

Biofísica, Farmacologia, Imunologia, Microbiologia e Parasitologia) e Biodiversidade (Ecologia, Oceanografia, Botânica e

Zoologia). 7 A grande área de Engenharias inclui especialidades como: Engenharia Civil, Sanitária, de Transportes, de Minas, de Materiais e

Metalúrgica, Química, Nuclear, Mecânica, de Produção, Naval e Oceânica, Aeroespacial, Elétrica e Biomédica. 8 A grande área de Ciências da Saúde inclui especialidades como: Medicina, Nutrição, Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Saúde

Coletiva, Educação Física, Fonoaudiologia e Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 9 A grande área de Ciências Agrárias inclui especialidades como: Agronomia, Recursos Florestais e Engenharia Florestal, Engenharia

Agrícola, Zootecnia, Recursos Pesqueiros e Engenharia da Pesca, Medicina Veterinária e Ciência e Tecnologia de Alimentos. 10 A grande área de Ciências Sociais Aplicadas inclui especialidades como: Direito, Administração, Turismo, Economia, Arquitetura

e Urbanismo, Desenho Industrial, Planejamento Urbano e Regional, Demografia, Ciência da Informação, Museologia, Comunicação

e Serviço Social. 11 A grande área de Ciências Humanas inclui especialidades como: Filosofia, Teologia, Sociologia, Antropologia, Arqueologia,

História, Geografia, Psicologia, Educação e Ciência Política. 12 A grande área Multidisciplinar inclui especialidades como: Ensino, Materiais, Biotecnologia e Ciências Ambientais. 13 As proporções constantes do Gráfico __ foram calculadas levando em consideração todos os mestres e doutores nas atividades de

Ensino e Pesquisa e nas atividades Administrativas e Técnicas.

80,02%

14,60%2,75% 0,28% 2,35%

Proporção de doutores do sexo feminino segundo cor/raça

Branca Parda Preta Indígena Amarela

79,01%

15,29%3,05% 0,42% 2,22%

Proporção de doutores segundo raça/cor

Branca Parda Preta Indígena Amarela

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áreas como Ciências Humanas (18,88%), Ciências da Saúde (18,08%) e Ciências Biológicas

(13,69%), enquanto há baixa participação de mulheres em Engenharias (4,24%) e Ciências Exatas e

da Terra (8,98%). O diminuto número de mulheres em cursos de Engenharia não é uma

exclusividade da pós-graduação, mas possui relação direta com o ingresso na graduação e com um

aspecto cultural da sociedade brasileira, a qual vê tais cursos como territórios masculinos.

As carreiras de engenharia estão entre as profissões que exigem formação acadêmica onde

se inscreve mais fortemente a marca da masculinidade. Acredito que uma das condições

que torna possível que isso ocorra encontra-se nessa mesma tradição ocidental moderna,

que construiu o lugar da produção de bens como um lugar masculino. Dizer que a

engenharia é profissão “para homens” constitui-se, ainda, numa afirmativa fácil e

frequentemente aceita. (SARAIVA, 2008, p.49).

Já no caso dos homens, há maior participação nas áreas de Ciências Exatas e da Terra

(17,59%), Ciências Sociais Aplicadas (13,26%) e Engenharias (12,28%), sendo que a menor

proporção de mestres e doutores do sexo masculino é na área de Linguística, Letras e Artes

(4,29%), a qual é tradicionalmente conhecida como uma área de profissões femininas. A partir da

análise dos dados constata-se também que apenas em duas grandes áreas a proporção de homens e

mulheres fica em patamares próximos e corresponde a uma diferença de aproximadamente 2%:

Ciências Agrárias (9,02% de homens e 7,46% de mulheres) e Ciências Sociais Aplicadas (13,26%

de homens e 11,09% de mulheres).

Gráfico 7: Proporção de mestres e doutores segundo sexo e grande área.

7,46%

13,69%

18,08%

8,98%

18,88%

11,09%

4,24%

7,77%

9,02%

9,08%

11,73%

17,59%

13,43%

13,26%

12,28%

4,29%

0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 20,00%

Ciências Agrárias

Ciências Biológicas

Ciências da Saúde

Ciências Exatas e da Terra

Ciências Humanas

Ciências Sociais Aplicadas

Engenharias

Linguistica, Letras e Artes

Mestres e Doutores - Sexo Masculino Mestres e Doutores - Sexo Feminino

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Fonte: Elaboração da autora a partir dos Dados Estatísticos – Distribuição por Sexo, Faixa Etária e Grande Área de Atuação

disponíveis no Painel Lattes – CNPq.

Na docência, também se constata uma diferença de quase 10 pontos percentuais na

participação de homens e mulheres. Dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo INEP

indicam que em 2015 os homens representavam 54,61% dos docentes em exercício e as mulheres

45,39%.

Gráficos 8 e 9: Proporção de docentes segundo sexo e organização acadêmica.

Fonte: Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. INEP.

Participação feminina nos órgãos consultivos da educação superior

A presença das mulheres também é baixa nos principais órgãos consultivos da educação

superior, tais como o Conselho Deliberativo do CNPq e o Conselho Superior da CAPES.

O Conselho Deliberativo é a maior instância de poder decisório do CNPq e é composto por

18 (dezoito) membros, incluindo o presidente do CNPq, o secretário-executivo do Ministério da

Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e representantes da Capes, da

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de

Amparo à Pesquisa (CONFAP), das comunidades científica, tecnológica e empresarial e dos

53,95% 53,62% 55,00%62,02%

54,61%

46,05% 46,38% 45,00%37,98%

45,39%

Universidades CentrosUniversitários

Faculdades IF e CEFET Total

Docentes em exercício por organização acadêmica

Masculino Feminino

54,61%45,39%

Docentes em exercício

Masculino Feminino

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servidores do CNPq. As responsabilidades e competências do Conselho Deliberativo incluem a

formulação de propostas para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, apreciação

orçamentária, a definição dos critérios orientadores das ações do CNPq, bem como a aprovação das

normas de funcionamento dos colegiados, a composição de comitês de assessoramento, entre

outras.

Segundo dados constantes no site do CNPq, atualmente o Conselho Deliberativo é composto

predominantemente por homens (83,33%), havendo apenas 3 mulheres – o que corresponde a

16,67% do total de membros.

Já a Diretoria Executiva do CNPq é responsável pelo planejamento, acompanhamento e

avaliação de ações e programas implementados pela instituição e possui apenas 1 mulher dentre os

seus 5 membros, o que corresponde a uma participação feminina de 20% no órgão.

Gráficos 10 e 11: Composição dos órgãos deliberativos do CNPq segundo sexo.

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados do CNPq.

Na Capes, o órgão colegiado deliberativo é o Conselho Superior, ao qual compete

estabelecer as prioridades e linhas orientadoras das atividades da entidade, apreciar a proposta do

Plano Nacional de Pós-Graduação, apreciar critérios, prioridades e procedimentos para a concessão

de bolsas de estudos e auxílios, entre outras atividades. O Conselho Superior é composto por 7

membros natos, incluindo a presidência da Capes, do CNPq e da Associação Nacional dos

Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) e 13 membros designados

incluindo representantes do setor acadêmico, do setor industrial, do Fórum de Pró-Reitores de

Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP), da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e

16,67%

83,33%

CONSELHO DELIBERATIVO DO CNPQ

Sexo Feminino Sexo Masculino

20,00%

80,00%

DIRETORIA EXECUTIVA CNPQ

Sexo Feminino Sexo Masculino

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outros dirigentes da Capes. Atualmente, dentre os 20 membros há apenas 4 mulheres (20%), sendo

1 membra nata e 3 membras designadas.

Gráficos 12: Composição do Conselho Superior da CAPES segundo sexo

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da CAPES.

Nota-se, portanto, que apesar das mulheres representarem a maioria da população14 e dos

concluintes de cursos de graduação há algumas décadas, bem como representarem um número

expressivo dos detentores de títulos de mestrado e doutorado, elas continuam subrepresentadas nos

órgãos responsáveis pela definição dos rumos do ensino superior no Brasil.

Considerações finais

O estudo buscou analisar os dados relativos ao processo de escolarização feminina no Brasil

e como se dá a distribuição entre os sexos nos mais variados níveis da educação superior. Os dados

demonstram que, apesar do rápido processo de inserção das mulheres no ensino superior, tal avanço

continua lento em algumas áreas e níveis hierárquicos. Em linhas gerais, as mulheres representam a

maioria dos concluintes de cursos de graduação e de pós-graduação stricto senso (mestrado e

doutorado), mas a maior parte dos cargos de docência continuam sendo ocupados por homens.

Além disso, nota-se que ainda há áreas que se destacam historicamente como redutos masculinos,

especialmente aqueles ligados à área tecnológica, tais como as Engenharias e as Ciências Exatas e

da Terra.

Os indicadores também mostram que a inclusão na educação superior também não abrangeu

de forma proporcional todos os grupos que compõe a população brasileira, especialmente os pretos

e pardos. Pesquisas e dados recentes demonstram que ainda persiste a desigualdade entre brancos e 14 Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE em 2015, indicam que as mulheres representavam

51,5% (105,5 milhões) da população brasileira, enquanto os homens 48,5% (99,4 milhões).

20,00%

80,00%

Sexo Feminino Sexo Masculino

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negros no acesso aos cursos de graduação, mas mostram que as ações afirmativas representaram um

passo importante para a redução dessas desigualdades. Na pós-graduação a desigualdade entre

brancos e negros é ainda mais marcante, visto que os dados demonstram que este nível educacional

é composto predominantemente por brancos. A análise dos dados do banco de dados de doutores

cadastrados na Plataforma Lattes do CNPq indica que os percentuais de pretos e pardos são muito

inferiores à média nacional, menos da metade da proporção e que na distribuição por raça/cor e

sexo dos doutores, a sub-representação de doutoras pretas, pardas e indígenas é ainda menor.

A inserção das mulheres em posições de prestígio e alto poder decisório também permanece

desproporcional. Pesquisas recentes indicam que há uma desigualdade de gênero na concessão de

bolsas de produtividade em pesquisa, o que pode estar relacionado com os processos institucionais

de escolha dos pesquisadores. Por se tratar das bolsas mais valorizadas, análises mais aprofundadas

e cuidadosas sobre as razões da não entrada feminina são fundamentais para melhor compreensão

da questão.

Referências

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pós-graduação brasileira: 2000 e 2010. Relatório de Pesquisa, Fundação Carlos Chagas, São

Paulo, 2015.

BARROSO, Carmen Lúcia de Melo & MELLO, Guiomar Namo de. O acesso da mulher ao ensino

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desconstruindo a ideia da universidade como espaço masculino. História, Ciências, Saúde –

Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 15, supl., p. 117-132, jun. 2008.

_______. Bolsas e bolsistas de produtividade do CNPq: uma análise de gênero. Anais Eletrônicos

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VIEIRA, Oscar Vilhena. Direitos Fundamentais – uma leitura da jurisprudência do STF. São

Paulo: Direito GV/Malheiros, 2006.

The presence of women in Brazilian universities: a panorama of inequality

Astract: This study intends to discuss the participation of women in Brazilian universities. The

research uses quantitative data to draw a panorama of female participation in Brazilian higher

education and to describe the distribution of women in the different areas of knowledge and

hierarchical levels. The methodology adopted was the descriptive analysis of the following data:

Higher Education Census released by the National Institute of Educational Studies and Research

“Anísio Teixeira” (INEP), databases with information on curricula registered in the Lattes Platform

of the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq), Demographic

Census published by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and information on

the CNPq website and the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel

(CAPES). The data demonstrate that, despite the rapid process of insertion of women into higher

education, such progress remains slow in some areas and hierarchical levels. In general, women

represent the majority of graduates of undergraduate and postgraduate courses (master and doctoral

degrees), but most of the Professor positions continue to be occupied by men. The inclusion of

women in decision-making positions and the granting of research productivity grants also remains

disproportionate. The indicators also show that inclusion in higher education did not proportionally

cover all the groups that constitute the Brazilian population, especially blacks and browns.

Keywords: Higher Education. University. Scientific research. Women. Gender.