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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO SANDRINE CRISTINA DE FIGUEIRÊDO BRAZ A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS: Elementos Indicadores da Confiabilidade da Informação na Wikipédia, a Enciclopédia Livre JOÃO PESSOA-PB 2014

A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

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Page 1: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

SANDRINE CRISTINA DE FIGUEIRÊDO BRAZ

A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Elementos Indicadores da Confiabilidade da Informação

na Wikipédia, a Enciclopédia Livre

JOÃO PESSOA-PB

2014

Page 2: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

SANDRINE CRISTINA DE FIGUEIRÊDO BRAZ

A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Elementos Indicadores da Confiabilidade da Informação

na Wikipédia, a Enciclopédia Livre

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciência da Informação

da Universidade Federal da Paraíba como

requisito para a obtenção do grau de Mestra

em Ciência da Informação.

Área de Concentração: Informação,

Conhecimento e Sociedade.

Linha de Pesquisa: Ética, Gestão e Política

de Informação.

Orientador: Prof. Dr. Edivanio Duarte de

Souza.

JOÃO PESSOA-PB

2014

Page 3: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

B827p Braz, Sandrine Cristina de Figueirêdo.

A produção colaborativa de conteúdos: elementos indicadores da confiabilidade da informação na Wikipédia, a Enciclopédia Livre / Sandrine Cristina de Figueirêdo Braz.-- João Pessoa, 2014.

119f.

Orientador: Edivanio Duarte de Souza

Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCSA

1. Ciência da informação. 2. Confiabilidade da informação. 3. Fontes de informação. 4. Produção colaborativa. 5.Produção de conteúdos.

UFPB/BC CDU: 02(043)

UFPB/BC CDU: 02(043)

Page 4: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

SANDRINE CRISTINA DE FIGUEIRÊDO BRAZ

A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Elementos Indicadores da Confiabilidade da Informação

na Wikipédia, a Enciclopédia Livre

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da

Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção do título de Mestra, em

______/ ______/ __________.

BANCA DE DEFESA

______________________________________________________

Prof. Dr. Edivanio Duarte de Souza – ICHCA/UFAL (Orientador)

______________________________________________________

Profa. Dra. Joana Coeli Ribeiro Garcia – DCI/UFPB

______________________________________________________

Prof. Dr. Marcello Peixoto Bax – ECI/UFMG

______________________________________________________

Prof. Dr. Gustavo H. de Araújo Freire – DCI/UFPB (Suplente)

______________________________________________________

Profa. Dra. Francisca Rosaline Leite Mota – ICHCA/UFAL (Suplente)

Page 5: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

À minha família, por ter semeado em mim o

quão incessante e importante deve ser a busca

pelo conhecimento,

Dedico.

Page 6: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

AGRADECIMENTOS

A DEUS, “luz que me ilumina o caminho e que ajuda a seguir”, por segurar a minha

mão e me amparar em seu colo nos momentos mais difíceis desse percurso.

À minha família, um pedacinho de DEUS aqui na Terra, que depositou toda confiança

e incentivo em mim, através de palavras e ações. Família, fonte de amor, carinho, respeito e

compreensão. Eles, que sonharam junto comigo, hoje podem comemorar.

Aos amigos e amigas, pelo apoio e confiança demonstrada ao longo dos anos.

À professora Ma. Bríggida Lourenço (in memorian), por incentivar meu ingresso no

Mestrado ainda na fase da seleção.

Ao meu orientador, professor Dr. Edivanio Duarte de Souza, pelas orientações, pela

tranquilidade e pelo apoio demonstrado durante todo o Mestrado.

À banca examinadora pelas contribuições dadas a esta pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal

da Paraíba (PPGCI/UFPB) pela oportunidade de aprender cada vez mais e mais.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela

concessão de bolsa.

Aos colegas da turma de Mestrado pelos saberes divididos e multiplicados durante o

curso e, especialmente, a Brenda Andrade pela amizade, pelo carinho e pelo companheirismo

durante todo o curso.

Aos professores que tive, por terem contribuído com a minha formação intelectual.

A todos que puderam contribuir de alguma maneira com o meu crescimento pessoal e

profissional, muito obrigada!

Page 7: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

RESUMO

Os últimos anos vêm sendo marcados pela grande quantidade de informações produzidas,

disseminadas e consumidas diariamente. O advento da web e sua evolução tecnológica, em

particular, proporcionaram a emergência de mecanismos voltados à interação social, por meio

de redes online, comunidades virtuais e espaços abertos de interação. Esses ambientes são

dedicados à produção, à troca, à disseminação e ao compartilhamento de informações e bens

imateriais inteiramente focados nos processos de produção colaborativa. Nesse cenário, a

Wikipédia, a Enciclopédia Livre, apresenta-se como um dos endereços mais acessados da

Internet. No decorrer de seus 12 anos de existência, a enciclopédia online colaborativa opera

em mais 280 países, estando presente nos cinco continentes mundiais, a saber, África,

América, Ásia, Europa e Oceania. O seu maior diferencial consiste no fato desta funcionar por

intermédio de interações e colaborações realizadas pelos próprios usuários. Em contrapartida,

em função de seu caráter livre, a Wikipédia enfrenta cotidianamente o desafio da

confiabilidade das informações. Assim, na presente pesquisa, objetivamos analisar os

elementos que indicam a confiabilidade das informações produzidas e compartilhadas na

Wikipédia, a Enciclopédia Livre. Para tanto, buscamos, especificamente, descrever a estrutura

dessa enciclopédia, mapeando suas características gerais e específicas, identificar os

elementos encontrados como constitutivos de uma política de produção e disseminação da

informação, caracterizar os elementos que condicionam a confiabilidade das informações

produzidas, e explicitar as diretrizes que norteiam a produção colaborativa de conteúdos.

Nesse sentido, realizamos uma pesquisa qualitativa de base documental na forma de estudo de

caso. A coleta e a análise de dados foram realizadas com fundamento na Análise de Conteúdo

de Laurence Bardin (2010), por intermédio da combinação das técnicas de Análise das

Relações e Análise Temática propostas por Minayo (1996). Os resultados evidenciam que a

Wikipédia é composta por um conjunto de elementos que visam a assegurar suas

características mais particulares, tais como os Cinco Pilares e a O que a Wikipédia não é.

Além disso, ela dispõe de políticas e recomendações que fundamentam a produção de

conteúdos. A Wikipédia se preocupa com os conteúdos produzidos pelos seus editores,

especialmente no que se refere à qualidade, com destaque para a validade e a confiabilidade

das informações que os constituem. Nesse contexto, três aspectos se destacam. O primeiro

corresponde às categorias de Produção de Conteúdos, que se constituem dos apontamentos

mais importantes a serem conhecidos e adotados pelos colaboradores. O segundo, que visa a

alcançar a confiabilidade, corresponde aos “cargos” de confiança, valorizando tanto a

qualidade dos artigos e verbetes produzidos pelos wikipedistas quanto a experiência dos

membros dedicados à melhoria dos artigos e verbetes. O terceiro refere-se à “netiqueta”, que

age de forma indireta no tocante à confiabilidade, informando os comportamentos mais

adequados para que os conflitos pessoais internos não atinjam a qualidade das páginas. O

modelo aberto e colaborativo da enciclopédia, portanto, faz com que a Wikipédia tenha uma

preocupação constante com a produção de conteúdos fiáveis e credíveis. As especificidades

possibilitam que ela agregue os elementos de confiabilidade das informações de fontes

informacionais distintas. O desafio maior se encontra na constante busca por novos critérios

para avaliar a qualidade desses conteúdos.

Palavras-chave: Confiabilidade da Informação. Fontes de Informação. Produção

Colaborativa. Produção de Conteúdos. Wikipédia, a Enciclopédia Livre.

Page 8: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

ABSTRACT

The last few years have been marked by the large amount of information produced,

disseminated and consumed daily. The advent of the web and its technological evolution, in

particular, resulted in the emergence of mechanisms aimed at social interaction through online

networks, virtual communities and open spaces of interaction. These environments are

dedicated to the production, exchange, and dissemination of information and intangible assets

fully focused on the processes of collaborative production sharing. In this context, Wikipedia,

the Free Encyclopedia, presents itself as one of the most accessed Internet addresses.

Throughout its 12years of existence, the collaborative encyclopedia online operates in over

280 countries, being present in five 5 continents, namely Africa, America, Asia, Europe and

Oceania. Its major advantage is the fact that it functions through interactions and

collaborations done by its own users. However, due to its free nature, Wikipedia faces the

daily challenge of the reliability of information. Thus, in the present research, we aimed to

analyze the factors affecting the reliability of information produced and shared on Wikipedia,

The Free Encyclopedia. To this end, we seek to specifically describe the structure of this

encyclopedia, mapping its general and specific characteristics, to identify the elements found

as constituting a policy of production and dissemination of information, to characterize the

factors affecting the reliability of information produced, and to explain the guidelines that

guide the collaborative production of content. Thus, we performed a qualitative research on a

documentary base in a case study. The collection and analysis of data were performed on the

basis of Content Analysis of Laurence Bardin (2010), through the combination of the

techniques of Relations Analysis and Thematic analysis proposed by Minayo (1996). The

results show that Wikipedia is composed of a set of features designed to ensure their most

unique characteristics, such as the Five Pillars and Wikipedia is not. Moreover, it has policies

and recommendations that support the content production. Wikipedia is concerned with

content produced by its publishers, especially regarding to quality, with emphasis on the

validity and reliability of information that constitute them. In this context, three aspects stand

out. The first corresponds to the categories of Content Production, which constitute the most

important notes to be known and adopted by its producers. The second aims to achieve

reliability, it corresponds to the "positions of trust”, enhancing both the quality of articles and

entries produced by Wikipedians as the experience of members dedicated to improving

articles and entries. The third refers to the "netiquette", which acts indirectly on reliability

regards, informing the most appropriate behaviors so that internal personal conflicts do not

reach the quality of the pages. The open and collaborative model of encyclopedia therefore

brings to Wikipedia a constant concern with the production of reliable and credible content.

Its specifics enable itself to add the elements of reliability of information from different

informational sources. The biggest challenge is the constant search for new criteria to evaluate

the quality of such content.

Keywords: Reliability of information. Sources of Information. Collaborative production.

Content Production. Wikipedia, the Free Encyclopedia.

Page 9: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Gerações da Web .......................................................................................... 25

Quadro 2 – Critérios de Avaliação da Confiabilidade de Fontes de Informação da Web

.......................................................................................................... 65

Quadro 3 – Políticas e Recomendações da Wikipédia .................................................... 84

Page 10: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AC – Análise de Conteúdo

AR – Análise das Relações

AT – Análise Temática

BDJur – Biblioteca Digital do Superior Tribunal de Justiça

CDD – Classificação Decimal de Dewey

CDU – Classificação Decimal Universal

CISL – Comitê de Implementação do Software Livre

CSM - Content Management System

DF – Distrito Federal

FOAF – Friend of a Friend

FSF – Free Software Foundation

GFDL – GNU Free Documentation License

GNU – GNU is Not Unix

HTML – HyperText Markup Language

IFPB – Instituto Federal da Paraíba

IIB – Instituto Internacional de Bibliografia

IP – Internet Protocol

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MEC – Ministério da Educação

MIT – Massachusetts Institute of Technology

ODLIS – Online Dictionary of Library and Information Science

PBID – Programa Brasileiro de Inclusão Digital

PDF – Portable Document Format

PHP – Hipertext Preprocessor

PPL – Peer Production Leve

PPP – Peer Production Pesado

RDF – Resource Description Framework

SAMBA – Server Message Block

UFAC – Universidade Federal do Acre

UFCG – Universidade Federal de Campina Grande

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Page 11: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

USP – Universidade de São Paulo

Page 12: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12

2 FUNDAMENTOS DA COLABORAÇÃO NO CIBERESPAÇO: DA

PRODUÇÃO AO COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES ................. 18

2.1 Os Primeiros Passos da Web e a sua Evolução Interativa .................................... 18

2.2 A Consolidação do Ciberespaço na Comunicação da Informação Digital ......... 27

2.3 A Linguagem Hipertextual no Ciberespaço ........................................................... 30

2.4 Inteligência Coletiva: Rumo ao Espaço do Saber ................................................. 32

3 PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS NO

CIBERESPAÇO........................................................................................................

37

3.1 Trabalho Imaterial: a Essência da Produção Colaborativa ................................. 39

3.2 Modelos de Colaboração .......................................................................................... 41

3.3 Política de Informação para Produção de Conteúdos no Ciberespaço .............. 43

3.4 O Copyleft e o Software Livre na Web Interativa ................................................. 46

3.4.1 Creative Commons: Licenças Criativas para o Copyleft............................................ 51

4 OS SISTEMAS WIKIS: CARACTERÍSTICAS E PRESSUPOSTOS ................ 55

4.1 Wikipédia, a Enciclopédia Livre ............................................................................ 57

5 A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO NO CIBERESPAÇO:

CRITÉRIOS E DESAFIOS ..................................................................................... 63

5.1 Sistemas de Reputação: um Caminho para a Confiabilidade .............................. 68

5.1.1 Modelos de Sistemas de Reputação ........................................................................ 70

5.1.2 Sistemas de Reputação em Comunidades Virtuais Acadêmicas: O Caso da Activ

UFRJ ......................................................................................................................... 73

6 O DESENHO DA PESQUISA: DEFINIÇÕES, PERCURSOS E

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 75

6.1 Caracterização da Pesquisa ..................................................................................... 75

6.2 Abordagem Qualitativa ........................................................................................... 76

6.3 Métodos e Técnicas de Coleta e Análise de Dados ................................................ 77

7 A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO NA WIKIPÉDIA, A

ENCICLOPÉDIA LIVRE: POLÍTICAS E RECOMENDAÇÕES NA

PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS ............................................................................

80

7.1 Princípios de Confiabilidade dos Conteúdos da Wikipédia.................................. 85

Page 13: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

7.2 Itens de Confiabilidade das Páginas ....................................................................... 88

7.3 Políticas de Produção Colaborativa de Conteúdo na Wikipédia ......................... 89

7.4 O Reconhecimento do Trabalho Colaborativo: a “Equipe” de Confiança ......... 94

7.5 Wikiquette: A “Netiqueta” da Wikipédia .............................................................. 101

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 104

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 110

Page 14: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, vimos que o fenômeno da comunicação digital planetária mediado

pelas tecnologias de informação e comunicação têm se destacado, principalmente, nos

domínios da produção de conteúdos e de informação. Logo em seus primeiros anos de

expansão, a web possibilitou que os usuários passassem a ter acesso a grandes estoques de

informação através dos conteúdos, tanto em escala local quanto global. Entretanto, foi a partir

do surgimento da web social ou web 2.0, como ficou mais conhecida, que as mudanças mais

significativas começaram a aparecer.

Enquanto a web 1.0 tinha como propósito principal apenas o acesso às informações, a

web 2.0 traz uma proposta voltada ao social, à interatividade entre os usuários, à produção de

conteúdo, ao trabalho imaterial e à cultura colaborativa. Nesse aspecto, redes sociais online,

comunidades virtuais e softwares livres merecem destaque por fortalecerem ainda mais os

pilares do ciberespaço apontados por Lévy (1999), a saber, a interconexão, as comunidades

virtuais e a inteligência coletiva.

Os espaços voltados à interação ampliam as possibilidades de acesso, produção, uso e

disseminação das informações, em um fluxo contínuo e dinâmico realizado por todo e

qualquer usuário. Essa atividade acaba ocasionando um rompimento com as antigas formas de

produção de conteúdos, anteriormente realizada por um grupo seleto de profissionais

especializados. O processo de produção colaborativa passa a se consolidar como uma prática

recorrente no ciberespaço. Autores como Miranda et al (2000), Carpes (2011) e Schons

(2008) identificam na interatividade e na produção colaborativa uma prática bastante positiva

por engajar um grupo voluntário de pessoas na construção coletiva de conteúdo e obras

criativas no ciberespaço, otimizando as competências individuais e os saberes de cada

usuário. Assim, a inteligência coletiva se constitui como principal fundamento da produção

colaborativa.

Com efeito, a inteligência coletiva tem como essência a valorização dos saberes de

todos os indivíduos, entendendo que estes saberes se encontram espalhados por todas as

partes e, por isso, devem ser valorizados incessantemente (LÉVY, 1998). Para ela, todos os

indivíduos sabem algo importante e de valor que merece ser compartilhado com seus pares a

fim de que todos tenham o conhecimento desses conteúdos e possam tirar proveito das

informações que eles possuem.

O fato é que, se, por um lado, as formas de produção colaborativa permitem a

produção, a disseminação, o acesso e o uso de informações em escala mundial, aumentando, a

Page 15: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

um só tempo, os estoques de informação e sua disponibilização junto aos usuários, por outro,

esse tipo de produção de conteúdos está provocando o debate em torno da validade e da

confiabilidade das informações que surgem nesse modelo de produção.

As discussões começam a ganhar vigor a partir do momento em que a dinâmica do

ciberespaço coloca, muitas vezes, em um mesmo domínio e, até mesmo, em nível de

igualdade, as produções realizadas por pessoas que possuem algum tipo de conhecimento

especializado e aquelas pessoas consideradas “comuns”, que indispõem de algum tipo de

saber específico. Em tese, especialistas e amadores dividem os espaços de produção de

conteúdo e de informações na rede mundial de computadores.

Na produção colaborativa de conteúdos, o surgimento de informações imprecisas,

incoerentes ou até mesmo falsas corresponde a um perigo iminente, uma vez que todos podem

contribuir com o produto e fazer uso deste. A disseminação desse tipo de informação pode

gerar concepções cada vez mais equivocadas, ocasionando prejuízos e danos incalculáveis e,

por vezes, irreparáveis às pessoas que dela fizerem uso. Nesse âmbito, emergem alguns

questionamentos sobre a confiabilidade das informações que compõem os conteúdos

produzidos colaborativamente.

Atualmente, a literatura acerca dessa temática se mostra incipiente e irrisória, o que

comprova a pouca discussão em torno da confiabilidade das fontes de informação da web.

Nesse sentido, a Ciência da Informação precisa intensificar os debates e as abordagens, de

forma a aumentar a literatura e construir um arcabouço teórico mais consistente. Em que pese

essa constatação, podemos observar que a ampliação das fontes de informações localizadas no

ciberespaço começa a provocar uma mudança no paradigma da confiabilidade das

informações.

Nessa perspectiva, Christofoletti e Laux (2008) esclarecem que os conteúdos

tradicionalmente produzidos e disseminados por uma equipe de profissionais gabaritados

seguem os princípios éticos e normativos inerentes à sua prática profissional. Essa atividade

capacitada gera credibilidade dos conteúdos veiculados nos diversos meios de comunicação,

resultando, por conseguinte, na confiabilidade das informações disseminadas. Todo esse

tratamento profissional dado ao processo de produção da informação não ocorre, em muitos

casos, nos domínios da rede mundial de computadores. Contudo, alguns estudos

internacionais constatam o aumento expressivo da confiabilidade de fontes de informação que

são produzidas colaborativamente no ciberespaço e, em contrapartida, verificam a perda de

credibilidade de fontes de informação offline, especialmente nos meios de comunicação de

massa.

Page 16: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Em meio a essas questões, temos a Wikipédia, a Enciclopédia Livre, uma das fontes de

informação mais visitadas na web. Segundo Keen (2009), a Wikipédia ocupou o décimo

sétimo lugar no ranking dos endereços da web mais visitados do mundo no ano de 2007. No

auge da sua primeira década, essa enciclopédia angariou o título de quinto site mais visitado

no mundo, com aproximadamente 210 milhões de visitantes por mês. De acordo com Oona

Castro, Diretora da Wikipédia no Brasil, em 2012 essa fonte ocupou o décimo lugar no

ranking dos sites mais visitados do mundo e o sexto mais acessado no Brasil (DIRETORA...,

2012). Góes (2013) publicou uma reportagem no portal Tech Tudo, em fevereiro de 2013,

divulgando a pesquisa da ComScore, que elencava os sites mais acessados do corrente ano até

os dois primeiros meses do ano. Nela, a Enciclopédia Livre aparece em quinto lugar,

perdendo apenas para Facebook, Google, YouTube e Yahoo!. Esses dados nos mostram o

quanto a Wikipédia é considerada como uma fonte de informação válida para os usuários do

ciberespaço.

A Wikipédia, a Enciclopédia Livre surgiu no ano de 2001 com a proposta inicial de

construir uma enciclopédia online, cujo conteúdo seria capaz de abarcar as mais diversas

áreas do conhecimento humano. Desta feita, ela emergiu como uma enciclopédia

multidisciplinar construída como variação da Nupédia, uma enciclopédia que tinha como

objetivo ser escrita apenas por especialistas renomados, com grande rigidez em seus critérios

de avaliação. Diferentemente daquela, esta teve o êxito diminuído e, em 2003, deixou de

existir. Criada pela Wikimedia Foundation, uma organização sem fins lucrativos, a Wikipédia

permite que seu conteúdo seja elaborado pelos próprios usuários de forma coletiva e

inteiramente gratuita.

Diante das discussões que envolvem a questão da confiabilidade das fontes de

informação da web e da relevância dessa fonte de informação, indagamos: que elementos

indicam a confiabilidade das informações produzidas e compartilhadas na Wikipédia, a

Enciclopédia Livre?

Na presente pesquisa, objetivamos analisar os elementos que indicam a confiabilidade

das informações produzidas e compartilhadas na Wikipédia, a Enciclopédia Livre. Para tanto,

buscamos, especificamente:

descrever a estrutura da Wikipédia, mapeando suas características gerais e

específicas;

identificar os elementos encontrados como constitutivos de uma política de

produção e disseminação da informação;

Page 17: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

caracterizar os elementos que condicionam a confiabilidade das informações

produzidas; e

explicitar as diretrizes que norteiam a produção colaborativa de conteúdos na

Wikipédia.

Tomando como referência esses objetivos, estabelecemos os fundamentos teórico-

metodológicos que serviram de suporte para a execução da pesquisa, notadamente, no que se

refere à coleta, à análise e às discussões dos resultados. Logo, no próximo capítulo,

Fundamentos da Colaboração no Ciberespaço: da produção ao compartilhamento de

informações, discutimos os aspectos que possibilitam o acesso, a produção e o

compartilhamento dos conteúdos e das informações no ciberespaço, descrevendo suas

características mais sobressalentes e suas implicações na vida em sociedade. Para

compreender tais fatos, é imprescindível possuir os conhecimentos que envolvem a

comunicação mediada por computador, com ênfase na interação, na linguagem hipertextual e

na inteligência coletiva. A abordagem dessas noções realçam os elementos que apontam os

ditames da produção colaborativa no meio digital.

Na sequência, no capítulo intitulado de Produção Colaborativa de Conteúdos no

Ciberespaço, adentramos com mais profundidade na produção de conteúdos e informações

que ocorrem na esfera do ciberespaço, apresentando e discutindo a existência dos modelos de

colaboração: o modelo leve, o pesado e o híbrido, que estão relacionados ao empenho dos

colaboradores na manutenção do projeto. Nesse capítulo, observamos que o trabalho imaterial

é o maior responsável pelos projetos colaborativos existentes no ciberespaço, como a

Wikipédia. No âmbito das políticas de informação, vemos que o debate em torno da produção

de conteúdos e informações ainda é insuficiente. Ainda no terceiro capítulo, expomos os

pressupostos do copyleft, do software livre e das licenças Creative Commons, como forma de

embasar e caracterizar o objeto de estudo.

Após esse entendimento, ingressamos no capítulo Sistemas Wikis: características e

pressupostos, tecendo considerações a respeito do software livre que serve de suporte para o

funcionamento da Wikipédia. Com isso, ressaltamos que essa plataforma tecnológica

possibilita também que essa fonte de informação seja um espaço de colaboração entre editores

anônimos e registrados.

O debate em torno da confiabilidade propriamente dito acontece no quinto capítulo, A

Confiabilidade da Informação no Ciberespaço: critérios e desafios. No espaço dedicado a

essa discussão, trazemos autores que ponderam sobre essa temática e que apresentam critérios

que possibilitam qualificar uma dada fonte de informação como confiável. Como destaque,

Page 18: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

trazemos as ponderações ressaltadas por Serra (2006), Fogg et al (2002a, 2002b) e Tomáel et

al (2001). A partir das afirmativas elencadas por esses autores, observamos mais nitidamente

que a designação de uma fonte de informação como confiável e, consequentemente, credível,

é bastante heterogênea e diversificada, estando também associada ao tipo de fonte de

informação. Além dos pareceres citados, temos Lopes (2006), Cruz e Motta (2006) e Lima

(2010) mencionando os sistemas de reputação como mais uma possibilidade de chegarmos à

confiabilidade.

No sexto capítulo, O Desenho da Pesquisa: definições, percursos e procedimentos

metodológicos, apresentamos os procedimentos utilizados durante a realização desta pesquisa,

considerando os objetivos propostos e o escopo do objeto investigado. Pelo fato de a

Wikipédia ocupar um lugar na realidade, a referida investigação se caracteriza como empírica,

pois depende tanto dos dados empíricos quanto da realidade para a realização das análises

(DEMO, 1994). A abordagem utilizada dispensou a utilização de dados numéricos e

estatísticos, apresentando-se, conforme Richardson (2008), como uma investigação

qualitativa. Essa abordagem qualitativa mantém uma preocupação com o resultado/produto,

com o processo e com o significado que o objeto de estudo apresenta.

Utilizamos a técnica aplicada da Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2010), que

incidiu diretamente nas políticas e recomendações da Wikipédia, na medida em que essas se

constituíram na base empírica mais relevante dessa fonte de informação colaborativa. Nos

procedimentos da AC, seguimos, conforme Minayo (1996), as segmentações em Análise

Temática e Análise das Relações. A primeira possibilitou a identificação de indicadores

reincidentes e que contribuem sobremaneira para a confiabilidade dessa enciclopédia

colaborativa, como por exemplo, Itens de Confiabilidade, a “Equipe” de Confiança, a

“Netiqueta” e a Política de Produção de Conteúdos. A segunda, por sua vez, possibilitou, a

partir da análise de co-ocorrência, o entendimento de que existe relação entre os Princípios de

Confiabilidade e os artigos e verbetes produzidos

No sétimo capítulo, A Confiabilidade da Informação na Wikipédia, a Enciclopédia

Livre: políticas e recomendações na produção de conteúdos, abordamos a dinâmica de

funcionamento dessa enciclopédia, destacando seus aspectos gerais e específicos. Em seguida,

analisamos e discutimos as políticas e as recomendações existentes na Wikipédia, com

destaque para aquelas que mantêm relações diretas e indiretas com a questão da

confiabilidade. Nesse quesito, a Wikipédia possui Princípios de Confiabilidade, a saber,

Imparcialidade, Neutralidade, Nada de Pesquisa Inédita, Fontes Primárias, Notoriedade e

Page 19: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Direitos Autorais. Outros fatores também aparecem como indicadores de credibilidade, tais

como Acessibilidade, Datas e Ortografia.

Preocupada com o nível de qualidade das páginas, a Wikipédia também possui sua

própria política de informação, que descreve os critérios para a sua produção de conteúdos,

como a Política de Edição, a Política de Eliminação, a Política de Bloqueio e a de Proibição

de Proxies Anônimos.

Essa fonte de informação dispõe também de uma “Equipe” de Confiança, composta

por admistradores, reversores, burocratas, autorrevisores e eliminadores. Esses usuários são

responsáveis pela averiguação, checagem e exclusão das páginas com baixo nível de

qualidade ou que infrinjam os critérios de produção designados pela comunidade de

colaboradores.

O último indicador de confiabilidade é a Wikiquette, a “Netiqueta” da Wikipédia, que

tem como finalidade inibir as divergências de opiniões e os conflitos de ideias entre editores

que possam prejudicar a qualidade dos conteúdos produzidos.

Finalmente, apresentamos as Considerações Finais, que nos permitiram concluir que a

Wikipédia dispõe de políticas e recomendações que objetivam estabelecer os critérios a serem

adotados na produção de conteúdos e informações em seus artigos e verbetes. Os

apontamentos trazidos constatam que a enciclopédia colaborativa em estudo possui uma série

de elementos indicadores de confiabilidade, que visam a proporcionar mais qualidade aos

conteúdos produzidos colaborativamente.

A partir do que foi abordado e discutido, concluímos que a Wikipédia possui uma série

de indicadores de confiabilidade bastante providenciais para a sua permanência e sucesso no

ciberespaço, principalmente por ter a capacidade de aumentar tais indicadores ao integrar

elementos de fontes de informação impressas aos do ciberespaço.

Page 20: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

2 FUNDAMENTOS DA COLABORAÇÃO NO CIBERESPAÇO: DA PRODUÇÃO AO

COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÃO

A história narra fatos que demonstram o quanto a tecnologia tem desempenhado um

lugar de destaque na vida em sociedade. Trazendo essa abordagem para os últimos dois

séculos, XX e XXI, observamos que as tecnologias de informação e comunicação têm tido um

espaço importante, pois acabaram condicionando o exercício das diversas atividades na esfera

pessoal e profissional. Ter acesso a essas tecnologias e às informações a elas correlacionadas,

em especial à Internet, é uma questão de fundamental relevância.

A emergência da web possibilitou que a produção de informações fosse

redimensionada a uma grande quantidade de pessoas simultaneamente, em espaços territoriais

igualmente distintos. Inicialmente, era garantido apenas o acesso aos endereços eletrônicos

das páginas, mas, com a rápida evolução tecnológica, em alguns anos, essa realidade foi

transformada, possibilitando o acesso, a produção e o compartilhamento de conteúdos e

informações pelos próprios usuários de modo colaborativo e integrado. Até que se chegasse a

essa realidade, a trajetória da web foi marcada por sucessivos avanços tecnológicos, com

ênfase nas demandas interativas. Por isso, é preciso conhecer as mudanças que as tecnologias

de informação e comunicação vêm promovendo, sobretudo, em novos delineamentos da

esfera social.

2.1 Os Primeiros Passos da Web e a sua Evolução Interativa

Cronologicamente, o surgimento da Internet está atrelado à busca pela vitória durante

a Guerra Fria. Almejando se sobressair em relação ao seu oponente, a então União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), os Estados Unidos passaram a fazer uso da

Internet internamente com o intuito de melhorar e aprimorar suas estratégias armamentistas

frente aos seus adversários soviéticos. Sem maiores utilidades com a cessão da guerra, os

norte-americanos passaram a redirecioná-la para fins educativos nas instituições de ensino

superior americanas.

Ao cativar um lugar específico dentro da academia, a Internet logo deu seus primeiros

avanços, começando pela sua disseminação por várias outras universidades mundo afora.

Com a criação da Word Wide Web, a troca de informação, que se dava exclusivamente por

dados textuais, passou a ser incrementada pela linguagem audiovisual, mediante o uso de sons

e imagens simultaneamente. O principal motivo que levou à abrangência dessa linguagem foi

Page 21: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

a possibilidade de promover o intercâmbio e a facilidade na comunicação entre as mais

diversas áreas do conhecimento.

A web foi evoluindo gradativamente no decorrer dos anos. Logo em sua primeira

geração, a versão 1.0, conquistou muitos usuários, sobretudo, devido à expressiva quantidade

de informações que disponibilizava aos seus internautas. Entretanto, o papel do usuário se

restringia somente ao acesso e à leitura dos conteúdos que transitavam na rede. Os usuários

eram considerados, conforme Coutinho e Bottentuit Junior (2007), meros espectadores,

devido à passividade e falta de interação com as informações, sendo incapazes de inserir,

editar ou reeditar o conteúdo dos endereços existentes.

A primeira geração tinha um custo bastante elevado por centralizar toda a produção de

conteúdo informacional nas mãos dos detentores das páginas e sites, acarretando uma alta

despesa para a atualização do conteúdo e dos softwares usados, pagos e controlados através

das licenças privadas do copyrigth. Foi também na web 1.0 que o comércio eletrônico surgiu e

se expandiu rapidamente, abrindo espaços para a criação de novas vagas no mercado de

trabalho, multiplicando e gerando renda fixa tanto para os empresários quanto para os

trabalhadores.

Inegavelmente, a primeira versão da web trouxe avanços importantes no que se

relaciona ao acesso à informação e ao conhecimento, principalmente, pela possibilidade de

alcance global. Entretanto, Coutinho e Bottentuit Junior (2007) observam que nessa geração

havia um “impasse filosófico” entre a concepção de rede global e espaço aberto com a relação

de detenção do poder que se encontrava sob a posse dos donos das páginas, que controlavam,

de certa forma, a informação a ser transmitida e acessada aos seus usuários. Surge aí a

necessidade de tornar a web mais acessível e democrática do ponto de vista da interação e da

participação dos internautas. Todo esse problema foi resolvido com o advento da segunda

geração da web.

A web 2.0, cuja denominação foi cunhada por Tim O’Reilly, também conhecida como

web social ou web interativa, surgiu no ano 2004. Essa nova versão trouxe, de fato, uma

proposta focada em uma rede global de colaboração e compartilhamento de informação e

conhecimento. O caráter interativo e participativo frente aos usuários é um dos maiores

diferenciais dessa geração. De acordo com Pinheiro (2009, p. 3), ela traz “uma nova atitude,

uma nova forma de as pessoas se relacionarem com e na Internet: a rede deixa de ligar apenas

máquinas, [e] passa a unir pessoas, [em] um processo com implicações sociais profundas”.

Diferentemente da primeira geração, a versão 2.0 possibilita que os usuários mantenham

interações sociais entre si através dos espaços abertos existentes na rede mundial de

Page 22: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

computadores. Mediante essas considerações, a web interativa se consagra como um novo

ambiente social acessível a todos aqueles que estejam devidamente conectados, no qual os

internautas decidem conjuntamente o que deve ser discutido e socializado, através das

interações que mantêm.

Coutinho e Bottentuit Junior (2007) entendem que a web 2.0 possui características

muito particulares, como facilidade de manuseio das interfaces, atualização constante dos

conteúdos disponibilizados por meio da colaboração entre os usuários, facilidade no

armazenamento de dados e na criação de páginas online, e o sucesso da ferramenta depende

da quantidade de usuários que contribuem para melhorar a qualidade do sistema. Os autores

segmentam as ferramentas da web social em duas classes. Na primeira, encontram-se as

aplicações que só existem na Internet, cujo desenvolvimento está associado ao uso e à

participação dos usuários, como a Wikipédia, YouTube, Skype, Hi5, etc. Na segunda,

encontram-se as aplicações que têm como possibilidade o funcionamento offline, mas que o

uso online pode trazer mudanças positivas, como é o caso do Picasa Fotos, iTunes, Google

Maps, etc. Algumas ferramentas interativas que surgiram nessa fase se popularizaram e

ganharam muitos adeptos como as redes sociais (Orkut, Facebook, Hi5, Blogs), ferramentas

de escrita colaborativa (Blogs, Sistemas Wikis, Podcast), ferramentas de comunicação online

(Skype, Messenger, Googletalk) e as ferramentas de acesso a vídeos (YouTube, Google

Vídeos, Yahoo Vídeos).

A interatividade é o ponto chave da web 2.0. De acordo com Lemos (2007) e Primo

(2008), ela é a extensão em que o usuário pode intervir na forma e no conteúdo a que pretende

ser informado. Barreto (1997, p. 4, grifo do autor) tem uma visão mais completa do que se

deve entender por interatividade. Para ele,

a interatividade representa a possibilidade de acesso em tempo real pelo usuário a

diferentes estoques de informação; a múltiplas formas de interação entre o usuário e

às estruturas de informação contidas nesses estoques. A interatividade modifica a

relação usuário-tempo-informação. A interatividade reposiciona os acervos de

informação, o acesso à informação e a sua distribuição, e o próprio documento de

informação ao liberar o receptor dos diversos intermediários que executavam estas

funções em linha e em tempo linear passando em um acesso on line e com

linguagens interativas.

Para que essa interação possa ocorrer é necessária a reciprocidade entre os

interagentes, isto é, a interação “pressupõe [...] intercâmbio e mútua influência do emissor e

receptor na produção das mensagens transmitidas. Isso quer dizer que as mensagens se

produzem em uma região intersticial em que emissor e receptor trocam continuamente de

papéis” (SANTAELLA, 2004, p. 160). Portanto, a interação requer a participação contínua

entre os envolvidos no processo de transmissão e produção da informação em um espaço em

Page 23: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

que as partes envolvidas invertem seu papel constantemente. Logo, no processo de troca e

intercâmbio informacional, temos interagentes ou, nas palavras de Branco (2005),

interlocutores, haja vista que a concepção emissor-receptor insatisfaz esse novo paradigma,

pois ambos os envolvidos recebem e emitem informações continuamente durante todo o

processo.

No que se relaciona à interação e à produção de conteúdo, Miranda et al (2000, p. 81)

exaltam as potencialidades da Internet:

Uma das contribuições mais extraordinárias da internet é permitir que qualquer

usuário, em caráter individual ou institucional, [possa] vir a ser produtor,

intermediário e usuário de conteúdos. E o alcance dos conteúdos é universal,

resguardadas as barreiras lingüísticas e tecnológicas do processo de difusão. É por

meio da operação de redes de conteúdos de forma generalizada que a sociedade atual

vai mover-se para a Sociedade da Informação.

Na interação mediada por computador, Primo (2008) esclarece que a interação do

usuário ocorre em dois níveis: reativo e mútuo. A interação reativa é aquela que se dá entre o

usuário e o sistema informático (infraestrutura tecnológica). Ela tem como característica os

sistemas fechados porque o usuário seleciona uma determinada função do sistema, que, por

sua vez, tem o comando da atividade pré-definida pelos programadores. O usuário pode

selecionar a mesma atividade que receberá sempre a mesma resposta, como ocorre nos jogos

virtuais e nos videogames. A interação mútua é completamente oposta à interação reativa. Os

sistemas abertos, como as redes sociais, permitem a troca de conteúdo e informação entre os

usuários, gerando dinamicidade e maior desenvolvimento durante a realização das diversas

atividades. Os indivíduos mantêm uma relação de reciprocidade e interdependência. Havendo

qualquer modificação entre um deles, por menor que seja, acarretará modificações em todo o

processo de interação.

Na interação mediada por computador, existe ainda o que Primo (2008) chama de

multi-interação. Trata-se de uma interação que abarca os dois tipos anteriores de interação em

um mesmo momento, como, por exemplo, a conversa em um chat, na qual o internauta

mantém relações interativas com a infraestrutura tecnológica (hardwares e softwares) e com o

usuário que se encontra online do outro lado do monitor trocando informações com ele.

Seguindo essa linha de espaços dedicados à interatividade, temos as redes sociais

online e as comunidades virtuais como os maiores espaços abertos de interação, dedicados à

troca e ao compartilhamento das informações. Para Carpes (2011, p.199-200),

redes sociais representam na sociedade contemporânea a interatividade entre os

indivíduos [...]. Portanto, o acesso e a difusão da informação mediada pelo

computador possibilitam a diversidade, e amplia o conhecimento social, econômico,

cultural e político de uma sociedade.

Page 24: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

O autor entende que as redes sociais englobam o relacionamento comunicacional entre

os sujeitos sociais com objetivos comuns, convergindo para o intercâmbio de experiências,

originando e mantendo o fluxo de informações relevantes para todos os envolvidos no

processo.

Marteleto (2001, p. 72) ratifica esse entendimento ao dizer que “[...] a rede social [...]

passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em

torno de valores e interesses compartilhados”. Sucintamente, Tomáel, Alcará e Di Chiara

(2005, p. 93) percebem que “as redes sociais constituem uma das estratégias subjacentes

utilizadas pela sociedade para o compartilhamento da informação e do conhecimento,

mediante as relações entre atores que as integram”. Notamos então que a noção de rede social

desses autores compactua com um mesmo ponto de vista.

Embora as redes sociais tenham ganhado mais notoriedade com a web, Cruz (2010)

atenta que a expansão desse fenômeno é predecessor ao surgimento da rede mundial de

computadores. Na verdade, as relações sociais que mantemos cotidianamente no ambiente de

trabalho, na escola e entre os vizinhos constituem redes sociais. A Internet, mais precisamente

em sua segunda geração, abriu espaço para que essas relações e as interações sociais se

“digitalizassem” e passassem a ser mediadas também pelo computador com acesso à rede

mundial de computadores. Essa atividade só foi possível com a criação de sites de redes

sociais na Internet. Por isso, a vulgarização dessa expressão.

Pertinentemente a essa discussão, faz-se necessário sabermos que os elementos que

constituem a essência das redes sociais independem do acesso à Internet. Elas são formadas

por atores sociais (indivíduos, grupos, organizações, etc.) e suas conexões, entendidas como

as interações e os laços sociais construídos entre eles. Os atores sociais podem ser

considerados como os nós da rede que moldam e são moldados pelas interações sociais que

eles mantêm com os outros atores. As interações que ocorrem entre eles são as conexões, que

representam a parte mais complexa dos estudos das redes sociais, na medida em que a

modificação e a estrutura desses grupos sociais dependem da oscilação dessas (RECUERO,

2009). Por sua vez, as conexões dependem da força dos laços sociais, que são classificados

em fortes e fracos. Os primeiros se relacionam às trocas constantes e recíprocas, buscando o

aprofundamento das interações sociais, requerendo mais tempo e intensidade emocional nas

trocas. Os últimos estão relacionados à circulação e ao fluxo da informação, relegando-se os

aspectos anteriores.

A hierarquização horizontal característica da web 2.0 abre espaços para que várias

temáticas sejam discutidas em seus ambientes interativos. Com as redes sociais online, isso

Page 25: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

ocorre de forma semelhante. Os motivos que levam os atores sociais à formação das redes

sociais são infindáveis, entretanto, Marteleto (2001) garante que os debates mais expressivos

giram em torno dos eventuais questionamentos na área do direito, da responsabilidade e,

inclusive, da tomada das decisões. Essa observação trazida pela autora evidencia o quanto as

redes sociais online se tornam espaços mais democráticos e abertos a discussões relevantes

para os setores que envolvem a sociedade.

Perante esse apanhado teórico, é notório considerar que a sociedade está em rede,

criando novas formas de interação humana, adaptadas ao nosso novo ambiente tecnológico.

Nesse aspecto, Castells (1999, p. 40) considera as redes sociais online como

[...] um novo sistema de comunicação que fala cada vez mais uma língua universal

digital [que] tanto está promovendo a integração global da produção e distribuição

de palavras, sons e imagens de nossa cultura como personalizando-os ao gosto das

identidades e humores dos indivíduos. As redes interativas de computadores estão

crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação,

moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldados por ela.

É possível ponderar que a rede mundial de computadores é um fomentador do

surgimento e da concretização dos laços sociais que, por vezes, encontram-se cada vez mais

enfraquecidos devidos às atividades rotineiras da sociedade contemporânea. Os vínculos

sociais que brotam na web possibilitam que as pessoas estabeleçam e mantenham relações

que, provavelmente, seriam impossibilitadas de mantê-las na vida offline. Ainda segundo

Castells (1999, p.445) acerca dos laços que surgem através da web, é comentado que

A Rede é especialmente apropriada para a geração de laços fracos e múltiplos. Os

laços fracos são úteis no fornecimento de informações e na abertura de novas

oportunidades de baixo custo. A vantagem da Rede é que ela permite a criação de

laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de interação, no qual as

características sociais são menos influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio

da comunicação. De fato, tanto off line quanto on line, os laços fracos facilitam a

ligação de pessoas com diversas características sociais, expandindo a sociabilidade

para além dos limites socialmente definidos do auto-conhecimento.

Outro ponto de interatividade e, portanto, de destaque da web interativa é a explosão

das comunidades virtuais. Lemos e Lévy (2010) apresentam uma conceituação bastante

simplista das comunidades virtuais ao dizer que se trata de “um grupo de pessoas que estão

em relação por intermédio do ciberespaço”. Os teóricos compreendem que a discussão em

torno das comunidades virtuais teve início com a publicação do livro Virtual Communities

(1993), de Howard Rheingold. Esse expoente definiu as comunidades virtuais como

“agregados sociais que surgem da Rede [Internet], quando uma quantidade suficiente de gente

leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes

sentimentos humanos, para formar redes de laços sociais no ciberespaço” (RHEINGOLD,

1995 apud RECUERO, 2008, p. 65).

Page 26: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Diferentemente das comunidades físicas, as comunidades virtuais têm a vantagem de

estarem territorialmente dispersas, o que aumenta exponencialmente a possibilidade de

interação com um grupo ainda maior e mais diversificado de sujeitos sociais. Essa

característica confere maior dinamicidade e diversidade do fluxo de informação que circula

nesses espaços interativos.

No campo da Ciência da Informação, a definição mais pertinente ao nosso estudo e

que melhor se aproxima às proposições introdutórias de Rheingold e dos demais autores

supracitados corresponde à de Szabó (2008, p. 21), para quem as comunidades virtuais são

agregados sociais que surgem a partir das interações entre os indivíduos que,

independentemente de suas localizações geográficas, trocam impressões e saberes

sobre determinado tema de interesse de forma constante, possibilitando o

conhecimento e a ação em decorrência dessas ações.

Os elementos constituintes das comunidades virtuais são, segundo Recuero (2008), as

discussões públicas, os atores sociais que mantêm encontros e reencontros para dar

prosseguimento às discussões, o tempo e o sentimento que motiva essas interações. A autora

acrescenta ainda que o surgimento das comunidades virtuais está relacionado às redes sociais

online por meio das interações que ocorrem nesses espaços, de maneira que quanto mais

houver interação nas redes sociais online, maior será a probabilidade de surgimento das

comunidades virtuais para dar prosseguimento às discussões em um lugar específico e voltado

apenas a essa tarefa.

Porém, devemos considerar a existência de comunidades virtuais que são opostas a

essa concepção. Como exemplo, temos a Wikipédia, que desde seu surgimento teve como

proposta inicial ser uma comunidade virtual e só posteriormente ela abriu espaço para que

seus colaboradores pudessem interagir constantemente entre si, formando também uma rede

social de colaboradores e editores dessa enciclopédia. Dessa forma, registramos a presença de

comunidades virtuais que originaram redes sociais online ao longo de seu funcionamento,

acontecendo de maneira inversa ao que Recuero (2008) afirma.

Certamente, as comunidades virtuais apresentam particularidades que as distinguem

das comunidades físicas, não se tratando de pólos antagônicos, mas específicos. Castells

(1999, p. 444-446) concebe as comunidades virtuais como

formas diferentes de comunidade, com leis, dinâmicas específicas, que interagem

implicitamente com o conceito idílico de comunidade, de uma cultura muito unida,

espacialmente definida, de apoio e aconchego, que provavelmente não existia nas

sociedades rurais, e que decerto desapareceu nos países desenvolvidos. [...] As

comunidades virtuais não são comunidades físicas, e não seguem os mesmos

modelos de comunicação e interação das comunidades físicas, porém não são irreais,

funcionam em outro plano da realidade. São redes sociais interpessoais, em sua

maioria, baseadas em laços fracos, diversificadíssimos e especializadíssimos capazes

de gerar reciprocidade e apoio por intermédio da dinâmica da interação sustentada.

Page 27: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Seguindo essa linha de raciocínio, Medeiros (2003, p. 35) endossa o mesmo discurso

ao afirmar que

as comunidades virtuais não constituem um mundo à parte do mundo físico, nem são

meramente paralelismo existencial. São realidades conflituosas, éticas e morais,

cheias de afinidades e amizades, grupos de relacionamento e discussão, assim como

no mundo físico. Sendo assim, não são comunidades irreais ou ilusórias, mas

coletivos em contínua organização, articulando-se por meio da comunicação

eletrônica. São comunidades atuais, coordenadas pela cibercultura, cujas metas

devem contemplar a construção do laço social de cidadania e democracia, livrando-

se das normas legitimamente impositoras das instituições e das relações de poder

hierarquizadas por organogramas do sistema. Nascendo para o interesse comum, as

comunidades virtuais, constituintes da sociedade ciberinformacionais, estão

inclinadas a efetivarem os laços de socialização do saber e aprendizagens

cooperativas.

Ainda no âmbito das comunidades virtuais, o agregado social eletrônico que se forma

pode ter duas conotações: comunitárias e não comunitárias. Lemos e Lévy (2010) discursam

que, na primeira, os participantes compactuam o ponto de vista de que o compartilhamento

simbólico de emoções e sentimentos são de fundamental importância para a dinâmica do

grupo. Já na segunda, o envolvimento emocional entre os membros participantes é

dispensável porque os participantes estão mais focados em compartilhar informações e

experiências de forma transitória. Inferimos que as agregações comunitárias têm na

subjetividade o estímulo para a relação grupal, enquanto as não-comunitárias estão centradas,

em sua maioria, na objetividade.

Com base no que expomos até o presente momento, apresentamos abaixo um quadro

comparativo que apresenta as características mais marcantes entre as gerações 1.0 e 2.0 da

web.

Quadro 1: Gerações da Web

Web 1.0 Web 2.0

Sistema fechado Sistema aberto

Ambiente estático Ambiente dinâmico

Leitura de conteúdo Leitura/escrita de conteúdo

Baixo poder interativo Alto poder interativo

Interação predominantemente reativa Multi-interação (interação reativa + interação mútua

simultaneamente)

Produção hierárquica (um-todos) Produção hierárquica inexistente

Comunicação preestabelecida Comunicação dinâmica sempre em desenvolvimento

Conteúdo controlado Conteúdo coletivo (colaborativo)

Explosão de plataformas interativas: redes sociais,

comunidades virtuais, sistemas abertos, etc.

Fonte: Elaborado pela autora.

A web é um espaço passível a mudanças evolutivas constantes. Essa concepção pode

ser nitidamente perceptível na rápida transição de uma fase para outra. O anseio por

Page 28: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

renovações e inovações constantes desponta para uma terceira geração: a web 3.0 ou web

semântica. Na academia, é possível visualizar os debates acerca dessa transição tecnológica.

A quantidade de informações que tomou conta da web a partir das plataformas abertas

e interativas dificultou o trabalho dos usuários em localizar e recuperar as informações para

suprir as suas necessidades informacionais. Nesse sentido, a web 3.0 surgirá como uma

proposta de aperfeiçoar os recursos informacionais conferindo significados a eles, cessando

ou, pelo menos, diminuindo os problemas relacionados à busca, à localização e à recuperação

das informações de que os usuários precisam. Em outras palavras,

a Web Semântica [ou web 3.0] seria uma extensão da Web atual que apresentaria

recursos informacionais melhor estruturados e representados, ou seja, o conteúdo

informacional destes recursos seriam melhor explicitados e definidos

semanticamente, formando uma rede de informações conectadas que por meio de

ferramentas tecnológicas, tais como os agentes de software, proporcionaria uma

melhor recuperação de informação (ALVES, 2005, p. 28).

Seguindo essa linha de proposições, Villalobos e Silva (2010) afirmam que a web

semântica tem como primado fundamental a construção de uma rede na qual os documentos

tenham a possibilidade de serem representados de forma contundente e estruturados, de modo

a permitir a indexação mais eficaz para apresentar resultados cada vez mais precisos.

Mesmo com o estágio avançado das discussões sobre esse assunto, Passarelli (2008)

afirma que a web 3.0 está distante de ser uma realidade concreta nos dias atuais porque a

tecnologia a ser usada por essa nova geração é inexistente até o momento. A autora afirma

que um dos problemas na transição da 2.0 para a 3.0 diz respeito à dificuldade de se

categorizar em tags todo o estoque informacional que se encontra disponibilizado na web

atualmente. Outro problema citado corresponde à ausência de um acordo para a escolha dos

protocolos dos metadados mais adequados à otimização das atividades a serem realizadas

nessa geração.

A existência de todos esses percalços, segundo Passarelli (2008), não impediu o

surgimento de projetos isolados baseados nas concepções da web semântica, como Friend of a

Friend (FOAF), que formam descrições pessoais sucintas em uma linguagem denominada

Resource Description Framework (RDF), disponibilizadas apenas para programadores, e o

Google Image Labeler, que convoca pessoas a indexar fotografias digitais segundo seus

conteúdos. Esse último projeto funciona como uma competição, na qual os participantes

devem colaborar e competir entre si para ver quem indexa mais imagens. É um sistema

baseado no coopetition (colaboração e competição).

Page 29: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

2.2 A Consolidação do Ciberespaço na Comunicação da Informação Digital

A criação da word wide web, mais precisamente da web 2.0 e da rede hipertextual,

segundo informa Monteiro (2007), foi responsável pela extensa disseminação do que hoje

denominamos de ciberespaço.

Compreender a dinamicidade e a fluidez que envolve o ciberespaço é uma tarefa

basilar nos dias atuais, considerando que a grande maioria das atividades humanas ocorre

nesse ambiente. Willliam Gibson foi pioneiro a se debruçar sobre essa questão, publicando,

em 1984, no livro Neuromancer, a primeira definição sobre o ciberespaço. A conceituação

dele foi traduzida e republicada em vários idiomas, inclusive, em português. Para o autor, o

ciberespaço é

Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões de operadores

autorizados, em todas as nações, por crianças aprendendo altos conceitos

matemáticos... Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de dados

de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável.

Linhas de luz abrangendo o não-espaço da mente; nebulosas e constelações

infindáveis de dados. Como marés de luzes da cidade (GIBSON, 2003, p.67).

Na realidade, a definição de ciberespaço, aparentemente abstrata, elaborada por

Gibson, serviu de base para designar a amplitude que abarca as redes digitais, considerando

esse novo espaço como uma área de confronto entre as organizações estrangeiras, cenário de

embates mundiais e um espaço dedicado às interações, ao intercâmbio cultural e às relações

econômicas.

A conceituação de Gibson impulsionou a evolução e o desenvolvimento de sucessivas

definições sobre o novo espaço digital. Os novos estudos fizeram surgir concepções cada vez

mais abrangentes, como a de Lévy (1999, p. 92, grifo do autor):

Eu defino o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão

mundial de computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui

o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos [...], na medida em que

transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à

digitalização. Insisto na codificação digital, pois ela condiciona o caráter plástico,

fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e,

resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distinta do ciberespaço.

Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os

dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação.

A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o

ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade

a partir do início do próximo século.

As impressões desses autores são similares quanto à ideia central do ciberespaço, e

Monteiro (2007) também compartilha desse mesmo ponto de vista. Na literatura da autora, o

ciberespaço é concebido como um espaço virtual e desterritorializado capaz de disponibilizar

uma quantidade incalculável de informações, que agrega todas as mídias anteriores e oferece

Page 30: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

recursos ainda maiores se comparado às outras formas de obtenção de informação. Ela

considera que ainda há muito o que se descobrir no ciberespaço porque este ainda é um

terreno permeado de incertezas e desafios que pairam sobre seus postulados teóricos e

práticos. O que se tem de concreto sobre ele é que ele se trata de um espaço aberto, fluido,

dinâmico e navegável, que possibilita a interação entre homem-máquina, máquina-máquina,

homem-máquina-homem. Ao adentrar nesse espaço “místico”, o usuário transpõe as barreiras

geográficas e espaciais, podendo intercambiar informação e conhecimento em vasta escala.

Consequentemente, o ciberespaço rompe com a concepção de espaço fixo e demarcado pelas

delimitações de linhas e espaços geográficos estáticos.

Essas peculiaridades nos permitem enxergar o ciberespaço como o único meio de

informação e comunicação técnico capaz de ser acessado em tempo real e em nível global,

graças às potencialidades da Internet. A acessibilidade, a usabilidade, o baixo custo e o

alcance mundial foram fatores determinantes para que o ciberespaço passasse a ser estimado

como o mass-media da pós-modernidade (OLIVEIRA; VIDOTTI; CABRAL, 2005).

O expressivo exponencial de informações que se encontram indexadas no ciberespaço

levou Vidotti (2001, p. 44) a ver esse espaço digital como “uma grande biblioteca, ou como

um ambiente hipermídia coletivo, no qual os usuários são agentes ativos do processo de

armazenamento, indexação, recuperação e disseminação de documentos eletrônicos

hipertextuais, um ambiente auto-organizado em permanente mutação”. Fazendo uma

aproximação ao objeto de estudo, consideramos a Wikipédia como a enciclopédia mais

volumosa desse acervo, pois ela está constantemente sendo revisada e atualizada pelos seus

editores, de forma voluntária e colaborativa.

A possibilidade de congregar diversos atores sociais em um mesmo espaço para

discutir questões que vão desde política e cidadania até futebol, fez com que o ciberespaço

fosse visto por Velloso (2008) como a ágora eletrônica da modernidade, isto porque, na

Antiguidade Clássica, as interações e os debates mais importantes da sociedade grega eram

realizados na ágora (ou polis grega). Na sociedade atual, esses debates podem e são mediados

pelas tecnologias digitais, que trazem um espírito renovador ao poder incluir um número

maior de pessoas distribuídas em espaços geograficamente dispersos em torno de uma mesma

discussão, dispensando-se, por vezes, aspectos como religião, idade, cultura e nacionalidades

díspares.

A instituição da ágora eletrônica na sociedade moderna só é possível devido aos três

pilares que sustentam a cibercultura: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência

coletiva. As partes constituintes do ciberespaço são relatadas por Lévy (1999) como os fatores

Page 31: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

que elevaram o crescimento e a importância desse ambiente virtual desde o início. Notemos

também que esses três pilares da cibercultura só foram possíveis de se estabelecer a partir da

segunda geração da web, pois, na primeira, o nível de interatividade com e entre os usuários

era bastante irrisório, inviabilizando a existência das comunidades virtuais, da inteligência

coletiva e das interconexões.

A cultura que rege as atividades que acontecem no ciberespaço, ou simplesmente

cibercultura, considera a interconexão como fator indissociável e essencial para a

comunicação universal, caminhando em direção a uma civilização da telepresença

generalizada. A interconexão “constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras, cava

um meio informacional oceânico, mergulha os seres e as coisas no mesmo bando de

comunicação interativa” (LÉVY, 1999, p. 127). O ideal de interconexão é ter todos ou, pelo

menos, a maioria dos indivíduos conectados, mantendo conexões à distância cada vez maiores

e melhores.

A partir do momento em que esses indivíduos passam a se relacionar através dessas

interconexões, surgem as comunidades virtuais, oriundas da comunicação interativa em rede.

Retomando as considerações sobre comunidades virtuais, Lévy (1999, p. 197) informa que ela

“é construída sobre as afinidades de interesses de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em

um processo de cooperação ou troca, tudo isso independentemente das proximidades

geográficos e das filiações institucionais”. O autor discorre que a reunião das pessoas para a

formação das comunidades virtuais abarcam as emoções, o envolvimento, a responsabilidade

individual e a opinião pública. A “netiqueta” aparece como o conjunto de leis que regem a

dinâmica dessas interações, principalmente, no que tange à pertinência das informações que

circulam nesses espaços. A reciprocidade também é considerada como elemento essencial das

comunidades virtuais.

Ainda segundo Lévy (1999), a melhor forma de fazermos uso das vantagens que o

ciberespaço dispõe é mobilizando as competências intelectuais dos seus usuários, otimizando

e agregando informações e conhecimentos a tudo que transita nesse espaço. As concepções da

inteligência coletiva serão debatidas mais adiante, mas, antes, é preciso ter clareza de que se

trata de um campo de “embates”. De um lado, trata-se, nas palavras de Lévy (1999), de um

“veneno” para aqueles que não podem e não participam da inteligência coletiva de tão vasta e

complexa que ela é. De outro, ela é um “remédio” para aqueles que conseguem navegar e

fazer parte dessa dinâmica, valorizando as experiências individuais dos sujeitos sociais.

Page 32: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

2.3 A Linguagem Hipertextual no Ciberespaço

Sem sombra de dúvidas, a linguagem hipertextual é uma marca no ciberespaço. Os

primeiros passos para a invenção do hipertexto foram dados pela primeira vez em 1945, por

Vannevar Bush, em seu artigo intitulado “As We May Think”. Bush propôs a criação de um

dispositivo nomeado memex para mecanizar a classificação e a seleção por associação aos

princípios da indexação clássica. No entanto, era necessária a invenção de um dispositivo

capaz de abranger os mais variados tipos de documentos, contendo sons, imagens e textos. O

memex de Bush daria a possibilidade de criar “interconexões” independentemente da

hierarquização existente entre uma informação ou outra, funcionando como uma espécie de

links, embora essa designação tenha ficado fora de cogitação.

O Memex, portanto, permitiria o acesso rápido e não-linear a diversas unidades

individuais de informação multimídia relacionadas por meio de ligações. Para

Shneiderman e Kearsley, essa idéia de Bush trata do elemento mais importante do

hipertexto: os links entre documentos (DIAS, 1999, p. 269).

No limiar dos primeiros anos da década de 1960, o desenvolvimento dos sistemas

teleinformáticos estava se instalando, quando Theodore Nelson designou o termo hipertexto

para nomear a escrita e a leitura não-linear em sistemas de informática. A idealização de

Nelson era implantar uma rede acessível em tempo real capaz de conectar a maior quantidade

de escritos literários e científicos do mundo. Dessa maneira, várias pessoas poderiam manter

relações interpessoais, utilizando a linguagem hipertextual mediante o uso do Xanadu.

Os avanços da ciência e da tecnologia contribuíram para a evolução dos projetos

Memex e Xanadu, originando o que hoje temos e conhecemos como hipertexto. As

características principais do hipertexto sofreram poucas transformações ao longo do tempo e,

por definição, ele continua sendo uma rede textual não-linear, aberta, interconectada a outros

textos em áudio, vídeo, imagem ou mesmo textos escritos.

Lévy (1993, p. 33) apresenta duas definições para o hipertexto. Na perspectiva técnica,

o hipertexto é “um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas,

imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que

podem ser eles mesmos hipertextos”. Na perspectiva funcional “o hipertexto é um tipo de

programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a

comunicação” (LÉVY, 1993, p. 33).

Oliveira, Vidotti e Cabral (2005) partem da concepção de que o ciberespaço engendra

e articula um hipertexto soberano, construído por um número superior de interconexões

generalizadas, mantendo um ciclo de auto-organização e retroalimentação constante. Para os

Page 33: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

autores, o hipertexto é um conjunto vivo de significações que está linkado com os

componentes do ciberespaço: os hiperdocumentos, os indivíduos e ambos simultaneamente.

Tomamos as palavras de Rezende (2000, p. 2) para clarear ainda mais esse entendimento:

Hipertexto pode ser visto como uma forma, um modo ou um estilo de armazenar,

representar, apresentar e recuperar informações. Não existe propriamente numa

estrutura ou organização, porque, se estende numa configuração de rede, que pode

ser redesenhada a cada usuário que dela se utiliza. Sua dinâmica é ditada pela função

associativa, que fornece links entre os diversos nós da rede, permitindo a navegação

do usuário por trilhas que ele escolher. Outro ponto a ser destacado é a mediação, a

interface representada pela tecnologia computacional, que vai dar suporte para que

essas funções possam ocorrer de maneira interativa e em tempo real.

Além dessas especificidades mencionadas, a interatividade é considerada por Dias

(1999), Santaella (2004), Passarelli (2008) e Rezende (2000) como uma das marcas da

linguagem hipertextual no ciberespaço. As autoras consideram a interatividade como o fator

determinante que possibilita que o usuário/leitor tenha a liberdade de traçar e escolher quais

são os percursos que ele deve trilhar na sua leitura imersiva.

No entendimento de Passarelli (2008), o hipertexto é um avanço bastante significativo

na autonomia do leitor porque rompe com a narrativa linear consagrada em vários anos de

escrita. Na verdade, desde os primórdios, a escrita também dispunha (e ainda dispõe) de

mecanismos hipertextuais que quebram a linearidade do texto escrito pelo autor, como as

notas de rodapé, sumários e imagens. O diferencial entre os hipertextos digitais e analógicos

incide na identificação em que cada qual se inicia. Nos (hiper) textos analógicos, a

identificação de início, meio e fim é mais notável, enquanto no hipertexto digital, a

delimitação em início, meio e fim é mais complexa de ser identificada.

Ao se materializar no espaço digital, o hipertexto apresenta algumas modificações em

relação aos hipertextos impressos, especialmente nos aspectos de linearidade, unicidade,

permanência e autoria (FREIRE, 2003). A linearidade é quebrada ao passo em que

leitor/usuário seleciona aleatoriamente quais são os caminhos a serem percorridos no trajeto

da sua leitura. A unicidade parte do pressuposto de que o hipertexto, especialmente o digital,

pode possuir inúmeros textos, inclusive, de autores distintos. A permanência está ligada à

ideia de que, no hipertexto digital, nada é permanente, porque as informações linkadas podem

ser alteradas a qualquer hora e sem aviso prévio. A autoria se relaciona com a noção de

agregação de informação e conhecimento aos hipertextos digitais.

Indubitavelmente, o hipertexto é passível de modificações mediante as evoluções que

acontecem no transcorrer das atividades humanas. Lévy (1993) estabelece seis princípios

abstratos capazes de identificar o hipertexto frente às possíveis mudanças:

Page 34: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

a) Princípio da metamorfose: a rede hipertextual está em permanente construção e

renegociação;

b) Princípio da heterogeneidade: os nós e as conexões de um hipertexto são,

essencialmente, heterogêneos por abrangerem indivíduos, grupos, artefatos, forças

naturais, associando as partes em várias possibilidades;

c) Princípio da multiplicidade de encaixe das escalas: a organização do hipertexto se dá

de forma “fractal”, ou seja, o nó ou a conexão pode ser constituído por uma ou mais

redes;

d) Princípio da exterioridade: o crescimento ou a modificação da rede hipertextual

depende da agregação de elementos novos e externos a ela;

e) Princípio da topologia: o funcionamento da rede hipertextual se dá por proximidade,

vizinhança. A rede hipertextual não está presente no espaço, ela é o próprio espaço; e

f) Princípio da mobilidade dos centros: o hipertexto não possui um centro fixo. Aliás, a

rede hipertextual possui muitos centros móveis que transitam de um lado para outro.

Todas essas considerações exibidas em torno da rede hipertextual conferem ao

ciberespaço e à sociedade contemporânea características como instantaneidade,

transitoriedade, interoperabilidade e interatividade (PASSARELLI, 2008).

2.4 Inteligência Coletiva: Rumo ao Espaço do Saber

A inteligência coletiva aparece como um elemento basilar da cibercultura e da

interatividade ao passo em que alicerça toda a sua dinâmica de funcionamento. Como dito

anteriormente, a inteligência coletiva tem como excelência a valorização dos saberes dos

sujeitos.

Nas observações de Lévy (1998), a partir do momento em que o saber, em sua mais

ampla magnitude, passar a ser considerado como fator primordial à vida em sociedade,

teremos o nascimento de um “novo espaço antropológico”: o Espaço do Saber. Essa nova

antropologia teria potencialidades suficientes para reger os antigos espaços antropológicos: a

Terra, o Território e o Espaço Mercantil (ou de mercadorias). Nessa perspectiva, o espaço

antropológico “é um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano

(antropológico), e, portanto, depende de técnicas, de significações, da linguagem, da cultura,

das convenções, das representações e das emoções humanas” (LÉVY, 1998, p. 23).

O primeiro dos espaços ocupados pela humanidade foi a Terra. Por isso, é um espaço

dotado de signos, significados e sentidos. É na Terra que se encontram todas as formas de

Page 35: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

vida da natureza, é o lugar onde todas essas esferas estão em permanente interação,

comunicando-se, evoluindo e metamorfoseando-se cotidianamente. A linguagem, as técnicas

e as formas complexas de organização social são características que nos permitem ser

diferenciados dos outros seres vivos. Esse espaço antropológico também é marcado pelos

mitos e pelos ritos próprios do homem (LÉVY, 1998).

O segundo espaço, o Território, começa a se desenhar ainda sobre a Terra, a partir da

criação e domesticação de animais. As marcas mais expressivas do Território também se

fazem presentes quando se observa o rápido desenvolvimento da agricultura e das cidades,

desencadeando no aparecimento da escrita e do Estado. As paisagens naturais dominantes na

Terra “cedem” espaços para a arquitetura (LÉVY, 1998).

O Espaço Mercantil (ou das mercadorias) começa a se desenvolver ainda no século

XVI, com o advento de um espaço mundial originado da conquista das Américas pelos

europeus. O fluxo é o vetor que organiza o terceiro espaço, seja de energias, matérias-primas,

mercadorias, capitais, mão de obra e informações. A velocidade se torna o fator condicionante

da evolução da sociedade. Nesse sentido, as indústrias de tratamento de matérias e da

informação se tornam visivelmente soberanas. Aos poucos, a tecnociência passa a conquistar

seu espaço no terceiro espaço antropológico (LÉVY, 1998).

A emergência do quarto espaço, o Espaço do Saber, trará a probabilidade de

reconfigurar os espaços anteriores. O diferencial desse espaço é inserir no cerne de suas

atividades a inteligência e o saber coletivo. Lévy (1998) afirma que as redes econômicas e

potências territoriais dependem consideravelmente da alta velocidade do aprendizado e da

imaginação coletiva da humanidade. No que se refere ao diferencial, o autor aponta três

vantagens: a velocidade na evolução dos saberes, a grande quantidade de indivíduos

convidados a aprender e a gama de variedades existentes no ciberespaço. A sinergia desses

três elementos tem a capacidade de permitir “paisagens inéditas e distintas, identidades

singulares, específicas desse espaço, [e] novas figuras sócio-históricas” (LÉVY, 1998, p. 24).

Uma característica marcante do Espaço do Saber é que ele “incita a inventar um laço

social em torno do aprendizado específico, da sinergia das competências, da emancipação e da

inteligência coletiva” (LÉVY, 1998, p. 26).

Freire (2005, p. 135) reforça essas considerações ao falar que,

no espaço do saber, as tecnologias da informação e da comunicação nos permitiriam

criar e percorrer mundos virtuais, colocando sobre novas bases os problemas do laço

social e abrindo possibilidades não somente para pensarmos coletivamente a

aventura humana, mas principalmente influenciá-la [...] [e direcioná-la para o

surgimento de inteligências coletivas da humanidade].

Page 36: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Outro ponto de destaque são as considerações de Andrade et al (2011, p. 2) que

revelam que, para a construção do Espaço do Saber, de fato, é necessário que haja a adoção de

instrumentos e técnicas capazes de otimizar e racionalizar a informação para que se torne

suficientemente acessível, “de modo que cada um possa orientar-se e reconhecer seus pares

em função dos seus interesses, competências, projetos, meios e identidades recíprocos”. Nesse

horizonte, vemos que as tecnologias digitais da informação e da comunicação citadas por

Freire (2005) podem ser consideradas como uma solução pertinente a essa questão.

E a pergunta que paira sobre nós, de quando se instala o Espaço do Saber, é

respondida por Lévy (1998, p. 28):

O Espaço do Saber começa a viver desde que se experimentam relações humanas

baseadas nesses princípios éticos da valorização dos indivíduos por suas

competências, de transmutação efetiva das diferenças em riqueza coletiva, de

integração a um processo social dinâmico de troca de saberes, no qual cada um é

reconhecido como uma pessoa inteira, não se vendo bloqueada em seus percursos de

aprendizado por programas, pré-requisitos, classificações a priori ou preconceitos

em relação aos saberes nobres ou ignóbeis.

Através da evolução interativa da web, percebemos que o ciberespaço e o Espaço do

Saber são cristalizados na dinâmica da cibercultura. Nessa perspectiva, Passos e Silva (2012)

afirmam que as noções de sociedade em rede em consonância com os mecanismos de

interação dispostos pela geração 2.0 são subsídios impulsionadores da inteligência coletiva no

ciberespaço, e, consequentemente, do Espaço do Saber. A conotação de inteligência coletiva

para as autoras tem o sentido de que se refere “a um tipo de inteligência que é disseminada em

grande escala e em tempo real no ciberespaço” (PASSOS; SILVA, 2012, p. 129).

A concepção de Medeiros (2001, p. 6) é mais completa e diz que a “inteligência

coletiva é entendida mediante a relação dos saberes com a práxis social, seja individual-

comunitária seja virtualmente pertencente à invisibilidade dos traços do ciberespaço, este

último articulador dos vários saberes”. Essa compreensão de Medeiros (2001) se aproxima

bastante das considerações de Lévy (1998) acerca do Espaço do Saber.

A inteligência coletiva é aquela que se faz presente em todos os lugares, sumariamente

valorizada e também coordenada em tempo real, resultante da mobilização das competências

dos indivíduos, cuja base fundamental é o reconhecimento e a valorização mútua das pessoas

(LÉVY, 1998).

A inteligência coletiva amplia consideravelmente a dimensão da comunicação humana

ao permitir o compartilhamento de conhecimento, direcionando-o de pessoa para pessoa

(ANDRADE et al, 2012). Nesse aspecto, ela ultrapassa a conotação de pôr os indivíduos em

Page 37: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

consonância para “trabalhar” em conjunto e atingir uma finalidade específica, passando a

considerar também as experiências individuais positivas e negativas dos sujeitos envolvidos.

Para Brennand (2001, p. 4),

[a] inteligência coletiva se constrói através do diálogo de saberes. O diálogo entre os

saberes diversos pode permitir o estabelecimento de consensos que se apoiam sobre

os elementos do mundo da vida, permitindo aos indivíduos compartilhar seus planos

de ação e fomentar a ação comunicativa que é a responsável pela coordenação do ato

social. A ação voltada ao entendimento pressupõe a existência de um espaço

democrático de construção, potencializado pela ação crítica que vai desencadear a

capacidade de construção crítica do pensamento e da ação.

Para tanto, reafirmamos que é preciso considerar o saber em sua totalidade. O saber

tem de ser visto e considerado sob a ótica de Lévy (1998, p. 121), que diz:

Não se trata apenas, é claro, do conhecimento específico – recente, raro e limitado -,

mas daquele que qualifica a espécie homo sapiens. Cada vez em que um ser humano

organiza ou reorganiza a sua relação consigo mesmo, com seus semelhantes, com as

coisas, com os signos, com o cosmo, ele se envolve em uma atividade de

conhecimento, de aprendizado. O saber, no sentido em que o entendemos aqui, é um

savoir-vivre [saber-viver] ou um vivre-savoir [viver-saber], um saber co-extensivo à

vida. Tem a ver com um espaço cosmopolita e sem fronteiras de relações e de

qualidades, um espaço da metamorfose das relações e do surgimento das maneiras

de ser; um espaço em que se unem os processos de subjetivação individuais e

coletivos [...]. O Espaço do saber é habitado, animado, por intelectuais coletivos –

imaginantes coletivos – em permanente reconfiguração humana.

Continuamente, o axioma inicial da inteligência coletiva consiste em ver a inteligência

presente por todos os lados. Sob essa visão, ninguém sabe tudo, mas todos sabem algo de

importante e de valor que merece ser compartilhado com os demais. Todos detêm um

conhecimento específico em uma área também específica. Essas considerações constituem o

que Lévy (1998) chama de uma inteligência distribuída por toda parte.

Valorizar as inteligências que se encontram espalhadas por todas as partes é

primordial, e essa valorização deve extrapolar as concepções de que uma pessoa inteligente é

aquela que possui um alto nível de instrução escolar. Os saberes ultrapassam as fronteiras das

instituições de ensino e das classes sociais. Esses preceitos constituem o que se chama de uma

inteligência incessantemente valorizada (LÉVY, 1998).

A coordenação das inteligências individuais deve ser feita através das interações no

ciberespaço em tempo real. A meta principal, na coordenação das inteligências em tempo

real, é transformar o ciberespaço em um “espaço móvel das interações entre conhecimentos e

conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados” (LÉVY, 1998).

O ideal de inteligência coletiva requer a mobilização efetiva das competências

(LÉVY, 1998). Para isso, é mister identificar, reconhecer e valorizar essas competências,

direcionando-as para o exercício das tarefas a serem realizadas coletivamente.

Page 38: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

O ciberespaço vai se consolidando aos poucos como o quarto espaço antropológico, ou

Espaço do Saber. Chegamos a essa compreensão ao percorrer todo o trajeto evolutivo da rede

mundial de computadores e constatar que as ferramentas colaborativas e os espaços abertos de

interação valorizam o que os seres humanos têm de mais precioso: o saber.

É importante ressalvar que a compreensão de inteligência coletiva no ciberespaço se

consolida também nos processos colaborativos, nos softwares livres e produções culturais

coletivas abertas. Essas exposições serão abordadas mais detalhadamente no capítulo

seguinte.

Page 39: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

3 PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS NO CIBERESPAÇO

O trabalho colaborativo emerge como uma das prerrogativas fundamentais da web 2.0.

A difusão dessas práticas colaborativas ganhou mais visibilidade por meio da adesão dos

usuários às ferramentas gratuitas de inserção de conteúdo e de fácil manipulação. Porém, faz-

se necessário evidenciar que o trabalho colaborativo é antecedente ao surgimento das

tecnologias de informação e comunicação, e é justamente devido a este trabalho em conjunto

que foi possível o aparecimento dessas tecnologias. Notadamente, o trabalho colaborativo e

cooperativo é inerente à própria vida em sociedade porque ela é composta de indivíduos

sociais que mantêm relações sociais e são interdependentes entre si no que se refere ao

exercício de suas atividades rotineiras de diversas naturezas.

Kaye (1992, p. 2, tradução nossa) apresenta uma definição etimológica de

colaboração, segundo a qual esse termo “significa trabalhar junto, o que implica o conceito de

objetivos compartilhados, e uma intenção explícita de somar valor – criar valor a alguma

coisa nova ou diferente através da colaboração, se opondo a passar uma simples troca de

informação ou passar instrução”.

A concepção de Kaye (1992) evidencia a colaboração como uma atividade relacional,

ou seja, envolve mais de um indivíduo protagonizando o exercício do trabalho colaborativo.

Essa relação se cristaliza na troca de conteúdo que acontece entre esses sujeitos, conferindo

características específicas e únicas durante o processo. Para que a colaboração se efetive, os

sujeitos sociais necessitam manter interações constantemente com o intuito de discutir as

atividades a serem realizadas, intercambiando as ideias que, por ventura, possam surgir dessas

interações. Logo, é possível identificar que o pensamento de Kaye (1999) é semelhante às

exposições feitas por Mezura-godoy e Talbot (2001) sobre a colaboração.

A produção colaborativa nos permite compreender que se trata de um processo

recíproco no qual as pessoas intercambiam informação e conhecimento voluntariamente, sem

a regência aparente de autoridades, seja física ou jurídica. Na colaboração, o modelo de

comunicação que impera é o horizontal, descentralizado, cuja valorização consiste na

autonomia do indivíduo, na diversidade de discursos, nos pontos de vista divergentes e na

agregação de valor ao todo. No que se refere à descentralização, é pertinente acentuar que, ao

possibilitar que qualquer cidadão se torne produtor de conteúdo, principalmente conteúdo

digital, a produção colaborativa também pode ser considerada uma das molas propulsoras do

fluxo informacional que circula atualmente no ciberespaço porque descentraliza a produção e

a disseminação das informações dos grandes conglomerados midiáticos.

Page 40: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Além de considerarmos que o ponto chave do trabalho colaborativo corresponde à

reciprocidade, tanto da relação social quanto das metas a serem produzidas, devemos observar

também os cinco objetivos comuns elencados por Chesterman (2001), que, ao se articularem,

são capazes de providenciar o bom desenvolvimento de um trabalho colaborativo, quais

sejam: a finalidade comum, o compromisso, a transparência, a comunicação e a

potencialidade. As partes envolvidas produzem melhor e com mais engajamento quando

visam a alcançar um mesmo objetivo (finalidade comum). Ao assumir um compromisso

inerente a todos, os riscos e as recompensas reforçam a sua união (compromisso). A atividade

exercida por cada pessoa na produção colaborativa deve ser de conhecimento dos demais

(transparência). A comunicação entre os envolvidos é um pré-requisito indispensável, pois a

comunicação deve manter todos integrados e cientes das atividades executadas pelos seus

pares (comunicação). Além dessas considerações, é preciso que cada colaborador tenha seu

potencial buscado e valorizado pelo grupo (potencialidades).

Outro ponto em que a colaboração se faz presente é no conhecimento, especialmente

na evolução. Nesse quesito, o progresso deste é um fator dependente do trabalho exercido

coletivamente, ou seja, colaborativo. É através da colaboração que se intercambiam saberes,

opiniões e ideias, que, agindo em sinergia, acabam enriquecendo o conhecimento anterior e

brotando um novo conhecimento. Este, que outrora era individual, passa a ser um

conhecimento coletivo, considerado infinitamente superior à soma dos conhecimentos

individuais e anteriores, favorecendo, então, todos os envolvidos. Na colaboração,

todos os indivíduos devem participar, pois cada um possui modelos mentais,

experiências, insights únicos que podem enriquecer “o todo”. A colaboração, por si

só, baseia-se no construto coletivo para a formação do produto final a partir de

mudanças de valores entre o público e o privado [...] (SCHONS, 2008, p. 82, grifo

do autor).

Por isso, o resultado final passa a ser direcionado para o bem comum da coletividade.

Se, por um lado, as formas de produção colaborativa são vistas com bons olhos pelos

usuários, dada a valorização de suas contribuições, o mesmo não acontece com alguns

teóricos, que realizam críticas ferrenhas a esse “novo” modo de produção de conteúdo, que

coloca em um mesmo patamar de igualdade os conteúdos e as informações produzidas por

especialistas e não especialistas. Quanto a essa questão, Keen (2009) direciona crítica à

colaboração, compreendendo que apenas os especialistas são capazes de salvaguardar os

saberes e as informações, assim como a manutenção das instituições, livrando esses aspectos

das garras dos amadores.

Page 41: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Em relação à comunicação mediada por computador, Fragoso (2009) apresenta um

discurso reticente quanto a essa prática por achar que essa modalidade de comunicação

estimula o que há de mais nefasto na natureza humana. A autora enxerga um lado obscuro

desse ambiente virtual, compreendendo que o “ciberespaço é o reino da mentira, hipocrisia e

das más intenções” (FRAGOSO, 2009, p. 12). As formas de produção livre e aberta, que são

pilares do processo de colaboração no ciberespaço, podem acabar se tornando um espaço para

a manifestação dessas considerações apontadas pela autora.

Jenkins (2008, p. 55) chama a atenção para o que deve fazer parte desse processo de

produção colaborativa e compartilhamento, uma vez que é preciso “realizar atento escrutínio

de qualquer informação que fará parte do seu conhecimento, já que informações errôneas

podem levar a concepções mais errôneas, pois cada novo entendimento é interpretado à luz do

que o grupo acredita ser o conhecimento essencial”. Essa consideração do autor nos faz

lembrar que o sucesso ou o fracasso do trabalho colaborativo depende, especialmente, do grau

de ética, responsabilidade e compromisso por parte dos colaboradores, que devem avaliar bem

que tipo de informação está sendo compartilhada com seus pares, sobretudo, no que tange ao

critério de veracidade, pois uma informação desse tipo passada adiante pode ocasionar erros e

incoerências sucessivas.

As explanações desses autores nos permitem observar que o entendimento sobre a

produção colaborativa divide a opinião dos pesquisadores em duas vertentes divergentes: a

pessimista e a otimista. A primeira se mostra cautelosa a essa prática de construção de

informação e saberes que ocorre no ciberespaço, por entender que as informações vindas dos

mais variados lugares através de especialistas e amadores podem comprometer o teor e o

conteúdo dessas informações. A segunda perspectiva, por sua vez, compreende que as

informações surgidas, mantidas, circuladas, difundidas e compartilhadas de forma coletiva e

colaborativa podem trazer abordagens diferentes, agregando ainda mais valor e conteúdo às

primeiras informações.

3.1 Trabalho Imaterial: a Essência da Produção Colaborativa

As tecnologias intelectuais e interativas, como o ciberespaço, viabilizam as relações

sociais e as relações de produção colaborativa que se originam e se desenvolvem nesses

espaços, promovendo a circulação, a produção de informação e de conhecimento, e o

processamento de informação e de símbolos. Em outras palavras, a produção colaborativa

implica na realização do trabalho imaterial.

Page 42: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

O período pós-industrial imprimiu a expansão de bens de consumo imaterial, cuja

maior finalidade passa longe de ser o intercâmbio monetário, que ainda hoje sustenta o

sistema capitalista. Atualmente, a sociedade contemporânea comercializa os bens de origem

imaterial e, paralelamente a esse sistema, existe uma corrente que vai de encontro a essa

concepção mercadológica e se organiza autonomamente, produzindo, compartilhando e

disseminando bens imateriais de forma voluntária. Trata-se de um trabalho imaterial que

fomenta a produção de bens imateriais, normalmente, gerados por meio da colaboração.

As primeiras impressões acerca do trabalho imaterial começaram a ser desenvolvidas

ainda na década de 1990 por Lazzaroto e Negri (2001). Os pesquisadores relatam que o

desenvolvimento da sociedade pós-industrial está na concepção de transposição da força de

trabalho físico para o trabalho imaterial, depreendido como “intelectualidade de massa”. Esse

novo tipo de trabalho é capaz de emancipar e transformar o sujeito socialmente e

politicamente hegemônico.

Por definição de Hardt e Negri (2003), o trabalho imaterial é aquele que produz um

bem imaterial, geralmente uma informação, um serviço, um produto cultural, podendo ser

entendido sob duas perspectivas diferentes. A primeira diz respeito ao entendimento de que o

trabalho imaterial é primordialmente de cunho intelectual ou linguístico, envolvendo a

solução de problemas, as tarefas simbólicas e analíticas, e as expressões linguísticas. A

produção de bens imateriais originam produtos que são ideias, símbolos, códigos, textos,

formas linguísticas, imagens e outros produtos similares. A segunda forma de trabalho

imaterial é conhecida como trabalho imaterial “afetivo”, por produzir ou manipular afetos

como sensação de bem-estar, tranquilidade, satisfação, excitação ou paixão. Trata-se de

provocar percepções que proporcionem alguma forma de prazer, nem que seja momentâneo.

Os resultados do trabalho imaterial são frutos originários das relações sociais e das

trocas simbólicas que os indivíduos mantêm com seus pares. Tais relações são capazes de

expandir significativamente o campo do compartilhamento. As formas de trabalho imaterial

se tornam interdependentes das redes comunicativas e colaborativas compartilhadas, (re)

produzindo novas redes de relações intelectuais, afetivas e sociais, originando bens imateriais.

A grande quantidade de ferramentas que estão disponíveis no ciberespaço para a

colaboração dos usuários oportunizou que o exercício do trabalho imaterial pudesse ser

desenvolvido por intermédio de dois modelos diferentes.

Page 43: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

3.2 Modelos de Colaboração

Preliminarmente, precisamos compreender que o processo de produção colaborativa

acontece com força e intensidade diferentes em projetos específicos. Haythornthwaite (2009)

denomina a colaboração como peer production e envolve dois modelos distintos: o peer

production leve (PPL) e o peer production pesado (PPP).

O PPL é descrito como um modelo leve e simples, que dispensa aprendizado

específico e qualificado por parte dos seus colaboradores. O modelo leve é baseado em um

grande contingente de colaboradores que têm suas atividades e o conhecimento do que fazer

deliberado pelos donos do empreendimento. Essa subserviência aos proprietários otimiza o

tempo dos colaboradores por dispensar tempo e preparação para colaborar. Dessa forma, os

colaboradores do PPL têm a capacidade de iniciar rapidamente suas tarefas no trabalho

colaborativo.

O objetivo principal do modelo leve consiste em mobilizar o maior número de pessoas

para trabalhar com contribuições independentes e suficientemente capazes de aliviar as

demandas da coordenação dos projetos. Para Haythornthwaite (2009), a motivação em

participar de projeto do tipo leve advém do possível reconhecimento dos esforços e

desempenhos individuais ou até mesmo pela ideia de contribuir com um modelo livre e aberto

de colaboração, estimulando e sustentando a colaboração em PPL.

Outra característica desse modelo de produção é a falta de incentivo às relações sociais

entre os membros colaboradores, porque o foco principal é a realização de tarefas isoladas

para o fortalecimento do todo. No modelo leve, os colaboradores possuem total liberdade para

entrar e sair do projeto a hora em que bem entenderem. O tipo de produção colaborativa leve

possibilita que os colaboradores exerçam funções diferentes ao longo do projeto.

O exemplo do PPL mais conhecido é o SETI@ home (http://setiathome.berkeley.edu/).

Trata-se de um projeto que utiliza todo o tempo ocioso do computador de seus colaboradores

para procurar sinais de rádio que possam indicar a existência de vida extraterrestre. Para

participar dessa empreitada, o colaborador deve executar o download do programa BOINC e

prover o acesso a seu computador pessoal para uso pelo SETI. Este, por sua vez, fornece

informações acerca do projeto, mural de avisos, perfis para os usuários e estatísticas de uso. O

reconhecimento do engajamento dos participantes no projeto se dá pelo fornecimento de

resumos estatísticos das contribuições de tempo de computação denominado de “créditos”. É

possível ainda que os colaboradores envolvidos visualizem os dados totais e recentes ganhos

em comparação com os demais contribuintes (HAYTHORNTHWAITE, 2009).

Page 44: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Um segundo modelo de colaboração leve relatado por Haythornthwaite (2009) e que

serve de amostra é o do site do Mozilla, que incentiva o registro das ocorrências de erros nos

programas (bugs), tanto por pessoas com maior índice de especialização quanto por aqueles

de menor especialização (http://www.mozilla.org/contribute/). Os participantes que possuem

maior técnica são estimulados a fazer uso do software mais recente, seguindo as diretrizes

impostas pelo navegador para enviar os relatórios de erros (http://www.mozilla.org/bugs/bug-

reporting.html).

Os exemplos de modelos colaborativos do tipo leve têm como ponto em comum a

especificidade, a clareza e a definição das regras fundamentadas em uma hierarquia na qual os

colaboradores são inferiores às autoridades. Vale ressaltar ainda que projetos leves podem ser

modificados e encerrados a qualquer momento, desde que seja da vontade do proprietário.

De acordo com Haythornthwaite (2009), o modelo PPP é completamente oposto ao

modelo leve, a começar pela valorização dos pares e pelo compromisso com a manutenção e

com a sustentação do projeto, uma vez que sua dinâmica é similar à das comunidades virtuais.

O peso desse modelo reflete na configuração de uma esfera que abarca a totalidade do

indivíduo, perpassando pelo produto a ser colaborado, pelos processos internos, pela

experiência social e emocional que envolve toda a comunidade e a permanência dela.

Uma diferença importante é que o modelo pesado depende das constantes e

significativas colaborações, do tempo e da energia de seus contribuintes para se definirem e

manterem as regras de operação. O envolvimento de todos da comunidade requer a

construção coletiva e colaborativa do produto e das estruturas e regras internas de

funcionalidade. O conhecimento das regras de interação, conversação e participação é muito

importante para realçar a adesão, enquanto a ausência desses fatores implica na

estigmatização do colaborador como um iniciante ou até mesmo aprendiz. Haythornthwaite

(2009) afirma que o empenho dos colaboradores faz com que o projeto cresça e se consolide

frente às mudanças que vão surgindo no decorrer de suas atividades.

Enquanto, no modelo leve, o reconhecimento está focado na quantidade, no PPP, o

reconhecimento está ligado à junção da qualidade (peer-rated) com a quantidade e à avaliação

dos demais colaboradores quanto à conduta pessoal, sua relação com os demais

colaboradores, sua disponibilidade em relação ao projeto e à capacidade de apoio aos seus

esforços particulares na defesa dos objetivos comuns a todos os envolvidos

(HAYTHORNTHWAITE, 2009).

No que se refere ao modelo pesado, Haythornthwaite (2009) cita como exemplos a

comunidade acadêmica e os “colégios invisíveis”, que evidenciam o foco intradisciplinar das

Page 45: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

práticas e dos processos de revisão pelos indivíduos que formam as comunidades de

interesses mantidas pelos laços fortes. A autora assegura que a universidade é o melhor

exemplo de colaboração do modelo pesado por dois motivos principais. O primeiro deles diz

respeito aos colaboradores acadêmicos estarem sempre motivados pelo princípio de abertura,

sobretudo, das ideias da ciência aberta. O segundo é resultado da Internet, que incentivou a

descoberta de novas formas de se alcançar o ideal de ciência aberta com o reconhecimento do

trabalho desenvolvido individualmente. O desenvolvimento de repositórios institucionais,

publicações abertas em blogs, websites e afins impulsionaram esse movimento de acesso

aberto/ciência aberta, segundo Haythornthwaite (2009). A autora esclarece que ainda é

possível identificar projetos colaborativos híbridos, que conservam as características tanto do

PPL quanto do PPP.

3.3 Política de Informação para Produção de Conteúdo no Ciberespaço

A cibercultura inaugura um novo regime de informação, mais do que uma forma de

produzir e compartilhar conteúdos, informação e conhecimento. Nessa perspectiva, a

produção colaborativa se mostra para além das tecnologias que as envolvem, na medida em

que, na sua base, se encontra um conjunto de diretrizes e políticas que possibilitam o

planejamento, a implementação e a gestão dessa nova forma de produção e compartilhamento,

centrados na colaboração.

Com base em Frohmann (1995), o regime de informação pode ser entendido como um

sistema ou rede na qual o fluxo de informação tem a capacidade de circular pelos seus canais

de informação, como, por exemplo, dos produtores de informação específicos através de

estruturas específicas para usuários também específicos. González de Gomez (2002, p. 34)

tem essa mesma visão ao afirmar que o regime de informação é

[...] um conjunto mais ou menos estável de redes sociocomunicacionais formais e

informais nas quais informações podem ser geradas, organizadas e transferidas de

diferentes produtores, através de muitos e diversos meios, canais e organizações, a

diferentes destinatários ou receptores, sejam estes usuários específicos ou públicos

amplos. [...] assim, está configurado, em cada caso, por plexos de relações plurais e

diversas: intermediárias; interorganizacionais e intersectais [...] para nós, [um regime

de informação] estaria constituído pela figura combinatória de uma relação de

forças, definindo uma direção e arranjo de mediações comunicacionais e

informacionais dentro de um domínio funcional (saúde, educação, previdência, etc.),

territorial (município, região, grupo de países) ou de sua combinação.

Como podemos notar, três elementos principais configuram como as partes

constituintes de um regime de informação: dispositivo, atores sociais e artefatos. O

dispositivo é o meio físico, também visto como a tecnologia da informação e da comunicação;

Page 46: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

os atores sociais são os sujeitos produtores e receptores do conteúdo informacional que circula

entre os canais; e o artefato é o canal no qual se dá a comunicação da informação. Trazendo

isso para o cenário atual da cibercultura, o dispositivo é a Internet, os atores sociais são os

usuários, tanto os emissores quanto os receptores de conteúdo, e o artefato pode ser

considerado como os endereços indexados na web (portais de notícia, blogs, bibliotecas

digitais, etc.).

Na Sociedade da Informação, Unger (2006) considera que o regime de informação

precisa ser pensado à luz da conectividade, relacionada à infraestrutura tecnológica e às

políticas de informação, por estas serem capazes de regular e promover a produção da

informação. Nesse sentido, vemos que os debates em torno das políticas de informação é uma

constante que se faz presente desde o período pós-Segunda Guerra, época em que a temática

ganhou espaço dentro da Ciência da Informação. Porém, o ato de regular e promover na área

de produção da informação tem tido pouca representatividade na abordagem das políticas de

informação, como veremos adiante.

A preocupação com a inserção dos sujeitos na Sociedade da Informação e a explosão

das tecnologias de informação e comunicação imprimiu um novo ritmo de debates e acentuou

as discussões sobre as políticas de informação. Foi então que as políticas de informação

emergentes passaram a dar ênfase ao acesso à infraestutura tecnológica como forma de

preconizar a entrada desses indivíduos na Sociedade da Informação (JARDIM; SILVA;

NHARRELUGA, 2009).

A nosso ver, as políticas de informação devem transpor essa concepção de acesso ao

meio tecnológico físico para chegar à Sociedade da Informação, principalmente no que diz

respeito à cibercultura. Nesse contexto específico, as políticas de informação também

precisam abarcar as considerações de Braman (2006), que as apreende como a legislação e o

regulamento que se relacionam com qualquer nível da produção, criação, processamento

(cognitivo e algorítmico), armazenamento, transporte, distribuição, uso e até destruição da

informação. Obviamente, o acesso à infraestrutura tecnológica é uma sine qua non para o

desenvolvimento na produção da informação a que a autora se refere.

Tomando como ponto de partida o discurso de Horton Jr, Branco (2005) interpreta que

as políticas de informação podem ter duas finalidades discrepantes: a básica e a específica. A

política de informação do tipo básica é aquela que se relaciona aos aspectos que envolvem a

produção da informação em seu mais amplo sentido, estando ligada à tecnologia da

informação, às telecomunicações e à política internacional. Assim, ela tem como pressuposto

as ações em nível macro. Em contrapartida, a política de informação específica, como o

Page 47: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

próprio nome sugere, tem um caráter mais específico e particular na sua implementação.

Portanto, ela tem como objetivo propor ações e soluções de acordo com as especificidades de

cada setor, conforme suas necessidades e prioridades.

Analisando a literatura sobre as políticas de informação no Brasil, é possível perceber

que esta se encontra majoritariamente fundamentada no tipo básico. O cerne das discussões

gira em torno da elaboração de políticas de informação voltadas para a ciência e tecnologia.

Valentim (2002) constata que as políticas de informação estão massivamente centradas no

acesso à infraestrutura de telemática, aos hardwares e aos softwares computacionais. A autora

observa que, sem essas condições, é inviável a inclusão das pessoas na Sociedade da

Informação. Para a autora, porém, a informação em si é o que deve estar em foco.

Amaral (1991) parece concordar com a constatação de Valentim (2002) ao justificar

que a Política Nacional de Informação no Brasil está mesmo ligada à política científica e

tecnológica pelo fato de as instituições governamentais depositarem nas universidades, nos

centros de pesquisa e nos institutos de pesquisa a responsabilidade em instaurar os avanços

progressivos mais expressivos na sociedade brasileira, capazes também de transformar as

estruturas vigentes.

Todo esse cenário da política de informação do Estado brasileiro é bastante similar aos

países da Europa, sobretudo da França. Analisando as políticas de informação de Paris, Aun

(1999) constatou que há uma preocupação em estabelecer uma rede informacional

interconectada através do acesso às tecnologias da informação e da comunicação. Por outro

lado, os parisienses começaram a despertar o interesse em discutir uma política de informação

capaz de abranger a questão do conteúdo na Sociedade da Informação por apreenderem que a

produção de conteúdo informacional pela sociedade civil é tão importante quanto o acesso à

infraestrutura tecnológica. Endossamos que de nada irá adiantar o acesso à tecnologia se o

usuário não souber usá-la a seu favor, produzindo suas próprias informações.

Trazendo essas considerações para o Brasil, a academia se mostra intrigada com

produção de conteúdo. Em seu discurso, Freire (2008) sugere que as políticas de informação

visem sim à inclusão social e digital, mas também passem a incorporar a produção de

conteúdo digital para que a sociedade tenha acesso livre e pleno à Internet, da mesma forma

que seja capaz de produzir seu próprio conteúdo de maneira independente e autônoma,

suprindo suas próprias necessidades informacionais.

Mediante essas considerações, vemos que a cibercultura conclama um regime de

informação que contemple a sua dinâmica de interconectividade e produção de conteúdo.

Nesse sentido, a política de informação deve ser o mais flexível possível para que atenda às

Page 48: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

demandas e evoluções corriqueiras que se dão no ciberespaço. Para que isso aconteça, é

preciso pensar em uma política de informação que forneça os subsídios essenciais para a

produção de conteúdo, incentivando ainda mais a produção todos-todos, que é uma marca do

ciberespaço e que o diferencia dos demais regimes de informação.

De acordo com Braman (2011), as políticas de informação devem incluir entidades

representativas do poder público e privado, voltando seus olhares para questões de cunho

formais e informais. A autora enfatiza ainda que, na tomada das decisões que envolvem esse

processo, é importante a compreensão dos fatores que transformam o mundo em que

habitamos, pois as políticas de informação envolvem temáticas de interesse público e

agenciam o exercício em nossas vidas como indivíduos e comunidades.

3.4 O Copyleft e o Software Livre na Web Interativa

É notório que a dinâmica do ciberespaço está alicerçada na inteligência coletiva, na

qual o poder intelectivo dos seus usuários é cada vez mais valorizado. Essa dinâmica de

produção, alteração de obras criativas, disseminação e compartilhamento das informações

online, faz surgir a cultura copyleft, entendida como oposta à cultura copyright, em que a obra

deve permanecer com seu conteúdo inalterado. Na rede mundial de computadores, o copyleft

confere mais liberdade aos seus usuários, trilhando o caminho de uma cultura personalizada,

criativa e aberta a todos os internautas unidos pela dimensão planetária do ciberespaço.

Em busca de uma abordagem mais consistente acerca do copyleft, recorremos a Lemos

(2004), que o define como processos de modificação em obras de cunho artístico, cultural e

intelectual, na qual outros usuários também podem dar sua colaboração com novas alterações,

deixando essas obras abertas para que novas inserções ou modificações de conteúdo possam

ser realizadas sucessivamente. É interessante notar que Fonseca (2004) corrobora com a

definição de Lemos (2004) e ressalta que o grande diferencial consiste na livre reprodução e

na alteração, assim como na distribuição sem fins lucrativos. Dessa forma, as licenças

criativas do copyleft são constituídas de dois pilares fundamentais: a permissão de alterações

gradativamente, sem a exigência de direitos autorais, e a concessão para que alterações

subsequentes sejam realizadas através dessa mesma licença.

Os usuários-internautas do copyleft possuem quatro nítidos objetivos que os levam a

fazer parte desse sistema de colaboração e compartilhamento online:

a) proteger os direitos do seu trabalho enquanto o disseminam amplamente;

b) proteger contra a restrição do acesso ao trabalho, contra a sua vontade e além do

que considera necessário como recompensa;

Page 49: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

c) assegurar que seus trabalhos não serão vulneráveis a ações legais e ruinosas; e

d) criar ambientes de cultura livre, onde seus trabalhos tenham a liberdade de

circulação e possam ser construídos de forma aberta (LIMA; SANTINI, 2008, p.

98).

O termo copyleft foi cunhado na década de 1980 por Richard Stallman, pesquisador da

Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), quando lançou

um manifesto propondo o compartilhamento e a cooperação no desenvolvimento de

softwares. Decidido a popularizar o copyleft através do compartilhamento de softwares livres,

Stallman saiu do MIT e encabeçou a campanha “GNU is not Unix” (GNU não é Unix). Em

1985, inaugurou a Free Software Foundation (FSF), com o objetivo de criar um software tão

eficiente e completo quanto o Unix, para que fosse distribuído e modificado gradativamente

pelos usuários, sem impedimentos legais quanto à execução dessas tarefas. Essa iniciativa de

Stallman impulsionou a popularização dos softwares de código-fonte aberto ou softwares

livres, como são mais conhecidos.

O site do GNU (2003) explica que os softwares livres são programas computacionais

que concedem mais liberdade aos seus usuários para que eles continuem copiando,

distribuindo, estudando, melhorando e modificando os softwares, dando continuidade à

proposta inicial de Stallman. Essa liberdade a que se refere o projeto GNU é segmentada em

quatro níveis:

Liberdade nº. 0: liberdade para que o usuário usufrua do programa para qualquer

propósito;

Liberdade nº. 1: liberdade para que o usuário estude a fundo o programa e entenda as

suas funcionalidades para que possa adaptá-las às suas necessidades. Para isso, o

acesso ao código-fonte é um pré-requisito para este fim;

Liberdade nº. 2: liberdade para distribuir cópias, de modo que o seu próximo também

possa ser ajudado; e

Liberdade nº. 3: liberdade para aprimorar o programa, liberando seus

aperfeiçoamentos para que toda a comunidade se beneficie deles. Neste nível, o acesso

ao código-fonte é uma das prerrogativas.

Toda essa esfera colaborativa construída pelo software livre apresenta vantagens que

vão desde a própria liberdade do usuário em alterar o programa até vantagens econômicas.

Analisando os pontos positivos dos softwares livres, Hexsel (2002) elenca nove vantagens e

motivos para o uso e a adoção desses programas computacionais, como o custo social baixo, a

independência da tecnologia proprietária, a independência do fornecedor único, o desembolso

inicial próximo de zero, a não obsolescência do hardware, a robustez e segurança, a

Page 50: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

possibilidade de adequar aplicativos e segurança, o suporte abundante e gratuito, e os sistemas

e aplicativos geralmente muito configuráveis.

Cada uma dessas vantagens apresenta características próprias, mas que possibilita uma

integração nas definições da base cooperativa de produção e compartilhamento de

informação. Se comparado aos programas de computador privados que direcionam seus

lucros para um grupo restrito de empresários, os softwares livres são considerados bens

públicos, por ter como foco central o benefício de seus usuários. Por isso, o custo social com

o uso, a evolução e a atualização se torna bastante irrisório porque depende única e

exclusivamente da mobilização dos seus usuários para sua melhoria, representando um custo

social ínfimo.

A independência da tecnologia proprietária está intimamente relacionada à submissão

dos indivíduos aos softwares da licença copyrigth, que dependem da atualização e da

manipulação dos seus proprietários para adquirirem uma versão mais atualizada para darem

sequência às suas atividades rotineiras. Essa nova adoção, evidentemente, demanda recursos

financeiros para a continuidade de tarefas específicas. Com o uso dos softwares livres, todos

esses problemas são extintos.

O software livre independe dos direitos de propriedade sobre o código fonte dos

programas computacionais, resultando, por conseguinte, na independência de fornecedor.

Dessa forma, há impossibilidades de descontinuidade e de dependência do distribuidor para o

uso continuado desses programas, pois o código fonte é aberto, ou seja, está acessível e

visível a todos os usuários.

A manutenção desses sistemas pode ser feito voluntariamente pelos usuários, sem um

custo prévio para a sua realização, levando ao desembolso inicial próximo de zero. Os

softwares livres se adaptam com mais facilidade aos hardwares que possuem modelos

tecnológicos mais avançados, o que resulta na não obsolescência do hardware. O bom

funcionamento dele independe da alta tecnologia de um hardware específico.

A robustez e a segurança são consideradas, por sua vez, as características que

conferem maior qualidade aos softwares livres porque estes são testados por vários

programadores antes da sua distribuição e do seu compartilhamento junto ao público. Isso

implica dizer que, quando os programas chegam aos usuários, foram testados, aprovados e

comprovados por várias pessoas.

No que se refere à possibilidade de adaptação a aplicativos, o usuário tem condições

de promover adaptações específicas de acordo com as suas prioridades. O suporte é

Page 51: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

abundante e gratuito, pois toda a comunidade pode prestar serviços de apoio e melhoramento

sem fins lucrativos.

Por último, os sistemas e aplicativos configuráveis permitem que, a partir das

correções e adaptações solicitadas pelos usuários, surjam sistemas cada vez mais evoluídos

tecnologicamente, possibilitando, inclusive, várias configurações em um mesmo sistema.

Ciente dessas vantagens advindas com o uso dos softwares livres, o Governo

Brasileiro se posicionou publicamente favorável à adoção dos programas computacionais de

código aberto dentro dos órgãos públicos federais. A repercussão dessa informação soou

positivamente na imprensa internacional, a ponto de o Brasil ser nomeado em 2004 pela

revista de tecnologia Wired como a “Nação Open Source” (LIMA; SANTINI, 2008).

Além da economia com o uso dos softwares livres, o governo brasileiro almeja

aumentar o desenvolvimento e a produção na área ligada à tecnologia de informação, tendo

em vista que o aperfeiçoamento desses tipos de softwares trará visibilidade, crescimento e

independência tecnológica para o país. A segurança da informação também é um dos

requisitos importantes porque, a partir da evolução dos programas computacionais, fica cada

vez mais difícil a invasão dos hackers aos conteúdos confidenciais do Estado.

A maior dificuldade na implementação efetiva desses programas computacionais na

esfera pública federal incide na mudança de comportamento por parte dos próprios

funcionários, habituados a lidar cotidianamente com o exercício das suas atividades em

plataformas de softwares privativos. A resistência a essa mudança de paradigma dificulta o

andamento dos pilares do Programa Brasileiro de Inclusão Digital (PBID): investimento em

telecentros (espaços com computadores conectados à Internet, disponibilizando acesso à

população), gestão comunitária dos telecentros e uso dos softwares livres. Segundo informa a

Agência Brasil (2004), o uso dos softwares livres é o elemento central do programa que levará

o país a ter autonomia na área da tecnologia da informação.

Em 29 de outubro de 2003, foi publicado o Decreto que instituiu comitês técnicos

subordinados ao Comitê Executivo do Governo Eletrônico, entre eles o Comitê de

Implementação do Software Livre (CISL) (BRASIL, 2003). Na tentativa de mensurar os

dados de adoção dos órgãos públicos dos softwares livres, o CISL realizou uma pesquisa em

2010 para identificar a migração dos seguintes aspectos: sistemas de correio eletrônico,

servidores de Internet, sistemas de informação, estações de trabalho e suítes de escritório. As

instituições foram classificadas de acordo com os níveis de implementação de Software Livre.

Até maio de 2010, os dados colhidos pelo CISL do Governo Federal obtiveram

resposta de 130 órgãos da administração pública federal que responderam à pesquisa

Page 52: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

encaminhada por esse Comitê. A análise desses dados iniciais permitiu entender que o uso do

correio eletrônico se faz presente em 54% dos órgãos que participaram da pesquisa e que 56%

das instituições utilizam significativamente o software livre em seus servidores para exercer

as atividades técnico-administrativas do órgão. A quantia de 48% afirmou que implementou o

software em sistemas de informação, enquanto 13% dos entrevistados o aplicam em suítes de

escritório. Apenas 5%dos órgãos afirmaram usar o software livre em estações de trabalho.

Os dados colhidos na pesquisa do CISL nos permitem fazer duas aferições: a primeira

é que, à época da pesquisa, nem mesmo o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT)

encontrava-se totalmente enquadrado nos parâmetros do PBID, embora estivesse adequando o

exercício das suas atividades ao manuseio dos softwares livres. A segunda é que duas

instituições paraibanas de ensino superior participaram da pesquisa: o Instituto Federal de

Tecnologia da Paraíba (IFPB) e a Universidade Federal da Campina Grande (UFCG).

Coincidentemente, essas duas instituições são reconhecidas nacional e internacionalmente

pela realização e pelo desenvolvimento de pesquisas de cunho tecnológico.

Ainda na esfera paraibana, o endereço do Software Livre no governo do Brasil destaca

o uso do software livre em 100% da Procuradoria Geral do Estado da Paraíba, desde o ano de

2007. Os softwares livres usados naquele órgão governamental são o Ubuntu Desktop,

Ubuntu Server, Apache 2, PHP (Hipertext Preprocessor), PostgreSOL, OpenDAP, SAMBA

(Server Message Block), Zope, Plone, Django, Torncat, BrOffice.org e o Firefox. Esses

programas computacionais são utilizados nos banco de dados, gerenciamento de conteúdo, do

inglês Content Management System (CMS), suíte de escritório, sistema operacional (desktop)

e sistema operacional (servidores). Estima-se que, com a adoção dos softwares livres, o

Estado tenha economizado a quantia aproximada de um milhão de reais.

A Universidade Federal do Acre (UFAC) também é citada por fazer uso do software

livre no ambiente acadêmico. A maioria dos programas usados por esta instituição coincide

com os programas da Procuradoria Geral do Estado da Paraíba.

Em fevereiro de 2012, o portal Olhar Digital noticiou a informação que o governo do

Distrito Federal (DF) publicou no seu Diário Oficial a adoção do software livre como política

de tecnologia da informação para os órgãos de administração distrital. A decisão privilegia a

manipulação dos softwares livres em detrimento aos privativos. Os órgãos que desacatarem a

medida terão de se pronunciar oficialmente e justificar a existência de softwares privados na

esfera pública distrital. A economia, o aprimoramento, o gerenciamento próprio da tecnologia

da informação e a transparência da administração pública perante os cidadãos são os motivos

que acarretaram a decisão do DF.

Page 53: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Ao observar a repercussão que gira em torno dos softwares livres no governo

brasileiro, Lima e Santini (2008) expõem que o sucesso na implementação dos softwares pode

ser percebido em iniciativas locais e específicas, muito mais do que na generalização. Os

autores dão como exemplo a execução dos projetos de inclusão que fundam telecentros,

disponibilizando o uso de softwares livres, tais quais os telecentros existentes na capital

paulista, que, em 2004, possuía meio milhão de usuários registrados em mais de 100

telecentros espalhados por toda a cidade. Programas governamentais como “Um computador

por aluno” e o “Programa computador para todos” se tornam mais viáveis para a malha

monetária do governo com o uso dos softwares livres.

Ao longo dos anos, os softwares livres angariaram um espaço bastante representativo

dentro do ciberespaço, popularizando-se e conquistando cada vez mais usuários. Dentre os

mais conhecidos, Costa e Paulino (2011) destacam o Mozilla Firefox (navegador), o 7 zip

(compactador de arquivos), o PDF Creator (Portable Document Format) (gerenciador de

documentos em PDF) e o Biblivre. Mesmo ficando de fora da lista das autoras, temos os

famosos sistemas wikis.

Antes de adentrarmos, com mais precisão nas características dos sistemas wikis,

precisamos compreender que nem todas as obras intelectuais do copyleft podem ser alteradas

indiscriminadamente pelos seus usuários. Algumas delas possuem licenças criativas que

determinam sob que circunstâncias seu material pode ser reproduzido e alterado.

3.4.1 Creative Commons: Licenças Criativas para o Copyleft

Os moldes de produção do trabalho imaterial colaborativo do Copyleft, juntamente

com a difusão dos softwares livres, impulsionaram o advento de licenças criativas flexíveis.

Arquitetadas pelo advogado americano Lawrence Lessig, elas surgiram em 2002, a partir do

desenvolvimento do projeto sem fins lucrativo intitulado Creative Commons, cujo objetivo

era conceder os direitos autorais restritivos para obras intelectuais em som, imagem, áudio,

vídeo e texto. O Creative Commons orienta os usuários sob quais circunstâncias e com que

critérios os autores permitem que suas produções intelectuais sejam utilizadas, alteradas e

compartilhadas com seus pares, de forma legal.

O Creative Commons quer desenvolver uma infraestrutura técnica e jurídica para

maximizar a criatividade, o compartilhamento e a inovação, principalmente no

ambiente digital.

Queremos permitir a efetivação do potencial total da Internet (a participação plena

na cultura e o acesso universal à pesquisa e à educação), apostando numa nova era

Page 54: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

de desenvolvimento, crescimento e produtividade, baseada nos valores do

compartilhamento e da abertura. [...]

A infraestrutura que criamos consiste em um grupo de ferramentas e licenças sobre

direitos autorais, permitindo que o tradicional “todos os direitos reservados” seja

substituído por “alguns direitos reservados” ou, até mesmo, por “nenhum direito

reservado” (CREATIVE COMMONS, 2013, online, grifo do autor).

Araya e Vidotti (2009) atestam a efetividade desse sistema de licenciamento ao

destacarem que sete anos após o seu surgimento, em 2009, mais de 130milhões de obras no

mundo estavam licenciadas no Creative Commons, com mais de 50 países participando desse

projeto, dentre os quais temos Brasil, Japão e Finlândia, sendo o terceiro, segundo e primeiro

países, respectivamente, a aderirem a essas licenças.

Aos poucos, o Creative Commons alçou também a esfera governamental de países

como Brasil e Estados Unidos. Naquele, o MEC, a Rádiobrás/Agência Brasil e a Biblioteca

Digital do Superior Tribunal de Justiça (BDJur) constituem apenas alguns dos órgãos

governamentais que passaram a licenciar suas obras e conteúdos através das licenças

flexíveis. Nos Estados Unidos, o endereço oficial do presidente Barak Obama, o change.gov,

trabalha com a mesma licença (ARAYA; VIDOTTI, 2009).

Na atualidade, o Creative Commons conta com seis tipos de licenciamentos para obras

autorais, apresentados e descritos abaixo.

Atribuição (by): Essa licença tem como objetivo possibilitar livre distribuição,

remixagem, adaptação ou até produção de obras criativas derivadas, inclusive com finalidade

comercial, desde que seja creditada a versão original. A Atribuição (by) é a licença mais

liberal e menos restritiva quando comparada às demais, no que se refere ao uso e às ações que

os outros podem realizar a partir de sua obra original (CREATIVE COMMONS, 2013).

Atribuição Compartilhamento pela Mesma Licença (by sa): Esse tipo de licença

proporciona aos usuários remixar, adaptar e criar obras derivadas, mesmo que seja para fins

comerciais, desde que o crédito seja atribuído ao autor original e que essas mesmas obras

sejam licenciadas sob os mesmos critérios. Normalmente, esta licença é “comparada a

licenças de software livre. Todas as obras derivadas devem ser licenciadas sob os mesmos

termos desta. Dessa forma, as obras derivadas também poderão ser usadas para fins

comerciais” (CREATIVE COMMONS, 2013, online). Devemos perceber que a licença

criativa que aponta os pareceres para produção, edição e compartilhamento do conteúdo que

faz parte da Wikipédia, a Enciclopédia Livre está centrada nesse tipo de licenciamento. Assim

sendo, os conteúdos e as informações existentes nessa enciclopédia virtual também podem ser

Page 55: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

reproduzidos para fins comerciais. Os colaboradores da Wikipédia, ao participarem desse

projeto, ficam cientes dessa situação ao serem informados que

O objetivo da Wikipédia é criar uma fonte de informação em formato enciclopédico

que esteja disponível livremente. A licença que usamos dá livre acesso aos nossos

conteúdos no mesmo sentido em que o software livre é livre. Ou seja, o conteúdo da

Wikipédia pode ser copiado, modificado e redistribuído desde que a nova versão

garanta as mesmas liberdades a terceiros e atribua crédito aos autores do artigo da

Wikipédia que foi usado (um link direto para esse artigo satisfaz as nossas

exigências de crédito aos autores). Os artigos da Wikipédia irão, portanto,

permanecer livres para sempre e podem ser usados por qualquer pessoa desde que

sejam satisfeitas algumas restrições, a maioria das quais serve para assegurar essa

liberdade (WIKIPÉDIA, 2013, online, grifo do autor).

Atribuição Não a Obras Derivadas (by nd): O licenciamento prevê a

redistribuição e o uso tanto para finalidades comerciais quanto não comerciais. Entretanto, a

obra criativa deve estar sem modificações e completa, além de constar os créditos do autor

original (CREATIVE COMMONS, 2013).

Atribuição Uso não Comercial (by-nc): A licença autoriza que terceiros remixem,

adaptem e criem obras derivadas sobre a obra original. Porém, o uso comercial é estritamente

proibido. “As novas obras devem conter menção ao autor nos créditos e também não podem

ser usadas com fins comerciais, porém as obras derivadas não precisam ser licenciadas sob os

mesmos termos desta licença” (CREATIVE COMMONS, 2013, online).

Atribuição Não Comercial – Compartilhamento pela Mesma Licença (by – nc –

as): Possibilita que outras pessoas remixem, adaptem e criem obras derivadas sobre a obra

original, sem fins comerciais, com menção ao autor original e desde que a nova obra seja

licenciada sob os mesmos critérios. Terceiros podem, ainda, realizar o download ou

redistribuir o produto da mesma maneira que na licença anterior, podendo também traduzir,

remixar e produzir novas histórias baseadas na versão original. Assim, como todas as novas

obras devem dispor da mesma licença, elas estão proibidas de serem comercializadas

(CREATIVE COMMONS, 2013).

Atribuição Uso não Comercial – Não a Obras Derivadas (by-nc-nd): Dentre

todas as seis licenças, essa é a mais restritiva de todas, pois só é permitida a redistribuição e o

compartilhamento com citação do autor. São proibidas as modificações e as distribuições para

fins comerciais. Por esses motivos, essa licença é comumente conhecida como “propaganda

Page 56: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

grátis”, pelo fato de que as características originais da obra devem ser mantidas enquanto são

amplamente distribuídas (CREATIVE COMMONS, 2013).

A abrangência desses seis modelos de licenças criativas flexíveis possibilita que os

autores possam decidir que tipo de licença se adequa melhor à sua proposta de produção

coletiva e ao compartilhamento do trabalho imaterial. Por intermédio das licenças do Criative

Commons, os autores permitem que suas obras sejam amplamente divulgadas e recriadas no

ambiente virtual, garantindo o direito autoral.

Page 57: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

4 OS SISTEMAS WIKIS: CARATERÍSTICAS E PRESSUPOSTOS

De origem havaiana, a terminologia wiki significa veloz, rápido, célere, e foi cunhada

por Ward Cunningham no ano de 1995. Desde então, os sistemas wikis se alastraram por toda

Internet, cada qual surgindo com suas particularidades, embora possuam a mesma interface de

navegação. O diferencial é o tamanho do espaço virtual reservado e o conteúdo a que cada um

deles se destina.

O sistema wiki é uma ferramenta bastante conhecida e usada pelos usuários do

ciberespaço. Esse sistema possibilita que os internautas realizem inserções e alterações de

conteúdo nas páginas online de forma colaborativa e coletiva, diferenciando-se de tantas

outras páginas existentes nesse meio. Os wikis são definidos como sites que podem ser

pesquisados, visualizados, alterados e editados diretamente por qualquer pessoa sem pedido

de autorização prévia (RUPLEY, 2003).

Na visão de Gomes (2006, p. 3), o sistema wiki detém uma característica bastante

peculiar e específica por estar centrado na filosofia da “possibilidade de liberdade e

heterogeneidade”, possui tamanha potencialidade de proporcionar aos seus usuários o livre

arbítrio de inserir qualquer conteúdo em seu endereço como também por consentir que eles

desfrutem de novas possibilidades textuais.

Além dessas características, Faquetti e Alves (2006, p. 5) elencam mais cinco

pressupostos básicos dos sistemas wikis:

a) Software livre de fácil instalação e compatível com as plataformas Linux e

Windows;

b) Permite discussão assíncrona;

c) Permite importação e exportação de textos e imagens facilitando a criação

automática de hipertexto e hiperlinks;

d) Não existe qualquer mecanismo de revisão preliminar à publicação, portanto a

responsabilidade pela qualidade das contribuições é de cada participante autorizado;

e) A autorização para contribuir no sistema pode ser programada pelo grupo gestor,

podendo ser ampla e irrestrita ou possuir algumas restrições como por exemplo,

estar cadastrado.

Ao estudar os sistemas wikis e as suas especificidades enquanto um código de fonte

aberto, Cunningham (2013) constatou oito princípios desse sistema, quais sejam:

aberto: essa característica é uma das mais elementares dos sistemas wikis, uma vez que

é ela que permite que o leitor/usuário/colaborador tenha livre acesso para inserir novos

conteúdos ou alterar os existentes na página;

Page 58: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

incremental: permite que as páginas possuam links para direcionar os usuários para

outras páginas do próprio wiki e, inclusive, para páginas que ainda podem ser

redigidas, ou seja, páginas em branco;

orgânico: proporciona que a organização estrutural da página esteja sempre aberta para

a edição e, consequentemente, para a evolução;

universal: as ferramentas de edição e de organização devem, necessariamente, ser as

mesmas, consentindo que o escritor seja automaticamente um editor;

preciso: os nomes das páginas devem conter a maior precisão possível para evitar

conflitos e ambiguidades terminológicas;

tolerante: a conduta interpretativa é passível às mensagens de erros;

observável: as atividades exercidas no sistema podem ser visualizadas, observadas e

revisadas por todos os usuários que desejarem; e

convergente: a existência de páginas duplicadas ou semelhantes correm o risco de

serem redirecionadas ou excluídas.

As observações feitas por Faquetti e Alves (2006) e Cunningham (2013) convergem

para um mesmo ponto: as propriedades do sistema wiki o permitem ser compreendido como

um hipertexto colaborativo. Isso porque todos os usuários participam ativamente da

construção coletiva de textos, exercendo e invertendo as funções de escritor, leitor e

colaborador. Essa especificidade se dá através da necessidade de cessar a lacuna de

informação acerca de um determinado tema ou assunto. A partir da primeira inserção de

conteúdos, os indivíduos passam a se reunir virtualmente para redigir um texto com o maior

grau de precisão possível. As discussões que emergem nesses espaços abrem possibilidades

para a construção social do conhecimento, através do diálogo e do debate mediado por uma

tecnologia de informação digital de fácil manuseio.

Ao deliberar vez e voz aos usuários, os sistemas wikis se consolidam e se aproximam

ainda mais do que Bobbio (1989) denomina de comunidades democráticas, posto que sua

dinâmica é regida pela participação, colaboração, interação, e escrita conjunta e coletiva,

alicerçados em direitos mais maleáveis, abertos e igualitários. O sistema wiki pode também

ser considerado como uma tecnologia eficaz, capaz de manter a mesma relação de

reciprocidade das comunidades físicas nas comunidades virtuais existentes na rede mundial de

computadores.

Atualmente, as ferramentas wikis mais disseminadas, conhecidas e utilizadas são o

TkiWiki, o Twiki, o Pbwiki, o Wikka, o Wikispaces e o MediaWiki. Este último merece

Page 59: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

destaque por ser o software que alicerça o nosso objeto de estudo, a Wikipédia, a

Enciclopédia Livre.

O MediaWiki conserva todas as características primordiais dos softwares livres, como

o GNU, e do sistema wiki: simplicidade e praticidade no manuseio dessa ferramenta, com o

objetivo de promover a participação coletiva dos usuários. Para que a adesão do usuário se

concretize, é imprescindível uma infraestrutura tecnológica e o gerenciamento das suas

configurações com baixo grau de complexidade em ambos os casos.

4.1 Wikipédia, a Enciclopédia Livre

Surgida em 15 de janeiro de 2001, a Wikipédia, a Enciclopédia Livre é uma

comunidade virtual que reúne milhares de usuários engajados em construir uma enciclopédia

online capaz de abranger todas as áreas do conhecimento. Em um primeiro momento, a

proposta de universalização do conhecimento dessa enciclopédia pode parecer inovadora,

mas, no século passado, essa ideia havia sido vislumbrada por Paul Otlet e Henry La

Fontaine.

Passarelli (2008) explica que no início do século XX, Paul Otlet se mostrava

preocupado com a grande quantidade de produção intelectual existente naquela época e com o

possível controle universal de toda essa riqueza intelectual. O primeiro passo dado pelo jovem

inovador foi a criação do sistema de Classificação Decimal Universal (CDU), inspirado na

Classificação Decimal de Melvil Dewey (CDD). Ainda em fins do século XIX, ele fundou,

com Henri La Fontaine, o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB).

A empreitada de Otlet evoluiu gradativamente. Em sua visão, a produção do

conhecimento também deveria ser organizada fisicamente. Tentando realizar mais essa tarefa,

Otlet fundou. em 1910, o Mundaneum, um museu que tinha mais de 70 milhões de entradas

registradas em seu acervo. Esse mesmo projeto incluía a criação de uma enciclopédia

universal capaz de reunir todas as manifestações de informação e conhecimento existentes no

mundo, mediante a indexação de todo o acervo. Paralelamente, Otlet também almejava a

construção de uma cidade do intelecto (“city of the intellect”), que tinha como proposta ser

erguida nas imediações do Mundaneum para abrigar bibliotecas, museus e universidade em

um mesmo espaço físico. A cidade do intelecto chegou a ser projetada pelo renomado

arquiteto e urbanista Le Corbusier.

A proposta de Paul Otlet foi bem recebida pelo governo belga, que, em 1919, cedeu

150 salas do Palácio Cinquentenário para as instalações do Mundaneum. Entretanto, o projeto

Page 60: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

durou pouco tempo e, após cinco anos, a “doação” das salas foi revogada, dispersando todo o

acervo existente. Em 1934, o Mundaneum foi completamente fechado. Atualmente, segundo

Passarelli (2008), o acervo do Mundaneum encontra-se sob a posse do governo francês com o

codinome de Mundaneum, Centre d’Archives de La Communauté Française. Esse espaço é

dedicado também a exposições temporárias e a visitas guiadas ao acervo original idealizado

por Otlet.

Devido a essas iniciativas ousadas, Passarelli (2008) considera Paul Otlet como o

“pai” da Documentação e da Internet. Segundo a autora, os empreendimentos de Otlet

influenciaram projetos importantes para o que temos hoje na word wide web. O memex de

Vannevar Bush é um deles. A autora credita ainda a Otlet o cargo de CEO (diretor executivo)

do Consortium da www.

A idealização de Paul Otlet em reunir todas as manifestações de informação e

conhecimento em um mesmo lugar ainda se faz presente na sociedade contemporânea. As

possibilidades proporcionadas pelo ciberespaço surgem com um espírito renovador e, ao

mesmo tempo, inovador dessa idealização. Nesse âmbito, a Wikipédia, a Enciclopédia Livre

emerge como uma proposta similar à de Paul Otlet de universalização da informação e do

conhecimento. A transposição do espaço físico, a quantidade de pessoas engajadas nesse

projeto colaborativo e a quantidade de conteúdos existentes nessa enciclopédia aparecem

como os pontos fortes.

Inicialmente, o projeto Wikipédia tinha como proposta ser uma enciclopédia

multidisciplinar, construída como aperfeiçoamento da Nupédia, uma enciclopédia livre, cuja

meta era ser escrita apenas por especialistas, com grau elevado de rigidez nos critérios de

avaliação. Criada pela Wikimedia Foundation1, a Enciclopédia Livre admite que as

atualizações sejam feitas pelos próprios usuários de forma inteiramente gratuita, enriquecendo

o conteúdo através da participação coletiva.

Logo em seu primeiro ano de existência e operando apenas em língua inglesa, a

Wikipédia possuía cerca de 10 mil artigos. No início de 2008, eram mais de oito milhões de

verbetes em 235 idiomas e dialetos diferentes (VIEIRA; CHRISTOFOLETTI, 2009). Em

2013, os números totais de artigos ultrapassam os 14 milhões e os idiomas somam 281no

total. Em língua portuguesa, a Wikipédia atingiu a quantia de mais 770 mil artigos publicados

no primeiro semestre. No segundo semestre de 2013, esse número ultrapassou a quantia de

800 mil. As enciclopédias em língua inglesa, alemã e holandesa conseguiram a marca de um

1 Uma organização sem fins lucrativos.

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milhão de artigos e verbetes editados e publicados. Em espanhol, japonês, italiano e

polaco/polonês, ela excedeu a quantia de 500 mil publicações. Em catalão, chinês, finlandês,

sueco e vietnamita, a Enciclopédia Livre detém mais de 250 mil artigos (WIKIPÉDIA, 2013).

Ciente da grande quantidade de artigos existentes em sua página, a própria Wikipédia

(2013) traça um panorama comparativo entre as enciclopédias mais conhecidas e usadas no

mundo. A Enciclopédia Britânnica Concisa (inglês) possui 28 mil artigos, duas mil imagens e

10 mil pronúncias de palavras. A Enciclopédia Britânnica (impressa em inglês) contém 65

mil artigos, 44 milhões de palavras, 24 mil imagens e aproximadamente quatro mil

colaboradores, incluindo pessoas como Milton Friedman, Carl Sagan e Michael DeBakey. A

Microsoft Encarta 2002 (versão brasileira) tem aproximadamente 32 mil artigos e pouco mais

de 25 mil imagens. A Enciclopédia Larousse detém mais de 120 mil verbetes, com quase 15

mil sobre o Brasil. A Barsa (em português) tem na micropédia 46.800 artigos, enquanto na

macropédia 7.904 artigos aprofundados e mais de 11.500 imagens. A Datapédia (banco de

dados com informações diversas e atlas) conta com mais de 26 mil referências geográficas.

Perante esses dados numéricos, fica nítida a preeminência da Wikipédia frente às

demais enciclopédias acima citadas. Esses índices numéricos enfatizam a supremacia

quantitativa em artigos e verbetes, fruto também da quantidade de colaboradores. Nas demais

enciclopédias, a equipe de colaboradores é restrita e especializada, enquanto na “Wiki” é mais

numerosa e diversificada. Além disso, a colaboração dos usuários pode ser feita em qualquer

lugar do mundo e a qualquer hora, desde que se esteja devidamente apto a inserir o conteúdo

de maneira responsável. Em 2013, a Enciclopédia Livre inovou e mais uma vez passou a ter

uma versão adaptada para a tecnologia móvel.

Vieira e Christofoletti (2009) compreendem que o sucesso dessa enciclopédia perpassa

o suporte digital no qual está assentada, uma vez que existem tantas outras no mundo virtual.

Para eles, a explicação plausível para isso incide na participação, na colaboração e na edição

dos verbetes que podem ser feitas por qualquer usuário. Diferentemente das outras

enciclopédias, a Wikipédia valoriza os saberes de todos os usuários, sem fazer distinção de

nível e grau de escolaridade. Dessa maneira, a inteligência coletiva é o diferencial dessa

enciclopédia.

Ao passo em que vai conquistando espaço e reconhecimento entre os cidadãos, aos

poucos, a Wikipédia vai angariando espaço na produção bibliográfica nos ambientes de

aprendizagem.

No que concerne às publicações que se entrelaçam com as temáticas centrais da nossa

pesquisa, isto é, Wikipédia e confiabilidade das informações, destacamos o estudo de Ribeiro

Page 62: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

e Gottschalg-Duque (2011), que realizaram uma análise comparativa entre a renomada

Enciclopédia Britânica e a Wikipédia, com o objetivo de identificar quais delas possuíam o

conteúdo mais confiável sobre Biblioteconomia em língua inglesa. Como referência para essa

avaliação, os autores elegeram o Online Dictionary of Library and Information Science

(ODLIS). O corpus de análise selecionado foi constituído de 14 verbetes da área. Ao final da

pesquisa, os autores constataram que a disparidade entre ambas é mínima e que o caráter

aberto da colaboração da “Wiki”, que prevê a participação de pessoas sem conhecimento

especializado, não comprometeu o resultado final dos artigos e verbetes.

Concomitantemente a esse fato, é possível entender que o nível de precisão e

qualidade da Enciclopédia Livre pode estar associado aos dados estatísticos colhidos na

investigação de Rosado (2007), que concluiu que 88,9% dos colaboradores são homens e com

faixa etária 16 e 40 anos de idade, representando 77,2%. A maioria dos usuários encontra-se

socialmente inseridos na classe média, representando 91,1%. O autor salienta ainda que a

maioria dos wikipedistas possui uma escolaridade a ser considerada, sendo que 21,6% tem

nível superior completo, enquanto 24,7% possui o superior incompleto. Em nível de pós-

graduação, 10,5% são detentores do título de especialista. Destacam-se também os editores

que estão no ensino médio, com 11,7%, e incompleto, com o mesmo percentual, 11,7%. Por

isso, o trabalho desempenhado pela comunidade é de fundamental importância para a

permanência da Wikipédia no ambiente virtual, e consequentemente, para o seu sucesso.

Johnson (2009) também explorou o universo dessa enciclopédia buscando

compreender e descrever os bastidores dos processos de interação e colaboração entre os

editores. Em suas análises, a autora chegou à conclusão que o principal motivo que leva os

wikipedistas a atuarem nesse projeto colaborativo é a finalidade em contribuir com a

universalização do conhecimento com seus pares de forma gratuita.

A academia começa a despertar o interesse em trabalhar em consonância com a

Enciclopédia Livre, com o objetivo de possibilitar a construção e a edição de artigos e

verbetes o mais confiáveis possível, tanto é que, no ano de 2012, o projeto “Wikipédia na

Universidade” convocou professores e estudantes do ensino superior a melhorarem os

conteúdos de suas páginas através da colaboração no próprio ambiente acadêmico. Física,

Química, História, Políticas Públicas e Ciências Sociais são as áreas mais requisitadas para

que as páginas relacionadas às disciplinas de política cultural, antiguidade clássica ou até

mesmo eletromagnetismo sejam revisadas pelos acadêmicos participantes desse projeto

(UNIVERSIA, 2012).

Page 63: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

A meta maior dessa iniciativa foi encorajar a esfera acadêmica a fazer uso da

enciclopédia colaborativa mais visitada no ciberespaço como um instrumento de

aprendizagem em potencial. Por conseguinte, o objetivo foi capacitar os usuários para se

tornarem efetivamente wikipedistas através do desenvolvimento de habilidades e

competências para a produção colaborativa do conhecimento livre, de modo que possam

aumentar a qualidade da Wikipédia na língua portuguesa (UNIVERSIA, 2012).

Em sua fase de teste, esse projeto teve a adesão de admiráveis universidades

brasileiras, como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho (Unesp), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além do Brasil, países como Egito, Rússia,

Índia, Reino Unido e Estados Unidos estão participando dessa iniciativa em suas

universidades para contribuir para a melhoria da Wikipédia em seus idiomas (UNIVERSIA,

2012).

Seguindo o tripé academia, Wikipédia e confiabilidade, Vieira (2008) desenvolveu

uma pesquisa que avaliava a aceitação e a confiabilidade da Enciclopédia Livre por parte de

professores e alunos da Universidade de Itajaí. Os resultados obtidos pela autora indicaram

que os educadores ainda se mostram conservadores no que diz respeito ao fato de ser uma

enciclopédia aberta e colaborativa. Entretanto, quando o alunado faz uso desse tipo de fonte

de informação em seus trabalhos acadêmicos, os professores as aceitam normalmente, ainda

que não a indiquem como fonte de referência para as pesquisas escolares. Porquanto, se o

alunado faz uso dessa fonte e os professores a aceitam nas pesquisas acadêmicas, a aceitação

da Wikipédia cresce progressivamente e, consequentemente, a sua confiabilidade aumenta,

sobretudo, perante os alunos.

Silva (2008) foi mais um a despertar o interesse em averiguar acerca da confiabilidade

das informações da Wikipédia, com base nos quesitos de conteúdo, usabilidade e

funcionalidade. No que se refere ao primeiro item, o autor concluiu que o conteúdo dessa

enciclopédia está adequado ao seu objetivo e ao público-alvo. Além disso, o nível elevado do

conteúdo está associado às normas gramaticais, tendo em vista a baixa quantidade de erros.

No que concerne ao segundo item, Silva (2008) observou que, naquele período, os conteúdos

voltados para os portadores de necessidades especiais eram inexistentes. Em relação à

usabilidade, o autor avaliou positivamente a adequação e o tamanho das fontes e das cores,

por estarem em confluência com o conteúdo que a mesma dispõe.

O último aspecto avaliado foi a funcionalidade, sendo bastante sublinhado por Silva

(2008) pelo fato de a Wikipédia dispor de espaços abertos de interação para a troca entre os

Page 64: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

próprios colaboradores, visando à melhoria das páginas, sendo estas consideradas com fácil

manuseio e operacionalização. O trabalho realizado avaliou de forma positiva os aspectos da

Wikipédia a que se propôs.

Paralelamente à Wikipédia, a Wikimedia Foundation desenvolve outros projetos

seguindo a mesma dinâmica de funcionamento, como Wikiquote (coletânea de citações

livres), Wikicionário (dicionário em várias línguas), Wikispecies (diretório de espécies),

Wikinotícias (fonte de notícias livre), Wikisource (biblioteca livre), Wikimedia Commons

(arquivos de sons, imagens e vídeos), Wikiversidade (centro destinado à construção do

conhecimento em todos os níveis de complexidade), Wikilivros (espaço dedicado ao

desenvolvimento colaborativo de livros e materiais didáticos), Wikidata (base de

conhecimento que pode ser editada por humanos e máquinas), Wikivoyage (espaço dedicado à

construção de um guia turístico de viagem) e Meta-Wiki (coordenação de todos os projetos da

Wikimedia Foundation) (WIKIPÉDIA, 2013).

A filosofia de funcionamento da Wikipédia e de todos os seus projetos paralelos está

focada na liberdade que a mesma dispõe aos seus usuários e colaboradores no que diz respeito

ao seu conteúdo. Essa enciclopédia dispõe de seis princípios fundadores que devem ser

seguidos e respeitados pelos usuários que anseiam em participar desse projeto colaborativo:

1. O ponto de vista neutro como um princípio editorial mandatório.

2. A habilidade para qualquer pessoa editar (a maioria dos) artigos sem registrar-se.

3. O “processo wiki” como mecanismo final de tomada de decisão para todo conteúdo.

4. A criação de um ambiente editorial receptivo, amigável e respeitoso.

5. Licenças livres para o conteúdo; na prática definida por cada projeto como domínio

público, GFDL [GNU Free Documentation License], CC-BY-sa ou CC-BY

[Licença Creative Commons].

6. Manter espaço para o uso da confiança quando necessário para ajudar a resolver

problemas particularmente difíceis. Na Wikipédia em Inglês, um Comitê de

Arbitragem tem autoridade para tomar certas decisões em caráter final e vinculante,

como banir um editor. Outras wikis montaram arranjos similares (WIKIPÉDIA,

2013, online, grifo do autor).

Os princípios fundadores servem de base para o entendimento de alguns dos elementos

mais importante para o sucesso e o pleno funcionamento da Enciclopédia Livre ao longo dos

seus anos de existência.

Page 65: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

5 A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO NO CIBERESPAÇO: CRITÉRIOS E

DESAFIOS

O advento do ciberespaço e das tecnologias de informação e comunicação é

responsável por grande parte das mudanças que vêm ocorrendo nos dois últimos séculos,

sobretudo no que se refere à informação, uma vez que facilitam a produção, o acesso, o uso e

a disseminação dessas em escala mundial. Como consequência, os estoques de informações e

sua disponibilização junto aos usuários se tornam um diferencial do ciberespaço, aumentando,

inclusive, a quantidade de fontes de informações acessíveis. Dessa forma, os meios de

comunicação de massa e os conglomerados midiáticos deixam de ser os grandes responsáveis

por levar as informações aos seus públicos.

A conexão em rede leva todo e qualquer tipo de informação ao usuário, que, além de

consumir os conteúdos indexados na web, agora tem a possibilidade de produzir seus próprios

conteúdos. Essa nova configuração da rede mundial de computadores põe em pauta a

discussão da confiabilidade das fontes de informações no ciberespaço.

Antes de uma informação chegar até aos seus usuários, os meios de comunicação ou

os veículos de informação realizam um trabalho envolvendo seleção, processamento,

averiguação e checagem das fontes e dos conteúdos a serem transmitidos ao público. Essa

tarefa é realizada por uma equipe de profissionais especializados e capacitados, que trabalham

de modo a “mostrar” que as informações a que o público está tendo acesso são verossímeis e,

por esse motivo, são de confiança. É justamente aí que surge o desafio da confiabilidade (ou

credibilidade) no ciberespaço, principalmente pelo modo de produção livre que a cultura

copyleft apregoa, na qual qualquer usuário tem o livre arbítrio de produzir informações e

disponibilizá-las para que outros tenham acesso a elas. Nesse espaço, observamos que há um

rompimento com o monopólio de produção da informação que outrora reinava nos meios

massivos de comunicação e na esfera técnico-científica.

Nas empresas de comunicação e nas instituições de estudos e pesquisas, a produção e

o tratamento das informações são regidos por um conjunto de normas técnicas e deontológicas

que fazem o exercício profissional, denotando comprometimento na veracidade e no teor do

conteúdo veiculado. Em contrapartida, o ciberespaço, em muitos casos, indispõe desses

princípios profissionais que asseguram o comprometimento dos usuários com o conteúdo a

ser postado. Por esse motivo, Serra (2006) defende que, antes de fazer uso dos conteúdos que

se encontram no ciberespaço, o usuário deve realizar uma seleção criteriosa centrada na

credibilidade dessa informação. Contudo, essa é uma tarefa complicada de ser realizada, dada

Page 66: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

a existência de inúmeras fontes informacionais no ciberespaço. Além disso, os requisitos, as

especificidades e as discrepâncias existentes entre tais fontes demandam critérios igualmente

específicos e particulares.

Um percalço considerável que dificulta o entendimento e o estabelecimento da

credibilidade das informações consiste na premissa da credibilidade “não ser entidade, ou uma

propriedade de uma entidade, mas uma relação – que tem como pólos, o produtor/emissor da

informação e o receptor dessa mesma informação. Mas esta informação não é estática”

(SERRA, 2006, p. 2). Isso que dizer que a credibilidade das informações não é uma

propriedade deste ou daquele meio de comunicação de massa, mas, sim, que ela surge de uma

relação de reciprocidade centrada na confiança que se estabelece entre produtores e usuários

da informação em uma atividade dinâmica.

Simultaneamente, Serra (2006) afirma que são os usuários que devem eleger que tipo

de informação é ou não confiável. Para isso, é preciso que se considere que a comunicação da

informação se constitui de dois princípios: o da pertinência e o da credibilidade. O primeiro

está relacionado à “pertinência da informação, à sua ontologia”, enquanto o segundo diz

respeito “à pretensão de verdade dessa informação, à sua epistemologia” (SERRA, 2006, p.

2).

Com efeito, pertinência e credibilidade parecem andar a par enquanto princípios

orientadores da selecção da informação pelos receptores: se não for considerada

pertinente, uma informação, por mais credível que ela seja, ao não concitar a atenção

dos seus eventuais receptores, está condenada a uma não existência de facto [...];

mas, se não for considerada credível, uma informação, por mais pertinente que ela

possa ser, acaba por ser desqualificada e mesmo anulada como informação (SERRA,

2006, p. 2).

Com isso, observamos que a credibilidade das informações da web é um assunto que

está permeado por dúvidas e incertezas quanto à sua definição e seus preceitos práticos. Nessa

perspectiva, muitos esforços surgem na tentativa de apontar diretrizes capazes de indicar os

elementos e os critérios que podem ser levados em consideração na identificação de fontes

credíveis e confiáveis no domínio da Internet. Nesse entremeio, Tomáel et al (2001)

consideram a avaliação das fontes de informação da web de vital importância para quem

utiliza tais endereços para fins de pesquisa. Esses estudos, dizem os autores, podem enfatizar

a inconstância das informações existentes no ciberespaço.

A inconsistência das informações da rede mundial de computadores a que Tomáel et al

(2001) se referem são facilmente perceptíveis se comparadas às fontes de informação

impressas, que adotam um conjunto de políticas na publicação de suas informações, enquanto

no ciberespaço muitas fontes nem esclarecem a autoria de quem as produziu. Os autores

Page 67: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

consideram que a identificação intelectual de quem produziu esse conteúdo, quem está

disponibilizando, a data e o endereço onde foi publicado são fatores que precisam estar

presentes em qualquer domínio do ciberespaço. Assim como as fontes impressas, que contam

com seus elementos de confiabilidade, como, por exemplo, autoria, data de publicação,

editora responsável, bibliografia, citações etc., as fontes de informação da Internet também

precisam de mecanismos que assegurem a confiabilidade das informações existentes.

Diante dessa questão, Tomáel et al (2001) realizaram um estudo que viabiliza e

enumeram os critérios que devem ser adotados pelos usuários para identificar as fontes mais

confiáveis da Internet. Nessa pesquisa, os autores chegaram ao número total de 10 critérios

capazes de apontar a qualidade dessas fontes de informações. Tomando como referência esses

autores, elaboramos um quadro que descreve os critérios e seus respectivos aspectos a serem

usados na análise e definição do seu nível de qualidade de fontes de informação.

Quadro 2: Critérios de Avaliação da Confiabilidade de Fontes de Informação da Web

Critérios Aspectos Analisados

Informação de identificação:

visa a identificar os dados

físicos ou jurídicos do

responsável pelo site.

- Endereço eletrônico do site (URL) e da fonte de informação;

- Email do site;

- Título da fonte de informação;

- Endereço eletrônico da fonte de informação definindo a autoria;

- Objetivo da fonte e o público-alvo;

- Disponibilização de informações adequadas sobre a fonte;

- Identificação da tipologia e origem da fonte.

Consistência das informações:

Objetiva tornar público o

detalhamento e a completeza

das informações.

- Cobertura da fonte;

- Validez do conteúdo (sua utilidade em relação aos propósitos do usuário

final);

- Resumos ou informações complementares que aumentem a qualidade;

- Coerência na apresentação do conteúdo informacional, não apresentando

informações muito superficiais;

- Oferta de informações filtradas ou com agregação de valor;

- Apresentação de informação original ou apenas a possibilidade de recuperá-

la através dos links.

Confiabilidade das fontes:

almeja investigar a autoridade

ou a responsabilidade.

- Dados completos de autoria como mantenedor da fonte, podendo ser pessoa

física ou jurídica;

- Autor (pessoa física) reconhecido com formação ou especialização na sua

área;

- Organização ou instituição que disponibiliza o site, caso o autor da fonte

pertença a ela;

- Conteúdo informacional relacionado à área de atuação do autor;

- Observância de outras informações como: existência de referências

bibliográficas dos trabalhos do autor; endereço para contato com o autor; se

foi derivada de um formato impresso/origem;

-Verificação de datas: quando foi produzida; se está atualizada e quando foi

atualizada pela última vez.

Adequação da fonte:

tipo de linguagem utilizada e

- Coerência da linguagem utilizada pela fonte com seus objetivos e o público

a que se destina;

Page 68: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

adequação aos objetivos. - Coerência do site onde a fonte estiver localizada com seu propósito ou

assunto.

Links: endereços de sites e

outras fontes de informações

- Links internos: recursos que complementam as informações da fonte e

permitem o acesso e a navegação na própria fonte de informação:

- clareza para onde conduzem;

- tipos disponíveis: anexos, ilustrações, informações complementares,

outras páginas do site;

- atualização dos links, apontando para páginas ativas.

- Links externos: recursos que permitem o acesso às informações e a

navegação em outras fontes/sites:

- clareza para onde conduzem;

- devem apontar apenas para sites com informações fidedignas/úteis e

apropriadas;

- tipos disponíveis mais comuns: informações complementares e/ou

similares, ilustrações, comércio relacionado, portais temáticos, entre outros;

- revisão constante dos links, apontando para páginas existentes.

Facilidade de uso: facilidade

para navegar/explorar o

documento.

- Links:

- que possibilitem fácil movimentação;

- links suficientes na fonte, que permitam avançar e retroceder.

- Quantidade de clicks para acessar a fonte e a informação:

- da página inicial do site até a fonte: recomendável três ou menos clicks;

- da fonte à informação: recomendável três ou menos clicks;

- Disponibilidade de recursos de pesquisa na fonte: função de busca, lógica

booleana, índice, arranjo, espaço da informação e outros;

- Recursos auxiliares à pesquisa;

- tesauros, listas, glossários, mapa do site/fonte, guia, ajuda na pesquisa,

outros;

- instruções de uso;

- documentação/manuais da fonte de informação para download ou

impressão.

Layouts da fonte: mídia

utilizada.

- Uso de mídias interessantes;

- Tipos de mídias utilizadas: imagens fixas ou em movimento e som;

- Harmonia entre as mídias e os verbetes;

- Coerência entre as várias mídias:

- uso de imagem para agregar informações ao conteúdo;

- pertinência aos propósitos da fonte;

- legibilidade (nitidez, tamanho da letra/imagem);

- identificação das imagens.

- Na estrutura/apresentação da fonte (layout e arranjo) é importante:

- coerência na padronização na estética da página, tamanho da letra, cor;

- propósito para o uso dos recursos;

- uso de imagens que facilitem a navegação;

- design do menu para facilitar a busca de informações;

- criatividade que contribua para a qualidade;

- evitar o uso dos frames, que limitam o espaço de visualização da fonte.

Restrições percebidas: são

situações que ocorrem durante o

acesso e que podem restringir

ou desestimular o uso de uma

fonte de informação.

- Baixa quantidade de acessos simultâneos;

- Alto custo no acesso à fonte;

- Mensagens de erro durante a navegação;

- Direitos autorais impedindo o acesso à informação completa;

Suporte ao usuário: elementos

que fornecem auxílio ao usuário

durante o acesso à fonte.

- Contato com produtor da fonte: endereço ou email;

- Informações de ajuda na interface: help.

Outras observações

percebidas.

- Recursos que auxiliam o deficiente no uso da fonte;

- Opções de consulta em outra língua.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Tomáel et al (2001).

Page 69: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Além desses critérios apontados pelos autores, temos também as contribuições de

Fogg et al (2002a, 2002b), que indicam que uma das vertentes possíveis para se investigar e

se descobrir a credibilidade e a reputação das informações da web são os mecanismos search

engines. Esses mecanismos são programas ou sites especializados em localizar as informações

da web que possuam a maior credibilidade e confiabilidade possível para que os usuários

possam dispor de um conteúdo mais seguro. Os resultados localizados trazem dados extras

como emails e outros recursos adicionais.

Fogg et al (2002a, 2002b) asseveram que 10 aspectos devem ser levados em

consideração para que um sítio da web ganhe o status de confiável. O primeiro consiste em

tornar visível as citações, as referências e o material utilizado nas informações do site, como

forma de comprovar que o teor do seu conteúdo é confiável. O segundo ponto incentiva os

detentores das páginas a certificarem seus usuários que, por trás daquelas informações, existe

uma organização, de fato. O terceiro aspecto diz respeito ao fato do próprio staff do site em

tornar público as suas experiências e a prestação dos serviços que oferecem, assim como

credenciar quem faz parte do seu corpo de profissionais. O quarto aspecto visa exibir, por

meio de imagens, a equipe de profissionais que compõem o site, podendo também incluir

imagens da vida particular desses funcionários.

O aspecto de número cinco trata de disponibilizar aos usuários informações que lhes

permitam localizar fisicamente o site, por meio do endereço, telefone, email. O sexto aspecto

consiste na linguagem visual para que o site fique adequado à sua proposta inicial. Tendo em

vista esse comentário, o layout deve estar de acordo com a finalidade a que se propõe o site. A

usabilidade e o fácil manuseio do site são fatores importantes para a credibilidade, aparecendo

como o sétimo aspecto. A oitava consideração que contribui para a confiabilidade é a

constante atualização de conteúdo. A publicidade, a propaganda e o anúncio em demasia

podem comprometer a credibilidade de qualquer endereço. Por esse motivo, os autores

recomendam que seus usos devam ser moderados. O nono aspecto envolve o uso de uma

linguagem clara e concisa como elementos que contribuem para a credibilidade das

informações. O décimo e último aspecto enfatiza que todo e qualquer erro, por mais simples e

desprezível que possa parecer, deve ser sumariamente evitados. Links fora do ar e quebrados

são fatores comprometedores da credibilidade das informações.

Os apontamentos de Tomáel et al (2001) e as considerações feitas por Fogg et al

(2002a, 2002b) seguem um mesmo direcionamento. As definições por esses autores tornam-

se opções válidas para que o usuário tenha a possibilidade de reconhecer uma fonte de

informação confiável no domínio do ciberespaço. Além disso, essas considerações permitem

Page 70: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

que os próprios detentores dessas fontes tenham o conhecimento de que essas características

podem creditar seus endereços como confiáveis, podendo adequá-las a essas premissas.

Mesmo que essas observações sejam pertinentes e de suma relevância para a

confiabilidade das informações das fontes da Internet, é importante salientar a existência de

outras possibilidades e caminhos que levem ao reconhecimento de uma fonte de informação

de qualidade. Nesse contexto, os sistemas de reputação merecem destaque.

5.1 Sistemas de Reputação: um Caminho para a Confiabilidade

O ciberespaço e as tecnologias da Internet permitem que os sistemas de reputação se

tornem uma alternativa para a questão da confiabilidade das informações existentes no mundo

virtual. No campo tecnológico, os sistemas de reputação ganham cada vez mais visibilidade

por serem considerados aportes capazes de identificar elementos e estruturas que categorizem

as informações como credíveis e confiáveis. Esses sistemas colhem, difundem e adicionam

avaliações sobre o comportamento anterior de indivíduos e entidades no cenário das

interações que ocorrem no ciberespaço (LOPES, 2006). Os sistemas de reputação estão

centrados na avaliação e no julgamento dos próprios usuários sobre serviços prestados na

Internet.

O aparecimento dos sistemas de reputação está atrelado à expansão do comércio

eletrônico via Internet. Inicialmente, eles funcionavam como uma ferramenta de avaliação

entre vendedores e compradores, cuja dinâmica consistia em um cliente X avaliar o produto

disponibilizado pelo vendedor Y. Após a avaliação, o resultado ficava disponível para

visualização e consulta de outros interessados na mesma página da Internet em que as

transações aconteciam. Quanto mais avaliações positivas tivesse um produto, mais ele era

considerado confiável pelos demais consumidores. Um dos pioneiros a agregar o sistema de

reputação à sua logística foi o projeto eBay. Atualmente, endereços voltados para a

comercialização de produtos via Internet ainda contam com os sistemas de reputação, como é

o caso do Mercado Livre, do Wal Mart e do Amazon, como forma de avaliar os serviços

prestados entre vendedores e compradores.

O sucesso dos sistemas de reputação depende de dois elementos basilares para o seu

funcionamento: a confiança e a reputação. Embora sejam amplamente difundidos como

similares, Cruz e Motta (2006) e Lopes (2006) explicam que existem diferenças entre eles. A

confiança corresponde à consideração ou a uma espécie de sentimento particular de um

indivíduo em relação ao outro. Ela pode ser entendida como uma opinião que está relacionada

Page 71: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

a um sujeito A considerar as ações e atitudes de um indivíduo B como confiável. Nela, o

sujeito A passa a ver as ações do outro B como benéficas e benevolentes, ou seja, visando a

proporcionar o bem ao próximo. A reputação leva em conta a opinião que uma coletividade

tem a respeito de uma pessoa, instituição ou entidade, sendo considerada como “uma medida

coletiva (senso comum) da confiabilidade de uma entidade, baseada em avaliações feitas por

membros da comunidade em que se situa” (LOPES, 2006, p. 36). É possível que uma pessoa

tenha uma má reputação perante a coletividade, mas seja considerada uma pessoa de

confiança por outro sujeito.

A permissividade que assola o cenário do ciberespaço é um desafio emergente para os

sistemas de reputação, principalmente pela possibilidade de fraude daqueles que têm uma

reputação mal vista pelos demais usuários de um serviço ou produto. Os sistemas de

reputação devem dispor, segundo Resnick et al (2000), de três características para se tornarem

cada vez mais seguros e confiáveis frente aos seus usuários, são elas: a longevidade, a coleta e

a distribuição de feedback das interações recorrentes, e agregação por feedback.

A longevidade tem como finalidade tornar visíveis as interações ocorridas

anteriormente, bem como impossibilitar a criação de perfis e usuários falsos no intuito de

excluir o histórico avaliado negativamente por outros usuários. Os autores mencionam como

soluções para este problema a obrigatoriedade da identificação real das pessoas, o veto a

mudanças de nomes e ao uso diversificado de pseudônimos.

A coleta e a distribuição de feedback das interações recorrentes consistem em fornecer

subsídios que incentivem a avaliação após a interação mantida. Para isso, seriam oferecidos

“bônus” para as futuras interações. O controle do anonimato seria uma saída para que fossem

evitadas retaliações quanto às avaliações negativas feitas pelos outros usuários. A integração

entre os vários sistemas de reputação permitiria mais difusão e acumulação das informações

de reputação dos usuários, mediante a distribuição de feedback ilimitado.

A agregação por feedback, por sua vez, aparece como uma medida para a efetivação

dos sistemas de reputação. Para tornar os mecanismos mais ativos e consistentes, devem ser

consideradas a precisão das medidas, a robustez contra manipulação de avaliadores

desonestos e as avaliações recentes.

Os sistemas de reputação apresentam duas categorias distintas que são responsáveis

por “controlar” as informações que partem desses sistemas, que, segundo Lopes (2006),

podem ter suas arquiteturas centralizadas ou distribuídas.

Os sistemas de reputação que possuem suas arquiteturas centralizadas dizem respeito

àqueles em que um sujeito específico (autoridade central) é o responsável pelo recebimento

Page 72: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

das avaliações dos outros usuários, ficando sucumbida a ele a tarefa de fornecer aos demais

usuários a avaliação da reputação de outro usuário quando solicitada.

Os dois principais aspectos desta arquitetura são os protocolos de comunicação

centralizados, que permitem informar avaliações e solicitar as medidas de reputação

à autoridade central, e o mecanismo de computação de reputação, responsável por

agregar as avaliações de desempenho em uma medida de reputação (LOPES, 2006,

p. 44).

As arquiteturas distribuídas constituem a segunda categoria dos sistemas de reputação

cujo funcionamento é oposto ao anterior, justamente por independer de uma autoridade

central para possuir as informações. As informações dessa categoria são localizadas em

lugares diversificados. Quando uma pessoa ou entidade deseja saber acerca da reputação dos

outros, os próprios usuários se mobilizam para fornecer tais considerações, agregando suas

avaliações em torno do produto ou do serviço prestado por ele, ou, ainda, o solicitante pode

localizar essas informações, analisá-las e julgá-las à sua maneira. Com isso, a arquitetura

distribuída prevê que o solicitante chegue a uma conclusão sobre a reputação de quem ou do

que ele deseja saber. “Os dois principais aspectos são: os protocolos de comunicação

distribuídos, usados para requisitar avaliações de terceiros aos membros da comunidade, e um

método para que a própria parte interessada derive medidas de reputação a partir das

avaliações recebidas” (LOPES, 2006, p. 44).

5.1.1 Modelos de Sistemas de Reputação

De um modo geral, a tecnologia é essencial para as atividades e interações que

acontecem no ambiente virtual e da mesma forma ocorrem os sistemas de reputação. A

possibilidade de usos diferentes e específicos proporciona, conforme podemos observar a

partir de Lima (2010), o desenvolvimento de modelos de reputação cada vez mais

especializados.

O modelo de reputação baseado em perfis tem, na sua dinâmica de funcionamento, a

criação de perfis virtuais para os seus usuários, nos quais cada um deles só pode ser detentor

de uma única conta que pode ser alterada ao longo das interações. Os usuários participantes

devem cumprir com os direitos e deveres impostos pela comunidade. Esse modelo é

inadequado às comunidades que têm como foco a competitividade entre seus participantes.

Porém, ele pode ser muito indicado para incentivar o trabalho colaborativo entre as partes

envolvidas, podendo ser exibidos os resultados e o avanço individual de cada usuário,

mediante suas contribuições.

Page 73: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Lima (2010, p. 14) esclarece que, no funcionamento desse modelo de reputação, “cada

perfil deve representar uma categoria diferente de usuários, com direitos e recompensas

melhores que a categoria anterior. Também devem ser usados nomes únicos e bem distintos

para cada perfil, de modo a serem facilmente entendidos e comparados”. De acordo com esse

modelo, quanto mais um colaborador exercer suas atividades, mais rápido ele ascenderá de

nível. Por consequência, maior e melhor será sua reputação diante dos demais usuários. As

regras devem ser suficientemente claras para que os participantes saibam o porquê de terem

progredido ou regredido de nível.

A reputação baseada em dados numéricos é similar ao modelo anterior, porém, sua

funcionalidade é mais indicada para as comunidades que incentivam a competitividade entre

seus participantes (LIMA, 2010). Os índices numéricos são fatores que exibem com maior

facilidade a hierarquização da reputação de seus usuários.

O sistema de reputação baseada em nome de membro é diversa dos modelos

anteriores. Os usuários recebem rótulos para legitimar os participantes como confiáveis ou

não. Esse modelo permite que a estratégia utilizada diferencie os participantes oficiais de uma

dada comunidade dos administradores de um sistema (LIMA, 2010).

O modelo de reputação baseado em pontos é indicado para as comunidades altamente

competitivas, como as comunidades destinadas aos desportos (LIMA, 2010). A perda ou o

ganho de pontos é o que eleva ou diminui a reputação dos seus membros. Nele, as regras

também têm de ser explícitas para que os participantes estejam cientes dos critérios que os

levaram a conquistar certa quantidade de pontos.

A reputação baseada em rankings é recomendada para comunidades competitivas que

almejam tornar público o desempenho de seus participantes em relação aos demais usuários.

O uso de rankings é uma alternativa para que os usuários visualizem com maior facilidade os

membros que se encontram em uma posição inferior ou superior à sua. Como forma de

impulsionar a competição entre os membros, podem ser oferecidos prêmios e brindes virtuais

tanto para os participantes melhores colocados no ranking quanto para os que se encontram

em posições inferiores (LIMA, 2010).

Obviamente, o sucesso e o funcionamento de todos esses sistemas de reputação

dependem das interações e das participações dos usuários envolvidos. A adequação desses

sistemas depende do fluxo de atividades que ocorrem entre seus usuários. Por esse motivo, os

sistemas de reputação também devem ser o mais flexível possível para que haja

transformações no seu regimento quanto mais interações e colaborações haja nos sistemas

abertos e interativos que a web disponibiliza aos seus internautas.

Page 74: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Nesse tocante, é preciso estar alerta para as reais intencionalidades desses sites e

comunidades virtuais, para se que se possa pensar na implementação de sistemas de reputação

cada vez mais precisos e adequados à proposta inicial do referido endereço da Internet. Lima

(2010) menciona que o portal Yahoo! realizou um fórum de suporte ao desenvolvedor no ano

de 2010 como forma de ajudar os usuários a escolherem e desenvolverem um sistema de

reputação propício para cada situação, voltando os olhares para a finalidade dessas

comunidades virtuais. O autor destaca e segmenta cinco padrões das comunidades virtuais

em atenciosas, colaborativas, cordiais, competitivas e combativas.

Em geral, os participantes da comunidade atenciosa têm como objetivo a ajuda mútua

e recíproca entre si. Nessas comunidades, a reputação tem como serventia apenas a

identificação do tempo de colaboração dos participantes mais antigos e mais recentes, o que

proporciona a troca de experiência e o pedido de ajuda na realização de tarefas específicas.

Serve como esse exemplo, o blog Y! Health Expert Blogs (LIMA, 2010).

Nas comunidades de padrão cordial, os participantes possuem interesses adversos, mas

nem por isso travam qualquer tipo de conflito ou competição. Os dados históricos

possibilitam identificar quais usuários possuem a maior quantidade de contribuições. O Yahoo

Answers e o pioneiro eBay são exemplificados por Lima (2010) como comunidades de

padrões cordiais.

Nas comunidades competitivas, os participantes travam uma espécie de competição,

mesmo sabendo que compartilham de objetivos comuns. Um sistema de reputação adequado

para esse tipo de caso são aqueles que visam a mostrar quem são os participantes mais

atuantes. O Y! Fantasy Sports é um exemplo (LIMA, 2010).

Na comunidade combativa, padrão apresentado por Lima (2010), os usuários

competem entre si, uma vez que possuem metas completamente opostas. Os sistemas de

reputação servem para mostrar quem são os colaboradores que estão em estágios mais

avançados que os outros, como ocorre com o Xbox Live.

Os envolvidos na comunidade colaborativa têm como meta comum agir em prol da

comunidade, trabalhando e operando de forma conjunta para alcançar o objetivo proposto.

Nessa comunidade, Lima (2010) aconselha que os participantes sejam identificados como

ativos, antigos e confiáveis.

Conhecer as funcionalidades e os objetivos das comunidades virtuais é imprescindível

para a escolha de um sistema de reputação adequado e condizente com as necessidades delas.

Sob essas premissas, observamos mais um sistema de reputação pensado especificamente para

uma comunidade virtual acadêmica: o Activ UFRJ.

Page 75: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

5.1.2 Sistemas de Reputação em Comunidades Virtuais Acadêmicas: o Caso da Activ UFRJ

As interconexões que acontecem entre as pessoas no ciberespaço se dão em ambientes

interativos que democratizam a disseminação da informação e do conhecimento, como as

citadas comunidades virtuais. Assim como os demais sites de endereço da Internet, elas

também são permeadas de informações imprecisas, duvidosas ou até mesmo falsas. Com as

informações que circulam entre o público acadêmico, ocorre da mesma maneira. Por essa

razão, torna-se importante refletirmos sobre o modelo de reputação proposto por Cruz e Motta

(2006) para os ambientes acadêmicos.

Este modelo tem como finalidade estabelecer parâmetros de confiabilidade na

comunidade virtual destinada às interações dos alunos de graduação da UFRJ, a Activ UFRJ.

O objetivo proposto pelos autores é fornecer informações acerca das participações e das

contribuições dos usuários no campo de atuação destes, com o intuito de usar como indicativo

das suas reputações.

Cruz e Motta (2006) expõem que esse sistema de reputação requer que o usuário

realize um cadastro de áreas de interesse relativo à temática da comunidade, coleta de retorno

explícito dos usuários sobre a serventia das participações dos outros membros, estratégias de

pontuação e recomendação de usuários com alta reputação em áreas específicas de interesse.

Dentre as especificidades desse modelo, estão inclusas a possibilidade de mensuração da

confiabilidade através de quantitativos referentes a avaliações que um colaborador realiza na

própria comunidade, e a mensuração da confiabilidade por dados qualitativos referentes às

contribuições e às respostas de outros usuários sobre uma informação disponibilizada na

comunidade.

O sistema de reputação elaborado por Cruz e Motta (2006) propõe um cadastro de

áreas de interesse que permitirá que os participantes de outra comunidade virtual realize um

cadastro relacionado ao tema da comunidade. Os dados contidos serão registrados em um

banco de dados para que possam ser reutilizadas em cadastros de áreas de interesse de outras

comunidades. Através disso, os membros farão associações entre comunidades virtuais por

meio das áreas de interesse.

O retorno explícito poderá coletar a opinião dos usuários através dos artefatos

publicados (compreendido como qualquer tipo de material compartilhado) e a denominação

dessas avaliações quanto à sua utilidade (CRUZ; MOTTA, 2006). Esse mecanismo

possibilitará que sejam geradas “recomendações mais confiáveis de artefatos, como também,

Page 76: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

identificar as pessoas que contribuíram de forma mais positiva ou negativa para o sucesso da

comunidade” (CRUZ; MOTTA, 2006, p. 355).

As estratégias de pontuação também fazem parte do sistema de reputação para as

comunidades virtuais acadêmicas. A participação será contabilizada usando “os pontos

adquiridos através da avaliação de artefato e das qualificações das avaliações de outros

membros. Por sua vez, as contribuições serão calculadas através das notas adquiridas em

artefatos avaliados e em avaliações qualificadas por outros membros” (CRUZ; MOTTA,

2006, p. 355). Esse mesmo modelo prevê ainda

A recomendação de pessoas com alta reputação em determinadas áreas de interesse,

para que as pessoas que tenham se identificado com essas áreas através das suas

participações (avaliando os artefatos ou qualificando avaliações). Para isso, será

utilizada uma estratégia de combinação social para compatibilizar usuários com

altos pontos de contribuição em determinadas áreas de interesse, com usuários com

altos pontos de participação nessas mesmas áreas. Espera-se, dessa forma, motivar

os usuários a participarem de forma produtiva e com avaliações honestas, para não

correrem o risco de receber recomendações de pessoas não confiáveis (CRUZ;

MOTTA, 2006, p. 355-356).

Os sistemas de reputação voltados para as interações da comunidade acadêmica da

UFRJ possuem as características gerais dos sistemas de reputação. Todavia, a possibilidade de

transpor as barreiras da própria comunidade na tentativa de estabelecer uma espécie de “links”

com outras comunidades, baseada nos interesses dos membros participantes, torna-se um

diferencial interessante.

Page 77: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

6 O DESENHO DA PESQUISA: DEFINIÇÕES, PERCURSOS E PROCEDIMENTOS

METODOLÓGICOS

No planejamento e na execução de uma pesquisa científica, os procedimentos

metodológicos conservam um lugar de suma relevância, se não o mais importante, na medida

em que, a partir da escolha metodológica adequada, o pesquisador tem a possibilidade de

alcançar os objetivos estabelecidos, respondendo ao seu problema de pesquisa de forma

satisfatória. A metodologia é, nas palavras de Minayo (1996, p. 22), “o caminho e o

instrumental próprios da abordagem da realidade”.

De modo mais preciso, Barros e Lehfeld (2007, p. 2) esclarecem que a metodologia

“corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenção do conhecimento”.

Logo, esta corresponde ao trajeto que leva o investigador a chegar a um conhecimento que

ainda é desconhecido. Daí a importância da escolha de uma metodologia adequada,

estabelecendo as características e os limites do conjunto de procedimentos adotados.

6.1 Caracterização da Pesquisa

A literatura referente aos métodos e técnicas de pesquisas apresenta, pelo menos,

quatro tipos de pesquisas científicas, são elas: a teórica, a metodológica, a empírica e a

prática. Inobstante cada uma apresenta particularidades e especificidades que as definem,

devemos ter em mente que nenhuma delas é “autossuficiente”, e, por isso, na “prática,

mesclamos todos, acentuando mais este ou aquele tipo de pesquisa” (DEMO, 2000, p. 22).

Tendo em vista que a Wikipédia, a Enciclopédia Livre, nosso objeto de estudo, se situa

em domínio delimitado da realidade, o presente estudo se caracterizou como uma pesquisa

empírica. Esse tipo de pesquisa trabalha, conforme Demo (1994), com o caráter fatual da

realidade, produzindo e analisando os dados, sempre agindo sob o controle da empiria e dos

fatos. Além disso, é importante observar que essa oferece maior concretude às arguições do

pesquisador por estar justamente centrada nessa base fatual.

Demo (1994) destaca também que a pesquisa empírica depende tanto dos dados

empíricos quanto da teoria para fornecer subsídios que agreguem e possibilitem a

aproximação prática da pesquisa. Desta maneira, as contribuições teóricas abordadas acerca

das temáticas centrais, tais como ciberespaço, colaboração, produção e compartilhamento de

informações na web, serviram de sustentação para a compreensão e a análise da dinâmica de

funcionamento da produção colaborativa de conteúdos no domínio da Wikipédia, a

Page 78: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Enciclopédia Livre. Para Lakatos e Marconi (2011), essas discussões só podem ser realizadas

através da pesquisa bibliográfica, que fornece dados antigos e atuais relevantes capazes de

atualizar os debates sobre o tema. Acrescentam, ainda, que esse é capaz de dizimar os erros,

diminuir as redundâncias e provocar novos questionamentos sobre o objeto de estudo.

Ao focarmos a Wikipédia, a Enciclopédia Livre, no universo de diversas fontes de

informação existentes no ciberespaço que a produção colaborativa de conteúdos e o

compartilhamento de informações abarcam, a pesquisa adquiriu o status de um estudo de

caso, cuja maior finalidade foi conhecer de forma mais aprofundada a situação que se pode

apresentar singular em suas características e aspectos.

A rigor, na medida em que esta teve como fonte material de análise os conteúdos que

descrevem os procedimentos de produção e colaboração das informações, apresentou-se

também como uma pesquisa documental. Segundo Neves (1996), nesse tipo de pesquisa, o

investigador tem a possibilidade de fazer uso dos dados que ainda não receberam nenhum

tratamento analítico, podendo, ainda, serem reexaminados, promovendo interpretações novas

e complementares.

6.2 Abordagem Qualitativa

Considerando o material empírico e os problemas levantados, a abordagem qualitativa

corresponde à que melhor se adequou à pesquisa realizada. Essa, conforme Richardson

(2008), dispensa, na sua realização e no processo de análise, o uso de instrumentos de

pesquisas capazes de obter dados numéricos e estatísticos. O contato direto e interpretativo do

pesquisador com o objeto a ser estudado faz parte do processo de pesquisa.

É nessa relação de aproximação que pudemos localizar e buscar compreender com

maior clareza os elementos e os fenômenos que se encontram presentes na estrutura da

Wikipédia, a Enciclopédia Livre e que delimitam a confiabilidade das informações dessa

enciclopédia. O fato é que, segundo Trivinõs (1987), a abordagem qualitativa se preocupa

tanto com o seu resultado/produto quanto com o processo e com o significado que o objeto de

estudo apresenta.

Nesse contexto, é importante destacarmos que, de acordo com Godoy (1995, p. 2), a

pesquisa científica qualitativa se constitui de quatro características bastante significativas, são

elas: “a) ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento

fundamental; b) caráter descritivo; c) o significado que os indivíduos dão às coisas e à sua

vida como preocupação do investigador; d) enfoque indutivo”.

Page 79: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

6.3 Métodos e Técnicas de Coleta e Análise de Dados

Na coleta e na análise de dados, tivemos como base um conjunto de procedimentos

que buscaram caracterizar a estrutura da enciclopédia visando à compreensão do

funcionamento da produção colaborativa de conteúdos. Tratou-se, portanto, de partir do

conjunto de conteúdos que constitui aquela estrutura e alcançar um conjunto de diretrizes que

condicionem este funcionamento. Assim, os métodos de coleta e análise escolhidos tiveram

por base alguns procedimentos metodológicos da Análise de Conteúdo (AC) de Laurence

Bardin.

Trata-se de um conjunto de “técnicas de análise de comunicação, visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

(quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção destas mensagens” (BARDIN, 2010, p. 42).

Complementando, Berelson (1952, p. 18 apud MINAYO, 1996, p. 200) a descreve

como uma “técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática [...] do conteúdo

manifesto das comunicações e tendo por fim interpretá-los”, cuja intenção é eximir-se das

conotações do senso comum e da subjetividade existente na interpretação dos conteúdos tanto

dos documentos quanto de textos literários, biografias, entrevistas ou observação. De maneira

mais precisa, Richardson (2008) esclarece que a AC nada mais é do que a junção de

instrumentos metodológicos capazes de analisar os discursos diversos.

A abrangência da AC originou segmentações que são utilizadas conforme as

particularidades da pesquisa. Nesse conjunto, interessaram-nos a Análise das Relações (AR) e

a Análise Temática (AT), que combinadas possibilitaram uma compreensão integrada do

conjunto de elementos que estabelecem as diretrizes gerais de produção colaborativa de

conteúdo no domínio da Wikipédia. De acordo com Minayo (1996), a AR tem como

preocupação a relação que os vários elementos de um texto qualquer mantém entre si. Essa

técnica se subdivide em duas: a análise de co-ocorrência, que procura identificar em um texto

as relações existentes entre as partes de uma mensagem e assinala uma presença simultânea

de dois ou mais elementos em um mesmo contexto, e a estrutural, que tem como finalidade

identificar a existência de estruturas universais ocultas na diversidade aparente dos

fenômenos. Para fins deste estudo, tomamos como embasamento apenas a análise de co-

ocorrência, isto porque a incidência reiterada de uma diretriz política ou recomendação na

estrutura da Wikipédia se apresenta como um elemento importante, capaz, inclusive, de

contribuir para a confiabilidade dos conteúdos produzidos e das informações que os

Page 80: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

constituem. Essa técnica permitiu a compreensão de que a produção dos artigos e verbetes

está estritamente relacionada aos indicadores de confiabilidade presentes no item Princípios

de Confiabilidade dos Conteúdos da Wikipédia.

A AT, por sua vez, tem como finalidade identificar os núcleos de sentido que

constituem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o

objetivo analítico desejado. Dito de outra maneira, a AT conduz a contagem de frequência das

unidades de significação como definidoras do caráter do discurso. A identificação de

determinados temas confere valores de referência e os modelos de comportamento existentes

no discurso (MINAYO, 1996). Na pesquisa realizada, as questões que giram em torno da

confiabilidade exprimem a preocupação da Enciclopédia Livre em produzir um conteúdo

confiável, sobretudo, pela incidência reiterada dos temas nas políticas e recomendações, como

os indicadores presentes em Itens de Confiabilidade das Páginas, Políticas de Produção de

Conteúdo na Wikipédia, O Reconhecimento do Trabalho Colaborativo: a Equipe de

Confiança, e Wikiquette: a Netiqueta da Wikipédia.

No que se refere à operacionalização, segundo Bardin (2010), a AC foi executada em

três fases: a pré-análise, a exploração do material, o tratamento dos resultados e as inferências.

A figura abaixo esquematiza as fases desse processo.

Figura 1: Etapas do processo de Análise do Conteúdo

Fonte: Elaborado pela autora com base em Bardin (2010).

Leitura flutuante

Constituição do

corpus

Pré-análise

Formulação de

hipóteses e objetivos

Fases da análise

Exploração do material

Tratamento dos

resultados e inferência

Page 81: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Na primeira fase, adentramos no universo da Wikipédia visando a apreender os

elementos que compõem a sua estrutura e compreender o seu funcionamento. Nessa etapa, a

leitura flutuante possibilitou o contato com o material analisado, oferecendo as primeiras

impressões e considerações do objeto de estudo. Já na execução dessa etapa, passamos a

colher os dados que nos permitiram apontar as características gerais e específicas da

Wikipédia, a começar pelo conhecimento dos Cinco Pilares, dos Princípios Fundadores e da

O que a Wikipédia não é. Esses aspectos citados nos forneceram subsídios que possibilitaram

a compreensão das características imutáveis da “Wiki” e a finalidade desse projeto

colaborativo. Ainda nessa fase inicial, tivemos o primeiro contato com as políticas e as

recomendações da Enciclopédia Livre, realizando uma leitura superficial sobre suas

explanações.

A partir dessa fase, realizamos a seleção do material que constituiu o corpus de

análise, observando a formulação dos objetivos, que, notadamente, se relacionam à

confiabilidade. Para a realização dessa tarefa, fizemos uma investigação mais minuciosa nas

políticas e recomendações, voltando nossas análises para a ocorrência de temáticas que se

relacionam à confiabilidade. A hipótese adotada foi a de que os elementos encontrados nas

políticas e recomendações possuem relação direta com as práticas adotadas na produção

colaborativa de conteúdo da Wikipédia e, por conseguinte, com a confiabilidade das

informações que o constitui.

A exploração mais detalhada e, por conseguinte, aprofundada do material analisado e

o relatório sistematizado com os dados iniciais encontrados na Wikipédia foram realizados em

um segundo momento. Essa interpretação preliminar forneceu dados importantes na etapa

final do processo de AC, que teve como fundamento a categorização temática das políticas e

recomendações, agregadas conforme o tema que as envolvem, são elas: Políticas de Produção

de Conteúdo e Informação, Equipe de Confiança e “Netiqueta”.

A terceira e última fase foi dedicada ao tratamento e à interpretação do conjunto de

dados colhidos nas fases anteriores. Foi nessa etapa que trouxemos à tona nossas

considerações sobre o que foi constatado na nossa investigação, por meio da interpretação e

da inferência formal dos dados obtidos, que foram analisados, interpretados e discutidos à luz

dos referenciais teóricos adotados.

Page 82: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

7 A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO NA WIKIPÉDIA: A ENCICLOPÉDIA

LIVRE: POLÍTICAS E RECOMENDAÇÕES NA PRODUÇAO DE CONTEÚDOS

A interatividade possibilitada pela expansão e pelo avanço da tecnologia da

informação e da comunicação é um elemento de grande destaque na Wikipédia, a

Enciclopédia Livre. Sem sombra de dúvidas, o fator tecnológico com ênfase no aspecto

interacionista que, segundo Primo (2008), ocorre no nível multi, possibilita que esse endereço

virtual aumente o seu acervo a cada dia que se passa. Esse tipo de interação acontece quando

o colaborador interage com a tecnologia computacional para poder produzir algum tipo de

conteúdo. Além disso, esse mesmo usuário também tem a possibilidade de interagir com os

demais envolvidos no processo de produção colaborativa para que as páginas evoluam

qualitativamente, embora a interação entre os membros seja facultativa. Em relação a esse

assunto, a ênfase maior recai sobre o MediaWiki, software livre que permite a existência da

Wikipédia e da possibilidade de produção de conteúdo no ambiente virtual.

Pelo fato da troca entre os wikipedistas ser opcional e o teor dessa interação estar

centrado na objetividade das informações que devem fazer parte ou ser excluídas dos artigos e

verbetes, os colaboradores da enciclopédia constituem uma comunidade virtual do tipo não-

comunitária (LEMOS; LÉVY, 2010). Essa adjetivação só é possível porque a finalidade

maior da reunião desses usuários no espaço criado e mantido pela Wikimedia Foundation está

voltada para a manutenção da enciclopédia, em detrimento do envolvimento pessoal e

sentimental das pessoas participantes.

Na Wikipédia, o desenvolvimento do trabalho colaborativo imaterial desempenhado

pelos editores acompanha as características anteriores, enquadrando-se na tipologia intelectual

e linguística de Hardt e Negri (2003). Através do desenvolvimento dessas habilidades, a

enciclopédia valoriza as potencialidades intelectuais dos envolvidos. De maneira ampla, todas

essas caraterísticas acabam exibindo os contornos gerais dessa fonte de informação.

Além dessas características gerais, a Enciclopédia Livre possui especificidades que as

distinguem ainda mais das enciclopédias colaborativas existentes no ciberespaço, sobretudo,

no que se refere à sua produção e edição de conteúdos. São aspectos imutáveis que objetivam

manter as particularidades do projeto ao longo de sua existência, constituindo os Cinco

Pilares. Esses são formados pelo enciclopedismo, pela imparcialidade, pela licença livre,

pelas normas de conduta e pela liberalidade nas regras (WIKIPÉDIA, 2013).

No quesito do enciclopedismo, a Wikipédia (2013) afirma que dispõe de elementos

característicos das enciclopédias generalistas e especializadas e dos almanaques. Os

Page 83: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

conteúdos produzidos nesse espaço devem seguir os mesmos padrões de produção das fontes

especializadas, adotando, inclusive, a imparcialidade, pilar de número dois. Esse pilar atua

sobremaneira na qualidade dos conteúdos, uma vez que quanto mais imparcial for o conteúdo

e quanto mais abordagens diferentes houver em uma página, melhor ele será considerado. É

interessante notar que, mesmo estando longe de ser uma fonte de informação formal, a

Wikipédia proclama o principal quesito dessa fonte: a neutralidade.

Outro pilar importante é a questão da licença livre, que possibilita que todos os

conteúdos disponibilizados nas páginas daquele endereço possam ser editados, modificados e

redistribuídos sem o aviso prévio, até mesmo de forma comercial. Tudo isso só possível

devido ao fato dessa enciclopédia ter como base fundamental a produção sob o fundamento

do copyleft, que proporciona que os usuários alterem as produções intelectuais e as deixem

abertas para alterações posteriores (LEMOS, 2004). Nessa enciclopédia colaborativa, a

abrangência dessas alterações é possível através do licenciamento do Creative Commons by-

sa (ou CC-By-Sa) (CREATIVE COMMONS, 2013). Dentre os pilares destacados pela

Wikipédia, esse é o que permite o espaço aberto de produção, alteração e distribuição dos

conteúdos que estão sendo produzidos de forma colaborativa.

As normas de conduta existem para determinar que os colaboradores mantenham um

relacionamento amistoso entre si, mesmo que compactuem com pontos de vistas divergentes

(WIKIPÉDIA, 2013). Em Lévy (1999), as normas de condutas que regulam a dinâmica de

funcionamento das comunidades virtuais são as “netiquetas”, responsáveis por assinalarem

que nem todos os tipos de ações são aceitáveis. A implementação delas está associada ao

envolvimento subjetivo e trocas afetivas. Cabe ressalvar que esse tipo de predicado é mais

perceptível nas comunidades virtuais do tipo comunitária (LEMOS; LÉVY, 2010). Mesmo o

objeto estudado sendo uma comunidade não-comunitária, o envolvimento emocional e a troca

afetiva entre os editores podem surgir, dada a possibilidade de interação existente.

O quinto e último quesito dos Cinco Pilares é a liberalidade das regras, que informa a

autonomia da Wikipédia em poder modificar a qualquer momento uma de suas regras e

condições de inserção de conteúdos, desde que a comunidade de editores concorde com as

mudanças propostas (WIKIPÉDIA, 2013). Esse fundamento está intrinsecamente associado à

noção da democracia que caracteriza as comunidades em Bobbio (1989), sobretudo no que se

relaciona à comunidade wikipedista. Esse pilar proporciona que essa fonte seja um espaço

sempre em transformação, conferindo maior dinamicidade ao projeto colaborativo.

Além dessas, a Wikipédia (2013) destaca uma série de informações que visam a

assegurar que o espaço aberto de interação esteja sempre voltado à construção de uma

Page 84: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

enciclopédia colaborativa de qualidade, conforme destacam os Cinco Pilares. Essa diretriz é

intitulada de O que a Wikipédia não é, cujas ênfases são a Wikipédia não é uma fonte

primária de dados e não é uma revista científica de novos conceitos. Essas considerações nos

indicam que a Enciclopédia Livre está preocupada em construir seu próprio acervo com base

no conteúdo de outras fontes informacionais, que tenham adquirido relevância e

reconhecimento científico-social em outros meios de divulgação.

O conhecimento desses elementos é a base fundamental para a produção de conteúdos

na Wikipédia. Consideramos, entretanto, que a enciclopédia acaba se contradizendo ao

informar que, se houver alguma regra existente que iniba a evolução e a melhoria das páginas,

a mesma deve ser desprezada. Vejamos isso, no trecho a seguir:

Se envolver muito nas regras pode causar uma perda de perspectiva, então há

momentos que é melhor ignorar as regras. Mesmo que uma contribuição “viole” a

redação precisa de uma regra, ainda assim pode ser uma boa contribuição. Assim,

não é obrigatório aprender todas as regras para contribuir, apenas tenha bom senso

(WIKIPÉDIA, 2013, online, grifo de autor).

A presença desse tipo de aconselhamento em A Wikipédia não Possui Regras Fixas

acaba facultando o conhecimento das características mais específicas da Wikipédia, que

apontam os elementos para a sua produção de conteúdos. Contudo, nesse item, ela mesma

apresenta uma série de observações que devem ser consideradas antes de infringir uma das

regras, cabendo salientar a Justificativa. Essa pondera que, para uma regra ser ignorada, o

colaborador deve explicar o motivo que o levou a desrespeitá-la. Para que isso seja feito, é

preciso que o editor embase as suas argumentações, referenciando e fazendo menções aos

Princípios Fundadores, às políticas e aos interesses de uma enciclopédia. Ou seja, até para

infringir uma regra, o colaborador deve saber do que a mesma trata. Nessas alegações, devem

ser evitados discursos ofensivos, que possam denegrir ou afrontar os editores que possuem

religiões, culturas e etnias divergentes (WIKIPÉDIA, 2013).

Uma observação pertinente é que a Wikipédia deixa em aberto em que lugar de sua

estrutura essa Justificativa deve ser feita. Com a explicitação dessa incoerência, a própria

fonte de informação em estudo acaba cooperando para que a confiabilidade ganhe mais um

elemento a ser questionado, pondo em risco a qualidade e o compromisso com que as

atividades devem ser realizadas.

Constatamos que a Wikipédia lida com duas realidades conflituosas em sua estrutura.

Uma que permite a violação de suas regras, outra que traz em sua estrutura uma série de

indicadores que proporcionam mais sistematização e até padronização na produção dos

conteúdos. Isso pode acabar gerando desinteresse e até mesmo a violação dos apontamentos

Page 85: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

indicados para uma produção colaborativa de conteúdos com elevado potencial de qualidade,

haja vista a possibilidade de serem rejeitadas com o aval da própria enciclopédia.

Ainda assim, consideramos que as políticas e as recomendações são basilares para o

aumento qualitativo e quantitativo dos artigos e verbetes. Preliminarmente, é preciso ponderar

que, sendo uma comunidade virtual, os subsídios trazidos nela são passíveis a mudanças. A

organização fundadora garante que qualquer tipo de objeção a essas concepções deve ser

encaminhado à Esplanada - local dedicado à discussão de novas propostas e ideias a serem

excluídas ou adotadas no projeto - para análise.

É justamente devido a essa maleabilidade que a comunidade wikipedista se aproxima

de uma comunidade democrática em que, como afirma Bobbio (1989), os direitos e deveres

podem ser questionados, sugeridos, negociados e igualitários. Ou seja, na Wikipédia, os

usuários tem a possibilidade de questionar, sugerir e modificar as políticas e as

recomendações que conduzem o seu funcionamento. Isso é extremamente relevante para que

essa enciclopédia tenha a possibilidade de se renovar e se atualizar a partir das contribuições

dos demais. Com essas características, a comunidade valoriza seu próprio modelo

democrático, em que a participação dos envolvidos é indispensável.

Em relação às políticas e às recomendações, vemos que a maior finalidade delas é

assinalar quais são os procedimentos a serem seguidos para uma produção de conteúdos com

qualidade, evidenciando sua relevância para os editores e para o projeto.

Embora sejam similares no que diz respeito à temática que abordam, as políticas e as

recomendações desempenham papeis diferentes. A Wikipédia (2013) afirma que as políticas

têm como fim descrever e esclarecer padrões que os colaboradores devem seguir, enquanto as

recomendações almejam esboçar os melhores procedimentos para seguir os padrões em

contextos cada vez mais específicos.

Em linhas gerais, os conteúdos das políticas e das recomendações são exibidos no

quadro abaixo. Após o conhecimento desses dados, aprofundamos as análises com base

nessas políticas e recomendações pelo fato de elas estarem diretamente e indiretamente

relacionadas aos indicadores de confiabilidade. Antes, precisamos reiterar que as informações

contidas neste quadro apresentam as temáticas que devem ser levadas em consideração para o

funcionamento do projeto colaborativo como um todo.

Page 86: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Quadro 3: Políticas e Recomendações da Wikipédia

Temática Central Políticas e Recomendações

Visão Geral: fornece

informações para a

compreensão desse projeto

colaborativo, apresentando as

práticas e os princípios a

serem seguidos pelos

participantes.

Políticas e Recomendações * Lista de Políticas * Lista de Recomendações

Princípios de Todo o

Projeto: informam aos

colaboradores e usuários

quais são os princípios que

estão na base de toda

enciclopédia, esclarecendo as

possíveis indagações quanto à

sua missão e funcionalidade.

O que a Wikipédia não é * Política de Edição * Consenso

Política sobre Padrão dos

Artigos: descreve os critérios

que devem direcionar os

usuários a produzirem os

conteúdos de forma coerente e

responsável.

Ponto de Vista Neutro * Verificabilidade * Nada de Pesquisa Inédita *

Biografia de Pessoas Vivas * Convenção de Nomenclatura * Eliminação

Políticas de

Comportamento: sugerem o

tipo de comportamento mais

adequado a ser adotado pelos

usuários com relação à

convivência em comunidade.

Normas de Conduta * Não Faça Ataques Pessoais * Não Dissemine a

Desconfiança * Não Faça Ameaças Legais * Propriedade dos Artigos * Guerra

de Edições

Guias de Comportamento:

apresentam os preceitos a

serem respeitados pelos

colaboradores para que

tenham um comportamento

amistoso e receptivo.

Presuma a Boa-Fé * Não Abuse da Wikipédia para Provar um Ponto de Vista

* Não Morda os Novatos * Subversão do Sistema * Abuso do Espaço Público

Guias de Conteúdo: expõem

os parâmetros a serem

observados no que se

relaciona à produção de

conteúdo.

Conflito de Interesse * Não Incluir Cópias de Fontes Primárias * Notoriedade

Guias de Edição: exprimem

as circunstâncias norteadoras

para a edição das páginas.

Seja Audaz * Ligações * Status Quo

Convenções de Estilo

(também denominado de

Livro de Estilo ou Manual

de Estilo): propõem a

uniformização dos artigos e

verbetes para que sejam mais

fáceis sua consulta, expansão

e manutenção.

Manual de Estilo

Fonte: Adaptado da Wikipédia, a Enciclopédia Livre (2013).

Page 87: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

7.1 Princípios de Confiabilidade dos Conteúdos da Wikipédia

Inicialmente, precisamos compreender que as políticas da Wikipédia são constituídas

de elementos que devem contemplar aspectos que exprimem a importância em adotar

preceitos de confiabilidade em sua produção. Nesse conjunto, os mais pertinentes são

Imparcialidade (ou Neutralidade), Notoriedade, Nada de Pesquisa Inédita, Fontes Primárias,

Direitos Autorais e Verificabilidade.

O Princípio da Imparcialidade (ou Neutralidade) defende que a produção dos artigos

e verbetes seja o mais neutra possível, contemplando os pontos de vistas mais divergentes

possíveis (WIKIPÉDIA, 2013). Com isso, a Wikipédia pretende que a página possa ser

apreciada pelo máximo de pessoas que a utilizam como uma fonte de informação do

ciberespaço, validando os conteúdos nela existentes sob vários ângulos.

A preocupação dela com esse fator reflete a heterogeneidade das informações que

circulam na rede mundial de computadores e que deve fazer parte de sua produção de

conteúdos, abrangendo atores sociais com múltiplas religiões, etnias e culturas. Portanto, a

noção de Imparcialidade dessa fonte de informação tangencia o entendimento de Carpes

(2011), para quem os conteúdos digitais ampliam a diversidade e o conhecimento.

Compreendemos que seguir a Neutralidade e a Imparcialidade é indispensável em

qualquer tipo de produção de conteúdo, embora não tenham sido incluídos nas listas de

indicadores de credibilidade possíveis de adjetivar uma fonte de informação como fiável, em

especial, nas elaboradas por Tomáel et al (2001) e Fogg et al (2002a, 2002b). Mas, mesmo

sabendo que cumpri-los é uma tarefa muito difícil, quiçá impossível, a Wikipédia mostra seu

empenho em realizar um trabalho livre de interesses pessoais e particulares. Nessa fonte de

informação, esse desafio ganha dimensões maiores pela quantidade de editores habilitados a

colaborarem e pela quantidade de pessoas diferentes que a acessam, quebrando a barreira de

possuir apenas um público-alvo predominante, assemelhando-se às características do regime

de informação apontadas por González de Gomes (2002), especialmente, no que se refere à

possibilidade de produção, geração e transferência de conteúdos em um espaço composto por

inúmeros produtores e receptores.

Os indicadores Notoriedade, Nada de Pesquisa Inédita, Fontes Primárias e Direitos

Autorais são bastante similares quanto ao seu significado dentro desse projeto colaborativo.

Em linhas gerais, eles versam que os artigos e verbetes produzidos devem se basear em fontes

de informação primária, preservando os direitos autorais dos produtores das fontes utilizadas.

Além do mais, a inserção dos conteúdos a serem editados devem conter informações que

Page 88: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

foram divulgadas em fontes informacionais reputadas e com notoriedade perante a sociedade.

Com a adoção desses elementos, a Wikipédia tenta proibir que, em suas páginas, sejam

divulgadas pesquisas científicas inéditas ou fatos que ainda não conquistaram reconhecimento

técnico, científico e social suficiente para ser abordado em seus artigos e verbetes.

Nesse universo de indicadores de confiabilidade, é relevante destacarmos a

advertência feita pela enciclopédia no caso da infração aos Direitos do Autor: “Conteúdo que

se encaixar na categoria de violação de direitos autorais será imediatamente apagado do

artigo. O editor que o inseriu será advertido e, em caso de reincidência, pode acabar

bloqueado” (WIKIPÉDIA, 2013, online). Para que os direitos autorais sejam respeitados, a

enciclopédia aconselha que editores façam uso das obras intelectuais para redigirem seus

próprios textos, citando as fontes primárias e suas respectivas referências, mas nunca

copiando um artigo tal qual seu original. Notemos também que esse tipo de atitude é

condenado em ambientes dedicados à produção formal do conhecimento, tais como centros de

pesquisa e universidades.

O fato é que, com a inserção do respeito aos direitos do autor, a Wikipédia evidencia

uma inquietação muito grande com o que deve ser publicado em suas páginas, agregando

critérios que são pouco mencionados por autores que versam sobre a credibilidade das

informações da web. Dedicar um espaço dentro da estrutura de funcionamento da

enciclopédia a essa questão é de fundamental importância porque a direciona à confiabilidade

das fontes de informações tradicionais mais reconhecidas.

Notamos que a presença dos significativos elementos de confiabilidade, como a

Notoriedade, Nada de Pesquisa Inédita, Fontes Primárias e Direitos Autorais, é bastante

visível na estrutura da Wikipédia. Embora não elencados por Fogg et al (2002a, 2002b) e

Tomáel et al (2001), esses critérios são fortes indicadores de credibilidade das fontes de

informação no ciberespaço. Avaliamos que a presença desses elementos coopera para que a

fonte de informação mostre sua idoneidade com os conteúdos que estão sendo

disponibilizados na web, aumentando ainda mais os seus indicadores de fiabilidade.

Outro elemento imprescindível corresponde à Verificabilidade, que prevê a existência

de citações e referências nas páginas para que possam ser verificadas em outras fontes de

informações fiáveis. Esse elemento se apresenta como um dos mais relevantes para a

Wikipédia no tocante à confiabilidade, pois os usuários, ao acessar as fontes primárias,

poderão averiguar a presença dos demais pré-requisitos que indicam a confiabilidade da fonte.

No ciberespaço, a questão da verificação das fontes ganha proporções ainda maiores

com a possibilidade de utilizar em suas referências os links, também denominado de Ligações

Page 89: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

(nas recomendações). A utilização desses elementos nos artigos e verbetes da Wikipédia

aumenta a probabilidade de localizar Fontes Primárias, Notórias e Verificáveis. Assim como

na Enciclopédia Livre, Tomáel et al (2001) e Fogg et al (2002a, 2002b) consideram a

presença de links, referências e citações como elementos indispensáveis à questão da

confiabilidade.

Por outro lado, conforme Fogg et al (2002a, 2002b), a existência de links internos e

externos quebrados, que, por ventura, possam surgir nos artigos da Wikipédia, são uma

ameaça à credibilidade porque impossibilitam que os usuários e editores possam checar,

averiguar e confrontar as informações.

Na realidade, essa vulnerabilidade em que se enquadram os links está diretamente

inter-relacionada a uma das características mais específicas do ciberespaço: o hipertexto. A

permanência de um hipertexto estático, imutável e imóvel é inconcebível no ambiente virtual,

visto que uma especificidade desse meio é justamente a fluidez com que suas ligações podem

sofrer alterações sem aviso prévio (LÉVY, 1993; FREIRE, 2003). A falta de possibilidade de

mutação dos hipertextos atinge os Princípios da Metamorfose e da Exterioridade. Assim

sendo, o aparecimento de links quebrados é uma característica da própria natureza da

linguagem hipertextual (LÉVY, 1993).

Além disso, Tomáel et al (2001) limitam o número máximo de três clicks em um link

para que uma fonte de informação seja dita confiável. Essa sugestão, contudo, diverge,

conforme Lévy (1993), do Princípio da multiplicidade de encaixe das escalas, segundo o qual

o hipertexto contém inúmeras ligações. Sob o nosso ponto de vista, a quantidade clicks que

redirecionam a uma página na web é indiferente no tocante à confiabilidade porque a maior

relevância se encontra na presença destes e na possibilidade de verificar e até confrontar os

assuntos trazidos pelas páginas da Wikipédia, seja com temas iguais, semelhantes ou

diferentes. Lembramos que, se tais atributos permanecessem “engessados”, as demais fontes

existentes no ciberespaço iriam se desconfigurar como um endereço desse meio, tendo em

vista que perderia uma das três características do ciberespaço apontado por Lévy (1999): a

linguagem hipertextual.

Diferentemente de algumas fontes de informação alocadas no ciberespaço, a

possibilidade dos links permanecerem estáticos na Wikipédia ganha proporções menores

devido ao fato de as páginas estarem sempre abertas a novas e sucessivas atualizações, o que é

característico do sistema wiki (CUNNINGHAM, 2013). Na Wikipédia, esse diferencial

permite que a atualização dos links seja realizada pelos wikipedistas e pelos usuários, o que é

Page 90: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

mais positivo ainda, pois qualquer pessoa que identificar um link desatualizado pode

contribuir para que a Verificabilidade seja mantida.

7.2 Itens de Confiabilidade das Páginas

As recomendações são compostas por itens que foram elaborados à luz das

experiências vividas pelos wikipedistas, com o intuito de que o projeto evoluísse. As

informações trazidas nesse espaço também objetivam minimizar as dúvidas dos novos

editores e evitar o surgimento de conflitos desnecessários. Como elas são baseadas nas

atividades dos editores, é preciso que haja revisão com o avançar dos tempos. Porém,

centramos naquelas que possuem alguma relação com a confiabilidade.

Um item que merece ser destacado é a Acessibilidade, que aparece como uma sugestão

para que as páginas redigidas agreguem elementos acessíveis a pessoas portadoras de

necessidades especiais. Na Enciclopédia Livre, a Wikipédia Audível possibilita que algumas

das páginas sejam acessadas através do áudio. Além dela, a ferramenta de Alto Contraste

possibilita aos usuários cadastrados a alteração do fundo da tela e da cor das fontes.

A preocupação da Wikipédia com a questão dos conteúdos acessíveis e inclusivos está

acima do seu domínio no ciberespaço, prova disso é que, além dos recursos próprios, ela

menciona uma série de outras possibilidades capazes de providenciar e exibir um conteúdo

acessível em outros espaços, como a acessibilidade nos navegadores Mozilla Firefox e

Windows. No entanto, precisamos ressaltar que essa realidade nem sempre esteve presente na

enciclopédia. Ocorre que, no ano de 2008, Silva (2008) avaliou que, no que concerne ao

quesito da acessibilidade, a Wikipédia poderia ser desconsiderada como uma fonte de

informação fiável porque as suas páginas disponibilizavam conteúdos inacessíveis a pessoas

portadoras de necessidades especiais. Cinco anos depois, constatamos que essa fonte de

informação passou a valorizar esse elemento dentro e fora de seu endereço virtual.

Com efeito, na Wikipédia, a acessibilidade possui um papel fundamental para a

credibilidade das informações porque vai tornando seus artigos e verbetes acessíveis a um

número maior de usuários, diferenciando-se das fontes impressas, extremamente excludentes.

Nesse sentido, Oliveira, Vidotti e Cabral (2003) afirmam que a acessibilidade é um dos

fatores responsáveis por conferir ao ciberespaço o título do mass-media da pós-modernidade.

Quanto mais expressividade e acesso houver em uma fonte de informação, aumentará ainda

mais a sua reputação positiva e o reconhecimento do valor que ela representa socialmente.

Tomáel et al (2001) consideram a acessibilidade um fator elementar para conferir

Page 91: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

credibilidade às fontes de informações do ciberespaço. Sua presença na Enciclopédia Livre

agrega, portanto, mais um indicador de confiabilidade.

A Ortografia é um componente também presente nas recomendações, que define as

regras ortográficas adotadas nas páginas desse projeto colaborativo, especificamente, as

contidas no Acordo Ortográfico de 1990. Conforme Silva (2008) e Tomáel et al (2001), a

redação do conteúdos escritos, seguindo os propósitos da fonte e sua destinação ao público,

conferem maior grau de sistematização e qualidade nos conteúdos elaborados. Na

Enciclopédia Livre, essa questão é ainda mais sobressaliente pelo fato de as páginas estarem

sempre abertas e em constante construção, permitindo que artigos e verbetes sejam

constantemente revisados ortograficamente.

Entendemos que uma escrita coesa, coerente e formal favorece a designação de uma

fonte de informação como credível, denotando o comprometimento e a seriedade com que o

trabalho é realizado, e, principalmente, como a informação é tratada. Por outro lado, um

endereço com características opostas, vai perdendo a credibilidade gradativamente, por

mostrar falta de comprometimento, responsabilidade e revisão constante. Em razão disso, a

Wikipédia conta com o Manual de Estilo para formatação, adequação e uniformização dos

artigos e verbetes existentes em seu acervo.

Além da Ortografia e da Acessibilidade, Tomáel et al (2001) consideram a presença

de datas um indicador de alta relevância para a confiabilidade porque é através dela que os

usuários podem identificar quando a informação foi produzida e se ela vem sendo

constantemente atualizada. A Wikipédia possui esse tipo de informação, que fica disponível

para que o usuário visualize o dia, o mês, o ano e a hora em que o artigo sofreu a última

alteração. A existência desses dados possibilita que, através da Verificabilidade, ele possa

procurar informações com datas próximas para realizar a checagem, e, só após, utilizar o

conteúdo. Esses diversos fatores, por vezes, cooperaram de maneira indireta com a

confiabilidade de uma fonte de informação.

7.3 Políticas de Produção Colaborativa de Conteúdo na Wikipédia

Nas políticas e recomendações da Wikipédia é possível identificar a presença explícita

e implícita de diretrizes que se relacionam diretamente com a produção de conteúdos. Em

alguns casos, essas assertivas encontram-se bastantes dispersas e alocadas em seções que

minimizam a contribuição, o alcance da qualidade dos conteúdos e, consequentemente, a

confiabilidade da informação.

Page 92: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Na Wikipédia, a função desempenhada pelas políticas e pelas recomendações para

elaboração de artigos e verbetes assume o papel de políticas de informação, sobretudo, por

estarem associadas às características reiteradas por Bramam (2006), principalmente, quando

se considera a produção, a criação e o armazenamento das páginas dessa fonte de informação,

apresentando os critérios para sua permanência ou para sua exclusão.

A Política de Edição, que precisaria ser mais rigorosa e minuciosa do ponto de vista da

sistematização a ser seguida pelos colaboradores, é fluida, pouco precisa e deixa a desejar no

que se refere à confiabilidade propriamente dita. Na verdade, sua preocupação está mais com

a produção, seja ela feita como for, do que com a credibilidade do que está sendo produzido.

Ela argumenta em prol da inserção de versões “embrionárias”, considerando que a mesma irá

evoluir com o passar dos dias, podendo surgir, posteriormente, uma página com índice de

qualidade muito elevado. Essa política estimula os editores a serem audazes ao identificarem

erros e incoerências nas páginas redigidas por outros participantes, aconselhando-os a os

corrigirem imediatamente, resolvendo-os, assinalando-os ou removendo-os (WIKIPÉDIA,

2013).

Contrariamente ao que acontece na prática, as assertivas trazidas pela Wikipédia

(2013) nessa política dão a entender que a sua produção de conteúdo tem como fundamento

apenas a interação e o livre arbítrio de inserir e produzir qualquer tipo de conteúdo em seu

domínio, porém, isso acontece de forma diferente nessa fonte de informação.

Dentre os elementos mencionados capazes de prover a confiabilidade, a Política de

Edições exibe uma falha ao mencionar apenas que os artigos sejam neutros, desconsiderando

a importância dos Critérios de Notoriedade, Fonte Primária e Nada de Pesquisa Inédita e

Direitos Autorais. Compreendemos que ela deveria ser mais completa para direcionar e

precisar mais claramente como realizar inserções de conteúdos fiáveis e credíveis. No entanto,

o único critério mencionado é a Neutralidade, que resulta na sua supervalorização em

detrimento dos demais. Essa política deveria inserir também os demais elementos indicadores

de credibilidade, como uma forma de impulsionar a produção credível dos artigos e verbetes.

Dito isso, vemos que as Políticas de Edição não trazem nenhum dos aspectos elencados por

Bramam (2006), no domínio da produção dos conteúdos e da edição dos artigos e verbetes

como atividades que visam a melhoria desses através da edição contínua dos demais

colaboradores.

Em contrapartida, a Política de Eliminação se relaciona ao processo de

armazenamento ao qual a autora se refere ao destacar a “destruição” dos conteúdos com baixo

nível de fiabilidade (BRAMAM, 2006). Esse tipo de política age excluindo as páginas que

Page 93: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

devem ficar fora do acervo da Wikipédia por serem comprometedoras ou por desobedecerem

algum dos seus princípios relatados nas políticas ou recomendações (WIKIPÉDIA, 2013). A

maior finalidade consiste, em última análise, em fazer com que os conteúdos existentes na

enciclopédia colaborativa sejam fieis aos objetivos de fonte de informação.

As páginas que forem detectadas com erros ou incoerências muito graves e

impossíveis de serem corrigidas devido à complexidade do seu teor podem ser assinaladas por

qualquer usuário (anônimo ou registrado) para eliminação. No entanto, apenas os

eliminadores e administradores têm a permissão para excluí-las. Mas, até que essa tarefa seja

feita, o conteúdo fica indisponível para os demais (WIKIPÉDIA, 2013).

Outra que age no controle do conteúdo é a Política de Bloqueio. Diferentemente das

anteriores, essa é a mais criteriosa em suas ações porque sua maior finalidade é inibir e punir

as ações mal-intencionadas de determinados colaboradores (autenticados ou anônimos) que

objetivam distorcer ou invalidar um conteúdo de forma proposital ou não. Na Wikipédia, esse

tipo de ação é denominado de vandalismo. Fragoso (2009) entende que esse tipo de atitude

ocorre no ciberespaço devido às suas próprias características de ser um ambiente aberto a todo

tipo de manifestação, inclusive as más. Diante dessa possibilidade disso acontecer, a

Wikipédia exibe o seguinte alerta no Aviso Geral:

A Wikipédia é uma enciclopédia online de conteúdo aberto, isto é, uma associação

voluntária de indivíduos e grupos que estão desenvolvendo um repositório comum

do conhecimento humano. Sua estrutura permite que qualquer indivíduo com uma

conexão à Internet e um navegador web possa alterar o conteúdo aqui encontrado.

Portanto, por favor, esteja ciente de que nenhum conteúdo aqui encontrado foi

necessariamente revisado por profissionais capacitados especificamente nas áreas de

conhecimento necessárias, de modo a poder providenciar informações completas,

precisas e credíveis sobre qualquer assunto na Wikipédia.

Isso não quer dizer que não encontre muitas informações precisas e valiosas na

Wikipédia; no entanto, tenha clara noção de que a Wikipédia NÃO PODE

garantir, de maneira nenhuma, a validade das informações aqui encontradas. Elas podem ter sido mudadas, vandalizadas ou alteradas por alguém cuja opinião

não corresponda ao “estado do conhecimento” na área particular que está interessado

em aprender (WIKIPÉDIA, 2013, online, grifos do autor).

Diferentemente de outros espaços que indispõem de mecanismos para resolver essas

situações, a Enciclopédia Livre faz uso dessa política que, na realidade, funciona como uma

espécie de restrição e punição ao usuário infrator. A Política de Bloqueio impossibilita que o

vândalo possa produzir e editar os artigos e verbetes da enciclopédia por um tempo

determinado, que varia de acordo com o grau de infração cometida, podendo ser de uma hora

ou até definitivamente, caso haja consenso2.

2 Diz-se que um artigo atingiu o consenso quando o teor do mesmo manteve-se livre de reversões e contestações

feitas por outros editores, ou seja, a ausência de questionamento torna um artigo aprovado pelo consenso, assim

como a opinião da maioria.

Page 94: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

A Wikipédia (2013) informa que, além das penalidades serem diferentes, os

vandalismos podem ser leves ou destrutivos. Os primeiros correspondem àqueles em que há

inserções repetitivas de conteúdos impróprios e inadequados ou quando o editor retira

arbitrariamente informações válidas do ar. Os segundos são aqueles em que as infrações são

cometidas conscientemente, com a intenção de afrontar um dos princípios da Enciclopédia

Livre.

Diante da possibilidade de infringir os regimentos e sofrer as sanções internas

previstas, é preciso que a Política de Edição explique melhor quais são os critérios que os

editores precisam seguir para evitar o bloqueio do seu IP (Protocol Internet). Nesse aspecto,

os colaboradores devem conhecer e seguir os Cinco Pilares, O que Wikipédia não é e outros

procedimentos que constam espalhados nas políticas e recomendações. Sendo assim,

conforme alerta Jenkins (2008), os editores devem estar atentos ao tipo de informação que

deve ser compartilhada nos domínios da Wikipédia.

Um parâmetro importante é a noção da Proibição dos Proxies Anônimos, isto é, os

identificadores de IP anônimos são proibidos de serem utilizados pelos usuários que inserem

conteúdos em todos os projetos da Wikimedia Foundation. O “Proxy é um servidor

intermediário que atende a requisições repassando dados à frente do cliente: um usuário

(cliente) conecta-se a um servidor Proxy, requisitando algum serviço, como um arquivo,

conexão, página web, ou outro recurso disponível em outro servidor” (WIKIPÉDIA, 2013,

online.). Dessa forma, IPs que estão com os proxies ocultos conseguem se manter anônimos

na Wikipédia. Nada os impede de ler os artigos e verbetes, porém, a restrição é apenas para a

produção de conteúdo, pois o usuário fica impedido de realizá-la.

A possibilidade de identificar o IP dos wikipedistas através dos proxies mantém uma

relação distante com a questão levantada por Tomáel et al (2001), ao afirmar que a

identificação de quem produz as informações é um fator preponderante para a confiabilidade.

Entretanto, no caso da Wikipédia, a identificação dos colaboradores através dos IPs é

relevante apenas para os editores que podem punir os atos de vandalismos através da Política

de Bloqueio. Devido a isso, a identificação dos proxies é mais pertinente para os integrantes

da comunidade, que têm a possibilidade de visualizar e até controlar o conteúdo produzido

pelos demais colaboradores do que para os usuários. Dessa maneira, a identificação do proxy

possibilita que os editores da Wikipédia “conheçam” os usuários através da identificação do

seu IP. Esse elemento visa a possibilitar à fonte de informação o “conhecimento” de todo seu

corpo de editores, assegurando também que os mesmos sejam punidos em caso de infração.

Page 95: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Todos esses elementos trazidos, que sugerem fatores de produção, processamento e

armazenamento de conteúdos na Wikipédia, acabam se configurando como uma extensa

política de informação, validada somente na dinâmica de funcionamento da Enciclopédia

Livre. Trata-se de uma política de informação específica que objetiva tecer considerações

capazes de fazer com que a produção de conteúdos aconteça de forma sistematizada e

padronizada, na medida do possível, sendo regida por uma série de preceitos, cuja efetividade

só tem funcionamento no âmbito da Wikipédia. Por todos esses atributos, a política de

produção de conteúdos na Enciclopédia Livre assume todas as propriedades da política de

informação específica, que, conforme Branco (2005), só tem validade em uma localidade

específica porque foi pensada e proposta à luz das particularidades que a envolvem. Isso

implica que as políticas e recomendações da Wikipédia só podem obter êxito se forem

utilizadas nessa fonte de informação. Assim, todas as considerações trazidas possuem pouca

possibilidade de sucesso fora daquele espaço.

Compreendemos que a existência de sua própria política de informação na Wikipédia é

um fato extremamente positivo porque ela foi pensada com foco em sua dinâmica e estrutura

de funcionamento, valorizando seu próprio regime de informação, pensando tanto no fator

tecnológico quanto no fator humano.

Notamos que uma das vantagens da Wikipédia possuir sua própria política de

informação é que há menor probabilidade delas ficarem obsoletas e em desarmonia com o

desenvolvimento de suas atividades. A possibilidade de revisar, atualizar ou excluir

potencializa os poderes da comunidade de editores e exalta a autonomia da mesma, se

comparada à política de informação do tipo básica em que as proporções são maiores, por

estarem lidando com ações em nível macro e com maior grau de complexidade (BRANCO,

2005). Dessa maneira, as políticas de informação do tipo específica possuem maior

flexibilidade por estarem associadas a uma realidade singular e, principalmente, por se situar

em nível micro.

A partir de Aun (1999) e Freire (2008), outro ponto que vale ser ressaltado é que o

estabelecimento da política de produção de conteúdos só foi possível porque a Wikimedia

Foundation usa uma infraestrutura tecnológica voltada à produção colaborativa de conteúdos

e informação. Assim, as diretrizes de produção de conteúdo e informação da fonte

colaborativa em questão trazem três importantes elementos enfatizados por Unger (2006), a

saber, a conectividade, a infraestrutura tecnológica e a política de informação. Nesse último

aspecto, Aun (1999) e Freire (2008) asseveram que a produção de conteúdos é que devem ser

privilegiada.

Page 96: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Outro aspecto extremamente positivo é que a Wikipédia pensou na sua produção de

conteúdo englobando fatores que direcionassem suas páginas à confiabilidade. Desse modo,

os conteúdos produzidos também devem conter elementos de fontes de informações reputadas

e reconhecidas. Essa iniciativa da Wikipédia é bastante relevante, pois mostra a inquietação

com a produção de conteúdo e com a qualidade da mesma.

A questão da credibilidade das informações da web deveria ter uma iniciativa que

surgisse do cenário amplo para o mais particular, sendo discutidas e apresentadas inicialmente

nas instituições e nos órgãos regulamentadores como parte integrante e indissociável das

políticas de informação do tipo básica que Branco (2005) traz à tona. Caberia a essas

instituições implementá-las nos programas brasileiros relacionados à inclusão digital,

principalmente nos que têm os softwares livres como foco, uma vez que estes vem ganhando

mais expressividade na administração pública nos últimos anos. Os envolvidos estariam

ingressando na Sociedade da Informação produzindo seu próprio conteúdo como sugere

Freire (2008), com o diferencial de ser um conteúdo com elementos de fiabilidade

aconselhados pelas políticas de informação básica.

A adoção dessa atitude seria primordial para que a confiabilidade e os seus indicadores

passassem a ser concebidos como legitimadores e reguladores da produção de conteúdo,

sendo indispensáveis seus debates e suas implementações de fato. Assim, a partir do

conhecimento formal da relevância dos fatores de credibilidade, poderia haver maior

reconhecimento e adoção por parte das iniciativas específicas. Notadamente, seria uma

possibilidade, e ficaria a cargo de inciativas específicas fazerem os ajustes conforme suas

peculiaridades.

7.4 O Reconhecimento do Trabalho Colaborativo: a “Equipe” de Confiança

Na comunicação mediada por computador, muitos projetos difundem uma filosofia

centrada no formato livre e no modelo aberto de produção colaborativa, seguindo as

principais premissas da web 2.0, como destacado no Quadro 1 (Gerações da Web). A

Wikipédia difunde esse mesmo discurso, mas, na realidade, ocorre de maneira diferente.

Essa comunidade virtual reconhece o trabalho colaborativo imaterial realizado pelos

wikipedistas mais envolvidos no projeto, proporcionando a concessão de privilégios especiais

aos que estão engajados em aumentar o nível de fiabilidade dessa fonte de informação.

Mediante esse fato, podemos perceber que a Wikipédia acaba tendo dois tipos de editores: os

de confiança e os que ainda não conseguiram esse status. Conforme Haythornthwaite (2009),

Page 97: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

eles compõem, respectivamente, o PPL, que são os menos envolvidos com o projeto, e o PPP,

que possuem mais conhecimento do projeto colaborativo por dedicarem mais tempo a ele.

Esses últimos é que constituem a “equipe” de confiança. Entretanto, essa divisão entre

usuários não quer dizer que a Wikipédia valorize mais um grupo do que outro.

Por favor, não morda os novatos. Ou, em outras palavras: por favor, não os

assuste. A Wikipédia melhora bastante com o trabalho pesado dos mais experientes,

mas também com as contribuições frequentes de muitos anônimos, recém-chegados

e curiosos das quais muitas vezes nem nos damos conta (WIKIPÉDIA, 2013, online,

grifo do autor).

Então, a noção de interação igualitária em comunidades virtuais discutida por Castells

(1999) é parcialmente refutada na Enciclopédia Livre, na medida em que nem todos os

integrantes têm as mesmas possibilidades de realizar as tarefas iguais. Nessa comunidade,

observamos essa incongruência mais positiva do que negativa porque permite que os

integrantes mais atuantes se destaquem entre os demais, conseguindo “poderes especiais”,

embora a Wikipédia também os negue. No caso dessa fonte de informação, a ideia de

interação e igualdade só têm validade dentro do próprio grupo do PPL, em que se inserem os

editores com baixo nível de trabalho especializado.

Mesmo sendo uma comunidade virtual que dispensa a competição entre seus

participantes, essa possibilidade de ascensão “hierárquica” desencadeia uma espécie de

competição saudável entre os wikipedistas, incentivando o progresso do trabalho colaborativo.

Diante disso, na percepção de Lima (2010), a Wikipédia vai agregando característica de uma

comunidade cordial pelo fato de os colaboradores estarem engajados em construir uma

enciclopédia colaborativa online e, ao mesmo tempo, competitiva, embora essa competição

seja implícita. Ocorre que a construção de uma boa reputação em comunidade pode estar

relacionada à mudança de status do colaborador.

De fato, constatamos essa sistemática, pois, na Wikipédia, apenas o editor

comprometido e responsável pode possuir um “cargo” de confiança, através da solicitação do

Estatuto, que explica os pormenores da nova função. Identificamos a presença de apenas

cinco deles, quais sejam administradores, reversores, burocratas, autorrevisores e

eliminadores. Pertinentemente, após a conquista desses “cargos”, não identificamos a

presença de mais nenhum outro que possibilite a mudança de nível dos editores de confiança.

Isso implica que, em termos hierárquicos, as ascensões inexistem. O que ainda pode acontecer

é a troca de “cargo” no mesmo nível no PPP.

Os administradores são responsáveis por eliminar, proteger, desproteger, bloquear,

desbloquear páginas e endereços de IP, ocultar vandalismos de páginas recentes, entre outros.

Page 98: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Esses são os únicos “cargos” de confiança que possuem o privilégio de serem imunes ao

bloqueio (WIKIPÉDIA, 2013). Apesar de todas essas prerrogativas, a enciclopédia continua

negando veementemente a existência deles:

Os sysops [ou administradores] não possuem “autoridade” em especial, sendo,

portanto, iguais a todos os outros em termos de responsabilidade editorial. Alguns

wikipedistas consideram os termos “operador de sistema” e “administrador”

inadequados, uma vez que apenas indicam editores da Wikipédia a quem foram

levantadas restrições de segurança e desempenho a umas quantas funções do

software porque pareceram ser dignos de confiança (WIKIPÉDIA, 2013, online,

grifos do autor).

Como o próprio nome sugere, os reversores são responsáveis por reverter as edições

de todos os usuários, possuindo conhecimentos que possam discernir vandalismos explícitos

de outras ações. Existem atualmente 153 reversores e 40 administradores, totalizando a

quantia de 193 editores habilitados a exercerem as atividades destinadas a essas funções

(WIKIPÉDIA, 2013).

Os burocratas constituem mais um “cargo” existente na estrutura da Wikipédia, cuja

finalidade é ter acesso às ferramentas de renomeação de contas e gestão de privilégios

(WIKIPÉDIA, 2013). Em caso de mau uso do direito concedido, o burocrata poderá ser

destituído do “cargo”, perdendo o Estatuto.

A Wikipédia conta ainda com os autorrevisores, que são os administradores,

eliminadores e usuários do grupo de autorrevisores, que realizam a marcação das próprias

produções. Para fazer parte desse grupo, os colaboradores devem ter conhecimentos dos

meandros das políticas e recomendações estritamente relacionadas ao bom funcionamento do

projeto colaborativo. Atualmente, a enciclopédia conta com de 387 autorrevisores

(WIKIPÉDIA, 2013).

Diante da sua importância, percebemos que uma das maiores falhas da Wikipédia é

deixar oculta a existência da “equipe” de confiança. Segundo Tomáel et al (2001) e Fogg et al

(2002a, 2002b), esse elemento é um forte indicador de confiabilidade, pois torna público a

existência dos responsáveis pelos conteúdos. Em certa medida, a ausência de informações

visíveis que esclareçam a existência, a missão e as tarefas feitas pela “equipe” de confiança

coopera para que seu modo aberto de produção seja a cada dia mais questionado pelos

indivíduos que desconhecem o processo de produção de conteúdos nessa fonte de informação,

associando o modelo de elaboração de conteúdos da Wikipédia à baixa credibilidade das

informações.

Ao passo em que tolhe esse tipo de informação, a Enciclopédia Livre rompe com duas

características importantes na colaboração enfatizada por Chesterman (2001): transparência e

Page 99: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

a comunicação. Essas, em linhas gerais, preveem que todos os envolvidos conheçam o

trabalho que os demais estão realizando e que, se necessário, possam interagir, para melhorar

o andamento do projeto. Além disso, o não esclarecimento da existência de uma equipe de

confiança também acaba possibilitando que haja questionamentos quanto à clareza do projeto

e à confiabilidade das informações, tanto por parte dos colaboradores quanto dos usuários

consulentes.

Compreendemos que a presença de uma “equipe” de confiança endossaria ainda a

confiabilidade das informações desse endereço virtual, aproximando-o das características das

fontes de informações impressas, por exemplo, que possuem uma equipe editorial responsável

por selecionar que tipo de informação deve conter em determinada publicação.

Continuamente, Fogg et al (2002a, 2002b) consideram que a exibição de imagens

profissionais e pessoais, mostrando o cotidiano da vida da equipe, é um critério positivo que

relaciona o endereço à credibilidade. Porém, consideramos esse aspecto completamente

desnecessário na Wikipédia, sobretudo pela quantidade de editores que constituem seu corpo

de “profissionais”, cabendo mencionar todos do PPP e todos PPL. Caso, essa fonte adotasse

esse tipo de indicador de fiabilidade, estaria desviando sua principal finalidade em construir

uma enciclopédia online e colaborativa, tornando seu endereço um blog ou um flog, violando

uma das informações contidas no item O que a Wikipédia não é. Igualmente, o pilar do

Enciclopedismo seria afetado por perder seu caráter enciclopédico. Haveria também a quebra

de uma das características mais marcantes do sistema wiki, isto é, a produção de conteúdos

sem a necessidade de se registrar, assegurando o “anonimato” dos editores (CUNNIGHAM,

2013).

A adoção desse critério poderia causar uma desordem geral nesse projeto colaborativo

idealizado pela Wikipédia Foudation, inclusive levá-lo ao fracasso, principalmente, porque

contribuiria para que os demais apontamentos trazidos pelas políticas e recomendações

fossem desacatados pela maioria dos seus editores.

Os critérios para participar da “equipe” de confiança são bastante rígidos e estão

centrados na qualidade e na quantidade de artigos e verbetes editados pelo colaborador, que

pode variar de 600 até duas mil edições, dependendo do “cargo”. A qualidade também se faz

presente, pois essas páginas devem estar disponíveis no Domínio Principal. Ressalvamos que,

para que um artigo ou verbete faça parte dessa página, o mesmo deve ter sido reconhecido

pela comunidade como uma página com alto nível de precisão e qualidade, através da

Votação. Têm Direito ao Voto apenas os usuários cadastrados no mínimo três meses antes da

votação, com uma quantia superior a 300 edições também no Domínio Principal.

Page 100: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Porém, possuir todas essas características não quer dizer que o editor seja agraciado

com a concessão do “cargo”. Para isso, o mesmo deve encaminhar uma solicitação para se

submeter ao Sufrágio, processo em que o colaborador manifesta o interesse em desenvolver

alguma função específica. Após o pedido ser feito para a obtenção do Estatuto, algum

wikipedista que possui esse mesmo “cargo” fará a avaliação com base nas arguições, nos

requisitos solicitados e na confiança. Na Wikipédia, a confiança recobre o entendimento de

Lopes (2006), ao considerar a confiança como a relação entre impressões e sentimentos entre

duas pessoas. Essa se consolida na subjetividade em que um componente da “equipe” de

confiança tem boas impressões acerca do colaborador que está pleiteando um “cargo”. De

nada irá adiantar o candidato possuir todos os requisitos objetivos, se o mesmo esbarrar na

confiança, quesito altamente subjetivo.

Assim, por mais que um editor possua uma ótima reputação perante os demais, o que

define o seu merecimento em conquistar algum Estatuto é a confiança estabelecida entre ele e

o usuário responsável por aceitar ou rejeitar seu pedido. Compreendemos, contudo, que, por

ser uma comunidade, essa decisão deveria refletir a decisão de mais de um avaliador. Assim

seria uma forma mais democrática de ajuizar a concessão de um “cargo” a um colaborador

solicitante.

Em meio à confiança e à reputação, está a experiência, que estipula o tempo mínimo

de tarefas realizadas no projeto para que o indivíduo possa tentar fazer parte da “equipe” de

confiança. A exigência desse critério está no que Lévy (1998) denomina de saber-viver e

viver-saber, estando relacionado à valorização das experiências conquistadas nos meandros da

Wikipédia, adquiridas com base nas peculiaridades de suas próprias dinâmicas internas, com

as transformações desenvolvidas ao longo do tempo e com os conflitos e suas possíveis

soluções.

O reconhecimento da experiência dos wikipedistas legitima as boas intenções do

usuário com o projeto, valorizando a tríade confiança-reputação-experiência. Isso nos leva a

compreender que seja mais um fator contribuinte para que o colaborador permaneça fazendo

parte da equipe de editores, exibindo um indicador de confiabilidade que está nas entrelinhas

da Wikipédia.

As ações da “equipe” de confiança estão intimamente relacionadas às políticas que

estão minimamente relacionadas ao controle de conteúdos, uma vez que apenas os detentores

de “cargo” de confiança podem eliminar ou reverter artigos e verbetes. As obrigações, os

deveres e os direitos dos burocratas, por exemplo, são referidos nas Políticas de Burocrata,

cuja principal tarefa é assegurar a escolha de usuários que garantam o bom funcionamento da

Page 101: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

enciclopédia. Devemos observar que alguns dos “cargos” indispõem de políticas específicas

por estarem associados às atividades mais complexas e abrangentes, exigindo conhecimentos

mais aprofundados de grande parte das políticas e recomendações propostas pela Wikipédia,

como por exemplo, os administradores e reversores.

O trabalho da “equipe” de confiança é exercido também com o auxílio da tecnologia,

como a Política de Robôs (Bots), que abarca o uso de scripts ou programas computacionais

para fazerem tarefas automatizadas, auxiliando na execução de edições repetitivas e em série.

“Entretanto, não são precisamente [os] robôs, que fazem tudo sozinhos, mas sim agentes de

manipulação de artigos, que obedecem a instruções claras e precisas do programador por ele

responsável” (WIKIPÉDIA, 2013, online). Aos usuários bots ou (robôs) são negados os

direitos à votação nas decisões da comunidade e nas discussões sobre o projeto. A realização

de atividades específicas de um bot deve estar em sintonia com as políticas e as orientações

do projeto. Diferentemente dos demais Estatutos, para os bots, a exigência feita é que o

usuário seja registrado (WIKIPÉDIA, 2013).

O desempenho conseguido com os bots se deve à própria característica do MediaWiki¸

que corresponde a um sistema convergente, em que existe a possibilidade da tecnologia

providenciar a exclusão de páginas que possuam reincidentes (CUNNINGHAM, 2013).

Os indicadores de confiabilidade na Wikipédia estão associados a fatores humanos e

tecnológicos, visando à maior rigidez e credibilidade dos conteúdos que devem fazer parte da

Wikipédia. Em relação ao fator tecnológico, cabe mencionar algumas ferramentas que somam

ao quesito da confiabilidade.

Os search engines indicados por Fogg et al (2002a, 2002b) poderiam trazer

informações extras a respeito de assuntos específicos que ainda não foram incorporados à

Wikipédia. A presença desse elemento seria um indicador importante de fiabilidade porque ele

agiria incisivamente em uma das prerrogativas mais elementares da Enciclopédia Livre, a

Verificabilidade, facilitando o trabalho de checagem e averiguação por parte dos usuários. A

presença dessa ferramenta tecnológica poderia trazer conteúdos extras que estão ausentes nas

referências e nas citações das páginas, ou poderia trazer as mesmas informações,

corroborando o que está presente nela. A adoção desse mecanismo na Wikipédia seria

providencial, pois tornaria o trabalho de verificação menos trabalhoso e menos dependente

das citações, referências e links.

Uma das inovações mais surpreendentes da Wikipédia em 2013 foi a inserção de um

sistema de reputação que avaliava o nível de credibilidade das páginas sob os quesitos

objetividade, abrangência e organização, qualidade da redação do texto e confiabilidade. A

Page 102: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

avaliação, que se dava por pontos, permaneceu por apenas seis meses nas páginas dessa fonte

de informação colaborativa.

Por estar voltado à avaliação por pontos, o sistema de reputação da Wikipédia seguia a

dinâmica apresentada por Lima (2010), na medida em que quanto mais avaliações um aspecto

recebesse, mais confiável ele poderia ser considerado. Todavia, entendemos que a maior

finalidade desse sistema de reputação era exibir que aspectos os artigos e verbetes ainda

precisavam evoluir. Através dos resultados, os próprios usuários poderiam, inclusive, editar a

página, melhorando os aspectos de baixa qualidade. Tudo isso só era possível devido à

arquitetura descentralizada, que possibilitava que os resultados ficassem visíveis enquanto o

sistema de reputação estive em pleno funcionamento (LOPES, 2006).

Se o sistema de reputação da Wikipédia estivesse vigorando, seria um importante

indicador de credibilidade das informações, principalmente por estar centrado na opinião e

nas impressões da coletividade que constrói e que usa essa fonte de informação (LOPES,

2006). A permanência dos sistemas de reputação poderia auxiliar ainda mais no quesito

confiabilidade com a junção dos critérios indicados por Serra (2006), a saber, pertinência e

credibilidade, que indicam que a responsabilidade por designar uma informação como

confiável é uma tarefa dos próprios usuários, com base no que estão procurando. A reputação

dos aspectos avaliados poderia servir de aporte à tomada da decisão dos usuários em

consonância com os critérios considerados por Serra (2006).

Advertimos que, caso a Wikipédia cogite a possibilidade de voltar com o sistema de

reputação, o mesmo deve estar adequado às especificidades e às particularidades que ela tem.

Estimamos que uma certa vulnerabilidade pairava sobre o sistema de reputação baseado em

pontos que operava naquela fonte de informação, haja vista a possibilidade de fraude por parte

dos próprios wikipedistas, que poderiam avaliar positivamente suas edições sucessivas vezes

para conferir o status de confiabilidade muito alto, muitas vezes, irreais.

Por isso, seria pertinente a implementação de um sistema de reputação que pesasse a

possibilidade supracitada. A ação de Cruz e Motta (2006) foi mais adequada e poderia ser

tomada como um bom exemplo. Antes de propor um sistema de reputação para a comunidade

virtual acadêmica da UFRJ, as autoras investigaram a realidade que envolvia essa

comunidade. Caso a Wikipédia volte a fazer uso desse sistema, seria conveniente alguma

medida que limite o número de votações por pessoa, seja por login e senha ou restringindo um

número máximo e mínimo em um determinado período de tempo. Essa atitude traria um

importante indicador de confiabilidade, principalmente por restringir, na medida do possível,

Page 103: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

que os wikipedistas burlassem o sistema, votando consecutivamente em seus artigos e

verbetes para designá-los como confiáveis.

7.5 Wikiquette: A “Netiqueta” da Wikipédia

Na Wikipédia, os colaboradores têm a possibilidade de se inter-relacionar através dos

espaços abertos de interação (Página de Discussões) para debaterem assuntos relativos à

atualização e à melhoria das páginas. Nesse espaço, podem acabar surgindo divergências de

opiniões, uma vez que a comunicação em rede produz e reproduz simbolicamente palavras,

sons e gostos de acordo com os humores dos indivíduos (CASTELLS, 1999). O surgimento

desses embates é ainda mais potencializado devido à característica mais marcante do

ciberespaço em poder aglomerar um número de atores sociais cada vez mais diferentes, com

pontos de vista igualmente discrepantes, gerando fluxo de informações “personalizadas” e

aceitáveis apenas a determinados nichos sociais.

Essa interação “despadronizada” pode desencadear conflitos ideológicos e filosóficos,

que, na visão de Medeiros (2003), é algo extremamente natural, pois as comunidades virtuais

lidam com os mesmos dilemas que as comunidades físicas. Sob o nosso ponto de vista, o que

muda, na verdade, são as formas distintas com que esses embates emergem e os mecanismos

envolvidos usados para a resolução desses problemas.

Na condição de um ambiente virtual, com espaço aberto voltado à interação de seus

usuários, a Wikipédia é vulnerável a ter esses embates internos. Ciente da grande

possibilidade disso ocorrer em sua estrutura e atrapalhar o desenvolvimento de suas atividades

colaborativas corriqueiras, essa fonte de informação possui uma série de pareceres em sua

lista de recomendações que objetiva coibir, minimizar ou resolver os conflitos existentes entre

os wikipedistas.

Conhecida popularmente entre os internautas como “Wikiquette”, a “netiqueta” da

Enciclopédia Livre informa os pareceres comportamentais mais aceitáveis quando as

divergências surgem. De acordo com Lévy (1999), é a “netiqueta” que trata das atitudes

comportamentais mais adequadas a serem adotadas no ciberespaço para que a vivência

comunitária tenha mínimos atritos. É a “netiqueta” que dita o tipo de informação que deve

circular nos agregados sociais online.

No item Normas de Conduta, por exemplo, estão presentes explanações sobre como os

colaboradores devem se comportar entre si diante de uma discussão. Nela, a enciclopédia

sugere que os editores sejam educados e que evitem conflitos de opiniões desnecessários,

Page 104: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

sendo civilizados e evitando insultos (WIKIPÉDIA, 2013). A partir dessas sugestões, fica

claro o quanto a formação de uma comunidade virtual pode, mesmo com seu caráter não-

comunitário, acabar desencadeando relações sentimentais e envolvimento no emergir das

interações.

A Wikipédia (2013, online) faz um ordenamento bastante peculiar e mostra a sua razão

de existir: “Não faça suposições e/ou afirmações negativas sobre outras pessoas. Até ao

presente momento, a Wikipédia tem sido extraordinariamente bem sucedida baseando-se

numa política de total liberdade de edição. Todos os que aqui vêm, querem colaborar e

escrever bons artigos”. No mesmo fragmento, podemos constatar as duas grandes

preocupações da enciclopédia: a produção do conteúdo e o bom comportamento entre os seus

participantes. Indiretamente, essa fonte de informação compreende que um comportamento

adequado ou inapropriado acaba refletindo substancialmente na qualidade das páginas desse

endereço virtual.

Perante essa constatação, a “netiqueta” da Wikipédia tem uma finalidade dupla: manter

a ordem do projeto, proporcionando uma convivência comunitária amistosa, e impedir que os

artigos e verbetes sejam atingidos pelas disputas internas e pelas divergências de opinião.

Desse modo, deve haver reciprocidade nas relações mantidas nas comunidades virtuais, como

compreendem Lévy (1993) e Recuero (2008). Na Wikipédia, o bom comportamento

comunitário é tão relevante que ele constitui um dos Cinco Pilares: Normas de Conduta.

No item O que a Wikipédia não é, podemos destacar que

A Wikipédia não é lugar para guardar rancor, provocar conflitos pessoais, alimentar

o ódio ou desmotivar outrem a editar. Fazer ataques pessoais contra determinadas

pessoas ao longo de páginas de discussão da Wikipédia é um desrespeito às políticas

e objetivos da Wikipédia.

Espera-se que os usuários interajam com outros com civilidade, calma e com

espírito de cooperação. Não faça ataques pessoais, perseguições ou intimidações a

pessoas de quem discorda (WIKIPÉDIA, 2013, online).

Desrespeitando, as diretrizes da “netiqueta”, os wikipedistas podem se envolver em

Guerras de Edições desnecessárias, realizadas para provar que suas argumentações são as

mais corretas, as mais aceitáveis ou as que melhor que representa o conhecimento dos

especialistas e do senso comum. Com esse tipo de atitude comprometedora, os envolvidos

desrespeitam os pilares da Imparcialidade (ou Neutralidade) e da Convivência Comunitária.

Na Enciclopédia Livre, esse é um indicador de credibilidade pertinente. No entanto,

seu nível de efetividade restringe-se apenas ao âmbito wikipedista. Constatamos isso, em certa

medida, ao perceber que os padrões de comportamento e de boas-maneiras no ciberespaço

Page 105: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

não são considerados ou, pelos menos, mencionados como fatores de fiabilidade por autores

como Tomáel et al (2001) e Fogg et al (2002a, 2002b).

Page 106: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Incialmente, precisamos considerar que as tecnologias de informação e comunicação

estão redimensionando e potencializando as capacidades humanas, desde acessar as

informações até interagir socialmente com seus pares em espaços geográficos longínquos. A

Internet e suas sucessivas evoluções tecnológicas são, em grande medida, os responsáveis

pela mudança de status dos internautas, que passaram de meros espectadores a interlocutores,

possibilitando o surgimento de projetos colaborativos voltados à produção de conteúdos

digitais, como é o caso da Wikipédia.

A tecnologia, por sua vez, é responsável por manter as características gerais do

projeto, que se fundamenta no acesso ao MediaWiki para a produção de conteúdos de forma

colaborativa. Assim, a Enciclopédia Livre acaba formando uma comunidade virtual, cuja

maior finalidade passa longe de ser a interação entre os editores e a formação de laços sociais

fortes, mas sim, a realização do trabalho imaterial para a construção de uma enciclopédia

multilíngue. Para que esse intuito seja alcançado, os envolvidos precisam atuar desenvolvendo

suas maiores habilidades intelectuais e linguísticas. Tudo isso acaba delineando os atributos

mais latentes da Wikipédia, que podem ser considerados como um dos atrativos desse projeto

colaborativo.

O conhecimento dos Cinco Pilares e do item O que a Wikipédia não é explicam mais

claramente as especificidades que envolvem o projeto colaborativo idealizado pela Wikimedia

Foundation, destacando quais são os pontos-chave que contribuem para sua estrutura

particular de funcionamento, exibindo a essência do projeto. As informações trazidas nesses

espaços contam também ao longo das páginas da enciclopédia, como forma de enfatizar

veementemente sua relevância no que concerne à validade de suas informações.

A existência desses predicados é elementar para a Wikipédia, especialmente para que

ela mantenha suas reais intenções ao longo dos anos. Entendemos ainda que esses fatores são

responsáveis pela grande expressividade social conquistada em seus 12 anos de vigência,

possibilitando que a mesma galgasse o prestígio de ser uma das fontes de informação mais

visitadas do ciberespaço, com um acervo quantitativo superior a muitos endereços online,

sendo, por isso, valorizada como um dos projetos colaborativos de maior sucesso no

ciberespaço.

A preocupação com o quesito confiabilidade emerge logo nos Cinco Pilares, quando

aparece como fator preponderante na produção de conteúdos a Imparcialidade (ou

Page 107: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

Neutralidade). Além disso, a credibilidade das informações nessa enciclopédia abrange outros

indicadores.

Nesse horizonte, os indicadores expressivos são a Notoriedade, Nada de Pesquisa

Inédita, Fontes Primárias e Direitos Autorais. Esses elementos evidenciam a credibilidade,

endossando o discurso e as ações das fontes de informações formais e reconhecidas, tidas

como fiáveis. Adicionamos a isso a Verificabilidade, que permite que o usuário compare se as

informações as quais ele está tendo acesso na Wikipédia seguem esses requisitos de

confiabilidade. Tomando essa atitude, a Enciclopédia Livre desconcentra o peso da

responsabilidade com a designação de uma página confiável do editor e passa a dividi-la com

o usuário. Dessa maneira, na produção dos artigos e verbetes, o editor é responsável pelo

comprometimento em seguir essas diretrizes, enquanto os usuários são responsáveis por sua

averiguação.

No domínio da confiabilidade, isso se torna relevante porque permite que o usuário

confronte o nível de coesão e coerência do que a Wikipédia está abordando com uma fonte de

informação conceituada positivamente. O sucesso da Verificabilidade e dos demais requisitos

acima apontados só podem ser validados efetivamente com a inserção de citações, referências

e links. A presença desses últimos é compreendida como requisito bastante pertinente, pois

contemplam os critérios anteriores. Porquanto, a ausência deles pode impossibilitar o alcance

de outros indicadores.

Como vemos, essas condições constroem uma rede de indicadores extremamente

providenciais para o funcionamento do projeto colaborativo e para a confiabilidade,

considerando a presença constante desses requisitos e a relação direta que eles mantém entre

si. Por isso, a ausência de qualquer um deles na elaboração de um artigo ou verbete atinge

diretamente os demais, fragilizando importantes indicadores de credibilidade.

Além desses elementos, temos as políticas e as recomendações que também auxiliam

na construção de páginas mais confiáveis, desde o momento de produção (edição) até o

produto (artigos e verbetes) propriamente dito. Indiretamente, as diretrizes das políticas e das

recomendações tentam fazer com que as disposições sobre Imparcialidade, Notoriedade,

Verificabilidade, Nada de Pesquisa Inédita, Fontes Primárias e Direitos Autorais sejam

acatados nos artigos e verbetes. Através do conhecimento das políticas e recomendações, foi

possível identificar e caracterizar quais delas atuam mais enfaticamente no quesito da

confiabilidade.

As Políticas de Produção de Conteúdo se mostram como aquelas capazes de

controlar, na medida do possível, o conteúdo que é produzido dentro da Wikipédia. Nessa

Page 108: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

categoria temática, se inserem as Políticas de Eliminação e de Bloqueio, que agem excluindo

tudo aquilo que fragiliza os indicadores de confiabilidade, tais com plágio, pesquisas inéditas

e direitos autorais, entre outros fatores que reduzem a qualidade dos conteúdos. Nesse grupo,

cabe também destacar a política de Proibição dos Proxies Anônimos, que oculta o IP de um

usuário, impossibilitando-o de ser penalizado com o bloqueio. Surpreendentemente, a Política

de Edição de conteúdos fica aquém das demais, por trazer subsídios insuficientemente

capazes de prover os indicadores de confiabilidade necessários.

A existência dessas políticas corrobora com o projeto da Wikipédia em manter um

índice de confiabilidade em um nível aceitável, evidenciando que o trabalho colaborativo

nessa fonte possui diretrizes de produção centradas na confiabilidade e, consequentemente, no

controle de conteúdo. A falta dessas políticas implicaria em uma maior vulnerabilidade na

credibilidade dos artigos e verbetes. Por isso, temos essas políticas como um indicador de alta

relevância para que a Wikipédia possa realizar suas atividades com sucesso.

O segundo grupo temático foi denominado de “equipe” de confiança, que é constituída

por administradores, reversores, burocratas, autorrevisores e eliminadores, pelo fato de ela

ser formada por wikipedistas que tiveram o reconhecimento do seu trabalho dedicado a

aumentar o nível de confiabilidade do acervo daquela enciclopédia, desenvolvendo funções

especializadas. De maneira direta e explícita essa categoria está inter-relacionada à anterior,

pois os editores de confiança são os responsáveis por executar as tarefas relativas à Política de

Bloqueio e de Eliminadores, por exemplo, possibilitando que os afazeres abordados por ela

sejam feitos com maior nível de rigidez, tornando-a o mais criteriosa possível. E, mais que

isso, estando em concordância com as políticas e recomendações.

Compreendemos ainda que a “equipe” de confiança da Wikipédia desempenha um

papel similar, senão igual, ao dos especialistas das fontes de informações fiáveis, exercendo

funções cabíveis à linha editorial, embora essa designação seja negada. Porquanto, sua

relevância se constitui em valor inestimável para a Enciclopédia Livre, sobretudo, por

considerarmos como um indicador de credibilidade e pelos mesmos serem parcialmente

responsáveis pelo controle de qualidade dos conteúdos dessa fonte de informação.

Precisamos enfatizar que a “equipe” de confiança também desempenha um papel de

responsabilidade por intermédio da tecnologia, como a Política de Robôs (ou Bots), que

promove exclusões automáticas das páginas que estão aquém do padrão desejado pela

Wikipédia, auxiliando diretamente a Política de Eliminação.

O terceiro e último grupo temático é a “netiqueta”. Diferentemente dos demais, essa

categoria mantém relação indireta com o controle ou a produção de conteúdos propriamente

Page 109: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

dita. Sua contribuição, no que tange à confiabilidade, está atrelada ao entendimento de que as

discrepâncias internas entre colaboradores podem afetar a qualidade dos artigos e verbetes.

Portanto, ela estabelece que os wikipedistas mantenham um comportamento adequado e sem

competições internas.

A contribuição da “netiqueta” parece, em uma primeira aproximação, ser mínima e

insuficiente. No entanto, se efetivamente observada, tem a capacidade de diminuir

consideravelmente a chance de discussões infindáveis afastarem os editores desse projeto

colaborativo idealizado pela Wikimedia Foundation. Sua importância é tamanha para a

Wikipédia que um dos Cinco Pilares, Normas de Conduta, trata de discorrer sobre a

relevância fundamental de uma convivência comunitária saudável nesse projeto.

Fatores como Acessibilidade, que torna a Wikipédia uma fonte de informação mais

inclusiva para pessoas portadoras de necessidades especiais; Ortografia, que exprime,

indiretamente, a preocupação em manter formalidade linguística; e as Datas, que expõem a

última atualização das páginas, são considerados elementos importantes que contribuem

indiretamente para a credibilidade das informações. Diferentemente dos demais indicadores,

esses se voltam para o que existe nas páginas, ou seja, o produto.

A área de interseção entre grupos temáticos constituem um campo em que a

confiabilidade das informações da Wikipédia forma o seu núcleo central, sendo evidenciada

pela grande preocupação com qualidade do conteúdo produzido pelos seus editores e com o

nível de confiabilidade que eles possuem. Nesse âmbito, as considerações trazidas neles

apontam para a existência de uma política de informação específica, que propõe um conjunto

de fatores para produção, tratamento, armazenamento e disseminação da informação. No

entanto, sua validade só é concretizada nos domínios da Wikipédia.

Existem, por outro lado, fatores que ameaçam de perto a confiabilidade das

informações da Wikipédia, como, por exemplo, a invisibilidade dada por essa fonte de

informação às políticas e às recomendações no sentido de deixá-las visíveis ao público.

Percebemos que os critérios para a produção de conteúdos dessa fonte de informação

aparecem discretamente em sua página inicial com letras pequenas. A apresentação sutil

desses indicadores possibilita que muitos colaboradores produzam conteúdos desconhecendo

parte do projeto da Wikipédia, comprometendo, mesmo sem intenção, a confiabilidade das

informações que compõem os conteúdos dos artigos e verbetes.

Uma saída pertinente seria que as políticas e as recomendações se encontrassem no

topo das páginas e com letras maiores, chamando mais atenção dos usuários que desejassem

ser wikipedistas, possibilitando a probabilidade de aumentar o índice de páginas com mais

Page 110: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

qualidade. Além disso, a Wikipédia poderia destacar mais enfaticamente apenas aquelas

políticas e recomendações mais pertinentes, excluindo repetições desnecessárias. Por meio da

possível adoção dessas medidas, a enciclopédia esclareceria aos usuários e aos editores que

possui uma “linha editorial”, que ela tenta controlar a qualidade, a validade, a verificabilidade

e, por conseguinte, a confiabilidade das informações de suas páginas.

Ponderamos ainda que de nada adiantaria a adoção dessas medidas se a Enciclopédia

Livre continuasse disponibilizando em sua página o fragmento em que admite a dispensa do

seguimento das políticas e recomendações, desde que haja bom senso por parte dos editores.

Ora, não faz sentido a existência das diretrizes que apontam os procedimentos para a

sistematização e produção de conteúdos, se elas podem ser ignoradas. Para que as políticas e

as recomendações tenham sua importância reconhecida e sejam valorizadas, é preciso que

toda a extensão da Wikipédia corrobore o mesmo pensamento. Diante disso, vemos que a

presença desse tipo de informação é completamente dispensável e é também uma constante

ameaça à fiabilidade. Acreditamos que a ausência tem mais relevância do que sua presença.

Por fim, no que se refere ao objeto material de estudo, resta destacar que, no decorrer

dessa pesquisa, nos deparamos com determinadas dificuldades. A primeira delas centra-se nas

políticas e recomendações, que, além de longas e redundantes, são, em certa medida,

insuficientes no detalhamento de questões importantes. Além disso, o fato de elas quase

estarem “ocultas” também foi um considerável obstáculo encontrado.

A inexpressividade temática sobre a confiabilidade das informações na Ciência da

Informação também foi um percalço bastante considerado, principalmente devido à

especificidade do objeto estudo, que demanda uma bibliografia mais particular.

Desta feita, esperamos que este estudo possa, pelo menos, despertar o interesse em

torno da confiabilidade das informações da web, possibilitando o surgimento de investigações

posteriores sobre a mesma temática. Desejamos ainda que esta pesquisa possa enfatizar um

pouco mais a emergência de fontes de informações colaborativas, independentes e autônomas,

que estão inovando em seus critérios de fiabilidade, concentrando esforços no seu processo de

produção, com destaque para a confiança e para a experiência dos pares.

Esperamos, ainda, que essa investigação possa fomentar pesquisas posteriores que

averiguem a possível relação entre os programas de inclusão digital do governo federal e a

produção de conteúdos, através da utilização dos softwares livre.

Em uma perspectiva mais ampla, destacamos a importância de pesquisas sobre o

debate em torno da produção colaborativa de conteúdos nas políticas de informação dos

Page 111: A PRODUÇÃO COLABORATIVA DE CONTEÚDOS:

países da América do Sul, possibilitando que os Estados envolvidos tenham a oportunidade de

trocar experiência e adaptar as propostas dos demais, de acordo com as suas realidades.

Por fim, consideramos relevante a realização de estudos comparativos entre a

Wikipédia e outras enciclopédias colaborativas, centrando-se nas semelhanças e diferenças

acerca dos elementos de fiabilidade que elas dispõem.

Ao final desse estudo, concluímos, em síntese, que a Wikipédia, a Enciclopédia Livre

conta com um conjunto expressivo de diretrizes que condicionam a sua produção de

conteúdos e, por conseguinte, evidenciam alguns indicadores de confiabilidade das

informações que os constituem. O modelo livre de produção apregoado pelo seu próprio

slogan não acontece de forma ampla e abrangente como muito se imagina. Nesse contexto, o

desenvolvimento do trabalho colaborativo exercido pelos editores é que mantém o projeto em

pleno funcionamento, sumariamente dependente do compromisso e da confiança com que as

edições são realizadas em concordância com os princípios que as fundamentam.

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