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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 3738 A PRODUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA NOÇÃO DE ANALFABETO NA IMPRENSA BRASILEIRA (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX) Ana Maria de O. Galvão 1 Aline de O. Chagas 2 Introdução A pesquisa que deu origem a este trabalho tem como objetivo analisar como foram produzidas historicamente as noções de analfabeto e de analfabetismo no Brasil, particularmente em Minas Gerais. Alguns estudos (RACHI, 2016; GALVÃO, DI PIERRO, 2010; JULIO, 2017) têm mostrado que, no período colonial, ainda não havia sido produzido o discurso que associa o analfabeto à incapacidade de tomar decisões de modo soberano e o analfabetismo a um problema social. Foi principalmente a partir da discussão em torno da lei Saraiva (RODRIGUES, 1965; FERRARO, 2009), na segunda metade do século XIX, que essas associações começaram a ser realizadas de modo mais contundente, tornando-se mais recorrentes a partir da República (ROCHA, 1995). Nesse sentido, busca-se identificar como essas produções discursivas emergiram em um período ainda pouco estudado em relação a essa temática: a primeira metade do século XIX. Nessa direção, a pesquisa busca identificar as primeiras ocorrências dos termos analfabeto e analfabetismo em diversas esferas da atividade humana (BAKTHIN, 2003), por meio da análise de um conjunto variado de fontes documentais, como dicionários, discursos oficiais, autobiografias, levantamentos censitários provinciais, autobiografias, obras literárias, obras de intelectuais e periódicos, no período investigado. Essas fontes estão localizadas, em sua maioria, no Arquivo Público Mineiro e na Biblioteca Nacional. Também têm sido consultados os acervos da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a coleção Frei Chico da Biblioteca da PUC-MG e a Biblioteca Oliveira Lima, em Washington (DC). A investigação está baseada, teórica e metodologicamente, em estudos da História Cultural, particularmente na categoria de representação (CHARTIER, 1990). A noção de produção discursiva (FOUCAULT, 1995) também tem orientado a análise das fontes. Nesse 1 Doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professora associada da Faculdade de Educação da UFMG. E-mail: <[email protected]>. 2 Bolsista de Iniciação Científica, graduanda em Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: <[email protected]>.

A PRODUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA NOÇÃO DE … · essas produções discursivas emergiram em um período ainda pouco estudado em relação a essa temática: a primeira metade do

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 3738

A PRODUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA NOÇÃO DE ANALFABETO NA IMPRENSA BRASILEIRA (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX)

Ana Maria de O. Galvão1

Aline de O. Chagas2

Introdução

A pesquisa que deu origem a este trabalho tem como objetivo analisar como foram

produzidas historicamente as noções de analfabeto e de analfabetismo no Brasil,

particularmente em Minas Gerais. Alguns estudos (RACHI, 2016; GALVÃO, DI PIERRO,

2010; JULIO, 2017) têm mostrado que, no período colonial, ainda não havia sido produzido o

discurso que associa o analfabeto à incapacidade de tomar decisões de modo soberano e o

analfabetismo a um problema social. Foi principalmente a partir da discussão em torno da lei

Saraiva (RODRIGUES, 1965; FERRARO, 2009), na segunda metade do século XIX, que essas

associações começaram a ser realizadas de modo mais contundente, tornando-se mais

recorrentes a partir da República (ROCHA, 1995). Nesse sentido, busca-se identificar como

essas produções discursivas emergiram em um período ainda pouco estudado em relação a

essa temática: a primeira metade do século XIX.

Nessa direção, a pesquisa busca identificar as primeiras ocorrências dos termos

analfabeto e analfabetismo em diversas esferas da atividade humana (BAKTHIN, 2003), por

meio da análise de um conjunto variado de fontes documentais, como dicionários, discursos

oficiais, autobiografias, levantamentos censitários provinciais, autobiografias, obras

literárias, obras de intelectuais e periódicos, no período investigado. Essas fontes estão

localizadas, em sua maioria, no Arquivo Público Mineiro e na Biblioteca Nacional. Também

têm sido consultados os acervos da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a coleção Frei

Chico da Biblioteca da PUC-MG e a Biblioteca Oliveira Lima, em Washington (DC).

A investigação está baseada, teórica e metodologicamente, em estudos da História

Cultural, particularmente na categoria de representação (CHARTIER, 1990). A noção de

produção discursiva (FOUCAULT, 1995) também tem orientado a análise das fontes. Nesse

1 Doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professora associada da Faculdade de Educação da UFMG. E-mail: <[email protected]>.

2 Bolsista de Iniciação Científica, graduanda em Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: <[email protected]>.

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sentido, tem-se buscado compreender a emergência de discursos que, em sua dispersão,

construíram, ao longo das décadas, um feixe de imagens que associam o analfabeto e o

analfabetismo à ignorância, à incapacidade, à pobreza, à doença, à cegueira, ao rural e, ao

mesmo tempo, ao perigo, à subversão, à criminalidade e à irracionalidade.

Em um primeiro momento, buscamos identificar a ocorrência dos termos analfabeto e

analfabetismo em periódicos publicados entre 1808 e 1949 em diferentes províncias

brasileiras (Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Pará, Minas Gerais, São Paulo,

Mato Grosso e Rio Grande do Sul3). Esses impressos estão localizados na hemeroteca digital

da Biblioteca Nacional4. Embora não possamos afirmar que esse acervo seja representativo

do conjunto de periódicos publicados no País na época, visto que muitos deles não foram

digitalizados e disponibilizados no referido banco de dados, pode ser considerado uma

expressão, ainda que limitada e incompleta, da imprensa brasileira da época.

Resultados parciais desse levantamento realizado indicam que a expressão analfabeto,

embora já dicionarizada desde a primeira década dos oitocentos5, começa a ser utilizada na

imprensa, ainda de maneira muito esporádica, na década de 1830, tornando-se mais

recorrente a partir dos anos 1860. A palavra analfabetismo, por sua vez, emerge

posteriormente, a partir da República, sobretudo no século XX. Esses dados podem ser

visualizados no gráfico abaixo:

3 Algumas dessas províncias foram privilegiadas na pesquisa em virtude do lugar privilegiado que ocupavam na circulação de impressos no País no período. Segundo Márcia Abreu (2003), entre “1769 e 1826, registram-se em torno de 700 pedidos de autorização para envio [de Portugal] de livros para o Rio de Janeiro, outros 700 para a Bahia, 350 para o Maranhão, 200 para o Pará e mais 700 para Pernambuco” (p. 27).

4 O sistema de busca da HBN permite a localização de palavras específicas na documentação digitalizada. 5 Em 1813 e 1831, analfabeto é definido como “O ignorante até das Lettras do A, B, C” (MORAES SILVA, 1813b,

p.128; 1831, p.119). Não localizamos, na pesquisa, a palavra dicionarizada em momentos anteriores. Para uma análise dos sentidos que a palavra analfabeto assume em dicionários ao longo dos séculos XIX e XX, no Brasil e em Portugal, ver Silva (1996).

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Analfabeto Analfabetismo

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Em um segundo momento, para realizar uma análise mais aprofundada do significado

atribuído ao termo analfabeto, do léxico e dos sujeitos a ele associados, selecionamos todas as

matérias publicadas nos jornais disponíveis na hemeroteca entre 1833 (data da primeira

ocorrência) e 1849 em que a expressão aparecia. A delimitação de 1849 como marco final do

período decorre da nossa hipótese de que a primeira metade do século XIX teria se

configurado como um momento decisivo para a produção da noção que associa o analfabeto à

incapacidade. Acreditamos que o modo como a expressão aparece, nas primeiras vezes, nos

periódicos, é decisivo para a (re)configuração dos contornos que ganhará nas décadas

seguintes.

No total, foram localizadas, no período referido, 21 referências ao termo analfabeto nos

periódicos pesquisados disponíveis na HBN, publicados nas províncias do Rio de Janeiro

(16), do Maranhão (quatro) e de Minas Gerais (um). Nos jornais consultados das demais

províncias, não foram encontradas referências ao termo. Em relação à palavra analfabetismo,

como referido, nenhuma ocorrência foi localizada no período.

Os significados atribuídos à palavra analfabeto

Qual, então, o significado atribuído à palavra analfabeto, pelos periódicos, no período?

Podemos afirmar que cinco grandes sentidos são associados ao termo nas fontes

investigadas.

Analfabeto é aquele que não sabe ler, escrever e/ou assinar

O primeiro significado atribuído à palavra analfabeto, apreendido a partir da análise

dos impressos, se aproxima da definição já existente nos dicionários da época: trata-se

daquele que não sabe ler, não sabe escrever e/ou não sabe assinar. Esse significado aparece

em quatro, das 21 ocorrências analisadas. Não se trata, portanto, do mais recorrente nos

periódicos analisados. Dois desses casos são publicados no mesmo número do Jornal do

Commercio6, do Rio de Janeiro: ele noticia, em sessão intitulada Tribunal dos Jurados, os

julgamentos dos réus Adão José da Silva Castro e Joaquim Ferreira Guimarães, ambos presos

por se envolverem em brigas. A palavra analfabeto aparece, nas notícias, como uma das

características dos réus, ao lado da naturalidade, do estado civil, da idade e da profissão. Não

parece assumir, portanto, significado pejorativo. Ao mesmo tempo, no entanto, sua utilização

nesse contexto de enunciação denota que, naquele momento, saber ler e escrever era

6 Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, quarta-feira, 17 de Junho de 1846, edição 166.

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considerada uma característica importante na descrição dos sujeitos, o que indica a crescente

valorização do escrito naquela sociedade. Significado semelhante é atribuído à palavra em

matéria publicada no Diário do Rio de Janeiro7, que transcreve parte de sessão da

Assembleia Legislativa Provincial, em que se discutiu a “fixação da força policial”. Um dos

deputados argumenta, em sua fala, que os criminosos que cometem delitos comuns, como

furtos, são, de modo geral, escravos, analfabetos, debochados ou bêbados. Dessa vez, como

será analisado em outro momento deste texto, pode-se observar que o vocábulo, ao se dirigir

especificamente a alguns tipos de sujeitos, é associado a aspectos negativos, assumindo uma

conotação pejorativa.

Em outra matéria analisada, observa-se que, embora a palavra estivesse vinculada à

ideia da ausência da leitura e da escrita, havia uma certa disputa em torno dos seus

significados. Em 1844, a Gazeta dos Tribunaes: dos juizos e factos judiciaes, do foro e da

jurisprudencia8, publicou, em sua primeira página, artigo intitulado Testamento mystico do

analfabeto, assinado por J.J.N.P. Nele, o jornal se posiciona contra a nulidade de um

testamento místico, de uma testadora analfabeta. Segundo as Ordenações Filipinas, código

legal que vigorou no Brasil de 1603 até 1916, o testamento místico, ou testamento cerrado,

tinha caráter sigiloso, ou seja, ninguém poderia ter acesso ao seu conteúdo. Como nos demais

tipos de testamento, o testador, caso não soubesse ou não pudesse assinar, poderia delegar

essa tarefa a alguém9.

Quais as razões, então, para o pedido de anulação do testamento, se a legislação era

clara quanto à sua validade, caso o testador não soubesse assinar? A polêmica residia,

segundo jornal, na ambiguidade, expressa no pedido de anulação, dos significados dos

termos latinos ignorare litteras e nescire litteras. Para os autores do pedido, as Ordenações

consideravam válido o testamento daqueles que não sabiam assinar, mas não se referiam aos

que não sabiam ler – caso da referida testadora. O advogado dos réus argumenta, no entanto,

com base na lei romana, que a expressão litteras ignorare “compreende tanto os que não

sabem ler, como os que não sabem escrever; e que, por consequência, o – não sabendo

assignar – da ordenação tem o mesmo sentido: inferindo finalmente que esta não exclue os

analfabetos da facção testamentaria mystica.” (p.1). Argumenta, ainda, que “o mais comum é

não saberem ler os que nem o seu nome sabem fazer, sendo muito raro haver quem saiba ler,

que não saiba ao menos fazer seu nome; e as palavras da lei devem entender-se conforme o

7 Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, segunda-feira, 26 de março de 1849, anno XXVIII, n.8031. 8 Rio de Janeiro, sexta-feira, 03 de maio de 1844, anno II, n.131. 9 Livro 4º, Título LXXX (ALMEIDA, 1870).

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que mais commumente sucede” (p.1). Essa posição é partilhada pelo periódico, que reforça a

ideia de que os analfabetos têm o direito, assim, de testar. O jornal argumenta que as

Ordenações não excluíram tampouco os cegos, as mulheres e os “rústicos” da possibilidade

de testarem misticamente,

[...] porque os testadores escolhem pessoas não só da sua confiança, mas desinteressadas, e podem mandar ler por outrem o testamento depois de escripto; ao mesmo tempo que pode ser que o testador que sabe ler e o não lêa por não ser expedito, por descuido, preguiça, ou boa fé; e nem por isso o citado codigo exige a declaração de ter sido lido pelo testador (p.1).

O autor do artigo conclui, então, que não havia razões para que a legislação sobre o

tema fosse mudada, como já haviam feito outros países. Vê-se, portanto, que a matéria

expressa as disputas em torno dos direitos, das competências e das habilidades de quem não

sabia ler e escrever. Expressa, ainda, o debate em torno da interpretação da lei – no caso, as

Ordenações Filipinas –, promulgada mais de dois séculos antes, quando as demandas em

torno da leitura e da escrita eram distintas.

Pode-se observar, portanto, que, mesmo quando a palavra analfabeto é utilizada no

sentido mais restrito que lhe conferiam os dicionários do período, parece já provocar no

leitor a ideia de que se trata de algo negativo, associado à criminalidade e ou à discussão de

supostas (in)capacidades e (in)competências.

Analfabeto é aquele que possui poucos conhecimentos

O segundo significado atribuído à palavra analfabeto que emergiu da análise das fontes

– encontrado em quatro matérias, das 21 localizadas –, embora esteja diretamente

relacionado ao primeiro, associa-se, mais estreitamente, à ausência de estudos mais

aprofundados e de conhecimentos (inclusive em relação às habilidades de escrever). Nesses

casos, os sujeitos a quem a palavra se dirige, como veremos mais detalhadamente a seguir,

sabem ler e escrever, mas são considerados, pelos emissores, como detentores de poucos

conhecimentos, condição associada ao “pouco estudo”.

Na sessão de correspondências da edição 6828, do Diario do Rio de Janeiro10,

publicada em 1845, o leitor José Joaquim de Lima e Silva responde a Joaquim Mariano Alves

de Castro, que o teria insultado em edição anterior do periódico, por ter assinado um

manifesto em apoio ao abandono das eleições de eleitores em Maricá. Em sua resposta, José

Joaquim afirma que foi descrito como “miseravel cirurgião da aldêa”. Argumenta, então, que,

10 Diario do Rio de Janeiro, sexta-feira, 29 de janeiro de 1845, edição 6828.

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sendo o Sr. Castro um “analphabeto”, “não póde conhecer, e nem saber” dos seus

“conhecimentos profissionais”. Nessa direção, acusando-o de invejoso, questiona: “Ora diga-

me, quaes são seus conhecimentos, em que é versado? Quaes foram seus principios? Aonde

estudou? Aonde foi educado? Quaes são as virtudes que o adornao?”. Há, portanto, um

questionamento da legitimidade da opinião de Joaquim Castro pelo fato de ser alguém que,

ao que parece, estudou menos do que o médico e, por isso e por dele divergir politicamente, é

nomeado de analfabeto, embora soubesse ler e escrever.

Em direção semelhante, podemos situar as outras três matérias agrupadas neste

conjunto. Em 1847, o jornal O Conservador11 publica uma nota, aparentemente redigida por

seu editor, criticando o Barão da Boa Vista e seu irmão (que agora se aliavam aos “artistas”, à

“gente menos abastada”, a quem sempre “tratarão com o ultimo despreso, a quem chamavão

de proletários, de canalha”), por se oporem à eleição de senadores que não fossem de

Pernambuco. O jornal argumenta que o mesmo Barão da Boa Vista, quando havia sido

presidente da referida província, havia nomeado diversos indivíduos de outras províncias,

inclusive o deputado geral Francisco Domingues, que era cearense, a quem denomina de

“quase analfabeto”. Como se pode observar, a palavra é, aqui, utilizada para deslegitimar o

sujeito. Não se tratava, mais uma vez, de alguém que não soubesse ler ou escrever, mas

provavelmente com poucos conhecimentos e/ou com pouca escolaridade.

Por fim, temos uma matéria publicada inicialmente em Outro Preto12 e republicada no

Rio de Janeiro13. Nela, o editor do jornal O Povo faz duras críticas ao então Ministério da

Fazenda, que é comparado a um “morto”. A crítica é tecida a partir de um fato: a demissão do

sr. Antão, ex-ministro, que era “recto” e “sabio”. Para o jornal:

O sr. Antão bem conhecia, que nem lhe ficava bem servir com este infame governo de ladrões e assassinos, dirigido por malvados, como o Euzebio, ou por estupidos como o ex-regente Costa Carvalho (V. de Mont’Alegre) como o ex-regente Pedro de Araujo Lima (V. de Olinda) e pelo analphabeto Manoel Filizardo, que apenas é um tenente coronel de engenheiros, e lente da escola militar, tão pequenino, que nunca servio emprego de importancia, por que, o ter sido presidente de Alagoas, presidente de S. Paulo, deputado geral, e até ministro com o proprio sr. Antão, isso o que é? o que vale? um homem que escreve ainda peior do que não sei que subdelegado da Ponte Nova!. (grifos no original).

Vê-se, portanto, que a palavra analfabeto é associada a dois significados: trata-se de

alguém “estúpido” e que não domina, com competência, habilidades relacionadas à escrita,

11 O Conservador, Rio de Janeiro, sexta-feira, 17 de setembro de 1847, edição 12. 12 O Povo, Ouro Preto, domingo, 01 de junho de 1849, n.6. 13 Correio da Tarde, Rio de Janeiro, quarta-feira, 27 de junho de 1849, edição 427.

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mesmo sendo tenente coronel, lente, presidente de mais de uma província, deputado e

ministro. Trata-se, portanto, de alguém com parcos conhecimentos. O uso dos grifos nos

principais adjetivos, que ocorre em toda a matéria, mostra a intenção do editor em marcar,

com ênfase, as oposições entre o bem e mal, entre os que tinham qualidades morais e os

desonestos/criminosos, entre sábios e ignorantes. O analfabeto é posto, de modo explícito, do

lado daqueles que não eram bem vistos pela sociedade de então.

Analfabeto é alguém ignorante, incompetente e imoral

O terceiro sentido da palavra analfabeto que apreendemos a partir da análise das fontes

está associado à definição mais ampla que consta nos dicionários do período: trata-se de

alguém ignorante (até das letras). Não caracteriza, portanto, quem não sabe ler nem escrever,

mas se dirige a indivíduos que são considerados ignorantes, incompetentes e, muitas vezes,

imorais. Como veremos a seguir, esse uso está, na maior parte das vezes, vinculado a sujeitos

que ocupam cargos públicos, mas são considerados pouco capacitados para as funções que

exercem. Esse significado é o mais recorrente no conjunto dos periódicos analisados: aparece

em nove das 21 ocorrências.

Denomina-se de analfabeto aquele que, mesmo sendo presidente da província do Piauí,

revela-se “inapto e incapaz” de governá-la: além de já ter 80 anos, revela-se ignorante dos

princípios que regem o cargo e apresenta tendência ao absolutismo14. Na mesma direção, é

nomeado de analfabeto um professor e diretor de um colégio, considerado incapaz de

administrar o seu estabelecimento e de educar os meninos que o frequentam – que não

aprendem, não recebem formação moral e religiosa e apresentam diversos problemas de

disciplina. Trata-se, portanto, de alguém incapaz de ocupar o cargo, assim como era o

“promotor analfabeto” do Maranhão15; o “juiz municipal suplente” – que, analfabeto,

processa e persegue – de Pernambuco16; o deputado acusado de não conhecer os meandros

da política17.

Em algumas matérias, ao lado da incapacidade para ocupar certos cargos, associa-se o

sujeito analfabeto a alguém que, vivendo dos cofres públicos sem exercer com competência

suas funções, não passa de um adulador e de um aproveitador do Estado. O significado da

14 Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1841, anno XX, edição 179, p.2. 15 O Observador, Maranhão, sexta-feira, 13 de outubro de 1848, anno II, n. 69, p.2. 16 A Tribuna, Rio de Janeiro, sexta-feira, 25 de abril de 1845, edição 12, p.4. 17 O Brasil, Rio de Janeiro, quinta-feira, 26 de julho de 1849, volume XI, edição 1456, p.4.

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palavra é aqui associado, portanto, à imoralidade, ou seja, à improbidade18 no exercício da

função. Esse é o caso, por exemplo, de um promotor público e de um secretário do Tesouro

Provincial do Maranhão19, ambos nomeados de analfabetos e acusados de não possuírem as

habilitações necessárias para os cargos que ocupam: um deles é chamado de “parasita”20. De

modo bastante semelhante, o editor do jornal Correio da Tarde critica todos aqueles que

“mamam nas tetas” do Estado, como era o caso, em sua opinião, de um deputado por Minas

Gerais, que se tornou também Administrador Geral dos Correios. Nomeando-o de analfabeto,

pois “que em outras eras não servia nem para ajudante do Escrivão de Ausentes de Goyaz”, o

periódico afirma que ele “põe-se em campo, e tudo arranja para si e para os amigos!”21. Em

outra matéria, publicada em 1849 no Maranhão22, o autor do comunicado, que assina como

“O Timbira”, ao citar vários casos de crimes e de criminosos que foram acobertados pela

polícia e por pessoas influentes em diversas localidades, acusa o então Presidente da

Província de patrocinar criminosos em troca de apoio nas eleições. Entre aqueles que

protegiam os que cometiam crimes, com “descaramento”, estava o “analfabeto Delegado da

Instrucção Publica de Santa Helena” (p.3). Em sentido semelhante, o editor do jornal O

Catucá critica a eleição do “analfabeto fidalgo visconde de Baependy” para a presidência da

Assembleia Provincial do Rio de Janeiro, pois “recebe carga para qualquer porto eleitoral”

(p.3).23

Vê-se, portanto, que o termo analfabeto aparece, de forma bastante recorrente e

contundente, associado à incompetência, à imoralidade e ao parasitismo em relação ao

governo Imperial.

Analfabeto é alguém que faz “baderna”

O termo analfabeto aparece, ainda, aparentemente desvinculado do significado de

ausência da leitura e da escrita, e é associado à “baderna” e “à desordem”. Esse significado

ocorre apenas uma vez nas fontes analisadas. Em 1838, o periódico O Sete d’Abril transcreve

um trecho da Sessão de 17 de maio da Câmara dos Deputados24. Durante a sessão, tanto a

18 “Immorál: adj. Que não é conforme aos bons costumes, não guarda as leis moraes. & Falto de moralidade, com máos costumes, mal morigerado (...) Immoralidade: s.f. O ser immoral; irregularidade no proceder; improbidade (...)” (MORAES SILVA, 1831b, p.138). 19 Correio Maranhense, Maranhão, terça-feira, 6 de junho de 1848, v.II, n.99, p.1. 20 Significado de “parasíto”: “Papajantares”, “o que anda adulando a quem lhe dá de comer” (MORAES SILVA,

1813b, p.396). 21 Correio da Tarde, Rio de Janeiro, quinta-feira, 19 de outubro de 1848, edição 230, p.3. 22 O Salvador da Liberdade, Maranhão, domingo, 5 de maio de 1849, anno XXVII, edição 5. 23 O Catucá, Rio de Janeiro, domingo, 18 de março de 1849, edição 2. 24 Rio de Janeiro, quarta-feira, 23 de maio de 1838, número 562.

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Cabanagem quanto a Sabinada foram objeto de discussão. O adjetivo “analfabeto” é dirigido

ao deputado do Ceará, da oposição, Manoel do Nascimento, porque ele chora “as desgraças

dos sabinos, que deplora com a mais profunda dôr esse sangue precioso que a legalidade

derramou para salvar das garras do feroz barbarismo a bella, a interessante Cidade da

Bahia?!...” (p.2). Em outros momentos o jornal denomina os sabinos de “insurgidos”,

“assassinos”, “ladrões” e “incendiários”. Aparecem, ainda, associadas aos sabinos, as

seguintes expressões: “anarquia”, “façanhas e gentilezas sabinianas”; “sustos”, “incomodos”,

“privações”, “famílias desoladas”. Por outro lado, os sabinos são colocados em contraposição

às “familias honestas”, aos “cidadãos pacíficos e laboriosos” e ao “amante da ordem”. Vê-se,

portanto, que não se utiliza o adjetivo analfabeto para se referir à não habilidade de ler e de

escrever, mas, para, de modo geral, identificar alguém à desordem.

Analfabeto é algo ou alguém associado a uma ampla gama de significados negativos

Por fim, em três, das 21 matérias analisadas, o termo analfabeto aparece associado a

uma gama de significados negativos, de modo impreciso e instável. Essas ocorrências

parecem expressar que, no período em estudo, havia uma disputa em torno de um termo

ainda polissêmico e o sentido que se estabilizaria ao longo das décadas seguintes ainda não

havia se fixado.

A primeira vez que o termo analfabeto aparece nas fontes localizadas é em 1833 e está

associado a essa amplitude de significados. Na seção Correspondencia, do jornal Aurora

Fluminense25, “Hum Pernambucano” dirige-se ao “Sr. Redactor”, mostrando-se revoltado

com a postura dos brasileiros (e, particularmente, dos fluminenses) em relação ao domínio

dos portugueses. Critica particularmente um jornal recém-publicado denominado de

Papeleta, que parece colocar, na opinião do autor, os brasileiros como vassalos da metrópole,

mesmo depois de “mais de 10 annos” da Independência. O periódico é, então, denominado de

ignorante, louco, analphabeto, prepotente, scelerado. Embora não haja uma definição

precisa do termo analfabeto, o léxico a ele associado nos leva a pensar que se tratava de algo

(no caso, um jornal) ou de alguém que “está no estado de ignorancia”, “imperito”, “não

sabedor”26, ou seja, a quem faltam “noções”, “noticia”, “conhecimento”27. Trata-se

25 Aurora Fluminense, Rio de Janeiro, sexta-feira, 8 de novembro de 1833, edição 838, p.3578. 26 Significado da palavra “ignorante” (MORAES SILVA, 1813b, p. 128). 27 Significado da palavra “ignorância”” (MORAES SILVA, 1813b, p.128).

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indiretamente, ainda, de algo ou de alguém que, mesmo “sem siso, prudência, juízo, nem

discrição”, e sendo “doido” “inconsiderado, imprudente, temerário”28 e “facinoroso29”, “tem

muito poder” e “usa de sobeja autoridade”30.

Embora não se possa afirmar, com precisão, o que o autor da correspondência quis

significar, exatamente, quando utilizou a palavra analfabeto, é possível depreender que se

trata de algo negativo, vinculado à ignorância, à imprudência e ao perigo, como mostra a

análise do léxico associado.

As disputas em torno do significado do termo analfabeto também ficam muito claras

em outra matéria, publicada em 1846 no Maranhão. Embora a palavra esteja associada à

ausência da leitura e da escrita e ao pouco domínio da norma culta que deveria presidir a

oralidade, ela também se refere àquele que se mostra ignorante, sem estudos, sem

inteligência, tolo e teimoso. O periódico O Cacete, em seu primeiro número, publica um

suposto diálogo entre o “Galego D. Francisco” e Angelo Carlos Moniz, então Vice-Presidente

da província do Maranhão. O título da matéria já expressa o lugar que o jornal quer conferir a

Angelo, que é nomeado de analfabeto: Dialogo entre o Galego D. Francisco, e o Posta de

carne com dois olhos. Como protocolo de leitura fundamental, o título indica para o suposto

leitor do jornal, de imediato, que o interlocutor de D. Francisco se assemelha uma figura não

humana, pois se compõe apenas de carne e de olhos.

No diálogo, D. Francisco solicita a Angelo que demita o Secretário de Governo, pois

havia evidências de que ele era aliado dos baianos – a quem o jornal fazia ferrenha oposição31

- e inimigo dos liberais da província. O argumento usado pelo Vice-Presidente para a

impossibilidade de cumprir a tarefa era o de que as demissões somente poderiam ser feitas

pelo Imperador. D. Francisco argumenta, então, que ninguém daria crédito às ações de

Angelo, pois todos sabiam que ele era um ignorante, um analfabeto, como se pode observar

nas seguintes falas: “V. Exc. he pirronico32: já lhe naõ disse, que quantas miserias e parvoices

V. Exc. fiser, tudo hade ser relevado? Quem naõ sabe que V. Exc. naõ possue grande cabedal

intellectual? (p.3)”; “...digo que todo mundo sabe que V. Exc. não tem estudos, que naõ

nasceo para estas couzas. (p.3).

Nos trechos a seguir, essa ideia fica ainda mais evidente:

28 Significado da palavra “lôuco” (MORAES SILVA, 1813b, p.236). 29 Facinoroso é sinônimo da palavra “scelerato” e significa “que tem commetido grande crime, façanhoso em

crimes” (MORAES SILVA, 1813b, p.673). 30 Significado da palavra “prepotente” (MORAES SILVA, 1813b, p.495). 31 A epígrafe do jornal era “Nos Bahianos darei fortes massadas: Levaraõ os traidores cacetadas”. 32 “Pirrhónio”: “que duvída de tudo, e tem, que não há verdade em coisa alguma: Sceptico” (MORAES SILVA,

1813b, p.455).

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D. Franc. Perdoe-me V. Exc: essa rasaõ não me parece plausivel: por que sendo V. Exc. leigo, e para melhor fallar e cá entre nós, um analfabeto, faça quantas asneiras fiser, ninguem deixará de desculpa-lo. (p.2) Ang. Diga-me primeiro o que he essa palavra que o Sr. disse? D. Franc. Qual? Analfabeto? Ang. Sim. D. Franc. Analfabeto quer dizer homem que não sabe ler, um perfeito ignorante etc. Ang. Então o Sr. Dr. quer dizer na sua que eu não sei ler? Ora mande buscar lá dentro um livro de leis dos Extravagantes de Portugal e verá. Deixe pois essas graçolas: o que se naõ diria se algum Empregado da Sacrataria ouvisse o Sr. chamar me=anacleto. D. Franc. Não tenha receio: quando eu disse que V. Exc. era um analfabeto, bem vi que estavamos sós, e que naõ andavaõ por ahi a espreita nenhum dos taes Empregaditos: alias teriaõ elles hoje o seo pratinho e foi para acautellar esse prejuiso a reputaçaõ de V. Exc. que eu olhei primeiro em redor para assim exprimir-me.

Ao significado estrito da palavra – o que ignora as letras – são, assim, acrescentados

outros. É interessante observar também que o fato de tanto D. Francisco quanto Angelo

expressarem a preocupação de não chamar e de não ser chamado de analfabeto em público

indica que já existia o estigma (GOFFMAN, 1988) relacionado ao termo. O uso da palavra

parece produzir um efeito mais amplo, repleto de sentidos negativos, como a vergonha,

mesmo quando se sabia ler e escrever, como é o caso. A nomeação parece configurar o

próprio estigma.

No final da reprodução do suposto diálogo, a demissão ocorre, mas, mais uma vez,

Angelo é convocado ao ridículo. Afirma que levou “toda a noite a redigir” a portaria e, desse

modo, “não são só os Doutores que sabem redigir peças officiaes”. Outro personagem, José

Ruffino, que comparece em alguns momentos do diálogo, lê a portaria supostamente escrita

por Angelo – transcrita integralmente no jornal com diversos problemas gramaticais. A cena

final da narrativa – a única que não é escrita em forma de diálogo –, é a seguinte:

Disse, e o Snr. Joaõ Rufino, que quasi estourava com vontade de rir foi correndo para a Secretaria e atirou se ás gargalhadas em cima da Mesa onde escreve. Tendo porém dó do Angelo Moniz dictou a Portaria, para o que nem teve prestimo o Bahiano que estava presente, e posta a limpo apresentou-a ao tal papalvo33, que a assignou quasi de cruz34. (p.4).

Um outro recurso utilizado pelo periódico para produzir efeitos de sentido no leitor é

o uso de itálicos nas palavras supostamente pronunciadas por Angelo, que contrariam as

normas padrões da língua portuguesa. Constrói-se, aqui, a ideia de que o analfabeto não é

33 Papalvo significava “Simplorio, tôlo, pateta" (CAMARA, 1848, p.136). 34 Desenhar uma cruz era o modo como os que não sabiam assinar procediam em documentos oficiais, como

testamentos.

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apenas alguém que não domina o escrito, mas também aquele que não conhece ou bem

utiliza as normas cultas que deveriam presidir uma certa oralidade. Todas as palavras que

denunciam o mau uso da língua estão grafadas em itálico no original, para chamar a atenção

do leitor, como problemas de concordância verbal (“hontem me disse alguns amigos” em

lugar de “hontem me disseram alguns amigos”) e nominal (“os princípios dos Liberal da

Provincia” em lugar de “os princípios dos Liberais da Província”; “Imperadô dos Brazileiro”

em lugar de “Imperador dos Brazileiros”) e a pronúncia associada ao dialeto popular

(“clubio” em lugar de clube; “Sacratario” em lugar de “Secretário”; “Imperadô” em lugar de

“Imperador”; “anacleto” em lugar de “analfabeto”; “poltroneria” em lugar de “portaria”).

Vê-se, portanto, que a intenção do jornal era detratar o adversário político,

representado pelo Vice-Presidente da província do Maranhão na época, e que a palavra

analfabeto, associada à perfeita ignorância, à ausência de estudos e até mesmo à tolice e à

simploriedade, cumpre um papel central nessa detração.

Por fim, analisamos uma correspondência em que o leitor se dirige ao redator do

periódico Diario do Rio de Janeiro35 para tornar pública sua resposta a um jornalista do

impresso O Brasil, que havia criticado sua proposta de indicar para deputado o Cônego

Januário. O autor, que assina como “futuro eleitor” na sessão Correspondencias, afirma que

tem “nojo” de lembrar que a palavra analfabeto foi usada para se referir ao Cônego, que era

bibliotecário, virtuoso e honrado. Vê-se, aqui, portanto, um uso vago e impreciso do adjetivo,

mas expressamente vinculado a um sentido negativo e pejorativo – enfatizados pela

utilização da palavra “nojo” para se referir ao sentimento do aliado político.

Como se pode observar a partir da análise realizada, na grande parte das ocorrências

encontradas nas fontes, o termo analfabeto já era utilizado de modo pejorativo,

principalmente quando se distanciava do seu sentido estrito. É possível aventar a hipótese de

que aquele que não sabia ler e escrever talvez não sofresse preconceito, a depender do

contexto em que vivia – afinal, mais de 80% da população brasileira do período tinha essa

condição36 – mas a nomeação de analfabeto já constituía um insulto, independentemente do

significado que assumia. Também já se pode perceber a consciência de que ser nomeado

desse modo era uma vergonha, um estigma.

35 Diario do Rio de Janeiro, sexta-feira, 16 de setembro de 1842, edição 204, p.2. 36 O primeiro censo, realizado em 1872, indicava que 82,3% da população brasileira de 5 anos ou mais era

analfabeta (FERRARO, 2009).

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O sujeito associados ao termo analfabeto

Mas, a quem se dirigiam esses diferentes significados? Podemos afirmar que, nas fontes

pesquisadas, três grandes grupos de sujeitos aparecem associados à palavra analfabeto. O

primeiro deles é formado por indivíduos que são, naquele momento, réus em algum processo

criminal. Em uma matéria já referida em outro momento deste trabalho, publicada no Diário

do Rio de Janeiro37, o deputado Gomes de Menezes faz uma associação entre o crime, o

sujeito analfabeto e as classes “miseráveis” 38, como se pode observar no trecho a seguir:

Em geral os criminosos que se apresentão perante os tribunaos da provincia são, como disse, das classes miseráveis: quando apparece algum homem mais saliente é por causa de questões de terras, sobre questão de posse e domínio de terrenos. Ahi achar-se –há e, verdades crimes classificados contra a propriedade, as indevidamente, porque muitos são factos civeis que perante os tribunnaes civis deverião ser elucidados. (p.2).

Essa associação se torna ainda mais forte em outro momento de sua fala, quando

vincula os acusados de cometer crimes aos analfabetos, aos homens de pouca instrução e aos

que não têm moralidade:

O mesmo nobre presidente da provincia concorda com todas estas minhas reflexões, elle mesmo aponta algumas das rasões porque apparecem estes crimes; nota que a mór parte dos réos são homens analfabetos, homens sem maior educação, homens sem moralidade. (p.2).

Como possível solução para o problema, o deputado sugere a melhoria da educação

primária da província, ao lado da educação religiosa39.

O segundo grupo de sujeitos que aparece nas fontes pesquisadas associado à palavra

analfabeto é formado por políticos e/ou ocupantes de cargos públicos. Entre as 21 referências

ao termo encontradas nos periódicos pesquisados, 13 são direcionadas a esses sujeitos. Das

13 referências, três são destinadas a deputados, duas ao Presidente e Vice-Presidente de

províncias, três a promotores, e uma a cada um dos indivíduos que ocupavam os seguintes

cargos: Juiz, Secretário do Tesouro Provincial, Ministro da Fazenda, Administrador Geral dos

Correios, Delegado de Instrução Pública e Tenente Coronel de Engenheiros.

37 Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, segunda-feira, 26 de março de 1849, anno XXVIII, n.8031. 38 A associação entre analfabetismo e criminalidade era comum, no século XIX, também em outros países, como

mostram os estudos de Harvey Graff sobre o Canadá. Ver, entre outros, Graff (1994). 39 Os estudos de Graff (1994) também mostram que a educação era vista, se não como cura, como prevenção para

o problema da criminalidade. Segundo o autor, nas formulações elaboradas por promotores escolares canadenses, em meados do século XIX, “a ignorância e o crime estavam associados não somente um ao outro, mas também ao analfabetismo, um signo visível e mensurável da falta de escolarização” (p.238).

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Como já citado anteriormente, a associação do termo analfabeto a esse grupo

específico reveste-se de uma natureza comportamental e moral. A primeira ocorrência do

termo nessas condições aparece no jornal O Sete d’Abril40 publicado no Rio de Janeiro, dia 23

de maio de 1838. O termo é direcionado ao Deputado do Ceará, Manoel do Nascimento:

Quizéramos continuar na exposição e analyse de algumas outras censuras feitas ao Governo pelo Sr. Deputado do Ceará, se a este trabalho nos não forrára o discurso do Sr. Ministro do Imperio, que consignaremos em outro N.o, por nos parecer que nada lhe escapou dizer sobre os actos da Administração, censurados pelo analfabeto Manoel do Nascimento, e das razões que os legitimão as quaes talvez não podéssem sér bem comprehendidas pelo mesmo Sr. Manoel do Nascimento, em vista de reparo que fizérão os espectadores.

Esse fragmento é parte de uma transcrição da sessão de 17 de maio de 1838 da Câmara

dos Deputados presidida pelo então Sr. Araujo Vianna. É possível perceber que o emissor

condena uma ação de censura do Deputado Manoel do Nascimento que aparentemente é da

oposição, e o chama de analfabeto, embora ele tenha ocupado, ao longo de sua carreira

pública, diversas funções que exigiam proximidade com a cultura escrita, como a de tabelião,

escrivão, promotor, ministro (STUDART, 1910).

Em uma segunda matéria do jornal Diario do Rio de Janeiro41, datada em 13 de agosto

de 1841, a referência ao termo analfabeto foi destinada ao Presidente da Província do Piauí, o

Visconde de Parnahiba, como se pode observar no trecho a seguir:

Será mais uma pagina negra em nossos faustos aquella que descrever a dictadura, que por mais de 17 annos exerceu n’um paiz, que se diz livre e constitucional; nossos netos não lerão sem justo horror, que um homem analphabeto tivesse podido manter-se no governo de uma provincia, no Brasil, no seculo 19 por tanto tempo!

Publicada na sessão correspondência, a crítica é assinada pelos “Muitos amigos da

humanidade”. O autor espera que, ao mostrar a incapacidade do Presidente da Província para

o cargo, a sua correspondência seja um fator importante para que ele seja demitido. Em outro

fragmento da mesma matéria, podemos perceber a relação que o sujeito emissor faz entre o

termo analfabeto e a expressão ignorância:

Si o actual presidente de Piauhy nenhum direito tem nem teve a este cargo, já por sua nimia ignorancia dos principios mal, comesinhos do systema que nos rega, e já por sua tendencia manifestada para o absolutismo, não sabemos atinar com as rasões por que tantos ministerios o hae conservado em despeito das mais justas queixas que se ha feito, a não explicar-se este

40 O Sete d’Abril Rio de Janeiro, quarta-feira, 23 de maio de 1838, número 562. 41 Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1841, anno XX, edição 179, p.2.

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facto pelas palavras do protegido, que se a quem o queira ouvir, haver-lhe custado bons mil crusados a sua conservação...

Quando associado ao juiz suplente municipal Antonio José Pereira, no jornal A

Tribuna42, publicado em abril de 1845, o termo analfabeto é usado, pelo emissor, para

criticar a forma como administra a justiça na capital da província de Pernambuco.

A administração da justiça na capital da província de Pernambuco está em boas mãos! O Antonio José Pereira, que é juiz municipal suplente, e obediente à seus amos, como forão seus antepassados. Está processando e perseguindo! Foi grande o Rego de Barros nas suas nomeações: que optimo juiz municipal é esse analfabeto! E’ extenso o circulo do barão da Boa-Vista.

O emissor enfatiza que o juiz Antonio Jose Pereira é analfabeto também em

decorrência de sua postura obediente, citando seus antepassados para ilustrar o argumento.

Em outra matéria, que faz parte da sessão de correspondência do jornal O

Observador43, de 13 de outubro de 1848, o sujeito intitulado como analfabeto era Sr. Pedro

de Moura, promotor, genro do juiz Sr. Manoel Joaquim de Moura Britto chamado de intruso

por Leocadio da Costa Nunes, correspondente do jornal. Tudo indica que o emissor

igualmente utiliza o termo analfabeto para injuriar o promotor.

Em mais um trecho transcrito, conseguimos perceber a associação do termo analfabeto

com outro promotor. A matéria do jornal Correio Maranhense44, de 6 de junho de 1848, cita

duas vezes a palavra: a primeira destinada ao promotor público Pedro Nunes Lial.

Figura em primeiro lugar no meio desses imensos favores, a Promotoria Publica da Capital. Ora o desgraçado ex-presidente nem devia tocar n’isto. A promotoria publica da Capital estava nas mãos do Analfabeto Sr. Pedro Nunes Lial, que he um dos parasitas que rodeavão a Presidência do Sr. Granco de Sá, e porque este ilustrado Bacharel não queria continuar a darse em espectaculo ao povo desta Capital quando tinha de sustentar em publico os deveres de seo cargo, vio-se o Sr. Joaquim Franco obrigado a retira-lo desse lugar de martyrio, para que não continuasse a estar exposto as risatas dos circuntantes um dos ricos florões da Administração- Sá, que assim tanto se esmerou na escolha dessa illustração.

Na edição 427 do jornal Correio da Tarde45, da cidade do Rio de Janeiro, uma matéria

destina-se a transcrever algo que já havia sido publicado em um dos jornais da província de

Minas Gerais. Na matéria em questão o indivíduo chamado de analfabeto é Manuel

Felizardo, tenente coronel de engenheiros e lente46. A palavra analfabeto é, assim, destinada

42 A Tribuna, Rio de Janeiro, sexta-feira, 25 de Abril de 1845, edição 12, página 4. 43 O Observador, Maranhão, sexta-feira, 13 de outubro de 1848, anno II, n.69, p.2. 44 Correio Maranhense, Maranhão, terça-feira, 6 de junho de 1848, volume 2, n.99, p.1. 45 Correio da Tarde, Rio de Janeiro, quarta-feira, 27 de junho de 1849, edição 427, p.2. 46 Lente significava: “leitor, professor, cathedratico. O que lè para outrem ouvir. (MORAES SILVA, 1813b, p.15).

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a um professor e ocupante de cargo público, que se supõe portador da habilidade da leitura e

da escrita.

No terceiro e último grupo, encontramos cinco ocorrências, entre as 21 analisadas.

Nelas, o termo analfabeto se dirige a diferentes tipos de indivíduos e a um objeto.

Diferentemente dos dois grupos anteriores, esses sujeitos não são réus, políticos e, pelo

menos aparentemente, não possuem cargos públicos. Nesses casos, o termo é associado a um

periódico, a um bibliotecário, a um diretor de um liceu, a uma testadora e a um indivíduo

sobre o qual não foi possível obter dados mais precisos.

No fragmento retirado do periódico Aurora Fluminense47, transcrito a seguir, podemos

observar, como já nos referimos em outro momento deste trabalho, que um jornal foi

chamado de analfabeto.

Accorde o Governo com estes gritos do Papeleta! Accorde; que a sua brandura excessiva lhe tem chamado o desprezo, as injurias dos inimigos que poupa. Ignorante, louco, analphabeto, prepotente, scelerado denomina-o este jornal alienigena que se atreve a afrontar-nos em nossa caza. Mostre o Governo huma vez que he Brazileiro! Para socego do paiz, e mesmo para segurança dos forasteiros bons, e pacíficos que aqui se achão, estenda a hum punhado de atrevidos e de vadios a medida de que lançou mão.

Em outro jornal, Diario do Rio de Janeiro48, encontramos em uma sessão nomeada de

“Notas Particulares”, um manifesto contra Coruja, diretor e professor do Liceu de Minerva.

Aparentemente, em um primeiro momento, havia sido publicada em outra edição do mesmo

jornal, uma matéria na qual era discutida a situação da instrução pública no Rio de Janeiro.

Coruja, não satisfeito, respondeu ao jornal e, em decorrência de sua resposta, o emissor não

identificado refutou:

Sr.Redactor.- Consta-nos que o Sr.A.A.P. Coruja, director do Lyceo de Minerva atribue á, segundo elle, virulencia do nosso communicado sobre a instrução publica, na parte que lhe é relativa, o descredito em que vae cahindo a sua casa. E' preciso ser muito miope ou muito velhaco para querer ainda imputar a outrem o mal que se soffre em conscequencia de incapacidade; e cumpra-nos restabelecer a verdade. Fal-o-hemos com factos que provaremos se o exigirem, pois tencionado agora esclarecer o publico sobre aquella casa de instrução, é nosso dever tocar n'aquillo em que não tocaremos senão vissemos a pertinencia do Sr. Coruja.

O sujeito chamado de analfabeto é o próprio Coruja que, segundo estudos recentes,

“destacou-se como proprietário do Colégio ou Liceu Minerva, em 1841, situado na rua da

47 Aurora Fluminense, Rio de Janeiro, sexta-feira, 8 de novembro de 1833, edição 838, p.3578. 48 Diario do Rio de Janeiro, sexta-feira, 17 de dezembro de 1842, anno XXI, edição 281, p.3.

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Quitanda, com internato e externato” (BASTOS, 2006, p.167). O emissor não identificado

associa a ruína do Liceu de Minerva à incapacidade de administração do Coruja:

Sabe-se que só os que querem é que vao á missa e a collegios tem até oratorios em casa e buscão insinuar no animo da mocidade os sublimes principios do culto de nossos paes. Sabe-se que o Sr. Coruja apparenta ou tem realmente muita má vontade para o ensino, o que faz com que nenhum professor da casa nossa tomar a peito sua prosperidade. Tudo isto não seria bastante para desacreditar um collegio regido mesmo por pessoa habilissima quanto mais pelo Sr. Coruja que é perfeitamente analphabeto?!

A análise das fontes revela que, no período estudado, havia uma associação do termo

analfabeto a pessoas instruídas e que ocupavam cargos na elite imperial. Nesses casos, fica

nítido que o intuito do emissor é hostilizar os sujeitos e não classificá-los quanto à capacidade

de leitura e de escrita. Quando a palavra é associada, por outro lado, aos réus e à testadora, o

significado se aproxima daquele que constava nos dicionários do período e se referia

diretamente à ausência das habilidades de leitura e de escrita.

Considerações finais

A diversidade de usos do termo analfabeto, encontrada nas fontes analisadas, mostra que

havia, no período, uma certa disputa em torno dos seus significados. Por um lado, a

expressão encontrava-se associada à definição dos dicionários da época – ignorante até das

letras do A, B, C –, pois caracterizava aquele que não sabia ler nem escrever, ou lia e escrevia

com dificuldade, ou não era capaz de falar segundo as normas padrões da língua portuguesa.

Definia também aquele que não tinha muitos conhecimentos e revelava-se incapaz de ocupar

certas posições sociais. Por outro lado, o vocábulo muitas vezes era utilizado de modo vago e

impreciso, constituindo uma forma de insultar os sujeitos – ou objetos – assim nomeados e

de deslegitimar as suas opiniões. É interessante observar que, com algumas exceções, a

palavra já era utilizada em sentido pejorativo e ser nomeado de analfabeto poderia provocar

“nojo” ou vergonha.

A análise dos sujeitos a quem a palavra era endereçada revela essa disputa em torno

dos significados e da instabilidade que ainda tinha o termo, pois a maior parte dos nomeados

como analfabetos sabiam ler e escrever e ocupavam importantes cargos públicos na

sociedade imperial. Nomear essas pessoas de analfabetas era um modo de detratá-las

publicamente por sua (suposta) incompetência ou imoralidade. Ainda não se observava, com

raras exceções, a vinculação do analfabeto aos pobres, aos negros, às mulheres ou aos

indivíduos de origem rural, como ocorreria posteriormente.

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A pesquisa, que ainda se encontra em andamento, tem contribuído, desse modo, para

compreender por meio de que mecanismos de linguagem foi sendo construído o lugar de

inferioridade que, ainda na contemporaneidade, persiste quando se utiliza a palavra

analfabeto.

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