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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO ACADÊMICO EM PSICOLOGIA
A PSICOLOGIA JUNTO AO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:
UM ESTUDO HISTÓRICO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Andresa Petter Machado
Santa Maria, RS, Brasil
2013
A PSICOLOGIA JUNTO AO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:
UM ESTUDO HISTÓRICO
Andresa Petter Machado
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia, Área de Concentração em Psicologia da Saúde,
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Psicologia.
Orientadora: Profª. Dra. Beatriz Teixeira Weber
Santa Maria, RS, Brasil
2013
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
A PSICOLOGIA JUNTO AO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:
UM ESTUDO HISTÓRICO
elaborada por
Andresa Petter Machado
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Psicologia
COMISSÃO EXAMINADORA:
___________________________________
Beatriz Teixeira Weber, Dr.ª (Presidente/Orientadora)
_________________________________________ Alberto Manuel Quintana, Dr. (UFSM)
_________________________________________
Nikelen Acosta Witter, Dr.ª
Santa Maria, 25 de outubro de 2013.
Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo
o impossível.
(São Francisco de Assis)
Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.
(Rubem Alves)
Agradecimentos
À Universidade Federal de Santa Maria, em especial aos docentes do Programa de
Pós-graduação em Psicologia, pelos conhecimentos repassados e oportunidade de
desenvolvimento profissional no transcorrer deste percurso.
À Profa. Beatriz Teixeira Weber, pelo acolhimento, carinho, paciência, confiança e
suporte necessário para a realização deste trabalho;
À banca examinadora, pelas contribuições realizadas.
Ao Hospital Universitário de Santa Maria, por consentir o desenvolvimento da
pesquisa. E a equipe e colegas de trabalho, pelo apoio e compreensão que me foram
dispensados!
Aos depoentes, por compartilharem as suas experiências e trajetórias profissionais.
Muito obrigada! A colaboração de vocês foi fundamental para a realização deste estudo.
A todos os profissionais que me orientaram e auxiliaram nesta trajetória, em especial,
quanto à busca documental junto ao Arquivo Permanente do HUSM, ao Departamento de
Arquivo Geral e à Biblioteca Central da UFSM.
Aos colegas de mestrado, pela amizade, parceria, trocas de conhecimento e de
vivências. Compartilhar desta trajetória com vocês foi extremamente importante e muito
gratificante. Obrigada pelo carinho, acolhida e momentos de descontração! Em especial,
agradeço as colegas Daniela Trevisan Monteiro e Martha Noal pela, confiança e empréstimo
de materiais.
À Viviane Ziebell de Oliveira e à Leodi Conceição Meireles Ortiz pelo carinho, apoio
e incentivo para o ingresso no mestrado.
À Rosimara Pozada de Freitas, por tudo que me possibilitou conhecer, compreender e
desenvolver.
Às amigas Juciane Pavi, Magda Poerschke, Eveline Fávero e Marilena Petter, pela
amizade, carinho, apoio, momentos de descontração, trocas de experiências e pela
compreensão das minhas ausências...
À minha família, em especial, aos meus pais e irmãos, pelo carinho, apoio, paciência,
compreensão e incentivo na busca dos meus objetivos e da minha realização pessoal e
profissional. Muito obrigada!
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Universidade Federal de Santa Maria
A PSICOLOGIA JUNTO AO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA
MARIA: UM ESTUDO HISTÓRICO
Autora: Andresa Petter Machado
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber
Local e Data da Defesa: Santa Maria, 25 de outubro de 2013.
A escassez de estudos sobre a inserção de psicólogos em hospitais gerais é assinalada
pela literatura. A semelhança de outras instituições, o Hospital Universitário de Santa Maria
(HUSM) igualmente evidencia esta carência, revelando a necessidade do desenvolvimento de
pesquisas de natureza histórico-social. Este estudo teve o objetivo de resgatar e documentar a
história das atividades desenvolvidas pela Psicologia no HUSM. Ainda, se propôs a
contextualizar e reunir elementos que pudessem promover a compreensão dos serviços
psicológicos oferecidos, e a análise de sua expansão, no período de 1970 a 2012. Uma
pesquisa qualitativa, de natureza histórico-social foi realizada. Foram coletados depoimentos
orais de onze psicólogos que trabalharam na referida instituição em diferentes momentos do
período considerado. Paralelamente, também foram consultadas bibliografias relativas à
temática e documentos. Através deste estudo buscou-se: contribuir para o registro,
conhecimento e compreensão dos exercícios profissionais em psicologia; preservar a memória
de pessoas e da instituição e fornecer subsídios para a discussão e reflexão da origem de
nossas práticas, colaborando, assim, para avaliações e futuras implementações.
Palavras-chave: Psicologia; Hospital; História oral.
ABSTRACT
Master Degree Essay
Psychology Post Graduation Program
Federal University of Santa Maria
PSYCHOLOGY IN THE UNIVERSITY HOSPITAL OF SANTA MARIA:
A HISTORICAL STUDY Author: Andresa Petter Machado
Advisor: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber
Presentation place and date: Santa Maria, October 25th, 2013.
The lack of studies about the introduction of psychologists in general hospitals is
marked by the literature. Like other institutions, the University Hospital of Santa Maria
(HUSM) also presents this need, revealing the necessity of developing a social-historical
research. This study has the goal of recovering and documenting the history of the activities
developed by Psychology in HUSM. Yet, the proposal is to contextualize and bring together
elements to promote the comprehension of the psychological services offered and analyze its
expansion, during 1970 to 2012. A qualitative social-historical research was realized. Oral
statements were collected from eleven psychologists who worked in this institution in
different moments of the study period. At the same time, biographies related to the subject
and documents were also consulted. The intent of this study is to contribute for the register,
knowledge and comprehension of the psychology professional activity, to preserve the
memory of people and institution and to provide subsidies for the discussion and reflection
about the origin of our practical, collaborating, in this way, for evaluations and future
implementations.
Key-words: Psychology; Hospital; Oral history.
LISTA DE SIGLAS
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ASPES – Associação Santa-mariense Pró-Ensino Superior
CCS – Centro de Ciências da Saúde
CE – Centro de Educação
CIHCOT – Comissão Intra-Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CCSM – Centro Comunitário de Saúde Mental
CNDO - Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos
CRH – Coordenação de Recursos Humanos
CTCRIAC – Centro de Tratamento da Criança e Adolescente com Câncer
CTMO – Centro de Transplante de Medula Óssea
DAG – Departamento de Arquivo Geral / UFSM
DAH – Departamento de Administração Hospitalar
EBESERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
FATEC - Fundação de Apoio à Tecnologia e a Ciência
FIDEPS - Fundo de Incentivo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa em Saúde
HCAA – Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HU – Hospital Universitário
HUSP – Hospital Psiquiátrico
HUSC – Hospital Universitário Setor Centro
HUSM- Hospital Universitário de Santa Maria
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
LTS – Licença Tratamento Saúde
NOPEM – Núcleo de Orientação Psicopedagógica ao Estudante de Medicina
PUC – Pontifícia Universidade Católica
P. S. – Pronto Socorro
SDI – Serviço de Doenças Infecciosas
SERDEQUIM – Serviço de Recuperação de Dependentes Químicos
SHO – Serviço de Hemato-oncologia
SOA – Serviço de Orientação e Acompanhamento
SSST – Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
REHUF - Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais
UCPEL – Universidade Católica de Pelotas
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UPA – Universidade de Porto Alegre
UTI – Ad – Unidade de Tratamento Intensivo Adulto
UTI – NEO – Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal
UTI-PED – Unidade de Tratamento Intensivo Pediátrica
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Apêndice B – Roteiro de Entrevista
Apêndice C – Diretorias Executivas do HUSM
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 130
MÉTODO ................................................................................................................... 16
Algumas informações sobre a História Oral .............................................................. 16
Participantes ................................................................................................................. 19
Procedimentos ............................................................................................................... 20
Análise dos dados .......................................................................................................... 22
Apresentação dos dados ............................................................................................... 23
Considerações Éticas .................................................................................................... 23
Riscos e benefícios ......................................................................................................... 24
O HUSM ENQUANTO CENÁRIO HISTÓRICO ...................................... 25
O nascimento da Universidade Federal de Santa Maria .......................................... 25
O hospital de ensino da UFSM .................................................................................... 28
A PSICOLOGIA: O SURGIMENTO, OS PERSONAGENS E AS
PRÁTICAS. ............................................................................................................... 45
O início ........................................................................................................................... 46
Do Sistema Hospitalar ao hospital unificado: a inserção dos psicólogos................. 52
Sobre (não) estruturar o serviço no hospital .............................................................. 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 84
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 87
APÊNDICES ............................................................................................................. 95
Apêndice A .................................................................................................................... 96
Apêndice B .................................................................................................................... 98
Apêndice C .................................................................................................................. 100
INTRODUÇÃO
Inicialmente, os contatos entre Psicologia e Medicina ocorreram quase que na
totalidade entre psicólogos clínicos e psiquiatras, limitados às funções psicodiagnósticas.
Posteriormente, e embora ainda relacionados ao psicodiagnóstico, os encaminhamentos
também passaram a ser feitos por profissionais de outras especialidades, tais como a pediatria,
neurologia, obstetrícia e a endocrinologia. No entanto, com a ampliação do papel do
psicólogo para além das funções diagnósticas, e consequente extensão dos contatos, a
Psicologia passou a ser desenvolvida também nos hospitais, de tal modo que o psicólogo foi
inserido nos quadros funcionais dessas instituições. E, nesse sentido, a inserção do psicólogo
se deu primeiramente nos hospitais psiquiátricos e, depois, nos hospitais gerais. Assim, a
primeira referência que se teve do psicólogo em uma equipe multiprofissional e no ambiente
hospitalar ocorreu no Hospital McLean, uma instituição psiquiátrica, fundada em 1818, em
Massachusetts, nos Estados Unidos (ROMANO, 2001).
Embora uma grande maioria dos estudos considere o trabalho da psicologia em
hospitais como sendo algo recente, no Brasil, a história da psicologia assemelha-se às
tendências acentuadas no exterior. A literatura (ANGERAMI-CAMON, 1992; ROMANO,
2001, NEDER, 2003; SILVA, 2006) sinaliza que as primeiras atividades psicológicas
desenvolvidas em hospitais aconteceram na década de 1950. Cronologicamente, as primeiras
inserções ocorreram em hospitais psiquiátricos de Porto Alegre e Rio de Janeiro e, em
hospital geral (nas clínicas de pediatria e reabilitação) em São Paulo (ROMANO, 2001).
Tais aspectos vão ao encontro daqueles apontados por Silva (2006), de que os
primeiros registros de psicólogos atuando nessa instituição datam de 1954, ou seja, são
anteriores à regulamentação da própria profissão no país. Segundo Silva, Tonetto & Gomes
(2006): “até então, os profissionais que exerciam atividades de caráter psicológico eram
formados em outras áreas das ciências humanas, tais como pedagogia, filosofia ou ciências
sociais”. No entanto, esses profissionais costumavam recorrer aos cursos de especialização,
realizar estágios na área ou mesmo fazer uma formação em outros países como o propósito de
complementar a formação em Psicologia.
Sobre o desenvolvimento de atividades psicológicas em hospitais gerais, ressalta-se
que, já na década de 50, Matilde Neder iniciava atividades de atendimento preparatório
durante o processamento cirúrgico e na pós-cirurgia junto ao Instituto de Ortopedia e
11
traumatologia do Hospital das Clínicas em São Paulo (NEDER, 2003). No entanto, foi
somente em 1983, novamente em São Paulo, que ocorreu o I Encontro de Psicólogos da Área
Hospitalar, movimento considerado o marco histórico, ao agregar profissionais da área.
Desde então, o trabalho de psicologia clínica em hospitais tem crescido intensamente.
Muitas mudanças ocorreram neste cenário nos últimos 30 anos. Uma delas é que desde o ano
de 2000 a área foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho Federal de Psicologia.
Outro avanço importante remete a fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar
(SBPH), em 1997, que tem contribuído para o fortalecimento da atuação do psicólogo na área.
O objetivo da SBPH consiste em “ampliar o campo de conhecimento científico e promover
cada vez mais o profissional que se dedica a esse campo” (ISMAEL, 2005, p. 20). A crescente
procura de estágios em hospitais durante a graduação, a realização de eventos, congressos,
jornadas, publicações, realização de inúmeras pesquisas são alguns elementos que evidenciam
esta realidade.
Frente a esse cenário, faz-se imprescindível resgatar a história percorrida pela
Psicologia em hospitais, o seu surgimento, os seus personagens e as suas práticas. Existem
alguns trabalhos que dão conta desse histórico focalizando, porém, as atividades executadas
no centro do país – mais especificamente em São Paulo – local por onde a prática psicológica
começou a se inserir nos hospitais gerais do Brasil (SILVA, 2006).
A entrada do psicólogo no ambiente hospitalar tem sido foco de muitos estudos
(TONETTO; GOMES, 2005; CASTRO; BORNHOLDT, 2004; FOSSI; GUARESCHI, 2004;
GORAYEB, 2004, MARCON, LUNA; LISBOA, 2004). Os estudos também têm investigado
as exigências e particularidades da prática do psicólogo nesse contexto (TONETTO; GOMES,
2005; TONETTO; GOMES, 2007a; TONETTO; GOMES, 2007b). Alguns estudos retratam a
história da inserção dos psicólogos nos hospitais gerais (NEDER, 2003; PEREIRA, 2003;
SILVA, 2006), mas, de modo geral, a literatura brasileira ainda evidencia uma carência de
registros nesse aspecto.
O trabalho realizado por Romano (1999) aproxima-se da questão do histórico das
atividades desenvolvidas pela psicologia em hospitais gerais. A autora fez uma revisão sobre
o trabalho do psicólogo em hospitais brasileiros de 1987 a 1997, apontando para o seu
avanço, mas também para aspectos a serem implantados e outros, revistos, nestas práticas. No
Rio de Janeiro, através de um resgate histórico, Pereira (2003) igualmente buscou
compreender a inserção do psicólogo em hospital geral, ao estudar o caso do Hospital
Servidores do Estado.
12
A partir dos trabalhos pesquisados, o que se percebe é que, inicialmente, a entrada dos
psicólogos em hospitais gerais ocorreu de modo isolado, cada profissional atuando em
unidades específicas. Em meados da década de 1980, a literatura se referia aos esforços de
psicólogos na criação de serviços de psicologia em hospitais (ANGERAMI, 1983;
CARVALHO, 1986, citados por SILVA, 2006). A essa altura, observa-se a inclusão gradativa
do psicólogo em equipes de saúde. Até então a colaboração desses profissionais ocorria de
maneira esporádica e não sistemática. Um estudo realizado por Romano, em 1987, observou
que naquela época, a maioria dos psicólogos hospitalares estava concentrada nos estados de
São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais (ROMANO, 1999; ISMAEL, 2005).
Com relação à terminologia “Psicologia Hospitalar”, é importante ressaltar a mesma
tem sido utilizada para fazer referência ao trabalho dos psicólogos em hospitais gerais no
Brasil, desconhecendo-se o uso desta nomenclatura em outros países. Além disso, versa em
uma especialidade exclusivamente brasileira (CASTRO; BORNHOLDT, 2004) e em uma das
áreas de atuação do psicólogo cujo interesse parece ter aumentado significativamente nos
últimos anos (SILVA, 2006).
De acordo com Marin (2003), a Psicologia Hospitalar consiste no conjunto de
contribuições científicas, educacionais e profissionais das diversas áreas da Psicologia para
melhor assistir aos pacientes no âmbito do hospital. Além disso, o autor expressa que o
psicólogo hospitalar consiste naquele profissional que articula estes conhecimentos e técnicas
para uma sistemática e coordenada implementação e melhoria na assistência ao paciente, não
se limitando ao período de internação. Segundo ele, a ação do psicólogo deve seguir a
perspectiva do novo conceito integral de saúde. Portanto, devem ser considerados os aspectos
fisiológicos, psicológicos, sociais e os fatores ambientais e relacionais que contribuem para a
melhor qualidade de vida possível ao paciente, durante o processo de adoecimento, tratamento
e recuperação da saúde.
Sobre a função do psicólogo no hospital, Simonetti (2004), afirma que o papel deste
profissional consiste em “reposicionar o sujeito em relação a sua doença” (p. 20), acionando
um “processo de elaboração simbólica do adoecimento” (p. 19). Nesta perspectiva, Ismael
(2005) ressalta que a Psicologia é a ciência que se ocupa da análise, predição e alteração de
fatores que comprometem o comportamento e que, na área da saúde, visa à promoção e
conservação do bem estar físico e emocional, a prevenção e o tratamento de doenças, e a
identificação de correspondentes etiológicos e diagnósticos em saúde mental. O âmbito
hospitalar consiste em uma das possibilidades de intervenção do psicólogo da saúde.
13
O psicólogo hospitalar também pode ser considerado como sendo aquele que exerce o
seu trabalho como um clínico, a beira do leito e diretamente voltado para o enfermo
(ROMANO, 1999). Embora o trabalho seja direcionado ao doente, o familiar/acompanhante
do paciente hospitalizado bem como os demais integrantes da equipe de saúde igualmente são
beneficiados pelos serviços psicológicos prestados (OLIVEIRA; SOMMERMAM, 2008;
ISMAEL, 2005; ROMANO, 1999). Ainda, alguns autores (MARIN, 2003; ROMANO, 1999)
afirmam que, no âmbito hospitalar, muitas vezes a atuação do psicólogo é considerada
somente em termos assistenciais. Contudo, eles chamam a atenção para que o psicólogo
também desenvolva atividades de ensino e pesquisa, já que estas igualmente fazem parte dos
objetivos e consistem nas tarefas de muitos hospitais. Qualquer outra forma de inserção do
psicólogo, que não esteja inteiramente direcionada para o paciente e o seu curso de adoecer,
será do “psicólogo em hospital” (ROMANO, 1999, p. 25). Ou seja, a situação, por exemplo,
de psicólogos que trabalham nos Recursos Humanos de um hospital. Neste caso, segundo a
autora, a formação destes profissionais deve ser em Psicologia Organizacional.
Para o desenvolvimento de seu trabalho no hospital, a autora supracitada ressalta a
importância do psicólogo em desenvolver as atividades assistenciais por meio de programas.
Para tanto, faz-se necessário definir os objetivos, os métodos, os instrumentos e os resultados
assistenciais a serem atingidos. Neste sentido, a partir de uma revisão de literatura, Murta,
Laros & Tróccoli (2005) esclarecem que programa consiste em uma intervenção sistemática,
voltada para um amplo grupo de pessoas. O seu objetivo versa em gerar mudanças sociais,
educacionais ou em saúde. Assim, desenvolver as suas atividades por meio de programas
assistenciais revela-se, conforme expressam Besteiro & Barreto (2003) em um meio do
psicólogo e serviço de psicologia em cumprir as suas funções quanto ao cuidado psicológico
junto aos pacientes do hospital.
No que remete aos trabalhos desenvolvidos por psicólogos, nos hospitais gerais do Rio
Grande do Sul pode-se dizer que algumas publicações dão conta de ilustrar estas práticas.
Entre elas, Peruffo e Sant’Anna (1989) descreveram suas experiências na estruturação do
Serviço de Psicologia do Grupo Hospitalar Conceição, situado em Porto Alegre.
Posteriormente, Silva (2006), em sua dissertação, estudou a história da constituição do
Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, igualmente situado na capital
gaúcha. Recentemente, Machado (2009) também se ocupou em resgatar e compreender a
trajetória da Psicologia junto a um programa, deste mesmo hospital, voltado para assistência
de um grupo de pacientes portadores de fibrose cística. No entanto, a escassez de registros
14
históricos sobre a inserção do psicólogo em hospitais gerais no estado revela a necessidade do
desenvolvimento de pesquisas de natureza histórico-social.
Conhecer a história percorrida pela Psicologia em hospitais consiste em uma forma de
entender o movimento da área (Psicologia Hospitalar) no Brasil. E, de acordo com Pereira
(2003), o reconhecimento do psicólogo junto à equipe de saúde perpassa pelo conhecimento
histórico desse campo de atuação. No entanto, não há como conhecer a inserção e trajetória da
Psicologia junto ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) sem perpassar pela
história do próprio hospital e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Atualmente, o HUSM consiste em uma referência em saúde para a região central do
estado. A semelhança dos demais hospitais do Rio Grande do Sul, a instituição igualmente
evidencia escassez de registros acerca dos serviços psicológicos oferecidos. Diante disso e das
referências supracitadas, o presente trabalho teve a intenção de conhecer e analisar a inserção
dos psicólogos (as) no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a trajetória por eles
percorrida na instituição, bem como reconstruir e documentar a história das atividades
assistenciais desenvolvidas pela Psicologia junto ao Hospital Universitário de Santa Maria
(HUSM). Ainda, visou reunir elementos que promovessem a compreensão acerca dos serviços
psicológicos existentes e a análise de sua expansão.
O interesse pela temática em questão surgiu a partir de algumas vivências profissionais
da pesquisadora. O primeiro contato com a área ocorreu durante o estágio da graduação,
realizado no Hospital Casa de Saúde, instituição em que não havia um psicólogo inserido.
Posteriormente, durante a formação em Psicologia Hospitalar, e a partir do estágio curricular,
realizado no Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), surgiu o
desejo de conhecer e compreender o processo de inserção do psicólogo em hospitais gerais.
Recentemente, o desenvolvimento das atividades profissionais da pesquisadora junto ao
HUSM, há cerca de cinco anos, evidenciou tal necessidade, intensificando a importância de
aprofundar o conhecimento da temática, por meio deste estudo.
O desenvolvimento de um estudo histórico sobre as origens do campo de atuação da
Psicologia Hospitalar se faz relevante à medida que fornece alguns elementos para a
compreensão de aspectos que se fazem presentes, sejam conflitos, sejam em determinar ou
proteger o espaço de atuação (PEREIRA, 2005).
Conforme Gauer e Gomes (2002), os estudos historiográficos contribuem para o
presente, à medida que convidam à reflexão ética sobre as ações e omissões frente à
administração de entidades e instituições relacionadas ao ensino, à pesquisa, ao fomento e a
prática profissional em Psicologia.
15
Nesse sentido, a função primordial do estudo historiográfico é prover dados para
discussão e reflexão da origem de nossas práticas e posições teóricas, contribuindo para
avaliações e futuras implementações. Além disso, serve como um estímulo à preservação da
memória de pessoas e instituições e ao estudo histórico de outras unidades de análise que
poderão oferecer subsídios para comparações e para que se esboce, por exemplo, um perfil de
desenvolvimento da psicologia no estado (GAUER, 2001).
Através do desenvolvimento deste trabalho, esperou-se reconstruir e documentar a
história da prática da psicologia junto ao HUSM, bem como reunir informações que
possibilitassem subsidiar a análise da expansão e/ou compreensão dos serviços psicológicos
oferecidos. Ainda, considerando que o HUSM incide em uma referência em saúde para a
região centro do Rio Grande do Sul (RS), acredita-se que a realização deste estudo contribui
para o registro, análise, compreensão e o desenvolvimento das práticas psicológicas em
hospitais gerais no interior do Rio Grande do Sul.
O texto apresentado a seguir está dividido em três capítulos. O primeiro deles introduz
o método adotado para o desenvolvimento do estudo, a História Oral. O segundo capítulo
versa sobre a história da instituição Universidade Federal de Santa Maria, sendo observado
um planejamento acerca da universidade e do próprio hospital universitário. Contudo, com
relação a este último, identifica-se uma carência quanto à descrição e detalhamento dos
cargos, setores e serviços do futuro hospital de ensino, revelando o cenário em que a
psicologia estaria sendo inserida. Esta ausência de descrição e especificação das atividades e
setores se estende a Psicologia na medida em que não foram identificadas as expectativas e
motivos que teriam demandado a inserção de psicólogos no hospital. A partir dos
depoimentos e da pouca documentação passível de se ter acesso, o último capítulo apresenta a
trajetória dos psicólogos que atuaram no hospital universitário, delineando o percurso da
Psicologia na instituição. Por fim, são apresentadas algumas considerações sobre o tema.
MÉTODO
Este capítulo apresenta uma breve revisão bibliográfica acerca do método adotado
para a realização deste estudo. Posteriormente, descreve a trajetória metodológica percorrida,
os participantes do estudo e os procedimentos realizados, tanto na coleta quanto na análise dos
dados.
Algumas informações sobre a História Oral
Desde o início da civilização, os relatos orais representavam um valioso recurso para a
transmissão de informações acerca das experiências sociais ou mesmo de divulgação dos
conhecimentos obtidos. No entanto, a busca pela solidificação das ciências no mundo
contemporâneo tentou apagar a marca deixada pela tradição oral. Assim, uma vez que não se
apresentava através de documentos, esta não era considerada científica. Para a elaboração dos
trabalhos históricos, os documentos eram considerados imprescindíveis (JUCÁ, 2001).
O modelo de documento histórico eleito pela tradição historiográfica do século XIX
foi o testemunho escrito, neutro, considerado como sendo fidedigno. Sob este ponto de vista,
os depoimentos representariam um testemunho subjetivo, falível, de fidedignidade duvidosa
e, portanto, passariam a ser considerados como fonte secundária e de reduzido valor histórico.
Deste modo, pouca credulidade era dada aos depoimentos escritos, sendo que os depoimentos
orais eram praticamente ignorados (GOMES, SANTANA; 2010). Considerava-se que o
testemunho subjetivo comprometia a sonhada verdade histórica a ser atingida (JUCÁ, 2001).
A pesquisa em História e Ciências Sociais teve como referência o paradigma
estruturalista, sendo que este foi um dos entraves mais significativos para a expansão da
metodologia da história oral, uma vez que a perspectiva da época valorizava o estudo da
estrutura social em detrimento do cotidiano. Sendo assim, relatos pessoais, de histórias de
vida e biografias eram desqualificados, pois se considerava que as percepções e as intuições
dos participantes dos estudos não detinham relevância como dado para a análise (CASSAB;
RUSCHEINSKY, 2004).
17
Foi em 1948, nos Estados Unidos, que as primeiras experiências relativas à História
Oral foram registradas. Inicialmente, por meio de entrevistas realizadas com lideranças
políticas e, depois, envolvendo grandes empresários e representantes dos meios de
comunicação. Nesse sentido, o surgimento da História Oral contemporânea, nos Estados
Unidos, deu-se em decorrência da concentração de recursos não apenas nas universidades,
mas também em órgãos governamentais e dos meios de comunicação, que incentivavam o
desenvolvimento de análises sociais e históricas. Mas foi na década de sessenta que ocorreu o
despertar da História Oral, no momento em que os centros de estudos dedicados a ela se
alastraram e quando a American History Association, passaria a publicar a revista, em 1973
(JUCÁ, 2001).
No início dos anos setenta, a ampliação do interesse pela História Oral ganhou uma
nova extensão, chegando à Europa. Na Inglaterra, historiadores, antropólogos e sociólogos
dedicavam-se a uma inovação na história social, sendo a temática central, o cotidiano dos
trabalhadores, as suas condições de vida com algo mais além do trabalho. Na Alemanha, a
História Oral se voltava à memória de guerra, ou mesmo do movimento operário, sempre
visando dar espaço aos menos favorecidos. Na França, a História Oral passava a ser abordada
em algumas universidades que se dedicavam ao estudo da vida cotidiana e das manifestações
culturais. Na Itália, embora desde os anos cinquenta os intelectuais se dedicassem às
entrevistas como recurso para melhor compreender a história dos camponeses e operários, foi
especialmente na década de setenta que a História Oral amadureceu, durante a busca da
memória operária (JUCÁ, 2001).
Nos anos oitenta, a História Oral foi reconhecida no Congresso Internacional das
Ciências Históricas, vindo a ser prestigiada no meio acadêmico, em diferentes países. Além
disso, esta metodologia passou a ser divulgada através do International Journal of Oral
History (JUCÁ, 2001).
No Brasil, a atividade pioneira no uso da História Oral remete aos anos setenta,
quando o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil –
CPDOC – da Fundação Getúlio Vargas/ Rio de Janeiro, iniciou suas atividades de pesquisa na
área da História Política Contemporânea. Desde esse período, o CPDOC passou a ser núcleo
de referência dos interessados na nova metodologia empregada, apontada como detentora do
modelo e da experiência prática nas técnicas de elaboração de entrevistas, sendo estas
consideradas como novas fontes capazes de ampliar o universo das temáticas propostas
(JUCÁ, 2001). Porém, foi somente no começo dos anos noventa que ocorreu a expansão mais
18
significativa da História Oral. Segundo Amado & Ferreira (2002), a concepção da Associação
Brasileira de História Oral, em 1994, bem como a publicação de seu periódico instigaram a
discussão entre pesquisadores e simpatizantes da história oral em todo o país. Além disso,
desde então, importantes eventos, como os Encontros Nacionais e os Encontros Regionais de
História Oral tem sido realizados, ilustrando a recente produção na área.
De acordo com Alberti (2000), a História Oral incide em um método de pesquisa e de
constituição de fontes para o estudo da história contemporânea e que versa na realização de
entrevistas gravadas com atores e testemunhas do passado. Em um primeiro momento, a sua
aplicação se dava principalmente nos campos da sociologia e da antropologia e na
constituição de bancos de entrevistas. Atualmente, a História Oral é um método claramente
multidisciplinar, praticada por historiadores, antropólogos, sociólogos, folcloristas, cientistas
políticos, educadores e psicólogos, entre outros. Além disso, este método se presta a
interesses acadêmicos, pedagógicos, arquivísticos e terapêuticos. Existem diversas correntes e
modos de abordagem e possibilidades diferenciadas de objetos de estudo. No Brasil e no
mundo, os praticantes da história oral se encontram em congressos periódicos, publicam
artigos em revistas especializadas e reúnem-se em torno de associações.
A história oral consiste em um moderno recurso metodológico, utilizado para a
elaboração de documentos, arquivamento, e estudos relativos à experiência social de pessoas
e de grupos. Trata-se de um método que se presta ao estudo do tempo presente, ou seja, de
acontecimentos recentes. “Ela (a História Oral) é sempre uma história do tempo presente e
também reconhecida como história viva” (MEIHY, 2000, p. 25). Sendo assim, a história oral
tem sido utilizada para documentar a história de pequenas comunidades, permitindo a
manifestação de interpretações próprias, diversas e não oficiais de segmentos populacionais
menores, excluídos, silenciados ou desprezados (MEIHY, 2000; SILVA, 2006).
Outra contribuição do método da história oral é fornecer informações impossíveis de
serem adquiridas de outro modo (documentos escritos), embora não deva ser considerada
apenas como um recurso substitutivo para as carências de documentos. Embora possa
contribuir para preencher vazios documentais ou lacunas de informações, é válido destacar
que ela pode ser assumida como método – isoladamente – e basear-se na “análise das
narrativas para a observação de aspectos não revelados pela objetividade dos documentos
escritos” (MEIHY, 2000, p. 27).
A história oral implica o acesso a depoimentos de pessoas, os quais, por sua vez,
implicam em recordações. Uma das principais desvantagens deste método remete a não
confiabilidade da memória. No entanto, convicções pessoais, preconceitos, interesses,
19
envolvimento pessoal e emocional consistem em aspectos que perpassam por depoimentos e
que podem ser considerados na análise/compreensão dessa história (MEIHY, 2000), não
invalidando a realização do estudo.
Considerando que o método da história oral só se presta ao estudo e reconstrução de
temas recentes, este método implica o acesso a fontes testemunhais. Para tanto, é necessário
que os possíveis entrevistados estejam vivos e acessíveis, disponíveis, em condições físicas e
mentais. Desenvolver um estudo desta natureza recorrendo a fontes testemunhais consiste
num modo de se aproximar do objeto de estudo e de documentar uma versão do passado,
através da reconstrução da história conforme concebida por quem a vivenciou (ALBERTI,
1990).
Diante das referências supracitadas e visando alcançar o objetivo proposto para o
desenvolvimento deste estudo, foi adotado o método da História Oral, através da coleta de
depoimentos temáticos (ALBERTI, 1990; MEIHY, 2000).
O presente estudo consistiu no desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa, de cunho
descritivo-exploratório e histórico-social. O objetivo da pesquisa foi o de conhecer e analisar
a inserção dos psicólogos junto ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a
trajetória por eles percorrida na instituição.
Para a realização da pesquisa, o período demarcado compreendeu deste a fundação do
HUSM (1970) até a atualidade (2012), perpassando pela trajetória percorrida pelos
entrevistados na referida instituição.
Participantes
Para a realização deste estudo, foram ouvidos onze psicólogos (atualmente vinculados
ou não à instituição), que desenvolveram atividades assistenciais junto ao HUSM, em
diferentes momentos do período considerado. O conjunto de depoimentos coletados totaliza
cerca de doze horas e vinte e três minutos de gravação (12:23’). O período demarcado para
tematizar com os depoentes compreendeu desde a fundação do HUSM, em 1970 até a
atualidade (2012). A escolha e delimitação dos participantes consideraram os objetivos do
estudo.
20
Procedimentos
A escolha dos participantes seguiu os propósitos do estudo, considerando o método
escolhido, no caso, a “História Oral”. Conforme proposto por Alberti (1990), o método sugere
a realização de um estudo exploratório com a finalidade de reconhecer o campo, de identificar
os profissionais que seriam entrevistados e de verificar a existência de impedimentos graves
que inviabilizem a participação dos mesmos enquanto depoentes. De acordo com a autora, a
realização deste estudo inicial faz-se importante, uma vez que a pesquisa está sujeita a
circunstâncias que podem modificar o rumo do trabalho, sendo necessário considerar as
seguintes possibilidades: 1) de determinadas pessoas se negarem a prestar depoimento sobre o
assunto ou de que estejam excessivamente ocupadas para cederem parte de seu tempo à
realização de entrevistas; 2) de que no decorrer da pesquisa surjam novos “nomes”, antes
desconhecidos, cujos depoimentos passem a ser fundamentais para a construção da análise; e
3) de que a listagem venha a ser alterada, em virtude do desempenho do entrevistado não
conseguir corresponder às expectativas iniciais – devido à reduzida disposição em narrar a sua
experiência, a sua memória ou mesmo a articulação do pensamento, do grau de contribuição
de determinado depoimento para o conjunto da pesquisa.
No desenvolvimento deste estudo, tais aspectos foram cuidadosamente avaliados,
sendo que algumas intercorrências foram enfrentadas. Foram elas: 1) a necessidade de elevar
o número de informantes da pesquisa em relação à expectativa inicial, considerando que
alguns dos depoentes entrevistados referenciaram o nome de outro, para participar do estudo;
2) a dispersão físico-geográfica de alguns dos informantes, sendo necessário proceder à coleta
das entrevistas em outros municípios; 3) a dificuldade no agendamento de algumas entrevistas
devido à disponibilidade e particularidades profissionais dos informantes; e 4) apesar de não
ser, a priori, a intencionalidade do projeto, foi necessário realizar uma pesquisa documental
não sistemática, visando subsidiar a melhor compreensão, contextualização e análise do
fenômeno estudado. Diante de algumas dificuldades dos entrevistados em dispor ou em
precisar algumas informações, alguns dos depoentes entrevistados apontaram alternativas para
o acesso a tais dados.
Em nosso estudo inicial foram identificados oito depoentes em potencial. No entanto,
à medida que os depoimentos eram coletados, um dos depoentes nos forneceu uma relação em
que constava o nome de alguns psicólogos que haviam trabalhado na instituição; outro
sugeriu que a pesquisadora solicitasse, junto a Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM,
21
uma listagem dos psicólogos que trabalharam no hospital. Esta sugestão foi acolhida e um
ofício foi encaminhado a Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM. No entanto,
surpreendentemente, quando comparada, a relação que nos foi fornecida pela instituição com
aquela fornecida por um dos depoentes, observou-se que a mesma não abarcava a todos os
psicólogos, os quais se tiveram notícias, que trabalharam na instituição. A este fato relaciona-
se que muitas das informações dos setores e arquivos da UFSM são antigas e anteriores a
informatização do serviço e acabaram se dispersando diante de outras situações (mudança de
cargo/setor; a contratação de profissionais terceirizados, etc.).
A partir das relações fornecidas pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM,
pelos entrevistados e de informações de conhecimento da própria pesquisadora, decorrentes
do exercício profissional na instituição, foram identificados doze possíveis depoentes – sendo
que grande parte deles não atua mais no hospital. E destes ex-servidores, ressalta-se que
apenas o contato de um deles foi repassado à pesquisadora, por um dos participantes, à
medida que os depoimentos estavam sendo coletados.
Em vista da falta de informações acerca do contato de tais ex-servidores, foi iniciada
uma busca pelas mesmas na internet, pesquisando por seus nomes junto aos sites Google,
Plataforma Lattes CNPQ (busca por currículo lattes) e rede social Facebook. A busca foi
realizada visando localizar, contatar e convidar os possíveis depoentes a participarem do
estudo. Através desta busca na rede, foi constatado que ao menos dois ex-servidores já
haviam falecido; e outro profissional, cuja coleta do depoimento presencial se tornava
inviável à pesquisadora, devido à distância, foi proposta a coleta do depoimento escrito.
Apesar de uma resposta positiva ter sido dada num primeiro momento, posteriormente a
concessão deste depoimento não se confirmou. Sendo assim, no desenvolvimento deste
estudo, foram ouvidos onze psicólogos, de ambos os sexos, que desenvolvem ou
desenvolveram atividades profissionais junto ao HUSM, em diferentes momentos do período
considerado.
Os profissionais foram contatados e convidados a participar do estudo. A participação
dos mesmos deu-se através de depoimentos temáticos, cujo foco compreendeu a experiência
profissional destas pessoas junto ao hospital. As entrevistas foram realizadas em local
conveniente aos entrevistados, obedecendo a critérios de privacidade e conforto. Ainda, foram
gravadas e transcritas na íntegra para posterior análise e construção de uma narrativa histórica
sobre a inserção e o desenvolvimento das práticas psicológicas no HUSM. Os depoimentos
foram classificados como D1, D2, D3, D4, D5, D6, D7, D8, D9, D10 e D11, conforme a
sequência em que os mesmos foram coletados. O material gravado permanecerá sob a guarda
22
na sala 2105, do prédio 74 do campus da UFSM, sob a responsabilidade da professora
orientadora Beatriz Teixeira Weber, e será destruído após a realização do estudo. Para a
elaboração do texto historiográfico, por momentos, foram inseridas informações decorrentes
do exercício profissional (vivência) da pesquisadora na instituição. Neste sentido, foi utilizado
o código RP (o qual significa Relato da Pesquisadora), para sinalizar a procedência da
informação.
Paralelamente, foram consultadas bibliografias relacionadas à temática e documentos
como memorandos, Relatório de Gestões, Regimento Interno do HUSM, Regimento do
Departamento de Administração Hospitalar, relatórios de setor e serviço, ofícios e dossiês de
psicólogos, ex-servidores do HUSM/UFSM, os quais o depoimento oral seria de difícil ou
impossível acesso. Neste sentido, as buscas pelos documentos foram realizadas junto ao
Arquivo Permanente do HUSM, ao Departamento de Arquivo Geral (DAG) da UFSM e a
Coletânea da UFSM, localizada na Biblioteca Central da UFSM. As buscas documentais nos
Arquivo Permanente do HUSM e no DAG tiveram de ser feitas manualmente, contando com
a memória, conhecimento da organização local e disponibilidade dos servidores destes setores
para a agilidade das buscas, uma vez que os referidos acervos não se encontram
informatizados. Soma-se a isso o fato de que há grande dispersão dessa informação, o que
dificultou o acesso e desenvolvimento da pesquisa documental. Ainda, em meio às buscas
documentais não foram encontradas referências acerca do Departamento e/ou Curso de
Psicologia da UFSM, sinalizando a escassez de registros históricos neste sentido.
Análise dos dados
A análise dos dados envolveu uma síntese compreensiva dos acontecimentos, visando
à reconstrução e compreensão dos fatos históricos a partir do contexto considerado. A
transcrição do material possibilitou a visualização panorâmica e simultânea do conjunto das
entrevistas, contribuindo para que fossem identificadas as diversas informações sobre um
mesmo assunto. Foram procurados tópicos de concordância e discordância sobre os diversos
aspectos dos relatos. Demartini (1992, citado por CASSAB; RUSCHEINSKY, 2004) salienta
que somente com a comparação dos depoimentos é possível percebermos elementos
fundamentais à compreensão de determinadas situações. A compreensão e análise decorrem
não apenas do que foi dito, mas também do que não foi expresso pelos participantes.
23
Conforme destaca Meihy (2000, p. 68), “o entrevistador pode e deve apresentar outras
opiniões contrárias e discuti-las com o narrador”. Sendo assim, as informações colhidas,
decorrentes das entrevistas, foram comparadas e apoiadas em fontes documentais, como
forma de complementar as informações obtidas.
Apresentação dos dados
No capítulo a seguir, os dados são apresentados por meio de uma narrativa histórica,
que foi elaborada a partir dos processos que caracterizam a inserção e o desenvolvimento do
exercício das atividades da psicologia na referida instituição. O texto envolveu uma síntese
dos acontecimentos, procurando reconstruir e compreender os fatos históricos a partir do
contexto em questão. Para a elaboração e apresentação do texto historiográfico, os dados
foram classificados considerando a cronologia dos acontecimentos, verificada pelas
informações individuais quanto pela comparação das entrevistas em si - principalmente
quando elas versaram sobre épocas semelhantes ou próximas – como também pelo apoio
documental.
Considerações Éticas
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da Pesquisa da Universidade
Federal de Santa Maria, sendo que somente após tal consentimento é que o estudo foi
iniciado. Foram respeitados os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), que normatizam as condições da pesquisa que
envolve seres humanos.
As pessoas que tiveram interesse em participar deste estudo foram informadas quanto
aos objetivos do mesmo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE
- (apêndice A). Este documento esclarece as informações básicas sobre o estudo e destaca o
direito do participante em interromper a sua participação na pesquisa sem sofrer prejuízos de
qualquer espécie. Além disso, os participantes foram esclarecidos de que a identidade dos
depoimentos permanecerá preservada.
24
Riscos e benefícios
O estudo não apresentou quaisquer riscos e benefícios financeiros diretos aos
participantes. Com relação a possíveis (des)confortos, ao participar da pesquisa os depoentes
entraram em contato com algumas de suas experiências emocionais anteriormente
vivenciadas. Alguns deles evidenciaram sensação de bem-estar diante da oportunidade de
falar sobre o seu trabalho e/ou a sua trajetória na instituição. Tais situações, bem como
aquelas que lhes tenham suscitado algum desconforto, foram compreendidas e acolhidas pela
pesquisadora.
O HUSM ENQUANTO CENÁRIO HISTÓRICO
Neste capítulo, buscou-se conhecer os acontecimentos que culminaram com o
surgimento do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). No entanto, não há como
conhecer esta trajetória sem perpassar pela história da própria Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), a pioneira na interiorização do ensino superior no país. Optou-se fazer esse
relato para apresentar o contexto no qual a Psicologia foi inserida. A Psicologia enquanto um
dos serviços prestados no hospital, não possui nenhuma especificidade no organograma da
instituição. Este aspecto só fica evidente com a apresentação da história do hospital e dos
serviços por ele oferecidos.
O nascimento da Universidade Federal de Santa Maria
A Sociedade de Medicina de Santa Maria foi criada em 1931, sendo que a posse de
seu primeiro presidente – o Dr. Francisco Mariano da Rocha – foi realizada em 11 de março
daquele ano. Alguns meses após, em 30 de setembro, o então presidente da entidade, em uma
reunião da recém-fundada Sociedade de Medicina, demonstrava o interesse em criar, no
município, a Faculdade de Farmácia e Odontologia. A recente regulamentação da profissão
farmacêutica, ocorrida no ano anterior, somada a carência sentida pela classe médica, de
profissionais que pudessem auxiliá-la na manipulação e no receituário de medicamentos aos
pacientes, foram os fatores que impulsionaram para a criação do Curso de Farmácia – o qual
se reconhece como sendo “a mãe” da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 2011).
Apreciada no dia seguinte, a mobilização culminou na criação da Faculdade de Farmácia do
município de Santa Maria. No entanto, naquele instante, entraves burocráticos e a falta de
profissionais especializados em odontologia dispostos a construir um curso superior na área,
em Santa Maria, impediram que a ideia original fosse levada adiante, não contribuindo para o
estabelecimento de uma faculdade que lecionasse ciências farmacêuticas e odontológicas –
(UFSM, 2011).
Em 27 de fevereiro de 1932, a instalação da faculdade de Farmácia foi concluída e
oficialmente inaugurada. A primeira turma concluiu o curso em 1935 e contava com sete
26
formandos. O próprio Dr. Francisco Mariano da Rocha foi o primeiro diretor do curso, sendo
o seu vice-diretor, o Dr. Severo Evaristo Amaral. Até o ano de 1944, foram eles que dirigiram
a faculdade de Farmácia, quando então o professor Hélio Homero Bernardi foi o primeiro
farmacêutico a gerir o curso, nos anos de 1944 e 1945 (UFSM, 2011).
Nesta época, em 1942, o governo federal reconheceu a validade do diploma dos
farmacêuticos formados pela Faculdade de Farmácia de Santa Maria, quando esta se
encontrava em grandes dificuldades financeiras. A economia do país sofria recessão
econômica e o pessimismo gerados pela II Guerra Mundial (UFSM, 2011).
Paralelamente a estes acontecimentos, José Mariano da Rocha Filho, nascido em Santa
Maria, concluía seus estudos junto a Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Naquele mesmo
ano, ele, que era sobrinho do fundador, ingressava na Faculdade de Farmácia de Santa Maria
como professor universitário. Anos depois, em 1945, ele foi eleito diretor da faculdade,
permanecendo no cargo até 1960 (BARICHELLO, 1993). Na época, o curso era privado,
sendo a faculdade mantida com recursos financeiros decorrentes de investimentos de
empresários, da comunidade médica, dos alunos e suas famílias, além da comunidade santa-
mariense (UFSM, 2011).
Quando eleito diretor da Faculdade de Farmácia e em meio ao cenário das dificuldades
financeiras enfrentadas pela instituição, José Mariano da Rocha Filho promoveu uma
campanha em favor de sua anexação à Universidade de Porto Alegre (criada em 1934 pelo
Governador Flores da Cunha). Considerando que se tratava de uma ocasião propícia, já que –
após um longo período de governo totalitário - o país apresentava um movimento de
reestruturação nacional e de redemocratização com a promulgação das novas constituições
federal e estadual. E foi deste modo que o Dr. José Mariano da Rocha Filho deu início a um
dos propósitos por ele almejados: a luta pela interiorização do ensino superior no Estado do
Rio Grande do Sul (BARICHELLO, 1993).
Em 1947 José Mariano da Rocha conseguiu que a anexação das faculdades do interior
(Direito e Odontologia, de Pelotas e de Farmácia, de Santa Maria) à Universidade de Porto
Alegre (UPA), fosse incluída na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, sendo que a
então UPA passaria a denominar-se Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No entanto, as dificuldades ainda não haviam sido superadas: em decorrência da resistência
de grande parte dos docentes e da administração da UPA, a incorporação das faculdades do
interior não foi efetivada, apesar de incluídas na Constituição do Estado. Embora em julho de
1948 a Assembleia Legislativa tivesse aprovado o projeto de Lei, sancionado pelo
Governador Walter Jobim, em 4 de dezembro daquele mesmo ano, anexando as faculdades do
27
interior a UPA, a lei estadual que tratava da incorporação perdia seu efeito, diante da
federalização da UPA para UFRGS. Foi somente dois anos mais tarde, após a renúncia do
Reitor, Armando Câmara, contrário a incorporação, e por meio de um projeto de lei
apresentado pelo deputado federal Antero Leivas, com este objetivo, que as faculdades do
interior finalmente foram incorporadas a UFRGS (BARICHELLO, 1993).
A integração e a federalização da Faculdade de Farmácia de Santa Maria à UFRGS foi
um passo fundamental para a interiorização do ensino superior federal, até então restrito as
capitais. Logo após, integrando o Conselho Universitário da UFRGS e contando com o apoio
dos excedentes da Faculdade de Medicina da UFRGS, em 1954, o Dr. José Mariano da Rocha
Filho conseguiu a autorização para o funcionamento do Curso de Medicina, anexo à
Faculdade de Farmácia. No ano seguinte, ele era indicado, em lista tríplice, para Reitor da
UFRGS e, em 1956 ele conseguia a criação da Faculdade de Medicina de Santa Maria
(BARICHELLO, 1993).
Em 1948, José Mariano da Rocha Filho fundava a Associação Santa-mariense Pró-
Ensino Superior (ASPES). Com isso, visava mobilizar a população e a comunidade santa-
mariense para a execução de um objetivo maior: a interiorização do ensino por meio da
criação de uma universidade. Frente à direção das ASPES e das Faculdades de Farmácia e
Medicina, outros cursos superiores foram sendo permitidos, criados e implantados,
principalmente no período compreendido entre 1950 e 1960. Entre estes, pode-se mencionar a
Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Imaculada Conceição e Escola Superior de Enfermagem. A primeira, contando com o apoio
da Congregação dos Irmãos Maristas, que aceitou ser a entidade mantenedora; as demais, por
meio do respaldo das irmãs franciscanas. Em 1959, a Faculdade de Direito também estava
autorizada a iniciar as suas atividades (BARICHELLO, 1993).
A partir da reunião das faculdades mencionadas, somadas as Faculdades de
Odontologia e Politécnica, que estavam sendo criadas naquele momento, em 14 de dezembro
de 1960, por meio da Lei Federal 3.834-c, e instalada em 18 de março de 1961, a
Universidade Federal de Santa Maria se tornava uma realidade (BARICHELLO, 1995;
ROCHA FILHO, 2011).
Em 1961, por meio do decreto nº. 49.439/61, o Presidente Juscelino Kubitschek
aprovava a concepção do quadro de pessoal da UFSM. Ainda, naquele mesmo ano, eram
instituídas as Faculdades de Veterinária e Agronomia, Faculdade de Filosofia Federal e a de
Belas Artes (BARICHELLO, 1993).
28
No ano de 1945, o país dispunha de apenas cinco universidades; em 1950, elas já
somavam 15 universidades, todas situadas nas capitais dos estados da federação. E foi a partir
deste período que as universidades brasileiras tiveram uma expansão significativa,
especialmente nas décadas de 1960 e 1970 – resultado do movimento pela interiorização da
educação superior, liderado pelo projeto universitário de Santa Maria, o qual almejava pela
autonomia do interior e empoderamento dos indivíduos (ROCHA FILHO, 2011).
Com a sua criação, a UFSM emergia no cenário brasileiro como a primeira
universidade federal do interior do país. Com o propósito de viabilizar a sua construção, as
famílias Tonetto e Behr doaram 36,68 hectares de terra para a ASPES. Nos anos que
sucederam, vários Decretos foram lançados, unindo mais hectares para o local onde seria o
campus, até se chegar à área de 660 hectares (UFSM, 2011).
A área do campus abarcaria a construção de uma Cidade Universitária, - também
idealizada por José Mariano da Rocha Filho - a qual possibilitaria que as mais diversas áreas
do conhecimento se reunissem sob um mesmo espaço físico. Para tanto, foi formulado o
Plano Diretor. Este planejamento previa desde as ruas e avenidas até os sistemas de esgoto, de
distribuição de energia, água e áreas de lazer e viabilizou a arrecadação de recursos para as
edificações do campus. Além disso, o Plano Diretor demarcava as zonas urbana e rural da
cidade universitária. A área rural carecia de espaços mais amplos, devido a suas
particularidades. Já, a área urbana, compreenderia os prédios da biblioteca, do restaurante
universitário e dos alojamentos, além dos setores profissionais, cultural, de educação e de
administração e área médica e, dentre elas, o Hospital Universitário Campus, atualmente
denominado Hospital Universitário de Santa Maria (UFSM, 2011), cuja origem apresenta-se a
seguir.
O hospital de ensino da UFSM
Com a criação do Curso de Medicina, em 1954, surgia também à necessidade de um
hospital escola, que viabilizasse o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, por
meio da assistência à comunidade na área da saúde. (BARICHELLO, 1995; LIMA et. al.,
2005; LIMA et. al., 2010).
Até o momento da implantação da UFSM, a Faculdade de Medicina estava vinculada a
UPA. Naquele momento, os alunos experimentavam as suas práticas profissionais no único
29
hospital da cidade, o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo (HCAA), o primeiro a
funcionar com esta finalidade, por meio de um convênio estabelecido entre a instituição e a
UFSM (BARICHELLO, 1995; LIMA et. al., 2005; LIMA et. al., 2010; UFSM, 2011).
No entanto, a criação de uma rede hospitalar própria da UFSM era almejada pelo Dr.
José Mariano da Rocha Filho. Assim, no ano seguinte, em 1960, quando a UFSM foi fundada,
Mariano da Rocha Filho já demonstrara a intenção da universidade em construir um hospital
de ensino que se configurasse como uma referência no tratamento de uma ampla diversidade
de especialidades (ROCHA NETO, 1997).
Na década de 1950, as autoridades brasileiras tinham passado a dar uma especial
atenção à tuberculose. Em decorrência disso, as obras do Hospital Regional de Tuberculose
foram iniciadas no município. No entanto, anos após e durante longo período, a estrutura
(localizada próximo ao HCAA) foi abandonada em sua fase inicial, pelo governo do estado
(ROCHA NETO, 1997; LIMA et. al., 2005; UFSM, 2011).
A partir disso e com vistas a torná-lo um hospital de ensino da universidade, o Prof.
Mariano da Rocha Filho iniciou uma campanha a fim de que o Serviço Nacional de Combate
a Tuberculose doasse à UFSM a estrutura que se encontrava em fase inicial e que estava
abandonada (ROCHA NETO, 1997). Em 1959, por meio da lei 3.695, o Serviço Nacional de
Tuberculose firmava um acordo com a UFRGS para delegar-se a execução das obras do
Hospital Regional de Tuberculose em Santa Maria (ISAIA, 1997). No entanto, cerca de pouco
mais de um ano depois, a lei de n.º 3.958/61, delegava à UFSM permissão para executar as
obras abandonadas daquele hospital. Foi desta forma que a UFSM pode dar continuidade as
obras iniciadas no ano de 1960, em terreno abdicado pelo HCAA (ISAIA, 1997; ROCHA
NETO, 1997; LIMA et. al., 2005; LIMA et. al., 2010; UFSM, 2011). Surgia, assim, o
Hospital Universitário Setor Centro. Nos meses seguintes, estudos começaram a ser feitos
pela Reitoria da UFSM, a fim de avaliar o aproveitamento da área e adequá-la as funções de
um hospital universitário (ROCHA NETO, 1997; LIMA et. al, 2010).
Paralelamente a estes acontecimentos, em abril de 1961, o Plano Diretor e
Urbanização da Cidade Universitária eram aprovados pelo Conselho Universitário da UFSM.
A Companhia de Planejamentos Técnicos FOMISA foi quem executou o trabalho, o qual
também contou com os experientes arquitetos Oscar Valtetaro de Torres e Mello e Roberto
Madalutti, responsáveis também pelo planejamento dos hospitais de Clínicas (atual HUSM) e
de Neuropsiquiatria (posteriormente incorporado ao hospital geral; também conhecido e
denominado como Hospital Universitário Setor Psiquiátrico - HUSP), no Campus da UFSM
(ISAIA, 1997).
30
Neste sentido, a construção de um Hospital de Psiquiatria para os estudantes de
medicina da UFSM se fazia necessário, já que a construção de uma unidade psiquiátrica junto
ao HCAA estava totalmente paralisada, gerando importantes prejuízos para a saúde da
população (que precisava se deslocar até a capital para receber atendimento) e para o ensino
médico. Em decorrência da deficiência de pessoal, da falta de material e do restrito número de
leitos - que não permitiam um ensino adequado e satisfatório, o Departamento de
Neuropsiquiatria era um dos menos atuantes, em relação aos demais da Faculdade de
Medicina. A viabilidade da construção de um Hospital Psiquiátrico junto ao Hospital Geral
foi verificada pelo Departamento de Saúde Mental da UFSM junto ao Diretor do
Departamento de Saúde Mental da Secretaria do Estado, que examinou, aprovou e apoiou a
proposta. Além disso, o hospital seria também a sede do Centro Comunitário de Saúde Mental
(CCSM), não somente de Santa Maria, mas de toda a região central do Estado (MORAES,
1967; GUEDES, 1967).
No ano seguinte, em 1962, tiveram início, na então futura Cidade Universitária, as
obras de terraplanagem no local onde seria construído o Hospital Universitário (HU) da
UFSM, sendo que por volta de 1964, foram iniciadas as obras do HU (UFSM, 2011). Naquele
momento, a área do HU estava estruturada em sete pavimentos, e abarcava 26.373 m² para
450 leitos. O Hospital de Neuropsiquiatria ou Hospital Universitário Setor Psiquiátrico
(HUSP), prédio em anexo ao HU, estava estruturado em três pavimentos, e contava com uma
área de 5.300 m². Sendo assim, num primeiro momento, o Setor Hospitalar no Campus da
UFSM já perpassava por uma área de 31.673 m², equivalente a 15% da área total que seria
construída no Campus da Universidade (UFSM, 1970; ISAIA, 1997).
Com as obras do Hospital Universitário Campus, do HUSP e do HUSC, se fazia
necessário implantar um sistema hospitalar da UFSM. E foi assim que, em 1968, o Dr. José
Mariano da Rocha Filho, na época, Reitor da UFSM, encarregava José Mariano da Rocha
Neto de estudar uma política hospitalar e instalar este Complexo Hospitalar na UFSM. Alguns
meses após, ele apresentava ao Reitor os estudos quanto à viabilização de um Sistema
Hospitalar na UFSM (ROCHA NETO, 1997). A partir de então, José Mariano da Rocha Neto
foi nomeado Diretor da Divisão de Administração Hospitalar; o Prof. Waldyr Pires da Rosa,
Diretor Administrativo e a Enfermeira Ione da Rocha Lobato, Diretora dos Serviços Técnicos
(ROCHA NETO, 1997; LIMA et al., 2005).
Nos meses seguintes, a equipe nomeada trabalhou veementemente, estudando as
plantas físicas do HUSC, quanto a sua viabilização, e do HU Campus e HUSP quanto às
modificações que se faziam necessárias. A qualificação de pessoal para trabalhar nos
31
diferentes setores que compunham o Complexo Hospitalar foi considerada uma das mais
difíceis tarefas enfrentadas na época (ROCHA NETO, 1997).
Paralelamente a tais acontecimentos, o Departamento de Neuropsiquiatria da
Faculdade de Medicina da UFSM realizava esforços junto ao Reitor José Mariano da Rocha
Filho e ao Diretor da Divisão de Pessoal da UFSM, Carlos Augusto Cunha, no sentido de
agregar pessoal para o funcionamento do HUSP. Neste aspecto, não somente era solicitada a
transferência de profissionais capacitados, alguns dos quais residiam e trabalhavam na capital
(na área de psiquiatria e cargos públicos, por exemplo, como o Departamento de Saúde
Mental do Estado), mas também a contratação de profissionais e auxiliares de ensino (para o
cargo de supervisor psiquiátrico) a desenvolverem as suas atividades profissionais junto ao
HUSP. Ainda, estava presente a busca por profissionais capacitados em sua formação e
experiência em saúde mental, uma vez que este cuidado visava uma melhor aceitação da
doença mental – um dos elementos considerados indispensáveis para a realização do
tratamento. A agregação de pessoal era fundamental para o início do funcionamento do HUSP
que não apenas exerceria a função de hospital escola e de ambulatório no aprendizado da
psiquiatria, mas também permitiria o atendimento comunitário (por meio do convênio com o
Departamento de Saúde Mental do Estado). Assim, dar-se-ia inicio a um trabalho pioneiro,
além de solucionar um problema de saúde pública na região, que era a assistência ao doente
psiquiátrico (SCHELP, 1968a; SCHELP, 1968b).
Em 1º de junho de 1968, por meio de um convênio firmado entre a UFSM e a
Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, era inaugurado o Ambulatório de Saúde Mental (o
qual também era conhecido e denominado de Centro Comunitário de Saúde Mental), que
estava funcionando, provisoriamente, nas dependências do Dispensário Daudt, na Rua 13 de
maio. Era dirigido pelo psiquiatra Dr. Milton Sanchis e contava com a colaboração da
assistente social Tereza Caun Gonçalves. Ao final daquele mesmo ano, o Diretor da
Faculdade de Medicina, o Prof. Leovegildo Leal de Moraes encaminhava ao Reitor substituto
da UFSM, o Prof. Hélios Homero Bernardi, um plano de pessoal administrativo e técnico bem
como um dossiê de funcionamento daquela que seria a futura unidade hospitalar psiquiátrica
da UFSM. O referido dossiê esclarecia como seria o funcionamento do HUSP, constando dos
seguintes aspectos: 1) Fundamentação Teórica da Filosofia de seu atendimento – o qual se
baseava na Teoria Psicanalítica; 2) Normas para o funcionamento do HUSP; 3)
Administração; 4) Pessoal Técnico necessário ao seu funcionamento; 5) Relação de material
necessário e 6) Anexos I e II os quais tinham por finalidade demonstrar a possibilidade de
funcionamento autofinanciável do HUSP. Neste sentido, a instituição seria dotada de normas
32
que regulariam responsabilidades econômicas para todo o paciente hospitalizado, quer se
tratasse de particulares, assim como de organizações estatais ou paraestatais (MORAES,
1968).
No ano seguinte, em 1969, José Mariano da Rocha Neto foi nomeado Diretor do
Hospital Universitário Setor Centro (HUSC, antigo Hospital de Tisiologia – Tórax). Para
conseguir levar a empreitada à diante, convidou a Enfermeira e Administradora Ione Rocha
Lobatto e o Professor e Economista, também Administrador Hospitalar, Waldyr Pires da
Rosa, para constituírem a equipe (ROCHA NETO, 1997).
No decorrer deste período, HUSC foi sendo adaptado para receber os cursos da área da
saúde (AMARAL, 1997). Com isso, foram instaladas no térreo a Patologia, a Dermatologia e,
posteriormente, o Laboratório de Análises Clínicas. Com as obras do HUSC apressadas,
foram comprados equipamentos e, em abril de 1970, com um mínimo de pessoal devidamente
qualificado, entravam em funcionamento os Serviços de Ginecologia e Obstetrícia e Pediatria
e Puericultura. Naquele momento, eventuais cirurgias de médio ou grande porte eram
realizadas no HCAA (que funcionava como hospital de ensino, por meio de um acordo com a
UFSM), pois o bloco cirúrgico ainda não estava pronto, tendo sido concluído somente em
1971. Neste mesmo ano, também era finalizado o Centro de Terapia Intensiva do HUSC, o
primeiro da cidade e do interior do estado (ROCHA NETO, 1997).
Por volta de 1970, a Divisão de Administração Hospitalar foi promovida a
Departamento de Administração Hospitalar, de acordo com o Estatuto da UFSM/70 aprovado
pelo Parecer n. 465/71-CFE, e pelo Regimento Interno da UFSM/72 (UFSM, 2013). José
Mariano da Rocha Neto foi nomeado Diretor desse Departamento; o Prof. Waldyr Pires da
Rosa foi designado ao cargo de Diretor da Divisão Administrativa e a Enf. Ione Lobatto, para
o cargo de Diretora da Divisão Técnica. Na ocasião, José Mariano da Rocha Neto também foi
encarregado de aprontar e gerenciar o Hospital Veterinário e o Biotério da UFSM (Rocha
Neto, 1997; LIMA et. al., 2005).
O Departamento de Administração Hospitalar (DAH) era um órgão da UFSM, com
sede em Santa Maria/ RS e que congregava administrativamente o HUSC, o HUSP, o HU
Campus (que se encontrava em construção), o Laboratório Industrial e o Hospital de Clínicas
Veterinárias, incluído o Biotério. O DAH era diretamente subordinado à Reitoria da UFSM
(UFSM, 1972).
O DAH tinha por finalidade: I) proceder estudos de organização e (re)organização,
bem como sua implantação nas unidades diversas a ele subordinadas; II) proceder estudos, dar
pareceres e terminar providências aos processos médicos, técnicos e administrativos; e III)
33
difundir as atividades técnico-científicas do Departamento (UFSM, 1972). Ainda, o DAH
estava organizado do seguinte modo:
I. Direção: O Diretor do DAH era diretamente subordinado à Reitoria, sendo
designado pelo Reitor da UFSM;
II. Divisão Administrativa e;
III. Divisão Técnica.
As Divisões Administrativa e Técnica tinham os seus diretores indicados pelo Diretor
do DAH, aprovados pelo Reitor. Já os servidores integrantes do Departamento tinham chefes
indicados pelos diretores de Divisões e aprovados pelo Diretor do DAH (UFSM, 1972).
Conforme o Regimento do DAH (UFSM, 1972), o Hospital Universitário consistia em
uma unidade médico-hospitalar da UFSM, subordinado administrativamente ao DAH, sendo
composto pelos seguintes setores:
a) Setor Centro;
b) Setor Psiquiátrico;
c) Setor Cidade Universitária.
E para a consecução de suas finalidades, o Hospital Universitário tinha a seguinte
estrutura administrativa:
I. Direção
II. Setor Centro
III. Setor Psiquiátrico
IV. Setor Cidade Universitária
Sendo que os Setores Centro, Psiquiátrico e Cidade Universitária eram compostos
por:
a) Direção Clínica;
b) Serviços Administrativos e;
c) Serviços Técnicos.
Naquele momento, a Contabilidade de Custos Hospitalares já havia sido instalada no
HUSC pelo Prof. Waldyr Pires da Rosa. No entanto, o hospital carecia prestar uma assistência
continuada aos pacientes, pois havia cerca de cem leitos e os plantonistas existentes eram
reduzidos. Visando suprir esta lacuna e com o incentivo e apoio do Reitor Mariano, por
Decreto do DAH, foi criada a Residência Médica do DAH. O Departamento instituiu
residências na área de Clínica Médica, além de Cirurgia Geral, Pediatria e Puericultura e
Ginecologia e Obstetrícia (ROCHA NETO, 1997). Além disso, a direção do HUSC ofereceu
bolsas de emprego para todos os formandos em enfermagem daquele ano de 1972. Os
34
enfermeiros ingressavam no HUSC como bolsistas até que em setembro daquele ano um
concurso público foi realizado, efetivando boa parte da equipe como funcionários públicos
federais (UFSM, 2011).
Paralelamente, naquele mesmo ano, com a conclusão das obras, dava-se inicio aos
atendimentos em hospital dia no HUSP. O Prof. Oscar M. Schelp foi convidado a diretor
(ROCHA NETO, 1997). Em seguida, por volta de 1974, ocorriam as primeiras internações
psiquiátricas, com a acomodação de 12 leitos (AMARAL, 1997).
Durante algum tempo, as obras do HU Campus foram interrompidas, sendo reiniciadas
em 1978. Na medida em que elas evoluíam, aumentava a inquietação quanto ao
funcionamento do que seria o futuro hospital universitário (UFSM, 1978).
Como mencionado anteriormente, naquele tempo, a UFSM dispunha de uma unidade
hospitalar situada no perímetro urbano da cidade de Santa Maria – o HUSC. No entanto, o
posicionamento da UFSM é que as atividades da universidade deveriam ser restritas ao
Campus/Cidade Universitária, tendo em vista a distância dos centros administrativos e
acadêmicos da UFSM (BARICHELO, 1995). Além disso, considerando o limitado espaço
físico do HUSC face a crescente demanda, intencionava-se que esta unidade hospitalar
permaneceria em funcionamento até a conclusão das obras e durante a fase de implantação do
HU Campus. Posteriormente, ela seria desativada. Do mesmo modo, havia um replanejamento
para o HUSP, que até então consistia em uma unidade hospitalar independente. Com o
funcionamento do HU Campus, ele manteria o seu funcionamento, sendo gradualmente
incorporado ao hospital geral, passando à condição de Unidade Psiquiátrica do Hospital
Universitário Campus (UFSM, 1978).
Diante destas perspectivas e da preocupação do DAH com o acompanhamento da obra
e implantação do novo hospital, na época, o Magnífico Reitor designou a formação de uma
Comissão de Implantação para o Hospital. Sendo assim, esta comissão havia sido encarregada
de coordenar e desenvolver atividades e estudos com perspectivas de viabilizar a organização
e estabelecimento da nova unidade hospitalar (UFSM, 1978).
Sentindo a necessidade de um trabalho multiprofissional para o desenvolvimento de
um integrado planejamento das áreas hospitalares, a Comissão de Implantação optou por
nomear subcomissões, responsabilizando-as por tarefas que, em seu conjunto, compunham o
planejamento do HU Campus (UFSM, 1978). Além disso, este grupo pode contar com a
assessoria de pessoal de outras áreas da saúde e/ou diretamente vinculadas a serviços
hospitalares, que teriam sido convocadas para participações especiais no decorrer do
desenvolvimento das atividades. Deste modo, visava-se que a comissão poderia contar com as
35
contribuições e sugestões de um diversificado grupo de profissionais, desenvolvendo um
trabalho científico, correto e promovendo um eficiente funcionamento do hospital nas suas
funções assistenciais e de ensino. Ainda, visava-se a implantação e o desenvolvimento de uma
estrutura administrativa dentro das mais modernas técnicas que proporcionassem ao hospital
versatilidade e eficiência, sem descuidar de desejável relação custo-benefício, no que remete
aos investimentos de recursos e benefícios sociais decorrentes em assistência e ensino
(UFSM, 1978).
Em um dos Roteiros de Planejamento do Hospital Universitário a que se teve acesso,
do Inventário Documental do Fundo do Gabinete do Reitor da Gestão do Prof. José Mariano
da Rocha Filho, estava evidenciado o desejo, na época, que o hospital de ensino da UFSM
seguisse os moldes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Contudo, tanto aquele roteiro
como o de 1978 (UFSM, 1978), de modo geral, apenas especificam os principais títulos de
atividades que seriam desenvolvidas. Somente em algumas situações a especificação
apresenta um razoável detalhamento, o qual seria decorrente da impossibilidade de se prever,
com precisão, o trabalho necessário para o adequado projeto. Assim, a execução das tarefas
previa o estabelecimento de novos roteiros, específicos para cada etapa de trabalho. Todavia,
ficava claro que se almejava organizar um hospital geral de nível terciário, cuja capacidade
final compreenderia entre 400 a 450 leitos hospitalares, distribuídos em diferentes clínicas/
especialidades médicas (UFSM, 1978).
Por volta de 1980, foi iniciado um processo de mudanças administrativas do hospital.
Através de uma decisão do Conselho Universitário, e instituída pela resolução de nº. 089/80, o
Departamento de Administração Hospitalar tinha a sua denominação alterada para Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM), alternado a sua estrutura interna e tornando o HUSM
um órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde (AMARAL, 1997; UFSM, 2013). Até
aquele momento, os diretores clínicos e administrativos eram de escolha da Reitoria, não
envolvendo a participação de docentes, alunos e funcionários. Por meio de uma mobilização
reivindicatória, foi realizada a primeira eleição de dirigentes, em uma lista tríplice a ser
apresentada ao reitor. A primeira Diretoria Executiva, gestão 1980/19811, foi empossada pelo
reitor Prof. Derblay Galvão. Em abril de 1982, foi empossada a segunda Diretoria do HUSM,
gestão de 1982/19862, praticamente a mesma do período anterior, não fosse o Prof. Valdemar
1 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1980/1981 podem ser encontradas no apêndice
C. 2 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1982/1986 podem ser encontradas no apêndice
C.
36
Speroni assumir a Direção Administrativa, devido à solicitação de afastamento do Prof.
Geraldo Pozzobon (HUSM, 1986).
Com a conclusão das obras do HU do Campus em 1982, fazia-se necessário a
desativação do HUSC e o mais completo aproveitamento possível da estrutura do HUSM. Em
decorrência da carência de verbas, o quadro de pessoal era limitado e diversos equipamentos
do HUSC deveriam ser desativados para então serem montados no hospital do campus
(AMARAL, 1997).
Desde 1972, o prédio já abrigava ao Hospital Psiquiátrico da UFSM – o primeiro na
América Latina a ser instalado em um Campus Universitário. Os registros sinalizam que a
mudança do HUSC para a estrutura do Campus deu-se gradualmente, no período entre
outubro de 1981 (UFSM, 2011) e julho de 1982 (HUSM, 2000) e contou com o apoio dos
exércitos da cidade. Inicialmente foi realizada a transferência dos ambulatórios e clínicas do
HUSC para o hospital no Campus. Posteriormente, foram transferidos os pacientes internados,
o Laboratório de Análises Clínicas (LAC) e os demais equipamentos (HUSM, 2000). O
berçário foi a última unidade a ser transferida (UFSM, 2011). A partir do dia 18 daquele mês,
iniciavam-se as internações no Hospital Universitário de Santa Maria, situado no
Campus/Cidade Universitária da UFSM (HUSM, 2000). Em 06 de outubro de 1982, era
inaugurado o mais novo hospital universitário da UFSM, 21 anos após o início da sua
construção.
Ciente das dificuldades da transposição do pequeno HUSC para o HUSM, no que se
refere à administração e gerência, a Direção Executiva da época recorreu aos serviços
especializados do Dr. Hércules Lima de Carvalho, consultor empresarial, que naquele
momento também assessorava o Hospital Moinhos de Vento e o Hospital de Clínicas de Porto
Alegre. Na ocasião, foram estabelecidos planos de ação e metas a serem alcançadas pelo
hospital. Além disso, havia uma valorização da Direção Executiva pelo desenvolvimento de
um trabalho assistencial integrado e multiprofissional ao paciente, que fosse “harmônico,
humanizado, competente e produtivo” (HUSM, 1986, p. 4).
Conforme o Relatório de Gestões do HUSM (1986), à medida que o HU Campus
entrou em funcionamento, de modo geral, representou um importante crescimento na área
hospitalar da UFSM. Este crescimento perpassou por diversos aspectos como o aumento da
área física, da capacidade de atendimentos – na qual houve uma redução de internações em
virtude do aproveitamento de espaços físicos para ambulatórios e setores básicos, em
consonância com a Política Nacional de Saúde vigente; progresso no quadro de pessoal e
quadro financeiro (no que remeteu ao percentual de receita própria, pois as verbas do MEC
37
estavam gradativamente mais escassas). Neste período, também houve um aumento das vagas
para a Residência Médica, de 34 vagas, em 1980 para 48, em 1985 (AMARAL, 1997).
A despeito das conquistas mencionadas, decorrentes do funcionamento do HUSM em
relação ao antigo sistema hospitalar da UFSM, a economia brasileira se encontrava em uma
situação crítica, atingindo, consequentemente o orçamento do hospital universitário – o que
impossibilitava a continuidade da ação e desenvolvimento de muitas atividades (1986). No
entanto, apesar das dificuldades, neste período, entre outras ações, foram implantadas a
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e a Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes, além da Unidade de Processamento de Informática; foram instalados o Pronto
Atendimento, o Isolamento Protetor (com 4 leitos) o Isolamento Infectocontagioso, o Setor de
Diálise Peritoneal e o Ambulatório de Quimioterapia. Ainda, neste período, eram concluídas
as obras do Centro Obstétrico e o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital foi
transferido e remodelado (HUSM, 1986).
Além dos aspectos mencionados, a elaboração e a aprovação do Regimento Interno do
HUSM também era uma preocupação da direção da época, já que, até 1980 o HUSM
funcionou sem Regimento Interno (HUSM, 1986). No entanto, consolidada a nova Diretoria
Executiva e com a perspectiva de funcionamento de ampla área física, fazia-se necessário a
sua concepção. Sendo assim, foi elaborado o primeiro Regimento Interno do HUSM. Este
regimento foi aprovado pela Diretoria Executiva do hospital e foi submetido à análise de uma
Comissão do Centro de Ciências da Saúde (CCS) (AMARAL, 1997).
Em decorrência do atraso no processo eleitoral, a gestão do período 1986/19903
iniciou como Diretoria Pró-Tempore. Ao ser eleita pelo Conselho do Centro de Ciências da
Saúde, ao final de 1985, a Diretoria eleita assumiu a gestão imediatamente (PEREIRA, 1997).
A gestão do HUSM desta época foi marcada pela reestruturação e consolidação do
HU. Após o levantamento dos problemas e necessidades das diferentes áreas do hospital, foi
desenvolvido um plano de ação, voltado para a modernização, alicerçado em políticas,
objetivos e metas a serem atingidas ao longo da gestão. Dentre os principais aspectos deste
plano, constava o investimento na recuperação da infraestrutura (reformas nas áreas de apoio,
a reconstrução da lavanderia, a construção do pavilhão de manutenção, ampliação do CTI
Adulto, criação do Centro Obstétrico, criação da Unidade Renal); o reequipamento (desde
itens básicos, como talheres, estetoscópios e instrumental cirúrgico até equipamentos como
ultrassom, ecocardiograma bidimensional, entre outros); a reestruturação administrativa,
3 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1986/1990 podem ser encontradas no apêndice
C.
38
relacionada a aprovação do Regimento Interno do HUSM, que estava em discussão há oito
anos e que foi aprovado em dezembro de 1987; a capacitação de recursos humanos e de apoio
ao servidor (por meio de incentivo a congressos científicos ou participação em eventos e
cursos de treinamento, além do apoio à abertura e funcionamento da creche do hospital) e ao
ensino e à pesquisa (aquisição de livros e periódicos, dentre outras iniciativas). Ainda, havia a
intenção do pleno aproveitamento da capacidade instalada do hospital, revelada por meio de
projetos que foram apresentados e aprovados nos níveis municipal, estadual e federal, mas
que não foram implementados devido à proibição da contratação de recursos humanos
necessários, tanto a nível estadual como federal (HUSM, 1990; NUNES, 1997).
Além disso, este período se caracterizou pela integração ao Sistema Único de Saúde
(SUS). Ou seja, foi um período em que o país enfrentava a transição de uma medicina estatal
setorizada, que atendia apenas aos trabalhadores contribuintes da Previdência Social para um
atendimento universalizado. Com a Constituição de 1988, a saúde foi reconhecida como
sendo um direito universal, cabendo ao estado promovê-la. Desde então, todo o cidadão
passou a ter direito constitucional e a exigir o cumprimento desse direito pelo Estado
(ROLIM, 1997).
E é em meio a este cenário que a gestão de 1990/19944, assume a direção do hospital
(HUSM, 1994, ROLIM, 1997). Tratava-se de um período conturbado da história brasileira
para os hospitais universitários (HU’s). De modo geral, os HU’s surgiram como laboratórios
de ensino dos cursos da área da saúde. No caso do HUSM, foi criado como instrumento de
ensino e pesquisa e, a assistência era uma decorrência de suas atividades-fim. Enquanto
laboratório de ensino e com os seus insumos custeados pelo orçamento federal, inicialmente
foi direcionado aos pobres, principalmente para aqueles que não dispunham de outros
recursos de atendimento. Sendo assim, durante anos, os indigentes haviam sido o público-alvo
das atividades de ensino médico, seguindo a tradição das Santas Casas de Misericórdia, que
serviram de laboratório de ensino a muitas gerações de médicos e enfermeiros (ROLIM,
1997).
Sendo assim, de acordo com os dispositivos da Lei Orgânica da Saúde (Lei nº.
8.080/90), e após algumas dúvidas e discussões, os HU’s passavam a integrar, orientar seus
investimentos e executar as suas ações voltados para a rede do SUS. Esta mudança foi
ocorrendo gradualmente. Os HU’s foram sendo solicitados a assumir uma responsabilidade
crescente, atendendo a uma imensa demanda, sendo cada vez mais responsabilizados pela
4 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1990/1994 podem ser encontradas no apêndice
C.
39
estruturação da rede de atendimento (ROLIM, 1997) e a servir ao SUS segundo o esquema de
atenções primárias, secundárias e terciárias e com sistemas de Referência e Contrarreferência,
que implementariam a assistência aos usuários do SUS. Assim, o hospital encontrou-se
envolvido por obrigações constitucionais com a cidadania brasileira, sem discriminações de
qualquer espécie - conforme princípios e diretrizes do SUS. Este momento consistiu em um
período de definições para o Hospital Universitário enquanto espaço de ensino. Mudavam os
usuários e os compromissos da instituição. Em maio de 1993, foram definidas as
responsabilidades de cada área na condução da assistência e formação de recursos humanos
por meio de um convênio assinado entre os Ministérios da Saúde e da Educação. Sendo
assim, o HUSM passava a ser conduzido pelas normas que gerem o ensino e a ser custeado
pelos planos assistenciais que dirigem a saúde (HUSM, 1994).
Este período também foi marcado pelas dificuldades econômicas, com o fracasso de
vários planos governamentais e os descompassos entre as tabelas de pagamento do Instituto
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e os efetivos custos, além
dos atrasos dos pagamentos, sem a justa correção de valores. A este panorama sucederam
crises de escassez e falta de materiais e medicamentos. No entanto, apesar das barreiras,
foram realizados investimentos em reformas na área física e em equipamentos (HUSM,
1994).
As reformas foram realizadas em diversos andares e setores do hospital. O maior
volume de investimentos realizados foi na área de Serviços de Diagnóstico e Tratamento.
Também foi ampliado o Serviço de Pronto Atendimento a Adultos e instalado um Pronto
Atendimento Infantil. Ainda, destaca-se nesta gestão a criação de novas unidades de
internação: a Unidade Pediátrica de Tratamento Intensivo (UTI-Ped) para 12 leitos e uma sala
de recreação no sexto andar (atualmente, onde está situada a Unidade de Pediátrica) e o
Centro de Onco-hematologia, que dispunha de 30 novos leitos. Este possuía uma Unidade
com Isolamento Protetor, especificamente destinada ao Transplante de Medula Óssea. No
entanto, os investimentos no Centro de Transplante de Medula Óssea encontrou apoio na
comunidade. Por meio de uma campanha sistemática e com a colaboração de líderes da
comunidade regional, foram obtidos recursos junto ao Governo do RS, Fundação Bradesco,
Fundação Banco do Brasil, Lyons Club, além do apoio de prefeitos, vereadores e de
Deputados Estaduais e Federais representando a região central do Rio Grande do Sul. Foram
alcançados mais de um milhão de dólares designados especificamente para o Centro de
Transplante de Medula Óssea (HUSM, 1994).
40
Em 1994, de acordo com a Resolução n.º 03/94, de 30/03/94, aprovado pelo Parecer n.
05/94 do Conselho Universitário, o HUSM passa a ser órgão suplementar central, vinculado
diretamente à Reitoria da UFSM (UFSM, 2013).
No decorrer da gestão 1994/19985, entre outras benfeitorias, ressalta-se a inauguração
do Banco de Sangue, até então o maior e o modelo para toda a região central do Estado, a
Inauguração do Centro de Tratamento Infantil e a conclusão e inauguração do Centro de
Transplante de Medula Óssea (CTMO) que, naquele momento, já se encontrava realizando o
seu oitavo transplante. Além disso, o Convênio entre a UFSM e o Consórcio Intermunicipal
de Saúde permitiu o atendimento especializado às urgências e emergências neurológicas e
traumatológicas, que até então não eram feitas pelo hospital. Em 1994 o hospital dispunha de
266 leitos, mas em 1998 a instituição totalizava 319 leitos e se encontrava em melhores
condições financeiras (HUSM 1998).
O exercício das gestões 1998/2002 e de 2002/20066 (quando foi reeleita) considerava a
necessidade de modernização e renovação tecnológica e consideráveis investimentos em
infraestrutura. De acordo com o relatório de gestão da época (HUSM, 2006), foram investidos
28 milhões em equipamentos e 13,5 milhões em infraestrutura, que resultaram em uma visível
mudança do hospital. Em um segundo momento, a gestão se propôs ao desafio de mudar
comportamentos, visando à modernização da gestão, dos processos de trabalho, ao Programa
de Qualidade, Humanização e Saúde do Trabalhador, fortalecimento da pesquisa e da multi e
interdisciplinaridade, além da maior inserção no SUS.
Sendo assim, por volta do ano 2000, a Direção do HUSM já almejava a acreditação
hospitalar, formando uma comissão visando ao processo. A acreditação hospitalar consiste em
uma metodologia de avaliação da qualidade dos serviços prestados nas instituições
hospitalares a partir de uma proposta do governo federal, por meio do Ministério da Saúde.
Tratava-se de um processo de adesão voluntária. Na época, estavam sendo realizadas
atividades junto aos serviços, através dos coordenadores, chefes, responsáveis por setor e
servidores, visando sensibilizar os grupos para reflexões e autoavaliação do exercício laboral
cotidiano. Deste modo, além de repassar a proposta e metodologia da acreditação hospitalar,
estava sendo realizado um diagnóstico das evidências e necessidades de cada setor para
posterior análise dos dados, e a confrontação destes com os critérios do programa a fim de
encaminhar as propostas resultantes do processo (HUSM, 2000).
5 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1994/1998 podem ser encontradas no apêndice
C. 6 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1998/2002 e de 2002/2006 podem ser
encontradas no apêndice C.
41
Aproximadamente em 2003, considerando as grandes transformações no mercado da
saúde, as mudanças no modo como a Medicina viria a ser praticada e, em particular, na forma
como os serviços estavam sendo ofertados a população através do SUS, o HUSM
implementava o planejamento estratégico da instituição, por meio da assessoria da Pró-
Reitoria de Planejamento da UFSM.
Conforme Kotler (1992), Planejamento Estratégico pode ser definido como o processo
gerencial que admite desenvolver e manter um ajustamento viável entre os objetivos,
experiências e recursos de uma organização e suas oportunidades em um mercado
sucessivamente mutante. Como primeira medida, o Planejamento Estratégico tem como meta
realizar uma análise das perspectivas da empresa, identificando tendências, ameaças e
oportunidades. No entanto, Kotler & Armstrong (1998) esclarecem que antes de começar
qualquer trabalho de organização ou reorganização de uma empresa, é imprescindível que a
sua missão seja definida. Segundo os autores, a declaração de Missão é uma demarcação do
propósito da organização, isto é, o que ela almeja atingir em um ambiente maior. Neste
sentido, Colenghi (1997) enaltece que a missão deve ser entendida como o estabelecimento de
princípios, valores, crenças e filosofia da empresa. Já, a visão de futuro de uma empresa,
conforme expressa por Barbosa e Brondani (2005), consiste nos rumos que a empresa
pretende tomar, considerando as suas aspirações, suas crenças e sua postura.
Diante da proposta de implementar o planejamento estratégico no HUSM,
inicialmente, foram realizados Seminários de Treinamento em Planejamento Estratégico com
o envolvimento de todos os setores do hospital. O referencial teórico também foi apresentado
em pequenos grupos, além do desenvolvimento de exercícios práticos. Por fim, através de
oficinas de trabalho, foram definidos, discutidos e consolidados os seguintes aspectos
(HUSM, 2003):
Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças);
Análise do ambiente interno (pontos fortes e fragilidades)
Os possíveis cenários (prospecção que analisa a influência no presente, de futuros
alternativos e os impactos no futuro, de decisões atuais),
Os valores da instituição, os quais consistem em um conjunto de crenças e
princípios que orientam as atividades e operações de uma organização; padrões de
condutas praticadas pela organização que influenciam o comportamento geral de
seus membros;
42
A missão, compreendida como a razão de ser da organização e que reflete os
motivos pelas quais ela foi criada e é mantida. Na época, ficou definida como
Missão do HUSM a de “Promover assistência, ensino e pesquisa na área da saúde,
inserindo-se de forma cidadã na sociedade”, e;
A visão, que consiste em definir o estado em que a organização deseja atingir no
futuro e que precisa ser abrangente, desafiadora e detalhada, visando promover o
direcionamento dos rumos de uma organização. A Visão de Futuro do hospital,
estabelecida na ocasião, foi a de “Ser um referencial público de excelência em
assistência a saúde, ensino e pesquisa, com preservação do meio ambiente” (p.9).
A partir destes aspectos, outros igualmente importantes foram delineados, tais como o
estabelecimento das diretrizes gerais, dos objetivos estratégicos, dos indicadores e as ações
que formaram o Processo de Planejamento do HUSM, que seria desenvolvido nos anos
seguintes (HUSM, 2003). Os frutos decorrentes da implantação desta importante ferramenta
de gestão começaram a surgir, uma vez que o HUSM foi um dos hospitais escolhidos como
modelo de gestão pelo Ministério da Saúde e agraciado com o Mérito de Administração
Pública, conferido pelo Conselho de Administração (HUSM, 2006).
Em agosto de 2004, o Ministério da Saúde lançava o Programa de Reestruturação dos
Hospitais de Ensino. O referido Programa visava otimizar a relação entre os Hospitais de
Ensino e o SUS, por meio da reformulação da política de saúde. Para este segmento, em 2004,
destinou mais de R$ 100 milhões para estados e municípios, como incentivo para a
contratualização de hospitais de ensino públicos e privados, além dos R$481 milhões
recebidos do Fundo de Incentivo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa em Saúde
(FIDEPS), realizado em 2003. O HUSM integrou o grupo dos 18 primeiros hospitais de
ensino do país a serem certificados pelos Ministérios da Saúde e da Educação. O novo
programa fortalecia a relação entre gestor e prestador de serviço, sendo que ambos passavam
a formular as metas a serem atingidas pelos hospitais, conjuntamente observada à realidade da
rede de saúde local. No entanto, as metas tinham de estar relacionadas em áreas prioritárias,
definidas pelo Ministério da Saúde, quais eram: compromisso do hospital em relação a
assistência; formação e educação permanentes; área de pesquisa e avaliação tecnológica e
aprimoramento da gestão (HUSM, 2006).
Na época, o HUSM também compôs a Diretoria da Associação Brasileira de Hospitais
Universitários e de Ensino (ABRAHUE) que, na época, apresentou um desempenho político e
técnico sem precedentes, e decisivo para importantes iniciativas dos Ministérios da Educação
e Saúde. Por interposição de equipes técnicas e comissões interinstitucionais, colaborou para
43
o Programa de Reestruturação da Rede de Hospitais de Ensino passando pela avaliação,
certificação e contratualização com um novo modelo orçamentário, focalizando a qualidade
assistencial e não apenas na produção assistencial. No entanto, apesar das conquistas da
gestão na época, um dos maiores desafios do HUSM enfrentados nos últimos anos era a falta
de pessoal. Neste período, já era possível identificar servidores terceirizados e funcionários
contratados pela Fundação de Apoio à Tecnologia e a Ciência - FATEC, como formas de lidar
com o déficit existente no quadro de servidores do hospital (HUSM, 2006).
Uma das preocupações da gestão 2006/20107 foi a de redefinir a MISSÃO e VISÃO
do HUSM. Sendo assim, a Missão do HUSM passava a ser a de “desenvolver ensino,
pesquisa e extensão, promovendo assistência à saúde das pessoas, contemplando os princípios
do SUS com ética, responsabilidade social e ambiental”. E a VISÃO do hospital definida a
partir de então foi a de “ser um referencial público de excelência no ensino, na pesquisa e na
extensão, promovendo a saúde das pessoas” (HUSM, 2010).
Além disso, conforme o Relatório de Gestão do HUSM (2010), entre outras diversas
ações, os pontos fortes da gestão da diretoria executiva, no período em questão, foram: 1) o
aumento da qualificação do quadro de pessoal; 2) a credibilidade do HUSM junto ao usuário
(evidenciado por meio de prêmios) e; 3) a ampliação da representatividade política do HUSM.
Neste sentido, houve um fortalecimento da integração do hospital com o sistema regional
(busca de integração e aproximação com a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde e com o
Conselho de Gestores da Região) e nacional (via participações mais próximas da gestão nos
fóruns políticos em Brasília, na construção do Relatório de Estruturação dos Hospitais
Universitários Federais e com o Ministério Público). Entre as dificuldades enfrentadas no
período, destaca-se: o aporte insuficiente de recursos financeiros para subsidiar as
necessidades essenciais; a não reposição do quadro de pessoal, o comprometimento da receita
do SUS com despesas de terceirização de pessoal e; o aumento da gravidade e complexidade
dos casos clínicos internados e das demandas para internações judiciais.
Em 2010, surgia o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários
Federais (REHUF), instituído pelo Decreto nº 7.082. Desde então, foram seguidas medidas
que consideram a reestruturação física e tecnológica das unidades; a revisão do financiamento
da rede, com crescimento gradual do orçamento destinado às instituições; melhorias dos
processos de gestão; a recuperação do quadro de recursos humanos dos hospitais e o
aperfeiçoamento das atividades hospitalares vinculadas ao ensino, pesquisa e extensão, bem
7 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 2006/2007 podem ser encontradas no apêndice
C.
44
como à assistência à saúde. Em 2011, por meio da Lei nº 12.550, e visando dar continuidade
ao processo de recuperação dos hospitais universitários federais, foi criada a Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBESERH), uma empresa pública vinculada ao MEC.
A criação da EBESERH integra um conjunto de ações realizadas pelo Governo Federal, com
a intenção de recuperar os hospitais vinculados às universidades federais (EBESERH, 2013).
Sendo assim, a EBESERH passa a ser o órgão do MEC responsável pela gestão do
Programa de Reestruturação. As universidades federais poderão aderir a EBESERH, através
de contratos entre as respectivas universidades e a empresa. A proposta é que a EBESERH
atue no sentido de modernizar a gestão dos hospitais universitários federais, resguardando e
reforçando o papel estratégico desempenhado por essas unidades de centros de formação de
profissionais na área da saúde e de prestação de assistência à saúde da população
integralmente no âmbito do SUS (EBESERH, 2013).
Diante deste cenário, a atual gestão8 do HUSM (gestão 2010/ atual) encontra-se em
fase de negociação a respeito da contratualização do hospital da UFSM a referida EBESERH.
No conjunto dessa história, observa-se que o ofício da psicologia possui uma inserção
episódica, o que ficará evidenciado no capítulo a seguir. Não houve nenhuma previsão da
oferta de psicologia no projeto de organização dos serviços da instituição, o que dificulta a
organização dos profissionais que atuam isoladamente para dar sentido ao trabalho que
desenvolvem.
8 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 2010/atual podem ser encontradas no apêndice
C.
A PSICOLOGIA: O SURGIMENTO, OS PERSONAGENS E AS
PRÁTICAS.
No capítulo anterior, foi apresentada a narrativa acerca do nascimento do hospital de
ensino da UFSM, sem deixar de transcorrer pela história da própria universidade. Neste
capítulo, é exposta a trajetória percorrida pela Psicologia junto ao antigo sistema hospitalar da
UFSM, o qual, após diversas transformações no decorrer do tempo, originou o Hospital
Universitário de Santa Maria.
Optou-se por fazer um relato cronológico da entrada dos psicólogos que atuaram no
hospital desde a criação dos primeiros cargos. Para tanto, buscou-se articular os depoimentos
temáticos (sobre a trajetória profissional dos psicólogos) concedidos pelos participantes, bem
como os dossiês e documentos funcionais, com a história do hospital. Enquanto um dos
personagens da história, a participação da pesquisadora foi inserida como parte desse
processo.
No Roteiro de Planejamento do HUSM, não foram encontradas quaisquer pistas que
sinalizassem para a inserção de psicólogos na instituição. Neste sentido, os primeiros indícios,
que remetem a presença de um profissional de psicologia no então Sistema Hospitalar da
UFSM, foram encontrados no Relatório de Gestão da UFSM de 1970 (UFSM, 1970). O
referido relatório expressa que, dentre outros profissionais, um psicólogo fazia parte do Corpo
Técnico do Departamento de Administração Hospitalar (DAH) da UFSM. Além disso, quanto
ao Corpo de Auxiliares, apontava a existência de um auxiliar de Serviços de Psicologia
Aplicada. O relatório também apresenta dados físicos e estatísticos das estruturas que
compunham o DAH, assim como expõe a sua estrutura organizacional, especificando cargos,
setores e serviços. No entanto, a semelhança do Roteiro de Planejamento do HUSM (HUSM,
1978), não cita quem eram estes profissionais ou mesmo descreve as atividades por eles
desenvolvidas.
Em meio às buscas documentais, além de documentos relativos ao Hospital
Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP) – os quais serão abordados mais adiante neste
trabalho, foram encontrados dois relatórios do Serviço de Psicologia do DAH, um deles
referente às atividades desenvolvidas no segundo semestre de 1973 e outro, relativo ao
exercício do setor no ano de 1974. O relatório do Serviço de Psicologia do DAH, relativo ao
46
período de 1973, forneceu indicativos a respeito de quem teria sido este psicólogo que
desempenhava as suas atividades junto ao sistema hospitalar da UFSM. Tais indicações nos
levaram a buscar por dossiês funcionais de ex-servidores da UFSM (cuja acessibilidade nos
foi concedida pelo Departamento de Arquivo Geral – DAG, da UFSM), os quais, por sua vez,
permitiram acesso a alguns dados sóciodemográficos destas pessoas, bem como forneceram
informações a respeito da sua vida funcional.
O início
Através do mencionado Relatório de Serviço de Psicologia do DAH (FUNCK, 1973) e
de dossiê funcional junto ao DAG (UFSM, s/da), descobrimos que Jane Bouchaud Lopes da
Cruz estivera à frente do Serviço de Psicologia do DAH, exercendo suas atividades
profissionais junto ao Hospital Universitário Setor Centro (HUSC). No entanto, a trajetória de
Jane na UFSM era anterior ao exercício das atividades junto ao DAH.
Jane Bouchaud Lopes da Cruz havia ingressado na UFSM em março de 1965. Solteira,
era natural da Gávea/DF. Ela havia concluído o curso de Bacharelado e Licenciatura em
Filosofia9 em 1952 na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.
Inicialmente ela fora contratada para o cargo de “Instrutora de Ensino Superior”, lecionando a
disciplina de Psicologia Educacional, no Curso de Artes Plásticas, da Faculdade de Belas
Artes, no período de março a dezembro de 1965 e 1966. O regime de trabalho vigente era
segundo a Consolidação das Leis do Trabalho10
(CLT). Em seguida, em 1967, ela tivera o seu
contrato alterado para a função de “Professora Contratada”. Ainda naquele ano, Jane Lopes da
Cruz passara a acumular funções na UFSM, pois ela estava sendo contratada para também
exercer a função de psicóloga junto ao Serviço de Assistência Social da UFSM, em
coordenação com a Divisão de Pessoal (que, posteriormente, evoluiu para o DAH). Por meio
9No Brasil, a regulamentação da profissão psicólogo ocorreu somente 1962. No entanto, desde a década de 1950,
já existiam cursos de formação acadêmica e muitas pessoas já atuavam profissionalmente (MENGARDA, 2003).
A Pontifícia Universidade Católica foi o primeiro estabelecimento a oferecer o Curso de Psicologia em nível de
Pós-graduação (especialização), no Rio Grande do Sul, o que ocorreu a partir de 1953 (SILVA, 2006). 10
Inicialmente, os servidores ingressavam na UFSM através de contrato, sendo o trabalho regido segundo a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foi somente a partir da Lei nº. 8112, de 11/12/1990, que dispõe sobre
o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais,
publicada no Diário Oficial da União em 12/12/1990. é que houve a mudança do regime de trabalho de CLT para
o Estatutário. Desde então, a ocupação dos cargos passou a ser via concurso público.
47
da portaria nº 3922/70, em janeiro de 1970, o Reitor José Mariano da Rocha Filho removia a
psicóloga Jane Lopes da Cruz e a auxiliar dos Serviços de Psicologia Aplicada, Maria Esther
Maciel Weinmann, da Reitoria para o Hospital de Tórax, posteriormente denominado de
HUSC. A portaria também determinava que o Serviço de Psicologia Aplicada, que funcionava
na Reitoria, a partir daquele momento, passaria a funcionar junto ao HUSC. Sendo assim, no
que remetia ao desempenho das suas funções como psicóloga, Jane Lopes da Cruz foi lotada
junto ao Departamento de Administração Hospitalar, tendo como local de exercício de suas
atividades o HUSC (UFSM, s/da).
Há indícios que a Profa. Jane Lopes da Cruz prestava atendimento não somente aos
funcionários integrantes do quadro de pessoal do DAH, mas também a alguns servidores da
Universidade. No entanto, não é possível afirmar que este fato estava relacionado a uma falta
de critérios ou normas que delimitassem o exercício de suas atividades aos funcionários do
sistema hospitalar vigente na época, ou se o atendimento aos demais servidores da UFSM era
decorrente de um processo de transição do Serviço de Psicologia Aplicada da Reitoria para o
DAH (FUNCK, 1973).
No período entre 1970 e 1973 a Profa. Jane Lopes da Cruz desenvolveu suas
atividades profissionais junto ao HUSC, quando solicitou demissão deste cargo. Em julho/
1973, a reitor José Mariano da Rocha Filho rescindiu o contrato de trabalho entre Jane e a
instituição, mas ela continuaria na UFSM enquanto professora. No entanto, solicitara licença
de suas atividades docentes por um período de dois anos, quando passaria a residir no Rio de
Janeiro. Em 1975, a pedido, Jane também rompia o contrato de docente, deixando de trabalhar
na UFSM (UFSM, s/da).
Contudo, ao solicitar a rescisão de seu contrato de psicóloga no HUSC, Jane Lopes da
Cruz aproveitara a ocasião para sugerir que a Psicóloga Maria Aparecida Osório Funck fosse
a sua sucessora no cargo (UFSM, s/da).
De acordo com o Relatório do Serviço de Psicologia do DAH (FUNCK, 1973), com o
afastamento da Profa. Jane, em agosto daquele mesmo ano, um novo funcionário foi
contratado para exercer a função de psicólogo junto ao DAH, tendo sido lotado no HUSC.
Observa-se que, ao menos em parte, a sugestão da Profa. Jane fora acolhida, uma vez que a
psicóloga Maria Aparecida Funck integrava o Serviço de Psicologia do DAH. Porém, o
referido relatório não evidencia clareza acerca do novo funcionário contratado, o qual não
teria sido identificado e nem teriam sido fornecidas pistas a respeito de quem se versava.
Diante destes aspectos, foram realizadas buscas documentais visando descobrir quem teria
sido este profissional. Foram encontradas fichas cadastrais de psicólogos que trabalharam no
48
HUSM, na década de 80 e início da década de 90, mas não foram encontrados elementos que
confirmassem a contratação deste profissional, lotado no HUSC. Ainda, buscou-se, sem
sucesso, o dossiê funcional de dois ex-servidores, que talvez pudessem esclarecer tal situação.
Assim, permanece a dúvida, se o novo funcionário mencionado no relatório se referia a
psicóloga Maria Aparecida ou a outra pessoa. Neste caso, embora não se intitulasse como
chefe ou coordenadora nos documentos em que se teve acesso, parece-nos que Maria
Aparecida Funck foi responsável pelo Serviço de Psicologia do DAH, uma vez que ela quem
assinou os dois relatórios encontrados.
Infelizmente, não tivemos acesso a muitas informações acerca da psicóloga Maria
Aparecida Funck. Porém, há evidências de que ela estivera à frente do “Serviço de Psicologia
do DAH” ao menos no período de 1973 ao início de 1975 (mas é possível que tenha
permanecido no cargo até o final da década de 70 ou início da década de 80) e que,
posteriormente, teria desenvolvido suas atividades profissionais junto ao Departamento de
Fonoaudiologia da UFSM (UFSM, 2007).
Sabe-se que para o desenvolvimento das atividades, o Serviço de Psicologia dispunha
de uma sala que lhe foi designada, incluindo mobiliário e material técnico, como testes
projetivos e psicométricos, utilizados para a avaliação psicológica e processos de seleção de
funcionários (FUNCK, 1973).
Maria Aparecida Funck iniciou o seu trabalho realizando um levantamento e estudo do
material que se encontrava a disposição do serviço, bem como a sua organização e
complementação no que se fazia mais importante. Neste sentido, já em um primeiro
momento, ela identificou que ainda não haviam sido estabelecidas e regulamentadas normas
para o funcionamento do serviço, dando início, naquele mesmo ano, a um esboço do
Regimento Interno do Serviço de Psicologia (FUNCK, 1973).
Além disso, Maria Aparecida também constatou a necessidade de definir o campo de
trabalho e objetivos a serem atingidos pelo setor. Sendo assim, visando alcançar maior
produtividade na função, procurou limitar o campo de ação ao Departamento de
Administração Hospitalar – o que não somente viabilizaria conhecer a amplitude do campo,
como também observar o ambiente que seria trabalhado. Aliás, a observação do ambiente
hospitalar era uma tarefa constante e inerente ao Serviço de Psicologia, o que possibilitava o
desenvolvimento de um plano de trabalho e de intervenção. Ainda, o referido serviço também
teria realizado estudos junto a Biblioteca Central bem como a outros profissionais, visando
melhor realização e compreensão dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos no hospital
(FUNCK, 1973).
49
Nesta perspectiva, dentre as atividades desenvolvidas na época, além das observações
do meio, destacam-se a assistência aos funcionários e entrevistas e/ou intervenções com as
chefias de setores e serviços, com o propósito de coletar informações bem como prestar
orientação quanto a atitudes a serem tomadas, quando tal procedimento se fazia necessário.
Acrescenta-se que as intervenções visavam orientação, acompanhamento ou terapia de apoio,
sem deixar de considerar a melhor adaptação ao trabalho (FUNCK, 1973).
Os atendimentos dos funcionários davam-se através da busca espontânea dos mesmos
ou pelo encaminhamento das respectivas chefias. Sabe-se que em determinadas situações
também foram realizadas a aplicação e levantamento de testes projetivos e psicométricos
(FUNCK, 1973).
Esporadicamente, também eram assistidos os filhos dos funcionários do DAH, tendo
em consideração que o acolhimento ou manejo de situações familiares favoreceria uma maior
tranquilidade e disponibilidade do funcionário na execução das atividades laborais. A exceção
do trabalho desenvolvido no DAH ficava por conta da assistência aos funcionários da
Universidade que não integravam o quadro de pessoal do DAH, mas cujos atendimentos já
haviam sido iniciados pela Profa. Jane Lopes da Cruz e que urgiam por continuidade
(FUNCK, 1973).
De modo geral, observa-se que eram realizados atendimentos individuais dos
funcionários. No entanto, há registros de que o serviço pretendia dar maior ênfase ao
desenvolvimento de trabalhos em grupo, os quais permitiram não apenas atingir um maior
número de pessoas, como também trabalhar estes indivíduos em seu conjunto, integrados ao
ambiente hospitalar. Além disso, esperava-se desenvolver um trabalho preventivo,
promovendo maior satisfação geral no trabalho e nos relacionamentos interpessoais, maior
produtividade e uma diminuição no estresse decorrente do ambiente hospitalar e na
necessidade de tratamento individual (FUNCK, 1973).
Em 1974, o Serviço de Psicologia, na pessoa da Maria Aparecida Funck, encaminhava
para estudo e apreciação do Dr. José Mariano da Rocha Neto, Diretor do DAH, na época, um
regimento para o Serviço de Psicologia. Este regimento havia sido planejado com a finalidade
de situar o referido serviço na assessoria da Seção de Pessoal do DAH.
Com relação a este aspecto, mediante tal regimento, o Serviço de Psicologia consistia
em uma unidade de assessoria a seção de pessoal, estando subordinada, administrativamente,
à Seção Administrativa do Departamento de Administração Hospitalar (FUNCK, 1974).
Além disso, conforme o referido regimento, as finalidades do Serviço de Psicologia
consistiam em:
50
I – Trabalhar junto ao quadro de pessoal do DAH, visando o alcance de uma adaptação
ao trabalho que permita o aumento da satisfação e da moral, promovendo melhores condições
de relacionamento interpessoal e de realização pessoal;
II – Possibilitar situações que favoreçam o aumento do rendimento funcional
(produtividade) e;
III – Participar do trabalho de adaptação de funcionários novos, pesquisando
elementos característicos de personalidade, inclusive aptidões, que favoreçam a orientação
científica quanto às condutas serem adotadas com relação aos mesmos.
Ainda, o referido regimento buscava esclarecer aspectos “Da Organização”, “Da
Competência”, “Dos Métodos de Atuação” e, por fim, “Das Disposições Gerais” do Serviço
de Psicologia (FUNCK, 1974).
Em meio as nossas buscas documentais, não se teve acesso a uma resposta da Direção
do DAH sobre o referido regimento. No entanto, em um ofício do Serviço de Psicologia
dirigido ao Diretor do DAH, na ocasião o Contador Waldemar Speroni, com data de janeiro
de 1975, encaminhava o relatório das atividades do Serviço de Psicologia referentes ao ano de
1974, bem como uma cópia do Regimento para o referido serviço. Com relação a este
aspecto, observa-se uma reformulação deste último regimento com relação àquele que havia
sido encaminhado há cerca de um ano antes. Este regimento aborda as “Atribuições do
Psicólogo”, as “Especificações de Classes” e a “Descrição Sumária das Atribuições da
Classe” em seus diferentes níveis (a saber, A, B e C), dentre outros elementos (FUNCK,
1975).
Sobre as atividades desenvolvidas pelo serviço em 1974, o relatório expressa que o
serviço dera continuidade às atividades anteriormente mencionadas, acrescido da participação
do Serviço de Psicologia na seleção de candidatos para o preenchimento de vagas. Neste
sentido, as dificuldades ficavam por conta de alguns setores adotarem diferentes atitudes,
realizando a contratação antes que a avaliação fosse concluída – o que não possibilitava que o
trabalho fosse realizado como desejável. No entanto, atribuía-se tais acontecimentos ao fato
de tratar-se de uma recente implementação do Serviço de Psicologia (FUNCK, 1973).
Além disso, o relatório permite observar a preocupação do Serviço de Psicologia em
apresentar dados numéricos aos gestores do DAH, bem como em aplicar questionários em
diversos setores do hospital com o propósito de coleta de dados para, a partir disso, planejar
intervenções a serem realizadas em nível grupal. Neste caso, as dificuldades ocorreriam no
sentido de que muitas vezes as situações ambientais não favoreciam a atividade em grupo
(FUNCK, 1975).
51
Paralelamente a estes acontecimentos, a unidade hospitalar psiquiátrica também se
mobilizava para o seu pleno funcionamento. Em um dossiê, referente ao funcionamento do
Hospital Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP) da UFSM (MORAES, 1968), foram
encontrados indícios que revelam as intenções do desenvolvimento de um trabalho em equipe
composta por diversos profissionais, dentre eles, psicólogo(s). Contudo, este profissional não
constava entre o pessoal mínimo necessário para que o Hospital Psiquiátrico iniciasse o seu
funcionamento. Ainda, no que remete a exigências físicas, “Consultórios de Ambulatório de
Saúde Mental” e “Consultório do Serviço Social e Psicologia” também estavam previstos no
referido dossiê.
Um relatório, no qual são apresentados os dados estatísticos do Centro Comunitário de
Saúde Mental (CCSS), relativos ao ano de 1972, sinaliza que o então médico chefe do CCSS,
Dr. Milton Sanchis, havia estabelecido vários contatos com o Dr. Fernando Guedes (dirigente
do Departamento de Saúde Mental do Estado) e sua equipe, da qual a psicóloga Izolina
Fanzera também fazia parte. Os contatos foram para tratar de assuntos relativos ao referido
Centro Comunitário, bem como de uma possível visita daqueles, ao CCSS (HUSP, 1972a).
Outro relatório, relativo ao período de setembro de 1972, aponta que a psicóloga Ivone
Coelho de Souza, estava desenvolvendo um trabalho com a intenção de implantar o “Gabinete
de Psicologia”. Com relação à Ivone, sabe-se apenas que ela trabalhava voluntariamente, e
que estava entrando em contato com psicólogos da capital e firmas especializadas com vistas
à aquisição de testes, material e literatura especializada (HUSP, 1972b). No entanto, nos
relatórios a que se teve acesso, dos anos seguintes, não foram encontradas evidências da
consolidação ou continuidade do trabalho desenvolvido por Ivone.
No decorrer deste trabalho, em meio às buscas por tais documentos, descobriu-se que,
em seus primeiros tempos, os funcionários da universidade não eram contratados via concurso
público. Em decorrência disso, muitos dos documentos relativos aos funcionários contratados
não teriam sido arquivados, ou foram desprezados após algum tempo. Além disso, tomou-se
conhecimento que, embora evidenciasse a preocupação em guardar a documentação e
registros do hospital, até a década de 90, a instituição não estivera atenta para as condições
ambientais de conservação dos documentos. Em vista disso, muitos deles foram descartados
devido às péssimas condições em que se encontravam. Foi a partir de então que houve uma
maior atenção dos gestores para as condições ambientais na conservação dos documentos
junto ao Arquivo Permanente do HUSM. A falta de zelo na conservação e a consequente
necessidade de descartar diversos documentos, assim como a dispersão desta documentação
(uma vez que não há um serviço instituído) dificultou a realização do estudo bem como
52
resultaram na carência de algumas informações e lacunas na reconstrução da história da
Psicologia no HUSM.
Do Sistema Hospitalar ao hospital unificado: a inserção dos psicólogos
Conforme já anunciado, no período entre 1981 e 1982, o Hospital Universitário Setor
Centro (HUSC) estava sendo gradativamente transferido para a estrutura do Campus,
passando a denominar-se Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) (D9; LIMA et al,
2005; HUSM, 2000). Ainda que estivessem próximos em localização, e de constituírem parte
do Departamento de Administração Hospitalar (DAH) da UFSM, o Hospital
Neuropsiquiátrico, comumente chamado de Hospital Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP)
e o HUSM eram estruturas distintas quanto ao espaço físico e ao funcionamento (UFSM,
1970). Embora a integração destas duas estruturas estivesse prevista no planejamento do “HU
Campus” desde o seu início (UFSM, 1978) e também desde a autorização de localização e
funcionamento do então HUSP, foi somente mais tarde que, gradualmente, o HUSP foi
assumindo o status de Unidade Psiquiátrica do HUSM (D3, D9).
Em meio a esse panorama, em abril de 1982, era realizado um concurso público para o
provimento de cargos de diversas categorias profissionais – dentre elas, a de psicólogo, para a
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Neste processo seletivo, Maria Helena
Ruschel e Mara Lúcia Rossato foram classificadas, respectivamente, em primeiro e segundo
lugar (D9; BRASIL, 1983).
Mara Lúcia Rossato havia concluído a graduação em Psicologia na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), ao final de 1982, vindo, logo após,
prestar concurso público para a UFSM. Aprovada, em novembro daquele mesmo ano, antes
mesmo de completar um ano de formatura, Mara Lúcia ingressava na instituição, sendo lotada
a exercer as suas atividades profissionais junto ao HUSP (D9). O regime de trabalho vigente
era segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), (UFSM, s/db), no qual era cumprida
uma jornada de 30 horas semanais. Hierarquicamente, Mara Lúcia estava submetida à
Coordenação Clínica do HUSP (D9). Posteriormente, quando o HUSP passou a condição de
unidade do HUSM, Mara Lúcia também submetida à Direção Clínica do HUSM, conforme
informações concedidas pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos.
53
Até onde se tem notícias, além da psicóloga voluntária Ivone Coelho de Souza, não há
indícios da passagem de outros psicólogos junto ao HUSP, sendo Mara Lúcia Rossato a
primeira psicóloga contratada pela UFSM para desempenhar as suas atividades profissionais
naquela instituição. Inicialmente, a presença de um psicólogo e a necessidade de providenciar
as condições de trabalho para este profissional teriam suscitado um frisson no hospital, sendo
igualmente acompanhada de estresse, à medida que implicou, de alguma forma, desacomodar
outro(s) profissional(is) de sua(s) sala(s). Mas como havia uma grande demanda de trabalho
para a Psicologia, tais dificuldades foram sendo superadas e o trabalho desenvolvido pela
psicóloga acabou sendo bem acolhido (D9).
Como não existia uma familiaridade dos profissionais em relação ao trabalho
desenvolvido pela Psicologia, durante algum tempo, parte da atividade desenvolvida por Mara
Lúcia Rossato foi a de divulgar as possíveis contribuições do psicólogo em um hospital
psiquiátrico (D9).
A equipe multiprofissional do HUSP era constituída por médicos psiquiatras
professores da UFSM, equipe de enfermagem, assistente social, psicóloga, dentre outros
profissionais (D9; HUSP, 1972a; HUSP, 1972b, HUSP, 1973). Além disso, a equipe também
era composta por médicos residentes, pois na época, a instituição já oferecia o Curso de
Residência Médica com duração de dois anos em Psiquiatria e, um terceiro ano, de
Psicoterapia, para os psiquiatras que quisessem complementar/aprofundar a sua formação.
Tratava-se de residências médicas dirigidas para a assistência de adultos (D9).
Inicialmente, o HUSP era constituído pelas unidades de internação feminina,
masculina e de pacientes particulares. Posteriormente, houve um período em que o hospital
passou por uma grande transformação, em que estas unidades foram alteradas. Com o passar
dos anos, a unidade particular deixou de existir; as duas unidades existentes, uma para
pacientes femininos e outra, para os masculinos, passaram a ser mistas, ou seja, abrigando os
pacientes adultos, de ambos os gêneros. A partir daquele momento as unidades passaram a
funcionar sob dois agrupamentos: a Unidade Paulo Guedes, destinada para a assistência aos
pacientes com transtornos psiquiátricos graves (pacientes em surto psicótico, com alterações
de humor, risco de suicídio e auto e heteroagressão) e a outra, a Unidade SERDEQUIM
(Serviço de Recuperação de Dependentes Químicos), para os pacientes com dependência
química. Inicialmente, esta última unidade atendia a dependentes de álcool e depois, parece
que passou a incluir outras drogas. Com efeito, Mara Lúcia Rossato desenvolveu atividades
tanto na Unidade Paulo Guedes, quanto na Unidade SERDEQUIM, sendo que nesta,
juntamente com o ambulatório, realizou grande parte das suas atividades. Basicamente, ela
54
desenvolveu o trabalho em grupos (operativos, psicoterapêuticos) com os pacientes e seus
familiares. Ainda, quando lhe era solicitado, realizava avaliação psicológica
(psicodiagnóstico) dos pacientes (D9).
Como já anunciado, além do serviço de internação, o HUSP dispunha de um
ambulatório de Saúde Mental, denominado “Centro Comunitário de Saúde Mental” (CCSM).
Este ambulatório se destinava a atender não apenas os pacientes que necessitavam de
acompanhamento pós-internação, mas disponibilizava, à comunidade em geral, a assistência
psicoterápica, tanto para adultos como a crianças e adolescentes (D3; D9).
Com relação a isso, inclusive, registra-se que, na época, havia uma grande demanda
pela assistência de crianças e adolescentes. Contudo, também havia uma carência de
psicoterapeutas infantis na cidade. Parece-nos que até a contratação de psicólogos clínicos, os
psiquiatras prestavam atendimento psicoterápico a crianças e adolescentes e participavam de
eventos em busca de supervisão e aperfeiçoamento, junto a profissionais e professores da
capital ou mesmo de outros países (psicanalistas argentinos), em passagem por Porto Alegre
(HUSP, 1973). No entanto, seja pela falta de interesse em oferecer Residência em Psiquiatria
para a Infância e Adolescência, ou pela carência de profissionais capacitados - já que até
poucos anos atrás não havia psiquiatra infantil na cidade - compreende-se que o atendimento
ao público infantil não consistiu num foco dos programas de residência oferecidos pelo
hospital. Assim, diante de psicólogos no quadro da instituição, compreendemos que por estas
razões, as demandas relativas ao público infantil foram repassadas aos profissionais de
psicologia, os quais estariam aptos a este serviço e que, durante um longo período se
ocuparam, principalmente, da assistência psicoterápica individual de crianças e adolescentes.
Os psiquiatras seguiram prestando o amparo psiquiátrico, medicamentoso aos pacientes
infantis. E quanto aos adultos, à assistência estava a cargo dos médicos residentes de
psiquiatria e psicoterapia e eventualmente, a psicóloga (D3; D9). Ainda sobre o trabalho
desenvolvido no ambulatório, houve um período em que, juntamente com a Dra. Cátia
Domingues Gói – então coordenadora do HUSP – Mara Lúcia organizou e desenvolveu uma
atividade junto ao chamado “Núcleo de Orientação Psicológica ao Estudante de Medicina”
(NOPEM). A proposta de trabalho deste núcleo consistia em escutar as angústias e
ansiedades, de qualquer natureza, dos estudantes de medicina (D9).
Mara Lúcia Rossato tinha uma intensa agenda de trabalho, mas reservava alguns
horários para registrar as atividades nos prontuários dos pacientes. Ainda, ela coordenava
alguns dos seminários realizados junto aos médicos residentes; além de participar de: reuniões
55
de equipe; de supervisão e discussão de casos clínicos; e das administrativas, realizadas com
os funcionários do HUSP (D9).
Dentre as atividades de rotina, acrescenta-se que Mara Lúcia prestava contas de seu
trabalho através de relatórios mensais, os quais explicitavam as atividades realizadas nas
unidades e ambulatório, o número de pacientes atendidos, de grupos e de seminários
realizados, etc. Estes relatórios eram entregues ao coordenador do HUSP. E, considerando
que ela e a assistente social eram as novas funcionárias na instituição, havia uma preocupação
das mesmas em construir um sólido trabalho, sendo que a entrega destes relatórios significava
um importante cuidado nesta construção (D9).
Além disso, juntamente com os demais integrantes, Mara Lúcia participava de outras
atividades desenvolvidas pela equipe do HUSP. Durante algum período, eles se deslocavam à
capital para participar de cursos de aperfeiçoamento e capacitação em dependência química
(D9).
Ao final da década de oitenta, início da década de noventa, diante do Movimento
Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica, foi criada a Comissão Interinstitucional de Saúde
Mental, que tinha representantes do HUSP, do HUSM, dentre outras instituições, interessadas
em pensar e discutir a saúde mental de Santa Maria. Sendo assim, a Psicologia do HUSP
também se ocupava com as questões da saúde mental do município, como forma de viabilizar
a reestruturação que estava sendo proposta, denominada de “sistema alternativo de
tratamento” (sic). Na época, visando promover a capacitação de profissionais em meio ao
período de mudanças, a UFSM, promoveu os cursos de Administração em Saúde Mental e de
Especialização em Saúde Mental Coletiva, os quais a psicóloga teria cursado. E como fruto da
Especialização em Saúde Mental, a monografia de Mara Lúcia se ocupou de contar, ao menos
parte da história da saúde mental no município, sendo posteriormente publicada sob a forma
de artigo na Revista de Saúde Mental Coletiva sob o título de “O Percurso da Loucura em
Santa Maria” 11
. Além disso, sob a Coordenação do Cyrillo Zadra, a equipe do HUSP
apresentou trabalhos em congressos, fazendo referência a este novo estilo de tratamento, no
qual o paciente estava diretamente implicado, o que era uma novidade para a época (D9).
Diante de tantas conquistas e envolvimento de Mara Lúcia com os acontecimentos,
uma importante dificuldade enfrentada pela psicóloga refere-se ao fato de que, naquele tempo,
somente os procedimentos médicos eram custeados pelo governo. Sendo assim, uma vez que
11
Para o desenvolvimento desta pesquisa, buscamos localizar a monografia do curso junto aos arquivos da
Biblioteca Central da UFSM, mas, ao contrário de outras monografias elaboradas (como exigência para
conclusão da especialização), aquela elaborada por Mara Lúcia não foi localizada.
56
tal receita permitia o funcionamento e continuidade dos serviços e para que a instituição
tivesse custeados os procedimentos realizados por Mara Lúcia, eram os médicos residentes
que se responsabilizavam, oficialmente, pelos atendimentos realizados pela psicóloga.
Tratava-se de uma situação muito desconfortável, uma vez que não permitia que Mara Lúcia
se apropriasse (formalmente) do trabalho que ela desenvolvia (D9).
Logo após Mara Lúcia Rossato entrar no HUSP, Maria Helena Ruschel ingressava na
UFSM em março de 1984, aos seus 37 anos. Natural de São Sebastião do Caí/RS, Maria
Helena tinha concluído a graduação há cerca de três anos. Ao ingressar na UFSM, ela foi
lotada no HUSM, para desenvolver suas atividades profissionais como psicóloga junto a
Coordenação de Recursos Humanos (CRH) (UFSM, s/db).
Poucas são as notícias a respeito dela. No entanto, sabe-se que, no decorrer de sua
trajetória, enquanto única psicóloga no hospital geral, Maria Helena representava o “Serviço
de Psicologia do Hospital Universitário”. As atividades por ela desenvolvidas compreendiam
o atendimento ao quadro do pessoal, e envolviam: a realização de entrevistas de ingresso,
acompanhamento e desligamento de funcionários do HUSM; a avaliação com a finalidade de
colocação e/ou remanejamento de pessoal; a orientação de funcionários e; a elaboração de
laudos. Ainda, sabe-se que, em 1985, devido aos impedimentos do titular, Maria Helena
estivera frente à chefia do Serviço Social do Hospital Universitário Setor Psiquiátrico
(HUSP). No período entre 1985 e 1986, parece-nos que Maria Helena estivera à frente ao
Serviço de Colocação de Pessoal da Divisão dos Serviços Administrativos (DSA), do
Departamento de Administração Hospitalar (UFSM, s/db).
Por volta de 1988, Maria Helena Ruschel iniciou o Curso de Mestrado em Filosofia,
na UFRGS. Em decorrência dos estudos, reduzira a sua carga horária junto ao HUSM. Em
abril de 1989, ela resolveu rescindir o seu contrato de trabalho junto a UFSM. Não há indícios
dos motivos que a levaram a tal decisão, sabendo-se apenas que, naquele momento, ela
cursava o mestrado na capital, deslocando-se semanalmente, para tanto (UFSM, s/db).
Naquele mesmo ano, foi realizado um novo concurso público da UFSM, visando
provimento de cargos de diversas categorias profissionais, dentre elas, a de psicólogo. Entre
os psicólogos, gradualmente e num período de quatro anos, os seis primeiros classificados no
concurso vieram a ingressar e desempenhar as suas atividades junto ao HUSM. São eles, por
ordem de classificação: Salvador Angelo Zambrano Penteado, Maria Izabel Ziani Pradel,
Denise Bee, Nair Iracema Silveira dos Santos, Eliana Beatriz Ramos dos Santos e Eliani
Venturini Viero (BRASIL, 1989).
57
No entanto, Eliana Beatriz da Costa Ramos, classificada neste concurso, já
desenvolvia atividades de Psicologia Clínica junto ao hospital aproximadamente desde 1988,
por meio de trabalho voluntário (D1).
Em 1985, ela havia sido graduada em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Natural de Santa Maria, e após concluir a
faculdade, casada e com filhos, ela e a família retornaram para a cidade natal. Durante algum
tempo, ela desempenhou atividades profissionais em seu consultório. No entanto, ela
almejava por um trabalho que lhe pudesse proporcionar estabilidade financeira sem deixar de
exercer a Psicologia (D1).
Por volta de 1988, Eliana da Costa Ramos ingressou na instituição, a convite de uma
médica endocrinologista e professora da UFSM. Em uma oportunidade anterior elas haviam
trabalhado juntas, realizando grupos com crianças e adolescentes portadoras de diabetes, no
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) (D1).
Na época, o Ministério da Saúde havia definido uma ação programática para a
“Assistência Integral a Saúde da Criança”, delimitando uma linha política clara de assistência
ao público infantil (Ministério da Saúde, 1984), a qual também viria a se refletir nas
atividades desenvolvidas no HUSM.
Com o propósito de que fosse realizada psicoterapia infantil, a médica desenvolveu
um projeto para que Eliana prestasse, voluntariamente, a assistência psicológica de crianças e
adolescentes. Sendo assim, durante um período aproximado de dez anos (entre 1988 a 1997/
1998), Eliana realizou psicoterapia infantil com os pacientes em tratamento com esta médica.
Inicialmente, eram atendidos os pacientes infantis da endocrinologia, mas gradativamente, os
demais profissionais passaram a lhe encaminhar pacientes, e assim, Eliana passava a atender
os pacientes das diferentes clínicas da pediatria. Havia uma sala destinada para a assistência
psicoterápica das crianças e adolescentes. O trabalho era desenvolvido a nível ambulatorial,
mas, estendia-se a internação quando algum de seus pacientes estava hospitalizado (D1).
Por volta desta mesma época, em 1988, Eliana também dava início a um trabalho de
assistência junto às gestantes. Em um primeiro momento, o trabalho era realizado com bebês
ou crianças pequenas, e suas mães. No entanto, com o desenvolvimento da atividade, foram
considerados os benefícios de um trabalho com gestantes. Nesta situação, muitos aspectos
relativos aos medos, angústias e ansiedades das gestantes relativas à maternidade, ao parto, ao
desenvolvimento dos bebês, bem como relacionamentos familiares poderiam ser abordados,
orientados e intervindos, preventivamente. Ainda poderiam ser identificadas gestantes que
58
evidenciavam algum transtorno mental, realizando os encaminhamentos pertinentes, quando
fosse o caso (D1).
Este trabalho era desenvolvido por uma equipe multiprofissional composta pelas áreas
médica, da enfermagem, nutrição, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia. Os profissionais
se revezavam na realização dos grupos com as gestantes, sendo que, geralmente, dois ou três
profissionais da equipe participavam dos grupos realizados. Diariamente, as gestantes eram
convidadas a participar, sendo o trabalho realizado antes da consulta médica. Durante algum
tempo, a equipe se manteve unida, trabalhando de forma integrada, e tranquila. No entanto,
por um período de quatro a cinco anos este trabalho foi interrompido. Por alguma razão,
aquele grupo multiprofissional foi se dispersando. Além da escassez de profissionais, a
disponibilidade de espaço era outra dificuldade enfrentada. Até o momento em que um
professor da área de ginecologia retomou a ideia e, diferente da equipe multiprofissional de
anos atrás, nos dias atuais, apenas Eliana segue realizando a atividade (D1). Posteriormente,
como será mencionado mais adiante, ela passaria a desenvolver suas atividades enquanto
psicóloga concursada pela UFSM.
Ao final de dezembro de 1989, alguns meses após o concurso, Maria Izabel Ziani
Pradel ingressava na UFSM, sendo lotada no HUSM para desenvolver as suas atividades
junto a CRH. Parece-nos que por um período aproximado de oito meses, o setor não dispôs de
uma psicóloga para dar continuidade às atividades até então desenvolvidas por Maria Helena
Ruschel, que havia deixado o cargo em abril daquele ano (D6).
Na época com 30 anos, Maria Izabel residia em Alegrete, estava casada e tinha
formado uma família. Graduada há sete anos, ela atuava profissionalmente junto à prefeitura
local, em consultório e como docente universitária – sendo esta última, uma carreira por ela
almejada. Deste modo, Maria Izabel percebera, na UFSM, uma oportunidade de aproximar-se
da realização deste desejo (de exercer a docência, seguindo uma carreira universitária na
UFSM), ao mesmo tempo em que este local poderia lhe oferecer condições dela continuar se
desenvolvendo, de seguir estudando. E, essas possibilidades a motivaram a assumir a vaga
junto ao concurso da UFSM (D6).
No entanto, as dúvidas quanto à viabilidade dela e sua família de se estabelecerem em
Santa Maria, levaram-na a uma intensa rotina de trabalho e viagens, uma vez que a família de
Maria Izabel havia permanecido em Alegrete. A mudança de município, envolvendo toda a
família, aconteceria gradualmente. E, neste período inicial, portanto, ela se deslocava
semanalmente, entre as duas cidades, desenvolvendo o seu trabalho no HUSM durante quatro
59
dias na semana. Nos demais, Maria Izabel ia ao encontro da família e de outras atividades
profissionais que mantivera naquele município (D6).
Assim como Maria Helena Ruschel, Maria Izabel Z. Pradel e os demais psicólogos
que desenvolveram as suas atividades junto a CRH/HUSM, estavam submetidos ao
Coordenador do setor, sendo vinculados à Direção Administrativa do hospital (D1, D2, D6,
D10). Havia cerca de oito meses que Maria Helena Ruschel tinha deixado o cargo - que
permaneceu vago até que novo concurso fosse realizado e, nomeada, Maria Izabel o
assumisse. E, no transcorrer deste período, o desenvolvimento de um trabalho pela Psicologia
junto a CRH permanecera interrompido. Além da demanda, havia muita expectativa do
trabalho que viria a ser realizado (D6).
Naquele momento, a proposta de intervenção junto a CRH era a do desenvolvimento
de um trabalho organizacional, abarcando a instituição como um todo. E, nesta perspectiva, a
atividade realizada por Maria Izabel tinha em vista promover uma maior integração, não
apenas entre os funcionários de um mesmo setor e entre estes e a chefia, mas também entre os
diferentes setores e direções do hospital; ainda, visava oferecer suporte e o desenvolvimento
destes grupos em suas atividades profissionais. O desdobramento de seu trabalho dava-se,
basicamente, através de reuniões e intervenções com grupos de colaboradores, chefias e/ou
diretores do hospital (D6).
Nos setores, estes grupos eram realizados em diferentes turnos de trabalho, inclusive à
noite. Além disso, embora menos frequente, quando necessário ou encaminhados por suas
chefias, também eram realizados atendimentos individuais de alguns funcionários, tratando-se
questões pontuais e sempre buscando-se desenvolver um trabalho integrado daqueles com as
chefias . Ainda, Maria Izabel Z. Pradel realizou atividades junto ao setor responsável pela
Educação Continuada, promovendo a capacitação e o desenvolvimento dos funcionários da
instituição, principalmente com as áreas da enfermagem e administrativa (D6). Além disso, as
atividades de Educação Continuada também promoviam/fortaleciam a integração entre os
colaboradores e diversos setores da instituição. Maria Izabel desenvolveu suas atividades
junto do hospital por um período de dez meses, mas de forma muito intensa e, neste curto
período, conseguiu mobilizar as coordenações, que enfrentavam diversas dificuldades na
época. Evidenciava motivação e tivera um feedback favorável do trabalho que desenvolvera.
No entanto, devido aos obstáculos que a impossibilitaram de conciliar suas atividades
profissionais e aspectos pessoais e familiares, ela solicitou a exoneração, deixando o cargo em
outubro de 1990. Dois meses após, aos 28 anos, solteira e natural de Tapejara, Denise Bee
ingressava no HUSM, assumindo o cargo deixado por Maria Izabel, junto a CRH/HUSM. Ela
60
tivera uma rápida passagem pelo setor, no qual desenvolvera as suas atividades profissionais
por cerca de cinco meses, deixando o cargo em Maio de 1991 (UFSM, s/dc). Novamente, as
atividades desenvolvidas pela Psicologia junto a CRH/HUSM foram interrompidas por um
período aproximado de três meses, pois somente em agosto daquele ano, uma nova psicóloga,
Nair Iracema Silveira dos Santos, passaria a desenvolver as atividades junto ao setor.
Na época, por volta dos seus 34 anos, Nair Silveira dos Santos e a família haviam se
estabelecido recentemente em Santa Maria, por conta da atividade profissional de seu
cônjuge. Graduada há cerca de nove anos, naquele momento ela estava concluindo o mestrado
em Educação, na UFRGS. E com a finalização da pós-graduação, ela havia abdicado de suas
atividades profissionais, de assessoria a escolas, além da docência. Portanto, enfrentava um
momento de instabilidade. Assim, a nomeação para assumir o cargo de psicóloga junto a
CRH/HUSM representava uma importante oportunidade de retomar as atividades
profissionais (D10).
Naquele momento, uma assistente social estava à frente da Coordenação dos Recursos
Humanos. Nair Silveira dos Santos foi bem acolhida e revelava-se satisfeita com a perspectiva
de trabalhar no hospital. A coordenadora do CRH/HUSM, na época, mostrava-se uma pessoa
muito aberta ao diálogo com uma interessante visão a respeito do cotidiano e das demandas de
uma instituição hospitalar (D10).
Sendo assim, embora a demanda apresentada estimasse o atendimento clínico de
funcionários do hospital, a sua perspectiva de trabalho assemelhava-se àquela realizada por
Maria Izabel, perpassando por um ponto de vista institucional. Deste modo, o trabalho
desenvolvido se ocupava de acolher e escutar os trabalhadores em seus sofrimentos, mas
centrava-se na condição dos trabalhadores e processos de trabalho, no modo em que eram
construídos os processos de trabalho e quais eram os sofrimentos suscitados, além de
conhecer as demandas que chegavam a estes trabalhadores e aos seus setores de trabalho
(D10).
A então Coordenadora dos Recursos Humanos contribuiu muito para a construção
deste trabalho, na medida em que foi apresentando a nova psicóloga aos diversos setores,
chefias, unidades de internação, além de convidá-la a participar das reuniões com as direções
do hospital: Clínica, Administrativa, de Enfermagem e de Ensino, Pesquisa e Extensão. Sendo
assim, à medida que circulava pelos diferentes setores, Nair foi conhecendo os colaboradores
e o modo como eram construídos os processos de trabalho na instituição. E foi realizando a
escuta dos trabalhadores que lhe eram encaminhados. Em meio a estes acontecimentos, Nair
Silveira dos Santos foi realizando uma análise das situações encaminhadas e do sofrimento
61
destes funcionários, dos setores a que eles pertenciam e foi elaborando um entendimento
acerca das questões institucionais. Decorrido algum tempo, e visando um espaço para pensar
o cotidiano do hospital, seu funcionamento e processos de trabalho, propôs aos representares
do hospital uma reunião mensal, da qual participariam os diferentes setores/direções do
hospital. Para a sua supressa, a proposta foi aceita pelas direções do hospital, e algumas
reuniões foram realizadas (D10).
No desenvolvimento de seu trabalho, os empecilhos ficaram por conta da grande
demanda que havia para que os trabalhadores recebessem atendimento clínico individual e do
desejo ou ansiedade de algumas chefias que esperavam a rápida resolução dos problemas com
aquele trabalhador. Mas também havia pessoas e setores interessados em colaborar e pensar
sobre as coisas que estavam acontecendo. Assim, também foram realizadas reuniões, grupos
com colaboradores de alguns setores do hospital, que apresentavam sofrimento e/ou estavam
em conflito (D10).
Na época, vários colaboradores se encontravam na condição de dependência química.
E, a partir disso, foi identificada a necessidade de se pensar em um projeto que abarcasse essa
questão junto aos trabalhadores do hospital. Um grupo foi constituído para elaborar e
desenvolver esta proposta de trabalho. E foi neste momento que, entre outros profissionais,
Nair Silveira dos Santos e Mara Lúcia Rossato - então psicóloga da unidade psiquiátrica –
teriam realizado algumas reuniões a fim de refletirem sobre o assunto (D10).
No entanto, ao final daquele ano, em dezembro de 1991, Nair Silveira dos Santos se
afastou das suas atividades profissionais devido à licença-maternidade, retomando o trabalho
no HUSM somente em março de 1992 (D10). Por volta deste período, Salvador Angelo
Zambrano Penteado - que havia assumido a vaga junto ao setor de Recursos Humanos da
Reitoria da UFSM, permanecendo no cargo até aquele momento - foi transferido para o
HUSM, a convite do o Prof. Eduardo Martins de Oliveira Rolim – na época, Diretor Geral do
hospital (gestão de 1990 – 1994) (D4). Ao que parece, Nair Silveira dos Santos teria
colaborado com a direção do hospital da época, no sentido de acolher e refletir sobre a
proposta de trabalho que caberia a ser desenvolvida pelo colega que estava sendo transferido
para o HUSM. E a partir disso, da interação com o novo colega e das necessidades da época, a
proposta de trabalho a ele reservada foi a do desenvolvimento de atividades de Psicologia
Clínica. Sendo assim, no que remete a sua chefia, Salvador Penteado estava (e segue)
submetido à Direção Clínica do HUSM (D10).
Logo em seguida, Nair Silveira dos Santos foi chamada em um concurso que havia
realizado para o cargo de docente da UFSM. Após refletir muito sobre o assunto e, diante da
62
necessidade de dedicação exclusiva, ela optou por assumir o cargo de docente, deixando a
função junto ao HUSM (D10). No mês seguinte, a pedido (devido a situações pessoais/
familiares), Mara Lúcia Rossato foi transferida da UFSM para a UFRGS, passando a residir e
trabalhar na capital (D9). Em um curto período de tempo, duas psicólogas deixaram os seus
cargos no HUSM (e aqui, consideramos que, naquele momento, o HUSP já se encontrava em
transição do status de hospital para o de unidade psiquiátrica). Novamente, as atividades até
então desenvolvidas pelas psicólogas foram interrompidas por quase um ano, uma vez que
não houve sucessores (imediatos) para a continuidade do trabalho até então realizado.
Enquanto isso, Salvador Penteado iniciava as suas atividades junto aos pacientes
atendidos pelo Serviço de Doenças Infecciosas (SDI). No início da década de 90, surgiam às
primeiras demandas, no HUSM, relativas às vítimas da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, habitualmente conhecida como AIDS. Logo em seguida, a epidemia da infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) teve o seu auge, demandando da instituição a
organização e prestação de serviços àqueles pacientes, quando o preconceito era
predominante e os conhecimentos a respeito da doença ainda limitados (D4).
Paralelamente a assistência aos pacientes do Serviço de Doenças Infecciosas, Salvador
Penteado também começava as suas atividades junto ao ambulatório do HUSM e ao Serviço
de Hemato-oncologia (SHO). Naquela época, o SHO também estava sendo construído e, num
primeiro momento, a internação dos seus pacientes praticamente estava limitada a alguns
poucos leitos da Clínica Médica, situados no quarto andar do hospital e denominados de
“Isolamento Protetor". Neste setor, diferentemente do SDI - em que o atendimento dos
pacientes dava-se, basicamente a nível ambulatorial - o trabalho do psicólogo no SHO estava
voltado para o atendimento do paciente hospitalizado, do familiar e também, orientações e
intervenções junto à equipe multiprofissional. Um dos importantes momentos de intervenção
junto à equipe dava-se através dos rounds, quando os profissionais se reuniam para a
discussão de casos clínicos. Além da assistência psicológica aos pacientes, Salvador Penteado
também colaborou com campanhas para a melhoria, desenvolvimento ou ampliação de
serviços existentes, bem como aqueles de apoio aos pacientes, como, por exemplo, o Centro
de Convivência Turma do Ique e o surgimento da Associação dos Amigos e Usuários do
Hospital Dia, ocorrido no início dos anos 2000 (D4).
Em relação às atividades desenvolvidas junto ao ambulatório, inicialmente, além dos
pacientes do SDI, Salvador prestava assistência psicológica aos pacientes de outras
especialidades médicas do HUSM. Assim como nos dias de hoje, naquela época, eram
atendidas a demanda espontânea (ou seja, pacientes que procuravam por este atendimento) e
63
aquelas encaminhadas por diversas especialidades médicas (D4), seja para avaliação ou
acompanhamento psicológico do paciente. Em decorrência de uma grande demanda dos
estudantes da UFSM e da carência de serviços psicológicos ofertados na rede pública de
saúde e na própria universidade, por vezes, o serviço prestado por Salvador Penteado, no
ambulatório, foi disponibilizado à comunidade acadêmica, ou seja, para pessoas que não se
encontravam, necessariamente, em tratamento no HUSM (D4).
Salvador Penteado trabalhou junto ao Serviço de Hemato-oncologia,
aproximadamente, até 1994, quando assumiu atividades junto a Pró-Reitoria da UFSM. O
cargo viria a ser ocupado por outro profissional, aprovado em concurso público, cuja
realização já estava prevista naquele momento (D4).
No período entre maio de 1992 e abril de 1993, como Nair Silveira dos Santos havia
deixado o cargo junto ao CRH para assumir a vaga de docente junto a UFSM e Mara Lúcia
Rossato tinha sido transferida para a UFRGS, Salvador Angelo Zambrano Penteado e Eliana
da Costa Ramos seguiam trabalhando no HUSM, paralelamente e sem convivência. Até
aquele momento, como já mencionado anteriormente, Eliana da Costa Ramos desenvolvia
atividades de psicologia clínica, realizando psicoterapia de crianças e adolescentes, além de
grupos com gestantes no ambulatório pré-natal. Mas em abril de 1993, ela foi chamada a
assumir a vaga deixada por Nair Silveira dos Santos, junto a CRH/HUSM. E, desde aquele
momento, além das atividades até então por ela desenvolvidas, ela passara a desenvolver,
simultaneamente, um trabalho de Psicologia Organizacional.
Quase um ano após Nair Silveira dos Santos deixar o cargo junto a CRH, Eliana da
Costa Ramos iniciava as suas atividades profissionais no setor. Portanto, não houve um
momento de trocas ou repasse, entre colegas, das atividades até então desenvolvidas. Neste
sentido, Eliana apenas tivera acesso às fichas arquivadas, relativas a atendimentos realizados
pelas antigas psicólogas do setor.
Sendo assim, em meio a curta permanência das psicólogas anteriores, e sem muitas
informações do trabalho que até então havia sido realizado, foi necessário que Eliana,
gradualmente, fosse delineando e divulgando o trabalho que por ela estava sendo
desenvolvido. No entanto, a tarefa não consistia apenas em divulgar o trabalho que estava
sendo iniciado, mas também em se reaproximar a Psicologia dos servidores do hospital. As
sucessivas trocas de profissionais no setor resultaram em um distanciamento entre o serviço e
os servidores da instituição.
Assim como Eliana da Costa Ramos ingressava no quadro de funcionários da UFSM,
Eliani Venturini Viero, por volta de seus 29 anos, também foi lotada no HUSM para
64
desenvolver as suas atividades profissionais junto ao Serviço de Psiquiatria. Natural de
Restinga Seca, Eliani havia concluído a faculdade em 1988 na Universidade Católica de
Pelotas (UCPel) (D3).
Naquele momento, gradualmente, o então HUSP já se encontrava em transição para a
condição de setor/unidade psiquiátrica do hospital geral. Na época, este serviço estava sendo
integrado ao HUSM, mas ainda apresentava um funcionamento independente, à parte do
hospital geral, com arquivos e prontuários próprios (D3).
Mara Lúcia Rossato havia sido transferida há quase dois anos e, até aonde se tem
notícias, nenhum profissional teria assumido o cargo por ela deixado neste período. Assim,
quando Eliani Viero ingressou, através de alguns dos profissionais da equipe, ela tivera
poucas notícias das atividades que haviam sido desenvolvidas pela colega. No entanto, dera
início à construção de um trabalho que, em parte se assemelhava/dava continuidade ao
trabalho desenvolvido por Mara Lúcia, principalmente no que remete a assistência de crianças
e adolescentes no ambulatório de Saúde Mental.
Na época, ainda havia muita demanda por avaliação e assistência psicológica de
crianças e adolescentes da comunidade em geral, muitos deles encaminhados pelas escolas.
Diante disso, o exercício profissional de Eliani Viero junto da Unidade Psiquiátrica centrava-
se, praticamente, no ambulatório, e estava intensamente relacionado com a avaliação e
assistência psicoterápica do público infantil (D3).
Em algumas situações, Eliani Viero realizava intervenções pontuais, junto ao grupo
realizado com os familiares dos pacientes internados. O grupo era coordenado por enfermeiras
da unidade e, a convite, Eliani participou de alguns destes grupos a fim de conhecer a
dinâmica do próprio serviço. Ainda, à medida que desenvolvia as suas atividades, foi
observando que lhe era solicitado atender muitos dos filhos de pacientes internados, na sua
maioria mulheres, mães cujos filhos, muitas vezes, estavam presentes nestas reuniões/grupos
dos familiares dos pacientes. Ainda, Eliani também participava de algumas reuniões de
discussões de casos (uma vez que alguns de seus pacientes também eram atendidos por
psiquiatras), e reuniões do ambulatório. No entanto, como no ambulatório e na internação os
pacientes recebiam a assistência psi por parte dos psiquiatras, o viés do trabalho desenvolvido
por ela esteve centrado na possibilidade da criança em visitar os pais internados. Uma das
demandas do setor, na época, consistia em que fossem realizadas avaliações psicológicas
completas dos pacientes internados. No entanto, além da falta de clareza quanto ao sentido
destas avaliações solicitadas, Eliani Viero não dispunha de instrumentos (testes psicométricos
65
e projetivos) para que estas avaliações fossem realizadas, o que também não viabilizava o
atendimento desta demanda (D3).
Paralelamente, como já foi expresso, em outro setor do hospital, Eliana da Costa
Ramos também realizava atendimento psicoterápico de crianças e adolescentes, trabalho que
ela havia iniciado voluntariamente no HUSM e que, mesmo após ingressar na instituição,
seguira desenvolvendo. Apesar da atividade em comum, elas não mantinham contato, não
havendo trocas profissionais. Naquela época, o Sistema Único de Saúde deixaria de custear os
atendimentos ambulatoriais realizados pela Psicologia no hospital – sendo que este trabalho
ficaria a cargo da rede secundária do SUS, ou seja, aos municípios. Frente a esta situação, a
orientação da direção do hospital era que estes serviços fossem gradualmente fechados. Sendo
assim, concomitantemente, as psicólogas passaram a lidar com esta realidade e, aos poucos,
foram reduzindo os pacientes atendidos no ambulatório. Como tinha a intenção de cursar o
mestrado, Eliani Viero ainda não estava buscando um novo direcionamento para o seu
trabalho na instituição. Diante da aprovação no mestrado em Psicologia, na Pontifícia
Universidade Católica de Campinas - PUC Campinas, ela encaminhou os seus pacientes para
outra psicóloga no hospital – provavelmente Eliana da Costa Ramos – se afastando das suas
atividades profissionais no HUSM entre 1996 a 1998, para frequentar a referida pós-
graduação, retornando após a conclusão do curso. No mestrado, Eliani Viero tivera a
possibilidade de aprofundar o trabalho que ela estava desenvolvendo (de assistência das
crianças cujas mães se encontravam hospitalizadas) através do trabalho intitulado: “A criança
frente à doença e a internação psiquiátrica materna: uma análise fenomenológica” (D3).
Na pós-graduação, Eliani Viero tivera contato com diversos psicólogos, alguns deles
com uma sólida experiência em Serviços de Pediatria, além de visitar hospitais de outros
municípios e estados. E foi a partir destes contatos é que ela começou a pensar em fazer
psicologia dentro de uma unidade de pediatria. Ao retornar do mestrado e retomar o trabalho
no HUSM, ela sabia que não tinha perspectiva do ambulatório de psicoterapia infantil ser
aberto novamente. Sendo assim, inicialmente, Eliani Viero buscou conhecer todo o
funcionamento do HUSM. E ela observou que uma das demandas para a psiquiatria era o
atendimento de pacientes internados na pediatria do hospital – que havia sido inaugurada por
volta de 1996. No entanto, como não havia atendimento infantil, esta demanda estava
assistencialmente descoberta. A partir disso, ela conversou com os profissionais da pediatria,
sugerindo o atendimento psicológico aos pacientes internados. Ciente do interesse e buscando
conhecer a realidade da unidade local, Eliani Viero elaborou e apresentou um projeto
destinado a assistência psicológica dos pacientes internados na Unidade de Pediatria do
66
HUSM. Este projeto foi aprovado e desde então, ela presta este trabalho assistencial.
Inicialmente, foi acompanhando o trabalho desenvolvido, conhecendo os profissionais,
pacientes do serviço e seus familiares, além da dinâmica assistencial da unidade (D3).
No decorrer do tempo, e da sua prática profissional, o trabalho foi sendo
(re)organizado e, atualmente, Eliani Viero desenvolve as suas atividades profissionais junto
das Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal (UTI – NEO) e Pediátrica (UTI-PED). Nestas
unidades, ela realiza entrevistas com todos os familiares das crianças internadas, avaliando a
existência de demanda ou não para a continuidade da assistência psicológica. Ainda, ela
também realiza suas atividades junto as Unidades de Pediatria e de Pronto Atendimento
Infantil, nas quais os pacientes são atendidos via encaminhamento dos profissionais do(s)
setor(es). Diante da alta hospitalar e, se necessário, os pacientes são encaminhados para os
serviços existentes na comunidade local ou no município de origem, já que o hospital atende a
pacientes de uma grande região (D3).
Um pouco antes de Eliani Viero se afastar das suas atividades no HUSM em
decorrência do mestrado, em janeiro/fevereiro de 1995, Patrícia da Silva Cecim e Marta Alves
de Oliveira ingressavam no hospital da UFSM. Elas haviam prestado concurso público
realizado pela UFSM em dezembro de 1994, para provimento de cargos para o Centro de
Transplante de Medula Óssea que estava sendo construído junto à instituição. No entanto, este
mesmo concurso visava o provimento de outras vagas, para a UFSM, mas reservadas ao
HUSM (D11). Logo após a homologação do concurso, os primeiros colocados estavam sendo
chamados a assumir as vagas. Neste processo seletivo público da UFSM, Marta Alves de
Oliveira e Patrícia da Silva Cecim foram classificadas, respectivamente, em primeiro e
segundo lugares (D2).
Na época, embora natural de Santa Maria, Marta Alves de Oliveira havia concluído a
faculdade na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) em 1989, havia casado, possuía um
filho pequeno e residia em Porto Alegre. E a Patrícia Cecim, que havia concluído a faculdade
na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em 1991 e estava
residindo em Santa Maria. Marta de Oliveira e Patrícia Cecim foram convocadas a assumirem
as vagas no concurso. Como Patrícia estava residindo na cidade, ela tivera maior
disponibilidade em assumir a vaga rapidamente, ingressando na instituição no início de
fevereiro/1995. Já Marta de Oliveira, que residia na capital, precisara de um tempo maior,
uma vez que se encontrava “em trânsito”, ingressando no quadro de funcionários da
instituição cerca de vinte dias depois, ao final daquele mês. Patrícia Cecim assumira a vaga
destinada ao CTMO e, ao ser admitida, Marta Oliveira recebera a notícia de que já tinha sido
67
preenchida a vaga para qual o concurso fora realizado. Havia esta segunda vaga, destinada à
Coordenação de Recursos Humanos. Embora ela tivesse sido esclarecida de que poderia
requerer o cargo junto ao CTMO, pois havia sido a primeira colocada – Marta se sentira muito
bem acolhida pelo então coordenador da CRH e demais funcionários do setor, se propondo a
experimentar a desenvolver suas atividades profissionais junto aos recursos humanos. No
entanto, este fora um momento bastante delicado na vida profissional de Marta, pois ela havia
prestado o concurso justamente porque tinha o interesse e desejo em trabalhar em um hospital,
desenvolvendo um trabalho de psicologia clínica. Na CRH, a proposta era a de dar
seguimento a um trabalho de Psicologia Organizacional, junto da colega Eliana da Costa
Ramos (D2).
Naquele momento, fazia aproximadamente cerca de um ano e meio que Eliana estava
trabalhando junto a CRH. Inicialmente ela realizara um intenso trabalho de sistematizar e
estabelecer as rotinas e as atividades da Psicologia junto a CRH, bem como de divulgar o
trabalho, local de atendimento e onde poderia ser contatada, além de esclarecer o
funcionamento do trabalho para as chefias e servidores da instituição. Após este trabalho
inicial de se fazer conhecer e conquistar a confiança dos servidores, uma demanda que até
então estava reprimida, surgira novamente – o que submetera Eliana a um intenso trabalho, no
qual muitas vezes era necessário priorizar algumas ações/atendimentos, já que não conseguia
atender a todo o fluxo de trabalho que emergira. E neste contexto, a notícia do ingresso de
uma colega para compartilhar o trabalho foi muito bem recebida (D1).
E desde então, Marta de Oliveira e Eliana da Costa Ramos desenvolvem atividades de
Psicologia Organizacional, junto ao Serviço de Orientação e Acompanhamento (SOA) na
CRH/HUSM. Neste serviço, elas realizam a escuta, o acolhimento, a orientação e o
acompanhamento dos servidores que estejam enfrentando alguma dificuldade no trabalho e
que procurem o SOA/CRH por demanda espontânea, encaminhadas pelas chefias, (D1, D2)
ou mesmo pela perícia médica (D1). A atividade tem como propósito a de acompanhar o
servidor em atividade de trabalho, em Licença para Tratamento de Saúde (LTS) e no retorno
ao trabalho, visando promover e preservar a saúde mental dos colaboradores (D1; D2;
OLIVEIRA, 2010). Também são realizadas orientações tanto no que remete a aspectos
burocráticos e referentes aos processos de trabalho assim como encaminhamentos dos
servidores para os tratamentos adequados. Ainda, sempre que necessário, são emitidos
pareceres dos servidores em LTS a fim de assessorar a Junta Médica da UFSM nas suas
avaliações, as quais os servidores, em tratamento prolongado, são submetidos (D1).
68
Também são atividades desenvolvidas pela Psicologia junto da CRH: acompanhar o
ingresso e a adaptação dos servidores na instituição; desenvolver treinamentos; orientar e
assessorar as direções e chefias de serviços, trabalhar com grupos, atendendo aos diferentes
setores do hospital (D2). O tipo de trabalho desenvolvido oscila, sofrendo influências da visão
dos gestores a que a instituição esteja submetida, havendo momentos em que são realizados
mais trabalhos de grupo e outros, individuais. (D1, D2). Estas influências tanto podem
auxiliar e favorecer a continuidade das atividades desenvolvidas pelas psicólogas, seja através
do fornecimento de sala e materiais para a realização do trabalho, como também levar a sua
interrupção (D2).
Paralelamente a estes acontecimentos, era fato que, há algum tempo, os médicos
hemato-oncologistas que trabalhavam HUSM ou lecionavam na UFSM almejavam pela
construção de um centro de transplante de medula óssea no hospital. E, com o propósito de
viabilizar e concretizar este trabalho, foram realizados esforços neste sentido, culminando
com a consolidação de um sonho. Até aquele momento, não havia uma unidade
exclusivamente reservada ao tratamento dos pacientes acometidos por enfermidades desta
natureza. Deste modo, os pacientes adultos internavam em alguns leitos de isolamento, nas
Unidades de Clínica Médica, e o mesmo se dava com relação aos pacientes infantis,
hospitalizados na Unidade de Pediatria. No entanto, por volta de 1994, o CTMO e a unidade
destinada à internação dos pacientes hemato-oncológicos já estava equipada, aguardando
apenas a contratação de profissionais para iniciar o seu funcionamento. Sendo assim, através
do concurso realizado em 1994, profissionais de diversas áreas (tais como médico, assistente
social, pedagogo, psicólogo, entre outros) foram contratados e ingressavam no serviço,
simultaneamente. Embora vários profissionais não estivessem familiarizados com o universo
das doenças hemato-oncológicas, eles se mostravam curiosos em conhecê-lo. Diante disso,
por vezes, os profissionais se reuniam para estudar e trocarem experiências. E foi em meio
aquele cenário que Patrícia da Silva Cecim igualmente ingressava no HUSM, assumindo a
vaga de psicólogo destinada ao Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) (D11).
No entanto, custou algum tempo até que o CTMO iniciasse o seu funcionamento e os
transplantes começassem a ser realizados. E, enquanto o CTMO não iniciava as suas
atividades, Patrícia Cecim, então lotada junto ao SHO do HUSM, se propôs a atender aos
pacientes do serviço como um todo. Naquele momento, em vista dos dias atuais, o serviço
atendia a um reduzido número de pacientes. Inicialmente, Patrícia Cecim buscou conhecer o
funcionamento e rotinas do serviço e do tratamento, desde a coleta de exames até o
69
funcionamento dos ambulatórios e internações, para então iniciar as atividades assistenciais
(D11).
Por volta do segundo semestre daquele mesmo ano, a unidade, que já estava pronta,
começava a funcionar, atendendo a crianças, adolescentes e adultos em tratamento hemato-
oncológico. Durante algum tempo, o reduzido número de pacientes permitia que a psicóloga
pudesse avaliar, atender e orientar os pacientes internados na unidade, fossem adultos ou
crianças, bem como os seus familiares/acompanhantes (D11).
Mas no transcorrer do tempo, a demanda por atendimentos foi crescendo. O número
de pacientes infantis foi aumentando consideravelmente. Posteriormente, através do Centro de
Tratamento a Criança e ao Adolescente com Câncer (CTCRIAC), o HUSM passou a ser
referência regional em oncologia pediátrica. Sendo assim, esta unidade passou a ser reservada
apenas ao atendimento do público infantil, sendo que os pacientes adultos tornaram a ser
hospitalizados nos leitos da Unidade Clínica Médica (D11).
Aos poucos, os primeiros transplantes começaram a ser realizados no CTMO. Durante
algum tempo, foi possível conciliar as atividades, assistindo aos pacientes infantis, adultos e
aos transplantados. No entanto, a demanda crescia de tal forma que passou a ser muito difícil
assistir a tantos pacientes (D11). Durante algum tempo, Patrícia Cecim buscou conciliar o
interesse dos estudantes do Curso de Psicologia da UFSM, em realizar estágios com a
necessidade de atender a demanda que se apresentava por intervenção psi. Sendo assim, ela
percebera uma possibilidade de ampliar a assistência psicológica por meio da prática dos
estudantes, através dos estágios, estruturando ao menos parte da assistência, no ensino. Neste
período, Patrícia Cecim esteve voltada para a assistência dos pacientes transplantados e à
supervisão local dos acadêmicos de psicologia da UFSM que estavam realizando estágio no
CTCRIAC, atendendo as crianças e seus pais/acompanhantes e nas Unidades de Clínica
Médica, atendendo os adultos internados (D11). E assim foi durante algum tempo, por cerca
de cinco a seis anos, quando os estágios foram encerrados no setor, por volta do período de
2004 ou 2005. Naquele momento, os profissionais do CTCRIAC foram informados quanto ao
encerramento das atividades de estágio e, consequentemente, da psicologia. Com isso, a partir
de então, os pacientes da unidade deixariam de receber assistência psicológica. Em vista disso
e considerando a necessidade apresentada pelo local, foi sugerida a contratação de um
psicólogo para atender especificamente ao CTCRIAC. Quanto aos pacientes adultos,
hospitalizados nas Unidades de Clínica Médica, o trabalho sofreu algumas mudanças, mas
teve a continuidade através de pedidos de consultoria, não havendo um psicólogo inserido
cotidianamente no setor (D11).
70
Além dos setores já mencionados, dentro do Serviço de Hemato-oncologia, Patrícia
Cecim também presta assessoria psicológica aos pacientes que frequentam o Serviço de
Radioterapia do hospital. Em um primeiro momento, em decorrência da demanda ser restrita,
pontual, o trabalho era realizado através de pedido de consultoria. No entanto, esta realidade
foi mudando e, atualmente, a psicologia desenvolve um trabalho cotidiano, estando mais
presente no setor. Diferente do momento da hospitalização, cujo período de retorno dos
pacientes varia em geral a cada vinte e um dias, em decorrência do ciclo do tratamento, a
radioterapia é realizada a nível ambulatorial, diariamente, por um período determinado. Esta
rotina possibilita ao profissional de psicologia uma previsibilidade e maior acesso ao paciente
e acompanhante, a fim de tratar as demandas com mais rapidez e continuidade (D11). Sendo
assim, a assistência psicológica junto ao CTMO, e Serviço de Hemato-oncologia (setores de
radioterapia e Unidades de Clínica Médica), é realizada ao paciente e familiar/acompanhante,
tanto por uma solicitação destes, quanto por parte da equipe multiprofissional. De modo geral,
os atendimentos são breves, pontuais, e podem ser realizados individualmente ou conjugados,
isto é, conjuntamente com o paciente hospitalizado e o familiar, ou com o acompanhante que
esteja participando do processo de tratamento daquele paciente (D11).
Resgatando alguns acontecimentos, paralelamente ao ingresso de Marta de Oliveira e
Patrícia Cecim, em 1996, Eliani Viero havia saído para realizar o mestrado, retornando em
1998, com uma proposta de trabalho junto a Pediatria do HUSM. Por volta desta época,
Eliana da Costa Ramos seguia desenvolvendo as suas atividades junto a CRH. No entanto, ela
estava encerrando o trabalho junto ao Ambulatório de Psicoterapia Infantil, encaminhando os
pacientes restantes para os serviços de Psicologia oferecidos pela rede municipal e clínicas
escolas. Naquele momento, a UFSM já dispunha do Curso de Psicologia e o funcionamento
da Clínica Escola do curso estava em andamento (D1). Neste mesmo período, a pedido, Marta
de Oliveira passou a exercer – temporariamente – metade da sua carga horária fora do
hospital. Acolhida em sua solicitação, durante algum tempo, ela desenvolvera suas atividades
profissionais atendendo aos estudantes da universidade junto ao Ânima – que consiste em um
Núcleo de Apoio e Aprendizagem à Educação, situado junto ao Centro de Educação da
UFSM (D2; UFSM, 2013).
Por volta de 2002, Salvador Penteado foi eleito pelo Sindicato dos Psicólogos do Rio
Grande do Sul, o representante da categoria junto ao Conselho Nacional de Saúde.
Posteriormente, ele assumiu atividades junto a outros setores/órgãos da UFSM, deixando de
trabalhar junto ao Serviço de Doenças Infecciosas (SDI). Diante do seu envolvimento em
atividades como a de representar a UFSM no Conselho de Saúde e de ser membro do
71
Conselho Universitário da universidade, Salvador Penteado prosseguiu no ambulatório do
HUSM, mas com redução das atividades (D4).
Logo em seguida, por volta de 2003, Marta de Oliveira voltava a exercer
integralmente as suas atividades profissionais junto ao HUSM. No entanto, atendendo a uma
solicitação dos profissionais do SDI, em disponibilizar assistência psicológica aos pacientes
daquele serviço, a Direção Clínica do hospital demandou que Marta de Oliveira se
responsabilizasse pelo assessoramento psicológico aos pacientes e profissionais do SDI (D2).
Até aquele momento, Marta era a única psicóloga do hospital que não estava envolvida com o
atendimento clínico de pacientes, uma vez que Eliana da Costa Ramos, sua colega no CRH, já
desenvolvia atividades junto a gestantes, no ambulatório Pré-natal. E diante da carência de
profissionais e demandas dos serviços por assistência psicológica aos pacientes, parecia
incompreensível Marta de Oliveira não atender a esta convocação.
Foi, então, que Marta de Oliveira passou a desenvolver atividades assistenciais junto
ao ambulatório dos pacientes do SDI. Sendo assim, duas vezes na semana, Marta atende os
pacientes adultos do referido serviço, que vem ao hospital para as consultas de rotina. Os
pacientes são encaminhados, em sua maioria, basicamente pela equipe de enfermagem, além
da assistente social e, menos frequente, pelos médicos do setor. O SDI atende a pacientes de
toda a região, sendo que muitos deles são de outros municípios. Sendo assim, em seus
atendimentos, Marta de Oliveira realiza intervenções breves e pontuais no ambulatório e,
quando necessário, encaminha os pacientes vindos de outros municípios para serviços de
psicologia nas cidades de origem. Aos pacientes de Santa Maria, quando necessário, são
realizados atendimentos na modalidade de Psicoterapia Breve. O foco dos atendimentos
considera tanto as observações da equipe (encaminhamentos), como também estão
relacionados aos sentimentos, percepções e comportamentos do paciente em adquirir e lidar
com uma doença crônica. A adesão ao tratamento é outro aspecto avaliado e tratado (D2).
Desde então, Marta segue desenvolvendo as suas atividades profissionais junto ao CRH e ao
SDI. Sendo assim, Marta de Oliveira e Eliana da Costa Ramos desenvolvem atividades de
Psicologia Organizacional, junto ao CRH e estão submetidas, referencialmente, à Direção
Administrativa do hospital, mas, ao mesmo tempo, desenvolvem atividades de Psicologia
Clínica e, frente a estas questões, estão subordinadas a Direção Clínica.
Foi aproximadamente nesta época e concomitantemente a estes acontecimentos, que
um novo concurso estava em andamento, visando promover cargos para o HUSM. O processo
seletivo fora realizado em novembro de 2003, cerca de nove anos após aquele em que Patrícia
Cecim e Marta de Oliveira ingressaram no hospital. Dentre os classificados, constavam,
72
Fábio Becker Pires e Geila Kullmann Gonçalves, respectivamente primeiro e terceiro
colocados no concurso. Em breve, ambos passariam a desenvolver as suas atividades
profissionais no HUSM (UFSM, 2003).
Em fevereiro do ano seguinte, em 2004 e por volta de seus 24 anos, Fábio Becker
Pires ingressava no hospital, assumindo a vaga para psicólogo junto ao Serviço de Psiquiatria
do HUSM. O setor não dispunha de psicólogo desde que Eliani Venturini Viero se afastou de
suas atividades profissionais no hospital para cursar o mestrado (D3; D5).
No momento em que Fábio Pires adentrava a instituição, a direção do hospital da
época compreendia que havia demanda por psicólogo em vários setores do hospital, sendo a
Psiquiatria aquele que evidenciava, com mais urgência, por este profissional na equipe. Diante
do quadro que se apresentava, Fábio Pires passaria, então, a fazer parte dos profissionais do
Serviço de Psiquiatria do hospital (D5).
Em decorrência de uma solicitação do setor, durante algum tempo, Fábio Pires
desenvolveu - em caráter experimental - as suas atividades junto ao Pronto Atendimento da
Psiquiatria. A expectativa era de que o trabalho de um psicólogo junto a este setor pudesse
realizar uma triagem dos pacientes, agilizando o atendimento médico. No entanto,
contrariando as perspectivas, os usuários que buscavam por assistência junto ao serviço de
Pronto Atendimento da Psiquiatria do HUSM, o faziam adequadamente. Uma vez que não
fazia sentido Fábio Pires seguir desenvolvendo este trabalho junto ao setor, foi avaliado, junto
com a Coordenação do Serviço, que ele passaria a desenvolver as suas atividades nas
unidades de internação do setor. Sendo assim, Fábio Pires presta assistência psicológica aos
pacientes internados para tratamento psiquiátrico, tanto na Unidade Paulo Guedes, quanto na
Unidade SERDEQUIM. Desde então, de modo geral, as atividades assistenciais perpassam
pelo atendimento dos pacientes e de seus familiares. Em relação aos pacientes, as
intervenções visam avaliar, acolher e minimizar os impactos subjetivos da internação
psiquiátrica nos pacientes. Quanto aos familiares, são realizadas ações promovendo
acolhimento, orientação, mediação de conflitos, entre outras, como encaminhamentos do
paciente para serviços na rede, além de outros cuidados ao paciente diante da alta hospitalar.
Para a assistência dos pacientes, são preteridas as intervenções em grupos, sendo realizados
atendimentos individuais, quando necessário ou solicitado, pelo paciente ou mesmo equipe
(D5).
Ainda, além daquelas atividades características de um psicólogo, também são
realizadas, tanto a nível ambulatorial quanto de internação, atividades típicas do Atendimento
73
em Saúde Mental, as quais promovem benefícios psíquicos, como o desenvolvimento de
diferentes oficinas, seja de atividades manuais, recreativas, dentre outras (D5).
Entre outras atividades desenvolvidas por Fábio, destacam-se a participação em
rounds e reuniões para trocas profissionais e discussões de casos clínicos. Também são
realizadas reuniões com o propósito de discutir reformulações necessárias ao serviço (D5).
Neste período, compreendido entre 2004 e 2009, além das atividades assistenciais,
Fábio Pires também estivera envolvido com atividades de ensino, supervisionando o estágio
de acadêmicos de psicologia no setor. Em 2009, ele viria a se afastar das suas atividades
profissionais no HUSM para cursar o Mestrado em Psicologia na UFSC, quando desenvolveu
a pesquisa em meio a usuários do serviço de psiquiatria do hospital. Em 2011, Fábio Pires
voltaria a retomar as suas atividades assistenciais e de ensino junto da instituição. E, a partir
deste envolvimento dele com o ensino – mais especificamente com a Residência
Multiprofissional em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde – Ênfase em
Saúde Mental da UFSM, outras ações assistenciais psicológicas passaram a ser realizadas a
nível ambulatorial. Atualmente, sob a supervisão de Fábio, os psicólogos residentes atendem
aos pacientes em tratamento no serviço e que são encaminhados pelos psiquiatras para
assistência psicológica. Desde então, Fábio passou a desenvolver atividades de ensino ao
nível de pós-graduação, por meio de preceptoria e tutoria dos residentes (multiprofissionais)
inseridos no Serviço de Psiquiatria (D5).
Retornando ao período de 2004, em abril daquele mesmo ano, logo após Fabio
ingressar no hospital, Geila Kullmann Gonçalves, por volta de seus 30 anos, também
adentrava na instituição, assumindo a vaga para psicólogo junto ao Centro de Educação (CE)
da UFSM (D7).
No entanto, em decorrência da demanda da instituição e vindo ao encontro de uma
realização pessoal, ela viria a desenvolver parte da sua carga horária junto do HUSM. Geila
Gonçalves gostava e se interessava em trabalhar na área hospitalar, e teria solicitado junto aos
diretores do CE e do HUSM para exercer parte da sua carga horária desenvolvendo atividades
junto do hospital. Através da permuta com uma colega – naquele período Marta de Oliveira,
psicóloga na CRH do HUSM dividia a sua carga horária entre as atividades junto a CRH/
HUSM e o Ânima (CE) - foi possível que ela viabilizasse este desejo. Assim, igualmente,
Geila Gonçalves destinava vinte horas de sua carga horária para desenvolver suas atividades
profissionais junto ao HUSM (D7).
Em sua passagem pelo hospital, Geila Gonçalves trabalhou junto dos setores Pronto-
Socorro (P.S.), Unidade de Tratamento Intensivo Adulto (UTI-Ad) e na Comissão Intra-
74
Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos (CIHCOT) do HUSM. Além das demandas
existentes por assistência psicológica nestes setores, o ingresso da psicóloga também visava
atender as exigências legais de prestação de serviços psicológicos, como por exemplo, a
CIHCOT (D9).
Com relação ao surgimento e a formação desta comissão no HUSM, é preciso olhar
para as políticas públicas no que remete aos transplantes e captação de órgãos. Em 1995, foi
criada a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, diante da suma importância do
estabelecimento de uma organização centralizada e sistematizada em seu funcionamento. A
Central de Transplante tem como propósito coordenar e agilizar o processo de captação de
órgãos, além de estimular a comunidade médica para a notificação de potenciais doadores
(HUSM, 2011).
Logo após, a Lei Federal 9434 de 4 de Fevereiro de 1997, conhecida como “Lei dos
Transplantes” e que dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos, emergia de modo a instituir o
Sistema Nacional de Transplantes. Além disso, ela designou em cada estado da federação, a
Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNDO) – a já existente Central
de Transplante. Estas medidas estimularam as captações e transplantes (HUSM, 2011).
Posteriormente, a Portaria 905 do ano de 2000 emergia para regulamentar a formação
de equipes de captação de órgãos em cada hospital do SUS que tivesse UTI tipo II e
Emergências, sob a penalidade de descredenciamento desses hospitais. Desde então, a
Comissão Intra-Hospitalar de Transplante, organizada no HUSM desde 2000, permanece por
força da lei (Portaria GM n.º 905/2000), sendo responsável, juntamente com a instituição,
perante o Ministério Público (HUSM, 2011).
A CIHCOT compete o exercício de coordenar o processo de captação, retirada e
encaminhamento de órgãos para transplante, além de promover suporte aos familiares dos
pacientes em morte cerebral, como também sensibilizar os profissionais de saúde e a
comunidade sobre a importância da doação (HUSM, 2011).
Nos setores de Pronto-Socorro e na UTI Adulto, a rotina assistencial da psicóloga
consistia em identificar, cotidianamente, quais pacientes e/ou seus familiares/acompanhantes
necessitavam de intervenção psicológica. Sendo assim, ela realizava uma triagem, avaliando e
identificando os usuários do serviço que demandavam por assistência psicológica. Para tanto,
a psicóloga buscava estar presente nos setores, circulando, observando e identificando, junto
da equipe de saúde, os pacientes que precisavam deste tipo de intervenção. Os atendimentos
eram realizados nos próprios setores, em locais improvisados, já que não havia uma sala
destinada aos atendimentos da psicóloga. Isto, inclusive, era uma das maiores dificuldades
75
enfrentadas pela psicóloga: dispor de um local que oferecesse privacidade para que ela
pudesse realizar os atendimentos. Quanto a sua rotina assistencial, ela também participava –
ao máximo que lhe era possível – dos rounds e reuniões de equipe, além dos registros em
prontuário (D7).
O fato de que Geila Gonçalves desenvolvia as suas atividades profissionais junto aos
setores do Pronto-Socorro e UTI Adulto já lhe possibilitava que ela acompanhasse um
paciente e/ou sua família antes mesmo que a equipe da CIHCOT fosse acionada, quando os
casos resultavam em morte encefálica (D7).
Juntamente de outros profissionais, Geila participou da formação da equipe da
CIHCOT, e da elaboração e divulgação do protocolo de morte encefálica, dos objetivos do
trabalho desenvolvido pela comissão para os diversos profissionais e departamentos do
hospital. Além do trabalho de educação permanente, Geila Gonçalves participava de eventos
desenvolvidos pela CIHCOT visando esclarecer, orientar e sensibilizar os profissionais e a
comunidade santa-mariense em geral, para a importância da doação de órgãos e tecidos. Geila
também prestava esclarecimentos e orientações à equipe e familiares quanto aos aspectos
emocionais dos familiares de paciente em morte encefálica. Prestava assistência psicológica à
família do paciente com morte encefálica, promovendo o suporte emocional não apenas
durante o processo, mas também no pós-doação (D7; HUSM, 2011).
O objetivo é que os profissionais detectassem o mais precocemente quando um
paciente estivesse em morte encefálica, para que a família pudesse ser abordada mais
rapidamente, agilizando o processo de captação de órgãos (D7).
Ao longo do período em que estivera na instituição, Geila Gonçalves trocava
experiências com alguns dos demais psicólogos da área clínica – o que minimizava a sensação
de estar perdida, uma vez que não havia um único serviço ou gestor para ela se reportar,
solicitar orientação e com o qual ela pudesse discutir e refletir sobre o trabalho realizado.
Entre as rotinas assistenciais, Geila registrava os seus atendimentos em prontuários,
considerando não apenas a importância destes registros na assistência e compreensão do
paciente, mas também como forma da Psicologia demonstrar o seu trabalho para os demais
profissionais da saúde. Ainda, também eram elaborados e entregues registros relativos à sua
produtividade, para que os gestores do hospital pudessem visualizar quantos atendimentos
haviam sido prestados e, portanto, para que o trabalho desenvolvido não fosse perdido, sem
registros (D7).
E assim foram por cerca de dois anos e meio, quando, por razões pessoais, em
novembro/2006, Geila Gonçalves solicitou a exoneração da UFSM. Com a saída de Geila
76
Gonçalves do hospital, Salvador Penteado assumiria, por volta de 2010, em caráter provisório
e pontual as atividades junto a Unidade de Tratamento Intensivo de Adultos (UTI-Adulto), e
da Comissão Intra-Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos. Por volta desta mesma época,
ele passou a orientar e supervisionar estudantes de Psicologia da UFSM, que estivessem
realizando estágio curricular junto da CTI Adulto e, parece que em algum momento, junto ao
Pronto-Socorro. No entanto, esta não seria a primeira vez em que ele se envolveria com
atividades de ensino, pois quando esteve inserido no Serviço de Hemato-oncologia, ele
também teria orientado e supervisionado estudantes, mas estes eram procedentes de outras
cidades e universidades, pois naquela época ainda não havia um curso de Psicologia na UFSM
(D4).
Até onde se tem conhecimento, o último concurso público federal até então realizado,
visando o provimento de cargos e servidores públicos federais para trabalhar junto do
Hospital Universitário de Santa Maria foi realizado em 2003. Posteriormente, outros
concursos públicos foram realizados pela UFSM, prevendo a contratação de psicólogo, mas
em nenhum deles se teve notícias de psicólogos admitidos para trabalhar no hospital.
A partir de então, eventualmente, foram realizados processos seletivos pela Fundação
de Apoio a Tecnologia e a Ciência (FATEC), com o propósito de prover a contratação de
profissionais de saúde, terceirizados, para trabalhar no HUSM e/ou formar um banco de
selecionados para suprimir necessidades futuras de novas vagas ou a substituição de vagas
existentes. A FATEC é uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos e vinculada a
UFSM. O regime de trabalho destes profissionais é regido conforme a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT). No caso da contratação de psicólogos, a jornada de trabalho semanal dos
profissionais contratados varia entre 20 e 40 horas (HUSM, 2010b; HUSM, 2011b).
No ano seguinte, em agosto de 2007, foi realizado um destes processos seletivos
promovidos pela FATEC, visando à contratação de pessoal para trabalhar no HUSM. Diante
da oportunidade, Janaína Cláudia Strenzel se inscreveu para a seleção. Por volta de seus 29
anos, ela recentemente havia concluído o mestrado na capital, estava cursando especialização
e, por razões pessoais, desejava residir em Santa Maria. Aprovada no processo seletivo, ela
ingressava na instituição e passaria a desenvolver as suas atividades profissionais junto ao
Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador (SSST) do HUSM (D8).
Naquele momento, o Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador (SSST) estava
emergindo na instituição. Este setor, assim como muitos outros, não consta no desatualizado
organograma da instituição (HUSM, 1988), gerando dificuldades, divergências ou mesmo
dúvidas nos aspectos hierárquicos nos setores e colaboradores da instituição. E com Janaína
77
Strenzel e o SSST não teria sido diferente: por diversos momentos, houve dúvidas quanto ao
setor em que ela deveria estar vinculada. Diante disso, assim, como a assistente social Nildete
Terezinha de Oliveira (que na época, estava afastada do trabalho para cursar o doutorado) e as
psicólogas Eliana da Costa Ramos e Marta de Oliveira, Janaína também estava submetida à
Coordenação dos Recursos Humanos do hospital, pois não poderia estar “vinculada” a um
serviço que não estava oficializado (não constando no organograma). No entanto, apesar desta
chefia da CRH ser bastante resolutiva em seus aspectos administrativos e burocráticos, não
proporcionava à psicóloga um espaço para a discussão e reflexão acerca das suas práticas, das
suas atividades (D8).
Atualmente, embora ainda não oficializado, compreende-se que o SSST está
submetido à Coordenação de Recursos Humanos do HUSM. Mas, desde a época, a proposta
era de que ambos os setores trabalhassem em conjunto (D8).
Ao assumir o cargo, Janaína Strenzel fora informada de que era a primeira psicóloga
contratada para trabalhar no setor. Havia uma médica do trabalho, além de outros
profissionais interessados em trabalhar na área, mas a equipe ainda estava sendo formada
(D8).
Sendo assim, nestes momentos iniciais, foi necessário providenciar medidas que
compreendessem desde a conquista de um espaço físico para estabelecer o próprio SSST, uma
sala para que a psicóloga pudesse realizar os atendimentos, como também definir propostas de
trabalho e de fluxo de funcionamento, entre outros aspectos da atividade. Estas questões eram
discutidas entre a equipe que estava sendo formada, ao que parece, principalmente entre
Janaína Strenzel, a médica do trabalho e as psicólogas da CRH (D8).
Definidas estas questões, um proposta de trabalho foi desenvolvida por Janaína
Strenzel, e apresentada aos gestores da época, visando esclarecer e ressaltar a importância do
trabalho a ser desenvolvido, apontando as possíveis contribuições da Psicologia junto ao setor
(D8).
Embora o viés abordado no processo seletivo prestado por Janaína Strenzel estivesse
direcionado para a Saúde do Trabalhador, surpreendentemente, a proposta de trabalho que lhe
foi colocada, ao ingressar no setor, era a de que desenvolvesse um trabalho de psicologia
clínica, junto aos trabalhadores do hospital. Ela avaliava e prestava assistência psicológica aos
servidores do hospital encaminhados pela médica do trabalho ou pelas psicólogas do Serviço
de Orientação e Acompanhamento (SOA) da CRH. A sugestão era de que o trabalho fosse
desenvolvido através da modalidade de Psicoterapia Breve Focal (D8).
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Considerando o vínculo da psicóloga com a instituição, compreendendo a necessidade
de que a sua atividade promovesse o retorno para o hospital, eram atendidos os servidores
cujos conflitos estivessem repercutindo no desenvolvimento do trabalho. Sendo assim,
Janaína Strenzel realizava uma avaliação dos servidores encaminhados para assistência
psicológica. As intervenções realizadas compreendiam desde o acolhimento, orientação,
acompanhamento psicológico até a psicoterapia. Os servidores cujas demandas não se
refletissem nas atividades laborais ou aquelas que não se beneficiassem da modalidade de
assistência adotada, eram encaminhados para serviços psicológicos na comunidade (D8).
Com o propósito de demostrar aos gestores os resultados do seu trabalho, Janaína
Strenzel elaborava e entregava, periodicamente, relatórios das atividades que havia realizado,
como o número de pacientes que havia atendido, entre outros aspectos. Além disso, também
realizou algumas palestras, participando de atividades de educação continuada, com o
propósito de divulgar o trabalho realizado e os possíveis benefícios para o público atendido.
Por vezes, os servidores demonstravam desconhecimento do trabalho desenvolvido pela
Psicologia, o possível adoecimento relacionado ao trabalho, entre outras questões. A partir de
esclarecimentos e divulgação do serviço realizado a comunidade do hospital, a demanda por
assistência psicológica crescera bastante, chegando, por vezes, a ser elaborada uma listagem,
na qual constavam diversos servidores aguardando por atendimento. Com o transcorrer do
tempo e a realização do trabalho, também surgiam os primeiros resultados do trabalho
realizado, com o reconhecimento de alguns pacientes e coordenadores (D8).
Inicialmente, Janaína Strenzel dispunha de uma carga horária de 40 horas semanais.
No entanto, posteriormente (cerca de um ano e meio após o seu ingresso), a sua carga horária
foi reduzida pela metade, por uma solicitação da própria psicóloga, devido a questões pessoais
(D8).
Enquanto Janaína Strenzel e os demais psicólogos exerciam as suas atividades na
instituição, em agosto de 2008, eu, Andresa Petter Machado ingressava no HUSM. Por conta
da Especialização em Psicologia Hospitalar, na UFRGS, havia recentemente concluído o
estágio curricular junto ao Hospital de Clínicas em Porto Alegre (HCPA), passando a residir
em Santa Maria e buscava uma oportunidade profissional na área. Através de uma contratação
emergencial, ingressei no hospital com uma jornada de trabalho de 20 horas semanais e
passaria a exercer as atividades profissionais junto ao Serviço de Hemato-oncopediatria ou
CTCRIAC.
Desde o momento em que a psicóloga Patrícia Cecim encerrou a orientação e
supervisão de estágios – em que as atividades assistenciais psicológicas no setor eram
79
realizadas por meio dos estudantes - sugeriu à equipe do Centro de Tratamento da Criança e
Adolescente com Câncer a contratação de uma psicóloga para atender o setor. Com isso, e
diante da demanda apresentada pelos pacientes, familiares e pela própria equipe, em suas
dificuldades em lidar e manejar com as situações de sofrimento e morte, dentre outras, os
profissionais do setor recorreram a Direção Clínica do hospital, solicitando a contratação de
um psicólogo (D11; RP).
Após conhecer a equipe, normas de funcionamento da unidade e rotinas do setor e de
tratamento dos pacientes, um projeto assistencial para o CTCRIAC foi sendo delineado. Em
decorrência da intensa demanda e pela internação consistir em um momento crítico do
tratamento, optou-se por concentrar a assistência psicológica durante a hospitalização, tanto
aos pacientes internados, aos seus pais/acompanhantes e a equipe de saúde, quanto à
compreensão e manejo das situações assistenciais. Ao ambulatório, ficavam reservadas as
intervenções pontuais e breves, tanto com os pacientes, quando aos seus familiares. A
assistência era disponibilizada aos pacientes e seus familiares e dava-se, basicamente, através
de atendimentos individuais, ou conjugados (paciente e familiar/acompanhante). Os
atendimentos eram realizados por triagem da psicóloga, por encaminhamentos realizados pela
equipe, ou solicitados pelo próprio paciente, seu familiar. Uma especial atenção era reservada
aos pacientes em processo diagnóstico e situações de recidiva da doença. A assistência
psicológica visava avaliar, acompanhar e intervir nas repercussões emocionais decorrentes do
processo de adoecimento, hospitalização e tratamento. Posteriormente, além da modalidade de
atendimento individual, passaram a serem realizadas intervenções grupais, por meio de um
grupo aberto, realizado com os familiares dos pacientes hospitalizados, com a proposta de
promover um espaço de escuta e reflexão, promovendo apoio emocional, conhecer os
diversos familiares presentes e tratar aspectos relativos à convivência no CTCRIAC (RP).
Entre as rotinas de serviço, sempre que possível, procurava-se participar de reuniões
de equipe, além das “passagens de plantão, realizadas pela equipe de enfermagem, entre os
turnos manhã e tarde”. Também eram realizados registros das atividades assistenciais em um
prontuário específico da Psicologia e no prontuário do paciente. Além disso, eram entregues
ao hospital registros quinzenais da produtividade e atividades realizadas junto ao serviço
(número de pacientes e familiares atendidos, de supervisões, seminários, etc.). E na passagem
pelo setor, fui conhecendo, aos poucos, os colegas psicólogos. De modo geral, os contatos
foram mais frequentes com Eliani Viero, devido à transferência de alguns pacientes do
CTCRIAC para a UTI-Pediátrica, ou vice-versa. Alguns contatos também ocorreram com a
psicóloga do CTMO, Patrícia Cecim. Em situações pontuais, buscou-se realizar trocas
80
profissionais com as colegas do CRH, quando estas estavam desenvolvendo algum trabalho
com a equipe daquele setor (RP).
Nos três anos que viriam, além das atividades assistenciais, estive envolvida com o
ensino, através da supervisão de estagiários – acadêmicos do curso de Psicologia da UFSM.
Ainda, foram realizados seminários com os estudantes, com o propósito de contextualizar e
orientar os estagiários de psicologia do CTCRIAC acerca de seu campo de atuação,
promovendo uma melhor inserção, atuação e aprendizado junto ao campo de estágio. Durante
algum tempo, juntamente com diversos outros profissionais, participei do Comitê de Bioética,
que estava surgindo no hospital, e que se propunha analisar casos clínicos em seus aspectos e
contextos, que envolvam dilemas éticos (RP).
No que remete a aspectos hierárquicos, foram enfrentadas dificuldades diante de
algumas situações confusas e pouco esclarecidas neste sentido. Estava submetida à chefia do
Serviço de Hemato-oncologia e a Direção Clínica, nas quais buscava um espaço para
discussão e reflexão sobre o trabalho desenvolvido, mas era junto à Coordenação dos
Recursos Humanos que tinha esclarecidos os aspectos administrativos e burocráticos. Outros
aspectos que dificultavam o desenvolvimento das atividades se referiam à aquisição de
materiais, no caso, brinquedos, jogos e materiais gráficos, para o atendimento de crianças e
adolescentes. Ao longo daquele período, os materiais foram adquiridos por meio de doações,
sendo muitas vezes esta a via apontada por profissionais como o meio de conquistar
ferramentas de trabalho, entre outras coisas (RP).
No ano seguinte, em 2009, Fábio Pires se afastava de suas atividades profissionais
junto ao HUSM para cursar o Mestrado em Psicologia, na Universidade Federal de Santa
Catarina. Até onde se tem notícias, nenhum psicólogo teria substituído Fábio em suas
atividades no setor pelo período em que se ausentara para cursar a pós-graduação, concluída
no início de 2011(D5; RP).
Em março de 2010, embora houvesse satisfação pessoal e profissional no
desenvolvimento de suas atividades, um dos fatores que mais dificultavam a permanência na
instituição estava relacionado à reduzida gratificação salarial. Em decorrência deste fator,
Janaína Strenzel deixava o SSST/ HUSM. Conforme edital nº. 002/2010 FATEC/ HUSM, foi
realizado processo seletivo para a contratação de um profissional que viria a substituí-la. No
entanto, devido à necessidade de restrição de despesas do HUSM, nenhum candidato teria
sido chamado e, mesmo contrariando gestores, a vaga acabou sendo suspensa. No período em
que trabalhara no hospital, Janaína Strenzel conhecera apenas alguns de seus pares, estando à
maioria dos contatos entre psicólogos reservados as colegas da CRH (D8).
81
No ano seguinte, em 2011, após concluir o mestrado, Fábio Pires retornava às suas
atividades profissionais no HUSM, não somente na assistência, como também no ensino. No
entanto, agora, além da graduação, encontra-se envolvido também com Programa de
Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público
de Saúde – Ênfase em Saúde Mental. Quando Fábio retornou do mestrado, os primeiros
residentes estavam sendo inseridos no setor. Desde meados daquele ano, Fábio Pires
desenvolve atividades de preceptoria – ou seja, é responsável pela orientação prática das
atividades dos residentes – como também de tutor de campo, cujo trabalho perpassa pela
formação genérica e acadêmica no que remete a formação em Saúde Pública e a Atenção em
Saúde Mental (D5).
Em dezembro daquele mesmo ano, foi realizado um novo processo seletivo via
Fundação de Apoio a Tecnologia e a Ciência (FATEC), sendo que Paula Moraes Pfeifer e
Andresa Petter Machado foram classificadas, respectivamente, em primeiro e segundo
lugares. Sendo assim, Paula Pfeifer passou a ocupar a vaga para psicólogo junto ao Serviço de
Hemato-oncopediatria e a Andresa Petter Machado passou a desenvolver as suas atividades
profissionais no Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador, na vaga que, naquela ocasião,
foi reconquistada pela Coordenação de Recursos Humanos junto dos gestores do hospital
(RP).
Sobre (não) estruturar o serviço no hospital
O período compreendido entre 2000 e 2005 parece ter sido uma época peculiar não
somente na história da instituição, mas também na trajetória da Psicologia. Como já expresso
no segundo capítulo, naquele momento, os gestores do hospital estavam implantando o
Planejamento Estratégico do HUSM. Ainda, eles também almejavam a acreditação hospitalar,
mobilizando profissionais, setores e serviços da instituição para o alcance de tais objetivos.
Paralelamente a estes acontecimentos, os primeiros estudantes do curso de Psicologia
da UFSM demonstravam o interesse em realizar estágios no hospital. Somada a demanda dos
gestores, pela acreditação hospitalar (D1), a procura por estágios (D2; D3) teria motivado os
psicólogos da época a refletirem sobre a organização e funcionamento do serviço na
instituição, e a possibilidade de estruturar um Serviço de Psicologia no HUSM (D1, D2, D3,
D5, D11). No entanto, a constituição de um Serviço de Psicologia na instituição e a eleição de
82
seu respectivo coordenador também atenderia a demanda de psicólogos e gestores em tratar,
com mais praticidade, dos aspectos relativos à Psicologia no hospital (D7; D11).
Em decorrência da demanda dos estudantes por estágios (D2; D3; D11), durante
algum tempo, os psicólogos realizaram reuniões, com o propósito de conversar e delinear a
assistência e o ensino (D2; D3; D5; D11). Tratava-se de uma experiência nova para aquele
grupo de psicólogos.
Por um período, os psicólogos, em seu conjunto, estiveram envolvidos com o ensino,
acolhendo, orientando e supervisionando os estudantes em seus estágios no hospital. No
entanto, compreende-se que houve a tentativa dos mesmos em expandir a assistência
psicológica a outros setores que não dispunham previamente de um psicólogo inserido,
estruturando, assim, parte da assistência, no ensino. Em vista disso, os estudantes prestavam
assistência aos pacientes, ou funcionários (no caso daqueles que realizavam estágio na área de
recursos humanos) e os psicólogos, além das suas atividades assistenciais, de rotina, também
prestavam assessoria e supervisão aos estagiários (D2; D3; D11).
Acrescenta-se que, por um período, estes profissionais se reuniram frequentemente
para refletir e avaliar os estágios em andamento, tanto a partir das suas condições
profissionais, como também das necessidades dos estudantes e daquelas decorrentes dos
serviços do hospital. Além disso, as reuniões também visavam pensar sobre os aspectos que
envolveriam a estruturação de um Serviço de Psicologia no hospital. (D3; D5; D11).
E neste sentido, ressalta-se que, em meio a este panorama, os psicólogos realizaram
um levantamento das necessidades a serem suprimidas, para que um Serviço de Psicologia no
HUSM pudesse ser constituído. O levantamento realizado foi apresentado aos gestores da
época (D1). Neste sentido, o principal aspecto apontado, na ocasião, se referia à necessidade
de contratação de mais profissionais, para que a assistência psicológica pudesse ser expandida
aos demais setores do hospital (D3, D4; D11). E parece que esta conduta resultou em algum
efeito, já que, naquele período, Fábio Becker Pires e Geila Kullmann Gonçalves ingressaram
no hospital. No entanto, embora se tratasse de uma importante conquista, a contratação destes
profissionais não teria sido suficiente para resolver a situação. Um dos fatores que igualmente
parece ter sido relevante para a não constituição do serviço foram as dúvidas e diferentes
concepções acerca do funcionamento do que seria um Serviço de Psicologia, assim como as
implicações de sua estruturação para alguns serviços do hospital e aos profissionais, e
viabilidade de sua estruturação diante daquelas condições (D2; D3; D4; D5; D7; D11).
Sendo assim, diante dos fatores mencionados, observa-se que, gradualmente e em seu
conjunto, os psicólogos foram se desmotivando e se dispersando uns dos outros, novamente,
83
não favorecendo a frutificação de um Serviço de Psicologia no HUSM. Ainda, tem-se a
impressão de que o mesmo aconteceu em relação ao ensino: houve um momento em que os
psicólogos, em seu conjunto, estiveram envolvidos com atividades de ensino por meio de
supervisão e orientação de estudantes, que realizavam estágios no HUSM. No entanto,
algumas experiências pontuais e as diferentes concepções e expectativas quanto à integração
ensino-serviço, somados ao momento vivenciado pelos psicólogos, na época, contribuíram
para a gradual dispersão e também individualização desta atividade.
Esse é o quadro de psicólogos que atuam no hospital, destacando-se vários aspectos de
forma bastante flagrante. Ao longo da trajetória percorrida pela Psicologia no HUSM,
observa-se que esta não possui um serviço definido no hospital, sendo que os setores vão
sendo atendidos de acordo com a demanda. Mesmo ante a evidente necessidade da função
psicólogo em diversos setores, ao longo do tempo, a demanda só foi sendo atendida em
circunstâncias específicas, sem uma definição precisa de onde cada psicólogo atuaria, nem se
essa função se manteria. Essa dificuldade fez com que constantemente o trabalho
desenvolvido por um período ficasse sem atendimento por outros, muitas vezes sendo o
serviço extinto. Ainda, nota-se que os profissionais estão submetidos a diferentes chefias.
Esses elementos dificultam o contato entre os psicólogos existentes no hospital,
revelando, muitas vezes, um completo desconhecimento dos colegas ou das circunstâncias do
trabalho de cada um.
Apesar da história do hospital universitário ser um esforço de organização como um
conjunto, o serviço de psicologia ainda é disperso e impreciso, não revelando, até o momento,
uma perspectiva de que esse serviço possa a ser exercido de outra forma.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O interesse em organizar um hospital universitário no interior do Rio Grande do Sul
foi muito significativo para a ampliação dos serviços nessa região, trazendo muitas inovações
e atualizando essas inovações ao longo do tempo, mesmo com muitas dificuldades para sua
administração. A Universidade Federal de Santa Maria possuiu um projeto que foi sendo
gestado gradativamente. Havia o interesse por um serviço de psicologia num período em que
há pouco a profissão psicólogo tinha sido regulamentada, e numa época em que praticamente
não havia psicólogos na cidade. Contudo, não se conseguiu identificar nenhum elemento
preciso que sinalizasse o que demandou a origem do serviço no hospital.
Os profissionais em psicologia que desenvolveram as atividades assistenciais no
Hospital Universitário de Santa Maria foram, em sua maioria, mulheres, com formação em
universidades particulares e procedentes do interior. A maior parte dos profissionais também
buscou aperfeiçoamento por meio de cursos de especialização e, alguns, de pós-graduação
(mestrado). Identifica-se a realização de atividades de Psicologia Organizacional e do
Trabalho e de Psicologia Clínica, havendo, de modo geral, o predomínio de atendimentos
individuais.
O atendimento dos servidores foi elemento importante na contratação desses
psicólogos. Contudo, observa-se que muitos dos profissionais contratados para trabalhar nesta
atividade tinham o interesse pela docência, ou em trabalhar na área clínica hospitalar. E no
que remete a esta última, voltada aos pacientes do hospital, observa-se que a inserção do
psicólogo no “Sistema Hospitalar da UFSM” ocorreu por intermédio do trabalho espontâneo
de alguns profissionais. Na unidade hospitalar psiquiátrica, inicialmente, uma psicóloga
buscava implementar, voluntariamente, o “gabinete de psicologia”; anos depois, foi
contratada a primeira psicóloga do HUSM destinada para a área clínica. Em conjunto,
observa-se o envolvimento destas profissionais com testes psicológicos. Os indícios
assistenciais seguintes apontam para a inserção de outra psicóloga, igualmente voluntária, que
prestava assistência ambulatorial aos pacientes em tratamento com o serviço de
endocrinologia pediátrica. Em comum, além da questão do voluntariado, observa-se
novamente a demanda por assistência psicológica infantil, já que os psicólogos da psiquiatria
também estavam envolvidos com a assistência de crianças e adolescentes, através do Centro
Comunitário de Saúde Mental (HUSP), acolhendo às diferentes demandas da região.
85
Não houve uma preocupação mais sistemática de planejamento de um serviço, no que
remete aos psicólogos em seu conjunto, até por volta do ano de 2000. Observa-se que alguns
profissionais buscavam apresentar relatórios e sistematizar as atividades por eles realizadas.
No início dos anos 2000, visando a acreditação da instituição, os gestores da época
desenvolveram um planejamento estratégico para o hospital, evidenciando o interesse em que
os psicólogos se organizassem enquanto um serviço. Mas, aparentemente pela falta de
pessoal, não foi levado a termo um projeto específico da Psicologia para o serviço hospitalar.
Além disso, as diferentes perspectivas dos envolvidos sobre o modo de funcionamento do
referido serviço dificultaram uma abordagem mais organizada, tanto na questão assistencial,
quanto no ensino. Durante algum tempo, o interesse de alunos da área em realizar estágio no
HUSM foi um fator que impulsionou um movimento de organização deste serviço entre os
psicólogos. Contudo, isso não foi uma motivação permanente. Da mesma forma como a
assistência, o ensino também se tornou individualizado, e por vezes dissociado, no que remete
a ação ensino-serviço, almejada por um hospital escola. O reduzido número de profissionais
foi amplamente apontado como sendo um fator para a dispersão do serviço. Daí a dificuldade
de atender a parte clínica, os pacientes no hospital, de forma sistemática e contínua, gerando
um desconforto na organização das duas atividades (Psicologia Clínica e Psicologia
Organizacional e do Trabalho). Ao longo desta história, aqui apresentada, percebe-se uma
tímida interação entre os profissionais, os quais continuaram lotados em setores e submetidos
a diferentes chefias, desconhecendo, por vezes, as atividades desenvolvidas entre si.
Historicamente, a Psicologia mostra-se uma área em que os profissionais apresentam
dificuldades em aglutinar. Esta dificuldade estaria relacionada às divergências teóricas. Neste
estudo, observou-se que os depoentes se identificam com diferentes correntes teóricas. E,
apesar de não ter sido enfatizado pelos depoentes, talvez este seja um dos aspectos que não
favoreça a aglutinação entre os psicólogos no HUSM. Contudo, ressalta-se que, para que um
Serviço de Psicologia venha a ser constituído no HUSM, será fundamental tanto o
planejamento da atividade como a integração dos profissionais.
A partir dos depoimentos, outras questões poderiam ser exploradas. No entanto, tais
assuntos não foram abordados, pois fugiriam aos objetivos deste trabalho. Espera-se que esta
dissertação tenha contribuído para o registro, o conhecimento e a compreensão acerca da
inserção e prática dos psicólogos em hospitais gerais no Rio Grande do Sul em especial, no
Hospital Universitário de Santa Maria.
Elaborada a partir do viés dos diversos depoentes e da análise documental, essa
narrativa consiste em uma versão da história. Neste sentido, é válido ressaltar que, conforme
86
lembrado por Olmos (2003) a narrativa resulta de um recorte, não sendo possível considerá-la
como absoluta e definitiva. Por meio de uma reconstrução histórica, esta dissertação procurou
conhecer e analisar a inserção dos psicólogos no HUSM e a trajetória por eles percorrida na
instituição. Ainda, buscou-se reunir elementos para a compreensão e reflexão acerca da oferta
dos serviços psicológicos, das práticas e da análise da sua expansão. Como proposta de
pesquisas futuras, sugerem-se estudos historiográficos sobre o Departamento e o Curso de
Psicologia da UFSM, os quais revelaram não possuir a sua história satisfatoriamente
documentada, como foi possível observar ao longo do desenvolvimento deste estudo.
87
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_____. Departamento de Arquivo Geral. Fundos Documentais. Fundo I: Pró-Reitoria de
Recursos Humanos. Dossiê Funcional de Maria Helena Ruschel. Santa Maria: s/db.
_____. Departamento de Arquivo Geral. Fundos Documentais. Fundo I: Pró-Reitoria de
Recursos Humanos. Dossiê Funcional de Denise Beé. Santa Maria: s/dc.
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_____. Relatório de Gestão, 1970. Departamento de Arquivo Geral. S/ outras informações
para referência.
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_____. Pró-Reitoria de Recursos Humanos. Coordenadoria de Ingresso e Aperfeiçoamento.
Classificação Final – Concurso Público/ 2003 – HUSM (Editais 005/2003 – PRRH e
006/2003 – PRRH). Santa Maria, 2003. Disponível em:
<http://sucuri.cpd.ufsm.br/noticias/noticia.php?id=16351&busca=1>. Acesso em 14.08.2013.
_____. Notícias da UFSM. Santa Maria, 2007. Disponível em:
<http://sucuri.cpd.ufsm.br/noticias/noticia.php?id=16351&busca=1>. Acesso em 14.08.2013.
_____. Memória. Santa Maria, 2011. Disponível em: <http://www.ufsm.br>. Acesso em
14.08.2013.
_____. Departamento de Arquivo Geral: Fundos Documentais. Santa Maria, 2013.
Disponível em: <http://w3.ufsm.br/dag/index.php/fundos-documentais>. Acesso em
14.08.2013.
APÊNDICES
Apêndice A
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE
Projeto de Pesquisa: “A prática psicológica no Hospital Universitário de Santa Maria: um
estudo histórico”.
Pesquisadora: Msda. Andresa Petter Machado
Orientadora/ Pesquisadora Responsável: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber
Esta pesquisa tem como objetivo conhecer e analisar a inserção dos psicólogos no
Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a trajetória percorrida por este núcleo
profissional junto a tal instituição. Além de identificar e descrever as práticas psicológicas
desenvolvidas, também se almeja reconstruir e documentar a história de tais atividades, bem
como reunir elementos para a compreensão e reflexão acerca da oferta dos serviços
psicológicos oferecidos e da análise da sua expansão. Espera-se ainda, que este estudo venha
a contribuir para o registro e compreensão das atividades profissionais da psicologia em
hospitais gerais no Rio Grande do Sul.
O estudo está sendo realizado por Andresa Petter Machado, aluna do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob a
orientação da Profª. Dra. Beatriz Teixeira Weber, docente do programa supracitado.
Você está sendo convidado a participar deste estudo. A realização desta pesquisa
envolverá a concessão de uma entrevista (depoimento oral), sobre a trajetória da Psicologia
junto ao HUSM. Tendo-se em consideração a fidelidade da pesquisa, a entrevista será gravada
e transcrita para posterior análise e elaboração de um texto historiográfico. Assegura-se que a
identidade dos depoimentos será preservada. O material será guardado na sala da orientadora
responsável, localizada no prédio 74 do campus da UFSM. As informações poderão ser
utilizadas de forma anônima por um período de cinco anos. Após, elas serão destruídas.
Considerando a impossibilidade de descrever uma história sem fazer referência a seus
personagens, serão mencionados, no texto historiográfico, os profissionais envolvidos na
trajetória perpassada pela Psicologia no HUSM. Ressalta-se que o texto historiográfico que
será elaborado não se tratará de uma única versão, mas de uma das possíveis versões desta
história.
Salienta-se que você receberá a resposta a qualquer dúvida sobre os procedimentos e
outros assuntos relacionados à pesquisa; de que terá a total liberdade para retirar o seu
consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar deste estudo, sem que isto lhe
traga prejuízos de qualquer espécie.
97
Presume-se que, ao participar desta pesquisa, você entre em contato com algumas de
suas experiências pessoais anteriormente vivenciadas. Diante de possíveis desconfortos, tais
situações poderão ser compreendidas e acolhidas pela pesquisadora. Os benefícios e/ ou riscos
em participar da pesquisa poderão decorrer da disponibilidade de escuta oferecida pela
pesquisadora e pela reflexão oportunizada no momento da realização do depoimento.
Destaca-se que este estudo não envolve nenhum tipo de benefício financeiro ao participante.
Eu, _____________________________________, abaixo assinado, consinto em
participar voluntariamente da pesquisa intitulada “A prática psicológica no Hospital
Universitário de Santa Maria: um estudo histórico”. Fui suficientemente esclarecido (a) a
respeito das informações que li ou que foram lidas para mim. Estou ciente dos propósitos do
estudo, dos procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos e das garantias de
confidencialidade, de esclarecimentos permanentes e de que poderei retirar meu
consentimento a qualquer momento, antes ou mesmo durante o mesmo, sem prejuízos de
qualquer espécie. Declaro estar ciente e de acordo em participar desta pesquisa, a qual foi
revisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, assinando este
consentimento em duas vias, ficando com a posse de uma delas e a outra com a pesquisadora.
Local e data _______________________________________________________________
Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________
Para o pesquisador responsável pelo contato e tomada do TCLE:
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido
deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo.
Santa Maria ____, de _____________ de 20___.
____________________________ ____________________________
Andresa Petter Machado Beatriz Teixeira Weber
Pesquisadora Orientanda Pesquisadora Orientadora
_____________________________________________________________________
Para maiores informações:
Msda. Andresa Petter Machado - Telefone (55) 9905-6306, e-mail: [email protected]
Profª. Drª. Beatriz Teixeira Weber (orientadora do projeto/ pesquisadora responsável) - Telefone: (55) 3220-
9224/ 8112-2390, e-mail: [email protected]
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em
Pesquisa - CEP-UFSM Av. Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria – 7º andar – Campus Universitário – 97105-900
– Santa Maria-RS - tel.: (55) 32209362 - email: [email protected]
Apêndice B
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados pessoais
Depoimento n˚. ..................................................................................................................
Idade: ........................... Gênero: .............. Naturalidade: ...................................................
Estado civil: .............................................. Filhos? Quantos? ............................................
Formação acadêmica
Instituição: ..........................................................................................................................
Ano: ....................................................................................................................................
Pós-Graduação? Cursos de aperfeiçoamento? Qual (is)?
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.........................................................................................................................
Qual a perspectiva teórica da Psicologia que utilizas no teu trabalho? ..............................
.......................................................................................................................................................
...................................................................................................................................
Atuação profissional
Período em que atua(ou) no HUSM? .................................................................................
.............................................................................................................................................
Qual é a tua carga horária junto ao hospital? ......................................................................
Possui ou já desempenhou atividades profissionais complementares/paralelas ao HUSM?
Qual (is)? Há quanto tempo? ...................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.
99
Questão norteadora
Conte-me sobre a tua experiência junto ao HUSM
Aspectos administrativos
Quando e como tu ingressaste no HUSM?
O que te levou a exercer as tuas atividades junto à instituição?
Quem foram os primeiros psicólogos a trabalhar no hospital?
Como o trabalho dos psicólogos está/estava organizado?
A quem o trabalho dos psicólogos está/estava ligado?
Quais são/foram as atividades desenvolvidas pela Psicologia no hospital?
Qual a tua percepção da Psicologia perante o hospital? (considerando outras categorias
profissionais que exercem suas atividades profissionais no hospital) Aspectos positivos?
Aspectos negativos?
Como eram/são as relações entre os psicólogos com os demais profissionais do setor? E entre
os psicólogos?
Sobre a prática no HUSM
Qual a área/setor em que trabalha(va)?
Que tipo de atividades exercia? O que esta atividade envolvia? Que tipo de atividade tu
exerces atualmente?
Encontra(vas) dificuldades para o exercício do trabalho? Quais?
Como compreende/compreendias o trabalho que deve(rias) desenvolver no hospital? (na área
de Recursos Humanos ou Clínica)
Qual era a percepção dos outros profissionais acerca do teu trabalho? Quem eram estes
profissionais? Médicos? Enfermeiros? Funcionários técnico-administrativos? Chefes de setor?
Como eras visto (a) pelo público atendido?
O que te levou a deixar de trabalhar no HUSM?
O que te levou a seguir trabalhando no HUSM?
Como tu te sentes em desenvolver tuas atividades profissionais na instituição?
Qual o papel do Psicólogo Hospitalar?
Quais acontecimentos tu consideras que foram marcantes pra ti? Por quê?
Sobre a técnica
Inicialmente, como eram realizados os atendimentos?
Houve mudanças? Quais?
Os conhecimentos adquiridos na faculdade “deram conta” do teu trabalho junto ao hospital?
Se foram insuficientes, como tu lidaste com isto?
(***Atenção para a cronologia dos acontecimentos***)
Apêndice C
Diretorias Executivas do HUSM
Período Diretoria Executiva
Gestão
1980/1981
Direção Geral: Prof. Hugo Becker Amaral
Direção Clínica: Prof. Manuel Antônio Pereira Alvarez
Direção Administrativa: Prof. Geraldo Pozzobon
Direção de Enfermagem: Profa. Helena Luiza Cerezer
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Carlos Renato de Almeida Melo
Gestão
1982/1986
Direção Geral: Prof. Hugo Becker Amaral
Direção Clínica: Prof. Manuel Antônio Pereira Alvarez
Direção Administrativa: Valdemar Seponi
Direção de Enfermagem: Profa. Helena Luiza Cerezer
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Carlos Renato de Almeida Melo
Gestão
1986/1990
Direção Geral: Prof. Sérgio Nunes Pereira
Direção Clínica: Prof. Nehemias Lemos
Direção Administrativa: Valdemar Seponi
Direção de Enfermagem: Prof.ª Benildes Maria Mazzorani (Diretora)
Enf.ª Ieda Catarina C. Fogliarini (Vice-diretora)
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Waldir Veiga Pereira
Gestão
1990/1994
Direção Geral: Prof. Eduardo Martins Rolim
Direção Clínica: Nestor Dalla Corte Bonini
Direção Administrativa: Cont. Wilson Bahi Soriano (1990/1991)
Adm. José Pozzobon (1992/1993)
Direção de Enfermagem: Prof. ª Maria Guntzel Teixeira (Diretora)
Prof. ª Carmem Colomé Beck (Vice-diretora)
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Luiz Alberto Michet da Silva
101
(continuação)
Gestão
1994/1998
Direção Geral: Prof. Antero Scherer
Direção Clínica: Prof. Augusto Ramos do Prado
Direção Administrativa: Econ. Narci João Tonial
Direção de Enfermagem: Enf.ª Ieda Catarina C. Fogliarini (Diretora)
Prof. ª Orildes T. Pivetta Taschetto (Vice-diretora)
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. José Wellington A. dos Santos
Gestões
1998/2002
e
2002/2006
Direção Clínica: Dr. Larry Marcos Cassol Argenta
Direção Administrativa: Adm. José Pozzobon
Direção de Enfermagem: Enf.ª Maria Lucia Ravanello da Silva (Diretora)
Enf.ª Adelina Giacomelli Prochnow (Vice-diretora)
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Dr. Sérgio Antunes Pereira
Gestão
2006/
2010
Direção Geral: Md. Jorge Luiz Palma Freire
Direção Clínica: Prof. José Wellington A. dos Santos (2006/2007)
Prof. Sérgio Nunes Pereira (2007/2010)
Direção Administrativa: Adm. Carlos Renan do Amaral
Direção de Enfermagem: Profa. Vânia M. Fighera Olivo (Diretora).
Enf. Edemilson Jorge Xavier (Vice-diretor).
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. ª Maria Teresa A. Campos
Velho.
Gestão
2010/
atual
Direção Geral: Dr.ª Elaine Verena Resener.
Direção Clínica: Dr. Arnaldo Teixeira Rodrigues
Direção Administrativa: João Batista Vasconcellos
Direção de Enfermagem: Enf.ª Soeli Terezinha Guerra (Diretora)
Enf.ª Terexinha Heck Weiller (Vice-diretora)
Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof.ª Beatriz S. da Silveira Porto
Enf.ª Suzinara B. Soares de Lima