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5/10/2018 A Psicopedagogia e a linguagem escrita no conceito pós moderno - slidepdf.com
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A Psicopedagogia e a linguagemescrita no contexto pós-moderno 126
Psicopedagogia
A Psicopedagogia e alinguagem escrita no
contexto pós-moderno
Cristiene de Paula Alencar 1
Márcia Siqueira de Andrade2
1 Graduada em Pedagogia pelaUniversidade Católica de Goiás. Pós-graduada em Psicopedagogia pelaUniversidade Salgado de Oliveira.Mestre em Psicopedagogia pelaUniversidade de Santo Amaro.
Mestranda em Psicologia Educacionalpelo UNIFIEO.2 Mestre e Doutora em Psicologia daEducação pela PUC/SP. Coordenadorado Programa de Psicologia Educa-cional – UNIFIEO.
RESUMO
Este artigo trata de relacionar a visão de mundo sistêmica pós-moderna àpsicopedagogia para esclarecer o valor e a função da linguagem, em especial a escritano processo de desenvolvimento do sujeito-autor e suas relações com o meio sócio-histórico-cultural. Aborda sobre o objeto de estudo da psicopedagogia a fim de
apresentar as possibilidades que a psicopedagogia possui, para garantir a compreensãodos fatos, das coisas, dos conceitos e do mundo, num olhar ampliado e integrador,para posteriormente apresentar a importância da escrita, evitando assim compreensãoreducionista desse processo de desenvolvimento humano.
PALAVRAS-CHAVE
Escrita. Pós-moderno. Processos.
ABSTRACT
This article is to relate the vision of post-modern world Systemic the psicopedagogiato clarify the value and the function of language, especially in the writing process of development of the subject-author and his relationship with the socio-historical-cultural.
Addressing on the object of study of psicopedagogia to present the possibilities thatpsicopedagogia have to have an understanding of the facts of things, the concepts and
the world, a look enlarged and integrator, to subsequently present the importance of writing, avoiding an understanding this small process of human development.
KEY-WORDS
Writing. Postmodern. Process.
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A Psicopedagogia e a linguagemescrita no contexto pós-moderno 127
Psicopedagogia
Ao relacionar a psicopedagogia ao desenvolvimento da linguagem escrita
no contexto pós-moderno, considero primeiramente fundamental resgatar a
história da Psicopedagogia e esclarecer sobre seu status de cientificidade e
objeto de estudo.
Em Bossa (1994, p.10), Visca aponta para o fato de a psicopedagogia ter sido originalmente uma opção subsidiária da medicina e da psicologia,
revelando que esta se perfilou como conhecimento independente e
complementar, possuída de objeto de estudo, que trata do processo de
aprendizagem e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios.
Nádia Bossa (1994, p.12) afirma que a definição do objeto de estudo da
psicopedagogia passou por fases distintas, em diferentes momentos históricos
que repercutem nas produções científicas. Primeiramente, o objeto de estudo
era o “sujeito que não podia aprender”, concebia-se o “não-aprender” peloenfoque que salientava a falta, priorizando a reeducação e procurando vencer
as defasagens de aprendizagem. Posteriormente o “não-aprender” é carregado
de significados e não se opõe ao aprender; neste caso, o objeto de estudo é
sempre “o sujeito aprendendo”.
Atualmente a psicopedagogia trabalha com concepção de processo de
aprendizagem que considera a interferência de um aparelho biológico com
disposições afetivas e intelectuais que interferirão na forma de relação do
sujeito com o meio. Essas disposições são consideradas influenciantes e
influenciadas pelas condições sócio-culturais do sujeito e por conseqüência
pelo seu meio. Dessa forma, numa visão mais ampliada do sujeito, a
psicopedagogia considera a aprendizagem um processo complexo, centrado
no indivíduo e na sua relação com o meio sócio-cultural.
Andrade (2001, p. 6), discute os aspectos epistemológicos relacionados à
psicopedagogia enquanto disciplina que reivindica a especificidade de sua
área de estudos e o status de cientificidade, caracterizando o pensamento
científico na pós-modernidade como o momento de crise do determinismo,
no qual uma rede de investigações sucumbe sobre as disciplinas, gerandonovos campos de conhecimento.
A disciplina, principalmente a partir do renascimento, constitui possibilidade
de o desenvolvimento do pensamento científico constituir método de validação
do conhecimento. Porém Fernandéz (in: ANDRADE, 2001, p.7) considera a
psicopedagogia, enquanto disciplina, como indisciplinada :
Nossa disciplina é indisciplinada, como o são o desejo e o saber.
Indisciplinada porque conhece a falta, os limites. No reconhecimento
da carência está a potência... A psicopedagogia vai constantemente discutindo seus fundamentos
e construindo suas ferramentas.
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Psicopedagogia
Para Andrade (2002, p.5), o status da psicopedagogia está não na abolição
da idéia de organização, e sim na necessidade de esta ser concebida e
introduzida para englobar as disciplinas parciais, reconhecendo a interligação
de todas na construção do todo.
Propõe-se aqui uma psicopedagogia que ultrapasse as relações causais elineares, crenças que eram da visão de mundo newtoniana, para uma visão de
inter-relação, em que as fronteiras e os limites são relativos e flexivos, num
contexto pós-modernista onde o conhecimento não se fragmenta, porém se
percebe necessário conhecer as partes para relacioná-las e articulá-las ao todo.
Capra (2001) afirma que estamos vivendo atualmente uma crise análoga
em nossa sociedade, pois temos notícias todos os dias pelos jornais de
numerosas manifestações, de crises energéticas, de desastres ecológicos, crise
na assistência à saúde, taxas elevadas de inflação, desemprego, poluição entreoutros, que para o autor são facetas diferentes de uma só grande crise, a crise
de percepção que a humanidade atualmente apresenta.
[...] deriva do fato de estarmos tentando aplicar os conceitos de uma
visão de mundo obsoleta – uma visão de mundo mecanicista da
ciência cartesiana-newtoniana – a uma realidade que já não pode
mais ser entendida em função desses conceitos. Vivemos hoje num
mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos,
psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. (CAPRA,
2001,p.14)
A tendência do pensamento neopositivista, do mecanicismo, da idéia
fragmentada, nos conduz a uma busca incessante de uma única resposta, de
uma única verdade. Uma característica forte do pós-modernismo é essa
sensação de desconforto pessoal e intelectual que as incertezas nos trazem. A
psicopedagogia, entretanto, nos remete à diversidade, ao olhar amplo, ao ver
o todo e não só as partes. Mesmo porque a compreensão aqui tratada depende
do ponto de vista, de uma forma de ver tudo em movimento constante e
maravilhosamente interligado.
Para Fernandéz (2001, p. 90), a autoria de pensamento pode ser definida
como o processo ou ato de produção de sentidos ou de sentimentos, e de
reconhecimento de si mesmo como protagonista dessa produção. Neste sentido
é preciso ressaltar a idéia de reconhecimento, pois aquele que não se reconhece
autor, não poderá manter de sua autoria. Ser autor é fazer produzir e responder-
se pela sua produção.
O reconhecer-se atinge dois aspecto: a atividade do pensamento e a
necessária conexão entre os limites da realidade, que delimitam o espaço emque o pensar torna-se necessário e, ao mesmo tempo, possível. Assim, a autoria
do pensar é condição para a autonomia da pessoa e esta, por sua vez, favorece
a autoria de pensar.
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Psicopedagogia
Pensar supõe entrar nos desejos, vendo o possível e o impossível,
trabalhando na direção de fazer provável algo do possível, na habilidade e na
possibilidade de eleger e de decidir. O pensar para Fernandéz (2001, p.91)
ancora-se entre a inteligência e o desejo (de saber) – entre o sujeito e o mundo,
na intersubjetividade.Pensarmos a psicopedagogia dessa forma pressupõe a superação de muitos
conceitos, dentre eles o de disciplina. Será preciso conceber um campo do
conhecimento em que as unidades, sejam elas áreas ou conceitos, possam ser
consideradas enquanto padrões interligados... (ANDRADE, 2001, p. 8)
Podemos agora propor, rever nossos conceitos num olhar
psicopedagogicamente mais ampliado e tratar aqui da produção de sentidos
que o desenvolvimento da linguagem proporciona, em especial a escrita.
Compreendendo o sujeito aprendente como autor de seu pensamento, ao incluí-lo num contexto sócio-histórico-cultural atualmente caracterizado pelo
momento pós-moderno, tentaremos discutir brevemente sobre a função da
linguagem escrita e de sua importância para o desenvolvimento humano e
para a compreensão de sua natureza.
A linguagem é uma das inúmeras categorias da ação humana que usamos
no nosso incessante vir a ser, tornar-nos. (LEONEL, Maria Libania; FONSECA,
1998, p. 117)
Benveniste (in: CRUZ, 1998, p. 103) afirma que nunca chegaremos aohomem separado da linguagem, pois o que encontramos no mundo é o homem
falante, o homem falando a outro, acreditando que é a linguagem que permite
a própria definição do ser humano. Para Cruz (1998 p. 105) é a língua assumida
pelo homem que fala e, na condição de intersubjetividade, a única que torna
possível a comunicação linguística, considerando que o homem se constitui
como sujeito na e pela linguagem.
Na mesma autora encontramos a citação de Von Foerster (1996), em que
este acredita estar a linguagem e a realidade ligadas, considerando que o
mundo é imagem da linguagem e que esta vem primeiro e o mundo é, portanto,
uma conseqüência dela, ressaltando ainda a necessidade de compreender o
que vemos, caso o contrário, não vemos.
[...] a construção do mundo deverá ser uma proposta como uma
possibilidade suplementar e não como uma verdade que rejeitaria as
outras leituras de mundo. (ELKAIM, in: CRUZ, 1998, p. 104)
Uma nova percepção sistêmica e pós-modernista nos compromete a tomar
atitudes de permanente vigilância contra a tentação da certeza, reconhecendo
que nossas certezas não são provas da verdade. O mundo que cada um vê não
é o mundo e sim um mundo.
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Psicopedagogia
Segundo Vygotsky (in: REGO, 1995, p. 63), a conquista da linguagem
representa um marco no desenvolvimento do homem, em que a capacidade
especificamente humana para linguagem habilita as crianças a providenciarem
instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação
impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução ea controlarem seu próprio comportamento. A linguagem tanto expressa o
pensamento da criança, como age de forma organizadora desse pensamento.
Os signos e as palavras constituem para as crianças um meio de contato
social com outras pessoas, considerando ainda que tanto para adultos, quanto
para crianças a função primordial da fala é o contato social, a comunicação,
tornando-se o desenvolvimento da linguagem impulsionado pela necessidade
de comunicação.
Vygotsky (1998, p.1) assevera que enquanto não compreendermos a inter-relação de pensamento e palavra, não poderemos responder e nem mesmo
colocar corretamente qualquer uma das questões mais específicas desta área.
De acordo com o autor, estudos genéticos sobre a relação entre a fala e o
pensamento revelam que estes têm origens diferentes e a uma certa altura
essas linhas de desenvolvimento se encontram e se transformam em
pensamento verbal e a fala racional. Revelando ainda que o desenvolvimento
da fala e do pensamento, embora dinâmico e não linear, segue um processo
de estágios que se inicia e evolui da fala exterior para a fala egocêntrica e
desta para uma interior.
A fala exterior diz respeito à fala mais primitiva da criança, essencialmente
social que se divide posteriormente em fala egocêntrica e fala comunicativa,
ambas sociais, mas com funções diferentes.
A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e
cooperativas de comportamento para a esfera das funções psíquicas
interiores e pessoais, quando as circunstâncias obrigam-na a parar e a
pensar, e o mais provável é que ela pense em voz alta. A fala egocêntrica,
dissociada da fala social geral, com o tempo vai se tornando fala
interior, tornando-se elo genético de grande importância na transição
da fala oral para a fala interior. (VYGOTSKY, 1998, p.23)
[...] o verdadeiro curso do desenvolvimento do pensamento não vai
do individual para o socializado, mas do social para o individual.
(VYGOTSKY, 1998, p.24)
A criança primeiro utiliza a fala como meio de comunicação e de contato
com outras pessoas, faz apelos verbais a um adulto para conseguir algo desejado
que ela sozinha ainda não consegue realizar. Isso não representa ainda como
instrumento de pensamento, por não servir como planejamento de seqüências
a serem realizadas e utilizadas.
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A Psicopedagogia e a linguagemescrita no contexto pós-moderno 131
Psicopedagogia
Para a resolução de um problema, (como alcançar um brigadeiro
que está em cima de uma geladeira), a criança faz apelos verbais a
um adulto. Nesse estágio a fala é global, tem múltiplas funções mas
não serve ainda como um planejamento de sequências a serem
realizadas. Vygotsky chamou essa fala de discurso socializado. (REGO,1995, p. 66)
A mesma autora afirma que posteriormente à fala socializada, dirigida ao
adulto para resolver um problema, esta é internalizada e a criança passa a
apelar para si mesma na tentativa de solucionar uma questão e, nesse caso, a
fala, além de realizar funções emocionais e comunicativas começa a ter função
planejadora. A criança agora estabelece diálogo com ela mesma, o que
Vygotsky nomeou de discurso interior.
[...] ( é como se ela falasse para ela mesma: “ Preciso arrumar um jeito de alcançar esse doce. posso usar uma escada ou um banco”)...
a fala passa a proceder a ação e funcionar como auxílio de um
plano já concebido mas ainda não executado. (REGO, 1995, p. 66)
Existe ainda uma fala intermediária que funciona como transição entre o
discurso socializado e o interior. Neste momento, a fala acompanha a ação e
se dirige ao próprio sujeito da ação, e a criança fala alto, mas não dialoga com
outro interlocutor, dialoga consigo mesma. Por exemplo: “ como eu posso
pegar aquele brigadeiro que está tão longe? Ah... já sei! Vou subir na mesa!”.
(REGO, 1995, p. 67)
O domínio da linguagem pode aqui ser observado como meio de mudanças
radicais no desenvolvimento, mudanças que possibilitam à criança novas
formas de comunicação com o meio, com outros indivíduos e ainda a
organização do seu modo de agir e de pensar. Neste último momento é que a
linguagem e o pensamento se encontram.
Esquematicamente, podemos imaginar o pensamento e a fala como
dois círculos que se cruzam. Nas partes que coincidem, o pensamento
e a fala se unem para produzir o que se chama de pensamento
verbal. (VYGOTSKY, 1998, p. 58)
Não é apenas por meio da aquisição da linguagem falada que o indivíduo
adquire formas mais complexas de se relacionar com o mundo e de desenvolver
seu pensamento. O aprendizado da linguagem escrita representa novo e grande
salto no desenvolvimento da pessoa.
Para Vygotsky (in: REGO, 1995, p. 68), este aprendizado é produto cultural
construído ao longo da história da humanidade. A complexidade desse
processo está associada ao fato de a escrita ser um sistema de representação
da realidade extremamente sofisticada, que ativa uma fase de desenvolvimento
dos processos psicointelectuais, o que provoca uma mudança radical de suas
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Psicopedagogia
características gerais. O domínio desse sistema complexo de signos fornece
novo instrumento de pensamento, que propicia diferentes formas de organizar
a ação e permite outro tipo de acesso ao patrimônio da cultura humana (o
conhecimento).
É importante ressaltar que a compreensão da linguagem escrita é efetuadaprimeiramente por meio da linguagem falada e, quando esta última
gradualmente é reduzida e abreviada, a linguagem falada “desaparece” como
elo intermediário, dando lugar significativo para a linguagem escrita.
[...] o aprendizado da linguagem escrita envolve a elaboração de
todo um sistema de representação simbólica da realidade... identifica
uma espécie de continuidade entre as diversas atividades simbólicas:
os gestos, desenhos e o brinquedo...contribuem para o desenvolvimento
da representação simbólica (onde signos representam significados)...(REGO, 1995, p. 69)
Dada a importância do domínio da linguagem escrita para o indivíduo,
Vygotsky (1998, p.139) faz um apelo para a necessidade de compreender a
linguagem escrita por meio da sua pré-história, enfatizando a questão de esta
ocupar um lugar estreito na prática escolar, onde se ensina a criança a desenhar
letras e a construir palavras, mas não se ensina a ela a linguagem escrita; por
isso, mecaniza-se o ato de ler o que está escrito, que acaba por obscurecer a
linguagem escrita. Este treinamento, embora requeira atenção e esforços
enormes, acaba se tornando fechado e relegando a linguagem escrita viva ao
segundo plano. Dessa forma, a atividade escrita é imposta ao sujeito, de fora
para dentro, vinda das mãos dos professores; parece mais, portanto, com
habilidade técnica; mais do que com desenvolvimento de sentidos e de
significados, que é o que a linguagem pode proporcionar de maior valor ao
ser humano.
Em Vygotsky (1998) a linguagem escrita constitui um sistema particular
de símbolos e de signos, num simbolismo de segunda ordem que vai
gradualmente se tornando simbolismo direto. Constituída por um sistema designos que designam os sons e as palavras faladas (signos das relações e
entidades reais) e este domínio na criança representa o longo processo de
desenvolvimento das funções comportamentais complexas. É constituído tanto
de evoluções, quanto de involuções. A história do desenvolvimento da
linguagem escrita nas crianças é, por isso, plena de descontinuidades. Para
Vygotsky:
[...] somente a visão ingênua de que o desenvolvimento é um processo
puramente evolutivo, envolvendo nada mais do que acúmulos
graduais de pequenas mudanças e uma conversão gradual de uma
forma a outra, pode esconder-nos a verdadeira natureza desses
processos. (VYGOTSKY, 1998, p. 141)
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Psicopedagogia
Para o autor a primeira tarefa da investigação científica é revelar essa
pré-história da linguagem escrita, compreender o que leva as crianças a
escreverem, distinguirem quais os pontos importantes desse desenvolvimento
e quais as grandes mudanças que ele proporciona ao sujeito.
Assim, ele diz que o início dessa história começa com o aparecimento dogesto, como signo visual para a criança, que corresponde à escrita no ar,
enquanto os signos escritos representam simples gestos fixados. Passa
posteriormente pelo desenvolvimento do simbolismo do brinquedo, na
possibilidade de a criança utilizar alguns objetos como brinquedos e executar
com eles gesto representativo, que pode ser compreendido como um sistema
complexo da fala através de um gestual que adquire gradualmente significado,
Neste caso a representação simbólica no brinquedo é essencialmente uma
forma particular de linguagem num estágio precoce que leva à linguagem
escrita.
O desenvolvimento do simbolismo no desenho é outra etapa do
desenvolvimento pelo qual a linguagem escrita passa. O desenvolvimento da
linguagem escrita nas crianças se dá pelo deslocamento do desenho de coisas
para o desenho de palavras; para isso, a criança deverá descobrir que se pode
desenhar, além de coisas, também a fala. Segundo Vygotsky:
Foi esta descoberta, e somente ela, que levou a humanidade ao
brilhante método da escrita por letras e frases; a mesma descoberta
conduz as crianças à escrita literal. (VYGOTSKY, 1998, p. 153)
Assim, o brinquedo de faz-de-conta, o desenho e a escrita devem ser
vistos como momentos diferentes de um processo unificado de
desenvolvimento da linguagem escrita, que, embora pareça desconexo,
errático e confuso, faz parte de uma linha histórica que conduz às formas
dessa linguagem.
Podemos, portanto, perceber não só a importância da compreensão da
linguagem escrita para o desenvolvimento pessoal e intelectual humano, sua
função essencial de meio de comunicação com o outro, como também
relacionar a influência marcante da história e da cultura social nesse processo.
Por isso, mais uma vez, se faz necessário ressaltar que o momento histórico
pós-moderno, que vivemos atualmente, nos coloca na posição de uma ação
psicopedagógica voltada para um olhar ampliado das coisas, dos conceitos e
dos fatos como um todo. Salientamos ainda que ninguém é uma ilha, fazemos
parte de um todo, de um sistema global, todos interelacionados, como uma
grande rede de conexões, em que a parte constrói o todo e o todo as partes.
A visão de mundo que está surgindo a partir da física moderna podecaracterizar-se como orgânica, holística e ecológica... O universo deixa de
ser visto como uma máquina composta por uma infinidade de objetos para
ser descrito, indivisível, cujas partes estão inter-relacionadas e só podem ser
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Psicopedagogia
entendidas como modelos de um processo cósmico. (CAPRA in ANDRADE,
2001, p. 8)
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CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.
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