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A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Elementos introdutórios e apontamentos preliminares

A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Elementos ... · •Reflete o interesse de filósofos, médicos e pensadores, de um modo geral, em refletir sobre esse conhecimento, na perspectiva

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A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Elementos introdutórios e apontamentos preliminares

JUSTIFICATIVA• Psicopedagogia ou psicologia pedagógica é um

termo já usado no século XIX (SULLY,1988/1908).

• Reflete o interesse de filósofos, médicos epensadores, de um modo geral, em refletirsobre esse conhecimento, na perspectiva daspessoas que aprendem ou que têmdificuldades para aprender.

• E, analisar as relações entre quem aprende e oobjeto de sua aprendizagem em diferentesperspectivas.

OBJETO DE ESTUDO• O objeto de estudo da Psicopedagogia é

sempre o sujeito aprendente e estaaprendizagem está sempre relacionada com opróprio sujeito, com o sujeito e o objeto, como sujeito e o meio, portanto,sistematicamente.

• Cabe, portanto, ao psicopedagogo:

• Entender como se constitui o sujeito.

• Como o sujeito se transforma em suas diversasetapas de vida.

• Quais os recursos de conhecimento de que osujeito dispõe.

• A forma pela qual o sujeito produzconhecimento.

• A forma pela qual o sujeito aprende em relaçãoao grupo e sua reação frente a este.

DISCIPLINAS DE FUNDAMENTAÇÃO• Com a especialização profissional surgem

disciplinas, como psicologia, orientaçãoprofissional, didática.

• A psicopedagogia é um termo que reflete asnecessidades interdisciplinares.

• A “aventura do conhecimento”, portanto, reúneinteresses psicológicos, biológicos,antropológicos, linguísticos, artísticos e culturais.

• Do seu parentesco com a Pedagogia, aPsicopedagogia traz as indefinições econtradições de uma ciência, cujos limites são osda própria vida humana. Envolve o social e oindividual em processos tanto transformadoresquanto reprodutores. Da Psicologia, aPsicopedagogia herda o velho problema doparalelismo psicofísico, um dualismo que oraprivilegia o físico e ora o psíquico (Bossa, 2000).

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL• Segundo Weiss (1994) o termo Psicopedagogia

Institucional aparece sob três versões diferentes,tanto em relatos orais quanto em artigos derevistas especializadas.

• Na primeira versão, o profissional trabalha comoassessor psicopedagógico, ouvindo econversando sobre a escola com os diferentesprofissionais que nela atuam.

• Seu trabalho seria o “levantamento, acompreensão e a análise das práticasescolares e sua relação com a aprendizagem.Junto com os demais profissionais da escolapromoveria a construção de novas práticas,produtoras de melhor aprendizagem” (WEISS,1994, p.97).

• A segunda versão considera que aPsicopedagogia Institucional deva englobartodos os trabalhos que dão suportepedagógico e/ou clínicos realizados no espaçoescolar e por iniciativa da equipe deprofissionais que trabalha na escola.

Na terceira versão, a PsicopedagogiaInstitucional deve ser um trabalho de prevençãodos problemas de aprendizagem. O termoprevenção refere-se à melhoria das condiçõesexternas proporcionadas pela escola para aconstrução da aprendizagem.

ENTRADA NA INSTITUIÇÃO• A entrada na instituição deve considerar todos

os elementos da escola, inclusive gestores,família e comunidade em que está inserida(GASPARIM, 2011, p.57).

• Ter uma compreensão maior da dinâmicainstitucional, pois os fatores culturais e sócio –políticos interferem na identidade e papel daescola.

• Compreender os elementos estruturadores dacultura local: diálogos, discursos, percepções,conversas informais, normas, regras, condutas,rituais, papéis, artefatos, modelos, crenças e valores.Segundo Fino (2003), a instituição de ensino écomplexa, tem uma dinâmica própria, o que dásubstância e significado à sua própria cultura.

• Identificar o espaço político-pedagógico que dispõepara intervir nos processos de aprendizagem.

Na escola...• a tarefa do psicopedagogo visa fortalecer a

identidade da instituição, bem como resgatarsuas raízes, ao mesmo tempo em que procurasintonizá-la com a realidade que está sendovivenciada no momento histórico atual,buscando adequá-la às reais demandas dasociedade.

Em sala de aula...• a entrada é extremamente importante e, por

isso, deve ser profundamente respeitosa edelicada. Seu sucesso dependerá da suapostura frente ao objeto de estudo e suaabordagem deverá ser entendida como umaconstrução para todos: professores, alunos egestores (GASPARIM, 2011, p.54).

APROFUNDANDO UM POUCO...“A atuação psicopedagógica junto a um grupo ouinstituição, para ser operante, precisa interpretar ospapéis desempenhados, a forma como foramatribuídos e assumidos, assim como as expectativasque se encontram latentes neste movimento deatribuir e aceitar o papel. [...] A tarefa de cada umdeve estar voltada para o aprender, desde a direçãoaté a portaria ou o serviço de limpeza” (BARBOSA,2001).

CONTRATO DIDÁTICO“São as regras próprias da escola que regulam, entre outras coisas,as relações que alunos e professores mantêm com o conhecimentoe com as atividades escolares, estabelecem direitos e deveres emrelação às situações de ensino e de aprendizagem, e modelam ospapéis dos diferentes atores do processo educativo e suas relaçõesinterpessoais. Representa o conjunto de condutas específicas queos alunos esperam dos professores e que estes esperam dosalunos, e que regulam o funcionamento da aula e as relaçõesprofessor-aluno-conhecimento. Como toda instituição, a escolaorganiza-se segundo regras de convívio e de funcionamento quevão se constituindo ao longo do tempo, determinadas por suafunção social e pela cultura institucional predominante."

CONTRATOS IMPLÍCITOS

Essas regras e expectativas, que determinam ospapéis a serem desempenhados na escola,estabelecem direitos e deveres em relação tambémàs situações de ensino e aprendizagem dosconteúdos escolares que têm lugar na sala de aula –criam contratos implícitos que, normalmente,tornam-se observáveis apenas quando sãotransgredidos.

CULTURA DA ESCOLA• Exprime valores, crenças e ideais de um grupo.

Isso significa dizer que as escolas produzem umacultura que lhes é própria.

• As bases que sustentam as escolas se encontramem uma zona de invisibilidade.

• O imaginário social está povoado derepresentações (crenças e expectativas, naverdade) mais ou menos cristalizadas sobre essesdiferentes papéis e sobre os elementos quecompõem a instituição escolar e suas práticas.

Em uma primeira etapa, deve-se buscar ahistória da instituição para procurar entendercomo acontece o seu movimento.

Passo 1• Filosofia da escola / Marcos doutrinais (PPP).

• Comunidade em que está inserida, clientelaatendida, programação vigente).

Passo 2• Estrutura física: instalações, dimensão e

organização dos espaços, recursos materiais,equipamentos.

Passo 3• Estrutura administrativa: gestão, equipe

técnica, equipe de apoio, corpo docente ediscente.

• Tomada de decisões.

• Participação da comunidade.

• Relação com as autoridades centrais e locais.

Passo 4• Estrutura social: relação entre alunos,

professores e funcionários, responsabilidade eparticipação dos pais, democracia interna,cultura organizacional da escola, clima social.

ASPECTOS RELEVANTES

• Gestão democrática;

• Formação em serviço;

• Autonomia pedagógica;

• Construção de conhecimento;

• Exercício da cidadania.

PASSO 5• Observar a cultura organizacional por meio de

diferentes manifestações:

As manifestações verbais e conceituaiscompreendem os “heróis” (que podem ser bonsou ruins) e as “histórias”, ou seja, é aidentificação de mitos (algo inatingível) e dasnarrativas, que marcam a vida da escola.

• As manifestações visuais e simbólicas são oselementos que têm uma forma materialpassível, portanto, podem ser identificadosatravés de uma observação ocular. São osmurais, os painéis, os cartazes feitos pelosalunos.

• As manifestações comportamentais são oselementos suscetíveis de influenciar ocomportamento dos atores da organização: asatividades normais da escola e o modo como sãodesempenhadas, bem como o conjunto denormas e regulamentos que as orientam.Incluem-se aqui os rituais e cerimônias que fazemparte da vida organizacional da instituição.

• Os elementos da cultura organizacional têm deser lidos na sua interioridade, mas também nasinter-relações com a comunidade envolvente.

• O psicopedagogo vai fazer uma “leitura” nasentrelinhas, das narrativas, do currículo oculto,da dinâmica entre os atores da escola, daspossibilidades de mudança, da necessidade deajuda, dos trabalhos realizados, das dificuldadesdetectadas, dos vínculos estabelecidos, doscomportamentos e atitudes.

“A escola é uma trama de relações sociais materiaisque organizam a experiência cotidiana e pessoal doaluno/a com a mesma força ou mais que asrelações de produção podem organizar as dooperário na oficina ou as do pequeno produtor nomercado. Por que então continuar olhando o espaçoescolar como se nele não houvesse outra coisa emque se fixar além das ideias que se transmitem?”(Enguita apud Goméz & Sacristan, 1998).

REPRESENTAÇÕES SOCIAS

• Conjunto de conceitos, proposições e explicaçõesda vida no cotidiano.

• Transmitem-se por comunicações interpessoais.

• Equivalem aos mitos, estereótipos e crenças dassociedades.

• São entendidas como senso comum.

Para Nóbrega (2001), representações sociais podemser entendidas como:• Noções e valores que corroboram para o

indivíduo se orientar no meio ambiente.• Práticas para dominá-lo.• Assegurar a comunicação entre os indivíduos.• Estabelecer um código para trocas.• Forma de nomear e classificar as partes do seu

mundo, de sua história individual ou coletiva.

A APLICAÇÃO DO CONCEITO• Jean-Claud Abric (1976) assinala que nesses

processos de percepção social aparecemelementos centrais, aparentemente constitutivosdo pensamento social, que lhe permitem colocarem ordem e compreender a realidade vividapelos indivíduos.

• As representações sociais trabalham muito comas imagens.

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• A ideia de uma Psicopedagogia Institucionalcontextualizada na escola enfatiza o papel e arelevância do cotidiano para os estudos e aprática onde ela realiza.

• Fala-se de uma epistemologia do cotidianopara melhor estruturá-lo e compreende-lo.

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E COTIDIANO ESCOLAR

• O que é o cotidiano?

• Quais são seus limites?

• Quais a noções que ele traduz?

• Qual o seu sentido para refletir a Educação?

• Qual o lugar das histórias de vida dos sujeitos,suas memórias, suas experiências, suas práticas,seus saberes, seus potenciais, suas origens frenteao processo de ensino e aprendizagem?

Para Pichon-Rivière e Quiroga (1998)

Cotidianidade é a manifestação imediata, numtempo, num ritmo, num espaço das complexasrelações sociais que regulam a vida dos homensnuma determinada época histórica. A cada épocahistórica e a cada organização social correspondeum tipo de vida cotidiana, já que em cada épocahistórica e em cada organização social ocorremdiferentes tipos de relações com a natureza e comos outros serem humanos .

O cotidiano escolar apresenta a natureza:• Das práticas.• Das ações realizadas em seu interior.• Envolve o currículo escolar, o PPP.• As relações de poder, de saber, de afeto, de emoções

em determinado tempo, espaço.• Aluno/professor.• Sujeitos.• O senso comum.• As representações sociais.

• É preciso entender a engrenagem. A rotina daescola.

• O cotidiano revela os processos tanto à luz dequem o produz, como de quem o recebe.

• Tudo no cotidiano apresenta-se em bloco:atitudes – valores; ações-reações; vontade,desejo – expectativas; saber fazer – interessese oportunidades.

“Não se vive o cotidiano como um conjunto depráticas. Há que se buscar entender como sãoproduzidas estas práticas”. Assim, aPsicopedagogia Institucional deve procurar:

• Desvelá-lo, trazendo à tona o que está oculto.

• Analisá-lo, priorizando o que para o indivíduoé essencial, particular, relativo, coletivo,efêmero, transformador, ameaçador...

• Relacioná-lo com os outros cotidianos com osquais o indivíduo convive.

• Discuti-lo, interrogando sobre determinações,obrigações, ambiguidades, diferenças,desigualdades.

• Compreendê-lo, contextualizando a trama dasrelações que dele provêm e os dramas que elepode provocar.

• Visualizá-lo, identificando os usos dotempo/espaço, assim como as tomadas dedecisão.

PRINCIPAL CONTRIBUIÇÃO• A Psicopedagogia, como área que estuda o

processo ensino/aprendizagem, podecontribuir com a escola na missão de resgatedo prazer no ato de aprender e daaprendizagem nas situações prazerosas“(BARBOSA, 2001).

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BARBOSA, Laura M. Serrat. A Psicopedagogia no âmbito da Instituição Escolar. Curitiba,Paraná. Editora Expoente, 2001.

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GASPARIM, Maria Cecília Castro. Psicopedagogia Institucional Sistêmica: contribuições domodelo relacional sistêmico para a psicopedagogia institucional. 2ª ed. rev. e at. São Paulo.Ponto Cosmopolitana, 2011.

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HARPER, Babette et al. Cuidado, escola! desigualdade, domesticação e algumas saídas. São Paulo,Brasiliense, 1980.

NÓBREGA, S. M. (2001). Sobre a teoria das representações sociais. In: A. Moreira, Representaçõessociais: teoria e práticas. João Pessoa: Editora Universitária / UFPB.

PICHON-RIVIËRE, E., & QUIROGA, A. P. (1998). Psicologia da vida cotidiana. São Paulo: Martins Fontes.

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