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A PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO INSTITUCIONAL: DEBATE, “ESTRANHAMENTOS” E CONSTRUÇÃO NO ESPAÇO DA SUBJETIVIDADE Seilla Regina Fernandes de Carvalho RESUMO Este artigo objetiva fomentar a reflexão sobre a atuação da Psicopedagogia como uma ciência que contém em seu bojo teórico, um conjunto de referenciais que possibilita repensar e analisar as interelações dos sujeitos em seus espaços reais e simbólicos a partir da constituição do ser no processo de cognição social. Atuando na Instituição Escolar, pode promover a reflexão sobre a natureza dos condicionamentos e dos sistemas de crenças que sustentam o imaginário implícito na relação professor-aluno e assim potencializar e ressignificar a aprendizagem dos sujeitos pertencentes ao coletivo de seres que apreende novas realidades. Palavras-chave: paradigma, educação, subjetividade, impermanência, sujeito, afetividade, autonomia. Uma das características do pensamento contemporâneo é lutar contra as dicotomias a que tradicionalmente estamos habituados a pensar o mundo. Nesse aspecto é imprescindível ao educador pensar sobre o protagonismo infantil dentro de um contexto social mais amplo, no sentido de concepção de amanhã, pois, as crianças não são simples receptáculos em que os adultos depositam seus conhecimentos. A criança é um ser social que interage com o adulto, aprende e ensina e necessita ser olhada, educada e cuidada considerando o lugar de sujeito histórico a que tem direito. Em geral a escola mantém silêncio sobre o ‘Amanhã’, o tempo corre até uma parada abrupta e a criança ou jovem aluno, tem seu foco dirigido ao passado. O futuro banido da sala de aula reverbera nas ilhas de subjetividade desse sujeito e se afasta da consciência gerando uma distorção no que se refere ao quantum de energia que ele dispreende para se perceber de forma significativa e contextualizada no amanhã.

A PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO INSTITUCIONAL

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Page 1: A PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO INSTITUCIONAL

A PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO INSTITUCIONAL: DEBATE, “ESTRANHAMENTOS” E CONSTRUÇÃO NO ESPAÇO DA SUBJETIVIDADE

Seilla Regina Fernandes de Carvalho

RESUMOEste artigo objetiva fomentar a reflexão sobre a atuação da Psicopedagogia como uma ciência que contém em seu bojo teórico, um conjunto de referenciais que possibilita repensar e analisar as interelações dos sujeitos em seus espaços reais e simbólicos a partir da constituição do ser no processo de cognição social. Atuando na Instituição Escolar, pode promover a reflexão sobre a natureza dos condicionamentos e dos sistemas de crenças que sustentam o imaginário implícito na relação professor-aluno e assim potencializar e ressignificar a aprendizagem dos sujeitos pertencentes ao coletivo de seres que apreende novas realidades.

Palavras-chave: paradigma, educação, subjetividade, impermanência, sujeito, afetividade, autonomia.

Uma das características do pensamento contemporâneo é lutar contra as dicotomias a que tradicionalmente estamos habituados a pensar o mundo. Nesse aspecto é imprescindível ao educador pensar sobre o protagonismo infantil dentro de um contexto social mais amplo, no sentido de concepção de amanhã, pois, as crianças não são simples receptáculos em que os adultos depositam seus conhecimentos. A criança é um ser social que interage com o adulto, aprende e ensina e necessita ser olhada, educada e cuidada considerando o lugar de sujeito histórico a que tem direito.

Em geral a escola mantém silêncio sobre o ‘Amanhã’, o tempo corre até uma parada abrupta e a criança ou jovem aluno, tem seu foco dirigido ao passado. O futuro banido da sala de aula reverbera nas ilhas de subjetividade desse sujeito e se afasta da consciência gerando uma distorção no que se refere ao quantum de energia que ele dispreende para se perceber de forma significativa e contextualizada no amanhã.

A quebra ou a manutenção de paradigmas se reflete nos movimentos que ocorre dentro da escola e em sala de aula. A forma como o contexto escolar trata o exercício da temporalidade não estará impedindo construções significativas do aluno em relação a si mesmo como sujeito proativo, autônomo, gestor de idéias e pertencente a um grupo? O conteúdo curricular trata de localizar o indivíduo no tempo de uma forma estagnada. O passado - fatos, datas, vultos, narrativas de guerras e feitos heróicos - estudados veementemente sem nenhum significado real a não ser o de manter o sujeito adaptado a um estado temporal que o impede a ação crítica sobre essa realidade construída sem a sua participação. Apenas em raros momentos ele chega a ser apresentado aos eventos atuais, através da solicitação do professor de recortes de jornais ou que assista ao noticiário da TV. Porém, nada que vá levá-lo a uma reflexão ou antecipação quanto a sua participação no presente que é exercitar o futuro como uma dimensão que se encontra impregnada na ação do aqui-agora existencial. A escola deve estabelecer o compromisso com um trabalho, que vise o estabelecimento de

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novas formas de saberes articuladores de uma nova concepção de mundo, pois,“ com metodologias ativas e com a construção de grupos operativos, o que podemos observar é a caracterização de um espaço onde emoção, prazer, subjetividade e ampliação de horizontes colaboram para o surgimento de novas racionalidades, mais abertas, proveitosas e onde a dialogicidade seja uma constante possibilidade integradora.” (BEAUCLAIR, 2006). Nesse contexto, onde a psicopedagogia no âmbito institucional tem atuação? Em todos os lugares e neo-lugares que possibilitem gerar o movimento da reflexão sobre o ensinar/aprender, trazendo à tona o exercício da sincronicidade, a vivência da homeostase, a percepção da entropia, que são dinâmicas da natureza do ser humano visivelmente passíveis de experimentação e aprendizagem dentro dos grupos.

A Psicopedagogia no âmbito institucional apresenta-se como corpo teórico que visa integrar várias áreas do conhecimento e luta bravamente pelo reconhecimento da interdependência dos vários aspectos da realidade. E se compromete a estudar os encaminhamentos do indivíduo na sociedade. Um indivíduo que antes de tudo está inserido em grupos, tais como: a escola, a família, a empresa, as associações e outros. Esses encaminhamentos se processam nas esferas perceptuais e estruturais dos campos cognitivo, afetivo e corpóreo, produzindo “uma forma de estar” consigo e com o outro que dependendo da natureza desse movimento poderá produzir distorções na sua maneira de apreender a realidade com conseqüências negativas/positivas na construção de conhecimentos sejam eles formais ou informais.

O surgimento dessa área de conhecimento, a princípio se dá a partir da necessidade de se compreender os até então chamados problemas de aprendizagem, via desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor. Porém, é possível constatar que atualmente as construções psicopedagógicas detêm-se nas modalidades de aprendizagem a partir da constituição psicológica, mesológica e histórico-cultural do sujeito, e vem para ampliar o olhar quanto a essas questões. Além de propor métodos de intervenção com o objetivo de reintegrar o aluno ao processo de construção do conhecimento, bem como, fomentar a reflexão sobre os procedimentos didático-metodológicos e éticos que se dão no ambiente escolar e da sala de aula. Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) observa que (...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises conjunturais e sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais (...).

A natureza da intervenção psicopedagógica reflete duas vertentes. Uma na dimensão terapêutica e outra na dimensão preventiva. E diz respeito não só aos alunos, mas a toda dinâmica desenvolvida dentro da instituição escolar. Essa forma de atuação da Psicopedagogia visa favorecer os mecanismos presentes no aprender e ensinar com o outro, tocando nas questões pertinentes às relações vinculares do aluno com a escola, com o professor, com o corpo técnico-diretivo, administrativo e de apoio. Reeditar e redefinir os procedimentos pedagógicos integrando todas as dimensões implícitas no saber são ângulos de um mesmo fenômeno e devem ser articulados, refletidos a fim de que se possa configurar numa quebra de paradigmas quanto aos processos educacionais.

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A Psicopedagogia propõe uma reflexão sobre o inacabamento do homem e a impermanência dos conceitos estabelecidos como imutáveis pelas agências de controle do imaginário: escola, família, igreja, estado. Com uma escuta e olhar diferenciado num processo analítico que se dá a partir do referencial da Matriz Diagnóstica apresentada pela Epistemologia Convergente de Jorge Visca (1987), que apoiado em “princípios interacionistas, construtivistas e estruturalistas, possibilita entre outras questões a leitura dos sintomas que emergem na ação e interação social, voltada para o sujeito que aprende”. (MONTE SERRAT, 2001).

Portanto, a partir de um referencial interdisciplinar e transdisciplinar como o da Psicopedagogia, é possível estabelecer a convergência não só no que diz respeito aos aspectos intrínsecos da educação formal, pois, um novo pensar o mundo/no mundo se faz premente a fim de que o indivíduo possa conceber seu sentido de futuro e atemporalidade significativa para gerar a auto-sustentabilidade psíquica e emocional na convivência como ser inserido na coletividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:BEAUCLAIR, João. Novos paradigmas e educação: “recortes” psicopedagógicos. Disponível em: http://www.psicopedagogia.online.com.br-Acesso: 08 mar. 2006.BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia institucional e formação do/a psicopedagogo/a numa perspectiva paradigmática: breve relato de uma experiência em processo. Disponível em: http://www.psicopedagogia.online.com.br- Acesso: 09 mar. 2006. BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática, Artmed: Porto Alegre, 2000, p. 90-94. FAGALI, Eloísa Quadros; RIO DO VALLE, Zélia Rio. Psicopedagogia institucional aplicada: a aprendizagem escolar dinâmica e a construção na sala de aula, Vozes: Petrópolis, 1993, p. 9-11.MONTE SERRAT, Laura. A Psicopedagogia no Âmbito da Instituição Escolar, Expoente: Curitiba, 2001. In. A Leitura do Emergente e do Latente na Instituição Escolar, p. 135-180.

Publicado em 12/04/2007 17:03:00

Seilla Regina Fernandes de Carvalho - Pedagoga (UNEB-BA), concluinte do curso de Especialização em Psicopedagoga Clínica e Institucional (FAP-PR), com habilitação na Docência do Ensino Superior, Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes, Integrante da Equipe de Avaliação do Prêmio Pólo de Incentivo à Educação do COFIC – Comitê de Fomento Industrial de Camaçari – Ba.