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A Queda da Casa de Usher – Análise Neste conto é possível perceber características comuns ao estilo de escrita de Poe: o clima de mistério e terror que envolve os personagens e perpassa por toda a narrativa; a sensação aterrorizante que cresce gradualmente até alcançar seu ápice, no desfecho do conto; personagens doentias, e acontecimentos supostamente sobrenaturais. O narrador em primeira pessoa participa dos fatos que acontecem na Casa de Usher, e é amigo de infância de Roderick Usher, o remanescente da antiga família junto com sua irmã, Lady Madeline. Ele é convidado por Roderick à visitá-lo, pois o estado doentio em que se encontra se torna insuportável diante da enfermidade da irmã. Logo nos primeiros parágrafos, o narrador descreve a fachada e os arredores da morada da família Usher. Esse processo descritivo é indispensável para criar o clima necessário para o conto de mistério que Poe se propõe a fazer. Para melhor entender, vejamos as imagens construídas na narrativa. Primeiramente, temos o ambiente externo. A estação em que se encontra é o outono: este período “escuro, sombrio, silencioso...” nos dá a idéia de melancolia, tristeza e declínio, pois o mesmo antecede o inverno. Pode-se dizer que o outono antecede a própria morte, pois o inverno, o gelo, é esterilidade, a ausência de vida. É no outono que caem as folhas e é no outono que cai a Casa de Usher. Ao continuarmos a leitura, o narrador continua a construir a sensação de opressão e morte que rondava e compunha a locação através de diversas imagens: “nuvens baixas amontoavam-se opressivamente no céu”; “dia pesado, escuro e mudo” e especialmente a casa de “paredes frias”, “janelas paradas como olhos vidrados”, com “troncos (...) de árvores mortas”. O narrador ao contemplar a paisagem é acometido de uma angústia inexplicável e implacável. Tudo isso acentua o caráter assustador da casa de Roderick Usher e também angustia o leitor. O narrador ainda descreve no ambiente externo a presença de uma espécie de lagoa, que por parecer lúgubre e morta, ele acha difícil diferenciar de um “charco sombrio e lúgubre”. Ao

A Queda Da Casa de Usher

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Análise do Conto A Queda da Casa de Usher

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A Queda da Casa de Usher Anlise

A Queda da Casa de Usher AnliseNeste conto possvel perceber caractersticas comuns ao estilo de escrita de Poe: o clima de mistrio e terror que envolve os personagens e perpassa por toda a narrativa; a sensao aterrorizante que cresce gradualmente at alcanar seu pice, no desfecho do conto; personagens doentias, e acontecimentos supostamente sobrenaturais.

O narrador em primeira pessoa participa dos fatos que acontecem na Casa de Usher, e amigo de infncia de Roderick Usher, o remanescente da antiga famlia junto com sua irm, Lady Madeline. Ele convidado por Roderick visit-lo, pois o estado doentio em que se encontra se torna insuportvel diante da enfermidade da irm.

Logo nos primeiros pargrafos, o narrador descreve a fachada e os arredores da morada da famlia Usher. Esse processo descritivo indispensvel para criar o clima necessrio para o conto de mistrio que Poe se prope a fazer. Para melhor entender, vejamos as imagens construdas na narrativa.

Primeiramente, temos o ambiente externo. A estao em que se encontra o outono: este perodo escuro, sombrio, silencioso... nos d a idia de melancolia, tristeza e declnio, pois o mesmo antecede o inverno. Pode-se dizer que o outono antecede a prpria morte, pois o inverno, o gelo, esterilidade, a ausncia de vida. no outono que caem as folhas e no outono que cai a Casa de Usher.

Ao continuarmos a leitura, o narrador continua a construir a sensao de opresso e morte que rondava e compunha a locao atravs de diversas imagens: nuvens baixas amontoavam-se opressivamente no cu; dia pesado, escuro e mudo e especialmente a casa de paredes frias, janelas paradas como olhos vidrados, com troncos (...) de rvores mortas. O narrador ao contemplar a paisagem acometido de uma angstia inexplicvel e implacvel. Tudo isso acentua o carter assustador da casa de Roderick Usher e tambm angustia o leitor.O narrador ainda descreve no ambiente externo a presena de uma espcie de lagoa, que por parecer lgubre e morta, ele acha difcil diferenciar de um charco sombrio e lgubre. Ao olhar para a lagoa-charco, o narrador v refletido a casa e a angstia que sente aumentada. Como se a lagoa, feito um espelho mtico, revela o carter moribundo e espectral da residncia. E nesse contemplar o narrador v todo o terror contido naquele lugar.Ao levantar os olhos da lagoa ele repara com mais cuidado na casa e percebe uma espcie de aura ao redor da casa:

uma atmosfera peculiar a ambos e sua vizinhana imediata uma atmosfera que no tinha afinidade com o ar do cu, mas que se havia evolado das rvores senis, das paredes cinzentas, do pntano silente - um vapor pestilento e mstico, pesado, inerte, mal perceptvel, cor de chumbo. como se a prpria residncia fosse possuda por um esprito prprio imbudo ali ao longo dos tempos, e que impregnou a localidade. O prprio R. Usher mais a frente ir comentar sobre esta sensibilidade vegetal e inorgnica, causada pela disposio inalterada ao longo dos tempos destes elementos da casa e em derredor dela. Como uma espcie de esponja, os objetos e vegetais absorveram tambm o prprio esprito lgubre dos Usher.

Percebe-se neste ponto a relao entre o edifcio e a prpria famlia Usher. Estas relaes de reflexos tambm acompanham todo o conto e so parte constitutiva indispensvel para o entendimento do mesmo. Baseando-se nisto, podemos comparar como a casa-edifcio se relaciona com a decadente famlia. Alm da atmosfera mrbida que os envolve, temos a descrio mais detalhada da casa:

(...)parecia haver uma extravagante incompatibilidade entre a ainda perfeita adaptao das partes e a condio precria de cada pedra.(...)me recordava a integridade aparente de uma velha obra de madeira que apodreceu no transcurso de longos anos nalgum subterrneo esquecido, sem receber o contacto da atmosfera exterior.(...)a estrutura dava poucos indcios de instabilidade.Talvez o olho de um observador atento tivesse descoberto a nica fenda visvel, a qual, estendendo-se do teto, na fachada, descia pela parede abaixo, formando ziguezigues, at se perder nas guas sombrias do charco.Todas estas afirmaes so espelho dos Usher e, mais precisamente, do morador atual da casa, Roderick. Roderick, assim como o narrador no velho, no entanto, sua aparncia de um moribundo, um homem quase morto:Tez cadavrica, olhos grandes, transparentes, luminosos sem comparao; lbios um tanto finos e muito plidos, (...) cabelos que lembravam a maciez e a suavidade de uma teia de aranha

Ao continuar a anlise da descrio da casa como espelho dos Usher, deve-se apelar ao senso comum e para as pequenas pistas deixadas por Poe no texto. O motivo de sua queda iminente talvez possa ser encontrado a, nesta fenda que se estende do teto ao lago. Tais pistas s seriam perceptveis, como o prprio narrador diz, ao olho de um observador mais atento.

Como podemos ver no conto, os Usher eram uma famlia muito antiga, que s se perpetuava por descendncia direta, que era muito discreta, e que recentemente, passou a ter gestos de generosa caridade.

Pode-se perceber que, sutilmente, se revela um retrato da famlia, e partir da podemos especular que, como muitas famlias tradicionais, os Usher se mantinham ocultos da sociedade, e por esse carter oclusivo, seus membros se tornaram como uma velha obra de madeira que apodreceu no transcurso de longos anos nalgum subterrneo esquecido, sem receber o contato da atmosfera exterior, mesmo que apresentassem poucos indcios de instabilidade.Logo aps a apresentao do ambiente externo, o narrador entra na casa de Usher.