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O presente relatório foca a Cantina Social (CS) e a realização de uma entrevista aos clientes, para a compreensão das causas da vulnerabilidade social dos mesmos, conhecer a natureza das dificuldades subjacentes no impedimento da resolução dos problemas vivenciados pela população estudada. Formulamos assim, através do conhecimento das causas a seguinte pergunta de partida: EEmm qquuee mmeeddiiddaa aa ccoonnsscciieenncciiaalliizzaaççããoo ddooss cclliieenntteess ssoobbr r ee aass ccaauussaass ddaa ssuuaa ppr r oobblleemmááttiiccaa,, ppr r oommoovvee aa mmuuddaannççaa eef f eettiivvaa nnaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddooss mmeessmmooss?? Para obtermos a resposta à pergunta citada, adotámos como metodologia, um estudo exploratório de método qualitativo, pela análise documental, numa primeira fase, obtida por registos dos clientes de 2013 e numa segunda fase, uma entrevista semiestruturada de respostas abertas, a uma parte da população da CS do ano de 2014
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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Relatório de Estágio Curricular em Serviço Social
AA RReeiinnsseerrççããoo SSoocciiaall ddee CCaarriizz HHuummaanniissttaa
Compreender as Causas e Promover a mudança
Filipe de Freitas Leal
Orientador académico: Professor Doutor Jorge Rio Cardoso
Orientadora Institucional: Dra. Sílvia Moço
Coorientadora Institucional: Dra. Vera Rodrigues
Instituição de Acolhimento: O Companheiro, IPSS
Lisboa, 2015
III
Índice Geral
Dedicatória ................................................................................................................................... II
Índice Geral .................................................................................................................................. III
Índice de tabelas ...........................................................................................................................V
Índice de anexos ...........................................................................................................................V
Siglas ............................................................................................................................................VI
Agradecimentos ..........................................................................................................................VII
Resumo ........................................................................................................................................VIII
Abstracts ...................................................................................................................................... IX
Parte I – Enquadramento Institucional
1 – Enquadramento do Estágio....................................................................................................02
2 – A pergunta de partida .............................................................................................................05
3 – Caracterização institucional...................................................................................................06
3.1 – História, Valores e Missão.........................................................................................06
3.1.1 – A História......................................................................................................06
3.1.2 – Os Valores....................................................................................................07
3.1.3 – A Missão.......................................................................................................08
3.2 – População Alvo..........................................................................................................09
3.2.1 – Conceitos de População Alvo e Cliente.......................................................10
3.3 – Estrutura e respostas sociais ....................................................................................11
3.3.1 – Gabinetes .....................................................................................................11
3.3.1.1 – Gabinete de Intervenção Social – GIS..............................................11
3.3.1.2 – Gabinete de Intervenção Clínica e Psicológica – GICP....................12
3.3.1.3 – Gabinete de Educação, Formação e Empregabilidade – GEFE ......12
3.3.1.4 – Gabinete de Apoio Jurídico – GAJ ....................................................13
3.3.2 – Equipamentos ..............................................................................................13
3.3.2.1 – Residência coletiva masculina ..........................................................13
3.3.2.2 – Banco de Roupa – BR.......................................................................15
3.3.2.3 – Banco Alimentar – BA .......................................................................15
3.3.2.4 – Cantina Social – CS ..........................................................................15
4 – A Intervenção Social no “O Companheiro”..........................................................................17
4.1 – Metodologia e modelos de intervenção social ..........................................................17
4.1.1 – Metodologia de intervenção .........................................................................18
4.1.2 – Modelos de intervenção ...............................................................................19
4.2 – Gabinete de Intervenção social – GIS.......................................................................20
4.2.1 – A ordem cronológica das fases de intervenção ...........................................21
4.2.2 – Acolhimento do cliente .................................................................................23
IV
Parte II – Enquadramento Teórico conceptual
5 – Enquadramento Teórico .........................................................................................................26
5.1 – O fenómeno da exclusão social ................................................................................27
5.1.1 – O conceito de Pobreza.................................................................................27
5.1.2 – O Conceito de Exclusão Social....................................................................28
5.1.3 – As Políticas Sociais de combate à Pobreza e Exclusão Social...................29
5.2 – A metodologia e os modelos da intervenção social ..................................................30
5.2.1 – A metodologia da intervenção social ...........................................................31
5.2.2 – Os modelos de intervenção social ...............................................................31
5.3 – A Capacitação e a Advocacia (Empowerment e Advocacy) .....................................33
6 – Caracterização dos clientes da Cantina Social....................................................................34
6.1 – Caracterização de género .........................................................................................35
6.2 – Caracterização etária ................................................................................................36
6.3 – Caracterização familiar..............................................................................................37
6.4 – Caracterização conjugal ............................................................................................38
6.5 – Caracterização habitacional ......................................................................................40
6.6 – Caracterização geográfica.........................................................................................42
6.7 – Caracterização escolar..............................................................................................43
6.8 – Caracterização profissional .......................................................................................44
6.9 – Caracterização de saúde...........................................................................................45
6.10 – Caracterização jurídico-penal..................................................................................46
6.11 – Caracterização toxicológica ....................................................................................47
Parte III – Resultado das Entrevistas e Conclusão
7 – Conhecer as causas da vulnerabilidade social....................................................................49
7.1 – O projeto de estágio ..................................................................................................49
7.2 – A metodologia do estudo...........................................................................................50
7.3 – A estrutura da entrevista ...........................................................................................50
7.4 – Análise de conteúdo das entrevistas.........................................................................51
7.4.1 – Análise de caracterização da amostra.........................................................51
7.4.2 – Análise de conteúdo das entrevistas ...........................................................53
8 – Conclusão e observações finais ...........................................................................................58
8.1 – Conclusão do presente trabalho ...............................................................................58
8.2 – Avaliação do estágio e da intervenção......................................................................59
8.3 – Considerações finais e sugestões.............................................................................61
Bibliografia.....................................................................................................................................62
Anexos............................................................................................................................................64
V
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Caracterização de género ............................................................................................35
Tabela 2 – Caracterização etária....................................................................................................36
Tabela 3 – Caracterização familiar .................................................................................................37
Tabela 4 – Faixa etária de agregados unipessoais ........................................................................38
Tabela 5 – Caracterização conjugal ...............................................................................................39
Tabela 6 – Caracterização habitacional .........................................................................................41
Tabela 7 – Caracterização geográfica............................................................................................42
Tabela 8 – Caracterização escolar .................................................................................................43
Tabela 9 – Caracterização profissional ..........................................................................................44
Tabela 10 – Caracterização de saúde............................................................................................45
Tabela 11 – Caracterização jurídico-penal .....................................................................................46
Tabela 12 – Caracterização toxicológica........................................................................................47
Tabela 13 – Caracterização de género da amostra .......................................................................52
Tabela 14 – Caracterização etária da amostra...............................................................................52
Tabela 15 – Caracterização familiar da amostra ............................................................................52
Tabela 16 – Caracterização conjugal da amostra ..........................................................................52
Tabela 17 – Caracterização escolar da amostra............................................................................52
Tabela 18 – Caracterização geográfica da amostra.......................................................................53
Tabela 19 – Caracterização profissional da amostra .....................................................................53
Tabela 20 – Questão 1 – Há quanto tempo é cliente de “O Companheiro”? .................................53
Tabela 21 – Questão 2 – Quais as razões que motivaram o pedido de apoio? ............................54
Tabela 22 – Questão 3 – Quais as dificuldades sentidas que impedem a mudança?...................54
Tabela 23 – Questão 4 – Quais as expectativas que tem face ao futuro?.....................................55
Tabela 24 – Questão 5 – De que modo prevê a solução e qual o tempo necessário?..................55
Índice de Anexos
Anexo I – Projeto de estágio ..........................................................................................................64
Anexo II – Esquema de “Processo Chave” (de admissão) ............................................................68
Anexo III – Entrevista aos clientes da Cantina Social ....................................................................69
Anexo IV – Refeições contratualizadas, dados nacionais de 2013 ...............................................73
Anexo V – Escolaridade obrigatória ...............................................................................................74
Anexo VI – As correntes do trabalho social ...................................................................................75
VI
Siglas
APSS – Associação dos Profissionais de Serviço Social
BA – Banco Alimentar
BACF – Banco Alimentar Contra a Fome
BR – Banco de Roupa
CML – Câmara Municipal de Lisboa
CS – Cantina Social
DGRSP – Direção Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais
EBT – Entidade Beneficiária de Trabalho
EP – Estabelecimento Prisional
FEAC – Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas
FIAS – Federação Internacional dos Assistentes Sociais
GAJ – Gabinete de Aconselhamento Jurídico
GEFE – Gabinete de Educação, Formação e Empregabilidade
GICP – Gabinete de Intervenção Clínica e Psicológica
GIS – Gabinete de Intervenção Social
ICOR – Inquérito às Condições de Vida e Rendimento
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IES – Índice de Exclusão Social
INE – Instituto Nacional de Estatística
ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
IPSS’s – Instituições Particulares de Solidariedade Social
ISS – Instituto da Segurança Social
JFB – Junta de Freguesia de Benfica
LSJ – Licença de Saída Jurisdicional
PEA – Programa de Emergência Alimentar
PEP – Praticas Educativas Parentais
PFI – Plano Familiar de Inclusão
PII – Plano Individual de Inserção
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PTFC – Prestação de Trabalho em Favor da Comunidade
RAE – Regime Aberto ao Exterior
RSCS – Rede Solidária das Cantinas Sociais
RSI – Rendimento Social de Inserção
SCML – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
SD – Subsídio de Desemprego
UL – Universidade de Lisboa
VII
Agradecimentos
Ao concluirmos este relatório, iniciamos um capítulo novo, no entanto o que vier a seguir é
fruto, de igual modo, de todos os que fazem parte deste projeto, pessoas que em maior ou menor
grau colaboraram, contribuíram, enriqueceram e acreditaram na nossa aprendizagem do Trabalho
Social, resta-nos agradecer, acreditar e continuar a caminhada.
Iniciamos por dirigir os nossos agradecimentos ao Professor Doutor Jorge Rio Cardoso,
com toda a amizade e estima, não apenas por ter aceitado orientar o nosso estágio, mas
sobretudo pelos seus preciosos ensinamentos, com quem o plural passou a ter um novo
significado, a escrita passou a ser viva e o esforço tornou-se-nos suave, porque ao acreditar em
nós, com o seu apoio, a sua competência, generosidade e amizade, permitiu-nos chegar até aqui
e assim poderemos seguir em frente.
Deixamos aqui expresso, os nossos agradecimentos à Instituição que nos acolheu, ‘O
Companheiro’, em particular ao Professor Doutor José de Almeida Brites pela possibilidade de um
estágio pós-laboral e a honra de podermos ter colaborado nesta Instituição ímpar.
À Exma. Dra. Sílvia Moço, a nossa orientadora na Instituição, pela sua competência, rigor
técnico; À Coorientadora institucional, a Exma. Dra. Vera Rodrigues, pelo seu profissionalismo e
por todo o apoio prestado; aos demais funcionários de "O Companheiro", pelo caloroso
acolhimento; Aos residentes e aos clientes da Cantina Social que, ao concederem a sua
entrevista, contribuíram para a conclusão deste trabalho do qual foram parte ativa, a todos
deixamos aqui expresso o nosso reconhecimento e apreço, com uma palavra de gratidão à
memória do Nuno Filipe Velasco que connosco colaborou entusiasticamente.
Ao ISCSP, a nossa "Alma Mater", na pessoa de todos os estimados Professores, a quem
devemos sempre muito – pela partilha do saber, para um saber ser e um saber fazer, bem como
aos colegas do curso, pela partilha, o apoio e a amizade que fica – deixamos uma palavra de
apreço a Ana Fujaco, Cláudia Almeida, Daniela Rocha, Francisco Costa, Manuela Lopes, Manuela
Pinheiro e Marta Branco.
Por último, deixamos uma palavra de reconhecimento a familiares e amigos que nos
incentivaram e apoiaram como, Rosana Abib, António de Freitas Leal, Marivone Leal, Fernando
Monteiro, Ilda Guerreiro, Rui Silva, Carlos Batista, Ziva David e Suzana Juzarte.
Filipe de Freitas Leal
VIII
Resumo
O presente relatório foca a Cantina Social (CS) e a realização de uma entrevista aos
clientes, para a compreensão das causas da vulnerabilidade social dos mesmos, conhecer a
natureza das dificuldades subjacentes no impedimento da resolução dos problemas vivenciados
pela população estudada.
Formulamos assim, através do conhecimento das causas a seguinte pergunta de partida:
EEmm qquuee mmeeddiiddaa aa ccoonnsscciieenncciiaalliizzaaççããoo ddooss cclliieenntteess ssoobbrree aass ccaauussaass ddaa ssuuaa pprroobblleemmááttiiccaa,, pprroommoovvee
aa mmuuddaannççaa eeffeettiivvaa nnaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddooss mmeessmmooss??
Para obtermos a resposta à pergunta citada, adotámos como metodologia, um estudo
exploratório de método qualitativo, pela análise documental, numa primeira fase, obtida por
registos dos clientes de 2013 e numa segunda fase, uma entrevista semiestruturada de respostas
abertas, a uma parte da população da CS do ano de 2014.
Podemos aferir que a consciencialização do sistema cliente, face à sua realidade
sociodemográfica não é suficiente por si só, devido aos condicionalismos estruturais que a maioria
dos clientes da amostra sofre simultaneamente: desde a rutura com os laços sociais, familiares e
afetivos, a problemas conjunturais, como o desemprego, as baixas reformas entre outros, o que
condiciona a resolução dos problemas que estão na origem do pedido de apoio.
As entrevistas permitiram-nos a comunicação e a interação com os respetivos clientes, e
com a qual constatamos pelas respetivas respostas, que de facto é possível a mudança das
condições de vida da população cliente da CS, pela consciencialização da sua realidade, na
medida em que a intervenção social e o processo de consciencialização sejam ambos apoiados
pelo empowerment, permitindo assim que os mesmos se vejam a si mesmos como os principais
autores da sua mudança.
Palavras-Chave: Cantina Social, desemprego, exclusão social, carência alimentar,
criminalidade, reinserção social, vulnerabilidade social.
IX
Abstracts
The following report focuses on the Social Canteen (CS) and the realization of interviews
with the clients, to understand the causes of their vulnerability and the nature of the underlying
difficulties that prevent the resolution of the problems experienced by the studied population.
Thus, by acknowledging their causes, we formulate a following starting question: In which
way, the clients’ awareness on the causes of their problems, may promote an effective change in
their life condition?
To obtain an answer to this question, we adopted as methodology a qualitative-method,
exploratory research, making use of a documental analysis in a first phase, obtained by the clients'
records of 2013, and in a second phase, a semi structured interview with open answers to the CS
population of 2014 (measure).
We find that the awareness of the client system, compared to its sociodemographic reality,
is not sufficient by it self, due to the structural handicaps that most of the sample clients
simultaneously suffer: from the break with the social, familiar and emotional bonds, to conjuncture
problems such as unemployment, low pensions among others, limiting the resolution to the same
problems that originated their request for support.
The interview allowed us the communication and the interaction with the respective clients,
and with which we find that, in fact it's possible through the awareness, to promote a change in the
clients' life situation, in that social intervention and the same process of awareness, are each
supported by empowerment, allowing to the clients, to see themselves as the main agent of its
change.
Keyword: Criminality, food shortage, Social Canteen, social exclusion, social reinsertion,
social vulnerability, unemployment.
PPaarrttee II
EEnnqquuaaddrraammeennttoo IInnssttiittuucciioonnaall
11 –– EEnnqquuaaddrraammeennttoo ddoo eessttáággiioo
Enquadramento do estágio
22 –– AA ppeerrgguunnttaa ddee ppaarrttiiddaa
Enunciação do tema do presente trabalho
33 -- CCaarraacctteerriizzaaççããoo iinnssttiittuucciioonnaall
Enquadramento institucional, Valores, História e Missão
44 -- AA iinntteerrvveennççããoo ssoocciiaall nnoo ''OO CCoommppaannhheeiirroo''
A tipologia da intervenção social
2
1 – Enquadramento do Estágio
""AA pprrooffiissssããoo ddee sseerrvviiççoo ssoocciiaall pprroommoovvee aa mmuuddaannççaa ssoocciiaall,, aa rreessoolluuççããoo ddee pprroobblleemmaass nnaass rreellaaççõõeess hhuummaannaass ee oo rreeffoorrççoo
ddaa eemmaanncciippaaççããoo ddaass ppeessssooaass ppaarraa pprroommooççããoo ddoo bbeemm--eessttaarr"".. Definição de Serviço Social da APSS
O presente trabalho insere-se no exercício do estágio académico, no âmbito da conclusão
da Licenciatura em Serviço Social do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da
Universidade de Lisboa (UL), realizado no Gabinete de Intervenção Social (GIS) de "O
Companheiro, IPSS – Associação de Fraternidade Cristã".
O estágio foi exercido em horário pós-laboral, durante a semana e aos sábados, no
período da manhã, tendo decorrido no período de 28 de setembro de 2013 a 20 de setembro de
2014; Inicialmente a orientação do estágio foi realizada pela, Dra. Vera Rodrigues, responsável
pela resposta social: Cantina Social.
A nossa atividade inicial fora a de ler processos e regista-los inicialmente numa base de
dados em Excel, a qual dizia respeito a todos os clientes nas diversas valências, visto desejarmos
conhecer através dos dados adquiridos a população cliente e compreender melhor a realidade
social dos mesmos, bem como o modo como a intervenção social era feita no intuito de promover
a reinserção social.
Aos sábados, trabalhávamos na CS, onde era desenvolvido o contacto com os clientes,
pela entrega das senhas por ordem de chegada, procurando assim conhecer os clientes um a um,
distribuíamos pão e sobremesas que complementavam a refeição, procurávamos assim conversar
com todos, para ter alguma aproximação com os clientes.
A criação de gráficos dos “Processos Chave” vigentes na Instituição foi outra tarefa que
desenvolvemos, tendo sido solicitada pelo Gabinete de Intervenção Clínica e Psicológica (GICP) o
qual permitiu-nos ter, uma visão mais alargada dos mecanismos de funcionamento e do universo
da população cliente, a partir do qual criámos os gráficos e as tabelas referentes às entrevistas do
estudo.
O respetivo estágio permitiu-nos conhecer as várias respostas sociais existentes na
Instituição de acolhimento; tendo no entanto, sido dada maior atenção às valências da “Cantina
Social (CS)” e do “Banco Alimentar (BA)”, onde trabalhámos em contacto direto com os clientes.
O trabalho no estágio passou pela realização de entrevistas sociais de triagem, pelo
atendimento na entrega de refeições e cabazes de produtos alimentares.
Posteriormente foi realizado um estudo por entrevistas feitas aos clientes da CS, tal como
previsto no Projeto de Estágio (Anexo I), entrevistas essas que foram muito bem acolhidas pelos
clientes, que fizeram questão em participar e dar o seu testemunho.
3
Tinha-se a necessidade de saber a grosso modo, quais as causas da exclusão social ou
vulnerabilidade em que se encontravam os clientes e esse trabalho proporcionou-nos conhecer na
primeira pessoa a problemática sentida pelos mesmos, tanto no que consideravam ser as causas,
bem com as dificuldades sentidas na resolução dos problemas.
Gostaríamos de referir, que o contacto com os colegas da Instituição permitiu obter pistas
valiosas na compreensão do que é o trabalho social e da riqueza que emerge do contacto que
tivemos com o sistema interventor e o sistema cliente.
No presente relatório, abordamos diversos temas que visam dar a conhecer a Instituição
de acolhimento, "O Companheiro", a descrição das respostas sociais e dos gabinetes existentes
na Instituição, a caracterização da população alvo, as atividades desenvolvidas no estágio, dando
maior relevo ao GIS e à CS, pelo que destacamos os seguintes temas:
Caracterização da Instituição – A vocação, a história e os valores inerentes;
População Alvo – Descrição da população em geral e dos clientes apoiados na CS
em particular;
Respostas Sociais e Gabinetes – Apresentação da estrutura operacional e das
valências da Instituição;
Intervenção Social – Descrição das funções do GIS e da metodologia utilizada,
abordando também os principais conceitos teóricos;
Atividades do Estágio – Descrição das atividades e do projeto realizado.
Abaixo, está indicada a descrição das atividades desenvolvidas na Instituição, e de
eventos em que participamos no âmbito do estágio em ordem cronológica.
Setembro de 2013, iniciou-se o estágio no GIS, dia 28, em horário pós-laboral.
Atividades diárias, Inserção de processos e das entrevistas dos clientes em base de
dados Excel e Access, atendimento aos clientes.
Atividades semanais, aos sábados, trabalho no refeitório, na distribuição de senhas
aos clientes e no auxílio à distribuição das refeições, pão e sobremesas.
Atividades quinzenais, às quartas-feiras pelas 18h00, participação conjuntamente
com os clientes em Workshops com variadíssimas temáticas.
Dezembro de 2013, dia 8 e 9, trabalho desenvolvido no stand de "O Companheiro" na
Natális – Feira de Natal de Lisboa, com o intuito de vender produtos artesanais
produzidos pelos funcionários e clientes e divulgar a Instituição e as suas valências.
Dezembro de 2013, dia 12, estivemos com toda a equipa técnica no lançamento do
livro de "O Companheiro" "Percursos em Liberdade – Histórias com vida", livro
coordenado pelo Professor Doutor José de Almeida Brites, com histórias escritas
pelos demais membros da Instituição em que cada um narra o percurso de um dos
residentes, descrevendo acontecimentos vividos.
4
Dezembro de 2013, dia 15 participamos da Feira de Natal de Benfica, organizado
pela JFB e no qual a Instituição esteve presente, na venda de produtos e na
divulgação da sua missão social.
Dezembro de 2013, dia 24 foi realizado o almoço de Natal, no qual participamos,
juntando-se os funcionários e os clientes, com a presença do Padre Dâmaso.
Janeiro de 2014, iniciámos as entrevistas institucionais aos clientes do BA e CS e
respetiva inserção dos processos em base de dados.
Junho de 2014, participação no arraial de Benfica, organizada pela JFB.
Setembro de 2014, conclusão das entrevistas realizadas por nós no âmbito do projeto
de estágio que apresentamos à Instituição (Anexo I)
Por fim, deixamos aqui expressa, a razão pela qual denominámos o presente relatório de
"Reinserção Social de Cariz Humanista", que para além de ser uma das correntes teóricas do
serviço social (Anexo VI), está implícita na definição expressa pela Federação Internacional de
Assistentes Sociais (FIAS) na sua Assembleia Geral, realizada em julho de 2000 em Montreal,
Canadá, com a seguinte definição:
"A profissão de serviço social promove a mudança social, a resolução de problemas nas
relações humanas e o reforço da emancipação das pessoas para a promoção do bem-estar. (...)
os princípios dos direitos humanos e da justiça social são fundamentais para o serviço social"1.
A definição acima é complementada pela Associação dos Profissionais de Serviço Social
(APSS), presente no seu site, na qual refere os valores inerentes ao exercício do Serviço Social,
com o seguinte texto:
"O serviço social desenvolveu-se a partir dos ideais do humanismo e da democracia e os
seus valores radicam no respeito pela igualdade, valor e dignidade de todas as pessoas. (...) visa
mitigar, libertar as pessoas vulneráveis e oprimidas, promovendo a sua inclusão social"2.
Concluímos que para além do que a cima foi exposto, sobre a definição de serviço social e
humanismo, – termo ao qual pode-se entender e interpretar uma variedade de aceções da palavra
que adotámos para este relatório, temos no entanto, em concreto o exemplo de "O Companheiro",
espelhado na filosofia e na vocação que emana da pessoa do seu fundador, o Padre Dâmaso
Lambers e que está inserida na Praxis, no nome e no lema da Instituição: "Para que não haja
homem excluído pelo homem".
1 APSS, (2012) "Definição da Profissão de Serviço Social". Página consultada em 05 de junho de 2015.
http://www.apross.pt/profissao/defini%C3%A7%C3%A3o/ 2 Idem.
5
2– A Pergunta de Partida
""AAoo uuttiilliizzaarr tteeoorriiaass ddoo ccoommppoorrttaammeennttoo hhuummaannoo ee ddooss ssiisstteemmaass ssoocciiaaiiss,, oo SSeerrvviiççoo SSoocciiaall
iinntteerrvvéémm nnaass ssiittuuaaççõõeess eemm qquuee aass ppeessssooaass iinntteerraaggeemm ccoomm oo sseeuu mmeeiioo..""
Definição de Serviço Social da APSS
A PPeerrgguunnttaa ddee PPaarrttiiddaa do presente estudo,, surge da necessidade de compreendermos os
factos, para exercer da melhor forma o trabalho social, com a autenticidade e o rigor que a
atividade requer. Neste sentido pretendemos obter uma resposta à seguinte questão:: EEmm qquuee
mmeeddiiddaa aa ccoonnsscciieenncciiaalliizzaaççããoo ddooss cclliieenntteess ssoobbrree aass ccaauussaass ddaa ssuuaa pprroobblleemmááttiiccaa,, pprroommoovvee aa
mmuuddaannççaa eeffeettiivvaa nnaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddooss mmeessmmooss??
Para realização do Projeto de Estágio, optamos por fazê-lo através de uma entrevista
realizada aos clientes da CS, com a qual obtivemos um maior contacto com a população cliente,
resultando assim, num maior conhecimento da realidade em que os mesmos se encontravam
inseridos à altura, bem como o modo, como veem e sentem o seu problema, tendo em conta, a
obtenção de respostas às seguintes questões concernentes à Pergunta de Partida e que são as
abaixo enunciadas:
Conhecer – Quais os fatores socioeconómicos que, em maior ou menor grau, afetam
a população cliente?
Avaliar – Quais as causas que estão na origem da situação de precariedade e
vulnerabilidade social, que levaram os clientes a solicitar apoio?
Compreender – Qual a natureza dos obstáculos sentidos pelos respetivos clientes,
que os impedem de ultrapassar a situação de vulnerabilidade social em que se
encontram?
Questionar – Quais as expetativas de reintegração social, dos clientes entrevistados
e o que os mesmos aconselhariam a terceiros em idêntica situação?
Como forma de obtermos respostas às questões acima enunciadas e de obter a
informação, que nos permitisse conhecer a realidade das problemáticas sociais sentidas pelo
sistema cliente, iniciámos o estágio elaborando o trabalho de inserção de dados em Excel, feito a
partir dos arquivos de processos dos clientes e das entrevistas sociais realizadas na Instituição.
Desse modo, obtivemos os dados necessários a serem inseridos no presente relatório,
seguindo-se a inserção das informações mais recentes, na base de dados de “O Companheiro”,
em Access a partir das entrevistas sociais dos clientes e das listas de espera.
6
3- Caracterização Institucional
""AA aammeeaaççaa ddoo mmaaiiss ffoorrttee ,,ffaazz--mmee sseemmpprree ppaassssaarr ppaarraa oo llaaddoo ddoo mmaaiiss ffrraaccoo..""
François Chateaubriand
A Associação “O Companheiro” é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins
lucrativos, com personalidade jurídica, canónica e civil, reconhecida como de utilidade pública,
vocacionada a apoiar reclusos, ex-reclusos e suas famílias, através do apoio psicológico, social e
laboral, tanto durante o período de reclusão como no pós-reclusão, promovendo a inclusão social
e prevenindo a reincidência.
3.1 - História, Valores e Missão
3.1.1 - A História
A história de "O Companheiro" surge, pela inspiração do Padre Dâmaso Lambers
que fora capelão do Estabelecimento Prisional (EP) do Linhó e que decidiu dedicar a sua
vida sacerdotal aos reclusos, acompanhando-os através de visitas que fazia aos
estabelecimentos prisionais, levando-lhes uma palavra de esperança, apoio moral e
assistência espiritual.
Foi nessa altura que sentiu, haver uma grande lacuna no apoio ao pós-reclusão,
quando o individuo após cumprir sua pena e ao voltar à sociedade, deparava-se com
enormes dificuldades na sua reinserção, sobretudo os que não tinham um sólido elo social
ou familiar, carecendo de recursos, como habitação e emprego que lhes permitisse
condições mínimas de subsistência e que, sem as quais, a sua reinserção poderia ficar
comprometida, tanto pela possibilidade da reincidência como pelas consequências
agravantes da exclusão social.
Para além das dificuldades acima citadas, soma-se o estigma que os ex-reclusos
sofriam por parte da restante sociedade, pelo rótulo e pelos preconceitos sentidos.
Perante esta realidade o padre Dâmaso, apercebeu-se que não havia uma
Instituição que servisse de apoio e pudesse estender a mão para amparar os ex-reclusos,
acolhe-los e assim promover a reinserção social dessa população, nomeadamente na
prevenção da reincidência; Neste sentido, decidiu-se a criar ele mesmo o recurso
necessário para o apoio aos ex-reclusos, com base nos seus princípios e valores da
solidariedade e do humanismo cristão.
Criava-se assim a 13 de fevereiro de 1987, "O Companheiro" IPSS, Associação
de Fraternidade Cristã, uma Instituição ímpar no nosso país, sendo a resposta que
faltava, com vista a combater a exclusão social, dar resposta às necessidades dos
7
reclusos, ex-reclusos e suas famílias, tornando-se na primeira Instituição do género em
Portugal.
Nestes últimos 27 anos, a Instituição sofreu alterações, pelo que destacamos
cronologicamente, as datas e a descrição do respetivo desenvolvimento:
1990 - O Companheiro candidata-se ao Programa de Luta contra a Pobreza;
1991 - São cedidos pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), os terrenos em
Benfica, onde ainda hoje se situam os serviços e equipamentos sociais da
Instituição, contando com uma área extensa, onde comporta vários pavilhões tais
como, Banco Alimentar, Banco de Roupa, biblioteca, carpintaria, escritórios,
lavandaria, museu, refeitório, entre outros;
1992 - Criação de modelos ocupacionais e formativos, como a carpintaria, o que
permitiu auxiliar os clientes no seu processo de reinserção social e laboral;
2004 – É destacada a vocação da Instituição na prevenção do crime, com uma
intervenção de âmbito mais abrangente, pelo desenvolvimento de competências
profissionais e pessoais, indo desde os aspetos normativos organizacionais aos
aspetos individuais, evidenciando a sua população alvo, fundamentalmente
composta por ex-reclusos, reclusos em Regime Aberto ao Exterior (RAE) e suas
famílias.
3.1.2 - Os Valores
Os valores que regem a atuação da Instituição, focam-se em três pilares
fundamentais que se encontram presentes no lema da Instituição:
A Humanização – Valor fundamental da Instituição, implicitamente ligada à
atuação pela primazia na defesa da dignidade da pessoa humana, assente no
respeito pelos Direitos Humanos e no combate aos preconceitos que condicionem
a reinserção das pessoas em situação de vulnerabilidade social;
O Devir – Valor presente na associação, pela promoção de modo positivo e
criativo, da mudança comportamental para a mudança de vida, despertando a
consciencialização do cliente como sendo o principal ator dessa mudança, na
participação conjunta de projetos de vida que permitam o sucesso dos clientes no
seu processo de inclusão;
A Responsabilidade social – O Companheiro, defende a responsabilidade
social, como um valor fundamental na promoção da cidadania ativa, de indivíduos,
empresas e da comunidade em geral, pela equidade e a justiça social e atuando
de modo a desenvolver o reforço dos laços entre as pessoas, a comunidade e os
agentes sociais.
8
3.1.3 - A Missão
A missão de "O Companheiro” presente no lema já referido, "Para que não haja
Homem, excluído pelo Homem", orienta-se para o apoio à população em reclusão, ex-
reclusos e respetivos familiares, a pessoas e famílias em situação de comprovada
vulnerabilidade social, missão que está patente no artigo 5º dos estatutos da associação3,
onde se encontram os seguintes objetivos específicos a que se destina:
a) Proclamar valores sociais e espirituais;
b) Promover o desenvolvimento de competências pessoais, sociais e
profissionais;
c) Motivar e implementar atividades laborais e ocupacionais;
d) Limitar os danos das vítimas, contribuindo para a gestão do trauma;
e) Superar carências de subsistência, como alimentação, residência, higiene e
saúde.
De acordo com os objetivos acima expostos, gostaríamos de referir Maurice
Cusson, que dedica um capítulo do seu livro "Criminologia", à estigmatização como a
principal consequência, a mais sentida e imensamente dolorosa que é vivida na pele dos
ex-reclusos, sem apoios familiares, perseguidos pelo rótulo e os preconceitos que os
dificultam de emergir, encontrando à sua frente inúmeros obstáculos que podem levar a
uma situação de exclusão social, tal como afirma: "em sociedade não se condena apenas
o ato repreensível, mas condena-se também e sobretudo o seu autor”, CUSSON (2011).
Nesse sentido, a Associação "O Companheiro", visa a autonomia gradual da
pessoa em situação de ex-reclusão, pelo desenvolvimento das suas competências
pessoais, profissionais e sociais, permitindo a sua reinserção social plena, pelo que a
Instituição atua em três níveis de abordagem abaixo indicados:
Abordagem primária – Atuação que visa evitar o crime;
Abordagem secundária – Feita pela intervenção com grupos de risco;
Abordagem terciária – Faz o desenvolvimento de ações na prevenção da
reincidência.
A Instituição foca a sua intervenção, através de um conjunto de respostas sociais,
que com afirma O Professor Doutor José de Almeida Brites, “procura assumir uma ação
reabilitadora na problemática e preventiva nas causas e efeitos” BRITES (2013), as quais
se encontram nas seguintes vertentes:
Residência coletiva – Visa dar resposta, às necessidades na pós-reclusão, a uma
população exclusivamente masculina e maior de 18 anos, colmatando a falta de apoio
3 Companheiro (2014) Estatutos, Página consultada em 05 de junho de 2015.
http://companheiro.org/estatutos.html
9
familiar, a falta de meios de subsistência e de habitação; Também acolhe reclusos em
liberdade condicional ou em Licença de Saídas Jurisdicionais (LSJ), abrangendo ainda
as seguintes respostas sociais:
f) Refeitório social;
g) Higienização;
h) Tratamento de roupas.
Apoio social – Visa dar resposta, às necessidades psicossociais dos clientes, através
de um conjunto de respostas sociais tais como:
a) Intervenção clínica;
b) Aconselhamento jurídico;
c) Banco Alimentar;
d) Banco de Roupa;
e) Praticas Educativas Parentais;
f) Gabinete de Educação, Formação e Empregabilidade;
g) Cantina Social;
h) Horta Comunitária;
i) Desporto é Companheiro.
Apoio profissional – Visa dar resposta às necessidades formativas e profissionais
dos clientes, bem como atividades ocupacionais, através do GEFE.
a) Formação profissional;
b) Procura ativa de emprego;
c) Protocolos (com entidades mediante acordos e parcerias).
3.2 - População Alvo
A Instituição está voltada para o atendimento a um grupo de clientes que denominamos de
"População Alvo", composta por indivíduos que têm ou já tenham tido, problemas com a justiça,
sendo o apoio extensível aos familiares da respetiva população.
Podemos ainda referir, por outras palavras, que a população de “O Companheiro” é
composta por Clientes Residentes (acima referidos) e também por clientes apoiados, indivíduos
ou famílias, com ou sem antecedentes judiciais que se encontrem em situação de comprovada
vulnerabilidade social que procuram a Instituição, quer por iniciativa própria, quer por
encaminhamento interinstitucional e intrainstitucional, na procura de apoio em diversas valências.
Segundo BRITES (2013), as pessoas que procuram o apoio da Instituição, ou que sejam
encaminhados, estão na sua maioria, em situação de rutura de laços familiares, laborais, sociais,
afetivos, podendo estar relacionado a problemas clínicos e psicológicos relativos à extrema
pobreza e exclusão social.
10
Uma outra valência na ação interventiva e reabilitadora de "O Companheiro" é a Prestação
de Trabalho a Favor da Comunidade (PTFC) a indivíduos encaminhados pela DGRSP, medida
jurídica criada pelo DL 375/97, que visa a reinserção social do delinquente, medida esta que
permite a substituição de uma pena de prisão efetiva ou de uma multa, (quando solicitado pelo
condenado), medida esta, que tem em vista as necessidades de reinserção, pelo que não é uma
medita privativa da liberdade do individuo,4 sendo estipulado um tempo máximo para o
cumprimento da mesma em 480 horas ou no prazo limite de 30 meses, junto a uma Entidade
Beneficiária de Trabalho (EBT).
3.2.1 – Conceitos de População Alvo e Cliente
O Conceito de População Alvo, tal como referido no Dicionário de Educação
Profissional, é definido como um conjunto de indivíduos ou grupos a quem a assistência
social, direciona as suas ações, com prioridade para os que estejam em condições de
vulnerabilidade, e/ou situações circunstanciais e conjunturais de desvantagem pessoal,
FIDALGO e MACHADO (2000).
Quanto à definição do conceito de Cliente, partindo da modernização do Serviço
Social e na superação da dicotomia cliente/beneficiário, segundo Maria Helena Moura
trata-se de promover a participação ativa dos indivíduos, na resolução dos seus
problemas, na busca de soluções adequadas a cada caso, MOURA (2006).
Neste sentido, os demais clientes da Instituição que não estejam enquadrados na
condição de População Alvo, são os indivíduos ou famílias que se encontram em situação
de vulnerabilidade social comprovada e que procuram apoio da Instituição, vindo por
iniciativa própria ou por encaminhamento interinstitucional, com a parceira de instituições
da Rede Social tanto de Lisboa como a nível nacional.
Dentro destas instituições, podemos referir como exemplo, o Ministério da Justiça,
Estabelecimentos Prisionais (EP) a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais
(DGRSP) a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Ação Social das autarquias
locais como por exemplo a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Junta de Freguesia de
Benfica (JFB).
4 DGRS (2006) "Trabalho a favor da comunidade" Página consultada em 05 de junho de 2015.
http://www.dgrs.mj.pt/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1001.72
11
3.3 - Estrutura e respostas sociais
A Estrutura operacional de "O Companheiro" é feita através de gabinetes com fins
específicos que gerem um conjunto diversificado de serviços e apoios denominados de respostas
sociais.
O conceito de Resposta Social é definido nos seguintes termos: "Valência/Resposta Social
é um conjunto de atividades em serviços e/ou equipamentos sociais para apoio a pessoas e
famílias, desenvolvendo a participação e a colaboração de diferentes organismos da
administração central, das autarquias locais, das Instituições Particulares de Solidariedade Social
e de outras instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos de reconhecido interesse
público".5
3.3.1 - Gabinetes
A Instituição "O Companheiro" conta com quatro gabinetes para a prestação de
serviços, acompanhados por uma equipa técnica especializada, com o intuito de dar
resposta a necessidades específicas dos clientes e permitir uma eficaz integração
psicossocial dos mesmos, por meio de metodologias adequadas a cada caso6.
3.3.1.1 - Gabinete de Intervenção Social – GIS
Tem como função, o acolhimento dos clientes, a realização da entrevista social,
a triagem, o acompanhamento e o encaminhamento intra e interinstitucional dos
mesmos, através dos seguintes serviços e respostas sociais:
a) Residência masculina;
b) Prestação de Trabalho em Favor da Comunidade;
c) Licença de Saídas Jurisdicionais;
d) Práticas Educativas Parentais;
e) Banco Alimentar;
f) Banco de Roupa;
g) Cantina Social.
5 INE (2015) Sistema de Metainformação – Fonte Direção Geral dos Regimes de Segurança Social (DGRSS)
Página consultada junho de 2015. http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/5699 6 O Companheiro (2015) "Equipamentos e Serviços". Página consultada em 05 de junho de 2015.
http://companheiro.org/servicos.html
12
3.3.1.2 - Gabinete de Intervenção Clínica e Psicológica – GICP
Trata-se do gabinete que se destina a acompanhar, avaliar e promover o
desenvolvimento psicológico dos clientes, cujos propósitos focam-se
fundamentalmente, em responder às necessidades dos clientes, promovendo o
desenvolvimento psicológico, o bem-estar e a qualidade de vida dos mesmos.
Orienta a sua atuação numa abordagem terapêutica assente no modelo
cognitivo comportamental, centrado na importância do cliente como agente principal
da sua própria mudança, pelo gradativo desenvolvimento da suas competências
pessoais, visando auxiliar o cliente na sua reinserção de modo a evitar a reincidência
criminal.
O GICP faz o acompanhamento do desenvolvimento dos clientes, através
dos seguintes modos de atuação:
a) Avaliação psicológica;
b) Acompanhamento psicossocial;
c) Treinos de competências pessoais e sociais;
d) Encaminhamentos interinstitucionais relativos à Saúde.
3.3.1.3 - Gabinete de Educação, Formação e Empregabilidade – GEFE
Este gabinete está voltado para a inclusão dos clientes na vida ativa, na
socialização dos mesmos, propõe-se a promover o desenvolvimento das
competências pessoais, sociais, formativas, educacionais e profissionais, com o
intuito de alargar as oportunidades de empregabilidade dos mesmos.
Pretende auxiliar os clientes com finalidades sociopedagógicas, na elaboração
do seu Curriculum Vitae, com técnicas de procura ativa de emprego, evidenciando a
colocação em postos de trabalho, através de protocolos com a parceria de entidades
públicas ou privadas, promovendo os seguintes programas e atividades:
a) Desporto é companheiro – Com duas sessões por semana, contemplando
vinte clientes, contando com a participação em eventos desportivos tal como
torneios de futebol de rua;
b) Plano de Atividades Socioculturais;
c) Planos de formação;
d) Workshops (oficinas temáticas).
13
3.3.1.4 - Gabinete de Apoio Jurídico – GAJ
Destina-se à valorização da cidadania dos clientes, promovendo a inclusão
pela defesa dos direitos, liberdades e garantias, próprias do Estado de Direito, tendo
como função, dar o devido apoio à população cliente.
Apoio realizado através da informação e do encaminhamento, permitindo aos
clientes, a defesa dos seus direitos e o acesso aos tribunais, face a conflitos de ordem
judicial ou extra judicial, através do seguinte conjunto de serviços:
a) Informar e orientar;
b) Encaminhar;
c) Aconselhar, questões jurídicas, focadas entre outras nas seguintes:
1. Resolução de conflitos laborais;
2. Regulação do poder parental;
3. Obtenção de autorização de residência em território nacional.
3.3.2 - Equipamentos
A Associação está equipada e preparada para dar resposta às necessidades de
alojamento, alimentação, vestuário, higiene e ainda visa dar resposta às necessidades
formativas e profissionais dos seus clientes com os seguintes equipamentos.
3.3.2.1 - Residência coletiva masculina
A Residência é o equipamento do companheiro, cuja finalidade é dar resposta
às necessidades habitacionais da população alvo, estando prevista no entanto, existir
a possibilidade da admissão de pessoas em situações de comprovada carência
social.
Equipamento com capacidade máxima de vinte e duas camas, destinadas a
uma população composta de indivíduos do sexo masculino, com idade superior a 18
anos, sendo vinte camas destinadas as ex-reclusos e duas camas para acolher
reclusos em LSJ, encaminhados pelos EP’s através de um acordo com a DGRSP.
Fase de Candidatura – O ingresso de um cliente na residência masculina,
faz-se através de um processo que avalia os clientes inseridos numa lista de
candidatos, pelo que na fase de candidatura espera-se que o mesmo tenha a
informação necessária de "O Companheiro", no que concerne aos princípios,
aos valores e regras vigentes na Instituição, bem como conhecer as diversas
respostas sociais existentes, sendo feita nesta fase a análise das
necessidades e as expectativas dos clientes;
14
Fase de Avaliação – Nesta fase, são avaliados os critérios de
admissibilidade, previstos no regulamento interno da resposta social
Residência, dentro de um enquadramento jurídico em vigor, que são os
abaixam indicados:
a) Ser recluso ou ex-recluso, podendo haver a admissibilidade em situações
de comprovada carência social;
b) Individuo do sexo masculino;
c) Maior de 18 anos;
d) Em situações de haver antecedentes de dependência de drogas ou álcool,
o candidato deve encontrar-se em comprovada situação de abstinência,
tendo já obtido tratamento terapêutico ou estando a ser acompanhado
para tal;
e) Não ser portador de nenhuma perturbação mental ou clínica crónicas;
Entrevista Institucional – Os candidatos que reúnem as condições de
admissibilidade passam à fase de Entrevista Institucional, com a seguinte
ordem de avaliações:
a) Entrevista Institucional – Onde se recolhem os dados sociodemográficos
do cliente, histórico clínico, judicial, toxicológico, familiar, escolar e
profissional, tendo em conta o comportamento, a postura, linguagem,
discurso, motivação, colaboração e a empatia do candidato;
b) Protocolo de avaliação;
c) Avaliação da situação de saúde;
d) Despiste do uso de substâncias psicotrópicas;
Processo de Avaliação Psicossocial – Uma vez preenchendo os requisitos
acima referidos, o cliente é informado que passa a constar da lista de
candidatos, em caso contrário, o cliente é informado presencialmente da sua
não admissibilidade, procedendo-se a um encaminhamento interinstitucional;
Avaliação Psicológica – Após a entrevista institucional, caso haja a
admissão do candidato, passa-se para a fase de avaliação psicológica feita
pelo GICP, não com o intuito de verificar défices ou patologias, mas sobretudo
as potencialidades do cliente, para melhor poder-se delinear o plano de
tratamento;
15
a) Assinatura do Contrato – Por último, estabelece-se um contrato com o
cliente e a Associação "O Companheiro" onde para além dos documentos do
cliente, constam a duração do respetivo contrato, os serviços, as atividades
abrangidas e os direitos e deveres de ambas as partes;
b) Plano Individual de Inclusão – PII – Uma vez admitido o cliente, passa-se à
fase de elaboração do Plano Individual de Inclusão (PII), plano este que
estabelece as regras de orientação.
3.3.2.2 - Banco de Roupa – BR
É uma resposta social que tem por finalidade, a recolha e a distribuição de
roupa destinada a toda a população carenciada, respondendo assim às necessidades
de vestuário, calçado entre outros artigos, o serviço de distribuição de roupa é feito
duas vezes por semana, às quartas-feiras e às sextas-feiras, podendo os clientes,
fazer a recolha uma vez por mês.
3.3.2.3 - Banco Alimentar – BA
É uma resposta social que é feita em parceria com o Banco Alimentar Contra a
Fome (BACF) de onde proveem os bens alimentares, realizando uma entrega
semanal de produtos frescos e uma entrega mensal de produtos secos, a Instituição
recebe também, através do Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas
(FEAC), duas entregas anuais de géneros alimentícios, sendo a distribuição feita de
acordo com a dimensão, as necessidades dos agregados e as existências em stock
dos géneros recebidos, para assim dar apoio aos clientes, com um cabaz mensal de
géneros alimentares, cabaz este que varia consoante a dimensão e as necessidades
de cada agregado, apoio que é dado, tanto à população alvo, como às famílias ou
indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
3.3.2.4 - Cantina Social – CS
Equipamento social destinado a dar resposta às necessidades de alimentação
dos clientes, sendo selecionados por um processo de candidatura que se inicia com a
entrevista social, onde são analisados os dados sociodemográficos abaixo indicados:
e) Dimensão do agregado familiar;
f) Situação laboral;
g) Nível de escolaridade;
h) Formação profissional;
i) Rendimentos e a procedência dos mesmos, tais como: Ordenado,
reforma, Rendimento Social de inserção (RSI) e Subsídio de Desemprego
(SD);
16
j) Tipologia habitacional;
k) Histórico toxicológico;
l) Histórico Clínico;
m) Histórico judicial.
O serviço é realizado com a comparticipação da Segurança Social e está
inserido dentro do programa denominado de Plano de Emergência Alimentar (PEA).
A CS tem capacidade para cem refeições diárias, que são entregues aos
clientes, num total aproximadamente de três mil refeições mensais.
Os clientes recebem refeições para os 7 dias da semana, sendo duas
entregas diárias, uma ao almoço e uma ao jantar, tratam-se de refeições quentes,
confecionadas no próprio dia no Refeitório Social da Instituição, podendo ser
consumidas no local ao almoço, sendo as refeições do jantar e dos fins de semana
entregues aos clientes para consumo no domicílio, aos sábados são entregues
portanto, quatro refeições por cliente, respetivas ao fim de semana.
Para além dos equipamentos já referidos, há ainda o “Espaço Infocultural”,
que é um equipamento que tem como finalidade permitir aos clientes o acesso à
informação, estando a cargo do GEFE, no âmbito da formação e empregabilidade,
pelo que está equipado com uma biblioteca, uma videoteca, equipamento multimédia
e computadores com acesso à Internet.
17
4 - A Intervenção Social no 'O Companheiro'
""FFaaççaa oo qquuee ppuuddeerr,,
ccoomm oo qquuee tteemm ee oonnddee eessttiivveerr..""
Theodore Roosevelt
Ao abordarmos a intervenção social aplicada à práxis de "O Companheiro", impõe-nos
compreender, a interligação dos aspetos organizacionais, metodológicos e dos modelos de
intervenção que de acordo com os princípios da Instituição, visam não ser meramente
assistenciais.
A intervenção social aplicada na Instituição, efetua-se dentro de uma lógica que luta contra
a tendência assistencialista como referimos acima, com o intuito de evitar a manutenção da
dependência dos clientes, procura portanto, promover a reabilitação dos mesmos, pelo
comprometimento no processo da sua autonomização e reinserção social.
Para além da Intervenção, “O Companheiro” é também uma Instituição formadora de
novos profissionais, quer na área da psicologia, quer na área do serviço social e simultaneamente
é formadora do sistema cliente, pelas inúmeras sessões de esclarecimento à população cliente,
através de:
a) Sessões de esclarecimento (workshops);
b) Formação;
c) Práticas Educativas Parentais;
d) Organização de eventos desportivos;
e) Atividades psicopedagógicas.
As atividades acima referidas são realizadas com famílias e grupos ao longo de todo o
ano, realizados em horário pós laboral, tendo como público-alvo os clientes da Instituição, com o
intuído de promover valores, competências pessoais e motivação.
As iniciativas acima citadas, focam diferentes aspetos em variadíssimos temas, entre
outros destacamos os seguintes:
a) Direito;
b) Saúde;
c) Alimentação;
d) Área comportamental;
e) Desenvolvimento de competências pessoais.
18
4.1 - Metodologia e Modelos de Intervenção Social
A Intervenção social da Instituição está assente em três pilares base, tendo assim uma
intervenção primária, a qual trabalha no intuito de evitar o crime; A intervenção secundária que
atua no trabalho com grupos e famílias e por fim uma intervenção terciária que tem como
finalidade, a prevenção da reincidência no crime, visam o empowerment do sistema cliente,
fazendo uso de diversos instrumentos técnicos e operacionais da intervenção social com
indivíduos, famílias ou grupos.
4.1.1 - Metodologia de intervenção
Antes de avançarmos, deixamos abaixo alguns conceitos sobre os principais
termos e instrumentos operacionais do serviço social tais como:
a) Intervenção social;
b) Intervenção direta;
c) Intervenção indireta;
d) Estudo de Caso.
Intervenção social – Podemos compreender o seguinte conceito, pela definição do
mesmo, na afirmação do Professor Hermano Carmo: "é um processo social, em que
uma dada pessoa, grupo, organização, comunidade ou rede social – a que
chamaremos sistema-interventor – se assume como recurso social de outra pessoa,
grupo, organização, comunidade ou rede social – a que chamaremos sistema-cliente –
com ele interagindo através de um sistema de comunicações diversificadas, com o
objetivo de o ajudar a suprir um conjunto de necessidades sociais, potenciando
estímulos e combatendo obstáculos à mudança pretendida", CARMO (2008, 61);
Intervenção direta – "É a intervenção que se desenvolve numa relação frente a
frente, o cliente está presente e é ator, tanto como o trabalhador social quer se trate
de uma pessoa, de uma família ou de um grupo, devido a isto, sofre a influência desta
relação e, através do jogo das relações recíprocas, o trabalhador social também
recebe (sofre) influências; Cliente/Trabalhador social encontram-se assim juntos,
implicados num processo que os modificará, introduzindo mudanças tanto num como
no outro", ROBERTIS (2011, 141);
Intervenção indireta – Segundo a Cristina Robertis, trata-se de um conjunto de
diferentes e variados tipos de intervenção, realizados pelos trabalhadores sociais fora
do contacto direto com os clientes, de suma importância, ocupando uma grande parte
do trabalho desenvolvido pelo assistente social, visa assim diligenciar, organizar e
19
planificar a intervenção, que tem como intuito a resolução dos problemas
apresentados pelos clientes, ROBERTIS (2011);
Estudo de Caso – Também denominado de Casework, é um método do serviço
social, que visa a compreensão do sistema cliente, através de um conjunto de
conhecimentos e na utilização de técnicas que permitam ao sistema interventor,
planear a intervenção, no sentido de auxiliar o cliente a auxiliar-se a si.
Este modelo tem na sua base, a visão personalista do cliente, na defesa do respeito
pela individualidade e a dignidade a que o cliente tem direito, não havendo a
superioridade do trabalhador social sobre a pessoa que pede ajuda, mas em que o
sistema cliente e o sistema interventor estão em igualdade, num processo de
colaboração entre ambos, com a finalidade de trabalhar para dar resposta aos
problemas apresentados pelos clientes.
4.1.2 - Modelos de intervenção
Os modelos de intervenção social, adotados no “O Companheiro”, são, o Modelo
Psicossocial e o Modelo Sistémico, vejamos cada um deles em maior detalhe.
Modelo Psicossocial – É um modelo de intervenção que tem como base um
conjunto de conceitos de diversas áreas científicas, como a Psicologia Social, a
Psicanálise, a Psiquiatria, a Sociologia, adaptando-se ao Serviço Social de Casos.
No modelo Psicossocial, a Professora Maria José Núncio refere que se trata do
modelo que tem em conta, o meio social do cliente e a abordagem do problema,
bem como no diagnóstico e no tratamento de um vasto conjunto de dados do
cliente, referentes a aspetos de ordem física, psíquica, social, económica e
emocional, de modo a colmatar os desequilíbrios entre a pessoa e o meio, em
NÚNCIO (2010).
Os objetivos centrais do Modelo Psicossocial são os seguintes:
a) Capacitação do cliente (empowerment);
b) Desenvolvimento de comportamentos e de atitudes que permitam o
estabelecer relações com os outros e com o meio;
c) Realização pessoal através de comportamentos que permitam a
motivação do cliente;
d) Desenvolver a capacidade de utilizar redes formais e informais de suporte.
Modelo Sistémico – É um modelo de intervenção que visa restabelecer os laços
sociais dos indivíduos, na medida em que encara os fenómenos, não numa
dimensão individual, mas sim dentro de um contexto mais abrangente, citamos
20
ainda a Professora Maria José Núncio, que afirma ser o modelo "onde os
fenómenos ganham significado a partir das interações entre os indivíduos num
dado contexto" NÚNCIO (2010, 132);
4.2 - Gabinete de Intervenção Social – GIS
O GIS é o gabinete da Instituição com o qual os clientes têm o primeiro contacto, tanto os
que são encaminhados por outras instituições como os indivíduos ou agregados que venham por
iniciativa própria, na busca de auxílio.
Uma vez feito o pedido é agendada com os clientes um data para a entrevista, na qual são
analisados os diversos aspetos sociodemográficos dos mesmos, o GIS é o gabinete responsável
pelo acolhimento de todos os clientes, seja de indivíduos ou famílias em comprovada
vulnerabilidade social, seja o apoio no pós-reclusão ou de reclusos em LSJ, encaminhados pela
DGRSP e ainda é responsável por receber e acompanhar os indivíduos encaminhados em regime
de cumprimento de Prestação de Trabalho em Favor da Comunidade (PTFC).
O GIS promove um programa de atividade com famílias, denominado Praticas Educativas
Parentais (PEP), que tem como fim, a melhoria funcional das relações familiares com recurso a
métodos e técnicas psicopedagógicas.
Tal como afirma a Professora Maria José Núncio, “cada caso é um caso” e nesse sentido
o GIS, analisa a problemática que subjaz na situação de vulnerabilidade social, pobreza ou
exclusão social e que levam ao pedido de apoio, NÚNCIO (2010).
A metodologia utilizada no GIS, visa a intervenção social, a partir do momento do primeiro
contacto, utilizando um conjunto de técnicas dentro de uma ordem sequencial, tendo como os
principais conceitos relacionados com a metodologia de intervenção, os seguintes:
a) Acolhimento;
b) Entrevista Social;
c) Encaminhamento;
d) Planos de Inclusão.
Acolhimento – É no dizer de Cristina de Robertis, o primeiro ato social em si, quer
este ato se trate de um centro de acolhimento, ou de uma família de acolhimento, ou
ainda de uma Instituição de acolhimento. Acolher um cliente em situação de
vulnerabilidade social é o primeiro passo concreto para a sua reabilitação, pelo que a
atitude do pessoal que está no acolhimento é essencial, na medida em que uma
atitude aberta e centrada na pessoa influenciará a relação cliente e interventor, em
ROBERTIS (2011);
Entrevista Social – É um instrumento de suma importância para o trabalho social,
como afirma a Professora Luísa Ferreira da Silva, instrumento esse que permite-nos
obter informações preciosas, relaciona-las com o contexto envolvente da realidade
21
psicossocial do cliente, não deve ser tomada como um mero ato de rotina, visto ser a
primeira entrevista, o inicio de um processo que se prolongará no tempo e no qual
devemos ter em conta que os clientes que pedem ajuda, estão a viver um problema,
encontrando-se fragilizados, pelo que a entrevista deve ser preparada, a comunicação
deve ser simples e clara e ter em conta que a primeira entrevista é o estabelecimento
de uma relação entre o cliente e o trabalhador social, na qual deve-se informar o
cliente do que ele pode esperar da Instituição, em SILVA (2001);
Encaminhamento – É um dos instrumentos técnico operacionais utilizados, conceito
exposto através da seguinte reflexão de H. M Sarmento: "O encaminhamento, muitas
vezes confundido com transferência de responsabilidade entre setores e
organizações, torna-se uma prática do Serviço Social e um serviço sempre parcial e
insuficiente, exigindo novos retornos que acabam por reforçar a dependência e, muitas
vezes, a perda de autoestima. Quando muito, conseguem, através da garantia de
alguns recursos, uma satisfação compensatória em meio às informações
controvertidas e às respostas insuficientes às demandas criadas. O encaminhamento
ainda não é compreendido como a busca de uma solução para os problemas e
situações vivenciadas pela população como garantia dos seus direitos" em
SARMENTO (2001);
Planos de Inclusão, os planos de inclusão, são estratégias planificadas em conjunto
com os clientes e visam o comprometimento dos mesmos, tanto se trate de um
individuo como de um agregado familiar, para que assumam um compromisso de
procurar em parceria com o GIS, soluções para a sua situação de vulnerabilidade,
esses planos são feitos em particular com a população apoiada no BA e na CS,
denominando-se Plano Familiar de Inclusão (PFI), à semelhança do PII, existente para
os clientes residentes.
4.2.1 – A ordem cronológica das fases da intervenção
As fases da metodologia de intervenção seguem uma ordem lógica, desde que é
feito o pedido de apoio, ou sinalizada uma dada situação por um organismo ou Instituição,
passando pela entrevista social, a recolha de dados e documentos, entre outros, sendo os
seguintes:
1.º - Pedido de apoio, ou sinalização – É o primeiro passo no processo de
inclusão/reinserção, feito por encaminhamento institucional ou por iniciativa
própria do cliente, pelo que se agenda uma data para a realização de uma
entrevista;
22
2.º - A Entrevista social –, o primeiro contato entre o sistema cliente e o sistema
interventor, Onde é realizado um diagnóstico, social, obtendo-se os dados
importantes, tanto de informação documental, como de informações adicionais
relativas à situação vivida pela pessoa que pede o apoio, informações essas que
nos permitirão analisar a situação em causa;
3.º - Análise e avaliação da situação – Após a recolha dos dados
sociodemográficos, faz-se a análise da realidade socioeconómica em que o cliente
está inserido, das problemáticas apresentadas, das demais situações
condicionantes e das potencialidades existentes, para a partir dai, poder-se
elaborar hipóteses e definir estratégias;
4.º - Elaboração do plano de inclusão e/ou contrato – Uma vez analisada a
situação, faz-se um plano de inclusão, onde o cliente apoiado compromete-se a
ser coautor na resolução do seu problema, através de uma atitude colaborante
com a Instituição de acolhimento/apoio, com vista a atingir os propósitos traçados
no plano de inclusão e solucionar a situação de carência ou vulnerabilidade social;
5.º - Implementação da intervenção – Esta é a fase onde o cliente e o sistema
interventor, colocam em ação, o programa delineado no Plano de Intervenção que
varia de caso para caso e de acordo com as necessidades do cada cliente ou
agregado familiar, desde a formação profissional à procura ativa de emprego,
sendo esta última a condição sine qua non para a manutenção dos apoios sociais
recebimentos;
6.º - Avaliação dos resultados – Os resultados são regularmente analisados,
com o propósito de apoiar o sistema cliente a ultrapassar as dificuldades e a
atingir assim os objetivos propostos no PII;
7.º - Finalização da Intervenção – Espera-se que intervenção seja concluída,
tendo sido atingidas as metas traçadas pelo Plano de Intervenção, através de
respostas efetivas para os problemas apresentados, entretanto há um prazo
previamente estipulado a cumprir, variando consoante os casos.
23
4.2.2 – Acolhimento do Cliente
Num momento antes da realização da entrevista social, são preenchidos os
documentos, abaixo indicados:
I – Ficha de Identificação e pedido de apoio – Indica se se trata de população
alvo, qual o tipo de apoio é solicitado e ainda os dados pessoais do cliente;
II – Consentimento informado – Documento lido para o cliente antes da
entrevista, garantindo a confidencialidade das informações prestadas e assinado
pelo mesmo, consentindo o uso dos dados para o estrito fim a que se destinam.
Posteriormente, é realizada a entrevista institucional, que se trata de uma
ferramenta útil para o trabalho social, pela qual se obtém um conjunto de dados
sociodemográficos do cliente, permitindo fazer-se o diagnóstico da situação, o grau de
vulnerabilidade e a análise dos condicionalismos psicossociais do cliente e do seu o meio.
A estrutura da entrevista é feita de modo a que todos os dados relevantes, desde
a documentação às informações verbais, sejam registados, igualmente é feito o registo do
comportamento do cliente durante a entrevista, analisando-se a sua postura, o discurso, a
atitude de colaboração e empatia, informações essas que permitem uma análise mais
aprofundada sobre a pessoa entrevistada e a situação verbalizada pelo mesmo.
A mesma é dividida em dez partes de diferentes aspetos da caracterização, cujos
dados são utilizados sigilosamente no tratamento da análise da problemática apresentada:
1 - Caracterização sociodemográfica – Começa por indicar a entidade ou o
técnico responsável pelo encaminhamento ou sinalização, seguem-se os dados
pessoais e a descrição dos documentos apresentados;
2 - Caracterização sociofamiliar – Indica o número total dos membros do
agregado familiar e a descrição da composição do mesmo;
3 - Caracterização habitacional – É a identificação da tipologia da habitacional,
se é própria, arrendada, habitação social ou de outro tipo;
4 - Caracterização socioeconómica – Procedência dos meios de subsistência do
agregado ou rendimentos, se se trata de auxílio institucional, ordenado, reforma,
pensão entre outros, descrevendo os valores auferidos e também todas as
despesas correntes do agregado;
5 - Caracterização escolar – Caracteriza o grau de escolaridade que se concluiu
ou frequentou, o curso e/ou formação profissional;
6 - Caracterização jurídico-penal – Indica se o cliente ou alguém do seu
agregado têm ou já teve problemas com a justiça;
24
7 - Caracterização de saúde – Caracterização do estado de saúde físico e
psíquico do cliente e do agregado familiar;
8 - Caracterização toxicológica – Indica o histórico toxicológico do cliente, se é
ou tenha sido dependente de consumo de álcool ou de estupefacientes;
9 - Caracterização profissional – Indica a situação laboral do cliente, se está
reformado, desempregado ou a trabalhar, qual a profissão e há quanto tempo se
encontra na situação atual;
10 - Observações finais – GIS – É a descrição feita pelo entrevistador, do GIS,
onde descreve a postura, o comportamento, a linguagem, discurso, empatia,
motivação e colaboração do cliente durante a entrevista.
PPaarrttee IIII
EEnnqquuaaddrraammeennttoo TTeeóórriiccoo ccoonncceeppttuuaall
5 - EEnnqquuaaddrraammeennttoo tteeóórriiccoo
Conhecer os fenómenos da exclusão social.
6 - CCaarraacctteerriizzaaççããoo ddooss cclliieenntteess ddaa CCaannttiinnaa SSoocciiaall
Caracterização sociodemográfica da população apoiada.
26
5 – Enquadramento Teórico
""AA mmaaiioorr ccaarriiddaaddee éé hhaabbiilliittaarr
oo ppoobbrree aa ggaannhhaarr aa ssuuaa vviiddaa""
Talmude
Nos últimos anos o número de cantinas sociais tem vindo a aumentar e a expandir-se
geograficamente, atingindo em 2013 as oitocentas e onze unidades espalhadas de Norte a Sul do
país7.
As Cantinas Sociais são geridas, em regra geral, pelas diversas IPSS’s, entidades sem
fins lucrativos que atuam, através de acordos de colaboração com o ISS, estando inseridas por
sua vez no PEA, através da Rede Solidária de Cantinas Sociais (RSCS), cujo alvo é suprir as
necessidades alimentares de indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social, ou de
comprovada incapacidade económica, disponibilizando diariamente a cada cliente, duas refeições
quentes, que são confecionadas nas CS’s, tanto para serem consumidas no locar ou no domicílio.
As respetivas IPSS’s obrigam-se a cooperar para o aperfeiçoamento do PEA, a fim de melhorar a
qualidade do serviço prestado aos clientes nas diversas instituições.
Segundo dados divulgados pelo ISS, foram distribuídas no ano de 2013, cerca de catorze
milhões de refeições, (ver Anexo IV), entregues a agregados economicamente desfavorecidos.
O nosso objetivo neste estágio, não foi o de realizar um estudo complexo, mas sim o que
se encontra patente no projeto de estágio (Anexo I) e que fora já referido na pergunta de partida.
Nesse sentido, iremos analisar a situação dos dados referentes aos clientes da CS, tendo
em conta os limites que o presente trabalho impõe, a da compreensão dos fenómenos no âmbito
especifico da respetiva população, isto é, a um nível microssocial, não tendo o intuito de aferir as
respostas obtidas a uma dimensão mais vasta.
Contudo, isso não nos impede de analisar a caracterização dos clientes de um modo mais
aprofundado, com o intuito de compreender a ligação entre os dados infodemográficos dos
clientes, que nos permitia compreender os fenómenos e responder à pergunta de partida,
abordamos assim neste capítulo, os seguintes tópicos:
a) O fenómeno da exclusão social;
b) A metodologia e as fases da intervenção;
c) Os modelos de intervenção;
d) A corrente humanista do serviço social.
7 Dados divulgados pela ISS, e publicados pela UDIPSS, disponível no site:
http://novo.cnis.pt/images_ok/Cantinas%20Sociais.pdf consultado a 24 de julho de 2015,
27
5.1 – O fenómeno da Exclusão Social
Iniciamos este relatório, lembrando-nos de que o nosso trabalho é realizado em constante
contacto com situações de Exclusão Social, sendo por vezes necessário referir no plural
“Exclusões Sociais”, tal como salienta a Professora Fernanda Rodrigues em RODRIGUES (2003),
havendo uma enorme diversidade de fatores excludentes e de realidades diferentes no fenómeno
da exclusão social, fenómeno este que é vivido por pessoas heterogéneas, de modos de vida
diferenciados e em realidades distintas.
Como afirma RODRIGUES (2003) a pobreza e a exclusão social abrangem variadíssimos
aspetos da vida em sociedade e cuja raiz do problema é de ordem estrutural, de tal modo que
mesmo as sociedades desenvolvidas convivem com o fenómeno da pobreza e da exclusão social,
que não parou de evoluir com o desenvolvimento económico e social. A autora frisa que a
exclusão social é na realidade uma variedade de diferentes exclusões sociais.
Citando ainda RODRIGUES (2003), para esta autora as alterações profundas no mundo
laboral, com a influência direta na queda do nível salarial, a perda do poder de compra e o
aumento do desemprego, fazem-se sentir simultaneamente no afastamento das sociedades
ocidentais do que foi o Estado Providência e os fenómenos da pobreza e da exclusão social
fizeram-se sentir em crescimento contínuo.
Tendo em conta que neste relatório focamos os aspetos relacionados com os fenómenos
do preconceito, o estigma, vulnerabilidade social e da exclusão social, referimos abaixo os
conceitos de pobreza e exclusão social.
5.1.1 – O conceito de Pobreza
Para a definição de pobreza, referimos COSTA (1998) que explica o conceito de
pobreza como sendo: “a privação por falta de recursos, termos entre os quais existe uma
relação causa e efeito” sendo que a privação segundo o autor traduz-se em más
condições de vida, sendo múltipla e abrangendo vários domínios de necessidades que vão
da alimentação e vestuário, passando pelo transporte e habitação, afetando as
possibilidades de escolha, e o acesso a bens e serviços, afetando ainda outros níveis de
necessidades como os cuidados de saúde, a formação profissional, cultura, participação
politica.
A pobreza é muitas vezes confundida com a exclusão social, embora possa haver
uma relação entre as duas, COSTA (1998) afirma que há culturalmente uma associação
feita por alguns setores da sociedade face à questão da pobreza, como sendo fruto da
preguiça, imprevidência ou do descuido e desgoverno dos representantes das respetivas
famílias, no entanto isso não poderá servir de resposta para compreender o fenómeno da
pobreza em Portugal, onde uma a cada cinco pessoas é pobre, atingindo os dois milhões
de habitantes nessa situação; atualmente e segundo dados do Instituto Nacional de
28
estatística (INE) para o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) é de 27,5%
da população nacional, quanto à Europa, os números de pobreza atingem os 23% na
Zona Euro e os 24,5% na Europa dos 28, segundo dados do Eurostat referentes a 2012 e
20138.
Um outro dado referido por Bruto da Costa é o facto dos agregados familiares das
pessoas em situação de pobreza ser reduzido, o que mostra que a dimensão do agregado
não é resposta para as causas da pobreza, nem tão pouco a situação laboral, visto que
56% era composta de reformados e 37% de trabalhadores por conta de outrem, ou seja
devemos perguntar porque é que o pensionista, o empregado ou o trabalhador por conta
própria são pobres. Tendo como resposta as baixas reformas, o nível baixo dos salários e
por último os baixos rendimentos de atividades económicas, COSTA (1988).
5.1.2 – O conceito de Exclusão Social
A Exclusão Social pode ser definida de acordo com a seguinte afirmação de Bruto
da Costa: “o excluído é todo aquele que foi arrastado num processo de marginalização,
onde o percurso da pessoa humana nesta situação é descendente, sendo agravado pelo
isolamento a que está votado” COSTA (2000, 10), e conclui dizendo que esta é por sua
vez a consequência de sucessivas ruturas tanto dos laços sociais, como laborais e até
familiares.
O mesmo autor esclarece ainda, que a exclusão social e a pobreza são realidades
distintas que podem não estar relacionadas em determinados casos, no entanto a noção
de exclusão está inserida no conceito de pobreza, Bruto da Costa, afirma ser prejudicial
para as camadas mais desfavorecidas a substituição do termo pobreza por exclusão
social, tratando-se de uma desvirtuação do conceito.
Bruto da Costa (2003, 15), afirma ainda que “se queremos ter claramente uma
definição do conceito de exclusão social, poderíamos partir pela via oposta, compreender
o que é a inclusão social”, aí sim teremos a compreensão das dimensões do que é a
exclusão social.
De acordo com que acima foi exposto, tendo em conta a necessidade da
compreensão do fenómeno, tanto da dimensão como das tentativas da operacionalização
dos conceitos de Pobreza e Exclusão Social, o Professor Hermano Carmo afirma em
CARMO (2011, 109), ter sido elaborado o índice de Desenvolvimento Humano (IDH), pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), contudo, mais
recentemente no Brasil foi criado o Índice de Exclusão Social (IES), no intuito de corrigir as
8 Dados divulgados pela Eurostat, referentes ao nível de pobreza na Europa, disponível no site:
http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/People_at_risk_of_poverty_or_social_exclusion consultado a 25 de julho de 2015.
29
fragilidades do IDH e obter respostas mais precisas para a compreensão do fenómeno
através das seguintes dimensões:
1ª Dimensão: Vida Digna – pobreza, desemprego e desigualdade;
2ª Dimensão: Conhecimento – alfabetização escolaridade superior;
3ª Dimensão: Vulnerabilidade – população infantil e violência.
O Professor Hermano Carmo refere ainda que de acordo com os dados do IES
referentes a Portugal, o nosso país está num nível médio-alto de exclusão social, em 36.º
lugar na posição mundial, e sobretudo devido a aspetos fundamentalmente políticos e
culturais, pelo que refere, que nesse sentido deve fazer-se o combate à pobreza, para
que seja eficaz, deve por isso ser fundamentalmente um combate cultural e político,
CARMO (2011).
5.1.3 – As Políticas Sociais de Combate à Pobreza e Exclusão Social
A pobreza e a Exclusão social são reconhecidos como problemas sociais e fatores
que contribuem para a desagregação da coesão social, fazendo suscitar por parte do
Estado e dos organismos competentes, as necessárias medidas de combate aos
respetivos fenómenos, através de políticas sociais que emanam por sua vez, das políticas
públicas.
De acordo com o exposto acima pode ainda referir-se Rubington e Weinberg,
citados pelo Professor Hermano Carmo, autores estes que, definem como problema
social, uma situação incompatível com os valores de um significado número de pessoas,
que concordam ser necessário agir para alterar a situação, temos assim três tipos de
problemas sociais de acordo com a sua natureza, CARMO (2011).
Problemas de desorganização Social – Relativos a deficiências do sistema;
Problemas de anomia – Relativos à desadequação de normas sociais;
Problemas de comportamento – Relativos a comportamentos que não
correspondem às expectativas sociais e institucionais.
Nesse sentido, as politicas sociais de combate à pobreza, devem ser estruturadas
em três diferentes níveis, que “não podem deixar de ter em conta os Direitos Humanos e
os valores herdados da Revolução Francesa, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e que
devem ter como principais prioridades o reforço do capital Humano e o reforço do Capital
Social”, CARMO (2011).
Três articulações de políticas;
o Escalas – Local, estatal, europeu e global;
o Valores – Liberdade, igualdade e fraternidade;
o Políticas Setoriais – Economia solidária, conhecimento, Paz
sustentada;
30
Duas estratégias chave;
o Promover o capital social – Confiança e participação;
o Educação da juventude – Caráter, liderança, democracia;
Um imperativo tático;
o Empowerment;
o Advocacy.
Neste sentido, as mais de 811 Cantinas Sociais espalhadas no nosso país, que
são apoiadas pelo ISS, são fruto não só, da iniciativa do Terceiro Setor, mas sim das
politicas publicas e políticas sociais, tanto de programas sociais de nível nacional como
também de programas europeus de combate à fome como o PEA, sendo este subsidiado
pelo FEAC.
5.2 – A metodologia e os modelos da intervenção social
Segundo ROBERTIS (2011), o trabalho social é feito por um conjunto de métodos,
técnicas e práticas, pelas quais o trabalhador social não é um mero agente de execução de
tarefas, mas sim um coautor no processo de reinserção social do sistema cliente, com os quais e
para os quais é realizado o processo de intervenção social.
O trabalho exercido pelo interventor segundo ROBERTIS (2011) pode tanto ser descrito,
explicitado e analisado, tanto a nível da sua prática como ao nível da teoria, sendo que ao
compreender os métodos da intervenção social, permite-nos compreender todo o processo de
reinserção através de um corpo de conhecimentos, técnicas e modelos adotados.
A mesma autora, refere ainda, que há contudo correntes no Trabalho Social, que veem o
trabalho do interventor social, como um mero executor de políticas públicas, pelo que consideram
que os métodos não passam de discursos, estando desvinculados da realidade; Algo fora do
contexto real do Trabalho Social em si, visto que os interventores adaptam à realidade, a sua
metodologia de trabalho, no entanto com diferentes técnicas ou modelos e de acordo com os
problemas que lhes são apresentados, não limitando a sua ação como de meros executores de
políticas públicas.
Por método afirma ainda a mesma autora, que pode-se entender como sendo, o modo de
fazer, de dizer ou de ensinar algo, seguindo determinados princípios dentro de uma ordem lógica,
sendo contudo um meio e não um fim em si mesmo, ROBERTIS (2007).
O trabalhador social exerce o seu trabalho de acordo com modelos de intervenção, o
trabalho do técnico social, não se inicia com o diagnóstico social ou o plano de intervenção, mas
sim com o primeiro contacto entre o assistente social e o cliente.
Não obstante e conjuntamente com os métodos e os modelos, o trabalhador social, baseia
a sua ação num determinado e especifico conjunto de conceitos metodológicos, como por
exemplo o Conceito de Ajuda, sendo este conceito entendido como um processo, no qual se
31
desenvolve: “um conjunto de processos e de atos organizados, com a finalidade de tornar uma
pessoa capaz de ter autonomia pessoal”, ROBERTIS (2007, 70), visando promover a mudança
que é outro conceito chave do interventor, tal como definido pela autora acima citada.
5.2.1 – A metodologia de intervenção social
Os profissionais do Trabalho Social, também denominados de interventores, lidam
diariamente com problemáticas identificadas pelo sistema cliente, tal como refere a
Professora Luísa Ferreira da Silva em SILVA (2001), as problemáticas sentidas levam os
clientes a pedir ajuda às instituições, por sua vez o interventor terá de usar uma
metodologia, como por exemplo, para poder atuar de modo a aumentar o “poder” de agir
do cliente (empowerment) sendo este uma método de intervenção psicossocial
O processo de intervenção desenvolve-se num processo, com uma ordem lógica,
tal como referido acima, quer se inicie por uma sinalização institucional ou individual,
gerando o encaminhamento do cliente que pede auxílio, assim temos expostos abaixo as
seguintes fases de acordo com ROBERTIS (2011):
Pedido de apoio – É o início do processo de ajuda, onde se clarificam as
necessidades ou o problema em si;
Análise da situação – Recolha de informações, pelas quais o trabalhador social com
a ajuda dos conhecimentos das diversas ciências sociais, como a psicologia,
sociologia, psicossociologia entre outros, saberá analisar adequadamente a situação;
Avaliação e diagnóstico – É feita a análise dos dados recolhidos, onde se formulam
as hipóteses param o problema, do qual sairá o plano de intervenção;
Elaboração do projeto de intervenção – É a fase onde se determinam os objetivos,
onde se delineia o nível da intervenção;
Implementação do projeto – É a fase em que se faz a intervenção que poderá ser
direta ou indireta consoante o caso e os recursos sociais existentes.
Avaliação dos resultados – É onde se avalia a evolução do processo, das mudanças
que por ventura terão existido ou não, pode ser feita esta avaliação a meio da
intervenção, para corrigir erros e falhas e voltar-se a fazer no fim, sempre com a plena
consciência que o cliente é autor da sua mudança, tanto quanto o interventor no
processo de ajuda.
Término da ação – Por fim chega-se ao fim do processo de intervenção, após os
resultados terem atingido os objetivos delineados no princípio.
5.2.2 – Os modelos de intervenção no Serviço Social
Os métodos sendo meios para a intervenção, nesse sentido foi baseado no
modelo de intervenção médica com os pacientes, que: “o Trabalho Social utilizou para
32
além dos métodos, modelos de intervenção, tendo sido o Modelo Médico, utilizado no
Serviço Social durante um largo período de tempo” ROBERTIS (2011: 65).
O Modelo Médico foi substituído pelo Modelo de Intervenção Social, que é um
modelo pelo qual, a atuação do interventor, não começa após o diagnóstico apenas, inicia
no momento em que se estabelece a relação do cliente com o interventor.
Segundo a Professora Maria José Núncio, os modelos de intervenção, só foram
adotados nos anos 70 do século XX, refere a obra de Werner Lutz publicada em 1970, que
afirma, que os modelos de intervenção social, instrumentos de trabalho que integram as
dimensões teórica, metodológica, filosófica e funcional, subjacentes na prática profissional;
Segundo a mesma autora os modelos determinam os princípios da ação a implementar e
definem os objetivos a atingir, além dos métodos e das técnicas a serem utilizadas numa
dada intervenção, NÚNCIO (2010), pelo que a autora refere ainda como principais
modelos da intervenção social os seguintes:
Modelo Psicossocial – Considera todos os elementos psicossociais,
socioeconómicos, físicos e emocionais do cliente, centra-se no diagnóstico,
tratamento e avaliação.
Modelo de Modificação de Conduta – O interventor centra-se nas situações
específicas, com o intuito de nova conduta, supressão de hábitos negativos pela
valorização de comportamentos positivos.
Modelo Sistémico – Ao contrário dos modelos acima citados, este é um modelo
que observa o problema por um prisma totalizador, procura as causas do
problema, não de um modo linear mas sim fruto de um conflito do cliente na sua
relação com o meio, este modelo permite ao interventor formular de forma
imparcial as hipóteses com vista à introdução de ações que promovam a
mudança.
Modelo de Intervenção em Crise – É um modelo fortemente enraizado nos
aspetos psicológicos e psiquiátricos, onde são analisadas as causas do
problema, muitas vezes associados a ruturas sociais, familiares, afetivas, perdas
materiais ou por outras palavras, a situações psiquicamente desestruturantes da
pessoa que as sofre; Esta é uma intervenção com uma peculiaridade, é feita de
forma imediata à crise, é breve e dirigida a objetivos muito precisos e concretos.
Modelo Integrado – É um modelo que visa trabalhar com indivíduos, famílias,
grupos pequenos ou comunidades, adaptado a um nível microssocial; É um
modelo unificador da prática da intervenção social, na junção de outros modelos
de intervenção tais como os modelos de Casos, de Grupos e de Comunidades,
dando resposta aos problemas, de forma entrecruzada, do mais simples para o
mais complexo, do microssocial para o macrossocial “é o modelo que tem o foco
33
no conceito da intervenção, para se conseguir dar melhor resposta em função dos
problemas concretos” Núncio (2010, 126);
5.3 – A Capacitação e a Advocacia (Empowerment and Advocacy)
A metodologia e os modelos de intervenção, são dois temas que nos levam a abordar o
Empowement, também denominado em português de empoderamento ou capacitação, que são
por sua vez, mais que um método, são técnicas, são também um objetivo do trabalhador social
para com o sistema cliente, isto é, visa tornar o cliente o ator da sua mudança de vida, para tal
requer a sua capacitação, tal como afirma a Professora Carla Pinto em PINTO (2011), que o
empowerment está relacionado com a raiz da palavra poder, trata-se da capacitação, do ser
capaz, do ter poder para promover a mudança.
Segundo a PINTO (2011), o empowerment existe a vários níveis, vejamos aqui o nível
pessoal, refere-se ao desenvolvimento da pessoa no que concerne à autoestima, no que toca a
contrariar os pensamentos negativos e visa melhorar a definição do conceito de identidade, ou
ainda, desenvolver as competências pessoais por forma a permitir a participação e a execução
de ações, tem como objetivo também aumentar a consciência critica pela informação e a
consciencialização social e política.
A questão levantada pela Professora Carla Pinto é a de saber se os trabalhadores sociais
poderão efetivamente promover o empoderamento dos clientes, a questão por sua vez remete-nos
para a identidade do trabalho social, PINTO (2011)
Podemos referir segundo PAYNE (1997) que o empowerment, visa aos clientes a
capacidade de ter o poder de decisão, para a ação dirimindo assim os efeitos e bloqueios sociais
ou pessoais sofridos pelo mesmo.
Este é portanto, um tema central para a nossa Pergunta de Partida, pelo que deixamos
para ser abordado na análise de conteúdo às entrevistas realizadas com os clientes da CS.
34
6 - Caracterização dos Clientes da Cantina Social
""EEuu sseeii qquuee oo mmeeuu ttrraabbaallhhoo éé uummaa ggoottaa nnoo OOcceeaannoo,,
MMaass sseemm eellee oo OOcceeaannoo sseerriiaa mmeennoorr””
Madre Teresa de Calcutá
A Caracterização da população cliente da Cantina Social, foi feita através da observação
documental dos processos, com o intuito de obtermos os dados que nos permitiram ter uma visão
de conjunto dos aspetos socioeconómicos e psicossociais da população da CS, sendo por outras
palavras um retrato social de quem são e de como vivem os respetivos clientes, pelo que se segue
abaixo a descrição da Caracterização nos seguintes moldes:
01 – Género;
02 – Faixa etária;
03 – Tipologia familiar;
04 – Estado civil;
05 – Tipologia habitacional;
06 – Localidade geográfica;
07 – Nível de escolaridade;
08 – Profissional;
09 – Estado de saúde;
10 – Situação jurídica;
11 – Adição.
Tendo em conta estes aspetos, podemos referir que este retrato de clientes da CS é
formado maioritariamente da seguinte forma:
Sexo: Masculino, (66,7 %);
Idade: Acima dos 51 anos, (55,6 %);
Agregado familiar: Unipessoal, (40,7 %);
Estado civil: Solteiro, (33 %);
Habitação: Situação habitacional indefinida, (40,7 %);
Localidade: Residem em diferentes freguesias e/ou concelhos, (37 %);
Instrução: Primária – até ao 4.º ano de escolaridade, (44,4 %);
Situação Laboral: Desempregado de longa duração, (59,3 %);
Saúde: Sem problemas (67 %),
Situação Jurídica: Com antecedentes;
Situação de Adição: Com antecedentes de adição em álcool.
Os dados coligidos através da observação documental, não tem o intuito de nos dar uma
imagem padronizada dos clientes, como do retrato acima descrito, visto que cada caso é um caso,
35
6.1 - Caracterização de género
A população cliente da CS é composta maioritariamente por homens, praticamente o
dobro das clientes do sexo feminino, as razões poderão ser aferidas, através dos tabelas
seguintes, nas quais pode observar-se que a maioria dos clientes é composta por pessoas
solteiras a viver sozinhas.
A desigualdade de género, patente na Tabela 1 é um indicador que deve ser observado
com especial atenção, na medida em que pode revelar-se, como indicio de uma maior
vulnerabilidade dos indivíduos do sexo masculino, menos preparados para a vida a só, cujos laços
familiares e sociais são menos sólidos e estáveis do que as clientes do sexo feminino.
Quanto à questão de género, referimos o conceito que segundo Anthony Giddens (2007)
está além da mera diferenciação sexual biológica, género é um aspeto cultural das sociedades,
sendo um constructo social.
Tabela 1 – Caracterização género
Masculino 18 66,7% Caracterização
de género Feminino 9 33,3%
Total 27 100%
Gráfico: De Filipe de Freitas Leal (2015)
36
6.2 - Caracterização etária
Em relação à idade da população, como se pode ver pela Tabela 2, a maioria (29,63%) é
composta por pessoas dos 36 aos 50 anos, segue-se a faixa etária dos 51 aos 65 anos.
Neste gráfico pode observar-se ainda, referente à Tabela 2, o facto de que a população
feminina corresponde cronologicamente a uma pirâmide das idades, não ocorrendo o mesmo em
relação aos dados da população masculina, onde podemos observar uma pirâmide invertida, com
uma percentagem maior nas faixas etárias mais altas.
A idade associada ao desemprego é um dos fatores que mais pesa, dificultando a
resolução dos problemas, agravando o isolamento e a vulnerabilidade, podendo levar à exclusão
social, sobretudo quando se trata de pessoas acima dos 50 anos, sem laços familiares e sociais.
Outro dado importante é o envelhecimento populacional, que é considerado o responsável
por inúmeros males, como afirma Maria Valente Rosa (2012), sobretudo no que se refere à
discriminação sentida pelos idosos que é denominada de idadismo.
Tabela 2 – Caracterização etária
De 36 a 50 8 29,6 % Caracterização Etária De 51 a 65 7 25,9 %
> 66 6 22,3 %
De 21 a 35 5 18,5 %
< 20 anos 1 3,7 %
Total 27 100%
Gráfico: De Filipe de Freitas Leal (2015)
37
6.3 – Caracterização familiar
Quanto à tipologia adotada para a Caracterização familiar, optamos por escolher 5
categorias que são as que se encontram maioritariamente na população cliente da CS, que estão
indicadas no gráfico abaixo, em ordem decrescente quanto à percentagem.
No entanto antes de avançarmos, gostaríamos de referir o conceito de Família, no qual
citamos a Professora Margarida Mesquita, que afirma: “o conceito de família, apresenta-se
contemporaneamente, complexo e multifacetado, com contornos e limites pouco precisos”
MESQUITA (2013, 151), se por um lado é um conceito difícil de definir e variável na sua
interpretação também o é na diversidade tipológica de família.
Família é "a vivência em conjunto debaixo do mesmo teto e que corresponde a um dos
indicadores mais simples dos laços familiares", SARACENO e BALDINI (2011), referindo que a
estrutura da família não se prende a quem vive com quem, mas sim ao grau de vínculo.
O sociólogo Anthony Guiddens define o conceito de família, como sendo o grupo de
pessoas unido diretamente por laços de parentesco, aos quais os adultos assumem o cuidado das
crianças Giddens (2007).
Tabela 3 – Caracterização familiar
Unipessoais 11 40,7% Caracterização Familiar Nucleares c/ filhos 5 18,5%
Monoparentais F/M 5 18,5%
Nucleares s/ filhos 4 14,8%
Alargadas 2 7,5 %
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
38
Para além dos tipos tradicionais de família, como as nucleares com ou sem filhos e as
famílias extensas, a tipologia familiar, segundo Saraceno e Baldini (2011) refere em Novas
Famílias, um conjunto vasto tal como indicado abaixo:
Quanto à composição dos agregados:
Famílias Unipessoais – Solteiros, viúvos e divorciados que vivem sozinhos;
Famílias Monoparentais – Uma mulher ou um homem a viver com filhos a cargo;
Famílias Nucleares C/ Filhos – Um casal com um ou mais filhos a cargo;
Famílias Nucleares S/ Filhos – Um casal sem filhos;
Família Reconstituídas – Um dos cônjuges já teve uma família;
Famílias Alargadas – vivem juntos dois ou mais núcleos familiares, avós, pais, tios,
netos, também denominado de família extensa.
A maioria dos clientes da CS é como podemos ver na Tabela 3, composta por famílias
unipessoais, ou seja indivíduos que vivem sós, sendo que nesta condição a totalidade de
indivíduos é do sexo masculino, dos quais, seis são solteiros, quatro separados ou divorciados e
um por viuvez, podemos ver no gráfico abaixo a faixa etária das pessoas em agregados
unipessoais:
Tabela 4 – Faixa Etária dos agregados unipessoais
De 51 a 65 anos 5 45,6 %
> 66 Anos 2 18,2 %
Faixa Etária dos Agregados
Unipessoais De 21 a 35 anos 2 18,2 %
De 36 a 50 anos 1 9 %
< 20 Anos 1 9%
Total 11 100%
Seguindo-se aos agregados unipessoais, temos as famílias nucleares com filhos e as
famílias Monoparentais, com 5 agregados cada e por último temos as famílias nucleares sem
filhos (4 agregados) e as famílias alargadas (dois agregados) que representam um total de
cinquenta e sete pessoas abrangidas pela cantina social às quais foram entregues cento e catorze
refeições quentes por dia.
39
6.4 - Caracterização conjugal
No que concerne aos dados estatísticos do Estado Civil dos clientes, pode observar-se
que corroboram os dados da Tabela 3, se no respetivo gráfico nota-se a maioria de agregados
unipessoais, nesta compreende-se o porquê desse facto, não obstante, o estado civil, não está
diretamente relacionado com o facto de se viver só, a provar isso temos o número de solteiros,
divorciados, separados e viúvos a totalizar dezoito indivíduos face aos agregados unipessoais que
totalizam onze pessoas.
Se na Tabela 3 abordamos a composição dos agregados familiares, na tabela abaixo,
temos os dados referentes à contratualização das uniões bem como a sua dissolução, na qual
pode observar-se que os divórcios e a viuvez podem ser fatores que tenham contribuído para o
agravamento da situação de pessoas economicamente desfavorecidas ou possam estar até na
causa da situação de vulnerabilidade social.
Quanto à contratualização das uniões:
Casamento – União formal entre duas pessoas, contratualizada legalmente;
União de Facto – Coabitação de duas pessoas não casadas oficialmente;
Separação de Facto – Pessoas oficialmente casadas que não vivam juntos.
Tabela 5 – Caracterização conjugal
Solteiros 9 33,3% Caracterização Conjugal Divorciados / Separados 7 25,9%
Casados 6 22,3 %
União de Facto 3 11,1%
Viúvos 2 7,4%
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
40
6.5 - Caracterização habitacional
Antes de analisarmos a tabela abaixo, deixamos algumas considerações sobre o conceito
de Habitação social, também denominada de Habitação a Custos Controlados (HCC), (situação
do segundo maior grupo na Tabela 6, com nove agregados), é a que se compreende como sendo
construções destinadas à habitação, cuja aquisição ou arrendamento é feita através de apoios
financeiros do Estado a organismos, a instituições sem fins lucrativos e a empresas públicas ou
privadas, sendo os principais promotores deste tipo de habitação9:
a) Câmaras Municipais
b) Empresas públicas (como a Gebalis por exemplo)
c) IPSS’s
d) Cooperativas de habitação
e) Empresas privadas
Introduzimos neste relatório a situação de Pessoas Sem-abrigo, (devido à existência de
um cliente nessa situação), segundo a Caritas10
, (tal como expresso na sua página de recursos
sociais), uma situação em que se deve ter em conta dois tipos, os “Sem teto”, pessoas que vivem
em locais públicos, ou abrigados em locais precários e um outro grupo que é os “Sem casa”, que
residem em alojamentos temporários.
Segundo um estudo de 2006, realizado pelo ISS11
, o número total de pessoas “sem-
abrigo” no país é desconhecido, sabe-se porém que a maior parte encontra-se em Lisboa e no
Porto, é fundamentalmente composta por homens em idade ativa, na faixa dos 30 a 49 anos, sem
laços conjugais, sendo maioritariamente solteiros ou divorciados; As razões que os levaram à
situação de sem abrigo prendem-se em alguns casos, com graves problemas familiares,
conjugais, ou perda de parentes próximos, problemas de saúde, falta de emprego, a esmagadora
maioria dos sem-abrigo, não referia problemas de habitação como causadores da sua situação.
A tipologia de habitação presente na entrevista social, visa dar a conhecer a habitação
enquanto elemento sociodemográfico, abaixo temos a tipologia de habitação comummente
adotada nas entrevistas institucionais tais como as efetuadas pelo "O Companheiro" sendo as
seguintes:
a) Casa própria;
b) Arrendamento privado;
c) Habitação social;
d) Outros.
9 PORTAL DA HABITAÇÃO, Glossário / Habitação a custos controlados (2015) artigo disponível em:
http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/glossario data de consulta a 15 de julho de 2015. 10
ISS, (2006) Os sem-teto, realidades invisíveis, artigo disponível em: http://www.solidariedade.pt/site/detalhe/3540 data de consulta a 15 de julho de 2015. 11
Idem.
41
O problema da habitação para a terceira idade, nomeadamente no que concerne aos
reformados e pensionistas com reformas de baixos valores e que poderão estar vulneráveis quer
pelo reduzido poder de compra quer pela nova lei do arrendamento que tem vindo a rever os
valores do aluguer de habitações, com casos de aumentos exponenciais, tornando assim os
idosos, uma das parcelas da população em processo de empobrecimento.
A Caracterização habitacional, presente na Tabela 6, revela-nos que a maioria da
população da Cantina Social, vive maioritariamente em quartos alugados, ou vive em espaços
cedidos por familiares, tratando-se portanto de uma situação indefinida, que poderá ser também,
reveladora da vulnerabilidade da situação em que se encontram as pessoas nessas condições.
Tabela 6 – Caracterização habitacional
Outra situação 11 40,7% Caracterização Habitacional Habitação Social 9 33,4 %
Arrendamento Privado 5 18,5%
Casa Própria 1 3,7 %
Pessoa Sem-abrigo 1 3,7 %
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
42
RReegguullaaççããoo
6.6 - Caracterização geográfica
Uma parte considerável dos clientes da CS, devido à proximidade geográfica é
proveniente do Bairro Padre Cruz (Freguesia de Carnide), contudo a maioria dos clientes provém
de áreas geográficas distintas, dentro e fora de Lisboa, muitos dos quais vivem em Bairros
Sociais.
O conceito de Bairro Social, que passamos a citar abaixo, está de acordo com o que se
apresenta na página do Portal da Habitação, com os seguintes termos:
"O conjunto constituído por edifícios habitacionais, equipamento social complementar,
infraestruturas e espaços exteriores respetivos, cujas habitações tenham sido promovidas em
regime de habitação social ou de custos controlados ou que tenham sido adquiridas ao abrigo de
programas habitacionais apoiados financeiramente pelo Estado"12
.
Tabela 7 – Caracterização geográfica
Outros 10 37,0 % Caracterização Geográfica Bairro Padre Cruz 6 22,3 %
Carnide 5 18,5 %
Benfica 3 11,1 %
Pontinha 3 11,1 %
Total 27 100 %
Filipe de Freitas Leal (2015)
12
PORTAL DA HABITAÇÃO, Glossário / Habitação a custos controlados (2015) artigo disponível em: http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/glossario data de consulta a 15 de julho de 2015.
43
6.7 - Caracterização escolar
Quanto à escolaridade, de acordo com a Tabela 8, podemos observar que há uma forte
predominância do Ensino Primário, indo do 1.º até ao 4.º ano de escolaridade (44,4%) seguindo-
se conjuntamente do 2.º e 3.º ciclos de ensino (29,7%) cujo primeiro corresponde ao 5.º e 6.º
anos e o segundo que vai do 7.º ao 9.º ano de escolaridade.
Em relação à baixa escolaridade da população cliente, no que se refere à Escolaridade
Obrigatória (Anexo V), gostaríamos de salientar que a mesma está explicitamente determinada
em função da data de nascimento e a obrigatoriedade escolar, varia de acordo com a lei vigente
no ano civil de nascimento.
Pode-se aferir pela Tabela 8 e pela Tabela 9, que o nível de escolaridade pode influir
condicionar a situação de desemprego, bem como consequentemente agravar a situação de
vulnerabilidade, sobretudo tratando-se de pessoas na faixa etária acima dos 51 anos de idade e
com baixa escolaridade, dos vinte desempregados da população da CS, onze têm entre a 4ª
classe e o 5.º ano e destes, oito tem idade superior a 50 anos.
Tabela 8 – Caracterização escolar
Primário 12 44,4 % Caracterização Escolar 2.º E 3.º ciclos 8 29,7 %
Secundário 4 14,8 %
Nível superior 2 7,4 %
Sem escolaridade 1 3,7 %
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
44
6.8 - Caracterização profissional
No que concerne à análise da situação laboral e profissional dos clientes da CS, o
desemprego, é o principal fator da situação de vulnerabilidade social da respetiva população.
O aumento do desemprego é uma das causas do aumento de pedidos de apoio alimentar
à Instituição por parte de indivíduos e famílias economicamente desfavorecidas, que se refletem
nos dados abaixo indicados.
Dessa população, 70,37% estavam à altura em situação de desemprego e
simultaneamente desses, 84,3 % encontravam-se como desempregados de longa ou muito longa
duração; Na análise de conteúdo aos clientes que participaram da entrevista, pretendemos
aprofundar este tema, relacionando-o com o desemprego, o nível de escolaridade, a faixa etária, o
género, a estrutura familiar, topologia habitacional, os rendimentos do agregado e a proveniência
dos mesmos.
Tabela 9 – Caracterização profissional
Desempregados 20 74,1 % Caracterização Profissional Desempregados de longa duração 16 84,2 %
Desempregados <12 meses 2 10,6 %
Inativos 2 5,2 %
Reformados/Pensionistas 5 18,5 %
Empregados 1 3,7 %
Trabalho Informal / esporádico 1 3,7 %
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
45
6.9 – Caracterização de saúde
Quando ao acesso aos cuidados de saúde, os clientes da CS têm acesso à saúde pública,
prestado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) pelos Centros de Saúde da área de residência
dos mesmo ou em hospitais públicos.
Relativamente a medicação com receita médica, alguns clientes usufruem de medicação
paga pelos serviços de Ação Social da SCML, onde se encontram registados, podendo também
usufruir de consultas médicas, apoio este que é um considerável auxílio para os clientes que têm
familiares idosos a seu cargo, ou mesmo os titulares mais idosos, visto que se trata da parcela da
população com mais gastos em saúde.
Contudo a maioria, dezoito clientes (66,7 %) é consideravelmente saudável, não
apresentando doenças crónicas ou agudas, das nove pessoas que referiram ter algum problema
de saúde apenas um afirmou ter problemas psíquicos, controlados com medicação.
Tabela 10 – Caracterização saúde
Saudáveis 18 66,7 % Caracterização de Saúde Com doença aguda 5 18,5 %
Com doença crónica 2 7,4 %
Problemas físicos 1 3,7 %
Problemas psíquicos 1 3,7 %
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
46
6.10 - Caracterização jurídico-penal
Na Caracterização jurídico-penal procuramos obter simultaneamente a resposta da
percentagem da população alvo (com antecedentes jurídicos) comparativamente à população sem
históricos jurídico-legais, nesse sentido a partir da observação documental obtivemos os seguintes
dados indicados na Tabela 11, acompanhados do gráfico abaixo.
A população sem antecedentes corresponde a 48,15% (treze clientes) face a 51.85%
(catorze clientes) com antecedentes, dos quais são maioritariamente de processos judiciais, como
pode ser observado na tabela abaixo, seguido de ex-reclusos e um caso de imigração ilegal.
Pretendemos comparar estes dados, para compreender em que medida podem estar
associados à situação de desemprego, no entanto essa resposta parece-nos difícil, visto que seria
necessário acompanhar os percursos dos respetivos clientes após a realização destas entrevistas.
Os dados apresentados, não revelam contudo, uma associação direta com o desemprego,
tendo em conta que se trata de pouco mais da metade dos clientes com antecedentes jurídico-
penais.
Tabela 11 – Caracterização jurídico-Penal
Com antecedentes* 14 51,9 % Caracterização Jurídico-penal
Processos 8 57,1 %
Detenção 5 35,8 %
Imigrantes ilegais 1 7,1 %
Sem antecedentes 13 48,1 %
Total 27 100%
* Equivale à População Alvo da Instituição / Filipe de Freitas Leal (2015)
47
6.11 - Caracterização toxicológica
No que concerne à Caracterização toxicológica, dez dos vinte e sete clientes (37,04%) não
tem quaisquer antecedentes de adição, por outro lado, dezassete (62.96%) tem antecedentes de
adição, dos quais 47,06 % de álcool, 29,41% de drogas leves e 23,53% de drogas pesadas.
Dos que referiram ter tido dependência alcoólica, afirmam estar livres da dependência sem
tratamentos para essa finalidade.
Quanto aos dependentes de psicotrópicos, afirmam ter feito tratamento com metadona, no
entanto alguns dos clientes quando entrevistados, afirmam não reconhecem as drogas leves como
sendo substâncias entorpecentes e causadoras de dependência, referem também que tinham total
controlo sobre essas substâncias.
Tabela 12 – Caracterização Toxicológica
Com Antecedentes 17 62,96% Caracterização Toxicológica
Álcool 8 47,06%
Drogas Leves 5 29,41%
Drogas pesadas 4 23,53%
Sem antecedentes 10 37,04%
Total 27 100%
Filipe de Freitas Leal (2015)
PPaarrttee IIIIII
RReessuullttaaddooss ddaass EEnnttrreevviissttaass ee CCoonncclluussããoo
7 – CCoonnhheecceerr aass ccaauussaass ddaa vvuullnneerraabbiilliiddaaddee ssoocciiaall
Projeto de estágio, a estrutura da entrevista e a análise de conteúdo.
8 - CCoonncclluussããoo ee oobbsseerrvvaaççõõeess ffiinnaaiiss
As atividades desenvolvidas, avaliação e sugestões.
49
7 – Conhecer as Causas da Vulnerabilidade Social
""QQuuaallqquueerr aaççããoo ddee ttrraannssffoorrmmaaççããoo ddaa rreeaalliiddaaddee,, qquuee nnããoo ssee aappooiiee nnuumm ccoonnhheecciimmeennttoo ddoo rreeaall,,
eessttáá ccoonnddeennaaddaa aaoo ffrraaccaassssoo”” Paulo Freire
Nos últimos anos o número de cantinas sociais tem vindo a aumentar e expandir-se
geograficamente, atingindo neste momento as 811 unidades espalhadas de Norte a Sul do País,
para atender a um número crescente de famílias e indivíduos em situação de carência
económica13
.
O aumento da procura pela resposta da cantina social ocorre em alguns casos, pela
ausência ou mesmo pela diminuição dos apoios sociais dados por parte da Segurança Social,
nomeadamente o SD e o RSI, tendo em conta que nas tabela 21 e 22, sobre as causas, temos
como o desemprego e os problemas financeiros com 75% da amostra, na tabela 22, sobre o que
impede a solução temos, o desemprego e a falta de recursos financeiros, com 72,6% da amostra.
As Cantinas Sociais são geridas, em regra geral, pelas diversas IPSS’s, entidades sem
fins lucrativos que atuam em colaboração com o ISS, inserido no PEA, através da RSCS Rede
Solidária de Cantinas Sociais, cujo alvo é suprir as necessidades alimentares dos indivíduos e
famílias em situação de vulnerabilidade social, através da disponibilização de refeições quentes a
serem consumidas no local ou no domicílio.
Segundo dados revelados pelo ISS, foram distribuídas no ano de 2013, cerca de 14
milhões de refeições a agregados em situação de total dependência, sendo as maiores causas o
desemprego, viuvez, divórcio e doença.
7.1 – O projeto de estágio
Durante o estágio, o que mais procuramos compreender, foi a dinâmica da Instituição,
relacionar o trabalho social aí exercido com a teoria aprendida e tentar compreender com que
atividade poderíamos complementar o respetivo estágio, ou seja qual seria o projeto a
desenvolver, tendo ficado definido, com aprovação da Sra. Dra. Sílvia Moço que o respetivo
projeto (Anexo I) visa um estudo aos clientes da Cantina Social, através da realização de
entrevistas com perguntas abertas.
Uma vez definida a atividade complementar, restava saber como procederíamos ao
estudo, para a obtenção de dados qualitativos, por meio de uma entrevista estruturada com
respostas abertas e transforma-los em dados quantitativos, para além disso fizemos o
levantamento de dados sociodemográficos da população cliente da Cantina Social, de modo a
termos assim a Caracterização da respetiva população.
13
CNIS (2015) "Cantinas Sociais – UDIPSS" página disponível em http://novo.cnis.pt/images_ok/Cantinas_Sociais.pdf Página consultada em 05 de julho de 2015.
50
7.2 – A metodologia do Estudo
Para a realização do estudo previsto no Projeto de Estágio, optamos por um estudo
exploratório de método qualitativo, como técnicas de recolha de dados, optamos numa primeira
fase pela observação documental, feita aos dados presentes nas informações processuais dos
clientes (dados quantitativos).
Numa segunda fase, através de entrevistas feitas aos clientes da CS, sendo uma
entrevista semiestruturada com respostas abertas (dados qualitativos), com as quais se
processou a análise de conteúdo.
As questões presentes na entrevista foram surgindo à medida que íamos tendo contacto
direto com os clientes, pelas entrevistas sociais de triagem previamente marcadas, tendo
apresentado um inquérito inicial, até chegar ao modelo final (ver Anexo III).
Foi a partir do conjunto de dados acima referidos, somando-se as “Entrevistas Sociais”,
por nós realizadas, que se elaborou o projeto de estágio, culminando na análise de conteúdo das
entrevistas e no conhecimento da realidade socioeconómica da população cliente da CS.
7.3 - A estrutura da entrevista
A entrevista foi o instrumento que nos serviu de contacto com os clientes e que nos
permitiu ter o testemunho por parte dos mesmos, sobre a problemática vivida, o objetivo desta
entrevista era a de tentar obter resposta à pergunta de partida.
Está dividida em duas partes, a primeira que é denominada de Identificação, na qual
consta a caracterização sociodemográfica dos clientes que fazem parte da amostra, a segunda
parte contendo as perguntas referentes às causas da situação de vulnerabilidade social e
resolução dos problemas.
A segunda parte, que é a entrevista em si, divide-se em dois tipos de perguntas, sendo as
quatro primeiras perguntas com o intuito de saber as causas da situação de vulnerabilidade social
e as três últimas, tentam compreender quais as dificuldades sentidas pelos clientes na resolução
dos seus problemas.
Os clientes que fizeram parte da amostra, são clientes da CS, referentes ao ano de 2014,
não é o universo da caracterização da população feito no capítulo 6.
A razão prende-se com o facto de necessitarmos comparar a natureza das problemáticas
entre as duas populações de anos diferentes e observar quais os fenómenos que se repetem e a
problemática que se mantém.
51
Quanto à população de 2013, tivemos um conjunto de informações mais vasto, mas
faltava-nos o testemunho vivo da entrevista que nos permitisse compreender melhor os aspetos
psicossociais, quanto à população entrevistada não necessitamos de tantos dados.
7.4 - Análise de conteúdo das entrevistas
Iniciamos a análise de conteúdo com a informação referente aos dados da caracterização
dos clientes que participaram da entrevista; Inicialmente, a aproximação trouxe algumas duvidas,
não sabíamos como seriamos recebidos, se as questões seriam ou não bem aceites e
compreendidas pelos clientes e por fim tínhamos a necessidade de nos aproximarmos dos clientes
de forma natural.
O trabalho aos sábados na Cantina Social facilitou esse contacto, inicialmente
trabalhamos com a orientação da Dra. Vera Rodrigues, depois tivemos a companhia de um dos
residentes, com quem conversamos muito sobre a vivência dos ex-reclusos no pós-reclusão.
Por fim, a aproximação foi feita e os clientes começaram a responder aos questionários,
de tal forma que praticamente todos queriam responder, eram cerca de 27 agregados e fazíamos
a entrevista ao titular, mas só obtivemos 23 entrevistas, por razões meramente logísticas.
7.4.1 – A Análise de caracterização da amostra
Em relação à população entrevistada que faz parte da amostra, faremos a análise
de conteúdo em duas partes, a primeira referente à caracterização, com os gráficos abaixo
para a comparação com a população da CS de 2013
1.º - Análise de caracterização – Referente à população da CS, do ano de 2013, temos
que a mesma se mantém similar, pelas informações apresentadas no Capítulo 5, variando
apenas em alguns aspetos, registados abaixo, contendo o retrato sociodemográfico dos
respetivos clientes da amostra:
Sexo: Masculino, (69,5 %);
Idade: Acima dos 51 a 65 anos, (43,6 %);
Agregado familiar: Unipessoal – vive sozinho, (39,1 %);
Estado civil: Solteiro, (39,2 %);
Instrução: Primária, até ao 4.º ano de escolaridade, (47,8 %);
Localidade: Residem em diferentes freguesias e/ou concelhos, (39,1 %);
Situação Laboral: Desempregado, (60,9 %);
52
Tabela 13 – Caracterização de género da amostra
Masculino 16 69,5%
Feminino 7 30,5%
Total 23 100%
Tabela 14 – Caracterização etária da amostra
De 51 a 65 10 43,6 %
De 36 a 50 6 26,0 %
> 66 4 17,4 %
De 21 a 35 3 13,0 %
Total 23 100%
Tabela 15 – Caracterização familiar da amostra
Unipessoais 9 39.1 %
Nucleares c/ filhos 5 21,7 %
Monoparentais F/M 4 17,4 %
Nucleares s/ filhos 4 17,4 %
Alargadas 1 4,4 %
Total 23 100%
Tabela 16 – Caracterização do Estado Civil da amostra
Solteiros 9 39,2%
Divorciados / Separados 6 26,0 %
Casados 6 26,0%
União de Facto 2 8,8%
Total 23 100%
Tabela 17 – Caracterização escolar da amostra
Primário 11 47,8 %
2.º E 3.º ciclos 8 34,8 %
Secundário 2 8,8 %
Nível superior 1 4,3 %
Sem escolaridade 1 4,3 %
Total 23 100%
53
Tabela 18 – Caracterização geográfica da amostra
Outros 9 39,1 %
Bairro Padre Cruz 8 34,8 %
Carnide 3 13, 0 %
Benfica 2 8,7 %
Pontinha 1 4,4 %
Total 23 100 %
Tabela 19 – Caracterização profissional da amostra
Desempregados 14 60,9 %
Reformados/Pensionistas 6 26,1 %
Empregados 2 8,7 %
Trabalho Informal / esporádico 1 4,3 %
Total 23 100%
7.4.2 – A Análise de conteúdo das entrevistas
Em relação à população entrevistada, aqui a análise de conteúdo das respostas
dadas na entrevista, analisaremos cada questão.
Tabela 20 – Questão 1 – Há quanto tempo é cliente de “O Companheiro”?
Tempo de Apoio Mulheres Homens Total %
< 1 ano 1 6 7 30,4 %
2 anos 3 3 6 26,1 %
1 ano 3 2 5 21, 7 %
> 1 ano 0 3 3 13%
3 anos > 1 1 2 8,7 %
Total 8 15 23 100%
A grande maioria dos clientes que fazem parte da amostra (catorze), têm um
período de permanência na Instituição entre um a dois anos, dentre estes catorze clientes
referentes à Tabela 20, são na maioria pessoas do sexo masculino (57,1 %), encontram-
se numa faixa etária acima dos 51 anos (42,9%) e têm um nível de escolaridade baixo, 6
entrevistados até ao 4.º ano e outros 6 até ao 9.º ano de escolaridade.
Ainda referentes à Tabela 20, dos clientes da amostra, dez, afirmam como causa
de vulnerabilidade social o desemprego e as dificuldades em ultrapassar essa situação.
54
Tabela 21 – Questão 2 – Quais as razões que motivaram o pedido de apoio?
Causas da Situação Mulheres Homens Total %
Desemprego 8 6 14 50 %
Problemas financeiros 0 7 7 25 %
Problemas de saúde 3 2 2 19, 4 %
Divórcio 1 1 0 6.5 %
Total 12 16 28 100%
Devido a tratar-se de uma entrevista de respostas abertas, alguns entrevistados
indicaram mais de uma razão, pelo que o total excede o valor da amostra, aceitou-se
assim as respostas múltiplas, tendo em conta que as razões que causam a vulnerabilidade
socioeconómica podem ser diversas em determinados casos.
Quanto às razões que surtiram o pedido de apoio, catorze entrevistados referiram
ser o desemprego a principal causa, nove afirmam ser as questões de saúde, quer suas
ou de familiares acamados, seis dos entrevistados referiram, ser por razões que se
prendem com a falta de recursos financeiros; Aqui contudo os entrevistados apontaram
mais do que uma razão.
Tabela 22 – Questão 3 – Quais as dificuldades sentidas que impedem a mudança?
Dificuldades Sentidas Mulheres Homens Total %
Desemprego 5 8 13 40,7 %
Falta de Recursos 2 8 10 31,9 %
Problemas de saúde 3 4 7 21,9 %
Ns/Nr 1 1 2 6.5 %
Total 11 21 32 100%
Na questão 4 abaixo (Tabela 23), as respostas também foram múltiplas em alguns
casos, alguns dos entrevistados não reconhecem apenas uma dificuldade, sendo que
treze responderam ser o desemprego, tal como podemos observar na tabela acima
ocorreu que dois dos entrevistados não responderam à questão, pelo que não sabem ou
não pretenderam responder.
Nesta questão, as respostas também foram múltiplas em alguns casos, e a
maioria não respondeu às questões, o que de certo modo é sintomático da gravidade da
situação, no conjunto das problemáticas sentidas pelos mesmos.
As questões de desemprego são as que no entanto surgem como a maior
expectativa dos entrevistados, outros esperam a reforma como forma de resolver a sua
situação.
55
Tabela 23 – Questão 4 – Quais as expectativas que tem face ao futuro?
Expectativas Mulheres Homens Total %
Ns/Nr 1 8 9 34,6 %
Emprego 4 2 6 23,2 %
Reforma 1 4 5 19,2 %
Tratamento de saúde 1 1 2 7,7 %
Espera manter o apoio 1 1 2 7,7%
Outros 1 1 2 7,7 %
Total 9 17 26 100%
Nesta questão, as respostas foram múltiplas, a maioria não respondeu à questão
sobre as suas expectativas relativas à mudança, mantendo como resposta, a resolução
pelos aspetos estruturais, como emprego, reforma, um dos entrevistados, refere que não
vê outra alternativa para além da manutenção do apoio social.
Tabela 24 – Questão 5 – De que modo prevê a solução e qual o tempo necessário?
Expectativas Mulheres Homens Total %
Ns/Nr 0 11 11 48 %
1 ano 3 1 4 17 %
2 anos 2 1 3 13 %
Com emprego 2 0 2 9 %
Com a reforma 0 2 2 9 %
Com tratamento de saúde 1 0 1 4 %
Total 8 15 23 100%
Nesta questão, as respostas não foram múltiplas, ainda que tenham sido abertas,
a maioria no entanto não respondeu à questão da previsão de tempo para a solução da
sua situação.
Todas as mulheres pertencentes à amostra responderam à questão 5, a
esmagadora maioria dos homens (11 clientes da amostra) não responderam, e não
indicaram o tempo previsto para a resolução dos seus problemas.
Da amostra dos 23 clientes entrevistados, 7 (30%) indicaram o tempo que
preveem ser necessário para mudar a sua situação (5 mulheres e 2 homens), os restantes
apenas indicaram o modo necessário para que tal mudança possa ocorrer.
56
Em relação à Questão 6 da entrevista, (Anexo I) as respostas abertas, foram
bastante diferentes, embora muitos não tenham respondido.
Questão 6 – Gostaria de nos deixar alguma ideia sua, uma sugestão útil para as
pessoas e as famílias em dificuldades?
Respostas: Salientam-se algumas frases que de alguma forma poderão fazer
sentido à Pergunta de partida e as quais deixamos aqui registadas:
“Acho que as pessoas necessitam de um ordenado base em condições
devido ao aumento dos impostos, que leva uma parcela grande do
ordenado”;
“As pessoas devem unir-se e pedir ajuda aos locais certos”;
“Não perder a esperança e tentar ultrapassar os obstáculos”;
“Evitar dividas, dever dinheiro é mau, e sempre que necessário saber
pedir ajuda”;
“Devem deixar o orgulho de lado, serem humildes e saber pedir ajuda”;
“Tenho progredido imenso, fui sem abrigo, mais o meu companheiro,
temos um projeto de vida, agora estou a trabalhar, espero ter uma
casa da câmara e ainda quero voltar a estudar, acho que as pessoas
não devem desistir”.
“Acho que as pessoas devem procurar trabalho ativamente, como
está difícil, devem fazer formações, não desistir nunca, só assim se
consegue, e caso necessário saber pedir ajuda, tal como eu fiz”;
“Continuar a lutar, olhar para a frente e não desistir nunca”;
“Eu aconselho os meus amigos a virem ao “Companheiro”, porque aqui há
comida e há trabalho, embora demorei a entrar num trabalho pelo
“Protocolo” mas consegui;
“Não ficar parado, é o conselho que dou, mesmo desempregado percorrer
tudo para conseguir o que se precisa e pedir a ajuda.
“O que eu queria é que houvesse trabalho para toda a gente no País e
não tivéssemos que andar a pedir ajuda”;
“Não desistir nunca, ser perseverante”.
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Em relação à questão 7, esta pergunta procurava reforçar a sugestão de uma
ideia, a grande maioria não respondeu pelo que entendeu ter dito tudo na questão 6.
Questão 7 – Gostaria de nos deixar mais alguma ideia adicional?
Respostas: Salientam-se algumas frases abaixo:
“Acho que deve haver mais comunicação e esclarecimento para se poder
ajudar as pessoas”;
“Eu penso que se deve ser mais unido, ajudarmos uns aos outros, ter
espírito de comunidade é o que faz falta”;
“Acho que as pessoas deveriam ter apoio também para os medicamentos
e a saúde, além da ajuda alimentar”;
“Manter uma ocupação, manter-se ativo e pedir ajuda”;
“Devia é de haver escolas e cursos para os trabalhadores estudarem à
noite, eu preciso estudar para trabalhar e melhorar”;
58
8 – Conclusão e Observações Finais
""UUmm hhoommeemm nnããoo ssee bbaannhhaa dduuaass vveezzeess nnoo mmeessmmoo rriioo ppoorrqquuee ddaa sseegguunnddaa vveezz,,
nneemm oo hhoommeemm nneemm oo rriioo sseerrããoo ooss mmeessmmooss”” Heraclito
Com o trabalho desenvolvido aprendemos, tal como afirma Malcolm Payne, que "os
clientes criam-se", ou seja o sistema cliente não é meramente um objeto do trabalho social, sendo
os clientes que em conjunto com os técnicos sociais, constroem a atividade da intervenção social,
ao procurarem o apoio, ao iniciarem um processo e ao tornarem-se assim, no elemento essencial
da intervenção, PAYNE (1997).
8.1 – Conclusão do presente trabalho
Referente à Pergunta de Partida, e de acordo com as respostas dos clientes nas
entrevistas, podemos concluir que obtivemos uma resposta afirmativa, ou seja, que a
consciencialização dos clientes sobre as causas da sua problemática, permite sim a
transformação das condições de vida dos mesmos, na medida em que essa consciencialização
tenha como suporte o empowerment ou capacitação.
Ao finalizarmos o presente trabalho, tivemos inicialmente um dilema, a resposta estaria
respondida com um sim, porque vimos que em algumas pessoas a consciencialização foi
efetivamente possível, ou um contundente não, porque a grande maioria dos clientes não
conseguiu identificar as causas, não mostrou estar consciente e capacitado para agir.
No entanto entendemos que a resposta é esta, SIM, pela consciencialização dos clientes
sobre as causas da sua problemática, pode-se auxiliar os clientes na resolução dos seus
problemas com vista a mudar as suas condições de vida, na medida em que o processo seja
apoiado pelo empowerment, para que consigam estar motivados para agir.
De acordo com o que acima foi dito, a intervenção social com vista à consciencialização e
o empoderamento, é um processo moroso, pelo que no presente estudo, a amostra apresenta
apenas um número muito reduzido, dois (2) clientes que estão motivados para a mudança,
contudo, e nesse sentido, tal como afirmamos, não é um dado que invalide a afirmação positiva à
pergunta de partida, porque o que se procurou neste estudo, foi uma resposta qualitativa, saber se
é possível ou não é possível, pelo que obtivemos claramente uma resposta qualitativa e não
quantitativa, como se poderia supor à partida.
Por outro lado a nossa perspetiva é diferente, não se baseia numa maioria para se obter
uma resposta, mas em possibilidades, pois um ou dois clientes, mostraram ser possível que os
mesmos criem os seus próprios projetos de vida e que se assumam como autores da sua
mudança, nós temos neste estudo a resposta que precisávamos, gostaríamos que fosse um
numero maior, mas à partida sabíamos que seria difícil.
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Surge aqui um problema, de saber em que patamar estão os restantes entrevistados, a
caminho do sucesso na intervenção social, isso faz-nos criar novas perguntas, tentar saber se
dentro de um ano ou dois anos, os restantes clientes terão atingido a sua capacitação.
O facto de um cliente pedir apoio quando sente necessidades e saber que precisa de
supri-las, não é a mudança, porque poderá ter consciência das necessidades, mas não das
causas, ou mesmo faltar ainda a consciencialização social sobre as estruturas sociais da
comunidade em que está inserido, desconhecendo também os seus direitos e os recursos sociais
que estão aos seu dispor como cidadão e com os quais poderá iniciar a sua mudança.
Contudo, sobre o que acima foi dito, podemos afirmar que nem mesmo a opção de viver
do apoio social é em si uma mera escolha, trata-se de algo que está relacionado com as
estruturas socioeconómicas em que o individuo está inserido, sendo que por mais consciência que
o mesmo possa ter, uma pessoa sozinha, em situação de desemprego, tendo pouca escolaridade
e na faixa etária entre os 50/60 anos, estará condicionado e aprisionado às circunstancias de
mercado e aos condicionalismos económicos e políticos da sociedade a que pertence, pelo que
nos parece ser algo totalmente esmagador (opressor) para qualquer pessoa em situação de
vulnerabilidade social.
O empowerment é a técnica mais apropriada para podermos suscitar a consciencialização
a uma pessoa, família, grupo ou comunidade, como exemplo lembramos um método de
alfabetização denominado de "Ver, Julgar e Agir, que surgiu nos anos 60, baseado no
empowement e na consciencialização, criado pelo Pedagogo brasileiro, Paulo Freire, este método
chegou a ser usado na América Latina, em particular nas comunidades eclesiais de base (CEB's),
sobretudo pelos padres relacionados com a Teologia da Libertação e utilizavam este método
também como um método consciencializador e antiopressor, SCHEFEER (2013).
8.2 - A avaliação do estágio e da Intervenção
O exercício deste estágio, tendo como objetivo implícito a consolidação da aprendizagem
académica, com a prática em contexto de ambiente de trabalho em Serviço Social, junto à
Instituição de Acolhimento e do Sistema Cliente, veio permitir-nos verdadeiramente a conclusão
dos propósitos acima referidos.
Do que acima foi dito, gostaríamos de salientar que "O Companheiro", dentre os valores
da solidariedade e dos princípios cristãos que estão na génese desta associação e da sua praxis,
tem cariz humanista, fundamentada no empowerment e na advocacy como modelos fulcrais.
A vocação objetiva do trabalho social nela desenvolvido visa a promoção da pessoa
humana no intuito de a tornar plenamente autónoma, usando como recurso metodológico a
intervenção psicossocial e pondo à disposição do sistema cliente as ferramentas necessárias a
cada caso.
60
Em todo o exercício deste estágio e na conclusão do presente trabalho, acompanhou-nos
sempre a necessidade de compreender as causas, para melhor podermos encontrar o modo
adequado de apoiar o sistema cliente no encontro da sua própria autonomia e da sua reinserção,
tal como afirma Carl Rogers (1976, 30), “tal compreensão enriquece-nos e modifica-nos”.
Devemos de referir também a Professora Maria José Núncio, que afirma ser, “um dos
intuitos da formação no trabalho social, do de criar uma atitude de crença, vontade de mudança
(...) uma consciência de intervenção e mobilidade de ação, fornecendo os instrumentos para a
justiça social, o bem comum e a cidadania" é NÚNCIO (2010, 15).
No entanto, o profissional de serviço social depara-se com um quadro de grandes
obstáculos, descrença no sistema, frieza nas relações bem como um sentido de alienação no que
se refere ao sentido de comunidade, tal como afirma a Professora Maria José Núncio “isso talvez
porque os clientes vejam o serviço social em sua maioria como uma extensão do aparelho do
Estado, sobretudo numa época de crise em que o Estado Social está posto em causa e as
políticas sociais estão muito mais restringidas face às políticas públicas, ao contrário do que foi
nos tempos áureos do Welfare State”, Núncio (2010, 16), urge pois aos que se iniciam neste
momento na profissão de trabalhadores sociais, tentar crer e contrariar esta tendência e
perseverar incansavelmente a fim de que os frutos do trabalho social surjam e se multipliquem.
Esta questão é reveladora do grau de vulnerabilidade em que essas pessoas se
encontram, tal como mostra o quadro da Tabela 24, um dos entrevistados frisou que precisa
manter os apoios, não consegue imaginar a sua vida sem o apoio alimentar de “O Companheiro”.
O emporwement que motiva os clientes mostrando-lhe as suas capacidades, valores,
direitos, conduz assim à consciencialização da realidade em que se inserem, e esta conduz à
mudança que os mesmos pretendem levar avante.
Contudo tal como afirma Paulo Freire “qualquer ação de transformação da realidade que
não se apoie num conhecimento do real está condenada ao fracasso. Qualquer esforço de
compreensão da realidade que não implique um engajamento nessa mesma realidade, é ilusório”
retirado de PINTO (2011, 11).
Podemos aferir que a consciencialização no processo de reinserção social, não é
suficiente por si só, tendo em conta, que as problemáticas apresentadas pelos clientes, são
estruturais, a maioria dos clientes da amostra, são afetados pelo empobrecimento, sofrem em
simultâneo uma rutura com os laços sociais, familiares e afetivos, gerando o isolamento, são ainda
afetados por circunstâncias, como as condições de saúde, ou conjunturais, como o desemprego,
as baixas reformas.
Posto isto, o Trabalhador Social, ainda que devidamente preparado, não saberá à partida
o que vai encontrar pela frente, os casos são todos diferentes, tal como são diferentes as pessoas
que pedem o auxilio, visto que para além da sua história e da realidade em que vive o cliente, há
uma realidade interior que precisa ser compreendida e trabalhada.
61
A consciencialização e o empowerment é todo um trabalho de relacionamento com o
sistema cliente, sendo construído paulatinamente, de tal forma, que desde o começo da relação
com o cliente até que dê frutos, demora, tanto quanto mais fragilizado se encontrar o cliente.
Quando iniciamos as entrevistas com os clientes, deparamo-nos com o facto de que todos
os clientes da CS, queriam falar, a relação estabeleceu-se pela possibilidade de serem ouvidos,
todos queriam dar a sua entrevista para que os escutássemos, sobretudo porque os clientes
traziam consigo as feridas, os estigmas, os medos, todo esse lado profundo que as pessoas em
situação de vulnerabilidade social sofrem e que deve ser trabalhado na relação com o cliente.
8.3 – Considerações finais e sugestões
Acreditamos ainda, que pela abrangência da aprendizagem do Trabalho Social
desenvolvido no “O Companheiro”, tanto a nível estágios como do voluntariado.
Esperamos que o estudo presente neste relatório, possa contribuir de algum modo para o
estudo da população cliente da Cantina Social de “O companheiro”, bem como da compreensão
da realidade vivida pelos clientes, a partir dos testemunhos da sua experiencia, bem como do que
sentem que os impede de ultrapassar os problemas e o que esperam para o futuro.
Por fim gostaríamos de deixar algumas sugestões que possam de algum modo, vir a ser
úteis em outros trabalhos de estágio que se venham a realizar com a população da CS.
Pensamos que possa assim, ser interessante a continuidade deste mesmo estudo, com
alguma distância no tempo, cujo objetivo seria o de estudar a evolução das problemáticas
existentes e das circunstâncias vividas pelos mesmos clientes.
Sugerimos assim, a realização de um estudo comparativo entre a população com
antecedentes criminais e a população sem esses antecedentes, a fim de observar-se em que
medida o “estigma” que sofrem os primeiros, pode impedir ou não na sua reinserção social.
Por fim, através de um novo estudo, observarmos a evolução das problemáticas ao longo
do tempo e obter assim um contributo para compreender as causas e os efeitos dos fenómenos da
vulnerabilidade e da exclusão social.
62
Bibliografia utilizada
I – Livros consultados
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II – Infografia consultada
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73
Anexo IV – Refeições contratualizadas, dados nacionais de 2013
Dados divulgados à imprensa pelo ISS e divulgados pela União Distrital das Instituições de
Solidariedade Social (UDIPSS)