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UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro
ILE: Instituto de Letras
Matéria: O cotidiano Escolar
ResenhaCrítica
Discente: Paula Abreu
Docente: Fernando Pocahy
Rio de Janeiro, 17 de Dezembro de 2014.
A Relação do Filme Entre os Muros da Escola com os textos: Tecer Conhecimento
em Rede e Uma História da Contribuição dos Estudos do Cotidiano Escolar ao
Campo de Currículo
O filme Entre os Muros da Escola, apresenta de modo documental a realidade de
uma escola pública francesa de periferia, no qual os professores atuam de modo muito
convencional e conservador em contradição com os métodos que foram propostos e o
projeto pedagógico implantado no sistema de ensino.
Seguindo a premissa, com alunos desinteressados, colegas pouco preparados e a
função de ser o coordenador pedagógico, o personagem principal que é o professor
François Marin, acaba tentando buscar modificar seus métodos de ensino e vencer os
muros impostos pela relação professor-alunos. Em um segundo momento o vemos
tendo muitas dificuldades com a linguagem e a diversidade cultural existente em sua
classe, tendo ainda, que vencer os preconceitos impostos também por seus colegas de
profissão que foram exemplificados na cena em que se discute sobre os problemas de
deportação de um aluno e em seguida alguém estoura champanhe para comemorar a
gravidez de uma professora.
Existe uma crítica implícita ao sistema educacional e ao despreparo do professor
para lidar com a diversidade e com o novo. O paradigma europeu, colonialista se reflete
na tentativa de assimilação dos alunos: o chinês que fala com dificuldades a língua
francesa, mas é esforçado em se integrar, por isso é considerado um bom aluno, já o
africano que fala sua língua materna e é questionador consistindo em um aluno
“problemático” e passível de expulsão.
Sendo Assim, podemos relacionar o filme com o texto “Tecer conhecimento em
rede” com o filme e também com o texto “Uma História da Contribuição dos Estudos
do Cotidiano Escolar ao Campo de Currículo”, no qual é abordada a necessidade de
buscar novos conhecimentos e possibilidades para o processo de ensino/aprendizagem,
problematizando essencialmente o diálogo entre a teoria e a prática. A autora Nilda
Alves, consegue destacar em seu texto, a importância de relacionarmos dialeticamente o
campo teórico e o prático, porém as posições científicas continuam a reforçar a ideia da
teoria como prioridade para explicar o mundo, enquanto que a prática seria algo
secundário. Para conseguir mudar o sistema é preciso que começar desde a sua raiz.
Com isso, a autora Alves, busca explicar o sistema hierárquico de educação comparando
a grafia de uma árvore, onde o aprendizado deveria ser linear para buscar chegar ao topo
e conquistar as folhas, os frutos, as flores e a visibilidade que tal altura alcançaria.
No Entanto, a abordagem dada por Alves, traz aspectos históricos de três
movimentos questionadores dessa forma de construir conhecimento. O primeiro é
aquele processado meio ao mundo do trabalho, com pessoas formadas, capazes de
adquirirem novos conhecimentos e saberem utilizá-los no cotidiano. Tal movimento
busca compreender como se deu à racionalidade como forma única de aquisição de
conhecimento, questionando, assim, o papel central das disciplinas tradicionais baseadas
nas ciências do século XIX. O segundo movimento rompe com a ideia de conhecimento
ordenado, linear e hierarquizado, inserindo-se em campos não disciplinares e
comparando a construção do conhecimento com a grafia de uma rede, escrita a partir da
prática social.
No caso do terceiro movimento, Alves apresenta a subjetividade enquanto
categoria representante da realidade social, juntamente da racionalidade. A
subjetividade permite o desenvolvimento de conhecimentos em rede de contatos,
correlacionando expressões individuais e coletivas que fixam o tempo e o espaço entre
as discussões cotidiano de viver, colocando em pauta a resolução de problemas.
Podemos perceber o quão o cotidiano escolar é complexo e subjetivo que podemos
relacioná-los com outro texto: Uma História da Contribuição dos Estudos do Cotidiano
Escolar ao Campo de Currículo, no qual , os estudos americanos a respeito do cotidiano
escolar comparavam o a uma “caixa-preta”, terminologia que pode ter sido emprestada
do ensino de ciências, onde era usada para estimular os alunos a criação de ideias; ou
então da mecânica e da tecnologia lógica, ou também da “teoria de sistemas” que
influenciou nas reformas na cúpula do sistema educativo para mudanças nos processos
educativos que era verificado seu resultado na saída do aluno da escola.
Com isso, o uso da metáfora foi usado para compreender a impossibilidade de se
saber o que se passa no cotidiano escolar que acaba sendo considerado negligenciável.
Ou seja, a intervenção no sistema educacional deve-se dar nos planos de entrada
(inputs), realimentado com dados obtidos no final do processo anterior (feedback),
possível por meio da avaliação dos indicativos fornecidos pelos resultados de saída
(outputs).
Só assim, Tem-se uma escola ideal, planejada do alto e de fora e compreendida
como lugar de aplicação desses planos com apoio de recursos e a sendo verificado o
resultado através provas gerais nacionais que nos dão as informações do que lá se
passou.
Ao analisar cotidiano escolar recorrendo as teorias sistêmicas segue toda uma
tendência de redução do real de suas varáveis controláveis porque se entendia o “mundo
escolar” como um mundo separado do mundo real, sem considerar que os sujeitos ali
inseridos mantêm relações com o mundo exterior.
No que tange a escola; Alves se coloca fundamentalmente o debate crítico à forma
organizativa das estruturas pedagógicas, curriculares e de poder, embutidos nesses
espaços educacionais. Portanto, o papel da teoria seria traçar caminhos em busca de
soluções para os problemas existentes entre a sociedade. Este movimento apresenta à
escola, questionamentos quanto à centralidade das disciplinas racionais. A teoria e a
prática, organizam todos os espaços de desenvolvimento curricular, as disciplinas, os
vários componentes curriculares, tais como projetos de pesquisas, programas culturais,
ações de cidadania.
François Marin, no filme, parece se importar com suas aulas e com o destino de
seus alunos, mas ao mesmo tempo permanece vítima de um sistema de ensino que o
calcifica numa teia de ensino incapaz de vencer o muro a muito colocado diante dos
alunos. Seus esforços vão aos poucos sendo minados pela turma, por seus superiores e
por fim, por ele mesmo, que já não enxerga mais perspectivas para seus alunos gerando
um problema que até sua relação com eles se abala.
No fim do ano, a aluna que quase não aparece no filme ainda declara que acha que
não aprendeu nada ao longo do período de aprendizagem, o que nos deixa a impressão
de que o filme questiona a validade desses métodos em detrimento de um sistema
tradicional; no entanto, podemos justamente entender que o método não é o que está em
cheque aqui, mas sim a atitude de professores perante seus alunos, suas culturas, seu
contexto social; a experiência didática é questionada como uma experiência de vida, um
entendimento das necessidades e da construção de conteúdos integrados aos alunos,
eliminando os muros dos quais o filme faz uma menção velada.
Cabe analisar essas propostas e implantar um pouco do que se viu na vida prática
de professor; preparar-se para enfrentar a sala de aula é um desafio que nossos cursos de
licenciatura devem ainda superar, visto que em nossa sociedade o sistema é bem
parecido e sem as propostas renovadoras que se insinuam no projeto da escola francesa.
A realidade brasileira também não contempla uma diversidade cultural tão grande, mas
ao mesmo tempo temos muita diversidade econômica e preconceito racial, social. Se
pretendemos ser bons educadores temos que nos preparar para contemplar essas
diferenças e ensinar de modo justo, verdadeiro e integrado aos nossos alunos.
A negligência evidenciada na modernidade diz respeito ao paradigma da ciência
galileu-newtoniana, que privilegiou os elementos controláveis e quantificáveis da
realidade, desconsiderando os demais dados. As expressões qualitativas da vida
cotidiana foram abandonadas. Assim, o cotidiano passou a ser analisado pela ótica da
quantidade, sem muito questionamento, sendo resumido ao espaço de repetição, de
norma de obviedade, do senso comum e da regulação. Se conseguimos recuperar de
nossas vidas os aspectos singulares e qualitativos dessas práticas cotidianas, vamos dar
conta de que nunca há repetição.
Aprendemos que o que é relevante no nosso fazer é o “o que” fazer, por ser
mensurável e não o “como” fazer, porque varia, não tem controle. Muitos autores, entre
eles Foucault, denunciam esta análise do cotidiano e não mostra a multiplicidade de
forma de realização das práticas cotidianas.
Para continuar a análise do cotidiano escolar há a necessidade de esclarecer a
dicotomia entre os aspectos quantitativos e qualitativos deste cotidiano; chegando à
conclusão de que: o cotidiano é o conjunto de atividades que desenvolvemos no nosso
dia-a-dia, tanto do que nelas é permanência (o seu conteúdo) quanto do que nelas é
singular (as suas formas). Portanto, as duas dimensões devem ser consideradas nesta
análise. E, para compreender a lógica que preside o desenvolvimento das ações
cotidianas precisamos considerar que estamos sempre em processo de mudança, imersos
em redes de saberes e fazeres e que tanto o conteúdo como a forma pelas quais essas
ações se desenvolvem têm como características a complexidade (Morin) e a
diferenciação (Santos), sob a influência de fatores mais ou menos aleatórios. Sendo
assim, precisamos então “desaprender” os saberes que sabemos (das teorias da
modernidade) e ao mesmo tempo buscar compreender as formas de processos de criação
das ações e de suas manifestações. Quando compreendemos essas diferentes e
complexas formas de criar e viver nos múltiplos espaços e tempos cotidianos
entendemos “as redes de subjetividade que cada um de nós é” (Santos). Sendo assim, no
processo de recriação de nossos fazeres, onde sofremos influência do contexto sócio-
histórico-cultural é que construímos nossas identidades individuais e coletivas.
Em suma, o filme é excelente para quem pretende ser educador, justamente por
nos remeter a uma realidade tão familiar em nossas escolas brasileiras: a diversidade.
Seja ela cultural, étnica ou religiosa devemos estar preparados para enfrentá-la em toda
a sua força.
Ao final, avaliar as práticas pedagógicas chega a ser impossível. Por isso,
consideramos que “o preto e o branco” não são cores que nos permitem captar a
complexidade e a riqueza desses processos. Portanto, para compreender a lógica da vida
cotidiana, precisamos nela mergulhar (Oliveira e Alves), aceitando a impossibilidade de
obtermos dados relevantes gerais numa realidade caótica e a necessidade de considerar
todos os elementos constitutivos.
Conclusão:
Ao analisar a nossa realidade precisamos considerar que as teorias de
aprendizagem foram construídas negando a existência do cotidiano e dos conhecimentos
que nele foi tecido. Outro aspecto também considerado é que ao analisar o cotidiano
acreditamos saber alguma coisa em relação ao assunto analisado o que dificulta nossa
percepção. Para aprendermos e apreendermos a multiplicidade dos elementos
constitutivos da realidade do cotidiano é preciso que nele cheguemos de modo aberto,
sem preconceitos.
Segundo Alves, dentro da ideia de tessitura do conhecimento em rede (Alves) se
fizermos uma análise do cotidiano em premissas pré-definidas criamos em nossas redes
“nós cegos” impossibilitando a articulação de novos fios de saberes aos já sabidos.
Precisamos compreender efetivamente o que se aprende nas escolas, buscando
atribuir significados livres de preconceitos, ouvir as vozes dos que fazem esse cotidiano
escolar, cotidianamente.