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A RELEVÂNCIA DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE REGIONAL PARA O CRESCIMENTO DO PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE João José dos Santos Maurício de Oliveira Andrade Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto Departamento de Engenharia Civil Área de Transportes e Gestão das Infraestruturas Universidade Federal de Pernambuco RESUMO Investimentos em infraestruturas de transportes possibilitam a redução dos custos de produção, estimulam novos investimentos e estendem os ganhos econômicos obtidos para diversos setores econômicos. A Ferrovia Transnordestina ao atravessar o Pólo Gesseiro do Araripe, apresenta-se como esperança para superar gargalos nas condições de transporte da produção. Situado em área afastada do mercado consumidor, neste polo, que representa a base econômica de extensa região, se localizam as maiores jazidas de gipsita do Brasil e grande parte da indústria transformadora do setor. O objetivo deste artigo é aferir as expectativas dos setores envolvidos direta ou indiretamente com a cadeia produtiva do gesso e partindo das melhorias nos transportes, testar hipóteses relacionadas aos conceitos das teorias de crescimento e desenvolvimento regional. Observa-se que apesar de importante, a ferrovia resolve apenas parcialmente os problemas. Para atingir o crescimento pleno, é necessário superar outras carências que impactam a expansão da produção e dos mercados. Palavras-chave: Infraestrutura de transporte, crescimento econômico regional, transporte ferroviário, polo gesseiro. ABSTRACT Investments in transport infrastructures make possible the reduction of production costs, stimulate new investments and extend the economic profits for diverse economic sectors. The Transnordestina Railroad, when it crosses the plaster hub region of the Araripe, will present itself as hope to overcome bottlenecks in the conditions of production transport. The biggest deposits of plaster of Brazil are located in this region and it represents the economic base of a extensive area as well the greater part of the transforming industry of the sector. But the region is far away from the consuming market. The objective of this article is to survey the expectations of the actors directly or indirectly involved with the productive chain of plaster and, considering the improvements in transports, to test hypotheses related to concepts in theories of growth and regional development. It is observed that, although important, the railroad only resolves partially the problems. To achieve full growth, it is necessary to overcome other deficiencies that impact the expansion of the production and the markets. Keywords: Transport infrastructure, regional economic growth, railroad transport, plaster hub region. 1. INTRODUÇÃO As infraestruturas de transportes exercem um papel fundamental no funcionamento dos sistemas econômicos através do estímulo a novos níveis de produção, a partir das unidades produtivas que estão situadas em um determinado espaço econômico (SOUZA, 2009). O objetivo deste artigo é demonstrar que, quando uma região ou um estado proporcionam melhorias em suas logísticas de transportes, o consumo interno aumenta em virtude da maior eficiência no escoamento dos bens entre produtores e consumidores. A infraestrutura de transporte analisada é a Ferrovia Transnordestina e seus impactos econômicos, a partir das

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A RELEVÂNCIA DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE REGIONAL PARA

O CRESCIMENTO DO PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE

João José dos Santos

Maurício de Oliveira Andrade

Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto Departamento de Engenharia Civil – Área de Transportes e Gestão das Infraestruturas

Universidade Federal de Pernambuco

RESUMO

Investimentos em infraestruturas de transportes possibilitam a redução dos custos de produção, estimulam novos

investimentos e estendem os ganhos econômicos obtidos para diversos setores econômicos. A Ferrovia Transnordestina ao atravessar o Pólo Gesseiro do Araripe, apresenta-se como esperança para superar gargalos

nas condições de transporte da produção. Situado em área afastada do mercado consumidor, neste polo, que

representa a base econômica de extensa região, se localizam as maiores jazidas de gipsita do Brasil e grande

parte da indústria transformadora do setor. O objetivo deste artigo é aferir as expectativas dos setores envolvidos

direta ou indiretamente com a cadeia produtiva do gesso e partindo das melhorias nos transportes, testar

hipóteses relacionadas aos conceitos das teorias de crescimento e desenvolvimento regional. Observa-se que

apesar de importante, a ferrovia resolve apenas parcialmente os problemas. Para atingir o crescimento pleno, é

necessário superar outras carências que impactam a expansão da produção e dos mercados.

Palavras-chave: Infraestrutura de transporte, crescimento econômico regional, transporte ferroviário, polo

gesseiro.

ABSTRACT

Investments in transport infrastructures make possible the reduction of production costs, stimulate new

investments and extend the economic profits for diverse economic sectors. The Transnordestina Railroad, when

it crosses the plaster hub region of the Araripe, will present itself as hope to overcome bottlenecks in the conditions of production transport. The biggest deposits of plaster of Brazil are located in this region and it

represents the economic base of a extensive area as well the greater part of the transforming industry of the

sector. But the region is far away from the consuming market. The objective of this article is to survey the

expectations of the actors directly or indirectly involved with the productive chain of plaster and, considering the

improvements in transports, to test hypotheses related to concepts in theories of growth and regional

development. It is observed that, although important, the railroad only resolves partially the problems. To

achieve full growth, it is necessary to overcome other deficiencies that impact the expansion of the production

and the markets.

Keywords: Transport infrastructure, regional economic growth, railroad transport, plaster hub region.

1. INTRODUÇÃO

As infraestruturas de transportes exercem um papel fundamental no funcionamento dos

sistemas econômicos através do estímulo a novos níveis de produção, a partir das unidades

produtivas que estão situadas em um determinado espaço econômico (SOUZA, 2009). O

objetivo deste artigo é demonstrar que, quando uma região ou um estado proporcionam

melhorias em suas logísticas de transportes, o consumo interno aumenta em virtude da maior

eficiência no escoamento dos bens entre produtores e consumidores. A infraestrutura de

transporte analisada é a Ferrovia Transnordestina e seus impactos econômicos, a partir das

opiniões e expectativas externadas pelos atores envolvidos direta e indiretamente com os

problemas do Pólo Gesseiro do Araripe em Pernambuco.

Este importante polo econômico nordestino, que apesar de ser o maior produtor nacional de

gipsita e gesso, enfrenta problemas que impedem o seu potencial de desenvolvimento, dentre

eles a situação do transporte da sua produção para os mercados consumidores de insumos e de

produtos acabados. O polo situa-se em uma região remota, a cerca de 700 km do Recife, 800

km de Salvador e 2.400 km de São Paulo, carente de modos de transportes economicamente

mais eficientes para escoamento da produção e consequentemente para ampliação de

mercado. Atualmente a região é atendida apenas pelo sistema rodoviário, que apresenta

problemas de custos pela pequena escala do frete no retorno. A Ferrovia Transnordestina

surge então como solução logística para incentivar a produção e elemento indutor do

crescimento do centro da região nordeste. A produção do polo gesseiro representa importante

carga para viabilizar economicamente a ferrovia pelo grande potencial mineral e industrial

situado na região.

A metodologia utilizada para efetuar o levantamento das expectativas dos setores envolvidos

na cadeia produtiva do gesso e de especialistas em transportes e desenvolvimento regional foi

de, por meio de entrevistas, procurar perceber se os mesmos estavam conscientes dos

problemas atuais enfrentados pelo pólo e quais soluções seriam necessárias para diminuí-los.

Em seguida, fazê-los imaginar os impactos decorrentes da ferrovia em funcionamento

atendendo a região.

Os resultados apresentados de forma descritiva advêm do levantamento das expectativas

externadas pelos atores em cada situação apresentada no questionário. Nas conclusões

destaca-se que a solução dos problemas econômicos do polo não se vincula apenas em superar

problemas em sua base de infraestrutura disponível, mas que os problemas infraestruturais

devem ser enfrentados em um contexto mais amplo.

2. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE E CRESCIMENTO REGIONAL

2.1 Infraestrutura de transporte

É através de uma infraestrutura eficiente que a economia de um país se desenvolve. Pêgo

Filho e Campos Neto (2010) destacam que em estudos dessa natureza deve ser dado destaque

à infraestrutura econômica, cuja prioridade é dar apoio às atividades do setor produtivo,

englobando os setores de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia elétrica, petróleo e

gás natural, biocombustíveis e telecomunicações.

O setor de transportes exerce papel fundamental no sistema econômico de uma nação ou

região. Barat (2007) endossa essa assertiva quando afirma que o transporte é uma atividade

meio de apoio à produção de bens e serviços, e ainda, é essencial para o aproveitamento do

potencial produtivo de uma região, país ou associação de países com influência direta no

processo econômico nas suas dimensões temporal e espacial. Na dimensão temporal, as

infraestruturas de transporte são essenciais para estabelecer as condições necessárias para a

promoção do desenvolvimento econômico e social. Na dimensão espacial, a expansão na

infraestrutura de transporte infere na decisão da localização industrial e na exploração dos

recursos naturais, influencia na organização territorial, regional e urbana, proporcionando o

desenvolvimento regional e local.

Ao melhorar sua infraestrutura de transportes, a região aumenta o consumo interno, através da

eficiência no escoamento dos bens entre produtores e consumidores, além de provocar

impactos nos agregados econômicos nacionais ou regionais (PIB, PIB per capita, empregos,

renda, etc.). Quando novas infraestruturas são adicionadas a um local pouco desenvolvido ou

subdesenvolvido, desempenham um papel catalisador, porque elas são capazes de transformar

o espaço através do uso da terra e das mudanças de mobilidade, provocando transformações

sociais, econômicas e urbanas do espaço (RODRIGUE, 2013).

2.2 Transportes e Economia Regional

Existem diversas abordagens teóricas relacionadas com a economia regional, onde cada autor

tenta capturar toda a complexidade da dinâmica econômica no espaço. Neste artigo são

abordadas as teorias de Alfred Weber, François Perroux e Douglass North, que estão

correlacionadas com a base de pesquisa neste estudo. Nos estudos dos teóricos acima, o fator

transporte é um item presente e fundamental para o crescimento regional. É justamente nesses

pontos em que se baseia a estrutura dessa pesquisa, fazendo uma analogia das teorias com o

que ocorre ou poderá ocorrer na região do pólo gesseiro com o advento da implantação da

Ferrovia Transnordestina.

De acordo com a teoria de localização industrial de Weber, as atividades industriais tendem a

situar-se em conformidade com a ponderação de três fatores: i) o custo de transporte (fator

regional), ii) o custo da mão-de-obra (fator regional) e iii) um fator local (as ofertas de

serviços, a exemplo de energia elétrica, água, etc.) consequência das forças de aglomeração e

desaglomeração (forças que provocam concentração ou dispersão em uma região). Segundo

afirma essa teoria, quando a matéria-prima existe em apenas um ponto, a localização seria

definida em função dos custos de transporte. Ou seja, se o custo de transporte da matéria-

prima for superior ao custo de transporte do produto final, a atividade localizar-se-ia o mais

próximo possível da fonte de matéria-prima; caso contrário, mais próximo possível do

mercado consumidor (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).

Nos estudos sobre pólo de crescimento do economista francês François Perroux, a proposta é

explorar as relações estabelecidas entre as indústrias motrizes, cuja propriedade é aumentar as

vendas e as compras de serviços de outras indústrias; e indústrias movidas, que têm suas

vendas aumentadas em função das indústrias motrizes. Assim, Perroux conceitua pólo de

crescimento como um agrupamento de indústrias motrizes capazes de criar efeitos de

polarização fundamentais, que determinam o crescimento ou a enclavidade regional. Dentre

as formas de polarização conceituadas por Perroux, a polarização geográfica está relacionada

com o presente estudo, pois esta forma de polarização refere-se aos impactos nos sistemas

urbanos do desenvolvimento da região onde está localizada a indústria motriz. De acordo com

os estudos, esses impactos podem provocar a minimização dos custos de transporte e a criação

de economias externas e de aglomeração (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).

O historiador e economista Douglass North desenvolveu o conceito de base de exportação

com o objetivo de designar coletivamente os produtos exportáveis de uma região fossem eles

primários, secundários ou terciários. A teoria de North tem as exportações como um fator

determinante da taxa de crescimento da região, onde o desenvolvimento regional ocorre

através de um processo exógeno que tem origem a partir de um impulso externo à região,

onde seus produtos são demandados por outras regiões ou países (LIMA e SIMÕES, 2010).

Em sua teoria, North estabelece quatro tipos de atividades que propiciam o crescimento de

uma região: i) indústrias orientadas para as matérias-primas que se localizam junto à sua

fonte; ii) atividades de serviço para a indústria de exportação, a exemplo de novos comércios

e principalmente a melhoria dos transportes; iii) indústria local que produz o consumo local

promovendo a comercialização inter-regional; iv) indústrias sem raízes em que os custos de

transferência não são de grande importância para sua localização e grande parte dessas se

desenvolve ao acaso em uma localidade (NORTH apud SCHWARTZMANN, 1977).

Continuando, North acrescenta que são necessários para o crescimento das exportações de

base além de um maior desenvolvimento dos meios de transportes, os fatores: crescimento da

renda e da demanda em outras regiões; progresso tecnológico; e participação do governo na

criação de benefícios sociais básicos.

Segundo Souza (2005), quando a região em questão especializa-se em atividades terciárias e

produz para exportação, considera-se que esta atingiu o estágio final de desenvolvimento

regional.

3. FERROVIA TRANSNORDESTINA

A Ferrovia Transnordestina representa um projeto estabelecido pelo governo federal em 2006,

cuja concessão para obra e exploração pelo período de 30 anos foi dada a empresa

Transnordestina Logística S/A (TLSA). O governo federal assumiu o compromisso de

garantir financiamentos de bancos e órgãos públicos e os governos dos estados envolvidos

ficaram responsáveis pelas desapropriações.

A ferrovia terá uma extensão de 1.728 km, percorrerá três estados da região nordestina

brasileira, com o objetivo de escoar a produção do agronegócio e mineração do Piauí, bem

como a produção gesseira da região do Araripe de Pernambuco, aos portos de Pecém no

Ceará e de Suape em Pernambuco (ver figura 01).

Figura 01: Mapa da Ferrovia Transnordestina. Fonte: Construtora Norberto Odebrecht.

Segundo a TLSA (2011), essa nova ferrovia poderá provocar impactos socioeconômicos e

logísticos nos estados e municípios abrangidos ao longo do seu trajeto, por viabilizar a

redução do custo logístico de transportes, por atrair novos empreendimentos para a região,

pela valorização fundiária e imobiliária, pela possibilidade de surgimento de novos projetos

produtivos, pela geração de emprego e renda em áreas pobres e pelo aumento na arrecadação

dos impostos que poderão efetuar melhorias na área social (saúde, educação, infraestrutura,

etc.).

Durante o seu trajeto ao porto de Suape, a ferrovia atravessa todo o Estado de Pernambuco

passando pelo pólo gesseiro, criando a possibilidade de escoamento da produção de gipsita e

dos produtos acabados do gesso da região. O orçamento atual para construção dessa ferrovia é

de R$ 7,5 bilhões e tem previsão de conclusão para 2016 (MT, 2014).

4. PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE

O Pólo Gesseiro do Araripe está localizado na região do semiárido nordestino a 700 km da

capital de Pernambuco, sendo formado pelos municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi,

Ouricuri e Trindade, ocupando 8% do território pernambucano (Figura 02). O Pólo possui

uma reserva medida em 228 milhões de toneladas e estimada em 1,22 bilhões de toneladas. A

exploração da gipsita é considerada a principal atividade econômica da região. A cadeia

produtiva inicia a partir da extração do minério, fabricação do gesso e na manufatura de

artefatos utilizados. Esta cadeia produtiva é formada por 42 mineradoras responsáveis pela

extração do minério, 169 fábricas calcinadoras, responsáveis pelo beneficiamento da matéria-

prima e 450 fábricas de pré-moldados que agregam valor aos produtos originados do gesso,

gerando 13.800 empregos diretos e 68 mil indiretos. (SINDUSGESSO, 2012).

Figura 02: Mapa do Pólo Gesseiro. Fonte: SINDUSGESSO (2012).

Mesmo sendo o maior produtor de gipsita do país (responde por cerca de 90% da produção

nacional), o polo segundo o Sindusgesso (2012), enfrenta problemas que são entraves para o

seu desenvolvimento: a) carência nos modos de transportes que possibilitem redução nos

custos e aumento da produção; b) fontes de energia sustentáveis para o processo de mineração

e beneficiamento da matéria-prima; c) fornecimento de água com qualidade para as indústrias

processarem e transformarem o minério bruto; d) sistemas de comunicação que possibilitem

melhorias na comercialização dos produtos.

Apesar de possuir os problemas acima descritos, este trabalho dará ênfase ao problema dos

transportes, pois este pólo encontra-se numa região remota do Estado de Pernambuco, servido

integralmente pelo modo rodoviário, que gasta de 5 a 10 dias para atender regiões brasileiras

mais distantes. A construção da nova Ferrovia Transnordestina, atravessando todo o estado

pernambucano, ligando o sertão ao litoral, criou naturalmente, expectativas, principalmente

em relação à redução de custos nos transportes.

5. MÉTODO DE PESQUISA

O plano amostral estabelecido para esta pesquisa foi formado por empresários do ramo do

gesso (40,2%), pela população (ou sociedade civil) dos municípios (43,4%) que direta e

indiretamente estão correlacionados com o pólo, ambos encontrados nos municípios do pólo

gesseiro e por especialistas (16,4%) da área de transportes, economia, engenharia e áreas

afins, localizados na região metropolitana da capital pernambucana. O estrato “empresários”

foi formado por proprietários, diretores, gerentes e engenheiros das empresas localizadas nos

municípios de Trindade, Ouricuri, Ipubi e Araripina. As empresas entrevistadas poderiam

explorar os setores de mineração ou calcinação ou fábrica de pré-moldados ou ambos. O

estrato “população” foi composto por pessoas residentes ou atuantes nos municípios de

Trindade e Araripina. Estas pessoas foram estratificadas em áreas estratégicas e formadoras

de opinião, a exemplo das áreas políticas, educacionais, comerciais, de hospedagem e de

saúde, entre outras. Como “especialistas” foram considerados docentes da Universidade

Federal de Pernambuco, lotados nas áreas de engenharia de transportes, economia e áreas

afins; diretores de órgãos e de empresas de consultorias da área econômica da capital;

secretários e diretores de secretarias e órgãos do governo do Estado de Pernambuco; diretores,

engenheiros e representantes de empresas públicas e privadas do modo ferroviário, entre

outros.

Para o cálculo do tamanho da amostra utilizou-se o método para a proporção populacional em

cada estrato, adotando-se o nível de confiança de 90% e admitindo-se um erro amostral de

10%. O tamanho da amostra encontrado na pesquisa está representado na tabela 01 abaixo.

Tabela 01: Plano amostral da pesquisa.

Na pesquisa, procurando diagnosticar a situação atual do polo, foram elencados os problemas

e cada entrevistado atribuiria uma nota de 1 a 10 em relação à gravidade de cada um deles.

Quanto mais grave, maior seria a nota. Em seguida, dariam soluções para mitigar os

problemas descritos. As demais perguntas, atribuindo também notas entre 1 e 10, levavam os

entrevistados a um cenário futuro (tendo a nova ferrovia como um modal que interligasse sua

produção aos portos), e buscavam saber as suas expectativas quanto ao crescimento da cadeia

produtiva do gesso e aos impactos socioeconômicos possíveis de ocorrer na região.

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 Atuais Problemas do Pólo Gesseiro

Na análise dos resultados são apresentados os problemas mais críticos de acordo com cada

estrato:

Para os empresários, no cenário atual, apesar de ter dificuldades em distribuir sua produção

com custos mais baixos, o fator transportes é considerado um problema relevante, mas ainda

não é crítico, conforme apresentado na figura 03. Na opinião destes os 5 maiores problemas

enfrentados são: 1) impactos ambientais (91,8%) provocados pela carência de fontes

energéticas sustentáveis. Várias empresas ainda utilizam lenha provocando devastação na

caatinga da região, algumas usam óleo BPF causando poluição ambiental. 2) Dificuldade de

obtenção de água com qualidade (75,6%) para atender as necessidades na transformação e

beneficiamento da matéria-prima; 3) A região é carente de mão-de-obra qualificada (67,3%)

que atenda as novidades tecnológicas dos novos produtos; 4) Os preços de vendas em relação

aos custos na produção (65,3%) ainda são elevados prejudicando a obtenção nos lucros e

possibilidade de novos investimentos. Neste particular as carências das infraestruturas de

transportes e energia podem efetivamente influenciar no aumento dos custos; 5) A energia

elétrica (53%) que chega à região sofre algumas interrupções, por isso justificam o uso de

lenha e óleo BPF como alternativas acessíveis na região.

Figura 03: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos empresários (2013).

De forma análoga, os 5 maiores problemas apontados pela população, representados pela

figura 04 foram: 1) Impactos ambientais (88,7%) provocados pela queima da lenha e do óleo

nas fábricas e também pelo pó resultante da calcinação da gipsita para formação do gesso; 2)

A água (50,9%) não é problema apenas para as empresas, a população ainda sofre pela falta

de água potável da região semiárida; 3) A população vê os transportes (41,5%) como

problema crítico e acreditam na solução tendo novas alternativas modais; 4) A população

acredita que novas fontes energéticas reduziriam o problema no fornecimento de energia

elétrica (41,5%); 5) Estes também acreditam que se os preços de vendas fossem adequados

aos custos (34%), os empresários do ramo gesseiro investiriam mais.

Figura04: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pela População (2013).

Já os especialistas consideram que o maior problema é a falta de alternativas modais (75%),

onde o modo rodoviário é o maior vilão do crescimento da região. Os impactos ambientais

(75%) provocados na região poderiam ser mitigados pela ferrovia trazendo novas fontes de

energia (por exemplo, gás) na viagem de retorno. Energia e água, ambos com 60% na

Impactos Ambientais

Água

Mão-de-obra

Preço versus Custos

Energia

Recursos

Meios de Comunicação

Transportes

Mercado

91,8

75,6

67,3

65,3

53

46,9

40,8

38,8

26,5

Problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos Empresários (%)

Impactos Ambientais

Água

Transportes

Energia

Preço versus Custos

Mão-de-obra

Recursos

Meios de Comunicação

Mercado

88,7

50,9

41,5

41,5

34

32,1

30,2

20,8

18,9

Problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pela População (%)

classificação de problemas graves, pelas causas já relatadas acima. E finalmente, os

especialistas apontam como problema os preços de acordo com os custos (50%) apesar de a

região ser a maior produtora do gesso nacional (ver figura 05).

Figura 05: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos especialistas (2013).

No somatório dos resultados apresentados pelos três segmentos (empresários, população e

especialistas) relacionados no plano amostral, os problemas mais críticos apontados foram: 1)

Impactos ambientais (87,7%) considerada opinião unânime entre os atores; 2) O item água

(62,3%); 3) Os itens Energia e Preços versus custos obtiveram semelhantes percentuais

(49,2%); 4) Qualificação da mão-de-obra (48,4%); 5) Transportes, objeto deste artigo,

surpreendentemente atingiu o percentual de (45,9%). Ressalte-se que apenas os especialistas

consideram o fator transporte preponderante para o crescimento do polo (figura 06).

Figura 06: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos 3 atores do plano amostral (2013).

6.2 Soluções para o pólo gesseiro: alternativas dos segmentos entrevistados

As soluções apresentadas pelos entrevistados para mitigar os problemas do pólo foram

bastante semelhantes. Diante desse fato, as opiniões foram enquadradas de acordo com áreas

específicas de atuação:

Política - Estabelecer políticas de desenvolvimento para a consolidação do pólo e de apoio à

utilização do gesso como material de construção e específica para o desenvolvimento do setor

gesseiro. Construir um programa de desenvolvimento do polo com base na nova condição de

transporte, associada à resolução do problema de energia e de fornecimento de água para o

Transportes

Impactos Ambientais

Energia

Água

Preço versus Custos

Mão-de-obra

Mercado

Recursos

Meios de Comunicação

75

75

60

60

50

45

25

15

15

Problemas mais críticos do pólo gesseiro vistos pelos Especialistas

Impactos Ambientais

Água

Preço versus Custos

Energia

Mão-de-obra

Transportes

Recursos

Meios de Comunicação

Mercado

87,7

62,3

49,2

49,2

48,4

45,9

34,4

27,9

23

Problemas críticos do Pólo Gesseiro na visão dos 3 Atores (%)

processo industrial com redução dos problemas ambientais atualmente existentes pela falta

destes importantes insumos.

Educacional - a sugestão mais frequente foi a qualificação e capacitação da mão-de-obra

local, através do suprimento de nível técnico satisfatório (mecânica, elétrica, eletrônica,

química, computacional) visando formar profissionais para aplicação e desenvolvimento de

produtos do pólo em diversas áreas, além da construção civil. Outra sugestão é promover o

intercâmbio entre as universidades e escolas técnicas com a indústria, visando o

desenvolvimento de novos produtos de maior valor agregado. A população deseja além da

criação de novas instituições, investimentos nas já existentes nos cursos de capacitações

técnicas e profissionalizantes (ITEP, SENAI, SEBRAE, etc.). Foi sugerida também a

qualificação dos empresários para melhorar o nível de gestão dos diretores das empresas do

pólo, conscientizando-os para uma reorganização do setor com relação aos preços versus os

custos.

Matriz Energética: Há uma preocupação em relação à poluição ambiental. Visando reduzir

essa poluição, os empresários sugerem melhoramento de fonte energética, que seja

sustentável, a exemplo da energia solar ou eólica. A população deseja uma matriz energética

que não prejudique o meio ambiente, propõe o uso de gasoduto com utilização de gás GNC

ou GLP. Os especialistas acrescentam a biomassa como alternativa energética.

Infraestrutura de Transportes: A expectativa é grande em relação à implantação da

Ferrovia Transnordestina, pela capacidade de transporte e principalmente pela redução do

custo de frete. Com a nova ferrovia os empresários vislumbram a multimodalidade, com a

criação de possíveis rotas alternativas pelo modal hidroviário. Os especialistas reforçam que é

necessário o quanto antes, viabilizar a Ferrovia Transnordestina com vistas à redução nos

custos de produção. De acordo com a opinião da população é necessário ampliar e efetuar

manutenções na malha rodoviária existente.

Mercado: Os especialistas acham que é preciso pesquisar e conhecer melhor o mercado

externo visando incrementar as exportações. Para ampliar o mercado, os empresários sugerem

ações de incentivos pelo governo para desenvolvimento tecnológico da matéria-prima,

criando novas perspectivas. A população vê a necessidade de melhorar a união entre as

empresas para que ocorra a organização do setor como uma categoria única e forte, pois

deveria comandar o mercado, mas infelizmente quem manda no mercado são os compradores.

Ou seja, os empresários precisam ter uma conscientização cooperativista.

6.4 Crescimento dos Setores com a implantação da Ferrovia Transnordestina

No cenário futuro, considerando a Ferrovia Transnordestina já instalada, os atores

estabelecidos no plano amostral, acreditam que ocorrerá crescimento expressivo (onde

atribuíram as maiores notas) nos seguintes setores (figura 06): a) extração e transporte de

minério bruto (80,3%), ou seja, o setor de mineração terá um crescimento maior que os

demais pela possibilidade de a matéria-prima (gipsita) ser transportada pela ferrovia; b)

relocalização ou surgimento de outros pólos em outras regiões (62,3%), possivelmente pela

possibilidade da ferrovia transportar a matéria-prima para região de melhor serviços de

infraestruturas e mais próxima do mercado consumidor; c) apesar das duas opiniões acima, os

atores entrevistados apostam no crescimento da indústria de transformação local (53,3%) pois

a ferrovia poderá criar a possibilidade de trazer insumos e tecnologias para a região.

Figura 06: Crescimento dos setores com a implantação da Ferrovia Transnordestina na visão dos três atores pesquisados, 2013. (Elaboração do autor).

6.5 Impactos na Economia do Pólo Gesseiro com a Ferrovia Transnordestina

Em relação aos possíveis impactos socioeconômicos na economia local, tendo a nova ferrovia

já implantada, os atores consideram que a oferta e crescimento de emprego (68%) serão de

suma importância para o desenvolvimento da região; da mesma forma a qualidade de vida

urbana (61%) pela possibilidade de investimentos em infraestruturas urbanas, melhorias na

educação, na saúde, etc.; como consequência da melhoria da oferta de emprego, acreditam

que haverá um aumento na renda dos trabalhadores (58%); os investimentos propiciados

poderão provocar melhoria na qualidade ambiental (39%). (figura 07). Os percentuais

apresentados referem-se às maiores notas dadas pelos entrevistados em cada item.

Figura 07: Expectativas dos atores em relação aos possíveis impactos na economia do pólo gesseiro

com a Ferrovia Transnordestina (2013). (Elaboração do autor).

7. CONCLUSÕES

O presente artigo discorreu sobre a importância das infraestruturas de transportes e sua

participação no crescimento econômico de uma região com base em teorias de

desenvolvimento regional, originadas em estudos sobre economia espacial, geografia

econômica e geografia dos transportes.

O caso estudado demonstra que a ação do poder público juntamente com a iniciativa privada,

ao viabilizar a construção de uma ferrovia, que une três estados visando melhorar o

escoamento das suas produções, no sentido dos principais portos do Nordeste (Pecém e

Suape) abrindo novos mercados nacionais e internacionais, gera um conjunto de expectativas

positivas, que, no entanto são relativizadas, por um conjunto de outros problemas estruturais

existentes, os quais, segundo os atores locais apresentam-se tão ou mais relevantes.

80,3

53,3

62,3

Crescimento dos Setores com a implantação da Ferrovia

Transnordestina (Visão Geral)

Extração e Transporte de minério bruto

Indústria de transformação local

Relocalização ou Surgimento de outrospólos em outras regiões

Qualidade Ambiental (%)

Nível de Renda dos Trabalhadores (%)

Qualidade de Vida urbana (%)

Crescimento e oferta de Empregos (%)

39,3

58,2

60,7

68

Possíveis Impactos na Economia Local com a Ferrovia Transnordestina

(Expectativas dos 3 Atores)

Não restam dúvidas de que a região em estudo (Polo Gesseiro do Araripe) apresenta forte

necessidade de investimentos em transportes, mas a percepção local é que outras carências

nas estruturas econômicas, como nível de capacitação da mão de obra e infraestruturais, como

energia e água, são igualmente ou mais importantes, para superar os gargalos da produção. A

pesquisa procurou então, detectar as opiniões e expectativas dos atores envolvidos com a

cadeia produtiva do gesso e seus manufaturados. Nos resultados, apresentou de forma

descritiva o diagnóstico dos problemas existentes e as expectativas em relação ao crescimento

dos setores produtivos e impactos socioeconômicos na região.

No diagnóstico de problemas existentes, de acordo com a visão geral dos atores envolvidos, o

problema da infraestrutura em transporte situou-se na quinta colocação. Ficou evidente para

os entrevistados a necessidade de investimentos em recursos hídricos, devido a escassez e

salinidade da água encontrada na região, além de investimentos em fontes energéticas

renováveis, pelos problemas graves ambientais devidos à queima de lenha, ainda muito

grande na região.

Considerando a nova ferrovia implantada, os entrevistados acreditam que haverá mais

crescimento na extração mineral para exportação, em virtude da redução do custo de

transporte propiciada pela produtividade decorrente das economias de escala, característica do

transporte ferroviário.

Percebem também que se não ocorrerem investimentos complementares nas infraestruturas

regionais de fornecimento de água e de energia principalmente, poderá ocorrer um estímulo

indireto à relocalização para outras regiões melhor estruturadas, de novos polos na indústria

de transformação do gesso. Esse fato, na opinião dos entrevistados deverá inibir um

crescimento mais consistente nas indústrias de transformação locais, atenuando os impactos

positivos econômicos na região, a exemplo do crescimento na oferta de empregos, aumento

no nível de renda dos trabalhadores, além de melhorias na qualidade de vida urbana e

ambiental.

Apesar de os investimentos em infraestrutura de transportes serem fator determinante no

crescimento e desenvolvimento de uma região ou país, observamos nos resultados desta

pesquisa, que os atores em questão destacam a importância da presença da Ferrovia

Transnordestina para a região, porém para atingir o crescimento econômico na região, além

do investimento em transportes, faz-se necessário mitigar outros problemas nas demais

infraestruturas, que ainda são entraves para o crescimento do polo gesseiro.

Finalmente, consideramos como verdadeira a assertiva que diz: investimento em transportes é

condição necessária, mas não suficiente para acelerar o crescimento e desenvolvimento

econômico de uma região.

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