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A RELEVÂNCIA DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE REGIONAL PARA
O CRESCIMENTO DO PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE
João José dos Santos
Maurício de Oliveira Andrade
Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto Departamento de Engenharia Civil – Área de Transportes e Gestão das Infraestruturas
Universidade Federal de Pernambuco
RESUMO
Investimentos em infraestruturas de transportes possibilitam a redução dos custos de produção, estimulam novos
investimentos e estendem os ganhos econômicos obtidos para diversos setores econômicos. A Ferrovia Transnordestina ao atravessar o Pólo Gesseiro do Araripe, apresenta-se como esperança para superar gargalos
nas condições de transporte da produção. Situado em área afastada do mercado consumidor, neste polo, que
representa a base econômica de extensa região, se localizam as maiores jazidas de gipsita do Brasil e grande
parte da indústria transformadora do setor. O objetivo deste artigo é aferir as expectativas dos setores envolvidos
direta ou indiretamente com a cadeia produtiva do gesso e partindo das melhorias nos transportes, testar
hipóteses relacionadas aos conceitos das teorias de crescimento e desenvolvimento regional. Observa-se que
apesar de importante, a ferrovia resolve apenas parcialmente os problemas. Para atingir o crescimento pleno, é
necessário superar outras carências que impactam a expansão da produção e dos mercados.
Palavras-chave: Infraestrutura de transporte, crescimento econômico regional, transporte ferroviário, polo
gesseiro.
ABSTRACT
Investments in transport infrastructures make possible the reduction of production costs, stimulate new
investments and extend the economic profits for diverse economic sectors. The Transnordestina Railroad, when
it crosses the plaster hub region of the Araripe, will present itself as hope to overcome bottlenecks in the conditions of production transport. The biggest deposits of plaster of Brazil are located in this region and it
represents the economic base of a extensive area as well the greater part of the transforming industry of the
sector. But the region is far away from the consuming market. The objective of this article is to survey the
expectations of the actors directly or indirectly involved with the productive chain of plaster and, considering the
improvements in transports, to test hypotheses related to concepts in theories of growth and regional
development. It is observed that, although important, the railroad only resolves partially the problems. To
achieve full growth, it is necessary to overcome other deficiencies that impact the expansion of the production
and the markets.
Keywords: Transport infrastructure, regional economic growth, railroad transport, plaster hub region.
1. INTRODUÇÃO
As infraestruturas de transportes exercem um papel fundamental no funcionamento dos
sistemas econômicos através do estímulo a novos níveis de produção, a partir das unidades
produtivas que estão situadas em um determinado espaço econômico (SOUZA, 2009). O
objetivo deste artigo é demonstrar que, quando uma região ou um estado proporcionam
melhorias em suas logísticas de transportes, o consumo interno aumenta em virtude da maior
eficiência no escoamento dos bens entre produtores e consumidores. A infraestrutura de
transporte analisada é a Ferrovia Transnordestina e seus impactos econômicos, a partir das
opiniões e expectativas externadas pelos atores envolvidos direta e indiretamente com os
problemas do Pólo Gesseiro do Araripe em Pernambuco.
Este importante polo econômico nordestino, que apesar de ser o maior produtor nacional de
gipsita e gesso, enfrenta problemas que impedem o seu potencial de desenvolvimento, dentre
eles a situação do transporte da sua produção para os mercados consumidores de insumos e de
produtos acabados. O polo situa-se em uma região remota, a cerca de 700 km do Recife, 800
km de Salvador e 2.400 km de São Paulo, carente de modos de transportes economicamente
mais eficientes para escoamento da produção e consequentemente para ampliação de
mercado. Atualmente a região é atendida apenas pelo sistema rodoviário, que apresenta
problemas de custos pela pequena escala do frete no retorno. A Ferrovia Transnordestina
surge então como solução logística para incentivar a produção e elemento indutor do
crescimento do centro da região nordeste. A produção do polo gesseiro representa importante
carga para viabilizar economicamente a ferrovia pelo grande potencial mineral e industrial
situado na região.
A metodologia utilizada para efetuar o levantamento das expectativas dos setores envolvidos
na cadeia produtiva do gesso e de especialistas em transportes e desenvolvimento regional foi
de, por meio de entrevistas, procurar perceber se os mesmos estavam conscientes dos
problemas atuais enfrentados pelo pólo e quais soluções seriam necessárias para diminuí-los.
Em seguida, fazê-los imaginar os impactos decorrentes da ferrovia em funcionamento
atendendo a região.
Os resultados apresentados de forma descritiva advêm do levantamento das expectativas
externadas pelos atores em cada situação apresentada no questionário. Nas conclusões
destaca-se que a solução dos problemas econômicos do polo não se vincula apenas em superar
problemas em sua base de infraestrutura disponível, mas que os problemas infraestruturais
devem ser enfrentados em um contexto mais amplo.
2. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE E CRESCIMENTO REGIONAL
2.1 Infraestrutura de transporte
É através de uma infraestrutura eficiente que a economia de um país se desenvolve. Pêgo
Filho e Campos Neto (2010) destacam que em estudos dessa natureza deve ser dado destaque
à infraestrutura econômica, cuja prioridade é dar apoio às atividades do setor produtivo,
englobando os setores de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia elétrica, petróleo e
gás natural, biocombustíveis e telecomunicações.
O setor de transportes exerce papel fundamental no sistema econômico de uma nação ou
região. Barat (2007) endossa essa assertiva quando afirma que o transporte é uma atividade
meio de apoio à produção de bens e serviços, e ainda, é essencial para o aproveitamento do
potencial produtivo de uma região, país ou associação de países com influência direta no
processo econômico nas suas dimensões temporal e espacial. Na dimensão temporal, as
infraestruturas de transporte são essenciais para estabelecer as condições necessárias para a
promoção do desenvolvimento econômico e social. Na dimensão espacial, a expansão na
infraestrutura de transporte infere na decisão da localização industrial e na exploração dos
recursos naturais, influencia na organização territorial, regional e urbana, proporcionando o
desenvolvimento regional e local.
Ao melhorar sua infraestrutura de transportes, a região aumenta o consumo interno, através da
eficiência no escoamento dos bens entre produtores e consumidores, além de provocar
impactos nos agregados econômicos nacionais ou regionais (PIB, PIB per capita, empregos,
renda, etc.). Quando novas infraestruturas são adicionadas a um local pouco desenvolvido ou
subdesenvolvido, desempenham um papel catalisador, porque elas são capazes de transformar
o espaço através do uso da terra e das mudanças de mobilidade, provocando transformações
sociais, econômicas e urbanas do espaço (RODRIGUE, 2013).
2.2 Transportes e Economia Regional
Existem diversas abordagens teóricas relacionadas com a economia regional, onde cada autor
tenta capturar toda a complexidade da dinâmica econômica no espaço. Neste artigo são
abordadas as teorias de Alfred Weber, François Perroux e Douglass North, que estão
correlacionadas com a base de pesquisa neste estudo. Nos estudos dos teóricos acima, o fator
transporte é um item presente e fundamental para o crescimento regional. É justamente nesses
pontos em que se baseia a estrutura dessa pesquisa, fazendo uma analogia das teorias com o
que ocorre ou poderá ocorrer na região do pólo gesseiro com o advento da implantação da
Ferrovia Transnordestina.
De acordo com a teoria de localização industrial de Weber, as atividades industriais tendem a
situar-se em conformidade com a ponderação de três fatores: i) o custo de transporte (fator
regional), ii) o custo da mão-de-obra (fator regional) e iii) um fator local (as ofertas de
serviços, a exemplo de energia elétrica, água, etc.) consequência das forças de aglomeração e
desaglomeração (forças que provocam concentração ou dispersão em uma região). Segundo
afirma essa teoria, quando a matéria-prima existe em apenas um ponto, a localização seria
definida em função dos custos de transporte. Ou seja, se o custo de transporte da matéria-
prima for superior ao custo de transporte do produto final, a atividade localizar-se-ia o mais
próximo possível da fonte de matéria-prima; caso contrário, mais próximo possível do
mercado consumidor (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).
Nos estudos sobre pólo de crescimento do economista francês François Perroux, a proposta é
explorar as relações estabelecidas entre as indústrias motrizes, cuja propriedade é aumentar as
vendas e as compras de serviços de outras indústrias; e indústrias movidas, que têm suas
vendas aumentadas em função das indústrias motrizes. Assim, Perroux conceitua pólo de
crescimento como um agrupamento de indústrias motrizes capazes de criar efeitos de
polarização fundamentais, que determinam o crescimento ou a enclavidade regional. Dentre
as formas de polarização conceituadas por Perroux, a polarização geográfica está relacionada
com o presente estudo, pois esta forma de polarização refere-se aos impactos nos sistemas
urbanos do desenvolvimento da região onde está localizada a indústria motriz. De acordo com
os estudos, esses impactos podem provocar a minimização dos custos de transporte e a criação
de economias externas e de aglomeração (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).
O historiador e economista Douglass North desenvolveu o conceito de base de exportação
com o objetivo de designar coletivamente os produtos exportáveis de uma região fossem eles
primários, secundários ou terciários. A teoria de North tem as exportações como um fator
determinante da taxa de crescimento da região, onde o desenvolvimento regional ocorre
através de um processo exógeno que tem origem a partir de um impulso externo à região,
onde seus produtos são demandados por outras regiões ou países (LIMA e SIMÕES, 2010).
Em sua teoria, North estabelece quatro tipos de atividades que propiciam o crescimento de
uma região: i) indústrias orientadas para as matérias-primas que se localizam junto à sua
fonte; ii) atividades de serviço para a indústria de exportação, a exemplo de novos comércios
e principalmente a melhoria dos transportes; iii) indústria local que produz o consumo local
promovendo a comercialização inter-regional; iv) indústrias sem raízes em que os custos de
transferência não são de grande importância para sua localização e grande parte dessas se
desenvolve ao acaso em uma localidade (NORTH apud SCHWARTZMANN, 1977).
Continuando, North acrescenta que são necessários para o crescimento das exportações de
base além de um maior desenvolvimento dos meios de transportes, os fatores: crescimento da
renda e da demanda em outras regiões; progresso tecnológico; e participação do governo na
criação de benefícios sociais básicos.
Segundo Souza (2005), quando a região em questão especializa-se em atividades terciárias e
produz para exportação, considera-se que esta atingiu o estágio final de desenvolvimento
regional.
3. FERROVIA TRANSNORDESTINA
A Ferrovia Transnordestina representa um projeto estabelecido pelo governo federal em 2006,
cuja concessão para obra e exploração pelo período de 30 anos foi dada a empresa
Transnordestina Logística S/A (TLSA). O governo federal assumiu o compromisso de
garantir financiamentos de bancos e órgãos públicos e os governos dos estados envolvidos
ficaram responsáveis pelas desapropriações.
A ferrovia terá uma extensão de 1.728 km, percorrerá três estados da região nordestina
brasileira, com o objetivo de escoar a produção do agronegócio e mineração do Piauí, bem
como a produção gesseira da região do Araripe de Pernambuco, aos portos de Pecém no
Ceará e de Suape em Pernambuco (ver figura 01).
Figura 01: Mapa da Ferrovia Transnordestina. Fonte: Construtora Norberto Odebrecht.
Segundo a TLSA (2011), essa nova ferrovia poderá provocar impactos socioeconômicos e
logísticos nos estados e municípios abrangidos ao longo do seu trajeto, por viabilizar a
redução do custo logístico de transportes, por atrair novos empreendimentos para a região,
pela valorização fundiária e imobiliária, pela possibilidade de surgimento de novos projetos
produtivos, pela geração de emprego e renda em áreas pobres e pelo aumento na arrecadação
dos impostos que poderão efetuar melhorias na área social (saúde, educação, infraestrutura,
etc.).
Durante o seu trajeto ao porto de Suape, a ferrovia atravessa todo o Estado de Pernambuco
passando pelo pólo gesseiro, criando a possibilidade de escoamento da produção de gipsita e
dos produtos acabados do gesso da região. O orçamento atual para construção dessa ferrovia é
de R$ 7,5 bilhões e tem previsão de conclusão para 2016 (MT, 2014).
4. PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE
O Pólo Gesseiro do Araripe está localizado na região do semiárido nordestino a 700 km da
capital de Pernambuco, sendo formado pelos municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi,
Ouricuri e Trindade, ocupando 8% do território pernambucano (Figura 02). O Pólo possui
uma reserva medida em 228 milhões de toneladas e estimada em 1,22 bilhões de toneladas. A
exploração da gipsita é considerada a principal atividade econômica da região. A cadeia
produtiva inicia a partir da extração do minério, fabricação do gesso e na manufatura de
artefatos utilizados. Esta cadeia produtiva é formada por 42 mineradoras responsáveis pela
extração do minério, 169 fábricas calcinadoras, responsáveis pelo beneficiamento da matéria-
prima e 450 fábricas de pré-moldados que agregam valor aos produtos originados do gesso,
gerando 13.800 empregos diretos e 68 mil indiretos. (SINDUSGESSO, 2012).
Figura 02: Mapa do Pólo Gesseiro. Fonte: SINDUSGESSO (2012).
Mesmo sendo o maior produtor de gipsita do país (responde por cerca de 90% da produção
nacional), o polo segundo o Sindusgesso (2012), enfrenta problemas que são entraves para o
seu desenvolvimento: a) carência nos modos de transportes que possibilitem redução nos
custos e aumento da produção; b) fontes de energia sustentáveis para o processo de mineração
e beneficiamento da matéria-prima; c) fornecimento de água com qualidade para as indústrias
processarem e transformarem o minério bruto; d) sistemas de comunicação que possibilitem
melhorias na comercialização dos produtos.
Apesar de possuir os problemas acima descritos, este trabalho dará ênfase ao problema dos
transportes, pois este pólo encontra-se numa região remota do Estado de Pernambuco, servido
integralmente pelo modo rodoviário, que gasta de 5 a 10 dias para atender regiões brasileiras
mais distantes. A construção da nova Ferrovia Transnordestina, atravessando todo o estado
pernambucano, ligando o sertão ao litoral, criou naturalmente, expectativas, principalmente
em relação à redução de custos nos transportes.
5. MÉTODO DE PESQUISA
O plano amostral estabelecido para esta pesquisa foi formado por empresários do ramo do
gesso (40,2%), pela população (ou sociedade civil) dos municípios (43,4%) que direta e
indiretamente estão correlacionados com o pólo, ambos encontrados nos municípios do pólo
gesseiro e por especialistas (16,4%) da área de transportes, economia, engenharia e áreas
afins, localizados na região metropolitana da capital pernambucana. O estrato “empresários”
foi formado por proprietários, diretores, gerentes e engenheiros das empresas localizadas nos
municípios de Trindade, Ouricuri, Ipubi e Araripina. As empresas entrevistadas poderiam
explorar os setores de mineração ou calcinação ou fábrica de pré-moldados ou ambos. O
estrato “população” foi composto por pessoas residentes ou atuantes nos municípios de
Trindade e Araripina. Estas pessoas foram estratificadas em áreas estratégicas e formadoras
de opinião, a exemplo das áreas políticas, educacionais, comerciais, de hospedagem e de
saúde, entre outras. Como “especialistas” foram considerados docentes da Universidade
Federal de Pernambuco, lotados nas áreas de engenharia de transportes, economia e áreas
afins; diretores de órgãos e de empresas de consultorias da área econômica da capital;
secretários e diretores de secretarias e órgãos do governo do Estado de Pernambuco; diretores,
engenheiros e representantes de empresas públicas e privadas do modo ferroviário, entre
outros.
Para o cálculo do tamanho da amostra utilizou-se o método para a proporção populacional em
cada estrato, adotando-se o nível de confiança de 90% e admitindo-se um erro amostral de
10%. O tamanho da amostra encontrado na pesquisa está representado na tabela 01 abaixo.
Tabela 01: Plano amostral da pesquisa.
Na pesquisa, procurando diagnosticar a situação atual do polo, foram elencados os problemas
e cada entrevistado atribuiria uma nota de 1 a 10 em relação à gravidade de cada um deles.
Quanto mais grave, maior seria a nota. Em seguida, dariam soluções para mitigar os
problemas descritos. As demais perguntas, atribuindo também notas entre 1 e 10, levavam os
entrevistados a um cenário futuro (tendo a nova ferrovia como um modal que interligasse sua
produção aos portos), e buscavam saber as suas expectativas quanto ao crescimento da cadeia
produtiva do gesso e aos impactos socioeconômicos possíveis de ocorrer na região.
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
6.1 Atuais Problemas do Pólo Gesseiro
Na análise dos resultados são apresentados os problemas mais críticos de acordo com cada
estrato:
Para os empresários, no cenário atual, apesar de ter dificuldades em distribuir sua produção
com custos mais baixos, o fator transportes é considerado um problema relevante, mas ainda
não é crítico, conforme apresentado na figura 03. Na opinião destes os 5 maiores problemas
enfrentados são: 1) impactos ambientais (91,8%) provocados pela carência de fontes
energéticas sustentáveis. Várias empresas ainda utilizam lenha provocando devastação na
caatinga da região, algumas usam óleo BPF causando poluição ambiental. 2) Dificuldade de
obtenção de água com qualidade (75,6%) para atender as necessidades na transformação e
beneficiamento da matéria-prima; 3) A região é carente de mão-de-obra qualificada (67,3%)
que atenda as novidades tecnológicas dos novos produtos; 4) Os preços de vendas em relação
aos custos na produção (65,3%) ainda são elevados prejudicando a obtenção nos lucros e
possibilidade de novos investimentos. Neste particular as carências das infraestruturas de
transportes e energia podem efetivamente influenciar no aumento dos custos; 5) A energia
elétrica (53%) que chega à região sofre algumas interrupções, por isso justificam o uso de
lenha e óleo BPF como alternativas acessíveis na região.
Figura 03: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos empresários (2013).
De forma análoga, os 5 maiores problemas apontados pela população, representados pela
figura 04 foram: 1) Impactos ambientais (88,7%) provocados pela queima da lenha e do óleo
nas fábricas e também pelo pó resultante da calcinação da gipsita para formação do gesso; 2)
A água (50,9%) não é problema apenas para as empresas, a população ainda sofre pela falta
de água potável da região semiárida; 3) A população vê os transportes (41,5%) como
problema crítico e acreditam na solução tendo novas alternativas modais; 4) A população
acredita que novas fontes energéticas reduziriam o problema no fornecimento de energia
elétrica (41,5%); 5) Estes também acreditam que se os preços de vendas fossem adequados
aos custos (34%), os empresários do ramo gesseiro investiriam mais.
Figura04: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pela População (2013).
Já os especialistas consideram que o maior problema é a falta de alternativas modais (75%),
onde o modo rodoviário é o maior vilão do crescimento da região. Os impactos ambientais
(75%) provocados na região poderiam ser mitigados pela ferrovia trazendo novas fontes de
energia (por exemplo, gás) na viagem de retorno. Energia e água, ambos com 60% na
Impactos Ambientais
Água
Mão-de-obra
Preço versus Custos
Energia
Recursos
Meios de Comunicação
Transportes
Mercado
91,8
75,6
67,3
65,3
53
46,9
40,8
38,8
26,5
Problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos Empresários (%)
Impactos Ambientais
Água
Transportes
Energia
Preço versus Custos
Mão-de-obra
Recursos
Meios de Comunicação
Mercado
88,7
50,9
41,5
41,5
34
32,1
30,2
20,8
18,9
Problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pela População (%)
classificação de problemas graves, pelas causas já relatadas acima. E finalmente, os
especialistas apontam como problema os preços de acordo com os custos (50%) apesar de a
região ser a maior produtora do gesso nacional (ver figura 05).
Figura 05: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos especialistas (2013).
No somatório dos resultados apresentados pelos três segmentos (empresários, população e
especialistas) relacionados no plano amostral, os problemas mais críticos apontados foram: 1)
Impactos ambientais (87,7%) considerada opinião unânime entre os atores; 2) O item água
(62,3%); 3) Os itens Energia e Preços versus custos obtiveram semelhantes percentuais
(49,2%); 4) Qualificação da mão-de-obra (48,4%); 5) Transportes, objeto deste artigo,
surpreendentemente atingiu o percentual de (45,9%). Ressalte-se que apenas os especialistas
consideram o fator transporte preponderante para o crescimento do polo (figura 06).
Figura 06: Percentual dos problemas mais críticos do Pólo Gesseiro vistos pelos 3 atores do plano amostral (2013).
6.2 Soluções para o pólo gesseiro: alternativas dos segmentos entrevistados
As soluções apresentadas pelos entrevistados para mitigar os problemas do pólo foram
bastante semelhantes. Diante desse fato, as opiniões foram enquadradas de acordo com áreas
específicas de atuação:
Política - Estabelecer políticas de desenvolvimento para a consolidação do pólo e de apoio à
utilização do gesso como material de construção e específica para o desenvolvimento do setor
gesseiro. Construir um programa de desenvolvimento do polo com base na nova condição de
transporte, associada à resolução do problema de energia e de fornecimento de água para o
Transportes
Impactos Ambientais
Energia
Água
Preço versus Custos
Mão-de-obra
Mercado
Recursos
Meios de Comunicação
75
75
60
60
50
45
25
15
15
Problemas mais críticos do pólo gesseiro vistos pelos Especialistas
Impactos Ambientais
Água
Preço versus Custos
Energia
Mão-de-obra
Transportes
Recursos
Meios de Comunicação
Mercado
87,7
62,3
49,2
49,2
48,4
45,9
34,4
27,9
23
Problemas críticos do Pólo Gesseiro na visão dos 3 Atores (%)
processo industrial com redução dos problemas ambientais atualmente existentes pela falta
destes importantes insumos.
Educacional - a sugestão mais frequente foi a qualificação e capacitação da mão-de-obra
local, através do suprimento de nível técnico satisfatório (mecânica, elétrica, eletrônica,
química, computacional) visando formar profissionais para aplicação e desenvolvimento de
produtos do pólo em diversas áreas, além da construção civil. Outra sugestão é promover o
intercâmbio entre as universidades e escolas técnicas com a indústria, visando o
desenvolvimento de novos produtos de maior valor agregado. A população deseja além da
criação de novas instituições, investimentos nas já existentes nos cursos de capacitações
técnicas e profissionalizantes (ITEP, SENAI, SEBRAE, etc.). Foi sugerida também a
qualificação dos empresários para melhorar o nível de gestão dos diretores das empresas do
pólo, conscientizando-os para uma reorganização do setor com relação aos preços versus os
custos.
Matriz Energética: Há uma preocupação em relação à poluição ambiental. Visando reduzir
essa poluição, os empresários sugerem melhoramento de fonte energética, que seja
sustentável, a exemplo da energia solar ou eólica. A população deseja uma matriz energética
que não prejudique o meio ambiente, propõe o uso de gasoduto com utilização de gás GNC
ou GLP. Os especialistas acrescentam a biomassa como alternativa energética.
Infraestrutura de Transportes: A expectativa é grande em relação à implantação da
Ferrovia Transnordestina, pela capacidade de transporte e principalmente pela redução do
custo de frete. Com a nova ferrovia os empresários vislumbram a multimodalidade, com a
criação de possíveis rotas alternativas pelo modal hidroviário. Os especialistas reforçam que é
necessário o quanto antes, viabilizar a Ferrovia Transnordestina com vistas à redução nos
custos de produção. De acordo com a opinião da população é necessário ampliar e efetuar
manutenções na malha rodoviária existente.
Mercado: Os especialistas acham que é preciso pesquisar e conhecer melhor o mercado
externo visando incrementar as exportações. Para ampliar o mercado, os empresários sugerem
ações de incentivos pelo governo para desenvolvimento tecnológico da matéria-prima,
criando novas perspectivas. A população vê a necessidade de melhorar a união entre as
empresas para que ocorra a organização do setor como uma categoria única e forte, pois
deveria comandar o mercado, mas infelizmente quem manda no mercado são os compradores.
Ou seja, os empresários precisam ter uma conscientização cooperativista.
6.4 Crescimento dos Setores com a implantação da Ferrovia Transnordestina
No cenário futuro, considerando a Ferrovia Transnordestina já instalada, os atores
estabelecidos no plano amostral, acreditam que ocorrerá crescimento expressivo (onde
atribuíram as maiores notas) nos seguintes setores (figura 06): a) extração e transporte de
minério bruto (80,3%), ou seja, o setor de mineração terá um crescimento maior que os
demais pela possibilidade de a matéria-prima (gipsita) ser transportada pela ferrovia; b)
relocalização ou surgimento de outros pólos em outras regiões (62,3%), possivelmente pela
possibilidade da ferrovia transportar a matéria-prima para região de melhor serviços de
infraestruturas e mais próxima do mercado consumidor; c) apesar das duas opiniões acima, os
atores entrevistados apostam no crescimento da indústria de transformação local (53,3%) pois
a ferrovia poderá criar a possibilidade de trazer insumos e tecnologias para a região.
Figura 06: Crescimento dos setores com a implantação da Ferrovia Transnordestina na visão dos três atores pesquisados, 2013. (Elaboração do autor).
6.5 Impactos na Economia do Pólo Gesseiro com a Ferrovia Transnordestina
Em relação aos possíveis impactos socioeconômicos na economia local, tendo a nova ferrovia
já implantada, os atores consideram que a oferta e crescimento de emprego (68%) serão de
suma importância para o desenvolvimento da região; da mesma forma a qualidade de vida
urbana (61%) pela possibilidade de investimentos em infraestruturas urbanas, melhorias na
educação, na saúde, etc.; como consequência da melhoria da oferta de emprego, acreditam
que haverá um aumento na renda dos trabalhadores (58%); os investimentos propiciados
poderão provocar melhoria na qualidade ambiental (39%). (figura 07). Os percentuais
apresentados referem-se às maiores notas dadas pelos entrevistados em cada item.
Figura 07: Expectativas dos atores em relação aos possíveis impactos na economia do pólo gesseiro
com a Ferrovia Transnordestina (2013). (Elaboração do autor).
7. CONCLUSÕES
O presente artigo discorreu sobre a importância das infraestruturas de transportes e sua
participação no crescimento econômico de uma região com base em teorias de
desenvolvimento regional, originadas em estudos sobre economia espacial, geografia
econômica e geografia dos transportes.
O caso estudado demonstra que a ação do poder público juntamente com a iniciativa privada,
ao viabilizar a construção de uma ferrovia, que une três estados visando melhorar o
escoamento das suas produções, no sentido dos principais portos do Nordeste (Pecém e
Suape) abrindo novos mercados nacionais e internacionais, gera um conjunto de expectativas
positivas, que, no entanto são relativizadas, por um conjunto de outros problemas estruturais
existentes, os quais, segundo os atores locais apresentam-se tão ou mais relevantes.
80,3
53,3
62,3
Crescimento dos Setores com a implantação da Ferrovia
Transnordestina (Visão Geral)
Extração e Transporte de minério bruto
Indústria de transformação local
Relocalização ou Surgimento de outrospólos em outras regiões
Qualidade Ambiental (%)
Nível de Renda dos Trabalhadores (%)
Qualidade de Vida urbana (%)
Crescimento e oferta de Empregos (%)
39,3
58,2
60,7
68
Possíveis Impactos na Economia Local com a Ferrovia Transnordestina
(Expectativas dos 3 Atores)
Não restam dúvidas de que a região em estudo (Polo Gesseiro do Araripe) apresenta forte
necessidade de investimentos em transportes, mas a percepção local é que outras carências
nas estruturas econômicas, como nível de capacitação da mão de obra e infraestruturais, como
energia e água, são igualmente ou mais importantes, para superar os gargalos da produção. A
pesquisa procurou então, detectar as opiniões e expectativas dos atores envolvidos com a
cadeia produtiva do gesso e seus manufaturados. Nos resultados, apresentou de forma
descritiva o diagnóstico dos problemas existentes e as expectativas em relação ao crescimento
dos setores produtivos e impactos socioeconômicos na região.
No diagnóstico de problemas existentes, de acordo com a visão geral dos atores envolvidos, o
problema da infraestrutura em transporte situou-se na quinta colocação. Ficou evidente para
os entrevistados a necessidade de investimentos em recursos hídricos, devido a escassez e
salinidade da água encontrada na região, além de investimentos em fontes energéticas
renováveis, pelos problemas graves ambientais devidos à queima de lenha, ainda muito
grande na região.
Considerando a nova ferrovia implantada, os entrevistados acreditam que haverá mais
crescimento na extração mineral para exportação, em virtude da redução do custo de
transporte propiciada pela produtividade decorrente das economias de escala, característica do
transporte ferroviário.
Percebem também que se não ocorrerem investimentos complementares nas infraestruturas
regionais de fornecimento de água e de energia principalmente, poderá ocorrer um estímulo
indireto à relocalização para outras regiões melhor estruturadas, de novos polos na indústria
de transformação do gesso. Esse fato, na opinião dos entrevistados deverá inibir um
crescimento mais consistente nas indústrias de transformação locais, atenuando os impactos
positivos econômicos na região, a exemplo do crescimento na oferta de empregos, aumento
no nível de renda dos trabalhadores, além de melhorias na qualidade de vida urbana e
ambiental.
Apesar de os investimentos em infraestrutura de transportes serem fator determinante no
crescimento e desenvolvimento de uma região ou país, observamos nos resultados desta
pesquisa, que os atores em questão destacam a importância da presença da Ferrovia
Transnordestina para a região, porém para atingir o crescimento econômico na região, além
do investimento em transportes, faz-se necessário mitigar outros problemas nas demais
infraestruturas, que ainda são entraves para o crescimento do polo gesseiro.
Finalmente, consideramos como verdadeira a assertiva que diz: investimento em transportes é
condição necessária, mas não suficiente para acelerar o crescimento e desenvolvimento
econômico de uma região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARAT, Josef. (2007) Logística e transporte no processo de globalização: oportunidades para o Brasil. São
Paulo: Editora UNESP: Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais - IEEI, 255 p.
BRASIL, Ministério dos Transportes - MT, (2014) 10º Balanço do PAC 2 – eixo transportes.
LIMA, ANA C. C. e SIMÕES, RODRIGO F. (2010) Teorias Clássicas do desenvolvimento regional e suas
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