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0 UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pedagogia Cassiane Gama Rosa A RELEVÂNCIA DOS TEXTOS PARA CRIANÇA NO TRABALHO COM RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL LINS – SP 2017

A RELEVÂNCIA DOS TEXTOS PARA CRIANÇA NO … · metodologia na 2ª. etapa da Educação Infantil; e desenvolver uma sequência didática que estabeleça relação entre textos para

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pedagogia

Cassiane Gama Rosa

A RELEVÂNCIA DOS TEXTOS PARA CRIANÇA NO TRABALHO COM RESOLUÇÃO

DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

LINS – SP

2017

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CASSIANE GAMA ROSA

A RELEVÂNCIA DOS TEXTOS PARA CRIANÇA NO TRABALHO COM RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação da professora Ma. Monalisa Gazoli e orientação técnica da professora Ma. Fátima Eliana Frigatto Bozzo.

LINS – SP

2017

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Rosa, Cassiane Gama

A relevância dos textos para criança no trabalho com resolução de problemas matemáticos na Educação Infantil / Cassiane Gama Rosa. – – Lins, 2017.

75p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2017.

Orientadores: Monalisa Gazoli; Fátima Eliana Frigatto Bozzo

1. Educação Infantil. 2.Conhecimento lógico-matemático. 3. Resolução de problemas matemáticos. 4.Textos para criança. I Título.

CDU 37

R694r

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Cassiane Gama Rosa

A RELEVÂNCIA DOS TEXTOS PARA CRIANÇA NO TRABALHO COM

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium para obtenção do título de graduação

do curso de Pedagogia.

Aprovado em ________/________/________

Banca Examinadora:

Profª. Orientadora: Monalisa Gazoli

Titulação: Mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - Marília - SP

Assinatura: _________________________________

1ª. Profª.: Denise Rocha Pereira

Titulação: Mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - Marília - SP

Assinatura: _________________________________

2ª. Profª.: Adriana Monteiro Piromali Guarizo

Titulação: Doutora em Letras pelo Instituto de Biociências, Letras e Ciências

Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" -

UNESP - São José do Rio Preto - SP

Assinatura: _________________________________

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Aos meus pais, com amor e gratidão

por tudo que fizeram por mim.

Cassiane

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AGRADECIMENTOS

Àqueles que contribuíram direta ou indiretamente no desenvolvimento

deste trabalho de conclusão de curso:

a Deus, pelo dom da vida e por ter me sustentado nos momentos

difíceis;

a minha família, pelo apoio, especialmente meus pais que me ensinaram

a superar adversidades;

à professora Monalisa Gazoli, pelas orientações, dedicação, paciência,

palavras de incentivo e, principalmente, pelo companheirismo nesta etapa de

minha formação acadêmica;

à professora Adriana Guarizo, pela indicação bibliográfica da qual adveio

o interesse em pesquisar as contribuições da articulação entre duas áreas de

conhecimento fundamentais;

à professora Denise Rocha, por acreditar em minha competência

profissional quando eu mesma duvidei, pelas considerações e recomendações

bibliográficas que contribuíram significativamente para melhoria deste trabalho;

à professora Fátima Bozzo, pela paciência e orientações técnicas;

à Luiza Santos, pela amizade e contribuições no processo de elaboração

do projeto desta pesquisa;

à querida Paula Rúbia, pelo companheirismo, paciência e,

principalmente, pelos diálogos que propiciaram reflexões que decorreram no

meu crescimento tanto pessoal quanto profissional; e

às funcionárias da Secretaria Municipal de Educação e à equipe da

unidade escolar na qual realizei a pesquisa de campo pela receptividade.

A todos meus sinceros agradecimentos.

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“Hoje desaprendo o que tinha aprendido

até ontem e que amanhã recomeçarei a

aprender.”

(Cecília Meireles)

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RESUMO

Neste trabalho de conclusão de curso de Pedagogia são apresentados resultados de pesquisa realizada em nível de iniciação científica sobre a temática: a relevância dos textos para criança no trabalho com resolução de problemas matemáticos. Considera-se a articulação entre textos para criança e resolução de problemas matemáticos um recurso para realização de trabalho contextualizado e significativo que promova o desenvolvimento cognitivo das crianças, no geral, e na Educação Infantil, em particular. Foi estabelecido como objetivo geral de pesquisa compreender a relevância dos textos para criança no processo de construção do raciocínio lógico-matemático, especificamente na resolução de problemas matemáticos. Os objetivos específicos foram: descrever o processo de construção do raciocínio lógico-matemático e de aprendizagens matemáticas; compreender como os textos para criança podem contribuir para o trabalho com resolução de problemas matemáticos; verificar como, e se, a resolução de problemas matemáticos é utilizada como metodologia na 2ª. etapa da Educação Infantil; e desenvolver uma sequência didática que estabeleça relação entre textos para criança e resolução de problemas matemáticos por meio da análise das habilidades a ela associadas. As metodologias utilizadas para obtenção dos resultados foram: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com abordagem qualitativa e procedimento pesquisa-participante. Como técnica de coleta de dados utilizou-se: aplicação de questionário; observação sistemática de aulas na Educação Infantil; e desenvolvimento de sequência didática. A partir da pesquisa realizada, concluiu-se que a articulação entre textos para crianças e resolução de problemas matemáticos representa mudança significativa no ensino tradicional de Matemática e proporciona o desenvolvimento de aspectos cognitivos, do potencial crítico-reflexivo e da autonomia dos aprendizes, possibilitando-lhes agir como sujeitos de seu próprio processo de aprendizagem e verdadeiros produtores de conhecimentos, como postulado pelas teorias cognitivistas de aprendizagem, em especial a desenvolvida pelo epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980). Palavras-chave: Educação Infantil. Conhecimento lógico-matemático. Resolução de problemas matemáticos. Textos para criança.

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ABSTRACT

In this work of conclusion of Pedagogy course are presented the results of a research realized in a level of scientific initiation on the theme: the relevance of texts for children in collaboration with mathematical problem solving. It is considered that the articulation between texts for children and mathematical problem solving is a resource for the realization of significant and contextualized work that promotes the cognitive development of children in general and in child education in particular. It was established as the researcher's general goal to understand the relevance of these texts for children in the process of logical-mathematical reasoning development, specifically in the mathematical problem solving. The specific goals were: to describe the formation process of logical-mathematical reasoning and of mathematical learning; to comprehend how texts for children can contribute to the work with mathematical problem solving; verify if, and how, the mathematical problem solving is utilized as a methodology in the second stage of child education; and develop a didactic sequence that establishes a relation between texts for children and mathematical problem solving by means of analysis of the associated abilities. The methodologies utilized to gather results were: bibliographic research and field research with qualitative approach and participant research procedure. The following methods were utilized to gather data: questionnaire application; systematic observation of child education classes; and development of didactic sequence. From the research realized, it was concluded that the articulation between texts for children and mathematical problem solving represents a significant change in the traditional math teaching and provides the development of cognitive aspects, of critical reflexive potential and of the learners autonomy, allowing them to act as subjects of their own learning process and real knowledge producers, as postulated by the cognitive learning theories, especially the one developed by the swiss epistemologist Jean Piaget (1896-1980).

Keywords: Child education. Logical-mathematical knowledge. Mathematical problem solving. Texts for children.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Capa do livro Sabe de quem era aquele rabinho?, Elza Sallut ......... 55

Figura 2: Desenho da aluna M.V. referente à comparação entre o peso dos

animais ............................................................................................................. 57

Figura 3: Desenho da aluna A. L. referente à comparação entre o peso dos

animais ............................................................................................................. 57

Figura 4: Desenho do aluno G. referente ao animal mais alto, o de estatura

mediana e o mais baixo ................................................................................... 59

Figura 5: Desenho da aluna N. referente ao animal mais alto, o de estatura

mediana e o mais baixo ................................................................................... 59

Figura 6: Foto ilustrativa da organização das figuras dos animais utilizadas na

sexta atividade ................................................................................................. 61

Figura 7: Imagem ilustrativa do gráfico elaborado na sexta atividade ............ 62

Figura 8: Imagem ilustrativa da tabela elaborada na sétima atividade ........... 64

Figura 9: Desenho da aluna R. para final alternativo à história Sabe de quem

era aquele rabinho? ......................................................................................... 65

Figura 10: Desenho da aluna A. C. para final alternativo à história Sabe de

quem era aquele rabinho? ............................................................................... 66

Figura 11: Desenho do aluno E. para final alternativo à história Sabe de quem

era aquele rabinho? ......................................................................................... 66

Figura 12: Desenho da aluna M. C. para final alternativo à história Sabe de

quem era aquele rabinho? .............................................................................. 67

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Conceituação de processos cognitivos, segundo Lorenzato ........ 23

Quadro 2: Resposta à questão referente à relevância do ensino de

Matemática....................................................................................................... 41

Quadro 3: Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemáticos .................................................. 42

Quadro 4: Resposta à questão referente à fundamentação teórica do trabalho

com Matemática ............................................................................................. 43

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Quadro 5: Resposta à questão referente aos conhecimentos necessários ao

educador para desenvolvimento de trabalho efetivo com Matemática .......... 44

Quadro 6: Resposta à questão referente à relevância da resolução de

problemas como metodologia do ensino de Matemática ............................... 45

Quadro 7: Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemático nas turmas A, B e C .................. 46

Quadro 8: Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemático na turma D ................................. 49

Quadro 9: Sequência didática (saberes trabalhados e objetivos) ................... 53

Quadro 10: Cronograma de desenvolvimento da sequência didática .............. 55

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

CAPÍTULO I – APONTAMENTOS SOBRE O PROCESSO DE

APRENDIZAGENS MATEMÁTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................. 15

1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO

INFANTIL .............................................................................................. 16

1.1 Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem na perspectiva piagetiana .... 17

2 PENSAMENTO MATEMÁTICO E EDUCAÇÃO................................... 20

CAPÍTULO II – RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E TEXTOS PARA

CRIANÇA ........................................................................................................ 27

1 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMO METODOLOGIA PARA O

ENSINO DE SABERES MATEMÁTICOS ............................................. 28

1.1 Textos para criança e resolução de problemas matemáticos .............. 33

CAPÍTULO III – ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

REFLEXÕES A PARTIR DE ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS E

OBSERVAÇÕES DE AULAS .......................................................................... 39

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ................... 40

1.1 Caracterização da escola ...................................................................... 40

1.2 Análise do questionário ......................................................................... 41

1.3 Análise da observação sistemática ....................................................... 46

CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES SOBRE SEQUÊNCIA DIDÁTICA

DESENVOLVIDA ............................................................................................. 51

1 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA ............................ 52

1.1 Análise da primeira e segunda atividades ............................................. 56

1.2 Análise da terceira e quarta atividades ................................................. 58

1.3 Análise da quinta e sexta atividades ..................................................... 60

1.4 Análise da sétima e oitava atividades ................................................... 63

1.5 Análise da nona e décima atividades .................................................... 65

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CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 69 REFERÊNCIAS................................................................................................. 71 APÊNDICE........................................................................................................ 74

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INTRODUÇÃO

Neste texto apresentam-se resultados de pesquisa de iniciação científica

desenvolvida entre março e novembro de 2017, cujo interesse decorreu de

questionamentos realizados no decurso da formação acadêmica em Pedagogia

desta pesquisadora referentes ao tema “resolução de problemas matemáticos”.

A expressão “resolução de problemas”, embora seja frequentemente

utilizada no discurso pedagógico restrita à área da Matemática, abrange

aspectos mais amplos do cotidiano dos sujeitos. Assim, para que o trabalho

com resolução de problemas seja efetivo, faz-se necessário conceituar e

ampliar a compreensão do termo “problema”.

Smole, Diniz e Cândido (2000), definem “problema” como toda situação

que permite algum questionamento ou investigação. Portanto, as situações-

problema estão relacionadas a circunstâncias enigmáticas, adversas ou que

revelam um impasse em que façam o aluno pensar, de alguma forma, sobre o

que lhe é apresentado, impelindo-o a buscar novas informações e

conhecimentos, haja vista que a criança, desde a mais tenra idade, nutre uma

curiosidade, uma capacidade de se maravilhar com o mundo e está imersa em

uma experiência de questionar que lhe permite refletir sobre as situações

vivenciadas (LIPMAN, 1995). Assim, para Smole:

[...] a resolução de problemas se caracteriza por uma postura de inconformismo frente aos obstáculos e ao que foi estabelecido por outros, sendo um exercício contínuo de desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, que são características primordiais daqueles que fazem ciência e que são objetivos importantes do ensino de Matemática. [...] (2008, p.2)

Apesar da ressalva apresentada, é fundamental considerar o fato de

muitas crianças, à medida que vão crescendo, passarem a sentir dificuldades

em Matemática, principalmente nas atividades de resolução de problemas e

que isso pode estar relacionado às metodologias pedagógicas inadequadas

utilizadas pelos professores.

Assim, questionou-se no decorrer da pesquisa como transformar o

trabalho com resolução de problemas objetivando que o ensino de Matemática

a partir do uso dessa metodologia possibilitasse processo significativo de

aprendizagem. Nesse sentido, considerou-se a articulação entre textos para

criança e resolução de problemas matemáticos um recurso para a realização

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de trabalho contextualizado e significativo que propicie o desenvolvimento

cognitivo e o raciocínio lógico-matemático dos aprendizes.

À vista disso, formulou-se o seguinte problema de pesquisa: como os

textos para criança auxiliam na construção do raciocínio lógico-matemático,

especificamente na resolução de problemas matemáticos na Educação Infantil?

Por meio das reflexões propiciadas pela leitura da bibliografia básica foi

possível estabelecer a seguinte hipótese de pesquisa: os textos para crianças

auxiliam na resolução de problemas matemáticos por possibilitarem o

desenvolvimento das habilidades de argumentar, questionar, debater, ouvir

outras opiniões, elaborar e reformular hipóteses, que são imprescindíveis no

processo de aprendizagens matemáticas.

Portanto, definiu-se como objetivo geral de pesquisa compreender a

relevância dos textos para criança no processo de construção do raciocínio

lógico-matemático, especificamente na resolução de problemas matemáticos.

A partir do objetivo geral estabeleceu-se como objetivos específicos:

descrever o processo de construção do raciocínio lógico-matemático e da

aprendizagem matemática; compreender como os textos para criança podem

contribuir no trabalho com resolução de problemas matemáticos; verificar

como, e se, a resolução de problemas é utilizada como metodologia na 2ª.

etapa da Educação Infantil; e desenvolver uma sequência didática que

estabeleça relações entre textos para criança e resolução de problemas

matemáticos por meio da análise das habilidades a ela associadas.

Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram: pesquisa

bibliográfica e pesquisa de campo com abordagem qualitativa e procedimento

pesquisa-participante realizada em uma escola municipal de Educação Infantil

na cidade de Lins, interior do estado de São Paulo, com quatro professoras e

24 alunos no período de abril a outubro de 2017.

As técnicas utilizadas para coleta de dados foram: revisão bibliográfica

em livros e periódicos científicos pertinentes ao tema; aplicação de um

questionário às professoras participantes; observação sistemática na turma das

professoras entrevistadas; e desenvolvimento de uma sequência didática

elaborada por esta pesquisadora.

A seguir, apresenta-se a estruturação da pesquisa descrita neste

trabalho de conclusão de curso.

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No capítulo I, intitulado “Apontamentos sobre o processo de

aprendizagens matemáticas na Educação Infantil”, descreve-se o processo de

aprendizagens matemáticas, a relevância do ensino de Matemática na

Educação Infantil e o processo de desenvolvimento cognitivo infantil e do

conhecimento lógico-matemático, a partir da perspectiva do epistemólogo suíço

Jean Piaget.

No capítulo II, intitulado “Resolução de problemas e textos para criança”,

apresenta-se as contribuições do ensino de Matemática a partir da metodologia

da resolução e problemas e a relevância dos textos para criança no

desenvolvimento de trabalho significativo a partir dessa metodologia de ensino.

No capítulo III, intitulado “Ensino de Matemática na Educação Infantil:

reflexões a partir de análise dos questionários e observações de aulas”, são

apresentados os resultados da pesquisa de campo obtidos por meio da

aplicação do questionário às professoras participantes e da observação

sistemática realizada nas segundas etapas da Educação Infantil.

No capítulo IV, intitulado “Considerações sobre sequência didática

desenvolvida”, apresenta-se o desenvolvimento, os resultados e as discussões

referentes à sequência didática.

É importante destacar que, neste texto, utiliza-se a expressão “textos

para criança” em detrimento de “literatura infantil” em decorrência da crítica à

didatização da literatura infantil no contexto escolar que lhe causa grandes

prejuízos, tais como não ser aceita como arte, devido a finalidade pragmática

que lhe é atribuída (ZILBERMAN, 1985). No entanto, as citações serão

transcritas na íntegra, sendo assim, as expressões utilizadas pelos autores

serão mantidas.

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CAPÍTULO I

APONTAMENTOS SOBRE O PROCESSO DE

APRENDIZAGENS MATEMÁTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

“Ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua

produção ou construção.”

(Paulo Freire)

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1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, reconhece no artigo 29 a Educação Infantil como a primeira

etapa da Educação Básica que tem como finalidade o desenvolvimento integral

da criança de zero a cinco anos em seus aspectos físico, psicológico,

intelectual e social. Entretanto, para que essa modalidade de ensino, oferecida

em creches e pré-escolas, cumpra efetivamente seu papel, faz-se necessário

que o trabalho desenvolvido nesses espaços institucionais seja sistematizado e

suas propostas pedagógicas organizadas.

Nesse sentido, a Resolução nº. 5, de 17 de dezembro de 2009, que fixa

as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, no artigo 3º.,

determina que o currículo dessa modalidade de ensino se constitui em um

conjunto de práticas que buscam articular os saberes já construídos pelas

crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural e

social.

No que se refere ao planejamento curricular, este deve ser flexível e

considerar a criança em seus diferentes aspectos: físico, social, afetivo-

emocional e cognitivo. Tal proposição é preconizada também por diversos

pesquisadores que buscam compreender e nortear o trabalho docente, dentre

os quais Oliveira que defende que “[...] O novo contexto educacional para a

educação infantil requer estruturas curriculares abertas e flexíveis.” (OLIVEIRA,

2011, p.184).

Para Nascimento (2007), o currículo se efetiva nas ações cotidianas

realizadas dentro das instituições de Educação Infantil e está imbuído de

crenças e perspectivas. Assim, é importante destacar a necessidade do

currículo e das propostas pedagógicas para essa modalidade de ensino

conceberem a criança, centro do planejamento curricular, como sujeito

histórico, de direitos, produtor de cultura que se constrói a partir das interações

com o outro, da prática e das experiências que vivencia, como previsto no

artigo 4º. da Resolução no. 05/2009 e em tantos outros documentos oficiais.

Tal concepção de criança incide diretamente nos saberes a serem

apropriados pelas crianças e nas práticas pedagógicas a serem implementadas

pelos professores, visando o desenvolvimento integral daquelas. Assim, as

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orientações decorrentes desse conceito de criança embasam orientações

relativas à todas as áreas do conhecimento humano, dentre as quais insere-se

também os saberes relativos ao conhecimento matemático, foco deste

trabalho.

Partindo desse pressuposto, o trabalho com Matemática na Educação

Infantil se justifica por possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico,

reflexivo e autônomo que implica no preparo das crianças para o pleno

exercício da cidadania que é, como estabelecido no artigo 205 da Constituição

Federal, de 05 de outubro de 1988, um dos principais objetivos da Educação,

isso porque:

Fazer matemática é expor idéias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como produtoras de conhecimento e não apenas executoras de instruções. Portanto, o trabalho com a Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas. (BRASIL, 1998, p. 207)

Assim, vale enfatizar que a Matemática na Educação Infantil é de suma

importância porque atente às necessidades dos educandos de participar e

compreender o universo que o cerca, universo este que exige diferentes

conhecimentos e habilidades; e de “[...] construírem conhecimentos que

incidam nos mais variados domínios do pensamento [...]” (BRASIL, 1998, p.

207).

Contudo, para que o trabalho com Matemática desenvolvido tanto na

Educação Infantil quanto em qualquer modalidade de ensino seja efetivo, é

fundamental conhecer o aprendiz em termos de desenvolvimento e de

aprendizagem, uma vez que, como estabelecido no inciso V do artigo 8º. da

Resolução 05/2009, as singularidades e especificidades etárias das crianças

devem ser reconhecidas e respeitadas.

1.1 Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem na perspectiva piagetiana

Os termos “inteligência”, “aprendizagem” e “conhecimento” têm sido, ao

longo dos anos, objeto de estudo de pesquisadores de diversas áreas, dentre

as quais: Filosofia, Psicologia, Saúde e Educação.

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O interesse por parte desses pesquisadores em conhecer a origem da

inteligência e compreender o processo de desenvolvimento cognitivo humano

culminou na criação de diversas teorias, dentre as quais se destaca, neste

momento histórico, a teoria construtivista que tem como ícone o biólogo e

epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980).

Na concepção de Piaget (1978), o desenvolvimento cognitivo não é um

processo linear que se efetua por meio do acúmulo de informações, mas sim

um processo temporal caracterizado por uma sequência lógica de rupturas que

implicam na modificação do aspecto qualitativo da inteligência.

Assim, para que o desenvolvimento cognitivo ocorra, faz-se necessário

que o indivíduo tenha construído subestruturas preliminares que permitam-no

avançar. Segundo Piaget (1978), essas estruturas se constroem

ordenadamente e se dividem em quatro grandes estágios de desenvolvimento:

“sensório-motor”, “pré-operatório”, “operatório concreto” e “operatório formal”.

Esses estágios podem ser definidos como se segue:

Sensório-motor: tem início no nascimento e se estende até

aproximadamente os dois anos de idade. Neste período a criança conhece o

mundo e constrói, a partir da ação direta sobre os objetos, todas as

subestruturas ulteriores: noção do espaço, do objeto, do tempo, da

causalidade, que permitem-na progredir mais (PIAGET, 1978).

Pré-operatório: se estende aproximadamente dos dois aos sete anos de

idade. Caracteriza-se pela passagem do plano da ação para o plano da

representação por meio da aquisição da linguagem. A imitação diferida, o jogo

simbólico, a imagem mental, o desenho e a evocação verbal constituem um

conjunto de simbolizantes que tornam possível o pensamento, compreendido

como “[...] um sistema de ações interiorizadas [...]” (PIAGET, 1978, p. 219).

Operatório concreto: tem início aproximadamente aos sete anos e se

estende até os 12 anos de idade. Neste estágio a criança “[...] se torna capaz

de uma certa lógica; ela se torna capaz de coordenar operações no sentido da

reversibilidade, no sentido do sistema de conjunto [...]” (PIAGET, 1978, p.220).

Há a passagem do plano da ação para o da operação.

Operatório formal: tem início aproximadamente aos 12 anos de idade e

perdura por toda vida. É o estágio das estruturas mentais superiores definidas

pelo raciocínio hipotético-dedutivo (PIAGET, 1978).

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Conhecer o desenvolvimento cognitivo do aprendiz é crucial para a

compreensão da construção de conhecimento e da aprendizagem que, na

perspectiva do autor supracitado, se dá a partir de processos que vão sendo

elaborados, organizados e reorganizados constantemente, uma vez que:

Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo): o conhecimento resulta das ações e interações do sujeito no ambiente em que vive. Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, por meio de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou do mundo cultural. O conhecimento resulta de uma inter-relação do sujeito que conhece com objeto a ser conhecido. (MOREIRA, 1999, p.75)

Na perspectiva de Piaget (apud WADSWORTH, 1997), o processo de

construção de conhecimentos decorre do domínio de quatro conceitos

cognitivos básicos: “esquema”, “assimilação”, “acomodação” e “equilibração”.

Os “esquemas” são estruturas cognitivas que organizam os conhecimentos

construídos pelo indivíduo. Essas estruturas se adaptam e se transformam,

tornando-se mais complexas à medida que a criança se desenvolve em um

processo contínuo de construção e reconstrução de conceitos. Em suma, “Os

esquemas refletem o nível atual, da criança, de compreensão e conhecimento

do mundo.” (WADSWORTH, 1997, p.21).

A “assimilação” é o processo contínuo de apreender novos saberes, de

ordem motora ou intelectual, e integrá-los a esquemas pré-existentes. É

importante ressaltar que a “assimilação” não é o processo responsável pela

modificação dos esquemas, mas sim pela ampliação dessas estruturas. À vista

disso, é possível afirmar que a “assimilação” é responsável pelo

desenvolvimento quantitativo do aspecto cognitivo (WADSWORTH, 1997).

Entretanto, há momentos em que o processo de “assimilação” não se

efetiva em decorrência da ausência de estruturas às quais os novos saberes

deverão ser incorporados. Frente a essa situação a criança cria um novo

“esquema” ou modifica os já existentes de modo que o novo estímulo seja nele

incluído. Esse processo de construção de novos “esquemas” ou modificação

das estruturas já existentes denomina-se, segundo Piaget, “acomodação”

(WADSWORTH, 1997).

Assim, para que o conhecimento seja construído efetivamente faz-se

necessário o equilíbrio entre os processos de “assimilação” e “acomodação”

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dos novos saberes e informações, advindas do contato entre o sujeito e o

objeto e entre o sujeito e o meio. Esse processo responsável pela incorporação

das experiências externas às estruturas internas, ou a passagem do

desequilíbrio (considerado estado de conflito cognitivo) ao equilíbrio, denomina-

se “equilibração” (WADSWORTH, 1997).

A partir das considerações feitas, pode-se afirmar que o processo de

construção de conhecimentos é contínuo e se efetiva por meio da elaboração,

organização e reorganização de conceitos que se desenvolvem à medida que o

sujeito atua sobre os objetos, estabelecendo e coordenando relações entre

eles, e sobre o meio em que está inserido.

Compreender tais processos de apropriação de saberes pelos sujeitos é

indispensável quando se objetiva conhecer os processos de pensamento na

criança.

2 PENSAMENTO MATEMÁTICO E EDUCAÇÃO

Como se sabe, desde a mais tenra idade as crianças estão imersas em

um universo no qual os conhecimentos matemáticos são integrantes e, mesmo

que não seja de forma convencional, utilizam-se desses conhecimentos para

resolver problemas cotidianos (BRASIL, 1998).

Destarte, tais noções matemáticas elaboradas pelas crianças antes de

iniciarem sua escolaridade são cruciais para o desenvolvimento do

conhecimento lógico-matemático delas e devem ser consideradas pelos

educadores, uma vez que, a partir desses saberes previamente elaborados a

criança “[...] estabelece relações cada vez mais complexas que lhe permitirão

desenvolver noções matemáticas mais e mais sofisticadas.” (SMOLE, 2000,

p.63).

Assim, partindo do pressuposto de que as crianças ingressam na escola

com algumas habilidades e conhecimentos oriundos de suas experiências

cotidianas, o trabalho com Matemática na Educação Infantil deve considerar os

conhecimentos prévios dos educandos, estabelecendo relações entre os

saberes já construídos pelas crianças e os conceitos fundamentais e

específicos dessa linguagem; e instigar a exploração de diversas ideias

matemáticas, a fim de que os educandos conservem o prazer e a curiosidade

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acerca dessa área do conhecimento que é imprescindível em todos os

contextos sociais (SMOLE, 2000).

Além desses aspectos, é indispensável considerar o estágio do

desenvolvimento em que a criança se encontra, isso porque:

Uma aprendizagem compreensiva requer que o professor conheça o processo de pensamento do aprendiz, apresente problemas que lhe pareçam interessantes e para os quais ele possa oferecer resposta. Isto significa, em outras palavras, que o professor precisa sondar o nível de desenvolvimento da criança antes de planejar o ensino. (GOULART, 1996, p. 35).

Tal sondagem é necessária para que o educador compreenda o estágio

no qual a criança se encontra, afim de organizar situações desafiadoras que

promovam a desequilibração que, na perspectiva de Piaget (1978), é

necessária para que ocorra avanços conceituais.

Para que a aprendizagem matemática seja significativa e contribua para

o desenvolvimento do conhecimento lógico-matemático faz-se necessário que

os educadores reflitam sobre suas concepções quanto ao que é ensinar e ao

que é aprender. É corrente no meio educacional a ideia de que o conhecimento

matemático se dá fundamentalmente por explicações claras e precisas que o

educador fizer e pela transmissão de rudimentos das noções matemáticas,

como reconhecimento de algarismo, nome dos números e o domínio da

sequência numérica. Na perspectiva de Smole (2000, p. 62), “[...] esse

pressuposto de trabalho não é o mais adequado [...]”, isso porque, como afirma

Kamii (2012, p.26):

As pessoas que acreditam que os conceitos numéricos devem ser ensinados através da transmissão falham por não fazerem a distinção fundamental entre o conhecimento social e o lógico-matemático. No conhecimento lógico-matemático, a base fundamental do conhecimento é a própria crianças, e absolutamente nada arbitrário neste domínio.

Desta maneira, faz-se necessário definir a expressão “conhecimento

lógico-matemático”, estabelecendo distinções entre este e os demais tipos de

conhecimento propostos por Piaget.

Kamii (2012), citando este epistemólogo, afirma que o conhecimento

pode ser classificado em: “conhecimento físico”, “conhecimento social” e

“conhecimento lógico-matemático”. Estes diferenciam-se em decorrência do

processo de estruturação e de suas fontes básicas que podem ser externas (no

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caso do conhecimento físico e do conhecimento social) ou internas (no caso do

conhecimento lógico-matemático) ao sujeito.

O “conhecimento físico” se refere ao conhecimento das características

físicas observáveis dos objetos da realidade externa (como cor, peso, tamanho

etc.) e se desenvolve por meio da experiência, da ação sobre o objeto (KAMII,

2012).

O “conhecimento social” está relacionado às convenções construídas

pelas pessoas. Sua característica principal é “[...] a de que possui uma

natureza amplamente arbitrária.” (KAMII, 2012, p. 26). Para que a criança

construa esse conhecimento é imprescindível a interferência de outrem, em

suma, da interação entre os sujeitos.

O “conhecimento lógico-matemático” consiste na coordenação de

relações que o sujeito estabelece entre os objetos ao agir sobre eles. Segundo

Kamii (2012, p. 58) “[...] a fonte de retroalimentação desse conhecimento é a

coerência interna do sistema lógico construído pela criança.”

Contudo, é importante salientar que, apesar de possuírem

características próprias, os três tipos de conhecimento são indissociáveis, haja

vista que a criança não pode construir o conhecimento físico e o social se ela

não possuir um sistema de referência lógico-matemático que lhe permita

assimilar e organizar o novo conhecimento, estabelecendo relações com os já

existentes (KAMII, 2012).

Partindo desse pressuposto, pode-se inferir que o conhecimento

matemático, que é um dos aspectos do conhecimento lógico-matemático, não

se efetiva mediante transmissão de conceitos por parte do educador. Esses

saberes são elaborados pelos educandos à medida que coordenam as

relações simples estabelecidas anteriormente entre os objetos, a partir da

interação com o meio e com outras pessoas (BRASIL, 1998).

Assim, é importante que o educador promova momentos em que os

educandos se expressem, socializem seus conhecimentos e ampliem-os por

meio da troca de experiências e do diálogo, isso porque:

As noções matemáticas (contagem, relações quantitativas e espaciais etc.) são construídas pelas crianças a partir das experiências proporcionadas pelas interações com o meio, pelo intercâmbio com outras pessoas que possuem interesses, conhecimentos e necessidades que podem ser compartilhados. (BRASIL, 1998, p.213)

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Diante disso, o diálogo torna-se essencial ao desenvolvimento do

trabalho com Matemática em todas as modalidades de ensino, inclusive na

Educação Infantil, visto que possibilita ao educando exprimir suas ideias,

dificuldades, angústias e trocar experiências, contribuindo para o

desenvolvimento cognitivo e do pensamento crítico, reflexivo e autônomo.

Na concepção de Kamii (2012), para que o conhecimento lógico-

matemático seja desenvolvido efetivamente, a troca de ideias entre as crianças

é primordial, pois quando o sujeito é confrontado com o pensamento de outro

ele é motivado a pensar criticamente sobre sua ideia, retificando-a ou

encontrando caminhos para defendê-la, levando-o a um nível mais alto de

raciocínio.

Na perspectiva de Lorenzato (2008), para que o trabalho com

Matemática incida no desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, faz-se

necessário que o educador conheça e considere os sete processos cognitivos

básicos para a aprendizagem da Matemática, a saber: correspondência,

comparação, classificação, sequenciação, seriação, inclusão e conservação.

Segundo o autor supracitado, caso o educador não realize o trabalho

calcado no desenvolvimento desses sete processos cognitivos básicos as

crianças sentirão grande dificuldade em aprender as noções matemáticas

como: número, contagem, entre outros. Vale lembrar que: “Sem o domínio

desses processos, as crianças poderão até dar respostas corretas, segundo a

expectativa e a lógica do adulto, mas, certamente, sem significado ou

compreensão para elas [...]” (LORENZATO, 2008, p.25).

A partir das considerações de Lorenzato (2008), foi possível elaborar o

Quadro 1, no qual são apresentados cada um destes processos cognitivos

relacionando-os com seu conceito e citando exemplos de situações em que

são utilizados.

Quadro 1 – Conceituação de processos cognitivos, segundo Lorenzato (cont.)

Processo cognitivo Conceito Exemplos

Correspondência Ato de estabelecer relação “um a um”.

Um prato para cada pessoa; cada pé com seu sapato; a cada quantidade, um número cardinal; a cada número, um numeral; a cada posição, um número ordinal.

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Processo cognitivo Conceito Exemplos

Comparação Ato de estabelecer diferenças ou semelhanças.

“Esta bola é maior que aquela”; “Resido mais longe que ela”; “Somos do mesmo tamanho?”; “Mais tarde, virão”;

Classificação Ato de separar em categorias de acordo com semelhanças ou diferenças.

Arrumação de mochila ou gaveta; dadas várias peças triangulares e quadriláteras, separá-las conforme o total de lado que possuem.

Sequenciação

Ato de fazer suceder a cada elemento um outro sem considerar a ordem entre eles.

Chegada dos alunos à escola; escolha ou apresentação dos números no jogo de bingo.

Seriação Ato de ordenar uma sequência segundo um critério.

Fila de alunos do mais baixo ao mais alto; lista de chamada de alunos.

Inclusão Ato de fazer abranger um conjunto por outro.

Incluir as ideias de laranjas e bananas em frutas; meninos e meninas em crianças;

Conservação Ato de perceber que a quantidade não depende da arrumação, forma ou posição.

Um copo largo e um estreito, ambos com a mesma quantidade de líquido; uma roda grande e outra pequena, ambas formadas com a mesma quantidade de crianças.

Fonte: Lorenzato, 2008, p. 25-27

É importante frisar que o trabalho com atividades que envolvem o

conhecimento lógico-matemático e os processos cognitivos deve considerar a

faixa etária em que a criança se encontra e seu estágio de desenvolvimento

cognitivo.

Na Educação Infantil, por exemplo, a criança encontra-se, a partir da

perspectiva de Piaget, no estágio pré-operatório no qual o sujeito apresenta as

seguintes características:

• [...] gosta de perguntar “os porquês” das coisas, embora frequentemente faça afirmações sem justificativa, pois seu raciocínio apóia-se em seus próprios desejos, sensações, temores, aparências e não em fatos;

• na representação gráfica, a criança dá preferência ao que conhece e não ao que vê [...];

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• no domínio espacial, de início, o centro continua sendo o próprio corpo, mas em seguida a criança consegue avançar, tomando como referência um objeto. Assim, o atrás, o em frente, o em cima, o depois, o antes já podem ser utilizados comparando a posição de um objeto com a de outro, mas ainda sem sair do concreto. Seus desenhos ou representações gráficas já manifestam as relações espaciais de fechamento, continente, conteúdo e vizinhança;

• muitas crianças, apesar de trabalhar corretamente com dois atributos separadamente, apresentam dificuldade em considerar dois atributos simultaneamente, [...] de modo semelhante, a dificuldade também se apresenta quando lidam com conceitos relativos [...];

• a percepção visual é mais forte que a correspondência um a um [...];

• os conceitos que envolvem tempo se apresentam como os mais difíceis à criança [...];

• por meio da manipulação de materiais concretos, a criança já consegue acionar e iniciar a contagem com significado. (LORENZATO, 2008, p. 5-6).

Diante disso, torna-se evidente a necessidade do trabalho com

Matemática proporcionar às crianças momentos de interação e troca de

experiência para que os educandos sejam instigados a analisar criticamente

suas ideias, refletindo sobre elas a fim de justificá-las, elevando, dessa forma,

seu nível de raciocínio.

Também é de suma importância proporcionar aos educandos momentos

de ação e manipulação de materiais concretos para que eles construam

significados e atribuam sentidos, isso porque “[...] as ações representam

momentos importantes da aprendizagem na medida em que a criança realiza

uma intenção.” (BRASIL, 1998, p. 209-210).

É por intermédio da ação sobre os objetos e da socialização de ideias

que os educandos incorporam conhecimentos de ordem física, mediante

observação da realidade que os cerca e da experimentação de objetos

concretos; e de ordem lógico-matemática, por meio da coordenação dos

saberes assimilados (LORENZATO, 2008).

A partir das ponderações feitas no decorrer deste capítulo, conclui-se

que o conhecimento, em qualquer área, é construído pelo sujeito à medida em

que este utiliza-se dos saberes já elaborados para resolver situações que lhe

provocam desequilíbrio e, por conseguinte, fazem com que as estruturas

cognitivas pré-existentes sejam modificadas ou criadas novas estruturas para

que esses saberes sejam assimilados e o sujeito avance no nível qualitativo de

inteligência.

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Sendo assim, a interação com outro sujeito e a ação sobre os objetos e

sobre o meio desempenham papel fundamental no processo de

desenvolvimento cognitivo. A interação oportuniza a troca de experiência, o

desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e autônomo por meio do

confrontamento de ideias entre os sujeitos; já a ação sobre os objetos

possibilita a construção de significados, a atribuição de sentidos, além de

viabilizar o desenvolvimento do conhecimento lógico-matemático.

Partindo desses pressupostos, o trabalho com Matemática em todas as

modalidades de ensino, mas em especial na Educação Infantil, justifica-se por

constituir-se a partir da curiosidade e do entusiasmo das crianças, além de

viabilizar o desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e autônomo, por

meio de situações nas quais os sujeitos, durante momentos de socialização de

ideias, confrontem, argumentem, validem seu ponto de vista e tomem decisões,

agindo como verdadeiros produtores de conhecimento.

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CAPÍTULO II

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS

E TEXTOS PARA CRIANÇAS

“Um dos maiores danos que se pode

causar a uma criança é levá-la a perder

a confiança na sua própria capacidade

de pensar.”

(Emília Ferreiro)

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1 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMO METODOLOGIA PARA O ENSINO

DE SABERES MATEMÁTICOS

A história da Matemática evidencia que esta área de conhecimento

surgiu e tem se desenvolvido a partir da busca por soluções para os problemas

de diferentes origens com os quais o homem se depara cotidianamente.

Partindo dessa premissa é possível constatar que a resolução de problemas é

inerente à Matemática, todavia, seu reconhecimento como metodologia didática

é recente.

No Brasil, por exemplo, o trabalho com resolução de problemas começa

a ser desenvolvido, de fato, somente na década de 1980. No período anterior a

este, nas décadas de 1960 e 1970, o ensino de Matemática foi influenciado por

um movimento conhecido como Matemática Moderna que concebia a

Matemática como lógica e estruturada, com uma linguagem universal, concisa

e precisa. Neste contexto histórico, os conteúdos relativos a essa área de

conhecimento eram desvinculados de suas práticas sociais e estavam fora do

alcance dos alunos (ONUCHIC, 1999).

Contudo, os formuladores dos currículos das décadas de 1960 e 1970

defendiam a necessidade de uma reforma pedagógica, “[...] fato que

desencadeou a preocupação com a Didática da Matemática, intensificando a

pesquisa nessa área.” (BRASIL, 1997, p. 20). Assim, diante da constatação da

inadequação de alguns de seus princípios, o Movimento Matemática Moderna

declinou no final da década de 1970.

Em 1980, o documento “Agenda para Ação” publicado no National

Council of Teachers of Mathematics ou Conselho Nacional de Professores de

Matemática, dos Estados Unidos, que destacava o trabalho com resolução de

problemas como foco do ensino de Matemática, imprimiu novos rumos às

discussões curriculares e influenciou reformas em nível mundial (BRASIL,

1997). Tais orientações vieram ao encontro de uma série de ações

empreendidas por brasileiros em relação ao processo de redemocratização

política do país.

Assim, no período compreendido entre a metade da década de 1980 e

início dos anos 1990, a resolução de problemas esteve em pauta em quase

todos congressos internacionais, sendo reconhecida como metodologia do

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ensino de Matemática e o “problema” como recurso para a construção de

conhecimentos pelos alunos desde a séries iniciais de escolarização

(ANDRADE, 1998).

Pesquisadores e educadores matemáticos contemporâneos, dentre os

quais Smole, Diniz e Cândido (2000) reconhecem, desde então, a resolução de

problemas como o cerne do ensino de Matemática e defendem a importância

de desenvolver nos aprendizes a habilidade de resolver problemas.

Na concepção das pesquisadoras supracitadas, a habilidade de resolver

problemas contribui tanto para a aprendizagem matemática quanto para o

desenvolvimento das potencialidades e do aspecto cognitivo, além de “[...]

possibilitar ao aluno a alegria de vencer obstáculos criados por sua própria

curiosidade, vivenciando, assim, o que significa fazer matemática.” (SMOLE;

DINIZ; CÂNDIDO, 2000, p.13).

Corroborando com esta afirmação, o pesquisador e educador

matemático Dante (1998) assevera que os principais objetivos e contribuições

do trabalho com resolução de problemas são:

• Fazer o aluno pensar produtivamente: este é um dos principais

objetivos do ensino de Matemática que é alcançado por meio de

situações-problema que envolvem, desafiam e motivam os alunos a

querer resolvê-las;

• Desenvolver o raciocínio do aluno: é necessário para que os

aprendizes sejam capazes de utilizar os recursos disponíveis a fim

de solucionar questões que surgem;

• Ensinar o aluno a enfrentar situações novas: é impreterível “[...]

preparar o aluno para lidar com situações novas, quaisquer que

sejam elas [...]” (DANTE, 1998, p.12). Dessa forma, faz-se

necessário desenvolver nas crianças a iniciativa, a independência, a

criatividade e a habilidade de investigação;

• Dar ao aluno a oportunidade de se envolver com as aplicações da

Matemática: a resolução de problemas é uma metodologia muito

eficiente para apresentar aos educandos noções e/ou conceitos

relativos à essa área de conhecimento, elucidando suas práticas

sociais;

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• Tornar as aulas de Matemática mais interessantes e desafiadoras:

as aulas se tornarão mais dinâmicas e motivadoras à medida que os

educandos iniciam a busca por soluções para os problemas

propostos, isso porque “[...] O real prazer de estudar Matemática

está na satisfação que surge quando o aluno, por si só, resolve um

problema [...]” (DANTE, 1998, p. 14);

• Equipar o aluno com estratégias para resolver problemas: solucionar

situações-problema implica desenvolver nos educandos

determinadas habilidades que lhes serão de grande valia no

decorrer de sua formação; e

• Dar uma boa base matemática às pessoas: é impreterível para a

formação de cidadãos matematicamente alfabetizados e que saibam

resolver problemas.

Pelo exposto, pode-se concluir que trabalhar a partir da perspectiva da

resolução de problemas implica no desenvolvimento do raciocínio, do

pensamento crítico, reflexivo e de habilidades, além de elucidar as práticas

sociais da Matemática e contribuir para a formação de cidadãos capazes de

enfrentar situações adversas em diferentes contextos, diminuindo a

passividade e o conformismo, ou seja, contribui para o pleno exercício da

cidadania. Assim, como se afirma na introdução deste trabalho de conclusão

de curso, para Smole:

[...] a resolução de problemas se caracteriza por uma postura de inconformismo frente aos obstáculos e ao que foi estabelecido por outros, sendo um exercício contínuo de desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, que são características primordiais daqueles que fazem ciência e que são objetivos importantes do ensino de Matemática. [...] (2008, p.2).

Quando analisada a partir da perspectiva piagetiana, a resolução de

problemas possibilita o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático e

contribui pontualmente no processo de construção de conhecimentos que,

como mencionado no capítulo anterior deste texto, se efetiva a partir da

elaboração, organização e reorganização de conceitos proporcionadas pela

ação do sujeito sobre o meio e sobre os objetos de aprendizagem.

Nessa ótica, a situação-problema desempenha a função de meio que

possibilita à criança aquisição do objeto a ser conhecido, estabelecendo e

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coordenando relações entre as novas informações, advindas de sua ação, e os

conhecimentos já existentes organizados em suas estruturas cognitivas ou

“esquemas”.

Assim, pode-se inferir que a criança ao deparar com uma situação

enigmática, adversa, que aparentemente não pode ser resolvida, entrará em

estado de conflito cognitivo (desequilíbrio) que, por sua vez, decorrerá na

construção de novos conhecimentos, isso porque a resistência apresentada

pela situação-problema e o fato da solução aparentemente não ser possível

“[...] obriga o sujeito a adaptar-se, a modificar ou perceber os limites de seus

conhecimentos anteriores e a elaborar novas ferramentas [...]” (CHARNAY,

1996, p.43) que permitam-no resolver a situação e alcançar o equilíbrio

superior.

Diante disso, pode-se inferir que a resolução de problemas possibilita o

desenvolvimento cognitivo e modifica o aspecto qualitativo da inteligência das

crianças, uma vez que para solucionar uma situação-problema o sujeito

deverá: assimilar a ideia e as informações principais do problema

(assimilação); modificar os esquemas pré-existentes ou criar um novo esquema

para receber essas novas informações (acomodação); e estabelecer relações

entre os conhecimentos prévios e as novas informações assimiladas,

trabalhando e refletindo sobre elas a fim de solucionar o problema

(equilibração).

No entanto, é importante destacar que para o trabalho com essa

metodologia didática ser efetivo é fundamental que o educador conheça o

processo pelo qual as crianças passam ao depararem com uma situação-

problema e tentar resolvê-la. Diante disso, recorreu-se ao trabalho

desenvolvido pelo educador matemático húngaro e um dos principais

defensores da resolução de problemas como metodologia de ensino, George

Polya (1887-1985).

Na perspectiva deste educador, a resolução de problemas pode ser

compreendida como uma atividade na qual o sujeito se depara com uma

situação adversa que não há solução imediata e, para resolvê-la, mobiliza seus

conhecimentos previamente elaborados e estabelece planos (POLYA, 1995).

Para o referido autor, o processo de resolução de uma situação-

problema é gradual e pode ser dividido em quatro fases: compreensão do

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problema, estabelecimento de um plano, execução do plano e retrospecto.

Estas fases podem ser definidas como se segue:

1ª. fase: Compreensão do problema

Nesta fase o educando deve considerar as partes principais do problema

e analisá-lo sob diferentes pontos de vista a fim de solucioná-lo. É importante

salientar que “O aluno precisa compreender o problema, mas não só isto: deve

também desejar resolvê-lo [...]” (POLYA, 1995, p.4);

2ª. fase: estabelecimento de um plano

Após conhecer e compreender o problema os educandos devem

elaborar estratégias para resolvê-lo fazendo uso de conhecimentos

previamente elaborados e estabelecendo relações entre os dados fornecidos

pelo problema e o que foi solicitado (POLYA, 1995);

3ª. fase: execução do plano

É o momento em que o plano elaborado é colocado em prática. Nessa

etapa é imprescindível que o aprendiz verifique cada passo para evitar

equívocos (POLYA, 1995);

4ª. fase: retrospecto

Esta fase possibilita às crianças refletirem sobre a resolução do

problema considerando o resultado final e o caminho percorrido até ele, além

de consolidar os conhecimentos elaborados e aperfeiçoar a habilidade de

resolver problemas (POLYA, 1995).

Pelo exposto, é possível inferir que as quatro fases que integram o

processo de resolução de problemas, propostas por Polya, permitem

estabelecer relação com a teoria dos estágios desenvolvida por Piaget,

explicitada no capítulo I deste trabalho.

Na perspectiva de Piaget (1978), o desenvolvimento cognitivo é um

processo gradual dividido em estágios que para se efetivar necessita que o

indivíduo tenha construído substruturas preliminares que permitam-no avançar.

O mesmo ocorre com a resolução de problemas na concepção de Polya, posto

que para o sujeito solucionar o problema ele deverá passar por quatro fases,

principalmente pela compreensão, pois se o aprendiz não compreender o

“problema” ele não será capaz de progredir para a elaboração e execução do

plano que culminarão na resolução da situação-problema.

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Polya (1995) salienta que abreviar alguma dessas quatro fases decorre

em prejuízos aos educandos, pois cada uma delas é fundamental para o

sucesso na resolução de um problema, indo ao encontro dos pressupostos

apresentados por Piaget que defende também a importância de se respeitar

cada estágio no processo de desenvolvimento cognitivo do aprendiz. É nesse

contexto que se torna possível a articulação entre alguns postulados teóricos

de Piaget e as conclusões de Polya.

Conhecer as quatro fases que integram o processo de resolução de

problemas, segundo Polya, é primordial para o desenvolvimento de um

trabalho efetivo com esta metodologia, dado que auxilia o solucionador a se

orientar no decorrer do processo, evita enganos e, consequentemente,

frustrações decorrentes do fracasso na obtenção de solução para a situação-

problema.

No entanto, é importante frisar que embora estas fases propostas pelo

referido autor sejam bastante válidas pedagogicamente, pois auxiliam o

professor a fazer as mediações necessárias para que o aluno avance, elas não

garantem total êxito dos alunos ao utilizá-las, isso porque, por melhor que o

professor as conheça e por mais adequadas que sejam às situações reais de

sua efetivação, sempre haverá alunos que necessitarão de outras estratégias

metodológicas para realizar as atividades propostas.

1.1 Textos para crianças e resolução de problemas matemáticos

Sabe-se que a resolução de problemas contribui significativamente para

o desenvolvimento de habilidades e do raciocínio lógico-matemático dos

aprendizes, uma vez que propõe situações desafiadoras que colocam em jogo

os conhecimentos elaborados pelas crianças e exigem a busca por soluções

para os questionamentos levantados.

No entanto, apesar da importância da resolução de problemas para o

desenvolvimento intelectual ser notória e preconizada por diversos

pesquisadores, dentre os quais Smole e Dante, é possível observar, por meio

dos textos elaborados por Smole (2000) e Smole et al (2004), que, de modo

geral, os problemas propostos aos alunos não os estimulam a pensar sobre a

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situação e, consequentemente, não possibilitam o desenvolvimento intelectual

deles, isso porque seguem um modelo padrão:

− podem ser resolvidos pela aplicação direta de um ou mais algoritmos;

− a tarefa básica na sua resolução é identificar que operações ou algoritmos são apropriados para mostrar a solução e transformar a linguagem usual em linguagem matemática;

− a solução numericamente correta é ponto fundamental; − a solução sempre existe e é única; − o problema é apresentado por meio de frases, diagramas ou

parágrafos curtos e vem sempre após a apresentação de determinado conteúdo ou algoritmo;

− todos os dados de que o resolvedor necessita aparecem explicitamente no problema;

− não existe qualquer forma de resolver mais elaborada para a situação. (SMOLE et al, 2004, p.5)

Diante disso, evidencia-se a necessidade dos educadores refletirem

sobre as metodologias pedagógicas utilizadas para trabalhar com resolução de

problemas, uma vez que trabalhar a partir de problemas-padrões induz as

crianças a uma postura de fragilidade diante de situações que demandam

criatividade que é de suma importância para o desenvolvimento infantil

(SMOLE, 2000). Corroborando com esse posicionamento no Referencial

curricular nacional para a educação infantil localiza-se a seguinte afirmação:

Na aprendizagem da Matemática o problema adquire um sentido muito preciso. Não se trata de situações que permitam “aplicar” o que já se sabe, mas sim daquelas que possibilitam produzir novos conhecimentos a partir dos conhecimentos que já se tem e em interação com novos desafios. Essas situações-problema devem ser criteriosamente planejadas, a fim de que estejam contextualizadas, remetendo a conhecimentos prévios das crianças, possibilitando a ampliação de repertórios de estratégias no que se refere à resolução de operações, notação numérica, formas de representação e comunicação etc., e mostrando-se como uma necessidade que justifique a busca de novas informações (BRASIL, 1998, p. 211-212).

Destarte, para que o trabalho com situações-problema seja efetivo, é

necessário que os problemas propostos às crianças sejam significativos,

desafiadores, possibilitem a elaboração, o levantamento e o teste de hipóteses.

Neste sentido, os textos para criança contribuem significativamente, uma

vez que apresentam circunstâncias enigmáticas e/ou adversas nas quais os

personagens são envolvidos. Estas situações-problema abordadas no decorrer

das histórias oportunizam aos educandos elaborar, testar e reformular

hipóteses sobre os acontecimentos que sucederão, argumentar, questionar,

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ouvir outras opiniões e defender seu ponto de vista, desenvolvendo, dessa

forma, seu potencial crítico e o pensamento.

Como se sabe, os textos para criança favorecem o desenvolvimento do

raciocínio lógico, da imaginação, da criatividade e do pensamento que são

habilidades essenciais ao trabalho com resolução de situações-problema.

Assim, para Abramovich:

Ler histórias para crianças [...] é [...] suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram...). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – dum jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a solução delas. (1997, p.17).

Partindo desse pressuposto, é possível afirmar que os textos para

criança contribuem pontualmente no trabalho com resolução de problemas,

pois proporcionam contextos que encaminham diferentes possibilidades de

exploração e de estratégias de resolução das questões colocadas; suscitam a

curiosidade e a criatividade; desenvolvem o pensamento crítico, reflexivo,

autônomo e a habilidade de interpretação de diferentes situações; e propiciam

a aprendizagem de novos conceitos e a aplicação dos saberes já elaborados

(SMOLE, 2000).

Smole et al (2004) asseveram que a articulação entre textos para

criança e Matemática possibilita ao professor criar situações que encorajem os

alunos a compreenderem e se familiarizarem com conceitos relativos a essa

área de conhecimento, além de oportunizar o desenvolvimento da habilidade

de formulação e resolução de problemas. Nesse sentido as autoras defendem

que:

Ao utilizar livros infantis os professores podem provocar pensamentos matemáticos através de questionamentos ao longo da leitura, ao mesmo tempo em que a criança se envolve com a história. Assim, a literatura pode ser usada como um estímulo para ouvir, ler, pensar e escrever sobre matemática (p. 8).

Dessa forma, é possível afirmar que integrar textos para crianças no

trabalho com resolução de problemas representa uma mudança significativa no

ensino tradicional de Matemática, uma vez que esta atividade possibilita às

crianças explorarem os conceitos e noções relativos à Matemática e a história

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ao mesmo tempo, indo de encontro com o ensino tradicional que primeiro

ensina a Matemática e depois a aplica em diferentes contextos (SMOLE et al,

2004).

Na perspectiva de Smole et al (2004), os textos para criança viabilizam o

desenvolvimento concomitante das habilidades matemáticas e de linguagem,

porquanto:

Interrogado pelo texto o leitor volta a ele muitas vezes para acrescentar outras expectativas, percepções e experiências, dessa forma, a história contribui para que os alunos aprendam e façam matemática, assim como exploram lugares, características e acontecimentos na história, o que permite que habilidades matemáticas e de linguagem desenvolvam-se juntas, enquanto os alunos lêem, escrevem e conversam sobre as ideias matemáticas que vão aparecendo ao longo da leitura. É nesse contexto que a conexão da matemática com a literatura infantil aparece. (p. 2-3).

No entanto, é importante salientar que o professor, ao realizar o trabalho

com resolução de problemas por meio de textos para crianças, deve considerar

dois importantes aspectos: a impressão fundamental da história não pode ser

distorcida em decorrência da ênfase indevida à aspectos matemáticos; e a

exploração do texto literário não deve ser colocada em segundo plano para que

sua interpretação não se torne ingênua ou falsa (SMOLE, 2000).

Diante disso, é fundamental que o professor, após a leitura, promova

momentos de discussões nos quais as crianças analisem o texto, apreciando-o

e reconhecendo-o como arte para que, assim, o texto não seja didatizado ao

ser utilizado somente como uma metodologia para se trabalhar noções e

conceitos matemáticos.

Também é indispensável que o professor apresente o livro com

entusiasmo, problematizando-o, e proporcione momentos nos quais as

crianças possam vivenciar o comportamento leitor manuseando o livro,

folheando-o, revisando-o, uma vez que o interesse por um texto pode ser

suscitado e, em diversas ocasiões, “[...] depende do entusiasmo e da

apresentação que o professor faz de uma determinada leitura e das

possibilidades que seja capaz de explorar [...]” (SOLÉ, 1998, p.43).

Nesse sentido, no Referencial curricular nacional para a educação

infantil, (BRASIL, 1998), são propostas estratégias que possibilitam ao

educador enriquecer o momento de leitura e fazer a exploração adequada do

texto literário. São elas:

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[...] comentar previamente o assunto do qual trata o texto; fazer com que as crianças levantem hipóteses sobre o tema a partir do título; oferecer informações que situem a leitura; criar um certo suspense, quando for o caso; lembrar de outros textos conhecidos a partir do texto lido; favorecer a conversa entre as crianças para que possam compartilhar o efeito que a leitura produziu, trocar opiniões e comentários etc. (BRASIL, 1998, p. 141-142).

De acordo com Lacanallo, Moraes e Mori (2011, p.171), “[...] por meio da

ação de ler, o sujeito tem a compreensão, tornando-se capaz de realizar

inferências e conjecturas, aplicar conhecimentos, estabelecer relação e

significado [...]”, além de possibilitar ao aprendiz “[...] identificar informações

que lhe auxiliem a solucionar os problemas propostos.” (Ibid., p.167).

Corroborando com esta afirmação, Smole et al (2004) defendem que as

atividades que demandam interpretação e comunicação, dentre as quais a

leitura, auxiliam os alunos no processo de organização do pensamento que é

fundamental no trabalho com resolução de problemas. Para as referidas

autoras:

[...] As leituras de peças de literatura infantil [...] “convidam” o leitor a participar, a emitir opiniões e, ao mesmo tempo, encorajam-no a usar uma variedade de habilidades do pensamento – classificação, ordenação, levantamento de hipóteses, interpretação e formulação de problemas. (p. 4).

Assim, pode-se inferir que os textos para criança articulados à resolução

de problemas viabilizam o desenvolvimento do pensamento, da autonomia e de

habilidades cognitivas, além de possibilitar momentos de socialização e troca

de experiências que propiciam às crianças conhecer diferentes soluções para o

mesmo problema e repensar sobre suas estratégias estabelecendo relações

entre seu modo de raciocinar e o do outro.

A partir das considerações feitas no decorrer deste capítulo é possível

concluir que trabalhar com resolução de problemas implica no desenvolvimento

cognitivo das crianças, da criatividade, do pensamento crítico, reflexivo,

autônomo e da habilidade de investigação, além de possibilitar a aplicação de

conceitos matemáticos a situações significativas, elucidando, dessa forma, as

práticas sociais da Matemática.

Partindo do pressuposto de que o trabalho com resolução de problemas

possibilita o desenvolvimento da inteligência dos aprendizes e do raciocínio por

meio de situações que demandam estruturação e organização do pensamento

e dos conhecimentos já elaborados para serem resolvidas, os textos para

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criança contribuem significativamente, uma vez que as situações-problema

vivenciadas pelos personagens no decorrer da história oportunizam aos

aprendizes realizar previsões, inferências sobre os acontecimentos que

sucederão, elaborando, testando e reformulando hipóteses, em suma, agindo

como sujeitos de seu próprio processo de aprendizagem. É neste contexto que

se torna possível a articulação entre textos para crianças e resolução de

problemas.

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CAPÍTULO III

ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

REFLEXÕES A PARTIR DE ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

E OBSERVAÇÕES DE AULAS

“Como professor devo saber que

sem a curiosidade que me move,

que me inquieta, que me insere na

busca, não aprendo nem ensino.”

(Paulo Freire)

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1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A pesquisa descrita neste capítulo teve início em abril de 2017 e se

estendeu até outubro deste mesmo ano e foi realizada em uma escola

municipal de Educação Infantil na cidade de Lins, interior do estado de São

Paulo, com o objetivo de verificar como, e se, a Matemática é trabalhada na 2ª.

etapa da Educação Infantil a partir da perspectiva da resolução de problemas.

Foram entrevistadas quatro professoras, como parte dos procedimentos

metodológicos de pesquisa. Destas, três são graduadas em Pedagogia e uma

possui Habilitação Específica para o Magistério (com especialização em

Educação Infantil). O tempo de atuação profissional dessas professoras na

Educação Infantil é de 20 a 26 anos.

As técnicas utilizadas para coleta de dados foram: aplicação de um

questionário às professoras participantes, observação sistemática em sala de

aula e desenvolvimento de uma sequência didática, cujos resultados serão

apresentados no quarto capítulo deste trabalho de conclusão de curso.

É importante destacar que, neste capítulo, utiliza-se a sigla “P”

associada aos algarismos de um a quatro para indicar as respostas de cada

professora entrevistada. Faz-se também a ressalva de que não se manteve o

paralelismo, por exemplo, P1 associado à turma A para manter, ao máximo, o

anonimato dos sujeitos envolvidos.

1.1 Caracterização da escola

A escola na qual realizou-se pesquisa de campo está situada em um

bairro de classe social média-baixa na cidade de Lins, interior do estado de

São Paulo, e atendia, no período de realização da coleta de dados, 241 alunos

com faixa etária entre quatro e seis anos, sendo 100 alunos matriculados no

período da manhã e 141 alunos no período da tarde.

A unidade escolar foi fundada em fevereiro de 1993 e, desde então, é

mantida pelo poder público municipal e administrada pela Secretaria Municipal

de Educação com base nos dispositivos constitucionais vigentes, dentre os

quais: Lei nº. 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional; Lei nº. 8.069/1998, que dispõe o Estatuto da Criança e do

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Adolescente; e Resolução nº. 05/2009, que fixa as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil.

A equipe escolar era composta, no período de coleta de dados de

pesquisa, por uma diretora; uma coordenadora pedagógica; duas professoras

mediadoras; dez professoras; uma agente educacional; uma assistente

educacional; três serventes; duas estagiárias; e duas auxiliares de serviços

gerais.

1.2 Análise do questionário

Neste tópico será apresentada a análise e os resultados obtidos por

meio do questionário, composto por cinco questões abertas, aplicado às quatro

professoras participantes com o objetivo de verificar as metodologias didáticas,

com ênfase na resolução de problemas, que estas utilizam para trabalhar com

os saberes relativos ao eixo-temático Matemática na 2ª. etapa da Educação

Infantil.

Como explicitado no primeiro capítulo deste texto, a Matemática é uma

área de conhecimento de suma importância, haja vista que auxilia os indivíduos

no processo de compreensão do mundo, resolução de situações e tomadas de

decisões. Nesse sentido, as professoras foram indagadas sobre a importância

que elas atribuem ao ensino de Matemática na Educação Infantil. No quadro

abaixo, transcreve-se as respostas obtidas.

Quadro 2 – Resposta à questão referente à relevância do ensino de

Matemática

Profa. Resposta à questão: “Você atribui importância ao ensino de Matemática na Educação Infantil? Por quê?”

P1

“Sim. Acredito que o raciocínio lógico-matemático permeia todas as situações do cotidiano e por isso é necessário colaborar para atender tanto as necessidades da criança de construir conhecimentos como dar instrumentos para compreender e participar dessas situações”.

P2 “A matemática faz parte da nossa vida, por isso não tem como não explorar no trabalho com as crianças seja qual for a sua idade. Nas brincadeiras, idade, tempo...”.

P3 “Sim. Porque em tudo que se realiza utiliza a matemática”.

P4

“Sim. A matemática é de extrema importância para o desenvolvimento da criança de uma forma global: o raciocínio lógico envolvido em atividades matemáticas contribui ou favorece a aprendizagem de conteúdos de várias áreas. Além disso a matemática faz parte do cotidiano das crianças”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

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A partir da análise das respostas à questão um, pode-se verificar que as

professoras atribuem importância ao ensino da Matemática por esta ser uma

ciência presente no cotidiano dos sujeitos sendo, dessa forma, indissociável à

prática pedagógica.

Na introdução deste trabalho considera-se o fato de que as crianças à

medida que vão crescendo passam a sentir dificuldades em realizar atividades

matemáticas, principalmente resolução de problemas, e infere-se que isso

pode estar relacionado às metodologias pedagógicas inadequadas utilizadas

pelos educadores para trabalhar com os saberes inerentes a essa área de

conhecimento. Assim, objetivando analisar tal inferência, solicitou-se às

professoras que relatassem as metodologias didáticas utilizadas para trabalhar

com os saberes matemáticos. No quadro abaixo, transcreve-se as respostas

obtidas.

Quadro 3 – Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemáticos

Profa. Resposta à questão: “Você poderia citar a(s) metodologia(s) utilizada(s) em

suas aulas para trabalhar com os saberes destacados no eixo Matemática do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)?”

P1 “Sistema de numeração e números: contagem diariamente dos presentes e de outras situações, utilização do calendário, sequência numérica com fichas. Espaço e forma: jogos e brincadeiras, quebra-cabeça utilizando diferentes formas para montagem e colagem”.

P2

“Além das atividades sistematizadas com numeral, quantidades, uso situações do cotidiano levantando situações problemas para que os mesmos resolvam, fazendo a mediação para resolução do problema. Fazemos muitas atividades com jogos, oralidade, materiais concretos e organização com registro das situações levantadas”.

P3 “Através de números de residências, calendários, agendas, gráficos, números de roupas, sapatos, etc.”.

P4

“Música, jogos, brincadeiras. Atividades lúdicas que fazem parte do universo da criança e que tornam a aprendizagem prazerosa e significativa. Propostas de atividades desafiadoras também são de extrema importância para a criança construir o seu conhecimento através da interação sempre tendo intermediações do educador”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

A análise das respostas à questão dois possibilita verificar que as

entrevistadas citaram os conteúdos trabalhados no eixo-temático Matemática

em vez das metodologias. Assim, questiona-se se isso decorreu do não

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entendimento da questão ou de equívoco conceitual. Contudo, pode-se

observar que as metodologias citadas, sobretudo pela P2 e P4 foram: música,

jogos, brincadeiras e resolução de problemas.

Como afirma Freire (1996), nenhuma prática pedagógica é neutra, todas

decorrem de posicionamentos político-ideológicos, assim como ocorre com as

concepções sobre os processos de ensino e de aprendizagem (ainda que o

professor não tenha consciência de quais sejam). Nessa perspectiva, as

professoras foram indagadas sobre a teoria educacional na qual se baseiam

para trabalhar com Matemática. No quadro abaixo, transcreve-se as respostas

obtidas.

Quadro 4 - Resposta à questão referente à fundamentação teórica do trabalho

com Matemática

Profa. Resposta à questão: “Você se baseia em alguma teoria educacional para trabalhar com a Matemática? Por quê?”

P1

“Não especificamente. Procuro pesquisar e adequar minha prática de acordo com as necessidades que vão surgindo. Dentre os pesquisadores me identifico com Vygotsky e Piaget. Vygotsky pela interação entre as crianças e seus diferentes níveis de aprendizagem. Piaget pela construção e reconstrução do conhecimento. Freinet e Montessori também ajudam bastante”.

P2 “Parto do princípio das necessidades dos alunos e vejo a resolução de situações-problema usando situações do dia a dia como uma teoria eficaz para aprendizagem na educação infantil”.

P3 “Sim. Acho que tudo existe uma teoria e é necessário seguir para ter embasamento e ser fundamentada”.

P4 “Baseamos na teoria do pensamento construtivista inspirado em teorias de pensadores como: Jean Piaget, Vygotsky, Emília Ferreiro, entre outros”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

Ao analisar as respostas da questão três, verifica-se que duas

professoras (P2 e P3) não discriminaram a teoria educacional sobre a qual

fundamentam seu trabalho. Assim, questiona-se se isso decorre do

desconhecimento ou do não entendimento da questão. Todavia, pode-se

observar, a partir da análise da resposta da P1 e P4, que as principais teorias

utilizadas são da área da Psicologia, especificamente a Sociointeracionista,

que tem como principal ícone Lev Vygostky, e a Construtivista, preconizada por

Jean Piaget.

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Para que o trabalho desenvolvido tanto com Matemática quanto com as

demais áreas de conhecimento seja efetivo, faz-se necessário que o professor

analise sua práxis pedagógica e reflita sobre sua relação com os saberes a

serem trabalhados com os aprendizes. Nessa ótica, as professoras foram

questionadas sobre os conhecimentos que julgam ser necessários ao educador

para que este desenvolva um trabalho que possibilite às crianças a elaboração

de noções matemáticas. Transcreve-se, no quadro abaixo, as respostas

obtidas.

Quadro 5 – Resposta à questão referente aos conhecimentos necessários ao

educador para desenvolvimento de trabalho efetivo com Matemática

Profa. Resposta à questão: “Em sua opinião, quais conhecimentos são

necessários ao educador para que este desenvolva um trabalho que possibilite aos educandos a elaboração de noções matemáticas?”

P1

“Criatividade: capacidade para reinventar e aprender constantemente. Sensibilidade: para respeitar o tempo e as diferenças de cada aluno. Afetividade: para transmitir carinho, segurança e confiança. (O que a memória ama fica eterno – Rubem Alves). Conhecimentos específicos como raciocínio lógico-matemático são compreendidos com estudo e dedicação”.

P2

“O educador é um mediador que deve levantar problemas e fazer com que o aluno adquira habilidade de resolvê-los, como forma de aprender, não só como estratégias e habilidades e sim criar o hábito da aprendizagem como um problema que precisa ser solucionado, levando o aluno a pensar”.

P3 “Todos os conhecimentos possíveis, pois o professor está em constante aprendizagem e é necessário sempre estar se reciclando”.

P4 “O professor precisa saber quais são as fases de desenvolvimento da criança para que faça intermediações pontuais, corretas que permitam ao aluno avançar em seus conhecimentos”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

Concernente à questão quatro constatou-se que, na perspectiva das

professoras participantes, é importante que o educador conheça e compreenda

as fases do desenvolvimento infantil, esteja atento às potencialidades de cada

aprendiz, respeitando-os, seja criativo e problematize situações para que,

assim, estes desenvolvam o pensamento.

A pesquisa bibliográfica descrita no capítulo II deste texto possibilitou

compreender as contribuições da resolução de problemas, foco deste trabalho,

no desenvolvimento cognitivo e do pensamento crítico, reflexivo e autônomo

das crianças. Nesse sentido, indagou-se a opinião das professoras sobre a

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proposta do ensino de Matemática por meio da resolução de problemas. No

Quadro 6, transcreve-se as respostas obtidas.

Quadro 6 – Resposta à questão referente à relevância da resolução de

problemas como metodologia do ensino de Matemática

Profa.

Resposta à questão: “O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) propõe o ensino de Matemática por meio da resolução de

problemas. Em sua opinião, é relevante trabalhar a partir dessa perspectiva? Por quê?”

P1 “Sim. A criança é naturalmente curiosa e propor diferentes desafios a motiva, a instiga e promove uma aprendizagem melhor. Formular hipóteses, argumentar e buscar soluções são competências necessárias para toda a vida”.

P2

“Sim, pois através da resolução de problemas as crianças começam a levantarem hipótese diante de diversas situações, tentando desvendar a solução que muitas vezes aparecem de diversas formas e a troca de conhecimento é muito importante para esse processo”.

P3 “Sim. Porque a partir daí o aluno consegue resolver conflitos e através de hipóteses chegar a um consenso”.

P4

“Em situações-problema (tratamento da informação) o aluno é levado a pensar, levantar hipóteses, as atividades são mais desafiadoras e contextualizadas. O professor pode fazer uso de atividades práticas e cotidianas que favorecerão a elaboração do pensamento”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

Analisando as respostas da questão cinco foi possível concluir que

trabalhar com Matemática a partir da perspectiva da resolução de problemas

possibilita o desenvolvimento do aspecto cognitivo, de competências e

habilidades das crianças, além de promover a socialização de conhecimentos e

aprendizagem significativa.

É importante destacar que nas questões apresentadas às professoras

menciona-se o Referencial curricular nacional para educação infantil porque, de

acordo com a coordenadora pedagógica da unidade escolar (em conversa

informal com a pesquisadora) na qual realizou-se a pesquisa, este é um dos

documentos oficiais que norteia as atividades didáticas desenvolvidas em todas

unidades escolares vinculadas à Secretaria Municipal de Educação da cidade

de Lins.

Por meio da análise dos questionários, sobretudo das respostas à

questão dois, observou-se que a resolução de problemas é uma metodologia

didática pouco utilizada pelas professoras para trabalhar com os saberes

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matemáticos, apesar de estas a considerar importante no processo de

desenvolvimento das crianças, como relatado na questão cinco.

Diante disso, verificou-se a oportunidade de realizar observação

sistemática em sala de aula a fim de aprofundar a pesquisa sobre a utilização

da resolução de problemas como metodologia didática na 2ª. etapa da

Educação Infantil.

1.3 Análise da observação sistemática

Com o propósito de verificar como, e se, a Matemática é trabalhada na

2ª. etapa da Educação Infantil a partir da perspectiva da resolução de

problemas realizou-se observação sistemática nas turmas A, B e C durante o

período de uma semana de aula em cada turma.

A partir destas observações foi possível elaborar o Quadro 7 no qual são

apresentadas as metodologias utilizadas pelas professoras das turmas A, B e

C para trabalhar com os saberes relativos ao eixo-temático Matemática durante

o período de observação.

Quadro 7 – Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemático nas turmas A, B e C

TURMA ATIVIDADE METODOLOGIA

A Preenchimento do calendário Cópia do calendário

B

Pintura da data no calendário Identificação dos numerais e pintura dos espaços correspondentes

Contagem dos alunos presentes Contagem pelos próprios alunos e registro formal

Escrita descontextualizada de numeral antecessor e sucessor

Registro escrito de numeral antecessor e sucessor

Contagem e registo de elementos gráficos (desenho) em conjunto dado

Registro do numeral correspondente à contagem realizada

C

Preenchimento de calendário Problematização seguida de cópia

Contagem dos alunos presentes e ausentes

Contagem pelos próprios alunos e registro formal

Elaboração de tabela Elaboração coletiva de tabela

Elaboração de gráfico de barras Elaboração coletiva de gráfico

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

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Durante o período de observação realizada na turma A foi possível

observar que a Matemática é trabalhada estritamente na atividade de

preenchimento do calendário e a metodologia utilizada é a cópia. A atividade

desenvolveu-se da seguinte maneira: um aprendiz, escolhido pela professora,

foi até a lousa preencher o calendário. Em seguida, ele foi indagado sobre o

registro formal do numeral correspondente à data e registrou-o no quadro-

negro. Feito isso, todos os aprendizes copiaram a data em seus respectivos

calendários. Observe que o ensino em relação aos saberes matemáticos, ao

longo de uma semana de observação, restringiu-se à cópia e ao registro formal

da data.

A partir da observação realizada na turma B, verificou-se que as

metodologias utilizadas para trabalhar com os conhecimentos matemáticos

são: contagem dos alunos presentes realizadas pelos próprios aprendizes e

registro convencional do resultado no quadro-negro; identificação da data no

calendário já preenchido e pintura do espaço correspondente; registro escrito

de numeral antecessor e sucessor; e registro escrito do numeral

correspondente à contagem de elementos em conjuntos dados.

Comparativamente ao observado em relação à turma A, pode-se afirmar

que o trabalho com Matemática é realizado em diferentes momentos e não se

restringe à cópia, entretanto, observa-se que em ambas as turmas enfatiza-se

o registro convencional dos numerais.

Na turma C os conhecimentos matemáticos foram trabalhados todos os

dias nas atividades de preenchimento de calendário, na qual a educadora

realizava problematizações como: “Se ontem foi segunda-feira dia 24 e

amanhã será quarta-feira dia 26, que dia é hoje?” e, posteriormente, registrava

o numeral correspondente à data no quadro-negro e os aprendizes em seus

respectivos calendários; contagem dos alunos presentes e ausentes realizada

pelos próprios aprendizes que, após a contagem, faziam a representação por

meio de símbolos e, depois, registravam convencionalmente; elaboração

coletiva de gráfico; e elaboração coletiva de tabela.

A partir de tais observações, é possível afirmar que na turma C o

trabalho com Matemática foi, ao que consta, significativo e proporcionou o

desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico e reflexivo dos

aprendizes, isso porque as atividades foram realizadas coletivamente o que

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48

possibilitou às crianças momentos de troca de experiências e socialização de

ideias. Comparativamente às turmas A e B, afirma-se que apesar da cópia ser

utilizada como metodologia esta foi precedida de problematizações que,

aparentemente, promoveram o desenvolvimento do pensamento dos

aprendizes. Concernente ao registro convencional dos numerais, este também

foi realizado, no entanto, observa-se que, além do registro formal, foram

utilizadas diferentes maneiras de representação numérica, o que possibilita

processo significativo de construção do conceito de número, como afirma Kamii

(2012).

Pelo exposto, é possível constatar que as professoras das turmas A, B e

C não utilizam a resolução de problemas como metodologia didática para

trabalhar com os saberes matemáticos. Diante disso, questionou-se se a não

utilização desta metodologia decorre do desconhecimento por parte das

professoras do conceito de “resolução de problemas”, isso porque a P2 afirmou

em resposta à questão dois do questionário apresentado e analisado no item

anterior deste trabalho, utilizar esta metodologia, entretanto, durante

observação realizada em sala de aula, verificou-se que esta realiza

“problematizações” e não um trabalho com “resolução de problemas”.

1.3.1 Análise da observação sistemática realizada na turma D

Neste tópico apresentam-se resultados relativos à observação realizada

na turma D, composta por 24 alunos, sendo 14 meninas e dez meninos com

faixa etária entre cinco e seis anos. Esta observação ocorreu durante 30 dias

letivos. Destaca-se que o tempo de observação nesta turma foi mais extenso,

comparativamente às demais turmas, devido ao fato dos aprendizes

evidenciarem apreciar trabalhar com Matemática e a professora demonstrar-se

receptiva ao trabalho desta pesquisadora, convidando-a a participar das

atividades e disponibilizando-se a contribuir no desenvolvimento da pesquisa.

Tal postura possibilitou o desenvolvimento efetivo de pesquisa-participante.

A partir das observações na turma D elaborou-se o Quadro 8 no qual

são apresentadas as atividades, suas respectivas metodologias e resultado

quantitativo da utilização destas metodologias durante o período de

observação.

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49

Quadro 8 – Resposta à questão referente às metodologias didáticas utilizadas

para trabalhar com os saberes matemático na turma D

ATIVIDADE METODOLOGIA RECORRÊNCIA

Preenchimento de calendário Problematização seguida de cópia 30

Contagem dos alunos presentes e ausentes

Contagem pelos próprios alunos, problematização e registro formal do numeral correspondente à contagem

30

Contagem da letra do nome dos alunos

Contagem coletiva e registro formal do numeral correspondente à contagem

27

Elaboração de reta numérica Organização coletiva da sequência numérica no quadro-negro

5

Elaboração de gráfico Elaboração coletiva de gráfico 2

Elaboração de tabela Elaboração coletiva de tabela 2

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

Por meio da análise dos dados apresentados no Quadro 8, observa-se

que o trabalho com os conhecimentos matemáticos na turma D corresponde ao

realizado na turma C, isso porque, em ambas as turmas, esses conhecimentos

foram trabalhados, durante o período de observação, todos os dias e, ao que

tudo indica, o trabalho realizado foi significativo para as crianças, dado que as

atividades foram realizadas coletivamente, o que viabilizou o desenvolvimento

do pensamento, do aspecto social e da autonomia delas. Comparativamente às

turmas A e B, afirma-se que na turma D a cópia foi utilizada como metodologia,

contudo, esta foi precedida de problematizações. Também é possível constatar

que, tanto nas turmas A e B quanto na turma D, enfatiza-se o registro formal

dos numerais.

No que se refere à resolução de problemas, foco da pesquisa, observa-

se que esta metodologia (assim como nas turmas A, B e C) também não foi

utilizada, durante o período de observação, para trabalhar com os saberes

matemáticos na turma D. Entretanto, é importante destacar que a educadora

afirmou, em conversa informal com a pesquisadora, que não havia utilizado

esta metodologia, mas planejava iniciar o desenvolvimento de atividades por

meio da resolução de problemas matemáticos nos próximos meses. Contudo,

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50

devido ao cronograma estabelecido para pesquisa de campo não foi possível

estender o período de observação nesta turma e acompanhar este trabalho.

Ainda que não possuindo dados científicos, é possível inferir que tal

posicionamento da professora possa decorrer da intervenção indireta realizada

por esta pesquisadora, visto que a professora da turma D demostrou, ao longo

de todo o período de pesquisa, disposição para novos saberes e curiosidade

pelo desconhecido. Assim, é possível que a interação estabelecida entre

pesquisadora e professora ao longo da pesquisa tenha despertado o interesse

daquela por ampliar conhecimentos sobre a temática em questão, ocorrendo,

de forma não intencional, uma pesquisa-ação.

A conversa informal entre pesquisadora e professora possibilitou àquela

constatar que esta compreendia a diferença entre “problematização” e

“resolução de problemas”, isso porque a professora afirmou que não havia

trabalhado com resolução de problemas ainda, explicando à pesquisadora que

durante as atividades ela realizava problematizações como: “Se ontem foi dia

nove e amanhã será dia 11 que dia é hoje?”, “Quais números eu uso para

escrever 11?” “Em qual espaço vocês vão escrever o número 11?” “Qual fruta

vocês mais gostam?” “Qual bairro tem mais alunos?”, que se difere de

resolução de problemas, uma vez que esta demanda a elaboração de

estratégias e técnicas para a solução de um problema específico que,

aparentemente, não pode ser solucionado. Observe que estas afirmações

evidenciam entendimento, por parte da educadora, da “resolução de

problemas” como um processo, que vai ao encontro da definição desta

expressão e das conclusões de Polya (1995) relativas a este tema, explicitadas

no segundo capítulo deste texto.

Os resultados de pesquisa, obtidos por meio da aplicação de

questionário e da observação em sala de aula, apresentados neste capítulo

permitem concluir que a resolução de problemas é uma metodologia didática

não utilizada pelas professoras para o ensino dos saberes matemáticos, apesar

de estas reconhecerem a importância do trabalho por meio desta metodologia

no desenvolvimento cognitivo dos aprendizes.

Os resultados e discussões relativos à terceira etapa da pesquisa de

campo, que consistiu no desenvolvimento de uma sequência didática, serão

apresentados no próximo capítulo deste trabalho de conclusão de curso.

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CAPÍTULO IV

CONSIDERAÇÕES SOBRE SEQUÊNCIA DIDÁTICA DESENVOLVIDA

“Quem ensina aprende ao ensinar e

quem aprende ensina ao aprender.”

(Paulo Freire)

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1 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Neste capítulo são apresentados resultados referentes ao

desenvolvimento de atividades integradas em uma sequência didática e

realizadas pelos alunos da segunda etapa D da escola na qual a pesquisa de

campo foi desenvolvida.

A sequência didática foi elaborada a partir de um modelo descrito e

sugerido por Smole (2000) e Smole et al (2004) e as atividades que a integram

contemplam os saberes apresentados em três dos eixos-temáticos do

Referencial curricular nacional para a educação infantil (BRASIL, 1998), a

saber: “Matemática”, “Artes visuais” e “Linguagem oral e escrita”.

Destaca-se que os objetivos estabelecidos e os saberes trabalhados

foram selecionados a partir do referencial supracitado, pois, como explicitado

no capítulo três deste trabalho, é um dos documentos que norteia as atividades

pedagógicas desenvolvidas na unidade escolar na qual realizou-se a pesquisa.

Embora não seja o documento utilizado como matriz teórica para a

pesquisa realizada, faz-se necessário ao menos mencionar que segundo

consta na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), um dos objetivos

relativos à Matemática na Educação Infantil refere-se à resolução de

problemas. Neste documento, que até o momento da redação final deste texto

estava em sua terceira versão, localiza-se o seguinte objetivo: “Resolver

situações problema, formulando questões, levantando hipóteses, organizando

dados, testando possibilidades de solução.” (BRASIL, 2017, p.48).

Nesse sentido, observa-se coerência entre o proposto no Referencial

curricular nacional para a educação infantil (BRASIL, 1998) e a Base Nacional

Comum Curricular no que se refere ao trabalho com resolução de problemas

matemáticos.

Os objetivos de ensino a serem alcançados com o desenvolvimento da

sequência didática foram: propiciar processo significativo de aprendizagem de

noções matemáticas por meio da articulação entre resolução de problemas e

textos para criança; e favorecer o desenvolvimento concomitante das

habilidades matemáticas e de linguagem. No Quadro 9, localizado abaixo, são

apresentados os objetivos de aprendizagem e os saberes trabalhados nesta

sequência didática, discriminados por eixo-temático. Apresentar-se-á à frente

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de cada saber e objetivo apenas a indicação da página onde eles se localizam

no Referencial curricular nacional para a educação infantil para evitar

repetições desnecessárias.

Quadro 9 – Sequência didática (saberes trabalhados e objetivos) (cont.)

Eixo temático Saberes trabalhados Objetivos

Artes Visuais

Fazer artístico • Produzir trabalhos de arte, utilizando a linguagem do desenho desenvolvendo o gosto, o cuidado e o respeito pelo processo de produção e criação (p.95).

• Valorização de suas próprias produções e de outras crianças (p.100).

Apreciação • Interessar-se pelas próprias

produções, pelas de outras crianças com as quais entrem em contato, ampliando seu conhecimento do mundo (p.95).

• Apreciação das suas produções e dos outros, por meio de observação e leitura (p.103).

Linguagem oral e escrita

Falar e escutar

• Escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor (p.131).

• Participação em situações que envolvem a necessidade de explicar e argumentar suas ideias e pontos de vista (p.137).

• Reconto de história com

aproximação às características da história original no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor (p.137).

Prática de leitura

• Participação em situações de leitura, ainda que não de maneira convencional (p.140).

Prática de escrita

• Interessar-se por escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional; (p.131)

• Prática de escrita de próprio punho, utilizando o conhecimento de que dispõe, no momento, sobre o sistema de escrita em língua materna (p.145).

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Eixo temático Saberes trabalhados Objetivos

Matemática

Números e sistemas de numeração

• Comunicar ideias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e resultados encontrados em situações-problema, utilizando a linguagem oral (p.215).

• Ter confiança em suas próprias estratégias e na sua capacidade para lidar com situações matemáticas novas, utilizando seus conhecimentos prévios (p.215).

• Comunicação de quantidades, utilizando a linguagem oral, a notação numérica e/ou registros não convencionais (p.220).

Grandezas e medidas

• Exploração de diferentes procedimentos para comparar grandezas (p.225).

• Introdução à estimativa e às noções de medida de altura e peso (p.225).

Fonte: elaborado pela pesquisadora a partir de BRASIL, 1998.

Com a finalidade de articular textos para criança e resolução de

problemas matemáticos, selecionou-se o livro Sabe de quem era aquele

rabinho?, da escritora Elza Cesar Sallut e elaborou-se as atividades da

sequência didática a partir dessa história. Os critérios estabelecidos para a

escolha desse livro foram: indicação de Smole (2000) e Smole et al (2004); e

análise da configuração textual no que se refere aos aspectos temático-

conteudísticos (originalidade do texto e tema que suscite a imaginação, a

criatividade, desperte o interesse das crianças e seja coerente à idade delas) e

estruturais-formais (ilustrações que despertem a atenção das crianças).

O livro narra a história de um elefante que decidiu viajar e, para se

despedir dos amigos, realizou uma festa. Durante a festa, o anfitrião capturou

uma fotografia dos convidados para guardar de lembrança e, para surpresa de

todos, apareceu um rabinho estranho na imagem. Diante dessa situação, os

animais, intrigados e assustados, decidiram descobrir a qual convidado o

misterioso rabinho pertencia. A figura 1, localizada abaixo, apresenta a capa do

referido livro.

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Figura 1 – Capa do livro Sabe de quem era aquele rabinho?, Elza Sallut

Fonte: foto do acervo da pesquisadora

Para organização e acompanhamento do desenvolvimento das

atividades da sequência didática elaborou-se um cronograma, apresentado no

Quadro 10, localizado abaixo.

Quadro 10 – Cronograma de desenvolvimento da sequência didática

Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira

Atividade 1: leitura do livro

Atividade 3: retomada do enredo da história

Atividade 5: história

recontada pelos alunos

Atividade 7: elaboração de tabela

Atividade 9: Desenho

Atividade 2: comparação entre o peso dos animais

Atividade 4: comparação entre a altura dos animais

Atividade 6: elaboração de gráfico

Atividade 8: apreciação do final da história

Atividade 10: exposição

dos desenhos

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2017)

A partir da análise do Quadro 10 é possível verificar que a sequência

didática teve duração de cinco dias letivos e foi composta por dez atividades

que contemplavam predominantemente os saberes trabalhados nos eixos-

temáticos artes visuais (atividades nove e dez); matemática (atividades dois,

quatro, seis e sete); e linguagem oral e escrita (atividades um, três, cinco e

oito), como explicitado na introdução deste capítulo. Nos tópicos a seguir, são

apresentados resultados obtidos por meio de cada atividade descrita no quadro

acima.

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1.1 Análise da primeira e segunda atividades

Neste tópico apresenta-se o desenvolvimento da primeira e da segunda

atividade. Inicialmente, realizou-se roda de conversa na qual esta pesquisadora

apresentou a capa do livro Sabe de quem era aquele rabinho?,

problematizando-a, com o intuito de estimular as crianças quanto ao

levantamento de hipóteses sobre a temática da história. Dentre as conjecturas

apresentadas pelos alunos, destacaram-se: “animais do zoológico”, “como

devemos tratar os animais” e “animais da África do Sul”.

No segundo momento, leu-se o título do livro (mencionando autora e

ilustradora) e iniciou-se a leitura da história. Durante a leitura das páginas dez e

11, nas quais aparece o misterioso rabinho, as crianças demonstraram

interesse em descobrir a qual animal ele pertencia e, sem intervenção desta

pesquisadora, levantaram e confrontaram variadas hipóteses. Nesse momento

de discussões, destacou-se a fala de uma criança que afirmou que o rabinho

era do rato. Diante de tal assertiva, esta pesquisadora indagou a aprendiz

sobre o motivo da escolha, isso porque aquele animal não foi mencionado na

história e ela argumentou que o rabinho pertencia ao rato por ser pequeno.

As afirmações da criança supracitada evidenciam o critério de seleção

por ela utilizado (tamanho) e desenvolvimento do processo cognitivo

“comparação”, mencionado no capítulo I deste texto, isso porque, ao defender

que o rabinho pertencia ao rato devido ao tamanho a aprendiz comparou a

proporcionalidade entre duas grandezas, a saber, o rabinho e o animal.

Após a leitura do livro, propôs-se às crianças a segunda atividade que

consistiu na elaboração de desenho que estabelecesse comparação entre o

animal mais pesado e o animal mais leve presente na festa do elefante. Os

espaços correspondentes à representação gráfica foram demarcados pelas

palavras “PESADO” e “LEVE” e a identificação destes realizada coletivamente.

Os aprendizes demonstraram facilidade nesta etapa e, por meio das

observações realizadas na turma D, é possível afirmar que esta decorreu dos

conhecimentos prévios dos quais as crianças dispunham, naquele momento,

sobre o sistema de escrita em língua materna. Sendo assim, solicitou-se a elas

que registrassem (à sua maneira) o nome dos animais desenhados na parte

inferior da folha e, posteriormente, realizou-se escrita convencional coletiva dos

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nomes, tendo, esta pesquisadora, atuado como escritora da turma. As figuras 2

e 3, localizadas abaixo, ilustram a segunda atividade realizada pelas crianças.

Figura 2 – Desenho da aluna M.V. referente à comparação entre o peso dos

animais

Fonte: aluna M. V. – 6 anos (2017)

Figura 3 – Desenho da aluna A. L. referente à comparação entre o peso dos

animais

Fonte: aluna A. L. – 5 anos (2017)

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Por meio da análise das figuras 2 e 3, é possível afirmar que as

crianças, aparentemente, demonstram desenvolvimento efetivo do processo

cognitivo “comparação” e compreendem as características opostas de

grandezas, um dos aspectos implicados na noção de medida. Como se sabe,

na Educação Infantil o trabalho com Matemática visa o desenvolvimento de

noções (conhecimentos elementares) relativas a essa área de conhecimento,

sendo assim, no espaço correspondente ao desenho do animal mais pesado,

considerou-se tanto o elefante quanto o hipopótamo, isso porque, a partir da

perspectiva da estimativa e, comparativamente aos demais animais da história,

eles representavam os com maior massa corporal.

A partir da análise do desenvolvimento da primeira e segunda atividades

e dos resultados obtidos por meio delas, é possível afirmar que, ao que consta,

estas atividades promoveram reflexões, por parte dos aprendizes, sobre o

sistema de escrita em língua materna e sobre noções matemáticas relativas à

grandezas e medidas.

1.2 Análise da terceira e quarta atividades

Neste item apresenta-se a análise do desenvolvimento e os resultados

obtidos a partir da terceira e quarta atividades realizadas na terça-feira com as

crianças da turma D.

Inicialmente, esta pesquisadora desenvolveu a terceira atividade que

consistiu na retomada do enredo da história Sabe de quem era aquele rabinho?

destacando os animais presentes na festa do elefante. Feito isso, explicou às

crianças a quarta atividade, a saber, que elas deveriam representar, por meio

de desenho, três animais presentes na festa do elefante, sendo eles o animal

mais alto, o de estatura mediana e o mais baixo. Destaca-se que a

hierarquização dos animais por altura foi intencional e objetivou desenvolver o

processo cognitivo “seriação” que, como explicitado no primeiro capítulo deste

trabalho, consiste no ato de ordenar uma sequência a partir de determinado

critério (LORENZATO, 2008).

As figuras 4 e 5, localizadas a seguir, apresentam alguns dos resultados

finais do desenvolvimento da quarta atividade.

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Figura 4 – Desenho do aluno G. referente ao animal mais alto, o de estatura

mediana e o mais baixo

Fonte: aluno G. – 6 anos (2017)

Figura 5 – Desenho da aluna N. referente ao animal mais alto, o de estatura

mediana e o mais baixo

Fonte: aluna N. – 6 anos (2017)

A partir da análise das figuras 4 e 5 é possível observar a relação lógica

estabelecida pelos aprendizes entre a dimensão real do animal e sua

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representação por meio do desenho, principalmente na figura 4. Também

pode-se afirmar que as crianças, ao que consta, compreendem a noção de

altura, isso porque tanto a escolha dos animais quanto a representação gráfica

deles foram precisas. Tal proposição fundamenta-se nas conclusões de Piaget

(1975) referentes à “representação”.

Para o autor supracitado, o termo “representação” pode ser utilizado em

dois sentidos diferentes: “lato” e “estrito”. No sentido “lato”, a representação é

compreendida como toda inteligência que se baseia num sistema de conceitos

ou esquemas mentais. No sentido “estrito”:

[...] ela reduz-se à imagem mental ou à recordação-imagem, isto é, à evocação simbólica das realidades ausentes. [...] é evidente que essas duas espécies de representações, latas e estritas, apresentam relações mútuas: o conceito é um esquema abstrato e a imagem um símbolo concreto [...] (PIAGET, 1975, p.87)

Diante disso, pode-se inferir que o desenho é uma evocação simbólica

(significante) por meio da qual os aprendizes evidenciam os conhecimentos por

eles construídos e que integram seus esquemas mentais (significado). Partindo

desse pressuposto, é possível afirmar que as ilustrações apresentadas nas

figuras 4 e 5 são símbolos concretos que exprimem a noção de altura

construída pelos aprendizes.

Os resultados obtidos por meio da terceira e quarta atividades

evidenciam que estas, ao que tudo indica, propiciaram desenvolvimento efetivo

do pensamento lógico-matemático dos aprendizes, isso porque viabilizaram o

trabalho com os processos cognitivos básicos “comparação” e “seriação” que,

na perspectiva de Lorenzato (2008), são impreteríveis no processo de

aprendizagens matemáticas, como explicitado no capítulo I deste trabalho.

1.3 Análise da quinta e sexta atividades

Neste tópico apresenta-se o desenvolvimento e a análise dos resultados

obtidos por meio da quinta e sexta atividades realizadas na quarta-feira. A

quinta atividade teve início com as crianças recontando, oralmente e com apoio

das ilustrações do livro, a história Sabe de quem era aquele rabinho?. Após a

leitura, observou-se que as crianças, assim como na segunda-feira, discutiam

entre si hipóteses sobre o animal ao qual o rabinho pertencia, entretanto,

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verificou-se mudanças, por parte de alguns aprendizes, na escolha do animal

e, a partir das observações realizadas, é possível inferir que estas decorreram

de reflexões propiciadas pelas discussões de hipóteses entre as crianças e da

análise das ilustrações do livro, uma vez que os aprendizes demonstraram ser

atentos e observadores.

Valendo-se desse momento de discussões, esta pesquisadora propôs às

crianças a elaboração coletiva de um gráfico que elucidasse a hipótese delas

sobre o animal ao qual o rabinho pertencia. Para desenvolvimento da atividade

esta pesquisadora (atendendo à sugestão da professora titular da turma, em

conversa informal) organizou figuras dos animais presentes na festa do

elefante em copos descartáveis identificados por meio de imagem e

representados por retângulos coloridos. A Figura 6, localizada abaixo,

apresenta esta organização.

Figura 6 – Foto ilustrativa da organização das figuras dos animais utilizadas na

sexta atividade

Fonte: foto do acervo da pesquisadora

Posteriormente, esta pesquisadora explicou às crianças que elas

deveriam, individualmente, escolher o animal e colar o retângulo no espaço

correspondente ao nome dele no gráfico. Durante a realização dessa atividade

uma criança questionou o motivo do elefante não estar entre as figuras dos

animais dispostos na mesa e duas aprendizes responderam que isso decorreu

do fato do elefante ser o fotógrafo, o que impossibilitava sua presença na

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fotografia. Tais afirmações evidenciam, ao que consta, o desenvolvimento

efetivo do raciocínio lógico das crianças, ao menos das que realizaram a

mencionada intervenção.

É importante destacar que apesar da minhoca não ser mencionada na

história ela aparece entre os animais porque algumas crianças afirmaram

(durante as discussões) que o rabinho, na verdade, era esse anelídeo.

Para localizar o espaço no gráfico que correspondia ao animal

selecionado pelas crianças esta pesquisadora empreendeu problematizações

referentes à escrita convencional do nome deles, objetivando promover

reflexões sobre o sistema de escrita em língua materna. Feito isso, propôs às

crianças a elaboração coletiva de um título para o gráfico, cujas sugestões

foram: “animais de diferentes rabinhos” e “os rabos dos animais”. Para escolha

do título, realizou-se votação e, a partir do cômputo dos votos, o título

selecionado foi “animais de diferentes rabinhos”.

Após a conclusão da sexta atividade realizou-se análise do gráfico a

partir de problematizações feitas por esta pesquisadora referentes ao animal

mais votado, o que recebeu menos votos, os casos de empate e os animais

que não receberam votos. As respostas à tais problematizações decorreram,

nesse momento, da percepção visual (senso numérico) e não da contagem

efetiva dos elementos. A Figura 7 apresenta o resultado do gráfico elaborado

na sexta atividade.

Figura 7 – Imagem ilustrativa do gráfico elaborado na sexta atividade

Fonte: foto do acervo da pesquisadora

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Por meio da análise da Figura 7, é possível constatar que o animal mais

votado foi o rato, seguido pela minhoca e pela zebra. Diante de tal constatação,

esta pesquisadora questionou as criança sobre os critérios utilizados para

escolha do animal e, dentre as respostas, destacaram-se a de três crianças: a

primeira argumentou que o rabinho pertencia ao rato porque era marrom como

o desse animal; a segunda afirmou ser uma minhoca devido ao formato do

rabinho; e a terceira defendeu que era do urso porque, na ilustração do livro, o

rabinho aparecia embaixo desse animal.

A partir da análise dos resultados obtidos por meio da quinta e sexta

atividades conclui-se que, aparentemente, estas proporcionaram às crianças

momentos de socialização e confronto de ideias que viabilizaram o

desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e autônomo, como

explicitado no primeiro e no segundo capítulos deste trabalho de conclusão de

curso.

1.4 Análise da sétima e oitava atividades

Neste tópico apresentam-se o desenvolvimento, a análise e os

resultados relativos à sétima e oitava atividades da sequência didática. A

sétima atividade, que consistiu na elaboração de uma tabela, foi realizada

coletivamente a partir dos dados apresentados no gráfico (Figura 7) da sexta

atividade. Durante essa atividade, observou-se que as crianças demonstraram

facilidade em ler o gráfico, posto que as respostas às indagações da

pesquisadora relativas à quantidade de votos que cada animal recebeu foram

precisas.

Concernente ao registro dos votos de cada animal, a notação realizou-se

por meio de signos e de símbolos objetivando desenvolver um trabalho que

possibilitasse aos aprendizes processo de construção da estrutura cognitiva

formal de número. É importante destacar que utilizou-se tanto o registro

convencional de numerais quanto o não-convencional em decorrência da crítica

à ênfase na representação dos numerais estritamente por meio de signos, o

que não proporciona a construção do conceito de número por parte dos

aprendizes, mas sim a memorização dos signos que os representam (KAMII,

2012).

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Após a elaboração da tabela esta pesquisadora problematizou os dados

apresentados nesse arranjo sistemático relativos ao animal mais votado,

menos votado, os casos de empate e os animais que não receberam votos.

Destaca-se que, nessa atividade, as respostas das crianças decorreram da

contagem de elementos e da leitura dos numerais, diferentemente da quinta

atividade cujas conclusões advieram da percepção visual. A Figura 8,

localizada abaixo, apresenta o resultado final da sétima atividade.

Figura 8 – Imagem ilustrativa da tabela elaborada na sétima atividade

Fonte: foto do acervo da pesquisadora

Concluída a sexta atividade esta pesquisadora contou o final da história

Sabe de quem era aquele rabinho? e, valendo-se da tabela, indagou os

aprendizes sobre a quantidade de crianças que acertou o animal ao qual o

rabinho pertencia. Feito isso, os aprendizes, mediados pela pesquisadora,

apreciaram a história ressaltando o que gostaram (ou não) e, nesse momento

de socialização, esta propôs àqueles a elaboração, no dia seguinte, de um final

que ilustrasse a reação do elefante e dos demais animais presentes na festa ao

descobrirem que o rabinho pertencia ao rato. As crianças aceitaram

prontamente e demonstraram entusiasmo em realizar a atividade proposta.

A partir da análise dos resultados e do desenvolvimento da sétima e da

oitava atividades, pode-se concluir que estas, ao que consta, propiciaram às

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crianças desenvolver o potencial crítico, por meio da apreciação da história;

ampliar os conhecimentos numéricos; e compreender e utilizar estratégias

matemáticas, como a contagem, para responder à problematizações.

1.5 Análise da nona e décima atividades

Neste tópico apresentam-se o desenvolvimento e os resultados da nona

e décima atividades realizadas na sexta-feira. Como mencionado no tópico

anterior deste capítulo, na nona atividade solicitou-se às crianças que

elaborassem um desenho que ilustrasse a reação do elefante e dos demais

animais ao constatarem que o rabinho era do rato. Feito isso, propôs-se aos

aprendizes que cada um explicasse sua criação aos colegas, à professora

titular e à pesquisadora, uma vez que permitir que as crianças falem sobre

suas criações e escutem as observações dos colegas viabiliza a reformulação

de ideias, a construção de conhecimentos e o desenvolvimento do aspecto

social (BRASIL, 1998).

As Figuras 9, 10, 11 e 12, localizadas a seguir, apresentam alguns dos

finais alternativos para a história Sabe de quem era aquele rabinho?

elaborados por alguns dos aprendizes da turma D.

Figura 9 – Desenho da aluna R. para final alternativo à história Sabe de quem

era aquele rabinho?

“O elefante pegou o rato e eles foram viajar juntos.” Fonte: aluna R. – 5 anos (2017)

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Figura 10 – Desenho da aluna A. C. para final alternativo à história Sabe de

quem era aquele rabinho?

“O ratinho foi convidado e todos foram dançar.” Fonte: aluna A. C. – 6 anos (2017)

Figura 11 – Desenho do aluno E. para final alternativo à história Sabe de quem

era aquele rabinho?

“Ele [elefante] jogou o rato no lixo” Fonte: aluno E. – 6 anos (2017)

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Figura 12 – Desenho da aluna M. C. para final alternativo à história Sabe de

quem era aquele rabinho?

“O elefante ficou com medo, mas deixou o rato na festa porque o rato era tímido e ficou com vergonha de tirar foto porque não queria aparecer.” Fonte: aluna M. C. – 5 anos (2017)

No que tange aos saberes matemáticos, é possível verificar, por meio da

análise das Figuras 9, 10, 11 e 12, compreensão, por parte das crianças, da

comparação entre grandezas. Observe que, na Figura 10, cujo desenho foi

elaborado pela aluna A.C., o esquilo comparativamente ao rato é maior e

comparativamente ao elefante e à girafa é menor.

A partir das figuras acima também é possível observar a relação lógica

estabelecida pelas crianças no que se refere à dimensão real do animal e a

representação gráfica dele, assim como a utilização das cores reais dos

animais representados.

Os resultados obtidos por meio da nona e décima atividades evidenciam

que estas, ao que consta, possibilitaram o desenvolvimento da sensibilidade,

percepção, criatividade, imaginação, autonomia, autoestima, autoconfiança e

de aspectos sociais e cognitivos dos aprendizes.

A partir das considerações feitas no decorrer deste capítulo, conclui-se

que as atividades da sequência didática, aparentemente, suscitaram

aprendizagens matemáticas; possibilitaram o desenvolvimento do

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conhecimento lógico-matemático; viabilizaram o desenvolvimento concomitante

de habilidades matemáticas e de linguagem; e promoveram momentos de

elaboração e confronto de hipóteses, socialização e troca de experiências que

culminaram na construção de conhecimentos. Destaca-se que é impossível

descrever integralmente as aprendizagens que as atividades, a interação entre

aluno-aluno e aluno-pesquisadora proporcionaram aos aprendizes e a esta

pesquisadora no decorrer das aulas nas quais desenvolveu-se a sequência

didática visto a amplitude evidente que tais interações propiciam.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados de pesquisa apresentados neste trabalho de

conclusão de curso conclui-se que o processo de construção do conhecimento

lógico-matemático, a partir da perspectiva piagetiana, consiste na coordenação

de relações que o sujeito estabelece entre os objetos de aprendizagem ao agir

sobre eles.

Sendo assim, as aprendizagens matemáticas (um dos aspectos do

conhecimento lógico-matemático) não se dão por meio de explicações claras e

precisas que o educador fizer ou pela transmissão de rudimentos das noções

matemáticas, como reconhecimento de algarismo, nome dos numerais e o

domínio da sequência numérica, mas se efetivam à medida que o sujeito

interage com os objetos de conhecimento, com o meio e com outros indivíduos.

Nesse sentido, constata-se a relevância do ensino de Matemática a

partir da metodologia da resolução de problemas, isso porque esta contribui

para o desenvolvimento de aspectos cognitivos, promove a socialização, a

troca de experiências e elucida as práticas sociais da Matemática propiciando a

formação de cidadãos matematicamente alfabetizados e capazes de enfrentar

situações adversas em diferentes contextos.

No entanto, para que o trabalho com resolução de problemas

matemáticos seja efetivo, faz-se necessário que os educadores compreendam

que um problema matemático intrigante é aquele que é significativo e

desafiador para o aprendiz, que desestrutura seus conhecimentos, que

possibilita a elaboração, o levantamento e testagem de hipóteses elaboradas,

sendo esse o ponto principal para o trabalho com essa metodologia.

Diante disso, evidencia-se as contribuições dos textos para criança no

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, especificamente na

resolução de problemas, haja vista que estes textos propiciam o

desenvolvimento do pensamento lógico, do potencial crítico, da autonomia e da

habilidade de interpretar diferentes situações; suscitam a curiosidade, a

imaginação e a criatividade, além de representarem uma mudança significativa

no ensino tradicional de Matemática e propiciarem o desenvolvimento

concomitante de habilidades matemáticas e de linguagem. Assim, pode-se

afirmar que a hipótese estabelecida a partir do problema de pesquisa

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explicitada na introdução deste trabalho de conclusão de curso foi confirmada e

o objetivo geral atingido.

É importante frisar que apesar da articulação entre resolução de

problemas matemáticos e textos para criança ser um recurso para

desenvolvimento de trabalho contextualizado e significativo para as crianças,

faz-se necessário que o educador considere dois aspectos importantes: os

aspectos matemáticos não podem ser enfatizados indevidamente para que a

história não seja distorcida; e a exploração do texto literário não deve ser

colocada em segundo plano para que sua interpretação não se torne ingênua

ou falsa.

Portanto, é fundamental que o educador, ao desenvolver trabalho com

resolução de problemas matemáticos a partir dos textos para criança, promova

momentos de discussões e apreciação do gênero literário para que, assim, o

texto não seja didatizado e perca seu reconhecimento como arte ao ser

utilizado apenas como metodologia para ensinar noções e conceitos

matemáticos.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A

Questionário aplicado às professoras participantes

da pesquisa de campo

Formação profissional:

Habilitação específica para o Magistério ( )

Graduação em Pedagogia ( )

Especialização em Educação Infantil ( )

Tempo de atuação na Educação Infantil (pré-escola):

1. Você atribui importância ao ensino de Matemática na Educação Infantil?

Por quê?

2. Você poderia citar a(s) metodologia(s) utilizada(s) em suas aulas para

trabalhar com os saberes destacados no eixo Matemática do Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)?

3. Você se baseia em alguma teoria educacional para trabalhar com a

Matemática? Por quê?

4. Em sua opinião, quais conhecimentos são necessários ao educador para

que este desenvolva um trabalho que possibilite aos educandos a elaboração

de noções matemáticas?

5. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)

propõe o ensino de Matemática por meio da resolução de problemas. Em sua

opinião, é relevante trabalhar a partir dessa perspectiva? Por quê?