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jeferson bandeira a relva dita a cor das nuvens 1 a edição - 2011 LVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 1 10/5/11 2:34

a relva dita a cor das nuvens

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livro de poemas que se divide em estações do ano, cada uma representando uma fase da vida.

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  • jeferson bandeira

    a relva dita a cor das nuvens

    1a edio - 2011

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  • copyright jeferson bandeira, 2011

    projeto grfico e capa: samir mesquita

    contato: [email protected]

    Bandeira, Jeferson. A relva dita a cor das nuvens: poemas e prosas poticas Jeferson Bandeira - Curitiba: J. Bandeira, 2011.

    70 p. ; 10,5x17 cm.

    1. Literatura brasileira - Paran. I. Ttulo.

    CDD (22a Ed.) B869.15

    c

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  • prefcio

    apesar de agora estarmos em uma relva,

    este livro de jeferson bandeira tem gosto de

    fruta madura, onde cada poema traduz esse

    amadurecimento do poeta em versos carregados

    de percepes, a vida matou meu olhar de menino,

    repletos de memria, aquele terreiro salpicado

    de bolinhas foi o primeiro cu de estrelas que vi,

    sempre envoltos pela impreciso do tempo, o dia

    se estende como rede de corais. apesar disso,

    sua viso de mundo sempre pontual, o tempo

    aprende a esperar. mesmo quando o assunto

    amor, quem aprendeu a amar prendeu-se guerra,

    o que realmente importa sentir o pulsar das

    palavras. ler um ato solene, uma espcie de

    pseudo-morte, uma suspenso dos sentidos em

    busca de seu mais alto grau de intui-o, e o

    que o autor prope. o atemporal sempre flertan-

    do com o tempo, tiquetaqueando a nostalgia com

    o intuito de aprisionar em versos o que h de

    mais precioso, puro, quando criana tinha cada

    estrela como lampio, quando criana... era feliz,

    o mistrio repousava sobre minhas plpebras.

    de monsticos releitura de um poema, de

    haicais prosa potica, o livro transita atravs

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  • das estaes do ano, o olhar do poeta um

    flash captador de instantes nicos, foge o que

    era presena, assenta-se o que distncia, a

    beleza est unicamente no olhar. onde reside

    essa beleza? no poeta, no poema ou no leitor?

    no h como separar. isso nos remete ao

    Sutra dos Mistrios Magnficos, como a lua

    e o brilho da lua, do princpio ao fim, ambos

    so indissociveis. a fasca potica reside nos

    elementos quando se completam como um s.

    a poesia no nasce para ser explicada, mas

    para ser sentida, para estremecer o que h de

    mais puro em ns, este interior que nunca se

    decodifica, o nosso no-pensar, ou seja, a relva

    quem dita a cor das nuvens em uma atmosfera

    povoada de poemas, os poemas de jeferson bandeira.

    alvaro posselt

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  • primavera

    com satisfao que te abro para a vida,

    pequeno boto germinado e aquecido na

    semente, estrela que aos poucos incandesce.

    no desprezes a chance de respirar o novo,

    no temais as mos indelicadas e os olhos

    insensveis. basta buscar-te em seiva, quando

    pensar em podar-te prematuramente. pois vejo

    que o sol vem despontando, esse sol. passada

    a histria de uma infncia, ser vero.

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  • uma gota apenas

    curvou-se em arco-ris:

    fez-se primavera

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  • voa quanto der:

    tuas asas, imagino,

    bumerangue so.

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  • um dedo de sol

    afastou minha cortina:

    aura que surgia.

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  • um dedo de sol

    afastou minha cortina:

    aura que surgia.

    a febre noturna

    s me fez olhar a tempo

    teu riso na lua.

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  • aquele terreiro

    salpicado de bolinhas

    foi o primeiro cu

    de estrelas que vi.

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  • aquele terreiro

    salpicado de bolinhas

    foi o primeiro cu

    de estrelas que vi.

    no branco papel

    (dez)rebanhadas estrelas

    conduzem ao cu.

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  • pingos na vidraa.

    todo cu se deita em pranto:

    minha vista embaa.

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  • pingos na vidraa.

    todo cu se deita em pranto:

    minha vista embaa.

    fera indomada

    sacode o poema.

    por que tem-la?

    erro, seria dom-la.

    deixem-na tecer,

    confluir a fala,

    varar o peito.

    vento s , se solto.

    poesia qualquer momento:

    (carga de infncia)

    invento.

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  • tudo tinha sido escrito,

    mas veio tal vento...

    redecorou o infinito.

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  • meus dedos em prece,

    s que a linha do desejo

    mos frias destecem.

    tudo tinha sido escrito,

    mas veio tal vento...

    redecorou o infinito.

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  • quando estrelas

    tomam as harpas,

    lua em palco

    sobre lmpido

    lago.

    atraem-se

    alternados passos

    a riscar:

    inusitado

    ondear

    de lbios.

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  • quando estrelas

    tomam as harpas,

    lua em palco

    sobre lmpido

    lago.

    atraem-se

    alternados passos

    a riscar:

    inusitado

    ondear

    de lbios.

    o sertanejo

    teima

    no cigarro

    de palha:

    sutil

    agonia

    de um vaga-lume

    ao luar.

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  • bem antes da escola, lembra a me

    ter falado da floresta de palavras.

    dizia-se uma mata fechada:

    coisas ainda exticas.

    balbuciava, talvez sussurrasse

    um trato, uma cumplicidade:

    jogo entre palavras.

    e como um desenho de rios

    insinuava palavras, como chaves

    que levavam a outras palavras.

    fechada a lio, ia dormir

    e volta e meia se debruava

    sobre densos jardins seduzindo

    quem os adentrava.

    como um altivo caador

    de borboletas se imaginava:

    de redinha e tudo.

    no mundo dos seus sonhos,

    ou melhor, mundo das palavras,

    caava letras.

    se palavreava

    no palavro da floresta.

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  • bem antes da escola, lembra a me

    ter falado da floresta de palavras.

    dizia-se uma mata fechada:

    coisas ainda exticas.

    balbuciava, talvez sussurrasse

    um trato, uma cumplicidade:

    jogo entre palavras.

    e como um desenho de rios

    insinuava palavras, como chaves

    que levavam a outras palavras.

    fechada a lio, ia dormir

    e volta e meia se debruava

    sobre densos jardins seduzindo

    quem os adentrava.

    como um altivo caador

    de borboletas se imaginava:

    de redinha e tudo.

    no mundo dos seus sonhos,

    ou melhor, mundo das palavras,

    caava letras.

    se palavreava

    no palavro da floresta.

    naquelas pipas aladas,

    em tardes de pura farra de viver,

    um lume novo rasgava nuvens

    soltas pelo hlito ressecado

    de quem deixou de se perceber

    como ser, um algum,

    uma identidade.

    uma (in)certa leveza se precipitava

    frente ao precipcio de contrariedades.

    a dedo eram escolhidos os bambus

    e quem se despisse das privaes

    de um olhar to saturado

    por essas fraudes procriadas

    [extensivamente

    notaria o fantstico da realidade,

    a realidade fantstica.

    no eram apenas bambus,

    um simples papel de seda.

    sim, algo mais palpvel

    que entrava pelos olhos,

    transitava pelos poros.

    aquelas pipas eram verdadeiros pssaros

    escapulidos da cartola inocncia.

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  • assentados sobre muros,

    aqueles pssaros.

    bandos alternados,

    inocentes postados em linha.

    se havia um lder, no sei.

    um canto abafado

    de bom dia...

    perdia-se alm.

    pousados nos muros,

    me fitavam:

    pobres olhares admirados.

    no sei o porqu,

    aqueles pssaros,

    mesmo desintencionados,

    tiravam a magia

    das estrias contadas

    por minha me.

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  • assentados sobre muros,

    aqueles pssaros.

    bandos alternados,

    inocentes postados em linha.

    se havia um lder, no sei.

    um canto abafado

    de bom dia...

    perdia-se alm.

    pousados nos muros,

    me fitavam:

    pobres olhares admirados.

    no sei o porqu,

    aqueles pssaros,

    mesmo desintencionados,

    tiravam a magia

    das estrias contadas

    por minha me.

    pingou-se uma gota negra

    na alva geleira.

    como aquilo soasse bem,

    encheu-se a tela num vai e vem.

    da gota primeira perdeu-se

    o rumo.

    o vu da noite

    invejou-se do feito

    na terra

    e para evitar futuras guerras

    fez-se um combinado:

    como o cu era escuro,

    os pinguins estrelados

    se refletiram brancos.

    assim at hoje:

    de dia os vemos de costas,

    noite estufam o peito.

    por isso a razo

    do branco e preto.

    enquanto achamos

    que eles dormem...

    velam nosso leito.

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  • meu pai entornava uns tragos, foi embora.

    minha me era secretria - eu, com vergonha.

    irmo, eu no tinha. Deus sabe o que faz.

    sozinho, menino, andando na 9 de julho,

    via a histria de joana (uma menina,

    mais ou menos, da minha idade

    ia de carro em carro entregando um

    bilhetinho)

    comprida histria que talvez no acabe mais.

    no meio-dia branco de luz uma voz

    tentava me animar, era minha imaginao

    dando-me tudo o que a vida no quer.

    sonho lindo que nem camila,

    sonho gostoso, sonho bom.

    depois do expediente, claro, a me ficava

    sentada costurando (metfora para quem

    devia criar uma composio).

    no reclamava, ao contrrio de mim.

    l longe meu pai talvez medicasse,

    tratando dos dentes de possveis

    pacientes de muita renda.

    e eu aqui, invejando a vida de charles augusto

    (que at nome de prncipe j tinha).

    dizendo tudo isso sem saber

    que a minha histria

    era mais bonita que a de joana.

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  • meu pai entornava uns tragos, foi embora.

    minha me era secretria - eu, com vergonha.

    irmo, eu no tinha. Deus sabe o que faz.

    sozinho, menino, andando na 9 de julho,

    via a histria de joana (uma menina,

    mais ou menos, da minha idade

    ia de carro em carro entregando um

    bilhetinho)

    comprida histria que talvez no acabe mais.

    no meio-dia branco de luz uma voz

    tentava me animar, era minha imaginao

    dando-me tudo o que a vida no quer.

    sonho lindo que nem camila,

    sonho gostoso, sonho bom.

    depois do expediente, claro, a me ficava

    sentada costurando (metfora para quem

    devia criar uma composio).

    no reclamava, ao contrrio de mim.

    l longe meu pai talvez medicasse,

    tratando dos dentes de possveis

    pacientes de muita renda.

    e eu aqui, invejando a vida de charles augusto

    (que at nome de prncipe j tinha).

    dizendo tudo isso sem saber

    que a minha histria

    era mais bonita que a de joana.

    vero

    chegaste ao vero cheia de sonhos, e trazendo

    contigo o calor de ainda semente. agora,

    desabrochada flor, olhos sedentos se debruam

    sobre o vio de tua seiva fina, viva, pulsante.

    chegada a hora das escolhas, dos tropeos,

    da gama de utopias, do rosrio de certezas.

    aproveita, como carpe diem, que se aproxima o

    filme estreando na despedida, despedida desse

    sol. lusco-fusco em ascenso, outono.

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  • a janela contorneia quadro vivo

    cometa aflito:

    suspiro

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  • se em veludo verso

    h nos olhos fria pedra:

    desejo em sangrar.

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  • do poema a busca:

    noite escura.

    persegue, some,

    soma lutas.

    tenta encurralar:

    normas impuras.

    dilema sacro-ertico,

    encana, surta.

    jogo ldico-nevrlgico,

    destranca,

    avulta.

    poema em contra,

    chama pura.

    dilema que encanta,

    enquanto amarga

    e (lou)cura.

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  • escorre a calma do sentimento,

    enquanto lbios buscam o beijo:

    o resto segredo indecifrvel.

    do poema a busca:

    noite escura.

    persegue, some,

    soma lutas.

    tenta encurralar:

    normas impuras.

    dilema sacro-ertico,

    encana, surta.

    jogo ldico-nevrlgico,

    destranca,

    avulta.

    poema em contra,

    chama pura.

    dilema que encanta,

    enquanto amarga

    e (lou)cura.

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  • ardem poros, nuvens chilenas.

    espigas, lagos, frutos exticos.

    beijo de janela calentado em falso sol,

    metade demarcada friamente em d.

    que no pode um ser, l alm do amor,

    costurar cortinas pluviais, alpendres

    [desrticos.

    aquoso na equao dissolvida

    em esperas,

    golondrina alvejada em fulgor:

    rasante mortal.

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  • captura-se quando primavera.

    ao riscar estrelas em plen,

    inflama-se como anis de saturno.

    supera-se num breve sorriso puro,

    tocando ao ser tocada, como a ctara

    impecavelmente afinada das cigarras.

    navegando manhs de relva intocada,

    arranhando o dia com mos de fada.

    ardem poros, nuvens chilenas.

    espigas, lagos, frutos exticos.

    beijo de janela calentado em falso sol,

    metade demarcada friamente em d.

    que no pode um ser, l alm do amor,

    costurar cortinas pluviais, alpendres

    [desrticos.

    aquoso na equao dissolvida

    em esperas,

    golondrina alvejada em fulgor:

    rasante mortal.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 29 10/5/11 2:35 AM

  • seria entre a areia um ser

    de seiva.

    sedentos tentculos, vias

    serenas.

    de areia um ser

    sereia

    seria um bote na veia

    ser de areia.

    sereia e meia

    lua entre estrelas

    sereneia

    sobre frgil teia.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 30 10/5/11 2:35 AM

  • ela quer que

    deixe de moda

    e case.

    mas a moda

    deix-la

    na saudade.

    seria entre a areia um ser

    de seiva.

    sedentos tentculos, vias

    serenas.

    de areia um ser

    sereia

    seria um bote na veia

    ser de areia.

    sereia e meia

    lua entre estrelas

    sereneia

    sobre frgil teia.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 31 10/5/11 2:35 AM

  • meu grito vira gato,

    vai pelos telhados roando sua ausncia.

    a lua, em todo seu esplendor de brancura,

    se apaga ao tocar a geada polvilhando

    [os olhos.

    viro gelo seco ao toque das estrelas,

    perfume de alfazema indo de encontro,

    evaporo entres as rosas murchas.

    viro sapo e inflo o peito,

    um efeito sonoro sai meio sem jeito,

    rebate na lua, d na estrada insegura.

    e toda a arquitetura traz evidncias

    de que a rota escura nica clareza.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 32 10/5/11 2:35 AM

  • em jasmins o delrio pede pouso.

    respira outra essncia.

    sabe da fragilidade do olhar.

    quando se desata do concreto,

    algo muda como um todo.

    dilogo novo sobre a rspida mudez

    desenrola linha.

    traduz-se entre ptalas e clios:

    carnosa sintonia.

    um fogo novo transforma em cristais

    o pasmo abrigado nas retinas.

    em jardins de lr ios tudo se recria.

    meu grito vira gato,

    vai pelos telhados roando sua ausncia.

    a lua, em todo seu esplendor de brancura,

    se apaga ao tocar a geada polvilhando

    [os olhos.

    viro gelo seco ao toque das estrelas,

    perfume de alfazema indo de encontro,

    evaporo entres as rosas murchas.

    viro sapo e inflo o peito,

    um efeito sonoro sai meio sem jeito,

    rebate na lua, d na estrada insegura.

    e toda a arquitetura traz evidncias

    de que a rota escura nica clareza.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 33 10/5/11 2:35 AM

  • por detrs da lua,

    sinto a procura

    abdicar o tom

    de lcida.

    subornar nuvens,

    captar reminiscncias

    de loucura,

    desterrar castelos de algodo

    e seda crua.

    por detrs da lua,

    fantasia de sol

    em noite obscura.

    deitando drinques,

    alicerando fraturas

    no cristal colrio

    de novas descomposturas.

    entre o efmero e o brio,

    quem sabe

    uma noite mal-dormida.

    um dia amargo sem partida

    a recordar.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 34 10/5/11 2:35 AM

  • falso

    amor

    curado

    a lgrimas

    (e)terno

    escravo

    de

    banhos-

    maria.

    por detrs da lua,

    sinto a procura

    abdicar o tom

    de lcida.

    subornar nuvens,

    captar reminiscncias

    de loucura,

    desterrar castelos de algodo

    e seda crua.

    por detrs da lua,

    fantasia de sol

    em noite obscura.

    deitando drinques,

    alicerando fraturas

    no cristal colrio

    de novas descomposturas.

    entre o efmero e o brio,

    quem sabe

    uma noite mal-dormida.

    um dia amargo sem partida

    a recordar.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 35 10/5/11 2:35 AM

  • falta amor

    falta calor

    falta a prpria falta.

    desejos sem preliminares,

    rabiscados

    pelo prprio hlito

    so levados.

    falta dor

    falta frio

    falta a prpria falta

    de sentir vazio.

    beijos vm rotulados,

    ausente dono,

    comem poeira

    assentada.

    falta olhar

    para as coisas

    e cont-las

    risadas.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 36 10/5/11 2:35 AM

  • foi em noites lilases de conchas e algas

    flutuando em mares ecos de sereias

    e de harpas em sinfonia de nuvens

    [cordas soltas

    que te disse: espera-me.

    ainda eu tinha um pouso,

    indeterminada insnia,

    era natural que minhas setas j tivessem

    alvejado o lbulo de coraes

    [ inexperientes em mares.

    e fui, como astuto marinheiro,

    arrastando as plagas

    de territrios beijos vaporizados,

    carcias mnimas.

    eis que o grande lobo do mar rugiu

    [no peito-mor.

    hoje apenas me resta dizer: esquea-me.

    o feitio jogou as velas contra o rochedo.

    falta amor

    falta calor

    falta a prpria falta.

    desejos sem preliminares,

    rabiscados

    pelo prprio hlito

    so levados.

    falta dor

    falta frio

    falta a prpria falta

    de sentir vazio.

    beijos vm rotulados,

    ausente dono,

    comem poeira

    assentada.

    falta olhar

    para as coisas

    e cont-las

    risadas.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 37 10/5/11 2:35 AM

  • trepidam os trilhos em sentido inverso,

    no h sol, por ou porto.

    as malas se colocam alinhadas,

    a mo vacila, o olhar se projeta:

    um filme estreia na despedida.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 38 10/5/11 2:35 AM

  • outono

    de nada adianta orvalhar-te, j quase extinta

    flor. as indagaes s aceleram o processo.

    foste o que te possibilitaram teus anseios -

    reprimidos ou no - e o curso do rio por onde

    a vida foi levada. o vio que era exuberante

    internamente, agora vai descolorindo na ponta

    das ptalas. mas tudo valeu, no foste

    cristal jamais usado. conservaste lembranas,

    mesmo que pouco as recorde. e esse arrefeci-

    mento, assim em dispersos acordes, anuncia-se

    inverno.

    trepidam os trilhos em sentido inverso,

    no h sol, por ou porto.

    as malas se colocam alinhadas,

    a mo vacila, o olhar se projeta:

    um filme estreia na despedida.

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  • ao sabor da brisa cptica,

    lambo as feridas, cicatrizo imperfeitos

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  • desguam meus olhos:

    rio que no quer calar

    perdido em crregos.

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  • caducaram

    o fruto, a mo e o olhar.

    o fruto se julgava altivo;

    a mo, livre; o olhar, pleno.

    mas no princpio era o adjetivo:

    efmero.

    tudo estava escrito

    no barro que prendeu

    o mosquito.

    depois o fssil acobertou

    o verbo.

    o envelhecer fugiu

    de mansinho,

    carregava um embrulho:

    relgio.

    naquele tempo ainda biolgico.

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  • tarde, eu sinto,

    o pulso das nuvens descora,

    a cartilagem do adeus enrijece.

    no tinha como,

    contas de desejo espalhadas,

    claridade obscura nas gavetas

    [do presente.

    (uma religio desfeita entre as mos)

    foi arder quando o inverso

    se fez carne de amante primaveril,

    trajetria de projteis dispersos no olhar.

    o trem alertou o ausente,

    os galhos se camuflaram entre os pingos,

    a chama da hora cuspiu os excessos.

    tarde eu sinto

    o tamboril de um canto fnebre

    ritmado nos nervos de cada verso.

    caducaram

    o fruto, a mo e o olhar.

    o fruto se julgava altivo;

    a mo, livre; o olhar, pleno.

    mas no princpio era o adjetivo:

    efmero.

    tudo estava escrito

    no barro que prendeu

    o mosquito.

    depois o fssil acobertou

    o verbo.

    o envelhecer fugiu

    de mansinho,

    carregava um embrulho:

    relgio.

    naquele tempo ainda biolgico.

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  • sorriso plido entre folhas cariadas.

    beija-flores em mutiro socorrem o sonho.

    cactos capturam lgrimas pela adaga

    [do destino evocadas.

    (ferrugem)

    presente contrabandeado caduca,

    [em flagrante autuado.

    a natureza tenta absolvio,

    o corao delata recorrncia no ato.

    sem outra escolha, o corpo lastima:

    [espinhos, cacos.

    (ferrugem)

    engrenagens de suas foras,

    para espanto, travam simultaneamente.

    a esperana detida, os desejos

    [recusam defesa.

    incapaz do extraordinrio, vai ao cho

    [colossal prisioneiro.

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  • pouco amor ainda resta no copo.

    feito de amor pouco resta ainda.

    poucas slabas os olhos serenos.

    sereno da vida o outono aprimora.

    pouca cinza para tanta lgrima:

    aurora fria.

    copo e corpo contemplam o mrmore.

    pouco frio, algum resqucio.

    pouca iluso ainda resta no corpo.

    copo cheio de rancor e pouca vida.

    formas hbridas os focos de argila.

    terreno da partida, assombro se vangloria.

    pouca pressa para tanta agonia:

    demora inspida.

    sorriso plido entre folhas cariadas.

    beija-flores em mutiro socorrem o sonho.

    cactos capturam lgrimas pela adaga

    [do destino evocadas.

    (ferrugem)

    presente contrabandeado caduca,

    [em flagrante autuado.

    a natureza tenta absolvio,

    o corao delata recorrncia no ato.

    sem outra escolha, o corpo lastima:

    [espinhos, cacos.

    (ferrugem)

    engrenagens de suas foras,

    para espanto, travam simultaneamente.

    a esperana detida, os desejos

    [recusam defesa.

    incapaz do extraordinrio, vai ao cho

    [colossal prisioneiro.

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  • por que querer da lua

    um rosto, um aroma, uma identidade?

    fazem juras eternas,

    empunham sentimentos etreos,

    e para qu?

    quem cobrou o qu? apenas algum

    [que se afoba,

    come segundos com tamanho mpeto.

    na desordem dos sonhos,

    caa escritos em papel carbono

    para estampar um amor,

    mais puro suborno,

    entre almas ausentes de adorno.

    no branco da lua no h o que v

    - nem se v nada -

    apenas uma iluso sequer escapulida

    [do casulo.

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  • no cavalo da vida aventurar-se.

    rasgar rios; descortinar horizontes.

    pedir um copo de insnia

    quando do momento decisivo.

    este lombo projetado,

    carrega o peso que lhe cabe.

    colecione seus pobres amores,

    impossibilidades tidas como indiferenas

    do destino amor.

    cavalgue; arranhe a relva:

    flores cultivou a provar a falta de zelo.

    ao notar a palidez nas veias do animal,

    assente ao cho como fibrosa folha

    [ressecada.

    a terra sempre sabe acolher.

    por que querer da lua

    um rosto, um aroma, uma identidade?

    fazem juras eternas,

    empunham sentimentos etreos,

    e para qu?

    quem cobrou o qu? apenas algum

    [que se afoba,

    come segundos com tamanho mpeto.

    na desordem dos sonhos,

    caa escritos em papel carbono

    para estampar um amor,

    mais puro suborno,

    entre almas ausentes de adorno.

    no branco da lua no h o que v

    - nem se v nada -

    apenas uma iluso sequer escapulida

    [do casulo.

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  • desvir tue o pretexto,

    aspereza de ausncia,

    fenda na riqueza,

    plenos olhos imaturos.

    olhe no espelho, se convena,

    todo gesto sutil pouca luz

    contida na cripta do passageiro.

    no! seu gosto, se pronto no evapora,

    estampa no ar reminiscncias.

    - deleite labial entorpecente -

    ilude tato, amanhece cinza.

    segue-se carncia,

    espao ralo

    nfima

    nostalgia.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 48 10/5/11 2:35 AM

  • sobre rstico caixo

    chora a gaita

    do velho:

    colono desconsolado.

    desvir tue o pretexto,

    aspereza de ausncia,

    fenda na riqueza,

    plenos olhos imaturos.

    olhe no espelho, se convena,

    todo gesto sutil pouca luz

    contida na cripta do passageiro.

    no! seu gosto, se pronto no evapora,

    estampa no ar reminiscncias.

    - deleite labial entorpecente -

    ilude tato, amanhece cinza.

    segue-se carncia,

    espao ralo

    nfima

    nostalgia.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 49 10/5/11 2:35 AM

  • s queria

    aquec-la naquela noite,

    confort-la,

    aquela noite,

    mas ela preferiu

    beijar a minha fronte,

    descer at meus ps

    e arrastar-me

    at o nada

    daquela ponte.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 50 10/5/11 2:35 AM

  • a fala da flor, um tanto cortada,

    suprime assim possa expressar o todo.

    evita-se excesso, tempo pouco,

    ri-se o osso, hospeda despedida.

    ptalas slabas desabrocham ilcitas,

    abrem-se em mistrio, quebram expectativas.

    o vocbulo da flor poda conquistas,

    pega ao avesso, desliza pela vista.

    porto de espera, confluncia martima,

    em silncio tanto mais comunica.

    s queria

    aquec-la naquela noite,

    confort-la,

    aquela noite,

    mas ela preferiu

    beijar a minha fronte,

    descer at meus ps

    e arrastar-me

    at o nada

    daquela ponte.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 51 10/5/11 2:35 AM

  • teve medo de arriscar. seu corpo ficou intacto,

    preservado. como um cristal, jamais usado,

    que se guarda com tanto carinho. belo nos seus

    tantos anos, mas vazio de lembranas.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 52 10/5/11 2:35 AM

  • inverno

    o que sobrou de ti, desabrochada flor? para

    onde foi teu perfume? a terra guardou tua

    memria. outra semente gesta os poros dessa

    fina camada desprendida na hora do adeus.

    chegou o tempo de costurar as fendas, a relva

    comea a desgelar. h um novo aroma no ar,

    uma nova tentativa de descobertas. abre o pei-

    to para capturar borboletas; e que a relva ditea

    cor das nuvens. venha, primavera, abrao-te.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 53 10/5/11 2:35 AM

  • mas sempre pensamos

    que sentimos

    o que h de mais

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 54 10/5/11 2:35 AM

  • quando for embora, no feche a porta,

    que para ver se as memrias

    optam por manterem-se vivas

    ou inslitas.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 55 10/5/11 2:35 AM

  • passada a chuva,

    a relva dita

    a cor das nuvens.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 56 10/5/11 2:35 AM

  • vasculhei as cinzas,

    signif icados em brasa

    ainda delatavam

    resqucios de carcia.

    da frico:

    renascido fogo,

    ardidos olhos;

    lgrimas alcolicas,

    il citas.

    combusto ao revs,

    ferida a latejar.

    abriu-se a cicatriz:

    emanava ausncia.

    passada a chuva,

    a relva dita

    a cor das nuvens.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 57 10/5/11 2:35 AM

  • como pesa.

    estrada esburacada,

    ranger de rodas:

    carro de boi, charrua em marcha.

    o tempo

    aprende a esperar.

    fruta matura, canto ecoa.

    a neblina baila,

    a fumaa se arrasta.

    e olhos...descansam:

    frentica mquina.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 58 10/5/11 2:35 AM

  • to crua

    condena olhos enamorados,

    inbeis, cobertos por camadas

    herdadas em dias de completo degredo,

    distante como nunca pensado

    do instinto primeiro.

    abre meus olhos para alm lua,

    edif ica com seus lbios

    slabas sussurradas em plantas da noite

    submersas na qumica do luar.

    assim grande, quanto menor

    aparenta ser.

    suave, impactante,

    quando contm o impulso

    de derramar-se em relva mida.

    solta nos olhos penetrantes.

    nua como jamais algum foi.

    como pesa.

    estrada esburacada,

    ranger de rodas:

    carro de boi, charrua em marcha.

    o tempo

    aprende a esperar.

    fruta matura, canto ecoa.

    a neblina baila,

    a fumaa se arrasta.

    e olhos...descansam:

    frentica mquina.

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  • quando venta fininho,

    olhos dela se espalham:

    colibris sem ninho.

    seta, em memria

    a mos que j descoram,

    inventa histria.

    quando venta fininho,

    desejos se embaralham:

    canibal marinho.

    seta, sem piedade,

    aos nos que j devoram,

    traz liberdade.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 60 10/5/11 2:35 AM

  • no conta-gotas da

    minha alma

    baixou a

    calma

    at a

    pon

    ta

    .

    quando venta fininho,

    olhos dela se espalham:

    colibris sem ninho.

    seta, em memria

    a mos que j descoram,

    inventa histria.

    quando venta fininho,

    desejos se embaralham:

    canibal marinho.

    seta, sem piedade,

    aos nos que j devoram,

    traz liberdade.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 61 10/5/11 2:35 AM

  • palavras lquidas,

    condutoras de luz fria:

    glida matria gris.

    da boca de amantes

    escorrem cabisbaixas

    em aes descabidas.

    entre rvores fragmentam

    folhas,

    ferem troncos.

    perigosas balas cclicas,

    reviram bocas,

    retorcem sonhos.

    como lquido esfarelam aos olhos,

    descentralizam carcias.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 62 10/5/11 2:35 AM

  • na matria gasosa

    minha voz re-pousa.

    luzes investigam a rosa.

    na relva o orvalho

    se interroga.

    a cada pingo da manh

    uma cano voa.

    a cada raio da manh

    uma borboleta soa.

    toda uma atmosfera

    em ritmo e prosa.

    toda uma vida avante na proa.

    desconhece-se o feito

    do tempo que nos interroga.

    palavras lquidas,

    condutoras de luz fria:

    glida matria gris.

    da boca de amantes

    escorrem cabisbaixas

    em aes descabidas.

    entre rvores fragmentam

    folhas,

    ferem troncos.

    perigosas balas cclicas,

    reviram bocas,

    retorcem sonhos.

    como lquido esfarelam aos olhos,

    descentralizam carcias.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 63 10/5/11 2:35 AM

  • morre em mim teu silncio,

    embrutece o que era lapidado.

    foge o que era presena,

    assenta-se o que distncia.

    nostalgia, palavra intervalar,

    separa, atravs de vales,

    meus sonhos de meus desejos,

    meus lbios de tua pele inteira.

    morre no nada meu pedido,

    escurece o que era lmpido.

    escorre o que amor em esperas infindas.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 64 10/5/11 2:35 AM

  • no acuse o desmando do desejo.

    a f lor se abre em beijo.

    o sol, enciumado com o ensejo,

    manda chuva a espantar o pssaro.

    amar uma dor impaciente,

    seja da falta, medo da perda.

    quando se cai na teia do amor,

    o alimento como o prprio definhar.

    quanto mais se prende, mais se encerra.

    quem aprendeu a amar prendeu-se guerra.

    morre em mim teu silncio,

    embrutece o que era lapidado.

    foge o que era presena,

    assenta-se o que distncia.

    nostalgia, palavra intervalar,

    separa, atravs de vales,

    meus sonhos de meus desejos,

    meus lbios de tua pele inteira.

    morre no nada meu pedido,

    escurece o que era lmpido.

    escorre o que amor em esperas infindas.

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  • beija-flor ousado, ressentido

    ao cravar-se no infinito

    a rosa lhe fitou, olhar das ltimas:

    - doce beija-flor, que perdure,

    desmaterializou-se a afinidade entre ns.

    a flor feneceu

    ao toque do bico em riste:

    heri triste arrependido.

    na tarde de outono

    ... lgrimas do pssaro,

    a terra resignou-se.

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 66 10/5/11 2:35 AM

  • f icar romper desejos.

    se lcool de mgoas restar,

    garoar ressentimentos.

    contra o destino ser a penas

    um vento retido nas retinas.

    beija-flor ousado, ressentido

    ao cravar-se no infinito

    a rosa lhe fitou, olhar das ltimas:

    - doce beija-flor, que perdure,

    desmaterializou-se a afinidade entre ns.

    a flor feneceu

    ao toque do bico em riste:

    heri triste arrependido.

    na tarde de outono

    ... lgrimas do pssaro,

    a terra resignou-se.

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  • no fuja da noite anseio sufocante.

    o dia se estende como rede de corais.

    nada alm disso. nada.

    preciso ser forte para recolher a rede.

    o anncio de escassez no vem de hoje.

    no prematuro.

    prematura nossa vida

    calibrada pelo intransponvel.

    mas preciso ser forte.

    e nos sabemos fracos.

    preciso de muito. somos pouco.

    nossa luz nos olhos no ajuda nas trevas.

    nossa luz pirateada. contrabando.

    e como por tudo um dia se paga,

    apaga-se a chama. nos apagamos.

    mediante a que propinas

    queremos anistia?

    nosso ouro de tolo.

    somos desprovidos do que possa agradar.

    no fuja da noite anseio sufocante.

    como perduraria to assim

    avesso s leis do mar?

    A RELVA DITA A COR DAS NUVENS.indd 68 10/5/11 2:35 AM

  • sentados no meio-fio da vida, no observam o

    rio de fatos. num olhar cmplice, estreitam-se

    mais, apenas isso. nada de riscar na poeira

    assentada os sonhos rarefeitos. a beleza est

    unicamente no olhar. o casal de pombos no

    entende de futuros e destinos.

    no fuja da noite anseio sufocante.

    o dia se estende como rede de corais.

    nada alm disso. nada.

    preciso ser forte para recolher a rede.

    o anncio de escassez no vem de hoje.

    no prematuro.

    prematura nossa vida

    calibrada pelo intransponvel.

    mas preciso ser forte.

    e nos sabemos fracos.

    preciso de muito. somos pouco.

    nossa luz nos olhos no ajuda nas trevas.

    nossa luz pirateada. contrabando.

    e como por tudo um dia se paga,

    apaga-se a chama. nos apagamos.

    mediante a que propinas

    queremos anistia?

    nosso ouro de tolo.

    somos desprovidos do que possa agradar.

    no fuja da noite anseio sufocante.

    como perduraria to assim

    avesso s leis do mar?

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  • deve brindar o crepsculo.

    arrastar um arco-ris.

    furtar a fragilidade das nuvens.

    levantar cores para delinear

    nossos anseios volveis,

    nossas certezas cmplices.

    a volatil idade do vinho

    no ultrapassa nosso costume

    de parecermos inteiros,

    verdadeiros heris gregos

    na mstica do longevo.

    deve brindar o crepsculo

    com as estrelas das oito,

    entre os vus do efmero

    colecionar doces desesperos.

    no esvoaar das horas,

    trancafiar promessas alheias.

    abrir o peito para capturar borboletas.

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