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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL VÉRA LUCIA DE OLIVEIRA Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

VÉRA LUCIA DE OLIVEIRA

Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

VÉRA LUCIA DE OLIVEIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Msc. Aparecida Correia da S ilva

Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.

AGRADECIMENTO

Á Deus por sempre está presente na minha vida;

A Nossa Senhora de Fátima e a Santa Paulina, por

estarem sempre me protegendo e iluminando

os meus caminhos;

A minha mãe Terezinha, pelo carinho, paciência e

realização de mais uma vitória de minha

caminhada;

A minha irmã Conceição, pela compreensão,

participação e incentivo de mais uma etapa em

nossas vidas, pois sem ela não teria realizado

mais uma conclusão de curso, minha grande

admiradora, incentivadora e melhor amiga,

muito obrigada eu adoro você;

Ao meu irmão Sandro Luís e minha sobrinha Thais

Pacheco, pela colaboração e compreensão nos

momentos mais necessários e difíceis nessa

trajetória em minha vida;

Aos meus mestres com carinho e que alcançaram o

difícil ministério de me conduzir ao caminho dos

ensinamentos para melhor conhecer o Ordenamento

Jurídico, em especial ao Professor Osmar Diniz

Facchini um grande mestre e sabedor da leis jurídicas

meu mais sincero agradecimento;

A minha Orientadora e Professora Msc. Aparecida

Correia da Silva, que me acolheu com paciência,

dedicação e prestatividade, me orientou na realização

da pesquisa e organização do presente trabalho

monográfico, há você minha querida Professora Cida,

a minha sincera gratidão e carinho, muito obrigada!

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho::

Á Deus, pela concessão de dom da vida, da liberdade, e

por ter-nos permitido mais este percurso com fé, saúde

e perseverança;

Á minha Orientadora e Professora Msc. Aparecida

Correia da Silva, pois com sua atenção, dedicação e

sabedoria foi o principal instrumento para o

desenvolvimento deste trabalho;

À minha querida Mãe Terezinha, que amo de paixão;

Aos meus irmãos, Conceição, Rita e Sandro que sempre

me incentivaram e torceram pelo meu sucesso;

A princesinha Thais Pacheco, minha adorável

sobrinha, está sempre ao meu lado com seu sorriso doce;

Ao meu querido irmão João Batista (in memorian) e

meu querido Pai Esperidião (in memorian) jamais

esquecerei, estarão sempre comigo em meu coração.

Ao meu querido Professor Osmar Diniz Facchini pelo

seu carisma, dedicação e compreensão, e se tornou em

minha vida uma pessoa muito mais que especial; e a

Professora Msc. Mareli Calza Hermann, o pouco

tempo que a conheci tocou em meu coração pela sua

bondade e compreensão dividindo seus conhecimentos

com os acadêmicos, será para sempre a minha

Professora querida;

Em especial ao meu querido Examinador e Professor

Msc. Adilor Danieli jamais esquecerei.

Enfim, a todos os meus familiares e colaboradores da

UNIVALI, que colaboraram com este sonho e mais

esta conquista em minha vida!

“Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis, “Nunca, jamais desanimeis,

EEEEmbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)mbora venham ventos contrários” . (Santa Paulina)

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.

Véra Lucia de Oliveira Graduanda

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Véra Lucia de Oliveira, sob o título

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FU NÇÃO

JURISDICIONAL , foi submetida em 16 de Novembro de 2009 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Msc. Aparecida Correia da

Silva (Orientadora e Presidente da Banca) e Msc. Adilor Danieli (Examinador), e

aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí-SC, 16 de Novembro de 2009.

Professora Msc. Aparecida Correia da Silva Orientadora e Presidente da Banca

Professor Msc. Adilor Danieli Examinador da Banca

Professor Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 CPC Código de Processo Civil CNJ Conselho Nacional de Justiça CGT Corregedoria-Geral dos Tribunais CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DES. Desembargador EC Emenda Constitucional Ed. Editora ed. edição LC Lei Complementar IRP Improcedência do Pedido Recurso desprovido LOMAN Lei Orgânica da Magistratura Nacional Msc. Mestre p. página RT Revista dos Tribunais STF Supremo Tribunal Federal § Parágrafo Trad. Traduzido v. volume

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Atividade Jurisdicional

Atividades, serviços prestados e desempenhados por pessoas que possuem

jurisdição como os juízes1.

Ato jurisdicional

“Todo ato emanado de autoridade judiciária, consistente de despacho, decisão

interlocutória ou sentença”2.

Ato Jurídico

“Todo ato emanado de autoridade juridiciária, consistente de despacho, decisão

interlocutória ou sentença”3.

Ato ilícito

“[...] assim se entende toda ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência

ou imperícia que viole direito alheio ou cause prejuízo a outrem, por dolo ou

culpa” 4.

Ato lícito

“Ato praticado sob o amparo da lei, ou seja, toda ação permitida pelas normas

jurídicas que não atente contra interesses alheios ou contra a segurança coletiva,

ou quando os viole, encontre apoio na razão de ter sido praticado por se tornar

absolutamente necessário para a remoção de um perigo” 5.

1 Conceito de categoria elaborado livremente pela autora desta monografia. 2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 20ª Edição, atualizadores: Nagib Slaib Filho e Gláucia Carvalho. Editora: Forense, Rio de Janeiro, 2002, p.97. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.97. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.96. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.96.

Conduta

“[...] a ação (ou omissão) humana [...] guiada pela vontade do agente, que

desemboca no dano ou prejuízo” 6.

Culpa

“É a violação, por negligência, imprudência e imperícia, do dever de bem

desempenhar as funções públicas”7.

Dano

“É o prejuízo sofrido pela vítima, sendo este elemento objetivo do ato ilícito,

ocasionado pela diminuição de um bem jurídico qualquer do lesado” 8.

Dolo

“Intenção livre e consciente de violar a lei para alcançar interesses ilegítimos”9.

Estado-juiz

“Nomenclatura utilizada para explicitar uma pessoa que, investida da autoridade

pública, administra a justiça em nome do Estado”10.

Estado

“[...] Ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado

em determinado território [...]”11.

Erro Judiciário

6 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : (abrangendo o Código Civil de 1916 e o Novo Código Civil) / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 31. 7 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . Curitiba: Juruá, 1996, p. 163-164. 8 SAAD, Renan Miguel. O Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994, p.67. 9 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 167. 10 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.789. 11 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado . 20ª ed., atual., São Paulo: Saraiva, 1998, p. 118.

“É todo ato jurisdicional que, seja pelo mau enquadramento dos fatos ao mundo

do direito, seja pela errônea aplicação das normas, viola regrar de natureza

processual e material, em qualquer dos ramos do direito”12.

Fraude

“É qualquer ato ilícito que, de má fé, possa ser estelionato, defraudação de texto

ou objeto”13.

Juiz

“Pessoa que, investida de uma autoridade pública, vai administrar a justiça, em

nome do Estado. É assim, de modo genérico, o administrador da justiça, estando,

por isso, a seu cargo, conhecer, dirigir a discussão, deliberar sobre todos os

assuntos, que possam suscitar, e julgar os casos controvertidos submetidos a

seu juízo (sub judice)” 14.

Magistrado

“Vocábulo tecnicamente empregado para designar o juiz, ou seja, a autoridade

judiciária, a que se comete julgar as questões jurídicas”15.

Nexo de causalidade

“É o liame que une a conduta do agente ao dano”16.

Poder Judiciário

“O Poder Judiciário é um poder uno e independente, encarregado de

jurisdicionalmente, administrar a Justiça, aplicando a lei aos casos concretos

trazidos à apreciação e para os quais se requer a respectiva tutela [...]”17.

12 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p. 223. 13 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . Campinas: Bookseller, 2001, Tomo II, p. 86. 14 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.789. 15 SILVA, De Plácido e.Vocabulário Jurídico . 2002, p.508. 16 VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade Civil . 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 39. 17 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria Geral do Processo . Florianópolis: Momento atual, Tomo 2, 2002, p.72.

Responsabilidade Civil

“A Responsabilidade Civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a

reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela

mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela

pertencente ou de simples imposição legal”18.

Responsabilidade Civil do Estado

“Responsabilidade que encarrega ao Estado o dever de reparar os danos

causados por seus agentes, no exercício de suas funções”19.

Responsabilidade Civil do Juiz

“[...] é diferenciar as atividades praticadas no exercício de suas funções, pois

como representante do Poder Judiciário, poder autônomo e independente, com

estrutura administrativa própria e serviços definidos, o Judiciário, pelos seus

representantes e funcionários, tem a seu cargo a prática de atos jurisdicionais e

de atos não jurisdicionais, ou de caráter meramente administrativo”20.

Responsabilidade Civil Objetiva

“[...] o sistema objetivo de responsabilidade é embasado na idéia de risco da

atividade, respondendo o agente independentemente da existência de culpa”21.

Responsabilidade Civil Subjetiva

“Fundada na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa”22.

18 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 19ª ed. ver. e atual. De acordo com o Novo Código Civil, (Lei nº 10.406, de 10-1-2002, e Projeto de Lei nº 6.960/2002), São Paulo:Saraiva, 2005, 7 v., p. 34. 19 Conceito de categoria elaborado livremente pela autora desta monografia. 20 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . Editora Max Limonad, São Paulo, 1999, p. 202. 21 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 3ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 545. 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 2005, p. 117.

SUMÁRIO

RESUMO.........................................................................................XIV

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 4

DOS JUÍZES ...................................................................................... 4

1.1 CONCEITO .......................................................................................................4 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FUNÇÕES DO JUIZ ......... ..............................5 1.3 PRINCIPAL FUNÇÃO DO JUIZ ....................... ..............................................10 1.4 O JUIZ EM RELAÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ......... .............................13 1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES DO JUIZ .............. ..................................15 1.5.1 PODERES JURISDICIONAIS ...............................................................................16 1.5.1.1 Classificação dos poderes jurisdicionais... ..................................................... 17 1.5.2 PODERES DE POLÍCIA .....................................................................................18

CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 20

A FUNÇÃO JURISDICIONAL ............................. ............................. 20

2.1 CONCEITO .....................................................................................................20 2.2 CARACTERÍSTICAS................................ ......................................................23 2.3 PODERES.......................................................................................................24 2.4 NECESSIDADE DA FUNÇÃO JURISDICIONAL ............ ...............................28 2.5 COMPETÊNCIA PARA EXERCER A FUNÇÃO JURISDICIONAL ................30 2.5.1 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA .....................................................................32 2.5.2 CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ..................................................................33 2.5.2.1 Competência Internacional.................. ............................................................. 34 2.5.2.2 Competência Interna ........................ ................................................................. 35 2.6 ÉTICA PROFISSIONAL DO JUIZ ..................... .............................................36 2.7 DEVERES DO JUIZ........................................................................................39 2.8 DAS GARANTIAS DO JUIZ .......................... .................................................41 2.8.1 VITALICIEDADE ...............................................................................................41 2.8.2 INAMOVIBILIDADE ............................................................................................43 2.8.3 IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS .....................................................................44

CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 46

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL............................... ............................... 46

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATO JURISD ICIONAL.....46 3.1.1 RESPONSABILIDADE DO JUIZ ...........................................................................51 3.1.2 RESPONSABILIDADES PREVISTAS NA LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL – LOMAN .............................................. ................................................................55 3.1.3 POSSIBILIDADES DE RESPONSABILIZAÇÃO PERANTE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ.......................................................................................................57 3.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO JURI SDICIONAL ..59 3.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTAD O POR ATO JURISDICIONAL ...................................... ............................................................61 3.3.1 DANO CAUSADO .............................................................................................61 3.3.2 NEXO DE CAUSALIDADE ...................................................................................62 3.3.3 QUALIDADE DO AGENTE ..................................................................................62 3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO ..... .....................63 3.4.1 CULPA DA VÍTIMA ...........................................................................................63 3.4.2 FORÇA MAIOR E CASO FORTUITO ....................................................................64 3.4.3 ESTADO DE NECESSIDADE ...............................................................................65 3.4.4 FATO DE TERCEIRO .........................................................................................66 3.4.5 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO .............................................................................66 3.5 ELEMENTOS OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE NO EXER CÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL............................... ...................................................67 3.5.1 INDENIZAÇÃO POR ATO LÍCITO DO ESTADO........................................................68 3.5.2 ERRO JUDICIÁRIO ...........................................................................................69 3.5.3 FUNCIONAMENTO ANORMAL DA ATIVIDADE JURISDICIONAL ...............................72 3.6 ELEMENTOS SUBJETIVOS PARA RESPONSABILIZAÇÃO CIV IL DO JUIZ..............................................................................................................................75 3.6.1 DOLO NA ATIVIDADE JURISDICIONAL .................................................................77 3.6.2 CULPA NA ATIVIDADE JURISDICIONAL ...............................................................78 3.6.3 FRAUDE .........................................................................................................79 3.7 DANO MORAL ..................................... ..........................................................81

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 84

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 86

ANEXO............................................................................................. 89

JURISPRUDÊNCIA ..................................... ..................................... 90

RESUMO

A presente monografia teve como objeto, proceder a um estudo da

Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional e sua

inclusão no Ordenamento Jurídico. Abordando-se inicialmente sob o prisma da

interpretação doutrinária, bem como da legislação pátria, a possibilidade do

Estado e ou do Juiz, ser responsável civilmente por atos jurisdicionais. A análise

do tema é importante, entre outros motivos, pela sua atualidade, devido aos

constantes debates e questionamentos doutrinários sobre o assunto. A presente

monografia está composta de três capítulos, que se destacam pelos seguintes

conteúdos: Buscou-se no primeiro capítulo proceder a uma análise do esboço

histórico das funções do Juiz, desde a sua origem em sociedade até o momento

atual, assim como em relação ao processo judicial e sua classificação nos

poderes do juiz com enfoque nos poderes jurisdicionais e também nos poderes de

policia. No segundo capítulo pesquisou-se acerca da Função Jurisdicional, seus

conceitos e características, com enfoque na divisão dos Poderes, sua

competência, bem como a ética profissional do juiz, finalizando com os deveres e

as garantias fundamentais conferidas aos magistrados. Finalmente no terceiro e

último capítulo, efetuou-se um estudo direcionado à Responsabilidade Civil do

Juiz junto ao Estado, a responsabilidade civil perante o Código de Processo Civil

e a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, suas espécies, pressupostos quanto

ao dano, o nexo de causalidade e a qualidade de agente, também procurou-se

saber sobre as excludentes da responsabilidade do Estado quanto a culpa da

vítima, força maior, estado de necessidade, fato de terceiro e vício de

consentimento, como os seus elementos objetivos da responsabilidade civil do

Estado e elementos subjetivos da responsabilização civil do juiz e o dano moral.

Palavras chave: Juiz. Função Jurisdicional. Responsabilidade Civil.

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto, A

Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional.

O seu objetivo investigatório foi o de pesquisar, analisar e

descrever, com base na legislação civil brasileira, bem como, a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional

e o Código de Processo Civil, sobre a Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício

da função jurisdicional; e como objetivo específico foi o de analisar a

responsabilidade civil do Juiz que causem dano à terceiro.

Deve-se ressaltar que o trabalho tem como objetivo

institucional, produzir a monografia para fins de obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando-se Dos

Juízes, uma prévia abordagem acerca da figura do juiz, desde sua origem em

sociedade até o momento atual e sua conceituação. Abordar-se-á a Evolução

Histórica das Funções do Juiz e será feito um estudo sobre a sua Principal

Função; abordando também O Juiz em Relação ao Processo Judicial; bem como

a Classificação dos seus poderes, onde são destacados os Poderes Jurisdicionais

e os Poderes de Polícia.

No Capítulo 2, tratando-se da Função Jurisdicional, seus

conceitos, suas características, com enfoque na divisão dos Poderes,

Necessidade da Função Jurisdicional, sua Competência destacando-se a

distribuição da competência e a sua classificação onde é verificada a competência

internacional e a competência interna, abordando-se ainda a Ética Profissional do

Juiz, finalizando com os Deveres e as Garantias fundamentais conferidas aos

magistrados.

No Capítulo 3, tratando-se da, A Responsabilidade Civil do

Juiz no Exercício da Função Jurisdicional, traz de maneira mais aprofundada o

2

estudo do tema. São abordados: Responsabilidade Civil do Estado por Ato

Jurisdicional; a Responsabilidade do Juiz; a Responsabilidade prevista na Lei

Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN; as Possibilidades de

Responsabilização perante o Conselho Nacional de Justiça; abordando Espécies

de Responsabilidade Civil por Ato Jurisdicional, seus Pressupostos e

Excludentes. Também serão abordados os Elementos Objetivos da

Responsabilidade Civil no Exercício da Função Jurisdicional e os Elementos

Subjetivos para Responsabilização Civil do Juiz destacando o Dolo, a Culpa e a

Fraude; e por fim, será abordado o Dano Moral.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre A Responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� O juiz possui responsabilidade civil sobre sua atividade

jurisdicional;

� O Estado pode ser responsabilizado por atos praticados

pelos juízes no exercício de suas funções jurisdicionais;

� A Responsabilidade Civil do Juiz decorrente de seus

atos praticados na função jurisdicional é objetiva ou

subjetiva.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação23 foi utilizado o Método Indutivo24, na Fase de Tratamento de

23 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora. 2008, p. 83. 24 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : teoria e prática. p. 86.

3

Dados o Método Cartesiano25, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente26, da Categoria27, do Conceito Operacional28 e da

Pesquisa Bibliográfica29.

25 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A Monografia Jurídica . 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001, p. 22-26. 26 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 54. 27 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 25. 28 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : teoria e prática. p. 37. 29 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica : Teoria e Prática. p. 209.

CAPÍTULO 1

DOS JUÍZES

1.1 CONCEITO

Embora existam muitos conceitos e definições acerca do termo

Juiz, o qual será amplamente debatido ao longo desta pesquisa, de início em seu

vocabulário jurídico, De Plácido e Silva30, nos dar o conceito de juiz:

Derivado do latim judes (juiz, árbitro), de judicare (julgar, administrar a justiça), em sentido lato indica a pessoa, a quem se comete o encargo de dirigir qualquer coisa, resolvendo, deliberadamente e julgando, afinal, tudo que nela se possa suscitar ou debater.

Neste entendimento, juiz é o órgão do Poder Judiciário

encarregado de desempenhar a função jurisdicional.

Amorim31 entende que: “O juiz é sempre recrutado do povo.

Por isto, a sua atuação tem sempre algo de semelhante com aquilo que é o povo de

onde provém. As exigências legais se limitam, apenas, às condições de ser a

pessoa formada em Ciências Jurídicas”.

Além de ser formado na faculdade de Direito, tem que ter

prática forense de pelo menos 3 (três) anos e idoneidade moral, bem como ser

aprovado em um concurso para seguir a carreira da magistratura.

Para Santos32, Juiz: “É o órgão da jurisdição, isto é, o delegado

do Estado no exercício da função jurisdicional. Exerce funções específicas do

Estado”.

30 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 20ª Edição. Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2002, p. 459. 31 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 1. 32 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de

5

Diante do exposto, o juiz o qual representa o Estado na

aplicação jurisdicional, revela o ponto final, o desfecho do litígio, uma vez

competente, solucionando o caso para que este seja aceito ou não pelas partes.

A princípio, o juiz, como diz Alvin33: “[...] um funcionário público,

no sentido lato da expressão”.

Na mesma linha de pensamento, Lazzarini34, traz o seguinte

trecho em sua obra:

O magistrado é agente público, precisamente, nos primeiros escalões do Governo, isto é, no Poder Judiciário, do qual é membro, agindo com plena liberdade funcional, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais.

Considerando os conceitos apresentados, conclui-se que

existem muitas definições para a palavra Juiz, assim, podemos perceber que o Juiz

é considerado um agente público, e sujeito, portanto à aplicação do artigo 37 da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e que tem a

responsabilidade de julgar demandas judiciais caracterizadas, na maioria das vezes,

por conflito de interesse entre pessoas. É fundamental para esse profissional,

durante um processo, velar pela rápida solução do litígio, prevenir ou reprimir

qualquer ato contrário à dignidade da justiça e tentar a qualquer tempo conciliar as

partes.

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FUNÇÕES DO JUIZ

Para a realização de um estudo acerca da Responsabilidade

Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional, é oportuno tecer previamente,

algumas considerações a respeito da evolução histórica das funções do juiz,

Conhecimento. V.1 – Editora Saraiva, 2009, p. 337. 33 ALVIN, Arruda. Manual de Direito Processo Civil . São Paulo: Revista dos Tribunais. 9ª edição, Ano 2005, p. 17. 34LAZARRINI, Álvaro. Estudos de Direito Administrativo . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 437.

6

mormente em sua concepção procura explicar a origem do juiz, bem como aquelas

que procuram justificar a sua existência no contexto social.

Sobre a matéria entende, Nanni35:

Embora não com os contornos atuais, a função de julgar sempre existiu no decorrer da história, porque as desavenças são inerentes à convivência em sociedade, razão pela qual desde a existência da humanidade houve a necessidade de dirimirem os conflitos.

O autor explica que a função de julgar sempre existiu no

decorrer desses anos, pois o desentendimento sempre ocorreu no meio da

sociedade, mas sempre procuraram esclarecer os conflitos.

Ainda Nanni36, escreve:

Nos primórdios não existia a figura do juiz, sendo que na maioria das vezes as divergências restavam resolvidas pessoalmente entre as partes, sem qualquer participação de um terceiro julgador imparcial. Era a absoluta autotutela de interesses, que tinha como brigas sangrentas, enaltecendo a violência.

Neste entendimento, o autor explica que o juiz, na sua

essência, é uma figura criada, desde os primórdios da civilização, notadamente, no

imaginário dos povos, que entregavam as suas vidas e suas decisões a terceiros, a

quem compreendiam possuírem, mais frequentemente por uma escolha divina, o

poder de vislumbrar o melhor caminho ou solução.

Enfatiza Nanni37, que:

[...] já podia verificar-se a presença de alguma função julgadora nas coletividades pequenas, em que a opinião do líder, seja familiar, espiritual, sacerdotal, etc., predominava quando surgiam dúvidas ou conflitos. Geralmente tais atribuições eram confiadas aos anciões, que supunham, eram seres dotados de maior sabedoria, em que a coletividade curvava-se às suas determinações.

35 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . Editora Max Limonad, São Paulo, 1999, p. 47. 36 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 37 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.

7

Assim, o autor também configurou nos conselhos dos mais

antigos, onde se reuniam os anciões nas suas respectivas comunidades, quando

eram chamados a decidir sobre determinadas questões de interesse coletivo, na

maioria dos casos e também de um interesse individual que repercutiria como

modelo ou expiação para os demais da coletividade. Assim, gradativamente, foram

se estabelecendo normas de conduta e de convivência que foram norteando o

direito de cada um e do grupo comunitário.

Com o tempo, as sociedades foram crescendo, e as

controvérsias também foram aumentando, assim:

Já existia o rei, que era o soberano e dirimia os litígios. Com este geralmente preocupava-se com outras atividades, tais como guerras com outros povos, viu-se desprovido de disponibilidade para solucionar os dissídios dos súditos38. Neste momento, constituiu um encarregado para cumprir tais funções em seu nome e sob sua dependência 39.

Neste entendimento, o autor explica que já existia o rei, uma

espécie de chefe de tribo, que equilibrava os povos para não entrar em conflitos com

outras comunidades. O rei constituiu um encarregado para que possa cumprir suas

funções em seu lugar, para poder ter mais liberdade e não viver só em função dos

povos. Foi então onde surgiu a idéia da pessoa do juiz, para comandar a paz entre

os povos.

Segundo Guimarães, citado por Nanni40: “Vagarosamente

então vai delineando-se a estrutura de juízes e tribunais, mas de forma muito tímida

e distante da realidade hoje imperante, porque ainda confundiam-se atribuições

judicantes, administrativas e religiosas”.

A organização judiciária da Monarquia portuguesa transportou-

se para o Brasil, como escreve Guimarães citado por Nanni41: “juízes da terra, juízes

38 Entende-se como dissídios dos súbitos as divergências entre os soberanos. 39 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 40 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 41 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.

8

de fora, almotacés, a Casa de Suplicação do Rio de Janeiro, que compunham a

justiça no Brasil colonial”.

A partir da sistematização, mesmo que precária, dos

normativos de convivência, através dos legisladores ou conselheiros,

paulatinamente, surgiu à necessidade de estruturar de forma organizada o papel do

Juiz.

Nanni42, expõe que:

[...] a Constituição imperial de 1824 e leis subseqüentes extinguiram aqueles cargos, proclamando, de princípio, a independência do Poder Judiciário, ainda que na mera letra da lei, sendo componentes desse poder, tanto o cível como no crime, juízes e jurados, dispondo ainda a Constituição sobre juízes de paz e sobre a instalação de um Supremo Tribunal de Justiça, na Corte, e de Tribunais de Relação, nas províncias.

A respeito dessa concepção, a constituição imperial de 1824 e

as leis posteriores, proclamaram a independência do Poder Judiciário, criando juízes

e jurados responsáveis perante os atos jurisdicionais e criou o Supremo Tribunal de

Justiças.

Diante deste fato, pode-se afirmar que:

[...] o marco fundamental na evolução histórica da função jurisdicional foi a Revolução Francesa de 1789, que trouxe no seu bojo a idéia do Estado de Direito, corroborada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada em 26 de agosto de 1789 pela Assembléia Nacional da França43.

Foi a partir dessa época que as idéias doutrinárias foram se

integrando ao sistema, formando assim, o Estado de Direito, como a separação de

poderes, a democracia, onde criaram a função jurisdicional em todas as sociedades.

Portanto a função jurisdicional tornou-se exclusiva do Poder Judiciário.

42 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47. 43 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 47.

9

A primeira questão a ser enfrentada para que a figura do juiz

que hoje conhecemos no Brasil se ajustasse a uma forma democrática de atuação,

foi à separação da sua atividade julgadora da tutela do Poder Executivo. Isto quer

dizer que, ao longo da história da humanidade houve a constante interferência do

Estado Governante/Poder Executivo na atuação do Juiz, Magistrado ou Julgador.

Mesmo hoje no Brasil, quando o Judiciário através de seus Ministros Juizes, autoriza

uma extradição, é preciso que haja a interferência do Executivo, na efetiva

realização da medida.

Desde outras épocas, quando os Reis, os Imperadores e

outros dominadores traziam para si o poder de julgar seus súditos44, como

atualmente nas teocracias45 e nos regimes ditatoriais, a figura do Juiz foi manchada,

porque não manteve a necessária imparcialidade daquele que tem o papel

importante de decidir a vida do outro.

Destaca-se também, que a principal condição na figura do Juiz

é a imparcialidade, exatamente para evitar que haja análise subjetiva e pessoal

quando do julgamento de qualquer causa, não se deve acumular a função de Poder

Executivo e Judiciário, sob pena de ferir a imparcialidade tão necessária num

julgamento mais justo. Isto porque o próprio Poder Executivo pode possuir um

interesse sobre determinada demanda ou litígio.

Neste sentido, o Código de Processo Civil Brasileiro, Lei

preponderante que regula as normas e procedimentos processuais, indica que o

Judiciário é um Poder que depende da provocação para que atue na sua função de

dizer o direito.

Está previsto no artigo 2º, do Código de Processo Civil46, in

verbis:

Art. 1º. [...]

44 Endente-se por súditos sendo o que, está submetido a um soberano. 45 Entende-se por teocracia sendo o, sistema de governo em que o poder político está fundamentado no poder religioso. 46 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 387.

10

Art. 2º. Nenhum Juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a

parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.

Quando se fala de tutela jurisdicional se diz exatamente da

função do judiciário, através do Juiz, de atuar no julgamento dos pedidos e

requerimentos feitos pelos interessados.

Sobre a matéria entende Nanni47:

Na esteira dessas mudanças, alterou-se o quadro de formação do Estado e, frente à separação de poderes, cada órgão passou a ter funções definidas, na elaboração, execução e aplicação das leis, perquirindo-se acomodar os anseios da democracia, cujos interessados eram os cidadãos, na medida em que o povo, em última análise, é quem governa o Estado.

Finalmente, importante destacar sobre a matéria onde Nanni48,

ressalva:

[...] esses conceitos, inclusive no Brasil, a função jurisdicional alcançou as bases indispensáveis para o seu regular exercício, especialmente a separação de poderes e a independência da Magistratura, sendo organizada em primeira e segunda instância, com juízes independentes e imparciais, outorgando-se garantias processuais aos jurisdicionados, surgindo à importância fundamental da função jurisdicional na apaziguação dos conflitos.

Destarte, vê-se que o magistrado é o principal Agente público

do órgão do Poder Judiciário, sendo lhe atribuída uma ampla independência

funcional para o exercício de sua atividade.

1.3 PRINCIPAL FUNÇÃO DO JUIZ

Conforme o entendimento de Amorim49, a respeito da principal

função do juiz, leciona que: “São requisitos imprescindíveis ao juiz no exercício da

47 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51. 48 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51 e 52. 49 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 22.

11

sua função primordial, que é a de dizer o direito: a) imparcial; b) rápido e consciente

nos despachos e decisões; c) corajoso e, ao mesmo tempo, moderado”.

Neste entendimento, o juiz de direito tem como função decidir

litígios concretos entre pessoas, cujos interesses podem ser de natureza civil ou

criminal, envolvendo quase sempre questões econômicas. Assim os conflitos são

resolvidos de modo conciliatório ou judicial. O juiz pode ser observado como órgão

de jurisdição, ou seja, é o representante do Estado no exercício da função

jurisdicional.

Ainda Amorim50 escreve: “O juiz, apesar de ser uma pessoa

comum, que provém do povo, deve ter um comportamento diferenciado, a fim de

impor respeito aos seus jurisdicionados”.

No entanto, cabe observar que o juiz além de ser uma pessoa

comum, é necessário que seu comportamento seja diferenciado, a fim de manter o

respeito a sua classe e ser respeitado perante o judiciário.

Portanto, o juiz: É o membro da magistratura no Brasil, é

membro do Poder Judiciário que, na qualidade de administrador da justiça do

Estado, não só declara, como ordena [...] o que for necessário a tornar efetiva a

tutela jurídica51.

Neste entendimento, o juiz faz parte como membro do Estado,

é ele que faz funcionar a tutela jurisdicional.

Assim dispõe o artigo 125, inciso III do Código de Processo

Civil52, in verbis:

Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste

Código, competindo-lhe:

50 AMORIM, Edgar Carlos de. O Juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 22 51 Wikipédia, enciclopédia livre. www.http://pt.wikipedia.org/wiki/juiz_de_direito 52 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 396.

12

III – Prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da

justiça.

Sobre o artigo citado, Nanni53, argumenta que: “O juiz deve ser

perseverante na proclamação da justiça, para que possa exercer com presteza sua

função dignificando o Poder Judiciário”.

Neste dilema, são conhecidas as expressões de que o juiz é

“escravo da lei54”.

Então, como definição principal da função do Juiz de Direito, é

preservar a dignidade humana, defender as liberdades públicas e buscar a

pacificação social através da resolução definitiva de conflitos de interesses entre

pessoas e bens da vida, tais como a liberdade, o patrimônio, a honra e outros. Cabe

a ele decidir a demanda judicial com a finalidade de revelar qual das partes tem

razão, ou seja, quem tem o direito, em conformidade com as leis e com os

costumes, visando atender ao fim social da legislação e às exigências do bem

comum.

Nanni55, sobre o tema, traz o seguinte trecho em sua obra: “[...]

Deve, pois, decidir conforme o direito, cujo objetivo é fomentar a paz social, de onde

infere-se que, a princípio, a decisão conforme o direito espelha a justiça, já que se

pressupõe ser aquele o regramento para o justo convívio em sociedade”.

Neste sentido, é o juiz quem decide conforme está escrito na

lei, é ele que faz acontecer à paz social entre a sociedade.

Diante dessa importância no exercício da função jurisdicional

que é aplicar a justiça, o juiz está submetido à lei e, mais profundamente à

Constituição Federal56.

53 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 51 e 52. 54 DALLARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juízes . São Paulo: Saraiva, 1996, p. 80. 55 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53. 56 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 54.

13

Portanto, o juiz deve persistir na proclamação da justiça, para

que possa exercer com rapidez e honestidade a sua função jurisdicional perante o

Poder Judiciário.

Para Sampaio57:

A consagrar toda esta evolução sistemática, veio o Código Civil de 2002 a valorizar, de forma genérica, a atuação do juiz no exercício da atividade jurisdicional. A ampliação dos seus poderes vem refletiva em todo seu corpo, adotando-se como instrumento legislativo, as denominadas cláusulas gerais ou normas de conteúdo aberto.

No entanto, o Código Civil de 2002, veio valorizar a função do

juiz na atividade jurisdicional, direcionando na aplicação do direito da melhor forma

possível, razão pela qual dispõe desses mecanismos de integração.

1.4 O JUIZ EM RELAÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL

O juiz é o papel principal em relação ao processo judicial, pois

é ele que analisa o processo antes de ser julgado.

Entretanto, “é verdade que, no processo ordinário, impõe-se a

lavratura do despacho saneador sempre que o juiz não dispõe de provas para o

julgamento antecipado da lide” 58.

Inicialmente, o juiz deverá sempre observar se a petição inicial

traz os requisitos exigidos pelos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil.

Identificada a verdade nos autos, cabe ao juiz prosseguir perante os órgãos

jurisdicionais. A parte mais importante em um processo é a sentença.

Assim escreve Sampaio59:

A firmada a tríplice característica assumida pela jurisdição – poder, função e atividade, interessa, nesta fase, focá-la no âmbito da

57 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. A Atuação do Juiz no Direito Processual Civil Moder no . Editora Atlas, 2008 p. 41. 58 AMORIM, Edgar Carlos de. O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 26. 59 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. A atuação do Juiz no Direito Processual Civil Moder no . 2008, p. 11.

14

atividade desenvolvida pelo Estado e que, via processo, tem por resultado a pacificação dos conflitos de interesses.

Neste entendimento, o Juiz faz parte de uma importante tríplice

que envolve, ele mesmo como o representante do Estado e as partes que vem em

busca de uma solução para seus conflitos, e sendo o “comandante do processo”,

deve agir com total imparcialidade.

O Juiz participa na relação processual, como órgão de poder

jurisdicional, buscando o interesse da coletividade, devendo conforme a lei, fazer

prevalecer à justiça. Com este objetivo, foi dado ao juiz largos poderes para que

possa decidir, se colocando entre e acima das partes, como maneira de

cumprimento do dever jurisdicional.

O artigo 125, e seus incisos I, II, III e IV do Código de Processo

Civil60, dispõe o seguinte:

Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:

I – assegurar às partes igualdade de tratamento;

II – velar pela rápida solução do litígio;

III – prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça;

IV – tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.

Diante do artigo acima citado, o Juiz deve dirigir o processo de

forma que assegure o andamento rápido do processo, porém sem que seja

prejudicada a defesa dos interessados.

Neste sentido, Amorim61 escreve: “O papel do juiz é examinar

as hipóteses previstas para o caso e concluir pela solução mais justa e acertada”.

60 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 396. 61 AMORIM, Edgar Carlos de; O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 25.

15

Neste entendimento o autor argumenta que o juiz deve analisar

o processo com carinho a fim de verificar qual delas poderá ser a verdadeira

hipótese para chegar-se uma definição.

Ainda Amorim62 dispõe que:

É preciso que o juiz inspire confiança a todos, e esta confiança somente é alcançada se o juiz tiver “pulso” e capacidade intelectual para decidir. Entretanto, nunca decidir a favor do amigo ou contra o inimigo, mas tão-somente visando a atingir o ideal de justiça.

A parte mais importante do juiz em função do processo é a

sentença, que é acompanhada de um relatório, uma motivação e uma conclusão,

sem esses requisitos, é simplesmente nula.

Portanto, “no julgamento do mérito, o juiz deve se limitar ao

pedido, pois se for além deste, a sentença passa a ser nula” 63.

Assim, o juiz deve impor limites no que rege o pedido no

processo, caso contrário, a sentença será nula.

1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES DO JUIZ

A doutrina nacional trás consigo a divisão ou a classificação

dos poderes processuais do juiz. Essas divergências decorrem não só das

convicções jurídico-processuais, dos doutrinadores, mas principalmente do critério

utilizado para operar a classificação dos poderes do juiz.

Assim escreve Santos64:

Múltiplos e variados são os poderes atribuídos ao juiz. Para se aquilatar a variedade e multiplicidade desses poderes, basta considerar que ele participa ativamente da formação e desenvolvimento da relação processual, não só provendo quanto à regularidade daquela e deste como assegurando-lhe as condições

62 AMORIM, Edgar Carlos de; O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 25. 63 AMORIM, Edgar Carlos de. O juiz e a Aplicação das Leis . 1997, p. 28. 64 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. V.1 – Editora Saraiva, 2009, p. 340.

16

necessárias para a decisão da lide ou para a realização prática dessa decisão. A multiplicidade e variedade de poderes tornam difícil a harmonia entre os processualistas na tentativa de uma classificação.

O autor, ao tratar da classificação dos poderes do juiz, traz a

seguinte distinção entre poderes jurisdicionais e poderes de polícia.

Por poderes jurisdicionais se entendem os que o juiz exerce no

processo, no exercício da função jurisdicional, como sujeito da relação processual,

desde o instante em que é provocada a sua formação até a sua extinção 65.

O juiz também prever poder de polícia que se constitui o

seguinte: “Poderes de polícia exerce-os o juiz, não como sujeito da relação

processual, mas como autoridade judiciária, assegurando a ordem dos trabalhos

forenses, quando perturbada ou ameaçada por pessoas estranhas ao processo “66.

Neste entendimento, o autor argumenta que os poderes de

polícia que só o juiz tem essa liberdade como autoridade judiciária, mas visando ao

normal e respeitoso desenvolvimento deste, que são os poderes de polícia.

1.5.1 Poderes Jurisdicionais

O artigo 162, §1º, do Código de Processo Civil dispõe quais

são os atos a serem realizados pelo juiz nos processos:

Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões

interlocutórias e despachos.

§ 1º - Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 26767 e 26968 desta lei.

65 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 66 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 67 Art. 267 – Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I – quando o juiz indeferir a petição inicial; II – quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III – quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV – quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e o de desenvolvimento válido e regular do processo; V – quando o juiz acolher a alegação de perempção,

17

A regra do referido artigo define os poderes jurisdicionais em

que o juiz exerce no processo, no exercício da função jurisdicional ou como sujeito

da relação processual, desde o momento em que é provocada a sua formação até a

sentença, ato pelo qual o juiz põe fim ao processo, encerrando assim a sua atividade

jurisdicional.

1.5.1.1 Classificação dos poderes jurisdicionais

Utilizando-se como critério a finalidade, classificam os poderes

jurisdicionais em poderes ordinatórios ou instrumentais, poderes instrutórios,

poderes finais ou decisórios finais.

Define-se poderes ordinários ou instrumentais, “que se

traduzem em provimento do processo, qualquer que seja o tipo deste – de

conhecimento, executivo ou cautelar” 69.

Assim os poderes ordinários também conhecidos como

instrumentais, é atribuído ao juiz, no uso dos quais dá desenvolvimento ao processo

judicial. Assim se faz os poderes instrutórios, que cabe as partes a indicação das

provas a serem produzidas e tornam-se produtivas para que o juiz possa analisá-las.

Assim define-se poderes instrutórios:

Destinados à colheita da prova dos fatos, isto é, à formação do material de convicção em que há de fundamentar-se a decisão. De tais poderes o juiz se vale, de modo particular, nos processos de conhecimento e cautelar 70.

litispendência ou de coisa julgada; VI – quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; VII – pela convenção de arbitragem; VIII – quando o autor desistir da ação; IX – quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal; X – quando ocorrer confusão entre o autor e réu; XI – nos demais casos prescritos neste Código. 68 Art. 269 – Haverá resolução de mérito: I – quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; II – quando o réu reconhecer a procedência do pedido; III – quando as partes transigirem; IV – quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; V – quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. 69 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 70 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.

18

Sobre os poderes finais, Santos71, escreve:

poderes finais (CARNELUTTI), aos quais FREDERICO MARQUES prefere denominar decisórios finais, e que compreendem: poderes decisórios, que se convertem nas decisões que se proferem nos processos de qualquer tipo; e poderes satisfativos ou executórios, exercidos pelo juiz no processo de execução, na prestação das providências jurisdicionais de execução.

Neste entendimento, os poderes finais, ou decisórios finais,

compreendem no que o juiz exerce na sua função, através das sentenças para

solucionar a lide, ou seja o conflito. Já os poderes satisfativos ou executivos, o juiz

deve pronunciar suas decisões conforme o que diz a lei na prestação jurisdicional.

1.5.2 Poderes de Polícia

Os poderes de polícia são exercidos somente pelo juiz, não

sendo praticado como sujeito em relação ao processo, mais sim como autoridade

judicial respeitando a ordem jurídica.

Santos72, em seu clássico, Primeiras Linhas de Direito

Processual Civil, dispõe:

Poderes de polícia exerce-os o juiz, não como sujeito da relação processual, mas como autoridades judiciária, assegurando a ordem dos trabalhos forenses, quando perturbada ou ameaçada por pessoas estranhas ao processo. A propósito de tais poderes, são de apontar-se, entre outras, as disposições contidas nos arts. 445, 446 e 15, além da já referida no inc. III do art. 125, todas do referido Código. “Art. 445. O juiz exerce o poder de polícia competindo-lhe: I – manter a ordem e o decoro na audiência; II – ordenar que se retirem da sala da audiência os que se comportarem inconvenientemente; III – requisitar, quando necessário, a força policial. Art. 446. Compete ao juiz, em especial: I – dirigir os trabalhos da audiência; [...] III – exortar os advogados e o órgão do Ministério Público a que discutam a causa com elevação e urbanidade”. “Art. 15. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões

71 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341. 72 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.

19

injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra”.

Em análise ao entendimento do autor, os poderes de polícia

têm como característica, o fato de o juiz não agir como sujeito da relação

processual, mas como autoridade judiciária, assegurando o devido andamento do

processo e dos trabalhos forenses.

Diante do todo o exposto, e visto o esboço histórico, conceito,

principal função do juiz, sua relação ao processo judicial e sua classificação dos poderes,

segundo a legislação e doutrina, estudar-se-á no próximo capítulo, A Função Jurisdicional.

20

CAPÍTULO 2

A FUNÇÃO JURISDICIONAL

2.1 CONCEITO

A função jurisdicional73 pode ser facilmente constatada a

partir das proporções doutrinárias já consideradas acerca do papel conferido à

magistratura. Não se pode negar que o juiz, no exercício da jurisdição, exerce

atividade política, notadamente quando interpreta a lei em face dos objetivos

estabelecidos na Constituição do Estado.

Guimarães74, no seu clássico O Juiz e a Função

Jurisdicional, escreve: “[...] o fazer justiça é o alvo, a tarefa, a missão, o

sacerdócio. O juiz existe para isso. É o órgão específico mediante o qual exercita

o Estado uma de suas funções essenciais – a função jurisdicional”.

Neste entendimento, o autor argumenta que a decisão

judicial, é, portanto uma das chaves das modernas sociedades burocráticas, em

que influem variados fatores, desde a simples formação do magistrado, até o seu

conhecimento no ordenamento jurídico.

Em suma, conceitua Nanni: “[...] a função jurisdicional é de

atribuição exclusiva do Poder Judiciário, pressupondo a aplicação da lei na

solução de litígios, porque assim reclama a segurança jurídica” 75.

73 Conceitua a Função Jurisdicional “como uma das funções de soberania do Estado. [...] esta consiste no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo os conflitos de interesses e dessa forma resguardando a ordem jurídica e a autoridade da lei”. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 67. 74 GUIMARÃES, Mário. O Juiz e a Função Jurisdicional . Rio de Janeiro: Forense, 1958, p. 34. 75 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 43.

21

Partindo do acima transcrito, verifica-se que a função do

Estado é própria e exclusiva do Poder Judiciário, é ele dentro desta função, que

atua o direito objetivo na composição dos conflitos de interesses ocorrentes.

Na mesma linha de pensamento, Santos76 conceitua que:

[...] a jurisdição se exerce em face de um conflito de interesses e por provocação de um dos interessados. É função provocada. Quem invoca o socorro jurisdicional do Estado manifesta uma pretensão contra ou em relação a alguém. Ao órgão jurisdicional assistem o direito e o dever de verificar e declarar, compondo assim a lide, se aquela pretensão é protegida pelo direito objetivo, bem como, no caso afirmativo, realizar as atividades necessárias à sua efetivação prática.

Neste sentido, a decisão judicial é aquela assimilável pelas

partes interessadas. A legitimação do juiz advém do reconhecimento, primeiro das

partes e depois de todos os demais contextos que prova judicialmente e pelo

ordenamento jurídico, até chegar ao ponto final que é a sentença.

Ainda Santos77, em sua obra conceitua que: “[...] a função

jurisdicional do Estado visa à atuação da lei aos conflitos de interesses

ocorrentes, assim compondo-os e resguardando a ordem jurídica”.

Neste entendimento, a função jurisdicional se realiza por

meio de um processo judicial, aplicando normas em caso de litígios surgidos no

seio da sociedade. Assim os juizes e tribunais devem decidir atuando o direito

objetivo que o próprio Estado criou, compondo os conflitos de interesses sejam

individuais ou coletivos, públicos ou privados, legitimando seus atos de jurisdição,

em regras gerais abstratas (normas) que regulam as condutas no meio social.

Assim, é o Estado o dever de dizer o direito (pela norma) e posteriormente,

declará-lo (pela jurisdição). Os magistrados não podem usar de seu entendimento

76 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 68. 77 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 70.

22

critérios particulares, privados ou próprios, têm que seguir seus conceitos

conforme o ordenamento jurídico.

Na realidade, o que se avalia em matéria de Lide, na

clássica conceituação de Carnelutti citado por Theodoro Júnior78, é: “um conflito

de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.

Partindo do princípio de que a função jurisdicional é exercida

apenas quando faltam à obediência á lei e a resolução pacífica dos conflitos, ver-

se-á claramente que a atividade jurisdicional é substitutiva as partes envolvidas

na Lide. Para que possamos, efetivamente, enfrentar a questão proposta, a lide

(litígio) é a característica exclusiva da jurisdição. Ultrapassada a fase de nossa

civilização em que tudo se resolvia através da autotutela, e com o

desenvolvimento da noção de Estado, conseqüentemente de Estado de Direito,

atribuiu-se a este, através de um de seus alicerces, o Judiciário, que tem a

responsabilidade pela resolução dos conflitos.

Ao completar seu raciocínio, Santos79 conceitua ainda que

jurisdição:

É função do Estado desde o momento em que, proibida a autotutela dos interesses individuais em conflito, por comprometedora da paz jurídica, se reconheceu que nenhum outro poder se encontra em melhores condições de dirimir os litígios do que o Estado, não só pela força de que dispõe, como por nele presumir-se interesse em assegurar a ordem jurídica estabelecida.

E sobre as últimas considerações feitas nas citações acima,

a função jurisdicional tem por finalidade resguardar a ordem jurídica, o império da

lei e proteger aquele dos interesses em conflito que é tutelado pela lei, ou seja

proteger o direito objetivo.

78 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. V. 1 – 44ª edição, Editora Forense, 2006, p. 39. 79 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 67.

23

2.2 CARACTERÍSTICAS

As características da jurisdição apresentam-se como

atividade estatal, segundo Theodoro Júnior80 em: “secundária”, “instrumental”,

“declarativa ou executiva”, “desinteressada e Provocada”.

Sobre as características em comento, traz-se ás

considerações de Theodoro Júnior81:

Diz-se que é atividade “secundária” porque, através dela, o Estado realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente exercida, de maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à decisão.

É “instrumental” porque, não tendo outro objetivo principal, senão o de dar atuação prática às regras do direito, nada mais é a jurisdição do que um instrumento de que o próprio direito dispõe para impor-se à obediência dos cidadãos.

Exercita de tal sorte, a jurisdição vontades concretas da lei nascidas anteriormente ao pedido de tutela jurídica estatal feito pela parte no processo, o que lhe confere o caráter de atividade “declarativa” ou “executiva”, tão-somente.

É, ainda, a jurisdição “atividade desinteressada do conflito”, visto que põe em prática vontades concretas da lei que não se dirigem ao órgão jurisdicional, mas aos sujeitos da relação jurídica substancial deduzida em juízo.

Analisando-se as características citadas pelo autor, a

atividade secundária apresenta-se como medida em que o Estado é chamado a

intervir, coativamente, na relação de direito material e solucionar o conflito dela

decorrente porque tal resultado não fora obtido, de forma pacífica e espontânea,

pelos próprios sujeitos dessa relação.

80 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 40. 81 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 41.

24

É atividade instrumental porque espera-se a justa

pacificação dos conflitos, frutos da atuação estatal, gerando nova situação

jurídica, adequada à vontade do direito.

Já a atividade declarativa ou executiva , a jurisdição não é

fonte do direito, o órgão jurisdicional é convocado para remover a incerteza ou

para reparar a transgressão, através de um juízo que se preste a reafirmar e

restabelecer o império do direito quer declarando qual seja a regra do caso

concreto, quer aplicando as medidas de reparação ou de sanção previstas pelo

direito.

No que diz a respeito da atividade desinteressada , induz à

imparcialidade com que deve atuar o Estado no desempenho da atividade

jurisdicional. A idéia de justa composição do litígio passa pela necessidade de o

juiz estar eqüidistante das partes.

Depois de verificada a importância das características dentro

do ordenamento jurídico, passa-se doravante a analisar os poderes jurisdicionais.

2.3 PODERES

A jurisdição emana do Poder Judiciário e é uma das funções

da soberania do Estado que possui 3 (três) poderes distintos, independentes e

harmônicos entre si, sendo eles, o Poder Legislativo que cria as normas, Poder

Executivo que administra e Poder Judiciário que julga. Esses poderes são

próprios do sistema constitucionalista e está inserido no artigo 2º da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988 e visa impedir os excessos, abusos

inconvenientes de um poder estatal ilimitado. Esses 3 (três) poderes exercem

cada qual uma função específica e determinada na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

Neste sentido, o Poder Legislativo está previsto no Capítulo

I, do Título IV, nos artigos 44 á 75 da Carta Magna. A respeito do Poder

25

Legislativo, Nanni82, descreve: “[...] exerce função legislativa que consiste, em

poucas palavras, na edição das leis”.

O autor nos ensina que Poder Legislativo consiste em

estruturar a ordem jurídica formulando leis, em outras palavras, é o poder de criar

leis, para organizar e desenvolver a vida em sociedade.

Já o Poder Executivo, está discriminado no Capítulo II, do

mesmo título IV, nos artigos 76 á 91 da Carta Magna. E sobre o Poder Executivo

em destaque, José Afonso da Silva, citado por Nanni83, sucintamente esclarece

que segundo este pensamento desempenha a função executiva e dispõe:

[...] resolve os problemas concretos e individualizados, de acordo com as Leis; não se limita à simples execução das leis, como às vezes se diz; comporta prerrogativas, e nela entram todos os atos e fatos jurídicos que não tenham caráter geral e impessoal; por isso, é cabível dizer que a função executiva se distingue em função de governo, com atribuições políticas, co-legislativas e de decisão e função administrativa, com suas três missões básicas: intervenção, fomento e serviço público.

Neste entendimento, o Poder Executivo, através da

administração, consiste em executar e regulamentar as leis formuladas pelo

Poder Legislativo. É o poder que resolve os problemas concretos e

individualizados, seguindo os ditames das leis. Não é a simples execução das

leis, e sim, criam também prerrogativas, e nesta, todos os atos e fatos jurídicos

que não tenham caráter geral e impessoal.

A respeito do Poder Judiciário, Gomes84, leciona que:

O Judiciário é o poder naturalmente encarregado de cumprir essa missão de concretizar, densificar e realizar praticamente as mensagens normativas da Constituição. E o constituinte brasileiro de 1988 o proveu de condições para bem se desincumbir da

82 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 32. 83 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 32. 84 GOMES, Luiz Flávio. A Dimensão da Magistratura . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 467.

26

empresa. Dotou-o de independência frente aos demais poderes, de autonomia administrativa e financeira e cometeu ao órgão máximo da Justiça a guarda precípua da própria Constituição.

Este poder, como explica o autor, tem como escopo aplicar o

direito aos casos concretos, a fim de diminuir conflitos de interesses. Serão de

ordem pública quando versarem sobre conflitos entre qualquer Poder Público

contra particulares, ou particulares contra o Poder Público. Do mesmo modo, será

particular, quando versarem sobre conflitos entre particulares.

O Poder é um fenômeno, inerente a um grupo, que se pode

definir como "unir energia capaz de coordenar e impor decisões visando à

realização de determinados fins". O princípio da separação dos poderes

(tripartição) encontra-se sugerido em obras de Aristóteles, John Locke e Russeau,

porém, fora definido e divulgado por Montesquieu85. Teve fundamento positivo

nas Constituições das ex-colônias inglesas da América, concretizando-se em

definitivo na Constituição dos Estados Unidos de 17 de setembro de 1789. Com a

Revolução Francesa, tornou-se um dogma constitucional, a ponto do artigo 16 da

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, afirmar que não teria

constituição à sociedade que não assegurasse a separação dos poderes, devido

sua relevância para a Garantia dos Direitos do Homem.

O Poder, como expressão máxima da soberania é única,

pela separação dos poderes, entende-se como divisão funcional do poder, ou

seja, as atividades jurisdicionais que lhe compete a atender. Schlichting86 leciona

a respeito da divisão das atividades jurisdicionais que: “[...] entre diversos órgãos

jurisdicionais que o compõem, de forma de determinadas matérias, áreas e

regiões, processando e julgando uma parcela de atividades jurisdicionais que

cabe ao Poder Judiciário como um todo”.

85 “[...[ Montesquieu, a teoria de separação dos poderes já é concebida como um sistema em que se conjugam um legislativo, um executivo e um judiciário, harmônicos e independentes entre si, tomando, praticamente, a configuração que iria aparecer na maioria das Constituições [...].” (Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado . 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 218). 86 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria Geral do Processo . Florianópolis: Momento atual, Tomo 2, 2002, p.72.

27

O marco inicial da Tripartição dos Poderes, veio com

Montesquieu, onde ele descreve o tipo de Estado ideal, citado por Silva87,

explicita que:

Para um Estado ideal, era necessária a divisão dos poderes em três diferentes grupos, independentes entre si, não dependendo hierarquicamente unido outro, nem precisando de outorga para realizar algum ato, desde que obedecidos suas próprias regras. São eles: poder legislativo, poder executivo e poder judiciário.

A teoria da separação dos poderes alcançou a verdadeira

consagração com a obra “O Espírito das Leis”, elaborada por Montesquieu,

entretanto, mister se faz análise dos antecedentes históricos desta teoria.

Aderindo a este entendimento, que prega a formação dos

poderes, Aristóteles, em sua obra A Política reputava inconveniente a

concentração do poder político nas mãos de um só homem, eis que este estava,

“sujeito a todas as possíveis desordens e afeições da mente humana” e diante

dessas considerações distinguia as funções do Estado em deliberante, executiva

e judiciária88.

Todavia, sobretudo com a evolução política onde passou a

Inglaterra, na Era Moderna, com a edição de Bill of Rights, em 1689, e que John

Locke sistematizou a primeira teoria da separação dos poderes, dividindo suas

funções em Legislativas, Executivas e Federativas, ressaltando que estes últimos

deveriam ser exercidos pela mesma pessoa e subordinados ao primeiro, o qual se

sujeitava somente ao poder do povo. O Legislativo elaboraria as leis que iriam

disciplinar o uso da força na comunidade civil; o Executivo aplicaria as leias aos

membros da comunidade; e o Federativo desempenharia a função de se

relacionar com os demais estados89.

87 SILVA, José Afonso da. Curso do Direito Constitucional Positivo . 16ª ed., São Paulo: Malheiros, 1998, p. 37. 88 ARISTÒTELES, A Política . Ed. Ouro, com introdução de Ivan Lins, Rio de Janeiro, 1965, p. 234. 89 LOEWENSTEIN, Karl. Teoria de La Constitución . Trad. Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Editorial Ariel, 1976, p. 57.

28

Cabe inteirar ainda, que a teoria em questão fundamentou o

pensamento de Montesquieu90 que dispõe:

Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de Magistratura, o Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque pode temer-se que o mesmo Monarca ou mesmo Senado faça leis tirânicas para executá-las tiranicamente.

Também não haverá liberdade se o Poder de julgar não estiver separado do Legislativo e do Executivo. Se estivesse junto com o Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário; pois o juiz seria Legislador. Se estivesse junto com o executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.

Estaria tudo perdido se um mesmo homem, ou um mesmo corpo, de principais (sic) ou de nobres, ou do Povo, exercesse estes três poderes: o de fazer as leis; o de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as demandas dos particulares.

Entretanto, em que pese ter Montesquieu proposto à

contenção do poder político como forma de garantir a liberdade civil, não idealizou

a separação absoluta entre as funções públicas, visto que a relação entre os

poderes é recíproco, com o intuito de prevenir que o exercício de cada um deles

possa servir de pretexto para superar aos demais. O Brasil adotou expressamente

a teoria da separação dos Poderes. Diante disto, importante destacar que cada

um destes poderes possui sua organização regulada em capítulo distinto no Título

IV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, deixando ainda

mais cristalino que o princípio da separação e independência dos Poderes integra

a ordem constitucional positiva brasileira.

2.4 NECESSIDADE DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

O Estado, atribuindo como sua, a tarefa exclusiva de compor

os litígios através do exercício da jurisdição, passou a intervir como terceiro

imparcial, fazendo valer a ordem jurídica e, dessa forma, restabelecer a paz social

90 MONTESQUIEU. Os Espíritos de Leis . Trad. Pedro Vieira Mota, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 167-168.

29

com a composição da lide. A função jurisdicional é exclusiva em dirimir os

conflitos de interesses individuais, assegurando assim, a ordem jurídica e a paz

social.

À necessidade da função jurisdicional cabe este importante

papel de fazer valer o ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que seu

cumprimento não se dê sem resistência. O lesado tem de comparecer diante do

Poder Judiciário, o qual, tomando conhecimento da controvérsia, se substitui à

própria vontade das partes que foram impotentes para se autocomporem. O

Estado, através de um de seus Poderes, dita, assim, de forma substitutiva à

vontade das próprias partes, qual o direito que estas têm de cumprir.

Neste sentido, Lopes citado por Nanni91:

O protagonista principal da função jurisdicional é o juiz, que tem o encargo de exercer concretamente a função jurisdicional. É ele quem dá movimento ao Poder Judiciário, exteriorizando a prestação jurisdicional, razão pela qual deve ter consciência da importância da atribuição que lhe é confiada, não podendo olvidar de seus deveres.

Nesse ínterim, é de se mencionar que o juiz delibera, decide,

julga quanto ás atividades das partes, e procede na conformidade da lei. Pois

ninguém pode fazer a autotutela, a justiça feita pelas próprias mãos, somente é

admitida pelo direito em casos excepcionalíssimos, e quando a lei autorizar. Por

exemplo a legítima defesa, o desforço imediato e o direito de cortar galhos

limítrofes.

Ainda Nanni92:

Pensamos que a justiça é a fiel parceira que deve acompanhar o juiz em todos os seus passos dentro do exercício da função jurisdicional. Impõe-se que caminhem de mãos atadas, inexoravelmente unidos, para que o juiz, com o processo em

91 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 52. 92 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53.

30

mãos, ao decidir, possa aplicar escorreitamente o direito, profetizando sua suprema missão de aplicar a justiça.

Neste entendimento, o juiz deverá conhecer a lide para

então atuar a lei aplicável ao caso. É ele que decide após regular conhecimento.

E após decidir, declara qual a vontade da lei reguladora da espécie litigiosa.

Extraída das crônicas de Calamandrei, citado por Nanni93:

O direito, enquanto ninguém o perturba e o contraria, nos rodeia, invisível e impalpável como o ar que respiramos, inadvertido como a saúde, cujo valor só compreendemos quando percebemos tê-la perdido. Mas quando é ameaçado e violado, então, descendo do mundo astral em que repousa em forma de hipótese até o mundo dos sentidos, o direito encarna no juiz e se torna expressão concreta de vontade operativa através da sua palavra.

Neste sentido o juiz é o direito feito homem, e desse homem

pode esperar na vida prática, aquela tutela que não concretiza a lei. O juiz deve

ser perseverante na proclamação da justiça, para que possa exercer com

presteza sua função, dignificando o Poder Judiciário.

Diante dessa necessidade da função jurisdicional, que é

aplicar a justiça, o juiz está ligado à lei e, mais profundamente a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988.

2.5 COMPETÊNCIA PARA EXERCER A FUNÇÃO JURISDICIONAL

Alguns autores conceituam competência como a medida da

jurisdição uma vez que determina e demarca o campo de atribuições dos órgãos

que as exercem. Representa ter a capacidade de fato para exercer cargo ou

função, ainda que provisória ou temporariamente, sendo delegado ou não este

poder por terceiros qualificados.

A respeito de Competência, Santos94, conceitua que:

93 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 53. 94 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de

31

[...] é a função do Estado destinada a compor conflitos de interesses ocorrentes. Tem por finalidade resguardar a ordem jurídica, o império dos interesses em conflito que é tutelado pela lei. Sendo função estatal, e mesmo uma das características da soberania do Estado, é exercida sobre todo o território nacional.

Neste sentido, competência é a função do estado a por em

ordem os conflitos que são tutelados pela lei de interesses ocorridos em todo o

território nacional.

No que tange a Competência para exercer a função

jurisdicional, Santos95, dispõe ainda:

Exercendo-se sobre todo o território nacional, por vários motivos deverá a jurisdição ser repartida entre os muitos órgãos que a exercem. A extensão territorial, a distribuição da população, a distribuição, a natureza das causas, o seu valor, a sua complexidade, esses e outros fatores aconselham e tornam necessária, mesmo por elementar respeito ao princípio da divisão do trabalho, a distribuição das causas pelos vários órgãos jurisdicionais, conforme suas atribuições, que são previamente estabelecidas.

Nesse entender, quando se atribui através de normas de

competência, que a determinado órgão do Judiciário cabe exercer a jurisdição,

este o faz integralmente, plenamente, enquanto órgão jurisdicional e não como

agente. A norma de competência é atribuída ao órgão e não a pessoa do juiz. Em

realidade, todos os agentes têm jurisdição, o que as normas de competência

fazem é determinar em que momento e sob quais circunstâncias devem praticá-la

conforme artigo 8796 e 26397 do Código de Processo Civil. As normas de

competência funcionam como uma "divisão de trabalho" no Judiciário, facilitando Conhecimento. 2009, p. 205. 95 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 206. 96 Art. 87 – Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. 97 Art. 263 – Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.

32

a prestação da atividade jurisdicional com base no artigo 8698 do Código de

Processo Civil.

Complementa Santos99: “Diz-se que um juiz é competente

quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes jurisdicionais sobre

determinada causa. Assim à competência limita a jurisdição, é a delimitação da

jurisdição”.

A competência é uma divisão de tarefas na quais todos os

órgãos do Poder Judiciário estão envolvidos para exercerem ordenamente suas

funções jurisdicionais. A competência estabelece os limites em que cada órgão

jurisdicional pode legitimamente exercer a função jurisdicional.

2.5.1 Distribuição da Competência

Opondo-se a distribuição da competência, a definição se faz

perante normas constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária.

Os critérios legais levam em conta a soberania nacional, o

espaço territorial, a hierarquia de órgãos jurisdicionais, a natureza ou o valor das

causas, as pessoas envolvidas no litígio 100.

A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988,

encontra-se o arcabouço de toda a estrutura do Poder Judiciário Nacional. O

artigo 102 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 define as

atribuições do Supremo Tribunal Federal, sendo que o artigo 105 da mesma lei,

que define as atribuições do Superior Tribunal de Justiça.

A Lei maior em seus artigos 113, 114, 121 e 124, também

regula a competência das denominadas "Justiças" especiais como a do Trabalho,

98 Art. 86 – As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral. 99 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 206. 100 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 182.

33

Eleitoral e a Militar da União, delegando às "Justiças" comuns (Federal e dos

Estados) a competência residual, muito embora também à competência da

Justiça Federal seja conferida de uma certa especialidade, conforme os artigos

108 e 109 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

2.5.2 Classificação da Competência

A competência classifica-se em competência Internacional e

Competência interna.

Sobre a competência internacional, Theodoro Junior101,

explica que:

Inicialmente, o legislador seleciona abstratamente algumas espécies de lides que, com exclusividade ou não, são atribuídas à justiça brasileira. Daí resulta o que se chama “competência internacional” (arts. 88 a 90).

No que diz respeito à competência interna Theodoro

Junior102, ressalta:

Assentada a competência da justiça brasileira, passa-se à questão de estabelecer qual o órgão judiciário nacional que há de encarregar-se da solução da causa. Surge, então, o que o Código denomina “competência interna” (arts. 91 a 124).

As normas de “competência internacional” definem as

causas que a justiça brasileira deverá conhecer e decidir, e as de “competência

interna” apontam quais os órgãos locais que se incumbirão especificamente da

tarefa, em cada caso concreto103.

101 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177. 102 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177. 103 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177.

34

2.5.2.1 Competência Internacional

No que tange sobre a competência internacional, o Título IV,

Capítulo II, em seu artigo 88, incisos, I, II e III do Código de Processo Civil104

descreve os casos em que o Brasil tem competência internacional concorrente.

Isto significa que a demanda pode ser ajuizada no Brasil ou perante autoridade

judiciária de outro país que também tenha competência internacional para o caso

em questão. É o caso, por exemplo, do réu estrangeiro domiciliado no Brasil, ou

do cumprimento de uma obrigação cujo lugar do pagamento é o Brasil.

Já o artigo 89, incisos, I e II do Código de Processo Civil105,

descreve os casos em que o Brasil tem competência internacional exclusiva. Isto

significa que a demanda só pode ser ajuizada perante autoridade judiciária

brasileira. É o caso, por exemplo, das questões que envolvem imóveis situados

no Brasil.

Nas matérias previstas no citado dispositivo legal, o

legislador atribuiu ao juiz brasileiro competência exclusiva, não autorizando, pois

o conhecimento da ação por outro juiz, senão o juiz brasileiro. A conseqüência

prática do dispositivo comentado é que não se reconhece sentença de juiz

estrangeiro sobre tais matérias. A regra não permite exceções.

Importante frisar que o Código de Processo Civil, “[...]

quando cuida da “competência internacional” está não apenas tratando de

competência, mas da própria jurisdição, isto é, está determinando quando pode

ou não atuar o próprio poder jurisdicional do Estado”106.

104 Art. 88 - É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. 105 Art. 89 - Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II – proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. 106 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 177.

35

2.5.2.2 Competência Interna

Em matéria de competência interna, o legislador, definiu

critérios para a determinação da competência dos diversos órgãos da jurisdição,

organizando um sistema de critérios para, no caso concreto, determinar o juízo,

dentre todos igualmente investidos na função jurisdicional que compreende a

competência para processar e julgar determinada causa.

Nessa linha de raciocínio, Theodoro Junior107, esclarece que

a competência interna divide a função jurisdicional entre os vários órgãos da

justiça nacional, levando em conta os principais pontos fundamentais de nossa

estrutura judiciária onde:

1º) existem vários organismos jurisdicionais autônomos entre si, que forma as diversas “Justiças” previstas pela Constituição Federal;

2º) existem, em cada “Justiça”, órgãos superiores e órgãos inferiores, para cumprir o duplo grau de jurisdição;

3º) o território nacional e os estaduais dividem-se em seções judiciárias ou comarcas, cada uma subordinada a órgãos jurisdicionais de primeiro grau locais;

4º) há possibilidade de existir mais de um órgão judiciário de igual categoria, na mesma comarca, ou na mesma seção judiciária;

5º) há possibilidade de existir juízes substitutos ou auxiliares, não-vitalícios, e competência reduzida.

Diante destes dados fundamentais da nossa estrutura

judiciária, torna-se possível determinar a competência interna, diante de cada

caso concreto, que se passa por diversas etapas, cada uma delas representando

um problema a ser resolvido.

107 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 2006, p. 182.

36

2.6 ÉTICA PROFISSIONAL DO JUIZ

Neste título, abordar-se-á o conceito de ética, a sua relação

com a moral, a conceituação de ética profissional, para ao final examinar-se a

relação existente entre o juiz e a ética profissional, com base em ensinamentos

doutrinadores e interessados no assunto, que se dedicam à pesquisa da ética

profissional, não apenas quanto aos atos processuais, mais também com relação

às atividades humanas na área pessoal e as que convivem ao redor no seu dia-a-

dia.

Sobre a ética, perfazem-se necessárias considerações de

Korte108, o qual ensina:

A ética procura estudar as relações entre os indivíduos e o contexto em que está situado. Ou seja, entre o que é individualizado e o mundo a sua volta. Sob este prisma, estuda o homem como ser excluído e relacionado com o universo. Não tem por objeto o estudo de todos os fenômenos, mas, fundamentalmente visa os fenômenos éticos. Deve observar que os fenômenos éticos são enunciados através de idéias, linhas e formas de pensar e tornam-se em atos, fatos, ações, relações e procedimentos.

Para o autor, a ética faz parte de toda ação humana.

Qualquer ação do homem tem um conteúdo moral. O homem é um ser moral,

que antes de agir mede as possibilidades e as conseqüências de suas ações.

Como disciplina, a ética talvez seja o primeiro fundamento da própria filosofia, à

medida que é análise e reflexão sobre os atos humanos e suas conseqüências.

A reflexão de Durant109 traz significativa contribuição ao

entendimento de ética:

[...] vem do grego éthos e se refere aos costumes, à conduta da vida, como também às regras de comportamento, sendo que,

108 KORTE, Gustavo. Iniciação à Ética . São Paulo: Juarez Oliveira, 1999, p. 22. 109 DURANT, Guy. A Bioética : Natureza, princípios, objetivos. São Paulo: Paulus, 1995, p.13.

37

etimologicamente, possui a mesma definição que a palavra moral, conforme esclarecem vários dicionários.

Neste entendimento, a ética não se diferencia da moral, com

a única diferença de que a ética serviria como uma norma para um grupo de

pessoas e a moral seria mais geral, representando a cultura de uma determinada

nação, religião ou época.

Entende-se por ética profissional, aquele que age de acordo

com as normas deontológicas110 que regem a sua profissão e também de acordo

com os princípios morais que conduzem determinada sociedade.

Sendo assim, a ética profissional surge quando se escolhe

uma profissão e passa-se a ter obrigações profissionais obrigatórias. É a ação

reguladora da ética que age no desempenho das profissões, fazendo com que um

determinado profissional respeite o próximo quando se encontrar no exercício de

suas funções.

Assim, a ética profissional estuda e regula o relacionamento

do profissional com os seus clientes, objetivando a preservação da dignidade

humana e da construção do bem-estar em um contexto sócio-cultural onde

desempenha a sua profissão. Ela atinge todas as profissões e refere-se a um

caráter normativo e jurídico que regulamenta certa profissão diante dos estatutos

e códigos específicos111.

E sobre a ética do juiz, Nalini112 em sua obra Ética Geral e

Profissional explica que:

110 Deontológicas: Foi criado por Bentham, materialista, positivista e fundador do utilitarismo inglês e é usado com o significado de estudo empírico dos deveres, isto é, baseado apenas na experiência, mas não é suficiente para desatar o núcleo da ocupação ética, pois, sabe-se que esse nome apresenta a vantagem de designar, sem especificar se ele apresenta um caráter jurídico ou um caráter moral, a todos os deveres que se impõem in concreto numa situação social definida. 111 ÈTICA PROFISSIONAL. Ética Profissional . Disponível em: www.http://tpd 2000. vilabol.uol.com.br/etica2.htm>. Acesso em: 27 de Setembro de 2009. 112 NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional . Editora RT, 3ª ed., 2001, p. 285-286.

38

O juiz brasileiro não tem um código de ética específico. A codificação das normas éticas ainda sofre algumas objeções. Nem por isso os mandamentos éticos inspiradores de sua conduta, residem somente na doutrina. Existem normas éticas positivadas, a partir da Constituição da República. O constituinte emitiu comandos destinados ao juiz, dos quais se pode extrair o lineamento básico de sua conduta ética.

Neste entendimento, o autor fala que o juiz não possui um

código de ética próprio, deve-se levar em consideração, além da observância

doutrinária e o fundamento constitucional previstos sobre a ética, está relacionado

no artigo 93, inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

que é específico nos preceitos éticos do juiz. Como por exemplo, sobre o

merecimento, a partir observância dos critérios de presteza e segurança no

exercício da jurisdição e da freqüência e aproveitamento, pelo juiz, em cursos

reconhecidamente em aperfeiçoamento.

E sobre a ética profissional do juiz, Nanni113, explana que:

A lei elenca os deveres básicos do juiz, de atuar ou de comportamento, sem entretanto esgotá-lo, por si só. A relevância cabe ao juiz moderno no exercício de suas atividades, pautado por um modo de conduzir atrelado aos mais precípuos princípios de áreas de atuação, seja no Poder Público ou não.

Neste entendimento, o juiz no desenvolvimento de suas

atividades exerce poderes com aplicação estritamente vinculada à função

jurisdicional, ou ao processo, que é seu instrumento de trabalho, agindo assim

eticamente no dever de sua função.

Portanto, antes mesmo que se fale em responsabilidade do

juiz, é exigido dele um comportamento ético, sujeito a um atuar deontológico114.

Segundo os padrões da Deontologia da Magistratura, que

Lazzarini, citado por Nanni115 conceitua:

113 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 162. 114 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.163.

39

[...] como um conjunto de regras de conduta dos magistrados, necessárias ao pleno desempenho ético de sua atividade profissional, de modo a zelar não só pelo seu bom nome e reputação, como também da instituição a que serve, no seu múnus estatal de distribuir a Justiça na realização do bem comum.

Neste entendimento, a ética dos magistrados exige

celebridade na prestação jurisdicional, visando, sobretudo, atender os reclamos à

sociedade imposta ao nosso judiciário brasileiro.

Ainda sobre a ética do juiz, Nanni116 explica:

A integra-se a uma carreira, o juiz assume o compromisso de se portar de acordo com inúmeras posturas disseminadas nos códigos, nos regimentos e nos comandos correcionais, adotando um estatuto ético não inteiramente codificado, mas não menos cogente.

Neste sentido, o juiz está alçado a tal altura na ordem social,

que a sua atividade científica pode dar o tom dessa mesma ordem. E pode fazê-lo

porque o seu desempenho decide a vida das sociedades, não apenas nas

relações entre os particulares, mas também, entre o estado, e o que é primordial,

dá à diretriz da cidadania na interpretação da lei e do estado soberano, no mundo

globalizado, enquanto particulariza a ordem jurídica nacional, tendo por base a

interpretação constitucional.

2.7 DEVERES DO JUIZ

O Juiz possui o dever á prestação jurisdicional, ou seja, tem

o dever de processar e decidir as causas que lhe são trazidas.

A respeito dos deveres do juiz, Santos117 leciona:

115 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.163. 116 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 163-164. 117 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil : Processo de Conhecimento. 2009, p. 341.

40

Assim, dever do juiz é usar dos seus poderes, movimentando a relação processual e, desde que regular, decidir da ação e do mérito, não lhe sendo lícito, como já dissemos, eximir-se de proferir despachos ou sentenças, sob pretexto de lacuna ou obscuridade da lei (Cód. Proc. Civil, art. 126).

Neste entendimento, o autor argumenta sobre o artigo 126

do CPC, em que o juiz não pode deixar de pronunciar a sentença onde á falhas

na lei.

Ademais, os deveres do juiz estão expressos na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 93118, em

seus principais incisos VII, IX e X, e na Lei Orgânica da Magistratura Nacional

está previsto no artigo 35119. O juiz também tem o dever de respeitar os prazos

para despachos e sentenças, pois como já foi citado, o artigo 125, inciso II, do

CPC, prevê que o magistrado tem o dever de velar pela rápida solução do litígio e

o dever de não recusar, omitir ou retardar providências que deva ordenar de ofício

ou a requerimento da parte conforme o artigo 133, inciso II do CPC.

O Código de Processo Civil, também se destacam outras

disposições relativas ao dever do juiz, que deve obedecer aos prazos legalmente

118 Art. 93 – Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...), VII – o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal; IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros. 119 Art. 35 - São deveres do magistrado: I - Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício; II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar; III - determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais; IV - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência. V - residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar a que estiver subordinado; VI - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término; VIl - exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das partes; VIII - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.

41

impostos para pronunciar-se conforme o artigo 189120 em seus incisos I e II, do

CPC, e sob pena de sanções disciplinares está discriminado no artigo 198121 do

CPC.

Enfim, o rol dos deveres é extenso, de forma geral,

basicamente, os deveres dos magistrados estão descritos no artigo 35 da Lei

Orgânica da Magistratura Nacional, como já foi citado anteriormente.

Entretanto, muitos desses deveres, além de relacionados ao

juiz, expressam verdadeiras regras de conduta. O juiz, mais do que qualquer

outro agente estatal, está vinculado exclusivamente aos seus deveres, regras de

conduta e regras éticas, pois decorrem de um encargo natural da função

desempenhada por ele exercida.

Após a realização desta breve explanação sobre os deveres

do juiz, necessário se faz o estudo sobre as garantias conferidas aos

magistrados, as quais propiciam a independência da função jurisdicional.

2.8 DAS GARANTIAS DO JUIZ

Para que os Juízes possam manter sua independência e

exercer sua função jurisdicional com dignidade, imparcialidade e desvinculada de

qualquer outro órgão, são revestidos de garantias, nas quais se destacam: 1)

vitaliciedade; 2) inamovibilidade; e 3) irredutibilidade dos subsídios.

2.8.1 Vitaliciedade

Sendo esta a primeira garantia, serve essencialmente para

conservar o Magistrado no cargo. Não é um privilégio, e sim, uma condição para o

exercício da função judicante que exige condições especiais definitivamente no

120 Art. 189 – O juiz proferirá: I – os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias; II – as decisões, no prazo de 10 (dez) dias. 121 Art. 198 – Qualquer das partes ou o órgão do Ministério Público poderá representar ao presidente do Tribunal de Justiça contra o juiz que excedeu os prazos previstos em lei. Distribuída a representação ao órgão competente, instaurar-se-á procedimento para apuração da responsabilidade. O relator, conforme as circunstâncias, poderá avocar os autos em que ocorreu excesso de prazo, designando outro juiz para decidir a causa.

42

cargo. Não é prerrogativa da pessoa do juiz e sim da instituição judiciária, ou seja,

do cargo que aquela pessoa exerce.

A Vitaliciedade visa assegurar a independência do juiz e

está definida no artigo 95, em seu inciso I da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, in verbis:

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda de cargo nesse período, de deliberação, do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado.

O legislador argumenta sobre um período de estágio depois

de aprovado em concurso da Magistratura, trata-se de um período de

comprovação da sua adequação ao cargo, levando-se em consideração

qualidades morais e atributivas. Esse estágio é de dois anos de exercício, em

primeira instância, após esse período, o Magistrado que continuar no cargo, já

será investido de vitaliciedade. Nos Tribunais, a regra é diferente, a vitaliciedade

ocorre com a posse.

O juiz vitalício, ou seja, titular do cargo por toda a vida, só

pode ser afastado por vontade própria e apenas o perderá por sentença judiciária,

com trânsito em julgado, ou aposentadoria compulsória ou disponibilidade.

Assim, os Juízes tornam-se vitalícios as quais se destacam:

a) A partir da posse, se já não o eram: os Ministros do

Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, os Juízes dos

Tribunais Regionais Federais, os Ministros e Juízes togados do Tribunal Superior

do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, os Ministros do Superior

Tribunal Militar, os desembargadores dos Tribunais de Justiça, e os Juízes de

Segunda instância dos Tribunais Militares dos Estados;

43

b) Após dois anos de exercício: Juízes togados de primeiro

grau, dependendo a perda do cargo, neste período, de deliberação do tribunal a

que estiverem vinculados.

2.8.2 Inamovibilidade

Esta segunda garantia do juiz está elencado no artigo 95,

em seu inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que

assim dispõe:

Art. 95. [...]

II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público,

na forma do art. 93, VIII.

Neste entendimento, o legislador ressalva que essa garantia

refere-se em não poder o Juiz ser removido de um lugar para o outro, exceto nas

hipóteses de promoção e remoção, e, assim mesmo, se ele estiver de acordo e

desejar tal mudança. Para promoção por merecimento, existem condições

impostas no artigo 93, inciso II, letra “b”, da Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, sendo 2 (dois) anos de exercício na respectiva entrância e

integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, e o juiz que figurar

por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em listas de promoção terá

direito a promoção.

Quando se tratar de promoção por antiguidade, contada na

entrância, decidirá preliminarmente o tribunal, secretamente, se deverá ser

promovido o juiz mais antigo.

Não há restrições, para que os pedidos de Juízes de mesma

entrância se removam de uma para outra. Note-se que as Comarcas ou Varas

deverão ser de mesma entrância, e sempre a pedido do juiz interessado.

Importante notar para este trabalho, que em casos excepcionais, admite-se que

um Juiz de Direito e até mesmo um Juiz do Tribunal ser posto em disponibilidade,

44

isto está descrito no artigo 93, VIII da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, que, in verbis:

Art. 93. [...]

VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do

magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto de dois terços do respectivo tribunal, assegurada ampla defesa.

Neste sentido o legislador argumenta que, quando um Juiz

de Direito não estiver indo de acordo com o que se exige dele era sua Comarca

ou Vara, praticando atos não recomendáveis, o Tribunal, secretamente,

assegurando o direito de defesa, decidirá por voto de maioria absoluta sobre sua

remoção ou disponibilidade. Deve-se notar que todos esses atos visam interesse

público. Se os atos praticados por tais Juízes revelarem sua incapacidade moral

ou se tratar de infração que enseja a perda do cargo, será destituído da função de

juiz após processo com ampla defesa.

2.8.3 Irredutibilidade de subsídios

A irredutibilidade de subsídios é a terceira e ultima garantia

do juiz, e está previsto também no artigo 95, em seu inciso III da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 que assim dispõe:

Art. 95. [...]

III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos

art. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I.

Esta garantia protege o magistrado da redução de seus

vencimentos (padrão e vantagens), nem mesmo em virtude de medida geral.

Essa garantia é conferida aos Juízes, assim, o Estado pode diminuir os subsídios

de todos os cargos públicos, menos dos Juízes, porém, a Constituição determina

que fiquem sujeitos aos limites impostos no artigo 37 e ao imposto de renda,

como qualquer contribuinte, com a aplicação do disposto nos artigos.

45

Entretanto, a remuneração de um Juiz deve ser digna, uma

vez observada a importância e o prestígio social dessa função. O Magistrado

deve ter condições de uma vida, que lhe permita viver com um mínimo de

dignidade.

Além das garantias acima mencionadas, a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, estabeleceu em seu parágrafo único do

artigo 95, algumas proibições ao juiz, chamadas também de garantias às partes, e

seu objetivo é preservar a imparcialidade do juiz.

Segue a redação do citado artigo em seu parágrafo único:

Art. 95. [...]

Parágrafo único - Aos juízes é vedado:

I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação

em processo;

III – dedicar-se à atividade político-partidária;

IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou

contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

A respeito dos incisos IV e V do parágrafo acima citado,

foram incluídos pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004, aumentando ainda

mais o rol de vedações anteriormente estabelecido.

Após as considerações colacionadas neste segundo capítulo

sobre a Função Jurisdicional, passa-se a principal abordagem desta monografia

referente “A responsabilidade Civil do Juiz no Exercício da Função Jurisdicional”.

46

CAPÍTULO 3

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATO JURISD ICIONAL

No Capítulo anterior, observou-se que no direito pátrio as

funções de administrar, legislar e jurisdicionar são constitucionalmente atribuídas

ao Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, respectivamente.

Estes órgãos se utilizam de pessoas físicas regularmente

constituídas para tanto, são os chamados “agentes públicos”122. Estes por sua vez

exteriorizam as funções do Estado pela prática de atos.

Ao tempo em que esta atividade estatal resulta em dano,

prejudicando terceiros, nasce aqui a discussão quanto à possibilidade de

responsabilização do Estado por atos jurisdicionais.

Atualmente, existem divergências doutrinárias e

jurisprudenciais123 no sentido de não admitirem a Responsabilidade Civil do

Estado por atos jurisdicionais, à doutrina pátria vem adotando a corrente a qual

reconhece a incidência da responsabilidade do Poder Público em decorrência de

atos dos juízes no exercício de suas funções jurisdicionais, porém sempre em

caráter excepcional. Quanto ao tema, uma das correntes nega a viabilidade de

122 “[...] Pessoas físicas que sob qualquer liame jurídico e algumas vezes sem ele prestam serviços ao Estado ou realizam atividades que estão sob sua responsabilidade”. GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo . 9ª ed., São Paulo: 2004, p. 924. 123 Neste entendimento, acórdãos publicados nas RTJ 39/190, 56/273, 59/782, 94/423 etc.

47

responsabilizar o Estado por atos jurisdicionais124, embora se encontre

gradativamente sendo superada.

Essas corrente doutrinárias que ainda defendem a

irresponsabilidade pelo exercício da Atividade Jurisdicional, se fundamentam em

várias conceituações alegando inexistir Responsabilidade Civil do Estado, pois

isso ofende a soberania estatal, e sobre este assunto, Laspro125, argumenta: “[...]

a jurisdição, como atividade essencial do Estado, é produto de sua soberania, não

se podendo criar uma situação de responsabilização daquele em razão de

eventual prejuízo causado”.

Diante da irresponsabilidade do Estado, Di Pietro126, traz os

seguintes argumentos:

[...] os atos do Poder Judiciário (órgão soberano) não podem ensejar responsabilidade ao Estado. Além disso, os seus magistrados possuiriam independência funcional, sendo que a indenização por dano decorrente de decisão judicial infringiria a regra da imutabilidade da coisa julgada.

Neste entendimento o último argumento, induziria o

reconhecimento de que a decisão foi proferida com violação a lei. Serrano

Junior127, ressalva que: “[...] faz alusão à irresponsabilidade estatal ante a

potencialidade de se violar a independência dos magistrados no exercício da

judicatura”.

Laspro128, todavia contesta esse posicionamento, alegando

que a garantia de:

124 “Assim se domina todo ato emanado de autoridade judiciária, consistente de despacho, decisão interlocutória ou sentença. Entende-se, também, como ato de julgar”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.97. 125 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 101. 126 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . 19 ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 74. 127 SERRANO JUNIOR, Odoné.Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 125. 128 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 122.

48

[...] independência externa e interna dos juízes, bem como criticando a potencialização que é feita pela doutrina a essas garantias, esquecendo que a principal delas é a moral e esta deve ser inerente ao juiz que, se a tiver, saberá garantir as demais.

Ademais, acrescenta que a independência e a

responsabilidade, ao invés de repelirem, se complementam, visto que, através da

responsabilização, o juiz estaria se utilizando da independência como garantia

não de pessoas, mas dos próprios jurisdicionados.

Para Cahali129: “[...] a responsabilidade civil do Estado como

sendo a obrigação legal, que lhe é imposta, de ressarcir os danos causados a

terceiros por suas atividades”.

Após as considerações acima, mostra-se oportuna à

referência ao magistério de Cretella Júnior130, que sintetiza a matéria dizendo:

a) responsabilidade do Estado em razão da atividade por atos jurisdicionais é espécie do gênero responsabilidade do Estado, por atos decorrentes do serviço público; b) as funções do Estado são funções públicas, exercendo pelos três poderes; c) o magistrado é órgão do Estado; ao agir não age em seu nome, mas em nome do Estado, do qual é representante; d) o serviço público judiciário pode causar Dano às partes que vão a juízo pleitear direitos, propondo ou contestando ações (cível) ou na qualidade de réus (crime); e) o julgamento, quer por crime, quer no cível, pode consubstanciar-se Erro Judiciário, motivado pela facilidade humana na decisão; f) por meios dos institutos rescisórios e revisionista é possível se o Erro Judiciário, de acordo com as formas e modos que a lei prescrever, mas se o equívoco já produziu Danos, cabe ao Estado o dever de repará-los; g) voluntário ou involuntário, o erro de conseqüências Danosas exige reparação, respondendo o Estado civilmente pelos prejuízos causados.

129 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciári o. São Paulo, Síntese Editora, 1999, p.09. 130 CRETELLA JÚNIOR, José. O Estado e a Obrigação de Indenizar . São Paulo. Saraiva, 1980, p. 95.

49

Antes da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, tratava-se apenas da Responsabilidade Civil do Estado, através de atos

praticados por seus funcionários públicos, e o juiz não era responsabilizado,

porque não era considerado um funcionário público.

Outro posicionamento de Serrano Junior131, que refuta a

responsabilidade civil do Estado seria o magistrado não sendo considerado

funcionário público.

Este fator já foi superado, existe uma norma constitucional

no artigo 37, §6º, que trata da responsabilidade civil do Estado praticado pelos

seus agentes, ou seja, pelos magistrados132, que prestam serviços aos Estados

inclusive os órgãos judiciários.

Por outra linha, ao cuidar da Atividade Jurisdicional133,

Laspro134, enfatiza:

[...], é um serviço político e os juízes, seja considerando-os como servidores, seja como agentes públicos, estão abrangidos pelas condições exigidas para a responsabilização objetiva do Estado, em conformidade com o §6º do artigo 37 da Constituição Federal.

Assim sendo, no que tange à Responsabilidade Civil do

Estado no contexto jurisdicional, constata-se que o Ordenamento Jurídico

Brasileiro é irradiado pelo artigo 37, §6º, da Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, notadamente, ao considerar o Magistrado um Agente Público e

aceitar seu erro judiciário.

No mesmo raciocínio, encabeça esta lista, o já mencionado

artigo 37, §6º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pois

131 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.125. 132 Nesta pesquisa o termo magistrado é utilizado em seu sentido estrito, sendo: “Vocábulo tecnicamente empregado para designar o juiz, ou seja, a autoridade judiciária, a que se comete julgar as questões jurídicas”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 508. 133 Atividade Jurisdicional neste contexto, serviços desempenhados por pessoas que possuem jurisdição como os magistrados. 134 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 98.

50

este, segundo Serrano Junior135: “[...] expressa, de forma, abrangente, a

responsabilidade estatal, assegurando o direito de regresso do Estado contra o

Agente Público autor da conduta danosa, nos casos de dolo ou culpa”.

Ainda na Responsabilidade Civil do Estado, no que tange o

Ato Jurisdicional, o preceito do artigo 5º, em seu inciso LXXV da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988136, reza:

Art. 5º. [...]

LXXV – O Estado indenizará o condenado por Erro Judiciário,

assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.

Na esfera cível, consagrou-se também no artigo 43137 do

Código Civil138, a regra da Responsabilidade civil objetiva do Estado.

O texto legal do artigo 43 do Código Civil Brasileiro

menciona que “As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente

responsáveis [...]”, já a norma constitucional no seu mencionado artigo 37, §6º,

preconiza que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,

nessa qualidade, causarem a terceiros. Observa-se depois que na Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988, a responsabilidade civil objetiva do

Estado encontra-se melhor evidenciada.

135 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 77. 136 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 10. 137 Preconiza o artigo 43 do Código Civil: “Art. 43 – As pessoas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo”. 138 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009. p. 147.

51

Destarte, após apresentados alguns posicionamentos sobre

o assunto verifica-se que existe a Responsabilidade Civil do Estado por atos

judiciais, e portanto está em conformidade com o artigo 37, §6º da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988.

3.1.1 Responsabilidade do Juiz

A responsabilidade civil do juiz no exercício da função

jurisdicional distancia-se da responsabilidade dos demais agentes públicos, visto

que possui disciplina especial.

Por essa razão, Nanni139, dispõe seus pensamentos a

respeito:

Enquanto os agentes públicos em geral são civilmente responsáveis em caso de dolo ou culpa, a responsabilidade civil do juiz decorre daquelas hipóteses previstas em lei. Adentra-se e demonstra-se as facetas que circundam a responsabilização do juiz. O primeiro aspecto a ser observado é que o juiz não pode ser imune, devendo responder pelos danos causados. Entretanto, não se pode ignorar que a imunidade do juiz é defendida pela doutrina, como forma de preservar sua independência e liberdade de julgamento.

Assim, a responsabilidade do juiz é diferenciar as atividades

praticadas no exercício de suas funções, pois como representante do Poder

Judiciário, pode ser autônomo ou independente, e tem a seu cargo a prática de

atos jurisdicionais.

No entanto, Pereira citado por Nanni140, conclui que: “O fato

jurisdicional regular não gera responsabilidade civil do juiz, e, portanto a ele é

imune o Estado”.

139 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.210. 140 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.211.

52

Guimarães, citado por Nanni141, contraria o entendimento de

Pereira e defende:

Em princípio, não são os juízes responsáveis pelos danos que decisões erradas acaso venham a produzir. Com amarga finura já se disse que o poder de julgar envolve o de praticar injustiças. Pretendem, todavia, alguns autores que o magistrado, em sendo responsável pelos seus atos, se elevaria em prestígio e independência. As suas decisões teriam mais força e ofereceriam, à crítica, flanco menos vulnerável. Talvez assim o fosse. Razões mais fortes, porém, aconselham a irresponsabilidade. Primeiramente, uma de política social: porque são homens. Se obrigados a ressarcir, de seu bolso, os na sua liberdade de apreciação dos fatos e aplicação do Direito. Nem se coadunaria com a dignidade do magistrado, coagi-lo, a descer à arena, após a sentença, para discutir, como parte, o acerto de suas decisões.

Nem todo juiz tem a mesma conduta de aplicar seus atos.

Há verdadeiros juizes, que levam a sua conduta ao pé da letra, e são verdadeiros

representantes do Estado a aplicar a tutela jurisdicional prestada na sua função

de representante de um dos três poderes.

Assim, para Alvin, citado por Nanni142: “[...] a intenção

permanente e fundamental do juiz é aplicar a lei, exclusivamente, e jamais a de

lesar direitos, inexistindo, ou devendo inexistir, outra motivação e outro fim, no

agir normal do juiz”.

O Código de Processo Civil, por sua vez, enumera em seu

artigo 133, caput e incisos, as hipóteses da responsabilidade do juiz no exercício

de sua função. Consoante dispõe o texto legal, o juiz poderá ser responsabilizado

quando agir com dolo ou fraude (inciso I), ou quando recusar, omitir ou retardar,

sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da

parte (inciso II).

141 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.211. 142 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 211.

53

O caput do artigo determina a responsabilidade do juiz por

perdas e danos quando cometer uma das condutas tipificadas em seus incisos,

consideradas como causas faltosas143.

Em contrapartida pode-se dizer, “[...] que o juiz tem o dever

de, no exercício de suas funções, não proceder com dolo ou fraude e também tem

o dever de não recusar, omitir ou retardar as providências inerentes à sua função

ou requeridas pela parte” 144.

Neste entendimento, se descumprir um desses deveres,

responde pelo dano causado. Assim, no inciso I do artigo 133 do CPC, conforme

o exemplo de Nanni145, responde por dolo ou fraude se, “consumar um ato

mediante dolo”. E no inciso II do mesmo artigo, onde discrimina recusar, omitir ou

retardar, se o agente infringir uma dessas hipóteses, onde Nanni146, da seu

exemplo, “retardamento do dever de ofício, [...], quando se poderá dizer, mutatis

mutandis147, que ocorre mora do juiz, frente ao retardamento na execução da

obrigação, passível de purgação”.

As primeiras definições a respeito da responsabilidade civil

do juiz encontram-se disponibilizadas no inciso I, do art. 133 do Código de

Processo Civil, onde menciona que se o juiz proceder com dolo ou fraude no

exercício de sua atividade jurisdicional responde por esses atos praticados.

Entretanto, o inciso II do artigo 133 do Código de Processo

Civil, “prevê outra forma passível de responsabilização do juiz, recusando-se,

143 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 144 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 145 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 146 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223-224. 147 Entende-se por Mutatis Mutandis:“Locução latina empregada com as significação de que se deve mudar o que é para mudar”. Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p.545.

54

omitindo-se ou retardando, sem justo motivo, providência que deva ordenar de

ofício ou a requerimento da parte” 148.

No que se refere ao parágrafo único do Artigo 133 do CPC,

Nanni explica que: “[...] a configuração dessas hipóteses ao prévio requerimento

ao juiz, por meio do escrivão, para que determine a providência, conferindo-lhe

um prazo de dez dias para tanto”149.

Neste sentido, Saad150, esclarece que:

[...] quando o artigo 133, do Código de Processo Civil, aponta a responsabilidade civil do juiz pelos danos decorrentes de seus atos, está reafirmando a responsabilidade do Estado, pois este e a magistratura são um todo, sendo o magistrado instrumento da execução na prestação jurisdicional.

Assim, o autor discrimina que a responsabilidade do juiz é

passível de erros, contudo, em razão da função que exerce pode vir a prejudicar a

terceiros com seus erros, e, ainda em razão desta sua função, deve procurar ao

máximo evitá-los, e se mesmo assim ocorrerem, deverá ser penalizado

civilmente, e, se conforme o caso, ser responsabilizado até mesmo penalmente.

Cabe salientar que o artigo 49 da Lei Orgânica da

Magistratura Nacional – LOMAN é idêntica à contida no artigo 133 do Código de

Processo Civil corroborando a responsabilidade civil do Estado, no âmbito

jurisdicional.

A responsabilidade civil dos magistrados não constitui uma

desmoralização da classe, mas, ao inverso, as possibilidades de se punir aqueles

que se aproveitam de sua condição como julgador para desprezarem a ordem

legal.

148 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 149 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 223. 150 SAAD, Renan Miguel. O Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994. p. 233.

55

3.1.2 Responsabilidades previstas na Lei Orgânica d a Magistratura Nacional

– LOMAN

Nesse contexto, as normas que regulam o exercício da

magistratura é a Lei Complementar nº 35 de 14 de Março de 1979, conhecida

como LOMAN, Lei Orgânica da Magistratura Nacional, dispõe sobre os deveres e

a responsabilidade civil dos magistrados.

Assim dispõe a Lei Complementar nº 35/79, no seu artigo

49, incisos I e II:

Art. 49. Responderá por perdas e danos o magistrado, quando:

I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude.

II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que

deva ordenar de ofício, ou a requerimento das partes.

Esta lei reproduziu tal enunciado em seu artigo 49, e incisos,

estendendo sua incidência também aos atos praticados nas demais jurisdições

como a criminal, eleitoral, trabalhista e militar. Esta lei que também é o estatuto na

magistratura nacional, também regula a aposentadoria do juiz por negligência e

incapacitação para o serviço conforme o artigo 56, inciso III151, da mesma lei.

Neste entendimento, o inciso II da Lei complementar nº

35/49, age com dolo o juiz, no exercício de sua função, quando pratica ato que

sabe indevido e assim o fez com o fim de violar a lei e causar direta e

indiretamente dano à parte.

Neste caso, a conduta do juiz, por exemplo, pode ser

suficiente para produzir o resultado danoso, através da sentença ou de outro ato

no processo. Pode acontecer se bem com menor freqüência, a espécie de dolo

151Art. 56 - O Conselho Nacional da Magistratura poderá determinar a aposentadoria, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, do magistrado: I - manifestadamente negligente no cumprimento dos deveres do cargo; Il - de procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções; III - de escassa ou insuficiente capacidade de trabalho, ou cujo proceder funcional seja incompatível com o bom desempenho das atividades do Poder Judiciário.

56

consistente em induzir maliciosamente alguém à prática de ato que o prejudica na

mediação de um litígio, induzindo maliciosamente a parte a celebrar acordo

prejudicial.

O artigo 49 da LOMAN, “é reprodução na essência, com

pequena alteração do art. 133, do Código de Processo Civil, razão pela qual todas

as considerações externadas ao disposto no código processual são a esse

extensíveis”152.

Sobre o caso em menção, Carvalho Neto153, lembra que:

“[...] se houve dolo ou culpa por parte do agente, a pessoa jurídica terá contra ele

ação de regresso, sub-rogando-se no direito da vítima de cobrar a indenização

paga”.

Meirelles154 menciona ainda que: “[...] enquanto que para

administração a responsabilidade independe da culpa, para o servidor a

responsabilidade depende da culpa: aquela é objetiva, esta é subjetiva e se apura

pelos critérios gerais do Código Civil”.

Neste raciocínio, considerando-se que o juiz é um agente do

estado, este deve ser responsabilizado pelos seus atos danosos a que der causa

por dolo ou culpa se observados no artigo 133 do Código de Processo Civil e o

artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN.

Corroborando o exposto, Nunes155 pondera que:

Primeiramente, só poderá aplicar-se a norma constitucional (art. 37, §6º, da CRFB/88) se os atos do Magistrado forem considerados abusivos ou eivados de alguma ilegalidade, pois

152 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p.246. 153 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade do Estado por Atos dos seus Agente s. São Paulo: 2000, p. 152. 154 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro . 20ª ed. São Paulo, Malheiros. 1995. 155 NUNES, Rômulo José Ferreira. Responsabilidade do Estado por Atos Jurisdicionais . São Paulo: LTr., 1999, p. 136.

57

suas simples omissões ou comissões praticadas conforme a lei, não poderiam ser consideradas danosas.

Pertinente anotar também o que dispõe o artigo 37, §6º da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dispõe:

Art. 37. [...]

§6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Neste entendimento, o legislador ressalva que só pode

aplicar o §6º do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, se os atos dos juízes forem considerados abusivos ou demonstrados

alguma ilegalidade, se comprovada a sua atitude dolosa ou culposa.

3.1.3 Possibilidades de Responsabilização perante o Conselho Nacional de

Justiça – CNJ

O Conselho Nacional de Justiça – CNJ, foi criado e instituído

pela Emenda Constitucional nº 45 em 31 de Dezembro de 2004, sendo composta

por 15 conselheiros e presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, assim

descrito no artigo 103-B, da Constituição da República Federativa do Brasil. Foi

formalmente instalado no dia 14 de Junho de 2005.

Trata-se de Órgão Administrativo auxiliar do Poder Judiciário

encontrando-se na mesma linha da hierarquia do Supremo Tribunal Federal.

Com fulcro no artigo 103-B, §4º, da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988156, o Conselho Nacional de Justiça, tem

as seguintes atribuições:

156 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009, p. 41.

58

Art. 103-B. [...]

§4º. Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura.

Neste sentido, o legislador explica que é de competência ao

CNJ, a responsabilidade de controlar a administração, o financeiro do Poder

Judiciário e o cumprimento funcional dos juízes.

O Conselho Nacional de Justiça surgiu em virtude das

pressões dos Poderes Executivo e Legislativo, bem como da sociedade civil, uma

fiscalização das atividades administrativa e financeira do Poder Judiciário.

A missão do CNJ é, “contribuir para que a prestação

jurisprudencial seja realizada com Moralidade, Eficiência e Efetividade em

benefício da sociedade”157.

A visão do CNJ é “ser um instrumento efetivo de

desenvolvimento do Poder Judiciário”158.

As Diretrizes, conforme o Conselho Nacional de Justiça são

as seguintes: “Em linhas gerais, o trabalho do Conselho Nacional de Justiça

compreende”159:

� Planejamento estratégico e proposição de políticas judiciárias;

� Modernização tecnológica do judiciário;

� Ampliação do acesso à justiça, pacificação e responsabilidade

social;

� Garantia de efetivo as liberdades públicas e execuções penais.

157 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052 158 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052 159 www.cnj.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid=1052

59

A Corregedoria Nacional de Justiça é órgão responsável

pelo recebimento e apuração das reclamações disciplinares, podendo determinar

instauração de sindicâncias, correições ou inspeções de qualquer Tribunal, por

iniciativa própria ou requerimento do Plenário.

Compete ainda, à Corregedoria do CNJ, avocar processos

disciplinares que se encontra em tramite, em qualquer Corregedoria-Geral dos

Tribunais, o país e expedir instruções e provimentos.

3.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO JURI SDICIONAL

Com o escopo de prover um melhor entendimento acerca do

tema, se fará neste primeiro item uma breve abordagem acerca da

Responsabilidade Civil do Estado por Ato Jurisdicional, onde trás consigo

espécies de responsabilidade.

E para melhor entender, Alves160, mostra quatro caminhos

que podem ser tomados quanto a esta responsabilização:

a) a responsabilidade estatal exclusiva, dado que os juízes são órgãos integrantes do Estado além do que, monopolizando a prestação da tutela jurisdicional, assumira o Estado os riscos inerentes à deficiente ou insuficiente atuação de seus órgãos, b) a responsabilidade somente dos juízes, e não do Estado, c) a responsabilidade, que somente na hipótese de falta dos juízes poderia exercer pretensão regressiva contra eles, e d) a responsabilidade simultânea do Estado e dos juízes.

Diante dos fatos expostos, tanto o Estado como o Juiz

respondem civilmente pelos atos jurisdicionais.

Sobre a abordagem da Responsabilidade Civil do Juiz,

podemos encontrar ainda a responsabilidade política.

O juiz é um participante político, o que não significa

partidário, devendo observar-se que a participação política é um direito e dever de 160 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 68.

60

todo cidadão, na qual está inserido o juiz. Ocorre que a admissão de

responsabilidade política de juízes é mais coerente nos sistemas nos quais os

juízes cumprem funções expressamente políticas, no sentido de serem eleitos.

A responsabilidade política subdivide-se em duas espécies

sendo:

A primeira forma de responsabilidade política questiona o juiz em sua atividade jurisdicional, exigindo que tenha um posicionamento político, não limitando a atividade jurisdicional à mera aplicação da lei, mas sim que corresponda a uma vontade política a ser atingida161.

Neste sentido, a primeira espécie, questiona o juiz em sua

atividade exigindo dele uma posição e não pondo limites na sua prestação

jurisdicional, assim o artigo 37, §6º da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, questiona a ação de regresso do juiz quando age com dolo ou

culpa.

No que se refere à segunda espécie, Laspro162 ressalva:

A segunda resulta do controle dos juízes, através de um outro órgão do Estado, que não tem natureza jurisdicional e julga a violação dos deveres funcionais, bem como o comportamento pessoal.

A segunda espécie não tem muito que falar, haverá sempre

a Responsabilidade Civil do Estado, pois esta é objetiva e o juiz agindo com

culpa, dolo ou frade, cabe a este a ser responsabilizado.

Portanto, “a responsabilidade do Estado está consagrada no

artigo 37, §6º, e somente na hipótese de dolo ou culpa de seus agentes, -

portanto, também os juízes – pode exercer pretensão regressiva contra eles”163.

161 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 137. 162 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 137. 163 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 69.

61

3.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTAD O POR ATO

JURISDICIONAL

Levando-se em conta que a responsabilidade civil do Estado

é objetiva, para a sua incidência em relação aos atos jurisdicionais, há que se

observar os seguintes pressupostos: dano, nexo de causalidade e qualidade do

agente que praticou o ato.

3.3.1 Dano Causado

Sendo o dano um dos pressupostos da responsabilidade

civil do Estado, também se mostra como o principal elemento para a existência da

Responsabilidade Civil e do dever de indenizar.

Sob esse prisma Laspro164, leciona que: ”Na atividade

jurisdicional, existindo um litígio entre as partes, é natural que, no momento em

que o juiz decide a favor do autor ou do réu, a parte que sucumbiu entenda que

sofreu um prejuízo, que está sendo injustiçada”.

Analisando o entendimento de Lapro, verifica-se que na

atividade jurisdicional quando se estiver diante de um litígio entre as partes, é

natural que na oportunidade em que o juiz decidir em favor do autor ou do réu, a

parte sucumbente sinta que sofreu um prejuízo.

O dano conforme menciona Saad165: “[...] é o prejuízo sofrido

pela vítima, sendo este elemento objetivo do ato ilícito, ocasionado pela

diminuição de um bem jurídico qualquer do lesado”.

Ainda assim, para que um dano seja ressarcível, é

necessário que, “por ação ou omissão do juiz, tenha a parte sofrido uma violação

de seu direito subjetivo, que não possa ser revertida no próprio processo” 166.

164 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 174. 165 SAAD, Renan Miguel. O Ato ilícito e a Responsabilidade Civil do Estado . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1994, p. 67. 166 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 174.

62

Neste sentido, o dano somente poderá ser reconhecido

quando a decisão judicial já tiver sido realizada através da ação rescisória ou da

revisão criminal, garantindo-se assim a independência do juiz em sua função

jurisdicional.

3.3.2 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é o segundo pressuposto de elevada

importância para a Responsabilidade Civil.

E diante deste pressuposto, Laspro argumenta que: “[...] a

vítima deverá demonstrar a existência do chamado nexo de causalidade, isto é,

que a origem do dano está na ação do agente do Estado”167.

Ainda Laspro acrescenta: “Comprovado o nexo de

causalidade, entre a atividade jurisdicional e o dano, nasce o dever de repor o

ofendido em sua situação anterior via ressarcimento”168.

3.3.3 Qualidade do agente

Finalizando os pressupostos da Responsabilidade Civil do

Estado, temos o terceiro pressuposto no qual se refere à qualidade do agente.

Sendo assim o Estado é considerado, “[...] uma pessoa

jurídica, não tem vontade própria do ponto de vista fático”169.

Neste sentido, a responsabilidade civil surgirá do ato

praticado por um representante do Estado, independentemente de sua

qualificação no órgão público.

167 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 77. 168 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p.176. 169 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 80.

63

3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO

Há que se salientar, outrossim, que, “[...] dentro de um

sistema que adota a responsabilidade objetiva do Estado, este somente não será

responsabilizado, total ou parcialmente, se for rompido o nexo de causalidade”170.

Neste entendimento, trata-se de excludentes de

responsabilidade, as quais têm o poder de romper o nexo de causalidade.

Pelo ensinamento de Laspro171, podem-se relatar várias

excludentes da responsabilidade do Estado, dentre as quais se destacam: a

Culpa da Vítima, a Força Maior e caso fortuito, o Estado de Necessidade e o Fato

de Terceiro.

3.4.1 Culpa da Vítima

Sobre a primeira excludente da Responsabilidade do

Estado, é indispensável se verificar o fenômeno das concausas. “Isso significa

que precisamos examinar se a culpa da vítima constitui a causa fundamental e

exclusiva do dano ou se, por algum modo, subsiste o nexo causal com ação do

agente estatal” 172.

Nesse raciocínio Laspro173, ressalva:

Dessa maneira, sempre que o dano não for resultado somente da culpa da vítima, mas também da ação do agente estatal, não temos a exclusão completa do dever de ressarcir, mas sim, uma redução do valor a ser pago, de modo proporcional à responsabilidade de cada um dos envolvidos.

170 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 81. 171 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 81. 172 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 83. 173 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 83.

64

Neste entendimento, o autor argumenta que sendo a culpa

exclusiva da vítima não haverá o dever de indenizar pelo Estado, mas sendo a

culpa dos dois não haverá a isenção, e sim, a redução da indenização.

Partindo desses ensinamentos, Laspro174 esclarece:

Ainda, deve-se recorrer a uma valorização proporcional das causas do dano, para concluir se efetivamente a responsabilidade é exclusiva da própria vítima ou, de certa forma, existiu uma concorrência de culpas e, portanto, o Estado ou o juiz devam responder na proporção de seu ato.

Neste sentido, tanto o Estado quanto o Juiz tem a mesma

proporcionalidade em responder por seus atos.

3.4.2 Força Maior e Caso Fortuito

Em relação a segunda excludente da responsabilidade

estatal, refere-se a força maior e caso fortuito.

Laspro175 realiza as seguintes considerações a respeito:

Como se pode ver, a força maior é individualizada na condição de fato externo, razão pela qual alheia ao ato ou omissão do agente estatal. Por esse motivo, quando ocorre, rompe-se o nexo causal e exclui-se a responsabilidade objetiva do Estado.

Laspro176, ainda argumenta:

De fato, somente vislumbramos a aplicação dessa excludente naquelas situações em que o dano foi produzido pela ausência da atividade jurisdicional ou seu exercício defeituoso, em razão de um fato estranho, completamente imprevisível. Em outras palavras, não teremos a aplicação dessa excludente nas hipóteses de erro judiciário.

174 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 178. 175 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 86. 176 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 186.

65

O autor explica que essa excludente, o Estado não responde

por ser um fato estranho e imprevisível, neste caso, não é considerado um erro

judiciário.

Para Gagliano177:

[...] característica básica da força maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a sua causa conhecida (um terremoto, por exemplo, que pode ser previsto pelos cientistas); ao passo que o caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota distintiva na sua imprevisibilidade, segundo os parâmetros do homem médio. Nessa última hipótese, portanto a ocorrência repentina e até então desconhecida do evento atinge a parte incauta, impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um atropelamento, um roubo).

Neste entendimento, o autor explica que a força maior,

(provocada pela natureza) pode ser previsto, mas não pode ser evitado, como por

exemplo: enchente, terremoto. Já o caso fortuito (provocada pelo homem) é

imprevisível, é atuado por uma força que não se pode evitar. Como exemplo: um

Acidente de carro, não tem como prevê que vai acontecer.

3.4.3 Estado de necessidade

Sendo esta a terceira excludente, o estado de necessidade,

conforme explica Lisboa178: “[...] é a situação em que o sujeito viola o direito

alheio, com a finalidade de remover perigo iminente de um direito seu”.

Laspro179 pontifica que: “O estado de necessidade

caracteriza-se pela ausência de responsabilidade em razão do bem maior a ser

tutelado, como própria finalidade e razão de ser do Estado”.

177 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : abrangendo o Código Civil de 1916 e o novo Código Civil. / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 123. 178 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil : Obrigações e responsabilidade civil. 3ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 600. 179 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 85.

66

Assim, Laspro180 exemplifica situações em que ocorre o

estado de necessidade: “Exemplos clássicos são aquelas situações de guerra,

convulsão social, em que são causados prejuízos a indivíduos em nome da

proteção da sociedade, razão de se afastar o nexo de causalidade”.

Diante dos exemplos acima citado pelo autor, não há que se

falar em responsabilidade, pois são considerados excludentes.

3.4.4 Fato de terceiro

Finalmente a ultima excludente da Responsabilidade do

Estado que se refere o fato de terceiro, ou seja, quando o dano foi produzido por

um terceiro e não pelo agente.

Ao tratar do fato de terceiro, Venosa181 esclarece sobre o

assunto: “Terceiro é, em síntese, alguém que ocasiona o dano com sua conduta,

isentando a responsabilidade do agente indigitado pela vítima”.

Ademais, se o Estado concorreu para o dano com culpa ou

omissão estatal, nesta situação o Estado responde pelo dano cometido.

3.4.5 Vícios de consentimento

Cumpre ressaltar ademais disso, que, em sendo o ato

jurisdicional considerado um ato jurídico, também deve tratar-se como excludente

da responsabilidade do Estado os vícios de consentimento que porventura

ocorrerem, quais sejam uma dessas hipóteses como, o erro182 ou a ignorância183,

dolo184, coação185 ou violência.

180 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 85. 181 VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade Civil . 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 56. 182 No tocante ao erro é importante notar a diferença existente entre aquele erro substancial e o acidental. O erro substancial é aquele que atinge o objeto principal da relação, ou seja, sem a ocorrência o ato não se realizaria. Já o acidental envolve elemento secundário, que não é considerado determinante do ato. Somente o erro substancial vicia o ato. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.188.

67

Laspro186 acrescenta ainda: “[...] que, ocorrendo uma dessas

hipóteses, a princípio, nem o juiz nem o Estado responderão pelos prejuízos

causados, a menos que se verifique que, de algum modo, poderiam ter evitado o

dano”.

Visto então, uma breve análise acerca dos excludentes da

responsabilidade do Estado, estuda-se a seguir, os elementos objetivos da

responsabilidade no exercício da função jurisdicional.

3.5 ELEMENTOS OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE NO EXER CÍCIO DA

FUNÇÃO JURISDICIONAL

Neste tópico aborda-se-á primeiramente os elementos

objetivos da responsabilidade no exercício da função jurisdicional, no próximo

tópico serão abordados os elementos subjetivos da responsabilização civil do juiz.

Sobre os elementos em destaque, Alcântara citado por Di

Pietro187, relaciona várias hipóteses em que o ato jurisdicional deveria causar a

responsabilidade civil do Estado:

183 No tocante a ignorância, como regra, a resposta é negativa. O juiz pode ser considerado culpado diante de seu desconhecimento, ainda que em matéria específica do direito. A bem da verdade, enquanto a divisão de normas cogentes e dispositivas é válida para o homem médio, no tocante ao juiz, salvo melhor juízo, a regra é inadmissível. O juiz tem que conhecer todo o direito, a menos que exista norma em sentido contrário. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.191-192. 184 No que fere o dolo, o juiz não poderá ser responsabilizar civilmente, quando ocorrer o dolo essencial. De igual modo, somente poderá ser alegado o dolo essencial, ou seja, a conduta da parte deve ser a responsável direta e efetiva pelo resultado produzido. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p. 200-201. 185 Na coação, a situação é absolutamente diversa, na medida em que o ato praticado vai em sentido oposto à vontade da parte. A coação pode ser absoluta e relativa. Absoluta é a denominada violência física em que, efetivamente, não existe qualquer manifestação concreta da vontade da vítima. Relativa, por outro lado, é a coação moral, caso em que existe uma manifestação de vontade da vítima, já que pôde optar entre se submeter ou não à coação. Ressalta-se ainda que na atividade jurisdicional a respeito da coação absoluta, não há dúvidas a não responsabilização do juiz. Quanto a coação relativa existem questionamentos sobre a responsabilização. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . Ed. RT. Revista dos Tribunais, 2000, p.194-195. 186 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 187. 187 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . São Paulo: Atlas, 2004, p. 559.

68

[...] prisão preventiva decretada contra quem não praticou crime, causando danos morais; a não concessão de liminar nos casos em que seria cabível, em mandado de segurança fazendo parecer o direito; retardamento injustificado de decisão ou despacho interlocutório, causando prejuízo à parte. A própria concessão de liminar ou de medida cautelar em casos em que não seriam cabíveis pode causar danos indenizáveis pelo Estado.

Neste entendimento, o autor argumenta de várias hipóteses

em relação entre as pessoas e o Estado prestador da tutela jurisdicional.

Portanto, faz-se-á uma breve explanação em relação aos elementos necessários

para que surja a responsabilização estatal.

3.5.1 Indenização por ato lícito do Estado

Dada a devida abordagem à Indenização por ato lícito do

Estado, traz-se a presente investigação sobre o assunto, em que a atuação lícita

e regular dos serviços judiciários que ocasionarem danos a terceiros poderá ser a

causa da indenização estatal.

Ao adentrar no tema, Serrano Junior188, corrobora que, “[...]

a atuação lícita e regular de tais serviços, que ao ocasionar um dano injusto –

grave e especial, em face do princípio da igualdade dos cargos públicos, merece

ser indenizado”.

Exemplo clássico a respeito destas atuações lícitas do

Estado, pode-se citar, “[...] a desapropriação, a servidão, a ocupação temporária

[...]” 189, determinadas por entes estatais.

188 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 189 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 210.

69

3.5.2 Erro Judiciário

Dentre os principais resultados da atividade jurisdicional

danosa190, encontra-se o chamado Erro Judiciário. Portanto cumpre ressaltar que

o erro judiciário pode acarretar tanto na esfera civil como na esfera penal.

Ao tratar do Erro Judiciário Nanni191, assevera que:

[...] é aquele oriundo do Poder Judiciário e deve ser contido no curso de um processo, visto que na consecução da atividade jurisdicional, ao sentenciarem, ao despacharem, enfim ao externarem qualquer pronunciamento ou praticarem qualquer outro ato, os juízes estão sujeitos a erros de fato ou de direito, pois a pessoa humana é falível, sendo, portanto inerente a possibilidade de cometer equívocos.

Neste sentido, o erro judiciário ocorre por equivocada

apreciação de fatos ou do direito aplicável, o que leva o juiz a proferir a sentença

passível de revisão ou de rescisão. Pode ocorrer de dolo ou culpa do juiz, de falha

do serviço ou, até mesmo, se produzir fora de qualquer falta do serviço público.

Na mesma linha de pensamento, Laspro192, conceitua erro

judiciário como:

[...] todo ato jurisdicional que, seja pelo mal enquadramento dos fatos ao mundo do direito, seja pela errônea aplicação das normas, viola regras de natureza processual e material, em qualquer dos ramos do direito.

O legislador quis dizer que o erro judiciário, muitas das

vezes, é praticado através de erros perante as normas jurídicas aplicadas

indevidamente, desobedecendo assim o devido processo legal.

190 Expressão utilizada por Odoné Serrano Junior. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 191 NANNi, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 122. 192 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 223.

70

O artigo 5º, inciso LXXV193, da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, dispõe:

Art. 5º. [...]

LXXV - O Estado indenizará o condenado por erro judiciário,

assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.

Assim o legislador explica que o Erro Judiciário é resultado

de um juízo estabelecido pelo agente do Estado, viciando a sua manifestação. E

se deste fato denota dano ao particular, cabe ao Estado o dever de indenizá-lo.

Outra premissa a ser destacada em relação ao erro judiciário

é a que este se classifica em erro lato sensu e erro stricto sensu.

Segundo Figueira Junior194:

[...] o erro judiciário stricto senso enquadrar-se-ia naquelas figuras descritas no artigo l33 do Código de Buzaid (procedimento culposo – culpa grave – ou doloso; recusa, omissão ou retardamento sem justo motivo de providências que deveria tomar de ofício ou a requerimento da parte) e naquelas outras do artigo 630 do Código de Processo Penal, em sintonia com o estatuído no inciso LXXV do art. 5º da CRFB/88 (direito à indenização, após a obtenção de decisão judicial determinando a sua cassação – revisão criminal; condenação errada e prisão por tempo superior ao fixado no decisium). [...] De outra parte, o erro judiciário lato sensu estaria enquadrado nas hipóteses de mau funcionamento da máquina administrativa.

Neste sentido, o erro judiciário stricto senso, responde pelos

seus atos diante do artigo 133 do Código de Processo Civil. Já o erro judiciário

193 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Tributário; Eleitoral; Consumidor; Constituição Federal/obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7ª ed. São Paulo: 2009, p.10. 194 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Responsabilidade Civil do Estado-juiz . Curitiba: Juriá Editora, 1995, p. 56.

71

lato sensu, responde pelos danos causados na demora de um processo a ser

analisado.

Como antes ficou visível, a pesquisa dos três poderes no

segundo capítulo desse trabalho de conclusão do curso de direito, sendo cada um

desses poderes independentes e harmônicos entre si, onde o Judiciário julga, o

Legislativo cria as normas e o Executivo administra.

Por essas e outras razões, o Poder Judiciário não só cuida

da função jurisdicional, como também desenvolve atividades administrativas e

legislativas, pois todas são consideradas judiciárias.

Importante ressaltar também, o error in procedendo195 e o

error in judicando196, “[...] ou seja, o erro pode ser fruto do descumprimento ou má

aplicação, tanto das normas materiais, como das processuais; pode ser oriundo

da decisão que extingue o processo, como pode ter ocorrido durante o

desenvolvimento deste” 197.

Neste sentido, o erro judiciário pode ocorrer tanto no ato de

julgar, conforme o dispositivo do artigo 133, inciso I, do Código do Processo Civil,

como no ato de proceder, que também se encontra no dispositivo do artigo 133,

inciso II da mesma lei.

Alves198, ao tratar do ato de julgar, define que, “o erro de

direito não responsabiliza civilmente os juízes, porque essa responsabilidade civil

do juiz só se dá se ele julga com dolo ou fraude”.

Neste entendimento, no que diz respeito quanto ao erro de

direito ocorrido no ato de julgar, não há responsabilização direta dos juizes, se 195 Error in procedendo significa: Erro no processar, erro no processo. Erro ou omissão na aplicação de lei processual ao caso sub judice. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 313. 196 Error in judicando significa: Erro no julgar, ou seja, de aplicação da lei de direito material ao caso concreto. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 2002, p. 313. 197 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 221. 198 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 108.

72

não houver a comprovação da existência de dolo ou fraude. Neste caso, pode se

dizer indenização do erro puro, aquele sem dolo, fraude ou culpa.

Ainda Alves199, define quanto ao ato de proceder sendo:

[...] o erro de direito – hipótese excepcional, frise-se – pode responsabilizar civilmente os juízes, uma vez que essa responsabilidade civil se dá com a culpa, e esse error iuris, consubstanciaria modalidade empírica de imperícia, subsumida nas modalidades culposas.

Neste entendimento, “percebe-se que os princípios que

norteiam a responsabilidade civil pessoal do magistrado não são os mesmos da

responsabilidade objetiva geral do Estado”200. Para que haja a responsabilização

do juiz, é necessário que se comprove sua atuação dolosa, culposa ou que tenha

agido mediante a utilização por meios fraudulentos.

Embora, a responsabilidade do Erro Judiciário é

primeiramente do Estado, sendo um meio de proteção da imparcialidade do juiz,

que a princípio não só protege o magistrado, mas envolve toda uma coletividade.

Destarte, apura-se que o Erro Judiciário é resultado de um

juízo estabelecido pelo agente do Estado, viciando a sua manifestação. E se

deste fato denota dano ao particular, cabe ao Estado o dever de indenizá-lo.

Por fim, só haverá a responsabilidade civil do juiz, nos casos

em que forem constatados elementos subjetivos para responsabilização civil do

mesmo.

3.5.3 Funcionamento Anormal da Atividade Jurisdicio nal

Neste subtítulo refere-se à demora na prestação da tutela

jurisdicional que caracterizam mau funcionamento ou funcionamento anormal do 199 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 109. 200 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Responsabilidade civil do Estado-juiz . 1995, p.68.

73

serviço judiciário que não funciona, ou funciona mau, ou até mesmo tardiamente

como passo de tartaruga desde do início da ação até os atos executórios da

sentença final.

Ao tratar do tema, Serrano Junior201, esclarece que, “o

funcionamento do serviço judiciário deve obedecer a determinados prazos legais”.

E ainda acrescenta que “o dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional dentro

dos prazos previamente fixados decorre do princípio da legalidade, hoje elencado

em nossa Constituição entre os direitos e garantias fundamentais”.

No mesmo raciocínio, Diniz202, esclarece sobre o assunto:

O art. 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988 não permite que a lei exclua da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito individual. Se ao Estado compete assegurar o pronunciamento judicial sobre qualquer conflito jurídico, ele deve responder por prejuízos oriundos da má atuação em fazer aplicar aquele dispositivo constitucional. O escopo da tutela jurisdicional é garantir que o direito objetivo material seja obedecido, por isso o Estado estabelece a obrigatoriedade do magistrado cumprir certos prazos fixados pelo direito formal [...].

A autora argumenta a respeito do artigo 5º, inciso XXXV da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde o acesso à justiça

constitui direito fundamental, sendo assegurado também, o direito de petição aos

poderes públicos em defesa de direitos ou contra a ilegalidade ou abuso de

poder. De fato, o particular possui o direito de exigir do Poder Judiciário a tutela

jurisdicional específica à sua pretensão.

Entretanto, a realidade social nem sempre reflete a do texto

do comando da lei. Como é de conhecimento público nos meios jurídicos, os

serviços judiciários apresentam falhas, e é nesse contexto que surge a chamada

201 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.148. 202 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : Responsabilidade Civil. 2005, p. 647.

74

do Funcionamento anormal da atividade jurisdicional, onde Serrano Junior203,

comenta a respeito:

[...] significa toda deficiência na organização ou exercício da função jurisdicional que implique numa falta do Estado, quanto ao seu dever de proteção judiciária. Verifica-se nela um inadimplemento da obrigação que tem o Estado de manter um certo grau de qualidade tanto na organização quanto no funcionamento do serviço judiciário.

Nessa esteira, Nunes204, descreve que o funcionamento

anormal da atividade jurisdicional pode erguer-se de duas formas básicas: a) pela

dificuldade de acesso ao judiciário (presença de obstáculos e falta de medidas

que agilizem a resolução dos conflitos); b) manifesta desídia do juiz (não exercício

do impulso oficial, demorando-se injustamente a praticar os atos de ofício).

Nessas oportunidades diante o que o autor coloca, produz-

se prejuízo que comporta a responsabilidade civil do Estado, pois sob o que tange

da falta do serviço, ocorreu o mau funcionamento, conforme o autor dispõe: “[...] a

má organização, o funcionamento defeituoso ou intempestivo do serviço

judiciário”.

Na mesma linha de pensamento, Jucosky205, argumenta:

[...] há décadas, o Supremo Tribunal Federal decide pela Responsabilidade Civil do Estado quando o não provimento adequado para o bom funcionamento do serviço da justiça. Nessas decisões restou caracterizada a qualidade negativa do serviço, ou seja, pela ausência deste ou por sua prestação ruim (tardia ou defeituosa).

203 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.160. 204 NUNES, Rômulo José Ferreira. Responsabilidade do Estado por Atos Jurisdicionais . São Paulo: LTr, 1999, p.130. 205 JUCOSKY, Vera Lucia. R. S. Responsabilidade Civil do Estado pela Demora na Pre stação Jurisdicional : Brasil-Portugal. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 70-71.

75

Neste sentido, vê-se que o funcionamento anormal da

atividade jurisdicional, é mais uma das causas que responsabilizam o Estado no

meio jurisdicional. Portanto quando o serviço judiciário é negativo ou defeituoso

ou quando ocorre desleixo do magistrado, nasce o funcionamento anormal da

atividade jurisdicional, trazendo grave lesão ao particular, visto que não foi

garantido o ideal acesso à tutela jurisdicional. Assim, os danos ocasionados por

este mau funcionamento da justiça, acaba gerando um dever de indenizar, e

quem responde por esses atos é o Estado ou o Juiz.

Neste viés, importante também são as considerações de

Laspro206, ao afirmar que:

Na verdade, podemos dividir os casos de funcionamento anormal da Atividade Jurisdicional em dois grandes grupos: o anormal funcionamento singular e o anormal funcionamento estrutural. Essa divisão é fundamental, na medida em que, no primeiro grupo, podemos encontrar hipóteses de responsabilidade do juiz e do Estado e, no segundo, normalmente será do Estado.

Neste entendimento, o anormal funcionamento singular

configura-se a atividade desenvolvida pelo juiz, admitindo-se neste caso a

responsabilização tanto para o juiz como para o Estado. E sobre o anormal

funcionamento estrutural configura-se a estrutura geral do Poder Judiciário, na

qual a responsabilidade normalmente será do Estado.

3.6 ELEMENTOS SUBJETIVOS PARA RESPONSABILIZAÇÃO CIV IL DO JUIZ

Cumpre abordar, nesta oportunidade, os elementos

subjetivos para responsabilização pessoal do juiz.

Contudo disserta Laspro207:

206 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 227. 207 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 227.

76

A bem da verdade, não se pode confundir o responsável pelo dano com aquele legitimado à sua reparação. De fato, a regra geral é de que o erro judiciário e o ato jurisdicional lícito indenizável são causados pela ação do juiz, enquanto o anormal funcionamento da atividade jurisdicional pode ser produto da omissão do Estado, em fornecer os meios necessários, ou do juiz, em razão de sua inércia. No entanto, ainda que a responsabilidade pelo dano seja do juiz, a tendência é no sentido da responsabilização do Estado, restando verificar que outros requisitos deverão estar presentes para que a responsabilidade recaia sobre o juiz.

Neste entendimento, mesmo existindo os elementos

subjetivos da responsabilidade civil do juiz, o Estado ainda responde, mediante

ação regressiva contra o juiz que agiu com dolo, culpa ou fraude.

Considerando que o magistrado é um agente do Estado,

este deve ser responsabilizado pelos atos danosos a que causa dolo, culpa ou

fraude, alguns desses elementos subjetivos necessários para a responsabilização

civil do juiz pelo ato jurisdicional estão elencados no artigo 133 do Código de

Processo Civil.

Neste raciocínio, Alves208, ressalva:

[...] além da criminal, a civil, prevista no artigo 121 do mesmo código, no código de 1973, artigo 133, se incorrer em dolo ou fraude no exercício de suas funções, ou quando, sem justo motivo, recusar, omitir ou retardar providências que deva ordenar, de ofício ou a requerimento da parte, a segunda hipótese somente verificável se decorridos dez dias do requerimento ao juiz, feita pela parte por intermédio do escrivão da causa [...] Nesse douto julgamento externou o emérito relator que responsabilidade é toda pessoal do juiz, por ela não podendo responder o Estado.

208 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 24.

77

Neste entendimento, se for comprovado que o juiz cometeu

dolo ou fraude na sua atividade jurisdicional, responde sozinho sem intervenção

do Estado.

3.6.1 Dolo na atividade jurisdicional

Para a compreensão do dolo, destaca-se que o juiz somente

será responsabilizado civilmente se este elemento estiver ligado à efetiva lesão

sofrida pela vítima.

Para uma melhor compreensão sobre o dolo, vejamos o que

diz a doutrina de Alves209:

O dolo, aí tem o conceito do direito comum, notadamente civil, e nessa acepção evidencia a direção da vontade para contrariar o direito, in casu, a intenção do juiz de prejudicar a parte, seja para beneficiar a parte contrária seja para beneficiar terceiro, seja para benefício próprio, seja pela simples vontade de causar o mal para satisfazer intuito de vingança, ou de mero capricho decorrente de antipatia, situações essas que, pela gravidade que suscitam, de nenhum modo se podem inferir quando se caracterize erro in judicando.

Neste sentido, o juiz que em qualquer momento dentro do

processo fere sua imparcialidade, mesmo não tendo a intenção de prejudicar as

partes, assume de forma consciente o risco causado, sendo obrigado a reparar o

dano e responder pela conduta dolosa.

Ainda no mesmo raciocínio, Alves210, ressalva que:

[...] se constitua suficientemente o suporte fático de incidência das regras jurídicas do Código de Processo Civil, art. 133, I, coextensivas em seu teor à regras jurídicas da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, art. 49, I, é imprescindível o compósito

209 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 84. 210 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 84.

78

lesividade e dolosidade da conduta judicial. [...] Somados esses elementos, o objetivo da lesividade da vítima e o subjetivo da dolosidade do juiz, tem-se a caracterização da responsabilidade civil dos juízes [...].

Neste entendimento o dolo, como detalha Serrano Junior211,

“é o chamado dolus malus, consiste na intenção livre e consciente de violar a lei

para alcançar interesses ilegítimos”.

3.6.2 Culpa na atividade jurisdicional

Um dos elementos subjetivo da responsabilização pessoal

do magistrado reside na atuação desenvolvida de culpa. Diante desse elemento,

é necessário identificar os requisitos que fazem parte da culpa, nos quais são: a

negligência, imprudência ou imperícia.

Sobre o tema Serrano Junior212, dispõe: “[...] representa a

violação por negligência, imprudência ou imperícia, do dever de bem

desempenhar as funções públicas”, e ainda acrescenta que, “a culpa do juiz pode-

se dar por negligência quanto ao exercício dos poderes de direção do processo,

quando causar uma delonga procedimental desnecessária, que vem atrasar a

prestação da tutela jurisdicional”.

Haverá negligência, “sempre que o juiz agir de forma

desidiosa213, omitindo-se que se refere ao cumprimento de normas de Conduta

inerentes à Atividade Jurisdicional” 214.

Considera-se imprudente o juiz que “age de forma

precipitada sem as devidas precauções” 215.

211 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p.167. 212 SERRANO JUNIOR, Odoné. Responsabilidade Civil do Estado por Atos Judiciais . 1996, p. 163-164. 213 Entende-se por desidiosa: descaso pelos serviços funcionais, negligência. MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa . São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998, p.690. 214 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 241.

79

No que tange a imperícia, há vários entendimentos

doutrinários que fundamentam no sentido de que o juiz não poderia ser

enquadrado como imperito no caso de ter prestado concurso público para seguir

carreira na magistratura, sendo que o juiz é capaz no exercício da atividade

jurisdicional.

Ilustrando o acima colacionado, menciona Gagliano216, que a

culpa: “[...] ocorre quando o agente falta com o dever geral de cautela, seja de

maneira omissiva (negligência ou imperícia) ou comissiva (imprudência)”.

O artigo 133 do Código de Processo Civil, que reafirma o

disposto no artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, conceitua não só

a reparação do juiz com base em dolo ou fraude, mas na culpa como conceitua

Camargo217, “contribui em desfavor do litigante, em função de recusa, omissão ou

retardamento na prática de ato de sua competência jurisdicional”.

Neste entendimento, no caso de recusa, a única hipótese de

culpa seria se caracterizar imperícia do juiz. Se houver omissão do juiz a parte

conforme o parágrafo único do artigo 133 do CPC, o juiz vai requerer ao escrivão

para que possa tomar as devidas providências. No caso da omissão ou

retardamento, o juiz pode ser responsabilizado, caso contrário quem responde é o

Estado.

3.6.3 Fraude

A responsabilidade civil do juiz tem como o terceiro elemento

subjetivo a fraude, que segundo Alves218: “[...] é qualquer ato ilícito que, de má-fé,

possa ser estelionato, defraudação de texto ou objeto”.

215 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 242. 216 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil : (abrangendo o Código de 1916 e o novo Código Civil) / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 144-145. 217 CAMARGO, Luis Antonio de. A Responsabilidade Civil do Estado e o Erro Judiciá rio . São Paulo, Síntese Editora, 1999, p. 93. 218 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 86.

80

Segundo Nanni219: “A fraude conecta-se ao comportamento

malicioso do juiz, com intuito de fraudar a lei ou as partes, mediante engano”.

Seguindo a mesma linha de pensamento, Alves220

complementa:

A fraude, conceito de direito comum, a que se reporta o artigo 133, I, 2ª parte, do CPC e, com ele, o artigo 49, I, 2ª parte, da Lei Orgânica da Magistratura, é elemento conceptualmente mais largo do que o dolo, uma vez que, supondo o dolo com fraude, existe ato doloso não fraudulento.

Nesse entendimento, verifica-se nas hipóteses em que o

magistrado agir com fraude poderá ser diretamente responsabilizado conforme a

responsabilidade civil subjetiva.

Entretanto, afirma Nanni221:

A idéia de fraude, ao reverso, já envolve a ligação do juiz com uma das partes, ou, eventualmente, com pessoa estranha ao processo, fraude esta praticadas pelo juiz. Os atos através dos quais se possam exteriorizar a responsabilidade, por dolo ou interlocutórias ou também as sentenças, em que se decidam, ou não, o mérito da causa.

Observando a doutrina acima mencionada, faz-se mister

dizer que o juiz não é um mero conhecedor da lei, sendo o papel principal em

julgar e saber julgar sem fraudar, ir até nos limites aonde a lei maior pode chegar.

Entretanto, o nosso universo jurisdicional, é constituído por

vários juízes sérios, honestos e esforçados, que procuram defender a legalidade,

a moral e o senso de justiça, frente a enorme demanda de processos jurídicos.

São juízes que lutam por uma sociedade justa e perfeita, dentro dos ditames

legais.

219 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 227. 220 ALVES, Rodrigues Vilson. Responsabilidade Civil do Estado por Atos dos Agent es dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário . 2001, p. 86. 221 NANNI, Giovanni Ettore. A Responsabilidade Civil do Juiz . 1999, p. 227.

81

3.7 DANO MORAL

No que diz respeito ao dano moral, também chamado de

extrapatrimonial, é estritamente ligada com a sensação da pessoa ofendida.

Segundo Dias222, afirma que o Dano Moral:

Consiste na penosa sensação de ofensa, na humilhação perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos efeitos puramente psíquicos e sensoriais experimentados pela vítima do dano, em conseqüência deste, seja pela atitude de repugnância ou reação ridícula tomada pelas pessoas que se defrontam com ela.

Portanto o dano moral há preceito constitucional que protege

tal direito, conforme ressalta o artigo 5º, incisos V e X da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, os quais expressamente estabelecem:

Art. 5º. [...]

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por Dano material, moral ou à imagem;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a

imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo Dano material ou moral decorrente de sua violação.

Neste entendimento o dano moral consiste na lesão de

direitos cujo conteúdo não é dinheiro, em outras palavras pode-se afirmar que o

dano moral é aquele que leciona os direitos da personalidade, violando, por

exemplo, sua intimidade, sua vida privada, sua honra e imagem.

Felipe223, magistrado mineiro, excerta a ementa do

julgamento ocorrido na Apelação Cível 140.330-7, da 5ª Câmara Cível do Tribunal

de Alçada de Minas Gerais, cujo teor é o seguinte:

222 DIAS, José de Aguiar. Responsabilidade Civil . São Paulo. 223 FELIPE, j. Franklin Alves. Indenização nas Obrigações por Ato ilícito . Del Rey. Belo Horizonte-MG.

82

Para a fixação do quantum 224 em indenização por danos morais, devem ser levados em conta a capacidade econômica do agente, seu grau de dolo ou culpa, a posição social ou política do ofendido, a prova da dor, sendo, no entanto, irrelevante a demonstração do prejuízo material sofrido pela vítima.

Assim o dano moral no caso em análise, entende-se que o

valor da condenação deva ser estipulado, tendo como base a remuneração do

magistrado. Portanto, a ação de responsabilidade civil por danos morais a ser

desferida contra o magistrado não exime a responsabilidade do agressor, que

também responderá dentro dos mesmos critérios. Diante desta análise, fica, no

entanto, ao livre arbítrio do magistrado a apuração dos fatos e o monte pecuniário

de indenização.

O dano moral deve ser ressarcido não somente o prejuízo

econômico que o indivíduo foi submetido, mas também aqueles relacionados à

dor, à aflição, diante de uma determinada situação concreta225.

[...] o ressarcimento pelo dano moral nada mais é do que a

busca da reparação de direitos às quais, a vítima faz jus e que são integrantes de

sua personalidade, ainda que, violados, não reflitam em uma diminuição de seu

patrimônio226.

Existem algumas teorias que explicam o dano moral e que

convém trazer-se as considerações, as quais são: Teoria da irreparabilidade,

Teoria da não cumulação e Teoria da cumulação.

E sobre a teoria da irreparabilidade, Lisboa227 dispõe: “[...] é

impossível à mensuração pecuniária da dor, que seria o fundamento da

Responsabilidade Civil a este título”.

224 Quantum é uma palavra em latim que significa quantia. 225 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 76. 226 LASPRO, Oreste Nestor de Souza. A Responsabilidade Civil do Juiz . 2000, p. 76. 227 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 2002, p. 210.

83

A segunda teoria trata da impossibilidade de cumulação dos

danos morais com os danos patrimoniais, por tutelarem direitos totalmente

diferentes.

Segundo Lisboa228:

[...] entendeu-se que a vítima poderia ser ressarcida por danos morais, desde que ela não viesse a obter indenização por danos patrimoniais e estivessem presentes os elementos autorizativos da indenização extrapatromonial.

Enfim a teoria da cumulação, e que deve-se adotar, pois

eles tutelam direitos diferentes, podendo existir violação desses dois direitos a

partir de um mesmo fato, podendo, portanto serem perfeitamente cumulados.

228 LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil : Obrigações e Responsabilidade Civil. 2002, p. 210.

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia buscou investigar, à luz da

legislação nacional e da doutrina brasileira, a Responsabilidade Civil do Juiz no

Exercício da Função Jurisdicional.

O interesse do tema abordado deu-se em razão dos

estudos, ao longo do Curso de Direito, acerca da responsabilidade civil das

pessoas em geral. Porém, em nenhum momento houve abordagem sobre a

responsabilidade dos magistrados, no exercício de sua função precípua, assim

como do próprio Estado.

Nessa perspectiva nasce este trabalho dividido em três

capítulos, que permite algumas considerações, merecendo especial atenção.

No capítulo primeiro verificou-se o juiz, conceituação,

evolução histórica das suas funções assim como a especificação dos seus

poderes.

O segundo capítulo descreveu a função jurisdicional,

necessidade e competência de sua atribuição. Demonstrou-se também a

necessidade da ética do juiz no exercício de sua atividade profissional, assim

como os deveres do juiz e suas garantias a eles concedidas, para que possa

livremente judicar sem sofrer qualquer pressão externa.

No terceiro capítulo é possível verificar, o que já vinha sendo

delineado ao longo da pesquisa, ou seja, a necessidade de responsabilização do

juiz no exercício da função jurisdicional. Realizou-se uma análise das

possibilidades de responsabilização, pressupostos necessários, elementos

objetivos e subjetivos necessários e o dano moral.

Através desta pesquisa se constatou o seguinte quanto às

hipóteses levantadas:

85

a) quanto à primeira hipótese restou confirmada: verificou-se

que os magistrados possuem responsabilidade civil sobre sua atividade

jurisdicional, tendo em vista, expressos nos termos do artigo 133 do Código de

Processo Civil, bem como no artigo 49 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional

– LOMAN.

b) quanto à segunda hipótese restou confirmada: pela

pesquisa realizada, ficou claro que o Estado pode ser responsabilizado por atos

praticados pelos juízes no exercício da função jurisdicional.

c) quanto à terceira hipótese restou confirmada: Verificou-se

que a responsabilidade civil do juiz decorrente dos seus atos praticados no

exercício da função jurisdicional é subjetiva e objetiva.

Com efeito, esta monografia venceu o seu propósito

investigatório, eis que analisou cientificamente as hipóteses previstas acima

mencionadas.

Ao final desta pesquisa, verificou-se que o Estado possui

responsabilidade civil sobre seus atos. No caso desta monografia, em especial a

função jurisdicional, não foge à regra.

Verificou-se que o tema é de grande complexidade. Não se

pretende esgotá-lo, mas tão somente trazer informações úteis aos profissionais e

acadêmicos do direito e sociedade em geral, considerando-se que a atividade

jurisdicional interessa a todos, devido à sua importância.

86

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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ANEXO

90

JURISPRUDÊNCIA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ – ATO PRATICADO

POR JUIZ NO EXERCÍCIO DE SUA FUNÇÃO – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO

– SENTENÇA CONFIRMADA.

Ação de indenização contra Magistrada Marilena Soares

Reis Franco, por atuação em processo contra os autores José Eduardo de

Azevedo e Outros. Os Artigos 49 da LOMAN e 133, inciso I, do Código de

Processo Civil. Inocorrência de dolo ou fraude. Aplicabilidade aos Magistrados,

nesta parte, do que dispõe a Lei nº 8.112 de 11/12/90 (Regime Jurídico dos

Servidores Públicos da União) – artigo 122, parágrafo 2º. Improcedência do

pedido. Confirmação. Recurso desprovido. (IRP)

Tipo de Ação: APELAÇÃO CÍVEL

Número do Processo: 1998.001.5956

Registrado no Sistema em 04/09/1998

Folhas: 46059/46064

Origem: COMARCA CAPITAL 10ª VARA CIVEL

Órgão Julgador: QUINTA CÂMARA CÍVEL

Votação: Unânime – DESEMBARGADOR ROBERTO

WIDER – Por unanimidade de votos, negou-se provimento ao recurso.

Data da sessão: Julgado em 30/06/1998