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    A RESPONSABILIDADE DO PERSONAL TRAINER

    DOUTOR PAQUITO

    RESUMO

    O presente artigo traz a concepo da responsabilidade civil aplicada ao personal

    trainer, um estudo que merece ateno tanto do profissional de direito como do

    profissional de educao fsica. Primeiramente faz-se uma breve anlise daresponsabilidade civil, sua origem histrica, evoluo, conceito e aspectos.

    Posteriormente verifica-se a questo da responsabilidade civil aplicada diretamente

    ao personal trainer.

    Palavras-Chave: Responsabilidade Civil; Personal Trainer; Academias de Ginstica.

    INTRODUO

    O presente trabalho tem por fim demonstrar a aplicabilidade da

    responsabilidade civil ao personal trainer, uma forma de reparar os danos causados

    aos seus alunos durantes seus treinos. Seguindo uma linha de raciocnio clara e

    objetiva ser definido todas as caractersticas da responsabilidade civil, sua histria,

    evoluo, e aplicabilidade nos dias atuais. Posteriormente ingressando na questo

    do personal trainer, englobando as reas de Educao Fsica e Direito.

    O segmento fitness no Brasil cresce gradativamente e a busca pela sade e obem estar fsico tambm. Ocorre que muitas vezes devido falta de tempo para

    freqentar um ginsio de esportes ou uma academia de ginstica, muitas pessoas

    procuram alternativas para sanar este problema, uma delas o personal trainer.

    O personal trainer um professor de educao fsica particular que formula e

    acompanha o treino de seus alunos em horrios pr-definidos por estes,

    aproveitando esta busca pelo bem estar fsico surgem muitos profissionais

    despreparados, sem especializao e formao devida, que criam mtodos novos

    que nem sempre so aprovados cientificamente e que prometem resultados rpidos,

    resultando em leses.

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    ORIGEM HISTRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

    Antigamente existia uma forma brutal e instintiva para soluo de

    conflitos referentes aos danos sofridos pela vtima. No existia a anlise do fator

    culpa do agente ainda, o dano ocorrido gerava uma resposta imediata um tipo de

    vingana privada, definida pelo autor Jos Aguiar Dias como forma primitiva,

    selvagem talvez, mas humana da reao espontnea e natural contra o mal sofrido;

    soluo comum a todos os povos nas suas origens, para reparao do mal pelo mal1. Sendo assim o dano causado gerava uma vingana, posteriormente

    regulamentada na pena de talio, do olho por olho, dente por dente. Ocorria que,

    essa vingana acabava gerando outra vingana e de um lesado passariam a dois.

    Mais tarde surgiu a compensao, uma espcie de reparao pelo

    dano, uma compensao econmica. na Lei Aquilia que se, esboa afinal, um

    princpio geral regulador da reparao do dano. Embora se reconhea que no

    contivesse ainda uma regra de conjunto, nos moldes do direito moderno, era, sem

    nenhuma dvida, o germe da jurisprudncia clssica com relao a injria, e fonte

    direta da moderna concepo da culpa aquiliana que tomou da Lei Aquilia o seunome caracterstico 2. Surgem ento as primeiras idias acerca da noo de culpa.

    Posteriormente as autoridades assumiram assim a funo de punir, posteriormente

    surgindo a indenizao, desdobrando-se a concepo de responsabilidade. O

    Estado assumiu, ele s, a funo de punir3.

    Em nosso ordenamento jurdico a responsabilidade civil estava

    prevista no Artigo 159 do antigo Cdigo Civil de 1916 que trazia o seguinte:

    Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia, ou imprudncia,violar direito, ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.

    1 DIAS, Jos de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 11 Edio. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 26.2 DIAS, Jos de Aguiar, Op. Cit. 2006, p.28.3 DIAS, Jos de Aguiar,Op. Cit. 2006, p.27.

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    O artigo supracitado j traz a idia da prova de culpa para que se

    caracterize responsabilidade civil. Atualmente a responsabilidade civil est prevista

    no artigo 927 do Cdigo Civil de 2002 que traz:

    Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, ficaobrigado a repar-lo.Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentementede culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividadenormalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,risco para os direitos de outrem.

    A responsabilidade civil no Cdigo Civil de 2002 pode ser subjetiva

    (depende da anlise de culpa) ou objetiva (independente de culpa) o que ser

    discutido adiante.

    Analisando a evoluo da responsabilidade civil constata-se que

    antigamente existia uma forma brutal e instintiva de se reparar os danos causados a

    vtima, passando posteriormente a uma composio, assumindo depois, o estado a

    funo de julgar e punir o agente causador do dano.

    CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

    Aprofundando o estudo acerca da responsabilidade civil segue abaixo o

    conceito segundo Maria Helena Diniz:

    A responsabilidade civil a aplicao de medidas que obriguem umapessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razode ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, poralguma coisa a ela pertencente ou de simples imposio legal4.

    A Responsabilidade civil tem como funo de obrigar o agente causador do

    dano, a repar-lo, o dano causado rompe o equilbrio jurdico econmico

    anteriormente existente entre o agente e a vtima.

    Assim conclui-se que a responsabilidade civil a obrigao do autor em

    reparar o dano causado, para que haja assim uma compensao do ocorrido, a

    restaurao do equilbrio existente antes do dano causado.

    4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7 volume: responsabilidade civil. 17edio. So Paulo. Saraiva 2003. p.36

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    RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

    A responsabilidade civil pode ser dividida em contratual e

    extracontratual, o autor Francisco Amaral trata da responsabilidade contratual e

    extracontratual da seguinte maneira:

    A responsabilidade contratual decorre de relao obrigacional preexistente,enquanto na aquiliana a relao obrigacional surge pela primeira vez aoverificar-se o dano. Naquela, a prestao indenizatria simples mudanado objeto da relao, enquanto na segunda o dever de ressarcir originrio.A responsabilidade contratual pressupe plena capacidade das partes quecontratam enquanto que a aquiliana pode ser causada por ato de incapaz.Na responsabilidade contratual, eventual solidariedade entre os obrigadosdepende de prvio acordo, enquanto na aquiliana a previso desolidariedade est na lei. Quanto ao nus da prova, na responsabilidadecontratual o devedor quem tem de provar a inexistncia de culpa ouqualquer excludente do dever de indenizar, enquanto na aquiliana cabe avitima demonstrar a culpa do agente5.

    Conclui-se os conceitos de responsabilidade civil contratual e extracontratual,na contratual o agente descumpre o avenado tornando-se inadimplente e na

    extracontratual o agente infringe um dever legal.

    RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA

    Conforme o fundamento que se d a responsabilidade, a culpa ser ou no

    elemento da obrigao de reparar o dano. Como visto anteriormente a culpa era

    fundamento da responsabilidade civil, a qual se baseava na teoria clssica, tambm

    chamada de teoria da culpa, ou subjetiva6. Na doutrina h varias definies de culpa

    Sanches apud Stolze e Pamplona ensinam que:

    A culpa (em sentido amplo) deriva da inobservncia de um dever deconduta, previamente imposto pela ordem jurdica, em ateno a paz social.Se esta violao proposital, atuou o agente com dolo; se decorreu de

    5AMARAL, Francisco. Direito civil: introduo. 6 ed. Rio De Janeiro: Renovar, 2006. p 552.6 GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. SoPaulo: Saraiva, 2007. p.30.

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    negligncia, imprudncia ou impercia, sua atuao apenas culposa, emsentido estrito7.

    A culpa fator bsico na anlise da responsabilidade subjetiva, como mostra

    Gonalves:

    Diz-se, pois, ser subjetiva a responsabilidade quando se esteia na idia deculpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessrio dodano indenizvel. Dentro desta concepo, a responsabilidade do causadordo dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa8.

    No que se refere a responsabilidade objetiva no se faz necessrio a culpa

    do agente causador do dano, sendo esta teoria tambm conhecida como teoria do

    risco, conforme ensinamento de Silvio Rodrigues:

    Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agentecausador do dano de menor relevncia, pois, desde que exista relao decausalidade entre o dano experimentado pela vitima e o ato do agente,surge o dever de indenizar, quer tenha este ltimo agido ou noculposamente. A teoria do risco a da responsabilidade objetiva. Segundoessa teoria, aquele que, atravs de sua atividade cria um risco de dano paraterceiro deve ser obrigado a repar-lo, ainda que sua atividade e seu

    comportamento sejam isentos de culpa9.

    Conclui-se portanto que a anlise da responsabilidade subjetiva ou

    objetiva faz-se necessrio na anlise do caso concreto, dependendo ou no da

    existncia de culpa pelo dano causado.

    PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

    Para que seja caracterizada responsabilidade civil faz-se necessrio a

    anlise de alguns pressupostos, quais so: ao ou omisso, culpa ou dolo do

    agente, relao de causalidade e dano experimentado pela vtima10.

    A ao ou omisso do agente tratada logo de incio no artigo 186 do

    Cdigo Civil, e trata da culpa quando fala negligncia ou imprudncia. importante

    7 SANCHES, Eduardo Walmory. Responsabilidade Civil das Academias de Ginstica e doPersonal Trainer.1Ed.So Paulo: Juarez de Oliveira, 2006, 2006 p.38.8GONALVES, Carlos Roberto, Op. Cit. 2007 p.30.9RODRIGUES, Silvio. Direito civil, v.4 Responsabilidade civil. 20 ed. So Paulo. Saraiva 2003. p.11.10 GONALVES, Carlos Roberto, Op. Cit. 2007 p.35.

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    ressaltar o ensinamento do autor Cavallieri Filho que diz que nem todo ato danoso

    ilcito, assim como nem todo ato ilcito danoso. Por isso a obrigao de indenizar

    s ocorre quando algum pratica ato ilcito e causa dano a outrem11.

    Savigny apud Gonalves ensina de forma concisa que, o dolo consiste na

    vontade de cometer uma violao de direito, e a culpa, na falta de diligncia 12.

    Segundo a teoria subjetiva a vtima geralmente tem que provar a existncia

    do dolo ou culpa stritctu sensu do agente, entretanto, em alguns casos esta prova

    fica prejudicada, ou difcil de ser conseguida, admitindo o direito alguns casos de

    responsabilidade sem culpa, a responsabilidade objetiva.

    A relao de causalidade a relao entre a ao ou omisso do agente e o

    dano verificado13. Sem esta relao de causalidade no existe a obrigao deindenizar, se houve o dano mas no est ligado a conduta do agente inexiste

    relao de causalidade. O dano conceituado pelo autor Pablo Stolze como sendo

    a leso a um interesse jurdico tutelado - patrimonial ou no -, causado por ao ou

    omisso do sujeito infrator14.

    EXCLUDENTES DE ILICITUDE

    At o presente momento vimos toda a estrutura da responsabilidade

    civil, sua histria, evoluo, caractersticas, e pressupostos, resta analisar os meios

    de defesa da responsabilidade civil, as excludentes de ilicitude, que impedem que se

    concretize o nexo causal, as quais so legitima defesa, estado de necessidade,

    exerccio regular de direito, culpa exclusiva da vtima e fato de terceiro. A previso

    legal se encontra no Cdigo Civil no artigo 188 que traz o seguinte:

    Art. 188. No constituem atos ilcitos:I os praticados em legtima defesa ou no exerccio regular de um direitoreconhecido;IIa deteriorao ou destruio da coisa alheia, ou a leso a pessoa, a fimde remover perigo iminente.Pargrafo nico. No caso do inciso II, o ato ser legtimo somente quandoas circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo oslimites do indispensvel para a remoo do perigo.

    11CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de responsabilidade civil, 2 ed., So Paulo, Malheiros,2007, p.18.12 GONALVES, Carlos Roberto, Op. Cit. 2007 p.35.13 GONALVES, Carlos Roberto, Op. Cit. 2007 p.36.14GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil, V.III: responsabilidade civil, 5 ed. SoPaulo, Saraiva, 2007, p.36.

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    A existncia da excludente de ilicitude quebra o nexo de causalidade,

    um dos pressupostos da responsabilidade civil, no havendo nexo causal, no h oque se falar em responsabilidade.

    DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO PERSONAL TRAINER

    Os tpicos anteriores proporcionaram um conhecimento satisfatrio sobre a

    matria discutida, conhecimento este necessrio para que se possa entender a

    aplicao da responsabilidade civil ao personal trainer, um tema de suma

    importncia, diante da atual busca pela sade e bem estar fsico das pessoas. O

    personal trainer responsvel por prescrever, orientar e auxiliar seus alunos na

    prtica de suas atividades fsicas, cabvel portanto analisar a sua responsabilidade

    frente ao ordenamento jurdico brasileiro. Pode-se ainda afirmar que a grade

    curricular do curso de educao fsica traz uma gama de matrias de suma

    importncia para o exerccio profissional, docncia escolar, atividades de academia,

    fisiologia do exerccio dentre outros. Porm observa-se a ausncia de disciplinas

    voltadas a questo jurdica da profisso de educao fsica e sua responsabilidade

    legal.

    O personal trainer formula e acompanha os treinos de forma individual, alm

    de auxiliar seus alunos na execuo de seus exerccios. Constata-se ainda que o

    personal trainer recebeu certa quantia em dinheiro pelo servio prestado ao aluno.

    Em contrapartida deve salvaguardar o aluno de todo e qualquer acidente de

    consumo 15.

    A responsabilidade civil nasce com o descumprimento de uma obrigao, a

    existncia de um dano material ou patrimonial causado a terceiro, no caso em tela

    ser o aluno que contrata o personal trainer. O personal trainer poder causar

    prejuzo (ato danoso) ao aluno/consumidor em razo da inobservncia de qualquer

    obrigao prevista no contrato de prestao de servio (responsabilidade contratual

    arts. 389 e seguintes do Cdigo Civil) 16. Sabe-se que muitos profissionais no

    costumam celebrar contratos de prestao de servios com seus alunos, devendo

    15 SANCHES, Eduardo Walmory, Op. Cit. 2006 p.18.16SANCHES, Eduardo Walmory, Op. Cit. 2006 p.16.

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    em caso de serem vtimas de um ato danoso por parte do personal trainer se pautar

    na questo da responsabilidade extracontratual tambm conhecida por aquiliana.

    Para caracterizar a responsabilidade civil do personal trainer faz-se

    necessrio a presena dos pressupostos j apresentados que so: Ao, ou seja a

    utilizao de mtodos inapropriados para a execuo de um exerccio, a compra de

    equipamentos obsoletos ou com defeitos. Omisso, caracterizada quando o

    personal trainer deixa de realizar a manuteno devida nos equipamentos, no

    solicita os exames mdicos necessrios para a atividade fsica. Ainda deve-se

    analisar a culpa do personal trainer, a exteriorizao da sua conduta. Alm do nexo

    de causalidade e do dano claro.

    O aluno que procura um personal trainer na maioria das vezes, buscamelhorar sua performance fsica, e para isto o personal trainer deve aplicar seus

    conhecimentos de forma adequada, no expondo seu aluno a riscos desnecessrios

    ou evitveis, trazendo segurana e eficincia em seus treinamentos.

    Todo aquele que causa dano a outrem tem a obrigao de reparar, segue o

    entendimento do Juiz Walmory Sanches a respeito da responsabilidade civil do

    personal trainer:

    O personal trainer ser civilmente responsvel quando o aluno se machucardurante as aulas ministradas sem tcnica, ou de forma inapropriada. Serainda responsvel se, em razo do treinamento mal aplicado, o aluno vier asofrer qualquer tipo de leso17.

    Como exemplo pode-se citar o seguinte: o personal trainer no informa ao

    aluno a maneira correta de se fazer um exerccio chamado supino18. O aluno no

    prende, adequadamente, as presilhas que sustentam os pesos. Dessa forma, com o

    movimento iniciado os pesos caem no cho. Com a queda o aluno se desestabiliza,

    perde o equilbrio e a barra bate em seu rosto cortando-o profundamente. No

    exemplo apresentado possvel observar os pressupostos da responsabilidade civil,

    a ao do personal trainer em no informar como prender os pesos, o nexo de

    causalidade, onde a conduta do personal trainer acabou gerando o dano, que foi o

    corte no rosto do aluno.

    17SANCHES, Eduardo Walmory, Op. Cit. 2006 p.18.18Supino: exerccio fsico destinado ao trabalho do msculo peitoral.

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    O personal trainer responde civilmente pelos danos causados ao aluno,

    porm de forma subjetiva, conforme previsto no 4 artigo 14 do Cdigo de Defesa

    do Consumidor que trata especificamente da responsabilidade do profissional liberal.

    Art. 14 [...]4. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais ser apuradamediante a verificao de culpa.

    Portanto, para que se possa responsabilizar o personal trainer que causar

    danos a seu aluno faz-se necessrio a demonstrao de culpa. Segue o

    entendimento jurisprudencial acerca deste assunto:

    Conforme precedentes firmados pelas Turmas que compem a 2 Sesso, de se aplicar o Cdigo de Defesa do Consumidor aos servios prestadospelos profissionais liberais, com as ressalvas do 4 do art. 14. (STJ-3T.-REsp. 731.078-0 Rel. Castro Filho-j. 13.12.2005-Bol. STJ 2/2006, p.24).

    Seria ilgico se o personal trainer por ser um profissional liberal respondesse

    de forma objetiva, submetendo-se assim a regra geral do artigo 186 do Cdigo Civil.

    Cabe ressaltar que a responsabilidade do personal trainer ser objetiva quando este

    assumir obrigao de resultado perante o aluno.

    A importncia do tema responsabilidade civil est ligada as conseqncias

    jurdicas do descumprimento das obrigaes.

    claro que existem as excludentes de ilicitude que o personal trainer pode

    alegar no caso de sofrer alguma ao de responsabilidade civil, um exemplo o

    aluno que agindo de m-f apresenta ao personal trainer um atestado mdico falso,

    escondendo seu verdadeiro estado de sade, atestando estar apto a praticar

    atividade fsica, porm ao iniciar uma corrida sofre uma leso, ou at mesmo falta dear. Neste caso haver a excludente de responsabilidade civil, motivo culpa exclusiva

    da vtima, j conceituada anteriormente. As outras excludentes de responsabilidade

    tambm podem ser utilizadas, depende apenas da anlise do caso concreto.

    O personal trainer ao receber um novo aluno, deve primeiramente, solicitar

    atestados mdicos que comprovem aptido para exercer atividade fsica,

    estabelecer um contrato por escrito detalhando a sua obrigao e o servio a ser

    prestado. De forma geral o servio prestado pelo personal trainer deve ser umaobrigao de meio, no prometendo resultados em determinado prazo de tempo ao

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    aluno, pois cada organismo responde de forma diferente as atividades fsicas

    propostas.

    Diante de todo o tema exposto, fica claro que o personal trainer pode

    responder civilmente pelos danos e leses causadas aos seus alunos durante seus

    treinamentos tanto na forma subjetiva, com a devida prova de culpa do profissional,

    como tambm de forma objetiva, sem a necessidade de demonstrar a culpa, neste

    ltimo quando o personal trainer assume a obrigao de resultado perante o aluno,

    bastando apenas o nexo causal e o dano.

    No intuito de justificar o artigo apresenta-se pesquisa de campo realizada em

    22 academias da cidade de Curitiba e Regio Metropolitana, no estado do Paran,

    constatou-se que a grande maioria no estabelece um contrato com o personaltrainer, muito menos tem o devido conhecimento a respeito da sua responsabilidade

    enquanto prestadora de servios. Apenas 27,7% das academias pesquisadas

    realizam um contrato com o personal trainer. No que tange a questo da

    responsabilidade 63,6% no se preocupam com a responsabilidade por eventuais

    danos causados ao aluno, desconhecem a aplicao do CDC dentro destes

    estabelecimentos. Tais empresrios acreditam que se no contrataram o personal

    trainer no tem qualquer responsabilidade pelo evento danoso causado ao aluno.Diante de todo o trabalho exposto fica evidente que a responsabilidade civil

    pode ser aplicada ao personal trainer, bem como a academia de ginstica utilizada

    por ele para, juntamente com seu aluno ministrar seus treinos.

    O estudo da aplicao da responsabilidade civil do personal trainer traz

    uma gama de informaes tanto ao operador do direito como principalmente ao

    prprio personal trainer, que na maioria dos casos no tem o devido conhecimento a

    respeito de sua responsabilidade perante seus alunos. O dano causado ao alunodeve ser reparado, e para isso temos o instituto da responsabilidade civil. claro

    que para tanto devem-se observar os pressupostos da responsabilidade civil, j

    apresentados nesse trabalho.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AMARAL, Francisco. Direito civil: introduo.6 ed. Rio De Janeiro: Renovar, 2006.

    CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de responsabilidade civil, 8 Ed. So

    Paulo: Atlas, 2008.

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    DIAS, Jos de Aguiar, Da Responsabilidade civil, 11 edio. Rio de Janeiro:

    Renovar, 2006.

    DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7 volume: responsabilidade

    civil. 17 edio. So Paulo: Saraiva, 2003.

    GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade

    civil. So Paulo: Saraiva, 2007.

    RODRIGUES, Silvio. Direito civil, v.4 Responsabilidade civil. 20 ed. So Paulo:

    Saraiva, 2003.

    SANCHES, Eduardo Walmory. Responsabilidade Civil das Academias de

    Ginstica e do Personal Trainer. 1Ed. So Paulo: Juarez de Oliveira, 2006.