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CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS A “REVOLUÇÃO DE 30” E O GOLPE MILITAR DE 64: A CULTURA ENTRE A POLÍTICA E OS INTELECTUAIS Obra apresentada como requisito avaliativo e homenagem ao Professor Amilcar Baiardi, na execução de seu último componente curricular na graduação: Ciência Política V no corrente semestre letivo 2010.2.

A “REVOLUÇÃO DE 30” E O GOLPE MILITAR DE 64: A CULTURA ENTRE A POLÍTICA E OS INTELECTUAIS

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A presente resolução da conta de uma questão levantada acerca das similitudes e divergências histórico-sócio-políticas no que tange a organização social e política do Brasil nos períodos que compreendem a Revolução de 1930 e o Golpe de Estado de 1964. No escopo de apontar ao menos oito desses paralelos e/ou contradições parte-se na investigação de aspectos que explicitem os pontos necessários para e elucidação da questão proposta. Assim sendo percorre-se o panorama das relações entre Estado e o corpus social civil dando ênfase à cultura nacional e seus possíveis avanços e retrocessos no crescimento econômico em face ao desenvolvimento das potencialidades do país.

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CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS

A “REVOLUÇÃO DE 30” E O GOLPE MILITAR DE 64: A CULTURA ENTRE A POLÍTICA E OS INTELECTUAIS

Obra apresentada como requisito avaliativo e homenagem ao Professor Amilcar Baiardi, na execução de seu último componente curricular na graduação: Ciência Política V no corrente semestre letivo 2010.2.

Cachoeira2010

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Resumo: A presente resolução da conta de uma questão levantada acerca das similitudes e divergências histórico-sócio-políticas no que tange a organização social e política do Brasil nos períodos que compreendem a Revolução de 1930 e o Golpe de Estado de 1964. No escopo de apontar ao menos oito desses paralelos e/ou contradições parte-se na investigação de aspectos que explicitem os pontos necessários para e elucidação da questão proposta. Assim sendo percorre-se o panorama das relações entre Estado e o corpus social civil dando ênfase à cultura nacional e seus possíveis avanços e retrocessos no crescimento econômico em face ao desenvolvimento das potencialidades do país.

Por Camillo César Alvarenga1

I. Entre A “Revolução de 30” e o Golpe Militar de 64.

Estamos prestes a articular do ponto de vista crítico, sócio-histórico, econômico, político a condição de existência em que pese a cultura nacional de épocas distintas, ou melhor, assemelhadas por um “espectro” de Golpe oriundo das classes e categorias que se engalfinhavam pelo poder tanto no período do regime implantado pela categoria militar a partir da tomada do Estado para perpetrar na “pátria mãe gentil” a infame ditadura entre 1964-85 quanto da Revolução de 1930 – “Estado de exceção, de uma ditadura como nunca se havia visto antes” – após outubro 1930 o Brasil experimenta parte da forma de governo que então emerge com a ascensão de Getúlio Vargas egresso do exercício político de governador do Estado do RGS e ainda “ex ministro da fazenda e Washington Luís”, prepararia assim os dias do Estado Novo.

Logo sobre esses dois intervalos históricos residem características como o poder centralizado e autoritário e centralizador na mão do Estado, o qual através de uma política de cerceadora vigilância da produção cultural – através da instauração da censura – também o controle sobre as organizações políticas e movimentos sociais urbanos e de guerrilha se faz sentir mais agudamente. A repressão aos meios de comunicação e produção das formas artísticas da cultura2, divergindo entre os aparelhos da tecnologia, no varguismo era o rádio o disseminador enquanto no militarismo de 60 a tv assume papel ideológico fundamental.

Da perspectiva econômica poder-se-ia realizar o approach entre a industrialização e modernização da primeira metade do século e a ideologia do crescimento diante do milagre econômico refreado pelas crises do petróleo pós copa do mundo de 70. Adotando a metodologia do sistema comparativo em direção a uma ciência política ítalo-brasileira que permita explicitar aspectos tão contundentes da vida nacional, como representação da construção de identidade de um povo num primeiro instante histórico 30-45 – que dissolve a mestiçagem fazendo emergir o brasileiro, segundo as teorias de Gilberto Freire e outros intelectuais de gabinete.

Villa Lobos, Drummond, Mário de Andrade à época que aderem ao Estado como meio de produzir a cultura servem como ideólogos do regime fortemente

1 Estudante do Bacharelado em Ciências Sociais na Universidade Federal da Recôncavo da Bahia – UFRB.email:[email protected] Cabe-se um adendo, roga nas tábuas da história corrente e até entre grandes intelectuais que o primeiro governo de Vargas foi um do mais promissores para a vida cultural brasileira apontando saídas para as práticas culturais coletivas da época – cinema , teatro, etc – diferentemente de quando tivemos nossos artistas expulsos do país e exilados na segunda metade do século vinte plena guerra fria e os territórios latino americanos vem a ser dominado pela cultura norte americana num exercício de hegemonia que resultou na orquestração do golpe de 64.

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influenciado pelo fascismo italiano e polonês – Enquanto ao passo das mais de duas décadas que se viveu sob a égide dos “papagaios do governo” entre torturas, assassinatos e perseguições viveu-se um tenso movimento de hegemonia e contra hegemonia tanto no exterior em esfera global, leia-se guerra fria, bem como no governo de Vargas que havia entorno do país um clima de polarização geopolítica, entre o Eixo e os Aliados, dado pelo clima das Grandes Guerras.

Ambos regimes tinham o processo de cassação de comunistas em comum além de reproduzirem regimes como o “Estado de sítio” entre outras medidas coercitivas que engessavam o funcionamento das classes no fluxo dos movimentos societais.

II. SÍNTESE GRAMSCINIANA PARA A HISTÓRIA NACIONAL EM QUESTÃO.

De forma que a análise destes breves dados da arquitetura de nossa sociedade, e de como se deram os processos de governos totalitários como os em estudo, evidencia de sobre maneira as relações de classe em função de um modo de produção excludente, e sem dúvida, opressor de parte dos detentores dos meios de produção em detrimento dos capacitáveis por sua força de trabalho. Além de redefinição no estado de direito com supressão das garantias individuais, ainda que trazendo falsas panacéias nas relações trabalhistas importadas da Itália de Mussolini.      Ou seja, o processo quase kafkaneano do gigantesco complexo das estruturas do sistema engendrado em tais ordenações cria uma conjuntura contrária ao recrudescimento das forças das camadas populares urbanas e do campesinato contra toda essa megolamânica ciência que se tornou o capitalismo e sob quais formas ele aparece diante de momentos de crise como foi pós 1929. Não diferente acontece em 60 quando envolto o planeta num clima de revolução cultural se manifestam sintomas no tecido social que precisariam se contornados por um estado forte e centralizado, se contar nas prerrogativas econômicas do capital externo usado na construção de uma política econômica para a nação que regem os respectivos governos. Assim de modo que, a investigação recai sobre a construção da figura do intelectual que se faz então prenhe de caracteres dissolvidos da cultura, o que de sobremaneira influência na manutenção de determinadas cosmogonias apenas sendo possível pelo esforço e perspicácia de tais mentes. No caso da classe dominante percebe-se o óbvio interesse na perpetuação das instituições como a igreja, a escola entre outras que servem apenas para justificar a dominação usada então de maneira a manipular o consumo, este que funciona na intenção de atender a produção o mercado interno em Vargas e para a economia internacional no regime da ditadura militar. . Neste front cultural político ideológico chama atenção na outra ponta os infatigáveis escritores, poetas, jornalistas enfim uma gama de intelectuais responsáveis pela propagação das idéias revolucionárias a fim de criar espaços de formação política do povo, o que, no entanto não passa tão despercebida assim, como em tempos de ditadura e repressão como a segunda metade do século 20 nos países latino-americanos, sobretudo no Brasil.    II. I   Determinadas assim algumas de suas mais notadas características, passemos adiante a outra forma sua de execução da força hegemônica pela classe dominante que age no Brasil nesses momentos de agitação social. A construção da figura do intelectual orgânico e sua  função dentro dos modos de produção e não obstante no Estado, explica

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que a natureza das coisas é demasiado complexa quanto dinâmica no intuito de prescindir a realidade para a explicação da mesma.   Assim o Estado exercendo poder arbitrariamente sobre a sociedade civil, e esta por sua vez através dos aparelhos privados de hegemonia, determinam pela propaganda o alcance de seus dirigentes nas bases, ou seja, por meio da escola, do rádio, das revistas, dos jornais, enfim todos os meios de comunicação de massas com o fim de homogeneizar a ideologia dominante nas relações societais. Dessa forma, a organização política da classe revolucionária  necessita de uma determinada organicidade dentro suas respectivas categorias - dirigentes ou lideranças funcionais, intelectuais – elo entre as idéias e operadores delas – e por fim a sua base, os trabalhadores, camponeses e militantes dos movimentos sociais. Nesse exposto o cenário nacional em tais períodos se apresenta desfavorável a tais modos operandi de ação contra hegemônica, cabendo as classes dominantes a dispersão e produção das consciências sociais de cada época, ainda que contando com grandes esforços de militância historicamente reconhecidos em ambos os períodos.   Para efeito então da contra-hegemonia, que se representa como causa natural de uma necessidade histórica a partir da execução de vontades coletivas como a práxis  transformadora oriunda nos sujeitos coletivos representados na figura dos militantes de onde brotam a vanguarda de organizações grupistas ou células responsáveis pela educação política de seus militantes. Como nos casos dos sindicatos que ficam na ilegalidade e depois ressurgem como partidos políticos em 80, e organizações de guerrilha urbana ou rural.   O desvelamento da dialética da modernidade do capital através de novas formas de exploração da força de trabalho permite o entendimento das estruturas estatais que agem através da coerção que lançam seu espectro sobre os movimentos da sociedade a fim de construir no inconsciente coletivo uma sensação de consenso e  conformidade entre as classes.       A práxis transformadora da cultura depende de uma atividade intelectual sistemática no limite das bordas da filosofia através da linguagem que abrange conceitos que são desenvolvidos enraizados principalmente quando envolvem questões culturais como as universidades. As instituições são reprimidas nesses períodos levando a crise na educação como as reformas do governo militar com a retirada da iniciação em música ofertada no governo getulista sob a influência de Villa Lobos sob o ministério de Gustavo Capanema.

Tudo isso consubstanciado no folclore, ou seja, num conjunto de concepções de mundo, cosmogonias compósitas pelas idéias disseminadas pelos aparelhos reprodutores de massas em busca da formação de uma cultura comum. O que no período pós-golpe de 64 caracterizou-se pela importação da emergente cultura norte americana. Possuidora de uma atualidade original representada pela língua de uma determinada cultura onde são erigidos caracteres dos grupos sociais dominantes não havendo então autonomia histórica estando sempre preso a padrões históricos suplantados, ou seja, tradicionalmente impostos e nestes regimes ditatoriais fica claro a conformação da cultura arregimentada pelo Estado. O aperfeiçoamento através do trabalho, da intuição, da repetição produz o intelectual; ente ligante da estrutura das classes, ou seja, o instrumento organizativo do exercício do fato político. A necessidade de crítica social conduz-nos ao fato intelectual como produto da atividade real resultado da ação política de determinados coletivos que são responsáveis pelos fatos políticos que determinam o percurso histórico de especifico agrupamento social bem como pensar o corpo de governo de ambos os regimes permite

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inferir que tanto os militares quanto a classe dominante sulista da qual surge Getúlio Dorneles Vargas são atores sociais interessados ora no recrudescimento ora no aprofundamento das condições sociais de produção da vida material e cultural do Brasil. III. A POLÍTICA DE ESTADO E A REVOLUÇÃO DOS INTELECTUAIS

A política, raiz de toda atividade intelectual e reflexiva de certo grupo ou partido que se apropria do discurso dominante para transfigurar a realidade vivida pelas classes exploradas. Sendo que não somente do ponto de vista econômico, mas também ideológica e culturalmente assumindo assim status de forma imposta de governo disfarçado nas instituições democráticas através das restrições o estado de direito anterior aos regimes estudados.. O que desemboca num recrudescimento de teóricos e filósofos que engendram a revolução a partir da necessidade organizativa de aparelhos de contra-hegemonia como a construção de veículos de comunicação direta com as bases, a fim de buscar a cumplicidade com os setores subalternos da classe revolucionária. Para então executar o Golpe de Estado que culmina num regime despótico e muitas vezes que não atendem os anseios populares a não ser pontualmente. A natureza explicita de tais fenômenos demonstra que, tal conjectura possui certa organicidade, se apresentando como condição essencial para a formação da consciência de classe das bases, não obstante o Estado através de seus dirigentes, também por sua vez reproduz para as massas cosmogonias diversas e inversamente proporcionais ao exercício de contra-hegemonia defendido pelos intelectuais que organizam os múltiplos setores de suas bases. No entanto a ortodoxia das relações travadas entre os diretores dos aparelhos privados de hegemonia e seu público, que não deixa de ser multifacetado e heteróclito, representa a disputa pela dominação ideológica nos diversos setores desde os operários expostos a propaganda do Estado aos intelectuais responsáveis pela criação dos argumentos desvelantes de toda a maquiavélica superestrutura na qual esta inserida toda a dinâmica societal e seus jogos de poder. Tendo o intelectual dessa forma, a tensão pela responsabilidade de articular as bases em função das diretrizes dos grupos que representam os interesses culturais, econômico e político e, por conseguinte socialmente referenciado no quesito organicidade. O que por sua vez se entende por capacidade dirigente e técnica de organizar as categorias do complexo organismo do sistema de classes. Tarefa que quando se faz parte do Estado se torna mais aguda. Assim exercendo, no seu raio de influência, a construção de uma hegemonia ideológica, cientifica e principalmente filosófica agindo de maneira paralela as lideranças e dirigentes do movimento para a disseminação e propagação das idéias hegemônicas ou contra hegemônicas da superestrutura dominante. Pois que em qual quer que seja o período histórico teóricos da revolução, professores universitários, cientistas sociais, entre outras categorias academicamente legitimadas e socialmente referenciadas exercitam uma autonomia da sua classe original, ao mesmo tempo em que se sentem presos a ela no campo da representatividade e função determinada na esfera das relações socioeconopolíticas, de caráter transcultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2004.

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GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

SACHS, I(org.) Brasil um século de transformações. São Paulo: Companhia da Letras, 2001.