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A ruína [a]diante da história

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Trabalho Final de Graduação - Monografia

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Processo analíticoReflexão final4’33”John Cage

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P.03.AGRADECIMENTOS

P.05.INTRODUÇÃO

01P.08.O QUE R[E]STA DE HOJE

04P.56.PROLEGÓMENOS

05P.58.BANCO DE IMAGENS

06P.59.BIBLIOGRAFIA

02P.20.O QUE R[ESTAVA] HOJE 03P.36.O QUE R[ESTARÁ] DE HOJE

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Resgate históricoImportância histórica da cidade

Escolha do sítioRelação cidade - natureza

Processo de urbanizaçãoRetificações

Urbanização do rio Pi- nheiros

Ocupação das várzeas

Plano Prestes MaiaPontes de São Paulo

Recorte região do Jaguaré

Águas de São Paulo

Projeção futuraSimulação

IdealReal

Hidroanel metropolitano

Hector ZamoraErrante

Reescrever

ProgramaOrganismos pioneiros

RastroEspelhoRetorno

SuplementoRichard Prince

Infraestrutura vs. supra- etrutura

LiberdadeEspontaneidades

Materialização projetual

Situação atualWalter BenjaminInfraestrutura

Origem - destinoCidade genéricaEscala

Passado - presente - futuroDuraçãoRugosidades

RuínasNão - LugaresNovo plano diretor estratégicoRessignificação

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A ruína [a]diante da história

. Pedro Matheus Lopes de Faria .

Trabalho final de graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie sob orientação do professor Igor Guatelli para

obtenção do título de arquiteto e urbanista

“A ponte une a terra como paisagem em torno do riacho. [.. .] Não une apenas as margens que já estão lá. As margens surgem como margens somente

quando a ponte cruza o riacho.”

[HEIDEGGER, 1971]

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. Agradecimentos .

À todos aqueles que se propõe a pensar o espaço urbano.

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O que r[e]sta de hoje

O território não é estático, como um corpo vivo ele passa por alterações no decorrer de seu trajeto. Sua paisagem é o resultado da interpretação do lugar efêmero por essência. Sua transformação define o hoje da cidade. Mas de que hoje estamos falando? Quando foi o hoje? Quantos hoje existem dentro de hoje?

A subjetivação do “hoje” serviu de guia para a elaboração do trabalho por uma análise temporal do território nas diversas camadas que revelam sua idade. O lugar construído pelos diversos momentos do hoje em um passado remoto decretou sua formação atual. As decisões tomadas no presente de um momento passado definem o hoje. Estas decisões se manifestam em memórias que denunciam a idade do território. O instanteísmo faz com que o hoje de ontem conduza ao momento presente e vem a conduzir o momento futuro, em uma confluência temporal que dificulta a distinção de ordem cronológica. O passado e futuro se entrelaçam no presente.

São Paulo figura este entrelaçamento temporal na medida que a busca pelo progressismo de respostas rápidas e momentâneas influenciaram diretamente na paisagem da cidade. O território sofreu mutações do progresso, o que efetivou a paisagem atual da cidade.

Este trabalho lida com essa linguagem da assimilação temporal a partir da convergência do tempo justaposto e discute a questão deste ciclo pautado na infraestrutura da cidade e suas diversas transformações.

As infraestruturas como suporte à vida humana inseridas no meio urbano acarreta em diversos debates como a questão de escala de transposições de barreiras e limites, além de sua questão temporal intrínseca na discussão do suporte à cidade em constante expansão. A cidade ultrapassa seus limites, aumenta de densidade, o que afeta sua infraestrutura pela necessidade de desenvolver-se também de maneira acelerada. Isso acarreta em um abandono do antigo a partir da criação do novo, o que neste trabalho foi definido como o arruinamento das estruturas passadas.

O titulo do trabalho compreende um paradoxo deste arruinamento. A ruina remete a algo passado, algo que se transformou por sua obsolescência. A palavra “adiante” simboliza algo à frente do tempo atual, neste caso como um retorno a partir de sua memória. Ao destacar o “a” de “adiante” a palavra compreende algo que está exposto no momento atual, elucidada pelo “diante”.

O trabalho analítico faz suposições para a atualização da infraestrutura de um “ locus” arruinado pela questão temporal, presente na intersecção de um rio e uma ponte que não seguem mais as características do que representam seus signos. A argumentação é feita sobre o debate da memória e sua transformação.

O arruinamento é responsável pelo paradoxo da nomenclatura do trabalho, na medida que representa uma ruína, gerada pelo progressismo acelerado da cidade, que está diante dos olhos em um momento atual. A partir de simulações projetuais sucedem propostas de atualização dos sistemas que estariam adiante de seu momento na história.

00.INTRODUÇÃO |

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É uma ponte nova, provavelmente recém completada, que paira ofuscada sobre as marginais. Mesmo em um dia ensolarado como hoje, não avistei sequer nenhum transeunte, provavelmente porque este local não mais é de

contemplação.Quase que todos os dias do ano, milhares de cidadãos passam por esse local para chegar a um destino. Eu à atravesso.

Faço isso todos os dias somente por necessitar da travessia para sair de casa e chegar no trabalho.Sobre a ponte, ao meu lado direito, tem um carro. À frente tem outro carro. Atrás mais outro. Foi quando eu escutei

a conversa entre um senhor e uma criança vinda do carro ao lado:

— Você consegue ver aquela rua bem distante? — disse ele apontando em uma direção para fora do carro.

Com o sinal de positivo com a cabeça a jovem menina respondeu a pergunta.

— O rio que está abaixo da gente chegava até ali, na rua do sumidouro. — afirmou o senhor.

— Mas que rio vovô? — perguntou a criança.

Foi quando o carro andou e me deixou intrigado com ingenuidade da criança para reconhecer um rio a partir dos signos a que ela foi ensinada.

Procurei o que o senhor mostrava e ao longe avistei a rua do sumidouro. A lenda dizia que lá, o r io tinha um buraco muito grande e que se alguém passasse por perto seria sugado pelo sumidor. Pelo jeito o sumidor sumiu com seu

rio e o que restou foi a memória presente em sua nomenclatura.Os carros um após o outro passaram sobre o rio. Poucos o notaram. Se não fosse por seu aspecto de aversão, ele

seria invisível a percepção humana.01

01. Narração da percepção do espaço atual baseada na adaptação de parte da história do Pedro Gennari para o Museu da Pessoa.

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Pouco mais de um século foi o tempo necessário para transformar a vila de São Paulo em uma das maiores metrópoles industrias de patamares globais. O retrato deste desenvolvimento acelerado revela as faces atuais da cidade, em suas imperfeições manifestam inúmeros problemas urbanos, porém potencialidades latentes de progresso.

São Paulo hoje é a cidade mais populosa do Brasil com quase 12 milhões de habitantes dispersos em 1.530 km2. Com o crescente turismo, oriundo das atividades cosmopolitas cada vez mais frequentes na cidade, somado ao fluxo de uma metrópole global, São Paulo bate recordes com trânsito anual de 32 milhões de pessoas nos aeroportos e 8,3 milhões de pessoas nas rodoviárias os quais fazem com que a cidade tenha mais de 30 milhões de deslocamentos diários. Mais do que um

número esse dado representa a enorme logística mínima necessária em prol do funcionamento do principal polo econômico do país e simboliza a difícil tarefa de conciliar a qualidade urbana da cidade com os longos e numerosos deslocamentos.

O progresso, concebido como busca incessante do Estado, muitas vezes prioriza setores de desenvolvimento da economia e menospreza diversos fatores nele intrínseco, como a qualidade urbana citada anteriormente. Ele impõe o “novo” como algo a ser buscado no eterno aperfeiçoamento daquilo que passou, e relata um presente como sendo algo melhor e superior ao passado.

Walter Benjamin em sua obra “O anjo da história” narra o arruinamento da cidade progressista:

“Há um quadro de Klee que se chama  Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas

cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.”

[BENJAMIN, 1985 , p. 226]

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O que r[e]sta de hoje

O texto benjaminiano recorre, frequentemente, às imagens. Esse trecho em específico se trata sobre a obra Angelus Novus, de Paul Klee. Paul retrata um anjo que cercado pelas ruínas do passado, deseja recolhê-las em suas asas da história, mas uma tempestade, que metaforicamente representa o progresso, o impede de fecha-las, fomentando-o para um futuro indesejado. Contudo, o arruinamento

da memória urbana aparece como uma consequência da pretensão para a aceleração do progresso, aquele retratado na cidade de São Paulo pelas mudanças constantes de centralidades, obsolescência de rios, permutações infra estruturais, etc.

O desenvolvimento da capital do estado, pautado sempre no incremento a atividade econômica, focou sua mobilidade urbana para

fins que favorecessem tal atividade em detrimento do investimento em políticas e objetivos de desenvolvimento social. No caso específico da infraestrutura de transporte, a opção pela minimização de custos e consequente facilidade de implantação dos sistemas considerados viáveis para cada período histórico, concebeu o tecido urbano atual da cidade, o qual evidencia a priorização do transporte individual e a escassez de recursos que estimulem a conformação de espaços públicos.

Para amparar e impulsionar o uso do território, entra em pauta a incorporação da infraestrutura, esta que viabiliza o deslocamento, abastecimento, obtenção de energia, escoamento de produtos, meios de comunicação entre outras coisas de extrema importância

para qualquer estabelecimento. A infraestrutura   consiste no conjunto de elementos estruturais que enquadram toda uma estrutura urbana, a partir de aspectos funcionalistas articuladores da cidade, ou do meio urbano.

A questão infra estrutural ancorada em seu aspecto de suporte necessário ao almejado progresso urbano, carrega subjacente o conceito de servir como constituinte de um quadro organizacional em causa, seja uma cidade, uma metrópole ou uma nação. Representa portanto, aspecto essencial para qualidade do “ locus” em que está inserido, cumprindo sua determinada função estruturadora. No entanto, apesar da infraestrutura exercer a polarização dos pontos de acesso ao serviço, muitas vezes ela desconsidera os lugares por onde estes passam.

“Nas atuais circunstâncias parece ocioso procurar o   princípio de agregação do território metropolitano, pois essa atitude guarda algo da tradicional ideia de que existe um “princípio agregador” no interior das metrópoles. Mas tudo indica que a  fragmentação  e a  dispersão  do espaço e do território são dois fenômenos em processo de revisão. Hoje, as mais atentas análises do território metropolitano já assinalam “as pontas do   iceberg”, ou seja, as evidências de incipientes elementos de aglutinação. A hipótese de que as grandes infra-estruturas urbanas ganharam a prerrogativa de funcionar como elemento “agregador” do território metropolitano torna-se evidente. Deixando de ser apenas “redes abstratas que enfeixam conexões funcionais”, a infra-estrutura urbana contemporânea cumpre a função básica de organizar os sistemas e subsistemas urbanos, estruturando a metrópole, garantindo as continuidades

ameaçadas pela fragmentação e organizando os fluxos que evitam a dispersão funcional.”

[MEYER, dez/2000. p.08]

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Restringindo-me à análise da infraestrutura de transporte, a cidade de São Paulo presencia um paradoxo relativo a conexão e fragmento. A cultura rodoviarista presente no território Brasileiro, há anos estimulada pela indústria automobilística, representa a principal estrutura responsável por articular a metrópole. Esta, conjugada a outras estruturas como linhão de energia elétrica, linhas de trem e os r ios presente na cidade,   desarticulam a escala local, de tal maneira que gera uma fragmentação extrema do espaço urbano, o desqualificando como local de encontros. A crescente quantidade de vias articuladoras tende, paradoxalmente, acentuar a desarticulação pela dificuldade de transposição por onde estas correm. Hoje esta tessitura feita no território desampara a escala humana, tendo como âmago a otimização dos parâmetros de velocidade, tempo e expansão.

E s s e s parâmetros ingerem-se na percepção do sítio, a qual se debruça na imprecisão graças a turbulência temporal desorientadora que alterou a relação passado, presente, futuro. O discernimento passa a ser instantâneo, representado por lapsos da alta velocidade, encurtamentos de caminhos e redução do tempo a um momento hipnótico02 e esvaziado, ou seja, o indivíduo assimila o espaço a uma velocidade extremamente acelerada que impossibilita a experiência da percepção da deriva, transformando-a em uma percepção mais carnal, minimizada a um objeto que ocupa um espaço.

A subjetivação da leitura do cosmo, apesar de existir em qualquer nível de interação, sendo esta mais direta ou indireta, é r igorosamente influenciada pelo tempo. A turbulência temporal causa uma percepção mais direta daquilo que está ao redor do sujeito e constrói um homem pouco enraizado, o que acarreta em uma frágil percepção do

espaço. A velocidade que o tempo corre abala a devoção do homem pela cidade e faz com que esta se torne algo utilitarista, ou seja, o afeto entre sujeito e objeto é comprometido pela lógica funcionalista, ancorada na questão origem – destino.

O hoje do paulistano, requer resultados rápidos e funcionais, há um propósito final, materializado em uma resposta a um começo. Neste fundamento o durante quase que deixa de existir. Uma reta é determinada por dois pontos, se relacionarmos os pontos a origem e o destino, a um começo e um fim, a uma ideia e sua materialização, fica evidente a necessidade do durante, simbolizado pela reta. A reta porém, representa o caminho mais direto entre os pontos e metaforicamente define um durante minimizado a uma consequência. A procura para a chegar ao fim daquele começo é objetivada de uma maneira que afeta o durante e consequentemente aliena o sujeito, pela fragilidade do discernimento do processo.

Também é passível de análise a relação entre o homem e a subjetivação do tempo, evidenciada a partir da descaracterização da ordem cronológica do mesmo, que altera o padrão cíc lico de começo, meio e fim (passado, presente, futuro) e o determina como uma turbulência de acontecimentos. Acontecimentos partem de ações, que pela simples presença do homem definem o lugar, este que se preenche de significados a partir do encadeamento destas ações, humanas por essência. Seguindo esta linha de pensamento, o lugar é configurado pelo tempo, que apesar de ser individual de cada ser humano, percorre na turbulência do espaço urbano contemporâneo, o que faz com que haja uma homogeneização na percepção do espaço, ou na não percepção do mesmo.

Aristóteles aprofunda sua análise nas funções do processo cognitivo da alma humana e descreve o senso comum como a conjunção dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, paladar e tato – estes formam

o fantasma do objeto exposto. O fantasma representa a projeção pessoal das verdades no objeto, como a imagem que “aparece” aos olhos humanos, a qual é diretamente influenciada pelos sentidos que formam o senso comum. A homogeneização da percepção do fenômeno é também consequência da padronização do fantasma. A imagem que aparece é dominada pelo senso comum, fazendo uma analogia ao conhecimento vulgar intrínseco nele, ocorre um nivelamento do fantasma em uma imagem vulgarizada através da fragilização do discernimento ao admitir o senso comum como verdade. O fantasma aparece de maneira similar a todos que o enxergam, a favor da incapacidade do homem pós-moderno de aprofundar sua análise naquilo que está ao seu redor, muito influenciado pela turbulência de acontecimentos mencionada anteriormente.

A cidade de São Paulo, caracterizada como metrópole global no primeiro parágrafo do capítulo, se assemelha a todas as grandes cidades mundiais que necessitam ter e ser tudo ao mesmo tempo. O centro sempre como local de extrema importância, que tem que carregar o velho e o inovador, ser o mais estático e o mais dinâmico, demonstra a necessidade das constantes e intensas adaptações para a manutenção do progresso. Isso causa uma alteração na velocidade da cidade que busca tudo a todo momento, e diminuí o tempo do homem que reclama da eterna procura pelo mesmo, em um mundo pautado no modo de produção capitalista que subtrai o tempo do homem pelo trabalho.

Sobre o incremento da velocidade dos acontecimentos da cidade, Rem Koolhaas caracteriza as cidades globais de crescimento acelerado como genéricas e as compara a uma máquina ultrapassada que está em altíssima velocidade na eminência da explosão e cita os problemas causados a favor do crescimento acelerado como perda de identidade, consequência da minimização da memória engolfada na crescente periferia.

01.PERCEPÇÃO |

02. estado mental que assemelha ao sono; em transe. O termo foi usado para evidenciar um estado do

ser incapaz de perceber aquilo que o rodeia.

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O que r[e]sta de hoje

“The Generic City is what is lef t af ter large sections of urban life, crossed over to cyberspace. It is a place of weak and distended sensations, few and far between emotions, discreet and mysterious like a large space lit by a bed

lamp.”

[KOOLHAAS, 1995. p. 1250]

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A ruína [a]diante da história

No fragmento do texto de Koolhaas e nas imagens que o introduz, fica evidente o enfraquecimento da percepção espacial na velocidade da cidade genérica. As imagens deixam de ser estáticas, acompanham o movimento da vida irrefreável daqueles que vivem no local de mudanças constantes. Grandes setores da vida urbana já passaram por esse lugar interminável, o que retrata uma sobreposição de diversas camadas na composição deste inóspito território.

O tempo e a velocidade são inerentes a escala da metrópole. Ao resgatar a reação fragmentária infra estrutural do território de São Paulo, se encaminha discussão de urbanidade relacionada ao conceito de escala. A crescente periferia que desmistifica a identidade do centro como ponto de convergência, evidencia a expansão dos limites urbanos e consequentemente a alteração na escala da cidade. A preocupação dos órgãos governamentais passa a ser os deslocamentos advindos da infraestrutura que serve de suporte de garantia de locomoção. A consequente priorização para a locomoção urbana, pautada principalmente no transporte individual, acarretou em marcas no tecido da cidade que depreciou a qualidade urbana e induziu também na percepção do hoje de São Paulo.

A escassez de espaços públicos, com miscigenação de pessoas de diferentes perfis, ou a exiguidade dos retratos da vida cotidiana no meio urbano com interação ente público e privado, mostram o resultado desta fragmentação urbano - social que

as metrópoles brasileiras vivenciam. As pontualidades, focadas no transporte de origem – destino, em um ritmo frenético de velocidades automobilísticas, faz com que tudo o que se constata são as imagens embaçadas advinda do movimento frenético.   A escala do pedestre se perde nesta realidade metropolitana, o que faz com que a assimilação da cidade seja a 90km/h e não na percepção do caminhar.

A questão da escala insere um questionamento de relações urbanas na metrópole. A busca atual por uma cidade mais humanizada, que prioriza o pedestre em detrimento do automóvel quer reverter esse cenário da realidade da metrópole industrial, transfigurando a questão origem – destino para o aproveitamento do durante, um estímulo a deriva. Seria possível viabilizar propostas da valorização do homem como forma de converter as circunstâncias geradas pelo urbanismo rodoviarista implantado em São Paulo, o que possibilitaria a redução do ritmo pontual, acarretando em uma melhor qualidade urbana local, onde o limite deixa sua natureza segregadora e passa a funcionar como um elo essencial de trocas.

Em suma, podemos constatar que a alteração da escala do local para o metropolitano, causa da busca acelerada do progresso e consequente expansão de limites urbanos, alteram a percepção do espaço e desqualifica o “ locus” da troca que deveria figurar o território da cidade como um todo. Isso acarreta um enfraquecimento do centro, principal representante da memória urbana, pelo seu

engolfamento na crescente periferia e sobreposição de camadas históricas.

Na metrópole em estado de incessante expansão, objetos que representam a memória são constantemente descartados e substituídos pelo novo, talvez por uma necessidade urbana consequente do crescimento ininterrupto. A cidade cresce, a infraestrutura precisa acompanhar seu crescimento para suportar seu tamanho e minimizar o chamado caos urbano, porém, esse crescimento acelerado fez com que São Paulo substituísse o antigo pela aglutinação do novo. Para acelerar o processo de substituição, a cidade sobrepôs camadas históricas no mesmo território, alterando sua imagem e menosprezando o reflexo de suas camadas que precederam, o qual enfraquece a memória do lugar.

Gilles Deleuze aborda a memória como um movimento em construção e não a restituição de algo. Ele aborda atos do presente para enunciar aspectos do passado, a partir disto quebra a linearidade de passado – presente – futuro intrínseca na concepção do tempo objetivo característico do Kronos (cronologia) e salienta a capacidade deste sofrer saltos, acelerações e rupturas, característico do tempo de Aion03, representado pelo futuro e passado que dividem a cada instante o presente. Deleuze diz que a memória é um dispositivo que opera nos fluxos temporais dissimétricos e coexistentes, evidenciando seu caráter múltiplo, difuso e caótico como uma interconexão de múltiplos planos temporais.

“Só produzimos uma coisa de novo com a condição de repetir uma vez do modo que constitui o passado e outra vez no presente da metamorfose. E o que é produzido, o absolutamente novo, é, por sua vez, apenas repetição, a terceira

repetição, desta vez por excesso, a repetição do futuro como eterno retorno.”

[DELEUZE, 1968a/2006, p. 138]

03. Segundo Aion, existe uma coexistência de passado e futuro no tempo. O futuro e o passado se

dividem a cada instante no presente, que o subdividem ao infinito, o caracterizando como instante sem

espessura e sem extensão. O tempo em Aion revela a admissão da finitude humana na medida que é

alcançada a dimensão do eterno, da justa medida imprecisa entre a imanência e a transcendência.

02.MEMÓRIA |

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O que r[e]sta de hoje

No trecho em destaque, Deleuze cita o “eterno retorno” da memória como uma repetição que escapa do senso comum, não representa o retorno do mesmo, mas ratifica a repetição da diferença e age como uma transgressão do que está aí. O que repete não é a cópia e sim o novo, o positivo; é o eterno retorno da diferença, daquilo que é novidade e produz o novo; “trata-se de

fazer, pelo eterno retorno, entrar no ser o que nele não pode entrar sem mudar de natureza” (Deleuze, 1962/1976, p. 58). Retorna apenas aquilo que tem força para tal. Dessa forma ele demostra a interconexão da memória com o novo, como um reflexo da “diferença” em todas as camadas que sobrepõe e formam a imagem do hoje.

Deleuze pautou sua análise em um profundo estudo da obra de Henri Bergson, filósofo que estuda questão da fomentação da imagem do presente a partir da análise da memória. Bergson entende a memória como uma capa de lembranças que cobre um fundo de percepção imediata e contraí uma multiplicidade de momentos, fazendo com que o presente é o que há de mais contraído do passado. Faz uma analogia do tempo com a duração, onde passado e presente coexistem em uma percepção análoga, a lembrança para Bergson não seria posterior a percepção.

A duração portanto se aproxima do tempo subjetivo. Tempo das vivências, das intensidades, dos devires. Representa a multiplicidade da divisão interminável, e ao se dividir muda constantemente de natureza. Em uma cidade com São Paulo, o retorno do outro gerado por essa divisão temporal, enfraquece a seção AB por consequência de um desenvolvimento urbano pautado no incremento econômico da cidade, esta tende a concentrar-se sempre no S, na medida que o aspecto progressista se apega mais firmemente à realidade presente, focada em um futuro imediatista.

“A essência da ideia geral é, com efeito, mover-se o tempo todo entre a esfera da ação e da memória pura. [.. .] Em S está a percepção atual que tenho de meu corpo, ou seja, de um certo equilíbrio sensório-motor. Sobre a superfície de base AB estarão dispostas, se quiserem, minhas lembranças em sua totalidade. No cone assim determinado, a ideia geral oscilará continuamente entre o vértice S e a base AB. [.. .] Isso significa que entre os mecanismos sensório-motores figurados pelo ponto S e a totalidade das lembranças dispostas em AB há lugar para mil e uma repetições de nossa vida psicológica, figuradas por inúmeras seções A’B’, A’’B’’ etc. do mesmo

cone.”

[BERGSON, 2006. p. 65-67]

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A ruína [a]diante da história

São Paulo teve seu desenvolvimento apoiado nas inter-relações entre território, técnica e programa. O caráter imediatista da cidade de rápida expansão, fez com que o território se moldasse a partir da incorporação de um conjunto de técnicas sistêmicas que definiram a

forma de uso e ocupação da cidade. A transformação contínua desses sistemas de ênfase técnica deixa marcas valiosas no território, representativas das camadas históricas, que a partir de sua materialização pode ser definida pelo conceito de rugosidade.

“Chamemos de rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares. As rugosidades se apresentam como formas isoladas ou como arranjos. É dessa forma que elas são uma parte desse espaço-fator. Ainda que sem tradução imediata, as rugosidades nos trazem os restos de divisões do trabalho já passadas (todas as escalas da divisão do trabalho), os restos dos tipos de capital utilizados e suas combinações técnicas e sociais com o

trabalho.”

[SANTOS, 1999. p. 113]

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O que r[e]sta de hoje

O termo rugosidade representa o processo de envelhecimento do corpo. São pregas ou sulcos que acumulam na pele e manifestam a ação do tempo sobre a mesma. Milton Santos, metaforicamente, faz uma analogia do termo ao território humanizado, como se este sustentasse o mesmo aspecto de registro temporal que acarreta em mudanças materiais ao espaço e, assim como as rugas, denunciam a ação do tempo sobre sua superfície. Contudo, as permanências temporais sobre o território, contêm uma densidade histórica e um valor de memória que refletem no presente a ponto de conferir cunho estruturante às formas de uso deste.

O foco no desenvolvimento técnico da cidade de São Paulo, provocou mudanças profundas no território e o transformou no que conhecemos hoje. As rugas que marcaram a superfície da cidade revelam uma cidade em que seu urbanismo foi pautado sempre para o fomento da economia, priorizando o solo para um uso técnico que consequentemente o transformou em um solo infra estrutural. Esta realidade concebeu um arruinamento da paisagem urbana, tendo como exemplos as sobras urbanas, as numerosas rotatórias, espaços obsoletos e inalcançáveis pela fragmentação da superfície e principalmente os r ios da cidade e suas margens.

A cidade como um todo foi se convertendo em ruínas do futuro pela transformação acelerada e lento descaso para com a sociabilidade. Cortes profundos marcam o tecido urbano de São Paulo, que a partir da responsabilidade de cumprir o papel de polo metropolitano abandonou a preocupação com a escala local gerando uma fragmentação extrema nesta esfera. Os espaços que antes eram usados pelos cidadãos, transfiguram-se em abandono, causa da cisão que obstou o cidadão de chegar em determinados lugares, os tornando obsoletos.

A obra “Ahora Juguemos a Desaparecer” [ Vamos brinca de desaparecer] do artista cubano Carlos Garaiacoa, exposta em Inhotim, MG, é uma composição de prédios miniaturizados feitos de cera e pavio que são incendiados em sua peça como uma reação a uma trajetória de modernidade tardia ou paralisada que consequentemente é transformada em ruínas. A cidade aparece entregue a um destino trágico de arruinamento de seu produto. Este paralelo evidencia a fatalidade do arruinamento da cidade a partir da transmutação de sua forma, como mencionado no caso de São Paulo.

03.ARRUINAMENTO |

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A ruína [a]diante da história

Os sistemas técnicos implantado em São Paulo durante os anos de desenvolvimento industrial, revelam esta série de lacunas no território. A polarização ficou limitada aos terminais e estações enquanto todo o resto da cidade se via fragmentada pela tecnicidade de seus sistemas. Fatores históricos influenciaram diretamente para implantação de uma cidade com enfoque em sua infraestrutura, na medida em que a constante busca para a aceleração do progresso fez com que essa infraestrutura fosse enraizada em locais que facilitassem as obras e acelerassem sua introdução, ou seja, nas margens dos rios, o que os tornaram o maior exemplo do corte profundo desagregador presente nos sistemas estabelecidos em São Paulo.

O rio hoje se encontra esquivo, tornou-se algo que se olha a distância, pois a aproximação do homem a ele fica cada vez mais difícil. Além de sua inacessibilidade por sua função infra estrutural, o r io se tornou algo indesejável, sua sistematização fez com que a cidade virasse as costas

para aquele que é sua razão de ser. Sua água é imprópria, sua paisagem é hostil, suas arvores já não existem mais, da sua terra nada mais nasce, seu solo enrijeceu, sua vida esvaiu.

A transformação intensa do território gerou o arruinamento das estruturas hidroviárias, em uma tentativa permanente de esconder os problemas, a cidade cresceu em cima de seus rios, literalmente sobrepondo camadas geradas pelo progressismo. São Paulo tornou-se a cidade das águas invisíveis, que esconde o fracasso na gestão de seus rios sob suas avenidas, o que gera um paradoxo existencial da água, na medida que esta simbolizava o local de encontros por conter grande parte da vida urbana da cidade, hoje reflete o caos quando retorna em forma de enchentes, além de representar os limites que fragmentam sua superfície como decorrência da implantação das vias expressas.

O território passa a ser constituído por zonas, evidenciadas pelos cortes consequentes da passagem dos sistemas que viabilizam

seu funcionamento, porém essas zonas não são auto suficientes, elas dependem umas das outras para a manutenção da vida urbana, o que acarreta no caráter origem – destino da infraestrutura de locomoção analisado anteriormente. Sobre este debate Marc Augé explana a transformação do tempo, do espaço e do indivíduo na pós-modernidade, fazendo o paralelo entre essa questão imediatista acelerada com os “não-lugares”. Estes seriam uma oposição ao lugar antropológico, identitário, histórico e relacional, uma consequência direta da necessidade de ganhar tempo nos sistemas de comunicação e transporte advindos da “supermodernidade”. Segundo Augé, as imagens condicionadas pela aceleração do tempo desmonta o engendramento de relações de identidade entre indivíduo e lugar, dessa forma, os “não-lugares” aparecem como espaços que não criam uma relação com a trama urbana, se limitam a zonas de trânsito que potencializam a fragmentação urbana.

A conceituação dos espaços mono-funcionais, fragmentários e em processo de conversão em ruínas, permite o aprofundamento na análise da requalificação de espaços residuais. Sua ressignificação é mais do que um redesenho urbano. É identificar potencialidades, valorizar suas características de identidade e traduzir esses elementos em um “novo”, este como retorno da permanência reinserida na cidade e prognóstico da

construção de um lugar.A cidade de São Paulo passa por

um forte momento de transição na questão do pensar o espaço público, pautado nas mudança das formas de uso da cidade. A partir de um novo plano diretor03, sancionado pelo prefeito Fernando Haddad em 31 de julho de 2014, que tem como uma de suas diretrizes humanizar e reequilibrar a cidade de São Paulo, contendo um estímulo a urbanidade ancorado em

um momento de transição cultural do viver a cidade. Este momento de transição já pode ser notado em diversas propostas que partiram de algumas particularidades de grupos sociais, em primeiro momento até transgressoras a realidade urbana, que buscaram uma ressignificação da cidade de São Paulo, na tentativa da utilização do espaço em que a cidade oferece adaptado a uma nova realidade. 

“ Vê-se bem que por “não-lugar” designamos duas realidades  complementares, porém, distintas: espaços constituídos em relação a   certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os   indivíduos mantêm com esses espaços. Se as duas relações se correspondem de maneira bastante ampla e, em todo caso, oficialmente  (os indivíduos viajam, compram, repousam), não se confundem, no   entanto, pois os não lugares medeiam todo um conjunto de relações   consigo e com os outros que só dizem respeito indiretamente a seus fins:   assim como os lugares

antropológicos criam um social orgânico, os não   lugares criam tensão solitária.”

[AUGÉ, 2007. p. 87.]

03. Plano Diretor Estratégico, lei 16.050/14. Principais objetivos do plano: aproximar moradia e emprego e enfrentando as desigualdades sócio-territoriais; combater a terra ociosa, que não cumpre a função social;

implantar a política habitacional para quem precisa; valorizar o meio ambiente; orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público; qualificar a vida urbana na escala de bairro; promover o

desenvolvimento econômico na cidade; preservar o patrimônio e valorizar as iniciativas culturais; fortalecer a participação popular nas decisões dos rumos da cidade.

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O que r[e]sta de hoje

Exemplos recentes podem ser vistos na ocupação do Elevado Costa e Silva, que acontece todos os domingos com a interrupção do trafego de veículos, os caminhões de comida chamados de “foodtrucks” , que transformam as calçadas em pequenos restaurantes ativando o

uso noturno de locais que antes predominavam o medo da escuridão, a questão atual do Buraco da Minhoca, localizado em baixo da praça Roosevelt, que ativistas tentam legitimar junto a prefeitura um espaço para eventos urbanos e também o inegável crescimento do

carnaval de rua paulistano. A partir desses exemplos podemos observar a busca por alternativas na adaptação dos espaços existentes na cidade, e o retrato de um homem com a necessidade do viver urbano e do convívio social.

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04. Narração da percepção do espaço em um tempo passado baseada na adptação de parte história do Pedro Gennari para o Museu da Pessoa.

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É uma ponte velha, bem antiga mesmo, feita de madeira e ferro, que paira solitária sobre o rio. Apesar de ser um domingo, muitos transeuntes estavam à caminhar sobre esta, provavelmente pela mesma razão que eu.

Quase todos os domingos do mês os garotos da cidade vem até esta ponte para se aventurarem nas corredeiras do rio. Somente os bons nadadores saltam dali, eu mesmo nunca saltei, eu gosto de ir até lá para assistir estes que se aventuravam no caudaloso rio que assusta por seu movimento. Sua sinuosa corredeira já machucara muito homem

grande. Pula o primeiro. Pula o segundo. Pula o terceiro. Antes do quarto pular um senhor vai até ele e com um gesto de

preocupação paterna pela evidente inexperiência do menino, fala r ispidamente:

— Cuidado com o sumidouro. Não chegue perto dele de jeito algum.

— O que é o sumidouro? — Perguntou o jovem aflito.

— Você enxerga aquele redemoinho na superfície da água? — Disse o senhor.Com o sinal de positivo com a cabeça o jovem respondeu a pergunta.

— Isso é o sumidouro, suga tudo que dele aproxima. — Afirmou o senhor. — Poucos nadadores conseguiram se livrar de sua correnteza.

De longe avistei o sumidouro, me contaram que existia a lenda de que ali tinha um buraco muito grande que se alguém passasse lá seria sugado pelo sumidor.

Os nadadores um após o outro pulavam no rio e escalavam a murada da ponte de onde saltavam novamente. Passei horas a contemplar essa imagem do cotidiano da ponte e ao fim do dia retornei a minha casa com uma nova história

para contar.04

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O que r[estava] hoje

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A ruína [a]diante da história

A análise do processo de desenvolvimento do território é essencial para explicar esse retrato da cidade atual. Aquilo que vemos e percebemos hoje, está, muitas vezes, enraizado no ontem, o que demonstra uma necessidade de entendermos a história de um processo contínuo de transformação no território. Este não como algo estático e sim como um constante movimento, fruto de ações temporais que indefinem um começo e um fim, mas comprova sua metamorfose.

São Paulo aparece no mapa como uma missão jesuítica, após ultrapassagem da barreira que limitava a exploração do interior do território, a serra do mar. Com o tempo a cidade passa a ter uma composição bem heterogênea pela rápida transição de diferentes épocas históricas que o país como um todo presenciava, passando de um período colonial, por um império, e finalmente chegar a república em pouco menos de 400 anos. A

cidade acompanhou de perto essas transições, o que gerou consequências diretas na transformação de seu território, porém a característica de cidade comercial com composição heterogênea sempre acompanhou essas transformações.

São Paulo teve seu papel em toda a produção econômica da história do Brasil. Com o importante papel de polo para a corrida pelo ouro, de onde os bandeirantes saiam para explorar o interior do continente, a cidade chamou a atenção da coroa portuguesa e começou a ensaiar seu papel econômico no país como um polo de convergência. Porém, somente no período imperial que teve seu notável crescimento populacional, fruto do enriquecimento do estado pelo cic lo cafeeiro. Com o impulso pelo desenvolvimento da economia cafeeira começa a se formar uma expressiva burguesia, crescimento nos setores de comércio e serviço e um afluxo de intelectuais pela criação de faculdades, o que ocasionou em

uma radical mudança no cotidiano da cidade. A transformação no território tinha que ser drástica pela necessidade de escoamento de produto e também pelo rápido crescimento populacional, com a implantação de ferrovias e incorporação de transporte coletivo na cidade.

O enriquecimento com o café, pode ser notado como o principal fator para transformação da cidade em um dos maiores polos industriais do mundo. As etapas da evolução da cidade até chegar no que é visto hoje, pode ser explicada pela transição de três momentos: o de eleição do território, sua construção técnica e sua atualização dos sistemas infra estruturais. Para entender a metrópole moderna é necessário decifrar desde os atributos geográficos até a o desenvolvimento de seus sistemas pautados na análise histórica do processo econômico.

Desde tempos imemoriais as cidades são formadas em locais estratégicos para seu desenvolvimento, quase que sem ressalvas os r ios estiveram na fundação de civilizações. São Paulo não foi uma exceção. As motivações geográficas determinaram a escolha do sítio de São Paulo, visto a escassez

de recursos técnicos para desbravar o território no período colonial, existia uma forte submissão aos meios naturais. A cidade se inseriu em uma região rica, se olharmos a hidrografia, até o fim do século XIX os rios foram determinantes na ordenação do crescimento da cidade, como papel de limites evitava a

ocupação de suas várzeas e preservava a hidrografia necessária para sua realização. A cidade se estabeleceu, talvez inconscientemente, em um ponto de irradiação hidroviária, onde todas as vias naturais de comunicação, que representam os cursos de água, convergem no local de sua implantação.

01.IMPLANTAÇÃO |

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O que r[estava] hoje

De maneira bem sintética Nicolau Sevcenko, importante historiador brasileiro, discorre a singularidade da bacia pautada no rio Tietê e o fato de ele correr para o interior do continente e não para o mar.

“O que explica São Paulo é o Tietê. Com seu curso surpreendente, correndo para as terras interiores, ao invés de descer para o mar, ele se tornou desde muito cedo um instrumento estratégico para o controle de vastas extensões territoriais. Através dele se pode facilmente atingir a ampla cadeia hidrográfica do rio Paraná, rumando então em direção às regiões platinas ou para os lados do Pantanal e da Amazônia ou ainda para as cabeceiras do São Francisco.Essa é a razão pela qual, desde tempos imemoriais, inúmeros agrupamentos indígenas se estabeleceram nos campos de Piratininga, dispondo de uma natureza prodigiosa e das possibilidades de conexão com praticamente todos os quadrantes do território. No sentido em que os fenícios eram considerados um povo do mar, esses indígenas eram

os povos dos rios.”

[SEVCENKO, 2000]

Os primeiros bairros de São Paulo se instalaram na região compreendida entre o polígono delimitado pelos r ios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí, nas áreas que tinham uma distância suficiente das planícies dos rios, principalmente por causa das melhores condições de salubridade por não ser prejudicada pelos alagamentos das planícies fluviais, além do potencial de contaminação por doenças epidêmicas propiciadas pela reprodução de insetos, potenciais hospedeiros, em áreas r ibeirinhas. A tendência da ocupação dessas terras altas, próximas ao centro histórico, foi um dos principais fatores que deu início a fragmentação da cidade, a qual foi ainda mais acentuada por uma urbanização marcada pelo parcelamento de glebas territoriais e um sistema viário desconexo.

As terras baixas foram inicialmente desprezadas pela urbanização, a vivacidade dos rios fazia com que essas áreas eram focadas na contemplação e no lazer ; as margens e o rio eram vivos no ponto de vista social, as pessoas os utilizavam para trabalhar, se divertir e atividades esportivas. Com o tempo, apesar da inadequação para

a ocupação intensiva, a cidade começou a avançar para as várzeas do rio, afrontando-as e transformando-as em oportunidade de desenvolvimento. Esse fato comprova que o crescimento da cidade não foi determinado mais pelas características naturais e sim pelo domínio do homem às mesmas.

A relação cidade - natureza é reduzida após o domínio daquela que antes definia seus limites, domínio que foi crucial para a formação da cidade que vemos hoje. São Paulo cresce à uma expansão sem limites, onde tudo é adaptável para possibilitar a vida humana. Contudo, restam poucas imagens construídas que expressem essa relação da cidade com a natureza, sobrando somente alguns viadutos que servem de exemplo, como o viaduto do Chá e o viaduto Santa Ifigênia, memórias de um tempo em que a hidrografia da cidade tinha influência direta em sua paisagem. A imagem simbólica dos viadutos, como vencedores de obstáculos naturais em uma época remota, é minimizada pelo processo de crescimento, que colocou novas questões para o desenvolvimento da cidade de São Paulo.

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O que r[estava] hoje

As planícies fluviais de São Paulo, foram os locais onde a mudança de ocupação do solo da cidade ficaram mais evidentes no desenrolar de sua história. As marcas da transição de seu uso, pautadas no domínio do homem sobre a natureza, provocaram inúmeras mudanças na paisagem urbana.

Essa transitoriedade pode ser definida em duas etapas, a primeira corresponde a absorção do potencial hídrico na época indígena e posteriormente nos primórdios da formação da cidade, e a segunda como a incorporação do meio técnico – mecânico às suas várzeas, tal como esc larecido por Milton Santos:

O processo de urbanização dos rios gerado pela ação humana definiu o destino dos mesmos. Foram isolados por vias expressas, linhas de trem e linhas de energia elétrica de alta tensão, o que impossibilitou o acesso do pedestre as margens dos principais r ios de São Paulo, e resultou na canalização de muitos outros r ios, redefinindo seus sentidos, que antes era o do lazer. 

Com o crescimento da cidade, aumento populacional e estímulo econômico a partir da especulação imobiliária e desenvolvimento industrial, a cidade caminhou em direção aos rios arruinando sua essência a partir da mutação de seu uso. A incorporação técnica das planícies fluviais representou a quebra de um paradigma da abstinência do homem ao meio natural e a desvinculação da dependência direta desses fatores possibilitou a apropriação das áreas de várzea. Esta fase que representa a introdução dos meios técnicos pode ser subdividida em quatro etapas de ocupação: incorporação de ferrovias; materialização de sistemas infra estruturais para possibilitar a expansão dos limites; retificação e canalização dos cursos fluviais; incorporação de rodovias.

A primeira etapa representa o ingresso da incorporação do meio técnico às várzeas do rio, este momento foi representado pela implantação da São Paulo Railway, a ferrovia que ligava o planalto paulista ao litoral. A partir da conexão com o porto de Santos, a São Paulo Railway (SPR) foi introduzida no território

como uma maneira de escoar a enorme produção do café do planalto paulista, esta que indagou o crescimento demográfico e o progresso econômico do estado, posteriormente desempenhou o papel de propulsora do crescimento exponencial do que hoje representa a maior metrópole brasileira. Os Rios, por possuírem uma planície de alagamento, aparecem como uma oportunidade de economia para incorporação das ferrovias em suas margens, principalmente pela simplificação de sua implantação, isso porque as planícies fluviais presumem um caminho pouco acidentado, as maiores delas estão locadas de maneira perimetral a mancha urbana da época e possuem uma abundância de espaço que era inadequado para ocupação humana.

Além do escopo de escoamento de produtos do planalto, as novas linha de trem possibilitaram uma outra escala de intervenção no território, a de preparação de novas parcelas de terra que antes eram impróprias para a ocupação, os espaços vazios evidenciam o potencial de incorporação destes à área da cidade. Com a preparação de terras mais distantes para a ocupação, a cidade teve que estender os eixos das infraestruturas, para um limite que extrapolava os limites da mancha urbana, isso demonstra a mudança na noção da escala de urbanização do território, a qual teve sua expansão irradiando para todas as direções, ampliando os horizontes de forma a prever uma urbanização dos arredores paulistanos.

“O primeiro período (meio natural) é marcado pelos tempos lentos da natureza comandando as ações humanas de diversos grupos indígenas e pela instalação dos europeus, empenhados todos, cada qual ao seu modo, em amansar estes r itmos. A unidade, então, era dada pela natureza, e a presença humana buscava adaptar-se aos sistemas naturais. Num período pré-técnico, a escassez era a dos instrumentos artificiais necessários ao domínio desse mundo natural.Uma segunda fase é a dos diversos meios técnicos, que gradualmente buscam atenuar o império da natureza. A mecanização seletiva desse verdadeiro conjunto de “ ilhas” que era o território exige que se identifiquem sub-períodos. As técnicas pré-máquina e, depois, as técnicas da máquina - mas apenas na produção - definem o Brasil como um arquipélago da mecanização incompleta. Mais tarde, com a incorporação das máquinas ao território (ferrovias, portos, telégrafo), estaríamos autorizados a apontar um meio técnico da circulação mecanizada e da industrialização balbuciante, caracterizado também pelos primórdios da urbanização interior e pela formação da

Região Concentrada.”

[SANTOS, 1999. p. 27]

02.OCUPAÇÃO |

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O processo visível de crescimento da cidade impôs uma crescente demanda por infraestrutura, o abastecimento de água e esgoto tinham que passar a estabelecer uma estratégia de investimentos articulada diretamente ao desenvolvimento urbano. A expansão da infraestrutura seguiu a reminiscência de ocupar as planícies fluviais, estas receberam novos usos porém continuavam a exercer o amparo a vida cotidiana da cidade como área de serviços. A infraestrutura retratava a irradiação da metrópole, porém sem enormes mudanças na paisagem, elas passaram a ser marcos referenciais na cidade pelas obras de grande porte necessária para suprir a crescente demanda, assim começaram a aparecer

os primeiros indícios de modernização da cidade pela monumentalização da infraestrutura representada por edifícios como a estação da luz e o gasômetro.

A terceira e mais evidente etapa de domínio do meio natural é figurada na retificação e canalização dos rios da cidade. Como uma necessidade pela expansão do território, o homem evidenciou a possibilidade de ocupação de áreas inóspitas que serviram por muito anos de limites, principalmente pela dificuldade de transposição do polígono entre os grandes rios que hoje fazem parte da malha urbana da metrópole. Sobre esse debate Fernando de Mello Franco em seu doutorado ressalva outros aspectos para a mutação da forma dos rios:

A retificação dos rios apareceu também como um sistema de valorização das terras, antes insalubres para o loteamento, que desempenhou um papel de organização dos setores da cidade ao estabelecer novas formas de ocupação das várzeas. Ao reconfigurar a geografia do território, a retificação gerou uma nova dinâmica na geometria das áreas adjacentes e uma consequente reorganização da estrutura fundiária do local, transformando-o em uma vasta área de estoque imobiliário. Esta área teve uma ocupação a princípio de galpões industriais pela proximidade das ferrovias e rodovias para o escoamento da produção industrial crescente na segunda metade do século XX, o que configurou as grandes glebas que definiram as quadras

lindeiras a esses sistemas.As consequências das retificações podem ser

figuradas pela cartografia, onde ficou evidente o domínio da natureza pelo homem, antes os meandros dos rios representavam sua forma natural, a forma de um curso de água que corre devido a topografia da superfície em se apresenta, no momento posterior, o mesmo segue uma linha reta, representada pela ortogonalidade da ação humana sobre a natureza, onde o rio corre no caminho a que ele foi estipulado. Também é figurada na paisagem, o rio deixa de correr de maneira natural e passa a correr lentamente em uma calha, quase que sem proteção pela ausência de sua fauna, sua memória é simbolizada so-

“Tão ou mais importante do que as novas frentes de urbanização, a intervenção nas várzeas equacionava de forma conjunta uma série de questões estruturais: saneamento, drenagem, abastecimento, geração de energia e circulação automotora. Seriam reunidas à ferrovia para ampliar a infra-estrutura básica sem a qual o crescimento, sobretudo industrial, seria insustentável. Entre todos os sistemas implantados, o de transportes desempenharia o papel fundamental de possibilitar a articulação entre os setores produtivos e aglutinar a constelação de bairros definidos por um

modelo de ocupação cada vez mais extensivo.”

[FRANCO, 2005. p. 54]

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O que r[estava] hoje

mente pela presença da água prejudicada por decisões que deixaram de lado a relevância de sua vivacidade.

As obras nos rios de São Paulo extinguiu qualquer lembrança de uma cidade que antes os usavam para navegação, pesca, lavar roupas e até mesmo o passeio de pessoas. Ficou evidente o projeto funcionalista aderido em sua transformação, onde a preocupação única foi a de passagem das estruturas de serviços, sem se preocupar com questões de urbanidade. O acelerado processo de ocupação das várzeas comprometeu a qualidade da água por causa da inexistência de um sistema completo de esgotos e foi paulatinamente fazendo com que a cidade virasse as costas para seus rios, em um processo de esquecimento do que antes estes representavam.

Este processo de esquecimento foi potencializado posteriormente pelo urbanismo rodoviarista que

caminhava junto com a retificação e a canalização dos rios de São Paulo. A liberdade do veículo automotor atingiu patamares da cultura do paulistano, estes conseguiram alterar a relação entre o homem e a máquina e afetou a cultura do consumo, o carro passou a ser visto como um produto de desejo, quase que uma exigência do mundo moderno. O automóvel inicia um processo de construção da autonomia do ser a partir da ideia da mobilidade ilimitada agregada a aspectos de diferenciação do usuário, com anseios de poder e velocidade, influenciados por uma forte veiculação de propagandas responsáveis pela indústria cultural de uma nova sociedade massificada que começa aparecer nas grandes metrópoles.

O modal do transporte sobre rodas resultou em um novo incremento da economia no país e gerou uma imposição de um novo paradigma de conformação

das cidades. Um novo modelo de urbanização foi implantado no território, um sistema extensivo, descontínuo e de baixa densidade, o qual age como o principal representante dos problemas urbanos atuais. Pautado em um plano de avenidas expressas concêntricas que irradiam do centro da cidade (Plano de Avenidas Prestes Maia), o urbanismo rodoviarista acarretou em fortes transformações do território, sobretudo pela dispersão espacial, pelo predomínio do transporte individual sobre o coletivo e pela fragmentação advinda de uma superfície cortada por vias expressas. A aglutinação dos rios pelas vias que o sobrepuseram evidenciou seu processo de arruinamento, escondidos pela malha urbana, a manutenção do seu sentido foi abandonada e esse aspecto de abandono os transformou em ruínas de uma memória histórica no território.

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A ruína [a]diante da história

A expansão dos limites e a transformação dos rios, tornou São Paulo uma cidade que tenta esconder a memória hídrica, o que retrata sua característica da cidade dos rios invisíveis, esta realidade é também demonstrada pelo vetor de desenvolvimento da cidade no setor sudoeste que concretizou um plano de industrialização da margem do rio pinheiros. O que legitimou este plano, foi a criação de infraestruturas capazes de suprir a crescente demanda industrial, como a linha do trem que margeia o rio, l inhões de energia elétrica, pontes que favoreciam a transposição do mesmo e permitiam além do escoamento industrial, a expansão periférica da cidade, e principalmente um abrangente plano hídrico – elétrico desenvolvido pela companhia

Light.A retificação do rio Pinheiros foi marcada por

uma mudança profunda das características hidrológicas de São Paulo, pois esta foi pautada em plano que sai do limite da cidade e passa a responder a uma escala territorial. Pela escassez no abastecimento de energia elétrica, a companhia Light desenvolveu o projeto como uma finalidade de produção de energia para a cidade, apoiado na ambiciosa proposta de reverter o curso do rio para incrementar o potencial energético aproveitando a diferença de nível entre planalto e litoral, tudo dentro das c láusulas contratuais exigida pela companhia, o que constava o pertencimento e monopólio de toda área alagável do rio Pinheiros.

Neste recorte, fica c lara a ambição de Billings para acabar com as enchentes dos rios para maximizar o parcelamento de suas várzeas. Para a Light isso representava uma enorme valorização da terra que agora os pertencia, terras de enorme potencial urbanístico que poderia se diferenciar do restante da cidade por ter decisões centralizadas em um único gestor.

O projeto tentou otimizar a planície do rio, impondo um traçado assimétrico em relação ao leito original para aproximar o rio ao pé das colinas da

margem oeste e aumentar a área das terras planas à leste, mais próximas do centro da cidade. Nas glebas lindeiras ao rio destacam-se do projeto da companhia os bairros de Alto de Pinheiros, Butantã, Cidade Jardim e o bairro operário do Jaguaré como bairros residenciais, e as grandes glebas de serviços representadas pelo CEAGESP, o Jockey Clube e a Cidade Universitária. No território imediato às avenidas marginais ec lodiram galpões industriais devido a localização estratégica para escoamento dos produtos.

Billings described the proposed project not just as a hydroelectric program but also as a means for controlling the floods which came down the Rio Grande valley and periodically inundated much potentially valuable property. Such flood control also would help to diminish the destructive floods in the Tietê valley which each year spread over much of São Paulo’s populated low-lands. The prevention of floods, Billings indicated, would be achieved, at no cost to the public, by the storage of the flood waters for

power generation.

[ACKERMAN, 1953.]

03.RECORTE |

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O que r[estava] hoje

04.SISTEMATIZAÇÃO |

05.TRANSPOSIÇÃO |

O sistema de avenidas marginais, hoje chamado de mini anel viário, representado pelo conjunto de avenidas expressas lindeiras r ios Pinheiros e Tietê simbolizam a fragmentação do território e o distanciamento do homem com os rios, representa um limite intrínseco na concepção das vias expressas. Porém, um complexo sistema de funções sobrepostas (via de exportação de âmbito nacional, via de fluxos regionais, via estrutural intra – urbano da cidade) revelam um território estratégico para o desenvolvimento da cidade.

A associação dos principais sistemas infra estruturais responsáveis pela expansão da cidade e modernização da mesma, inerente na confluência de abastecimento de água e energia, sistema ferroviário e sistema rodoviário, corresponde às lógicas de produção industrial

por conter um sistema hídrico para abastecimento e despejo de dejetos, elétrico para abastecer as máquinas, locais de moradia barata para a mão de obra (na época da implantação do sistema), e meios de escoamento da produção.

O urbanismo da escala industrial foi introduzido pelo amparo da tecnicidade das margens dos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí após suas transformações. Este urbanismo visou a atender um conjunto da cidade, e não necessariamente aos lugares de sua implantação, com grandes glebas que potencializaram a inacessibilidade aos rios, o que figurou a desarticulação da esfera local. Os sistemas técnicos encontrados nas marginais apareceram para suprir a demanda industrial do maior polo econômico do país, porém representa até hoje uma sutura neste mesmo território.

No recorte da canalização do rio

Pinheiros, a qual foi originalmente pensada para o abastecimento de energia, foram criadas as avenidas como uma nova rota para o porto de Santos. Além das avenidas o projeto também almejava concorrer com o monopólio da SPR com a ligação planalto litoral, visando uma valorização das terras e consequente maximização do lucro pela companhia Light.

E s s a s novas fronteiras representadas pelas avenidas marginais aos r ios, figuravam a porta de entrada para a cidade, contidas no plano de avenidas Prestes Maia. Este tomou parte na história da cidade como um plano indutor da estruturação da cidade, uma imagem do “ ideal” viário a ser buscado.

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A ruína [a]diante da história

“[...] a estrutura viária radial-perimetral proposta para São Paulo, derivada da conformação radio concêntrica percebida na cidade, é montada na forma de um esquema geométrico estilizado, o “esquema teórico de São Paulo”. Sua formulação definitiva se daria no Plano de Avenidas: o modelo é representado graficamente como um desenho geometrizado, no qual a

proposta do plano adquire a perfeição circular da cidade ideal. Assim, o plano seleciona e projeta as características presentes na realidade, de acordo com uma ótica específica, para formar uma outra “realidade” racional e coerente, instrumento da transformação modernizadora. Uma aliança entre a idealização e o desejo utópico, de um lado, e a busca do impacto real e pragmático, de outro. Tal seleção e estilização dos traços de um fenômeno, trazendo à tona seus elementos “típicos” por uma amplificação unilateral, aproxima-se da construção idealtípica weberiana. Pela “racionalização utópica” do conjunto dos fenômenos estudado, monta-se uma estrutura lógica independente das flutuações do real – conferido

“significação coerente e r igorosa ao que aparece como confusão e caos”.

[CAMPOS, 2002. p. 398-399]

Cândido malta discorre sobre o assunto do desenho, a utopia apreendida como verdade perpetuou enquanto imagem a ser seguida para a incorporação do novo plano de avenidas de São Paulo. Ao adotar o desenho geométrico ideal, o plano teve que ser adaptado ao território por questões geográficas e principalmente econômicas. Devido ao terreno acidentado, densidade viária do plano e os inúmeros fundos de vales, a cidade de São Paulo cresceu em diversos níveis de circulação. A tentativa de seguir o plano utópico e minimizar os

números de cruzamentos de vias expressas fez com que a metrópole recorresse para a criação de pontes e viadutos, as quais servem de suporte para a viabilização do plano além de representarem marcos urbanos da cidade moderna.

Existem dois tipos de pontes de São Paulo, aquelas que estavam inseridas na mancha urbana no momento de sua materialização e aquelas de aspecto rodoviarista fora da mancha urbana.

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O que r[estava] hoje

“Documentos do século XIX mencionam duas categorias de pontes: as ‘pontes de dentro’ e as ‘pontes de fora’. ‘Pontes de dentro’ eram as construídas sobre o Anhangabaú e o Tamanduateí e as ‘pontes de fora’ venciam o Tietê e o Pinheiros, obras de maior vulto. Chegando a São Paulo, o tropeiro ao cruzar as ‘pontes de fora’ pagava uma taxa e recebia uma guia dos ‘Comandantes da Ponte’ que deveria apresentar aos fiscais das Pontes do Lorena, Marechal,

Carmo e Fonseca, ou seja, das ‘pontes de dentro’.”

[TOLEDO, 1996.]

O trecho de Benedito Lima evidencia o aspecto das pontes que cruzavam as marginais como portas de ingresso na cidade e ressalta a diferenciação das “pontes de dentro” e as pontes de fora”. As pontes de dentro aderiram às questões urbanas da metrópole considerando não somente o trânsito de carros, mas também volumoso trânsito de pessoas por estar contida dentro da mancha urbana de alta densidade. As pontes de fora cruzam obstáculos, mas ignoram a escala local de sua implantação, seguem a funcionalidade do suporte; sem qualquer pluralidade cumprem a função do acesso.

Este trabalho acadêmico foca sua análise em uma representante das pontes de fora, mais especificamente no fragmento da ponte Light que conectava a Vila Leopoldina ao Jaguaré e hoje é quase invisível pela criação de duas novas pontes ao lado dela. O âmbito da análise está ligado principalmente na simbologia da ponte como o suporte que rompe a resistência da distância espacial,

suprindo a esfera de alcance e superando sua condição de marco funcional.

Ao aprofundar a análise no fato urbano do complexo das pontes do Jaguaré mostra-se necessário uma investigação do desenvolvimento histórico da região, apesar deste seguir a sucessão de eventos da cidade, já decorridos anteriormente.

O território de inserção da ponte sob o rio Pinheiros, constitui parte do sistema viário da Marginal Pinheiros como uma das entradas à cidade pelo distrito do Jaguaré. Nesta região, a instalação de dezenas de industrias incentivou o estabelecimento de funcionários, inicialmente instalados no bairro operário do Jaguaré e consequentemente começaram a aparecer os comerciantes para suprir essa crescente demanda, o que deu início a um período de grande crescimento econômico e demográfico.

06.TRANSFORMAÇÃO |

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A ruína [a]diante da história

Após a i n c o r p o r aç ão d e g r a n d e s m o d a i s u r b a n o s c om o o C E AG ES P, o a t e r ro s a n i t á r i o q u e a t u a l m e n t e é o Pa rq u e V i l l a L o b o s e a C i d ad e U n i ve r s i t á r i a , o t e r r i t ó r i o p a s s o u a s o f r e r mu d a n ç a s p ro f u n d a s , d i r e t a m e n t e l i g ad a s à e x p a n s ão d o s l i m i t e s d a m a n c h a u r b a n a .

E s s a t r a n s f o r m aç ão d o t e r r i t ó r i o f o i o t i m i z ad a p o s t e r i o r m e n t e p e l o p ro c e s s o d e d e s c on c e n t r a ç ão i n d u s t r i a l o c o r r i d o e m S ão Pa u l o p o r vo l t a d a d é c ad a d e 7 0 , o q u e m a rc o u a p a s s a ge m d o c a p i t a l i n d u s t r i a l p a r a o c a p i t a l f i n a n c e i ro e a c a r r e t o u e m u m e s v a z i a m e n t o d a s g l e b a s i n d u s t r i a i s g e r a n d o u m f o r t e p o t e n c i a l d e r e e s t r u t u r a ç ão d o u s o d e s s e s g r a n d e s l o t e s . A r e e s t r u t u r a ç ão f o i e m i n e n t e , c om o c r e s c i m e n t o d o s e t o r t e r c i á r i o e o i n t e r e s s e d o m e rc ad o i m o b i l i á r i o a r e g i ão p a s s a p o r i n t e n s a s t r a n s f o r m aç õ e s s ó c i o – e s p ac i a i s mu d a n d o a p a i s a ge m d e o q u e a n t e s r e p re s e n t a v a u m u s o e s t r i t a m e n t e i n d u s t r i a l p a r a u m u s o m i s t o c om e s t í mu l o à v e r t i c a l i z a ç ão.

A t r a n s f o r m aç ão d a c i d ad e , r e ve l a a n e c e s s i d ad e d a t r a n s f o r m aç ão d a i n f r a e s t r u t u r a q u e a s e r v e d e s u p o r t e p a r a s e u f u n c i on a m e n t o. E m c on j u n t o c om a e x p a n s ão d o s l i m i t e s d o c e n t ro u r b a n o e a t e m p o r a l i d ad e d a c i d ad e , q u e p a s s a p o r d i v e r s o s p e r í o d o s e c on ôm i c o s , a r e ad a p t a ç ão d a r e g i ão o c o r r e u a p a r t i r d o c r e s c i m e n t o d o s e t o r t e r c i á r i o e a v e r t i c a l i z a ç ão, o q u e r e s u l t o u e m d i ve r s a s mu d a n ç a s i n f r a e s t r u t u r a i s c om o a c r i a ç ão d e n o v a s p on t e s s o b re o r i o p i n h e i ro s . C on t u d o, v e m o s u m re t r a t o d a t e m p o r a l i d ad e d a s i n f r a e s t r u t u r a s q u e s e r v e m d e s u p o r t e p a r a a c i d ad e p o r s u a c on s t a n t e e x p a n s ão.

U m e xe m p l o d e s t a n e c e s s i d ad e d e t r a n s f o r m aç ão é o f r a g m e n t o d a p on t e d o J a g u a ré q u e p e r m a n e c e e n t r e d u a s p on t e s n o v a s , r e ve l a n d o a m e m ó r i a d e u m t e m p o p a s s ad o q u e c on t i n h a o u t r a s n e c e s s i d ad e s

i n f r a e s t r u t u r a i s . A p on t e p o r s i s ó r e p re s e n t a a c on e x ão d e d o i s p on t o s p o r u m a r e t a , p o d e c on t e r d i v e r s a s d e f i n i ç õ e s s e c u n d á r i a s , p o ré m s u a p r i n c i p a l c a r a c t e r í s t i c a é a d e c on e x ão, “d e s f r a g m e n t a r o f r a g m e n t ad o” . Ac a r r e t a a i d e i a d e t r a n s p o s i ç ão, d e v e n c e r u m o b s t á c u l o.

A p on t e e m q u e s t ão r e p re s e n t a u m c om p l e xo d e d u a s t r a ve s s i a s a t i v a s , c om c a r a c t e r í s t i c a s ro d o v i a r i a s t a s d a s “p on t e s d e f o r a” , e u m a o u t r a , e n t r e e l a s , d e s a t i v ad a . S e m s u a s c a b e c e i r a s a p on t e a b a n d on ad a r e p re s e n t a o i n e s p e r ad o, a s u r p re s a u r b a n a , o i m p re v i s í v e l , p o ré m q u a s e q u e m i n i m a m e n t e p e r c e p t í v e l p o r c a u s a d a v e l o c i d ad e d o s f l u xo s ao r e d o r d e l a .   A c i d ad e r e p r i m e a p on t e d e s a t i v ad a c om o u m d e f e i t o a s e r e s c on d i d o e e n go l i d o p e l o p ró p r i o “ l o c u s ” a q u e m u m d i a f o i n e c e s s á r i a .

O q u e a c on t e c e r i a q u a n d o o c a r á t e r i n t r í n s e c o d a c on c e p ç ão d a p on t e c om o a t a l é a b a n d on ad o ? C om o p o d e r í a m o s c h a m a r u m a p on t e q u e a b a n d on a s u a f u n ç ão p r i m o rd i a l ?

A o b s o l e s c ê n c i a d o n ão d e s e j ad o, r e t r a t ad o p e l o d e s u s o c on s e q u e n t e d a t e m p o r a l i d ad e i n f r a e s t r u t u r a l , g e r a o a r r u i n a m e n t o d a p e r m a n ê n c i a p o r s e a u s e n t a r d e s i g n i f i c ad o s . U m e s t r u t u r a u r b a n a q u e n ão c u m p re o p a p e l d e e s t r u t u r a r, u m a p on t e s e m c a b e c e i r a s , s e m u s o, u m a s u b e s t r u t u r a d e a s p e c t o t e l e o l ó g i c o, q u e n a s c e u p a r a u m f i m q u e n ão s e s u s t e n t a . U m a r u í n a .

A a u s ê n c i a d o s i g n i f i c ad o r e ve l a u m c a r á t e r p i t o re s c o d a a p ro p r i a ç ão a r b ó re a e m u m e s p aç o n ão u s u a l . A d i m e n s ão n ão t e l e o l ó g i c a d a s u b e s t r u t u r a s e r e ve l a c a t i v a n t e p e l a s u r p re s a d e s e u a s p e c t o i n e s p e r ad o, a f o r m aç ão d e u m j a rd i m q u e f l u t u a s o b re o r i o , i n a c e s s í v e l ao t o q u e h u m a n o ; q u a s e q u e c om o u m o á s i s n o d e s e r t o, o f r a g m e n t o d a s o b r a a p a re c e r i z om á t i c o n a f a l h a u r b a n a .

Como podemos adap-tar a questão temporal que inutilizou o papel de con-exão da ponte do Jaguaré atrelado à uma dissecção conceitual do território?

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O que r[estava] hoje

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O que r[estava] hoje

Seria possível res-gatar esta relação e en-cadia-la em uma nova transformação deste território hediondo?

A transformação do território alicerçado no acelerado processo de urbanização da cidade definiu o arruinamento dos rios não somente pela alteração de sua paisagem, mas também pela consequência que isso gerou na qualidade de suas das águas.

Anos sucessivos de eliminação de dejetos sem qualquer tratamento determinou a morte dos rios de São Paulo. A baixa oxigenação da água impossibilita a propagação de vida e substitui a essência da importância biológica do rio, minimizando seu potencial a partir de sua descaracterização como o mesmo. Outros fatores como odor e cloração, atrelados aos mencionados anteriormente, determina o eminente afastamento do homem e deprecia novamente a relação deste com a natureza em um meio urbano.

A inquietação com a situação atual da ponte e o elo frágil entre homem natureza na cidade de São Paulo foram os pontos de partida para o desenvolvimento de uma proposta projetual pautada na análise do território e nos conceitos aqui desenvolvidos. As respostas às perguntas apelam ao exercício de projeto como uma intervenção pontual que alude à questão conceitual do território, da natureza e do homem.

07.SITUAÇÃO |

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05. Narração da simulação da percepção do espaço em uma época futura baseada na adptação de parte da história do Pedro Gennari para o Museu da Pessoa.

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É uma ponte velha, bem antiga mesmo, feita de concreto armado, que paira sobre o rio engolfada pelas novas estruturas urbanas. Por ser um domingo, muitos transeuntes estavam à caminhar sobre esta, provavelmente por

razão nenhuma.Quase todos os domingos do mês os garotos da cidade vem até esta ponte para contemplar a paisagem de seu parque. Eu gosto de ir até lá para ver as pessoas em deriva, apreciando o rio de percurso retilíneo que sofreu diversas

alterações para chegar no que é hoje. Passam as pessoas. Conversam e contam histórias. Foi quando um senhor me chamou a atenção. Ele perguntou em

tom de afirmação:

— Jovem você sabia que antes tudo isso embaixo de nós era água?

Respondi que sim, porém não tive a oportunidade de vê-la.

— Pois é, quando o rio enchia, que dava aquelas enchentes nas margens do Pinheiros. Aonde é a Praça Panamericana hoje. A água chegava até quase a Avenida Vital Brasil. Daí que a gente ia brincar na água. Ia lá correr, brincar, nadar. Andava de barquinho. Aqui perto do sumidouro era muito perigoso. — Disse o senhor e perguntou logo em

seguida. — Você conhece a lenda do sumidouro.

Com o sinal de negativo com a cabeça eu respondi a pergunta do senhor.

E de forma apaixonada me contou em alguns minutos ao que se referia.A lenda do sumidouro já escutara diversas vezes, mas cada vez que à escuto assimilo um novidade. Hoje já não mais a conto da forma que aprendi. Eu percebi que ela nunca mais retornará como o local alagado que antes representava.

A qualidade dela está no que ela representa na diferenciação de sua memória.05

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O que r[estará] de hoje

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A ruína [a]diante da história

“A temporalidade é evidentemente uma estrutura organizada, e esses três pretensos “elementos” do tempo, passado, presente , futuro, não devem ser considerados como uma coleção de “dados” cuja soma deve ser feita - por exemplo, como uma série infinita de “agora”, alguns dos quais ainda não são, outros que não são mais -, mas como momentos estruturados de uma síntese original. Senão encontraremos, em primeiro lugar, este paradoxo: o passado não é mais, o futuro ainda não é, quanto ao presente instantâneo, todos sabem que ele não é tudo, é o limite de uma divisão infinita, como o

ponto sem dimensão.” 

[SARTRE, 1943]

A projeção do que poderia ser é fundamentada naquilo que é e naquilo que foi, como uma proeminência do movimento temporal. O exercício projetual acadêmico alicerça na análise desta confluência temporal, como uma intervenção no tempo futuro a partir do diagnóstico subjetivo de tempos passados. O trabalho explora a linha tênue da utopia e distopia ao pensar no irreal pautado em memórias e fatos transcorridos no tempo.

A palavra remete a concepção de um lugar ideal, embora de existência impossível. Esta concepção aparece pela primeira vez na obra literária “Utopia” de Thomas More, onde ele cria uma sociedade alternativa, considerada ideal pelo próprio autor, como resposta ao que via da sociedade inglesa do século XV. Utopia indaga um lugar inexistente, imaginário e fantasioso, constituído por sua própria etimologia na medida em que “topia” significa lugar e “u” é o prefixo de negação em latim.

Apesar de legitimada por Thomas More, o pensamento utópico aparece anteriormente na obra platônica “A república” , onde este idealizou um sonho de uma vida harmônica, fraterna, que dominasse para sempre o caos da realidade. Esta fantasia divina, no

aspecto de sua excelência, desempenhou como a matriz inspiradora de todas utopias que influenciaram o pensar político, social, urbano e arquitetônico.

As utopias foram muito difundidas nos trabalhos urbanos e arquitetônicos como um ideal subjetivo que permeiam os anseios da sociedade. A busca pela idealização da cidade refletem na incessante problematização da mesma a partir de um questionamento atual, prospectar novas possibilidades para um outro. Esta busca proporcionou mudanças que influenciariam sociedades por esta incessante idealização da urbanidade, porém sua subjetivação, que impossibilita o ideal comum, revela a estranheza de sua materialização.

A partir do ideal utópico, novos conceitos da imagem do “topos” aparecem para discutir a questão do espaço virtual, como a heterotopia que determina o deslocamento do lugar. Considerando que a “utopia é um lugar onde tudo é bom; distopia é um lugar onde tudo é ruim; heterotopia é onde as coisas são diferentes” [ Walter Russel Mead, 1995], o trabalho busca criar o diálogo entre as “topias” e caminha em direção a uma distopia utópica.

Para amparar esse debate o dicionário Metápolis discorre sobre a comparação dos termos:

O ponto sem dimensão do presente reflete o hoje no amanhã. O início da metamorfose do futuro se dá no momento atual, talvez pelo simples ato de questionar

o real e a partir do questionamento, pensar no irreal. Na dimensão temporal fica evidente o movimento onde passado, presente e futuro não são estanques.

01.UTOPIA |

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O que r[estará] de hoje

“Las utopias mantienen con la sociedad una conexión directa o invertida de perfección, pero no tienen lugar real en ella. Las utopias son espaços

irreales.Por el contrario, las heterotopías son los espacios diferentes, reales, en relación con los lugares efectivos, pero de una forma tal que invierten los significados y propiedades que en principio intentaban reflejar, alejados del

espacio de uso en el que inicialmente la sociedad los había incluido.”

[SORIANO, 2001. p. 267]

O recorte acima é pautado no conceito da heterotopia elaborado por Michel Foucault. Este à instruí como a representação física ou aproximação da utopia, um espaço paralelo que contém aspectos indesejáveis para tornar o espaço utópico possível. A imagem da alteração do lugar, ou do lugar diferenciado, como o outro lugar dentro do lugar.

Faz se necessário estabelecer um paralelo entre a utopia, heterotopia e a projeção futura do diagnóstico subjetivo temporal do trabalho acadêmico. Este não é

pautado em ideais utópicos, porém os considera por proporcionar potenciais soluções para a problematização urbana de São Paulo, como a análise e consideração do projeto do Hidroanel Metropolitano para a cidade, desenvolvido pelo grupo metrópole fluvial da USP, o qual propõe um novo modal de transporte para a cidade pela sua hidrografia. O projeto, por estar baseado na hidrografia de São Paulo, figura a heterotopia da materialização projetual do espaço que retorna como um outro lugar.

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A ruína [a]diante da história

O pro j e to do h id roane l busc a ap ro fundar na ques tão de uma nova t r ans formação e re s s i gn i f i c aç ão dos r io s da c ap i t a l do e s t ado e in i c i a r um ques t ionamento da re l aç ão soc i a l que e s t e s abandonar am. A lexandre De l i j a i cov um dos re sponsáve i s do p ro j e to de sc re ve “o p rob l ema dos r io s u r banos como um prob l ema soc i a l ” [DELIJAICOV, 1998] , e in i c i a uma re f l exão da pos s ib i l idade de ree s t r u tu r aç ão dos s i s t emas da c idade , pau tadas na mudanç a de pa r ad igma da s i tuaç ão a tua l em que o s r i o s s e encont r am, a pa r t i r de um e s tudo minuc io so de a rqu i t e tu r a e u r ban i smo.

O e s tudo s e re f e re a uma p ré-v i ab i l idade t é cn i c a , e conômic a e ambien ta l do Hidroane l Met ropo l i t ano de S ão Pau lo, o qua l cons i s t e na compos i ç ão de uma rede de c ana i s navegáve i s que con fo rmam um s i s t ema h id rov i á r io de t r anspor t e in t r a -met ropo l i t ano de c a rga s e pe s soa s , com a imp lan taç ão de equ ipamentos ao l ongo do s i s t ema . Dent re a s d i re t r i z e s do p ro j e to e s t á : o e s t abe l e c imento do t r anspor t e de c a rga s púb l i c a s e comerc i a i s como ba se do de senvo l v imento u r bano e soc i a l da c idade ; f ac i l i t a r um s i s t ema comple to de co l e t a e t r a t amento de re s íduos só l idos a t r avé s do t r anspor t e f l uv i a l ; ap rox imar o homem ao r io por p rop i c i a r um novo moda l de t r anspor t e f l uv i a l pa r a a c idade , t endo como ba se a de f in i ç ão de ace s so un ive r s a l à c idade e mi t iga r cu s to s ambien ta i s , soc i a i s e e conômicos dos de s loc amentos de c a rga s e pa s s age i ro s .

De um modo ge r a l , o e s tudo v i s a concebe r o a spec to do r io como e s t r u tu r ador da v ida u r bana e ree s t abe l e ce r a l gumas de sua s c a r ac t e r í s t i c a s que o s de f inem, por exemplo, como uma po tenc i a l conexão en t re p l ana l to e l i t o r a l u t i l i z ada nos p r imórd io s da h i s tó r i a da reg i ão.

O p r o j e t o , m a i s d o q u e u m a a m b i ç ã o a t r e l a d a a u t o p i a d o r e t o r n o h í d r i c o d e S ã o Pa u l o , r e p r e s e n t a a p r o b l e m a t i z a ç ã o d e u m a s s u n t o p o u c o a p r o f u n d a d o p e l o s c i d a d ã o s q u e , e m g r a n d e m a i o r i a , n ã o c o n s e g u e m e n x e r g a r a r e c u p e r a ç ã o d a v i d a d o r i o , s e u r e t o r n o c o m o a l g o d i f e r e n t e , s u a m a t e r i a l i z a ç ã o u t ó p i c a f i g u r a d o n a h e t e r o t o p i a .

A a n á l i s e d o e s t u d o f e i t o p e l o g r u p o M e t r ó p o l e F l u v i a l c a m i n h o u e m c o n j u n t o c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a p r o p o s t a p a r a o s í t i o e s c o l h i d o d e i m p l a n t a ç ã o p r o j e t u a l , n o s i n t e r m é d i o s d a p o n t e d o J a g u a r é s o b o r i o P i n h e i r o s . O t r a b a l h o c o n s i d e r a a s s o l u ç õ e s a p r e s e n t a d a s p e l o g r u p o , p o r é m t r a n s f e r e a e s c a l a d e a n á l i s e , n o c a s o d o e s t u d o f e i t o p o r e l e s q u e t r a t a u m a e s c a l a u r b a n a , p a s s a p a r a u m a a n á l i s e d e i m p l a n t a ç ã o l o c a l . U m a i n t e r v e n ç ã o p o n t u a l q u e v i s a u m a p r o f u n d a m e n t o n a d i s c u s s ã o d o r i o , s u a r e l a ç ã o c o m o e n t o r n o e p r i n c i p a l m e n t e n a s q u e s t õ e s a m b i e n t a i s e s o c i a i s , a p a r t i r d a r e v e r b e r a ç ã o d e u m a n o v a p r o p o s t a p a r a o “ l o c u s ” s o b r e p o s t a à a q u e l a s q u e o d e f i n i u .

O p r o j e t o e m e r g e e n r a i z a d o e m t o d a s a s q u e s t õ e s d i s c u t i d a s n o d e c o r r e r d e s t e t r a b a l h o , m a s p r i n c i p a l m e n t e p o r u m a i n q u i e t a ç ã o q u e a i m a g e m d o t e r r i t ó r i o e l e i t o r e f l e t i u e m m i n h a p e r c e p ç ã o s u b j e t i v a d o e s p a ç o . A r u í n a s o b r e o u t r a r u í n a , r e p r e s e n t a d a p e l o f r a g m e n t o d a p o n t e s o b r e o r i o P i n h e i r o s , q u a s e q u e i m p e r c e p t í v e l a o o l h a r d o s t r a n s e u n t e s , e c l o d i u c o m o u m a a n g ú s t i a p e l o e s v a z i a m e n t o d a m e m ó r i a , p o r é m u m a s i n g e l a á r v o r e s o b r e o t a b u l e i r o d a p o n t e d e s a t i v a d a r e p r e s e n t o u a â n s i a d a n a t u r e z a e r e v e l o u o o t i m i s m o d o r e t o r n o c o m o u m o u t r o , o r e t o r n o d a d i f e r e n ç a .

“o problema dos r ios urbanos como um problema social” [DELIJAICOV, 1998]

02.PLANO |

03.REFLEXÃO |

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O que r[estará] de hoje

“que é errante está sempre mudando, esquecendo-se do passado”

[Hector Zamora, 2010]

Ao suspender as árvores sobre o rio Tamanduateí Hector Zamora tentou resgatar a condição da memória do território que atualmente revela o esquecimento da natureza que acompanhava a concepção do rio. Zamora compara São Paulo ao território errante em constante mudança e ao fazê-lo permite estabelecer um paralelo com a natureza inóspita que aparece em condições adversas na metrópole.

A permanência intrigante do parque inacessível e o corte profundo que o rio pinheiros representa hoje na cidade de São Paulo, serviram de ponto de partida para a discussão e a simulação de uma transformação nas margens do rio. Pensar em sua adaptação para uma realidade de transformação da cidade eminente em seu processo urbano.

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A ruína [a]diante da história

A cidade de São Paulo passa por um forte momento de transição na questão do pensar o espaço público, alicerçado nas mudança das formas de uso da cidade, a qual revela uma necessidade de ressignificação daquilo que em uma realidade atual perdeu seu significado. A partir disto, novas questões aparecem de qual a melhor maneira para resinificar uma ponte desativada e como possibilitar a retomada de um rio ignorado pela massa urbana. O projeto parte de todas este questionamento inicial, não como tentativas para

a resposta de um problema urbano metropolitano e sim como uma intervenção pontual baseada nos fatos urbanos simbolizada por uma simulação de recuperação da paisagem do rio sem abandonar seu aspecto infra estrutural.

Assim o projeto representa uma nova lógica que altera aquela determinada pelas decisões tomadas ao longo da história e que transformaram a situação do território, na tentativa de sobrepor uma nova camada a realidade urbana e abrir espaço a um outro.

A sobreposição de camadas históricas, explicada anteriormente neste trabalho, retrata um palimpsesto urbano. Estruturas são temporais, apagam-se umas para proporcionar lugar a outras que se atualizam para suprir a crescente demanda. O descarte da estrutura substituída volta apenas como memórias de outras épocas. O que antes era concreto passa a ser subjetivo, pois a memória não é padronizada, é um plano de fundo para uma nova história materializada.

O projeto propõe uma nova narrativa sobreposta à aquela pré-existente. O ressurgimento de um “ppalimpsesto”06 que carrega a memória do que representava, porém uma nova dinâmica é proposta ao local. Não com a intenção de apagar seu situacionismo territorial mas propor um novo a partir dele.

Portanto, a ponte e r io são tratados como fatos urbanos com potencial latente de uma nova transformação, relevados todas característica intrínsecas em sua concepção atrelada a memória que os definem como tal.

O programa foi montado como essa ressignificação urbana e atrelado a realidade de implantação local onde a ponte do jaguaré se insere. A intervenção tem a ponte como ponto de partida, em um retorno labiríntico pelo foco na pluralidade de seu uso a partir de sua qualificação como principal elo de conexão do projeto. A intenção é de uma recuperação palintrópica de faze-la voltar como um rastro de si mesma, ela já não é o que foi e não mais é o que persiste, retorna como uma transposição de pedestres sem uma imposição de uso, um tabuleiro aberto a espontaneidades.

Para a ativação de um ponto nodal pouco polarizado e recuperação do rio como infraestrutura, o projeto contempla uma estação de barco para pedestres prevista pelo estudo da Metrópole F luvial, como um ponto de intersecção entre favela do jaguaré, cidade universitária, parque Villa Lobos, CEAGESP e o futuro polo tecnológico previsto para a região. A estação se implanta de tal forma que se torna um ponto nodal de transportes metropolitanos em sua conexão com a estação

“palimpsesto s.m. (1842) papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro * duplo p . aquele q foi raspado duas vezes

ETIM gr. palímpsestos,os,on ‘ id ’, pelo lat. palimpsestus,i ‘ id ’.”

[Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2009. p. 1417]

06. O “ppalimpsesto empregado desta maneira, com dois “p”, representa o pergaminho que foi raspado

duas vezes. Nesse caso, é estabelecido um paralelo com um espaço que se abre novamente a novas signifi-

cações.

04.PALIMPSESTO | 05.ELABORAÇÃO |

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O que r[estará] de hoje

“Brotam no cimento, crescem onde não deveriam crescer. Com paciência e vontade exemplares erguem-se com dignidade. Sem nenhuma estirpe, selvagens, inc lassificáveis para a botânica. Uma estranha beleza cambaleante, absurda, que enfeita os cantos mais cinzentos. Não têm nada e nada as detém. Uma metáfora de vida irrefreável que paradoxalmente me faz ver

minha fraqueza.” 

Medianeras, Gustavo Taretto - Sobre os organismos pioneiros.

Villa Lobos da CPTM, estações de ônibus nas grandes avenidas que cortam o projeto e a rede de cic lovias que parte já foi consolidada.

Outro aspecto que influenciou para a contemplação do programa foi a incapacidade de polarização nos intermédios da estação da CPTM Villa Lobos / Jaguaré e o consequente isolamento da mesma.

Tendo isso em vista, o programa contempla cafés, áreas para eventos, áreas de projeção e uma livraria, além do tabuleiro da ponte que fica aberto a potencializar diferentes propostas ao uso noturno, tudo como tentativa de interromper o aspecto origem – destino do transporte metropolitano. A intencionalidade é de criar o durante e possibilitar a deriva.

Para potencializar a deriva o projeto pulveriza essa questão programática em um parque de pesquisas botânicas lindeira ao rio Pinheiros, com áreas de estufa, germinação de plantas, laboratórios e salas de estudos. O parque ec lode a partir dos organismos pioneiros que cresceram na ponte subutilizada e foca na análise do crescimento arbitrário de plantas a partir do suporte criado pela arquitetura.

Estes organismos pioneiros, que serviram de partido ao projeto, representam as plantas que brotaram da paisagem inóspita com pouquíssimos nutrientes, do ambiente hostil que às falta terra para crescerem e reproduzir. São os primeiros a ocupar o ambiente em uma sucessão ecológica.

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A ruína [a]diante da história

A questão programática parte de uma confluência dos conceitos e da compreensão do território. Todavia, o estudo visa em assimilar a linguagem conceitual para abstrai-la em um objeto. A materialização deste

produto de análise conceitual é consequente do paralelo da investigação factual histórica do território e da subjetivação da absorção dos conceitos selecionados.

Abaixo: Simulação de cinema embaixo da ponte.

01. estufa comércio 02. segurança 03. sala 04. pavilhão 05. projeções 06. sala 07. banheiro masculino 08. banheiro feminino 09. eventos 10. loja 11. aloxarifado 12. jardinagem 13. laboratório 14. germinação 15. vestiário masculino 16. vestiário feminino 17. administração 18. livraria 19. bicic letário 20. área de descanso - leitura 21. café 22. guarda volumes 23. caixas eletrônicos 24. bilheteria 25. segurança estação 26. enfermaria 27. plataforma embarque 28. praia fluvial 29. estufas temáticas 30. acesso cptm 31. plataforma embarque taxi aquático

32. plataforma embarcaçoes particulares

PROGRAMA

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O que r[estará] de hoje

Implantação nível térreo

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A ruína [a]diante da história

A partir do aprofundamento do termo e refleti-lo no fragmento da ponte, o projeto intenciona a volta do objeto como um rastro de si mesmo a partir de uma redefinição de seu papel infra estrutural. A ponte representava um suporte estritamente de locomoção e ressurge como um outro, associado ao passado, porém abrindo uma possibilidade futura, representado pelo desvio do suporte.

A adequação histórica de estruturas criadas por sua pertinência em determinado “tempo” da cidade revela uma atualização onde não há a proposição de algo estabilizado. O imprevisível aparece na multiplicidade

da ponte, sendo várias em uma só, coeso em seu retorno diferenciado. Portanto, para a ponte, o trabalho foca na construção da situação que não condiciona o uso, mas propõe uma emancipação do projeto às suas prerrogativas, o que abre a chance da emancipação do próprio sujeito.

Contudo, o “rastro de si mesma” é evidenciado na utilização daquilo pensado para considerar aquilo não pensado, como uma emergência à alteridade de ser um outro, mas ainda ser ele mesmo. Igor Guatelli em seu livro “Arquitetura dos entre-lugares” fomenta essa discussão:

“O rastro não é somente o desaparecimento da origem, ele quer dizer aqui (.. .) que a origem nem ao menos desapareceu, que ela não foi constituída senão em contrapartida por uma não-origem, o rastro que se torna, assim, a

origem da origem”

DERRIDA, 1967. p. 90

“Nem na simples justaposição de estruturas, nem na apregoada e superestimada multifuncionalidade programática, o grau de intensidade das trocas sociais urbanas espontâneas – não controladas, não direcionadas, não dirigidas - , de uma dinâmica urbana plural, depende da tessitura de articulações, do rastro. O rastro é articulação, articulação com tensionamento e interferência, junção e ruptura ao mesmo tempo, reforço do em-si-mesmo e emergência

do outrem.”

[GUATELLI, 2012. p. 77]

O termo é uma conjunção de duas palavras gregas, pállin e tropo. Pállin faz referência a algo que move-se para trás como a repetição de uma ação, fazer novamente, enquanto tropo remete a uma retórica onde ocorre uma mudança de significado, neste caso alude a uma diferenciação da palavra palíndromo, termo que se nomeia uma palavra ou frase que começa e termina da mesma maneira, como arara. Portanto, o palíntropo acontece pela surpresa do começar novamente de forma diferente daquilo que era antes.

A ideia do rastro fica eminente nesse debate, este

como uma memória que se relembra de si mesma, antes de ser lembrada enquanto tal, a partir da surpresa do começar novamente. O filósofo francês Jaques Derrida, responsável pelo desenvolvimento da desconstrução da linguagem e uma das maiores figuras do pós-estruturalismo e da filosofia pós moderna, explana o rastro como a lacuna entre o passado, o que foi escrito e o que emerge. Define a anunciação do rastro pela diferenciação do objeto, como um rastro palintrópico que coloca a impossibilidade da origem pura:

05.PALÍNTROPO |

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O que r[estará] de hoje

06.[PAR]ERGON | O ergon representa o “dentro-da-obra” e o parergon o “dentro-fora-da-obra”, um suplemento além daquilo que aparece aos olhos, que requer uma análise minuciosa por não ser algo explícito, porém está intrínseco no conceito do ergon. O parergon qualifica o ergon pelas ideologias expressas em sua concepção de mundo, concepções anteriores a “obra”. Sua matéria só é assimilada

por uma composição dos dois elementos juntos, na medida que o ergon simboliza o elemento, enquanto o parergon o suplemento a esse elemento, “ indissociáveis” na compreensão do objeto.

Para o alemão Immanuel Kant, figura central da filosofia moderna, o parergon representa aquilo que nem é uma obra e nem fora da obra de arte. Jacques Derrida aprofunda este

argumento ao falar que a distinção entre dentro e fora nunca pode ser totalmente alcançada. De acordo com Derrida, o exterior sempre altera o interior de modo a definir-se com um “dentro”, o que figura a adição do suplemento na definição do elemento. Em contraste com o “ergon” (a obra), o parergon é uma adição, um suplemento; “sem ser uma parte da obra, mas sem ser absolutamente extrínseca a ela”.

Na série fotográfica de Richard Prince, o artista reúne imagens de um jornal que em seu conteúdo  mostra criminosos e celebridades escondendo o rosto, com diferentes orientações, seguindo um grid imaginário, em uma moldura branca. Apesar de as imagens isoladas não apresentarem nenhuma conexão originária, todas tem uma estética similar, mas não fornecem nenhuma informação substancial, as imagens não tem em sua função a fonte de informações, no entanto são prova de alguma coisa que não foi descrita. Aparece portanto o mistério fora da obra. Derrida também descreveu

o parergon como “o excepcional, o estranho, o extraordinário, a surpresa” retratado aqui pelo documento que retém a verdade. O trabalho, além disso questiona o limite de cada imagem individual, a escolha do layout chama a atenção para o espaço em branco entre as imagens, o espaço de significado ambíguo. Seria o espaço em branco o ergon ou o parergon?

É importante ressaltar que esta teoria não se trata de algo conclusivo, no âmbito da definição do que seria o elemento e o suplemento, essa diferença aparece

com a articulação das ideias pautadas em um trabalho da zona intermediária sobre as tensões entre uma coisa e outra.

No trabalho acadêmico o suplemento à obra arquitetônica procurou estabelecer um parergon que qualificasse o ergon, como um suplemento que supera e supre sua condição. Supera na ausência causada pelo rastro da sobra urbana e supre como ancoradouro de um transporte hidroviário, o suporte infra estrutural. A premissa parte portanto do desvio do suporte, transforma-lo em uma “super-estrutura”, redefinindo seu papel urbano.

08.SUPERAÇÃO |

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A ruína [a]diante da história

A condição fragmentária infra estrutural retrata o aspecto “infer”, ou inferior do suporte que apenas supre a condição metropolitana. Ao exprimir inferioridade, o suporte carrega a ideia de subordinado, subalterno e somenos, menos graduado em relação ao superior. A infraestrutura define a superestrutura, porém esta influência aquela de maneira a qualificar sua dimensão inferior.

A polarização característica dos nós urbanos, gerada pela infraestrutura de locomoção, é assina-

lada pelo trânsito, não possuí significados suficientes para serem definidos como “um lugar” e acaba por delimitar espaços quase que estritamente para passagem. Não exprime qualquer pregnância formal que definiria a potencialidade de um pertencer que incorpore a questão da permanência. Portanto, o espaço passa a elucidar o “não-lugar”07 como consequência do aspecto inferior intrínseco na infraestrutura, porém este representa um lugar em latência por sua capacidade de adaptação.

O trabalho apresenta uma proposta da subversão do termo infraestrutura, a partir da estruturação do parergon na concepção projetual. Este tem como âmbito a produção do suplemento para qualificar o espaço como um lugar e, a partir da qualidade da ausência catalizadora de espontaneidades urbanas, alterar a tensão solitária presente no aspecto

inferior da estrutura presente no nó urbano/estrutural da ponte do Jaguaré.

A ausência suplementar só é legitimada por uma presença prévia, ela se se determina por esta presença. Este debate compreende de um paradoxo entre ausência e presença, causa do questionamento da matéria em contraponto ao vazio, ou do vazio consequente da inversão do elemento paradoxal. Oencadeamento destes termos

causa esta inversão de dois termos paradoxais e faz com que a oposição se torne uma dependência de elementos inseparáveis na análise proposta.

A presença compreende aquilo material tátil, edificado, pontual e objetivo; a ausência compreende o imaterial, sensório, visível e subjetivo. A objetividade da presença se dá pela arquitetura e objeto, enquanto a subjetividade da ausência é gerada pelo vazio contido pela presença que estimula a espontaneidade sobre um espaço não programático.

A elementaridade da arquitetura na questão funcional descaracterizou a cidade como local de encontros, surpresa e convívio. A previsibilidade do uso da cidade aliena cada vez mais o homem, que assimila aquilo que é evidente e abandona o lado sensitivo da percepção subjetiva da urbanidade ao seu redor.

07. Termo aprofundado por Marc Augé, explicado anteriormente neste trabalho.

A ausência suplementar só é legitimada por uma pre-sença prévia, ela se se deter-mina por esta presença.

A presença compreende aquilo material tátil, edifica-do, pontual e objetivo; a au- sência compreende o imateri-al, sensório, visível e subjetivo.

09.AUSÊNCIA |

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O que r[estará] de hoje

O processo de análise e percepção do objeto resulta na construção subjetiva da espacialidade. A compreensão do espaço baseado na conjunção dos sentidos retrata a construção pessoal da massa a partir da contenção do vazio. A arquitetura analisada pelo lado sensorial como a organização do vazio pelas massas edificadas, coloca o homem em primeiro plano e secundariza a questão programática. Portanto, a presença arquitetônica possibilita a qualidade de ausência, revela o caráter efêmero do objeto a partir da subjetividade do homem.

A carência por espaços catalisadores que agenciam programas articulados em suas ausências, faz com que

a cidade seja um espaço rígido e impessoal, o que não condiz com a busca pela urbanidade pertinente a uma metrópole.

O projeto busca resgatar esta carência na flexibilização do espaço, que poderia representar diferentes funções sem impor um uso específico, como o proposto para o tabuleiro da ponte. Este retorna como um elo de conexão do projeto e da cidade, com a peculiaridade de abrir-se para contemplar diversos eventos e, além disso, propiciar a contemplação da deriva, do passeio e da permanência, alterando o aspecto origem destino do transporte metropolitano.

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A ruína [a]diante da história

Um dos elementos atribuidos ã questão da “desfragmentação” da superfície da cidade se formou na conteúdo da malha, a qual pode ser definida como:

“uma matriz operativa de sistemas adaptáveis e deformáveis, abertos a múltiplas variáveis e singularidades. [.. .] redes vivas sem forma definida, que adotam a forma do seu conteúdo assim como o liquido adota a forma

do recipiente”

[PORRAS, 2001. p.385].

Para conceber a situação programática, em conjunto ao estabelecimento da relação com a cidade universitária, o novo polo tecnológico e a situação botânica da ponte e margens do rio, os diversos serviços (laboratórios, salas, estufas, livraria, estação, eventos) foram pulverizados sobre um grid estrutural que sobrepõe os equipamentos e emerge como uma contenção dos fragmentos a partir de uma análise do paradoxo da fragmentação local pela infraestrutura metropolitana.

O partido urbano foi desenvolvido atrelado a essa questão do fragmento tendo a ponte como o elo do suporte que sutura o território. Os diagramas

abaixo revelam o território fragmentado e a partir de uma análise urbana estuda as questões de união desses fragmentos por uma malhar de cic lovias em confluência com a malha da infraestrutura urbana, em uma simulação de qualificar a escala local da superfície que sofreu o corte infra estrutural.

A partir da análise dos fragmentos consequentes da infraestrutura em questão, o projeto se desenvolve em cima de um grid que se justifica principalmente como contenção inconsciente desta fragmentação local, mas além disto serve como um provir de situações urbanas distintas em sua “superestruturação” dos vazios.

10.SUTURA |

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O que r[estará] de hoje

A estrutura permite espontaneidades de apropriação, podendo servir de suporte para feiras, espetáculos ou até mesmo somente como um pérgola para permitir o crescimento de plantas. Além disso, as vigas calhas metálicas que a compõe captam as águas pluviais que são distribuídas para tanques de armazenamento para irr igação do parque, esses foram localizados ao nível da ponte para propiciar uma alternância na questão

do térreo. O projeto passaria a ter “dois térreos” com o atributo da água, um no nível do rio e outro no nível da ponte.

Contudo, a pertinência do parergon aparece também na estrutura projetada. Esta serve de suporte para “habitar” os diversos programas, mas o supera quando extravasam espacialmente para propiciar o inesperado.

A estrutura metálica que compõe a malha esboça a questão da sutura do território fragmentado a partir da contenção desses fragmentos sob a flexibilidade do grid. A malha age como uma inconsciente operação do espaço, ela rege o movimento das junções das margens em conexão com o tabuleiro, porém é a ponte que funciona como o elo de ligação a partir de seu retorno.

Em suas cabeceiras foi criado um sistema de circulação vertical, anexo ao tabuleiro e lindeira às marginais, em três paradas, uma ao nível das margens,

outra ao nível do tabuleiro da ponte que encontrava-se desativada e outra ao nível das pontes ativas sobre um novo tabuleiro parasita à suas estruturas. Esta conexão representa o percurso de ligação do projeto à cidade formal pautado na estruturação dos fatos urbanos ali presentes. Com a simples ação de propiciar o acesso e o percurso, a ponte retornaria a ser ativa, porém com outras características do que fora antes. Esta, passaria a funcionar como a linha que proporciona o coser de dois lábios de uma ferida.

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Planta nível marginais

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Planta nível ponte

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O utra impor tan te conexão da margem com a c idade s e dá na conexão com a e s t aç ão da CP T M V i l l a L obos – J agua ré . O co r t e re ve l a a conexão sob o v i adu to e po r ba i xo da l inha do t rem l i gando a e s t aç ão Hídr i c a com a e s t aç ão f e r rov i á r i a po r in t e rméd io de uma p r a i a u r bana pe r to do r io. Es t a l i gaç ão é mui to impor tan te no âmbi to da po l a r i z aç ão do ponto noda l a pa r t i r do t r anspor t e de mas sa s , adema i s e l a conec ta o pa rque V i l l a L obos ao p ro j e to, f a z endo com que e s t e s e j a uma expansão daque l e .

A imp lan taç ão na sce como uma p ropos i ç ão de re spos t a pa r a todas e s s a s que s tõe s abordadas an te r io rmente , t en ta a r t i cu l a r a s conexões , a que s t ão p rogr amát i c a , a abordagem conce i tua l e o s f a to s u r banos que demos t r am um te r r i tó r io hos t i l à pe rmanênc i a . O ag r upamento de d i ve r so s moda i s de t r anspor t e de a l t a ve loc idade f az com que d i f i cu l t e o ace s so e c r i a um prob l ema de a l to r u ído ao ambien te . Des sa f o rma , o s vo lumes s ão imp lan tados de mane i r a a reduz i r o s r u ídos adv indos da s marg ina i s , s eguem o r i tmo da g re lha dando a s co s t a s pa r a a s marg ina i s e s e ab r indo pa r a o r io pa r a a contemplaç ão da nova pa i s agem. A compos i ç ão cons t r u t i va dos vo lumes t ambém tem o f oco em a juda r e s s a que s t ão do r u ído. As pa redes s ão compos ta s de chapas s andu i che com i so l amento in t e rno à e l a s .

A so l idez dos vo lumes f o r am f e i t a s de t a l f o rma pa r a ge r a r um cons t an te cont r a s t e en t re o p rogr amát i co, rep re sen tado pe lo vo lume, e o não p rogr amát i co, rep re sen tado pe lo vaz io. O cont r a s t e é pe rceb ido t ambém na reduç ão e s t r u tu r a l ao mín imo de f o rma que aconteç a uma in te r aç ão pe l a d i s c repânc i a en t re a t r anspa rênc i a da s e s tu f a s , o vaz io cont ido pe l a e s t r u tu r a e a so l idez do vo lume compos to por chapas metá l i c a s .

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A ruína [a]diante da história

04.PROLEGÓMENOS |

“[…] pode-se dizer que a onda sonora é formada de um sinal que se apresenta e de uma ausência que pontua desde dentro, ou desde sempre, a apresentação do sinal.[…] Sem este lapso, o som não pode durar, nem sequer começar. Não há som sem pausa. O tímpano auditivo entraria em espasmo. O som é presença e ausência, e está, por menos que isso apareça, permeado de silêncio. Há tantos ou mais silêncios quantos sons no som, e por isso se pode dizer, com John Cage, que nenhum som teme o silêncio que o extingue. Mas também de maneira reversa, há sempre som dentro do silêncio. […] O mundo se apresenta suficientemente espaçado (quanto mais nos aproximamos de suas texturas mínimas) para estar sempre vazado de

vazios, e concreto de sobra para nunca deixar de provocar barulho.”

[ WISNIK, 1989]

A ausência representada pelo intervalo de tempo do John Cage em sua obra 4’33” representa uma situação que age dentro do real a partir de algo imaterial, o som. A composição deste por sua ausência remete a uma liberação daquilo que está oprimido, porém não se apresenta suprimido, o espaço vazio aberto a interpretações, sendo um trabalho sensível à participação de seu entorno na medida que permite que as exterioridades incidam sobre a obra e à compõe. Portanto o silêncio rege a abertura para os sons que existem no ambiente.

Desta forma a obra mostra uma imprevisibilidade em sua composição. O intervalo de tempo que liberta o homem para a percepção do que o rodeia não impõe qualquer informação sobre ele. O diálogo com a

arquitetura se dá por essa abertura à apropriação da obra e principalmente à interpretação subjetiva daquilo proposto.

O trabalho de graduação buscou analisar a condição da formação da cidade pautado no que sua paisagem representa hoje, na percepção do homem pós moderno e a partir disto criar soluções plausíveis para um aprofundamento maior no debate do espaço urbano da cidade de São Paulo, fr isando principalmente o cenário hídrico da cidade. Com isso, o trabalho não termina em uma conclusão mas sim em uma abertura à discussão deste assunto de enorme importância na atualidade, na medida que a nomenclatura deste sub capítulo induz à essa abertura. “Prolegómenos” remete a uma introdução circunstanciada que precede uma obra, como

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O que r[estará] de hoje

um conjunto das noções preliminares que precedem uma ciência.

O projeto arquitetônico caminhou em direção à uma análise subjetiva da região, porém enraizadas em questões objetivas da memória do território. Assim abriu espaço para o diálogo da pertinência de grandes projetos urbanos pontuais com o potencial latente de expansão

para afetar o meio urbano como um todo acompanhado de uma abordagem que caminha entre utopia e realidade.

Contudo a reflexão final cai na obra de John Cage, tanto por representar essa abertura, quanto por agregar os conceitos trabalhados para o desenvolvimento deste projeto acadêmico.

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A ruína [a]diante da história

“P/1 _O senhor nadava em que rio. No Tiete ou no Pinheiros? R _ No Rio Pinheiros. Eu não podia nadar no Pinheiros porque era um rio caudaloso, perigoso. Apesar de que só os bons nadadores nadavam ali. Então na ponte do rio Pinheiros. Essa ponte que eu falei. Essa ponte velha. Uma ponte bem antiga feita de madeira e ferro. Nos domingos os caras. Passatempo. Naquele tempo não tinha televisão. Não tinha futebol. Ainda era. Então os nadadores iam lá e pulavam. Subiam na murada da ponte e mergulhavam. Então a gente, às vezes ia ver os caras pularem. Os caras pulavam. Alguns se davam bem, outros se davam mal. Tinha que ser bom nadador. Porque a profundidade debaixo da ponte era aproximadamente. Normal, sem enchente seria de cinco metros. E depois mais para baixo. A história que eu vou te contar. Em Pinheiros tem uma rua que se chama Sumidouro. Conhece? Perto da Editora Abril. Da ponte a gente via o Sumidouro. Sumidouro. Você sabe o que é um sumidouro? Num rio ou num lago tem um redemoinho assim que a água gira, gira. Mesma coisa quando a água está saindo da pia. Ela gira nesse sentido assim. Antes do Equador. Porque depois do Equador gira ao contrário. Nesse rodamoinho se você jogar um palito ou qualquer coisa ele vai indo e vai embora. No Rio Pinheiros tinha um sumidouro grande que a gente avistava ele da ponte. E quem nadava não ia lá perto. E barco pequeno, o cara tinha medo de passar lá. Eu ia nadar e nunca passei. Só os barcos grandes que passavam de lado. E dizia a lenda que ali tinha um buraco muito grande que se alguém passasse lá seria sugado pelo sumidor. Então ficou Rua Sumidouro. Né. Rua Sumidouro. E está lá até hoje. E quando o rio enchia, que dava aquelas enchentes nas margens do Pinheiros. Aonde é a Praça Panamericana hoje. Butantã. A água chegava até quase a Avenida Vital Brasil. Daí que a gente ia brincar na água. Ia lá correr,

brincar, nadar. Andava de barquinho.”

[História de  Pedro Gennari, para o Museu da Pessoa. 2011]

05.IMAGENS

Fragmento da entrevista com Pedro Gennari para o Museu da Pessoa. As narrações deste trabalho foram baseadas na adaptação deste fragmento:

Página 04, 33, 37: Marcel Copola. Disponível em: http://www.inspirarespira.net/2013/05/e-debaixo-da-

ponte-havia-um-lar/ ; acesso 25.11.2014.

Página 07, 08: Imagens Jornais diversos. Data e edição vide imagem.

Página 09: Fotomontagem acervo pessoal.

Página 10: http://www.joajo.de/author/jo/page/4/ ; acesso 27.11.2014

Página 11: Coluna 01: Avenida Nova Trabalhadores. s/r Fonte: revista Engenharia no 517, nov.96, p.30.

Coluna 02: Viaduto Imperador – Avenida Nova Trabalhadores. s/r, Fonte: Idem, p.28. Coluna 03: Viadu-

to Juntas Provisóras – anchieta – Bom Pastor s/r Fonte: Idem p.41. Coluna 04: Avenida Aricanduva s/r

Fonte:Idem p.02

Página 13: S. M. L. XL. The Generic City. p. 1239 - 1249

Página 15 http://piratesandrevolutionaries.blogspot.com/2011_03_01_archive.html; acesso em

25.11.2014

Página 16: Fotomontagem imagens acervo pessoal + Lee Jefries http://leejeffries.500px.com ; acesso em

20.10.2014

Página 17: Fotógrafo desconhecido. http://www.playarquitetura.com/?projects=carlos-garaicoa-inhotim

; acesso em 19.11.2014

Página 19: Felipe Rodrigues - fotos elevado costa e silva + buraco da minhoca.

http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/39/0d/j7/390dj7aw1267jom14t2linms8.jpg ; acesso em

30.11.2014

http://msalx.viajeaqui.abril.com.br/2013/01/14/1443/5tY2z/86xi5nbf.jpeg?1358182216 ; acesso em

30.11.2014

http://viladosremediosonline.com.br/wp-content/uploads/2014/02/bloco-sp.jpg ; acesso em 30.11.2014

http://espacohumus.com/wp-content/uploads/2014/09/carnaval-1.jpg: acesso em 30.11.2014

http://www.capital.sp.gov.br/static/2014/04/2D_Kzwdx44djQvYn3jPiWQ.jpg ; acesso em 30.11.2014

Página 21: Canal do rio Pinheiros e a ponte do Jaguaré. Fotografia, autoria desconhecida, 1940. Acervo

Fundação Energia e Saneamento (Código: ELE.CEI.SDM.2053)

Página 22: Posição de São Paulo dentro do atual território do Estado. Pasquale Petrone Fonte:

PETRONE, 1995

São Paulo. Centro de Comunicações, Fonte: AZEVEDO, 1958:16

Página 23: Carta Geomorfológica do Planalto, Paulistano e vizinhanças Fernando F. M. de Almeida,

1953 Fonte: Idem

Página 24: Foto aérea google earth + Planta da cidade de São Paulo, 1924

Página 26: Retificação doCanal do Tamanduathey, s/r. In Fernando de Mello Franco

Página 27: Desmatamento do traçado do canal do Pinheiros. a/d, 1930 Fonte: Arquivo Eletropaulo

Página 28: Canalização do rio pinheiros a/d, 1937 Fonte: Acervo Eletropaulo.

Página 29: http://bagarai.com.br/aniversario-de-sp-fotos-aereas-da-evolucao-de-sp-durante-meio-se-

culo.html - Redondezas da Marginal Pinheiros, em 1958 - 2008 (Foto: Multispectral Mapas Digitais) ;

acesso em 30.11.2014

http://caraminholasmentais.blogspot.com.br/p/fotos-antigas.html imagens remo e marginais ; acesso

29.11.12

http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/191/imagens/i173899.jpg ; acesso em 29.11.2014

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