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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ANTÉRO MAFRA JÚNIOR MÁRIO SÉRGIO MADEIRA A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA CRICIÚMA, JUNHO DE 2005

A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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Page 1: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO

TRABALHO

ANTÉRO MAFRA JÚNIOR

MÁRIO SÉRGIO MADEIRA

A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA

DE SANTA CATARINA

CRICIÚMA, JUNHO DE 2005

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ANTÉRO MAFRA JÚNIOR

MÁRIO SÉRGIO MADEIRA

A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA

DE SANTA CATARINA

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Orientador: Profº. Msc. Casimiro Pereira Junior

CRICIÚMA, JUNHO, 2005

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ANTÉRO MAFRA JÚNIOR

MÁRIO SÉRGIO MADEIRA

A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA

PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA

CATARINA

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho.

Criciúma, 21 de Maio de 2005.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Msc. Casimiro Pereira Júnior - (UFSC) - Orientador

Prof. Msc. Rafael Murilo Digiácomo - (UFSC)

Prof. Msc. Marcelo Fontanella Webster - (UFSC)

Page 4: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os professores pela

dedicação, e transferência de conhecimentos. Aos

profissionais e empresas aqui citados.

E nossos familiares, em especial as esposas e filhos

que nos apoiaram em todos os momentos.

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RESUMO

A extração do carvão mineral é uma das principais atividades da região sul de Santa Catarina. A Região Carbonífera de Santa Catarina é composta de dez municípios, sendo responsável por quase 80% da produção nacional de carvão mineral. A extração ocorre em minas subterrâneas, onde são gerados poeira e gases, causando uma doença profissional, típica e comum entre os mineiros, a "Pneumoconiose dos mineiros de carvão". Neste trabalho apresentamos o histórico da extração do carvão, das técnicas utilizadas e dos riscos ocupacionais. Abordamos a pneumoconiose desde sua descrição na literatura médica, incidência e aspectos clínicos, até os dias atuais, número de casos, tarefas da mineração atual que ainda permite grande risco de exposição, as formas de controle utilizadas no Brasil, e, de maneira crítica, sua eficácia. Concluímos com sugestões para o controle da contaminação desta atividade produtiva, com o objetivo de contribuir para a melhora na qualidade da higiene e segurança do trabalho em ambientes de exploração do carvão mineral.

Palavras chave: Pneumoconiose; Carvão Mineral; Região Carbonífera de Santa Catarina; Poeiras em minas de carvão; Segurança do trabalho em minas.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Método “Strip Mining” – Mina a Céu Aberto..........................................

Figura 2: Foto Mina Subterrânea..........................................................................

Figura 3: Processo de Beneficiamento do Carvão Mineral..................................

Figura 4: Carregadeira para operação em minas subterrâneas “Bobcat”. Mina

semimecanizada...................................................................................................

Figura 5: Monitoramento de Oxigênio e Gases....................................................

Figura 6: Airborne capture performance of four types of spray nozzles..............

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Descrição do ambiente de trabalho de acordo com a base técnica....

Tabela 2: Relatório de ocorrência de pneumoconiose........................................

Tabela 3: Continuação da tabela anterior............................................................

Tabela 4: Número de empregados no setor da mineração de extração de

carvão mineral......................................................................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BC – Bronquite Crônica

CBCA – Companhia Brasileira de Carvão Araranguaense

CID – Código Internacional da Doença

CO – Monóxido de Carbono

CSN – Companhia Siderúrgica Nacional

EPI – Equipamentos de Proteção Individual

FMP – Fibrose Maciça Progressiva

INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

OIT - Organização Internacional do Trabalho

PTC – Pneumoconiose de Trabalhadores de Carvão

SIECESC – Sindicato da Industria de Extração de Carvão do Estado de SC

Page 9: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................

1.1 Tema da Pesquisa: Pneumoconiose nos trabalhadores de minas de

carvão....................................................................................................................

1.2 Problema..........................................................................................................

1.3 Objetivos.........................................................................................................

1.3.1 Objetivo geral..............................................................................................

1.3.2 Objetivos específicos..................................................................................

1.4 Justificativa.....................................................................................................

1.5 Limitação.........................................................................................................

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................

2.1 O carvão mineral de Santa Catarina.............................................................

2.2 O processo de extração de carvão...............................................................

2.2.1 A extração do carvão a céu aberto............................................................

2.2.2 A extração de carvão em subsolo.............................................................

2.3 O ambiente das minas....................................................................................

2.4 A pneumoconiose dos trabalhadores de carvão........................................

2.4.1 Histórico.......................................................................................................

2.4.2 Conceitos......................................................................................................

2.4.3 Incidência.....................................................................................................

2.4.5 Prevalência..................................................................................................

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................

3.1 Natureza...........................................................................................................

3.2 Método..............................................................................................................

3.3 Caracterização................................................................................................

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS...................................................

4.1 Monitoramento da poeira em suspensão.....................................................

4.2 Ventilação........................................................................................................

4.3 Proposta para a prevenção da pneumoconiose..........................................

4.4 Programa de proteção à saúde.....................................................................

5 CONCLUSÃO.....................................................................................................

REFERÊNCIAS......................................................................................................

ANEXOS.................................................................................................................

ANEXO 01 – O CARVÃO MINERAL.....................................................................

ANEXO 02 - NORMA TÉCNICA PARA AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE........

ANEXO 03 - FOTOGRAFIA DA VISITA A EMPRESA MINERADORA DE

CARVÃO MINERAL..............................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

1.2 Tema da Pesquisa: Pneumoconiose nos trabalhadores de minas de

carvão

A região Sul de Santa Catarina apresenta uma atividade extremamente

peculiar no cenário de produção nacional. Aqui se encontram as jazidas de carvão

mineral, cuja extração foi atividade econômica pioneira na região, que proporcionou

principalmente à cidade de Criciúma tornar-se destaque no cenário brasileiro.

A mineração de carvão fixou na região uma categoria especial de

trabalhador: o mineiro, cujo trabalho apresenta características que difere das

ocupações dos demais operários, já que sua atividade no subsolo está longe de ser

um ambiente natural de trabalho. Sua atuação é única, em razão do processo

produtivo ser extremamente dinâmico, modificando a cada momento as frentes de

trabalho e expondo os trabalhadores da mineração a situações novas. O ambiente

das minas subterrâneas apresenta ventilação forçada, ausência de iluminação

natural e inadequada iluminação artificial.

O trabalho de extração de carvão se desenvolve em espaços restritos,

sujeitos ao calor, à umidade, à poeira, aos gases, aos ruídos e vibrações. Apresenta

evidencia elevado risco potencial de acidentes, quer pelos possíveis e freqüentes

caimentos de tetos, quer pela viabilidade de incêndios, por explosões de gases e/ou

poeiras.

A mineração está incluída entre as atividades de maior insalubridade e

periculosidade (grau de risco 04), pelo Ministério do Trabalho e pela Organização

Internacional do Trabalho (OIT), resultado das características próprias do seu

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processo atual de produção, podendo ocasionar graves danos à saúde do

trabalhador, como por exemplo:

♣ Alta incidência de doenças respiratórias devido à liberação de dióxido

de enxofre, monóxido de carbono (máquinas), e outros gases (explosivos).

♣ A antracosilicose - Pneumoconiose nos mineiros das minas de carvão.

♣ Asma ocupacional e bronquite industrial.

A pneumoconiose é uma doença crônica, adquirida pela inalação de

partículas sólidas, de origem mineral ou orgânica. Não tem cura e apresenta

manifestações tardias, entre cinco e oito anos após a exposição às poeiras. Por se

tratar de uma doença incurável, diante do diagnóstico, o trabalhador deve ser

afastado da sua atividade, sendo remanejado para outra função.

Somente na Região de Criciúma há atualmente mais de 3.000 casos de

pneumoconiose registrados. Destes, mais de 100 apresentam Fibrose Pulmonar

Maciça, forma invalidante e fatal da doença. O tempo médio para o aparecimento da

pneumoconiose depende da função do mineiro. Na função de furador de teto, com

apenas cinco anos pode se desenvolver a doença.

Estudos realizados pelos médicos, Albino José de Souza, Pneumologista,

Valdir de Lucca, Radiologista e Sérgio Alice, Patologista, alertam para a importância

da proteção respiratória, principalmente pela exposição excessiva do trabalhador em

ambientes com o ar altamente contaminado das minas de Carvão. Na década de 80,

a publicação destes trabalhos provocou a mudança no processo de mineração, com

a introdução da água na frente de trabalho, o que mudou completamente o quadro

de incidência da pneumoconiose na região carbonífera de Santa Catarina.

Os capítulos da pesquisa versam sobre o carvão, o carvão na Região

Carbonífera de Santa Catarina, o ambiente das minas de carvão; temas que se

tornam relevantes para o estudo da pneumoconiose dos trabalhadores do carvão,

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principal temática de estudo deste trabalho.

1.2 Problema

Que procedimentos podem reduzir a incidência da pneumoconiose nos

trabalhadores das minas de carvão?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Propor métodos preventivos para redução, e ou, eliminação do risco de

aquisição da pneumoconiose nas minas subterrâneas de carvão.

1.3.2 Objetivos específicos

♣ Identificar as características e propriedades do carvão mineral.

♣ Caracterizar o ambiente cotidiano de trabalho nas minas subterrâneas

de carvão da Região Sul de Santa Catarina.

♣ Pesquisar a incidência da pneumoconiose na população de

trabalhadores das minas de carvão.

♣ Propor métodos para o controle da poeira gerada nas minas de carvão.

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1.4 Justificativa

A iniciativa de realizar este trabalho surgiu da vivência junto à extração do

carvão mineral em nossa região. Esta atividade produtiva, junto com a riqueza

trouxe degradação ambiental e danos irreparáveis a saúde dos trabalhadores das

minas.

A doença do trabalho mais relevante é a pneumoconiose dos

trabalhadores do carvão, que ainda hoje se manifesta nos trabalhadores da

mineração. Surgiu então ha necessidade de apresentar um estudo com dados

atuais da doença e sugestões técnicas para melhorar as condições dos ambientes

de trabalho nas minas da região carbonífera.

1.5 Limitação

A pesquisa realizada neste trabalho foi baseada em estudos na Região

Carbonífera de Santa Catarina, localizada na região sul do estado de Santa

Catarina, que compreende dez municípios: Criciúma, Forquilhinha, Siderópolis,

Treviso, Lauro Müller, Urussanga, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Içara e Nova

Veneza.

Realizamos visitas técnicas na Empresa COOPERMINAS, cooperativa de

extração de carvão. A empresa, fundada em 1998, funciona como cooperativa dos

funcionários do carvão mineral, a partir da falência da empresa CBCA (Companhia

Brasileira de Carvão Araranguaense), localizada no município de Forquilhinha/SC.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O carvão mineral de Santa Catarina

Em Santa Catarina, o início das atividades carboníferas aconteceu no

final do Século XIX, realizadas por uma companhia britânica que construiu uma

ferrovia e explorava as minas. Em 1885 foi inaugurado o primeiro trecho da ferrovia

Dona Tereza Cristina, ligando Lauro Müller ao Porto de Laguna (anexo 01).

Desde então o carvão catarinense vem sendo explorado e utilizado tanto

pela siderurgia nacional, como para geração de energia termoelétrica,

principalmente pela Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, localizada em Capivari de

Baixo-SC.

A seguir descreveremos os dois processos de extração do carvão mineral,

realizados na Região Carbonífera de Santa Catarina.

2.2 O processo de extração de carvão

2.2.1 A extração do carvão a céu aberto

A mineração a céu aberto é utilizada quando a camada localiza-se

próxima da superfície, geralmente a menos de 30 metros de profundidade. Nesta

forma de extração máquinas de grande porte rasgam o solo até alcançar o veio de

carvão, havendo remoção de toda a cobertura rochosa e solo a ele sobreposto. A

camada de carvão exposta é finalmente desagregada por perfuração e explosão.

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Apesar de responsável por grande devastação do meio ambiente esta

forma de mineração gera menos poeiras respiráveis do que a mineração de subsolo,

conseqüentemente com menor risco de gerar pneumoconiose.

Figura 1: Método “Strip Mining” – Mina a Céu Aberto Fonte: Arquivo dos pesquisadores

2.2.2 A extração de carvão em subsolo

Conforme a forma de ser atingida a camada de carvão das minas de

subsolo podem ser classificadas em minas de encosta, em plano inclinado ou poço

vertical.

Nas minas de encosta a camada de carvão encontra-se acessível pela

escavação praticamente horizontal da galeria, a partir de elevação topográfica. Nas

minas de plano inclinado à camada de carvão está em pequena profundidade, sendo

alcançado pela perfuração de galeria com pequena inclinação.

Para que seja atingida a camada de carvão profunda é necessária à

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escavação de poço vertical. A partir deste a mineração faz-se no sentido horizontal.

A extração de carvão pode ser feita de maneira manual, semimecanizada

ou mecanizada.

No processo manual a camada de carvão é perfurada por meio de

ponteiras e picaretas, e fragmentada com uso de explosivos. Este material é

separado manualmente e transportado em vagonetes.

No processo semimecanizado a camada de carvão passa a ser perfurada

com perfuratrizes a ar comprimido. A desagregação das rochas é obtida por

explosão, o resultado sendo transportado por esteiras apropriadas.

Na forma mecanizada, cada vez mais comum, os processos principais

são executados por máquinas potentes. Num primeiro momento esta forma de

mineração cursou com aumento da geração de poeiras respiráveis. Com a adoção

de métodos mais efetivos de ventilação e principalmente pelo uso da água em toda

a cadeia extrativa, as concentrações de poeira em suspensão dentro das minas

foram bastante reduzidos.

O método de mineração atualmente utilizado denomina-se “câmaras e

pilares”, com etapas definidas e grupos de trabalhadores atuando consecutivamente.

As galerias têm aproximadamente 6 metros de largura e altura compatível

com a camada viável de carvão, mantendo-se entre elas pilares de

aproximadamente 14 metros de diâmetro. Estes pilares sustentam todas as

camadas geológicas que ficam acima do filão de carvão.

Inicialmente as galerias devem ter seus tetos fixados para que sejam

evitados desmoronamentos. Grandes máquinas perfuratrizes ou mineiros com

perfuratrizes a ar comprimido fazem furos verticais por onde são introduzidos

parafusos apropriados, fixados na sua extremidade inferior a pranchas de madeira

ou metal que dão sustentação ao teto.

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Buscando segurança estes parafusos são fixados em camadas de rochas

com maior consistência, geralmente arenitos, rochas sedimentares ricas em sílica.

Neste estágio são geradas poeiras com altas concentrações deste mineral, e os

trabalhadores envolvidos nesta função, mais sujeitos ao desenvolvimento de

pneumoconiose.

Atualmente a perfuração do teto processa-se com a injeção de água pela

própria sonda perfuratriz.

Na época da extração não mecanizada o escoramento do teto era feito

através de pilares de madeira, e, sem a furação do teto rico em sílica, havia menor

exposição dos mineiros.

Escorado o teto, inicia-se o corte da camada na frente da galeria. Após o

corte e exposição da nova frente de trabalho são abertos orifícios horizontais onde

são alojados os explosivos.

Após a detonação da linha de frente, veículos especiais retiram o material

desagregado, mistura de carvão e outras rochas sedimentares, como arenitos e

siltitos, levando-os para correias transportadoras, por onde atingem a superfície.

Em minas altamente mecanizadas despende-se aproximadamente 2

horas entre o início da perfuração do teto e a colocação do material extraído nas

correias transportadoras.

“As feições geológicas das jazidas definem o traçados dos vários eixos,

todos ligados ao principal. Os mineiros trabalhadores seguem a rota dos eixos e as

galerias vão se alongando, num percurso de até 3 (três) ou 4 (quatro) Km2”

(VOLPATO, 1984) (Figura 2).

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Figura 2: Foto Mina Subterrânea

Fonte: Arquivo dos pesquisadores

Várias galerias podem estar sendo mineradas concomitantemente.

O carvão extraído das minas a céu aberto e subsolo, sofrem seu primeiro

pré-beneficiamento nos lavadores das próprias carboníferas.

Este processo é elaborado para retirar as impurezas, com um

aproveitamento de 30% do material retirado (carvão pré-lavado), os 70% restantes

são classificados como rejeitos piritosos (Figura 3). Estes rejeitos classificados como

finos ou moinha, são recuperadas e enviadas as coquerias para a fabricação de

coque.

Figura 3: Processo de Beneficiamento do Carvão Mineral Fonte: Arquivo dos pesquisadores

Page 20: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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2.3 O ambiente das minas

A indústria do carvão não se assemelha às demais empresas. Difere-se

delas já na forma de construção das unidades produtoras.

As minas de carvão estendem-se enterradas a uma profundidade entre 50

a 200 metros; na superfície ficam os vestiários, algumas oficinas e escritórios. Essa

indústria tem menos instalações e mais equipamentos móveis que, com seus

operadores avançam pelas galerias que abrem o subsolo retirando o produto do

meio da rocha, que é o carvão de pedra (BARAN, 1995).

Na Região Carbonífera, o sistema de mineração é de “câmaras e pilares”,

e há três tipos de minas: manual, semimecanizada e mecanizada. O processo de

trabalho das minas, o acesso às galerias se faz através de poço, por elevadores ou

do plano inclinado (BARAN, 1995).

O conjunto de câmaras e pilares formam os painéis onde estão as várias

frentes de trabalho. Os trabalhadores chegam às frentes a pé, fazendo um percurso

de 1 a 4 Km, sendo que na maioria das mineradoras há meios de locomoção para o

transporte dos mineiros. Os turnos são de seis horas com intervalos periódicos de

quinze minutos para descanso e alimentação (VOLPATO, 1984).

Quanto à operação realizada nas minas manuais, segundo (ALVES,

1996), a seqüência é a seguinte:

1 – Escoramento do teto: realizado com prumos de madeiras (pés-direitos

e travessões), pelo madeireiro e/ou trilheiro que também realiza o avanço dos trilhos.

2 – Furação de frente: realizada pelo furador, com marteletes

pneumáticos, são executados de 8 a 15 furos a cada frente.

3 – Detonação ou desmonte: os detonadores carregam os furos com

explosivos, processando-se a detonação em seqüência. É realizada uma detonação

Page 21: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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em cada frente de trabalho por dia, em geral, no terceiro turno, quando os

trabalhadores já se retiraram das frentes.

4 – Limpeza das frentes ou paleação: realizada no primeiro turno depois

de baixada a poeira do desmonte, pelos mineiros “puxadores” ou “paleadores” que,

estão em dupla e munidos com o carvão desmontado. Cada paleador tem uma cota

mínima estipulada pela empresa, em geral de 10 a 13 vagonetas com cerca de 500

Kg de capacidade cada, recebendo um adicional por vagoneta excedente. Como as

galerias são baixas, esse trabalho é feito em posição encurvada. Após encher cada

vagoneta, o mineiro empurra a mesma pelos trilhos, numa distância de 50 a 100

metros até a galeria-mestra, engatando-a no cabo sem-fim, de onde será tracionada

até o virador na superfície. No cruzamento de duas galerias, existe uma chapa

metálica, o chapão, sob o qual é colocada a vagoneta, permitindo a mudanças de

direção da mesma. As galerias estreitas e baixas propiciam os acidentes por

compressão durante essa manobra.

Nas minas mecanizadas, ainda segundo (VOLPATO 1984), a seqüência

de operação é a descrita a seguir:

1 – Corte: o operador da máquina cortadeira inicia o processo de extração

realizando um corte de 2 a 3 metros de profundidade por 5 metros de largura na

base da camada de carvão. A cortadeira é uma máquina com avançamento

mecânico de cerca de 3 metros de comprimento, onde se insere uma lança tipo

“moto serra”.

2 – Furação de frente: realizada pela perfuratriz mecânica operada por um

trabalhador.

3 – Detonação: realizada pelo “blaster” com espoletas, estopins e

explosivos de forma seqüencial.

4 – Carregamento e transporte: após o desmonte, a máquina “Loader”

Page 22: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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recolhe o carvão com braços mecânicos e sistema de esteiras, e coloca no

“Shuttlecar”, que o transporta até o alimentador da correia, ocorrendo aí à trituração

primária do carvão: do alimentador, o carvão passa para a correia que transporta até

a superfície; nestas etapas trabalham os operadores de máquinas e seus ajudantes,

além dos serventes de subsolo.

5 – Escoramento do teto: realizado pelo furador de teto e seu ajudante,

com auxílio de marteletes pneumáticos; após perfurar o teto, colocam parafusos de

ferro com blocos de madeira. É a operação de maior risco para o trabalhador, uma

vez que a camada do teto é a que tem maior concentração de sílica em sua

composição; também de maior risco de caimento de pedras do teto e desabamentos.

As perfuratrizes com avanços mecânicos diminuem o risco de desabamentos, porem

são pouco utilizadas. Esse ciclo de operações é realizado em meia hora, sendo

repetido de 12 a 16 vezes por turno, em cada frente de trabalho.

Volpato (1984) acrescenta que o ciclo de operações nas minas

semimecanizadas é semelhante ao das minas mecanizadas, com exceção ao corte

da camada inferior do carvão que não é realizado nas primeiras, a perfuração de

frente que é realizada com martelete pneumático e a etapa de carregamento e

transporte que é realizada por uma máquina, o bobcat. Os bobcats (figura 04) são

pequenas máquinas carregadeiras, com motor elétrico ligado, que se locomovem em

repetidas operações de vaivém, carregando e transportando o carvão das frentes

até as calhas transportadoras nas galerias laterais.

Page 23: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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Figura 4: Carregadeira para operação em minas subterrâneas “Bobcat”. Mina semimecanizada Fonte: Arquivo dos pesquisadores

Das calhas, o carvão é transportado por esteiras até a correia-

transportadora, localizada na galeria principal e daí para a superfície.

No carregamento e transporte trabalham o operador de bobcats e o

cabista. O operador de bobcat está exposto ao calor excessivo e trepidação do

motor elétrico, gases e poeira, além de permanecer por seis horas em posição

antiergonômica, principalmente os membros inferiores. O cabista controla o cabo do

bobcats à meia distância entre a frente e a galeria lateral, estando exposto a poeiras,

gases de detonação, caimento de pedras, choque elétrico e monotonia da atividade.

Nas calhas e correias trabalham os serventes, os marreteiros e os comandos de

correia, expostos a poeiras, deslocamento de pedras da correia e choque elétrico.

Todos os trabalhadores estão expostos ao ruído (VOLPATO, 1984).

Baran (1995), coloca que os Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

utilizados são: botas, capacetes, abafadores e máscaras nos três tipos de mina;

quanto à proteção coletiva é feita através do sistema de ventilação com exaustores e

Page 24: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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umidificação das etapas que causam emissão de poeiras (furação de frente e de

teto, carregamento e transporte).

O controle da produtividade e do ritmo de trabalho é exercido pelos

encarregados, chefe de seção e chefes de turnos.

Em resumo, as diferenças fundamentais entre os três tipos de processo

de trabalho são: a duração do ciclo de operações e o volume de carvão desmontado

por turno, desaparecimento da figura do mineiro que realizava todo o processo de

lavra substituído por operadores de máquinas e trabalhadores em funções de

manutenção e serventes de subsolo; a concentração de atividades em conjuntos

mecanizados com a operação simultânea de cada etapa em frentes de trabalho mais

próximas uma das outras, caracterizando um processo tipo linha de montagem que

expõe todos os trabalhadores, independentemente de sua função, aos riscos

ambientais.

Essas diferenças caracterizam a divisão do trabalho, a especialização e a

desqualificação dos trabalhadores, a divisão das tarefas com a perda do domínio do

processo e do ritmo do trabalho, forma de organização, essa determinada pela

exigência do aumento da produtividade e introdução de novas tecnologias, a

mecanização neste caso.

Page 25: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

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Tabela 1: Descrição do ambiente de trabalho de acordo com a base técnica

FATOR MANUAL SEMIMECANIZADA MECANIZADA

Iluminação Suficiente (Extensão

elétrica) Insuficiente (lanternas e

baterias nas frentes) Insuficiente (idem a semimecanizada)

Temperatura Média a quente conforme a

profundidade

Amena nas galerias quente nas frentes

Mais elevado do que as demais frentes

devido às máquinas Umidade Conforme

características (muita, moderada ou pouca)

Idem mais umidificação das poeiras

Idem mais umidificação das poeiras em maior

grau Condições de solo Descontinuidade no

solo e parede, acúmulos de

fragmentos de minérios e água

Idem Idem

Altura e largura das galerias

Estreitas e baixas Intermediária Mais amplo

Ruído De impacto pela detonação intermitente

das perfurações contínua dos exaustores

Idem, mas máquinas e correias-

transportadoras

Intenso pelas máquinas de grande porte alimentador-

quebrador

Poeiras Remoção de volume ROM menor, gerando menor quantidade de

poeiras

Maior concentração proveniente das

furações, detonações e remoção de grandes

camadas de carvão por bobcats

Alta concentração de partículas nas

frentes de trabalhos

Instalações Elétricas

Fios pa iluminação, bombas d’água e

exaustores

Fiação para iluminação, para comandos de

correias, cabos de alta tensão, das bobcats e das bombas d’água

Fio para iluminação, máquinas

locomotivas, AT, exaustores, centro de transformação

Gases Menor concentração próprios da rocha,

explosivos das detonações,

respiração humana

Maior concentração Maior concentração das cargas de

motores de combustão orgânica

Fonte: Baran (1995, p. 17-18).

2.4 A pneumoconiose dos trabalhadores de carvão

2.4.1 Histórico

No século XVI, já se descreviam as primeiras relações entre trabalho e

Page 26: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

26

doença, mas apenas em 1700, foi que se chamou atenção para as doenças

profissionais, quando o italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De Morbis

Artificum Diatriba (“As Doenças dos Trabalhadores”). Nesta obra, ele descreveu,

com extraordinária precisão para a época, uma série de doenças relacionadas com

mais de 50 profissões diferentes. Diante disso, Ramazzini foi cognominado o “Pai da

Medicina do Trabalho”, e as perguntas clássicas que o médico faz ao paciente na

anammese clínica foi acrescentada mais uma: “Qual a sua ocupação?” (MARGOTTI,

1998).

A pneumoconiose dos trabalhadores do carvão foi descrita na Inglaterra

por Thompson em 1836.

O número de casos de pneumoconiose aumentou muito com a eclosão da

1ª e 2ª Guerra Mundial, tornou-se um problema epidêmico principalmente no País de

Gales e Inglaterra, razão pela qual em 1945 criou-se uma unidade de pesquisa das

pneumoconioses (BARAN, 1995).

Tais medidas resultaram em estudos, prevenção e queda significativa de

prevalência da pneumoconiose dos trabalhadores de carvão.

No Brasil, os primeiros relatos de pneumoconiose datam de 1943 nas

minas de São Gerônimo e Butiá no Rio Grande do Sul. Na bacia carbonífera sul

catarinense, o primeiro estudo foi de Manoel Moreira, do Departamento Nacional de

Produção Mineral, Boletim nº 92, publicado em 1952, que relatou 01 caso de

pneumoconiose. Em 1958, Raimundo Perez, radiologista de Criciúma, reuniu 11

casos de pneumoconiose.

No período de 1969 a 1979, os médicos Albino José de Souza Filho,

pneumologista; Valdir de Lucca, radiologista; e Sérgio Alice, patologista; fizeram um

levantamento na população de mineiros e encontraram 536 casos de

pneumoconiose e estudaram a prevalência, aspectos clínicos e classificação

Page 27: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

27

radiológica e histopatológica nos casos de biópsia e necropsia, trabalho publicado

no Jornal da Pneumologia em 1981.

Os autores Souza Filho e Alice fizeram estudo de casos de fibrose maciça

pulmonar progressiva, correspondendo a 6% de 1.500 casos de pneumoconiose, da

grande maioria dos trabalhadores das minas de carvão, publicado no Jornal de

Pneumologia em dezembro de 1991.

Souza Filho (1990) coloca que para os mineiros do mundo, as

pneumoconioses em geral e a silicose em particular, constitui-se em um dos mais

graves problemas de higiene do trabalho com que tem de lutar e talvez o mais difícil

de resolver. Em Santa Catarina, a Pneumoconiose dos mineiros do carvão é uma

combinação de Antracose e silicose, sendo a última a responsável pela patologia.

2.4.2 Conceitos

Poeira: é a suspensão de partículas sólida no ar, gerada por ruptura

mecânica de um sólido. As poeiras são geradas no manuseio de sólidos a granel,

como grãos; na britagem ou moagem de minérios; na detonação para desmontes de

rochas; no peneiramento de materiais orgânicos e inorgânicos; e outros.

Normalmente, têm tamanho de 0,1 µm a 25 µm.

A maior parte das poeiras em indústrias é formada por partículas de

tamanho muito variado, prevalecendo, numericamente, as menores, embora sejam

percebidas apenas as de maior tamanho.

A visão humana normal pode ver partículas de poeira acima de 50 µm,

entre 50 µm e 10 µm consegue-se perceber com um feixe luminoso intenso, e as

menores que 10 µm, individualmente só podem ser vistas com auxílio de um

Page 28: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

28

microscópio.

Pneumoconiose: Pneumo – pulmão; conis – pó. Com este nome

genérico são designados os estados patológicos produzidos pela retenção da poeira

nos pulmões.

As principais pneumoconioses – asbestose, pneumoconiose dos mineiros

de carvão e silicose – ocorrem tipicamente após exposição contínua a

concentrações de poeira que não são mais legalmente permitidas em muitos países

desenvolvidos, inclusive os Estados Unidos.

Silicose: é definida como uma enfermidade devida à respiração de ar

contendo partículas de sílica livre (SiO2), caracterizada por mudanças fibróticas

generalizadas e desenvolvimento de uma nodulação invasiva e clinicamente por um

decréscimo da capacidade respiratória e da expansão torácica, diminuição da

capacidade para o trabalho, ausência de febre, aumento de suscetibilidade à

tuberculose e imagem característica no Raio X (MARGOTTI, 1998).

Antracosilicose ou Pneumoconiose de trabalhadores de carvão -

Reação pulmonar, não neoplásica por mineral ou pós-orgânicos. O acúmulo da

poeira de sílica livre e cristalina no pulmão provoca uma reação do organismo a

essas partículas, e, como conseqüência, leva a uma fibrose pulmonar (como

cicatrizes internas), a qual diminui a capacidade de trocas gasosas do pulmão

(MARGOTTI, 1998).

A exposição a poeiras de carvão mineral relaciona-se com a

pneumoconiose de trabalhadores de carvão – PTC (FLETCHER apud MENDES,

1995), fibrose maciça progressiva – FMP (COCHRANE apud MENDES, 1995),

bronquite crônica – BC (HIGGINS e COLS., apud MENDES, 1995; TAE, WALKER &

ATTFIELD apud MENDES, 1995) e enfisema pulmonar (RYDER e cols., apud

MENDES, 1995; COCKCROFT e cols., apud MENDES, 1995). Estas entidades

Page 29: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

29

podem ocorrer de forma isolada ou combinada, embora sejam raros os casos de

FMP em fundo radiológico normal.

A etiologia da PTC permanece indefinida. A poeira do carvão é uma

mistura complexa contendo diferentes proporções de minerais, elementos traço e

substâncias orgânicas.

Os tipos de lesões patológicas observadas na PTC dependem de vários

fatores, como dose e duração da exposição, tamanho das partículas, tipo de carvão

e concentração de sílica, presença de outros minerais e resposta individual.

Considera-se a exposição cumulativa a poeiras respiráveis como o

principal fator condicionante da incidência e progressão da PTC.

A PTC apresenta uma forma simples com lesões maculares e nodulares

(micronódulos com até 7 mm de diâmetro e macronódulos, com 7 a 20mm de

diâmetro) e uma forma complicada chamada de Fibrose Maciça Pulmonar (FMP).

Fibrose Pulmonar Maciça (FMP) – Forma complicada da PTC, quando

os nódulos ultrapassam 2 cm de diâmetro. Os nódulos consistem de macrófagos

carregados de poeira de carvão dentro de um estroma de colágeno e reticulina. Os

fatores responsáveis pela progressão da forma simples da PTC para a forma

complicada não estão bem definidos.

A FMP é uma grave complicação da PTC, pois se associa a dispnéia,

alterações funcionais respiratórias (GILSON & HUGH-JONES apud MENDES, 1995)

e mortalidade aumentada (COCHRANE e COLS apud MENDES, 1995; COCHRANE

apud MENDES, 1995).

A pneumoconiose pode-se apresentar ainda em três formas distintas a

Forma Aguda, Forma Acelerada e Forma Crônica. Sendo que se conceitua como

forma aguda, a pneumoconiose que se manifesta clínica e radiologicamente com

menos de cinco anos do início da exposição. Entre cinco a dez anos do início da

Page 30: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

30

exposição como forma acelerada e forma crônica com mais de dez anos de

exposição. A forma crônica pode aparecer anos após a cessação da exposição.

A fibrose é irreversível e, mesmo se afastado o trabalhador, esta continua

progredindo e culminando na morte por insuficiência respiratória.

O controle médico faz-se por radiografias de tórax, semestralmente, e se

aparecer um mínimo sinal de fibrose, afasta-se imediatamente o trabalhador da

exposição, e ele é submetido a uma série de exames complementares que são os

seguintes: ultra-som, tomografia computadorizada, ressonância magnética. Se o

trabalhador for afastado em estágio muito inicial, a doença terá uma progressão

muito lenta (dezenas de anos), e, portanto, poderá ele levar vida normal.

2.4.3 Incidência

A incidência da pneumoconiose dos trabalhadores do carvão varia

conforme a composição geológica do solo e o tipo de mineração empregada na

extração do minério (MARGOTTI, 1998).

Outros fatores, como sensibilidade individual, o tipo de atividade exercida

pelo trabalhador na mina de carvão, o tempo de exposição às poeiras e

principalmente a concentração de poeiras no local de trabalho são fatores

preponderantes na incidência da doença (MARGOTTI, 1998).

Entre os trabalhadores nas minas de carvão, os que mais se expõem são

aqueles que exercem atividades nas frentes de serviços, devido à grande

concentração de poeiras nessas funções, como: furador de frente e de teto, ajudante

dos furadores e operadores de máquinas, são os mais suscetíveis à doença

profissional.

Na Região Sul de Santa Catarina foram encontrados em torno de 3.600

Page 31: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

31

casos de pneumoconiose dos trabalhadores de carvão até o ano de 1995.

O tempo médio do surgimento da doença e diagnóstico tem sido em torno

de 10 anos de atividades. Porém se levarmos em conta a categoria dos mineiros

furadores e operadores de máquinas – o aparecimento da doença cai para 5 anos. A

faixa etária mais atingida é a compreendida entre 30 e 40 anos de idade.

Em 1991, foram descritos 92 casos de FMP no Brasil (SOUZA FILHO &

ALICE, 1991), dos quais 50 eram provenientes da mineração de carvão (sete com

exposição mista a carvão e fluorita), com uma mortalidade de 1/3 dos casos em até

seis anos de observação.

Embora a incidência dessas doenças esteja declinando, ainda são

observados casos em locais onde as indústrias produziram historicamente elevadas

exposições a poeiras, bem como casos “sentinela”, sinalizando exposições

ocupacionais não-suspeitas e não-controladas.

2.4.5 Prevalência

A PTC tem uma prevalência pontual de 5,6% entre mineiros ativos no

Brasil com um tempo médio de exposição em torno de oito a nove anos. Não se

conhece a prevalência verdadeira da doença, uma vez que não há estudos

nacionais que envolvam ex-mineiros. Apesar de a população exposta ser pequena

no momento, a PTC constitui-se em sério problema de saúde pública na região

carbonífera, e as curvas de probabilidade de adoecimento são muito mais graves do

que dados provenientes, principalmente, da Grã-Betanha e Alemanha (ALGRANTI

apud SOUZA FILHO, 1991).

Na Região Sul de Santa Catarina, a prevalência que era de 5 a 8% com a

mineração manual ou semi-mecanizada passou de 10 a 12% com a mecanização

Page 32: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

32

das minas. Com as medidas de prevenção empregadas na região de Criciúma e

transformadas em normas técnicas pelo Ministério do Trabalho a partir de 1985, com

uso de água em todas as frentes de serviço e ventilação mais efetiva, a prevalência

caiu para 5,6% (SOUZA FILHO & ALICE, 1991).

A prevalência nos Estados Unidos é semelhante à brasileira, no entanto,

o tempo de exposição médio dos mineiros no Brasil equivale a 1/3 da média dos

mineiros americanos. Cinqüenta por cento dos pneumoconióticos, no Brasil, têm

menos de 12 anos de exposição em subsolo.

O carvão contém também diversos elementos traço em sua composição,

passíveis de figurarem como participantes na gênese da pneumoconiose, como

arsênico, chumbo, manganês, titânio, berílio e até urânio.

Todos estes fatores podem explicar a prevalência diversa da doença entre

diferentes regiões de mineração.

Page 33: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

33

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Natureza

Trabalho científico de pesquisa, com coleta de dados e revisão

bibliográfica.

3.2 Método

Foram realizadas pesquisas bibliográficas abordando o carvão mineral, a

forma como é extraído na região carbonífera de Criciúma, com o objetivo de

estabelecer o quadro histórico e o ambiente de alta incidência da pneumoconiose,

com comparação entre as técnicas antigas e atuais de extração, e a incidência da

doença no passado e nos dias atuais.

A abordagem das formas de diagnóstico e controle de casos isolados foi

feita a partir de dados obtidos junto ao INSS (Instituto Nacional de Seguro Social)

comparado com dados da literatura.

Entrevistas os com especialistas sobre a doença, Dr. Albino José de

Souza Filho (Pneumologista) e Dr. Sérgio Haertel Alice (Patologista).

Visita técnica na empresa COOPERMINAS (fotos anexo 03).

3.3 Caracterização

A pesquisa e avaliação dos casos de pneumoconiose ocorridos após a

Page 34: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

34

implementação de novo método de perfuração com o uso da água, são de extrema

importância para estabelecer novas estratégias de segurança no trabalho de

mineração do carvão.

A alta incidência da pneumoconiose dos trabalhadores das minas de

carvão teve acentuada diminuição após a introdução da água nas frentes de

trabalho, como conseqüência da redução da poeira gerada durante a perfuração.

Novos casos de pneumoconiose podem atestar que não apenas a grande

quantidade de poeira é capaz de desenvolver a patologia, mas também, baixas

quantidades, em indivíduos imunologicamente susceptíveis ou talvez em um período

de tempo maior de exposição para os mineiros em geral.

A notificação de ocorrências isoladas, sem o estudo dos casos,

abordando gravidade e condições do local podem mascarar a real situação e impedir

novas estratégias para a extinção de uma patologia incurável e com sérias

conseqüências para o trabalhador.

Page 35: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

35

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Solicitamos ao INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), Regional de

Criciúma/SC, dados referentes aos casos de Pneumoconiose dos trabalhadores da

mineração na Região Carbonífera, pelo período retroativo de dez anos (1995 a

2005).

Os dados foram obtidos a partir dos benefícios concedidos pelo INSS,

auxílio-doença ou acidente e aposentadoria por invalidez previdenciária ou

acidentária.

Os resultados apresentados são os seguintes: no período de 1995 até

2005, foram notificados 10 casos de pneumoconiose na Região Carbonífera de

Santa Catarina. Houve nove casos de pneumoconiose dos mineiros de carvão entre

os anos de 2001 e 2004. Seis, destes casos, pertencem ao município de Criciúma.

Um caso no município de Braço do Norte se refere à mineração de fluorita (Tabela

02).

Tabela 2: Relatório de ocorrência de pneumoconiose

Gex. Executiva do INSS em Criciúma – SC Benefícios com CID J60, concedida na Gex. Para os últimos 10 anos

Ano da DIB Espécie CID CID APS Concessão APS Manutenção

1999 92 J60 Braço do Norte Braço do Norte 2001 91 J60 Içara Içara 2002 92 J60 Urussanga Urussanga 2002 31 J60 Criciúma Criciúma 2003 31 J60 Içara Içara 2003 32 J60 Criciúma Criciúma 2003 94 J60 Criciúma Criciúma 2004 31 J60 Criciúma Criciúma

Page 36: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

36

Tabela 3: Continuação da tabela anterior Ano da DIB Espécie CID CID APS Concessão APS Manutenção

2004 31 J60 Criciúma Criciúma 2004 91 J60 Criciúma Criciúma

Legenda: CID: Código da doença J60: Pneumoconiose (nº CID) Espécie de Benefícios: 31 auxílio-doença previdenciário

32 aposentadoria por invalidez previdenciária

91 auxílio-doença acidentário

92 aposentadoria por invalidez acidentária

94 auxílio-acidente Tabela 2 e 3: INSS – Regional Criciúma/SC.

Os dados apresentados na tabela 02, só podem ser encontrados junto ao

órgão que, por força da lei deve receber as notificações. Pesquisas realizadas junto

às mineradoras ou sindicatos de classe não possuem dados e referem ausência de

casos.

Como analise da tabela 02, podemos observar algumas considerações

importantes. No período de 1995 até 1998 os registros de casos da doença junto ao

INSS, foi zero, ou seja, oficialmente a doença não ocorreu. A partir 2001 começaram

novamente os registros da doença (pneumoconiose dos trabalhadores do carvão),

de forma gradual e crescente, onde nos anos de 2003 e 2004 apresentarem 03

(três) casos por ano.

Os casos onde a Espécie de Benefício são 31 e 32, caracterizados por

auxilio previdenciário, e não auxílio por doença acidentário se refere (segundo o

Médico Perito do INSS) a trabalhadores já aposentados por pneumoconiose (CID

J60) que, trabalhando em nova função longe do contaminante poeira, desenvolvem

doença com incapacidade temporária (asma, bronquite, outras) e por isto recebem

auxílio doença previdenciário e não auxílio por doença profissional.

Page 37: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

37

A produção anual do Carvão Mineral de Santa Catarina, ano de 2003, foi

de 5.329.023 (toneladas), segundo o SIECESC (Sindicato da Industria de Extração

de Carvão do Estado de SC); o número de trabalhadores das mineradoras de carvão

mineral, no ano de 2003, é de 3.269 pessoas, conforme tabela (4) abaixo.

Tabela 4: Número de empregados no setor da mineração de extração de carvão

mineral

Número de Empregados no Setor da Mineração de Extração de Carvão Mineral, por Empresa - Ano: 2003

Empresa Nº de Empregados Metropolitana 654 Criciúma 716 Cocalit 10 Comin 44 São Domingos 81 Catarinense 317 Rio Deserto 426 Cooperminas 680 Belluno 236 Santa Augusta 105 TOTAL 3.269 Fonte: SIECESC – Criciúma/SC. – 2003.

Cruzando as informações de números de empregados no setor da

Mineração de Extração de Carvão, ano de 2003, no total de 3.269 trabalhadores;

com os casos oficiais da doença Pneumoconiose (INSS), ano de 2003, no total de

03 trabalhadores; Teremos um percentual total de 0,1 % dos trabalhadores

contaminados com a doença.

Porem, nem todos os trabalhadores da Mineração do Carvão estão

expostos à poeira; como já foi relatada, a doença atinge principalmente os

trabalhadores de frente de serviço, onde o número de trabalhadores varia em torno

Page 38: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

38

de 15% do total de funcionários. Logo o percentual da doença nos trabalhadores de

frente de serviço sobe para aproximadamente 1%.

Devemos aqui fazer uma consideração quanto os números da Previdência

Social apresentados, que incluem os trabalhadores que receberam benefício, isto é,

os que apresentam incapacidade para o trabalho.

Os portadores de pneumoconiose sem incapacidade laborativa

classificados como P1(anexo 02), fase inicial da doença, não constam dos dados do

INSS, pois não geram benefícios, retornam ao trabalho em área fora do risco, como

já foi citado, oficialmente não constam das estatísticas. O que explica a baixa

incidência da doença nas estatísticas da Previdência.

Foram entrevistados 3 mineiros que contraíram pneumoconiose P1

(anexo 02) nas minas de carvão.

Os 3 mineiros pediram para que não fossem citados os nomes deles e

nem o nome da mineradora:

Mineiro 01 - trabalhava no subsolo, frente de serviço, hoje trabalha na

superfície como encarregado do setor de beneficiamento. A doença segundo ele

continua progredindo, ele sente os sintomas.

Mineiro 2 - trabalhava no subsolo, hoje trabalha na superfície como

cabeçoteiro de correia transportadora. A doença segundo ele continua progredindo,

ele sente os sintomas.

Mineiro 3 – Trabalhava no subsolo, hoje esta na superfície trabalhando no

desmonte hidráulico de finos. A doença segundo ele continua progredindo, ele sente

os sintomas, esta sentindo falta de ar.

A ocorrência de um caso de pneumoconiose pode ser considerada, de

maneira didática como resultado de riscos ambientais de trabalho, fatores biológicos

humanos e da inadequação do sistema de cuidados com a saúde.

Page 39: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

39

O sistema de cuidados com a saúde abrange o conhecimento médico das

causas, o diagnóstico etiológico, tratamento eficaz e a atuação preventiva por parte

das empresas nas condições ambientais de trabalho.

As notificações, se corretamente direcionadas, devem chegar aos

responsáveis pela segurança do trabalho das empresas, motivando estudos sobre

os riscos ambientais do trabalho, fazendo o diagnóstico da falha na prevenção ou da

necessidade de adoção de novos métodos.

Ao setor de segurança no trabalho cabe a avaliação dos riscos ambientais

de trabalho e a atuação preventiva sobre estes. Os demais fatores estão vinculados

ao conhecimento médico, de fundamental importância para o diagnóstico da doença,

porém fora do contexto desta pesquisa.

Como orientação para o trabalho procuramos dois especialistas no

assunto, que residem em Criciúma, e possuem artigos publicados sobre

“Pneumoconiose dos Trabalhadores do Carvão”, e trabalham na área há muitos

anos, Dr. Albino José de Souza Filho (Pneumologista) e Dr. Sérgio Haertel Alice

(Patologista).

Podemos ressaltar das entrevistas com os especialistas, a grande

mudança no processo produtivo na exploração do carvão mineral e na incidência da

pneumoconiose, com a introdução da água nas brocas de furação na frente de

trabalho. Segundo eles, a redução da doença foi realmente considerável, porém a

doença pneumoconiose é silenciosa, e pode se manifestar alguns anos após a

inalação do contaminante. São necessárias avaliações periódicas nos trabalhadores

da mineração e um estudo de Coorte, com homens entre 21 e 35 anos de idade,

para análise da evolução e comportamento real da doença.

Os especialistas são unânimes em afirmar que o monitoramento da poeira

em suspensão é muito importante para a eliminação da doença, pois, somente

Page 40: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

40

conhecendo as concentrações de poeira pode-se verificar os riscos a que estão

expostos os trabalhadores.

Na Europa, Canadá, Japão e EUA, são freqüentes os monitoramentos

nas minas de carvão. Nos ambientes de trabalho onde as concentrações de poeira

são baixas, não ocorre a pneumoconiose, e os trabalhadores aposentam-se com 30

anos de serviço. No Brasil os trabalhadores de minas de carvão, das frentes de

serviço, aposentam-se com 15 anos de serviço.

Na visita técnica na empresa COOPERMINAS, fomos acompanhados por

um profissional da área de segurança do trabalho que nos orientou sobre todos os

procedimentos de segurança, bem como da extração do minério. Podemos confirmar

que a área mais critica na exploração do carvão é à frente de serviço - a furação de

frente, explosão com dinamite, e furação de teto - onde os níveis de poeira são muito

elevados. O uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual), semifacial com filtro

descartável é obrigatório, porém seu uso é desconfortável para a atividade, de

grande movimentação e esforço físico. A máscara dificulta a respiração, e em um

ambiente onde o nível de oxigênio é baixo, atingindo o limite inferior próximo de 18

% (Figura 5), com uma jornada de trabalho de 6 horas, a eficiência dos

trabalhadores fica comprometida.

Como forma de avaliação da visita técnica a empresa, sugerimos algumas

medidas que podem melhorar o ambiente de trabalho nas minas de carvão.

Page 41: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

41

Figura 5: Monitoramento de Oxigênio e Gases.

Fonte: Arquivo dos pesquisadores

4.1 Monitoramento da poeira em suspensão

O monitoramento é instrumento de vital importância para verificação das

concentrações poeiras nas minas subterrâneas de carvão. Nesta pesquisa

verificamos que são poucas as mineradoras que fazem este monitoramento, e

quando fazem evitam divulgar os resultados obtidos.

Como nos países desenvolvidos, o monitoramento da poeira, deve ser

fiscalizado e acompanhado pelo poder público, sindicatos trabalhistas e patronais,

obedecendo a uma normatização segundo padrões internacionais, conforme segue.

As medidas do monitoramento da poeira podem ser obtidas através de

instrumento gravimétrico ou através de instrumento de leitura direta.

O instrumento gravimétrico convencional é composto de uma bomba, um

pequeno ciclone que separa a fração do ar respirável da poeira e um filtro que coleta

Page 42: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

42

a poeira respirável. A Administração de Saúde e Segurança de Minas (MSHA apud

KISSELL, 2003) aprovou para minas de carvão, instrumento gravimétrico com

ciclone de 10 mm operando com fluxo de ar de 2.0 litros por minuto.

Para obtenção de melhor acurácia, as bombas devem ser calibradas

(MSHA apud KISSELL, 2003), os ciclones devem ser limpos e os filtros pesados

com exatidão.

Para uma pesagem correta, os filtros devem ser secos para remover a

umidade e a pesagem deve ser feita em câmara com temperatura e umidade

controlada. Atenção especial deve ser dada à quantidade de sílica que está sendo

medida. Quando a massa de poeira no filtro se encontra abaixo de 0,5 mg, existe um

aumento do erro. Neste caso, pode ser necessário amostras com filtros, feitas em

várias direções para acumular massa suficiente.

Para obtenção de uma medida de concentração válida, uma lista de

checagem da amostra de poeira deve ser feita, com o objetivo de evitar erros

causados por fatores ambientais.

Esta lista de checagem aborda medidas feitas em locais com gradientes

de concentração, em locais dentro de 33 metros (100 pés) da fonte de poeira, na

vigência de diluição do ar dentre a fonte de poeira e o local de medida, com a

velocidade do ar e sobre a representatividade do material da amostragem.

A normatização das medidas de poeira deve estabelecer além do

instrumento de checagem, os locais e condições das medidas. As áreas designadas

devem ser estabelecidas e reavaliadas a cada período de tempo. Diante de

modificações nestas medidas, novas áreas podem ser estabelecidas.

A periodicidade na realização deve ser estabelecida dentro desta

normatização. A realização de medidas bimestrais (KISSELL, 2003) permite uma

nova medida no caso de alguma amostra ter sido recusada.

Page 43: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

43

4.2 Ventilação

A ventilação em mina subterrânea tem como principal objetivo fornecer

um fluxo de ar fresco (puro), natural ou artificial, a todos os locais de trabalho em

subsolo, em quantidades suficientes para manter as condições necessárias de

higiene e de segurança dos trabalhadores. Uma ventilação inadequada torna as

condições ambientais da mina precárias para os operários e equipamentos,

representando para a empresa uma perda de produtividade. De uma maneira

simplificada, podemos resumir o papel da ventilação em (ANON, 2000):

- Permitir a oferta adequada de oxigênio no ar aos operários.

- Reduzir a concentração de gases tóxicos oriundos do desmonte de

rochas com explosivos.

- Evitar a formação de misturas explosivas gás-ar.

- Reduzir as concentrações de poeiras em suspensão.

- Diluir os gases oriundos da combustão de motores.

- Atenuar a temperatura e a umidade excessiva.

As técnicas de ventilação de mina podem ser resumidas basicamente em

duas categorias: ventilação natural e ventilação mecânica. A ventilação natural é

uma técnica utilizada desde os primórdios da mineração. É causada pela diferença

de temperatura do ar no interior da mina em relação ao ar externo.

Com a crescente necessidade de um maior fluxo de ar no interior das

minas, desenvolveram-se as técnicas de ventilação mecânica com ventiladores

instalados no poço de entrada de ar (insuflação), ou na saída da ventilação

(exaustão). Esse desenvolvimento ocorreu, principalmente, a partir da segunda

metade do século XIX, com os ventiladores mecânicos de grandes diâmetros,

exclusivamente centrífugos e de velocidades reduzidas, movidos por moinhos de

Page 44: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

44

vento ou roda hidráulica (ANON, 2000).

Após a primeira guerra, com o grande desenvolvimento da aerodinâmica,

foram introduzidos os ventiladores axiais de grande porte, sendo esses hoje em dia

os mais empregados. De uma maneira geral, os ventiladores centrífugos são os que

melhor se adaptam aos serviços da mina além de serem mais silenciosos.

Entretanto os ventiladores axiais são mais baratos, compactos e flexíveis quando ao

seu uso, permitindo a regulagem do ângulo de pás de seu rotor, variando os valores

de vazão e pressão impostos, sendo, por esses motivos, os mais empregados como

ventiladores de poço de ventilação (MONTEDO, 2002).

Os circuitos principais de ventilação utilizado nas minas catarinenses são

compostos basicamente pelas galerias de entrada e retorno de ar, pelos divisores de

fluxo (tapumes de alvenaria) e pelo exaustor principal. Tanto o circuito de entrada

como o de retorno dispõe de um número variável de galerias dependendo do trecho

da mina. Os elementos do circuito de ventilação, além das galerias, envolvem os

divisores de fluxo (tapumes), que são construídos de alvenaria e, posteriormente,

rebocados com argamassa, e o exaustor principal. O circuito secundário (dentro dos

painéis) é composto pelos ventiladores de frente de lavra, e por tapumes.

Este sistema de ventilação - ventilação geral diluidora - é uma cadeia de

passagens interconectadas muitas das quais também são usadas como rotas de

passagem para pessoal, veículos, e os produtos da mineração. Ar puro é tirado da

atmosfera da superfície. Com as passagens de ar subterrâneas, sua qualidade

deteriora como resultado de contaminantes produzidos pelos detritos e efeitos de

máquinas e procedimentos mineiros. O ar contaminado é devolvido à superfície.

A avaliação da eficiência ou dimensionamento deste sistema de

ventilação pode ser feita por técnicas diretas, usando as equações de Kirchhoff ou o

algoritmo de Hardy Cross para a análise das redes de fluxo (COSTA, 1998). Essas

Page 45: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

45

técnicas diretas de análise são extremamente trabalhosas, quando temos um circuito

composto de muitas malhas (ramos), sendo empregadas apenas em partes do

circuito de ventilação (MONTEDO, 2002). Para uma análise mais detalhada ou

previsão de mudanças no circuito de ventilação, empregam-se técnicas de

simulação computacional (COSTA, 1998). No Brasil, as Normas Regulamentadoras

do Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15 e NR-22, fixam os parâmetros de

quantidade e qualidade do ar. Essas normas têm imposto limites cada vez mais

rígidos às mineradoras, no sentido de garantir melhores condições de trabalho aos

funcionários.

Uma melhora considerável no circuito de ventilação é possível com

avaliação e técnicas de simulação em computadores e com possibilidade de se

obterem estimativas sobre possíveis mudanças ou avanços no circuito de ventilação

como a disposição dos painéis em paralelo, que, além de atender as normas

vigentes, melhora as condições de trabalho dos operários.

A boa qualidade dos tapumes diminui as perdas e evita a recirculação de

ar.

A avaliação dos ventiladores disponíveis na mina sobre a capacidade de

fornecer a vazão planejada para os painéis em lavra é importante para realizar, se

necessário um ajuste na configuração de pás dos mesmos para fornecimento de

uma maior vazão ou a aquisição de ventiladores que atendam essa premissa.

O investimento em ventilação nas minas subterrâneas é necessário e de

fundamental importância para o processo produtivo, e para a saúde dos

trabalhadores.

Page 46: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

46

4.3 Proposta para a prevenção da pneumoconiose

Os métodos de combate a pneumoconiose são ainda de evitar a

formação de poeira nas operações de extração. Para tal, sugere-se as seguintes

proposta:

♣ Limpeza dos locais de trabalho: Antes que o mineral seja removido

pelo carregador mecânico deve ser molhado para evitar a dispersão da poeira. A

prática de regar bastante à frente de trabalho e as paredes antes da perfuração e

detonação, prevê uma maior superfície de adesão para as partículas de poeira.

Durante o carregamento de material devem ser usados bicos aspersores para criar

nuvens sobre a área carregada.

♣ Pré-britagem a úmido: Nas máquinas quebradoras (pré-britador),

deve haver bicos atomizadores de pequeno consumo para criar nuvens sobre o

material a ser britado, com isto evitando a formação de poeira.

♣ Pontos de transferência e transportadores contínuos: em todos os

pontos de transferências de correias devem ser instalados bicos atomizadores, para

evitar a formação de poeira.

♣ Atomizadores de água: Em minas subterrâneas, os disparos,

detonações ou explosões são as operações que produzem maior quantidade de pó

e talvez do tipo mais perigoso. Por esta razão usa-se um tipo de neblinado que

utiliza água e ar comprimido. Estes neblinadores (atomizadores) são colocados a

uma distância prudente na frente de trabalho (08 a 10m) para evitar que sejam

prejudicados pelo disparo e são acionados antes das explosões. A água atomizada

com ar comprimido em forma de neblina densa faz com que o pó assente

rapidamente e dilui absorvendo a maior parte dos gases provenientes do disparo.

Este procedimento permite que os homens regressem aos seus locais de trabalho

Page 47: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

47

num período menor e a uma atmosfera livre de gases e pó. Em testes realizados nas

minas da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) reduziu-se em 65%, a emanação

de poeira total, 100% dos gases nitrosos e 75% do monóxido de carbono (CO),

liberando a frente de trabalho de metade do tempo convencional.

Uma maneira de tornar o spray mais eficaz é aumentar a pressão da

água (figura 6), melhorando a eficiência por unidade de uso da água. Testes com a

captura da poeira pela água feitos com spray’s convencionais e spray’s de alta

pressão, mostram que o sistema de alta pressão apresenta melhor desempenho

com muito menos água. O uso dos dois sistemas simultaneamente é o ideal na

redução da poeira, e poderia ser a melhor escolha para uso subterrâneo (HAND

BOOK, NIOSH, 2003).

Para um melhor desempenho das pressões de água na frente de

trabalho, seria ideal um dispositivo que liga e desliga o sistema conforme a

necessidade no local de trabalho.

Figura 6: Airborne capture performance of four types of spray nozzles Fonte: Arquivos dos pesquisadores

Page 48: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

48

4.4 Programa de proteção à saúde

Para obter uma real proteção é fundamental estabelecer um programa

sistemático de controle tanto das condições ambientais, como dos equipamentos

umidificadores e das instalações de ventilação. Treinamento, informações sobre os

dados de saúde e do ambiente de trabalho e orientação constante aos trabalhadores

expostos à poeira são necessários para haver cooperação com o programa.

Page 49: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

49

5 CONCLUSÃO

Considerando, que a pneumoconiose dos mineiros de carvão e uma

moléstia progressiva e irreversível e, que tem métodos eficazes de prevenção,

concluímos propondo os seguintes procedimentos técnicos e administrativos para

redução e eliminação dos riscos que a determinam:

♣ Avaliar cada caso diagnosticado, para a detecção de todas as

situações ambientais que oferecem riscos, como princípio básico de prevenção.

♣ Aplicar as técnicas de engenharia apresentadas que, quando,

implementadas apresentam grande eficiência na prevenção das pneumoconioses.

♣ Realizar o monitoramento da poeira em suspensão na frente de

trabalho como procedimento básico para a eliminação da doença, normatizando a

periodicidade de avaliação das medições de poeira e fiscalizando sua aplicação.

♣ Implantar um Laboratório de Higiene Industrial em Criciúma, provido de

equipamentos e instalações adequadas com o objetivo de determinar,

periodicamente, a concentração de poeira existente nas minas de carvão da região.

♣ Informar os trabalhadores das avaliações ambientais e das estatísticas

da ocorrência de pneumoconioses, para mantê-los informados dos riscos existentes

no trabalho e incorporá-los às ações de redução da pneumoconiose na mineração

do carvão.

♣ Promover uma maior interação entre a Engenharia de Segurança do

Trabalho e a Medicina do Trabalho das empresas, para que haja um cruzamento de

informações, e análise da efetividade das ações de prevenção das doenças

ocupacionais na mineração do carvão.

Acreditamos que o tema é importante, e não se esgota neste trabalho. Há

Page 50: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

50

necessidade de estudos mais aprofundados, medições técnicas e busca de novas

alternativas para efetivo controle da doença.

Page 51: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

51

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ANEXOS

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ANEXO 01 – O CARVÃO MINERAL

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O CARVÃO MINERAL

1.1 Origem e história do carvão mineral

O carvão catarinense teve sua origem no período carbonífero da era

primária (permiano), por decomposição de grandes florestas existentes, com

transformação da celulose vegetal, pela perda de hidrogênio e oxigênio, com o

conseqüente enriquecimento em carbono.

Em 1828, o carvão catarinense foi descoberto em Lauro Müller, por

tropeiros de Criciúma, que resolveram passar a noite naquela localidade.

Ao prepararem suas refeições, serviram-se de pedras para apoiar urna

panela sobre o fogo e ficaram surpresos ao perceberem que as mesmas

incendiaram-se, virando cinzas. Tomaram algumas pedras idênticas e levaram para

Laguna, onde a notícia despertou curiosidade e espalhou-se por toda a Província

Catarinense.

Sendo esta pedra reconhecida como carvão, organizou-se em Santa

Catarina, uma empresa para sua extração, mas, somente em 1833, o governo da

Província autorizou sua extração. Nesta época a firma interessada já havia se

dissolvido.

Em 1880 foi construída a Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, para

transportar o carvão das minas catarinenses ao porto de Laguna.

A Indústria Carvoeira Catarinense, apesar dos auxílios do governo, só

tomou impulso, com a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em

Volta Redonda no Rio de Janeiro em 1941.

Em 1942 o carvão passou a ser explorado em Siderópolis, com a chegada

da CSN.

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57

O Sul do Estado de Santa Catarina ocupa uma área de 9.049 km² (9,8%

da área total do Estado) (IBGE, 2003). Compreende 39 municípios com uma

população estimada em 800 mil habitantes, com cerca de 500 mil em áreas urbanas.

O desenvolvimento da região calcado, num primeiro momento, na

exploração do carvão, deu-se a partir de dois vetores distintos:

O primeiro no sentido Criciúma-Sul, tendo como principais impulsores a

exploração do carvão e a agricultura. Nos últimos anos um forte incremento

industrial nas áreas de cerâmica, confecções, plásticos e descartáveis e metal-

mecânica deu nova configuração ao ambiente sócio-econômico da área. Ela deixou

de depender quase exclusivamente do carvão, para se transformar num dos pólos

industriais do estado;

O segundo, no sentido Criciúma-Norte, foi sustentado até os anos 60

pelas atividades de beneficiamento e transporte do carvão. A partir daí, a

implantação da Usina Jorge Lacerda, aliada a um processo de disseminação de

pequenas e médias empresas e um forte incremento do turismo, tornou esta área

cada vez menos dependente do carvão. Atualmente predominam na região as

atividades ligadas ao setor mineral, ao setor cerâmico e metal-mecânico, setor agro-

industrial e setor pesqueiro.

A situação ambiental, segundo estudos efetuados pela Fundação de

Amparo a Tecnologia e ao Meio Ambiente (FATMA), é crítica, quando se analisa o

conjunto da carga poluidora gerada pela lavra, beneficiamento, transporte e

estocagem do rejeito da mineração, pelas unidades produtoras de coque, pela

usina-termoelétrica, pelas cerâmicas, pelas fecularias e pelo setor agro-industrial.

Nos anos de 1978 e 1979 foram desenvolvidos estudos na região que

apontaram dados quantitativos e qualitativos de extrema importância para o

planejamento das ações governamentais e para o estabelecimento de uma política

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estadual de meio ambiente, reforçando a necessidade do imediato enquadramento

dessa região como "área crítica nacional".

Após exaustivo trabalho de segmentos organizados na sociedade e das

autoridades constituídas do Estado, no dia 25 de setembro de 1980, na cidade de

Tubarão, foi assinado o Decreto n. 85.206, enquadrando a Região Sul de Santa

Catarina como a 14ª Área Crítica Nacional, para efeitos de controle da poluição

gerada pelas atividades de extração, beneficiamento e usos do carvão mineral.

No processo de lavra a céu aberto a remoção do capeamento é realizada

de forma desordenada, provocando a inversão das camadas dando origem ao solo

invertido e à chamada "paisagem lunar". Nesta, a maioria das pilhas tem na sua

base a camada fértil do solo e na sua crista os arenitos, siltitos, folhelhos carbonosos

e piritosos. Dessa forma, a reabilitação futura é prejudicada.

Nos municípios de Urussanga e Siderópolis, as áreas de lavras a céu

aberto ultrapassam os 2.100 hectares, predominando o aspecto de destruição e

esterilidade do solo.

Nessa área os terrenos foram somente nivelados mecanicamente e

reflorestados com espécies de eucaliptos que se desenvolvem mal devido à falta de

aplicação de técnicas adequadas, pela precariedade do solo e pela presença de

água altamente poluída e tóxica.

Os locais destinados à disposição final dos rejeitos da mineração, que

representam cerca de 70% do carvão catarinense, ocupavam já em 1979 uma área

de 1600 hectares (JICA1, 1998), provocando a redução de terras para atividades

1 A JICA, vinculada ao Ministério de Negócios Estrangeiros do Japão, é o órgão responsável pela implementação de programas e projetos de cooperação técnica com países em desenvolvimento. Para tanto com recursos da AOD (Ajuda Oficial para o Desenvolvimento) do Governo do Japão, na forma de "grant aid". Atualmente, a JICA possui escritórios em 50 países, além da matriz em Tóquio. Além da atribuição de realizar cooperação técnica internacional, a JICA presta também assistência aos emigrantes japoneses. Todavia, como hoje em dia são raros os cidadãos japoneses que migram

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agro-pastoris e para expansão urbana. Esses rejeitos contendo "pirita carbonosa"

em contato com a água e o oxigênio, liberam ao meio ambiente, gases sulfurosos,

compostos de ferro e ácido sulfúrico, causando degradação em extensas áreas

urbanas e rurais.

Esse fato reveste-se de importância, pois até a exaustão das reservas

medidas (1,5 bilhões de toneladas de carvão) poderão ser gerados, caso o modelo

atual de utilização do carvão seja mantido, em torno de 187,5 milhões de m3 de

rejeito (cerca de 50% do minério bruto é constituído pelo rejeito). Esse rejeito, se

disposto em pilhas de 15 m de altura, padrão atual de disposição do rejeito,

ocuparão uma área estimada em 1250 ha. Além disso, ao contrário da maioria das

indústrias, o fechamento das minas não encerra o processo poluidor, que continua

enquanto e onde houver material piritoso exposto à oxidação, durante décadas.

Em 1977, o sistema hidrográfico da região carbonífera compreendida

pelas bacias dos rios Tubarão, Urussanga e Araranguá, estava comprometido em

1/3 de sua extensão, devido ao lançamento de 300 mil metros cúbicos diários de

despejos ácidos gerados pela indústria do setor carbonífero, os quais enriquecidos

com a drenagem de água das minas subterrâneas representavam um equivalente

populacional de 9 milhões de habitantes, para uma produção final de 1.100.000 t

ano-1 de carvão metalúrgico (cm) e 1.260.000 t ano-1 de carvão-vapor (cv), enquanto

a população local era de apenas 620 mil habitantes. O volume global de água

captada e utilizada pelas indústrias de mineração apresentou, no ano de 1977, um

consumo equivalente a 1.400.000 habitantes.

A área urbana de Criciúma, além dos problemas apontados, é ameaçada

pelo fenômeno da subsidência, que provocam alterações em áreas topográficas

para o exterior, esta atividade sofreu drástica redução, perdendo importância no contexto da instituição. No Brasil, há três escritórios, localizados nas cidades de Brasília, Belém e São Paulo.

Page 60: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

60

localizadas sobre galerias subterrâneas.

Além do impacto causado ao meio biótico e físico, as emissões de gases

tóxicos e de material particulado provocam danos à saúde humana. A expressiva

presença e acúmulo crônico de materiais poluentes tóxicos e letais no ar, no solo e

nas águas ocorrem porque a pirita sofre oxidação em conseqüência do contato com

o ar e a água, liberando ao meio ambiente, gases sulfurosos (letais), compostos de

ferro (sulfatos e hidróxidos tóxicos) e ácido sulfúrico (produto também corrosivo e

tóxico).

A incidência de doenças do aparelho respiratório na Região Sul do Estado

é maior que a verificada nas demais regiões, sendo que 70% das internações

ocorridas nos hospitais e 2% dos óbitos, são decorrentes de doenças atribuíveis à

poluição do carvão.

1.2 Generalidades

O carvão mineral é uma rocha sedimentar. Origina-se de longo processo

pelo qual, substâncias orgânicas, sobretudo vegetais, são acumuladas em camadas

sucessivas, submetidas à ação de pressões e temperatura terrestre durante milhões

de anos. A este processo denominamos carbonificação.

A massa vegetal assim acumulada, sob condições geológicas e biológicas

específicas, transforma-se inicialmente em turfa, com percentual de carbono já muito

superior a da celulose que lhe deu origem.

Mais alguns milhões de anos e a turfa transformam-se em linhito, com

concentrações ainda maiores de carbono.

A etapa seguinte leva ao aparecimento da hulha, que pode ser

classificada nos tipos sub-betuminoso, betuminoso e depois semibetuminoso.

Page 61: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

61

Na fase final a hulha transforma-se em antracito, com concentrações de

carbono superiores a noventa por cento.

Quanto maior a concentração de carbono no carvão, maior a quantidade

de energia gerada por sua combustão.

Os tipos betuminoso, sub-betuminoso e semibetuminoso são passíveis de

coqueificação, ou seja, por ação do calor perdem componentes voláteis,

solidificando-se.

Somente este carvão na forma de coque pode ser usado em siderurgia,

servindo como fonte de energia para transformar o ferro em aço.

No Brasil apenas o carvão de Santa Catarina é passível de coqueificação.

No entanto, por possuir elevado teor de cinzas (18,5%) e de enxofre (1,5%) é

preterido ao carvão importado (UFMG, 2005).

O carvão no Brasil é encontrado principalmente nos estados do Rio

Grande do Sul e Santa Catarina, que junto contém 99% das reservas conhecidas no

país, estimadas em 32,3 bilhões de toneladas.

Os dois estados produzem principalmente carvão vapor, com potência

térmica relativamente baixa, entre 3700 e 4500 (em comparação com os 6400 e

6700 do carvão polonês e americano, respectivamente) (JICA, 1998).

Dentre os três grandes tipos de combustíveis fósseis existentes, o

carvão, o petróleo e o gás natural, o carvão apresenta-se com as maiores reservas

conhecidas.

Mantendo-se os níveis de consumo atuais, as reservas conhecidas de

carvão mineral seriam suficientes para utilização por mais de duzentos anos

enquanto o petróleo e o gás natural, nas mesmas condições, seriam suficientes para

apenas 40 e 60 anos, respectivamente (FRAGOSO, 2000).

O carvão responde por 25% do consumo atual de energia no mundo. Se

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62

considerarmos apenas a geração de energia elétrica este percentual sobe para 37%.

Alguns países têm o carvão como fonte primária de geração de energia elétrica,

como a Polônia com 96%, a África do Sul com 90% e a Austrália com 84% (COAL

FACTS, 2000).

1.3 A ocorrência e a formação das camadas de carvão mineral de Santa

Catarina

A Bacia Carbonífera Catarinense é uma das mais importantes do Sul do

País, pois contém as maiores reservas de carvão coqueificável economicamente

explorável do território nacional. Especificamente, situa-se no flanco sudeste do

Estado, estendendo-se desde o sul de Araranguá até além de Lauro Müller, numa

faixa com direção Norte-Sul com aproximadamente 100 Km de comprimento e uma

largura média de 20 Km, em recursos pesquisados de 30 bilhões de t (VOLPATO,

1984).

Os carvões desta região enquadram-se nos tipos sub-betuminosos,

betuminosos e antracitosos, aparecendo em diversas camadas (pelo menos doze

camadas) de pouca espessura, com elevado teor de cinzas e baixo poder calorífico

na camada original.

As principais camadas mineráveis encontradas na região carbonífera de

Santa Catarina que são caracterizadas como as de suprema qualidade das

ocorrências brasileiras denominam-se de camada Barro Branco, camada Irapuá e

camada Bonito inferior (SUFERT, CAYE, DAGMON, 1977).

O Ministério das Minas e Energia (BRASIL, 1994) explica que as camadas

de carvão de carvão mais importantes da Bacia Carbonífera Sul-Catarinense

encontram-se na parte superior da Formação Rio Bonito, mais precisamente no

Page 63: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

63

Membro Siderópolis. As camadas de carvão identificadas na região são em número

de doze, assim designadas do topo para a base: Treviso, Barro Branco, Irapuá, “A”,

“B”, Ponte Alta, Bonito Superior, Bonito Inferior, Pré-Bonito Superior, Pré-Bonito

Inferior “C” e “D”. Destacam-se pela constância lateral, maior espessura e

recuperação de carvão metalúrgico, as camadas Barro Branco, Irapuá, “A”, “B” e

Bonito Inferior.

O carvão é uma rocha sedimentar combustível formada a partir de

vegetais, tendo sofrido soterramento e compactação em bacias originalmente pouco

profundas. A principal formação geológica das ocorrências de carvão mineral em

Santa Catarina é a formação Rio Bonito, datada do permiano médio, sendo uma de

suas subdivisões o membro siderópolis, que é constituído essencialmente por

arenitos com intercalações de camadas de siltitos cinzas, por leitos e camadas de

carvão e por siltitos carbonosos.

Esta unidade foi depositada em um ambiente litorâneo que progrediu

sobre sedimentos marinhos do membro antecessor. Os arenitos apresentam

depósitos de barras e barreiras, com interdigitação de sedimentos fluvio-deltaicos,

tendo os sedimentos carbonosos sido originados em lagunas e mangues costeiros,

posteriormente cobertos por areias litorâneas.

As principais camadas de carvão extraídas pertencem ao membro

siderópolis, comumente ultrapassando os dois metros de espessura, como as

camadas barro branco e bonito inferior, sendo a camada barro branco ocorrente no

topo e a camada bonito na base do membro (BORTOLUZZI apud GERÔNIMO,

2004).

Page 64: A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO

64

2.3.1 Camada de carvão Barro Branco

A camada de carvão Barro Branco é a mais importante das camadas de

carvão da bacia carbonífera, em razão de sua ampla e persistente distribuição

geográfica e da qualidade de seu carvão, o único atualmente explorado no Brasil

com propriedades coqueificantes, permitindo seu uso na indústria siderúrgica

nacional. Distribui-se por uma superfície de aproximadamente 2.000 Km2, sendo

constituída por uma alternância de leitos de carvão e de material estéril (siltitos e

folhelhos), em proporções aproximadamente equivalentes. A espessura do carvão

contida na camada está em torno de 1 metro, chegando a 1,60 m ao longo do eixo

da bacia. A camada total tem em média cerca de 2 metros de espessura. Nas

bordas da bacia, a espessura diminui tornando-se muitas vezes antieconômica

(BRASIL, 1995).

A distribuição relativa dos leitos de carvão e intercalações de siltitos e

folhelhos mostra uma razoável uniformidade, podendo, deste modo, dividir a camada

Barro Branco do topo para a base em forro, quadração, coringa, siltito barro branco e

branco. O carvão obtido da camada Barro Branco é colocado nas faixas dos

Carvões Betuminosos de Alto Volátil A (BRASIL, 1995).

2.3.2 Camada de Carvão Irapuá

Está situada estrategicamente, de 4 a 12 metros abaixo da camada Barro

Branco. Não mostra continuidade lateral, nem espessura digna de nota. Seus

depósitos mais significativos são alongados, via de regra curvos, em forma de

ferradura, sugerindo depósitos em paleocanais, sendo constituída por leitos de

carvões com intercalações de siltitos e folhelhos pretos (BRASIL, 1995).

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65

Em termos de espessura de carvão na camada, esta varia de 1,0 m a

1,80 m em áreas próximas a Criciúma e Treviso, respectivamente. Seus teores de

cinzas e enxofre acham-se em torno de 43,50% e 1,24%, respectivamente (BRASIL,

1995).

2.3.3 Camada de Carvão Bonito Inferior

As características do carvão da camada Bonito Inferior variam do norte

para o sul. Ao norte (Lauro Müller) o carvão tem menor rendimento metalúrgico e vai

gradativamente aumentando para o sul, sobretudo na área de Araranguá - Torres. A

camada Bonito Inferior é composta por vários leitos de carvão separados por

intercalações de folhelhos carbonosos (BRASIL, 1995).

Dentro da bacia, em termo regionais é a camada mais espessa, embora a

qualidade seja inferior à camada Barro Branco. É produtora de carvão energético e

metalúrgico, entretanto, até o presente, não tem sido lavrada em grande escala. Na

faixa granulométrica utilizada, a recuperação do carvão metalúrgico da camada

Bonito Inferior mostra resultados bastante inferiores à camada Barro Branco e

Irapuá. Entretanto, em certas áreas, britando-se o Carvão Bonito a granulometrias

menores, ele pode igualar-se até sobrepujar o rendimento em carvão metalúrgico da

camada Barro Branco (BRASIL, 1995).

2.4 Bacias Carboníferas de menor importância

Das Bacias Carboníferas de menor importância destacam-se a

carbonífera localizada no Centro-Sudeste do Estado. Na região de Alfredo Wagner,

ela alcança sua maior expressão, sendo que mais para o norte, a espessura das

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66

camadas de carvão diminuem consideravelmente (BRASIL, 1995).

A principal camada de carvão nesta bacia é a Barro Branco. Dados

disponíveis mostram que esta camada tem maior expressão no sul da bacia, nas

proximidades do rio Laranjeiras. O perfil da camada de carvão aí encontrado não

apresenta o aspecto típico da camada Barro Branco da Bacia Carbonífera Sul

Catarinense (BRASIL, 1995).

As outras camadas de carvão se apresentam com pequenas expressões

ou mesmo estão ausentes. Muitas vezes sua correlação é difícil e imprecisa em

virtude da pequena quantidade de dados disponíveis (BRASIL, 1995).

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ANEXO 02 - NORMA TÉCNICA PARA AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE

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PNEUMOCONIOSE

Ordem de serviço INSS/DSS nº 609

APRESENTAÇÃO

A presente atualização da Norma Técnica sobre Pneumoconioses objetiva

simplificar, uniformizar e adequar o trabalho do médico perito ao atual nível de

conhecimento desta nosologia.

A evolução da Medicina do Trabalho, da Medicina Assistencial e Preventiva, dos

meios diagnósticos, bem como a nova realidade social, motivou, sobremaneira, esta

revisão, tornando-a mais completa e eficaz.

Dessa concepção surgiram dois momentos que passaram a constituir os módulos do

presente trabalho: a Atualização Clínica da Patologia e a Avaliação da Capacidade

Laborativa.

Este estudo resultou da iniciativa da Divisão de Perícias Médicas do INSS, que

buscou parceria com diversos segmentos da sociedade, num debate aberto, visando

abordar todos os aspectos relevantes sobre o assunto, no período compreendido

entre junho de 1996 e julho de 1997, com a efetiva participação de representantes

da Perícias Médicas, Reabilitação Profissional e Procuradoria Estadual do Instituto

Nacional do Seguro Social; Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e

Medicina do Trabalho - Fundacentro/MTb; Confederação Nacional das Indústrias -

CNI; Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP e Universidade de Campinas -

UNICAMP.

SEÇÃO I

ANEXO I

CLASSIFICAÇÃO RADIOLÓGICA DAS PNEUMOCONIOSES

A classificação radiológica das pneumoconioses teve a sua primeira versão em

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1930. Posteriormente, com o avanço do conhecimento científico e da técnica

radiológica, foram editadas revisões sucessivas. A última é de 1980, em uso

corrente no momento.

Os principais objetivos da classificação radiológica podem ser assim sumarizados:

· padronizar as interpretações;

· diminuir a variabilidade de interpretação intra-observador e inter-observador;

· proporcionar um método de avaliação epidemiológica e clínica;

Dois pontos são de fundamental importância na aplicação da classificação

radiológica:

Técnica Radiológica: os critérios físicos para a obtenção de radiografias

técnicamente adequadas estão descritos em detalhes no texto da OIT. Em resumo,

a técnica recomendada é de alto kV e baixo tempo de exposição, utilizando-se uma

combinação de ecrans e filmes de média sensibilidade e velocidade. Essa técnica

proporciona radiografias com uma grande latitude de cores entre o branco e o preto,

diminuindo o contraste entre os extremos, o que melhora a visualização do

parênquima pulmonar, notadamente da vasculatura pulmonar, que é a principal guia

para a análise do interstício.

Interpretação Radiológica: o conhecimento teórico da classificação radiológica e das

radiografias padrão é necessário, porém insuficiente para uma interpretação

adequada. É necessário que os leitores tenham experiência com a sua aplicação,

notadamente nos casos limítrofes (entre as Categorias 0 e 1).

RESUMO SUSCINTO DA CLASSIFICAÇÃO

1. Qualidade

A classificação estabelece quatro níveis de qualidade: 1, 2, 3 e 4. Qualidade 1

significa uma radiografia tecnicamente perfeita. Qualidade 4 significa que os defeitos

técnicos impedem uma adequada interpretação, necessitando de repetição.

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Qualidades 2 e 3 são radiografias com defeitos técnicos que não interferem com a

classificação (2) ou, que ainda permitem classificá-la (3).

2. Pulmonar Alterações de Parênquima

2.1. Pequenas Opacidades

2.1.1. Profusão: Reflete a "quantidade" de alterações radiológicas no parênquima

pulmonar. Há quatro categorias radiológicas: 0, 1, 2 e 3. Cada categoria é dividida

em 3 subcategorias, em escala crescente:

CATEGORIA SUBCATEGORIA

0 0/- 0/0 0/1

1 1/0 1/1 1/2

2 2/1 2/2 2/3

3 3/2 3/3 3/+

As leituras são feitas dentro da escala de 12 pontos (subcategorias) em comparação

com o jogo de chapas padrão. As 3 subcategorias da categoria 0 são consideradas

como normais (0/- e 0/0) ou suspeitas (0/1), não devendo ser enquadradas como

pneumoconiose. A partir da subcategoria 1/0 as radiografias devem ser

considerados anormais. É importante salientar que a interpretação do RX não é

diagnóstica. Para a caracterização de pneumoconiose é necessário que haja uma

história ocupacional compatível, para o estabelecimento do nexo causal.

A escala de 12 subcategorias, a partir de 0/0 indica uma profusão crescente de

alterações radiológicas até um máximo de 3/+.

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71

2.1.2. Forma e Tamanho: Todas as leituras a partir de 0/1 devem ser acompanhadas

da menção da forma e tamanho das pequenas opacidades, por qualquer

combinação (ou repetição) de duas letras p, q e r (regulares ou redondas) s, t e u

(irregulares ou lineares), sendo que a primeira letra indica a opacidade

predominante.

2.2. Grandes Opacidades

São opacidades de 1 cm ou mais codificadas como A, B ou C. Normalmente, a

grande opacidade C acompanha-se de sintomas respiratórios e disfunção funcional

importante.

3. Alterações de Pleura

As alterações pleurais descritas na classificação radiológica costumam associar-se à

exposição ao asbesto. Elas são divididas em espessamentos (em placas ou difuso)

e calcificações, classificando-se separadamente as alterações na parede do tórax,

diafragma e seios costofrênicos. O espessamento pleural do tipo difuso geralmente

acompanha-se de restrição funcional.

4. Símbolos

São 22 símbolos, que servem para descrever outros achados na radiografia e que

não são contemplados com as descrições de alterações do parênquima ou da

pleura. Eles tanto podem indicar alterações radiológicas associadas a

pneumoconiose, quanto outros achados concomitantes. A menção de símbolos deve

ser cuidadosamente avaliada pelo médico atendente, pois alguns deles indicam a

necessidade de uma exploração clínica mais aprofundada.

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ANEXO 03 - FOTOGRAFIA DA VISITA A EMPRESA MINERADORA DE CARVÃO

MINERAL

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Fotografia da visita a Empresa Mineradora de Carvão Mineral – COOPERMINAS

– Forquilhinha – SC.

Realizada em março de 2005, turno noturno entre 21:00 hs e 03:00 hs.

Placa na entrada da Empresa Antero Mafra Jr e Mário Sergio Madeira

Introdução dos explosivos Furação de Frente para explosivos

Correias levando carvão à superfície Plano de direcionamento da ventilação

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Furação de Teto para escoramento Preparando para colocar parafusos de teto

Furação de teto, broca oca com água Bob cat, despejando na correia

transportadora

Monitoramento de Oxigênio e gases