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uma recolha adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança por JORAGA Sua alteza real - El’Rei só mencionado A Senhora Condessa e os seus humores Suas Altezas as Condessinhas Suas Altezas os Cavaleiros Penedo Gordo – Beja – 1989 revista em 1995 Corroios – Seixal – desenvolvida em 2008

A Senhora Condessa e os seus humores Suas Altezas as … · uma recolha adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança por JORAGA Sua alteza real - El’Rei só mencionado A Senhora

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uma recolha adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança por JORAGA

Sua alteza real - El’Rei só mencionado

A Senhora Condessa e os seus humores

Suas Altezas as Condessinhas

Suas Altezas os Cavaleiros

Penedo Gordo – Beja – 1989 revista em 1995

Corroios – Seixal – desenvolvida em 2008

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Recolhas e uma adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança

por JORAGA

Corroios – Seixal – 2008

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Ficha Técnica

Uma recolha de várias versões feita por - joraga

Autor de uma adaptação feita por - joraga

Recolhas realizadas: Recolha 1 – Condessa de Aragão - recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado. Recolha 2 – Condessinha de Aragão - in O POVO PORTUGUÊS - Teófilo Braga Recolha 3 – A Condessa – pauta musical por Alda Góis Recolha 4 – A Viscondessa, in obra de de Raquel Marques Simões Recolha 5 – Biblioteca Nacional Digital, com 2 imagens de pauta e letra (por César A. das Neves). Recolha 6 – in Cancioneiro Popular Português, Michel Giacometti, com a colabora-ção de Fernando Lopes Graça, Círculo de Leitores, 1981 pp. 20 e 22. Recolha 7 – in Caniço on line Recolha 8 – in «Miranda do Corvo» Etnografia Recolha 9 – in «natura.di.uminho.pt» Recolha 10 – VILLA-LOBOS: Piano Music - «www.naxos.com» Recolha 11 – in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico Recolha 12 – Guilherme Santos Neves – in «capxicaba.com.br» Recolha 13 – A Cabral 1 e A Cabral 2 Recolha 14 – Mais Recolhas em sugestão… No final, uma adaptação de joraga

A primeira versão, só com duas recolhas, foi feita para a Festa de São Martinho, na Escola Secundária Nº 2 (antiga Escola Técnica, depois Escola Secundária D. Manuel I) de Beja em 1989, revista em 1995 e final-

mente mais desenvolvida em 2008

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

Breve nota inicial

A CONDESSINHA de ARAGÃO, que terá nascido de um RIMANCE medieval, aparece-nos em diversas versões que vão de um simples jogo a uma dança, teatro… versado e musicado de diferentes maneiras… Parece que terá sido adoptado como tradição popular, em diversas regiões, para celebrar diversas festas ou celebrações cíclicas ao longo de um calendário marca-do pelas estações ou festas, como o São Martinho, Carnaval ou relacionada com as festas locais…

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

RECOLHAS

Recolha 1: CONDESSA DE ARAGÃO in Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - vol. II, p. 154, 1955, 2ª ed. 1980 com comentário, recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado

- Ó condessa, ó condessinha, Ó condessa de Aragão, Dá-me uma das tuas filhas, Só de lindas que elas são! - Não te dou as minhas filhas, Nem por ouro, nem por prata, Nem por fios de algodão, Só de lindas que elas são! - Volta atrás, ó cavalheiro, Se queres ser homem de bem, Leva uma das minhas filhas, Peço que me a trates bem.

- Muito bem a tratarei Sentado numa almofada, Tirando fios de seda Para dar à minha amada. - Não quero esta, que é uma rosa, Nem esta, que é um botão Quero esta só para mim, Que me adora o coração.

Beja Nota: «À proporção que as noivas são escolhidas, vae cada par, de mãos dadas, enfileirando com o antecedente; por fim, dansando e cantando, fazem todos roda à Condessa, e acaba o jogo. Para recomeçar é tirada nova sorte a vêr qual das outras raparigas será Condessa, ou à ocasião da roda e dansa final, é vendada a Condessa do jogo findo e a rapariga a quem ella lançar mão fica sendo a Condes-sa do jogo seguinte; e ainda este processo pode ser modificado: vendada a Con-dessa escondem-se as filhas; o primeiro cavalleiro dá um apupo e desvenda a Condessa; esta procura s foragidas e a primeira que acha, fica sendo Condessa.” (Vale a pena confrontar com outras variantes...)

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Recolha 2: CONDESSINHA de ARAGÃO in O POVO PORTUGUÊS nos seus Costumes, Crenças e Tradições volume I, pp. 253-255 (v. tb. 255-261) de 1885 / 1995 Teófilo Braga

Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga

«...o jogo da Condessa é verdadeiramente um Drama, digno de ser estudado como um elemento orgânico do teatro português. Transcrevemo-lo segundo a versão colhida na ilha da Madeira, pelo Dr. Azevedo: “Sete raparigas, de mãos dadas, são filhas da Condessa, já entradas no mosteiro para professar. Junto delas está uma rapariga, a quem por sorte coube ser a Condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a Condessa; são cavalleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento: Dizem eles:

Aqui as vimos pedir Pera com elas casar.

Responde ella:

Nem por ouro, nem por prata, Nem por sangue de dragão, Eu não dou as minhas filhas Do mosteiro ond’estão.

Respondem elles:

Tão alegres que vinhemos! Tão tristes que voltaremos! Que las filhas da Condessa Por mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem egual; Que todos semos fidalgos, Que nem de sangue real.

E vão-se retirando, mas detem-nos a Condessa:

Volvei a mim cavalleiros Por serdes homens de paz;

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Ide cada um á grade, Escolhei la que vos apraz.

Eles voltam, aceitam, e cada qual, por sua ordem observando cada uma das filhas da Condedssa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o: Primeiro Cavalleiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta, carne do assem. Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o segundo:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o terceiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quarto:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quinto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento;

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Andae comigo, meu bem. Diz o sexto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o sétimo:

Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.»

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Recolha 3: - A CONDESSA Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis Adaptação em pauta, realizada por Alda Góis, a partir duma versão cantada por outros colegas que cantaram a versão que tinham ouvido nas suas terras de ori-gem, Cuba e outras…

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Recolha 4: - A VISCONDESSA In «Canções para a Educação Musical» de Raquel Marques Simões Editores: Valentim de Carvalho, 6ª ed. s/d. Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões

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Recolha 5: - CONDESSINHA de ARAGÃO

In Biblioteca Nacional Digital - Cancioneiro de musicas populares (http://purl.pt/742/1/mpp-21-a_2/mpp-21-a_2_item1/index.html)

Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves Ficha Bibliográfica (visualização ISBD) - [572882] CANCIONEIRO DE MUSICAS POPULARES Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves / coord. a parte poetica por Gualdino de Campos ; pref. pelo Exmo Sr. Dr. Teophilo Braga. - V. 1, fasc. 1 (1893)-V. 3, fasc. n. 75 (1899). - Porto : Typ. Occidental, 1893-1899. - 33 cm http://purl.pt/742 - Quinzenal CDU 784.4(05) Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves, Porto, 1893-1899 [M.P.P. 21 A.]

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Letra: Este jogo infantil é dos que antigamente se usavam nas escolas, em horas de recreio; executa-se da seguinte forma: Um número impar de creanças organizam roda, no meio da qual fica uma menina, de pé, em quanto as que a circundam se sen-tam ou se põem de joelhos, segurando-lhe na orla da saia do ves-tido ou aba do babeiro. A que está no meio representa a Condessa e as que estão em vol-ta representam filhas. Por fora da roda um número egual de creanças representam cava-lheiros que vão pedir em casamento as filhas da Condessa; E um canta: Óh Condessa, oh condessinha; Óh Condessa d’Aragão, venho pedir-te uma filha de bonitas que elas são! A Condessa responde: Minha filha não t’a dou Que me custou a crear, Nem por ouro nem por prata, Nem pior sangue de Dragão. (ou, vulgarmente, lagarta) A roda dos cavalleiros gira e o primeiro vai cantando: Tão contente que eu vinha, Tão triste me vou achar; Pedi a filha à Condessa, Condessa não ma quis dar. Condessa torna a cantar: Volta atraz, oh cavalleiro, Se fores homem de bem, Dar-te-hei a minha filha, Se m’a estimares bem.

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Responde o cavalleiro: Estimo-a bem como bem, Sentada numa almofada, Enfiando contas d’ouro, Salta cá minha esposada. E retira uma menina, das filas da Condessa e vem passear de braço por fora da roda dos cavaleiros, em direcção contrária. Segue-se os outros cavalheiros que repetem o mesmo jogo. No fim a Condessa fica só, e então os pares que andavam em vol-ta, dão as mãos e formam uma grande roda e a Condessa canta: Eu sou viuvinha, Da banda d’alem, Quero casar Não acho com quem: Só contigo, só contigo, Só contigo, meu bem. E abraça um cavalheiro, e a menina que fica sem par vae servir de condessa se querem repetir o jogo. Com esta mesma música cantam as creanças a letra da Contan-cia.

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Recolha 6: Ó CONDESSA, CONDESSINHA In – Cancioneiro Popular Português – Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça, circulo de Leitores, 1981, p.20 e 22. Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA

Canção de roda A. Carneiro (M. de Sampaio Ribeiro) Trindade. Meixomil /Paços de Ferreira. Porto, 1944

Grupo de meninas: são as filhas e damas da condessa. Esta coloca-se no meio. A comitiva das filhas e damas pega na aba do vestido da condessa.

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O cavaleiro anda de roda e canta: Ó condessa. condessinha. condessa do Aragão, venho pedir-te uma filha das mais lindas que elas são! Canta agora a condessa: Minha filha não ta dou nem por ouro, nem por prata, nem por dinheiro nenhum, nem por sangue de lagarta.

Canta o cavaleiro: Tão contente aqui vim, tão triste me vou achar; pedi a filha à condessa, condessa não ma quis dar.

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Cantam a condessa e o grupo: Volta atrás, ó passageiro, morta seja! - Para bem te darei a minha filha, se tu ma estimar's bem. Canta o cavaleiro: - Estimo, estimarei, sentada numa almofada enfiando contas de ouro. - Salta cá, minha esposada! Uma das componentes do grupo passa a acompanhar a menina que fazia de cavaleiro. A canção continuará nos mesmos moldes.

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Recolha 7: - A CONDESSINHA In http://www.canico-online.com/jogosoutrostempos.htm

Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com Jogos de outros tempos Nas memórias de hoje

Condessinha, cabra-cega, apilhagem Entretanto, o Ti Germano continuava a remexer a palha com um forcado. Depois ia num instan-te apanhar um cesto de ameixas, que distribuía pela rapaziada de rosto afogueado pela corre-ria. Descanso de momentos. Porque já está tudo preparado para o jogo da condessinha.

Trata-se de um jogo antiquíssimo, descrito no "Romanceiro da Madeira" pelo Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo. A versão original era bastante diferente daquele que se ouvia até há bem poucos anos. Dos intervenientes uma rapariga faz o papel de condensa e um rapaz o de cavaleiro. Restam as filhas da condensa, que aguardam de mãos dadas e em fila. O cavaleiro colocava-se em frente da condessa. Imitando jeitos nobres, avançava uns passos sempre que chegava a sua vez de cantar. Começava: "À condessa, condessinha/ à mulher do Ara-gão/venho lhe pedir uma filha/destas todas que aqui estão. "Depois da recusa da condessa simulava um ar triste para dizer: "Tão alegre que aqui vinha/tão triste me vim achar/pedir a filha à condensa/condensa não me quis dar." Finalmente ele acede ao pedido com a promessa de a filha vir a ser estimada: "Volta atrás ó cavaleiro/se fores homem de bem/escolhe uma das minhas filhas/se a estimares bem." O certo é que acabava por ficar sem nenhuma delas, depois de a cantiga se repetir para cada uma. Talvez pela simplicidade, era bem popular o jogo da apilha-gem. Também o da cabra-cega. Todos muito atentos para que o lenço vedasse bem os olhos do escolhido. E o seguin-

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te diálogo, enquanto se preparavam para desatar a fugir da cabra cega: "- Cabra cega de onde vens? - Venho do Lombo do Moinho. - O que é que trazes? - Pão e vinho. - Não me dás nada? - Não. - Então anda à roda, cabra-cega." Gritos e correrias, enquanto a "cabra-cega" tentava, em vão, apa-nhar alguém para a substituir. Além deste resumo há ainda a versão contada por Lília Mata: http://www.canico-online.com/condensinha.htm

O jogo da "Condensinha"

O jogo da "condensinha" era um dos meus preferidos. Foi-me ensinado pela minha mãe, que se lembrava de o ter jogado nas eiras, durante a debulha da palha, aos domingos, nos cabeços ou nos terreiros, e no recreio, quando andava na escola. Não o joguei na escola nem nas eiras – não cheguei a assistir às debulhas – mas lembro-me de ter " brincado" à "condensinha" vezes sem conta com as minhas irmãs, no nosso terreiro, no terreiro da minha avó e no da minha tia. Uma fazia o papel de condessa, outra de cavaleiro. As outras crianças eram as filhas da condessa. Estas davam as mãos umas às outras e depois à condessa, que permanecia no meio da fila assim formada. O cavaleiro ficava em frente da condessa, avançando uns passos quando can-tava e recuando depois, quando estava na vez de a condessa responder. A can-ção repetia-se do início ao fim para cada uma das filhas da condessa. O jogo aca-bava quando esta já não tinha nenhuma filha. Eis a canção: Cavaleiro: - À "Condensa", "Condensinha" À mulher do Aragão Venho lhe pedir uma filha Destas todas que aqui estão Condessa: - Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de aragata Que me custou a criar Cavaleiro: - Tão alegre qu’aqui vinha Tão triste me vim achar Pedir a filha à "Condensa" “Condensa" não me quis dar Condessa:

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- Volta atrás, ó cavaleiro Se fores homem de bem Escolhe uma das minhas filhas Se a estimares bem Cavaleiro: - Eu estimo, estimarei Sentada numa almofada Enfiando continhas de ouro Vem-te cá, minha esposada

Era assim que eu cantava o Jogo da "Condensinha" e foi assim que a minha mãe, as minhas tias e as amigas, o cantaram no seu tempo de juventude. Mas a minha avó, quando nos ouvia, lembrava-se sempre de o ter cantado de uma outra forma quando era criança.

Punha-se a dizer uns versos mas na pressa de brincar nunca os aprendi de cor, nem me passou pela cabeça anotá-los. Muito mais tarde, quando me inte-ressei por todas estas memórias da nossa literatura oral, ela já não conseguia lembrar-se como deve ser. Apenas retalhos aqui e além, eram demasiadas coisas para uma pessoa poder lembrar-se, memórias acumuladas ao longo de noventa e seis anos de vida.

Fiquei contente quando, em 1986, reconheci a versão do Jogo da "Con-densinha" que a minha avó sabia num artigo publicado um ano antes na Revista "Das Artes e da História da Madeira". Trata-se de um artigo da autoria de Álvaro Manso de Sousa, com o título "Frivolidades históricas da Madeira. O Jogo da Con-dessa"

Afirma o autor: "A gente nova desta luminosa ilha – aquela de quem se diz: deixá-los que são rapazes! – sempre teve como lícito recreio, como folguedo próprio de uma saudável adolescência, o costume de reunir-se, em escolhidas épocas festivas, nas eiras e terreiros e, ali, sob o complacente olhar familiar, exi-bir jogos, ferras, danças e outras alegres cenas e colorida movimentação. Entre tais divertidos passatempos pratica-se, ainda hoje, o conhecido "Jogo da Conden-sa" de velha tessitura, entretenimento que o dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo descreve no seu "Romanceiro da Madeira", valiosa colectânea de histórias, xáca-ras, casos, contos, lengalengas, perlengas e jogos.

Vejamos o "jogo da condensa" que, ali, é assim observado: - sete rapa-rigas de mãos dadas são filhas da condessa, já entradas no mosteiro para profes-sar. Junto delas está uma rapariga a quem por sorte coube ser a condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a condessa; são cavaleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento. Dizem eles: - "Aqui las vamos pedir

Pera com elas casar" Responde ela: - "Nem por ouro, nem por prata Nem por sangue de dragão

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Eu não dou las minhas filhas Do mosteiro onde elas estão." Despedem-se eles: - " Tão alegres que vinhemos Tão tristes que voltaremos Que las filhas da Condensa Para mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem igual, Que todos semos fidalgos Que nem de sangue real." E vão se retirando, mas a condessa os retém. - " Voltei a mim cavaleiros Por serdes homens de paz, Ide cada um à grade Escolhei la que vos praz."

Eles voltam, aceitam e cada qual, por sua ordem, observando cada uma das filhas da Condessa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o primeiro cavaleiro: - " Esta não, nem esta quero Esta coma pão de cento; Esta vinho da cabaça; Esta carne do assento; Esta carne do assem; Esta é do meu contento; Andai comigo, meu bem."

Todos os cavaleiros escolhem, com a mesma cerimónia, a sua noiva, até final, dançam, cantam e concluem, fazendo roda à condessa.

A "Revista do Arquivo Municipal", do Estado de São Paulo, no Brasil, no seu CXXL aponta como brinquedo corrente, em São Luís de Paraitinga, uma variante daquele jogo da condessa, assim praticado:

Em grandes rodas, de mãos dadas, as meninas cantam em coro, dando passos cadenciados para a direita e esquerda. - "senhora dona Condensa filha de França, onde nasceste! Sinhô rei mandou lhe dizer quantas filhas você tem. se quer lhe emprestar uma pelo sangue de Aragão." As outras respondem:

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- "Volta, volta cavaleiro Volta, volta mensageiro Vai dizer ao teu rei Que não dou nenhuma delas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de Aragão."

É para admirar que tendo atravessado o largo oceano (...) subsista ainda vivo, embora estropiado do caminho, o velho jogo da condensa.

A distância modificou a letra e a intenção cínica: sangue de dragão e sangue de Aragão (...)

Se o sangue de dragão, antiga droga medicinal, resina vermelha empre-gada na tinturaria e na terapêutica arcaica, tinha um inestimável valor pela sua variedade e segredo de origem a ponto de confinar com o ouro e a prata, o san-gue de Aragão seria, numa aliança matrimonial, uma honrosa e revigorante linfa para pomposas genealogias, um garfo de boa cepa para as classes privilegiadas. (...)

Mutilação grave no "jogo da condensa" é, contudo, a letra usada pelas garotas da minha rua, nestas estiradas tardes dominicais. (......) (1)

Pobre "jogo da condensa" em tão esfrangalhado texto. Desvirtuado, per-dido o rigor da tradição, tornou-se um estranho bicho em cujas veias corre um aquoso, anímico e dessorado sangue: Neste caso...o esquisito sangue de araga-ta." (1) Aqui o autor transcreve o versão do "jogo da condensa" a que me refiro no início deste texto, a versão que aprendi quando criança e tantas vezes cantei ao longo da minha infância. Lília Mata

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Recolha 8: - Jogo da CONDESSA in «Miranda do Corvo» Etnografia http://www.mirandadocorvo.com/index.php?pagina=etnografia Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia Jogo da condessa: de um lado está uma menina (a Condessa) com as filhas, que lhe seguram o vestido, formando roda, do outro lado está o cavaleiro que era uma menina. O cavaleiro vai pedir uma filha à condessa e diz: Ó Condessa, ó condessa Ó Condessa de Aragão Venho pedir-te uma filha Das mais lindas que aqui estão A Condessa responde: Minha filha não a dou Nem por ouro nem por prata Nem por sangue do dragão Nem por rabo de lagarto O cavaleiro vai-se embora muito triste e diz: Ai que tão contente eu vinha Tão triste me vou achar Pedi a filha à Condessa Condessa não ma quis dar A Condessa fica com pena e chama: Tornai atrás cavaleiro Entrai por esses portais Escolhei a mais bonita Essa que gostardes mais O cavaleiro canta alegre, escolhendo uma da roda: Não te quero por seres rosa Nem a ti por açucena Quero-te por seres formosa E por seres a mais morena (Jogava-se na Escola Primária).

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Recolha 9: - CONDESSA de Aragão In http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/gambozinos-condessa.lyr Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt» title: Pedido de casamento singer: Bando dos Gambozinos music: Suzana Ralha lyrics: Luísa Ducla Soares from: Luís Vasquez in:"Vinte e Cinco - As Cartas" Ó condessa, condessinha, ó condessa de Aragão, venho pedir-te uma filha que tão lindas elas são. Minhas filhas não te dou nem por ouro nem por prata. Uma foi para o Japão de viajar não se farta. Outra foi de submarino para as profundezas do mar, tem a paixão dos peixinhos, a ti não te vai ligar. Outra foi para enfermeira, está na sala de operações, se a quiseres abraçar levas duas injecções. Tão contente que eu vinha tão triste me vou achar. Nas raparigas de agora ninguém consegue mandar.

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Recolha 10: A CONDESSA Outra com tradução inglesa: http://www.naxos.com/sungtext/PDF/570008_texts.pdf VILLA-LOBOS: Piano Music, Vol. 5 (Guia pratico I-IX)

Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos 25. (5) A Condessa The Countess A Condessa Oh! Condessa oh! Condessinha, Oh! Condessa d’Aragão! Bis Venho pedir uma filha De bonitas que ellas são. Bis Eu sou viuvinha, Da parte d’além, Quero casar Não acho com quem; Só comtigo, só comtigo, só comtigo, Meu bem. (Cavalheiro) Onde mora (la) Condessa De lingua de França e dor de lanceta? (Condessa) Que quereis com la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis Onde mora la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis

The Countess Oh! Countess oh! little Countess, Oh! Countess from Aragon! Bis I come to ask for the hand of one of your daughters ‘Cause they are so beautiful. Bis I am a little widow, From far away, I want to get married I do not find a partner; Only with you, only with you, only with you, My darling. (Gentlement) Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? (Countess) What do you want from la Coun-tess Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis

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Recolha 11: As Filhas da CONDESSA in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico http://depts.washington.edu/hisprom/espanol/ballads/balladaction.php?igrh=0224&publisher=Costa%20Fontes%201997 Total: 1 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico 0224:3 Hilo de oro (estróf.) (ficha nº: 2917) Versión de Baixo Alentejo s. l. (Baixo Alentejo, Portugal). Documentada en o antes de 1955. Publicada en Delgado 1955, II, 59. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 385, Z1. 020 hemist. Música regis-trada --Ó condessa, ó condessinha, ó condessa de Aragão, dá-me umas das tuas filhas, só de lindas que elas são. --Não te dou as minhas filhas nem por ouro nem por prata, nem por fios de algodão, só de lindas que elas são. Volta atrás, ó cavalheiro, se queres ser homem de bem; dou-te uma das minhas filhas, peço que me a trates bem. --Muito bem a tratarei, sentado numa almofada, tirando fios de seda para dar à minha amada. Não quero esta que é uma rosa nem esta que é um botão; só quero esta cá p`ra mim, que me adora o coração. Título original: AS FILHAS DA CONDESSA (ESTRÓF.) (=SGA S15)

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Recolha 12: - A BELA CONDESSA In COLETÂNEA DE ESTUDOS E REGISTROS DO FOLCLORE CAPIXABA: 1944-1982 Guilherme Santos Neves PRESENÇA DO ROMANCEIRO PENINSULAR NA TRADIÇÃO ORAL DO BRASIL http://www.estacaocapixaba.com.br/textos/folclore_tradicao/coletanea/romanceiro_peninsular.htm Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil «15 A bela condessa» Versões recolhidas em Vitória, Conceição da Barra e São Mateus. O diálogo do romance é todo dramatizado numa ronda infantil. Eis o trecho inicial de uma das versões (de São Mateus): – Aonde mora a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – O que queres com a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – Senhor Rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas, Carregar você também. – Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de alemão Para casar com este ladrão. – Tão contente que eu me vinha E tão triste já me vou, Por causa da bela Condessa Que sua filha me negou... – Volte atrás, bom cavalheiro, Por ser um homem de bem, Subi naquele outeiro Escolhei daquelas três: Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar... Sobre “La Condessa” afirma Théo Brandão: “Duas coisas, entre-tanto, podíamos perceber à vista desarmada: o brinquedo era

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realmente um romance e o romance relatava um episódio típico da vida medieval: a escolha da noiva.” (“La Condessa”, Revista de Dialectología y Tradiciones Populares, Madri, tomo X, 1954). Ver também a esse respeito A condessinha de Aragão, de Fernando Castro Pires de Lima, 1957, p. 48 e seguintes). Breve estudo sobre essa ronda fizemos em Cantigas de Roda (1ª. série, 1948, p. 41-8), com texto musical fixado por João Ribas da Costa.

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Recolha 13 : Ainda em 2 imagens uma versão in A Cabral: Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral

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Recolha 14…

Com estes e outras palavras-chave relacionadas, pode-se ver ain-da outras fontes com mais versões, o que nos dá um manancial imenso, como:

Pan-Hispanic Ballad Project

https://depts.washington.edu/hisprom/biblio/biblioaction.php?titl=Hilo%20de%20oro Livraria Moreira da Costa - Internet: http://www.moreiradacosta.com

• Traditional Ballads among the Portuguese in California: Part I

• Joanne B. Purcell

• Western Folklore, Vol. 28, No. 1 (Jan., 1969), pp. 1-19 (article consists of 19 pages)

• Published by: Western States Folklore Society

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CONDESSINHA D’ARAGÃO CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga Uma adaptação feita para festas por JORAGA, a partir das versões recolhidas, a fim de melhor se adaptar a um jogo cénico… abrindo a possibilidade de cada grupo a recriar a que melhor se adapte às

circunstâncias e tradições locais…

Indicações cénicas. O LOCAL – pode ser ao ar livre, num espaço onde possa haver uma razoável pis-ta de dança, como há na maior parte das aldeias, e um local separado ou até mais elevado, onde os cavaleiros vão buscar as damas... Em caso de mau tempo, um pavilhão ou um recinto coberto, serve perfeitamen-te... O MATERIAL: Basta uma cadeira estilo poltrona- para a/s Condessa/s e sete cadeiras ou bancos para as Condessinhas. As do 1º grupo que iniciam a dança devem levar trajos antigos e a condizer, tendo as condessinhas, por adorno, uma condessinha ou cesta de flores e lenços de várias cores, menos o branco que será para a Condessa. Este lenço (o branco) será levado pelo primeiro Cavaleiro e servirá para designar a Condessa em cada um dos jogos que se seguirem... Os cavaleiros devem trajar de acordo com os usos antigos da região e levar um chapéu... INTERVENIENTES: 1º- Um conjunto bem ensaiado que tocará e cantará ao mesmo tempo ou em vez dos cavaleiros e/ou Condessa que podem não saber, e só farão a mímica... 2º- Um grupo de 8 raparigas, das quais, uma será a Condessa e as outras 7, as Condessinhas. 3º- Um grupo de 7 rapazes que serão os primeiros sete cavaleiros. 4º- Toda a assistência, a quem, tanto as Condessinhas como a Condessa irão entregar os véus ou as cestas; e os Cavaleiros, os seus chapéus..., desafiando-os assim para os substituírem na dança... e entrarem no jogo, festa,... JOGO – DRAMA – DANÇA: 1º Entram as 8 Damas fingindo-se mascaradas, cobrindo a cara que afinal vai descoberta, com as capas ou mantilhas, ou ainda com um leque que pode ser uma espécie de máscara... e vão dançando em passinhos curtos e variados... ao som da música... Só música entretanto... Cruzando-se e volteando, parece não saberem o que fazer... A certa altura fazem uma RODA e continuam girando na pista de dança... 2º- É nesta altura que entram, a correr, 7 Cavaleiros, ao ritmo da música, giran-do ao contrário das damas, com os lenços que vão entregar às damas.

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O 1º leva dois lenços. Um é o Branco. Este será o 1º a ser atirado para escolher a Condessa. Muitas vezes, claro, esta já está escolhida... 3º- Escolhida a Condessa, esta sai da roda e vai ocupar o trono que lhe está des-tinado. Ali fica triste e chorosa, sem saber o que fazer das suas sete pobres Con-dessinhas, as suas estremadas filhas, pois não tem dote adequado para as casar como convém... Entretanto a roda prossegue até os Cavaleiros desastrados acertarem e entrega-rem os véus às tímidas e tontas Condessinhas. À medida que o recebem, estas vão-se sentando nos bancos ou cadeiras que lhes estão destinadas, onde ficam, comicamente, tristes e chorosas pelo destino que as espera... 4º- Logo que entregam os lenços, os Cavaleiros desaparecem, quase tão inespe-radamente como apareceram, pois vão ter de re/entrar, dentro de instantes... 5º- A condessa, no eu trono, continua a sua mímica, mostrando a sua aflição por, viúva e sem grande fortuna, não saber o que fazer das suas prendadas filhas, quase todas da mesma idade, em escala,... O Convento será a solução? A música continua, e as Condessinhas não podem esconder a sua tristeza, pois, sonhando com as delícias de um feliz noivado que as levariam ao altar... e... “depois seriam felizes para sempre”, lêem no drama da mãe, que viúva, tanto padeceu para as criar, que estão destinadas ao convento... 6º- Entram então, muito solenes e dignos, sete garbosos Cavaleiros, dançando e fazendo grandes vénias com o seu chapeirão, à Condessa, às Condessinhas, sem esquecer o estimado público, sobretudo se teve de pagar o seu bilhetinho para entrar na festa...

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Adaptação feita para festas por JORAGA

CONDESSINHA D’ARAGÃO Cantam os Cavaleiros:

VIMOS CÁ, MANDOU EL’REI, À PROCURA DA CONDESSA P’RA PEDIR UMA DAS FILHAS QUE HÁ-DE SER COMO PRINCESA...

Canta a Condessa, fingindo afectação e com a dignidade ferida.

NÃO VOS DOU AS MINHAS FILHAS NEM POR OURO, NEM POR PRATA, NEM POR SANGUE DE DRAGÃO, TÃO PRENDADAS QUE ELAS SÃO!!!

Respondem os Cavaleiros, surpreendidos e feridos no seu orgu-lho, mas sem perderem a sobranceria:

TÃO CONTENTES QUE VIEMOS E TÃO TRISTES VOLTAREMOS, POIS AS FILHAS DA CONDESSA POR NOIVAS NÃO LEVAREMOS! POIS SABEI QUE TODOS TEMOS PODERIO SEM IGUAL... TODOS NÓS SOMOS FIDALGOS QUE NEM DE SANGUE REAL!!!

Vão-se retirando os Cavaleiros com saudações e salamaleques tanto à Condessa como às Condessinhas... que tapam o rosto e disfarçam a tristeza para não se escangalharem a rir à gargalha-da... E, num repente, vendo que lhe foge a sorte grande de se vir livre logo das sete duma vez, a Condessa reconsidera cantando:

VOLTAI ATRÁS CAVALEIROS, SE QUEREIS SER HOMENS DE PAZ, IDE ALÉM, ÀQUELE OUTEIRO, ESCOLHEI QUEM VOS APRAZ...

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Fingindo-se muito surpreendidos, voltam os Cavaleiros que nem sequer tinham acabado de sair e podem fazer-se caros e fazer variadas momices e mímicas à medida que vão regressando e se vão alinhando… Uma vez decididos, vão cantando, cada um por sua vez, dirigindo-se ao local onde estão as chorosas donzelas e passando, lentamente, por todas elas, numeradas de 1 a 7, mas não necessariamente pela ordem em que estão sentadas, podendo, claro, seguir a sua preferência, pois já têm “fisgada” a “Menina” que já tem escolhida para levar para seu par: 1º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... 3 - NEM ESTA SERVE P’RA MIM HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 4 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 5 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 6 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 7 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

E pegando na mão da eleita, sai para a pista abrindo assim o baile... Ficam só seis… Canta então o 2º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 3 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 4 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 5 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 6 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 5! O 3º:

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, MESMO SENDO LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM...

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HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 2 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 3 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 4 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 5 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 4… E o 4º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 3 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 4 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 3… E o 5º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 3 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 2… E o 6º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 2 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficou a última… Então o 7º:

JÁ NÃO HÁ FLORES NO JARDIM! HÁ SÓ ESTA LINDA FLOR! 1 - QUERO ESTA CÁ PRA MIM QUE VAI SER O MEU AMOR!...

Os pares vão dançando e evoluindo na sala, procurando envolver o mais possível todo o ambiente, com a mesma ou com outras músicas... A certa altura, pára a música… Os pares correm para a assistência e, fingindo um jogo de cabra-cega, escolhem, na assistência, aqueles e aquelas que os vão substituir e o jogo recomeça.

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ÍNDICE

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado...........................................................6 Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga ..................................................................................7 Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis ........................................................................................10 Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões..........................................................................11 Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves ..............................................................................................12 Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA ................17 Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com...20 Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia ..................................................................................25 Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt»..............................................................26 Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos.....................................................................................27 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico .....................................28 Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil ................................................29 Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral ..............................31 Recolha 14… .................................................................................32 CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga33

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Espaço para os/as possíveis INTERVENIENTES

As damas: A Condessa e as Condessinhas

Os Cavaleiros ou Cavalhei-ros

A Condessa: (O Rei só referido ou na sombra?)

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Zeraga – recolha e adaptação digitalizada e editada em PDF para o

RECANTO DAS LETRAS, em Novembro de 2008, como celebração da Festa do São Martinho – revista em 2010.

uma recolha adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança por JORAGA

Sua alteza real - El’Rei só mencionado

A Senhora Condessa e os seus humores

Suas Altezas as Condessinhas

Suas Altezas os Cavaleiros

Penedo Gordo – Beja – 1989 revista em 1995

Corroios – Seixal – desenvolvida em 2008

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Recolhas e uma adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança

por JORAGA

Corroios – Seixal – 2008

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Ficha Técnica

Uma recolha de várias versões feita por - joraga

Autor de uma adaptação feita por - joraga

Recolhas realizadas: Recolha 1 – Condessa de Aragão - recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado. Recolha 2 – Condessinha de Aragão - in O POVO PORTUGUÊS - Teófilo Braga Recolha 3 – A Condessa – pauta musical por Alda Góis Recolha 4 – A Viscondessa, in obra de de Raquel Marques Simões Recolha 5 – Biblioteca Nacional Digital, com 2 imagens de pauta e letra (por César A. das Neves). Recolha 6 – in Cancioneiro Popular Português, Michel Giacometti, com a colabora-ção de Fernando Lopes Graça, Círculo de Leitores, 1981 pp. 20 e 22. Recolha 7 – in Caniço on line Recolha 8 – in «Miranda do Corvo» Etnografia Recolha 9 – in «natura.di.uminho.pt» Recolha 10 – VILLA-LOBOS: Piano Music - «www.naxos.com» Recolha 11 – in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico Recolha 12 – Guilherme Santos Neves – in «capxicaba.com.br» Recolha 13 – A Cabral 1 e A Cabral 2 Recolha 14 – Mais Recolhas em sugestão… No final, uma adaptação de joraga

A primeira versão, só com duas recolhas, foi feita para a Festa de São Martinho, na Escola Secundária Nº 2 (antiga Escola Técnica, depois Escola Secundária D. Manuel I) de Beja em 1989, revista em 1995 e final-

mente mais desenvolvida em 2008

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

Breve nota inicial

A CONDESSINHA de ARAGÃO, que terá nascido de um RIMANCE medieval, aparece-nos em diversas versões que vão de um simples jogo a uma dança, teatro… versado e musicado de diferentes maneiras… Parece que terá sido adoptado como tradição popular, em diversas regiões, para celebrar diversas festas ou celebrações cíclicas ao longo de um calendário marca-do pelas estações ou festas, como o São Martinho, Carnaval ou relacionada com as festas locais…

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

RECOLHAS

Recolha 1: CONDESSA DE ARAGÃO in Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - vol. II, p. 154, 1955, 2ª ed. 1980 com comentário, recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado

- Ó condessa, ó condessinha, Ó condessa de Aragão, Dá-me uma das tuas filhas, Só de lindas que elas são! - Não te dou as minhas filhas, Nem por ouro, nem por prata, Nem por fios de algodão, Só de lindas que elas são! - Volta atrás, ó cavalheiro, Se queres ser homem de bem, Leva uma das minhas filhas, Peço que me a trates bem.

- Muito bem a tratarei Sentado numa almofada, Tirando fios de seda Para dar à minha amada. - Não quero esta, que é uma rosa, Nem esta, que é um botão Quero esta só para mim, Que me adora o coração.

Beja Nota: «À proporção que as noivas são escolhidas, vae cada par, de mãos dadas, enfileirando com o antecedente; por fim, dansando e cantando, fazem todos roda à Condessa, e acaba o jogo. Para recomeçar é tirada nova sorte a vêr qual das outras raparigas será Condessa, ou à ocasião da roda e dansa final, é vendada a Condessa do jogo findo e a rapariga a quem ella lançar mão fica sendo a Condes-sa do jogo seguinte; e ainda este processo pode ser modificado: vendada a Con-dessa escondem-se as filhas; o primeiro cavalleiro dá um apupo e desvenda a Condessa; esta procura s foragidas e a primeira que acha, fica sendo Condessa.” (Vale a pena confrontar com outras variantes...)

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Recolha 2: CONDESSINHA de ARAGÃO in O POVO PORTUGUÊS nos seus Costumes, Crenças e Tradições volume I, pp. 253-255 (v. tb. 255-261) de 1885 / 1995 Teófilo Braga

Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga

«...o jogo da Condessa é verdadeiramente um Drama, digno de ser estudado como um elemento orgânico do teatro português. Transcrevemo-lo segundo a versão colhida na ilha da Madeira, pelo Dr. Azevedo: “Sete raparigas, de mãos dadas, são filhas da Condessa, já entradas no mosteiro para professar. Junto delas está uma rapariga, a quem por sorte coube ser a Condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a Condessa; são cavalleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento: Dizem eles:

Aqui as vimos pedir Pera com elas casar.

Responde ella:

Nem por ouro, nem por prata, Nem por sangue de dragão, Eu não dou as minhas filhas Do mosteiro ond’estão.

Respondem elles:

Tão alegres que vinhemos! Tão tristes que voltaremos! Que las filhas da Condessa Por mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem egual; Que todos semos fidalgos, Que nem de sangue real.

E vão-se retirando, mas detem-nos a Condessa:

Volvei a mim cavalleiros Por serdes homens de paz;

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Ide cada um á grade, Escolhei la que vos apraz.

Eles voltam, aceitam, e cada qual, por sua ordem observando cada uma das filhas da Condedssa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o: Primeiro Cavalleiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta, carne do assem. Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o segundo:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o terceiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quarto:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quinto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento;

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Andae comigo, meu bem. Diz o sexto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o sétimo:

Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.»

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Recolha 3: - A CONDESSA Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis Adaptação em pauta, realizada por Alda Góis, a partir duma versão cantada por outros colegas que cantaram a versão que tinham ouvido nas suas terras de ori-gem, Cuba e outras…

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Recolha 4: - A VISCONDESSA In «Canções para a Educação Musical» de Raquel Marques Simões Editores: Valentim de Carvalho, 6ª ed. s/d. Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões

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Recolha 5: - CONDESSINHA de ARAGÃO

In Biblioteca Nacional Digital - Cancioneiro de musicas populares (http://purl.pt/742/1/mpp-21-a_2/mpp-21-a_2_item1/index.html)

Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves Ficha Bibliográfica (visualização ISBD) - [572882] CANCIONEIRO DE MUSICAS POPULARES Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves / coord. a parte poetica por Gualdino de Campos ; pref. pelo Exmo Sr. Dr. Teophilo Braga. - V. 1, fasc. 1 (1893)-V. 3, fasc. n. 75 (1899). - Porto : Typ. Occidental, 1893-1899. - 33 cm http://purl.pt/742 - Quinzenal CDU 784.4(05) Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves, Porto, 1893-1899 [M.P.P. 21 A.]

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Letra: Este jogo infantil é dos que antigamente se usavam nas escolas, em horas de recreio; executa-se da seguinte forma: Um número impar de creanças organizam roda, no meio da qual fica uma menina, de pé, em quanto as que a circundam se sen-tam ou se põem de joelhos, segurando-lhe na orla da saia do ves-tido ou aba do babeiro. A que está no meio representa a Condessa e as que estão em vol-ta representam filhas. Por fora da roda um número egual de creanças representam cava-lheiros que vão pedir em casamento as filhas da Condessa; E um canta: Óh Condessa, oh condessinha; Óh Condessa d’Aragão, venho pedir-te uma filha de bonitas que elas são! A Condessa responde: Minha filha não t’a dou Que me custou a crear, Nem por ouro nem por prata, Nem pior sangue de Dragão. (ou, vulgarmente, lagarta) A roda dos cavalleiros gira e o primeiro vai cantando: Tão contente que eu vinha, Tão triste me vou achar; Pedi a filha à Condessa, Condessa não ma quis dar. Condessa torna a cantar: Volta atraz, oh cavalleiro, Se fores homem de bem, Dar-te-hei a minha filha, Se m’a estimares bem.

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Responde o cavalleiro: Estimo-a bem como bem, Sentada numa almofada, Enfiando contas d’ouro, Salta cá minha esposada. E retira uma menina, das filas da Condessa e vem passear de braço por fora da roda dos cavaleiros, em direcção contrária. Segue-se os outros cavalheiros que repetem o mesmo jogo. No fim a Condessa fica só, e então os pares que andavam em vol-ta, dão as mãos e formam uma grande roda e a Condessa canta: Eu sou viuvinha, Da banda d’alem, Quero casar Não acho com quem: Só contigo, só contigo, Só contigo, meu bem. E abraça um cavalheiro, e a menina que fica sem par vae servir de condessa se querem repetir o jogo. Com esta mesma música cantam as creanças a letra da Contan-cia.

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Recolha 6: Ó CONDESSA, CONDESSINHA In – Cancioneiro Popular Português – Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça, circulo de Leitores, 1981, p.20 e 22. Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA

Canção de roda A. Carneiro (M. de Sampaio Ribeiro) Trindade. Meixomil /Paços de Ferreira. Porto, 1944

Grupo de meninas: são as filhas e damas da condessa. Esta coloca-se no meio. A comitiva das filhas e damas pega na aba do vestido da condessa.

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O cavaleiro anda de roda e canta: Ó condessa. condessinha. condessa do Aragão, venho pedir-te uma filha das mais lindas que elas são! Canta agora a condessa: Minha filha não ta dou nem por ouro, nem por prata, nem por dinheiro nenhum, nem por sangue de lagarta.

Canta o cavaleiro: Tão contente aqui vim, tão triste me vou achar; pedi a filha à condessa, condessa não ma quis dar.

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Cantam a condessa e o grupo: Volta atrás, ó passageiro, morta seja! - Para bem te darei a minha filha, se tu ma estimar's bem. Canta o cavaleiro: - Estimo, estimarei, sentada numa almofada enfiando contas de ouro. - Salta cá, minha esposada! Uma das componentes do grupo passa a acompanhar a menina que fazia de cavaleiro. A canção continuará nos mesmos moldes.

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Recolha 7: - A CONDESSINHA In http://www.canico-online.com/jogosoutrostempos.htm

Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com Jogos de outros tempos Nas memórias de hoje

Condessinha, cabra-cega, apilhagem Entretanto, o Ti Germano continuava a remexer a palha com um forcado. Depois ia num instan-te apanhar um cesto de ameixas, que distribuía pela rapaziada de rosto afogueado pela corre-ria. Descanso de momentos. Porque já está tudo preparado para o jogo da condessinha.

Trata-se de um jogo antiquíssimo, descrito no "Romanceiro da Madeira" pelo Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo. A versão original era bastante diferente daquele que se ouvia até há bem poucos anos. Dos intervenientes uma rapariga faz o papel de condensa e um rapaz o de cavaleiro. Restam as filhas da condensa, que aguardam de mãos dadas e em fila. O cavaleiro colocava-se em frente da condessa. Imitando jeitos nobres, avançava uns passos sempre que chegava a sua vez de cantar. Começava: "À condessa, condessinha/ à mulher do Ara-gão/venho lhe pedir uma filha/destas todas que aqui estão. "Depois da recusa da condessa simulava um ar triste para dizer: "Tão alegre que aqui vinha/tão triste me vim achar/pedir a filha à condensa/condensa não me quis dar." Finalmente ele acede ao pedido com a promessa de a filha vir a ser estimada: "Volta atrás ó cavaleiro/se fores homem de bem/escolhe uma das minhas filhas/se a estimares bem." O certo é que acabava por ficar sem nenhuma delas, depois de a cantiga se repetir para cada uma. Talvez pela simplicidade, era bem popular o jogo da apilha-gem. Também o da cabra-cega. Todos muito atentos para que o lenço vedasse bem os olhos do escolhido. E o seguin-

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te diálogo, enquanto se preparavam para desatar a fugir da cabra cega: "- Cabra cega de onde vens? - Venho do Lombo do Moinho. - O que é que trazes? - Pão e vinho. - Não me dás nada? - Não. - Então anda à roda, cabra-cega." Gritos e correrias, enquanto a "cabra-cega" tentava, em vão, apa-nhar alguém para a substituir. Além deste resumo há ainda a versão contada por Lília Mata: http://www.canico-online.com/condensinha.htm

O jogo da "Condensinha"

O jogo da "condensinha" era um dos meus preferidos. Foi-me ensinado pela minha mãe, que se lembrava de o ter jogado nas eiras, durante a debulha da palha, aos domingos, nos cabeços ou nos terreiros, e no recreio, quando andava na escola. Não o joguei na escola nem nas eiras – não cheguei a assistir às debulhas – mas lembro-me de ter " brincado" à "condensinha" vezes sem conta com as minhas irmãs, no nosso terreiro, no terreiro da minha avó e no da minha tia. Uma fazia o papel de condessa, outra de cavaleiro. As outras crianças eram as filhas da condessa. Estas davam as mãos umas às outras e depois à condessa, que permanecia no meio da fila assim formada. O cavaleiro ficava em frente da condessa, avançando uns passos quando can-tava e recuando depois, quando estava na vez de a condessa responder. A can-ção repetia-se do início ao fim para cada uma das filhas da condessa. O jogo aca-bava quando esta já não tinha nenhuma filha. Eis a canção: Cavaleiro: - À "Condensa", "Condensinha" À mulher do Aragão Venho lhe pedir uma filha Destas todas que aqui estão Condessa: - Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de aragata Que me custou a criar Cavaleiro: - Tão alegre qu’aqui vinha Tão triste me vim achar Pedir a filha à "Condensa" “Condensa" não me quis dar Condessa:

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- Volta atrás, ó cavaleiro Se fores homem de bem Escolhe uma das minhas filhas Se a estimares bem Cavaleiro: - Eu estimo, estimarei Sentada numa almofada Enfiando continhas de ouro Vem-te cá, minha esposada

Era assim que eu cantava o Jogo da "Condensinha" e foi assim que a minha mãe, as minhas tias e as amigas, o cantaram no seu tempo de juventude. Mas a minha avó, quando nos ouvia, lembrava-se sempre de o ter cantado de uma outra forma quando era criança.

Punha-se a dizer uns versos mas na pressa de brincar nunca os aprendi de cor, nem me passou pela cabeça anotá-los. Muito mais tarde, quando me inte-ressei por todas estas memórias da nossa literatura oral, ela já não conseguia lembrar-se como deve ser. Apenas retalhos aqui e além, eram demasiadas coisas para uma pessoa poder lembrar-se, memórias acumuladas ao longo de noventa e seis anos de vida.

Fiquei contente quando, em 1986, reconheci a versão do Jogo da "Con-densinha" que a minha avó sabia num artigo publicado um ano antes na Revista "Das Artes e da História da Madeira". Trata-se de um artigo da autoria de Álvaro Manso de Sousa, com o título "Frivolidades históricas da Madeira. O Jogo da Con-dessa"

Afirma o autor: "A gente nova desta luminosa ilha – aquela de quem se diz: deixá-los que são rapazes! – sempre teve como lícito recreio, como folguedo próprio de uma saudável adolescência, o costume de reunir-se, em escolhidas épocas festivas, nas eiras e terreiros e, ali, sob o complacente olhar familiar, exi-bir jogos, ferras, danças e outras alegres cenas e colorida movimentação. Entre tais divertidos passatempos pratica-se, ainda hoje, o conhecido "Jogo da Conden-sa" de velha tessitura, entretenimento que o dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo descreve no seu "Romanceiro da Madeira", valiosa colectânea de histórias, xáca-ras, casos, contos, lengalengas, perlengas e jogos.

Vejamos o "jogo da condensa" que, ali, é assim observado: - sete rapa-rigas de mãos dadas são filhas da condessa, já entradas no mosteiro para profes-sar. Junto delas está uma rapariga a quem por sorte coube ser a condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a condessa; são cavaleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento. Dizem eles: - "Aqui las vamos pedir

Pera com elas casar" Responde ela: - "Nem por ouro, nem por prata Nem por sangue de dragão

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Eu não dou las minhas filhas Do mosteiro onde elas estão." Despedem-se eles: - " Tão alegres que vinhemos Tão tristes que voltaremos Que las filhas da Condensa Para mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem igual, Que todos semos fidalgos Que nem de sangue real." E vão se retirando, mas a condessa os retém. - " Voltei a mim cavaleiros Por serdes homens de paz, Ide cada um à grade Escolhei la que vos praz."

Eles voltam, aceitam e cada qual, por sua ordem, observando cada uma das filhas da Condessa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o primeiro cavaleiro: - " Esta não, nem esta quero Esta coma pão de cento; Esta vinho da cabaça; Esta carne do assento; Esta carne do assem; Esta é do meu contento; Andai comigo, meu bem."

Todos os cavaleiros escolhem, com a mesma cerimónia, a sua noiva, até final, dançam, cantam e concluem, fazendo roda à condessa.

A "Revista do Arquivo Municipal", do Estado de São Paulo, no Brasil, no seu CXXL aponta como brinquedo corrente, em São Luís de Paraitinga, uma variante daquele jogo da condessa, assim praticado:

Em grandes rodas, de mãos dadas, as meninas cantam em coro, dando passos cadenciados para a direita e esquerda. - "senhora dona Condensa filha de França, onde nasceste! Sinhô rei mandou lhe dizer quantas filhas você tem. se quer lhe emprestar uma pelo sangue de Aragão." As outras respondem:

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- "Volta, volta cavaleiro Volta, volta mensageiro Vai dizer ao teu rei Que não dou nenhuma delas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de Aragão."

É para admirar que tendo atravessado o largo oceano (...) subsista ainda vivo, embora estropiado do caminho, o velho jogo da condensa.

A distância modificou a letra e a intenção cínica: sangue de dragão e sangue de Aragão (...)

Se o sangue de dragão, antiga droga medicinal, resina vermelha empre-gada na tinturaria e na terapêutica arcaica, tinha um inestimável valor pela sua variedade e segredo de origem a ponto de confinar com o ouro e a prata, o san-gue de Aragão seria, numa aliança matrimonial, uma honrosa e revigorante linfa para pomposas genealogias, um garfo de boa cepa para as classes privilegiadas. (...)

Mutilação grave no "jogo da condensa" é, contudo, a letra usada pelas garotas da minha rua, nestas estiradas tardes dominicais. (......) (1)

Pobre "jogo da condensa" em tão esfrangalhado texto. Desvirtuado, per-dido o rigor da tradição, tornou-se um estranho bicho em cujas veias corre um aquoso, anímico e dessorado sangue: Neste caso...o esquisito sangue de araga-ta." (1) Aqui o autor transcreve o versão do "jogo da condensa" a que me refiro no início deste texto, a versão que aprendi quando criança e tantas vezes cantei ao longo da minha infância. Lília Mata

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Recolha 8: - Jogo da CONDESSA in «Miranda do Corvo» Etnografia http://www.mirandadocorvo.com/index.php?pagina=etnografia Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia Jogo da condessa: de um lado está uma menina (a Condessa) com as filhas, que lhe seguram o vestido, formando roda, do outro lado está o cavaleiro que era uma menina. O cavaleiro vai pedir uma filha à condessa e diz: Ó Condessa, ó condessa Ó Condessa de Aragão Venho pedir-te uma filha Das mais lindas que aqui estão A Condessa responde: Minha filha não a dou Nem por ouro nem por prata Nem por sangue do dragão Nem por rabo de lagarto O cavaleiro vai-se embora muito triste e diz: Ai que tão contente eu vinha Tão triste me vou achar Pedi a filha à Condessa Condessa não ma quis dar A Condessa fica com pena e chama: Tornai atrás cavaleiro Entrai por esses portais Escolhei a mais bonita Essa que gostardes mais O cavaleiro canta alegre, escolhendo uma da roda: Não te quero por seres rosa Nem a ti por açucena Quero-te por seres formosa E por seres a mais morena (Jogava-se na Escola Primária).

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Recolha 9: - CONDESSA de Aragão In http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/gambozinos-condessa.lyr Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt» title: Pedido de casamento singer: Bando dos Gambozinos music: Suzana Ralha lyrics: Luísa Ducla Soares from: Luís Vasquez in:"Vinte e Cinco - As Cartas" Ó condessa, condessinha, ó condessa de Aragão, venho pedir-te uma filha que tão lindas elas são. Minhas filhas não te dou nem por ouro nem por prata. Uma foi para o Japão de viajar não se farta. Outra foi de submarino para as profundezas do mar, tem a paixão dos peixinhos, a ti não te vai ligar. Outra foi para enfermeira, está na sala de operações, se a quiseres abraçar levas duas injecções. Tão contente que eu vinha tão triste me vou achar. Nas raparigas de agora ninguém consegue mandar.

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Recolha 10: A CONDESSA Outra com tradução inglesa: http://www.naxos.com/sungtext/PDF/570008_texts.pdf VILLA-LOBOS: Piano Music, Vol. 5 (Guia pratico I-IX)

Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos 25. (5) A Condessa The Countess A Condessa Oh! Condessa oh! Condessinha, Oh! Condessa d’Aragão! Bis Venho pedir uma filha De bonitas que ellas são. Bis Eu sou viuvinha, Da parte d’além, Quero casar Não acho com quem; Só comtigo, só comtigo, só comtigo, Meu bem. (Cavalheiro) Onde mora (la) Condessa De lingua de França e dor de lanceta? (Condessa) Que quereis com la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis Onde mora la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis

The Countess Oh! Countess oh! little Countess, Oh! Countess from Aragon! Bis I come to ask for the hand of one of your daughters ‘Cause they are so beautiful. Bis I am a little widow, From far away, I want to get married I do not find a partner; Only with you, only with you, only with you, My darling. (Gentlement) Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? (Countess) What do you want from la Coun-tess Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis

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Recolha 11: As Filhas da CONDESSA in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico http://depts.washington.edu/hisprom/espanol/ballads/balladaction.php?igrh=0224&publisher=Costa%20Fontes%201997 Total: 1 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico 0224:3 Hilo de oro (estróf.) (ficha nº: 2917) Versión de Baixo Alentejo s. l. (Baixo Alentejo, Portugal). Documentada en o antes de 1955. Publicada en Delgado 1955, II, 59. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 385, Z1. 020 hemist. Música regis-trada --Ó condessa, ó condessinha, ó condessa de Aragão, dá-me umas das tuas filhas, só de lindas que elas são. --Não te dou as minhas filhas nem por ouro nem por prata, nem por fios de algodão, só de lindas que elas são. Volta atrás, ó cavalheiro, se queres ser homem de bem; dou-te uma das minhas filhas, peço que me a trates bem. --Muito bem a tratarei, sentado numa almofada, tirando fios de seda para dar à minha amada. Não quero esta que é uma rosa nem esta que é um botão; só quero esta cá p`ra mim, que me adora o coração. Título original: AS FILHAS DA CONDESSA (ESTRÓF.) (=SGA S15)

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Recolha 12: - A BELA CONDESSA In COLETÂNEA DE ESTUDOS E REGISTROS DO FOLCLORE CAPIXABA: 1944-1982 Guilherme Santos Neves PRESENÇA DO ROMANCEIRO PENINSULAR NA TRADIÇÃO ORAL DO BRASIL http://www.estacaocapixaba.com.br/textos/folclore_tradicao/coletanea/romanceiro_peninsular.htm Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil «15 A bela condessa» Versões recolhidas em Vitória, Conceição da Barra e São Mateus. O diálogo do romance é todo dramatizado numa ronda infantil. Eis o trecho inicial de uma das versões (de São Mateus): – Aonde mora a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – O que queres com a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – Senhor Rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas, Carregar você também. – Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de alemão Para casar com este ladrão. – Tão contente que eu me vinha E tão triste já me vou, Por causa da bela Condessa Que sua filha me negou... – Volte atrás, bom cavalheiro, Por ser um homem de bem, Subi naquele outeiro Escolhei daquelas três: Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar... Sobre “La Condessa” afirma Théo Brandão: “Duas coisas, entre-tanto, podíamos perceber à vista desarmada: o brinquedo era

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realmente um romance e o romance relatava um episódio típico da vida medieval: a escolha da noiva.” (“La Condessa”, Revista de Dialectología y Tradiciones Populares, Madri, tomo X, 1954). Ver também a esse respeito A condessinha de Aragão, de Fernando Castro Pires de Lima, 1957, p. 48 e seguintes). Breve estudo sobre essa ronda fizemos em Cantigas de Roda (1ª. série, 1948, p. 41-8), com texto musical fixado por João Ribas da Costa.

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Recolha 13 : Ainda em 2 imagens uma versão in A Cabral: Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral

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Recolha 14…

Com estes e outras palavras-chave relacionadas, pode-se ver ain-da outras fontes com mais versões, o que nos dá um manancial imenso, como:

Pan-Hispanic Ballad Project

https://depts.washington.edu/hisprom/biblio/biblioaction.php?titl=Hilo%20de%20oro Livraria Moreira da Costa - Internet: http://www.moreiradacosta.com

• Traditional Ballads among the Portuguese in California: Part I

• Joanne B. Purcell

• Western Folklore, Vol. 28, No. 1 (Jan., 1969), pp. 1-19 (article consists of 19 pages)

• Published by: Western States Folklore Society

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CONDESSINHA D’ARAGÃO CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga Uma adaptação feita para festas por JORAGA, a partir das versões recolhidas, a fim de melhor se adaptar a um jogo cénico… abrindo a possibilidade de cada grupo a recriar a que melhor se adapte às

circunstâncias e tradições locais…

Indicações cénicas. O LOCAL – pode ser ao ar livre, num espaço onde possa haver uma razoável pis-ta de dança, como há na maior parte das aldeias, e um local separado ou até mais elevado, onde os cavaleiros vão buscar as damas... Em caso de mau tempo, um pavilhão ou um recinto coberto, serve perfeitamen-te... O MATERIAL: Basta uma cadeira estilo poltrona- para a/s Condessa/s e sete cadeiras ou bancos para as Condessinhas. As do 1º grupo que iniciam a dança devem levar trajos antigos e a condizer, tendo as condessinhas, por adorno, uma condessinha ou cesta de flores e lenços de várias cores, menos o branco que será para a Condessa. Este lenço (o branco) será levado pelo primeiro Cavaleiro e servirá para designar a Condessa em cada um dos jogos que se seguirem... Os cavaleiros devem trajar de acordo com os usos antigos da região e levar um chapéu... INTERVENIENTES: 1º- Um conjunto bem ensaiado que tocará e cantará ao mesmo tempo ou em vez dos cavaleiros e/ou Condessa que podem não saber, e só farão a mímica... 2º- Um grupo de 8 raparigas, das quais, uma será a Condessa e as outras 7, as Condessinhas. 3º- Um grupo de 7 rapazes que serão os primeiros sete cavaleiros. 4º- Toda a assistência, a quem, tanto as Condessinhas como a Condessa irão entregar os véus ou as cestas; e os Cavaleiros, os seus chapéus..., desafiando-os assim para os substituírem na dança... e entrarem no jogo, festa,... JOGO – DRAMA – DANÇA: 1º Entram as 8 Damas fingindo-se mascaradas, cobrindo a cara que afinal vai descoberta, com as capas ou mantilhas, ou ainda com um leque que pode ser uma espécie de máscara... e vão dançando em passinhos curtos e variados... ao som da música... Só música entretanto... Cruzando-se e volteando, parece não saberem o que fazer... A certa altura fazem uma RODA e continuam girando na pista de dança... 2º- É nesta altura que entram, a correr, 7 Cavaleiros, ao ritmo da música, giran-do ao contrário das damas, com os lenços que vão entregar às damas.

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O 1º leva dois lenços. Um é o Branco. Este será o 1º a ser atirado para escolher a Condessa. Muitas vezes, claro, esta já está escolhida... 3º- Escolhida a Condessa, esta sai da roda e vai ocupar o trono que lhe está des-tinado. Ali fica triste e chorosa, sem saber o que fazer das suas sete pobres Con-dessinhas, as suas estremadas filhas, pois não tem dote adequado para as casar como convém... Entretanto a roda prossegue até os Cavaleiros desastrados acertarem e entrega-rem os véus às tímidas e tontas Condessinhas. À medida que o recebem, estas vão-se sentando nos bancos ou cadeiras que lhes estão destinadas, onde ficam, comicamente, tristes e chorosas pelo destino que as espera... 4º- Logo que entregam os lenços, os Cavaleiros desaparecem, quase tão inespe-radamente como apareceram, pois vão ter de re/entrar, dentro de instantes... 5º- A condessa, no eu trono, continua a sua mímica, mostrando a sua aflição por, viúva e sem grande fortuna, não saber o que fazer das suas prendadas filhas, quase todas da mesma idade, em escala,... O Convento será a solução? A música continua, e as Condessinhas não podem esconder a sua tristeza, pois, sonhando com as delícias de um feliz noivado que as levariam ao altar... e... “depois seriam felizes para sempre”, lêem no drama da mãe, que viúva, tanto padeceu para as criar, que estão destinadas ao convento... 6º- Entram então, muito solenes e dignos, sete garbosos Cavaleiros, dançando e fazendo grandes vénias com o seu chapeirão, à Condessa, às Condessinhas, sem esquecer o estimado público, sobretudo se teve de pagar o seu bilhetinho para entrar na festa...

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Adaptação feita para festas por JORAGA

CONDESSINHA D’ARAGÃO Cantam os Cavaleiros:

VIMOS CÁ, MANDOU EL’REI, À PROCURA DA CONDESSA P’RA PEDIR UMA DAS FILHAS QUE HÁ-DE SER COMO PRINCESA...

Canta a Condessa, fingindo afectação e com a dignidade ferida.

NÃO VOS DOU AS MINHAS FILHAS NEM POR OURO, NEM POR PRATA, NEM POR SANGUE DE DRAGÃO, TÃO PRENDADAS QUE ELAS SÃO!!!

Respondem os Cavaleiros, surpreendidos e feridos no seu orgu-lho, mas sem perderem a sobranceria:

TÃO CONTENTES QUE VIEMOS E TÃO TRISTES VOLTAREMOS, POIS AS FILHAS DA CONDESSA POR NOIVAS NÃO LEVAREMOS! POIS SABEI QUE TODOS TEMOS PODERIO SEM IGUAL... TODOS NÓS SOMOS FIDALGOS QUE NEM DE SANGUE REAL!!!

Vão-se retirando os Cavaleiros com saudações e salamaleques tanto à Condessa como às Condessinhas... que tapam o rosto e disfarçam a tristeza para não se escangalharem a rir à gargalha-da... E, num repente, vendo que lhe foge a sorte grande de se vir livre logo das sete duma vez, a Condessa reconsidera cantando:

VOLTAI ATRÁS CAVALEIROS, SE QUEREIS SER HOMENS DE PAZ, IDE ALÉM, ÀQUELE OUTEIRO, ESCOLHEI QUEM VOS APRAZ...

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Fingindo-se muito surpreendidos, voltam os Cavaleiros que nem sequer tinham acabado de sair e podem fazer-se caros e fazer variadas momices e mímicas à medida que vão regressando e se vão alinhando… Uma vez decididos, vão cantando, cada um por sua vez, dirigindo-se ao local onde estão as chorosas donzelas e passando, lentamente, por todas elas, numeradas de 1 a 7, mas não necessariamente pela ordem em que estão sentadas, poden-do, claro, seguir a sua preferência, pois já têm “fisgada” a “Meni-na” que já tem escolhida para levar para seu par: 1º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... 3 - NEM ESTA SERVE P’RA MIM HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 4 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 5 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 6 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 7 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

E pegando na mão da eleita, sai para a pista abrindo assim o baile... Ficam só seis… Canta então o 2º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 3 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 4 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 5 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 6 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 5! O 3º:

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, MESMO SENDO LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM...

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HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 2 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 3 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 4 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 5 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 4… E o 4º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 3 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 4 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 3… E o 5º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 3 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 2… E o 6º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 2 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficou a última… Então o 7º:

JÁ NÃO HÁ FLORES NO JARDIM! HÁ SÓ ESTA LINDA FLOR! 1 - QUERO ESTA CÁ PRA MIM QUE VAI SER O MEU AMOR!...

Os pares vão dançando e evoluindo na sala, procurando envolver o mais possível todo o ambiente, com a mesma ou com outras músicas... A certa altura, pára a música… Os pares correm para a assistência e, fingindo um jogo de cabra-cega, escolhem, na assistência, aqueles e aquelas que os vão substituir e o jogo recomeça.

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ÍNDICE

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado...........................................................6 Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga ..................................................................................7 Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis ........................................................................................10 Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões..........................................................................11 Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves ..............................................................................................12 Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA ................17 Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com...20 Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia ..................................................................................25 Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt»..............................................................26 Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos.....................................................................................27 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico .....................................28 Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil ................................................29 Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral ..............................31 Recolha 14… .................................................................................32 CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga33

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Espaço para os/as possíveis INTERVENIENTES

As damas: A Condessa e as Condessinhas

Os Cavaleiros ou Cavalhei-ros

A Condessa: (O Rei só referido ou na sombra?)

1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7

Zeraga – recolha e adaptação digitalizada e editada em PDF para o

RECANTO DAS LETRAS, em Novembro de 2008, como celebração da Festa do São Martinho – revista em 2010.

uma recolha adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança por JORAGA

Sua alteza real - El’Rei só mencionado

A Senhora Condessa e os seus humores

Suas Altezas as Condessinhas

Suas Altezas os Cavaleiros

Penedo Gordo – Beja – 1989 revista em 1995

Corroios – Seixal – desenvolvida em 2008

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Recolhas e uma adaptação do Rimance - Jogo - Drama - Dança

por JORAGA

Corroios – Seixal – 2008

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Ficha Técnica

Uma recolha de várias versões feita por - joraga

Autor de uma adaptação feita por - joraga

Recolhas realizadas: Recolha 1 – Condessa de Aragão - recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado. Recolha 2 – Condessinha de Aragão - in O POVO PORTUGUÊS - Teófilo Braga Recolha 3 – A Condessa – pauta musical por Alda Góis Recolha 4 – A Viscondessa, in obra de de Raquel Marques Simões Recolha 5 – Biblioteca Nacional Digital, com 2 imagens de pauta e letra (por César A. das Neves). Recolha 6 – in Cancioneiro Popular Português, Michel Giacometti, com a colabora-ção de Fernando Lopes Graça, Círculo de Leitores, 1981 pp. 20 e 22. Recolha 7 – in Caniço on line Recolha 8 – in «Miranda do Corvo» Etnografia Recolha 9 – in «natura.di.uminho.pt» Recolha 10 – VILLA-LOBOS: Piano Music - «www.naxos.com» Recolha 11 – in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico Recolha 12 – Guilherme Santos Neves – in «capxicaba.com.br» Recolha 13 – A Cabral 1 e A Cabral 2 Recolha 14 – Mais Recolhas em sugestão… No final, uma adaptação de joraga

A primeira versão, só com duas recolhas, foi feita para a Festa de São Martinho, na Escola Secundária Nº 2 (antiga Escola Técnica, depois Escola Secundária D. Manuel I) de Beja em 1989, revista em 1995 e final-

mente mais desenvolvida em 2008

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

Breve nota inicial

A CONDESSINHA de ARAGÃO, que terá nascido de um RIMANCE medieval, aparece-nos em diversas versões que vão de um simples jogo a uma dança, teatro… versado e musicado de diferentes maneiras… Parece que terá sido adoptado como tradição popular, em diversas regiões, para celebrar diversas festas ou celebrações cíclicas ao longo de um calendário marca-do pelas estações ou festas, como o São Martinho, Carnaval ou relacionada com as festas locais…

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A CONDESSINHA de ARAGÃO

RECOLHAS

Recolha 1: CONDESSA DE ARAGÃO in Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - vol. II, p. 154, 1955, 2ª ed. 1980 com comentário, recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado

- Ó condessa, ó condessinha, Ó condessa de Aragão, Dá-me uma das tuas filhas, Só de lindas que elas são! - Não te dou as minhas filhas, Nem por ouro, nem por prata, Nem por fios de algodão, Só de lindas que elas são! - Volta atrás, ó cavalheiro, Se queres ser homem de bem, Leva uma das minhas filhas, Peço que me a trates bem.

- Muito bem a tratarei Sentado numa almofada, Tirando fios de seda Para dar à minha amada. - Não quero esta, que é uma rosa, Nem esta, que é um botão Quero esta só para mim, Que me adora o coração.

Beja Nota: «À proporção que as noivas são escolhidas, vae cada par, de mãos dadas, enfileirando com o antecedente; por fim, dansando e cantando, fazem todos roda à Condessa, e acaba o jogo. Para recomeçar é tirada nova sorte a vêr qual das outras raparigas será Condessa, ou à ocasião da roda e dansa final, é vendada a Condessa do jogo findo e a rapariga a quem ella lançar mão fica sendo a Condes-sa do jogo seguinte; e ainda este processo pode ser modificado: vendada a Con-dessa escondem-se as filhas; o primeiro cavalleiro dá um apupo e desvenda a Condessa; esta procura s foragidas e a primeira que acha, fica sendo Condessa.” (Vale a pena confrontar com outras variantes...)

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Recolha 2: CONDESSINHA de ARAGÃO in O POVO PORTUGUÊS nos seus Costumes, Crenças e Tradições volume I, pp. 253-255 (v. tb. 255-261) de 1885 / 1995 Teófilo Braga

Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga

«...o jogo da Condessa é verdadeiramente um Drama, digno de ser estudado como um elemento orgânico do teatro português. Transcrevemo-lo segundo a versão colhida na ilha da Madeira, pelo Dr. Azevedo: “Sete raparigas, de mãos dadas, são filhas da Condessa, já entradas no mosteiro para professar. Junto delas está uma rapariga, a quem por sorte coube ser a Condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a Condessa; são cavalleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento: Dizem eles:

Aqui as vimos pedir Pera com elas casar.

Responde ella:

Nem por ouro, nem por prata, Nem por sangue de dragão, Eu não dou as minhas filhas Do mosteiro ond’estão.

Respondem elles:

Tão alegres que vinhemos! Tão tristes que voltaremos! Que las filhas da Condessa Por mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem egual; Que todos semos fidalgos, Que nem de sangue real.

E vão-se retirando, mas detem-nos a Condessa:

Volvei a mim cavalleiros Por serdes homens de paz;

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Ide cada um á grade, Escolhei la que vos apraz.

Eles voltam, aceitam, e cada qual, por sua ordem observando cada uma das filhas da Condedssa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o: Primeiro Cavalleiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta, carne do assem. Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o segundo:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta, carne do assento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o terceiro:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta, vinho de cabaça; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quarto:

Esta não, nem esta quero; Esta coma pão de cento; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o quinto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento;

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Andae comigo, meu bem. Diz o sexto:

Esta não, nem esta quero; Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.

Diz o sétimo:

Esta é do meu contento; Andae comigo, meu bem.»

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Recolha 3: - A CONDESSA Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis Adaptação em pauta, realizada por Alda Góis, a partir duma versão cantada por outros colegas que cantaram a versão que tinham ouvido nas suas terras de ori-gem, Cuba e outras…

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Recolha 4: - A VISCONDESSA In «Canções para a Educação Musical» de Raquel Marques Simões Editores: Valentim de Carvalho, 6ª ed. s/d. Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões

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Recolha 5: - CONDESSINHA de ARAGÃO

In Biblioteca Nacional Digital - Cancioneiro de musicas populares (http://purl.pt/742/1/mpp-21-a_2/mpp-21-a_2_item1/index.html)

Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves Ficha Bibliográfica (visualização ISBD) - [572882] CANCIONEIRO DE MUSICAS POPULARES Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves / coord. a parte poetica por Gualdino de Campos ; pref. pelo Exmo Sr. Dr. Teophilo Braga. - V. 1, fasc. 1 (1893)-V. 3, fasc. n. 75 (1899). - Porto : Typ. Occidental, 1893-1899. - 33 cm http://purl.pt/742 - Quinzenal CDU 784.4(05) Cancioneiro de musicas populares: collecção recolhida e escrupulosamente trasla-dada para canto e piano por Cesar A. das Neves, Porto, 1893-1899 [M.P.P. 21 A.]

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Letra: Este jogo infantil é dos que antigamente se usavam nas escolas, em horas de recreio; executa-se da seguinte forma: Um número impar de creanças organizam roda, no meio da qual fica uma menina, de pé, em quanto as que a circundam se sen-tam ou se põem de joelhos, segurando-lhe na orla da saia do ves-tido ou aba do babeiro. A que está no meio representa a Condessa e as que estão em vol-ta representam filhas. Por fora da roda um número egual de creanças representam cava-lheiros que vão pedir em casamento as filhas da Condessa; E um canta: Óh Condessa, oh condessinha; Óh Condessa d’Aragão, venho pedir-te uma filha de bonitas que elas são! A Condessa responde: Minha filha não t’a dou Que me custou a crear, Nem por ouro nem por prata, Nem pior sangue de Dragão. (ou, vulgarmente, lagarta) A roda dos cavalleiros gira e o primeiro vai cantando: Tão contente que eu vinha, Tão triste me vou achar; Pedi a filha à Condessa, Condessa não ma quis dar. Condessa torna a cantar: Volta atraz, oh cavalleiro, Se fores homem de bem, Dar-te-hei a minha filha, Se m’a estimares bem.

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Responde o cavalleiro: Estimo-a bem como bem, Sentada numa almofada, Enfiando contas d’ouro, Salta cá minha esposada. E retira uma menina, das filas da Condessa e vem passear de braço por fora da roda dos cavaleiros, em direcção contrária. Segue-se os outros cavalheiros que repetem o mesmo jogo. No fim a Condessa fica só, e então os pares que andavam em vol-ta, dão as mãos e formam uma grande roda e a Condessa canta: Eu sou viuvinha, Da banda d’alem, Quero casar Não acho com quem: Só contigo, só contigo, Só contigo, meu bem. E abraça um cavalheiro, e a menina que fica sem par vae servir de condessa se querem repetir o jogo. Com esta mesma música cantam as creanças a letra da Contan-cia.

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Recolha 6: Ó CONDESSA, CONDESSINHA In – Cancioneiro Popular Português – Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça, circulo de Leitores, 1981, p.20 e 22. Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA

Canção de roda A. Carneiro (M. de Sampaio Ribeiro) Trindade. Meixomil /Paços de Ferreira. Porto, 1944

Grupo de meninas: são as filhas e damas da condessa. Esta coloca-se no meio. A comitiva das filhas e damas pega na aba do vestido da condessa.

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O cavaleiro anda de roda e canta: Ó condessa. condessinha. condessa do Aragão, venho pedir-te uma filha das mais lindas que elas são! Canta agora a condessa: Minha filha não ta dou nem por ouro, nem por prata, nem por dinheiro nenhum, nem por sangue de lagarta.

Canta o cavaleiro: Tão contente aqui vim, tão triste me vou achar; pedi a filha à condessa, condessa não ma quis dar.

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Cantam a condessa e o grupo: Volta atrás, ó passageiro, morta seja! - Para bem te darei a minha filha, se tu ma estimar's bem. Canta o cavaleiro: - Estimo, estimarei, sentada numa almofada enfiando contas de ouro. - Salta cá, minha esposada! Uma das componentes do grupo passa a acompanhar a menina que fazia de cavaleiro. A canção continuará nos mesmos moldes.

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Recolha 7: - A CONDESSINHA In http://www.canico-online.com/jogosoutrostempos.htm

Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com Jogos de outros tempos Nas memórias de hoje

Condessinha, cabra-cega, apilhagem Entretanto, o Ti Germano continuava a remexer a palha com um forcado. Depois ia num instan-te apanhar um cesto de ameixas, que distribuía pela rapaziada de rosto afogueado pela corre-ria. Descanso de momentos. Porque já está tudo preparado para o jogo da condessinha.

Trata-se de um jogo antiquíssimo, descrito no "Romanceiro da Madeira" pelo Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo. A versão original era bastante diferente daquele que se ouvia até há bem poucos anos. Dos intervenientes uma rapariga faz o papel de condensa e um rapaz o de cavaleiro. Restam as filhas da condensa, que aguardam de mãos dadas e em fila. O cavaleiro colocava-se em frente da condessa. Imitando jeitos nobres, avançava uns passos sempre que chegava a sua vez de cantar. Começava: "À condessa, condessinha/ à mulher do Ara-gão/venho lhe pedir uma filha/destas todas que aqui estão. "Depois da recusa da condessa simulava um ar triste para dizer: "Tão alegre que aqui vinha/tão triste me vim achar/pedir a filha à condensa/condensa não me quis dar." Finalmente ele acede ao pedido com a promessa de a filha vir a ser estimada: "Volta atrás ó cavaleiro/se fores homem de bem/escolhe uma das minhas filhas/se a estimares bem." O certo é que acabava por ficar sem nenhuma delas, depois de a cantiga se repetir para cada uma. Talvez pela simplicidade, era bem popular o jogo da apilha-gem. Também o da cabra-cega. Todos muito atentos para que o lenço vedasse bem os olhos do escolhido. E o seguin-

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te diálogo, enquanto se preparavam para desatar a fugir da cabra cega: "- Cabra cega de onde vens? - Venho do Lombo do Moinho. - O que é que trazes? - Pão e vinho. - Não me dás nada? - Não. - Então anda à roda, cabra-cega." Gritos e correrias, enquanto a "cabra-cega" tentava, em vão, apa-nhar alguém para a substituir. Além deste resumo há ainda a versão contada por Lília Mata: http://www.canico-online.com/condensinha.htm

O jogo da "Condensinha"

O jogo da "condensinha" era um dos meus preferidos. Foi-me ensinado pela minha mãe, que se lembrava de o ter jogado nas eiras, durante a debulha da palha, aos domingos, nos cabeços ou nos terreiros, e no recreio, quando andava na escola. Não o joguei na escola nem nas eiras – não cheguei a assistir às debulhas – mas lembro-me de ter " brincado" à "condensinha" vezes sem conta com as minhas irmãs, no nosso terreiro, no terreiro da minha avó e no da minha tia. Uma fazia o papel de condessa, outra de cavaleiro. As outras crianças eram as filhas da condessa. Estas davam as mãos umas às outras e depois à condessa, que permanecia no meio da fila assim formada. O cavaleiro ficava em frente da condessa, avançando uns passos quando can-tava e recuando depois, quando estava na vez de a condessa responder. A can-ção repetia-se do início ao fim para cada uma das filhas da condessa. O jogo aca-bava quando esta já não tinha nenhuma filha. Eis a canção: Cavaleiro: - À "Condensa", "Condensinha" À mulher do Aragão Venho lhe pedir uma filha Destas todas que aqui estão Condessa: - Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de aragata Que me custou a criar Cavaleiro: - Tão alegre qu’aqui vinha Tão triste me vim achar Pedir a filha à "Condensa" “Condensa" não me quis dar Condessa:

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- Volta atrás, ó cavaleiro Se fores homem de bem Escolhe uma das minhas filhas Se a estimares bem Cavaleiro: - Eu estimo, estimarei Sentada numa almofada Enfiando continhas de ouro Vem-te cá, minha esposada

Era assim que eu cantava o Jogo da "Condensinha" e foi assim que a minha mãe, as minhas tias e as amigas, o cantaram no seu tempo de juventude. Mas a minha avó, quando nos ouvia, lembrava-se sempre de o ter cantado de uma outra forma quando era criança.

Punha-se a dizer uns versos mas na pressa de brincar nunca os aprendi de cor, nem me passou pela cabeça anotá-los. Muito mais tarde, quando me inte-ressei por todas estas memórias da nossa literatura oral, ela já não conseguia lembrar-se como deve ser. Apenas retalhos aqui e além, eram demasiadas coisas para uma pessoa poder lembrar-se, memórias acumuladas ao longo de noventa e seis anos de vida.

Fiquei contente quando, em 1986, reconheci a versão do Jogo da "Con-densinha" que a minha avó sabia num artigo publicado um ano antes na Revista "Das Artes e da História da Madeira". Trata-se de um artigo da autoria de Álvaro Manso de Sousa, com o título "Frivolidades históricas da Madeira. O Jogo da Con-dessa"

Afirma o autor: "A gente nova desta luminosa ilha – aquela de quem se diz: deixá-los que são rapazes! – sempre teve como lícito recreio, como folguedo próprio de uma saudável adolescência, o costume de reunir-se, em escolhidas épocas festivas, nas eiras e terreiros e, ali, sob o complacente olhar familiar, exi-bir jogos, ferras, danças e outras alegres cenas e colorida movimentação. Entre tais divertidos passatempos pratica-se, ainda hoje, o conhecido "Jogo da Conden-sa" de velha tessitura, entretenimento que o dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo descreve no seu "Romanceiro da Madeira", valiosa colectânea de histórias, xáca-ras, casos, contos, lengalengas, perlengas e jogos.

Vejamos o "jogo da condensa" que, ali, é assim observado: - sete rapa-rigas de mãos dadas são filhas da condessa, já entradas no mosteiro para profes-sar. Junto delas está uma rapariga a quem por sorte coube ser a condessa. Sete rapazes, também de mãos dadas, se dirigem para a condessa; são cavaleiros que lhe vêm pedir as filhas em casamento. Dizem eles: - "Aqui las vamos pedir

Pera com elas casar" Responde ela: - "Nem por ouro, nem por prata Nem por sangue de dragão

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Eu não dou las minhas filhas Do mosteiro onde elas estão." Despedem-se eles: - " Tão alegres que vinhemos Tão tristes que voltaremos Que las filhas da Condensa Para mulheres não levaremos. Pois sabei que todos temos Senhorio sem igual, Que todos semos fidalgos Que nem de sangue real." E vão se retirando, mas a condessa os retém. - " Voltei a mim cavaleiros Por serdes homens de paz, Ide cada um à grade Escolhei la que vos praz."

Eles voltam, aceitam e cada qual, por sua ordem, observando cada uma das filhas da Condessa de per si, vai tomando para noiva a que lhe agrada. Diz o primeiro cavaleiro: - " Esta não, nem esta quero Esta coma pão de cento; Esta vinho da cabaça; Esta carne do assento; Esta carne do assem; Esta é do meu contento; Andai comigo, meu bem."

Todos os cavaleiros escolhem, com a mesma cerimónia, a sua noiva, até final, dançam, cantam e concluem, fazendo roda à condessa.

A "Revista do Arquivo Municipal", do Estado de São Paulo, no Brasil, no seu CXXL aponta como brinquedo corrente, em São Luís de Paraitinga, uma variante daquele jogo da condessa, assim praticado:

Em grandes rodas, de mãos dadas, as meninas cantam em coro, dando passos cadenciados para a direita e esquerda. - "senhora dona Condensa filha de França, onde nasceste! Sinhô rei mandou lhe dizer quantas filhas você tem. se quer lhe emprestar uma pelo sangue de Aragão." As outras respondem:

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- "Volta, volta cavaleiro Volta, volta mensageiro Vai dizer ao teu rei Que não dou nenhuma delas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de Aragão."

É para admirar que tendo atravessado o largo oceano (...) subsista ainda vivo, embora estropiado do caminho, o velho jogo da condensa.

A distância modificou a letra e a intenção cínica: sangue de dragão e sangue de Aragão (...)

Se o sangue de dragão, antiga droga medicinal, resina vermelha empre-gada na tinturaria e na terapêutica arcaica, tinha um inestimável valor pela sua variedade e segredo de origem a ponto de confinar com o ouro e a prata, o san-gue de Aragão seria, numa aliança matrimonial, uma honrosa e revigorante linfa para pomposas genealogias, um garfo de boa cepa para as classes privilegiadas. (...)

Mutilação grave no "jogo da condensa" é, contudo, a letra usada pelas garotas da minha rua, nestas estiradas tardes dominicais. (......) (1)

Pobre "jogo da condensa" em tão esfrangalhado texto. Desvirtuado, per-dido o rigor da tradição, tornou-se um estranho bicho em cujas veias corre um aquoso, anímico e dessorado sangue: Neste caso...o esquisito sangue de araga-ta." (1) Aqui o autor transcreve o versão do "jogo da condensa" a que me refiro no início deste texto, a versão que aprendi quando criança e tantas vezes cantei ao longo da minha infância. Lília Mata

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Recolha 8: - Jogo da CONDESSA in «Miranda do Corvo» Etnografia http://www.mirandadocorvo.com/index.php?pagina=etnografia Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia Jogo da condessa: de um lado está uma menina (a Condessa) com as filhas, que lhe seguram o vestido, formando roda, do outro lado está o cavaleiro que era uma menina. O cavaleiro vai pedir uma filha à condessa e diz: Ó Condessa, ó condessa Ó Condessa de Aragão Venho pedir-te uma filha Das mais lindas que aqui estão A Condessa responde: Minha filha não a dou Nem por ouro nem por prata Nem por sangue do dragão Nem por rabo de lagarto O cavaleiro vai-se embora muito triste e diz: Ai que tão contente eu vinha Tão triste me vou achar Pedi a filha à Condessa Condessa não ma quis dar A Condessa fica com pena e chama: Tornai atrás cavaleiro Entrai por esses portais Escolhei a mais bonita Essa que gostardes mais O cavaleiro canta alegre, escolhendo uma da roda: Não te quero por seres rosa Nem a ti por açucena Quero-te por seres formosa E por seres a mais morena (Jogava-se na Escola Primária).

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Recolha 9: - CONDESSA de Aragão In http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/gambozinos-condessa.lyr Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt» title: Pedido de casamento singer: Bando dos Gambozinos music: Suzana Ralha lyrics: Luísa Ducla Soares from: Luís Vasquez in:"Vinte e Cinco - As Cartas" Ó condessa, condessinha, ó condessa de Aragão, venho pedir-te uma filha que tão lindas elas são. Minhas filhas não te dou nem por ouro nem por prata. Uma foi para o Japão de viajar não se farta. Outra foi de submarino para as profundezas do mar, tem a paixão dos peixinhos, a ti não te vai ligar. Outra foi para enfermeira, está na sala de operações, se a quiseres abraçar levas duas injecções. Tão contente que eu vinha tão triste me vou achar. Nas raparigas de agora ninguém consegue mandar.

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Recolha 10: A CONDESSA Outra com tradução inglesa: http://www.naxos.com/sungtext/PDF/570008_texts.pdf VILLA-LOBOS: Piano Music, Vol. 5 (Guia pratico I-IX)

Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos 25. (5) A Condessa The Countess A Condessa Oh! Condessa oh! Condessinha, Oh! Condessa d’Aragão! Bis Venho pedir uma filha De bonitas que ellas são. Bis Eu sou viuvinha, Da parte d’além, Quero casar Não acho com quem; Só comtigo, só comtigo, só comtigo, Meu bem. (Cavalheiro) Onde mora (la) Condessa De lingua de França e dor de lanceta? (Condessa) Que quereis com la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis Onde mora la Condessa De lingua de França e dor de lanceta? Bis

The Countess Oh! Countess oh! little Countess, Oh! Countess from Aragon! Bis I come to ask for the hand of one of your daughters ‘Cause they are so beautiful. Bis I am a little widow, From far away, I want to get married I do not find a partner; Only with you, only with you, only with you, My darling. (Gentlement) Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? (Countess) What do you want from la Coun-tess Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis Where does la Countess live Who speaks French and has a lan-cet wound? Bis

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Recolha 11: As Filhas da CONDESSA in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico http://depts.washington.edu/hisprom/espanol/ballads/balladaction.php?igrh=0224&publisher=Costa%20Fontes%201997 Total: 1 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico 0224:3 Hilo de oro (estróf.) (ficha nº: 2917) Versión de Baixo Alentejo s. l. (Baixo Alentejo, Portugal). Documentada en o antes de 1955. Publicada en Delgado 1955, II, 59. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 385, Z1. 020 hemist. Música regis-trada --Ó condessa, ó condessinha, ó condessa de Aragão, dá-me umas das tuas filhas, só de lindas que elas são. --Não te dou as minhas filhas nem por ouro nem por prata, nem por fios de algodão, só de lindas que elas são. Volta atrás, ó cavalheiro, se queres ser homem de bem; dou-te uma das minhas filhas, peço que me a trates bem. --Muito bem a tratarei, sentado numa almofada, tirando fios de seda para dar à minha amada. Não quero esta que é uma rosa nem esta que é um botão; só quero esta cá p`ra mim, que me adora o coração. Título original: AS FILHAS DA CONDESSA (ESTRÓF.) (=SGA S15)

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Recolha 12: - A BELA CONDESSA In COLETÂNEA DE ESTUDOS E REGISTROS DO FOLCLORE CAPIXABA: 1944-1982 Guilherme Santos Neves PRESENÇA DO ROMANCEIRO PENINSULAR NA TRADIÇÃO ORAL DO BRASIL http://www.estacaocapixaba.com.br/textos/folclore_tradicao/coletanea/romanceiro_peninsular.htm Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil «15 A bela condessa» Versões recolhidas em Vitória, Conceição da Barra e São Mateus. O diálogo do romance é todo dramatizado numa ronda infantil. Eis o trecho inicial de uma das versões (de São Mateus): – Aonde mora a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – O que queres com a bela Condessa, Vinda de França, onde nasceu? – Senhor Rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas, Carregar você também. – Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de alemão Para casar com este ladrão. – Tão contente que eu me vinha E tão triste já me vou, Por causa da bela Condessa Que sua filha me negou... – Volte atrás, bom cavalheiro, Por ser um homem de bem, Subi naquele outeiro Escolhei daquelas três: Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar... Sobre “La Condessa” afirma Théo Brandão: “Duas coisas, entre-tanto, podíamos perceber à vista desarmada: o brinquedo era

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realmente um romance e o romance relatava um episódio típico da vida medieval: a escolha da noiva.” (“La Condessa”, Revista de Dialectología y Tradiciones Populares, Madri, tomo X, 1954). Ver também a esse respeito A condessinha de Aragão, de Fernando Castro Pires de Lima, 1957, p. 48 e seguintes). Breve estudo sobre essa ronda fizemos em Cantigas de Roda (1ª. série, 1948, p. 41-8), com texto musical fixado por João Ribas da Costa.

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Recolha 13 : Ainda em 2 imagens uma versão in A Cabral: Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral

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Recolha 14…

Com estes e outras palavras-chave relacionadas, pode-se ver ain-da outras fontes com mais versões, o que nos dá um manancial imenso, como:

Pan-Hispanic Ballad Project

https://depts.washington.edu/hisprom/biblio/biblioaction.php?titl=Hilo%20de%20oro Livraria Moreira da Costa - Internet: http://www.moreiradacosta.com

• Traditional Ballads among the Portuguese in California: Part I

• Joanne B. Purcell

• Western Folklore, Vol. 28, No. 1 (Jan., 1969), pp. 1-19 (article consists of 19 pages)

• Published by: Western States Folklore Society

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CONDESSINHA D’ARAGÃO CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga Uma adaptação feita para festas por JORAGA, a partir das versões recolhidas, a fim de melhor se adaptar a um jogo cénico… abrindo a possibilidade de cada grupo a recriar a que melhor se adapte às

circunstâncias e tradições locais…

Indicações cénicas. O LOCAL – pode ser ao ar livre, num espaço onde possa haver uma razoável pis-ta de dança, como há na maior parte das aldeias, e um local separado ou até mais elevado, onde os cavaleiros vão buscar as damas... Em caso de mau tempo, um pavilhão ou um recinto coberto, serve perfeitamen-te... O MATERIAL: Basta uma cadeira estilo poltrona- para a/s Condessa/s e sete cadeiras ou bancos para as Condessinhas. As do 1º grupo que iniciam a dança devem levar trajos antigos e a condizer, tendo as condessinhas, por adorno, uma condessinha ou cesta de flores e lenços de várias cores, menos o branco que será para a Condessa. Este lenço (o branco) será levado pelo primeiro Cavaleiro e servirá para designar a Condessa em cada um dos jogos que se seguirem... Os cavaleiros devem trajar de acordo com os usos antigos da região e levar um chapéu... INTERVENIENTES: 1º- Um conjunto bem ensaiado que tocará e cantará ao mesmo tempo ou em vez dos cavaleiros e/ou Condessa que podem não saber, e só farão a mímica... 2º- Um grupo de 8 raparigas, das quais, uma será a Condessa e as outras 7, as Condessinhas. 3º- Um grupo de 7 rapazes que serão os primeiros sete cavaleiros. 4º- Toda a assistência, a quem, tanto as Condessinhas como a Condessa irão entregar os véus ou as cestas; e os Cavaleiros, os seus chapéus..., desafiando-os assim para os substituírem na dança... e entrarem no jogo, festa,... JOGO – DRAMA – DANÇA: 1º Entram as 8 Damas fingindo-se mascaradas, cobrindo a cara que afinal vai descoberta, com as capas ou mantilhas, ou ainda com um leque que pode ser uma espécie de máscara... e vão dançando em passinhos curtos e variados... ao som da música... Só música entretanto... Cruzando-se e volteando, parece não saberem o que fazer... A certa altura fazem uma RODA e continuam girando na pista de dança... 2º- É nesta altura que entram, a correr, 7 Cavaleiros, ao ritmo da música, giran-do ao contrário das damas, com os lenços que vão entregar às damas.

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O 1º leva dois lenços. Um é o Branco. Este será o 1º a ser atirado para escolher a Condessa. Muitas vezes, claro, esta já está escolhida... 3º- Escolhida a Condessa, esta sai da roda e vai ocupar o trono que lhe está des-tinado. Ali fica triste e chorosa, sem saber o que fazer das suas sete pobres Con-dessinhas, as suas estremadas filhas, pois não tem dote adequado para as casar como convém... Entretanto a roda prossegue até os Cavaleiros desastrados acertarem e entrega-rem os véus às tímidas e tontas Condessinhas. À medida que o recebem, estas vão-se sentando nos bancos ou cadeiras que lhes estão destinadas, onde ficam, comicamente, tristes e chorosas pelo destino que as espera... 4º- Logo que entregam os lenços, os Cavaleiros desaparecem, quase tão inespe-radamente como apareceram, pois vão ter de re/entrar, dentro de instantes... 5º- A condessa, no eu trono, continua a sua mímica, mostrando a sua aflição por, viúva e sem grande fortuna, não saber o que fazer das suas prendadas filhas, quase todas da mesma idade, em escala,... O Convento será a solução? A música continua, e as Condessinhas não podem esconder a sua tristeza, pois, sonhando com as delícias de um feliz noivado que as levariam ao altar... e... “depois seriam felizes para sempre”, lêem no drama da mãe, que viúva, tanto padeceu para as criar, que estão destinadas ao convento... 6º- Entram então, muito solenes e dignos, sete garbosos Cavaleiros, dançando e fazendo grandes vénias com o seu chapeirão, à Condessa, às Condessinhas, sem esquecer o estimado público, sobretudo se teve de pagar o seu bilhetinho para entrar na festa...

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Adaptação feita para festas por JORAGA

CONDESSINHA D’ARAGÃO Cantam os Cavaleiros:

VIMOS CÁ, MANDOU EL’REI, À PROCURA DA CONDESSA P’RA PEDIR UMA DAS FILHAS QUE HÁ-DE SER COMO PRINCESA...

Canta a Condessa, fingindo afectação e com a dignidade ferida.

NÃO VOS DOU AS MINHAS FILHAS NEM POR OURO, NEM POR PRATA, NEM POR SANGUE DE DRAGÃO, TÃO PRENDADAS QUE ELAS SÃO!!!

Respondem os Cavaleiros, surpreendidos e feridos no seu orgu-lho, mas sem perderem a sobranceria:

TÃO CONTENTES QUE VIEMOS E TÃO TRISTES VOLTAREMOS, POIS AS FILHAS DA CONDESSA POR NOIVAS NÃO LEVAREMOS! POIS SABEI QUE TODOS TEMOS PODERIO SEM IGUAL... TODOS NÓS SOMOS FIDALGOS QUE NEM DE SANGUE REAL!!!

Vão-se retirando os Cavaleiros com saudações e salamaleques tanto à Condessa como às Condessinhas... que tapam o rosto e disfarçam a tristeza para não se escangalharem a rir à gargalha-da... E, num repente, vendo que lhe foge a sorte grande de se vir livre logo das sete duma vez, a Condessa reconsidera cantando:

VOLTAI ATRÁS CAVALEIROS, SE QUEREIS SER HOMENS DE PAZ, IDE ALÉM, ÀQUELE OUTEIRO, ESCOLHEI QUEM VOS APRAZ...

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Fingindo-se muito surpreendidos, voltam os Cavaleiros que nem sequer tinham acabado de sair e podem fazer-se caros e fazer variadas momices e mímicas à medida que vão regressando e se vão alinhando… Uma vez decididos, vão cantando, cada um por sua vez, dirigindo-se ao local onde estão as chorosas donzelas e passando, lentamente, por todas elas, numeradas de 1 a 7, mas não necessariamente pela ordem em que estão sentadas, poden-do, claro, seguir a sua preferência, pois já têm “fisgada” a “Meni-na” que já tem escolhida para levar para seu par: 1º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... 3 - NEM ESTA SERVE P’RA MIM HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 4 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 5 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 6 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 7 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

E pegando na mão da eleita, sai para a pista abrindo assim o baile... Ficam só seis… Canta então o 2º

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, 2 - NEM ESTA, QUE É LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 3 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 4 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 5 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 6 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 5! O 3º:

1 - ESTA NÃO, NÃO QUERO ESTA, MESMO SENDO LINDA FLOR!... HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM...

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HÁ MUITAS FLORES NO JARDIM... 2 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 3 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 4 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 5 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 4… E o 4º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! 3 - NEM ESTA POR SER JASMIM!... 4 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 3… E o 5º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! 2 - NEM ESTA POR SER UM CRAVO! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 3 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficaram 2… E o 6º

1 - NÃO QUERO ESTA POR SER ROSA! HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... HÁ POUCAS FLORES NO JARDIM!... 2 - QUERO ESTA CÁ P’RA MIM.

Ficou a última… Então o 7º:

JÁ NÃO HÁ FLORES NO JARDIM! HÁ SÓ ESTA LINDA FLOR! 1 - QUERO ESTA CÁ PRA MIM QUE VAI SER O MEU AMOR!...

Os pares vão dançando e evoluindo na sala, procurando envolver o mais possível todo o ambiente, com a mesma ou com outras músicas... A certa altura, pára a música… Os pares correm para a assistência e, fingindo um jogo de cabra-cega, escolhem, na assistência, aqueles e aquelas que os vão substituir e o jogo recomeça.

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ÍNDICE

Recolha 1 – CONDESSA DE ARAGÃO, in obra de Manuel Joaquim Delgado...........................................................6 Recolha 2 – CONDESSINHA DE ARAGÃO, in obra de Teófilo Braga ..................................................................................7 Recolha 3 – A CONDESSA, pauta musical adaptada por Alda Góis ........................................................................................10 Recolha 4 – A VISCONDESSA, in Obra de Raquel Marques Simões..........................................................................11 Recolha 5 – CONDESSINHA, in Biblioteca Nacional Digital, com pauta musical e letra por César A. das Neves ..............................................................................................12 Recolha 6 - 9. Ó CONDESSA, CONDESSINHA ................17 Recolha 7 – A CONDESSINHA, in Caniço online.com...20 Recolha 8 – Jogo da CONDESSA, in Miranda do Corvo – Etnografia ..................................................................................25 Recolha 9 – A CONDESSA de ARAGÃO, in «natura.di.uminho.pt»..............................................................26 Recolha 10 – A CONDESSA, in «naxus.com», adat. De Villa-Lobos.....................................................................................27 Recolha 11 – As FILHAS da CONDESSA, in Proyecto sobre el Romancero pan-hispánico .....................................28 Recolha 12 – A BELA CONDESSA, in «capixaba.com.br», no Brasil ................................................29 Recolha 13 – CONDESSA, in A. Cabral ..............................31 Recolha 14… .................................................................................32 CONDESSINHA D’ARAGÃO, uma adaptação de joraga33

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Espaço para os/as possíveis INTERVENIENTES

As damas: A Condessa e as Condessinhas

Os Cavaleiros ou Cavalhei-ros

A Condessa: (O Rei só referido ou na sombra?)

1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7

Zeraga – recolha e adaptação digitalizada e editada em PDF para o

RECANTO DAS LETRAS, em Novembro de 2008, como celebração da Festa do São Martinho – revista em 2010.