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A sociologia de Weber, como vimos, nasceu em um contexto bem diferente daquele vivenciado por Comte e Durkheim. Ela foi muito influenciada pelo idealismo alemão, corrente filosófica da qual se destacam nomes como Emmanuel Kant e Friedrich Hegel. Um dos pontos essenciais de discordância entre os positivistas e os idealistas, mais especificamente entre a sociologia de Durkheim e a de Weber, refere-se ao modo de conceber a história e sua importância para os estudos sociológicos. Como pensavam os positivistas Os positivistas concebiam a história enquanto um processo evolutivo da humanidade. Esse processo seria repleto de fases distintas e sucessivas pelas quais devem passar todas as sociedades. Assim, o que diferenciava uma sociedade da outra era o estágio em que ela se encontrava dentro desse processo. Para conhecer esse estágio, os positivistas destacavam o método comparativo. O pressuposto do qual eles partiam era o seguinte: sociedades de diferentes períodos e lugares poderiam ser postas em comparação. Assim, saberíamos, por exemplo, se a sociedade “a” encontra-se no mesmo estágio evolutivo que a sociedade “b”. Como, mais cedo ou mais tarde, todas as sociedades acabariam por passar pelos mesmos estágios evolutivos, o positivismo concebia a história como um processo universal, e não como algo único e próprio de cada grupo social. Essa lei evolutiva era generalizante e anulava as particularidades históricas das diferentes sociedades. Mais uma vez, a corrente positivista mostrava que para ela o importante era o que se apresentava como geral a todas as sociedades, e não aquilo que cada uma tem de particular. Com pensava Weber Weber, influenciado pelo idealismo alemão, discordava da concepção de história do positivismo. Tendo iniciado como historiador, ele estava acostumado com a pesquisa de documentos e arquivos. Sua experiência permitiu que ele enxergasse a história do passado como elemento fundamental para entendermos o presente. Entretanto, acreditava que a pesquisa histórica não resultava no estabelecimento de leis evolutivas universais e de generalizações. Pelo contrário, Weber acreditava que ela apontava para algo bem diferente: as infindas diferenças existentes entre as diversas sociedades. Essas diferenças não estavam baseadas nos supostos estágios evolutivos preconizados pelos positivistas. Segundo Weber, estavam no fato de que cada

A sociologia de weber

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Page 1: A sociologia de weber

A sociologia de Weber, como vimos, nasceu em um contexto bem diferente daquele vivenciado

por Comte e Durkheim. Ela foi muito influenciada pelo idealismo alemão, corrente filosófica da

qual se destacam nomes como Emmanuel Kant e Friedrich Hegel.

Um dos pontos essenciais de discordância entre os positivistas e os idealistas, mais

especificamente entre a sociologia de Durkheim e a de Weber, refere-se ao modo de conceber a

história e sua importância para os estudos sociológicos.

Como pensavam os positivistas

Os positivistas concebiam a história enquanto um processo evolutivo da humanidade. Esse

processo seria repleto de fases distintas e sucessivas pelas quais devem passar todas as

sociedades. Assim, o que diferenciava uma sociedade da outra era o estágio em que ela se

encontrava dentro desse processo.

Para conhecer esse estágio, os positivistas destacavam o método comparativo. O pressuposto do

qual eles partiam era o seguinte: sociedades de diferentes períodos e lugares poderiam ser

postas em comparação. Assim, saberíamos, por exemplo, se a sociedade “a” encontra-se no

mesmo estágio evolutivo que a sociedade “b”.

Como, mais cedo ou mais tarde, todas as sociedades acabariam por passar pelos mesmos

estágios evolutivos, o positivismo concebia a história como um processo universal, e não como

algo único e próprio de cada grupo social.

Essa lei evolutiva era generalizante e anulava as particularidades históricas das diferentes

sociedades. Mais uma vez, a corrente positivista mostrava que para ela o importante era o que

se apresentava como geral a todas as sociedades, e não aquilo que cada uma tem de particular.

Com pensava Weber

Weber, influenciado pelo idealismo alemão, discordava da concepção de história do positivismo.

Tendo iniciado como historiador, ele estava acostumado com a pesquisa de documentos e

arquivos. Sua experiência permitiu que ele enxergasse a história do passado como elemento

fundamental para entendermos o presente.

Entretanto, acreditava que a pesquisa histórica não resultava no estabelecimento de leis

evolutivas universais e de generalizações. Pelo contrário, Weber acreditava que ela apontava

para algo bem diferente: as infindas diferenças existentes entre as diversas sociedades.

Essas diferenças não estavam baseadas nos supostos estágios evolutivos preconizados pelos

positivistas. Segundo Weber, estavam no fato de que cada sociedade apresenta origem e

formação diferentes das demais. Por isso, cada grupo social é único e deve ser respeitado em

suas especificidades.

Para Weber, o conhecimento produzido pela pesquisa histórica era imprescindível na formulação

de evidências fundamentais para os estudos sociológicos. Por isso, sua sociologia compreensiva

Page 2: A sociologia de weber

consistia em um esforço para interpretar como elementos do passado repercutiam nas

particularidades das diferentes sociedades. Acontecimentos que a princípio não apresentariam

importância, poderiam ter sentidos históricos e sociais inimagináveis.

Weber também apresenta uma concepção de história bem diferente daquela defendida pelo

materialismo histórico de Karl Marx, segundo o qual todas as transformações históricas de uma

dada sociedade podem ser explicadas pelas relações econômicas.

A perspectiva weberiana é de que a história é resultado de uma série de fatores e

acontecimentos que podem ser também de natureza política, cultural, religiosa etc. O percurso

histórico de uma sociedade não estaria, segundo ele, submetido apenas a questões econômicas,

como dizia Marx, mas é resultado da combinação de diferentes fatores.

6. MAX WEBER: SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E DESENCANTAMENTO

A sociologia de Max Weber: a sociedade não é vista como um todo superior ao individuo e que

determina o comportamento como uma força externa impositiva.

Objeto da sociologia: a ação social e seus desdobramentos, Marx desloca a enfase das

totalidades superindividuais para o individuo e para as redes de interações em que este se

envolve.

O conceito de ação social: define como uma conduta humana (omissão, permissão) dotada de

um significado subjetivo dado por quem o executa, pode ser individualizados e conhecidos ou uma

pluralidade de individuos indeterminados e completamente desconhecidos.

Weber considera que ação mais compreensivel é aquela que apresenta maior racionalidade.

Ir a escola é uma ação social porque agindo assm você terá, indo ou, no caso inverso, deixando

de ir.

Esse tipo de ação que Weber classificaria como racional com relação aos fins, que estabelece os

fins e procura os meios mais adequados para a concretização dos seus objetivos conscientemente

visados.

O objetivo da ação é basicamente egoísta, no sentido de realização de metas do individuo como

tal.

Weber vai definir o capitalismo como uma ação racional com vista a garantir o lucro de forma

duradoura. Quando a ação do individuo é guiada por valores éticos e morais temos um outro tipo

de ação social.

Page 3: A sociologia de weber

Quintaneiro: para estarem seguros quanto a sua salvação, ricos e pobres deveriam trabalhar sem

descanso, trabalhar o dia todo em favor do que lhes foi destinado pela vontade de Deus e por meio

de suas atividades produtivas.

As ações sociais mais afastadas da racionalidade são as que Weber classificou como ação

tradicional e ação afetiva. O primeiro tipo de ação consiste no hábito e costumes arraigados na

cultura.

Weber definiu que uma das caracteristicas básicas da sociedade moderna é a tendência

crescente a racionalização de todas as esferas da vida social, politica e cultural. A ação corrosiva

da razão produz o desencantamento do mundo, que passa a ser organizado de acordo com regras

instituidas por meio de uma ação rigorosamente racional.

Octavio Ianni: o principio de desenvolvimento do capitalismo é um processo de racionalização,

que ocorre o desenvolvimento de formas racionais de organização das atividades sociais geral,

compreendendo as politicas, as economicas, as juridicas, as religiosas. A rigor, o desenvolvimento

das ciências ditas naturais e sociais, traduzido em tecnologias de todos os tipos, revelam-se

simultaneamente condições e produtos de um vasto complex processo de racionalização do

mundo.

O sitema economico capitalista levou o controle burocrático ao seu mais extremo

desenvolvimento. Marx Weber observou que quanto mais desumanizada se torna a burocracia,

melhor ela desenvolve as caracteristicas valorizadas pelo capitalismo.

O poder burocratico é um poder de cima para baixo, mesmo que baseado em regras bem

definidas que definem as competencias e brigações de cada menro da cadeia de comando numa

organização burocrática.

Atualmente a burocracia como forma de organização das atividades numa empresa ou qualquer

outro tipo de instituição tende a ser maid questionadas em sua eficácia.

Entendimento de Rodrigues: a educação para Weber é o modo pelo qual os homens são

preparados para exercer as funções que a transformação causada pela racionalização da vida lhes

colocou a disposição.

A educação enquanto processo formal de aprendizagem social está envolvida, numa pedagogia de

treinamento com vista a formar o especialista, que possui uma competência técnica especifica

destinada a ocupar um lugar na vasta organização de uma grande empresa ou orgão publico

burocratizado. Esse tipo de educação, tem sido cada vez mais questionada por educadores, pois

desvincula o aprendizado dos valores humanistas e lnge de uma perspectiva criticamente

orientada para transformação da realidade social.

Page 4: A sociologia de weber

3 A educação em Max Weber

7

A sociologia accionalista – compreensiva –

interpretativa – explicativa de Max Weber

(1864-1920) é a sociologia da acção social

dotada de sentido e de significado subjectivo: o sentido é interactivo porque tem significado social; é subjectivo porque individual. A sociologia de Weber é a “ciência

7

O pensamento de Max Weber sobre educação

consta em textos como Ensaios de Sociologia, A

Ciência como Vocação, Os Letrados Chineses, Burocracia ou Sobre a Universidade ou em discursos

académicos como A Profissão e a Vocação de Cientista; A Profissão e a Vocação do Homem Político

(Universidade de Munique, 1918).

que se propõe compreender interpretativamente a acção social, para deste modo a explicar causalmente no seu desenrolar e nos

seus efeitos” (Cruz, 1989: 584) [a acção é

o comportamento humano dotado de sentido

subjectivo; a acção social é a acção onde o

sentido se refere ao comportamento, à conduta, de outras pessoas. Há quatro tipos

de acção – a acção racional relativamente a

um fim, a acção racional relativamente a um

valor, a acção afectiva, a acção tradicional

– a que correspondem três tipos de dominação – racional, carismática, tradicional].

Em poucas palavras, digamos que a sociologia weberiana é a uma teoria (racionalista) da

acção social dotada de intencionalidade significativa (Cruz, 1989: XII).

Ao contrário de Durkheim, que pretendia

Page 5: A sociologia de weber

explicar ‘factos sociais’, Weber procura captar, para depois compreender e interpretar, conexões de sentido (o conteúdo simbólico) nas acções dos indivíduos. O entendimento dos fenómenos sociais é possível pelo método compreensivo: compreender significa, sempre, apreensão interpretativa do sentido. Weber defende a utiliza-

ção do “tipo ideal”, o centro da sua doutrina racionalista. O conceito de “tipo ideal”

liga-se à noção de compreensão, ao processo

de racionalização e à concepção analítica e

parcial da causalidade (Aron, 1991: 495).

São exemplo de tipos ideais o capitalismo, a

democracia, a sociedade, a burocracia, a lei.

Olhemos mais de perto o tipo ideal “burocracia”:

é a organização permanente da cooperação entre numerosos indiví-

duos, exercendo cada um deles

uma função especializada. O burocrata exerce uma profissão sepawww.bocc.ubi.ptEducação, SociolEducação, Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 9

rada da vida familiar, desligada,

como poderíamos dizer, da personalidade que lhe é própria. (Aron,

1991: 507)

Ao contrário de Marx, para Weber a característica mais evidente da sociedade capitalista é a racionalização burocrática. A estrutura social de poder assenta em três tipos

de ordem: a económica (que se exprime nas

classes), a social (que se exprime no status)

e a da luta pelo poder (que se exprime nos

partidos).

Tal como em Karl Marx, a educação não

é temática dominante na obra de Max Weber. Na verdade, a sua influência nesta área

data de finais dos anos 60, início dos anos

Page 6: A sociologia de weber

70 do século XX e pode sistematizar-se da

seguinte forma: Weber trabalha um modelo

implícito de reprodução no âmbito da teoria

da burocracia, atribuindo ao Estado um papel de agente de uma racionalização societal

global e de mediador de conflitos entre grupos sociais (Morrow e Torres, 1997: 27). A

proposta weberiana possibilita a compreensão da dinâmica (micro e macro) do fenó-

meno educativo, nomeadamente as suas relações/conexões com outras esferas do social (instituições e grupos, por exemplo). A

educação, relação associativa (como qualquer relação social), modo de preparação

dos homens para a vida social, é para Weber (tal como para Karl Marx) um mecanismo que contribui para a manutenção de

uma situação de dominação de um grupo

em relação a outro (na perspectiva weberiana, seja a dominação racional, carismática

ou tradicional). Os exames nas universidades são exemplo dessa dominação (“obediência”). Mas vai mais longe: segundo Weber, a ambivalência dos exames traduz-se,

por um lado, na selecção de indivíduos de

classes sociais privilegiadas que vêm a ocupar posições privilegiadas na sociedade: por

outro, esse sistema pode resultar na constituição (e reprodução) de uma ‘casta’ privilegiada. O diploma, símbolo de prestígio

social, ao mesmo tempo que certifica a especialização dos indivíduos (“peritos”), abre

portas à obtenção de vantagens (económicas e sociais, por exemplo) pelo ingresso nas

instituições públicas e privadas e pela ocupação de cargos nessas estruturas (burocráticas). A selecção social é um elemento permanente na sociedade e a educação contribui

para essa selecção social, favorecendo o ê-

xito individual. O diploma é um critério de

selecção social. A educação é, portanto, factor de estratificação social.

A escola é palco de relações de poder, logo

Page 7: A sociologia de weber

de dominação (combina a dominação tradicional com a burocrática). No centro da proposta weberiana está a identificação de três

tipos de educação: a carismática; a humanista (“de cultivo”); a racional-burocrática

(especializada)

Historicamente, os dois pólos

opostos no campo das finalidades

educacionais são: despertar o

carisma, isto é, qualidades heróicas ou dons mágicos; e transmitir o conhecimento especializado.

O primeiro tipo corresponde à estrutura carismática do domínio; o

segundo corresponde à estrutura

(moderna) de domínio, racional e

burocrático. Os dois tipos não

se opõem, sem ter conexões ou

transições entcionário especializado em geral

não é preparado exclusivamente

para o conhecimento. São porém

pólos opostos dos tipos de educação e formam contrastes mais

radicais. Entre eles estão aqueles tipos que pretendem preparar o

aluno para a conduta da vida, seja

de carácter mundano ou religioso.

(Weber, 1971: 482)

Os três tipos de dominação correspondem aos três tipos de educação, sendo

que cada um deles é mais ou menos

valorizado pelas instituições burocráticas

políticas-económicas-sociais em determinada época: a dominação carismática corresponde à educação de carisma, sendo identifi-

Page 8: A sociologia de weber

cada com a antiguidade; a dominação tradicional prende-se com a educação humanista (do “homem culto”), sendo característica do patriarcalismo; a dominação racional

relaciona-se com uma educação racionalburocrática (“do especialista”) e encontrase subjacente ao capitalismo. As instâncias

dominantes em cada período histórico participam na definição das finalidades da educação.

Como sabemos, o capitalismo é, para Weber, a forma mais elevada de racionaliza-

ção. Numa sociedade capitalista-racionalburocrática, os indivíduos distinguem-se

pelas suas qualificações (havendo necessidade de “funcionários especializados”,

“profissionalmente mais informados”): a educação é o elemento que contribui para a

selecção social, é um dos recursos possíveis

para se manter – ou melhorar – o status (e

quanto mais reduzido for o grupo, maior o

prestígio social dos seus membros). Também

para Weber, tal como para Durkheim, a educação é um processo de socialização permanente, constante (que, para além da escola,

se consubstancia igualmente na família), de

reprodução e manutenção social.

A actualidade do pensamento weberiano

é por demais evidente: está presente no

crescente processo de burocratização das sociedades (e das instituições, dos processos

e dos sistemas educativos), está presente

na necessidade de especialização (nomeadamente tecnológica, tendo no horizonte a sociedade ‘da informação’ ou ‘do conhecimento’), está presente na diversificação de

formas de educação (traduzida em currículos e políticas educativas renovadas a grande

rotação).

Notas finais

No pensamento marxista, a educação é um

Page 9: A sociologia de weber

espaço de reprodução ideológica dos interesses da classe dominante (a burguesia);

em Durkheim, a educação é vista como instituição integradora essencial à ordem social; na perspectiva weberiana, a educação é

fonte de um novo princípio de controlo, enquanto racionalidade instrumental de dominação burocrática (Morrow e Torres, 1997:

24). Se em Marx a educação pode oprimir

ou emancipar o indivíduo (no sentido de “libertação”); em Durkheim, a educação é o

mecanismo pelo qual ele se torna membro

de uma sociedade (se torna “um ser novo”).

Weber vai mais longe: a educação é factor de

selecção e de estratificação sociais. Marx e

Durkheim centraram-se no poder das forças

externas ao indivíduo; Weber centrou-se na

capacidade de acção do indivíduo sobre o exterior.

Margaret Archer, no texto The sociology

of educational systems, sintetiza, numa ló-

www.bocc.ubi.ptre si. O herói guerreiro ou o mágico também necessita de treino especial, e o fun

– Max Weber (1864 – 1920) Sociologia Compreensiva

Sociólogo e economista político alemão, um dos fundadores da sociologia

moderna, acadêmico cujos estudos do capitalismo, de religiões comparadas, de

sistemas de classes e sistemas sociais, juntamente com as suas contribuições a

metodologia das ciências sociais, ainda são de grande importância. Na opinião de

Weber, a tendência da civilização do ocidente tem sido rumo a racionalização,

conduzida pela crença no progresso por intermédio da razão, que abriu caminho

para o desenvolvimento das organizações sociais, políticas e econômicas que

diverge da maioria das outras culturas.

Page 10: A sociologia de weber

Essa opinião esta expressa de maneira marcante na obra mais famosa e

controversa de Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-

1905). Nela, Weber atribuía a ascensão e o crescimento do capitalismo -

fenômeno claramente ocidental que só há pouco tempo foi exportado para o resto

do mundo – em parte, à ética prática contida na teologia protestante, em especial

na teologia calvinista.

Weber procurou criar uma metodologia válida para a sociologia fundamentada em

valor-liberdade, a fuga dos juízos de valor que compromete a pesquisa; a

construção de tipos ideais, ou conceitos generalizados, em comparação aos que

se possam analisar os sistemas e os fenômenos; e o que ele chamava de

Verstehen – “entendimento” em alemão, mas que também implica a interpretação

das atividades sociais segundo seu significado subjetivo tanto para os “agentes”

quanto para o pesquisador.

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido

que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas

mesmas ações. Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel,

esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se

sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma

dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato

propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em

questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de

significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao

pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além

disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

O objeto da Sociologia é a ação social. Ação social é a conduta humana dotada de

sentido (justificativa subjetivamente elaborada). 

É importante diferenciar ação social de relação social. No primeiro caso, a ação é

orientada pela conduta do outro. Na Segunda a ação é orientada pelo sentido

compartilhado reciprocamente por um grupo de agentes.

Tipos de ação social:

Ação racional com relação a um objetivo (tem um fim previamente determinado).

Page 11: A sociologia de weber

Ex: a ação política.

Ação racional com relação a valor (relacionado à moral). Ex: condutas ligadas às

manifestações religiosas.

Ação afetiva ( ditado pelo estado de consciência ou humor do sujeito). Ex: o ciúme

entre os casais.

Ação tradicional (ditado por valores culturais absorvidos pelo sujeito como

naturais, obedecendo a reflexos).

É para orientar o cientista na compreensão da ação social e, conseqüentemente

dos fenômenos sociais que faz-se necessário a construção do tipo ideal.

Para ele a sociedade não “paira” sobre os indivíduos e nem lhes é superior. As

regras e normas sociais são resultados de um conjunto complexo de ações

individuais, nas quais os indivíduos escolheriam diferentes formas de conduta. Há

portando um privilégio da parte (indivíduo) sobre o todo (sociedade)

A sociologia weberiana concebe a sociedade como um eterno fluir, um conjunto

inesgotável de acontecimentos que aparecem e desaparecem, estando sempre

em movimento devido a um elemento básico: a ação social que implica uma

concepção do homem como indivíduo ativo a partir de um processo de conexão

valorativa do homem visando o real.

A contribuição de Weber para a Sociologia:

• A busca da análise histórica e da compreensão qualitativa para a compreensão

dos processos históricos e sociais.

• Descoberta da subjetividade na ação e pesquisa social.

• Desenvolveu uma forma de análise específica para as ciências sociais,

diferenciando-a das ciências exatas e da natureza.

• Desenvolveu trabalhos na área de história econômica, buscando as leis de

desenvolvimento das sociedades.

• Estudou as relações entre o meio urbano e o agrário.

Sociologia Econômica Durante a maior parte de sua vida

acadêmica, Max Weber foi docente de disciplinas da área

econômica. Aliás, seu último livro, um conjunto de notas de aula

Page 12: A sociologia de weber

publicados por seus alunos, chama-se justamente História Geral da

Economia. Desta forma, não é surpresa que Weber elabore uma

sofisticada abordagem sociológica da vida econômica. Por esta

razão, há até teóricos[7] que defendem que, em última instância,

toda obra de Weber não passa de uma teoria econômica, qual seja,

uma visão sócio-histórica da vida aquisitiva.

Na sua primeira fase, seguindo a tradição marxista, Weber tendia a

ver o capitalismo como um fenômeno específicamente moderno. Já

em sua " Ética Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo

os fatores culturais da gênese da conduta capitalista, era esta visão

que predominava. Mas, nas décadas seguintes, ele romperá com

estas noções. Em primeiro lugar, ele insere o capitalismo (na sua

fase "moderna") em um amplo processo de racionalização da

cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto fênômeno social, o

capitalismo é uma das expressões da vida racionalizada da

modernidade Ocidental e é similar, em sua forma racional, ao

campo da política, do direito, da ciência, etc. Outra mudança

importante é que Weber rompe com a definição marxista de que o

capitalismo é um fenômeno exclusivo da era moderna: daí a

expressão capitalismo "moderno". Para Weber, o capitalismo é um

fenômeno que atravessa a história, pois a busca do lucro já pode

ser localizada nas sociedades primitivas e antigas, nas grandes

civilizações e mesmo nas sociedade não-ocidentais. O núcleo

estruturante da atividade capitalista é a''empresa '' , pois a separação

da esfera individual da esfera impessoal da produção permite a

Page 13: A sociologia de weber

racionalização da organização do trabalho e mesmo das atividades

de gestão destas organizãções.

Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos ideais

de capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de

Estado, o capitalismo mercantil, capitalismo comercial, etc.

As principais análises de Weber sobre o campo econômico podem

ser encontradas no segundo capítulo de Economia e Sociedade,

tópico em que ele discute a ordem social econômica. Ali ele destaca

que o processo de racionalização da atividade econômica também

envolve a passagem de uma racionalidade material - na qual a vida

econômica está submetida a valores de ordem ética ou política -

para uma racionalidade formal, ou seja, na qual a lógica impessoal

das atividades econômicase e lucrativas se torna predominante.

Por estas razões, Max Weber é considerado, atualmente, um dos

precursores da sociologia econômica, conjunto de autores que se

recusa a entender a vida econômica como relacionada apenas com

o mercado, concebido de forma abstrata, separado de suas

condições históricas, culturais e sociais.

2. Sociologia Política Max Weber desenvolveu um importante

trabalho de sociologia política através da sua teoria dos tipos de

dominação [8 ] . Dominação é a possibilidade de um determinado

grupo se submeter a um determinado mandato. Isso pode acontecer

por motivos diversos, como costumes e tradição. Weber define três

tipos de dominação que se distinguem pelo caráter da dominação

(pessoal ou impessoal) e, principalmente, pela diferença nos

Page 14: A sociologia de weber

fundamentos da legitimidade. São elas: legal, tradicional e

carismática.

Dominação legal: a obediência está fundamentada na vigência e

aceitação da validade intrínseca das normas e seu quadro

administrativo é mais bem representado pela burocracia. A ideia

principal da dominação legal é que deve existir um estatuto que

pode ou criar ou modificar normas, desde que esse processo

seja legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma de

dominação, o dominado obedece à regra, e não à pessoa em si,

independente do pessoal, ele obedece ao dominante que possui

tal autoridade devido a uma regra que lhe deu legitimidade para

ocupar este posto, ou seja, ele só pode exercer a dominação

dentro dos limites pré-estabelecidos. Assim o poder é totalmente

impessoal, onde se obedece à regra estatuída e não à

administração pessoal. Como exemplo do uso da dominação

legal podemos citar o Estado Moderno, o município, uma

empresa capitalista privada e qualquer outra organização em que

haja uma hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais

pura de dominação legal é a burocracia[9].

Dominação tradicional: Se dá pela crença na santidade de quem

dá a ordem e de suas ordenações, sua ordem mais pura se dá

pela autoridade patriarcal onde o senhor ordena e os súditos

obedecem e na forma administrativa isso se dá pela forma dos

servidores. O ordenamento é fixado pela tradição e sua violação

seria um afronto à legitimidade da autoridade. Os servidores são

Page 15: A sociologia de weber

totalmente dependentes do senhor e ganham seus cargos seja

por privilégios ou concessões feitas pelo senhor, não há um

estatuto e o senhor pode agir com livre arbítrio.

Dominação carismática: nesta forma de dominação os

dominados obedecem a um senhor em virtude do seu carisma ou

seja, das qualidades execpcionais que lhe conferem especial

poder de mando. A palavra carisma é de inspiração religiosa e,

no contexto cristão, lembra os dons conferidos pelo Espírito

Santo aos cristãos. A palavra foi reinterpretada em sentido

sociológico como dons e carismas do próprio indivíduo e, foi

nesta forma que Weber a adotou. Weber considerou o carisma

uma força revolucionária na história, pois ele tinha o poder de

romper as formas normais de exercício do poder. Por outro lado,

a confiança dos dominados no carisma do líder é volúvel e esta

forma de dominação tende para a via tradicional ou legal.

A tipologia weberiana das formas de poder político diferente

claramente da tradição clássica, orientada pela discussão da teoria

das formas de governo, oriunda do mundo antigo (Platão e

Aristóteles). Filiado à tradição realista de pensamento, Weber

também rejeita os pressupostos normativos e éticos da teoria do

poder e procura descrevê-lo em suas formas efetivas de exercício.

Ao demonstrar que o exercício do poder envolve a necessidade de

legitimação da ordem política e, ao mesmo tempo, sua

institucionalização por meio de um quadro administrativo, Weber

Page 16: A sociologia de weber

apresentou os fundamentos básicos da sociologia política da era

contemporânea.

Além de uma rigorosa e sistemática sociologia política - alicerçada

em seus tipos de dominação - Max Weber foi um dos mais argutos

analistas da política alemã, que analisou durante o Segundo Império

Alemão e durante os anos iniciais da República de Weimar . Crítico

da política de Bismarck, líder que, ao monopolizar o poder, deixou a

nação sem qualquer nível de sofisticação política, Weber sempre

apontou a necessidade de reconstrução da liderança política. No

escrito O Estado Nacional e a Política Econômica, de 1895, já

mostrava como as diferentes classes sociais não se mostravam

aptar a dirigir a nação, seja pela sua decadência social (caso dos

Junkers), seja pela sua imaturidade política (caso da burguesia e do

proletariado)[10].

3. Sociologia da estratificação social Estratificação social é a

área da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a posição dos

indivíduos na sociedade e explicitação dos mecanismos que geram

as distinções sociais entre os indivíduos. Ao contrário de Marx, que

explicava estas diferenças apenas com base em fatores

econômicos, Weber mostrou que as hierarquias e distinções sociais

obedecem à lógicas diferentes na esfera econômica, social e

política. Sob o aspecto econômico as classes sociais são

diferenciadas conforme as chances de oportunidades de vida,

escalonando os indivíduos em grupos positiva ou negativamente

privilegiados. Do ponto de vista social, indivíduos e agrupamentos

Page 17: A sociologia de weber

sociais são valorizados conforme atributos de valor, dando origens a

diversos tipos de grupos de status. Diferente também é a lógica do

poder, em que os indivíduos agregam-se em diferentes partidos

políticos. A análise weberiana demonstra que existem diferentes

mecanismos sociais de distribuição dos bens sociais, como a

riqueza (classe), a honra ou prestígio social (grupos de status) e o

poder (partidos) e que cada um deles cria diferentes tipos de

ordenamento, hierarquização e diferenciação social.

4. Sociologia do Direito Jurista de formação, a análise da esfera

jurídica não ficou de fora das preocupações de Max Weber[11]. Ele

dedicou um amplo capítulo de Economia e Sociedade a este tema.

O pano de fundo de toda sua reflexão sobre a esfera das normas

jurídicas é a tese da racionalização da vida social, da qual o próprio

direito é uma das expressões. Ao compreender historicamente a

evolução do direito, Weber destaca o crescente processo de

racionalização que lhe é inerente.

A racionalização do direito pode ser compreendida a partir de duas

variáveis: seu caráter material ou formal ou seu caráter racional e

irracional. São racionais todas as formas de legislação que seguem

padrões fixos, ao contrário do caráter aleatório dos métodos

irracionais. Por outro lado, o conteúdo do direito pode ser

determinado por valores concretos, especialmente de caráter ético,

ou obedecer a critérios de ordem interna, ligados a sistemática e ao

processo jurídico em si mesmo, ou seja, a sua forma.

Page 18: A sociologia de weber

A apreciação weberiana do setor jurídico da vida social não se

dedica apenas a entender esta esfera de forma isolada. O direito

possui uma ligação direta tanto com a ordem política quanto com a

ordem econômica. A evolução do direito formal é um aspecto

essencial do progressivo processo de burocratização do Estado,

bem como a estabilidade das normas jurídicas foi fundamental para

a consolidação de uma economia de mercado, pois esta requer uma

ordem de obrigações previsível. Direito, economia e política são

ordens sociais de vida que estão conectados e entrelaçados de

forma direta[12].

Como teórico da evolução sócio-histórica do direito, Weber é um

dos precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o

direito formal como a forma mais avançada historicamente do

sistema jurídico. Desta forma, Max Weber está na raiz de

importantes teóricos como o próprio Hans Kelsen , por exemplo,

condiderado o maior teórico do positivismo jurídico.

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