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AGRIWORLD 3 gavam aos consumidores. De- senvolvida a capacidade pro- dutiva das zonas do centro- oeste do país se evitava a uti- lização da bacia do Amazo- nas. O Cerrado podia ser uti- lizado como uma conexão en- tre as zonas sul e sudeste, in- tegrando o nordeste mais po- bre e povoado. A situação rural marcava o reflexo da falta de políticas públicas adequadas à agricul- tura, sem que houvesse uma política de pesquisa agrope- cuária pública capaz de mo- dificar a dependência externa. Devido ao tamanho continen- tal do país, com 8,5 milhões de km 2 , distribuído em cinco regiões geográficas muito di- ferentes, se necessitava uma organização eficaz das insti- tuições de pesquisa e uma dis- ponibilidade de recursos hu- manos especializados para de- senvolver o conhecimento pa- ra as condições tropicais. Primeiro ciclo para o de- senvolvimento da agricultura: a tecnologia para a produção de alimentos na década de 70 AGRIWORLD 2 Evolução da agricultura brasileira A agricultura brasileira antes de 1970 No início da década de 70, a situação econômica brasileira era instável, e qua- se toda a agricultura estava centralizada nas regiões sul e sudeste. Durante esse perí- odo não se abastecia a de- manda de alimentos do país, então, uma parte se importa- va a preços altos, e o conse- quente aumento da inflação e a pobreza rural e urbana li- mitavam o desenvolvimento do país. A tendência crescente da população incrementa a de- manda de alimentos; ao mes- mo tempo se produz o des- locamento da população ru- ral para as cidades, por isso para estabilizar a economia se necessitava aumentar a pro- dução agrícola e baixar os preços dos alimentos que che- A TECNOLOGIA AGRÍCOLA A TECNOLOGIA DO PREPARO CONSERVACIONISTA NA AGRICULTURA TROPICAL. O MODELO BRASILEIRO NA ÚLTIMA REUNIÃO PLENÁRIA DO CLUBE DE BOLONHA, CELEBRADA EM HANNOVER, DURANTE A AGRITECHNICA 2009, O DR. MANTOVANI APRESENTOU UMA INTERESSANTE PALESTRA, DENTRO DA SESSÃO DEDICADA À MECANIZAÇÃO NA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL, CUJA SÍNTESE OFERECEMOS A VOCÊS. Brasil no A TECNOLOGIA DO PREPARO CONSERVACIONISTA NA AGRICULTURA TROPICAL. O MODELO BRASILEIRO

A TECNOLOGIA AGRÍCOLA - Club of Bologna · 1973 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Brasi-leira, (EMBRAP A), de controle público, mas com algumas ca-racterísticas da

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Page 1: A TECNOLOGIA AGRÍCOLA - Club of Bologna · 1973 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Brasi-leira, (EMBRAP A), de controle público, mas com algumas ca-racterísticas da

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gavam aos consumidores. De-senvolvida a capacidade pro-dutiva das zonas do centro-oeste do país se evitava a uti-lização da bacia do Amazo-nas. O Cerrado podia ser uti-lizado como uma conexão en-tre as zonas sul e sudeste, in-tegrando o nordeste mais po-bre e povoado.

A situação rural marcavao reflexo da falta de políticaspúblicas adequadas à agricul-tura, sem que houvesse umapolítica de pesquisa agrope-cuária pública capaz de mo-dificar a dependência externa.Devido ao tamanho continen-tal do país, com 8,5 milhõesde km2, distribuído em cincoregiões geográficas muito di-ferentes, se necessitava umaorganização eficaz das insti-tuições de pesquisa e uma dis-

ponibilidade de recursos hu-manos especializados para de-senvolver o conhecimento pa-ra as condições tropicais.

Primeiro ciclo para o de-senvolvimento da agricultura:a tecnologia para a produçãode alimentos na década de 70

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Evolução da agriculturabrasileira

A agricultura brasileiraantes de 1970

No início da década de70, a situação econômicabrasileira era instável, e qua-se toda a agricultura estavacentralizada nas regiões sule sudeste. Durante esse perí-odo não se abastecia a de-manda de alimentos do país,então, uma parte se importa-va a preços altos, e o conse-quente aumento da inflaçãoe a pobreza rural e urbana li-

mitavam o desenvolvimentodo país.

A tendência crescente dapopulação incrementa a de-manda de alimentos; ao mes-mo tempo se produz o des-

locamento da população ru-ral para as cidades, por issopara estabilizar a economia senecessitava aumentar a pro-dução agrícola e baixar ospreços dos alimentos que che-

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDOOPPRREEPPAARROOCCOONNSSEERRVVAACCIIOONNIISSTTAA NNAAAAGGRRIICCUULLTTUURRAA TTRROOPPIICCAALL..

OO MMOODDEELLOO BBRRAASSIILLEEIIRROONA ÚLTIMA REUNIÃO PLENÁRIA DO CLUBE DEBOLONHA, CELEBRADA EM HANNOVER, DURANTE AAGRITECHNICA 2009, O DR. MANTOVANIAPRESENTOU UMA INTERESSANTE PALESTRA,DENTRO DA SESSÃO DEDICADA À MECANIZAÇÃO NAAGRICULTURA SUSTENTÁVEL, CUJA SÍNTESEOFERECEMOS A VOCÊS.

Brasil no

AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDOOPPRREEPPAARROOCCOONNSSEERRVVAACCIIOONNIISSTTAA NNAAAAGGRRIICCUULLTTUURRAA TTRROOPPIICCAALL..

OO MMOODDEELLOO BBRRAASSIILLEEIIRROO

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A primeira opção gover-namental foi a ampliação dafronteira agrícola na área doCerrado, utilizando os soloscom potencial agrícola e mel-horando o conhecimento domeio tropical. Assim se cria em1973 a Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária Brasi-leira, (EMBRAPA), de controlepúblico, mas com algumas ca-racterísticas da empresa priva-da, que na atualidade dispõede uma sede central, 14 di-visões centrais, 40 centros depesquisa descentralizados e3 centros de serviços, distribuí-dos por todas as regiões do pa-ís, mais 2 laboratórios virtuaise 2 unidades de transferênciade tecnologia internacionais,com um total de 2207 pesqui-sadores, dos quais 27% tem ti-tulação de Mestrado e 72%tem o título de Doutorado.

Desde a sua criação, aEMBRAPA gerou e recomen-dou as tecnologias para a agri-cultura brasileira, com capa-cidade para aumentar a pro-dução, proporcionando novos

materiais genéticos, e coorde-nando o sistema de PesquisaAgropecuária Nacional, rela-cionando-se com as insti-tuições internacionais corres-pondentes.

Durante os anos oitenta,houve um investimento mas-sivo, através do Ministério daEducação, num programa decooperação com as Univer-sidades dos EUA, dirigido àformação de especialistas nocampo da agricultura. Os re-sultados das pesquisas da EM-BRAPA desenvolvendo novascultivares de soja, milho, tri-go, arroz, feijão, algodão, sor-go e outras culturas menoresadaptadas às diferentes regiões,aumentaram as produções em126%, com um aumento de26% da superfície cultivada.

Esses aumentos na pro-dução tiveram como conse-qüência uma redução nopreço dos alimentos, no cus-to real da dieta alimentícia bá-sica no período de 1973 a2007. Tomando para o lote dealimentos básicos o valor de

1,0 para dezembro de 1994,o correspondente a junho de2000 foi somente de 0,3. Tu-do isso num período em quea demanda foi crescente pe-lo aumento da população, pro-duzindo-se a melhoria real dobem-estar dos consumidores.

A melhora no conheci-mento, que teve seu início naformação recebida no estran-geiro, permitiu a inovação daagricultura brasileira, ao adap-tar o conhecimento científicoe tecnológico às condições dostrópicos, melhorando a utili-zação dos solos agrícolas.

O manejo dos solos naagricultura tropical

A pesquisa mais intensa esistemática sobre o “plantiodireto” se inicia no IAPAR,Fundação do Instituto Agronô-mico do Paraná, em Londri-na (1976), e cooperando comImperial Chemical Industries(ICI). Na atualidade, pratica-mente todas as instituições que

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A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

trabalham com pesquisa emsolos no Brasil o fazem com“plantio direto”, como a EM-BRAPA Trigo, em Passo Fundo(Rio Grande do Sul), com pro-gramas sobre variedades, ro-tações, cultivos de cobertu-ra, mecanização, etc, e um ser-viço de extensão pública e pri-vada, com o objetivo de queo sistema seja adotado por100% dos agricultores.

Embora o aspecto econô-mico tenha sido a prioridadeno primeiro ciclo de desenvol-vimento da agricultura paragarantir a abundante produçãode alimentos a um custo bai-xo, isso não era consideradosuficiente, e também se bus-cava desenvolver um mode-lo de agricultura capaz deaproximar-se das exigênciasdo desenvolvimento sustentá-vel, no econômico, social,meio ambiental e político, quefoi prioritário no segundo ci-clo de desenvolvimento daagricultura brasileira.

Os sistemas de cultivo tra-dicionais nos trópicos e sub-trópicos, com preparo inten-sivo do solo, produziam a de-gradação dos solos e a perdade seu potencial produtivo. Is-so leva à pobreza e ao êxododos agricultores das zonas ru-rais, que se deslocavam aossubúrbios das grandes cidadescriando populações marginaise conflitos sociais. Se é ofe-recida uma oportunidade pa-ra a agricultura em pequenaescala, é possível manter a po-pulação rural praticando umaagricultura sustentável, mu-

dando o uso e a gestão da te-rra com novas práticas de cul-tivo.

As técnicas de manejo dossolos que inicialmente se uti-lizavam no Brasil se baseavamem recomendações para os so-los de clima temperado, e de-monstraram que não eramapropriadas. Os problemas de-rivados da aplicação dessastécnicas em solos tropicais esub-tropicais do Brasil forama compactação dos solos e asperdas por erosão que chega-ram a alcançar de 30 a 40 to-neladas por ano.

Os sistemas de cultivo tradicionais nos

trópicos e sub-trópicos, com preparo

intensivo do solo, produziam a

degradação dos solos

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Atualmente, com esses25,5 milhões de hectares oBrasil ocupa o primeiro lugarem superfícies cultivadas complantio direto, seguido pelosEUA, com 25,3 milhões dehectares, e da Argentina com18,3 milhões de hectares. NoBrasil, a superfície com plan-tio direto é de 50% do totalcultivado, enquanto que a áreanos EUA é de somente 16%.

Na evolução da superfíciecultivada com plantio direto noBrasil pode-se estabelecer 3 pe-ríodos, com uma primeira fasena qual se inicia a pesquisa, eque corresponde aos anos an-teriores a 1979, uma segundafase, que finaliza em 1991, naqual fixam-se as bases tecno-lógicas do plantio direto, e umaterceira etapa, na qual se resol-veram os principais problemasde manejo dessa tecnologia,produzindo-se um crescimen-to exponencial da superfíciecultivada com esse sistema demanejo. O Sistema de Pesqui-sa Agropecuária Nacional, osetor privado e os próprios agri-cultores contribuíram com es-se desenvolvimento tecnológi-

co que tornou viável a agricul-tura tropical. Seguidamente sãoanalisadas as característicasprincipais das três etapas con-sideradas no desenvolvimentodo plantio direto no meio tro-pical.

Fase I: Principais desafiospara o período de 1974 -1979

Como já foi dito, as pri-meiras experiências se desen-volveram no estado do Para-ná, e nelas se contou com acolaboração de GTZ (ajudaalemã), com um projeto de de-monstração realizado na em-presa rural de Herbert Bartz,agricultor brasileiro, de as-cendência alemã, utilizandocomo referência as experiên-cias de EUA e Reino Unido,usando uma semeadora parao plantio direto de soja em1972. Foi o primeiro agricul-tor que introduziu essa tecno-logia na América Latina.

Os desafios nessa primei-ra fase foram os seguintes:

• Havia uma limitação opera-cional do equipamento, jáque resultava quase impos-sível trabalhar com plantiodireto em zonas nas quais oresto da palha do cultivo an-terior era muito abundanteou a falta de tecnologia pa-ra fazer a semeadura coma eficácia desejada.

• Os herbicidas que eram apli-cados antes da semeaduraeram pouco eficazes no con-trole das pragas, nos cam-pos de cultivo.

• O controle das plantas inva-soras em pós-emergência erapouco seletivo e de baixaeficácia, resultando muitodifícil controlar a praga coma palha cobrindo a superfí-cie do solo.

• O alto custo do herbicida,já que, para garantir a eficá-cia do tratamento, os agri-cultores tinham que apli-car o dobro da dose de pro-duto, que se usava em con-dições convencionais.

• A tecnologia de aplicaçãoquímica dos herbicidas empré-emergência não era sa-tisfatória.

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das do solo por erosão. Alémdisso, no Rio Grande do Sulse estimulou a criação de ga-do leiteiro para os pequenosprodutores, que substituíramas culturas de grãos por es-pécies forrageiras. Assim, deoito milhões de litros de leiteque se produzia em 1986 pas-sou-se a 340 milhões em 2002.Atualmente, a produção nes-sa região é aproximadamentede seis milhões de litros de lei-te por dia. Somado a isso, es-se estado passou de 320.000hectares cultivados com téc-

nica de plantio direto em 1992a 3.818.000 hectares em 1998,com notável redução das per-das de solo por erosão.

Essa experiência foi leva-da à zona do centro oeste dopaís, na zona do Cerrado, comgrande apoio da indústria demáquinas agrícolas, que comadequadas rotações de cul-tura e utilização de herbicidasmais eficazes e baratos, per-mitiram que em 2008 se cul-tivasse no Brasil, 25,5 milhõesde hectares com técnicas deplantio direto.

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

A causa era a utilização deimplementos de preparo quedeixavam o solo descobertoe excessivamente pulverizado,com isso as chuvas intensas ca-racterísticas do trópico gera-vam compactação e perdas nosolo por erosão. Na maioriadas experiências européias eamericanas se dava mais ênfa-se ao uso de equipamento pa-ra a preparação do solo, pres-tando pouca atenção ao pró-prio sistema produtivo.

Os efeitos negativos ine-vitáveis do preparo intensivoe repetida nos trópicos e sub-trópicos provocaram uma re-dução de seu conteúdo de ma-téria orgânica e perda de solopor erosão, afetando a estru-tura do solo, a sua temperatu-ra, a umidade e a capacida-de de infiltração da água. Mo-dificou-se a flora e a fauna dosolo, afetando os processosbiológicos, com perda de nu-trientes e degradação biológi-ca e física. Isso produziu umdecréscimo nas produtivida-des, que empobreceu os tra-balhadores que nela trabalha-vam.

Com o desenvolvimentoda agricultura tropical, esta-beleceram-se processos ino-vadores com a melhoria doequipamento agrícola, novasvariedades com ciclo mais cur-to, e cultivos de cobertura pa-ra o período invernal. A partirde 1991 se desenvolveu umnovo conceito de plantio di-reto, adaptado às condiçõessubtropicais, que permitia re-solver a maioria dos proble-mas nas regiões sul, reduzin-do consideravelmente as per-

Atualmente, com 25,5 milhões de hectares,

o Brasil ocupa o primeiro lugar em

superfícies cultivadas com plantio direto

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• Os ensaios realizados pelocentro de Pesquisa EMBRA-PA Trigo sobre:1.A aplicação do plantio di-

reto nos campos naturais.2.A mecanização do plan-

tio direto: semeadoras como disco triplo e o disco du-plo defasado.

3.Mecanismos para a aber-tura do sulco no plantiodireto.

4.Herbicidas pós-emergên-cia mais eficazes para ocontrole das plantas inva-soras.

A maior expansão doplantio direto no Brasil, duran-te a década de noventa, pro-duziu-se no Cerrado, pela in-fluência da APDC.

Com o aparecimento deherbicidas mais baratos, nomercado, na década de no-venta, o plantio direto ficoumais fácil de ser manejado, eisso unido ao desenvolvimen-to de semeadoras teve um for-te impacto na adoção dessesistema pelos agricultores. Aemprsa Monsanto investiuconsideravelmente na difusão

do plantio direto, provavel-mente devido a seu interessena comercialização do Glyp-hosato. Entre os fabricantes desemeadoras para o plantio di-reto, a Semeato foi o fabrican-te nacional que mais se des-tacou no desenvolvimento demáquinas para o plantio dire-to e a tecnologia para a im-plantação dessas tecnologiasde cultivo. Em 1985, treze má-quinas para o plantio direto secomercializaram no Brasil.Uma mudança de conceitosmuito significativa foi produ-zida, já que o plantio diretoinclui um conjunto de tecno-logias que abrange diversos ti-pos de cultivo, utilizando ro-tações de cultura adequadas,para manter sempre coberto osolo com resíduos da colhei-ta anterior.

Fase III: Principaisdesafios para o período de1991 a 2006.

A fase III pode caracteri-zar-se como a da grande “Re-volução” da agricultura brasi-leira, a chamada AgriculturaTropical. O trabalho pionei-ro de Frank Dijkstra e Mano-el Henrique Pereira, agricul-tores e líderes em sua comu-nidade, desempenhou umgrande papel no desenvolvi-mento e difusão desse méto-do de cultivo, não somente noBrasil, mas também no estran-geiro, e de maneira especialem toda a América Latina.

A tecnologia difundidaprincipalmente aos estados deSanta Catarina e Rio Grandedo Sul, no sul do país, permi-

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• O sistema de produção uti-lizado baseava-se na su-cessão da soja-trigo e sojaem mono-cultura, com umresíduo da colheita insufi-ciente para proteger o so-lo, favorecendo a prolife-ração de alguns patógenose o predomínio de certas es-pécies de plantas invasoras.

• A maioria do equipamentomecânico não se adaptavaàs condições tropicais, porisso houve que modificar assemeadoras, dando a elasmaior peso, e sulcadores quepudessem abrir sulcos numsolo coberto de palha.

O começo do plantio di-reto no Brasil não foi fácil, da-da a extensão superficial dopaís. As primeiras máquinasforam construídas em 1975/76sobre a base de uma enxadarotativa (Howard Rotacaster)com capacidade reduzida detrabalho, sendo os únicos her-bicidas disponíveis o 2.4-D eo Paraquat, e resultaram emabundantes fracassos nessa fa-se. No entanto, a superfíciecom plantio direto passou de1.000 hectares em 1973/74, a400.000 hectares em 1983/84.

Durante esse período, to-maram-se decisões para for-mar técnicos em tecnologia deplantio direto, e as experiên-cias realizadas serviram de ba-se para resolver os problemasque iam aparecendo. Emboraos agricultores fossem cons-cientes que o aspecto conser-vacionista era muito importan-te e havia que resolver proble-mas de erosão e de degra-dação dos solos, apesar dasações de formação intensiva

para transferir essa tecnologia,a adoção do plantio direto porparte dos agricultores era mui-to baixa, e muitos continua-vam na expectativa.

O desafio seguia sendodesenvolver uma tecnologiaapropriada para nossas con-dições tropicais.

Fase II: Principais desafiospara o período de 1979-1991

Como característica maissignificativa dessa fase II des-taca-se o grande esforço de to-das as organizações voltadaspara o processo de difundiro conhecimento do plantio di-reto mediante reuniões e ati-vidades de transferência detecnologia. Foram estabeleci-das muitas entidades e clubes,principalmente nos estados doRio Grande do Sul e Paraná,com o objetivo de estender oplantio direto, e para encon-trar as soluções aos problemasque a pesquisa não havia re-solvido ainda.

Para difundir a informação,a Cooperativa AgropecuáriaCampos Gerais promoveu aprimeira Conferência Nacio-nal sobre Plantio Direto, emPonta Grossa (Paraná) em1981. Outras duas conferên-cias nacionais, realizadas em1983 e 1985, impulsionarama área sob plantio direto nosCampos Gerais de Ponta Gros-sa, alcançando-se aproxima-damente 200.000 hectares em1986, sendo essa a primeiraregião que incorporou de ma-neira generalizada a técnicado plantio direto no Brasil.

Ao descrever os aconteci-mentos mais importantes quecaracterizam essa segunda fa-se, indicam-se os seguintes:• Diversidade de reuniões de

trabalho para o intercâmbiodo conhecimento.

• Melhoria do processo e doequipamento.

• Transferência da tecnologiado plantio direto mediantea organização de clubes co-mo o “Worm Club” (clubeda minhoca) em 1979, Clu-be dos Amigos da Terra(1982), clubes de “Plantiodireto”, Associação de Pro-dutores de “Plantio direto”,Associação de “Plantio di-reto para o Cerrado” (APDC).

• Congressos Nacionais de“Não Trabalho” em 1981,1983, 1985.

• A Fundação ABC, com amissão de promover a pes-quisa em plantio direto, as-sociada com serviços de ex-tensão e agricultores.

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

Durante três décadas e meia uma nova

agricultura se desenvolveu para o Brasil,

resolvendo o problema inicial de

segurança alimentar e ajudando a

estabelecer uma agricultura sustentável

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de 79.000 hectares/ano, pas-sa a ser na III Fase de 1,9milhões/ano. Uma verdadei-ra revolução da AgriculturaTropical no Brasil.

Agricultura Tropical noséculo XXI

Durante três décadas emeia uma nova agricultura sedesenvolveu para o Brasil, re-solvendo o problema inicialde segurança alimentar e aju-dando a estabelecer uma agri-cultura sustentável, promete-dora para o século XXI.

Como resultado desse pro-cesso, as empresas agro-indus-triais brasileiras tomam um pa-pel mais importante na eco-nomia nacional, respondendoa 23% do PIB. As estatísticasdemonstram que o Brasil ocu-

pa os primeiros lugares na pro-dução e exportação de produ-tos agrícolas e para a pecuá-ria.

Por outro lado, devido aque mais de 80% da popu-lação vive nas cidades, o se-tor rural assume a responsabi-lidade de produzir alimentospara o país, com uma sobrapara a exportação. Os dadosdo crescimento demográficoglobal e nacional, junto coma melhoria da renda em am-plos setores da população, in-dicam que irá se produzir umaumento da demanda de ali-mentos e a necessidade de au-mentar a produção. O Brasilestá entre os poucos países quepodem ampliar sua fronteiraagrícola e que pode aumentara produtividade do que estásendo cultivado.

Na figura anexa se apre-sentam as superfícies agríco-las utilizadas em diferentes pa-íses e o potencial de cresci-mento dessas superfícies, jun-to com três círculos que en-globam os países com área su-perior aos quatro milhões dekmÇ, população de mais de100 milhões de habitantes, ePIB de mais de 400 bilhões dedólares.

Considerando os três fato-res indicados, quatro paísesentram nessa categoria: Chi-na, EUA, Rússia e Brasil. Le-vando em conta a situaçãoagrária, a produção presentee a possibilidade de expansão,o Brasil se apresenta commaior capacidade de aumen-tar sua agricultura e a opor-tunidade para a agroindústriabrasileira, devido a grande

quantidade de área disponívelpara a expansão, assim co-mo a possibilidade de aumen-tar a produtividade em algu-mas culturas. Na região cen-tral do Brasil, uma grande su-perfície do Cerrado pode sercultivada com garantia de pre-servação do meio ambiente.

Nesse cenário, para a ex-pansão de nossa agricultura senecessita modernização de sis-temas de produção – com astécnicas como a agricultura deprecisão, nanotecnologia, abiotecnologia, etc. – e encon-trar soluções para cultivos empequenas explorações agro-pecuárias, que são os objeti-vos que caracterizam a tercei-ra fase de desenvolvimento daagricultura brasileira. A EM-BRAPA enfrenta esses desafiospara os próximos 4 a 15 anos,com seu V Plano Estratégico,que inclui programas integra-dos de produção agrícola, pe-cuária e florestal, com ino-vação tecnológica que permi-ta um maior desenvolvimen-to, melhorando as pastagens(50 milhões de hectares) e asáreas de florestas degradadas,sem que seja necessário ocu-par com cultivos as zonas dematas.

Resumo e conclusões• O desenvolvimento de tec-

nologias para a agriculturatropical permitiu o cresci-mento da produção com aexpansão mínima da áreacultivada.

• A agricultura de conservaçãonas regiões subtropicais etropicais foi levada a cabo

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

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tiu o emprego contínuo dessatécnica, reduzindo os custosde fertilizantes e herbicidas.Durante esse período algunsfatos importantes caracterizama fase III:• Diminuição substancial do

preço dos herbicidas, quepassam de $US 48,32 a $US8,74 em 1986, e a $US 4,53em 2002.

• Proliferação do plantio di-reto no Brasil e na América(1990/1992), com as Asso-ciações do Centro Oeste ea Confederação Americana.

• Conversão dos agricultoresconvencionais ao sistema deplantio direto, produzida em1990, com a introdução desemeadoras para agriculto-res em pequena escala, e demaior tamanho para gran-des explorações mecaniza-das.

• Controle integrado das plan-tas invasoras.

• Melhoria do potencial pa-ra a fixação biológica do ni-trogênio.

• Desenvolvimento de culti-vares de soja e híbridos demilho com um ciclo total en-curtado em 30 dias, permi-tindo a sequência de soja –cultivo menor e milho comcultura forrageira (Brachia-ria spp.).

• No ano de 2000 utilizam-secultivos intercalados com omilho (Brachiaria e Panicum)para integrar agricultura e pe-cuária dispondo de forragemdurante o inverno, como oSistema “Santa Fé”, uma ro-tação com “Plantio direto”,que permite manter o cam-po sempre com cobertura.

• Estabelecimento em todasas regiões do sistema deplantio direto, adaptando assemeadoras ao tamanho daspequenas propriedades.

• Transferência de tecnologiacom a quinta e a sexta Con-ferência Nacional do “Plan-tio direto”, organizadas emGoiânia (1997) e Brasília(1998), com mais de 2300participantes em cada umadelas.

A redução dos custos deprodução com a implantaçãodo plantio direto provavelmen-te foi o motivo principal para

a adoção dessa técnica porparte dos agricultores. Os cus-tos de produção por acre desoja com plantio direto foramde $US 27,00 na Argentina,de $US 14,18 nos EUA e de$US 11,50 no Brasil, sendo oplantio direto a forma de agri-cultura conservacionista quese utiliza em menos de 50%da agricultura dos EUA, e qua-se o único sistema de conser-vação praticado na AméricaLatina. A aceitação do plantiodireto se apresenta ao obser-var que, embora o crescimen-to da superfície implantadacom esse sistema na II Fase foi

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

A redução dos custos de produção com a

implantação do plantio direto

provavelmente foi o motivo principal

para a adoção dessa técnica por parte

dos agricultores

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mediante a tecnologia doplantio direto, que demons-trou ser a melhor soluçãopara evitar as perdas do so-lo por erosão.

• A maioria das recomen-dações para o manejo doscultivos nos solos das regiõestemperadas não resultaramadequadas para as regiõessubtropicais e tropicais, jáque com elas se produzcompactação do solo e per-das por erosão que chegamaos 30-40 toneladas por hec-tare ao ano.

• Os sistemas de cultivo comconservação de solos co-meçam a difundir-se a medi-da que se melhora o equi-pamento mecânico disponí-

vel, se desenvolvem cultivosde ciclo curto, se encontramplantas apropriadas para a co-bertura do solo em períodode inverno com capacidadepara suportar o estresse híbri-do, a diversidade e o baixopreço e maior eficiência dosherbicidas, ao mesmo tempoque há uma melhora na tec-nologia de aplicação.

• As mudanças produzidas sãosignificativas, e o plantio di-reto compreende um conjun-to de tecnologias que incluemdiversas espécies de plantas,

e rotações de cultivos que per-mitem ter o solo coberto comresíduos do cultivo anteriorde maneira permanente.

• Os custos de produção com

o plantio direto se reduzi-ram em uma porcentagemestimada de 10 a 15%, quefoi um fator determinantepara que se adote em pro-porções muito altas.

• Com a adoção do plantio di-reto na área do Cerrado osagricultores puderam obterduas ou três colheitas porano, aumentando sua efi-ciência produtiva adapta-da às estações.

• A utilização dessa tecnolo-gia tem um impacto favo-rável na fixação de nitrogê-nio, e no controle integradodas pragas associado à agri-cultura de precisão, permi-tindo uma boa gestão dosrecursos naturais.

• A inovação tecnológica ofe-rece vantagens econômicas,com isso se produz um for-te crescimento anual daadoção do plantio direto,que cresceu mais de 21 ve-zes desde 1991.

• Estas conquistas tecnológi-cas foram possíveis graçasao esforço integrado do Sis-tema de Pesquisa Agrope-cuário Nacional, que reper-cutiu em uma melhora dosbenefícios para os agricul-tores.

• A magnitude e o grau deadoção do plantio direto pe-los agricultores de todas asregiões podem ser conside-rados como a grande revo-lução da Agricultura Tropi-cal Brasileira.o

Evandro Chartuni Mantovani,SGE - EMBRAPA

José Eloir Denardin, EMBRAPA TRIGO

A TECNOLOGIAAGRÍCOLA

SUPERFÍCIES AGRÍCOLAS UTILIZADAS E OPOTENCIAL DE CRESCIMENTO

Mais de 80% da população vive nas cidades,

o setor rural assume a responsabilidade de

produzir alimentos para o país