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A TEORIA GERAL DA POLÍTICA - humanitasvivens.com.br · Bobbio recorre a Aristóteles para se fazer compreensível no que diz respeito ao cenário Europeu. São distinguidas várias

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A TEORIA GERAL DA POLÍTICA DE NORBERTO BOBBIO

Elementos Introdutórios

FOTO DA CAPA: BOBBIO, Norberto. Autobiografia. Roma-Bari: Laterza, 1997, p. 172.

José Dias Junior Cunha

Valdenir Prandi (Organizadores)

A TEORIA GERAL DA POLÍTICA DE NORBERTO BOBBIO

Elementos Introdutórios

Primeira Edição E-book

Toledo - PR

2018

Copyright 2018 by Organizadores EDITORA:

Daniela Valentini CONSELHO EDITORIAL:

Dr. Daniel Eduardo dos Santos – UNICESUMAR Dr. José Aparecido Pereira – PUCPR Dr. José Beluci Caporalini – UEM

REVISÃO FINAL: Prof. Ademir Menin

CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Junior Cunha

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi Bibliotecária CRB/9-1610

Todos os direitos reservados aos Organizadores.

Todos os textos aqui publicados são de total e exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Editora Vivens, O conhecimento a serviço da Vida! Rua Pedro Lodi, nº 566 – Jardim Coopagro

Toledo – PR – CEP: 85903-510; Fone: (45) 3056-5596 http://www.vivens.com.br; e-mail: [email protected]

A teoria geral da política de Norberto

T314 Bobbio: elementos introdutórios /

organizadores José Dias, Junior Cunha,

Valdenir Prandi. – 1. ed. e-book –

Toledo, PR: Vivens, 2018.

88 p.

Modo de Acesso: World Wide Web:

<http://www.vivens.com.br>

ISBN: 978-85-92670-70-2

1. Política. 2. Ideologia Política. 3.

Ciência política. I. Título.

CDD 22. ed. 320.1

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................... 9

I FILOSOFIA DA HISTÓRIA Fernando da Rocha ........................................................................ 11

II O PRIMADO DOS DIREITOS SOBRE OS DEVERES Gustavo Rohte de Oliveira .............................................................. 17

III PAZ E GUERRA Eduardo Bartzen da Cunha ........................................................... 37

IV INTRODUÇÃO À POLÍTICA E DIREITO Fernando da Rocha ........................................................................ 49

V POLÍTICA E DIREITO EM PERSPECTIVA Medéia Lais Reis ........................................................................... 61

VI REFORMAS E REVOLUÇÃO Gilmar Alves Dos Santos .............................................................. 71

APRESENTAÇÃO

Com alegria apresentamos aos acadêmicos de Filosofia e Política esta obra que recolhe trabalhos oriundos de pesquisa acadêmica em nível de licenciatura, formando um corpo harmonioso entorno dos problemas filosóficos que envolvem a teoria geral da política, no pensamento de Norberto Bobbio.

Pretende ser uma modesta colaboração de alguns acadêmicos de filosofia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, atualmente já licenciados, oferecida como introdução ao vasto pensamento político de Bobbio.

No primeiro capítulo, o professor Fernando da Rocha trabalhou o tema da Filosofia da História.

No segundo capítulo, o professor Gustavo Rohte de Oliveira trabalhou o primado dos direitos sobre os deveres.

No terceiro capítulo, o professor Eduardo Bartzen da Cunha trabalhou o tema da paz e da guerra.

No quarto capítulo, o professor Fernando da Rocha trabalhou o tema introdução à política e ao direito.

No quinto capítulo, a professora Medéia Lais Reis trabalhou o tema política e direito em perspectivas.

No sexto capítulo, o professor Gilmar Alves dos Santos trabalhou o tema reformas e revolução.

Boa leitura!

Os Organizadores

I

FILOSOFIA DA HISTÓRIA

Fernando da Rocha

Norberto Bobbio, no capítulo doze de seu livro Teoria geral da Política, disserta a respeito da Filosofia da História. Sua abordagem primeira é em relação à historicidade ideológica Europeia, sua grandeza e decadência, história da liberdade.

A tratar da teoria do Estado, Bobbio, fala sobre “a cidade de Péricles”, livro que apresenta um ótimo Estado, o qual é fundado na liberdade e democracia, ou seja, um ordenamento ideal marcado pelo contraste do poder e da liberdade, modelo a ser seguido. Uma democracia onde as decisões são pensadas e executadas não em relação aos poucos cidadãos, mas sim à maioria. Uma busca de regulamento que dê aos cidadãos um tratamento igual, semelhante à igualdade vivida na Grécia – igualdade jurídica – onde a participação das decisões era comum aos cidadãos, o que garantia ao Estado a união da cidade e o fortalecimento da pátria.

A ideologia Europeia, com seu modo de conceber a política, é resultado, resquícios, das guerras persas, povos que lutavam por liberdade e independência. Quando alcançavam as vitórias, bons êxitos em suas guerras esforçavam-se para que a causa primeira de seus confrontos, isto é, a luta pela liberdade permanecesse junto ao seu povo.

Ao longo da história inúmeros povos sentiram na pele o egoísmo de um governo tirano que, mantinham-se gloriosos em detrimento da vida de muitos coitados que sonhavam um bom governo, o qual lhes garantisse boas condições de vida e a liberdade. No entanto, a voz, à vontade e o direito desses

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povos fora roubado por governos tirânicos que os exploravam com toda liberdade. Como resultado desta exploração, temos a forte figura dos governos tirânicos, que, impunham medo onde os mesmos são existentes:

A fenomenologia da figura do tirano foi se enriquecendo ao longo dos séculos, mas os traços essenciais permaneceram os mesmos. Quando Kruschev, no famoso discurso proferido no XX Congresso PCUS, denunciou com inesperada veemência os crimes de Stalen, para espanto dos marxistas e incredulidade dos marxólogos, Claude Roy (então comunista membro ativo da sociedade Europeia de Cultura) disse: “Pode-se censurar o discurso por não ser uma análise marxista”. Mas Macbeth também não é um texto marxista. Um grito de horror não nem marxista nem antimarxista. É um grito”. Bem poderíamos dizer igualmente: também a República de Platão não é uma análise marxista, mas a histórica figura do tirano nela aparece em toda a sua trágica grandeza, que transcende a história e para a qual a história é, ocasionalmente, imprevisivelmente, cenário para sua extraordinária e terrificante aparição” (BOBBIO, p. 641).

Sendo a tirania a forma de governo corrompida, degenerada presente ao longo da história, no cenário da civilização Europeia é evidente a importância da negatividade, tirania e o despotismo, para que aquilo que é positivo possa ser revelado. Um forte governo tirânico que resista às manifestações, diversas, ainda assim é como se seus dias estivessem contados, pois, a própria imposição do governo, que limita e proíbe os povos, dá aos mesmos o anseio de libertação. Existindo dois poderes a lei fundamental, aquilo que é necessário e que contribui na vida dos povos, e a lei ordinária; marcada pelo caráter temporário porque surge nos grandes momentos de crise.

Houve na Europa um governo livre e um governo tirânico, os quais foram essenciais para que a Europa se

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caracterizasse segundo sua visão de mundo que, mais tarde, se demostraria; filosofia da história que transpassa o pensamento Europeu dando-lhe identidade.

Bobbio recorre a Aristóteles para se fazer compreensível no que diz respeito ao cenário Europeu. São distinguidas várias formas de governo monárquico, no terceiro livro da política, justificando que há povos que são por natureza escravos, servis, sendo inevitável um governo tirânico legitimado. Um caráter natural do despotismo é colocado em evidência, que seus súditos aceitam seu senhor sem qualquer resistência, sem lamentações; enquanto os tiranos mandam e desmandam em seus súditos descontentes com seu poder. A teoria de Aristóteles em relação ao despotismo se afirma em três pontos: o primeiro são povos bárbaros, servis, povos do Oriente; em segundo, a relação do pode ser estabelecida onde houver povos servis, de maneira natural; terceiro o governante e os governados são como senhor e escravo.

A monarquia europeia se distingue das monarquias orientais, pois o governante europeu é limitado pelos resquícios de ordens aristocráticas, ou seja, ele governa um povo livre.

Bobbio acredita ser importantíssima a observação de Maquiavel em relação às formas de governo e, por isso, faz referência a duas formas de governo presente na obra O príncipe. Mostra a diferença de governanças e o principal; o povo é quem dará corpo e características ao governo.

Bobbio fala sobre a sublimação eurocêntrica histórica da filosofia da história de Hegel como a realização permanente pela liberdade. Havendo oposição entre o Oriente e Ocidente, liberdade-despotismo, Bobbio diz considerando a reflexão de Hegel: “no oriente um só era livre, no mundo clássico poucos eram livres, no mundo moderno todos são livres”. (Bobbio, p.646) Sendo assim a história da

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liberdade se dá na Europa e, por isso o espírito europeu se espalhou pelo mundo.

A ideia de que a Europa foi o progresso do desenvolvimento civil é porque ela é parte da concepção progressiva da história, uma ideologia sustentada pela modernidade que faz do progresso europeu ser espalhado e aderido por muitos. A ideologia europeia carrega uma dicotomia presente na vida de muitos, na particularidade dos povos sendo: liberdade-despotismo que é igual, progresso- imobilidade.

Bobbio estudou a obra de Carlo Cattaneo que é intérprete da ideologia europeia e pode identificar importantes movimentos essenciais dessa ideologia. A começar por duas ideias: a primeira da oposição liberdade-despotismo, a segunda da oposição progresso e estabilidade que resulta uma nova concepção fazendo da Europa fomentadora das nações adormecidas.

[...] nasce a convicção de que a tarefa da Europa é despertar as nações adormecidas no longo sono dos regimes despóticos, tarefa para cuja designação se utiliza da metáfora do “enxerto”, a ponto se censurar os europeus “que quanto menos tem, menos cuidam da arte divina de insinuar entre os bárbaros costumes o enxerto de uma possível cultura (BOBBIO, 2000, p. 647).

O despotismo pode ser visto em duas tradicionais maneiras; poder sacerdotal e poder militar com traços marcantes: uniformidade das ideias transmitidas, unicidade de quem tem poder, exclusividade do princípio inspirador. Ao pensar sobre a origem do despotismo Cattaneo acredita que sua origem vem do sistema cultural, regimes sacerdotais, e pelo sistema institucional, regimes militares, período da história de negatividade. No entanto esse período despotismo despertou aos povos o princípio de civilização europeia que se difundiu entre eles.

Filosofia da história 15

Ao longo da história sociedades ideais foram pensadas com um único intuito, facilitar a vida dos homens através de uma industrialização, máquinas, que proporcionaria a sociedade uma melhor condição de vida. De outro lado havia os grupos que diziam não a uma industrialização com a iniciativa de que permanecessem da maneira que estavam, levando a vida socialmente sem indústrias e sem máquinas, alegando que estariam livres. Bobbio vê que as sociedades buscam incessantemente a felicidade e por este motivo fizeram grandes coisas como: voo, viagem a lua, navegação pelo fundo do mar. Mas mesmo tendo acontecido estes fatos grandiosos a sociedade sente-se com falta de felicidade, isto, sonham com uma felicidade plena a qual não pode ser alcançada porque se o for a vida perde seu brilho, talvez o sentido da vida possa ser uma eterna busca pela felicidade.

Bobbio quando aborda a sociedade e seus aspectos relevantes os acontecimentos, as vontades, frutos da investigação, identificou duas divergências no meio social; o universo ético-político que são os desejos do povo e suas realizações e o universo técnico-científico que se caracteriza pela idealização, são dois mundos distintos que querem ganhar espaço entre os homens, mas que nem sempre podem ser concretizados, por serem pensamentos de grupos fechados ou que simplesmente não saem do papel.

Bobbio e outros pensadores criticam a ideia de que os homens tenham direitos porque o meio social defende algo inexistente, direito do homem, dizendo que os homens possuem direito os quais não são evidentes, mas que por defenderem tal direito que na verdade é só uma instrumentalização de uma investigação civil, manipulam uma sociedade inteira. Segundo Bobbio um respeitado filósofo contemporâneo diz: é indubitável que os direitos do homem são uma das maiores invenções da nossa civilização, pior ainda era para os homens das civilizações passadas. Walter Kasper, bispo e escritor, disse: Os direitos do homem

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constituem nos dias de hoje um novo ethos mundial, isto é, uma grande invenção da sociedade. O homem é iludido pela sociedade de que ele é livre e possuidor de direitos, mas na verdade os homens são fadados ao sistema em que estão inseridos e seus direitos é cumprir com as normas já estabelecidas. REFERÊNCIA BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

II

O PRIMADO DOS DIREITOS SOBRE OS DEVERES

Gustavo Rohte de Oliveira

Kant nos introduz um grande e complexo questionamento quando se pergunta: “se o gênero humano estaria em constante progresso em direção ao melhor”1, após grade reflexão o próprio Kant responde afirmativamente. Um grande sinal do progresso humano é o entusiasmo suscitado pela Revolução Francesa, que é, sem mais nem menos, o lutar por uma constituição civil que fosse considerada boa pelo povo. Para Kant, aquele que são sujeitos a lei são chamados a reunidos também legislar.

Bobbio segue as linhas de pensamento de Kant, ao afirmar que o homem tem direitos. Tais direitos que podem ser inatos, ou seja, aqueles direitos transmitidos a todos os homens pela natureza, ou os direitos adquiridos que são transmitidos pela autoridade constituída. Para os autores citados, a liberdade, “independência de qualquer coerção imposta pela vontade de um outro”2 é o único direito inato.

Seriam validas a as considerações sobre o progresso humano de Kant, visto que esse viveu na transição dos séculos XVIII e XIX e não conheceu, não presenciou e nem viu as duas grandes guerras mundiais do século XX? Não seria de esperar que o progresso cientifico e o progresso moral andassem de mãos dadas? “Hoje, sobre o progresso triunfante da ciência e da técnica, não temos dúvidas. Sobre o

1 BOBBIO, Norberto. O primado dos direitos sobre os deveres; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 475. 2 Ibidem, p. 476.

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concomitante progresso moral, ao contrário, seria melhor suspender qualquer juízo”3.

Ao analisarmos os códigos de leis antigos como o Decálogo, que por muito tempo foi interpretado como lei natural, o código de Hamurabi e as leis das XII tábuas percebemos que além das leis serem sempre normas imperativas de cunho positivo ou negativo (dever ou não dever fazer) os termos dever e direito são tomados como inseparáveis, pois não pode existir dever sem direito.

Sendo os direitos e deveres faces de uma mesma moeda percebemos que por muito tempo a moeda esteve com a face dos deveres voltadas para cima e a face dos direitos velada. A promulgação dos direitos do homem foi a inversão da moeda, ou seja, “que o problema começasse a ser observado não mais apenas do ponto de vista da sociedade, mas também do ponto de vista do indivíduo”4. Esta reversão de pensamento demonstra um especial respeito pela pessoa que já estava presente na doutrina cristã e de certo modo leva a ética cristã há uma secularização.

As leis são necessárias para a instauração do governo, muito mais importante é garantir os direitos que os cidadãos possuem. Mas qual seria o estado anterior a instauração do estado moderador dos direitos e deveres? Locke afirma:

Para bem compreender o poder político e derivá-lo da sua origem, deve-se considerar em qual estado se encontram naturalmente todos os homens, e esse é um estado de perfeita liberdade de regular as próprias ações e dispor das próprias posses e da própria pessoa como se acredita ser o melhor, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de ninguém mais.5

3 Ibidem. 4 Ibidem, p. 477. 5 LOCKE apud Ibidem, p. 478

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No caso de Locke, ao se referir ao poder político, se tem um poder muito mais voltado para a figura do governante do que dos governados que se rebaixam a somente obedecer. Esta forma tradicional de conceber o poder político perdurou por toda a Idade Média e na Modernidade (como é o caso de Locke). Bobbio ressalta que durante esses períodos a discussão da filosofia política se reservava somente em julgar a eficiência do governo e responder a perguntas: “como conquistar o poder, e como exerce-lo”6 entre outras.

Perante tal concepção, o autor considera que “o indivíduo é essencialmente um objeto de poder ou no máximo um sujeito passivo” que possuem mais deveres do que direitos, que entre todos, o dever de obedecer às leis é o mais importante.

Aparecem também aqueles que partindo de uma doutrina dos direitos naturais pressupõem uma concepção individualista. O individualismo político gera uma sociedade totalmente desiquilibrada e de constantes conflitos. Para Hobbes “no estado de natureza só há indivíduos sem ligações entre si, cada qual fechado na sua própria esfera de interesses em oposição aos interesses de todos os outros”7. Para Lamennais esta concepção individualista destrói a obediência e o dever e com isso o poder e o direito.

Se formos ao fundo desta teoria política perceberemos que “o individualismo é a base filosófica da democracia: uma cabeça, um voto. ”8 Nos tempos atuais os cidadãos imersos na cultura do individualismo político jugam a totalidade de um estado pela simples opinião pessoal. Ou seja, os cidadãos modernos escolhem o seu governante, mas não o governante para o estado, por isso é de se considerar ao menos razoável, que o governante se dê o direito de governar

6 Ibidem, p. 478. 7 Ibidem, p. 479. 8 Ibidem, p. 481.

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ao seu modo e muitas vezes buscando seus interesses pessoais.

A liberdade para julgar e decidir, levando em consideração o indivíduo ou o todo, só é possível porque advém do reconhecimento dos direitos do homem. O direito dos homens, primeiramente aparecido entre os séculos XVII e XVIII, já avançou muito, porém ainda não cumpriu o seu dever principal que é criar uma sociedade de livres e iguais.

A fé jusnaturalista é considerada por Meinecke como a “estrela polar”, ou seja, um ponto fixo de esperança no horizonte da sociedade. Na Carta das Nações Unidas encontramos: “a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade dos direitos dos homens e das mulheres, e das nações grandes e pequenas”9.

Com a afirmação dos direitos do homem e a escrita das constituições liberais percebemos a mudança dos direitos. Por exemplo, como afirma a constituição italiana, no seu artigo 2º: “A República reconhece e garante os direitos invioláveis do homem”10. A mudança dos direitos é de cunho interpretativo. Agora os direitos naturais passam a ser direitos positivos, afirmados politicamente.

Em segundo lugar vemos uma “evolução contínua” que acontece até os tempos atuais. Dentre inúmeras conquistas citamos: o direito de associação, reconhecimento dos direitos políticos, voto feminino, a transformação do estado liberal em um estado democrático e, a mais importante, a introdução dos direitos sociais criando um estado democrático social.

Nos tempos atuais, vivemos uma terceira etapa na história dos direitos dos homens, que se caracteriza justamente sob o debate dos mesmos e da sua universalização.

9 Ibidem. 10 Ibidem.

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Uma quarta etapa deste processo grandioso e belo é, como caracteriza Bobbio, a especificação dos direitos. Bobbio afirma:

A expressão habitual “direitos do homem” já não é suficiente. É demasiado genérica. Que homem? Desde o início foram diferenciados os direitos do homem em geral dos direitos do cidadão, no sentido de que ao cidadão podiam ser atribuídos direitos ulteriores em relação ao homem em geral. Mas uma ulterior especificação tornou-se necessária à medida que emergiam novas pretensões, justificadas com base na consideração de exigências especificas de proteção, seja em relação ao sexo, seja em relação às várias fases da vida, seja em relação às condições normais ou excepcionais, da existência humana. Daí, em relação ao sexo, o reconhecimento de direitos específicos das mulheres em relação às diferentes fases da vida, as particulares providências, sejam nacionais, sejam internacionais, para a infância e para os idosos; em relação as condições normais ou excepcionais, a particular atenção dirigida aos direitos dos enfermos, dos deficientes, dos doentes mentais e assim por diante.11

Todas os avanços ou especificações são conquistas da sociedade mundial e uma revisão constantes da ideia original que aceita que os homens e mulheres tem direitos. Ao mesmo tempo que denotam um avanço, notamos simultaneamente uma dificuldade maior de se garantir e proteger esses direitos, pois como sabemos o ideal são simples palavras colocadas no papel, mas o real é a sua aplicação de fato. Para Bobbio o progresso moral não deve ser medido pelas palavras que garantem os direitos, mas sim pelos fatos. Bobbio ainda brinca com o ditado popular “de boas intenções o inferno está cheio”. Não basta garantir, é necessário trabalhar para que as palavras se tornem verdadeiramente direitos.

11 Ibidem, p. 482-483.

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O autor considera que o mundo só verá a paz e a liberdade de fato, quando percorrermos o caminho para tal, enquanto isso já alcançamos muitos direitos, entre os já citados Bobbio adiciona a liberdade de culto (primeiro direito depois das guerras religiosas) o direito à privacidade e à tutela da própria imagem. 2.1 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM;

A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada e proclamada no dia 10 de dezembro de 1948, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Suas primeiras e mais marcantes palavras, contidas no artigo I, declaram: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”12.

Tal afirmação que está longe de ser nova, remonta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 que afirma: “os homens nascem e permanecem livres e iguais no direito” e também à Declaração da independência dos estados americanos de 1776 que afirma:

consideramos incontestáveis e evidentes em si mesmas as seguintes verdades: que todos os homens foram criados iguais, que eles foram dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que entre esses direitos estão, em primeiro lugar, a vida, a liberdade, e a busca da felicidade13

12 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017, Art. 1. 13 Declaração da independência dos estados americanos, 1776, apud BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 484

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Nas afirmações, aparecem duas palavras muito importantes. A Liberdade e a Igualdade que merecem, pelo grau de relevância serem tratadas separadamente e em seguidas debatidas. Liberdade é o estado de regulação das próprias ações e das disposições das próprias posses e das próprias pessoas como julgar ser melhor. Já a Igualdade é a constatação de que indivíduos da mesma espécie, nascidos com as mesmas vantagens naturais e com o mesmo uso de suas faculdades devem ser iguais entre si sem nenhum tipo de hierarquização imposta.

O fato é que, de relance, podemos pensar que não somos livres, e nem tão pouco iguais, pois é muito fácil, perceber que um indivíduo não pode agir como quer se temos leis que nos controlam, não pode utilizar de posses advindas de uma operação ilícita, não pode manipular pessoas sendo essas portadoras de direitos e de uma tal liberdade. Hipoteticamente, um indivíduo pode não se considerar igual ao outro, devido a diferenças culturais, aquisitivas, sociais, naturais, ou das faculdades. Assim não posso considerar que um indivíduo branco, pobre, cristão, deficiente físico, residente no Brasil, seja igual ao um negro, rico, mulçumano, sem deficiências, residente em Dubai.

De certo modo um indivíduo livre, possui liberdade de expressão que o qualifica a identificar a diferença no outro. Superficialmente vemos que a liberdade destrói a igualdade. Bobbio acredita que a primeira parte da expressão: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais”14 não é a descrição de um fato, mas a prescrição de um dever que não pode ser tomada ao pé da letra, mas que os seres humanos “devem” ser tratados como se fossem livres e iguais.

Outro problema pode ser constatado ainda na segunda parte da expressão que afirma: “[...] são dotados de

14 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017, Art. 1.

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razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”15, mas bem sabemos que uma porcentagem dos indivíduos do mundo, mesmo que dotados do adjetivo de seres humanos, não são dotados de consciência como é o caso das pessoas com deficiências mentais ou em situações que a esses assemelhem. Seria possível afirmar então que tais indivíduos não possuem direitos? Novamente devemos interpretar que todos os que tem consciência são os sujeitos do direito e aqueles que não são dotados de consciência são objetos do direito do outro.

Mas o conceito de liberdade e igualdade não se conserva como sempre o foi, mas sofreram e sofrem ainda hoje uma mudança constante. A liberdade por exemplo no seu significado tradicional não passava de um não-impedimento, ou seja, a liberdade consistia em não ser impedido de fazer o que lhe agradasse ou ainda fazer tudo o que não fosse proibido por lei como expressou Montesquieu quando afirmou que liberdade é fazer tudo o que as leis permitem ou como defendido por Hobbes que considerava que liberdade é agir segundo a natureza e não ser impedido por forças externas.

Com os contratualista a mudança na interpretação do conceito de liberdade é visível, pois liberdade não pode ser mais entendida como não-impedimento, mas como autonomia, ou seja, dar leis a si próprio. Rousseau como um bom contratualista afirma no Contrato Social que “a obediência à lei que se estatuiu a sim mesma é liberdade”16

A transformação da liberdade negativa, como era encarada até então, que depende de forças externas para a liberdade positiva que é ter o poder e os recursos necessários para suas ações, ou seja, considerar a liberdade como auto

15 Ibidem. 16 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Abril Cultural: São Paulo, 1983, p. 37.

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realização pode ser considerada como uma segunda transmutação do conceito tradicional de liberdade.

Para Bobbio atualmente: A imagem do homem livre apresenta-se como a imagem do homem que não deve tudo ao Estado porque sempre considera a organização estatal como instrumento e não como final; participa diretamente ou indiretamente da vida do Estado, ou seja, na formação da chamada vontade geral; tem poder econômico suficiente para satisfazer algumas exigências fundamentais da vida material e espiritual [...].17

Assim, quando se diz que o ser humano é livre deve-se ter em mente ao menos três direitos: O primeiro, ter a esfera da vida pessoal protegida, como por exemplo e liberdade de religião e de pensamento (garantidas nos artigos 7-10 da Declaração Universal). O segundo, de poder participar da formação das leis direta ou indiretamente (garantida no artigo 21) O terceiro, de ter bens próprios que lhe proporcionem uma vida digna (garantida nos artigos 22-27).

Também o conceito de Igualdade passou por seguidas mudanças. Bobbio pressupões que para o exercício da igualdade são necessários dois pequenos questionamentos. Igualdade em quê? Para a Declaração “em dignidade e direitos” sendo os direitos aqueles que a própria Declaração citará a frente, sendo assim todos são iguais no que se refere ao porte desses direitos fundamentais.

E entre quem? O princípio da igualdade defende um tratamento igual para os integrantes de uma mesma categoria pré-estabelecida. Mas a quem é reservado o dever ou o direito de estabelecer estas categorias? Que critérios se deveria utilizar? Poderia se categorizar os indivíduos por mérito?

17 BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 490.

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Necessidade? Condição? A declaração afirma que todos os seres humanos são iguais significando que todos os seres humanos são pertencentes a uma mesma categoria.

O artigo 2 afirma: Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.18

Tal afirmação que coloca em uma única categoria todos os seres humanos é histórica, pois para Bobbio, demonstra uma equiparação entre diferentes e uma eliminação das antigas discriminações sem contar que trata a todos como seres humanos e não como cidadãos como trazia a constituição Italiana “Todos os cidadãos têm igual...”19. Por mais que todos os cidadãos sejam seres humanos uma constituição como esta poderia não dar o direito de cidadania a todos, excluindo, talvez, alguns indivíduos.

As maiores transformações do conceito de igualdade são perceptíveis quando se olha ao passado e se percebe que muitas das discriminações injustas vem sendo erradicadas. Entre as discriminações Bobbio as divide em três grupos: em primeiro lugar as naturais (raça, cor e sexo), em seguida as histórico-culturais (religião, opinião política, nação, língua e classe social) e por último as jurídicas (status político ou civil).

A partir da percepção das hipotéticas diferenças pode-se chegar a discriminações por um processo, dito mental por parte de Bobbio, que se inicia propriamente quando se dá a constatação de alguma diferença entre dois grupos (fase 1) e

18 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017, Art. 2. 19 BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 493.

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por isso considerar que um grupo é superior a outro (fase 2) e dar-se o direito de oprimir os integrantes do grupo que se julga ser inferior (fase 3).

Bobbio ilustra este esquema mental utilizando-se um fator que, em muitas sociedades e em muitos casos é alvo de discriminações. A raça.

Que existam diferenças de raça entre diferentes grupos humanos é um mero juízo de fato e que não implica ainda qualquer discriminação; que essas diferenças sejam vistas como reveladoras da superioridade de uma raça sobre a outra já é um juízo não deriva necessariamente a discriminação (poder-se-ia, por exemplo, sustentar que a raça considerada superior tem o dever de ajudar, proteger, educar, a raça considerada inferior); a discriminação racial (o racismo) nasce apenas em um terceiro momento, isto é, quando se sustenta que a raça superior tem o direito, exatamente porque superior, de oprimir ou, no limite de aniquilar a raça inferior.20

Esta exemplificação, nos permite perceber que a discriminação, seja ela sobre qualquer diferença nunca se dará, de fato, na primeira fase; até mesmo porque a nossa liberdade de expressão nos dá este direito. Dependendo de como se interpreta a superioridade presente na segunda fase, o preconceito pode ou não estar presente, mas sem dúvidas, sempre na terceira fase a discriminação estará a machucar o outro.

A Declaração condena no artigo II, mesmo que não diretamente o racismo, a disparidade de sexo, a intolerância religiosa, o fanatismo político, opressão nacional e colonial e o domínio de uma classe sobre a outra. Mas pode-se também constatar que infelizmente todas essas discriminações fazem parte da história humana e mesmo perante um cenário de

20 Ibidem, p. 494.

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constantes conquistas de igualdade soa como o desabafo a frase de Bobbio: “mas como é longo ainda o caminho!21 ”.

Bobbio teme chegar o tempo em que novas formas de discriminação surjam ou ainda que algumas discriminações históricas, presentes até hoje, continuem sendo moralmente aceitas como a superioridade dos adultos perante as crianças.

Enfim, a unidade do gênero humano defendida na mais magnifica assembleia política que a história até então registrou que consiste em “um dos princípios fundamentais da mensagem cristã e um dos pontos cardeais da concepção socialista do homem e da história22” tem na declaração um enorme potencial de se tornar real e soberana em todos as nações. 2.2 OS DIREITOS, A PAZ E A JUSTIÇA SOCIAL; 2.2.1 Os direitos do homem e a paz

Quais seriam os problemas fundamentais do nosso tempo? De fato, percebemos que os problemas do direito do homem e o problema da paz ainda não estão por completos resolvidos, e outro fato é que se ambos não se resolverem logo, podemos arcar as consequências, visto que a sobrevivência do homem depende da paz e o progresso civil provém unicamente dos direitos do homem.

Bobbio prefere pensar os problemas juntos, como se fosse um único desafio da sociedade, pois, “um não pode ficar sem o outro”23. Tal consideração bobbiana decorre de uma correta interpretação de alguns documentos feita por ele.

21 Ibidem, p. 494. 22 Ibidem, p. 495. 23 BOBBIO, Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 497.

O primado dos direitos... 29

A Carta das Nações Unidas faz memória do “flagelo da guerra”24 vivenciado em dose dupla no século XX, para apelar a necessidade da paz e clama “a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e das nações grandes e pequenas”25 para o progresso da humanidade.

O caminho para a paz e o progresso humano seria o reconhecimento da dignidade e dos direitos do ser humano com afirma a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que constitui “o fundamento da liberdade, da justiça, e da paz no mundo”26

Também a Conferência de Helsinque contribuiu para melhorar as relações entre as nações participantes (33 estados europeus, EUA e Canadá) afim de “assegurar condições nas quais seus povos possam gozar de uma paz verdadeira e duradoura” e a proteção dos direitos do homem.

Após tal analise desses três documentos importantes, pode-se comprovar de que de fato esses são os principais problemas do nosso tempo e que precisam serem tratados com a verdadeira maturidade da razão humana. Se existissem alguns céticos que duvidassem da razão humana - fato que provavelmente nunca ocorreria, pois, a dúvida é também um movimento da razão – facilmente poderiam achar argumentos que sustentassem sua hipótese com a verdadeira ausência de razão presente nas afrontas às nações vizinhas” pela busca do poder e à dignidade humana que são tão atacados.

24 Ibidem, p. 497. 25 ONU. Carta das nações unidas. Disponível em: <http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Acesso em: 07/02/2017, Preâmbulo. 26 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017, Preâmbulo.

30 A teoria geral da política...

Bobbio apresenta alguns argumentos para sustentar a indissolubilidade da união entre paz e direitos do homem. Tais argumentos apresentamos a seguir:

1. Sendo o direito à vida um direito primário previsto no art.3 da DUDH que rege “todo indivíduo tem direito a vida”, na ausência da paz, ou seja, a guerra este direito se esvai e ainda toda nação em guerra pede aos seus concidadãos o sacrifício da vida pela nação. Logo, percebemos que sem a paz não há direito a vida.

2. Em uma situação de guerra efetiva diz-se: Inter arma silent leges, ou em uma tradução um pouco forçada, “entre arma as leis se calam”. Essa triste realidade se concretiza quando em meio à guerra, além de se desconsiderar o direito à vida, também se suspende a defesa do direito de liberdade, que nesse caso um governo pode até se tornar tirânico.

3. Os direitos do homem também são ameaçados nas ameaças de guerra, ou seja, estado de guerra potencial. A guerra fria como chamamos. Nestes momentos, até mesmo as democracias podem se tornar despóticas e o direito de sobrevivência do grande Estado prevalece sobre o direito de liberdade da nação menor.

4. A soberania dos Estados sobre os direitos é que abre as portas para a guerra e a quebra dos direitos. Para Bobbio:

Os direitos do homem só poderão ser verdadeiramente garantidos quando forem criados os instrumentos adequados para garanti-los não só no interior do Estado, mas também contra o estado ao qual o indivíduo pertence27

Deste modo, ele vê a necessidade de proteger-se do próprio estado que por vezes pode tornar aos modelos tirânicos contra sua própria população.

27 BOBBIO, Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 500.

O primado dos direitos... 31

5. Todo indivíduo humano, além do direito à vida, tem o direito de ter o mínimo indispensável para a manutenção da vida. O princípio não matar deveria ser interpretado como, não deixar que as pessoas passem por dificuldades (fome, sede, saúde e etc.) e por isso venham a morrer. O fato é que os nem todos os países são homogêneos no quesito de renda, há os que tem muito e gastam com o supérfluo e os que tem pouco e não conseguem dar o necessário. Bobbio reflete:

As somas necessárias para dar a cada habitante do mundo o alimento, a água, a educação, os cuidados e as moradias necessárias foram estimadas em dezessete bilhões de dólares. Certo, é enorme. Mas é aproximadamente aquilo

que o mundo gasta em armamentos a cada quinze dias.28 Assim Bobbio finaliza, defendendo uma solução

pertinente e acima de tudo possível, não é uma utopia, é a solução posta à frente dos que podem fazer a situação melhorar. Já que as armas não servem para nada, a não ser para a guerra, porque não as usas para mudar o mundo?

Infelizmente, enquanto houver a guerra, este problema - que na visão de Bobbio é a ferida do mundo – não terá solução. A paz e os direitos só são garantidos quando o mundo perceber que a ganancia, o poder, o dinheiro não são as maiores riquezas que o mundo pode oferecer. 2.2.2 Sobre os direitos sociais

A maioria dos direitos que são apresentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos são de cunho individual, mas o homem, como bem recordou Aristóteles na Política, é um “animal político”. Aristóteles soube observar que o homem por si não se basta, ele necessita do outro e por

28 Ibidem, p. 501.

32 A teoria geral da política...

isso é que se constitui em sociedade e por isso também a Declaração de 1948 prevê direitos sociais.

Na história percebemos que esses direitos, ditos sociais, foram sendo deixados de lado não só pelos governos de direita, como se é de praxe, onde se dá maior valor aos direitos de liberdade e a liberdade econômica, mas também, pelos esquerdistas devido à queda ou ainda a baixa estima de muitos de seus governos, que pelo contrário deixavam de lado os direitos de liberdade.

Que triste realidade constatada! Um governo supervaloriza e defende um determinado direito e outro o renega. Os governos parecem não conseguir colocar em prática a brilhante ideia aristotélica do meio termo ou da temperança. Motivos? Somente um: ideologia.

Já sabemos que o homem não é somente pessoa moral (portador de direitos de liberdade), mas também pessoa social (portador de direitos sociais ou de justiça) e entre esses se encontra os direitos políticos. Essa rede sustenta a democracia, como defende Bobbio: “pode-se dizer sinteticamente que a democracia tem por fundamento o reconhecimento dos direitos de liberdade e como natural complemento o reconhecimento dos direitos sociais ou de justiça”29. É preciso conceituar que os direitos individuais são inspirados nos valores primários de liberdade, enquanto os direitos sociais baseados nos valores de igualdade.

Deste modo vemos as democracias pós-guerra, podem ser nominadas liberais e sociais simultaneamente. Passamos de uma democracia liberal à uma democracia social. Em países como Espanha, Itália, França as constituições exprimem uma preocupação com os direitos sociais, a justiça e o trabalho.

Sobre este último a constituição italiana afirma categoricamente: “a República reconhece a todos os cidadãos

29 BOBBIO, Norberto. Sobre os direitos sociais; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 502

O primado dos direitos... 33

o direito do trabalho e promove as condições que tornem efetivos esse direito”. Vemos que o trabalho deve ser garantido a todos, sem distinções e o estado deve ser o responsável de prover as vagas de emprego e que as condições de trabalhos sejam dignas dos cidadãos.

Quais são os direitos sociais previstos na Declaração? Entre todos os direitos previstos ressaltamos alguns que são mais importantes para a sociedade: 1) o direito à segurança social previsto no Art. 22 que afirma: “Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social”30; 2) o direito ao trabalho garantido pelo Art. 23 “Todo ser humano tem direito ao trabalho”31 sendo que a este direito incluem-se a garantia de boas condições de trabalho, remuneração justa e igualitária sem discriminações e de formação de sindicatos; 3) o direito à educação previsto no Art. 26 “Todo ser humano tem direito à instrução”32 sendo esta gratuita nos anos básicos a fim de promover a tolerância e a amizade entre todos para a manutenção da paz.

De bom grado, é examinar os direitos sociais previstos na constituição brasileira de 1988, que em 2015 recebeu a emenda que afirma no Art. 6º:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.33

30 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017, Art. 22. 31 Ibidem, Art. 23. 32 Ibidem, Art. 26. 33 Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Art. 6º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 07/02/2017.

34 A teoria geral da política...

Agora cabe-nos faze uma avaliação desses direitos e dentre todos cito o desemprego e a educação, pois de certo modo estão interligadas. O fato é que mesmo com o direito de se haver trabalho a todos para que cada homem seja o responsável de sua manutenção, não muda muito a realidade em si. Em certas regiões os problemas do desemprego são reduzidos, mas em outras regiões a situação é pouco mais complicada.

Segundo dados fornecidos pela mídia, no último mês de 2016, 12 milhões de pessoas estavam sem emprego34 no Brasil. Diz o noticiário “a taxa de desocupação no Brasil atingiu exatos 11,9%, a maior desde que o IBGE começou a fazer essa pesquisa, em 2012”35.

Não seria de duvidar que estes números altíssimos estariam ligados à falta de instrução? Sabemos que a educação pública brasileira não se encontra no seu melhor período e por mais que mudanças estejam sendo ensaiadas a situação não se converterá tão breve. SEGNINI em seu texto “educação e trabalho uma relação tão necessária quanto insuficiente”36 afirma:

A qualificação [...] expressa relações de poder no interior dos processos produtivos e na sociedade; implica também o reconhecimento que escolaridade e formação profissional são condições necessárias, mas insuficientes, para o desenvolvimento social. [...] nesse contexto,

34 JORNAL NACIONAL. Desemprego no Brasil atinge mais de 12 milhões, um número recorde. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/12/desemprego-no-brasil-atinge-mais-de-12-milhoes-um-numero-recorde.html>. Acesso em: 07/12/2017. 35 Ibidem. 36 SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto insuficiente. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000200011>. Acesso em: 07/02/2017.

O primado dos direitos... 35

educação torna-se fundamental como um fim em si mesma.37

Portanto, vemos que a educação é um dos quesitos que influencia na taxa de empregos e que somente quando a educação brasileira se tonar, ao menos, convincente teremos uma redução no desemprego no Brasil.

Seria de bom grado citar também a situação atual dos demais direitos constituídos (saúde, alimentação, moradia, transporte lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados), mas sabemos que temos muitos problemas, tantos que poderíamos parodiar à João38: Temos muitos problemas. Se fossem escritos um por um, penso que não caberiam em poucos livros. REFERÊNCIAS BOBBIO; Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. O primado dos direitos sobre os deveres; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. Sobre os direitos sociais; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

37 Ibidem. 38 Cf. Jo 21, 25

36 A teoria geral da política...

BRASIL, República Federativa do. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Art. 6º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 07/02/2017.

JORNAL NACIONAL. Desemprego no Brasil atinge mais de 12 milhões, um número recorde. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/12/desemprego-no-brasil-atinge-mais-de-12-milhoes-um-numero-recorde.html>. Acesso em: 07/12/2017.

ONU. Carta das nações unidas. Disponível em: <http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Acesso em: 07/02/2017.

ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 07/12/2017.

ROUSSEAU; Jean-Jacques. Do contrato social. Abril Cultural: São Paulo, 1983, p. 37.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto insuficiente. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000200011>. Acesso em: 07/02/2017.

III

PAZ E GUERRA

Eduardo Bartzen da Cunha

Ao entrarmos em relação com o fabuloso autor Norberto Bobbio, primeiramente nos deparamos com uma série de escritos que são ligados à área do direito e da política, sendo ele um autor muito presente em assuntos contemporâneos e atuais, tendo uma linguagem escrita sem muita dificuldade de compreensão e uma vasta bibliografia de base utilizada pelo mesmo.

No início de seus escritos sobre paz e guerra, que estão presentes no livro teoria geral da política, ele apresenta a definição do que é a paz e a guerra, expressando que os dois são termos antitéticos e como por exemplo, vida-morte, ordem-desordem, sendo representados de forma contraria contraditora quando comparado ao outro

O conceito de paz está tão estreitamente ligado ao conceito de guerra que os dois termos “paz” e “guerra” constituem um exemplo típico de antítese, como análogos “ordem-desordem”, “concórdia-discórdia”, harmonia-desarmonia”. Dois termos antitéticos podem estabelecer entre si uma relação de contrariedade, na qual um excluem o outro e ambos excluem um terceiro, ou então estabelecem entre si uma relação de contrariedade, na qual um exclui o outro, mas ambos não excluem um terceiro. (Bobbio, 2000, p.509)

Tanto o termo guerra quanto o termo paz se eliminam mais na conjuntura de paz-guerra o meio termo é trégua na conjuntura de guerra-paz o meio termo é guerra fria,

38 A teoria geral da política...

dependendo da conjuntura empregada temos a mudança do meio termo, assim sendo, no caso paz-guerra, a trégua é tida como uma não guerra com um direcionamento para a paz e, no caso da guerra-paz, a guerra fria não é um combate de guerra, mas também o estado de paz não está presente.

Quando por paz se entende o estado de não-guerra e por guerra o estado de não-paz ora contrários, quando o estado de paz e o estado de guerra são considerados como dois estados extremos, entre os quais são possíveis configuráveis intermediários, tal como, por parte da paz o estado de trégua, que não é mais guerra mais ainda não é paz e, por parte da guerra, o estado não-guerreada, do qual é exemplo típico a chamada guerra-fria, que não é mais paz, mas ainda não é guerra (BOBBIO, 2000, p. 511).

No que tange a força terminológica, a guerra é sempre o termo superior, pois segundo Bobbio, a paz necessita da guerra para existir, ou seja, o indivíduo só pode pensar ou vivenciar a paz após passar por momentos de guerra e tribulação, se não o estado de paz passa a ser somente uma ideia imaginada que não será vivenciada.

Para o historiador Tucídides, uma das importâncias da guerra são justamente o fato de ela existir, pois ao haver a consumação da guerra, existira a possibilidade de relatos históricos e também ocorrera mudanças significativas em ambos o participastes da mesma. No acontecimento da guerra, a mesma proporciona uma nova fase nos dois grupos que se enfrentam e, como o acontecimento de uma guerra não pode ser apagado da história, é possível representar a mudança de fase que ocorre nos grupos em questão.

Bobbio, apresenta que a guerra é consequência da paz, pois sempre pensamos a guerra como qualquer forma de revolução, opressão e desordem, e como caminho contrário a deserdem vem a ordem dita como paz, sendo apresentada

Paz e guerra 39

como uma possível solução e também como uma consequência de uma revolução:

Partindo da constante que, dos dois termos do par, o termo forte é a guerra e o fraco é a paz, estado de paz só pode ser definido se definido primeiramente o estado de guerra. Podemos dizer que existe um estado de guerra quando dois ou mais grupos políticos encontram entre si em uma relação de conflito cuja solução é confiada ao uso da única (BOBBIO, 2000, p. 513).

Para determinarmos o que seja a paz é necessário que antes apresentemos que seja a guerra, e simplificadamente o estado de guerra existe quando dois os mais grupos estejam com dificuldade de se entenderem entre si e, para sanar qualquer rusga é obrigatória a utilização de força.

Quando é apresentado o termo força, devemos pensar e força ou ação física, ou seja, quando é utilizado o contesto de violência física capas de infringir sofrimento, tortura e morte a outro indivíduo apesar de não existir semente este tipo de violência.

Ao pensarmos violência, nos é apresentado duas formas diferentes de gerar violência, uma dela é chama de violência verbal, que é a violência mais praticada na sociedade atual, na qual um indivíduo é capas de menosprezar ou se colocara de forma superior ao outro e denegrir sua imagem perante a sociedade. Mas também existe a violência física, com frequência ela é praticada em toda a sociedade, mas seu valor punitivo é muito maior do que a violência verbal, pois ele agride fisicamente o outro indivíduo por determinadas funções diferentes, algumas não tão ruim e outras sem qualquer necessidade.

Para caracterizar a guerra como modo de solucionar conflitos, não basta fazer referência ao uso da força entendida como violência licita e autorizada. A guerra é

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sempre em primeiro lugar uma força exercida coletivamente: como tal, é tradicionalmente diferenciada do duelo, que coloca frente a frente dois indivíduos ao qual, todavia se assemelha porque, como duelo também a guerra é um exercício de força disciplinado por regras e tem o objetivo de resolver controvérsias através da razão das armas (BOBBIO, 2000, 515).

Em primeiro lugar, a guerra sendo definida como uma forma de usar a força bruto como forma de resolução de algo não é resolver, mas sim obrigar e oprimir o outro indivíduo ou grupo referente e, neste caso não teria nenhum tipo de razão que defendesse este argumento.

Grande parte das guerras ou revoltas que acontecem tem um proposito e, muitas vezes ocorre pelo fato de não serem respeitadas as fronteiras, em outras palavras ultrapassarem limites pressupostos, logo, o grupo em questão invade uma local que não poderia ser invadido por ele tornando ele irregular, mas isso não justifica a foto da existência de guerra, mas somente como fundamento para a existência de conflitos.

Um estado em relações internacionais antitético ao estado de guerra, com frequência é definido negativamente, o termo “paz” tem também um significado especifico, e neste caso positivo, quando usado para indicar o fim e a conclusão de uma determinada guerra (BOBBIO, 2000, p. 516).

Podemos de forma sintética dizer que o termo paz pode ser dito com não guerra e, o termo guerra como o de não paz, assim um existe por ganancia do homem e o outro é o que pode ser tirado de bom de um conflito sanguinário que gera atrocidades na memória e marcas para a vida toda.

No que tange a paz, existem dois tipos de paz existente em uma sociedade que vivencia conflitos, a paz positiva e a paz negativa, que são estruturas primordiais para

Paz e guerra 41

uma revolução cultural e que denotara segurança para os atingidos:

Sobrepõe a ela uma definição positiva, que deriva de entender extensivamente “paz” como negação tanto de guerra quanto de violência. Diferenciando, portanto, duas formas de violência pessoal na qual está incluída a forma especifica de violência que é a guerra, e a violência e a violência estrutural ou institucional que estringe duas formas de paz (BOBBIO, 2000, p. 517).

Na paz positiva temos a descrição de uma sociedade na qual não existe nem violência e nem guerra, ou seja, a paz positiva é a ausência tanto da violência quanto da guerra. Já a paz negativa, que por definição é a ausência de violência ou qualquer tipo de conflito como por exemplo a guerra ela também é a ausência da desigualdade e da injustiça, principalmente social, dessa forma, não havendo desigualdade social, a chance de acontecer uma guerra é bem menor do que se existisse uma guerra.

Ao definirmos o que é a guerra e o que é a paz, percebemos que em ambos os termos existe alguma ideia moral presente, representado algo como sendo bom e outro como sendo ruim. No caso do termo bom, vemos por significado mais qualificado a paz, pois ela representa tranquilidade, responsabilidade, valores que são fundamentais para o não acontecimento de violência.

Já o termo cabível a guerra é o mal, tanto pelo fato da guerra ser algo subscrito como violento e mal, quanto pelo fato de nenhuma violência contra o outro ser algo bom. Algo que faça sofrimento e gera mortes só poderá ser chamado de mal, pois seu agravante extermina a vida.

Todo o juízo apresentado sobre algo, sempre será feito a partir da perspectiva e da relação que o indivíduo que está como juiz da situação apresenta perante sua vivencia com

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o mesmo, ou seja, só pode ser dado juízo sobre a guerra e a paz que já vivenciou na pele ambos os resultados.

Após a verificação de valores em ambos os termos, podemos dizer que os mesmos termos também podem ser pensados juridicamente, tanto a paz como sendo correta ou certa, tanto a guerra como sendo errada e incorreta, mas a partir disto temos várias ideias que tentam tornar a guerra algo licito, dentre tantas o caso da guerra e direito, guerra de segurança e progresso.

Na guerra e direito, no princípio da antítese existente tratamos o direito como um conjunto de normas e deveres que foram estabelecidos por alguma autoridade que foi tomado a decidir de forma impositiva sobro o resto da população, impedindo a sim a proliferação de conflitos num âmbito de guerras.

O objetivo principal do direito, como foi dito, é estabelecer a paz, mas para estabelecer a paz é preciso em certas circunstâncias usar a força para trazer a razão a aqueles que não respeitam as regras; nas relações internacionais e essa força é a guerra (BOBBIO, 2000, p. 520).

Para garantir a paz entre países se torna obrigatório o uso da força, é um tanto contraditória quando se pensa a guerra como uma forma de prevenir a guerra trazendo paz, pois os fins não justificam os meios, não se pode pensar em paz utilizando da guerra como meio para alcançar tranquilidade, pois isso seria uma imposição de algum estado superior.

O estado, na tentativa de garantir a segurança de seus habitantes, tem por direito punir os que ameaçam a segurança de todos, mas essa punição é justamente para garantir que os mesmos não pensem em acabar com a segurança de todos.

Quando pensamos no conceito de paz que é definido como a ação logo após o fim da guerra, deixamos o termo mal apresentado, dando a entender apenas uma parcela que esta

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palavra tem a nos apresentar de modo que só nos referimos a ela como uma palavra de não guerra:

Exatamente porque a paz foi sempre considerada a negação da guerra, o problema da paz foi sempre colocado como o problema de uma paz parcial que deveria pôr fim a uma guerra parcial ou a um período limitado no período da guerra em um lugar da terra, como fim de uma determinada guerra ou de uma série de guerras limitadas, não como fim de todas as guerras possíveis (BOBBIO, 2000, p. 525).

Grande parte do que diz respeito a paz está sempre voltado ao sentido cristão da palavra, pois foi através de Cristo que a mesma passou a ter um significado mais santo e que demonstrava esperança e amparo quando pensado através de Cristo.

A única forma existente de paz que podemos pensar de forma mis completos seria com Hobbes, do qual apresente a ideia de um estado onde todos estão contra todos, assim, para que não haja nenhum tipo de guerra é necessário que todos os indivíduos abram mão do egoísmo e passei a viver pacatamente, apresentando assim a possibilidade de uma paz perpetua e universal.

Neste estado apresentado por Hobbes, o individua passava a deliberar para o estado o poder de passar a espado todos os que tentassem transgredir qualquer tipo de infração na tentativa de acabar com outro indivíduo pensando somente em seu benefício próprio.

Dentre tantos motivos que são apresentados por Bobbio como justificativa para a guerra temos: Teoria da guerra justa: Belicistas e pacifista, guerra como um procedimento judicial, guerra de defesa na era atômica, guerra de defesa preventiva na era atômica, guerra como teoria finalística, guerra como Progreso civil e técnico.

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Na teoria da guerra justa: belicista e pacifista, entra-se em cheque primeiramente o valor, pois, como nenhuma guerra é igual a outra, cada valoração será diferente, dependendo do motivo em questão, mas, para a guerra como processo bélico podemos perceber que não faz sentido existir, pois se um estado se armar contra o outro, o segundo também se armara para se defender, consequente mente criara uma mundo no qual todos estão armados, mas se todos os estados se desarmassem, uma segurança muito maior iria existir.

Já pensando na ideia belicista, só que sendo pensada de maneira inversa, traria a paz e deixaria um clima de falta de preocupação presente em todos os habitantes, pois se nenhum estado estiver com domínio de armamento, a chance de acontecer a guerra é muito pequena.

Já na guerra como procedimento judicial, vemos uma série de falhas, pois primeiramente, não pode ser dado o aval de existência de uma guerra através da justiça, pois não ode um estado ou um grupo de indivíduos decidir sobre a existência e a necessidade de uma guerra

Se pensássemos a guerra como componente judicial, em grande parte dos casos, a punição caberia ao mais fraco que por vezes pode também ser o inocente, ao em vês de punir o culpado, pois na guerra que é derrotado é sempre o mais fraco.

A distinção entre situações nas quais os conflitos são solucionados habitualmente com acordos e situações em que em que os conflitos são solucionados até mesmos com o uso da força corresponde a distinção com estados agonístico, regido por regras substanciais e processuais que preveem várias formas de conflito e os modos de sua pacifica resolução (BOBBIO, 2000, p. 514).

Em todos os indivíduos, existe presente uma parcela na qual seu ser é comandado por um espirito agonista, da qual seu pensamento está voltado em resolver tudo através de

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violência e com qualquer tipo de disputa, tornando o “homem o lobo do homem” como é dito Hobbes em seus escritos.

Na guerra de defesa na era atômica, temos o que podemos chamar de lato senso, na qual estra presente a guerra, mas ainda não existe combate físico podemos também chamar de guerra de armamento na qual a arma em questão é toda nuclear e, ambos se enfrentam na circunstância de armamento, ou seja, os mesmos se ameaçam em quantidade de produção armamentista, e perdera que conseguir intimidar o outro, neste caso se qualquer tipo de confronto físico.

Nesta modalidade de guerra bélica o perigo está justamente ligado ao fato de a potência que conseguir mais requisitos armamentícios e, a partir disso buscar superioridade perante todos, justamente pelo fato dela ter uma capacidade bélica superior à de qualquer outra potência.

Com esse caso de armamento nuclear, temos outra modalidade de guerra existente, que seria a guerra de defesa preventiva na era atômica na qual, o objeto de defesa em questão busca a destruição do armamento do outro, em outras palavras, o inimigo ataca o armamento do outro, para deixá-lo sem suporte para a guerra, mas neste casso só é válida a destruição no sentido nuclear, onde se desativa o armamento do inimigo.

Este modo de prevenção da qual uma potência ataca o armamento da outra, dentre as possibilidades, em pontos aparenta não se tão prejudicial, mas o que acontece é que se começarem a destruir o armamento de todos, o estado que manter o seu percentual nuclear alto terá domínio sobre os demais, neste caso, se todos os estados eliminassem seu armamento traria um tratado de paz total, mas no momento em que as relações são humanas, a chance de acontecerem roubos e enganação é grande e terra qualquer tipo de forma de enganação para aproveitar o fim do armamento.

Como sabemos, é muito provável que ocorram muitas guerras, dentre as quais, destruirão muito a população, e na

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teoria finalística, da qual nos encaminha para o fim, temos comprovado que futuramente só os mais fortes sobreviverão, ou seja, quando futuramente ocorrer muitos casos de destruição em massa da população e essa teoria finalística vem justamente para dar valor a guerra como uma forma de escolher que sobrevive e, neste caso não seria uma escolha, mas sim uma luta, da qual somente os mais fortes sobreviverão.

Dando força e esta teoria, Darwin, o criador da seleção natural dos mais fortes descreve, que no futuro quando não existir comida e alimento para todos, somente os mais fortes sobreviverão, mas qualquer juízo feito nesta ideia demonstra que isto é negativo, todos os seres humanos têm direito a vida, não se pode dar esse direito somente aos mais importantes e fortes.

Não tenho qualquer dificuldade para perceber os limites da busca de paz entendida exclusivamente como não-guerra. Mas considero que o único modo de superar esses limites seja tornando-nos conscientes, e dando-nos conta de que o problema da paz é um dos grandes problemas que os homens são conclamados a resolver de tempos em tempos (BOBBIO, 2000, p. 517).

A problema de buscar a paz na sociedade vem se agravando a cada período de existência, pois é muito mis fácil lutar por seus direitos e conquistas do que buscar a paz e a tranquilidade através de acordo, pois nos acordos a divisão é metrada para todos ganharem a mesma quantia e, se existe a luta perante o que está em disputa, a quantidade total será do vencedor.

Não é de agora que todas as guerras acabam gerando novas invenções para a sociedade e, Bobbio justamente apresenta esse ponto, da qual as guerras garantem a sociedade inovações e, a partir disto remonta um argumento que diz respeito a quantas inovações poderiam ser criadas com novas

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guerras, das quais o mesmo serve como incentivo para criação de novas guerras e conflitos devastadores, mas com um progresso evolutivo.

De forma alguma podemos pensar em uma maneira de impulsionar a existência de outras guerras somente pelo fato de elas trazerem desenvolvimento a sociedade em pouco tempo, a pesar de que num período de guerra devido ao fato da vontade por vencer, acabem forção aos estados uma evolução e melhorias constantes para garantir a vitória:

Tanto o pacifismo democrático quanto o pacifismo socialista podem ser inseridos na categoria mais ampla de pacifismo institucional, vale dizer, naquela teoria ou conjunto de teorias que considera como causa principal das guerras o modo pelo qual são reguladas e organizadas as relações de convivência entre indivíduos e grupos.

A paz só não existe em nossa sociedade atual pelo fato de na educação ser destinada a violência, pois dês de pequenos aprendemos que para sermos pessoas importantes passaremos por cima de nossos colegas, e assim começa a surgir o pensamento individualizado na mente de todos. O pacifismo deveria ser apresentado inicialmente para nossas crianças, para buscarmos uma solução para os próximos que habitaram nosso lar.

O pacifismo democrático não visa a eliminação do estado, mas a sua transformação, de modo que o poder dos governantes seja controlado pelos governantes na confiança ou na ilusão de que, se todos os estados fossem governados democraticamente o conflito entre estados jamais chegaria a fase final do conflito armado.

Para uma sociedade melhor, seria preciso mudanças drásticas na sociedade, da qual reformada e com vinculação de paz de todos os estados, a pacifismo poderia pairar sobre a nossa vida, mas seria necessária uma reforma total, tanto de

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pensamento como de leis e formas de viver que expressam a atualidade.

Pensando de forma radical, Bobbio ousa dizer que para termos a paz seria necessário que voltássemos ao paraíso de adão e Eva e a nossa mancha de pecado fosse apagada de nossa humanidade, podendo assim voltar a viver de forma a colocarmos o pacifismo como ideia para nossa vida, mas, sabemos que isso nunca vai acontecer, e assim esta explicito que o homem nuca vivera em paz.

O que sabemos é que da sociedade atual, vivemos somente de uma paz parcial e que não garante muita segurança, pois a qualquer instante poderemos estar vivenciando uma guerra em nossa sociedade, e grande parte das vezes já vivemos em guerras absolutamente loucas que nos fazem somente buscar nossos direitos ao em vez de pensarmos um uma sociedade melhor. REFERÊNCIA BOBBIO; Norberto. A filosofia política. In: IDEM. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições clássicas. Rio de Janeiro: Campus, s.d. p. 509 - 573.

IV

INTRODUÇÃO À POLÍTICA E DIREITO

Fernando da Rocha

Norberto Bobbio, no capítulo quarto de seu livro Teoria geral da Política, disserta a respeito da Política e Direito. Uma vez que os homens se organizam de forma normativa, isto é, onde suas ações são correspondentes a regras e leis, estes estão expostos a um poder Político, seja em uma pequena comunidade; família, tribo, ou até mesmo, o que é mais comum, na cidade, na pólis.

A Política cumpre a função de nortear as ações dos indivíduos pertencentes a uma comunidade, um território. Na esfera da Política, um território, em que o Poder Político funciona, não é legal as ações de individuação, valorizar um indivíduo em detrimento de outro, ao contrário, uma sociedade estipula entre todos os indivíduos ações comuns; pois o poder é o meio em que um sujeito tem para condicionar as ações de outro. Relação do governante e governado, patrão e empregado.

Comum ao longo da história, o poder, sempre esteve presente. Podendo afirma-lo uma ação natural da natureza dos animais, como é o caso de que: entre os animais não racionais o mais forte é o líder, até que outro mais forte seja capaz de derrota-lo e por consequência tornar-se-á o líder. Com os homens, seres racionais, não é muito diferente; desde os primórdios, os homens associavam-se a formas de poder, isto obviamente porque precisamos de referências para progredir e, ao mesmo tempo estarmos confiantes e seguros sem nos preocuparmos com assuntos que diz respeito aos líderes, sejam eles líderes políticos ou religiosos, enfim; houve

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sempre várias formas de poder como: monarquia, oligarquia, burocracia entre outros.

Bobbio escreve a respeito das três formas típicas de poder do clássico da Política de Aristóteles: o poder do pai sobre seus filhos, do senhor sobre os escravos e do governante sobre os governados. Essa tripartição das formas do poder permite-nos julgar qual forma de poder é bom e qual é ruim, bom governo e mau governo. Das três formas de poder apresentadas, duas delas, são reprovadas, isto é, se em prática é um mau governo: é o caso do poder paterno em que o governante não vê que os seus governados possuem maioridade e, por consequência, trata-os como filhos impedindo-os de caminharem mais convictos de si mesmos; também o poder do senhor sobre o escravo, aonde o governante conduz a cidade de modo a realizar seus próprios interesses.

Sendo assim, o poder político deve contemplar o bem comum presente na forma de poder entre governante e governado, onde ganham ambas as partes. Logo, o poder político possui critérios distintos: “a função que ela exerce, os meios dos quais se serve, o fim ao que tende” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da Política, p.217).

Afinal! Qual é o fim da ação Política? Remonta à Antiguidade – e, portanto, foi transmitida ao longo dos séculos e chegou até nós – a afirmação de que o fim da política é o bem comum, entendido como bem da comunidade distinto do bem dos indivíduos que a compõem. A distinção entre bem comum (bonum commune) e bem própria (bonum proprium) é, aliás, aquela que desde Aristóteles serve para distinguir as formas de governo boas das formas de governos corruptas: o bom governo é aquele que se preocupa com o bem comum, o mau olha o próprio bem, vale-se do poder para satisfazer a interesses pessoais (BOBBIO, 2000, p. 218 e 219).

Política e direito 51

Desta forma, o governante se empenha aos interesses públicos, ao interesse de todos, e de forma alguma aos interesses privados, ao menos assim é que deveria ser. Maquiavel, no capítulo XVIII de O Príncipe, escreve quais são as qualidades que um governante de Estado deve ter; é que o mesmo precisa combinar a qualidade da raposa, isto é, a astúcia estar atento às necessidades de seu povo, e a qualidade de um Leão, a força, aquele que comanda e define, ou seja, tem as rédeas ao seu controle.

Para Hans Kelsen, o estado é uma ordem coativa, isto é, se necessário, o Estado recorre à força em relação àqueles que não cumpriram aos conjuntos de normas estabelecidas, essa técnica pode e é, utilizada para diversos objetivos, principalmente quando o Estado está em risco de se dissolver, a ponto de que, não havendo a força deixará de existir.

Das várias decisões que o governante deve tomar com relação à política, algumas delas: política religiosa, política econômica, política escolar, entre outras, pois são muitas as escolhas, ele as toma certo, de que, pessoas estão ao seu favor e é vitorioso o grupo político que possui mais força. Isto porque as cidades são, geralmente, democráticas; logo, as decisões tomadas são aprovadas pela coletividade da maioria, mesmo que está grande massa não tenha refletido tão bem a respeito de suas decisões.

Não refletir a respeito de suas decisões é comum àqueles que não são detentores de bens, isto porque o poder econômico favorece aos que possuem poder. Enquanto isso os despossuídos, os trabalhadores, são facilmente induzidos por um poder ideológico detentor da força, um poder soberano que, poucas vezes, está a favor da grande massa, ou seja, dá todos os aparatos necessários aos possuidores do poder, em detrimento dos cidadãos que, se quer, sabem de tamanho poder existente.

O autor ressalta que, quando o poder político não atinge seus objetivos através das mensagens, pela classe

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dominante, será necessária a força física, isto para dominar aos desobedientes e frear qualquer manifestação dos mesmos. Sabe-se, no entanto, que agir desta forma é imposição de um grupo mais forte a outro, é guerra.

Carl Schmitt vê a imposição de força como a relação de amigos e inimigos, cujo conflito resulta a guerra, uma máxima de força que tem por objetivo a resolução dos conflitos.

Uma vez que o poder político é definido como aquele poder que se serve em última instância da força física para alcançar os efeitos desejados, ele é também aquele poder ao qual se apela para resolver os conflitos cuja falta de solução teria por efeito a desagregação interna da comunidade política – o desaparecimento dos “amigos” – e a sua supressão a partir do exterior – a vitória dos “inimigos” (BOBBIO, 2000, p. 222).

Bobbio quando escreve a respeito da política mais sociedade, deixa claro que toda ação política é uma ação social que deve contemplar todos os grupos sociais que juntos formam a grande comunidade, a pólis. Em reflexo de uma transformação histórica, lenta, são presentes grandes forças em um Estado que por si mesmo, através de relações conflitivas, buscam fronteiras para adentrarem o conforto do poder, daí entendemos a distinção do poder político, poder econômico e o poder ideológico.

Na obra de Aristóteles sobre a Política, ele enfatiza que o homem é um animal político, ou seja, o homem necessita viver em sociedade o que não significa que todos eles adotaram a um mesmo grupo social, isto é, o Estado é composto por vários grupos e suas ações correspondem as suas máximas; logo, é como que a sociedade se subdividisse em partes, como é o caso dos grupos religiosos, vida contemplativa, e dos grupos políticos, vida ativa. Esses grupos sociais lutam se manifestam, porque pretendem alcançar fins

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de interesse comum ao seu próprio grupo, e por última instância a todos que pertencem ao Estado.

Bobbio traz presente em sua obra a importante luta de poder entre os grandes pilares de uma sociedade. Eis que o cristianismo se institucionalizou na sociedade e se difundiu, tornando-se muito forte, um risco ao poder político. Tendo presente o poder político, temporal, e o poder religioso, espiritual, houve problemas de distinção de ambos, até por que quem detém o poder, fará de tudo para não deixar de tê-lo.

Sendo assim, duas forças acabam se distinguindo de acordo com este quadro: o poder político, temporal, é aquele que governa os territórios “força física”; enquanto o poder religioso conduz os indivíduos à conquista dos bens espirituais:

[...] Os defensores e os detentores do poder temporal pretendem atribuir ao Estado o direito e o poder exclusivo de exercer sobre um determinado território, e em relação aos habitantes desse território, a força física, deixando a igreja o direito e o poder de ensinar a verdadeira religião, os preceitos da moral, de salvaguardar a doutrina dos erros, de levar os indivíduos rumo à conquista dos bens espirituais, primeiro entre todos, a salvação da alma (BOBBIO, 2000, p. 224).

Segundo o autor, a moral é o resultado de um problema em relação à esfera política, espiritual e econômica. Por ser um plano distinto, deontológico, a moral possui caráter de uma ciência do dever e da obrigação, a natureza da ação política, e não do plano ontológico, isto é, do ser em si, comportamento daquele que age politicamente.

A ação moral passa pelo crivo de aprovação e reprovação em relação à esfera política, normativa, ao que se obedece. A conduta moral é considerada boa ou má de acordo

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com aquilo que é próprio e lícito a política moral de cada Estado.

Maquiavel deixa claro que, para julgar uma ação boa ou má é necessário olhar, aguardar, o fim da mesma; porque o resultado de uma ou de várias ações, não coerentes, ao que o Estado juga como má conduta, podem tornar-se ações honrosas e apreciadas. Violar a moral presente em uma comunidade era um grande risco, pois, caso não obtivesse sucesso, se os fins não justificassem os meios, certamente o príncipe receberia desprezo e uma enxurrada de críticas, as quais poderiam leva-lo ao afastamento do Estado. Sendo assim, o homem político tende a um fim. A vitória contra o inimigo e a conservação do que conquistara é o fim último de um bom príncipe.

Mas não eram só os príncipes que deixavam das condutas morais. Também os cidadãos agiam contrários às regras morais comuns, e eram avaliados com intenção de que pudessem detectar se havia boa explicação a sua oposição a ação moral comum. Há uma única moral presente no Estado que elimina a ideia de duas morais.

Uma resposta desse tipo ao antigo problema da oposição entre moral e política permite manter crença na ideia que não há duas morais, uma pública e uma privada, uma válida para os indivíduos e uma outra para os Estados, mas que a moral é uma só, válida para todos, salvo casos especiais, nos quais torna-se lícito aquilo que em geral é proibido, não apenas para o Estado, mas também para os indivíduos (BOBBIO, 2000, p. 229).

Toda norma moral diz respeito a ações possíveis, sendo que o sujeito pode ou não por sua vontade aderir à ação moral sendo livre o cumprimento da mesma. Isto porque haverá momentos em que a ação contraria se faz necessária, pois, o sujeito pode não ter outra escolha a anão ser o não agir segundo o preceito moral.

Política e direito 55

Max Weber apresenta uma distinção em relação ao cumprimento da moral. Segundo ele, Weber, as condutas, ações, são avaliadas com base em princípios dados, isto é, podem ser vistas com base em suas consequências: será boa, se for bem-sucedida; se for malsucedida, é má.

Vê a ação moral como ética da convicção ou ética da responsabilidade. A primeira são os indivíduos que respeitam e adotam princípios de conduta como sendo absolutamente verdadeiro, eliminando qualquer outra hipótese; a segunda são os indivíduos convencidos de que fizeram o que deveria ser feito, tendo por objetivo final conquistar o resultado ao qual se propôs.

No que diz respeito à Política e Direito, tendo o direito como um conjunto de normas, a política tem influência em dois pontos: a primeira enquanto a ação política utiliza-se do direito, e a segunda enquanto o direito que delimita, poda, norteia a ação política.

Hobbes afirma que é a autoridade que cria as leis, e que a sabedoria assim como a palavra não gera lei; são impotentes frente ao poder e a força, fundamentando-se em um positivismo jurídico que cessa o direito natural.

Sendo o direito um produto do poder fica claro a ordem já exposta, havendo uma definição entendida a ordem jurídica como é o direito positivo em ordem coativa, isto é, há de fato um conjunto de normas que são para os transgressores, podendo ocorrer à ação de força física.

Santo Agostinho não considera o direito ser produto do poder, pois, acredita que o que distingue a comunidade política de ladrões é o cumprimento ou não das leis ideais de justiça. Não sendo justo que o poder seja mais louvável que o próprio direito, em relação a tudo o que se pode conhecer e explorar.

O autor apresenta uma nova distinção entre o poder legítimo e o poder ilegítimo, uma vez que a relação entre política e direito se inverte, isto é, agora é o direto que justifica

56 A teoria geral da política...

o poder político e não mais o poder político que produz o direito. Até então, o poder político se caracterizava pelo poder econômico e poder ideológico.

Agora surge uma distinção entre poder de fato e poder de direito, onde a moral exige justificações à má conduta, já a boa conduta não precisa ser justificada “(...) não precisa de nenhuma justificação quem desafia a morte para salvar um homem em perigo, mas precisará apresentar uma justificação quem o deixa morrer.” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da Política, p.234).

Das várias desigualdades humanas, a desigualdade estabelecida pelo poder é a qual deveria apresentar mais justificação, pois, esta legitimação que faz ser um direito a imposição de deveres e a obediência como dever, ou seja, é uma relação de força-poder, a respeito desta conduta diz Rousseau: “O mais forte nunca seria suficientemente forte para ser sempre o senhor se não transformasse a sua força em direito e a obediência em dever” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da Política, p.235).

É considerado poder legítimo aquele que detém, goza justo título enquanto é autorizado por um conjunto de normas estabelecidas em uma comunidade que, dá direito a seu líder de comandar enquanto esses membros da comunidade os obedecem. A confiança dada ao líder, espécie de autorização, rapidamente se transforma de um simples poder em autoridade, de um poder legítimo a um poder de fato.

Logo, não é a sabedoria que faz a lei, mas sim a autoridade. Ou ainda, não é o rei que faz a lei, mas a lei que faz o rei, isto é, não possui o simples poder por ser soberano e legítimo, goza de uma autoridade que fora atribuída a ele, sendo ele superior as suas próprias leis, uma vez que ele tem a autoridade de reformula-las.

É exigido, portanto, que o rei, governante não governe segundo ao seu próprio capricho, mas sim em

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conformidade com as regras estabelecidas em um estado, a uma comunidade, um povo. A legitimidade auxilia o cidadão a distinguir o poder de direito e o poder de fato, bom governo e mau governo. Segundo Platão os governantes deveriam ser servidores das leis, de maneira a evitar o poder de fato para que a cidade não chegue a ruina e alcance os bens necessários para ser considerado um bom estado cujo governante governa em prol de seu povo e não de si mesmo.

O conceito de poder é igual para os juristas e os politólogos, ambos usam o mesmo significado de poder o que os faz ver um ao outro. Há uma ligação estreita entre o direito e o poder. O direto no sentido objetivo são as normas que valem em última instância à coação, podendo agir de força física; já o direito em sentido subjetivo é aquele que obterá sucesso sem o amparo da coação.

Com relação ao direito objetivo, o poder, entendido, segundo a definição mais comum que remonta a Bertrand Russell, como “produção de efeitos desejados”, intervém seja no momento da aplicação das normas. Na teoria do direito subjetivo, os juristas chamam habitualmente de “poder” uma forma específica de situação subjetiva ativa que consiste na capacidade, atribuída pela ordem a certos sujeitos, de produzir efeitos jurídicos (BOBBIO, 2000, p. 234).

O poder e o direito podem ser considerados duas faces de uma mesma moeda, isto porque uma dá o sustento a outra. Sendo assim, o poder pode ser anterior ao direito como também o direito pode ser anterior ao poder. Há ligação entre esses conceitos e a distinção será dada a partir do ponto de vista do interessado.

Bobbio diz: “O poder sem direito é cego, mas o direito sem poder é vazio.” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da Política, p.240). Ou seja, são dois conceitos que, em prática,

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culminam em um mesmo ideal, tendo por pano de fundo o bem comum.

Bobbio acredita que a teoria política é, em última instância, a implicação do poder, isto é, quais os caminhos para conquista-lo, como governar para conservá-lo evitando a perda do poder. Essas são questões pertinentes àquele que governa e aos candidatos que querem chegar ao governo.

Ao longo da história a política é o campo onde se evidencia o dever da obediência e o direito a resistência, onde a resistência à opressão tornasse um tema muito discutido, pois, trata-se do direito e do dever seja dos governados ou dos governantes. A questão é que esses dois fenômenos, o dever da obediência e o direito à resistência, estão sempre presentes de maneira extrema (resistência/obediência) ou (contestação/ aceitação), há uma norma envolta ao sistema que nos faz ora agir passivamente, mecanicamente, ou então se adere ao sistema em seu todo se comportando ativamente.

A resistência se compreende pelo comportamento de ruptura em relação às ordens constituídas, o que é contrário à obediência e contrário a aceitação é a contestação que recebe crítica em relação à ordem constituída.

Bobbio aprofunda seus estudos em relação ao movimento da resistência uma vez que a resistência é algo comum na sociedade e que lhe causa interesse. Sendo assim, pretende trazer presente e contextualizar as razões históricas e indicar como se caracterizava a resistência em um período anterior e nos dias atuais, a fim de refletir questões como: o porquê da resistência hoje? Como a resistência se caracteriza?

Bobbio levanta dados que o auxilia na compreensão acerca da resistência. Por primeiro o processo de industrialização que não diminui e é sempre crescente, o que faz do Estado e dos funcionários uma classe ativa, superior a uma economia coletivista e ideológica.

A resistência, hoje, vista como problema é um fenômeno coletivo, isto é, em relação ao sujeito ativo e em

Política e direito 59

relação ao sujeito passivo. Na grande massa da sociedade há comportamentos herdados de conceitos religiosos que, por sua vez, refletem e constatam meios de direito a resistência, não muito distinto do que se encontra nos escritos dos séculos XIV e XV.

Com a intenção de melhores condições ao Estado e aos que o compõem, os cidadãos, é impensável uma prática que há muitos séculos passados fora adotada, onde os controladores do estado, os reis, chefes, eram mortos em nome de um estado, mundo melhor. Para Hobbes, todos os Estados são bons simplesmente por ser estado. Mas hoje os Estados são maus simplesmente por ser estado. Isto para dizer que nós corrompemos o Estado.

Há várias formas de resistência. A mais evidente é a resistência passiva que é a resposta de um agir não violento, mas que conquista os seus objetivos, como é o caso de uma greve ocupacional.

REFERÊNCIA BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de

Janeiro, 2000.

V

POLÍTICA E DIREITO EM PERSPECTIVA

Medéia Lais Reis

Bobbio inicia o capítulo 4, cujo título é Política e Direito, falando das características do poder político, explicando o uso do termo “política” para designar a esfera de ações, que faz referência direta ou indiretamente à conquista de poderes, em uma comunidade de indivíduos sobre um território.

A relação política principal, segundo Bobbio, se dá entre governantes e governados, onde se dá uma relação política principal, e uma relação de poder. Desde a antiguidade a relação política se estabelece no que diz respeito as várias formas de poder do homem.

Do grego krátos, força, potência e archia, autoridade, nascem os nomes das várias formas de governo, ainda usadas até hoje, como: aristocracia, democracia, monarquia, e assim por diante para designar formas de poder político. Bobbio cita as três formas típicas de poder, segundo Aristóteles, com base na sociedade: o poder do pai sobre os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre os governados, o último é o poder exercido na pólis (que em grego significa “cidade”, ou como Aristóteles define: comunidade autossuficiente de indivíduos que convivem em um território). Aristóteles diz o interesse do homem nas formas de poder, nas quais se exerce o poder: paterno no interesse dos filhos; o senhoril no interesse do senhor, o político no interesse de todas as partes, que é chamado bem comum.

A relação do poder político é uma das inúmeras formas que existe no homem em relação de poder, para

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caracterizar o poder político temos três formas: a função que ele exerce os meios do qual ele serve, o fim ao qual ele tende.

As metáforas mais utilizadas para definir a natureza do governo, diz que a tarefa do governante pode-se entender como uma profissão ou uma arte (em grego téchne). Ao governo é geralmente atribuído o papel da mente, ou alma, para mostrar que ele desempenha uma função superior que está na função de guiar, dirigir e comandar. Já no modelo tecnomorfo as profissões ou artes mais levadas em consideração são o pastor, o timoneiro, o auriga, o médico o tecelão. O pastor protege o rebanho do ataque dos lobos, o timoneiro conduz a rota do navio e os marinheiros, o auriga guia os cavalos, o médico cura as doenças e as chagas do corpo evitando a morte, o tecelão compõe o tecido, todas essas metáforas são utilizadas para exemplificar a função de guiar de dirigir, de intervir e prevenir, essas metáforas servem para indicar os traços principais das funções do governo até hoje, que são divididas em legislativa, executiva, judiciária.

Na função legislativa, o poder político direciona positivamente, comandando, ou negativamente, proibindo, os que compõe a comunidade, diante da função executiva consegue que esses fins sejam executados, exercendo a função judiciária, pois se os conflitos que nascem da sociedade não são solucionados o governo age de modo a fazer justiça.

Bobbio pergunta nesse capítulo qual é o fim da política, e responde se embasando na ideia Aristotélica de bem comum, para ele a finalidade da política é o bem comum de todos os indivíduos que compõe a sociedade, o bom governo é aquele que se preocupa com o bem comum, diferenciando assim as formas boas das formas más de governo, o mau governo enxerga seu bem próprio, satisfazendo seus interesses pessoais. Para Bobbio, uma coisa é o juízo de valor, outra é o juízo de fato. O juízo de fato apenas diferencia a ação das ações políticas das ações não-politicas, também a ação do mau governo se encaixa na categoria geral da política,

Política e direito 63

é mais comum ouvir dizer que a política se faz por indivíduos interessados exclusivamente em obter vantagens individuais.

O conceito de bem comum encontra duas grandes dificuldades: a variedade de significados históricos e a dificuldade de encontrar procedimentos adequados para verificar cada situação.

Para Hans Kelsen, o Estado é uma ordem coativa, um conjunto de normas que para serem cumpridas pode até mesmo ser utilizada a força, para haver uma ordem social, pode ser definido como uma técnica de ordem social. Se o Estado deixa de cumprir os objetivos mínimos de uma sociedade, reunidos em uma comunidade política, o Estado deixa de existir ou se dissolve, o objetivo mínimo do Estado é cumprir a ordem pública interna e internacional, seja qual for o tipo de Estado.

Quando falamos de bem comum, devemos pensar nas decisões que cada governo deve tomar em relação a temas mais variados e utilitaristas para uma comunidade, como: política escolar, política religiosa, política econômica etc. assuntos fortemente divididos em uma comunidade fortemente dividida em classes contrapostas, é provável que o interesse da classe dominante seja assumido, sendo até mesmo sendo aplicado coercitivamente enquanto interesse coletivo.

Como bem lembra Bobbio, a definição de política de Carl Schmitt, a política coincide com a esfera na qual se desenvolvem as relações entre amigos e inimigos, e, consequentemente, a ação política consiste em agregar os amigos ou desagregar os inimigos. A expressão mais característica da política vem a ser a guerra, exatamente como meio para a solução dos conflitos.

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5.1 POLÍTICA E SOCIEDADE

Para iniciar esse capítulo Bobbio irá dizer que toda ação política é uma ação social, mas, nem toda ação social é política. Bobbio irá trazer nesse tópico para justificar o título vários filósofos gregos, principalmente Aristóteles e sua obra sobre a Política, e logo já cita uma passagem da referida obra que diz que o homem é um animal político, entende dizer que, diferente de outros animais, o homem não pode viver senão em sociedade, tanto que São Tomás de Aquino viveu em uma época na qual já ocorreu a nítida distinção entre duas sociedades, a religiosa e a política. A distinção entre a esfera social, que pertence a política, e a esfera individual, à qual pertence a ética, entre a vida ativa, que se desenvolve na sociedade, e a vida contemplativa que diz respeito ao indivíduo isolado. O pensamento antigo tem diante de si uma única sociedade perfeita, a pólis, ou a sociedade política propriamente dita, que abraça em seu seio as sociedades menores.

Bobbio irá trazer em seu texto duas formas de sociedade: A Igreja e o Estado. O poder político precisa continuamente enfrentar um poder distinto, que, além do mais, afirma desde o início que a própria supremacia sobre os poderes terrenos, através do princípio: “o imperador está dentro da igreja, não acima da igreja”. A demanda de liberdade religiosa é uma típica forma de liberdade a partir do Estado, diz Bobbio.

Já entre poder e economia e poder político pode também ser representada como um tipo de confusão entre direito público e direito privado, como efeito de uma concepção privada do público que impede a nítida separação entre os interesses dos privados e o interesse do Estado.

Política e direito 65

5.2 POLÍTICA E MORAL

Uma coisa é perguntar qual é o espaço que a ação política ocupa no universo social ou das ações interindividuais e de grupo, uma pergunta que consiste em determinar a natureza da ação política; outra coisa é perguntar como deve se comportar aquele que age politicamente, se há regras de comportamento que diferenciam a ação política de outras formas de ação. Também este é um problema que versa sobre a chamada autonomia da política, mas é uma autonomia que é possível demonstrá-la, que diz respeito não a sua esfera de aplicação, mas ao sistema normativo ao qual obedece. Chama-se autonomia da política o reconhecimento de que o critério com base na qual se considera boa ou má uma ação que pertence a categoria da política. É distinto o critério com base na qual se considera boa ou má uma ação moral. É um problema que é comumente apresentado nos seguintes termos: uma ação que é considerada obrigatória na moral é também obrigatória na política.

Uma resposta desse tipo de antigo problema da oposição entre moral e política permite manter a crença na ideia de que há duas morais, uma pública e uma privada, uma válida para os indivíduos e uma outra para os Estados, mas a moral é uma só, válida para todos, salvo casos especiais, nos quais torna-se lícito aquilo que em geral é proibido, não apenas para os Estados, mas para os indivíduos.

Todas as normas tanto as morais como as jurídicas ou de costume, dizem respeito apenas as ações possíveis, as ações que podem ser cumpridas segunda a vontade do sujeito ao qual se dirigem. A necessidade não lei.

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5.3 POLÍTICA E DIREITO

O problema da relação entre moral e política é um problema de distinção entre dois critérios de avaliação das ações, o problema da relação entre política e direito é um problema bastante complexo. Quando por direito se entende um conjunto de normas, o sistema normativo, dentro do qual se desenvolve a vida de um grupo organizado, a política tem a ver com o direito sob dois pontos de vista: enquanto a ação política se exerce através do direito, e enquanto o direito delimita e disciplina a ação política.

A ordem jurídica é o produto do poder político. Onde não há poder capaz de fazer valer as normas por ele estabelecidas recorrendo também em última instancia à força, não há direito. Não é a sabedoria, mas a autoridade que cria a lei, como bem lembra Norberto Bobbio em frase de Thomas Hobbes.

O direito natural explica as razões pelas quais apenas o direito positivo, e não o direito natural, é para os juristas aquilo que corretamente pode ser chamado direito, afirmando que, diferentemente das normas do direito positivo, que são estabelecidas por uma autoridade humana, as normas do direito natural são consideradas válidas não porque sejam efetivamente aplicadas, mas porque são pressupostas justas por serem derivadas da natureza e indiretamente da razão ou da vontade divina.

O direito é um produto do poder, a ligação entre poder político e direito é simples: uma vez definida uma ordem jurídica, entendida exclusivamente como direito positivo, na qualidade de ordem coativa, ou seja, na qualidade de conjunto de normas que são feitas valer contra os transgressores também recorrendo a força, e nisso consiste habitualmente a diferença entre o direito e a moral, entre o direito e o costume: a existência de uma ordem jurídica dependente da existência de um poder político. Os princípios

Política e direito 67

permitem estabelecer uma ideia universa: dar a cada um o que é seu, ou cada um faça aquilo que dele lhe espera. Não é mais o poder político que produz o direito, mas o direito que justifica o poder político.

O contrário do poder legitimo é o poder de fato, o contrário do poder legal é o poder arbitrário. Toda a história do pensamento político ocidental está atravessada pela pergunta: “é melhor o governo das leis ou o governo dos homens?” Desde Aristóteles a resposta está em pauta e já se inicia com uma frase que nos faz refletir: “a lei não tem as paixões”, paixões essas que encontramos em cada homem. Pela sua origem seja derivada da natureza das coisas e transmitida por tradição ou descoberta pela sapiência do legislador, a lei permanece no tempo como um depósito da sabedoria popular e da sapiência civil que impede as mudanças bruscas. O poder dos governantes é regulado por normas jurídicas e deve ser exercido com respeito as essas regras. O tema da legalidade sempre serviu para distinguir o bom governo do mau governo, a começar por uma passagem de Platão na qual se lê que os governantes devem ser os servidores das leis. 5.4 DO PODER DO DIREITO E VICE-VERSA

O principal conceito que estudos jurídicos e políticos tem em comum é sobretudo o conceito de poder. Os dois conceitos: direito e poder tiveram secular história do pensamento jurídico e político, das duas formas de fechamento o poder jurídico é mais grave que o político. A ligação é estreita tanto se por direito se entende o direito em sentido objetivo, ou seja, um conjunto de normas vinculantes que se fazem valer recorrendo em última instancia a coação, quanto se por direito se entende o direito em sentido subjetivo, pelo menos em uma de suas inúmeras acepções. Na teoria do direito subjetivo, os juristas chamam habitualmente

68 A teoria geral da política...

de poder uma forma especifica de situação subjetiva ativa que consiste na capacidade, atribuída pela ordem e certos sujeitos de produzir efeitos jurídicos.

Uma vez estabelecido que no âmbito da teoria geral do direito o campo de referência do poder é a produção e aplicação de normas jurídicas, temos como consequência que norma jurídica é poder podem ser considerados, e foram de fato mais ou menos conscientemente considerados, como duas faces da mesma moeda, com a consequência de que o problema da relação entre direito e poder que é o objeto das observações aqui expostas, pode ser olhado seja do ponto de vista da norma, seja do ponto de vista do poder: antes existe o poder e depois o direito.

O Estado nada mais é do que o conjunto de normas que são efetivamente observadas em um determinado território: antes existe o direito e depois o poder. O poder sem direito é cego, mas o direito sem poder é vazio. Somente através do exercício do poder nos diferentes níveis os sistemas das normas válidas tornam-se também efetivo pode ser considerado uma norma jurídica. No fim chegamos a mesma conclusão de que existe um poder legitimo distinto do poder de fato: o que torna legítimo o poder é o direito, e o que torna efetivo o direito é o poder.

Para exemplificar o continuo e complexo embate entre direito e poder entre o poder que produz as normas do sistema que por sua vez regulam o poder e as normas que regulam o poder por sua vez, impondo respeito, faz sim com que sejam habitualmente obedecidas. O direito é um produto do poder, não importa se esse poder é poder originário do povo ou o poder derivado de um governante.

Política e direito 69

5.5 A RESISTÊNCIA A OPRESSÃO HOJE

O problema título desse tópico voltou a se tornar atual, uma característica marcante é a crença no fortalecimento do Estado.

Há uma diferença entre não fazer aquilo que é mandado e fazer o contrário daquilo que é mandado: diante da intimação de desocupar uma praça, sentar-se no chão, podemos trabalhar a resistência passiva não apenas não fazendo aquilo que se deve fazer, mas também fazendo mais, fazendo demais.

As várias formas de desobediência civil devem ainda ser distintas das técnicas de pressão não violenta que interferem nos interesses econômicos. Também estas podem ser diferenciadas segundo consistam em abstenções, como a grave ou o boicote, ou em ações como a ocupação de uma terra, de uma casa, ou de uma fábrica.

Enquanto a resistência passiva consiste em comportamentos comissivos e omissivos, o poder do veto é geralmente institucionalizado, ou seja, depende de uma norma secundaria autorizadora, enquanto as várias formas de resistência passiva nascem fora do quadro das instituições vigentes, mesmo que algumas delas venham a ser em algum momento institucionalizadas. Em suma o poder de veto e a resistência passiva são tanto estruturalmente quanto funcionalmente, duas coisas distintas.

As várias formas de desobediência civil têm em comum a sua finalidade principal, que é mais a de tornar difícil a obtenção da finalidade visada pelo outro do que o substituir. REFERÊNCIA BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

VI

REFORMAS E REVOLUÇÃO

Gilmar Alves dos Santos 6.1 SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO

O tema trabalhado nessa resenha será a mudança política, e os seus desdobramentos, bem como a questão reforma e revolução. O objetivo é mostrar o modo como esses movimentos devem fazer para conseguir os resultados.

As palavras reforma e revolução em Bobbio está ligada com os movimentos operários e na transformação da sociedade no sentido socialista. Sendo que em cada partido formado pelos operários possuem várias facções, nesse caso é como se fossem pequenas alas dentro desses partidos com algumas questões divergentes. É utilizado como exemplo para mostrar as diferenças entre essas alas no movimento operário, a democracia e a ditadura. Enquanto os reformistas são fiéis ao método democrático, na ala revolucionária é a ditadura do proletariado. É visto grandes diferenças entre os termos, pois reformar é consertar algo, sem modificar tudo, e revolução denota uma grande mudança capaz de destruir toda a base de um sistema. Em uma reforma as estruturas continuam e somente algumas partes são mexidas, portanto a essência de algo continuam lá. Como exemplo vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.577, 578):

Pensemos no primeiro dos “vinte e um pontos” para a admissão dos partidos comunistas na Terceira internacional, aprovados pelo II Congresso da Terceira Internacional, em 6 de agosto de 1920, no qual não se deve

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falar na ditadura do proletariado como se fosse uma simples expressão aprendida de cor, mas “ deve ser divulgada de tal modo que pareça necessária a cada simples trabalhador” etc.

Foi através Congresso da Terceira Internacional, em que a questão da ditadura do proletariado foi difundida como sendo de ordem necessária para o trabalhador. A ditadura do proletariado não é a mesma ditadura dos governos que não são eleitos pelo voto popular, mas sim o domínio de uma classe, como exemplo a operária. E esse domínio pode ser por governos, sendo de forma democrática e como exemplo vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p. 578):

Como exemplos típicos e extremos das duas estratégias, podem ser considerados, respectivamente, o Partido Trabalhista Inglês, do qual uma matriz particularmente importante foi a Sociedade Fabiana, constituída em 1883, que, ao tomar o nome do cônsul romano Quinto Fábio Máximo, o Contemporizador, quis indicar na gradualidade das reformas o caminho a ser seguido para alcançar sem abalos violentos uma sociedade socialista e os partidos comunistas, pelo menos em sua origem e durante boa parte de sua história, os quais nascidos logo após a Revolução de Outubro, tendo acolhido a doutrina leninista e a prática bolchevique da conquista do poder, e solidamente atados aos princípios da terceira internacional, repudiaram abertamente o reformismo, consideraram os partidos reformistas não mais como aliados mas como adversários a serem combatidos, aderiram à tese da inelutabilidade da revolução para a derrubada do capitalismo.

Os partidos se utilizaram de diversas interpretações dos pensamentos de Marx e Engels, sobre como fazer as reformas nos países que eram desenvolvidos economicamente e possuíam governos democráticos, haviam

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divisões até mesmo nos partidos que se declaravam marxistas. Bem como o Partido Social-Democrata Alemão na época da segunda Internacional. E também o Partido Socialista Italiano. O problema foi causado pelas diferentes maneiras de como as obras de Marx foram interpretadas. Como eram grandes as disputas, causada por Bernstein, que o marxismo foi dividido em duas partes: marxistas ortodoxos e os não ortodoxos. Há também a disputa entre mencheviques e bolcheviques sobre como uma sociedade atrasada devem fazer para chegar ao socialismo. Como acontecimento, houve a cisão entre os socialistas, ligados ao pacto de unidade de ação com os comunistas e social democrata da Itália. Sendo que o marxismo entrou em crise mais tarde.

Os limites encontrados no sistema revolucionário, são as estratégias que os movimentos reformadores precisaram fazer para chegar a esse fim, mas que propriamente não diz respeito a esse fim. Para isso é preciso, levar em consideração a maneira como se dá a mudança e não o seu fim. Por isso, é preciso haver a diferenciação, entre o fim diferencial e o fim último. Haja vista que o fim intermediário, envolve a estratégia da conquista do poder, e o fim último diz respeito a maneira de como se dá a transformação da sociedade para o socialismo, ou seja, sem classes. A questão da conquista e manutenção do poder se dá em quem conquista uma grande maioria. De outro modo se fortifica quem consegue conquista a maioria dos parlamentares, sendo que que o grupo dominante e o que possui mais cadeiras vai se impor sobre os outros. O processo democrático é importante para uma sociedade, mas ele por si só não consegue fazer a que transformação da sociedade. Já os movimentos revolucionários devem estar sempre preparados para a ação, sendo que o que importa é o fim, e por isso a importância se dá em relação a estratégia definida. Para mostrar o que reforma e revolução podem coexistir juntos vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.582):

74 A teoria geral da política...

Dito de outro modo, reformas e revolução não são incompatíveis porque as causas de mudança que são as reformas produzem necessariamente, ou podem produzir concomitantemente com outras causas, o efeito que é a revolução, isto é, a mudança radical de uma sociedade.

Nos movimentos operários o tema reforma-revolução, foi dominante desde a sua origem. Mas isso não significa que o termo teve o seu nascimento com os movimentos operários, e sim com a Revolução Francesa. É dado que a Revolução Francesa se tornou exemplo para as posteriores, tanto no que tange a algo positivo, e negativos, como escrito nos livros, principalmente de histórias.

Como exemplo vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.583, 584):

E nasceu com a Revolução Francesa, a revolução por excelência, o modelo de todas as revoluções posteriores, já que foi colocada em oposição, positiva ou negativamente, segundo os diferentes pontos de vista, à era precedente, chamada, quase por antonomásia, a era das reformas ou dos princípios reformadores.

A maneira com que foi feito a Revolução Francesa, se tornou indiscutivelmente exemplo para qualquer grupo que quisessem fazer revolução. Se pode dizer que existe antes e depois, mesmo que o termo revolução não fosse estranho à linguagem política, haja vista que no Livro V da Política de Aristóteles já se utilizava o mesmo. De outro modo antes da revolução era utilizado para designar reforma, que envolvia a crise religiosa em que a Europa vivenciou a partir do século XVI, no que culminou o nascimento das novas ciências e técnica, junto com a formação dos grandes Estados, e o mundo moderno. O único fenômeno histórico até então que podia ser comparado à revolução, era a reforma. É preciso

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levar em consideração, sobre os significados dos termos reformas e revolução nos dias atuais.

Eles se modificaram, partindo para uma radicalização, ou seja, foram retomados pelos movimentos operários. Portanto, as demandas se tornaram outras, sendo administrativas, para o melhor andamento do Estado, visando uma fluidez no sistema, como podemos ver em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.588):

Reforma fiscal, instituição dos cadastros, abolição de tributos e das alfândegas, regulamentação do crédito e dos juros, política anonária, construção de pontes e estradas, reforma penal, luta contra os privilégios do clero, providências para favorecer a circulação de mercadorias e o desenvolvimento do comércio.

Em outras palavras com o surgimento de novas demandas o Estado precisou-se modernizar, pois as questões, possuíam caráter diferenciado dos existentes até então e se tornaram imprescindível fazer algo para acompanha-la. A legislação foi utilizada para introduzir as mudanças propostas pelos partidos das reformas, sendo que o príncipe com a ajuda de seus conselheiros era o único intérprete e criador. E a lei era o instrumento para controlar o povo, haja vista que a história das sociedades era estudadas pelos eruditos, que capitavam os espíritos das leis, de maneira a conseguir a ciência da legislação.

Já no movimento reformista dos operários, a busca era as transformações de poder existente, que no caso era atender as necessidades das classes operárias, promovendo melhores condições. Surgiam grandes organizações, sindicatos, partidos, com o intuito das grandes transformações econômicas e sociais. No caso é a mudança entre o Estado e cidadãos, poder estatal e base social. É a sociedade que faz com que as suas demandas sejam atendidas

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pelo Estado para promover os seus desejos, de maneira que a máquina estatal se torna instrumento de utilização do povo.

Em relação ao problema da legalidade do movimento reformista, é que o reformista se mostra legalista, tendo em vista que o mesmo deve respeitar as regras do jogo, que no caso são as regras constitucionais. As regras do movimento reformista se dão no parlamento, e sendo que quem possuir mais cadeiras no parlamento, podem fazer mudanças em benefício da classe operária. Por outro lado, o revolucionário não é um legalista, é que a revolução não traz uma reforma, mas sim uma mudança brusca de rumo criando uma nova ordem.

O legalismo reformista busca uma via pacífica para o socialismo, contrapondo a violência revolucionária. A respeito disso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.594):

Mesmo sem recorrer à citação marxiana obrigatória, segundo a qual a violência é parteira da história, é um dado de fato incontestável que todas as revoluções, ou, mais precisamente, todos os fatos históricos que são incluídos na categoria das revoluções caracterizam-se por períodos mais ou menos longos de ações coletivas violentas.

Para mostrar o quanto se mostram diferentes a forma de se fazer reforma e revolução, é preciso falar das estruturas, que sustentam as mesmas, que no caso são os partidos e os sindicatos. Mesmo que os sindicalismos foram revolucionários, na questão das ideias e doutrinas, a estratégia do sindicato é reformista. Enquanto que o campo revolucionário pertence ao partido. A revolução é uma ruptura praticada por um grupo que enfrenta o governo e a constituição, sendo com o uso da força e desafiando as leis. Essa ruptura quebra um sistema em favor de um novo homem. Como efeito o resultado deveria aparecer para toda uma sociedade, e não somente para as instituições política. No

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caso não deveria ser uma troca de poder da elite entre si, mas sim de uma classe social para outra. Ou seja, a revolução seria o benefício trazido para essas classes de proletariados, para mostrar como se dão os elementos fundamentais da ideia moderna dessa revolução. Sobre isso em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio escreve (2001, p.612): “O Êxodo é a partida dos hebreus, o povo de Deus, reduzido à escravidão, para a terra prometida guiados por um líder carismático, Moisés¨. E também como exemplo vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.617):

“A revolução é a revolta da classe universal destinada a libertar a humanidade da miséria e da opressão (Marx) ou a revolta dos escravos (Nietzsche)?” __ ou a mudança__ “A revolução é o evento destinado a fazer com que a humanidade passe do reino da necessidade ao reino da liberdade, ou o início da era do niilismo?”.

A revolução em Marx, é a famosa luta de classes entre empregados e patrões, exploradores e explorados, e nesse sentido é preciso haver a revolta das classes. E que devem ser feitas com todas as armas possíveis, sem respeitar normas, constituições vigentes, e com desrespeitos para com as leis, e possui o intuito de livrar a humanidade da miséria e opressão. E no caso de Nietzsche a revolução, possui um caráter negativo, pois consiste na negação de todos os princípios religiosos, políticos e sociais.

O problema do reformismo de Carlo Cattaneo e as reformas, é apresentado por Alessandro Levi, em sua monografia. Para Levi, Cattaneo não é um revolucionário, e isso se deve em função de que sendo um positivista coerente e mesmo não guardando as tradições nacionais. Tendo em vista que mesmo que ele foi aberto para com as questões comuns naquela época, através de um espirito reformador, nas questões políticas e na economia não foi um revolucionário. E nesse sentido ele foi um progressista sobre

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isso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.618):

Apresentado o problema do reformismo de Cattaneo, Alessandro Levi, na sua conhecida monografia, sustenta que “ um positivista coerente, mesmo quando não é um conservador das tradições nacionais (...), não é, não pode ser, um revolucionário, no sentido comum que se costuma dar a este termo, isto é, um fautor de mudanças políticas ou sociais, imprevistas e violentas” e conclui, com razão, que “Cattaneo teve um intelecto aberto, sagaz, iluminado de radical reformador, mas não foi na economia , como não era em política, um revolucionário. Poderíamos considerá-lo, antes, com uma inadequada, mas expressiva palavra, que durante um período esteve em voga no nosso jargão político, um progressista”.

Para que se possa entender o reformismo ou o progressismo de Cattaneo é preciso levar em conta a concepção geral da história. Já que a obra do historiador e filósofo dirige e se completam num esboço geral da filosofia da história.

Bobbio, para falar do progresso escreve que em Cattaneo, que a confiança no progresso, se dá pela convicção e as vezes o seu avanço pode não ser em linha reta. Para mostrar como se dá essa questão vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.619): Em outro trecho: “O progresso das legislações [é] tortuoso como o curso dos rios, a qual é, contudo, uma transação entre o movimento das águas e a inércia das terras”. Que o progresso as vezes não segue um caminho certo, pois é preciso ver o movimento da humanidade.

É citada como “aberrações” as três doutrinas, no caso a primeira doutrina é a dos que defendem a ideia das sucessivas evoluções sociais. E para fazer a defesa de tal ideia reduziram os séculos em dias, fantasiaram a um mundo sem

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propriedade. A segunda doutrina é a dos que entenderam mal a justificação histórica do passado, justificando a necessidade de voltar as coisas ao início. A terceira é a doutrina dos tranquilizados com a justificativas geral dos fatos, e que acreditaram na capacidade intelectual das multidões, portanto recaem no fanatismo do Oriente.

Ferrari sustenta, endurecendo e deformando, a ideia de que a sociedade é um sistema, e que sendo sistema não tolera uma contradição, e que onde existe a contradição essa sociedade vai morrer, e é substituído por um outro sistema, e no caso a história é uma sucessão de sistemas. Cattaneo em um de seus ensaios da maturidade sobre a psicologia das mentes associadas, também desenvolverá a ideia da sociedade como um sistema. Para compreender qual é o ponto de partida que Cattaneo assume diante do desenvolvimento histórico e qual é a sua ideia de progresso, é preciso levar em conta esses dois pontos críticos. Sobre isso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.622):

Antes de mais nada, não é verdade que todo povo forme sempre um sistema, se por sistema se entende as organizações das ideias desse povo em torno de um princípio único, mas é verdade, ao contrário, que, “quanto mais civilizado um povo, mais numerosos são os princípios que encerra em seu seio”; onde por “ princípios” se entende, como surge a partir da exemplificação que imediatamente se segue, “ a milícia e o sacerdócio, a posse e o comércio, o privilégio e a plebe”, tanto as instituições políticas quanto as formas econômicas ou as diferentes classes que compõe o todo social, com consequência de que as nações “tornadas sistemas” ( e são aquelas fundadas em um único princípio, como, por exemplo, as nações totalmente militares ou totalmente sacerdotais, com uma economia ou totalmente agrícola ou totalmente comercial, e sem conflito de classe) são aquelas que, tendo permanecidas estacionárias, não deram, pelo menos até agora, contribuições positivas para o progresso civil.

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Para que uma nação consiga obter um progresso contínuo, é preciso que haja conflitos de princípios dentro da mesma a respeito disso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.622, 623):

“A história é o eterno conflito entre os diferentes princípios que tendem a absorver e uniformizar a nação” Cai por terra também, portanto, a tese de que a história seja uma sucessão de sistemas e como tal tenha um desenvolvimento em etapas obrigatórias.

O que caracteriza o fenômeno revolucionário, é o mostrar se de um novo elemento social, que no caso é uma nova classe que reclama por novos direitos. E no caso essa mudança dessa classe pode ser considerada parcial, pois ela parte para um sistema novo, não perdendo algo do antigo sistema, portanto o que ela faz é uma adaptação. A respeito disso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.625):

Uma sociedade em movimento não pode ser considerada um sistema porque nela coexistem e conflitam entre si diferentes princípios, nos quais o novo está destinado a superar o velho sem que, contudo, o velho seja totalmente eliminado, donde a conclusão de que “ uma sucessiva transação entre os sistemas rivais jamais pode ser considerada a destruição de um sistema, nem a formação absoluta de um outro, já que a renovação recai somente sobre algumas partes [uma vez mais o conceito de “parcial inovação”]; aquilo que Romagnosi expressava ao dizer que o progresso se faz quase por encaixes’.

No caso do reformismo de Cattaneo, não se consegue entender através do conhecimento geral da história. Sendo que o processo histórico não segue uma linha reta, estando como um rio, que no caso é progressivo. Como ele confia no progresso, em que é preciso a utilização do intelecto do

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homem. Já que o providencialismo histórico estimula um comportamento conservador, o simplismo dos uniformistas justifica o comportamento revolucionário.

A revolução é uma febre em que não atinge todas as pessoas, e as reformas é um produto consciente da mente humana. Portanto como na obra Mudança Política de Norberto Bobbio, trata das Reformas e Revolução ocorrida na história, se devem levar em conta algo particular de cada uma. Portanto revolução é algo que toma um rumo totalmente diferente, perdendo a sua essência. Já as reformas mudam algo, sendo um processo mais amenos, que vai manter toda uma base de sustentação. O objetivo primordial dessa obra foi mostrar como Bobbio trabalhou a questão mudança política. Já que foi utilizado vários elementos da história para poder ilustrar e mostrar de fato como as coisas foram acontecendo. Portanto foi utilizado vários elementos para conseguir tal resultado. REFERÊNCIA BOBBIO, Norberto. A lição dos clássicos. In: IDEM. Teoria geral da política; a filosofia política e as lições clássicas. Rio de janeiro: Campus, s. d. p. 577-637.

OS ORGANIZADORES

JOSÉ DIAS Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo - RS (1996) e Bacharel em Teologia pela Unicesumar (2014); Especialista em Docência no Ensino Superior pela Unicesumar (2015); Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (1992); Mestre em Filosofia pela mesma Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2006); Doutor em Direito Canônico também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2005); Doutor em Filosofia também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2008). Atualmente é professor Adjunto da UNIOESTE, no Campus de Toledo-PR, onde é Coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia; Pesquisador do Grupo de Pesquisa “ÉTICA E POLÍTICA”, da UNIOESTE, CCHS, Campus de Toledo-PR; parecerista de revistas filosóficas e juristas.

E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231

JUNIOR CUNHA Graduando do curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo-PR. É estagiário da Biblioteca Universitária da UNIOESTE-Campus Toledo. Bolsista – no período de 01 de junho de 2016 a 31 de março de 2017 – do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), vinculado a CAPES/MEC. Bolsista – no período de 1 de abril de 2017 até 31 de março de 2018 – do Projeto de Extensão Teatro em Ação, vinculado ao Programa Universidade Sem Fronteiras-USF, financiado com recursos do Fundo Paraná. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em William Shakespeare.

E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103

VALDENIR PRANDI Possui Licenciatura Plena em Filosofia pela Faculdade Padre João Bagozzi - (Registrado Ministério da Educação Universidade Federal do Paraná) (2011-2013). Atualmente é professor - Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Possui Licenciatura Plena e Geografia pela Faculdades Integradas da Terra de Brasília - Brasília - DF (2007 - 2009). Possui Licenciatura Plena em Pedagogia (Segunda Licenciatura) pelo Centro Universitário de Jales (UNIJALES) - Jales - SP (2015 - 2016). Pós-Graduação modalidade Lato-Sensu: Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI): Metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia - Indaial - SC (2014 - 2015). Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (FALC) Pós-Graduação em Deficiência Intelectual, Auditiva e Visual e a Prática Educativa Inclusiva - Carapicuiba - SP (2014 - 2015). Faculdade União Cultural do Estado de São Paulo (UCESP - Faculdade) Pós-Graduação em Educação ambiental e Sustentabilidade - Araçatuba - SP. (2015-2016). Participação em Cursos e Eventos - Participou do Curso de Capacitação do Programa Qualificação Pedagógica, Secretaria Municipal de Educação de Grandes Rios - PR. (2011). E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/1471897487879813