Upload
andre-paes-leme
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
1/18
Revista Portuguesa de Filosofiais collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Revista Portuguesa de
Filosofia.
http://www.jstor.org
Revista Portuguesa de ilosofia
A Terra Desolada: A Experincia do Mal em T. S. EliotAuthor(s): Carlos Joo CorreiaSource: Revista Portuguesa de Filosofia, T. 57, Fasc. 3, Desafios do Mal: Do Mistrio Sabedoria (
Jul. - Sep., 2001), pp. 575-591Published by: Revista Portuguesa de Filosofia
Stable URL: http://www.jstor.org/stable/40337642Accessed: 21-12-2015 19:16 UTC
Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp
JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range of contentin a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new forms of scholarship.For more information about JSTOR, please contact [email protected].
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/http://www.jstor.org/publisher/rpfhttp://www.jstor.org/stable/40337642http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/stable/40337642http://www.jstor.org/publisher/rpfhttp://www.jstor.org/7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
2/18
R.P.F.
57-2001
A
TerraDesolada:
A
Experiencia
o
Mal em
T.S.
Eliot
Carlos Joo Correia*
RESUMO:O presentertigo ern omoobjectivoundamentalroporurnanterpretaco
do
poema
de T.S.
Eliot,
The Waste and
(1922),
no
qual
a
experiencia
o mal consti-
tu
onto
de
referencia
entral.
sta
experiencia,
raduzida
metaforicamente
or
ter-
ra
desolada,
pode
ser
perspectivada
anto m termos
essoais
como ivilizacionais.
O
poema,
depois
de realizar
diagnstico
e
urna ituaco
de crise
rofunda,
ealiza
o
que
poderamos
esignar
omo umritual atrtico
ue permite puriflcacao
as
dimensoes
egativas,
edimentadasm
nos,
onstrangedoras
a nossa iberdade.
Palavras-Chave:
Conscincia;Dor;
Eliot,
T.
S.; Emoces; Frazer,
James
G;
Graal;
Literatura;Mal;
Mito;
Mitologia;
Poesia; Pound, Ezra;
Sofrimento;
arkovski,
Andrei
ABSTRACT.his aper proposes n interpretationfT. S. Elliot's oemThe Waste and
(1922)
whose ore s
the
xperience
f
evil.Such
experience,xpressed
y
themeta-
phor
of
the "waste
and",
can be viewed
ither n
personal
or in civilizationalerms.
After
iagnosing profound
risis,
he
oemgoes
on to
what
ould be called
a cat-
hartic
itual,
which
nables he
urification
fnegative
lements
f ife
hat onstrain
our
reedom.
Key
Words:
Consciousness;Emotions;Evil;
Frazer,
James
G.; Graal; Literature;
Myth;Mythology;
ain;
Poetry;
ound,Ezra;
Suffering;
arkovski,
ndrei.
o
escritor
mericano
zra
Pound,
o
poema
The WasteLand1 de
Segundo
T.S. Eliot, ublicadom1922, onstitua justifica^ao"a experiencia o-
dernista
esdeo
principio
o sculo2.
As
palavras
e Pound o bem
apro-
*
Departamento
e
Filosofia,
niversidade
e Lisboa
Lisboa, ortugal).
1
"The Waste
and"
1922)
in Selected
oems, ondres,
aber
&
Faber,
954,
p.49-74.
Existem
uas
traduces
portuguesas
o
poema
de
Eliot,
mbas onsultadas
as
traduces
os
versos
itados:
Terra em
Vida,
rad.Maria
Amelia
Neto,
isboa,tica, 9842;
A Terra
Devastada,
rad. ualter
unha,
isboa,
Relgio 'gua,
999.O
ttulo
rimitivo
este
oema
do
poeta
e filsofo
mericano,
aturalizado
ngls,
homas teams
liot
1888-1965)
ra,
segundo
eter
Ackroyd
T.S.Eliot.
Life,
Nova
Iorque,
imon nd
Schuster,
984,
p.
110),
muito
iferente:
He Do
The
Police
n
Different
oices".A
edigo
riginal
oi
publicada
or
VirginiaLeonardWoolf aHogarthress,m1922.
"EzraPound
ame o
call
t the
ustification
f the movement
f ourmodem
xperi-
ment
ince1900'
"
(Malcolm
radbury,
heModernWorld.
en Great
Writers,
armonds-
worth
t
l,
Penguin,
988/89,
.
200).
Revista
Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
3/18
576
Carlos
Joao
Correia
priadas ois estepoema, anto a formasttica,omo no contedo ilosfico,
expressa que
h de mais
essencialneste
movimentoultural
ue
marcou
s
primeiras
cadas do
sculo
XX.
Modernista
a
forma,
ela
constante
novaco
artstica
pela
desintegraco
o valor sttico
radicionalmente
onferido
obra
de arte omo um
todo;
modernistao
contedo,
o
manifestar,
e
um
modo
gri-
tante,
ste
duplo
entimento
ue
atravessa
quela geraco:por
um
ado,
vivencia
da
desolando
do vazio
e,
por
outro,
spiraco
urna
edengo
da
experiencia
do
mal,
seja
eia
surpreendida
a
prpria
riaco
rtstica,
omo acontece
lara-
mente a obra
de
Proust3,
eja
no
amor,
omo
o caso tanto o Ulissesde
Joyce,
comoda Montanha
Mgica
de ThomasMann4.Na TerraDesolada de
Eliot,
nao
s a vivenciade ummundo evastado em crise, emsi, evidente,omo se
surpreende
o
poema
viso de urna edenco
ue adquire
rna
imensao
lara-
mente
spiritual,
o sentido
orte
ue
a
palavra espirito
ssumena
linguagem
filosfica
religiosa, nquanto opro
e
pulsar
de
vida
que
une de urnaforma
indissocivel
mente o
corpo.
I.
A
Terra
Desolada de Eliot
,
a
meu
ver,
um
poema
sobre
sofrimento,eja
esse sofrimentontendidom
termos stritamente
essoais, eja
em termos ivi-
lizacionais,
uando
urna
poca
e urna
ultura ubitamente
e sente
stril sem
vida.Apsa morte opoeta, sua mulheronfessouue Eliot senta uetinha
pago
um
prego
muito
levado
por
ter ido
poeta,
de
que
ele tinha
ofrido
ema-
siado"5
esse sofrimento
ransparece
a
grande
maioriados versosdo
poema
que
estamos
analisar.
The
Waste and a narraco
essa
experiencia
o
mal
realizada
travs
e urna
xpresso otica ragmentada,
lusiva,
or
vezes deli-
rante,
lena
de ironia
repleta
e
referencias
ruditas
ue
fizeram encanto e
todos s
acadmicos
intrpretes
e
poesia.
Com
efeito,
ara
do
poema
m
si,
composto or
433
versos,
poeta
acrescentouxtensas otas ruditas Notes
on The WasteLand
-
que
pretensamente
isam sclarecer clarificar
sentido
da
miriade e
mences
ue
nele
podemos urpreender6.
a esteira o
principio
3
A
descoberta
a
arte
omo endo
reencontr
om
tempo
erdido
-nos
presentado
num
osmomentose maior
ntensidaderamticao
romance:Mais
'est
uelquefois
u
moment
tout
ous emble
erduue
ravertissement
rrive
ui
peut
ous
auver,
n
frappe
toutes
ortesui
ne
donnentur
ien,
t a
seule
ar
on
peut
ntrert
u'on
urait
herche
envain
endant
ent
ns,
n
y
heurteans e
savoir,
t lle
'ouvre."
Proust,
a rechercheu
tempserdu.
e
temps
etrouv,aris,
allimard,989/90,
.
73).
A
grandeuestoue
travessaromance
e
Joyce
"What
s
that
ord nowno
ll
men?"
James
oyce,
lysses
1922),
armondswortht
l,
Penguin,
968,
.
54)
-
encontra
no
mor
sua
esposta
inal;
Wird
uch usdiesem
eltfestes
Todes,
uch usder chlim-
men
ieberbrunst,
ie
rings
en
egnerischen
bendhimmel,
inmal
ieLiebe
teigen?"
Tho-
mas
Mann,
er
Zauberberg,
erlim,
ischer
erlag,
9262,
.938).
"Hediedn1965,nd fterer usband'seathis econd ife alerieeclaredhatHefeltehad aid oohighpriceobe poet,hatehad ufferedoomuch.1heWasteand s
a
poem
f hat
uffering"Bradbury,
odern
orld,
.201).
Mais
tarde
rincou
om
o
fcto
izendo
ue
escreveu
ssasnotas
ara
er numeroufici-
ente e
pginas
ara
ublicar
rn
ivro;
u
entao,
ue quis
ancar
s
acadmicos
uma caca os
Revista Portuguesa de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
4/18
A Experiencia do Mal em
T.S.
Eliot
577
estticomodernistaa fragmentagoriativa a obradearte, poema ,de certo
modo,
m
"pastiche"
e
citasoes
alusesas
quais
podemos
scutar cos
fami-
liares,
por
vezes
distorcidos,
utras
ezes ironicamente
ugeridos,
os
grandes
smbolos
textos e urna
ivilizado
que
Eliotve
amargamente
esabar.
A
difculdade
ue
sentimos
a
leitura e
A
TerraDesolada nao deixa
de
ter
alguma
imilitudeom
a
interpretalo
o
Ulisses
de
Joyce.
o
so as referencias
e
aluses
das duas
obras ao infinitas
crpticas,
omo o
principio
sttico o
fluxo
da conscincia
ercorremetodologicamente
escrita os dois textos.
Este
principio
sttico stream f consciousness
provm
irectamentea
obra
de
WilliamJames obre actividade
a
conscincia7,
endo sua
aplicado
artsticantendidaor Joyce omoa transcrisaoo cursoda actividademental
dos
personagens,
emurna
equncia
necessariamente
gica, ermitindo,
ssim,
nao s
apreender
ela
escrita stados
r-conscientesue
antecedem
formasao
das nossas
deias,
omo
traduzir fluxo antas ezes catico
da
actividade
men-
tal humana m toda
a
sua
liberdade. iz-nosT.S. Eliot: "as
experiencias
e
um
homem
ulgar
ao
caticas,
rregulares,
ragmentadas.
le
pode-se
paixonar
ler
Espinosa
estas
duas
experiencias
ao
tmnada
a ver
urna om
a
outra,
o
mesmomodo
que
nao tem
ela^o
nenhuma
om o ruido
e urna
mquina
e
es-
crever
u com
o cheiro e um
cozinhado;
a
mente
e
um
poeta
stas
experien-
cias esto
constantemente
formar ovasunidades."8 o caso de
A
TerraDeso-
lada, Eliot oscilavertiginosamententremomentos laramenteevedores esteideal
esttico,
rximos
a
descriso
enomenolgica
e
recordares
sentimen-
tos,
e
outros
os
quais adopta
um estilo
radicional,
m
parte
evedor o ritmo
literarioos
versculos blicos
ue
tanto
ma:
"E
euestavassustado.
isse,Marie,
Marie,
egura-te
em.
fomos
or
li
abaixo.
as
montanhas,
i sim entimo-nosivres.
Leio,
uase
oda
noite,
vou
ara
sulno nverno.
Que
razes e
prendem,
ue
ramosrescem
Neste
ntulho
edregoso?
ilho o
homem,
Noconseguesizer,emdivinhar,ois onhecespenasUmmontoe
magensuebradas"9.
gambozinos".
Seria,
o
entanto,
stulto
esprez-las,
ois
sua
grande
aioriaao itacoese
obras
eferidas
utilizadas
o
oema.
Notes
n
TheWasteand"
n
electedoems,
p.
8-74.
7
William
ames,
he
rinciples
f sychology
1890),
,
Nova
orque,
over
ublications,
1950,
.
239.
"The
rdinary
an's
xperience
s
chaotic,
rregular,ragmentary.
he
atter
alls
n
ove,
or
reads
pinoza,
nd hesewo
xperiences
ave
othing
o
do with ach
ther,
rwith he
noise
f he
ypewriter
r
he mell f
ooking;
n
themind
f he
oet
hese
xperiences
re
alwaysormingewwholes."T.S.Eliot,TheMetaphysicaloets"1921) n electedrose,
Harmondsworth,
enguin,
953,
.
17).
"And was
frightened.
e
said,
Marie/ arie,
old n
ight.
nd own ewent./n he
mountains,
here
ou
eel
ree./
read,
uchf he
ight,
nd
o
outh
n he
inter.
Revista Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
11
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
5/18
578
Carlos JoAo
Correia
O facto eEliotter scrito mpoemafragmentado,oba forma e umgran-
de
puzzle
de
referencias
eterclitas
enigmticas,
ornandomuitodifcil
sua
interpretaco,
o nos
deve,
de modo
lgum,
azer
erder
simples razer
a
leitura
ue
saiba escutar
pura
musicalidade
os seus versos.Se existe raco
esttico
ue
marca
poesia
de Eliot a sua
sonoridade,
beleza
no tanto o
som
das
palavras,
or
si
prprias,
mas
da
sua articulaco.
mbora
Eliot,
num
ensaio obre
A
Msica
da
Poesia",
sustente ideia de
que
no
podemos
isso-
ciar
musicalidade
otica
do seu contedo
ilosfico,
um
facto
ue
este utor
temum
cuidado xtremo a
construco onoradas frases
oticas
na
sua
ca-
dencia tmica10.
sta
dimenso evela-se
ogo
na
sua
primeira
rande
bra
poti-
ca, TheLoveSong ofJ.Alfredrufrock1915) ondeabordao problema e al-
gum que
apenas
v
sua
volta sinais de
vulgaridade,
e
homens
vazios
(hollow
men11),
as
que,
ao mesmo
empo,
e sente
envelhecer,
em
e
atrever,
numahesitaco
ermanente,
colocar
questo
ltima,
questo
obre sentido
da sua vida.
Ser
que
ousarei
perturbar
odo
o universo?12.
as estesbreves
fulgores
e lucidez
dissolvem-se
apidamente
a
embriaguez
o
instante: nao
perguntes,
o
que
?
vamos
fazer
nossa visita13.
medida
ue
a
persona-
gem
do
poema
vai
envelhecendo,
-se
progressivamente
ontado ridculo os
actos
que compem
sua vida
vazia:
como
que
me
vou
pentear?
u
se me
atrevo comer m
pessego?14.
omo diz o
poema,
numa
palavra,
u estava
commedo15.
Ora,
ogo
nos
primeiros
ersosda
Canqo
de
Amor,
odemos
escortinarm
estilo ovode
escrita
otica:
"Vamos u
eu,
Quando
noite
e estende
elo
cu,
Comoum
doente
dormecido ter obre
mesa"16.
What
re theroots hat
lutch,
hat
ranches
row/
ut
of
this
tony
ubbish?on
of
man/You
annot
ay,
r
guess,
or
you
know
nly/ heap
of broken
mages"The
Waste
Land,w.l 5-22).
Cf. The
Music f
Poetry"
1942)
in
On
Poetry
nd
Poets,
ondres/Boston,
aber
nd
Faber,1957,pp.26-38.
"We are
he ollowmen/
We are he tuffed
en"
"The
HollowMen"
1925)
in
T.S.
Eliot,
elected
oems,
.77).
Neste
oema
posterior
The Waste
and: "o
aparecimentoepe-
tido
dos vocbulos roken
hollow
.
]
representam
sta
xperiencia
e solidao
nterior
de
partilha
e
horror."
Jos
ousa
Gomes,
.S.
Eliot.
ntre he
HollowMen e
Ash-Wednesday,
Lisboa, osmos, 997,
.30).
u
"Do I dare/
isturb he
universe?"
"The
Love
Song
of J.
Alfed Prufrock"
1917)
in
T.S.
Eliot,
elected
oems,p.\2)
"Oh,
do not
sk,
What
s t?7Let
s
go
andmake
ur isit."
Ibidem,
1).
"Shall partmyhair ehind?o Idare o at peach?"Ibidem, ).
"And
n
hort,
was
fraid."
Ibidem, 4)
"Let
us
go
then,
ou
nd
\J
When he
vening
s
spread
ut
gainst
he
ky/
ike
a
pa-
tienttherised
pon
table"
Ibidem,
1)
Revista Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
6/18
(
Experiencia
do Mal em T.S. Eliot
579
No se deveapenasreamar simplicidade a cadencia onora a articulaco
do
primeiro
erso Let us
go,you
and
-,
mas, obretudo,
conjunco
nusi-
tada entre rnafrase
de urnabeleza romantica
ublime,
when
he
evening
s
spread
gainst
he
ky"
om
urna
rase
e um realismo ru e
chocante,
likea
patient
therised
pon
table.Na
TerraDesolada
este
processo
sttico
per-
manentementeultivado
omo,
porexemplo,
a
articulaco o verso
romntico,
"Doce
Tamisa,
desliza
mansamente,
t ao firn o meu canto"
rticuladoom a
crueza
da descrico o
verso
eguinte;
Nao
h
no rio
garrafas
azias,
papis
de
sanduche"17
sta
conjugaco
e
imagens
ler
Espinosa
estar
paixonado
,
acompanhada
e urna
rande
ontenco
a
adjectivaco,
ealizao cerne o
que,
na linguagema pocase designava, a esteira eEzraPound, orimagismo.
Mas, talvez,
mais
mportante
o
que
encontrar
rna
tiqueta
sttica,
s
poemas
de Eliot
representam
assunco
da formamoderna
e
escrever
oesia.
Do
mes-
mo
modo
ue
o
poeta
onstantemente
os
surpreende
om
a
combinaco e ima-
gens
contrastantes,
ifcilmente
odemos
dentificar
m
estilo
definido
m The
Waste
and. No estamos
m face
de um
poema
irico,
e urna
popeia,
e urna
elegia,
de urna
arrativa
otica,
,
no
entanto,
ncontramos,
qui
e
ali,
exemplos
notveis
e cada um
destes
neros
oticos.
A
mesma
desorientaco
corre
uando
tendemos
os
mltiplos
ontedos
temticos
ue percorrem
TerraDesolada:
os
ritos
e
fertilidade,
pensamento
oriental,spubs londrinos,primeira uerraMundial, sexualidade umana,
mitologia
rega, presenca
de
Deus,
as
recordaces e
infancia,
ntre antos
outros.
or ua
vez,
mporta
ublinhar
ue
no
estamos
m facede um
poema
m
que
a
emoso
explode,
maneira
e Walt
Whitman,
a
base do
principio
omn-
ticode
que
a
poesia
,
antes
de
mais,
urna celebraco e
mim
prprio18.
ern
pelo
contrrio.
ara
Eliot,
poesia
no
tanto
manifestalo
de
emoces,
mas
antes
forma
metdica e
se
libertar
las,
omo
se cada um de ns acedesse
sua identidade
essoal
mais recnditatravs a
catarse
purificaco
as emo-
ces
que
so
a
poesia
pode
proporcionar.
em dvida
ue
as
emoges
habitam
Terra
Desolada,
mas
elas sao observadas
analisadas
um
ponto
al
que
rapida-
mente osapercebemoserobjectivo
o
poema
revelar
que
elas
podem
erde
trgico,
e
pattico,
,
nalguns
asos,
de ridculo.A
poesia
vista, ssim,
por
Eliot,
omo
experiencia
e urna atarse
ue,
em
The Waste
and,
se deve
per-
spectivar
omo
urna
urificaco
o sofrimentodo
mal,
de tal modo
ue
se
pode
apresentar
poema
como sendo
um ritual e libertaco
as
experienciasue
se
sedimentaram
m
ns
e
que
no nos
deixam er ivres.
sta
tese
que
v
o
poema
como
um
ritual
atrtico em
a
sua
comprovaco
ecisiva nos versos finis
(v.433)
desta
bra,
uando
Eliot
reitera,
or
res ezes
consecutivas,
palavra
e
17
"Sweet
hames,
un
oftly,
ill end
my ong./
he
river
ears o
empty
ottles,
and-
wich apers"TheWasteand,w. 176-17).
"I
celebrate
yself,
nd
ing
myself,
And
what
assume
ou
shall
ssume,
For
very
atom
elonging
o me as
good
belongs
o
you."
Walt
Whitman,
Song
of
Myself,
eaves
f
Grass
1855),
Oxford/
ova
orque,
xford
niversity
ress, 990,
.29).
Revista Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
7/18
580 Carlos JoA
Corre
origemnscrita ShantihPaz) - que,natradigo ind,e utilizava o final
da leitura os
Upanishads que
o
autor,
uma
notade
rodap
o
poema,
sclare-
ce como endo
a
paz que ultrapassa
entendimento19.
poema
,
com
efeito,
bem
explcito
na
sua
apresentago
omo ritual
purifcador,
ostrando
ue
a
intencionalidade
ltima
e
prende
om a
superalo
da
vivencia o mal.
Assim,
no verso
30,
pouco
antesde
encontrar
paz
e a serenidade
bsoluta,
poema
diz-nos:
Com estes
ragmentos
scorei s minhas
uinas"20.
II.
Iniciemos, nto, exegesede A TerraDesolada, poema cujo impacto a
poesia contempornea
comparvel
recep^o
musical a
Sagrago
da Pri-
mavera e
Stravinsky,
o eco do Ulisses
de
Joyce
o romance s As
Meninas
de
Avignon
e Picasso
as
artes
lsticas.
A
interpretaso
e
um
poema,
omoo
de
Eliot,
carreta
iscos
hermenuticosbvios
ue podem
scilar ntre rna eitu-
ra
apressada
ue
no
respeite
densidade riativa urnamera
presentagao
e
elementosruditos
ispersos
em
qualquer
iso
ntegrativa.
ara evitar
stedu-
plo
risco,
eguiremos
m
focondutor e
anlise
ue
consiste m reflectirobre
a forma
omo
o
poeta
nos
apresenta questo
do
mal e
o modo
como realiza
sua
catarse.
A TerraDesolada tem
omo
pano
de
fundo
descrigao
a vida ondrina
os
anosvinte, a qual podemosvisionar rna idade ndustrialinzenta,marcada
pela
primeirauerra
mundial,
epleta
e
homens azios
que
percorrem
omofan-
tasmas
quelas
ras
ombras.
"Cidade
rreal,
Sobo
nevoeiro
ardo
astanho
e
um manhecere
nverno,
Urnamultidolua
obre Ponte e
Londres,antos,
Eu no
pensavaue
morte
ivesse
niquilado
antos.
Suspiros,
urtos
raros,
ram
xalados,
E
cadahomemxava
s
olhos diante
os
ps."21
Se
a
viso
de urna
Londres ndustrial
ferida
mortalmente
ela guerra
os
acode ao espirito, eco deversos e Dantequeressoam estapassagem mplia
o horizonte
a
nossa
atengo.
ao
passagens
do
poeta expressamente
eferidas
por
Eliot
as suas
notas,
saber:
"Eraurna ila
e
pessoas
o
grandeue
eu nunca
ensei ue
a
morteivesse
aniquilado
antos."
"Aqui
aohavia
utro
horolm e
uspirosue
aziam
remerar
terno."22
19
"ThePeacewhich
asseth
nderstanding"
s our
quivalent
o this
word."
Notes,
v.433,p.74)
"Theseragmentshavehoredgainst y uins"TheWasteand, .430).
"Unreal
ity/
nderhe
rown
og
f
winter
awn,
A
crowd
lowedver ondon
Bridge,
o
many
I
hadnot
hought
eath ad
undoneo
many
/Sighs,
hortnd
nfrequent,
were
xhaled/And
achmanked
his
yes
eforeis eet."
The
Waste
and,
.
60-65).
RevistaPortuguesa de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
8/18
A Experienciado Mal
em
T.S.
Eliot
581
Se somarmos estedado,o facto o poemade Eliot,depoisde descrever
ambiente
ondrino,
crescentar
seguinte
ilogo
nigmtico:
"Aivi
algum
ue
onheciafi-Io
arar,ritando:
Stetson
Tu,
ue
stiveste
omigo
a
frotam
Mylae
Aquele
adver
ueplantaste
ano
passado
o
eu
ardim
J omecou
despontar?
er
ue
d flor ste
no?"23
ento,
simples
ircunscrigao
nterpretativa
e A Terra
Desolada
s.
urnamera
imagem otica
o vazio da
civilizac,o
ndustrial
nglesa
ica,
nosso
ver,
muito
limitada,
ois ogam-se
na
obra
questes
mais
ampias que
se
referem
anto
civilizado
ocidental,
ensada
omo
um
todo,
omo
prpria
orma
omo cada
umde nos vivetanto morte omoa esperanza. ecordemo-nosue,nao s as
almasdescritas
elo poeta
florentino,
os versos m
causa,
perderam
oda
espe-
ranza,
omo
a aluso
batalhahistrica e
Mylae
nao
,
na
circunstancia,
no-
cente.
sta batalha
martimaonstituiu
m
dos
pontos
e
viragem
istricos,
o
consagrar,
o sculo
II a.
C,
o dominio o
Imperio
omano obre
cartagins
a
primeira
as
guerras nicas
ravadas
elo
dominio
omercial o Mediterrneo.
Como
se
Eliot nos estivesse
lembrar fo de continuidade
xistente ntre
acto
fundador
a
civilizado
ocidental
a
constituido
o
Imperio
omano
e a
situaso
de
declnio
dessa mesma
iviliza^o,
mbos
marcadas
ela guerra
e-
vastadora.
Mas,
a
questo
potica
eguinte ermitempliar
contexto
a refle-
xaopotica: aquelecadver ue plantaste anopassadonoteu ardim come-
90U
a
despontar?
evidente
ue
esta
questo
macabra
nao visa
apenas
cho-
car-nos,
mas
suscitar
nossa
interrogado
obreo
colapso
de um
conjunto
e
cremas
ue
sustentavam
alma o sentir o Ocidente
obre
questo
a morte.
Para
compreendermos
sentido essas
crengas,
ebrucemo-nos
obre
ttulo
do
poema
de
Eliot,
The Waste
and,
A
TerraDesolada.
Para
um
eitor esatento
apenas
maisurna
metforantre
antas utras riadas
ela
imaginasao otica.
Ora,
o
prprio
utor
ue,
numadas suas clebres
otas,
os mostra contexto
religioso
m
que
podemos
ituar
poema.
Nao
s
o
ttulo,
mas tambm
plano
e
urna
rande
arte
o simbolismo
casional
do
poema
foram
ugeridos elo
li-
vrode Jessie . Weston obre lendado Graal:FromRitual o Romance"24.,
22
"Si
lunga
tratta i
gente,
h'io
non avrei mai creduto
he morte antan'avesse disfatta"
(Dante,
Inferno,
H
55-57);
"Quivi,
secondo che
per
ascoltare,
non avea
pianto,
ma' che di
sospiri,
he 'aura tema
facevan remare."
Ibidem,
V
25-27).
There
saw one
I
knew,
nd
stopped
him,
rying:
Stetson
You who were
withme
in
the
hips
at
Mylae /
That
corpse
you planted
ast
year
n
yourgarden/
Has it
begun
to
sprout?
Will
t
bloom
this
year?"
The
Waste
and,
w.
69-72)
24
'Not
only
the
title,
ut
the
plan
and a
good
deal
of
the ncidental
ymbolism
f the
poem
were
uggested
y
Miss
Jessie
. Weston's
ook on the Grail
egend:
From Ritualto Romance"
(Notes,p.68).
Discipula
de
Frazer,
Jessie
Weston sustenta
tese de
que
a
verdadeira
aiz do
mitodo Graal nao nemclticanemcrista,mas, sim,gnstica.Mais do que decifrar gnese
do
Graal
ou
deter-se
na
identidade
nstica
entre
alma e o
Uno,
Eliot interessou-se
ela
conexo
ritual stabelecida
or
Weston
entre sade
do Rei
e
o estado
da Terra. To sum
up
the
result f
the
analysis,
hold
thatwe have solid
grounds
or
he
belief
hat he
story ostu-
Revsta Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
9/18
582
Carlos
Joo Correia
logoa seguir, liot crescenta:Emtermoserais s minhas ividas ao tambm
para
urna
utra
brade
antropologia
ue
influenciou
rofundamente
nossa
ge-
ra^o;
refiro-me
The
Golden
Bough,
o
qual
usei em
especial
os dois volumes
Adonis
Attis,
siris"25 om
efeito,
temada TerraDesolada nao s constitu
um
dos smbolos
rivilegiados
o
imaginario
edieval m torno as lendasdo
Graal,
omo
o
seu sentido
rofundo
pode
ser cabalmententendido
luz
das
descobertas
e Frazer
obre s ritos e
vegetago
ntrnsecos
gnese
mediterr-
nica da
civilizaso
ocidental,
m
particular
a
sua obra
crucial,
The Golden
Bough
A
Rama
Domada).
Em
termos
stritos,
smbolo
Terra
Desolada
encontra sua raiz
profunda
namitologialtica. egundo tradigomtica, terra ornou-seesolada uan-
do
a
sacerdotisa
as
fontes oi violada
por
homens
rutais,
que
provocou
esterilidade
as
terras,
estiolamentoas
rvores,
defnhamento
e
tudo
que
era
vivo26.
as
lendasmedievais o
Graal,
temada TerraDesolada nova-
mente
etomadomas
num
ontexto
iferente.
eferimo-nos,
aturalmente,
o
ro-
mance,
nfelizmente
ncompleto,
e
Chretien e
Troyes,
ercevalou le Roman
du
Graal27,
nde nao s
surge, ela
primeira
ez na
literatura
cidental,
refe-
rencia
o
graal,
como se
explana
ideia de urna terra esolada.Em termos
sumarios,
romance elata-noss
aventuras e um
ovem Perceval), ngenuo,
mas
corajoso, ue
anseia,
cimade
tudo,
ornar-se
avaleiro,
al
comoo seu
pai,
e queumdia,as suasdeambulares,encontra mreino stril semvida,no
qual
habita m reiferido
doente,
onhecido omo
o
Rei Pescador.Esteltimo
recebe
jovem
e,
no momentom
que
conversavam
migavelmente
o
castelo,
o
jovem,
stupefacto,resencia
rna stranha
rocisso
e
criados,
ue
se
inicia
com um
dos
criados
evando
rna
anga
culmina omurna
ovem
donzela
egu-
lates close onnectionetweenhe
itality
fa certain
ing,
ndthe
rosperity
f
his
king-
dom;
the
forces
f theruler
eing
weakened
r
destroyed,y
wound, ickness,
ld
age,
or
death,
he andbecomes
Waste,
nd
he ask
f thehero s that
frestoration."
Jessie
. Wes-
ton,
rom itual oRomance
1920),
rinceton,
rinceton
niversity
ress,
993,
. 23).
'To another ork f
anthropology
am
ndebted
n
general,
ne which
as nfluenced
ourgenerationrofoundly;meanTheGolden ough; haveused speciallyhe wovolumes
Adonis,Attis,
siris:'
(Notes,68).
Cf. Sir James
George
Frazer,
The Golden
Bough.
A
Study
n
Magic
nd
Religion
1890),
Oxford/ova
orque,
xford
niversity
ress,
994.
Para
Eliot,
religio
a cultura stavam
imbioticamente
elacionadas. o
seu mais
mportante
nsaio
filosfico
Notes
Towards
he
Definition
f
Culture,
iz-nos: We
maygo
furthernd ask
whether hatwe call the
ulture,
ndwhatwe
call the
eligion,
f a
people
renot
different
aspects
f
the ame
hing:
he
ulture
eing,
ssentially,
he
ncarnation
so
to
speak)
f
the
religion
f a
people."
T.S.Eliot,
otesTowards
he
Definitionf
Culture
1948),
Londres/
Boston,
aber
nd
Faber, 962,
.
28).
Urna
variante
nteressantea historia
ertence
mitologia
rdica
-nos
elatada
o
filme
e
Bergman,
Fonte
da
VirgemJungfrukallan,959/60).
rna
ovem
brutalmente
violada assassinada,rovocando desesperoo pai que questionaeus;pormilagre,rna
fonte
rrompe
o exactoocaldo
crime.
27
Cf.o romancemverso e
Chretiene
Troyes,
e
Conte u
Graal
ou
e Roman e
Per-
ceval n
Romans, aris,
ibrarne
enrale
rancaise,
994,
p.
937-121
Revista Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
10/18
A
Experiencia do Mal
em T.S. Eliot
583
rando umgraal, urnaespecie de pratocncavo. Emboraprofundamententrigado
com
aquele espectculo,
o
jovem
nao se atreve
a
perguntar
ada com medo de
ser
indiscreto
ou inconveniente.
Quando,
no
dia
seguinte,
abandona o castelo
-lhe dito
que,
se
em
vez
de fcar
calado,
tivesse
questionado
o sentido de tudo
aquilo,
nao s o
rei se
curara
da sua
doen9a,
como
as
suas
terras,
gora
esteris,
se tornariam
ovamente
frteis cheias
de vida. Mas ele tinha
falhado,
ao nao
colocar
a
questo
decisiva, tornando-se,
ambm
le,
responsvelpor aquela
terra
estiolada,
murcha
ressequida28.
No
poema,
Eliot assume
claramente s dois motivos
mitolgicos
atrs
apon-
tados.
Em
primeiro ugar,
o tema
da
violaqao,
que
nos
surge,
no
poema,
ilustrado
pelo mitoda culturaclssica, Filomela. Num episodio terrvel, arradoporOvi-
dio29,
onta-se
a historia
da
seguinte
metamorfose:
rei de
Atenas,
pai
de duas
flhas,
fereceu
urna
dlas,
de nome
Procne,
ao rei da
Trcia, Tereu,
Desse
casa-
mento
nasceu
um
flho,
tis. Mas
Tereu,
enlouquecido
de
desejo pela
sua cunha-
da,
Filomela,
violou-a, cortando-lhe,
m
seguida,
a
lingua, para que
eia nunca
pudesse
revelar
o
crime.
Mas,
a
rapariga
consegue,
atravs
de
um
bordado,
rela-
tar
sua
irm
tudo
o
que
lhe tinha sucedido.
Procne
decide, ento,
vingar-se,
depois
de
matar
o
seu
proprio
filho,
d-o
a
comer
ao
marido,
em
que
este ltimo
suspeitasse
de
nada.
Fogem
as
duas
mas sao
perseguidas
por
Tereu
que
as
pro-
cura
matar.
Quando
se sentem
perdidas,
as
j
ovens
imploraram juda
aos deuses
que, condodos com a sua sorte, s transformamm pssaros30.No poema a re-
ferencia
este
mito
directa:
"A
metamorfose
e
Filomela,
elo
brbaro
ei
To
brutalmente
iolentada;
o
entanto,
li
o rouxinol
Enchia
odo deserto
om
voz inviolvel
E eia continuava
gritar
e o
mundo ontinua
empre
Chac
Chac
a ouvidos
mundos."31
28
Na versao omntica
o
mito
Parsifal),
laborada
or
Wagner partir
o texto
medieval
de
Eschenbach
Parzival), guardio
o
Graal, mfortas,
ofre
e urna enda
ue
apenas
ode
sarar
e for
ocada om
lanca
agrada.
ssa
fenda o
corpo
r ev-lo
desejar
sua
prpria
morte, as salvo,nextremis,elo avaleirongnuoinocenteParsifal).
Ovidio,
Metamorfoses,
ivro
I,
426 e
sgs.
as
diferentes
erses
este
mito a
Antiguidade
lassica,
s metamorfosesas
rapan-
gas
em
pssaros
ao
geralmente
ssociadas
urna ndorinha
a
um rouxinol.
a versao e
Ovidio,
nfere-se
ue
Procne
oi ransformada
m
andorinha;
outras erses
o
mito,
Filo-
mela
ue
assume
ssa
sorte
cf.
Apolodoro,
iblioteca
II, 14,8;
Conon,Narrationes,
1);
T.S.
Eliot
oga
com
esta
mbiguidade,
a medida
m
que
est nteressado
m
perspectivar
trans-
mutaco
a
"noite a
alma"
eja
num elo anto
rouxinol)
eja
na "Primavera"
andorinha).
"The
change
f
Philomel,
y
the arbarous
ing/
o
rudely
orced;
et
herehe
ightin-
gale/
illed
ll the esert
ith nviolable
oice/
nd till
he
ried,
nd
still heworld
ursues/
'Jug
ug1
o
dirty
ars."
The
Waste
and,
w.99-103).
Numa
utra
assagem
a
Terra esola-
da,o tema novamenteetomado:Twit witwit/Jugug ug ug ug ug/So udelyorc'd./
Tereu."
The
Waste
and,
w.203-206).
Na terra
esolada,
mesmo beleza o
canto
escutada
como
e fosse
m
grasnar
orrivel
Jug).
Harriet
avidson onsidera
ue
a cenade
Filomela
no
poema
de Eliot
deve
ser
ntendida
omo
a
expresso
o
fascinio
ela
efemeridade
pela
Revista Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
11/18
584
Carlos
Jo
A Correi
Torna-se, agora, inteligvel um dos momentos finis do poema, quando
enigmaticamente
poeta
nos
diz:
"Quando
fiam
uti chelidon
Quando
que
serei como
a
andorinha?].
andorinha
ndorinha"32
Em
todas estas
passagens,
desde a
imagem
mtica
da
fonteda
virgem
ando-
rinha
ue
retorna a
Primavera,
ncontramos ideia de
urna
spiragao
ansiosa do
poeta
por
um
novo ciclo de
vida
que
faga
transmutar
experiencia
da dor
e
do
mal em
vida
recriada.
A
ligago
com
o tema da
terra desolada do
ciclo do
Graal
obvia,
pois
possvel surpreender
mesma
imagem
de
urna vida inter-
rompida,
de
urna
ferida
do
espirito ue
espera
avidamente
pela
sua
cura e
regene-
ragao,que apenas urnapergunta ibertadora ode proporcionar.dentificando-se
com o Rei
Pescador,
diz
o
poeta:
"Sentei-me a
margem
A
pescar,
om
planicie
rida trs e mim
Porei,
o
menos,
s minhas errasm
ordem?"33
O dilema
com
que
o
poeta
se debate
,
a
nosso
ver,
o
seguinte:
a
civilizago
ocidental,
as diferentes
rengas
que
a
percorrem,
oube
sempreconjugar
a noite
e
o
dia,
o Outono
e
a
Primavera,
Sexta-feira e dor e o
Domingo
de
libertago,
a
morte
a
ressurreigo,
que,
no
limite,
ermitia ntegrar
s dimensoes
negati-
vas
da
vida,
como sao a mortee a
dor,
no
mbito
de um
ciclo revitalizador
da
existencia. O mal
radical
surge,
neste
contexto,
omo
a
interrupgo
esse
ciclo,
como a
feridada alma
que
nao
permite ue
o
espirito
prossiga,
sendo
a
imagem
mtica da terra
desolada um dos
seus smbolos mais
perfeitos.
Se
o
poema
mudanca:But
her
Filomela]
ranscendancef violences
not
ternal:
er inviolableoice' s
changed
nto
'Jug ug'
o
dirty
ars,
s the hain f
transforming
esire
eaves
othing
nvio-
late,
othing
tatic."
H.Davidson,
Reading
he
Waste and
"
in
The
Cambridgeompanion
to
T.S.Eliot,
d.
de
A.D.Moody,
ambridgeniversity
ress, 994,
.
129).
A
passagem
atina
rovm
e
poema
nnimo
atino
ue
celebra
chegada
a Primave-
ra
e de
Vnus,
deusa
do
amor,
ntoado m
erimniasituaisa Roma
ntiga:
Adsonat erei
puella ubtermbramopuli/ tputesmotusmoris redicimusico/tneges ueri ororem
de
marito
arbaro./Illa
antai,
os
tacemus.
uando
ver
venit
meum?/Quando
iam ti heli-
don,
t acere
esinam?/erdidi
Musam
acendo,
ee
mePhoebus
espicitV
ic
Amy
las,
um
tacerent,
erdidit
ilentium."
Pervigiliumeneris) "A
virgem
e
Tereus anta sombra o
choupo,
e
tal
modo
ue pensaras
ue
trilos
e
amor airiama sua
boca e no
queixa
urna
irm
ue
tem m
marido arbaro.
ia
canta,
os
estamos
ilenciosos.
uando
que
a minha
Primaveraira?
Quando
que
serei
orno andorinha deixarei
e estar
ilencioso?
erdi
minhamusa m
silencio
Febo
Apolo)
no me
olha."]
Ressoam
os versos
e
Eliot,
utros
temas
oticos
imilares
a
literatura
nglesa:
Swallow,
my
ister,
sister
wallow,
How
an
thine eart
e
full
f
pring?",
erso o
poema
e Swinburne
1838-1909),tylus1866),
nde
o tema
a
metamorfosee
Filomela directamente
bordado
Swinburne's
ollected oetical
Works,ondres, einemann,924, 54); "O Swallow,wallow, lying,lyingouth."Ten-
nyson1809-1892],
he
rincess:
Medley1847), ondres, acmillan,891).
33
"I
sat
upon
he
hore/
ishing,
ith
he
rid
lain
ehind
me/
hall
at
east et
my
ands
in
order?"
The
Waste
and,
w.
423^25)
Revista
Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
12/18
A
Experiencia do Mal em
T.S.
Eliot 585
urna atarse a experienciaomal, naturalueele traduzaonstantementesi-
tua^ao
de
algum,
u
de urna
ultura,
ue
se
ve
perdida
o
mais
negro
bismo
se
pergunta
omo
propiciar
surgimento
e um novo ciclo de vida. Em
grande
medida,
questao
de Eliot
a
mesma
ue
o realizador
usso,
Andrei
arkovski
coloca no seu
ltimo
ilme,
Sacrificio34.
estanarrativa
inematogrfica,
n-
contramos
rna
meditalo
em torno
e urna
ntiga
enda
que
conta historia e
algum ue
encontrou
rna rvore stiolada sem
vida,
mas
que
decidiu
eg-la,
todos s
dias,
om
um
pouco
de
agua,
t
que,
subitamente,
ia
refloresceu.
as,
no
desespero
o
poeta,
le
pergunta-se
e
na noite
m
que
vive,
eja
eia
pessoal
ou
civilizacional,
al
esperanga
em entido.
ai
que
a
interrogasao
hocante
o
poema, trs ssinalada,lcanceurna ovadimensao:Aquelecadver ueplan-
taste
ano
passado
no
teu
ardim
come^ou
despontar?
er
que
d flor ste
ano?"
Da mesmaforma
ue
a
personagem
entral o
Sacrificio
r
ser
conside-
radaum
untico,
liot
nterroga-se
e
nao
chegmos
um
ponto
m
que
a mera
reiteratalo
e
cren^as
undanteso Ocidente
ao se tornaro
xpresso,
os nos-
sos
ouvidos,
e
pura
nsanidade ental.
Neste
contexto,
ompreende-se
impacto
da
obra
de
Frazer,
The Golden
Bough,
obre
TerraDesolada
de Eliot.Relembremos
ponto
e
partida
o
an-
troplogo
scoces,
tendo orno
eferencia clebre
uadro
de
Turner,
Rama
Domada55.
egundo
razer,
a
Antiguidade
lssica,
existia m rito
ruel,
mas
decisivo ara e compreenderconjuntoecrengasuemarcaramconstituigao
da
cultura cidental.
ratava-se a recolha
itual e um
ramo,
ssumido omo
sendo
de
ouro,
na
rvore e
um
bosque
sagrado
a
deusa
Diana,
a
deusa
virgem
e
selvagem
as
florestas.
ra,
em voltadesta rvore
special,
dedicada
deusa,
rondava
m sacerdote
uja
tarefa onsista m
preservar
om a
sua
prpria
ida
aquele
ramo
nigmtico.
ste
sacerdote,
scolhido
abitualmente
ntre s
escra-
vos
ou
gladiadores,
ao
tinha em
um nstantee descanso
u
tranquilidade,
ois
haveria e
chegar
momento
m
que, por
desatengo,
lgum
assassinaria
tomara
seu
lugar.
Como nos
mostra
razer,
ra esta
a
regra elvagem aquele
34"[...] l'antiqueegende e lapatiencee l'arbreec, elle-lmme ue 'ai prise omme
axe
de mon
film,
e
plus
mportant
mes
yeux
e
toute
ma carrire.
n
moine,
as
aprs as,
seau
prs
eau,
vait rros
n arbre essch
ur e sommet
'une
olline,
ans
amis
douter
de
la ncessit
e
ce
qu'il
ccomplissait,
i
perdre
n
seul
nstantonfiance
n a vertumiracu-
leuse
e sa
foidans
e Crateur.
t
c'est
ourquoi
l
avait onnu
e miracle:
n
beau
matin,
es
branches
'taient
ouvertes
e
feuilles,
'arbre
vait etrouv
a vie."
Andrei
arkovski,
e
Temps
cell.
e V
Enfance
'lvan u
Sacrifice',
rad,
ranc.,
aris,
ditions
e 'toile/
ahiers
du
cinema,
989,
.210).
No
enredo o
filme o cineasta
usso,
ealizado
m
1986,
onta-se
historia
e
urnafamilia
ue
subitamentee
confrontaom
a
noticia
a eclosoda terceira
guerra
undial.
stanoticia
pocalptica
vivida
or
cada
personagem
iferentemente,
esta-
cando-se
lexander
ue promete
Deusrenunciar
tudo,
mesmo o
que
he mais
uerido,
e
a guerraorvitada.
35
Pinturae
Turner,
he
Golden
ough
1834),
na
qual
se
representa
rna
ovem
Sibila)
acenando
m
ramo e
ouro
para
um
conjunto
e
pessoas
ue
se mantem
ndiferentes,
rnas
dancando,
utras escansando.
Revista Portuguesa
de
Filosofa,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
13/18
586
Carlos Joo Correia
santuario: posto acerdotal tambmuriosamentettulo e Rei so se po-
deria bter ssassinando sacerdote
nterior.
e esteritual os
parece,
num
pri-
meiro
momento,
omo
urna
xcep9ao
brbara
o
seio
da
civiliza9o
clssica,
pode-se,
o
entanto,
urpreender
eleurna
onvicgo
niversal
eligiosa
a nossa
civiliza^o
que
se
resume a
ideia de
um
sacrificio
omo forma e
proporcio-
nar
urna
evitalizasao
a
existencia
da
vida.
Na
base desta
ren9a,
ncontra-se
intu9ao
entral e
Frazer,
egundo qual
os nossosmitos ao
sao
maisdo
que
a
tradu^ao
e
um
paralelismo
ncontrado
ntre,
or
um
ado,
morte
a
ressurrei-
go
dos
deuses, ,
por
outro,
s ciclo e os ritmos
egenerativos
a vida
e da
natu-
reza,
m
particular,queles
que
se
descortinan
a
revitalizaQo
as
plantas
pe-
sar da sua semente er acada nosabismos a Terra. ao variosos mitos as
renlas
eligiosas
ue
do
corpo
esta deia:
o mitos
e
Adonis
na
Siria Grcia
antigas,
e Osrisna
civiliza9o
gipcia,
e
Persfone de Demter
Ceres)
nos
misteriose
Eleusis,
do
Crepsculo
os Deuses
Ragnarok)
a
mitologia erm-
nica,
da
morte
ressurreigo
e Cristo
a
religio
rista.
que,
em
momentos
de
desespero rofundo,
cren9a
na
vitalidade
esteciclo
abalada,
surgindo,
assim,
imagem
e reis
doentes,
mpotentes,
resos
eja
a
urna erra stril
omo
o
Rei Pescador u a
urna
idade ssolada
ela peste
omo Tebas
do
Rei
dipo.
A tese
que
sustentamosncontra rna
omprova9o ritante
a
epgrafe
ue
Eliot
scolheu
ara
The Waste and.
Trata-se
e um
excerto m atim a obrade
Petrnio,atyricon,propsitoe urna ersonagemamitologiaomana onhe-
cida
como
a
Sibila de Cumas.
Segundo
onta
o
mito,
ibila
solicitou
o seu
amante,
polo, ue
lhe
concedesse
rna ida
muito
onga,
squecendo-se,
o en-
tanto,
e
reclamar
juventude.
ssim,
medida
ue
envelhecia a
ficando
ada
vez
mais
ressequida
carcomida um
ponto
al
que
foi
prisionada
uma
aiola.
neste ontexto
ue surge
frase e
Petrnio,
itada
por
Eliot como momento
inaugural
e
A
TerraDesolada:
"Porque
u
vi
com os meus olhos
a
Sibila de
Cumas
presa
numa
aiola
e
as
criabas
perguntavam-lhe:
O
que
que
tu
queres,
Sibila?
Eia
responda:
Quero
morrer"36.
ste
inegavelmente
ponto
e
par-
tida
do
poema,
situa9ao
e
algum
ue perdeu
oda
esperaba
num
iclo
revi-
talizador,araquem
nao h
morte emvida.E o
poema,
omoum
todo,
ons-
titu mrito atrtico redentorestamesma erida m
que
a alma se sente eso-
lada,
procurando
efugio aconchego
a
raiz do
seu
prprio
esespero.
ai
os
belosmas
trgicos
ersos
niciis
o
poema:
"Abril
o msmais
ruel,
erando
Lilases a terra
orta,
isturando
Memoriao
desejo, gitando
Razes nertesom chuva aPrimavera.
36
"Nam
ibyllamuidem
umis
go
pse
culis
meis
idi
n
mpulla/endere,
t um
lli
pueri
icerent:
iPuXa
i
0ei
espondebat
lla:/
crcoGaveiveA)"
"The
Waste and" n
Selected
oems,
.49).
f.
etronius,
atyrcon,
d.
Mller,
unique,
9833,
.
48).
Revista Portuguesa de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
14/18
A Experiencia
do
Mal em
T.S.
Eliot
587
O Invernomanteve-nosuentes,obrindo
A terra om nevedo
esquecimento"37
Neste xcerto ncontramos
expresso
e
urna ida
desolada,morta,
imbo-
lizada tanto
ela
neve do
esquecimento,
omo
pelo
facto
e
toda
a
revitalizaco
ser sentida
omo
cruel,
m
que
nao
h
lugarpara
a
distinco ntre
passado
("memoria")
o
futuro
"desejo").
O
mes de
Abril,
momento
or
excelencia os
ritos
de
fertilidade,
e
consagraco
a
luz,
nao d
lugar
vida,
pois,
com
efeito,
ergunta-se
poema,
uma
assagem parcialmente
itada:
"Que
razes e
prendem,ue
ramos rescem
Neste
ntulho
edregoso?
ilho
do
homem,
Nao consegues izer, em divinhar,oisconhecespenas
Um
montao e
imagens uebradas,
nde
bate
Sol,
E
a
rvoremorta
ao d
qualquer brigo,
em
grilo rgua,
E a
pedra
eca nenhumom
de
agua.Apenas
H
sombra
ebaixo esta
ocha ermelha
(Anda,
em
para
sombra esta ocha
ermelha),
E vou mostrar-te
rna oisa ao mesmo
empo
iferente
Da tua ombra
uando
o
amanhecere
egue
E da tua ombra
uando
o entardecere
enfrenta;
Vou-temostrar
medonum
unhado
e
poeira."38
Seria,
no
entanto,
edutor
ensar que
o
poema
de
Eliot se
esgota
num mero
diagnsticode urnacrise,seja esta ltima entendida m termospessoais ou civi-
lizacionais.
Sem
dvida
que
o autor
brilhante,
a sua ironia
mordaz,
em criar
personagens
e situaces
que
traduzem o vazio
e
o
cinismo de urna
cultura
que
deixou
de
acreditar
em si mesma.
E, assim,
encontramos divertida
Madame
Sosostris,
cartomante
e
Tarot,
que
bem se esforca
por
encontrar carta
perdida
do
"Enforcado"
-
smbolo do
rei
que
se
sacrifica em nome da revitalizaco
do
mundo
,
mas
que
nao
mais do
que
a
tpica
adivinha
de
pacotilha
que
transfor-
ma
a forca
a
riqueza
dos smbolos
de
urnaculturanuma
arte
superficial
e con-
jecturas:
"Madame
osostris,
idente
amosa,
Estavamuitoonstipada,oentanto
Passa
por
er
mais abia
mulher
a
Europa,
Com
ummaldito
aralho
e
cartas.
...]
37
"April
s
the rudest
month,
reeding/
ilacs ut
f he ead
and,
mixing/ emory
nd
desire,
tirring/
ull roots
with
pring
ain./
inter
ept
s
warm,
overing/
arth
n
forgetful
snow"(77zi?
aste
and,
w.1-6)
"What re
he oots
hat
lutch,
hat ranches
row/
utof this
tony
ubbish?on of
man/
ou
cannot
ay,
r
guess,
or
ou
know
nly/ heap
ofbroken
mages,
here he un
beats/
nd
the ead
ree
ives
no
shelter,
he ricketo
relief/
ndthe
ry
tone
o sound f
water./nly/here s shadow nder his edrock/(Comen under he hadow f this ed
rock)/And
will how
you
omething
ifferentrom
ither/our hadow
t
morningtriding
behind
ou/
r
you
hadow
t
evening
ising
omeet
ou/
will how
you
fearn
a
handfulf
dust"
The
Waste
and,
w.
19-30)
RevistaPortuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
15/18
588
Carlos Joo Correia
No encontr
O Enforcado.
enha
medoda morte
ela
agua.
Vejo
multidoes
e
gente,
caminharm
crculo.
Obligada.
e
vir
querida
r3
quitone,
Diga-lhe ue
eu
prpria
evoo
horscopo"39
Sao
igualmente
famosas as
passagens
do
poema
em
que
o autor denuncia
as
cenas
da
vida
conjugal,
assim como as formas steris
de
relacionamento
ntre
os homens e as
mulheres,
mbas marcadas
pela
manipulaco,
pelo
poder,
mas,
acima de
tudo,
pelo
vazio. Como
estamos
longe, pergunta-se
liot,
da
paixo
in-
finitade
Tristo
e
Isolda,
mito centralda civilizaco
ocidental
que
o
poeta
cita
directamentem alemo do libretode Wagner40.Mas, "desolado e vazio est o
mar"41
,
em vez
do amor
pujante
entre
dois seres
que
entrelacamna morte
seu
destino,
que
temos?
Os meuservos stomalesta
noite.
im,
mal.
Fica
comigo.
Fala
comigo.
or
que
que
nunca
alas? ala.
Em
que
ests
pensar?
pensar
que?
O
qu?
Nunca ei no
que
ests
pensar.
ensa.42
Ou
ento,
mera
relacao
superficial,
azia,
malquerida:
"A
dactilgrafa
mcasa hora
e
cha,
evanta
pequeno-almoco,
cende
O
fogo,
pe
na mesa
omida e conserva.
...]
EuTirsias, elhode tetasmitradas,
Entendi cenae adivinhei
resto
Tambm
u
aguardava
visitante
revisto.
Ele
chega,
ovem
arbunculoso
...]
Afogueado
decidido,
assa
acco;
As
mos
ntrometidaso encontram
efesa;
A
vaidade elenao
exige
etribuico
E das as
boas-vindas indiferenca
(E
eu
Tirsias
penei
udo sto
Representado
este iva
ou
cama;
...]
Eia
volta-se v-se o
espelho or
um
momento,
Mal se dando onta equeo amante artiu;
39
Madame
osostris,
amous
lairvoyante/
ad a
bad
cold,
nevertheless/s
known
o
be
thewisest
oman
n
Europe,
With
wicked
ack
f
ards.
.
]/I
o
not
ind/The
anged
Man.
Feardeath
y
water./I
ee
crowds
f
people,
walking
ound
n
a
ring/Thankou.
f
you
see
dear
Mrs.
quitone/Tell
er
bring
he
oroscope yself
The
Waste
and,
w.43-58).
"Frischweht
er Wind/
er
Heimat
u/Mein risch ind/
Woweilest u?"
["O
vento
sopra
rescom
direcco
casa;
minha nanca
rlandesa
o
que
que
ests
espera?"]
The
Waste
and,w.31-34).
Cf.
Wagner,
ristan
nd solde
Acto.
a e
2acena.
41
'Ved' und eerdas Meerr
The
Waste
and,
y
AT).
Cf.
Wagner,
ristan
nd solde
II
Acto,acena.42
'My
nervesrebad
to-night.
es,
bad.
Stay
with
me./
Speak
o
me.
Why
o
you
never
speak.
peak./
What re
you
thinking
f?What
hinking?
hat?/I
never now
what
ou
re
thinking.
hink.'
The
Waste
and,
w. 111-1
4).
Revista
Portuguesa de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
16/18
A
Experiencia do Mal
em
T.S. Eliot
589
Deixaumpensamentonacabado ir-lhe mente:
Bern,
gora
stfeito: aindabem
ue
acabou.43
A
figura
mitolgica
de Tirsias
desempenha
um
papel
crucial no
poema, pois
eie
,
para
Eliot,
a
expresso
da
humanidade
na
sua
dupla
faceta masculina e fe-
minina. Com
efeito,
no
mito
clssico,
Tirsias
que
experienciou
sucessivamente
a condico
de homem e
mulher,
condenado
cegueira pelos
deuses,
embora
Zeus,
num acto
de
compaixo,
tenha,
no
limite,
transmutado
privaco
numa
viso
superior44.
ai
que
ele
se tenha
tornado,
para
a
cultura
lssica,
o
smbolo
do vidente
por
excelencia,
aquele
que
alerta
dipo para
as raizes da
peste
devas-
tadora.
Mas
agora
temos
um
Tirsias
de tetas
enrugadas,
urna humanidade
envelhecida que esconde em gestos mecnicos a indiferenca dos seus actos.
Estamos,
assim,
em face de
urna
humanidade
cativa na terra
desolada,
na
pura
experiencia
do
mal,
que,
tal
como na
cena
bblica,
apenas
se
pode
lamentar:
"Juntos
aguas
do
Leman
entei-me
chorei..."45
E,
no
entanto,
na
ltima
sec^o
do
poema,
Eliot
transmuta
desespero
em
esperanca.
Num
primeiro
momento,
escutamos
novamente
a
voz do
desespero
numdos
momentos
mais
intensosde The
WasteLand:
"Aqui
nao existe
gua
mas
penas
ocha
Rocha
nao
agua
e
a
estrada renosa
Serpenteandooaltopor ntresmontanhas
Que
sao montanhas
e rocha em
gua
Se
houvesse
gua parvamos
bebamos
No
meiodas rochas
ao se
podeparar
u
pensar"46
43
"The
ypist
ome
t
teatime,
lears
er
reakfast,
ights/
er
tove,
nd
ays
ut
food
n
tins.
...]/
1
Tiresias,
ld
man
withwrinkled
ugs/
erceivedhe cene
nd
foretold
he est/
too
awaited
he
xpected uest./
e,
the
young
man
carbuncular,rrives,
...]/
Flushed
nd
decided,
e
assaults
t
once;
Exploring
ands ncounter
o
defence;
is
vanity
equires
o
response,ndmakes welcomef ndifference./(AndTiresias aveforesufferedll/ nacted
on this ame
divan r
bed;/
he
turnsnd ooks
moment
n the
glass/Hardly
ware
f her
departed
over;/
erbrain
llows
nehalf-formed
hought
o
pass:/
Wellnow
that's
one: nd
I'm
glad
t's ver.'"
The
Waste
and,
w.222-252).
Ovidio,
Metamorfoses,
ivro
II w.316 e
sgs.;
Tiresias,
lthough
mere
pectator
nd
not ndeed
'character1,
s
yet
hemost
mportant
ersonage
n
the
poem, niting
ll
the
est.
[. ]
What iresias
ees,
n
fact,
s the ubstancef
he
oem."
Notes,
.218,
.70).
45
"By
the
watersfLeman
satdown
nd
wept..."
The
Waste
and,
v.182).
Leman o
nome
rancso
lago
na Suca
que
ficava
erto
a
instituico
siquitrica
m
que
Eliot
steve,
no
anode
1921,
nternado
or
depressa
ervosa.
passagem
blica
ue
ecoa
naturalmente
o Salmo
7:
Nas
margens
os
ros a
Babilnia,
entmo-nos
choramos"
Salmos
7:
).
"Here snowater ut nly ock/ ock ndno waternd he andyoad/ heroadwind-
ing
above
mong
hemountains/
hich re mountains
f rock
without ater/f there ere
water
e
should
top
nddrink/
mongst
he ock
necannot
top
r hink"
The
Waste
and,
w.33
1-335)
Revista
Portuguesa
de
Filosofia,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
17/18
590
Carlos Jo
A
Cor
re
A taldesespero,Eliot contrapeumnovo smbolopoticoque d, alias, ttulo
a
esta
sec^ao
do
poema:
O
que
disse
o
Trovo. Este trovo
claramente
voz
divina,
como se deixa adivinharna
conhecida
raiz
indo-europeia
da
palavra
deus
que significa
iteralmente cu
brilhante,
nquanto expresso
da
luz
intensa e
do tro
ejar que
acompanha
a
ecloso dos
relmpagos.
A
presenta
de
Deus,
mesmo
que pressentida
na
Sua
ausencia,
constitu o
poema
a
voz
que
nos
redime:
"Quem
o
terceiro
ue
caminha
empre
teu
ado?
Quando
onto,
estamos u
eu
Mas
quando
lho diante a estrada ranca
H sempreutro aminhando teu ado,
Deslizando nvolvido ummanto
astanho,
mbucado
No sei se homem
u mulher
-
Mas
quem
esse do outro ado de ti?"47
O
que
disse o
Trovo
, assim,
a voz
da
sabedoria divina
que
Eliot
vai sur-
preender
m
textos
sagrados,
no tantoda culturaocidental mas
do
Oriente,
m
particular
nos
Upanishads4*.
egundo
reza
a
lenda
indiana,
em face do mesmo
som
DA,
os
humanos,
os
demonios
e
os
deuses escutam sons
diferentes,mas,
todos
eles,
decisivos
na
libertago
da
experiencia
do mal.
E
utilizando
palavras
do
snscrito,
lingua sagrada
da cultura
vdica,
o
poema
de Eliot
diz-nos,
em
tresmomentos ruciais:
1
"Ento alou trovo
DA
Datta: o
que
demosnos?
Meu
amigo,
sangue ue
faz
mover meu oraco
A
tremendausadiade um
nstantee ousadia
Que
urna rade
prudencia
ao
pode
revogar
Por
sto,
s
por
sto,
emos xistido"
47"Who sthe hird howalks lways eside ou?/When count,herere nlyyou nd
together/
ut
when
look head
p
thewhite oad/ here
s
always
nother
ne
walking
eside
you/ liding
rapt
n a brown
mantle,
ooded/do notknow
whether
man
r womanABut
who s that
n the ther
ide
of
you?"
The
Waste
and,
w.359-365).
T.S.Eliot,
a
nota o
verso
60,
relata
facto
ue
inspirou
sta
assagem:
The
following
ineswere timulated
y
the ccount f
oneof he
Antarctic
xpeditions
I
forget
hich,
ut think
neof
Shackleton's):
it
was related hat he
party
f
explorers,
t the
xtremity
f their
trength,
ad the onstant
delusionhat
here asone
morememberhan
ould
ctually
e
counted."
Notes,
.360,
.73).
Mas evidente
influenciaa
passagem
blica m
que
Jesus,
essuscitado,
parece,
o
cami-
nho
e
Emas,
dois
discpulos
So
Lucas,
4:1 e
sgs).
'The
fable f
the
meaning
ftheThunders
foundn
the
Brihadaranyaka
panishad,
5,1."Notes,.401, .73).Eliot aseia-se apassagemoBrihadaranyakapanishad ,cap-
tulo
(As
tres
randes
isciplinas)
m
que Parajapati
"senhor
as
criaturas")
nsina s deu-
ses,
os
homens os demonios
controlarem-se,
serem
enerosos
compassivos.
egundo
este
Upanishad
esmo
oje,
o som
o trovo
DA),
se
pode
scutar
sse nsinamento.
Revista
Portuguesa de
Filosofa,
57
(2001),
575-591
This content downloaded from 129.100.58.76 on Mon, 21 Dec 2015 19:16:44 UTCAll use subject to JSTOR Terms and Conditions
http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsphttp://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot
18/18
A
Experiencia do
Mal em
T.S. Eliot 591
2. "DA
Dayadhvam:
uvi
chave
Voltar-se
rna
ez na
porta
so urna ez
Nos
pensamos
a
chave,
ada urna a
sua
priso
Pensando
a
chave,
ada umconfirmasua
priso"
3.
"DA
Damyata:
O
barco
espondeu
Alegremente
mo
experimentada
a vela e
no remo
O mar stava
almo,
teu oraco
eria
espondido
Alegremente
o
convite,
atendo bediente
s mos
que dirigem."49
No mundoda terradesolada, tressimples palavras ecoam, aquelas que, se-
gundo
Eliot,
nos
permitem
entir
experiencia
da liberdade o
sopro
do
espirito.
Datta,
literalmente
d ,
isto
,
perde-te
no
dom e na
generosidade,
mesmo
que
os olhos
da
prudencia
no saibam
decifrar i
a
raiz do teu
ser;
Dayadhvam,
lite-
ralmente
tem
compaixo ,
numa
palavra,
nao
te enclausures
em ti
prprio
e,
finalmente,
amyata,
controla-te ,
nao
disperses
a
mente mas
concentrao
es-
pirito
em
cada
um
dos
teus
gestos.
A
generosidade, compaixo
e
a concentra-
co
sao,
assim,
os
tres
pilares
divinos
da sabedoria libertadora
a Terra Desola-
da,
sem os
quais
nunca
ser
possvel
encontrar
paz
que ultrapassa
o entendi-
mento
(Shantih).
E
com
as
seguintespalavras
finis termina
The Waste
Land,
rematando rito atrtico ue constitu odo o poema:
"Datta.
Dayadhvam.
amyata.
Shantihhantih
hantih"50
49
'Then
spoke
he
hunder/
A/Datta:
what
avewe
given?/ y
friend,
lood
haking
my
heart/
he awful
aring
f
a moment's
urrender/
hich n
age
of
prudence
an never
retract/
y
this,
nd his
nly,
e have xisted
. ]
DA/
Dayadhvam:
have
heard he
ey/
urn
nthe oor nce
nd urnnce
nly/
e think
of
he
ey,
ach
nhis
person/
hinking
f
he
ey,
ach onfirms
prison
. ]
DA/Damyata: he boatresponded/aily, othehand xpert ith ail andoar/ he sea
was
calm,
our
eart
ould
have
responded/
aily,
when
nvited,
eating
bedient/
o con-
trolling
ands"
The
Waste
and,
w.400-422).
50
The
Waste
and,
w.432-433.
Revista
Portuguesa de
Filosofia,
57
(2001),
575-591