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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA JANE DA SILVA VIEIRA LEITE A TIRINHA: GÊNERO NORTEADOR DO ENSINO DE LÍNGUA PombalPB Dezembro de 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

JANE DA SILVA VIEIRA LEITE

A TIRINHA: GÊNERO NORTEADOR DO ENSINO DE LÍNGUA

Pombal– PB

Dezembro de 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

JANE DA SILVA VIEIRA LEITE

A TIRINHA: GÊNERO NORTEADOR DO ENSINO DE LÍNGUA

Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distancia da

Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a

obtenção do grau de Licenciado em Letras.

Prof.ª Maria Dnalda Pereira da Silva.

(Orientadora)

Pombal - PB

Dezembro de 2013

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JANE DA SILVA VIEIRA LEITE

A TIRINHA: GÊNERO NORTEADOR DO ENSINO DE LÍNGUA

Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância da Universidade Federal da Paraíba, como

requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Letras.

Data de aprovação: ____/____/____

Banca examinadora

______________________________________________________________________

Prof.ª Maria Dnalda Pereira da Silva

Orientador

______________________________________________________________________

ProfªDrª Iara Ferreira de Melo Martins

Examinador

______________________________________________________________________

ProfªMarluce Pereira da Silva

Examinador

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RESUMO

Atentando para o desafio da escola em formar leitores competentes e, sabendo das

dificuldades encontradas pelos alunos e por professores no que diz respeito ao o estudo de

textos em sala de aula, pretendemos destacar a importância de se trabalhar com o gênero

tirinha como suporte para subsidiar o ensino de língua, de forma contextualizada e

coerentemente dentro de uma proposta interdisciplinar sendo articulada entre as diversas áreas

de conhecimento. Enfatizamos que a utilização de gêneros textuais em sala de aula pode

possibilitar um envolvimento maior dos alunos por sentirem-se mais instigados pela gama de

textos que podem ser abordados, bem como para o professor para refletir sobre suas próprias

práticas pedagógicas frente aos avanços educacionais. Trata-se de um trabalho que deve

acontecer com mais frequência e paulatinamente, visto que requer empenho no planejamento

das atividades. Neste contexto, no presente artigo, temos por objetivo trazer uma reflexão

quanto ao uso da tirinha em sala de aula, por meio do qual o professor estará contribuindo

para o aprendizado dos alunos de forma prazerosa. Assim, propomos algumas ações que

venham ampliar o conhecimento dos alunos em relação aos gêneros textuais, em especial a

tirinha, bem como ajudá-los na identificação das características e funcionalidades dos

mesmos, melhorando seu poder de leitura, como também de produção e interpretação de

texto. Desta forma, nossa pesquisa permite levar à escolauma reflexão sobre sua contribuição

para a construção dos diversos saberes, visando o desenvolvimento das habilidades e

competências que envolvam a leitura. Em nosso estudo, percebemos que o aluno poderá

caminhar adiante na conquista de sua autonomia no processo de aprendizado em relação à

leitura ao se trabalhar com os gêneros textuais. Dessa forma, nosso trabalho poderá levar

estudiosos da área e professores a refletirem sobre os gêneros textuais na perspectiva aqui

adotada,de forma a levá-los a refletir sobre suas próprias práticas pedagógicas frente aos

novos avanços educacionais.Para tanto, tomamos por aportes teóricos estudiosos como

Bakhtin, Zinani, Marcuschi, Dell’isola, Bronckart, Shneuwli,Bazerman dentre outros que

abordam em suas teorias os gêneros textuais, bem como destacam sua importância e

funcionalidade no ensino da língua materna, uma vez que realizamos uma pesquisa

bibliográfica de cunho qualitativo.

Palavras chave: gêneros textuais, ensino, língua materna

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho com leitura e interpretação dos gêneros textuais na escola tem sido uma

grande preocupação para professores de língua portuguesa, pois, a cada dia torna-se mais

importante que os alunos consigam realizar leituras mais profundas e menos mecanizadas.

Além disso, bem como aumentam as dificuldades em se realizar um trabalho focado nos

estudos dos gêneros diante de sua multiplicidade.

Diante do desafio de formar leitores competentes, os Parâmetros Curriculares

Nacionais (1998) sugerem que o ensino de língua seja baseado no texto, que deverá está

inserido em um determinado gênero. Segundo a teoria dos gêneros do discurso de Bakhtin,a

ausência dos gêneros e o não domínio deles tornariam a comunicação quase impossível

(BAKHTIN 1953). Assim, notamos a grande importância dos gêneros textuais em todas as

esferas humanas, pois é por meio deles que se Dara comunicação.

Com base em experiências vivenciadas em sala de aula e no grande desafio que é

capacitar leitores competentes e capazes não só de decodificar textos, mas de compreendê-los

e utilizar os conhecimentos adquiridos na produção de outros textos, é que realizamos uma

pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, com o intuito de se refletir sobre as perspectivas

de se utilizar gêneros textuais como norteadores do ensino de língua.

Assim sendo, o presente artigo tem por objetivo refletir como o gênero tirinhaporta-se

como norteador do ensino de língua, de forma a propor um ensino fundamentado numa

concepção funcionalista dos gêneros. Dessa forma, nossa pesquisa leva a uma reflexão sobre

as práticas dos professores frente à necessidade e urgência de se trabalhar com gêneros

textuais.

Sabendo das dificuldades encontradas pelos alunos em interpretar e diferenciar os

gêneros textuais, talvez pela grande diversidade de textos, é que se se torna imprescindível

que os educandos se familiarizem com diversos gêneros e percebam sua funcionalidade.

Diante disso, propomos algumas ações que venham ampliar o conhecimento dos alunos em

relação aos gêneros textuais, bem como ajudá-los na identificação das características e

funcionalidades textuais, melhorando seu domínio de leitura, como também de produção e

interpretação de texto.

Sabendo da necessidade de se trabalhar com as questões de gêneros textuais em sala

de aula, foi que percebemos o quanto seria importante um trabalho com a finalidade de pensar

sobre um ensino onde se busque enxergar o gênero textual como um norteador do trabalho

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com a língua, uma vez que um trabalho com os gêneros necessita de muita dedicação e

emprenho por parte do professor. Assim sendo, nosso trabalho poderá levar estudiosos da área

e professores a refletirem sobre os gêneros textuais na perspectiva aqui adotada,de forma a

levá-los a repensar suas próprias práticas pedagógicas frente aos novos avanços educacionais.

Partindo do objetivo destacado, foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho

bibliográfico, com o propósito de encontrar suporte teórico para a importância dos gêneros

textuais no processo de ensino aprendizagem de língua bem como definir de que maneira os

gêneros textuais se portam como norteadores dos estudos de língua. Para tanto, tomamos

como aportes teóricos estudiosos como: Bakhtin, Marcuschi, Bronckart, Koch, Solé,

Dell’isola, Kleiman, dentre outros que se fizeram necessários para o aprofundamento de nossa

pesquisa.

Também realizamos algumas reflexões acerca da necessidade de destacar para o aluno

a funcionalidade dos gêneros textuais, enfocando o trabalho com eles em sala de aula, para

analisarmos como o professor utiliza os gêneros textuais com o intuito de desenvolver as

competências de leitura e escrita dos educandos. Após a pesquisa bibliográfica as informações

foram analisadas para que pudéssemos propor estudos de língua portuguesa norteado pela

diversidade textual.

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2. GÊNEROS TEXTUAIS: PERPECTIVAS E DISCUSSÕES

O conceito de gênero foi e ainda é amplamente discutido por muitos teóricos devido a

sua importância para o processo comunicativo bem como para o ensino de língua. Estudiosos

como Bakhtin, Marcuschi, Schneuwli, Dell’isola, Bronckart que propõem conceitos para o

estudo de gêneros textuais e fornecem subsídios para a realização de discussões acerca desse

tema.

Segundo Bakhtin (1997, p. 302), “aprendemos a moldar nossa fala às formas do

gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras,

pressentir-lhe o gênero”. Observa-se que nessa concepção de Bakhtin os gêneros assumem

certo poder normativo, ou seja, eles fornecem preceitos para que os usuários da língua, seja

ela oral ou escrita, norteiem suas escolhas durante o processo comunicativo. Por possuírem

uma função modeladora de enunciados discursivos os falantes recorrem a eles nas diversas

situações de interação.

Com o propósito de conhecermos algumas das perspectivas que definem os gêneros

discursivos discutiremos as concepções de gêneros propostas por estudiosos do assunto.

Um dos pioneiros em usar a terminologia gênero para designar as formas de

construção de enunciados orais e escritos foi Bakhtin que os define como sendo produções

estáveis delimitados por situações comunicativas. Assim sendo, os gêneros possuem

características próprias que os tornam ímpares tanto na forma como no contexto comunicativo

no qual será utilizado. Por possuírem características relativamente estáveis os gêneros podem

ser considerados modelos, de modo que enunciados diferentes podem ser apontados como

pertencentes a um mesmo gênero, desde que possuam semelhanças entre si tanto em

conteúdos como em composição ou até no estilo.

Bakhtin (1997) contempla a heterogeneidade dos gêneros discursivos dividindo-os em

dois grupos: os gêneros primários (mais simples) e os gêneros secundários (mais complexos).

Os gêneros secundários apresentam-se em circunstâncias mais formais e com uma linguagem

mais complexa, como em textos culturais, acadêmicos e ideológicos como: romance, teatro,

artigos científicos, geralmente na modalidade escrita da língua. Já os primários são

enunciados espontâneos utilizados no uso informal da língua em conversas, cartas, usando

geralmente uma linguagem mais coloquial.

Os gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários que por sua vez

adquirem características particulares. O autor cita o exemplo do romance que é uma

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transmutação de narrativas de acontecimentos pertencentes ao cotidiano. Assim, os gêneros

secundários podem conter o mesmo conteúdo dos primários e o que os diferencia é a

complexidade ou não da linguagem utilizada.

Para Dell’isola (2012, p. 17) “os gêneros estão presentes em todas as circunstâncias da

vida em queas ações humanas são mediadas pelo discurso.” Assim, não há momento algum

do cotidiano humano onde discurso esteja presente que seja isentado o uso de gêneros

textuais. Então cada sociedade traz consigo um rol de gêneros a serem utilizados como

norteadores na construção de enunciados comunicativos e que são escolhidos de acordo com

as necessidades dos sujeitos envolvidos nas interações.

O estudo de texto não pode se privar de contemplar também um contexto, pois cada

gênero é construído dentro de um espaço contextual como postula a definição de gênero

destaca por Maingueneau (2004, p. 57) que define gênero como sendo um “tipo específico de

texto de qualquer natureza, literário ou não, oral ouescrito, que possui: uma função específica,

uma organização retórica maisou menos típica e é inserido em um determinado contexto”.

Nessa perspectiva, os gêneros são tipos de textos que possuem uma forma estável, não

importando sua natureza ou em que condições foram criados, possuidores de características e

funcionalidades próprias.

Ao estruturar o conceito de gênero textual é comum acontecer uma confusão entre

gêneros textuais e tipos textuais. Para começarmos a diferenciar gênero e tipo textual

tomaremos os conceitos propostos por Marcuschi(2007, p. 3):“Usamos a expressão tipo

textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de

sua composição”.

Dessa forma, os tipos textuais são definidos por características linguísticas e formam

um grupo teoricamente pequeno, são exemplos de tipos textuais: narração, argumentação e

descrição.Já os gêneros textuais são definidos como “os textos materializados que

encontramos em nossa vida diária e que apresentamcaracterísticas sócio comunicativas

definidas por conteúdos, propriedades funcionais,estilo e composição característica”

(MARCUSCHI 2007, p. 4 ).

Os gêneros perpassam as características linguísticas para entrar na funcionalidade

comunicativa da língua e enquanto encontramos um número pequeno de tipos textuais os

gêneros são inúmeros e até difíceis de ser rigorosamente contabilizados. Dessa forma, não

podemos confundir o pequeno contingente de tipos textuais com a infinidade de gêneros

usados nas interações do cotidiano.

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Para Schneuwly (2004, p. 23) o gênero é um instrumento utilizado como mediador de

interações verbais entre sujeitos sociais. A esse respeito o autor explica:

Há visivelmente um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente

(falar/escrever), numa situação por uma série de parâmetros coma ajuda de um

instrumento que aqui é um gênero, um instrumento semiótico complexo, isto é, uma

forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a

compreensão de textos.

Dessa forma, os gêneros são instrumentos utilizados como mediadores em situações

comunicativas onde sujeitos enunciadores constroem seus enunciados obedecendo à forma e o

conteúdo apropriados a cada situação.

Nesse sentido, Schneuwly (2004) propõe que o gênero é um instrumento, que na

perspectiva do interacionista-social, é tratado como uma atividade tripolar onde “a ação é

mediada por objetos específicos, socialmente elaborados, frutos das experiências das gerações

precedentes, através dos quais se transmitem e se alargam as experiências possíveis”

(SCHNEUWLY 2004, p. 21).

Assim, se pode entender que os enunciados são construídos com a participação efetiva

de três extremidades ou polos. Os três polos de que trata a teoria do autor são na realidade os

dois sujeitos envolvidos na interação social, ou seja, o enunciador e o receptor e o próprio

enunciado. Dessa forma, o fator mediador é o gênero textual escolhido por motivos

convencionais que são passados através das experiências das gerações passadas.

Com base nessas proposições, pode-se perceber que os gêneros textuais estão

presentes em todas as situações comunicativas em que são proferidos enunciados, sejam eles

orais ou escritos. Os gêneros são delimitados por características próprias e utilizados em

contextos apropriados. Seu estudo é uma ferramenta bastante eficaz na formação de leitores

competentes bem como no aperfeiçoamento do uso da língua materna em situações

comunicativas cotidianas.

Porém, seu uso deve ser bem planejado para que ocorra uma aprendizagem realmente

satisfatória. Assim, faz-se necessário uma vasta diversidade textual, pois é um instrumento

eficaz para a construção do conhecimento do indivíduo.

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3. OS GÊNEROS TEXTUAIS E SUA IMPORTÂNCIA PARA O

ESTUDO DE LÍNGUA

Um dos grandes desafios dos professores de língua portuguesa é formar leitores

competentes que não só sejam capazes de compreender, mas também de utilizar as funções da

língua em interações nas mais diversas situações sejam elas orais ou escritas. Para ajudar a

superar esse desafio os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) sugerem que o estudo de

língua tenham como base o texto e um contexto para que aprendizagem seja realmente

satisfatória e não só mecânica e sem solidez.

No que diz respeito ao trabalho com textos, os Parâmetros Curriculares Nacionais

(1998, p. 26) dizem que “o texto se organiza dentro de um determinado gênero” e por isso,

percebemos que nessa perspectiva o estudo com a diversidade textual se torna um aliado para

familiarizar os alunos com o maior número de textos possível identificando sua

funcionalidade, fornecendo subsídios para aumentar a capacidade de leitura e de criticidade

diante dos enunciados sejam eles formais ou informais, orais ou escritos.

Se os gêneros textuais estão intimamente ligados ao uso real da língua, nada mais

proveitoso que utilizá-los para o trabalho com a língua. Dessa forma, cada vez que

proferimos um enunciado seja ele oral ou escrito estamos fazendo uso de um gênero textual.

Partido desse pressuposto, o trabalho com os gêneros textuais direciona o estudo da língua

para algo mais palpável e dinâmico voltado para o uso real da língua.

Para Marcuschi (2007) o trabalho com os gêneros textuais é o que aproxima mais o

estudo da língua com seu uso no dia a dia, pois cada enunciado utilizado em interações sócio

comunicativas está inserido em algum gênero discursivo.

A presença dos gêneros é indispensável a cada interação comunicativa em que haja a

construção de enunciados. De acordo com Dell’isola (2012, p. 8) “Os gêneros textuais

transitam por todas as instâncias discursivas com sucesso e desenvoltura e, principalmente,

com a rapidez e a adequação que a situação exige”. Assim, sempre que houver comunicação

mediada por um gênero discursivo esse deve se adequar a situação social na qual se

encontram inseridos o gênero, o contexto de uso, e os interlocutores envolvidos.

As interações sociais são sempre mediadas por um gênero discursivo à escolha dos

interlocutores. Segundo Dell’isola (2012, p. 11), “Os gêneros textuais, atividades discursivas

estabilizadas nas sociedades, ajusta-se a vários tipos de controle social e estruturam,

organizam, regulam as interações sociais”. Nessa perspectiva, os interlocutores escolhem os

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gêneros, mas estes se adaptam as relações sociais não só mediando-as, mas também

organizando e fornecendo regras para que as interações aconteçam de forma satisfatória.

O trabalho com gêneros em aulas de língua faz com que os educandos, ao terem

contato com uma grande diversidade textual, se familiarizem com as características próprias

de cada gênero bem como os contextos nos quais cada gênero pode ser utilizado, levando-os a

perceber a funcionalidade da língua. Assim, comungamos a ideia de Bronckart (1994, p. 137)

que considera que “os gêneros constituem ações de linguagem que requerem doagente

produtor uma série de decisões que ele necessita tercompetência para executar”.

Dessa forma, o interlocutor que faz uso dos gêneros discursivos precisa conhecê-los e

utilizá-los de forma competente, visto que o objetivo do ensino norteado pelos gêneros

textuais é desenvolver no aluno a habilidade de utilizá-los de forma eficaz.

Entretanto, esse trabalho não pode ser realizado de qualquer forma, sem

sistematização, utilizando os textos apenas como suporte para estudo de normas gramaticais,

tratando cada gênero de forma isolada sem levar em consideração aspectos como a

intertextualidade e as características dos interlocutores. Além disso, muitos professores usam

os textos sem considerar como relevante seus contextos de produção.

Algumas práticas podem levar a má utilização dos gêneros textuais como norteadores

do estudo de língua. Um exemplo disso é prática de cópias sem nenhum respaldo contextual

ou funcionalidade linguística e a interpretação pautada apenas em informações explícitas a

serem retiradas do corpo do texto sem qualquer análise crítica do conteúdo ou da

funcionalidade do gênero discursivo em questão.

Assim, quando os gêneros forem levados para a sala de aula como ferramenta para

desenvolver nos alunos habilidades de leitura e escrita devem ser salientadas as características

próprias de cada gênero, bem como seu papel no processo comunicativo e sua funcionalidade.

O professor deve promover debates e diálogos com o propósito de instigar o aluno a ler e

interpretar os textos de forma crítica e reflexiva. Outro ponto importante quando se trata de

diversidade de textos é partir do conhecimento prévio dos alunos começando por aqueles com

os quais estão mais familiarizados, para só depois introduzir gêneros com os quais eles ainda

não têm familiaridade.

Diante disso, vemos que o estudo com os gêneros textuais toma um campo muito

amplo devido à quantidade gêneros existente e suas especificidades. Porém, existem alguns

gêneros que compartilham algumas características, como é o caso do recado e do bilhete que

além de terem uma estrutura muito semelhante, servem quase ao mesmo propósito. Assim, é

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preciso que os usuários e produtoresdos gêneros saibam identificar as características inerentes

a cada um deles e assim utilizá-los de forma competente.

O contato dos alunos com um rol de gêneros consideravelmente vasto lhe propicia

subsídios para não só caracterizá-los, como também para identificar os contextos nos quais os

diversos textossão usados. Isso acontece porque quanto maior o conhecimento que temos a

respeito de um determinado assunto, melhor se pode analisá-lo de forma eficiente, levando em

consideração o propósito para o qual o mesmo está destinado.

Nos dias atuais com os avanços tecnológicos, principalmente na área das

comunicações, foram sugiram novos gêneros, alguns deles com base em outros já existentes

como o telefonema que teve sua origem nas conversas informais,mas que é utilizado em um

contexto diferente, pois a conversa se dá com a presença física dos interlocutores, já o

telefonema é realizado à distância mediado pelo telefone. Outro exemplo é o email que é uma

nova versão de mandar um recado só que usando outro suporte comunicativo que é a internet.

Seguindo nessa linha, existem muitos gêneros que foram criados com base em gêneros já

existentes, mas que possuem características próprias e são utilizados em contextos distintos.

Um dos fatores que desencadeia a criação de novos gêneros é o crescente avanço

tecnológico no âmbito das comunicações. Para acompanhar os avanços tecnológicos é que são

criados novos gêneros onde a interação acontece de forma mais rápida e eficaz. Porém, para

Marcushi (2007, p. 20) “Não são propriamente as tecnologias por si que originam os gêneros

e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades

comunicativas diárias”.

Dessa forma, apenas esses avanços não são suficientes para desencadear a criação de

novos gêneros, visto que concordamos com Marcushi (2007) e consideramos que um fator

que propicia essas novas criações é a intensidade com que os usuários da língua usam os

recursos tecnológicos pra mediar à comunicação tornado as interações mais ágeis e eficientes

e diminuindo a distancia entre as pessoas.

Em se tratando da variabilidade dos gêneros textuais Koch e Elias (2009) ressaltam

que estes possuem uma grande diversidade e sofrem variações na sua constituição e em

detrimento ao medo como são utilizados. Para explicar melhor essa dinâmica de aplicação dos

gêneros textuais, as autoras apontam como exemplos o e-mail e o blog, que são recursos

comunicativos decorrentes das novidades tecnológicas, mas que são transmutações de gêneros

já existentes.

Nesse ponto reside o desafio do trabalho com a diversidade de gêneros textuais em

sala de aula, explorando de forma aprofundada particularidades de um gênero textual levando

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em consideração os diversos contextos de produção. Utilizando esses gêneros como recurso

didático para aperfeiçoar o estudo de língua portuguesa, o professor retira os alunos de um

universo de regras sem aplicabilidade real e passa mostrar que os conhecimentos linguísticos

devem ser utilizados para melhoras o processo comunicativo.

Segundo Bakhtin (19997, p. 280), “A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso

são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável”. Devido a essa

infinidade de gêneros textuais e sua importância para o processo comunicativo é que os

professores de língua portuguesa devem promover o contato dos alunos com a maior

diversidade de texto possível, com o propósito de familiarizar os educandos com o imenso

universo de gêneros discursivos, formando assim leitores que sejam capazes não só de fazer a

leitura superficial de um texto, mas também inferir sentido aos enunciados. Leitores

competentes para utilizar os gêneros nas mais diversas situações onde o discurso seja o

mediador da comunicação.

A esse respeito, destacamos as palavras de Bazerman (2006, p.31):

A definição de gênero textual apenas como um conjunto de traços textuais, além de

ignorar o papel dos indivíduos no uso e na construção de sentidos, não considera o

fato de que é possível se chegar a uma compreensão mais profunda de gêneros como

fenômenos de reconhecimento psicossocial, como parte do processo de atividades

socialmente organizadas.

São várias as vertentes que destacam a importância da utilização dos gêneros na

prática pedagógica do cotidiano escolar, considerando que cabe às escolas, mais

especificamente aos professores, utilizar-se dos gêneros como elemento facilitador no

processo de ensino e aprendizagem da língua materna, ou, em outras palavras, em uma ação

discursiva na escola, pois é pela linguagem que o indivíduo se constitui sujeito, um ser

historicamente inserido no contexto social, cultural e, acima de tudo, concreto, e, portanto,

não passivo nem simplesmente ativo em relação à linguagem, mas interativo nas relações

estabelecidas entre o mundo e o uso da língua demandada da sociedade e das circunstâncias

propostas por ela nos diferentes grupos sociais. Neste sentido, verifica-se que trabalhar todos

os gêneros textuais permite o uso adequado da linguagem em determinadas situações, algo

que é muito gratificante e significativo à prática docente e inserção social do aluno.

Acerca da importância da dimensão social no processo de desenvolvimento do ser

humano, destaca Bazerman (2006, p.31):

Essa interação se dá, desde o nascimento, entre o homem e o meio social e cultural

em que se insere. Ou seja, o homem transforma e é transformado nas relações

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produzidas em uma determinada cultura. Mas a sua relação com o meio não se dá de

forma direta, ela é mediada por sistemas simbólicos que representam a realidade; e a

linguagem que se interpõe entre o sujeito e o objeto de conhecimento é o principal

sistema de todos os grupos humanos.

Sendo assim, a partir daí, atenta-se tanto para situações concretas do uso da língua,

como para o desenvolvimento da capacidade crítica diante dos enunciados provenientes da

cultura social dos grupos de que se fazem parte, pois a linguagem é concebida através de um

processo de interação e a importância do outro no papel da construção do sujeito.

4. OS GÊNEROS TEXTUAS NO CONTEXTO DO ENSINO DE LÍNGUA

No século passado, o ensino era repassado ao aluno sendo meramente decodificado,

onde o educando teria de seguir a cartilha de A/Z, como uma sequência para o aprendizado,

mas hoje não se permite um ensino por essa perspectiva, pois se vive frente a novas técnicas e

tecnologias onde o alunado tem acesso, e então se faz necessário usar essas ferramentas

modernas em sala de aula.

Neste contexto, a escola necessita de métodos e práticas que visem o aprendizado de

seus alunos e para tal, dentre outros alternativas, destacamos o trabalho com os gêneros

textuais diversificados como norteadores para o aprendizado de língua, pois não basta apenas

conhecer a tipologia textual, mas sim conhecer a finalidade de cada gênero, sendo necessário

que o aluno se familiarize com os diferentes gêneros textuais pertencentes ao contexto social.

Assim, os gêneros não devem ser trabalhados isoladamente como uma matéria ou conteúdo a

ser ensinado. Os alunos não precisam classificar os textos ou memorizar todos os gêneros

textuais, pois não seriam capazes.

Nesse sentido, destacamos as palavras de (Foucambert, 1994, p. 10).

A escola deve ajudar a criança a tornar-se leitor dos textos que circulam no social e

não limitá-la à leitura de um texto pedagógico, destinado apenas a ensiná-lo a ler.

Então, é preciso conhecer esses escritos sociais! A formação dos docentes deve

priorizar o conhecimento sobre os escritos utilizados pelas crianças, bem como a

observação das estratégias que as crianças utilizam, quer diante dos programas de

televisão, dos textos da rua, da publicidade, quer diante dos jornais, das histórias em

quadrinhos, dos manuais de instruções, dos documentários, dos álbuns, da ficção etc.

É preciso dar sentido ao ensino dos gêneros na escola e compreender em que situação

ele será lido e em que contexto foi escrito. A função de um gênero textual determina que

elementos sejam utilizados para compor o texto, com a finalidade de atingir o público alvo,

provocando as reações desejadas.

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Segundo Coscarelli(2009, p.83):

Não precisamos conhecer todos os gêneros textuais. Há gêneros para ler e gêneros

para escrever, para ouvir, para falar. A maioria das pessoas não precisa saber

escrever bula de remédio, mas a maioria delas precisa saber ler bulas. Precisamos

saber onde encontrar as informações de que precisamos [...].

Não há a necessidade de saber ler e escrever todos os gêneros textuais, porém é preciso

saber encontrar as informações quando necessárias. Os alunos precisam perceber a finalidade

do texto, seus recursos linguísticos e o sentido desejado, ou seja, a sua funcionalidade e

aplicabilidade. É necessário, algumas vezes, que eles possam identificar, quem e para quem o

texto está referindo-se, qual a situação e qual seu objetivo, percebendo a ironia ou seu humor,

de acordo com o texto.

A escola tem como meta principal formar cidadãos conscientes e capazes de fazer

leituras de mundo de forma crítica. Os professores de língua portuguesa dividem com os

demais professores de outras disciplinas essa responsabilidade, sendo que os olhares quando

se trata de leitura se voltam essencialmente para as aulas de língua, pois esse é um conteúdo

“dito” do domínio da língua. No entanto, a leitura deve ser trabalhada em todas as disciplinas,

de forma que os alunos devam conhecer as particularidades dos textos utilizados, por

exemplo, em aulas de ciências naturais e demais disciplinas.

As aulas de língua estão mais voltadas para análises linguísticas e normas gramaticais

e muitos professores preferem utilizar apenas tipos de textos como narrativas e descrições

para que por meio destes sejam avaliados elementos como ortografia, coesão e coerência,

fazendo assim, com que os alunos sistematizem apenas a leitura e a produção de poucos

gêneros classificados como escolares. Em contraposição a esse uso limitado dos gêneros

textuais propõe-se que o ensino da língua seja norteado pela diversidade textual, de forma a

permitir aos alunos o contato com os diferentes gêneros e suas situações de produção, pois

segundo Bakhtin (1997) quanto mais os falante dominam os gêneros maior é a liberdade de

utilizá-los.

As novas propostas de ensino têm como tendência o desapego à gramática normativa

que é trabalhada de forma descontextualizada destacando a necessidade do uso de gêneros

textuais como mediadores no estudo da língua.

O ensino de língua norteado pelos gêneros textuais desatrela as produções de textos a

modelos pré-determinados e leva o sujeito produtor a refletir sobre o contexto de produção.

Ou seja, o aluno ao produzir um texto, por exemplo, vai levar em consideração para quem ele

escreve e qual o objetivo a ser alcançado com o texto. Dessa forma, não se utilizam os

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gêneros como amarras que prendem as produções em formas fixas, mas, sim como

fornecedores de subsídios para que ocorra uma utilização mais racional e livre da língua.

4.1 O GÊNERO TIRINHA COMO NORTEADOR DO ENSINO DE

LÍNGUA

O trabalho com os gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa tem como objetivo

melhorar o desempenho dos alunos quanto à leitura e a produção de texto, uma vez que os

gêneros fazem parte do cotidiano das pessoas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998)

colocam para os professores de língua uma proposta de estudo pautada no texto que por sua

vez deve estar inserido dentro de um gênero específico.Dessa forma, o contato com a

diversidade de gêneros textuais proporciona ao aluno o desenvolvimento de um leitor

competente e crítico

No entanto, uma barreira a ser ultrapassada é a resistência apresentada pelos alunos no

que diz respeito ao trabalho coma a leitura em sala de aula. Para superar esse obstáculo um

recurso considerável é o uso de tirinhas para o estudo do texto, de forma a levar o aluno a

fazer suas interpretações e desencadear um debate acerca de um determinado tema para

produção de textos. Assim, há a possibilidade de se trabalhar com o uso da tirinha desde

análise linguística, com uma gramática de texto, a produções de textos.

Por ser uma leitura relativamente fácil e prazerosa torna-se mais fluente o trabalho

com esse gênero como recurso didático. Além disso, as tirinhas podem apresentar conteúdos

diversificados e levar o aluno a uma interpretação crítica de assuntos da atualidade, uma vez

que elas podem trazer em seu sarcasmo tema políticos e sociais atuais que precisam ser

abordados em sala de aula.

O gênero tirinha é um meio de comunicação muito utilizado pelo público infanto-

juvenil, e também pelos adultos por seu caráter humorístico, envolvendo personagens fixos,

relacionados com o cotidiano. Esse gênero é constituído pela linguagem verbal e não verbal

que agregadas produzem o sentido do texto. Sendo um gênero agradável e de fácil análise

linguísticas, leitura e interpretação textual, é bem instigante para o aluno que na maioria das

vezes criam uma aversão à leitura.

As tirinhas constituem um subtipo das Historias em Quadrinhos, mas com narrativas

mais curtas, ou seja, são historias sintetizadas, tem como característica principal o humor.Seu

conteúdo voltado para o lado humorístico e sarcástico sempre mostrando desfechos

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inesperados, desperta a curiosidade dos leitores. Quanto à estrutura elas podem ser

sequenciais ou fechadas, essas ainda podem ser divididas, como explica (MARCUSCHI apud

DIONÍSIO 2005, p. 198)

As tiras fechadas dividem-se em dois subtipos: a)Tiras – piada, em que o humor é

obtido por meio das estratégias discursivas utilizadas nas piadas de um modo geral, como a

possibilidade de dupla interpretação, sendo selecionada pelo autor a menos provável; b)Tiras

– episódio, nas quais o humor é baseado especificamente no desenvolvimento da temática

numa determinada situação, de modo a realçar as características das personagens.

Com essa estrutura, é um gênero que pode ser bem trabalhado em sala de aula. Para

tanto, é necessário que o professor conheça as características dos gêneros que serão utilizados

em suas aulas, no caso da tirinha, os dois subtipos mencionados por Marcuschi. Assim, tendo

o conhecimento tanto das características como da funcionalidade de dos subtipos, pode-se

fazer uso das tirinhas de modo mais eficaz e facilitar o aprendizado dos alunos.

As tirinhas devem ser trabalhadas durante o processo educativo, pois não só

questionam a importância da leitura e seus fundamentos práticos como prazer e

obrigatoriedade, como são na verdade boas leituras,mostrando conhecimentos, e com isso

levam a possíveis debates em sala de aula.

Trata-se de um gênero que pode ser focalizado pelo professor e alunos por meio de

uma análise do texto, enfocando a materialidade da língua, e ainda a determinação histórica

dos seus processos de significação.

Dessa forma, o conhecimento é construído efetivamente com a junção de teoria e

prática, no que diz respeito ao ensino da língua materna, pois quando o aprendiz se depara

com textos que são utilizados em seu dia a dia pode-se perceber a funcionalidade da língua e

assim utilizá-la de forma competente. Neste sentido, Schnewly e Dolz (2004 p.75) afirmam:

A aprendizagem da linguagem se dá, precisamente, no espaço situado entre as

práticas e as atividades de linguagem. Nesse lugar, produzem-se as transformações

sucessivas da atividade do aprendiz, que conduzem à construção das práticas de

linguagem. Os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um termo de referência

intermediário para a aprendizagem. Do ponto de vista do uso e da aprendizagem, o

gênero pode assim, ser considerado um mega instrumento que fornece um suporte

para a atividade, nas situações de comunicação, e uma referência para os aprendizes.

Dessa forma, considerando os gêneros textuais como instrumento eficaz para

intermediar a aprendizagem da língua materna, levando o aprendiz a construir um

conhecimento baseado no uso real da língua considerando sua funcionalidade comunicativa, o

trabalho com gêneros textuais em sala de aula funciona de fato como norteador do ensino de

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língua e trata-se de uma proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) que visam

com essa prática fazer com que os alunos se familiarizem com a diversidade de gêneros

textuais e assim desenvolvam habilidade de leitura, interpretação e produção de textos. Esse

contato com textos diversos fornecem subsídios para que os alunos melhorem tanto seu poder

de interpretação como de produção.

Neste contexto, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) afirmam:

[...] a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de

ensino [...], e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato

de textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas. A

compreensão oral e escrita bem como a produção oral e escrita de textos

pertencentes a diversos gêneros, supõem o desenvolvimento de diversas capacidades

que devem ser enfocadas nas situações de ensino (Brasil, 1998, p.24).

Sendo assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais aborda dois eixos para o ensino da

língua: o uso da linguagem, por meio das práticas de escuta, leitura e produção de textos orais

e escritos; e a reflexão sobre a língua e linguagem. Assim, apontam os gêneros discursivos

como objeto de ensino e os textos como unidade de ensino. Os textos são organizados dentro

de um gênero, que se constituem como enunciados concretos e únicos. Eles conservam

marcas estáveis, que os identificam ao longo da história e trazem diferenças determinadas

pelos diferentes interlocutores, pelo tempo e espaço únicos de cada uma das situações

concretas.

Para podermos perceber com mais clareza como pode acontecer um trabalho com o

gênero textual tirinha e considerando esse gênero um excelente recurso a ser utilizado em

aulas de língua materna, analisaremos uma tirinha de Mauricio de Sousa.

Na tira acima o personagem principal é o famoso Chico Bento, um caipira um pouco

preguiçoso, mas muito legal e louco por goiabas. O melhor amigo de Chico Bento, o

personagem Zé Lelé, pergunta se ele está plantando um pé de goiaba e Chico responde que o

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pé é de esperança, com essa fala o personagem comparou a árvore com a esperança de um

planeta melhor, mais arborizado melhorando assim a qualidade de vida de seus habitantes.

Dessa forma, pode-se suscitar um debate cerca da preservação do meio ambiente e em

particular do problema do desmatamento com o propósito não só de conscientizar os alunos

dos prejuízos causados pelo desmatamento e levantar propostas para ações de replantio.

Ainda podem ser observados os traços próprios da linguagem oral e do regionalismo

que marcam a fala dos personagens, abordando assim a variação linguística que precisa sim

ser estudada em sala de aula. O desfecho da historia não é marcado pelo humor e sim pelo

espanto diante da resposta inesperada de Chico Bento, o que também pode ser trabalhado,

enfocando os efeitos de sentidos que o autor do gênero pretendeu.

Nessa tirinha podemos trabalhar também a interpretação do texto, dando destaque ao

fato da observação da junção imagem e escrita na construção do sentido do texto, pois se um

desses fatores fosse retirado seria impossível entender a mensagem do texto, mostrando a

correção entre linguagem verbal e não verbal.

Além do estudo do texto podemos levantar questionamentos e debates acerca do

conteúdo da tirinha que é um problema ambiental atual que tem suscitado muitas discussões.

Com base nos debates e discussões pode ser proposta a execução de uma campanha

publicitária com o propósito de sensibilizar a população acerca da importância das árvores

para a qualidade da nossa vida. Seria assim proposto um trabalho de produção de cartazes e

panfletos abordando o tema da tirinha, podendo até produzir outras tirinhas com o mesmo

propósito.

Usando como suporte essa tirinha poder ser feita uma análise da linguagem oral, que é

preponderante nesse gênero textual devido à presença das falas nos balões, pois os alunos

devem perceber as diferenças existentes entre a língua falada e a escrita e que no caso desse

gênero a modalidade oral da língua está bastante presente, mas que o mesmo não ocorre em

outros gêneros de cunho mais formal. Porém, cabe ressaltar, que deve ser um trabalho

reflexivo das diferenças e semelhanças entre língua orla e escrita, e não apenas de forma a

mostrar a linguagem informal como “errada”, pois se trata de variações linguísticas que

precisam ser abordadas muito bem por parte do professor de língua.

Outra possibilidade é utilizar esse texto para contextualização de conteúdos gramaticais.

Mas não usando o texto para trabalhar uma gramática tradicional, mas uma gramática textual

e reflexiva. Essas opções são apenas uma amostra do leque de atividades que podem ser

desenvolvidas por professores de língua para dinamizar o estudo da mesma.

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Destacamos aqui que não pretendemos mostrar uma determinada proposta de ensino,

pois não é nosso foco de atenção, mas apenas levantar possibilidades, iniciar uma reflexão

sobre o uso da tirinha como gênero norteador do ensino de língua e por isso, frisamos que esta

pode ser muito bem trabalhada desde a leitura e interpretação, a análise linguística e produção

textual, mas cabe a cada professor por em prática essas possibilidades aqui levantadas.

Ao optar por utilizar o gênero textual tirinha como norteador do ensino de língua, o

professor irá se deparar com alguns fatores que seriam facilitadores do seu trabalho, tais

como: o fato do texto ser curto e possuir uma parte visual que facilita o entendimento, o tema

ser atual e de conhecimento da maioria dos alunos, mas o mais relevante de todos é a

aceitação desse gênero por parte dos alunos, uma vez que esse é o primeiro passo para uma

leitura satisfatória. Assim, se não houver aceitação por parte do aluno em relação ao texto

proposto pelo professor ele não terá interesse na leitura e consequentemente a interpretação e

os estudos do mesmo não acontecerão de forma eficaz.

Dessa forma, as tirinhas, além de constituírem uma ótima opção para introduzir os

alunos no universo da leitura, por seu caráter humorístico e conteúdo sintetizado, satisfazem

os intuitos de se usar os gêneros textuais como norteadores do ensino de língua.Além disso, a

tirinha configura-se como instrumento eficaz para o trabalho com interpretação textual e

análise linguística, e principalmente a leitura, funcionando como um instrumento orientação

para o estudo de língua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da nossa pesquisa nos possibilitou uma reflexão sobre o conceito de

gêneros textuais na concepção de alguns teóricos, bem como, refletir sobre a sua importância

para o ensino de língua, de forma a destacar os gêneros como instrumentos para o estudo e

ensino da língua materna.

Dessa forma, percebemos que para que os alunos se tornem leitores críticos, com a

capacidade de interpretar textos diversos de forma competente é preciso entender o contexto

de produção e utilizar a língua em interações sociais com propósitos comunicativos. Para

tanto, é necessário que os alunos tenham conhecimento da estrutura e das características dos

gêneros textuais, bem como utilizá-los tanto nas produções cotidianas como nas mais

complexas como os gêneros que permeiam a vida acadêmica e profissional.

Nessa perspectiva, devemos pensar os gêneros textuais não apenas como objetos a

serem analisados, mas também como um instrumento norteador para o desenvolvimento

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linguístico dos aprendizes, com o intuito não só de ter um bom conhecimento acerca dos

textos, mas principalmente compreender a sua utilidade comunicativa e identificar sua função

social.

Uma estratégia para introduzir os alunos no universo da leitura é o desenvolvimento

de um trabalho com gêneros textuais a começar com os de melhor aceitação por parte dos

alunos até chegar naqueles que serão importantes em produções mais formais. Uma boa opção

para se iniciar o trabalho com os gêneros que focamos em nosso trabalho e percebemos ter

bons resultados, é a leitura e interpretação de tirinhas, pois este gênero possui boa aceitação,

além de abordar temas diversificados e consideravelmente populares, como podemos observar

em nossa pesquisa.

Assim, os gêneros textuais, quando utilizados como recurso didático em aulas de

língua, se portam como norteadores do ensino de língua, direcionando o aprendizado do aluno

em língua materna. Assim, o professor é instigado a utilizar diferentes textos de gêneros

diversos para que os alunos adquiram a habilidade de utilizá-los em suas interações cotidianas

tanto na linguagem oral como escrita. Essas estratégias poderiam despertar um maior interesse

por parte dos alunos, bem como melhorar capacidade de produção no que diz respeito à

escrita e à leitura.

Através da nossa pesquisa pudemos concluir que o trabalho com os gêneros

textuaisem aulas de língua é muito importante,em especial o gênero tirinhas, pois faz com que

os alunos percebam a funcionalidade da língua e como utiliza-la de forma competente em seu

cotidiano e começando pele leitura de tirinhas eles possam se aprofundar no universo da

leitura.

REFERÊNCIAS

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