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Ministério da educação UAB- universidade aberta do Brasil Curso de Mestrado em Ciências da educação A transformação da educação em mercadoria Rogério Bezerra dos Santos ProFº Valquer Gandra

A transformação da educação em mercadoria roger

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Ministério da educação

UAB- universidade aberta do Brasil

Curso de Mestrado em Ciências da educação

A transformação da educação em mercadoria

Rogério Bezerra dos Santos

ProFº Valquer Gandra

Rio de Janeiro

2013

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Rogério Bezerra dos Santos

A transformação da educação em mercadoria

Produção Apresentada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu, do IENS– Instituto de Educação Superior e Capacitação Profissional Nação Santa, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Área de Concentração: Ciências da Educação.

Professor: Valquer Gandra

Rio de Janeiro

2013

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Introdução

A reportagem da revista Isto É, Sinal Amarelo para as Universidades Particulares, publicada em 04 de abril na edição 2212, aponta para a questão da expansão do ensino superior privado no Brasil, que representa hoje 78% da matrícula do sistema de ensino superior do país.

O que a reportagem não aponta, e que seria muito importante investigar, é a participação neste conjunto dos grandes conglomerados que vem se formando nos últimos cinco anos no país. Alguns deles com forte participação de grupos estrangeiros, como é o caso, por exemplo, da Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo, e do grupo Pitágoras, em Belo Horizonte.

A questão é que estes conglomerados representam a verdadeira massificação do ensino. Na medida em que eles impõem a uniformização de programas e currículos, estas instituições quebram o tradicional princípio da diversidade, que é um dos pilares da concepção de universidade que se implantou no Brasil.

A Organização Mundial do Comércio ainda insiste na tentativa de considerar o ensino superior como objeto de transação comercial e sujeito as normas estabelecidas para o comércio mundial. Esta proposta gerou forte reação de educadores e políticos, não apenas brasileiros, que recusam tratar a educação como mercadoria. Esta visão está sendo rapidamente superada pelos fatos. Alguns grupos estrangeiros que já atuam no Brasil também estão presentes em vários países da América e Europa. Para estes grupos, o que realmente importa é a “lógica do mercado” e não os fins da educação. Resta saber se este é um caminho inevitável ou se ainda é possível resguardar as instituições educacionais desta lógica.

DesenvolvimentoUma boa formação educacional é fundamental para a integração do indivíduo

na sociedade. Esta formação compreende desde uma base sólida, até os níveis mais avançados de aprendizado.

Na sociedade atual, com uma competitividade cada vez maior, quanto mais rico o seu currículo, mais chances de se conseguir o ingresso ao mercado de trabalho. Uma vez que o acesso as informações está cada vez mais fácil, tem-se um maior acesso ao conhecimento, também os critérios de seleção estão cada vez mais rigorosos. E são esses critérios que decidirão quem está apto ou não a conseguir uma boa vaga. Ou, conforme as ideias de Bauman, encontradas em seu livro O mal-estar da pós-modernidade, no seu primeiro capítulo (O sonho da Pureza), podemos dizer que esses critérios fazem a distinção entre, o “puro” e o “impuro”, o incapaz e o capacitado. Além disso, existe uma pressão por parte da sociedade. O poder exercido para manipular os indivíduos se dá através das próprias instituições de ensino. São diversas as maneiras por meio das quais a sociedade pune o indivíduo que não se adequa aos seus ideais padrões de conduta. Seja por excluí-lo de determinados espaços, seja por tratá-lo pejorativamente, seja deixando-o à margem, no limbo social. Indubitavelmente, a educação formal é um instrumento exemplar para que tal exclusão seja constatada. Quem não a possui está sistematicamente condenado ao fracasso social, imposto para todos aqueles que não adentram nos moldes estabelecidos pelo sistema formal de educação. Na obra Vigiar e punir, Foucault assinala que “dentro e fora do sistema judiciário, na prática penal cotidiana, vemos formar-se uma estratégia para o exercício do poder de castigar” (Foucault, 1987, p. 102). Nessa perspectiva, são castigados todos aqueles indivíduos que não galgaram os degraus estabelecidos pelo sistema formal de educação. Os tais

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possuem os diplomas conferidos pelas Unidades de Ensino e, por isso, estão fora dos lugares de prestígios oferecidos por meio de concursos, etc.

Podem ser identificadas quatro consequências da globalização para a educação, todas elas eivadas de tensões e contradições: a) a crescente centralidade da educação na discussão acerca do desenvolvimento e da preparação para o trabalho, decorrente das mudanças em curso na base técnica e no processo produtivo; b) a crescente introdução de tecnologias no processo educativo, por meio de softwares educativos e pelo recurso à educação a distância; c) a implementação de reformas educativas muito similares entre si na grande maioria dos países do mundo; d) a transformação da educação em objeto do interesse do grande capital, ocasionando uma crescente comercialização do setor.

Toda essa pressão, essa necessidade de subir cada vez mais de nível, tem causado, ao longo das gerações, uma mudança no foco das pessoas, em relação ao futuro profissional. Deseja-se ir cada vez mais longe, buscar cada vez mais conhecimento, conteúdo. Essa incessante busca despertou o olhar do mercado e tem provocado um processo de comercialização da educação. A questão é: de que maneira esse conhecimento tem sido passado às pessoas? A educação oferecida hoje pelas instituições de ensino superior tem sido feita efetivamente com qualidade? E, existe, de fato, ante o crescido número de ofertas de cursos por parte do mercado capitalista, um meio que o Estado utilize para controlar essa demanda?

Abertura de capital na bolsa de valores e venda de material didático a escolas públicas e privadas sinalizam chegada de instituições com novo perfil ao universo educacional, e quais são os impactos do ingresso dos fundos financeiros na educação brasileira? A pergunta remete a um processo recente e que começa a despertar o interesse de pesquisadores na medida em que sinaliza para um fenômeno que pode modificar a configuração da educação no país. Um dos vestígios mais evidentes dessa nova dimensão da educação são os valores movimentados pela educação privada no país, que passaram de cerca de R$ 10 bilhões em 2001 para R$ 90 bilhões em 2008, aumento de 800% em sete anos. Talvez nenhum setor da economia tenha índices parecidos.

Romualdo Portela, professor do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, é um dos pesquisadores que tem se dedicado a analisar o fenômeno. Num estudo recente, Portela vê na chamada "financeirização" a transformação da educação em mercadoria. Mais: vê uma tendência de concentração das matrículas em poucas instituições, o que cria um movimento de "oligopolização", antes restrito ao mundo das empresas. “É um processo com implicações bastante grandes, algumas já perceptíveis", analisa Portela. Além da já apontada concentração de matrículas, outro efeito é a fragilização de instituições de ensino tradicionais. No campo do ensino superior, em que o fenômeno tem sido mais intenso, Portela cita o exemplo da PUC-SP e a da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), ambas tradicionais e conhecidas pela qualidade do ensino ofertado e que acabaram sendo prejudicadas nos processos de aquisições de instituições - muitas vezes movimentados pelo ingresso de capital estrangeiro, que levam a um acirramento da concorrência com novos parâmetros de excelências - às vezes mais econômicos que acadêmicos, embora seja mais visível e esteja ocorrendo de maneira mais intensa no ensino superior, a "financeirização" também está ganhando espaço na Educação Básica. No Brasil, o processo de desenvolvimento de um setor empresarial na educação é antigo, remontando, pelo menos, ao período da ditadura militar. Entretanto, isso era dissimulado, pois a legislação proibia que as instituições

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de ensino, “pela sua natureza”, dessem lucro. Apenas com a promulgação da Constituição de 1988 é que se explicitou a possibilidade de existência de escolas com fins lucrativos. A posterior regulamentação desse dispositivo na Lei de Diretrizes e Bases e na legislação complementar acelerou o seu crescimento.

Paralelamente à compra de instituições educacionais, outro movimento - mais antigo e que vem se fortalecendo no cenário atual - é o das chamadas "franquias educacionais". Nesse sistema, uma matriz vende seu material didático, suas metodologias e presta assessoria a escolas conveniadas.

A venda de material didático para instituições de ensino conveniadas e também para sistemas públicos de ensino - tendência quem vem ganhando força recentemente - é criticada por vários estudiosos no campo das políticas educacionais. Esse último movimento se apresenta, do ponto de vista econômico, como inevitável, já que o mercado privado na Educação Básica se mantém estável em torno de 13% do total, enquanto milhares de pequenas e médias prefeituras, sem histórico de formação e capacitação de educadores, se viram órfãs dos sistemas estaduais.

A questão é que esse tipo de transação acarreta uma padronização dos métodos e conteúdos, desconsiderando-se as especificidades locais. A descentralização, a autonomia da escola e a participação foram as bases do debate sobre a gestão democrática da escola nos anos 1980. Hoje, porém, esses conteúdos ocultam a falta de responsabilidade diante do quadro educacional do país. Esse processo não é isolado, mas se insere no contexto da crise do capitalismo. Tendo esse cenário como pano de fundo, ao adquirir material didático de um grupo educacional privado, o poder público está envolvendo o sistema de ensino em uma proposta elaborada por órgãos não vinculados à educação local. Em nome de uma maior competência técnica, esses grupos substituem o compromisso da gestão pública na elaboração e no desenvolvimento das políticas educacionais.

Hoje a educação é tratada como mercadoria, há uma crescente mercantilização do ensino, acontece que há cerca de 30 ou 40 anos iniciou-se um movimento de avanço do setor privado na educação básica, e o crescimento das escolas particulares só se fez possível com a queda nos serviços públicos oferecidos à população. Na prática, os governos trilharam o caminho para a privatização do ensino em todas as esferas, o que acarreta a falta de remu

neração decente aos professores e a má conservação das escolas públicas em geral. Quem pagaria uma escola particular tendo uma educação pública, gratuita e com qualidade?

O sucateamento da educação não representa apenas um descompromisso, ou irresponsabilidade dos governos. É, sim, uma forma lucrativa de estabelecer um setor bilionário que se mantém graças às carências da educação pública.

A escola privada é um grande negócio de empresários, e a escola pública, na visão empresarial, deve ser gerida baseada na meritocracia, produtivismo, mercantilismo, e outros ismos do neoliberalismo.  Se a educação continuar sob esta lógica, permaneceremos nesta crise, no entanto, se houver um resgate da verdadeira função da educação para uma sociedade, tendo a pessoa humana como centro do processo educativo de um projeto sustentável, com certeza haverá não apenas um desenvolvimento econômico como também avanços em todas as demais áreas que envolvem e embasam uma sociedade, a partir da formação de sujeitos críticos, reflexivos, autônomos e éticos.

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Referencias Bibliograficas :

DIAS, M.A.R. Comercialização no ensino superior: é possível manter a idéia de bem público? Educação & Sociedade, Campinas, v. 24, n. 84, p. 817-838, set. 2003.

__________________________ Dez anos de antagonismo nas políticas sobre ensino superior em nível internacional. Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 88, p. 893-914, out. 2004.

DOURADO, L.F. Reforma do Estado e as políticas para a educação superior no Brasil nos anos 90. Educação & Sociedade, Campinas, v. 23, n. 80, p. 234-252, set. 2002.

SAMPAIO, Inayá Maria. Políticas Públicas Educacionais. Módulo 01-Guia-03 .Faculdade Noroeste de Minas-FINOM.

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