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8/18/2019 A Transformação Da Mente
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A transformação da mente
O processo de transformação –ou metamorfose– do cristão à semelhança de
Cristo
começa com a renovação do entendimento.
Leitura: Romanos 12:1-2.
A carta aos Romanos pode ser dividida em duas partes: uma primeira, que
começa no capítulo 1 e termina no capítulo 11, e uma segunda, que começa
no capítulo 12 e vai até o final da carta, no capítulo 16. Romanos, da
mesma forma que Efésios, têm uma primeira parte dedicada aos aspectos
da revelação da obra de Deus em Cristo, e uma segunda parte, que é a
aplicação da primeira.
Os que conhecem os escritos de Paulo sabem que o apóstolo se preocupa
muito de que o que foi revelado tenha sempre uma aplicação prática. Não secontenta em declarar os feitos, as coisas que Deus tem feito em Cristo, mas
lhe interessa que estas coisas se traduzam em experiência para a vida da
igreja.
Nunca há uma instrução ou um ensino sobre a vida prática que não esteja
fundamentada na revelação. Mas, por outro lado, nunca há uma verdade
revelada de Deus em Cristo que não esteja logo aplicada à experiênciaprática. São como as duas asas de uma ave; que necessita de ambas para
voar.
Então, nesta segunda parte de Romanos, o apóstolo Paulo nos introduz na
vida cristã prática; mas essa vida cristã prática é fundamentada nos outros
onze capítulos que ele escreveu.
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As misericórdias de Deus
O versículo 1 do capítulo 12 começa com a expressão: «Assim que…». Esta é
uma expressão que percorre toda a carta. Em outras partes se traduz«portanto…», mas a expressão grega é a mesma. E isso significa que o que
ele vai dizer está apoiado em tudo o que ele já disse até este momento, que
inclui os primeiros 11 capítulos de Romanos.
Agora, veja que importante isto, porque o que ele disse até aqui é realmente
abundante em revelação. E esse «portanto…» é a porta de entrada ao que
vem a seguir: a vida cristã prática.
«Assim, irmãos, rogo-vos pelas misericórdias de Deus…». A primeira parte
de Romanos, então, trata das misericórdias de Deus. Que maravilhoso!
Uma dessas misericórdias é a eleição de Deus. Mas Paulo nos dirá que não
apenas a eleição divina é um ato misericordioso de Deus, mas a totalidade
da vida cristã se fundamenta nas misericórdias de Deus.
Ele vai mencionar pelo menos cinco grandes misericórdias que Deus tem
feito conosco em Cristo Jesus. E elas têm um propósito, são os
fundamentos da vida cristã. Quando você pensa em construir uma casa,
primeiro tem que colocar fundamentos. Se a vida cristã prática for a casa,
os fundamentos dela são estas misericórdias de Deus. Sem elas, não se
pode edificar.
Muitos dos problemas que temos em nossa vida prática se devem a que
nossos fundamentos não foram colocados de maneira adequada. Em 1ª
Coríntios 3:10, Paulo diz: «Eu, como perito arquiteto, pus o fundamento».
Em seguida diz: «Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que
está posto, o qual é Jesus Cristo» (V. 11).
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Pôr esse fundamento requer certa perícia, que nem todos têm. Por isso diz:
«Eu, como perito arquiteto…», embora a palavra arquiteto fosse melhor
traduzido como construtor. O arquiteto é o que faz os planos, mas aqui está
falando de quem constrói.
Para pôr fundamentos, você tem que saber. E principalmente em um país
como o Chile, que é sísmico. O mesmo Senhor ensinou, no Sermão do
Monte, quão importante é o assunto do fundamento sobre o qual se edifica
a casa, neste caso, a nossa vida cristã.
Depois do terremoto de fevereiro de 2010, viajamos com alguns irmãos a
Concepción, e passamos a única ponte que ficou em pé sobre o rio Biobío,que justamente cruza pelo lugar onde desabou um edifício. Era um
espetáculo realmente aterrador: aquele imenso edifício completamente
deitado no chão. E, quando os peritos foram investigar a causa da queda, foi
descoberto um grande problema: o edifício foi literalmente construído sobre
a areia. Isto é uma comprovação da parábola do Senhor Jesus.
Agora, outros edifícios também foram levantados ali, mas com eles foram
cavados o suficiente, até encontrar a rocha. As pessoas que construíram
aquele edifício, não o firmaram sobre a rocha. «…E vieram rios, e sopraram
ventos, e deram com ímpeto contra aquela casa; e caiu, e foi grande a sua
ruína» (Mat. 7:27), porque estava edificada sobre a areia.
Nestas palavras, detectamos algo muito importante. O Senhor disse: «… vieram rios, e sopraram ventos…». Sempre e inevitavelmente, soprarão os
ventos e virão os rios contra a nossa vida. O Senhor o disse; não se pode
evitar. Você gostaria que não houvesse ventos, inundações, perigos; mas o
Senhor o disse. Nossa vida vai ser provada.
A sua vida, minha vida com o Senhor, vai ser provada. Porque a única forma
de saber se os fundamentos estão bem colocados é pondo-os a prova.
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Irmãos amados, o que o Senhor procura em nós é realidade. O que Deus
quer em sua vida são coisas reais; mesmo que seja pouco, mas que seja
real. Não quer aparências, não quer questões falsas, errôneas. E, como ele
quer que a verdade esteja em sua vida, ele vai comover uma e outra vez os
fundamentos da sua vida.
Em Hebreus diz que, o Deus que um dia comoveu a terra com a sua voz,
novamente comoverá a terra e os céus; e todas as coisas que sejam
mutáveis serão comovidas, para que fiquem as incomovíveis. Se
pudéssemos descrever a vida cristã, eu diria que é isso. Deus comove tudo
em nossa vida, para que fique o que não pode ser comovido.
Por isso, os fundamentos são essenciais. Se a sua vida não tiver bons
fundamentos, inevitavelmente, você vai sofrer e vai ter problemas. Por isso,
o apóstolo Paulo dedicou 11 longos capítulos de sua carta aos Romanos,
para falar dos fundamentos ou das misericórdias de Deus.
E quando Paulo começa a dizer: «…rogo-vos pelas misericórdias de Deus»,está fazendo alusão a todos esses fundamentos, que são essenciais para a
vida cristã; e para a edificação não só da vida pessoal de cada um dos
crentes. Se você seguir lendo verá que, a partir do versículo 3 do capítulo
12, Paulo vai nos falar da igreja, que é o corpo de Cristo. Porque o lugar
onde se vive e se realiza a vida cristã é, segundo o desenho de Deus, a
igreja.
Colaborando com Deus
No versículo 2, diz algo mais: «Não vos conformeis a este século, mas
transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento, para quecomproveis qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita». A palavra
comprovar significa conhecer por experiência. E, quando Paulo fala da boa
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vontade de Deus, está se referindo ao propósito eterno de Deus (Rom. 8:28-
29), agora conhecido e experimentado por nós.
Uma coisa é a revelação do propósito de Deus, mas agora Paulo fala de
experimentar, ou viver nesse propósito. Porque Deus não só quer que oconheçamos intelectualmente; ele quer que vivamos por meio do seu
propósito. Se você sozinho souber a sua vontade, mas não vive nessa
vontade, não serve de nada. Então, Paulo diz: «…para que comproveis…», ou
o mesmo que dizer: «para que conheçam e vivam a boa vontade de Deus».
«…aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos
conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entremuitos irmãos» (Rom. 8:29). Essa é a vontade de Deus. Mas agora está
falando de que essa vontade de Deus se converta em nossa experiência. A
isto fomos chamados. Glórias ao Senhor!
Por isso, Paulo diz: «Não vos conformeis a este século, mas transformai-
vos…». A expressão «transformai-vos», no grego, está no que chamamos ‘vozmedia’. Em português, temos duas vozes. Quando dizemos que executamos
algo, usamos a chamada voz ativa: «Eu faço, eu atuo». Quando digo que eu
recebo sobre mim a ação de outro, então usamos a voz passiva. Mas o grego
tem uma terceira voz, a voz media. Qual é esta? Quando eu quero dizer que
faço algo e, simultaneamente, que outro faz também em mim, quer dizer, a
ação eu executo e ao mesmo tempo outro a executa sobre mim, uso em
grego a voz media.
Isto é muito importante, porque a transformação, o processo pelo qual nos
convertemos de um nada à glória dos filhos de Deus, é um processo que
Deus faz, mas no qual nós também temos uma parte. Por isso, usa-se a voz
media. «transformai-vos…». Não diz: «Sede transformados…», porque isto
significaria que teríamos que ficar sentados e esperar que Deus fizesse
tudo. A ênfase não está em que Deus faz tudo; nem tampouco diz que eutenho que fazer tudo sozinho, porque seria impossível. Deus faz, e eu
respondo também ao que ele faz.
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Nestes dias, Deus nos falou da graça e da responsabilidade, e nos mostrou
que estas duas coisas não se podem separar. A vida cristã não é apenas
graça nem só responsabilidade. Se fosse só graça, converter-se-ia em
libertinagem, e se fosse só responsabilidade, converter-se-ia em legalismo.
Mas a vida cristã é graça e responsabilidade – nessa ordem. É graça que
busca uma resposta da nossa parte; nossa colaboração. Isso significa
responsabilidade.
Transformados
A palavra grega que foi traduzida aqui como «transformai-vos», é utilizada
habitualmente no estudo dos insetos, que é metamorfose. Esta palavra
aparece mais duas vezes no Novo Testamento. Uma em 2ª Coríntios 3:18:
«portanto, todos nós, olhando o rosto descoberto como em um espelho a
glória do Senhor, somos transformados –metamorfoseados– de glória emglória na mesma imagem…». E o outro texto está em Mateus 17:1-2: «Seis
dias depois, Jesus tomou a Pedro, a Tiago e a João seu irmão, e os levou à
parte a um alto monte; e se transfigurou –se metamorfoseou– diante
deles…». O Senhor se transfigurou diante dos seus discípulos, quer dizer,
adotou uma figura distinta; revelou a sua glória. Eles já não o viram com o
véu da carne, mas transfigurado.
Quando vemos a Jesus transfigurado, naquela glória com a que apareceu
aos seus discípulos, nós vemos o propósito de Deus para a nossa vida.
Jesus glorificado; essa é a imagem a qual Deus nos quer transformar. Você
pode notar tudo o que Deus tem em mente? Esse Senhor transfigurado é a
imagem a qual Deus nos predestinou, para que sejamos semelhantes a ele.
Nós, que somos menos do que nada, pobres, miseráveis, pecadores, cegos,
nus… fomos predestinados, para um dia sermos feitos semelhantes a JesusCristo.
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Mas alguém pode perguntar: ‘Como? Chegarei lá algum dia? Será possível
que eu seja transformado?’ Se observarmos a nossa vida cristã, não parece
que todo esse assunto é muito lento? Não nos parece que não mudamos
nunca? E que passam os anos, e os mesmos enganos, fraquezas e fracassos
seguem ali? Pois, a maioria de nós avançamos lentamente.
Mas eu creio que Deus quer, e que é a sua vontade que sejamos
transformados à imagem de seu Filho Jesus Cristo. Creio, porque está
escrito, e Deus não pode mentir. Porque para isso nos criou, para isso nos
predestinou, e é por isso que queremos. Você quer mudar e quer ser
diferente, não porque você é bom. Isto não nasceu de você. Deus o plantou
em seu coração! É o desejo de Deus que arde em nós, porque somos seus
filhos.
Então, irmãos amados, eu creio que o Senhor, em sua misericórdia, dá-nos
uma chave essencial para a vida transformada aqui em Romanos 12:1-2.
Paulo está nos dizendo algo importante: a transformação é uma obra deDeus, mas também é obra nossa. Há uma parte que Deus faz, mas há uma
parte que nos fazemos. A mais importante, a essencial, é a que Deus faz. A
parte de Deus está contida nessa pequena frase: «as misericórdias de
Deus». Elas contêm a parte que Deus faz em nossa transformação.
A nossa parte é a que vem a seguir: «Não vos conformeis a este século, mas
transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento…» (12:2). Oapóstolo Paulo coloca aqui uma frase chave para a vida cristã prática, e que
penso é algo que nós passamos por cima constantemente. De alguma
maneira, não nos damos conta com facilidade disto. Diz: «transformai-
vos…», e nos diz como: «…por meio da renovação do vosso entendimento».
A importância da mente
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A Escritura nos diz que a transformação, a metamorfose, na vida cristã,
ocorre por meio da renovação do nosso entendimento. Nossa mente, nosso
entendimento, tem um papel vital na vida cristã prática. E, se nós
descuidarmos disso, descuidamos de toda a nossa vida.
Embora estejamos falando dos fundamentos, vamos tratar de pô-los em
ordem. Segundo Tessalonicenses, o ser humano está constituído de três
partes: espírito, alma e corpo. A parte mais interior da natureza humana é
o espírito, que foi criado para ter comunhão com Deus, e também é o órgão
consciente da lei moral de Deus.
O espírito está consciente das coisas de Deus, e entende a linguagem do
Espírito Santo. E não só isso, o espírito é a morada, a habitação do Espírito
Santo no homem.
Quando nós nascemos neste mundo, por causa de todos sermos filhos de
Adão, nascemos com um espírito morto. Quando o digo assim, não merefiro a que esteja literalmente morto, mas sim que está carente de função
para com Deus. Quer dizer que, quanto a Deus, o espírito está morto por
causa do pecado. Por esta razão, o homem natural não percebe as coisas
que são do Espírito de Deus (1ª Cor. 3).
Assim como um cego não percebe a luz nem as cores, assim também um
homem cujo espírito está morto não percebe as coisas que são do Espírito
de Deus. O Espírito de Deus pode ser um vento que sopra com força ao
redor dele, mas ele não o percebe.
O dia em que você creu em Jesus Cristo ocorreu um milagre maravilhoso
em sua vida: Você é regenerado. Isso significa que o Espírito de Deus entrou
em seu espírito e restaurou a sua função original. E, a partir dessemomento em diante, o seu espírito passa a estar vivo e funcionando para
Deus. Agora você percebe as coisas que são do Espírito de Deus; você está
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vivo, sente essa agitação da vida em seu interior, sente a voz do Espírito
dentro de você. Isto é porque o seu espírito foi regenerado pelo Espírito de
Deus.
Mas, observe, ainda não aconteceu nada com a sua alma. O que foirenovado é o seu espírito, e você agora está interiormente despertado para
as coisas de Deus. Mas a obra de transformação que o apóstolo Paulo fala
não se refere ao nosso espírito – refere-se a nossa alma.
É ali onde deve ser efetuada a mudança, a transformação; é ali onde
devemos ser conformados à imagem de Jesus Cristo. Em nossa alma, que é
onde reside a nossa personalidade; aí onde está o eu, onde estão ospensamentos, as lembranças, a vontade, as emoções e a mente. E agora
vem outra chave: a porta de entrada para a vida da alma não é a vontade
nem são as emoções; é a mente. Tudo passa através da mente.
Se o seu espírito for regenerado, mas a sua mente não se renovar, a vida
nova que está em seu espírito não poderá alcançar a sua alma. É umachave absoluta na Escritura. Por isso a ênfase – a mente tem que ser
renovada.
A mente como uma janela
Quando vinha para cá, no caminho, dava-me conta que o vidro traseiro do
meu automóvel estava horrivelmente sujo e não podia ver quase nada.
Assim também, se a sua mente não se renovar, é como uma janela suja.
Você trata de olhar através dela, e não vê nada. Você trata de apropriar-se
das coisas espirituais, e não pode. Se a sua mente não se renovar, você
nunca poderá se apropriar das coisas que Deus tem feito em Cristo. Por issoPaulo enfatiza tanto este ponto.
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Todas as misericórdias de Deus são coisas reais, são verdadeiras; todas
estão ali, mas você não tem como alcançá-las. Poderá ouvir pregação após
pregação, mas a sua mente é velha e ainda não se renovou; ainda é terrena
e humana. Você ainda tem a mente do Adão caído, do Adão terrestre.
É impossível que você ou eu possamos viver a vida cristã com uma mente
que não se renovou; não há transformação possível. A Escritura põe uma
ênfase central nisto.
Vejamos Efésios 4. Quando Paulo fala da vida cristã prática, parte outra vez
para o mesmo assunto. «E digo isto, e testifico no Senhor: que já não andeis
como os outros gentios, que andam na vaidade da sua mente…» (Ef. 4:17). A vida que os gentios vivem é vã, porque vivem na vaidade da sua mente. Sua
mente é vã, cheia de pensamentos vãos, sem propósito, sem o destino, sem
assunto; sem conhecimento de Deus, nem dos caminhos, nem dos
pensamentos de Deus.
«…tendo o entendimento entrevado –em trevas–, alheios da vida de Deus» (V.18). É uma mente que não tem a menor capacidade de perceber as coisas
de Deus. Deus não existe para eles. «Diz o néscio em seu coração: Não há
Deus» (Sal. 14:1). A expressão não se refere a uma negação teórica. O néscio
não o diz em sentido filosófico teórico, ao modo de Nietzsche e outros. O
néscio é aquele para quem Deus não existe na vida prática. Até pode ser
que creia que existe um deus por aí, mas isso não faz nenhuma diferença
para a sua vida prática. Na vida real, Deus está ausente. Esse é o néscio,
segundo a Escritura.
«…alheios da vida de Deus», porque a sua mente está em trevas. «…pela
ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, depois que
perderam toda sensibilidade, se entregaram à lascívia…» (Ef. 4:18-19).
Observe, este é o caminho dos pecadores. Quando a mente está entrevada e
se torna vã, os homens se tornam escravos de desejos desordenados.
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Irmãos amados, os que pastoreiam, recordem isto: Quando uma pessoa está
dominada por um desejo desordenado, compulsivo, que não pode controlar,
o problema não está no desejo em si – está em sua mente. É sua mente que
precisa ser renovada para que seja libertada. Porque a Escritura diz
claramente: a lascívia é um desejo desordenado e compulsivo, que você não
governa, sobre o qual não tem poder; mas essa é a consequência de umamente entrevada e vã.
A mente produz esse efeito sobre a vontade e sobre as emoções, porque, na
ordem de criação de Deus, a mente deve governar a vontade e as emoções.
Se a mente estiver em trevas, a vontade também estará em escuridão, e os
desejos se apoderarão dela.
A importância da Verdade
Mas o versículo 20 diz: «Mas vós não aprendestes assim a Cristo…».Observe a ênfase e a maneira em que Paulo fala de Cristo aqui. Você pode
recordar as palavras do Senhor quando ele disse: «Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida» (João 14:6). E Paulo, aqui, fala-nos de um desses três
aspectos – Cristo como «a verdade». Observe, porque ele está falando da
mente. E a maneira em que a mente aprende a Cristo, apropria-se de
Cristo, é conhecendo-o como a verdade. Não esqueça isto: O espírito se
apropria de Cristo como vida; mas a mente se apropria dele como verdade.
Cristo é tão completo. Ele não é apenas a vida; também é a verdade. E,
sendo ele a verdade, pode renovar a nossa mente. Por isso diz: «…se na
verdade o ouvistes, e fostes por ele ensinados, conforme é à verdade que
está em Jesus». Você conhece a verdade que está em Jesus? Conhece a
Jesus Cristo como a verdade, e não só como a vida ou como poder? Porque
o único que pode renovar a sua mente é Cristo, a verdade.
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E então diz: «Quanto à passada maneira de viver, vos despojeis do velho
homem, que está viciado conforme os desejos enganosos, e vos renoveis no
espírito da vossa mente, e revesti-vos do novo homem, criado segundo Deus
na justiça e santidade da verdade» (Ef. 4:22-24). Porque esse é o assunto – a
verdade está em Jesus.
Se você ler Romanos 6, que é uma das misericórdias de Deus, um dos
fundamentos da vida cristã, descobrirá que ali diz que «o nosso velho
homem foi crucificado juntamente com ele (Cristo)» (Rom. 6:6). Esta
crucificação do velho homem está no tempo passado. Algo que já ocorreu;
um fato definitivo, completo, acabado no passado.
O menciono, porque, quando você lê em Efésios 4:22, parece que diz uma
coisa distinta. Diz: «vos despojeis do velho homem…». Então, a pergunta é:
que diferença há entre o meu velho homem que foi crucificado, e o que
Paulo diz agora para que nos despojemos do velho homem? Veja a diferença:
Lá é algo que já ocorreu; aqui é algo que tem que ocorrer. Em Romanos 6 é
um fato completo, acabado; mas aqui é dito que é algo que ainda tem que
ser realizado.
Mas, recorde, no princípio dissemos que a revelação e o ensino são as duas
asas necessárias para voar. A primeira asa é que o nosso velho homem «foi
crucificado»; e a segunda: «despojai-vos». O que significa isso? Paulo quer
dizer que, o velho homem, em termos absolutos, do ponto de vista da
verdade, já foi crucificado com Cristo e terminou a sua carreira. Esse é o
fato, essa é a verdade.
Mas, ainda o velho homem habita em minha mente. Aqui, minha mente, é
ainda a mente do velho homem. Então –embora esteja crucificado e foi
crucificado com Cristo–, em minha experiência, está aqui, na medida que
vive em minha mente. Se minha mente for ainda a mente de Adão, a mente
caída do velho homem, ainda o velho homem está aqui.
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Então, o que tem que ocorrer? Tenho que me despojar do velho homem. E
isto se refere a que coisa? A tirar o velho homem de minha mente, isto é, os
pensamentos, conceitos e crenças associados com ele. Quando nascemos,
nossa mente é como uma folha em branco. À medida que crescemos, o
mundo que nos rodeia vai escrevendo nela, e vai estruturando a sua
imagem. Suas ideias, conceitos e crenças são gravadas profundamente emnossas mentes, e em seguida passam a governar as nossas emoções e
vontade. Este mundo jaz debaixo do pecado, e assim, através da nossa
mente, o pecado se apodera da nossa vida.
No entanto, agora em Cristo estamos livres do poder do pecado, e, por meio
do Espírito, temos o poder de renovar a nossa mente, e com isso toda a
nossa vida interior, quer dizer nossa vontade e emoções. Ao fazê-lo, ao nos
renovar na estrutura fundamental de nossa mente, ou como diz Paulo, «o
espírito da vossa mente», toda a nossa vida prática será afetada e
transformada pela vida divina. A vontade por si mesmo é incapaz de tomar
decisões, a menos que seja iluminada pelo entendimento e energizada pelas
emoções. Por isso, se nosso entendimento estiver entrevado, a vontade
ficará escrava dos desejos desordenados do nosso corpo.
A Escola de Cristo
Necessitamos, portanto, saber de que maneira prática colaboramos com arenovação do nosso entendimento. O grande teólogo puritano John Owen
afirmou que o Espírito Santo opera em nós e conosco, mas nunca sem nós.
Compreender isto é fundamental. Como dissemos no princípio, Deus deseja
que colaboremos com ele em nossa transformação. E aqui ele cobra uma
importância essencial o uso dos nossos corpos. Por isso, a primeira coisa
que devemos fazer, a fim de renovar as nossas mentes, é apresentar os
nossos corpos a Deus em holocausto vivo, segundo Romanos 12:1.
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De fato, os nossos corpos foram desde o começo o lugar onde o pecado
residiu e realizou os seus atos. Convertemo-nos, com o passar do tempo, em
pecadores habituais, pois os nossos corpos se encontravam quase
automaticamente orientados a fazer o mau. Em outras palavras, estávamos
condicionados por uma infinidade de hábitos pecaminosos que residem em
nossos corpos.
Por isso, a transformação requer a aquisição de um conjunto inteiramente
novo de hábitos espirituais. E isto é algo que nós devemos fazer, embora
fundamentados nas misericórdias de Deus em Cristo. Deus nos deu todos
os recursos espirituais para que sejamos feitos conforme a imagem de seu
Filho. Mas o fazer um uso adequado destes recursos depende de nós.
Como podemos, então, renovar as nossas mentes? A resposta do apóstolo,
na linha do que se tem dito até aqui, poderia ser chamada a «escola de
Cristo». Nela Cristo é tanto o mestre como o conteúdo a ser aprendido. Em
Efésios, como vimos, Paulo nos diz que nela somos ensinados por Cristo
segundo a verdade que está em Jesus (4:21).
É interessante observar que o apóstolo usa aqui o nome «Jesus» para
referir-se ao Senhor. Por que razão? Porque este tem em mente a Jesus
como homem perfeito (o novo homem), a quem somos chamados a seguir e
imitar como seus discípulos ou aprendizes. No mundo antigo, os alunos não
só deviam aprender o ensino de seu professor, mas também a sua forma de
vida. Isto era basicamente um discípulo. E disso se trata a «escola de
Cristo».
Certamente, para entrar nesta escola necessitamos, como ponto de partida,
um conjunto de habilidades e capacidades espirituais totalmente novas, que
o homem natural (e pecador) simplesmente não possui. Mas estas novas
habilidades nos foram concedidas e garantidas pelas misericórdias de Deus.
Estamos, portanto, em condições de enfrentar a tarefa de sermos discípulosde Cristo e sermos conformados a ele em tudo. Trata-se de nos conformar
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em tudo a Jesus, tal como ele foi e andou enquanto viveu neste mundo.
Sermos semelhantes a ele em sua vida e em sua morte.
Aprendendo de Jesus
Sobre isto temos muito que dizer, mas ao menos podemos nos fixar em dois
ou três pontos básicos:
Em primeiro lugar, em fazer da prática da comunhão com Deus a nossa
ocupação principal, visto que isto é o que Jesus fazia. Os evangelhos nos
dizem que o Senhor se apartava habitualmente para estar a sós com Deus,
às vezes bem cedo na manhã. Nada era mais importante para ele. De fato,
antes de tomar algumas decisões muito importantes, passava a noite inteira
em oração. De modo que, quando afirmava não fazer nada por si mesmo,
mas o que via fazer o Pai, referia-se também a sua prática habitual de
passar tempo a sós com Deus. Estes são atos que passamos normalmentepor alto, pensando equivocadamente que o Senhor estava isento destas
práticas. Mas não era assim.
A encarnação do Filho significou que este decidiu percorrer o caminho do
homem, e relacionar-se com Deus como homem. Desta maneira ele se
converte em nosso Mestre e exemplo de vida espiritual. Se quisermos ser
como ele, nos diz João, devemos andar como ele andou. Ou, nas palavras de
Pedro, devemos seguir o seu exemplo e andar em suas pisadas.
Em consequência, o tempo a sós com Deus implica o disciplinar nossos
corpos para dedicar tempo à comunhão a sós com Deus, e fazer disto a
meta principal de nossa vida cristã.
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Em segundo lugar, precisamos meditar na palavra de Deus habitualmente.
Isto deve ser uma prática disciplinada e constante. Pois só a palavra de
Deus tem o poder de despir e remover de nossa mente os hábitos de
pensamento do velho homem. O salmo 1 nos fala que meditar na lei de
Deus de dia e de noite é a condição essencial para uma vida de abundância
espiritual. Pois ao fazê-lo, obrigamos as nossas mentes a sintonizar-se comas coisas e realidades do Espírito.
Renovando a mente
Nossas mentes estão habituadas a percorrer de maneira automática os
caminhos, conceitos e crenças falsas deste mundo. Portanto, precisamos
exercitá-la de maneira consciente para pensar segundo a verdade que está
em Jesus. Cada dia e a cada momento devemos trazer nossas mentes à
verdade que está em Jesus e rejeitar os pensamentos antigos que estavam
acostumados a governar nossa vida e conduta, até que hábitos
completamente novos de pensamento se formem nelas.
Em outras palavras, precisamos trazer, junto com os nossos corpos, as
nossas mentes ao Senhor. Para muitos de nós, acostumados às coisas
rápidas e instantâneas, tudo isto pode parecer muito estranho e esforçado.
Mas, não existem atalhos no caminho da transformação espiritual. Na
medida em que a verdade renova a nossa mente, a realidade da qual ela nosfala se converterá em nossa experiência.
As misericórdias de Deus só se tornarão parte da nossa vida e experiência
quando aprendermos a pensar e ver todas as coisas através delas. Nossa
mente deve ser renovada por elas. E para isso, precisamos aprender a fixar
nossas mentes na palavra de Deus, memorizá-la e repeti-la constantemente
ao nosso coração. Desta maneira, os velhos hábitos de pensamento serãotrocados pelo poder dessa palavra, que é a espada do Espírito, capaz de
examinar e trazer à luz os nossos pensamentos e crenças mais profundos.
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Então, a vida que está em nosso espírito fluirá para a nossa alma e o nosso
corpo mortal.
O Corpo
Neste caminho, finalmente, precisamos viver em comunhão e sujeição ao
corpo de Cristo. Aprender a confiar as nossas lutas, dúvidas e dificuldades
a outros e a esperar direção, sabedoria e conselho divinos da parte deles.
Isto é parte fundamental da escola de Cristo.
A disposição para sermos ensinados, corrigidos e ajudados por Cristo
através dos nossos irmãos, forma parte essencial de nosso seguir a Cristo
como discípulos, para aprender dele e sermos ensinados por ele. De fato,
este foi o assunto que Paulo tratou no texto que segue às misericórdias de
Deus (Rom. 12:3 ss.).
Finalmente, é necessário dizer que a graça não é contrária ao esforço, mas
ao mérito. Nada do que foi dito até aqui nos fará mais justos ou aceitáveis
diante de Deus. Isto é um dom gratuito de Deus em Cristo, de acordo com a
primeira parte de Romanos. Não obstante, existe, de acordo com o próprio
apóstolo Paulo, a necessidade de nos esforçarmos na graça que esta em
Cristo Jesus (1ª Tim. 2:1). Sem este esforço «na graça», as maravilhosas
misericórdias de Deus e tudo o que elas implicam, permanecerão como um
ideal, um desejo ou um lindo ensino, mas nunca se converterão em algo que
provamos e comprovamos por experiência.