A Transformação Da Mente

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  • 8/18/2019 A Transformação Da Mente

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     A transformação da mente

    O processo de transformação –ou metamorfose– do cristão à semelhança de

    Cristo

    começa com a renovação do entendimento.

    Leitura: Romanos 12:1-2.

     A carta aos Romanos pode ser dividida em duas partes: uma primeira, que

    começa no capítulo 1 e termina no capítulo 11, e uma segunda, que começa

    no capítulo 12 e vai até o final da carta, no capítulo 16. Romanos, da

    mesma forma que Efésios, têm uma primeira parte dedicada aos aspectos

    da revelação da obra de Deus em Cristo, e uma segunda parte, que é a

    aplicação da primeira.

    Os que conhecem os escritos de Paulo sabem que o apóstolo se preocupa

    muito de que o que foi revelado tenha sempre uma aplicação prática. Não secontenta em declarar os feitos, as coisas que Deus tem feito em Cristo, mas

    lhe interessa que estas coisas se traduzam em experiência para a vida da

    igreja.

    Nunca há uma instrução ou um ensino sobre a vida prática que não esteja

    fundamentada na revelação. Mas, por outro lado, nunca há uma verdade

    revelada de Deus em Cristo que não esteja logo aplicada à experiênciaprática. São como as duas asas de uma ave; que necessita de ambas para

     voar.

    Então, nesta segunda parte de Romanos, o apóstolo Paulo nos introduz na

     vida cristã prática; mas essa vida cristã prática é fundamentada nos outros

    onze capítulos que ele escreveu.

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     As misericórdias de Deus

    O versículo 1 do capítulo 12 começa com a expressão: «Assim que…». Esta é

    uma expressão que percorre toda a carta. Em outras partes se traduz«portanto…», mas a expressão grega é a mesma. E isso significa que o que

    ele vai dizer está apoiado em tudo o que ele já disse até este momento, que

    inclui os primeiros 11 capítulos de Romanos.

     Agora, veja que importante isto, porque o que ele disse até aqui é realmente

    abundante em revelação. E esse «portanto…» é a porta de entrada ao que

     vem a seguir: a vida cristã prática.

    «Assim, irmãos, rogo-vos pelas misericórdias de Deus…». A primeira parte

    de Romanos, então, trata das misericórdias de Deus. Que maravilhoso!

    Uma dessas misericórdias é a eleição de Deus. Mas Paulo nos dirá que não

    apenas a eleição divina é um ato misericordioso de Deus, mas a totalidade

    da vida cristã se fundamenta nas misericórdias de Deus.

    Ele vai mencionar pelo menos cinco grandes misericórdias que Deus tem

    feito conosco em Cristo Jesus. E elas têm um propósito, são os

    fundamentos da vida cristã. Quando você pensa em construir uma casa,

    primeiro tem que colocar fundamentos. Se a vida cristã prática for a casa,

    os fundamentos dela são estas misericórdias de Deus. Sem elas, não se

    pode edificar.

    Muitos dos problemas que temos em nossa vida prática se devem a que

    nossos fundamentos não foram colocados de maneira adequada. Em 1ª

    Coríntios 3:10, Paulo diz: «Eu, como perito arquiteto, pus o fundamento».

    Em seguida diz: «Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que

    está posto, o qual é Jesus Cristo» (V. 11).

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    Pôr esse fundamento requer certa perícia, que nem todos têm. Por isso diz:

    «Eu, como perito arquiteto…», embora a palavra arquiteto fosse melhor

    traduzido como construtor. O arquiteto é o que faz os planos, mas aqui está

    falando de quem constrói.

    Para pôr fundamentos, você tem que saber. E principalmente em um país

    como o Chile, que é sísmico. O mesmo Senhor ensinou, no Sermão do

    Monte, quão importante é o assunto do fundamento sobre o qual se edifica

    a casa, neste caso, a nossa vida cristã.

    Depois do terremoto de fevereiro de 2010, viajamos com alguns irmãos a

    Concepción, e passamos a única ponte que ficou em pé sobre o rio Biobío,que justamente cruza pelo lugar onde desabou um edifício. Era um

    espetáculo realmente aterrador: aquele imenso edifício completamente

    deitado no chão. E, quando os peritos foram investigar a causa da queda, foi

    descoberto um grande problema: o edifício foi literalmente construído sobre

    a areia. Isto é uma comprovação da parábola do Senhor Jesus.

     Agora, outros edifícios também foram levantados ali, mas com eles foram

    cavados o suficiente, até encontrar a rocha. As pessoas que construíram

    aquele edifício, não o firmaram sobre a rocha. «…E vieram rios, e sopraram

     ventos, e deram com ímpeto contra aquela casa; e caiu, e foi grande a sua

    ruína» (Mat. 7:27), porque estava edificada sobre a areia.

    Nestas palavras, detectamos algo muito importante. O Senhor disse: «… vieram rios, e sopraram ventos…». Sempre e inevitavelmente, soprarão os

     ventos e virão os rios contra a nossa vida. O Senhor o disse; não se pode

    evitar. Você gostaria que não houvesse ventos, inundações, perigos; mas o

    Senhor o disse. Nossa vida vai ser provada.

     A sua vida, minha vida com o Senhor, vai ser provada. Porque a única forma

    de saber se os fundamentos estão bem colocados é pondo-os a prova.

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    Irmãos amados, o que o Senhor procura em nós é realidade. O que Deus

    quer em sua vida são coisas reais; mesmo que seja pouco, mas que seja

    real. Não quer aparências, não quer questões falsas, errôneas. E, como ele

    quer que a verdade esteja em sua vida, ele vai comover uma e outra vez os

    fundamentos da sua vida.

    Em Hebreus diz que, o Deus que um dia comoveu a terra com a sua voz,

    novamente comoverá a terra e os céus; e todas as coisas que sejam

    mutáveis serão comovidas, para que fiquem as incomovíveis. Se

    pudéssemos descrever a vida cristã, eu diria que é isso. Deus comove tudo

    em nossa vida, para que fique o que não pode ser comovido.

    Por isso, os fundamentos são essenciais. Se a sua vida não tiver bons

    fundamentos, inevitavelmente, você vai sofrer e vai ter problemas. Por isso,

    o apóstolo Paulo dedicou 11 longos capítulos de sua carta aos Romanos,

    para falar dos fundamentos ou das misericórdias de Deus.

    E quando Paulo começa a dizer: «…rogo-vos pelas misericórdias de Deus»,está fazendo alusão a todos esses fundamentos, que são essenciais para a

     vida cristã; e para a edificação não só da vida pessoal de cada um dos

    crentes. Se você seguir lendo verá que, a partir do versículo 3 do capítulo

    12, Paulo vai nos falar da igreja, que é o corpo de Cristo. Porque o lugar

    onde se vive e se realiza a vida cristã é, segundo o desenho de Deus, a

    igreja.

     

    Colaborando com Deus

    No versículo 2, diz algo mais: «Não vos conformeis a este século, mas

    transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento, para quecomproveis qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita». A palavra

    comprovar significa conhecer por experiência. E, quando Paulo fala da boa

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     vontade de Deus, está se referindo ao propósito eterno de Deus (Rom. 8:28-

    29), agora conhecido e experimentado por nós.

    Uma coisa é a revelação do propósito de Deus, mas agora Paulo fala de

    experimentar, ou viver nesse propósito. Porque Deus não só quer que oconheçamos intelectualmente; ele quer que vivamos por meio do seu

    propósito. Se você sozinho souber a sua vontade, mas não vive nessa

     vontade, não serve de nada. Então, Paulo diz: «…para que comproveis…», ou

    o mesmo que dizer: «para que conheçam e vivam a boa vontade de Deus».

    «…aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos

    conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entremuitos irmãos» (Rom. 8:29). Essa é a vontade de Deus. Mas agora está

    falando de que essa vontade de Deus se converta em nossa experiência. A

    isto fomos chamados. Glórias ao Senhor!

    Por isso, Paulo diz: «Não vos conformeis a este século, mas transformai-

     vos…». A expressão «transformai-vos», no grego, está no que chamamos ‘vozmedia’. Em português, temos duas vozes. Quando dizemos que executamos

    algo, usamos a chamada voz ativa: «Eu faço, eu atuo». Quando digo que eu

    recebo sobre mim a ação de outro, então usamos a voz passiva. Mas o grego

    tem uma terceira voz, a voz media. Qual é esta? Quando eu quero dizer que

    faço algo e, simultaneamente, que outro faz também em mim, quer dizer, a

    ação eu executo e ao mesmo tempo outro a executa sobre mim, uso em

    grego a voz media.

    Isto é muito importante, porque a transformação, o processo pelo qual nos

    convertemos de um nada à glória dos filhos de Deus, é um processo que

    Deus faz, mas no qual nós também temos uma parte. Por isso, usa-se a voz

    media. «transformai-vos…». Não diz: «Sede transformados…», porque isto

    significaria que teríamos que ficar sentados e esperar que Deus fizesse

    tudo. A ênfase não está em que Deus faz tudo; nem tampouco diz que eutenho que fazer tudo sozinho, porque seria impossível. Deus faz, e eu

    respondo também ao que ele faz.

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    Nestes dias, Deus nos falou da graça e da responsabilidade, e nos mostrou

    que estas duas coisas não se podem separar. A vida cristã não é apenas

    graça nem só responsabilidade. Se fosse só graça, converter-se-ia em

    libertinagem, e se fosse só responsabilidade, converter-se-ia em legalismo.

    Mas a vida cristã é graça e responsabilidade – nessa ordem. É graça que

     busca uma resposta da nossa parte; nossa colaboração. Isso significa

    responsabilidade.

     

     Transformados

     A palavra grega que foi traduzida aqui como «transformai-vos», é utilizada

    habitualmente no estudo dos insetos, que é metamorfose. Esta palavra

    aparece mais duas vezes no Novo Testamento. Uma em 2ª Coríntios 3:18:

    «portanto, todos nós, olhando o rosto descoberto como em um espelho a

    glória do Senhor, somos transformados –metamorfoseados– de glória emglória na mesma imagem…». E o outro texto está em Mateus 17:1-2: «Seis

    dias depois, Jesus tomou a Pedro, a Tiago e a João seu irmão, e os levou à

    parte a um alto monte; e se transfigurou –se metamorfoseou– diante

    deles…». O Senhor se transfigurou diante dos seus discípulos, quer dizer,

    adotou uma figura distinta; revelou a sua glória. Eles já não o viram com o

     véu da carne, mas transfigurado.

    Quando vemos a Jesus transfigurado, naquela glória com a que apareceu

    aos seus discípulos, nós vemos o propósito de Deus para a nossa vida.

     Jesus glorificado; essa é a imagem a qual Deus nos quer transformar. Você

    pode notar tudo o que Deus tem em mente? Esse Senhor transfigurado é a

    imagem a qual Deus nos predestinou, para que sejamos semelhantes a ele.

    Nós, que somos menos do que nada, pobres, miseráveis, pecadores, cegos,

    nus… fomos predestinados, para um dia sermos feitos semelhantes a JesusCristo.

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    Mas alguém pode perguntar: ‘Como? Chegarei lá algum dia? Será possível

    que eu seja transformado?’ Se observarmos a nossa vida cristã, não parece

    que todo esse assunto é muito lento? Não nos parece que não mudamos

    nunca? E que passam os anos, e os mesmos enganos, fraquezas e fracassos

    seguem ali? Pois, a maioria de nós avançamos lentamente.

    Mas eu creio que Deus quer, e que é a sua vontade que sejamos

    transformados à imagem de seu Filho Jesus Cristo. Creio, porque está

    escrito, e Deus não pode mentir. Porque para isso nos criou, para isso nos

    predestinou, e é por isso que queremos. Você quer mudar e quer ser

    diferente, não porque você é bom. Isto não nasceu de você. Deus o plantou

    em seu coração! É o desejo de Deus que arde em nós, porque somos seus

    filhos.

    Então, irmãos amados, eu creio que o Senhor, em sua misericórdia, dá-nos

    uma chave essencial para a vida transformada aqui em Romanos 12:1-2.

    Paulo está nos dizendo algo importante: a transformação é uma obra deDeus, mas também é obra nossa. Há uma parte que Deus faz, mas há uma

    parte que nos fazemos. A mais importante, a essencial, é a que Deus faz. A

    parte de Deus está contida nessa pequena frase: «as misericórdias de

    Deus». Elas contêm a parte que Deus faz em nossa transformação.

     A nossa parte é a que vem a seguir: «Não vos conformeis a este século, mas

    transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento…» (12:2). Oapóstolo Paulo coloca aqui uma frase chave para a vida cristã prática, e que

    penso é algo que nós passamos por cima constantemente. De alguma

    maneira, não nos damos conta com facilidade disto. Diz: «transformai-

     vos…», e nos diz como: «…por meio da renovação do vosso entendimento».

     

     A importância da mente

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     A Escritura nos diz que a transformação, a metamorfose, na vida cristã,

    ocorre por meio da renovação do nosso entendimento. Nossa mente, nosso

    entendimento, tem um papel vital na vida cristã prática. E, se nós

    descuidarmos disso, descuidamos de toda a nossa vida.

    Embora estejamos falando dos fundamentos, vamos tratar de pô-los em

    ordem. Segundo Tessalonicenses, o ser humano está constituído de três

    partes: espírito, alma e corpo. A parte mais interior da natureza humana é

    o espírito, que foi criado para ter comunhão com Deus, e também é o órgão

    consciente da lei moral de Deus.

    O espírito está consciente das coisas de Deus, e entende a linguagem do

    Espírito Santo. E não só isso, o espírito é a morada, a habitação do Espírito

    Santo no homem.

    Quando nós nascemos neste mundo, por causa de todos sermos filhos de

     Adão, nascemos com um espírito morto. Quando o digo assim, não merefiro a que esteja literalmente morto, mas sim que está carente de função

    para com Deus. Quer dizer que, quanto a Deus, o espírito está morto por

    causa do pecado. Por esta razão, o homem natural não percebe as coisas

    que são do Espírito de Deus (1ª Cor. 3).

     Assim como um cego não percebe a luz nem as cores, assim também um

    homem cujo espírito está morto não percebe as coisas que são do Espírito

    de Deus. O Espírito de Deus pode ser um vento que sopra com força ao

    redor dele, mas ele não o percebe.

    O dia em que você creu em Jesus Cristo ocorreu um milagre maravilhoso

    em sua vida: Você é regenerado. Isso significa que o Espírito de Deus entrou

    em seu espírito e restaurou a sua função original. E, a partir dessemomento em diante, o seu espírito passa a estar vivo e funcionando para

    Deus. Agora você percebe as coisas que são do Espírito de Deus; você está

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     vivo, sente essa agitação da vida em seu interior, sente a voz do Espírito

    dentro de você. Isto é porque o seu espírito foi regenerado pelo Espírito de

    Deus.

    Mas, observe, ainda não aconteceu nada com a sua alma. O que foirenovado é o seu espírito, e você agora está interiormente despertado para

    as coisas de Deus. Mas a obra de transformação que o apóstolo Paulo fala

    não se refere ao nosso espírito – refere-se a nossa alma.

    É ali onde deve ser efetuada a mudança, a transformação; é ali onde

    devemos ser conformados à imagem de Jesus Cristo. Em nossa alma, que é

    onde reside a nossa personalidade; aí onde está o eu, onde estão ospensamentos, as lembranças, a vontade, as emoções e a mente. E agora

     vem outra chave: a porta de entrada para a vida da alma não é a vontade

    nem são as emoções; é a mente. Tudo passa através da mente.

    Se o seu espírito for regenerado, mas a sua mente não se renovar, a vida

    nova que está em seu espírito não poderá alcançar a sua alma. É umachave absoluta na Escritura. Por isso a ênfase – a mente tem que ser

    renovada.

     

     A mente como uma janela

    Quando vinha para cá, no caminho, dava-me conta que o vidro traseiro do

    meu automóvel estava horrivelmente sujo e não podia ver quase nada.

     Assim também, se a sua mente não se renovar, é como uma janela suja.

     Você trata de olhar através dela, e não vê nada. Você trata de apropriar-se

    das coisas espirituais, e não pode. Se a sua mente não se renovar, você

    nunca poderá se apropriar das coisas que Deus tem feito em Cristo. Por issoPaulo enfatiza tanto este ponto.

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     Todas as misericórdias de Deus são coisas reais, são verdadeiras; todas

    estão ali, mas você não tem como alcançá-las. Poderá ouvir pregação após

    pregação, mas a sua mente é velha e ainda não se renovou; ainda é terrena

    e humana. Você ainda tem a mente do Adão caído, do Adão terrestre.

    É impossível que você ou eu possamos viver a vida cristã com uma mente

    que não se renovou; não há transformação possível. A Escritura põe uma

    ênfase central nisto.

     Vejamos Efésios 4. Quando Paulo fala da vida cristã prática, parte outra vez

    para o mesmo assunto. «E digo isto, e testifico no Senhor: que já não andeis

    como os outros gentios, que andam na vaidade da sua mente…» (Ef. 4:17). A vida que os gentios vivem é vã, porque vivem na vaidade da sua mente. Sua

    mente é vã, cheia de pensamentos vãos, sem propósito, sem o destino, sem

    assunto; sem conhecimento de Deus, nem dos caminhos, nem dos

    pensamentos de Deus.

    «…tendo o entendimento entrevado –em trevas–, alheios da vida de Deus» (V.18). É uma mente que não tem a menor capacidade de perceber as coisas

    de Deus. Deus não existe para eles. «Diz o néscio em seu coração: Não há

    Deus» (Sal. 14:1). A expressão não se refere a uma negação teórica. O néscio

    não o diz em sentido filosófico teórico, ao modo de Nietzsche e outros. O

    néscio é aquele para quem Deus não existe na vida prática. Até pode ser

    que creia que existe um deus por aí, mas isso não faz nenhuma diferença

    para a sua vida prática. Na vida real, Deus está ausente. Esse é o néscio,

    segundo a Escritura.

    «…alheios da vida de Deus», porque a sua mente está em trevas. «…pela

    ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, depois que

    perderam toda sensibilidade, se entregaram à lascívia…» (Ef. 4:18-19).

    Observe, este é o caminho dos pecadores. Quando a mente está entrevada e

    se torna vã, os homens se tornam escravos de desejos desordenados.

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    Irmãos amados, os que pastoreiam, recordem isto: Quando uma pessoa está

    dominada por um desejo desordenado, compulsivo, que não pode controlar,

    o problema não está no desejo em si – está em sua mente. É sua mente que

    precisa ser renovada para que seja libertada. Porque a Escritura diz

    claramente: a lascívia é um desejo desordenado e compulsivo, que você não

    governa, sobre o qual não tem poder; mas essa é a consequência de umamente entrevada e vã.

     A mente produz esse efeito sobre a vontade e sobre as emoções, porque, na

    ordem de criação de Deus, a mente deve governar a vontade e as emoções.

    Se a mente estiver em trevas, a vontade também estará em escuridão, e os

    desejos se apoderarão dela.

     

     A importância da Verdade

    Mas o versículo 20 diz: «Mas vós não aprendestes assim a Cristo…».Observe a ênfase e a maneira em que Paulo fala de Cristo aqui. Você pode

    recordar as palavras do Senhor quando ele disse: «Eu sou o caminho, e a

     verdade, e a vida» (João 14:6). E Paulo, aqui, fala-nos de um desses três

    aspectos – Cristo como «a verdade». Observe, porque ele está falando da

    mente. E a maneira em que a mente aprende a Cristo, apropria-se de

    Cristo, é conhecendo-o como a verdade. Não esqueça isto: O espírito se

    apropria de Cristo como vida; mas a mente se apropria dele como verdade.

    Cristo é tão completo. Ele não é apenas a vida; também é a verdade. E,

    sendo ele a verdade, pode renovar a nossa mente. Por isso diz: «…se na

     verdade o ouvistes, e fostes por ele ensinados, conforme é à verdade que

    está em Jesus». Você conhece a verdade que está em Jesus? Conhece a

     Jesus Cristo como a verdade, e não só como a vida ou como poder? Porque

    o único que pode renovar a sua mente é Cristo, a verdade.

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    E então diz: «Quanto à passada maneira de viver, vos despojeis do velho

    homem, que está viciado conforme os desejos enganosos, e vos renoveis no

    espírito da vossa mente, e revesti-vos do novo homem, criado segundo Deus

    na justiça e santidade da verdade» (Ef. 4:22-24). Porque esse é o assunto – a

     verdade está em Jesus.

    Se você ler Romanos 6, que é uma das misericórdias de Deus, um dos

    fundamentos da vida cristã, descobrirá que ali diz que «o nosso velho

    homem foi crucificado juntamente com ele (Cristo)» (Rom. 6:6). Esta

    crucificação do velho homem está no tempo passado. Algo que já ocorreu;

    um fato definitivo, completo, acabado no passado.

    O menciono, porque, quando você lê em Efésios 4:22, parece que diz uma

    coisa distinta. Diz: «vos despojeis do velho homem…». Então, a pergunta é:

    que diferença há entre o meu velho homem que foi crucificado, e o que

    Paulo diz agora para que nos despojemos do velho homem? Veja a diferença:

    Lá é algo que já ocorreu; aqui é algo que tem que ocorrer. Em Romanos 6 é

    um fato completo, acabado; mas aqui é dito que é algo que ainda tem que

    ser realizado.

    Mas, recorde, no princípio dissemos que a revelação e o ensino são as duas

    asas necessárias para voar. A primeira asa é que o nosso velho homem «foi

    crucificado»; e a segunda: «despojai-vos». O que significa isso? Paulo quer

    dizer que, o velho homem, em termos absolutos, do ponto de vista da

     verdade, já foi crucificado com Cristo e terminou a sua carreira. Esse é o

    fato, essa é a verdade.

    Mas, ainda o velho homem habita em minha mente. Aqui, minha mente, é

    ainda a mente do velho homem. Então –embora esteja crucificado e foi

    crucificado com Cristo–, em minha experiência, está aqui, na medida que

     vive em minha mente. Se minha mente for ainda a mente de Adão, a mente

    caída do velho homem, ainda o velho homem está aqui.

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    Então, o que tem que ocorrer? Tenho que me despojar do velho homem. E

    isto se refere a que coisa? A tirar o velho homem de minha mente, isto é, os

    pensamentos, conceitos e crenças associados com ele. Quando nascemos,

    nossa mente é como uma folha em branco. À medida que crescemos, o

    mundo que nos rodeia vai escrevendo nela, e vai estruturando a sua

    imagem. Suas ideias, conceitos e crenças são gravadas profundamente emnossas mentes, e em seguida passam a governar as nossas emoções e

     vontade. Este mundo jaz debaixo do pecado, e assim, através da nossa

    mente, o pecado se apodera da nossa vida.

    No entanto, agora em Cristo estamos livres do poder do pecado, e, por meio

    do Espírito, temos o poder de renovar a nossa mente, e com isso toda a

    nossa vida interior, quer dizer nossa vontade e emoções. Ao fazê-lo, ao nos

    renovar na estrutura fundamental de nossa mente, ou como diz Paulo, «o

    espírito da vossa mente», toda a nossa vida prática será afetada e

    transformada pela vida divina. A vontade por si mesmo é incapaz de tomar

    decisões, a menos que seja iluminada pelo entendimento e energizada pelas

    emoções. Por isso, se nosso entendimento estiver entrevado, a vontade

    ficará escrava dos desejos desordenados do nosso corpo.

     

     A Escola de Cristo

    Necessitamos, portanto, saber de que maneira prática colaboramos com arenovação do nosso entendimento. O grande teólogo puritano John Owen

    afirmou que o Espírito Santo opera em nós e conosco, mas nunca sem nós.

    Compreender isto é fundamental. Como dissemos no princípio, Deus deseja

    que colaboremos com ele em nossa transformação. E aqui ele cobra uma

    importância essencial o uso dos nossos corpos. Por isso, a primeira coisa

    que devemos fazer, a fim de renovar as nossas mentes, é apresentar os

    nossos corpos a Deus em holocausto vivo, segundo Romanos 12:1.

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    De fato, os nossos corpos foram desde o começo o lugar onde o pecado

    residiu e realizou os seus atos. Convertemo-nos, com o passar do tempo, em

    pecadores habituais, pois os nossos corpos se encontravam quase

    automaticamente orientados a fazer o mau. Em outras palavras, estávamos

    condicionados por uma infinidade de hábitos pecaminosos que residem em

    nossos corpos.

    Por isso, a transformação requer a aquisição de um conjunto inteiramente

    novo de hábitos espirituais. E isto é algo que nós devemos fazer, embora

    fundamentados nas misericórdias de Deus em Cristo. Deus nos deu todos

    os recursos espirituais para que sejamos feitos conforme a imagem de seu

    Filho. Mas o fazer um uso adequado destes recursos depende de nós.

    Como podemos, então, renovar as nossas mentes? A resposta do apóstolo,

    na linha do que se tem dito até aqui, poderia ser chamada a «escola de

    Cristo». Nela Cristo é tanto o mestre como o conteúdo a ser aprendido. Em

    Efésios, como vimos, Paulo nos diz que nela somos ensinados por Cristo

    segundo a verdade que está em Jesus (4:21).

    É interessante observar que o apóstolo usa aqui o nome «Jesus» para

    referir-se ao Senhor. Por que razão? Porque este tem em mente a Jesus

    como homem perfeito (o novo homem), a quem somos chamados a seguir e

    imitar como seus discípulos ou aprendizes. No mundo antigo, os alunos não

    só deviam aprender o ensino de seu professor, mas também a sua forma de

     vida. Isto era basicamente um discípulo. E disso se trata a «escola de

    Cristo».

    Certamente, para entrar nesta escola necessitamos, como ponto de partida,

    um conjunto de habilidades e capacidades espirituais totalmente novas, que

    o homem natural (e pecador) simplesmente não possui. Mas estas novas

    habilidades nos foram concedidas e garantidas pelas misericórdias de Deus.

    Estamos, portanto, em condições de enfrentar a tarefa de sermos discípulosde Cristo e sermos conformados a ele em tudo. Trata-se de nos conformar

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    em tudo a Jesus, tal como ele foi e andou enquanto viveu neste mundo.

    Sermos semelhantes a ele em sua vida e em sua morte.

     

     Aprendendo de Jesus

    Sobre isto temos muito que dizer, mas ao menos podemos nos fixar em dois

    ou três pontos básicos:

     Em primeiro lugar, em fazer da prática da comunhão com Deus a nossa

    ocupação principal, visto que isto é o que Jesus fazia. Os evangelhos nos

    dizem que o Senhor se apartava habitualmente para estar a sós com Deus,

    às vezes bem cedo na manhã. Nada era mais importante para ele. De fato,

    antes de tomar algumas decisões muito importantes, passava a noite inteira

    em oração. De modo que, quando afirmava não fazer nada por si mesmo,

    mas o que via fazer o Pai, referia-se também a sua prática habitual de

    passar tempo a sós com Deus. Estes são atos que passamos normalmentepor alto, pensando equivocadamente que o Senhor estava isento destas

    práticas. Mas não era assim.

     A encarnação do Filho significou que este decidiu percorrer o caminho do

    homem, e relacionar-se com Deus como homem. Desta maneira ele se

    converte em nosso Mestre e exemplo de vida espiritual. Se quisermos ser

    como ele, nos diz João, devemos andar como ele andou. Ou, nas palavras de

    Pedro, devemos seguir o seu exemplo e andar em suas pisadas.

    Em consequência, o tempo a sós com Deus implica o disciplinar nossos

    corpos para dedicar tempo à comunhão a sós com Deus, e fazer disto a

    meta principal de nossa vida cristã.

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    Em segundo lugar, precisamos meditar na palavra de Deus habitualmente.

    Isto deve ser uma prática disciplinada e constante. Pois só a palavra de

    Deus tem o poder de despir e remover de nossa mente os hábitos de

    pensamento do velho homem. O salmo 1 nos fala que meditar na lei de

    Deus de dia e de noite é a condição essencial para uma vida de abundância

    espiritual. Pois ao fazê-lo, obrigamos as nossas mentes a sintonizar-se comas coisas e realidades do Espírito.

     

    Renovando a mente

    Nossas mentes estão habituadas a percorrer de maneira automática os

    caminhos, conceitos e crenças falsas deste mundo. Portanto, precisamos

    exercitá-la de maneira consciente para pensar segundo a verdade que está

    em Jesus. Cada dia e a cada momento devemos trazer nossas mentes à

     verdade que está em Jesus e rejeitar os pensamentos antigos que estavam

    acostumados a governar nossa vida e conduta, até que hábitos

    completamente novos de pensamento se formem nelas.

    Em outras palavras, precisamos trazer, junto com os nossos corpos, as

    nossas mentes ao Senhor. Para muitos de nós, acostumados às coisas

    rápidas e instantâneas, tudo isto pode parecer muito estranho e esforçado.

    Mas, não existem atalhos no caminho da transformação espiritual. Na

    medida em que a verdade renova a nossa mente, a realidade da qual ela nosfala se converterá em nossa experiência.

     As misericórdias de Deus só se tornarão parte da nossa vida e experiência

    quando aprendermos a pensar e ver todas as coisas através delas. Nossa

    mente deve ser renovada por elas. E para isso, precisamos aprender a fixar

    nossas mentes na palavra de Deus, memorizá-la e repeti-la constantemente

    ao nosso coração. Desta maneira, os velhos hábitos de pensamento serãotrocados pelo poder dessa palavra, que é a espada do Espírito, capaz de

    examinar e trazer à luz os nossos pensamentos e crenças mais profundos.

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    Então, a vida que está em nosso espírito fluirá para a nossa alma e o nosso

    corpo mortal.

     

    O Corpo

    Neste caminho, finalmente, precisamos viver em comunhão e sujeição ao

    corpo de Cristo. Aprender a confiar as nossas lutas, dúvidas e dificuldades

    a outros e a esperar direção, sabedoria e conselho divinos da parte deles.

    Isto é parte fundamental da escola de Cristo.

     A disposição para sermos ensinados, corrigidos e ajudados por Cristo

    através dos nossos irmãos, forma parte essencial de nosso seguir a Cristo

    como discípulos, para aprender dele e sermos ensinados por ele. De fato,

    este foi o assunto que Paulo tratou no texto que segue às misericórdias de

    Deus (Rom. 12:3 ss.).

    Finalmente, é necessário dizer que a graça não é contrária ao esforço, mas

    ao mérito. Nada do que foi dito até aqui nos fará mais justos ou aceitáveis

    diante de Deus. Isto é um dom gratuito de Deus em Cristo, de acordo com a

    primeira parte de Romanos. Não obstante, existe, de acordo com o próprio

    apóstolo Paulo, a necessidade de nos esforçarmos na graça que esta em

    Cristo Jesus (1ª Tim. 2:1). Sem este esforço «na graça», as maravilhosas

    misericórdias de Deus e tudo o que elas implicam, permanecerão como um

    ideal, um desejo ou um lindo ensino, mas nunca se converterão em algo que

    provamos e comprovamos por experiência.