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73 Via Teológica | Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93 A UNIVERSALIDADE DA LAMENTAÇÃO The Univerality of Mourning Igor Pohl Baumann. 1 Resumo Este artigo pretende mostrar que a lamentação, presente nos textos bíblicos, é um fenômeno universal, comum à religiosidade humana. A experiência da lamentação é universal; sua expressão é particular, tal como vemos na literatura bíblica. A finalidade da lamentação, através da expressão da dor e perdas sofridas – seja por meio de liturgias ou orações pessoais – é dar um sentido e esperança aos sofredores. Palavras-chaves: Teologia; Lamentação; Lamento; Experiência Religiosa; Oração. Abstract This article intends to show that lamentation, found in biblical texts is a universal phenomenon common to human religiosity. The experience of mourning is universal; its expression is particular, as we see in biblical literature. The purpose of mourning, through the expression of pain and losses - either through personal prayers or liturgies-one is to give meaning and hope to sufferers. 1 Igor Pohl Baumann. Mestre em Ciências da Religião pela UMESP. Bacharel em Teologia pela FTBP. É professor da FTBP. Pastor da área de educação cristã da Primeira Igreja Batista de Curitiba, diretor e professor do Centro de Formação Ministerial de sua igreja (CFM). E-mail: [email protected].

A UNIVERSALIDADE DA LAMENTAÇÃO - ftbp.com.br · estudos teológicos do Antigo Testamento. ... Claus Westermann (1909-2002) ... como a sua teologia, isto é,

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73Via Teológica | Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93

A UNIVERSALIDADE DA LAMENTAÇÃO

The Univerality of Mourning

Igor Pohl Baumann.1

Resumo

Este artigo pretende mostrar que a lamentação, presente nos

textos bíblicos, é um fenômeno universal, comum à religiosidade

humana. A experiência da lamentação é universal; sua expressão

é particular, tal como vemos na literatura bíblica. A finalidade da

lamentação, através da expressão da dor e perdas sofridas – seja

por meio de liturgias ou orações pessoais – é dar um sentido e

esperança aos sofredores.

Palavras-chaves: Teologia; Lamentação; Lamento; Experiência

Religiosa; Oração.

Abstract

This article intends to show that lamentation, found in

biblical texts is a universal phenomenon common to human

religiosity. The experience of mourning is universal; its expression

is particular, as we see in biblical literature. The purpose of

mourning, through the expression of pain and losses - either

through personal prayers or liturgies-one is to give meaning and

hope to sufferers.

1 Igor Pohl Baumann. Mestre em Ciências da Religião pela UMESP. Bacharel em Teologia pela FTBP. É professor da FTBP. Pastor da área de educação cristã da Primeira Igreja Batista de Curitiba, diretor e professor do Centro de Formação Ministerial de sua igreja (CFM). E-mail: [email protected].

74 Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93 | Via Teológica

Keywords: Theology; Lamentation; Weeping; Religious

Experience; Prayer.

INTRODUÇÃO

A lamentação é um fenômeno universal. É uma experiência

religiosa que existe desde o mundo antigo até os dias atuais. Esse

fenômeno não está restrito apenas ao antigo Israel, pois vai além

dos limites da religião de Israel, literatura hebraica e influências

israelitas. O antigo Israel faz parte de um ambiente maior na qual

a lamentação se apresenta. Em outras palavras, o mundo antigo

antes de Israel já testemunha a presença de lamentações em seu

modo de ser.

As maneiras como se apresentam os lamentos são

diferentes de uma cultura para outra. Suas variantes dependem

dos símbolos, dos mitos, dos textos e rituais que perfazem cada

cultura. No entanto, essa diversidade de expressar o lamento

possui pontos comuns. Ou seja, há um núcleo básico que permite

ao pesquisador verificar e analisar tal experiência a partir de

várias perspectivas (fenomenológica, psicológica, antropológica,

sociológica, filológica, teológica, etc.).

Vejamos como a lamentação é um fenômeno universal

começando pela sua localização nos estudos acadêmicos, sua

presença nos documentos religiosos, como uma experiência

religiosa comum entre os seres humanos que sofrem e, por

fim, verificando sua expressão em outros tipos específicos de

lamento que não da literatura bíblica em si para atestar sua

presença universal.

Com isso, nosso objetivo é demonstrar que o lamento

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bíblico é uma forma particular da religião de Israel, mas anterior

e inerente a isso, é uma experiência comum aos seres humanos.

Certamente, o diferencial da lamentação bíblica de uma não-

bíblica é o caráter teológico da mesma (BAUMANN, 2011).

1 A LAMENTAÇÃO NA PESQUISA CIENTÍFICA

O tema da lamentação é de interesse dos pesquisadores

tanto no campo das religiões quanto da Teologia. Ele tem ocupado

espaço nos estudos do mundo antigo, da religião de Israel e nos

estudos teológicos do Antigo Testamento.

Foi a pesquisa da crítica da forma que possibilitou maiores

avanços e contribuições para que a pesquisa da lamentação tivesse

tal reconhecimento.

Ao longo da história da pesquisa da lamentação (que nos

estudos bíblicos está bastante vinculada à pesquisa dos salmos),

podemos verificar progressos no campo da interpretação.

Coetzee sugere seis períodos como base2, mas o estudo da

lamentação se desenvolveu a partir da classificação “salmos de

lamentação” amplamente difundida pelo trabalho de Hermann

Günkel (1862-1932), reconhecido como o pai da crítica da

forma, a Gattungforschung.

Portanto, grande parte da literatura que visa ao estudo da

lamentação e/ou do lamento em si concentra-se a partir do exame

2 Os períodos sugeridos por Coetzee são: primeiro século d.C., patrística, igreja medieval, hermenêutica da reforma protestante, pós-reforma (séculos XVII a XIX) e o século XX, que foi a época em que a base da pesquisa dos salmos de lamentação mais se desenvolveu. A lamentação começa a ser estudada, a partir do século XX, como um gênero literário devido à perspectiva da crítica das formas. Consulte: COETZEE, J.H. A Survey of Research on the Psalms of Lamentation.Old Testament Essays. Pretoria: OTSSA, n.5, p.151-155, 1992.

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acurado do gênero literário dos salmos bíblicos, dentre os quais

encontramos o de lamentação.

Não obstante, sabemos que a poesia hebraica testemunha

de lamentações em outros livros bíblicos além dos salmos. Os

livros proféticos possuem textos de lamentação, alguns até mesmo

coletâneas bastante significativas no corpo geral dos documentos.

Reconhecemos, porém, que a crítica da forma não é a única

perspectiva de leitura da lamentação. É correto afirmar que ela

abriu caminhos para outros pesquisadores e novas abordagens de

aprofundamento na análise da lamentação. Claus Westermann

(1909-2002) discorda da classificação pormenorizada de Günkel

para os salmos e sugere uma mais simples: louvor e lamento apenas

(WESTERMANN, 1981, p.15-35). Westermann considera os

salmos bíblicos não só na perspectiva literária, mas da perspectiva

da experiência religiosa (comum à humanidade).

Cada período identificado por Coetzee contribuiu para o

avanço da pesquisa da lamentação, de nosso interesse. É certo

que com Günkel ela expandiu-se, porém, posteriormente,

surgiram outros estudos: Mowinckel com as interpretações

cúlticas dos salmos; estudos mais amplos no âmbito teológico,

como os de Westermann; e estudos mais específicos na área

histórico-crítica, como os de Gerstenberger. Estes e outros são

igualmente importantes na pesquisa dos salmos de lamentação

e, concomitantemente, no da linguagem de lamentação que

perpassa os documentos bíblicos.

Seguindo Coetzee (1992, p.167,168), podemos direcionar

algumas possíveis tendências na pesquisa da linguagem de

lamentação: a) os exegetas não podem desprezar as formas de

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lamentação da atualidade, pois elas são restritas a cada cultura e

idiossincrasia; b) nenhuma abordagem exegética usada no passado

ou no presente pode depreciar outro tipo de abordagem no

auxílio da linguagem do texto sagrado cristão e estudos no campo

fenomenológico; c) a diversidade de perspectivas de pesquisa da

lamentação deve ser respeitada, pois todas elas possuem seus

méritos e contribuições, podendo uma ser aperfeiçoada à luz

da contribuição da outra; d) a aplicabilidade hermenêutica das

lamentações dependem da situação de vida do leitor ou ouvinte;

e) o excesso de ênfases nas tendências de interpretação específica

deve levar os estudiosos a retificarem suas ações no pensamento

exegético; f) o conhecimento da história de Israel, do ambiente

social, cultural e religioso do pano de fundo do Antigo Oriente

Médio, da arqueologia do mundo antigo, da língua hebraica, do

ugarítico, das perspectivas exegéticas antigas e modernas, princípios

hermenêuticos e perspectivas teológicas são indispensáveis para o

crescimento das pesquisas dos salmos de lamentação; g) realizar o

exame mais detalhado nos pontos de estagnação da pesquisa para

tornar mais efetivo e relevante o uso dos salmos de lamentação

(não apenas os do saltério) na experiência religiosa da igreja e das

comunidades de fé, de um modo geral.

As várias situações de sofrimento no mundo, por exemplo,

no sul da África e do chamado Terceiro Mundo, têm requerido

novas perspectivas na pesquisa da lamentação devido às

circunstâncias de constantes lamentos e dores na conjuntura da

história atual. Uma dessas novas perspectivas é a da fenomenologia

religiosa aplicada às lamentações. Ela procura verificar através

dos documentos bíblicos a “experiência” não só teológica, mas

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a manifestação religiosa da qual deriva e dá sentido à prática tão

antiga e universal que é a lamentação.

Portanto, lamentar se torna uma forma de expressão do

fenômeno religioso em torno do antigo Oriente Próximo, do

antigo Israel, mas também de outras culturas que a utilizam como

recurso sócio, religioso, cultural e literário.

2 A LAMENTAÇÃO EM DOCUMENTOS RELIGIOSOS

A humanidade produziu textos e documentos que registram

suas percepções religiosas, sua narrativa de origem e suas práticas

rituais; e assim o fez através de sua capacidade de comunicação

escrita. Temos acesso às práticas de lamentação ou à referência

ao fenômeno em si através de textos que o mundo antigo nos

legou. A lamentação faz parte da constituição da cosmovisão e

práticas religiosas dos povos que se fizeram conhecer por meio de

sua literatura, literatura sagrada.

Os textos religiosos foram escritos primariamente com

a intenção de ser organizado e organizador das relações com o

sagrado (ROSENSTOCK-HUESSY, 2002, p.40). Os textos de

lamentação tornam perceptível essa relação com o sagrado em

momentos de perda e sofrimento.

A linguagem religiosa pretende, através de símbolos,

estabelecer a relação com o sagrado. Os símbolos são “eternos em

sua mensagem e ilimitados em seu conteúdo” (ALVES, 1991, p.22).

As religiões “empregam essas imagens simbólicas e as utilizam

para se exprimir justamente porque o ser humano busca nelas, e

por meio delas, a representação da totalidade da vida e o sentido

da própria existência e do universo” (GOMES; COLONHEZI;

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2005, p.227,228). A religião e seus símbolos fornecem caminhos

para que os seres humanos se relacionem com seu mundo interior

e exterior (ALVES, 1991, p.24).

É a partir da linguagem religiosa que se estrutura a linguagem

religiosa de escrita, documentando as memórias religiosas dos

grupos afins.

A linguagem religiosa escrita reorganiza e propaga a

estrutura simbólica e subjetiva de determinado grupo religioso

e impede o surgimento de maus entendidos advindos de

lógicas contrárias aos seus sistemas religiosos e teológicos. Os

documentos sagrados de um povo são escritos para impedir a

elucubração dialógica que descaracterizaria os componentes

essenciais que definem tal grupo.

É na linguagem escrita que os componentes dos grupos

são vinculados entre si, e ela se torna um veículo promotor de

uma religião (PINTO, 2002, p.81-98). A literatura religiosa torna

perceptível, no momento necessário (geralmente num ritual

cúltico), a individualização e distinção do outro; e em outro

momento, a identidade coletiva. A linguagem apresentada nos

documentos religiosos aponta para o ideal de uma religião bem

como a sua teologia, isto é, seus modos de pensar sobre Deus e as

relações de Deus com o universo (BAUMANN, 2010).

Os documentos sagrados de um grupo é que proporcionam

uma observação do universo simbólico próprio de sua religião.

A literatura religiosa é uma das formas de comunicação que

pretende influenciar o outro e seu “[...] objetivo é sempre o

convencimento dos ouvintes ou leitores a adotarem uma atitude

ou comportamento ideal, de acordo com certos padrões religiosos

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já estabelecidos ou, ao contrário, como ocorre na profecia bíblica,

novos [padrões e comportamentos]” (MALANGA, 2005, p.31).

Em vários segmentos religiosos na história da humanidade,

atesta-se a presença de documentos religiosos. Onde são, por

vezes, registrados a partir de tradições orais com a finalidade

de responder às tensões externas ao meio e definir a identidade

religiosa-cultural do grupo. O antigo Oriente Próximo testemunha

essa produção literária de feitio religioso. O povo de Israel,

sobremaneira, contribuiu com esta perspectiva construindo um

cânon religioso, a saber, o Antigo Testamento.

As tradições religiosas (por vezes milenares) que produziram

literatura (em sua maioria sacra) foram oralmente transmitidas e

registradas para delimitar a identidade e status quo de determinada

sociedade (GRESCHAT, 2005, p.49-57). Para o antigo Israel, a

produção da Bíblia Hebraica, isto é, o seu conjunto oficial de

textos sagrados, consistiu num longo período e passou por diversas

etapas até a definição de um cânon oficial.

Para Alter, a “evidência dos textos sugere que o impulso

literário no Israel antigo eram inextricáveis, de modo que para

entender o segundo é preciso levar plenamente em conta o

primeiro” (ALTER; KERMODE, 1997, p.29). Em outras palavras,

o fenômeno literário em Israel está intimamente relacionado com

sua religião. Por conseguinte, os textos sagrados do antigo Israel

testemunham sobremaneira a presença de lamentações.

Segundo Rainer, podemos localizar o início desta intensa

atividade editorial em Israel durante o período da monarquia e,

principalmente, do exílio: épocas de tensões e ressignificações na

compreensão da realidade para Israel (RAINER, 2003). Na época

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do exílio, por exemplo, instaurou-se em Israel a necessidade de

ressignificação de seu universo religioso devido à conjuntura

política, econômica e social de Israel.

Dessa forma, os textos da Bíblia Hebraica interpretam e

descrevem os eventos passados à luz de sua cosmovisão [presente]

e, nesse contexto, os “artefatos que refletem este contexto”

(SMITH, 2006, p.36). A literatura sagrada de Israel é uma

narrativa interpretada e “suplementada” ao longo dos anos que

retrata a memória religiosa do povo. É por meio da narrativa que

Israel constrói sua compreensão da realidade: de Deus, de si, do

indivíduo e do mundo (SMITH, 2006, p.190-203). Desse ponto

é que se depreende sua teologia e a teologia das lamentações

(WESTERMANN, 1974).

Portanto, a Bíblia Hebraica é a fonte da qual nos

aproximamos das lamentações de Israel do antigo Oriente. A

linguagem de lamentação, portanto, pode ser acessada através da

verificação e análise das fontes na qual esse tipo de linguagem se

manifesta, isto é, na Bíblia Hebraica.

Ou seja, é a partir da análise dos textos de lamentações

neste conjunto literário sagrado da religião de Israel que

analisamos as lamentações e, significativamente, podemos

analisar os lamentos do saltério e aqueles fora do saltério,

embutidos nos livros proféticos. E assim, na busca de outras

expressões do fenômeno da lamentação, podemos encontrar nos

documentos de um povo, cultura ou religião, as peculiaridades

que depreendem tal fenômeno.

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3 O FENÔMENO DA LAMENTAÇÃO

A prática da lamentação é uma experiência internacional

ligada às tradições do antigo Oriente Próximo, anterior e além de

Israel. Mas essa experiência perpassa toda e qualquer cultura, pois

está vinculada à experiência religiosa do ser humano.

O Israel que encontramos nas páginas da literatura

canônica estava imbuído num universo maior que si mesmo. O

Israel corporativo foi influenciado pelas culturas que encontrou

no contexto geográfico e cultural em que se estabeleceu. Somente

assim, eles puderam, mais tarde, influenciar outros com sua

prática e literatura de lamentação.

O pressuposto de que a lamentação é um fenômeno

universal pode ser devidamente localizado entre as ciências

humanas e das religiões porque: envolve a existência humana e

suas relações, incluindo sua relação com o sagrado; e, demonstra

que o sofrimento é universal, para além das diferenças culturais,

suas expressões são particulares.

O sofrimento humano possuí dimensões individuais e

sociais. É resultado de diversos fatores como perdas, fracassos,

doenças, morte, violências, medos, conflitos inter e intrapessoais.

Em outras palavras, o sofrimento é parte integrante da vida

(GERSTENBERGER, 2007, p.7-16). A lamentação se faz parte

necessária da vida, da mesma forma. Significativamente, o

lamento é a linguagem do sofredor.

Os sofredores ao longo da história, especialmente a história

das religiões, recorriam à prática da lamentação para dar voz ao

seu sofrimento; recorriam aos lamentos em diversos contextos

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para fazer algo quando não havia mais nada o que fazer. Através da

lamentação, expressavam em liturgias, textos e canções as questões

profundas e complexas da existência humana; e, ao cantar suas

injustiças, expunham suas emoções dolorosas e perplexidades. Os

cultos e liturgias incluíam o espaço para o sofredor, não apenas

para os felizes e abastados. Com a liturgia de lamentação, o

sofredor não poderia acomodar-se diante da dor de suas perdas,

ele precisava passar por elas.

A prática da lamentação levava (leva) o ser humano a uma

experiência de superação do caos estabelecido em suas relações.

Ela fornece ao que se sente vitimado a oportunidade de atestar

sua finitude e falta de sentido e se dirigir em direção ao que lhe

dá segurança e sentido (CROATTO, 2010, p.41-46).

Considerando isso, a prática da lamentação constitui na

interioridade humana o desejo (inato) de organização de seu

universo e a possibilidade de esperança de salvação (CROATTO,

2010, p.46-48). Naturalmente, estamos considerando como

pressuposto básico o ser humano como ser inerentemente

religioso, isto é, como homo religiosus (homem religioso) (ELIADE,

2008, p.170). Portanto, a lamentação pode ser uma experiência

(hierofania) deste ser humano religioso com o mysterium (mistério,

divindade, Deus) por causa da vivência inevitável do sofrimento.

Como toda experiência religiosa, ela é constituída de: um

universo simbólico peculiar ao lamentador e à coletividade no

qual o individuo está incluso; e da possibilidade de relação com

o sagrado para que a pessoa liberte-se da dor ao experimentar

transcendência. Daí a importância da prática da lamentação estar

voltada para o sagrado, que é o que acontece visivelmente na

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tradição judaico-cristã.

Por isso, em uma dentre várias formas de lamentação, o

sofredor ou suplicante realiza em um ato de contestação contra

sua divindade, originada a partir do desconforto na relação de

um “eu/nós” com o “Tu”. Na maioria das vezes, esse tipo de

lamentação não exige reverência, nem qualquer pomposidade

litúrgica.

Os lamentos do livro de Jeremias, por exemplo, são

como desabafos perplexos de quem se sente humilhado pela

própria divindade. Peterson (2007, p.210) parafraseia Buber

exemplificando essa relação conturbada que existe na experiência

religiosa da lamentação:

Ele, a quem e por meio de quem a palavra é falada, é uma pessoa no pleno sentido da palavra. Antes da palavra ser proferida por ela na linguagem humana, ela lhe é falada em outra linguagem, da qual é traduzida para a humana, para ele esta palavra é dirigida como ocorre de pessoa a pessoa. Com o propósito de falar ao homem, Deus deve tornar-se uma pessoa, mas para falar a ele, Deus deve torná-lo uma pessoa também... De todos os profetas israelitas, somente Jeremias ousou notar esta corajosa e devota vida de conversação do totalmente inferior para com o absolutamente superior – em tal medida que o homem aqui se torna uma pessoa. Todo relacionamento de fé israelita é dialogal; onde o diálogo atinge a sua mais pura forma. O homem pode falar e é autorizado a tal; se apenas ele falar verdadeiramente com Deus, não há nada que o homem não possa dizer a Ele

(BUBER, 1949, p.164,165).

A lamentação, como fenômeno humano-religioso que é, dá

inteligibilidade ao caos existencial que o ser humano não pode

e nem consegue viver, proporcionando através de sua prática

a possibilidade de reestruturação da vida. Do ponto de vista

fenomenológico, a lamentação retrata o universo do sofredor e

85Via Teológica | Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93

suas convicções religiosas.

Toda lamentação tem um “eu/nós” (implícito ou explícito)

que sofre algum infortúnio causado por outrem (inimigos ou algo

semelhante a isso como expressões simbólicas). Quem sofre é

porque perdeu algo e encontra-se sem esperanças de restituições

imediatas e equivalentes ao dano ocorrido. Para tanto, o lamento

é o choro mais profundo da alma que procura sair da tragédia

rumo à transformação. Ele dá o tom da interioridade nas palavras

e das ações de quem tem fé mesmo sem esperanças evidentes

ao seu redor. É uma experiência que preenche a lacuna entre as

hesitações humanas de crer e descrer diante as desgraças da vida.

Quem chora, lamenta para além de suas angústias e pode

se tornar simpático em relação às feridas alheias. A prática

da lamentação expande o universo interior do sofredor para

além de si mesmo, tornando-o solidário às experiências dos

solitários sofredores.

O lamento de um encontra eco na experiência de outros.

Embora a lamentação seja, muitas vezes, de linguagem estritamente

pessoal, ela tem identificação com o choro de outros que choram.

Portanto, é algo voltado para o individuo em si, mas encontra sua

expressão também no coletivo.

Em suma, lamenta quem sofre. Isso faz com que a

experiência do lamento seja universal. A presença de lamentações

na literatura do mundo antigo é prova de que desde épocas remotas

aguardava-se a salvação de seus “deuses” por causa do sofrimento,

ora causado pela própria degeneração da humanidade, ora

causado por inimigos da vida e deturpadores do amor.

86 Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93 | Via Teológica

Todavia, a lamentação atesta através da riqueza poética do

individuo e de sua sociedade que é possível interagir com Deus

mesmo quando não há nada o que fazer e nem dizer. Em outras

palavras, a lamentação é o choro que atraí Deus, rememora a

consciência da presença viva dele e expressa o clamor da alma sem

formalidades mesmo na escuridão mais sombria das dificuldades

da vida. Aqui, neste momento, adentramos na teologia. O lamento

é a possibilidade do sofredor permanecer fiel a Deus diante dos

vários infortúnios da vida.

A lamentação presente na sociedade e literatura do Oriente

Médio, especialmente nas páginas das Escrituras hebraicas e

cristãs, é história e literatura, mas também o veredito de que a

humanidade chora suas dores; chora diante de Deus, aguardando

a intervenção salvadora do Senhor.

A lamentação permite que o ser humano veja o mundo

através das lágrimas, para então, ser possível “ver coisas que se

vêem com os olhos secos” (WOLTERSTORFF, 2007, p.30).

4 O LAMENTO: EXPRESSÃO ENTRE CULTURAS

A lamentação, fundamentalmente, surge a partir de um

senso de perda. A linguagem na qual se expressa, isto é, o seu

discurso, é particular. Normalmente, as expressões de lamento

estão associadas às canções e à poesia. Elas são produto da alma de

quem sofre. Cada qual em sua intensidade própria. O sofrimento

humano perpassa as épocas, culturas e tradições. Principalmente,

em culturas onde a violência e a exploração espreitam a vida.

Os lamentos na tradição cultural do antigo Oriente e do

Israel bíblico eram encontrados em forma de poesia, envolviam

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o culto e a comunidade e chegam a nós através de seus textos

sagrados.

Contudo, além da literatura sagradas dos judeus, o mundo

greco-romano também atesta a presença de lamentações em seus

textos e em sua mitologia. Os pesquisadores da literatura grega

encontram e analisam os lamentos da Ilíada (PERKEEL, In:

SUTER, 2008, 93-117): lamentos que falam de várias temáticas,

como morte e assassinato, miséria e dor, etc. Suter identifica

outras expressões de lamento que são registradas nesta cultura,

especificamente àquelas identificadas com a época micênica

(SUTER, 2008, 258-280).

A diferença que reside entre estes lamentos gregos e os salmos

hebraicos é que estes são escritos para servir de funções artísticas

somente ou para temática referente às boas e más escolhas da vida;

enquanto aqueles além de retratar a situação vivencial de uma

comunidade, também possui seus aspectos rituais e litúrgicos.

Não obstante, os lamentos hebraicos nascem da experiência que

passa da tradição oral para a escrita; os lamentos gregos nascem

em forma de literatura.

Em outras palavras, a lamentação bíblica, ainda que um

fenômeno universal, atesta a possibilidade de se fazer teologia

e entender como os antigos hebreus se relacionavam com Deus

(BAUMANN, 2011). O que não é possível com as lamentações

extra-bíblicas – apesar de elas atestarem o mesmo fenômeno.

A literatura moderna também incluiu textos de lamentação

e poesia de sofrimento. São textos que relatam determinadas

situações culturais e locais. Podemos encontrar nos poemas de

T.S. Eliot lamentos que descrevem desolações sociais e individuais.

88 Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93 | Via Teológica

Através de seus personagens, Eliot expressa dramas poéticos em

forma de lamentação. Um de seus poemas é considerado um

grande lamento, com título em inglês “The Waste Land” (Terra

Desolada), datado de 1922. Nesse poema, percebem-se claramente

algumas temáticas semelhantes aos lamentos dos profetas bíblicos,

como: personificação da cidade, personificação da natureza, morte

e sepultura e imagens peculiares do seu tempo: fogo, afogamento,

trovões e cenas apocalípticas (RION, 2006). Essas imagens, diga-

se de passagem, são bem comuns para o homoreligiosus (homem

religioso).

Antes de Eliot, Dostoiévski escreveu um livro que pode ser

considerado um lamento: “Crime e Castigo”, publicado em 1866

na Rússia. Nessa obra, ele lamenta a maldade humana representada

pela soberba de Svidrigailov e Lujin (DOSTOIÉVSKI, 2002). É

notório o lamento que o escritor transparece por uma sociedade

injusta. Retrata a solidão humana de forma desesperadora,

semelhante ao sofrimento dos salmistas. Ainda que sob a ideologia

do existencialismo e com conexões religiosas, Dostoiéviski enfoca

predominantemente o tema da salvação por meio do sofrimento.

Alguns anos mais tarde, em “Os Irmãos Karamazov” (1879), ele

escreve que “as lamentações só se acalmam roendo e dilacerando

o coração. Uma dor assim não quer consolações, alimenta-se da

idéia de ser inextinguível. As lamentações são apenas a necessidade

de irritar cada vez mais a ferida” (DOSTOIÉVISKI, 2001, p.59).

Atualmente, Lee tem se dedicado neste tipo de pesquisa da

lamentação utilizando como ponto de partida de seus pressupostos

os lamentos bíblicos. Ela entende que a literatura bíblica não

deve ficar restrita somente às especulações acadêmicas, mas deve

89Via Teológica | Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93

responder às questões relativas à vida humana. Lee entende

que o lamento bíblico, essencialmente voltado para Deus, é

um recurso elementar para as pessoas na contemporaneidade;

para aqueles que anseiam dar voz ao seu sofrer, autoafirmar-se e

encontrar esperança em meio às dificuldades sociais e individuais

pertinentes à sua cultura3.

Lee entende que esse tipo de cultura – identificada pelo

sociólogo polonês Bauman como modernidade líquida – é

permeada de perdas. Ela tem registrado o surgimento de lamentos

em sociedades mais violentas e onde a desigualdade social impera.

A pesquisadora acredita que as culturas contemporâneas onde a

perda é aguda, o lamento é necessário para dar voz e visibilidade

aos que sofrem. Por isso, acredita que os lamentos bíblicos podem

cumprir essa tarefa. Como consequências disso, as comunidades

religiosas de tradição judaico-cristãs devem dar continuidade

à prática humana de lamentação, tornando possível a conexão

entre o lamento particular dos tempos bíblicos e o universal,

comum aos seres humanos (LEE, 2010, p.21-72).

Portanto, o senso de perda é universal, a expressão dessa

perda – especialmente, aquela voltada para Deus – é particular. As

expressões de lamento ganham espaço, por exemplo, nas culturas

do antigo Oriente Médio; no antigo e moderno Israel; no sul da

África, no contexto da AIDS; ao norte da África o problema com

a malária; na população do Iraque afligida por guerras; nos países

onde imperam a pobreza e a desigualdade socioeconômica, como

3 Consulte as obras de Lee sobre o assunto: LEE, Nancy. Lyrics of Lament: From Tragedy to Transformation. Minneapolis: Fortress Press, 2010; e, LEE, Nancy. The Singers of Lamentations: Cities Under Siege From Ur to Jerusalem to Sarajevo. Leiden: Brill, 2002.

90 Igor Pohl Baumann, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 73 - 93 | Via Teológica

alguns da América-Latina, entre os indígenas Xerentes no Brasil,

etc. Essas culturas expressam seus lamentos de seus hinos, canções,

poesias e orações e com isso têm dado voz ao seu sofrimento e

caminhado em direção à esperança e dignidade.

Lee também se dedica em encontrar na contemporaneidade

quem são os poetas e cantores que dão voz aos que sofrem, e as

novas formas que se apresentam os cânticos de lamentação. Por

exemplo, para a autora, a cerimônia chamada “dança do sol”,

realizada por tribos indígenas norte-americanas, é um ritual de

lamentação, respeitando toda diversidade e singularidade de

expressões religiosas dessa cultura. Esse exemplo, na argumentação

da autora, nos mostra a diversidade cultural das expressões

humanas para dar voz à sua dor (LEE, 2010, p.66,67).

O trabalho de Lee é o que nos parece ser o que mais

contextualiza o modelo bíblico da lamentação em face às

injustiças atuais4.

CONSIDERAÇÕES

A prática universal da lamentação está presente em

várias culturas. Sua linguagem é particular, como podemos ver

nas páginas da Bíblia. A lamentação bíblica encontra ecos nas

lamentações de hoje e nos serve de modelo para encontrar

paralelos significativos entre aqueles que sofrem.

O palco, intrinsicamente religioso do antigo Israel, torna-se

paradigmático para identificação desta universalidade do lamento

4 Consulte especialmente o capítulo dois, “Features of Traditional Lament Across Cultures” e o oito “From Tragedy to Transformation” do livro: LEE, Nancy. Lyrics of Lament: From Tragedy to Transformation. Minneapolis: Fortress Press, 2010, p.49-72; 197-208.

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e do universo simbólico da linguagem de lamentação. Isso nos

dará legitimidade para uma aproximação do fenômeno na exegese

bíblica.

Quando partimos das lamentações bíblicas (específicas)

para a experiência universal do lamento (geral) e entendemos

a experiência religiosa; e, depois, voltamos à leitura dos textos

bíblicos, enriquecemos nossa capacidade de interpretação e

aplicação da mensagem bíblica aos que sofrem.

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