A Universalização da Democracia - Wanderley Guilherme dos Santo

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    sehtados em editoriais e colunas especializadas como ja comprovados cot-ruptos, embora ainda nao aprisionados, ou suspeitos de comprometimen-to em alguma negociata de magnitude continental. Pe.!_oas ecto positive,t~ a im12rensa colaborado ativamente na tarefa de sanear os costumes12oliticos, exigindo eLevados padroes de dec oro publico, pelo menos tant~quanto a imRerfei

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    caso, graves consequencias1. Entre estas, encontra-se,. indubitavelrne re, ~relativa ~eda no prestigio dos mecanismos e entidades pr6prios da. ciem.o-cracia - eleicoes e partidos politicos -, 0alheamento em relacio a ro ' :e-

    r" f[l_~_dec_Qatureza_co1e.ti.\La,JQitando-s~ cada vez mais as pessoas a urn+IY"AR; 0 t'~N~CN;-1J eM 5\ Mr,t.A.O --W~1\J- cr: ensimesmamento e a uma obsessao por seus assuntos privados, em T I L . ex-~(J..-5;: : : :

    t:::sao ~e a literatura europeia e norte-americana manifesta profunda preo-cup?-,:(aocom 0que denomina erosao do capital social das sociedades (seupotencial de sociabl1idad.e.,__Q . idade e altruismo),que, ao lado de ou-tras caracterfsricas, tem.pzoduzido 0que algyns analistas vem conSl eran 0o grande, ernalefico, :Qaradoxo dos partidos sem Eartidarios2 .,~Omimetismo de parte de nossa elite intelectual e, consequcntemen-

    te, de nossa imprensa tern levado a difusao de jUlgamentos que, de taorepetidos, terminam por ser absorvidos pela opiniao publica, que os de-volve, sendo entao noticiados como espontaneos.l)Sem razao, surpreen-dem-se os editores com resultados de pesquisas sobre 0prestigio do Con-gresso e do J udiciario, depois de periodo de incessantes acusacoes de ge-neralizada improbidade de ambos os poderes, nas quais a opiniao publicamanifesta-se descontente e arisca em sua avaliacao sobre a confiabilidadedas instituicoes, Tendo sido porta-voz das denuncias, paladina do interesse'dos emudecidos, tambern naosurpreende que apareya essa mesma im-prensa como a instituicao mais confiavel. Como nao seria, se foi ela pro-pria a fonte de umsupostodesmascaramento da credibilidade das demais?Insisto nos possfveis efeitos nef~stos desses juizos nao porque as institui-coes brasileiras nao merecam reparo ou nao estejam sujeitas a aperfeicoa-mentos, mas porque os processos societarios basicos que dao origem aosmales atuais, digamos assirn, das democracias de paises ricos - alienacao

    1. Ver, para exemplo,FALLOWS, James. Breaking the News - How the Media Undermine AmericaDemocracy. Novo York, Vintage Books, Random House, 1997 (1996).2. A literoturo sabre a materia cresce exponencialmente. Ver, em particular, PUTNAtvI,Robert. BowlingAlone - The Collapse and revival of American Community. Nova York, Simon & Schuster, 2000;. RUSSEL,DQlton e WATIENBERG,Martin (eds.). Parties without Partisans. Oxford, Oxford UniversityPress,2000; NORRIS,Pipa (ed.].CriticalCitizens: Global Support for Democratic Governance. Oxford,Oxford University Press, 1999; PHARR,Susan e PUTNAM,R. (eds.). Disaffected Democracies: What'sTroubling th~ Trilateral Countries. New Jersey, Princeton University Press,2000. Tro't~i do material emrelo

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    participativa, absenteismo eleitoral, recolbimento ao privado com conco-mitante reducao no rnimero das associacoes voluntarias - encontram noBrasil precisamente 0seu oposto. Permitam que recorde materia a . qualretorno com freqiiencia - a da extraordinaria conversao civica, POt via damobilizacao eleitoral dos ultimos 50 anos, e a da vigotosa expansao, ernbo-ra algo rnais recente, da inclinacao associativa no pais - porque se nospaises afluentes a preocupacao com.0destino das instituicoes dernocrati-cas decorre de indicadores de fato neles existentes, as lamurias sobre asinstituicoes nacionais, no Brasil, nao passam de superfetacao mimetica.

    Aptesento, a seguir, uma tabela que retrata a conversao dvica quemencionei tal como a preparei pela primeira vez, ainda na sequencia dasdiscussoes proporcionadaspela revisao constitucional de 1993:

    Tabe la 1Crescimento populaelonal, eleltoral e

    0 / 0 eleitorado/ % populacaoBrasil e Regi6es, 1950-1991 (%)Populacao Eleltorado % Eleif% Pop..Norte 432,6 1135,0 2,6

    .Nordeste 133,5 562,4 4,2Sudeste 176,5 573,7 3,3SuI 178,7 688,9 3,9Centro-Oeste 434,7 1401,5 3,2BrasH 179,8 631,7 3,5

    Fontes: IBGE, Censo 1950; IBGE, Censo 1991: TSE, "Dados Estatisticos", varies volumes.Elaboracao: LEEX,

    O___

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    T ab e la 2Crescimento populacional, eleltorale %eleitorado/ % populacao

    Brasil e Regi5es, 1991-2000 (%)Populacao Eleitorado % Elei./ % Pop.

    Norte 28,61 62,27 2,18Nordeste 12,34 39 3,16Sudeste 15,42 33;69 219Sui 13,46 30,85 2,29Centro-Oeste 23,43 .52,79 2,25Brasil 15,65 37,44 2,39

    Fontes: Populacao 2000 - Censo Demoqrafico 2000. Resultados Preliminares. Rio de Janei-ro, IBGE, 2000Populacao 1991 - Censo Demogratico 1991: resultados do universe relativo as caractensti-cas da populacao e dos dornicfllos. NQ1. Rio de Janeiro, IBGE, 1991.EJeitorado 2002. - www.tse.gov.br .Eleitorado 1990 - Eleicoes 1994. Brasilia.Trnprensa Nacional, 6rgao do Ministerio da Justi-ca, 1993.tHis.:,.Este e , alias, 0dado mais relevante da tabela. Nao obstante a monu-mental mobilizacao ocorrida no Ultimo meio seculo, 0eleitorado brasileirocontinua sendo urn universo em expansao.

    Os criticos mais encrespados do sistema brasileiro apontarao 0 cara-ter obrigatorio. do alistamento eleitoral como 0motor responsavel pelaconversao civica, duvidando mesrno da gualidade de semelhante conver-sao, visto que, fora do voto voluntario, tudo 0mais nao passa, praticamen-te, de manipulacao. Evito aqui 0debate sobre a qualidade positiva, ou riao,da grande transforrnacao dvica e aponto a conexao mais relevante entrevoto (alistamento) obrigatorio e democratizacao.rHm contexto expansio-nario, era suficiente que U1TI partido encaminhasse alguns de seus quadrospara orgaruzar diretorios em alguns dos mais remotos municipios brasilei-ros, providenciando 0alistamento da populacao qualificada para votar, e amaioria dos demais partidos 0acompanhava, simples mente porque nao 0fazer significava ficarem excluidos, ali, do processo competitivo. A obrigil-toriedade do voto impulsionava a difusao organizacional dos artidos e,oEviamente, intensificava a competitivl a e do sistema ~ral. A mediaprazo, essa dinamica subverteu 0solo do cantrole oligarqwco, que se exer-cia, entre outros mecanismos, mediante a reducao na oferta de candidates38 -_--_ ----~---- -- ----- -~----------.,

    t,Itf

    I

    II~.

    http://www.tse.gov.br/http://www.tse.gov.br/
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    e, portanto, de oportunidades de escolha ao eleitor. Fazendo jus a raiz dapalavra, eram poucos os controladores de votos e ~ fim4e ma~J 0on-trole, vigiava-se 0mvel de competic;:aq. As opcoes do eleitor eram aquelas---que ornandao local autorizava. E eram poucas. Com a gradativa nsciona-~os principais partidos, por urn lado e, por outto, em consegijen-cia da fuga dos pequenos partidos dos grandes centrost onde a com.eti---~O com os grandes lhes era desfavoravel, para a periferia, onde a coml2t-ticao era menos acirrada, se 0nive! local de competicao era atraente, pot. reduzido, aos pequenos partidos, significava verdadeira inund~tJrfipe-titiva do J2onto de vista do eleitorado. Contrariando a pasmaceira dos no-mes das mesmas farnilias apresentando-se aos eleitores, outros membrosda cornunidade, valendo-se das oportunidades legais que os partidosre-cem-chegados ofereciarn, se inscreviam na corrida eleitoral, aumentando aoferta de candidatos.

    ,0calculo eleitoral-democratic~ e. simple.para se falar em competi-

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    T ab ela 3Numero medic de candida tos po r vaga , po r reg i6es e po r eleicao

    B ra sil, C am ara de s D epu ta do s, 1 94 5/2 00 2.1945 1950 1954 1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1936 1990 1994 1998 2002

    N 4,6 2,7 3,0 2,5 2,7 2,4 2;3 2,0 3,1 3,4 3,3 7,5 5,7 6,3 9,1NE 5,6 2,6 2,2 2,3 2,3 1,9 1,9 1,9 2,2 2,3 3,2 5,1 4,6 4,5 7,6SE 6,7 4,3 4,3 3,8 3,6 2,5 2,7 2,5 3,0 4,1 8,5 9,7 7,2 8,6 11,3S 5,5 4,0 3,6 3,0 2,8 2,1 2,1 1,7 2,7 3,4 4,3 7,4 5,4 6,5 6,7co 2,9 3,1 2,3 2,6 2,2 2,0 1,9 2.,0 2,4 3,3 3,4 . a,9 5,9 6,8 10,7BR 5,9 3,5 3,3 I~ 2,9 2,2 2,3 2,1 -2,6 3,3 5,2 7,6 5,9 6,7 9,2

    Fontes: TSE, TRES.Elaboracao: LEEX.Obs.: Nas elei

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    de sindicatos, e algo que tambem, no Brasil, contraria a tendencia registra-da POt Putnam em relacao aos Estados Unidos. Enquanto 0movimentosindical continua crescendo, tornando-se plural, 0numero e 0tipo de as-

    , "

    sociacoes privadas aumentam incessantemente. Sao, agora, organizacoesem defesa da ecologia, 495 entidades tendo sido criadas de 1986 ate recen-temente, enquanto sornente 280 haviam sido criadas entre 1900 e 1985.Outras ligadas a questao da AlDS e ainda outras promovendo a acao cole-tiva dos profissionais de saude. Segundo catalogo recente, 60% dessas no-vas entidades foram criadas depois de 1991, espalhando-se par todas asregioes do pais3.

    Dez anos atras, aproximadamente ern 1991, as organiza

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    cada quanto a dinamica positiva, por urn lado, e da verdadeiTa encruzilhadacia sociedade brasileira, por ou,tro...- Existe, com efeito, desconforto social no pais, e, alern do desempre-go, a raiz e clara ~\insegurans:al E indispensavel urn momenta de reflexaosobre 0que isso significa. Realisticamente, enquarito 0narcotrafico, 0con-trabando de armas e a violencia contra pessoas e propriedades sao indivi-dualizados, ~lema permanece nas areas policial, jucliciariae das poli-ticas sociais. Ha uma diferenc;:ade natureza, todavia,quando a posiyaodocrime na sociedade passa a formular polfticaspar assim dizer universaliza.das,isto e , valid~ abstratamente em dete:l;"minaciarea geografica e a elas sub-metendo todos os habitantes daquela area..Nao se trata, agora, de uni con-fronto entre criminosos de urn lado evitimas so identificaveis a posteriori .[Trata-se de uma conc:retaameaca de uso da forca dirigida a uma coletivida-

    \'V\c.Dh \ 2 D l ' J L .." .de, caso 0comportamento desta nao se coadune ao comando das regrasestabelecidasj Sem levar muito longe a analogia, ate porque e desnecessa-.no, 0 u~ se acabou de descrever corresponde 12recisamente a n6~li.Q.deEstado, urn poder imE_essoalque estabelece regras a serern ob~decidas ,gOttodos os membros de.uma comunidade espedfica sob,__ameas:ae cO.Jl.!;ao.Nesta circunstancia, escapar a violencia deixa de ser uma qucstao pessoal,passando a set coletiva, e ealgo gue 56 e garantido na me~da ern_9.~ sepague urn_EreyOem direitos constitucionais. Quando a populacao reclamapor seguran

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    pouquissimos, e sempre serao, as lugares em que 0poder publico estarafisicamente presente. E 6bvio que a seguranya e a tranquilidade d~spaisesnao dependem, nem mesmo em maior rnedida, da quantidade de pessoasentregues a faina de reprimir a criminalidade, Par definicao, 0 volume darepressao potencial e temida e incomparavelmente superior a capacidade.rnomentanea e circunstancial de exercc-la. Nao ha Estado que se sustentese necessitar mobilizar,fisicamente, aparatos repressivos toda vez que de-sejar uma ordem cumprida au uma lei obedecida.

    Q inseguranya social decorre basicamente da mutila