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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 7 a 10 de junho de 2016
1
A velhice em tempos de “fetichização do fetiche”1 Old age in times of “fetishism of the fetish”
Claudimiro Lino de Araújo 2
Tiago Mainieri3
Resumo: Procura-se, neste artigo, estabelecer uma relação entre a noção atual de
reprivatização da velhice, vinculada ao conceito de “terceira idade”, e as
contradições da pós-modernidade. O texto explora também conceitos e autores,
estudiosos do capitalismo, e, ainda, a configuração da velhice a partir de um
contexto histórico, cultural, social e econômico. O objetivo é ressaltar os desafios
de se envelhecer (e viver) no sistema capitalista tardio, e de como esse sistema
econômico se voltaria contra o ser humano e sua busca por cidadania. O
desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, bem como
da internet, evidencia a luta simbólica das pessoas na “terceira idade” enquanto
partícipes do bios midiático.
Palavras-Chave: Comunicação. Consumismo. Velhice.
Abstract: The intend, here, is to establish a relationship between the current notion
of “reprivatização da velhice,” under the concept of “terceira-idade” and the
contradictions of post-modernity. This article presents an exhibition of concepts and
authors, scholars of capitalism, and the old age configuration from a historical,
cultural, social and economic point of view. The aim is to highlight the challenges
of aging (and living) in the late capitalist system, and how this economic system
turn against the human being and his quest for citizenship. The development of new
technologies of information and communication, as well as the internet, brings
forth, the symbolic struggle of the people in the “terceira idade” by asserting
themselves and have visibility as participants in the “bios midiático” and balancing
the power game between the various actors social.
Keywords: Communication. Consumerism. Old age.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumos e Processos de Comunicação, do XXV Encontro Anual
da Compós, na Universidade Federal de Goiás, Goiânia, de 7 a 10 de junho de 2016. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e
bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação do Ministério da
Educação (MEC). Graduado em Comunicação Social - Jornalismo, pela Universidade Federal de Goiás,
especialista em Marketing Político pela Universidade Federal de Goiás e MBA em Marketing pela Fundação
Getúlio Vargas/Esup. E-mail: [email protected] 3 Orientador do trabalho, pesquisador vinculado ao PPGCOM e ao Laboratório de Leitura Crítica da Mídia da
Universidade Federal de Goiás, pós-doutor em comunicação pela UFRJ, doutor em comunicação pela
ECA/USP, mestre e graduado pela UFSM. E-mail: [email protected].
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XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 7 a 10 de junho de 2016
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1. Introdução
O objetivo desse artigo é estabelecer uma relação entre a noção atual de reprivatização
da velhice, vinculada ao conceito de “terceira idade” (DEBERT, 1999), e as contradições da
pós-modernidade. O desenvolvimento do capitalismo, tanto quanto a ideia (signo) que se tem
de velhice, se configuraram a partir de um contexto histórico, cultural, social e econômico.
Assim, procura-se ressaltar, através de uma revisão de autores e conceitos, os desafios de se
envelhecer (e viver) no sistema capitalista tardio, e de como esse sistema econômico se volta
contra sua unidade basilar: o ser humano e sua busca por cidadania. O desenvolvimento das
novas tecnologias de informação e comunicação evidencia as condições simbólicas das
pessoas na “terceira idade” enquanto partícipes do bios midiático (SODRÉ, 2002).
A respeito desse contexto, pós-moderno, numa tentativa de análise das transformações
sociais e econômicas do século XX, Daniel Bell (1977) elaborou considerações interessantes.
Inicialmente, sobre a sociedade pós-industrial, ele enumerou o que seriam algumas
características básicas: “[...] o fato simples e crucial que Henry Adams tão dramaticamente
captara em 1900 era o de que nenhuma criança poderia nunca mais viver no mesmo tipo de
universo – sociológico e intelectual – que havia sido habitado por seus pais e avós” (BELL,
1977, p. 95). Segundo o autor, a tarefa com que se defrontava a sociedade do final do século
XX seria a de preparar para um futuro desconhecido a criança que enfrentava, à época, uma
ruptura radical em relação ao seu passado (BELL, p. 95), e, se esta era baseada na técnica e
na métrica e se constituía num tipo distintamente novo de organização social na história da
humanidade, a “cultura contemporânea, voltada para o eu, combina as fontes mais profundas
dos impulsos humanos com a moderna antipatia pela sociedade burguesa” (BELL, 1977, p.
528).
Ironicamente, isto tudo foi solapado pelo próprio capitalismo. Por intermédio da
produção em massa, e do consumo também em massa, ele destruiu a ética
protestante, promovendo zelosamente uma maneira hedonística de viver. Por volta
de meados do século XX, o capitalismo procurou justificar-se, não pelo trabalho ou
pela propriedade, mas sim pelos símbolos de status das posses materiais e pela
promoção do prazer. A elevação do padrão de vida e o relaxamento da moral
tornaram-se fins em si mesmos, como definição da liberdade pessoal (BELL, 1977,
p. 528).
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No entanto, parece ser lugar comum discutir-se sobre individualismo na
contemporaneidade (HALL, 2006, p. 24), consumismo ou, por outro lado, criar-se uma
espécie de preconceito em relação ao pensamento de Marx, como que naturalizando-se uma
forma de se conceber o mundo em detrimento de outra. O pensamento hegemônico é o de que
os demais sistemas não obtiveram o “sucesso” que o capitalismo estaria conseguindo. Um
sucesso que precisa ser relativizado, quando se tem consciência das ameaças, sempre
presentes e reais ao meio-ambiente, quando se compara a sociedade atual com uma forma
anterior, quando se percebe que viver é mais do que consumir em excesso, ou acentuar-se
desigualdades sociais. Termos como alienação ou fetichização da mercadoria, na
contemporaneidade, parecem caducos para muitos, mas o que se percebe é que são
extremamente atuais. Há autores que se referem à fetichização do fetiche (FONTENELLE,
2006, p. 285) para descreverem a acentuação do valor simbólico que as mercadorias
assumiriam através da publicidade e do marketing (as marcas).
Em tempos de pós-modernidade, uma série de fatores estaria contribuindo para o
aumento da expectativa de vida em todo o mundo (principalmente no Brasil). Segundo
Mariele Correa (2009), outro processo, mais complexo, também ocorreria: o da visibilidade
social da velhice. Assim, a “face da velhice” na atualidade, enquanto construção social, se
apresentaria sob aspectos bem diferentes daqueles do início do século XX. Como seria
envelhecer num sistema em que a filosofia do novo, da renovação ad infinitum lhe é
intrínseca? “O mercado, atualmente, não descarta mais qualquer espécie de consumidores,
criando necessidades específicas e realizando uma inserção social baseada no consumo. Esse
parece ser o caso da velhice, um dos últimos redutos agora cooptado pela economia
capitalista” (CORREA, 2009, p. 32). Portanto, na busca incessante do lucro, o capital
também se veria obrigado a mudar os conceitos sociais do envelhecer. Afinal, a população
mundial está envelhecendo e, no Brasil, 23 milhões de habitantes brasileiros estariam com
mais de 60 anos e a estimativa de que, em 2050, seriam 64 milhões de idosos.4
4 Ainda citando alguns números: dos sete bilhões de habitantes, seis bilhões teriam aparelho celular, mas dois
bilhões e meio não teriam sequer saneamento básico; quatro bilhões não teriam acesso à internet e mais de dois
bilhões de pessoas viveriam em completa miséria. No Brasil, seriam 130 milhões de pessoas com celular e
49,4% da população com 10 anos ou mais de idade acessando a internet (dados de 2013 ). Fontes: Nações
Unidas e IBGE.
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2. Comunicação sistêmica, informação e organização
Um maior equilíbrio entre todas as esferas da vida é possível pela comunicação. Como
a ciência do comum (SODRÉ, 2014), a comunicação poderia ser o espaço para se retomar
esse caminho, reconduzir o homem ao “lugar de sua humanidade, na sua essência de futuro”
(LEÃO, 1977). Neste sentido compartilha-se, aqui, a visão de Anthony Wilden (2001), em
relação à comunicação de um ponto de vista globalizante ou sistêmico, ou que implica
diretamente tudo e todos (WILDEN, 2001, p. 108). A comunicação, a partir dessa visão, não
começaria apenas ou terminaria „apenas‟ através dos meios de comunicação, ela começaria
em qualquer lugar e mediatizaria todas as relações humanas. Em outras palavras, o modo
como um sistema vivo se utilizaria da informação para se organizar, essa organização, seria a
comunicação. Esse sistema seria um subconjunto da natureza ou da sociedade, como um
subsistema de algo maior, assim se pode entender também os meios de comunicação. Os
campos biológico e social seriam um complexo de relações entre sistemas abertos num
ambiente geral. Entendendo-se por „aberto‟ o “fluxo de matéria, energia, informação” e por
sistema “um conjunto organizado [...] e dotado de fontes próprias de energia renovável”
(WILDEN, 2001, p. 110). A comunicação se daria, enfim, na fronteira entre o “sistema” e o
“ambiente”.
Muniz Sodré (2014), ao que parece, compartilha deste raciocínio ao também expor:
“Num sentido mais amplo, porém, ele [o termo comunicação] comparece no plano ecológico,
biológico, social e econômico, onde quer que haja seleção e combinação de sinais e signos,
como acontece em sistemas comunicativos próprios de animais” (SODRÉ, 2014, p.19).
Sodré, a nosso ver, também coincide com o pensamento de Wilden ao propor uma “ciência
do comum”, defendendo uma espécie de pluridisciplinaridade para a comunicação, mas, um
comum “sentido antes de ser pensado ou expressado, portanto, é algo que ancora diretamente
na existência” (SODRÉ, p. 204). Para Wilden a semiótica (citando Charles Morris) teria sido
organizada enquanto campo, em semântica (significação), sintática (disposição) e pragmática
(comportamento). Portanto, o problema que se colocaria à comunicação, segundo este ponto
de vista da semiótica, seria antes o “modo como a informação deveria ser definida,
reconhecida, orientada e utilizada por sistemas específicos e no interior deles” (WILDEN, p.
111).
Por outro lado, o sistema econômico teria atingido um ponto em que, necessariamente,
precisaria rever suas inter-relações econômicas e naturais, o que poderia influenciar na
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sobrevivência das sociedades como um todo (inclusive dos extratos mais velhos da população
humana). Citando “outras” sociedades, privadas da “escrita”, Wilden descreve-as como
portadoras de outra compreensão, ou seja, o predomínio de relações invisíveis de
“informação” na organização, produção, reprodução e conservação nos sistemas naturais e
sociais. Ou seja, uma maneira de ver e se portar diante do ambiente resultado de milhares de
anos, experimentação, provas e verificações, dos quais a sociedade contemporânea não tem
ou tem pouca experiência. Uma relação co-evolutiva entre aquelas sociedades e a natureza, e
outros grupos sociais.
A co-evolução seria uma relação ou conexão informacional com o ambiente natural, da
qual a sociedade ocidental teria se considerado afastada, ou, a sociedade moderna teria
considerado que sua união com a natureza podia ser rompida. A natureza teria passado, então,
a se adaptar à desordem humana, até certo ponto porque esta poderia se ver obrigada a se
tornar hostil à vida do homem. O Ocidente, portanto, não teria entendido a maneira
simbiótica com que tantas “outras” sociedades teriam desenvolvido suas relações em função
da natureza e em cooperação desta.
A sociedade moderna teria relegado aquelas sociedades ditas “primitivas” ao fundo da
escala evolutiva do “progresso humano”, no entanto, para Wilden (2001), estas estariam
muito mais próximas da interação informativa nos ecossistemas reais, “do que a maior parte
da ciência moderna” (WILDEN, 2001, p. 117). O autor faz questão de ressaltar que o
objetivo é a comunicação, uma orientação dialética, cibernética, contextual e ecossistêmica.
Além disso, também frisa que a dialética da natureza seria somente a dos sistemas orgânicos
porque estes seriam povoados de subsistemas voltados para certos objetivos, e com
mecanismos de autocorreção de erros. Daí que Wilden resume: “A essência da dialética não é
a mudança inesperada ou qualitativa enquanto tal, mas a adaptação e a morfogênese: a
geração, na evolução e na história, de novas estruturas de produção e reprodução”. Inclusive,
a dialética não seria uma relação, para o autor, entre matéria e energia, mas de comunicação,
“exatamente como sugere o seu conceito central, o de contradição” (WILDEN, 2001, p. 119).
Enfim, o pensamento de Wilden reforça uma perspectiva sistêmica, multidimensional
de informação e que, “em última análise, todas as formas de comportamento biológico e
socioeconômico são em primeiro lugar formas e processos de comunicação” (WILDEN,
2001, p. 128). Fazendo uma avaliação das concepções medievais e renascentistas, Anthony
Wilden raciocina que, na Idade Média e Renascimento, a metáfora da “comunicação” ou da
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“informação” eram utilizadas de modo muito mais amplo do que acontece atualmente
(WILDEN, 2001, p. 129).
O pensamento cartesiano e newtoniano, que influenciou o pensamento ocidental de
forma inegável, teria sido a origem da invenção da “representação filosófica da alienação
socioeconômica, o solipsismo” (WILDEN, 2001, p. 130). E só agora, na atualidade, a
sociedade ocidental estaria se voltando novamente para uma concepção “informacionista da
imanência do lugar de vínculo e de controlo nas relações entre os componentes „parciais‟ de
um ecossistema”. Os modelos newtoniano e cartesiano já não seriam suficientes para explicar
a realidade social e biológica e seu equilíbrio energia-entidade.
A mercantilização progressiva do mundo se tornou dominante sobre as formas de
valor de uso, o capital se tornaria o princípio predominante na organização do potencial de
trabalho e, portanto, as exigências “econômicas eram privilegiadas relativamente às sociais e
humanas” (WILDEN, 2001, p. 134). Assim, a mercantilização capitalista poderia transformar
qualquer relação numa mercadoria de troca, por exemplo, literatura, artes, conhecimento ou
notícias (rádio, TV, jornal). No século XX o cinema, televisão e publicidade teriam
produzido uma “indústria da consciência” com o objetivo de produzir ou reproduzir uma
determinada ideologia, em qualquer sociedade.
3. Consumo e contemporaneidade: dualidades e contradições
A respeito da estética ou valores que caracterizariam a pós-modernidade e sua relação
com a velhice, por exemplo, Dalbosco (2006), numa retrospectiva histórico-filosófica,
argumenta que a cultura ocidental teria tratado de uma maneira dicotômica a distinção entre
corpo e alma, predominando, primeiramente, durante um longo período, um monopólio da
alma em relação ao corpo e, depois, “atualmente, a supremacia do culto ao corpo em
detrimento dos valores conectados à alma” (DALBOSCO, 2006, p. 29). Por seu lado, Dalma
Nascimento (2009) ressalta que a problemática da velhice partilha das “mobilidades
histórico-culturais dos novos tempos” (NASCIMENTO, 2009, p. 176). As identidades em
“movência”, incompletas, estariam num fluxo contínuo de transformação, de certo modo,
fundamentadas nos conceitos de “devir” de Heráclito. A identidade do ancião pouco a pouco
teria se modificado e, hoje, sobretudo o velho rico, teria conquistado espaço, respeito e
visibilidade coletivos, no entanto, ainda haveria afoitos que se deixariam levar pelo
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bombardeio da mídia e internalizariam valores insensatos relacionados à estética e ao
consumismo (NASCIMENTO, 2009, p. 176).
A dualidade inicial perduraria um longo tempo mas, agora, uma outra se tornaria mais
clara: juventude versus velhice aparece como que duas coisas separadas da condição humana,
os jovens são moldados pela indústria cultural para se comportarem de acordo com os
interesses capitalistas e a sociedade pós-moderna. Como se não houvesse amanhã, como se
não fossem envelhecer. E, agora, os dualismos se fazem presentes como que a definirem um
mundo de contrastes e fragmentação: integração e desintegração, nascer e morrer, sim e não,
in e out, Descartes e Spinoza, técnica e humano, e eis que se fez nascer o pós-moderno. O
tempo do “tempo que vale dinheiro”, da velocidade sempre crescente, do instantâneo, dos
espaços comprimidos, inexistentes (EAGLETON, 1990). “A nossa cultura (o Velho já o
saberia?) ama a novidade, e a novidade é veloz. A inocência meditativa e iluminada pela
lentidão da espera não é mercadoria de boa aceitação: sequer é mercadoria” (D´AMARAL,
2004, p. 265). E também assim o constata, ao falar sobre a juventude, Emmanuel Carneiro
Leão (1991):
O poder crescente do consumo, da automação e massificação impõe um quociente
progressivo de desumanidade. Não, decerto, no sentido de que os homens se tornem
cada vez mais animais e sim no sentido de que o próprio controle, como força
coletiva, se preocupa sempre menos com o homem e sua dignidade. No sistema de
controle não há lugar para futuro histórico. Só há espaço para o progresso. É que
progresso significa maior controle e mais poder (LEÃO, 1991, p. 42)
Para Szapiro (2010) a juventude estaria se assumindo de um modo bem diferente do
que acontecia há apenas algumas décadas. Sua referência é o final do século XX, ou as
mudanças da pós-modernidade. Um tempo em que a lógica do coletivo se dobraria aos
interesses do indivíduo, à sociedade dos indivíduos. Szapiro chama a atenção, mais uma vez,
para uma dualidade: “de um lado, joga-se tudo pelos valores de autonomia e de igualdade dos
indivíduos e, de outro lado, permanece, agora se tornando um problema, a irredutibilidade da
diferença sexual e da dependência geracional” (SZAPIRO, 2010, p. 44). Assim, segundo
Szapiro, a ideia de juventude apresentaria, hoje, características que se poderia associar à
condição pós-moderna: o presente é o que importaria, um futuro tecido dia após dia, sem
grandes planos ou objetivos a longo prazo. “Como indivíduos autônomos e livres, suas ações
parecem ser determinadas apenas tendo como objetivo maior a maximização de um estado de
prazer” (SZAPIRO, 2010, p. 45). O desprazer pode e deve desaparecer da experiência do
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viver, num mundo “destradicionalizado”, uma vez que o último lócus de relações
hierárquicas – a família – estaria passando também por enormes transformações, em que as
figuras parentais estariam deixando de exercer sua função de autoridade geracional.
E essa “produção de sujeitos instáveis, insaciáveis” estaria em total consonância com
o novo capitalismo de mercado, que age por meio de mecanismos sutis, capturando desejos e
transformando-os em necessidade de consumir. O mundo das mercadorias almeja as
horizontalidades, a ausência de contestação e obstáculos. A velhice, por seu lado, quando se
transformou, semanticamente, no termo “idoso” e daí à expressão “terceira-idade”, teria sido
resgatada, inclusive pelos meios de comunicação, através de um ponto de vista mais otimista,
feliz, no entanto, de uma forma que o capitalismo conseguisse “rentabilizá-la”, “reprivatizá-
la”, nos termos de Debert (1999). Como pretender que a sociedade atual seja mais humana
tanto em relação à juventude quanto aos mais velhos? O sistema capitalista, predominante no
Ocidente, coloca o ser humano como peça de engrenagem, substituível, dada a sua
disponibilidade a baixos custos, em função de sua própria exploração. Em tal grau de
desenvolvimento, já não seria mais a mercadoria o alvo do fetichismo, mas sim, a sua
representação (um fetiche do fetiche), a adoração às marcas seria um exemplo disso
(FONTENELE, 2006, p. 283).
Para o pensamento marxista, o sistema capitalista, que representaria o paradigma
vitorioso, enxerga a força de trabalho humana como mera mercadoria, disponível cada vez
mais aos seus objetivos de acumulação e expropriação e, neste sistema, o papel do jovem
seria crucial, na renovação da mais-valia. O sistema se aproveitaria da ansiedade própria da
idade em conquistar, desbravar, conhecer, conseguir, ter sucesso, valores criados
internamente, quase como que preparando futuros guerreiros (ou escravos) para se inserirem
nas engrenagens a salários reduzidos, atraentes para os capitalistas. As peças que
envelhecem, que não conseguem se readaptar à velocidade de transformação da tecnologia,
são trocadas, substituídas, além de reduzidas em número, principalmente as mais antigas, que
já acumularam mais direitos e se tornaram um peso para as grandes corporações. Não
interessa a estas se existe um capital simbólico de experiência e conhecimento, ao final, o que
predomina, na grande maioria dos casos, são os objetivos econômicos, pautados pelo vai-e-
vem cada vez mais instável do mercado.
Ainda em relação à pós-modernidade, Baudrillard (1991) parece descrever um quadro
mais consistente quando argumenta que, atualmente, a abstração já não seria,
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metaforicamente, um mapa cartográfico da realidade, ou seja, do espelho ou do conceito. O
grau de simulação seria tal que não teria origem nem realidade: seria hiper-real. Agora seria o
“mapa” que precederia o território (BAUDRILLARD, 1991, p. 9). “Nesta passagem a um
espaço cuja curvatura já não é a do real, nem a da verdade, a era da simulação inicia-se, pois,
com uma liquidação de todos os referenciais”.
Já não se trata de imitação, nem de dobragem, nem mesmo de paródia. Trata-se de
uma substituição do real dos signos do real, isto é, de uma operação de dissuasão de
todo o processo real pelo seu duplo operatório, máquina sinal ética metaestável,
programática, impecável, que oferece todos os signos do real e lhes curto-circuita
todas as peripécias. O real nunca mais terá oportunidade de se produzir
(BAUDRILLARD, 1991, p. 9).
Segundo Mike Featherstone (1995) a maior contribuição de Baudrillard teria sido a de
se apoiar na semiologia e argumentar que o consumo supõe a manipulação ativa de signos. O
que se tornaria claro na sociedade capitalista tardia, “onde o signo e a mercadoria juntaram-se
para produzir a „mercadoria-signo‟”. A autonomia do significante, mediante a manipulação
dos signos na mídia e na publicidade, por exemplo, significaria “que os signos podem ficar
independentes dos objetos e estar disponíveis para uso numa multiplicidade de relações
associativas” (FEATHERSTONE, 1995, p.33). A superprodução de signos e imagens,
simulações resultaria na perda de um significado estável e na estetização exagerada da
realidade, com um fluxo contínuo de justaposições confundindo o espectador
(FEATHERSTONE, 1995, p. 34).
Assim, a sociedade de consumo torna-se essencialmente cultural, na medida em
que a vida social fica desregulada e as relações sociais tornam-se mais variáveis e
menos estruturadas por normas estáveis. A superprodução de signos e a reprodução
de imagens e simulações resultam numa perda do significado estável e numa
estetização da realidade, na qual as massas ficam fascinadas pelo fluxo infinito de
justaposições bizarras, que levam o espectador para além do sentido estável
(FEATHERSTONE, 1995, p. 34)
Ainda nesse contexto, do pós-moderno, Fredric Jameson (2006) questiona uma
pretensa liberdade, promovida pelo mercado. O sucesso da ideologia do mercado não poderia
ser explicado com razões advindas dele, mas sim através de uma versão metafísica, que
associaria o mercado à natureza humana. Um ponto de vista formalizado por Gary Becker,
que construiu um modelo considerando o consumo como produção de uma mercadoria, ou
bem específico, um valor de uso que poderia ser qualquer coisa (JAMESON, 2006, p. 275).
A família, aqui, estaria sujeita, segundo Becker (citado por Jameson) a uma homologia em
relação às leis de mercado ou econômicas, e o tempo entraria como recurso também
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importante neste modelo. A pretensa liberdade no seio familiar implicaria numa
responsabilidade por tudo que fazemos.
No entanto, um modelo como o de Becker nos revelaria um mundo sem
transcendência, sem perspectiva ou sentido, um mundo pós-moderno. É, na sequência, que
Jameson fala de uma analogia entre mercado e mídia, explanando que, na verdade, nem a
mídia ou o mercado se assemelhariam a seus respectivos conceitos. Daí o processo gradual
do desaparecimento do espaço físico e a identificação gradual da mercadoria com sua
imagem (marca, logomarca). Os produtos à venda são agora o próprio conteúdo das imagens
da mídia. As mercadorias fazem parte do conteúdo de forma indistinta. Agora é o consumo
do processo de consumo (JAMESON, 2006, p. 282). Os próprios processos de diversão e de
narrativa da televisão comercial são reificados e transformados em mercadorias. Seria preciso
armar uma teoria das modificações da esfera pública, ou seja, o aparecimento de um novo
domínio da realidade das imagens, a um só tempo ficcional e factual. Hoje a cultura teria um
impacto indissociável da realidade (JAMESON, 2006, p. 284).
Na América Latina, a respeito do tema consumo, Néstor Garcia Canclini (1999)
apresenta conceitos como o de hibridação cultural e, para ele, a junção entre os termos
“cidadãos e consumidores” se alteraria em todo o mundo de acordo com as mudanças
econômicas, tecnológicas e culturais “pelas quais as identidades se organizam cada vez
menos em torno de símbolos nacionais e passam a formar-se a partir do que propõem, por
exemplo, Hollywood, Televisa e MTV” (CANCLINI, 1999, p. 14). Assim, as questões
relacionadas aos cidadãos, informações e interesses, seriam respondidas antes pelo consumo
privado de bens e meios de comunicação “do que pelas regras abstratas da democracia ou
pela participação em organizações políticas desacreditadas” (CANCLINI, 1999, p. 14).
Canclini propõe uma reconceitualização do consumo como espaço que serviria para se
pensar, o que não significaria dizer que houve uma “dissolução da cidadania no consumo,
nem das nações na globalização”.
[...] ser cidadão não tem a ver apenas com os direitos reconhecidos pelos aparelhos
estatais para os que nasceram em um território, mas também com as práticas sociais
e culturais que dão sentido de pertencimento, e fazem com que se sintam diferentes
os que possuem uma mesma língua (CANCLINI, 1999, p. 46).
O autor quer dizer, com esse pensamento, que quando se seleciona e se consome bens,
define-se o que é publicamente valioso, assim como os modos de se distinguir em sociedade
(CANCLINI, 1999, p. 45). No entanto, tal pensamento é prontamente criticado por Sodré
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(2002) ao afirmar que despertaria a ilusão de uma nova “cidadania” por vias do mercado
(SODRÉ, 2002, p. 64). “Ilusão, com efeito, porque cidadania é um conceito
fundamentalmente político, ligado à tradição republicana, e não econômico-mercantilista.
Levar em consideração o caráter técnico da constituição de uma cidadania nos dias de hoje
não significa absolutamente atrelar esse conceito aos dispositivos do mercado” (SODRÉ,
2002, p. 64).
4. Indústrias culturais, informação como propaganda
Atendo-se aqui à linha marxiana, e retomando-se os conceitos que melhor permitem a
avaliação do capitalismo e seus desdobramentos, principalmente do ponto de vista da
produção cultural, a abordagem de César Bolaño (2000) não considera o mercado como uma
instância abstrata, sem fundamentos históricos, sociológicos e simbólicos. A informação
poderia assumir, segundo a revisão do autor, a forma de propaganda, que se relacionaria
diretamente com as funções ideológicas da cultura e a constituição do Estado Moderno. A
forma de publicidade representaria a mercantilização da informação a partir da venda de
audiência, cumprindo uma função econômica e permitindo implementar a produção de
mercadorias e aumentar o lucro, além da rotatividade do capital.
No atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, o indivíduo fica finalmente
separado de sua experiência e os aparelhos de produção e distribuição da
informação, do conhecimento e da cultura se tornam uma „extensão da mente
humana‟, da mesma forma que, em Marx, as ferramentas são a extensão do corpo
humano. Em ambos os casos, a coisa está separada do sujeito e controlada pelo
capital (ou pela „classe dominante‟, não importa) (BOLAÑO, 2000, p. 124).
O autor discute a possibilidade dos meios de comunicação de massa substituírem os
aparelhos educativo, familiar e religioso na produção de modelos de conduta com o fim de
garantir a disciplina que já não é alcançada de outra forma, além de produzir pautas de
consumo. Assim, haveria também uma “função propaganda” capaz de obscurecer as origens
dos conflitos sociais, produzindo modelos de conduta prática (BOLAÑO, 2000, p. 126).
César Bolaño (2000, p. 204) também ressalta que os bens de consumo possuíriam, no
capitalismo monopolista, algo determinante para as decisões de compra dos indivíduos: a
diferenciação se daria não apenas através do layout e embalagem das mercadorias ou através
de elementos outros, não ligados às características físicas dos produtos, o que levaria a uma
“estetização geral da produção capitalista”, ou seja, os bens materiais também teriam um
valor simbólico e circulariam como signos (BOLAÑO, 2000, p. 204). Mas o problema que se
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colocaria à economia da comunicação e da cultura seria o fato desse trabalho produzir um
valor simbólico não quantificável, “como socialmente necessário e que, não obstante, faz
parte do valor de uso do objeto cultural” (BOLAÑO, 2000, p. 205).
Assim, as diferenças materiais seriam, muitas vezes, uma estratégia de explorar o
desejo de distinção do público-alvo do que por motivos propriamente utilitários. Bolaño,
citando Alain Herscovici, discute também a “lógica de distinção” da produção de bens
culturais. Para ele, haveria uma “dupla lógica de distinção” dos bens culturais (BOLAÑO,
2000, p. 206), de um lado a diferenciação em três tipos: “a diferenciação estética”, entre os
produtos; “diferenciação tecnológica”, distribuição em diferentes suportes; e “diferenciação
mediática”, relacionada à “legitimação mediática”, manipulação da audiência pelos meios
massivos. De outro lado, haveria a diferenciação pela demanda. Na verdade, haveria uma
“dialética da uniformização e da diferenciação”, ou seja, “[...] A homogeneização, sendo uma
exigência óbvia da massificação da produção cultural não pode jamais ser total, uma vez que
a diferenciação é a mola da concorrência no capitalismo monopolista, onde vige a Indústria
Cultural” (BOLAÑO, 2000, p. 207). Para Bolaño, a lógica da distinção, proposta por
Herscovici estaria mais na recepção: “Na verdade, há uma tendência à segmentação dos
públicos que reverte parcialmente a tendência à uniformização” (BOLAÑO, 2000, p. 207).
No atual estágio do capitalismo o indivíduo estaria separado de sua experiência e os
aparelhos de produção e distribuição da informação, do conhecimento e da cultura seriam
uma “extensão da mente humana”, sob controle do capital. A função propaganda se ligaria à
necessidade de “produzir uma imagem social capaz de obscurecer as origens dos conflitos
sociais e de produzir modelos de conduta prática”. Citando Cesareo, Bolaño (2000) expõe o
pensamento de que existiria uma contradição entre a produtividade do capital e o conjunto da
produtividade social, gerando desperdícios inclusive no campo da comunicação de massa.
Estes se constituiriam em desperdícios na medida em que não estariam promovendo
transformações sociais, mas somente servindo ao capital para divulgar produtos e incentivar o
consumo. A realidade fragmentada dos meios de comunicação de massa seguiria uma lógica
baseada nas necessidades econômicas e políticas do capital e do Estado. Os meios de
comunicação de massa seriam mera mediação social autonomizada que definiria as condições
de legitimidade das produções culturais e de todos os atores sociais que precisariam passar
por ela para comunicar-se com o público.
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A conduta individual do público seria influenciada duplamente: de um lado pela
prática social e de outro pelos meios de comunicação, que produziriam pautas de conduta. O
indivíduo ficaria separado de sua experiência e os aparelhos de produção e distribuição da
informação se tornariam “extensão da mente humana”. O desenvolvimento capitalista teria
criado condições para a industrialização, mas aumentado a circulação de imagens e palavras,
o que teria levado ao avanço das contradições entre cidade e campo e a desestabilização das
estruturas tradicionais de socialização.
Haveria uma hegemonia da produção de sentidos nos processos da comunicação de
massa em detrimento da produção de mercadorias. Consequentemente, uma mercantilização
cada vez maior da produção cultural e a subsunção do trabalho cultural no capital. Daí que o
modelo capitalista de organização “industrial da produção e distribuição de informação,
conhecimento e cultura” teria adotado algumas características como, por exemplo, o
desenvolvimento desigual dos diferentes meios que se organizariam num sistema de
comunicação de massa segundo uma lógica unitária; organização empresarial com decisões
centralizadas num aparelho auto-regulado e protegido, em oposição a um público atomizado,
sem qualquer poder de controle ou resposta; trabalho intelectual rebaixado a trabalho
abstrato.
A publicidade teria uma dupla natureza, ou seja, por um lado seria uma indústria
cultural que produz um produto cultural determinado e, por outro, uma indústria que faz parte
da infraestrutura social necessária à realização das mercadorias e que acrescenta valor a estas
últimas. Para alguns autores citados por Bolaño, os meios se constituiriam em aparelho
fundamental para o exercício da hegemonia, permitindo construir o consenso social com base
no aparelho ideológico. A publicidade seria um elo entre as necessidades de diferenciação e
diversificação do capital monopolista e a existência dessa nova “classe média”. A publicidade
não geraria necessidades de consumo, a matriz geradora de carências seria historicamente
situada. A publicidade contribuiria para abreviar o tempo de circulação das mercadorias,
acelerar a rotação do capital e reforçar as necessidades de consumo. Se converteria em porta-
voz da produção.
5. Redes de relações: valor de uso simbólico
Procurando-se a aproximação com a grande tônica dos tempos atuais, o bios
midiático, encontra-se em Marcos Dantas (2014), por exemplo, a tarefa de responder ao
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questionamento a respeito de empreendimentos surgidos no ambiente da internet: Facebook,
Google ou Yahoo. Por que valeriam tanto? O interesse, obviamente, não estaria em seus
ativos físicos, mas, sim, nas redes de relações que eles criariam ou permitiriam estabelecer
entre as pessoas. No entanto, a dificuldade se encontraria em identificar a mercadoria
envolvida neste processo porque o resultado desse trabalho não seria “vendável”, ou seja,
quase sempre seria fornecido de graça (DANTAS, 2014, p. 87). A primeira resposta estaria
na publicidade, comercializada por meio de uma audiência vinculada aos sites, no entanto,
essa audiência não seria produzida pelos empregados das empresas da internet, e sim, pelas
próprias pessoas usuárias e alvos das mensagens publicitárias. Elas produziriam audiência a
partir de seus próprios conteúdos pessoais, publicados na rede virtual, em substituição aos
tradicionais produtores das indústrias editoriais, ou seja, tais pessoas também trabalhariam,
como se fosse diversão.
O valor de uso dessas tecnologias residiria na ação que elas permitiriam a seus
usuários, proporcionando interações, mas onde estaria o valor de troca? A fonte de valor seria
a linguagem, esta poderia ser a mercadoria? O Google ou o Facebook registrariam estados
mentais de bilhões de pessoas a partir de seus hábitos e atos de navegação. Eles “sabem”, de
acordo com as buscas realizadas ou postagens o que “as pessoas querem”. Os cliques de
bilhões de internautas lhes forneceriam a informação privilegiada, objeto de valorização ou
“monetização” (DANTAS, 2014, p. 89). A diferença principal quando se fala de
comunicação e cultura ao invés de Economia Política estaria, portanto, em que o primeiro
seria um trabalho semiótico, ou seja, produção, valorização e distribuição de signos. O
produto deste trabalho semiótico seria, essencialmente, comunicação e, desde “os primórdios
do capitalismo moderno” o capital estaria tornando a comunicação indiferente à distância.
Ainda, de acordo com Dantas (2014), a expansão das “fronteiras de negócios baseadas nessa
anulação do tempo” desenvolveria a indústria cultural e “toda a sociedade do espetáculo”,
de acordo com Guy Débord (1997). O espetáculo proporcionaria uma forma de comunicação
direta entre o artista e o público, gerando, estimulando, mobilizando ou agenciando
comportamentos, identidades, gostos estéticos que no final consolidariam hábitos de
consumo. O espetáculo venderia mercadorias não pelo seu valor de uso, mas, sim, por um
estilo de vida (DANTAS, 2014, p. 91).
Diferentemente de um produto considerado como “artístico”, o valor de uso de uma
mercadoria se vincula sempre a uma dimensão instrumental, material. No produto “artístico e
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cultural”, de outra forma, o valor de uso se situaria na ação estética, psicológica, simbólica
que colocaria em relação o autor com seu público (DANTAS, 2014, p. 92), ou seja, o produto
cultural seria uma espécie de falsa mercadoria, cujo trabalho de produção teria sido
congelado, durante certo tempo, em cópias de disco ou frequências hertzianas, agora estaria
embutido numa nova forma de organização, chamada por Dantas de jardins murados. Um
modelo de negócio que procura vincular ou amarrar o uso do produto “semiótico a um
terminal de acesso conectado a um canal criptografado de comunicação”. Fundamentalmente,
essas tecnologias seriam criadas para eliminar os tempos de “replicação e distribuição” e,
também, condicionar a sociedade a pagar. Ao mesmo tempo, os serviços gratuitos,
vinculados à pirataria, estariam em franca decadência por conta das repressões cada vez mais
violentas, inclusive, porque os “consumidores” estariam aderindo ao novo modelo
(DANTAS, 2014, p. 93).
Ao assumir a sociedade do espetáculo como pano de fundo e a lógica capitalista de
acumulação determinada pelo princípio da anulação do espaço pelo tempo; a internet seria
um espaço “sociocultural onde o valor reside na ação linguística, nos „atos de fala‟, na
comunicação, na ação de tornar comum” (DANTAS, 2014, p. 94), e o valor se encontraria na
sustentação dessa “inter-ação”. A internet, em suas origens tinha um sentido mais libertário e,
agora, estaria proporcionando nada mais do que entretenimento ou vendendo espetáculo. E a
rede, que antes era aberta, cada vez mais se transformaria num “arquipélago de frondosos
„jardins murados‟” (DANTAS, 2014, p. 95). O Facebook, por exemplo, seria uma internet
paralela, um grande exemplo de “jardim murado”, com conteúdo que não está acessível ao
Google. O trabalho gratuito do internauta estaria na produção de palavras que seriam
vendidas, leiloadas, aos compradores. Tais palavras ou conteúdos foram gerados em
momentos lúdicos ou profissionais, dos internautas, mas por eles o internauta não recebe
nada, ou seja, mais-valia 2.0. O capital remuneraria uma parte desse tempo de trabalho e,
pela outra parte, nada pagaria, o tempo “ordinário de internautas ou da audiência”
(DANTAS, 2014, p. 100).
6. O espetáculo do eu: o declínio do homem público
Caminha-se, evidentemente, por espaços pautados por um capital cada vez mais
fluido, impalpável, que alimenta os mais diversos tipos de transformações sociais, inclusive
descritas por autores em diferentes épocas, mas, ao que parece, confluentes em características
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como as descritas por Richard Sennett (1988) quando este investiga as transformações do
consumo nas grandes metrópoles do século XIX argumentando que: "Multidões de pessoas
estão agora preocupadas, mais do que nunca, apenas com as histórias de suas próprias vidas e
com suas emoções particulares; essa preocupação tem demonstrado ser mais uma armadilha
do que uma libertação" (SENNETT, 1988, p. 10). À época, os donos de lojas de
departamentos começaram a trabalhar "mais o caráter de espetáculo de suas empresas, de
maneira quase deliberada" (SENNETT, 1988, p. 183). E, assim, através da estimulação do
comprador "para revestir os objetos de significações pessoais, acima e além de sua utilidade,
surge um código de credibilidade que tornará lucrativo o comércio varejista de massa".
Atualmente Paula Sibilia (2008), retomando de certa forma o raciocínio de Richard
Sennett, descreve as características gerais da sociedade midiática, que se organizaria em
redes, voltada para o próprio eu. Para ela não se trata apenas da internet, mas os indícios de
que estaríamos vivendo uma época limítrofe, uma passagem de um certo “regime de poder” a
outro político, sociocultural e econômico (SIBILIA, 2008, p. 19). Tanto na internet quanto
fora dela, a capacidade de criação estaria sendo capturada sistematicamente pelos tentáculos
do mercado, que atiçariam essa força vital, ao mesmo tempo que a transformaria em
mercadoria. Um combustível de luxo no capitalismo contemporâneo. Assim se
transformariam também os tipos de ser e estar no mundo. E como influenciariam todas essas
mudanças na criação de “modos de ser”? A construção do eu? A influência da cultura sobre a
formação da personalidade seria inegável. Todos os exemplos, segundo a autora, de sucessos
saídos do meio web, tais como personalidades famosas por terem criados blogs que depois
viraram livros, seriam, ao final, apenas peças dos dispositivos de poder mais amplos, voltados
para a captura de qualquer expressão exitosa da criatividade humana.
No século XXI as personalidades são convocadas para que se mostrem, talvez um
reflexo das privatizações dos espaços públicos. Uma sociedade fascinada pela visibilidade e
pelo império das celebridades. No entanto, apesar dessa euforia, o acesso à internet, em todo
o mundo, seria de forma privilegiada, podendo-se, inclusive, falar em tecno-apartheid.
Portanto, seria impossível negar os laços entre as novas tecnologias e o mercado, instituição
onipresente na contemporaneidade. Para a autora, os rituais desenvolvidos no meio virtual
seriam manifestações de um processo mais amplo, de uma atmosfera sociocultural que nos
envolveria e suas raízes poderiam estar na transformação histórica entre o público e o
privado. Daí que:
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[...] Entre los estímulos para crear esa escisión público-privado, y para la gradual
expansión de este último ámbito en desmedro del primero, figuran varios factores:
la institución de la familia nuclear burguesa, la separación entre el espacio-tiempo
de trabajo y el de la vida cotidiana, además de los nuevos ideales de domesticidad,
confort e intimidad. Resulta significativo que todos estos elementos hoy estén en
crisis y, probablemente, también en mutación (SIBILIA, 2008, p. 73)
Sibilia (2008) acredita, também, que os hábitos desenvolvidos no século XIX em
relação à escrita dos “diários íntimos”, do estilo de “fluxo de pensamento” na literatura ou da
“confissão” como ritual de discurso, descrito por Foucault, seriam expressões originárias do
estilo atual de diário “éxtimo”, todas expressões de um homo psychologicus. Ainda, tais
movimentos ou hábitos estariam promovendo “la definitiva extinción del „hombre público‟,
que ya había sido gravemente acorralado por la subjetividad burguesa del siglo XIX. Pero
según la perspectiva del escritor, la privacidad también estaría amenazada hoy en día”
(SIBILIA, 2008, p. 88).
7. Velhice versus juventude: uma luta simbólica
As reflexões acima são valiosas contribuições para o pensamento atual de que se vive
imerso em imagens e espetáculos criados pelos meios de comunicação de massa e esse fluxo
comunicacional determinaria a forma como se enxerga a existência humana. Em seu trabalho
sobre a velhice no Brasil, Mariele Correa (2009) afirma que seria na velhice que recairia,
apesar de todos os esforços do capital em atrair este segmento, “de forma mais intensa, o
isolacionismo da sociedade contemporânea. A condição de solidão a que muitos idosos estão
submetidos é avassaladora. O afastamento do mundo do trabalho, única condição de
expressão e valor humanos, da vida social, do lazer e isolados no próprio espaço doméstico,
suas possibilidades de contato e apropriação do mundo encontram-se bastante reduzidas”
(CORREA, 2009, p. 15).
Experimentar a finitude humana no corpo é algo único frente ao interdito do
contemporâneo que prega a impossibilidade da vivência do envelhecimento com a
cultura de valores relativos à juventude. Tais valores correspondem não à rebeldia
que consideramos típica em adolescentes, mas aos padrões de beleza impostos pelo
mercado (CORREA, 2009, p. 15).
A respeito das divisões entre as idades, Pierre Bourdieu (2003) argumenta que estas
seriam arbitrárias: “De facto, a fronteira entre juventude e velhice é em todas as sociedades
uma parada em jogo de luta” (BOURDIEU, 2003, p. 148). Citando Georges Duby, Bourdieu
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afirma que na Idade Média a juventude era motivo de manipulação por parte dos detentores
do patrimônio. Aqui, haveria um jogo de poder em relação à definição ou divisão entre
jovens e velhos “As classificações por idade (mas também por sexo ou, evidentemente, por
classe...) equivalem sempre a impor limites e a produzir uma ordem à qual cada um se deve
ater, na qual cada um deve manter-se no seu lugar” (BOURDIEU, 2003, p. 152).
Ou seja, Bourdieu ressalta que a juventude e a velhice não seriam dadas, mas também
construídas socialmente “na luta entre os jovens e os velhos” (BOURDIEU, 2003, p. 152). A
idade seria um dado biológico socialmente manipulável e que “o facto de se falar dos jovens
como de uma unidade social, de um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e de se
referir esses interesses a uma idade definida biologicamente, constitui já uma evidente
manipulação” (BOURDIEU, 2003, p. 153). Uma manipulação que se pode, perfeitamente,
estender ao conceito de velhice ou idoso, terceira-idade, melhor idade, etc, trabalhados, nos
termos de Bolaños, ou seja, através da indústria cultural, de forma a construir
comportamentos, direcionar vontades de acordo com interesses comerciais.
Ainda hoje, uma das razões pelas quais os adolescentes das classes populares
querem sair da escola e começar a trabalhar muito cedo, é o desejo de acederem o
mais depressa possível ao estatuto de adulto e às capacidades económicas que se lhe
encontram associadas: ter dinheiro é muito importante como afirmação perante os
amigos, perante as raparigas, permite-lhes saírem com os amigos e com as
raparigas, e serem reconhecidos e reconhecerem-se como „homens‟. É este um dos
factores do mal-estar que suscita nas crianças com origem nas classes populares
uma escolaridade prolongada (BOURDIEU, 2003, p. 155).
O autor deixa claro seu posicionamento de que a velhice seria “uma perda de poder” e
considera que a “[...] velhice é também um declínio social, uma perda de poder social e, deste
ponto de vista, os velhos participam da relação com os jovens, que é característica também
das classes em declínio” (BOURDIEU, 2003, p. 158-159).
Para concluir, defende-se aqui, portanto, a luta simbólica como forma de
reposicionamento cultural e social da velhice. A reinserção tanto dos idosos, sua imagem
social, seus pensamentos e anseios, quanto de outros extratos ou atores da sociedade, nos
meios de comunicação de massa, seria um importante passo para se alcançar o
reconhecimento, um empoderamento simbólico.
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e
fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação
sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o
equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito
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específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado
como arbitrário (BOURDIEU, 2000, p. 14).
Na conclusão deste ensaio, a impressão é de que o conceito de Bourdieu para “capital
social” seria um dos mais úteis na reconstrução da imagem social da velhice e dos idosos. A
velhice, em nosso entender, precisaria ter mais visibilidade, ser aceita novamente como parte
natural da existência, inclusive esteticamente e, neste sentido, apesar de todo o controle do
capital, a internet ainda seria uma ferramenta interessante no reposicionamento também das
relações de força, onde novos modelos poderiam ser construídos.
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