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A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ Contendo toda a teologia da NOVA-IGREJA Vol. I Emanuel Swedenborg

A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ Contendo toda a teologia da ... · Universal da fé, que Êle veio ao Mundo para glorificar Seu Humano, que Êle tomou no Mundo, isto é, para uni-lo

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A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ

Contendo toda a teologia da NOVA-IGREJA

Vol. I

Emanuel Swedenborg

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Daniel, VII, 13 e 14:"Vendo eu estava, em visões de noite e eis com as nuvens dos céus como um Filho do Homem que vinha; e lhe foi dada Dominação e Glória e Reino; e todos os povos, nações e línguas 0 servirão: a sua Dominação (será) uma Dominação do século,• qual não passará, e seu Reino (um Reino) que não perecerá."Apocalipe, XXI, 1, 2, 5, 9, 10:"Eu, João, vi um Céu Nôvo e uma Terra Nova; e vi a Cidade,• Santa Jerusalém nova, descendo de Deus pelo Céu, adereçada como uma Espôsa ornada para seu Marido. E um anjo me falou, dizendo: Vem, eu te mostrarei a Espôsa do Cordeiro, o Esposo; e levou-me em espírito sôbre uma montanha grande e elevada e me mostrou a cidade grande, a Santa Jerusalém descendo do Céu de junto de Deus."Aquele que estava assentado sôbre o Trono, disse: Eis, Novas tôdas as cousas eu faço; e me disse: Escreve porque estas palavras são verdadeiras e certas. '

&1 A FÉ DO NÔVO CÉU E DA NOVA IGREJA1 - A Fé na forma universal e na forma singular é apresentada primeiro que tudo, a fim de que seja como a Face diante da Obra que segue; a fim de que também seja como a Porta pela qual há entrada no Templo; e que seja o Sumário no qual cada uma das cousas que seguem está contida a seu modo. Dizse: A Fé do Nôvo Céu e da Nova Igreja porque o Céu onde estão os Anjos e a Igreja na qual estão os Homens, fazem um, como o Interno e o Externo no homem; é por isso que o homem da Igreja, que está no bem do amor segundo os veros da fé e nos veros da fé segundo o bem do amor, é um Anjo do Céu quanto aos interiores de sua mente; é mesmo por isso que depois da morte êle vem para o Céu, e aí goza da felicidade, segundo o estado de conjunção dêste bem e dêstes veros. É preciso que se saiba que no Nôvo Céu, que é hoje instaurado pelo Senhor, esta Fé é a sua face, a porta e o sumário.

&2 - A FÉ DO NÔVO CÉU E DA NOVA IGREJA NA FORMA UNIVERSAL é esta: Que o Senhor de tôda a eternidade (ab eterno) que é Jehovah, veio ao mundo para subjugar os infernos e glorificar seu Humano; que sem isso nenhum mortal teria podido ser salvo, e que aquêles que crêem n'Ele são salvos.Diz-se: Na forma Universal, pois é isto o Universal da fé; e o Universal da fé é o que deve estar em tôdas e cada uma das cousas da fé. E' um Universal da fé, que Deus é Um em Essência e em Pessoa, no qual está a Divina Trindade; e que o Senhor Deus Salvador Jesus Cristo é êste Deus. E' um Universal da fé que nenhum mortal teria podido ser salvo se o Senhor não tivesse vindo ao Mundo. E' um Universal da fé, que Êle veio ao Mundo para afastar o homem do Inferno; e que Êle o afastou por combates contra êle e por vitórias alcançadas sôbre êle; assim Êle o subjugou e o repôs na ordem C sob Sua obediência. E' um Universal da fé, que Êle veio ao Mundo para glorificar Seu Humano, que Êle tomou no Mundo, isto é, para uni-lo ao Divino A QUO (do qual procedia); assim Êle mantém pela eternidade o Inferno na ordem e sob Sua obediência. Como isto não podia se fazer senão pelas tentações admitidas em Seu Humano até à última de tôdas; e que esta última foi a

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paixão da cruz, é por isso que Êle a sofreu. São êstes os Universais da fé no que concerne ao Senhor.Da parte do homem, o Universal da fé é que êle creia no Senhor, pois por crer n'Êle, se faz com Êle uma conjunção pela qual há Salvação: crer n'Ele é ter confiança que Êle salva; e como não há senão o que vive bem que possa ter confiança, resulta daí que por crer n'Êle é entendido também viver no bem. 0 Senhor o disse também em João: "E' a vontade do Pai que aquêle que crê no Filho tenha a vida eterna" (VI, 40). E em outra parte: "Aquêle que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanece sôbre êle" (111, 36).

&3 - A FÉ DO NOVO CÉU E DA NOVA IGREJA NA FORMA SINGULAR é esta: Que Jehovah Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, ou que Êle é o Bem mesmo e o Vero mesmo; e que Ele mesmo quanto ao Divino Vero, que é a Palavra e que era Deus em Deus, desceu e tomou o Humano, no propósito de repor na ordem tôdas as cousas que estavam no Céu, tôdas as cousas que estavam no Inferno e tôdas as cousas que estavam na Igreja porque então a potência do Inferno levava vantagem sôbre a potência do Céu; e que nas Terras, a potência do mal levava vantagem sôbre a potência do bem; e que em conseqüência uma danação geral estava à porta e iminente. Jehovah Deus, por Seu Humano que era o Divino Vero, afastou esta Danação que ia acontecer; e assim remiu os Anjos e os Homens. Em seguida, em Seu Humano uniu o Divino Vero ao Divino Bem ou a Divina Sabedoria ao Divino Amor; e assim voltou ao Seu Divino, no qual estava de tôda a eternidade, ao mesmotempo com e no Humano Glorificado. E' o que é entendido por esta passagem em João: "A Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra carne foi feita" (I, 1 e 14). E no mesmo: "Eu saí do Pai e vim ao Mundo; de nôvo deixo o Mundo e vou para o Pai" (XVI, 28). E além disso por esta passagem: "Nós sabemos que o Filho de Deus veio ' e que Êle nos deu a inteligência para que conheçamos o Vero; e estamos no Vero em Seu Filho Jesus Christo. Êste é o Verdadeiro Deus e a Vida Eterna" (João I Epístola, V, 20 e 21). Segundo isto é evidente que sem a vinda do Senhor ao Mundo ninguém poderia ter sido salvo. Acontece o mesmo hoje; se portanto o Senhor não viesse de nôvo no Divino Vero que é a Palavra, ninguém também poderia, ser salvo.Da parte do homem os Singulares da fé são: 1.0) Que há um único Deus em que está a Divina Trindade, e que êste Deus é o Senhor Deus Salvador Jesus Christo. 2.0) Que a fé salvífica é crer n'Ele. 3.0) Que os males não devem ser feitos porque são do diabo e vêm do diabo. 4.0) Que os bens devem serfeitos porque são de Deus e vêm de Deus. 5.0) E que os bens devem ser feitos pelo homem como por si mesmo, mas que êle deve crer que é pelo Senhor que êles estão nêle e são feitos por êle. Os dois primeiros pertencem à fé, os dois últimos pertencem à caridade, e o quinto pertence à conjunção da caridade e da fé, assim à conjunção do Senhor e do homem.&4 CAPITULO IDO DEUS CRIADOR4 - A Igreja Cristã desde o tempo do Senhor, tinha percorrido suas idades, da Infância à extrema Velhice; sua infância foi a época em que os Apóstolos viviam e pregavam em todo o Mundo o Arrependimento e a Fé no Senhor Deus Salvador; que êles tenham pregado êsses dois pontos, vê-se por estas palavras ,nos Atos dos Apóstolos: "Paulo atestava e aos Judeus e aos Gregos o Arrependimento para com Deus e a Fé em Nosso Senhor Jesus

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Cristo (XX, 21). E' um fato memorável, que o Senhor convocou, há alguns meses, Seus doze discípulos, que são agora Anjos e os enviou a todo o Mundo Espiritual, com ordem de -aí pregar de nôvo o Evangelho porque a Igreja que o Senhor tinha instaurado por êles, está hoje de tal modo consumada, que apenas subsistem dela alguns restos; e que, isso aconteceu porque se dividiu a Divina Trindade em três Pessoas, das quais cada uma é Deus e Senhor; e que dai, decorreu um frenesi em toda a Teologia; e assim na Igreja que do nome do Senhor é chamada Christã; diz-se frenesi porque as mentes humanas foram por isso arrastadas a um tal delírio que não se sabe se há um único Deus ou se há três; não há senão um na linguagem da boca, mas há três no pensamento da mente; a mente está portanto em oposição com a boca ou o pensamento com a linguagem; desta oposição resulta que não se reconhece nenhum Deus; o Naturalismo que reina hoje não tem outra origem. Faz disso, se quiseres, o exame: Quando a boca diz um e a mente pensa em três, não acontece que dentro, no meio do caminho, um expulsa o outro, e isso reciprocamente? Daí o homem apenas pensa ,de outro modo sôbre Deus, se o pensa, a não ser segundo a palavra nua de Deus, sem nenhum sentido que envolva um conhecimento de Deus. Pois que. a idéia de Deus, com toda noção que possa ter dela, foi assim dissipada, vou, em sua ordem, tratar de Deus Criador, do Senhor Redentor e do Espírito Santo em sua operação e da Divina Trindade; e isso a fim de que o que foi dissipado seja restabelecido, o que acontece quando a Razão humana, segundo a Palavra e a luz que dela provêm, está convencida de que há uma Divina Trindade e que esta Trindade está no Senhor Deus Salvador Jesus Christo, como a Alma, o Corpo e o Procedente estão no homem; e que assim permanece em vigor esta passagem do Símbolo de Atanásio, que no Christo, Deus e o Homem, ou o Divino e o Humano, não são dois, mas estão em uma única Pessoa; e que, como a Alma racional e a Carne, são um único homem, do mesmo modo, Deus e o Homem são um único Christo.DA UNIDADE DE DEUS

&5 - Pois que o reconhecimento de Deus, segundo o conhecimento que se tem d'Ele, é a essência mesma e a alma de tôdas as cousas em toda a Teologia, é necessário tomar por exórdio a Unidade de Deus; ela será demonstrada em ordem pelos Artigos seguintes:I - TODA A ESCRITURA SANTA E, POR CONSEGUINTE, AS DOUTRINAS DAS IGREJAS NO MUNDO CRISTAO, ENSINAM QUE DEUS E' UM.II - 0 INFLUXO UNIVERSAL, PROCEDENDO DE DEUS NAS ALMAS DOS HOMENS, E' QUE HÁ UM DEUS, E QUE ÊLE E' UM.III - DAI VEM QUE NO MUNDO INTEIRO NAO HÁ UMA NAÇÃO, TENDO UMA RELIGIÃO E UMA RAZÃO SA, QUE NAO RECONHEÇA QUE DEUS E' UM. IV - QUAL E' ESTE DEUS UM: AS NAÇÕES E OS POVOS TEM TIDO E TEM, SEGUNDO VARIAS COISAS, OPINIÕES DIFERENTES SOBRE ESTE PONTO.V - A RAZÃO HUMANA, SEGUNDO UM GRANDE NúMERO DE COISAS NO MUNDO, PODE PERCEBER OU CONCLUIR SE HÁ UM DEUS E QUE ÊLE E um.VI - SE NAO HOUVESSE UM úNICO DEUS, 0 UNIVERSO NAO PODERIA TER SIDO CRIADO NEM CONSERVADO.VII - 0 HOMEM QUE NAO RECONHECE DEUS E EXCOMUNGADO DA IGREJA E DANADO.VIII - NADA DA IGREJA ESTA EM COERÊNCIA NO HOMEM QUE RECONHECE NAO UM úNICO DEUS, MAS VÁRIOS DEUSES.Cada um dêstes artigos vai ser desenvolvido separadamente.

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&6 - I. TODA A ESCRITURA SANTA E, POR CONSEGUINTE, TÔDAS AS DOUTRINAS DA IGREJA NO MUNDO CRISTÃO, ENSINAM QUE HÁ UM DEUS E QUE ÊLE É UM.Se toda a Escritura Santa ensina que há um Deus, é que nos íntimos desta Escritura não há absolutamente senão Deus, pois ela foi ditada por Deus; e de Deus não pode proceder senão o que é Êle mesmo e é chamado Divino; êste Divino está nos íntimos da Escritura Santa. Mas nos derivados, que estão abaixo dos íntimos e que provêm dêles, esta Santa Escritura foi acomodada à percepção dos Anjos e dos Homens; nestes derivados há semelhantemente, o Divino, mas em uma outra forma; e nesta forma êle é chamado Divino Celeste, Divino Espiritual e Divino Natural, Divinos que não são senão invólucros de Deus, pois que Deus Mesmo, tal como está nos íntimos da Palavra não pene ser visto, por nenhum ser criado; pois Êle disse a Moisés, que pedia com insistência para ver a glória de Jehovah, que ninguém podia ver Deus e viver, acontece o mesmo com os íntimos da Palavra, onde Deus está no Seu Ser e em Sua Essência: mas não obstante o Divino; que ai está intimamente e é envolvido pelos Divinos ajustados às percepções dos Anjos e dos, Homens, brilha como a Luz através de formas cristalinas, mas com variedade, segundo o estado da mente, estado que o homem se formou ou segundo Deus, ou segundo êle mesmo; diante de quem formou segundo Deus o estado de sua mente, a Escritura Santa é como um espelho, no qual êle vê Deus, mas cada um 0 vê à sua maneira; as Verdades que se aprendem pela Palavra e de que a gente se imbui conformando com elas a sua vida, compõem êsse Espelho: daí, torna-se evidente que a Escritura Santa é a plenitude de Deus. Que esta Escritura ensina não sómente que há um Deus, mas, também que Deus é um, pode-se vê-lo pelas Verdades que, assim como foi dito, formam êste Espelho, pelo fato de que elas são coerentes em um único, encadeamento; e fazem que o homem não possa pensar de Deus senão como sendo um; daí vem que todo homem, cuja razão foi imbuída de alguma santidade derivada da Palavra, sabe por si mesmo que Deus é um; e percebe que há uma espécie de loucura em dizer que há vários deuses; os anjos não podem abrir a boca para pronunciar a palavra deuses, pois a aura celeste em que vivem impede essa pronunciação. Que Deus seja um, a Escritura Santa o ensina não só universalmente, como acaba deser dito, mas em particular em grande número de passagens, por exemplo nestas: "Escuta, Israel, Jehovah nosso Deus, Jehovah e um" (Deuter. IV, 4). Semelhantemente em Marcos XII, 29. "Sómente em Ti está Deus, e excetuando Eu, não há Deus" (Isaías, XLV, 14-15). "Não sou eu Jehovah? E há outro Deus senão Eu ?' (Isaías XLV, 20-21). "Eu sou Jehovah teu Deus, e Deus outro que Eu tu não reconhecerás" (Oséas XIII, 4). "Assim disse Jehovah, o Rei de Israel: Eu (sou) o Primeiro e o último, e excetuando Eu não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Nesse dia, Jehovah será como Rei sôbre toda a terra; nesse dia, Jehovah será um e Seu Nome um" (Zacarias XIV, 9).

&7 - Que as doutrinas da Igreja no Mundo Christão ensinam que Deus é um, isso é notório; elas o ensinam porque da Palavra são tiradas tôdas as doutrinas dessas Igrejas; estas doutrinas têm consistência tanto quanto aí se reconhece um único Deus não sómente de boca, mas também de coração: quanto àqueles que de boca, sómente confessam um único Deus e, de coração, três, como acontece hoje entre um grande número na Christandade,

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Deus não é para êles senão uma simples palavra pronunciada pela boca, e, todo dogma teológico não é senão um ídolo de ouro encerrado em um cofre, de que só os Prelados têm a única chave; e quando êstes lêem a Palavra não percebem em parte alguma dela luz alguma, nem mesmo que Deus é um; a Palavra para êles é como coberta de riscos e inteiramente velada quanto à unidade de Deus; são êles que o Senhor descreveu em Mateus: "De ouvido vós ouvis e não compreendeis; e vendo vereis e não discernireis. Fecharam seus olhos, de modo que não aconteça que vejam com os olhos e que com os ouvidos ouçam e que, de coração, compreendam e que se convertam e que eu os cure" (XIII, 14-15). Todos êstes são como os que fogem da luz e que entram em quartos sem janelas, tateíam em torno das paredes e procuram onde estão os víveres e onde estão os escudos e que fazem para si uma vista como a das corujas e vêem nas trevas; são- semelhantes a uma mulher que, tendo vários maridos, é uma cortesã lasciva, não uma esposa; são semelhantes ainda a uma moça que recebe anéis de vários amantes, e que, depois do casamento, cede suas noites a um e também aos outros.

&8 - 11. 0 INFLUXO UNIVERSAL, PROCEDENDO DE DEUS NAS ALMAS DOS HOMENS, É QUE HÁ UM DEUS, E QUE ÊLE É UM.Que haja um influxo procedente de Deus no homem, é verdade segundo esta confissão geral, que todo bem que em si é o bem e que está no homem e é feito por êle, vem de Deus e, semelhantemente, tudo que pertence à caridade e tudo que pertence à fé; pois, lê-se: "Um homem nada pode tomar, a menos que lhe tenha sido dado do Céu" (João 111, 27); e Jesus disse: "Sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 5); isto é, nada do que pertence à caridade e do que pertence à fé. Se êste influxo está nas almas dos homens, é porque a alma é o íntimo e o supremo do homem; e que o influxo procedendo de Deus se faz aí, e desce daí às cousas que ,estão abaixo e as vivifica segundo a recepção: os Veros que pertencerão à fé influem na verdade, pelo ouvido; e desta maneira são implantados na mente, assim abaixo da alma, mas o homem por estes Veros está sómente disposto a receber o influxo procedendo de Deus pela alma; e tal é a disposição, tal é a recepção; e tal também a transformação da fé natural em fé espiritual. Se o influxo procedendo de Deus nas almas dos homens, é que Deus é um, é porque todo Divino, tomado tanto universalmente como singularmente, é Deus; e como todo Divino é coerente como uma unidade, só pode inspirar ao homem a idéia de um único Deus; e esta idéia é corroborada dia a dia, conforme o homem é elevado por Deus na luz do Céu; os Anjos, com efeito, não podem em sua luz se constranger a pronunciar a palavra deuses; é por isso que também a sua linguagem no fim de cada sentido é, quanto ao acento, terminada em unidade, o que não provém de outra parte senão do influxo em suas almas, que Deus é um. Se, não obstante, o influxo nas almas de todos os homens que Deus é um, há um grande número dos que pensam que Sua Divindade foi dividida em Várias da mesma Essência, é porque êste influxo, quando desce, cai em formas não correspondentes; e que a forma mesma o diversifica, como acontece em todos os sêres dos três reinos da natureza; o Deus que vivifica toda bêsta é o mesmo Deus que vivifica todo homem, mas a forma recipiente faz com que a bêsta seja bêsta e o homem seja homem; o mesmo acontece ao homem quando este introduz em sua mente a forma de uma bêsta; o influxo que procede do sol em tôdas as árvores é semelhante, mas é diversificado segundo a forma de cada árvore; é semelhante para a cêpa como para o espinheiro, mas se o espinheiro é enxertado sôbre a cepa, êste influxo é virado e procede, segundo a forma do espinheiro. Acontece o mesmo nos sêres do Reino mineral; a luz que influi em uma pedra

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calcárea e em um diamante é a mesma, mas brilha neste, e torna-se opaca naquela. Quanto ao que concerne às mentes humanas, elas são diversificadas segundo suas formas, que dentro são espirituais segundo a fé em Deus e ao mesmo tempo conforme se vive por Deus, e estas formas tornam-se brilhantes e Angélicas pela fé em um único Deus, enquanto que, ao contrário, se tornam opacas e bestiais pela fé em vários deuses, a qual difere pouco da fé em nenhum Deus.

&9 - III. DAÍ VEM QUE NO MUNDO INTEIRO NAO HÁ UMA NAÇÃO, TENDO UMA RELIGIÃO E UMA RAZÃO SA QUE NAO RECONHEÇA DEUS E QUE DEUS :É UM.Do influxo Divino nas almas dos homens de que se acaba de falar, resulta que existe em cada homem um ditame interno que há um Deus e que êle é um: se, entretanto, há os que negam. Deus e que reconhecem a natureza por Deus e outros também que adoram Imagens como deuses é porque fecharam os interiores de sua razão ou de seu entendimento pelas cousas mundanas e corporais; e por isso, apagaram a primitiva idéia de Deus ou a idéia da infância e transferiram então, ao mesmo tempo, do peito para as costas, a Religião. Que os Christãos reconhecem um único Deus, mas de que maneira, é o que se vê claramente pela sua Confissão Simbólica, que é esta: A Fé Católica consiste em que adoramos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade. Há três Pessoas Divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e entretanto não são três deuses, mas há um único Deus: outra é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo; e sua Divindade é uma, a Glória igual e a Majestade Coeterna; assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; mas embora sejamos forçados, segundo a verdade cristã, a reconhecer que cada pessoa em particular é Deus e Senhor, entretanto, nos é interdito pela Religião Católica dizer que há três Deuses e três Senhores". Tal é a Fé Christã sôbre a Unidade de Deus, mas ver-se-á, no Capítulo sôbre a Divina Trindade, que nesta confissão a Trindade de Deus e a Unidade de Deus são incompatíveis. No Mundo, tôdas as outras Nações que têm uma religião e uma razão sã, se acordam -em reconhecer que Deus é um; todos os Maometanos em seus Impérios os Africanos, nos vários Reinos de sua Região; os Asiáticos também, na maior parte dos seus; e além disso os Judeus de hoje. Os Antiquíssimos, no século de ouro, aquêles em que existia a Religião, adoraram um único Deus, que chamavam Jehovah; acontecia o mesmo com os Antigos do século seguinte, antes da fundação dos impérios monárquicos, rios quais os amôres mundanos e em seguida os amôres corporais começaram a fechar os superiores do entendimento, que antes tinham estado abertos e serviam então de Templos e de Santuários para o culto de um único Deus; todavia, o Senhor Deus, a fim de abrir e de restaurar assim o culto de um único Deus, instituiu uma Igreja entre os descendentes de Jacob; e à testa de todos os preceitos de sua religião colocou êste: "Não haverá outro Deus diante da minha face" (Éxodo XX, 3). Jehovah, que é também o nome que Êle se deu de nôvo diante deles, significa o Ser Supremo e único, de que procede tudo o que é e existe no universo. Os antigos gentios reconheciam por supremo Júpiter (Joven), assim chamado talvez de Jehovah, e atribuíam também a Divindade a vários outros que compunham a sua corte; mas na idade seguinte, Sábios, tais como Platão e Aristóteles declararam que esses eram, .não deuses, mas outras tantas propriedades, qualidades e atributos de um único Deus, os quais foram chamados deuses porque em cada uma delas havia a Divindade.

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&10 - Toda razão sã, ainda que não religiosa, vê que Toda cousa dividida, a menos que esteja sob a dependência de uma unidade, se dissipa por si mesma; assim se dissiparia o Homem, composto de tantos membros, de vísceras, de órgãos da sensibi1idade e do movimento se não estivesse sob a dependência de uma única alma; e o Corpo mesmo se não estivesse sob a dependência de um único coração. Aconteceria o mesmo com um Reino se não fosse governado por um único Rei; com uma Casa se não tivesse um único dono; com tôdas as funções, que são em grande número em cada Reino, se não estivessem sob a direção de um único funcionário. Que força teria um Exército contra os inimigos sem um General investido de um poder supremo e tendo sob suas ordens oficiais, cada um dos quais exerce sua autoridade sôbre os soldados? Aconteceria o mesmo na Igreja se ela não reconhecesse um único Deus; e também com o Céu Angélico, que é como a cabeça da Igreja nas terras, sendo o Senhor a -Alma mesma de um e de outro; por isso o Céu e a Igreja são chamados seu Corpo; se êles não reconhecessem um único Deus, seriam um e a outra como um corpo inanimado que, não sendo útil a nada, seria rejeitado e sepultado.

&11 - IV. AS NAÇÕES E OS POVOS TIVERAM E TÊM, POR VÁRIAS CAUSAS, OPINIÕES DIFERENTES SOBRE A QUALIDADE DÊSTE DEUS úNICO.Uma primeira cousa é que não pode haver conhecimento de Deus, nem por conseguinte, reconhecimento de Deus sem -Revelação; e que não há conhecimento do Senhor e, por conseguinte, reconhecimento de que no Senhor habita corporalmente Toda a plenitude da Divindade, senão pela Palavra, que é a coroa das Revelações; pois o homem, quando uma Religião foi dada, pode ir ao encontro de Deus e receber o influxo; e por conseqüência tornar-se, de natural espiritual: ora, uma primitiva Revelação foi espalhada sôbre todo o Globo, mas o homem natural a perverteu de várias maneiras, daí os afastamentos, os dissentimentos, as heresias e os cismas das religiões. Uma segunda causa é que o homem Natural nada pode perceber nem aplicar se a cousa alguma do que concerne a Deus, mas pode únicamente perceber e aplicar aquilo que concerne ao mundo; por isso se diz nos Cânones da Igreja Christã que o homem Natural é oposto ao homem Espiritual e que êles combatem um contra o outro; daí vem que aquêles que, segundo uma Palavra resultante de uma outra Revelação, conheceram que há um Deus, tiveram e têm opiniões diferentes sôbre a Qualidade de Deus e sôbre a Unidade de Deus. Aquêles portanto de quem a vista da mente estava sob a dependência dos sentidos do corpo, e que entretanto queriam ver Deus, formaram para si Imagens de ouro, de prata, de pedra -e de madeira, a fim de que sob essas Imagens, como objetos da vista, adorassem Deus; e outros que pela religião ti nham rejeitado as Imagens, representaram Deus por símbolos do Sol e da Lua, dos Astros e de diversos objetos da Terra; mas aquêles que se acreditavam mais sábios que o Vulgo e que, entretanto, tinham permanecido homens naturais, reconheceram, pela imensidade de Deus e por Sua onipresença criando o Mundo, por Deus a Natureza, uns nos seus íntimos e outros em seus últimos, e alguns, a fim de separar Deus da Natureza, imaginaram alguma cousa de muito universal que chamaram o Ser do universo; e como não sabem nada mais sôbre Deus, êste Ser torna se nêles um ser de razão, isto é, uma cousa de nada. Que não pode compreender que os conhecimentos sôbre Deus são espelhos de Deus eque aquêles que nada sabem de Deus vêem Deus não em um espelho voltado para seus olhos, mas em um espelho virado pelo dorso que é coberto de mercúrio ou de negro de fumo (noir Gluten), e não reflete a imagem, mas a oculta? A Fé em Deus entra no homem pelo Caminho anterior, que vai da alma aos superiores do entendimento; mas os conhecimentos so- bre Deus entram pelo Caminho posterior porque o

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Entendimento os tira pelos sentidos do corpo da Palavra revelada; e o encon- tro dos influxos se faz no meio do Entendimento, e aí a fé natural, que não é senão uma persuasão, se torna a fé espiritual, que é o reconhecimento mesmo; o Entendimento humano é portanto como um entreposto de trocas no qual se faz a permuta.

&12 - V. A RAZÃO HUMANA, DE ACORDO COM UM GRANDE NúMERO DE COISAS DO MUNDO, PODE PERCEBER OU CONCLUIR, SE QUISER, QUE HÁ UM DEUS E QUE ÊLE É UM.Esta verdade pode ser confirmada por inúmeras c coisas do Mundo visível. Com efeito, o Universo é como um Teatro no qual se apresentam contInuamente Testemunhas de que há um Deus, e que Êle é um. Mas para ilustrar êste assunto, narrarei êste Memorável do Mundo Espiritual: Um dia, quando conversava com Anjos, chegaram alguns Noviços do Mundo natural; logo que os vi, desejei-lhes uma vinda feliz e lhes contei sôbre o Mundo Espiritual várias coisas que êles ignoravam; e depois da conversação lhes perguntei que saber traziam consigo do Mundo sôbre Deus e sôbre a Natureza. Disseram-me: Eis nosso saber: a Natureza opera tôdas as coisas que se fazem no Universo Criado; e que Deus, depois da Criação, lhe deu e imprimiu esta faculdade e esta potência, Deus as sustentando únicamente e as conservando a fim de que não pereçam; é por isso que tôdas as cousas que existem, nascem e renascem sôbre a Terra são atribuídas hoje à Natureza. Mas respondi que a Natureza por si mesma não opera cousa alguma, que é Deus que opera pela Natureza; e como pedissem uma demonstração, eu lhes disse: Aquêles, que crêem na Divina Operação em cada coisa da Natureza, podem, por um muito grande número de fatos que vêem no Mundo, confirmar-se por Deus muito mais que pela Natureza: aquêles, com efeito, que se confirmam pela Divina operação em cada cousa da Natureza, prestam atenção às Maravilhas que percebem tanto na Produção dos Vegetais como na dos Animais: NA PRODUÇÃO DOS VEGETAIS, no fato de que de uma semente muito pequena lançada em terra sai uma raiz, pela raiz uma haste e sucessivainente ramos, galhos, folhas, flores, frutos até novas sementes, absolutamente como se a Semente soubesse a sucessão ou o processo pelo qual ela deve se renovar. Um homem racional pode pensar que o Sol, que é puro fogo, sabe isso, ou que possa insinuar o seu calor e a sua luz que façam isso e que possa ter em vista os usos? Quando o homem, cujo racional elevado, vê estas Maravilhas e as examina atentamente, não pode deixar de pensar que elas vêm d'Aquele cuja Sabedoria é infinita, por conseqüência de Deus; aquêles que reconhecem a Divina operação em cada uma das cousas da natureza se confirmam também nisso, quando as vêem; aquêles, ao contrário, que não a reconhecem, as vêem não com os olhos da razão na fronte, mas com os olhos no occipute; são êstes que tiram dos sentidos do corpo tôdas as idéias do seu Pensamento e confirmam as ilusões dos sentidos, dizendo: Não se vê o Sol operar tôdas essas cousas por seu -calor e por sua luz? 0 que não se vê, o que é? Os que se confirmam pelo Divino prestam atenção às Maravilhas que vêem nas Produções dos Animais; e para falar aqui primeiro nas que estão nos Ovos, êles vêem aí o filhote escondido em seu germe, com tudo o que é necessário para a formação e também com tudo que concerne ao crescimento após a eclosão, até que se torne pássaro na forma da mãe. De mais, se prestarem atenção aos Voláteis em geral, apresenta-se diante da mente que pensa profundamente, cousas que produzem admiração: por exemplo, o fato de que nos menores como nos maiores, nos que são invisíveis, como nos que são visiveís, isto é, nos mínimos insetos como nos pássaros e nos animais maiores, há órgãos dos sentidos, que são a vista, o ouvido, o olfato, o gosto, o tato e os órgãos dos movimentos, que são os músculos, pois êles voam e andam; como

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também as vísceras aderentes ao coração e ao pulmão, que são postos em atividade pelos cérebros. Aquêles que atribuem tudo à Natureza, vêem, é verdade, tais cousas, mas pensam sómente o que elas são e dizem que a Natureza os produz; e dizem isso porque desviaram sua mente de todo pensamento sôbre o Divino; e aquêles que se desviaram do Divino, quando vêem as maravilhas da natureza, não podem pensar nelas racionalmente, nem com mais forte razão, espiritualmente, mas pensam nelas sensualmente e materialmente; e então pensam na natureza segundo a natureza e não acima da natureza, diferindo das bestas únicamente no fato de gozar da racionalidade, isto é, de poderem compreender, se quiserem. Aqueles que se desviaram de todo pensamento sôbre o Divino, e por isso se tomaram sensuais-corporais não pensam que a vista do olho é tão grosseira e material, que considera muitos pequenos insetos como uma única cousa obscura; e entretanto, cada pequeno inseto foi organizado para sentir e para se mover; assim não refletem que êle foi dotado de fibras e de vasos, de pequenos corações, de canais pulmonares, de pequenas vísceras e de cérebros, e que estes órgãos foram tecidos com as mais puras substâncias que existem na natureza; e que êstes, tecidos correspondem à vida no último grau, a qual põe distintamente em ação as suas partes mais delicadas. Pois que a vista do olho é tão grosseira que um grande, número de insetos, com as partes inúmeras que cada um encerra, aparecem como um pequeno ponto obscuro, e que entretanto os que são sensuais pensam e julgam segundo esta vista, vê-se claramente quanto sua Mente se tornou espessa, e por conseguinte, em que obscuridade êles estão sôbre as cousas espirituais.Cada um pelas cousas visíveis na Natureza pode se confirmar pelo Divino, se quiser; e também se confirma aquêle que pensa em Deus e na Sua onipotência criando o Universo e na Sua onipresença, conservando-o; por exemplo, quando vê os Voláteis do Céu; cada espécie conhece seus alimentos e sabe onde estão, conhece os seus semelhantes pelo som e pela vista; e entre os pássaros, êstes conhecem seus inimigos e seus amigos; sabem sob as penas o lugar do acasalamento, formam casamentos, constroem com arte ninhos, aí depositam seus ovos, os cobrem, sabem o tempo da incubação; e quando êste se escoa, fazem sair da casca seus filhotes, que amam com ternura; reaquecem-nos sob suas asas, preparam-lhes alimentos e lhes dão o biscate, isso, até que estejam em estado de agir por si mesmos e de fazerem como êles. Quem quiser pensar no influxo Divino vindo pelo Mundo Espiritual ao Mundo natural, pode ver este influxo nestas cousas; pode, também, se quiser, dizer em seu coração: 0 Sol não pode dar tais ciências a êsses voláteis por seu calor e sua luz pois o Sol, de que a Natureza tira sua origem e sua essência, é um puro Fogo e, por. conseguinte, os efluxos de seu valor e de sua luz são absolutamente mortos; e assim pode-se concluir que tais cousas vêm do influxo Divino pelo Mundo espiritual aos últimos da natureza.Cada um pelas cousas visíveis na Natureza pode se confirmar pelo Divino, quando vê os Vermes que, segundo o prazer de um certo amor, são levados e aspiram a mudar seu estado terrestre para um estado que é análogo ao estado celeste, e para isso se arrastam para lugares convenientes, se envolvem com uma cobertura, e assim se colocam em um útero para renascer, e aí se tornam crisálidas, ninfas e por fim borboletas; e depois que sofrem a Metamorfose segundo a sua espécie, foram decorados com asas magníficas, voam no ar como em seu céu, ai folgam alegremente -e formam casamentos, põem ovos e provêm à sua posteridade; e então se nutrem de alimento agradável e doce que tiram das flores. Entre os que se confirmam no Divino pelas coisas visíveis na natureza, há algum que não veja nestes seres como uma espécie de imagem do estado terrestre do homem e nesses mesmos seres, como borboletas, uma espécie de Imagem do estado celeste? Aqueles que se confirmam

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pela Natureza, veem, é verdade, estas maravilhas, mas, como rejeitaram para longe dêles o estado celeste do homem, êles as chamam de puras operações da natureza.Cada um pelas coisas visíveis na Natureza pode se confirmar no Divino quando presta atenção a tudo que se conhece das Abelhas. Elas sabem recolher das rosas e das flores. a cera, sugar delas o mel, construir células como pequenas casas, e dispôIas em forma de cidades, com lugares pelos quais entram e pelos quais saem; sentem, de longe, o perfume das flores e das ervas de que recolhem a cêra e o mel para a alimentação; e quando estão carregadas, voltam segundo a plaga para suas colméias e provêm assim a sua alimentação para o inverno seguinte, como se o previssem; põem também à sua testa como Rainha uma soberana, pela qual a posteridade deve ser propagada e para a qual constroem uma espécie de palácio acima de suas células, colocando sentinelas ao redor; quando chega o tempo da postura a Rainha, acompanhada de satélites, que são chamados Falsos burbões, vai de célula em célula e põe ovos, que o bando que a segue cerca de um reboco, para que não seja alterado pelo ar; dai para elas uma raça nova; mais tarde, quando esta geração chegou à idade necessária para poder fazer os mesmos trabalhos, é expulsa da colméia; e a princípio o enxame se reúne em bando, a fim de que a consociação não seja rompida e em seguida voa em busca de um domicílio; no Outono, êstes falsosburbões, não tendo contribuído em nada para a colheita da Cera e do mel, são postos fora e privados de suas asas, para que não voltem e não consumam os alimentos para cujo aprovisionamento não cooperaram em cada. Ocorrem ainda vários outros fatos notáveis. Por isso se pode ver que é em razão do Uso prestado por elas ao Gênero Humano que recebem no influxo Divino pelo Mundo Espiritual uma forma de govêrno tal como existe entre os homens, na Terra, e mesmo entre os Anjos nos Céus. Qual é o homem provido de uma razão sã, que não vê que tais cousãs nesses insetos não vêm do Mundo Natural? 0 que é que o Sol, donde provém a Natureza, tem de comum com um governo semelhante e análogo ao Govêrno Celeste? De acôrdo com estas observações e outras semelhantes entre as bestas brutas, aquêle que reconhece e adora a Natureza se confirma pela Natureza, enquanto que aquéle que reconhece e adora Deus se confirma em Deus pois o homem Espiritual vê aí cousas espirituais; e homem Natural ai vê cousas naturais, assim cada um segundo que êle mesmo é. Quanto ao que me concerne, tais observações têm sido para mim testemunhas do Influxo procedente de Deus pelo Mundo Espiritual, ao Mundo Natural. Que se examine se, a respeito de alguma Forma de govêrno ou de alguma Lei civil ou de alguma Virtude moral ou de alguma Verdade espiritual, 6 possível pensar analiticamente, a menos que o Divino, pela Sabedoria influa pelo Mundo Espiritual; quanto ao mim, isso me tem sido e me é impossível; com efeito, tenho notado êste influxo de uma maneira perceptível e sensível há vinte e oito anos contInuamente; falo disso portanto segundo um testemunho certo.A Natureza pode ter por fim o Uso e dispor os usos nas ordens e nas formas? Só a Sabedoria o pode fazer; e só Deus em Quem a Sabedoria é Infinita, é que pode assim ordenar e formar o Universo; quem mais pode prever para os homens o que é necessário à alimentação e à roupa e prover a isso; à alimentação pela seara dos campos e pelos frutos da terra e pelos animais; às roupas,, pelas produções da terra e por estes mesmos animais? Não é uma maravilha que êstes feios insetos, que se chamam Bichos da sêda, forneçam vestimentas e decorem com magnificência as mulheres e os homens, desde as Rainhas e o Reis até às camareiras e aos criados; e que êstes minúsculos insetos que se chamam Abelhas, forneçam a cera para a luz que enche de esplendor os Templos e os Palácios? Estas cousas e várias

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outras são provas existentes de que Deus de Si mesmo pelo Mundo Espiritual opera o que se faz na Natureza.A isso devo ajuntar que no Mundo Espiritual, vi aquêles que, pelas cousas visíveis do Mundo, se tinham confirmado pela Natureza até se tornarem ateus, e que seu Entendimento na Luz espiritual me apareceu aberto por baixo, mas fechado por cima; e isso, porque pelo pensamento, êles olham para baixo na direção da Terra, e não para cima em direção ao Céu acima do sensual, que é o ínfimo do entendimento, aparecia como que um vês brilhando pelo fogo infernal, em alguns negro como a fuligem e em outros, lívido como um cadáver. Que cada um se guarde portanto de confirmações pela Natureza, mas que se confirme por Deus, pois os meios não faltam.

&13 - VI. SE NAO HOUVESSE UM úNICO DEUS, 0 UNIVERSO NAO TERIA PODIDO SER CRIADO NEM SER CONSERVADO.Se da criação do Universo se pode concluir a unidade de Deus é porque o Universo é uma obra coerente como um desde os primeiros até aos últimos e depende de um único Deus, como o corpo depende de sua alma; o Universo foi criado a fim de que Deus pudesse estar onipresente, manter sob seu auspicio tôdas e cada uma das cousas que o compõem, e sustentá-lo perpètuamente como um, o que é conservar. E' por isso também que Jehovah Deus disse que Êle é o "Primeiro e o último, o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega" (Isaías XLIV, 6 e Apoc. 1, 8 e 17); e em outro lugar: "Que Êle fêz tôdas as coisas; que Êle desdobra os Céus e estende a Terra por si mesmo" (Isaías XLIV, 24). Este grande sistema que se chama Universo, é uma obra coerente como um desde os primeiros até aos últimos, porque Deus criando-o teve em vista um único Fim, que era o Céu angélico formado do Gênero Humano; e os Meios para esse fim são tôdas as cousas de que o Mundo se compõe pois quem quer fim quer também os meios; aquêle portanto que contempla Mundo como uma Obra que contém os meios para este fim, pode contemplar o Universo criado como uma obra coerente como um, e pode ver que o Mundo é um encadeamento de usos de ordem sucessiva para o Gênero Humano, de que se forma o Céu Angélico; o Divino Amor não pode ter em vista um outro fim que não seja a Beatitude eterna dos homens decorrente do Seu Divino, e Sua Divina Sabedoria não pode produzir outra cousa que não seja usos e meios para êste fim. Examinando o Mundo nesta idéia universal, todo homem sábio pode compreender que o Criador do Universo é um, e que Sua Essência é o Amor e a Sabedoria; e por isso que não existe no mundo um singular no qual não haja escondido, de perto ou de longe, um uso para o homem, seja para sua alimentação pelos frutos da terra e também pelos animais, seja para sua vestimenta por estas mesmas cousas. E, como foi dito, está no número das maravilhas que êstes insignificantes insetos, que se chamam Bichos da seda, forneçam vestimentas e decorem com magnificência, as mulheres e os homens, desde as Rainhas e os Reis até às camareiras e aos criados; e que êstes outros insetos, que se chamam Abelhas, forneçam a cera para a luz que enche de esplendor os Templos e os Palácios. Aquêles que examinam no Mundo por alguns objetos, isoladamente, e não o todo universalmente na série em que estão os fins, as causas médias e os efeitos, e que não deduzem que a Criação provém do Divino Amor pela Divina Sabedoria, não podem ver que, o Universo é Obra de um único Deus, nem que este Deus habita em cada um dos usos, porque Ele está nos fins. Com efeito quem está no fim está também nos meios; pois em todos os meios há Intimamente o fim, que põe em ação e dirige os meios. Aquêles que contemplam o Universo não como uma obra de Deus, nem como a habitação de Seu Amor e de Sua Sabedoria, mas como a Obra da Natureza e como a habitação do calor e da luz do

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sol, fecham os superiores de sua mente para Deus e abrem os inferiores de sua mente para o diabo, e por conseguinte despem o Humano e se revestem do bestial, e não sómente se acreditam semelhantes às bêstas, mas se tornam como tais; com efeito, se tomam raposas quanto à astúcia, lobos quanto à ferocidade, leopardos quanto à velhacaria, tigres quanto à crueldade, crocodilos, serpentes, mochos e corujas quanto à natureza destas bêstas. Os que são tais aparecem também de longe, no Mundo Espiritual, semelhantes a êsses animais; o amor do seu mal toma assim esta forma.

&14 - VII. 0 HOMEM QUE NAO RECONHECE DEUS É EXCOMUNGADO DA IGREJA E DANADO.Se o homem que não reconhece Deus é excomungado da Igreja, é porque Deus é o tudo da Igreja e porque os Divinos que são chamados Teológicos, fazem a Igreja, por isso a negação de Deus é a negação de tôdas as cousas da Igreja; e esta negação mesma o excomunga. Se este homem é danado, é porque estando excomungado da Igreja, êle é também excomungado do Céu; pois a Igreja na Terra e o Céu angélico fazem um, como o Interno e o Externo, como o Espiritual e o Natural no homem; e o homem foi criado por Deus a fim de que esteja quanto a seu Interno no Mundo Espiritual e quanto a seu Externo no Mundo Natural; por conseqüência foi criado indígena de um e de outro Mundo, a fim de que o espiritual que pertence ao Céu seja implantado no natural que pertence ao Mundo, como acontece com uma semente que é posta na terra, e que assim o homem exista e dure eternamente. 0 homem que, pela negação de Deus, se excomunga da Igreja e, por conseqüência do Céu, fecha o homem interno nêle quanto à vontade, assim quanto a seu amor nativo, pois a vontade do homem é o receptáculo de seu amor e torna-se a sua morada; entretanto, êle não pode fechar seu homem interno quanto ao Entendimento, pois se o pudesse e fizesse, o homem não seria mais homem; mas o amor de sua vontade enfátua pelos falsos os superiores do entendimento; daí o Entendimento torna-se fechado quanto aos veros que pertencem à fé e quanto aos bens que pertencem à cari--dade; assim êle é cada vez mais contra Deus e ao mesmo tempo contra os espirituais da Igreja; e por conseqüência é excluído. da comunhão com os Anjos do Céu; desde que é excluído, se põe em comunicação com os Satanases do inferno, e seu pensamento faz um com o dêles; ora os Satanases negam Deus e pensam loucamente de Deus e dos espirituais da Igreja; acontece o mesmo com o homem conjunto com êles; quando êste está no seu Espírito, o que acontece quando em sua casa, entregue a si mesmo, deixa seus pensamentos serem dirigidos pelos prazeres do mal e do falso que concebeu e deu à luz nêle, pensa. então de Deus que Èle não existe e que não é mais que uma palavra que retumba nas catedrais para prender o povo à obediência às leis da justiça que concernem à Sociedade; e além disso Pensa que a Palavra, segundo a qual os ministros falam, de Deus, é um amontoado de sonhos que, pela Autoridade, foram revestidos de Santidade; que o Decálogo ou Catecismo 6 um livrinho que, depois de ter sido usado pelas mãos das crianças, deve ser posto de lado, pois prescreve honrar os pais, não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falso testemunho; e não há ninguém que não saiba isso pela lei civil. A respeito da Igreja, pensam que é únicamente uma reunião de pessoas simples, fáceis de crer, e pusilânimes, que vêem o que êles não vêem; a respeito do homem e dêle mesmo como homem, pensa da mesma maneira que a respeito das bestas; e sôbre a vida depois da morte, da mesma maneira que sôbre a, vida da bêsta quando é morta. Assim pensa seu homem Interno, qualquer que seja a diferença que haja na linguagem de seu homem Externo; pois, como foi dito, cada homem tem um Interno e um Externo; e seu Interno constitui o homem que 6

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chamado Espírito e que vive depois da morte, e seu Externo, segundo o qual por moralidade agiu como hipócrita, é sepultado; e então por causa da negação de Deus êle se torna um danado. Todo homem, quanto a seu Espírito, é consociado a seus semelhantes no Mundo Espiritual, e é por assim dizer, um com êles; e muito freqüentemente me foi dado ver ai nas Sociedades, Espíritos de homens ainda vivos, alguns em Sociedades Angélicas e alguns outros em Sociedades infernais; e também me foi dado falar durante dias inteiros com eles e eu ficava admirado de que o homem mesmo, vivendo ainda em seu corpo, nada soubesse absolutamente: por isso eu vi claramente que aquêle que nega Deus, está já entre os danados e que depois da morte é recolhido entre os seus.

&15 - VIII. NADA DA IGREJA ESTA EM COERÊNCIA NO HOMEM QUE RECONHECE, NAO UM Só, MAS VÁRIOS DEUSES.Aquêle que reconhece de fé e adora de coração um único Deus, está na comunhão dos Santos nas Terras e na comunhão dos Anjos nos Céus; estas assembléias são chamadas comunhões; e o são porque aquêles que as compõem estão em um único Deus e um único Deus está nêles; e ousarei dizer, com todos e com cada um, pois êles são todos como os filhos e os descendentes de um único Pai; suas mentes, seus costumes e suas faces são semelhantes, o que faz com que se conheçam mútuamente. 0 Céu Angélico foi coordenado em Sociedades segundo todas as variedades do amor do bom, variedades que tendem a um só Amor muito universal, o amor a Deus; por èste Amor foram propagados todos aquêles que reconhecem de fé e de coração um único Deus, Criador do Universo e, ao mesmo tempo, Redentor e Regenerador. Mas é diferente com aquêles que procuram e adoram, não um único Deus, mas vários deuses, quer isso aconteça pelo fato de adorarem um de boca e três pelo pensamento, como fazem na Igreja de hoje aqueles que distinguem Deus em três Pessoas e declaram que cada Pessoa é Deus por si mesma; e atribuem a cada uma qualidades separadas ou propriedades que não pertencem a um outro; o que faz com que não sómente a unidade de Deus é na realidade dividida, mas semelhantemente também a teologia mesma e a mente humana em que ela deve estar. Que resulta daí nas cousas da Igreja, senão a perplexidade e a incoerência? No Apêndice que seguirá esta Obra, será demonstrado que tal é o estado da Igreja de hoje. E uma verdade que a divisão de Deus ou da Essência Divina em três Pessoas, das quais cada uma por si mesma ou separadamente é Deus, conduz à negação de Deus; é como alguém que entra em um Templo para adorar e que vê sobre o Altar um Quadro representando um Deus como o Ancião dos dias, um Segundo Deus como Soberano Pontífice e um Terceiro como Éolo voando; e em baixo esta inscrição: Éstes três são um único Deus; ou talvez como se ai se visse a Unidade e a Trindade representadas como um homem com três Cabeças sôbre um único corpo, ou com três corpos sob uma única Cabeça, o que é uma forma monstruosa. Se alguém entrasse com essa idéia no Céu seria certamente precipitado de lá, -ainda mesmo que dissesse que a Cabeça ou as Cabeças significavam a Essência e o Corpo ou os Corpos, as Propriedades distintas.

&16 - Ao que acaba de ser dito ajuntarei um Memoravel Vi alguns Espíritos recentemente chegados do Mundo Natural ao Mundo Espiritual, que falavam entre si das Três Pessoas Divinas de toda a eternidade; tinham sido Cônegos e um dêles, Bispo; êles me abordaram e depois de lhes haver falado um instante sôbre o Mundo Espiritual, de que antes não tinham conhecimento algum, eu lhes disse: Eu vos ouvi falar de três Pessoas Divinas de toda a eternidade; peço-vos para desvendar este grande Mistério segundo as idéias que adquiriste

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no Mundo Natural donde viestes recentemente; e então o Primaz, encarandome, disse: Vejo que és leigo; abrirei pois as idéias do meu pensamento sôbre êste grande Mistério e o ensinarei. As minhas idéias foram e são ainda que Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo estão assentados no meio do Céu sôbre três Poltronas ou Tronos magníficos e elevados; Deus o Pai, sôbre um Trono de ouro fino com Cetro na mão; Deus o Filho, à direita do Pai, sôbre um Trono de prata muito pura, com uma coroa na cabeça; e Deus o Espírito Santo perto deles sôbre um Trono de cristal resplandescente, tendo uma Pomba na mão; que em torno dêles, em tríplice fileira, brilham pelo esplendor de pedras preciosas, lâmpadas suspensas; e que longe deste Círculo se mantém uma quantidade inumerável de Anjos que adoram e glorificam; que além disso, Deus o Pai e Seu Filho conversam continuamente sôbre os que devem ser justificados e que, entre êles, determinam e decidem quais são nas Terras os que seriam dignos de ser recebidos entre os Anjos e ser coroados com a vida eterna; que Deus o Espírito Santo, logo que ouve pronunciar seus nomes, se dirige prontamente para o Globo da Terra em direção a êles, levando consigo os dons da justiça, outras tantas seguranças de salvação para aquêles que devem ser justificados; e desde que chega e insufla, dissipa os pecados como um ventilador expulsa a fumaça de uma fornalha e a branqueia, tira também de seus corações as durezas da pedra, lhes dá as branduras da carne e, ao mesmo tempo, renova seus Espíritos ou suas mentes, os engendra de nôvo e lhes dá fisionomias infantis; enfim, marca suas frontes com o sinal da cruz e os chama eleitos e filhos de Deus. Terminado este discurso, êste Primaz me disse: E' assim que desvendei êste grande Mistério no Mundo; e como a maior parte dos membros de nossa Ordem aplaudiram as minhas palavras, estou persuadido de que tu também, que és leigo, acredites nelas. Depois do Primaz ter pronunciado estas palavras, eu o encarei atentamente, assim como os Cônegos que estavam com êle e notei que lhe davam todo assentimento, comecei pois a responder e disse: Examinei bem o enunciado da tua fé e concluí dêle que te formaste e reténs, com prazer sôbre Deus Trino uma idéia absolutamente natural e sensual e mesmo material, da qual decorre inevitàvelmente a idéia de três deuses; não é pensar sensualmente de Deus o Pai assentá-lo sôbre um Trono com um Cetro na mão; e do Filho assentá-lo sôbre seu Trono com uma coroa na cabeça; e do Espírito Santo, colocá-lo sôbre o seu com uma Pomba na mão e fazê-lo percorrer o Globo da Terra segundo o que foi ouvido? E visto como uma tal idéia resulta disso, eu não posso acreditar em tuas palavras; com efeito, em minha infância não pude admitir em minha mente outra idéia que não fosse a de um único Deus e como eu a admito sómente e a retenho, tudo o que disseste se dissipa em mim; e então vi que pelo Trono sôbre o qual, segundo a Escritura, se diz que Jehovah se assenta, entende-se o Reino, pelo Cetro e a Coroa, o Governo e a Dominação; por sentar-se à direita, a Onipotência de Deus por Seu Humano; e por tôdas as cousas que são ditas do Espírito Santo, as operações da Divina Onipresença; toma, se te agrada, a idéia de um único Deus, gira-a bem no teu Raciocínio e aprenderás, enfim, com clareza, que isso é assim. Vós, é verdade, dizeis dessa forma que Deus é um, e isso, porque fazeis uma, e também indivisível, a Essência dessas Três Pessoas; mas não permitis que alguém diga que êste Deus único é uma Pessoa, quereis ao contrário, que haja três; e fazeis isso a fim de que a idéia de três Deuses, tal como é a vossa, não pereça; e atribuis também a cada uma delas, uma propriedade separada da outra. Não é dessa maneira dividir a vossa Essência Divina? Pois que isto é assim, como podeis dizer e ao mesmo tempo pensar que Deus é um? Eu vô-lo perdoaria se dissesses que o Divino é um. Como alguém, quando ouve dizer: 0 Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus e cada pessoa-, em particular, é Deus, pode pensar que não há senão um Deus? Não é uma contradição em que jamais é possível

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acreditar? Que se possa dizer não um único Deus, mas um semelhante Divino, isso pode ser ilustrado assim: de vários homens que formam em conjunto um Senado, um Consistório ou um Concílio, não se pode dizer que são um único homem; mas quando sôbre tôdas as cousas em geral e em particular há uma única opinião, pode-se dizer que eles têm um único sentimento; não se pode dizer também de três diamantes de uma mesma substância que são um único Diamante, mas pode-se dizer que são um quanto à substância e também que cada diamante difere do outro pelo preço de acordo com seu pêso próprio; entretanto, não acontece o mesmo, se há um só e não três. Mas eu percebo por que dizeis que as três Pessoas Divinas, das quais cada uma por si mesma ou em particular é Deus, são um único Deus, e por que prescreveis a cada membro da Igreja que fale assim. E' porque uma Razão esclarecida e sã reconhece em todo Universo que não há senão um Deus e que, em conseqüência, seríeis cobertos de vergonha se não tivésseis também a mesma linguagem; mas não obstante quando pronunciais um único Deus, embora penseis três, esta vergonha não retém estas duas palavras na boca, mas vós as enunciais. 0 Bispo, depois de ouvir o que eu acabava de dizer, se retirou com os Cônegos e retirando-se, êle se voltou e quis exclamar: Não há senão um Deus; mas não o pôde porque seu pensamento reteve sua língua e então êle pronunciou abertamente: Há três deuses. Vendo êste efeito prodigioso, os assistentes riram desenfreadamente e foram embora.

&17 - Em seguida perguntei onde encontraria entre os eruditos, os que têm mais penetração e que opinam pela Divina Trindade dividida em três Pessoas; e se apresentaram três dêles aos quais eu disse: Como podeis dividir a Trindade Divina em três Pessoas e sustentar que cada Pessoa por si mesma ou em particular é Deus e Senhor? Não acontece assim que a confissão de boca, que Deus é um, fica afastada do pensamento como o Meio-Dia está longe do Setentrião? A isso responderam: Ela não é de modo algum afastada déle porque as três Pessoas têm uma única Essência e porque a Divina Essência é Deus; fomos no Mundo os Tutôres da Trindade de Pessoas, e o Pupilo de que geramos a tutela era a nossa fé, na qual cada Pessoa Divina obteve sua parte: Deus Pai teve em partilha imputar e dar; Deus Filho interceder e ser mediador e Deus Espírito Santo efetuar os usos da Imputação e da Mediação. Mas, perguntei eu: que entendeis por Divina Essência? Éles responderam: Entendemos a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença, a Imensidade, a Eternidade, a Igualdade de Majestade. Então eu lhes disse: Se esta Essência faz de vários Deuses um só, podeis ainda ajuntar-lhe vários; por exemplo, um quarto de que fala em Moisés, em Ezequiel e em Job e que é chamado Deus Schaddai; foi assim que na Grécia e na Itália agiram os Antigos, que distribuíram atributos semelhantes e, por conseqüência, uma essência semelhante a seus deuses, como Saturno, Júpiter, Plutão, Apolo, Juno, Diana, Minerva e até mesmo Mercúrio e Vênus, mas acontece que nunca puderam dizer que todos êsses deuses eram um só Deus; e vós também, que sois três, e como percebo, tendo uma semelhante erudição e, portanto, uma semelhante essência quanto à erudição, não podeis entretanto vos combinar em um único homem erudito. Mas (ouvindo) a estas palavras, êles se puseram a rir, dizendo: E' uma brincadeira; é completamente diferente a Essência Divina; esta é uma e não tripartida; é indivisível -e, portanto, não dividida; a partilha e a divisão não se aplicam, a ela. Quando ouvi estas palavras repliquei: Desçamos a esta arena e combatamos; e lhes perguntei: Que entendeis pela palavra Pessoa e que significa esta expressão? E êles disseram: 0 nome Pessoa significa, não uma parte ou uma qualidade em um outro, mas o que subsiste própriamente; assim é definida a palavra Pessoa por todos os chefes da Igreja e por nós com êles. E eu disse: E' essa a definição da palavra Pessoa? E

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êles responderam: Sim. Então, eu lhes disse: não há parte alguma do Pai no Filho, nem parte alguma de um e de outro no Espírito Santo; do que resulta que cada um é senhor de seu arbítrio, de seu direito e de seu poder e, portanto, nada há que conjunte, senão a vontade que é própria de cada um e por conseqüência comunicável segundo o bel-prazer; as três Pessoas não são assim três deuses distintos? Escutai ainda: Destes também por definição da Pessoa, que é o que subsiste própriamente; por conseqüência há três substâncias em que partilhais a Essência Divina; e, entretanto, esta Essência, como o dissestes também é impartilhável, porque é uma, indivisível; e além disso, a cada substância, isto é, a cada Pessoa, vós atribuis propriedades que não estão em uma outra e que não podem tampouco, ser comunicadas a uma outra, a saber, a Imputação, a Mediação e a Operação; então que resulta daí, senão que as três Pessoas são três Deuses? A estas palavras êles se retiraram, dizendo: Agitaremos estas questões; depois do exame responderemos. Um sábio, que estava presente, tendo ouvido esta discussão, lhes disse: Não quero considerar êste assunto sublime através de tramas tão sutis, mas fora destas sutilezas, vejo em uma luz clara que nas idéias de vosso pensamento há três deusfs; mas como há pudor ,em expor estas idéias diante do Mundo inteiro, pois se as publicásseis seríeis chamados de insensatos e loucos, importa, por-tanto, para evitar a ignomínia que confesseis de bÔca um único Deus. Entretanto, êstes três eruditos que mantinham com teimosia a sua opinião, não prestaram atenção alguma às palavras do sábio, e indo embora pronunciavam murmurando alguns termos tirados da metafísica; o que me fêz notar que esta ciência era o tripé de onde queriam dar as respostas.

&18 DO DIVINO SER, QUE E JEHOVAH

18 - Trata-se primeiro do Divino Ser e em seguida tratarse-á da Divina Essência; parece que há entre os dois uma identidade perfeita, mas acontece contudo que o Ser é mais Universal do que a Essência, pois a Essência supõe o Ser; é segundo o Ser que há a Essência; o Ser de Deus ou o Ser Divino não pode ser descrito porque está acima de toda idéia do pensamento humano; só o criado e o finito é que cabem neste pensamento, mas o Incriado e o Infinito não cabem nêle, nem por conseqüência o Ser Divino; o Ser Divino é o Ser mesmo segundo o qual tôdas as cousas são e que deve estar em tôdas as cousas para que sejam. Uma visão mais completa sôbre o Ser Divino pode decorrer dos Artigos seguintes:I - ÊSTE DEUS UM E' CHAMADO JEHOVAH SEGUNDO 0 SER, POR CONSEQÜÊNCIA PORQUE Só ÊLE E', FOI E SERA E PORQUE E' 0 PRIMEIRO E 0 ÚLTIMO, 0 COMÊÇO E 0 FIM, 0 ALFA E 0 ÔMEGA. II - ÊSTE DEUS UM E' A SUBSTANCIA MESMA E A FORMA MESMA; E OS ANJOS E OS HOMENS SÃO SUBSTANCIAS E FORMAS SEGUNDO ÊLE; E TANTO QUANTO ESTÃO N'ELE E ÊLE NELES SÃO IMAGENS E SEMELHANÇAS.III - 0 DIVINO SER E' 0 SER EM SI E, AO MESMO TEMPO, 0 EXISTIR EM SI.IV - 0 DIVINO SER E EXISTIR EM SI NAO PODE PRODUZIR UM OUTRO DIVINO QUE SEJA 0 SER E 0 EXISTIR EM SI, POR CONSEQÜÊNCIA UM OUTRO DEUS DA MESMA ESSÊNCIA NAO E' ADMISSIVEL.V - A PLURALIDADE DE DEUSES NOS SÉCULOS ANTIGOS E TAMBÉM EM NOSSOS DIAS Só EXISTIU PORQUE NAO SE COMPREENDEU 0 DIVINO SER. Cada um dêstes artigos vai ser explicado separadamente.

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&19 - I. ÊSTE DEUS UM E' CHAMADO JEHOVAH SEGUNDO 0 SER; POR CONSEQÜÊNCIA PORQUE Só ÊLE E', FOI E SERA E PORQUE E' 0 PRIMEIRO E 0 ÚLTIMO, 0 COMÊÇO E 0 FIM, 0 ALFA E 0 ÔMEGA. Que Jehovah significa EU SOU e o SER, isso é sabido; e que Deus desde os tempos antiquíssimos tem sido chamado assim, isto consta do Livro da Criação, ou segundo o Genesis, onde noPrimeiro Capítulo Êle é chamado Deus; e no Segundo Capítulo e nos seguintes, Jehovah Deus; e mais tarde, quando os descendentes de Abrahão procedentes de Jacob tinham esquecido o nome de Deus durante a sua residência no Egito, éle lhes foi relembrado à memória; assim se fala disso: "Moisés disse a Deus: Qual (é) teu Nome? Deus disse: EU SOU 0 QUE (E) EU SOU. Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós e dirás: Jehovah, o DEUS de vossos Pais, me enviou a vós; "este é meu nome pela eternidade e "este meu Memorial de geração em geração" (Êxodo 111, 14 e 15). Pois que Deus só é EU SOU e o SER ou Jehovah, nada há no Universo criado que não tire seu ser d'Êle; mas como? E' o que veremos abaixo; a mesma coisa é também entendida por estas palavras: "Eu sou o Primeiro e o último, o Comêço e o Fim, o Alfa e o Ômega'' (Isaías XLIV, 15; Apoc. 1, 8 e 11; XXII, 13); o que significa Aquele que desde os primeiros até os últimos é o Mesmo e o único de Quem tôdas as cousas procedem. Se Deus é chamado o Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, é porque o Alfa é a primeira e o Ômega, a. última letra do Alfabeto Grego e, por conseguinte, significam tôdas as cousas no complexo; isto provém de que cada Letra Alfabética, no Mundo Espiritual, significa alguma coisa e que as Vogais, porque servem ao som, significam alguma coisa da. afeição ou do amor; desta origem procede a língua Espiritual ou Angélica, e também a Escrita no Mundo Espiritual. Mas isso. é um Arcano desconhecido até ao presente; há, com efeito, uma Língua Universal de que se servem todos os Anjos e todos os Espíritos e que nada tem de comum com qualquer Língua dos homens no Mundo; todo homem depois da morte possui esta Língua, pois ela é inata em cada homem por criação; é por isso que em todo Mundo Espiritual cada um pode compreender o que diz um outro; muito freqüentemente me foi dado ouvir esta Língua e reconheci que ela não tem mesmo conformidade na, mínima cousa com nenhuma Língua natural da Terra; difere delas pelo seu primeiro princípio, que consiste em que cada letra de cada palavra significa alguma cousa. E' por isso que Deus é chamado o Alfa e o Ômega, o que significa que desde os primeiros até aos últimos Êle é o Eu Mesmo e o único, de Quem tôdas as coisas procedem; mas sôbre esta Língua e sôbre sua Escrita, que decorrem do pensamento Espiritual dos Anjos, ver no Tratado do AMOR CONJUGAL, os ns. 326 e 329, e também. no que segue.

&20 - II. ÊSTE DEUS UM E' A SUBSTANCIA MESMA E A FORMA MESMA; E OS ANJOS E OS HOMENS SÃO SUBSTANCIAS E FORMAS POR ÊLE; E QUANTO MAIS ELES ESTÃO NÊLE E ÊLE NÊLES, TANTO MAIS SÃO IMAGENS E SEMELHANÇAS. Pois que Deus é o Ser, é também a Substância; com efeito, o Ser, se não tem substância, é um ser de razão, pois a substância é o ser subsistindo (ens subsistens); e aquêle, que é a substância é também a forma, pois a substância se não tiver forma, será um ser de razão; uma e outro podem pois se dizer de Deus, mas neste sentido que Êle é a Substância única, a Substância mesma, a Substância primeira e a forma única, a Forma mesma, a Forma primeira. Que esta Forma seja a Forma Humana mesma, isto é, que Deus seja Homem Mesmo, em que tudo é infinito, é o que foi demonstrado na Sabedoria Angélica sôbre o Divino Amor e a Divina Sabedoria, publicada em Amsterdam em 1763; foi da mesma forma demonstrado que os Anjos e os Homens são substâncias e formas

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criadas e organizadas para receber os Divinos que influem nêles pelo Céu; é por isso que, no Livro da Criação, êles são chamados Imagens e Semelhanças de Deus (Genesis 1, 26 e 27); e em outra parte se diz que êles são filhos de Deus e nascidos de Deus; mas no curso desta Obra será demonstrado em vários lugares, que quanto mais o homem vive sob o auspício Divino, isto é, se deixa conduzir por Deus, tanto mais se torna mais e mais interiormente a imagem de Deus. Se não se forma de Deus a idéia de que Êle é a primeira Substância e a primeira Forma, e que Sua Forma é a Forma Humana, as Mentes Humanas facilmente podem introduzir nelas fantasias como espectros sôbre Deus ¥esmo,, sôbre a origem dos homens e sôbre a criação do Mundo; sôbre Deus, não ter outra noção que não seja como da Natureza do universo em seus primeiros, assim como da Extensão da Natureza ou como do vazio ou do nada; sôbre a origem dos homens não ter noção senão como do concurso fortuito dos elementos na forma humana; sôbre a Criação do Mundo, imaginar que a origem das substâncias e das formas vem de pontos e em seguida de linhas geométricas que, não tendo atributo algum, nada são por conseqüência em si mesmas; em tais homens tudo o que pertence à Igreja é como o Estige, ou como a obscuridade do Tártaro.

&21 - 111. 0 DIVINO SER E' 0 SER EM SI E, AO MESMO TEMPO, 0 EXISTIR EM SI.Se Jehovah Deus é o Ser em Si, é porque Êle é EU SOU, o EU mesmo, o único e o Primeiro de toda a eternidade a toda eternidade, pelo qual é tudo o que é para ser alguma cousa; é assim e não de outro modo, que Êle é o Comêço e o Fim, o Primeiro e o último, o Alfa e o Ômega; não se pode dizer que Êle é Seu Ser de Si, porque êste de Si supõe um anterior e assim o tempo, o que não é admissível no Infinito que se chama de toda eternidade (ab eterno] e supõe também um outro Deus em Si, assim supõe Deus de Deus (Deus a Deo), ou que Deus se formou a Si mesmo; e assim não seria nem Incriado nem Infinito porque se finaliza por si mesmo ou segundo um outro. Pelo fato de que Deus é o Ser em SI, segue-se que Êle é o Amor em Si, a Sabedoria em Si e a Vida em Si e é o Eu Mesmo pelo qual tôdas as cousas são, e ao qual tôdas as coisas se ,referem para serem alguma cousa; que Deus seja a vida em ai; e assim Deus, vê-se pelas palavras do Senhor em João, Cap. V, a 6; e em Isaías: "Eu Jehovah, faço tôdas as cousas, desdobrando os Céus e estendendo a Terra por Mim mesmo" (XLIV, 24). E, se diz que Êle Só é Deus e que exceto Êle não há Deus Isaías XLV, 14, 15, 21, 22; Hoséas XIII, 4). Se Deus é não somente o Ser em SI, mas também o Existir em Si, é porque a -não ser que exista, não é alguma cousa; e do mesmo modo o Existir, a não ser que seja segundo o Ser; é por isso que, um sendo dado, o outro deve ser dado; semelhantemente, se a substância não tem também uma forma; da Substância, se ela não tem uma forma, nada se pode dizer; e esta, não tendo qualidade, nada é em si. Se é dito aqui, Ser e Existir e não Essência e Existência, é porque é preciso distinguir entre o Ser e a Essência; e por conseqüência, entre o Existir e a Existência, como entre o anterior e o posterior. Ao Divino Ser se aplicam a Infinidade e a Eternidade; enquanto que à Divina Essência e à Divina Existência se aplicam o Divino Amor e a Divina Sabedoria; e por êstes dois a Onipotência e a Onipresença, de que conseqüentemente será tratado em sua ordem.

&22 - Que Deus seja o Eu Mesmo, o unico e o Primeiro, que é chamado o Ser em Si e o Existir em Si, de que procedem tôdas as cousas que são e existem, é o que o homem Natural não pode de modo algum descobrir, pois o homem Natural por sua razão não pode perceber senão o que pertence à Natureza; com efeito, o que pertence à Natureza adapta-se

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à sua essência, porque nela não entrou nenhuma outra coisa desde a sua infância e a sua juventude; mas como o homem foi criado para ser Espiritual também, porque deve viver depois da morte e estar então entre Espirituais em seu Mundo, é por isso que Deus em Sua Providência deu urna Palavra, na qual ' não sómente Êle se revela a Si Mesmo, mas na qual também revela que há um Céu e um Inferno e que todo homem deve viver eternamente em um ou no outro, cada um segundo sua vida e, ao mesmo tempo, segundo sua fé. Deus revelou também na Palavra que Êle é Eu Sou ou o Ser e Êle Mesmo e o único que é em Si, e assim o Primeiro ou o Princípio donde procedem tôdas as coisas. E' por esta Revelação que o homem Natural pode se elevar acima da natureza, assim acima dele mesmo e ver as cousas que são de Deus; mas sempre, entretanto, como de longe, embora Deus esteja próximo de cada homem, pois está nele com Sua Essência; e sendo isso assim, está próximo daqueles que 0 amam, e amam- nO aquêles que vivem segundo Seus preceitos e que crêem n'Êle; eles 0 vêem por assim dizer a Êle Mesmo; o que é a fé, senão a vista espiritual que Deus é? E o que é a vida segundo os preceitos de Deus, senão o reconhecimento efetivo que a salvação e a vida eterna vêm de Deus? Aquêles, ao contrário, que estão não na fé espiritual, mas na fé natural, a qual é únicamente uma ciência e, por conseguinte, em uma vida semelhante, vêem Deus, é verdade, mas de longe, e isso únicamente quando falam d'Ele; entre os primeiros e êste há uma diferença, como entre os que. estão na claridade da luz e que vêem os homens perto déles e os tocam; e os que estão em um nevoeiro espesso e, que por conseguinte, não podem ver se são homens ou se são árvores ou -rochedos; ou bem ainda como entre os que estão sôbre um alto Monte onde está situada uma cidade e que vão aqui e ali e conversam com seus concidadãos e os que desta Montanha olham para baixo e não distinguem se os objetos que vêem são homens ou se são animais ou estátuas; ou bem ainda como entre os que estão sôbre um Globo planetário e aí vêem os seus, semelhantes e os que estão sôbre um outro Globo planetário com um telescópio na mão e vêem um planêta e que dizem ver aí homens, quando entretanto não vêem em geral senão terras tais como as apresentam no brilhante da lua e águas tais como se apresentam nas manchas desse satélite. Há uma diferença semelhante entre ver Deus e os Divinos que procedem de Deus em sua mente, naqueles que estão na fé e ao mesmo tempo na vida da caridade e os que unicamente estão, a êste respeito, na ciência; por conseguinte entre os homens Naturais e os homens Espirituais. Quanto aos que negam a Divina Santidade da Palavra e que, entretanto, carregam como em um saco sobre as costas as cousas que pertencem à Religião, não vêem Deus, mas fazem apenas ressoar o nome de Deus, nisto, diferindo pouco dos papagaios.

&23 - IV. 0 DIVINO SER E EXISTIR EM SI NAO PODE PRODUZIR UM OUTRO DIVINO QUE SEJA 0 SER E 0 EXISTIR EM SI; POR CONSEQÜÊNCIA UM OUTRO DEUS DA MESMA ESSÊNCIA NAO E' ADMISSIVEL. Que Deus Um, que é o Criador do Universo, seja o Ser e o Existir em Si, assim Deus em Si, é o que foi mostrado até aqui ***missing pages 35 to 49recepção. A Mente humana, pela qual e segunda a qual homem é homem foi firmada em três Reg~ segundo os três graus; esta mente é celeste no Primeiro grau no bém os Anjos do Céu supremo; é espiritual no 8 qual estão também os Anjos do Céu médio; e é natural no Ter- ceiro grau, no qual estão também os Anjos do último céu; a Mente humana organizada segundo êstes três graus, é o receptáculo do influxo Divino; mas jamais o Divino do que segundo o aplainamento do caminho pelo -homem ou se- - gundo a abertura da porta por-

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êle. Se o caminho é aplainado ou se a porta é aberta até ao Grau supremo ou celeste, então o homem se torna verdadeiramente a imagem de Deus; e depois da morte se toma um Anjo do Céu supremo; se o homem não aplaina o caminho ou não abre a porta senão até ao, grau médio ou espiritual, êle se torna, é verdade, a Imagem de Deus, mas não nesta perfeição; e depois da morte se torna Anjo do Céu médio; se o homem não aplaina o caminho ou não abre a porta senão para o último grau ou grau natural e que então reconhece Deus e 0 adora por uma piedade real, êle se toma a imagem de Deus no último grau e depois da morte se torna Anjo do último Céu; ao contrário, se o homem não reconhece Deus e não 0 adora por uma piedade real, êle se despoja da imagem de Deus e se torna semelhante a uma espécie de animal, com a diferença de que goza da faculdade de compreender e, por conseguinte, de falar; se então êle fecha o grau supremo natural, que corresponde ao supremo celeste, torna-se quanto ao amor semelhante à bêsta da Terra; se fecha o grau médio natural, que corresponde ao grau médio espiritual, torna-se quanto ao amor uma raposa, e quanto à vida do entendimento como uma ave noturna; se fecha também o último grau natural quanto ao espiritual dêste natural, torna-se quanto ao amor como uma bêsta feroz, e quanto ao entendimento do vero como um peixe. A Vida Divina que, pelo influxo procedente do Sol do Céu Angélico, põe o homem em ação, pode ser comparada à Luz procedente do Sol do Mundo e o seu influxo em um objeto diáfano; a recepção da vida no grau supremo, ao influxo da luz em um diamante, a recepção da vida no segundo grau, ao influxo da luz em um cristal e a recepção da vida no último grau, ao influxo da luz em um vidro ou em uma membrana transparentes; mas se êste último grau quanto ao seu espiritual estiver inteiramente fechado, o que acontece quando Deus é negado e Satanás adorado, a recepção da vida procedente de Deus pode ser comparada ao influxo da luz nos corpos opacos da Terra, como no pau podre ou na erva dos pântanos ou na fuligem e assim de resto; pois o homem torna-se então um cadáver espiritual.

&35 Ao que precede ajuntarei êste Memorável. Um dia eu estava muito admirado da imensa multidão de homens que atribuem à Naturez a Criação e, por conseguinte, tudo o que está abaixo do ~_À tudo o que está acima do Sol, dizendo, reconhecendo-o do fundo do coração, quando vêem alguma cousa: Não é isto da natureza? E quando se lhes pergunta por que atribuem isso à natureza- e não a Deus, quando entretanto dizem às vêzes com a comunhão da Igreja, que Deus criou a Natureza e, por conseguinte, poderiam dizer tanto que as cousas que vêem são de Deus, como -dizer que são da natureza; então respondem com um tom interno quase tácito: 0 que é Deus, senão a Natureza? Todos ésses se mostram gloriosos da persuasão de que o Universo foi criado pela Natureza; e desta loucura como de um sabedoria, ao ponto de---considerarem todos os que reconhe, cem -a Criação do Universo por Deus como formigas que se arrastam sôbre a terra e seguem um caminho batido; e alguns como borboletas que voam no ar, chamando seus dogmas de sonhos porque vêem o que èles não vêem, dizendo: Quem viu Deus e quem é que não vê a Natureza? Enquanto eu me admirava da multidão dêsses homens, um Anjo apareceu diante de mim sôbre o lado e me disse: Sôbre o que meditas tu? e eu respondi: Sôbre a multidão daqueles que crêem que a Natureza é por si mesma e que assim ela criou o Universo; e o Anjo me disse: Todo o inferno é composto de tais homens e êles lá são chamados Satanases e Diabos; Satanases, aquêles que se confirmaram pela Natureza e, por conseguinte, negam Deus; Diabos, aquêles que viveram nos crimes, e assim rejeitaram de seus corações todo reconhecimento de Deus; mas vou te conduzir a ginásios situados na Plaga meridional-ocidental, onde residem aquêles que são tais e que ainda não estão no Inferno; e êle me

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tomou pela mão, e me conduziu; e eu vi casinhas nas quais havia Ginásios; e no meio delas uma que era como o Pretório de tôdas as outras; êste Pretório era construido de pedras de pêz que eram recobertas de lâminas como de vidro brilhantes como ouro e prata, tais como as que se chamam selenitos ou talco; e aqui e ali eram recamadas de conchas brilhantes. Nós nos aproximamos desta casa e batemos à porta; e em breve alguém a abriu, e nos disse: Séde benvindos; e correu a uma mesa e trouxe quatro livros e disse: Êstes Livros são a Sabedoria, à qual uma multidão de Reinos aplaude hoje; a êste Livro ou a esta Sabedoria aplaudem numerosos homens na França, a êste, numerosos na Alemanha, a êste, alguns na Holanda e a êste, alguns na Inglaterra; depois disse: Se quiserdes ver, farei que êstes quatro livros brilhem a vossos olhos; e então exalou e espalhou em tômo a glória de sua reputação; e os Livros imediatamente resplandeceram de luz; mas esta luz diante de nossos olhos se dissipou imediatamente; e então lhe perguntamos o que êle escrevia agora; e ele respondeu que neste momento tirava de seus tesouros e expunha as cousas que pertencem à sabedoria íntima e que, em resumo, são estas: I. A Natureza pertence à Vida ou a Vida pertence à Natureza. 11. 0 Centro pertence à Extensão ou a Extensão pertence ao Centro. III. Sôbre o Centro da Extensão e da Vida. Depois de ter assim falado, colocou-se em uma Poltrona perto da mesa; mas nós percorremos o seu Ginásio que era espaçoso; êle tinha sôbre a mesa uma vela, porque lá não havia urna Luz do Sol, mas uma Luz noturna da lua; e o que me admirava, a vela parecia levada a toda parte e iluminar, mas como não era espevitada, iluminava pouco; e enquanto êle escrevia, vimos esvoaçar da mesa sôbre as paredes imagens de formas diferentes, que, nesta luz noturna de lua, apareciam como belos pássaros da India, mas quando abrimos a porta, eis que estas imagens, na Luz diurna do Sol, apareciam como aves noturnas cujas asas são em forma de rêde; de fato eram verossimilhanças, que por confirmações tinham se tornado ilusões, que êle tinha engenhosamente ligado em série. Após ter visto isto, nós nos aproximamos da mesa e lhe perguntamos o que escrevia nesse momento; e êle disse: Sôbre o Primeiro Ponto: A NATUREZA PERTENCE A VIDA OU A VIDA PERTENCE A NATUREZA; e sôbre êste ponto, disse que podia confirmar um ou outro e fazer que um e outro fossem verdade; mas como havia dentro alguma cousa escondida que êle temia, não ousava confirmar senão esta proposição, que a Natureza pertence à Vida, isto é, vem da Vida; e não a outra, que a Vida pertence à Natureza, isto é, vem da Natureza. Nós lhe perguntamos com honestidade o que havia de oculto que êle temia; respondeu que era ser chamado Naturalist,a e, por conseqüência, ateu pelos Padres, e Homem de uma razão pouco sã, pelos Leigos porque uns e outros ou criam segundo uma fé cega, ou vêem segundo a vista daqueles que confirmam esta fé. Então levados por uma sorte de indignação de zêlo pela verdade, nós o interpelamos, dizendo: Amigo, tu te enganas muito; a tua sabedoria, que consiste em escrever com talento, te seduziu; e a glória da reputação te induziu a confirmar o que tu não -crês; não sabes que a Mente humana pode se elevar acima dos sensuais, os quais são o que, nos pensamentos, provêm dos sentidos do corpo; e que, quando é elevado, vê em cima cousas que pertencem à Vida, e em baixo as que pertencem à Natureza? 0 que é a Vida, senão o Amor e a Sabedoria; e o que é a Natureza, senão o receptáculo pelo qual o Amor e a Sabedoria operam seus efeitos ou usos? Podem a Vida e a Natureza ser um senão como o principal e o instrumental? Pode a luz ser um -com o olho ou o som com o ouvido; donde vêm os sentidos do olho e do ouvido senão da vida; e suas formas senão da Natureza? 0 que é o corpo humano, senão um órgão da Vida? Tudo que o compõe em geral e em particular não foi orgânicamente formado para produzir o que o Amor quer e o que o Entendimento pensa? Os órgãos do corpo não vêm da Natureza; e o Amor e o Pensamento não procedem

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da Vida? Estas cousas não são absolutamente distintas entre si? Eleva ainda um pouco mais alto a perspicácia do teu gênio, e verás que é próprio da Vida ser afetada e pensar, é que ser afetada pertence ao Amor, que pensar pertence à Sabedoria; e que um e outro pertencem à Vida; pois, assim como foi dito, o Amor e a Sabedoria são a Vida; se elevas ainda um pouco mais alto a faculdade de compreender, verás que o Amor e a Sabedoria não podem existir, a menos que sua origem esteja em alguma parte e que sua origem é o Amor Mesmo e a Sabedoria Mesma e, por conseqüência, a Vida Mesma; e que estas cousas são Deus de quem procede a Natureza. Em seguida falamos com êle do Segundo Ponto: 0 CENTRO PERTENCE A EXTENSÃO OU A EXTENSÃO PERTENCE AO CENTRO; e lhe perguntamos porque êle debatia esta questão; respondeu-nos: Com o fim de concluir sôbre o Centro e a extensão da Natureza e da Vida, assim sôbre a origem de uma e de outra; e quando lhe perguntamos qual era a sua opinião sôbre êste ponto, respondeu-nos, como sôbre o primeiro, que podia confirmar uma ou outra proposição; mas que, com mêdo de perder sua reputação, confirmava que a Extensão pertence ao Centro, isto é, vem do Centro; ainda que eu saiba, acrescentou, que antes do Sol houve alguma cousa; e que esta alguma cousa estava por toda parte na Extensão e confluiu por si mesma em ordem, assim no Centro. Então nós o interpelamos de nôvo com uma indignação excitada pelo zêlo e lhe dissemos: Amigo, tu és louco; e logo que ouviu estas palavras recuou a poltrona da mesa e nos encarou com timidez e então prestou atenção, mas rindo; entretanto continuamos nestes têrmos: Que há de mais insensato do que dizer que o Centro vem da Extensão - por teu centro entendemos o Sol, e por tua Extensão entendemos o Universo, - e que assim o Universo teria existido sem o Sol! 0 Sol não faz a Natureza e tôdas as suas propriedades que dependem únicamente da Luz e do Calor procedendo do Sol pelas Atmosferas? Onde a Natureza estava antes e donde veio ela, é o que te diremos quando o terceiro ponto for debatido; as Atmosferas e tôdas as cousas que estão sôbre a Terra não são como Superfícies, e o Sol não é seu Centro? Será que tôdas estas cousas sem o Sol podem subsistir um só instante? Por conseqüência será que tôdas estas cousas antes do **tro e da Extensão da Vida tu queiras considerar o Centro e a da Natureza, e não vice-versa; e lhe ensinamos que Céu Angélico há um Sol, que é puro Amor, e em a parência ígneo como o Sol do Mundo; que é pelo Calor que pro cede ~e Sol que os Anjos e os homens têm a Vontade e o Amor e que é pela sua Luz que êles, têm o Entendimento e a Sabedoria; que as cousas que procedem de lá são chamadas Espirituais; e que as que procedem do Sol do Mundo são os conti nentes ou os receptáculos da Vida e são chamadas Naturais; que a Extensão do Centro da Vida é o Mundo Espiritual que subsiste por seu Sol; e que a Extensão do Centro da Natureza é o Mundo Natural, que subsiste por seu Sol. Pois que os Espaços e os Tempos não podem se dizer do Amor e da Sabedoria e são subs tituídos pelos Estados, segue-se daí que o que está em extensão em torno do Sol do Céu Arigélico não é uma Extensão mas está entretanto na Extensão do Sol natural, e aí segundo as recep ções nos seres vivos, e as recepções segundo as formas e os es tados. Então êle perguntou de onde vinha o fogo do Sol do Mundo ou da Natureza; respondemos que vem do Sol do Céu Angélico que não é fogo, mas o Divino Amor procedendo ime diatamente de Deus, que está no meio dêste Sol; como êle ficasse admirado disso, nós lhIo demonstramos assim: 0 Amor em sua essência é o fogo espiritual; é por isso que o fogo, no sentido espiritual da Palavra, significa o Amor; daí, os Padres, nos Tem plos, orarem para que os coraçóes sejam repletos com o Fogo celeste, pelo qual entendem o Amor; o fogo do Altar e o fogo do Candelabro no Tabernáculo, entre os Israelitas, não representava outra cousa senão o Divino Amor; o Calor do sangue ou o Calor vital dos homens e em geral dos animais, não

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tem outra origem senão o amor que faz a sua vida; daí vem que o homem se abrasa e se inflama quando seu axnor é exaltado em zêlo ou excitado em cólera e arrebatamento; é por isso, pelo fato do Calor espiritual que é Amor, produzir nos homens um calor natural, ao ponto de aquecer e inflamar suas faces e seus membros, que se torna evidente que o Fogo do Sol natural não existe senão pelo Fogo do Sol espiritual, que é o Divino Amor. Agora, visto que a Extensão vem do Centro, e não vice-versa, como o dissemos acima, e que o Centro da Vida, o qual é o Sol do Céu Angélico, é o Divino Amor procedendo imediatamente de Deus que está no meio dêsse Sol; e visto que é daí que vem a Extensão dêsse Centro a qual é chamada Mundo espiritual e que é por êste Sol que existiu o Sol do Mundo e por êste sua Extensão que é chamada Mundo natural, é evidente que o Universo foi criado por Deus. Depois disto, fomos embora, e êle nos a com panhou além do pórtico de seu Ginásio, e conversou conosco sôbre o Céu e o Inferno, e sôbre o Divino auspício, com uma nova sagacidade de espírito.

&36 DA ESSÊNCIA DE DEUS, ESSÊNCIA QUE E' 0 DIVINO AMOR E A DIVINA SABEDORIA

36 - Distinguimos entre o Ser de Deus e a Essência de Deus, porque há uma distinção entre a Infinidade de Deus e o Amor de Deus; e que a Infinidade se diz para aplicação ao Ser de Deus e o Amor para aplicação à Essência de Deus; com efeito, assim como já foi dito, o Ser de Deus é mais universal que a Essência de Deus, semelhantemente a Infinidade de Deus é mais universal que, o Amor de Deus; é por isso que o Infinito torna-se um adjetivo dos Essenciais e dos Atributos de Deus, os quais são todos chamados Infinitos; assim se diz do Divino Amor que êle é Infinito da-Divina Sabedoria que ela é Infinita do Divino Poder igualmente; não que o Ser de Deus preexiste, mas porque entra na Essência como um adjuntivo coerente, determinado, formando e ao mesmo tempo elevando. Mas esta seção do Capítulo, do mesmo modo que as precedentes, será dividida em Artigos, a saber:I - DEUS E' 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA, E ÊSTES DOIS FAZEM A SUA ESSÊNCIA.II - DEUS E' 0 BEM MESMO E 0 VERO MESMO, PORQUE 0 BEM PERTENCE AO AMOR E 0 VERO A SABEDORIA.III - 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA SAO A VIDA MESMA, QUE E' A VIDA EM SI.IV - 0 AMOR E A SABEDORIA EM DEUS FAZEM UM.V - A ESSÊNCIA DO AMOR E' AMAR OS OUTROS FORA DE SI, QUERER SER UM COM ÊLES E TORNA-LOS FELIZES POR SI.VI " ÊSTES ESSENCIAIS DO DIVINO AMOR FORAM A CAUSA DA CRIAÇÃO DO UNIVERSO E SAO A CAUSA DE SUA CONSERVAÇÃO.Cada um dêstes Artigos vai ser explicado separadamente:

&37 - I. DEUS E' 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA E ÊSTES DOIS FAZEM A SUA ESSÊNCIA.Que o Amor e a Sabedoria sejam dois Essenciais aos quais se referem todos os Infinitos que estão em Deus, é o que viu a primeira Antiguidade; mas como as Idades que se seguiram desviaram sucessivamente do Céu as mentes e as mergulharam nos mundanos e nos corporais, não puderam vê-los; com efeito, os, homens começaram a não saber o que é o Amor em sua Essência, nem por conseguinte o que é a Sabedoria em sua Essência, i

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gnorando que o Amor abstraído da forma não é possível e que êle opera na forma e pela forma. Ora, desde que Deus é a Substância mesma e a Forma mesma, a Substância única e a Forma única, e assim a Substância primeira e a Forma primeira, das quais a Essência é o Amor e a Sabedoria, e desde que por Êle foram feitas tôdas as coisas que foram feitas, segue-se que, do Amor pela Sabedoria, foi criado o Universo com tôdas e cada. uma das cousas que Êle contém; e que por isso o Divino Amor está conjuntamente com a Divina Sabedoria em todos e cada um dos seres criados; o Amor é ainda não somente a Essência formando tôdas as cousas, mas também unindo-as e conjuntando-as e assim contendo-as formadas em um encadeamento. Isto pode ser ilustrado pelas cousas inumeráveis do Mundo; por exemplo, pelo Calor e a Luz provenientes do Sol, que são dois Essenciais e os dois Universais pelos quais todas e cada uma das cousas existem e subsistem sôbre a Terra; o calor e a luz estão ai porque correspondem ao Divino Amor e à Divina Sabedoria, pois o Calor que procede do Sol do Mundo espiritual é em sua essência o Amor; e a Luz que procede dêle é, em sua essência, a Sabedoria. Isto pode também ser ilustrado pelos dois essenciais e os dois universais, pelos quais as Mentes humanas existem e subsistem e que são a Vontade e o Entendimento. Com efeito, é nesses dois que consiste a Mente de cada um, e todos dois, estão e operam em tôdas e cada uma das coisas dessas Mentes; e isso porque a Vontade é o receptáculo e o habitáculo do Amor e que acontece o mesmo com o Entendimento em relação à Sabedoria; é por isso que êstes dois correspondem ao Divino Amor e à Divina Sabedoria, de que tiram sua origem. Isto pode ainda ser ilustrado pelos dois essenciais e os dois universais pelos quais os corpos humanos existem e subsistem e que são o Coração e o Pulmão, ou a sístole e a diástole do coração e a respiração do pulmão; é bem conhecido que êstes dois operam em tôdas e cada um das cousas do corpo; e isso porque o Coração corresponde ao Amor e o Pulmão à Sabedoria; esta correspondência foi plenamente demonstrada na SABEDORIA. ANGÉLICA SOBRE 0 DIVINO AMOR E A DIVINA SABEDORIA, publicado em Amsterdam. Que o Amor como noivo e marido, engendra tôdas as formas, mas pela Sabedoria como noiva e espôsa, é o de que podemos nos convencer por cousas inúmeras em um e outro Mundo, o Espiritual e o Material; basta lembrar que todo o Céu Angélico é disposto em sua forma e contido nela segundo o Divino Amor pela Divina Sabedoria; aquêles que deduzem a criação do Mundo de outra parte que não vino Amor pela Divina Sabedoria e não sabem que .fazem a Divina Essência, descem da vista da razão à ôlho, e aceitam a Natureza como criadora do Universo; por conseguinte concebem quimeras e dão à luz fantasmas, pensam ilusões segundo as quais raciocinam; e tiram por conclusões ovos ,em que estão pássaros naturais. Tais homens podem ser chamados, não Mentes, mas Olhos e Ouvidos sem entendimento ou Pensamentos sem alma; falam de cores corno se elas -PudessemA À pudesse existir sem a luz; da existência de árvores como se à acontecer sem sementes; e de tôdas as cousas do Mundo corno se pudessem existir sem o Sol, pois fazem princípios os principiados (principiata), e causas os resultados das causas (causata); assim invertem tudo, entorpecem as vigílias da razão e vêem por -conseqüência sonhos.

&38 - II. DEUS É 0 BEM MESMO E 0 VERO MESMO, PORQUE 0 BEM PERTENCE AO AMOR, E 0 VERO A SABEDORIA.E' Universalmente sabido que tôdas as cousas se referem ao bem e ao vero, índice de que tôdas as cousas existem pelo Amor e a Sabedoria; com efeito, tudo o que procede do Amor é chamado bem, pois isso é sentido; e o prazer pelo qual o Amor se manifesta é para cada um o bem; por outro lado, tudo o que procede da Sabedoria é chamado vero, pois a

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Sabedoria não consiste senão em veros e afeta seus objetos pelo encanto da luz e êste encanto, quando é percebido, é o vero procedendo do bem; também o Amor é o complexo de tôdas as bondades e a Sabedoria o complexo de tôdas as verdades; mas uns e outros vêm de Deus, que é o Amor mesmo e, por conseguinte, o Bem mesmo ,e também a Sabedoria mesma e, por conseguinte, o Vero mesmo. Daí vem que na Igreja há dois essenciais que são chamados Caridade e Fé, nas quais consistem tôdas as coisas da Igreja e que devem estar em tôdas e cada uma das cousas da Igreja; e isso porque os bens da Igreja pertencem à Caridade e são chamados Caridade, e todos os veros da Igreja pertencem à Fé e são chamados Fé; os prazeres do Amor que são também prazeres da Caridade fazem com que os prazeres sejam chamados bens; e os encantos da Sabedoria, que são também encantos da Fé, fazem -com que os encantos façam a vida dos bens e dos veres; sem a vida que daí provém os bens e os veros são como inanimados, e são também estéreis. Mas os Prazeres do amor são de dois gêneros, semelhantemente os Encantos que parecem pertencer à Sabedoria; a saber, os prazeres do amor do bem e os prazeres do amor do mal e, por conseguinte, os encantos da fé do vero e os encantos da fé do falso; estes dois prazeres do amor, nas pessoas em que estão por suas sensações, são chamados bens; e estes dois encantos da fé, por suas percepções são também chamados bens, mas como estão no entendimento não são outra coisa seUM veros; ainda que os dois gêneros sejam opostos entre si e que o bem de um dos amôres seja o bem e o bem do outro amor o mal, e que o vero de uma das fés seja o vero e o vero da outra fé o falso; mas o amor cujo prazer é essencialmente o bem é como o calor do Sol, frutificando, vivificando e operando em um humus fértil, em árvores de boa qualidade e em colheitas e fazendo do terreno onde opera, uma espécie de paraíso, de jardim de Jehovah e uma espécie de terra de Canaan; e o encanto do vero dêsse amor é como a luz do Sol na primavera e como a luz que influi em um vaso de cristal onde estão encerradas belas flores e de onde se exala um perfume suave quando é aberto; ao contrário, o prazer do amor do mal é como o calor do sol dessecando, sufocando e operando em um humus estéril e em árvores estéreis tais como espinheiros e sarças e faz do terreno onde opera, uma espécie de deserto da Arábia habitado por serpentes, hidras e dipsadas; e o encanto do falso dêsse amor é como a luz do sol no inverno e como a luz que influi em uma garrafa, onde estão vermes nadando no vinagre e répteis de um odor infecto. V preciso que se saiba que todo bem se forma por veros, se reveste dêles também e se distingue assim de um outro bem; é preciso ainda que se saiba que os bens de uma mesma origem se ligam em feixes e os cobrem com uma vestimenta e se distinguem assim dos outros; que as formações se façam desta maneira é o que se vê claramente por tudo que se passa em geral e em particular no Corpo humano; que a mesma coisa se faça na Mente humana isso é evidente pelo fato de haver uma correspondência perpétua de tôdas as coisas da mente com tôdas as coisas do corpo; daí resulta que a Mente humana foi organizada interiormente com substâncias espirituais e exteriormente com substâncias naturais; e enfim, com substâncias materiais; a Mente cujos prazeres do amor são bons consiste interiormente em substâncias espirituais como as que estão no-Céu, enquanto que a Mente cujos prazeres são males consiste interiormente em substâncias espirituais tais como as que estão no Inferno; e os males desta mente são ligados em feixes pelos falsos, como os bens da outra Mente são ligados em feixes pelos veros; pois que os bens e os males são ligados assim em feixes, eis porque o Senhor disse "que o joio deve ser reunido em feixes para ser queimado e que acontecerá o mesmo com os escândalos" (Mateus XIII, 30, 40, 41; João XV, 6).

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&39 - III. DEUS, SENDO 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA, E' A VIDA MESMA, QUE E' A VIDA EM SI.Está dito em João: "A Palavra estava em Deus, e Deus era a Palavra; n'Êle estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens" (João 1, 1 e 4); nesta passagem por Deus é entendido o Divino Amor e pela Palavra, a Divina Sabedoria; e a Divina Sabedoria é própriamente a Vida e a Vida é própriamente a Luz que procede do Sol do Mundo espiritual, no meio do qual está Jehovah Deus; o Divino Amor forma a Vida como o fogo forma a luz; no Fogo há duas cousas, a Causticidade e o Esplendor; da Causticidade do fogo procede o calor; e do Esplendor do fogo procede a luz; no Amor há igualmente duas cousas, uma a que corresponde a causticidade do fogo e é alguma coisa que afeta Intimamente a vontade do homem; a outra a que corresponde o esplendor do fogo e é alguma cousa que afeta Intimamente o entendimento do homem; é por isso que o homem possui o amor e a inteligência; pois, assim como já foi dito, algumas vêzes, do Sol do Mundo espiritual procedem um Calor que em sua essência é o amor e uma Luz que em sua essência é a sabedoria; êste calor e esta luz influem em tôdas e cada uma das cousas do Universo e as afetam Intimamente, e influem nos homens em sua vontade e em seu entendimento, que foram os dois criados receptáculos do influxo, a vontade receptáculo do amor, e o entendimento receptáculo da sabedoria; daí é evidente que a vida do homem habita no entendimento e que -é tal como é a sabedoria do entendimento e que o amor da vontade a modifica.

&40 - Em João se lê também: "Como o Pai tem a vida em Si Mesmo, assim Êle deu também ao Filho ter a vida em Si Mesmo" (João V, 26); por isso é entendido que, como o Divino Mesmo, que t em sido de toda eternidade, vive em SI, assim o Humano que tomou no tempo vive também em Si; a Vida em Si é a Vida Mesma e única, da qual vivem todos os anjos e todos os homens. A razão humana pode ver isto pela luz que procede ,do Sol do Mundo natural, pelo fato dessa luz não ser criável, mas terem sido criadas formas que a recebem, pois os olhos são formas recipientes e a luz que influi do Sol faz com que os olhos vejam; acontece o mesmo com a Vida que, como foi dito, é a Luz procedendo do Sol do Mundo Espiritual pelo fato dela não ser criável, mas influir continuamente e da mesma forma que ilumina, da mesma forma vivifica o Entendimento do homem; por conseqüência, como a Luz, são a Vida e a Sabedoria, a Sabedoria não é criável, nem igualmente a Fé, nem o Vero, nem o Amor, nem a Caridade, nem o Bem, mas foram criadas formas que os recebem; as mentes humanas e angélicas são essas formas. Que cada um se guarde portanto de se persuadir que vive por si, e que, por si, sabe, crê, ama, percebe o vero, quer o bem e o faz; com efeito, tanto mais alguém se persuade disso, tanto mais precipita sua mente do Céu para a Terra, e de espiritual se torna natural, sensual e corporal, pois fecha as regiões superiores de sua mente; com isso se torna cego quanto a tudo que concerne a Deus, ao Céu e à Igreja, e então tudo que pensa, raciocina e diz sôbre esses assuntos se toma loucura, porque está nas trevas, e então ao mesmo tempo está na segurança de que é a sabedoria; com efeito, as regiões superiores da mente, onde habita a verdadeira luz da vida, sendo fechada, então se abre a região inferior da mente, na qual é admitida unicamente a elaridade do Mundo; e essa claridade separada da luz das regiões superiores é uma claridade fantástica, na qual os falsos se mostram como veros e os veros como falsos, os raciocínios fundados sôbre falsos como sabedoria e os raciocínios fundados sôbre veros como loucura; e então o homem crê ter a vista da águia, embora não distinga o que concerne à sabedoria mais do que um morcego vê na luz do dia.

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&41 - IV. 0 AMOR E A SABEDORIA EM DEUS FAZEM UM, Todo homem sábio da Igreja sabe que todo bem do amor e da caridade vem de Deus e igualmente todo vero da sabedoria e da fé; que isso seja assim, a Razão humana pode mesmo vê-lo, desde que saiba que a origem do amor e da sabedoria procede do Sol do Mundo espiritual, no meio do qual está Jehovah. Deus, ou, em outros têrmos, que esta origem procede de Jehovah Deus pelo Sol que está em torno d'Êle; com efeito, o calor procedente deste Sol é em sua essência o amor, e a luz que dêle procede é em sua essência a sabedoria; donde se vê, como na claridade do dia, que nesta origem o amor e a sabedoria são um, por consequencia, em Deus, de Quem procede a origem dêste Sol. Isto pode ser também ilustrado pelo Sol do Mundo natural que é puro Fogo, pelo fato de que de seu ígneo procede o calor e do esplendor do seu ígneo procede a luz; e que assim o calor e a luz em sua -origem são um. Mas que procedendo dela eles são divididos, vê-se pelos objetos, dos quais alguns recebem mais calor e outros mais luz; isto acontece principalmente com os homens; nêles a luz da vida, que é a inteligência, e o calor da vida, que é o amor, são divididos; isso é assim porque o homem deve ser reformado e isto não pode ser feito, a menos que a Luz da vida, que é a Inteligência ensine o que êle deve querer e amar; entretanto, é preciso que se saiba que Deus opera continuainente a conjunção do amor e da sabedoria no homem, mas que o homem, se não volta seus olhos para Deus e não crê em Deus opera continuamente a divisão; tanto mais portanto estas duas cousas, o bem do amor ou da caridade e o vero da sabedoria ou da fé, são conjuntos no homem, tanto mais o homem setorna a imagem de Deus e é elevado para o Céu e no Céu onde estão os Anjos; e vice-versa, tanto mais estes dois são divididos pelo homem, tanto mais o homem se torna a imagem de Lúcifer e do Dragão e é precipitado do Céu à Terra; e em seguida sob a terra no Inferno. Pela conjunção do amor e da sabedoria, o estado do homem se torna como o estado de uma árvore na estação da primavera quando o calor se conjunta em igualdade com a luz, donde resulta a germinação, a floração e frutificação da árvore; e vice-versa, pela separação do amor e da sabedoria, o estado do homem se torna como o da árvore na estação do inverno, quando o calor se retira da luz, donde resulta para a árvore a privação e o despojamento de toda flor e de toda folha. Quando o calor espiritual, que é o amor, se separa da luz espiritual, que é a sabedoria, ou quando a caridade se separa da fé, o homem se torna Amo um humus que se azeda. ou apodrece, no qual nascem vermes e se produz arbustos, suas folhas são cobertas de insetos e devoradas; com efeito, os atrativos do amor do mal, que em si mesmos são concupiscências, explodem de repente, e a Inteligência não os domina nem os suprime, mas os preza, os entretém e os alimenta; em uma palavra, separar o amor da sabedoria ou a caridade da fé, que Deus se esforça continuamente para conjuntar, é, por comparação, privar a face do vermelho, donde resulta uma palidez como a de um morto; ou tirar ao vermelho o branco, o que torna a face como uma tocha inflamada; é ainda, por comparação, romper o laço conjugal entre dois esposos e fazer com que a esposa se torne prostituta e o marido adúltero; pois o amor ou a caridade é como o marido; -e a sabedoria ou a fé é como a esposa e quando estas duas cousas são separadas, se faz uma prostituição espiritual e uma escortação espiritual, que são a falsificação do vero e a adulteração do bem.

&42 - V preciso, além disso, saber que há três graus de amor e de sabedoria e, por conseguinte, três graus de vida e que a Mente humana foi formada como em regiões segundo êstes graus e que a vida na região suprema está no grau supremo, na segunda região no grau médio e na última região no grau ínfimo; estas regiões são sucessivamente

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abertas no homem; a última região onde a vida está no grau ínfimo, se abre depois da primeira infância até à segunda (puerícia); e isso se faz pelas ciências; a segunda região onde a vida está em um grau maior, 'se abre depois da segunda infância até à adolescência e isso se faz pelos pensamentos provenientes das ciências; a região suprema, onde a vida está no grau supremo, se abre depois da adolescêntia até à Juventude e além, e isso se faz pelas percepções das verdades morais e espirituais. Enfim, é preciso saber que a perfeição da vida consiste não no pensamento, mas na percepção do vero segundo a luz do vero; é por isso que se pode julgar as diferenças da vida nos homens; com efeito, há os que, logo que ouvem o vero, percebem que é o vero, estes no Mundo espiritual são representados pelas águias; há os que não percebem o vero, mas que o concluem segundo confirmações pelas aparências, éstes são representados pelos pássaros que têm uma voz agradável; há os que crêem que uma cousa é vero, porque foi dita por um homem de autoridade, êstes são representados pelas pêgas; e há além disso os que não querem e que não podem perceber o vero, mas que percebem únicamente o falso, e isso porque estão em uma luz fantástica, na qual o falso se mostra como o vero e o vero se mostra ou como alguma cousa escondida acima da cabeça em uma nuvem espessa, ou como um meteoro, ou como o falso. Os pensamentos dêstes são representados por corujas e suas palavras por bufos; entre êstes últimos, os que confirmaram seus falsos não suportam ouvir os veros e desde que algum vero atinge seu ouvido, êles o rejeitam por aversão, pouco mais ou menos como um estômago carregado de bílis vomita o alimento.

&43 - V. A ESSÊNCIA DO AMOR E' AMAR OS OUTROS FORA DE SI, QUERER SER UM COM ÊLES E TORNA-LOS FELIZES POR SI.Há duas cousas, o Amor e a Sabedoria que fazem a Essência de Deus, mas há três que, fazem a essência do Seu Amor: Amar os outros fora de si, querer ser um com eles e os tomar felizes por si; estas três mesmas coisas fazem a essência de Sua Sabedoria porque o Amor e a Sabedoria em Deus fazem um, assim como foi mostrado acima; mas o Amor quer estas coisas e a Sabedoria as produz. 0 PRIMEIRO ESSENCIAL, que é amar os outros fora de si, é reconhecido pelo amor de Deus por todo o Gênero humano; e por causa do Gênero humano Deus ama tôdas as cousas que criou porque elas são meios; pois, quem ama o fim, ama também os meios; tudo e tôdas as coisas do Universo estão fora de Deus porque são finitas e Deus é Infinito; o amor de Deus vai e se estende não sómente sôbre os bons e as cousas boas, mas também sôbre os maus e sôbre as cousas más, por conseqüência não sómente sôbre os que estão no Céu e sôbre as cousas que o Céu encerra, mas também sôbre os que estão no Inferno e sôbre o que o Inferno encerra, assim não sómente sôbre Miguel e Gabriel, mas também sôbre o diabo e Satanás; pois por toda parte e de toda eternidade Deus é o Mesmo; também êle disse que "Seu Sol Êle faz levantar-se sobre os maus e os bons e envia a chuva sôbre os justos e os injustos" (Mateus V, 45); mas não obstante se os maus são maus, isto se atém aos indivíduos mesmos e aos objetos mesmos no modo porque recebem o amor de Deus, não tal qual é e se encontra Intimamente, mas tal qual são êles mesmos, como fazem semelhantemente o espinheiro e a ortiga em relação ao calor do Sol e à chuva do Céu. 0 SEGUNDO ESSENCIAL DO AMOR DE DEUS, queé querer ser um com êles, é reconhecido também pela conjunção de Deus com o Céu Angélico, com a Igreja nas Terras, com cada homem da Igreja, e com todo bem e todo vero que entram no homem e na Igreja e que os constituem; o amor também considerado em si mesmo, não é outra coisa mais que um esforço para a conjunção; é por isso que, a fim de que esta propriedade da essência do amor seja obtida, Deus criou o homem à Sua imagem e à Sua

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semelhança, com as quais a conjunção pode ser feita; que o amor tende confinuamente à conjunção, isto é evidente por estas palavras do Senhor: "que Êle quer que êles sejam um, Êle neles e êles n'Éle, e que o amor de Deus esteja nêles" (João XVII, 21, 22, 23, 26). 0 TERCEIRO ESSENCIAL DO AMOR DE DEUS, que é torná-los felizes por si, é reconhecido pela vida eterna, que é a beatitude, a ventura e a felicidade sem fim que Deus dá aos que recebem em si Seu Amor; com efeito, como Deus é o Amor mesmo, pois todo amor exala de si um prazer e o Divino Amor exala a beatitude mesma, a ventura mesma, e a felicidade mesma durante a eternidade, assim Deus torna felizes por Si os Anjos e os homens depois da morte, o que se faz pela conjunção com êles.

&44 - Que tal seja o Divino Amor, isso é conhecido pela Esfera que se estende no Universo e afeta cada um segundo o estado de cada um; afeta sobretudo os Pais; é por causa dela que eles amam ternamente seus filhos, que estão fora dêles; que querem ser um com êles e que querem torná-los felizes; esta Esfera do Divino Amor afeta não sómente os bons, mas também os maus; e não sómente os homens, mas também as bêstas e os pássaros de todo gênero; a mãe quando deu à luz, pensa em outra cousa que não seja unir-se por assim dizer a seu filho e prover o seu bem? 0 pássaro logo que faz sair dos ovos os seus filhotes, faz outra cousa que não seja aquecê-los sob suas asas, introduzir por seu biquinho alimento em sua garganta? Não è sabido que as serpentes e as víboras amam a sua progenitura? Esta Esfera universal afeta especialmente aquêles que recebem em si êste Amor de Deus; são os que crêem em Deus e amam o próximo; a caridade nêles é a imagem dêsse amor. A amizade entre aquêles que não são bons imita mesmo êste Amor; com efeito, o amigo em sua mesa, dá os melhores pedaços a seu amigo, abraça-o, toma-lhe a mão e a aperta e lhe promete serviços.---As simpatias e os esforços dos homogêneos e dos semelhantes para a conjunção, não tira de outra parte a sua origem. Esta mesma esfera Divina opera também nas coisas inanimadas, como as árvores e as ervas, mas pelo Sol do Mundo e por seu calor e sua luz, pois o calor entra nelas por fora, se conjunta com elas e faz que elas germinem, floresçam e frutifiquem, o que substitui a beatitude das cousas animadas; eis o que faz êste calor porque corresponde ao calor espiritual, que é o amor. Há também nos diversos objetos do Reino mineral representações da operação dêste amor; seus símbolos se manifestam nas exaltações dos minerais para os usos e por conseguinte por valores de grande preço.

&45 - Pela descrição da essência do Divino Amor pode-Se ver qual é a essência do amor diabólico, pode-se ver segundo o oposto; o amor diabólico é o amor de si, é chamado amor, mas considerado em si mesmo, é o ódio, pois não ama pessoa alguma fora dêle e quer ser conjunto,aos outros não para lhes fazer bem, mas únicamente para faze-lo a si mesmo; por seu íntimo aspira continuamente dominar sôbre todos e também possuir os bens de todos e, enfim, ser adorado como Deus; é por esta razão mesma que aquêles que estão no Inferno não reconhecem Deus, mas reconhecem por deuses aquêles que ultrapassam os outros em poder, assim deuses inferi-ores e deuses superiores, ou deuses menores e deuses maiores, segundo a extensão do poder; e como lá, cada um tem em seu coração esta mesma ambição, cada um é também devorado de ódio contra seu deus e está contra aqueles que estão sob seu império e os considera como vis escravos, com quem fala, é verdade, com doçura enquanto eles o adoram, mas é como pelo fogo, arrebatado de furor contra todos os outros e também interiormente ou em seu coração, contra seus clientes; com efeito, o amor de si é o mesmo que o amor dos ladrões, que se abraçam mútuamente, quando executam seus banditismos, mas que em seguida ardem de desejo de se massacrarem, para roubar suas

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porções dos despojos. E' êste amor que faz com que suas cobiças no Inferno onde reinam, apareçam de longe como diversas espécies de bestas ferozes; uns como raposas e leopardos; outros como lôbos e tigres; e outros, como crocodilos e serpentes venenosas; e que os desertos onde vivem, não consistam senão em montões de pedras ou em cascalho nu, entre os quais há charcos onde grasnam as rãs; e que sôbre suas choças voam pássaros lúgubres que, soltam gritos lamentáveis; os ochim, os tiziim. e os juiim, que são mencionados nos livros proféticos da Palavra onde se trata do amor de mandar segundo o amor de si, não são outra cousa (Isaías XIII, 21; Jeremias L, 39; Psalmos 74, 14).

&46 - VI. ÉSTES ESSENCIAIS DO AMOR DIVINO FORAM A CAUSA DA CRIAÇAO DO UNIVERSO E SAO A CAUSA DE SUA CONSERVAÇÃO.Que estes três essenciais do Amor Divino tenham sido a causa da Criação é o que se pode ver escrutando-os e examinando-os; que o PRIMEIRO ESSENCIAL, que é o amar os outros fora de si, tenha sido a causa, vê-se pelo Universo, que está fora de Deus como o Mundo está fora do Sol, e sôbre o qual Deus pode estender Seu Amor e no qual pode exercê-lo e assim se repousar; lêse também que depois que Deus criou o Céu e a Terra, Ele repousou e que daí foi feito o dia do Sabbath (Genesis 11, 2 e 3), Que o SEGUNDO ESSENCIAL, que é querer ser um com êles, tenha sido a sua causa, pode-se ver pela criação do homem à, imagem e semelhança de Deus, pelas quais é entendido que o homem foi feito forma recipiente do amor e da sabedoria de Deus, assim Deus pode se unir com êle e por êle com tôdas e cada uma das cousas do Universo, que não são mais que meios; pois a conjunção com a causa final é também a conjunção com, as causas médias; que tôdas as cousas foram criadas para o Homem, é também o que prova o Livro da Criação ou o Genesis, Capítulo 1, 28, 29, 30. Que o TERCEIRO ESSENCIAL, que é torná-los felizes por si, tendo sido sua causa, vê-se pelo Céu Angélico, * qual foi destinado pela Providência a todo homem que recebe* Amor de Deus, e no qual todos são felizes por Deus só. Que estes três essenciais do Amor de Deus sejam também a causa da conservação do Universo, é porque a Conservação é uma perpétua Criação, como a subsistência é uma perpétua existência, e que o Divino Amor é o mesmo de toda eternidade a toda eternidade; assim, tal êle era criando o Mundo, tal êle é e permanece no Mundo criado.

&47 - Por estas explicações bem compreendidas, pode-se ver que o Universo é uma obra coerente desde os primeiros até os últimos porque é uma obra que contém os Fins, as Causas e os Efeitos em um encadeamento indissolúvel; e como em todo amor há o fim, e em toda sabedoria há a promoção do fim pelas causas médias e por estas os efeitos, que são os usos, resulta dai também que o Universo é uma Obra que contém o Divino Amor, a Divina Sabedoria e os Usos, sendo assim uma Obra inteiramente coerente desde os primeiros até os últimos. Que o Universo consiste em perpétuos Usos produzidos pela Sabedoria a começados pelo Amor é o que todo homem sábio pode contemplar como em um espelho, quando adquire uma idéia comum da Criação do Universo e que nela considera as cousas particulares,, pois os particulares se adaptam a seu comum e o comum os dispõe em forma a fim de que concordem; que isso seja assim, é o que será ilustrado no que segue por maiores detalhes.

&48 - Ao que precede ajuntarei êste Memorável. Um dia eu conversava com dois Anjos, um era do Céu oriental e o outro do Céu meridional, quando êles perceberam que eu meditava sôbre os Arcanos da sabedoria concernente ao Amor, êles me disseram: Tens

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algum conhecimento dos jogos da sabedoria em nosso mundo? Respondi: Ainda não; e eles disseram: Há vários deles e aquêles que amam os veros pela afeição espiritual ou porque são veros e que a sabedoria existe pelos veros, se reúnem a um sinal dado e discutem e decidem questões que pertencem a um entendimento muito profundo. Então me tomaram pela mão, dizendo: Segue-nos e verás e ouvirás; o sinal da reunião foi dado hoje. Fui conduzido através de uma planície para uma colina e ao pé da colina, um pórtico de palmeiras, continuado até em cima; entramos ai e subimos; e sôbre a cabeça ou o cume da colina vi um Bosque entre, as árvores, do qual um terreno elevado formava uma espécie de Teatro onde havia uma plataforma pavimentada com pedrinhas de diversas cores; em torno, desta Plataforma em quadrado haviam sido colocadas cadeiras sôbre as quais estavam assentados os amadores da sabedoria; e no meio do Teatro estava uma mesa e sôbre ela tinha sido colocado um Papel selado. Os que estavam assentados nas cadeiras nos convidaram a tomar cadeiras ainda vagas; e eu respondi: Fui conduzido aqui por dois Anjos para ver e escutar e não para me sentar; e então êstes dois Anjos foram ao meio da Plataforma em direção à mesa e romperam o sêlo do papel e leram diante daqueles que estavam assentados os arcanos da sabedoria escritos sôbre o papel, os quais iam ser discutidos e desenvolvidos; tinham sido escritos pelos Anjos do terceiro Céu e enviados sôbre a mesa; havia três Arcanos, o PRIMEIRO: 0 que é a imagem de Deus e o que é a Semelhança de Deus, segundo as quais o homem foi criado? 0 SEGUNDO: Por que o homem não nasce na ciência de amor algum, quando entretanto as bestas e os pássaros, tanto nobres como ignóbeis, nascem ciências de todos os seus amores? 0 TERCEIRO: Que significa a Árvore da Vida; que significa a Arvore da ciência do bem e do mal; e que significa a ação de comer dessas árvores? Em baixo estava escrito: Reuni as três decisões em uma única sentença, e escreveia-a sôbre um nôvo papel e recolocai-o sôbre esta mesa; se a sentença, na balança, parece de pêso e justa, o premeio da sabedoria será dado a cada um de vós. Após esta leitura os dois Anjos se retiraram e foram levados para os Céus. E então aquêles que estavam assentados nas cadeiras começaram a discutir e desenvolver os Arcanos que lhes eram propostos e falaram em ordem; primeiro os que estavam sentados no Setentrião, em seguida os que estavam no Ocidente, depois os que estavam no Oriente; e tomaram o Primeiro assunto da discussão, que era: 0 QUE E' A IMAGEM DE DEUS E 0 QUE E' A SEMELHANÇA DE DEUS, SEGUNDO AS QUAIS 0 HOMEM FOI CRIADO? E então leu-se primeiro diante de todos os assistentes estas passagens do Livro da Criação: "Deus disse: Façamos o homem à nossa Imagem, à Semelhança de Deus êle, o fez'' (1, 26 e 27). "No dia em que Deus criou o homem, à Semelhança de Deus Êle o fez'' (V, 1).Aquêles que estavam sentados no Setentrião falaram primeiro, dizendo que a Imagem de Deus e a Semelhança de Deus são as duas Vidas inspiradas no homem por Deus, isto é, a Vida da vontade e a Vida do entendimento, pois está dito: "Jehovah Deus inspirou nas narinas de Adão uma alma de Vidas e o homem foi feito alma vivente" (Gen. 11, 7). Pelo que parece ser ,entendido que Êle lhe inspirou a vontade do bem e a percepção do vero e assim uma alma de vidas; e como a vida lhe foi inspirada por Deus, a Imagem e a Semelhança significam a integridade nêle segundo o amor e a sabedoria e segundo a justiça e o julgamento. Aqueles que estavam sentados no Ocidente foram favoráveis a esta opinião, acrescentando entretanto que o estado de integridade que lhe foi inspirado por Deus, é contínuamente inspirado a cada homem depois dele, mas que está no homem como em um receptáculo, e que o homem sendo um receptáculo é a imagem e semelhança de Deus. Em seguida os Terceiros em ordem, a saber, aquêles que estavam sentados ao Meio-Dia,

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disseram: A Imagem de Deus e a Semelhasça de Deus são duas cousas distintas, mas unidas no homem por criação e vemos como numa espécie de luz interior que o homem pode destruir a imagem de Deus, mas não a semelhança de Deus; isto se apresenta como através de um véu, no fato de Adão ter retido a semelhança de Deus após ter perdido a imagem de Deus, pois após a maldição lê-se estas palavras: "Eis, o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal" (Gen. 111, 22). E em seguida é chamado semelhança de Deus (Geri. V, 1), mas deixemos falar os nossos co-associados que estão sentados no Oriente e estão por conseqüência em uma luz superior sôbre o que é própriamente a imagem de Deus e -o que é própriamente a semelhança de Deus. E então, depois que o silêncio se restabeleceu, os que estavam sentados no Oriente se, levantaram de suas cadeiras e elevaram o olhar para o Senhor; e em seguida se recolocaram em suas cadeiras e disseram: A Imagem de Deus é o receptáculo de Deus e Deus sendo o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, a imagem de Deus é a recepção do amor e, da sabedoria que procedem de Deus, no homem; mas a Semelhança de Deus é uma perfeita semelhança e uma plena aparência como se o amor e a sabedoria estivessem no homem e por conseqüência absolutamente como se lhe pertencessem pois o homem não pode fazer outra cousa senão sentir que ama por si mesmo e que é sábio por si mesmo ou que quer o bem e compreende o vero por si mesmo quando entretanto, não o é na mínima cousa por si mesmo, mas o é por Deus; Deus só ama por Si mesmo e é sábio por Si mesmo, porque Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma; a semelhança ou a aparência que o amor e a sabedoria ou o bem e o vero estão no momem como lhe pertencendo, faz que o homem seja homem e possa ser conjunto a Deus e assim viver na eternidade; segue-se daí que o homem é homem pelo fato de poder querer o bem e compreender a verdade absolutamente como por si mesmo, e entretanto saber !e crer que é por Deus, pois à medida que sabe e crê, Deus põe Sua imagem no homem; isto seria de outro modo se êle cresse que é por si mesmo e não por Deus. Depois que êles assim falaram, o zêlo que produz o amor da verdade os tomou e êles pronunciaram estas palavras: Como pode o homem receber alguma cousa do amor e da sabedoria, o reter e reproduzir, se êle não o sente como lhe pertencendo? Como pode haver uma conjunção com Deus pelo amor e a sabedoria, se não for dado ao homem algum recíproco de conjunção, pois sem um recíproco nenhuma conjunção pode existir; e o recíproco da conjunção é que o homem ame a Deus e faça as coisas que são de Deus -como por si mesmo e creia entretanto que é por Deus! Como o homem pode viver na eternidade, se não for conjunto a Deus eterno? E por conseqüência como pode o homem ser homem sem esta semelhança nêle? A estas palavras todos aplaudiram e disseram: Que seja tirada uma conclusão do que acaba de ser dito e tirou-se esta: 0 homem é o receptáculo de Deus; e o Receptáculo de Deus é a Imagem de Deus; e como Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, o homem é o Receptáculo do Amor e da Sabedoria e o Receptáculo torna-se Imagem de Deus conforme recebe; o homem é a Semelhança de Deus pelo fato de sentir que as cousas que vêm de Deus estão nêle como se lhe pertencessem; mas entretanto por esta semelhança êle não é a imagem de Deus senão tanto quanto reconhece que o amor e a sabedoria ou o bem e o vero, não são nêle cousas que lhe pertençam e que assim elas não vêm tampouco déle, mas que são únicamente de Deus e vêm por conseqüência de Deus. Depois disso, tomaram o segundo grau da discussão: "PORQUE 0 HOMEM NAO NASCE NA CIÈNCIA DE AMOR ALGUM, QUANDO ENTRETANTO AS BÉSTAS E OS PASSAROS, TANTO NOBRES COMO IGNÓBEIS, NASCEM NAS CIÈNCIAS DE TODOS OS SEUS AMORES". De comêço confirmaram a verdade da proposição por diversos meios, por exemplo, a respeito do homem, que êle não nasce em ciência alguma, nem mesmo na ciência do amor conjugal; e

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se informaram e observadores lhes disseram que a criança não conhece mesmo por uma ciência inata a mama da mãe, mas que é a mãe ou a ama que a faz conhecê-la, aproximando-a; que ela só sabe mamar e que aprendeu isso por uma contínua sucção no útero da mãe; que mais tarde não sabe nem caminhar, nem articular o som em palavra humana alguma, nem mesmo exprimir pelo som como as bêstas, as afeições do amor; que além disso não conhece alimento algum que lhe convém, como as bêstas, mas toma o que encontra, quer seja limpo ou sujo e o leva à boca; êstes observadores disseram que o homem, sem instrução, ignora absolutamente as maneiras de amar o sexo e que mesmo as moças e os rapazes o ignoram, se não forem instruídos por outros; em uma palavra, o homem nasce corporal como * verme; e permanece corporal, a menos que aprenda por outros * saber, a compreender e a ser sábio. Depois disso, confirmaram que as Bêstas, tanto nobres como ignóbeis, como os animais da terra, os pássaros do Céu, os réptis, os peixes, estes vermes que se chamam insetos, nascem em tôdas as ciências dos amores de sua vida, por exemplo, em tudo que concerne à alimentação, em tudo que concerne à habitação, em tudo que concerne ao amor do sexo e à prolificação e em tudo que concerne à educação de seus filhotes; confirmaram isso por maravilhas que lembraram em suas memórias, pelo que tinham visto, ouvido e lido no Mundo natural, onde tinham vivido antes e no qual há bestas não representativas, mas reais. Depois que a verdade da proposição foi assim provada, aplicaram suas mentes em pesquisar e encontrar as causas pelas quais desenvolveriam êste Arcano; e disseram todos: Isso não pode existir assim senão pela Divina Sabedoria, a fim de que -a homem seja homem e que, a bêsta seja bêsta e que assim a imperfeição de nascença do homem se torne perfeição e que a perfeição de nascença da bêsta seja a imperfeição.Então os do Setentrião começaram, primeiro, a dar sua opinião e disseram que o homem nasce sem as ciências, a fim de que possa recebê-las tôdas, enquanto que se nascesse nas ciências não poderia receber outras a não ser aquelas em que nascesse; e que então não poderia tampouco se apropriar de nenhuma; ilustraram isso por comparações: 0 homem no seu nascimento é como um humus no qual semente alguma está espalhada, mas que pode entretanto receber todas as sementes e fazei-las crescer e frutificar; a besta, ao contrário, é como um húmus já semeado e cheio de grama e de ervas, o qual não recebe outras sementes senão as que nele estão semeadas; se outras lhe fossem confiadas, ele as abafaria; daí vem que o homem, para adquirir todo seu crescimento, emprega vários anos, durante os quais pode, como um húmus, ser cultivado e produzir como que colheitas, flores e árvores de toda espécie, enquanto que a besta adquire seu crescimento em muitos poucos anos, durante os quais não pode ser cultivada senão nas ciências que recebeu de nascença. Em seguida os do Ocidente falaram e disseram que o homem não nasce ciência, como a besta, mas nasce Faculdade e Inclinação; Faculdade para saber, e Inclinação para amar e nasce Faculdade não somente para amar as cousas que são dele e do mundo, mas também as que são de Deus e do Céu; que em conseqüência o homem nasce órgão, vivendo apenas pelos sentidos externos, portanto obscuramente, mas de modo algum pelos internos, a fim de que sucessivamente viva e se torne homem, a princípio natural, em seguida racional e pôr fim espiritual; o que não aconteceria, se nascesse nas ciências e nos amores como as bestas; com efeito, as ciências e as afeições do amor inatas (connata) limitam esta progressão; mas as faculdades e inclinações sós não limitam cousa alguma; é por isso que o homem pode ser aperfeiçoado pela ciência, a inteligência e a sabedoria durante a eternidade. Os do meio-dia falaram em seguida e emitiram sua opinião dizendo: V impossível ao homem adquirir por si mesmo alguma ciência, mas é pelos outros que ele deve adquirir a ciência, pois que

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nenhuma ciência é inata (connata) nele; e como não pode adquirir por si mesmo nenhuma ciência, não pode tampouco adquirir amor algum, pois que onde não está a ciência, aí não está o amor; a ciência e o amor são companheiros indivisíveis e não podem ser separados do mesmo modo que a vontade e o entendimento, ou a afeição e o pensamento, enfim do mesmo modo que a essência e a forma; à medida portanto que o homem adquire dos outros a ciência, o amor a esta se adjunta como companheiro da ciência; o amor universal que a ela se adjunta é o amor de saber e em seguida o amor de compreender e o amor de ser sábio; estes amores são do homem somente e não estão em besta alguma e influem de Deus. Concordamos com os nossos companheiros do Ocidente, que o homem não nasce em amor algum> nem por conseqüência em ciência alguma, mas nasce somente na inclinação de amar e, por conseguinte na faculdade de receber as ciências, não dele mesmo, mas pelos outros, isto é, por intermédio dos outros, porque estes também nada recebem deles mesmos, mas receberam originariamente de Deus. Concordamos também com os nossos companheiros do Setentrião, que o homem ao nascer é como um húmus no qual nenhuma semente foi espalhada, mas onde podem ser semeadas todas as cousas tanto nobres como ignóbeis; daí vem que ele tenha sido chamado Homem da palavra húmus e Adão da palavra Adama que é o Humus. A isso ajuntamos que as Bestas nascem nos amores naturais e, por conseguinte, nas ciências que a eles correspondem, e que entretanto dessas ciências eles nada sabem, nada pensam, nada compreendem e nada discernem, mas a elas são conduzidos por seus amores pouco mais ou menos como os cegos nas ruas por cães, pois são cegos quanto ao entendimento; ou antes são como sonâmbulos que fazem o que fazem por uma ciência cega, estando o entendimento entorpecido. Os do Oriente falaram em último lugar e disseram: Concordamos com as opiniões que nossos irmãos emitiram, que o homem nada sabe por si mesmo, mas sabe pelos outros e por intermédio dos outros, a fim de que conheça e reconheça que tudo o que sabe, compreende e discerne, vem de Deus; e que de outro modo o homem não pode nascer e ser engendrado de Deus, nem se tornar Sua imagem e semelhança; pois ele se torna imagem de Deus pelo fato de reconhecer e crer que recebeu e recebe de Deus e não de si mesmo, todo bem do amor e da caridade e todo vero da sabedoria e da fé; e é a semelhança de Deus, pelo fato de sentir em si este bem e este vero como vindos dele mesmo; sente isso porque não nasce nas ciências, mas as recebe e lhe parece que o que recebe vem dele; Deus dá mesmo ao homem sentir assim, a fim de que seja homem e não besta, pois que pelo fato de querer, pensar, amar, saber, compreender e ser sábio como por si mesmo, recebe as ciências, as exalta em inteligência, e por seus usos, em Sabedoria; assim Deus conjunta o homem a Ele, e o homem se conjunta a Deus; estas cousas não teriam podido se fazer se Deus não tivesse provido para que o homem nascesse em uma ignorância total. Depois destas palavras, todos quiseram que se formasse uma conclusão do que acabava de ser dito e formulou-se esta: "Que o homem não nasce em ciência alguma, a fim de que possa crescer em toda ciência, e fazer progressos na inteligência e, pela inteligência, na sabedoria; e não nasce em amor algum, a fim de que possa crescer todo amor, pelas aplicações das ciências segundo a inteligência e no amor para com Deus pelo amor em relação ao próximo, e assim ser conjunto a Deus, e por isso, tornar-se homem, e viver na eternidade. Em seguida, tomaram o papel e leram o terceiro Objeto da discussão, a saber: "0 QUE SIGNIFICA A ARVORE DA VIDA; 0 QUE SIGNIFICA A ARVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL; 0 QUE SIGNIFICA A AÇÃO DE COMER DESSAS ARVORES?" todos pediram que os que estavam sentados ao Oriente desenvolvessem esse Arcano, como tendo um entendimento mais profundo e porque os que são do Oriente estão na luz inflamada, isto é, na sabedoria do amor e esta

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sabedoria é entendida pelo Jardim do Éden, no qual estas duas Arvores estavam colocadas; estes responderam: Vamos falar, mas como o homem nada pode tirar dele mesmo e tira tudo de Deus, falaremos segundo Deus, mas não obstante por nós como se fosse por nós mesmos; e então disseram: a Arvore significa o homem e o fruto da árvore é o bem da vida; daí a árvore da vida significa o homem vivendo por Deus; e como o amor e a sabedoria, a caridade e a fé, ou o bem e o vero fazem a vida de Deus no homem, a Arvore da vida significa o homem em que estas cousas estão por Deus e, por conseguinte, a vida eterna para o homem; a Arvore da Vida de que lhe será dado comer (Apoc. 11, 7, e XXII, 2 e 14), tem a mesma significação. A Arvore da ciência do bem e do mal significa o homem que crê viver por si mesmo e não por Deus, assim crê que o amor e a sabedoria, a caridade e a fé, isto é, o bem e o vero, pertencem no homem ao homem, e não a Deus, crendo isso porque pensa e quer, fala e age em toda semelhança, e em toda aparência como por si mesmo; e como o homem por conseguinte se persuade que é também um Deus, é por isso que a Serpente disse: "Deus sabe que no dia que comerdes do fruto desta árvore, os vossos olhos serão abertos, e vós sereis como Deus sabendo o bem e o mal" (Gen. 111, 5). A Ação de comer destas árvores significa a recepção e a apropriação; a ação de comer da árvore da vida, a recepção da vida eterna; e a grão de comer da árvore da ciência do bem e do mal, a recepção da danação; pela Serpente é entendido o diabo quanto ao amor de si e ao fasto da própria inteligência; e este amor é o possuidor desta árvore e os homens que estão no fasto segundo este amor são estas árvores. Estão portanto em grande erro aqueles que crêem que Adão foi sábio e fez o bem por ele mesmo e que era esse o seu estado de integridade, quando entretanto este Adão, foi maldito por causa desta fé; pois isso é significado por Comer da árvore da ciência do bem e do mal; é por isso que então ele caiu do estado de integridade, no qual tinha estado quando cria. Ser sábio e fazer o bem por Deus e de modo algum por si mesmo, pois isto é entendido por Comer da árvore da vida. O Senhor só, estando no Mundo, foi sábio por Si mesmo, porque por nascimento o Divino Mesmo estava n'Ele e Lhe pertencia, também é por isso que pela própria potência Ele se tornou o Redentor e Salvador. De tudo que acabavam de dizer fizeram esta Conclusão: "Que pela Arvore da vida e pela Arvore da ciência do bem e do mal e pela ação de comer destas árvores, é entendido, que a Vida para o homem é Deus nele, e que então ele tem o Céu e a Vida eterna; e que a Morte para o homem é a persuasão e a fé de que a vida para o homem é, não Deus, mas ele mesmo, donde lhe vem o Inferno e a Morte eterna, que é a danação.Depois disso, examinaram o Papel deixado pelos Anjos sobre a mesa e viram escrito em baixo: "Reuni as três Decisões em uma única sentença"; e então eles as reuniram de novo e viram que se ligavam as três em uma única série; e que esta série ou esta sentença era esta: "Que o Homem foi criado para receber de Deus o amor e a sabedoria e, entretanto, em toda semelhança como dele mesmo; e isso por causa da recepção e da conjunção; e que em conseqüência o homem não nasce em amor algum, nem em ciência alguma, nem mesmo em poder algum de -amar e de ser sábio por si mesmo; é por isso que se atribui todo bem do amor e todo vero da sabedoria a Deus, torna-se Homem vivente; mas se os atribui a si mesmo, torna-se homem morto". Escreveram estas palavras sobre um novo Papel e o colocaram sobre a Mesa; e eis que, imediatamente, os Anjos foram presentes em uma nuvem de uma brancura resplandecente e levaram o, papel ao Céu e depois que ali foi lido, os que estavam sentados nas cadeiras ouviram vozes do Céu: Bem, bem, bem. E em seguida apareceu um Anjo que parecia voar, tendo como que duas asas nos pés e nas têmporas; trazia prêmios, que consistiam em Togas, Barretes e Coroas de louro; e desceu e deu aos que estavam sentadas ao Setentrião Togas de cor opala; aos que estavam ao

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Ocidente togas de cor escarlate; aos que estavam ao Meio-Dia. Barretes ornados em volta com faixas de ouro e pérolas, cuja elevação do lado esquerdo era enriquecida com diamantes talhados em forma de flores; e aos que estavam ao Oriente, coroas de louro nas quais estavam rubis e safiras; e todos, decorados com seus prêmios foram embora do Jogo da sabedoria para suas casas com alegria.

DA OMNIPOTÊNCIA, DA ONISCIÊNCIA E DA ONIPRESENÇA DE DEUS

&49 - Tratou-se do Divino Amor e da Divina Sabedoria e mostrou-se que são os dois a Divina Essência; falar-se-á agora da Onipotência, da Onisciência e da Onipresença de Deus, porque as Três procedem do Divino Amor e da Divina Sabedoria, pouco mais ou menos como a potência e a presença do Sol neste Mundo, e em todas e cada uma das cousas do Mundo pelo Calor e pela Luz; o Calor que procede do Sol do Mundo espiritual, no meio do qual está Jehovah. Deus é também em sua essência o Divino Amor; e a Luz que procede dele é também em sua essência a Divina Sabedoria; daí é evidente que, como a Infinidade, a Imensidade e a Eternidade pertencem ao Divino Ser, do mesmo modo a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença pertencem à Divina Essência. Mas como estes três atributos universais da Divina Essência não foram até ao presente compreendidos porque as suas progressões, segundo suas vias, que são as leis da Ordem, não eram conhecidas, é necessário pô-los na luz por Artigos, que serão:

I - A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA, E A ONIPRESENÇA PERTENCEM A DIVINA SABEDORIA SEGUNDO O DIVINO AMOR.

II - A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA DE DEUS NÃO PODEM SER CONHECIDAS SE SE IGNORA 0 QUE E' A ORDEM; E SE NÃO SE SABE RELATIVAMENTE A ORDEM, QUE DEUS E' A ORDEM E QUE NO INSTANTE DA CRIAÇÃO ELE INTRODUZIU A ORDEM, TANTO NO UNIVERSO COMO EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO.

III - A ONIPOTÊNCIA DE DEUS TANTO NO UNIVERSO, COMO EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO, PROCEDE E OPERA SEGUNDO AS LEIS DE SUA ORDEM.

IV - DEUS E' ONISCIÊNTE, QUER DIZER QUE ELE PERCEBE, VÊ E SABE TODAS AS COUSAS TANTO EM GERAL COMO EM PARTICULAR, ATÉ AS MAIS MINUCIOSAS QUE SÃO FEITAS SEGUNDO A ORDEM; E TAMBÉM, POR ESTAS, TODAS AS QUE SÃO FEITAS CONTRA A ORDEM.

V - DEUS E' ONIPRESENTE DESDE OS PRIMEIROS ATÉ AOS ÚLTIMOS DE SUA ORDEM.

VI - 0 HOMEM FOI CRIADO FORMA DA ORDEM DIVINA.

VII - TANTO QUANTO 0 HOMEM VIVE SEGUNDO A ORDEM DIVINA, TANTO ESTA ELE NO PODER CONTRA 0 MAL E 0 FALSO SEGUNDO A DIVINA ONIPOTÊNCIA, E TANTO ESTA NA SABEDORIA SOBRE 0 BEM E 0 VERO

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SEGUNDO A DIVINA ONISCIÊNCIA; E TANTO ESTA EM DEUS SEGUNDO A DIVINA ONIPRESENÇA.Estas proposições vão ser desenvolvidas uma após outra.

&50 - I. A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA PERTENCEM A DIVINA SABEDORIA SEGUNDO O DIVINO AMOR.

Que a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença pertencem à Divina Sabedoria segundo o Divino Amor, e não ao Divino Amor pela Divina Sabedoria, é um Arcano do Céu, que ainda não brilhou no entendimento de pessoa alguma porque ninguém soube ainda o que é o Amor em sua Essência, nem com mais forte razão, cousa alguma do influxo de um no outro, a saber, que o Amor, com todas e cada uma das cousas que lhe pertencem, influi na Sabedoria e aí reside como um Rei em seu Reino ou como um Senhor em sua casa; e abandona a seu julgamento todo o governo da justiça; e como a justiça pertence ao Amor e o julgamento à Sabedoria, êle abandona à sua Sabedoria todo o. governo do Amor; mas este arcano será posto na luz no que segue que isto, enquanto se espera, sirva de regra. Que Deus seja Onipotente, Onisciênte e Onipresente pela Sabedoria de Seu Amor é também o que é entendido por estas palavras em João: "No comêço era a Palavra; e a Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra, todas as cousas foram feitas por Ela, e sem Ela nada foi feito do que foi feito. N'Ela estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens; e o Mundo foi feito por Ela e a Palavra foi feita Carne" (João 1, 1, 3, 4, 10 e 14); aí, pela Palavra é entendido o Divino Vero ou, o que dá no mesmo, a Divina Sabedoria; é por isso que ela também é chamada Vida e Luz; e a Vida e a Luz não são outra cousa senão a Sabedoria.

&51 - Pois que na Palavra a Justiça se diz do Amor e o Julgamento da Sabedoria, em conseqüência vai-se referir algumas passagens que mostram que o Govêrno de Deus se faz no Mundo por estas duas cousas; eis essas passagens: "Jehovah, a Justiça e o Julgamento (são) -o sustentáculo do teu Trono" (Ps. 89, 15). "Que aquêle que se glorifica, se glorifique porque Eu Jehovah faço Julgamento e Justiça na Terra" (Jeremias IX, 23). "Exaltado seja Jehovah, porque Êle encheu Sião de Julgamento e de Justiça" (Isaías XXXIII, 5). "E correrá como água o Julgamento e a Justiça como uma torrente forte" (Amós V, 24). "Jehovah! tua Justiça é um abismo grande" (Ps. 36, 7). "Jehovah fará sair como a luz tua Justiça e teu Julgamento como o meio-dia" (Ps. 37, 6). "Jehovah. julgará seu povo na Justiça e seus desgraçados no Julgamento" (Ps. 72, 2). "Quando eu tiver aprendido os Julgamentos da tua Justiça" (Ps. 119, 7, 164). "Desposar-te-ei na Justiça e no Julgamento" (Hoséas, 11, 19). ''Sião na Justiça será resgatada, e seus resgatados no Julgamento" (Isaías 1, 27). "Ele estará sentado no Trono de David e sobre seu Reino para firmar em Julgamento e em Justiça" (Isaías IX, 6). "Eu suscitarei a David um germe justo, que reinará Rei e fará Julgamento e Justiça na Terra" (Jeremias XXIII, 5; XXXIII, 15); e em outros lugares, se diz que se deve fazer a Justiça e o Julgamento, como em Isaías 1, 21; V, 16; LVIII, 2; Jeremias IV, 1; XXII, 3, 13, 15; Ezequiel XVIII, 14, 16, 19; Amos. VI, 12; Miqueas VII, 9; Deuter. XXXIII, 21; João XVI, 8, 10, 11).

&52 - II. A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA DE DEUS NÃO PODEM SER CONHECIDAS SE SE IGNORA 0 QUE É A ORDEM E SE NÃO SE SABE RELATIVAMENTE A ORDEM, QUE DEUS E' A ORDEM; E QUE NO

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MOMENTO DA CRIAÇÃO ELE INTRODUZIU A ORDEM TANTO NO UNIVERSO COMO EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO.

Quantas extravagâncias e que extravagâncias se espalharam nas mentes humanas, e da na Igreja pelas Cabeças e instauradores, por isso que eles não compreenderam a Ordem, na qual Deus criou o Universo e cada uma das cousas do Universo! Poderse-á ver no que segue só pelo recenseamento que delas será feito. Mas aqui vamos de começo fazer conhecer a Ordem por uma espécie de definição geral que é esta: A Ordem é a qualidade da disposição da determinação e da atividade das partes, das substâncias ou seres, que constituem a forma, donde, provém o estado cuja sabedoria segundo seu amor produz a perfeição, cuja loucura de razão segundo a cobiça força a imperfeição. Nesta definição são mencionados a Substância, a Forma e o Estado, e pela Substância entendemos ao mesmo tempo a Forma, porque toda substância é forma; e a qualidade da forma é seu estado, cuja perfeição ou imperfeição resulta da ordem. Mas como estas cousas são Metafísicas, não podem estar senão na obscuridade, todavia esta obscuridade será no que segue dissipada por explicações e exemplos que ilustram este assunto.

&53 - Que Deus seja a Ordem é porque Ele é a Substância mesma e a Forma mesma; a Substância, porque todas as cousas que subsistem existiram e existem por Ele; a Forma porque toda qualidade da Substância saiu e sai d'Ele a qualidade não provém de outra parte que não seja a forma. Agora, como Deus é a Substância mesma, única e primeira e a Forma mesma única e primeira, e como ao mesmo tempo Ele é o Amor mesmo e único e a Sabedoria mesma e única; e como a Sabedoria segundo o Amor faz a forma, e como o estado e a qualidade da forma, são segundo a ordem que aí está, segue-se que Deus é a Ordem mesma; conseqüentemente, que Deus por Si mesmo introduziu a Ordem tanto no Universo como em todas e dada uma das cousas do Universo; e que Ele introduziu a Ordem mais perfeita, porque todas as cousas que Ele criou eram boas, como se vê no Livro da Criação; que as coisas más tenham existido ao mesmo tempo que o Inferno, assim após a criação, é o que será demonstrado a seu tempo. Mas passemos a coisas que entram de mais perto no Entendimento, que o ilustram com mais clareza e que o afetam com mais doçura. 54 - Ora, qual é a Ordem em que o Universo foi criado? E' o que não pode ser exposto senão por um grande número de volumes; será dada uma espécie de esboço dela no Lema seguinte sobre a Criação. Devemos ter como certo que, no Universo, todas e cada uma das cousas foram criadas em sua ordem, para que subsistam por si mesmas e que foi assim desde o começo, para que se conjuntem com a Ordem universal, a fim de que as ordens singulares subsistam na Ordem universal, e assim façam um; mas recorramos a alguns exemplos: O Homem foi criado em sua ordem e cada parte do homem na sua, assim a Cabeça na sua; o Corpo na sua; o Coração, o Pulmão, o Fígado, o Pâncreas, o Estômago, na sua; todo órgão do movimento, que se chama Músculo, na sua; e todo órgão dos sentidos, como o olho, o ouvido, a língua, na sua; não há mesmo arteríola nem fibra, que não esteja em sua ordem; e entretanto estas partes inúmeras se conjugam com o comum do homem e aí se unem de tal modo que, em conjunto, fazem uma; acontece o mesmo em outras cousas e um simples recenseamento basta para ilustração: Toda Besta da terra, todo pássaro no céu, todo peixe do mar, todo réptil e mesmo todo verme até a traça, foi criado em Sua ordem; igualmente Toda árvore, todo arbusto, arvorezinha e legume, na sua; e, mais ainda, Toda pedra e todo mineral, até o grão de poeira da terra, foram criados na sua.

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&55 - Quem não vê que não há Império, Reino, Ducado, República, Cidade, Casa, que não seja estabelecido sobre leis que constituem a ordem e a forma de seu governo? Em cada um desses Estados as Leis da Justiça estão em primeiro lugar, as Leis políticas em segundo e as Leis econômicas em terceiro; se as compararmos com o homem, as Leis da Justiça fazem a Cabeça, as Leis políticas seu Corpo e as Leis econômicas suas roupas, é mesmo por isso que estas podem ser mudadas como às roupas. Mas quanto ao que concerne à Ordem na qual a Igreja foi instaurada por Deus, consiste em que Deus está em todas e cada uma das cousas da Igreja e que é em relação ao próximo que a Ordem deve ser exercida; as Leis desta Ordem são em tão grande número quanto há Verdades na Palavra; as Leis que concernem a Deus fazem a Cabeça, as Leis que concernem ao próximo fazem seu Corpo e as Cerimônias fazem as roupas, pois se estas últimas não contiverem as outras em sua Ordem, seria como se o Corpo fosse posto a nu e exposto ao calor no verão e ao frio no inverno; ou como se se tirasse de um Templo as paredes e o teto, e que se deixasse o Santuário, o Altar e o Púlpito expostos às diversas intempéries das estações.

&56 - III. A ONIPOTÊNCIA DE DEUS, TANTO NO UNIVERSO COMO EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO PROCEDE E OPERA SEGUNDO AS LEIS DE SUA ORDEM.

Deus é Onipotente porque pode todas as cousas por Si; e todos os outros não o podem senão por Ele; o Seu Poder e a Seu Querer são um e como Ele não Quer senão o Bem, não pode por conseqüência fazer. Senão -a Bem; no Mundo espiritual ninguém pode fazer alguma coisa contra sua vontade, todos aí derivam isso de Deus pelo fato do Seu Poder e o Seu Querer serem um; Deus é também o Bem mesmo, quando, portanto faz o Bem. está em Si e Ele não pode sair de Si; daí vê-se claramente que Sua Onipotência marcha e opera dentro da esfera de extensão do Bem, a qual é infinita; com efeito, esta Esfera pelo íntimo enche o Universo, e todas e cada uma das cousas que aí estão; e pelo íntimo governa as que estão por fora, tanto quanto estas se conjuntam segundo Sua ordem; e se não se conjuntam, ela as sustenta sempre e por toda sorte de esforços trabalha para reconduzi-las a uma ordem concordante com a Ordem universal, na qual Deus mesmo está na Sua Onipotência e segundo a qual, Ele age; e se isso não acontece, elas são rejeitadas para fora d'Ele, onde, não obstante, Ele as sustenta pelo íntimo. Segundo isso,, toma-se evidente que a Onipotência Divina não pode, de modo algum, sair fora de Si para se pôr em contato com o mal, nem o repelir de Si, pois o mal se afasta por si mesmo; donde acontece que o mal é absolutamente separado de Deus e precipitado no Inferno, entre o qual e o Céu, onde está Deus, existe um. Abismo imenso. Por estes poucos detalhes pode-se ver em que extravagância estão aqueles que pensam e, mais ainda, os que crêem; e mais ainda, os que ensinam que Deus pode danar alguém, maldizer alguém, lançar alguém no Inferno, predestinar a alma de alguém à morte eterna, vingar-se de injúrias, pôr-se em cólera, punir; mais ainda, Éle não pode mesmo se afastar do homem, nem encará-lo com uma face severa; essas crenças e outras semelhantes são contra a Essência de Deus e quem é contra. Sua Essência é contra Ele mesmo.

&57 - A opinião dominante hoje é que a Onipotência de Deus é semelhante à potência, no Mundo, de um Rei absoluto, que pode a seu bel-prazer fazer tudo o que quiser, absolver e condenar quem quiser, fazer o culpado, inocente, declarar fiel o que é infiel, colocar o homem incapaz e sem mérito acima do homem. capaz e de mérito; e que pode mesmo sob

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um pretexto qualquer, tirar de seus súditos os seus bens e entregá-los à morte, além de muitos outros abusos semelhantes. Por esta opinião, esta fé e esta doutrina insensata sobre a Onipotência Divina, espalharam se na Igreja tantas falsidades, ilusões e quimeras, como há momentos, articulações e gerações da fé; e podem ainda se espalhar tantos quantos vasos se pode encher com a água de um grande lago ou quantas serpentes saem de suas cavernas e vão, gozar a exposição ao sol em um deserto da Arábia. Não temos necessidade senão de duas palavras, Onipotência e Fé; e então, espalha-se diante do vulgo tantas conjecturas, fábulas e futilidades, quantas caem sob os sentidos corporais, pois a razão é excluída por uma e por outra destas palavras; e uma vez a razão excluída, em que o pensamento do homem é superior à razão do pássaro que voa acima de sua cabeça? ou, a que se assemelha então o Espiritual, que o homem tem a mais que as bêstas, senão ao odor que exalam as jaulas, odor que convém as bêstas que aí estão encerradas, mas não ao homem, a menos que seja semelhante a elas? Se a Onipotência Divina tivesse a extensão para fazer o mal como para fazer o bem, que diferença haveria entre Deus e o Diabo? Não haveria outra senão a que existe entre dois Monarcas, um dos quais é Rei e ao mesmo tempo -tirano, e o outro um Tirano cuja potência foi amarrada, o que faz com que não possa ser chamado Rei; ou entre um Pastor a quem foi permitido agir como ovelha e também como leopardo; e um Pastor a quem isso não foi permitido. Quem não pode saber que o bem e o mal são opostos e que se Deus, pela Sua Onipotência, pudesse querer um e outro e fazer um e outro segundo esse quere-r, Ele nada mais poderia absolutamente e não teria, por conseqüência, potência alguma, nem com mais forte razão a Onipotência? Seria como duas rodas que agissem mutuamente em sentido contrário; por esta reação cada roda ficaria no lugar e estariam completamente -em repouso; ou como um Navio que, em uma torrente oposta à sua marcha, seria arrastado e pereceria se não estivesse em repouso sobre sua âncora; ou como o homem que tem duas vontades opostas entre si, das quais uma está necessariamente em repouso quando a outra age; mas se agissem as duas ao mesmo tempo, lançariam sua mente no delírio ou na vertigem.

&58 - Se, segundo a fé de hoje, a Onipotência de Deus fosse absoluta tanto para fazer o bem como para fazer o mal, não seria possível, e mesmo não seria fácil a Deus elevar todo o Inferno ao Céu, mudar os diabos e os satanases em Anjos e purificar, em um instante, de seus pecados todo ímpio sobre a Terra, renová-lo, santificá-lo, regenerá-lo e fazer dele de um filho da cólera, um filho da graça, isto é, justificá-lo, o que se faria somente pela adjudicação e imputação da justiça de Seu Filho? Mas Deus pela Sua Onipotência não pode isso porque isso é contra as leis de Sua Ordem no Universo e, ao mesmo tempo, contra as leis da Ordem postas em cada homem, as quais consistem em que de uma parte e de outra haja mutuamente conjunção; que isso seja assim, ver-se-á na continuação deste Tratado. Desta opinião e desta fé insensatas sobre a Onipotência de Deus, resultaria que Deus poderia mudar cada homem-bode em homem-ovelha, e por bel-prazer fazê-lo passar de Sua esquerda para Sua direita; poderia também, por bel-prazer, mudar os Espíritos do Dragão em Anjos de Miguel; e poderia dar a vista de uma águia a um homem cujo entendimento é como a vista de uma toupeira; em uma palavra: de um homem-coruja fazer um homem-pomba; Deus não pode essas cousas fazer porque isso é contra as leis de Sua Ordem, ainda que continuamente. Ele o queira e faça esforços. Se Ele tivesse podido, não teria permitido a Adão escutar a serpente, tomar o fruto da Arvore de ciência do bem e do mal e aproximá-lo de sua boca; se tivesse podido não, teria permitido a Caim matar seu irmão; a David fazer a numeração do povo; a Salomão elevar templos a ídolos; e aos Reis de Judah e de

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Israel, profanar o Templo, o que eles fizeram tantas vezes; e mesmo se tivesse podido, teria pela Redenção de Seu Filho, salva todo o Género humano sem executar um único homem e extirpado todo o Inferno. Os antigos Gentios tinham atribuído uma semelhante Onipotência a seus deuses; daí saíram às fábulas; por exemplo, a de Decalião e de Pyrrha, que lançando pedras para trás deles, faziam homens; a de Apoleo que mudou Daphne em loureiro; a de Diana que metamorfoseou um caçador em corvo; e a de um outro de seus deuses, que mudou em pegas as virgens do Parnaso. A fé de hoje sobre a Onipotência de Deus é semelhante; daí serem levadas ao Mundo tantas idéias fantásticas e por conseqüência heréticas em toda Região onde existe a Religião.

&59 - IV. DEUS E' ONISCIÊNTE, ISTO É PERCEBE, VÊ E SABE TODAS AS COUSAS, TANTO EM GERAL COMO EM PARTICULAR, ATÉ AS MAIS MINUCIOSAS QUE SÃO FEITAS SEGUNDO A ORDEM; E TAMBÉM POR ESTAS TODAS AS QUE SÃO FEITAS CONTRA A ORDEM.

Se Deus é Onisciente, isto é, vê e sabe todas as coisas, é porque Ele é a Sabedoria mesma e a Luz mesma; ora a Sabedoria mesma percebe todas as cousas e a Luz mesma vê todas as coisas; que Deus seja a Sabedoria mesma, é o que foi mostrado acima; que Ele seja a Luz mesma é porque Me é o Sol do Céu Angélico, que ilustra o entendimento de todos, tanto o dos Anjos como o dos homens, pois do mesmo modo que o olho é esclarecido pela Luz do Sol natural, do mesmo modo o entendimento é esclarecido pela Luz do Sol Espiritual; e não só é esclarecido mas é ao mesmo tempo enchido de Inteligência, pois que esta Luz em sua essência é a Sabedoria; é pôr isso que se diz em David: "Que Deus habita em uma luz inacessível''; e no Apocalipse, "que na Nova Jerusalém não há necessidade de Lâmpada porque o Senhor Deus a ilumina"; e em João, "que a Palavra estava em Deus e que era Deus, é a Luz que ilumina todo homem vindo ao Mundo"; pela Palavra entende-se a Divina Sabedoria. Dai vem que os Anjos estão tanto mais no brilho da luz, quanto mais estão na sabedoria; e daí vem também que, na Palavra, quando a Luz é citada, entende-se a sabedoria.

&60 - Se Deus percebe, vê e sabe todas as coisas, até as mais minuciosas, que são feitas segundo a Ordem, é porque a Ordem é Universal pelos singularíssimos, pois os singulares tomados em conjunto se chamam o Comum; o Universal com seus singularíssimos é uma obra coerente com um, de tal modo que este um não pode ser nem tocado nem afetado sem que alguma sensação repercuta sobre todo o resto. Segundo esta qualidade da Ordem no Universo existe uma qualidade semelhante em todas as coisas, criadas no Mundo; mas isso será ilustrado pôr comparações tomadas nas coisas, visíveis: No homem inteiro há comuns e particulares e os comuns envolvem os particulares e eles se arranjam em um tal entrelaçamento, que um pertence ao outro; iam acontece porque há um invólucro comum em torno de cada membro; e este invólucro se insinua em cada uma das partes que o compõem, para que façam um em cada função e cada uso; pôr exemplo, o invólucro de cada músculo entra em cada uma das fibras motrizes e as reveste de si mesmo; acontece o mesmo com o fígado, o pâncreas e o baço para cada uma das coisas, que estão dentro dessas vísceras; acontece o mesmo com o invólucro do pulmão, que se chama pleura, para os interiores do pulmão; do mesmo modo também o pericárdio para todas e cada uma das cousas do coração; e comumente com o peritônio para as anastomoses com os invólucros de todas as vísceras; do mesmo modo com as Meníngeas do Cérebro, estas pôr fios

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extraídos delas mesmas, entram em todas as glândulas substratadas e pôr estas em todas as fibras; e pelas fibras, em todas as partes do corpo; é daí que a Cabeça pelos Cérebros governa todas e cada uma das cousas colocadas sob ela. Distes exemplos não foram apresentados senão com o fim de que se forme, pelas cousas visíveis, alguma idéia da maneira pela qual Deus percebe, vê e sabe todas as cousas, até as mais minuciosas que se fazem segundo a Ordem.

&61 - Se Deus, pelas cousas que pertencem à ordem, percebe, sabe e vê todas aquelas, tanto em geral como em particular, até as mais minuciosas, que são feitas contra a Ordem, é porque Deus não mantém o homem no mal, mas o desvia do mal,- assim não o conduz, mas luta com ele; pôr esta luta perpétua, pelo esforço, a resistência, a repugnância e a reação do mal e do falso contra Seu Bem e Sua Verdade, pôr conseqüência contra Me mesmo, Ele percebe a quantidade e a qualidade deste mal e deste falso; isso é uma conseqüência da Onipresença de Deus em todas e cada uma das cousas de Sua Ordem, e ao mesmo tempo de Sua Onisciência dessas coisas; assim, pôr comparação, o homem cujo ouvido está na harmonia e na consonância, descobre exatamente a desarmonia e a dissonância de quanto e como elas diferem quando penetram; semelhantemente, o homem cujo sentido está no prazer, quando o desprazer intervém; semelhantemente o homem cuja vista está no belo, vê exatamente o belo, quando há ao lado alguma cousa disforme, por Isso os pintores têm o hábito de colocar uma figura feia ao lado de uma bela; acontece o mesmo com o bem e o vero, quando o mal e o falso lutam contra eles, pois que o mal e o falso são distintamente percebidos pelo bem e o vero; com efeito, quem quer que esteja no bem pode perceber o mal; e quem quer que esteja no vero pode ver o falso; e isso, porque o bem está no calor do Céu e o vero está na luz do Céu, enquanto que o mal está no frio do Inferno e o falso na obscuridade do inferno; é o que pode ser ilustrado por isso que os Anjos do Céu podem ver tudo que se passa no Inferno, e quais são os monstros que o habitam, enquanto que, ao contrário, os espíritos do Inferno não podem ver a menor cousa do que se passa no Céu nem mesmo os Anjos, não mais que um cego ou não mais que um olho que olha no ar vazio ou no éter vazio. Aqueles cujo entendimento está na luz pela sabedoria são semelhantes aos que se mantêm ao meio-dia sobre uma montanha e vêem claramente todos os objetos que estão em baixo; e Aqueles que estão em uma luz ainda superior assemelham-se aos que, com o auxílio de lunetas de aproximação, vêem como perto deles os objetos que estão em torno e em baixo; mas aqueles que estão na luz ilusória do Inferno pela confirmação das falsidades assemelham-se aos que se mantêm sobre a mesma Montanha durante a noite com fachos na mão, e que não vêem senão os objetos mais próximos, e não percebem senão indistintamente as formas e confusamente as cores. Quando um homem que está em alguma luz do vero e, entretanto, no mal da vida está no prazer do seu mal, não vê os veros no começo, senão como um morcego vê em um jardim roupas suspensas, para as quais voa como para seu asilo; e, mais tarde, se toma como uma coruja e, enfim, como um mocho; e então é como um limpador de chaminés que se detém na parte mais escura da chaminé e que, quando levanta os olhos para o alto, vê o Céu através da fumaça; e quando olha para baixo, vê a fornalha donde provém esta fumaça.

&62 - É preciso ter como, certo que a percepção dos opostos é diferente da percepção dos relativos; com efeito, os opostos são cousas que estão fora e contra os que estão dentro; pois se produz um oposto quando um cessa inteiramente de ser alguma cousa e outro, então, se eleva esforçando-se por agir contra este anterior como uma roda que age contra

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uma roda, e um rio contra um rio; os Relativos, ao contrário, são várias cousas diversas dispostas em uma certa ordem, de modo que haja entre elas uma conformidade e um acordo como pedras preciosas de diversas cores em um colar sobre o peito de uma Rainha, ou como flores de nuances diversas em uma grinalda que provoca o encanto da vista. Há, portanto, relativos em um e outro oposto, tanto no bem como no mal e tanto no vero como no falso; assim, tanto no Céu como no inferno, mas os relativos do inferno são todos opostos aos relativos no Céu; agora, pois, que Deus percebe, vê e, por conseguinte, conhece todos os relativos do Céu pela Ordem na qual Ele mesmo está e assim, percebe, vê e conhece todos os relativos opostos do inferno, é evidente pelo que acaba de ser dito, que Deus é Onisciente no Inferno como no Céu e, semelhantemente, nos homens no Mundo; que assim Ele percebe, vê e conhece seus males e seus falsos pelo bem e o vero, nos quais Ele mesmo está e que em sua essência são Ele mesmo; com efeito, Ele disse: "Se subo ao Céu, lá Tu (estás); se desço ao Inferno, eis-Te aí" (Salmo 139.°, 8). E em outra parte: "Quando penetrassem no Inferno, de lá minha mão os retiraria" (Amós IX, 2, 3).

&63 - V. DEUS E' ONIPRESENTE DESDE OS PRIMEIROS ATÉ AOS últimos DE SUA ORDEM.

Se Deus é Onipresente desde os primeiros até aos últimos de Sua Ordem, é pelo Calor e a Luz do Sol do Mundo Espiritual, no meio do qual Ele está; por este Sol foi feita a Ordem e pela Ordem Ele espalha o calor e a luz que penetram no Universo desde seus primeiros até seus últimos; e produzem a vida que está no homem e em cada animal e também a alma vegetal que está em cada germe sobre a Terra, e os dois influem em cada uma das cousas e fazem com que cada indivíduo viva e cresça segundo a Ordem introduzido nele pôr criação; e como Deus não é extenso e, entretanto, enche todas as extensões do Universo, Ele é Onipresente; que Deus esteja em todos os espaços sem espaço e em todos os tempos sem tempo; e por conseguinte, o Universo, quanto à essência e à Ordem, seja a plenitude de Deus, é o que foi mostrado em outra parte; e isso sendo assim, pela Onipresença Me percebe tudo, pela Onisciência provê a tudo e pela Onipotência opera tudo; donde é evidente que a Onipresença, a Onisciência e a Onipotência fazem um ou que uma supõe a outra e assim elas não podem ser separadas.

&64 - A Onipresença Divina pode ser ilustrada pela admirável presença dos Anjos e dos Espíritos no Mundo Espiritual; como não há espaço nesse Mundo, mas somente aparência de espaço, o anjo ou o espírito podem estar em um instante em presença um do outro desde que venham a uma mesma afeição do amor e por conseguinte a um pensamento semelhante, pois estas duas coisas fazem a aparência do espaço; que haja lá uma tal presença de todos é o que se tornou para mim evidente, pelo fato de que eu podia ver ai Africanos e Indianos próximos uns dos outros, embora estejam separados por tantos quilômetros sobre a Terra; e que, além disso, pude me achar na presença dos que estão nos Planetas de outros Mundos fora de nosso sistema solar; é por meio de uma tal presença, não de lugar, mas de aparência de lugar, que eu conversei com os Apóstolos, com Papas, Imperadores e Reis defuntos, com os instauradores da Igreja de hoje, Lutero, Calvino, Melancliton e com outros de países afastados; quando existe uma tal presença para os Anjos e para os Espíritos, o que não deve ser no Universo a presença Divina que é infinita? Se tal -é a presença para os Anjos e os Espíritos, é porque toda afeição do amor, todo pensamento do entendimento estão no espaço sem espaço e no tempo sem tempo, pois cada

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um pode pensar em um irmão, em um parente ou em um amigo, que está nas índias e então tê-lo como presente diante de si; pode igualmente ser afetado de amor por eles segundo uma recordação. Por estas cousas que são conhecidas do homem, a Onipresença Divina pode, de alguma sorte, ser ilustrada; pode também sê-lo pelos pensamentos humanos, pelo fato de que quando alguém lembra na memória as cousas que viu em viagem por diferentes lugares, ele os tem como presentes. Ainda mais, a vista do corpo imita esta mesma presença; ela não nota os objetos distantes senão pelos intermediários que servem, por assim dizer, de medida; o Sol mesmo estaria perto do olho e mesmo -como no olho, se os intermediários não mostrassem que ele está a uma grande distância; que isso seja assim, é o que fizeram observar em seus livros os que escreveram sobre a ótica. Uma tal presença existe tanto para a vista intelectual como para a vista corporal do homem porque seu espírito vê por seus olhos, mas não existe cousa semelhante para a besta porque as bestas não têm vista espiritual. Por estas explicações, pode-se ver que Deus é Onipresente desde os Primeiros até aos últimos de Sua Ordem; que Ele seja também Onipresente no Inferno, isso foi mostrado no artigo precedente.

&65 - VI. O HOMEM FOI CRIADO FORMA DA ORDEM DIVINA.

Se o homem foi criado forma da Ordem Divina é porque foi criado à imagem e semelhança de Deus; e pois que Deus é a Ordem, o homem foi criado à imagem e semelhança da Ordem. Há duas cousas segundo as quais a Ordem veio a existir e pelas quais subsiste. O Divino Amor e a Divina Sabedoria; e o homem foi criado receptáculo dos dois; é por isso que ele foi criado também na ordem segundo a qual estes dois agem no Universo e, principalmente, segundo a qual agem no Céu Angélico, donde resulta que esse Céu na sua maior efígie é a forma da Ordem Divina e que sob o aspecto de Deus este Céu é como um único Homem; e há também entre Mim, o Céu e o homem uma correspondência completa; com efeito, não há no Céu nenhuma Sociedade que não corresponda a algum membro, a alguma víscera, a algum órgão do homem; é por isso que no Céu se diz que tal sociedade está na província do Fígado ou do Pâncreas ou do Baço ou do Estômago ou do olho, ou do Ouvido, ou da Língua ou de tal outra parte; pois os Anjos mesmos sabem também no domínio de que Parte do homem habitam; que isso seja assim, é o que me foi, dado saber por viva experiência (ad vivum); vi uma sociedade de alguns milhares de Anjos cujo conjunto formava como um único homem; por isso tornou-se evidente para mim que o Céu no complexo é a imagem de Deus; e a Imagem de Deus é a forma da Ordem Divina.

&66 - E' preciso que se saiba que todas as cousas que procedem do Sol do Mundo Espiritual, no meio do qual está Jehovah Deus, se referem ao homem e, por conseguinte, tudo que existe nesse Mundo tende a uma forma humana e a apresenta em seus íntimos; daí vem que todos os objetos que nele se oferecem aos olhos são representativos do homem; lá aparecem Animais de todas as espécies -e esses animais são Semelhanças das afeições do amor dos Anjos e, por conseqüência, de seus pensamentos; lá aparecem também vergeis, canteiros e lugares cobertos de verdura; !e me foi dado saber que afeição representam cada um desses objetos; e, o que é admirável, quando a vista íntima é aberta, conhece-se a sua imagem nesses objetos; e isso porque todo homem é seu amor e por conseguinte seu pensamento; e como as afeições e os pensamentos em cada homem são variados e múltiplos e alguns se referem à afeição de tal animal e outros à afeição de tal outro, eis por que as imagens de suas afeições se apresentam assim; mas ver-se-á mais detalhes Sobre este

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assunto no Artigo seguinte em que se trata da Criação. Por isto se manifesta também esta verdade, que o fim da Criação foi o Céu Angélico proveniente do Género Humano, por conseqüência do Homem, em que Deus pode habitar como em Seu receptáculo; é portanto por esta razão que o homem foi criado forma da Ordem Divina.

&67 - Deus antes da Criação era o Amor mesmo e a Sabedoria mesma e estes dois estavam no esforço de fazer usos, pois o Amor e Sabedoria sem o uso são unicamente seres de razão e também se dissipam, a menos que se conjuntem no uso; os dois primeiros separados do terceiro são portanto como pássaros que voam sobre o grande oceano e, enfim, cansados de voar caem e são submergidos, daí vê-se que o Universo foi criado por Deus a fim de que os usos existissem; por isso, o Universo pode ser chamado o Teatro dos usos; e como o homem é o principal fim da criação, resulta que todas as cousas, em geral e em particular, foram criadas para o homem; e por conseguinte, todas e cada uma das coisas da ordem foram conjuntas e concentradas nele, a fim de que por ele Deus faça os usos principais. O Amor e a Sabedoria sem o terceiro, que é o Uso, podem ser comparados ao calor e à luz do sol, que seriam cousas vãs se não operassem nos homens, nos animais e nos vegetais, mas que se tornam reais pelo influxo e sua operação neles. Há pôr isso três cousas que se seguem em ordem, o Fim, a Causa e o Efeito; e sabe-se no Mundo Sábio que o fim nada é se não tem em vista a causa eficiente e que o fim e esta causa nada são se não resulta deles um efeito; o fim e a causa podem, é verdade, ser abstratamente agitados na Mente, mas sempre para algum efeito que o fim tem em vista e que a causa procura; acontece o mesmo com o amor, com a sabedoria e o uso; e é o uso que o amor tem em vista e produz pela sabedoria; e quando o uso é produzido, o amor e a sabedoria existem realmente e fazem no uso sua habitação e uma residência e ai repousam como em sua casa; acontece o mesmo com o homem no qual estão o amor e a sabedoria de Deus quando faz usos; e para que faça usos de Deus, foi criado imagem e semelhança, isto é, forma da Ordem Divina.

&68 - VII. TANTO MAIS O HOMEM VIVE SEGUNDO A ORDEM DIVINA, TANTO MAIS ESTA NA FORÇA CONTRA 0 MAL E 0 FALSO SEGUNDO A DIVINA OMNIPOTÊNCIA; E TANTO MAIS NA SABEDORIA SOBRE 0 BEM E 0 VERO SEGUNDO

• DIVINA ONISCIÊNCIA E TANTO MAIS EM DEUS SEGUNDO

• DIVINA ONIPRESENÇA.

Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem Divina, tanto mais está na força contra os males e os falsos segundo a Divina Onipotência é porque não há senão Deus somente que possa resistir aos males e por conseguinte aos falsos; com efeito, todos os males e todos os falsos vêm no Inferno e são coerentes como um no Inferno, absolutamente da mesma maneira que todos os bens e todos os veros do Céu; pois, assim como já foi dito, todo o Céu diante de Deus é como um único Homem; e vice-versa, todo o Inferno é como um único Gigante que é um Monstro; é por isso que agir contra um único mal e contra o falso que dele provém, é agir contra esse Gigante monstruoso ou contra o Inferno e ninguém o pode senão Deus porque Ele é Onipotente; por isso; é evidente, que se o homem não se dirige ao Deus Onipotente, não tem por si mesmo mais força contra o mal e o falso desse mal, do que um peixe contra o Oceano, do que um inseto contra uma baleia e do que um grão de areia

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contra uma montanha que desmorona; e muito menos, do que um gafanhoto contra um elefante ou do que uma mosca contra um camêlo; e além disso, o homem tem ainda menos força contra o mal e o falso desse mal porque nasceu do mal e o mal não pode agir contra si mesmo. Segue-se daí que se o homem não vive segundo a Ordem, isto é, se não reconhece Deus e Sua Onipotência e o socorro que daí pode tirar contra o Inferno, e se o homem de seu lado não combate também contra o mal que está nele, pois este ponto pertence à Ordem como o precedente, só pode mergulhar e submergir no inferno e ai ser empurrado pelos males,. uns após outros como uma barca no mar pelas tempestades.

&69 - Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem, tanto mais está na Sabedoria sobre o bem e o vero segundo a Divina Oniciência, é porque todo amor do bem e toda sabedoria do vero ou todo bem do amor e todo vero da sabedoria, vêm de Deus; é mesmo o que está conforme com a confissão de todas as Igrejas do Mundo Cristão; segue-se dai que o homem não pode estar interiormente em nenhum vero da sabedoria senão por Deus porque a Deus pertence à Onisciência, isto é, a Sabedoria infinita. A Mente humana foi dividida em três graus, como o Céu Angélico, e por conseguinte, pode ser elevada em um grau superior e superior e pode ser abaixada a um grau inferior e inferior; e tanto mais é elevada a um grau superior, tanto mais está na sabedoria, pois tanto mais está na luz do Céu, isso não, pode ser feito senão por Deus; e tanto mais é elevada tanto mais é homem; mas tanto mais é abaixada aos graus inferiores, tanto mais está na luz fantástica do inferno, e tanto mais cessa de ser homem e se torna besta; é mesmo por causa disso que o homem se mantém direito sobre os pés, e volta a face para o Céu e pode elevá-la para o zénite, enquanto que a besta se mantém sobre os pés em uma posição paralela à terra e volta para ela todos os seus olhares e não pode, a não ser com dificuldade, elevá-la para o Céu. 0 homem que eleva sua Mente para Deus e reconhece que todo vero da sabedoria vem d'Ele e que vive ao mesmo tempo segundo a Ordem, é como aquele que se mantém. sobre uma torre elevada e vê abaixo dele uma cidade populosa e o que aí se faz nas ruas; mas o homem que em si confirma. que todo vero da sabedoria lhe vem da luz natural e vem assim dele mesmo, é como aquele que habita em uma adega sob esta torre e olha para esta mesma cidade por alguns buracos, este não vê, da cidade, senão o muro de uma única casa e como os tijolos estão aí cimentados. Enfim, o homem que tira de Deus a sabedoria é como um pássaro que, planando no ar, vê tudo que está nos jardins, nas florestas e nas granjas e voa para o que pertence ao seu uso; mas o homem que tira de si mesmo as. cousas que concernem à sabedoria, sem a fé de que estas cousas vêm não obstante de Deus, é como um moscardo que, voando perto da terra, se dirige para onde vê estrume e acha prazer no cheiro infecto que ele -exala. Todo homem enquanto vive no Mundo, anda entre o Céu e o Inferno e está, por conseguinte, em equilíbrio; e assim no livre arbítrio de olhar para cima, para Deus, ou para baixo, para o inferno; se olha para cima, para Deus, reconhece que toda sabedoria vem de Deus e está na realidade quanto ao espírito, com os Anjos do Céu; mas se olha para baixo, o que faz todo aquele que está nos falsos segundo 0. mal, está na realidade quanto ao espírito, com os diabos do inferno.

&70 - Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem Divina, tanto mais está em Deus segundo a Divina Onipresença, é porque Deus é Onipresente e por que, onde está a Sua Ordem Divina, aí Ele está em Si, pois Ele mesmo é a Ordem, assim como foi mostrado acima; portanto uma vez que o homem foi criado forma da Ordem Divina, Deus está nele, mas tanto quanto o homem vive plenamente segundo a Ordem Divina; se não vive segundo

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a Ordem Divina, Deus sempre estará nele, mas em seus supremos; e lhe dá poder de compreender o vero e querer o bem, isto é, lhe dá a faculdade de compreender e a inclinação para amar; mas tanto mais o homem vive contra a Ordem, tanto mais fecha os inferiores de sua mente ou de seu espírito e assim impede que Deus desça e encha seus inferiores com Sua presença; de acordo com isso Deus está nele, mas ele não está em Deus; é uma regra geral do Céu, que Deus está em todo homem, tanto mau como bom, mas o homem não está em Deus se não vive segundo a Ordem; pois o Senhor disse: "que quando que o homem esteja n'Ele, e Ele no homem" (João XV, 4). Se o homem pela vida segundo a Ordem está em Deus, é porque Deus é Onipresente no Universo e em todas e cada uma das cousas do Universo, em seus íntimos, pois estes íntimos estão na Ordem; mas nas cousas que são contra a Ordem, as quais são unicamente as que estão fora dos íntimos, Deus está Onipresente por uma luta contra elas, e por um esforço contínuo para reconduzi-las à Ordem; é por isso que tanto mais o homem se deixa reconduzir A Ordem, tanto mais Deus está nele e ele em Deus. Deus não pode estar ausente do homem, como o Sol não pode estar da Terra pelo calor e a luz; mas os objetos da Terra não estão na virtude do Sol senão tanto quando recebem estas duas cousas que procedem deste Sol, o que acontece nas estações da Primavera e do Verão; isto pode assim ser aplicado à Onipresença de Deus, nisto que, tanto mais o homem está na Ordem, tanto mais está no calor espiritual e ao mesmo tempo na luz espiritual, isto é, no bem do amor e nos veros da sabedoria; mas o calor e a luz espirituais não são como o calor e a luz naturais, pois o calor natural se retira da Terra e de seus objetos no tempo do Inverno e a luz se retira no tempo da noite, e isso acontece porque a Terra produz esses tempos pôr sua rotação sobre si mesma e por seu movimento em torno do Sol; mas não acontece o mesmo com o calor espiritual e a luz espiritual, pois Deus por Seu Sol está presente com um e outro e não tem alternativas de presença e ausência, como em aparência o Sol do mundo, o homem mesmo se afasta como a Terra se afasta de seu Sol; e quando ele se afasta dos veros da sabedoria é como a Terra que se afasta de seu Sol no tempo da noite; e quando o homem se afasta dos bens do amor é como a Terra que se afasta de seu Sol no tempo do inverno; tal é a correspondência entre os efeitos e os usos procedentes do Sol do Mundo espiritual e os efeitos e os usos provenientes do Sol do Mundo natural.

&71 - As explicações precedentes ajuntarei três Memoráveis. Eis o primeiro: Um dia ouvi sob mim como um barulho do mar e perguntei o que era; e alguém me disse que era um tumulto entre espíritos reunidos na Terra inferior; e incontinenti o solo que fazia teto acima deles se entreabriu e eis que, através da abertura, voaram nuvens de pássaros noturnos que se espalharam à esquerda; e logo depois se elevaram gafanhotos que saltavam sobre a relva do solo e fizeram por toda parte um deserto; e pouco depois ouvi alternadamente gritos lamentáveis desses pássaros noturnos; e sobre o lado um grito confuso como de espectros nas florestas. Em seguida vi belos pássaros do Céu, que se espalharam à direita; estes pássaros se faziam notar pôr asas como que douradas, recamadas de raias e manchas como que prateadas; e sobre a cabeça de alguns havia cristas em forma de coroas. Enquanto eu via e admirava estes objetos, de repente, da Terra Inferior, onde se fazia esse tumulto, elevou-se um Espírito que podia se dar a forma de um Anjo de luz, e gritava: Onde está aquêle que fala e escreve sobre a Ordem, à qual Deus Onipotente se sujeitou quanto ao que concerne ao homem? Ouvimos através do teto estas palavras pronunciadas em cima; êste Espírito, enquanto estava sobre esta Terra, percorria um caminho batido e, enfim, veio para mim e logo tomou a aparência de um Anjo do Céu; e, falando com um tom que não lhe era

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próprio, disse: És tu que pensas e falas sobre a Ordem? Diz-me, sumariamente, o que é a Ordem-e algumas das cousas concernentes à Ordem. E eu respondi: Eu te darei as propriedades sumárias, mas não as particulares porque tu não as compreenderias, e disse: I. Deus Mesmo é a Ordem. II. Êle criou o homem segundo a Ordem, na Ordem e para a Ordem. III. Criou sua Mente racional segundo a Ordem de todo o Mundo Espiritual; e seu Corpo segundo a Ordem de todo o Mundo natural; é por isso que o homem foi chamado pelos Antigos Micro-Urano (Céu pequeno), e Micro-Cosmo (mundo pequeno). IV. Daí, é uma Lei da Ordem, que o homem por seu Micro-Urano ou pequeno mundo espiritual, deve governar o seu Microcosmo ou pequeno mundo natural, como Deus por Seu Macro-Urano ou Mundo Espiritual governa o Macrocosmo ou Mundo Natural no conjunto e em cada parte. V. Por conseguinte, é uma Lei da Ordem, que o homem deve se introduzir na Fé pelas verdades segundo a Palavra e na Caridade pelas boas obras; e por conseqüência, se reformar e se regenerar. VI. E' uma Lei da Ordem, -que o homem por seu trabalho e sua força se purifique dos pecados e que não se mantenha na fé da impotência e não espere que Deus lave imediatamente seus pecados. VII. E' também uma Lei da Ordem, que o homem ame a Deus de toda a sua alma e de todo seu coração, e ao próximo como a si mesmo e que não protele e não espere que êsses dois amores sejam introduzidos por Deus Imediatamente em sua mente e em seu coração, como o pão seria posto na boca por um padeiro; além de várias outras leis semelhantes. Depois de ter ouvido estas palavras, êste satanás replicou com uma voz doce na qual havia astúcia interiormente: Que dizes aí? 0 quê! o homem deve por sua força introduzir-se na ordem cumprindo suas leis! Não sabes que o homem está, não sob a lei, mas sob a graça; que todas as cousas lhe são dadas gratuitamente; que êle não pode tomar senão aquilo que lhe foi dado do Céu e que nas cousas espirituais não pode agir por si mesmo mais do que a mulher de Loth transformada em estátua, ou que Dragão o ídolo dos Filisteus em Ekron, e que em conseqüência, é impossível ao homem justificar-se, devendo isso ser feito pela Fé e pela Caridade? Mas eu lhe dei uma única resposta: E' também uma Lei da Ordem que o homem por seu trabalho e sua força deva adquirir a fé pelos veros da Palavra; e que, entretanto, creia que por si mesmo, não tem um só grão de fé, mas que toda sua fé vem de Deus; e também que o homem por seu trabalho e sua força deve se justificar e que, entretanto, creia que não há mesmo um só ponto de justificação que venha dêle, mas que toda justificação vem de Deus. Não foi ordenado que o homem deve crer em Deus e amar a Deus de todas as suas forças e a seu próximo como a si mesmo? reflete e me diz como êste mandamento teria podido ser dado por Deus se o homem não tivesse força alguma de obedecer e-fazer. A estas palavras, êste Satanás experimentou uma mudança em sua face, que de branca se tornou a princípio lívida, depois negra; e, falando com o tom que lhe era natural, disse: Tu pronunciaste paradoxos contra paradoxos; e imediatamente se afundou para os seus e desapareceu; e os pássaros da esquerda de companhia com os espectros soltaram gritos extraordinários e se precipitaram no mar, que aí é chamado mar de Enxofre e os gafanhotos os seguiram saltando, e o ar foi purificado, e a Terra foi limpa destas bêstas imundas, o tumulto de baixo cessou e houve tranqüilidade e serenidade.

&72 - Segundo Memorável. Um dia ouvi um barulho extraordinário vindo de longe e eu, em espírito, segui a direção do som e me aproximei; tendo chegado ao lugar donde êle vinha, eis, que era uma Coorte de Espíritos que raciocinavam sobre a Imputaçâo e a Predestinação; era composta de Holandeses e Ingleses, e de uma mistura de alguns Espíritos dos outros Reinos; e êstes, ao fim de cada raciocínio, exclamavam: Admiremos!

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Admiremos! A discussão versava sobre êste ponto: Por que Deus não imputa o mérito e a justiça de Seu Filho a todos e a cada um daqueles que foram criados por Êle e em seguida foram como que resgatados? Não é êle Onipotente?... Não pode, se o quiser, de Lúcifer, do Dragão e,de todos os bodes fazer Arcanjos? Não é êle Onipotente?... Por que permite que a injustiça e a impiedade do diabo triunfem da justiça de Seu Filho e da piedade dos adoradores de Deus? o que há de mais fácil para Deus, do que dar a todos a fé e assim a salvação? para isso que lhe é preciso mais do que uma pequena palavra? e se Êle não o faz não está em contradição com Suas palavras, as quais são, se Me quer a salvação de todos e não quer a morte de pessoa alguma? Dizei portanto donde vem e em que reside a causa da danação daqueles que perecem? E então, um Predestinatário-Supralapsário dentre os Holandeses, disse: Isto não está no bel-prazer do Onipotente? A argila deve repreender o oleiro porque fêz dela um urinol? E um outro disse: A salvação de cada um está na mão de Deus como uma balança na mão daquele que pesa. Sobre os lados se mantinham alguns espíritos simples de fé e direitos de coração, uns com os olhos inflamados, outros como estupefactos, outros como sufocados, dizendo entre si em voz baixa: Que necessidade temos de, escutar estas extravagâncias? Èles se infatuaram com esta fé, que Deus o Pai imputa a justiça de Seu Filho a quem quer e quando quer e que envia o Espírito Santo para operar as decisões desta justiça; e que o homem, para que não se atribua a mínima cousa na operação de sua salvação, deve ser absolutamente como um pedra no negócio da justificação e como um toco nas cousas espirituais; e então, um deles se introduziu na Coorte e falando em altas vozes, disse: Oh, insensatos! o vosso raciocínio é de lana-caprina; ignorais absolutamente que Deus Onipotente é em Si mesmo a Ordem e que há miríades de Leis da Ordem, em tão grande número quanto existem verdades na Palavra; e que Éle não pode agir contra Êle mesmo e assim não somente contra a Justiça, mas ainda contra a Onipotência; e êle viu de longe sobre a direita como uma ovelha e um cordeiro, e uma pomba que voava; e sobre a esquerda como um bode, um lobo e um abutre, e disse: Acreditais que Deus por Sua Onipotência pode mudar êste bode em -ovelha, ou êste lobo em cordeiro ou êste abutre em pomba, ou reciprocamente? Absolutamente não, porque esta mudança é contra as leis de Sua Ordem, da qual nem mesmo um único ponto pode cair por terra, segundo as Suas próprias palavras; como então pode Êle transportar a justiça da Redenção de Seu Filho sobre alguém que é refratário às leis de Sua justiça? Como a Justiça mesma pode cometer a injustiça e predestinar alguém para o inferno e lançá-lo em um fogo perto do qual o diabo se mantém com tochas na mão e o atiça? 0' insensatos, vazios de espírito, a vossa fé vos seduziu; não é ela em vossa mão como uma laçada para prender pombos? A essas palavras um certo Mágico fêz desta fé como uma laçada e a suspendeu a uma árvore, dizendo: Vereis que vou prender esta pomba; e imediatamente o abutre voou, passou o pescoço na laçada, e ai ficou suspenso; e a pomba, tendo visto o abutre, voou para longe. Os espectadores ficaram admirados e exclamaram: Êste jogo entretanto é um testemunho de .justiça.

&73 - No dia seguinte vieram a mim alguns espíritos desta coorte, que estavam na fé da predestinação e me disseram: Nós estamo& como ébrios, não de vinho, mas do discurso que êste homem fêz ontem; êle falou da Onipotência e ao mesmo tempo da Ordem e concluiu que, como a Onipotência é Divina, do mesmo modo a Ordem também é Divina; e mais ainda: que Deus mesmo é a Ordem; e disse que existem tantas leis da Ordem como verdades na Palavra, que há não somente milhares, mas miríades de miríades; e que Deus está adstrito a Suas leis e o homem às suas; o que é então a Onipotência Divina, se está

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adstrita a leis, pois assim todo absoluto se retira da Onipotência? Deus tem pois menos poder que um Rei no Mundo, que governa só? Este pode virar as leis da justiça como as palmas de suas mãos e agir despoticamente como Otávio Augusto, e mesmo despóticamente como Nero; nós, depois de termos pensado na Onipotência, Divina adstrita a leis, ficamos como ébrios e estamos prestes a desfalecer se não nos trazem prontamente um remédio; com efeito, segundo nossa fé, oramos, a fim de que Deus o Pai tenha piedade de nós por causa de Seu Filho e acreditamos que Éle pode ter piedade de quem lhe agradar e remir os pecados a quem julgue conveniente e salvar a quem quiser; e não ousamos subtrair de Sua Onipotência a menor cousa, por conseguinte, consideramos como um crime ligar Deus com cadeias de alguma& de Suas leis, porque isso nos parece contraditório com Sua Onipotência. Tendo assim falado, êles me encararam e eu os encarei e os vi desvairados, disse: Dirigirei súplicas ao Senhor e trarei um remédio, ilustrando êste assunto; mas no momento será únicamente por exemplos; e disse: Deus Onipotente criou o Mundo segundo a Ordem em SI, assim pela Ordem na qual Ele está e segundo a qual Ele governa, e impôs ao Universo e a todas e cada uma das cousas do Universo, a Sua Ordem; ao homem a sua, aos pássaros e aos peixes a dêles, ao verme a sua, a cada árvore e mesmo a cada haste de erva, a sua; mas para que os exemplos ilustrem êste assunto, vou em poucas palavras dar os seguintes: As leis da Ordem impostas ao homem são, que êle adquira verdades pela Palavra e que pense nelas naturalmente e tanto quanto puder, racionalmente; e que assim procure, a fé natural; neste caso as leis da Ordem da parte de Deus são, que Ele se aproxime, encha com a Sua Divina Luz as verdades e com a Sua Divina Essência a fé natural que é unicamente uma ciência e uma persuasão; assim, e não de outro modo, a fé se torna salvífica; acontece o mesmo com a caridade; mas vamos relatar ligeiramente algumas dessas leis: Deus não pode segundo Suas leis remir os pecados de um homem, senão tanto quanto êste homem desiste dêles segundo as suas; Deus não pode regenerar espiritualmente o homem, senão tanto quanto o homem, segundo suas leis, se regenera naturalmente; Deus está no perpétuo esforço de regenerar e assim salvar o homem, mas não o pode fazer, a menos que o homem se prepare para ser receptáculo e que aplaine assim o caminho de Deus e abra a porta; um noivo não pode entrar no quarto de dormir de uma virgem que ainda não contratou casamento; esta fecha a porta e guarda consigo a chave do lado de dentro; mas depois que a, virgem se tomou noiva, dá a chave ao noivo. Deus não pôde por Sua Onipotência remir os homens, sem que se fizesse Homem; e não pôde tornar Divino Seu Humano sem que Seu I-Iu-, mano fosse a princípio como o Humano de uma criança, depois como o Humano de um adolescente e sem que o Humano se formasse em seguida como receptáculo e como habitáculo no qual entraria o Pai, o que aconteceu por ter cumprido todas as coisas da Palavra, isto é, todas as leis da Ordem que ela contém; e à medida que fazia isto, ia se unindo ao Pai e o Pai se unindo a Ele Mas êstes são apenas muitos poucos exemplos dados para ilustração, a fim de que vejais que a Onipotência Divina está, na Ordem e que Seu govêrno, que é chamado Providência, é segundo as leis de sua Ordem e não pode agir contra essas leis, nem as mudar em um único ponto porque a Ordem com todas as suas leis é Deus Mesmo. Depois destas palavras, um esplendor de luz com uma cor de ouro influiu através do teto e formou no ar querelaras voando; e em seguida, o brilhante de ouro ilustrou as têmporas de alguns dêles do lado do occipute, mas não ainda do lado da fronte; pois diziam muito baixo: Ignoramos ainda o que é a Onipotência; e eu disse: Ela vos será revelada agora que as explicações que acabam de vos ser dadas vos comunicaram alguma luz.

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&74 - Terceiro Memorável: Vi de longe vários espíritos reunidos, tendo bonés na cabeça; uns bonés cercados de uma faixa de sêda, eram da Ordem Eclesiástica; outros bonés cujas bordas eram ornadas com uma faixa de ouro, eram da ordem Civil; todos eram sábios e eruditos; e além disso, vi alguns com tiaras, estes eram ignorantes; aproximei-me e os ouvi falar entre si sobre o Poder Divino ilimitado e dizer que se êle se exercesse segundo certas leis que se tornaram leis da Ordem, êle seria não ilimitado, mas limitado e assim uma potência e não a Onipotência; mas quem não vê necessidade alguma da lei pode constranger a Onipotência a fazer de tal maneira e não de uma outra? Certamente quando levamos nossos pensamentos para a Onipotência e ao mesmo tempo para as leis da Ordem, segundo as quais ela é obrigada a andar, as idéias que tínhamos concebido sobre a Onipotência caem como a mão quando o bastão se quebra. Quando me viram perto dêles, alguns acorreram e me disseram com um tom assaz veemente: Poste tu que circunscreveste Deus nas leis como em cadeias? não é isso uma imprudência extrema? por isso não fizeste também em pedaços a nossa fé sobre a qual está fundada a nossa salvação, no meio da qual colocamos a justiça do Redentor e acima a Onipotência de Deus, o Pai, acrescentando a isso a operação do Espírito Santo e sua eficácia na impotência absoluta em que está o homem para as cousas espirituais, para o que é suficiente falar da plenitude da justificação que está nesta fé pela Onipotência de Deus? mas Babemos que vês inanidade nesta fé porque não há nela cousa alguma da Ordem Divina do lado do homem. Depois de ouvi-los, abri a boca e falando em voz alta, disse: Aprendei as leis da Ordem Divina e em seguida descobri esta fé e vereis uma vasta solidão; e nela o Leviatã tortuoso e oblongo e em torno, rêdes enroladas como em um nó inextrincável; mas fazei como se disse que Alexandre fêz, o qual quando viu o Nó Gordio, tirou a espada, cortou-o em dois, rompeu assim os emaranhados, lançou-o por terra e esmagou os fios sob seu calçado. A estas palavras, êstes Espíritos morderam as línguas, querendo aguçá-las em palavras picantes, mas não ousaram porque viam acima de mim o Céu aberto e ouviam uma voz que de lá dizia: Escutai antes de mais nada com moderação o que é a Ordem segundo as leis da qual Deus Onipotente age; Deus, de Si mesmo, como sendo a Ordem, criou o Universo na Ordem, segundo a Ordem; criou igualmente o homem em quem estabeleceu as leis de Sua Ordem, pelas quais o homem foi feito imagem e semelhança de Deus; o sumário destas leis é que o homem creia em Deus e ame o próximo; e tanto mais faz estas duas cousas pelo poder natural, tanto mais se faz receptáculo da Divina Onipotência e tanto mais Deus se conjunta a êle e o conjunta a Si; por isso sua fé se torna viva e salvífica e o que êle faz se torna caridade, da mesma forma viva e salvífica; mas é necessário que se saiba que Deus está perpètuamente presente e que continuamente faz esforços e age no homem e toca também seu livre-arbítrio sem violá-lo entretanto, pois s,e violasse o livre-arbitrio do homem, a morada do homem em Deus pereceria; não haveria senão a morada de Deus no h<>mem e esta morada está em todos, tanto nos que estão sobre a Terra como nos que estão nos Céus e também nos que estão no inferno, pois é por isso que êles podem, querem e compreendem; mas a morada recíproca do homem em Deus não existe senão naqueles que vivem segundo as leis da Ordem dadas na Palavra; e êstes se tornam imagens e semelhanças de Deus e o paraíso lhes -é dado em possessão e o fruto da árvore da vida por alimento; todos os outros, ao contrário, se reúnem em torno, da árvore da ciência do bem e do mal e aí conversam com a Serpente e comem o fruto dessa árvore, mas em seguida são expulsos do Paraíso; entretanto Deus não os abandona; êles, porém, abandonam a Deus. Os que tinham bonés compreenderam isto e aprovaram; mas os que tinham tiaras o negaram e disseram: A Onipotência não é assim limitada? Ora uma Onipotência limitada é uma contradição.

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Respondi, porém. Não há contradição em agir poderosamente segundo as leis da justiça com julgamento ou segundo as leis inscritas no Amor segundo a Sabedoria; mas é uma contradição, que Deus possa agir contra as leis de Sua Justiça e de Seu Amor e isso seria agir sem julga, mento e sem sabedoria; uma tal contradição está encerrada em vossa fé que pretende que Deus por pura graça pode justificar o injusto, enriquecê-lo, com todos os dons da salvação e das recompensas da vida. Todavia, direi em poucas palavras o que é a Onipotência de Deus: Deus por Sua Onipotência criou o Universo e, ao mesmo tempo, introduziu Sua Ordem em tôdas e cada uma das cousas do Universo; Deus também por Sua Onipotência conserva o Universo e aí mantém a Ordem com suas leis perpètuamente; e quando alguma cousa se escapa da Ordem, Êle a reconduz e a reintegra nela. De mais, Deus pela Sua Onipotência instaurou a Igreja e revelou as leis de sua Ordem na Palavra; e quando a Igreja caiu fora da Ordem, Êle a restaurou; e quando ela caiu totalmente, Êle mesmo desceu ao Mundo; e tomando o Humano se revestiu com a Onipotência e restabeleceu a Igreja. Deus pela Onipotência e também pela Oniciência examina cada um depois da morte e prepara os justos ou as ovelhas para suas moradas no Céu e constrói com êles o Céu e prepara os injustos ou os bodes para suas moradas no inferno e constrói com êles o inferno; e dispõe o Céu e o Inferno em Sociedades e em Congregações segundo tôdas as variedades de seu amor, que no Céu são em tão grande número quanto as estrêlas no firmamento do Mundo; e conjunta em uma as Sociedades do Céu, a fim de que estejam diante d'Ele como um único Homem; e age do mesmo modo com as congregações do Inferno a fim de sejam como um único Diabo e separa estas das outras por um abismo, a fim de que o Inferno não faça violência ao Céu, e a fim de que o Céu não cause tormento ao Inferno; pois tanto quanto o Céu influi, tanto assim são atormentados os que estão no Inferno. Se Deus por Sua Onipotência não fizesse tôdas essas cousas a cada instante, a ferocidade entraria nos homens, a ponto dêles não poderem mais ser contidos pelas leis de nenhuma Ordem; e assim o Gênero Humano pereceria; estas cousas e outras semelhantes aconteceriam se Deus não fosse a Ordem e Onipotente na Ordem. Depois de ter ouvido estas palavras, os que tinham bonés retiraram o boné para debaixo do braço, louvando a Deus, pois naquele Mundo os inteligentes usam bonés; mas os que estão cobertos com tiaras, não são inteligentes porque são calvos e a Calvície significa a estupidez; e êstes se foram para a esquerda, mas os outros se foram para a direita. &75 DA CRIAÇÃO DO UNIVERSO

75 - Pois que no Primeiro Capitulo se tratou de Deus Criador, é preciso também falar da Criação do Universo por Êle, do mesmo modo que no Capítulo seguinte onde será questão do Senhor Redentor, falar-se-á também da Redenção; mas ninguém. pode formar uma idéia justa da Criação do Universo, se alguns conhecimentos gerais dados de ante-mão não põem o entendimento em um estado de percepção; êsses conhecimentos serão os seguintes: I. Há dois Mundos, o Mundo Espiritual onde estão, os Anjos e os Espíritos, e o Mundo Natural onde estão os homens. II. Em um e outro Mundo há um Sol; o Sol do Mundo Espiritual é o puro amor procedente de Jehovah Deus, que está no meio dele; dêsse Sol procede um calor e uma luz; o calor que dele; procede é em sua essência o amor; e a luz que dêle procede é em sua essência a sabedoria; e todos dois afetam a vontade e o entendimento do homem, o calor, a sua vontade e a luz, o seu entendimento; mas o Sol do Mundo Natural é puro fogo e, em conseqüência, o calor que déle procede é morto, igualmente a luz, e êles servem de invólucro e de suporte ao Calor e à Luz espirituais a fim de que penetrem até aos homens.

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111. 0 Calor e a Luz que proceder do Sol do Mundo espiritual e, por conseguinte, tôdas as cousas que lá existem por êles, são substanciais e são chamadas espirituais; o Calor e a Luz que procedem do Sol do Mundo natural e, por conseguinte, tôdas as cousas que aí existem por êles, são materiais e são chamadas naturais. IV. Em um e outro Mundo há três graus que são chamados graus de altura e, por conseguinte, três Regiões, segundo as, quais foram postos em ordem os três Céus angélicos e também, as mentes humanas que assim correspondem a êsses três Céus angélicos; e semelhantemente tôdas as coisas aqui e lá. V. Há uma correspondência entre as cousas que estão no Mundo espiritual as que estão no Mundo natural. VI. Há uma Ordem, na qual tôdas e cada uma das cous,as de um e outro Mundo foram criadas. VII. É absolutamente necessário, antes de mais nada, formar uma idéia dessas noções senão, a Mente humana estando em uma completa ignorância sobre éstes pontos cai facilmente na idéia de que o Universo foi criado pela Natureza e é somente pela Autoridade Eclesiástica que diz que a Natureza foi criada por Deus, mas como não sabe de que modo, se pesquisa interior***missing pages 99 to 108nho desceram e vieram para aqueles que estavam nos prazeres de amores semelhantes; foram para lá e como o seu prazer era um prazer de fazer o mal e que, em seu caminho, tinham feito mal a muitos, foram encarcerados, se tornaram demônios e então seu prazer foi mudado em desprazer, pois pelas penas e pelo medo das penas, foram constrangidos e reprimidos em seu precedente prazer, que constituía sua natureza; e perguntaram aos que estavam na mesma prisão, se deviam viver assim eternamente; e alguns responderam: Estamos aqui há alguns séculos e devemos ficar aqui durante séculos de séculos; pois a natureza que contraímos no Mundo não pode ser mudada nem expulsa pelas penas; e quando é expulsa por elas, sempre depois de um curto espaço de tempo, volta.

&80 - Quinto Memorável. Um dia um Satanás, por permissão, subiu do inferno com uma mulher e se aproximou da casa onde eu estava; tendo-os visto, fechei a janela, não obstante lhes falei através do caixilho e perguntei ao Satanás de onde vinha, ele me disse: Da companhia dos meus semelhantes; e perguntei-lhe donde vinha a mulher; disse: Ela vem de lá igualmente; esta era da quadrilha das Sereias que, por fantasias, sabem tomar todos os exteriores e todas as formas da beleza e da graça; ora se dão a beleza de Vênus, ora a fisionomia decente de uma virgem do Parnaso, ora se ornam de coroas e mantos de Rainhas e caminham com majestade apoiadas em um bastão de prata; tais são no Mundo dos Espíritos as cortesãs; elas se aplicam em operar fantasias; a fantasia se opera pelo pensamento sensual, fechando as idéias que provêm de algum pensamento interior. Perguntei ao Satanás seela era sua esposa; respondeu: 0 que é uma esposa, minha sociedade o ignora também; ela é minha cortesã; e então esta inspirou lascívia ao homem, no que se avantajam, também as Sereias; e logo que recebeu esta inspiração, êle lhe deu um beijo, dizendo: Ah! meu Adonis! Mas tratemos do que é sério. Perguntei ao Satanás qual era a sua função e êle disse: Minha função é a Erudição; não vês um laurel sobre minha cabeça? Adonis, por sua arte compôs esta coroa e m'a compôs por trás E eu disse: Pois que vens de uma cidade onde há academias, dizme, que crês tu e que crêem teus companheiros sobre Deus? Éle replicou: Deus para nós é o Universo, que chamamos também Natureza e que os simples dentre nós chamam Atmosfera, que para êles é o ar, mas que os sábios chamam Atmosfera que também é o Éter; Deus, o Céu, os Anjos e outras cousas seme; lhantes, sobre as quais muitos neste Mundo têm composto uma multidão de contos, são palavras vãs e ficções tiradas de Meteoros que,brincam aqui sob os olhos de vários; todas as coisas que

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se manifestam sobre a Terra não foram criadas pelo Sol? com a sua chegada na primavera, não nascem Vermes com asas e sem elas? e pelo Calor os Pássaros não se entregam mútuamente ao amor e à prolificação? e a Terra aquecida por seu ardor não faz sair das sementes os rebentos e enfim frutos como descendência? assim, o Universo não é Deus e a Natureza Deusa? e como esposa do Universo, não concebe, não cria, não dá à luz e não alimenta? Em seguida, lhe perguntei qual era a sua crença e a de sua Sociedade sobre Religião; respondeu: Para nós que somos mais instruídos do que o vulgo, a Religião nada mais é que um encanto para fascinar a populaça; êste encanto está em torno de cousas sensitivas e imaginárias de sua mente, como uma aura (atmosfera) na qual as idéias de piedade voam como borboletas no ar; e a sua fé, que entrelaça estas idéias em uma espécie de cadeia, é como um bicho da sêda em seu casulo, donde se evola como o rei das borboletas; pois uma comunidade de homens sem instrução gosta das imagens acima do sensual do corpo; por conseguinte, acima dos sensuais do pensamento, no desejo de voar; assim também se fazem asas, a fim de se elevar como águias e de se apresentar com jactância aos habitantes da Terra, para lhes dizer: Eis aqui, sou eu; nós, ao contrário, acreditamos no que vemos e amamos o que tocamos; e então tocou sua companheira e disse: Creio nisto porque vejo e toco; mas lançamos tais brinquedos pela janela e por um sopro repelimos os gracejos. Perguntei, em seguida, qual era a sua crença e a de seus companheiros, sobre o Céu e o Inferno; respondeu com uma gargalhada: 0 que é o Céu, senão o firmamento etéreo em sua altitude; e os Anjos senão manchas errantes em torno do Sol; e os Arcanjos senão comêtas de longas caudas sobre o qual habita seu grupo? e o que é o Inferno, senão pântanos onde as rãs e os crocodilos, em sua fantasia, são os diabos? excetuadas estas idéias sobre o Céu e sobre o inferno, tôdas as outras são futilidades introduzidas por algum Prelado para atrair a glória da parte de um povo ignorante. Mas tôdas estas cousas, êle as pronunciava absolutamente como tinha pensado sobre elas no Mundo, não sabendo que vivia após a morte e tendo esquecido tudo que ouviu quando entrou no Mundo Espiritual; é por isso que, quando o interroguei também sobre a vida depois da morte, respondeu que era uma cousa imaginária (ens, imaginarium); e que talvez algum eflúvio se elevando de um cadáver no túmulo em uma forma como de um homem ou alguma cousa que se chama espectro de que algumas pessoas fazem contos, tinha introduzido uma tal idéia nas fantasias dos homens. A estas palavras não foi mais possível me conter, desatei a rir e disse: Satanás, tu desarrazoas, desarrazoando; o que és tu agora? não és homem na forma? não falas, não vês, não ouves, não caminhas? Recorda-te de que viveste :em um outro Mundo de que não te lembras; e que agora vives depois da morte e que falaste absolutamente como falavas antes; e a recordação lhe foi dada, ele se lembrou e então teve vergonha e exclamou: Eu desarrazoo; vi o Céu acima e ouvi os Anjos dizer aí cousas inefáveis quando eu acabava de chegar aqui; mas agora eu reterei isso para contar aos companheiros que acabo de deixar e talvez então terão, vergonha igualmente; e persistiu em dizer que os chamaria insensatos, mas à medida que descia, o esquecimento expulsava a recordação; e quando chegou, desarrazoou como êles e chamou, loucuras às cousas que me havia ouvido dizer. Tal é o estado do pensamento e da linguagem dos Satanases depois da morte, são chamados Satanases aquêles que em si confirmaram os falsos até à fé; e Diabos aquêles que em si confirmaram os males pela vida.CAPITULO II

&81 Do Senhor Redentor

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81- No Capítulo precedente, tratou-se de Deus Criador e também da Criação; neste Capítulo tratar-se-á do Senhor Redentor e igualmente, da Redenção; e no Capítulo seguinte, do Espírito Santo e da Divina Operação; pelo Senhor Redentor entendemos Jehovah no Humano. Com efeito, que Jehovah mesmo tenha descido e haja tomado o Humano a fim de operar a Redenção, isso será demonstrado nos Artigos que seguem. Se se diz o Senhor e não Jehovah, é porque Jehovah do Antigo Testamento é chamado o Senhor no Novo, como se pode ver por estas passagens: Em Moisés se diz: "Escuta Israel, Jehovah nosso Deus, Jehovah é um; Tu amarás Jehovah teu Deus de todo teu coração e de toda a tua alma'' (Deuter. VI, 4 e 5); e em Marcos: "O Senhor nosso Deus, o Senhor é um; Tu amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e de toda tua alma" (XII, 29 e 30). Depois em Isaías: "Preparai o caminho de Jehovah, aplainai na solidão uma vereda a nosso Deus" (XL, 3); mas em Lucas: "Tu irás adiante da face do Senhor para preparar Seu caminho" (1, 76); e além disso, em outros lugares; e o Senhor ordenou por isso a Seus discípulos que o chamassem de Senhor; e é por isso que Ele foi chamado assim pelos Apóstolos em suas Epístolas e em seguida, pela Igreja Apostólica, como se vê pelo Símbolo dessa Igreja, que se chama Símbolo dos Apóstolos; a razão disso é que os judeus não ousavam nomear Jehovah por causa da santidade; e além disso, por Jehovah entende-se o Divino Ser, que era de toda a ,eternidade; e o Humano que Êle tomou no tempo não é êste Ser; o que é o Divino Ser ou Jehovah, isso foi explicado no Capitulo precedente, ns. 18 a 26, e w. 27 a 35; é por esta razão que aqui e no que segue, pelo Senhor entendemos Jehovah em Seu Humano. Agora, como o conhecimento sobre o Senhor ultrapassa em excelência todos os conhecimentos que existem na Igreja e mesmo todos que estão no Céu, o assunto vai ser disposto em ordem, a fim de que êste conhecimento seja posto na luz; esta ordem será portanto a seguinte:

I - JEHOVAH CRIADOR DO UNIVERSO DESCEU E TOMOU 0 HUMANO PARA REDIMIR E SALVAR OS HOMENS.

II - ÉLE DESCEU COMO DIVINA VERDADE, QUE E' A PALAVRA E, ENTRETANTO, NÃO SEPAROU 0 DIVINO BEM.

III - ÉLE TOMOU 0 HUMANO SEGUNDO SUA ORDEM DIVINA.

IV - 0 HUMANO PELO QUAL ELE SE ENVIOU AO MUNDO É 0 QUE SE CHAMA 0 FILHO DE DEUS.

V - 0 SENHOR PELOS ATOS DA REDENÇÃO SE FÊZ A JUSTIÇA.

VI - PELOS MESMOS ATOS, ELE SE UNIU AO PAI E 0 PAI SE UNIU A ÉLE, TAMBÉM SEGUNDO A ORDEM DIVINA.

VII - ASSIM DEUS FOI FEITO HOMEM; E 0 HOMEM ,DEUS EM UMA ÚNICA PESSOA.

VIII - A PROGRESSAO PARA A UNIAO FOI 0 ESTADO DE SUA EXINANIÇAO; E A UNIAO MESMA FOI 0 ESTADO DE SUA GLORIFICAÇÃO.

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IX - DAI POR DIANTE NINGUÉM ENTRE OS CHRISTÃOS VEM PARA 0 CÉU SENÃO AQUELES QUE CRÊEM NO SENHOR DEUS SALVADOR E SE DIRIGEM A Ele.

Cada uma dessas proposições será explicada em particular.

&82 - I. JEHOVAH DEUS DESCEU E TOMOU 0 HUMANO, PARA REDIMIR E SALVAR OS HOMENS.

Nas Igrejas Christãs, hoje, cré-se que Deus Criador do Universo, engendrou um Filho de toda a eternidade e que êsse Filho desceu e tomou o Humano para redimir e salvar os homens; mas isso é errôneo e cai por si mesmo, desde que se pense que Deus é um; e que, diante da razão, é mais que fabuloso que Deus Um tenha engendrado de toda a -eternidade um Filho; e também que Deus Pai com o Filho e o Espírito Santo, cada um dos quais é separadamente Deus, seja um único Deus; êste fabuloso é inteiramente dissipado como uma estrêla cadente no ar, quando pela Palavra é demonstrado que Jehovah Deus mesmo desceu e se fêz Homem, e também Redentor. Quanto ao primeiro ponto, que o próprio Jehovah Deus desceu e se fêz Homem, vê-se por estas passagens: "Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Deus conosco" (Isaías VII, 14; Mateus I, 22 e 23). "Um menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, sobre seu ombro (estará) o principado e será chamado seu Nome, Admirável, Deus, Herói, Pai da eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5 e 6). "Será dito naquele dia: Eis nosso Deus, Aquêle que temos esperado para que nos salve; Êste é Jehovah que esperávamos, saltemos e regozijemo-nos em sua salvação" (Isaías XXV, 9). "Uma voz que clama no deserto: Preparai o caminho de Jehovah, aplainai na solidão uma vereda para vosso Deus; e êles verão toda carne juntamente" (Isaías XL, 3 e 5). "Eis que o Senhor Jehovah como forte vem e seu braço dominará por Ele eis sua recompensa com Êle; como Pastor apascentará seu rebanho" (Isaías XL, 10 e 11). "Jehovah disse: Sê na jubilação e na alegria, filha de Sião; eis, que venho para habitar no meio de ti; então serão ligadas Nações numerosas a Jehovah naquele dia" (Zacarias 11, 10 e 11). "Eu Jehovah te chamei em Justiça e te darei por aliança do povo; Eu, Jehovah é o meu nome, e minha glória a um outro não darei" (Isaías XLII, 1, 6, 7, 8). "Eis os dias que vêm em que suscitarei a David um germe justo, que reinará Rei e fará julgamento e justiça na Terra; e é êste seu nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5 e 6; XXXIII, 15 e 16). E além disso, nas passagens onde o advento do Senhor é chamado o Dia de Jehovah, como Isaías XIII, 6, 9, 13, 22; Ezequiel XXXI, 15; Joel 1, 15; 11, 1, 2, 11; 111, 2 e 4; IV 1, 14, 18; Anos V, 13, 18, 20; Sefonias 1, 7 a 18; Zacarias XIV, 1, 4 a 21, e em outros lugares. Que Jehovah mesmo tenha descido e tomado o Humano, vê-,se claramente em Lucas, onde estão estas palavras: "Maria disse ao Anjo: Como será isto, pois que não conheço homem? 0 Anjo respondeu: Um Espírito Santo virá sobre ti e uma virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, por isso o Santo que nascerá de ti, será chamado Filho de Deus" (I, 34 e 35). E em Mateus: "Um Anjo disse em sonhos a José, marido de Maria: o que nela está gerado é do Espírito Santo; e José não a conheceu até que ela deu à luz seu Filho e chamou seu nome Jesus" (1, 20 e 25). Que pelo Espírito Santo seja entendido o Divino que procede de Jehovah Deus, ver-se-á no Terceiro Capítulo desta Obra. Quem não sabe que é pelo Pai que a criança tem a Alma e a Vida e que é pela Alma que o Corpo existe? Há, portanto, alguma cousa que seja mais clara, do que dizer que o Senhor teve de Jehovah Deus a Alma e a Vida e que, visto que o Divino não pode ser

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dividido, o próprio Divino do Pai era a Alma e a Vida do Senhor? é por isso que o Senhor chamou tantas vêzes Jehovah Deus Seu Pai e que Jehovah Deus 0 chamou Seu Filho. Que pode pois haver de mais ridículo do que ouvir dizer que a Alma de nosso Senhor veio de Maria sua mãe, assim como o sonham hoje os Católicos Romanos e os Reformados, sem que a Palavra os tenha ainda tirado desse sonho?

&83 - Que um Filho nascido de toda a eternidade tenha descido e haja tomado o Humano, é isso um êrro completo que cai e é dissipado pelas passagens da Palavra, nas quais o próprio Jehovah disse que Êle é o Salvador e o Redentor; eis essas passagens: "Não sou Eu, Jehovah, e há outro Deus fora de mim? Há outro Deus Justo e Salvador senão Eu?" (Isaías XLV, 21 e 22). "Eu sou Jehovah teu Deus, e Deus além de Mim tu não reconhecerás; e Salvador não há senão eu" (Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu sou Jehovah teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; LX, 16). "Quanto a nosso Redentor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Isaías XLVII, 4). "0 meu Redentor forte, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Jeremias L, 34). "0' Jehovah, minha Rocha e meu Redentor" (Ps. 19, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIII, 14; XLIX, 7). "Assim disse Jehovah teu Redentor: Eu Jehovah fiz tôdas as cousas e só por mim mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim disse Jehovah, o Rei de Israel, e seu Redentor Jehovah Sebaoth: Eu sou o Primeiro e o último, e exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Jehovah, Tu nosso Pai, nosso Redentor desde o século (é) o teu Nome" (Isaías LXIII, 16). "Com uma misericórdia de eternidade terei compaixão de ti, assim disse teu Redentor Jehovah" (Isaías LIV, 8). "Tu me redimiste, ó Jehovah (Deus) de verdade" (Ps. 31, 6). "Que Israel espere em Jehovah, porque com Jehovah (está) a misericórdia, em abundância com Ele Redenção; êle mesmo redimirá Israel e tôdas as suas iniqüidades" (Ps. 130, 7 e 8). "Jehovah Deus e teu Redentor, o Santo de Israel, Deus de toda terra será chamado" (Isaías LIV, 5). Por estas passagens e muitas outras, todo homem que tem olhos e cuja mente foi aberta pelos olhos, pode ver que Deus é Um, desceu e foi feito Homem, com o fim de operar a Redenção; há uni homem que não possa ver isso, como na luz da manhã, quando presta atenção a tôdas essas sentenças Divinas que acabam de ser referidas? mas quanto aos que estão na sombra da noite pelas confirmações sobre o nascimento de um outro Deus de toda eternidade e sobre sua descida e sua Redenção, fecham as pálpebras diante dessas Divinas sentenças; e sob as pálpebras pensam na maneira de aplicar essas sentenças a seus falsos e pervertê-las.

&84 - Que Deus não tenha podido redimir os homens, isto é, retirá-los da danação e do Inferno, sem tomar o Humano, há para isso várias causas, que serão desvendadas em série, no que segue; com efeito, a Redenção foi a subjugação dos infernos e a Ordenação dos Céus e depois disso a instauração da Igreja; Deus por Sua Onipotência não podia executar essas operações senão pelo Humano, do mesmo que ninguém pode operar cousa alguma, a menos que tenha um braço, por isso o Humano de Deus é chamado na Palavra o Braço de Jehovah (Isaías XL, 10; LIII, 1); do mesmo modo que ninguém pode atacar uma cidade fortificada e aí destruir os templos dos ídolos, senão por Forças que servem de meios; que Deus nesta obra Divina tenha tido a Onipotência por Seu Humano é ainda evidente pela Palavra; com efeito, Deus que está nos íntimos e assim nas coisas mais puras, não podia passar de outro modo até aos últimos, nos quais estão os Infernos e nos quais estavam os homens dessa época; do mesmo modo que a alma nada pode fazer sem o corpo ou do mesmo -modo que ninguém pode vencer os inimigos que não vêm à sua presença, ou para

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os quais êle não pode ir nem se aproximar com armas, tais como lanças, escudos ou fuzis; era por isso impossível a Deus operar a Redenção sem o Humano, como seria impossível a um homem subjugar os Indianos sem transportar para seus países soldados em navios ou como seria impossível fazer crescer árvores só pelo calor e a luz, se o ar pelo qual passam o calor e a luz e se a terra da qual elas saem, não tivessem sido criados; e mesmo tão impossíveis como lançar rêdes no ar e não na água, e aí apanhar peixes; com efeito, Jehovah, tal como é em Si mesmo, não pode por Sua onipotência atingir diabo algum no Inferno, nem diabo algum na Terra, nem moderá-lo, nem acalmar seu furor, nem domar sua violência, se não estiver nos últimos como está nos primeiros; Êle está nos últimos em Seu Humano, por isso é chamado na Palavra o Primeiro e o último, o Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim.

&85 - II. E JEHOVAH DEUS DESCEU COMO DIVINO VERO, QUE E' A PALAVRA E, ENTRETANTO, NÃO SEPAROU 0 DIVINO BEM.Há duas cousas que constituem a Essência de Deus, a saber, o Divino Amor e a Divina Sabedoria, ou, o que dá no mesmo, o Divino Bem e o Divino Vero; que a Essência de Deus seja composta, dessas duas cousas, é o que foi demonstrado acima, ns. 36 a 48. Essas duas cousas na Palavra são entendidas também por Jehovah Deus; por Jehovah, o Divino Amor ou o Divino Bem, e por Deus, a Divina Sabedoria ou o Divino Vero; dai vem que na Palavra os dois são distinguidos de diversas maneiras; ora Jehovah só é nomeado, ora Deus só, pois onde se trata do Divino Bem, aí se diz Jehovah; onde se trata do Divino Vero se diz Deus, onde se trata de um e de outro, aí se diz Jehovah Deus. Que Jehovah Deus tenha descido como Divino Vero, que é a Palavra, vê-se em João por esta passagem: "No comêço era a Palavra e a Palavra estava com Deus; e Deus era a Palavra; tôdas as cousãs por Ela foram feitas e sem Ela não foi feito nada do que se fêz. E a Palavra carne foi feita e habitou entre nós" (1, 1, 3, 14). Se pela Palavra nesta passagem é entendido o Divino Vero, é porque a Palavra, que está na Igreja, é o próprio Divino Vero, pois foi ditada pelo próprio Jehovah; e o que é ditado por Jehovah é puramente o Divino Vero e não pode ser outra cousa; mas como a Palavra atravessou os Céus para chegar até ao Mundo, ela foi adaptada à concepção dos Anjos no Céu, e também à dos homens no Mundo; daí haver na Palavra um sentido espiritual, no qual o Divino Vero está na luz; e um sentido natural no qual o Divino Vero está na sombra; é por isso que o Divino Vero nesta Palavra é o que é entendido em João; isto é ainda mais evidente pelo fato do Senhor vir ao Mundo para cumprir todas as coisas da Palavra; por isso se lê (na Palavra) tão freqüentemente que tal ou tal cousa Lhe aconteceu a fim de que a Escritura fosse cumprida. Tampouco não é entendida outra cousa senão o Divino Vero pelo Messias ou o Christo, nem outra cousa pelo Filho do Homem, nem outra cousa pelo Paracelso, o Espírito Santo, que o Senhor enviou depois de Sua salda dêste Mundo. Que na transfiguração diante dos três discípulos sobre a montanha - Mateus XVII; Marcos IX; e Lucas IX - e também diante de João no Apocalipse - 1, 12 a 16 - Êle se tenha representado como sendo esta Palavra, é o que se verá no Capítulo sobre a Escritura Santa. Que o Senhor no Mundo tenha sido o Divino Vero, isso é evidente por Suas próprias palavras: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (João XIV, 6), e por estas: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu a entendimento, a fim de que conhecêssemos a Verdade; e estamos na Verdade, em Seu Filho Jesus Christo; Êle é o verdadeiro Deus e a Vida eterna (João I, Epístola V, 20 e 21). E também pelo fato d'Éle ser chamado a Luz, como nestas passagens: "Ele era a Verdadeira Luz, que ilumina todo homem vindo ao Mundo" (João 1, 4 e 9). "Jesus disse: Ainda por um pouco de tempo

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a Luz está convosco; caminhai enquanto tendes a Luz, de modo que as trevas não vos surpreendam; enquanto tendes a Luz, créde na Luz, a fim de que sejais filhos da Luz" (João XII, 35, 36 e 46). "Eu sou a Luz do Mundo" (João IX, 5). "Simão disse: Meus olhos viram a tua Salvação, Luz para a revelação das nações" (Lucas 11, 30 a 32). "E' êste o julgamento, que a Luz veio ao Mundo. Aquêle que faz a Verdade, vem à Luz" (João III, 19 e 21), e em outros lugares pela Luz é entendido o Divino Vero.

&86 - Se Jehovah Deus desceu ao Mundo como Divino Vero, foi para operar a Redenção; ora a Redenção foi a subjugação dos Infernos e a ordenação dos Céus, e depois disso a instauração da Igreja; não é o Divino Bem que pode fazer essas operações, mas é o Divino Vero segundo o Divino Bem; o Divino Bem considerado em si mesmo é como o punho arredondado de uma espada, como um pau rombudo ou como um arco sem flechas, mas o Divino Vero segundo o Divino Bem é como uma espada aguda, como um dardo acerado e como um arco com flechas, armas que são fortes contra os inimigos; pelas espadas, os dardos e os arcos, são por isso entendidos, no sentido espiritual da Palavra, ou veros que combatem; veja-se o Apocalipse Revelado ns. 52, 299 e 436 onde isso foi demonstrado; e não é senão pelo Divino Vero segundo a Palavra, que os falsos e os males, nos quais esteve e está continuamente todo o Inferno, puderam ser combatidos, vencidos e subjugados; nem por outra cousa pôde ser fundado, formado e posto em ordem o novo Céu, que então também foi feito; nem por outra cousa pôde ser instaurada uma nova Igreja nas Terras; além disso, todo vigor, toda força e toda potência de Deus pertencem ao Divino Vero segunda o Divino Bem. Eis a razão pela qual Jehovah Deus desceu como Divino Vero que é a Palavra; por isso se diz em David: "Cinge tua espada à tua coxa, 6 Poderoso; e em tua honra monta; cavalga sobre a Palavra de Verdade; a tua direita Te ensinará maravilhas; teus dardos são acerados, teus inimigos cairão debaixo de ti" (Ps. 3, 4, 5); estas palavras foram ditas do Senhor e de Seus combates contra os Infernos, e das vitórias que alcançou sobre êles.

&87 - 0 que é o Bem sem o Vero e o que é o Vero segundo o Bem, vê-se claramente pelo homem; todo seu Bem reside na Vontade e todo seu Vero no Entendimento; e a vontade não pode por seu bem fazer cousa alguma senão pelo Entendimento; não pode operar, não pode falar, não pode sentir; toda sua força e todo seu poder existem pelo entendimento, em conseqüência pelo vero, pois o entendimento é o habitáculo do vero. Dá-se com isso conforme a operação do Coração e do Pulmão no Corpo; o Coração sem a respiração do Pulmão não produz movimento algum, nem sentimento algum, mas a respiração do Pulmão produz um e outro segundo o Coração, -a que é evidente pelos desfalecimentos daqueles que são sufocados ou mergulhados na água, nos quais cessa a respiração, a atividade sistólica do coração persistindo ainda; que êstes não tenham nem movimento nem sentimento, isso é notório; a mesma cousa acontece com os embriões no seio de sua mãe; isto provém de que o coração correspondendo à Vontade e aos bens da Vontade; e o Pulmão ao Entendimento e aos veros do entendimento. No Mundo espiritual a potência do vero é sobretudo notável; ainda que o Anjo que está pelo Senhor nos Divinos Veros seja fraco quanto ao corpo como um menino, ele pode entretanto pôr em fuga uma tropa de espíritos infernais, que aparecem como Enakim e Nefilim, isto é, como Gigantes; e persegui-los até ao Inferno e aí precipitá-los em cavernas; quando saem daí não ousam se aproximar de um Anjo. Os que estão nos Divinos Veros pelo Senhor são nesse Mundo como leões, ainda que quanto ao corpo não tenham mais força do que ovelhas. Acontece o

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mesmo com os homens que estão nos veros pelo Senhor, contra os males e os falsos, por conseqüência contra falanges de diabos que, considerados em sua essência não são outra cousa mais que males e falsos. Se há no Divino Vero uma tal força é porque Deus é o Bem mesmo e o Vero mesmo; e que êste criou o Universo pelo Divino Vero; e que tôdas as leis da Ordem, pelas quais conserva o Universo, são verdades; é por isso que se diz em João: "que pela Palavra tôdas as coisas foram feitas e que, sem Ela, não foi feito nada do que foi feito" (1, 3 e 10); e em David: "Pela Palavra de Jehovah os Céus foram feitos, e pelo Espírito de Sua boca todo seu exército" (Ps. 31.°, 6).

&88 - Que Deus ainda que tenha descido como Divino Vero, não tenha, entretanto, separado o Divino Bem, vê-se pela Concepção, a respeito da qual se diz que a virtude do Altíssimo cobriu Maria com sua sombra (Lucas 1, 35); ora, pela virtude do Altíssimo é entendido o Divino Bem; vê-se ainda pelas passagens onde o próprio Senhor diz que o Pai está n'Êle e que Êle está no Pai, que tudo o que é do Pai é d'Êle, que o Pai e Êle são Um; e em várias outras passagens, pelo Pai, é entendido o Divino Bem.

&89 - III. DEUS TOMOU 0 HUMANO SEGUNDO SUA ORDEM DIVINA.No parágrafo sobre a Divina Onipotência e a Divina Onisciência, foi mostrado que Deus com a Criação introduziu a Ordem tanto no Universo como em tôdas e cada uma das cousas que o compõem; e que é por isso que a Onipotência de Deus no Universo e em tôdas e cada uma das cousas do Universo, procede e opera segundo as leis de Sua Ordem, de que se tratou acima em série, ns. 49 a 74. Agora, pois que Deus desceu e que Ele mesmo é a Ordem, assim como já foi demonstrado, não pôde, para se tornar também Homem em atualidade, fazer outra coisa senão ser concebido, ser conduzido em um útero, nascer, ser educado, aprender sucessivamente as ciências e ser por elas introduzido na inteligência e na sabedoria; é por isso que, quanto ao Humano, Éle foi criancinha como uma criancinha, menino como um menino, e assim por diante, com a única diferença que concluiu esta progressão mais ràpidamente, mais plenamente e mais perfeitamente que os outras; que tenha assim progredido segundo a Ordem, vê-se por estas palavras em Lucas: "o menino Jesus crescia e se fortificava em espírito e avançava em sabedoria, em idade e em graça para com Deus e os homens" (11, 40 e 52); que foi mais ràpidamente, mais plenamente e mais perfeitamente que os outros, vê-se pelo que é dito d'Ele no mesmo Evangelista, por exemplo, que "quando Êle tinha doze anos, assentou-se no Templo no meio dos Doutores e ensinava; e que todos os que o escutavam estavam admirados de Sua inteligência e de Suas respostas" (11, 46 e 47); e em seguida (IV, 16 a 22 e 32). Isto foi feito assim porque a Ordem Divina é que o homem se prepare a si mesmo para a recepção de Deus; e que, conforme se prepara, Deus -entre nêle como em Seu habitáculo e em Sua casa; e esta preparação se faz pelos conhecimentos sobre Deus e sobre os espirituais que pertencem à Igreja, e assim pela inteligência e pela sabedoria; pois a Lei da Ordem é que, quanto mais o homem vai para Deus e se aproxima d'Ele, o que deve fazer absolutamente como por si mesmo, tanto mais Deus vem, ao homem e se aproxima dêle e se conjunta a ele no meio dêle; que o Senhor tenha progredido segundo esta Ordem até à união com Seu Pai, é o que será demonstrado mais amplamente na continuação.

&90 - Os que não sabem que a Divina Onipotência procede e opera segundo a Ordem, podem fazer nascer de sua fantasia várias questões opostas e contrárias à sã razão; por exemplo, por que Deus não tomou imediatamente o Humano sem uma tal progressão? por

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que não criou ou compôs um Corpo com elementos tirados das quatro plagas do Mundo e não se mostrou assim como Deus-Homem diante do povo Judeu e mesmo diante do Mundo inteiro? ou: Se queria nascer, por que não infundiu todo Seu Divino n'Êle quando ainda era embrião ou quando era criancinha? ou: Por que, depois de ter nascido, não tomou imediatamente a estatura de um adulto e não falou desde logo pela Divina Sabedoria? E' assim que aqueles que pensam na Di-vina Onipotência sem a Ordem, podem conceber e dar à luz tais questões e outras semelhantes e encher desta maneira a, Igreja de loucuras e futilidades; é mesmo o que foi feito; assim pretende-se que Deus pôde engendrar um Filho de toda a eternidade e fazer que um Terceiro Deus procedesse também d'Ele e do Filho então; que Deus pôde se encolerizar contra o Gênero Humano, entregandoo à execração e querer ser reconduzido à misericórdia pelo Filho e isso pela intercessão e a lembrança da, cruz; que além disso quis pôr no homem a justiça de Seu Filho e introduzi-Ia em seu coração como uma substância simples de Wolf, na qual, assim como êste mesmo autor o diz, estão tôdas as cousas do mérito do Filho, mas que não pode ser dividida porque se é dividida, se reduz a nada; e que além disso, pode, como uma Bula do Papa, redimir os pecados a quem quiser ou purificar inteiramente o ímpio de seus males medonhos e, assim, de preto como um -diabo, torná-lo resplandecente como um Anjo. de luz, sem que o homem se mova mais do que uma pedra ou enquanto se mantém como uma estátua ou como um ídolo; além, de várias outras loucuras, que aqueles que estabelecem uma Divina Potência absoluta sem o conhecimento e sem o reconhecimento de nenhuma ordem, podem espalhar como uma joeira espalha a gluma no ar; êstes, nas cousas espirituais que pertencem ao Céu e à Igreja, e por conseguinte, à vida eterna, podem se afastar dos veros Divinos e se extraviar como um cego em uma floresta, que ora cai sobre pedras, ora fere a fronte contra uma árvore, ora fica com os cabelos presos nos galhos.

&91 - Os Milagres Divinos também foram feitos segunda a Ordem Divina, mas segundo A ORDEM DO INFLUXO DO MUNDO ESPIRITUAL NO MUNDO NATURAL. Ordem de que ninguém até ao presente soube alguma cousa porque ninguém sabe nada do Mundo espiritual; mas qual é esta Ordem, é o que será manifestado a seu tempo, quando se tratar dos Milagres Divinos e dos Milagres mágicos.

&92 - IV. 0 HUMANO PELO QUAL DEUS SE ENVIOU AO MUNDO, E' 0 FILHO DE DEUS.

O Senhor disse muitas vêzes que o Pai o enviou, e que ele foi enviado pelo Pai, por exemplo: Mateus X, 40; XV, 24; João, 111, 17, 34; V, 23, 24, 36, 37, 38; VI, 29, 39, 40, 44, 57; VII, 16, 19, 29, 42; IX, 4; e muitas vêzes, em outros lugares, disse isso por que por ser enviado ao Mundo, entende-se descer e vir entre as homens e isso foi feito pelo Humano que Èle tomou pela Virgem Maria; e portanto êste Humano é na realidade o Filho de Deus, porque foi concebido de Jehovah Deus como Pai, segundo Lucas 1, 32, 35. Foi chamado Filho de Deus, Filho da homem e Filho de Maria; e por Filho de Deus, é entendido Jehovah Deus em Seu Humano, por Filho do homem o Senhor quanto à Palavra e por Filho de Maria propriamente o Humano que Ele tomou; que o Filho de Deus e o Filho do homem tenham essas duas significações, é o que será demonstrado no que segue; que o Filho de Maria signifique propriamente o Humano, vê-se com evidência pela geração dos homens, em que- do pai vem a alma e da mãe, o corpo; com efeito, a alma está na semente do pai e é revestida com um corpo na mãe; ou, o que é a mesma cousa, todo espiritual que está no

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homem vem do pai e tudo que é material lhe vem da mãe; quanto ao Senhor, o Divino que estava n'Ele vinha de Jehovah Pai e o Humano vinha da mãe; êstes dois unidos são o Filho de Deus; que isto seja assim vê-se claramente pela natividade do Senhor, da qual assim se fala em Lucas: "0 Anjo Gabriel disse a Maria: Um Espírito Santo virá sobre ti, e uma virtude do Altíssimo te ensombrará, por isso o que nascer de ti, Santo, será chamado Filho de Deus" (I, 35). 0 Senhor se chamou o Enviado do Pai, também por esta razão que, pelo Enviado, é significada a mesma coisa que pelo Anjo, pois o Anjo na língua original é o Enviado, com efeito, se diz em Isaías: "0 Anjo das faces de Jehovah os libertou; por causa de seu amor e de sua clemência Éle os redimiu" (LXIII, 9); e em Malaquias: "Imediatamente virá a Seu templo o Senhor que procurais e o Anjo da Aliança que desejais" (111, 1); e em outros lugares. Que a Divina Trindade, Deus Pai, Filho e Espírito Santo esteja no Senhor, e que n'Éle o Pai seja o Divino A QUO (de que tudo procede), o Filho o Divino Humano, e o Espírito Santo o Divino Procedente, ver-se-á no Capítulo III desta Obra, onde ,se tratará da Divina Trindade.

&93 - 0 Anjo Gabriel tendo dito a Maria que o Santo que nasceria dela seria chamado Filho de Deus, as passagens seguintes tiradas da Palavra vão mostrar que o Senhor quanto ao Humano é chamado o Santo de Israel: "Vendo eu estava em visões, e eis, o Vigilante e o Santo que descia do Céu" (Daniel IV, 10, 20). "Deus de Teman virá; e o Santo, da montanha de Paran" (Habac. 111, 3). "Eu sou Jehovah o Santo, o Criador de Israel, vosso Santo" (Isaías XLIII, 11, 15). "Assim disse Jehovah, o Redentor de Israel, seu Santo" (Isaías XLIX, 7). "Eu sou Jehovah teu Deus, o Santo de Israel teu Salvador" (Isaías XLIII, 1, 3). "Quanto a nosso Redentor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome, 0 Santo de Israel" (Isaías XLVII, 4). "Assim disse Jehovah vosso Redentor, o Santo de Israel" (Isaías XLIII, 14; XLVIII, 17). "Jehovah Sebaoth (é) Seu Nome, e teu Redentor o Santo de Israel" (Isaías, LIV, 5). "Éles tentaram Deus e o Santo de Israel" (Ps. 78, 41). "Eles abandonaram Jehovah e provocaram o Santo de Israel" (Isaías 1, 4). "Éles disseram: Fazei cessar de diante de nossas faces o Santo de Israel; é porque assim disse o Santo de Israel" (Isaías XXX, 11, 12). "Eles dizem: Que apresse sua obra para que vejamos e que avance e venha o conselho do Santo de Israel" (Isaías V, 19). "Nesse dia êles se apoiarão sobre Jehovah, o Santo de Israel" (Isaías X, 20). "Escreve e sê contente, filho de Sião porque grande (é) no meio de ti o Santo de Israel" (Isaías XII, 6). "Palavra do Deus de Israel: Nesse dia, seus olhos para o Santo de Israel olharão" (Isaías XVII, 7). "Os indigentes dentre os homens no Santo de Israel se alegrarão" (Isaías XIX, 19; XLI, 16). "A Terra está cheia de delito contra o Santo de Israel" (Jeremias LI, 16). E além disso: Isaías LV; LX, 9 e em outros lugares. Pelo Santo de Israel é entendido o Senhor quanto ao Divino Humano, pois o Anjo disse a Maria: "0 Santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus" (Lucas 1, 35). Que Jehovah e o Santo de Israel sejam um, embora sejam citados separadamente, pode-se ver também pelas passagens que acabam de ser referidas em que Jehovah é este Santo de Israel. Que o Senhor seja chamado o Deus de Israel, vê-se também por um grande número de passagens, por exemplo: Isaías XVII, 6; XXI, 10, 17; XXIV, 15; XXIX, 23; Jeremias VII, 3; IX, 14; XI, 3; XIII, 12; XVI, 9; XIX, 3; XXIII, 2; XXIV, 5; XXV, 15, 27; XXIX, 2, 8, 21, 25; XXX, 2; XXXI, 23; XXXII, 14, 15, 36; XXXIII, 4; XXXIV, 2, 13; XXXV, 13, 17, 18, 19; XXXVII, 7; XXXVIII, 17; XXXIX, 16; XLII, 9, 15, 18; XLIII, 10; XLIV, 2, 7, 11, 25; XLVIII, 1; L, 18; LI, 33; Ezequiel VIII, 4; IX, 3; X, 19, 20; XI, 22; XLIII, 2; XLIV, 2; Sofonias 11, 9; Salmos 41, 14; 59, 6; 68, 9.

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&94 - Nas Igrejas Christãs de hoje chama-se comumente nosso Senhor de Filho de Maria e raramente Filho de Deus, a não ser que então se entenda o Filho de Deus nascido de toda a eternidade; isto provém de que os católicos romanos santificaram acima de tôdas as outras, Maria Mãe, e a colocaram como Deusa ou como Rainha à testa de todos os santos, quando entretanto Senhor quando glorificou Seu Humano, despojou-se de tudo que tinha de Maria e revestiu-se de tudo que pertencia ao Pai, que será plenamente demonstrado na continuação desta Obra. Dêste nome comum de Filho de Maria, que está na boca de todos, fluíram na Igreja várias enormidades, sobretudo entre aqueles que não submeteram à reflexão o que o Senhor disse na Palavra, por exemplo: que o Pai e Éle são um; que Éle está no Pai e que o Pai está n'Ele; que tudo que é do Pai é d'Êle; que Êle mesmo chamou Jehovah Seu Pai; e que Jehovah 0 chamou Seu Filho. As Enormidades que fluíram na Igreja pelo fato de aí se chamar o Senhor de Filho de Maria e não Filho de Deus, são, que, a respeito do Senhor, a idéia de Divindade perece e com ela tudo que, na Palavra, foi dito d'Êle como Filho de Deus; e que por aí entram o Judaísmo, o Arianismo, o Socinianismo, o Calvinismo tal como foi no comêço, enfim o Naturalismo; e com o naturalismo a idéia fanática de que o Filho de Maria vinha de José, que Sua Alma vinha de Sua mãe e que assim Ele é chamado Filho de Deus e não o é; que cada um se consulte, seja eclesiástico, seja leigo e que examine se concebeu e se manteve uma idéia do Senhor como Filho de Maria que não fosse a de um simples homem. Como uma tal idéia tinha, já no terceiro século, começado a prevalecer entre os christãos quando os Arianos se levantaram, é por isso que o Concílio de Nicéa, a fim de reivindicar para o Senhor a Divindade, supôs um Filho de Deus nascido de toda a eternidade e por esta ficção o Humano do Senhor era então, elevado para Deus; e Êle o é também por muitos, mas não entre aqueles que pela união hipostática entendem a união como entre dois, dos quais um está acima e o outro está embaixo. Mas o que resulta daí senão que toda a Igreja Christã perece, ela que foi fundada únicamente sobre o culto de Jehovah no Humano, por conseqüência sobre Deus-Homem; que ninguém possa ver o Pai nem 0 conhecer, nem vir a Êle, nem crêr n'Ele, a não ser por Seu Humano, é o que o Senhor declara em grande número de passagens; se isso não tem lugar, toda semente nobre da Igreja é mudada em semente ignóbil: a semente da oliveira em semente de pinheiro; a semente da laranjeira, do limoeiro, da macieira, da pereira, em semente de salgueiro, de olmeiro, de tilia, de azinheiro; a cêpa, em junco do pântano, o trigo e a cevada, em palha; e mesmo todo alimento espiritual se torna como o pó de que se nutrem as serpentes; pois no homem a luz espiritual se torna uma luz natural e, enfim, sensual, corporal, que, considerada em si mesma, é uma luz fantástica; mais ainda: o homem torna-se como um pássaro que, quando está voando no ar, sendo de repente privado de suas asas, cai sobre a terra onde, caminhando, não vê mais em torno dêle senão o que está diante de seus pés; e então sobre os espirituais da Igreja, que devem ser para a vida eterna, este homem não pensa de modo diferente de um adivinho; eis o que acontece, quando o homem considera o Senhor Deus Redentor e Salvador como simples Filho de Maria, por conseqüência como um simples homem.

&95 - V. 0 SENHOR PELOS ATOS DA REDENÇÃO SE FÊZ JUSTIÇA.Diz-se e cré-se hoje nas Igrejas Christãs que o mérito e a justiça pertencem ao Senhor só pela obediência que mostrou a Deus Pai, no Mundo; e sobretudo pela paixão da cruz; mas pensou-se que a paixão da cruz foi o ato mesmo da redenção, quando, entretanto, esta paixão foi não o ato da redenção, mas o ato da glorificação do Humano do Senhor, como se verá no Lema seguinte sobre a Redenção; os atos da Redenção pelos quais o Senhor se fêz

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a Justiça, consistiram em que Ele realizou o Julgamento Final que foi feito no Mundo Espiritual, e que então Ele separou os maus dentre os bons e os bodes, das ovelhas, expulsou do Céu os que faziam um com as bêstas do dragão, fundou um novo Céu com aqueles que eram dignos e um Inferno com aqueles que não eram dignos; e repôs sucessivamente tôdas as cousas em ordem de uma parte e de outra; e além disso, instaurou uma Nova Igreja; êstes atos foram os atos da Redenção, pelos quais o Senhor se fêz a Justiça; com efeito, a Justiça siste em fazer tôdas as cousas segundo a Ordem Divina e em repor na ordem aqueles que se escaparam da ordem, pois a Ordes Divina mesma é a Justiça. E' isto que se entende por estas palavras do Senhor: "Convém-me cumprir toda a Justiça de Deus" (Mateus 111, 15); e por estas, no Antigo Testamento. "Eis os dias que vêm e eu suscitarei a David um Germe Justo, que reinará Rei e fará Justiça na Terra; e eis seu Nome, Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6; XXXIII, 15, 16). "Eu falo em Justiça grande para salvar" (Isaías, LXIII, 1). "Êle estará sentado sobre o trono de David, para o reafirmar em Julgamento e Justiça" (Isaías IX, 6). "Sião será resgatada em Justiça'' (Isaías 1,27).

&96 - Em nossos dias aqueles que ocupam o primeiro plano na Igreja descrevem de modo inteiramente diferente a Justiça do Senhor; e além disso, por sua inscrição no homem fazem sua fé salvífica, quando entretanto a verdade é que a Justiça do Senhor, sendo tal, vindo dai e sendo, em si mesma, puramente Divina, não pode ser conjunta a homem algum, nem por conseqüência, produzir salvação alguma, mais do que a Vida Divina, que é o Divino Amor e a Divina Sabedoria; o Senhor entra em cada homem com êste Amor e esta Sabedoria, todavia se o homem não vive segundo a Ordem, esta Vida aí está, na verdade, mas nada serve absolutamente para a salvação. Dá somente a faculdade de compreender o vero e de fazer o bem. Viver segundo a Ordem é viver segundo os preceitos de Deus; e quando um homem vive e age assim, adquire a justiça; não a justiça da redenção do Senhor, mas o Senhor mesmo como Justiça; são esses que são entendidos por estas palavras: "Se vossa justiça não ultrapassa a dos Escribas e Fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus" (Mateus V, 20). "Bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da Justiça, porque dêles é o Reino dos Céus" (Mateus V, 10). "Na consumação dos séculos sairão os Anjos e separarão os maus do meio dos Justos" (Mateus XIII, 49); e em outros lugares: pelos Justos na Palavra são entendidos aqueles que viveram segundo a Ordem Divina, pois que a Ordem Divina é a Justiça. A Justiça mesma em que se tornou o Senhor pelos atos da Redenção, não pode ser atribuída, inscrita, adaptada nem conjunta ao homem, senão como a luz ao olho, o som ao ouvido, a vontade aos músculos daquele que age, o pensamento aos lábios daquele! que fala, o ar ao pulmão que respira, o calor ao sangue, e assim de resto; que estas cousas influem e se adjuntam em vez de se conjuntarem, cada um pode perceber por si mesmo. Mas a justiça é adquirida tanto quanto o homem exerce a Justiça e esta, tanto quanto age em relação ao próximo segundo o amor do justo e do vero; no homem mesmo, ou no uso mesmo que ele faz, habita a justiça; com efeito, o Senhor disse que toda árvore é conhecida por seus frutos; qual é o homem que não conhece um outro homem por suas obras, se examina atentamente com que fim e em que desígnio da vontade, por qual intenção e por quais causas elas são feitas? Todos os Anjos e todos os sábios em nosso Mundo se entregam a êste exame; em geral, toda erva e todo germe saindo da terra é conhecido pela sua flor e sua semente; tudo, enfim, é conhecido pela sua espécie ou qualidade, como sejam, a pedra, o campo, o alimento, o animal da terra e todo pássaro do Céu. Por que, então, o homem não o seria nas mesmas condições? Porém, quanto à qualidade das obras do homem, donde vem, isso será desvendado no Capítulo sobre a Fé.

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&97 - VI. 0 SENHOR PELOS MESMOS ATOS SE UNIU AO PAI E 0 PAI SE UNIU A ÊLE.Se a união foi f feita pelos atos da Redenção, é porque o Senhor os operou segundo Seu Humano; e à medida que os operava, G Divino que é entendido pelo Pai se aproximava mais de perto, o ajudava e cooperava; e enfim, Eles se conjuntaram, ao ponto de que não eram mais dois, mas um; e esta União é a Glorificação de que se falará em seguida.

&98 - Que o Pai' e o Filho, isto é, o Divino e o Humano, tenham sido unidos no Senhor como a Alma e o Corpo, isto faz parte da fé da Igreja de hoje e resulta da Palavra, mas não obstante há apenas cinco por cento ou cinqüenta por mil, que o sabem; a causa desta ignorância vem da doutrina da justificação pela fé só, à qual, a maior parte dos eclesiásticos, que procuram um renome d, erudição para alcançar as honras e as riquezas, se apegam com tanto ardor, que esta doutrina hoje retém e ocupa toda sua mente; e como, à semelhança do espírito de vinho chamado Alcool, ela embriagou seus pensamentos; e por isso, semelhantes a homens ébrios, êles não viram este ponto, o mais essencial da Igreja, que Jehovah Deus desceu e tomou o Humano quando, entretanto, é únicamente por esta União que há conjunção do homem com Deus e pela conjunção, a salvação; que a salvação depende do conhecimento e do reconhecimento de Deus, é o que pod, ver quem considere que Deus é tudo em tôdas as cousas do Céu e, por conseguinte, em tôdas as cousas da Igreja; e portanto, em tôdas as cousas da Teologia. Mas a princípio será demonstrado aqui que a união do Pai e do Filho ou do Divino e do Humano no Senhor, é como a união da alma e do corpo e esta União é recíproca; a União como a da alma e do corpo foi estabelecida no símbolo de Atanásio, que foi recebido em todo Mundo Christão como Doutrina sobre Deus; aí se lêem estas palavras: "Nosso Senhor Jesus Christo é Deus e Homem; e ainda que seja Deus e Homem, entretanto, não são dois, mas é um único Christo; Êle é Um porque o Divino tomou sobre Si o Humano; Éle é mesmo inteiramente Um e é uma única Pessoa, pois do mesmo modo que a Alma e o Corpo são um único homem, do mesmo modo Deus e o Homem são um único Christo mas nesta passagem entende-se que uma tal união é a do Filho de Deus de toda eternidade com o Filho nascido no tempo; entretanto, como não há senão um Deus e não três, esta Doutrina concorda com a Palavra desde que esta União seja entendida com Deus um de toda eternidade; na Palavra lê-se: "que Êle foi concebido de Jehovah Pai" (Lucas 1, 34, 35); é daí que Ele teve a alma e a vida, por isso Êle diz "que Êle e o Pai são um" (João X, 30); "que aquêle que 0 vê e 0 conhece, vê e reconhece o Pai" (João XIV, 9); ''aquele que me recebe, recebe Aquele que me enviou" (João XIII, 20); "que Êle está no seio do Pai" (João 1, 18); "que tudo quanto o Pai tem é d'Ele'' (João XVI, 15); "é chamado Pai de eternidade" (Isaías IX, 5); "que, por conseguinte, Êle tem poder sobre toda carne" (João XVII, 2); "e todo poder no Céu e na Terra" (Mateus XXVIII, 18). Por estas passagens e várias outras na Palavra, pode-se ver claramente que a União do Pai e do Filho é como a da Alma e do Corpo; é por isso que no Antigo Testamento Êle mesmo é muitas vêzes chamado Jehovah Sebaoth, Jehovah e Jehovah Redentor (ver acima, n. 83).

&99 - Esta união é recíproca; vê-se claramente por estas passagens da Palavra: "Filipe, não crês que Eu estou no Pai e que o Pai (está) em Mim? Crêde-me, que Eu (estou) no Pai e que o Pai (está) em Mim" (João XIV, 9, 10, 11). "A fim de que conheçais e creais que o Pai (está) em Mim, e Eu no Pai" (João, X, 36, 38). "A fim de que todos sejam um, como Tu,

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Pai (Tu estás) em Mim, e Eu em TV' (João XVII, 21). "Pai tôdas as minhas cousas são tuas e tôdas as tuas são minhas" (João XVII, 10). Se a União é recíproca, é porque não existe União alguma ou conjunção alguma entre dois, a menos que reciprocamente. um se aproxime do outro; toda conjunção em todo Céu e em todo o Mundo e em todo homem, não vem de outra parte senão da aproximação recíproca de um para o outro; e então que um queira a mesma cousa que o outro; por causa disso em tôdas as partes de um e de outro há homogeneidade e simpatia, unanimidade e concórdia; tal é a conjunção reciproca da alma do corpo em cada homem; tal é a conjunção do espírito do homem com os órgãos da sensibilidade e do movimento de seu corpo; tal é a conjunção do coração e do pulmão; tal é a conjunção da vontade e do entendimento; tal é a conjunção de todos os membros e de tôdas as vísceras nêles e entre êles, no homem; tal é a conjunção das mentes entre todos aqueles que se amam interiormente, pois ela está gravada em todo amor e em toda amizade, pois o amor quer amar e ser amado. Há no Mundo uma conjunção reciproca de tôdas as cousas que foram estreitamente conjuntas entro elas semelhante é a conjunção do calor do sol com o calor da madeira e da pedra, do calor vital com o calor de tôdas as fibras nos seres animados; semelhante é a da árvore com a raiz e pela .árvore com o fruto; tal é a do ímã com o ferro e assim o resto. Se a conjunção não é feita por uma aproximação recíproca e vice-versa, de um para o outro, há únicamente uma conjunção externa e não interna e esta conjunção externa, com o tempo, é destruída por si mesma de uma parte e de outra, e algumas vezes ao ponto de que os dois não se conhecem mais.

&100 - Assim, não há conjunção que seja conjunção, a menos que seja feita reciprocamente e vice-versa, é por isso que a conjunção do Senhor e do homem não é outra, como se vê claramente por estas passagens: ''Aquele que come minha carne e bebe meu sangue, em Mim mora e Eu nêle" (João VI, 56). "Permanecei em Mim e Eu em vós; aquêle que permanece em Mim e Eu nele, êste dá muito fruto" (João XV, 4 e 5). "Aquêle que abre a porta, Eu entrarei nêle e cearei com êle e êle comigo" (Apoc. 3º, 20), e em outros lugares; esta conjunção é feita pelo :fato do homem se aproximar do Senhor e o Senhor se aproximar dêle; pois é uma lei certa e imutável, que tanto quanto o homem se aproxima do Senhor, tanto o Senhor se aproxima do homem; mas ver-se-á mais sobre êste assunto no Capítulo sobre A CARIDADE E A FÉ.

&101 - VII. ASSIM DEUS FOI FEITO HOMEM E 0 HOMEM, DEUS EM UMA úNICA PESSOA.Que Jehovah Deus foi feito Homem e o Homem Deus em uma única Pessoa, é o que resulta como conclusão de todos os precedentes Artigos dêste Capítulo, e sobretudo dêstes dois: "que Jehovah Criador do Universo desceu e tomou o Humano para redimir e salvar os homens", ns. 82, 83 e 84; e "que o Senhor pelos atos da Redenção se uniu ao Pai e o Pai se uniu a Ele'', assim reciprocamente e vice-versa, ns. 97 a 100; por esta união recíproca é evidente que Deus foi feito Homem e o Homem Deus, em uma única Pessoa; resulta semelhantemente da União de um e de outro, que ela é como a da Alma e do Corpo; que isso seja conforme a fé da Igreja de hoje segundo o símbolo de Atanásio, vê-se acima, n. 89; isto está ainda de acordo com a fé dos Evangélicos, em um Capitulo dos livros de sua Ortodoxia, que se chamaa FÓRMULA DE CONCÓRDIA, onde está solidamente estabelecido, tanto segundo a Escritura Santa, como segundo os Doutores da Igreja (les Pères), e também por meio de razões que a Natureza Humana do Christo foi elevado à Divina Majestade, à Onipotência e

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à Onipresença; e que, no Christo, o Homem é Deus e Deus Homem, págs. 607, 765. Além disso, foi mostrado neste Capítulo que Jehovah Deus quanto a Seu Humano é chamado, na Palavra, Jehovah, Jehovah Deus, Jehovah Sebaoth e Deus de Israel; é por isso que Paulo disse: "Que em Jesus Christo toda a plenitude da Divindade habita corporalmente" (Coloss. 2, 9); e João disse: "Que Jesus Christo, Filho de Deus é o verdadeiro Deus e a Vida eterna" (I, Epístola 5, 20, 21); que pelo Filho de Deus seja entendido propriamente o Humano do Senhor, vê-se acima, ns. 92 e segs.; e além disso, Jehovah Deus chama Senhor a Éle mesmo e a Jesus Christo, pois lê-se: "0, Senhor disse a meu Senhor assenta-te à minha direita" (Ps. 110, 1) e em Isaías: "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado e se chamará seu Nome Deus, Pai de eternidade" (IX, 5, 6); pelo Filho é também entendido o Senhor quanto ao Humano em David: "Eu anunciarei o estatuto: Jehovah me disse: Meu Filho, Tu, Eu hoje te engendrei; beij ai o Filho com mêdo que Éle se irrite e que pereçais no caminho" (Ps. 2, 7, 12); aqui é entendido não o Filho de toda a eternidade, mas o Filho nascido no Mundo, pois é uma profecia sobre o Senhor que devia vir, por isso é chamada o Estatuto que Jehovah anunciou a David e neste Psalmo lê-se precedentemente: "Eu ungi meu Rei sobre Sião", versículo 6 e segs.: "Eu lhe darei hoje as nações em herança", vers. 8); é por isso que HOJE, nesta passagem, não é de toda eternidade, mas é no tempo, pois em Jehovah o futuro é presente.

&102 - Crê-se que o Senhor quanto ao Humano, não somente foi, mas é ainda Filho de Maria; mas nisto o Mundo Christão está em grande êrro; é verdade que Êle foi Filho de Maria, mas não é verdade que Èle o seja ainda, pois pelos atos da Redenção Ele despiu o Humano proveniente da mãe e revestiuse com o Humano procedente do Pai; é por isso que o Humano do Senhor é Divino e que n'Ele Deus é Homem e o Homem Deus. Que Ele despojou-se do Humano procedente da mãe e revestiu-se do Humano que procedia do Pai e que é o Divino Humano, pode-se ver pelo fato d'Êle mesmo jamais ter chamado Maria de Mãe, assim como se pode verificar por estas passagens: "A Mãe de Jesus lhe disse: Êles, não têm vinho". Jesus lhe disse: "Que há entre Mim e ti, Mulher, a minha hora ainda não chegou" (João 11, 4). E depois: 'Ma cruz, Jesus vendo sua Mãe e, perto dela, o discípulo que Éle amava, disse à Sua Mãe: "Mulher, eis teu filho". Depois disse ao Discípulo: "Eis tua Mãe" (João XIX, 26, 27); e em uma outra vez Êle não a reconheceu: "Vieram dizer a Jesus: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem te ver". Jesus, respondendo, lhes disse: "Minha Mãe e meus irmãos são aquêles que escutam a Palavra de Deus e que a fazem" (Lucas VIII, 20, 21; Mateus XII 46 a 49; Marcos 111, 31 a 35). Assim o Senhor não a chamou Mãe, mas mulher, e deu-a por Mãe a João; em outras passagens ela é chamada Sua Mãe, mas não -é da boca do Senhor. 0 que confirma ainda êste mesmo ponto, é que o Senhor não se reconheceu como Filho de David, pois lê-se nos Evangelistas: "Jesus interrogou os Fariseus, dizendo: Que vos parece do Christo? De quem é Êle Filho? Êles lhe disseram de David. Êle lhes disse: Como pois David em espírito Lhe chama seu Senhor, dizendo: 0 Senhor disse a meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que eu tenha posto teus inimigos por escabelo de teus pés? Se, pois, David o chama Senhor, como é seu Filho? E ninguém podia lhe responder uma palavra" (Mateus XXII, 41 a 46; Marcos XII, 35, 36, 37; Lucas XX, 41 a 44; Ps. 110, 1). Ao que precede ajuntarei êste fato novo: "Uma vez me foi dado falar a Maria; ela passava um dia e foi vista no Céu acima da minha cabeça em vestimenta branca que se assemelhava à sêda; e se tendo detido um pouco, Ela disse que havia sido a Mãe do Senhor porque Êle nasceu dela, mas que tendo sido feito Deus, Êle se tinha despojado de todo Humano que provinha dela e que, por esta razão ela 0 adorava

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como seu Deus e não queria que ninguém 0 reconhecesse por seu Filho porque todo Divino estava n'Êle. Tudo o que precede apresenta portanto uma prova brilhante desta verdade, que Jehovah é Homem tanto nos últimos como nos primeiros, segundo estas palavras: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, Aquêle que E' e que Era e que deve Vir, o Todo poderoso" (Apoc. 1, 8, 11). "Quando João viu o Filho do homem no meio dos sete candelabros, caiu a seus pés como morto; mas Êle pôs a sua dextra sobre êle, dizendo: Eu sou o Primeiro e o último" (Apoc. 1, 13, 17; 21, 6). "Eis, eu venho em breve, para dar a cada um segundo as suas obras; Eu sou o Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, o Primeiro e o último" (Apoc. 22, 12, 13). E em Isaías: "Assim disse Jehovah o Rei de Israel e seu Redentor Jehovah Sebaoth: Eu sou o Primeiro e o último" (XLIV, 6; XLVIII, 12).

&103 - Ao que precede ajuntarei êste Arcano: A Alma que vem do pai é o homem mesmo; e o Corpo que vem da mãe não é o homem em si, mas é segundo o homem, é unicamente sua vestimenta, tecida de coisas que são do Mundo natural, enquanto que a Alma é composta de cousas que são do Mundo espiritual; todo homem depois da morte depõe o natural que recebeu da mãe e retém o espiritual que lhe veio do pai; e ao mesmo tempo, em torno dêste espiritual, uma espécie de limbo tirado das partes mais puras da natureza; mas êste limbo, naqueles que vão para o Céu, está em baixo e o espiritual em cima, enquanto que naqueles que vão para o Inferno, este limbo está em cima e o espiritual em baixo; daí resulta que o Homem-anjo fala segundo o Céu, assim pronuncia o bem e o vero, mas o homem-diabo fala segundo o Inferno quando é do fundo do coração; e segundo o Céu quando é de boca; faz isto fora e aquilo, em casa. Pois que a Alma do homem é o homem mesmo e é espiritual por sua origem, vê-se claramente que é daí que a mente, o animus, o caráter, a inclinação e a afeição do amor do pai permanecem nos filhos descendentes dos filhos; e revêm e se apresentam visíveis de geração em geração; é daí que várias famílias e mesmo nações, são conhecidas por seu primeiro pai; em tôdas as faces de uma raça há uma imagem comum que se manifesta; e esta imagem não é mudada senão pelos espirituais da Igreja; se a imagem comum de Jacob e de Judá permanece ainda em seus descendentes e se por ela são distinguidos dos outros, é porque êles têm estado até aqui firmemente ligados à sua religiosidade; com efeito, na semente de que cada um é concebido, há um enxerto ou uma mergulhia da Alma do pai em sua plenitude, em uma espécie de invólucro tirado dos elementos da natureza; por isso no útero da mãe é formado seu corpo, que pode ser feito ou à semelhança do pai ou à semelhança da mãe; a imagem do pai restando, entretanto, por dentro, sempre no, esforço para se manifestar; e por isso, se ela não o pode na primeira geração, o faz nas seguintes. Se a imagem do pai está em pleno na semente, é porque a Alma, como foi dito, é espiritual por sua origem; e o espiritual nada tem de comum com o espaço, por isso é semelhante a si mesmo em um pequeno volume como em um grande. Quanto ao que concerne ao Senhor, Êle despojou-se, enquanto estava no Mundo, pelos atos da Redenção de todo Humano proveniente da Mãe; e revestiu-se com o Humano que procedia do Pai, que é o Divino Humano; é daí que n'Êle o Homem é Deus, e Deus Homem.

&104 - VIII. A PROGRESSÃO PARA A UNIAO FOI 0 ESTADO DE SUA EXINANIÇAO E A UNIÃO MESMA 0 ESTADO DE SUA GLORIFICAÇÃO.Que o Senhor, enquanto estava no Mundo, tenha tido dois Estados que são chamados estado de Exinanição e- estado de Glorificação, isso é conhecido na Igreja; o primeiro estado que era o de Exinanição, é descrito em várias passagens da Palavra, sobretudo nos Salmos de David

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e também nos Profetas; e particularmente em Isaías, Capítulo LIII, onde se diz que "Até à morte êle exauriu (exinanivit) sua alma (vers. 12); êste mesmo estado era o estado de Sua humilhação diante do Pa!, pois neste estado orava ao Pai; diz que faz a vontade do Pai e atribui ao Pai tudo o que fêz e disse; que tenha orado ao Pai, vê-se por estas passagens: Mateus XVII, 43; Marcos 1, 35; VI, 46; XIV, 32 a 39; Lucas V, 15 VI, 12; XXII, 41 a 44; João XVII, 9, 159 20; que tenha feito a vontade do Pai, vê-se em João IV, 34; V, 30; que tenha atribuído ao Pai tudo o que féz e pronunciou, vêse em João VIII, 26, 27, 28; XII, 49, 50; XIV, 10; além disso, na cruz exclamou: "Meu. Deus, meu Deus por que me abandonaste?" (Mateus XXVII, 47; Marcos XV, 34); e sem êste estado, Ele não teria podido ser crucificado. 0 Estado de Glorificação é também o Estado de União; estava neste estado quando foi transfigurado diante de Seus três Discípulos e também quando fazia Milagres e tôdas as vezes em que dizia que o Pai e Ele são um, que o Pai está n'Ele e que Êle está no Pai, que tudo que é do Pai é d'Ele; e - depois da união plenária - que Ele tinha podêres sobre toda carne, João XVII, 2, e todo poder no Céu e sobre a Terra, Mateus XXVIII, 18, além de várias outras coisas.

&105 - Se o Senhor estêve nesses dois estados, o de Exinanição e o de Glorificação, é porque não pode haver outra progressão para a União, pois ela é segundo a Ordem Divina, que é imutável; a Ordem Divina é que o homem se disponha à recepção de Deus e se prepare para ser um receptáculo e um hábitáculo onde Deus possa entrar e habitar como em Seu Templo; que o homem deve fazer isso por si mesmo, e não obstants, reconhecer que é por Deus; deve reconhecê-lo porque, ainda que não sinta nem a presença nem a operação de Deus, entretanto, Deus opera todo bem do amor e todo vero da fé no homem; é segundo esta Ordem que progride e deve progredir todo homem, para que, de natural, se torne espiritual; deu-se o mesmo com o Senhor, para que fizesse Divino o Seu Humano Natural; daí vem que orasse ao Pai, que fizesse a vontade do Pai, que lhe atribuísse tudo que fez e pronunciou; e que na cruz dissesse: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? pois nesse estado Deus parecia ausente; mas depois dêste estado veio o outro, que é o estado de conjunção com Deus; neste, o homem age semelhantemente, mas segundo Deus; e então não tem necessidade, como antes, de atribuir a Deus todo bem que quer e f az e todo vero que pensa e pronuncia, porque isso está gravado em seu coração e está, por conseguinte, interiormente em tôdas as suas ações e em tôdas as suas palavras. Semelhantemente, o Senhor se uniu a Seu Pai e o Pai se uniu a Êle; em uma palavra, o Senhor glorificou Seu Humano, isto é, o fêz Divino, da mesma maneira que o Senhor regenera o homem, isto é, o faz espiritual. Que cada homem, que de natural, se torna espiritual, passa por êstes dois estados; e que pelo primeiro, entra no segundo e avança assim do Mundo para o Céu, é o que será plenamente demonstrado nos Capítulos sobre 0 LIVRE ARBÍTRIO, sobre A CARIDADE E A FÉ, e sobre A REFORMA E A REGENERAÇÃO; aqui será dito unicamente que no Primeiro estado, que é chamado o estado de Reforma, o homem está na plena liberdade de agir segundo o Racional de seu entendimento; e que no Segundo, que é o estado de Regeneração, está também em uma liberdade semelhante, mas que então quer e age, pensa e fala por um novo, amor e uma nova inteligência que vêm do Senhor; com efeito, no primeiro estado, o entendimento ocupa o primeiro lugar e a vontade o segundo lugar; no segundo estado a vontade ocupa o primeiro lugar e o entendimento, o segundo; mas, não obstante, o entendimento segundo a vontade e não a vontade pelo entendimento; a

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conjunção do bem e do vero, da caridade e da fé, do homem interno e o homem externo, não se faz de outro modo.

&106 - Estes dois Estados são representados por diversas cousãs no Universo, porque são segundo a Ordem Divina; e a Ordem Divina enche tôdas e cada uma das coisas até aos singularíssimos no Universo; o Primeiro estado é representado em todo homem pelo estado da primeira e da segunda idade de sua infância até à puberdade, à adolescência e à juventude, estado que é de humilhação diante dos pais e então de obediência e também de instrução pelos mestres e pelos ministros; o Segundo estado é representado pelo estado dêsse mesmo homem quando goza plenamente de seu direito e de seu livre arbítrio ou de sua vontade e de seu entendimento, estado no qual tem o poder em sua casa. 0 Primeiro Estado também é representado pelo estado de um Príncipe ou Filho de Rei ou de um filho de Duque, antes de ser rei ou duque; semelhantemente pelo estado do cidadão, antes de se tomar magistrado; ou do súdito antes que desempenhe um cargo; do aluno, que é iniciado no ministério antes que se torne padre; do padre, antes que se torne pastor; do pastor, antes que se tome primaz; da donzela, antes que se tome esposa; da servente, antes de se tornar patroa; e em geral, de caixeiro, antes de se tornar negociante; de soldado, antes que se torne oficial e de criado, antes que seja patrão; o primeiro dêstes, estados é um estado de servidão e o segundo é o da vontade própria e por consequencia do entendimento próprio. Éstes dois estados são representados também por diferentes cousas no Reino Animal; o primeiro pelas bêstas e pelos pássaros, enquanto estão com as mães e os pais que seguem continuamente e pelos quais são alimentados e educados; e o segundo estado, quando os deixam e provém por si mesmos às suas necessidades; semelhantemente, pelos vermes; o primeiro, quando se arrastam e se alimentam de fôlhas; o segundo quando deixam seu invólucro e se tornam borboletas. Estes dois estados são também representados nos indivíduos do Reino Vegetal; o primeiro, quando o vegetal sai da semente e se orna de ramos, de fôlhas e de flores; o segundo, quando se carrega de frutos e produz novas sementes; isto pode ser comparado à conjunção do vero e do bem, pois que tôdas as cousas que pertencem à árvore respondem ao vero e os frutos ao bem. Entretanto, o homem que fica no Primeiro estado e não entra no segundo, é semelhante à árvore que só tem fôlhas e não dá fruto, da qual se diz na Palavra que deve ser arrancada e lançada no fogo (Mateus XXI, 19; Lucas 1, 9; XIII, 6 a 10; João XV, 5, 6); é ainda como o escravo que não quer ser livre e a cujo respeito foi estabelecido, "que seria levado à porta e que sua orelha seria furada com uma sovela" (Êxodo XXI, 6); os escravos são aquêles que não estão conjuntos ao Senhor; e os livres, aqueIes que são conjuntos a Êle, pois o Senhor disse: "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João VIII, 36).

&107 - IX. DAQUI POR DIANTE NINGUÉM, ENTRE OS CHRISTÃOS, VEM PARA 0 CÉU, SENÃO AQUÊLE QUE CRÊ NO SENHOR DEUS SALVADOR E QUE SE DIRIGE A ÊLE.Lê-se em Isaías: "Eis que Eu crio um Céu novo e uma Terra nova e não se lembrarão mais dos precedentes e êles não subirão mais sobre o coração; e eis que vou criar Jerusalém, alegria e seu povo, contentamento" (LXV, 17, 18). E no Apocalipse: "Vi um Céu novo e uma Terra nova; e, vi a Santa Jerusalém descendo de Deus pelo Céu adornada como uma Noiva para seu Marido; e aquêle que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas tôdas as cousas" (21, 1, 2, 5). E várias vêzes se diz que não entrará no Céu senão aquêle que está inscrito no Livro de vida do Cordeiro (Apoc. 13, 8; 17, 8; 20, 12, 15; (21,

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27); nestas passagens pelo Céu é entendido não o Céu visível a nossos olhos, mas o Céu Angélico; por Jerusalém, não uma cidade que descerá do Céu, mas uma Igreja que descerá do Senhor pelo Céu; e pelo Livro de vida do Cordeiro é entendido não algum livro escrito no Céu e que será aberto, mas a Palavra que vem do Senhor e que trata do Senhor. Que Jehovah Deus, que é chamado Criador e Pai, tenha descido e tomado o Humano, para que o homem pudesse se dirigir a Éle e ser conjunto com Êle, é o que foi confirmado, posto em evidência e estabelecido nos Artigos precedentes deste Capítulo; há, com efeito, alguém que, para se aproximar de um homem, se dirija à sua Alma e quem é que o pode? mas se dirige ao homem mesmo, que vê face a face, e com o qual fala boca a boca acontece o mesmo a respeito de Deus Pai e Filho, pois Deus Pai está no Filho, como a Alma está no Corpo. Que se deve crer no Senhor Deus Salvador, vê-se por estas passagens da Palavra: "Deus amou de tal modo o Mundo, que Seu Filho unigênito foi dado, a fim de que quem quer que creia n'Êle, não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 111, 15, 16). "Aquêle que crê no Filho não é julgado, mas aquêle que não crê já foi julgado porque não creu no nome do unigênito Filho de Deus" (João 111, 18). "Aquêle que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sobre êlell (João 111, 36). "0 Pão de Deus é Aquêle que desceu no Céu e dá a vida ao Mundo; quem vem a Mim não terá fome e quem crê em Mim não terá jamais sede'' (João VI, 33, 35). "E' a vontade d'Aquele que me enviou, que quem quer que veja o Filho e creia n'Êle, tenha a vida eterna e que eu o ressuscite no último dia" (João VI, 40). "Eles disseram a Jesus: Que faremos nós para operar as obras de Deus? Jesus respondeu: Esta é a obra de Deus; que creais n'Aquele que o Pai enviou" (João VI, 28, 29). "Na verdade eu vos digo: aquêle que crê em Mim tem a vida eterna" (João VI, 47). "Jesus exclamou, dizendo: Se alguém tem sêde, venha a Mim e beba; quem quer que crê em Mim, rios de água viva correrão de seu ventre" (João VII, 37, 38). "Se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados" (João VIII, 24). "Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; aquêle que crê em Mim, ainda que morra viverá; quem quer que vive e crê em Mim, não morrerá para a eternidade" João XI, 25, 26). "Jesus disse; Eu, a Luz, vim ao Mundo a fim de que quem quer que creia em Mim, não fique nas trevas" (João XII, 46; VIII, 12). "Enquanto tendes a Luz, crede na Luz, a fim de que sejais filhos da Luz" (João XII, 36). "Êles permanecerão no Senhor e o Senhor nêles" (João XIV, 20; XV, 1 a 5; XVII, 23), o que se faz pela fé. "Paulo pregou aos Judeus e aos Gregos o arrependimento em relação a Deus e a fé em Nosso Senhor Jesus Christo" (Atos 20, 21). "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por Mim, (João XIV, 6). Que aquêle que crê no Filho crê no Pai, pois que, como acaba de ser dito, o Pai está no Filho como a Alma no Corpo, vê-se por estas passagens: "Se me conhecêsseis, conheceríeis também meu Pai" (João VIII, 19; XIV, 7). "Quem me vê, vê Aquêle que me enviou" (João XII, 45). "Quem me recebe, recebe Aquele que me enviou" (João XIII, 20). Isto vem de que ninguém pode ver o Pai e viver (Êxodo 33, 20); é por isso que o Senhor disse: "Deus, ninguém 0 viu jamais, o Filho unigênito, que está no, seio do Pai, Êle o expôs'' (João 1, 18). "Não que alguém tenha visto o Pai, a não ser Aquêle que está no Pai; Êste viu o Pai (João VI, 46). "Nem a voz do Pai ouvistes jamais, nem o Seu aspecto o vistes" (João V, 37). Mas quanto àqueles que não têm conhecimento algum do Senhor, como são a maior parte dos homens nas duas partes do Globo, a Asia e a África e também nas Indias, se crêem em um Deus e vivem segundo os preceitos de sua Religião, são salvos por sua fé e sua vida, pois a imputação concerne àqueles que conheceram, e não àqueles que ignoraram, do mesmo modo que não se imputa aos cegos

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terem feito um passo em falso, pois o Senhor disse: "Se fósseis cegos, não teríeis pecado, mas agora dizeis que vêdes, por isso o vosso pecado permanece" (João IX, 41).

&108 - A fim de confirmar ainda este ponto, referirei o que sei, pois eu vi e posso afirmar isto: Acontece que o Senhor funda hoje um Novo Céu Angélico e o compõe com aquêles que crêem no Senhor Deus Salvador e se dirigem imediatamente a Ele e os outros são rejeitados; se, portanto, daqui por diante alguém vem do Mundo Christão para o Mundo Espiritual, o que acontece a todo homem depois da morte, e não crê no Senhor e não se dirige a Ele e se então não perceber isso porque viveu mal ou se confirmou nos falsos, ao primeiro passo para o Céu, é repelido e sua face se desvia e se volta para a Terra Inferior, para onde vai mesmo e se conjunta com os que aí estão, os quais são entendidos no Apocalipse pelo Dragão e o Falso Profeta. Todo homem por isso, nas Terras Christãs, que não crê no Senhor, não é de modo algum ouvido depois; suas preces no Céu são como odores fétidos e como erutaçôes de um pulmão doente; e bem que se imagine que sua prece é como um perfume de incenso, ela não sobe entretanto para o Céu Angélico senão como uma fumaça de incêndio, que o vento rebate em seus olhos ou como um perfume que sai de um incensário sob o capuz de um monge; desde êsse tempo, é o que acontece a toda piedade que se fixa sobre uma Trindade dividida e não sobre uma Trindade conjunta; que a Divina Trindade tenha sido conjunta ao Senhor, é o objeto principal desta Obra Aqui acrescentarei este fato Novo é que há alguns meses os doze Apóstolos foram convocados pelo Senhor e enviados a todo o Mundo Espiritual, como tinham sido antes no Mundo natural, com a ordem de pregar êste Evangelho, e então uma Região foi assinalada a cada Apóstolo; e êles executaram esta ordem com todo zêlo e cuidado possível. Mas se tratará dêste assunto especialmente no último Capítulo desta Obra, onde será questão da CONSUMAÇÃO DO SÉCULO, DO ADVENTO DO SENHOR E DA NOVA IGREJA.COROLÁRIO

&109 - Tôdas as Igrejas que existiram antes do Advento do Senhor, foram Igrejas Representativas, que não puderam ver os Veros Divinos senão na Sombra; mas após o Advento do Senhor no Mundo, foi instituída por Êle uma Igreja que viu, ou antes, que pôde ver os Divinos Veros na Luz; há a mesma diferença que entre a Tarde e a Manhã: o estado da Igreja antes do Advento do Senhor é mesmo chamado na Palavra a Tarde; e o Estado da Igreja após o Seu Advento, é aí chamado a Manhã. 0 Senhor antes do Seu Advento no Mundo, estava presente, é verdade, nos homens da Igreja, mas mediatamente por Anjos que 0 representavam, mas depois do Seu Advento, Ele está presente nos homens da Igreja imediatamente, pois no Mundo Ele revestiu-se também com o Divino Natural, no qual está presente nos homens; a Glorificação do Senhor é a Glorificação do Seu Humano que tomou em Maria; e o Humano Glorificado do Senhor é o Divino Natural. Que seja assim, isso é evidente pelo fato do Senhor ter ressuscitado do sepulcro com todo Seu corpo que tinha no Mundo; e que, em conseqüência, levou consigo o Humano Natural mesmo desde os primeiros dêste Humano até aos últimos; é por isso que depois da ressurreição Êle disse aos discípulos que acreditavam ver um Espírito: "Vêde minhas Mãos e meus Pés, que sou Eu mesmo; pois um Espírito não tem carne e osso como Me vedes ter" (Lucas XXIV, 37, 39). De acordo com isso, é evidente que Seu Corpo Natural foi feito Divino pela Glorificação; é por isso que Paulo disse "que em Jesus Christo habita corporalmente todas a plenitude da Divindade" (Coloss. 2, 9); e João disse "que o Filho de Deus, Jesus Christo, é o verdadeiro Deus" (I Epist. 5, 20, 2 1). Por isto os Anjos sabem que o Senhor só em todo o Mundo

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Espiritual é plenamente Homem. É sabido na Igreja que na Nação Israelita e Judaica, todo o culto era puramente Externo, cobria com uma sombra o culto Interno que o Senhor abriu; e que assim o culto antes do Advento do Senhor consistiu em tipos e figuras que representavam o Culto verdadeiro em sua justa efígie. 0 Senhor, é verdade, foi visto, Ele próprio, entre os Antigos, pois Ele disse aos judeus: "Abrahão vosso Pai exultou de alegria por ver meu dia, e êle o viu e se regozijou; eu vos digo: Antes que Abrahão fosse, Eu sou" (João VIII, 56, 58); mas como então o Senhor era somente representado, o que era operado pelos Anjos, é por isso que nêles; tôdas as cousas da Igreja tinham se tornado representativas; mas após o Senhor ter vindo ao Mundo, estas representações se dissiparam; a cansa interior disso, é que o Senhor no Mundo também revestiu o Divino Natural, e que por este Divino Êle ilustra não somente o homem Interno espiritual, mas também o homem Externo natural; se os dois não são ilustrados ao mesmo tempo o homem está como na sombra, mas quando eles o são, um e outro ao mesmo tempo, êle está como no dia; com efeito, quando só o homem Interno é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem Externo, ou quando só o homem Externo é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem Interno, e que, quando secorda, recolhe seu sonho e tira dêle diversas conclusões que entretanto são cousas imaginárias; é também como um sonâmbulo que crê que os objetos que vê são vistos na luz do dia. A diferença entre o estado da Igreja antes do Advento do Senhor e o da Igreja após este advento, é também como a diferença entre aquêle que lê um escrito durante a noite à luz da lua e das estrêlas e o que o lê à luz do sol; é evidente que na primeira luz, que é somente branca, o olho se engana; e que na segunda, que é além disso inflamada, ,êle não se engana; é por isso que se diz do Senhor: "Disse o Deus de Israel, a mim falou o Rochedo de Israel; Êle, como a Luz da manhã quando o Sol se eleva em uma manhã sem nuvens" (II, Samuel XXIII, 3, 4); o Deus de Israel e o Rochedo de Israel é o Senhor; e em outro lugar: "Será a luz da Lua como a luz do Sol; e a luz do Sol sete vêzes maior como a luz de sete dias, no dia em que Jehovah ligar as quebraduras de Seu povo" (Isaías XXX, 25, 26); estas palavras são ditas do estado da Igreja após o advento do Senhor. Em uma palavra, o estado da Igreja antes do advento do Senhor pode ser comparado a uma velha cuja face foi pintada e que pela púrpura da tinta se crê bela; e o estado da Igreja após o advento do Senhor pode ser comparado a uma virgem, bela por sua própria natureza; o estado da Igreja antes do advento do Senhor também pode ser comparado ao invólucro de alguns frutos, tais como as laranjas, as maçãs, as peras, as uvas, e ao sabor dêstes invólucros; e o estado da Igreja após o advento do Senhor pode ser comparado aos interiores dêstes frutos e a seu sabor; pode-se, além disso, estabelecer várias compa,rações semelhantes; e esta diferença entre os dois estados vem de que o Senhor, depois que revestiu também o Humano Natural, ilustra o homem Interno espiritual e, ao mesmo tempo, o homem Externo natural, pois quando só o. homem interno é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem externo há sombra, do mesmo modo que quando só o homem Externo o é e não, ao mesmo tempo, o homem Interno.

&110 - Aqui serão acrescentados êstes Memoráveis. Primeiro Memorável. Uma vez no Mundo Espiritual, vi no ar um fogo fátuo que caiu sobre a Terra e produziu em torno uma claridade; era o meteoro que o vulgo chama Dragão; tomei nota do lugar onde êle tinha caído, mas ao romper do dia quando o Sol se levantou tudo tinha desaparecido como acontece a todo Fogo fátuo. Após a manhã aproximei-me do lugar onde o havia visto cair durante a noite; e eis, lá, um humus de uma mistura de enxofre, de limalha de ferro e de lama argilosa; e de repente apareceram então duas Tendas; uma diretamente sobre o lugar e a outra ao lado, para o sul; e olhei para cima e vi um Espírito que caía do Céu como um raio

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e foi lançado na Tenda que estava diretamente sobre o lugar onde o meteoro tinha caído e eu me achava na outra tenda que estava ao lado para o sul; eu estava na entrada desta tenda e vi o Espírito na outra, estando também na entrada; e então lhe perguntei por que tinha assim caído do Céu; respondeu que tinha sido precipitado como um anjo do Dragão pelos anjos de Miguel, porque, me disse êle, avancei algumas proposições concernentes à Fé, nas quais me confirmei no Mundo; e entre outras, esta, que Deus Pai e Deus Filho são dois e não um; pois nos Céus hoje todos crêem que o Pai e o Filho são um como a alma e o corpo; e todo discurso oposto a esta crença é como um aguilhão em suas narinas e como uma sovela que fura suas orelhas, daí para êles emoção e dor; e por esta razão aquêle que diz o contrário recebe ordem de sair; e se demora, é precipitado. Depois de ter ouvido esta narração, eu lhe disse: Por que não crês como êles? Replicou: Depois de ter saldo do Mundo, ninguém pode crer senão no que imprimiu em si mesmo pela confirmação, isto fica gravado e não pode ser apagado, sobretudo o que cada um confirmou em si sobre Deus, pois que nos céus cada um é colocado segundo a idéia que tem de Deus. Perguntei-lhe em seguida porque tinha confirmado que o Pai e o Filho eram dois. Disse-me: Por isto, que na Palavra o Filho orou ao Pai não somente antes da Paixão da cruz, mas também durante esta paixão e se humilhou diante de Seu Pai; como então podiam eles ser um, como a alma e o corpo o são no homem? quem é que ora como se orasse a um outro e, se humilha como diante de um outro, quando êle mesmo é êsse outro? Ninguém age assim, com mais forte razão o Filho de Deus; e, além disso, a Igreja Christã inteira, no meu tempo, dividia a Divindade em Pessoas e cada Pessoa é um por si mesma, e se dá por definição que é o que subsiste propriamente. Quando ouvi êstes raciocínios, respondi: Percebi pelo que acabas de dizer que ignoras absolutamente como o Deus Pai e o Deus Filho são um, e porque ignoras como, tu te confirmaste nos falsos em que a Igreja está ainda sobre Deus; não sabes que o Senhor, quando estava no Mundo, tinha uma alma como todos os outros homens? donde lhe vinha ela senão de Deus Pai? é o que prova abundantemente a Palavra dos Evangelistas; o que é então o que se chama Filho, senão o Humano que foi concebido do Divino do Pai e nasceu da Virgem Maria? A Mãe não pode conceber a alma, isto é inteiramente oposto à Ordem segundo a qual todo homem nasce; e Deus Pai não pode inserir a Alma procedente d'Ele e em seguida se retirar como todo pai faz no Mundo, pois que Deus é a Divina Essência e ela é una e indivisível; e sendo indivisível, é o próprio Deus; daí vem que o Senhor disse que o Pai e Êle são um, que o Pai está n'Ele e Ele no Pai e outras expressões semelhantes; é mesmo o que viram de longe aquêles que conceberam o símbolo de Atanásio; por isso, após haver dividido Deus em três Pessoas, dizem êles entretanto que no Christo Deus e o Homem, isto é, o Divino e o Humano, não são dois, mas são um como a alma e o corpo no homem. Se o Senhor, no Mundo, orou ao Pai como a um outro que não Ele e se humilhou diante do Pai como diante de um outro que não Ele mesmo, foi conformemente à Ordem estabelecida para a Criação, Ordem imutável, segundo a qual todo homem deve progredir para a conjunção com Deus; esta Ordem é que à medida que o homem por sua vida conforme as leis da Ordem, que são os preceitos de Deus, se conjunta a Deus, Deus se conjunta ao homem; e de natural, o faz espiritual; foi desta mesma maneira que o Senhor se uniu a Seu Pai e que Deus Pai se uniu a Éle; o Senhor, quando era Criança, não era como uma criança? quando era Adolescente, não era como um adolescente; não lemos que Èle crescia em sabedoria e em graça e que, em seguida, orou ao Pai para glorificar Seu Nome, isto é, Seu Humano? Glorificar é fazer Divino pela união consigo; é portanto evidente que o Senhor orou ao Pai no estado de Sua exinanição, estado que era o de sua progressão para a União. Esta. mesma Ordem foi, por Criação, gravada em cada

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homem, a saber, do mesmo modo que o homem, pelas verdades segundo a Palavra prepara seu entendimento, do mesmo modo o torna apto a receber a fé que vem de Deus; e do mesmo modo que pelas obras da caridade prepara sua vontade, do mesmo modo a torna apta a receber o amor que vem de Deus; pois do mesmo modo que um lapidário talha um diamante, do mesmo modo o torna próprio a receber e refletir o brilho da luz; preparar-se à recepção de Deus e à conjunção, é viver segundo a Ordem Divina e as leis da Ordem são todos os preceitos de Deus; o Senhor cumpriu éstes preceitos até ao menor ponto; e assim se fêz o receptáculo da. Divindade em toda plenitude; por isso Paulo disse que em Jesus Christo toda a plenitude da Divindade habita corporalmente; e o Senhor disse d'Ele mesmo que tudo que pertence a Seu Pai é d'Ele. Enfim, é preciso ter por certo que o Senhor no homem é o único ativo e que o homem, por si mesmo, é puramente passivo, mas que pelo influxo de vida que procede do Senhor, ele também é ativo; segundo êste perpétuo influxo que procede do Senhor, parece ao homem que é ativo por si mesmo; e por que é assim, tem o livre arbítrio e êste livre arbítrio lhe foi dado, a fim de que se prepare para receber o Senhor para a conjunção, que não é possível, a menos que seja recíproca; e ela se torna recíproca quando o homem age segundo sua liberdade e segundo, a fé atribui ao Senhor todo ativo.Depois disso lhe perguntei se confessava, como seus outros companheiros, que não há senão um Deus único; respondeu que o confessava; e então eu disse: Temo entretanto que a confissão de teu coração seja que não há Deus; toda linguagem da boca não procede do pensamento da mente? acontece portanto infalivelmente que a confissão da boca que não há senão um Deus expulsa da mente o pensamento de que há três, e vice-versa que o pensamento da mente expulsa da boca a confissão de que não há senão um; que resulta daí senão que não há Deus? todo o intervalo desde o pensamento até à boca e desde a boca voltando até ao pensamento, não é assim evacuado? e então o que é que a mente conclui sobre Deus, senão que a natureza é Deus; e sóbre o Senhor, senão que Sua Alma veio ou de Sua Mãe ou de José, duas conclusões que todos os Anjos do Céu têm em horror como medonhas e abomináveis. Depois que eu disse estas palavras, êste Espírito foi relegado para o Abismo de que se fala no Apocalipse, 9, 2 e segs., onde os Anjos do Dragão agitam questões místicas sobre sua fé. No dia seguinte quando dirigi meus olhares para o mesmo lugar, vi no lugar das Tendas duas Estátuas em forma de homens, feitas do pó da terra que estava misturada com enxofre, ferro e argila; e uma das estátuas parecia ter um cetro na mão esquerda, uma coroa na cabeça e um livro na mão direita, além disso um peitoral obliquamente cercado de uma faixa de pedras preciosas, uma vestimenta flutuando por detrás até à outra Estátua, mas êstes ornamentos tinham sido postos sobre esta estátua por uma fantasia; e então um dos espíritos do Dragão fêz ouvir estas palavras: Esta Estátua representa a nossa Fé como Rainha, e a outra atrás dela, a Caridade como sua serva; esta segunda estátua era feita de um pó semelhantemente misturado, estava colocada na extremidade da vestimenta que flutuava por trás da Rainha, e tinha na mão um papel sobre o qual estava escrito: Guardate de te aproximar de mais perto e de tocar a vestimenta. Mas então caiu de repente uma chuva do Céu e penetrou em uma e outra Estátua; e como eram compostas de uma mistura de enxofre, de ferro e de argila, ferveram como acontece ordinàriamente a uma mistura desta espécie quando a água cai em cima; e estando assim abrasadas com um fogo interior desmoronaram e se tornaram em montões, que em seguida se elevaram sobre esta terra como eminências sepulcrais.

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&111 - Segundo Memorável. No Mundo natural o homem tem uma dupla linguagem porque tem um duplo pensamento, o pensamento Externo e o pensamento Interno; pois o homem pode falar segundo o pensamento interno e ao mesmo segundo o externo, e pode falar segundo o pensamento externo e não segundo o interno, e mesmo contra o interno, dai as dissimulações, as à bajulações, e as hipocrisias; mas no Mundo Espiritual o homem não tem uma dupla linguagem, a sua linguagem é simples; lá êle fala com-c, pensa, de outro modo o som é estridente e fere os ouvidos, mas entretanto êle pode se, calar e assim não divulgar o que a sua mente pensa; quando portanto um hipócrita chega entre os sábios ou se retira ou se coloca em um ângulo do apartamento, não se faz notar e se assenta sem dizer uma palavra. Um dia, no Mundo dos Espíritos, vários estavam reunidos e falavam entre si sobre este assunto, dizendo, que não poder-se falar senão como se pensa, isso é duro, na companhia dos bons, para aquêles que não pensaram justo sobre Deus e sobre o Senhor. No meio dos espíritos reunidos se achavam Reformados e vários dentre o Clero; e perto dêles, Católicos-Romanos com monges; e uns e outros disseram a principio que isso não é duro; que necessidade há de falar diferentemente do que se pensa? e se por ventura não se pensa justo, não se pode cerrar os lábios e guardar silêncio? E um Eclesiástico disse: Quem é que não pensa justo sobre Deus e sobre o Senhor? Mas alguns dos que formavam a assembléia disseram: Façamos sobre êles um ensaio; e disseram aos que se tinham confirmado sobre Deus na Trindade de Pessoas, para pronunciar segundo o pensamento Um Só Deus; mas não o puderam, imprimiram a seus lábios vários movimentos violentos e os curvaram de várias maneiras, sem poder articular um som em outras palavras que não fossem conformes com as idéias de seu pensamento, as quais eram por três Pessoas e por conseguinte por três Deuses. Em seguida, foi dito aos que haviam confirmado a Fé separada da Caridade, para pronunciar Jesus, mas não puderam, entretanto puderam dizer Christo, e também Deus Pai; admiraram-se disso, procuraram a sua causa e acharam que era porque, orando, se tinham dirigido a Deus Pai para que tivesse consideração por êles por causa do Filho; e não se tinham dirigido ao Salvador mesmo; e Jesus significa Salvador. Depois lhes foi dito para pronunciar DIVINO HUMANO, segundo o pensamento que tinham do Humano do Senhor; mas nenhum dentre os Eclesiásticos que estavam presentes o pôde; todavia alguns dos Leigos o puderam; por isto êste assunto foi submetido a um exame sério; e ;então, I. Leu-se diante dêles estas passagens dos Evangelistas: "0 Pai deu tôdas as coisas na mão do Filho" (João II, 35); "0 Pai deu ao Filho poder sobre toda carne" (João XVII, 2). "Tôdas as cousas Me foram entregues pelo Pai" (Mateus XI, 27). "Todo poder me foi dado no Céu e sobre a Terra" (Mateus XXVIII, 18); e lhes disseram: De acordo com estas passagens fixai em vosso pensamento que o Christo, não somente quanto a Seu Divino, mas ainda quanto ao Seu Humano, é o Deus do Céu e da Terra, e assim pronunciai DIVINO HUMANO; mas jamais o puderam; e disseram que, na verdade, sobre isso retinham alguma cousa do pensamento segundo o entendimento, mas entretanto nada do reconhecimento e que, por conseqüência, não o podiam. II. Em seguida leuse diante dêles, segundo Lucas 1, 32, 34, 35 que o Senhor quanto ao Humano era Filho de Jehovah Deus e que aí é chamado Filho do Altíssimo e por toda parte Filho de Deus e também o Unigênito; e lhes pediram para manter isso no pensamento; e também que o Filho Unigênito de Deus nascido no Mundo não pode deixar de ser Deus como o Pai é Deus e para pronunciar DIVINO HUMANO; mas êles disseram: Não podemos, porque nosso pensamento espiritual, que é interior, não admite no pensamento mais próximo da linguagem outras idéias senão as que são semelhantes às suas; e ajuntaram que por isso percebiam que agora não lhes era permitido dividir seus pensamentos como no Mundo natural. III. Depois leu-se diante deles as palavras do Senhor

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a Filipe: Tilipe disse: Senhor, mostranos o Pai. E o Senhor disse: Quem me vê, vê o Pai; não crês que Eu (estou) no Pai, e que o Pai (está) em Mim" (João XIV, 8 a 11); e também estas outras passagens, que o Pai e Êle são um, por exemplo, em João X, 30; e lhes disseram para reter isso no pensamento e assim pronunciar DIVINO HUMANO; mas este pensamento não estava enraizado no reconhecimento de que o Senhor era Deus também quanto ao Humano, torceram com esforço os lábios até se indignarem ;e quiseram constranger a boca a pronunciar, mas seus esforços foram inúteis por que as idéias do pensamento, que decorrem do reconhecimento, fazem um com as palavras da linguagem naqueles que estão no Mundo Espiritual; e. lá onde estas idéias não estão, as palavras faltam, pois as idéias tornam-se palavras na linguagem. IV. Além disso, leuse diante dêles estas expressões tiradas da Doutrina recebida em todo Mundo Christão, "que o Divino e o Humano no Senhor não são dois, mas um; e mesmo em uma única pessoa, unidos como a alma e, o corpo no homem", isto é extraído da Fé simbólica de Atanásio e reconhecida pelos Concílios; e lhes disseram: Por aí podeis, segundo o reconhecimento, ter a idéia de que o Humano do Senhor é Divino porque Sua Alma é Divina, pois isso é tirado da doutrina de vossa Igreja, doutrina que. haveis recenhecido no Mundo; de mais, a Alma é a essência mesma do homem e o corpo é a sua forma; e a essência e a forma fazem um como o ser e o existir; e como a causa eficiente do efeito e a efeito mesmo, êles retiveram esta idéia e quiseram segundo ela, pronunciar DIVINO HUMANO, mas não puderam, pois a idéia interior sobre o Humano do Senhor expulsou e apagou esta nova. idéia emprestada, como a chamavam. V. Leu-se ainda diante deles em João, esta passagem: "A Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra se fêz Carne" (I, 1 e 14); e também esta: "Jesus Christo é o verdadeiro Deus e a Vida eterna!' (I, Epist. 5, 21); e em Paulo: "Em Jesus Christo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Coloss. 2, 9); e lhes disseram para pensar semelhantemente, a saber, que Deus que era a Palavra foi feito Homem; que êle era o verdadeiro Deus; e que toda a plenitude da Divindade habita corporalmente n'Ele; e eles fizeram assim, mas unicamente no pensamento externo, por isso não puderam por causa da resistência do pensamento interno, pronunciar DIVINO HUMANO, dizendo abertamente que não podiam ter a idéia do Divino Humano, pois Deus é Deus e o homem é homem; e acrescentaram: Deus é Espírito e nós não podemos pensar em um espírito senão como um Vento ou um Éter. VI. Enfim, lhes disseram: Sabeis que o Senhor disse: Permanece! em Mim e Eu em vós; aquêle que permanece em Mim e Eu nêle, esse dá muito fruto porque sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 4, 5); e como havia lá alguns Eclesiásticos ingleses, leu-se diante dêles êste extrato de uma de suas orações para a Santa comunhão: "Pois, quando comemos espiritualmente a Carne de Christo e bebemos Seu sangue, habitamos em Christo e Christo em nós". Se agora pensais que isto não é possível, a menos que -o Humano do Senhor seja Divino, pronunciai, pois, DIVINO HUMANO segundo o reconhecimento no pensamento; mas não o puderam jamais, pois nêles estava profundamente impressa a Idéia de que o Divino não podia ser Humano, nem o Humano ser Divino; e que o Divino do Senhor vinha do Divino do Filho de toda a eternidade e que Seu Humano era semelhante ao humano ,de um outro homem; mas lhe disseram: Como podeis pensar assim? será que uma Mente racional pode jamais pensar que haja um Filho de Deus nascido de toda a eternidade? VII. Depois disso, os que faziam as perguntas se voltaram para os Eclesiásticos, dizendo: que a Confissão de Augsbourg e Lutero ensinaram que o Filho de Deus e o Filho do Homem são no Christo uma única Pessoa; que Êle mesmo é também, quanto à Natureza Humana, Onipotente e Onipresente; que Éle está assentado, quanto a esta natureza à direita de Deus Pai e governa tudo nos Céus e sobre a Terra, enche

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tudo, está conosco, habita e opera em nós; que não há diferença de adoração porque pela Natureza que é vista, a Divindade que não é vista, é adorada; e que no Christo Deus é Homem e o Homem é deus. Tendo ouvido estas citações responderam: Será que isso é assim? Olharam em torno deles e, em seguida, disseram: Jamais anteriormente tivemos conhecimento disso, eis por que não podemos pronunciar DIVINO HUMANO; entretanto, um ou dois disseram: Nós o havemos lido e o havemos escrito, mas não obstante quando pensamos nisso em nós mesmos, isso não era mais que palavras de que não tínhamos idéia interior. VIII. Enfim, tendo se voltado para os CatólicosRomanos, disseram: Vós, sem dúvida, podeis pronunciar DIVINO HUMANO porque crêdes que em vossa Eucaristia, -o Christo está inteiro no Pão e no Vinho e em cada parte do Pão e do Vinho e que, por isso, 0 adorais como Deus Santíssimo, quando mostrais as hóstias e as levais em procissão; e além disso, como chamais Maria Mãe de Deus (Deipara, Dei genitrix), vós reconheceis por conseqüência que ela engendrou. Deus, isto é, o Divino Humano; e então, êstes quiseram pronunciá-lo, mas porque sobreveio nesse momento a idéia material do Corpo e do Sangue do Christo; e também a fé de que Seu Humano deve ser separado de Seu Divino e que, na realidade, foi separado no Papa, a quem foi transferido somente Seu poder Humano e não Seu poder Divino, êles não puderam pronunciá-lo; e -então um Monge se levantou e disse que podia pensar no Divino Humano a respeito da Santíssima Virgem Maria e também a respeito do Santo do seu Mosteiro; e um outro Monge se aproximou dizendo: Eu, segundo a idéia do meu pensamento, que abraço agora, posso pronunciar Divino Humano a respeito do Santíssimo Pontífice mais do que a respeito do Christo; mas então alguns dos Católicos-Romanos o retiraram para trás e lhe disseram: Não tens vergonha? Depois disso, viu-se o Céu aberto e Línguas como pequenas chamas que desciam e influíam sobre alguns dos assistentes; e êstes celebravam então o DIVINO HUMANO DO SENHOR, dizendo: Rejeitai a idéia de três Deuses e crêde que no Senhor habita corporalmente toda a plenitude da Divindade; que o Pai e o Filho são um, como a alma e o corpo são um; e que Deus não é um vento nem um éter, mas é Homem e, então, sereis conjuntos ao Céu e pelo Senhor podereis dizer JESUS e pronunciar DIVINO HUMANO.

&112 - Terceiro Memorável. Um dia tendo me acordado desde a aurora, saí para o jardim diante da casa, vi o Sol se elevar no seu brilho e em torno dêle, uma cintura a princípio leve e em seguida mais espessa, como resplandecente de ouro; e sob seu limbo subir uma nuvem que, semelhante a um carbúnculo, brilhava com a chama do Sol; e então caí em meditação sobre o que, segundo as fábulas da antiguidade mais remota, tinha se imaginado a Aurora com asas de prata levando ouro em sua boca. Enquanto minha Mente se comprazía nessas meditações, tornei-me em espírito e ouvi alguns Espíritos que falavam entre si e diziam: Aprouve a Deus que nos fosse permitido falar com êste Inovador que lançou entre os Chefes da Igreja um pomo de Discórdia para o qual, muitos dos Laicos correram; e depois de havê-lo recolhido, o ofereceram a nossos olhos; por êste pomo êles entendiam um Opúsculo intitulado EXPOSIÇÃO SUMARIA DA DOUTRINA DA NOVA IGREJA; e disseram: E' seguramente alguma cousa de Cismático em que até ao presente ninguém havia pensado; e ouvi então um dêles exclamar: 0 quê! Cismático? é Herético; mas alguns ao lado dele disseram, repelindo-o: Calate, guarda silêncio; não é Herético; êle alega uma multidão de passagens da Palavra, às quais, nossos estrangeiros, pelos quais entendemos os laicos, prestam atenção e dão seu assentimento. Quando ouvi esta discussão, porque eu estava em espírito, aproximei-me e disse: Eisme aqui, o que há? E imediatamente um dêles, que, como soube mais tarde, era Alemão, nativo do Saxe, e tinha falado com um tom de

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autoridade, me disse: Donde te veio a audácia de derrubar o Culto firmado por tantos séculos no Mundo Christão, culto que consistiu em invocar Deus Pai como Criador do Universo, Seu Filho como Mediador e o Espírito Santo como operante? e tu separas de nossa personalidade o Primeiro e o último Deus quando, entretanto, o Senhor mesmo disse: "Quando orardes, orai assim: PAI NOSSO, QUE ESTAS NOS CÉUS, SANTIFICADO SEJA 0 TEU NOME! VENHA 0 TEU REINO!" Assim não ordenou Êle para invocar Deus Pai? - Depois que prinunciou estas palavras, fêz-se silêncio e todos que eram de sua opinião se mantiveram firmes, tal como soldados corajosos sobre navios de guerra à vista de uma frota inimiga, prestes a exclamar: Combatamos agora, a vitória é certa; e então comecei a falar e disse: Quem de, vós não sabe que Deus desceu do Céu e que foi feito homem, pois lê-se: "A Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra e a Palavra se fez Carne?" Quem, de vós, não sabe - e voltei meus olhos para os Evangélicos entre os quais estava êsse Ditador que me tinha interpelado - que no Christo nascido da Virgem Maria, Deus é Homem e o Homem é Deus? Mas a essas palavras ouviu-se um murmúrio na Assembléia; por isso, eu disse: Será que não. sabeís isso? Não está de acordo com a doutrina de vossa confissão, que se chama Fórmula de Concórdia, onde isso é dito e é corroborado por vários argumentos? E então êste Ditador se voltou para a Assembléia e perguntou se ela tinha conhecimento disso; e êles responderam: Nós estudamos pouco nesse Livro o que concerne à Pessoa do Christo, mas nós aí nos afadigamos sobre o Artigo da Justificação. pela Fé só; entretanto, se aí se lê isso, nós aquiescemos; e então um dêles, tendo se recordado do texto, disse: Isso aí se lê e, além disso, se diz que a Natureza Humana do Christo foi elevada à Majestade Divina e a todos os seus atributos; e também, que o Christo nessa Majestade está assentado à direita de Seu Pai. Quando ouviram esta confissão, êles se calaram; após êste assentimento tácito, tomei de novo a palavra, dizendo: Pois que é assim, o que é então o Pai senão o Filho; e o que é também o Filho senão o Pai? Mas como isso era ainda desagradável a seus ouvidos, continuei dizendo: Escutai as próprias palavras do Senhor; se não lhes prestastes atenção antes, prestai-lhes atenção agora; com efeito, Éle disse: "0 Pai e Eu somos um; o Pai está em Mim e Eu no Pai; Pai, tôdas as Minhas cousas são Tuas e tôdas as Tuas cousas são Minhas; quem Me vê, vê o Pai"; que outra cousa diz Ele por isso, senão que -o Pai está no Filho e o Filho no Pai e que Êles são como a Alma e o Corpo no homem e que assim são uma única Pessoa; isso também deve ser conforme a vossa fé, se crédes no símbolo de Atanásio, onde cousas semelhantes são ditas; mas das passagens citadas, tomei únicamente estas palavras do Senhor: Pai, tôdas as Minhas cousas são Tuas e tôdas as Tuas cousas são Minhas"; que outra cousa é, senão que o Divino do Pai pertence ao Humano do Filho e o Humano do Filho, ao Divino do Pai, que em conseqüência no Christo Deus é Homem e o Homem é Deus; e assim Eles são um como a alma e o corpo são um; todo homem pode também dizer a mesma cousa de sua alma e de seu corpo, a saber, tôdas as tuas coisas são minhas, e tôdas as minhas cousas são tuas; tu estás em mim e eu estou em ti; quem me vê, te vê; nós somos um quanto à pessoa e quanto à vida; e isso porque a alma está no homem inteiro e em cada parte do homem, pois a vida da alma é a vida do corpo, e há o mútuo entre êles; daí é evidente que o Divino do Pai é a alma do Filho e que o Humano do Filho é o corpo do Pai; de onde vem a alma de um filho senão do pai e de onde vem seu corpo senão da mãe? E' dito o Divino do Pai e é entendido o próprio Pai, pois que Ele e seu Divino são uma mesma cousa; o Divino também é um e indivisível; que isso seja assim, vê-se ainda por estas palavras do Anjo Gabriel a Maria: "Uma virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra e um Espírito Santo virá sobre ti; e o que nascerá de ti Santo, será chamado Filho de Deus" e um pouco antes Éle é chamado Filho do Altíssimo; e em

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outros lugares, Filho Unigênito; vós, ao contrário, que o chamais únicamente Filho de Maria, destruís a idéia de Sua Divindade, mas esta idéia não está perdida senão para os Sábios dentre os Eclesiásticos e para os Eruditos dentre os Laicos, -os quais, quando elevam seus pensamentos acima dos sensuais do seu corpo, consideram a glória de sua reputação, que não somente obscurece, mas ainda extingue a luz pela qual entra a glória de Deus. Mas voltemos à Oração Dominical onde está dito: "Pai nosso que estás no Céu, santificado seja teu Nome! venha o teu Reino!" Vós que estais aqui, entendeis por estas palavras, o Pai em Seu Divino Só; mas eu entendo o Pai mesmo em Seu Humano; e êste Humano também é o Nome do Pai, pois o Senhor disse: "Pai, glorifica teu Nome", isto é, teu Humano, e quando isto é feito, que venha então o Reino de Deus; e essa Oração foi recomendada para êste tempo, isto é, a fim de que se dirijam ao Deus Pai por Seu Humano; o Senhor disse também: "Ninguém vai ao Pai senão por Mim"; e no Profeta: "Um menino nos nasceu, um Filho nos foi dado; seu Nome (é) Deus, Herói, Pai de eternidade"; e noutro lugar: "Tu Jehovah nosso Pai, nosso Redentor, desde o século teu nome", e em mil outros lugares, onde o Senhor nosso Salvador é chamado Jehovah. Eis a verdadeira explicação das palavras desta Prece. Depois que assim falei, olhei-os atentamente e notei as mudanças de fisionomia segundo as mudanças de estado de sua mente, alguns me sendo favoráveis e me olhando com atenção; outros não me sendo favoráveis e se desviando de mim; e então à direita vi uma Nuvem cor de opala e à esquerda uma Nuvem negra e sob estas duas nuvens como uma chuva, sob a segunda como uma forte chuva dos últimos tempos de outono; e sob a primeira -como uma chuva de orvalho no comêço da primavera; e de repente de espírito em que eu estava fui reposto no corpo e assim, do Mundo espiritual, reentrei no Mundo natural.

&113 - Quarto Memorável. Eu olhava no Mundo dos Espíritos e vi um Exército sobre Cavalos russos e pretos; os que os montavam apareciam como macacos, voltados quanto à face e ao peito, para as garupas e as caudas dos Cavalos; e quanto ao occipute e ao dorso, para as espáduas e as cabeças; e as rédeas pendiam em torno do pescoço dos Cavaleiros; e eles gritavam contra Cavaleiros montados sobre Cavalos brancos e sacudiam as rédeas com as duas mãos, mas assim retiravam os cavalos do combate; e isso continuamente. Então dois Anjos desceram do Céu, vieram a mim e me disseram: Que vês tu? e contei que via uma cavalaria bem ridícula; e fiz estas perguntas: 0 que é isto e quem são êles? e os Anjos responderam: Êles vêm do lugar, que é chamado no Apocalipse Armegeddon (16, 16), no qual foram reunidos em número de alguns milhares para combater contra os que são da Nova Igreja do Senhor, chamada a Nova Jerusalém; nesse lugar eles falam da Igreja e da Religião e, entretanto, nêles nada havia da Igreja porque não têm nenhum vero espiritual nem cousa alguma da Religião, porque não têm nenhum bem espiritual; falavam de boca. e com os lábios sobre uma e outra, mas era para ter, por elas, a dominação; aprenderam em sua mocidade a confirmar a Fé só e alguma proposição sobre Deus; e as repetiram algum tempo, quando foram elevados às mais eminentes funções na Igreja; entretanto, como então começaram a pensar, não mais em Deus nem no Céu, mas neles mesmos e no Mundo, assim não na beatitude e na felicidade eternas, mas na eminência e na opulência temporais, rejeitaram para fora dos interiores da Mente racional, que comunicam com o Céu estão, por conseguinte, na luz do Céu, as doutrinas que tinham colhido em sua mocidade e as colocaram nos exteriores da Mente racional, que comunicam com o Mundo e estão, por conseguinte, na luz do Mundo e os precipitaram na natureza sensual; daí os doutrinais da Igreja nêles pertencerem únicamente à boca e não mais ao ensamento proveniente da razão;

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e ainda menos, à afeição proveniente do amor; e como se fizeram tais, não admitem nenhum Divino vero pertencente à Igreja, nem nenhum bem real pertencente à Religião; os interiores de sua Mente tomaram-se como Odres cheios de uma mistura de limalha de ferro e de pó de enxofre, na qual, se se lança água, se manifesta a princípio calor e em seguida a chama, o que faz romper os odres; semelhantemente, êsses, quando ouvem alguma cousa concemente à água viva, que é a verdade real da Palavra e isso entra em seus ouvidos, êles se abrasam e se inflamam com veemência e rejeitam isso como uma cousa que lhes arrebentaria a cabeça. São êstes que te aparecem como macacos montados às avessas sobre cavalos russos e pretos, com as rédeas em torno do pescoço porque os que não amam nem a verdade nem o bem da Igreja tirados da Palavra, não querem olhar para a parte anterior do cavalo, mas olham para a sua parte posterior, pois o Cavalo significa o entendimento da Palavra; e o Cavalo russo, o entendimento da Palavra destruido quanto ao bem; e o Cavalo prêto, o entendimento da Palavra destruido quanto ao vero; se proclamaram o combate contra os que estavam montados em Cavalos brancos é porque o Cavalo branco significa o entendimento da Palavra quanto ao vero e ao bem; se te apareceram puchando com o pescoço seus cavalos para trás, é porque temiam o combate, com mêdo de que o vero da Palavra viesse a muitos e se manifestassem assim na luz: é a interpretação. Em seguida os Anjos me disseram: Somos da Sociedade do Céu que é chamada Miguel e recebemos do Senhor a ordem de descer a êsse lugar chamado Armageddon, de onde se escapou a Cavalaria que viste; entre nós, no Céu, Armageddon significa o estado e a intenção de combater pelos veros falsificados, estado e intenção que têm sua fonte no amor de dominar e de sobrepujar sobre todos os outros; e como percebemos em ti o desejo de ter detalhes sobre êste combate, vamos te dar alguns. Após nossa descida do Céu, aproximamo-nos dêste lugar chamado Armageddon e os vimos reunidos aí em número de alguns milhares; todavia não entram-os nessa Assembléia, mas havia sobre o lado meridional dêsse lugar algumas Casas que eram de Crianças com seus Mestres; entramos aí, e êles nos receberam com benevolência; nós nos alegramos em sua companhia; todos, quanto à face, eram encantadores pela Vida em seus olhos e pelo zêlo na linguagem; a Vida nos olhos lhes vinha da percepção do Vero; e o zêlo na linguagem, da afeição do bem; por isso lhes demos Gorros cujas bordas eram ornadas de tranças de ouro semeadas de pérolas e lhes demos também vestímentas coloridas de branco e de jacinto; lhes perguntamos se haviam lançado a vista sobre o lugar vizinho que é chamado Armageddon; responderam que haviam olhado por uma janela que havia sob o teto da casa e que tinham visto lá uma assembléia, mas sob diversas figuras, ora como homens de alta categoria, ora não mais como homens, mas como Estátuas e ídolos -esculpidos; e em torno desses Idolos, a Multidão dobrando os joelhos; êles nos tinham também aparecido sob diversas formas, alguns como homens, outros como leopardos, outros como bodes, e êstes com chifres recurvados para baixo com os quais cavavam a terra; demos a essas crianças a interpretação dessas metamorfoses, dizendo-lhes o que representavam e o que significavam. Mas voltemos ao nosso assunto: Quando aquêles que se tinham reunido em assembléia souberam que tínhamos entrado nestas Casas, disseram entre si: Que fazem êles entre essas crianças? Enviemos alguns de nossa Assembléia para os expulsar; e os enviaram e quando -chegaram, nos disseram: Por que entrastes nestas Casas? De onde sois? Nós, por nossa autoridade, vos ordenamos que vos retireis. Mas respondemos: Não podeis dar essa ordem segundo uma autoridade; sois, é verdade, aos vossos próprios olhos como Enakins e os que estão aqui vos parecem anões, mas não obstante não tendes aqui poder algum nem direito algum, a não ser pela astúcia que, entretanto, não terá força alguma; ide pois contar aos vossos que somos enviados do

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Céu para aqui, para examinar por nossa visíta, se em vós há Religião ou não; se não há, sereis expulsos dêste lugar; em conseqüência propondelhes êste ponto, que encerra o essencial mesmo da Igreja e da Religião: Como entendem êles estas palavras da Oração Dominical: PAI NOSSO QUE ESTAS NOS CÉUS! SANTIFICADO SEJA TEU NOME! VENHA TEU REINO! - Logo que ouviram estas palavras, disseram a princípio: 0 que é isso? E em seguida: Que proporiam êsse ponto; e foram embora e fizeram seu relatório aos seus, que responderam: Que significa isso e o que é essa proposição? Mas compreendemos o Arcano, êles querem saber se estas palavras confirmam o desígnio de nossa fé por Deus Pai; disseram pois: Estas palavras são claras, é preciso segundo elas orar a Deus Pai, e como o Christo é nosso Mediador, é preciso orar a Deus Pai para ser propício por causa do Filho; e em seguida em sua indignação resolveram vir nos encontrar e nos dar de viva voz esta expli cação, dizendo mesmo que nos puxariam as orelhas; efetivamente saíram do lugar onde estavam e entraram em um bosque situado perto destas Casas onde se achavam as crianças com seus mestres e no meio do qual havia um Terreno elevado como um Teatro para exercícios; e se seguravam pelas mãos e entraram nesse teatro onde nós estávamos e onde os esperávamos; havia aí montículos de grama formando como pequenas colinas, sobre as quais, se colocaram, pois disseram uns aos outros: Não ficaremos de pé diante dêles, mas nos sentaremos. E então um dêles, que podia tomar a aparência de um Anjo de luz e ao qual, os outros tinham incumbido de nos dirigir a palavra, nos disse: Vós nos haveis proposto que abríssemos nossas mentes sobre as primeiras palavras da Oração Dominical e vos explicar como as entendemos; eu vos digo, portanto, que nós as entendemos assim: E' preciso orar a Deus Pai; e como o Christo é o nosso Mediador e somos salvos por seu Mérito, -é preciso orar a Deus Pai segundo a fé no mérito do Christo. Mas então lhes dissemos: Somos da Sociedade do Céu, que é chamada Miguel e fomos enviados para visitar e examinar se vós, que vos reunistes em assembléia neste lugar, tendes alguma Religião ou não, pois a idéia de Deus entra em tudo que é da Religião; e por esta idéia se faz a conjunção; e pela conjunção, a salvação; nós, no Céu, lemos todos os dias esta Oração como os homens sobre a Terra; e então pensamos, não em Deus Pai, porque Éle é invisível, mas n'Ele no seu Divino Humano porque, no Divino Humano, Ele é visível, Éle no Divino Humano é chamado por vós o Christo, mas por nós, o Senhor, e assim para nós o Senhor é o Pai nos Céus; e Senhor, por isso, ensinou que Ele e o Pai são um; que o Pai está n'Ele e Êle no Pai; que aquêle que 0 vê, vê o Pai; que ninguém vem ao Pai senão por Ele e também que a vontade do Pai é que se creia no Filho; e que aquêle que não crê no Filho não vê a Vida, mais ainda, a cólera de Deus repousa sobre êle; segundo estas passagens, é evidente que nos dirigimos ao Pai por Ele e n'Ele; e como é assim, Éle ainda ensinou que todo poder Lhe foi dado no Céu e sobre a Terra; nesta Oração se diz: Santificado seja Teu nome! Venha Teu rei-no! e nós demonstramos segundo a Palavra que o Divino Humano do Senhor é o Nome do Pai e que o Reino do Pai vem quando nos dirigimos imediatamente ao Senhor; e de modo algum quando nos dirigimos imediatamente a Deus Pai; também é ainda por isso que o Senhor ordenou a Seus Discípulos para pregar o Reino de Deus, e está aí o Reino de Deus. A estas palavras os Antagonistas responderam: Citais muitas passagens da Palavra, talvez as tenhamos lido, mas não nos lembramos, abri portanto diante de .nós a Palavra, e lêde-as, principalmente aquelas que mostram que o Reino do Pai vem quando chega o Reino do Senhor; e -,entâa disseram às Crianças: Trazei a Palavra; elas a trouxeram e nós aí lemos o que segue: "João pregando o Evangelho do Reino, disse: Cumprido está o tempo e se aproximou o Reino de Deus" (Marcos 1, 14, 15; Mateus 111, 2). "Jesus mesmo pregou o Evangelho do Reino, e que estava próximo o Reino de Deus" (Mateus IV,. 17, 23;

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IX, 35). "Jesus ordenou a Seus discípulos para pregar e evangelizar o Reino de Deus" (Marcos XVI, 15; Lucas VIII, 1; IX, 60); igualmente aos setenta que enviou (Lucas X, 9, 11), além do que é dito em outros lugares, como em Mateus XI, 5; XVI, 27, 28; Marcos VIII, 35; IX, 1, 27; X, 29, 30; XI, 10; Lucas 1, 19; 11, 10, 11; IV, 43; VII, 22; XXI, 30, 31; XXII, 18. 0 Reino, de Deus, que era Evangelizado, era o Reino do Senhor, e assim o Reino do Pai; que isso seja assim, vê-se claramente por estas passagens: "0 Pai deu tôdas as cousas na mão do Filho" (João 111, 35). "0 Pai deu ao Filho poder sobre toda carne" (João XVII, 2). "Tôdas as cousas me foram entregues por Meu Pai" (Mateus XI, 27). "Foi-me dado todo poder no Céu e sobre a Terra" (Mateus XXVIII, 18). E além disso, por estas: "Jehovah Sebaoth (é) seu Nome, e teu Redentor, o Santo de Israel, Deus de toda Terra, será chamado" (Isaías LIV, 5). "Vi, e eis como um Filho do Homem, e lhe foi dada Dominação e glória e reino; e todos os povos e nações 0 servirão, sua Dominação (será) uma Dominação do século a qual não passará, e seu Reino (um Reino) que não perecerá" (Daniel VII, 13, 14). "Quando o sétimo Anjo tocou a trombeta, houve grandes vozes no Céu, dizendo: Torna-' ram-se os Reinos do mundo (os) do Senhor e de seu Christo; e, Ele reinará nos séculos dos séculos" (Apoc. 11, 15; 12, 10). Além disso, os instruímos pela Palavra, que o Senhor veio ao Mundo não unicamente para redimir os Anjos e os Homens, mas, também para os unir a Deus Pai por Êle e n'Ele, pois ensinou. que Êle está naqueles que crêem n'Èle, e que êles estão n'Ele (João VI, 56; XIV, 4, 5). Depois de ouvirem isto, êles nos disseram: Como pois vosso Senhor pode ser chamado Pai? Responde-mos: Segundo as passagens que acabam de ser lidas e ainda segundo estas: "Um menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, seu Nome será chamado Deus, Herói, Pai de eternidade" (Isaías IX, 5). "Tu, nosso Pai, Abrahão não nos conhece e Israel não, nos reconhece; Tu, Jehovah (tu és) nosso Pai, nosso Redentor desde o século (é) Teu Nome" (Isaías LXIII, 16). Não disse Ele a Filipe que queria ver o Pai: "Filipe! não me tens conhecido? quem Me vê, vê o Pai" (João XIV, 9; XII, 45); por conseqüência que outro é o Pai senão aquêle que Filipe via com seus próprios olhos? A isso acrescentamos: Diz-se em todo Mundo Cristão, que aqueles que são da Igreja fazem o Corpo de Christo e estão em seu corpo, como então o homem da Igreja pode se dirigir a Deus Pai, senão por Aquêle em cujo corpo está? De outro modo sairia inteiramente do corpo e se iria embora. Enfim, nós os informamos que hoje o Senhor instaura a Nova Igreja, que é entendida no Apocalipse pela Nova Jerusalém, na qual haverá o culto do Senhor só, como no Céu, e assim será cumprido tudo o que está contido na Oração Dominical desde o comêço até ao fim. Confirmamos tôdas estas cousas segundo a Palavra nos Evangelistas e nos Profetas e segundo o Apocalipse no qual, desde o comêço até ao fim, se trata desta Igreja e isto, citando um tão grande número de passagens, que êles ficaram fatigados de nos ouvir.Os Armagedonianos, que nos tinham ouvido com indignação, tinham querido, de tempos em tempos, nos interromper; êles o conseguiram e, por fim, exclamaram: Vós falastes contra a Doutrina de nossa Igreja que ensina que é preciso dirigir-se imediatamente a Deus Pai e crer n'EIe; assim vos tornastes culpados de violação de nossa fé, sai portanto daqui, senão sereis expulsos; e, inflamados de furor, das ameaças vieram aos esforços; mas então pela potência que nos havia sido dada nós os ferimos de cegueira e, por conseguinte, não nos vendo, saíram precipitadamente; e em seu desvario, corriam daqui para ali e alguns caíram. no abismo de que se fala no Apocalipe 9, 2, o qual agora está na Plaga meridional para o Oriente, onde estão os que confirmam a justificação pela fé só; e lá os que confirmam esta fé pela Palavra, são enviados para um deserto onde são levados até à extremidade do Mundo Cristão e confundidos com os pagãos.

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DA REDENÇÃO

&114 - Que no Senhor houve duas Funções, a Função Sacerdotal e a Função Real, isso é conhecido na Igreja, mas há poucos que sabem em que consiste uma e outra, é preciso pois dizê-lo: 0 Senhor segundo a Função Sacerdotal, foi chamado Jesus; e segundo a Função Real, Christo; e também segundo a Função Sacerdotal, é chamado na Palavra Jehovah e Senhor, e segundo a Função Real, Deus e Santo de Israel e também Rei; estas duas funções são distintas entre si como o Amor e a Sabedoria ou, o que é a mesma cousa, como o Bem e o Vero entre si; é por isso que tudo que o Senhor fez e operou pelo Divino Amor ou o Divino Bem, Êle o fêz e operou pela Sua Função Sacerdotal; e tudo que fêz e operou pela Divina Sabedoria ou o Divino Vero, o fêz e operou por Sua Função Real; por isso, na Palavra Padre e Sacerdote significam o Divino Bem enquanto que Rei e Realeza significam o Divino Vero; os Padres e os Reis na Igreja Israelita representavam êste Bem e êste Vero. Quanto ao que concerne à Redenção, ela pertence a estas duas Funções; o que segue mostrará o que pertence a uma e o que pertence a outra.Mas para que cada cousa seja percebida distintamente, a exposição será dividida por Seções ou Artigos, na ordem seguinte:I - A REDENÇÃO MESMA FOI A SUBJUGAÇAO DOS INFERNOS E A ORDENAÇAO DOS CÉUS; E POR UMA E OUTRA, A PREPARAÇAO PARA UMA NOVA IGREJA ESPIRITUAL.II - SEM ESTA REDENÇÃO NENHUM HOMEM TERIA PODIDO SER SALVO E OS ANJOS NÃO TERIAM PODIDO SUBSISTIR NO ESTADO DE INTEGRIDADE..III - ASSIM 0 SENHOR REDIMIU NÃO ENTE OS HOMENS, MAS TAMBÉM OS ANJOS.IV - A REDENÇÃO FOI UMA OBRA PURAMENTE DIVINA.V - ESTA REDENÇÃO MESMA NÃO FOI FEITA SENÃO POR DEUS ENCARNADO.VI - A PAIXAO DA CRUZ FOI A ÚLTIMA TENTAÇÃO QUE 0 SENHOR SOFREU COMO GRANDISSIMO PROFETA; E FOI 0 MEIO DA GLORIFICAÇÃO DE SEU HUMANO, ISTO E', DA UNIÃO COM 0 DIVINO DE SEU PAI, MAS NÃO FOI A REDENÇÃO.VII - A CRENÇA DE QUE A PAIXAO DA CRUZ FOI A REDENÇÃO MESMA, E' 0 ÊRRO FUNDAMENTAL DA IGREJA E ÉSTE ERRO, JUNTO AO ÉRRO SOBRE AS TRÊS PESSOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, DE TAL MODO PERVERTEU TODA A IGREJA, QUE NÃO RESTA NADA MAIS DE ESPIRITUAL NELA.Agora cada uma dessas proposições vai ser desenvolvida em particular.

&115 - I. A REDENÇÃO MESMA FOI A SUBJUGAÇAO DOS INFERNOS E A ORDENAÇAO DOS CÉUS; E POR UMA E OUTRA A PREPARAÇAO PARA UMA NOVA IGREJA ESPIRITUAL.Que estas três operações constituem a Redenção, eu o posso dizer com toda a certeza, pois que o Senhor opera ainda hoje a Redenção, que começou no ano de 1757, ao mesmo tempo que o Julgamento Final que então foi feito; depois dessa época esta Redenção continuou até hoje; e isso, porque hoje, é o Segundo Advento do Senhor e deve ser instituída uma Nova Igreja, que não pode ser instituída, a não ser que seja precedida pela subjugação dos Infernos e a ordenação dos Céus; e como me foi dado ver tôdas essas cousas, posso descrever como os Infernos foram subjugados e como o Novo Céu foi fundado e ordenado, mas isso será o assunto de uma obra inteira; todavia, em um Opúsculo impresso em

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Londres, em 1758, desvendei como o Julgamento Final foi realizado. Se a subjugação dos Infernos, a ordenação dos Céus e a instauração de uma Nova Igreja constituíram a Redenção, é porque sem essas três operações, homem algum podia ser salvo; elas se seguem mesmo em ordem, pois é preciso primeiro que os Infernos sejam subjugados antes que um Novo Céu Angélico possa ser formado; e é preciso que êste Céu seja formado antes que uma Nova Igreja possa ser instituída nas terras; pois os homens no Mundo foram de tal modo conjuntos aos Anjos do Céu e aos Espíritos do Inferno, que fazem um de uma parte e de outra nos interiores das mentes; mas será tratado especialmente deste assunto no último Capítulo desta Obra, onde se falará da Consumação do século, do Advento do Senhor, e da Nova Igreja.

&116 - Que o Senhor, quando estava no Mundo, tenha combatido contra os Infernos e os tenha vencido e subjugado e que assim os tenha submetido à Sua obediência, vê-se por um grande número de passagens da Palavra e vou apresentar algumas delas; em Isaías se diz: "Quem é aquêle que vem de Éden, com as roupas tintas de Bozra? éste ornado com sua vestimenta, marchando na multidão de sua força? (Sou) Eu, que falo na justiça, grande para salvar. Por que vermelho na tua vestimenta e tua roupa como (aquêle) que pisa no lagar? No lagar eu pisei só, e dentre o povo homem algum comigo; é por isso que os pisei na minha cólera e os esmaguei no meu arrebatamento, daí espalhou-se sua vitória sobre ninhas vestimentas, pois o dia da vingança (está) em meu coração e o ano dos meus Redimidos chegou, meu braço me trouxe a salvação; fiz descer à Terra a sua vitória. Ele disse: Eis, meu povo, êles, filhos; por isso Ele se tornou para êles um Salvador; por causa de seu amor e por causa de sua clemência Êle os redimiu" (LXIII, 1 a 9) . Isto foi dito do combate do Senhor contra -os Infernos; pela vestimenta de que êle estava ornado e que estava vermelha entende-se a Palavra à qual a povo Judeu tinha feito violência; o combate mesmo contra os Infernos e a vitória sobre eles são descritos por estas palavras: Ele os pisou em sua cólera e os esmagou em seu arrebatamento?'; pelas expressões: "Dentre o povo homem algum comigo; meu braço me trouxe a salvação; fiz descer à Terra a sua vitória", é descrito como Ele combateu só e por sua própria força; por estas: "Por isso Êle se tornou para êles um Salvador; por causa de seu amor e de sua clemência, Èle os redimiu", é descrito como Ele os salvou e redimiu; por estas: "0 dia da vingança está em meu coração e o ano dos meus redimidos chegou", é entendido que foi essa a causa de seu advento. De Novo em Isaías: "EIe viu que não havia ninguém e ficou admirado de que não houvesse Intercessor; é por isso que seu braço lhe trouxe a Salvação, e sua Justiça o sustentou; daí, Êle revestiu a Justiça como couraça e o capacete da Salvação sobre sua cabeça; e revestiu-se com roupas de vingança e se cobriu de zêlo como de um manto. Então veio a Sião o Redentor" (LIX, 16, 17, 20). Em Jeremias: "Êles estavam consternados: seus (homens) fortes foram mortos; eles fugiram e não se voltaram. Êste dia é para o Senhor Jehovah Sebaoth um dia de vingança de seus inimigos, para que a espada devore e seja saciada (XLVI, 5, 10); estas duas passagens tratam do combate do Senhor contra os Infernos e da vitória alcançada sobre êles. Em David: "Cinge tua espada sobre (tua) coxa, 6 Poderoso; teus dardos (são) acerados, os povos sob Ti cairão (aquêles que são) de coração inimigo do Rei. Teu Trono é para o século e para a eternidade; tu amas a Justiça; é por isso que Deus Te ungiu" (Ps. 45, 4 a 8); e além disso, em muitas outras passagens. Porque o Senhor Só, venceu os Infernos sem o socorro de nenhum Anjo, é por isso que Êle é chamado: Herói e homem de guerras (Isaías XLII, 13; IX, 5); Rei de glória, Jehovah o forte, o herói de guerra (Ps. 24, 8, 10); 0 forte de Jacob (Ps. 132, 2); e em várias passagens, Jehovah Sebaoth, isto é, Jehovah dos

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Exércitos; o Advento do Senhor é também chamado 0 dia de Jehovah, dia terrível, cruel, de indignação, de arrebatamento, de cólera, de vingança, de destruição, de guerra, de clarim, de ruído retumbante, de tumulto, etc. Nos Evangelistas lê-se estas palavras: "E' agora o Julgamento dêste mundo, o Príncipe deste mundo vai ser lançado fora" (João XII, 31). "0 Príncipe dêste Mundo é julgado" (João XVI, 11). "Tende confiança, eu venci o Mundo" (João XVI, 33). "Vi Satanás como um relâmpago caindo do Céu" (Lucas X, 18); pelo Mundo, o Príncipe do Mundo, Satanás e o Diabo, entende-se o Inferno. Além dessas passagens, é descrito no Apocalipse, desde o comêço até ao fim, qual é a Igreja Cristã de hoje e também, que o Senhor deve vir de novo, que Ele subjugará os Infernos e fará um Novo Céu Angélico, e que em seguida instalará uma Nova Igreja nas terras. Tôdas estas cousas aí estão preditas, mas só foram desvendadas hoje; isto, por que o Apocalipse, assim como todos os proféticos da Palavra, foram escritos por puras correspondências se êstes proféticos não tivessem sido desvendados pelo Senhor, apenas alguém teria podido apreender convenientemente um único pequeno versículo dêles; mas agora foram todos desvendados em favor da Nova Igreja, no Apocalipse revelado, obra impressa em Amsterdam em 1766; e serão vistos por aquêles que crêem na Palavra que o Senhor pronunciou em Mateus, Capítulo XXIV completo, sobre o estado da Igreja de hoje, e sobre Seu Advento; mas esta fé vacila somente ainda naqueles em cujo coração a fé da Igreja de hoje sobre a Trindade de Pessoas Divinas de toda a eternidade e sobre a Paixão do Christo como sendo a Redenção mesma, foi impressa tão profundamente, que não pode ser desenraizada; mas êstes, como foi dito acima no Memorável n. 113, são como odres cheios de uma mistura de limalha de ferro e pó de enxofre, na qual, se se põe água, se manifesta a princípio, calor; e em seguida, chama, o que faz romper os odres; êles, do mesmo modo, quando ouvem alguma coisa concernente à água viva, que é a verdade real da Palavra, e que esta entra pelos olhos ou pelos ouvidos, êles se abrasam, se inflamam e a rejeitam como uma cousa que lhes quebra a cabeça.

&117 - A subjugação dos Infernos, a ordenação dos Céus e, em seguida, a instauração da Igreja, podem ser ilustradas por diversas comparações; podem ser ilustradas por comparações com um Exército de bandidos ou de rebeldes que se apoderam de um Reino ou de uma cidade e incendeiam as casas, despojam os habitantes de seus bens, partilham entre si o saque e em seguida se regozijam e se gloriam; e a Redenção mesma pode ser ilustrada por comparação com um Rei justo que ataca êsses bandidos com seu Exército, passa uma parte a fio de espada, lança a outra nas prisões, lhes arrebata o saque e o restitui aos habitantes, depois restabelece a ordem no Reino e o põe ao abrigo de uma invasão semelhante. Êste assunto pode também ser ilustrado por uma comparação com uma tropa de bêstas ferozes que -saem das florestas e se lançam sobre rebanhos de gado miúdo e graúdo; e também sobre os homens, o que faz com que o homem não ouse sair das muralhas da cidade, nem cultivar a terra, donde resulta que os campos ficarão desertos e que os citadinos perecerão de fome; e a Redenção pode ser ilustrada pela destruição e a expulsão destas bêstas ferozes e pela proteção dos campos contra uma nova invasão. Éste assunto pode ainda ser ilustrado por gafanhotos que devoram toda a verdura da terra e pelos meios empregados para que êles não façam outras devastações; igualmente, pelos insetos que, no comêço do verão, privam as árvores das fôlhas, e por conseqüência também dos frutos, de sorte que elas ficam nuas como no meio do inverno; e pela destruição dêstes insetos e assim pelo restabelecimento do jardim no seu estado de floração e de frutificação. Seria o mesmo da Igreja, se o Senhor pela Redenção não tivesse separado os bons dos maus

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e não tivesse lançado êstes no Inferno e elevado aquêles ao Céu; que se tornaria um Império ou um Reino onde não houvesse justiça nem julgamento para retirar os maus do meio dos bons e proteger os bons contra as violências, a fim de que cada um viva em segurança em sua casa, como se diz na Palavra, assentado tranqüilo sob sua figueira e sob sua vinha?

&118 - II. SEM ESTA REDENÇAO NENHUM HOMEM TERIA PODIDO SER SALVO; E OS ANJOS NAO TERIAM PODIDO SUBSISTIR. NO ESTADO DE INTEGRIDADE.Será dito primeiro o que é a Redenção: Redimir significa livrar da danação, isentar da morte eterna, arrancar do Inferno e arrancar da mão do diabo os cativos e os ;encarcerados; é o que foi feito pelo Senhor, subjugando os Infernos e fundando um novo Céu; que o homem não teria podido ser salvo de outro modo, é porque o Mundo Espiritual e o Mundo natural, são de tal moda ligados, que não podem ser separados, sobretudo no que concerne aos interiores que são chamados almas e mentes; as dos bons são ligadas às almas e às mentes dos Anjos e as dos maus, às almas e às mentes dos espíritos infernais; há uma tal união, que se os Anjos e os espíritos se retirassem do homem, o homem cairia morto como um cepo; e do mesmo modo os Anjos e os espíritos não poderiam subsistir se os homens lhes fossem subtraídos. Por isso, vê-se porque a Redenção foi feita no Mundo espiritual e porque o Céu e o Inferno deviam ser postos em ordem, antes que a Igreja pudesse ser instaurada nas terras; que isso seja assim, vê-se claramente no Apocalipse, em que a Nova Jerusalém, que é a Nova Igreja, desceu do Céu, depois que o novo Céu foi formado (21, 1, 2).

&119 - Que os Anjos não teriam podido subsistir no estado de integridade, se a Redenção não tivesse sido feita pelo Senhor, é porque todo o Céu Angélico com a Igreja nas terras é diante do Senhor como um único Homem, do qual o Céu Angélico constitui o Interna, e a Igreja o Externo, ou mais especialmente, de que o Céu supremo constitui a Cabeça; e o segundo e o último Céu, o Peito e a Região Médica do corpo; e a Igreja nas terras os Lombos e os Pés, e o Senhor mesmo é a Alma e a Vida de todo êste Homem; se portanto o Senhor não tivesse feito a Redenção, êste Homem teria sido destruído; êle é destruido quanto aos Pés e aos tombos quando a Igreja nas terras se retira, quanto à região gástrica quando o último Céu se retira, quanto ao Peito quando o Segundo Céu se retira; e então, a Cabeça, não tendo correspondência com o Corpo, cai em desfalecimento. Mas isso WL"er ilustrado por comparações: Quando a gangrena se apoaera dos pés, ela sobe progressivamente e corrompe a princípio os lombos, em seguida, as vísceras do abdome; e enfim as partes vizinhas do Coração, então o homem, como é notório, sucumbe e morre. Isto também pode ser ilustrado por uma comparação com as moléstias das vísceras que estão abaixo do Diafragma: Quando estas vísceras deperecem, o Coração começa a palpitar e o Pulmão a ofegar fortemente e, enfim, todo o movimento cessa. Isto também pode ser ilustrado por uma comparação com o homem Interno e o homem Externo: 0 homem Interno se sente bem, enquanto o homem Externo preenche suas funções com obediência; se ao contrário, o homem Externo não obedece mas resiste e se, além disso, ataca o homem Interno, então o homem Interno é abalado e enfim privado dos prazeres do homem Externo, até que se torne favorável ao homem Externo e seja de sua opinião. Isto ainda pode ser ilustrado por comparação com um homem que, estando sobre uma Montanha, vê em baixo dêle as terras inundadas e as águas subirem sucessivamente; quando elas chegam à altura onde êle está, é também inundado se não pode prover à sua salvação por uma barca que venha a êle sobre as águas; igualmente, se alguém do alto de uma Montanha vê nevoeiro

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espêsso se elevar cada vez mais da terra e cobrir os campos, as aldeias e as cidades; quando em seguida êsse nevoeiro chega a éle, êle nada vê, não vê mesmo mais onde está. Cousa semelhante acontece aos Anjos quando a Igreja nas terras perece, então os Céus inferiores também se vão; e isso, porque os Céus são compostos de homens vindos da Terra e quando não resta mais nenhum bem de coração nem vero algum da Palavra, os Céus são inundados pelos males que se elevam e são sufocados como pelas águas do Estige; mas todavia aquêles, que os habitam são escondidos em algum lugar pelo Senhor e reservados para o dia do Julgamento Final e então são elevados a um Novo Céu; são êles que são entendidos nestas passagens do Apocalipse: "Vi sob o Altar as almas daqueles que haviam sido mortos pela Palavra de Deus e pelo Testemunho que tinham; e exclamavam com graude voz: Até quando Senhor, que (és) Santo e Verdadeiro, não julgas e não vingas nosso sangue sobre aquêles que habitam sobre a Terra? e a cada um foram dados vestidos brancos e lhes foi dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que fossem completados e seus companheiros de serviço e seus irmãos, que deviam ser mortos como eles'' (6, 9, 10, 11).

&120 - Sem a Redenção pelo Senhor, a iniqüidade e a maldade se espalhariam em toda a Cristandade em um e outro Mundo, o Natural e o Espiritual; há para isso várias razões, entre as quais se acha esta: Todo homem depois da morte vem para o Mundo dos espíritos, e então é absolutamente semelhante ao que era antes; e aí entrando, ninguém pode impedi-lo de conversar com seus parentes, seus irmãos, seus aliados e seus amigos, mortos antes dêle; então cada marido procura primeiro sua esposa, e cada esposa, seu marido; e é introduzido por uns e outros em diversas reuniões de Espíritos que, por fora, aparecem como ovelhas e são, por dentro, como lobos e por êles são pervertidos aqueles mesmos que se tinham dedicado à piedade; por conseguinte, e de acordo com artifícios abomináveis desconhecidos no Mundo natural, aquêle Mundo foi enchido com espíritos malignos como um pântano esverdeado, está cheio de ovos de rãs; que a freqüentação dos maus produz aí êste efeito, é o que se pode tornar -evidente pelos exemplos seguintes: Se alguém permanece com ladrões ou com piratas, se torna por fim semelhante a êles; se alguém mora com adúlteros e prostitutas, acaba por considerar o adultério como nada; se alguém se mistura com aquêles que estão revoltados contra as leis, acaba por considerar como nada agir com violência contra o primeiro que aparece; com efeito, todos os males são contagiosos e podem ser comparados à peste que se comunica só pela aspiração e só pela exalação; e também a um câncer ou a uma gangrena que se insinua e põe em putrefação as partes vizinhas e sucessivamente as que estão mais afastadas, até que todo o corpo pereça; os prazeres do mal em que cada um nasce, são a causa disso. Segundo o que acaba de ser dito, é agora evidente que, sem a Redenção pelo Senhor, nenhum homem pode ser salvo e que os Anjos não podem subsistir no estado de integridade; o único refúgio para não perecer, é se dirigir ao Senhor, pois Êle disse: "Permanecei em Mim e Eu em vós; como o sarmento não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na cepa, do mesmo modo vós também não, se em Mim não permaneceis; Eu sou a cepa, vós, os sarmentos; aquêle que permanece em Mim e Eu nêle, êsse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer; se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, secará, é lançado no fogo e queimado" (João, 4, 5, 6).

&121 - III. ASSIM QUE 0 SENHOR REDIMIU NÃO SóMENTE OS HOMENS, MAS TAMBÉM OS ANJOS.

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Isto é uma conseqüência do que foi dito no Artigo precedente, que sem a Redenção pelo Senhor os Anjos também não teriam podido subsistir; às causas acima apresentadas se juntam estas: 1.0) No tempo do Primeiro Advento do Senhor, os Infernos tinham aumentado para cima, ao ponto de encherem todo o Mundo dos Espíritos, que fica no meio entre o Céu e o Inferno; e assim não somente levavam a confusão ao Céu que é chamado último Céu, mas atacavam também o Céu médio, infestando-o de mil maneiras; se o Senhor não o tivesse sustentado, êle marcharia para sua destruição. Um tal ataque dos Infernos é entendido pela Torre elevada na terra de Schinear, seu topo devia ir até ao Céu, mas os esforços dos que a construíam foram detidos pela confusão dos lábios e êles mesmos foram dispersados e a cidade foi chamada Babel (Gênesis 11, 1 a 9); o que é,entendido nesta passagem pela Torre e pela confusão dos lábios, foi explicado nos "Arcanos Celestes11, impressos em Londres. Se os Infernos aumentaram até a uma tal altura, foi porque, no tempo em que o Senhor veio ao Mundo, todo o Globo se tinha inteiramente afastado de Deus pelas idolatrias e pelas magias; e a Igreja, que havia estado com os filhos de Israel e enfim com os Judeus, tinha sido completamente destruida pela falsificação e a adulteração da Palavra e porque todos, tanto uns como outros, iam após a morte para o Mundo dos Espíritos, onde por fim, o seu número foi de tal modo aumentado e multiplicado, que não podiam ser expulsos daí senão pela descida de Deus mesmo, e então pela força do Divino braço; a maneira pela qual a expulsão foi feita está descrita no Opúsculo impresso em Londres em 1758, sobre o Julgamento Final; isso foi realizado pelo Senhor quando Ele estava no Mundo; a mesma cousa é ainda feita hoje pelo Senhor, pois que é hoje, como já foi dito, o Seu Segundo Advento que foi predito por toda parte no Apocalipse e em Mateus XXIV, 3, 30; em Marcos XIII, 26; em Lucas XXI, 27; e nos Atos dos Apóstolos 1, 11, e algures; a diferença consiste em que no Seu Primeiro Advento, êste grande acréscimo dos Infernos tinha provindo dos idólatras, dos mágicos e dos falsificadores da Palavra, enquanto que no Seu Segundo Advento provinha dos pretensos Cristãos, tanto dos que se imbuíram do Naturalismo, como dos que falsificaram a Palavra por confirmações de sua fé fabulosa sobre três Pessoas Divinas de toda a eternidade e sobre a Paixão do Senhor que pretendem ter sido a Redenção mesma; são, com efeito, estes que são entendidos pelo Dragão e suas duas Bêstas no Apocalipse, Capítulos 12.0 e 13.0. 2.0) Uma segunda causa que fêz com que o Senhor também redimisse os Anjos, é que não somente cada homem, mas mesmo cada Anjo, é pelo Senhor desviado do mal e mantido no bem; pois ninguém, seja Anjo, seja homem, está no bem por si mesmo, mas todo bem vem do Senhor; quando, por tanto, o escabêlo dos pés dos Anjos, que para eles está no Mundo dos espíritos, foi subtraído, lhes aconteceu como aquêle que se assenta sobre um trono quando os estilobatas são retirados. Queos Anjos não sejam puros diante de Deus, vê-se pelos livros proféticos da Palavra e também em Job; depois, não há um único Anjo precedentemente não tenha sido homem. Por isso se que confirma o que foi dito nos preliminares desta Obra sobre A Fé do Novo Céu e da Nova Igreja na forma universal e na forma singular, a saber, "que o Senhor veio ao Mundo para afastar do homem o Inferno e que o afastou por combates contra êle e por vitórias alcançadas contra êle; assim Ele o subjugou e o repôs sob sua obediência". Por isso se acha também confirmado, "que Jehovah Deus desceu e tomou o Humano, com o objetivo de repor na ordem tôdas as cousas que estavam no Céu e tôdas as coisas que estavam no Inferno porque então o poder do Diabo, isto é, do Inferno sobrepujava o poder do Céu; e nas terras o poder do mal sobrepujava o poder do bem e, em conseqüência, uma danação geral estava à porta e iminente. Jehovah Deus, por Seu Humano tirou esta danação que ia

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acontecer e assim redimiu os homens e os Anjos; por isso é evidente que sem o Advento do Senhor ninguém poderia ter sido salvo. Acontece o mesmo hoje; se portanto o Senhor não viesse de novo ao Mundo, ninguém podia ser salvo também". Vêde acima ns. 2 e 3.

&122 - Que o Senhor tenha libertado o Mundo Espiritual e que por êste Mundo deve libertar a Igreja de uma danação universal, é o que pode ser ilustrado por uma comparação com um Rei, cujos príncipes, seus filhos, foram tomados pelo inimigo, lançados em prisões e carregados de ferros e que, por vitórias alcançadas sobre êste inimigo, os libertou e os reconduziu para sua Corte. Depois, por uma comparação com um Pastor que, como Sansão e David, arrancou suas ovelhas da goela de um leão ou de um urso, ou que caçou essas bêstas ferozes quando, se lançavam das florestas para os prados, as perseguiram até aos últimos limites e, enfim, as empurraram para pântanos ou para desertos; e em seguida voltaram a suas ovelhas, fizeram-nas pastar em segurança e as dessedentaram em fontes de águas límpidas. Isto pode também ser ilustrado por uma comparação com um homem que, vendo em um caminho uma serpente enrolada em espiral e disposta a ferir o calcanhar do viajante, a pega pela cabeça e a leva até sua casa, embora ela se enrole em torno de sua mão, e lá, corta-lhe a cabeça e lança o resto no fogo. Isto pode ainda ser ilustrado por uma comparação com um noivo ou um marido que, vendo um adúltero procurar fazer violência à sua esposa, se lança sobre ele e o fere na mão com sua espada ou o golpeia nas pernas e nos rins, ou o faz lançar na rua por seus servidores que o perseguem com bastões até à sua casa; e tendo assim livrado sua noiva ou esposa, a reconduz a seu apartamento; na Palavra, pela Noiva e pela esposa, é entendida a Igreja do Senhor; e pelos adúlteros são entendidos aquêles que fazem violência à Igreja, isto é, aquêles que adulteram a Palavra do Senhor; e como os Judeus agiram assim, foram chamados pelo Senhor nação adúltera.

&123 - IV. A REDENÇAO FOI UMA OBRA PURAMENTE. DIVINA.Aquêle que sabe o que é o Inf erno e quais foram a altura e a inundação de Inferno sobre todo o Mundo dos Espíritos no tempo do Advento do Senhor, e por que potência o Senhor abaixou e dispersou o Inferno e, em seguida, o repôs na ordem ao mesmo tempo que ao Céu, não pode se impedir de ficar na maior admiração, e de exclamar que tôdas essas cousas foram uma Obra puramente Divina. 1.0) 0 que é o Inferno: 0 Inferno consiste em miríades de miríades de Espíritos, pois é composto de todos aquêles que, desde a criação do Mundo, se desviaram de Deus pelos males da vida e pelos falsos da fé. 2.0) Quais foram a altura e a inundação do Inferno sobre todo o Mundo dos Espíritos no tempo do Advento do Senhor: Isto foi brevemente exposto nos Artigos precedentes; quais elas foram ao tempo do primeiro Advento, ninguém teve conhecimento, porque isso não foi revelado no sentido da letra da Palavra; mas quais elas foram ao tempo do segundo Advento, me foi dado ver com os meus olhos; donde se pode concluir a respeito do primeiro Advento; e isso foi descrito no Opúsculo do Julgamento Final, impresso em Londres em 1758; do mesmo que, 3.0) Por que potência o Senhor abaixou e dispersou êste, inferno; mas transcrever aqui o que foi descrito segundo a autópsia neste Opúsculo, seria inútil, pois êste opúsculo subsiste e há ainda uma grande quantidade de exemplares postos em reserva em Londres na Tipografia; quem quer que o leia pode ver claramente que o abaixamento e a dispersão dêste Inferno foram Obra de Deus Onipotente. 4.0) Como o Senhor em seguida repôs tôdas as comas na ordem, tanto no Céu c no Inferno: Isso não foi ainda descrito por mim porque a ordenação dos Céus e dos Infernos durou desde o dia do Julgamento Final até ao tempo presente e dura ainda; mas após a publicação deste Livro, se se deseja, será dada ao público; pelo que

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me concerne, quanto a êste assunto, cada dia tenho visto e vejo a Onipotência do Senhor como em face; todavia, a ordenação pertence propriamente à Redenção, enquanto que o abaixamento e a dispersão do Inferno pertencem propriamente ao Julgamento Final; aquêles que consideram distintamente êstes dois pontos, podem ver muitas cousas que, nos proféticos da Palavra, têm estado escondidas sob figuras e, entretanto, foram descritas desde que pela explicação das correspondências sejam postas na luz do entendimento. Uma e outra Obra Divina não pode ser ilustrada senão por comparações, mas entretanto muito pouco; por exemplo: Por uma comparação com um combate contra os Exércitos de tôdas as nações do Mundo, providos de lanças, de escudos, de espadas, de fuzis e de canhões, e comandados por chefes e generais destros e astuciosos; digo destros e astuciosos porque no Inferno a maior parte sobressai nos artifícios desconhecidos em nosso Mundo e nêles se exercitam entre si sobre a maneira de atacar, de surpreender, de cercar e de assaltar aquêles que estão no Céu. 0 combate do Senhor contra o Inferno pode também ser comparado, embora a comparação seja fraca, com um combate contra as bestas ferozes de toda a Terra e com a destruição e a subjugação destas bêstas, ao ponto de não haver mais uma que ouse sair e atacar alguns dos homens que estão no Senhor, donde resulta que se um dêles mostra uma face ameaçadora, a besta feroz se retira imediatamente, como se sentisse no meio do peito um abutre procurando furá-lo até ao coração; os Espíritos Infernais são mesmo descritos na Palavra pelas bêstas ferozes; também são entendidos pelas bêstas com as quais o Senhor esteve durante quarenta dias (Marcos 1, 13). Êste combate do Senhor pode ainda ser comparado a uma resistência contra todo o Oceano fazendo irrupção, com suas vagas nas planícies e cidades, após ter rompido seus diques; a Subjugação do Inferno pelo Senhor é também entendida pelo Mar que se acalma, quando Èle diz: "Cala-te, torna-te mudo" (Marcos IV, 38, 39; Mateus VIU, 26; Lucas VIII, 23, 24); pois, aí, como em muitas outras passagens, pelo Mar é significado o Inferno. 0 Senhor, por um semelhante poder Divino, combate hoje contra o Inferno em todo homem que é regenerado, pois o Inferno ataca-os a todos com um furor diabólico; e se o Senhor não lhe resiste e não o doma, é impossível que o homem não sucumba; o Inferno, com efeito, é como um único homem monstruoso e como um Leão feroz, ao qual 4 mesmo comparado na Palavra; se portanto o Senhor não mantivesse êste Leão ou êste Monstro acorrentado pelas mãos e pelos pés, seria de todo impossível que o homem, quando fosse arrancado de um mal, não caísse por si mesmo em um outro mal e, em seguida, em vários males.

&124 - V. ESTA REDENÇÃO MESMA NÃO PODIA SER FEITA SENÃO POR DEUS ENCARNADO.No Artigo precedente foi mostrado que a Redenção foi urna Obra puramente Divina, que por conseqüência não podia ser feita senão por Deus Onipotente; que não podia ser feita senão por ele encarnado, isto é, feito Homem, é porque Jehovah Deus, tal como é em Sua essência infinita, não pode se aproximar do Inferno, nem com mais forte razão ai entrar, pois está no que há de mais puro e nos primeiros; é por isso que se Jehovah Deus, que é em Si, soprasse únicamente sobre os que estão no Inferno, no mesmo instante os mataria, pois Êle disse a Moisés que queria vê-lo: "Tu não poderás ver minhas faces, pois não pode o homem Me ver e viver" (Êxodo 33, 20), portanto visto que Moisés não o pôde, com mais forte razão não o podem os que estão no Inferno, onde todos estão nos últimos e no que há de mais grosseiro; e assim, no que há de mais afastado, pois são naturais ínfimos; se, portanto, Jehovah Deus não tivesse tomado o Humano e não se tivesse assim revestido com o corpo, que está nos últimos, seria em vão que empreenderia qualquer Redenção; com

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efeito, quem pode atacar um inimigo sem se aproximar dele e sem estar munido de armas para o combate? ou, quem pode caçar e destruir dragões, hidras e basiliscos em um deserto, sem ter uma couraça sobre o corpo, um capacete na cabeça e uma lança na mão ou, quem pode apanhar baleias no mar sem um navio e sem tudo que é necessário para uma tal captura? Estes exemplos e outros semelhantes não dão uma comparação exata, mas podem pôr na luz que Deus Onipotente não teria podido empreender o combate contra os Infernos, se não tivesse antes se revestido com o Humano. Todavia, é preciso que se saiba que o combate do Senhor contra os Infernos não foi um combate oral, como entre aquêles que raciocinam e discutem, um tal combate não teria produzido efeito algum, mas foi um combate espiritual, isto é, o combate do Divino Vero segundo o Divino Bem, que era o vital mesmo do Senhor; ao influxo dêsse Di vino por intermédio da vista, ninguém nos Infernos pôde resistir; há nêle um tal poder que só com a sua percepção, os gênios infernais fugiam, se precipitavam no abismo e se entranhavam nas cavernas para se esconder; é isso mesmo que é descrito em Isaías: "Eles entrarão nas cavernas de rochas e nas fendas de pó por causa do pavor de Jehovah, quando Ele se levantar para espantar a terra" (11, 19). E no Apocalipse: -Todos êles se esconderão nas cavernas e nos rochedos das montanhas e dirão às montanhas e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da cólera do Cordeiro" (6, 15, 16, 17). Pelo que foi descrito no Opúsculo sobre o Julgamento Final, pode-se ver qual era o poder que o Senhor tinha do Divino Bem, quando fêz êste Julgamento em 1757; por exemplo, Êle arrancou de seu lugar colinas e montanhas de que os infernais se tinham apoderado no Mundo dos Espíritos e as transportou para longe; fazia abaixar algumas; inundava com um dilúvio as suas cidades, suas vilas e suas campinas; revirava completamente suas terras, e as lançava com seus habitantes nos precipícios, nos pântanos e lagoas, etc.; e o Senhor Só fazia tudo isso pelo poder do Divino Vero segundo o Divino Bem.

&125 - Que Jehovah Deus não tenha podido pôr em ato nem efetuar tais cousas senão por Seu Humano, é o que pode ser ilustrado por diversas comparações; por exemplo: Aquêle que é invisível não pode passar a vias de fato, nem entrar em conversação, senão por alguma cousa visível; nem mesmo um Anjo ou um espírito com o homem, mesmo quando se mantém perto de seu corpo e diante de sua face. A alma de alguém não pode também nem falar nem agir com um outro senão por seu corpo. 0 Sol com sua luz e seu calor não pode entrar em um homem ou em uma besta ou em uma árvore, a menos que antes não entre no ar e atue pelo ar; nem, igualmente, nos peixes a menos que não penetre através das águas; pois deve agir pelo elemento no qual está o objeto. Ninguém tampouco pode escamar um peixe sem faca, nem depenar um corvo sem se servir de seus dedos, nem descer ao fundo de um lago sem uma campânula de mergulhador; em uma palavra, cada cousa deve ser acomodada a uma outra, antes que tenha comunicação e antes que aja contra ela ou com ela.

&126 - VI. A PAIXÃO DA CRUZ FOI A úLTIMA TENTAÇÃO QUE 0 SENHOR SOFREU COMO GRANDISSIMO PROFETA; E ELA FOI 0 MEIO DA GLORIFICAÇÃO DE SEU HUMANO, ISTO É, DA UNIÃO COM 0 DIVINO DE SEU PAI, MAS NÃO FOI A REDENÇÃO.Há duas cousas pelas quais o Senhor veio ao Mundo e pelas quais salvou os homens e os Anjos, a saber: a Redenção e a Glorificação de Seu Humano; estas duas cousas são distintas entre si, mas não obstante fazem um para a salvação. Nos Artigos precedentes foi mostrado

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que a Redenção é o Combate contra os Infernos, sua subjugação e, em seguida, a ordenação dos Céus; quanto à Glorificação, é a União do Humano do Senhor com o Divino do Pai; esta foi feita sucessivamente e plenamente pela Paixão da cruz; com efeito, todo homem deve aproximar-se de Deus; e quanto mais o homem se aproxima, tanto mais de seu lado Deus, entra nêle; acontece com isso como com um Templo; primeiro deve ser construído o que depende das mãos dos homens; em seguida deve ser inaugurado; e enfim, é preciso orar para que Deus aí esteja presente e se una com a Igreja. Que a união mesma tenha sido plenamente feita pela Paixão da cruz é porque esta Paixão foi a última Tentação que o Senhor sofreu no Mundo e a conjunção se faz pelas tentações; com efeito, nas tentações, o homem está em aparência abandonado a êle só, ainda que não tenha sido abandonado, pois Deus está sempre presente nos íntimos do homem e o sustenta; quando, portanto, alguém é vencedor na tentação, é intimamente conjunto a Deus; e o Senhor é então Intimamente unido a Deus Seu Pai. Que o Senhor na Paixão da cruz tenha sido abandonado a Si mesmo, vé-se por Sua exclamação na cruz: "Deus! por que me abandonaste?" e também por estas palavras do Senhor: "Ninguém Me arrebata alma, mas eu a deponho por Mim mesmo; Eu tenho poder de depor e poder de a retomar, êste mandamento recebi de Meu Pai" (João X, 18). Por estas explicações, pode-se ver que o Senhor sofreu, não quanto ao Divino, mas quanto ao Humano e que, então, a união se tornou íntima e plenária. Isto pode ser ilustrado pelo fato de que, quando o homem sofre quanto ao corpo, sua alma não sofre, mas está únicamente na dor; todavia Deus após a vitória retira esta dor e a limpa como alguém enxuga as lágrimas dos olhos.

&127 - Estas duas coisas, a Redenção e a Paixão da cruz, devem ser percebidas distintamente, de outro modo a mente humana cai como um navio quando se lança sobre um banco de areia ou sobre rochedos naufraga e com o capitão, o piloto e os ,marinheiros; isto é, a mente cai no erro sobre tudo o que concerne à salvação pelo Senhor; pois o homem, sem uma idéia distinta destas duas ações, está como em um sonho e vê cousas vãs, de onde tira conjeturas que toma como realidades, quando, entretanto, são futilidades; ou é como alguém que caminha durante a noite e que, apanhando a folhagem de uma árvore, crê que são os cabelos de um homem, aproxima,se de mais perto e entrelaça seus próprios cabelos. Mas ainda que a Redenção e a Paixão da cruz sejam duas ações distintas, acontece, entretanto, que fazem um pela salvação, pois que o Senhor pela união com Seu Pai, que foi concluída pela Paixão da cruz, se tornou Redentor para a eternidade.

&128 - Quanto à Glorificação, pela qual é entendida a união do Divino Humano do Senhor com o Divino do Pai, união que foi plenamente realizada pela Paixão da cruz, o Senhor mesmo falou dela assim nos Evangelistas: "Depois que Judas saiu, Jesus disse: Agora o Filho do Homem foi Glorificado e Deus foi Glorificado n'Ele; se Deus foi Glorificado n'Ele; Deus também 0 Glorificará em Si e no instante o Glorificará" (João XIII, 31, 32); aqui a Glorificação se diz do Deus Pai edo Filho, pois está dito: `Meus foi Glorificado n'Ele; e Éle 0 glorificará em Si"; que seja isto ser unido, é evidente. "Pai, a hora chegou, Glorifica teu Filho, a fim de que teu Filho também te Glorifique" (João XVII, 5); se diz assim porque a união foi recíproca; como quando se diz: 0 Pai está n'Êle e Êle no Pai. "Agora minha alma foi perturbada; e disse: Pai, glorifica Teu Nome; e saiu uma voz do Céu: E o tenho Glorificado e de, novo o Glorificarei" (João XII, 27, 23); isso foi dito porque a união se operou sucessivamente. "Não convinha que o Christo sofresse isso e que entrasse em sua glória?" (Lucas XXIV, 26); a glória na Palavra, quando se trata do Senhor,

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significa o Divino Vero unido ao Divino Bem. Por estas passagens é bem evidente que o Humano do Senhor é Divino.

&129 - Se o Senhor quis ser tentado até à Paixão da cruz porque era Êle mesmo Profeta e os Profetas, outrora, significavam a doutrina da Igreja segundo a Palavra e, por conseguinte, representavam a Igreja tal qual era, por diversas coisas, e também pelos atos iníquos, duros e mesmo atrozes que lhes eram prescritos por Deus. Mas como o Senhor era a Palavra mesma, pela Paixão da cruz Êle representou, como Profeta, a Igreja Judaica e a maneira pela qual esta Igreja havia profanado a Palavra mesma; a essa razão se junta esta, que Ele devia assim ser reconhecido nos Céus pelo Salvador de um e outro Mundo, pois tôdas as circunstâncias de Sua Paixão significavam? coisas que concernem. à profanação da Palavra; e os Anjos as compreendem. espiritualmente, enquanto que os homens da Igreja as compreendem naturalmente. Que o Senhor mesmo tenha sido Profeta, vê-se por estas passagens: "0 Senhor disse: Uni Profeta não é sem honra senão em sua pátria e em sua casa" (Mateus XIII, 57; Marcos VI, 4; Lucas IV, 24). "Jesus disse: Não é conveniente que um Profeta morra fora de Jerusalém" (Lucas XIII, 33). "0 medo se apoderou de todos; êles louvavam a Deus, dizendo que um grande Profeta havia sido suscitado entre êles" (Lucas VII, 16). Diziam de Jesus: "E' o Profeta de Narazeth" (Mateus XXI, 11; João VII, 40, 41). "Um Profeta será suscitado do meio de teus irmãos, obedecei às suas palavras' (Deuter. 18, 15, 19).

&130 - Que os Profetas tenham representado o estado de sua Igreja quanto à doutrina tirada da Palavra e quanto à vida segundo esta doutrina, vê-se por estas passagens: Foi ordenado ao Profeta Isaías, "para desatar o saco de cima de seus rins, tirar o sapato do pé e ir nu e descalço durante três anos, em sinal e em prodígio" (Isaías XX, 2, 3). Foi ordenado ao Profeta Ezequiel para que representasse o estado da Igreja, "que preparasse sua bagagem para se mudar, e se fosse para outro lugar aos olhos dos filhos de Israel; pusesse do lado de fora a sua bagagem durante o dia, saísse de noite por um buraco feito na parede, cobrisse o rosto para não ver a terra e fosse assim um prodígio para a casa de Israel; depois dissesse: Eis, eu sou vosso prodígio; como eu faço, do mesmo modo vos será feito" (Ezequiel XII, 3 a 7, 11). Foi ordenado ao Profeta Hoséas, para que reprentasse o estado da Igreja, -que tomasse uma prostituta por esposa; e êle tomou uma e ela lhe deu à luz três filhos, dos quais chamou um Jisreel, o outro, Sem-Misericórdia; e, o terceiro, NãoMeu-Povo. E lhe foi ordenado de novo para ir embora e amar unia mulher amada de um companheiro e adúltero; e êle a comprou mesmo por quinze moedas de prata" (Hoséas 1, 2 a 9; 111, 2, 3). Foi também ordenado a um Profeta, "que pusesse cinzas sobre os olhos e se deixasse bater e ferir` 1 (1 Reis XX, 35 a 38).Foi ordenado ao Profeta Ezequiel, para que representasse o estado da Igreja, "que tomasse um tijolo, gravasse nêle Jerusalém, lhe fizesse o cêrco, construísse contra ela entrincheiramentos e uma fortificação, colocasse uma sertã de, ferro entre êle e a cidade, se deitasse sobre o lado esquerdo e em seguida sobre o lado direito. Depois tomasse trigo, cevada, favas, lentilhas, milho, aveia, e disso fizesse pão; e também que fizesse de cevado com excremento de, homem; mas a seu pedido, lhe foi permitido fazer com excremento de boi. Foi-lhe dito: Tu te deitarás sobre teu lado esquerdo e põe sobre êle a iniqüidade da casa de Israel; o número dos dias que te deitarás sobre êste (lado) tu levarás a sua iniqüidade, segundo o número de dias, (a saber) 390 dias, a fim de que leves a iniqüidade da casa de Israel.Mas quando acabares êstes (dias), tu te estenderás em segundo lugar sobre teu lado direito, para levar a iniqüidade da casa de Judá" (Ezequiel IV,

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1 a 15). Que o Profeta, por haver assim levado as iniqüidades da casa de Israel e da casa de Judá, não as tirou, nem por conseqüência as expiou, mas não fez senão as representar e as mostrar, é o que se vê pelo que é dito em seguida no mesmo Capítulo: "Do mesmo modo, diz Jehovah, os filhos de Israel comerão seu pão impuro entre as nações para as quais vou expulsá-los. Eis, vou quebrar o bastão do pão de Jerusalém, a fim de que lhes falte pão e água e que o homem e seu irmão sejam desolados e caiam em fraqueza por causa de sua iniqüidade" (IV, 13, 16, 17). E' portanto entendido a mesma cousa a respeito do Senhor, quando se diz: "Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores; Jehovah fêz cair sobre êle a iniqüidade de todos nós; por sua ciência justificará muitos porque suas iniqüidades Ele mesmo as terá carregado" (Isaías LIII, 4, 6, 11); aí em todo o Capítulo se trata da Paixão do Senhor. Que o Senhor, como sendo Êle mesmo Profeta, tenha representado o estado da Igreja Judaica quanto à Palavra, é o que é evidente em cada partícularídade de Sua Paixão; por exemplo: Éle foi traído por Judas. Foi prêso e condenado pelos Príncipes dos sacerdotes e pelos Anciços. Deram-lhe bofetadas. Bateram-lhe a cabeça com uma cana. Puseram-lhe uma coroa de espinhos. Dividiram Suas roupas e lançaram sortes sobre Seu manto. Crucificaram-nO. Deram-lhe a beber vinagre. Furaram-lhe o lado. Foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia. A Sua traição por Judas significava que Êle era traído pela nação Judaica, na qual estava então a Palavra; pois Judas repressntava esta nação. Sua prisão e Sua condenação pelos Príncipes dos sacerdotes e pelos Anciãos. significava que toda a Igreja Judaica agia assim. Dar-lhe bofetadas, cuspir-lhe na face, açoitá-lo com uma cana, significava que se tinha agido assim em relação à Palavra, quanto a Seus Divinos Veros. A coroa de espinhos que lhe puseram na cabeça significava que se tinha falsificado e adulterado êstes veros. A partilha de Suas roupas e a sorte lançada sobre Seu manto significava que haviam dispersado todos os veros da Palavra, mas não seu sentido espiritual, que era significado pelo manto do Senhor. A Sua crucificação significava que se havia destruido e profanado toda a Palavra. 0.vinagre que lhe apresentaram para beber significava que tudo estava falsificado; por isso Êle não o bebeu. A ferida que lhe fizeram do lado significava que haviam extinto totalmente todo vero e todo bem da Palavra. Seu sepultamento significava a ação de rejeitar o resto do humano que Ele tinha de uma mãe. Sua ressurreição no terceiro dia significava a Glorificação ou a União de Seu Humano com o Divino do Pai. Por estas explicações, é agora evidente que por levar as iniqüidades é entendido, não as retirar, mas representar a profanação das verdades da Palavra.

&131 - Êste assunto pode também ser ilustrado por comparações, e isso, em favor das pessoas simples que vêem melhor por comparações que por deduções formadas analiticamente segundo a Palavra e ao mesmo tempo segundo a razão: Todo cidadão ou súdito está unido ao Rei, pelo fato de executar suas -ordens e seus mandamentos, e mais ainda, se por êle suporta perigos e sofre a morte, o que acontece nos combates e nas batalhas; semelhantemente um amigo é unido a seu amigo, um filho a seu pai e um servidor a seu amo porque executam o que concerne à sua vontade, o defendem contra seus inimigos e, mais ainda, se combatem por sua honra. Aquêle que deseja esposar uma moça, não se une a ela combatendo contra aquêles que a difamam e se expondo a ser ferido por um rival? Se há união por meio de tais atos, é conforme a lei gravada na natureza. 0 Senhor disse: "Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá sua alma pelas ovelhas; por causa disso meu Pai Me ama" (João X, 11, 17).

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&132 - VII. A CRENÇA DE QUE A PAIXÃO DA CRUZ FOI A REDENÇÃO MESMA, E' 0 ÊRRO FUNDAMENTAL DA IGREJA; ÊSTE ERRO, JUNTO AO ÊRRO SOBRE AS TRÉS PES:SOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, DE TAL MODO PERVERTEU A IGREJA TODA, QUE NADA RESTA DE ESPIRITUAL NELA.O que é que enche e recheia mais hoje os livros dos Ortodoxos, o que é ensinado e inspirado com mais ardor nos lugares de instrução e o que é pregado e declamado mais freqüentemente, nas cátedras, senão que Deus Pai, irritado contra o gênero humano, não somente o afastou de Si, mas ainda o abrangeu em uma danação universal, por conseqüência o excomungou, mas que por uma graça especial empenhou ou incitou o Filho a descer e a tomar sobre si a danação que havia sido decidída e assim a aplacar a cólera de Seu Pai, e que foi por êste meio que Êle pôde encarar o homem com algum favor; que o -Filho executou esta obra, de sorte que tomando sobre si a danação do Gênero Humano, se deixou flagelar pelos Judeus, cuspir na face e -em seguida crucificar como maldição de Deus (Deut. 21, 23); que o Pai, após a realização desta obra, tornou-se propício e por amor a Seu Filho, retirou a danação, mas únicamente de cima daqueles pelos quais intercedesse o Filho, que se fez assim Mediador perpètuamente perante Seu Pai. Estes raciocínios e outros semelhantes reboam hoje nos Templos e repercutem pelas paredes como o eco pelas florestas, enchem os ouvidos de todos -os assistentes. Mas qual é o homem que, tendo formado pela Palavra uma Razão esclarecida e sã, não pode ver que Deus, sendo a Misericórdia mesma e a Clemência mesma, porque é o Amor mesmo e o Bem mesmo, e que os dois pertencem à Sua Essência, há contradição em dizer que a Misericórdia mesma ou o Bem mesmo possam encarar o homem com cólera e concluir sua danação, e não obstante, permanecer a Essência de Deus? Tais raciocínios ferem apenas o homem probo, mas são acolhidos pelo homem vicioso; êles não abalam o Anjo do Céu, mas são acolhidos pelo Espírito do Inferno; é portanto abominável aplicá-los a Deus. Entretanto se procurarmos a causa, acharemos que é porque se tom-ou a Paixão da cruz pela Redenção mesma; daí decorrem êstes erros, como de um único Falso decorrem falsos em série contínua, ou como de um Barril de vinagre não sai senão vinagre, ou de uma Mente insana senão loucuras; pois de uma única conclusão resultam teoremas do mesmo tronco, êles estão interiormente contidos na Conclusão e saem dela sucessivamente e desta Conclusão que a Paixão da cruz é a Redenção podem ainda sair e ser extraídas várias proposições escandalosas e ignominiosas para Deus, até que acontece o que disse Isaías: "Sacerdote e Profeta erram por causa da bebida forte, vacilam no julgamento; tôdas as mesas estão cheias de vômitos de evacuação" (XXVIII, 7, 8).

&133 - Por esta idéia sobre Deus e sobre a Redenção, toda a Teologia, de espiritual, tornou-se baixamente natural; e isso, porque propriedades puramente naturais são atribuídas a Deus; e entretanto tudo na Igreja depende da idéia de Deus, e da idéia da Redenção que faz um com a Salvação; pois esta idéia é como a Cabeça, donde procedem tôdas as outras partes do corpo; quando portanto ela é espiritual, tôdas as cousas da Igreja se tornam espirituais, e quando é natural tôdas as cousas da Igreja se tornam naturais; eis a razão porque, como a idéia de Deus e da Redenção se tornou- natural, isto é, sensual e corporal, são puramente naturais tôdas as cousas que os Chefes e Membros da Igreja ensinaram e ensinam em seus dogmas; se daí não pode ser tirado senão falsos, é porque o homem natural age continuamente contra o homem espiritual, e por conseguinte considera os espirituais como quimeras e fantasmas no ar; podese

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portanto dizer que em razão desta idéia sensual sobre a Redenção e por conseguinte sobre Deus, os caminhos para ir ao Céu, que são os caminhos que conduzem ao Senhor Deus Salvador, foram infestados por ladrões e salteadores (João X, 1, 8, 9); e que nos Templos os batentes das portas foram invertidos e que assim os dragões, as corujas, os tziim e os jiim aí entraram e aí fazem concêrtos discordantes. Que esta idéia sobre a Redenção e sobre Deus tenha sido introduzida na fé de hoje, isso é notório; esta fé consiste em se dirigir ao Deus Pai para que Ele redima os pecados em consideração da cruz e do sangue de Seu Filho e a Deus Filho para que Êle peça e interceda; e a Deus Espírito Santo para que Èle justifique e santifique; não é isto outra cousa senão suplicar a três Deuses cada um em sua ordem, e então qualê o pensamento sobre o Govêrno Divino? Será outro senão sobre um govêrno Aristocrático ou Hierárquico, ou sobre o Triunvirato tal como existiu uma vez em Roma? Mas em lugar de Triunvirato pode ser chamado Triumpersonato; e então o que haverá de mais fácil para o Diabo do que aplicar a máxima: Divide e governa, isto é, dividir os espíritos, e excitar movimentos de rebelião, ora contra um Deus, ora contra um outro, como aconteceu desde a época de Arius até ao presente, e assim derrubar do Trono o Senhor Deus Salvador, a Quem pertence todo poder no Céu e sobre a Terra (Mateus XXVIII, 18), e aí colocar um de seus Clientes e lhe outorgar o culto ou porque se outorgou o culto a esse cliente, retirá-lo por isso do Senhor mesmo?

&134 - Ao que acaba de ser dito, ajuntarei estes Memoráveis. Primeiro Memorável. Um dia entrei em um Templo no Mundo dos espíritos onde vários Espíritos estavam reunidos; e antes da Pregação raciocinavam entre si sobre a Redenção. 0 Templo era quadrado, e sem nenhuma janela nas paredes, mas no alto, no meio do teto, havia uma grande abertura, pela qual a luz do Céu entrava e dava mais claridade do que se houvesse janelas dos lados; e eis que de repente, enquanto estavam discorrendo sobre a Redenção, uma nuvem negra veio do setentrião cobrir a abertura, o que produziu trevas ao ponto de cada um não ver seu vizinho e perceber apenas a sua própria mão; como esta obscuridade os mantinha admirados, eis que esta nuvem negra se fendeu pelo meio; e pela fenda viu-se Anjos enviados do Céu e estes afastaram a Nuvem dos dois lados, de maneira que houve de novo claridade no Templo; e os Anjos enviaram ao Templo um dêles, a fim de perguntar de sua parte aos que estavam reunidos sobre que assunto discutiam, para que uma nuvem tão escura viesse lhes tirar a luz e os cobrir de trevas; responderam: Sobre a Redenção; e diziam que o Filho de Deus a operou pela Paixão da cruz e que por esta paixão fez expiação e livrou o Gênero Humano da danação e da morte eterna mas a estas palavras o Anjo que lhes tinha sido enviado, disse: Que entendeis pela Paixão da cruz? Exponde por que a Redenção foi feita por ela? E então um Padre se adiantou e disse: Vou expor em série o que sabemos e cremos, ei-lo: Deus Pai, irritado contra o Gênero humano, o havia danado e excluído de Sua clemência, havia declarado todos os homens votados à execração, malditos, e os havia destinado ao Inferno; entretanto quis que Seu Filho tomasse sobre si essa condenação e o Filho consentiu; e para isso desceu, tomou o Humano e sofreu o suplício da cruz, e transferiu assim para Êle a danação do Gênero Humano, pois lê-se: "Maldito é qualquer que é suspenso ao madeiro de uma cruz"; assim o Filho tornou o Pai propício fazendo-se intercessor e mediador; e então o Pai por amor ao Filho, tocado pelos sofrimentos que o viu sofrer sobre o madeiro da cruz, decidiu que perdoaria, mas únicamente, lhe disse, àqueles aos quais imputarei tua Justiça, eu os farei de filhos da cólera e da maldição filhos da graça e da bênção, e os justificarei e salvarei; quanto a todos os outros, que fiquem, como foi precedentemente decidido, filhos da cólera. Eis nossa fé, a única que justifica e salva. 0

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Anjo, tendo ouvido estas palavras, ficou longo tempo sem falar, pois o espanto o tornava mudo; enfim, rompeu o silêncio e se exprimiu nestes termos: 0 Mundo Cristão pode ser louco a êsse ponto .e se afastar da sã razão para semelhantes quimeras e tirar desses Paradoxos o dogma fundamental da salvação? Quem não pode Ver que é~ Paradoxos são diametralmente opostos à Essência de Deus, isto é, a Seu Amor e a Sua Sabedoria, e ao mesmo tempo à Sua Onipotência e à Sua Onipresença? Nenhum senhor probo agiria assim em relação a seus servidores e a seus criados; nem mesmo uma besta feroz em relação a seus filhotes; isso é abominável. Não é contra a Divina Essência tomar nula a Vocação que foi feita a todos os homens em geral e a cada um em particular? Não é contra a Divina Essência mudar a Ordem estabelecida de toda a eternidade, a saber, que cada um seja julgado segundo a sua vida; não é contra a Divina Essência retirar o amor e a miscricórdia a um único homem, e com mais forte razão a todo o gênero humano? Não é ainda contra a Essência de Deus ser reconduzido, à vista dos sofrimentos suportados pelo Filho, à misericórdia e a misericórdia sendo a Essência mesma de Deus, ser reconduzido à Sua Essência e não é abominável pensar que êle jamais tenha saído dela, pois esta Essência é Ele mesmo de toda a eternidade? Não é impossível por isso transportar para uma espécie de ser (ens), tal como é a vossa fé, a Justiça da Redenção, que em si pertence à Divina Onipotência, imputá-la e aplicá-la ao homem e, sem nenhum outro meio, declará-lo justo, puro e santo? Não é impossível remir a quem quer que seja os pecados, inovar, regenerar e salvar quem quer que seja só pela imputação e assim mudar a injustiça em justiça, e a maldição em bênção? Deus poderia assim mudar o Inferno em Céu e o Céu em Inferno, ou o Dragão em Miguel e Miguel em Dragão, e assim renovar em sentido inverso o combate entre êles; não será necessário senão retirar de um a imputação de vossa fé e dá-Ia aos outro por conseqüência, nós que estamos no Céu, devemos tremer eternamente. Além disso, está conforme a justiça e ao julgamento que um tome sobre si o crime de outro; que o criminoso se torne não culpado e que o crime seja assim apagado? Isso não é contra a Justiça Divina e contra a justiça humana? 0 Mundo Cristão ignora ainda que há uma Ordem e, além disso, ignora o que é a Ordem que Deus introduziu no Mundo ao mesmo tempo que o criou; e que Deus não pode agir contra essa Ordem, pois que então agiria contra Si, pois Deus mesmo é a Ordem. 0 Padre compreendeu o que o Anjo tinha dito porque os Anjos que estavam em cima tinham espalhado uma luz do Céu; e então êle gemeu e disse: Que é preciso fazer? Hoje todos pregam, oram e crêem assim; todo mundo tem na boca estas palavras: Bom Pai! tem piedade de nós e redime nossos pecados por causa do sangue de Teu Filho, que Êle derramou por nós na cruz; e se diz ao Christo: Senhor intercede por nós; e nós Padres, acrescentamos: Envia-nos o Espírito Santo; e então o Anjo disse: Notei que da Palavra não compreendida interiormente, os padres tiram colírios que aplicam nos olhos cegos por sua fé ou de que fazem um emplastro que põem sobre as feridas produzidas por seus dogmas, mas não obstante não as curam, porque são inveteradas; vai portanto e aquêle que está lá, e me apontou com o dedo - êle te ensinará, segundo o Senhor, que a Paixão da cruz foi, não a Redenção, mas a União do Humano do Senhor com o Divino do Pai; que a Redenção foi a subjugação dos Infernos e a ordenação dos Céus; e que sem estes dois atos que o Senhor realizou quando estava no Mundo, não teria havido salvação para pessoa alguma sobre a Terra, nem para pessoa alguma nos Céus; e além disso, êle te ensinará a ordem introduzida na criação, ordem segundo a qual deve-se viver para ser salvo; e que aquêles, que vivem segundo esta ordem são contados no número dos Redimidos e são chamados eleitos. Depois que pronunciou estas palavras, se formaram sobre os lados, no Templo, janelas pelas quais uma luz brilhante, influía das quatro plagas, do Mundo, e apareceram Querubins que

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voavam no esplendor da luz; e o Anjo foi elevado para os seus acima da abertura; e nós nos retiramos contentes.

&135 - Segundo Memorável. Um dia, tendo me levantado de manhã do meu sono, o Sol do Mundo espiritual me apareceu em seu brilho e abaixo vi os Céus, que eram tão afastados dêle. como a Terra o é do seu Sol; e então se ouviram dos Céus palavras inefáveis que, reunidas em conjunto, formavam por articulações esta frase compreensível: Não há senão um Deus, que é Homem, cujo habitáculo é neste Sol; esta frase articulada caiu pelos Céus médios para o Céu Ínfimo e de lá, no Mundo dos Espíritos, onde eu estava; e notei que a idéia de um único Deus, que os Anjos tinham expresso, era, segundo os graus de descida, mudada em uma idéia de três Deuses; enquanto fazia esta observação entrei em conversação com aquêles que pensavam três Deuses, dizendo-lhes: O! que enormidade! de onde vos vem ela? E êles, responderam: Pensamos três segundo nossa idéia perceptível de Deus Triuno, mas esta idéia não cai jamais em nossa boca; quando falamos, dizemos sempre a boca cheia que Deus é um; pouco importa que haja em nossas mentes uma outra idéia, desde que ela daí não decorra e não cinda a unidade de Deus na, boca mas não obstante ela daí decorre de tempos em tempos, pois que aí está, e então se falássemos, diríamos três Deuses, mas nos guardamos bem disso, com medo de nos expor à zombaria de nossos ouvintes; e então falaram abertamente segundo seu pensamento, dizendo: Não é que há três Deuses, pois que há três Pessoas Divinas, cada uma das quais é Deus; e podemos nós pensar de outro modo, quando os chefes de nossa Igreja, nas preciosas coleções de seus santos dogmas, consignam- a um a Criação, ao outro a Redenção, e ao terceiro, a Santificação; e quando, além disso, atribuem a cada um d'Êles propriedades que afirmam incomunicáveis aos outros dois, propriedades que não são somente a Criação, a Redenção e a Santificação, mas ainda a Imputação e Mediação e a Operação? Desde logo não há um que nos criou e também imputa; um outro que nos redimiu. e também faz mediação; e um terceiro que opera a imputação obtida pela mediação e também santifica? Quem não sabe que o, Filho de Deus foi enviado ao Mundo por Deus Pai, para redimir o gênero humano e assim tornar-se Expiador, Mediador, Propiciador e Intercessor? e como este é um com o Filho de Deus de toda a eternidade, não estão aí duas Pessoas distintas por si mesmas? e pois que estas duas Pessoas estão no Céu, uma sentada à direita da outra, não deve haver uma terceira Pessoa para. executar no Mundo o que foi decidido no Céu? Quando ouvi estas palavras, guardei silêncio, mas pensava em mim mesmo: O! que - loucura! êles não sabem coisa alguma do que é entendido na Palavra, por Mediação; e então segundo a ordem do Senhor três Anjos desceram do Céu e me foram associados,, a -lim de que, segundo uma percepção Interior, eu falasse com aqueles que estavam na idéia de três Deuses, e especialmente sobre a Mediação, a Intercessão, a Propiciação e a Expiação, que são atribuídas por êles à Segunda Pessoa, ou o Filho, mas somente depois que Êle foi feito Homem; e Êle foi feito Homem muitos séculos depois da Criação quando êstes quatro meios de salvação -não existiam ainda; e que assim Deus Pai não se tinha tomado propício, o gênero humano não tinha sido expiado, e ninguém tinha sido enviado do Céu para interceder e operar a mediação. Segundo a inspiração que me foi dada falei então com êles, dizendo: Aproximai-vos em tão grande número quanto for possível e escuta! o que é entendido na Palavra por Mediação, Intercessão, Expiação e Propiciação; são quatro Atribuições da graça do Deus único em Seu Humano; Deus Pai não pode jamais ser aproximado, nem Êle mesmo pode se aproximar de homem algum porque é Infinito e (está) em Seu Ser que é Jehovah e que, se por Seu Ser, se aproximasse do homem, Êle o destruiria

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como o fogo destrói a madeira e a reduz a cinzas; isto é evidente por ,estas palavras que dirigiu a Moisés que queria vê-lO: "Ninguém pode Me ver e viver" (Êxodo 33, 20); e o Senhor disse que "Deus ninguém 0 viu jamais, senão o Filho que está no selo do Pai" (João 1, 18; Mateus XI, 27); e que "ninguém ouviu a voz do Pai, nem viu Seu aspecto" (João V, 37); lê-se, é verdade, que Moisés viu Jehovah face a face e falou com Èle de boca a boca mas isso aconteceu por intermédio de um Anjo como para Abrahão e Gedeão. Pois que tal é Deus Pai em Si mesmo, Aprouve-lhe tomar o Humano e neste Humano admitir os homens, e assim escutá-los e falar com êles; e este Humano é o que se chama o Filho de Deus; e está aí o que opera a mediação, a intercessão, a propiciação e a expiação. Vou dizer em conseqüência o que significam êstes quatro Atributos do Humano de Deus Pai: A Mediação significa que este Humano é o intermediário pelo qual o homem pode se aproximar de Deus Pai, e Deus Pai se aproximar do homem e assim ensiná-lo e conduzilo para'que seja salvo; é por isso que o Filho de Deus, pelo qual é entendido o Humano de Deus Pai, é chamado Salvador, e no Mundo Jesus, isto é, Salvação. A Intercessão significa uma perpétua Mediação, pois o Amor mesmo, ao qual pertence a Misericórdia, a clemência e a graça, intercede perpetuamente, isto é, está perpetuamente, em mediação por aquêles que fazem seus preceitos e que são os que Ele ama. A Expiação significa o afastamento dos pecados nos quais o homem se precipitaria se se aproximasse de Jehovah nu (não revestido do Humano). A Propiciação significa a operação da clemência e da graça, a fim de que o homem pelos pecados não se precipite na danação; signífica também a vigilância para que não profane a santidade; é o que significava o Propiciatório sobre a Arca no Tabernáculo. E' notório que Deus na Palavra falou segundo as aparências; por exemplo: quando diz que se põe em cólera, que se vinga, que tenta, pune, lança no inferno, dana e mesmo que faz o mal, Ele, entretanto, não se põe em cólera contra pessoa alguma, não se vinga de pessoa alguma, não tenta, não pune, não lança no inferno, não dana pessoa alguma, estas ações estão tão afastadas de Deus como o Inferno, está afastado do Céu. São, portanto, locuções segundo as aparências; há também, em um outro sentido, locuções segundo as aparências nas expressões de Expiação, Propiciação, Intercessão e Mediação, pelas quais são entendidas as atribuições do acesso para perto de Deus e da graça proveniente de Deus, por Seu Humano; como estas atribuições não foram compreendidas, dividiuse Deus em três e sobre estes Três fundou-se toda a doutrina da Igreja e assim falsificou-se a Palavra; daí a abominação da desolação predita pelo Senhor em Daniel e também em Mateus, Capítulo XXIV. A estas palavras, a Coorte de Espíritos se retirou de roda de mim e notei que aqueles que na realidade pensavam em três Deuses olhavam para o Inferno; e aquêles que pensavam em um único Deus, no qual está a Divina Trindade e que esta Trindade está no Senhor Deus Salvador, olhavam para o Céu, no qual está Jehovah no Seu Humano.

&136 - Terceiro Memorável. VI, de longe, cinco Ginásios, cada um dos quais estava cercado de uma luz proveniente do Céu. 0 Primeiro Ginásio estava cercado de uma luz púrpura, tal como há nas nuvens antes do nascer do Sol pela manhã; o Segundo estava cercado de uma luz amarela tal como a da aurora depois do nascer do Sol; o Terceiro, de uma luz branca tal como é no Mundo ao meio-dia; o Quarto, de uma luz média, tal como e quando começa a se misturar com a sombra da tarde; e o Quinto estava na sombra mesma da tarde. No Mundo dos Espíritos os Ginásios são Edifícios onde os Eruditos se reúnem e discutem diversos arcanos que servem à sua ciência, à sua inteligência e à sua sabedoria. Vendo êstes Ginásios desejei ir a um dêles e fui, em espírito, ao que estava cercado de uma luz média; entrei e vi uma Assembléia composta de Eruditos -que discutiam entre si esta

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questão: 0 que significa o que é dito do Senhor: - sendo elevado ao Céu, assentou-se à direita de Deus? (Marcos XVI, 19). A maior parte dos membros da Assembléia disseram que, segundo as palavras, era absolutamente necessário entender que o Filho está assim assentado perto do Pai; foi-lhes perguntado porque isso é -assim; alguns disseram que o Filho foi colocado pelo Pai à Sua direita por causa da Redenção, que Me realizou; outros, que Ele está assim sentado por amor; -outros, que é para ser o Conselheiro do Pai e, como tal, os Anjos lhe dão honra; e outros, que é porque o Pai lhe concedeu reinar em Seu lugar, pois lê-se que Ele lhe deu todo poder no Céu e sóbre a Terra; todavia, o maior número disse que Ele está à Sua direita, a fim de que o Pai atenda aquêles por quem éle - ~ cede; pois na Igreja todos se dirigem a Deus Pai e pedem que tenha piedade por consideração a Seu Filho; e isso faz que o Pai se volte para o Filho para receber Sua mediação; mas alguns disseram que é unicamente o Filho de Deus de toda a eternidade que se assentou à direita do Pai, a fim de comunicar Sua Divindade ao Filho do homem nascido no Mundo. Quando ouvi estas diversas opiniões, fiquei muito admirado de que Eruditos, ainda que tivessem ficado algum tempo no Mundo espiritual, estivessem entretanto em uma tão grande ignorância das cousas celestiais; mas percebi que era porque, confiando na própria Inteligência, não se tinham deixado instruir pelos Sábios. Todavia, para que não permanecessem por mais tempo na ignorância sobre o Filho sentado à direita do Pai, eu levantei a mão, pedindo para prestarem atenção a algumas palavras que desejava lhes dirigir sobre este assunto; e como consentissem, disse: Não sabeis pela Palavra, que o Pai e o Filho são um, e que o Pai está no Filho e o Filho no Pai? 0 Senhor o disse claramente (João 30; XIV, 10, 11); se não o crêdes, vás dividis Deus em dois e assim, não podeis pensar sobre Deus senão sensualmente e mais, materialmente; e isto é o que se faz no Mundo depois do Concílio de Nicéa, que introduziu as Três Pessoas Divinas de toda a eternidade, transformando a Igreja em um Teatro e criando telas pintadas, nas quais há personagens a representar novas cenas. Quem não sabe e não reconhece que Deus é Um? Se reconheceis isso de coração e de espírito, tudo que dissestes se dissipa por si mesmo e ressalta no ar como bagatelas que o ouvido do sábio rejeita. A estas palavras, vários, arrebatados de cólera, desejavam vivamente me puxar as orelhas e me impor silêncio! 0 Presidente da Assembléia, com indignação, me disse: 0 assunto da discussão não é nem a unidade, nem a pluralidade de Deus, pois que acreditamos numa e noutra, mas é saber o que envolvem estas palavras: - 0 Filho está assentado à direita do Pai; se sabes alguma cousa, fala; e eu respondi: Falarei; mas ordena, eu te peço, que cesse o tumulto; e disse: Por assentar-se à direita, não é entendido assentar-se à direita, mas é entendida a Onipotência de Deus pelo Humano que Ele tomou no Mundo; por êste Humano Ele está. nos últimos como nos primeiros; por êle entrou nos Infernos, os derrubou, os subjugou e por éle, pôs em ordem os Céus, redimiu os homens e os Anjos e os redimiu pela eternidade; se consultais a Palavra e se sois tais que possais ser ilustrados, percebereis que pela Direita é entendida a Onipotência; por exemplo, em Isaías: "Minha Mão fundou a Terra e minha Direita, de sua palma, formou os Céus" (XLVIII, 13). "Deus jurou por Sua Direita e pelo Braço de Sua força'' (LXII, 8). Em David: "A tua Direita me sustenta" (Psalmo 18, 36). "Olha para o Filho que tu te tinhas fortificado; que seja tua mão para o homem de tua direita, para o Filho do Homem que tu te fortificaste" (Salmo 80, 16, 18). Por aí se vê como deve ser entendida esta passagem: "Palavra de Jehovah a meu Senhor: Assenta-te à minha Direita até que eu tenha posto teus inimigos por escabelo de teus pés; Jehovah de Sião enviará o cetro de tua força; domina no meio de teus Inimigos" (Psalmo 110, 1, 2); em todo este (Salmo se trata do combate contra os Infernos e da subjugação dos Infernos; como a Direita

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de Deus significa a Onipotência, eis por que o Senhor disse que estará assentado à direita da potência (Mateus XXVI, 63, 64); e à direita da virtude de Deus (Lucas XXII, 69). A estas palavras a Assembléia fêz ouvir murmúrios; mas eu disse: Tomai cuidado para que não vos apareça do Céu uma Mão que, quando aparece, imprime um incrível terror da potência; e isto é uma confirmação de que a Direita de Deus significa a Onipotência; apenas tinha pronunciado estas palavras, viu-se uma Mão estendida abaixo do Céu, a qual, tão grande terror causou a êles, que se precipitaram todos para as portas e para as janelas tentando fugir; e outros, faltando-lhes a respiração, calam desfalecidos; mas eu fiquei tranqüilo e me fui embora, lentamente, depois deles; porém, quando estava a uma certa distância, me voltei, e vi êste Ginásio envolvido em uma nuvem escura; e me foi dito do Céu, que isso tinha acontecido assim porque êles tinham falado segundo a fé dos três Deuses; e que a luz precedente que o cercava voltaria quando Espíritos mais sensatos aí se reunissem.

&137 - Quarto Memorável. Soube que tinha sido convocado um Consistório composto de pessoas de nomeada por seus escritos e sua erudição sobre a Fé de hoje e sobre a justificação dos eleitos por esta fé; era no Mundo dos Espíritos; e me foi dado estar aí presente em espírito; e vi os que tinham sido convocados dentre o Clero se grupar segundo eram do mesmo sentimento ou de um sentimento oposto; do lado direito ficavam aquêles que no Mundo são chamados Pais Apostólicos e que viveram nos séculos anteriores ao Concílio de Nicéa; do lado esquerdo, estavam homens que, depois dêsses séculos se tomaram célebres por obras impressas ou transcritas por copistas; muitos, tinham o mento calvo e a cabeça coberta de perucas frisadas feitas com cabelos de mulher; alguns dêstes estavam com gola de canudos e outros com gola de asas; mas os do lado direito tinham barba e cabelos naturais; diante de uns e de outros estava um Personagem que tinha sido Juiz e Arbitro dos escritores deste século; tinha na mão um bastão com que bateu no solo e impôs silêncio; então, subiu ao mais alto degrau da Cátedra, soltou um gemido e, em seguida, quis falar em voz alta, mas a respiração de seu gemido não permitiu; pouco depois, podendo falar, disse: Irmãos! 6 que século! elevou-se da multidão dos Leigos um homem que não tem nem o manto, nem a mitra, nem o louro e que arrancou do Céu a nossa fé e a lançou no Estige; 6 malvadez! Entretanto, ela é a nossa Estrêla e brilha como Orion nas noites e como Lúcifer de manhã; êste homem, ainda que de muita idade, é inteiramente cego nos mistérios de nossa fé porque não a abriu e não viu nela a justiça do Senhor nosso Salvador, nem sua mediação, nem sua propiciação; e como não viu êstes atos, não viu as maravilhas de sua justificação que são a remissão, dos pecados, a regeneração, a santificação e a salvação; êste homem, em lugar de nossa Fé soberanamente salvífica, porque é em três Pessoas Divinas, assim em Deus completo, transferiu sua fé para a Segunda Pessoa, não mesmo para esta Pessoa, mas para o Humano desta Pessoa, que dizemos Divino, é verdade, pela encarnação do Filho de toda a eternidade, mas quem é que pensa sobre êste Humano outra cousa que o simples Humano? e então, que resulta daí senão uma fé, da qual decorre como de uma fonte o naturalismo? e como tal a fé não é espiritual, difere pouco da fé em um Vigário ou em um Santo; sabeis o que Calvino, em seu tempo, disse do Culto que vem de uma tal fé; e vos peço, que um de vós diga de onde vem a Fé? Não é de Deus imediatamente no qual estão tôdas as coisas da salvação? A estas palavras, os membros do lado esquerdo, que tinham o mento calvo, uma peruca frisada e uma gola em torno do pescoço, aplaudiram com as mãos e exclamaram: Falaste muito sabiamente; sabemos que nada podemos tomar que não seja dado do Céu; que êsse profeta

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nos diga de onde vem a fé se não é isso; é impossível que haja uma outra e que venha de outra parte; expor uma outra fé que não esta, que seja a fé, isso é tão impossível como ir a cavalo para uma das constelações do Céu, apanhar aí uma estrêla, encerrá-la no bôlso de sua roupa, e carregá-la. Êle se exprimia assim para que seus confrades escarnecessem de toda fé nova. Então, os Homens do lado direito, que tinham barba e cabelos naturais, foram tomados de indignação e um deles se levantou, um Ancião, mas que, entretanto, logo em seguida, foi visto como um jovem, pois era um Anjo do Céu, que pode retornar à juventude. Ele tomou a palavra e disse: Ouvi qual é a vossa, fé, que o homem ~que ocupava a Cátedra tanto exaltou; mas o que é essa fé, senão o sepulcro de nosso Senhor após a ressurreição, fechado de novo pelos soldados de Pilatos? eu abri essa fé e não vi senão as varinhas dos prestidigitadores pelas quais os Magos do Egito fizeram Milagres; mais ainda: a vossa fé é exteriormente, a vossos olhos, como um escrínio de ouro maciço e guarnecido de pedras preciosas e que, quando é aberto, está vazio, ou terá talvez, nos cantos, o pó das relíquias dos Pontífices, pois êstes têm a mesma fé, com a exceção de que hoje eles a cobriram de santidades externas; a vossa fé também para me servir de comparações, foi escondida na Terra como entre os antigos a Vestal que deixava extinguir o fogo sagrado; e posso afirmar que, ante meus olhos, ela é como o bezerro de ouro, em torno do qual dançaram os filhos de Israel depois que Moisés os deixou e subiu sobre a montanha do Sinai para Jehovah; não vos admireis que tenha falado de vossa Fé mediante tais comparações, pois nós falamos assim no Céu,. Quanto à nossa Fé, ela é, foi e será eternamente no Senhor Deus Salvador, cujo Humano é Divino e o Divino é Humano, tornando assim conveniente à recepção e de acordo com ela, o Divino espiritual é unido ao natural do homem, tornando-se a fé espiritual, no natural; daí, o natural se torna como diáfano pela luz espiritual, na qual está nossa fé; as verdades de que ela se compõe são em tão grande número como o dos versículos no Código sagrado; tôdas estas verdades são como estrêlas que, por suas luzes, a manifestam e lhe dão uma forma; o homem a tira da Palavra por meio de sua iluminação natural, na qual ela é ciência, pensamento e persuasão; mas o Senhor, naqueles que crêem n'Ele, faz com que ela se torne convicção, segurança e confiança, assim ela se torna espiritual-natural; e pela caridade se torna viva; esta Fé em nós é como uma Rainha ornada de tantas pedras preciosas comer a muralha da Santa Jerusalém (Apocalipse 21, 17 a 20). Mas não acrediteis que as palavras que eu disse sejam unicamente palavras de exaltação; e, para que não as considereis puerilidades, vou ler algumas passagens da Santa Palavra, pelas quais vereis claramente que a nossa Fé está não no homem, como vós o crêdes, mas no verdadeiro Deus, em que tudo é Divino; João disse: "Jesus Christo é o verdadeiro Deus e a Vida eterna" (i Epist. 21). Paulo: "No Christo habita a plenitude da Divindade corporalmente" (Coloss. 2, 9); e nos Atos dos apóstolos: "Êle pregou aos judeus e aos gregos, a penitência para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Christo" (20, 21); e o Senhor disse d'Ele mesmo, "que lhe tinha sido dado todo poder no Céu e sóbre a Terra" (Mateus XXVIII, 18); mas não são estas mais do que um pequeno número de passagens confirmativas. Depois disso, o Anjo me olhou e disse: Tu sabes o que os pretensos Evangélicos crêem ou devem crer sobre o Senhor Salvador; conta-nos alguma coisa disso, a fim de que saibamos se estão nesta loucura de crer que o Humano do Senhor é simplesmente Humano e se não lhe ligam alguma cousa do Divino ou como o ligam; e então, diante de toda a Assembléia, li os artigos seguintes tirados de seu Livro de Ortodoxia, intitulado Fórmula de concórdia, impresso em Leipzig em 1756: "No Christo a Natureza Divina--e a Natureza Humana foram de tal modo unidas, que fazem uma única Pessoa (págs. 606, 762). 0 Christo é verdadeiramente Deus e Homem em uma Pessoa

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indivisivel e nela permanece pela eternidade (págs. 609, 673, 762). No Christo, Deus é Homem e o Homem é Deus (págs. 607, 765). A Natureza Humana do Christo foi elevada a toda a Majestade Divina; isto é tirado mesmo de vários Doutores da Igreja (págs. 844 a 852, 860 a 865, 869 a 878). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, é Onipresente e enche tôdas as cousas (págs. 768, 783, 784, 785). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, tem todo poder no Céu e sobre a Terra (págs. 775, 776, 780). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, está assentado à direita do Pai (págs. 608, 764). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, deve ser invocado; o que foi confirmado por passagens da Escritura (pág. 226). A Confissão de Augsbourg aprova principalmente este Culto (pág. 19). - Depois de ter lido estas passagens diante da Assembléia, voltei-me para o Homem que estava na cátedra , e disse: Sei que todos os que estão aqui foram consociados a homens semelhantes a êles no Mundo natural; eu te peço sabes tu com quem estás? Êle respondeu com um tom grave: eu o sei, fui consociado a um Homem célebre, Chefe de ilustres falanges tiradas da Milícia da Igreja; e como tinha respondido com um tom tão grave, eu lhe disse: Perdoa-me se te interrogo: Sabes onde habita êsse Chefe célebre? E ele disse: eu o sei; habita não longe do túmulo de Lutero. A essas palavras disse-lhe sorrindo: Por que dizes o túmulo? Não sabes que Lutero está ressuscitado e que hoje rejeita seus erros sobre a justificação pela fé em três Pessoas Divinas de toda eternidade e que, em conseqüência, foi transportado para o meio dos venturosos do Novo Céu e que vê os insensatos que o seguiram e ri de sua loucura? Êle replicou: Eu o sei, mas que me importa? E então com o mesmo tom com que ele me falou, lhe respondi, dizendo: Inspira o teu Homem célebre, ao qual estás consociado, pois eu temo que, contràriamente à Ortodoxia de sua Igreja, não tenha neste instante arrebatado do Senhor seu Divino, ou que não tenha deixado sua pena traçar um sulco no qual inconsideradamente semeou o Naturalismo, quando escreveu contra o culto do Senhor nosso Salvador. Respondeu-me: Não o posso, porque IX, 5, e além disso, as outras passagens nas quais está predito que Jehovah mesmo devia vir ao Mundo. A tôdas estas provas o Personagem da cátedra se calou e se afastou.Depois desta discussão, o Presidente quis terminar o Consistório por um discurso; mas então um Personagem (Vir) que tinha na cabeça uma mitra e um boné por cima, lançou-se de repente do lado esquerdo da Assembléia, tocou com o dedo seu boné e tomando a palavra, disse: Eu também estou consociado a um Homem que, no teu Mundo, foi eminentemente constituído em honra; eu o sei, porque falo por êle como por mim mesmo; então perguntei: Onde mora ésse Homem eminente; respondeu, Em Gothembourg; e segundo êle tenho algumas vêzes pensado, que tua nova Doutrina cheira a Mahometismo. Logo que esta palavra foi pronunciada, vi todos os da direita, onde estavam os Pais Apostólicos, tomados de assombro e com as faces mudadas; e ouvi sair de suas bocas estas exclamações: Oh! infame invectiva! ó que século! Mas, a fim de acalmar seu justo arrebatamento, estendi a mão e pedi para ser ouvido; a palavra me tendo sido dada, disse: Sei que um homem dessa eminência inseriu uma tal infâmia em uma Carta que foi, em seguida, impressa; mas se então êle tivesse sabido que blasfêmia está encerrada nesta asserção, teria, sem dúvida, rasgado essa carta e a lançaria no fogo; é um tal ultraje que é entendido pelas palavras do Senhor aos Judeus quando diziam que o Christo fazia milagres por um poder diferente do poder Divino (Mateus XII, 22 a 32); além dessas palavras, o Senhor disse ainda: "Aquêle que não está comigo é contra Mim e aquêle que não ajunta comigo, espalha" (vers. 30). A estas palavras, o consociado desse homem baixou a cabeça, mas pouco depois a levantou e disse: Jamais ouvi palavras mais duras que essas que acabas de me dirigir. Mas eu continuei: Há aqui em causa duas acusações: a. de Naturalismo e a de Mahometismo; são duas infames mentiras inventadas

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com astúcia e dois ferimentos, mortais para assustar as vontades e as desviar do Santo Culto do Senhor; e me voltei para o último consociado, e disse: Diz: se o podes, àquele que está em Gothembourg, que leia o que foi dito pelo Senhor no Apocalipse, Capítulo 3, 18; e também o que foi dito no, Capítulo 2, 16. - A estas palavras se fêz um tumulto; mas foi acalmado por uma luz enviada do Céu, segundo, a qual vários daqueles que estavam à esquerda passaram para aquêles que estavam à direita; à esquerda ficaram aquêles que não pensam senão cousas vãs e que dependem da eloqüência de um mestre, qualquer que êle seja e também aquêles que, a respeito do Senhor, não crêem senão no Humano; a Luz enviada do Céu parecia ser repercutida por estes e por aquêles e influir nos que tinham passado do lado esquerdo para o lado direito. CAPITULO IIIDo Espírito Santo e da Divina Operação

&138 - Todos os da Ordem Sacra, que abraçaram alguma idéia justa do Senhor nosso Salvador, desde que entram no Mundo espiritual, o que acontece ordinariamente no terceiro dia depois da morte, são a princípio, instruídos sobre a Trindade Divina; e especialmente sobre o Espírito Santo, a respeito dêle não ser Deus por si, mas que na Palavra, por êle é entendida a Divina Operação procedente de Deus Um e Onipresente; se são especialmente instruidos sobre o Espírito Santo, é porque a maior parte dos Entusiastas depois da morte caem na louca fantasia de que êles mesmos são o Espírito Santo; e porque muitos da Igreja. que acreditaram no Mundo, que o Espírito Santo falou por eles, amedrontam os outros pelas palavras do Senhor em Mateus, dizendo que é um pecado irremissível falar contra as -cousas que o Espírito Santo lhes inspirou (XII, 31, 32). Aquêles que, após esta instrução, se retiram da fé que o Espírito Santo é Deus por Si, são em seguida instruídos a respeito da unidade de Deus, que não é dividida em três Pessoas, das quais cada uma é em particular Deus e Senhor, segundo o símbolo de Atanásio; mas que a Divina Trindade está no Senhor Salvador, como a Alma, o Corpo e a Virtude que dêles procede estão em cada homem; êstes, em seguida, são preparados para receber a fé do Novo Céu; e depois de terem sido preparados, lhes é aberto o caminho para uma Sociedade no Céu onde há uma fé semelhante; e lhes é dada uma morada com confrades com quem viverão eternamente na beatitude. Agora, pois que se tratou de Deus Criador e do Senhor Redentor, é necessário que se trate também do Espírito Santo; êste assunto vai ser dividido, como os outros, por Artigos, como segue:I - 0 ESPIRITO SANTO É A DIVINA VERDADE E TAMBÉM A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇAO PROCEDENTE DE DEUS UM, EM QUE ESTA A DIVINA TRINDADE; ASSIM PROCEDENDO DO SENHOR DEUS SALVADOR.II - A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS PELO ESPÍRITO SANTO, SÃO EM GERAL, A REFORMAÇÃO E A REGENERAÇÃO; E SEGUNDO ESTAS, A INOVAÇÃO, A SANTIFICAÇÃO E A JUSTIFICAÇÃO E SEGUNDO ESTAS ÚLTIMAS, A PURIFICAÇÃO DOS MALES E A RE- MISSAO DOS PECADOS E, ENFIM, A SALVAÇÃO.III - ESTA DIVINA VIRTUDE E ESTA DIVINA 0PERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS PELO ESPIRITO SANTO, NOS ECLESIÁSTICOS ESPECIALMENTE, SAO A ILUSTRAÇÃO E A INSTRUÇÃO.IV - 0 SENHOR OPERA ESTAS VIRTUDES NAQUELES QUE CRÊEM N'ELE.V - 0 SENHOR OPERA DE SI MESMO SEGUNDO 0 PAI, E NÃO VICE-VERSA.VI - 0 ESPÍRITO DO HOMEM E' SUA MENTE E TUDO 0 QUE DELA PROCEDE.

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&139 - 0 ESPIRITO SANTO É A DIVINA VERDADE, E TAMBÉM A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, PROCEDENDO DE DEUS UM, EM QUEM ESTA A DIVINA TRINDADE; ASSIM, PROCEDENDO DO SENHOR DEUS SALVADOR.Pelo Espírito Santo é propriamente significado o Divino Vero, por conseqüência também a Palavra; e neste sentido, o Senhor mesmo é também o Espírito Santo; mas como na Igreja, hoje, pelo Espírito Santo é designada a Divina Operação, que é a Justifícação atual, é por isto que esta Operação é tomada aqui pelo Espírito Santo e que se trata dela principalmente; e também por esta razão: que a Divina Operação se faz pelo Divino Vero que procede do Senhor; e aquilo que procede é de unia única e mesma essência com aquilo de que procede, como estes Três, a Alma, o Corpo e o Procedente que fazem, em conjunto, uma 'única Essência no homem, puramente humana; mas no Senhor, Essência Divina e, ao mesmo tempo, Essência Humana, unidas -uma-com a outra após a Glorificação como o Anterior com &eu Posterior e como a Essência com sua Forma; assim, os três Essenciaís, que são chamados Pai, Filho e Espírito Santo, são um no Senhor. Que o Senhor seja o Divino Vero mesmo ou -a Divina Verdade, isso foi demonstrado acima; que o Espírito Santo o seja também, vê-se por estas passagens:- "Sairá um ramo do tronco de Jishal, sobre ele repousará o Espírito de Jehovah, Espírito de Sabedoria e de inteligência, Espírito de conselho e de força; êle ferirá a terra com a vaTa de sua boca e pelo espírito ,de seus lábios matará o ímpio; a justiça será o cinto de seus rins e a Verdade, o cinto de suas coxas" (Isaías 2[1, 1, 2, 4, 5). "Virá como o rio apertado, o Espírito de Jehovah porá seu sinal nêle; então virá a Sião, o Redentor" (Isaías LIX, 19, 20). "0 Espírito do Senhor Jehovah (está) sobre mim, Jehovah me ungiu para evangelizar os pobres me enviou" (Isaías LXI, 1; Lucas IV, 18). "'Eis -a minha aliança: Meu Espírito que (está) sobre ti e minhas palavras não se retirarão de tua boca desde agora e na eternidade (Isaías LIX, 21). - Pois que o Senhor é a Verdade, tudo que procede d'Ele é por conseqüência a verdade; e êste Procedente é entendido pelo Paracleto que é também chamado Espírito de verdade e Espírito Santo; isto é evidente segundo estas passagens: "Eu vos digo a verdade, é vantajoso para vós que eu me vá, pois se eu não me for, o Paracleto não virá a vós, mas se eu me for, eu vô-lo enviarei" (João XVI, 7). "Quando êle vier, o Espírito da Verdade, êle vos conduzirá a toda Verdade; não falará por êle mesmo, mas tudo que tiver ouvido êle o pronunciará" (João XVI, 13). "Éle me glorificará porque do meu êle receberá, e vô-lo anunciará; tôdas as cousas que o Pai tem são minhas; é por isso que eu digo que do meu êle receberá e vô-lo anunciará" (João XVI, 14, 15). "Pedirei ao Pai que vos dê um outro Paracleto o Espírito da Verdade, que -o Mundo não pode receber porque não o vê, e não o conhece; mas vós o conheceis, porque êle mora em vós e em vós êle estará; não vos deixarei órfãos, venho a vós; e vós me vereis" (João XIV, 16, 17, 18). "Quando vier o Paracleto que eu vos enviarei do Pai, o Espírito de Verdade, Êsse dará testemunho de mim" (João XV 26). Que o Senhor se tenha designado a Si mesmo por Paracleto ou Espírito Santo, isso é evidente por estas palavras do Senhor, que o Mundo não o conhecia ainda, mas vós me conheceis; não vos deixarei órfãos, venho a vós; e vós me vereis; e era outro lugar: "Eis que eu convosco estou todos os dias até à consumação dos séculos" ,(Mateus XXVIII, 20); depois por estas palavras: "Ele não falará por si mesmo, mas do meu receberá".

&140 - Ora, pois que pelo Espírito Santo é entendida a Divina Verdade e que esta estava no Senhor e era o Senhor mesmo (João XIV, 6), e que assim 'não podia proceder de outra

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parte, é por isso que se diz: "Não havia ainda um Espírito Santo porque Jesus ainda não tinha sido glorificado" (João VII, 39); e após a Glorificação: "Ele soprou sobre Seus Discípulos e disse: Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22). Se o Senhor soprou sobre seus discípulos e lhes disse estas palavras, é porque o sopro era o sinal representativo externo da Divina inspiração; ora a Inspiração é a inserção nas sociedades angélicas. Por isso, o entendimento pode apreender o que foi dito pelo Anjo Gabriel, só bre a Concepção do Senhor: "Um Espírito Santo virá sobre ti e uma Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o que nascer de ti, Santo, será chamado Filho de Deus'' (Lucas 1, 35). Depois: "0 Anjo do Senhor disse em sonho a José: "Não temas receber Maria tua Noiva, pois o que nela nasceu é do Espírito Santo; e José não a conheceu até que ela tivesse dado à luz seu Filho primogénito" (Mateus 1, 20, 25). Aí, o Espírito Santo é o Divino Vero procedendo de Jehovah, o Pai; e êste procedente é a Virtude do Altíssimo, que cobriu então a Mãe com sua sombra; isto coincide com a passagem de João: "A Palavra estava com Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra se fêz carne" (1, 1, 14); que aí, pela Palavra, seja entendido o Divino Vero, vê-se na Fé da Nova Igreja, acima, n. 3.

&141 - Que a Divina Trindade esteja no Senhor, isso foi demonstrado acima; e o será mais amplamente no que segue quando se trata dela ex professo; aqui serão somente referidas certas discordâncias que resultam desta Trindade dividida em três Pessoas. E' como se algum Ministro da Igreja ensinasse do alto de uma cátedra o que se deve crer e o que se deve fazer; e que perto dêle houvesse um outro Ministro lhe dizendo ao ouvido: Falaste bem, acrescenta ainda alguma cousa; e dissesse a um terceiro que estivesse sobre os degraus da cátedra: Desce ao Templo, abre os ouvidos e espalha estas palavras em seus corações; e ao mesmo tempo, faze que êles sejam purezas, santidades e testemunhos da justiça. A Divina Trindade dividida em Pessoas, cada uma das quais em particular, é Deus e Senhor, é semelhante também a três Sóis em um único Mundo, dois no alto perto do outro. e abaixo o terceiro, que espalha em torno dos anjos e dos homens e conduz o calor e a luz dos dois primeiros com toda potência em suas mentes, em seus corações, em seus corpos e age sobre êles do mesmo modo que o fogo penetra, clarifica e sublima os materiais nas retortas; quem não vê que, se fosse assim, o homem seria queimado até ficar reduzido a cinzas? 0 govêrno, de três Pessoas Divinas no Céu, seria semelhante também ao govêrno de três Reis em um mesmo Reino; ou ao govêrno de três generais, tendo o mesmo poder sobre um único Exército; ou antes, ao Govêrno Romano, antes do tempo dos Césares quando havia um Cônsul, um Senado e um Tribuno do povo, entre os quais, é verdade, o poder estava dividido, mas, entretanto, soberano em todos ao mesmo tempo; quem não vê quanto será discordante, ridículo e extravagante, introduzir um tal govêrno no Céu? êle é aí introduzido quando se atribui a Deus Pai o poder como o de um Cônsul Supremo, ao Filho um poder como o de um Senado e ao Espírito Santo, um poder como o de um Tribuno do povo; o que acontece quando se atribui a cada um dêles uma função própria e mais ainda: quando se acrescenta que essas propriedades não são comunicáveis.

&142 - II. A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS PELO ESPIRITO SANTO SÃO, EM GERAL, A REFORMAÇÃO E A REGENERAÇAO; E, SEGUNDO ESTAS, A INOVAÇAO, A VIVIFICAÇAO, A SANTIFICAÇÃO E A JUSTIFICAÇÃO; E, SEGUNDO ESTAS úLTIMAS, A PURIFICAÇAO DOS MALES E A REMISSAO DOS PECADOS E, ENFIM, A SALVAÇÃO.

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Estão aí em sua ordem as Virtudes que o Senhor opera naqueles que crêem n'Êle e que se preparam e se dispõem a lhe servir de recipiente e de morada; e isso é feito pelo Divino Vero; e nos Cristãos, pela Palavra, pois é o único médium pelo qual o homem se aproxima do Senhor e no qual o Senhor entra; com efeito, como foi dito acima, o Senhor é o Divino Vero mesmo, e tudo que procede d'Êle é êste vero; mas é preciso entender o Divino Vero segundo o Divino Bem, o que e a mesma coisa, a Fé segundo a Caridade, pois a fé não é outra cousa que a verdade; e a caridade não é outra cousa que a bondade. Pelo Divino Vero segundo o Divino Bem, isto é, pela Fé segundo a Caridade, o homem é reformado e regenerado; e também renovado, vivificado, santificado, justificado; e segundo estas progressões e éstes acréscimos, é purificado dos males; e a purificação dos males é a remissão dos pecados. Mas tôdas estas operações do Senhor não podem ser expostas aqui em particular porque cada uma exige uma análise especial, confirmada pela Palavra e ilustrada pela razão; e não, é aqui o lugar; o Leitor é, portanto, encaminhado às explicações que serão dadas em ordem na continuação desta Obra, as quais concernem à Caridade, à Fé, ao Livre Arbítrio, à Penitência, à Reformação e à Regeneração. E' preciso que se saiba que o Senhor opera continuamente em cada homem estas salvações; são, com efeito, degraus para o Céu, pois o Senhor quer a salvação de todos; por isso, a salvação de todos é para Êle o fim; e quem quer o fim, quer os meios; foi para a salvação dos homens que houve o Advento do Senhor, a Redenção e a Paixão da cruz (Mateus XVIII, 11; Lucas XIX, 10); e como a salvação dos homens foi e é paxa a eternidade o fim que o Senhor se propôs, segue-se que as operações acima mencionadas são os fins médios e a salvação é o fim último.

&143 - A operação destas virtudes é o Espírito Santo que o Senhor envia aos que crêem n'Ele e se dispõem a recebê-lO; e é entendida pelo Espírito Santo nestas passagens: "Darei um Coração novo e um Espírito novo meu Espírito darei no meio de vós e farei com que no caminho da salvação marchareis" (Eze quiel XXXVI, 26, 27; XI, 19). "Um coração puro cria em nos, 6 Deus! e um Espírito firme inova no meio de mim; traz-me a alegria de tua salvação e que um Espírito espontâneo me sustente" (Salmo 51, 12, 14). "Jehovah forma o Espírito do Homem no meio dêle" (Zacarias XII, 1). "Com a minha alma eu te esperei à noite e com meu Espírito te esperei pela manhã" (Isaías VI 9). "Fazei-vos um Coração novo e um Espírito novo porque morrereis vós, 6 Casa de Israel?" (Ezequiel XVIII, 31); e em outros lugares. Nestas passagens, pelo Coração novo é entendida a vontade do bem; e pelo Espírito novo, o entendimento do vero; que o Senhor opera estas cousas naqueles que fazem o bem e crêem o vero, assim naqueles que estão na fé da caridade, isso é bem evidente, por estas palavras: "Deus dá a alma àqueles que aí marcham"; e por se dizer:, "Um Espírito espontâneo". Que o homem deve operar de seu lado, isto é ainda bem evidente por estas expressões: "Fazei-vos um coração novo, e um espírito novo, por que morrereis vós, 6 Casa de Israel?"

&144 - Lê-se que, enquanto Jesus era batizado, os Céus se abriram e que João viu o Espírito Santo descer como uma Pomba (Mateus 111, 16; Marcos 1, 10; Lucas 111, 22; João 1, 32, 33); isto aconteceu, porque o Batismo significa a Regeneroção e a purificação; e que se dá o mesmo com a Pomba; quem é que não pode perceber que a Pomba não era o Espírito Santo; e que o Espírito Santo não estava na Pomba? no Céu aparecem Pombos muito freqüentemente; e tôdas as vêzes que aparecem os Anjos sabem que são correspondências de afeições e de pensamentos sobre a regeneração e a purificação daqueles que estão na vizinhança; é por isso que se se aproximam deles e lhes falam de

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cousas diferentes daquelas que eram o objeto de seus pensamentos quando esta aparição teve lugar, imediatamente as pombas se dissipam; dá-se com isso como com várias outras cousas que foram vistas pelos profetas; por exemplo, como o Cordeiro que João viu sobre a montanha de Sião (Apoc. 14, 1) e em outros lugares; quem não sabe que o Senhor não era êsse Cordeiro, nem estava nesse Cordeiro, mas que o Cordeiro era o representação da inocência do Senhor? por aí se vê o erro daqueles que d deduzem as três Pessoas da Trindade, do fato de uma Pomba ter sido vista sobre o Senhor enquanto era batizado; e que, então, ouviu-se do Céu uma voz que dizia: "Este é meu Filho bem amado". Que o Senhor regenera o homem pela fé e pela caridade, é o que se entende por estas palavras de João Batista: "Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas Aquêle que deve vir depois de mim, Esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mateus 111, 11; Marcos 1, 8; Lucas 111, 16); batizar com o Espírito Santo e com fogo, é regenerar pelo Divino Vero que pertence à fé; e pelo Divino Bemque pertence à caridade. A mesma coisa é significada por estas palavras do Senhor: "Se alguém não for engendrado da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (João 111, 5); aqui, como em outros lugares da Palavra, a água significa o vero no homem natural ou externo; e o espírito significa o vero segundo o bem no homem espiritual ou interno.

&145 - Ora, pois que o Senhor é o Divino Vero mesmo segundo o Divino Bem e que está aí a sua Essência mesma, pois que é segundo sua Essência que cada um faz o que faz, é evidente que continuamente o Senhor quer e não pode querer outra coisa senão implantar o vero e o bem ou a fé e a caridade, em cada homem. Isso pode ser ilustrado por várias coisas no Mundo; assim, por estas: que todo homem quer e pensa e tanto quanto lhe é permitido, fala e age segundo sua essência, por exemplo, o homem leal pensa e tem por intenção cousas leais, o homem honesto, o probo, o piedoso e o religioso, cousas honestas, probas, piedosas e religiosas; e vice-versa, o faustoso, o astucioso, o velhaco, o ávaro, cousas, que fazem um com sua essência; o adivinho não quer senão predizer e o tolo não quer senão dizer cousas opostas às que pertencem à sabedoria; em unia palavra: o Anjo não discute e não medita senão cousas celestes; e o diabo senão cousas infernais. Acontece o mesmo com todos os seres de uma classe inferior no Reino animal; por exemplo, um pásuma bêsta, um peixe, um verme alado ou não alado, cada um é conhecido por sua essência ou natureza, o instinto de cada um vem dessa essência e é conforme com ela. Sernelhantemente no Reino vegetal, todo arbusto, e toda planta, é conhecido por seu fruto e sua semente, nos quais a sua essência é inata e não pode ser produzido por êle nenhuma outra coisa que não seja semelhante a êle e sua; mais ainda, é segundo a essência que se julga de todo homem, de toda argila, de toda pedra, tanta. preciosa como vil, de todo minério e de todo metal.

&146 - III. ESTA DIVINA VIRTUDE E ESTA DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS PELO ENVIO DO ESPÍRITO SANTO, NOS ECLESIASTICOS ESPECIALMENTE, SAO A ILUMINAÇAO E A INSTRUÇÃO.As operações do Senhor, enumeradas no Artigo precedente, isto é, a reformação, a regeneração, a renovação, a vivificação, a santificação, a justificação, a purificação, a remissão dos pecados, e enfim a salvação, influem do Senhor, tanto nos Eclesiásticos corno nos Leigos; e são recebidas por aquéles que está(> no Senhor e nos quais está o Senhor (João VI, 56; XIV, 20; XV, 4, 5). Quanto à Ilustração e a Instrução, se estão especialmente nos Eclesiásticos, eis as razões disso; é que elas pertencem à sua função; e que a inauguração no ministério, as leva em ela; e mesmo êles crêem que, quando pregam com

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zêlo, são inspirados como os Discípulos do Senhor, sobre os quais o Senhor soprou, dizendo: "Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22), ver, além disso (Marcos XIII, 11); alguns atestam mesmo que sentiram o influxo. Mas que se guardem bem de se persuadir de que o zelo de que muitos são tomados quando pregam, são a Divina operação em seus corações, pois há um zêlo semelhante e ainda mais ardente nos Entusiastas e também naqueles que estão nos falsos extremos da doutrina; mesmo naqueles que desprezam a Palavra, que adoram a natureza como Deus, que rejeitam para trás de seu dorso como em um saco, a fé e a caridade, e que, quando pregam e instruem, suspendem diante da face uma espécie de estômago ruminador de onde tiram e vomitam cousas tais que sabem fazer engulir por seus auditores. 0 zelo, com efeito, considerado em si mesmo, é um arrebatamento do homem natural; se o amor do vero está nêle interiormente, êste arrebatamento é então como o fogo sagrado que influiu nos Apóstolos, e de que se fala assim nos seus Atos: "Viram Línguas separadas, como de fogo, que se puseram sobre cada um dêles; e todos foram cheios do Espírito Santo" (2, 3, 4); mas se nesse zêlo ou nesse arrebatamento se esconde interiormente o amor do falso, então é um fogo encerrado em uma viga, que se escapa e envolve a casa; Tu, que negas a santidade da Palavra e a Divindade do Senhor, tira, eu te peço, o teu saco, de cima de teu dorso e abreo como fazes livremente em tua -casa, e verás. Eu sei que aquêles que são designados em Isaías por Lúcifer, que são os de Babel, quando entram em um Templo e mais ainda, quando sobem a uma tribuna, sobretudo os que se dizem da sociedade de Jesus, são tomados de um zelo que, em muitos, vem de um amor infernal e que, por conseguinte, se exprimem com mais veemência e tiram do peito suspiros mais profundos do que os que estão no zêlo pelo amor celeste. Que nos Eclesiásticos há ainda duas operações espirituais, vê-se abaixo? n. 155.

&147 - A Igreja ignora ainda, por assim dizer, que em toda vontade e em todo pensamento e por conseguinte em toda ação e em toda linguagem do homem, há um Interno e um Externo; -e que o homem, desde a infância, foi ensinado a falar segundo o Externo, qualquer que seja o dissentimento do Interno, donde resultam os fingimentos, as bajulaçães e as hipocrisias; que, conseqüentemente, êle é duplo; e que só é simples, aquêle cujo Externo pensa e fala, quer e age, segundo o Interno; êstes são, por isso, entendidos pelos simples na Palavra (Lucas VIII, 15; XI, 34, e em outros lugares), ainda que sejam mais sábios que os duplos. Que haja duplicidade e triplicidade em tôdas as coisas criadas, vê-se pelas que estão no corpo humano: Todo nervo é composto de fibras e as fibras de fibrilas; todo Músculo, de feixes de fibras; e estas, de fibras motrizes; toda Artéria, de túnicas em triplice série; dá-se o mesmo com' a Mente humana, cujo organismo espiritual é semelhante; e isso, porque a Mente humana, como foi dito acima, foi distinguida em três regiões, das quais a suprema, que é também a íntima, é chamada celeste; a média, espiritual; e a ínfima, natural. As Mentes de todos os homens que negam a santidade da Palavra e a Divindade do Senhor, pensam na região ínfima; mas como desde à Infância aprenderam também os espirituais que pertencem à Igreja, eles os recebem, mas os colocam abaixo dos naturais que são diversas cousas científicas, políticas, civis e morais; e como esses espirituais são colocados na mente, no lugar mais baixo e muito perto da linguagem, falam deles nos templos e nas assembléias; e, o que é surpreendente, estão então persuadidos que falam e ensinam segundo sua fé; porém, quando estão em liberdade, o que acontece quando entram em sua casa, a porta que fechava o interno de sua mente se abre, e então por vêzes escarnecem das cousas que pregaram diante da assembléia, dizendo em seu coração que a Teologia é uma excelente rêde para apanhar as pombas.

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&148 - 0 Interno e o Externo de tal homem podem ser comparados a Venenos cobertos de uma crosta de açúcar, em da a coloquintidas colhidas é postas em uma sopa para os filhos dos profetas que exclamaram, comendo-a: "A morte está na panela!" (II Reis 4, 38 a 43). Também podem ser comparados à Bêsta subindo do mar, que tinha dois chifres como o Cordeiro e que falava como o Dragão (Apoc. 13, 11); na continuação do texto, esta bêsta é chamada falso-profeta. São ainda como ladrões, que, quando residem como cidadãos em uma Cidade, aí agem com moralidade e falam com racionalidade, mas que, voltando para as florestas, aí são bêstas ferozes; ou ainda como piratas que, em terra, são homens-, mas no mar crocodilos; enquanto uns e outros estão em terra ou na cidade, andam como panteras cobertas de peles de ovelhas ou como macacos vestidos de homem, tendo no rosto uma máscara de face humana. Podem ainda ser assemelhados a uma prostituta que sé perfuma, põe ruge no rosto, veste um vestido de sêda branca guarnecido de grinaldas de flores e que, voltando para casa, se põe nua diante dos libertinos e os infecta com sua lepra. Que tais sejam esses que de coração tiram da Palavra a -Santidade e do Senhor o Divino, é o que me foi dado saber no Mundo Espiritual por experiências de vários anos, pois lá, a principio, todos são mantidos em seus externos, mas em seguida, os externos lhes sendo retirados, êles são postos- nos internos; e então sua comédia toma-se uma tragédia.

&149 - IV. 0 SENHOR OPERA ESTAS VIRTUDES NAQUELES QUE CRÊEM N'ELE.Que o Senhor opera estas virtudes, que são entendidas pelo envio do Espírito Santo naqueles que crêem n'ele, isto é, Êle, os reforma, regenera, renova, vivificar santifica, justifica, purifica dos males e, enfim, os salva, vê-se na Palavra por tôdas essas passagens que confirmam que a salvação e a vida eterna são para aquêles que crêem no Senhor, passagens referidas acima,. n. 108; e além disso, por estas: "Jesus disse: Quem quer que creia em Mim, como diz a Escritura, rios *de seu ventre correrão, de águas vivas; êle dizia isso do Espírito que deviam receber aquêles que cressem n'ele'' (João VII, 38, 39). Depois por esta: "0 Testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia" (Apoc. 19, 10); pelo Espírito de Profecia é entendido o Vero da doutrina segunda a Palavra; a profecia não significa outra cousa senão a doutrina; e profetizar é ensinar a doutrina; e pelo testemunho deJesus é entendida a confissão pela fé n'Êle; a mesma- coisa é entendida por seu testemunho nesta passagem: "Os Anjos de Miguel. venceram o dragão pelo sangue do Cordeiro e pela Palavra de seu Testemunho; e o dragão saiu para fazer, a guerra aos restos de Sua semente que observavam os mandamentos de Deus e têm o Testemunho de Jesus Christo" (Apoc. 12, 11, 17).

&150 - Se aquêlès que crêem no Senhor Jesus Christo devem receber estas virtudes' espirituais, é porque Êle mesmo é a Salvação e a Vida Eterna; a Salvação, pois Éle é o Salvador; e 'seu nome Jesus significa também Salvação; a Vida Eterna, pois a vida eterna é para aquêles em que Êle mesmo está e que estão n'Ele; por isso, Êle mesmo é chamado a Vida Eterna, em João (Epist. 5.0 21); ora, pois que Êle é a Salvação e a Vida Eterna,, segue-se que é também tudo pelo qual a salvação e a vida eterna. são obtidas, que por conseqüência, é o tudo da reformação, da, regeneração, da renovação, da vivificação, da santificação, da Justificação, da purificação dos males;. e que, enfim, é a Salvação; o Senhor opera em cada homem estas virtudes, isto é, se esforça, por pô-las nêle e as põe quando o homem se prepara e se dispõe à recepção; o ativo mesmo da operação e da disposição vem também. do Senhor; mas se o homem não o recebe com espírito

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espontâneo, então o Senhor, malgrada o esforço que persiste continuamente não pode pô-las nêle.

&151 - Crer no Senhor é não somente reconhecê-lO, mas. também fazer Seus preceitos, pois o reconhecimento unicamente não pertence senão ao pensamento, mas fazer seus preceitos pertence também ao, reconhecimento segundo a vontade; a mente do homem se compõe do Entendimento e da Vontade; pensar pertence ao Entendimento; é fazer pertence à Vontade. Quando, portanto, o homem reconhece sómente segundo o pensamento do entendimento, não vem ao Senhor senão pela metade da mente; mas quando faz, vem pela mente inteira e isto é crer; aliás, o homem pode dividir seu, coração e constranger a sua superfície a se elevar para o alto, enquanto que sua carne se volta para baixo; e desta maneira, êle voa como uma águia entre o Céu e o Inferno, e entretanto o-homem 'não segue seu aspecto, mas segue o prazer de sua carne; e isto por que está no Inferno; para aí voa portanto, e quando aí sacrificou às suas volúpias e fêz libações aos demônios, toma uma face risonha e um olhar de onde saltam fagulhas de fogo e contrafaz assim o anjo de luz; os que reconhecem o Senhor e não fazem Seus preceitos tornam-se semelhantes Satanases depois da morte.

&152 - Em um Artigo precedente foi demonstrado que a salvação e a vida eterna dos homens são o fim primeiro e último do Senhor; e como o fim primeiro e o fim último contêm em si os fins médios, segue-se que as virtudes espirituais acima mencionadas estão em conjunto no Senhor; e também, pelo Senhor, no homem, mas contudo se manifestam sucessivamente; com efeito, a Mente do homem cresce como seu corpo, mas este em estatura e aquela, em sabedoria; assim; a mente é elevada de região em região, a saber, da região natural à região espiritual, e. desta à região celeste; na região celeste está o homem sábio,,, na região espiritual, o homem inteligente, na região natural, o homem erudito; mas esta'elevação da mente não se faz senão de tempos em tempos; e se faz, à medida que o homem adquire os veros e os conjunta ao bem; é absolutamente como quando o homem constrói uma casa; primeiro se provê dos materiais necessários, como tijolos, telhas, traves, caibros, e assim põe a fundação, eleva as paredes, divide-a em aposentos, coloca portas, constrói janelas, põe escadas de um andar para o outro; tôdas estas cousas em conjunto estão no fim, que é uma habitação cômoda e digna, que o homem vê avançar e para a qual provê. Dá-se o mesmo com um Templo, quando é construido; tudo o que concerne à construção está no fim, que é o culto de Deus. Acontece o mesmo com tôdas as outras cousas, por exemplo, jardins, praças e também com os empregos e negócios, para os quais o fim mesmo prepara o que lhe é necessário.

&153 - V. 0 SENHOR OPERA POR SI MESMO SEGUNDO O PAI E NÃO VICE-VERSA.Operar é significada aqui a mesma coisa que enviar o Espírito Santo, pois que as Operações acima mencionadas que são, em geral, a Reformação, a Regeneração, a Renovação, a Vivificação, a Santificação, a Justificação, a Purificação dos males, a Remissão dos pecados, as quais são atribuídas hoje ao Espírito Santo como Deus por si, são Operações do Senhor; que estas operações venham do Senhor segundo o Pai e não vice-versa, é o que será a princípio confirmado pela Palavra e, em seguida, ilustrado por várias cousas que

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são da alçada da razão. Pela Palavra, por estas passagens: "Quando vier o Paracelso que eu vos enviarei, do Pai, o Espírito da verdade que sai do Pai - esse dará testemunho de Mim" (João XV, 26). "Se eu não me for, o Paracelso não virá a vós; mas se eu me for, eu vô lo enviarei" (João XVI, 7). "0 Paracelso, o Espírito da verdade, não falará por si mesmo, mas do meu, êle receberá e vos anunciará; tôdas as cousas que o Pai tem são minhas; por isso eu disse que do meu, êle receberá e vos anunciará" (João XVI, 13, 14, 15). "Não havia ainda um Espírito Santo porque Jesus não tinha ainda sido glorificado" (João VII, 39). "Jesus soprou sobre os Discípulos e disse: Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22). "Tudo o que pedirdes, em meu Nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glori ficado no Filho; se pedirdes alguma cousa em meu Nome, Eu o farei'' (João XIV, 13, 14). Por estas passagens é bem evidente que o Senhor envia um Espírito Santo, isto é, opera as 1 coisas que são hoje atribuídas ao Espírito Santo como Deus por' si; com efeito, Ele disse que o enviaria do Pai; que o enviaria para eles; que não havia ainda Espírito Santo, porque Jesus não tinha ainda sido glorificado; que, depois da glorificação, Ele soprou sobre os Discípulos e disse: Recebei um Espírito Santo; depois disse: Tudo que pedirdes em meu Nome, Eu o farei; e também: o Paracelso receberá do que é meu, e êle vô-lo anunciará; que o Paracelso seja a mesma cousa que o Espírito Santo, vê-se em João XIV, 26. Que Deus Pai não opera estas virtudes de Si mesmo pelo Filho, mas que o Filho opera de Si mesmo pelo Pai, vê-se por estas passagens: "Ninguém viu Deus jamais; o Filho unigênito que está no seio do Pai lh'O expôs" (João 1, 18); e em outro lugar: "Nem a voz do Pai ouvistes jamais, nem o seu aspecto o vistes" (João V, 37). Resulta, portanto, destas passagens que Deus Pai opera no Filho e sobre o Filho; e não pelo Filho, mas que o Senhor opera de si mesmo segundo o Pai, POIS Êle disse: "Tôdas as cousas que o Pai tem são minha&' (João XVI, 15). "0 Pai deu tôdas as cousas na mão, do Mo' (João 111, 35). "Como o Pai tem a vida em Si mesmo, Ele deu ao Filho ter a vida em Si mesmo" (João V, 26). E também palavras que pronuncio são espírito e são vida" (João VI, 63 ). Se o: Senhor disse que o Espírito da verdade sai do Pai (João XV, 26), é porque de Deus Pai êle sai no Filho; e sai do Filho, pelo Pai;por isso Ele disse também: "Naquele dia conhecereis que o Pai (está) em Mim, e Eu no Pai, e vós em Mim, e Eu em vós" (João XIV, 11, 20). Por estas palavras explícitas do Senhor, vê-se bem claramente este êrro no Mundo Cristão, o qual é, que Deus Pai envia o Espírito Santo ao homem; e o erro da Igreja Grega, que Deus Pai o envia imediatamente; êste (doutrinal), que é o Senhor que o envia de Si mesmo segundo o Pai e não vice-versa, vem do Céu e os Anjos o chamam Arcano, por que não foi ainda desvendado ao Mundo.

&154 - Este assunto pode ser ilustrado por várias cousas que são da ~da da razão; por exemplo, por estas: E' notório que os Apóstolos, depois que o Senhor os dotou com o Espírito Santo, pregaram o Evangelho em uma grande parte do globo e que o espalharam de boca e por escrito; e fizeram isso por si mesmos segundo o Senhor; com efeito, Pedro ensinou e escreveu de uma maneira, Tiago de uma outra, João de uma outra e Paulo de urria outra; cada um, segundo sua inteligência, o Senhor encheu a todos de seu espírito, mas cada um tomou dêle uma medida segundo a qualidade de sua percepção e cada um agiu- segundo a qualidade de seu poder. Todos os Anjos nos Céus estão repletos do Senhor, pois estão no Senhor e o Senhornêles, mas entretanto cada um fala e age segundo o estado de sua mente; uns, com simplicidade, outros, com sabedoria, assim com uma variedade infinita e contudo, cada um fala de si mesmo segundo o Senhor. Dá-se o mesmo com todo Ministro da Igreja, tanto daquele que está nos veros como daquele que está nos falsos; cada um tem sua boca e sua inteligência e cada um fala segundo sua mente, isto é, segundo o espírito que

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possui. Todos os Protestantes, quer se denominem Evangélicos ou Reformados, depois de terem tido instruídos nos dogmas estabelecidos por Lutero, Melanchton ou Calvino, não falam, êles ou os seus dogmáticos, dêles ãesmos por êstes chefes, mas falam dêles mesmos segundo êstes chefes; cada dogma é como uma cornucópia de abundância, donde cada um tira o que é favorável e adequado a seu gênio e o expõe segundo sua faculdade. Isto pode ser ilustrado pela ação do coração no pulmão e sobre o pulmão, e pela reação do pulmão de si mesmo, segundo o coração; estas duas cousas são distintas, mas entretanto, reciprocamente unidas; o pulmão respira por si mesmo segundo o coração, mas não o coração pelo pulmã o; se isso se fizesse, um e outro parariam; dáse o mesmo-também com a ação do coração nas vísceras e sobre as vísceras-de todo o corpo; o coração envia o sangue de todo lado, mas as vísceras tiram dêle cada uma a sua medida segundo a qualidade do uso que desempenham; e cada um também age segundo esta qualidade, assim de uma maneira diferente. A mesma cousa pode ainda ser ilustrada assim: 0 mal que provém dos pais e que se chama mal hereditário, age no homem e sobre o homem; dá-se o mesmo com o bem que procede do Senhor; o bem em cima ou por dentro, o mal em baixo ou por fora; se o mal agisse pelo homem, o homem não seria reformável e não seria culpado; semelhantemente, se o bem que procede do Senhor agisse pelo homem, o homem também não seria reformável; mas como um e outro dependem da livre escolha do homem, o homem se torna culpável, quando age por si mesmo segundo o mal e inocente, quando age por si mesmo segundo o bem; ora, pois que o mal é o diabo e o bem é o Senhor, êle se torna culpável se age segundo o diabo; e inocente, se age segundo o Senhor; é por esta livre escolha, que está em cada homem, que o homem pode ser reformado. Dá-se o mesmo com todo Interno e com todo Externo no homem, os dois são distintos, mas, entretanto, reciprocamente unidos; o Interno age no Externo e sobre o Externo, mas não age pelo Externo, pois o Interno agita milhares de cousas de que o Externo toma somente as que são convenientes para o uso; com efeito, no Interno do homem, pelo qual é entendida a sua Mente voluntária e perceptiva, há em circulação uma massa de idéias que, se se escoassem pela boca do homem, produziriam o efeito do vento que sai de um fole; o Interno, porque agita idéias universais, pode ser comparado a um Oceano ou a um Canteiro ou a um Jardim, de onde o Externo tira o que lhe basta para o uso; a Palavra do Senhor é como um Oceano, um Canteiro e um Jardim; quando a Palavra está em alguma plenitude no Interno do homem, o homem fala e age por si mesmo segundo a Palavra e não a Palavra por êle; dá-se o mesmo com o Senhor, como Êle é por Si mesmo a Palavra, isto é, o Divino Vero e o Divino Bem na Palavra, age nos homens e sobre os homens, mas não pelos homens, porque o homem age e fala livremente segundo o Senhor, quando age e fala livremente segundo a Palavra. Mas isso pode ser ilustrado de mais perto pelo comércio mútuo da alma e do corpo; a alma e o corpo são distintos mas reciprocamente unidos; a alma age no corpo e sobre o corpo, mas não pelo corpo, e o corpo age por si mesmo segundo a alma; que a alma não aja pelo corpo, é porque eles não consultam e não deliberam entre si, e que a alma não ordena ou não pede que o corpo aja de tal ou tal maneira ou pronuncie tal ou tal cousa; e que o corpo não exije ou não pede à alma que faça ou forneça alguma cousa, pois tudo o que é da alma é do corpo reciprocamente e vice-versa; dá-se o mesmo com o Divino e o Humano do Senhor, pois o Divino do Pai é a Alma do Humano do Senhor, e o Humano é o Corpo; e o Hu-mano não pede a seu Divino para lhe dizer o que deve pronunciar e operar; é por isso que o Senhor disse: "Naquele dia, em meu Nome pedireis e eu não vos digo que pedirei ao Pai por vós, pois o Pai mesmo vos ama, porque vós me tendes amado" (João

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XVI, 26, 27); nesse dia, é após a glorificação, isto é, após a união perfeita e absoluta com o Pai. Êste Arcano vem do Senhor mesmo para aquêles que serão de Sua Nova Igreja.

&155 - Foi mostrado acima, no Artigo III, que esta Divina -Virtude, que é entendida pela operação do Espírito Santo, nos Eclesiásticos especialmente, é a Ilustração e a Instrução, mas a estas duas se juntam duas outras colocadas entre elas, a saber, a Percepção e a Disposição; assim há quatro cousas que se seguem em ordem nos Eclesiásticos, a Ilustração, a Percepção, a Disposição e a Instrução; a Ilustração vem do *Senhor. A Percepção está no homem segundo o estado de sua Mente, estado formado pelos doutrinais; se os doutrinais são verdadeiros, a percepção torna-se clara pela luz que ilustra; mas se são falsos, a percepção se torna obscura e, entretanto, pode aparecer como clara pelas confirmações, mas é por uma luz fantástica que diante da vista puramente natural é semelhante à claridade. A Disposição vem da afeição do amor da vontade; o prazer dêste amor dispõe; se é o prazer do amor do mal e do falso desse mal, excita um zêlo que por fora é áspero, rude, ardente e vomita fogo; e por dentro, é a cólera, a raiva e a não misericórdia; mas se é o prazer do amor do bem e do vero, o zêlo por fora é doce, polido, retumbante e abrasante; e por dentro, é a caridade, a graça e a misericórdia. A Instrução vem em seguida como efeito resultante daquelas como causas. Assim a Ilustração que vem do Senhor se muda em diferentes luzes e em diferentes calores em cada um, segundo o estado de sua mente.

&156 - VI. 0 ESPíRITO DO HOMEM E' SUA MENTE E TUDO QUE DELA PROCEDE.Pelo Espírito do homem, no concreto, não é entendida outra coisa senão sua Mente, pois é a Mente que vive após a morte e que então é chamada espírito; se é boa, Espírito angélico e, em seguida, Anjo; se é má, Espírito satânico e em seguida, Satanás. A Mente de cada homem é seu homem Interno, que na realidade é homem e está dentro do homem Externo que faz seu corpo; quando, portanto, o corpo é rejeitado o que acontece após a morte, ela está em plena forma humana. Enganam-se, portanto, os que crêem que a Mente do homem está únicamente na Cabeça; ai ela está apenas nos princípios, donde sai primeiro tudo o que o homem pensa pelo entendimento e faz segundo a vontade; mas no corpo está nos principiados formados por sentir e, agir; e como por dentro é aderente aos corporais, aí leva. os sentidos e o movimento e também inspira a percepção, como se o corpo pensasse e agisse por si mesmo; mas que isso seja uma ilusão, todo homem sábio o sabe. Ora, pois que o espírito do homem pensa. pelo entendimento e age pela vontade e que o corpo pensa e age, não de si mesmo, mas segundo o espírito, segue-se que pelo espírito do homem é entendida a inteligência e a afeição do amor do homem e tudo que procede dèl,e e é operado por elas. Que o espírito do homem signifique tais coisas que pertencem à sua mente, isso é evidente por um grande número de passagens da Palavra que é suficiente referir para que cada um possa ver que não significa outra cousa; dêsse grande número de passagens, eis algumas: 1'Bezaleel foi cheio do espírito de sabedoria, de inteligência e de ciência" (Êxodo 31, 3). Nabuchadnezar disse de Daníel, "que havia nêle um espírito excelente de ciência, de inteligência e de sabedoria" (Daniel V, 12, 14). "Josué foi cheio de um espírito de sabedoria" (Deuter. 34, 9). "Fazei-vos um coração novo e um espírito novo'' (Ezequiel XVIII, 31). "Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus" (Ma-' teus V, 3). "Eu habito no contrito e no humilde de espírito, para -vivificar o espírito dos humildes" (Isaías LVII, 15). "Os sacrificios de Deus (são) um espírito quebrantado" (Ps. 51, 19). Darei um manto de louvor em lugar de um espírito acabrunhado" (Isaías LXI,

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3); e em outros lugares. Que o espírito significa coisas que pertencem à Mente pervertida e iníqua, vê-se por estas passagens: "Ai dos profetas insensatos, que se vão atrás de seu espírito" (Ezequiel XIII, 3). "Concebestes palha, parirás pragana; e a vosso espírito um fogo devorará" (Isaías XXXIII, 11). "Um homem vagabundo de espírito e que fornece mentira" (Miquéas 11, 11). "Uma geração cujo espírito não é constante com Deus" (Ps. 78, 8). "Um espírito de escortação" (Hoséas V, 4; IV, 12). "Todo coração desmaiará e todo espírito se angustiará" (Ezequiel XXI, 7). "0 que se eleva em vosso espírito não acontecerá jamais" (Ezequiel XX, 32). "Desde que no seu espírito não haja fraude" (Ps. 32, 2). "0 espírito de Faraó foi perturbado" (Gênesis 41, 8); igualmente, o "espírito de Nebuchadnezar" (Daniel 11, 3). Por estas passagens e muitas outras é bem evidente que o espírito significa a Mente do homem e as cousas, que pertencem à Mente.

&157 - Pois que pelo Espírito do homem é entendida a sua Mente, é por isso que pela expressão estar em espírito, algumas vêzes empregada na Palavra, é entendido o estado da mente separado do corpo, e como nesse estado. os Profetas viram cousas ,que existem no Mundo Espiritual, eis por que se chama Visão de Deus; este estado era então para êles tal qual é para os próprios Espíritos e para os próprios Anjos no Mundo Espiritual; neste estado o espírito do Homem quanto à vista, pode ser transportado de -um- lugar para outro, ficando o corpo no mesmo lugar. E' nesse estado que eu mesmo tenho estado desde 26 anos, com a diferença de que aí, eu estava em espírito e, ao mesmo tempo, no corpo; e só algumas vêzes fora do corpo. Que Ezequiel, Zacarias, Daniel e João quando escrevia o Apocalipse, estavam nesse estado, vê se pelas passagens. seguintes: Ezequiel disse: "0 Espírito me levantou e me conduziu à Caldéa para o Cati veiro, na Visão de Deus, em Espírito de Deus; assim subiu sobre mim a Visão que eu vi" (XI, 1, 24). "Que o Espírito o arrebatou e que êle ouviu detrás dêle um a Terra e o Céu e o conduziu a Jerusalém e que viu abominações" (VIII, 3 e segs.). "Que viu quatro animais, e eram Querubins e várias outras cousas que lhe diziam respeito" (I e X). Depois "uma nova Terra e um novo Templo e um Anjo que os media (XL a XLVIII). "Que êle estava então em Visão e em Espírito" (XL, 2; XLIII, 5). Aconteceu o mesmo a Zacarias, em quem estava então um Anjo, quando, viu "um Homem a cavalo que estava entre murtas" (1, 1 e segs.). Quando viu "quatro cornos e um homem tendo na mão um cordão para medir" (11, 1 e segs.). Quando viu "o sumo sacerdote Joshua" (111, 1 e segs.). Quando viu "quatro Carros que saíam dentre duas montanhas e Cavalos" (VI, 1). Daniel estava em um estado semelhante, quando viu "quatro Bêstas subindo do mar e várias cousas que lhes concerniam" (VII, 1 e segs.). Quando viu "os combates entre o carneiro e o bode" (VIII, 1 e segs.). Que êle viu estas coisas "em Visão" é o que se lê no Cap. VII, 1, 2, 7, 13; VIII, 2; X, 1, 7, 8). Êle disse que "o Anjo Gabriel lhe apareceu em Visão e conversou com ele" (IX, 21). Aconteceu o mesmo a João, quando escrevia o Apocalipse; êle diz que se achava em Espírito em um dia de Domingo (1, 10); que foi transportado em Espírito para um deserto (XVII, 3); que foi transportado em Espírito para uma montanha (XXI, 10); que viu cavalos na Visão (IX, 17); e em outros lugares, que viu coisas que descreve; por exemplo, o Filho do Homem no meio de sete candelabros; o Tabernáculo, o Templo, a Arca e o Altar no Céu; o Livro selado com sete selos e cavalos que saíam dêle; os quatro animais em torno do Trono; os doze mil eleitos de cada Tribo; o Cordeiro então sobre a Montanha de Sião; os Gafanhotos que subiam do abismo; o Dragão e seu combate contra Miguel; a mulher que deu à luz um Filho homem e que fugiu para o deserto por causa do Dragão; as duas Bestas, uma subindo do mar e a outra da terra; a Mulher sentada sobre a Bêsta de cor escarlate; o Dragão lançado no lago de

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fogo e de enxofre; o Cavalo branco e a grande Ceia; a Cidade Santa, Jerusalém, descendo do Céu, descrita quanto às suas portas, ao seu muro e a suas fundações; o Rio de água viva e as árvores de vida dando fruto cada mês; e várias outras coisas Em um estado semelhante estavam Pedro, Tiago e João, quando viram Jesus transfigurado; e Paulo, quando ouviu do ,Céu cousas inefáveis.Corolário

&158 - Pois que, neste Capitulo se tratou do Espírito Santo, é absolutamente importante fazer notar que o Espírito Santo não é mencionado em parte alguma no Antigo Testamento, mas que se diz únicamente o Espírito de Santidade em três lugares, uma vez em David (Ps. 51, 13); e duas vezes em Isaías (LXIII, 10, .11). Mas na Palavra do novo Testamento, tanto nos Evangelhos, como os Atos dos Apóstolos e em suas Epístolas é freqüente,mente citado e isso porque houve pela primeira vez um Espírito Santo quando o Senhor veio ao mundo; com efeito, o Espírito Santo procede do Senhor segundo o Pai, pois só o Senhor é Santo (Apoc. 15, 4). E' mesmo por isso que o Anjo Gabriel disse a Maria Mãe: "0 Santo (Sanctum) que nascerá de ti" (Lucas I, 35). Se foi dito: "Não havia ainda um Espírito Santo porque Jesus não tinha ainda sido glorificado" (João VII, 39), enquanto que antes se diz que um Espírito Santo encheu Isabel (Lucas 1, 41). em seguida Zacarias (Lucas 1, 67), e também Simeão (Lucas 11, 25), era porque o Espírito de Jehovah o Pai os tinha enchido, o qual Espírito foi chamado Espírito Santo por causa do Senhor, que já estava no Mundo. É por esta razão que na Palavra do Antigo Testamento não se diz, em lugar algum, que os Profetas tenham falado pelo Espírito Santo, mas se diz que é por ,Jehovah; com efeito, se diz por toda parte: Jehovah me falou; a palavra me foi dirigida por Jehovah; Jehovah disse; a Palavra ,de Jehovah; a fim de que ninguém duvide que assim seja, vou citar unicamente as passagens de Jeremias, onde estas expressões são empregadas: Cap. 1, 4, 7, 11, 12, 13, 14, 19. - 11, 1, 2, 3, 4, 5, 9, 22, 29, 31. 111, 1, 6, 10, 12, 14, 16. - IV, 1, 3, 9, 17, 27. - V, 11, 14, 18, 22, 29. - VI, 6, 9, 12, 15, 16, 21, 22. VII, 1, 3, 11, 13, 19, 20, 21. - VIII, 1, 3, 12, 13. - IX, 1, 6, 9, 11, 17, 18, 21, 22. - X, 1, 2, 18. - XI, 1, 6, 9, 11, 17, 18, 21, 22. - XII, 14, 17. - XIII, 1, 3, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 25. - XIV, 1, 10, 14, 15. - XV, 1, 2, 3, 6, 11, 19, 20. - XVI, 1, 3, 5, 9, 14, -16. - XVII, 5, 9, 15, 19, 20, 21, 24. - XVIII, 1, 5, 6, 11, 13. - XIX, 1, 3, 6, 12, 15. XX, 4. - XXI, 1, 4, 7, 8, 11, 12. XX11, 1, 2, 3, 5, 6, 11, 16, 18, 24, 29, 30. - XXIII, 1, 2, 4, 5, 7, 11, 12, 15, 24, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 38. XXIV, 3, 4, 5, 8. - XXV, 1, 3, 7, 8, 9, 12, 15, 27, 28, 29, 32. - XXVI, 1, 2, 18. - XXVII 1, 2, 4, 8, 11, 16, 19, 21, 22. - XXVIII, 2, 12, 14, 16. - XXIX, 4, 8, 9, 10, 11, 14, 16, 19, 20, 21, 25, 30, 31, 32. XXX, 1, 2, 3, 4, 5, 8, 10, 11, 12, 17, 18, 2 1. XXXI, 1, 2, 7, 10, 15, 16, 17, 23, 27, 28, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 27, 38. - XXXII, 1, 6, 14, 15, 25, 26, 28, 30, 36, 42, 44. - XXXIII, 1, 2, 4, 10, 12, 13, 14, 17, 19, 20, 23, 25. - XXXIV, 1, 2, 4, 5, 8, 12, 13, 17, 22. - XXXV, 1, 13, 17, 18, 19. - XXXVI, 1, 6, 27, 29, 30. XXXVII, 6, 7, 9. - XXXVIII, 2, 3, 17. - XXXIX, 15, 16, 17, 18. XL, 1. - XLII, 7, 9, 15, 18, 19. - XLIII, 8, 10. - XLIV, 1, 2, 7, 11, 24, 25, 26, 30. - XLV, 1, 2, 4, 5. - XLVI, 1, 23, 25, 26, 28. - XLVII, 1, 2. - XLVIII, 1, 8, 12, 30, 35, 38, 40, 43, 44, 47. - XLIX, 2, 5, 6, 7, 12, 13, 16, 18, 26, 28, 30, 32, 34, 35, 37, 38, 39. - L, 1, 4, 10, 18, 20, 21, 30, 31, 33, 35, 40. - LI, 1, 25, 33, 36, 39, 52, 53, 58. - Eis unicamente para Jeremias; expressões semelhantes se encontram em todos os outros Profetas; e aí não se diz que o Espírito Santo tenha falado, nem que Jehovah tenha falado pelo Espírito Santo.

&159 - Ao que precede ajuntarei estes Memoráveis: Pri-meiro Memorável. Um dia em que eu estava em sociedade com os Anjos do Céu, vi a uma certa distância, em baixo, uma

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grande Fumaça e o fogo que, por vêzes, se escapava; então, disse aos Anjos que conversavam comigo: Há poucos aqui que saibam que a fumaça vista nos Infernos sai dos falsos confirmados pelos raciocínios e que o fogo é a cólera se arrebatando contra os que contradizem; isto, acrescentei eu, é também desconhecido neste Mundo como o é no meu, onde vivo pelo corpo, que a chama não é outra coisa mais que a fumaça inflamada; fiz muitas vêzes a experiência de que isso é assim, pois vi em uma fornalha fumaças se elevarem acima da lenha e quando lhes cheguei fogo com um tição, vi estas fumaças se mudarem em chamas e estas chamas terem a mesma forma que as fumaças, pois todas as particularidades da fumaça se tornam pequenas fagulhas que se inflamam conjuntamente, como acontece também com a pólvora para canhão incendiada; acontece o mesmo com esta Fumaça que vemos lá em baixo; ela consiste em outros tantos falsos; e o fogo que se escapa como uma chama é o arrebatamento do zêlo pelos falsos. Então, os Anjos me disseram: Oremos ao Senhor para que nos seja permitido descer e nos aproximar, a fim de que percebamos quais são os falsos que fumegam e se inflamam assim entre êles; e isso foi concedido; e eis que apareceu em torno de nós uma coluna, de luz continuando até aquele lugar; e então vimos quatro Tropas de Espíritos, que confirmavam fortemente qúe Deus Pai, porque é invisível, deve ser implorado e adorado; e não o Seu Filho nascido no Mundo, porque é homem e visível; quando dirigi o olhar para os lados, à esquerda, vi Sábios entre os Eclesiásticos e por detrás dêles, ignorantes; à direita, Eruditos dentre os Leigos, e por detrás deles, iletrados; mas entre nós e êles, havia um intervalo hiante que não podia ser transposto. Ora, nós voltamos os olhos e os ouvidos para a esquerda, onde estavam os Sábios dentre os Eclesiásticos _e por detrás dêles, os ignorantes; e os ouvimos raciocinar assim sobre Deus: Sabemos pela doutrina de nossa Igreja, que é uma sobre Deus em toda a Europa, que é a Deus Pai porque é Invisível, que é preciso se dirigir e ao mesmo tempo, então, ao Deus Filho e a Deus Espírito Santo, que são também invisíveis porque são coeternos com o Pai; e como Deus Pai é o Criador do Universo, Êle está presente no Universo, para qualquer parte que voltemos os olhos; e quando oramos, Ele nos escuta favoràvelmente; e após a Mediação pelo Filho aceita, Êle envia o Espírito Santo que, palha em nossos corações a glória da justiça de seu Filho e nos beatifica; nós, criados Doutores da Igreja, quando pregamos, sentimos em nossos peitos a santa operação dêste envio e exalamos a devoção segundo sua presença em nossas mentes; somos, assim afetados porque dirigimos todos os nossos sentidos para Deus Invisível, que opera pelo envio de seu espírito não singularmente na vista de nosso entendimento, mas universalmente em todo o sis tema de nossa mente e de nosso corpo; o culto de um Deus visível ou percebível como homem diante das mentes, não apresentaria semelhantes efeitos. Depois que assim falaram, os ignorantes dentre os Eclesiásticos que se tinham mantido por detrás dêles, aplaudiram; e êles acrescentaram: Donde vem o Santo, senão de Deus não visível e não perceptível? desde, que esta expressão toca a entrada de nosso ouvido, nosso rosto se expande e nos regozijamos como pela doçura de uma aura odorífera e por isso batemos nos peitos; se, ao contrário, se trata de um Divino visível e perceptível, desde que esta expressão entra em nossos ouvidos. isso se torna puramente natural e não Divino; é por tal razão que os Católicos Romanos cantam suas missas em latim e tiram do santuário dos altares as hóstias que dizem conter mistérios Divinos, e as mostram ao povo que, diante delas, como diante do que há de mais misterioso, caem de joelhos e respiram a santidade. Depois disso nos voltamos para a direita, onde estavam colocados os Eruditos, e por trás dêles os iletrados entre os Leigos; e ouvi os Eruditos falarem nestes têrmos: Sabemos que os mais sábios dentre os Antigos adoraram um Deus invisível, que chamavam Jehovah, mas

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que, depois dêles, nos séculos seguintes, os homens fizeram de seus Monarcas, defuntos deuses, entre os quais estavam Saturno, Júpiter, Netuno, Plutão, Apolo, depois, Minerva, Diana Vênus, Temis; que lhes erigiam templos e lhes prestavam um culto Divino; e que dêste culto, pela ação do tempo, nasceu a idolatria que lançou todo o globo na extravagância; nós, em conseqüência, acedemos por um consentimento unânime, a esta decisão do Sacerdócio e de nossos padres, que houve e que há três Pessoas Divinas de toda a eternidade, cada uma das quais é Deus; basta- nos que sejam invisíveis; os iletrados acrescentaram depois dêles: Somos da mesma opinião; Deus não é Deus, e o homem, homem? mas sabemos que se alguém propuser um Deus-Homem, a Massa do povo, que tem de Deus uma idéia sensual, acederá a isso. Após estes discursos, seus olhos foram abertos e êles nos viram perto dêles; e então, despeitados porque os tínhamos ouvido, guardaram silêncio; mas os Anjos, pelo poder que lhes tinha sido dado, fecharam então os exteriores ou inferiores de seus pensamentos pelosquais tinham falado, e abriram seus interiores ou superiores e forçaram a falar de Deus segundo seus interiores; e então, tendo tomado a palavra, disseram: 0 que é Deus? Não vimos sua forma e não ouvimos sua voz; o que é Deus, portanto, senão a Natureza nos seus primeiros e nos seus últimos? nós a vemos porque brilha a nossos olhos; e a ouvimos porque ressoa- em nos sos ouvidos. A estas palavras, lhes dissemos: Vistes jamais Socin que reconheceu únicamente Deus Pai, ou Arius que negou a Divindade do Senhor Salvador, ou alguns de seus sectários? Responderam-nos: Não os vimos de modo algum. Eles estão, lhes dissemos, em um abismo abaixo de vós; e imediatamente alguns foram retirados de lá; e tendo sido interrogados sôbre Deus, falaram da mesma maneira que os precedentes; e além disso, disseram: 0 que é Deus? podemos fazer tantos deuses quantos quisermos; e então lhes dissemos.: V inútil vos falar do Filho de Deus nascido no Mundo, mas não obstante eis o que vos diremos: A fim de que a respeito de Deus a fé n'Ele e por Éle, por isso mesmo- que ninguém viu Deus, não se torne como uma bolha de sabão no ar, ornada de belas cores na primeira e na segunda idade, e reduzida a nada, na terceira e na seguinte, aprouve a Jehovah Deus descer e tomar o Humano e assim se tornar visível e convencer os homens que Deus não é um ser de razão (ens), mas é Aquêle que Foi, E' e será de toda eternidade a toda eternidade; e que Deus não é uma palavra de três sílabas, mas é o tudo da coisa desde o Alfa até o Omega, que é por conseqüência a Vida e a Salvação de todos que crêem n' Ele, visível; e não daqueles que dizem crer em um Deus invisível, pois crer, ver e conhecer fazem um; por isso o Senhor disse a Filipe: ''Aquele que me vê e me conhece, vê e conhece o Pai"; e em outro lugar: "A vontade do Pai é que se creia no Filho; e aquêle que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sôbre ele"; eis o que o Senhor disse em João 111, 15, 16, 36; XIV, 6 a 15. Logo que ouviram isto, muitos daqueles que compunham as quatro Tropas se arrebataram ao ponto de sair de suas narinas fumaça e fogo; então fomos embora; e os Antigos, depois de me terem acompanhado à casa, subiram para o Céu.

&160 - Segundo Memorável. Um dia, eu caminhava, acompanhado de Anjos, no Mundo dos espíritos que está no meio entre o Céu e o Inferno e para o qual vão, a principio, todos os homens depois da morte e são separados: os bons, para o Céu e os maus, para o Inferno; e conversava com os Anjos sôbre diversos assuntos; entre outras coisas lhes disse: No Mundo onde estou pelo corpo, aparecem durante a noite inumeráveis Estrêlas, grandes e pequenas, e são outros tantos sóis que somente, no mundo de nosso sol, transmitem luz; e quando vi que em vosso Mundo percebem-se também Estrêlas, presumi que eram em tão

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grande número como no Mundo em que estou; os Anjos encantados com esta conversação, diziam que sem dúvida havia tantas, pois que cada Sociedade do, Céu brilha por vêzes como uma Estrêla diante daqueles que estão abaixo do Céu; e que as Sociedades do Céu são inúmeras e tôdas dispostas segundo as variedades das afeições do amor do bem, que em Deus são infinítas e, por conseguinte, segundo Deus são inumeráveis. E como estas sociedades foram previstas antes da criação, penso que segundo seu número foi provido, isto é, foram criadas outras tantas Estrêlas no Mundo onde deviam habitar os homens em um corpo naturalmaterial. Enquanto conversávamos assim, vi no setentrião um caminho batido, de -tal modo coberto de Espíritos, que apenas haveria entre êles o espaço de um passo; e eu disse aos Anjos que havia visto este caminho também precedentemente e Espíritos aí caminhando, coordenados como batalhões; e que tinha aprendido que é por êsse caminho que passam todos os que saem do Mundo Natural; se êste caminho estava coberto de um tão grande número de Espíritos, é porque morrem cada semana miríades de homens e que todos êles, após a morte, transmigram para êste Mundo. A isso, os Anjos acrescentaram: Este caminho vai ter ao meio dêste Mundo onde nos encontramos neste momento; se vai ao meio, é porque do lado para 10 Oriente estão as Sociedades compostas daqueles que estão no Amor para com Deus e no Amor em relação ao próximo; e a esquerda, para o Ocidente, as Sociedades compostas daqueles que são contra estes amores; e para diante, ao Meio-dia, as Sociedades compostas daqueles que são mais inteligentes que os outros; dai resulta que os recém-vindos do Mundo natural afluem a princípio. para aqui; quando chegam, estão ainda nos externos, nos quais estavam por último no Mundo precedente; e em seguida são sucessivamente postos em seus internos e examinados quanto à sua. qualidade; e após êsse exame, os bons são levados para seu lugar no Céu -e os maus, a seu lugar, no Inferno.Detivemo-nos no meio, onde terminava o caminho ao qual afluíam os Espíritos; e dissemos: Fiquemos aqui algum tempo e falemos com alguns dos recém-vindos; e escolhemos doze; a como eram todos recentemente chegados do Mundo natural, não sabiam outra cousa senão que aí estavam ainda; e os interrogamos sôbre o- que pensavam do Céu e do Inferno e da Vida após a morte. Um déles respondeu: A nossa Ordem Sagrada imprimiu em mim a fé de que viveremos depois da morte e que há, um Céu e um Inferno; por conseguinte, acredito que todos que vivem moralmente vão para o Céu e que, como todos vivem moralmente, ninguém vai para o Inferno; e que assim o Inferno, é uma fábula inventada pelo Clero para afastar do mau viver; que importa que eu tenha de Deus tal ou qual pensamento? a pensamento não é mais que uma película ou uma bolha sôbre a água, que se dissipa e desaparece. Um outro, que estava perto, dêle, falou assim: a minha fé é que há um Céu e uni Inferno e que Deus governa o Céu e o Diabo, o Inferno; e como eles são inimigos, um chama de mal o que o outro chama de bem; e o homem moral hipócrita, que pode fazer que o mal pareça. como bem e o bem como mal, se mantém em um e outro partido; então o que importa que eu esteja com um ou com outro, Senhor, desde que êle me seja favorável; o mal e o bem agradam igualmente a-os homens. 0 Terceiro, que estava ao lado. deste, disse: Que importância tem para mim, crer que há um Céu e um Inferno? quem voltou de lá? quem deu notícias delá? se todo homem vivesse depois da morte, por que, dentre uma tão grande multidão, nem um só voltou para dar notícias de lá? 0 Quarto, que estava próximo, lhe disse: Eu te ensinarei por que ninguém voltou e não deu notícias de lá: é que, quando o homem entregou a alma e morreu, esta alma ou se torna um espectro e se dissipa, ou é como o sopro da boca, que não é, mais que um vento; como pode ela voltar e falar com alguém? 0 Quinto, tomou a palavra e disse: Amigos, esperai até ao dia do

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Julgamento Final, pois então todos voltarão para seus corpos e os vereis, falareis com êles e cada um, então, contará ao outra o seu destino. 0 Sexto, que estava defronte, disse, rindo: Como o espírito que é um sopro, pode voltar para um corpo comida pelos vermes e, ao mesmo tempo, a seu esqueleto que~ pelo sol e reduzido a. pó? E como um Egípcio tomado Múmia, e misturado por um farmacêutico com extratos e emulsões coisas que foram bebidas ou comidas, pode voltar e contar alguma coisa; esperai pois, se é vossa fé, este último dia, mas será uma -espera perpétua e em vão. Depois dêste, o Sétimo disse Se eu acreditasse em um Céu e em um Inferno e, por conseguinte, em uma vida depois da morte, eu creria também que os pássaros ,e as bestas devem igualmente viver; não há delas algumas espécies tão morais e tão racionais como os homens? nega-se que as bêstas vivam, eu portanto nego que os homens vivam; há Paridade de razões, uma resulta da outra; e o que é o homem senão um animal? 0 Oitavo, que estava atrás dêste, avançou e disse: Crede, se quiserdes, no Céu, mas eu não creio de modo algum no Inferno; Deus não é Onipotente e não pode salvar cada homem? Então, o Nono lhe bateu na mão e disse: Deus não somente é Onipotente, mas também é cheio de graças; não pode enviar quem quer que seja para um fogo eterno e se alguém ai estivesse, seria impossível que Êle não o livrasse e não,o retirasse de lá; 0 Décimo lançou-se de sua fila para o meio, e disse: Eu tampouco não creio de modo algum no Inferno; Deus não enviou Seu Filho e o Filho não expiou e retirou os pecados de todo mundo? o que pode agora o Diabo contra isso? .e visto que nada pode, o que é então o Inferno? 0 Décimo, Primeiro, que tinha sido Padre, se inflamou ouvindo estas palavras, -e disse: Não sabes que aquêles que obtiveram a fé, à qual foi ligado o mérito de Christo, são salvos e que aqueles que Deus -elegeu obtêm essa fé? Não pertence a Eleição ao Arbítrio do Onipotente e a seu Julgamento? Quem são os que são dignos? quem pode se opor a êste Arbítrio e a êste Julgamento? 0 Dêcimo Segundo, que era um político, guardava silêncio; mas tendo ,sido instado para coroar as respostas com a sua, disse: Não manifesto nada do que penso do Céu, do Inferno e da vida depois ,da morte, pois que ninguém sabe a mínima coisa; sobre estes assuntos; mas não obstante permiti aos Padres, sem os censurar, pregá-las, pois as mentes do Vulgo são assim, por um laço invisível, mantidas ligadas às leis e aos chefes; a Salvação pública não depende disso?Depois de ouvir êstes diversos sentimentos, ficamos interditos de surprêsa e dissemos entre nós: Entretanto estão aí pessoas que se chamam Cristãos; não são nem homens, nem ~as, são homens-bestas; contudo, para retirá-los do sono, lhes dissemos: Há um Céu e um Inferno e há uma vida depois da morte; sereis convencidos disso quando tiverdes, dissipado a ignorância sôbre o estado da vida em que estais agora; com efeito, cada um, nos primeiros dias após a morte, não sabe outra coisa senão que vive ainda no mesmo Mundo, onde estava precedentemente, pois o tempo escoado é como um sono; e quando se sai dêsse sono, não se pode fazer outra cousa senão crer que se está onde se estava antes; acontece o mesmo convosco hoje; por isso falastes como pensáveis no Mundo precedente. E os Anjos dissiparam a ignorância; e então, estas pessoas se viram em um outro Mundo, entre pessoas que não conheciam, e exclamaram: Oh! onde estamos nós? E lhes dissemos: Não estais mais no Mundo natural, estais no Mundo espiritual; e nós somos Anjos. Então, estando bem acordados, disseram: Se vós sois Anjos, mostrai-nos o Céu. E respondemos: ficai um pouco aqui e nós voltaremos; uma meia hora depois, tendo voltado lhes dissemos: Segui-nos ao Céu; e êles nos seguiram e subimos ao Céu com êles; e porque estávamos com êles, os guardas abriram a porta e os admitiram; e dissemos aos que recebiam à entrada êstes recém-vindos: Submetei-os ao exame; e eles os fizeram voltar as costas e viram que seus occiputes eram muito escavados; então lhes disseram: Retirai-vos daqui, pois há em vós o

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prazer do amor do mal fazer e por conseqüência não fostes, de modo algum, conjuntos ao Céu, pois em vossos corações negastes Deus e desprezastes a religião; e então lhes dissemos: Não ficai, porque, de contrário, sereis expulsos; e êles se apressaram em descer e ir embora.No caminho, para voltar à minha casa, indagamos por que razão os Occiputes daqueles que estão, no prazer de fazer o mal foram escavados neste Mundo; e eu apresentei esta: E' que no homem há dois Cérebros um no Occipute que se chama Cerebelo; e o outro, no Sincipute, que se chama Cérebro; que no Cerebelo habita o amor da vontade, e no Cérebro, o pensamento do entendimento; e que, quando o pensamento do entendimento não conduz ao amor da vontade do homem, os íntimos do Cerebelo, que em si mesmos são celestes, se deprimem, dai a Excavação.

&161 - Terceiro Memorável. Um dia, no Mundo espiritual, ouvi um ruído como o que faz uma Mó; era na Plaga Setentrional dêsse Mundo; a princípio me admirei do que podia ser isso; depois me lembrei de que a Má e Moer significam procurar segundo a Palavra o que serve à doutrina; avancei portanto para o lugar de onde êsse ruído se fazia ouvir; e quando cheguei perto, o ruído cessou; e então vi sôbre a terra uma espécie de -cavidade à qual se chegava por um antro; tendo percebido o antro, desci e entrei; era uma Câmara, na qual vi um Homem velho, sentado no meio de livros, tendo diante dêle a Palavra onde procurava o que podia servir à sua doutrina; em torno, dêle, espalhadas por terra, fôlhas de papel, sôbre as quais escrevia passagens que deviam lhe servir; em uma Câmara adjacente, havia secretários que recolhiam estas folhas de papel e transcreviam em um volume o que tinha sido escrito nelas. Eu o interroguei a princípio a respeito dos Livros que estavam em torno dêle; disse-me que todos tratavam da Fé justificante, os da Suécia e da Dinamarca profundamente, os da Alemanha mais profundamente, os da Inglaterra ainda mais profundamente, e os da Holanda o mais profundamente; e acrescentou que êles diferiam em diversos pontos, mas que todos estavam de acordo sôbre o Artigo da Justificação e da Salvação pela fé só. Em seguida, me disse que agora recolhia da Palavra este ponto principal da Fé justificante, que Deus Pai se tinha afastado da graça para com o Gênero humano por causa de suas iniqüidades e, por conseqüência, para salvar os homens tinha havido necessidade Divina de que uma satisfação, uma mediação fosse feita por alguém que tomasse sôbre si a danação da justiça; e que isso não tinha podido ser feito senão por seu Filho único; e depois que isso foi feito, houve por causa dêle, acesso junto a Deus Pai; pois dizemos: Pai, tem piedade de nós por causa do Filho; e acrescentou: Vejo e vi que isto está conforme com toda razão e conforme com a Escritura; como Deus Pai teria podido ser aproximado de outro modo senão pela fé no mérito do Filho? Eu o escutei e estava extremamente surpreendido por lhe ouvir dizer que isto estava conforme com a razão e conforme a Escritura, quando, entretanto, isto é contra a razão e contra a Escritura e, por isso lho disse, abertamente. Então, êle respondeu no arrebatamento de seu zêlo: Como podes falar assim? Eu lhe abri então completamente a minha mente, dizendo: Não é contra a razão pensar que Deus Pai se, afastou da graça para com o Gênero humano, e que a reprovou e excomungou? A Graça Divina não é um atributo da Essência Divina? Afastar-se da graça seria, portanto, afastar-se da Essência Divina; e afastar-se de sua Essência Divina, seria não ser mais Deus; pode Deus separar-se de Si mesmo? Acredita-me, do lado de Deus, do mesmo modo que a Graça é infinita, do mesmo modo também é eterna; do lado do homem, a graça de Deus pode ser perdida se o homem não a recebe; se a graça se retirasse de Deus,

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acabaria todo o Céu e todo o Gênero humano; do lado de Deus, a graça permanece, portanto, eternamente, não só em relação a-os Anjos e aos Homens, mas mesmo em relação aos diabos do Inferno; pois que isto é conforme a razão, porque dizes que não há outro acesso para junto do Pai senão pela fé no mérito do Filho, quando, entretanto, há acesso perpétuo pela graça? Mas por que dizes para junto de Deus Pai em consideração ao Filho, e não dizes pelo Filho? Não é o Filho Mediador e Salvador? Por que não te diriges ao Mediador e Salvador mesmo? Não é Ele mesmo Deus e Homem? sobre a Terra há alguém que se dirija imediatamente a um Imperador, a um Rei ou a um Príncipe? Não é a um Intendente e a um Introdutor que se deve dirigir? Não sabes que o Senhor veio ao Mundo para ser Ele mesmo o Introdutor para junto do Pai, que não há acesso senão por Ele; e que êste acesso é perpétuo, quando nos dirigimos imediatamente ao Senhor mesmo, pois que Êle está no Pai e o Pai está n'Eles? Procura agora na Escritura e verás que isto está conforme com ela e que o teu caminho para ir ao Pai lhe é oposto, do mesmo modo que é oposto à razão; te direi mesmo que há imprudência em lançar-se para Deus Pai, e em não chegar a Ele por Aquêle que está no Seio do Pai e Só no -Pai; não lestes em João o versículo 6 do Capítulo XIV? A estas palavras, este velho entrou em um tal furor, que se lançou de cima de sua cadeira e gritou a seus secretários que me expulsassem; e como no mesmo Instante eu saí de bom grado, êle lançou após mim fora da porta um Livro que sua mão pegou ao acaso; e esse Livro era a Palavra.

&162 - Quarto Memorável. Elevou-se uma discussão entre os Espíritos sobre esta questão: Pode-se ver algum vero doutrinal Teológico na Palavra, senão pelo Senhor? Todos concordaram com isso, que ninguém o pode senão por Deus, porque "um homem -nada pode tomar, a menos que não lhe tenha sido dado do Céu" (João 111, 27); restava, portanto, discutir se a~ o pode sem se dirigir imediatamente ao Senhor, sendo Êle a Palavra; de outro lado, que a, verdadeira doutrina também era vista quando nos dirigíamos imediatamente a Deus Pai; por isso, a discussão se fêz, a princípio, sobre êste ponto: E' permitido a um Cristão dirigir-se imediatamente a Deus Pai e assim, saltar por cima do Senhor; e não é isso uma insolência e uma audácia indecente e temerária, pois que o Senhor disse, que ninguém vai ao Pai senão por Êle? (João XIV, 6). Todavia, deixaram êste ponto e disseram que o homem pode ver o vero doutrinal segundo a Palavra por sua própria luz natural; mas esta opinião foi rejeitada; por isso insistiram, dizendo que êste vero pode ser visto por aquêles que oram a Deus Pai; leu-se diante déles uma passagem da Palavra e então oraram de joelhos a Deus Pai para ilustrá-los e disseram a respeito da passagem da Palavra, que tinha sido lida diante dêles, que tal e tal cousa era um vero, quando, entretanto, era um falso; isso foi repetido várias vêzes até produzir aborrecimento; enfim, confessaram que não podiam; mas do outro lado, aquêles que se dirigiram imediatamente ao Senhor viram os veros e os explicaram aos outros. Depois desta discussão assim terminada, subiram do Abismo alguns Espíritos que apareceram a princípio como Gafanhotos e, em seguida, como homens pequenos; eram aquêles que, no Mundo, tinham orado a Deus Pai e confirmado a Justificação pela fé só;, eram aqueles mesmos de que se fala no Apocalipse, Capítulo 9, 1 a 11; êles diziam que viam em uma luz clara e também pela Palavra, que o homem é justificado pela fé só, sem as obras da lei; foi-lhes perguntado por que fé; responderam: Pela fé de Deus Pai; mas depois que foram examinados, lhes foi dito do Céu que êles não sabiam nem mesmo um único vero doutrinal. segundo a Palavra; todavia, replicaram que viam entretanto seus veros na luz; então, lhes foi dito que os viam em uma luz fantástica;

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perguntaram o que é uma luz fantástica; ensinaramlhes que a luz fantástica é a luz da confirmação do falso, e que esta luz corresponde à luz na qual estão as Corujas e os Morcegos, para os quais as trevas são luz e a luz é treva; isso foi confirmado quando olhavam para cimaem direção ao Céu, onde está a Luz mesma, viam trevas; e quando olhavam para baixo em direção ao abismo, de onde êles eram, viam a luz. Indignados com - esta prova confirmativa, disseram que, desse modo, a Luz e as Trevas não são algumacousa, mas são unicamente um estado do olho, pelo qual se diz que a luz é luz e que as trevas são trevas; mas lhes foi mostrado que a Luz fantástica, que é a luz da confirmação do falso, estava nêles e que sua luz era únicamente uma atividade de sua mente, que tirava sua origem do fogo das concupiscências e que se parecia muito com a luz dos gatos, cujos olhos, pelo desejo ardente de encontrar ratos nas caves, pareciam durante a noite, como velas. A estas palavras, disseram com arrebatamento, que não eram gatos, nem como gatos, porque podiam quando queriam; mas como temiam que lhes fosse dito: Por que não quereis? eles se retiraram; e se precipitaram em seu Abismo; e os que se parecem com êles, são mesmo chamados pelos Anjos Corujas e Morcegos e também gafanhotos.Quando chegaram perto dos seus, no Abismo, e contaram que os Anjos lhes haviam dito que êles não sabiam nenhum vero doutrinal, nem mesmo um só, e que os tinham chamado Corujas, Morcegos e Gafanhotos, houve tumulto, e disseram: Oremos a Deus que nos permita subir e demonstraremos claramente que temos um grande número de veros doutrinais, que mesmo os Arcanjos reconhecerão; e por que oraram a Deus, a permissão foi dada e êles subiram em número de trezentos; e quando apareceram sobre a terra, disseram: Fomos célebres e de nomeada no Mundo porque conhecíamos e ensinávamos os arcanos da Justificação pela fé só; e pelas confirmações, não somente víamos luz, mas a víamos mesmo como um relâmpago brilhante; e nós vemos ainda do mesmo modo em nossas células; e entretanto, acabamos de saber pelos nossos companheiros que estiveram convosco, que esta luz não é a luz, mas trevas, por esta razão, como não temos, como dizeis, nenhum Vero doutrinal segundo a Palavra; sabemos que todo vero da Palavra brilha e acreditamos que era daí que vinha o esplendor de que estávamos cercados quando meditávamos profundamente sobre nossos arcanos; por isso, vos demonstraremos que temos, pela Palavra, veros em grande quantidade; e disseram: Não temos êste vero, que há uma Trindade, Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo e que é preciso crer na Trindade? não temos êste Vero, que o Christo é nosso Redentor e nosso Salvador? não temos êste Vero, que o Christo só é a Justiça e que a Êle só pertence o Mérito, e que aquêle que quer se atribuir alguma coisa do mérito e da justiça do Senhor é injusto e ímpio? não temos êste Vero, que nenhum mortal pode fazer por si mesmo nenhum bem espiritual, mas todo bem, que em si é o bem, é de Deus? não temos este Vero, que há um bem meritório e um bem hipócrita e que estes bens são males? (não temos êste Vero, que o homem, por suas próprias forças, em nada pode contribuir para sua salvação?) não temos êste Vero, que não obstante é preciso fazer boas obras? não temos êste Vero, que há uma fé e que é preciso crer em Deus e que cada um tem a vida segundo crê? além de muitos outros veros segundo a Palavra. Quem, de vós, pode negar um dêsses veros? e entretanto, dissestes que em nossas escolas não tínhamos Vero algum, nem mesmo um só; não é isso que nos haveis injustamente censurado? Mas receberam então estas respostas: Tôdas as proposições que enunciastes são em si mesmas veros, mas (vós as tendes falsificado, aplicando-as para confirmar um falso princípio e daí são) convosco e em vós veros falsificados, que tiram do princípio falso, seu caráter de falso. Que isso seja assim, é mesmo o que demonstraremos a vossos olhos: Há, não longe daqui, um lugar sobre o qual a luz influi diretamente do Céu;

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no Meio está uma Mesa; e quando ai é colocado um papel sobre o qual está escrito um Vero tirado da Palavra, êste papel, pelo Vero que aí está escrito, brilha como uma Estrela; escrevei, pois, vossos Veros sobre um papel e colocai-O sobre a Mesa e vereis. Êles os escreveram sobre um papel, e o deram ao guarda, que o pôs sobre a Mesa, que então, lhes disse: Afastai-vos, e olhai para a Mesa; e êles se afastaram e olharam; e eis que êste Papel brilhava como uma estrêla; então, o guarda lhes disse: Vêdes que são Veros que escrevestes sobre o papel; mas aproximai-vos mais para perto e fixai vossa vista sobre o papel; êles o fizeram e, de repente, a luz desapareceu e o papel se tornou prêto como se tivesse sido coberto de fuligem; e em seguida, o guarda lhes disse: Tocai o papel com vossas mãos, mas guarda!-vos de tocar a escritura; e logo que lhe tocaram, saiu uma chama e o consumiu. Depois que viram o abrasamento do papel, lhes foi dito: Se tivesses tocado a escritura, teríeis ouvido um ruído retumbante e teríeis queimado os dedos; e então os que estavam por trás dêles lhes disseram: Vêdes agora que as Verdades de que abusastes para confirmar os Arcanos de vossa Justificação, são em si mesmos, Verdades, mas que são em vós Verdades falsificadas. Aquêles olharam então para cima, e o Céu lhes apareceu como sangue, em seguida como uma obscuridade; e êles mesmos apareceram aos olhos dos Espíritos angélicos, como Morcegos, outros como Corujas e alguns como Bufos; fugiram para suas trevas, que brilhavam fantasticamente a seus olhos.Os Espíritos angélicos que estavam presentes, ficaram muito admirados porque, até então, nada tinham sabido concernente a êste lugar e à mesa que aí se achava; e então veio da Plaga meridional uma voz que lhes disse: Aproximaivos daqui e vereis, alguma cousa mais maravilhosa ainda; êles se aproximaram e entraram em uma Câmara cujas paredes brilhavam -como ouro, e aí viram também uma Mesa, sobre a qual estava colocada 4 Palavra, cercada de pedras preciosas em formas celestes; e o Anjo encarregado da guarda lhes disse: Quando a Palavra é aberta, salta dela uma luz de um brilho inefável e aparece, ao mesmo tempo, acima e em torno da Palavra, uma espécie de Arco-Íris produzido pelas pedras preciosas; quando vem aqui um Anjo do Terceiro Céu, aparece acima e em torno da Palavra, um Arco-Íris em um plano vermelho; quando vem aqui um Anjo do segundo Céu e que olha a Palavra, aparece um Arco-íris em um plano azul celeste; quando vem aqui um Anjo do último Céu e que olha, aparece um Arco-íris em um plano branco; quando vem um bom -espírito e que olha, aparece uma luz cujas variedades são como as do mármore; lhes foi mostrado à vista, que isso acontece assim. Em seguida o Anjo encarregado da guarda lhes disse: Se vem alguém que tenha falsificado a Palavra, o esplendor desaparece desde logo; e se êle se aproxima e fixa os olhos sobre a Palavra, forma-se como sangue em volta; então, é intimado a se retirar porque há perigo. Entretanto, um Espírito que, no Mundo, tinha escrito como Chefe de uma doutrina sobre a Fé Só Justificante, se adiantou com audácia, e disse: Eu, quando estava no Mundo, não falsifiquei a Palavra; exaltei mesmo a Caridade ao mesmo tempo que a Fé e ensinei que o homem, em estado de fé, no qual exerce a caridade e as obras da caridade, é renovado, regenerado e santificado pelo Espírito ,Santo; ensinei também que a Fé não existe só, isto é, sem as boas obras; do mesmo modo que não existe árvore boa sem frutos, ,sol sem luz, nem fogo sem calor; e além disso, censurei aqueles que diziam que as boas obras não eram necessárias; e de mais preconizei os preceitos do Decálogo, e também a penitência; e assim, apliquei de uma maneira admirável, todos os veros da Palavra no Artigo sobre a Fé, que não obstante descobri e demonstrei ser só salvífica. Este Espírito, na confiança de sua afirmação de que não tinha falsificado a Palavra, se aproximou da Mesa; -a não obstante a advertência do Anjo, tocou a Palavra; mas no mesmo instante saiu da Palavra fogo com fumaça e se produziu com

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estrondo uma explosão, que o lançou em um canto da Câmara e ai ficou estendido como morto durante perto de uma hora. Os Espíritos Angélicos ficaram muito admirados, mas lhes foi dito que este Chefe Eclesiástico tinha mais que todos os outros exaltado os bens da caridade como procedendo da Fé, mas, não obstante, não tinha entendido outras obras senão obras políticas, que são também chamadas obras morais e civis, que é preciso fazer pelo Mundo e por sua própria prosperidade no Mundo, mas de modo algum para a salvação; e que, além disso, tinha -suposto da parte do Espírito Santo, obras invisíveis, de que o homem nada sabe, que são engendradas na Fé, quando se está no estado de fé.Então, os Espíritos Angélicos falaram entre si, da falsificação da Palavra e convieram unânimemente, que falsificar a Palavra é tomar os Veros e empregá-los para confirmar falsos, o que é tirá-los da Palavra para fora da Palavra e os matar, por exemplo, aplicar-se à Fé de hoje e explicar segundo esta fé, todos esses veros referidos acima, por aquêles que tinham -saldo do abismo; que esta fé se tenha impregnado de falsos, isso será demonstrado no que segue: E' também tirar da Palavra este Vero: que a Caridade deve ser exercida e que é necessário fazer bem ao próximo; se então alguém confirma que é preciso fazê-la, mas não pela Salvação1 pois que todo bem da parte do homem não é um bem porque é meritório, êste tira o Vero da Palavra para fora da Palavra e o mata, pois que o Senhor, em Sua Palavra, prescreve a todo homem que quer ser salvo que ame o próximo e lhe faça bem segundo êste amor. Acontece o mesmo com os outros Veros.Da Trindade Divina

&163 - Tratou-se de Deus Criador e, ao mesmo tempo, da Criação, em seguida do Senhor Redentor e, ao mesmo tempo, da Redenção; e enfim, do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, dá Divina Operação, pois que assim tratou-se de Deus Triuno, é necessário que se trate também da Trindade Divina, que no Mundo Cristão é conhecida e, contudo, desconhecida; com efeito, por Ela só se adquire uma justa idéia de Deus e uma justa idéia de Deus é na Igreja como o Santuário e o altar em um Templo e como uma coroa sobre a cabeça e um cetro na mão de um Rei sentado sobre um Trono, pois todo corpo da Teologia depende dela como uma cadeia depende de seu primeiro elo; e, se quiserdes crer, cada um obtém seu lugar nos Céus segundo sua idéia de Deus, pois esta idéia é como a Pedra de toque com a qual se experimenta o ouro e a prata, quer dizer o bem e o vero, tais como estão no homem, pois que não existe nêle nenhum bem salvífico que não venha de Deus, nem vero algum que não tire do seio do bem a sua qualidade. Mas, para que se veja com os dois olhos o que é a Trindade Divina, Sua Exposição vai ser dividida em Artigos na ordem seguinte:I - HÁ UMA TRINDADE DIVINA, QUE E' 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPíRITO SANTO. II - ÊSTES TRÊS, 0 PAI, 0 FILHO, 0 ESPíRITO SANTO, SAO OS TRÊS ESSENCIAIS DE UM úNICO DEUS, QUE FAZEM UM COMO A ALMA, 0 CORPO E A OPERAÇÃO NO HOMEM.III - ANTES DO MUNDO CRIADO NÃO HAVIA ESTA TRINDADE, MAS APÓS 0 MUNDO CRIADO, QUANDO DEUS SE ENCARNOU, ELA FOI PROVIDA E FEITA; E ENTAO, NO SENHOR DEUS REDENTOR E SALVADOR JESUS CHRISTO.IV - A TRINDADE DE PESSOAS DIVINAS DE TODA A ETERNIDADE, OU ANTES DO MUNDO CRIADO, E' NA IDÉIA DO PENSAMENTO UMA TRINDADE DE DEUSES; E A IDÉIA DE TRÊS DEUSES NÃO PODE SER APAGADA PELA CONFISSÃO ORAL DE UM úNICO DEUS.V - A TRINDADE DE PESSOAS ERA DESCONHECIDA NA IGREJA APOSTÓLICA, MAS FOI TIRADA DO CONCILIO DE NICÉA; E POR CONSEGUINTE, FOI

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INTRODUZIDA NA IGREJA CATÓLICA-ROMANA E PASSOU DAI PARA AS IGREJAS QUE DELA SE SEPARARAM.VI - DA TRINDADE NICEANA E, AO MESMO TEMPO, ATANASIANO SAIU A FÉ QUE PERVERTEU TODA A IGREJA CRISTA.VII - DAI, RESULTA QUE ESTA FÉ E' A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO, E A AFLIÇÃO TAL COMO AINDA NAO TINHA HAVIDO E NÃO HAVERÁ, QUE 0 SENHOR TINHA PREDITO EM DANIEL, NOS EVANGELHOS E NO APOCALIPSE. VIII - DEPOIS DISSO, QUE SE UM NOVO CÉU E UMA, NOVA IGREJA NÃO TIVESSEM SIDO FUNDADOS PELO SENHOR, NENHUMA CARNE SERIA SALVA.IX - DA TRINDADE DE PESSOAS, DAS QUAIS CADA UMA, EM PARTICULAR, E' DEUS, SEGUNDO 0 SÍMBOLO DE ATA NASIO, ELEVARAM SOBRE DEUS UM GRANDE NúMERO DE IDÉIAS DISCORDANTES E HETEROGÊNEAS, QUE SAO FANTASIAS E ABORTOS.Cada uma destas proposições vai ser explicada em particular.

&164 - I. HÁ UMA TRINDADE DIVINA, QUE E' 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPíRITO SANTO.Que haja uma Trindade Divina, o Pai, o, Filho e o Espírito Santo, vê-se claramente segundo a Palavra e por estas passagens da Palavra: "0 Anjo Gabriel disse a Maria: um Espírito Santa virá sobre ti e uma virtude do, altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o que nascerá de ti Santo será chamado filho de Deus (Lucas 1, 35); aqui três são mencionados, o Altíssimo que é Deus Pai, o Espírito Santo e o Filho de Deus. "Quando Jesus era batizado, eis que os Céus foram abertos e João viu o Espírito Santo descendo como uma Pomba e vindo sobre Êle; e eis uma voz dos Céus, dizendo: Êste é o meu Filho amado em quem me comprazo" (Mateus 111, 16, 17; Marcos 1, 10, 11; João 1, 32). Ainda mais abertamente, por estas palavras do Senhor aos Discípulos: Ide e fazei discípulos de tôdas as nações, batizandoos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus XXVIII, 19); e além disso, por estas, em João: Há três que dão testemunho no Céu, o, Pai, a palavra e o Espírito Santo" (I Epist. 5, 7). E além disso, o Senhor orou a seu Pai, falou d'Ele e com Êle, e disse que enviaria o Espírito Santo e também o enviou. De mais, os Apóstolos, em suas Epístolas, mencionaram freqüentemente o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Por tudo isso, é bem evidente que há uma Trindade Divina, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

&165 - Mas como deve ela ser compreendida? São três Deuses que, de essência e assim de nome, são um só Deus? ou três objetos de um único sujeito, por conseqüência são nícamente as qualidades ou os atributos de um único Deus, que são assim mencionados? ou é de outro modo? A razão abandonada a si mesma não pode absolutamente ver cousa alguma; mas que partido tomar? não há outro para o homem senão dirigir-se ao Senhor Deus Salvador e ler a Palavra sob seu auspício, pois Ele é o Deus da Palavra; e o homem será ilustrado, e verá a verdade que a razão também reconhecerá. Ao contrário, se não te diriges ao Senhor, mesmo que leias mil vêzes a Palavra e que aí vejas a Trindade Divina e também a Unidade, não compreenderás jamais outra cousa, senão que há três Pessoas Divinas, cada uma das quais, em particular, é Deus; e assim, três Deuses; mas como isso repugna à percepção comum de todos os homens no Mundo inteiro, eis por que, para evitar censura, se inventou que, embora sejam três em verdade, entretanto, a fé exige que se diga um único Deus e não três Deuses; e que, além disso, para evitar ser sobrecarregado de críticas, o entendimento, quanto a este ponto principalmente, será fechado e mantido

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encadeado sob a obediência da fé; e que isto, pela Ordem Cristã, será daí por diante uma coisa santa na Igreja Cristã. Um tal feto paralítico nasceu de não se ler a Palavra sob o auspício do Senhor; e quem quer que não leia a Palavra sob êste auspício, a lê sob o auspício da própria inteligência; e esta é como um pássaro noturno nas cousas que estão na luz espiritual, tais como são os essenciais da Igreja; e quando um tal homem lê na Palavra coisas que concernem à Trindade e que por elas pensa que, embora sejam três, entretanto são um, isso lhe parece semelhante à resposta de uma -sacerdotiza sobre seu tripé; e como não a compreende, enrola-o entre os dentes, pais se a colocasse diante dos olhos seria um enigma; quanto mais se esforça por desenrolá-la mais se envolve -em trevas até que se ponha a pensar nisso sem o entendimento, que é a mesma coisa que ver sem os olhos; em suma, ler a Palavra sob o auspício da própria inteligência, é o que fazem todos os que não reconhecem o Senhor por Deus do Céu e da Terra; por conseguinte, não se dirigem unicamente a Ele e não 0 adoram únicamente; é semelhante a crianças que para brincarem põem uma venda nos olhos e querem caminhar em linha reta, acreditando mesmo seguir uma linha reta; e entretanto, se afastam, passo a passo, para o lado, vão em sentido oposto, batem contra uma pedra e caem. E' também semelhante a pilotos que -navegam sem bússola, dirigem o navio contra esc-olhos e perecem; è semelhante a um homem que caminha em uma vasta campina no meio de um nevoeiro espesso e que, vendo um escorpião, que acredita ser um pássaro, quer agarrá-lo com a mão, levantálo, e recebe, então, uma ferida mortal; é ainda, semelhante a um mergulhão ou a um milhafre, que vê sobre as águas uma pequena parte do dorso de um grande peixe, se lança sobre êle, enterra seu bico e é arrastado pelo peixe, sufocando-se nas ondas; enfim, é semelhante àquele que entra em um labirinto sem gula e sem fio e que, quanto mais nêle penetra interiormente' mais perde o caminho da saída. 0 homem que não lê a Pa1avra sob o auspício do Senhor, mas que a lê sob o auspício da própria inteligência, acredita-se um lince e mais clarividente que Argus, quando, entretanto, não vê interiormente a menor coisa do vero; não vê senão falsos que, quando se persuade deles, lhe aparecem como a estrêla polar, para a qual dirige tôdas as velas do seu pensamento; e então, não vê os veros mais do que uma toupeira; e se os vê, dobra-os em favor de sua fantasia e assim perverte e falsifica os santos da Palavra.

&166 - II. ESTES TRÊS, 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPIRITO -SANTO, SAO OS TRÊS ESSENCIAIS DE UM úNICO DEUS, QUE FAZEM UM,, COMO A ALMA, 0 CORPO E A OPERAÇÃO NO HOMEM.Há para uma mesma cousa Essenciais comuns e também Essenciais particulares; e êstes com aquêles, fazem -uma única Essência; os Essenciois comuns de um homem são a sua alma, o seu corpo e a sua operação; que êstes façam uma única Essência, pode-se vê-lo nisto, que um é pelo outro e para o outro, em série continua; com efeito, o homem tem seu começo pela alma, que é a essência mesma da semente; a alma não somente começa, mas ainda produz, em sua ordem, tôdas as cousas, que pertencem ao corpo e as que procedem, ao mesmo tempo, dêstes dois, a alma e o corpo, as quais são chamadas operações; é por isso que, segundo a produção de um pelo outro, e por conseguinte, segundo enxêrto e a conjunção, torna-se evidente que êstes três pertencem a uma mesma essência; é por isso que são chamados os três essenciais.

&167 - Que no Senhor Deus Salvador tenha havido e haja estes três Essenciais, a saber, a Alma, o Corpo e a Operação, cada um o reconhece; que Êle tenha tido sua Alma de Jehovah Pai Isso não pode ser negado senão pelo Antichristo, pois na Palavra de um e outro

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Testamento o Senhor é chamado Pilho de Jehovah, Filho de Deus Altíssimo, Unigênito; o Divino do Pai é portanto, como a alma do homem, o primeiro Essencial do Senhor; que o Filho, que Maria deu à luz, seja o Corpo dessa Alma Divina, é a conseqüência disso, pois no útero da mãe não se produz senão o Corpo concebido e derivado da alma; êste Corpo, é, portanto, o segundo Essencial; que as - operações façam o terceiro Essencial, é porque elas procedem, ao mesmo tempo, da alma e do corpo; e que as cousas que procedem são da mesma essência que as que produzem. Que os três Essenciais, que são * Pai, o Filho e o Espírito Sonto, sejam um no Senhor, como * alma, o corpo e a operação no homem, vê-se claramente pelas .palavras do Senhor, que o Pai e Éle são um, e que o Pai está n'Ele e Êle no Pai; acontece o mesmo com Êle e o Espírito Santo, pois que o Espírito Santo é o Divino procedente do Senhor segundo o Pai, ns. 153, 154; demonstrá-lo de novo, seria um trabalho supérfluo e, por assim dizer, sobrecarregar uma mesa de comidas, quando já se está saciado.

&168 - Quando se diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Essenciais de um único Deus, como a alma, o corpo e a operação no homem,.parece diante da Mente humana que três Pessoas sejam, êstes três Essenciais, o que não é admissivel; mas -quando se entende que o Divino do Pai, que faz a Alma, e o Divino do Filho, que faz o Corpo, e o Divino do Espírito Santo ou o Divino Procedente, que faz a Operação, são os três Essenciais de um único Deus, então isto cabe no entendimento. Com efeito, Deus Pai é seu Divino, o Filho segundo o Pai o seu, e o Espírito Santo segundo um e outro o seu, Divinos, que sendo de uma única essência e unânimes, fazem um único Deus. Se, ao contrário, êstes três Divinos são chamados Pessoas e que, a cada Pessoa, seja atribuída sua propriedade, como ao Pai a imputação, ao Filho a mediação, e ao Espírito Santo a operação, então a Essência Divina é dividida, quando entretanto ela é indivisível, assim cada um dos três não é Deus -em plenitude, mas cada um o é em um terço de potência, o que um entendimento são não pode deixar de rejeitar.

&169 - Quem, portanto, não pode perceber a Trindade no Senhor pela Trindade de cada homem? Em cada homem há a alma, o corpo e a operação, semelhantemente, no Senhor, "pois no Senhor habita toda a plenitude da Divindade corporalmente% segundo Paulo, Coloss. 2, 9; por isso, a Trindade no Senhor é Divina, mas no homem é humana. Quem não vê que nesta expressão mística - "Há três Pessoas Divinas; e contudo, um único Deus; e êste Deus, embora seja um, não é entretanto uma única Pessoa" - a Razão não tem parte alguma, mas estando entorpecida, força contudo, a boca a falar como um papagaio? quando a razão está entorpecida, que pode ser a linguagem da boca, senão inanimada? quando a boca fala e a Razão erra aqui e ali, em dissentimento com ela, que pode ser a linguagem senão insensata? Hoje a Razão humana, quanto à Divina Trindade, está ligada como um prisioneiro com ferros nas mãos e nos pés em um calabouço e pode ser comparada a uma Vestal enterrada viva, por ter deixado se extinguir o fogo sagrado; entretanto, a Trindade Divina deve luzir como um archote nas mentes dos homens da Igreja, pois que Deus, em sua Trindade e na unidade da Trindade, é tudo em tôdas as santidades do Céu e da Igreja. Com efeito, da Alma fazer um Deus, do corpo um segundo Deus, e da Operação um terceiro, que outra cousa é isso senão fazer dêstes três Essenciais de um mesmo homem, três partes distintas entre si? Não será mutilá-lo e matá-lo?

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&170 - III. ANTES DO MUNDO CRIADO NÃO HAVIA ESTA TRINDADE, MAS APÓS 0 MUNDO CRIADO, QUANDO DEUS SE ENCARNOU, ELA FOI PROVIDA E FEITA; E ENTÃO, NO SENHOR DEUS REDENTOR E SALVADOR JESUS CHRISTO.Na Igreja Cristã, hoje se reconhece uma Trindade Divina antes do Mundo criado, a qual, é que Jehovah Deus de toda eternidade engendrou um Filho e que de um e de outro saiu então o Espírito Santo; e que, cada um dêstes Três, é por si ou em particular, Deus, porque cada um é uma Pessoa subsistindo por si; mas como isso não cabe em razão alguma, chamam-no um mistério, no qual só se pode entrar nisto, que há para êstes três uma única Essência Divina, pela qual entende-se a Eternidade, a Imensidade, a Onipotência; e por conseguinte, uma Divindade igual, uma Glória igual e uma Majestade igual; mas em seguida, será demonstrado que esta Trindade é de três Deuses e que assim não é uma Trindade Divina; que, ao contrário, a Trindade que é também do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a qual foi provida e feita depois que Deus se encarnou, assim depoisdo Mundo criado, seja a Trindade Divina, porque é de um único Deus, isso é evidente por tudo que precede. Que esta Trindade Divina esteja no Senhor Deus Redentor e Salvador Jesus Christo, é porque os três Essenciais de um único Deus, que fazem uma única Essência estão n'Ele; que n'Êle haja toda a plenitude da Divindade, segundo Paulo, vê-se também pelas palavras do Senhor mesmo, que tudo que é do Pai -é d'Ele, e que o Espírito Santo fala não por si mesmo mas por Êle; e, além disso, que do sepulcro, quando Êle ressuscitou, retirou todo Seu Corpo Humano, não unicamente quanto à Carne, mas também quanto aos Ossos, vê-se em Mateus XXVIII, 1 a 8; em Marcos XVI, 5, 6; em Lucas XXIV, 1, 2, 3, e em João XX, 11 a 15; acontece diferentemente com todo outro homem; é mesmo o que Êle provou ad ~um aos Discípulos, dizendo: "Vêde minhas mãos e meus pés, que sou Eu mesmo, tocai-Me e vêde, pois um Espírito não tem carne e ossos, como Me vêdes ter" (Lucas XXIV, 39); por isto, todo homem, se quiser, pode se convencer de que o Humano do Senhor é Divino, que assim n'Êle Deus é Homem e o Homem Deus.

&171 - A Trindade que a Igreja Cristã de hoje adotou e introduziu em sua Fé, é que Deus Pai engendrou o Filho de toda a eternidade; e que o Espírito Santo saiu então de um e de outro; e que cada um dêles é Deus por Si; esta Trindade não pode ser concebida pelas Mentes humanas senão como uma Triarquia; e como o govêrno de três Reis em um só Reino, ou de tr s Generais sobre um único Exército, ou de três Patrões em uma só casa, cada um dos quais teria um poder igual, que resultaria daí senão a destruição? e se alguém quiser figurar ou esboçar diante da vista da mente esta Triarquia e ao mesmo tempo sua unidade, não pode apresentá-la à contemplação senão como um homem ,,com três cabeças sobre um só corpo, ou como três corpos sob uma só cabeça; uma semelhante imagem monstruosá, da Trindade, deve se apresentar diante daqueles que crêem em três Pessoas Divinas, sendo cada uma Deus por Si mesma; e que as conjugue em um único Deus e negam que Deus, porque é um, seja uma única Pessoa. Que um Filho de Deus de toda a eternidade tenha descido e tenha tomado o Humano, isso pode ser comparado às fábulas dos Antigos, que as Almas humanas foram criadas desde o comêço do Mundo e que entram nos corpos e- se tornam homens; depois também a estes sonhos, que a alma de um passa para um outro, como muitos da Igreja Judaica acreditaram, por exemplo, que a alma de Elias passou para o corpo de João Batista; e que David voltará em seu corpo ou no corpo de um outro e reinará sobre Israel e sobre Judá porque se diz em. Ezequiel: "Suscitarei sobre êles um único Pastor, que os apascentará, meu servidor David; êle será seu Pastor e Eu,

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Jehovah, serei seu Deus; e David, príncipe no meio deles'' (XXXIV, 23, 25); e em outros lugares; não sabendo que nessas passagens por David é entendido o Senhor.

&172 - IV. A TRINDADE DE PESSOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, OU ANTES DO MUNDO CRIADO, E' NAS IDÉIAS DO PENSAMENTO UMA TRINDADE DE DEUSES; E A IDÉIA DE TRÊS DEUSES NÃO PODE SER APAGADA PELA CONFIESAO ORAL DE UM úNICO DEUS.Que a Trindade de três Pessoas Divinas de toda eternidade seja uma Trindade de Deuses, vê-se claramente por estas palavras do símbolo de Atanásio: "Outra é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo: Deus e Senhor é o Pai, Deus e Senhor é o Filho, Deus e Senhor é o Espírito Santo; mas, entretanto, não são nem três Deuses nem três Senhores, mas um único Deus e um único Senhor; porque, do mesmo modo que somos forçados pela verdade Cristã a confessar que cada Pessoa é em particular Deus e Senhor, do mesmo modo nos é proibido pela Religião Católica, dizer três Deuses ou três Senhores; êste símbolo foi recebido por toda a Igreja Cristã como Eucumênico ou universal; e tudo o que hoje se sabe e reconhece sobre Deus é tirado dêste símbolo. Que aquêles que estavam no Concílio de icéa, donde saiu como feto póstumo este Símbolo chamado símbolo de Atanásio, não tenham entendido outra Trindade senão uma Trindade de Deuses, quem quer que -o leia somente de olhos abertos pode vê-lo; que uma Trindade de Deuses tenha não sómente sido entendida por êles, mas ainda que não seja entendida outra Trindade no Mundo Cristão, isso resulta de que todo conhecimento sobre Deus é tirado deste símbolo e que cada um permanece na fé das palavras que aí estão. Que hoje, no Mundo Cristão, não seja entendida outra Trindade que não seja uma. Trindade de Deuses, eu apelo sobre isso para todo homem, tanto Leigo como Eclesiástico, tanto para os Professores e Doutores laureados, como para os Bispos e Arcebispos consagrados; e também para os Cardeais purpurados e o que é mais, para o Pontífice Romano mesmo, que cada um se consulte e se exprima então segundo as idéias de sua mente; pelas palavras desta doutrina recebida universalmente sobre Deus, isso é também visível e tão diáfano como a água através de um vaso de cristal; por exemplo, que há três Pessoas e que cada uma delas é Deus e Senhor; em seguida, que pela verdade Cristã se deve confessar e reconhecer que cada Pessoa é em particular Deus e Senhor, mas que a Religião ou- a Fé Católica ou Cristã proíbe dizer ou nomear três Deuses e três Senhores; e que assim a Verdade e a Religião, ou a Verdade e a Fé não são uma única cousa, mas são duas cousas que se contrariam. Se foi acrescentado que não são nem três Deuses nem três Senhores, mas um unico unico Deus e um único Senhor, foi para não se expor ao ridículo diante do Mundo Inteiro, pois quem não arrebentaria de rir com a idéia de três Deuses? mas quem não vê a contradição no que foi acrescentado? Se, ao contrário, tivessem dito que a Divina Essência é do Pai, a Divina Essência é do Filho, e a Divina Essência é do Espírito Santo, mas que não são três Essências Divinas, mas que a Essência é una e indivisível, então este mistério seria explicável, por exemplo, quando pelo Pai é entendido o Divino do qual (a quo) tudo provém, pelo Filho o Divino Humano que d'Ele provém, e pelo Espírito Santo, o Divino procedente, os quais pertencem, todos três, a um único Deus; ou se pelo Divino do Pai é entendida a mesma cousa que a alma no homem, pelo Divino Humano a mesma cousa que pelo corpo desta alma, e pelo Espírito Santo, a mesma coisa que pela Operação que procede da alma e do corpo, então são entendidos três essenciais que pertencem a uma única e mesma Pessoa; e assim, fazem em conjunto, uma Essência única e indivisível.

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&173- Que a idéia de três Deuses não pode ser apagada pela Confissão oral de um único Deus, é porque esta idéia foi semeada na memória desde a infância; e todo homem pensa segundo as coisas que aí estão; a Memória no homem é como o Estômago ruminatório nos pássaros e nas bêstas, que põem neste estômago os alimentos de que são sucessivamente alimentados e, de tempos em tempos, os retiram daí e os fazem passar para o Estômago mesmo, onde êsses alimentos são digeridos e distribuídos para todos os usos do corpo; o Entendimento humano é êste Estômago como a Memória é o Estômago ruminatório. Que a idéia de três Pessoas Divinas de toda a eternidade, que é a mesma que a idéia de três Deuses, não possa ser apagada pela confissão oral de um único Deus, cada um pode vê-lo por isso unicamente que ela ainda não foi apagada; e que, entre os homens Célebres, há os que não querem que ela seja apagada, pois persistem em sustentar que as três Pessoas Divinas são um única Deus e negam, com obstinação, que Deus, porque é um, seja também uma única Pessoa; mas qual é o homem sábio que não pensa em si mesmo, que pela palavra Pessoa é entendida uma ,atribuição de alguma qualidade e, de modo algum, uma pessoa? entretanto, não se sabe qual é essa qualidade; e como não se sabe, aquilo que é semeado na memória desde a infância permanece, como permanece na terra uma raiz de árvore, de onde nascem alguns brotos, quando a árvore mesma é cortada; mas, meu amigo, não somente corta essa árvore, mas extirpa sua raiz; e então, planta em teu jardim, árvores de bom fruto; guarda-te, portanto, de que a idéia de três Deuses se apodere de tua mente, que a boca, que não tem idéia alguma, pronuncie só, um Deus; que é então um entendimento acima da memória, que pensa em três Deuses e um Entendimento abaixo da memória, segundo o qual a boca, pronuncia um único Deus, e isso ao mesmo tempo? São como em um teatro, um comediante que pode desempenhar o papel de duas pessoas passando com velocidade de um lado ,do teatro para o outro, e dizer, de um lado, uma cousa, e do outro lado, o contrário; e assim discutindo, se chamar aqui sábio, e lá louco? que outra coisa resulta daí, senão que, quando está no meio do teatro e olha para cada lado, pensa que nem uma cousa nem outra é verdade? chega-se da mesma forma a pensar que não há nem um Deus, nem três Deuses, que assim não há Deus algum; o naturalismo que reina hoje não tem outra origem. No Céu ninguém pode pronunciar a Trindade de -Pessoas, cada uma das quais, em particular, é Deus, pois a própria atmosfera celeste, na qual os pensamentos dos Anjos voam e ondulam como o som em nosso ar, se opõe a isso; lá, só o hipócrita o pode, mas o som de suas palavras retine na atmosfera celeste como um ranger de dentes ou como o grito de um corvo ,para os augures. Aprendi também do Céu, que apagar pela confissão oral de um único Deus a fé na Trindade de Deuses implantada na mente pelas confirmações, é tão impossível como -fazer passar uma árvore por sua semente, ou o queixo de um homem por um fio de sua barba.

&174 - V. A TRINDADE DE PESSOAS ERA DESCONHECIDA NA IGREJA APOSTÓLICA, MAS FOI TIRADA DO CONCILIO DE NICÉA E, EM SEGUIDA, FOI INTRODUZIDA NA IGREJA CATóLICA-ROMANA E DEPOIS PASSOU DAI PARA AS IGREJAS QUE DELA SE SEPARARAM.Pela Igreja Apostólica é entendida não somente a Igreja que havia em diversos lugares no tempo dos Apóstolos, mas também dois ou três séculos depois dêsse tempo; mas, por fim, começou-se a arrancar de seus gonzos as portas do Templo e se lançaram como ladrões no Santuário; pelo Templo é entendida a Igreja; pela Porta o Senhor Deus Redentor; e pelo Santuário, Sua Divindade; pois Jesus disse: "Em verdade vos dígo, aquele que não entra pela Porta no Aprisco, mas que sobe por um outro lugar, é um salteador e um ladrão; Eu

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sou a Porta, por Mim se alguém entra, será salvo". Éste atentado foi cometido por Arius e por seus sectários; é por isso que um Concílio que foi convocado por Constantino, o Grande, 'em Nicéa, cidade da Bitinia; e lá, a fim de rejeitar a heresia perniciosa de Arius, foi imaginado, concluído e sancionado por aquêles que tinham sido convocados, que havia de toda eternidade Três Pessoas Divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em cada uma das quais havia por si e em si, a personalidade, a existência e a subsistência; que a segunda Pessoa, ou o Filho, desceu, tomou o Humano e fêz a Redenção; que, por conseguinte, a Divindade está unida a Seu Humano pela União hipostática e que, por esta união, havia uma estreita afinidade com Deus Pai. Depois dêsse tempo uma multidão de heresias abomináveis sobre Deus e sobre a Pessoa do Christo começou a sair da terra; e Anticristos começaram a levantar a cabeça e a dividir Deus em três; e o Senhor Salvador em dois; e assim a destruir o Templo que o Senhor tinha elevado pelos Apóstolos e isso até que não restasse pedra sobre pedra que não fosse derrubada, segundo Suas próprias palavras (Mateus XXIV, 2), onde pelo Templo é entendido não somente o Templo de Jerusalém, mas também a Igreja, da consumação ou do fim da qual se trata em todo êsse Capítulo. Mas que outra cousa se podia esperar deste Concílio e dos seguintes, que semelhantemente, dividiram a Divindade em três partes, e colocaram Deus encarnado abaixo deles sob o escabelo de seus pés? pois separaram a Cabeça da Igreja de seu Corpo, porque subiram por um outro lugar, isto é, porque passaram por cima de Deus encarnado e subiram para Deus Pai como para um outro Deus, sómente com a pequena palavra de Mérito de Christo na boca, para que tivesse piedade por causa desse Mérito; e assim a Justificação influía imediatamente com todo seu cortêjo, a saber, com a remissão dos pecados, a renovação, a santificação, a regeneraçâo e a salvação; e isso sem nada de mediato, da parte do homem.

&175 - Que a Igreja Apostólica não tenha sabido a menor cousa da Trindade de Pessoas ou das três Pessoas de toda a eternidade, vê-se claramente pelo Símbolo dessa Igreja, chamado Símbolo dos Apóstolos, onde estão estas palavras: "Creio em Deus, o Pai Onipotente, Criador do Céu e da Terra; e em Jesus Christo, seu Filho único, nosso Senhor, que foi concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria; e no Espírito Santo". Aí não se faz menção alguma de um Filho de toda eternidade, mas se fala de um Filho concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria; sabe-se pelos Apóstolos que Jesus Christo era o_ verdadeira Deus (I João V, 21); que n'Ele habitava corporalmente toda a. plenitude da Divindade (Coloss. 2, 9); que os Apóstolos tinham pregado a Fé n'Ele (Atos 20, 21); e que a Ele pertencia toda poder no Céu e sobre a Terra (Mateus XXVIII, 18).

&176 - Que confiança pode-se ter nos Concílios, quando eles não se dirigem Imediatamente ao Deus da Igreja? A Igreja não é o Corpo do Senhor e Êle mesmo não é a sua Cabeça? 0 que é o corpo sem a Cabeça; e o que é o corpo a que se pôs três Cabeças, sob o auspício das quais se tomam decisões- e, se expedem decretos? Não acontece então que a Ilustração, que é espiritual pelo Senhor só, que é o Deus do Céu e da Terra, e, ao mesmo tempo, o Deus da Palavra, se torna cada vez mais natural e, por fim, sensual? E então, não se explora algum vem real teológico em sua forma interna, sem que seja imediatamente pelo pensamento do entendimento racional, e dissipado no ar, como a palha pelo vento? Então, neste estado, em lugardas verdades sobrevêm as ilusões; e em lugar dos raios da luz:, as trevas; e então, se está como em uma caverna com óculos no, nariz e uma vela na mão e se fecham as pálpebras para os veros espirituais que estão na luz do Céu, mas abre-se para os sensuais:que estão na luz ilusória dos sentidos do corpo; a mesma cousa acontece

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em seguida quando se lê a Palavra; a mente dorme sóbre os veros, desperta sobre os falsos e torna-se como está escrito, a Besta subindo do mar, quanto à boca como um leão,. quanto ao corpo como um leopardo e quanto aos pós-, como um urso (Apoc. 13, 2). No Céu, se diz, que quando o Concilio de, Nicéa terminou, houve coincidência com estas coisas que o Senhor predisse aos Discípulos: "0 Sol será obscurecido, a Lua. não dará sua luz, as estrêlas cairão do Céu e as Potências dos Céus serão abaladas" (Mateus XXIV, 29); e na realidade a IgrejaApostólica era como uma Estrêla nova aparecendo no Céu Astral e a Igreja, após os dois Concílios de Nicéa, tornou-se como, a mesma Estrêla que ficou depois opaca, não aparecendo mais, assim como isso aconteceu mesmo algumas vezes no Mundo Natural segundo as observações dos Astrônomos. Na Palavra, ~ que Jehovah Deus habita em uma luz Inacessível; quem, por-tanto, poderia se aproximar d'Ele se Éle não habitasse em uma, luz acessível, isto é, se Èle não tivesse descido e não tivesse to-mado o Humano; e se neste Humano não se tivesse tornado a Luz do Mundo? (João 1, 9; XII, 46); quem não pode ver que. - aproximar-se de Jehovah Deus em Sua Luz, é tão Impossível,como tomar as asas da Aurora e voar com elas para o Sol oualimentar-se com os raios solares em lugar de um alimento ele mentar; ou tão impossível como um, Pássaro voar no éter e um Cervo correr no ar.

&177 - VI. DA TRINDADE NICEANA E AO MESMO TEMPO ATANASIANA SAIU A FÉ QUE PERVERTEU TORDA A IGREJA CRISTA.Que a Trindade Niceana e ao mesmo tempo Atanasiana, seja uma Trindade de Deuses, vê-se explicado acima segundo seus símbolos, n. 172; daí saiu a fé da Igreja de hoje, que é em Deus Pai, em Deus Filho e em Deus Espírito Santo; em Deus Pai, para que Ele impute a justiça do Salvador seu Filho e a atribua-ao homem; em Deus Filho, para que Éle Interceda e estipule; no Espírito Santo, para que Êle, efetivamente, inscreva a justiça do Filho imputada e que, depois de a ter estabelecido a sele, santificando e regenerando o homem; eis a Pé de hoje, a qual só pode testemunhar que é uma Trindadede Deuses que é reconhecida e adorada. Da Fé de cada Igreja decorre não somente todo seu culto, mas também toda sua parte dogmática; por conseguinte, pode-se dizer que tal é a fé da Igreja, tal é sua doutrina; que esta fé, porque é a fé em três Deuses, tenha pervertido tôdas as cousas da Igreja, é o que resulta daí; pois a Fé é o princípio e os doutrinais são os principiados; e os principiados tiram sua essência do princípio. Se alguém submete a exame cada um dos doutrinais, por exemplo, aqueles que concernem a Deus, à Pessoa do Christo, à Caridade à Penitência, à Regeneração, ao Livre Arbítrio, à Eleição, ao uso dos sacramentos do Batismo e a Santa Ceia, verá claramente que a Trindade de Deuses está em cada doutrinal, e se aí não parece estar efetivamente, não obstante a doutrina ressalta daí como de sua fonte. Mas como um tal exame não pode ser feito aqui e que, entretanto, é necessário que seja feito para abrir os olhos, será acrescentado a esta Obra um Apêndice, no qual isso será demonstrado. A Fé da Igreja sobre Deus é como a Alma do corpo; e os doutrinais são como seus membros; e, além disso, a Fé em Deus é como uma Rainha, e os dogmáticos são como oficiais da sua corte; e do mesmo modo que èstes dependem das ordens dadas pela Rainha, do mesmo modo os dogmáticos dependem do enunciado da fé; segundo esta fé somente pode se ver como é entendida a Palavra na Igreja, pois a fé se aplica e puxa para si tudo que pode; se a fé é falsa, ela se prostitui com todo vero da Igreja, ou volta para a esquerda e o falsifica e torna o homem insensato nos espirituais; mas se a Fé é verdadeira, é então favorável a toda a Palavra; e o Deus da Palavra, que é o Senhor Deus Salvador, espalha a luz, inspira com seu Divino assentimento, e faz com que o homem se torne sábio.

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Que a fé de hoje, que na forma interna é a fé de três Deuses e, na forma externa, a fé em um único Deus, tenha extinguido a luz da Palavra e afastado da Igreja o Senhor e assim tenha precipitado sua manhã na noite, ver-se-á também no Apêndice; isso foi feito pelas heresias antes do Concílio de Nicéa; e em seguida, pelas heresias provindas dêste Concílio e após êste Concílio; mas que confiança se pode ter em Concílios que não entram pela Palavra no Aprisco, mas sobem por um outro lugar, segundo as palavras do Senhor em João X, 1, 9; sua deliberação é muito semelhante à marcha de um cego de dia, ou de um homem tendo olhos de noite, que um e outro não vêem o fosso antes de nêle caírem. Por exemplo, que confiança se pode ter em Concílios que estabeleceram o Vigariato do Papa, a Apoteose de mortos e sua invocação como se fossem Deidades (Numina), a veneração de suas imagens, a autoridade de indulgências, a divisão da Eucaristia, etc.? Que confiança se pode ter em um Concílio que firmou a execrável Predestinação? e esta Predestinação, êles a suspenderam como um Palácio da religião diante dos templos de sua Igreja. Mas, 6 meu amigo, dirige-te ao Deus da Palavra; entra assim pela porta no Aprisico, isto é, na Igreja, e serás ilustrado; verás, tu mesmo, como do alto de uma montanha não somente os passos e os erros do maior número, mas também os teus passos precedentes e os teus precedentes erros na sombria floresta ao pé da montanha.

&178 - A Fé de cada Igreja é como uma semente, donde saem todos os dogmas e pode ser comparada à semente de uma árvore, donde nascem tôdas as partes da árvore até aos frutos; e também à semente do homem de onde são engendradas em série sucessivas linhagens e famílias; quando, portanto, se conhece a a Fé principal, que pela predominância é chamada salvífica, conhece-se qual é a Igreja; isto pode ser ilustrado por êste exemplo: Seja a Fé que a Natureza é Criadora do Universo, as conseqüências desta fé são que o Universo é o que se chama Deus; que a Natureza é a sua Essência; que o Éter é o Deus supremo, que os antigos chamavam Júpiter; que o Ar é a Deusa que os antigos chamavam Juno e davam por esposa a Júpiter; que o Oceano é um Deus abaixo déles, que se pode, como os antigos, chamar Netuno; e que, como a Divindade da Natureza penetra mesmo no centro da Terra, lá também há um Deus, que se pode, como os antigos, chamar Plutão; que o Sol é a corte de todos os Deuses onde se reúnem quando Júpiter convoca a assembléia; que, além disso, o Fogo é a vida proveniente de Deus; e que os Pássaros voam em Deus, as Bestas caminham em Deus e os Peixes nadam em Deus; que, além disso, os pensamentos são unicamente modificações do éter, como as palavras que dêles provêm são modificações do ar; e que as afeições do amor são mudanças de estado ocasionadas pelo influxo dos raios do sol nelas; que, no meio de tudo isso, a Vida depois da morte e, ao mesmo tempo, o Céu e o Inferno, são fábulas inventadas pelos Padres para obterem honras e riquezas, mas que essas crenças, ainda que sejam fábulas, são, entretanto, úteis e que é preciso não zombar delas abertamente porque servem ao bem público, contendo os espíritos dos simples em um vínculo de obediência aos magistrados; mas que, entretanto, aquêles que caíram nas rédes da religião, são homens arrastados por seus pensamentos de quimeras e suas ações de minúcias e são, para os padres, baixos servos que crêem no que não vêem; e vêem o que excede à esfera de sua mente. Estas conseqüências e várias outras semelhantes, estão contidas nesta Fé, que a Natureza é criadora do universo e dela decorrem quando é aberta. Isto foi referido, a fim de que se saiba que na Fé da Igreja de hoje, que na sua forma interna é em três Deuses e na forma externa em um só, há falsidades em multidão e que se pode tirar dela tantas quantas aranhazinhas há em um casulo proveniente de uma aranha-mãe; qual é o homem cuja mente se tornou verdadeiramente racional pela luz proveniente do

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Senhor, que não vê isso? mas como um outro o veria, quando a porta que conduz a esta fé e a suas produções foi fechada com ferrolho por este estatuto de que não é permitido à razão penetrar nos mistérios desta fé.

&179 - VII. DAI RESULTA QUE ESTA FÉ E' A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇAO E A AFLIÇÃO TAL COMO NAO HOUVE E QUE NAO 0 HAVERA, QUE 0 SENHOR TINHA PREDITO EM DANIEL, NOS EVANGELHOS E NO APOCALIPSE.Em Daniel lê-se estas palavras: "Enfim sobre o pássaro das abominações estará a desolação e até à consumação e à desolação ela se derreterá sobre a devastação' (IX, 27). No Evangelista Mateus, o Senhor diz: "Então vários falsos profetas se elevarão e seduzirão a muitos; quando pois virdes a Abominação da desolação predita por Daniel, o Profeta, estabelecida no lugar santo, aquêle que lê preste atenção" (XXIV, 11, 15); e em seguida, no mesmo Capítulo: "Haverá uma aflição grande, tal como ainda não houve desde o começo do mundo até ao presente e não haverá mais" (vers. 21). Tratou-se desta aflição e desta abominação em sete capítulos do Apocalipse; são elas que são entendidas pelo cavalo prêto e pelo cavalo pálido, que saíram do livro de que o cordeiro abria os selos (Apoc. 6, 5 a 8). Depois pela Bêsta que subiu do abismo, que fêz a guerra às duas testemunhas e as matou (11, 7 e segs.). Pelo Dragão que se mantinha diante da Mulher que estava para dar à luz, para devorar seu fruto e que a perseguiu no deserto e aí lançou, de sua goela, águas como um rio, para a submergir (12.0). Pelas Bestas do Dragão, uma subindo do mar e outra da terra (13). Pelos três Espíritos semelhantes a rãs, que saíram da goela, do dragão da goela da besta e da boca do falso profeta (16, 13) . E, além disso, por estas passagens: "Depois que os sete anjos derramaram as taças da cólera de Deus, nas quais estavam as últimas sete pragas, sobre a Terra, sobre o mar, sobre as fontes e os rios, sobre o sol, sobre o trono da besta sobre o Eufrates e, enfim, no ar, houve um grande tremor de terra, tal como ainda não tinha havido desde que os homens foram feitos" (16). O tremor de terra significa o desmoronamento da Igreja, que é feito pelos falsos e pelas falsificações do vero, a mesma coisa que significa a aflição grande tal como ainda não tinha havido desde o comêço do mundo (Mateus XXIV, 21). coisas semelhantes são entendidas por estas palavras: "0 Anjo lançou ma foice e vindimou a vinha da terra, e lançou no grande lagar da cólera de Deus, fêz pisar o lagar e saiu sangue até aos freios dos cavalos em mil e seiscentos estádios (14, 19, 20); o sangue significa o vero falsificado; além de várias outras coisas nestes sete Capítulos.

&180 - Nos evangelistas, Mateus XXIV, Marcos XIII, e Lucas XXI, foram descritos os declínios sucessivos e as corrupções sucessivas da Igreja Cristã; e pela aflição grande, tal como ainda não houve desde o comêço do mundo, é entendida, como. aqui e ali algures na Palavra, a infestação dos veros pelos falsos, até que não reste mais vero algum que não tenha sido falsificado e consumido; Isto também é entendido pela abominação da desolação nos Evangelistas, e ainda pela desolação das abominações e pela consumação e a decisão em Daniel; e a mesma coisa é descrita no Apocalipse pelos extratos que acabam de ser dados. E' o que foi efetuado pela Igreja, reconhecendo a Unidade de Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não em uma única Pessoa, mas em Três e, por conseguinte, fundou-se a Igreja, na Mente, sobre a Idéia de três Deuses; e na boca sobre a Confissão de um único Deus; pois assim separaram-se do Senhor, ao ponto de que não se tem mais nenhuma idéia da Divindade em Sua Natureza Humana; quando, entretanto, Ele mesmo é Deus Pai

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no Humano; é por isso, que Éle é chamado "Pai de eternidade" (Isaías IX, 5); e que Éle disse a Filipe: "Quem me Vê, vê o Pai" (João XVI, 7, 9).

&181 - Mas pergunta-se: De onde vem a fonte mesma da qual saiu esta abominação da desolação, tal como é descrita em Daniel IX, 27; e esta aflição, tal como ainda não tinha havido e não haverá mais, Mateus XXIV, 21? A resposta é que vem desta Fé universal do Mundo Cristão e do influxo de sua ope e de sua imputação, segundo as tradições. É surpreendente que a doutrina da Justificação por esta fé só, ainda que seja não a fé, mas uma quimera, obtenha todos os sufrágios nas Igrejas Cristãs, Isto é, ai reine quase como o único ponto teológico na Ordem Sacra; é o que todos os noviços do clero aprendem, absorvem e devoram com avidez nas Casas de instrução; e em seguida, ,como inspirados de uma sabedoria celeste, a ensinam nos Templos, a fazem conhecida nos Livros e por ela, procuram e exploram o nome, a reputação e a glória de uma erudição supe-rior, como também recebem, por causa dela, diplomas de valor e recompensas; e estas cousas se fazem, ainda que por esta fé só, hoje, o Sol tenha sido obscurecido, a Lua tenha sido privada de seu esplendor e as Estrelas tenham caído e que as Potências dos Céus tenham sido abaladas, segundo as palavras da predição feita pelo Senhor, em Mateus XXIV, 29; que a doutrina desta fé tenha hoje cegado as mentes ao ponto de não quererem ver; por conseguinte, são como se não pudessem ver Vero Divino algum interior na luz do sol, nem na luz da lua, -mas unicamente no exterior em uma espécie de superfície áspera à luz da lareira durante a noite, é o que se tornou indubitável para mim; é por isso que eu pode predizer que se os Divinos Veros sobre a conjunção real da caridade e da fé sobre o Céu é o Inferno, sobre o Senhor, sobre a vida depois da morte e sobre a felicidade eterna, descessem do Céu gravados em letras de prata, os Justificadores e os Santificadores pela fé só, não os julgariam dignos de ser lidos; mas seria outra coisa se um Papel sobre a Justificação pela fé só subisse dos Infernos, êles o agarrariam, o beijariam e o levariam para casa, em seu seio.

&182 - VIII. DEPOIS ISTO, QUE SE UM NOVO CÉU E UMA NOVA IGREJA NÃO FOSSEM FUNDADOS PELO SENHOR, NENHUMA CARNE SERIA SALVA.Lê-se em Mateus: "Haverá então unia aflição grande, tal ,como ainda não houve desde o comêço do Mundo até ao presente e nem haverá mais; e se não fossem abreviados êsses dias nenhuma carne seria salva" (XXIV, 22); neste Capítulo, se trata da Consumação do século, pela qual é entendido o fim da Igreja de hoje; é por isso que por abreviar êsses dias, é entendido por fim a essa Igreja e instaurar uma nova. Quem não sabe que se o Senhor não tivesse vindo ao Mundo e não tivesse feito a Redenção, nenhuma carne teria podido ser salva? por fazer a Redenção é entendido fundar um novo Céu e uma nova Igreja. Que o Senhor devesse vir de novo ao Mundo, Éle o predisse nos Evangelistas, Mateus XXIV, 30, 31; Marcos XIII, 26; Lucas XII, 40; XXI, 27; e no Apocalipse, principalmente no último Capitulo; que mesmo hoje Ele faça a Redenção, fundando um novo Céu e instaurando uma nova Igreja, a fim de que os homens possam ser salvos, isso foi demonstrado acima no Lema sobre a Redenção. 0 Grande Arcano, que sem a instauração de uma Nova Igreja pelo Senhor, nenhuma carne pode ser salva, é este: Enquanto o Dragão permanecer com sua tropa no Mundo dos Espíritos, no qual êle foi lançado, nenhum Vero Divino unido ao Divino Bem, pode chegar até aos homens da terra, sem que seja pervertido e falsificado ou sem que seja destruido; é o que é entendido no Apocalipse por esta passagem: "0 Dragão foi precipitado na Terra e seus anjos com ele, foram precipitados; ai daqueles que habitam a Terra e o Mar, porque desceu o diabo para êles, tendo uma cólera grande" (XII, 9, 12, 13)

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mas depois que o Dragão tinha sido precipitado no Inferno (XX, 10), então João viu um Céu novo e uma Terra nova e viu a Nova Jerusalém descendo de Deus pelo Céu (XXI, 1, 2). Pelo Dragão são entendidos os que estão na Fé da Igreja de hoje.Algumas vêzes, no Mundo espiritual, conversei com os Justificadores dos homens pela fé só e lhes disse que sua Doutrina é errônea e mesmo absurda; e que ela introduz a segurança, a cegueira, o sono e a noite nas cousas espirituais e, por conseguinte, a morte da alma, exortando-os a desistir dela; mas recebi como resposta: 0 que! resistir dela! a proeminência da erudição dos Eclesiásticos sobre os Leigos não depende desta fé? Mas repliquei, que assim êles tinham por fim, não a salvação das almas, mas a proeminência de sua reputação; e pois que tinham aplicado a seus falsos princípios os veros da Palavra e os tinham assim adulterado, êles eram Anjos do abismo, chamados Abbadons e Appolyons (Apoc. 9, 11), pelos quais são significados os que perdem a Igreja por uma total falsificação da Palavra. Mas êles responderam: 0 que é isso? Somos Oráculos pela ciência dos mistérios desta fé e damos respostas por ela como por um santuário; somos, portanto, Apolos e não Apollyons. Indignado com esta resposta, eu lhes disse: Se sois, Apolos, sois também Leviatãs; os principais dentre vós, Leviatãs tortuosos, e os de segunda categoria, Leviatãs oblongos, que Deus visitará com sua espada dura e grande (Isaías XXVII, 1); mas a estas palavras êles se puseram a rir.

&183 - IX. DA TRINDADE DE PESSOAS, CADA UMA DAS QUAIS EM PARTICULAR E' DEUS, SEGUNDO 0 SÍMBOLO DE ATANASIO, SE ELEVARAM SOBRE DEUS GRANDE NúMERO DE IDÊIAS DISCORDANTES E HETEROGÊNEAS, QUE SAO FANTASIAS E ABORTOS.Da Doutrina de três Pessoas Divinas de toda a eternidade, que em si é a Cabeça de todos os doutrinais das Igrejas Cristãs, elevou-se um grande número de idéias indecentes sobre Deus, indignas do Mundo Cristão, que, entretanto, deve ser e pode ser um Archote para todos os povos e para tôdas as nações nas quatro partes da terra, naquilo que concerne a Deus e à Unidade de Deus; todos os que habitam fora da Igreja Cristã, tanto os maometanos como os Judeus; e além destes, os Gentios de qualquer -culto que seja, têm aversão aos Cristãos unicamente por causa da fé em três Deuses; os propagadores desta fé o sabem; por isso se abstêm de expor públicamente a Trindade de Pessoas, tal como está nos Símbolos de Nicéa, e de Atanásio, porque então os seus ouvintes fugiriam e zombariam dêles. As idéias discordantes, ridículas e frívolas que se elevaram da Doutrina das três Pessoas Divinas de toda eternidade e se elevam em quem quer que fique na fé das palavras desta Doutrina e passem, dos ouvidos e dos olhos, para a vista do pensamento, são estas: Deus Pai está sentado acima da cabeça no alto; o Filho à sua direita; e o Espírito Santo diante dêles, prestando atenção e, imediatamente, percorrendo todo o Globo; e, segundo o que foi decidido, dispensa os dons da justificação e os inscreve; e de filhos da cólera, faz filhos da graça; e dos danados, faz eleitos; eu apelo para os Sábios dentre o Clero e para os Eruditos dentre os Leigos; alimentam êles em suas mentes uma outra vista senão esta vista ideal? pois ela decorre espontâneamente da Doutrina mesma, ver o Memorável acima n. 16. Dela decorre também a curiosidade de conjecturar o que êstes Três Deuses se diziam entre si antes que o Mundo fosse criado; falariam do Mundo a criar? falariam daqueles que deviam ser predestinados e justificados segundo os supralapsários? falariam também da Redenção? semelhantemente, que dizem êles entre si depois que o Mundo foi criado? o Pai fala da autoridade e do poder de imputar; e o Filho, do poder da mediação; que a imputação, que é a eleição, vem da misericórdia do Filho que intercede por todos e, em particular, por

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alguns; e que a graça para êles vem doi Pai, comovido por seu amor pelo Filho e pela miséria que viu nêle sobre o madeiro da cruz. Mas quem não pode ver que tais cousas são loucuras da mente sobre Deus? e entretanto, estas loucuras são nas Igrejas Cristãs as Santidades mesmas, que se deve beijar com a boca, mas não é preciso examiná-las por qualquer vista da mente, porque são supra-racionais; e se, da memória fossem elevadas ao entendimento, o homem ficaria louco; entretanto, sempre acontece que isso não suprime a idéia de três Deuses, mas introduz uma fé estúpida, segundo a qual o homem pensa sóbre Deus como aquêle que dorme em um sonho, como aquêle que caminha na obscuridade da noite ou como um cego de nascença que caminha à luz do dia.

&184 - Que a Trindade de Deuses se tenha apoderado das mentes dos Cristãos, ainda que por pudor se o contrário, vê-se claramente pelas sutilezas que muitos empregam para demonstrar que três são um, e que um é três, por diversos argumentos de Geometria, de Estereometria, de Aritmética e de Física; e também por pregas de estofos e de papel; a eles jogam com a Trindade Divina como os adivinhos entre ai. A adivinhação sobre êste assunto pode ser comparada à vista do olho dos febricitantes, que vêem um único objeto, quer seja homem, mesa ou vela, como três ou três objetos como um 86; pode também ser comparada à brincadeira daqueles que rolam entre os dedos cera mole e lhe dão várias formas: ora a forma triangular para mostrar a Trindade, ora a forma esférica pam mostrar a Unidade, dizendo: Não é, entretanto, uma única e mesma vista substância? Entretanto, a Trindade Divina é como uma Pérola de grande valor; mas esta Trindade dividida em Pessoas é como uma pérola que dividida em três partes, perde absolutamente todo seu valor.

&185 - Ao que precede acrescentarei êstes Memoráveis. Primeiro Memorável. No Mundo Espiritual há Climas e Zonas como no Mundo Natural; nada existe neste que não exista também naqueles; mas as cousas diferem pela origem; no Mundo natural as variedades de Climas são segundo as distâncias do Sol, a partir do Equador; no Mundo espiritual são segundo as distâncias das afeições da vontade e dos pensamentos do entendimento, a partir do verdadeiro amor e da verdadeira fé-, lá, todas as cousas são correspondências dêste amor e desta fé. Nos Zonas glaciais do Mundo espiritual, aparecem cousas semelhantes às que estão nas Zonas glaciais do Mundo natural; aí aparecem terras recobertas de geleiras, águas geladas e também massas de neve sobre elas. V para lá que vão e habitam aquêles que, no Mundo, entorpeceram seu entendimento por falta de pensar nas coisas espirituais e que, ao mesmo tempo, negligenciaram fazer usos; são chamados Espíritos boreais. Um dia tive um grande desejo de ver alguma Região na Zona glacial onde estavam os espíritos boreais; e fui conduzido em espírito para o setentrião, até a um sitio onde toda a terra aparecia coberta de neve e toda água gelada; era um dia de Sabath; e vi homens, isto é, Espíritos de estatura semelhante à dos homens no Mundo; mas por causa do frio, tinham a cabeça coberta com uma pele de leão, cuja goela estava aplicada à sua boca; seus corpos por diante e por trás, até aos lombos, estavam cobertos de peles de leopardos; e seus Pés estavam envolvidos em pele de urso; vi também muitos em carros, e alguns em carros esculpidos em forma de dragão, cujos chifes eram estendidos para frente; êsses carros eram puchados por pequenos cavalos, cujas caudas tinham sido cortadas; corriam como bêstas furiosas e o condutor, com as rédeas na mão, os apressavam sem descanso e forçava sua marcha; vi, enfim, que afluíam por tropas para um Templo, que eu não tinha visto a os guardas do templo deslocavam a neve e por uma escavação preparavam uma entrada para aquêles

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quechegavam para o culto; êstes desciam e entravam. Também me foi dado ver o Templo por -dentro; era iluminado por lâmpadas e por tochas em grande quantidade; o Altar era composto de pedra talhada, detrás do altar, suspenso, um Quadro sobre o qual havia esta inscrição: Trindade Divina, Pai, Filho, Espírito Santo, que essencialmente, são um único Deus, mas pessoalmente Três. Enfim, o Padre que se mantinha em pé perto do Altar, depois de ter fletido três vêzes os joelhos diante do Quadro do Altar, subiu ao púlpito com um Livro na mão e começando seu sermão pela Divina Trindade, exclamou: Oh! que grande Mistério, que Deus no Altíssimo tenha engendrado um Filho de toda a eternidade e tenha por Êle produzido o Espírito Santo, os quais se conjuntaram, os três pela Essência, mas se separaram pelas propriedades, que são a Imputação, a Redenção e a Operação Entretanto, se considerarmos isso pela razão, a vista se perturba e diante dela se forma uma obscuridade, como diante do olho daquele que encara fixamente o Sol; por isso, meus Ouvintes, quanto a êste mistério, ponhamos o entendimento sob a obediência da fé. Depois disso, exclamou de novo, dizendo: 0h1 que grande Mistério é nossa Santa Fé, que consiste em crer que Deus Pai imputa a justiça do Filho e envia o Espírito Santo, o qual segundo esta justiça imputada, opera os benefícios da Justificação caç o, que são em suma a remissão dos pecados, a renovação, a regeneraçao e a salvação! Sob o influxo ou ação desta fé o homem não sabe mais do que a estátua de sal, em que foi mudada a mulher de Lot; sobre sua morada ou seu estado não sabe mais do que um peixe no mar; entretanto, meus amigos, nela está escondido um tesouro de tal modo fechado e encerrado, que a menor parcela não é descoberta; e por isso, quanto a ela, também ponhamos o entendimento sob a obediência da fé. Após alguns suspiros, exclamou de novo, dizendo: 0h! que grande Mistério é a Eleição! Torna-se eleito aquêle a quem Deus imputa esta fé, que infunde por livre prazer e por pura graça em quem quer; e o homem é como um cepo quando ela é infundida, mas tornase como uma árvore, após ela ter sido infundida; os frutos, que são as bom obras, estão -suspensos, é verdade, nesta árvore Que no sentido representativo é a nossa fé, mas contudo não estão ligados a ela; por isso, o valor desta árvore não vem do fruto; mas como isso parece heLerodoxo e é, entretanto, uma verdade mística, ponhamos, meus irmãos, o entendimento sob a obediência da fé. E em seguida, alguns instantes após, mantendo-se como se tirasse ainda alguma causa de sua memória, continuou, dizendo: Dêste punhado de Mistérios tirarei ainda este ponto importante: é que nas cousas espirituais, o homem não tem um só grão de Livre Arbítrio; com efeito, em, seus cânones Teológicos, nossos Primazes e nossos Prelados Regulares dizem que a homem, nas cousas que pertencem à fé e à salvação, causas que são especialmente denominadas espirituais, nada pode querer, nem, pensar, nem compreender e que não pode mesmo nem se dispor nem se preparar para pensá-las; eu, portanto, de mim mesma vos digo, que o homem por si mesmo não pode sobre estas causas nem pensar segundo a razão, nem falar segundo o pensamento, senão como um papagaio, uma pega ou um corvo; que assim o homem nas causas espirituais é verdadeiramente um asno, e que, não é homem senão nas causas naturais, 6 meus caros consociados, sobre êste ponto, como sobre os outros, para que ele não infeste a vossa razão, ponhamos o entendimento sob a obediência da fé; pois a nossa Teologia é um abismo sem fundo, no qual, se mergulhais a vista do entendimento, sereis submergidos e perecereis naufragando; todavia, escutai, nós estamos entretanto na luz mesma do Evangelho que brilha no alto acima de nossas cabeças; mas, 6 sofrimento! as nossas cabeleiras e os ossos de nosso crânio a detém e impedem que ela penetre nas câmaras de nosso entendimento. Tendo assim

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falado, êle desceu e depois de pronunciar preces votivas junto do altar e o culto acabou, eu me aproximei de alguns assistentes que falavam entre si; aí estava também o Padre, ao qual os que estavam em torno diziam: Nós te damos imortais ações de graças por um sermão tão magnífico e tão cheio de sabedoria; mas então eu lhes disse: Compreendestes alguma coisa? E eles responderam: Apreendemos tudo a plenos ouvidos; mas por que perguntas se compreendemos? O entendimento não fi ca estupefacto em tais assuntos? E o Padre acrescentou a isso: Porque ouvistes e não compreendestes, sois felizes, pois que daí vos vem a salvação. Em seguida falei com o Padre e lhe perguntei s e tinha recebido a coroa de louros; êle respondeu: Eu sou um Mestre Laureado; e então eu disse: Mestre, eu te ouvi pregar Mistérios; se tu os sabes sem saber nenhuma das cousas que êles contêm, tu não sabes nada; pois êles são únicamente como caixinhas fechadas por três fechaduras; se não as abres e não olhas dentro, o que deve ser feito pelo entendimento, tu não sabes se encerram causas preciosas ou causas vis ou cousas prejudiciais; pode ha r aí ovos de áspide e telas de aranha, segundo a descrição -de Isaías LIX, 5. A estas palavras, o Padre me encarou com ar ameaçador; e os Assistentes se retiraram e subiram para seus carros, inebriados de paradoxos, infatuados de puerilidades e envolvidos de obscuridade em todas as cousas da fé edos meios de salvação.

&186 - Segundo Memorável Um dia, eu cogitava em meu pensamento em que região da Mente residem no homem as cousas Teológicas; e, como são espirituais e celestes, eu acreditava a princípio, que era na região suprema; pois a Mente humana é distinguida em três Regiões, como uma casa de três andares, e semelhantemente como as habitações dos Anjos nos três Céus; então, se apresentou um Anjo e disse: Naqueles que amam o Vero porque é o Vero, as coisas da Teologia se elevam até à Região suprema porque lá está o seu Céu e porque elas estão na luz em que estão os Anjos; as cousas Morais, teóricamente examinadas e percebidas, se colocam sob elas na segunda Região porque comunicam com os espirituais; e as coisas Políticas sob estas na terceira; mas as cousas Científicas, que são em número muito grande e podem se classificar em gêneros e espécies, constituem as portas para essas cousas superiores. Naqueles em que as cousas espirituais, morais, políticas e científicas, foram assim subordinadas, pensam o que pensam e fazem o que fazem, segundo a justiça e o julgamento; e isso, porque a Luz do vero, que é também a Luz do Céu, ilumina, da Região suprema, as coisas que estão nas Regiões seguintes, como a Luz do Sol, atravessando os éteres e progressivamente o ar, ilumina a vista dos homens, das bêstas e dos peixes. Mas acontece de modo completamente diferente -com as cousas Teológicas naqueles que amam o vero; não porque é o vero, mas únicamente pela glória de sua reputação; nestes, as cousas Teológicas residem na última Região onde estão as cousas científicas, com as quais em alguns, elas se misturam; e em outros, não podem se misturar; sob elas, na mesma Região estão as cousas políticas e sob estas, as cousas Morais, pois que nêles as duas Regiões superiores não foram abertas do lado direito; por isso, não há nêles nenhuma razão interior de julgamento, nem nenhuma afeição interior de justiça, mas há únicamente uma destreza engenhosa, pela qual, podem falar de tudo como pela inteligência e confirmar tudo que se apresenta como pela razão, mas os objetos da razão, que êles amam principalmente são os falsos, porque os falsos são coerentes com as ilusões dos sentidos. Daí vem que, no Mundo, haja tantos homens que não vêem os veros da Doutrina pela Palavra mais do que os cegos de nascença, e que, quando os ouvem pronunciar apertam as narinas com medo de que seu odor não os fatigue e excite náuseas; mas para os falsos, abrem todos os seus sentidos e os engolem como as baleias servem as águas.

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&187 - Terceiro Memordvel. Um dia em que eu meditava sôbre o Dragão, a Bêsta e o Falso Profeta, de que se fala no ~~- calipse, um Espírito Angélico me apareceu e me fêz esta pergunta: Sôbre que meditas tu? e eu disse: Sôbre o Falso Profeta; então êle me disse: Eu te conduzirei ao lugar onde moram aquêles que são entendidos pelo Falso Profeta; e acrescentou que são os mesmos que são entendidos, Capítulo 13.0 do Apocalipse, pela Bêsta subindo da Terra, que tinha dois chifres semelhantes: aos do Cordeiro e que falava com o Dragão. Eu o segui e vi uma tropa no meio da qual estavam Chefes da Igreja que tinham ensinado que nada mais salva o homem senão a Fé no ~to do Christo; que as obras são boas, mas não para a salvação; -e que, entretanto, elas devem ser ensinadas segundo a Palavra, a fim de que os Leigos, sobretudo os simples, sejam mantidos mais estritamente nos laços da obediência, em relação aos Magistrados; e como impelidos pela Religião, assim interiormente a exercer a Caridade moral. E então um dêles me vendo, disse-me: Queres ver o nosso Templo, em que está a imagem representativa de nossa Fé? Aproximei-me e vi que era magnífico; e no meio havia a imagem de uma Mulher, vestida com um vestido escarlate, tendo na mão direita uma Moeda de ouro; e na esquerda, -Unia Cadeia de pérolas; mas a Imagem e o Templo eram o p~0iJo de uma fantasia; pois os Espíritos infernais podem, por fantasias, representar cousas magníficas, fechando os interiom na mente e abrindo sómente os exteriores. Mas como percebi que êsMa objetos eram fantasmagóricos, dirigi uma prece ao Senhor e imediatamente os interiores de minha mente foram abertos; e então, em lugar de um Templo magnífico, vi uma Casa rachada desde o teto até em baixo, cujas partes não tinham coerência alguma entre si; em lugar da Mulher, vi nesta Casa um Simúlacro suspenso, cuja cabeça era semelhante à de um Dragão, o Corpo ao de um Leopardo, cujos pés eram como os de um Urso e a goela como a de um Leão; assim, perfeitamente semelhante à descrição da Bêsta que subia do mar, Apocalipse 23.0, 2; e, em lugar de um terreno sólido, havia um pântano cheio de rãs; e me foidito que sob o pântano havia uma grande pedra talhada, sol) a qual a Palavra estava profundamente escondida. Depois de ver isto, disse ao Prestidigitador: E' êsse o vosso Templo? e êle me disse: Sim; mas imediatamente a sua vista interior foi também aberta e êle viu as mesmas cousas que eu; a essa vista gritou em altas vozes: 0 que é isto? e donde provém isto? E eu disse: E' o efeito da, luz do Céu, que descobre a qualidade de cada forma e a qualidade da vossa Fé, separada da Caridade espiritual. E no mesmko instante o vento oriental soprou e levou o Templo com a Imagem; e além disso, dessecou o Pântano e pôs assim a nu, a Pedra sob a qual estava a Palavra; e depois disso, se fèz sentir, do Céu, um calor tal como o da primavera; e eis que se viu, então neste mesmo lugar, um Tabernáculo simples quanto à forma externa; e os Anjos que estavam perto de mim, ~eram: Eis o Tabernáculo de Abrahão, tal como era, quando os três Anjos vieram a êle e lhe anunciaram o nascimento próximo de Isaac; Êle aparece simples diante dos olhos, mas entretanto torna-se cada vez mais magnífico segundo o Influxo da luz do Céu. E lhes foi dado abrir o Céu onde estavam os Anjos espirituais que estão na sabedoria; e então, pela Luz que influiu êste Tabernáculo, apareceu como um Templo semelhante ao de Jerusalém: e quando eu o examinava no interior, vi a Pedra do fundo, sob a qual estava depositada a Palavra, recamada de pedras preciosas, donde jorrava uma espécie de clarão sobre as paredes, sobre as quais havia formas de Querubins, que as diversificava com beleza pelas cores. Enquanto eu admirava estas coisas, os Anjos disseram: Tu verás ainda mais adimiráveis; e lhes foi dado abrir o Terceiro Céu onde estão os Anjos celestes que estão no amor; e então, pela Luz inflamada que dêle influía,, todo, o

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Templo dissipou-se; e em seu lugar foi visto o Senhor só, de pé sobre a Pedra do fundo, que era a Palavra, tal como apareceu a João, Capítulo 1,0 do Apocalipse. Mas como então os interiores da mente dos Anjos encheu-se de uma santidade que os levava a cair sobre suas faces, o Senhor fechou imediatamente a entrada da luz que vinha do Terceiro Céu e abriu a luz vinda do Segundo Céu, o que fêz com que o aspecto precedente do Templo voltasse e também o do Tabernáculo, mas este no meio do Templo. Por estas mudanças foi ilustrado o que é entendido no Capítulo 21.0 do Apocalipse por estas palavras: "Eis o Tabernáculo de Deus com os homens e Êle habitará com eles, vers. 3; e por estas: "Não vi Templo na Nova Jerusalém porque o Senhor, Deus Onipotente e o Cordeiro são o seu Templo", vers. 22.

&188 - Quarto Memorável. Como me foi dado ver pelo Senhor cousas maravilhosas, que estão nos Céus e sob os Céus, é preciso, segundo o que me foi ordenado, que eu relate o que vi. Vi um Palácio magnífico e no seu interior, um Templo; havia no meio do Templo uma mesa de ouro sobre a qual estava a Palavra; dois Anjos se mantinham de pé perto da Palavra; em torno da Mesa havia três ordens de Assentos; os assentos da primeira ordem estavam cobertos de um estofo de seda cor de púrpura; os da segunda ordem estavam cobertos de um estofo de seda de cor azul celeste; e os da terceira ordem de um estofo branco. Sob o teto, a grande elevação acima da Mesa, aparecia uma cortina estendida toda resplandecente de pedras preciosas, cujo clarão brilhava como íris, quando, após a chuva, o Céu retoma a sua serenidade. No mesmo instante, vi os Assentos ocupa-dos por outros tantos membros do Clero, todos revestidos de suas vestes sacerdotais. A um dos lados estava a sala do Tesouro, sob a guarda de um Anjo que se mantinha de pé; e lá estavam dispostas, na mais bela ordem, Vestimentas magníficas. Era um Concílio convocado pelo Senhor; e ouvi uma voz do Céu, que disse: Deliberai; mas êles disseram: sobre o que? foi respondido: sobre o Senhor Salvador e sobre o Espírito Santo. Mas quando refletiram sobre êstes assuntos, não estavam na ilustração, fizeram, portanto, uma súplica; e então, emanou do Céu uma ,luz que iluminou a princípio o seu Occipute, depois suas têmporas e suas faces; e então começaram; e em primeiro lugar, sobre o Senhor Salvador, como lhes tinha sido ordenado; e a Primeira Proposição posta em discussão foi esta: Quem é Aquêle que tomou o Humano na Virgem Maria? E o Anjo que estava em pé perto da Mesa sobre a qual estava a Palavra, leu diante deles estas palavras de Lucas: "0 Anjo disse a Maria: Eis que conceberás no útero e darás à luz um Filho e chamarás seu Nome Jesus; êste será Grande; e Filho do Altíssimo será chamado. E Maria disse ao Anjo: Como -será isso, pois que eu não conheço, homem? e respondendo, o Anjo disse: Um Espírito virá sobre ti; e uma Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o que nascerá de ti Santo será chamado Filho de Deus" (1, 31, 32, 34, 35); leu -também estas em Mateus: "Um Anjo disse a José em sonho: José, filho de David, não temas receber Maria tua noiva, pois o que nela é nascido é do Espírito Santo. E José não a conheceu, até que ela deu à luz seu Filho primogênito; e chamou seu nome Jesus" (I, 20, 25); leu ainda várias passagens tiradas dos Evangelistas; por exemplo, Mateus 111, 17; XVII, 5; João 1, 18; 111, 6; XX, 31, e várias outras algures, onde o Senhor quanto ao seu Humano é chamado Filho de Deus; e onde Èle mesmo, por seu Humano, chama Jehovah seu Pai; leu também várias passagens tiradas dos Profetas, onde está predito que Jehovah mesmo virá ao Mundo; entre outras, as duas seguintes em Isaías: "Será dito nesse dia: Eis, nosso Deus êste que temos esperado para que nos livre. Este é Jehovah que temos esperado; saltemos e regozijemo-nos em Sua Salvação (XXV, 9). "Uma voz de quem grita no deserto: Preparai o

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caminho de Jehovah, aplainai na solidão um caminho para nosso Deus; então será revelada a glória de Jehovah e êles (a, verão toda carne em conjunto; Eis que vem o Senhor Jehovah; como pastor apascentará seu rebanho" (Isaías XL, 3, 5, 10, 11). E o Anjo disse: Como Jehovah mesmo veio ao Mundo, tomou o Humano (e por Isso resgatou e salvou os homens), é por isso que nos Profetas ele mesmo é chamado Salvador e Redentor;eentão,leudiantedêlesasseguintes passagens: "Somente em ti (está) Deus e não há outro Deus; certo Tu (és) um Deus escondido, o Deus de Israel Salvador" (Isaías XLV, 14, 15). "Não sou Eu Jehovah e há outro Deus além de Mim? Há outro Deus justo e Salvador além de Mim?" (Isaías XLV, 21, 22). "Eu sou Jehovah, e não há outro Salvador senão Eu" (Isaías XLIII, 11). "Eu sou Jehovah teu Deus; e Deus, além de Mim, tu não reconhecerás; e não há outro Salvador senão Eu" (Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu (sou) Jehovah teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; LX, 16). "Quanto a nosso Reden tor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Isaías XLVIII, 4). "Seu Redentor, Forte, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Jeremias XIX, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o Santo de Israel: Eu (sou) Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIX, 7; XLIII, 14; LIV, 8). "Jehovah, Tu, nosso Pai, nosso Redentor, desde o século (é) teu Nome" (Isaías LXIII, 16). "Assim disse Jehovah, teu Redentor: Eu, Jehovah, fiz todas as coisas e Só por Mim mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim disse Jehovah, o rei de Israel e seu Redentor Jehovah Sebaoth: Eu (sou) o Primeiro e o último; e exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Jehovah Sebaoth (é) seu Nome; e teu Redentor, o Santo de Israel, Deus de toda a Terra será chamado" (Isaías LIV, 5). "Eis os dias que vêm, em que suscitarei a David um germe justo, que reinará Rei; e eis seu Nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6; XXXIII, 15, 16). "Nesse dia Jehovah será como Rei sobre toda terra; nesse dia Jehovah será um, e seu Nome um" Zacarias XIV, 9). Aquêles que estavam sentados nas cadeiras, tendo sido confirmados por todas estas passagens, disseram unanímemente, que Jehovah mesmo tomou o Humano para resgatar e salvar os homens. Mas então de um grupo de Católico Romanos que tinham ficado escondidos por detrás do Altar, se fez ouvir uma voz, que disse: Como Jehovah Pai pôde se fazer Homem? Não é Êle o Criador do universo? E um dos que estavam sen tados nas cadeiras da segunda ordem, se voltou e dÍsse: Quem então, se fêz Homem? Aquêle éstava detrás do Altar , colocando-se perto do Altar respondeu: 0 Filho de toda Eternidade. Mas recebeu como resposta: 0 Filho de toda a eternidade não é também segundo vossa Confissão, o Criador do Universo? E como a Essência Divina que é Una e Indivisível, pode ser separada? Como uma de suas partes pode descer e não o Todo ao mesmo tempo - A segunda Proposição posta em discussão cernente ao Senhor foi esta: 0 Pai e o Senhor não são um como a Alma e o Corpo são? Eles disseram que a afirmativa é a. conseqüência de que a Alma vem do Pai. Então um dos que estavam sentados nas cadeiras da terceira ordem, leu esta passagem da Fé Simbólica, que é chamada Atanasiana: "Ainda que nosso Senhor Jesus Christo, Filho de Deus, seja Deus e Homem, Ele é, entretanto, não dois, mas um único Christo; Êle é mesmo absolutamente Um, é Uma única Pessoa; pois que, do mesmo modo Deus e o Homem são Um único Christo". Aquêle que lia acrescentou que êste Símbolo onde estão estas palavras, foi recebido em todo Mundo Cristão, mesmo pelos CatólicoRomanos. Então, disseram: Que necessidade há de mais exame? Deus Pai e o Senhor são um, como a Alma e o Corpo são um; e acrescentaram: Pois que isto é assim, vemos que o Humano do Senhor é Divino, poisé o Humano de Jehovah; que é necessário se dirigir ao Senhor quanto ao Divino Humano; e que é assim e não de outro modo, que podemos nos dirigir ao - Divino que é chamado Pai. 0 Anjo confirmou sua Conclusão por várias passagens da Palavra, entre as

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quais estavam estas: "Um menino nos nasceu,, um Filho nos foi dado; seu Nome será chamado, Admirável, Conselheiro, Deus, Herói, Pai de eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5). No mesmo: "Abrahão não nos conhece e Israel não nos reconhece; Jehovah, Tu, nosso Pai, nosso Redentor, desde o século (é) teu Nome" (LXIII, 16). E em João: "Jesus disse: aquêle que crê em Mim, crê naquele que Me enviou" (XII, 44, 45). "Filipe disse a Jesus: Mostra-nos o Pai. Jesus disse: Aquêle que Me vê, vê o Pai, como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai? Não crês que Eu (estou) no, Pai e que o Pai (está) em Mim; crede-me, que Eu (estou) no Pai e que o Pai (está) em Mim" (João XIV, 8 a 11). "Jesus disse: Eu e o Pai somos um" (João X, 30). Depois: "Tudo o que o Pai tem é Meu e tudo que é Meu, é do Pai" (João XVI, 15; XVII, 10). Enfim: "Jesus disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (João XIV, 6). Aquêle que lia acrescentou, que cousas semelhantes a estas que o Senhor disse aqui d'Êle e de seu Pai, podem também pelo homem ser ditas dêle mesmo e de sua alma. - Depois de ter ouvido estas passagens, todos disseram com uma boca e um coraçao unânimes, que o Humano do Senhor é Divino e que é a êste Humano que é preciso se dirigir para se dirigir ao Pai, pois que Jehovah Deus se enviou por êste Humano ao Mundo, e se tornou visível aos olhos dos homens e por conseqüência acessível; Êle se tornou semelhantemente visível e acessível sob Forma Humana aos Antigos, mas então pelo ministério de um Anjo; ora, como esta Forma era representativa do Senhor que devia vir, é por isso que todas as cousas da Igreja entre os Antigos eram representativas.

Depois disso, passou-se à Deliberação sobre o Espírito Santo; e de começo foi exposta a idéia de vários sobre Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo, a qual punha que Deus Pai estava sentado em um lugar elevado, tendo o Filho à sua direita; e que Eles enviavam déles mesmos "o Espírito Santo. para ilustrar, ensinar, justificar e santificar os homens. Mas então uma voz do Céu se fêz ouvir, dizendo: Nós não podemos suportar essa idéia do pensamento; quem não sabe que Jehovah Deus é Onipresente? Ora aquêle que o sabe e o reconhece, reconhecerá também que é Jehovah Deus que ilustra, ensina, justifica e santifica, e que não é um Deus intermediário distinto d'Ele, como uma Pessoa é distinguido de uma outra - Pessoa, nem, com mais forte razão, um Deus distinto de dois outros; afaste-se, portanto, a primeira idéia, que é vã e se receba esta que é justa; e vereis isto claramente. Mas no momento, do grupo de Católico-Romanos que estavam perto do Altar do Templo, se fêz ouvir uma voz, que disse: 0 que é então o Espírito Santo, que na Palavra é mencionado nos Evangelistas, e em Paulo, pelo Qual tantos Sábios Eclesiásticos, sobretudo em nosso Clero, se dizem conduzidos: Quem, hoje, no Mundo Cristão, nega o Espírito Santo e suas operações?A estas palavras, um dos que estavam sentados nas cadeiras da segunda ordem, se voltou e disse: Dizeis que o Espírito Santo é uma Pessoa por si e um Deus por si; mas o que é uma Pessoa saindo e procedendo de uma Pessoa, se não unia Operação que sai e procede? Uma Pessoa não pode sair e proceder de uma pessoa por uma outra pessoa, mas uma operação pode sair e proceder de uma pessoa. Ou, o que é um Deus saindo e procedendo de um Deus, senão o Divino que sai e procede? um Deus não pode sair nem proceder de um Deus por um outro Deus, mas o Divino pode sair e proceder de um único Deus. Depois de haver ouvido estas palavras, aquêles que estavam senta~ nas cadeiras, concluíram unanimemente, que o Espírito Santo não é uma Pessoa por si, nem Deus por si, mas que é o Santo Divino saindo e procedendo do Deus único Onipresente, que é o Senhor. A esta conclusão, os Anjos que estavam de pé perto da Mesa de ouro, sobre a qual estava a Palavra, disseram:

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Bem! Não se lê em parte alguma na Antiga Aliança, que os Profetas tenham pronunciado a Palavra pelo Espírito Santo, mas que ora por Jehovah; e quando, na Nova Aliança, se fala do Espírito Santo, aí é entendido o Divino procedente, que é o Divino ilustrando, ensinando, vivificando, reformando e regenerando.Em seguida, agitou-se uma outra questão sobre o Espírito Santo; a saber: De quem procede o Divino, que é chamado Espírito Santo? E' do Pai, ou é do Senhor? E enquanto agitavam esta questão, uma Luz vinda do Céu brilhou; e por ela, êles viram que o Santo Divino, que é entendido Espírito Santo, procede, não do Pai pelo Senhor, mas do Senhor segundo o Pai, da mesma maneira que no homem o seu procede não da alma pelo corpo, mas do corpo segundo a alma. O anjo que se mantinha em pé, perto da Mesa, confirmou isso por estas passagens: "Aquele que o Pai enviou fala as palavras de Deus, porque Deus não lhe deu o Espírito por medida; o Pai ama o Filho e lhe deu todas as cousas em sua mão" (João 111, 34, 35). "Sairá um ramo do tronco de Jíshaji; sobre Ele repousará o Espírito de Jehovah, Espírito de Sabedoria e de Inteligência, Espírito de conselho e de força'' (Isaías XI, 1, 2). "0 Espírito de Jehovah lhe foi dado e estava n'Ele'' (Isaías XLII, 1; LIX, 19, 20; LXI, 1; Lucas IV, 18). "Quando virá o Espírito Santo que Eu vos enviarei do Pai" (João XV, 26)' "Ele me glorificará, porque do meu receberá, e vo-lo anunciará; todas as cousas que o Pai tem são minhas; é por isso que eu digo que do Meu receberá e vo-lo anunciará" (João XVI, 14, 15). "Se eu me for, vos enviarei o Paracelso" (João XVI, 7). Que o Paracelso seja o Espírito Santo, vêse em João XIV, 26. "Não havia ainda o Espírito Santo porque Jesus não estava ainda glorificado" (João VII, 39). Mas após a glorificação: "Jesus soprou sobre os discípulos, e lhes disse: Recebei um Espírito Santo" (João XX, 22). E no Apocalipse: "Quem não glorificará teu Nome, Senhor, pois só tu és Santo" (15, 4). Como a Divina Operação do Senhor, pela sua Onipresença Divina, é entendida pelo Espírito Santo, é por isso que, quando o Senhor falou a seus discípulos do Espírito Santo que enviaria do Pai, disse também: "Não vos deixarei órfãos; eu vou e volto para vós; e nesse dia conhecereis que eu estou no Pai, e vós em Mim e Eu, em vós" (João XIV, 18, 20, 28); e pouco tempo antes de deixar o Mundo, lhes disse: "Eis que eu convosco estou todos os dias até à consumação dos séculos" (Mateus XXVIII, 20). Estas passagens tendo sido lidas diante dêles, o Anjo disse: Por estas passagens e por várias outras, tiradas da Palavra, é evidente que o Divino, que é chamado Espírito Santo, procede do Senhor segundo o Pai. A estas palavras, os que estavam sentados nas cadeiras, disseram: Isso é uma Divina Verdade.Enfim decretou-se o que segue: Pelas deliberações tomadas neste Concílio, vimos claramente, e por conseqüência reconhecemos por uma Santa Verdade, que no Senhor Deus Salvador Jesus Cristo, há a Divina Trindade, a qual é o Divino a quo (de que tudo procede) que é chamado Pai, o Divino Humano que é chamado Filho e o Divino procedente que é chamado Espírito Santo; declarando todos com aclamação que no Cristo, toda a plenitude da divindade habita corporalmente (Coloss. 2, 9). Assim há um único Deus na Igreja. Depois que esta conclusão proclamada neste Magnífico Concilio, êles se levantaram; e e Anjo que guardava o Tesouro veio e trouxe para a um dos que tinham estado sentados nas cadeiras, Vestimes esplêndidas cujo tecido era recamado de fios de ouro, e disse: Recebei as Vestimentas Nupciais. E êles foram conduzidos com glória para o Novo Céu Cristão com o qual será conjunta a Igreja do Senhor sobre a Terra, que é a Nova Jerusalém.CAPÍTULO IVDA ESCRITURA SANTA OU DA PALAVRA DO SENHORI-A Escritura Santa ou a Palavra é o próprio Divino Vero

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&189 - Geralmente se diz que a Palavra é de Deus, que foi Divinamente inspirada e que é Santa; mas sempre se ignorou até ao presente, onde reside nela o Divino; pois a Palavra, na letra, aparece como um Escrito vulgar, de um estilo estranho, não sendo nem sublime nem brilhante, como o são em aparência os Escritos do século. Daí vem que o homem, que adora a Natureza em lugar de Deus ou de preferência a Deus, e pensa por si mesmo e por seu próprio, e não pelo Céu procedente do Senhor, pode fàcilmente cair no êrro a respeito da Palavra, ter desprêzo por ela e dizer consigo mesmo quando a lê: 0 que é isto? 0 que é aquilo? Será que isto é Divino? Será que Deus, cuja sabedoria é infinita, pode falar assim? Onde está a santidade deste Livro e donde vem ela, senão de uma Religiosidade e da persuasão que resulta dela.

&190 - Mas aquêle que pensa assim não considera que Jehovah, o Senhor , que é o Deus do Céu e da Terra, pronunciou a Palavra por Moisés e pelos profetas; por conseguinte, ela só pode ser Divino Vero, pois aquilo que o próprio Jehovah o Se nhor pronuncia é Êste Vero; não considera tampouco que o Senhor Salvador, que é Jehovah mesmo, pronunciou a Palavra nos Evangelistas, a maior parte pela sua própria boca; e o resto pelo Espírito de sua boca; que é o Espírito Santo, por intermédio de seus doze Apóstolos; por isso, Ele mesmo disse que nessas Palavras há Espírito e Vida, que Êle mesmo é a Luz que ilustra e é a Verdade; o que -é evidente por estas passagens que seguem: "Jesus disse: As palavras que eu vos pronuncio são Espírito e são Vida" (João VI, 63) "Jesus disse à mulher que estava perto da fonte de Jacob: se tu conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: Dá-me de "' beber, tu lhe terias pedido e êle te teria dado uma água viva Aquêle que beber da água que eu lhe der não terá sede durante a eternidade; mas a água que eu darei, se tornará nêle uma fonte de água jorrando para a vida ,eterna" (João IV, 6, 10, 14)' A Fonte de Jacob significa a Palavra, como também no Deuteronomio 33, 28); é mesmo por isso que o Senhor, porque é a Palavra, sentou-se lá e falou com a mulher; e a Água Viva significa o Vero da Palavra: "Jesus disse: Se alguém tem sêde, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios correrão de seu ventre de Agua viva" (João VII, 37, 38); Pedro disse a Jesus: "Tu tens as palavras da Vida eterna" (João VI, 68). "Jesus disse: 0 Céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão" (Marcos XIII, 31). Que as palavras do Senhor sejam a Verdade e a Vida, é porque 21e mesmo é a Verdade e a Vida, como ensina em João: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (XIV, 6). E no mesmo: "No comêço era a Palavra; e a Palavra estava com Deus e Deus era a Palavra; n'Ela estava a Vida; e a Vida era a Luz dos homens" (I, 1, 2, 4). Pela Palavra é entendido o Senhor quanto ao Divino Vero, no qual Só está a Vida e está a Luz. É por isso, que a Palavra que vem do Senhor e que é o Senhor, é chamada fonte de águas vivas (Jeremias 11, 13; XVII, 13; XXXI, 9); fonte da salvação (Isaías XII, 2, 3); fonte (Zacarias XIII, 1); e rio de água -viva (Apocalipse 22, 1); e que se diz "que o Cordeiro que está no meio do trono, os apascentará e os conduzirá às Fontes vivas das águas" (Apoc. 7, 17). E além disso, em outras passagens em que a Palavra é também chamada santuário e tabernáculo, onde o Senhor habita com os homens.

&191 - Mas o homem natural não pode, entretanto, por estas passagens, ser persuadido de que a Palavra é o Divino Vero mesmo, encerrando a Sabedoria Divina e a Vida Divina; pois a considera pelo Estilo, no qual não se vê nem esta sabedoria nem esta vida. Entretanto, o estilo da Palavra é o estilo Divinomesmo , com o qual qualquer outro estilo,

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por mais sublime e excelente que pareça, não pode ser posto em comparração. 0 Estilo da Palavra é tal, que o Santo está em cada sentido e emcada palavra; e mesmo em certos lugares nas próprias letras; é por isso, que a Palavra conjunta o homem com o Senhor e abre o Céu. Há duas cousas que procedem do Senhor, o Divino Amor e a Divina Sabedoria, ou, o que dá no mesmo, o Divino Bem` o Divino Vero; a Palavra em sua essência é um e outro; e c conjunta o homem com o Senhor e abre o Céu, como foi di acima, é por isso que a Palavra enche o homem com os do Amor e com os Veros da Sabedoria, a sua vontade com os bens do Amor e o seu Entendimento com os veros da sabedoria; daí vem ao homem a vida pela.Palavra. Mas é preciso que se saiba bem, que a vida proveniente da Palavra está só naqueles que lêem a Palavra com o propósito de tirar, dela os Divinos Veros como de sua fonte; e ao memo tempo, com o propósito de aplicar à vida os Divinos Veros assim obtidos; e que o contrário acontece àqueles que lêem a Palavra somente com o propósito de adquirir honras e ganhar o Mundo.

&192 - Todo homem que não sabe que há na Palavra um certo Sentido Espiritual como no corpo há a alma, não pode fazer um juízo da Palavra senão pelo Sentido da letra, quando, entretanto, este Sentido é como uma Caixinha que contém cousas preciosas, que são o Sentido espiritual; quando, portanto, este sentido Interno não é conhecido, não se pode julgar a Divina Santidade da Palavra senão como se julga uma pedra preciosa pela matriz que a envolve e por vêzes se assemelha à uma pedra ordinária, ou como um Castelo feito de jaspe, de lápis lazuli, de amianto e de talco, ou de ágata, no qual estão colocados em ordem, diamantes, rubis, sardônias, topásios do Oriente, etc.; enquanto se ignora o que contém a caíxinha, não é de admirar que ela não seja estimada senão conforme o preço da matéria. que se apresenta à vista; acontece o mesmo com a Palavra quanto ao sentido da letra. A fim de que o homem não possa, portanto, duvidar de que a Palavra seja Divina e Muito Santa, o Senhor me revelou o seu Sentido interno, que em sua essência é Espirítual, o qual está no Sentido externo que é natural, como a alma. está no corpo; este sentido é o espírito que vivifica a letra; êste sentido pode ser também um testemunho da Divindade e da Santidade da Palavra e convencer mesmo o homem natural, seêle quiser ser convencido. II- Na Palavra há um sentido, espiritual, ignorado até ao presente

&193 - Quando se diz que a Palavra, porque é Divina, é espiritual em seu seio, haverá alguém que não o reconheça e não concorde? mas quem é que soube até ao presente o que é o Espiritual e onde esse espiritual está escondido na Palavra? 0 que é o Espiritual será manifestado em um Memorável depois deste capítulo; e onde êste espiritual está escondido na Palavra, vai se ver no que segue. Que a Palavra seja espiritual em seu seio, é porque ela desceu de Jehovah o Senhor e atravessou os Céusangélicos; e porque o Divino mesmo, que em si é inefável e não perceptível, se torn0ou na descida, adequado à percepção dos Anjos e à percepção dos homens; daí vem o Sentido espiritual que está interiormente no sentido natural, como a alma no homem, na linguagem, e a afeição da vontade, na ação; e se é permitido uma comparação com as coisas que se apresentam diante dos olhos no Mundo natural, o Sentido espiritual está no Sentido natural como todo Cérebro está dentro de suas Meningeas ou de suas Dura-mater, ou como os ramos de uma árvore dentro de suas cascas, e mesmo como tudo que concerne à geração do frango dentro da casca do ovo, etc. Mas que no Sentido natural da Palavra haja um tal Sentido espiritual, ninguém até ao presente, o

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conjecturou; é portanto, necessário que êste Arcano, que em si ultrapassa todos os Arcanos descobertos até aqui, seja manifestado diante do entendimento, o que vai ser feito expondo-o nesta ordem:I - O QUE É 0 SENTIDO ESPIRITUAL.II - ÉSTE SENTIDO ESTA EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DA PALAVRA.III -É POR ÉSTE SENTIDO QUE A PALAVRA FOI DIVINAMENTE INSPIRADA E É SANTA EM CADA PALAVRA.IV - ÊSTE SENTIDO FOI IGNORADO ATÉ 0 PRESENTE.V - ELE NÃO SERÁ DADO DAQUI POR DIANTE SENAO, AQUELE QUE ESTA PELO SENHOR NOS VEROS REAIS.VI - MARAVILHAS CONCERNENTES A PALAVRA SEGUNDO 0 SENTIDO ESPIRITUAL.Cada proposição vai ser desenvolvida.

&194 - 1. 0 QUE É 0 SENTIDO ESPIRITUAL.

O Sentido espiritual não é aquêle que brilha pelo sentido da letra da Palavra, quando alguém escuta e explica a Palavra para confirmar algum dogma da Igreja, este sentido pode ser chamado sentido literal e Eclesiástico da Palavra; mas o sentido espiritual não se mostra no sentido da letra, está dentro dêle, como a alma no corpo, como o pensamento do entendimento nos olhos, e como a afeição do amor, na face. Este sentido, principalmente, faz com que a Palavra seja espiritual, não somente para os homens, mas ainda para os Anjos; é por isso que a Palavra por este Sentido comunica com osCéus. Como a Palavra interiormente é espiritual, foi por isso escrita por puras correspondências, e o que foi escrito por Correspondências foi escrito , no último sentido, em um estilo tal como o dos Profetas, Evangelistas e do Apocalipse, o qual, embora pareça vulgar, encerra entretanto em si a Sabedoria Divina e toda Sabedoria Angélica.0 que é a Correspondência pode-se ver no Tratado do Céu e Inferno, publicado em Londres em 1758, onde se trata da Correspondência de todas as coisas de Céu com todas as coisas do homem, ns. 87 a 102, e da Correspondência de todas as coisas do Céu com todas as coisasTerra, ns. 103 a 115; e alémdisso, se verá por exemplos tirados da Palavra, que serão citados aqui.

&195 - Do Senhor procedem, um depois do outro, o Divino Celeste, o Divino Espiritual e o Divino Natural. E' chamado - Divino Celeste tudo que procede de seu Divino Amor; e tudo isso é o Bem; é chamado Divino Espiritual tudo que procede de sua Divina Sabedoria e tudo isso é o Vero. 0 Divino Natural vem de um e de outro, é o complexo no último. Os Anjos do Reino Celeste, de que se compõe o Terceiro Céu ou Céu Supremo, estão no Divino que procede do Senhor e que é chamado Celeste, -pois êles estão no Bem do amor pelo Senhor. Os Anjos do Reino Espiritual do Senhor, de que se compõe o Segundo Céu ou Céu Médio, estão no Divino que procede do Senhor e que é chamado Espiritual, pois eles estão na Divina Sabedoria pelo Senhor. Os Anjos do Reino Natural do Senhor, de que se compõe o Primeiro ,Céu ou Céu ínfimo, estão no Divino que procede do Senhor e que é chamado Divino Natural e estão na fé da caridade pelo Senhor. Mas os homens da Igreja estão, segundo seu amor, sua sabedoria e sua fé, em um dêstes Reinos e depois da morte, vão para aquêle em que estão. A Palavra do Senhor é também tal qual ,é o Céu, Natural no

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seu último sentido, Espiritual no seu sentido interior, Celeste no seu íntimo e Divina, em cada sentido; por .isso, ela foi acomodada para os Anjos dos Três Céus e também para os Homens.

&196 - 11. 0 SENTIDO ESPIRITUAL ESTA EM TODAS E -CADA UMA DAS COUSAS DA PALAVRA.Isto não pode ser visto melhor do que por Exemplos; sejam ,os seguintes: João disse no Apocalipse: "V! o Céu aberto; e eis, um Cavalo Branco; e aquêle que estava montado em cima era chamado Fiel, Verdadeiro, e em justiça julga e combate; e seus Olhos como uma chama de fogo; e sobre sua Cabeça, vários diademas; tendo um nome escrito que ninguém conhecia senão Ele mesmo; e estava revestido com um vestido tinto de sangue; e é chamado seu Nome: a palavra de Deus. E os Exércitos que (estão) - Céu o seguiram sobre cavalos brancos, vestidos de linho branco e puro. Há sobre sua vestimenta e sobre sua coxa êste Nome escrito Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. E vi um ,Anjo pernanecendo no Sol, e que gritava em forte voz: Vinde e reúni-vos para a grande Ceia, a fim de que comais carne de reis, carne de quiliarcas, carne de poderosos, carne de cavalos e daqueles que os montam, e carne de todos, livres e escravos, pequenos e grandes (XI, 11 a 18). 0 que estas palavras significam ninguém o pode ver senão pelo Sentido espiritual da Palavra, e ninguém conhece o sentido espiritual senão pela ciência das correspondências; pois todas as as palavras são correspondências e nenhuma palavra inútil. A ciência das correspondências ensina o que é significado pelo Cavalo branco, por Aquêle que está montado em cima, pelos Olhos que são uma chama de fogo, pelos Diademas que estão sobre sua cabeça; pelo Vestido tinto de sangue, pelo Fino Linho branco, com que estavam vestidos os que são de seu exército no Céu, pelo Anjo que permanecia no Sol, pela grande Ceia para a qual se devia vir e reunir-se e pelas carnes de reis, de quiliarcas, etc., que se deve comer. Quanto ao que significam -cada uma destas cousas no Sentido espiritual, vê-se explicado no Apocalipse revelado ns. 820 a 838, e também no Opúsculo sobre o cavalo branco, é por conseguinte, inútil dizer mais sobre êste assunto; foi mostrado que o Senhor, quanto à Palavra, está descrito nesta passagem; que pelos Olhos, que eram como uma chama de fogo, é entendida a Divina Sabedoria de Seu Divino Amor; que, pelos Diademas que estavam sobre sua Cabeça, são entendidos, os Divinos Veros da Palavra que procedem d'Ele que pelo Nome, que ninguém conhece senão ele mesmo, é entendido que ninguém vê qual é a Palavra no sentido espiritual, senão o Senhor e aquêle a quem o Senhor o revelar; e que, pelo vestido tinto de sangue, é entendido o sentido natural da Palavra, que é o sentido da letra, ao qual se fêz violência. Que seja a Palavra que é assim descrita, isto é,muito evidente, pois se diz: é chamado seu nome a palavra de Deus; que seja o Senhor que é entendido, isto é ainda muito evidente, pois é dito que o Nome Daquele que estava montado sobre o Cavalo branco era: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, do mesmo modo que no Apocalipse 17, 14, onde se diz: E o Cordeiro os vencerá, porque Êle é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis. Que o Sentido espiritual da Palavra deve ser aberto no fim da Igreja, isso é significado não só pelo que acaba, de ser dito do Cavalo branco e daquele que estava montado em cima, mas ainda pela grande Ceia para a qual todos são convidados pelo Anjo que permanecia no Sol, para vir e comer carnes de reis e de quiliarcas, etc, pelas quais é significada apropriaçâo de todos os bens provenientes do Senhor. Todas estas expressões seriam palavras inúteis e privadas de vida e de espírito, se o sentido espiritual não estivesse interiormente nelas, como a alma está no corpo.

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&197 - No Apocalipse, Capítulo 21, a Nova Jerusalém e assim descrita: Sua luz era semelhante a uma pedra muito preciosa tal como uma pedra de Jaspe, resplandecente como cristal. Ela tinha uma muralha grande e elevada, tendo doze portas; e sobre as portas, doze Anjos, e Nomes escritos que são (os) das deze tribos dos filhos de Israel. A muralha era de cento e quarenta e quatro covados, medida o homem, isto é, de Anjo; e a estrutura da muralha era de Jaspe; e seus fundamentos, de toda pedra preciosa eram ornados, de j aspe, safira, de calcedônia, de esmeralda, de sardonix, de sardônia, de crisolito, de berilo, de topásio, de crisoprazo, de hiacinto e de ametista. As portas eram doze pérolas. A Cidade mesma era em ouro puro, semelhante a um vidro puro; era quadrangular; o comprimento, a largura e a altura eram iguais, de doze mil estádios, etc." Que tôdas estas coisas devem ser entendidas espiritualmente, pode-se ver nisto que, pela Nova Jerusalém, é entendida uma nova Igreja, que deve ser instaurada pelo Senhor, como foi mostrado no Apocalipse Revelado n. 880; e pois que Jerusalém significa aqui a Igreja, s,egue-se que tudo o que é dito dela como Cidade, de suas Portas, de sua Muralha, das Fundações da Muralha, e de suas medidas, contém um sentido espiritual, pois o que pertence à Igreja é espiritual; quanto ao que significam estas cousas, isso foi mostrado no Apocalipse Revelado, ns. 896 a 925, será, portanto, supérfluo demonstrá-lo mais. Basta que se saiba que o sentido espiritual está dentro de cada parte da descrição, como a alma está dentro do corpo e que, sem um tal sentido, não se poderia aplicar à Igreja nenhuma das cousas que aí estão escritas, por exemplo, que esta Cidade era de ouro puro, as suas portas de pérolas, os fundamentos da muralha, de pedras preciosas, que a muralha era de cento e quarenta e quatro covados, medida de homem, isto é, de Anjo, e que a Cidade tinha um comprimento, uma largura e uma altura de doze mil estádios, etc.; mas aquêle que, pela ciência das correspondências, conhece o Sentido espiritual, compreende estas cousas, por exemplo, compreende que a Muralha e seus Fundamentos significam as doutrinas desta Igreja segundo o sentido da letra da Palavra e que os números 1, 144 e 12.000 significam tôdas as cousas da Igreja, ou os veros e os bens da Igreja em um único complexo.

&198 - O Senhor, falando diante de seus discípulos da con sumaçaõ dos séculos, que é o último tempo da Igreja, disse no fim das predições sobre suas mudanças de estado sucessivas: "Logo depois da aflição dêsses dias, o Sol será obscurecido, a Lua não dará mais o seu resplendor, as Estrelas cairão do Céu e as Potências do céu serão abaladas. E então, aparecerá o Sinal do Filho do homem no Céu e gemerão tôdas as Tribos da Terra; e elas verão o Filho do homem vir nas nuvens do Céu com potência e muita glória. E Ele enviará seus Anjos com trombeta e grande voz e êles reunirão seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade dos céus à (outra) extremidade" (Mateus XXIV, 29, 30, 31). Por estas palavras, no sentido espiritual, não se entende que o Sol e a Lua se obscurerão, nem que as estrelas cairão do céu , nem que o sinal do Senhor aparecerá nos Céus, nem que o sinal do Senhor aparecerá nos céus, nem que nas nuvens, e ao mesmo tempo os Anjos Com as trombetas; mas por cada uma das palavras desta passagem entende-se espirituais que concernem à Igreja, cujo estado final é aqui descrito; com efeito, no sentido espiritual, pelo Sol que será obscurecido é entendido o amor para com o Senhor, pela Lua que não dará mais seu resplendor é entendida a fé n'Êle, pelas Estrêlas que

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cairão do Céu são entendidos os conhecimentos do vero e do bem; pelo sinal do Filho do homem no Céu, é entendida a aparição do Divino Vero na Palavra segundo o Senhor; pelas tribos da Terra, que gemerão, é entendida a falta de todo vero que pertence à fé e de todo bem que pertence ao amor; pela vinda do Filho do homem nas nuvens do Céu com poder e glória, é entendida a presença do Senhor na Palavra e a revelação; as nuvens do Céu significam o sentido da letra da Palavra e a glória o sentido espiritual da Palavra; pelos Anjos com a forte voz da trombeta, é entendido o Céu de onde vem o Divino Vero; por reunir os eleitos dos quatro ventos de uma extremidade do Céu à outra extremidade, são entendidos o novo Céu e a nova Igreja, ompostos daqueles que têm a fé no Senhor e vivem segundo seus preceitos. Que não seja a entendido nem o obscurecimento do Sol e da Lua, nem a queda das estrêlas, sobre a Terra, vê-se claramente pelos profetas nos quais cousas semelhantes são ditas do estado da Igreja quando o Senhor viesse ao Mundo; por exemplo, em Isaías: "Eis, o dia de Jehovah vem, cruel e de arrebatamento de cólera; as Estrêlas dos céus e seus Astros não brilharão mais com sua luz, obscurecido será o Sol ao seu levantar e a Lua não fará mais resplandecer seu clarão; visitarei sobre o Globo a malícia" (XIII, 9, 10, 11). Em Joel: "Vem o dia de Jehovah, dia de trevas e de obscuridade; o Sol e a Lua serão enegrecidos e as estrelas retirarão seu resplendor" (111, 4; IV, 15). Em Ezequiel: "Eu cobirei os Céus e enegrecerei as estrelas o Sol, com uma nuvem se cá não fará luzir seu clarão; todos os Luminares de rei e porei trevas sobre a Terra" (XXXII, 7, 8), de Jehovah é entendida a vinda do Senhor; esta vinda teve lugar, quando não havia mais na Igreja nenhum do amor e do vero da fé, nem conhecimento algum do Senhor; é por isso que êsse tempo é chamado Dia de treva e da obscuridade.

&199 - Que o Senhor, quando estava no Mundo, tenha falado por correspondências, assim espiritualmente quando falava naturalmente, pode-se vê-lo por suas parábolas, em cada palavra das quais há o sentido espiritual; seja, por exemplo, a Parábola das dez Virgens; Êle disse: "Semelhante é o Reino dos Céus a dez Virgens, que, tomando suas lâmpadas, saíram ao encontro do Noivo; cinco dentre elas eram , Prudentes; e cinco insensatas; as que eram Insensatas, tomando suas lâmpadas não tinham tomado óleo, mas as Prudentes tinham tomado óleo em suas lâmpadas. Ora, como o Noivo tardasse, elas toscanejaram tôdas e adormeceram; mas no meio da noite, um grito se ouviu: Eis, o Noivo vem, saí ao seu encontro; então foram acordadas tôdas estas Virgens e elas prepararam suas lâmpadas; ora, as Insensatas disseram às Prudentes: Dai nos de vosso óleo, porque as nossas Lâmpadas estão apagadas; mas responderam as prudentes, dizendo: Talvez que êle não baste para nós e para vós; ide antes àqueles que o vendem e comprai-o para vós. Ora, enquanto elas foram comprá-lo, chegou o Noivo; e aquelas que estavam prontas, entraram com êle às núpcias e a porta foi fechada. E enfim, vieram as outras Virgens, dizendo: Senhor,. Senhor, abri nos; mas Êle respondendo, disse: Em verdade vos digo: não vos conheço" (Mateus XXV, 1-12). -Que em cada uma destas palavras há um Sentido espiritual e, por conseguinte, o Santo Divino, ninguém o vê senão aquêle que conhece que existe um Sentido espiritual e qual é esse sentido. No Sentido espiritual, pelo reino dos céus é entendido o Céu e a Igreja; pelo Noivo o Senhor; pelas Núpcias o casamento do Senhor com o Céu e a Igreja pelo bem do amor e pelo vero da fé; pelas virgens, aquêles que estão na Igreja; por Dez, todos; por Cinco, uma parte, pelas Lâmpadas, as cousas que pertencem à fé; pelo Óleo, as que pertencem ao bem do amor; por Dormir e Acordar-se, a vida do

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homem no Mundo, a qual é natural; e a vida após a morte, a qual é espiritual; por Comprar, adquirir por si mesmo; por ir aos que Vendem e Comprar óleo, adquirir dos outros para si mesmo o bem do amor depois da morte; e como então não é mais possível adquiri-lo, eis por que, embora com suas lâmpadas e o óleo elas tinham comprado chegassem à porta do lugar onde se faziam as núpcias, o Noivo, entretanto, lhes disse: Eu não vos conheço; e isso, porque o homem, após a vida no Mundo, fica tal como viveu no Mundo. Por isso é bem evidente que o Senhorfalou por puras correspondências porque Êle falava pelo Divino que estava n'Ele e era d'Éle. Como as Virgens significam aqueles que estão na Igreja, é por isso que, na Palavra Profética se diz tão freqüentemente: A Virgem e a Filha de Sião, Jerusalém, de Judá, de Israel; e como, o óleo significa o bem do amor, é por isso que tôdas as cousas santas da Igreja eram ungidas com óleo. Dá-se o mesmo com tôdas as outras Parábolas e com tôdas as palavras que o Senhor pronunciou; daí vem que o Senhor disse que S lavras são espírito e vida, (João VI, 63).

&200- 111. E POR ESTE SENTIDO QUE A PALAVRA FOI DIVINAMENTE INSPIRADA E É SANTA EM CADA PALAVRA Diz-se, na Igreja, Palavra é Santa; e isso porque Jehovah o Senhor a pronunciou; mas como o Santo da Palavra não se manifesta no Sentido só da letra, aquêle que, por causa disso, duvida uma vez de sua Santidade, se confirma em seguida nessa dúvida por várias passagens da Palavra, quando a lê, pois diz em si mesmo: Será que isto é Santo? Será que isto é Divino? Portanto, a fim de que um tal Pensamento não influa sóbre muitos e não se afirme, em seguida, cada vez mais e a Palavra não seja rejeitada como um Escrito desprezível, e que assim a conjunção do Senhor com o homem não pereça, aprouve ao Senhor revelar agora o sentido espiritual da Palavra, para que se saiba onde está escondido n'Ela o Santo Divino. Mas isso vai ser ilustrado com exemplos: Na Palavra se fala, ora do Egito, ora de Ashur, ora de Edom, de Moab, dos filhos de Amom, dos Filisteus, de Tiro, e de Sidon, de Gog; a que não sabe que por esses Nomes são significadas cousas e da Igreja, pode, ser levado a êste êrro, que a Palavra s muito de Povos e de Nações e muito pouco do Céu e da Igreja, assim muito das cousas Mundanas, e pouco das coisas Celestes; mas quando êsse sabe o que é significado por estes povos e por estas nações ou por seus Nomes, pode ser reconduzido do êrro, à verdade. Acontece o mesmo quando na Palavra se vê que tão frequentemente se fala de Jardins, de Bosques, de Florestas, e de suas Arvores, tais como a Oliveira, a Cêpa, o Cedro, o Choupo, o Carvalho; e tão freqüentemente trata de Cordeiros, de Ovelhas, de Bodes, de Bezerros, de Bois;' e também de Montanhas, de Colinas, de Vales, de Fontes, Rios e Águas que ai se encontram e de muitos outros objetos naturais; aquêle que nada sabe do sentido espiritual da Palavra, não pode fazer outra cousa senão crer que são unicamente êstes objetos que são entendidos; pois e que pelo Jardim, o Bosque, a Floresta, são entendidas Sabedoria, a Inteligência e a Ciência; que pela Oliveira, a o Cedro, o Choupo e o Carvalho, são entendidos o bem e o vero da Igreja, sob seus diferentes caracteres de celeste, espiritial, natural e sensual; que, pelo Cordeiro, a Ovelha, a Bode, o Bezerro, o Boi, são entendidas a inocência, a caridade e a afeição natural e sensual; e pelas Montanhas, as Colinas e os Vales são entendidos os superiores, os inferiores e os ínfimos da Igreja; que Egito é significado o científico, por Ashur o racional; por Edon o natural, por Moab a adulteração do bem; pelos Filhos de Amom a adulteração do vero; pelos Filisteus a fé sem a caridade; pôr Tiro e Sidon os conhecimentos bem e cio Gog o culto externo sem o interno; em por Jacob é entenida a Igreja natural; por Israel a

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Igreja t Jehudah a Igreja Celeste. Quando o homem conhece essas signeficações,pode então pensar que a Palavra não ão trata ao de cousas ce-estes e que êstes objetos Mundanos não -são senão sujeitos nos quais estão encerrados. Mas um exemplo tomado na Palavra vai ainda ilustrar isso; lê-se em Isaías: "Naquele dia haverá um caminho do Egito à Assiria, a fim de que venha a Assíria ao Egito e o Egito à Assíria; e servirão os Egípcios com a Assíria. Nesse dia será Israel em terceiro ao Egito e à Assiria; bênção no meio da terra, que abençoará Jehovah Sebaoth, dizendo: Abençoado seja meu povo, o Egito; e a obra das minhas mãos, a Assíria; e minha herança, Israel" (XIX, 23, 24, 25). - Por estas palavras, no sentido espiritual, é entendido que no tempo da Vinda do Senhor, o Científico, o Racional e o Espiritual, farão um; e que, então, o Científico estará ao serviço do Racional; e um e outro ao serviço do Espiritual; pois, assim como foi dito, pelo Egito é significado o científico, por Ashur, o racional e por Israel o espiritual; pelo dia mencionado duas vêzes é entendido o Primeiro e o Segundo advento do Senhor.

&201 IV. 0 SENTIDO ESPIRITUAL DA PALAVRA FOI IGNORADO ATÉ AO PRESENTE. Que todas e cada uma das coisas que estão na Natureza correspondem. a cousas espirituais e que aconteça o mesmo com todas e cada uma das cousas que estão no Corpo humano, é o que foi mostrado no tratado do Céu e do Inferno, ns. 87 a 115. Mas o que é a Correspondência? Até ao presente foi ignorado; entretanto, nos tempos Antiquíssimos, era bem conhecida; pois, para os que viviam então, a ciência das Correspondências era a ciência das ciências; e tão universal, que todos os seus tratados e todos os seus Livros eram escritos por Correspondências; o livro d Job, que é um livro da Antiga Igreja, está cheio de correspondências. Os Hieroglifos dos Egípcios e também as fábulas da Antiguidade , não foram outra cousa; todas as Igrejas Antigas representativas dos espirituais; seus Ritos e seus Estatutos, segundo os quais o seu culto tinha sido instituído, consistiam em puras Correspondências; do mesmo modo as coisas da Igreja entre os filhos de Israel; os Holocaustos, os Sacrifícios, os Minchashs e as Li bações, com tudo que a isso se elacionava, eram correspondências; semelhantemente o Tabernáculo com tudo e encerrava; além disso, também suas Festas, tais como a Festa dos ázimos, a Festa dos tabernáculos e a Festa das primícias; do mesmo modo, o Sacerdócio de Aharão e dos Levitas e também suas vestimentas de santidade; mas quais eram os espirituais aos quais todas estas correspondiam, isso foi mostrado nos arcanos celestes publicados em Londres; além disso, todos os Estatutos utos e todos os J entos, que se relacionavam com seu culto e sua vida, eram também Correspondências. Ora, como no Mundo os Divinos se apresentam nas Correspondências, eis porque a Palavra foi, a por puras Correspondências; é por isso que o Senhor, como falava segundo o Divino, falava por Correspondências, pois o que vem do Divino cai na Natureza em coisas que correspondem aos Divinos; e então encerram em seu seio os Divinos que são chamados Celestes e Espirituais.

&202 - Soube que os homens da Antiquíssima Igreja, que existiu antes do Dilúvio, eram de um gênio tão celeste que falavam com os Anjos do Céu e podiam falar com êles pelas Correspondências; daí o estado de sua sabedoria se tornou tal que tudo que viam sobre a Terra, não somente os fazia pensar naturalmente, mas ainda espiritualmente; por isso, conseqüentemente, conjuntamente com os Anjos do Céu. Além disso, soube que Chanoch (Henoc), de que se fala em Gênesis 5, 21 a 24, e os de sua sociedade, recolheram de suas

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bocas as Correspondências e transmitiram a sua Ciência à posteridade; do que resulta que a Ciência das Correspondências tornou-se não somente conhecida, mas ainda cultivada em um grande número de Reinos da Asia, sobretudo na Terra de Canaan, no Egito, na Assíria, na Caldéa, na Síria, na Arábia, em Tiro, em Sidom, em Ninive, e que dai foi transportada para a Grécia; mas aí foi mudada em Narrações fabulosas, como se pode ver pelos escritos dos mais antigos autores dessas regiões.

&203 - A fim de que se possa ver que a Ciência das Correspondências pondências foi por muito tempo conservada nas nações da Azia, todavia, entre os que eram chamados Adivinhos e Sábios e por alguns, Magos, quero citar um único Exemplo tirado se Samuel I, Cap. 5.0 e 6.0. Aí se diz que a Arca onde estavam e estavam Tábuas sobre as quais o Decálogo tinha sido gravado, foi pelos Filisteus e colocada no templo de Dagon em seguida, Dagon caiu por terra diante dela e que, em seg da, e suas duas mãos separadas do corpo jaziam sobre Templo; que os Asclidonianos e os Ekronitas, em rios milhares foram atacados de hemorróidas por, e que sua terra foi devastada pelos ratos; que em e os Filisteus convocaram os Sátrapas e os Adivinhos; impedir sua ruína, eles decidiram que se faria cinco das e cinco Ratos de ouro e um Carro novo; que se Arca em cima; e perto dela, as hemorróidas e os ratos de que o carro seria puxado por duas Vacas; e as vacas, berrando no caminho, conduziram a Arca para os filhos de Israel, que sacrificaram as Vacas e o carro; e assim o Deus de Israel se tomou propício. Que todas as coisas as imagindas pelos Adivinhos dos Filisteus, eram Correspondências, vê-se por sua significação, que é esta: Os Filisteus mesmospara significavam que estão na fé separada da caridade; Dagon representava esta Religiosidade; as Hemorróidas de que foram atacados os significavam os amores naturais que, sendo separados do amor espiritual, são impuros; e os Ratos significavam a devastação da Igreja pelas falsificações do vero; o Carro novo significava a Doutrina natural da Igreja, pois o Carro na Palavra significa a doutrina segundo os veros espirituais; as Vacas significavam as afeições naturais boas; as Hemorróidas de ouro significavamos amores naturais purificados e tomados bons; os Ratos de ouro significavam a supressão da devastação da Igreja pelo bem, pois o Ouro na Palavra significa o bem; o mugido das Vacas no caminho, significava a difícil conversão das concupiscências do mal do homem natural, em afeições boas; o sacrifício em holocausto das Vacas, com o Carro, significava que assim o Deus de Israel se tinha tomado propicio. todas estas cousas que fizeram os Filisteus pelo conselho dê seus Adivinhos eram Correspondências, donde resulta evidentemente que esta Ciência tinha sido conservada muito tempo entre essas nações.

&204 - Quando os Ritos Representativos da Igreja, que eram Correspondências, começaram com o tempo, a ser mudados em ídolos e também em Magia, esta Ciência, pela Divina Providência do para Senhor, caiu sucessivamente no olvido; e nas Nações Israelitas e Judaica, ela perdeu-se inteiramente. Na verdade, o Culto desta nação consistia em puras Correspondências e era representativo dá& coisas Celestes, mas entretanto os Israelitas e os Judeus não sabiam o que êste culto significava; pois eram homens naturais; por conseguinte, queriam e não po a alguma dos Espirituais e dos Celestes, nem conseqüência, cousa alguma das Correspondências, pois as ias são as Representações dos Espirituais e dos Naturais.

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&205 - Se, nos tempos Antigos, as Idolatrias das Nações tira Ciência das Correspondências, isto vem de que se vê sobre a Terra, correspondem, não mas ainda as Bestas e os Pássaros de toda também os Peixes, etc. Os antigos, que estavam na Correspondências, tinham feito imagens que cor cousas celestes e achavam prazer em ver essas imagens, Porque significavam e ue pertenciam ao Céu e à Igreja; e em conseqüência, as colocavam em seusTemplos, mas em sua casas, não para fazê-las objeto de adoração, mas para trazer à sua lembrança as cousas celestes que significavam; daí no Egito e alhures houve imagens, Bezerros, Bois, Serpentes, além Crianças, velhos e Virgens porque os Bezerros e os Bois significavam as afeições e as forças do homem Natural; as Serpentes, a prudência e também a astúcia do homem sensual; as Crianças, a inocência e a caridade; os Velhos, a sabedoria; as Virgens, as afeições do vero; e assim de resto. Quando a Ciência das Correspondências foi obliterada, os descendentes começaram a adorar como Santas, as Imagens e os Simulacros colocados pelos Antigos, porque os encontravam nos Templos e perto dos Templos; e enfim, a adorá-los com Deidades. E por causa disso, os Antigos tinham também um Culto em Jardins e em Bosques, conforme as espécies de Arvores; além disso, também em Montanhas e sobre Colinas; pois os Jardins e os Bosques significavam a sabedoria e a inteligência; e cada Arvore, alguma cousa da sabedoria e da inteligência; por exemplo, a Oliveira, o Bem do amor, a Cepa, o vero segundo o bem, o Cedro, o bem e o vero racionais; a Montanha, o Céu supremo e a Colina o Céu que está em baixo. Que a Ciência das Correspondências tenha permanecido entre vários Orientais UM ao Advento do Senhor, pode-se também vê-lo pelos Sábios do te, que vieram ao Senhor, quando Êle nasceu; por êsse motivo, uma Estrêla ia adiante dêles e eles levavam consigo presentes de Ouro, de Incenso e de Mirra (Mateus 11, 1, 2, 9, 10, 11); com efeito, a Estrêla que ia adiante dêles significava o conhecimento vindo do Céu; o Ouro significava o Bem celeste; o Incenso, o bem espiritual e a Mirra o bem natural; todo culto depende desses três bens. Entretanto, a Ciência das Correspondências era inteiramente nula na Nação Israelita e Judaica, embora todas as coisas de seu culto, todos os Estatutos e todos os Julgamentos que lhes tinham sido dados por Moisés e todas as cousas da Palavra, fossem puras Correspondências; isto vinha de serem eles idólatras de coração; por conseguinte, tais que não queriam mesmo saber que alguma cousa de seu Culto significava o Celeste e o Espiritual, pois acreditavam que todas as coisas eram Santas por si mesmas; é por isso que se osCelestes e os Espirituais lhes tivessem sido descobertos, não somente seriam rejeitados, mas os teria mesmo profanado; é Céu foi tão bem fechado para êles, que apenas sabiam que havia uma Vida eterna; que isto seja assim, vê-se claramente no fato deles não reconhecerem o Senhor, ainda que toda Estrutura Santa tenha profetizado sobre Ele e tenha predito seu advento, êles 0 rejeitaram por esta única razão, que Êle lhes falava de seu Reino celeste, e não de um Reino terrestre, pois queriam um Messias que os elevasse acima todas as Nações do Mundo e não um Messias que provia à sua salvação eterna.

&206 - S a Ciência das Correspondências, pela qual é dado o sentido espiritual da Palavra, não foi desvendada nos tempos posteriores, é porque os cristãos da Primeira Igreja eram de uma grande simplicidade, para que ela pudesse ser descoberta diante dêles, pois se ela lhes fôsse descoberta, não lhes teria sido de utilidade alguma e não teria sido compreendida. Depois dessa primeira época do Cristianismo, trevas se elevaram sobre toda a Cristandade; a princípio, pelas Heresias que muitos espalharam de todo lado; e pouco depois, pelas deliberações e os decretos do Concílio de Nicéa sobre as três Pessoas Divinas de toda -eternidade e sobre a Pessoa do Christo como Filho de Maria e não como Filho de Jehovah

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Deus; daí saiu a Fé de hoje sobre a justificação, fé na qual a gente se dirige aos três deuses em sua ordem e da qual dependem todas e cada uma das cousas, da Igreja de hoje, como da cabeça dependem os membros do corpo; e como se aplicaram todas as cousas da Palavra para confirmar essa Fé errônea, o Sentido espiritual não pôde ser descoberto, pois se êste sentido fosse desvendado, teria sido aplicado para confirmar essa fé; e com isso, ter-se-ia profanado o Santo mesmo da Palavra; e assim ter-se-ia fechado inteiramente o Céu e ter-se-ia afastado a Igreja do Senhor.

&207 - Que a Ciência das Correspondências, pela qual é dado o Sentido espiritual, foi revelada hoje, é porque agora os Divinos Veros da Igreja estão postos na luz e que é nesses veros que consiste o-Sentido espiritual da Palavra; e quando estes veros estão no homem, o sentido da letra da Palavra não pode ser pervertido; com efeito, o sentido da letra da Palavra pode ser torcido para aqui ou para ali; mas se é torcido para o falso, então perece sua Santidade interna e com ela a Santidade externa, enquanto que se é voltado para o Vero, a Santidade interna permanece; na continuação se dirá mais sobre êste assunto. Que o Sentido espiritual será aberto hoje, isso está entendido em que João viu o Céu aberto, e então um Cavalo branco; além disso, no fato dêle ter visto e ouvido que o Anjo que estava no Sol, fazia uma convocação geral para a grande Ceia (Apoc. 19, 11 a 18). Mas que durante muito tempo este sentido não será reconhecido, isto é entendido pela Besta e pelos Reis da Terra, que deviam fazer a guerra contra Aquêle que estava montado sobre o Cavalo branco (Apoc. 19, 19), e também pelo Dragão, que perseguia a Mulher, que tinha dado à luz um Filho, até ao deserto e que lá, êle lançou de sua boca, águas como um rio a fim de submergi-Ia (Apoc. 12, 13 a 17) .

&208 -V. 0 SENTIDO ESPIRITUAL DA PALAVRA NÃO, SERA DADO DAQUI EM DIANTE SENÃO AQUELE QUE ESTA PELO SENHOR NOS VEROS REAIS.Eis a causa disso: é que ninguém pode ver o Sentido espiritual se não for pelo Senhor só; e a menos que esteja pelo Senhor nos Divinos veros; pois o Sentido espiritual da Palavra trata do Senhor só e de seu Reino; e êste sentido é aquêle em que estão os Anjos do Céu, pois seu Divino Vero está lá; o homem pode violá-lo, se está na Ciência das Correspondências, e que por ela queira explorar o Sentido espiritual da Palavra segundo a própria inteligência; pois, por algumas correspondências que conhece, pode perverter êste sentido e levá-lo a confirmar mesmo os Falsos, e isso seria fazer violência ao Divino Vero, e também por conseqüência, ao Céu, no qual êste Vero habita; se, portanto, alguém quer abrir êste Sentido por si mesmo e não pelo Senhor, o Céu se fecha e desde que está fechado, o homem ou nada vê do vero, ou extravasa espiritualmente. Há também uma outra causa, é que o Senhor ensina a cada um pela Palavra e ensina segundo os conhecimentos que estão no homem e não infunde imediatamente cousas novas; se, portanto, o homem não está nos Divinos Veros ou se está somente em um pequeno número de veros e, ao mesmo tempo, nos falsos, pode por êstes, falsificar os veros; como também isto é feito por todo herético quanto ao Sentido mesmo da letra da Palavra. E' por isso que, a fim de que ninguém entre no Sentido espiritual e perverta o Vero real que pertence a esse sentido, o Senhor colocou Guardas, que são entendidos na Palavra pelos Querubins.

&209 - VI. MARAVILHAS CONCERNENTES A PALAVRA SEGUNDO SEU SENTIDO ESPIRITUAL.

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No Mundo natural, não existe Maravilha alguma Palavra, porque o sentido do espiritual não se mostra e não é recebido pelo homem interiormente, tal como êle é em si; mas o Mundo espiritual manifestam-se Maravilhas pela Palavra, no Mundo espiritual manifestam-se Maravilhas pela Palavra , porque lá todos são espirituais, e as cousas espirituais afetam o homem espiritual como as naturais o homem natural. As Maravilhas que existem pela Palavra no Mundo espiritual são e em grande número, mencionarei aqui algumas delas. A Palavra mesma, nos santuários dos Templos, brilha diante dos olhos dos Anjos como uma grande Estrela, algumas vêzes como o Sol e por causa do brilho que a cerca, aparecem também belíssimos Arco-íris; isso acontece desde que o santuário é aberto. Que todos e cada um dos Veros da Palavra brilham, eu o pude ver no fato de que, quando algum versículo da Palavra era escrito sobre um Papel e o Papel era lançado no ar, o Papel brilhava na forma, segundo a qual tinha sido cortado; é só por isso que os Espíritos podem pela Palavra produzir diversas formas brilhantes, tais como formas de pássaros e de peixes. E é ainda mais maravilhoso quando alguém fricciona sua face, as suas mãos ou as roupas de que está revestido, pois, com a Palavra aberta, aplicando-lhes a escrita, a face, as mãos e as roupas brilham também como se ele estivesse em uma Estrela cuja luz se espalhasse em torno dêle; vi e admirei muitas vezes isso; por isto, fiquei sabendo por que a face de Moisés brilhava quando êle trazia da Montanha do Sinal as Tábuas da aliança.Além disso, há muitas outras Maravilhas que provém da Palavra, por exemplo: Se alguém está nos falsos e dirige sua vista para a Palavra colocada em um lugar santo, uma Obscuridade se apodera de seus olhos, a Palavra lhe parece negra e, algumas vezes, como coberta de fuligem; mas se êle toca a Palavra, se produz uma explosão, êle é lançado sobre um Ângulo da ~ara e aí fica estendido, como morto, durante uma hora. Se uma passagem da Palavra é transcrita em um papel por alguém que está nos falsos e se o papel for lançado para o Céu, então, se produz uma semelhante explosão no ar, o papel é feito em pedaços e desaparece; acontece o mesmo se esse papel é lançado sobre um ângulo que está próximo; vi isso muitas vêzes. Por isso, torna-se evidente que aquêles que estão nos falsos da doutrina não têm comunicação alguma com o Céu pela Palavra, mas que a leitura que fazem dela se espalha de um lado e de outro do caminho e é dissipada como a pólvora encerrada em papel quando o foguete é inflamado e lançado no ar. 0 contrário acontece com aquêles que estão pelo Senhor nos veros da doutrina da Palavra; a leitura da Palavra por eles penetra até ao Céu e aí faz a conjunção com os Anjos. Os Anjos mesmos quando do Céu para desempenhar alguma missão mais em baixo, aparecem cercados de pequenas estrelas, sob o em torno da cabeça; é um sinal de que os Divinos Veros da Palavra estão com eles.Além disso, no Mundo espiritual há cousas semelhantes às as terras, mas todas e cada uma delas são de 1; assim, há também ouro e prata, há pedras pre e a sua origem espiritual é o Sentido da vem que, no Apocalipse, os fundamentos Jerusalém são descritos por doze Pedras da muralha significam os dou letra da Palavra; vem aue no Efod de Aharão havia também doze Pedras preciosas, chamadas Urim e Thumim; e por elas eram dadas respostas do Céu. disso, há ainda pela Palavra um grande número de Maravilhas que concernem ao poder do Vero no Mundo espiritual; poder de tal modo imenso, que se fôsse descrito, ultrapassaria toda crença; pois êste poder é tal, que derruba, montanhas e colinas, as transporta para longe e as lanças no mar, etc.; em suma, o Poder do Senhor pela Palavra é infinito.

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&210 0 sentido da letra da Palavra é a base, o continente e a afirmação de seu sentido espiritual e de seu sentido celeste.

Em todo Divino há um Primeiro, um Médio e um último; o Primeiro vai pelo Médio até ao último e por isso mesmo existe e subsiste; daí, o último é a Base. 0 Primeiro também está no Médio e pelo Médio, no último; assim, o último é o Continente; e como o último é o Continente e a Base, é também a Afirmação. 0 homem erudito compreende que estes Três podem ser chamados Fim, Causa e Efeito e também: Ser, Tórnarse e Existir e que o Fim é o Ser, a Causa é o Tornar-se e o Efeito é o Existir; por conseguinte, em toda cousa completa há um Trino, que é chamado Primeiro, Médio e último e também, Fim, Causa e Efeito. Quando isto é compreendido, compreendese também que toda Obra Divina no último é Completa e Perfeita; e também que, no último, está o Todo, pois que o Primeiro e o Médio estão conjuntamente no último.

&211 - Daí vem que, na Palavra, pelo número Três é entendido no Sentido espiritual completo e o perfeito e, por conseguinte , todo o em conjunto; e como êste número tem ficação, eis por que é empregado na Palavra todas se trata de designar uma cousa completa e perfe tas passagens. "Isaías caminhou nu e descalço Três Anos (Isaías XX, 3). "Jehovah chamou Três vezes Samuel, Samuel correu Três vêzes para Elias e foi na Terceira vez que Elias compreendeu ( I Samuel III, 1 a 8). "Jonatas disse a David que se escondesse Três dias em um campo; depois Jonata lançou três flechas sobre o lado da pedra; e depois disso David se prosternou Três vêzes diante de Jonatan" (I Samuel II, 5, 12 a 42). "Elias se estendeu Três vêzes sobre o filho da Viúva" (I Reis XXII, 21) "Elias mandou derramar Três vêzes água sobre o holocausto" (I Reis XVIII, 34). "Jesusdisse que o Reino dos Céus é semelhante ao levedo que uma mulher, pegando nêle, escondeu em Três medidas de farinha até que tudo estivesse fermentado" (Mateus XIII, 33). "Jesus disse a Pedro que êle o renegaria Três vêzes" (Mateus XXVI, 34 "Jesus à Três vêzes a Pedro: Amas-me?" (João XXI, 15, 16, 17). "Jonas estêve no ventre da baleia Três dias e Três noites" (Jonas 11, 1). "Jesus disse que se se destruísse o Templo, Ele o reconstruiria em Três dias" (Mateus XXVI, 61). "Jesus orou Três vêzes em Gethsemane11 (Mateus XXVI, 39 a 44). "Jesus ressuscitou ao Terceiro dia" (Mateus XXVIII, 1). Há, além disso, muitas outras passagens onde o número Três é mencionado quando se trata de uma Obra acabada e perfeita, porque isso é significado por êste Número.

&212 - Há Três Céus, o Supremo, o Médio e o ínfimo; o Céu Supremo é o Reino Celeste do Senhor. 0 Céu Médio faz seu Reino Espiritual e o Céu ínfimo faz seu Reino Natural; do mesmo modo que há três Céus, do mesmo modo também há Três Sentidos da Palavra, o Celeste, o Espiritual e o Natural, com os quais coincide também o que foi dito acima, n. 210, a saber, que o Primeiro está no Médio; e pelo Médio, no último, absolutamente como o fim está na causa e pela causa, no efeito. Por aí, vê-se claramente qual é a Palavra, a saber, que no sentido de sua letra, que é o Sentido Natural, há um sentido interior, que é o Sentido espiritual; e neste, um Sentido íntimo, que é o Sentido Celeste; e que assim o último Sentido, que é o Natural e é chamado Sentido da letra, é o continente dos dois Sentidos interiores, assim a Base e a Afirmação dêsses dois sentidos.

&213 - Segue-se daí que a Palavra sem o Sentido de sua letra, seria como um Palácio sem fundação, assim como um Palácio no ar e não sobre a terra, o que não seria senão a sombra

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de um Palácio e se dissiparia. Sem o sentido de sua letra, a Palavra seria também como um Templ o , no qual há várias coisas Santas e no meio o Santuário, sem um Teto e sem uma Parede que sejam os Continentes; se êsses Continentes não existissem ou fossem tirados,as cousas Santas do Templo seriam pilhadas por ladrões e devastadas pelas Bêstas da terra e pelos pássaros do Céu, e assim seriam dissipadas. Semelhantemente, seria como o Tabernáculo dos filhos de Israel no deserto, no íntimo do qual havia a Arca da Aliança, e no seu meio, o Candelabro de ouro, o Altar de ouro dos perfumes e a Mesa dos pães das faces, sem seus últimos, que eram as cortinas, os véus e as colunas. Além disso, sem o Sentido de sua letra, a Palavra seria como o Corpo po humano sem seus tegumentos que se chamam Pe les seus suportes que se chamam Ossos, todos os seus inte ríores se espalhariam de um lado e de outro. Ela seria também como o Coração e o Pulmão no Peito, sem seu tegumento, que se chama Pleura; e sem seus, suportes, que se chamam Costelas. Ou como o Cérebro sem seus tegumentos que se chamam Dura-Máter e Pia-Máter; e sem seu tegumento comum, seu Continente e sua Consolidação, que se chama Crânio. Aconteceria o mesmo com a Palavra sem o Sentido de sua letra; é por isso que se diz em Isaías, que "Jehovah criou sobre toda glória uma cobertura" (IV, 5).

&214 IV O Divino Vero no sentido da letra da Palavra está no: seu Pleno, no seu Santo e no seu Poder214 - Que a Palavra no sentido da letra, esteja em seu Pleno, no seu Santo e no seu Poder é porque os dois Sentidos anteriores ou interiores, que são chamados Senti-do Espiritual e Sentido Celeste, estão em conjunto no Sentido natural, que é o Sentido da letra, como foi dito acima, ns. 210 e 212; mas como estão juntos aí, é o que vai ser dito agora. Há no Céu e no Mundo uma Ordem sucessiva e uma Ordem simultânea; na Ordem sucessiva há sucessão e seguimento de um após outro, desde os supremos até aos ínfimos; na Ordem simultânea, ao contrário, um está perto do outro, desde os íntimos até aos extimos (externos). A Ordem sucessiva é como uma Coluna com degraus desde o alto até em baixo; a Ordem simultânea, ao contrário, é como uma obra coerente com as periferias desde o Centro até à última superfície. Agora se dirá como a ordem sucessiva se transforma na Ordem simultânea; isso acontece assim: os supremos da Ordem suce tornam-se os íntimos da Ordem simultânea; e os ínfimos da em sucessiva se, tornam os extimos (externos) da Ordem simultânea; é, por comparação, como uma Coluna de degraus que, se abatendo, torna-se um corpo coerente um plano. Assim, o Simultâneo é formado de Sucessivos;e isso, em todas e cada uma das coisas do Mundo natural e espiritual; pois, em toda parte há um Primeiro, Médio e o Primeiro, pelo Médio, tende e vai para preciso compreender bem que são graus de pure quais se faz uma e outra Ordem. Agora, quanto Celeste, o Espiritual e o Natural procedem do Senhor em ordem sucessiva; e no último estão em Ordem simultânea; assim, os Sentidos celeste e espirituais da Palavra estão no seu Sentido natural. Quando isto é compreendido, pode-se ver como o Sentido natural da Palavra é o continente, a base e a consolidação de seu Sentido espiritual e de seu Sentido celeste; e como no Sentido literal da Palavra, o Divino Bem e o Divino Vero estão em seu Pleno, em seu Santo e seu Poder. Por estas expIicações, pode-se ver que a Palavra em seu Sentido da letra é a Palavra mesma, pois nesse sentido, há interiormente espírito e vida; é isto o que o Senhor disse: "As palavras que eu vos pronuncio são Espírito e Vida" (João VI, 63); pois o Senhor pronunciou Suas palavras no Sentido natural. 0 Sentido celeste e o Sentido espiritual não são a Palavra sem o Sentido natural, pois são como o espírito e a vida sem o corpo; são também como um Palácio que não tem fundações, como foi dito precedentemente, n. 213.

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&215 - Os veros do Sentido da letra da Palavra, em parte, não são veros nus, mas são aparências do vero, e como similitudes e comparações tomadas de cousas que estão na natureza, que foram assim acomodadas é tornadas adequadas à concepção dos sim ples; e também à das crianças; mas como, ao mesmo tempo, estas cousas são Correspondências, elas são os receptáculos e os hábitáculos do vero real; e são vasos que o contém, como uma Taça de cristal contém um Vinho generoso, um Prato de prata, alimentos delicados e, como Roupas que cobrem, por exemplo, os cueiros, de uma criancinha e um vestido decente, uma virgem; são também como científicos do homem natural, que compreendem em si as percepções e as afeições do vero espiritual. Os veros nua mesmos, que estão encerrados, contidos, vestidos e compreendidos, estão no Sentido espiritual da Palavra; e os bens nus estão no Sentido celeste. Mas Isso vai ser ilustrado segundo a Palavra: "Jesus disse: Ai de vós! escribas fariseus, por que limpais o exterior do copo e do prato, enquanto que os interiores estão cheios de rapina e de intemperança! Fariseu cego, limpa primeiramente o interior do copo prato, a fim de que o exterior também se torne limpo" (MateusXXIII, 25, 26); aqui o Senhor falou por similitudes e comparações, que são ao mesmo tempo Correspondências; e disse o copo e o prato e pelo ente, é entendido mas também é significado o Vero pelo copo é entendido o vinho, e pelo vinho, é vero; pelo prato é entendido o alimento, e pelo *fica o bem; por isso, limpar o interior do copo e a purificar pela Palavra os interiores da mente, à vontade e ao, pensamento; por "a fim de que o seja limpo", significa que assim seriam purificados .'que são as obras e a linguagem, pois êstes exteriores interiores a sua essência. Além disso: "Jesus disse: Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de fino linho e divertia cada dia esplêdidamente; havia também um pobre, chamado Lázaro, que estendido perto de seu vestíbulo, coberto de úlceras" (Lucas XVI, 19, 20); aqui também o Senhor falou por similitude se que eram Correspondências e continham os espirituais; homem rico, é entendida a Nação Judaica, que é chamada rica porque tinha a Palavra, na qual estão as riquezas espirituais; pela púrpura e o fino linho com que êle se vestia, significa o bem e o vero da Palavra; pela púrpura, o bem; e pelo fino linho, o vero; por se divertir esplêndidamente cada dia, significa o prazer de ter a Palavra e de ouvir e ler as passagens dela no Templo e nas inagogas; por Lázaro, o pobre, são entendidas as Nações, porque não tinham a Palavra; por Lázaro estendido perto do vestíbulo do rico, é entendido eram desprezadas e rejeitadas pelos Judeus; por Lázaro coberto de úlceras, é significado que as nações pela ignorância do vero estavam em um grande número de falsos. Se as nações são entendidas por Lázaro, é por que o Senhor amava as Nações, como amava Lázaro, que Êle ressuscitou dos mortos (João XI, 3, 5, 36), que chamou seu amigo (João XII, 2). Por estas duas passagens, é evidente que os veros e os bens do Sentido da letra da Palavra são como vasos e como vestimentas do vero e do bem nus, que estão os dois escondidos no Sentido espiritual e no Sentido celeste da Palavra. Como tal é a Palavra no Sentido da letra, resulta daí que aquêles que estão nos Divinos veros e na fé de que a Palavra é interiormente no seu seio o Santo Divino; e ainda mais aquêles que estão na fé, de que a Palavra é tal pelo seu Sentido espiritual e seu Sentido Celeste, vêem, quando na ilustração procedente do Senhor, lêem a Palavra, os Divinos Veros na Luz natural; pois a Luz do Céu, na qual está o Sentido espiritual da Palavra, influi na Luz natural em que está o Sentido da letra da Palavra e ilumina o Intelectual do homem, que é chamado Racional; e faz que êle veja e reconheça os Divinos Veros onde se mostram e onde estão escondidos; estes veros com a Luz do Céu influem em alguns, por vêzes, sem o saberem.

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&216 - A Palavra em seu seio íntimo, segundo Sentido celeste, sendo como uma chama doce que abrasa, em seu sentido médio, segundo seu Sentido espiritual, como ilumina, resulta daí que em seu último, segundo se Sentido natural, ela é como um objeto diáfano que recebe um e outro; que, pela chama, é vermelho como púrpura, e pela luz, branca como a neve; assim é respectivamente como um Rubi e como um Diamante; pela chama celeste, como um Rubi; e pela luz espritual com um Diamante. Como tal é a Palavra em seu Sentido da letra, eis por que a Palavra nesse Sentido é entendida: I - Pelas Pedras preciosas de que eram compostos os fundamentos da Nova Jerusalém.II - Pelo Urim e sobre o Efod de Aharão.III - Pelas Pedras preciosas no Jardim do Éden, onde se diz que o rei de Tiro tinha estado.IV - Pelas Cortinas, os Véus 11 as Colunas nas do Tabernáculo.V - Semelhantemente, pelos externos do Templo de Jerusalém.VI - A Palavra em sua glória foi representada no Senhor, quando Ele se transfigurou.VII - 0 Poder da Palavra nos últimos foi representado pelos Narizeus.VIII - Do inefável Poder da Palavra.Mas cada parágrafo vai ser ilustrado separadamente.

&217 - I. Os Veros do Sentido da letra da Palavra são entendidos pelas Pedras preciosas de que eram compostos os fundamentos da Nova Jerusalém, no Apocalipse, Cap. 21, 17 a 21. Foi dito acima, n. 209, que no Mundo Espiritual há Pedras preciosas como no Mundo natural; e que sua origem espiritual vem dos Veros no Sentido da letra da Palavra; isto parece incrível, mas não obstante é verdade; daí vem que na Palavra em toda parte onde são mencionadas as Pedras preciosas, por elas no Sentido espiritual são entendidos os veros. Que pelas Pedra.s preciosas, de que se diz terem sido construídos os fundamentos da muralha em torno da Cidade da Nova Jerusalém, sejam significados os Veros da Doutrina da Nova Igreja, isso resulta de que, pela Nova Jerusalém, é entendida a, Nova Igreja quanto à doutrina segundo a Palavra; é por isso que, por sua Muralha e pelos fundamentos da muralha, não pode ser entendida outra cousa senão o Externo da Palavra, que e o Sentido da letra, pois é, por êste sentido que há a Doutrina, e pela Doutrina, a Igreja; e êste Sentido é como uma Muralha, com seus fundamentos, que cerca uma Cidade e a põe em segurança. Eis o que se lê no Apocalipse a respeito da Nova Jerusalém e de seus fundamentos: "0 Anjo mediu a Muralha da Cidade de Jerusalém, cento e quarenta e quatro covados, medida de homem, isto é, de Anjo. E a Muralha tinha doze Fundamentos; de toda Pedra periosa eles eram ornados; o primeiro Fundamento (era) de jaspe; o segundo, uma safira; o terceiro, uma calcedônia; o quarto, uma esmeralda; o quinto, uma sardônica; o sexto, um sárdio; o sétimo, um crisólito; o oitavo, um berilo; o nono, um topázio; o décimo, um risóprazo; o décimo primeiro, um jacinto; o décimo segundo, uma ametista" (Cap. 21, 17 a 20); se havia fundamentos da muralha, compostos de outras tantas Pedras preciosas, é porque o número doze significa todas as coisas do vero segundo o bem e por conseqüência, tôdas as coisas da doutrina. Mas estas palavras, como também as que precedem e as que seguem neste. Capítulo foram particularmente explicadas e confirmadas por passagens paralelas tiradas da Palavra profética, ver no Nosso Apocalipse Revelado.

&218 - II. OS BENS E OS VEROS DA PALAVRA NO SENTIDO DA SUA LETRA SÃO ENTENDIDOS PELO URIM E 0 TUMIM SOBRE 0 EFOD) DE AHARÃO.

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O Urim e o Tumim. estavam no Efod de Aharão, cujo sacerdócio representava o Senhor quanto ao Divino Bem e quanto à Obra da salvação; pelas Vestimentas do Sacerdote ou por sua santidade, eram representados os Divinos Veros procedentes do Senhor; pelo Efod era representado o Divino Vero em seu último, assim a Palavra no Sentido da letra, pois é êsse o Divino, Vero em seu último; daí, as doze Pedras preciosas com os nomes das doze Tribos de Israel, que formavam o Urim e o Tumim, representavam os Divinos Veros segundo o Divino Bem em todo o complexo. Eis o que se lê sobre êste assunto em Moisés: "Farão o Efod de Hiacinto e de Púrpura, d'Escarlate duplamente tinto e de Fino Linho tecido; em seguida farão um Peitoral de Julgamento como a obra do Efod; e tu o cobrirás de pedras de engaste; quatro ordens de pedras: Rubi, Topázio, Carbúnculo, primeira ordem; Crisópraso, Safira e Diamante, segundo ordem; Jacinto, Agata e Ametista, terceira ordem; Turqueza, Sardônio e Jaspe, quarta ordem. Estas pedras estarão segundo os Nomes dos filhos de Israel, com gravuras de selo em cada uma segundo seu Nome elas serão, para as doze Tribos. E Aharão levará sobre o Peitoral do Julgame ,Urim e o Tumim; que estejam sobre o coração de Aharãx quando êle entrar diante de Jehovah" (Êxodo 38, 6, 15 a 21, 30). 0 que foi representado pelas Vestimentas de Aharão, por seu Efod, seu Manto, sua Túnica, seu Turbante, seu Talabarte, foi explicado nos ''Arcanos Celestes'', publicado em Londres, sobre êste Capítulo, onde foi mostrado que pelo Efod era representado o Divino Vero em seu último; que pelas Pedras preciosas eram representados os Veros que brilham pelo Bem; por doze, em quatro ordens, todos êstes veros, desde os primeiros até aos últimos; pelas doze Tribos, tôdas as cousas da Igreja pelo lo Peitoral, o Divino Vero segundo o Divino Bem no sent pelo Urim e o Tumim, o brilho do Divino Vero segun Bem no último; pois o Urim é o fogo que brilha; o brilho na Língua Angélica e a integridade na Língua também foi mostrado que as Respostas eram dadas ções da Luz e, ao mesmo tempo, por uma percepção de viva voz , etc. Por isso, que por estas pedras também foram significados os veros segundo os bens no último Sentido da Palavra; as respostas do Céu naõ são dadas senão por êstes veros, porque neste Sentido procedente está em seu Pleno.

&219 - III. OS MESMOS BENS E OS MESMOS VEROS SÃO ENTENDIDOS PELAS PEDRAS PRECIOSAS NO JARDIM DO EDEN, ONDE SE DIZ QUE 0 REI DE TIRO TINHA ESTADO.Lê-se em Ezequiel: "Rei de Tiro, tu que selas a medida, cheio de sabedoria e perfeito em beleza; no Eden, o Jardim de Deus, tu estiveste; toda Pedra preciosa era tua cobertura: Rubi, Topázio e Diamante, Turquesa, Sardônia e Jaspe, Safira, Crisóprazo, Esmeralda e Ouro" (XXVIII, 12, 13). Por Tiro na Palavra é significada a Igreja quanto aos conhecimentos do bem e do vero; pelo Rei o vero da Igreja; pelo Jardim do Eden são significadas a sabedoria e a inteligência segundo a Palavra; pelas Pedras preciosas, os veros tornados transparentes pelo bem, tais como estão no Sentido da letra da Palavra e como êstes veros são significados por estas Pedras, é por isso que elas são mencionadas como sua Cobertura; que o Sentido da letra cobre os interiores da Palavra, vé-se acima n. 213.

&220 - IV. OS VEROS E BENS NOS ÚLTIMOS, TAL OS COMO ESTÃO NO SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA, FORAM REPRESENTADOS PELAS AS CORTINAS,OS VÉUS E AS COLUNAS DO TABERNÁCULO. 0 Tabernáculo construído por Moisés no deserto, representava o Céu e a Igreja, por isso a sua forma tinha sido mostrada porJehovah sobre a Montanha do Sinai; daí, Coisas que estavam neste Tabernáculo, a saber, o Candelabro, o Altar de ouro para os perfumes e a

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Mesa de ouro sobre a qual estavam os pães das faces, representavam e significavam os Santos do Céu e da Igreja; o Santo dos santos, onde estava a Arca da Aliança, representava e significava o íntimo do Céu e da Igreja; a Lei mesma gravada sobre as duas tábuas significava a Palavra; e os Querubíns que estavam sobre ela significavam os guardas a fim de que os santos da Palavra não fossem violados. Ora, como os externos tiram sua essência dos Internos e, uns e outros, tiram a sua do íntimo, que lá era a Lei, é por isso que os santos da Palavra eram representados e significados por tôdas as coisas do tabernáculo; segue-se daí, que os últimos do Tabernáculo ortinas, os Véus e as Colunas, isto é, as coberturas, os continentes e a consolidação significavam os últimos da Palavra, que são os Veros e os Bens do sentido de sua letra; é por causa desta signifição que "todas as Cortinas e todos os jacinto Véus foram feitos de fino linho tecido, de jacinto e de púrpura e de escarlate duplamente tinto, com querubíns" (Exodo 26, 1, 31, 36). 0 que foi representado e significado, em geral e em particular, pelo Tabernáculo e por todas as coisas que ele continha, foi explicado nos "ArcanosCelestes" sobre este Capítulo do Êxodo, e aí foi mostrado que as, Cortinas e os Véus representavam, os Externos do Céu e da Igreja, por conseqüência, também os externos da Palavra; que o fino linho significava o Vero de origem celeste; a púrpura, o Bem celeste; o escarlate duplamente tinto, o bem espiritual; e os querubins, os guardas dos interiores da Palavra.

&221 - V. OS MESMOS VEROS E OS MESMOS BENS SÃO SEMELHANTEMENTE ENTENDIDOS PELOS EXTERNOS DO TEMPLO DE JERUSALÊM.Isto provém de ser o Templo, do mesmo modo que o Tabernáculo, representativo do Céu e da Igreja, mas o Templo representava o Céu onde estão os Anjos espirituais; e o Tabernáculo o Céu, onde estão os Anjos Celestes; os Anos espirituais são os que estão na Sabedoria pela Palavra; e os Anjos Celestes os que estão no Amor pela Palavra. Que o Templo de Jerusalém, no Sentido supremo, tenha significado o Divino Humano do Senhor, é o que o Senhor mesmo ensina em João: "Destruí este Templo e em três dias eu o levantarei; Ele falava do Templo do Seu Corpo" (11, 19, 21); e onde é entendido o Senhor, é entendida também a Palavra, pois Ele mesmo é a Palavra. Agora, como os Interiores do Templo representavam os Interiores do Céu e da Igreja, por conseguinte, também os da Palavra, resulta que seus Exteriores também representavam e significavam os exteriores do Céu e da Igreja, por conseqüência, também os da Palavra, que são coisas pertencentes ao Sentido da letra. A respeito dos Exteriores do Templo, lê-se "que foram construídos de pedra inteira não talhada; e de Cedro por dentro; e que tôdas as Paredes por dentro tinham sido esculpidas com Querubins, Palmas e Flores abertas e com o sol coberto de ouro" (I Reis VI, 7, 29, 30); por todas estas coisas são também significados os Externos da Palavra, que são os Santos do Sentido da letra.

&222 - VI. A PALAVRA EM SUA GLÓRIA F SENTADA NO SENHOR QUANDO ÊLE SE TRANSFIGUROU.Lê-se a respeito da transfiguração do Senhor diante de Pedro, Tiago e João, "que Sua face resplandecia com Suas vestimentas tomaram-se como luz e que Moisés ram vistos conversando com Ele; que uma nuvem cobriu os Discípulos; e que da nuvem foi ouvida uma Este é o meu Filho bem amado, escutai-O" (Mateus XVII, 1 a 5). Fui informado que o Senhor então representava a Palavra;, e Sua Face que resplandecia como o Sol, representava o Divino Bem de Seu Divino Amor; as Suas Vestimentas, que se tornaram como a luz, representavam o Divino Vero de Sua Divina Sabedoria; Maisés e Elias, a

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Palavra Histórica e Profética; Moisés, a Palavra que foi escrita por êle e em geral a Palavra Histórica; e Elias, toda a Palavra Profética; a Nuvem brilhante que cobriu os Discípulos, a Palavra no Sentido da letra por isso, é desta nuvem que foi ouvida uma Voz, dizendo: Éste é meu Filho bem amado, escutai-0. Com efeito, todos os Enunciados e tôdas as Respostas do Céu jamais se fazem a não ser pelos últimos, tal como estão no Sentido da letra da Palavra, pois êstes enunciados e estas respostas se fazem no Pleno pelo Senhor.

&223 - VII. 0 PODER DA PALAVRA NOS úLTIMOS FOI REPRESENTADO PELOS NAZIREUS.No Livro dos Juízes, lê-se a respeito de Sansão, que êle era Narizeu desde o ventre de sua mãe; e que sua Força Consistia em seus cabelos; Nazireu e Narizeato significam, por isso, cabelos; que sua Força tenha enha consistido em seus Cabelos, êle mesmo o declarou, dizen - "A navalha não subiu sobre minha Cabeça porque sou Nazireu desde o ventre de minha mãe; se for raspado, então se retirará de mim a minha força, me tomarei fraco e serei como todos os outros homens omens11 (Juízes, 16, 17). Ninguém pode saber por que foi instituído o Nazireato que significa Cabelo, nem donde vem que a força de Sansão consistia nos seus Cabelos, não se ignora o que é significado na Palavra pela Cabeça: a Cabeça significa a inteligência que o Senhor concede aos Anjos e aos Homens pelo Divino Vero; daí os Cabelos significarem a inteligência nos últimos ou nos extremos segundo o Divino Vero. Como é isto que é significado pelos cabelos, eis por que o estatuto para os Nazireus era "não raspar a cabeleira de sua Cabeça (Numeros 6, 1 a 21); e é também por isso que foi estatuído, "que o Sumo Sacerdote e seus Filhos não raspassem a Cabeça, para que não morressem; e contra toda a casa de Israel não se irritasse Jehovah" (Levitico 10, 6). Como os Cabelos, em razão desta significação que provinha da correspondência, tinham uma tão grande santidade, o Filho do homem, que é o Senhor quanto à Palavra, é descrito também quanto a seus cabelos; se diz "que eram como Lã branca, como a neve" ( Apoc. 1, 14); o Ancião de dias é descrito da mesma maneira (Daniel VII, 9) . Como os Cabelos significam o Vero nos últimos, assim o sentido da letra da Palavra, aquêles que desprezam a palavra tormam-se calvos no Mundo espiritual e vice-versa; os que despresaram muito a Palavra e a consideram como Santa, aparecem, com uma cabeleira conveniente; por causa desta correspondência aconteceu que quarenga e dois meninos foram feitos em pedaços por dois Ursos, porque tinham chamado Eliseu de Calvo (II Reis 11, 231 4); Eliseu reprentava a Igreja quanto à Doutrina segundo a Palavra; e os Ursos, a potência do vero nos últimos. Se a a Potência do do Divino Vero ou da Palavra está no Sentido da letra é porque neste Sentido, a Palavra está em seu Pleno porque nêle estão em conjunto os Anjos, dois Reinos do Senhor e os Homens.

&224 - VIII. DA INEFÁVEL POTÊNCIA DA PALAVRA.Apenas alguém sabe hoje que há alguma Potência nos veros, pois se imagina que o vero não é mais que uma palavra dita por alguém que tem o Poder de a fazer executar; e por conseqüência, o vero é únicamente como, um sopro da boca e um som no ouvido, quando, entretanto, o Vero e o Bem são os princípios de tôdas as cousas em um e outro Mundo, no Mundo Espiritual e no Mundo Natural; e quando é por- eles que o Universo foi criado e por êles o Universo é conservado e também, por êles, o Homem foi feito; é por isso que êstes dois, o Vero e o Bem, são tudo em tôdas as cousas. Que o Universo tenha sido criado pelo Divino Vero, isso está dito abertamente em João: "No comêço era a Palavra, e Deus era a Palavra; tôdas as cousas por Ela foram feitas; e sem Ela, não foi feito nada do que foi feito;

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e o Mundo por Ela foi feito" (João I, 1, 3, 10); e em David: "Pela Palavra de Jehovah os céus foram feitos" (Salmo 33,, 6); em outra passagem pela Palavra é entendido o Divino Vero. Pois que o Universo criado por êste Vero, é também por Ele que é conservado, pois do mesmo modo que a Subsistência é uma perpétua Existência, do mesmo modo a Conservação é uma perpétua Criação. Que o Homem tenha sido feito pelo Divino Vero é porque tôdas as coisas do homem se referem ao Entendimento e à Vontade; e o Entendimento é o receptáculo do Divino Vero e a Ventade o o Receptáculo do Divino Bem; por conseqüência a Mente humana, que consiste nestes dois princípios, não é outra cousa senão a forma do Divino Vero e do Divino Bem espiritualmente e naturalmente organizada, o Cérebro humano é esta Forma; e como o homem todo depende de sua Mente, todas ascoisas que estão no seu corpo são apêndices que são postos em e vivem por estes dois princípios. Por estas explicaçõspode-se agora ver por que Deus veio como a Palavra ao Mundo e se fez Homem; foi por causa da Redenção; pois então Deus pelo Humano, que era o Divino Vero, se revestiu de todo o poder e repeliu, subjugou e repôs sob sua obediência os Infernos, que tinha crescido até aos Céus onde estavam os Anjos; e Ele fez isso, não por uma Palavra oral, mas pela Palavra Divina Divina, que é o Divino Vero; e em seguida, abriu entre os Infernos e os Céus um grande Abismo, que nenhum dos que estão no Inferno pode atravessar; se algum dêles faz alguma tentativa, é torturado, desde os primeiros passos, como uma serpente serpente colocada sobre uma placa de ferro ao rubro ou sobre montão de formigas; pois logo que os diabos, e os satanases sentem o Divino Vero, precipitam-se imediatamente no profundo, se afundam em Cavernas e as tapam com tanto cuidado que não há uma fenda que fique aberta; e isso é assim porque a sua Vontade está nos males e seu Entendimento nos falsos, assim nos opostos do Divino Bem e do Divino Vero; e como o homem Inteiro consiste, como foi dito, nestes dois princípios de vida, eis por que são tão fortemente feridos, desde a cabeça até aos pés, logo que sentem o oposto. Por isto, pode-se ver que a Potência do Divino Vero é inefável; e como a Palavra que está na Igreja Cristã, é o Continente do Divino Vero nos três graus, é evidente que ela é entendida em João 1, 1, 3, 10. Que a sua Potência seja inefável, posso confirmá- lo por um grande número de documentos da experiência no Mundo espiritual, mas como ultrapassam a fé ou pareceriam incríveis, dispenso-me de apresentá-los, entretanto, pode-se ver alguns deles referidos acima no n. 209. Daí, resultará esta Verdade memorável, que a Igreja que está pelo Senhor nos Divinos Veros, prevalece sobre os Infernos e que, por Isso, o Senhor disse a Pedro: "Sobre esta Rocha edificarei a minha, Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (M XVI, VI, 18); o Senhor pronunciou estas palavras depois que Pedro confessou, "que Ele era o Christo, o Filho de Deus vivo" (vers. 16); esta Verdade é entendida aí pela Pedra; pois a Pedra por toda parte na Palavra significa o Senhor quanto ao Divino Vero.

&225 V - A doutrina da Igreja deve ser tirada do sentido da letra da Palavra, e ser confirmada por esse sentido 225 - No Artigo precedente, foi mostrado que a Palavra no letra está em seu Pleno, em seu Santo e em sua Força; e como o Senhor é a Palavra e é o Primeiro e o Último, assim assim mesmo o disse no Apocalipse 1, 17, resulta daí que o Senhor está presente sobretudo neste sentido; e que, por este sentido, instrui e ilustra o homem; mas isso vai ser explicado nesta ordem:I - A PALAVRA SEM A DOUTRINA NÃO É COMPREENDIDA.

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II - A DOUTRINA DEVE SER TIRADA DO SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA.III - MAS 0 DIVINO VERO, QUE PERTENCE A DOUTRINA, NÃO SE MOSTRA SENÃO AQUELES QUE ESTÃO NA ILUSTRAÇAO PELO SENHOR.

&226 - I. A PALAVRA SEM A DOUTRINA NÃO É COMPREENDIDA.Isto provém de que a Palavra, no Sentido da letra, consiste em puras Correspondências, a fim de que os Espirituais e os Celestes aí estejam ao mesmo tempo; e que, cada palavra seja o seu continente e suporte; é por isso que os Divinos Veros no sentido da letra estão raramente nus, mas são veros vestidos, que se chama Aparências do vero e são acomodados em sua maior parte à concepção dos simples, que não elevam seus pensamentos acima das cousas que vêem; há alguns dêles que aparecem como contradições, quando, entretanto, na Palavra, considerada em sua luz espiritu há contradição alguma; há também em certas Passagens, nos Profetas, coleções de nomes de lugares e de pessoas de que não se pode tirar sentido algum. Uma vez pois que a Palavra é assim no Sentido da letra, podese ver que ela não pode ser compreendida sem a Doutrina. Mas exemplos vão ilustrar êste ponto. Foi dito que "Jehovah se arrepende" (Êxodo 32, 12, 14; Jonas III, 9; IV, 2); e foi dito também que "Jeovah não se arrepende" (Num. 23, 19; 1 Samuel XV, 29); sem a Doutrina essas passagens não podem se conciliar. Foi dito que "Jehovah visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração" (Num. 14, 18) 18); e foi dito também que "não morrerá o pai pelo filho, nem o filho pelo pai, mas cada um em seu pecado" (Deut. 24 16); estas passage es o o em discordância, mas em concordância pela Doutrina. J disse: "Pedi e vos será dado; procurai e achareis; batei e vos será aberto" (Mateus VII, 7, 8; XXI, 21, 22); sem a Doutrina, acreditar-se-á que cada um deve receber o que pede, mas pela Doutrina, sabe-se que tudo o que o homem pede segundo o Senhor é dado; é mesmo o que o Senhor ensina: "Se habitardes em Mim e as minhas palavras em vós habitarem, tudo o que quiserdes pedir, vos será feito" (João XV, 7). O Senhor disse: "Bem-aventurados os pobres porque dêles é o Reino de Deus" (Lucas VI, 20); sem a Doutrina pode-se pensar que o Céu é para os pobres e não para os ricos, mas a Doutrina se deve entender os pobres de espírito, pois o Senhor aventurados os pobres de espírito porque dêles é Céus" (Mateus V, 3). 1, o Senhor disse: disse: "Não julgueis para que não sejais julgados; com o julgamento com que julgais sereis julgados" (Mate VI, 37); sem a Doutrina podemos ser levados a confi que não se deve julgar que o mau é mau; entretanto, segui a Doutrina é permitido julgar, porém, justamente, pois o Senhor disse: "Com um julgamento justo julgai" João VII, 24). Jesus disse: "Não deixeis vos chamar Doutor, pois um só é vosso Mestre, o Christo; e não chameis alguém vosso pai sobre a Terra, pois pois um só é vosso Pai, Aquêle (que está) nos Céus; e não sede chamados Mestres, pois um só é vosso Mestre, o Christo" (Mateus XXIII, 8, 9, 10); sem a Doutrina, resultará que não é permitido chamar alguém de Doutor, Pai ou Mestre, mas segundo a Doutrina sabe-se que isso é permitido no sentido natural, mas não no sentido espiritual. Jesus disse aos Discípulos: "Quando o Filho do homem estiver sentado sobre o Trono de sua glória, vós estareis sentados também sobre doze Tronos, julgando as doze Tribos de Israel" (Mateus XIX, 28); segundo estas palavras, pode-se concluir que os Discípulos do Senhor devem atambém julgar, quando, entretanto, não podem julgar pessoa alguma; a Doutrina revelará portanto este arcano, dizendo que o Senhor, qu onisciente e conhece os corações de todos, deve julgar só pode julgar; e que pelos Seus doze Discípulos se entende a Igreja quanto a todos os veros e a todos os bens que vêm do Senhor pela Palavra; donde a Doutrina conclui que estes veros e estes bens devem julgar a cada um,

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segundo as palavras do Senhor em João III, 17, 18; XII, 47, 48. Há na Palavra um grande número de passagens a estas, pelas quais é bem evidente que a Palavra sem a Doutrina não é compreendida.

&227 - A Palavra pela Doutrina é não somente compreendida, mas brilha mesmo no entendimento, pois é como um Candelabro com suas lâmpadas acesas; o homem vê então -tiais coisas do que tinha visto antes e compreende também coisas que não tinha compreendido antes; as coisas obscuras e discordantes, ou não as vê e as deixa de lado, ou as vê e as explica, de sorte que estão de acordo com a Doutrina. Que a Palavra seja vista pela Doutrina e seja também explicada pela Doutrina, é o que atesta a Experiência no Mundo Cristão. Todos os Reformados vêem a Palavra segundo sua doutrina e explicam a Palavra segundo essa Doutrina; igualmente, os Católico-Ramanos pela sua; os Judeus também pela sua e segundo a sua; consqüentemente, nela se vêem falsos segundo uma Doutrina falsa; e os veros segundo uma Doutrina verdadeira. Por isso é evidente que a verdadeira Doutrina é um facho nas trevas e comol um poste indicador nos caminhos.

&228 - Por isso, pode-se ver e lêem a Palavra sem a Doutrina, estão no escuro a respeito de toda verdade verdade e sua Mente é vaga e incerta, inclinada erro e facilmente disposta às heresias que abraçam, se aspiram ao favor ou à autoridade, quando sua reputação não corre risco algum. A Palavra, com efeito, é para eles como um Candelabro sem luz; vêem na sombra como muitas cousas e, entretanto, apenas vêem alguma cousa, pois a Doutrina só, é o facho. Vi tais pessoas examinadas pelos Anjos achou-se que podiam confirmar pela Palavra o que lhes aprouvesse, e confirmam principalmente que se relaciona com o amor delas mesmas e com o amor daqueles por quem se interessam; mas eu as vi despojadas das roupas, sinal de que estavam sem veros; lá as roupas são os veros.

&229 - II. A DOUTRINA DEVE SER TIRADA DO SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA E CONFIRMADA POR ESTE SENTIDO.A razão disto é que o Senhor está presente neste Sentido e que êle ensina e ilustra, pois o Senhor não opera jamais senão no Pleno; e a Palavra no Sentido da letra, está em seu Pleno como foi mostrado acima; daí, resulta que a Doutrina deve ser tirada do seu do 'seu Sentido da A Doutrina do Vero real pode mesmo ser tirada plenamente do sentido literal da Palavra; pois, neste Sentido, a Palavra é como um homem vestido, cuja face está nua e cujas mãos também estão nuas; tôdas as cousas que pertencem à fé e à vida do homem do homem, assim como as que pertencem à sua salvação, aí estão nuas; mas tôdas as outras estão vestidas; em vários lugares, onde estão vestidas, são vistas através de suas roupas, como se vê uma mulher através de uma gase ligeira colocada diante de sua face; e mesmo os Veros da Palavra brilham e se mostram assim cada vez mais claramente, quando são multiplicados pelo amor que se tem por Ele se quando são postos em ordem por êsse amor.

&230 - Poder-se-ia crer que a Doutrina do vero real pode ser adquirida pelo Sentido Espiritual da Palavra que é dado pela ciência das correspondências; mas por êste Sentido, a Doutrina não é adquirida, é únicamente ilustrada e corroborada; pois, como foi dito precedentemente, n. 208, o homem pode falsificar a Palavra por algumas correspondências que, conheça, ligando-as e aplicando-as para confirmar o que está ligado a sua Mente por um princípio assentado. Aliás, o Sentido espiritual a quem quer que seja senão pelo Senhor

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só, e o Senhor vela sobre o Sentido espiritual como vela sobre o Céu Angélico, pois este Céu está nesse Sentido.

&231 - III. 0 VERO REAL, QUE DEVE PERTENCER A DOUTRINA, NÃO SE MO 0 SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA SENÃO AQUELES QUE ESTÃO NA ILUMINAÇÃO PELO SENHOR.A ilustração vem do Senhor só só e está naqueles que amam os veros porque são veros e qu os tomam usos da vida; nos outros, não há ilustração pela Palavra. Se, a ilustração vem do Senhor só, é porque a Palavra vem d'Ele .e, por conseguinte, Ele mesmo está na Palavra; se a ilustração está com aquêles que amam os veros porque são veros e os tornam usos da vida, é porque estes estão no Senhor e o Senhor está nêles, pois o Senhor é- a Verdade mesma, como foi mostrado no Capítulo sobre o Senhor e então, o Senhor é amado quando vivemos segundo os Seus Divinos Veros, assim quando os usos são feitos segundo êstes Veros, conforme estas palavras em João: "Naquele dia conhecereis que estais em Mim e, Eu em vós; aquêle que tem os meus preceitos e os faz, êsse Ma ama e Eu o amarei e Me manifestarei a êle; e virei a êle e farei morada nêle" (XIV, 20, 21, 23) . Eis os que estão na ilustração quando lêem a Palavra e nos quais a Palavra está em seu brilho e em sua transparência. Se neles a Palavra está em seu brilho e ua transparência, é porque há em cada coisa da Palavra um Sentido espiritual e um Sentido celeste e êstes Sentidos estão na Luz do Céu; é por isso que, por estes Sentidos e por sua luz, o Senhor influi no Sentido natural da Palavra e em sua luz no homem; por isso, o homem pela percepção interior, reconhece o Vero, em seguida em seu pensamento o vê e isso tôdas as vezes que está do Vero pelo Vero; pois, da afeição vem a percepção, da pé ção o pensamento e assim vem o reconhecimento, que é chia do fé.

&232 - 0 contrário acontece aqueles que lêem a Palavra segundo a Doutrina de uma Religião falsa; e mais particularmente aos que confirmam esta Doutrina pela Palavra em que em então em vista a sua própria glória e as riquezas do Mun nêles os Veros da Palavra estão como na sombra da noite e os falsos como na luz do dia; lêem os veros, mas não os vêem; e se vêem a sua sombra, os falsificam; é dêles que o Senhor disse: "que têm olhos e não vêem; e ouvidos e não ouvem" (Mateus XIII, 14, 15). Daí, a sua luz nas cousas espirituais que pertencem à Igreja, torna-se puramente natural e a vista de sua mente torna-se como a de um homem que vê fantasmas em seu leito quando se acorda, ou como a de um sonâmbulo que se crê acordado enquanto que eatá dormindo.

&233 - Foi-me permitido falar após sua morte com vários homens que que tinham acreditado que brilhariam no Céu como Estrêlas porque, segundo o que diz tinham considerado a Palavra como santa e a tinham lido muito freqüentemente e tinham, reunido várias passagens a dela, pelas quais tinham confirmado os dogmas de sua fé e ti adquirido, por isso, a reputação de homens instruídos; à os fazia crer que seriam Miguéis ou Rafaéis; mas vários dentre eles foram examinados e foi reconhecido que alguns tinham agido pelo amor de si, a fim de serem honrados como Primazes da Igreja; e outros, pelo amor do Mundo, a fim de adquirirem riquezas; quando foram examinados também sobre o que sabiam da Palavra, foi descoberto que nada sabiam do vero real da Palavra, mas que sabiam unicamente o que é chamado vero falsificado, que em si é um falso fétido, pois no Céu exala um odor infecto; e lhes foi dito que isso lhes vinha de que tinham tido por fim a êles mesmos e ao Mundo quando liam a Palavra, e não o vero da fé e o bem da vida; e que

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quando se tem por fim a si si mesmo e ao Mundo, a Mente lendo a Palavra fica ligada a si mesma e ao mundo; por conseguinte, pensa segundo o próprio; e e o Próprio do homem está na obscuridade quanto a tudo que pertence ao Céu e à Igreja; neste estado o homemen ser tirado de seu próprio pelo Senhor, nem ser elevado à do Céu, nem receber influxo algum do Senhor pelo Céu. Vi também estes admitidos no Céu e quando foi descoberto que não tinham vero algum, foram expulsos, mas não obstante permanecia nêles o orgulho,de ter mérito. Foi completamente diferente com os que tinham estudado a Palavra pela afeição de saber o vero porque é o vero e porque serve aos usos da vida, não somente da sua própria, mas também da do próximo; eu os ti elevados ao Céu, e assim à luz onde está o Divino Vero; e então, ao mesmo tempo, exaltados na Sabedoria Angélica, em sua felicidade em que estão os Anjos do Céu.Pelo sentido da da letra da Palavra há conjunção com o Senhor e consociação com os Anjos

&234 - Que pela Palavra há conjunção com o Senhor, é porque Ele mesmo é a Palavra, isto é, o Divino Vero mesmo e o Divino Bem mesmo na Palavra; que pelo Sentido da letra haja conjunção, é porque neste Sentido a Palavra está em seu pleno, em seu santo e em sua potência como foi mostrado acima, Artigo IV; esta conjunção não é aparente para o homem, mas está na afeição do vero e em sua percepção. Que pelo Sentido haja consociação com os Anjos do Céu, é porque neste,há o Sentido espiritual e o Sentido celeste; e os Anjos dois sentidos, os Anjos do Reino espiritual do Senhor, no Sentido espiritual da Palavra, e celeste, no seu Sentido celeste; êstes dois sentidos se desprendem do Sentido natural da Palavra quando o homem, que considera a Palavra como santa, a lê. 0 desprendimento instantâneo, por conseqüência também a consociação.

&235 - Que os Anjos es lãs, am no Sentido espiritual da Palavra e os Anjos celestes no o tido celeste, é o que me foi manifestado por um grande número de experiências; me foi dado perceber que enquanto eu lia a Palavra no Sentido da letra, se fazia uma comunicação com os Céus, ora com uma de suas sociedades, ora com uma outra; e que eu entendia segundo o Sentido natural, os Anjos espirituais o entendiam segundo o Sentido espiritual e os Anjos celestes tes segundo o Sentido celeste; e isso, no mesmo instante; como percebi. milhares de vêzes essa comunicação, não me fie dúv ficou dúvida - alguma a seu respeito. Há também Espíritos, que estão abaixo do ficou dúvida alguma Céus e que abusam desta comunicação, pois reei recitam algumas passagens do Sentido da letra da Palavra e observam e notam a Sociedade com a qual se fez a comounicação. Por estas circunstâncias me foi dado saber, por viva experiência, que a Palavra, quanto ao Sentido da letra, é um meio Divino de conjunção com o Senhor e de e de consociação com, os Anjos do Céu.

&236 - Mas vai ser ilustrado por Exemplos, como os Anjos espirituais percebem seu sentido, e os Anjos Celestes, o seu, segundo o Sentido natural, quando o homem lê a Palavra a Palavra; tomemos, para Exemplos, quatro preceitos do Decálago: o: o quinto preceito: Não matarás. Por isto o homem entende não somente matar, mas também ter ódio e aspirar vingança até desejar a morte de seu inimigo; o Anjo espiritual, por matar, entende agir como um diabo e fazer perecer a alma do homem; Anjo celeste, por matar, entende ter ódio ao Senhor e à Palavra. 0 sexto preceito: Não cometerás adultério. Por cometer adultério, o homem entende também entregar-se à escortação, praticar ações obscenas, sustentar propósitos lascivos, e ter pensamentos impuros por cometer adultério, o Anjo

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espiritual entende adulterar os bens da Palavra e falsificar seus ver-os; e, por cometer adultério, o Anjo celeste entende negar o Divino do Senhor e profanar a Palavra. 0 sétimo preceito: Não furtarás. Por furtar, o homem entende furtar, fraudar e, sob qualquer pretexto que seja arrebatar ao próximo o que lhe pertence; por furtar, o Anjo espiritual entende privar os outros dos veros e dos bens de sua fé pelos falsos e pelos males; por furtar, o Anjo celeste entende o que pertence ao Senhor e apropriar-se de sua jusmérito. 0 oitavo preceito: Não levantarás falso testemunho. Por levar falso m entende também, mentir e difamar alguém; o anjo espiritualentende, por levar falso testemunho, dizer e persuadir que o falso é o vero e que reciprocadamente; o Anjo celeste entende, por o mal é o bem, e reciprocadamentelevar falso testemunho, bIasfemar o Senhor e a Palavra. Por estes exemplos, pode-se ver como o Sentido o espiritual e o Sentido celeste são desprendidos e tirados do Sentido natural da Palavra, no qual eles estão; e; o que é surpreendente, os Anjos extraem os sentidos que lhes são próprios, sem que saibam o que o homem pensa; mas não obstante os os pensamentos dos Anjos e dos homens fazem um pelas correspondências, como o fim, a causa e o efeito; e mesmo, na realidade, os fins estão no Reino celeste, as causas no Reino espiritual e os efeitos no Reino natural; resulta daí, que há consociação dos homens com os Anjos pela Palavra.

&237 - Se o Anjo espiritual tira e faz sair do Sentido da letra da Palavra, os espirituais; e o Anjo celeste, os celestes, é porque os espirituais e os celestes concordam e são homogêneos com a natureza desses Anjos; que seja assim, isso pode ser ilustrado por cousas semelhantes nos Três Reinos da natureza, chamados Reino Animal, Reino egetal e Reino Mineral. No reino animal: Do alimento, quando se torna Quilo, os Vasos tiram e fazem sair seu sangue, as fibras nervosas, seu suco; e as substâncias que são as origens das fibras, seu espírito. No reino vegetal: A Arvore, com seu tronco, seus galhos, suas fôlhas e seus frutos se sustentam pela raiz, a qual, do humus, tira e faz sair um suco mais grosseiro para o tronco, galhos e folhas; mais puro, polpa dos frutos e para as sementes dentro dos frutos.No reino mineral: No seio da terra há, em alguns lugares, Minas de ouro, prata, de cobre e de ferro; dos vapôres e dos eflúvios das rochas, o ouro tira seu alimento, a prata o seu (o cobre o seu), o ferro o seu; e as águas os carreiam para todos os lados.

&238 - A Palavra na letra, é como um Cofrezinho, no qual estão colocadas, em ordem, pedras preciosas, pérolas e diademas; o homem que considera a Palavra como Santa e que a lê para os usos da vida, é por comparação, quanto aos pensamentos da mente, como aquêle que tem à mão um tal Cofrezinho, o envia ao Céu, ele chegam aos Anjos, que ficam profundamente satisfei las e exáminá-las; esta satisfação dos Anjos é comunicada ao homem, faz a consociação de percepções. E por esta consociação com os Anjos e, ao mesmo tempo pela conjunção com o Senhor, que foi instituída a Santa Ceia, na qual o Pão torna-se no Céu Divino Bem e o Vinho Divino Vero, um e outro pelo Senhor. Uma tal Correspondência existe pela Criação, a fim de que o Céu o Céu Angélico, a Igreja nas Terras e, em geral, o Mundo espiritual com o Mundo natural, façam um, e que o Senhor se conjunte com com um e com e cora o outro ao mesmo tempo.

&239 - Se a Consociação do, homem com os Anjos se faz pelo Sentido natural ou literal da Palavra, é também porque em cada homem há, por criação, três graus de vida: o celeste, o espiritual e o natural; mas o homem está no natural enquanto está no Mundo; e então somente no espiritual angélico, tanto quanto está nos veros reais; e somente no celeste,

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tanto quanto está na vida segundo êstes veros; mas, entretanto, êle não vem ao espiritual mesmo e ao celeste mesmo senão depois depois da morte porque o espiritual e o celeste estão encerrados e escondidos nas suas idéias naturais; é por isso que, quando pela morte o natural se vai, o espiritual e o celeste ficam; e então, por eles se fazem as idéias de seu pensamento. Por isso, pode-se ver que na Palavra só há espírito e vida como o Senhor : "As Palavras que vos dou são espírito e vida" (João VI, 63). "A Água que Eu vos darei, se tornará uma fonte de água jorrando para a vida eterna" (João IV, 14). "Não só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus" (Mateus IV, 4). ''Trabalhai pelo alimento que permanece durante a vida eterna, o qual o Filho do homem vos dará" (João VI, 27).

&240 VII - Em todos os céus há a Palavra; e por conseqüência há a sabedoria angélica240 - Que nos Céus há a Palavra, até hoje não se sabia; e não se podia saber, enquanto a Igreja ignorava que os Anjos e os Espíritos são homens, absolutamente semelhantes pela face e pelo corpo aos homens em nosso Mundo; e que, entre êles, as coisas são em tudo semelhantes às que existem entre os ho esta única diferença: que êles são Espirituais e que -as cousas que estão entre êles são de uma origem espi enquanto que os homens no Mundo são naturais e tôdas as nêles são de uma origem natural. Enquanto se estêve ignorância, não se pôde saber que nos Céus há também a Palavra e que ela é lida pelos Anjos que ai estão e também pelos Espíritos que estão abaixo dos Céus. Mas, para que isto não ficasse perpètuamente desconhecido, me foi dado estar em sociedade com os Anjos e com os Espíritos, conversar com êles, ver o que existe entre eles e, p, em seguida, relatar um grande número de coisas que vi e ouvi; ouvi; isto isto foi feito no Tratado Do Céu e do Inferno, publicado em Londres em 1758; pode-se ver aí, que os Anjos -e os Espíritos são homens e têm em abundância tôdas as cousas que estão com os homens no Mundo. Que os Anjos e -os Espíritos sejam homens, vê-se nesse Tratado, ns. 73 a 77, e ns. 453 a 456, e também, que há entre êles coisas semelhantes às que estão entre os homens no Mundo, ns. 170 a 190; que há também um Culto Divino e Pregações nos Templos, ns. 221 a 227; que êles têm Escritos e também Livros, ns. 258 a 264; e que possuem a Escritura Santa ou a Palavra, n. 259.

&241 - Quanto ao à Palavra no Céu, ela foi escrita em um estilo es difere inteiramente do estilo natural; o estilo espirituail te em puras letras, cada uma das quais envolve um entido; e acima, entre essas letras há pequenas linhas, curva pontos que exaltam o Sentido. As letras, entre os Anjos do o espiritual, são semelhantes às letras tipográficas em nosso Mundo; e as letras entre os Anjos do Reino celeste, são semelhantes, entre alguns, às letras Arabes, entre outros às antigas letras hebraicas, mas encurvadas em cima e em bai i com sinais em cima, entre e dentro, cada um dos quais en ve também um Sentido inteiro. Como tal é sua escrita, os n es de pessoas e de lugares na Palavra entre êles e em ais e foram marcados com um sinal; por isto, os sábios compreendem o que há espiritual e de celeste significado por cada nome; assim, Moisés, a a Palavra de Deus escrita por êle, no sentido comum, a Palavra Histórica; por Elias, a Palavra Profética; por Abrahão, Isaac e Jacob, o Senhor quanto ao Divino Celeste, ao divino espiritual e ao e ao Divino natural; por Aharão, o Sacerdócio; por David, a Realeza, um e outra pertencentes ao Senhor; pelos Nomes dos filhos de Jacob ou das doze tribos de Israel, as diversas coisas do Céu e da Igreja; pelos nomes dos doze discípulos do Senhor, estas mesmas coisas por Sião e Jerusalém, a Igreja quanto à Doutrina da Palavra; pela Terra de Canaan, a Igreja, mesma;

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pelos Lugares e as Cidades desta terra daquém e dalém do Jordão, diferentes cousas que pertencem à Igreja e à s trina. Acontece o mesmo com os Números; eles não se en também nas Palavras que estão no Céu, mas em seu lugar, há coisas às quais os números correspondem. Por isso, que no Céu a Palavra é, quanto ao Sentido literal, semelhante***missing page 283***

&243 VIII A Igreja existe pela Palavra, e tal é o entendimento da Palavra no homem, tal é a Igreja. 243 - Que a Igreja existe pela Palavra, isso não pode ser posto em dúvida, pois foi mostrado acima, que a Palavra é o Divino Vero, ns. 189 que a Doutrina da Igreja é tirada da Palavra, ns. 225 a 233; e que pela Palavra há comunicação com o Senhor, ns. 234 a 239; mas que o entendimento da Pa lavra faça a Igreja, isso pode ser posto em dúvida, pois que há os que crêem ser da Igreja porque têm a Palavra, a lêem ou a ouvem proferir por um pregador; e sabem alguma coisa do sentido da letra, enquanto que ignoram como tal ou qual passagem da Palavra deve ser compreendida; e vários dentre eles pensam que isso é pouco importante; torna-se, portanto, necessário confirmar aqui que é o entendimento da Palavra e não a Palavra que faz a Igreja; e tal é o entendimento da Palavra tal é a Igreja.

&244 - Que a Igreja conforme o entendimento da Palavra, é porque a Igreja é segundo os veros da fé e os bens da caridade; e que estes veros e estes bens são os universais que, não somente foram espalhados em todo o Sentido literal da Palavra, mas estão ainda escondidos dentro como objetos preciosos nos tesouros; as coisas que estão no Sentido literal da Palavra se mostram diante de todo homem, porque influem diretamente nos olhos, mas as que estão escondidas no Sentido espiritual não se mostram senão aqueles que amam os veros porque são veros e que fazem os bens porque são bens; diante destes se manifesta o tesouro que o Sentido literal cobre e guarda; e são estes veros e estes bens que fazem essencialmente a Igreja.

&245 - Que a Igreja seja conforme a sua Doutrina e que a Doutrina seja tirada da Palavra, isso é sabido; todavia, o que instaura a Igreja, não é a Doutrina, mas a integridade e a pureza da Doutrina; por conseqüência, o entendimento da Palavra; quanto a Igrejas especiais, que está no homem em particular, não é a Doutrina que a instaura e a faz, mas é a fé e a vida segundo a fé; semelhantemente, não é a Palavra que instaura e faz a Igrejaespecialmente no homem, mas é a fé segundo os veros e a vida segundo os bens que ele tira da Palavra e aplica. A Palavra é como uma Mina no fundo da qual há em abundancia ouro e prata e onde, interiormente, estão escondidas as pedras mais e mais preciosas; estas minas são abertas segundo o entendimento da Palavra; sem o entendimento da Palavra, tal como é em si, no seu seio e em sua profundeza, a Palavra não fará a Igreja no homem, mais, do que estas Minas, situadas na Asia, fariam a riqueza de um Europeu; isso será diferente para este Europeu se êle estiver entre os à. possuidores e os operários destas minas. A Palavra nos que procuram os os veros da fé e os bens da vida que daí provêm, é como são os são os tesouros do Rei da Pérsia ou dos Imperadores do Mongol e da China;. e os homens da Igreja são como os intendentes destes tesouros, que tivessem a permissão de tirar dêles para seus usos tanto

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quanto lhes aprouvesse; mas aqueles que somente possuem a Palavra e a lêem, sem, entretanto, procurar nem os veros reais para a fé, nem os bens reais para a vida, são como os que sabem por narrações que há lá imensos tesouros, mas que não tocam nem mesmo em um escudo dêles. Os que possuem a Palavra e dela não tiram entendimento algum do vero real, nem tade alguma do bem real, são como aqueles que se crêem o possuidores de riquezas que lhes foram emprestadas por outros ou que se crêem possuidores de por outros ou que se crêem possuidore sde campos, de casas e de mercadorias de outros; que isso seja fantástico, cada um o vê. Assemelh am-se também aos que andam magnificamente vestidos e são con os em equipagens douradas com lacaios atrás, guardas dos e batedores adiante e que, entretanto, nada disso é é de sua propriedade.

&246 - Tal foi a Nação Judaica: é por isso que, como possui a Palavra, foi comparada pelo Senhor ao Rico que estava vestido de púrpura e linho fino e vivia, esplêndidamente cada dia; e que, entretanto, não tinha mesmo tirado da Palavra bastantes veros e bens para ter piedade do pobre , estendido e coberto de úlceras diante de seu vestíbulo; esta ão não somente não se tinha apropriado de vero algum da lavra, mas se tinha apropriado dos falsos em tal abundância, por fim vero algum não se manifestava a ela; pois os veros não veros somente são cobertos pelos falsos, mas são mesmo obliterad. rejeitados; é por isso que os Judeus não reconheceram o as, embora todos os profetas tivessem anunciado a sua Vinda.

&247 - Em vários lugares, nos profetas, a Igreja na nação Israelita e Judaica é descrita como totalmente destruída e aniquilada porque o Sentido ou o Entendimento da Palavra estava falsificado; pois nenhuma outra cousa destrói a Igreja. 0 entendimento da Palavra, tanto verdadeiro como falso, é descrito nos Profetas por Efraim, sobretudo em Hoséas, pois por Efraim, na Palavra, é significado o entendimento da Palavra na Igreja. entendimento da Palavra faz a Igreja, eis por que Efraim, do filho precioso e criança das delícias (Jeremias XXXI, 20). Primogênito (Jeremias XXXI, 9). Poderoso (Zacarias X 7). Munido de arco (Zacarias IX, 13); e os filhos de Efraim. são chamados Armados e Atiradores de arco (Ps. (S. 78, 9); 9); pois o Arco significa a Doutrina da Palavra, combatendo contra os falsos. E' por Isso também que, Efraim foi foi transferido para a direita de Israel e abençoado; e que que, em em seguida, foi aceito emlugar de Rubens (Gen. 42, 5 42, 5, 11 e e segs.). E' ainda por isso que na bênção dos filhos de Israel por Moisés, Efraim, foi elevado acima de todos os outros com seu irmão Manassés, sob o nome de José, seu pai (Deut. 33, 13 a 17). 0 que é a Igreja quando o entendimento da Palavra é destruído, isso também é descrito por Efraim nos Profetas, sobretudo em Hoséas, por exemplo,,' nestas passagens: "Israel e Efraim cairão, Efraim estará em solidão. Efraim é pisado e ferido pelo julgamento (Hoséas V, 5, 9, 11, 12, 13, 14). "Que te farei Efraim? pois que a tua santidade como uma nuvem da aurora e como o orvalho da manhã, se foi embora" (Hoséas VI, VI , 4). "E 4). "Eles não habitarão na terra. de Jehovah, Efraim voltará` ao Egito e na Assíria comerá o que é impuro" (Hoséas IX , 3); a terra de Jehovah é a Igreja, o Egito é o científico do h natural, a Assíria é o raciocínio que dêle procede; é por científico e ao mesmo tempo por este raciocínio que a P é falsificada quanto ao seu entendimento interior;

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por isso que Efraim voltará ao Egito e que na Assíria comerá o que é impuro . "Efraim se apascenta de vento e segue o Euro; todo di ultiplica a mentira e a vastação, aliança com a Assíria êle trata, e o azeite do Egito é levado" (Hoséas XII, 1); apascentar-se de vento, seguir o Euro e multiplicar a mentira e -e a vastação, é falsificar os veros, e assim destruir a Igreja. A mesma coisa é também significada pela escortação de pois a escortação significa a falsificação do entendimento da Palavra, isto é, de seu vero real; nestas passagens: "Eu conhece Efraim; êle se entregou inteiramente à escortação, e Israel contaminado" (Hoséas V, 3). "Na casa de Israel vi coisa medonha; lá Efraim se entregou à escortação e Israel foi contaminado" (Hoséas VI, 10); Israel é a Igreja mesma. e Efraim é o entendimento da Palavra, pelo qual e segundo o qual é a Igreja; por isso se diz que Efraim se entregou à escortação e Israel foi contaminado. Como a Igreja na nação Israelita e Judaica foi completamente destruída pelas falsificações da Palavra, é por Isso que se diz de Efraim: "Como te deixaria, 6 Efraim? como te entregaria, 6 Israel? te daria como, Adamah, e te poria como Seboim?" (Hoséas XI, 8). Ora, por que o Profeta Hoséas, desde o Primeiro Capítulo até ao último, trata da falsificação do entendimento real da Palavra e da destruição da Igreja por esta falsificação, e que a escortação significa a falsificação do vero da Palavra, foi por conseguinte ordenado a este Profeta, para que representasse este estado da Igreja, que tomasse por mulher uma prostituta, Capítulo III. Estas passagens foram referidas, a fim de que que se saiba e seja confirmado pela Palavra, que a Igreja é tal qual é o entendimento da Palavra nela, magnífica e de um grande valor entendimento vem dos veros reais da Palavra,masdestruída e medonha, se vem dos veros falsificados.

&248 IX - Em cada coisa da Palavra há o casamento do Senhor e da Igreja; e por conseguinte, o casamento do Bem e e do Vero

&248 - Que em cada cousa da Palavra haja haja a o Casamento do Senhor e da Igreja e, por consegu conseguinte, o Casamento do bem e do vero, isto até hoje não foi visto e não podia ter sido visto e não podia porque o Sentido espiritual da Palav ra ainda não tinha sido desvendado, e este Casamento não pode ser visto visto senão por êste Sentido; com efeito, há na Palavra, escondidos no Sentido da letra, dois sentidos, que são chamados Espiritual e Celeste; no Sentido espiritual da Palavra o que lhe pertence se refere principalr principalmente à Igreja; e no Celeste, principalmente ao Senhor; mais, no Sentido espiritual o que e lhe pertence se refere ao Divino Vero e no Celeste ao Divino Bem; daí, na Palavra êste Casamento. Mas isto não é evidente senão para aquele e que, pelo Sentidoespiritual e o Sentido celeste da Palavra , conhece as significações das palavras e dos nomes, pois certas pala vras e certos se dizem do Bem, outros do Vero, e outros se referem a um e a outro; é por isso que sem êste conhecimento, este casamento em cada cousa da Palavra não pôde ser visto; tal como é razão pela qual este Arcano não foi desvendado antes. Como existe um tal casamento em cada cousa da Palavra, eis por que tão freqüentemente na Palavra duas Expressões que parecem ser repetições de uma mesma coisa; entretanto, elas

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não são etições, mas uma se refere ao bem e a outra ao vero e as duas, tomadas em conjunto fazem a conjunção, assim uma única cousa. Daí vem também a Divina Santidade da Palavra; pois em toda Obra Divina há o Bem conjunto ao Vero e o Vero conjunto ao Bem.

&249 Diz-se que, em cada cousa da Palavra, há o Casamento do Senhor e da Igreja e, por conseguinte, o casamento do bem e do vero, porque onde há o casamento do Senhor e da Igreja, aí há o casamento do bem e do vero, pois este casamento vem do outro; com efeito, quando a Igreja ou o homem da Igreja está nos veros, o Senhor influi com o bem em seus veros e os vivifica***missing page 289***aqueles que, quando estão no sentido natural, estão também no Sentido espiritual.

&251 - Seria demasiado- longo mostrar, pela Palavra, que há. nela tais expressões duplas que parecem ser Repetições de uma mesma coisa, pois seria preciso encher volumes; mas para tirar a dúvida, vou referir passagens onde se diz ao mesmo tempo Nação e Povo, Contentamento e Alegria. Eis passagens onde Nação e Povo são mencionados: "Ai da Nação pecadora, do Povo carregado de iniqüidade" (Isaías 1', 4). Povos que andavam nas trevas viram uma grande luz, tu multiplicaste a Nação" (Isaías IX, 1, 2). "Assíria, vara de minha oontra a Nação hipócrita eu te enviarei, contra o Povo do meu arrebatamento eu te mandarei" (Isaías X, 5, 6). "Acontecerá erá naquele dia que a raiz de Jischai, erigida para pendão Povos, as Nações a procurarão" (Isaías XI, 10) "Jehovah fere os Povos com uma praga incurável, que domina com cólera sobre as Nações" (Isaías XIV, 6). "Naquele dia trarão à presença de Jehovah um Povo dispersado e pilhado e uma Nação da com o cordel e espezinhada" (Isaías XVIII, 7). "Uni-,, e Te honrará, a cidade das Nações possantes Te temerá" (Isaías XXV, 3). "Jehovah tirará a cobertura que está só os povos e o véu (que está) colera sobre tôdas as Nações" (Isaías XXV , 7). "Aproximai-vos, Nações; e vós Povos, estai ate (Isaías XXIV, 1). "Eu te chamarei para aliança do Povo, p Nações" (Isaías XLII, 6). "Que tôdas as Nações se reúnam e que os Povos" (Isaías XLIII, 3). "Eis, levantarei sobre Nações a minha mão e colera sobre os Povos o seu estandarte"(Isaías XLIX, 22). "Testemunho aos Povos eu o tenho dado, Príncipe e Legislador das Nações" (Isaías LV, 4, 5). "Eis um Povo terra do Setentrião e uma Nação grande dos lados da terra " (Jeremias VI, 22, 23). "Não te farei mais ouvir a calúnia das e o opróbrio dos Povos tu não levarás mais" (Ezequiel 15). "Todos os Povos e as Nações o servirão" (Daniel VII, 14). "Para que mofa deles não façam as Nações e que não digam entre os tempo Onde está seu Deus" (Joel 11, 17). "Os restos do eu Povo os pilharão e os resíduos de minha Nação os terão por herança" (Sefonias 11, 9). "E virão vários Povos e Nações numerosas para procurar Jehovah em Jerusalém" (Zacarias VIII, 22). Meus olhos viram tua salvação, que preparaste diante da face. de todos os Povos, luz para revelação das Nações" (Lucas II, 30-32). "Tu nos resgataste em teu sangue, de todo Povo e Nação"( Apoc. 50, 9). "E preciso que de novo profetizes colera sobre Povos e Nações (Apoc. 10, 11). "Tu me porás à testa das Nações, um Povo que eu não tinha conhecido, me servirá" (S. 18, 44) "Jehovah torna inútil o conselho das Nações e transtornará os pensamentos dos Povos" (Sl. 33, 10) "Tu nos pões em provérbio entre as Nações, em meneio de cabeça entre os Povos" (Sl. 44, 15). 15).

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"Jehovah disporá os Povos sob nossos nós e as Nações sob nossos pés; Jehovah reinará Nações, os voluntários dentre os Povos se congregaram" (Sl. 47, 4, 9, 10). "Os Povos te confessarão e na jubilação estarão as Nações porque julgarás os Povos com justiça e as nações na Terra tu conduzirás" (Sl. 67, 3, 4, 5). Lembra-te de mim, Jehovah, no bel-prazer de teu Povo, a fim de que eu me regozije na alegria de tuas Nações (Ps. (Sl.106, 4, 5); e além disso em vários outros lugares. Se se diz ao mesmo tempo Nações e Povos, é porque pelas Nações são entendidos aqueles que estão no bem; e no sentido oposto, aqueles que estão no mal; e que pelos Povos são entendidos aqueles que estão nos veros; e no sentido oposto, aqueles, que estão nos falsos; é por isso que os que são do Reino Espiritual do Senhor são chamados Povos; e os que são do Reino Celeste do Senhor são chamados Nações; pois no Reino Espiritual todos estão e por conseguinte na inteligéncia; e no Reino Celeste estão nos bens e por conseguinte na sabedoria.

&252 - Acontece o mesmo com muitas outras expressões; assim quando se diz Contentamento to se diz também Alegria, como nestas passagens: "Eis, Contentamento e Alegria, matando boi!' (Isaías XXII, 13) "Contentamento e Alegria eles obterão e fugirão à tristeza e ao gemido" (Isaías XXXV, 10; LI, 11). "Dá casa do nosso Deus foram cortadas a Alegria e o Contentamento" (Joel I, 16). "Eu os privarei da voz de Contentamento e da voz da Alegria" (Jeremias VII, 34; XXV, 10). "0 jejum do décimo mes será para a casa de Jehudah Contentamento e Alegria" (Zacarias VIII, 19). "Estejais Alegres em Jerusalém, tende Contentamento nela" (Isaías LXIV, 10). "Estejais no Contentamento e na alegria, filha de Edom" (Lament. 6, 21). "Na Alegria estarão os Céus e no Contentamento estará a Terra" (Sl. 96, 11). "Tu me farás ouvir Contentamento e Alegria?' (Ps. (Sl. 51, 10). "Contentamento e Alegria serão encontrados em Sião, confissão e voz de canto" (Isaías LI, 3). "Será para ti uma Alegria e muitos, por causa do seu nascimento, terão Contentamento" (Lucas I, 14). "Farei cessar a voz do Contentamento e a voz da Alegria, a voz do noivo e a voz da noiva" (Jeremias VII, 34; XVI, 9; XXV, 10). "Ainda será ouvida neste lugar a voz do Contentamento e a voz da Alegria, a voz do noivo e a voz da noiva" (Jeremias XXXIII, 10, 11); e em outros lugares. Se as as duas expressões, Contentamento e Alegria, são empregadas é por que o Contentamento se diz do Bem e a Alegria se diz do Vero, ou porque o Contentamento se diz do Amor e a Alegria se diz da Sabedoria; pois o Contentamento pertence ao Coração e a Alegria ao Espírito ou antes: o Contentamento pertence à Vontade e a Alegria ao Entendimento. Que o Casamento do Senhor e da Igreja estejam também nestas expressões, isto é evidente, pois se diz: "A voz do Contentamento e a voz da Alegria, a voz do Noivo e a voz da Noiva" (Jeremias VII, 34; XVI, 9; XXXIII, 10, 11); e o Senhor é o Noivo e a Igreja a Noiva; qúe o Senhor seja o Noivo, vê-se em Mateus IX, 15; Marcos 11, 19, 20; Lucas V, 34, 35; e que a Igreja seja a Noiva, ve-se no Apocalipse 21, 2, 9; 22.10, 17; é por isso que João Batista diz, falando de Jesus; "Aquêle que tem a Noiva é o Noivo" (João 111, 29).

&253 - É por causa do Casamento do Divino Bem e do Divino Vero em cada cousa da Palavra, que em um grande número de passagens se diz Jehovah Deus, e e também Jehovah e a Salvação de Israel, como se fossem dois uando entretanto são um; pois por Jehovah é entendido hor quanto ao Divino, Bem do Divino Amor; e por Salvação de Israel, é entendido o Senhor quanto ao Vero da Divina Sabedoria. Que as expressões Jehovah e Deus, Jehovah e o Santo de Israel, sejam empregadas em grande número de passagens e que, entretanto, por elas seja entendido Um Só, ve-se na Doutrina sobre o Senhor Redentor.

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&254 - X - Heresias podem ser tiradas da letra da Palavra, mas mas confirmá-las é perigoso.

Foi mostrado acima que a Palavra não pode ser compreendida sem a Doutrina e que a Doutrina é como um Archote para que os veros reais sejam vistos; e isso porque a Palavra foi escrita por puras Correspondências, donde resulta que muitas cousas nela são Aparências do vero, e não veros nus, e que muitas foram escritas segundo a concepção do homem puramente natural e de tal maneira, que os simples podem compreender a Palavra com simplicidade, os inteligentes com inteligência e os sábios, com sabedoria. Ora, pois que tal é a Palavra, as Aparências do vero, podem ser tomadas por veros nus e quando são confirmadas, tornam-se ilusões que, em si mesmas, são falsos. Por terem sido as Aparências do vero tomadas por veros reais e confirmadas, nasceram tôdas as heresias que existiram e existem ainda no Mundo Cristão. As Heresias mesmas não danam os homens, mas o que dana, é quando, pela Palavra e pelos raciocínios que procedem do homem natural, confirmam-se as falsidades que estão nas Heresias e se tem uma vida má. Com efeito, cada um nasce na Religião de sua Pátria ou de seus Pais, é iniciado nela desde sua infância, depois a retém e não pode por simesmo se desprender dos falsas dessa religião, tanto por causa dos negócios do Mundo como por causa da fraqueza do entendimento para distinguir as verdades religiosas; mas viver mal econfirmar os falsos até destruir o vero real, eis o que dana; pois aquele que fica na sua Religião e crê em Deus, e que se está no seio do Cristianismo - crê no Senhor, considera a Palavra como Santa e vive pela religião segundo os preceitos do Decálogo, este não está ligado aos falsos como por juramento (non jurat in falsa), por isso, desde que ouve os veros e os percebe à sua maneira, pode abraçá-los e assim ser retirado dos falsos; mas não acontece o mesmo com aquêle que confirmou os falsos de sua Religião falso confirmado permanece e não pode ser extirpado; com efeito, depois da confirmação, o falso é como se o homem se tivesse ligado, a ele por juramento, sobretudo se este falso é coerente com o amor de si ou com o orgulho da própria inteligência.

&255 - Conversei no Mundo espiritual, com alguns homens, que tinham vivido há vários séculos e se tinham confirmado nos falsos de sua Religião, e reconheci que eles permaneciam ainda constantemente nos mesmos falsos; também conversei com outros que tinham sido da mesma Religião e que tinham pensado como eles, mas não tinham confirmado em si os falsos dessa Religião e e reconheci que, tendo sido instruídos pelos Anjos, tinham rejeitado os falsos e recebido os veros e que estes tinham sido salvos, mas não aqueles. Cada homem depois da morte é instruído pelos Anjos; e aqueles que vêem os

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veros e pelos veros, os falsos, são recebidos; mas somente aquêles que não se confirmaram nos falsos vêem os veros; aquêles, ao contrário, que se confirmaram nêles não querem ver os veros e se os vêem, se afastam dêles, ou os falsificam; a verdadeira causa disso, é que a confirmação entra na vontade, que a vontade é o homem mesmo e dispõe o entendimento a seu jeito; mas o -conhecimento nu não entra senão no entendimento; e o entendimento não tem direito algum sobre a vontade, por conseqüência, não está no homem senão como alguém que permanece no vestíbulo ou à porta, e não está ainda na casa.

&256 - Mas isto vai ser ilustrado por um exemplo: Em várias passagens da Palavra, a cólera, o arrebatamento, a vingança são atribuídos a Deus, e se diz que *le pune, lança no inferno, tenta e faz várias outras- coisas semelhantes; aquêle que crê nisso com simplicidade é como unia criança e que, em razão desta crença, teme a Deus e se guarda de pecar contra Ele, este este não é danado por esta fé simples. Mas aquele que confirma em si esta fé ao ponto de crer que a cólera, o arrebatamento, a vingança, e assim cousas que têm por origem o nua, estão em Deus, e que pela cólera, o arrebatamento e a vingança Deus pune o homem e o lança no inferno, êste é danado, porque destrói o vero real, que é, que Deus é o Amor mesmo, a Misericórdia mesma e o Bem mesmo; e Aquêle que tem estas qualidades não pode se entregar nem à cólera, nem ao arrebatamento, nem à vingança; se tais paixões são atribuídas a Deus na Palavra, é porque Isso parece assim; são aparências do vero.

&257 - Que muitas coisas no Sen literal da Palavra, se jam Aparências do vero, nas quais estão estão escondidos os os veros reais e que não seja perigoso pensar nem mesmo falar com simplicidade segundo as aparências do vero, mas que seja perigoso confirmá-las porque a confirmação Divino Vero que está escondido dentro delas, é o que pode ser ilustrado por um Exemplo que tomarei na Na porque a Natureza ilustra e ensina mais claramente qu Espiritual. Parece à vista que o Sol seja levado cada dia torno da terra e também, uma vez em cada ano; daí, dizer-se que o Sol se levanta e se deita, que ele faz a manhã, o meio-dia, a tarde e a noitee também, as estações da primavera, do verão, do outono e do inverno e, por conseqüência, os dias e os anos, ra entretanto o Sol f ique imóvel, pois é um Oceano de fogo e seja a Terra que gira cada dia sobre si mesma, e cada ano em torno do Sol; o homem que, por simplicidade e por ignorância, pensa que o Sol executa estes movimentos, não destrói a verdade natural, que a Terra gira em torno de seu eixo e é levada cada ano segundo a Eclítica; mas aquêle que confirma por meio de raciocínios tirados do homem natural, que o movimento aparente do Sol, e mais ainda o que o confirma pela Palavra, porque aí se diz que o Sol se levanta e se deita, êste

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Invalida a verdade e a destrói; e depois mal pode vê-Ia, ainda mesmo que lhe seja mostrada à vista que todo o Céu astral tem em aparência movimentos semelhantes cada dia e cada ano e que, entretanto, não há nem mesmo uma única Estrêla que seja deslocada de seu lugar fixo relativamente a uma outra. 0 vero aparente, é que o Sol executa êstes movimentos; o vero real, éque êle não os executa; entretanto, cada um fala segundo os veros aparentes, dizendo que o Sol se levanta e se deita e Isto é permitido, porque não pode ser de outra forma; mas pensar segundo êste vero depois de uma confirmação, Isto toma o entendimento racional pesado e obscurecido.

&258 - Que seja perigoso confirmar as aparências do vero, que estão na Palavra, pois que daí resulta uma ilusão e que assim o Divino Vero que está escondido dentro, é destruído, eis a causa mesma, é que tôdas e cada uma das coisas do Sentido da letra da Palavra, comunicam com o Céu; pois. , como foi mostrado acima, em tôdas e cada uma das coisas do sentido da letra há um Sentido espiritual; e este sentido se abre quando passa do homem ao Céu; e tôdas as coisas do Sentido espiritual são veros reais; quando, portanto, o homem está nos falsos e aplica aos falsos o Sentido da letra, então aí estão os falsos, e quando os falsos entram, os veros são dissipados; Isto acontece no caminho, passando do homem ao Céu; é, para me servir de uma comparação, como se uma bexiga brilhante cheia de fel fosse lançada contra um homem e que, antes de chegar a ele, ela arrebentasse no ar e o fel se espalhasse de todo lado; logo que este homem sentisse o ar de fel, se afastaria e fecharia a boca, a fim de que a língua não fosse afetada. É também como se um Odre e arcos de cedro, no qual houvesse vinagre cheio de pequenos pequenos os vermes, se rompesse no transporte; o cheiro fétido que exalaria seria sentido pelo homem, que Imediatamente o ar para dissipar o mau cheiro, a fim de que não em suas narinas. E ainda como se retirasse a crosta de uma uma massa, na qual em lugar de amêndoas houvesse uma cobra recém-nascida, que esta cobrazinha parecesse levada pelo vento para os olhos de alguém, é evidente que este se afastaria, a, para evitar de ser atingido. Acontece o mesmo com a lei tura da Palavra pelo homem que está nos falsos e que aplica a esses falsos alguma coisa do Sentido da letra da Palavra, então du rante o caminho para o Céu, o que êle lê é rejeitado a fim de uma tal mistura não influa e não infeste os Anjos; com efeito, quando o falso toca o vero, é como quando a ponta de uma agulha toca uma fibrila de nervo, ou a pupila do olho; sabe-se que a fibrila do nervo se enrola imediatamente em espiral e se dobra sobre si mesma; e que o olho; ao primeiro contacto, se cobre com as pálpebras. Por estas explicações, é evidente que o vero falsificado suprime a comunicação com o Céu e a fecha. Tal é a causa pela qual é perigoso confirmar um a falso herético.

&259 - A Palavra é como um Jardim, que se pode chamar Paraíso Celeste, encerrando todo gênero de coisas, saborosas deliciosas, saborosas, em razão dos frutos; e deliciosas, em razão das flores, tendo em seu centro Arvores de vida perto das quais estão as fontes de água viva e, em sua circunferência, árvores florestais. 0 homem que está, pela Doutrina, nos Divinos veros, está no meio do Jardim onde estão as Arvores de vida e tem, na realidade, o gozo destas cousas saborosas e deliciosas; ,o homem que está nos veros, não pela Doutrina, mas só pelo Sentido da letra, está na circunferência e vê somente as árvores florestais; mas

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aquêle que está na Doutrina de uma Religião falsa e que confirmou nêle os falsos, não está nem mesmo na floresta; reside além em planícies arenosas, onde não há verdura absolutamente. Que tal seja também o estado dêstes homens depois da morte, isso foi mostrado no Tratado do Céu e do Inferno.

&260 - E preciso, além disso, que se q o Sentido da letra é um guarda para os, veros reais, e escondidos dentro, a fim de que não sejam feridos; e esta guarda consiste em que este Sentido pode ser virado de toda maneira e ser explicado conforme é tomado, sem que seu In terno seja ferido e violado; pois não é prejudicial que o Se Sentido da letra etra seja compreendido por um diferentemente de outro; que é prejudicial, é quando o homem tira dele falsos que ão contra os Divinos Veros, o que fazem unicamente , que se confirmaram nos falsos; por isto, ele faz violencia à Palavra o Sentido da letra é um guarda para impedir que o isso aconteça; e exerce esta guarda nos que estão nos falsos pela Ré Religião que não confirmam êstes falsos. 0 Sentido da letra da Palavra como guarda é significado pelos Querubins na Palavra e esta guarda é é também aí descrita por êles. E significada pelos Querubins que, depois de Adão e sua Esposa terem sido expulsos do Jardim do Eden, foram colocados à entrada desse Jardim, a respeito dos quais lemos estas palavras: "Quando Jehovah Deus expulsou o homem, fêz habitar do lado do Oriente do Jardim do Éden os Querubins e a chama da espada que gira de um lado para outro para guardar o caminho da Arvore da vida" (Gênesis 3, 23, 24). 0 que estas palavras significam, ninguém o pode ver, a menos que se saiba o que é significado pelos Querubins, pelo Jardim do Eden, e pela Arvore da vida nesse Jardim; e depois o que é significado pela chama da espada que gira de um lado para o outro; cada uma destas cousas foi explicada nos Arcanos Celestes sobre este Capítulo, a saber, pelos Querubins é significada a Guarda; pelo caminho da Arvore da vida é significada a entrada para o Senhor, entrada que os homens acham pelos Veros do Sentido espiritual da Palavra; pela chama da espada que gira é significado o Divino Vero nos últimos, o qual é como a Palavra no Sentido literal, que pode ser girado da mesma maneira. A mesma cousa é entendida pelos Querubins de ouro colocados sobre as duas extremidades do Propiciatório que estava sobre a Arca, no Tabernáculo (Êxodo 25, 18 a 21); a Arca significava a Palavra porque o Decálogo na Arca era o primitivo da Palavra, os Querubins aí significavam a Guarda; 6, por isso que o Senhor falou com Moisés entre os Querubins (Êxodo 25, 22; 34, 8; Número, 7, 89); - e falou no Sentido natural, pois Éle só fala com o homem no pleno, e o Divino Vero está em seu pleno no Sentido da letra, vede acima ns. 214 a 224. Outra cousa não é significada pelos "Querubins sobre as Cortinas do Tabernáculo, e sobre os Véus" (Êxodo 26, 31); pois as Cortinas e os Véus do Tabernáculo significavam os últimos do Céu e da Igreja; por conseqüência, também os últimos da Palavra, vêde acima n. 220. Nem pelos "Querubins esculpidos sobre as paredes e as portas do Templo de Jerusalém" (I Reis VI, 29, 32, 35) vede acima n. 221. Nem pelos Querubins do Novo Templo (Ezequiel XLI, 18-20). Como os Querubins significam a Guarda para que o Senhor, o Céu, e o Divino Vero, tal como está no interior da Palavra, não sejam imediatamente abordados, mas para que e o sejam mediatamente pelos últimos, por isso mesmo fala do Rei de Tiro: "Tu, que selas a medida, cheio de sabedoria , e perfeito em beleza, no Eden o Jardim de Deus tu estiveste, toda da pedra preciosa foi tua cobertura; tu, Querubim, expanção do que protege. Eu te perdi, Querubim Protetor, no meio das pedras de fogo" (Ezequiel CXXVII, 12, 13, 14, 16). Tiro significa a Igreja quanto aos conhecimentos do vero e do bem; Dor conseguinte, o Rei de Tiro significa a Palavra onde estão estes conhecimentos e de onde êles vêm; que aqui a Palavra no seu último seja significada por

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este Rei e a Guarda pelo Querubim, isso é evidente, pois se diz: ,Tu que selas a medida, toda pedra preciosa foi tua Cobertura; tu, Querubim, expansão do que protege"; e também: "Querubim Protetor"; que pelas pedras preciosas mencionadas também nesta passagem, sejam entendidas as cousas que pertencem ao Sentido da letra, vê-sé acima ns. 217, 218. Como os Querubins, significam a Palavra nos últimos e também a Guarda, em conseqüência, se diz em David: "Jehovah inclinou os Céus e desceu a cavalgada sobre um Querubim" (Sl. 18, 10, 11). "Pastor de Israel, que estás assentado sobre Querubins, mostra-te com brilho" (Sl. 80, 2). "Jehovah assentado sobre Querubins" (Sl. 99, 1). Cavalgar sóbre Querubins, estar assentado sobre êles, é sobre o último sentido da Palavra. 0 Divino Vero na Palavra e sua qualidade são descritos por quatro Animais, que também são chamados Querubins, em Ezequiel, Capítulos I, IX e X, e também pelos quatro Animais no meio do Trono e perto do Trono, Apocalipse 4, 6 e segs. Vede o Apocalipse Revelado publicado por mim em Amsterdam, ns. 239, 275, 314.

&261 XI - 0 Senhor no mundo cumpriu tôdas as coisas da Palavra e por isso foi feita a Palavra, isto é, o divino vero, mesmo nos últimos.261 - Que o Senhor, no Mundo, tenha cumprido todas as cousas da Palavra e, por isso, tenha sido feito o Divino Vero ou a Palavra, mesmo nos últimos, é o que é entendido por esta passagem de João: "E a Palavra Carne foi feita habitou entre nós e vimos a sua Glória;Glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (I, 14); ser feito é ser feito a Palavra nos últimos. 0 Senhor, quando se ou, mostrou aos Discípulos o que Ele era como a Pala vra a últimos (Mateus XVII, 2 e segs.; Lucas IX, 28 e segs.); e diz que Moisés e Elias apareceram na glória; por Moisés é a a. Palavra que foi escrita por éle; em geral, a Palavra Histórica; e por Elias,a Palavra Profética. 0 Senhor como a Palavra nos ultimos, também. foi representado diante de João, no Apocalise (1, 13 a 16); aí, tôdas as cousas de sua descrição significam os últimosdo Divino Vero ou da Palavra. 0 Senhor, tinha sido a Palavra ou o Divino Vero, mas nos Primeiros pois está dito: "No começo era a Palavra e a Palavra estava co m Deus; e Deus era a Palavra" (João 1, 1, 2); mas quando a Palavra se fez Carne, o Senhor se fez a Palavra nos últimos; por isso, Ele é chamado o Primeiro e o último (Apocal. 1, 8, 11, 17; 2, 8; 2120, 12, 13;Isaías XLIV, 6).

&262 - Que o Senhor tenha cumprido tôdas as da Éle .Palavra, isto é evidente pelas passagens onde se diz que por Ele foram cumpridas a Lei, a Escritura, e que tudo foi consumado; assim, por estas: "Jesus disse: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas; vim, não para abolir, mas

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cumprir" (Mateus V, 17, 18). "Jesus entrou na Sinagoga e se levantou para ler; então lhe deram o Livro de Isaías o Profeta; êle desenrolou o Livro e achou o lugar onde estava escrito. 0 Espírito de Jehovah está sobre mim; por isso Ele me ungiu; para anunciar o Evangelho aos pobres Èle me enviou, para curar os quebrantados de coração; para anunciar aos cativos, a liberdade, aos cegos a vista e para publicar o Ano favorável do Senhor; depois, enrolando o Livro, disse: Hoje foi cumprida esta Escritura em vossos ouvidos" (Lucas IV, 16 a 21). "A fim de que a Escritura fosse cumprida: Aquêle que come comigo o pão, elevou sobre Mim o seu calcanhar" (João XIII, 18). "Nenhum dêles se perdeu, senão o filho da perdição, a fim de que a Escritura fosse cumprida" (João XVII, 12). "A fim de que fosse cumprida a Palavra que ele tinha dito: Aquêles que tu Me deste, não perdi um só, deles'' (João XVIII, 9). "Jesus disse a Pedra: Repõe tua espada em seu lugar; como pois seriam cumpridas as Escrituras: Que assim é preciso que seja feito? Mas tudo isso foi feito a fim de que fosse cumprida a Escritura" (Mateus XXVI, 52, 54, 56). "0 Filho do homem vai embora como está escrito d'Ele, a fim de que sejam cumpridas as Escrituras" (Marcos XIV, 21, 49). "Assim foi cumprida a Escritura, que diz: No número dos impios êle foi posto" (Marcos Lucas XXII, 37). "A fim de que a Escritura fosse cum Eles partilharam entre si as minhas vestimentas e sobre minha túnica lançaram a sorte" (João XIX, 24). "Depois disso, Jesus sabendo que tudo estava já consumado, a fim de que fosse cumprida a Escritura" (João XIX, 28). "Quando Jesus tomou nagre, disse: Tudo está consumado, isto é, cumprido" (João XIX 30). "Estas cousas aconteceram a fim de que a Escritura fosse cumprida; os ossos não quebrareis n'Ele; e ainda uma outra diz: Eles verão Aquêle que trespassaram" (João XIX, 36, 37). Que toda a Palavra tenha sido escrita d'Ele e que Ele tenha vindo ao Mundo para a cumprir, é mesmo o que Ele aos ensinou Discípulos nestes termos, antes de ir embora: "Ele lhes disse: Ó insensatos e lentos de coração para crer todas as cousas que pronunciaram os Profetas! Não convinha que o Christo sofresseestas cousas, e que entrasse em Sua glória, Depois, começando por Moisés e (continuando) por todos os Profeta lhes explicou em tôdas as Escrituras as cousas que se re-Ele'' (Lucas XXIV, 25-27). Além disso, Jesus disse: "Que convinha que fossem cumprida as coisas que foram escritas na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos, referentes a Ele (Lucas XXIV, 44, 45). Que o Senhor no Mundo tenha cumprido tôdas as cousas da Palavra até às suas menores particularidades, vê-se claramente por Suas próprias palavras: "Em verdade vos digo: Até que passem o Céu e a Terra, um único jota, ou um único traço de letra, não passará da Lei, sem que tôdas as cousas sejam feitas" (Mateus V, 18). Ora, por tôdas estas passagens, pode-se ver claramente que, por estas expressões, "o Senhor cumpriu tôdas as cousas da Lei", é entendido que Ele cumpriu todas as coisas da Palavra e não simplesmente -todos os preceitos do Decálogo. Que todas as coisas da Palavra sejam mesmo entendidas pela Lei, pode-se ver por estas passagens: "Jesus disse: Não está escrito na vossa Lei? Eu disse: Vós sois deuses" (João X, 34); isto foi escrito no Sl. 82, 6. "A multidão respondeu: Nós aprendemos pela Lei que o Christo permanecerá. eternamente" (João XII, 34); isto foi escrito no Ps. 89, 30; e 110, 4); e em Daniel VII, 14. "A fim de que fosse cumprida a Palavra escrita em sua Lei: Eles me odiaram sem causa" (João XV, 25); isto foi escrito no Ps. Sl. 35, 19. "E' mais fácil que o Céu e a Terra passem do que um único acento da Lei caia" (Lucas XVI, 17). Pela Lei nesta passagem, como também aqui e ali, em outros lugares, é entendida toda a Escritura Santa.

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&263 - Poucas pessoas compreendem como o Senhor é a Palavra, pois pensa-se que o Senhor, pela Palavra, pode ilustrar e ensinar os homens; e que isso não é razão para que Êle possa ser chamado a Palavra; mas que se saiba que cada homem é sua Vontade e seu Entendimento; e que assim um homem distinguido de um outro; e como Vontade é o receptáculo do Amor, te amor; assim de todos os bens que pertencem a este Amor; e que o Entendimento é o receptáculo da Sabedoria, assim de todos os veros que pertencem a esta sabedoria, segue-se q cada homem é seu amor e sua sabedoria ou o seu bem e seu vero; o homem não é homem senão por isso e nenhuma outra coisa a nele é homem. Quanto ao que concerne ao Senhor, Ele é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, assim o Bem mesmo e o Vero mesmo; Ele se fez este Bem e êste Vero por ter cumprido todo bem e todo Vero que estão na Palavra; pois aquele que e não pensa e não pronuncia senão o vero torna-se este vero; e aquele não quer e não faz senão o bem torna-se êste bem; e visto o Senhor cumpriu todo Divino Vero e todo Divino Bem que estão na Palavra, tanto no seu Sentido natural como no seu Sentido espiritual, Ele fez o Bem mesmo e o Vero mesmo, assim a Palavra.

&264 XII - Antes desta Palavra, que estd hoje no mundo, houve uma Palavra que se perdeu.264 - Que antes da Palavra dada à Nação Israelita por Moisés e pelos Profetas, o Culto pelos Sacrifícios tenha sido conhecido e se tenha profetizado segundo a boca de Jehovah, podese ver pelo que foi referido nos Livros de Moisés. Que o Culto pelos Sacrifícios tenha sido conhecido, vê-se por estas passagens: "Foi ordenado aos filhos de Israel para derrubar os Altares das -Nações, quebrar suas Estátuas e cortar seus Bosques" (Éxodo 34, 13; Deut. 7, 5; 12, 1). "Israel começou em Schittin a se entregar à escortação com as filhas de Moab; elas chamaram o povo aos Sacrifícios de seus deuses e o povo comeu deles'' (Números 25, 1-3)' "Balac, que era da Síria, fêz construir Altarese Sacrificou bois e gado" (Números 22.0 , 40; 23, 1, 2, 14, 29, 30). "Profetizou também sobre o Senhor, dizendo que sairia uma Estrela de Jacob e um Cetro de Israel" (Números 24, 17). E "que se tenha profetizado segundo a boca de Jehovah", vê-se em Números 22, 13, 18; 23, 3, 5, 8, 16, 26; 24 1, 13. Por estas passagens é evidente que houve entre as Nações um Culto Divino quase semelhante ao Culto instituído por Moisés para a Nação Israelita. Que êste Culto tenha existido mesmo antes do tempo de Abrahão, vê-se claramente pelas palavras de Moisés, em Deut. 32, 7, 8; mais claramente por Melchisedech Rei de Salem, ter apresentado Pão e Vinho e abençoado Abrão, tendo Abrão lhe dado o Dízimo de tudo (Gênesis 14, 18); e pelo fato de Melchizedech representa o Senhor, pois é chamado Sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis 14, 18); e se diz do Senhor em David: "Tu, Sacerdo ra a eternidade segundo o modo de Melchizedech" (Sal. 111, 4); isto provinha do fato de Melchizedech ter apresentado o e o Vinho como as cousas mais santas da Igreja, do modo que o são na Santa Ceia. Estes fatos e vários outros índices

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marcantes de que antes da Palavra Israelita hou Palavra, da qual foram tiradas tais Revelações.

&265 - nha, havido uma Palavra entre os Antigos, vê-se em Moisés por quem ela é mencionada, e de onde tirou extratos, Nú Números 21, 21.0, 14, 15, 27 a 30; vê-se ai também que os Histórico dessa Palavra eram chamados Guerras de Jehovah e os Prof cos, os Enunciados. Dos Históricos desta Palavra, Moisés tomou esta passagem: "E' por isso que se diz no Livro das Guerras de Jehovah: Vaheb em Suphah, as torrentes de Arnon, o curso das torrentes que declinou até onde está habitada Ar e se detém no termo de Moab" (Num. 21, 14, 15); pelas Guerras de Jehovah nesta Palavra, como na nossa, são entendidos e descritos os Combates do Senhor contra os Infernos e as Vitórias que Êle ganharia sobre êles quando viesse ao Mundo; os mesmos combates são entendidos e descritos em muitos lugares nos Históricos de nossa Palavra, como nas Guerras de Josué contra as Nações da terra de Canaan e nas Guerras dos juízes e dos Reis de Israel. Dos proféticos dessa Palavra foram tiradas as passagens seguintes: "E' por isso que dizem os Enunciados: Entrai em Chesbon; será construída e afirmada a cidade de Sichon; pois um fogo saiu de Chesbon; uma chama, da cidade de Sichon; foi devorada Ar de Moab, os possuidoras das alturas de Amon; Ai de ti, Moab! tu pereceste, povo de Kemosh; êle deu seus filhos que fugiam e suas filhas em cativeiro ao Rei Emorreu. em Sichon; com flechas, nós os derrotamos; pereceu Chesbon até Dihon e devastamos até Medebah" (Num. 21, 27, 30). Os Tradutores escreveram Compositores de Provérbios, mas deviam ser chamados Enunciadores ou Enunciados Proféticos; com efeito, pode-se ver pela significação da palavra Moschalin na Língua Hebraica, que não são somente Provérbios, mas também Enunciados Proféticos como resulta de Números 23, 7, 18; 24, 3, 15, onde se diz que Balac. pronunciou seu Enunciado, que era profético e que concerne mesmo ao Senhorl seu Enunciado é chamado Maschal no singular; é preciso acrescentar que as passagens que Moisés tomou são Proféticos e não Provérbios. Que esta Palavra tenha sido do mesmfo modo Divinamente inspirada s é evidente em Jeremias, onde se encontram expressões quase semelhantes: "Um fogo saiu de Chesbon e uma chama dentre Sichon ; ela devorou o ângulo de Moab e o cimo dos filhos de Schaon. Ai de ti, Moab! pereceu o povo de Kemosh, pois levados foram teus filhos em cativeiro, e tuas filhas em cativeiro" (Jeremias 11, 45, 46). Além disso, se faz menção de um Livro Profético da Palavra An-tiga, chamado Livro de Jaschar ou Livro do Justo, por David e por Josué; por David: "David pronunciou uma uma lamentação sobre Schaul e uma lamentação sobre Jonathan e a inscreveu para s filhos de Jehudah a arca; eis (está) escrita no Livro de Jaschar (II Samuel 1, 17, 18). E por Josué: "Josué em Gibeon repousa e (tu) Lua no vale de Ajalon; isto não está escrito no Livro de

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Jaschar?" (X, 12, 13).

&266 - Pelo que acaba de ser dito, pode-se ver que houve uma Palavra Antiga uma lamentação sobre o Globo, particularmente na Ásia, antes da Palavra Israelita' Que esta Palavra seja conservada no Céu entre os Anjos que viveram naqueles séculos e que da esteja mesmo ainda hoje entre as nações na Grande Tartária, vê. se no Terceiro Memorável, inserido em seguida neste Trátado uma lamentação sobre a Escritura Santa.XIII - Pela Palavra a luz é mesmo comunicada aos que estão fora da Igreja e que não têm a Palavra.

&267 - Não há conjunção possível com o Céu se não houver em alguma parte, sobre a Terra, uma Igreja que esteja de posse da Palavra e que por Ela conheça o Senhor; pois o Senhor é o Deus do Céu e da Terra e sem o Senhor não há salvação; que pela Palavra haja conjunção com o Senhor e consociação com os Anjos, vê-se acima, ns. 234 a 240. E' bastante que haja uma. Igreja na posse da Palavra, quando mesmo essa Igreja seja composta de um pequeno número de homens; por ela o Senhor está. sempre presente sobre todo o Globo, pois por ela o Céu é conjunto com o Gênero, Humano.

&268 - Vai ser dito como pela Palavra há conjunção do Senhor e do Céu em tôdas as terras. 0 Céu Angélico, em presença do Senhor, é como um único Homem, semelhantemente a Igreja nas terras; que o Céu e a Igreja apareçam mesmo efetivamente como um Homem, vé-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 59 a 87. Neste Homem, a Igreja onde a Palavra é lida e onde por ela o Senhor conhecido, o Reino Celeste do Senhor é como o Coração e Espiritual como o Pulmão; do mesmo modo que no Corpo Humano tôdas as outras coisas, Membros, Vísceras e órgãos subsistem e vivem por estas duas Fontes da vida, do mesmo modo m os habitantes do Globo que tem uma Religião, que um único Deus e vivem bem; e que por isso estão neste Homem, representam os Membros e as Vísceras fora do tórax, onde estão o Coração e o Pulmão, subsistem e vivem pela conjução do Senhor e do Céu pela Palavra com a Igreja; pois a Palavra reja Cristã transmite às outras nações a vida procedente d do Senhor pelo Céu, como o Coração e o Pulmão transmitem a ns Membros e às Vísceras de todo o Corpo; a comunicação é or isso semelhante; é mesmo por isso que os Cristãos, ent; quais a Palavra é lida, constituem o Peito dêste Homem e r Isso estão no centro de tudo; em torno deles estão og- Católico-Romanos; em torno destes, os Maometanos que reconhecem o Senhor como um Grandíssimo Profeta e como Filho, de Deus; depois deles vêm os Africanos; e a última circunferência é formada pelos Povos e as Nações da Ásia e das Índias.

&269 - Que seja as-sim em todo o Céu, pode-se concluir de uma disposição semelhante em cada sociedade do Céu, pois cada sociedade é o Céu em uma forma menor, a qual também é COMO um Homem; que seja assim vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 41 a 87. Em cada Sociedade do Céu, os que estão nomeio representam semelhantemente o Coração e o Pulmão e nêles há a maior Luz; a Luz mesma é a Percepção do vero, espalha-se desse meio para as periferias de todo lado, assim para todos que estão na Sociedade e faz sua vida espiritual; foi-me mosdos que estão na Sociedade e faz sua trado que quando os que estão no meio e constituem a província do Coração e do Pulmão, nos quais havia a maior Luz, eram tirados daí os que estavam em torno se encontravam na sombra do entendimento e então em uma fraca percepção do vero, que se lamentavam disso; mas desde que os do

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centro voltavam, ,os que ficavam em torno viam a luz e tinham a percepção do vero como antes. Pode-se fazer uma comparação -com o calor e a luz do Sol do Mundo que dá a vegetação às árvores e aos arbustos, mesmo às que estão sobre os lados e sob uma nuvem, desde que o Sol esteja acima do horizonte. Acontece o mesmo com a Luz e o Calor do Céu procedendo do Senhor como Sol; esta Luz em sua essência é o Divino Vero, donde os Anjos e os homens tiram toda a inteligência e toda sabedoria; por, Isso se diz a xespeito da Palavra "que ela estava com Deus e era Deus; que ilumina todo homem vindo ao Mundo; e que esta Luzbrilha nas trevas" (João 1, 1, 5, 9); aí pela Palavra é enten ido o Senhor quanto ao Divino Vero.

&270 - Por isso pode-se ver que a Palavra está entre os Protestantes e os Reformados, ilustra todas ações e todos os Povos pela comunicação espiritual; e que, além disso , o Senhor provê para que haja sempre na Terra uma Igreja onde a Palavra seja lida e onde por ela o Senhor conhecido; e é por isso que quando a Palavra tinha sido quase rejeitado Católico-Romanos, a Reforma foi feita pela Divina Providência do Senhor; e por isso, a Palavra foi tirada como de um es derijo e posta em uso. Quando também a Palavra tinha sido inteiramente falsificada e adulterada na Nação Judaica e torn quase nula, aprouve então ao Senhor descer do Céu, tornar-se como a Palavra, cumpri-Ia e dar de novo a luz aos habitantes Terra segundo estas palavras do Senhor: "0 Povo que estava sentado nas trevas viu uma Grande Luz; e para aquêles que estavam assentados em uma região e em uma sombra de morte, a Luz se elevou sobre êles" (Isaías IX, 1; Mateus IV, 16).

&271 - Como foi predito que no fim desta Igreja se levantariam trevas por causa do não conhecimento de que o Senhor é o Deus Deus do Céu e da Terra, e por causa da Fé separada da Caridade, em conseqüência, para que o entendimento real da Palavra e assim a Igreja, não perecessem, aprouve ao Senhor revelar agora o Sentido Espiritual da Palavra e mostrar claramente que a Palavra neste Sentido e por este Sentido, no Sentido Natural, contém coisas inumeráveis, por meio das quais a luz quase extinta do vero proveniente da Palavra será restabelecida. Que a Luz do vero, no fim desta Igreja, será quase extinta, isto está predito em um grande número de passagens do Apocalipse e é entendido também pelas palavras do Senhor: "Logo depois da aflição dêstes dias, o Sol será a Lua não dará mais o seu resplendor, as Estrelas talrão do Céu e as Potências dos Céus serão abaladas; e então DA Tribos da terra verão o Filho do homem vir nas nuvens do Céu com glória e força" (Mateus XXIV,29, 30); aí, pelo Sol é entendido o Senhor quanto quanto ao amor; a Lua, o Senhor quanto à fé; pelas Estrelas, o Senhor quanto aos conhecimentos do vero e do bem; pelo Filho do homem, o Senhor quanto à Palavra; pela Glória, o

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Sentido espiritual da Palavra e a sua transparência pelo Sentido da letra; e pela força" sua potência.

&272 - Foi-me dado ver por numerosas experiências, que pela Palavra o homem tem comunicação com o Céu. Quando eu lia atentam te Palavra desde o Primeiro Capítulo de Isaías até ao último de Malaquias e os Salmos de de David e que eu tinha o meu pensamento em seu Sentido espiritual, me foi dado perceber claramente que cada Versículo comunicava com alguma sociedade do Cée e assim toda a Palavra comunicava com todo o Céu; por isso, tornou-se evidente para mim que, como o Senhor é a Palavra, o Céu também é a Palavra, pois que o Céu é Céu pelo Senhor e que ue o Senhor pela Palavra é o tudo em todas as coisas do Céu.XIV - Se não houvesse uma Palavra, ninguém saberia que há um Deus, um Céu e um Inferno, uma vida depois da morte, e ninguém com mais forte razão conheceria o Senhor.

&273 - Como há pessoas que decidem e confirmaram em si, que o homem podia, sem a Palavra, conhecer a existência de Deus e também a do Céu e do Inferno e tôdas as outras coisas que a Palavra ensina, não se pode, portanto, servir-se da P alavra para discutir com êles, mas é preciso empregar-se a luz natural da razão; pois êles crêem não na Palavra, mas em si mesmos. Faze pesquisas pela luz da razão e acharás que há no homem duas Faculdades da vida, que são chamadas Entendimento e Vontade; e que o Entendimento que foi submetido à Vontade e não a Vontade ao Entendimento, pois o Entendimento ensina e mostra unicamente o que deve ser feito pela Vontade; daí vem que há muitos que são de um gênio penetrante e compreendem melhor do que os outros as coisas morais da vida e que, entretanto, não conformam com elas a sua vida; seria de outro modo, se eles quisessem estas coisas. Faze Faze ainda pesquisas e acharás que a vontade do homem é o seu próprio e que este próprio desde o nascimento é o mal; e que, por isso, o falso está no Entendimento. Quando tiveres feito estas descobertas, verás que o homem não quer compreender outra cousa que não seja o que procede de sua vontade; e que, a menos que tenha alguma outra fonte de conhecimento, o homem pela sua vontade não pode compreender outra cousa que não seja o que concerne a êle mesmo e ao mundo; tudo o que está acima está na obscuridade- por exem plo, quando vê o Sol, a Lua e as Estrêlas, se, por ventura, refletisse sÔbre sua origem, poderia deixar de pensar que estes astros existem por êles mesmos? Teria êle pensamentos mais elevalos que os de muitos Sábios do Mundo, que, ainda que saibam pela Palavra que a Criação de tôdas as cousas é devida a Deus, atribuem-na à Natureza? Que teriam, portanto, pensado estes sábios, se nada tivessem sabido da Palavra Crês tu que os Sábios Antigos, como Aristóteles, Cícero, Sêneca e, tros, que escreveram sobre Deus e sobre a Imortalidade da Alma, tenham tirado de seu próprio entendimento as suas primeiras Idéias sobre estes assuntos? Não, mas as tiraram de outros, quais as tinham recebido por tradição daqueles que primitivamente tinham sabido isso pela Antiga Palavra de que se falou acima. Aqueles que escrevem sobre

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a Teologia natural am deles mesmos nada de semelhante, mas confirmam ú ente pelos raciocínios, o que sabem pela Igreja em que há alavra; e entre eles pode haver os que confirmam, mas não crêem.

&274 - Foi-me dado ver Povos nascidos nas. e racionais -quanto às cousas civis, os quais não tinham conhecimento algum sÔbre Deus; apareciam no Mundo espiritual como Esfinges, mas como nasceram homens e, por conseguinte, com a faculdade de receber a vida espiritual, foram instruídos pelos Anjos e vivificados pelos conhecimentos que adquiriram sobre o Senhor-como Homem. 0 que é o homem por si mesmo, vê-se com evidência por aquêles que estão no Inferno, entre os quais se encontram Umbém alguns Prelados e alguns Eruditos, que não querem mesmo ouvir falar de Deus e por esta razão não podem pronunciar o nome Deus; vi estes e conversei com êles; conversei também com aquêles que se entregaram ao ardor da cólera e do arrebatamento quando ouvem alguém falar do Senhor; considera pois qual seria o homem que jamais tivesse ouvido falar de Deus, quando alguns dos que falaram de Deus, escreveram a respeito de Deus, e pregaram sobre Deus, são tais. Se são assim, é por causa de sua vontade que é má; e esta, como foi dito precedentemente, conduz o Entendimento e lhe tira o vero que recebe da Palavra. Se o homem tivesse podido saber or si mesmo que há um Deus e uma vida depois da morte, por que ignoraria que o homem é homem depois da morte? porque crê que sua alma ou seu espírito é como o vento ou o éter e que esta alma ou êste espírito não vê pelos olhos, não ouve pelos ouvidos e não fala pela boca antes de ter sido conjunto e unido com seu cadáver e com seu esqueleto? Imagina, portanto, uma Doutrina tirada só da Luz racional, não consistiria ela em o homem prestar um culto a si mesmo como aconteceu nos tempos passados e como acontece também hoje àqueles que sabem pela Palavra que só Deus deve ser adorado! Nenhum outro culto pode provir do próprio do homem, nem mesmo o culto do Sol e da Lua.

&275 - Se, desde os tempos mais antigos, houve uma Religião e se os Habitantes do Globo tiveram, por toda parte, conhecimentos sobre Deus e algumas noções da vida depois da morte, foi não por eles mesmos mesmos ou por sua própria inteligência, mas pela Antiga Palavra de que se falou acima, ns. 264 a 266, e em seguida pela Palavra Israelita; é destas duas Palavras que as noções religiosas se espalharam nas Índias, nas Ilhas, no Egito e na Etiópia, nos Reinos da África e pelas costas marítimas da Ásia, na Grécia a e daí, na Itália; mas como a Palavra não podia ser escrita senão por meio de Representativos, que são coisas deste Mundo correspondem às cousas celestes, resultou daí que as noções religiosas das Nações foram mudadas em coisas idolátricas; e na Grécia, em coisas fabulosas; e os Atributos Divinos e Propriedades Divinas em outros tantos Deuses governados por uma Deidade Suprema, a que chamaram Júpiter (Joves), palavra derivada, sem dúvida, de Jehovah. Que as Nações tenham tido conhecimento do Paraíso, do Dilúvio, do Fogo sagrado,` das quatro Idades, a começar pela Idade do ouro, até à última, a idade do ferro, como em Daniel, Capitulo 11, 31 a 35, isso é notório.

&276 - Aquêles que acreditam poder, pela própria inteligência, adquirir conhecimentos sÔbre Deus, sÔbre o Céu, o Inferno e sóbre os Espirituais que pertencem à Igreja, não sabem que o homem Natural, em si mesmo, é contra o homem Espiritual e que, em conseqüência, quer extirpar os espirituais que entram, ou envolvê-los com ilusões, as quais são como vermes que devoram as raizes dos legumes e das colheitas. Pode-se comparar

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esses homens aos que sonham que estão montados sÔbre Aguias e que são transportados ao alto no ar; ou sobre Pégasos e que voam sobre a colina do Parnaso para o Helicon; e são de fato como os Lucíferos no Inferno, os quais aí se chamam filhos da aurora (Isaías XIV, 12). São também como os que, -no vale da terra. de Schinear, empreenderam elevar uma torre, cujo cimo iria até ao Céu (Gênesis 11, 2, 4); e põem sua confiança em si mesmos como Golias, não prevendo que podiam ser derrubados como éle por uma pedra de funda lançada sobre a fronte. Direi que sorte os aguarda depois da morte: A princípio se tornam como ébrios, em seguida como loucos; por fim, caem na estupidez e ficam sentados em lugares obscuros: guardai-vos portanto de semelhante delírio.

&277 Ao que precede ajuntarei os Memoráveis seguintes: Primeiro Memorável. Um dia, eu percorria em espírito diferentes lugares do Mundo espirit com o fito de observar Representações de cousas celestes que demonstram lá em muitos lugares; e em uma certa Casa onde havia Anjos, vi grandes Bolsas, nas quais tinha sido encerrada prata em grande quantidade; e como estavam abertas, me parecia que cada um poderia se apoderar da prata que aí estava depositada e fazer uma pilhagem; mas, perto destas Bolsas, estavam sentados dois jovens guardas; o lugar onde tinham sido colocadas se assemelhava a a uma creche em um estábulo; em um Quarto adjacente vi Virgens modestas com uma Esposa casta; perto deste Quarto estavam dois Meninos, e me foi dito que com êles não se brincar de uma maneira infantil, mas agir com sabedoria. seguida apareceu uma Mulher debochada, depois um Cavalo estendido, morto. Depois que vi estas coisas, fui instruido que, era representado o Sentido natural da Palavra, no qual está o Sentido espiritual; estas grandes Bolsas, cheias de prata significavam os conhecimentos dos veros em grande abundância; que estas Bolsas tinham sido abertas e guardadas por dois jovens, isso significava que cada um podia tirar dela os conhecimentos do vero, mas que medidas tinham sido tomadas a fim de que ninguém violasse o Sentido espiritual, no qual estão as verdades puras; a creche em um estábulo, significava o alimento espiritual para o entendimento; a creche tem esta significação porque o cavalo que ai come significa o entendimento; as Virgens modestas que foram vistas em um quarto adjacente, significavam as afeições do vero e a Esposa casta a conjunção do bem e do vero; os Meninos significavam a inocência da sabedoria, pois os Anjos do Céu supremo, que são os mais sábios, aparecem de longe pela inocência como crianças; a Mulher debochada com o Cavalo morto significava a falsificação do vero por muitos; falsificação pela qual perece todo entendimento do vero; a mulher debochada significa ela tinha estado quando viviam no Mundo. Estes Antigos, entre os quais esta Palavra está ainda em uso no Céu, tinham em sua maior parte habitado a terra de Canaan e as regiões circunvizinhas, tais como a Síria, a Mesopotâmia, a Arábia, a Caldéa, a Assíria, o Egito, Sidon, Tiro, Ninive, Reinos cujos habitantes tinham estado no Culto representativo e, por conseguinte, na Ciência das Correspondências; a sabedoria desse tempo vinha dessa Ciência e por ela tinham uma percepção interior e uma comunicação com os Céus; os que conheciam as correspondências desta Palavra eram chamados Sábios e Inteligentes e, mais tarde, Adivinhos e Magos. Mas como esta Palavra estava cheia destas Correspondências que significavam, de uma maneira afastada, os Celestes e os Espirituais e que, em razão disso, ela tinha começado a ser falsificada por muitos, a Divina Providência do Senhor a fez desaparecer com a sucessão do tempo; e uma outra Palavra escrita por Correspondências à menos afastada, foi dada e isso pelos Profetas entre os filhos de Israel. Nesta Palavra foram conservados vários Nomes de lugares, que estava não somente na terra de Canaan, mas também em torno na Asia, os

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quais significavam todos, coisas e estados da Igreja; mas significações vinham desta Antiga Palavra. Por isso, Abrão recebeu ordem de ir para esta terra e sua posteridade n ascida à de Jacob aí foi introduzida. Sobre esta Palavra antiga, que estava na tes da Palavra Israelita, alguma cousa de novo que me é é permitido relatar e que ainda é conservada entre os abitam a Grande Tartária; conversei com Espíritos e Anjos que no Mundo espiritual eram dessa região; eles me disseram que possuem a Palavra desde os tempos antigos; que fazem seu culto segundo esta Palavra Divina e que ela consiste em puras Correspondências; disseram-me que nesta Palavra há também o Livro de Jaschar, de que se fala em Josué X, 12, 13; e no Livro II de Samuel 1, 17, 18; também que há entre êles Livros chamados Guerras de Jehovah e Enunciados, que são citados por Moisés, Números 21, 14, 15, 27 a 30; e quando li diante deles as palavras que Moisés tirou dêsses livros, êles procuraram se elas aí se encontravam e as acharam; por isso ficou evidente para mim que a Palavra Antiga está ainda entre êles. Em minha conversa com êles, disseram-me que adoram Jehovah, alguns como Deus invisível, outros como Deus visível. Além disso, me contaram que não toleravam que os Estrangeiros entrassem no seu meio, exceto os Chineses, com quem cultivavam a paz porque o Imperador da China é da Tartária; dísseram-me também que sua população é tão numerosa que não acreditam que haja no Mundo inteiro uma Região mais populosa; isso é crível também por causa da muralha de um tão grande número de milhas, que os Chineses tinham construído para sua defesa contra as invasões que faziam outrora os Tártaros. Além disso, soube pelos Anjos, que os Primeiros Capítulos do Genesis, nos quais se trata da Criação de Adão e Eva, do Jardim do Eden, de seus Filhos e de seus descendentes até ao Dilúvio e mesmo de Noê e de seus Filhos, estão também nessa Palavra, e que assim êles foram extraídos dela por Moisés. Os Anjos e os Espíritos, que provêm da Grande Tartária, aparecem na Plaga Meridional do lado do Oriente e foram separados dos outros, pois habitam em uma Extensão mais elevada; que não admitem no meio deles pessoa alguma do Mundo Cristão; e que se alguns sobem lá, êles os vigiam a fim de que não saiam. A causa desta separação provém do fato deles possuírem uma outra Palavra.

&280 - Quarto Memorável: Um dia vi, de longe, Passeios formados de aléas de árvores e aí, Jovens reunidos em grupos e cada um con conversava sobre coisas concernentes à sabedoria; era no Mundo espiritual; aproximei-me e quando cheguei perto, vi um que os o os veneravam como seu Primaz, em razão de ter ele mais sabedoria que todos os outros; quando êste me viu, disseme: Estou muito muito admirado; desde que te vi aproximando, ora caías sob minha vista, ora me escapavas, ou, de repente, não te via mais; certamente não estás no estado de vida dos nossos; a isso respondi sorrindo: Não sou nem um bufão, nem um vertumno, mas estou alternativamente, ora na vossa luz, ora na vossa sombra, por conseqüência, estrangeiro aqui e também indígena; então, este sábio me encarou e me disse: As tuas palavras são estranhas e surpreendentes; diz-me quem és; e eu disse: Estou no Mundo onde vós estivestes e de onde saístes, que é chamado Mundo Natural, eu estou também no Mundo onde estais, que é chamado Mundo Espiritual; daí vem que estou no estado Natural e, ao mesmo tempo, no estado Espiritual; no estado Natural com os homens da terra; e no estado Espiritual, convosco; e quando estou no estado natural, não sou visível para vós; mas quando estou no estado espiritual, torno-me visível; foi-me dado pelo Senhor ser assim; quanto a ti, Homem ilustrado, sabes que o homem do Mundo natural não vê o homem do Mundo espiritual e vice-versa; é por isso que, quando eu mergulhava meu Espírito no Corpo, não era visível por ti, mas quando o retirava do corpo, tornava-me

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visível; e isso vem da diferença entre o Espiritual e o Natural. Quando ouviu falar da diferença entre o Espiritual e o Natural, êle me disse: Qual é esta diferença? Não é como entre o que é mais puro e o que é menos puro, assim, o que é o Espiritual senão um Natural mais puro? E eu respondi: Tal não é a diferença; jamais o Natural pode por sutilizacao se aproximar do Espiritual a ponto de se tornar espiritual, pois*** missing page 312***preender que o pensamento Espiritual ultrapassa o pensamento natural, a a ponto de ser relativamente inefável, eu lhes disse: Fazei uma experiência; entrai em vossa Sociedade espiritual, pensai urna coisa qualquer, retende-la, voltai e a exprimi diante de mim; e eles entraram, pensaram, voltaram; e quando quiseram exprimir a cousa pensada, não puderam, pois não encontraram Idéia alguma do pensamento natural adequada a uma, idéia do pensamento espiritual, assim nenhuma palavra para exprimi-la, pás as' idéias do pensamento tornam-se palavras da língua; em seguida, entraram de novo, voltaram e se confirmaram. que as idéias espirituais eram sobrenaturais, inexprimíveis, Inefáveis incompreensíveis para o homem natural; e porque, são tão supereminentes, diziam que as idéias e os pensamentos espirituais, relativamente aos naturais, eram idéias de idéias e pensamentos de pensamento isso mesmo, exprimiam as qualidades das qualidades e as afeições das afeições; que, por Conseqüência, os Pensamentos espirituais eram os começos e as origens dos pensamentos naturais; por isso, tornou-se ainda evidente que a Sabedoria espiritual era a Sabedoria da sabedoria, por conseqüência, inexprimível para qualquer Sábio do Mundo Natural. Então foi dito do Céu superior, que há ainda uma Sabedoria interior ou superior, que é chamada Celeste, cuja relação, com a Sabedoria espiritual, é semelhante à relação desta com a Sabedoria natural; e que estas sabedorias, em ordem segundo os Céus, influem da Divina Sabedoria do Senhor, que é Infinita. Em seguida, o Sábio (Vir) que falava comigo me disse: Vejo isso, porque percebi que uma única idéia natural é o continente de um grande número de idéias espirituais; e também, que uma únicaidéia espiritual. é o continente de um grande número de idéias celestes; daí resulta também esta conseqüência, que o dividido se torna não cada vez mais simples, mas cada vez mais multiplicado porque se aproxima cada vez mais do Infinito, no qual todas as cousas estão infinitamente. Depois disso, disse aos assistes: Por estes três ensinamentos da experiência vedes qual é a diferença entre o Espiritual e o Natural e também a razão peIa qual o homem Natural não é visível para o homem Espiritual, nem o homem Espiritual para o homem Natural, embora estejam um e outro em perfeita forma humana; e por causa desta forma, parece que um devia ser visível para o outro; mas são os interiores, pertencentes à Mente, que fazem esta forma e a Mente dos Espíritos e dos Anjos foi formada de coisas espirituais; e a dos homens, enquanto vivem no Mundo, é formada naturais. Em seguida, uma voz vinda do Céu superior foi ouvida, dizendo a um dos assistentes: Sobe aqui; e ele subiu, voltou e disse que os Anjos não conheciam antes as diferenças entre o Espiritual e o Natural porque antes não tinha havido meio algum de confrontação entre um homem que estivesse ao mesmo tempo em um e outro Mundo; e que estas diferenças não podem ser conhecidas sem confrontação e sem relação. Antes de nos separarmos, falamos de novo sobre este assunto e eu disse: Estas diferenças não vêm senão de que vós, no Mundo espiritual, sois substanciais e não naturais e que as coisas substanciais são os começos das cousas naturais; o que é a matéria senão uma aglomeração de substâncias? Vós, portanto, estais nos princípios e assim nos singulares; mas nós estamos nos principiados e nos compostos; vós estais nos particulares; mas nós estamos nos comuns; e do mesmo modo que os comuns não podem entrar nos particulares, também os naturais, que são materiais,

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não podem entrar nos espirituais, que são substanciais; do mesmo modo que um cabo de navio não pode absolutamente entrar ou passar pelo buraco de uma agulha de coser, ou do mesmo modo que um nervo não pode ser introduzido em uma das fibras de que é composto. Está aí portanto a razão pela qual o o homem Natural não pode pensar as coisas que pensa o homem Espiritual, nem por conseqüência as pronunciar; por isso Paulo chamava inefáveis as que ouviu do Terceiro Céu. Acrescentai a isso, que pensar espiritualmente, é pensar sem o tempo à o espaço e que, pensar Naturalmente é pensar com o tempo e o espaço; pois a toda idéia do pensamento natural se liga a coisa do tempo e do espaço, mas não a qualquer idéia es espiritual; isso vem de que o Mundo espiritual não está, como o o natural, no espaço e no tempo, mas está na aparência do espaço e do tempo; nisto diferem também os pensamentos e as percepções; é por isso que vós podeis pensar na Essência e na Onipresença ,de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deus antes da Criação do Mundo, porque pensais na Essência de Deus sem o tempo, e em Sua Onipresença sem o espaço; e assim apreendeis coisas que estão acima das idéias naturais do homem; e então contei que uma vez eu tinha pensado na Essência e na Onipresença de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deus antes da Criação do Mundo e que, como eu não tinha ainda podido afastar das idéias do meu pensamento os espaços e os tempos, fiquei inquieto porque a idéia da Natureza entrava em lugar de Deus; mas me foi dito: Afasta as idéias do espaço e do tempo e tu verás; me foi dado afastá-las e eu vi; e desde esse tempo pude pensar em Deus de toda a eternidade e de modo algum na Natureza de toda a eternidade porque Deus está em todo tempo sem tempo e em todo espaço sem espaço, enquanto que a Natureza está em todo tempo no tempo e em todo espaço no espaço; e como a Natureza com seu tempo e seu espaço não pode deixar de ter começo enquanto que não acontece o mesmo com Deus que é sem tempo e sem espaço; é por isso que a Natureza vem de Deus, não de toda a eternidade, mas no tempo com seu tempo e seu espaço.

&281 - Quinto Memorável. Como me foi dado pelo Senhor estar ao mesmo tempo no Mundo espiritual e no Mundo natural e, por conseguinte falar com os anjos como com os homens e conhecer, por isto, os Estados daqueles que depois da morte para esse Mundo até ao presente desconhecido, pois falei com todos os meus conhecidos e todos os meus amigos e também com Reis, Príncipes e Eruditos, que tinham terminado suas carreiras; e isso continuamente desde vinte e sete anos; assim, posso por viva experiência, descrever os Estados dos homens depois da morte, quais são os dos homens que homens que viveram bem e os dos homens que viveram mal; mas aqui darei unicamente alguns detalhes sobre o Estado daqueles que se confirmaram pela Palavra nos falsos da Doutrina, e são especialmente aqueles que fizeram isso para sustentar a justificação pela fé só; eis os estados por que passam sucessivamente. I. Quando morrera e revivem quanto ao espírito, o que acontece comumente no terceiro dia depois que seu coração cessou de bater, eles se vêem em um Corpo semelhante ao ue tinham no Mundo, a ponto de não saber outra coisa, senão que vivem ainda no Mundo precedente, entretanto, não tem Corpo material, mas em um Corpo substancial que, diante de seus sentidos, aparece material, embora não o seja. II. Depois e alguns dias vêem que estão em um Mundo onde há diferentes Sociedades estabelecidas, Mundo que é chamado Mundo dos Espíritos e que fica no meio, entre o Céu e o Inferno; aí todas as Sociedades, que são inúmeras, foram postas em ordem uma maneira admirável segundo as afeições naturais boas e mas; as Sociedades postas em ordem segundo as afeições naturais boas comunicam com o Céu; e as Sociedades postas em ordem

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segundo as afeições más, comunicam com o Inferno. III. 0 Espírito noviço ou o homem Espiritual, é conduzido e transferido para diversas Sociedades, tanto boas como más e se examina se ele é afetado pelos bens e (os veros, e como; ou se é afetado e pelos males e os falsos, e como. IV. Se é afetado pelos bens e os veros, é afastado das sociedades más, introduzido nas Sociedades boas e também em diversas Sociedades, até que chegue à Sociedade correspondente à sua afeição natural; e aí goza do bem correspondente a esta afeição, isso até que se desfaça da afeição natural e se revista com a afeição espiritual e então é elevado ao Céu; mas isso acontece àqueles que no Mundo viveram a vida da caridade e por conseqüência também a vida da fé, que consiste em crer no Senhor e em fugir dos males como pecados. V. Aqueles que se confirmaram nos falsos pelos racionais, sobretudo pela Palavra e que, por conseqüência, não viveram outra vida senão uma vida puramente natural, males acompanham os falsos e aos falsos se ligam os males; estes po porque são afetados, não pelos bens e os veros, mas pelos males e os falsos, são afastados das Sociedades boas, introduzidos, nas Sociedades más e também em diversas Sociedades até que cheguem à Sociedade correspondente às cobiças de seu amor. VI. Mas como limo Mundo tinham simulado boas afeições nos externos, ainda, que em seus internos não houvesse senão afeições más ou cobiças, são por vezes mantidos nos externos; e aqueles que no Mundo, tinham sido chefes de Corporações, são postos aqui e ali no Mundo dos Espíritos à testa de Sociedade, seja de uma Sociedade inteira, seja de uma parte de sociedade, segundo a importância das funções que tinham desempenhado antes; mas como não amam o vero, não amam o justo e não podem ser ilustrados os até saberem o que é o vero e o justo, alguns dias depois destituídos; vi espíritos destes transferidos de uma Sociedade para a outra e em todas elas colocados como chefes, mas em todas elas destituídos pouco tempo depois. VII. Após freqüentes destituições, alguns por desgosto não querem mais disputar funções, outros por medo de perder sua reputação não o ousam mais; por isso se retiram, ficam tristes; e então são levados para um solitário, onde há cabanas em que entram, e aí lhes dada alguma obra para fazer; e de acordo com o que fazem, é dada alguma alimentos; e se não a fazem, sentem fome e nada recebem; a os força portanto a trabalhar. Lá, os alimentos são semelhantes aos alimentos de nosso Mundo, mas são de origem espiritual e dados do Céu pelo Senhor a todos segundo os usos que fazem; aos ociosos nada é dado, porque são seres inúteis. VIII. Algum tempo depois o trabalho se torna fastidioso para eles; e então saem das cabanas; se são Sacerdotes, querem construir; e imediatamente aparecem diante deles montes de pedras talhadas, de tijolos, de caibros, de pranchas, molhos de taquaras e de junco, argila, cal e betume; à vista destes materiais, o furor de construir se apodera deles e começam a construir uma casa, tomando, ora, uma pedra, ora, madeira, ora, uma taquara, ora, argamassa e os põem uns sobre os outros em uma ordem regular; todavia, o que eles elevaram no dia desmorona de noite; mas no dia seguinte, juntam os escombros, constroem de novo e isso se renova até que se desgostem de construir; isto lhes acontece de acordo com a correspondência porque eles amontoaram passagens da Palavra para confirmar falsos da fé e seus falsos também não constroem a Igreja. IX. Em seguida, extenuados de tédio vão embora e assentam-se solitários e ociosos; e como os ociosos, assim como se disse acima, não recebem do Céu alimento algum, começam a ter fome e a não pensar em outra cousa que não seja descobrir um meio obter alimento e matar sua fome; quando estão neste estado, vêm a eles alguns espíritos, aos quais pedem esmolas e que lhes dizem: Por que permaneceis assim ociosos, vinde conosco às nossas casas e vos daremos trabalho a fazer e vos alimentaremos; e então, cheios de alegria, se levantam, vão com eles para suas casas e

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aí é dada a cada um uma tarefa e alimento em razão da obra que fazem; mas como todos aqueles que se confirmaram nos falsos da fé não podem fazer trabalho de um bom uso, mas o fazem de um mau uso, sem boa-fé, fraudulentamente e com pezar, eles deixam seus trabalhos e não gostam senão de conversar, falar, passear e dormir; e como então não podem ser reconduzidos ao trabalho por seus patrões, são expulsos como inúteis. X. Quando são expulsos, seus olhos se abrem e eles vêem um caminho que se dirige para uma Caverna; quando chegam ai, a porto, se abro eles entram e se informam se há alimento; e quando respondem que há, pedem que lhes permitam ficar aí, são introduzidos e a porta é fechada atrás deles; então, o chefe desta Caverna vem e lhes diz: Não podeis mais sair; vede: vossos Companheiros, todos trabalham e conforme trabalham, víveres lhes são dados do Céu; eu vo-lo digo, a fim de que o saibais; e seus Companheiros também lhes dizem: Nosso chefe sabe a que trabalho cada um é apropriado ele ordena, cada dia a cada um o que deve fazer; se o trabalho é feito no dia, dado alimento, senão, não é dado alimento nem roupas; e se e se alguém faz mal a um outro, é lançado em um canto da caverna sobre um leito de poeira danada, onde é horrivelmente torturado até que o Chefe veja nele um sinal de arrependimento; então, é retirado de lá e lhe é ordenado que faça seu trabalho; e lhe é dito também ser permitido a cada um, depois do trabalho, passear, conversar e, em seguida, dormir; e é conduzido ao fundo da carona onde estão Prostitutas, entre as quais, cada um pode tomar uma para si e chamá-la sua mulher; mas é proibido, sob pena de castigo, se entregar promiscuamente à escortação. 0 Inferno consiste em tais Cavernas, que são eternas prisões. Foi-me permitido entrar em algumas, a fim de as conhecer; todos que nelas se encontravam me pareceram vis e nenhum sabia o que tinha sido, nem que emprego houvera tido no Mundo; mas um Anjo que estava comigo, me disse: Este, era criado; aquele, soldado; aquele, prefeito; aquele sacerdote; aquele nas dignidades; aquele na opulência; entretanto, todos admitiam ter sido escravos e da mesma condição, porque eram semelhantes interiormente, embora diferentes, exteriormente. E que, no Mundo espiritual, todos são consociados pelos interiores. Quanto ao que concerne aos infernos em geral, consistem em Cavernas e Prisões semelhantes, mas que diferem lá,onde estão os Satanases e onde estão os Diabos; são chamados Satanases aqueles que estão nos falsos ou nos males; e Diabos, aqueles que estão nos males ou nos falsos. Na luz do Céu, os Satanases aparecem lívidos como cadáveres e alguns, pretos, como múmias; e os diabos, na luz do Céu, aparecem com uma cor de fogo sombrio e alguns, negros como fuligem, mas todos monstruosos quanto à face e ao corpo; todavia, em sua luz, que é semelhante a carvões em brasa, aparecem, não como monstros, mas como homens; isso lhes foi concedido a fim de que pudessem ser consociados. &282 CAPITULO V - CATECISMO OU DECÁLOGO - Explicado quanto ao seu sentido externo e a seu sentido interno.282 - Não há, sobre todo o Globo, uma Nação que não saiba que é um cometer adultério, roubar, dar falso testemunho; e que, se estes Males não fossem proibidos por Leis, nem Reino, nem República, nem estabelecimento algum de sociedade, poderia subsistir. Quem, portanto, pode presumir que a Nação Israelita tenha sido mais estúpida que todas as outras, a ponto de ignorar que estas ações fossem males? Pode-se, por conseqüência, ficar admirado de que estas Leis universalmente conhecidas sobre a terra, tenham sido promulgadas no meio de tantos Milagres alto da montanha do Sinai, por Jehovah mesmo. Mas escuta: Elas foram promulgadas no meio de tantos Milagres a fim de que se soubesse que elas eram, não somente esse que elas eram, não somente Leis civis e morais, mas

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também Leis Divinas; e que, transgredi-Ias, era não somente agir mal para com o próximo, mas ainda pecar contra Deus; é por isto que estas Leis, pela promulgação por Jehovah do alto da Montanha do Sinai, se tomaram também Leis de Religião; é evidente que se tudo é ordenado por Jehovah, Ele o ordena para que seja da religião e, assim, para a salvação. Mas antes de explicar estes Preceitos, é preciso falar de sua Santidade a fim de que se tome bem claro que a Religião está neles.O Decálogo era a própria Santidade na Igreja Israelita.

&283 - Como os Preceitos do decálogo eram as Primícias da Palavra e, por conseguinte, as Primícias da Igreja que ia ser Instaurada em a Nação Israelita, e como eram em um curto sumário o Complexo de todas as coisas da Religião, pelas quais há conjunção de Deus com o homem e do homem com Deus, é por isso que eles são tão santos, que nada há de mais santo. Que eles tenham sido o que há de mais santo, vê-se claramente pelos fatos seguintes: Que Jehovah, o Senhor, desceu, Ele mesmo sobre a Montanha do Sinai no meio do fogo, com Anjos, e de lá, os promulgou de viva voz e que a Montanha tinha sido cercada de barreiras para que ninguém avançasse e morresse; que nem os sacerdotes, nem os Anciãos se aproximaram, mas Moisés; que estes Preceitos foram gravados pelo dedo de Deus sobre duas Tábuas de pedra; que a face de Moisés brilhava quando trazia para baixo estas Tábuas na segunda vez; que, unas tarde, colocou-se as Tábuas na Arca, na parte mais interior do Tabernáculo e sobre ela ia Propiciatório e sobre o Propiciatório, Querubins de ouro; que esta parte mais interior do Tabernáculo onde estava a Arca, era chamada o Santo dos Santos; e fora do Véu, dentro do qual estava esta Arca, haviam sido colocados vários objetos, que representavam as cousas santas do Céu e da Igreja, a saber: Mesa coberta de ouro onde estavam os Pães das faces, o altar de ouro dos perfumes e o Candelabro de ouro com sete lâmpadas; depois as Cortinas de fino linho, de púrpura e de escarlata, que estavam cai torno; a Santidade de todo este Tabernáculo vinha unicamente da Lei que estava na Arca. Por causa da Santidade do Tabernáculo proveniente da Lei na Arca, todo o Povo Israelita tinha recebido ordem de acampar em ordem em torno dele segundo as Tribos, e de partir em ordem atrás dele; e então, uma nuvem repousava sobre ele durante o dia e uma coluna de fogo a noite. Por causa da Santidade desta Lei e da presença de Jehovah nela, Jehovah falava sobre o Propiciatório entre os Querubins, com Moisés; e a Arca era chamada Jehovah lá. Não era permitido a Abrão entrar para dentro do Véu então, então, com sacrifícios e perfume, sob pena de morrer Por causa da então, presença de Jehovah nesta Lei e em torno; dela, Milagres foram por isso operados pela Arca em que estava esta Lei; assim, as Águas do Jordão foram separadas; e enquanto a Arca permaneceu no meio do rio, o povo o passou a pé enxuto; as muralhas de Jericó se esboroaram enquanto a Arca fazia a volta em torno; delas; Dagon, o deus dos Filisteus, caiu diante dela uma primeira vez sobre suas faces; e em seguida foi achado estendido à porta do Templo com a cabeça e as duas mãos separadas do corpo; por causa da Arca muitos milhares introduzida por David, em Sião com sacrifícios e cânticos de alegria; e em seguida, por Salomão no Templo de Jerusalém, de que ela formava o santuário; sem falar de muitos outros prodígios; por isto é bem evidente que o Decálogo era a Santidade mesma na Igreja Iraelita.

&284 - Os fatos acima referidos concernentes à Promulgação, à Santidade e ao Poder desta Lei, se encontram na Palavra e nos lugares, que vão ser indicados. Que Jehovah desceu sobre a Montanha do Sinai no meio do fogo; e que então a Montanha foi coberta de fumaça

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e tremia; que houve trovões e relâmpagos, uma nuvem espessa e uma voz de trombeta (Êxodo 19, 16 a 18; Deut. 4, 11; 5, 19 a 23). Que o povo antes da descida de Jehovah, se tinha preparado e santificado durante três dias (Êxodo 19, 10, 11, 15). Que a Montanha foi cercada de barreiras, para que ninguém se aproximasse e não avançasse para a borda, com medo de que morressem, até mesmo os Sacerdotes, excetuando Moisés (Êxodo 19, 12, 13, 20 a 23; 24, 1, 2). Que a Lei foi promulgada do alto da Montanha do Sinai (Êxodo 20, 2 a 14; Deut. 5 6 a 18). Que a Lei foi gravada sobre duas Tábuas de pedra e escrita pelo dedo de Deus (Êxodo 31, 18; 32, 15, 16; Deut. 9, 10). Que a face de Moisés, quando ele levava para baixo estas tábuas a segunda vez, brilhava de tal modo, que ele cobriu a face com um véu quando falava com o povo (Êxodo 34, 29 a 35). Que as tábuas foram depositadas na Arca (*rodo 25, 16; Deut. 10, 5; 1 Reis VIII, 9). Que se colocou o Propiciatório sobre a Arca e Querubins de ouro sobre o Propiciatório (Êxodo 25, 17 a 21). Que a Arca, com o Propiciatório e os Querubins, foi posta no Tabernáculo, e constituía o seu Primeiro e assim o Íntimo; que a Mesa coberta de ouro onde estavam os Pães das faces, o Altar de ouro do perfume e o Candelabro de ouro com as lâmpadas, faziam o Externo do Tabernáculo; e que as dez Cortinas de fino linho, de púrpura e de escarlata, faziam o seu Extimo (Êxodo 25, 26, 17 a 28). Que o lugar onde estava a Arca era chamado o Santo dos Santos (Êxodo 26, 33). Que todo o Povo de Israel acampava em ordem segundo as Tribos em torno do Tabernáculo e partia em ordem atrás dele (Num. 2.10). Que então sobre o Tabernáculo havia uma nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite (Êxodo 4, 38; Num. 9, 15, 16, até ao fim; 14, 14; Deut. 1, 33). Que Jehovah falava com Moisés, de cima da Arca, entre os Querubins (Êxodo 25, 22; Num. 7, 89). Que a Arca, por causa da Lei, foi chamada Jehovah-lá; pois Moisés dizia quando a Arca partia: Levanta-te, Jehovah, e quando ela repousava: Volta, Jehovah (Num. 10, 35, 36; 11 Samuel VI, 2; Sl. 132, 7, 8). Que não era permitido a Aharão, por causa da Santidade desta Lei, entrar para dentro do Véu senão com sacrifícios e perfume (Levítico 16, 2 a 14 e segs.). Que, pela presença do Poder do Senhor na Lei, que estava na Arca, as águas do Jordão foram separadas; e enquanto a Arca permaneceu no meio do rio, o povo o passou a pé enxuto (José 111, 1 a 17; VI, 5 a 20). Que as muralhas de Jericó se esboroaram enquanto a Arca fazia a sua volta (Josué VI, 1 a 20). Que Dagon, deus dos Filisteus, caiu por terra diante da Arca e foi depois encontrado estendido na porta do templo, com a cabeça separada do corpo e as mãos cortadas (I Samuel V). Que muitos milhares de Bethchemitas foram feridos por causa da Arca (I Samuel V e VI). Que Uzah morreu por que tinha tocado a Arca (II Samuel VI, 7). Que a Arca foi introduzida por David em Sião com sacrifícios e cânticos de alegria (II Samuel VI, 1 a 16). 16). Que a Arca foi introduzida no Templo de Jerusalém pior Salomão, do qual ela formava o Santuário (I Reis VI, 19 e segs.; VIII, 3 a 9) .

&285 - Como há por esta Lei conjunção do Senhor com o homem; e do homem, com o Senhor, ela é chamada Aliança e Testemunho; Aliança, porque conjunta, e Testemunho porque confirma as convenções da Aliança; pois, na Palavra, a aliança significa a conjunção, o Testemunho significa a confirmado e a atestação das convenções da Aliança. É por isso que havia duas Tábuas, uma para Deus e a outra para o homem; a conjunção é feita pelo Senhor, mas só quando o homem faz o que está escrito em sua Tábua; pois continuamente o Senhor está presente, e quer entrar, mas o homem, pela liberdade que lhe do Senhor, deve abrir; com efeito, o Senhor diz: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouve a minha voz e abre a eu entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20). Que as Tábuas de pedra, sobre as quais a Lei estava gravada, eram chamadas Tábuas da Aliança; e

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que a Arca, por causa dessas Tábuas, era chamada Arca da Aliança e a Lei sma a Aliança, vê-se em Num. 10, 33; Deut. 4, 13, 23; 5, 2, 3; 9, 10; Josué III, 11; IReis VIII, 19, 21; Apoc. 11, 19, e algures. Como a Aliança significa a conjunção, é por isso que se diz do Senhor que "Ele será para Aliança do povo" (Isaías XLII, 6; XLIX, 8); e é chamado o Anjo da Aliança (Malaquias III,1); e o Seu sangue é chamado o Sangue da Aliança (Mateus XXVI, 28; Zacarias IX, 11; Êxodo 24, 4 a 19); é por isso também que a Palavra é chamada a Antiga Aliança e Nova Aliança; com efeito, as Alianças se fazem em vista do amor, da amizade, da, consorciação e, da conjunção.

&288 - Se havia tanta Santidade e tanto Poder nesta Lei, é. por que ela era o complexo de todas as coisas da religião, pois tinha sido gravada sobre duas Tábuas, das quais uma contém no complexo todas as coisas que se referem a Deus; e a outra, todas, as coisas que se referem ao homem; é por esta razão que os Preceitos desta Lei são chamados as Dez Palavras (Êxodo 34, 28; Deut. 4, 13,10, 4); foram chamados assim porque Dez significa todas as cousas e as Palavras significam as Verdades; dê fato, havia mais de dez palavras. Que Dez significa todas as cousas e que os Dízimos tenham sido instituídos por causa desta significação, vê-se no Apocalipse Revelado, n. 101; que esta Lei seja o complexo de todas as coisas da Religião, ver-se-á depois. 0 Decálogo no Sentido da letra contém os Preceitos comuns da Doutrina e da Vida; e no Sentido Espiritual e no Sentido Celeste contém universalmente todos os Preceitos.

&287 - Sabe-se que o Decálogo na Palavra é por excelência chamado a Lei porque contém todas as coisas que são da Doutrina e da Vida, pois contém não somente tudo o que se refere a Deus, mas ainda tudo que se refere ao homem, é por isto que esta Lei foi gravada sobre duas Tábuas, das quais uma trata de Deus e a outra do homem. Sabe-se também que todas as coisas da Doutrina e da Vida se referem ao amor a Deus e ao amor para com o próximo; tudo o que concerne a estes dois amôias está contido no Decálogo; que toda Palavra não ensina outra coisa, vê-se por esta expressão do Senhor: "Jesus disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de toda tua mente e a teu próximo como a ti mesmo; destes dois mandamentos dependem a Lei e os Profetas" (Mateus XXII, 35-37). A Lei e os Profetas significam toda a Palavra. E além disso: "Um Doutor da Lei, para tentar Jesus, lhe disse: Mestre, que farei para ter a vida eterna em herança? E Jesus lhe disse: Na Lei o que está escrito? como a lês? e este respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de toda força, de toda tua mente e a teu próximo como a ti mesmo. E Jesus disse: Faz isso e viverás" (Lucas X, 25 a 28). Ora, pois que o amor para com Deus e o Amor em relação ao próximo são todas as cousas da Palavra; e que o Decálogo na Primeira Tábua contém, em sumário, todas as coisas do amor para com Deus; e na Segunda Tábua, todas as do amor em relação ao próximo, segue-se que o Decálogo contém todas as coisas que são da Doutrina e da Vida. Pela inspeção das duas Tábuas, é evidente que elas foram conjuntas, de maneira que Deus pela Sua Tábua vê o homem e, reciprocamente, o homem, pela sua, vê Deus; e assim há um aspecto recíproco, que, da parte de Deus, acontece sempre que Ele vê o homem, opera as coisas que concernem à sua salvação e que, se o homem recebe e faz o que está em sua Tábua, se opera uma conjunção recíproca, e então ela tem lugar segundo as palavras do Senhor ao Doutor da Lei: "Faz isso e viverás".

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&288 - Na Palavra, a Lei é multas vezes citada; e vai ser dito o que é entendido por ela no Sentido estrito, o que é entendido por ela em um Sentido mais largo e o que é entendido no Sentido o mais largo. No Sentido estrito pela Lei é entendido o Decálogo; em um Sentido mais largo são entendidos os Estatutos dados por Moisés aos filhos de Israel; e no Sentido o mais largo é entendida toda a Palavra. Que pela Lei no Sentido estrito seja entendido o Decálogo, isso é notório. Que pela Lei em um Sentido mais largo sejam entendidos os Estatutos dados por Moiséis aos filhos de Israel, vê-se por cada um dos estatutos do Pentateuco, onde são chamados Lei, por exemplo: "Eis a Lei do sacrifício" (Levítico 7, 1); "Eis a Lei dos sacrifícios" (Levítico 7, 7, 11). 'Eis a Lei da Minchach" (Levítico 6, 7 e segs.). "Eis a Lei para o Holocausto, para a Minchach, para os sacrifícios do pecado e do delito, para as Consagrações" (Levit. 7, 37). "Eis a Lei da besta e do pássaro" (Levit. 9, 46 e segs.). "Eis a Lei da que dá à luz um filho ou uma filha" (Levit. 12, 7). "Eis a Lei da lepra" (Levit. 13, 59; 14, 2, 32, 54, 57). "Eis a Lei daquele que é atacado de fluxo" (Levit. 15, 32). "Eis a Lei do ciúme" (Num. 5, 29, 30). "Eis a Lei do Nazireu" (Num. 6, 13, 21). "Eis a Lei da Purificação" (Num. 19.0 14). "Eis a Lei sobre a vaca russa" (Num. 19, 2). "A Lei para o Rei" (Deut. 17, 15 a 19). Bem mais, todo o Livro de Moisés é chamado a Lei (Deut. 31, 9,11,12, 26). Além disso, também no Novo Testamento, como Lucas 11, 22; XXIV, 44; João 1, 46; VII, 22, 23; VIII, 5, e algures. Que estes estatutos tenham sido entendidos pelas Obras da Lei, "Eis Paulo, quando disse que o homem é justificado pela fé sem as Obras da Lei (Rom. 3, 28), isso é bem evidente pelo que vem depois;além disso, por suas palavras a Pedro, ao qual censurava por judaizar, quando três vezes, em um único Versículo, disse que "ninguém é justificado pelas Obras da Lei (Gal. 2, 14-16). Que pela Lei, no sentido o mais largo, seja entendida toda a Palavra, isso é evidente por estas passagens: "Jesus disse: Não está escrito na vossa Lei? Eu vos digo: Deuses vós sois" (João X, 34); isto está escrito no Salmo 82, 6. "A multidão respondeu: Aprendemos pela Lei que o Cristo permanecerá eternamente" (João XII, 34); isto está escrito no Salmo 89, 30, e 90, 4; e em Daniel VII, 14. "A fim de que fosse cumprida a Palavra escrita em sua Lei: eles me odiaram sem causa" (João XV, 25); isto está escrito no Salmo 35, 19. "Os Fariseus disseram: Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? mas esta multidão que não sabe a Lei" (João VII, 49). "É mais fácil que o Céu e a Terra passem, do que, da Lei, um só acento caia" (Lucas XVI, 17); ai, pela Lei, é entendida toda a Escritura Santa e, além disso em mil passagens em David.

&289 - Se o Decálogo, no Sentido espiritual e no Sentido celeste, contém universalmente todos os Preceitos da Doutrina e da Vida, assim todas as cousas da Fé e da Caridade, é porque a Palavra, no sentido da letra, em todas e em cada uma de suas partes ou no comum e em toda parte, esconde dois Sentidos interiores; um, que é chamado espiritual, e outro, que é chamado celeste; e nestes sentidos há a Divina Verdade em sua luz e a Divina Bondade em seu calor; ora, como tal é a Palavra no comum e em toda parte, é necessário que os dez Preceitos do Decálogo sejam explicados nestes três Sentidos, que são chamados Natural, Espiritual e Celeste. Que tal seja a Palavra, pode-se ver pelo que foi demonstrado no Capítulo, sobre a Escritura Santa ou a Palavra, acima, ns. 193 a 208.

&290 - Ninguém, a menos que saiba o que é a Palavra, pode conceber por alguma idéia que em cada uma de suas partes há a Infinidade, isto é, que ela contenha coisas inumeráveis que os Anjos, mesmos não podem esgotar; cada palavra aí pode ser comparada a uma semente que, por meio do humus, pode se tornar uma grande árvore e produzir, em abundância,

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sementes de onde provêm, de novo, árvores semelhantes que, em conjunto, fazem um jardim e assim ao infinita; tal é a Palavra do Senhor em cada urna de suas partes, tal é principalmente o Decálogo, pois porque ensina o amor para com Deus e o amor em relação E próximo, é o breve complexo de toda a Palavra. Que tal seja a Palavra, a, é o que o Senhor ensina também por esta comparação: semelhante é o Reino de Deus a um grão de mostarda, que um homem tendo recebido semeou em seu campo; ela é a menor que todas as sementes, mas quando cresce é maior tio que os legumes, torna-se uma árvore, de tal modo, que as aves do céu fazem os ninhos em seus ramos (Mateus XIII, 31, 32; Marcos IV, 31, 32; Lucas XIII, 18, 19; cfr. Também com Ezequiel XVII, 2 a 8). Que haja uma tal infinidade de sementes espirituais ou de verdades da Palavra, pode-se ver pela Sabedoria Angélica que procede toda da Palavra; ela aumenta eternamente nos Anjos; e quanto mais estes são sábios, vêem claramente que a Sabedoria é sem fim; e percebem que eles mesmos estão apenas na entrada e que não podem, quanto à menor cousa, atingir a Sabedoria Divina do Senhor, que chamam um Abismo. Ora, como a Palavra emana deste Abismo, pois que ela vem do Senhor, é evidente que em todas as suas partes há uma espécie de Infinidade.

&291 PRIMEIRO PRECEITO - Não há outro Deus diante das minhas faces.

- São estas as palavras do Primeiro Preceito (Êxodo 20, 3; Deut. 5, 7), pelas quais no sentido natural, que é o sentido da letra, é entendido, em primeiro lugar, que não se deve adorar Ídolos, pois é acrescentado: "Não farás imagem talhada, nem alguma Semelhança do que está nos Céus em cima, nem do que está na Terra em baixo, nem do que está nas Águas em baixo da terra; não te prosternarás diante delas e, não as servirás porque Eu sou Jehovah teu Deus, Deus zeloso" (Êxodo 20 3-6). Que por este Preceito seja entendido, em primeiro lugar, que não se deve adorar Ídolos, é porque antes desse tempo, e depois até ao advento do Senhor, houve em uma grande e parte da Ásia um Culto idolátrico; este culto provinha de que e todas as Igrejas antes do Senhor eram representativas e típicas; e que os tipos e as representações eram tais, que os Divinos eram apresentados sob diversas Semelhanças e diversas Esculturas, que o Vulgo, quando as significações foram obliteradas, co a adorar como deuses. Que a Nação Israelita tenha estado também em um tal culto quando estava no Egito, pode-se vê-lo pelo Bezerro de ouro que adorou no deserto em lugar de Jehovah; ; e que, depois, da não se afastou deste culto, vê-se por um grande número de passagens na Palavra, tanto Histórica como Profética.

&292 - Por este Preceito: "Não há outro Deus diante das minhas faces", no Sentido natural, entende-se também, que nenhum Homem, defunto ou vivo, deve, ser adorado como Deus como também tinha sido feito no Mundo Asiático e em diversos lugares em torno; muitos deuses das Nações não eram outra coisa, como Baal, Astaroth, Chémos, Mikom, Belzebu; e em Atenas e em Roma, Saturno, Júpiter, Netuno, Plutão, Apolo, Palas, etc., dos quais, alguns foram adorados a princípio como Santos, depois como Deidades (Numina), e enfim, como Deuses. Que se tenha também adorado como deuses, Homens vivos, vê-se por este Édito de Dario, o Medo, que ninguém durante trinta dias devia pedir cousa alguma a Deus, mas ao Rei somente, sob pena de ser lançado na fossa dos leões (Daniel VI, 8 a 29).

&293 - No Sentido natural, que é o Sentido da letra, por este Preceito é ainda entendido que ninguém, exceto Deus; e que nada, exceto o que procede de Deus, deve ser amado acima de todas as cousas, o que está também de acordo com as palavras do Senhor (Mateus XXII, 35

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a 37; Lucas X, 25 a 28); pois a pessoa que é amada e aquilo que é amado acima de todas coisas, são uma e outro um Deus e um Divino para aquele que ama; assim, aquele que se ama.ou ama ao Mundo acima de todas as coisa, faz de si mesmo ou do Mundo, seu Deus; é por isso tais homens não reconhecem, de coração, Deus algum; por estão conjuntos a seus semelhantes no Inferno, onde foram reunidos todos aqueles que se amaram e amaram o Mundo acima de todas as coisas.

&294 - 0 Sentido Espiritual deste Preceito é, que não se deve adorar outro Deus senão o Senhor Jesus Christo porque Ele mesmo é Jehovah, que veio ao Mundo e fez a Redenção, sem a qual nenhum homem poderia ser salvo, nem Anjo algum. Que exceto Ele, não há outro Deus, vê-se por estas passagens da Palavra: "Será dito naquele dia: Eis nosso Deus, Aquele que temos esperado para que nos liberte; Aquele Jehovah que temos esperado; salta! e regozijai-vos em sua Salvação" (Isaías XXV, 9). "Uma sua do que clama no deserto: Preparai o caminho a Jehovah, aplainai na solidão um caminho para nosso Deus; porque será revelada a Glória de Jehovah e êles a verão, toda carne junta. Bis o Senhor Jehovah como Forte vem; como um Pastor o seu rebanho apascentará" (Isaías XL, 3, 5, 10, 11). ''Somente em Ti Deus, não há outro Deus oculto, o Deus de Israel, Salvador" (Isaías XLV, 14, 15). "Não sou Eu Jehovah? e há outro Deus senão Eu, outro Deus justo e Salvador senão Eu?" (Isaías XLV, 21, 22). "Eu sou Jehovah e não há outro Salvador senão Eu". (Isaías XLIII, 11; Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu sou Jehovah teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; XL, 16). "Quanto a nosso Redentor, Jehovah Sebaoth é seu nome" (Isaías XLVII, 4; Jeremias L, 34). "Jehovah meu Rochedo e meu Redentor" (Sl.19, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIII, 14; XLIX, 7). "Assim disse teu Redentor: Eu Jehovah faço todas as cousas e só por Mim mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim disse Jehovah, o Rei de Israel e seu Redentor, Jehovah Sebaoth: Eu o Primeiro e o último; e exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Jehovah Sebaoth é seu Nome, o teu Redentor, o Santo de Israel, Deus da terra será chamado" (Isaías LIV, 5). "Abrahão não nos conhece e Israel não nos reconhece; Tu, Jehovah, nosso Pai, nosso Redentor, desde o século é teu Nome" (Isaías LXIII, 16). "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, cujo nome é: Admirável, Conselheiro, Deus, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5). "Eis, os dias virão em que suscitarei a David um Germe justo, que reinará Rei e eis seu nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6; XXXIII, 15, 16). "Filipe disse a Jeremias: Mostra-nos o Pai. Jesus lhe disse: Quem me vê, vê o Pai, não crês que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim" (João XIV, 8-10). "Em Jesus Christo toda a plenitude da Divindade habita corporalmente" (Coloss. II, 9). "Nós estamos na Verdade em Jesus Christo; Ele é o Verdadeiro Deus e a Vida eterna; meus filhinhos, guardair-vos dos ídolos" (I João V, 20, 21). Por estas passagens é evidente que o Senhor nosso Salvador é Jehovah mesmo e que é, ao mesmo tempo, Criador, Redentor e Regenerador. Tal é o Sentido espiritual deste Preceito.

&295 - 0 Sentido Celeste deste Preceito, é que Jehovah, o Senhor, é Infinito, Imenso e Eterno; que Ele é Onipotente, Onisciente e Onipresente; que Ele é o Primeiro e o último, o Começo e o Fim. Que Ele Era, É e Será; que é o Amormesmo e a Sabedoria mesma ou o Bem mesmo e o Vero mesmo por conseqüência, a Vida mesma; assim o único de que todas as coisas procedem.

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&296 - Todos que reconhecem e adoram um outro Deus q e não seja o Senhor Salvador Jesus Christo, o qual é o prio Jehovah Deus em uma forma Humana, pecam contra o Primeiro Preceito; semelhantemente, também aqueles que se persuadem que há Três Pessoas Divinas, de toda eternidade, existindo efetivamente; estes, à medida que se confirmam neste erro, tornam-se cada vez mais naturais e corporais; e então não podem apreender interiormente nenhum Vero Divino e se os ouvem e recebem alguns, eles os maculam e envolvem com ilusões; por isso, podem ser comparados aos que habitam o rés-do-chão ou as caves de uma casa e, por conseqüência, não ouvem cousa alguma do que dizem entre si os que habitam no segundo e no terceiro andares porque, os tetos que estão acima de sua cabeça, impedem a Penetração do som; a Mente humana é como uma casa de três saldares; no andar mais baixo estão aqueles que se confirmaram por três Deuses de toda eternidade; no segundo e no terceiro estão aqueles que reconhecem e crêem em um só Deus, sob uma forma Humana e que o Senhor Deus Salvador é este Deus; o homem sensual e corporal, sendo puramente natural, é considerado, em si mesmo, inteiramente animal; e não difere da besta senão porque pode pensar e raciocinar; por isso, ele é como se passasse a vida, em um curral, onde estão bestas ferozes de toda espécie; e aí, ora, se faz de leão, ora, de urso, ora, de tigre, de leopardo ou de lobo; e pode mesmo fazer-se de ovelha, mas então ri-se disso, em seu coração. 0 homem puramente natural não pensa nos Veros Divinos senão pelos mundanos, assim pelas ilusões dos sentidos, pois não pode elevar sua mente acima destas ilusões; por isso, a Doutrina de sua fé pode ser comparada a uma sopa de palha picada, que ele come como um manjar suculento; ou ao que foi ordenado ao Profeta Ezequiel, a saber, misturar trigo, cevada, favas, lentilhas e aveia, com excremento humano ou de boi, e fazer disso pão e bolos; e assim representar a Igreja, tal como ela era na Nação Israelita (Cap. IV, 9 e segs.); semelhante é a Doutrina da Igreja, que foi fundada e construída sobre três Pessoas Divinas de toda a eternidade, cada uma das quais, em particular, é Deus; quem é que não veria a enormidade desta fé se ela se apresentasse tal qual é em si mesma,pintada sobre um quadro diante dos olhos; por exemplo, se os três se mantive sem em ordem perto um do outro, o Primeiro tendo por insígnias um cetro e uma coroa; o Segundo tendo, em sua mão direita, um Livro que é a Palavra; e em sua esquerda, uma Cruz de ouro, coberta de sangue; e o Terceiro, provido de mantendo-se sobre um pé, pronto para voar e agir, acima dos quais se tivesse escrito: Estas Três Pessoas, outros tantos Deuses, são um único Deus? Qual é o sábio que, vendo este Quadro, não diria em si mesmo: Oh! Que fantasia! Mas uma, única Pessoa Divina com raios de luz celeste em torno da cabeça e tendo esta inscrição: Eis nosso Deus, ao mesmo tempo Criador, Redentor e Regenerador, por conseqüência Salvador; não beijaria este quadro, não o levaria para sua casa e, por seu aspecto, não espalharia ele a alegria em seu coração e nos corações de sua esposa, de seus filhos e de seus criados.&297 SEGUNDO PRECEITO - Não tomarás o Nome de Jehovah teu Deus em vão, pois por inocente não terá Jehovah aquele que tomar seu Nome em vão.297 - No Sentido Natural, que é o sentido da letra, por tomar Nome de Jehovah Deus, em vão, é entendido o Nome mesmo; e o abuso deste Nome em diversas palestras, principalmente em discursos falsos ou de mentiras, além disso, em juramentos sem causa e para o fim de desculpar com intenções más, juramentos que são execrações e em prestígios e encantamentos. Mas jurar por Deus e pela Santidade de Deus, pela Palavra e pelo Evangelho, nas Coroações, nas Inaugurações, no Sacerdócio, nas Iniciações de fidelidade, isto não é tomar o Nome de Deus em vão, a não ser que aquele que jura, rejeite em seguida suas promessas como vãs. 0 Nome de Deus, porque é o Santo mesmo, deve ser sem cessar

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empregado nas coisas Santas que pertencem à Igreja, por exemplo, nas preces, nos Salmos, em todo o culto, também nas prédicas e nos Escritos sobre coisas Eclesiásticas; razão disso, é que Deus está em tudo que concerne à Religião e quando é convenientemente invocado, por Sei; Ele está presente e ouve; é nisso que o Nome de Deus é cado. Que o Nome de Jehovah Deus seja Santo cai si vê-se por este Nome mesmo, que os Judeus, após seus amam. tempos, não ousavam e não ousam ainda, dizer Jehovah; e em consideração a eles, os Evangelistas e os Apóstolos não o fizeram a também; por isso, em lugar de Jehovah, disseram, o Senhor, como se vê pelas diversas passagens do Antigo Testamento portadas para o Novo, onde se diz Senhor em lugar de por exemplo, Mateus XXII, 35; Lucas X, 27; cfr. Com Deut. VI, 5 e algures. Que o Nome de Jesus seja semelhantemente Santo, isso é notório por esta declaração de um Apóstolo, de que a este Nome dobram e devem dobrar-se os joelhos nos Céus e nas Terras; e, além disso, por êste fato, que êle não pode ser, pronunciado por diabo algum no Inferno. Há vários Nomes de Deus que não se deve tomar em vão, tais são: Jehovah, Jehovah Deus, Jehovah Sebaoth, o Santo de Israel, Jesus e Christo, o Espírito Santo.

&298 - No Sentido Espiritual pelo Nome de Deus tudo o que a Igreja ensina segundo a Palavra e pelo o Senhor é invocado e adorado; tudo isso é o Nome Deus no complexo; é por isso que, por tomar o Nome de Deus em vão, é entendido tomar daí alguma cousa para discursos frívolos, discursos falsos, mentiras, execrações, prestígios e encantamentos, pois isso também é ultrajar e blasfemar Deus, por conseqüência, seu Nome. Que a Palavra e o que daí pertence à Igreja e assim todo culto, seja o Nome de Deus, pode-se ver por estas passagens: "Desde o levantar do sol será invocado seu Nome" (Isaías XXIV, 8, 13). "Desde o levantar do sol até o seu deitar, grande será meu Nome entre as Nações e em todos os lugares o perfume será oferecido em meu Nome. Vós profanais meu Nome quando dizeis: A Mesa de Jehovah foi maculada; e soprais, sobre meu Nome quando trazeis o que é roubado, coxo ou doente" (Malaquias I, 11, 12, 13). "Todos os povos andam, cada um em nome de seu Deus e nós andamos em nome de Jehovah nosso Deus" (Miquéas IV, 5). "Adorar-se-á Jehovah em um único lugar, onde Ele colocará seu Nome" (Deut. 12, 5, 11, 13, 14, 18; 16, 2, 6, 11, 15, 16), isto é, onde Ele colocará seu culto. "Jesus disse: Onde estão dois ou três reunidos em meu Nome, aí eu estarei no meio deles'' Mateus XVIII, 20). "A todos os que 0 receberam, deu-lhes poder de ser filhos de Deus, àqueles que crêem em seu Nome" (João I, 12). "Aquele que não crê já foi julgado, porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João 111, 18). "Aqueles que crêem terão a vida em meu Nome" (João XX, 31). "Jesus disse: Manifestei teu Nome aos homens e lhes fiz conhecer teu Nome" (João XVII, 26). "0 Senhor disse: Tens alguns poucos de Nomes em Sardes" (Apoc. 30, 4); e além disso, em muitos outros lugares, onde como nas passagens precedentes, pelo Nome de Deus é entendido o Divino que procede de Deus e pelo qual Ele é adorado. Pelo nome de Jesus Christo é entendido o todo da Redenção e o todo da Doutrina e assim o todo da salvação; por Jesus, o todo da salvação; e por Christo, o todo da salvação por sua doutrina.

&299 - No Sentido Celeste, por tomar o Nome de Deus em vão é entendido o que o Senhor disse aos Fariseus: "Todo pecado e blasfêmia será perdoado ao homem, mas o espírito de blasfêmia não será perdoado" (Mateus XII, 31, 32); pela blasfêmia do espírito é entendida a blasfêmia contra a Divindade do Humano do Senhor e contra a Santidade da Palavra. Que no Sentido Celeste ou Supremo, o Divino Humano do Senhor seja entendido pelo Nome de

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Jehovah Deus, vê-se por estas passagens: "Jesus disse: Pai glorifica teu Nome; e saiu uma voz do Céu, dizendo: e Eu o tenho glorificado e, de novo, o glorificarei" (João XII, 28). "Tudo que pedirdes em meu Nome eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho; se alguma cousa pedirdes em meu nome eu o farei" (João XIV, 13, 14). Na Oração Dominical, para que seja santificado teu Nome! Não é também significada outra cousa no Sentido Celeste; semelhantemente, pelo Nome, em Êxodo 23, 21, e Isaías XLIII, 16. Como a blasfêmia do Espírito não é perdoada ao homem segundo as palavras em Mateus XII, 31, 32, é isto que é entendido no Sentido Celeste, é por isso que a este Preceito é ajuntado: "Pois por inocência Jehovah não terá aquele que toma seu Nome em vão".

&300 - Que, pelo Nome de uma pessoa, seja entendido não somente seu nome, mas também toda sua qualidade (quale), isso é evidente pelos nomes no Mundo espiritual; lá, homem algum retém o nome que recebeu no batismo, mas cada um é chamado segundo seu quale (ou segundo o que êle é); assim os Anjos são chamados segundo sua vida moral e espiritual; são eles também que são entendidos por estas palavras do Senhor: "Jesus disse: Eu sou o bom Pastor; as ovelhas ouvem a sua voz; e suas próprias ovelhas ele chama por seus Nomes e as leva para fora" (João X, 3); e semelhantemente, por estas: "Tens alguns poucos de Nomes em Sardes, que não macularam seus vestidos. Aquele que vencer, eu escreverei sobre ele o Nome da cidade, a nova Jerusalém e seu Nome novo, (Apoc. 3, 4, 12). Gabriel e Miguel não são os nomes de dois Personagens do Céu, mas por estes nomes são entendidos todos aqueles que, no Céu, estão na sabedoria concernente ao Senhor e 0 adoram. Da mesma forma, na Palavra, pelos Nomes de Pessoas e de lugares, entende-se, não Pessoas nem lugares, mas cousas da Igreja. No Mundo natural, pelo Nome também não é entendido o Nome só, mas entendesse, ao mesmo tempo, o quale da pessoa (ou o que ela é), porque este quale está ligado a seu nome, pois na linguagem ordinária se diz de um homem, que faz tal cousa por seu Nome ou pela reputação de seu Nome; e de um outro, que tem um grande Nome, o que significa que é célebre pelas coisas que estão nele, por exemplo, pelo gênio, pela erudição, pelo mérito, etc. Quem não sabe que aquele que injuria e calunia uma pessoa quanto ao Nome, blasfema e calunia também os atos da vida dessa pessoa? os atos e o nome estão conjuntos na idéia, por isso perece a reputação de seu Nome. Da mesma maneira que aquele que pronuncia com ignomínia o Nome de um Rei, de um Príncipe, de um Magnata, cobre também de opróbrio sua Majestade e sua Dignidade; semelhantemente, aquele que pronuncia, com um tom de desprezo, o Nome de um homem, despreza, ao mesmo tempo, as ações e a e a vida desse homem; acontece o mesmo com toda Pessoa, de que não é permitido, segundo as leis de todos os Reinos, atacar nem injuriar o Nome, isto é, a qualidade e, por conseqüência, a reputação.&301 TERCEIRO PRECEITO - Lembra-te do Dia do Sábado para o Santificar; seis dias trabalharás, e farás toda tua obra; mas, o sétimo dia, Sábado a Jehovah toa Deus.301 -- Que seja este o Terceiro Preceito, vê-se em Êxodo 20, 8-10, e em Deut. 5, 12, 13; por este Preceito no Sentido Natural, que é o sentido da letra, entende-se que há seis dias para o homem e para seu trabalho e que o Sétimo é para o Senhor e para o repouso do homem, pelo Senhor; Sabbath na Língua original significa Repouso. 0 Sabbath entre os filhos de Israel era a Santidade das Santidades, porque representava o Senhor; os seis dias representavam seus trabalhos e seus combates contra os Infernos; e o sétimo, sua Vitória sobre eles e, assim, o Repouso; e como este dia era representativo do fim de toda Redenção operada pelo Senhor, é por isso que ele era a Santidade mesma. Mas quando o Senhor veio ao Mundo e, que por conseguinte, suas Representações cessaram, este Dia tornou-se o dia

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de instrução nas cousas Divinas e também o dia de repouso após os trabalhos e da meditação sobre as cousas que pertencem à Salvação e à Vida eterna, como também o dia de amor ao próximo.Que ele se tenha tornado o dia de instrução nas cousas Divinas, vê-se claramente no fato do Senhor nesse dia ensinar no Templo e nas Sinagogas (Marcos VI, 2; Lucas IV, 16, 31, 32; VI, 6; XIII, 10); e de ter dito ao paralítico: "Toma tua cama e anda; e aos fariseus, "que era permitido aos Discípulos no dia do Sábado, comer espigas e comê-las" (Mateus XII, 1-9; Marcos 11, 23-28; Lucas VI, 4-6; João V, 9-19); por cada uma destas cousas, no Sentido. espiritual, é significado ser instruído nos doutrinais; que este dia seja também o dia do amor para com o próximo, vê-se pelo que o Senhor fez e ensinou no dia do Sábado (Mateus XII, 10 a 14; Marcos 111, 1-9; Lucas VI, 6-12; XIII, 10-18; XIV, 1 a 7; João V, 9-19; VII, 22, 23; IX, 14, 16); por estas passagens e as que foram citadas acima, vê-se claramente porque o Senhor disse que Ele é também Senhor do Sábado (Mateus XII, 8; Marcos II, 28, VI, 5); e pois que Ele disse isso, segue-se que este dia foi representativo do Senhor.

&302 - No Sentido Espiritual, este Preceito significa a Reforma e a Regeneração do homem pelo Senhor; os seis dias de trabalho significam o combate contra a carne e as cobiças da carne e, ao mesmo tempo, contra os males e os falsos que nele vêm do Inferno; e o Sétimo dia significa sua conjunção com o Senhor e, por isso, a sua regeneração; que enquanto dura este combate haja para o homem trabalho espiritual, mas que quando o homem foi regenerado, haja para ele, Repouso, ver-se-á pelo que será dito no Capítulo da Reforma e da Regeneração, sobretudo quando se mostrará: I. Que a Regeneração se faz como quando o homem é concebido, carregado no ventre, nasce e é criado. II. Que o primeiro ato da nova Geração é chamado Reforma e pertence ao entendimento; e que o segundo é chamado Regeneração e pertence à vontade; por conseqüência, ao entendimento. III. Que o homem interno deve ser reformado primeiro e por ele, o homem externo. IV. Que se levanta então um combate entre o homem Interno e o homem Externo e o que é vencedor domina o outro. V. Que há no homem Regenerado uma nova Vontade e um novo Entendimento, etc. Se a Reforma e a Regeneração do homem são significadas por este Preceito no Sentido espiritual, é porque elas coincidem com os trabalhos e os combates do Senhor contra os Infernos, com Sua Vitória contra eles e, então, com o Repouso; pois a maneira pela qual o Senhor glorificou Seu Humano e o fez Divino, é também a que emprega para reformar e regenerar o homem e torná-lo espiritual; é isto que é entendido por seguir o Senhor. Que o Senhor tenha tido combates e que estes combates sejam chamados Trabalhos, vê-se em Isaías, Caps. LIII e LXIII; e que as cousas semelhantes no homem sejam chamadas Trabalhos, vê-se em LXV, 23 e no Apocalipse 2, 2, 3.

&303 - No Sentido Celeste, par este Preceito entende-se a conjunção com o Senhor; e então a Paz, porque há proteção contra o Inferno; com efeito, Sabbath significa Repouso e, no sentido supremo, Paz; é por isso que o Senhor é chamado Príncipe da Paz, e se chama também Paz; como se vê por estas passagens: "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado; suma seus ombros estará o Principado e chamarão seu Nome: Admirável, Conselheiro, Deus, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz; à sua multiplicação do Principado e da Paz não haverá fim" (Isaías IX, 5, 6). "Jesus disse: a Paz eu vos deixo, a minha Paz eu vos dou" (João XIV, 27). "Jesus disse: Destas coisas eu vos falei, a fim de que em Mim tenhais Paz" (João XVI, 33). "Como são agradáveis sobre as montanhas os pés do Mensageiro de boa nova, que faz ouvir a Paz, que diz: Reina teu Deus" (Isaías LII,

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7). "Jehovah, resgatará em Paz minha alma" (Sl. 55, 19). "A obra de Jehovah é a Paz; o trabalho de justiça, o Repouso e a Segurança para a eternidade, a fim de que habitem em um Habitáculo de Paz, nas tendas de Segurança e nos Repousas tranqüilos (Isaías XXXII, 17, 18). "Jesus disse aos setenta que enviou: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa; e se há lá um filho de Paz, sobre ele repousará a Paz" (Lucas X, 5, 6; Mateus X, 12-14). "Jehovah falará de Paz a seu povo; a Justiça e a Paz se beijarão" (Ps. 85, 9, 11). Quando o Senhor apareceu aos Discípulos, disse: Paz a vós! (João XX, 19, 21, 26). Além disso, se trata 0 Estado de Paz a que se virá pelo Senhor, em Isaías, Caps. LXV e LXVI, e algures; e a este estado virão aqueles que são recebidos na Nova Igreja, que hoje é instaurada pelo Senhor. Quanto ao que é, em sua essência, a Paz em que estão os Anjos do Céu e os que estão no Senhor, vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 284 a 290. Por estas explicações, vê-se ainda claramente porque o Senhor se chama Senhor do Sábado, isto é, do Repouso e da Paz.

&304 - A Paz celeste, que é uma proteção contra os Infernos, a fim de que os males e os falsos não se elevem de lá e não invadam, pode ser comparada à Paz natural sob vários aspectos; por exemplo, à Paz depois das guerras, quando cada um vive em segurança a respeito dos inimigos, em segurança em sua cidade, em sua casa, em seus domínios e seus jardins, como diz o Profeta, quando fala da Paz celeste naturalmente: "Estarão sentados cada um sob sua Cepa e sob sua figueira e ninguém os espantará (Miqueas IV, 4; Isaías LXV, 21-23). Também pode ser comparada ao descanso do espírito (animus) e ao repouso depois de trabalhos os penosos; às consolações das mães depois do parto, quando seu amor, chamado storge, manifesta seus prazeres. Pode ainda ser comparada à serenidade depois das tempestades, das nuvens negras e dos trovões; e também à Primavera depois de um inverno rude; e então, à satisfação produzida pelas novidades que brotam nos campos e pelas primeiras flores nos jardins, nas campinas e nas florestas; e igualmente, ao estado das mentes daqueles que, depois de tempestades e de perigos no mar, atingem o porto e põem os pés sobre a terra desejada.&305 QUARTO PRECEITO - Honra teu Pai e tua Mãe, para que sejam prolongados os dias sobre ou terra que Jehovah teu Deus te dá.305 - Este Preceito se lê assim - Êxodo 20, e Deut. 5, 16. No Sentido Natural, que é o sentido da letra, por honrar seu Pai e sua Mãe, entende-se honrar seus Pais, obedecê-los, ligar-se a eles e lhes dar graças por seus benefícios, que consistem em alimentar seus filhos, dar-lhes roupas e os introduzir para que ai atuem corno Pessoas civis e morais; eles também introduzem no Céu pelos preceitos da Religião, assim provêm à sua prosperidade temporal e também à sua felicidade eterna e fazem tudo isso pelo amor em que estão pelo Senhor, de que fazem as vezes. Em um Sentido relativo, entende-se a honra que os pupilos devem a seus tutores, se os seus pais estão mortos. Em um Sentido mais lato, por este Preceito entende-se honrar o Rei e os Magistrados, porque eles provêm às necessidades de todos em comum, como os pais em particular. No Sentido mais lato, por este Preceito, entende-se amar a Pátria, porque ela alimenta e defende os cidadãos, por isso a palavra Pátria vem de Pai; mas as honras à Pátria, ao Rei e aos Magistrados devem ser prestadas pelos Pais, e ser implantadas por eles, nos filhos.

&306 -No Sentido Espiritual, por honrar Pai e Mãe, entende-se venerar e amar a Deus e a Igreja; neste Sentido, pelo Pai entende-se Deus, que é o Pai de todos, e pela Mãe, a Igreja; as Crianças e os Anjos nos Céus não conhecem outro Pai, nem outra Mãe, por que aí

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nasceram de novo do Senhor e da Igreja; é por isso que o Senhor disse: "A ninguém chamais Pai na terra, porque um só é vosso Pai, Aquele que está nos Céus" (Mateus XXIII, 9); isto foi dito para as Crianças, para os Anjos no Céu, e não para as Crianças e os homens na terra. 0 Senhor ensina a mesma cousa na prece comum das Igrejas Cristãs: "Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja Teu Nome!" Se pela Mãe no Sentido espiritual, entende-se a Igreja é porque do mesmo modo que uma Mãe, na terra, alimenta seus filhos com alimentos naturais, a Igreja com alimentos mesmo por isso que a Igreja, na Palavra, é muitas vezes chamada Mãe, como em Hoséas: ''Pleiteai com vossa Mãe, ela não é minha esposa, e Eu não sou seu Marido" (11, 2, 5). Em Isaías: "Onde está a carta de divórcio de vossa Mãe, que eu devolvi" (L, 1); e em Ezequiel XVI, 45; XIX, 10. E nos Evangelistas: "Jesus estendendo a mão para Seus Discípulos, disse: Minha Mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a fazem" (Mateus XII, 48, 49; Marcos 111, 33, 34, 35; Lucas VIII, 21; João XIX, 25-27).

&307 - No Sentido Celeste, pelo Pai, entende-se r nosso Senhor Jesus Christo; e pela Mãe, a comunhão dos Santos, Pela qual se entende Sua Igreja espalhada por todo o Globo. Que o Senhor seja o Pai, vê-se par estas passagens: "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, cujo Nome é Deus, Herói, Pai de eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5). "Tu nosso Pai; Abrahão não nos conhece e Israel não nos reconhece; Tu, nosso Pai, nosso Redentor desde o século é o Teu Nome" (Isaías LXIII, 18). "Fi lipe disse: Mostra-nos o Pai. Jesus lhe disse: Quem me vê, vê o Pai. Como pois dizes: Mostra-nos o Pai?" (João XIV, 7 a 11; XII, 45). Que neste Sentido, pela Mãe, entende-se a Igreja do Senhor, vê-se por estas passagens: "Vi a Cidade, a Santa Jerusalém Nova, enfeitada corno uma Noiva ornada para seu Marido" (Apoc. 210 2). nosso Anjo disse a João: Vem, eu te mostrarei a Noiva do Cordeiro, a Esposa; e ele me mostrou a Cidade, a Santa Jerusalém" (Apoc. 21, 9, 10). "0 tempo de núpcias do Cordeiro chegou e sua Esposa; está preparada. Felizes são os que à ceia de núpcias do Cordeiro são chamados!" (Apoc. 19-0, 7, 9); e além disso, Mateus IX, 15; Marcos 11, 19, 20; Lucas V, 34, 35; João 111, 29; XIX, 25-27. Que pela Nova Jerusalém seja entendida a Nova Igreja que hoje é instaurada pelo Senhor, vê-se no "Apocalipse Revelado", ns. 880, 881; esta Igreja, e não, a precedente, é a Esposa; e a Mãe neste Sentido. As linhagens espirituais, que nascem deste Casamento, são os bens da caridade e os veros da fé; e aqueles que estão, pelo Senhor, nestes bens e nestes veros, são chamados filhos das núpcias, filhos de Deus e nascidos d'Ele.

&308 - E' preciso ter -como certo que, do Senhor procede continuamente uma Esfera Divino-Celeste de amor para com todos que abraçam a doutrina de sua Igreja e que, do mesmo modo que as crianças no mundo em relação a seu pai e à sua mãe, lhe obedecem, se ligam a Ele e querem ser alimentadas, isto é, instruídas por Ele; desta esfera celeste nasce uma Esfera natural que é a do amor ara com as criancinhas e as crianças, a qual é muito universal e afeta, não somente os homens, mas também os pássaros e as bestas, até as serpentes; e não somente os seres animados, mas mesmo as coisas inanimadas; mas para que o Senhor operasse nestas, como opera nas cousas espirituais, Ele criou o Sol, para que, no Mundo Natural, ele fosse como o Pai um; e a Terra, como, a Mãe comum, pelo casamento dos quais existem todas aí, germinações que embelezam a superfície do Globo; pelo influxo desta Esfera celeste no Mundo natural existem estas admiráveis progressões dos vegetais, pela semente até aos frutos e a novas sementes; daí vem também que haja

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vários gêneros de arbustos que, durante o dia, voltam por assim dizer,suas faces para o Sol e as afastam quando o sol se deita; daí, vem também que haja flores que se abrem ao nascer do sol e que se fecham ao pôr do sol; é também, por isso, que os pássaros cantam deliciosamente no começo da aurora e, semelhantemente, depois que receberam o alimento da Terra, sua Mãe; assim uns e outros honram pai e mãe; estão aí outros tantos testemunhos de que o Senhor pelo Sol e pela Terra provê, no Mundo natural, a todas as necessidades dos seres vivos e não vivos; por isso, se diz em David: "Louvai Jehovah dos Céus; louvai-0, Sol e Lua; louvai-O da terra, baleias e abismos; louvai-0, árvores frutíferas e todos os cedros; animal e toda besta, réptil e pássaro alado; Reis da terra e todos os povos, moços e moças" (Sl. 147, 2 a 12). E em Job: "Interroga, eu te peço, as bestas e elas te ensinarão; ou o arbusto da terra e ele te instruirá, e os peixes do mar t'o contarão; quem não conhece por eles todos, que a mão de Jehovah fez isto?" (XII, 7 a 9); interroga e eles te ensinarão, significa, olha, presta atenção e julga por estas coisas que é o Senhor Jehovah que as criou.

&309 QUINTO PRECEITO - Não matarás.309 - Por este Preceito, "não matarás", no Sentido Natural entende-se não matar o homem, e não lhe fazer nenhum ferimento de que possa morrer; e também não mutilar seu corpo; e além disso, não desfechar golpe mortal sobre seu nome e sua reputação, porque, para muitas pessoas, a reputação e a vida marcham juntas. Em um Sentido natural mais lato, pelos homicídios são entendidas as inimizades, os ódios e as vinganças, que respiram a morte, pois nelas está escondido o homicídio, como o fogo na lenha sob as cinzas; o fogo infernal não é outra: cousa, por isso se diz estar ardendo em ódio e inflamado de vingança. Estão aí homicídios em intenção, mas não em ato; e se o medo da lei de talião e da vingança fosse retirado, eles explodiriam em atos, sobretudo se na intenção há embuste e ferocidade. Que o ódio seja um homicídio, vê-se por estas palavras do Senhor: "Ouvistes que foi dito pelos Antigos: Não matarás e quem matar estará sujeito ao julgamento; mas eu vos digo que quem quer que se encorelizar contra seu irmão temerariamente, estará o jeito à gehena de fogo" (Mateus V, 21, 22). A causa disso, é e tudo que pertence à intenção, pertence também à portanto, em si, ao fato.

&310 - No Sentido Espiritual, pelos homicídios, são entendidas todas as maneiras de matar e de perder as almas dos homens; essas maneiras são diversas e múltiplas; por exemplo, afastar de Deus, da Religião e do Culto Divino, lançando contra palavras escandalosas, persuadindo-os de coisas que os afastam deles e os faz desgostar-se deles; tais são todos os diabos e os satanases no Inferno, com os quais estão conjuntos aqueles neste Mundo violam e prostituem as Santidades da Igreja. Os que destroem as almas pelos falsos são entendidos pelo do abismo, chamado Abadom ou Apollyon, isto é, destruidor, no Apocalipse, Cap. 9, 11; e pelos Mortos, na Palavra Profética, como nestas passagens: "Jehovah Deus disse: Apascenta as ovelhas da matança, que seus possuidores mataram" (Zacarias XI, 4, 5, 7). "Somos mortos todo o dia; somos tidos na conta de um rebanho para o matadouro" (Ps. 44, 22). Aqueles que virão fará tomar raízes Jacob; porventura, segundo o massacre de seus Mortos, foi ele morto?" (Isaías XXVII, 6, 7). "0 estranho não vem senão para roubar e massacrar as ovelhas, Eu vim para que elas tenham vida e fartura" (João X, 10); e além disso, em outros lugares, por exemplo, Isaías XIV, 21; XXIV, 21; XXVII, 9; Jeremias IV, 31; XII, 3; Apoc. 9, 4; 11, 7. Daí vem que o Diabo é chamado Homicida desde o começo (João VIII, 44).

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&311 - No Sentido Celeste, por matar, entende-se encoleriza se temerariamente contra o Senhor, odiá-lo e querer destruir Seu Nome; são estes de quem se diz que 0 crucificam; o que fariam mesmo, assim como o fizeram os judeus, se Ele viesse como precedentemente ao Mundo; isso é entendido pelo "Cordeiro que estava como morto" (Apoc. 5, 6; 13, 8). E por "Crucificado" (Apoc. 11, 8; Hebreus 6, 6; Gal. 3, 1).

&312 - 0 que é o Interno do homem, se não é reformado pelo Senhor eu o vi claramente peles diabos e satanases no inferno, pois eles estão continuamente na intenção de matar o Senhor e como não o podem, fazem todos os esforços para matar os que são ligados ao Senhor; mas não o podendo fazer como fazem os homens no Mundo, empregam todos os meios para perder suas almas, isto é, para destruir a fé e a caridade neles. Os ódios e as vinganças entre eles aparecem como fogos sombrios e como fogos brilhantes, os ódios como fogos sombrios e as vinganças como fogos brilhantes; todavia, não fogos, mas aparências; as crueldades de seu coração são vistas algumas vezes acima deles no ar como combates com os Anjos e como uma carnificina e massacre destes; é de suas cóleras e de seus ódios contra o Céu, que se elevam estas medonhas imagens fantásticas. Além disso, os mesmos aparecem de longe como bestas ferozes de todas espécies, tais como tigres, leopardos, lobos, raposas, cães, crocodilos e como serpentes de toda espécie; e quando vêem bestas mansas em formas representativas, eles as atacam em fantasia e fazem esforços para. as massacrar; eles se apresentaram à minha vista, como dragões, permanecendo perto de mulheres com as quais crianças que e se esforçavam, por assim dizer, para devorar conforme o que é referido no Apoc., Cap. 12, o que não é outra coisa senão representativos de ódio contra o Senhor e contra sua Igreja. Que, no Mundo, os homens que querem destruir a Igreja do Senhor sejam semelhantes a eles, isso não se manifesta diante das pessoas presentes porque os corpos, pelos quais exercem as faculdades morais, absorvem e escondem estás coisas; mas, entretanto, diante dos Anjos que olham, não os seus corpos, mas seus espíritos, elas aparecem nas mesmas formas que estes diabos, de que se acaba de falar. Quem poderia ter sabido tais coisas; se o Senhor não tivesse aberto a vista a alguém e não lhe tivesse dado a faculdade de penetrar no Mundo Espiritual? De outra forma, estas coisas; e outras muito dignas serem conhecidas pelos homens, não teriam ficado eternamente escondidas?

&313 SEXTO PRECEITO - Não cometerás adultério.313 - No Sentido Natural, por este preceito entende-se, não somente não cometer adultério, mas também não querer e não fazer coisas; obscenas; por conseguinte, não pensar e não dizer coisas; lascivas; que só cobiçar, seja cometer adultério, vê-se por estas palavras do Senhor: "Ouvistes que foi dito pelos antigos: Não cometerás adultério; Eu vos digo que se alguém olha para a mulher de um outro a ponto de a cobiçar, já cometeu adultério com ela, em seu coração" (Mateus V, 27, 28); a razão disso é que a cobiça torna-se como o fato quando está na vontade, pois no entendimento entra unicamente a inclinação, mas na vontade entra a intenção e a intenção da cobiça é o fato. Mas sobre este assunto, vê-se maiores desenvolvimentos no Tratado Do Amor Conjugal e do Amor Escortatório, publicado em Amsterdan em 1768, no qual se trata da oposição entre esses dois amores, ns. 423 a 443; da Fornicação, ns. 444 a 460; dos Adultérios, de suas espécies e de seus graus, ns. 473 a 499; da Lubricidade da defloração, ns. 501 a 505; da Lubricidade das variedades, ns. 506 a 510; da Lubricidade da violação, ns. 511 e 512; da Lubricidade de seduzir os

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inocentes, ns. 513 e 514; da Imputação de um e de outro amor, o escortatório e o conjugal, ns. 523 a 531. Todas estas cousas são entendidas por este Preceito no Sentido natural.

&314 - No Sentido Espiritual, por cometer adultério entende-se se adulterar os bens da Palavra e falsificar os seus veros; que seja isto também o que é entendido por cometer adultério ignorou-se até ao presente, porque até ao presente, o Sentido espiritual da Palavra tem estado escondido; que na Palavra não seja significada outra cousa por cometer seja adultério, seja fornicação, seja escortação, vê-se claramente por estas passagens: ''Correi pelas ruas de Jerusalém e procurai, se encontrar um homem que faça julgamento e que procura a verdade; quando eu os fartei, eles cometeram escortação" (Jeremias V, 1, 7). Profetas de Jerusalém vi uma obstinação horrível em cometer adultério e em caminhar na mentira" (Jeremias XXIII, 14). "Agiram loucamente era Israel, cometeram escortação, e pronunciará minha Palavra, mentindo" (Jeremias XXIX, 23). "Cometeram escortação, porque abandonaram Jehovah" (Hoséas IV, 10) . "Cortarei a alma que se volta para os pithons, e os adivinhos, para cometer escortação após eles" (Lev. XX, 6). "Não deve tratar aliança com os habitantes da terra, a fim de não cometer escortação após seus deuses" (Êxodo 34, 15). Como Babilônia adultera e falsifica a Palavra mais que todos os outros,' é por isso que ela é chamada a Grande Prostituta e se diz dela no Apocalipse: "Babilônia, com o vinho da cólera e de sua Escortação, saciou todas as Nações" (14, 8). 0 Anjo me disse: Eu te mostrarei o julgamento da grande Prostituta com a qual cometeram escortação todos os Reis da terra" (17, 2). ''Ele julgou a grande Prostituta que corrompeu a terra por sua escortação" (19, 2). E como a Nação Judaica tinha falsificado a Palavra, por isso foi chamada pelo Senhor, "Geração adúltera" (Mateus XII, 39; XVI, 4; Marcos VIII, 38); e Semente de adultério (Isaías LVI, 3); além de muitas outras passagens, onde pelos adultérios e as escortações são entendidas as adulterações e as falsificações da Palavra, como em Jeremias 111, 6, 8; XIII, 27; Ezequiel XVI, 15, 10, 26, 29, 32, 33; XXIII, 2, 3, 5, 7, 11, 14, 16, 17; Hoséas V, 3; VI, 16; Nahum 111, 1, 3, 4).

&315 - No Sentido Celeste, por cometer adultério, entendesse negar a santidade da Palavra e profaná-la; que seja isso o que é entendido nesse Sentido, é o que resulta do Sentido espiritual precedente, que é adulterar os bens e falsificar os veros da Palavra. Negam a santidade da Palavra e a profanam, aqueles que, em seu coração, riem de todas as coisas da Igreja e da religião, pois no Mundo Cristão todas as coisas da Igreja e da religião vêm da Palavra.

&316 - Há diferentes coisas que fazem com que o homem pareça casto não somente aos outros, mas também a ele mesmo, ainda que seja inteiramente não casto; pois ignora que a cobiça, quando entra na vontade, é o fato e que não pode ser afastada senão pelo Senhor após a penitência; abster-se de fazer não toma o homem casto, mas abster-se de querer, quando se pode fazer, porque é um pecado, eis o que o torna casto; por exemplo, se alguém se abstém dos Adultérios e das Escortações unicamente por medo è da lei civil e das penas que ela inflige, pelo medo de perder sua reputação e, por conseguinte, a honra, pelo medo das moléstias que daí provêm, pelo medo de questões. em casa com a esposa, e de perder assim a tranqüilidade da vida, pelo medo da vingança do marido e de seus aliados e dos maus tratos de seus domésticos; ou pela avareza ou por uma fraqueza proveniente ou de moléstia ou do abuso, ou da idade ou de outra causa de impotência; mais ainda, se abstém por alguma lei natural ou moral e não, ao mesmo tempo, pela lei espiritual, é sempre

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adultério e escortador interiormente, pois crê não obstante que o adultério e a escortação não são pecados e, por conseguinte, os considera em seu espírito como não ilícitos diante de Deus; e assim, em seu espírito, ele os comete ainda que não os cometa diante do Mundo no corpo; por isso depois da morte, quando se toma espírito, fala abertamente em seu favor. Além disso, os adultérios podem ser comparados aos que violam os tratados que fizeram; também aos Sátiros e aos Príapos, dos antigos, que corriam por aqui e por ali nas florestas, gritando: Onde estão as donzeIas, as noivas e as esposas com quem possamos nos divertir? Os adúlteros, no Mundo Espiritual, aparecem também na realidade como Sátiros e Príapos. Podem ainda ser comparados aos bodes que cheiram mal e aos cães que correm nas ruas e procuram e farejam onde estão as cadelas, com as quais se acasalam. A potência viril destes homens, quando se tornam maridos, pode ser comparada à floração das Tulipas na estação da primavera, as quais depois de um mês perdem a flor e murcham. &317 SÉTIMO PRECEITO - Não furtarás.317 No Sentido Natural, por este Preceito entende-se, segundo a letra, não furtar, não roubar e não agir como pirata no tempo de paz; e em geral não tirar às ocultas, nem sob pretexto algum, os bens de quem quer que seja. Este preceito se estende também a todas as velhacarias, aos ganhos ilícitos, à usura e às exacções; além disso, também às fraudes, no pagamento de tributos e dos impostos e na liquidação de dívidas. Contra este Preceito prevaricam os Operários que fazem seu trabalho sem sinceridade e sem fidelidade; os Comerciantes que sobre as mercadorias, sobre o peso, a medida e os cálculos, Oficiais que sonegam aos soldados o pagamento; os Juízes que, por causa de amizade, de presente, de parentesco ou por outros motivos, julgam pervertendo as leis ou as questões e privam os outros, dos bens que possuem com direito.

&318 - No Sentido Espiritual, por furtar entende-se vários outros dos veros de sua fé, o que se faz pelos falsos e po opiniões, heréticas; os Sacerdotes que desempenham o Ministério unicamente pelo ganho ou por ambição de honras e que ensinam cousas, que vêem ou podem ver pela Palavra que não são veros, são ladrões espirituais pois que tiram ao povo os meios de salvação, que são os veros da fé; estes são, por isso, chamados ladrões na Palavra nestas passagens: "Aquele que não entra porta no aprisco, mas que ai sobe por outro lugar, é um ladrão e um salteador; o ladrão não vem senão para roubar, matar e perder" (João X, 1, 10). "Ajuntai tesouros, não sobre a mas no Céu, onde os ladrões não vêm nem roubam" (Mateus VI, 19, 20). "Se viessem a ti ladrões, bandidos de noite, quanto serias saqueado ?" (Obad. vers. 5). "Na cidade se espalharão, a muralha correrão, na casa entrarão, pelas janelas e trarão, como um ladrão" (Joel 11, 9). "Obraram a mentira, o ladrão veio e a tropa se espalhou por fora" (Hoséas VII, 1).

&319 - No Sentido Celeste, pelos ladrões, entende-se os que arrebatam do Senhor o Divino Poder; além desses, os que se atribuem Seu Mérito e Sua Justiça; ainda que estes adorem a Deus, entretanto, têm confiança, não n'Ele, mas em si mesmos; e crêem não em Deus, mas neles mesmos.

&320 - Os que ensinam falsos e opiniões heréticas e persuadem ao vulgo que são veros e comas ortodoxas e que, entretanto, lêem a Palavra e, por conseguinte, podem saber o que é o falso e o que é o vero; além desses, os que por ilusões, confirmam os falsos da religião e seduzem, podem ser comparados aos impostores e às imposturas de todo gênero; e como estas em si mesmas, são urubus no Sentido espiritual, eles podem ser comparados aos

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impostores que forjam moedas fada, as cobrem de depois, também aos que sabem, com habilidade, talhar e polir cristais, os tomar duros e que os vendem por dia- e ainda, os que conduzem pelas cidades, sobre cavalos ou mulas, macacos vestidos como homens, com a face selada e que exclamam que são nobres de uma raça antiga. São semelhantes também aos que põem máscaras cobertas de pintura sobre as faces vivas e naturais e escondem as suas belezas. São ainda semelhantes aos que gabam e vendem como veios, muito pré-selenitas e talco que brilham como ouro e prata. Podem também ser assemelhados aos que, por peças de teatro, desse verdadeiro Culto Divino e dos templos, e atraem para à casas onde essas peças são representadas. Os que confirmam os falsos de todo gênero, não tendo estima alguma pelos veros e que desempenham as funções do sacerdócio unicamente pelo ganho e por ambição de honra, são assim ladrões espirituais e podem ser assemelhados a estes ladrões que levam chaves, com quais podem abrir as portas de todas as casas; além disso, também aos leopardos e às águias que, com seus olhos penetrantes, vêem onde estão as melhores presas.

&321 OITAVO PRECEITO - Não responderás em falso testemunho contra teu próximo.321 - No Sentido Natural mais próximo da letra, por não responder contra o próximo em falso testemunho ou não dar falso testemunho, entende-se não agir como fado testemunho diante do juiz, ou diante de um outro fora do tribunal, contra alguém que é acusado injustamente de algum mal e não o afirmar pelo nome de Deus, ou por uma outra coisa santa ou por si e por cousas de si, que são de alguma nomeada. Em um Sentido natural mais largo, por este preceito são entendidas as mentiras de todo gênero e as hipocrisias políticas que têm um fim mau; é também entendido não desacreditar e não difamar o próximo, o que destruiria a sua honra, seu nome e sua reputação, de que depende o caráter de todo homem. No Sentido natural mais lato, são entendidas as ciladas, as velhacarias e os maus desígnios contra alguém, provindos de diversas fontes, por exemplo, da inimizade, do ódio, da vingança, tia inveja, do ciúme, etc.; pois estes inales escondem em si o testemunho falso.

&322 - No Sentido Espiritual, por dar falso testemunho, entende-se persuadir que o falso da fé é o vero da fé, que o mal .da vida é o bem da vida, e reciprocamente; mas fazer uma ou outra cousa de propósito e não por ignorância, assim fazê-lo depois que se sabe o que é o vero e o bem e não antes, pois o Senhor disse: "Se fósseis cegos, não teríeis pecado; mas agora de Nós vemos; é por isso que o vosso pecado permanece" (João IX, 41). Este Falso é entendido na Palavra pela Mentira o Propósito é entendido pela Velhacaria, nestas passagens: "Tratamos aliança com a morte e com o inferno fazemos a visão, pu na mentira a nossa confiança; e na falsidade nós nos escondemos" (Isaías XXVIII, 15). "Um povo de Rebelião, eles; filhos mentirosos, que não querem escutar a lei de Jehovah" (Isaías XXX, 9) . "Desde o Profeta até ao Sacerdote, cada um faz a mentira" (Isaías VIII, 10) . "Os habitantes pronunciam a mentira e quanto à língua, o embuste está em sua bancam' (Miquéas VI, 12). "Tu perderás aqueles que pronunciam a mentira, o homem de fraude está e abominação a Jehovah" (Ps. (Sl. 5, 6). "Eles ensinaram sua língua a pronunciar a mentira; tua habitação é no meio da fraude" (Jeremias IX, 4, 5). Como ara tira significa o falso, o Senhor disse: "que o diabo pronuncia a mentira por si próprio" (João VIII, 44); a mentira significa também. o falso e a linguagem falsa nestas passagens: Jeremias XL 4; XXIII, 14, 32; Ezequiel XIII, 15 e 16; X.XI, 24; Oséas VII, 1; Nahum III, 1; Sl. 120, 2, 3.

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&323 -- No Sentido Celeste, por dar falso testemunho é tendido blasfemar o Senhor e a Palavra e também Expulsar, da Igreja, a Verdade mesma, pois o Senhor é a Verdade mesma semelhantemente a Palavra. Vice-versa, por dar Testemunho é entendido neste Sentido, pronunciar a Verdade e, pelo Testemunho, a Verdade mesma; é por isso também que o Decálogo é o chamado o Testemunho (Êxodo 24, 16, 21, 22; 30, 7, 18; 32, 15, 16; 40, 20; Levit. 16.0, 13; Num. 17, 19, 22, 25. E como o Senhor é a Verdade mesma, Ele disse de Si que Ele mesmo dá Testemunho; que o Senhor seja a Verdade mesma, vê-se em João XVI, 6, e no Apoc. 3, 7; e que Ele mesmo dá testemunho e seja seu próprio testemunho, vê-se em João 111, 11; VIII, 13 a 19; XV, 26; XVIII, 38.

&324 - Os que dizem falsos por velhacaria ou de propósito e os pronunciam com um tom que simula a afeição espiritual e mais ainda, se misturam com eles, verdades tiradas da Palavra que, por conseguinte, falsificam, tinham sido chamados Encantadores pelos Antigos, ver "Apocalipse Revelado" n. 462; e também Pythons e Serpentes da árvore da ciência do bem e do mal. Estes falsificadores, estes mentirosos e estes fraudulentos podem ser comparados àqueles que falam a seus inimigos com doçura, e amizade e que, enquanto falam, agarram por trás um punhal, com que os matam. Podem também ser comparados àqueles que, mergulham sua espada no veneno e atacam assim seus inimigos; e aqueles que misturam o acônito com água, vinho com resinas e ~as açucaradas. Podem ainda ser comparados a belas e atraentes prostitutas infectadas de moléstias contagiosas; a arbustos espinhosos que, aproximados das narinas, ferem as fibrilas do olfato; e a venenos adoçados; e também a estrumes que secam na estação do outono, espalhando um odor penetrante. Tais homens são designados na Palavra por leopardos, ver o "Apocalipse Revelado", n. 572.

&325 NONO E DÉCIMO PRECEITOS - Não cobiçarás a Casa de teu próximo; não cobiçarás a Esposa de teu próximo, nem seu Servo, nem sua Serva, nem seu Boi, nem seu Jumento, nem cousa alguma que seja de teu próximo.325 - Estas palavras, no Catecismo que está hoje entre as mãos, foram distinguidas em dois Preceitos; um que faz o Nono, é: Não cobiçarás a Casa de teu próximo; e o outro, que faz o Décimo, é: Não cobiçarás a Esposa de teu próximo, nem seu servo., nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem cousa alguma que seja de teu próximo; estes dois Preceitos fazendo única cousa e estando compreendidos em um único Versículo, Êxodo 20, 14, e Deut. 5, 18, acreditei dever tratar dos dois ao mesmo tempo; não que eu queira que eles sejam conjuntos em um único Preceito, mas eles devem ser distinguidos em dois como acaba de ser mostrado, pois que estes Preceitos são chamados as Dez Palavras, Êxodo 34, 28; Deut. 4, 13; 10, 4.

&326 - Estes dois Preceitos têm em vista todos os Preceitos que precedem; ensinam e prescrevem que não se faça os males, como também não se tenha cobiça por êles; por conseqüência, se referem não somente ao homem externo, mas também ao homem Interno, pois aquele que não faz os males e entretanto, deseja fazê-los, os faz contudo; com efeito, o Senhor disse: "Se alguém cobiça a mulher de um outro, já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mateus V, 27); e o homem Externo não se torna Interno ou não faz um com o homem Interno, senão, quando as cobiças foram afastadas; é também o que ensina o Senhor, dizendo: "Ai de vós escribas e fariseus! porque limpais o exterior do copo e do prato, enquanto que os interiores estão ,cheios de rapina e de intemperança; fariseu cego,

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limpa primeiramente o interior do copo e do prato, a fim de que o exterior também fique limpo" (Mateus XXIII, 25, 26), e além disso, em todo este Capítulo, desde o começo até ao fim; os internos, que são farisaicos, são as cobiças pelas cousas que lhes são proibidos de fazer nos Preceitos I, II, VI, VII, VIII. Sabe-se que o Senhor no Mundo ensinou os Internos da Igreja, e os Internos da Igreja são não ter cobiça pelos males e ensinou que o homem Interno e o homem Externo devem fazer um, e é isso ser gerado de novo, como o Senhor dizia a Nicodemus, João III, e ninguém pode ser gerado de novo ou ser regenerado, por conseqüência, torna-se Interno, a menos que o seja pelo Senhor; para que, estes Dois Preceitos tenham em vista todos os Preceitos que precedem, neste sentido de que é preciso não ter cobiça pelos males que proíbem, a Casa é citada em primeiro lugar, depois a Esposa, em seguida o servo e a serva, o boi e o jumento; e em último lugar, tudo o que é do próximo; com efeito, a Casa envolve tudo o que segue, pois nela há o marido, a Esposa, o servo, a serva, o boi e o jumento; a Esposa, que é mencionada em seguida, envolve também o que segue, pois ela é a Dona da casa, como o marido é o Dono; o servo e a serva estão subordinados a eles e o boi e o jumento estão subordinados a estes; e, em último ]lugar, todas as cousas que estão abaixo ou fora, visto que se trata de tudo o que é do próximo. Por isso, é evidente que estes dois Preceitos no Comum e no Particular, em um sentido largo e um sentido estrito, têm em vista todos os Preceitos precedentes.

&327 - No Sentido Espiritual, por estes; preceitos são proibidas todas as cobiças que são contra o espírito, assim que são contra os espirituais da Igreja, os quais se referem principalmente à fé à caridade porque se as cobiças não forem domadas, a came abandonada à sua liberdade se precipitaria em tudo que é ilícito, pois é sabido, segundo Paulo, "que a carne cobiça contra o espírito, e o espírito contra a carne" (Gal. 5, 17); e segundo Sou Tiago: "Cada um é tentado por sua própria concupiscência, quando é seduzido; em seguida, a concupiscência, depois que concebeu, engendra o pecado; e o pecado, quando foi consumado, engendra a morte" (Epist. 1, 14, 15); depois, segundo Pedro: "0 Senhor reserva os injustos para serem punidos no dia do julgamento; principalmente aqueles que andam atrás da carne na concupiscência" (II Epíst. 2, 9, 10). Em suma, estes dois Preceitos, entendidos no Sentido espiritual, têm em vista todas as cousas que foram referidas precedentemente no Sentido Espiritual, nisto, que não as devemos cobiçar; acontece o mesmo com todas as coisas referidas precedentemente no Sentido Celeste; repeti-las aqui seria supérfluo.

&328 - As concupiscências da carne, dos olhos e dos outros sentidos, separadas as concupiscências, isto é, das afeições, dos desejos e dos prazeres do espírito, são absolutamente semelhantes as cobiças das bestas, por isso, em si mesmas, bestiais; mas as afeições do Espírito são tais como as afeições dos Anjos e, por conseguinte, devem ser denominadas afeições verdadeiramente humanas; portanto, quanto mais alguém se entrega às cobiças da carne, tanto mais é besta e animal; mas quanto mais alguém se compraz nos desejos do espírito, tanto mais é homem e Anjo. As cobiças da carne podem ser comparadas a uvas dessecadas e torradas pelo ardor do sol, aos frutos da vinha selvagem e também ao gosto do vinho que delas provém. As cobiças da carne podem ser comparadas a estábulos onde estão jumentos, bodes e porcos; e as afeições do espírito, a estrebarias onde estão cavalos vigorosos; e também a apriscos, onde estão ovelhas e cordeiros; elas diferem também como o jumento e o cavalo, como o bode e a ovelha, e como o porco e o cordeiro; em geral, como a escória e o ouro, como a cal e a prata, como o coral e o rubi, etc. A cobiça

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e o fato são coerentes como o sangue e a carne, como a chama e o óleo, pois a cobiça está no fato, como o ar no pulmão quando se respira e se fala, como o vento na vela quando se navega e como a água, na roda, quando a máquina está em movimento e em ação.

&329 Os Dez Preceitos do Decálogo contêm tudo o que pertence ao amor para com Deus e tudo o que pertence ao amor em relação ao próximo.329 - Em oito preceitos do Decálogo, o Primeiro, o Segundo, o Quinto, o Sexto, o Sétimo, o Oitavo, o Nono e o Décimo, nada se diz concernente ao amor para com Deus e o amor em relação ao próximo, pois não se diz que é preciso amar a Deus, nem que é preciso santificar o Nome de Deus, nem que é preciso amar ao próximo, nem, por conseqüência, que é preciso agir para com ele com sinceridade e correção; mas se diz unicamente: Não haverá outro Deus diante de minhas faces; não tomarás o Nome de Deus em vão; não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não cobiçarás o que é do teu próximo; não darás falso testemunho; assim, se diz, em geral, que não se deve nem. querer, nem pensar, nem fazer o mal contra Deus, nem contra o próximo. mas se as cousas que concernem diretamente ao amor e à caridade não foram ordenadas e se diz unicamente: que as que são opostas não devem ser feitas, é porque tanto mais o homem foge dos malas como pecados, tanto, mais quer os bens que pertencem ao anua e à caridade. Que a primeira cousa -do amor para com Deus e o amor em relação ao próximo seja não fazer o mal; e que a segunda, seja fazer o bem, ver-se-á no Capítulo sobre a Caridade. Há dois amores opostos um ao outro, o amor de querer e fazer o bem e o amor de querer e fazer o mal; este é o amor infernal e aquele, o amor celeste, pois o Inferno está no amor de fazer o mal e todo o Céu está no amor de fazer o bem; ora, como o homem nasce nos males de todo gênero que, por conseqüência, por nascimento ele se inclina para as cousas que são do Inferno e como não pode vir para o Céu, a não ser que nasça de novo, isto é, a não ser que se regenere, é necessário que, em primeiro lugar, os males que são do Inferno sejam afastados antes que possa querer os bens que são do Céu; pois quem é que pode ser adotado pelo Senhor antes de ter sido separado do Diabo? Quanto à maneira por que os males são afastados e por que o homem é levado a fazer os bens, será exposto em dois Capítulos, um sobre a Penitência e o outro sobre a Reforma e a Regeneração. Que os males devem ser afastados em primeiro lugar, antes que os bens que o homem faz, se tornem bens diante de Deus, é o que o Senhor ensina em Isaías: "Lavai-vos, purificai-vos, afastai a malícia de vossas obras de diante de meus olhos; aprendei a fazer o bem; então quando mesmo Os vossos pecados fossem como a escarlata, como a neve se tornariam brancos; quando mesmo fossem vermelhos como a púrpura, com* a lã seriam" (I, 16-18). Semelhante a essa passagem é esta em. Jeremias: "Põe-te à porta da Casa de Jehovah; e aí proclama esta Palavra: Assim disse Jehovah Sebaoth, o Deus de Israel: Tornai bons os vossos caminhos e as vossas obras; não confieis em palavras de mentira, dizendo: 0 Templo de Jehovah, o Templo de Jehovah, aqui (isto é a Igreja); é roubando, matando, cometendo adultério e jurando falsamente, que em seguida vireis e vos poreis diante de Mim, nesta Casa, sobre a qual é chamado o meu Nome, e direis: Fomos libertados; enquanto fazeis todas estas abominações? E' pois que, em -caverna de ladrões, se tornou esta Casa? Sim, Eu mesmo, eis que o vi, palavra de Jehovah" (VII, 2, 3, 4, 9, 10, 11). Que antes de ser lavado ou purificado dos males, as preces a Deus não são ouvidas, é também ensinado em Isaías: "Jehovah disse: Ai da nação pecadora, do povo carregado de iniqüidade, que se voltaram para trás; é por isso que, quando estendeis vossas mãos, escondo meus olhos de vós; se mesmo multiplicais a prece, Eu não escuto" (I, 4, 15). Que o amor e a caridade venham àqueles que fazem os preceitos do .Decálogo, fugindo dos

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males, vê-se por estas palavras do Senhor em João: "Jesus disse: Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é o que me ama; ora, aquele que me ama será amado por meu Pai, Eu o amarei, eu mesmo me manifestarei a ele e morada nele faremos" (XIV, 21, 23); aí, pelos Preceitos são especialmente entendidos os Preceitos do Decálogo, que são, que é preciso não fazer os males, nem cobiçá-los; e que assim o amor do homem para com Deus e o amor de Deus em relação ao homem, vêm em seguida, como faz o bem depois que o mal foi afastado.

&330 - Foi dito que, tanto mais o homem foge dos males, tanto mais quer os bens; isso provém de que os males e os bens são opostos, pois os males são do Inferno e os bens são do Céu; por isso, que tanto mais é afastado o Inferno, isto é, o mal, tanto mais se aproxima o Céu e o homem olha para o bem; que assim seja, vê-se claramente pelos oito preceitos do Decálogo considerados da maneira seguinte: I. Quanto mais alguém não adora outros deuses, tanto mais adora o verdadeiro Deus. II. Quanto mais alguém não toma o Nome de Deus em vão, tanto mais ama as coisas que são de Deus. III. Quanto mais alguém não quer matar, nem agir por ódio e vingança, tanto mais quer bem ao próximo. IV. Quanto mais alguém não quer cometer adultério, tanto mais quer viver castamente com sua esposa. V. Quanto mais alguém não quer roubar; tanto mais se compraz na sinceridade. VI. Quanto mais alguém não quer dar falso testemunho, tanto mais quer pensar e dizer veros. VII e VIII. Quanto mais alguém não cobiça as cousas que são do próximo, tanto mais quer com as suas fazer bem ao próximo. Por isto se toma evidente que os preceitos do Decálogo contêm todas as cousas que pertencem ao amor para com Deus e ao amor em relação ao próximo; é por isso que Paulo disse: "Aquele que ama os outros cumpriu a Lei, pois isto: Não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, se resume nesta palavra: amarás teu próximo como a ti mesmo. A Caridade não faz mal ao próximo; a plenitude da Lei é portanto a Caridade" (Rom. 13, 8-10). A isso é preciso ajuntar duas Regras que servirão à Nova Igreja: I. Que ninguém pode fugir dos males como pecados, nem fazer por si mesmo bens que sejam bens diante de Deus; mas que quanto mais alguém foge dos males como pecados, tanto mais faz os bens, não por si mesmo, mas pelo Senhor. II. Que ,o homem deve fugir dos males como pecados e combater contra êles como por si mesmo; e que, se alguém foge dos males por qualquer outra causa que não seja porque são pecados, ele não os foge, mas unicamente faz com que não apareçam diante do Mundo.

&331 - Se o mal e o bem não podem estar juntos, e se quanto -mais é afastado o mal, tanto mais é visto e sentido o bem, é porque, no Mundo espiritual, de cada um se exala a esfera de seu amor, que se espalha e afeta tudo em torno e faz as simpatias e as antipatias; por estas esferas são separados os bons, dos maus. Que o mal deve ser afastado, antes que o bem seja conhecido, percebido e amado, é o que pode ser comparado com várias coisas do Mundo Natural; por exemplo: Um homem não pode ir ver um outro que guarda em seu quarto um leopardo e uma pantera, com os quais habita sem medo porque lhes dá de comer, a não ser que estes tenham antes afastado estas bestas ferozes. Qual é o homem que, convidado para a mesa de UM Rei, e de uma Rainha, não lava antes seu rosto e suas mãos, para depois ir lá? e qual aquele que entra no quarto nupcial com sua esposa, depois da cerimônia do casamento, sem ter tomado um banho, e sem ter posto. Uma roupa de núpcias? Qual é aquele que não purifica pelo fogo os minerais e não separa deles as escórias, antes de obter o ouro e a prata puros? Quem é que não separa de seu trigo, o joio,

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antes de o pôr em sua granja? e quem é que não bate a aveia com a mangual paxa separar as cascas antes de a levar para casa? Quem é que não escuma a carne crua posta na panela andes, que se torne comível e seja levada para a mesa? Quem é que não sacode em seu jardim os insetos de cima das fôlhas das árvores a fim de que as folhas não sejam devoradas e o fruto se perca? Quem é que não vê com repugnância imundícies nas casas e nos vestíbulos e não as limpa, sobretudo quando se espera um príncipe, ou a filha de um príncipe como noiva? Quem é que ama e procura para casar um§, moça que sabe infectada de doenças malignas ou coberta de pústulas e de varizes, embora ela disfarce seu rosto e esteja ricamente vestida e se aplique às seduções do amor por palavras doces? Que o homem deve se purificar dos males por si mesmo, e não esperar que o Senhor o purifique imediatamente, isso é evidente; de outro modo, seria como um criado que, aproximando-se de seu amo com o rosto e as roupas cobertos de fuligem e de barro lhe dissesse: "Senhor, lava-me!" Seu amo não lhe diria: "Criado estúpido, que dizes? Lá estão a água, o sabão e a toalha, não tens mãos e força para utilizá-las? lava-te a ti mesmo". E o Senhor Deus diria: "Os meios de purificação vêm de Mim, teu querer, e tua força vêm de Mim, serve-te pois dos meus dons e dos meus presentes como cousas, tuas e serás purificado"; e assim por diante. Que o homem Externo deve ser limpo, mas pelo homem Interno, o Senhor o ensina em Mateus, Capitulo XXIII, desde o começo até o fim.

&332 - Ao que precede sejam ajuntados Quatro Memoráveis.Primeiro Memorável. Um dia ouvi grandes gritos que pareciam vir dos infernos através das águas; um à esquerda: Ó como eles são justos! outro à direita: Ó como eles são eruditos! e um terceiro por trás: Ó como eles são sábios! e como me veio ao, pensamento se no Inferno havia também Justos, Eruditos e Sábios, fui tomado pelo desejo de ver se lá os havia realmente; eme foi dito do Céu: Tu verás e ouvirás; saí da casa em espírito e vi diante de mim uma Abertura; me aproximei dela e olhei; e eis uma escada pela qual desci; e quando cheguei em baixo, vi planícies cobertas de arbustos entremeados de espinheiros e de urtigas; e perguntei se era isso o Inferno; disseram-me: É a terra Inferior, que fica imediatamente acima do Inferno; e então avancei em direção aos Gritos, seguindo a ordem; para o primeiro Grito: Ó como eles são justos! e vi uma Assembléia daqueles que no Mundo tinham sido Juizes de amizade e de presentes; em seguida, para o segundo grito: Ó como eles são Eruditos! e vi uma Assembléia daqueles que no Mundo tinham sido Raciocinadores; e enfim, para o terceiro Grito: Ó como eles são Sábios! e vi uma Assembléia daqueles que no Mundo tinham sido Confirmadores; mas destes, voltei para a primeira Assembléia onde estavam os Juizes de amizade e de presentes, que eram proclamados Justos; e vi sobre o lado uma espécie de anfiteatro construído de tijolos e coberto de telhas negras e me foi dito que era lá o seu Tribunal; chegava-se lá por três entradas do lado setentrional, três do lado ocidental; e não as havia do lado meridional nem do lado oriental, índice de que seus julgamentos não eram Julgamentos de justiça, mas eram arbitrários. No meio, do Anfiteatro, vi uma lareira onde, criados encarregados deste serviço, lançavam tochas sulfurosas e betuminosas, cujos clarões projetando-se sobre as paredes rebocadas de novo apresentavam imagens pintadas de pássaros da tarde e da noite; mas esta lareira e as projeções de luz nas formas destas imagens eram representações de seus Julgamentos, em que podiam disfarçar o fundo de toda questão e revesti-lo de formas segundo o favor. Meia hora depois, vi entrar, com vestes compridas e com mantos, Velhos e Moços, que, depois de terem tirado seus gorros, se colocaram sobre Assentos perto das Mesas para

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fazerem julgamentos; escutei e percebi, com que habilidade e com que sagacidade, tendo em vista a amizade, eles faziam pender e torcer os julgamentos em aparências de justiça e, a tal ponto, que eles mesmos viam o injusto, não de outra forma, senão como justo e vice-versa; o justo, não de outra forma, senão como injusto; as persuasões sobre o justo e o injusto se mostravam tais pelas suas faces e eram ouvidas corno tais pelas som de sua linguagem; então, me foi dado do Céu, uma ilustração, pela qual percebi que, cada uma das cousas, era conforme ou não conforme com o direito; e vi com que habilidade eles velavam o injusto e lhe davam sa aparência do justo, com que habilidade escolhiam entre as leis a que era favorável para a da ligar o fundo da questão, pondo de lado, por meio de raciocínios hábeis, todas as outras. Depois dos julgamentos, as Sentenças eram levadas aos clientes, aos amigos e aos sectários; estes, para os recompensarem por seu; favor gritavam pelo caminho: 0' como eles são justos! Depois disso, falei deles com Anjos do Céu e lhes contei, em parte, o que tinha visto e ouvido; e os Anjos me disseram: Tais juízes parecem aos outros ter um entendimento de penetração muito sutil; entretanto, êles não vêem a menor coisa do justo e do eqüitativo; se tirares a amizade por um dos partidos, êles se assentam nos julgamentos como estátuas e dizem unicamente: Concordo, filiome à opinião deste ou daquele; isso porque todos os seus julgamentos são estabelecidos sobre prevenções e a prevenção, junta ao favor, segue a causa desde o começo até ao fim; assim êles não vêem senão o que é favorável ao amigo; quanto a tudo que lhe é contrário, olham pelo canto do olho; e se novamente se trata disso, eles o envolvem com raciocínios, corno a aranha envolve de fios a sua presa, e a aniquilam; dai, vem que se não seguem a teia de sua prevenção, nada vem do direito; foi examinado se podiam ver alguma cousa dele e achou-se que não podiam; os habitantes do teu Mundo ficarão admirados que assim seja, mas dize-lhes que isso é uma verdade reconhecida como incontestável pelos Anjos do Céu. Como esses nada vêem do justo, nós os consideramos no Céu, não como homens, mas como monstruosas imagens de homens, cujas cabeças constituem as coisas que são da amizade, os peitos, as que são da injustiça, as mãos e os pés, as que são confirmações, as plantas, as que são da justiça, as quais eles derrubam e pisam com os pés, se não são favoráveis ao amigo. Mas quais são êles, considerados em si mesmos, tu vais ver, pois seu fim está próximo. E eis que imediatamente o solo se entreabriu, as mesas caíram sobre as mesas e eles foram tragados com todo o Anfiteatro, lançados em cavernas e encarcerados; então me foi dito: Queres vê-los lá? E eis que foram vistos, quanto à face, como aço polido; quanto ao corpo, desde o pescoço até aos lombos, como estátuas vestidas de peles de leopardo; e quanto aos pés, como cobras; e vi os Livros de sua Lei, que tinham posto sobre as Mesas, transformados em cartas de jogar; então, em lugar de julgar, lhes foi dado como emprego preparar vermelhão em tinta para pôr no rosto das prostitutas e mudá-las assim em belezas. Depois que vi essas cousas, quis ir para as duas outras Assembléias onde, em uma, estavam puros Raciocinadores; e na outra, puros Confirmadores, mas me foi dito: Repousa um pouco; Anjos da Sociedade mais próxima acima deles te serão dados como companheiros; por eles, o Senhor te dará a luz e tu verás cousas surpreendentes.

&333 - Segundo Memorável Pouco tempo depois, ouvi de novo, da Terra inferior, estas exclamações: Ó como eles são Eruditos! Ó como eles são Eruditos! E olhei para todos os lados para ver que pessoas estavam perto de mim; eram Anjos que, no Céu, estavam imediatamente acima daqueles pelos quais se gritava: Ó como eles são Eruditos! Conversei com eles sobre este grito e me disseram: Estes Eruditos são daqueles que, raciocinando,

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procuram unicamente se a coisa é ou não é, e que pensam raramente que ela é de tal maneira; por isso, são como ventos que sopram e passam; como cascas em torno de árvores que não tem miolo; como cascas em torno de amêndoas sem núcleo;e ou como a superfície de frutos sem carne, pois suas Mentes são sem julgamento interior, e só estão unidas aos Sentidos do corpo; é por isso que, se os sentidos mesmos: não julgam, eles nada podem concluir; em uma palavra, são puramente sensuais, e nós os chamamos Raciocinadores; são chamados raciocinadores porque jamais concluem cousa alguma, mas se apoderam de tudo que ouvem e discutem se a coisa é, contradizendo-a continuamente;nada gostam mais do que atacar as verdades e assim despedaçá-las, submetendo-as a debates; são os que se acreditam no Mundo mais Eruditos do que todos os outros. Depois de ter recebido estas informações, pedi aos Anjos que me conduzissem a eles; me conduziram a uma Cavidade onde havia degraus que levavam à terra inferior; descemos e seguimos o grito: Ó como eles são Eruditos! e eram algumas centenas que se mantinham de pé, em um mesmo lugar; batendo na terra; perguntei porque estavam assim, de pé, batendo na terra com os pés? E acrescentei: Eles podem, assim, fazer uma escavação no solo. A estas palavras os Anjos sorriram e disseram: Aparecem assim de pé, porque, sobre não importa que assunto, não pensam de modo algum que isso é assim, mas perguntam somente se isto é assim, e discutem; e quando o pensamento não vai mais longe, aparecem unicamente calcando, pilando com os pés um torrão de terra e não avançando. E os Anjos ajuntaram: Os que vêm do Mundo natural para este e aprendem que estão em um outro Mundo, se reúnem em vários lugares, em Assembléias, procuram onde é o Céu e onde é o Inferno e também onde está Deus; mas depois de terem sido instruídos, se põem a raciocinar, a discutir e a debater, se há um Deus; fazem isso porque hoje, no Mundo natural, há um grande número de Naturalistas e estes, entre si e com os outro, quando falam de Religião, põem isso em, discussão; esta proposição e esta discussão terminam raramente na afirmação da fé, de que há um Deus; e estes, depois, se consociam cada vez mais com os maus; isso acontece porque ninguém pode fazer algum bem pelo amor do bem, senão por Deus. Fui, em seguida, conduzido para a Assembléia; me apareceram como homens de bom aspecto e decentemente vestidos; e os F os disseram: Eles aparecem assim em sua própria luz, mas quando a luz do Céu influi, as faces mudam e as roupas também; é o que aconteceu e, então, apareceram com faces lívidas, cobertas de sacos pretos; mas esta luz tendo sido retirada, foram vistos como antes. Pouco depois falei a alguns da Assembléia e disse: Ouvi a multidão que vos cerca gritar: Ó como eles são Eruditos! Que me seja, portanto, permitido discutir convosco sobre assuntos que são da mais profunda Erudição; e êles responderam: Diz o que te agrada e nós te satisfaremos; e propus esta questão: Qual deve ser a Religião pela qual o homem é salvo? E disseram-me: Dividiremos a questão em várias outras e antes de termos concluído sobre estas, não podemos dar resposta; é preciso antes por em discussão: 1) se uma religião é alguma coisa? 2) se há salvação ou não? 3) se há uma Religião que seja mais eficaz que uma outra? 4) se há um Céu e um Inferno? 5) se há uma vida eterna depois da morte? Além de muitos outros pontos. E pedi que tratassem do primeiro ponto: Se a Religião é alguma coisa? e eles se puseram a discutir este ponto por uma multidão de argumentos; e lhes pedi que o referissem à Assembléia, e o fizeram; a resposta comum foi que esta proposição exigia tão numerosas pesquisas, que não poderia ser resolvida naquela tarde; mas, perguntei se poderia ser um em ano? e um deles me disse: que não o poderia ser em cem anos; e eu disse: Enquanto esperais, ficais sem religião; e como a salvação depende dela, ficais sem idéia, sem fé e sem esperança de salvação; ele, respondeu: Não deve antes ser demonstrado se há uma Religião e o que é esta Religião e se

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é alguma cousa? se há uma, ela será também para os sábios; se não há, aquilo que é chamado religião será unicamente para o vulgo; sabe-se que a Religião é chamada Ligação; mas pergunta-se para quem é esta ligação; se é unicamente para o vulgo, ela não é em si mesma alguma coisa? Se é também para os sábios, ela é alguma coisa? Depois de ter ouvido esta resposta, disse: Vós nada tendes de Eruditos, pois não podeis pensar senão se uma cousa é ou não é e examinar em um e outro sentido; quem pode ser Erudito, a não ser que saiba alguma cousa com certeza e avance nessa coisa? Como um homem avança passo a passo e sucessivamente na Sabedoria? De outro modo vós não tocais as verdades nem mesmo com um dedo, mas as afastais cada vez mais da vista; raciocinar unicamente, se uma coisa é ou não é, é como raciocinar sobre um boné sem jamais pô-lo na cabeça ou sobre um sapato sem o calçar; resulta daí, senão que não sabeis se, seja o que for, existe realmente ou se tudo não é ideal; assim, se há uma salvação, uma vida após a morte, se uma Religião vale mais do que uma outra, se há um Céu e um Inferno; não podeis pensar coisa alguma sobre estes assuntos, enquanto vos detiverdes no primeiro passo, e aí bateis a areia, sem levar um pé para diante do outro e sem avançar. Tende cuidado para que as vossas Mentes, enquanto, se mantêm assim fora do julgamento, não se endureçam interiormente e não se tornem estátuas de sal. Depois de ter assim falado, fui embora; e eles em sua indignação, lançaram pedras atrás de mim; então me apareceram como imagens talhadas, nas quais não há uma centelha de razão humana. E indaguei dos Anjos sobre a sorte destes espíritos; eles me disseram que os mais abjetos dentre eles são precipitados no profundo, e lá em um deserto, são reduzidos a carregar fardos; e então, como dizer de conformidade com a razão, balbuciam, falam coisas frívolas e, de longe, aparecem como jumentos carregando suas cargas.

&334 - Terceiro Memorável. Em seguida, um dos Anjos me disse: Segue-me para o lugar onde gritam: Ó como eles são sábios! e me disse: Verás prodígios de homens; verás faces e corpos, que são de homens e, entretanto, não são homens; e eu disse: São portanto bestas? Respondeu: Não são bestas? Mas bestas-homens, pois são tais que não podem, de modo algum, ver se o vero é vero ou não e, entretanto, podem fazer com que tudo que querem apareça como vero; estes entre nós são chama dos Confirmadores. E seguimos o Grito e chegamos ao lugar; e eis uma Assembléia de Homens, em torno, uma multidão e na mesma, algumas pessoas de distinção, que, tendo ouvido que eles confirmavam tudo que diziam e como, por una aquiescência manifesta, lhes eram favoráveis, se voltaram e disseram: Ó como eles são sábios! Mas o Anjo me disse: Não vamos para junto deles, mas chamemos um da Assembléia; chamamos um e nos retiramos com ele, à parte; falamos de diversas cousas e ele as confirmava todas, a ponto de parecerem absolutamente como verdadeiras; e lhe perguntamos se podia também confirmar as coisas contrárias; disse que podia tão bem como as precedentes; então ele disse abertamente, do fundo do coração: o que é o vero? Na natureza das cousas há outro vero senão o que o homem faz vero? Diz o que te agrada e eu farei que seja vero; e eu disse: Faz Vero isto, que a Fé é tudo na Igreja; ele o fez com tanta destreza e habilidade, que os Eruditos que estavam nos arredores, ficaram admirados e aplaudiram; depois lhe pedi que fizesse vero que a Caridade é tudo na Igreja; e, ele o fez em seguida, que a Caridade não pertence, de modo algum, à Igreja; ele envolveu uma e outra proposição e as ornou de aparências, de sorte que os assistentes se olhavam entre si, e diziam: Este não é um Sábio? e eu disse: Não sabes que bem viver e que bem dizer é a Fé? Não vês que isto é vero? Respondeu: Parei isso vero e verei; e a fez, e disse: Agora eu vejo; mas pouco depois fez que o contrário fosse vero e disse: Vejo também que isto é vero; a

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essas palavras, sorrimos e dissemos: Não estão aí cousas, contrárias? como dois contrários podem ser vistos como veros? A isso, ele respondeu muito indignado: Estais no erro; um e outro é vero, pois que não há vero senão o que o homem faz vero. Perto daí, estava alguém, que no Mundo tinha sido Embaixador de primeira classe; ele ficou admirado do que acabava de ouvir e disse: Reconheço que há alguma cousa semelhante no Mundo, mas contudo, tu desarrazoas; faz, se podes, que seja vero que a Luz é Obscuridade e que a Obscuridade é a Luz; e ele respondeu: Eu o farei facilmente; o que é a Luz e a Obscuridade, senão um Estado do olho? A luz não é mudada em sombra quando o olho acaba de ser exposto aos raios do sol, como também quando se encara fixamente o sol? Quem não sabe que então o estado do olho é mudado e, por conseguinte, que a luz aparece como sombra e que vice-versa, quando o estado do olho volta, esta sombra aparece como luz? 0 Mocho não vê a obscuridade da noite como a luz do dia e a luz do dia como a obscuridade da noite, e o sol mesmo, como una globo inteiramente opaco e sombrio? Se o homem tivesse os olhos como o mocho, o que chamaria ele luz e o que chamaria obscuridade? Então o que é a Luz, senão um estado, do olho e se é unicamente um estado do olho a Luz não é Obscuridade, e a Obscuridade, Luz? Portanto, um é vero e o outro é vero. Mas como esta confirmação deixava embaraçados alguns dos assistentes, eu disse: Notei que este confirmador não sabe que há uma Luz verdadeira e uma Luz quimérica (Luz fátua), e que estas duas Luzes aparecem como luzes, mas que, entretanto a Luz quimérica não é em si mesmo uma Luz; não é senão obscuridade relativamente à Luz verdadeira; o Mocho está na Luz quimérica, pois está dentro de seus olhos a cupidez de perseguir e devorar pássaros; e esta Luz faz com que seus olhos vejam durante a noite, absolutamente da mesma maneira que os Gatos, cujos olhos nos celeiros aparecem corno velas; está dentro de seus olhos a luz quimérica proveniente da cupidez de perseguir e devorar ratos, que produz isso; daí, é evidente que a Luz do Sol é a Luz verdadeira e que a Luz da cobiça é uma Luz quimérica. Em seguida, o Embaixador pediu ao Confirmador para fazer vero isto, que o corvo é branco, e não negro; e ele respondeu: Eu o farei com facilidade; e disse: Toma uma agulha ou uma faca e abre as asas e as plumas do corvo, não são elas brancas por dentro? Depois afasta as asas e as plumas e examina o Corpo pela pele; não é ele branco? o que é o preto que o cerca, senão uma sombra pela qual não se deve julgar a cor do Corvo? Que o preto não seja senão a sombra, consulta os que possuem a Ciência da ótica e eles te dirão; ou antes, pulveriza uma pedra preta e verás que o seu pó é branco. Mas, respondeu o Embaixador, não é que o Corvo aparece preto diante da vista? 0 que! Replicou o Confirmador, queres tu, que és homem, pensar alguma coisa pela aparência? Podes dizer é verdade, segundo a aparência, que o Corvo é preto, mas não o podes pensar; assim, por exemplo, podes dizer, segundo a aparência, que o sol se levanta e se deita, mas como és um homem, não o podes pensar, porque o sol permanece imóvel e a terra gira; dá-se o mesmo com o Corvo; uma aparência é uma aparência; diz tudo o que quiseres, o, corvo, é inteiramente branco; e branqueia quando fica velho, eu o vi; depois destas palavras, os assistentes voltaram os olhos para mim; por isso disse: E' verdade que as asas e as plumas do Corvo se aproximam, no interior, do branco; e igualmente a sua pele, mas isso se dá não somente nos corvos, mas também em todos os pássaros do Universo; e todo homem distingue os pássaros pela aparência de sua cor se não agíssemos assim, diríamos que todo pássaro é branco, o que seria absurdo e vão. Depois disso, o Embaixador lhe perguntou: Podes fazer vero isto, que tu és louco? e ele disse: Poderia, mas não o quero; quem é que não é louco? Em seguida lhe pediram para dizer do fundo do coração, se ele estava brincando ou se acreditava que não há vero senão o que o homem faz vero; e respondeu: Juro que o creio. Depois desta

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conversação, este Confirmador universal foi enviado para os Anjos, a fim de que examinassem o que ele era; e depois de o terem examinado, disseram que êle não possuía nem mesmo um grão de entendimento porque tudo o que está acima do racional estava fechado nele e que só havia aberto o que estava abaixo do racional; acima do Racional está a Luz espiritual; e abaixo do Racional está a Luz natural e esta, no homem é tal, que pode confirmar o que lhe apraz; mas se a Luz espiritual não influi na Luz natural, o homem não vê se o que é vero é vero,, e ainda, muito menos, se o que é falso é falso; ora ver um e outro depende da Luz espiritual na luz natural; e a luz espiritual vem de Deus do Céu, que é o Senhor; é por isto que este Confirmador universal não é homem nem besta, mas é besta-homem. Perguntei ao Anjo qual era a sorte destes confirmadores, e se podiam estar com os viras, pois que vida está no homem pela Luz espiritual e seu entendimento vem desta luz; disseram-me que estes confirmadores, quando estão sós, nada podem pensar, nem dizer,mas ficam de pé mudos como autômatos e corno que mergulhodos em profundo sono, e despertam desde que alguma coisa choca seus ouvidos; e acrescentaram que assim se tornam os que são intimamente maus; a luz espiritual não pode influir neles pela parte superior, mas influi unicamente pelo Mundo algum espiritual, de onde lhes vem a faculdade de confirmar. Após estas explicações, ouvi uma voz vinda dos Anjos que o tinham examinado, dizendo: Faz de tudo que ouviste uma Conclusão geral; e fiz esta: Poder confirmar tudo o que agrada não é próprio de homem inteligente; mas poder ver que o que é vero é vero e o que é falso é falso; e confirmar isso, Isso sim, é próprio do homem inteligente". Dirigi, em seguida, os meus olhos para a Assembléia onde estavam os Confirmadores e, em torno deles, a multidão gritava: Ó como são sábios! e eis que uma nuvem sombria os envolveu e na Nuvem voavam corujas e morcegos; e me foi dito: As corujas e os morcegos que voam nesta nuvem são as correspondências e as aparências dos pensamentos destes Confirmadores; pois ás confirmações das falsidades, a ponto de aparecerem como verdades, são representadas neste Mundo sob as formas de aves noturnas, cujos olhos são iluminados por dentro pela luz quimérica, segundo a qual eles vêem os objetos nas trevas como em uma luz; uma tal luz quimérica espiritual está nos que confirmam os falsos, a ponto de vê-los como veros; todos esses estão na visão posterior e não em nenhuma vista anterior.

&335 -Quarto Memorável. Um dia, tendo despertado do sono ao amanhecer, vi diante de meus olhos como Espectros de aparências diversas; e em seguida, quando amanheceu, vi Luzes quiméricas sob diferentes formas, umas como pergaminhos cobertos de escrituras, que dobrados e redobrados apareciam por fim como Estrelas cadentes, e dissipavam-se no ar; e as outras como Livros abertos, dos quais, alguns brilhavam como pequenas luas e outros como velas; entre estes havia Livros que se elevavam ao alto e aí se perdiam; e outros que caíam por terra e aí eram reduzidos a pó. De tudo que eu acabava de ver augurei que abaixo destes Meteoros havia Espíritos que discutiam sobre cousas imaginárias, que acreditavam ser de grande importância, pá, no Mundo espiritual, tais Fenômenos aparecem nas atmosferas pelos raciocínios daqueles que estão em baixo; e pouco depois, a vista de meu espírito me foi aberta e notei numerosos Espíritos, cujas cabeças estavam ornadas com folhas de loureiro e os Corpos cobertos de roupas floridas; significava que eram Espíritos que, no ,Mundo natural, tinham gozado de grande renome de erudição; e como eu estava em espírito, aproximei-me e me misturei com a Assembléia; então, ouvi que discutiam com vivacidade e ardor sobre as idéias inatas (ideae connatae), se havia algumas nos homens desde o nascimento como nas bestas; os que negavam, se afastavam dos que afirmavam; e

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por fim, se conservaram separados uns dos outros como as falanges de dois Exércitos prestes idéias desembainhar as; espada, mas, como não havia espadas, combatiam com as pontas das palavras. Mas então, de repente um Espírito Angélico se achou no meio deles; e, falando em voz alta, diste: Ouvi à distância, não longe de vós, que vos inflamáveis de, parte a parte, em uma discussão sobre as Idéias inatas; se havia algumas nos homens como nas bestas; mas eu vos digo, que pão há idéia alguma inata nos homens, e que não as há tampouco nas bestas; disputais, portanto, por nada ou, como se diz, sobre a lã da cabra, ou sobre a barba do século. Ouvindo estas palavras, todos se arrebataram e gritaram: Expulsai-o, ele fala contra o Senso comum; mas esforçando-se por expulsá-lo, viram-no cercado de uma Luz celeste, através da qual não podiam se lançar, pois era Espírito Angélico; voltaram pois sobre seus passos e se afastaram um pouco dele; depois que esta luz se concentrou nele, ele lhes disse: Por que vos arrebatais, escutai antes e reuni as razoes que vou dar te vós mesmos tirai uma conclusão delas; prevejo que os que são dotados de julgamento as aceitarão e acalmarão as tempestades levantadas em vossas mentes. A estas palavras, eles disseram com um tom de voz que encerrava indignação: Fala, pois, e nós escutaremos; então, começando a falar, disse: Acreditais que nas Bestas há idéias inatas e concluístes isto porque suas ações parecem resultar de pensamentos; entretanto, nelas não há a menor coisa que pertença ao pensamento; e as idéias são atributos do pensamento, o caráter do pensamento é que se aja em vista disto ou daquilo, de tal ou qual maneira; examinai pois: Será que a Aranha, que tece a sua teia com a maior arte, pensa em sua cabecinha: Vou estender meus fios nesta ordem e os ligarei em conjunto, por fios postos de través, a fim de que minha teia não seja dispersada pela primeira agitação do ar; às primeiras extremidades dos fios que formarão o meio de minha teia, eu me prepararei uma morada, de onde perceberei tudo que nela caia, para aí acorrer; por exemplo, se uma mosca para ai voa, ela ficará presa nos fios e, imediatamente, me lançarei sobre ela e a envolverei com fios e me alimentarei com ela? E mais, será que a Abelha pensa em sua cabecinha: Vou voar, eu sei onde há campos cobertos de flores e aí sugarei em umas, a cêra e em outras, o mel; e com a cera construirei células contíguas, em série, de tal maneira, que eu e minhas companheiras entremos e saiamos livremente como pelas ruas e, em seguida, ai depositamos mel em abundância, a fim de que haja bastante para o inverno que está para vir, para que não morramos? além de muitas outras maravilhas, nas quais não somente elas rivalizam com a prudência política e econômica dos homens, mas por vezes mesmo a excedem. Ver o n.12. - Além disso, será que o Zangão pensa em sua cabecinha: Eu e meus companheiros f fabricaremos unia casinha de delgado papirus, da qual contornaremos as paredes no interior em forma de labirinto e no centro disporemos uma praça pública onde haverá uma entrada e uma saída; e isso com uma tal esperteza, que nenhum ser vivo que não seja da nossa raça, não ache o caminho que conduz ao lugar intimo onde nós nos reunimos? Além disso, será que o Bicho da seda, enquanto não é mais. que verme, pensa em sua cabecinha: É tempo agora de me preparar para fiar minha seda, a fim de que, quando estiver fiada, eu voe e no ar, onde ainda não tinha podido me elevar, brinque com meus semelhantes e proveja à minha progenitura? Da mesma forma os outros vermes, quando se arrastam ao longo dos muros e se tornam ninfas, aurélios, crisálidas e, enfim, borboletas. Será que a mosca tem alguma idéia de ligação com uma outra mosca, se é aqui e não lá? E para os animais de um corpo maior, não é a mesma coisa que para estes insetos, por exemplo, para os pássaros e para os empenados de todo gênero quando se acasalam, depois quando constroem seus ninhos, aí põem seus ovos, os chocam, tiram os filhotes, lhes dão o biscate, os educam até que voem e, em seguida, os expulsam do ninho como se não fossem sua progenitura, sem

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falar de muitos outros detalhes sem número? Não se dá ainda o mesmo com as bestas da terra, com as serpentes e com os peixes? Quem de vós não pode ver, por estes exemplos, que seus atos espontâneos não profluem de pensamento algum, do qual a idéia unicamente se pode dizer? 0 erro de que há idéia nas bestas não proflui de outra parte senão da persuasão de que elas pensam como os homens e que só a linguagem faz a diferença. Depois de falar assim, o Espírito Angélico olhou em torno de si e como os visse ainda incertos, se as bestas tinham ou não pensamentos, continuou seu discurso e disse: Percebo que a semelhança dos atos dos animais brutos com os dos homens está ainda ligada em vós à idéia visionária sobre o pensamento desses animais; direi de onde vêm seus atos. Em cada besta, cada pássaro, cada peixe, cada réptil Em cada inseto, há seu amor natural, sensual e corporal, de que suas cabeças são as moradas; e nelas estão os cérebros, pelos quais o Mundo espiritual influi imediatamente nos Sentidos de seus corpos; e por estes sentidos determina os atos, o que faz com que os Sentidos de seus corpos sejam muito mais agudos do que os dos homens. É este influxo do Mundo espiritual que é chamado, Instinto; e é chamado Instinto porque existe sem o pensamento intermediário; há também os acessórios do Instinto, que provêm do hábito. Mas seu amor pelo qual vem do Mundo espiritual a determinação para os atos, é unicamente para a Alimentação e a Propagação e não para alguma ciência, alguma inteligência e alguma sabedoria, pelas quais o amor chega sucessivamente ao, homem. Que, no homem não haja também idéia inata, pode-se ver claramente pelo fato de que nele não há pensamento inato e onde não há pensamento, não há também idéia, pois esta pertence àquele, reciprocamente; é o que se pode concluir das crianças recém-nascidas, pelo fato de que elas só podem mamar e respirar; se podem mamar, não é por alguma cousa inata, mas é devido à contínua sucção no útero da mãe; e se podem respirar é porque vivem, pois é isso um universal da vida; os Sentidos mesmos de seus corpos estão em uma profunda obscuridade e elas saem desta obscuridade sucessivamente com esforço pelos objetos; do mesmo modo seus movimentos se desenvolvem pelo hábito; e sucessivamente, à medida que aprendem a dizer palavras e a pronunciá-las, a princípio, sem idéia, começa a aparecer uma certo obscuro de fantasia; e à medida que se esclarece nasce um obscuro de imaginação e, em seguida, de pensamento; segundo a formação deste último estado existem as idéias, que, assim como acaba de ser dito, fazem um com o pensamento; e o pensamento, de nulo que era, cresce pelas instruções; é por isso que os homens têm idéias, não inatas, mas formadas; e destas idéias decorrem suas palavras e seus atos. (Que não haja de inato no homem senão a faculdade de saber, de compreender e de ser sábio e também a inclinação para amar não somente a ciência, a inteligência e a sabedoria, mas também o próximo e a Deus, pode-se ver acima no Memorável n. 48, e também mais abaixo em um outro Memorável). Depois destes discursos do Espírito Angélico, olhei em torno de mim e vi, a pouca distância, Leibnitz e Wolf, que meditavam profundamente sobre as razões dadas pelo Espírito Angélico; e então Leibnitz se aproximou e deu seu assentimento; mas Wolf foi embora negando e afirmando, pois ele não era dotado de um tão bom julgamento interno como Leibnitz.

&336 CAPITULO VI - DA FÉ

336 - Da sabedoria dos Antigos decorreu este dogma, que o universo e todas e cada uma das cousas que o compo em, se referem ao Bem e ao Vero; e que assim todas as cousas da Igreja se referem ao Amor ou Caridade e à Fé, pois que tudo que decorre do Amor ou da Caridade é chamado Bem; e tudo que decorre da Fé é chamado Vero; portanto, como a

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Caridade e a Fé são distintamente duas, mas não obstante fazem um no homem para que ele seja homem da Igreja, isto é, para que a Igreja esteja no homem, é por isso que nos antigos havia controvérsia e discussão sobre qual das duas devia ser o Primeiro e assim ser chamada, com direito, o Primogênito; alguns deles diziam que devia ser o Vero, por conseqüência, a Fé; e outros, que devia ser o por 1 conseqüência, a Caridade; viam, com efeito, que o homem logo depois do nascimento aprende a falar, a pensar e a aperfeiçoar seu entendimento, o que tem lugar pelas ciências; e assim, a aprender e a compreender o que é o Vero; e em seguida, por estes meios, aprende e compreende o que é o Bem; por conseqüência, primeiro o que é a Fé e, em seguida, o que é a Caridade; os que tomavam a cousa assim creram que o vero da Fé era o Primogênito e que o Bem da Caridade nasceu depois; por isso, atribuíram à Fé o relevo e as prerrogativas da Primogenitura; mas abafaram seu entendimento sob uma quantidade de argumentos pela Fé, a ponto de não verem que a Fé não é a Fé se não está conjunta à Caridade; e que a Caridade também não é a Caridade se não está conjunta à Fé; e assim elas fazem um; e que, de outro modo, uma e outra nada são na Igreja; que elas façam absolutamente um, isso será demonstrado em seguida. "Mas neste Prefácio, desvendarei em poucas palavras como ou por qual razão elas fazem um, pois isso é importante para que, o que segue, esteja em alguma luz: A Fé, pela qual é também entendido o Vero, é o Primeiro pelo tempo; mas a Caridade, pela qual também é entendido o Bem, é o Primeiro pelo -fim; ora, o que é Primeiro pelo fim é efetivamente o Primeiro, porque é o Principal, por conseqüência, é também o Primogênito; e o que é o Primeiro pelo tempo não é o Primeiro efetivamente, o é em aparência; para que isto seja apreendido, vou ilustrá-lo por comparações feitas com a construção de um Templo, a construção de uma Casa, a disposição de um Jardim e a prepa de um Campo. Com a construção de um templo: 0 primeiro tempo, é pôr as fundações, elevar as paredes, estabelecer, o teto e, em seguida, erigir o altar e colocar uma cátedra; mas o Primeiro pelo fim, é o culto de Deus nesse Templo, culto para o qual ele foi construído. Com a construção de uma casa: 0 Primeiro pelo tempo, é construir os exteriores e arranjar os interiores com tudo que é necessário; mas o Primeiro pelo fim, é uma Habitação cômoda para si e para todos que devem morar nessa Casa. Com a disposição de um jardim: o Primeiro pelo tempo, é aplainar o solo, preparar o humus, plantar árvores a semear o que deve servir ao uso; mas o Primeiro pelo fim, é o uso dos frutos que dele se retira. Com a preparação de um campo: o Primeiro pelo tempo, é cavar a terra, lavrá-la, estercá-la e, em seguida, semear; mas a Primeiro pelo fim, é a Colheita, por conseqüência também o uso. Por estas comparações, cada um pode concluir o que é em si o Primeiro; todo homem, quando quer construir um Templo ou uma Casa, dispor um Jardim e preparar um Campo, não tem por Primeira intenção o Uso? Esse uso não sustenta e não agita sua Mente, durante o tempo em que procura os meios para obtê-lo? Concluímos, portanto que o Vero da Fé é o Primeiro pelo tempo, mas que o Bem da Caridade é o Primeiro pelo fim e que este, por isso mesmo que é o principal, torna-se na realidade na Mente o Primogênito". Mas é necessário que se saiba o que é a Fé e o que é a Caridade e o que elas são, em essência; e não podemos sabê-lo, a menos que uma e outra, seja dividida em Artigos, a Fé nos seus e a Caridade nos seus. Eis as Artigos da Fé: I- A Fé salvífica é a fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo. II- A Fé, em suma, é que o que vive bem e crê segundo as regras, é salvo pelo Senhor. III- 0 homem recebe a Fé pelo fato de dirigir-se ao Senhor, por instruir-se sobre as verdades pela Palavra e viver segundo estas verdades. IV- A abundância de verdades ligadas em conjunto como um feixe exalta e aperfeiçoa a Fé. V- A Fé sem a Caridade não é a fé; e a Caridade sem a Fé não é a caridade; e uma e outra não vive senão pelo Senhor. VI- 0 Senhor, a

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Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento no homem; e se forem divididos, cada um se perde como uma Pérola reduzida a pó. VII- 0 Senhor é a Caridade e a Fé no homem; e o homem é a Caridade e a Fé no Senhor. VIII- A Caridade e a Fé estão em conjunto nas boas obras. IX- Há a Fé verdadeira, a Fé bastaria e a Fé hipócrita. X- Não há fé alguma nos maus. Cada Artigo vai ser explicado em particular.

&337 I - A Fé salvífica é a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo.337 - Se a Fé salvífica é a fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo, é porque Ele é Deus e Homem; é Ele mesmo no Pai e o Pai n'Ele; e assim são um. Aqueles, portanto, que se dirigem a Ele, se dirigem também, ao mesmo tempo, ao Pai; e, assim, a um único Deus; e não há fé salvífica em um outro. Que é preciso crer ou ter fé no Filho de Deus, Redentor e Salvador, concebido de Jehovah e nascido da Virgem Maria, chamado Jesus Christo, vê-se pelos mandamentos tantas vezes reiterados por Ele mesmo e, mais tarde, pelos Apóstolos. Que a fé no Senhor tenha sido ordenada por Ele, vê-se claramente por estas passagens: "Jesus disse: E' a vontade do Pai que me enviou; quem quer que veja o Filho e creia n'Ele, tenha a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia" (João VI, 40). "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sobre ele" (João III, 36). "A fim de que, quem crê no Filho não pereça, mas tenha a vida eterna; pois Deus amou de tal modo o mundo, que deu Seu Filho Unigênito, a fim de que, quem crê n'Ele, não pereça, mas tenha a vida eterna" (João III, 15, 16). Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim não morrerá ela eternidade" (João XI, 25, 26). "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em Mim tem a vida eterna; Eu sou sem o Pão da vida" (João VI, 47, 48). "Eu sou o Pão da vida; quem vem a Mim não terá fome, quem crê em Mim jamais terá sede" (João VI, 35). "Jesus exclamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a Mim e beba; quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão de seu ventre" (João VII, 37,38). "Disseram a Jesus: Que faremos para operar as obras de Deus? Jesus respondeu: E' a obra de Deus, que creais n'Aquele que o Pai enviou'' (João VI, 28, 29). "Enquanto tendes a Luz, crede na Luz, a fim de que sejais filhos da Luz" (João XII, 36). "Aquele que crê no Filho de Deus, não é julgado; mas aquele que não crê, já foi julgado porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João 111, 18). "Estas cousas foram escritas, a fim de que creais que Jesus é o Filho de Deus e que, crendo, tenhais a vida em Seu Nome" (João XX, 31). "Se não credes que Eu sou, morrereis em vossos pecados" (João VIII, 24). "Jesus disse: Quando vier o Paracleto, o, Espírito de verdade, ele repreenderá o Mundo por causa do pecado, da Justiça e do Julgamento; por causa do pecado porque não crê em Mim" (João XVI, 8, 9).

&338 - Que a Fé dos Apóstolos não foi outra senão a Fé no Senhor Jesus Christo, vê-se em suas Epístolas por várias passagens d que não referirei senão as seguintes: "Eu vi, não mais eu, vi em mim Christo; e quanto ao que vi agora na carne, eu vi na Fé no Filho de Deus" (Gal. 2, 20). "Paulo pregou aos Judeus e aos Gregos o arrependimento para com Deus e a Fé em Nosso Senhor Jesus Christo" (Atos dos Apóst. 20 21). "Aquele que tirou Paulo para fora, disse: Que é preciso que eu faça para ser salvo? Ele lhe disse: Crê no Senhor Jesus Christo e tu serás salvo e a tua casa" (Atos 16, 30, 31). Quem tem o Filho, tem a vida; mas quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida; eu vos escrevo estas cousas, a vós que credes no Nome do Filho de Deus, a fim de que saibais que tendes a vida eterna e creiais no Nome do Filho de Deus" (I João V, 12, 13). "Nós, judeus de natureza, e não pecadores entre as nações, mas sabendo que o homem não é justificado por suas obras da lei, mas pela

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fé de Jesus Christo, nós também em Jesus Christo temos crido" (Gal. 2, 15, 16). Como sua Fé era em Jesus Christo e vinha também d'Êle, êles a chamavam Fé de Jesus Christo, como na passagem acima - Gal. 2, 20 - e nestas: "A justiça de Deus pela Fé de Jesus Christo para dos sobre todos os que creram. A fim de que seja justificante aquele que está na Fé de Jesus" (Rom. 3, 22, 26). "Que tenha a justiça que vem pela Fé de Christo, a justiça que vem de Deus pela Fé (Filip. 3, 9) . "Aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a Fé de Jesus Christo" (Apoc. 14, 12). "Pela Fé que está no Christo Jesus" (II Timot. III, 15). "Em Jesus Christo está a Fé operando pela Caridade" (Gal. 5, 6). Por estas passagens pudesse ver que fé foi entendida por Paulo na Passagem hoje repisada na Igreja: "Concluímos, portanto, que o homem é justificado pela Fé, sem as obras da Lei" (Rom. 3, 28), que era não a fé em Deus Pai, mas a fé em Seu Filho; e ainda menos, a fé em três Deuses em ordem. Um de quem ela vem, o Outro por causa de quem ela é dada e o Terceiro por quem ela é enviada; se se crê na Igreja que esta Fé tripessoal foi entendida por Paulo nesta passagem, é porque a Igreja, desde quatorze séculos ou desde o Concílio de Nicéa, não tem reconhecido outra fé; por conseguinte, não conheceu outra, crendo assim que ela é única, e que não podia existir outra; assim, que por toda parte onde na Palavra do Novo Testamento se lê a Palavra Fé, acredita-se que é aquela e aplicou-se si essa Fé tudo que aí se a isso, foi destruída a Fé unicamente salvífica, que é a Fé em Deus Salvador; e também se insinuaram nas doutrinas dos cristãos tantas ilusões e tantos paradoxos opostos à sã razão; come feito, toda doutrina da Igreja, que deve ensinar e mostrar o caminho para o Céu, isto é, para a salvação, depende da fé; e como se tinha insinuado nessa fé tantas ilusões e paradoxos, foi absolutamente necessário proclamar o dogma de que o entendimento deve ser posto sob a obediência da fé. Presentemente, pois, que na Passagem de Paulo (Rom. 3, 28) pela fé é entendida não a fé em Deus Pai, mas a Fé em Seu Filho e que, pelas obras da Lei não são entendidas as obras do Decálogo, mas as obras da lei de Moisés para os judeus, como se vê claramente pelas passagens que seguem e também pelas passagens semelhantes nas Epístolas aos Galatas, Cap. 2, 14, 15, a pedra fundamental da fé de hoje cai; e o templo, elevado sobre esta pedra, cai também como uma casa que desmorona e de que não resta senão a cumieira do teto.

&339 - Que é preciso crer, ter fé em Deus Salvador Jesus Christo, é porque é a fé em um Deus visível, no qual está Deus invisível; e a fé em um Deus visível, que é Homem e, ao mesmo tempo Deus, entra no homem; com efeito, em sua essência, a fé é espiritual, mas em sua forma é natural; e por isso, no homem, esta fé se toma espiritual-natural, pois todo espiritual é recebido no natural, a fim de que seja alguma cousa no homem; o espiritual nu entra, é verdade, no homem, mas não é recebido; é como o éter que influi e eflui sem afetar; pois para que afete, é necessário que haja percepção e recepção, uma e outra na Mente do homem e isso só acontece rio homem em seu natural. Por outro lado, a Fé puramente natural ou a Fé privada da essência espiritual não é a fé; é unicamente uma persuasão ou ciência; a persuasão imita a fé nos externos, mas como em seus internos não há o Espiritual, não há, muito menos salvífico algum; tal é a fé em todos aqueles que negam a Divindade do Humano no Senhor; tal foi a fé Ariana, e tal é também a fé Sociniana, porque uma e outra rejeitou a Divindade do Senhor. 0 que é a fé sem um termo (ou um fim) para o qual ela tenda? Não é como a vista que, mergulhando no universo, cai como no vácuo e se perde? Não é como um pássaro voando acima da atmosfera no éter, onde expira como no vácuo? A morada desta fé na mente do homem pode ser comparada à morada dos ventos nas asas de Éolo e à morada da luz em

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uma estrela cadente; eleva-se como um cometa de longa cauda, mas passa como esta e desaparece; em uma palavra, a Fé em um Deus invisível é na realidade uma fé cega porque a mente humana não vê seu Deus; e a luz dessa fé, porque não é espiritual-natural, é uma luz quimérica e esta luz é como a luz no vidro brilhante e como a luz nos pântanos ou sobre glebas sulfurosas durante a noite; desta luz não provêm outra cousa que não seja uma fantasia, na qual se acredita que o que é aparente, existe, embora não exista; a Fé em um Deus Invisível não brilha com uma outra luz; e sobretudo, quando pensa que Deus é Espírito e se pensa a respeito de um Espírito to como a respeito do éter; que resulta daí, senão que o homem considera Deus como considera o éter, que assim ele 0 procura no Universo e não 0 encontrando, crê que a Natureza do Universo é Deus? é desta origem que vem o Naturalismo, que reina hoje; o Senhor não disse: "A voz do Pai jamais ouvistes, nem vistes o seu aspecto" (João V, 37); e também: "Deus, ninguém viu jamais; o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, no-lo declarou,"(João I, 18). "Não, que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que está no Pai; este viu o Pai" (João VI, 46). Depois: "Ninguém vai ao Pai senão por Mim" (João XIV, 6), e em seguida: "Quem Me vê e Me conhece, vê e conhece o é a Fé no Senhor Pai" (João XIV, 7 e segs.). Mas bem diferente seu Salvador; como Ele é Deus e Homem e pode ser aproximado, pode ser visto no pensamento, a Fé não é não terminada (indeterminada), mas tem um termo, de que provém e para o qual tende e uma vez recebida, permanece; é como alguém que um Imperador ou uma Rei; todas as vezes que se lembra dèle, a sua imagem se apresenta. A vista desta fé é como alguém quando vê uma Nuvem brilhante e, no meio dela, um Anjo que convida o homem a vir a de, para que seja elevado ao Céu; assim aparece o Senhor àqueles que tem fé n'Ele; Ele se aproxima de todo homem segundo o homem o conhece e o reconhece, o que acontece conforme de conhece e faz seus preceitos, que são para fugir dos males e fazer os bens; e enfim, Ele vem à casa deste homem e aí faz Sua morada com o Pai que está n'Ele, segundo Suas palavras em João: "Jesus disse: Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado por Meu Pai; Eu o amarei, Eu mesmo me manifestarei a de e para êle viremos, e morada nele faremos" (XIV, 21, 23). Isto foi escrito em presença dos doze Apóstolos do Senhor que tinham sido enviados a mim pelo Senhor, enquanto eu escrevia. A Fé, em suma, é que aquele que vive bem e crê segundo as regras, é salvo pelo Senhor.

&340 - Que o homem foi criado para a vida eterna' e que todo homem possa tê-la em herança, desde que viva segundo os, meios de salvação que foram prescritos na Palavra, é fato com -que concorda todo Christão e também todo Pagão que tem religião e uma razão sã; mas os meios de salvação são numerosos; entretanto, todos e cada um, se referem a viver bem e crer segundo as regras; assim à Caridade e à Fé, pois a Caridade é bem viver e a Fé é crer segundo as regras. Estes dois e uns dos meios de salvação foram não somente prescritos ao na Palavra, mas ainda ordenados; e, porque foram ordenados, segue,se que o homem por êles pode obter a vida eterna pelo poder que Deus pôs nele e lhe deu; e quanto mais o homem se serve deste poder e dirige, ao mesmo tempo, seus olhos para Deus, tanto mais Deus o corrobora, a ponto de fazer com que tudo que pertence à Caridade natural se torne Caridade espiritual, e que tudo que pertence à Fé natural se torne Fé espiritual; assim, de uma Caridade e de uma Fé mortas, Deus faz uma Caridade e uma Fé vivas e torna, ao mesmo tempo, o homem viva. Há duas coisas que devem estar juntas, para que se possa dizer que o homem vive bem e crê segundo as regras; estas duas cousas são chamadas na

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Igreja, o homem Interno e o homem Externo; quando o homem Interna quer bem e o homem Externo age bem, então um e outro fazem um, o Externo pelo Interno, e o Interno pelo Externo; assim, o homem segundo Deus e Deus pelo homem; mas ao contrário, se o homem Interno quer mal e, Entretanto, o homem Externo age bem, um e outro não obstante agem segundo ,o Inferno, pois então o querer vem do Inferno e os feitos são hipócritas; e em cada feita hipócrita, o querer, que é infernal, está interiormente escondido como uma serpente sob a erva e como um verme em uma flor. 0 homem que sabe não somente que há o homem Interno e o homem Externo, mas ainda o que êles são, e que podem fazer um na realidade, e também um na aparência; e que, além disso, o, homem Interno vive depois da morte e que o homem Externo é sepultado, esse possui potencialmente os arcanos do Céu e também os do Mundo com abundância; e aquele que conjunta estes dois homens em si para o bem, se torna feliz para a eternidade; mas aquele que os divide, e mais ainda, aquele que os conjunta para o mal, se torna desgraçado para a eternidade.

&341 - Crer que o homem que vive bem e crê segundo as regras não é salvo e que Deus pode salvar e danar à sua vontade e segundo seu prazer a quem Ele quiser, é dar ao homem o direito de acusar Deus de barbárie, inclemência e também, m, de crueldade, e mesmo de negar que Deus seja Deus; e acusá-lO também de ter dito em Sua Palavra coisas vãs e de ,ter ordenado coisas que -são inúteis ou que são futilidades; e além disso, se o homem que vive bem e crê segundo as regras não é salvo, êle também pode acusar Deus de violar a aliança que contratou sobre o Monte Sinai e que gravou com seu dedo sobre as duas tábuas; que Deus não possa salvar senão aqueles que vivem segundo seus preceitos e têm fé n'Ele, vê-se por estas palavras do Senhor em João, Cap. XIV, 21 a 24; e quem tenha uma religião e uma razão sã pode se confirmar nisso, quando pensa que Deus, que está constantemente no homem e lhe dá a vida e também a faculdade de compreender e de amar, não pode fazer outra coisa senão amá-lo; e pelo amor, se conjunta àquele que vive bem e crê segundo as regras; Deus não gravou isto em cada homem e em cada criatura? Um pai e uma mãe não podem rejeitar seus filhos, uma galinha seus pintinhos, um animal seus filhotes, os tigres, as panteras e as serpentes mesmas não o podem; agir de outro modo seria contra a ordem em que está Deus e segundo a qual Êle age e também contra a ordem em que criou a homem. Ora, do mesmo modo que é impossível a Deus danar alguém que vive bem e crê segundo as regras, assim também, em sentido contrário, é impossível a Deus salvar alguém que vive mal e por conseguinte crê os falsos; este segundo ponto é também contra a ordem, por conseqüência contra a Onipotência de Deus, a qual não pode proceder senão pelo caminho da Justiça; e as Leis da Justiça são verdades que não podem ser mudada, pois o Senhor disse: "E' mais fácil que o Céu e a Terra passem, do que caia um só acento da Lei" (Lucas XVI, 17). Quem tenha algum conhecimento da essência de Deus e do Livre arbítrio do homem pode perceber isso; assim, por exemplo: Adão foi livre para comer da árvore da vida e também da árvore da ciência do bem e do mal; se êle tivesse somente comido da Arvore ou das Arvores da vida, teria sido possível a Deus expulsá-los do Jardim? creio que não; mas depois que êle comeu da Arvore da ciência do bem e do mal, teria sido possível a Deus retê-lo no Jardim? creio ainda que não; semelhantemente, Deus não pode lançar no Inferno alguém que foi recebido como Anjo no Céu, nem admitir no Céu alguém que foi julgado diabo; é segundo Sua Onipotência que Êle não pode fazer nem um nem outro, ver acima no Artigo sobre a Divina Onipotência, ns. 49 a 70.

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&342 - No Lema precedente, ns. 336 a 339, foi mostrado que a Fé salvífica é a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo; mas pergunta-se qual é o Primeiro ponto da Fé no Senhor; e eu respondo que é o Reconhecimento de que êle é o Filho de Deus; foi o primeiro ponto de fé que o Senhor, quando veio ao Mundo, revelou e anunciou; pois se não se tivesse primeiro reconhecido que êle era o Filho de Deus, e assim Deus vindo de Deus, teria sido em vão que Êle e, em seguida, os Apóstolos pregariam a fé n'Ele. Ora, como alguma cousa semelhante existe hoje, mas naqueles que pensam segundo o próprio, isto é, segundo o homem Externo ou natural só, dizendo consigo mesmo: Como Jehovah Deus pode conceber um Filho e como um Homem pode ser Deus, é necessário que êste Primeiro ponto da fé seja confirmado e afirmado pela Palavra; por isso, vão ser tiradas dela as passagens seguintes: "0 Anjo disse a Maria: Tu conceberás no útero e darás à luz um Filho e chamarás seu Nome Jesus; Este será grande e Filho do Altíssimo será chamado. E Maria disse ao Anjo: Como se fará isso, pois que eu não conheço homem? 0 Anjo respondeu: Um Espírito Santo virá sobre ti e unia Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, por isso, o que nascer de ti Santo será chamado Filho de Deus" (Lucas 1, 31, 32, 34, 35). "Quando Jesus era batizado, uma voz veio do Céu, dizendo: Este é meu Filho bem amado, em quem me comprazo" (Mateus III, 16, 17; Marcos 1, 10, 11; Lucas III, 21, 22). Depois: "Quando Jesus foi transfigurado, uma voz veio também do Céu, dizendo: Este é meu Filho bem amado, em quem me comprazo; escutai-O" (Mateus XVII, 5; Marcos IX, 7; Lucas IX, 35). "Jesus perguntou a seus Discípulos: Que dizem os homens quem eu sou? Pedro respondeu: Tu és o Christo, o Filho de Deus vivo. E Jesus disse: Tu és feliz, Simão filho de Jonas; Eu te digo: Sobre esta rocha construirei minha Igreja" (Mateus XVI, 13, 16, 17, 18); o Senhor disse que sobre esta Rocha construiria sua Igreja, a saber, sobre a Verdade e a Confissão de que Êle é o Filho de Deus; pois a Rocha significa a Verdade e também o Senhor quanto ao Divino Vero; aquele, portanto, em quem não há a confissão desta Verdade, que Êle é o Filho de Deus, não há tampouco a Igreja; eis por que foi dito acima que é isso o primeiro ponto da Fé em Jesus Christo, assim a Fé em sua origem. "João Batista viu e atestou que ele era o Filho de Deus" (João 1, 34). "Nataniel o discípulo disse a Jesus: Tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel" (João I, 50). "Os doze discípulos disseram: Nós cremos que tu és o Christo, o Filho de Deus vivo" (João VI, 69). Êle é chamado o Unigênito Filho de Deus, o Unigênito do Pai, que está no seio do Pai (João 1, 14, 18; 111, 16). Jesus mesmo diante do Sumo sacerdote confessou que era o Filho de Deus (Mateus XXVI, 63, 64; XXVII, 43; Marcos XIV, 61, 62; Lucas XXII, 70). ''Aqueles que estavam na barca, aproximando-se, adoraram Jesus, dizendo: Verdadeiramente Filho de Deus Tu és" (Mateus XIV, 33). O eunuco que queria ser batizado disse a Filipe: "Eu creio que Jesus Christo é o Filho de Deus" (Atos 8, 37). Quando Paulo se converteu, pregou que Jesus era o Filho de Deus (Atos 9, 20). "Jesus disse: Virá uma hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e aqueles que a ouvirem viverão" (João V, 25). ''Aquele que não crê já foi julgado porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João III, 18). "Estas coisas foram escritas, a fim de que creiais que Jesus é o Christo, o Filho de Deus e que, crendo, tenhais a vida em seu Nome" (João XX, 31). "Eu vos escrevi estas cousas, a vós que crerdes no Nome do Filho de Deus, a fim de que saibais que tendes a vida eterna e de que creiais no Nome do Filho de Deus" (I João V, 13). "Sabemos que o Filho de Deus veio, vos deu a conhecer o Vero e estamos no Vero em seu Filho Jesus Christo; Ele é o verdadeiro Deus e a Vida eterna" (I João V, 20, 21). "Quem quer que tiver confessado que Jesus é o Filho de Deus, Deus mora nele, e ele em Deus" (I João IV, 15). E também em outros lugares, por exemplo: Mateus VIII, 29; XXVII, 40, 43, 54; Marcos I, 1; III, 11, 15, 39; Lucas VIII, 28; João IX,

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35; X, 36; XI, 4, 27; XIX, 7; Rom. 1, 4; II Corint. 1, 20; Efes. 4, 13; Heb. 4, 6; 7, 3; 10, 29; 1 João III, 8; V, 10; Apoc. 2, 18. Além disso, em muitas outras passagens onde Ele é chamado Filho por Jehovah e onde Ele mesmo chama Jehovah Deus seu Pai, como nesta: "Tudo o que o Pai faz, o Filho faz; como o Pai ressuscita os mortos e vivifica, do mesmo modo também o Filho. Como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu ao Filho ter a vida em Si mesmo; a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai" (João V, 19 a 27); e em muitos outros lugares algures; e também em David: "Anunciarei sobre o estatuto: Jehovah me disse: Meu Filho, Tu; Eu hoje te tenho gerado. Beijai o Filho, de modo que êle não se irrite e que vós não pereçais em caminho; pois se abrasará em breve a sua cólera. Bem-aventurados todos os que confiam n'Ele'' (Ps. 2, 7, 12). De todas estas passagens se forma esta conclusão: que, quem queira ser verdadeiramente cristão e ser salvo pelo Christo, deve crer que Jesus é o Filho de Deus Vivo; e aquele que não crê isso, mas crê somente que é o Filho de Maria, implanta em si sobre o Senhor diferentes idéias, que são perigosas e destrutivas de sua salvação; ver acima ns. 92, 94, 102; não se pode dizer desses homens a mesma cousa que dos judeus, a saber: que, em lugar de sua coroa real, êles puseram sobre Sua cabeça uma coroa de espinhos e que lhe deram a beber vinagre, exclamando: Se és o de Deus, desce da cruz; ou como dizia o Diabo, tentando-o: Se és o Filho de Deus, dize que estas pedras se tornem pão; ou Se és o Filho de Deus, lança-te em baixo (Mateus IV, 3, 6). Esses profanam sua Igreja e seu Templo e fazem dele um covil de ladrões. São esses que tornam seu culto semelhante ao culto de Mahomet e que não fazem distinção entre o verdadeiro Christianismo, que é o culto do Senhor, e o Naturalismo. Podem ser comparados aos que correm em um carro ou em um trenó sobre gelo delgado, o gelo se rompe, eles são submergidos e eles, os cavalos e o carro são cobertos pelos pedaços de gelo. Podem ser ainda comparados aos que construíssem uma barra de juncos e de canas e a revestissem de pêz para lhe dar consistência e se lançassem ao mar sobre ela; mas em breve o revestimento de pêz se dissolveria e eles, asfixiados, seriam tragados pelas águas do mar.

&343 III - 0 homem recebe a fé, dirigindo-se ao Senhor, instruindo-se nas verdades pela Palavra e vivendo segundo essas verdades.343 - Antes de empreender a demonstração da Origem da Fé, que é dirigir-se ao Senhor, instruir-se nas verdades pela Palavra e viver segundo essas verdades, é necessário apresentar primeiro os Sumários da Fé, pelos quais pode-se adquirir uma noção comum de cada uma das partes da Fé; pois pode-se apreender com mais nitidez, não somente o que é dito neste Capitulo sobre a Fé, mas também o que encerram os Capítulos seguintes sobre a Caridade, sobre o Livre Arbítrio, sobre a Penitência, sobre a Reforma, a Regeneração e sobre a Imputação; com efeito, a Fé entra em todas e cada uma das partes do sistema teológico, como o sangue entra nos membros do corpo e os vivifica. 0 que a, Igreja de hoje ensina sobre a Fé é geralmente conhecido no Mundo Christão e especialmente na Ordem Eclesiástica, pois os Livros sobre a Fé somente e sobre a Fé só enchem as Bibliotecas dos doutores da Igreja; apenas existe alguma cousa que seja hoje considerada propriamente teológica, excetuada a Fé; mas antes de tomar, de percorrer e de examinar os pontos que a Igreja. de hoje ensina sobre a Fé, o que será feito no Apêndice, vou apresentar os pontos gerais que a Nova Igreja ensina sobre sua Fé, são os seguintes:

&344 - 0 ser da fé da Nova Igreja é: 1) a Confiança no Senhor Deus Salvador Jesus Christo. 2) A Segurança de que aquele que vive bem e crê segundo as regras é salvo por Ele. A

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essência da fé da Nova Igreja é a Verdade segundo a Palavra. A existência da fé da Nova Igreja é: 1) A Vista espiritual; 2) 0 Acordo das verdades. 3.0) A Convicção. 4) 0 Reconhecimento gravado na mente. Os estados da fé da Nova Igreja são: 1) Fé criança, a Fé adolescente, a Fé adulta; 2) A Fé do vero real e a Fé das aparências do vero. 3) A Fé de memória, a Fé de dá razão, a Fé de Luz. 4) A Fé natural, a Fé espiritual, a Fé celeste. 5) A Fé viva e a Fé miraculosa. 6) A Fé livre e a Fé constrangida. A forma mesma da fé da Ma Igreja na idéia universal e na idéia particular; ver acima os ns. 2 e 3, onde esta Forma foi apresentada.

&345 - Como as cousas que pertencem à Fé espiritual foram apresentadas em sumário, do mesmo modo vão ser apresentadas as cousas concernentes. à fé puramente natural, que em si mesma é uma persuasão simulando a fé; é a persuasão do falso e é chamada Fé herética; suas denominações são: 1) A Fé bastarda, na qual os falsos foram misturados aos veros. 2) A Fé prostituída pelos veros falsificados e a Fé adúltera pelos bens adulterados. 3) A Fé tapada ou cega, que é a Fé das cousas místicas, que se crê embora não se saiba se são veros ou falsos, ou se estão acima da razão ou contra a razão. 4) A Fé errática ou vagabunda, que é a fé era vários Deuses. 5) A Fé vesga, que é a fé em um outro Deus que não o verdadeiro Deus; e nos Christãos, em um outro Deus que não o Senhor Deus Salvador. 6) A Fé hipócrita ou farisaica, que é a fé de boca e não de coração. 7) A Fé visionária e às avessas, que é a aparência do falso como vero, por uma engenhosa confirmação.

&346 - Foi dito acima que a Fé, quanto à sua existência no homem, é a Vista espiritual; agora, como a vista espiritual que pertence ao entendimento e à mente; e a vista natural que é a vista do olho ou do corpo, se correspondem mutuamente, todo estado da fé pode, em conseqüência, ser comparado a um estado do olho e da vista do olho o estado da fé do vero com todo estado são da vida do olho e o estado da fé do falso com todo estado pervertido da vista do olho mas vamos comparar as correspondências destas duas vistas; a da mente e a do corpo, quanto aos estados pervertidos de uma e de outra: A Fé bastarda, na qual os falsos foram misturados aos veros, pode ser comparada com o vício do olho e, por conseqüência, da vista que se chama Belida branca sobre a córnea, tomando a vista obscura. A Fé prostituída que provém dos veros falsificados e a Fé adúltera, que provém dos bens adulterados, podem ser comparadas com o vício do olho e, por conseqüência, da vista, que se chama Glaucoma, que é uni dessecamento, una endurecimento do humor cristalino(*). A Fé tapada ou cega, que é a fé das cousas místicas, que se crê, embora não se saiba se são veros ou falsos ou se estão acima ou contra a razão, pode ser comparada com o vício do olho que se chama Gota serena e Amaurose, que é a perda da vista por uma obstrução do nervo ótico e, entretanto o olho parece, ver perfeitamente. A Fé errádica ou vagabunda que é a fé em vários Deuses, pode ser comparada com o vicio do olho que se chama Catarata, que é a perda da vista por uma obstinação entre a túnica esclerótica e a úvea (**). A Fé vesga, que é a fé em um outro Deus que não o verdadeiro Deus; e nos Cristãos, em um outro Deus que não o Senhor Deus Salvador, pode ser comparada com o vício do olho que se chama Estrabismo. A Fé hipócrita ou farisaica, que é a fé de boca e não de coração, pode ser comparada com a Atrofia do olho e por conseguinte com a perda da vista. A Fé visionária e às avessas, que é a aparência do falso como vero por uma engenhosa confirmação, pode ser comparada com o vício do olho que se chama Nictalópia, que faz com que se veja nas trevas por uma luz quimérica.

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&347 - Quanto ao que concerne à Formação da Fé, a fé é formada por dirigir-se o homem ao Senhor, instruir-se nas Verdades pela Palavra e viver segundo essas verdades. Primeiramente: a fé é formada por dirigir-se o homem ao Senhor; é porque a fé que é a fé da salvação, vem do Senhor e é a fé no Senhor; que ela venha do Senhor, isso é evidente pelas palavras do Senhor a Seus discípulos: "Permanecei em Mim e Eu em vós, porque sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 4, 5). Que seja a Fé no Senhor, vê-se claramente pelas passagens citadas acima, ns. 237, 238, que mostram que é preciso crer no Filho. Agora, pois que a Fé vem do Senhor e é a fé no Senhor, pode-se dizer que o Senhor é a Fé mesma, pois a vida e a essência da fé são do Senhor, assim vêm do Senhor. Segundamente: A fé é formada por instruir-se o homem nas verdades pela Palavra; é porque a fé, em sua essência, é a Verdade; com efeito, todas as coisas que entram na fé (*) 0 autor se exprime aqui conformemente à nosologia de seu tempo. Os modernos aplicaram a esta mesma afecção o nome de Catarata; e o nome de Glaucoma a uma moléstia do humor vítreo. (**) Esta obstipação, produzida por um derramamento da linfa coagulada no humor aquoso, recebeu entre os modernos, não mais o nome de Catarata, mas simplesmente de derramamento proveniente de inflamação. Convém observar, além disso, que a aplicação dos termos Túnica, Esclerótica e úvea foi hoje restringido, ao ponto de não mais designar as partes que o Autor teve em vista; o primeiro desses termos abrangia toda a túnica externa do olho, aí compreendida a sua parte transparente, chamada hoje Córnea, a que é aqui entendida; e o nome úvea compreendia o Íris, que lhe serve aqui para designar são verdades; por isso, a Fé não é outra cousa senão o complexo das verdades que brilham na mente do homem; pois as verdades ensinam não somente que é preciso crer, mas ainda em que é preciso crer e o que é preciso crer. Se as verdades devem ser colhidas na Palavra, é porque todas as verdades que conduzem à salvação aí estão; nestas verdades há eficácia porque foram dadas pelo Senhor; por conseqüência, foram inscritas em todo Céu Angélico; portanto, quando o homem aprende as verdades pela Palavra, entra em comunicação com os Anjos, sem que o saiba; a Fé sem as verdades é como grão privado de substância medular, que moído dá somente som; mas a Fé segundo as verdades é como grão bom, que, moído, dá a farinha; em uma Palavra, os essenciais da Fé são as verdades; se as verdades não estão nelas e não a compõem, a fé é somente como o som barulhento de um assobio; mas quando estão nela e a compõem, a fé é como o som de uma notícia que traz a salvação. Terceiramente: A fé é formada por viver o homem segundo as verdades, porque as verdades não vivem realmente antes de estarem nos fatos; as verdade, abstração feita dos fatos, pertencem ao pensamento só; e se não se tornam cousas da vontade, estão unicamente no limiar da porta no homem e não estão interiormente nele; pois a vontade é o homem mesmo; e o pensamento não é o homem senão na medida e da maneira por que se adjunta à vontade. Aquele que se instrui nas verdades e não as faz, é como aquele que espalha seu grão em um campo, não o esterroa, o grão incha pela chuva e não vale mais nada; mas aquele que se instrui nas verdades e as faz, é como aquele que semeia e, em seguida, passa a grade, o grão pela chuva cresce em espiga e dá uma colheita que serve para a alimentação; o Senhor disse: "Se estas cousas vós sabeis, felizes sereis se as fizerdes" (João XIII, 17). E em outra parte: "Aquele que semeou na boa terra, é o que ouve a Palavra e lhe dá atenção; por conseguinte, carrega e dá fruto" (Mateus XIII, 23). Depois: "Quem quer que ouve as minhas Palavras e as faz, eu o compararei a um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha; mas quem ouve as minhas palavras e não as faz, será comparado a um homem insensato que construiu sua casa sobre a areia" (Mateus VII, 24, 26); todas as palavras do Senhor são verdades.

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&348 - Pelo que acaba de ser dito, é evidente que há três cousas pelas quais a fé é formada no homem, a saber: primeiramente, dirigir-se ao Senhor; em segundo lugar, instruir-se nas verdades pela Palavra; em terceiro lugar, viver segundo essas verdades; agora, pois que há três e que uma não é a outra, segue se que elas podem ser separadas; com efeito, um homem pode dirigir-se ao Senhor e não conhecer as verdades concernentes a Deus e ao Senhor, senão as verdades históricas; e um homem, também pode conhecer, em abundância, as verdades Palavra e, entretanto, não viver segundo essas verdades; mas homem em que estas três cousas estão separadas, isto é, estão uma um a outra, não há a Fé da salvação; esta fé nasce quando estas, três cousas estão conjuntas; e tal é a conjunção, tal é está fé. Por toda parte onde estas três coisas foram separadas, a Fé é como uma semente estéril que, posta na terra, se reduz a pó; mas por toda a parte onde estas três cousas foram Conjuntas, a Fé é como uma semente que, posta na terra, produz uma árvore, cujo fruto é segundo a conjunção. Quando estas três coisas foram separadas, a Fé é como um ovo que não foi fecundado; mas quando estas três cousas foram conjuntas, a Fé é como um ovo fecundado que produz um belo pássaro. A Fé naqueles em quem estas três cousas foram separadas, pode ser comparada ao olho de um peixe cozido ou de um lagostim cozido; mas naqueles em quem foram conjuntas, a Fé pode ser comparada a um olho transparente desde o humor cristalino até e através da úvea da pupila. A Fé separada é semelhante a uma pintura em cores escuras sobre uma pedra negra; mas a Fé conjunta é semelhante a uma pintura em belas cores sobre um cristal transparente. A luz da fé separada pode ser comparada à luz de um tição. na mão de um viajante durante a noite; mas, a luz da Fé conjunta pode ser comparada à luz de um archote, cuja vibração ilumina todos os passos. A fé sem as verdade" como uma cepa que produz uvas selvagens; mas a fé pelas verdades é como uma cepa que dá cachos de uvas de um vinho gemo roso. A fé no Senhor sem as verdades pode ser comparada a uma nova estréia que aparece na extensão do céu e que, com a: tempo, se obscurece; mas a fé no Senhor com as verdades pode ser comparada a uma estrela fixa, que permanece perpetuamente. A verdade é a essência da fé; sem as verdades a fé é vaga, mas com as verdades é fixa; a fé das verdades brilha no Céu como uma estrela.

&349 IV - A abundância dia verdades ligadas em conjunto como em um feixe exalta e aperfeiçoa a fé.349 - Pela percepção que se tem hoje da fé, não se pode conhecer que a fé, amplamente considerada, é o complexo das verdades; nem, com mais forte razão que o homem pode contribuir em alguma cousa para adquirir a fé, quando, entretanto, a fé em sua essência é a verdade na luz; e como a verdade, pode-se adquirir, do mesmo modo, também a fé; quem não pode dirigir-se ao Senhor, se quiser? E quem não pode, pela Palavra, recolhe verdades, se quiser? Toda verdade na Palavra e pela Palavra dá luz e a verdade na luz é a fé; o Senhor, que é a luz mesma, influi era cada homem e naquele em que há verdades pela Palavra, faz com que brilhem nele e assim, elas se tomam coisas da fé; e é isto que o Senhor diz em João: "A fim de que eles permaneçam no Senhor e Suas palavras permaneçam nele" (XV, 7); as palavras do Senhor são as verdades. A fim de que se apreenda bem que a abundância das verdades ligadas em conjunto como um feixe, exalta e aperfeiçoa a fé, o exame deste Artigo será dividido em quatro Parágrafos: I. As verdades da fé são multiplicáveis ao infinito. II. Sua disposição é em séries, como em pequenos feixes. III. Segundo sua abundância e sua coerência, a fé é aperfeiçoada. IV. As verdades por mais

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numerosas que sejam e mais diferentes que pareçam, fazem um pelo Senhor, que é a Palavra, o Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda carne, o Deus da Vinha ou da Igreja, o Deus da fé e a. Luz mesma, a Verdade e a Vida eterna.

&350 - I. As verdades da fé são multiplicáveis ao infinito; pode-se ver pela sabedoria dos Anjos do Céu, que aumenta eternamente; os Anjos dizem também que jamais há fim para a sabedoria, a qual não vem senão dos Divinos veros examinados analiticamente nas formas, mediante a luz vinda do Senhor; a inteligência humana, por maior que seja, não vem de outra parte. A multiplicidade do Divino Vero ao infinito vem do fato de ser o Senhor o Divino Vero em sua infinidade e que atrai tudo a Ele; mas os Anjos e os homens, porque são finitos, não podem seguir a veia da atração senão segundo suas medidas e o esforço de atração para o infinito persistindo continuamente; a Palavra do Senhor é um abismo de verdades donde procede toda a Sabedoria Angélica, embora esta Palavra, diante do homem que nada sabe do seu Sentido espiritual nem do seu Sentido celeste, não pareça. mais do que a água em um balde. A multiplicação das verdades da fé ao infinito, pode ser comparada às sementes dos homens, de uma das quais, podem ser propagadas famílias nos séculos dos séculos. A Proliferação das verdades da fé pode também ser comparada à proliferação das sementes de um campo e de um Jardim, que podem ser propagadas em miríades e perpetuamente; na Palavra, pela semente, não é entendida outra cousa senão o Vero; pelo campo, a Doutrina e pelo jardim, a Sabedoria. A mente humana é como um húmus, no qual os veros espirituais e naturais são implantados como sementes, que podem ser multiplicados sem fim; o homem deriva isso da Infinidade de Deus, que está perpetuamente presente com sua luz e- seu calor e com a faculdade de criar.

&351 - II. A disposição das verdades da fé é em séries, o em pequenos feixes; que seja assim ignora-se ainda porque que as verdades espirituais, de que toda a Palavra se compõe, não puderam se mostrar por causa da fé mística e enigmática, que constitui cada ponto da Teologia de hoje, e ficaram, por conseqüência, escondidas como celeiros sob a terra. Para que se saiba o que é entendido por séries e pequenos feixes, uma explicação vai ser dada: 0 Primeiro Capitulo deste Livro, que trata de Deus Criador, foi dividido era Séries, das quais, a primeira concerne à Unidade de Deus; a segunda, ao Ser de Deus ou Jehovah; a terceira, à Infinidade de Deus; a quarta, à Essência de Deus, que é o Divino Amor e a Divina Sabedoria; a quinta, à Onipotência de Deus e a sexta, à Criação; os artigos de cada assunto fazem ,séries, ligam em conjunto como em feixe, todas as cousas que aí estão. Estas séries no comum e no particular, contêm verdades que, conforme a abundância e conforme a coerência, exaltam e aperfeiçoara a fé. Aquele que não sabe que a Mente humana é um organismo espiritual terminado em um organismo natural, no qual e segundo o qual a Mente se entrega a suas idéias ou pensa, não pode fazer outra coisa senão crer que as percepções, os pensamentos e as idéias não são outra cousa senão radiações e variações da luz que influi na cabeça; e apresentam formas que o homem vê e reconhece como razões; mas isso é uma fantasia; pois todos sabem que a Cabeça está cheia com dois cérebros, que os cérebros são organizados, que a Mente aí habita e que suas idéias aí se fixam e permanecem conforme foram aceitas e confirmadas. Se, portanto, se pergunta qual é esta organização, eu respondo que é uma organização de todas as cousas em séries, como por pequenos feixes; e que as verdades que pertencem à lá foram assim dispostas na Mente humana; que assim seja, é o que pode ser ilustrado pelas explicações seguintes: 0 cérebro consiste em duas substâncias, das quais, uma é glandular, chamada cortical e cinzenta; e a

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outra é fibrosa e chamada medular; a primeira substância, que é glandular, foi disposta em cachos como as uvas em uma cepa e estas reuniões em cachos são suas ;séries; a segunda substância, que é chamada medular, consiste em perpétuas confasciculações de fibrilas, que saem das glândulas da primeira substância; estas confasciculações são suas séries; todos os Nervos que daí procedem são espalhados no corpo para desempenharem diferentes funções, são molhos ou feixes de fibras; semelhantemente, todos os músculos e, em geral, todas as -vísceras e todos os órgãos do corpo; uns e outros são tais porque correspondem às séries em que o organismo da mente foi disposto. Além disso, na Natureza nada existe que não tenha sido confasciculado em séries; toda árvore, todo arbusto, toda sarça, todo,legume, toda espiga e toda erva, no comum e na parte, é assim. A causa universal disso, é que as Divinas Verdades foram assim conformadas, pois lê-se que todas as cousas foram criadas pela Palavra, isto é, pelo Divino Vero e que o Mundo também foi feito por ela (João I, 1). Por isso, pode-se ver que se não houvesse na Mente humana uma tal ordenação das substâncias, o homem não teria analítica alguma da razão, analítica que cada um possui segundo a ordenação, assim segundo a abundância de verdades ligadas em conjunto como um feixe; e a ordenação está de acordo com o uso da razão segundo a liberdade.

&352 - III. Conforme a abundância e a coerência das verdades a fé é aperfeiçoada; é isto a conseqüência do que acaba de ser dito e se manifesta diante de quem reúne razões e distingue as que produzem séries multiplicadas, quando são ligadas em conjunto como um; pois, então, uma apóia e confirma a outra, e fazem, juntas, uma forma que, quando está em ação, apresenta um único ato. Ora, como a fé, em sua essência, é a verdade, segue-se que, conforme a abundância e a coerência das verdades, ela se torna, cada vez, mais espiritualizada; assim, cada vez menos natural-sensual, pois é elevada à região superior da mente, de onde vê em baixo coortes de confirmações em seu favor na natureza do Mundo; a verdadeira fé, pela abundância das verdades ligadas em conjunto como em um feixe, torna-se mesmo mais brilhante, mais perceptível, mais evidente e mais clara; torna-se também mais apta a se conjuntar com os bens da caridade; por conseguinte, mais separada dos males e, sucessivamente, mais afastada das seduções do olho e das cobiças da carne, por conseqüência, mais feliz em si mesma; torna-se principalmente mais possante contra os males e os falsos; portanto, cada vez mais viva e salvífica.

&353 - Foi dito acima que, no Céu toda verdade brilha e também, que a verdade que brilha é a fé em sua essência; a beleza e a graça da fé segundo esta ilustração, quando suas verdades são multiplicadas, podem ser comparadas às diversas formas, objetos e quadros, compostos de diferentes cores adaptadas segundo as conveniências; por conseqüência, às pedras preciosas de diversas cores do peitoral de Aharão, que, tomadas em conjunto, eram chamadas Urim e Tumim; do mesmo modo, as pedras preciosas de que os fundamentos da muralha da Nova Jerusalém deviam ser construídos (Apoc. 21.0); podem também ser comparadas às pedras preciosas de diversas cores na coroa de um Rei; as pedras preciosas significam também as verdades da fé. A comparação pode ainda ser feita com a beleza do arco-íris, com a beleza de uma campina esmaltada de flores, ou com a de jardim quando as árvores florescem no começo da primavera. luz e a glória da fé, pela abundância das verdades que a e embele podem ser comparadas à iluminação dos Templos grande número de círios. A elevação da fé, pela abundância das verdades, pode ser ilustrada pela comparação com a elevação de um som retumbante acompanhado de uma melodia produzida por vários instrumentos de música, em um concerto; e também com a elevação

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do perfume produzido pela reunião de flores de odor suave; e assim por diante. A potência da fé, formada por um grande número de verdades contra os falsos e os males, pode ser comparada à solidez de um Templo construído com pedras bem ligadas entre si e com colunas acrescentadas à sua muralha e sustentando sua abóbada; pode ser também comparada a um batalhão em quadrado, no qual os soldados se mantêm lado a lado e assim, constituem uma única força; pode ser ainda comparada aos músculos de que o corpo é tecido e que, embora numerosos e dispersos, exercem, contudo, uma única e maior força; nas ações.

&354 - IV. As verdades da fé, por mais numerosas que sejam e por mais diferentes que pareçam, fazem um pelo Senhor, que é a Palavra, o Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda carne, o Deus da Vinha ou da Igreja, o Deus da Fé, a Luz mesma, a Verdade e a Vida. As verdades da fé são diversas e se mostram diferentes diante do homem; por exemplo: umas sobre Deus Criador, outras sobre o Senhor Redentor, outras sobre o Espírito Santo e sobre a Divina Operação, outras sobre a Fé e sobre a Caridade; e outras, sobre o Livre Arbítrio, a Penitência, a Imputação, etc.; não obstante, fazem um no Senhor e no homem pelo Senhor, como vários ramos de uma única cepa (João V, 1 e segs.). Com efeito, o Senhor conjunta as verdades esparsas ou divididas, como em uma única forma, na qual oferecem um único aspecto e apresentam um único ato; isso pode ser ilustrado por uma comparação com os membros, as vísceras e os órgãos em um único corpo; mau grado sua variedade, e ainda que, diferentes diante da vista do homem, entretanto, o homem, que é a forma comum deles, não sente senão a unidade; e quando age por eles todo, age como se fosse uma única unidade. Acontece o mesmo no Céu que, embora dividido em inumeráveis Sociedades, aparece, não obstante, como um diante do Senhor; que ele seja como um único Homem, isso foi mostrado acima. Acontece ainda era relação a isso, como com um Reino que, embora dividido em várias administrações e também em províncias e cidades, faz, entretanto, um sob o Rei que exerce justiça e julgamento. Se acontece o mesmo com as Verdades da fé, segundo as quais a Igreja é Igreja pelo o é porque o Senhor é a Palavra, o Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda de toda a Carne, a Deus da Vinha ou da Igreja, o Deus da fé, a Luz, a Verdade e a Vida eternas. Que o Senhor seja a Palavra e seja assim todo Vero do Céu e da Igreja, pode-se ver em João: "A Palavra estava com Deus; e Deus ela era, a Palavra; e é Palavra carne foi feita" (João I, 1, 14). Que o Senhor seja o Deus do Céu e da Terra, vê-se em Mateus: "Jesus disse: Foi-me dado todo poder no Céu e na Terra" (XXVIII, 18). Que o Senhor seja o Deus de toda carne, vê-se em João: "0 Pai deu ao Filho poder sobre toda Carne" (João XVII, 2). Que o Senhor seja o Deus da Vinha ou da Igreja, vê-se em Isaías: "Uma Vinha era do meu bem amado" (V, 1, 2); e em João: "Eu sou a Cepa e vós, os sarmentos" (XV, 5). Que o Senhor seja o Deus da fé, vê-se em Paulo: "Tendo a justiça que vem da fé de Christo, de Deus pela fé" (Filipe 111, 3). Que o Senhor seja a Luz mesma, vê-se em João: "Ele era a luz verdadeira que Ilumina todo homem vindo ao Mundo" (I, 9); e em outra parte: "Jesus disse: "Eu, Luz, ao Mundo vim, a fim de que quem crer em Mim, não permaneça nas trevas" (XII, 46). Que o Senhor seja a Verdade mesma, vê-ser em João: "Jesus disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (XIV, 6). Que o Senhor seja a Vida eterna, vê-se em Não: "Nós sabemos que o Filho de Deus veio as Mundo, a fim de que conhecêssemos a Verdade e estamos na Verdade em Jesus Christo; Ele é o verdadeiro Deus e a Vida eterna" (Epist. I, V, 20, 21). A isto é preciso acrescentar que o homem, por coisa de seus afazeres no Mundo, não pode adquirir as verdades da fé senão em pequeno número; mas, não obstante, se dirige ao Senhor e 0 adora, a Ele só,

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chega potencialmente a conhecer todas as verdades; é por Isso que todo verdadeiro adorador doSenhor, desde que ouve alguma verdade da fé, que não tinha conhecido antes, a vê imediatamente, a reconhece e a recebe; e isso, porque o Senhor está nele, e porque ele está no Senhor; por conseqüência, o Senhor é a Luz da verdade nele e ele está na Luz da Verdade; pois como acaba de ser dito, o Senhor é a Luz mesma e a Verdade mesma. Isso pode ser confirmado pela experiência: Eu vi um Espírito que, em sociedade com outros espíritos, parecia simples porque reconhecia o Senhor só por Deus do Céu e da Terra e fortificava esta sua fé com algumas verdades tiradas da Palavra; este Espírito foi elevado ao Céu entre os Anjos mais sábios; e me foi dito que lá, ele era tão sábio como eles e que pronunciava com abundância, como por si mesmo, verdades de que não tinha tido conhecimento antes. De um estado semelhante gozarão aqueles que vierem para a Nova Igreja do Senhor; é este mesmo estado que está descrito em Jeremias: "Esta será a aliança que tratarei com a Casa de Israel depois destes dias: Porei minha lei em seu meio e sobre seu coração eu a escreverei; e não ensinarão mais, o homem a seu companheiro ou o homem a seu irmão, dizendo: Conhecei Jehovah; pois todos me conhecerão, desde o menor dentre eles até ao maior" (XXXI, 33, 34). Este estado será também tal como está descrito em Isaías: "Sairá um ramo do tronco de Ischai: a verdade será o cinto de suas coxas; então morará o lobo com o cordeiro, o leopardo com o cabrito se deitará, a criança de peito brincará sobre o buraco da víbora; e sobre a caverna do basilisco o menino desmamado porá a mão; pois cheia será a terra da ciência de Jehovah, do mesmo modo que as águas do mar cobrem; e nesse dia a raiz de Ischai, as nações procurarão e será Seu repouso glória" (XI, 1, 5, 6 a 10).v - A Fé sem a Caridade não é a Fé, e a Caridade sem a Fé não é a Caridade, e uma e outra, não vivem sendo pelo Senhor.

&355 - A Igreja de hoje separou a fé da caridade, dizendo que a Fé só, sem as obras da lei, justifica e salva; e que, assim, a Caridade não pode ser conjunta à Fé, pois que a Fé vem de Deus, e a Caridade, tanto quanto está efetivamente nas obras, vem do homem; jamais isso veio ao espírito de agum Apóstolo, como o mostram claramente as suas Epístolas; mas esta separação e esta divisão foram introduzidas na Igreja Cristã quando se partilhou Deus Um, em três Pessoas e se atribuiu a cada uma, Divindade igual. Que não haja Fé sem Caridade, nem Caridade sem Fé e que não haja vida em uma e outra senão pelo Senhor, isso será ilustrado no Lema seguinte: I. Que o homem pode adquirir a fé. II. E também a Caridade. III. E também a vida de uma e de outra. IV. Mas que, entretanto, nada da Fé, nada da Caridade, nem cousa alguma da Vida de uma e de outra, vem do homem, mas tudo vem do Senhor só.

&356 - I. 0 homem pode adquirir a Fé: isso foi mostrada acima no terceiro Lema, ns. 343 a 348, e aí se viu que a Fé, em sua essência, é a verdade e que cada um pode adquirir Verdades pela Palavra; e que, quanto mais alguém as adquire e as ama, tanto mais inicia em si a fé; a isso será acrescentado que, se o homem não pudesse adquirir a fé, todas as coisas que foram ordenadas na Palavra sobre a fé, seriam vãs; com efeito, lê-se, que "a vontade do Pai é que se creia no Filho e que aquele que crê n'Ele tem a Vida eterna; e que aquele que não crê, não verá a vida"; aí se lê também, "que Jesus enviará o Paracelso, que acusará o Mundo de pecado, porque não creram n'Eles"; além de multas outras passagens que foram referidas acima, ns. 337 e 338; ademais, todos os Apóstolos pregaram a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo. Que utilidade teriam todas essas recomendações, se o homem

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permanecesse de braços caídos, como uma imagem talhada com articulações móveis, esperasse o influxo e que então as articulações, sem que pudessem se aplicar a receber o influxo, fossem interiormente excitadas a alguma cousa, não pertencendo à fé? Com efeito, eis o que ensina a ortodoxia de hoje no Mundo Cristão separado dos CatólicoRomanos: "0 homem quanto ao bem está inteiramente corrompido e morto, a ponto que, na natureza do homem, desde a queda, não permanece ou não resta, antes da regeneração, nem mesmo uma faísca de forças espirituais, pelas quais possa, por si mesmo, ser preparado para a graça de Deus -ou apreendê-la quando lhe é oferecida; ou ser de si mesmo ou por si mesmo, suscetível desta graça; ou no caso das cousas espirituais, compreender, crer, abraçar, pensar, querer, começar, acabar, agir, operar, cooperar, ou se aplicar, se acomodar à graça, ou fazer alguma cousa para sua conversão, seja rio todo, seja pela metade ou pela menor parte. 0 homem, nas cousas espirituais, que dizem respeito à salvação da alma, é como a estátua de sal da mulher de Ló semelhante a um toco ou a uma pedra privados de vida, que não têm olhos, nem boca, nem de sentido algum. Entretanto, tem a faculdade de locomoção ou de governar seus membros externos, ir às assembléias públicas, ouvir a Palavra e o Evangelho". Esta passagem está no Livro da Igreja dos Evangélicos, chamado Fórmula de Concórdia, Edição de Leipzig, 1756, págs. 656, 658, 661, 662, 663, 671, 673; é sobre este Livro e sobre esta Fé, que juram os sacerdotes quando são consagrados. Os Reformados tem uma Fé semelhante. Mas qual é o homem dotado de razão e tendo uma Religião, que não rejeitará, com desprezo, estes dogmas como absurdos e ridículos? Pois dirá em si mesmo: Se fossem assim, para que serviria então a Palavra, para que serviriam a Religião, o Sacerdócio e a Predicação, senão para alguma cousa de inútil ou para produzir sons em vão? Fala destes dogmas a algum pagão que quedas converter, dotado de julgamento; dize-lhe que tal ele deve ser quanto à conversão e à fé, não encararia ele o Cristianismo como alguém encara um vaso vazio? pois tira a um homem todo poder de crer como por si mesmo, será ele mesmo outra cousa? Mas este assunto receberá uma luz mais clara no Capítulo sobre o Livre Arbítrio.

&357 - II. 0 homem pode adquirir a Caridade: é a mesma coisa que para a f é; pois o que é que a Palavra ensina a mais do que a Fé e a Caridade, pois que elas são os dois teu da salvação? Coem efeito, lê-se: "Amarás o Senhor de teu coração, de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo" (Nat. XXII, 34 a 39); e "Jesus disse: Um mandamento que vos ameis uns aos outros; nisto todos conhecerão e sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros" (João XIII, 34, 35), semelhantemente, XV, 9; XVI, 27. Diz-se também que o homem deve dar frutos como uma boa árvore; e que aquele que faz o bem será se compensado na ressurreição; além de vários outros preceitos semelhantes; para que serviriam todos estes preceitos, se o homem não pudesse, por si mesmo, exercer a Caridade nem adquiri-la de maneira alguma? Não pode ele dar esmolas, socorrer os indigentes, fazer o bem em sua casa e em seu emprego? Não pode viver segundo os preceitos do Decálogo? Não tem uma alma pela qual pode fazer estes preceitos e também uma mente nacional pela qual pode se dirigir para agir com tal ou tal fim? Não pode pensar que deve fazê-los porque foram ordenados na Palavra e assim por Deus? Esta faculdade não falta a homem algum; se não falta é porque o Senhor a deu a cada A um; e a dá como uma espécie de propriedade; com efeito, quem é que fazendo a caridade sabe outra cousa senão que a faz por si mesmo?

&358 - III. 0 homem pode também adquirir a vida da fé e da caridade: é ainda a mesma cousa: o homem adquire esta vida, quando se dirige ao Senhor que é a vida mesma; e o

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acesso ao Senhor não é fechado a homem algum, pois o Senhor convida continuamente todo homem a vir a Ele, pois disse: "Quem vem a Mim não terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede; e aquele que vem a Mim eu não o porei para fora,(João VI, 35, 37). "Jesus pôs-se de pé exclamou: Se alguém tem sede, que venha a Mim, e beba" (João VII, 37). E em outro lugar: "Semelhante é o Reino dos Céus a um Rei que fez núpcias para seu filho; e enviou seus servos para chamar os convidados; e enfim disse: Ide pelas saídas dos caminhos; e a todos que encontrardes, chamai-os para as núpcias" (Mateus XXII, 1 a 9); quem não sabe que o convite ou a vocação é universal e também a graça da recepção? Se o homem, pelo fato de se dirigir ao Senhor, obtém a Vida, é porque o Senhor é a Vida mesma; não somente a vida da fé, mas também a Vida da caridade; que o Senhor seja a Vida e que o homem tenha a vida pelo Senhor, pode-se ver por estas passagens: "No começo era a Palavra; n'Ele estava a vida e a Vida era a Luz dos homens" (João 1, 1, 4). "Como o Pai ressuscita os mortos e vivifica, do mesmo modo o Filho, vivifica-a quem quer" (João V, 21). "Como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim deu ao Filho ter a vida em Si mesmo" (João V, 26). "0 Pão de Deus é Aquele que desceu do Céu e dá a Vida ao Mundo" (João VI, 33). "As palavras que vos dirijo são espírito e tão Vida" (João VI, 63). "Jesus disse: Aquele que me segue terá, a Luz da Vida" (João VIII, 12). "Eu vim para que tenham Vida e a tenham com abundância" (João X, 10). ''Aquele que crê em Mim, ainda que morra, viverá" (João XI, 6). "Porque Eu vivo, vós também viveis" (João XIV, 19). "Estas coisas foram escritas, a fim de que tenhais a Vida em Seu Nome" (João XX, 31). "Ele é a Vida eterna" (I João V, 21). Pela Vida na Fé e na Caridade é entendida a Vida espiritual, que é dada pelo Senhor ao homem em sua vida natural.

&359 - IV. Entretanto, nada da Fé, nada da Caridade, nem coisa alguma da vida de uma e de outra, vem do homem, mas tudo vem do Senhor só: com efeito, lê-se que "um homem nada pode tomar, a menos que lhe tenha sido dado do Céu" (João III, 27). E Jesus disse: ''Aquele que mora em Mim e Eu nele, esse dá fruto, pois sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 5); mas isso deve ser entendido assim: que o homem, por si mesmo, não pode adquirir outra fé que não seja a Fé natural, que é a persuasão de que uma cousa é de tal maneira porque um homem de autoridade o disse assim; nem outra caridade que não seja a caridade natural, que é uma operação por favor, em vista de alguma recompensa; nesta fé e nesta caridade há o próprio do homem e não ainda a vida proveniente do Senhor; entretanto, por uma e por outra, o homem se prepara para ser um receptáculo do Senhor; e à medida que se prepara, o Senhor entra nele e faz com que a sua fé natural se torne fé espiritual; do mesmo modo a Caridade; e assim, uma e outra, se tornam vivas; e isso se faz quando o homem se dirige ao Senhor como Deus do Céu e da Terra. 0 homem, tendo sido criado imagem de Deus, foi criado habitáculo de Deus; e par isso, o Senhor disse: ''Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é o que me ama; e eu o amarei, virei a ele e nele farei morada" (João XIV, 21, 23). Depois: "Eis que fico à porta e bato; se alguém ouve a minha voz e abre a porta, eu entrarei, cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20). Daí, segue-se esta conclusão: que, à medida que o homem se prepara naturalmente para receber o Senhor, o Senhor entra, torna espiritual e vivas todas as cousas que estão interiormente nele. Mas, vice-versa, quanto mais o homem não se prepara, tanto mais afasta de si o Senhor e faz tudo ele mesmo pelo eu, o que o homem faz, pelo eu, nada tem da vida em si. Mas este assunto não pode ser apresentado à vista em alguma luz, antes que se tenha tratado da Caridade e do Livre Arbítrio; e será visto mais tarde no Capitulo sobre a Reforma e a Regeneração.

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&360 - No que precede, foi dito que a Fé, no começo no homem, é natural e que se torna espiritual, à medida que o homem se aproxima do Senhor; semelhantemente, a Caridade; mas, ninguém conhece ainda a diferença entre a Fé e a Caridade espirituais; por isso, esse grande Arcano vai ser agora descoberto. Há dois Mundos, o Natural e o Espiritual; e em um e outro Mundo um Sol; e de um e outro Sol procedem um Calor e uma Luz; mas o Calor e a Luz procedentes do Sol do Mundo espiritual têm neles a vida; e a vida. lhes vem do Senhor que está no meio deste Sol, enquanto que o Calor e a Luz procedentes do Sol do Mundo natural não têm nêles cousa alguma da vida, mas servem de receptáculos aos dois primeiros, como as causas instrumentais servem às causas principais, para que aqueles dois cheguem aos homens; é preciso saber, portanto, que o Calor e a Luz do Sol do Mundo espiritual são a fonte de onde provêm todos os espirituais e são espirituais porque o espírito e a vida estão neles; mas o calor e a luz do sol do Mundo natural são a fonte de onde provêm todos os naturais e estes, considerados em si mesmos, são sem espírito e sem vida. Ora, como a Fé pertence à luz e a Caridade ao calor, é evidente que, quanto mais o homem está na Luz e no Calor que procedem do Sol do Mundo espiritual, tanto mais está na Fé e na Caridade espirituais; mas, quanto mais está na Luz e no Calor que procedem do Sol do Mundo, natural, tanto mais está na Fé e na Caridade naturais. Por isso, vê-se que, do mesmo modo que a Luz espiritual está interiormente na luz natural como em seu receptáculo ou em sua bainha, semelhantemente, o Calor espiritual no Calor natural, do mesmo modo também a Fé espiritual está interiormente na Fé natural e, semelhantemente, a Caridade espiritual na Caridade natural; e isso se faz no mesmo grau em que o homem avança do Mundo natural para o Mundo espiritual; e êle avança conforme crê no, Senhor, que é a Luz mesma, o Caminho, a Verdade e a Vida, como Me mesmo o ensina. Uma vez que é assim, é evidente que, quando o homem está na Fé espiritual, está também na Fé natural, pois a Fé espiritual está interiormente na Fé natural; e como a Fé pertence à luz, segue-se que, por esta inserção, o Natural do homem se torna como diáfano; e conforme está conjunto com a Caridade, se torna de uma bela coloração; isso, porque a Caridade tem em si uma vermelhidão e a Fé uma brancura resplandecente; a Caridade tem em si a vermelhidão da chama do fogo espiritual e a Fé a brancura resplandecente do esplendor da luz espiritual. Dá-se o contrário quando a Espiritual não está interiormente no Natural, mas que o Natural está interiormente no Espiritual, assim como acontece nos homens que rejeitam a fé e a caridade; nestes, o interno de sua mente, no qual estão quando pensam, entregues a si mesmos, segundo o Inferno, ainda a que não o saibam; e o Externo de sua mente, pelo qual falam com seus companheiros no Mundo, é como espiritual, mas está cheio de impurezas como as que estão no Inferno; é por isso que estes estão em um estado inverso, respectivamente, ao daqueles de que se falou em primeiro lugar.

&361 - Quando se sabe, portanto, que o espiritual está interiormente, no natural naqueles que estão na fé no Senhor e, ao mesmo tempo, na caridade em relação ao próximo e, por conseguinte, o natural nêles és diáfano, daí se sabe que o homem é SOA nas coisas espirituais; por conseguinte, sábio também nas coisas naturais, pois vê interiormente em si quando pensa, ou lê e ouve alguma cousa, se isso é uma verdade ou não; percebe isso pelo Senhor, de quem a luz e o calor espirituais influem na esfera superior de seu entendimento. Quanto mais no homem a Fé e. a Caridade se tornam espirituais, tanto mais o homem se retira de si próprio e não olha para si mesmo, nem para recompensa ou remuneração, mas unicamente para o prazer de perceber os veros da fé e de fazer os bens do amor; e quanto mais esta espiritualidade aumenta, tanto mais este prazer se torna beatitude; daí vem sua

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salvação, que é chamada vida eterna. Este estado do homem pode ser comparado às cousas mais belas do Mundo e que apresentam mais encantos; e na Palavra é também comparado às árvores frutíferas e aos pomares onde elas estão; aos Prados esmaltados de flores; às pedras preciosas; aos manjares delicados, e também às Núpcias, aos Divertimentos e aos Prazeres. Mas, quando se dá o inverso, isto é, quando o Natural está interiormente no Espiritual e, por conseguinte, o homem em seus Internos, é um Diabo; e nos Externos, como um Anjo, então seu estado pode ser comparado a um Morto em um esquife de madeira preciosa e dourado; pode ainda ser comparado a um Esqueleto preparado com vestimentas como um homem e conduzido em um carro magnífico; e também, a um Cadáver em um sepulcro construído como um Templo de Diana; melhor ainda, seu Interno pode ser assemelhado a um conjunto de serpentes em uma caverna; e seu Externo, a borboletas cujas asas são pintadas em cores de toda espécie e que põem ovos sujos sobre as folhas das árvores frutíferas, do que resulta a destruição dos frutos. Enfim, seu Interno pode ser comparado a um Gavião seu Externo, a uma Pomba e sua Fé e sua Caridade, ao vôo do Gavião sobre a Pomba em fuga, que ele caça e por fim, se lança sobre ela e a devora.

&362 VI - 0 Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento: e se forem divididos, cada um se perde, como uma pérola reduzida a pó.362 - É preciso primeiramente fazer menção de algumas verdades que, até ao presente, têm sido ignoradas no Mundo Sábio e na Ordem Eclesiástica; e de tal modo ignoradas, que são como cousas enterradas, quando, entretanto, são Tesouros de Sabedoria; e se estes tesouros não forem desenterrados e entregues ao Público, será em vão que o homem se empenhará em chegar a algum conhecimento justo sobre Deus, sobre a Fé, sobre a Caridade e sobre o Estado de sua vida, como dirigi-la e prepará-la para o estado da vida eterna. Estas verdades ignoradas são as seguintes: 0 homem é um puro órgão da vida; A vida, com tudo que lhe pertence, influi de Deus do Céu, que é o Senhor; Há no homem duas faculdades da vida, que são chamadas a Vontade e o Entendimento; a Vontade é o receptáculo do amor e o Entendimento é o receptáculo da sabedoria; por conseguinte, também a Vontade é o receptáculo da Caridade e o Entendimento o receptáculo da Fé; Todas as cousas que o homem quer e compreende, influem de fora; os bens que pertencem ao amor e à caridade e os veros que pertencem à sabedoria e à fé, influem do Senhor; e tudo que é contra estes bens e estas verdades influi do Inferno; 0 Senhor proveu para que o homem sinta em si mesmo como seu, o que influi de fora, embora nada disso seja dele; Entretanto, isso lhe é imputado como seu, por causa do Livre Arbítrio no qual há o seu Querer e o seu Pensar; e por causa dos conhecimentos do bem e do vero, pelos quais pode livremente escolher tudo o que convém à sua Vida temporal e à sua Vida eterna. 0 homem que olha, com um olho vesgo, estas verdades, pode concluir delas várias cousas que pertencem à loucura; mas o homem que as olha com um olho direito pode concluir delas um grande número de cousas que pertencem. à sabedoria; para chegar a este resultado e não ao outro, foi necessário apresentar primeiro os julgamentos e os dogmas que concernem a Deus e à Divina Trindade; e será necessário estabelecer, em seguida, os julgamentos. e os dogmas que concernem à Fé, à Caridade, ao Livre Arbítrio, à Reforma, à Regeneração, à Imputação e também à Penitência, ao Batismo e à Santa Ceia.

&363 - Mas, para que ste Artigo de fé, "que o Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento no homem; e que, se forem divididos, cada um se perde como uma pérola reduzida a pó", seja visto e reconhecido como uma verdade, é importante

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examiná-lo nesta ordem: I. 0 Senhor com todo Seu Divino Amor, com toda Sua Divina Sabedoria, com toda toda Sua Vida Divina, influi em cada homem. II. Por conseqüência influi com toda a Essência da Fé e da Caridade. III. Mas estas cousas são recebidas pelo homem segundo sua forma. IV. Portanto, o homem que divide o Senhor, a caridade e a fé, não é uma forma que recebe, mas é uma forma que destrói.

&364 - I. 0 Senhor com todo Seu Divino Amor, com toda Sua Divina Sabedoria, com toda Sua Vída influi em cada homem. No Livro da Criação lê-se que o homem foi criado Imagem de Deus e que Deus soprou em suas narinas uma alma de vidas (Gen. 1, 27; 2, 7); isso, quer dizer que o homem é um órgão da vida e não a vida; com efeito, Deus não podia criar um outro semelhante a Ele; se o pudesse, haveria tantos deuses quantos homens; não podia criar a vida, do mesmo modo que a luz não pode mais ser criada, mas pôde criar o homem forma da vida, como criou o olho forma da luz; Deus não podia nem pode dividir Sua essência, pois ela é una e indivisível. Portanto, pois que Deus só é a Vida, segue-se indubitavelmente que de Sua Vida Deus vivifica cada homem; e que o homem sem esta vivificação seria, quanto à carne, uma pura esponja; e quanto aos ossos, um puro: esqueleto, no qual não haveria mais vida do que em um relógio, cujo movimento provém do pêndulo e do pêso ou da mola. A cousa sendo assim, segue-se ainda, que Deus in,flui em cada homem com toda Sua Vida Divina, com todo Seu Divino Amor e com toda Sua Divina Sabedoria; estes dois constituindo Sua Vida Divina, ver acima ns. 39, 40; pois o Divino não pode ser dividido. Mas como Deus, com toda Sua Vida Divina, influi? Podemos de alguma forma, percebê-lo por uma idéia semelhante àquela, pela qual se percebe que o Sol do Mundo com toda sua essência, que consiste em calor e luz, influi em cada árvore, em cada fruto, em cada flor, em cada pedra, tanto comum como preciosa; e que cada objeto tira sua dose deste influxo comum e que o Sol não divide sua luz nem seu calor; e não dá deles uma parte a um, e uma parte a outro. Acontece o mesmo com o Sol do Céu, de onde procedem o Divino Amor como Calor e a Divina Sabedoria corno Luz; estes dois influem nas mentes humanas como nos corpos, o calor e a luz do Sol do Mundo; e eles os vivificam segundo a qualidade da forma; e cada mente torna deste influxo comum o que lhe é necessário. E' a isso que é aplicável o que disse o Senhor: "Vosso Pai faz levantar-se seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos (Mateus V, 45). 0 Senhor também é onipresente e onde, ele está Presente, aí está com toda Sua Essência; e lhe é impossível destacar dela alguma cousa e dar uma parte a um, e uma parte a um, e uma parte a outro; mas Ele a dá inteira, e dá ao homem a liberdade de tomar dela pouco ou muito; Ele disse também que tem sua morada naqueles que fazem Seus preceitos e que os fiéis estão n'Ele e Ele neles; em uma palavra; todas as cousas estão cheias de Deus e desta plenitude, cada um toma sua porção. Isto pode ser comparado a cada cousa comum, por exemplo, às atmosferas e aos oceanos; a atmosfera é em seus mínima tal como é em seus maxima; ela não dispensa uma parte de si mesma para a respiração do homem, para o vôo do pássaro, para as velas dos navios ou para as asas dos moinhos, mas cada um tira dela a sua medida e a aplica tanto quanto é suficiente; isso também pode ser comparado a um celeiro cheio de trigo; o seu possuidor tira cada dia a sua provisão; e não é o celeiro que faz a distribuição.

&365 - II. Por conseqüência, o Senhor influi em homem com toda a Essência da Fé e da Caridade; é uma conseqüência do Teorema precedente, pois que a Vida da Divina Sabedoria é a Essência da fé e a Vida do Divino Amor é a Essência da Caridade; quando o Senhor está presente com as cousas que lhe pertencem propriamente, as quais são a Divina

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Sabedoria e o Divino Amor, está também presente com todos os veros pertencem à fé e com todos os bens que pertencem à caridade; pois, pela fé é entendido todo o vero que o homem, pelo Senhor,percebe, pensa e pronuncia; e pela Caridade, é entendido todo Bem com que o homem, pelo Senhor, é afetado e, por conseguinte, quer e faz. Foi dito acima, que o Divino Amor, que procede do Senhor como Sol, é percebido pelos Anjos como Calor; e que a Divina Sabedoria é percebida como Luz; mas aquele que não pensa além da aparência, pode imaginar que este Calor é calor nu; e que esta Luz é uma luz nua, tal como são o Calor e a Luz que procedem do Sol de nosso Mundo, enquanto que o Calor e a Luz que procedem do Senhor como Sol, contêm, em seu seio,todas as Infinidades que estão no Senhor, o Calor tôdas as Infinidades do Seu Amor, e a Luz todas as Infinidades de Sua Sabedoria; por conseqüência, também em Infinidade, todo bem que pertence à caridade e todo vero que pertence à fé; isto provém de estar este Sol presente por toda parte em seu calor e sua luz, e de ser Sol o Círculo mais, próximo do Senhor, Circulo que emana de Seu Divino Amor e, ao mesmo tempo, de Sua Divina Sabedoria; poks, como já foi dito algumas vezes, o Senhor está no meio deste Sol. Por estas explicações, é evidente que nada se opõe-se de uma de odores diferentes; entretanto, são sentidos como um só; acontece o mesmo com multas outras cousas, que, embora pareçam uniformes no exterior, são múltiplas no interior; as simpatias e as antipatias, como emoções provenientes das mentes, também afetam os outros segundo as semelhanças ou dessemelhanças; embora sejam numeráveis e não sentidas pelos sentidos do corpo, são percebidas pelos sentidos da alma como um; e é de acordo com elas que se fazem todas as conjunções e todas as consociastes no Mundo espiritual. Estes detalhes foram dados para ilustrar o que foi dito acima sobre a Luz espiritual que procede do Senhor, a saber; que há nela tôdas as coisas da Sabedoria e, por conseguinte, tôdas as da Fé e é por esta Luz que o Entendimento vê e percebe analiticamente os racionais, como percebe simètricamente os naturais.

&366 - III. Estas coisas que influem do Senhor são percebidas pelo homem segundo a sua forma: aqui, pela forma é entendido o estado do homem quanto ao seu amor e à sua sabedoria; por conseqüência, também quanto às suas afeições dos bens da caridade e às percepções dos veros da fé. Que Deus seja um, indivisível e o mesmo de eternidade a eternidade, não o mesmo simples, mas infinito, e que toda variedade vem do, objeto em que está, é o que foi mostrado acima; que a For o estado recipiente produza variações, pode-se ver pela Vida das criancinhas, das criança, dos adolescentes, dos adulto e dos velhos; há em cada um, desde a primeira infância até a velhice, a mesma Vida, porque há a mesma alma, mas do modo por que varia seu estádo segundo as idades e as conveniências, do mesmo modo, também é percebida sua vida. A Vida de Deus está em. toda plenitude, não somente em todos os homens bons, mas também nos homens maus e ímpios, semelhantemente, nos Anjos do Céu e nos Espíritos do Inferno; a diferença é que os maus bloqueiam o caminho e fecham a porta, a fim de que Deus não entre' nos inferiores de sua mente, enquanto que os bons aplainam o caminho, abrem a porta e também convidam Deus para que entre nos inferiores de sua mente, do mesmo modo que habita nos 'supremos, e assim formam o estado da vontade para o influxo do amor e da caridade e o estado do entendimento para o influxo da sabedoria e da fé, por conseqüência, para a recepção de Deus; mas os maus põem obstáculos a este influxo por diversas, cobiças da carne e diversas imundícies espirituais, que colocam em baixo e impedem a passagem; Deus, entretanto, reside em seus supremos com toda Sua Divina Essência e lhes dá a --faculdade de querer o bem e de compreender o vero, faculdade que cada homem possui e que não teria, de modo

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algum, se a vida procedente de Deus não estivesse em sua alma; que os maus tenham também esta faculdade, é o que me foi dado saber por grande número de experiências. Que cada um recebe segundo sua forma a vida que procede de Deus, isso pode ser ilustrado por comparações com os vegetais de todo gênero: Cada árvore, cada arbusto e cada erva, recebe o influxo do calor e da luz segundo sua forma; assim, não somente os vegetais de um uso bom, mas também os que são de um uso mau; e o Sol com seu calor não muda as formas, mas as formas mudam em si mesmas os efeitos do Sol. Acontece o mesmo com os objetos do Reino mineral; cada um deles, tanto preciosos como vis, recebe o influxo segundo a forma da contextura de suas partes; assim, uma pedra diferentemente de uma outra, um mineral diferentemente de um outro mineral e um metal, diferentemente de um outro metal; alguns deles são coloridos com muito belas cores, outros transmitem a luz sem colorido e outros a absorvem e abafam. Por estes exemplos pudesse ver que do mesmo modo que o Sol do Mundo, com seu calor e sua luz, está igualmente presente em um objeto como em um outro, mas que as formas recipientes variam suas operações, do mesmo modo que o Senhor pelo: Sol do Céu, no meio do qual está, com seu calor que em sua essência é amor, e com sua luz que em sua essência é sabedoria, está igualmente presente em um como em outro, mas que a forma do homem, que foi introduzida pelos estados de sua vida, varia as operações; por conseqüência, não é o Senhor a causa do homem não renascer e não ser salvo, mas o homem mesmo é a causa disso.

&367 - IV. Portanto, o homem que divide o Senhor, a Caridade e a Fé não é uma forma que recebe, mas é uma forma que destrói; com efeito, aquele que separa o Senhor da Caridade e da Fé, separa delas a vida, e quando a vida é separada delas, a Caridade e a Fé ou não existem ou são abortos; que o Senhor seja a Vida mesma, vê-se acima, n. 358. Aquele que reconhece o Senhor e separa d'Ele a caridade, não reconhece o Senhor senão de boca; seu reconhecimento e sua confissão são frios, não há neles a fé, pois que lhes falta a essência espiritual, pois a caridade é a essência da fé. Aquele que pratica a Caridade e não reconhece o Senhor como sendo o Deus do Céu e da Terra, um como Pai, como Êle mesmo ensina, não pratica outra caridade senão uma caridade puramente natural, na qual não há a vida eterna; o homem da Igreja sabe que todo bem, que é em. si o bem, vem de Deus; por conseqüência, do Senhor, "que é o, verdadeiro Deus e a Vida eterna" (I João V, 21); acontece o mesmo com a Caridade, porque o bem e a caridade são um. Se a Fé separada da Caridade não é a Fé, é porque a Fé é a luz da vida do homem e a Caridade é o calor de sua vida; se, portanto, a Caridade está separada da Fé, é como quando o Calor está separado da Luz; desde então, o estado do homem se torna tal como é o estado do Mundo na estação das geadas, quando tudo na terra está em um estado de morte; a Caridade e a Fé, para que a caridade seja caridade e a Fé seja a fé, não podem ser separadas mais do que a Vontade e o Entendimento; pois se estes forem separados, o Entendimento se torna nulo e também a Vontade; se acontece o mesmo com a Caridade e a Fé, é porque a Caridade reside na Vontade e a Fé, no Entendimento. separar a Caridade da Fé, é como separar a essência de sua forma; no Mundo Sábio sabe-se que a Essência sem a Forma e a Forma sem a Essência nada são, pois não há qualidade da Essência a senão pela Forma; e a Forma é um ser subsistente pela Essência; por conseqüência, nada se pode dizer de uma ou de outra separadas uma da outra; a caridade também é a essência da fé e a fé é a forma da caridade, absolutamente, como foi dito acima, como o Bem é a Essência do Vero e o Vero, a forma do Bem. Estes dois, a saber, o Bem e o Vero, estão em tôdas e cada uma das cousas que existem essencialmente; é por isso que a caridade, por que pertence ao bem, e a fé, por que

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pertence ao vero, podem ser ilustradas por comparações com várias cousas do corpo humano e com várias cousas da Terra; podem ser justamente comparadas com a respiração do pulmão e com o movimento sistólico do coração, pois a caridade não pode ser separada da fé mais do que o coração o pode ser do pulmão, pois que o movimento do coração, cessando; imediatamente cessa a respiração do pulmão; e a respiração do pulmão, cessando dos os sentidos desfalecera e todos os músculos ficam privados da ação de mover-se; e pouco depois, o coração também cessa de bater e toda a vida se dissipa; esta comparação é exata, pois que o Coração corresponde à Vontade; por conseguinte, também à Caridade, a respiração do Pulmão, ao Entendimento, por conseguinte também à Fé; pois, como foi dito acima, a Caridade reside na Vontade e a Fé no Entendimento; não é mesmo entendida outra cousa na Palavra pelo Coração e o Espírito (sopro). A separação da Caridade e da Fé coincide também com a separação do sangue e da carne, pois o sangue, separado da carne, é um sangue coagulado (cruor) e se toma sânie; e a carne, separada do sangue, se corrompe sucessivamente e nela nascem vermes; o sangue também no sentido espiritual significa o Vero da sabedoria e da fé; e a carne, o bem do amor e da caridade; que ia sangue tenha essa significação, isso foi mostrado no ira Apocalipse Revelado, n. 379; e quanto à carne, n. 832. A Caridade e a Fé, para que uma e outra sejam alguma coisa não podem, ser separadas mais do que, no homem, o Alimento e a Água, ou o Pão e o Vinho, pois o Alimento e o Pão tomados sem água e sem vinho distendem somente o ventre, o estragam com massas indigestas e se tornam como uma lama podre; a Água e o Vinho, sem Alimento e sem Pão, distendem do mesmo modo o ventre e também os vasos e os poros, que, privados assim de alimento, emagrecem o corpo até à morte; esta comparação ajustasse ainda, pois que o alimento e o pão, no sentido espiritual, significam o bem do amor e da caridade; e a água e o vinho, o vero da sabedoria e da fé; ver o Apocalipse Revelado, ns. 50, 316, 778, 932. A Caridade conjunta a Fé e a Fé reciprocamente conjunta a Caridade, podem ser comparadas à face de uma donzela, que é embelezada pelo rubor e a brancura convenientemente misturados; esta comparação é ainda exata, pois que, no Mundo espiritual, o Amor e, por conseguinte, a Caridade são de um vermelho Inflamado pelo fogo do Sol desse Mundo, e a Verdade e por conseguinte, a Fé é de uma branco brilhante pela luz desse Sol; é por isso que a Caridade separada da Fé, pode ser comparada a uma face inflamada com pústulas; e a Fé separada da Caridade pode ser comparada à face pálida de um morto. A fé. separada da caridade pode também ser comparada à Paralisia em um dos lados, chamada Hemiplegia, de que o homem morre quando ela torna consistência; pode ainda ser comparada à Dansa de S. Vito ou de S. Guido, moléstia produzida no homem pela picada da Tarântula; o racional toma-se semelhante a um tal homem, salta como êle com furor; e então, se crê vivo; entretanto, não pode mais reunir as razões em um, nem pensar sobre os veros espirituais, mais do que a poderia um homem deitado em um leito e oprimido por um pesadelo. Estas explicações bastam para a demonstração destes dois teoremas deste Capítulo; o Primeiro, que a Fé sem a Caridade não é a Fé, e a Caridade sem a Fé não é a Caridade, e que uma e outra não vive senão pelo Senhor; e o Segundo, que o Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento no homem; e que se são divididos, cada um se perde como uma pérola reduzida: a pó.

&368 VII - 0 Senhor é a Caridade e a Fé no homem. E o homem é a Caridade e a Fé no Senhor.368 - Que o homem da Igreja esteja no Senhor, e que o Senhor esteja nele, vê-se por estas passagens da Palavra: "Jesus disse: Permanecei em Mim e Eu em vós; Eu sou a Cepa, vós

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os sarmentos; aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto" (João XV, 4, 5). "Aquele que come minha carne e bebe meu sangue, em Mim permanece e Eu, nele (João VI, 56). "Naquele dia conhecereis que Eu estou em Meu Pai, vós em mim e Eu em vós" (João XIV, 20). "Quem quer que tenha confessado que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanecerá nele e êle em Deus" (I João IV, 15). Ora, o homem não pode estar êle mesmo no Senhor, mas o que está no Senhor, é a Caridade e a Fé, que pelo Senhor estão no homem e pelas quais o homem é essencialmente homem. Mas para que este Arcano se mostre em alguma luz diante do entendimento, vai ser desenvolvido segundo esta série: I. Há com Deus uma conjunção pela qual o homem tem a salvação e a vida eterna. II. A conjunção não é possível com Deus Pai, mas é Possível com o Senhor e pelo Senhor, com Deus Pai. III. A conjunção com o Senhor é recíproca; isto quer dizer que o Senhor está no homem e o homem, no Senhor. IV. Esta conjunção recíproca se faz pela caridade e pela fé. Que isso seja assim, ver-se-á claramente pela explicação que segue.

&369 - I. Há uma conjunção com Deus pela qual o homem tem a salvação e a vida eterna. 0 homem é criado para que possa se conjuntar a Deus, pois é criado Indígena do Céu e também Indígena do Mundo; como Indígena do Céu é espiritual e como Indígena do Mundo, é natural; ora, o homem Espiritual pode pensar em Deus e perceber as coisas que são de Deus e ser afetado pelas coisas que são de Deus, donde segue-se que pode ser conjunto a Deus. Que o homem possa pensar em Deus e perceber as cousas que são de Deus, isso não oferece a menor dúvida, pois êle pode pensar na Unidade de Deus, no Ser de Deus, que é Jehovah na Imensidade e na Eternidade de Deus, no Divino Amor e na Divina Sabedoria, que fazem a Essência de Deus, na Onipotência, na Onisciência e na Onipresença de Deus; no Senhor Salvador Seu Filho, na Redenção e na Mediação; além disso, também no Espírito Santo e na Divina Trindade; todas as comas que Mão de Deus, e que mesmo são Deus; e além disso, nas Operações de Deus, que são principalmente a Fé e a Caridade, sem falar em um grande número de outras cousas que procedem da fé e da caridade. Que o homem possa, não somente pensar em Deus, mas também amar a Deus, vê-se nestes dois mandamentos de Deus mesmo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e de toda tua alma; é este o Primeiro e o Grande Mandamento"; o segundo lhe é semelhante: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus XXII, 37-39; Deuter. VI, 5). Que * homem possa fazer os preceitos de Deus e que seja isso amar * Deus e ser amado por Deus, vê-se por estas palavras: "Jesus disse: Aquele que tem meus preceitos e os faz, é esse que me ama; ora, aquele que Me ama será amado por Meu Pai, Eu o amarei, e Me manifestarei a êle" (João XIV, 21). Além disso, o que é a Fé, senão a conjunção com Deus pelos veros que pertencem ao entendimento e, por conseguinte, ao pensamento? e o que é o Amor, senão a conjunção com Deus pelos bens que pertencem à vontade e, por conseguinte, à afeição? A conjunção de Deus com o homem é a conjunção do espiritual no natural; e a Conjunção do homem com Deus é a Conjunção do natural segundo o espiritual. E' por esta Conjunção como fim, que o homem foi criado Indígena do Céu e, ao mesmo tempo, Indígena do Mundo; como Indígena do Céu, êle é espiritual e como Indígena do mundo, é natural; se, portanto, o homem se torna Espiritual-racional e, ao mesmo tempo, Espiritual-moral, está conjunto a Deus; e pela conjunção tem a salvação e a vida eterna mas se o homem é somente natural-racional e também natural-moral, há, em verdade, conjunção de Deus com êle, mas não há. conjunção dele com Deus; daí, resulta para êle a morte espiritual, que, considerada em si mesma, é a vida natural sem a vida. espiritual; pois o espiritual em que há vida de Deus, está extinto nele.

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&370 - II. A conjunção não é possível com Deus Pai, mas é ;possível com o Senhor e pelo Senhor, com Deus Pai: é o que a, Escritura ensina e o que a Razão vê; a Escritura ensina que Deus Pai jamais foi visto ou ouvido e que não pode ser visto nem ouvido; por conseqüência, por Si mesmo, tal como é em Seu Ser e em Sua Essência, nada pode operar no homem; pois o Senhor disse: Deus, ninguém 0 viu, a não ser Aquele que está no Pai, Esse viu o Pai" (João VI, 46). "0 Pai ninguém o conhece senão o Filho e aquele a quem o Filho queira revelar" (Mateus XI, 27). "Nem a voz do Pai jamais ouvistes, nem seu aspecto o vistes" (João V, 37); e isso, porque Ele está nos Princípios de todas as cousas e assim muito acima de toda esfera da mente humana; pois Ele está nos Primeiros e nos Princípios de tôdas as coisas da Sabedoria e de todas as do Amor, com as quais não há para o homem conjunção alguma; se, portanto, Ele mesmo se aproximasse do homem, ou o homem se aproximasse d'Ele, o homem seria consumido e se dissolveria, como um pedaço de madeira no foco de um grande espelho ardente, ou antes como uma estátua lançada no Sol mesmo; por isso, foi dito a Moisés, que desejava ardentemente ver Deus, "que o homem não pode ver Deus e viver" (Êxodo 33, 20). Que Deus Pai seja conjunto por meio do Senhor, vê-se pelas passagens que acabam de ser mencionadas, que é, não o Pai, mas o Filho Unigênito, que está no seio do Pai e viu o Pai, que expôs e revelou as coisas que são de Deus e vêm de Deus; e além disso, por estas passagens: "Naqueles dias conhecereis que Eu estou em meu Pai, vós em Mim e Eu em vós" (João XIV, 20). "A glória que tu me deste, eu lhes dei, a fim de que sejam um, como nós somos um, Eu neles e Tu em Mim" (João XVII, 22, 23, 26). "Jesus disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por Mim"; e quando Filipe quis ver o Pai, o Senhor lhe respondeu: "Quem me vê, vê também o Pai; e quem me conhece, conhece também o Pai" (João XIV, 6, 7 e segs.). E em outro lugar: "Quem me vê, vê Aquele que me enviou" (João XII, 45). E além disso, Ele disse: "que é a Porta e que aquele que entra por Èle é salvo, mas que aquele que sobe por um outro lugar é um salteador e um ladrão" (João X, 1, 9). E Êle disse também, "que aquele que não permanece n'Ele será lançado fora e será como o armento que, ficando seco, é lançado no fogo" (João XV, 6). A razão disso, é que o Senhor nosso Salvador é o próprio Jehovah, o Pai, em uma Forma humana; pois Jehovah desceu e se fez Homem, a fim de que pudesse se aproximar do homem, e o homem pudesse se aproximar d'Êle; e que assim houvesse conjunção e pela conjunção salvação e vida eterna para o homem; pois quando Deus se fez homem e, por conseqüência, o Homem também se fez Deus, Ele pôde, estando assim acomodado, se aproximar do homem e lhe ser conjunto como Deus-Homem e Homem-Deus. Há três cousas que se seguem em ordem: a Acomodação, a Aplicação e a Conjunção; é preciso que haja Acomodação antes que haja Aplicação; e é preciso que haja Acomodação e, ao mesmo tempo, Aplicação antes que haja Conjunção, a Acomodação veio do lado de Deus, por se ter feito Homem; a Aplicação da lado, de Deus é perpétua, enquanto que o homem se aplica reciprocamente; e conforme isso se faz, a Conjunção se faz também. Os à três se seguem e procedem, em sua ordem, em tôdas e cada uma das coisas que se tornam um e coexistem.

&371 - III. A conjunção com o Senhor é recíproca, quer dizer que o Senhor está no homem, e o homem no Senhor. Que a conjunção seja recíproca, a Escritura o ensina e a razão também o vê: o Senhor, falando de Sua conjunção com o Pai, ensina que ela é recíproca, pois disse a Filipe: "Não crês que Eu estou no Pai, e que o Pai está erm Mim? Crêde-me, que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim" (João XIV, 10, 11). "A fim de que conheçais

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que o Pai está em Mim e Eu no Pai" (João X, 38). "Jesus disse: Pai, chegou a hora, glorifica teu Filho, a fim de que teu Filho também te glorifique" (João XVII, 1). "Pai, tudo que é Meu é Teu, e tudo que é Teu é Meu" (João XVII, 10). 0 Senhor disse a mesma coisa de sua conjunção com o, homem, a saber, que ela é recíproca; pois disse: ''Permanecei em Mim e Eu em vós; aquêle que permanece em Mim e Eu nêle, esse dá muito fruto" (João XV, 4, 5). "Aquêle que come minha Carne e bebe meu Sangue; em Mim permanece e EU nêle" VI,56). "Naquele dia conhecereis que Eu estou em meu Pai, vós em Mim, e Eu em vós" (João XIV, 20). "Aquêle que faz os mandamentos de Christo permanece em Christo e Christo nêle" (IJoão 111, 24; IV, 13). "Quem quer que tenha confessado que Christo é o Filho de Deus, Deus permanece nêle e êle em Deus" (I João IV, 15). "Aquêle que ouve a minha voz e abre a porta, entrarei nêle, e cearei com êle e êle comigo" (Apoc. 3, 20). Por estas expressões explicitas, é evidente que a conjunção do Senhor e do homem é recíproca; e pois que é recíproca, segue-se necessàriamente que o homem deve se conjuntar com o Senhor, para que o Senhor se conjunte com êle; e que, de outro modo, a conjunção não se faz, mas há um afastamento e, por conseguinte, separação; não, entretanto, do lado do Senhor, mas do lado do homem. Para que esta conjunção recíproca tenha lugar, foi dada ao homem uma Livre Escolha, pela sual pode entrar no caminho que conduz ao Céu ou no que leva ao Inferno; desta liberdade dada ao homem decorre seu recíproco, por poder êle se conjuntar com o Senhor e poder se conjuntar com o Diabo; mas esta Liberdade, o que é, e por que foi dada ao homem, isso será ilustrado no que segue, quando se tratar do Livre Arbítrio, da Reforma, da Regeneração e da Imputação. Devemos nos afligir porque esta Conjunção recíproca do Senhor e do homem, embora expressa tão claramente na Palavra, tenha, entretanto, sido ignorada na Igreja Cristã; se foi ignorada, é devido às Hipóteses sobre a Fé e sobre o Livre Arbítrio; as Hipóteses sobre a Fé são, que a Fé é dada sem que o homem faça a menor cousa paxa obtê-la e que, para recebê-la, ele nas se acomoda e não se aplica mais do que faria um toco; as Hipóteses sobre o Livre Arbítrio são, que o homem não tem nern mesmo uni grão de Livre Arbítrio nas cousas espirituais. Mas a fim de que a conjunção reciproca do Senhor e do homem, conjunção de que depende a, salvação,do gênero humano, não fique, por mais tempo, escondida e ignorada, a necessidade mesma impõe descobria, o que não pode ser feito de melhor maneira do que pelos exemplos, porque os exemplos ilustram. Há duas Reciprocações, pelas quais se faz a conjunção; uma é Alternativa e a outra é Mútua; a Reciprocação Alternativa pela qual se faz a conjunção pode ser ilustrada pelas animações do pulmão; o homem aspira o ar e, para isso, dilata o Tórax; pouco depois, expele o ar aspirado e, para isso, comprime o Tórax; esta aspiração com a dilatação que dela é a conseqüência, se faz por meio da pressão do ar segundo sua coluna; e a expulsão, com a compressão que dela resulta, se faz por meio das costelas pela força dos músculos; tal é a conjunção recíproca do ar e do pulmão, de que depende a vida dos sentidos e dos movimentos de todo o corpo, pois a respiração cessando, há desfalecimento dos sentidos e dos movimentos. A conjunção recíproca que se faz por alternativas, pode ainda ser Ilustrada pela conjunção do coração com o pulmão e do pulmão com o coração; o coração, de sua cavidade direita, espalha o sangue no pulmão e o pulmão o reenvia para a cavidade esquerda, do coração, assim se faz essa conjunção recíproca, de que de pende absolutamente a vida de todo o corpo. Há uma semelhante conjunção do sangue com o coração e do coração com o sangue; o sangue de todo o corpo influi pelas veias no coração e eflui do coração pelas artérias em todo o corpo, a ação e a reação fazem essa conjunção. Há entre o embrião e o útero da mãe uma semelhante ação e urna semelhante reação, pelas quais persiste a conjunção. Entretanto, não é uma tal conjunção

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recíproca que existe entre o Senhor e o homem, mas é uma conjunção mútua, que se faz, não por ações e reações, mas por cooperações, pois o Senhor age e o homem recebe do Senhor a ação, e opera como por si mesmo e de si mesmo, pelo Senhor; esta operação do homem pelo Senhor lhe é imputada como sua, pois que é continuamente mantido pelo Senhor no Livre Arbítrio; o Livre Arbítrio que resulta daí, é que êle pode querer e pode pensar pelo Senhor, isto é, pela Palavra, e também pode querer e pensar pelo diabo, isto é, contra o Senhor e a Palavra; o Senhor dá esta Liberdade ao homem, a fim de que possa reciprocamente se conjuntar e pela conjunção, ser dotado de vida e de beatitude eternas, pois sem a conjunção recíproca, não pode recebê-las. Esta conjunção recíproca, que é mútua, pode também ser ilustrada por diferentes coisas do homem e do mundo. Tal é a conjunção da alma e do corpo em cada homem; tal é a conjunção da vontade e da ação; tal é a do pensamento e da linguagem; tal é também a dos olhos entre si, dos ouvidos entre si, e das duas narinas entre si; que a conjunção dos olhos entre si seja recíproca à sua maneira, isso é evidente pelo Nervo ótico, no qual as fibras provenientes de um e outro Cérebro, são entrelaçadas entre si, e assim tendem para um e outro olho; acontece o mesmo com os ouvidos e as narinas. Há uma semelhante conjunção recíproca-mútua da Luz e do olho, do Som e do Ouvido, do Odor e da Narina, do Gosto e da Língua, do Tato e do Corpo; pois o olho; está na luz e a luz está no olho; o som está no ouvido e o ouvido está no som, o odor está na narina e a narina está no odor, o Gosto está na língua e a língua está no Gosto o tato está no corpo e o corpo está no tato. Esta conjunção recíproca pode também ser comparada com a conjunção do Cavalo e do Carro, do Boi e da Chasrua, da Roda e da Máquina, da Vela e do Vento, da Flauta e do Ar; em suma, há uma semelhante conjunção recíproca entre o Fim e a Causa, entre a Causa e o Efeito; mas expor em particular cada uma dessas conjunções recíprocas, não é aqui o lugar, pois seria necessário grande número de páginas.

&372 - IV. Esta conjunção recíproca do Senhor e do homem se faz pela Caridade e pela Fé. Sabe-se hoje que a Igreja faz o Corpo de Christo e que todo homem, em quem está a Igreja, está em algum Membro dêsse Corpo, segundo Paulo (Efes. 1, 23: 1 Cord. 12, 27; Rom. 12, 5). Mas o que é o Corpo de Christo, senão o Divino Bem e a Divina Verdade? Isto é entendido pelas palavras do Senhor, em João: "Aquele que come minha Carne e bebe meu Sangue, em Mim permanece, e Eu nele'' (VI, 56), pela Carne do Senhor, como também pelo Pão, é entendido o Divino Bem; e pelo Sangue do Senhor, como também pelo Vinho, é entendido o Divino Vero; que seja isso o que é entendido, ver-se-á no Capítulo sobre a Santa Ceia; segue-se que, quanto mais o homem está nos bens da caridade e nos Veros da fé,tanto mais está no Senhor e o Senhor nêle; pois a conjunção espiritual se faz unicamente pela Caridade e pela Fé. Que a conjunção do Senhor e da lgreja e, por conseqüência do Bem e do Vero, esteja em tôdas e cada uma das cousas da Palavra, isto foi mostrado no Capítulo sobre a Escritura Santa, ns. 248 a 253; e como a Caridade é o Bem e a Fé é o Vero, há por toda parte na Palavra a conjunção da caridade e da fé. Ora, resulta destas explicações que o Senhor é a Caridade e a Fé no homem, e que o homem é a Caridade e a Fé no Senhor; pois o Senhor é a Caridade e a Fé espirituais na Caridade e na Fé naturais do homem; a o homem é a Caridade e a Fé naturais provenientes da Caridade e da Fé espirituais do Senhor, as quais, conjuntas, fazem a Caridade e a Fé espirituais-naturais.

&373 VIII - A Caridade e a Fé estão em conjunto nas boas obras.

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373 - Em toda Obra que procede do homem, há o homem inteiro tal como é quanto à mente (animus) ou tal qual é essencialmente; pela mente (animus) é entendida a afeição do seu amor; por conseguinte, seu pensamento, eles formam sua natureza e em geral sua Vida; se considerarmos assim as obras, elas serão como os espelhos do homem; isso pode ser ilustrado pelos semelhantes nas bestas e nos animais ferozes; a besta é besta, o animal feroz é animal feroz em todos os seus atos, o lobo é lobo em todos os seus, o tigre é tigre em todos os seus, a raposa é raposa em todos os seus e o leão é leão em todos os seus; semelhantemente, o carneiro e o cabrito em todos os seus; acontece o mesmo com o homem, mas este é tal qual é em seu homem interno; se neste homem êle é como um lobo ou como uma raposa toda obra dele é interiormente a de um lobo ou a de uma raposa e vice-versa, se é como um carneiro ou como um cordeiro; mas que seja tal em tôdas as suas obras, isso não se manifesta em seu homem externo porque este, que é mutável, está em torno do homem Interno, mas acontece que este está sempre escondido aí interiormente; o Senhor disse: "0 homem bom do bom tesouro de seu coração tira o bom; e o homem mau do mau tesouro do seu coração tira o mau" (Lucas VI, 45). E também: "Toda árvore por seu fruto é conhecida; sobre espinheiros não se colhe figos e sobre sarças não se vindima uvas" (Lucas VI, 44). Que o homem em tôdas e cada uma das cousas que procedem dele seja tal qual é no seu homem interno, é o que se manifesta nêle de uma maneira frisante (ad vivum) depois da morte, pois que então êle vive homem Interno e não mais homem Externo. Que o bem esteja no homem e que toda obra que procede dêle seja boa, quando o Senhor, a Caridade e a Fé estão em seu homem Interno, isso vai ser demonstrado segundo esta série: I. A Caridade é o bem querer, e as boas obras são o bem fazer segundo o bem querer. II. A Caridade e a Fé não são mais que cousas caducas se, quando isso é possível, elas não são determinadas em obras e aí coexistem. III. A Caridade só, não produz boas obra, e menos ainda a Fé só, mas a Caridade e a Fé, reunidas, as produzem. Mas cada um destes pontos vai ser explicado em particular.

&374 - I. A Caridade é o bem querer, e as boas são o bem-fazer segundo o bem-querer. A Caridade e as Obras são distintas entre si, como a Vontade e a Ação, e como a afeição da Mente e a operação do Corpo; por conseqüência, também como o homem Interno e o homem Externo e estes estão entre si como a Causa e o Efeito, pois as cassas de tôdas as coisas são Na madas no homem Interno e todos os efeitos se fazem, por cora seguinte, no homem Externo; é por isso que a Caridade, porque pertence ao homem Interno, é o bem-querer; e as obras, porque pertencem ao homem Externo, são o, bem-fazer segundo o bem-querer. Mas, não obstante, há uma diversidade infinita entre o bem querer de um e o de outro, pois tudo que é feito por alguém em favor de outro, acredita-se profluir, ou parece profluir do bem querer ou da benevolência; mas não se sabe, entretanto, se os benefícios vêm da Caridade e, ainda menos, de que Caridade vem, se é da caridade real ou da caridade bastarda, esta diversidade infinita entre o bem querer de um e o de outro, tira sua origem do Fim, da Intenção e assim do Desígnio (aquilo que alguém se propôs); estas coisas estão interiormente escondidas na Vontade de bem agir, a qualidade de cada vontade vem daí; e a vontade procura no entendimento os meios e os modos de chegar a seus fins, que são os efeitos e se põe aí na luz, para ver não somente as razões, mas também as ocasiões quando e como deve se determinar em atos, e assim produzir seus efeitos, que são as obras e, ao mesmo tempo, no entendimento, ela se põe em força para agir; daí, resulta que as obras pertencem, essencialmente, à Vontade, formalmente ao Entendimento e, em atualidade, ao Corpo; assim, nas boas obras desce a Caridade. Isso pode ser ilustrado pela comparação

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com a árvore: 0 homem, mesmo quanto a tudo que lhe pertence, é como a Arvore, em cuja semente estão escondidos por assim dizer, um fim, um desígnio (propositum) de produzir frutos; nisto a semente corresponde à Vontade do homem, na qual estão estas duas coisas, como acaba de ser dito; em seguida, a semente, por seus interiores, faz sair seu rebento para fora da terra, reveste-se de ramos e de folhas, e assim se prepara os meios para os fins, que são os frutos; nisso a Arvore corresponde ao Entendimento do homem; enfim, quando a estação se aproxima, a Arvore floresce e produz frutos; nisto ela corresponde às boas Obras do homem; que estes frutos pertençam essencialmente à semente, formalmente às folhas e à madeira da árvore, é evidente. Isto pode a" ser ilustrado pela comparação com um Templo; o homem é um Templo de Deus segundo Paulo (I Cor. 3, 16, 17; 11 Cor. 6, 16; Efes. 2, 21, 22); o fim, a intenção e o desígnio são a salvação e e a vida eterna para o homem, como Templo de Deus; -nisto há uma correspondência com a vontade, na qual estão estas duas coisas; em seguida, o homem recebe as doutrinas da fé em da. caridade de seus pais, de seus mestres e dos pregadores; e quando possui seu julgamento, da Palavra e dos Livros dogmáticos; tôdas as coisas que são meios para o fim; nisso há correspondência com o Entendimento; enfim, chega a determinação para os usos segundo os doutrinais como meios, e ela se faz por atos do corpo, que são chamados boas obras, assim o fim pelas Causas médias, produz efeitos, que pertencem essencialmente ao fim, formalmente aos doutrinais da Igreja e, em atualidade, aos usos; é assim que o homem se torna Templo de Deus.

&375 - II. A Caridade e a Fé não são mais do que cousas mentais e caducas se', quando é possível, elas não são determinadas em obras, e coexistem. 0 homem não tem uma Cabeça, um Corpo, e não há conjunção da Cabeça e do Corpo, no Pescoço? Não há na Cabeça uma Mente que quer e pensa e no Corpo, 'uma força que faz e executa? Se, portanto, o homem tivesse somente o bem querer ou o bem pensar segundo a Caridade, e não tivesse o bem fazer e que não fizesse usos, o homem não seria como uma Cabeça só, e assim como uma Mente só, que, sós sem o Corpo, não podem subsistir? Quem não vê, por isso, que a Caridade e a Fé não são a caridade nem a fé, enquanto estão somente na cabeça e na mente e não no corpo? pois são então como pássaros voando no ar sem nenhum lugar de repouso sobre a terra; e também como pássaros prestes a pôr e que, não tendo ninhos, deixarão escapar seus ovos no ar ou os depositarão sobre algum galho de árvore, de onde cairão e se quebrarão. Não há, na Mente, cousa alguma à qual não corresponda uma outra cousa do corpo; e esta, que corresponde, pode ser chamada a incorporação daquela. E' por isso que enquanto a Caridade e a Fé estão somente na mente, não estão incorporadas ao homem; então, podem ser comparadas a um homem aérea, que é chamado fantasma, tal como os antigos tinham pintado a Fama com um laurel em torno da cabeça e uma cornucópia de abundância na mão; os que estão neste estado, sendo fantasmas semelhantes, e não obstante, podendo pensar, não podem deixar de ser agitados por fantasias (o que acontece também pelos raciocínios segundo diversos sofismas) pouco mais ou menos como, pelo vento, são agitadas as canas nos pântanos, sob as quais no fundo se estendem conchas, e na superfície, coaxam as rãs; quem não pode ver que é assim, quando pela Palavra adquire somente alguns conhecimentos sobre a caridade e a fé, e não os põe em prática 0 Senhor disse também: "Quem ouve as minhas palavras, e as faz, Eu o compararei a um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha; mas quem ouve as minhas palavras, e não as faz, será comparado a um homem insensato, que construiu sua! Casa sobre a areia, ou sobre a terra sem alicerces" (Mateus VII, 24, 26; Lucas VI, 47-49). A Caridade e a Fé com

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suas idéias fictícias quando o homem não as põe em obra, podem também ser comparadas a borboletas no ar, que são atacadas e devoradas pelos pássaros; o Senhor disse também: "0 semeador saiu a semear; uma parte caiu sÔbre o caminho batido e os pássaros vieram e a comeram" (Mateus XIII, 3, 4).

&376 - Que a Caridade e a Fé não, sejam em nada vantajosas para o homem, quando ficam unicamente em um hemisfério do corpo, isto é, em sua Cabe, e não foram tornadas estáveis nas obras, vê-se na Palavra por mil passagens, das quais mencionarei somente estas: "Toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo" (Mateus VII, 19-21). "Aquele que na boa terra foi semeado, é o que ouve a Palavra e lhe dá atenção; ora, esse dá fruto e faz; quando Jesus disse essas cousas, exclamou, dizendo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (Mateus XIII, 23, 43). "Jesus disse: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a fazem" (Lucas VIII, 21). "Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas se alguém honra a Deus e faz sua vontade, Êle o escuta" (João IX, 31). "Se sabeis estas coisas, felizes sereis, se as fizerdes" (João XIII, 17) . "Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é esse o que Ale ama, Eu o amarei, Ale manifestarei a êle, a êle virei, e morada nele farei" (João XIV, 15 a 21, 23). "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto" (João XV, 8). "Aqueles que escutam a Lei, não são justificados por Deus, mas aqueles que fazem a Lei" (Rom. 2, 13; Jaq. 1, 22). "Deus no dia de sua cólera e de seu justo julgamento dará a cada um segundo as obras" (Rom. 2, 5, 6). "Precisamos todos comparecer diante do tribunal de Christo, a fim de que cada um relate o que fêz pelo corpo, seja o bem, seja o mal" (II Cor. 5, 10). "0 Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, e então dará a cada um segundo seus feitos" (Mateus XVI, 27). "Ouvi uma voz do Céu que dizia: Bem aventurados os mortos que no Senhor morrem desde agora! Sim, diz o Espírito, a fim de que repousem de seus trabalhos, suas obras seguem com eles" (Apoc. 14, 13). "Um Livro foi aberto, que é o Livro da vida; e foram julgados os mortos segundo as cousas que tinham sido escritas no Livro, todos segundo suas obras" (Apoc. 20, 12, 13). "Eis que breve venho e minha recompensa comigo, a fim de que dê a cada um segundo sua obra" (Apoc. 22, 12). "Jehovah cujos olhos estão abertos sÔbre todos os caminhos homens, para dar a cada um segundo seus caminhos, e segundo o fruto de suas obras" (Jeremias XXXII, 19). "Farei a visita sobre seus caminhos e suas obras Eu lhe retribuirei" (Hoséas IV, 9). "Jehovah segundo nossos caminhos e segundo nossas obras, tem agido conosco" (Zacarias 1, 6); e além disso, em mil outras passagens. Por isto, pode-se ver que a Caridade e a Fé não são nem a caridade nem a fé, antes de estarem nas obras; e se estão somente acima das obras na Extensão ou na Mente, são como imagens de um Tabernáculo ou de um Templo no ar, que não são mais que Meteoros e desaparecem por si mesmos; e são como pinturas sobre um papel, que as traças consomem; e como Habitáculo sÔbre um Teto onde não há leito, e não na casa. Ora, por estas explicações, pode-se ver que a Caridade e a Fé são cousas caducas quando não estão senão na Mente e se, quando isso é possível, elas não são determinadas em obras, e aí coexistem.

&377 - III. A Caridade só, não produz boas obras, e muito menos a Fé só, mas a Caridade e a Fé reunidas, as produzem. A razão disso, é que a caridade sem a fé não é a caridade e que a ;é sem a caridade não é a fé, como! foi mostrado acima, ns. 355 a 358; não há, portanto, a Caridade solitária, nem a Fé solitária, assim não se pode dizer que a Caridade produz alguma boa obra por si mesma, nem que a fé a produz por si mesma; dá-se o mesmo COM a Vontade e o Entendimento; não há Vontade solitária, ela nada produziria, nem

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Entendimento solitário, êle também nada produziria, mas toda produção vem de uma e de outra, em conjunto, e se faz pelo Entendimento segundo a Vontade; se há similitude é porque a Vontade é o habitáculo da caridade; e o Entendimento, o habitáculo da fé; se se diz "bem menos ainda a Fé só" é porque a Fé é a verdade, e sua operação é fazer verdades, e por que estas iluminam a caridade e os exercícios da caridade; que as verdades iluminam, é o que ensina o Senhor, dizendo: "Aquele que faz a verdade vem à luz, a fim de que sejam manifestadas suas obras porque em Deus elas foram feitas" (João 111, 21); quando um homem faz boas obras segundo as verdades, êle as faz na luz, isto é, com inteligência e sabedoria. A Conjunção da Caridade e da Fé é como o casamento do marido e da esposa; do marido como pai e da esposa; como mãe, nascem tôdas as descendências naturais; semelhantemente, da Caridade como pai e da Fé como mãe, nascem tôdas as descendências espirituais, que são os conhecimentos do bem e do vero; por estes conhecimentos é conhecida a geração das famílias espirituais; na Palavra também, no sentido espiritual, pelo Marido e pelo Pai é significado o Bem da Caridade; e pela Esposa e a UM o Vero da Fé; por isso, é ainda evidente que a Caridade só é a Fé só, não podem produzir boas obras, do mesmo modo que um marido só e uma Esposa só não podem ter filhos. As verdades dá Fé não somente iluminam a caridade, mas ainda a qualificam i e, além disso, a nutrem; o homem, portanto, que tem a caridade sem ter as verdades da fé, é como aquêle que passeia em um jardim à noite e apanha frutos de árvores sem saber se são de um bom ou de um mau uso. Pois que as verdades da fé não somente iluminam a caridade, mas ainda a qualificam, como foi dito, segue-se que a caridade sem as verdades da fé, é como um fruto sem suco, como um figo dessecado, e como uma uva depois que o vinho foi espremido; e pois que as verdades nutrem a caridade, como acaba de ser dito, segue-se que, se a caridade está sem as verdades da fé, não tem outro alimento que o que teria um homem comendo pão queimado e bebendo água corrompida de um pântano.

&378 IX - Há a Fé verdadeira, a Fé bastarda e a Fé hipócrita.378 - A Igreja Cristã, desde seu berço, começou a ser testada e dilacerada por cismas e heresias; e, na continuação do tempo, a ser ferida e lacerada, pouco mais ou menos como se lê que o foi o homem que, descendo de Jerusalém para Jericó foi atacado pelos ladrões, os quais, depois de o haverem despojado e coberto de feridas, o deixaram meio morto (Lucas X, 30). Daí aconteceu o que se lê dessa Igreja, em Daniel: "Enfim, sobre o pássaro das abominações estará a desolação e até à consumação e à decisão ela se espalhará sobre a devastação" (IX, 27); e segundo estas palavras pronunciadas pelo Senhor: "Então virá o fim, quando virdes a abominação da desolação, predita por Daniel, o Profeta" (Mateus XXIV, 14, 15). A sorte desta Igreja pode ser comparada a de um Navio carregado de mercadorias de grande preço, que, saindo do porto, foi batido pela tempestade e, pouco depois, submergido no mar, então, as suas mercadorias foram, em parte, estragadas pelas águas e despedaçadas pelos peixes. Que a Igreja Cristã desde sua infância tenha sido agitada e despedaçada, vê-se pela História Eclesiástica; por exemplo, desde o tempo dos Apóstolos, lar Simão, que era Samaritano de nação e Mágico, de profissão (Atos dos Apóstolos 8, 9 e segs.); e também por Hymeneus e Filetos, de que fala Paulo na Epístola II a Timóteo; depois ainda por Nicolau, que deu seu nome aos Nicolaitas, de que se fala no Apocalipse 2, 6 e os Atos 6.0 5; além disso, por Corintus. Depois do tempo dos Apóstolos, muitos outros se elevaram, por exemplo, os Marcionitas, os Noecianos, os Valentinianos, os Encratites, os Catafrígios, os Quartodecimanos, os Alogianos, os Cataros, os Origenistas ou Adamentinos, os Sibelianos, os Manicheanos, os Melecianos, e enfim os Arianos.

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Depois do tempo dêstes, falanges de Heresíarcas invadiram também a Igreja, por exemplo, Donotistas, os Focinianos, os Acacianos, ou os Semi-Arianos, ou Eunimianos, os Macedonianos, os Nestorianos, os Predestinacianos, os Papistas, os Zwinglenianos, os Anabatistas, os Swenckfeldianos, os Simergistas, os Socinianos, os Antitrinitários, os Quakers, os Hernhuters, além de muitos outros; e enfim sobre êstes prevaleceram Lutero, Melanchton e Calvino, cujos dogmas reinam hoje. As causas de tantas dilacerações e sedições na Igreja são principalmente as três seguintes: A Primeira, é que a Trindade não foi compreendida; a Segunda, 'que não houve nenhum conhecimento justo do Senhor; a Terceira, que a Paixão da Cruz foi tomada pela Redenção mesma. Enquanto se conhece mal êstes três pontos, que entretanto são os Essenciais mesmos da Fé, pelos quais a Igreja tem existência e é chamada Igreja, não se pode senão voltar à esquerda e em diversos sentidos, enfim, no sentido oposto, tôdas as coisas da fé; e, chegado aí, crer, entretanto, que se está na verdadeira Fé em Deus. Neste caso assemelham-se àqueles que cobrem os olhos conjunta faixa e imaginam caminhar em linha reta; entretanto, a cada passo se af afastam da direção e voltam-se para o oposto, onde há uma caverna na qual caem. Mas o homem da Igreja não pode ser retirado de seu erro para o caminho do vero, a menos que saiba o que é a Fé verdadeira, o que é a Fé bastarda e o que é a Fé hipócrita; isto vai ser demonstrado nestas proposições: I. A Fé verdadeira é única, é a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo e permanece naqueles que crêem que Êle é o Filho de Deus, o Deus do Céu e da Terra e um com o Pai. II. A Fé bastarda é toda fé que se afasta da verdadeira Fé que é única, e ela está naqueles que sobem por um outro lugar, e consideram o Senhor não como Deus, mas unicamente como homem. III. A Fé hipócrita não é uma Fé.

&379 - I. A Fé verdadeira é única, é a Fé no Senhor Deus, Salvador Jesus Christo e permanece naqueles que crêem que Êle é o Filho de Deus, o Deus do Céu e V Terra e um com o Pai. Que a Fé verdadeira seja única, é porque a Fé é a verdade e a verdade não pode ser nem quebrada, nem cortada em duas, de sorte que uma parte se volte para a esquerda e a outra para a direita e permaneça a verdade; a Fé, no Sentido comum, se compõe de verdades inumeráveis, pois ela é o complexo delas,mas estas verdades inumeráveis fazem seus membros, umas fazem os membros que dependem do peito, como, os braços e as mãos, outras os que dependem dos lombos, como os pés e as plantas dos pés; mas as verdades interiores fazem a Cabeça e as verdades que procedem dela de mais perto fazem os Sensórios que estão na face; se as verdades interiores fazem a Cabeça, é porque, quando o Interior é mencionado, entende-se também o Superior; pois no Mundo espiritual todos os interiores são também. superiores, acontece assim nos três Céus; a Alma e a Vida deste Corpo e de todos os seus membros, é o Senhor Deus Salvador; é por isso que a Igreja é chamada por Paulo o Corpo de Christo e que os homens da Igreja, segundo os estados da caridade e da fé neles, fazem os membros; que a verdadeira fé seja única, Paulo o ensina também nestes termos: "Há um único Corpo e um único Espírito, um único Senhor, uma única Fé, um único Batismo, um único Deus; Êle deu a obra do Ministério para a edificação do Corpo de Christo, até que tenhamos chegado todos à unidade da Fé e do conhecimento do Filho de Deus e ao homem perfeito, na medida da idade da plenitude de Christo" (Efes. 4, 4, 5, 12, 13). Que a Fé verdadeira, que é única, seja a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo, isso foi plenamente mostrado acima, ns. 337-339. Que a Fé verdadeira esteja naqueles que crêem que o Senhor é o Filho de Deus, é porque estes crêem também que ela é a Fé em Deus; que este ponto de Fé seja o principal, de tôdas as verdades que entram na fé e a formam, vê-se pelas palavras do Senhor a Pedro, quando Pedro lhe disse: "Tu és o

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Christo, o Filho de Deus Vivo: Bem-aventurado és tu, Simão; Eu te digo: Sobre esta Rocha construirei minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus XVI, 16-18); pela Rocha aqui, como em outras partes da Palavra, é entendido o Senhor quanto ao Divino Vero e também o Divino Vero procedente do Senhor; que este vero seja o principal, e como um diadema Sobre a cabeça e como um cetro na mão do Corpo do Christo vê-se pelas palavras do Senhor, que Sobre esta Rocha edificará sua Igreja e que as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; que tal seja este ponto de fé, vê-se ainda por estas palavras em João: "Quem quer que confesse que Jesus é o Pilho de Deus, Deus morará nele, e êle em Deus" (Epist. 4, 15'. Além deste índice característico, de que se está na verdadeira fé que é única, há ainda um outro, é que se crê que o Senhor é o Deus único do Céu e da Terra; este é uma conseqüência do precedente, que Êle é o Filho de Deus, e destas passagens: "Que n'Êle reside toda a plenitude da Divindade" (Colos. 11, 9). "Que Êle é o Deus do Céu e da Terra" (Mateus XXVIII, 18). "Que tôdas as cousas do Pai são d'Ele'' (João 111, 35; XVI, 15). 0 terceiro Índice de que aqueles que crêem no Senhor estão interiormente na fé n'Ele e assim na verdadeira fé que é única, é que eles crêem que o, Senhor é um com Deus Pai; que Êle seja um com Deus Pai e que Ele mesmo seja o Pai no Humano, isso foi plenamente mostrado no Capítulo sÔbre o Senhor e sÔbre a Redenção, vê-se claramente pelas palavras do Senhor mesmo, "que o Pai e Êle são um" (João X, 30); "que o Pai está n'Êle e Êle no Pai" (João IÇ 38; XIV, 10, 11); e pelo que Êle disse aos discípulos, "que desde agora tinham visto e conhecido o Pai", e que Êle encarou Filipe e disse "que agora êle via e conhecia o Pai" (João XIV, 7, e segs.). Que estes três Pontos sejam Testemunhos Característicos de que se está na fé no Senhor, assim na verdadeira fé que é única, é, porque todos os que se dirigem ao Senhor não estão na fé n'Êle, pois a verdadeira fé é interna e ao mesmo tempo externa; aqueles em quem estão estas três coisas preciosas da fé estão tanto nos internos como nos externos desta fé, assim ela é não somente um tesouro em seu coração, mas ainda um objeto precioso em sua boca; é inteiramente diferente naqueles que não o reconhecem por Deus do Céu e da Terra, nem como um com o Pai, estes, interiormente, consideram também outros Deuses, aos quais pertence uma potência semelhante, mas crêem que esta potência, deve ser exercida pelo Filho, quer como Vigário, quer como tendo, merecido, por causa da Redenção, reinar sobre os que Ele resgatou; mas estes quebram a verdadeira fé pela divisão da unidade de Deus; e quando ela é quebrada, não há mais fé, há somente um fantasma de fé que, vista naturalmente, aparece como uma imagem da fé, mas que, vista espiritualmente, se torna uma quimera; quem pode negar que a verdadeira fé seja a fé em um único Deus, que é o Deus do Céu e da Terra, por conseqüência, em Deus Pai na forma humana, assim a fé no Senhor? Estes três Caracteres, Testemunhos e índices de que a Fé no Senhor é a fé mesma, são como as pedras de toque pelas quais se conhece o ouro e a prata; mas também como pedras ou postes que, nos caminhos, mostram a rota que conduz ao Templo onde o único e verdadeiro Deus é adorado; são ainda como são sobre os rochedos, os faróis pelos quais os marinheiros, durante a noite, sabem, onde estão e por qual vento devem dirigir os navios; o Primeiro caráter da fé, a saber, que o Senhor é o Filho de Deus vivo, é, como a Estrela da manhã para todos aqueles que entram em Sua Igreja.

&380 - II. A Fé bastarda é toda fé que se afasta da verdadeira, Fé que é única e permanente naqueles que sobem por um outro lugar e consideram o Senhor não como Deus, mas unicamente como Homem. Que a Fé bastarda seja toda fé que se afasta da verdadeira fé que é única, isso é evidente por si mesmo, pois única sendo o vem, segue-se que aquilo que se

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afasta dela não 0 pode ser o vero; todo bem e todo vero da Igreja, assim tudo que é essencialmente caridade e essencialmente fé, provém deste casamento, mas toda causa da caridade e da fé que não provémdêle não saiu de um leito legitimo, mas de um leito ilegítimo, assim seja de um leito ou casamento poligâmico, seja de um leito adúltero; de um leito poligâmico sai toda fé quis reconhece a Senhor e adota os falsos das heresias; e de um leito adúltero sai a fé que reconhece três Senhores de uma única Igreja, pois ela è como urna prostituta, ou como uma mulher que está casada com um único homem e aluga suas noites a dois outros homens; e que, quando se deita com eles, dá a cada um o nome de marido; Daí vem que unia e outra fé é chamada bastarda; o Senhor, em muitas passagens, chama adúlteros os que professam a fé bastarda e são também eles que se entende pelos salteadores e ladrões, em João: "Em verdade, vos digo: Aquele que não entra pela porta no Aprisco, mas sobe por um outro lugar, é um salteador e um ladrão. Eu sou a Porta, por Mim se alguém entra, entra, será salvo" (X, 9); entrar no Aprisco, é entrar na Igreja e também entrar no Céu; que seja também entrar no Céu, é porque o Céu e a Igreja fazem um, e que não há senão a Igreja que faça o Céu; é por isso que, do mesmo modo que o Senhor é Noivo e o Marido da Igreja, do mesmo modo também Ele é Noivo e o Marido do Céu. A legitimidade ou a ilegitimidade da fé pode ser descoberta e conhecida pelos três índices de que se, falou acima, que são o reconhecimento do Senhor como Filho de Deus, o reconhecimento do Senhor como Deus do Céu e da Terra e o reconhecimento de que Êle é um com o Pai; quanto mais, portanto, uma Fé se afasta destes três essenciais, tanto mais ela é bastarda. A fé bastarda e, ao mesmo tempo, adúltera está naqueles que consideram o Senhor não como Deus, mas unicamente como homem. Que assim seja, vê-se claramente por estas duas heresias abomináveis, a heresia Ariana e a heresia Sociniana, que foram anatematizadas, na Igreja Cristã e excomungadas dela; isso, porque elas negam a Divindade do Senhor e sobem por um outro lugar; mas temo que estas abominações estejam hoje escondidas no espírito comum dos homens da Igreja. 0 que é espanto é que, quanto mais alguém se crê superior aos outros em erudição e em julgamento, mais tem inclinação para apreender e se apropriar, a respeito do Senhor, as idéias de que Ele é Homem e não Deus e que, pois que é Homem, não pode ser Deus; ora aquele que se apropria destas idéias se põe na companhia dos Arianos e dos Socinianos que, no Mundo espiritual, estão no Inferno. Se tal é hoje o espírito comum dos homens da Igreja, é lua porque em cada homem há um espírito que lhe é consociado; pois sem um espírito consociado, um homem não pode pensar nem analiticamente, nem racionalmente, nem espiritualmente, assim será não um homem mas um bruto; e cada homem atrai a si um Espírito semelhante à afeição de sua vontade e à percepção de seu entendimento; ao que se introduz nas afeições boas pelas verdades da Palavra e pela vida segundo estas verdades, é adjunto una Anjo de Céu; mas ao que se introduz nas afeições más pelas confirmações das falsidades e por uma; vida má, se adjunta um Espírito do Inferno; e uma vez que este Espírito é adjunto, o homem contrai cada vez mais uma espécie de fraternidade com os Satanases; e então se confirma cada vez mais nos falsos contra os veros da Palavra e na abominação Ariana e Socíniana contra o Senhor; isso provém de que os Satanases não podem ouvir pronunciar nenhum vero da Palavra, nem ouvir nomear Jesus; desde que isso acontece, êles se tornam como fúrias, correm para aqui e para ali e blasfemam; e se então a luz do Céu influi, precipitam-se em cavernas e na sua obscuridade, em que há para eles uma luz como há para as corujas nas treva, e tal como há para os gatos nas caves quando

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perseguem os ratos; assim se tornam depois da morte todos os que negam, de coração e de fé, a Divindade do Senhor e a Santidade da Palavra; seu homem Interno é tal, ainda que seu homem Externo desempenhe a Pantomima e o papel de Cristão; que assim seja, eu o sei, pois o vi e ouvi. Todos os que honram somente de boca e com os lábios o Senhor como Redentor e Salvador e que, de coração e de espírito, não 0 consideram senão como um homem, todos esses, quando falam e ensinam, têm a boca como um odre de mel e o coração como um odre de fel; suas palavras são como pães açucarados e seus pensamentos como emulsões envenenadas; são como pastéis no interior dos quais, há serpentes venenosas; se são sacerdotes, assemelham-se a piratas no mar, que arvoram o pavilhão de um reino amigo, levantam o pavilhão pirata no lugar do primeiro e se apoderam do navio e de toda a equipagem; são também como as serpentes da árvore da ciência do bem e do mal, que se aproximam como Anjos de luz, tendo na mão pomos desta árvore, pintados em cores fulvas, como provenientes da Árvore da vida, os apresentam e dizem: "Deus sabe que no dia em que comerdes deles, os vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal" (Gen. 3, 5); e desde que se comeu deles, acompanha-se a Serpente ao Orcus, e habita-se aí com ela; em torno deste Orcus estão os Satanases que comeram dos frutos de Arius e de Socin; eles também são entendidos por aquele que entrou sem estar vestido com a roupa de núpcias e que foi lançado nas trevas exteriores (Mateus 22, 11-13); a roupa de núpcias é a Fé no Senhor como Filho de Deus, como Deus do Céu e da Terra e um com o Pai. Se os que honram o Senhor unicamente de boca e com os lábios e que, de coração e de espírito 0 consideram como um homem, descobrem as coisas que pensaram e persuadem a outros, são homicidas espirituais; e os piores dentre eles são antropófagos espirituais; pois a vida do homem vem do amor para com o Senhor e da fé n'Êle; e se afasta este essencial da fé e do amor, que o Senhor é Deus-Homem e Homem-Deus, a vida do homem torna-se a sua morte; assim, portanto, o homem é morto e é devorado como um cordeiro por um lobo.

&381 - III. A Fé hipócrita não é uma fé. 0 homem tornasse hipócrita, quando pensa muito em si e se prefere aos outros, pois assim determina e mergulha em seu corpo os pensamentos e as afeições de sua mente e os conjunta com os sentidos do corpo; por isso, o homem se torna natural, sensual e corporal; e então, sua Mente não pode ser retirada da carne com a qual está em coerência, nem ser elevada para Deus, nem ver cousa alguma de Deus na luz do Céu, isto é, coisa alguma de espiritual; e como é homem carnal, os espirituais que entram, o que tem lugar pelo ouvido no entendimento, não lhe parecem ser senão fantasmas ou flocos no ar e mesmo como moscas em torno da cabeça de, um cavalo a galope e suado, também escarnecem disso em seu coração; pois sabe-se que o homem Natural considera como loucura as coisas que pertencem ao Espírito ou os espirituais. Entre os homens naturais, o hipócrita é natural no mais baixo grau, pois é sensual; com efeito, sua Mente foi estreitamente ligada aos sentidos do corpo; por conseguinte, não gosta de ver senão o que os seus Sentidos sugerem; e como seus Sentidos são da natureza, forçam a Mente a pensar pela natureza sobre cada cousa, por conseguinte, também sobre todas as cousas da fé. Se este Hipócrita se torna um Pregador, êle retém em sua memória as cousas que foram ditas sobre a fé em sua infância e em sua juventude, mas como não há interiormente nelas coisa alguma de espiritual, e que tudo é natural, quando êle as pronuncia diante da Assembléia, não são senão palavras inanimadas; se ressoam, como se fossem animadas, isto vem dos prazeres do amor de si e do Mundo, segundo os quais, pela sua facilidade de elocução, elas retinem e encantam os ouvidos, como o fazem ordinariamente os cantos harmoniosos. Quando após seu sermão o pregador hipócrita volta

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à sua casa, êle ri de tudo que expôs diante da Assembléia sobre a fé, sobre as passagens da Palavra e talvez diga em si mesmo: "Lancei a redes no lago e apanhei rodovalhos e mariscos"; pois, em sua fantasia, como tais lhe aparecem todos os que estão nos veros da fé. 0 hipócrita é como uma estátua que tem duas cabeças, uma dentro da outra; a cabeça interna é coerente com o tronco ou corpo, e a cabeça externa, que pode girar em torno da interna, é pintada na frente com cores naturais como a face humana, pouco mais ou menos como as cabeças de madeira, expostas diante das lojas de cabeleireiros. E como uma Barca, que o marinheiro, pela disposição da vela, pode dirigir à sua vontade com o vento e contra o vento; a seu favor por tudo que deleita a carne e os prazeres dos sentidos é esta manobra da vela. Os Ministros, que são hipócritas, são absolutamente como comediantes, palhaços e histriões, que podem desempenhar papéis de Rei, Generais, Primazes, Bispos e que, imediatamente depois de tirarem seus costumes, entram em lugares de depravação e ai vivem com prostitutas. São também como Portas de gonzo redondo que podem ser voltadas para diante e para trás; tal é sua Mente, pois pode ser aberta do lado do Inferno e do lado do Céu; e quando é aberta de um lado, é fechada do outro; com efeito, o que é espantoso, no instante em que desempenham as funções sacerdotais e ensinam os veros segundo a Palavra, não sabem outra coisa senão que crêem nesses veros, pois então a porta do lado do Inferno foi fechada, mas desde que voltam para casa, não crêem em cousa alguma, pois então a porta do lado do Céu está fechada. Naqueles que são profundamente hipócritas, há uma inimizade intestina contra os homens verdadeiramente espirituais, pois é tal como a dos Satanases contra os Anjos do Céu; que seja assim, eles não se apercebem enquanto vivem no Mundo, mas isso se manifesta depois da morte, quando seu externo pelo qual simulam o homem espiritual lhes é retirado, pois é seu homem Interno que é um tal Satanás. Mas direi como aparecem diante dos Anjos os hipócritas espirituais, isto, é, "aqueles que se apresentam com roupas de ovelha e que, por dentro, são lobos devoradores" (Mateus VII, 15): Aparecem como charlatões caminhando sobre as palmas das mãos e orando, que de boca se dirigem de todo coração aos demônios e lhes dão beijos, mas batem no ar os seus sapatos um ,contra o outro, e assim celebram a Deus; quando se mantêm sobre os pés, aparecem quanto aos olhos como leopardos; quanto ao andar, como lobos quanto à boca como raposas; quanto aos dentes, como crocodilos, e quanto à fé, como abutres.

&382 X - Não há Fé alguma nos maus.382 - São maus todos os que negam a criação do mundo por Deus e, por conseqüência, Deus, pois são Naturalistas ateus; se todos esses são mau, é porque todo bem, que não somente naturalmente mas também espiritualmente é o bem, vem de Deus; portanto, os que negam Deus, não querem e não podem receber bem alguma de outra parte que não seja de seu próprio, e o próprio do homem é a cobiça de sua carne; e tudo o que procede desta cobiça é espiritualmente o mal, ainda que naturalmente se apresente como o bem; estes são maus em teoria; mas os maus na prática, são os que consideram corno nada os Preceitos Divinos encerrados sumariamente no Decálogo e vivem como sem leis; que estes também neguem a Deus em seus corações, embora muitos dentre eles 0 confessem de boca, é porque Deus e Seus preceitos fazem um, por isso os dez Preceitos do Decálogo também foram chamados Jehovah-aí (Num. 10, 35, 36, Ps. 132, 7, 8). Idas para que se Vaie mais evidente que não há fé alguma nos que são maus, este Capítulo será terminado por estas duas proposições: I. Não há Fé alguma nos maus porque o mal pertence ao Inferno e a fé pertence ao Céu. II. Não há fé alguma no Cristianismo em todos os que

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rejeitam o Senhor e a Palavra, ainda que vivam moralmente e rr racionalmente e mesmo que falem, ensinem e escrevam sobre a fé, cada proposição vai ser tratada em particular.

&383 - I. Não há Fé alguma nos maus porque o mal pertence ao Inferno e a fé pertence ao Céu. Se o mal pertence ao Inferno é porque todo mal vem do Inferno; se a fé pertence ao Céu e porque todo vero que pertence à fé vem do Céu; enquanto o homem vive no Mundo, é mantido e anda no meio entre o Céu e o Inferno e aí está em equilíbrio espiritual, que é seu Livre arbítrio; o Inferno está sob seus pés, o Céu sobre sua cabeça; e tudo que sobe do Inferno é o mal e o falso, mas tudo que desce do Céu é o bem e o vero; pois que o homem está no meio entre estes dois opostos e, ao mesmo tempo, em equilíbrio espiritual, pode escolher, adotar e se apropriar de um ou de outro segundo sua liberdade; se é o mal e o falso, êle se conjunta com o Inferno, mas se é o bem e o vero, êle se conjunta com o Céu; daí, é não somente evidente que o mal pertence ao Inferno e a Fé ao Céu, mas ainda que estes dois não podem estar juntos no mesmo sujeito ou em um mesmo homem, pois se estivessem juntos, o homem amarrado como que por duas cordas, seria desmembrado, puxado, por uma, para cima, e pela outra, para baixo; e assim se tornaria como que suspenso no ar; e seria como se voasse, como uni melro, ora para cima, ora para baixo e que, em cima adorasse Deus e, em baixo, o Diabo; que seja isso o profano, cada um o vê; o Senhor ensina em Mateus, "que ninguém pode servir a dois Senhores, pois a um odiaria e ao outro amaria" (VI, 24). Que lá onde está o mal não há fé, isso pode ser ilustrado por diferentes comparações, por exemplo: 0 mal é como o fogo - o fogo infernal não é outra cousa mais que o amor do mal consome a fé como palha e a reduz a cinzas assim como tudo que lhe pertence. 0 mal habita na obscuridade, a fé na luz e o mal, pelos falsos, extingue a fé como a obscuridade a luz. 0 mal é negro como tinta de escrever e a fé é branca. como a neve e transparente como a água; e o mal enegrece o lê, como a tinta enegrece a neve e a água. Enfim, o mal e o vero da fé não podem estar conjuntos senão como o seria o fétido com o aromático, a urina com o vinho; não podem estar juntos senão como um cadáver infecto, com um homem vivo em um mesmo leito; e não podem habitar juntos mais que um lobo em um aprisco, um gavião em um pombal e uma raposa em um galinheiro.

&384 - II. Não há fé alguma no Cristianismo naqueles que rejeitam o Senhor e a Palavra, ainda que vivam moralmente e racionalmente e ainda mesmo que fadem, ensinem e escrevam sobre a fé. Isto resulta, como Conclusão de tudo o que precede; com efeito, foi mostrado que a Fé que é verdadeira e única, é a Fé no Senhor e segundo o Senhor; e que a Fé que não é a Fé no Senhor e segundo Ele não é a Fé espiritual, mas uma fé natural; e que a fé puramente natural não tem em si mesma essência da fé. De mais a Fé vem da Palavra, não vem de outra parte, porque a Palavra vem do Senhor; por conseqüência, o Senhor mesmo está na Palavra, por isso Êle disse "que é a Palavra" (João 1, 1, 2); daí resulta que os que rejeitam a Palavra rejeitam também o Senhor, pois o Senhor e a Palavra são coerentes como um; e os que rejeitam um e outro rejeitam também a Igreja, porque a Igreja vem do Senhor pela Palavra; e além disso, aqueles que rejeitam a Igreja estão fora do Céu, pois a Igreja introduz no Céu; e os que estão fora do Céu estão entre os danados e os danados não têm fé alguma. Que os que rejeitam o Senhor e a Palavra não tenham fé alguma, ainda que vivam moralmente e racionalmente, ainda mesmo que falem, ensinem e escrevam sÔbre a fé, é porque têm uma vida moral não espiritual mas natural; e a moralidade e a racionalidade puramente naturais, são mortas em si mesmas; é por isso que neles, como

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mortos, não há fé alguma. 0 homem puramente natural e morto quanto à fé, pode, é verdade, falar e ensinar sÔbre a Fé, sÔbre a Caridade e sÔbre Deus, mas não pela Fé, nem pela Caridade, nem por Deus. Que a Fé esteja só nos que crêem no Senhor e que os outros não tenham fé, vê-se por estas passagens: "Aquele que crê no Filho não é julgado, mas aquele que não crê já foi julgado, porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João 111, 18). "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sobre ele" (João 111, 36). "Jesus disse: Quando vier o Espírito de verdade, repreenderá o Mundo _por causa do pecado, porque As não crêem em Mim" (João XVI, 8, 9); e aos judeus: "Se não credes que Eu sou, morrereis em vossos pecados" (João VIII, 24). E' por isso que David disse: ,"Anunciarei sobre -o estatuto: Jehovah disse: Tu és meu Filho; Eu hoje te engendrei. Beijai o Filho com medo de que não se irrite e que vós pereçais em caminho; bem-aventurado todo aquele que confia n'Ele'' (Ps. 2, 7, 12). Que na Consumação do século, que é o último tempo da Igreja, não haverá fé alguma no Senhor como Filho de Deus, Deus do Céu e da Terra, e um com o Pai, o Senhor o predisse nos Evangelistas, dizendo: "que haverá a abominação da desolação e uma aflição tal como nunca houve e nunca haverá; o Sol será obscurecido, a Lua não dará mais seu resplendor e as Estrelas cairão do Céu" (Mateus XXIV, 15, 21 , 29); e no Apocalipse: "que Satanás, desligado de sua prisão, sairá para seduzir as nações que estão nos quatro ângulos da terra, cujo número é como a areia do mar" (XX, 8). E como o Senhor previu isso, disse também: "Mas quando o Filho do Homem vier, encontrará Ele Fé sobre a terra?" (Lucas XVIII, 8).

&385 - Ao que precede serão acrescentados estes Memoráveis.Primeiro Memorável. Una Anjo me disse um dia: "Queres ver claramente o que é a Fé e a Caridade, o que é a Fé separada da Caridade e o que é a Fé conjunta à Caridade? eu o demonstrarei". Respondi: "Demonstra". E êle disse: "Em lugar de pensar na Fé e na Caridade, pensa na Luz e no Calor e tu verás claramente que a Fé, em sua essência, é a Verdade que pertence à Sabedoria; e a Caridade, em sua essência, é a Afeição -que pertence ao Amor; ou a Verdade da Sabedoria no Céu é Luz; e a Afeição do Amor, no Céu, é Calor; a Luz e o Calor em que estão os Anjos, não são em sua essência outra cousa; dai podes ver claramente o que é a Fé separada da Caridade e o que à Fé conjunta à Caridade. A Fé separada da Caridade é como a Luz do inverno; e a Fé conjunta à Caridade é como a Luz da Primavera; a Luz do inverno, que é a Luz separada da Caridade, estando conjunta ao frio, despoja inteiramente as árvores, faz morrer as ervas, endurece a terra e congela as água, mas a Luz da primavera, que é a Luz conjunta ao Calor, faz brotar as árvores primeiro em folhas, depois em flores e por fim, em frutos; abre e amolece a terra para que produza grama, as ervas, as flores e os arbustos; funde também o gelo para que as águas corram das fontes. Dá-se absolutamente o mesmo com a Fé e 'a 'Caridade; a Fé separada da Caridade faz morrer tudo; e a Pé conjunta à Caridade vivifica tudo; esta Vivificação e esta Ação mortífera podem ser vistas ao vivo (Ad vivum) em nosso Mundo espiritual, porque aqui a Fé é a Luz e a Caridade é o Calor; -pois onde a Fé está conjunta à Caridade, aí há Jardins paradisíacos, Taboleiros esmaltados de flores, Lugares cheios de verdura, com seus atrativos segundo a conjunção; mas onde a Fé está separada da Caridade, não há nem mesmo a erva, e se aí se encontra alguma verdura não é senão sarças e espinheiros". Havia, então, não longe de nós, alguns Eclesiásticos que o Anjo chamava Justificadores e Santificadores dos homens pela fé só e também Arianistas; nós lhes dissemos as mesmas coisas e as demonstramos até lhes fazer ver que isso era assim; e quando lhes perguntamos

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se isso não era assim, eles se voltaram e disseram: "Não ouvimos". Mas nós lhes gritamos, dizendo: "Ouvi pois agora". Então puseram as duas mãos diante dos ouvidos e gritaram: "Nós não queremos ouvir". Depois disso falei com o Anjo sobre a Fé solitária e disse que, por uma viva experiência, me tinha sido dado saber que esta Fé é corno a Luz do inverno; e contei que, durante alguns anos, Espíritos de fé diferente passaram perto de mim; e que todas as vezes que os que tinham separado a Fé da Caridade se aproximavam de mim, um tal frio se apoderava de meus pés e, sucessivamente, de meus lombos e de meu peito, que eu sentia me desfalecer e que a vida do meu corpo ia se extinguir, se o Senhor não tivesse expulso estes Espíritos e não me tivesse libertado; o que me parecia surpreendente, era que estes Espíritos não sentiam frio, como alguns me declararam; por isso, os comparei aos peixes sob o gelo, que não sentem frio algum; eu percebia então que este frio emanava da luz quimérica de sua fé, do mesmo modo que acontece nos lugares pantanosos e sulfurosos, no meio do inverno, depois que o Sol se deita; os viajantes vêem aqui e ali uma semelhante luz quimérica e fria. Estes Espíritos podem ser comparados às montanhas de gelo que, separadas violentamente de seus lugares nas terras boreais, são levadas para aqui e para ali, no oceano; e das quais ouvi contar que, à sua aproximação, todos os que estão todas navios tremem. de frio; as Assembléias dos que estão na fé separada da caridade podem portanto ser assemelhadas a estas montanhas. Sabe-se pela Palavra que a Fé sem a caridade é morta, mas direi de onde vem a sua morte. Sua morte vem do frio, e de que esta Fé expira como, no rigor do inverno, um pássaro morre devido ao frio intenso, que lhe paralisa o vôo e a respiração.

&386 - Segundo Memorável. Urna manhã, ao despertar, vi dois Anjos que desciam do Céu, um do Meio-Dia do Céu e o outro do Oriente do Céu, os dois, em carros atrelados de cavalos brancos; o Carro em que estava o Anjo do Meio-Dia do Céu resplandecia como se fosse de prata e o Carro em que estava o Anjo do Oriente do Céu resplandecia como se fosse de ouro, e as rédeas que tinham nas mãos brilhavam com uma luz inflamada como a da aurora; assim me apareceram de longe, estes dois Anjos, mas quando chegaram perto, não os vi mais em um carro, mas em sua Forma Angélica, que é a forma humana; o que vinha do Oriente do Céu estava com uma roupa de púrpura brilhante e o que vinha ao Meio-Dia do Céu, com uma roupa cor de jacinto. Quando chegaram abaixo dos Céus correram um para o outro e se abraçaram e beijaram mutuamente; soube que estes dois Anjos, quando viviam no Mundo, tinham estado unidos pelos laços de uma amizade interior, mas agora um estava no Céu Oriental e o outro no Céu Meridional; no Céu Oriental estão aqueles que, pelo Senhor, estão no amor; e -no Céu Meridional, os que, pelo Senhor, estão na Sabedoria. Depois de falarem durante algum tempo das magnificências de seus Céus, a. sua conversação foi sobre este ponto: 0 Céu, em sua essência, é Amor ou é Sabedoria? concordaram imediatamente que uni pertence ao outro, mas qual dos dois deve sua origem ao outro, foi isso que eles discutiram. 0 Anjo que vinha do Céu da sabedoria perguntou ao outro o que é o amor; e este respondeu que o Amor, tirando sua origem do Senhor como Sol, é o calor da vida dos Anjos e dos homens, o ser de sua vida; que as derivações do amor são chamadas afeições e que, por das são produzidas as percepções e os pensamentos; donde se segue, que a Sabedoria, por sua origem, é o Amor e que o Pensamento, por sua origem, é a afeição deste amor; e que isso é ignorado porque os Pensamentos estão na luz, enquanto que as afeições estão no calor, o que faz com que se reflita sobre os Pensamentos e não sobre as Afeições. Que o Pensamento não seja outra cousa senão a forma da afeição de algum amor, isso pode ser ilustrado pela linguagem,

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visto que a linguagem não é outra cousa senão a forma do som; há também similitude, porque o som corresponde à afeição e a linguagem, ao pensamento; por isso, a afeição soa e o pensamento fala; isto ainda pode-se tornar claro, por esta consideração; se, da linguagem se tira o som, nada resta da linguagem; e semelhantemente, se, do pensamento se tira a afeição, nada resta do pensamento. Ora, por isto, é evidente que o Amor é o tudo da Sabedoria; por conseqüência, a Essência dos Céus é o Amor e a, Existência dos Céus é a Sabedoria; ou que os Céus são pelo Divino Amor e existem segundo o Divino Amor pela Divina Sabe doria; por isso, que um pertence ao outro. Havia então comigo um Espírito noviço que, ouvindo isso, perguntou se acontecia o mesmo com a Caridade e a Fé, pois a Caridade pertence à afeição e a Fé pertence ao pensamento; e o Anjo respondeu: E' absolutamente o mesmo; a Fé não é outra cousa senão a forma da Caridade, absolutamente como o Som é a forma da linguagem, a fé também -é formada pela caridade, como a linguagem é formada pelo som; no Céu nós conhecemos mesmo o modo de formação, mas não é o momento de o expor aqui". Acrescentou: "Pela Fé entendo a Fé espiritual, proveniente do Senhor pela Caridade, a vida e o espírito, pois a Caridade é espiritual e por ela a Fé o é também; por isso, a Fé sem a Caridade é uma Fé puramente natural e esta Fé é morta; ela se conjunta mesmo com a afeição puramente natural, que não é outra coisa senão a cobiça". Os Anjos falavam disso espiritualmente; e a linguagem espiritual abrange milhares de cousas que a linguagem natural não pode exprimir, e que, isso é surpreendente, pois não podem cair nas idéias do pensamento natural. Depois dos Anjos terem conversado assim, eles se foram cada um parei seu Céu; apareciam estrelas em torno da cabeça deles e quando estavam a alguma distância de mim, eu os vi de novo em carros, como antes.

&387 - Terceiro Memorável. Depois que estes dois Anjos ficaram fora de minha vista, vi à minha direita um Jardim, onde havia oliveiras, figueiras, loureiros e palmeiras, colocados em ordem segundo as correspondências; olhei mais atentamente para esse lado, e entre as árvores vi Anjos e Espíritos que passeavam e conversavam entre si; então, um Espírito angélico me reparou; são chamados Espíritos angélicos os que, no Mundo dos espíritos são preparados para o Céu; este Espírito veio deste Jardim a mim, e disse: "Se queres vir comigo ao nosso Paraíso, ouvirás e verás cousas maravilhosas. Fui com êle, e então me disse: "Esses que vês pois eram em grande número estão todos no amor do vero, por conseguinte, na luz da sabedoria; há também um Palácio, que chamamos o Templo, da Sabedoria, mas não é visível para aquele que crê ter muita sabedoria, menos ainda para aquele que se crê suficientemente sábio; e bem menos ainda para aquele que se crê sábio por si mesmo; porque estes não estão na recepção da luz do Céu pelo amor da sabedoria real; a sabedoria real é que o homem veja pela luz do Céu que aquilo que tem de ciência, de inteligência e de sabedoria, é tão pouca cousa relativamente ao que não tem, que é como uma gota d'água relativamente ao Oceano; todos os que estão neste Jardim paradisíaco, e que pela percepção e a vista reconhecem em si mesmos que têm pouca sabedoria relativamente, vêem este Templo da Sabedoria, pois a luz interior na mente põe o homem em estado de vê-lo, mas não a luz exterior sem a interior". Ora, como eu muitas vezes pensei isso pela ciência e pela percepção, enfim, pela luz interior, reconheci que o homem tem tão pouca sabedoria, eis que me foi dado ver esse Templo. Êle tinha uma forma admirável, era muito elevado acima do solo, quadrangular, as, paredes eram de cristal, a cobertura elegantemente abobadada era de jaspe transparente e seus fundamentos, de diversas pedras preciosas; os degraus pelos quais se subia para êle eram de elabastro polido; sobre os lados dos degraus viam-se como leões com leõezinhos. Então perguntei se me era

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permitido entrar e me dito que era permitido; subi e quando entrei, vi como querubins, que voavam sob a, abóbada, mas que se dissipavam em seguida. 0 assoalho sobre o qual se andava era de cedro; e todo o Templo, pela transparência da cobertura e das paredes, era construído em forma luminosa. Comigo entrou o Espírito Angélico, a quem contei o que tinha aprendido com dois Anjos sobre o Amor e a Sabedoria, sobre a Caridade e a Fé; então, ele disse: "Será que eles não falaram também do Terceiro;" "0 que é o terceiro? lhe disse. Ele respondeu: E' o Bem do Uso; o Amor e a Sabedoria sem o Bem do Uso nada são; são unicamente entidades ideais não se tornam realidades antes de estarem no Uso; pois o Amor, a Sabedoria e o Uso são três coisas que não podem ser separadas; se são separadas, nada são nem uma nem outra; o Amor nada é sem a Sabedoria, mas na Sabedoria ele é formado para alguma cousa e esta alguma cousa para a qual é formado é o Uso; quando, portanto, o amor pela sabedoria está no uso, está então na realidade, porque existe efetivamente; estes três são absolutamente como o fim, a causa e o efeito; o fim nada é, a não ser que pela causa esteja no efeito; se um dos três é rompido, torna-se como nada. Dá-se o mesmo também com a Caridade, a Fé e as Obras; a Caridade sem a Fé nada é, nem a Fé sem a Caridade, nem a Caridade e a Fé sem as Obras, mas nas Obras elas são alguma cousa, e alguma coisa tal como é o Uso das Obras. Dá-se o mesmo com a Afeição, o Pensamento e a Operação, e o mesmo com a Vontade, o Entendimento e a Ação, pois a Vontade sem o Entendimento é como o olho sem a vista; e uma e o outro sem a Ação, é como a mente sem o corpo; que seja assim, pode-se ver claramente neste Templo, porque a Luz, em que estamos aqui, é uma Luz que ilustra osinteriores da mente. Que não haja cousa alguma completa nem perfeita, que não seja Trina, é também o que ensina a Geometria, pois a Linha nada é senão se faz uma Superfície; e a Superfície nada é se não se faz um Corpo; é preciso, portanto, que um seja conduzido ao outro a fim de existir e há coexistência no Terceiro; como acontece com isso, o mesmo acontece com tôdas e cada uma das coisas criadas, que são terminadas no Terceiro. Daí vem portanto que Três na Palavra significa o completo e inteiramente. Isto sendo assim, não pude deixar de ficar admirado vendo que pessoas professam a Fé só, outros a Caridade só, outros as Obras sós; quando, entretanto, uma destas cousas sem a outra, e duas conjuntas sem a Terceira, nada é". Então lhe fiz estas perguntas: "Não pode o homem ter a Caridade e à Fé e, entretanto, não ter ás Obras? Não pode o homem estar na afeição e no pensamento de uma coisa e, entretanto, não estar na operação dessa coisa?'' E o Anjo me respondeu: "Não o pode senão em idéia, mas, não na realidade, deve estar sempre no esforço ou na vontade de operar e a vontade ou o esforço é o ato em si, porque é uma tendência continua para agir, que se torna ato nos externos, quando a determinação chega; é por isso que o esforço ou a vontade, como ato interno, é aceito por todo sábio porque é aceito por Deus, absolutamente como o ato externo, desde que Me se execute, quando a ocasião para isso se apresente.

&388 - Quarto Memorável. Conversei com alguns Espíritos que, no Apocalipse, são entendidos pelo Dragão, e um deles me disse: "Vem comigo e eu te mostrarei os prazeres dos nossos olhos e dos nossos corações". E me conduziu através de uma floresta sombria, sobre uma colina, de onde pude considerar os prazeres dos dragões e a um Anfiteatro elevado em forma de Circo com bancos em toda volta, alinhados até ao alto, sÔbre os quais estavam assentados os espectadores; os que estavam nos bancos mais baixos me apareciam de longe como Sátiros e Príapos, alguns com um véu sÔbre as partes vergonhosas; e outros, nus sem este véu; sobre os bancos acima deles estavam sentados libertinos e prostitutas,

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pelo menos por seus gestos pareciam tais; e então o Dragão me disse: "Vais ver o nosso divertimento". E vi na Arena do Circo como touros, carneiros, ovelhas, cabritos e cordeiros que aí foram introduzidos; e depois que foram introduzidos, uma porta sé abriu, e aí se lançaram como leões, tigres o e lobos, e se lançaram com furor sobre o gado e os despedaçaram e massacraram; mas os Sátira, depois desta horrenda carnificina, espalharam areia sÔbre o lugar do massacre. Então o Dragão me disse: "São estes os nossos Divertimentos, que alegram as nossas mentes" (animus). E eu respondi: "Vai-te, Demônio, dentro em pouco verás este Anfiteatro mudado em lago de fogo e enxofre". A estas palavras, êle riu e se foi. E em seguida, eu pensava comigo mesmo: '.Por que tais coisas são permitidas pelo Senhor? e recebi em meu coração estas respostas: que elas são permitidas, enquanto aqueles estão no Mundo dos Espíritos, mas que depois que seu tempo neste Mundo terminou, estas cenas teatrais são mudadas em medonhos tormentos infernais. Todas estas coisas que eu tinha visto,era o Dragão que as tinha produzido por fantasias; não havia portanto touros, nem carneiros, nem ovelhas, nem cabritos, nem cordeiros, mas os dragões faziam aparecer assim os bens e os veros reais da Igreja, que eram os objetos de seu ódio; os leões, as panteras, os tigres e os lobos eram as aparências das cobiças daqueles que tinham sido vistos como Sátiros e Príapos; os que não tinham véu em torno das partes vergonhosas eram os que acreditavam que os males não aparecem diante de Deus; e os que tinham um véu, eram os que acreditavam que estes aparecem, mas que não danam, desde que se esteja na fé; os libertinos e as prostitutas eram os falsificadores dos veros da Palavra, pois a escortação significa a falsificação do vero. No Mundo espiritual tôdas as cousas aparecem de longe segundo as correspondências; e quando aparecem em formas, são chamadas representações das coisas espirituais e são objetos semelhantes às coisas naturais. Em seguida, eu os vi sair da floresta, o Dragão no meio dos Sátiros e dos Príapos; e depois deles escudeiros e vivandeiras, que eram os escortadores e as prostitutas; o bando aumentou no caminho, e então ouvi o que diziam entre si. Diziam que viam em um prado um rebanho de ovelhas com cordeiros, o que em sinal de que perto dali havia uma das Cidades de Jerusalém, onde a caridade é o principal; e disseram: "Vamos e apoderemo-nos desta cidade, expulsemos as habitantes e pilhemos seus bens eles se aproximaram, mas havia uma muralha em torno da cidade e os Anjos guardiães sobre a muralha; e então disseram: "Tomemo-la pela astúcia, enviemos alguém hábil na mussitação, que possa branquear o preto e enegrecer o branco e dissimular o fundo de cada objeto". E se achou um Espírito hábil em Metafísica, que podia mudar as idéias de cousas em idéias de termos, esconder as coisas mesmas sob fórmulas e assim voar como um gavião com a presa sob as asas. Este Espírito tinha por instrução, logo que falasse com os habitantes da cidade, dizer-lhes que aqueles que o enviavam eram consociados em Religião a eles, e pediam para serem introduzidos. Este, aproximou-se da porta, bateu, e quando ela foi aberta, disse que queria falar ao mais sábio daquela cidade; entrou, e foi conduzido para um certo personagem; e lhe falou, dizendo: "Meus irmãos estão fora da cidade e pedem para serem recebidos; eles são vossos consociados em Religião; fazemos, vós e nós, a Fé e a Caridade os dois essenciais da Religião; a única diferença é que vós dizeis que a Caridade é o principal e que a Fé procede dela; que importa que se diga que uma ou outra seja o principal, quando se crê em uma e outra?" 0 sábio da cidade respondeu: "Não conferenciemos sós sobre este assunto, mas discutamos em presença de muitos que sejam árbitros e juízes; de outro modo não se chega a uma decisão". E imediatamente se fez vir muitos, aos quais o enviado do Dragão dirigiu palavras semelhantes às que tinha pronunciado antes; e então o Homem sábio da cidade respondeu: "Tu disseste que é a mesma cousa, seja que a Caridade fosse tomada

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pelo principal da Igreja, seja que fosse a Fé, desde que se concorda que uma e outra fazem a Igreja e sua Religião; entretanto, há a mesma diferença que entre o anterior e o posterior, que entre a causa e o efeito, que entre o principal e o instrumental, e que entre o essencial e os formal; emprego esses termos porque notei que tu és hábil na arte da Metafísica, arte que chamamos mussitação, e que alguns chamam encantação; mas deixemos para lá esses têrnos; há uma diferença como entre o que está em cima e o que está em baixo, e mesmo, se o quiserdes crer, há uma diferença como entre as Mentes daqueles que habitam nas regiões superiores e as Mentes dos que habitam as regiões inferiores neste Mundo; pois o que é o Principal faz a Cabeça e o Peito e o que daí procede faz os Pés e as plantas dos Pés; mas convenhamos primeiro sobre o que é a Caridade e sobre o que é a Fé; convenhamos que a Caridade é a afeição do amor de fazer o bem ao próximo por causa de Deus, da salvação e da vida eterna, e que a Fé é o Pensamento segundo a confiança concernente a Deus, à salvação e à vida eterna". Mas o emissário disse: "Concordo que isso é a Fé e concordo também que a Caridade é essa afeição por causa de Deus, porque é por causa de seu mandamento, mas não por causa da salvação, nem por causa da vida eterna". Após esta convenção e esta restrição, o Sábio da cidade disse: "A afeição ou a direção não é o principal e o pensamento não procede dela?" Mas o enviado do Dragão disse: "Eu o nego". Foi-lhe respondido: "Tu não o podes negar; não é segundo uma ~certa dileção que o homem pensa? tira a dileção, pode ele pensar alguma coisa? é absolutamente como s, da linguagem, tirasses o som; se tirasses o som, poderias dizer alguma cousa? o som pertence também à afeição de algum amor e a linguagem pertence ao pensamento, pois o amor soa e o pensamento fala; e é também como a chama e a luz; se tirares a chama, a luz não perece? dá-se o mesmo com a Caridade porque ela pertence ao amor; e com a Fé porque ela pertence ao pensamento; será que desta maneira não podes apreender que o principal é tudo no secundário, absolutamente como a chama na luz? daí resulta evidentemente que se não fazes principal o que é principal, tu não estás no outro; se, portanto, pões em primeiro lugar a Fé que está em segundo, tu não aparecerás no Céu senão como um homem às avessas, cujos pés estão em cima e a cabeça em baixo; ou como um charlatão que, invertendo seu corpo, caminha sobre as palmas das mãos; pois que assim apareceis no Céu, quais são as vossas boas obras, que são a Caridade em ato, senão tais como as faria este charlatão com os pés, porque não as pode fazer com as mãos? daí, vem que a vossa Caridade é natural e não espiritual porque está invertida". 0 Emissário compreendeu isto, pois todo diabo pode compreender a verdade quando a ouve pronunciar, mas não a pode reter quando a afeição do mal, que em si mesma é a cobiça da carne, expulsa o pensamento do vero; em seguida, o sábio da cidade mostrou de várias maneiras qual é a Fé, quando foi aceita como o principal, a saber, é propriamente natural e é uma persuasão sem nenhuma vida espiritual, que por conseqüência não é a Fé; quando e acrescentou: "Poderia quase dizer que em vossa Fé não há mais de espiritual, do que há na ação de pensar no Reino de Mogol, em sua mina de diamantes e no Tesouro ou na Corte de seu Imperador". A essas palavras o Draconiano se foi irritado e fez o relato aos seus fora da cidade; e quando souberam que tinha sido dito que a Caridade é a afeição de fazer bem ao próximo pela salvação e pela vida eterna, exclamaram todos: "Isso é uma mentira". E o Dragão mesmo disse: "Que abominação! Todas as obras pertencentes à Caridade, se são feitas pela salvação, não são elas meritórias?"Então disseram entre si: Convoquemos ainda muitos dos nossos sitiemos esta cidade e expulsemos estes Caridades". Ora enquanto faziam seus preparativos, eis que apareceu como um fogo do Céu, que os consumiu; mas o fogo do Céu era a aparência da cólera e do ódio contra os que estavam na cidade, porque estes tinham transferido a Fé do

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primeiro lugar para o segundo, e mesmo para mais baixo sob a Caridade, dizendo que não era a fé; se apareceram como consumidos pelo fogo, é porque o Inferno se abriu sob seus pés eles foram tragados. Acontecimentos semelhantes aconteceram em vários lugares no dia do Julgamento Final; é também o que é entendido no Apocalipse por esta passagem: "0 Dragão sairá para seduzir as Nações que (estão) nos quatro ângulos da terra, a fim de as reunir para uma guerra; e subirão sobre a largura da terra e cercarão o campo dos santos e a cidade querida; e desceu um fogo do Céu e os consumiu" (20, 8, 9).

&389 - Quinto Memorável. Um dia vi um Papel descendo do Céu ao Mundo dos espíritos, em uma Sociedade onde havia dois Prelados da Igreja tendo sob estes Cônegos e Padres; este papel continha uma exortação para reconhecer o Senhor Jesus Christo como Deus do Céu e da Terra, como Ele mesmo tinha ensinado (Mateus XXVIII, 18); e para se retirar da doutrina da Fé justificante sem as obras da lei, porque esta doutrina é errônea. Este papel foi lido e copiado por um grande número; e vários pensavam e falavam judiciosamente das cousas que ele continha. Mas depois de o terem recebido, disseram entre si: "Ouçamos os Prelados". E estes foram ouvidos, mas contradisseram e desaprovaram; ora, os Prelados desta Sociedade eram duros de coração em conseqüência dos falsos de que se tinham imbuído no inundo precedente; por isso, depois de uma curta consulta entre si, devolveram o papel para o Céu, de onde tinha vindo; feita esta devolução, a maior parte dos Leigo, depois de alguns murmúrios, retiraram seu precedente assentimento, e então a luz de seu julgamento nas cousas espirituais, que tinha brilhado antes, extinguiu-se de repente; depois de terem sido, de novo, advertidos, mas em vão, eu vi esta sociedade afundar, mas não vi a que profundidade; e desapareceu assim à vista daqueles que adoravam unicamente o Senhor e têm em aversão a fé só justificante. Mas alguns dias depois, vi uma centena de espíritos subir da terra inferior, onde esta pequena sociedade se tinha afundado; aproximaram-se de mim e um deles, tomando a palavra, disse: "Escuta uma cousa maravilhosa: Quando nos afundamos, apresentou-se a nós um lugar como um lago, mas pouco depois como uma terra seca e em seguida como uma cidadezinha, na qual, muitos tinham, cada um, sua casa; no dia seguinte, consultamo-nos entre nós sobre o que havia a fazer; muitos disseram que era preciso ir procurar, esses dois Prelados da Igreja e os repreender com doçura por terem devolvido o Papel para o Céu de onde tinha descido, o que tinha sido a causa do que nos, tinha acontecido; escolheram então alguns deles que foram a procura dos Prelados - o que me falava me disse que era um deles; e então um de nós que sobressaia em sabedoria, falou assim aos Prelados: "Nós acreditávamos que entre nós, mais do que entre todos os outros, havia a Igreja e a Religião porque ouvimos repetir que estávamos na suprema luz do Evangelho; mas foi dada a alguns de nós a ilustração procedente do Céu; e na ilustração, a percepção de que hoje em dia no Mundo Cristão não há mais Igreja porque não há Religião". Os Prelados responderam: "Que dizeis? Não está a Igreja onde está a Palavra, onde o Christo Salvador é conhecido e onde estão os Sacramentos?" A isso, o nosso respondeu: "Estas cousas são a Igreja porque fazem a Igreja, entretanto, elas a fazem não fora do homem, mas dentro do homem". E além disso, êle disse: "A Igreja pode estar onde se adora três Deuses? A Igreja pode estar onde toda sua doutrina é fundada sobre uma única passagem de Paulo falsamente entendida e não sobre a Palavra? Pode haver Igreja, quando não se dirigem ao Salvador do Mundo, que é, Ele mesmo, o Deus da Igreja? Quem pode negar que a Religião consiste em fugir do -mal e fazer o bem? Há uma Religião onde se ensina que a fé só salva, e não ao mesmo tempo a caridade? Há uma Religião onde se ensina que a Caridade procedendo do homem não é senão uma Caridade moral e civil?

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Quem não vê que nessa caridade nada há da Religião? Há na fé só alguma coisa de ato ou de obra, quando, entretanto, a Religião consiste em fazê-lo? Existe sobre todo o Globo uma Nação, que exclua todo salvífico dos bens da Caridade, que são as boas obras, quando, entretanto, tudo na Religião consiste no bem e tudo da Igreja na doutrina que ensina os veros e pelos veros os bens? Que glória para nós, se tivéssemos aceito o que trazia em seu seio esse Papel descido do Céu!" Então os Prelados disseram: "Tu falas demasiado alto; a Fé pelo ato, que é a Fé plenamente justificante e salvante, não é a Igreja? e a Fé pelo ato, que é a Fé procedente e aperfeiçoante, não é a Religião? aprendei isso, filhos". Mas então o nosso Sábio disse: "Escutai, pois! Será que o homem não concebe a Fé pelo ato como um toco, segundo o vosso dogma? Um toco, pode ser vivificado na Igreja? Será que a Fé pelo estado não é, segundo a vossa idéia, a continuação e a progressão da fé pelo ato? E, pois que em vosso dogma, todo salvífico está na Fé e que não há salvífico algum no bem da caridade pelo homem, onde está então a Religião? Os Prelados disseram: "Amigo, tu falas assim porque não conheces os Arcanos da justificação pela Fé só; e quem não os conhece, não conhece o caminho da salvação pelo interior; teu caminho é externo e plebeu; segue-o se quiseres, mas sabe apenas que todo bem vem de Deus e que bem algum vem do homem; e assim, o homem nas cousas, espirituais nada pode por si mesmo; como então o homem pode por si mesmo fazer o bem, que é um bem espiritual?" Fortemente indignado com estas palavras, aquele dentre nós que lhes falava, respondeu: "Conheço os vossos Arcanos da justificação mais do que vós, e vos digo abertamente que não vejo interiormente em vossos Arcanos senão fantasmas; a Religião não consiste em reconhecer e amar a Deus e em fugir e odiar o diabo? Deus não é o Bem mesmo, e o Diabo o Mal mesmo? Quem é, em todo o Globo, o homem que, tendo uma religião, não sabe isso? Não é reconhecer e amar a Deus fazer o bem, porque é de Deus e vem de Deus? e não é fugir do Diabo e odiá-lo, não fazer o mal, porque o mal é do Diabo e vem do Diabo? Vossa Fé pelo ato, que dizeis plenamente justificante e servante, ou, o que é a mesma cousa, vosso Ato de justificação pela fé só, ensina a fazer algum bem, que é de Deus e vem ,de Deus e ensina a fugir de algum mal que é do Diabo e vem do Diabo? de modo algum, pois decidistes que não há salvação alguma em fazer um e fugir do outro. 0 que é a vossa Fé pelo estado, que chamais Fé procedente e aperfeiçoante, senão a mesma Fé pelo ato? Como pode ela ser aperfeiçoada, pois que excluis todo bem que o homem faz como por si mesmo, dizendo em vossos Arcanos: Como o homem pode ser salvo por algum bem que faça, pois que a salvação é gratuita? Dizendo também: 0 que é o bem que o homem faz, senão um bem meritório e, entretanto, o mérito do Christo é tudo? Fazer o bem para a salvação seria atribuir-se o que pertence ao Christo só, assim seria também querer se justificar e salvar por si mesmo? Enfim, dizendo ainda: Como alguém pode fazer o bem, pois que o Espírito Santo faz tudo sem nenhuma ajuda humana? Que necessidade há ainda de algum bem acessório por parte do homem? Quando todo bem vindo do homem não é em si o Bem? e multas outros raciocínios semelhantes. Não são esses os vossos Arcanos? Mas a meus olhos ao puras argúcias e finuras inventadas com o fim de afastar as boas Obras, que são os bens da Caridade, a fim de estabelecer a vossa fé só; e como agis, assim, considerais o homem quanto a esta fé, e em geral, quanto a todos os espirituais que pertencem à Igreja e à Religião, como um toco ou como uma estátua inanimada e não como um homem criado à imagem de Deus, a quem foi dada a faculdade de compreender e de querer, de crer e de amar, de falar e de fazer, absolutamente como por si mesmo sobretudo nas cousas espirituais, porque -é por elas que o homem é homem; se o homem, nas cousas espirituais, não pensasse e não agisse como por si mesmo, que seria entra a Palavra, que seria então a Igreja e a Religião e que seria então o cultos?

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Sabeis que fazer o bem ao próximo por amor, é a Caridade; mas não sabeis que é a Caridade, quando, entretanto, a Caridade é a alma a essência da Fé; e pois que a Caridade é a alma e a essência que se torna então a Fé afastada da Caridade, senão uma Fé morta? Ora, a Fé morta não é mais que um espectro: eu a chamo um espectro porque Jacques chama a Fé sem as boas Obras não somente fé morta, mas mesmo fé diabólica. Então um desses Prelados, tendo ouvido que a sua fé era chamada fé morta, fé diabólica e espectro, arrebatou-se de tal modo, que arrancou a Mitra da Cabeça e a lançou sobre a mesa, dizendo: "Não a retomarei enquanto não tiver tirado vingança dos inimigos da Fé de nossa Igreja". E sacudiu a cabeça, murmurando e dizendo: "Este Jaques, este Jaques!" Na frente de sua mitra, havia uma lâmina de metal sobre a qual estava esta inscrição: Fé só justificante; e então apareceu de repente um monstro saindo da terra com sete cabeças, tendo os pés como os de um urso, o corpo como o de um leopardo e a goela como a de um leão, absolutamente semelhante à bêsta que está descrita no Apocalipse (8, 1, 2) de que unia imagem foi feita e adorada (vers. 14, 15). Este espectro tomou a Mitra de cima da Mesa, alargou-a em baixo e a pôs sobre as suas sete cabeças; feito isto, a terra se abriu sob seus pés e êle foi tragado. A vista disto, o prelado exclamou: "Violência! Violência!" Então nos separamos deles; e eis, que diante de nossos olhos uma escada, pela qual subimos e voltamos esta terra e à vista do Céu, onde estávamos antes". Eis o que me contou este espírito, que tinha reascendido da terra inferior com cem outros espíritos.

&390 - Sexto Memorável. Na Plaga setentrional do Mundo espiritual ouvi como um barulho produzido pelas águas; dirigi pois para o lugar e quando cheguei perto, o barulho cessou e ouvi um burburinho como de uma assembléia e então vi uma casa toda rachada, cercada de um péssimo muro, da qual saía, este burburinho; aproximei-me; havia aí um porteiro a quem perguntei que gente estava nesse pardieiro; êle me disse que eram os sábios dos sábios, que discutiam, entre si, sobre assuntos sobrenaturais; êle se exprimia assim na simplicidade de sua fé; e eu disse: "E' permitido entrar?" Ele disse: "Isso é. permitido, desde que não fales absolutamente, pois tenho permissão de admitir os gentios que se conservam comigo na entrada". Em- conseqüência entrei; e eis que havia um Circo e no meio uma Cátedra; e a Assembléia dos pretensos sábios dissertava sobre os ar. canos de sua fé; e na ocasião a matéria ou a proposição submetida a discussão era esta: 0 Bem que faz o homem no Estado de justificação pela fé ou na progressão da fé após o Ato, é um Bem de religião ou não? Disseram unanimemente que pelo Bem de religião é entendido um Bem que contribui para a salvação. A discussão foi viva; mas a vitória foi para os que sustentavam que os Bens que o homem faz no Estado ou progressão da fé não são mais que Bens morais, que conduzem à prosperidade no Mundo do, mas que não contribuem em cousa alguma para a salvação para a qual contribui somente a Fé; e confirmaram isso desta maneira: "Como algum bem voluntário do homem pode ser conjunto com um bem gratuito? A salvação não se faz gratuitamente? Como algum Bem vindo do homem pode ser conjunto com o Mérito do Christo? Não há salvação unicamente por este Mérito? E como a operação do homem pode ser conjunta com a operação do Espírito Santo? Este não faz tudo sem o concurso do homem? Não estão aí unicamente os salvíficos no Ato da justificação pela fé? e estes três salvíficos únicos não permanecem no Estado ou progressão da Fé? Em conseqüência o Bem acessório proveniente do homem não pode de modo algum ser chamado Bem de Religião, o qual, como foi dito, contribui para a salvação; mas se alguém faz o bem para a salvação, como há nesse bem acessório a vontade do homem, e que esta não pode deixar de considerá-Io como um mérito, deve antes ser chamado mal de religião".

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Havia perto do porteiro, no vestíbulo, dois gentios; eles ouviram estes raciocínios e um deles disse ao outro: "Estes não têm Religião alguma; quem não vê que fazer bem ao próximo por Deus, assim com Deus e segundo Deus, é o que se chama Religião?" E o outro disse: "A sua fé os tornou loucos". E então perguntaram ao porteiro, quem eles eram; o porteiro disse: Não Sábios cristãos. E eles responderam: "Estás brincando, dizes uma mentira; são uns farsantes; pelo menos usam a linguagem deles''. E eu fui -embora. Foi pelo auspício Divino do Senhor que vim a esta Casa, e que então eles deliberaram sobre este assunto e a cousa se passou como está descrita.

&391 - Sétimo Memorável. Qual é a desolação do vero e qual é o marasmo teológico, hoje, no Mundo Cristão; é o de que tive conhecimento pelas conversações no Mundo espiritual com grande número de Leigos e grande número de Eclesiásticos; neste há uma tal indigência espiritual, que apenas sabem outra cousa, senão que há uma Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo e que a Fé só salva; e sÔbre o Senhor Christo não conhecem d'Êle se não os Históricos que! estão mos Evangelistas, quanto a todas as outras cousas que a Palavra de um e outro Testamento ensina, sobre Êle, por exemplo, que o Pai e Êle são um; que Ele esmo está no Pai e o Pai está n'Ele; que Ele tem todo poder no Céu e sobre a Terra; que a vontade do Pai é que se creia , no Filho e que aquele que crê n'Ele tem a vida eterna e várias outras cousas, são tão ignoradas e afastadas como as que estão, no fundo do oceano e no centro da terra; e quando são tiradas das Palavras e lidas, eles ficam como se escutassem, mas não escutam; e elas não entram em seus ouvidos mais profundamente .do que o ruído do vento ou que o som de um tambor. Os Anjos que o Senhor envia algumas vezes para as Sociedades Cristãs, que estão no Mundo dos espíritos, assim sob o Céu, para as visitar, queixam-se muito, dizendo que há neles, para as cousas da salvação tanta estupidez e conseqüentemente tanta obscuridade, que são pouco mais ou menos como um papagaio que fala; os seus sábios, também dizem eles que para as cousas Espirituais e Divinas não têm mais inteligência do que as estátuas. Um dia, um Anjo me contou que tinha conversado com dois Eclesiásticos, dos quais um estava na Fé separada da Caridade e o outro na Fé não separada. Dirigiu-se assim ao que estava na Fé separada da Caridade: "Amigo, o que és tu?" êle respondeu: "Sou um Cris tão reformado". "Qual é a tua Doutrina, e conseqüentemente a tua Religião?" Ele respondeu: "A minha fé é que Deus Pai enviou seu Filho para que tomasse sobre si a danação do Gênero humano e que, por isso, nós fomos salvos". Fez-lhe ainda esta pergunta: "Que mais sabes tu sÔbre a salvação?" Respondeu: "A salvação se opera por esta fé só". Disse-lhe em seguida: "Que sabes sÔbre a Redenção?" Respondeu: que ela foi feita pela Paixão da Cruz e que o mérito do Filho é imputado por esta fé. Depois: "Que sabes da Regeneração?" Respondeu: "Ela se faz por esta fé". "Diz-me o que sabes sÔbre o Amor e sÔbre a Caridade?" Respondeu: "0 Amor e a Caridade são esta fé". "Dize-me, o que pensas dos Preceitos do Decálogo e de outros preceitos da Palavra?" Respondeu: "Estão nesta fé". Então o Anjo disse: "Por conseguinte, tu não farás cousa alguma?" Respondeu: "0 que farei? não posso por mim mesmo fazer o bem que seja o bem". "Podes por ti mesmo ter a fé?" Respondeu: "Não indago isso; terei a W. Enfim disse: "Nada mais sabes sÔbre a salvação?" Respondeu: "Que saberia mais, pois que esta fé só opera a salvação". Mas então o Anjo disse: "Tu respondes como aquele que toca flauta em um só tom; não ouço como resposta senão a fé; se não conhecesses senão esta fé e nada mais, tu nada sabes. Vai-te embora e volta para os teus companheiros. E êle se foi e os reencontrou em um deserto, onde não havia erva alguma; informou-se por que era assim e lhe disseram que era porque não havia neles cousa alguma da Igreja. 0 Anjo se

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dirigiu assim ao que estava na Fé conjunta à Caridade: "Amigo, o que és tu?" Respondeu: "Sou um Cristão reformado". "Qual é a tua Doutrina e conseqüentemente a tua Religião?" Respondeu: "A Fé e a Caridade". Êle disse: "São elas duas coisas?" Respondeu: "Elas não se podem separar". Disse: "0 que é a Fé?" Respondeu: "E' crer o que a Palavra ensina". Disse: "0 que é a Caridade?" Respondeu: "E' fazer o que a Palavra ensina". Disse: "Crês apenas nestas coisas?" ou também as fazes?" Respondeu: "Eu as faço também". Então o Anjo do Céu o encarou atentamente e lhe disse: "Meu amigo, vem comigo, e habita conosco". &392 CAPITULO VII - DA CARIDADE OU DO AMOR EM RELAÇÃO AO PRÓXIMO E DAS BOAS OBRAS392 - Acabou-se de tratar da fé, segue-se que é preciso agora tratar da Caridade, porque a Fé e a Caridade estão conjuntas como o Vero e o Bem; e estes dois estão conjuntos como a Luz e o Calor na estação da primavera; falo assim, porque a Luz espiritual, que é a Luz procedente do Sol do Mundo, espiritual, é em sua essência o Vero, por isso o Vero naquele Mundo, em qualquer lugar que se mostre, brilha com esplendor segundo sua pureza porque o Calor espiritual, que procede também desse Sol, é em sua essência o Bem. Isso foi dito porque dá-se com a Caridade e a Fé, o mesmo que com o Bem e o Vero, pois a Caridade é o complexo de tôdas as cousas do Bem que o homem. faz ao próximo; e a Fé é o, complexo de tôdas as coisas do Vero que o homem pensa concernente a Deus e aos Divinos. Portanto, desde que o Vero da Fé é a Luz espiritual e o Bem da Caridade o Calor espiritual, acontece com estes dois o mesmo que com o calor e a luz no Mundo natural, isto é, como, pela sua conjunção, tudo floresce na Mente humana; porém, com a diferença que na Terra a floração é feita pelo, Calor e a Luz naturais, enquanto que, na Mente humana, a floração é feita pelo Calor e a Luz espirituais; e que esta floração, porque é espiritual, é a Sabedoria e a Inteligência; há por isso, correspondência entre elas; por isso, que a Mente humana, em que a Caridade foi conjunta à Fé e a Fé à Caridade, é comparada na Palavra a um jardim, e é entendida também pelo Jardim do Éden; que seja assim, isso foi plenamente mostrado nos "Arcanos Celestes", impressos em Londres. Além disso, é preciso que se saiba: a não ser que se trate da Caridade, depois de se ter tratado da Fé, não se pode compreender o que é a Fé; pois, como foi dito e mostrado no Capítulo precedente, a Fé sem a Caridade não é a Fé e a Caridade sem a Fé não é a Caridade; as duas não, vivem senão pelo Senhor, ns. 355 a 361; depois também, o Senhor, a Caridade e a Fé fazem um como a Vida, a Vontade e o Entendimento; e se são divididos, cada um se perde como unia pérola reduzida a pó, ns. 363 a 367; além disso, a Caridade e a Fé estão juntas nas Boas Obras, ns. 373 e segs.

&393 - Uma verdade constante, é que a Fé e a Caridade não podem ser separadas, a fim de que o homem tenha a vida espiritual e, conseqüentemente, a salvação; que seja assim, cai por si mesmo no entendimento de cada homem, mesmo não ornado com talento de erudição. Há alguém que quando ouve dizer que aquele que vive bem e crê segundo as regras é salvo, não veja isso por uma sorte de percepção interior e, por conseguinte, pelo entendimento não seja desta opinião? Há alguém que, quando ouve dizer que aquele que crê segundo a regra e não vive bem também é salvo, não rejeita isso do entendimento como uma imundície que cai no olho, pois que então, pela percepção interior lhe vem imediatamente este pensamento: Como se pode crer segundo a regra, quando não se vive bem; e o que é então crer, senão uma figura pintada da Fé e não sua imagem viva? Semelhantemente, se alguém ouvisse dizer que aquele: que vive bem, ainda que não creia, é salvo, seu entendimento, virando e revirando esta proposição, ou pensado-a, não veria, não

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perceberia, e não pensaria que ela também não tem consistência, pois que bem viver vem de Deus? com efeito, todo bem que em si é o bem, vem de Deus. 0 que é então bem viver e não crer, senão como é na mão do oleiro, a argila que não pode ser moldada em nenhum vaso próprio ao uso no Reino espiritual, e não pode servir senão no Reino natural? Além disso, quem não vê a contradição nestas duas proposições a saber Aquele que crê e não vive bem é salvo; e Aquele que vive bem e não crê é salvo? Ora, hoje sabe-se e não se sabe o que é Bem viver, que pertence à Caridade, pois sabe-se o que é bem viver naturalmente, e não se sabe o que é bem viver espiritualmente; vai se tratar disso, em Séries, por Artigos distintos.

&394 Há três amores universais: o Amor do Céu, o Amor do mundo e o Amor de si.394 - Começarei por estes três Amores porque são universais e constituem os fundamentos de todos os outros Amores e porque a Caridade tem com cada um deles o comum; pois pelo Amor do Céu é entendido o Amor para com o Senhor e também o Amor em relação ao Próximo; e estes dois amores consideram o uso como fim, o Amor do Céu pode ser chamado o Amor dos usos. 0 Amor do mundo é não somente o Amor das riquezas e das posses, mas ainda o Amor de tôdas as coisas que o Mundo fornece e que agradam os Sentidos do Corpo, como a beleza, aos olhos, a harmonia, aos ouvidos, as exalações odoríferas, às narinas, os manjares delicados, à língua, os contatos suaves, à pele, e também a elegância das roupas, a comodidade das habitações, o prazer da companhia, assim todos os gozos que provêm destas cousas e de muitos outros objetos. 0 Amor de si mesma e não somente o Amor da honra, da glória, da reputação, da supremacia, mas também o amor de merecer e de obter as funções e reinar sobre os outros. A caridade tem de comum com cada um destes três amores que considerada em si mesma ela é o amor dos usos, pois a caridade quer fazer o bem ao próximo; e o bem a mesma cousa que o uso; ora, cada um destes amores considera os usos como seus fins, o Amor do Céu os usos espirituais, o Amor do Mundo os usos naturais, que podem ser chamados usos civis, e o Amor de si, os usos corporais que podem ser chamados usos domésticos para si e para os seus.

&395 - Que estes três amores estejam em cada homem por criação e assim de nascença, e que eles aperfeiçoam o homem quando estão regularmente subordinados e o pervertem quando o estão irregularmente, é o que será demonstrado no Artigo seguinte; aqui é suficiente dizer que estes três amores estão regularmente subordinados, quando o Amor do Céu faz a Cabeça, o Amor do Mundo o peito e o ventre, e o Amor de si os pés e as plantas dos pés. A Mente humana foi distinguida em três regiões, como já foi dito algumas vezes; o homem pela região suprema olha para Deus, pela segunda ou média o Mundo e pela terceira ou ínfima olha para si mesmo; pois que tal é a Mente, ela pode ser elevada e elevar-se a si mesma ao alto, porque pode olhar para Deus e para o Céu; pode ser estendida e estender-se por si mesma para os lados por toda parte, porque pode olhar para todos os lados no Mundo e na natureza do Mundo; e pode ser abaixada e abaixar-se a si mesma porque pode olhar para a terra e para o inferno; nisto, a vista do corpo imita a vista da mente, pois a vista do corpo pode também dirigir-se para cima, para os lados e para baixo. A Mente humana é como uma Casa de três andares, entre eles há uma comunicação por escadas; no andar mais alto habitam os Anjos do Céu; no do meio, os homens do Mundo e no mais baixo, os gênios (infernais); o homem em quem estes três amores estão regularmente subordinados pode, à sua vontade, subir e descer e quando sobe ao andar mais

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alto, está em companhia com os Anjos como Anjo, quando daí desce ao andar do meio, está em companhia com os homens como homem Anjo; e quando desce deste para o mais baixo, está em companhia com os gênios como homem do mundo e os instrui, os repreende e os doma.. No homem em quem estes três amores estão subordinados, estão também coordenados de maneira que o Amor supremo, que é o Amor do Céu está interiormente no segundo que é o amor do mundo; e por este no terceiro ou ínfimo, que é o Amor de si, e o amor que está dentro dirige à sua vontade o amor que está por fora; se, portanto, o amor do Céu está interiormente no amor do Mundo, e por este imo amor de si, o homem faz usos em cada amor pelo Deus do Céu. Estes três amores são, na operação, como a Vontade, o Entendimento e a Ação; a Vontade influi no Entendimento, e aí se provê dos meios pelos quais produz a Ação. Mas sobre este assunto se verá maiores desenvolvimentos no Artigo seguinte, onde será demonstrado que estes três amores aperfeiçoam o homem, se estão regulamente subordinados, mas que o pervertem e transformam, se estão subordinados irregularmente.

&396 - Entretanto, para que as cousas que seguem neste Capítulo e nos capítulos seguintes sobre o Livre-Arbítrio, sobre a Reforma e a Regeneração, etc. se apresentem claramente à vista na luz da razão, é necessário dar anãs algumas noções sobre a vontade e o entendimento; sobre o bem e o Vero; sobre o Amor em geral; sobre o Amor do mundo e o Amor de si em particular; sobre o homem Externo e o homem Interno, e sobre o homem puramente natural e sensual. Estas noções vão ser desenvolvidas, a fim de que a vista racional do homem, quando se tratar de perceber as cousas que serão ditas em seguida, não esteja como em um nevoeiro espesso e não erre, por assim dizer, pelas ruas da Cidade, a ponto de não acertar com o caminho que conduz à casa; pois sem o Entendimento e se o entendimento não é ilustrado quando lê a, Palavra, urna verdade teológica não é mais que como uma lâmpada na mão se a mecha não está acesa, tal como era a lâmpada na mão das cinco Virgens insensatas, que não tinham Azeite. Cada um desses assuntos vai, pois, ser tratado em sua ordem.

&397 - 1. Da Vontade e do Entendimento.1) Há no homem duas faculdades que fazem sua vida, uma se chama a Vontade e a outra o Entendimento; elas são distintas entre si, mas foram criadas de maneira que sejam um, e quando são um, são chamadas a Mente; são, portanto, a mente humana e toda a vida do homem está ai nos princípios e, por conseguinte, no corpo. 2) Como no Universo todas as cousas que estão segundo a Ordem, se referem ao Bem e ao Vero, do mesmo modo, no homem, elas se referem todas à Vontade e ao Entendimento, pois o Bem no homem pertence à Vontade e o Vero pertence a seu entendimento; com efeito, estas duas Faculdades ou estas duas Vidas do homem são os receptáculos e os sujeitos do bem e do vero; a Vontade é o receptáculo e o sujeito de tudo o que pertence ao Bem; e o Entendimento é o receptáculo e o sujeito de tudo que pertence ao Vero; os Bens e os Veros no homem não estão em outra parte; segue-se que o Amor e a Fé não estão também em outra parte, pois que o Amor pertence ao Bem e o Bem ao Amor, e que a Fé pertence ao Vero, e o Vero à Fé. 3) A Vontade e o Entendimento fazem também o Espírito do homem, pois aí residem sua Sabedoria e sua Inteligência e também seu Amor, sua Caridade e em geral, sua .Vida; o Corpo nada mais é que uma Obediência. 4) 0 que há de mais importante a saber é como a Vontade e o Entendimento fazem um único Mental (Mente): Fazem uma única Mente como o Bem e o Vero fazem um; pois há entre a Vontade e o Entendimento o

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mesmo Casamento que entre o Bem e o Vero; qual é êste Casamento, ver-se-á pelo que será relatado em breve sobre o Bem e o Vero, a saber, que como o Bem é o ser mesmo da cousa e o Vero é, por conseguinte, o Existir da cousa, do mesmo modo no homem a Vontade é o Ser mesmo de sua vida e o Entendimento é o Existir de sua vida; pois o Bem que pertence à Vontade se forma no Entendimento e se apresenta à vista.

&398 - Do Bem e do Vero.1) No universo tôdas as coisas que estão na Ordem Divina se referem ao Bem e ao Vero; não há cousa alguma no Céu, nem cousa alguma no Mundo, que não se refira a estes dois; e isto, porque um e outro, tanto o Bem como o Vero, procedem de Deus, de quem procedem tôdas as cousas. 2) Daí, é evidente que é necessário o homem saber o que é o Bem e o que é o Vero, como um encara o outro e como um é conjunto ao outro; mas isso é principalmente necessário ao homem da Igreja, pois como tôdas as cousas do Céu se referem ao Bem e ao Vero, do mesmo modo também todas as cousas da Igreja, pois que o bem e o vero do Céu são também o bem e o vero da Igreja. 3) É segundo a Ordem Divina que o Bem e o Vero sejam conjuntos e não separados, de tal sorte que sejam um e não dois, pois conjuntos procedem de Deus e conjuntos estão no Céu; por conseqüência, conjuntos devem estar na Igreja; a Conjunção do bem e do vero é chamada no Céu Casamento Celeste, pois neste Casamento estão todos que ai habitam; daí vem que na Palavra o Céu é comparado a um Casamento e o Senhor é chamado Noivo e Marido; e o Céu, Noiva e Esposa, igualmente a Igreja; se o Céu e a Igreja são chamados assim, é porque aqueles que aí estão recebem o Divino Bem nos Veros. 4) Toda inteligência e Toda sabedoria que possuem os Anjos vêm deste Casamento e não vêm de Bem algum separado do Vero, nem do Vero separado do Bem; dá-se o mesmo com o homem da Igreja. 5) Pois que a conjunção do bem e do vero é !como um casamento, é evidente que o Bem ama o Vero; que, reciprocamente, o Vero ama o Bem e que um deseja ser conjunto ao outro; o homem da Igreja, no qual não há um tal amor nem um tal desejo, não está Do Casamento celeste; por conseqüência, não há ainda nele a Igreja, pois que a Conjunção do bem e do vero faz a Igreja. 6) Os Bens são de várias espécies; em geral, há o bem espiritual-e o bem natural e um e outro foram conjuntos no Bem moral real. Como são os bens, do mesmo modo são os veros, porque os Veros pertencem ao Bem e são as formas do bem. 7) Como se dá com o Bem e o Vero, também se dá pelo oposto com o Mal e o Falso; pois como no Universo tôdas as cousas que estão segundo a Ordem Divina se referem ao Bem e ao Vero, do mesmo modo tôdas as que são contra a Ordem Divina se referem ao Mal e ao Falso; e também como o Bem ama ser conjunto ao Vero, do mesmo modo, o mal ama ser conjunto ao Falso, e reciprocamente; e ainda, como toda Inteligência e Toda Sabedoria nascem. da conjunção do bem e do vero, do mesmo modo toda Insensatez e toda Loucura nascem da conjunção do mal e do falso. A conjunção do mal e do falso, considerada interiormente, não é um Casamento, é um Adultério. 8) Por serem o Mal e o Falso opostos ao Bem e ao Vero, é evidente que o Vero não pode ser conjunto ao Mal, nem o Bem ao Falso do mal; se o Vero está conjunto ao Mal, não -é mais o Vero, mas é o Falso, porque foi falsificado; e se o Bem é adjunto ao Falso, não é mais o Bem, mas é o mal, porque foi adulterado. Todavia, o falso que não é o falso do mal, pode ser conjunto ao bem. 9) Quem quer que esteja no Mal e, por conseguinte, no Falso pela confirmação e a vida, não pode saber o que é o Bem e o Vero, porque acredita que seu Mal é o Bem e por isso acredita que seu Falso é o Vero; mas quem está no Bem e, por conseguinte, no Vero pela ,confirmação e a vida, pode saber o que é o mal e o falso; a razão disso é que todo Bem e todo Vero do bem são celestes em sua essência, e que todo

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Mal, por conseguinte todo Falso são infernais em sua essência; ora, toda coisa celeste está na luz e Toda cousa infernal está nas trevas.

&399 - Do Amor em geral.1) A Vida mesma do homem é seu Amor; tal é o Amor, tal é a Vida, e tal é todo o homem, mas é o Amor dominante ou reinante que faz o homem. Este Amor tem sob sua dependência vários amores que são derivações; estas se mostram sob uma outra forma, mas não obstante estão tôdas no Amor Dominante e fazem com êle um mesmo Reino; o Amor Dominante é como seu Rei e seu Chefe; êle os dirige, e por eles como fins médios, visa e tende para seu Fim, que é o primeiro e o último de. todos; e isso tanto direta como indiretamente. 2) 0 que pertence ao Amor Dominante é o que é amado acima de todas as coisas. 0 que o homem ama acima de todas as coisas. está sem cessar presente em seu pensamento, porque isto está em sua Vontade e faz sua vida mesma (ipsissima); por exemplo, é que ama acima de tôdas as coisas as riquezas, quer constiam em dinheiro ou em posses, está continuamente preocupado com os meios de as adquirir, está intimamente alegre quando as adquire e está intimamente triste quando as perde, seu coração está nelas. Aquele que se ama acima de tôdas as coisas. Use, em todas as circunstâncias, se lembra de si, pensa em si, fala de si e age para si, pois a sua vida é a vida de si mesmo. 3) 0 homem tem por fim o que ama acima de tudo, o que tem em vista em tôdas as cousas; isso está em sua vontade como a vela escondida de um rio, que a arrasta e domina, mesmo quando se ocupa de outra cousa, pois é o que êle ama. E isso o que um homem examina em um outro; e por isso, ou o dirige, ou age com ele. 4) 0 homem é tal qual é o Dominante de sua vida; é por este Dominante que é distinguido dos outros; é êle que faz seu Céu, se é bom e seu Inferno, se é mau; é a sua Vontade mesma, seu Próprio mesmo e sua Natureza mesma, pois é o Ser mesmo de sua vida; depois da morte, êle não pode ser mudado, porque é o homem mesmo. 5) Todo prazer, toda felicidade procedem era cada um de seu Amor Dominante e é segundo este amor; pois o homem chama prazer o que ama porque o sente; o que êle pensa e não ama, pode também chamar prazer, mas não é o prazer de sua vida. E o prazer de seu amor, que é para o homem o Bem e é o desprazer que é para êle o Mal. 6) Há dois amores de onde decorrem todos os bens e todos os veros, como de suas fontes mesmas; e há dois amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos. Os dois amores de onde decorrem todos os Bens e todos os Veros, são o Amor para com o Senhor e o Amor em relação ao próximo; e os dois amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos, são o Amor de si e o Amor do Mundo; êstes dois amores quando dominam, são inteiramente opostos aos dois outros amores 7) Os dois Amores que são o Amor para com o Senhor e o Amor em relação ao próximo, fazem o Céu no homem, pois reinam no Céu; e como fazem o Céu no homem, fazem também a Igreja nêle; os dois Amores, de onde decorrem todos os males e todos os falsos, são o Amor de si e o Amor do mundo, fazem o Inferno no homem, pois reinam no Inferno, conseqüentemente também destroem a Igreja nele. 8) Os dois Amores de onde decorrem todos os bens e todos os veros e que são os Amores do Céu, abrem e formam o homem interno espiritual porque residem nesse homem; os dois Amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos, são os Amores do Inferno, fecham e destroem o homem interno espiritual, quando dominam, fazem com que o homem seja Natural e Sensual segundo a quantidade e a qualidade de sua Dominação.

&400 - IV. Do Amor de si e do Amor do mundo em particular.

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1) 0 Amor de si consiste em não querer bem senão a si mesmo, e a não o querer aos outros, mesmo à Igreja, à Pátria, a uma Sociedade humana e ao concidadão, senão em relação a si; como também em não fazer o bem senão tendo em vista a reputação, a honra e a glória, de sorte que, se não se vê a reputação, a honra ou a glória no bem que se lhes pode fazer, se diz no coração: Que me importa? Por que o faria? Que lucrarei com isso? E assim não o faz; daí é evidente que aquele que está no amor de si não ama a Igreja, nem a Pátria, nem a Sociedade, nem o Concidadão, nem Bem algum real, mas não ama senão a si só e o que lhe pertence. 2) 0 homem está no Amor de si quando nas cousas que pensa e que faz não considera o próximo, nem o Público, ainda menos o Senhor, mas não vê senão êle mesmo e os seus: por conseqüência, quando faz tôdas as cousas para si mesmo e para os seus, e também quando faz alguma cousa para o Público, unicamente para se fazer ver; e para o próximo unicamente a fim de que lhe seja favorável. 3) Diz-se para Si mesmo e para os Seus, pois aquele que se ama, ama também os seus, que são especialmente seus Filhos e seus Descendentes e geralmente todos os que fazem um com êle e que êle chama os Seus; amar uns e outros, é também amar-se a si mesmo pois os considera como em si e se considera como neles; entre os que chama os seus estão também todos os que o louvam, o honram e o veneram. Quanto a todos os outros, êle os olha, é verdade, com os olhos do corpo como homens, mas aos olhos de seu espírito, apenas são outra cousa mais que fantasmas. 4) No Amor de si está o homem que despreza o próximo comparando-o a si mesmo, que o considera como inimigo, se não lhe é favorável e se não o venera e não lhe presta homenagem; ainda mais no Amor de si está aquele que, por causa disso, odeia o próximo e o persegue; e ainda mais aquele que, por causa disso, arde em vingança contra êle e deseja ardentemente a sua perda; tais ho mens gostam de praticar crueldades. 5) Pela comparação com o Amor celeste, pode-se ver qual é o Amor de si; o Amor celeste consiste em amar por causa dos usos, os usos, ou por causa dos bens, os bens, que se faz à Igreja, à Pátria, a uma Sociedade humana e ao concidadão; mas aquele que ama por causa de à, não os ama senão como criados porque o servem; segue-se daí que aquele que está no Amor de si quer que a Igreja, a Pátria, as Sociedades humanas e os concidadãos o sirvam e não quer servi-los; coloca-se acima deles e os põe abaixo de si. 6) Além disso, tanto mais alguém está no Amor celeste, que -consiste em amar os usos e os bens, e em ser afetado pelo prazer do coração fazendo-os, tanto mais é conduzido pelo Senhor, porque este Amor é aquele em que está o Senhor e aquele que vem do Senhor; mas quanto mais alguém está no Amor de si, tanto mais é conduzido por si mesmo; e quanto, mais é conduzido por si mesmo, tanto mais o é por seu Próprio; e o Próprio do homem não é senão mal, pois é seu mal hereditário, que consiste em se amar de preferência a Deus e em amar ao Mundo, de preferência ao Céu. 7) 0 Amor de si é ainda tal que, quanto mais se lhe soltam as rédeas, isto é, quanto mais são afastados os laços externos, que são o medo da perda da reputação, da honra, do ganho, dos empregos e da vida, tanto mais se lança, até querer dominar não somente sobre todo o Globo, mas ainda sobre o Céu e mesmo sobre Deus; jamais há para êle algum termo ou algum fim; esta cupidez está escondida em todo homem que está no Amor de si, ainda que não se manifeste diante do Mundo, onde os freios e os laços acima mencionados, o retêm; e quem é tal quando encontra um obstáculo impossível de vencer, aí se detém, até que a cousa se tome possível; é por causa de tudo isso que o homem que está neste amor, não sabe que esta louca cupidez sem limites está escondida nele. Que, entretanto, seja assim, cada um pode vê-lo nos Poderosos e nos Reis, para quem estes freios, estes laços e estas impossibilidades não existem, os quais se precipitam sobre as Províncias e os Reinos, os subjugam, tanto quanto o sucesso os ajuda e aspiram a um poder

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e a uma glória sem limites; e mais ainda naqueles que estendem sua Dominação sobre o Céu e transferem para eles todo o Poder Divino do Senhor; estes desejam contInuamente mais. 8.0) Há dois gêneros de Dominação: Uma do amor em relação ao próximo; e a outra do Amor de si. Estas duas Dominações são opostas uma à outra, aquele que domina pelo Amor em relação ao próximo, quer bem a todos e nada ama mais de que fazer usos, e também servir aos outros, é pelo bem querer fazer bem aos outros e fazer usos; é este seu Amor, é este o prazer de seu coração; quanto mais este é elevado às dignidades, tanto mais também se regozija, não por causa das dignidades, mas por causa dos usos que pode fazer com maior abundância e em um grau mais extenso; tal a Dominação nos Céus. Mas aquele que domina pelo amor de si não querer bem a quem quer que seja e só o quer para si e para os seus; os usas que faz são para sua própria honra e sua própria glória, são estes para de os únicos usos; serve aos outros a fim de ser de mesmo servido, ser honrado e dominar; ambiciona as dignidades, não pelos bens que poderá fazer, mas para ficar acima dos outros e na glória, por conseguinte, pelo prazer de seu coração. 9) 0 amor da Dominação permanece, também em cada um após a vida no Mundo; mas aos que, dominaram pelo Amor em relação ao próximo, é também confiada. uma Dominação nas Céu, e então não são eles que dominam, mas são os usos e os bens que eles amam; e quando os usos e as bens dominam, o Senhor domina; quanto àqueles que no Mundo dominaram pelo Amor de si, são despojados da dominação após a vida no Mundo e são reduzidos à servidão. Ora, pelo que acaba de ser dito, pode-se conhecer quais são os que estão no Amor de si; pouco importa que aparências tenham na forma externa, que estejam elevados ou submissos, pois os motivos da dominação estão no homem Interno, e na maioria o homem Interno está escondido; e o homem Externo está habituado a fingir afeições que pertencem ao Amor do Público e do próximo, assim afeições Contrárias e isso também em vista de si mesmo; pois esses sabem que amar o Público e o próximo faz interiormente impressão sobre todos os homens e que se é mais estimado por isso; se isso faz impressão, é porque o Céu influi nesse Amor. 10) os males, naqueles que estão no Amor de ai, são em geral, o Desprezo pelos outros, a Inveja, a Inimizade contra os que não lhes são favoráveis, a Hostilidade que dai provém, os ódios de toda espécie, a Vingança a Astúcia, as Velhacarias, a Desumanidade, a Crueldade; e onde estão tais males, há também o Desprezo por Deus e pelos Divinos, que são os bens e os veros da. Igreja; se honram, é somente de boca e não de coração. E coma esses males provêm desse amor, dele provêm também os falsos semelhantes, pois os falsos vêm dos males. 11) 0 Amor do Mundo consiste em querer atrair a si as Riquezas dos outros por qualquer meio que seja, em pôr seu coração nessas riquezas em deixar que o Mundo o retire e o afaste do Amor Espiritual, que é o Amor em relação ao próximo, e assim o afasta do Céu. No Amor do Mundo estão os que desejam se apoderar dos bens dos outros por diversos meios, sobretudo os que empregam a astúcia e a velhacaria, considerando como nada o, bem do próximo; os que estão neste Amor cobiçam os bens dos outros; e quando, não temem as leis, nem a perda de sua reputação por causa dos proveitos que procuram, eles roubam e pilham. 12) Entretanto, o Amor do Mundo não é oposto ao Amor celeste no mesmo grau que o Amor de si, porque não tem tão grandes males encerrados em si. 13) Este Amor é de várias espécies; há o Amor das riquezas para se elevar às honras; há o Amor das honras e das dignidades para obter as riquezas; há o Amor das riquezas Rara diferentes usos que dão prazer no Mundo; há o Amor das riquezas pelas riquezas sós, tal é o Amor dos avarentos; e assim por diante; o Em pelo qual se deseja as riquezas é chamado uso; e é do fim ou do uso que o amor tira sua qualidade; pois tal é o fim pelo qual se deseja, tal é o Amor; tôdas as outras coisas lhe servem como meios. 14) Em

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uma palavra, o Amor de si e o Amor do Mundo são absolutamente opostos ao Amor para com o Senhor e ao Amor em relação ao próximo; é por isso que o Amor, em si e o Amor do Mundo, tais como foram descritos acima, são Amores infernais, reinam por isso no Inferno e fazem mesmo o Inferno no homem. Ao contrário, o Amor para com o Senhor e o Amor em relação ao próximo são Amores celestes, reinam por isso no Céu, e fazem mesmo o Céu no homem.

&401 - Do homem. Interno e do homem Externo.1) 0 homem foi criado de tal sorte, que está, ao mesmo tempo, no Mundo espiritual e no Mundo natural; o Mundo espiritual é onde estão os Anjos e o Mundo natural, onde estão os homens; e como o homem foi criado assim, é por isso que lhe foi dado um Interno e um Externo; um Interno pelo qual está no Mundo espiritual; um Externo pelo qual está no Mundo natural. 0 seu Interno é o que é chamado homem Interno; e o seu Externo é o que é chamado homem Externo. 2) Em cada homem há um Interno e um Externo, mas de um modo nos bons e de outro modo, nos maus; o Interno nos bons está no Céu e na luz do Céu; e o Externo está no Mundo e na luz do Mundo; e esta luz neles é iluminada pela luz do Céu, e assim neles o Interno e o Externo fazem um como a causa e o efeito, ou como o anterior e o posterior. Mas nos maus o Interno está no Infemo e na luz do Inferno, luz que relativamente à luz do Céu é uma obscuridade; e seu Externo pode estar em uma luz semelhante àquela em que estão os bons; é por isso que há inversão; daí vem que os maus podem falar e ensinar sobre a fé, sobre a caridade e sobre Deus, mas não pela fé, nem pela caridade e nem por Deus, como os bons. 3) 0 homem Interno é o que é chamado homem Espiritual porque está na Luz do Céu, luz que é espiritual; e o homem Externo é o que é chamado homem natural porque está na luz do Mundo luz que é natural; o homem cujo Interno está na Luz do Céu e o Externo na luz do Mundo é homem espiritual quanto a um e a outro porque a Luz espiritual ilumina pelo interior a luz natural e a faz como ou, mas dá-se o inverso nos maus. 4.0) 0 homem Interno espiritual, considerado em si mesmo és uni Anjo do Céu, e mesmo enquanto vive no corpo está em sociedade com os Anjos, ainda que não o saiba, e depois de ser desligado do corpo, vem para o meio dos Anjos; mas o homem Interno nos maus é um Satanás; por isso, enquanto vive no corpo está em sociedade com ,os Satanases e depois de ser desligado do corpo, vem para o meio deles. 5.10) Os interiores da mente naqueles que são homens espirituais, foram elevados efetivamente para o lado do Céu, pois o consideram em primeiro lugar; mas os interiores da .mente daqueles que são puramente naturais foram afastados do ,Céu e voltados para o Mundo, porque consideram o Mundo em primeiro lugar. 6.0) Aqueles que não têm senão uma idéia comum do homem Interno e do homem Externo acreditam que o homem Interno é o que pensa e quer e o homem Externo o que fala e age porque pensar e querer é Interno, e falar e agir é Externo; mas é preciso que se saiba que quando, a respeito do Senhor e das cousas que pertencem ao Senhor e a respeito do próximo e das cousas que pertencem ao próximo, o homem pensa bem e quer o bem, então êle pensa e quer segundo o Interno espiritual, porque é pela fé do vero e o amor do bem; mas que, ,quando a esse respeito, o homem pensa mal e quer o mal, êle pensa e quer pelo Interno infernal, porque é pela fé do falso e o amor do mal; em uma palavra, quanto mais o homem está no amor para com o Senhor e no amor em relação ao próximo, tanto mais está no Interno espiritual, pensa e quer e também -fala e age por êste interno; mas quanto mais o homem está no amor de si e no amor do mundo, tanto mais pensa e quer pelo Inferno, ainda que fale e aja diferentemente. 7.0) Foi pelo Senhor provido e regulado que, quanto mais o homem pensa e quer pelo Céu, tanto mais é aberto e formado

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o homem espiritual; há abertura no Céu até ao Senhor e há formação segundo -as cousas que pertencem ao Céu. Mas, vice-versa, quanto mais o homem pensa e quer, não pelo Céu, mas pelo Mundo, tanto ,mais o homem Interno espiritual é fechado e o homem Externo é abato e formado; há abertura no Mundo e formação segundo as coisas que pertencem ao Inferno. 8.0) Aquêles em quem o homem interno espiritual foi aberto no Céu para o Senhor estão na luz do Céu e na iluminação pelo Senhor, por conseguinte, na inteligência e na sabedoria; vêem o vero pela luz do vero e percebem o bem pelo Amor do bem. Mas aqueles em quem o homem Interno espiritual foi fechado não sabem o que é o homem Interno e não crêem na Palavra, nem na vida depois da morte, nem nas coisas que são do Céu e da Igreja; e como estão só na luminosidade natural, creem que a Natureza é por si mesma e não por Deus, vêem os falsos como veros, e percebem o mal como bem. 9.0) 0 Interno e o Externo de que se acaba de tratar, são o Interno e o Externo do Espírito do homem; seu corpo é apenas um Externo acrescentado, dentro do qual existem este interno e êste externo, pois o corpo nada faz por si mesmo, mas -age pelo espírito que está nêle. E' preciso que se saiba que o Espírito do homem, depois dele ter sido desligado do corpo, pensa e quer, fala e age como antes; pensar e querer é seu Interno; e falar e fazer é seu Externo.

&402 - VI. Do homem puramente Natural e Sensual."Como poucas pessoas sabem quem são aqueles que se entende por homens Sensuais e quais são estes homens, e que, entretanto, importa sabê-lo, vai ser dada uma descrição: 1) É chamado homem Sensual aquele que julga tôdas as cousas pelos Sentidos do corpo e que não crê senão naquilo que vê com os olhos, toca com as mãos, dizendo que aquilo que vê e toca é alguma cousa e rejeita todo o resto; o homem sensual é portanto homem natural no mais baixo grau. 2) Os Interiores de sua mente, que vêem pela luz do Céu, foram fechados, de sorte que de nada vê do vero que pertence ao Céu e à Igreja, porque pensa nos externos e não interiormente por algum luz espiritual. 3) E como está em uma claridade natural grosseira, está interiormente contra as coisas que são do Céu e da Igreja; entretanto, pode exteriormente falar em seu favor com fogo, quando deseja dominar por elas. 4) Os homens sensuais raciocinam com rigor e com finura porque seu pensamento está tão perto da linguagem, que está quase dentro e como em seus lábios, porque põem toda a inteligência na linguagem que provém da memória só. 5) Alguns deles podem confirmar tudo que querem e com muita habilidade, os falsos; e pela confirmação acreditam que são veros, mas raciocinam e confirmam pelas ilusões dos sentidos, pelas quais o vulgo se deixa levar e persuadir. 6) Os homens sensuais são astuciosos e têm mais malícia que todos os outros. 7) Os Interiores de sua mente são medonhos e sujos porque se comunicam :com os Infernos. 8) Os que estão nos Infernos são sensuais e o são tanto mais quanto mais profundamente aí estão; a esfera dos espíritos infernais se conjunta com os sensuais do homem por trás. 9) Como os homens sensuais não vêem vero real algum na luz, mas raciocinam e discutem a respeito de cada cousa, se é assim, e que estas altercações são ouvidas fora deles como ranger de dentes, que, considerados em si mesmos, são as colisões dos falsos entre si e também as colisões dos falsos e dos veros, vê-se claramente o que é significado na Palavra pelo ranger de dentes: Isto vem de corresponderem aos dentes os raciocínios pelas ilusões dos sentidos. 10) Os Sábios e os Eruditos, que se confirmaram profundamente nos falsos, e mais ainda, os que se confirmaram contra os veros da Palavra, são ensuais mais do que os outros, embora não apareçam como tais diante do Mundo. As heresias promanam principalmente de pessoas que eram Sensuais. 11) Os hipócritas, os velhacos, os voluptuosos, os avarentos, em sua maior parte, são sensuais. 12) Os que raciocinam pelos

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sensuais unicamente e contra os veros reais da Igreja, eram chamados pelos Antigos Serpentes da árvore da ciência do Bem e do Mal. Como pelos sensuais são entendidas as cousas expostas diante dos sentidos do corpo e apreendidas por estes sentidos, segue-se: 13) Que o homem pelos sensuais está em comunicação com o Mundo, e que pelas raciocínios, que estão acima dos sensuais, está em comunicação com o Céu. 14) Que os Sensuais fornecem do Mundo natural as cousas que servem aos interiores da mente no Mundo espiritual. 15) Que há sensuais que fornecem cousas do entendimento e que estas cousas são diversos naturais que são chamados físicos; e que há sensuais que fornecem cousas à vontade e estas coisas são os prazeres dos sentidos e do corpo. 16) Que, se o pensamento não é elevado acima dos sensuais, o homem tem pouca sabedoria; que o homem Sábio pensa acima dos sensuais e que, quando o pensamento é elevado acima dos sensuais, entra em uma luz mais clara, e enfim, na luz do Céu, donde resulta para o homem a percepção do vero, percepção que é propriamente a inteligência. 17) Que a elevação da mente acima dos sensuais e o desprendimento dos sensuais foram conhecidos dos Antigos. 18) Que, se os Sensuais estão em último lugar, por eles é aberto o caminho para o entendimento e os veros são aperfeiçoados pelo modo de extração; mas se os sensuais estão no primeiro lugar; por eles é fechado este caminho e o homem não vê os veros senão como em um nevoeiro ou como de noite. 19) Que os sensuais no homem sábio estão no último lugar e submetidos aos interiores; mas nos homens insensatos, eles estão no primeiro lugar e dominam; são estes que propriamente são chamados homens sensuais. 20) Que há no homem sensuais comuns com as bestas, e que há sensuais não comuns com elas . Que quanto mais alguém pensa acima dos sensuais, tanto mais é homem; mas que ninguém pode pensar acima dos sensuais, nem ver os veros da Igreja, a não ser que reconheça Deus e viva segundo seus preceitos, pois Deus eleva e ilustra." Estes três amores, quando forem regularmente subordinados, aperfeiçoam, o homem; mas quando forem irregularmente subordinados, pervertem e abatem.

&403 - Dir-se-á primeiro alguma coisa sobre a Subordinação destes três Amores Universais, que são o Amor do Céu, o Amor do Mundo e o Amor de si; e em seguida, sobre o influxo e a inserção de um no outro; e enfim, sobre o estado do homem segundo a subordinação. Estes três Amores são, um em relação ao outro, como as três regiões do corpo, de que a suprema, é a Cabeça; a média é o Peito com o Ventre; e a terceira, os Joelhos, os Pés e as Plantas dos pés. Quando o Amor do Céu faz a Ca. beça, o Amor do Mundo o peito e o ventre, e o Amor de si os pés com as plantas dos pés, o homem está em um estado perfeito segundo, a criação, porque então os dois Amores inferiores servem ao Amor supremo, como o Corpo e as partes do corpo servem à Cabeça; quando, portanto, o Amor do Céu faz a Cabeça, este Amor influi no amor do Mundo, que é principalmente o Amor das riquezas e faz, por elas, usos; e medianamente, pelo amor do Mundo influi no Amor de si, que é principalmente o Amor das dignidades e faz, por elas, usos; assim, pelo influxo de um no outro estes três Amores respiram os usos. Quem não compreende que, quando o homem pelo Amor espiritual, que vem do Senhor e é entendido pelo Amor do Céu, quer fazer usos, o homem Natural os faz pelas riquezas e por seus outros bens, e o homem Sensual exercendo sua função e que sua honra consiste em produzi-los? Quem não compreende que tôdas as obras que o homem faz com o corpo são feitas segundo o estado de sua mente na Cabeça e que, se a mente está no Amor dos usos, o Corpo por seus membros os efetua? e isso tem lugar porque a Vontade e o Entendimento nos seus princípios estão na Cabeça e que, em seus principiados, estão no Corpo; e por comparação,

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como o prolífico da semente está em tôdas e em cada uma das partes da árvore pelas quais ela produz os frutos, que são seus usos; e também orno o fogo e a luz em um vaso de cristal, pelos quais este vaso se aquece e brilha; e além disso, a Vista espiritual da Mente unida à Vista natural do Corpo, naqueles em que estes três Amores foram justa e regularmente subordinados, segundo a luz que influi do Senhor pelo Céu, pode ser assemelhada a um Fruto da África que é transparente até ao meio, onde está o invólucro das sementes; alguma coisa de semelhante é entendida por estas palavras do Senhor: "A lâmpada do corpo é o olho, se o olho é simples, isto é, bom, todo o corpo é iluminado" (Mateus VI, 22; Lucas, XI, 34). Nenhum homem gozando de uma razão sã pode condenar as riquezas, pois elas são no Corpo comum como o sangue é no homem; não pode também condenar as honras ligadas às funções, pois são as mãos do Rei e as colunas da Sociedade, desde que os amores naturais e sensuais dos que delas gozam tenham sido subordinados ao amor espiritual; há também administrações no Céu e dignidades a elas são ligadas, mas aqueles que exercem estas funções não amam cousa alguma mais do que fazer usos, porque são espirituais.

&404 - Mas o homem reveste um estado inteiramente diferente, se o Amor do Mundo ou das riquezas faz a Cabeça, isto é, se é o Amor Dominante, pois então o Amor do Céu é expulso da Cabeça e se refugia no Corpo; o homem que está neste estado prefere o Mundo ao Céu; adora a Deus, é verdade, mas pelo Amor puramente natural, que põe o mérito em todo Culto; faz também o bem ao próximo, mas para ser recompensado; para tais homens as cousas, que são do Céu, são como véus nos quais andam resplandecentes aos olhos dos homens, mas tenebrosos aos olhos dos Anjos; pois quando o Amor do Mundo possui o homem Interno e o Amor do Céu o homem Externo, o Amor do Mundo obscurece todas as cousas da Igreja e as esconde como sob um véu. Mas este Amor é de uma grande variedade; e tanto mais mau quanto mais se volta para a avareza; nesta, o Amor, do Céu se torna preto; acontece o mesmo se volta para o fausto e a proeminência sobre os outros pelo amor de si; mas é de uma outra nuance se volta para a prodigalidade; é menos prejudicial se tem por fim as cousas esplêndidas do Mundo, como os Palácios, os Ornamentos, as Roupas suntuosas, os Lacaios, os cavalos e as Equipagens pomposas, além de várias outras coisas semelhantes; a qualidade de cada Amor é determinada pelo fim que tem em vista e para o qual tende. Este Amor pode ser comparado a um Cristal enegrecido, que abafa a luz e a matiza somente com cores sombrias e fracas. E' como um nevoeiro e uma nuvem que interceptam os raios do sol. E' também como o mosto de um vinho não fermentado, que é doce ao gosto, mas que faz mal ao ventre. Um tal homem olhado do Céu, aparece como um homem corcunda, que anda com a cabeça inclinada para a terra e que, quando a eleva para o Céu, torce os músculos e imediatamente recai em sua atitude encurvada. Estes, na Igreja eram chamados Mammons pelos Antigos e Plutões, pelos gregos.

&405 - Mas se o Amor de si ou o Amor de dominar faz a Cabeça, então o Amor do Céu passa pelo Corpo até aos pés; e quanto mais este Amor aumenta, tanto mais o Amor do Céu desce para os calcanhares até às plantas dos pés; e se êle cresce ainda o Amor do Céu passa através dos sapatos e é pisado aos pés. Há o Amor de dominar pelo Amor do próximo e há o Amor de dominar pelo Amor de si; os que estão no Amor de dominar pelo Amor do próximo, ambicionam a dominação em vista do fim, para fazer usos para o Público e para os particulares; a estes é, dada uma Dominação nos Céus. Os Imperadores, os Reis, os Chefes, que nasceram e foram educados para exercer Dominações, se, se humilham diante

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de Deus, estão algumas vezes menos neste, Amor do que os que são de uma linhagem obscura e que ambicionam por orgulho graus eminentes acima dos outros. Mas para os que estão no Amor de dominar pelo, Amor de si, o Amor do Céu é como um escabelo sÔbre o qual apóiam os pés por causa do vulgo e que, entretanto, põem em um canto ou lançam fora, quando não estão em presença do vulgo; isso, porque amam a si sós, e que por conseguinte mergulham as volições e os pensamentos de sua mente no Próprio, que, considerado em, si mesmo, é o mal hereditário, e é diametralmente oposto ao Amor do Céu. Os males nos que estão no Amor de dominar pelo Amor de si, são em geral estes: o Desprezo pelos outros, a Inveja, a Inimizade contra os que não lhes são favoráveis, a Hostilidade que dai resulta, os ódias, as Vinganças, a Desumanidade, a Barbárie, a Crueldade; e lá onde estão tais males, há também Desprezo por Deus e pelos Divinos, que são os veros e os bens da Igreja, se os honram, é unicamente de boca, a fim de não serem difamados pela Ordem Eclesiástica e de serem censurados pelos outros. Entretanto este Amor é um nos Eclesiásticos e outro nos Leigos; nos Eclesiásticos, êste Amor sobe, quando os freios lhe são afrouxados, até ao ponto de quererem ser Deuses; mas nos Leigos êle vai até ao ponto de quererem ser Reis; a fantasia dêste Amor leva seu espírito (animus) até lá. Pois que o Amor do Céu no homem perfeito ocupa a categoria suprema, e faz com que a Cabeça dos outros Amores que seguem, e que o Amor do Mundo, está abaixo e é como o Peito sob a Cabeça e o Amor de si abaixo do Amor do Mundo como estão os pés, segue-se que se o Amor (le si fizesse a Cabeça transtornaria inteiramente o homem; e então, diante dos Anjos, o homem apareceria como estando deitado todo curvado com a cabeça para a terra e o dorso para. o Céu; e quando está no Culto pareceria dar saltos sÔbre as mãos e sÔbre os pés como os filhotes de uma pantera; e além disso,, apareceria sob diversas formas de bestas com duas cabeças, das quais uma em cima teria uma face de besta feroz, e a outra em baixo, tendo uma face humana, seria continuamente empurrada, pela cabeça superior e forçada a se baixar para a terra. Todos esses são homens Sensuais como foram descritos acima.Todo homem no Singular é o Próximo, que deve ser amado segundo a qualidade de seu Bem.

&406 - 0 homem nasceu não para si, mas para os outros, isto é, a fim de que viva não para si só, mas para os outros; de outro modo nenhuma sociedade teria consistência e não haveria nela bem algum. Diz-se vulgarmente que cada um é seu próximo, mas a Doutrina da Caridade ensina como isso deve ser entendido, a saber, que cada um deve prover para si as necessidades da vida; por exemplo, a alimentação, as roupas, o alojamento e várias cousas que, na vida civil em que êle está, são absolutamente necessárias; e isso, não somente para si mesmo, mas também para os seus, e não somente para o tempo presente, mas também para o futuro; pois se alguém não procura as coisas necessárias à vida, não fica em -estado de exercer a caridade, pois está na carência de tudo. Mas como cada uni deve ser o próximo de si mesmo? Pode-se ver por isto que dá no mesmo: Cada uma deve prover a alimentação de seu corpo, isto será o primeiro, mas com o fim de ter uma Mente sã em um Corpo são; e cada um deve prover a alimentação de sua Mente, isto é, às cousas que pertencem à inteligência e ao julgamento, mas com o fira de ficar em estado de servir o concidadão, a sociedade, a pátria, a Igreja e assina ao Senhor; aquele que faz isto proveu a seu próprio bem para a eternidade; por aí vê-se claramente o que está em primeiro lugar pelo tempo e o que é o primeiro pelo fim; e que o primeiro pelo fim é aquilo para que tendem toa s as coisas E também como quando alguém constrói uma Casa; porá primeiro a fundação, mas a fundação será para a casa e a casa para a habitação; aquele que crê que, em

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primeiro lugar ou principalmente, é o seu próprio próximo, é semelhante ao -que constrói a fundação como o fim, e não a habitação; quando, entretanto, a habitação é o próprio fim primeiro e último, a Casa com a fundação não é mais que um meio para o fim.

&407 - Vai ser dito o que é amar o próximo: Amar o próximo, é querer e fazer bem não somente ao parente, ao amigo e ao bom, mas também ao estrangeiro, ao inimigo e ao mau; todavia, a Caridade é exercida em relação a uns e a outros de maneiras diferentes; em relação ao parente e ao amigo, por benefícios diretos, mas em relação ao inimigo e ao mau, por benefícios indiretos, os quais são feitos por meio de exortações, de repreensões e de punições; por conseqüência, emendando-os. Isto pode ser ilustrado assim: Um Juiz que, pela lei e a justiça, pune um malfeitor, ama o próximo, pois assim o emenda e provê para que êle não faça mais mal aos concidadãos todos sabem que um pai que corrige seus filhos, quando praticam o mal, os ama e que, ao contrário, aquele não os corrige, ama os males que eles, fazem; e não se pode dizer que isso seja a Caridade. Além disso, se alguém repele um inimigo que o insulta e que, para sua defesa, o fere ou o entrega ao juiz, para assim afastar dele o perigo, com a intenção, entretanto, de que êle se torne seu amigo, este age por uma veia de caridade. As guerras que se fazem com o fim de defender a Pátria e a Igreja não são também contra a Caridade; o fim pelo qual se age mostra se há Caridade ou não.

&408 - Portanto, uma vez que a Caridade, em sua origem, é bem querer e que o bem querer reside no homem interno, é evidente que quando alguém, que tem caridade, resiste a um inimigo, pune um culpado e castiga os maus, êle o faz por meio do homem Externo; é por isso que, depois de ter cumprido isso, êle volta à caridade que está no homem Interno; e então, tanto quanto pode e é a propósito, êle quer bem ao que foi punido; ,e pelo bem querer, lhe faz bem. Naqueles que estão na caridade real há o Zelo pelo bem e este Zelo no homem Externo pode ser visto como uma cólera e um fogo inflamado, mas deixa de se inflamar e se acalma desde que o adversário se arrepende; é diferente naqueles em que não há Caridade alguma, o seu Zelo é a cólera e o ódio, pois é de cólera e de ódio que o seu homem Interno ferve e se incendeia.

&409 - Antes do Senhor ter vindo ao Mundo, apenas alguns conheciam o que é o homem Interno e o que é a Caridade; eis por que em um tão grande número de passagens o Senhor ensina a Dileção, isto é, a Caridade; e isso faz a diferença entre o Velho Testamento ou Aliança Antiga, e o Novo Testamento ou Aliança Nova. Que cumpre fazer bem pela Caridade ao Adversário e ao Inimigo, o Senhor o ensinou em Mateus: "Ouviste que foi dito aos antigos: Amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo; mas Eu vos digo: Ama! os vossos inimigos, bendizei aqueles que vos maldizem, fazei bem àqueles que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, a fim de que vos torneio filhos de vosso Pai que está nos Céus" (V, 43-45). "E a Pedro, que lhe perguntava quantas vezes devia perdoar ao que pecasse contra êle, se seria até sete vezes, Êle respondeu: Eu te digo não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes" (Mateus XVIII, 21, 22). E apreendi do Céu que o Senhor perdoa a cada um os seus pecados e jamais tira vingança deles, e mesmo não os imputa, porque Êle é o Amor mesmo e o Bem mesmo; mas que, entretanto, por isso os pecados não são apagados, pois só são apagados pela penitência. Pois que o Senhor disse a Pedro que devia perdoar até setenta vezes sete vezes, quantas vezes não deve Ele mesmo perdoar?

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&410 - Como a Caridade mesma reside no homem Interno em quem está o bem querer e, por conseguinte, no homem Externo em quem está o bem fazer, segue-se que o homem Interno deve ser amado e, por conseguinte, o homem Externo; que assim o homem deve ser amado segundo a qualidade do bem, que está nele; é por isso, que o Bem mesmo é essencialmente o Próximo; isto pode ser ilustrado por estes exemplos: Quando alguém entre três ou quatro homens quer escolher um intendente para sua casa ou um empregado, não procura o homem Interno, não encolhe o sincero e o Mel e não o ama? Do mesmo modo, um Rei ou um Magistrado escolhe entre três ou quatro aquele que convêm a uma função e rejeita o que não convém, ainda que seu exterior seja vantajoso e fale em seu favor. Portanto, desde que todo o homem é o próximo e que há entre os homens uma variedade infinita, e desde que cada um deve ser amado como próximo segundo seu bem, é evidente que há gêneros e espécies e também graus de Amor em relação ao próximo. Ora, como o Senhor deve ser amado acima de tôdas as cousas, segue-se que os graús deste amor devem ser medidos segundo o Amor para com o Senhor, assim segundo a quantidade do Senhor ou procedendo do Senhor que um outro possui em si, pois tanto bem possui também, pois que todo bem vem do Senhor. Todavia, como estes graus estão no homem Interno e que este se manifesta raramente no Mundo, é suficiente que o próximo seja amado segundo os graus que se conhece; mas estes graus são claramente percebidos depois da morte, pois então as afeições da vontade e por conseguinte os pensamentos do entendimento fazem em torno dele uma esfera espiritual que é sentida de diferentes maneiras; mas no Mundo esta esfera espiritual é absorvida pelo, corpo material, e se encerra na esfera natural que então emana do homem. Que haja graus de amor em relação ao próximo, vê-se pela Parábola do Senhor sobre o Samaritano que exerceu a misericórdia em relação ao homem ferido pelos salteadores, que um Sacerdote e um Levita viram sem lhe prestar socorro, pois o Senhor perguntou: "Qual dos três te parece ter sido o Próximo? E o doutor da Lei respondeu: Aquele que exerceu a misericórdia" (Lucas X, 30 a 37).

&411 - Lê-se: "Amarás o Senhor teu Deus acima de tôdas as cousas e a teu Próximo como a ti mesmo" (Lucas X, 27); amar o próximo como a si mesmo, é não desprezá-lo comparando-o a si, agir com êle justamente e não fazer dele maus julgamentos, A Lei da Caridade trazida e dada pelo Senhor mesmo, é esta: "tôdas as cousas que quereis que os homens vos façam, do mesmo modo fazei-as a êles, pois isto é a Lei e os Profetas" (Mateus VII, 12; Lucas VI, 31, 32). Assim amam o próximo aqueles que estão no Amor do Céu; mas aqueles que estão no Amor do Mundo amam o próximo pelo Mundo e para o Mundo e aqueles que estão no Amor de si amam o próximo por eles mesmos e para eles mesmos.

&412 O homem no plural, isto é, uma sociedade pequena ou grande, e o homem no composto destas sociedades, isto é, a Pátria, é o próximo que deve ser amado.412 - Aqueles que não sabem o que é o próximo no sentido real, imaginam que não há outro além do homem no singular; e que, lhe fazer o bem, é amar o próximo; mas o próximo e o amor, em relação a êle, se estende bem mais longe, pois se elevam à medida que os homens se tornam mais numerosos; quem não pode compreender que amar vários homens formando um conjunto, é amar mais o próximo do que quando se ama um só homem desse conjunto? Se, portanto, uma sociedade pequena ou grande é o Próximo, é porque ela é o Homem no plural, donde segue-se que o que ama uma Sociedade, ama aqueles, de que a Sociedade se compõe; por conseqüência, aquele que quer o bem e faz o bem a uma Sociedade, quer e faz o bem a cada um de seus membros. Uma Sociedade é

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como um único homem, os que entram nela compõem também um único Corpo e são distinguidos entre si como os membros de um mesmo corpo. Quando o Senhor e os Anjos por Ele, abaixam os olhos para a terra, vêem uma sociedade inteira, não de outra forma, senão como um único homem e vêem sua forma segundo as qualidades daqueles que a compõem; me foi mesmo dado ver uma certa Sociedade no Céu absolutamente como um único homem, de uma estatura semelhante à de um homem no Mundo. Que o Amor em relação ao próximo seja mais pleno em relação a uma Sociedade do que em relação a um homem ou a um indivíduo, isso torna-se evidente no fato das Dignidades serem dispensadas segundo os Governos sobre as sociedades e dos chefes terem honras segundo os usos que fazem; com efeito, há no Mundo Funções superiores e inferiores em sua subordinação segundo o governo mais ou menos universal sobre as Sociedades e é o Rei quem tem o governo mais universal; e para cada um, segundo a importância da função e, ao mesmo tempo, segundo os bens do uso que faz, há uma remuneração, glória e amor comum. Mas os Governadores deste século podem fazer usos e velar pelos interesses da sociedade; e não obstante, não amar o próximo; por exemplo, os que fazem usos e velam pelos interesses da sociedade pelo Mundo e por eles mesmos, a fim de se porem em evidência ou a fim de merecer serem levados às dignidades superiores; mas estes ainda que não sejam discernidos no Mundo, são entretanto discernidos no Céu; por isso, que os que fizeram usos pelo Amor em relação ao próximo, são também postos à testa de uma Sociedade celeste como Governadores e aí estão no esplendor e na honra; mas não é nisso que eles põem seu coração, é nos usos. Quanto aos outros, que fizeram usos pelo Amor do Mundo e pelo Amor de si, são rejeitados.

&413 - 0 Amor em relação ao próximo, exercido em relação ao homem no singular, difere do que é exercido em relação ao homem no plural ou a uma Sociedade, como a função do cidadão difere da do magistrado ou do general; a diferença é também como entre o que negocia com dois Talentos e o que negocia com dez (Mateus XXV, 14 a 31); ou como entre o valor de um ciclo e o de um talento; ou como entre o produto de uma cepa e o de uma vinha ou entre o de uma oliveira e o de um olival; ou entre o de uma árvore e o de um jardim. 0 Amor em relação ao próximo sobe mesmo interiormente de mais em mais no homem; e à medida que sobe, se ama uma Sociedade mais que o homem em particular, e a Pátria mais do que uma Sociedade. Ora, pois que a Caridade consiste em bem querer e por conseguinte em bem agir, segue-se que ela deve ser exercida em relação a uma Sociedade quase da mesma maneira que em relação ao homem no particular; mas, em relação a uma Sociedade de bons de modo diferente do que em relação a uma Sociedade de maus; em relação a esta a Caridade deve ser exercida segundo a eqüidade natural, em relação àquela segundo a eqüidade espiritual; em outra parte se falará de uma e outra eqüidade.

&414 - Se a Pátria é o próximo de preferência a uma Sociedade, é porque ela é composta de um grande número de Sociedades; por conseguinte, o Amor a seu respeito é um Amor muito mais extenso e superior; e além disso, amar a Pátria é amar a salvação pública. A Pátria é o próximo porque é como uma Mãe; pois o cidadão aí nasce, ela o alimentou e o alimenta, ela o protegeu e o protege contra os ultrajes. Deve-se fazer bem à Pátria por Amor segundo suas necessidades, das quais umas são naturais, e outras espirituais; as Naturais concernem à vida e à ordem civis; e as Espirituais à vida e à ordem espirituais. Que a Pátria deve ser amada, não como o homem se ama a si mesmo, mas mais do que êle ama a si mesmo, é uma Lei gravada nos corações humanos; daí esse ditado geralmente conhecido,

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que subscrevem todos os homens justos, que se a Pátria está em perigo iminente, seja por parte do inimigo, seja por outro motivo, é belo morrer por ela, é glorioso para o soldado derramar por ela seu sangue; esse ditado está em uso porque ela deve ser amada até esse ponto. E preciso que se saiba que os que amam a Pátria e lhe fazem bem pelo bem querer, amam depois da morte o Reino do Senhor, pois êste Reino é então a sua Pátria; e os que amam o Reino do Senhor, amam o Senhor, pois o Senhor é tudo em tôdas as cousas de Seu Reino.

&415 A Igreja é o Próximo que deve ser amado em um grau superior, e o Reino do Senhor é o Próximo, que deve ser amado no grau supremo.415 - Como o homem nasceu para a vida eterna e é introduzido nessa vida pela Igreja, esta deve ser amada corno Próximo em um grau superior; com efeito, a Igreja ensina os meios que conduzem à vida eterna e introduz nessa vida; ela aí conduz pelos veros da doutrina e introduz pelos bens da vida. Por isto é entendido, não que o Sacerdócio deve ser amado em um grau superior, e por êle a Igreja, mas que o bem e o vero da Igreja devem ser, amados e que, em razão do bem e do vero, o sacerdócio deve ser honrado pela maneira e segundo a maneira que êle serve. Se a Igreja é o Próximo que deve ser amado em um grau superior acima da Pátria, é também porque o homem é iniciado pela Pátria na vida civil, mas pela Igreja na Vida espiritual; e que a vida espiritual afasta o homem da vida puramente animal; além disso, a vida civil é uma vida temporária, que tem um fim; e é então como se não existisse, enquanto que a vida espiritual, não tendo fim, é eterna; é por isso que o Ser pode ser aplicado, a esta e não àquela; a diferença é como entre o finito e o infinito, entre os quais não há ponto de referência, pois o eterno é o infinito quanto ao tempo.

&416 - Que o Reino do Senhor seja o Próximo que deve ser amado no grau supremo, é porque pelo Reino do Senhor é entendida a Igreja sÔbre todo o Globo, a qual é chamada a comunhão dos santos porque é entendido também o Céu; por isso, aquele que ama o Reino do Senhor, ama no Mundo inteiro todos os que reconhecem o Senhor e têm fé n'Ele e a Caridade em relação ao próximo; e ama também todos os que estão no Céu. Os que amam o Reino do Senhor amam o Senhor acima de tôdas as cousas; por conseqüência, estão mais do que todos os outros no Amor para com Deus, pois a Igreja nos Céus e na Terra é o Corpo do Senhor; estão, com efeito, no Senhor e o Senhor está nêles. 0 Amor, em relação ao Reino do Senhor é, em sua plenitude, o amor em relação ao próximo; com efeito, aqueles que amam o Reino do Senhor, amam não somente o Senhor acima de tôdas as cousas, mas amam também o próximo como a eles mesmos; pois o amor para com o Senhor é o Amor universal e está, por conseqüência, em tôdas e em cada uma das coisas da Vida espiritual e também em tôdas e cada uma das cousas da Vida natural, pois que reside nos supremos do homem; e os supremos influem nos inferiores e os vivificam, como a Vontade em tôdas as cotam da intenção e da ação que dela resulta, e o Entendimento em tôdas as cousas do pensamento e da linguagem que dele provém; eis por que o Senhor disse: "Procurai primeiramente o Reino do Céu e sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mateus VI, 33); que o Reino dos Céus seja o Reino do Senhor, vê-se por estas palavras em" Daniel: "Eis com as nuvens dos Céus como um Filho do Homem que vinha; e lhe foi dada Dominação, Glória e Reino; e todos os Povos, Nações e Línguas 0 servirão; sua Dominação, dominação do século, a qual não passará, e seu Reino (um Reino) que não perecerá" (VII, 13, 14).

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&417 Amar o Próximo, não é, considerado em si, amar a Pessoa, mas é amar o Bem que está na Pessoa.417 - Quem não sabe que o homem é homem, não pela sua face humana e seu corpo humano, mas pela sabedoria de seu Entendimento e a bondade de sua vontade, cuja qualidade, à proporção que se eleva, faz com que se torne cada vez mais homem? Quando nasce, o homem é mais bruto do que um animal, mas torna-se homem pelas instruções que, à medida que não recebidas, formam sua Mente, pela qual e segundo a qual o homem é homem. Há bestas cujas faces têm semelhança com as faces humanas, mas estas bestas não gozam de faculdade alguma de compreender e de fazer alguma cousa pelo entendimento; agem pelo instinto que seu amor natural excita; a diferença é que a besta exprime por um som as afeições do seu amor, enquanto que o homem exprime pela palavra as afeições introduzidas pelo pensamento; há também esta diferença: a besta olha para a terra com a face abaixada, ao passo que o homem olha para o Céu de toda parte com a face direita; por isso, pode-se concluir que o homem é tanto mais homem quanto mais fala por uma razão sã e considera a sua morada no Céu; e que é tanto menos homem, quanto mais fala por uma razão pervertida e considera unicamente sua morada no Mundo; contudo, neste último caso, êle é sempre homem, não em ato, mas em potência, pois cada homem goza da faculdade de compreender os veros e de querer os bens; mas quanto mais não quer fazer os bens nem compreender os veros, tanto mais nos externos pode contra fazer o homem e macaqueá-lo.

&418 - Se o Bem é o Próximo, é porque o Bem pertence à Vontade e a Vontade é o Ser da Vida do homem o Vero do Entendimento é também o próximo, mas tanto quanto este vero procede do bem da vontade, pois o bem da vontade se forma no entendimento, e ai se apresenta à vista na luz da razão. Que o bem seja o próximo, é o que toda experiência prova; quem é que ama uma pessoa, que não seja por causa da qualidade de sua vontade e de seu entendimento, isto é, por causa do bem e do justo que estão nela? Por exemplo: Quem é que ama um Rei, um Príncipe, um Governador, um Pretor, um Cônsul ou uma pessoa revestida de uma Magistratura, ou um Juiz, que não seja por causa do Julgamento pelo qual êles agem e falam? Quem é que ama uma Prelado, um Ministro der Igreja ou uma Cônego, que não ela por causa da erudição, da integridade da vida e do seu zêlo pela salvação das almas? Quem é que ama um Chefe de Exército ou um oficial de categoria menos elevada, que não seja por causa da coragem unida à prudência? Quem é que ama um Negociante, que não seja por causa da sinceridade? um Operário ou um Criado, que não seja por causa da fidelidade? Mais ainda, quem é que ama uma árvore, que não sej a por causa do fruto; uma terra, que não seja por causa da fertilidade; uma pedra, que não seja por causa do seu grande preço? e assim por diante. E, o que é admirável, não somente o homem probo ama o bem e o justo em um outro, mas é também o que ama o mau, porque com um homem bom e justo êle não teme, de modo algum, perder a reputação, a honra e as riquezas; todavia, o amor do bem não é no mau o Amor do próximo, pois o mau não ama interiormente um outro senão enquanto esse outro o serve. Mas amar o bem em um outro pelo bem em si, é o amor real em relação ao próximo, pois então os Bens se beijam mutuamente e se conjuntam.

&419 - 0 homem que ama o bem porque é o bem e o vero porque é o vero, ama eminentemente o próximo; e isso, porque ama o Senhor que é o Bem mesmo e o Vero mesmo; o amor do bem e do vero, por conseqüência, do próximo, não vem de outra parte;

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assim o amor em relação ao próximo é formado segundo uma origem celeste. Quer se diga uso, quer se diga o bem, é a mesma cousa; por isso fazer usos é fazer bens; e quanto mais o uso está em quantidade e em qualidade nos bens, mais os bens são bens em quantidade e em qualidade.

&420 A Caridade e as Boas-Obras são duas coisas distintas como o bem-querer e o bem-fazer.420 - Em cada homem há um Interno e um Externo; seu Interno é o que é chamado homem Interno; e seu Externo é o que é chamado homem Externo; mas aquele que não sabe o que é o homem Interno e o homem Externo, pode crer que o homem Interno é o que pensa e quer; e que o homem externo o que fala e age; é verdade que, falar e agir é do homem Externo e que, pensar e querer é do homem Interno, mas não obstante não é isso que faz essencialmente o homem Externo e o homem Interno, mas a Mente mesma é dividida em dum Regiões; uma, que é superior e interior, é espiritual; a outra, que é inferior e exterior, é natural; a Mente espiritual olha principalmente para o Mundo espiritual e tem por objeto as cousas que ai estão, seja as que estão no Céu, seja as que estão no Inferno, pois o Céu e o Inferno estão no Mundo espiritual; mas a Mente natural olha principalmente para o Mundo natural, e tem por objeto as cousas que aí estão, sejam boas ou más; toda ação e toda linguagem do homem procede da região inferior da mente diretamente, e de sua região superior, indiretamente, porque a região inferior da mente está mais perto dos sentidos do corpo e a região superior está mais afastada; esta divisão da mente existe no homem, porque foi criado para ser espiritual e ao mesmo tempo natural e assim para ser um homem e não uma besta. Por isso, é evidente que o homem que considera o Mundo e a si mesmo em primeiro lugar, é um homem Externo porque é natural não, somente de corpo mas também de mente; e o, homem que considera em primeiro lugar, as cousas que estão no Céu e na Igreja, é um homem Interno porque é espiritual de mente e de corpo; se o é também de corpo, é porque suas ações e suas palavras procedem da Mente superior, que é espiritual, pela Mente inferior que é natural; pois é notório que do corpo procedem os efeitos, da mente as causas que os produzem e a causa, é tudo no efeito. Que a Mente humana tenha sido assim dividida, é o que se vê bem claramente pelo, fato do homem poder agir -como dissimulador, como lisonjeador, como hipócrita e como comediante, e poder aprovar as palavras de um outro e, entretanto, escarnecer delas; escarnece delas pela mente superior e as aprova pela mente inferior.

&421 - Por estas explicações, pode-se ver como é preciso entender que a Caridade e as Boas Obras são distintas como o bem querer e o bem fazer, isto é que, elas são formalmente distintas como a Mente que pensa e quer e o corpo pelo qual a Mente fala e age; e que são essencialmente distintas, porque a mente mesma é distinguida, como foi dito acima, em uma região interior que é espiritual e uma região exterior, que é natural; é por isso que as obras procedem da Mente espiritual, elas procedem do seu bem querer, que é a Caridade; mas se procedem de sua mente natural, procedem do bem querer que não é a Caridade na forma interna; e a Caridade na forma externa só, apresenta, é verdade, a aparência da Caridade, mas não possuí a essência da Caridade. Isso pode ser ilustrado com uma comparação com as sementes na terra; de cada semente nasce um rebento, seja útil seja inútil, segundo a qualidade da semente; semelhantemente, a semente espiritual, que é o vero da Igreja. segundo a Palavra; desta semente é formada uma Doutrina, útil se é de veros reais, inútil se

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é de veros falsificados; dá-se o mesmo com a Caridade segundo o bem-querer; ou o bem-querer é para si mesmo e para o Mundo ou é para o próximo em um sentida estrito ou em um sentido largo; se é para si mesmo e para o Mundo, é a Caridade bastarda; se é para o próximo, é a Caridade real. Mas pode-se ver maiores detalhes sobre este assunto no Capítulo sobre a Fé, e especialmente no Artigo onde foi mostrado que a Caridade é o bem querer e que as Boas obras são o bem-fazer, n. 374. E que a Caridade e a Fé não são coisas mentais e caducas, se, quando isso é possível, elas são determinadas em Obras e aí coexistem, ns. 375, 376.

&422 A Caridade mesma é agir com justiça e fidelidade no cargo, no trabalho e na obra, que se tem a exercer, e com aqueles com quem temos qualquer comércio.422 - Se a Caridade mesma é agir com justiça e fidelidade no cargo, no trabalho e na obra que se tem a exercer, é porque tôdas as cousas que o homem faz assim são usos para a Sociedade e que o uso é o bem, no sentido em que faz abstração de pessoas, é o próximo; que não somente o homem tomado individualmente, mas também uma sociedade de homem e a Pátria mesma, sejam o próximo, é o que foi mostrado acima. Assim, por exemplo, um Rei que toma a dianteira sobre seus súditos quer que estes vivam segundo as leis da justiça, recompensa os que vivem assim, considera a cada um segundo o mérito, protege-os contra os inimigos e as invasões, age como Pai do Reino e vela pela prosperidade comum de seu povo; em seu coração há a Caridade, e suas ações são boas obras. Um Sacerdote que ensina, os veros segundo a Palavra e que conduz por eles aos bens da Vida, e assim ao Céu, exerce eminentemente a Caridade, porque vela sobre as almas dos homens de sua Igreja. Um Juiz que decide segundo a justiça e a lei, e não pelos presentes, a amizade e a parentela, provê ao bem-estar da Sociedade e do homem tomado individualmente; da sociedade porque por isso a sociedade é mantida na obediência à lei e no temor da transgressão; do homem, tomado individualmente, porque a justiça triunfa sobre a injustiça. Um negociante, se age com sinceridade e não pela fraude, provê ao bem-estar do próximo com quem tem negócio; semelhantemente, a operário e o artesão, se fazem suas abras com retidão e sinceridade e não com fraude e trapaça; dá-se o mesmo com todos os outros, por exemplo, capitães de navio e marinheiros, colonos e criados.

&423 - Que seja isso a Caridade mesma é porque a Caridade pode ser definida assim: Fazer o bem ao próximo cada dia e continuamente, não somente ao próximo no singular, mas também ao próximo no plural; e isso não pode ser feito senão pelo bem e o justo no cargo, no trabalho e na obra que se tem a exercer e com aqueles com quem se tem qualquer comércio, pois se faz isso cada dia; e quando não se faz, tem-se, entretanto, continuamente na mente e se pensa nisso e o tem na Intenção. 0 homem que exerce assim a Caridade toma-se cada vez mais a Caridade na forma; pois a justiça e a fidelidade formam-lhe a mente e os !exercícios, o corpo; e sucessivamente, segundo sua forma, êle não quer e não pensa senão cousas que pertencem à Caridade. Os que agem assim, tornam-se como aqueles de que se diz na Palavra, que têm a Lei gravada em seus corações. Estes não põem também o mérito nas obras porque não pensam no que fazem senão como em uma dívida, de que convém ao cidadão se quitar. Todavia, o homem absolutamente não pode por si mesmo agir pela justiça e a fidelidade espirituais; pois pelo hereditário todo homem herda de seus pais a tendência para fazer o bem e o justo para si mesmo e para o Mundo, e de modo algum para

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o bem e para o justo; portanto, é só aquele que adora o Senhor e age pelo Senhor agindo por si mesmo, que adquire a Caridade espiritual e que se embebe dela, pelos exercícios.

&424 - Há muitos que, em sua função, agem com justiça e fidelidade; e que, embora façam assim obras da Caridade, não possuem em si caridade alguma; mas estes são aqueles em quem predomina o amor de si e do Mundo e não o amor do Céu; e se por acaso, este último amor está neles, está sob o outro como um escravo sob seu senhor, como um soldado sob seu oficial e como um porteiro que permanece à porta.

&425 Os benefícios da Caridade consistem em dar aos pobres e em socorrer os indigentes, mas com prudência.425 - É preciso distinguir entre os ofícios da Caridade e os benefícios da Caridade; pelos oficiais da Caridade são entendidos os exercícios da caridade, que procedem imediatamente da Caridade mesmo, os quais, como acaba de ser mostrado, pertencem, em primeiro lugar, à função em que cada um está; mas pelos Benefícios da Caridade, não entendidas estas assistências que são feitas por fora. São chamadas benefícios porque faze-las está na liberdade e no bel-prazer do homem; e que, quando são feitas, são consideradas só como Benefícios par aquele que as recebe; e estes benefícios são dispensados segundo os motivos e as intenções que o benfeitor excita em seu espírito. Crê-se, comumente, que a Caridade consiste só em dar aos pobres, em socorrer os indigentes, em cuidar das viúvas e dos órfãos, em contribuir para a construção de hospitais, de enfermarias, de hospícios, de casas para os órfãos, sobretudo de Templos e em prover a sua ornamentação e a sua receita; ora, várias destas cousas não pertencem à Caridade, mas lhe são estranhas. Os que põem a Caridade mesma nestes Benefícios não podem fazer outra coisa senão pôr o mérito nestas Obras; e quando mesmo confessassem de boca que não querem que elas sejam méritos, sempre acontecerá que por dentro se esconde a fé do mérito; isto é claramente manifestado por eles depois da morte; então, enumeram suas obras e pedem a salvação como recompensa; mas então é investigado de que origem elas são e qual é a sua qualidade; e se descobre que procedem do fasto ou da procura de recompensa ou de uma simples munificência ou da amizade ou de uma inclinação puramente natural, ou da hipocrisia, são então julgadas segundo sua origem, pois a qualidade da origem está nas obras; mas a Caridade real procede daqueles que se compenetraram pela justiça e o julgamento nas obras feitas sem mira de recompensa, segundo as palavras do Senhor (Lucas XIV, 12, 14); êstes também chamam Benefícios; e igualmente dívidas, as cousas de que se acaba de falar, ainda que pertençam à Caridade mesma.

&426 - É notório que alguns dos que fizeram estes Benefícios que, diante do Mundo, se apresentam como imagens da Caridade, imaginam e crêem que exerceram as obras da Caridade e as consideram, como muitos no catolicismo-romano consideram as indulgências, crendo que, por causa desses benefícios, foram purificados de seus pecados e que o Céu lhes deve ser concedido como sendo regenerados; entretanto, não consideram como pecados os adultérios, os ódios, as vinganças, as fraudes, nem as cobiças da carne, às quais se entregam à vontade; mas então o que são estas boas obras, senão quadros representando Anjos grupados com diabos ou caixas de pedra lazuli nas quais estão serpentes? E' completamente diferente se estes benefícios são feitos por aqueles que fogem dos males acima enumerados como odiosos à Caridade. Todavia, estes Benefícios, particularmente dar aos pobres e aos mendigos, têm numerosas vantagens, pois por eles os

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rapazes e as moças são iniciados na Caridade, e os criados dos dois sexos, e em geral, todos os simples, pois que são os externos, pelos quais se compenetram dos deveres da Caridade, pois são os seus primeiros elementos e são então como frutos verdes; mas naqueles que mais tarde são aperfeiçoados por justos conhecimentos sobre a Caridade e sobre a Fé, tornam-se como frutos maduros; e então consideram as obras precedentes, feitas na simplicidade do coração, não de outra forma senão como dívidas.

&427 - Se crê hoje que estes Benefícios são os próprios fatos da Caridade, que na Palavra são entendidos pelas boas obras, é porque a Caridade é muitas vezes descrita na Palavra por dar aos pobres, socorrer aos indigentes, proteger as viúvas e os órfãos; mas até ao presente se ignorou que a Palavra na letra menciona unicamente as coisas que são os externos e mesmo os externos do culto, e que por elas são entendidos os espirituais que são os internos; sobre este assunto, ver acima no Capítulo sobre a Escritura Santa os ns. 172 a 209, segundo os quais é evidente que pelos pobres, os indigentes, as viúvas, os órfãos, não são eles, que são entendidos, mas os que são tais espiritualmente; que pelos pobres sejam entendidos aqueles que não estão nos conhecimentos do vero e do bem, vê-se no "Apocalipse Revelado", n. 209; e pelas viúvas, os que estão sem veros e que, todavia, desejam os veros, vê-se no n. 764, e assim por diante.

&428 - Os que, de nascença, são misericordiosos e não tornam espirituais suas misericórdias naturais, fazendo-as pela Caridade real, crêem que a Caridade consiste em dar a cada pobre e em socorrer cada indigente e não. se informam antes se este pobre ou este indigente é bom ou mau, pois dizem que isto não é necessário, porque Deus considera unicamente o socorro e a esmola. Mas estes depois da morte são cuidadosamente discernidos e separados dos que exerceram os benefícios da Caridade com prudência, pois os que os exerceram por esta idéia cega da Caridade fazem o bem igualmente aos maus como aos bons; por este socorro aos maus, fazem o mal e por este mal, prejudicam os bons; por isto, estes benfeitores são também a causa de prejuízos feitos aos bons; pois fazer bem a um mau, é por assim dizer dar ao diabo um pão que êle muda em veneno, pois todo pão na mão do diabo é veneno, e se não o é, êle o muda em veneno, o que êle faz, atraindo ao mal pelos benefícios; é também por assim dizer, dar ao inimigo de um homem uma espada com a qual êle o assassina; ou dar a um homem-lobo um cajado de pastor, para que êle conduza as ovelhas à pastagem; entretanto, depois de ter agarrado o cajado, expulsa as ovelhas das pastagens para os desertos e aí as degola; é ainda, por assim dizer, revestir em uma alta magistratura um ladrão, que tem em vista e espreita só a presa, segundo o tamanho e a abundância da qual dispensa os direitos e faz os julgamentos.Há as Dívidas da Caridade, umas públicas, outras domésticas, e outras, privadas.

&429 - Os Benefícios da Caridade e as Dívidas da Caridade são cousas distintas entre si, como as que são feitas por livre arbítrio e as que são feitas por necessidade; mas, por Dividas da Caridade, não se entende aqui as Dívidas de funções em um Reino e em uma República, como as de um ministro de governar, de um juiz de julgar, etc.; mas entende-se as Dívidas (ou deveres) de cada um em qualquer função em que esteja, também são elas de uma outra origem e profluem de uma outra vontade; por isso mesmo, são pagas segundo a Caridade por aqueles que estão na Caridade e vice-versa, sem Caridade alguma por aqueles que não estão em Caridade alguma.

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&430 - As Dívidas Públicas da Caridade são principalmente os Tributos e os Impostos, que não devem ser confundidos com as dívidas de funções; os que são espirituais as pagam com um coração diferente do daqueles que são puramente naturais; os Espirituais as pagam pelo bem querer porque são Coletas para a conservação da Pátria, para sua defesa e para a da Igreja e para a administração por oficiais e por funcionários cujo soldo e ordenados devem ser tirados do Tesouro Público; aqueles, portanto, para quem a Pátria e também a Igreja são o Próximo, as pagam com uma vontade espontânea e protetora e consideram, como uma iniqüidade, enganar e fraudar; mas aqueles para quem a Pátria e a Igreja não são, o próximo as pagam de má vontade e com repugnância, e tôdas as vezes que a ocasião se apresenta fraudam e enganam, pois para estes a sua Casa e a sua Carne são o Próximo.

&431 - As Dívidas domésticas da Caridade são as do marido, em relação à esposa, e da esposa, em relação ao marido; do pai e da mãe, em relação aos filhos e dos filhos, em relação ao pai e à mãe; do patrão e da patroa, em relação aos criados dos dois sexos e destes, em relação ao patrão e à patroa; estas Dividas, porque concernem à educação e à administração da casa, são tão numerosas que seria preciso um volume para enumerá-las. Cada homem é levado a pagar estas dívidas por um outro amor diferente daquele que o leva a pagar as dívidas de sua função; a dívida do Marido, em relação à Esposa, e a da Esposa, em relação ao Marido, é paga pelo Amor Conjugal e segundo este Amor; a do Pai e da Mãe, em relação aos filhos, por um amor incutido em cada um, amor que é chamado Storge; a do Filho, em relação aos Pais, por um outro amor, que se conjunta estreitamente com a obediência proveniente da dívida. As dívidas do patrão e da patroa em relação aos criados dos dois sexos, resulta do anuir de comandar; e este amor é segundo o estado da mente de cada um. Todavia, o Amor conjugal e o amor em relação aos filhos, com suas dívidas e os exercícios destas dividas, não produzem o amor em relação ao próximo, como os exercícios das dívidas nas funções; pois o Amor chamado Storge existe igualmente nos maus como nos bons e é, às vezes, mais forte nos maus; existe também nas bestas e nos pássaros, nos quais caridade alguma pode ser formada; que êle existe nos ursos, nos tigres e nas serpentes, do mesmo modo que nas ovelhas e nas cabras e nas corujas, do mesmo modo que nas pombas, Isso é notório. Quanto ao que concerne especialmente às Dividas dos pais em relação aos filhos, estas dívidas, interiormente, são diferentes ruis que estão na Caridade e nos que não estão na Caridade; mas exteriormente parecem semelhantes; nos que estão na Caridade, este amor é conjunto com o amor em relação ao próximo e com o amor para com Deus, pois amam seus filhos segundo seus costumes, suas virtudes, seus estudos e seus talentos em servir ao público; mas nos que não estão na caridade, não há conjunção da Caridade com o amor chamado Storge; por isso, muitos dentre eles amam seus Filhos, mesmo quando são maus, imorais, astuciosos, mais do que os que são bons, morais e prudentes, assim aos que são inúteis ao público mais do que os que são úteis.

&432 - As Dívidas Privadas, da Caridade são também em grande número. Por exemplo, pagar aos operários os seus salários, saldar os juros dos empréstimos, executar as convenções, ter cuidado com os penhores e outras cousas semelhantes, das quais, umas são dívidas pela Lei comercial, outras pela Lei civil e outras pela Lei moral. Estas dívidas também são pagas por aqueles que estão na Caridade com um outro espírito diferente do daqueles que não estão na Caridade; por aqueles que estão na Caridade, elas são pagas com

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justiça e fidelidade, pois o preceito doa Caridade é que cada um aja com justiça e fidelidade em relação a todos aqueles com quem tem qualquer negócio e qualquer comércio;

&434 - Quanto às Reuniões, elas tinham lugar na Primitiva igreja entre os que se chamavam Irmãos em Christo; eram, por conseqüência, Reuniões de Caridade, pois que havia Fraternidade espiritual; eram também consolações nas adversidades da Igreja, regozijos nos seus progressos e também recreações depois dos estudos e dos trabalhos; e, ao mesmo tempo, conversações sobre diversas cousas; e como decorriam do amor espiritual como de uma fonte, eram racionais e morais de uma origem espiritual. Há hoje reuniões de amizade que têm por fim os prazeres da conversação, a alegria da mente (mens) pelos encantos dos entretenimentos, donde resulta a expansão da mente (animus), a liberação de pensamentos guardados, e assim o reavivamento dos sensuais do corpo e a renovação do. seu estado; mas não há ainda reuniões de Caridade, pois o Senhor diz: "Na consumação do século (isto é, no fim da Igreja), a iniqüidade será multiplicada e a Caridade esfriará" (Mateus XXIV, 12); isto provém da Igreja não ter ainda reconhecido o Senhor Deus Salvador como o Deus do Céu e da Terra e de não se dirigirem a Èle imediatamente, de Quem unicamente procede e influi a Caridade real. Ora, as Reuniões, onde a amizade imitando a Caridade não conjunta os espíritos (animi), não são mais do que simulacros de amizade e testemunhos enganosos do amor mútuo, insinuações artificiosas para ganhar o favor e condescendências para os prazeres do corpo, sobretudo para os sensuais, pelos quais os outros são arrastados como o são os Navios pelas velas e as vagas propicias, enquanto que na popa Sicofantas e Hipócritas estão de pé, os quais mantêm em mão o timão do leme.

&435 A primeira coisa da caridade é afastar os males; e a segunda fazer os bens que são úteis ao próximo. 435 - 0 que está em primeiro lugar na Doutrina da Caridade, é que a primeira cousa da Caridade é não fazer mal ao próximo; e a segunda fazer-lhe o bem; este ponto dogmático é como que a porta desta doutrina. Sabe-se que o mal tem sua sede na vontade de cada homem desde o nascimento; e como todo mal diz respeito ao homem tanto perto dele como a distância dele, e também à Sociedade e à Pátria, segue-se que o mal hereditário é o mal contra o próximo em cada grau. 0 homem pela própria razão, pode ver que quanto mais o mal que tem sua sede na Vontade não é afastado, tanto mais o bem que êle faz é impregnado desse mal; pois então o mal está interiormente no bem, como a noz na casca e como a medula no osso; assim, embora o bem que é feito por um tal homem se apresente como um bem, contudo, acontece que interiormente não é um bem, pois é como uma casca brilhante que encerra uma noz roída pelos vermes e como uma amêndoa branca dentro da qual há uma podridão, cujos veios se estendem até à superfície. Querer o mal e fazer o bem são em si mesmo dois opostos, pois o mal pertence ao ódio contra o próximo; e o bem pertence ao amor em relação ao próximo ou o mal é o inimigo do próximo e o bem é o amigo do próximo, estes dois não podem estar em uma única mente, isto é, o mal no homem Interno e o bem no homem E&terno; se isso acontece, o bem está no homem Externo como uma chaga que um paliativo curou e cujo interior está cheio de sânie corrompida. 0 homem é então uma Arvore cuja raiz está gasta pela velhice e que, entretanto, produz frutos, os quais no exterior parecem saborosos e de bom uso, mas estão no interior estragados e não têm utilidade alguma; tais homens são também como escórias rejeitadas que, exteriormente polidas e bem coloridas, são gabadas como pedras preciosas; em uma palavra, são como ovos de coruja, que se acredita serem ovos de pombas. Saiba-se

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que o bem que o homem faz com o corpo procede de seu espírito ou do homem interno; o homem interno é o seu espírito que vive depois da morte; quando, portanto, o homem rejeita o corpo que constitui seu homem Externo, está então inteiramente nos males, acha neles o seu prazer e tem em aversão o bem como contrário à sua vida. Que o homem não possa fazer o bem, que em si seja o bem, antes que o mal tenha sido afastado, o Senhor o ensina em muitos lugares: "Não se pode colher dos espinheiros, uvas ou dos cardos, figos; uma árvore apodrecida não pode dar bons frutos" (Mateus VII, 16-18). "Ai de vós, Escribas e Fariseus! Limpais o exterior do copo e do prato, mas os interiores estão cheios de rapina e de intemperança. Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo e do prato, a fim de que o exterior também se torne limpo" (Mateus XXIII, 25, 26). E em Isaías: "Lavai-vos, afastai a malícia de vossas obras, cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, procurai o julgamento; então quando mesmo sejam os vossos pecados como a escarlata, como a neve se tornarão brancos; quando mesmo sejam vermelhos como a púrpura, como a lã serão" (I, 16-18).

&436 - Isto pode, além disso, ser ilustrado por estas comparações: Um homem não pode ir ver outro que guarda em seu quarto um leopardo e uma pantera, com os quais habita sem medo porque lhes dá de comer, a não ser que este tenha afastado estas bestas ferozes. Qual é o homem que, convidado para a mesa de um Rei e de uma Rainha, não lava primeiro seu rosto e suas mãos antes de comparecer? Qual é aquele que não purifica pelo fogo os minerais e não separa deles a escória, antes de obter o ouro e a prata puros? Quem é que não separa de seu trigo o joio, antes de o por no celeiro? Quem é que não espuma a carne crua posta na panela, antes que se torne comível e que seja levada à mesa, Quem é que não sacode em seu jardim os insetos de cima das árvores, a fim de que suas fôlhas não sejam devoradas e que assim o fruto não pereça? Quem é que ama e procura para casar uma jovem que sabe infectada de moléstias malignas ou coberta de pústulas e de varizes, ainda que disfarce sua face, que esteja ricamente vestida e se aplique às seduções do amor por doces palavras? Que o homem mesmo deva se purificar dos males e não esperar que o Senhor o purifique imediatamente, isso é evidente; de outro modo, seria como um servidor que, aproximando-se de seu patrão, com a face e as roupas cobertas de fuligem e de lama, lhe dissesse: "Senhor, lava-me". Seu patrão nã lhe diria: "Servidor estúpido, que dizes? Eis aqui água, sabão e toalha; não tens mãos e forças para te servir? Lava-te a ti mesmo". E o Senhor dirá: "Os meios de purificação vêm de Mim, o teu querer e o teu poder vêm também de Mim, serve-te, portanto, dos meus dons e dos meus presentes como cousas tuas e serás purificado".

&437 - Crê-se hoje que a Caridade consiste unicamente em fazer o bem, que assim a primeira cousa da caridade é fazer o bem e a segunda não fazer o mal; mas é inteiramente o inverso; a primeira coisa da caridade é afastar o mal; e a segunda é fazer o bem, pois a Lei universal no Mundo espiritual, por conseguinte, também no Mundo natural, é que, tanto alguém não quer o mal, tanto quer o bem, assim tanto se afasta do inferno de onde sobe todo mal, tanto se volta para o Céu de onde vem todo bem por conseqüência, também, tanto alguém rejeita o Diabo, tanto é aceito pelo Senhor; ninguém pode se manter entre um e outro com um pescoço flexível, e orando, ao mesmo tempo, a um e pescoço a outro; pois são estes de quem o Senhor disse: "Conheço tuas obras, que nem frio és, nem quente; mais valeria que frio fosses ou quente; mas porque és morno, e nem frio nem quente, eu te vomitarei de minha boca" (Apoc. 3, 15, 16). Quem é que pode, entre dois exércitos,

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combater com uma tropa de atiradores e apoiar um e outro? Quem é que pode estar no mal contra o próximo e, ao mesmo tempo, no bem para com êle? Será que então o mal não se esconde no bem? Ainda que o mal que se esconde não se mostre nas ações, sempre acontece que se manifesta em muitas circunstâncias, quando se presta atenção; o Senhor disse: "Nenhum servidor pode servir a dois senhores; não podeis servir a Deus e a Mammom" (Lucas XVI, 13).

&438 - Quanto a se purificar dos males, ninguém o pode por seu próprio poder, nem pelas suas próprias forças não obstante, isto não pode ser feito sem um poder e sem forças que sejam como próprias do homem. Sem este poder e sem estas forças, ninguém poderia combater contra a carne e suas cobiças, o que, entretanto, foi ordenado a cada um; bem mais, o homem não pensaria de modo algum em combatê-las, assim se entregaria em intenção aos males de todo gênero e não seria contido em pó-las em ação senão pelas leis de justiça existentes no Mundo e pelas penas que elas infringem; e desta maneira seria interiormente como um tigre, um leopardo e uma serpente, que não refletem em cousa alguma sobre os cruéis prazeres de seus amores. Por isto, é evidente que o homem, porque em comparação com as bestas ferozes é racional, deve resistir aos males pelo poder e as forças que o Senhor lhe deu, as quais lhe aparecem em cada sentido como próprias; e esta aparência é dada a cada homem pelo Senhor para a Regeneração, a Imputação, a Conjunção e a Salvação.

&439 O homem, nos exrercícios da Caridade não põe o mérito nas obras, quando crê que todo bem vem do Senhor.439 - Por o mérito nas obras, que são feitas em vista da salvação, é pernicioso; pois nisto se escondem males de que aquele que age assim não suspeita absolutamente; esconde-se ai a negação do influxo e da operação de Deus no homem; a confiança no próprio poder nas cousas da salvação; a fé em si e não em Deus; a justificação de si a salvação pelas próprias forças a aniquilação da graça e da misericórdia Divinas; a rejeição da reforma e da regeneração pelos meios Divinos; especialmente a abolição do mérito e da justiça do Senhor Deus Salvador que se atribui a si mesmo; além disso, a contínua intuição da recompensa que se considera como o primeiro e o último; a subversão to a extinção do amor para com Deus e do amor em relação ao próximo; a completa ignorância e a não-perceptibilidade do prazer do amor celeste, que é sem mérito; e a sensação só do amor de si; pois os que põem a recompensa em primeiro, lugar e a salvação em segundo, assim a salvação como recompensa, invertem a ordem, mergulham em seu próprio os desejos interiores de sua mente e os corrompem no corpo pelos males de sua carne; daí vem que o bem do mérito aparece diante dos anjos como a ferrugem; e o bem do não-mérito como a púrpura. Que o bem não deve ser feito tendo em vista a recompensa, o Senhor o ensina em Lucas: "Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, que galardão tereis? Amai antes os vossos inimigos, fazei bem, empresta! sem nada esperar, então vossa recompensa será abundante e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é benigno para com os ingratos e os maus" (VI, 33 a 36). Que o homem não possa senão pelo Senhor fazer o bem, que em si é o bem, vê-se em João: "Permanecei em Mim e Eu em vós; como o sarmento não pode dar fruto por si mesmo se não permanece na cepa, do mesmo modo, vós tão pouco, se não permaneceis em Mim, pois sem Mim nada podeis fazer" (XV, 4, 5). E em outro lugar: "Um. homem nada pode tomar, a não ser que lhe seja dado do Céu" (111, 27).

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&440 - Mas pensar que se vai para o Céu e que, para isso, é preciso fazer o bem, não é considerar a recompensa como fim, nem pôr o mérito nas obras, pois é isso que pensam também os que amam o próximo como si eles mesmos e a Deus acima de tôdas as coisas, porque pensam assim pela fé nas palavras do Senhor: "Que a sua recompensa será dada nos Céus" (Mateus V, 11, 12; VI, 1; X, 41, 42; Lucas VI, 23, 35; XIV, 12, 13, 14; João IV, 36). "Que os que fizeram o bem possuirão como herança o Reino preparado desde a fundação do Mundo" (Mateus XXV, 34). "Que será dado a cada um segundo suas obras" (Mateus XVI, 27; João V, 29; Apoc. 14.10, 13; 20, 12, 13; Jeremias XXV, 14; XXXII, 19; Hoséas IV, 9; Zacarias I, 6); e em outros lugares. Estes não estão na confiança da recompensa pelo mérito, mas estão na fé da promessa pela graça; neles, o prazer de fazer o bem ao próximo é a recompensa; é este o prazer para os Anjos do Céu e é o prazer espiritual que é eterno e ultrapassa imensamente todo prazer natural; os que estão neste prazer não querem ouvir falar do mérito, pois gostam de fazer e nisso percebem a felicidade; e entristecem, se acredita que agem por uma retribuição; são como os que fazem bem aos amigos por causa da amizade, a um irmão por causa da fraternidade, a esposa e aos filhos, porque é sua esposa e porque são seus filhos, à Pátria porque é a Pátria, assim por amizade e amor; esses que fazem o bem, dizem também e percebem que não é para eles, mas para aqueles aos quais o fazem.

&441 - Bem diferentes são os que consideram a recompensa nas obras como o fim mesmo; êstes se parecem com os que fazem amizade para tirar proveito, que também fazem presentes, prestam serviços, testemunham amor como se proviesse do coração e que, quando obtêm o que desejavam, se afastam, renunciam à amizade, se juntam aos inimigos daqueles que fingiam amar e aos que o odeiam. Parecem-se também com as Amas que aleitam crianças somente por um salário e que, em presença dos pais, as abraçam e acariciam, mas que desde que não sejam alimentadas esmeradamente e não sejam recompensadas segundo seus caprichos, rejeitam as crianças, tratam-nas duramente e batem nelas, rindo-se de seu choro. São ainda como os que consideram a Pátria pelo amor deles mesmos e do mundo e dizem querer sacrificar por ela seus bens e sua vida; e que, entretanto, se não obtêm as honras e as riquezas como recompensa, falam dela de uma maneira indigna e se juntam a seus inimigos. São também como Pastores que apascentam as ovelhas somente por um salário e que, se não o recebem em tempo, repelem com seus cajados as ovelhas da pastagem para um lugar árido. Semelhantes a eles, são os sacerdotes que desempenham os deveres de seu ministério somente pelos rendimentos que a eles são ligados; que êstes consideram como nada a salvação das almas que estão a seu cargo dirigir, é evidente. Dá-se o mesmo com os Magistrados que não consideram senão a dignidade de sua função e os rendimentos que ela produz; quando êstes fazem o bem, não é pelo bem público, mas é pelo prazer do amor deles mesmos e do mundo, que eles aspiram como o único bem; dá-se o mesmo com todo o resto; pois o fim pelo qual se age é o ponto essencial; e as causas médias que pertencem à função são abandonadas se não forçam para o fim. E a mesma coisa para aqueles que exigem uma recompensa pelo mérito das cousas da salvação; após a morte, exigem o Céu com muita segurança; mas é descoberto que nada possuem do amor para com Deus, nem coisa alguma do amor em relação ao próximo, são enviados aos que os devem instruir sobre a Caridade e sobre a Fé; e se rejeitam os doutrinais, são relegados para os seus semelhantes, entre os quais há os que se irritam contra Deus por não obterem recompensas e que chamam a Fé um ente de razão. São eles

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que na Palavra são entendidos pelos Mercenários, aos quais tinham sido dados os empregos mais vis no átrio do Templo; aparecem de longe como rachando lenha.

&442 - E' preciso que se saiba bem que a Caridade e a Fé no Senhor foram estreitamente conjuntas; daí tal é a Fé, tal é a Caridade. "Que o Senhor, a Caridade e a Fé façam um, como a vida, a vontade e o entendimento; e que, se são divididos, cada um se perde como uma pérola reduzida a pó", vê-se acima, número 362 e segs. E "que a Caridade e a Fé estejam juntas nas boas obras", vê-se acima, ns. 373 a 377; segue-se dai que tal é a Fé, tal é a Caridade; e que tais são, em conjunto, a Fé e a Caridade, tais são as Obras. Se, portanto, a Fé é que, todo bem que o homem faz como por si mesmo vem do Senhor, o homem então é a causa instrumental do bem e o Senhor é a causa principal, causas que aparecem as duas diante do homem como sendo uma, quando, entretanto, a causa principal é tudo em todas as cousas da causa instrumental; daí, resulta que se o homem crê que todo bem, que em si é o bem, vem do Senhor, êle não põe o mérito nas obras; e no mesmo grau em que esta fé é aperfeiçoada no homem, a fantasia concernente ao mérito lhe é tirada pelo Senhor. 0 homem neste estado faz em abundância exercícios da Caridade sem o mêdo do mérito, percebe o prazer espiritual da Caridade e começa então a ter em aversão o mérito como prejudicial à sua vida. 0 mérito é facilmente apagado pelo Senhor nos que se imbebem. da Caridade por agirem com justiça e fidelidade na obra, no trabalho e no emprego que têm de exercer, e com aqueles com quem têm algum comércio, ver acima, ns. 422 a 424. Mas o mérito é dificilmente tirado daqueles que crêem que a Caridade se adquire pelas esmolas e pelos socorros aos indigentes, pois quando fazem estas obras, querem em sua m ente, a princípio, abertamente e, em seguida, tácita uma recompensa, e se atribuem o mérito.

&443 A vida moral, quando é ao mesmo tempo espiritual, é a Caridade.443 - Todo homem aprende com seus pais e com seus mestres a viver moralmente, isto é, a agir como pessoa civil e a desempenhar os deveres da honestidade, os quais se referem a diversas virtudes que são os essenciais da honestidade e a pô-las em evidência pelos formais da honestidade que se chamam coisas decentes; e, à medida que avançam em idade, a acrescentar os racionais e a aperfeiçoar, por eles, as coisas morais da vida; pois a vida moral nas crianças até à primeira adolescência é uma vida natural, que, em seguida, se torna cada vez mais racional. 0 que reflete bem pode ver que a vida moral é a mesma que a Vida da Caridade, que, assim como resulta do que foi mostrado acima, ns. 435 a 438, consiste em bem agir -com o próximo e em ser regulada de tal sorte que não seja maculada pelos males. Mas, entretanto, no primeiro período da idade, a Vida moral é a Vida da Caridade nos extremos, isto é, que está unicamente na parte exterior e anterior e não na parte interior. Há, com efeito, quatro Períodos da vida, que o homem percorre desde a infância até à velhice: o Primeira é aquele no qual êle age pelos outros segundo as instruções; o Segundo, aquele no qual age por si mesmo sob a direção do entendimento; o Terceiro, aquele no qual a vontade age sÔbre o entendimento e o Entendimento modifica a Vontade; o Quarto, aquele em que age pelo que foi confirmado e por aquilo que foi resolvido. Mas estes períodos da vida, são os períodos da vida do Espírito do homem e não os da vida do seu corpo; pois seu corpo pode agir moralmente, falar racionalmente, e seu Espírito pode, não obstante, querer e pensar o contrário; que tal seja o homem natural, vê-se claramente pelos velhacos, os lisonjeadores, os mentirosos e os hipócritas; é evidente que êstes se comprazem em uma mente dupla ou que sua mente foi dividida em duas partes discordantes. É diferente naqueles que querem bem e pensam racionalmente; por

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conseguinte, agem bem e falam racionalmente; êstes são os que na Palavra, são entendidos pelos "simples de espírito"; são chamados simples porque não são duplos. Por estas explicações, pode se ver o que é propriamente entendido pelo homem Externo e o homem Interno; e que ninguém pode, pela Moralidade do homem Externo, concluir a Moralidade do homem Interno, pois que este pode estar em um sentido contrário e se fechar como a tartaruga encena a cabeça em seu casco ou como a serpente esconde a sua, formando uma espiral; pois um tal homem, reputado moral, é como uni ladrão que está, ora na cidade, ora na floresta, agindo na cidade como pessoa moral; e na floresta, como salteador; é inteiramente diferente com aqueles que são morais interiormente ou quanto ao Espírito, porque se tornam assim pela regeneração que o Senhor opera; são êstes que são entendidos pelos homens Morais espirituais.

&444 - Se a Vida Moral, quando é ao mesmo tempo, espiritual, é a vida da Caridade, é porque os exercícios da Vida Moral e os da Caridade são os mesmos; com efeito, a Caridade é o bem querer em relação ao próximo; por conseqüência, o bem agir com êle, isso também é a Vida moral; a Lei Espiritual é esta Lei do Senhor: "Tôdas as cousas que quiserdes que vos façam os homens, do mesmo modo também vós lhas façais; é esta a Lei e os Profetas" (Mateus VII, 12); esta mesma Lei é a Lei universal da Vida moral. Mas recensear aqui tôdas as obras da Caridade e as pôr em paralelo com as obras da Vida moral, seria uma obra que encheria multas páginas; sejam unicamente para ilustração seis Preceitos da Segunda Tábua da Lei do Decálogo; cada um vê claramente que são preceitos da vida moral e foi mostrado acima, ns. 329 a 331, que eles contêm também as cousas que pertencem ao amor em relação ao próximo. Que a Caridade os enche a todos, vê-se por estas palavras em Paulo: "Amai-vos uns aos outros, pois aquele que ama os outros cumpre a Lei; pois isto: Não cometerás adultério; não matarás, não furtarás; não darás falso testemunho; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo está compreendido nas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo; a Caridade não faz mal ao próximo; a plenitude da Lei é a Caridade" (Rom. 13, 8-10). Aquele, que pensa pelo homem Externo só, não pode deixar de ficar admirado de que os sete Preceitos da Segunda Tábua tenham sido promulgados por Jehovah, com tão grandes milagres, sobre o Monte Sinai, quando, entretanto, êstes mesmos Preceitos em todos os reinos da terra, por conseqüência, também no Egito, de onde os filhos de Israel acabavam de sair, eram os Preceitos da Lei da justiça civil, pois sem eles nenhum Reino subsistiria; mas se foram promulgados por Jehovah e inscritos com Seu dedo sobre as Tábuas de pedra, era a fim de que fossem não somente os Preceitos da Sociedade civil e da Vida moral natural, mas ainda os Preceitos da Sociedade celeste; e assim da vida moral espiritual; por conseguinte, agir contra eles, era não somente agir contra os homens, mas também contra Deus.

&445 - Se se considera a Vida moral em sua essência, pode-se ver qual é a Vida segundo as Leis humanas e ao mesmo tempo segundo as Leis Divinas; por isso, aquele que vive segundo estas duas Leis como sendo Uma, é verdadeiramente homem moral e sua vida é a Caridade. Cada um, se quiser, pode pela Vida moral externa, compreender a da Caridade; transporta unicamente para o homem Interno a Vida moral externa, tal qual é nas sociedades civis, a fim de que na vontade e no pensamento do homem interno ela seja semelhante e conforme aos atos do homem Externo e verás a Caridade em seu tipo.

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&446 Uma amizade de amor contraída com o homem, seja o que ele for quanto ao espírito, é prejudicial depois da morte.446 - Por amizade de amor é entendida a amizade interior, que é tal que não somente o homem Externo, do amigo é amado, mas mesmo seu homem Interno; isso sem exame do que êle é quanto ao Interno ou ao espírito, isto é, quanto às afeições da mente, seja que essas afeições pertençam ao, amor em relação ao próximo e ao amor para com Deus, e possam assim ser consociadas com os Anjos do Céu, seja que pertençam ao amor contra o próximo e ao, amor contra Deus e possam assim ser consociadas com os Diabos. Uma tal amizade é contraída por um grande número de pessoas por diversas causas e para diversos fins; é distinta da amizade externa que concerne à pessoa só e que tem lugar por diversos prazeres do corpo e dos sentidos e em razão de diversas relações; esta amizade externa pode ser contraída com quem quer que seja, mesmo com um bufão que diverte os convivas na mesa de um Príncipe; é chamada simplesmente amizade; mas a outra é chamada amizade de amor; pois a amizade é uma conjunção natural, mas o amor é uma conjunção espiritual.

&447 - Que a amizade de amor seja prejudicial após a morte, é o que se pode ver pelo estado celeste, o estado do inferno, e o estado respectivo do espírito do homem. Quanto ao que concerne ao estado do Céu, o Céu é distinguido em inúmeras Sociedades segundo tôdas as variedades das afeições do amor do bem; o Inferno, ao contrário, é distinguido segundo tôdas as variedades das afeições do amor do mal; e depois da morte, o homem que é então um Espírito, é imediatamente, segundo a vida na Mundo, ligado à Sociedade onde está seu amor dominante; a uma sociedade celeste, se o amor para com Deus e em relação ao próximo faz a Cabeça de seus amores; e a uma sociedade infernal, se o amor de si e do mundo faz a cabeça de seus amores; Imediatamente após a sua entrada no mundo espiritual, o que acontece pela morte e a rejeição do corpo material no túmulo, o homem é preparado durante algum tempo para a sociedade a que RI ligado e a preparação se faz pela rejeição dos amores; que não concordam com o amor principal; os Espíritos, então, são por isso separados uns dos outros, o amigo de seu amigo, o irmão de seu irmão e cada um deles é interiormente adjunto a seus semelhantes com quem deve viver eternamente uma vida semelhante e, propriamente sua. Mas no primeiro tempo da preparação, eles estão juntos e conversam amigavelmente como no Mundo, mas pouco a pouco êles são separados, o que se faz insensivelmente.

&448 - Mas aqueles que no Mundo contraíram entre si uma amizade de amor, não podem, -como os outros, ser separados segundo a ordem, nem ser ligados à Sociedade correspondente à, sua vida; pois estão interiormente ligados quanto ao Espírito; e não podem ser destacados porque são como galhos enxertados em outros galhos; se, portanto, um, quanto a seus interiores, está no Céu e o outro, quanto a seus interiores, está no Inferno, estão unidos pouco mais ou menos como se uma ovelha estivesse, ligada a una lobo, urna pata com uma raposa ou uma pomba com, um gavião; e aquele cujos interiores estão no Inferno, inspira suas cousas infernais naquele cujos interiores estão no Céu; pois é bem sabido no Céu que os males podem ser inspirados aos bons, mas não os bens aos maus, por esta razão que cada um está de nascença, nos males; dai, nos bons assim adjuntos aos maus, os interiores são fechados e o par de amigos é precipitado no inferno, onde o bom sofre medonhos tormentos; entretanto, após um intervalo de tempo mais ou menos longo, é enfim

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libertado; e então, somente é preparado para o Céu. Foi-me dado ver semelhantes coerências principalmente entre irmãos e aliados, depois também entre patrões e clientes e de muitos com bajuladores, todos êles pessoas cujas afeições eram contrárias e de gênios diferentes; vi alguns como cavalos com leopardos, abraçando-se então um ao outro e jurando permanecer fiéis à sua primitiva. amizade; e percebi então que os bons absorviam os prazeres dos maus, se davam as mãos e entravam juntos em cavernas onde se viam bandos de maus em formas medonhas; mas diante deles, pela ilusão da fantasia, em formas graciosas; mas depois -de um. certo espaço de tempo, ouvi gemidos dos bons como de pessoas que caíram em emboscadas; e a satisfação dos maus como a de inimigos carregados de despojos, além de várias outras cenas dolorosas. Soube que, mais tarde, quando os bons já tinham sido libertados, eles foram preparados para o Céu por meio de reforma, mas mais dificilmente que os outros.

&449 - É inteiramente diferente com aqueles que amam o bem em outrem; assim, que amam a justiça, o julgamento, a sinceridade, a benevolência proveniente da caridade e, sobretudo, que amam a fé e o amor para com o Senhor; como esses amam as coisas que estão dentro do homem, abstração feita das que estão fora dele, se não descobrem estas mesmas cousas na pessoa depois da morte, retiram-se imediatamente dessa amizade e são associados pelo Senhor aos que estão em um bem semelhante. Pode-se objetar que ninguém pode explorar os interiores da mente daqueles com os quais está em companhia e em relação, mas isso não é necessário, desde que se guarde da amizade de amor com quem quer que seja; a amizade externa em vista de diversos usos não é prejudicial.

&450 Há uma Caridade bastarda, uma Caridade hipócrita e uma Caridade morta.450 - A Caridade real, que é a Caridade viva, não existe se não faz um com a Fé e se não olham conjuntamente uma e outra para o Senhor; pois êstes três, o Senhor, a Caridade e a Fé, são os três essenciais da salvação; e quando fazem um, a Caridade é Caridade, a Fé é Fé, o Senhor está naqueles que as têm e eles estão no Senhor, ver acima, ns. 363 a 367, e 368 a 372. Mas quando êstes Três não foram conjuntos, a Caridade é bastarda ou hipócrita ou morta. Houve no Cristianismo desde o tempo de sua fundação diversas heresias e hoje também as há, em cada uma das quais estes três Essenciais, que são Deus, a Caridade e a Fé, foram reconhecidos e são reconhecidos, pois sem êstes Três não há religião. Quanto ao que concerne especialmente à Caridade, ela pode ser adjunta a toda Fé herética; por exemplo, à Fé dos Socinianos, à Fé dos entusiastas, à Fé dos judeus e mesmo à Fé dos Idólatras; e todos esses podem crer que é a Caridade, pois que na forma externa se apresenta semelhante; mas, não obstante, ela muda de qualidade segundo a fé a que está adjunta ou conjunta; que seja assim, vê-se no Capítulo sobre a Fé.

&451 - toda Caridade que não foi conjunta à Fé em um único Deus, em quem está a Divina Trindade, é Bastarda; por exemplo, a Caridade da Igreja de hoje, cuja Fé é em três Pessoas ,de uma mesma Divindade em uma ordem sucessiva, Pai, Filho e Espírito Santo, e como é em três Pessoas, cada uma das quais é um Deus subsistente por si mesmo, é por conseqüência, em três Deuses; a esta Fé a Caridade pode ser adjunta, como foi feito também pelos defensores desta fé, mas não pode, de modo algum, estar conjunta; e a Caridade que não está senão adjunta à fé é somente natural e não espiritual; é, portanto, uma Caridade bastarda. Acontece o mesmo com a Caridade e várias outras heresias, por exemplo, dos que negam a Trindade Divina e que, por conseqüência, se dirigem a Deus Pai

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só, ou ao Espírito Santo só ou a um e outro, exceto ao Deus Salvador; a Fé destes não pode ser conjunta à Caridade; e se é conjunta ou adjunta, é Bastarda; é chamada Bastarda, porque é como um filho de um leito ilegítimo, assim como era o filho que Agar teve de Abrahão e que foi expulso de casa (Genesis 21, 9). Uma tal caridade é como um fruto que não cresceu na árvore, mas a ela foi preso com uma agulha; é ainda, como um Carro, à frente do qual os Cavalos não foram atrelados senão pelas rédeas na mão do Cocheiro; quando os cavalos começam a correr, tiram o Cocheiro de seu assento e o carro fica no lugar.

&452 - A Caridade Hipócrita está naqueles que, nos Templos e em suas Casas, se humilham quase até ao chão diante de Deus, recitam devotamente longas preces, compõem uma fisionomia santa, beijam. as imagens da cruz e os ossos dos mortos, ajoelham-se diante dos túmulos, e aí murmuram de boca, palavras de uma santa veneração para com Deus e que, entretanto, de coração, voltam para si mesmos o culto, pretendem adorações como deidades. São semelhantes aos que o Senhor descreveu nestes termos: "Quando deres uma esmola, não toca a trombeta diante de ti, como os hipócritas fazem nas Sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos homens. E se orares, não serás como os hipócritas, que gostam de, nas Sinagogas e nos cantos das ruas, permanecendo de pé, orar, a fim de serem vistos pelos homens" (Mateus VI, 2, 5). "Ai de vós, Escribas e Fariseus, Hipócritas! porque fechais o Reino dos Céus diante dos homens; pois não entrais e aos que querem entrar, vós não permitis que entrem. Ai de vós, Hipócritas; porque percorreis o mar e o seco para fazer um prosélito e quando o fizestes, vós o fizestes filho da Geena duas vezes mais do que vós. Ai de vós, Hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas os interiores estão cheios de rapina e de intemperança" (Mateus XXIII, 13, 15, 25). "Bem protetizou Isaías, a vosso respeito, Hipócritas! dizendo: Êste povo com os lábios me honra, mas seu coração está bem longe de Mim" (Marcos VII, 6). "Ai de vós, Hipócritas! porque sois como sepulcros que não aparecem e os homens que andam por cima não os vêem" (Lucas XI, 44); e ainda em outros lugares. São como carnes privadas de sangue; são como corvos e papagaios ensinados a pronunciar palavras de alguns Salmos; e como pássaros, aos quais se ensinou a ária melodiosa de um hino sacro. 0 som da linguagem desses hipócritas é como o som da flauta de um passarinheiro.

&453 - A Caridade Morta está naqueles cuja Fé é morta, pois que tal é a Fé, tal é a Caridade; que elas façam um, isso foi mostrado no Capítulo sobre a Fé; que a Fé morta esteja naqueles que estão sem as obras, vê-se pela Epístola de Tiago (III, 17, 20). Além disso, a Fé morta está naqueles que crêem, não em Deus, mas em homens Avos e em homens mortos, que adoram Ídolos como santos em si mesmos, como faziam outrora os Gentios. Os dons dos que estão nesta Fé, dons que tendo em vista a salvação eles empregam como imagens miraculosas, como as chamam, e que põem no número das obras da Caridade, não são senão como o ouro e a prata postos nas urnas e nos túmulos dos mortos, e mesmo como presentes a Cérbero e o salário pago a Caron para ser transportado aos Campos Elísios. Mas a Caridade daqueles que crêem que não há Deus e que em lugar de Deus, há a natureza, não é nem bastarda, nem hipócrita, nem morta; é Nula porque não está adjunta a fé alguma; com efeito, ela não pode ser chamada Caridade, pois que a qualidade da Caridade é determinada pela fé; a Caridade destes, vista do Céu, é como pão de cinzas, como um coscorão de escamas de peixe e como um fruto de cêra.A amizade do amor entre os maus é um ódio intestino entre eles.

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&454 - Foi mostrado acima que em cada homem há um Interno e um Externo e que seu Interno é chamado Homem Interno e seu Externo, homem Externo; a isso será acrescentado, que o homem Interno está no Mundo espiritual, e o homem Externo, no Mundo natural; se o homem foi criado assim, é a fim de que possa estar associado aos Espíritos e aos Anjos em seu Mundo; e por isso, pensar analiticamente e depois da morte ser transferido do seu Mundo para o outro. Pelo Mundo espiritual é entendido o Céu e o Inferno. Pois que o homem Interno está em companhia dos Espíritos e dos Anjos, em seu Mundo, e que o homem Externo com os homens, é evidente que o homem Pode ser consociado com os Espíritos do Inferno e também ser consociado com os Anjos do Céu; por esta faculdade e este poder o homem é distinguido das bestas. 0 homem é em si tal qual é quanto a seu homem Interno, mas não tal qual é quanto a seu homem Externo, porque o homem Interno é seu Espírito que age pelo homem Externo. 0 corpo material, de que seu Espírito foi revestido no Mundo natural, é um acessório para as Procriações e para a formação do homem Interno; pois este é formado no corpo natural, como a árvore na terra e como a semente no fruto. Ver maiores detalhes sobre o homem Interno e sobre o homem Externo acima, n. 401.

&455 - Por esta curta descrição do Inferno e do Céu, pode-se ver o que é o homem mau quanto a seu homem Interno e o que é o homem bom quanto ao seu; pois o homem Interno nos maus foi conjunto aos diabos no Inferno; e nos bons, foi conjunto aos Anjos no Céu. 0 Inferno está, por seus amores, nos prazeres de todos os males, isto é, nos prazeres do ódio, da vingança, do massacre, nos prazeres do roubo e da pilhagem, nos prazeres da censura e da blasfêmia, nos prazeres de negar a Deus e de profanar a Palavra; êstes prazeres estão escondidos -nas cobiças sobre as quais o homem não reflete; por estes prazeres os infernais brilham como tições; inflamados; é isso que é entendido na Palavra pelo Fogo infernal. Ao contrário, os prazeres do Céu são os prazeres do amor em relação ao próximo e do amor para com Deus- Como os prazeres do Inferno são opostos aos prazeres do Céu, há entre eles um grande Intervalo, no qual influem de cima os prazeres do Céu, e de baixo, os prazeres do Inferno; no meio deste Intervalo está o homem enquanto vive no Mundo, a fim de que esteja no equilíbrio, e assim, em um estado Livre de se voltar para o Céu ou para o Inferno; é este Intervalo que é entendido pelo Abismo imenso estabelecido entre os que estão no Céu e os que estão no Inferno (Lucas XVI, 26). Por estas explicações pode-se ver o que é a amizade de amor entre os maus, isto é, que, quanto ao homem Externo, é um charlatanismo, uma pantomima e um fingimento de moralidade, com o fito de estender suas rede e espreitar a ocasião de gozar os prazeres de seus amores, de que arde seu homem Interno; o medo da lei, por conseguinte, o medo de perder sua reputação e sua vida, é o único freio que os detêm e suspende seus atos, por isso sua amizade é como uma aranha no açúcar, uma víbora no pão, um filhote de crocodilo em um bolo de mel e unia serpente sob a relva. Tal é a amizade dos maus com quem quer que seja; mas entre os Maus confirmados, como são os ladrões, os bandidos e os piratas, ela é familiar, enquanto com urna mente unânime cobiçam a pilhagem, pois então eles se abraçam como irmãos, se divertem nos festins, com danças e cantos, e conspiram a perda dos outros; mas cada um, in eriormen em si, olha para seu companheiro como um inimigo, é mesmo o que um bandido velhaco vê em seu companheiro, e o que êle teme. Por isso, é bem evidente que entre essa gente não há amizade, mas ódio intestino. 455 (bis) - Todo homem que não se ligou abertamente com malfeitores e não cometeu depredações, mas levou uma vida civil-moral por diversos usos como fins e, entretanto, não reprimiu as cobiças que residem no homem

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Interno, pode crer que sua Amizade não é tal; que, entretanto, a amizade seja tal, em diferentes graus, em todos os que rejeitaram a fé, desprezaram as cousas santas da Igreja, reputando-as como nada para eles, mas boas únicamente para o vulgo, é o que me foi dado ver de uma maneira certa por muitos exemplos no Mundo espiritual; em alguns destes, os prazeres do amor infernal haviam sido escondidos como, fogo que queima interiormente a madeira recoberta de casca; em outros, como carvões acesos sob cinzas; em outros, como tochas de cera que se inflamam desde que se aproxima o fogo delas; e em outros, diferentemente; assim é todo homem que rejeitou de seu coração as cousas que são da religião; o homem interno destes está no Inferno enquanto vivem no Mundo e que, então., por causa da moralidade, figurada em seus externos, eles ignoram isso, não reconhecem senão a eles mesmos e a seus filhos por próximo e encaram todos os outros, ou com desprêzo, e então, são como gatos espreitando os pássaros nos ninhos, ou com ódio, são como lobos quando vêem cães que eles devoram. Estes detalhes foram dados, a fim de que se saiba o que é a Caridade no seu oposto.

&456 Da conjunção do amor para com Deus e do amor em relação ao próximo.456 - Sabe-se que a Lei promulgada do alto do Monte Sinal foi gravada sobre duas Tábuas; que uma concerne a Deus, e a outra aos homens; que estas duas tábuas, nas mãos de Moisés, não eram senão uma, cuja parte direita continha o que se refere a Deus, e a parte esquerda o que se refere aos homens; e que assim, oferecida aos olhos dos homens, a escritura de uma e outra parte, era vista ao mesmo tempo, de sorte que uma parte estava em frente da outra, como Jehovah falando com Moisés e Moisés com Jehovah face a face, assim como lemos. Isto foi feito desta maneira, a fim de que as Tábua, assim unidas, representassem a conjunção de Deus com o homem e a conjunção recíproca, dos homens com Deus; é por esta razão que a Lei gravada foi chamada Aliança e o Testemunho; a Aliança significa a conjunção e o Testemunho significa a vida segundo o que foi convencionado. Por estas duas Tábuas assim unidas, pode-se ver a conjunção do Amor para com o Senhor e do Amor em relação ao próximo; a Primeira Tábua envolve tôdas as coisas que pertencem ao Amor para com Deus, as quais são principalmente: Que é preciso reconhecer um único Deus, a Divindade de Seu Humano e a Santidade de Sua Palavra; e que este Deus deve ser adorado pelas coisas santas que procedem d'Ele; que seja isto que envolve esta Tábua, vê-se pelos comentários que foram feitos no Capítulo V sobre os Preceitos do Decálogo. A Segunda Tábua envolve tôdas as coisas que pertencem ao Amor, em relação ao próximo; seus cinco primeiros preceitos, às que. pertencem ao fato e são chamadas obras; e os dois últimos, às que pertencem à vontade, assim às que pertencem à Caridade em sua origem, pois nestes dois preceitos se diz: "Não cobiçarás"; e quando o homem não cobiça as coisas que pertencem ao próximo, então êle lhe quer bem. "Que os Dez Preceitos do Decálogo contenham tôdas as coisas que pertencem ao Amor para com Deus, e tôdas as que pertencem ao Amor em relação ao próximo", vê-se acima, ns. 329 a 331. Foi mostrado, também que a conjunção de uma e outra Tábua está naqueles que estão na Caridade.

&457 - Acontece diferentemente naqueles que estão só no culto de Deus e não, ao mesmo tempo, nas Boas Obras pela Caridade; êstes são semelhantes aos que rompem uma aliança; ainda acontece diferentemente naqueles que dividem Deus em três e adoram cada Deus separadamente; ainda, diferentemente, nos que não se dirigem a Deus em Seu Humano, êstes são os "que não entram pela porta, mas sobem por um outro lugar" (João X, 1, 9); e

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ainda, diferentemente, naqueles que negam por confirmação a Divindade do Senhor; em uns e outros não há conjunção com Deus e, conseqüentemente, não há salvação; sua Caridade não é outra cousa que uma caridade bastarda; e esta, conjunta, não de face, mas de lado ou por trás. Será dito também em poucas palavras como se faz a conjunção: Deus influi em todo homem com o reconhecimento d'Ele nos conhecimentos sobre Ele; e ao mesmo tempo, influi com Seu Amor em relação aos homens; o homem que recebe unicamente este influxo no Entendimento e não na Vontade e fica nos conhecimentos sem o reconhecimento interior de Deus; e seu estado é como o de um Jardim na estação do inverno; mas o homem que recebe o primeiro e o segundo, recebe o influxo na Vontade e, conseqüentemente, no Entendimento, assim em toda a Mente, e há nele o reconhecimento interior de Deus, o qual vivifica nele os conhecimentos sobre Deus; e o seu estado é como o de um Jardim na estação da Primavera. Se a conjunção se faz pela Caridade é porque Deus ama cada homem e porque não lhe pode fazer bem imediatamente, mas o Senhor faz mediatamente pelos homens; por isso, lhes inspira seu amor, como inspira aos pais o amor em relação aos filhos; e o homem que recebe este amor é conjunto a Deus e ama o próximo pelo Amor de Deus; nele, o Amor de Deus está interiormente no Amor do homem em relação ao próximo, Amor que opera o querer e à o poder nele. E como o homem nada faz do bem, a não ser que lhe pareça que o poder, o querer e o fazer vêm dele, eis por que isto lhe foi dado; e quando êle o faz livremente como por si mesmo, isto lhe é imputado e é aceito como o recíproco pelo qual se faz a conjunção; dá-se com isso o mesmo que com o ativo e o passivo, e com a cooperação deste, o que se faz pelo ativo no passivo; dá-se também com isto como com a Vontade nas ações, com o Pensamento nos discursos e com a Alma operando pelo íntimo em um e outro; é ainda como com o esforço no movimento e também, como com o Prolífico da semente, que age pelo interior nos sucos, pelos quais a árvore cresce até aos frutos, e pelos frutos produz novas sementes; enfim, dá-se com isso como com a Luz nas pedras preciosas, a qual é refletida segundo a disposição das facetas, de onde se produzem diversas cores, quando, entretanto, elas provêm da Luz.

&458 - Pelo que precede, vê-se claramente donde vem e qual é a Conjunção do Amor para com Deus e do Amor em relação ao próximo; que é o influxo do Amor de Deus em relação aos homens e que a recepção deste influxo pelo homem e a cooperação nele, são o amor em relação ao próximo; em suma, há conjunção segundo esta palavra do Senhor: "Nesse dia conhecereis que Eu estou no Pai, vós em Mim e Eu em vós" (João XIV, 20). E segundo esta Palavra: "Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é esse que Me ama, Eu o amarei e Me manifestarei a êle e farei morada nele" (João XIV, 21-23). Todos os preceitos do Senhor se referem ao amor em relação ao próximo e consistem, em suma, em não lhe fazer mal, mas em lhe fazer o bem; os que agem assim amam a Deus, e Deus os ama, segundo estas palavras do Senhor. Como êstes dois Amores foram assim conjuntos, João disse: "Aquele que guarda os mandamentos de Jesus Christo permanece n'Ele e ele permanece neste. Se alguém diz: Amo perfeitamente a Deus e odeia seu irmão, é mentiroso; pois o que não ama seu irmão que vê, como pode amar Deus que não vê?" Temos d'Ele este mandamento: "Aquele que ama a Deus ama também seu irmão" (I Epist. 3, 24; 4, 20, 21).

&459 - A estas explicações serão acrescentados êstes Memoráveis. Primeiro Memorável. Vi de longe cinco Ginásios, que eram cercados, cada um, com uma Luz diferente: o Primeiro, com uma ,Luz inflamada; o Segundo, com uma Luz amarela; o Terceiro, com

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uma Luz branca, brilhante; o Quarto, com uma Luz média entre o meio-dia e a tarde; o Quinto, aparecendo apenas, pois es tava como na sombra da noite. E nos caminhos vi espíritos, uns sobre cavalos, outros em carros, outros que caminhavam e alguns que corriam e se apressavam; êstes iam para o Primeiro Ginásio que estava cercado com uma Luz inflamada. A esta vista fui tomado e premido pelo desejo de ir e de ouvir o que aí se discutia; preparei-me prontamente, me associei aos que se apressavam em direção ao Primeiro Ginásio e entrei com eles; e eis que havia lá uma grande Assembléia, de que uma parte se dirigia à direita, e a outra à esquerda, para se assentar em bancos que estavam contra as paredes; defronte, vi uma tribuna pouco elevada, na qual se mantinha alguém que desempenhava as funções de Presidente, tendo um bastão na mão, um boné na cabeça e uma roupa colorida pela luz inflamada do Ginásio. Este, depois que todos se reuniram, elevou a voz e disse: "Irmãos, discuti hoje o que é a Caridade; cada um de vós pode saber que a Caridade é espiritual em sua essência e natural em seus exercícios". E imediatamente, um do primeiro banco à esquerda, em que estavam assentados os que tinham sido reputados sábios, se levantou; e começando a falar, disse: "0 meu sentimento é que a Moralidade inspirada pela Fé é a Caridade"; e o confirmou assim: "Quem não sabe que a Caridade segue a Fé, como uma criada à sua senhora, e que o homem que tem a Fé faz a lei, por conseqüência a Caridade, tão espontaneamente, que não sabe que é da Lei e da Caridade que êle vive, porque se o soubesse e agisse assim, e que ao esmo tempo pensasse na salvação por estas obras, êle macularia com o seu próprio, a santa Fé e debilitaria assim a eficácia dela? Isto não está de acordo com o dogma dos nossos?" E voltou seus olhos para os que estavam sentados dos lados, entre os quais havia cônegos; e eles; fizeram um sinal de cabeça para aprovar. "Mas o que é a Caridade espontânea, senão a moralidade, na qual cada um, desde a infância, é iniciado e, por conseqüência, é em si mesma natural, mas se torna espiritual, quando a fé lhe é inspirada? Quem discerne, por sua vida moral, se os homens têm a fé ou não, pois todo homem vive moralmente; mas Deus só, que introduz e sela a fé, conhece e distingue; por isso afirmo que a Caridade é a Moralidade inspirada pela fé e que esta Moralidade pela Fé em seu seio, é salvífica, mas que qualquer outra não dá a salvação, porque é meritória; perdem, portanto seu óleo todos os que misturam a Caridade e a Fé, isto é, que as conjungem por dentro e não as adjuntam por fora; pois misturá-las e conjungi-las, seria como se em uma carruagem com um Primaz se pusesse o criado que fica atrás ou como se admitisse o porteiro na sala para comer na mesa com o magnata" Em seguida, se levantou um dos que estavam no primeiro banco à direita e, tomando a Palavra, disse: "0 meu Sentimento é que a Piedade inspirada pela Comiseração é a Caridade e eu o confirmo assim: Nada pode tomar Deus propicio mais do que a Piedade proveniente de um coração humilde; e a Piedade pede continuamente que Deus dê a Fé e a Caridade, e o Senhor disse: Pedi, e vos será dado (Mateus VII, 7); e pois que os pedidos são atendidos, a Fé e a Caridade estão na Piedade. Digo que a Piedade inspirada pela comiseração é a Caridade; com efeito, toda Piedade devota tem comiseração, pois a Piedade leva o coração do homem a gemer; e que outra cousa é a comiseração? Esta, é verdade, se retira após a prece, mas, entretanto, volta com ela; e quando volta, a Piedade está nela e assim na Caridade. Os nossos Sacerdotes atribuem à Fé tudo o que faz avançar a salvação, e nada dela atribuem à Caridade; que resta então, senão a Piedade orando com comiseração a respeito de uma e de outra? Quando li a Palavra, não pude ver outra cousa, senão que a Fé e a Caridade eram os dois meios de salvação; mas quando consultei os Ministros da Igreja, aprendi que a Fé era o único meio e que a Caridade nada era; então, eu me vi como sobre um mar em um barco flutuando entre dois escolhos; e como tinha medo que ele se

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espedaçasse, lancei-me em uma canoa e naveguei; a minha canoa é a Piedade; e, além disso, a Piedade é útil para tudo". Depois deste, um dos do segundo banco à direita se levantou, e tomando a palavra, disse: "Meu Sentimento é que a Caridade consiste em fazer bem a cada um, tanto ao mau como ao bom e eu o confirmo assim: 0 que é a Caridade, senão a bondade de coração? e um Coração bom quer bem a todos, tanto aos maus como aos bons; e o Senhor disse que é preciso fazer bem mesmo a seus inimigos; se, portanto, tu afastas de alguém a Caridade, então a Caridade quanto a esta parte não se toma nula? e assim o homem não é como se marchasse, saltando sobre um pó, tendo perdido o outro? 0 mau é homem do mesmo modo que o bom, e a Caridade encara o homem como homem; se é mau que me importa isso? Dá-se com a Caridade como com a luz do sol; esta vivifica as bestas tanto ferozes como mansa, os lobos como as ovelhas e faz crescer as árvores, tanto más como boas, os espinheiros como as cepas de vinha". Tendo falado assim, tomou na mão uma uva nova, e disse: "Dá,-se com a Caridade como com esta uva; se a dividimos, tudo que está nela se espalha por todo lado". E êle a dividiu, e o suco se espalhou de um lado e de outro. Depois deste discurso, um outro do segundo banco à esquerda se levantou e disse: "0 meu Sentimento é que a Caridade consiste em ser útil de toda maneira a parentes e amigos, o que eu confirmo assim: Quem não sabe que a Caridade começa por si mesmo Cada um, com efeito, é o próximo de si mesmo; a Caridade avança portanto a partir de si para. as proximidades; primeiro, para os irmãos e as irmãs e destes, para os parentes e os conhecidas, e assim a progressão da Caridade a partir de si mesmo, é terminada; os que estão fora são estranhos e os estranhos não são reconhecidos interiormente, assim foram postos de lado pelo homem interno; ora, a natureza conjunta os consangüíneos e os parentes; e o hábito, que é uma segunda natureza, conjunta os amigos e assim, eles se tornam o próximo; a Caridade une outrem a si por dentro, e assim por fora; e os que não foram unidos por dentro, devem ser chamados unicamente companheiros. Todos os pássaros não conhecem, sua parentela, não pelas penas, mas pelo som, e quando estão perto, pela esfera de vida que emana de seus corpos? Esta afeição da parentela, com a conjunção que daí resulta, é chamada instinto nos pássaros; esta mesma afeição no homem, quando é dirigida para os seus e para aqueles que lhe pertencem, é verdadeiramente o instinto de sua natureza humana. 0 que é que faz o gênio, senão o sangue? A mente do homem que é também o espírito do homem, sente e cheira, por assim dizer, este homogêneo; a essência da Caridade consiste neste homogêneo e na simpatia que dele resulta; e vice-versa, o heterogêneo, donde resulta a antipatia, é cama a ausência dos laços de sangue; por conseguinte, a não-caridade; ora, como o hábito é uma segunda natureza e que ela constitui também o homogêneo, segue-se que a Caridade é também fazer bem aos amigos. Aquele que, viajando no mar, chega a um porto e sabe que é uma Terra estranha, habitada por homens de que não conhece nem a língua nem os costumes, não fica então como fora de si, e sentirá êle o menor prazer de amor em relação a seus habitantes? mas se sabe que é uma Terra de sua Pátria, habitada por homens de que êle conhece a língua e os costumes, êle está como em si mesmo e então sente uni prazer de amor, que é também o prazer da Caridade". Em seguida, um das do terceiro banco à direita se levantou e exclamou em altas vozes, dizendo: "0 meu Sentimento, é que a Caridade consiste em fazer esmola aos pobres e em socorrer os indigentes. E isto certamente a Caridade, pois é o que ensina a Divina Palavra, cujo conteúdo não admite contradições; o que é dar aos ricos e aos que estão na opulência, senão uma vanglória, em que não há Caridade, mas visa a remuneração? Não pode haver nisso uma afeição real do amor em relação ao próximo, mas há uma afeição bastarda, que tem valor na Terra, mas não nos

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Céus; é por isso que a pobreza e a indigência devem ser socorridas, pois nisto não entra a idéia da retribuição. Na cidade que eu habitava, onde conheci bons e maus, eu via todos os bons se deterem à vista de um pobre na rua e lhe dar esmola; mas todos os maus deixavam o pobre de lado e passavam adiante, como cegos ao seu aspecto, e surdos à sua voz; quem não sabe que a Caridade está. nos bons e que não está nos maus? Aquele que dá aos pobres e socorre os indigentes é semelhante a um pastor que conduz à pastagem e ao bebedouro as ovelhas famintas e sedentas; mas o que só dá aos ricos e aos opulentos é semelhante ao que adora. um ídolo e farta de carne e de vinho os que já estão fartos disso". Depois deste um outro se levantou do terceiro banco à esquerda; e tomando a palavra, disse: "0 meu Sentimento é que a Caridade consiste em construir Hospitais, Casas para os doentes, para os. órfãos e Hospícios e em mantê-los por donativos; e o confirmarei assim: Tais benefícios e tais socorros são públicos e ultrapassam,. de muito, os benefícios e os socorros privados; a Caridade tornasse tanto mais opulenta e mais cheia de bens; e os bens, sendo, mais numerosos, a punição esperada segundo as promessas da Palavra tornam-se mais abundantes; pois conforme alguém. prepara e semeia seu campo, Um êle colhe; não é isso dar com abundância, aos pobres e socorrer os indigentes? Quem é que por isso não recolhe glória e, ao mesmo tempo, os louvores por parte do Mundo, com humildes ações de graças por parte daqueles que êle alimenta? Isso não eleva o coração e, ao mesmo tempo, a afeição, que é chamada Caridade, até ao seu ápice? Os ricos que não caminham pelas rua, mas que as percorrem em viatura, não podem dirigir seus olhos sobre os que estão sentados aos lados perto das paredes e lhes atirar dinheiro, mas empregam suas dádivas no que é vantajoso para muitos ao mesmo, tempo; que os pequenos que andam pelas ruas e que não têm os mesmos meios, dêem esmolas na mão". A estas palavras, um outro sentado no mesmo banco lhe cortou a palavra, tomando-a em tom mais elevado, e disse: "Que os Ricos não ponham jamais a munificência e a excelência de sua Caridade acima do óbulo que o pobre dá ao pobre; pois nós sabemos que quem age, age conformemente à sua pessoa, um Rei como rei, um Pretor como pretor, um Tribuno como tribuno e um soldado como soldado,pois a Caridade, considerada em si mesma, é estimada não segundo a excelência da pessoa e dádiva, mas segundo a plenitude da afeição que a faz; e assim, o mais baixo criado, quando dá um vintém, pode estar mais provido de uma caridade plena .do que um magnata que dá ou lega um tesouro; isto ainda está de acordo com esta passagem: "Jesus viu os ricos que punham. seus presentes na caixa das esmolas, viu também uma certa viúva pobre que aí pôs duas pequenas moedas; e Êle disse: Em verdade vos digo, que esta viúva pobre pôs mais do que todos os outros (Lucas XXI, 1-3)". Depois deste, um do quarto banco, à esquerda se levantou, falou e disse: "0 meu Sentimento é que a Caridade consiste em erigir Templos e fazer bem aos Ministros que fazem o seu serviço; o que eu confirmo assim: o que faz isto agita em seu espírito o que é santo e age pelo santo que ai está e além disso, santifica suas dádivas; é o que a Caridade exige porque em si mesma é santa; todo culto nos Templos não é santo? pois o Senhor disse: "Onde dois ou três estão reunidos em meu Nome, no meio deles Eu estou"; e os Sacerdotes seus servidores, fazem o serviço; concluo dai que os donativos que se fazem a esses, Sacerdotes e para os Templos, são superiores aos donativos que são dispensados aos outros e para outros fins; e, além disso, ao Ministro foi dada a faculdade de abençoar, faculdade pela qual êle santifica também êstes donativos; e, além disso, nada expande mais a mente e não a regozija tanto, como ver suas dádivas como outros tantos santuários". Em seguida, um outro, do quarto banco à direita se levantou e falou assim: "0 meu Sentimento é que a velha Fraternidade Cristã é a Caridade, e eu o confirmo desta maneira: Toda Igreja que adora o

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verdadeiro Deus, começa pela Caridade, assim como começou a velha Igreja Cristã; e como a Caridade une as mentes e de várias, faz uma só, eis porque os primeiros Cristãos se chamavam Irmãos, mas em Jesus Christo seu Deus; entretanto, como então estavam cercados de bárbaros dentre as nações, que eles temiam, puseram seus bens em comum; por este meio, eles se alegravam juntos e com unanimidade; cada dia em suas reuniões falavam do Senhor Deus Salvador Jesus Christo e, em seus jantares e em suas ceias, conversavam sobre a Caridade; dai, vinha sua Fraternidade. Mas depois destes primeiros tempos, quando cismas começaram a nascer, e por fim se elevou a abominável Heresia Ariana, que em um grande número suprimiu a idéia da Divindade do Humano do Senhor, a Caridade tornou-se fora de uso e a Fraternidade foi dissipada. É verdade que todos os que adoram, em verdade, o Senhor e fazem seus preceitos são Irmãos (Mateus XXIII, 8); mas irmãos em espírito; e como hoje ninguém é conhecido como é em espírito, não é necessário que se chamem mutuamente irmãos. A Fraternidade da fé só, e menos ainda a de uma fé em um outro Deus diferente do Senhor Deus Salvador, não é a fraternidade porque a Caridade que faz a fraternidade, não está nessa fé; por isso, concluo que a velha Fraternidade Cristã era a Caridade, mas foi e não é mais; entretanto, predigo que ela voltará". Quando ele pronunciou estas palavras, uma luz inflamada apareceu através da janela do lado do oriente e colorium suas faces; a esta, vista, a Assembléia foi tomada de espanto. Em último lugar, um dos do quinto banco à esquerda se levantou e pediu que lhe fosse permitido acrescentar alguma cousa ao que acabava de ser dito; isso lhe tendo sido permitido, êle disse: "0 meu Sentimento é que a Caridade consiste em perdoar a cada um as suas faltas; tirei este sentimento da linguagem ordinária daqueles que se aproximam da Santa Ceia, pois então alguns dizem a seus amigos: Perdoai-me as faltas que cometi entre vós, imaginando assim que cumpriram todos os deveres da Caridade; mas eu pensei em mim mesmo que isto é somente uma figura pintada da Caridade e não a forma real de sua essência, pois isso é dito não somente pelos que não perdoam, mas também pelos que não fazem esforço algum para seguir a Caridade; e êstes não estão compreendidos na Prece que o Senhor mesmo ensinou: Pai nosso, perdoa-nos as nossas faltas, como perdoamos os que cometeram faltas contra nós; com efeito, as faltas são como úlceras, onde se junta, se não abertas e curadas, uma sânie que corrompe as partes vizinhas, sobe em torno como uma serpente, e muda por toda parte o sangue em sânie. Dá-se o mesmo com as faltas contra o próximo, que, se não são afastadas pela penitência e pela vida segundo os preceitos do Senhor, permanecem e são engodos; a aqueles que, sem penitência, pedem somente a Deus para perdoar seus pecados, são semelhantes aos -cidadãos de uma cidade, que, atacados de uma moléstia contagiosa, iriam procurar o Prefeito e lhe diriam: Cura-nos; o Prefeito lhes responderia: 0 que! Curar-vos! Ide procurar um Médico, pedi-lhe uma receita, ide fazê-la aviar por um farmacêutico, tomai-a e ficareis curados. E o Senhor dirá aos que lhe suplicam para perdoar seus pecados sem uma penitência efetiva: "Abri a Palavra e lêde o que Eu disse em Isaías:" Ai da nação pecadora carregada de iniqüidade! Por isso, quando estendeis vossas mãos, eu escondo meus olhos de vós; se mesmo multiplicais a prece, eu não escuto. Lavai-vos, afastai a malícia de vossas obras de diante de meus olhos, cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; e então os vossos pecados serão afastados e serão remidos" (I, 4, 15-18). Terminado este discurso, estendi a mão e pedi que me fosse permitido, embora estranho, dar também o meu sentimento; o Presidente fez a proposta; e o consentimento tendo sido dado, falei assim: "0 meu Sentimento é que a Caridade consiste em agirem todas as obras e em todo emprego, pelo amor da justiça com o julgamento, mas por um amor que não procede de outra parte senão do Senhor. Tôdas as cousas que ouvi dizer por aqueles que estão

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assentados nas bancos, ao lado direito e ao lado esquerdo, são célebres documentos da Caridade; mas, como disse o Presidente desta Assembléia, a Caridade é espiritual em sua origem, e natural em sua derivação; e a Caridade natural, se é interiormente espiritual, aparece diante dos Anjos como o Diamante, mas se, interiormente, não é espiritual e que assim seja puramente natural, aparece diante dos Anjos como uma Pérola semelhante a um olho de peixe cozido. Não me compete dizer se estes célebres documentos da Caridade, que apresentastes em ordem, são ou não inspirados pela Caridade espiritual; mas me compete dizer o que será o espiritual que deve estar neles, para que sejam formas naturais da Caridade espiritual; o seu espiritual mesmo, consiste em serem feitos segundo o amor da justiça com o julgamento, isto é, que o homem nos exercícios da Caridade examine se age segundo a justiça; e isso êle o examina pelo julgamento; com efeito, o homem pode, por benefícios, fazer o mal e pode também fazer o bem por ações que se apresentam como malfazejas; por exemplo, faz mal por benefícios, se dá a um bandido indigente, socorros que o põem em condições de comprar uma espada, ainda que este, quando pede suplicando, não diga qual é a sua intenção; ou se o livra da prisão e lhe mostra o caminho da floresta, dizendo consigo mesmo: Não é minha culpa se êle cometer banditismo, eu levei socorro a um homem; seja ainda um outro exemplo: se alimenta um preguiçoso e vela para que não seja forçado a trabalhar e lhe diga: Entra em um quarto de minha casa e deita-te em uma cama, por que te fadigarias? Pois favorece a preguiça; do mesmo modo ainda, se eleva parentes e amigos, de mau caráter, a funções honrosas, nas quais podem maquinar vários gêneros de maldades. Quem não vê que tais obras de Caridade não provêm de nenhum amor da justiça com julgamento? E vice-versa, o homem pode fazer bem por cousas que aparecem como fazendo mal; por exemplo, um Juiz que não absolve um malfeitor pelo fato dele chorar, pronunciar palavras piedosas e suplicar que lhe perdoe porque é seu próximo; este juiz faz uma,obra de Caridade aplicando-lhe uma pena segundo a lei, pois assim age de sorte que o culpado não cometa mais malefícios, que não seja mais nocivo à sociedade que é o próximo em um grau superior, e que um julgamento de absolvição não seja um escândalo. Quem não sabe também que é um bem para os criados e para as crianças, quando seus patrões e seus pais os corrigem pelas más ações que praticaram? Acontece o mesmo com os que não estão no Inferno e que estão todos no -amor de fazer o mal; são todos encerrados em prisões e quando fazem o mal, são punidos, o que é permitido pelo Senhor para sua correção; e é assim porque o Senhor é a Justiça mesma e tudo que faz, o faz pelo Julgamento mesmo. Por êstes exemplos, pode-se ver claramente porque a Caridade, como o disse, torna-se espiritual pelo amor da justiça com o julgamento, mas segundo um amor que não procede senão do Senhor Deus Salvador; isso, porque todo bem da Caridade procede do Senhor, pois Êle disse: "Aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 5). "Foi-me dado todo poder no Céu e na Terra" (Mateus XXVIII, 18); e todo amor da justiça com julgamento não procede de outra parte que não seja do Deus do Céu, que é a Justiça mesma e de quem o homem recebe todo julgamento (Jeremias XXIII, 5; XXXIII, 15). Daí, eu concluo que tôdas as cousas que foram ditas sobre a Caridade por aqueles que estão sentados nos bancos à direita e à esquerda, a saber: Que a Caridade é a Moralidade inspirada pela Fé; Que é a Piedade inspirada pela Comiseração; Que consiste em fazer bem a cada um, tanto ao mau como ao bom; Que consiste em ser útil de toda maneira a parentes e amigos; Que consiste em dar esmola aos pobres e em socorrer os indigentes; Que consiste em construir Hospitais e em mantê-los por donativos; Que consiste em enriquecer os Templos e em fazer bem aos Ministros que fazem o seu serviço; Que é a velha Fraternidade Cristã; Que consiste em

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perdoar a cada um as suas faltas; concluo, disse, que tôdas estas cousas são bons documentos da Caridade, quando são feitas pelo amor da justiça com o julgamento; de outro modo, elas não são a Caridade, mas são unicamente como regatos separados de sua fonte ou como galhos destacados de sua árvore, pois que a Caridade real é crer no Senhor e agir com justiça e direitura em toda obra e em todo emprego. Aquele, portanto, que, pelo Senhor, ama a Justiça e a faz com Julgamento, esse é a Caridade em sua imagem e em sua semelhança". Depois que pronunciei estas palavras se fez um. silêncio, como acontece para aquele que, pelo homem Interno, vêem e reconhecem que uma causa é, mas sem ainda a ver nem reconhecer no homem Externo; é o que eu notei pelas suas faces. Mas de repente fui retirado de sua presença, pois de meu espírito reentrei em meu -corpo material; com efeito, o homem estando revestido do corpo material não é visível a homem espiritual algum, isto é, a espírito algum, nem a Anjo algum; e o homem espiritual não é visível ao homem natural.

&460 - Segundo Memorável. Um dia, quando eu olhava em torno de mim no Mundo espiritual, ouvi como um ranger de dentes e também como o barulho que se faz martelando, uma espécie de som rouco misturado com êstes ruídos; perguntei o que era e os Anjos que estavam comigo, me disseram: "São Colégios, que chamamos Diversórios, onde se reúnem para discutir; suas Discussões são assim ouvidas de longe, mas de perto só se ouvem as discussões". Aproximei-me, e vi casinhas construídas de juncos unidos com barro e quis olhar pela janela, mas não havia; pois não era permitido entrar pela porta porque assim a Luz proveniente do Céu influiria e lançaria a confusão ora, de repente se fez uma janela do lado direito, e então ouvi que se queixavam de estar na§ trevas; mas pouco depois se fez uma janela do lado esquerdo, tendo se fechado a janela do lado direito; então, as trevas foram, pouco a pouco, dissipadas e eles se viram em sua luz; depois disso, me foi permitido entrar pela porta e ouvir. Havia uma mesa no meio e bancos em torno; entretanto -todos me pareceram estar em pé sobre os bancos e discutir vivamente entre si sobre a Fé e sobre a Caridade; de um lado, que, a Fé era o essencial da Igreja; do outro, que era a Caridade. Os que faziam a Fé o essencial, diziam: "Não agimos pela Fé com Deus e pela Caridade com o homem? assim não é a Fé celeste e a Caridade terrestre? Não é pelos Celestes que somos salvos e não pelos Terrestres?" Depois: "Não pode Deus dar do Céu a Fé, pois que ela é celeste? E o homem não pode dar a Caridade, pois -que esta é terrestre? E aquilo que o homem se dá não é a Igreja e, por conseqüência, não salva; assim, pode alguém ser justificado diante de Deus pelas obras que são chamadas Obras da Caridade? Crede que pela Fé só rãs somos, não somente justificados, mas ainda santificados se a Fé não é maculada por cousas meritórias que procedem das obras da Caridade, etc." Mas os que faziam a Caridade o Essencial da Igreja refutavam com vivacidade estes raciocínios, dizendo, que é a caridade que salva e não a fé: "Deus não estima todos os homens? não quer bem a todos? como pode Deus fazer este bem se não for pelos homens? Deus não se digna somente falar com os homens cousas que pertencem à Fé e não se digna fazer aos homens as que pertencem à Caridade? Não vedes que falais da Caridade de uma maneira absurda dizendo que ela é terrestre? A Caridade é Celeste; e! Por que não fazeis o bem da Caridade, a vossa Fé é terrestre; como recebeis a vossa Fé senão como uni toco ou uma pedra? dizeis: Ouvindo pronunciar a Palavra; mas como a Palavra, escutada somente pode operar e como o pode ela em um toco ou uma pedra? Sem dúvida que fostes vivificados inteiramente sem o saber, mas que vivificação, se não é a de que podeis dizer que-a Fé só justifica e salva? Quanto ao que é a Fé e qual é a Fé que salva, vós nada sabeis". Então se

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levantou um dos membros que o Anjo, que conversava comigo, chamava Sincretista; tomou seu boné e o colocou sobre a mesa; mas, em seguida, o recolocou na cabeça porque era calvo; e disse: "Escutai, vós estais todos em erro; é verdade que a Fé é espiritual e que a Caridade é moral, mas não obstante são conjuntas pela Palavra, e então pelo Espírito Santo, e pelo Efeito, que pode mesmo ser chamado Obediência, mas obediência na qual o homem não tem parte alguma, porque, quando a Fé é dada, o homem não o sabe mais que uma estátua; meditei muito sobre este assunto e achei que o homem pode receber de Deus uma Fé que seja espiritual, mas que não pode, mais que um toco ser levado por Deus a uma Caridade que seja espiritual". A estas palavras, os que estavam na Fé só aplaudiram; mas os que estavam na Caridade murmuraram; e em sua indignação, disseram: "Escuta, companheiro, tu não sabes que há uma Vida moral espiritual e que há uma Vida moral puramente natural, uma Vida moral espiritual nos que fazem o bem por Deus, e entretanto, como por si mesmos, e uma Vida moral puramente natural nos que fazem o bem pelo Inferno, e entretanto, como por eles mesmos". Foi dito que a discussão tinha sido ouvida como um ranger de dentes e como um barulho que se faz martelando, ruídos a que se misturava um som rouco. A Discussão ouvida como um ranger de dentes era a discussão daqueles que tinham feito da Fé o único Essencial da Igreja; o barulho como o que se faz martelando, vinha dos que tinham feito da Caridade o único essencial da Igreja e o som rouco, provinha do Sincretista; o barulho de sua discussão tinha sido ouvido desta maneira a distância, porque todos esses no Mundo tinham discutido e não tinham fugido de mal algum; por conseqüência, não tinham feito bem algum proveniente do espiritual; e mesmo ignoravam inteiramente que o todo da Fé é o vero e o todo da Caridade o bem, e que o Vero sem o bem não é o Vero em espírito, e que o Bem sem o vero não é o Bem em espírito, e que assim um deve fazer o outro.

&461 - Terceiro Memorável. Um dia fui levado em espírito à Plaga meridional do Mundo espiritual, e aí a um Paraíso; e vi que êle ultrapassava em beleza tudo o que eu tinha visto até então; isto provinha de que o Jardim significa a Inteligência e. que, ao Sul, são transportados todos os que sobressaem em inteligência; o Jardim do Éden, no qual estavam Adão e sua esposa, não significa outra cousa; é por isso, que a sua expulsão desse jardim significa que foram privados da inteligência e, por conseqüência, também da integridade da vida. Enquanto eu passeava neste Paraíso meridional, notei, sentados sob um loureiro, alguns espíritos que comiam figos; aproximei-me deles, lhes pedi figos e eles me deram; e eis que os Figos na minha mão se tornaram Uvas; como eu me admirasse disso, um Espírito Angélico que estava perto de mim, disse: "Os Figos em tua mão se tornaram. Uvas porque os Figos, pela correspondência, significam os bens da Caridade; por conseqüência, os bens da Fé no homem natural ou externo, ao passo que as Uvas significam os bens da Caridade; por conseguinte, os da Fé no homem espiritual ou interno; e como amas os espirituais, eis porque isso te aconteceu; pois em nosso Mundo tudo se faz, existe e mesmo se muda, segundo as correspondências". Então, me veio, de repente, o desejo de saber como o homem pode fazer o bem por Deus e, entretanto, absolutamente como por si mesmo; perguntei pois aos que comiam figos como eles compreendiam isso. Disseram-me: "Não podemos compreender de outra forma, a não ser assim, que Deus opera interiormente no homem e pelo homem sem que este o saiba, pois que se o homem tivesse consciência disso e que o fizesse assim, não faria senão um bem aparente, que interior-mente é o mal; com efeito, tudo que procede do homem procede de seu próprio, e o próprio de nascença é o mal; como então a bem que vem de Deus e o mal que vem do homem podem estar

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conjuntos e proceder assim conjuntamente no ato? E o próprio, do homem nas cousas da salvação respira continuamente o mérito, e quanto mais o respira, tanto mais arrebata do Senhor Seu mérito, o que é o cúmulo da injustiça e da impiedade; em uma palavra, se o bem que Deus opera no homem influísse no querer do homem, este seria inteiramente maculado e seria assim profanado, o que, entretanto, Deus não o permite jamais; o homem pode, é verdade, pensar que o bem que êle faz vem de Deus, e chamá-lo o bem de Deus por si, mas todavia, como isso se opera, nós não o compreendemos". Então abri minha mente, e disse: "Vós não compreendeis, porque pensais pela aparência e o pensamento confirmado pela aparência é uma ilusão; há aparência e conseqüentemente, ilusão em vós, porque credes que todas as coisas que o homem quer e pensa, faz e pronuncia, estão nele e, por conseqüência, vêm dele, quanto entretanto não há nele nada dessas cousas, exceto o estado de receber o que influi; o homem não é a vida em si, mas é um órgão que recebe a vida; o Senhor é a vida em si, como o disse também em João: "Como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim Ele deu também ao Filho ter a Vida em Si mesmo" (V, 26), e em outros lugares, por exemplo, João XI, 25; XIV, 6, 9. Há duas cousas que constituem a Vida, a saber, o Bem do Amor e o Vero da Sabedoria; elas influem de Deus e são recebidas pelo homem como se lhe pertencessem; e porque são sentidas assim, procedem também do homem como lhe pertencendo; foi permitido pelo Senhor que fossem sentidas assim pelo homem, a fim de que o que influi o afete e, por conseqüência, seja recebido e permaneça. Mas como todo mal influi também, não de Deus, mas no Inferno, e é recebido com prazer, porque o homem é por nascimento um órgão tal, é por isso que não é recebido de Deus mais bens do que há males afastados do homem como por si mesmo, o que se faz pela Penitência e, ao mesmo tempo, pela Fé no Senhor. Que o Amor e a Sabedoria, a Caridade e a Fé, ou por falar mais comumente, o Bem do amor e da caridade e o Vero da sabedoria e da fé influem, e que as cousas que influem aparecem no homem como lhe pertencendo e, conseqüentemente, procedem como lhe pertencendo, é o que é claramente manifestado pela vista, pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e o tato; todas as cousas que são sentidas pelos órgãos destes sentidos influem de fora e são sentidas neles; semelhantemente, nos órgãos dos sentidos internos, com a única diferença de que nestes influem os Espirituais que não aparecem, e naqueles, os Naturais que aparecem; em uma palavra, o homem é um órgão recipiente da vida que procede de Deus, por conseqüência é um recipiente do bem tanto quanto renuncia ao mal; o Senhor dá a cada homem o poder de renunciar ao mal porque lhe dá o querer e o compreender; e tudo o que v homem faz pela vontade segundo o entendimento ou tudo o que faz pela liberdade da vontade segundo a razão do entendimento, permanece nele; por isto o Senhor introduz no homem o estado de conjunção com êle e nesse estado Êle o reforma, o regenera e o salva. A Vida que influi é a Vida procedente do Senhor, a qual também é chamada o Espírito de Deus e na Palavra o Espírito Santo, de que se diz também que ilustra e vivifica e mesmo que opera no homem; mas esta Vida é variada e modificada segundo a Organização introduzida pelo amor. Podeis também saber que todo bem do amor e da caridade e todo vero da sabedoria e da fé, influem e não estão no homem; por isto mesmo, que aquele que pensa que este bem e este vero estão no homem por criação, não pode em seguida impedir-se de pensar que Deus se infundiu no homem e que assim os homens se riam em parte, Deuses; entretanto, os que pensam isto pela fé -se tornam diabos, e no Mundo espiritual fedem como cadáveres. Além disso, o que é a ação do homem, senão a Mente agindo? Pois o que a Mente quer e pensa, ela o faz e o pronuncia pelo Corpo seu órgão; é por isso que, quando a Mente é conduzida pelo Senhor, a Ação e a Linguagem são conduzidas também; e a Ação e a Linguagem são conduzidas

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pelo Senhor quando se crê n'Êle. Se não fosse assim, dizei, se o puderdes, por que o Senhor, em Sua Palavra, ordenou em milhares de passagens, que v homem ame seu próximo, que pratique os bens da caridade, dê frutos como a árvore e que faça os preceitos, a fim de ser salvo? Depois, por que disse que o homem seria julgado segundo seus efeitos ou suas obras, o que faz boas obras para o Céu e -a Vida, e o que as faz más, para o Interno e a Morte? Como o Senhor teria podido falar assim, se tudo o que procede do homem fosse meritório e, por conseqüência, o mal? Sabei, pois que se a Mente é Caridade, a ação também é Caridade; mas que se a Mente é a Fé só, que é também a Fé separada da Caridade espiritual, a Ação também é esta Fé". A estas palavras os que ,estavam sentados sob o loureiro, disseram: "Talvez haja justeza no que acabas de dizer, mas não obstante não compreendemos", Eu lhes respondi: "0 que acabo de dizer, vós compreendeis-lhe a justeza pela percepção comum que está no homem pelo influxo da luz vinda do Céu, quando ouve dizer algum vero; mas pela percepção própria que está no homem pelo influxo da luz vinda do Mundo, vós não o compreendeis; estas duas percepções, a saber, a interna e a externa, ou a espiritual e a natural, não fazem mais que uma nos sábios; vós também podeis destas duas percepções não fazer mais que uma, se dirigirdes os vossos olhos para o Senhor, e se afastardes os males". Como compreendessem isso, tomei ramos de uma Cepa, lhos apresentei e disse: "Acredita que isto vem de mim ou do Senhor?" e eles disseram que isso vinha de mim pelo Senhor. E eis que esses ramos em suas mãos produziram uvas. Mas quando me retirava, vi uma mesa de cedro, sobre a qual estava um Livro, sob uma oliveira verdejante, cujo tronco estava cercado por uma Cepa; olhei, e eis que era um Livro escrito por mim e intitulado: "Arcanos Celestes"; e eu disse que nesse Livro foi plenamente mostrado que o Homem é um órgão recipiente da vida e não a vida; e que esta não pode ser criada, nem se achar criada no homem, mais do que a luz no olho.

&462 - Quarto Memorável. Dirigi os meus olhos para uma Costa marítima no Mundo espiritual e vi um Porto magnífico; aproximei-me e examinei o interior; e eis que havia lá Navios grandes e pequenos, e nesses navios mercadorias de todo gênero; e sobre os bancos estavam sentados rapazes e moças, distribuindo estas mercadorias aos que as queriam; e diziam: "Estamos esperando ver as nossas belas Tartarugas que em breve vão sair do mar para vir a nós". E eis que vi Tartarugas, pequenas e grandes, sobre as cascas e as escamas das quais havia Tartarugas novas, que olhavam para as ilhas ao redor. As Tartarugas-pais tinham duas Cabeças, uma grande, cercada de uma casca semelhante à casca de seu corpo, o que as fazia brilhar; e a outra, pequena, como é ordinariamente nas tartarugas, que elas recolhiam na parte anterior do corpo e que faziam entrar também de uma maneta apenas visível em sua Cabeça grande; eu tinha os olhos fixados sobre a grande Cabeça brilhante e vi que ela tinha uma face como um homem, e que falava com os rapazes e as moças, que estavam nos bancos e lhes lambiam as mãos; então, os rapazes e as moças lhes tocavam docemente, lhes davam alimento e gulodices e também coisas preciosas, como sedas para roupas, madeiras odoríferas para mesas, púrpura para ornamento e escarlata para pintar o rosto. Depois de ter visto estas cousas, desejava saber o que elas representavam, porque sei que tôdas as cousas que aparecem no Mundo espiritual são correspondências é representam os espirituais que pertencem à afeição e ao pensamento; então, os Anjos falaram do Céu comigo e disseram: "Tu mesmo conheces o que representa o Porto, o que representam os Navios, e também o que representam os Rapazes e as Moças nestes Navios mas não sabes o que representam as Tartarugas". E me disseram: "As Tartarugas representam aí os do Clero, que separam interiormente a Fé da Caridade e de suas boas obras, afirmando em si mesmos,

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que entre a Fé e a Caridade não há absolutamente conjunção alguma, mas que o Espírito Santo pela Fé em Deus Pai, por causa do mérito do Filho, entra no homem e purifica seus interiores até à sua própria Vontade, de que fazem como um Plano oval; e que, quando a operação do Espírito Santo se aproxima desse plano, afasta-se de sua parte esquerda girando e não a toca de modo algum, e que assim a parte interior ou superior do gênio do homem é para Deus, e a parte exterior ou inferior, para o homem; e, por conseqüência, não aparece diante de Deus cousa alguma do que faz o homem, seja bem, seja mal; o bem porque é meritório; o mal porque é o mal; pois se o bem e o mal aparecessem diante de Deus, i homem pereceria por um e por outro; e que, isso sendo assim, permitido ao homem querer, pensar, dizer e fazer tudo o que lhe agrada, desde que tome cuidado consigo por causa do Mundo". Perguntei se eles afirmavam também que é permitido pensar de Deus que Êle não é Onipotente nem Onisciente. Responderam-me do Céu: "Eles pretendem que isso também lhes é permitido, porque Deus, naquele que obteve a Fé e foi por ela purificado e justificado, não olha para coisa alguma do seu pensamento nem de sua vontade e que, entretanto, o homem retém no selo interior ou na região superior de sua mente ou de seu gênio, a Fé que tinha recebido em seu ato e que este ato pode, por vezes, voltar à revelia do homem. E' isso que representa a Cabeça pequena, que eles recolhem na parte anterior do corpo e que fazem entrar também na Cabeça grande, quando falam com os leigos; pois falam com eles, não pela Cabeça pequena, mas pela Grande, que pela frente aparece como tendo uma face humana; e pela Palavra, falam com eles do Amor, da Caridade, das boas obras, dos Preceitos do Decálogo, da Penitência e tiram da Palavra quase tôdas as cousas que aí estão sobre êstes assuntos; mas então fazem entrar na Cabeça grande a Cabeça pequena, pela qual compreendem interiormente em si mesmos, que tôdas estas cousas devem ser feitas não para Deus, nem para a salvação, mas unicamente para o bem público e o bem privado. Todavia, como é segundo a Palavra, que falam com suavidade e elegância destes assuntos, sobretudo do Evangelho, da operação do Espírito Santo e da Salvação, aparecem aos seus ouvintes como homens preciosos e como os mais sábios de todo o Universo; é por isso mesmo que vistes que os rapazes e as moças sentados nos bancos dos navios lhes davam gulodices e coisas preciosas; são êles, portanto, que vistes representados por Tartarugas. Em teu Mundo, eles são pouco distinguidos dos outros, exceto nisto, que se acreditam mais sábios que todos, e que escarnecem dos outros e também, daqueles que estão em uma semelhante doutrina quanto à Fé, mas não em seus arcanos; usam em suas roupas um certo sinal pelo qual se fazem reconhecer pelos outros". 0 que me falava acrescentou: "Não te direi o que eles pensam das outras cousas da Fé, por exemplo, da Eleição, do Livre Arbítrio, do Batismo e da Santa Ceia; são segredos que eles não divulgam, mas nós, no Céu, o sabemos. Entretanto, como eles são assim no Mundo e que depois da morte a ninguém é permitido falar diferentemente do que pensa, é por isso que então, como eles não podem falar senão pelas loucuras de seus pensamentos, são reputados como loucos, expulsos das Sociedades e precipitados nos poços do abismo, de que se fala no Apocalipse 9.10, 2; e se tornam Espíritos corporais e aparecem como Múmias Egípcias; pois uma calosidade foi introduzida nos interiores de sua Mente, porque no Mundo tinham interposto aí uma separação. A Sociedade Infernal destes Espíritos fica sobre os confins da Sociedade infernal dos Maquiavelistas e eles entram indistintamente de uma na outra, e se chamam entre si companheiros; mas saem dela porque diferem deles pelo fato de haver neles alguma cousa da religião concernente ao ato da justificação pela fé, enquanto que nos Maquiavelistas nada há de religião". Depois que os vi expulsos das Sociedades e reunidos para serem precipitados, vi no ar um Navio voando com sete velas e nesse navio, pilotos e

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marinheiros, cobertos com roupas de púrpura, tendo sobre seus bonés magníficas coroas de louro e exclamando: "eis no Céu, somos Doutores revestidos de púrpura e coroados de louro de preferência a todos os outros porque somos os chefes dos sábios de todo o (Mero da Europa?". Estava admirado do que via e me foi dito que eram imagens do fasto e dos pensamentos ideais, que se chamam fantasias, daqueles que, precedentemente, tinham sido vistos cormo Tartarugas, e que agora, tendo sido, como loucos, expulsos das Sociedades e reunidos, se mantinham juntos em um mesmo lugar; e então, desejei falar com eles, me aproximei do lugar onde estavam, os saudei e lhes disse: "Sois vós que haveis separado os Internos dos homens de seus Externos e a Operação do Espírito Santo como estando na Fé de sua cooperação com os homens fora da Fé e, por conseqüência, separado Deus dos homens; não tendes vós assim afastado da Fé não somente a Caridade e suas Obras, como vários outros Doutores do Clero, mas também a Fé mesma quanto à sua manifestação diante de Deus pelo homem? Mas, eu vos peço, quereis que eu converse convosco sobre este assunto segundo a Razão ou segundo a Escritura Santa?" Disseram: "Fala primeiro segundo a Razão". E falei, dizendo: "Como o Interno e o Externo no homem podem ser separados? Quem não vê ou não pode ver, pela percepção comum, que todos os interiores do homem mergulham e são continuados nos seus Exteriores e até nos seus extremos, para produzir seus efeitos e operar suas obras? Os Internos não são, em relação aos Externos, para terminar neles, aí subsistir e assim existir, pouco mais ou menos, como uma coluna em relação a seu pedestal? Podeis ver que se não houvesse continuação e assim, conjunção, os externos seriam dissolvidos te se dissipariam como bolhas de sabão no ar; quem pode negar que as operações interiores de Deus, no homem, sejam por miríades de miríades, sem que o homem saiba cousa alguma? e de que lhe serviria saber alguma cousa delas? é suficiente que conheça os extremos, nos quais com seu pensamento e sua vontade, está com Deus. Mas isso vai ser ilustrado com um exemplo: 0 homem conhece as operações interiores de sua linguagem? Sabe êle como o pulmão atrai o ar e enche dele as suas vesículas, os brônquios e os lóbulos; como empurra este ar na Traquéia, e aí o muda em som; como este som é modificado na glote com o auxílio do laringe; como, em seguida, a língua o articula e como os lábios completam a articulação, a fim de que se torne linguagem? Tôdas estas operações interiores de que o homem nada sabe, não são elas para o extremo, a fim de que o homem possa falar? Afastai ou separai um destes internos de sua continuidade com os extremos, será que o homem poderia falar mais do que um toco? Seja ainda um exemplo: As duas mãos são os últimos do homem; os Interiores que são continuados até elas não vêm .da Cabeça pelo Pescoço, depois pelo Peito, as Espáduas, os Bragos e os Antebraços? Não há inumeráveis tecidos musculares, inumeráveis falanges de fibras motrizes, inumeráveis feixes de nervos e de vasos sanguíneos e um grande número de juntura de ossos, com seus ligamentos e sua membranas? 0 homem sabe alguma coisa de sua ação? Entretanto, as mãos operam pelo jogo de tôdas e de cada uma destas partes; suponde que estes interiores, em direção ao punho, se voltam à esquerda ou à direita e não entrem por continuidade na mão, a mão não se destacaria do antebraço, e não apodreceria como uma parte arrancada e sem vida? E mesmo, se quiserdes acreditar, seria como o ,corpo, se o homem fosse decapitado. Aconteceria absolutamente o mesmo com a Mente humana e com as suas duas Vidas, a Vontade e o Entendimento, se as Divinas Operações que pertencem à Fé e à Caridade, cessassem no meio do caminho e não tendessem por continuidade até ao homem; certamente, então o homem seria não somente um bruto, mas uma prancha apodrecida. Eis o que eu tinha a dizer segundo a razão. Agora, se quiserdes me ouvir, provarei as mesmas cousas segundo a Escritura Santa: 0 Senhor não disse: "Permanecei em Mim, e Eu em vós;

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Eu sou a Cepa; vós os sarmentos; aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto" (João XV, 4, 5); os frutos não são as boas obras que o Senhor faz pelo homem e que o homem faz de si mesmo pelo Senhor? 0 Senhor não disse ainda: "Eu estou à porta e bato e naquele que abre a porta, eu entro e ceio com ele, e ele comigo" (Apoc. 3, 20). 0 Senhor não dá minas e talentos, a fim de que o homem os faça render e tire lucro deles e a fim de lhe dar segundo o ganho, a vida eterna? (Mateus XXV, 14-30; Lucas XIX, 13-26). 0 Senhor não dá a cada um o salário segundo o trabalho em sua vinha? (Mateus XX, 1, 2, 17). Mas não é isto mais que um pequeno número, de passagens da Palavra, encher-se-ia páginas com aquelas onde se diz que o homem deve dar frutos como a árvore, deve cumprir os mandamentos, que deve amar ao Deus e ao próximo, etc. Mas eu sei que a vossa própria Inteligência nada pede ter de comum com as cousas que estão na Palavra, como é em si; ainda que tenhais estas cousas na boca, contudo as vossas idéias as pervertem; e não podeis fazer de outro modo, pois que afastais do homem tôdas as coisas de Deus quanto à comunicação e, por conseguinte, quanto à conjunção; que vos resta então, senão afastar também tôdas as cousas do culto?" Depois disso, eles me apareceram na luz do Céu que descobre e manifesta cada um tal qual é; e então foram vistos não como precedentemente sobre um navio no ar, como em um Céu, nem cobertos de vestimentas de púrpura e com a cabeça coroada de louro, mas em um lugar arenoso com vestimentas esfarrapadas e os rins cercados de redes de pescar, através das quais aparecia sua nudez e então foram enviados para a sociedade que estava nos confins da, sociedade dos Maquiavelistas.

FIM DO PRIMEIRO VOLUME