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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:
OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO E MANUTENÇÃO DO SISTEMA
Nirleide Dantas Lopes
Resumo: O presente trabalho tem o intuito de demonstrar que a violência contra a mulher não é um problema atual, mas
ao relacioná-la ao modo de produção capitalista, esse problema social é intensificado, principalmente quando o capital
entra em crise, podendo ser visto ser visto em vários aspectos, sobretudo quando situamos o mercado de trabalho,
porque que as mulheres têm salários inferiores em relação ao dos homens, sofrem discriminação, assédio moral e
sexual. Quando são mães, a situação se agrava, pois as proletárias, não têm com quem deixar os seus filhos para exercer
atividades laborais, uma vez que o número de creches é reduzido e limitado, fazendo com que abdiquem do emprego e
passem a ser sustentadas pelo seu companheiro. Essa situação abre espaço para práticas violentas, do homem sobre a
mulher, tendo em vista que o homem agora detém o poder econômico e a mulher fica mais uma vez encarregada pelo
cuidado.
Palavras-chave: Violência contra a mulher. Patriarcado. Capitalismo. Opressão.
INTRODUÇÃO
Não é tarefa fácil relacionar a violência contra a mulher ao sistema capitalista, tendo em
vista que a maioria das produções teóricas, em torno das relações de gênero, insiste em considerar a
opressão da mulher apenas como uma questão cultural, desconsiderando as contradições e as
desigualdades sociais impostas pela sociabilidade erguida pelo o capital. Desigualdades essas, que
são vistas, por exemplo, no mercado de trabalho, na esfera pública e privada, tendo o patriarcado
como um dos mecanismos de sustentação desse sistema, dado que nele a mulher é duplamente
explorada.
Em vista disso, as políticas para as mulheres no capitalismo, têm um caráter contraditório,
pois não expressam seus valores fundamentais, ou seja, como esse é um sistema de exploração, não
há possibilidade de emancipação humana das mulheres, “pois o coração da sociedade capitalista não
é o Estado, são as relações de produção capitalista”. (MASCARO, 2016, p. 20). Relações de
produção capitalistas que são de flexibilização, precarização, desmonte de direitos, provocando
modificações irreversíveis na vida cotidiana do trabalhador e da trabalhadora.
Por isso, para fundamentar esse posicionamento, foram utilizados alguns dos argumentos
levantados pelas feministas classistas, que defendem a ideia da opressão da mulher, alinhada ao
surgimento da propriedade privada, seguindo às argumentações de Marx e Engels em: “A origem da
família da propriedade privada e do Estado”, “A sagrada Família”, “Ideologia Alemã”, que é
reafirmada no manifesto Comunista.
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O presente trabalho é resultado de pesquisa bibliográfica e documental, cujo qual se
pretendeu comprovar essa inafastável relação da violência contra a mulher associada ao
capitalismo/patriarcado1.
1. A IGUALDADE DAS MULHERES NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
Para que possamos entender a opressão das mulheres na sociedade de classes e assim a
dominação do homem, remodelada na contemporaneidade, é relevante uma breve abordagem sobre
a reestruturação do capitalismo e as características do Estado. Segundo Mandel (1982), em o
Capitalismo Tardio o Estado é produto da divisão social do trabalho e este “surgiu da autonomia
crescente de certas atividades superestruturais, mediando à produção material, cujo papel era
sustentar uma estrutura de classe e as relações de produção”, ou seja, o Estado sustenta a estrutura
de classe burguesa, por isso é fundamental que a luta pela libertação das mulheres estejam alinhada
à transformação da sociedade, em busca de uma ação política efetiva, já que as mazelas desse
sistema caem majoritariamente sob as mulheres.
Mandel (1982, p. 336), por sua vez, entende que:
[...] O Estado burguês se distingue de todas as formas anteriores de dominação de
classe por uma peculiaridade da sociedade burguesa que é inerente ao próprio
modo de produção capitalista. O isolamento das esferas públicas e privadas da
sociedade, que é consequência da generalização sem igual da produção de
mercadorias, da propriedade privada e da concorrência de todos contra a todos.
A partir dessa citação percebe-se que Mandel aponta três características que distingue o
Estado Burguês de todas as formas anteriores. Fazemos a pergunta: Existiu dominação de classe no
Estado burguês? Lógico, mas como exposto à cima o que vai diferir são as diferentes formas de
dominação de classe que antes era baseada na terra. O mesmo ocorre com as mulheres, com o
fortalecimento das estruturas de classes, sustentado por uma sociedade capitalista, patriarcal e
racista.
No que se refere à ampliação da legislação social, Mandel diz que:
1 Carole Pateman (1993, p. 38) em o Contrato sexual, afirma que o “patriarcado” refere-se a uma forma de poder político.
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“tratou-se de uma concessão à crescente luta de classe do proletariado, destinando-
se a salvaguardar a dominação do capital de ataques mais radicais por parte dos
trabalhadores, mas ao mesmo tempo correspondeu também aos interesses gerais da
reprodução ampliada no modo de produção capitalista” (p.336).
Nesse sentido, o nível de desigualdade gestado pelo desenvolvimento do capitalismo deixa em
seu percurso, severas marcas na vida das mulheres. Logo esse grupo social que já é tão prejudicado
por ser socializado na ordem patriarcal de gênero, posto que a “[...] instauração da propriedade
privada e a subordinação das mulheres aos homens são dois fatos simultâneos, marco inicial da luta
de classes. (MORAES, 2000, p. 89). E como afirma Saffioti:
O aparecimento do capitalismo se dá, pois, em condições extremamente adversas à
mulher. No processo de individualização inaugurado pelo modo de produção
capitalista, ela contaria com uma desvantagem social de dupla dimensão: no plano
superestrutural, era tradicional uma subvalorização das capacidades femininas
traduzidas em termos de mitos justificadores da supremacia masculina e, portanto,
da ordem social que a gerava; no plano estrutural, à medida que se desenvolviam
as forças produtivas, a mulher vinha sendo progressivamente marginalizadas da
função produtiva, ou seja, perifericamente situada no sistema de produção (p.65-
66, grifo nosso).
No avanço desse sistema a mulher tem algumas “conquistas” por meio dos direitos de
cidadania tais como: o voto, a participação na vida pública, entre outros. Em se tratando da
cidadania, Marshall (1967), realiza um estudo sobre o desenvolvimento da cidadania, afirmando
que ela surge com os direitos civis, políticos e sociais a partir da revolução industrial, sendo nesse
sentido, a cidadania, um direito uno, pois “quando os três elementos da cidadania se distanciam um
dos outros, logo passaram a parecer elementos estranhos entre si”. (MARSHALL, 1967, p. 66).
Posto isso, é importante pontuar, que esses direitos contribuíram de alguma forma para a
autonomia das mulheres, mas, no entanto, não conseguiu alterar as desigualdades econômicas e de
classe social, pois as mulheres ainda vivem em um sistema de opressão/exploração.
Quando nos referimos às mulheres trabalhadoras a situação ainda piora, já que essas, no
mercado de trabalho, são constantemente exploradas, subordinadas e precarizadas, recebem salários
inferiores, além de terem menos oportunidades, além do que estão sujeitas a uma dupla jornada de
trabalho. Quando estudante a situação se agrava ainda mais, visto que agora ela enfrentará uma
tripla jornada. Por isso, fica claro afirmar, que não é apenas a conquista dos direitos sociais, mas
sim a luta por uma nova ordem societária.
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A luta por igualdade das mulheres, por meio de uma nova ordem societária é defendida por
mészáros (2011) em “Para além do capital: Rumo a uma teoria de transição” onde ele fala sobre a
liberação das mulheres através da igualdade substantiva, pois segundo ele não se pode pensar em
igualdade absoluta entre homens e mulheres dentro da “ordem metabólica do capital”. Diz ele:
Liberação das mulheres – à guisa de permanente lembrete de promessas não
cumpridas e não cumpríveis do sistema do capital – e transformam a grandiosa
causa de sua emancipação numa dificuldade não integrável ao domínio do capital.
Não pode haver nenhum modo de satisfazer a exigência da emancipação feminina
– que veio à tona há muito tempo, mas adquiriu urgência num período da história
que coincidiu com a crise estrutural do capital – sem uma mudança substantiva nas
relações de desigualdade social estabelecida (MÉSZÁROS, 2011, p.223).
Percebe-se que só se pode falar de igualdade entre homens e mulheres se essa for substantiva,
porque “lutar pela extinção das desigualdades, opressão e exploração, enfim, lutar por emancipação
plena, liberdade, exige a defesa de valores libertários” (CISNE, 2005, p. 03). Isto é, exige o fim da
propriedade privada e da divisão sexual do trabalho.
Heleieth Saffioti em sua obra “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade” (2013)
aborda que o capitalismo não criou a inferiorização social das mulheres, mas se aproveitou do
mesmo contingente feminino, acirrando a disputa e portanto, aprofundando a desigualdade entre os
sexos. Nesse sentido, que o movimento feminista classista, assume uma perspectiva revolucionária,
materialista e dialética em que defende a libertação das mulheres alinhada à mudança de toda a
sociedade.
Outro ponto importante que deve sempre ser lembrado e problematizado, por feministas que
produzem conhecimento em torno da luta de classe, é questão do termo “empoderamento”. Esse
termo vem sendo utilizado com muita freqüência, por grupos de mulheres, coletivos, associações e
outros movimentos no sentido de que as mulheres precisam de poder e o acesso a ele poder pode
ser conquistado por meios de diversos caminhos, através da: educação, emprego, formal ou não.
Segundo world bank (2002 apud SORJ, 2016, p. 259) [...] “Tal empoderamento compreende a
expansão da capacidade das mulheres de fazerem escolhas estratégicas em suas vidas para
desenvolver os seus problemas”, porém as mulheres não exercem poder no capitalismo.
No entanto, quando se referem ao empoderamento sem “considerar os processos sociais e a
sua dimensão de totalidade que as criam e as formam” (IAMAMOTO, 2001, p.18) ocultam que
diversas mulheres ao buscar o tal “empoderamento” se sujeitam a trabalhos precários, inumanos e
sem proteção. Muitas vezes o trabalho é até considerado escravo. Nesse sentido, Iamamoto descreve
que:
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“[...] Atribuindo unilateralmente aos indivíduos a responsabilidade por suas
dificuldades. Deriva na ótica de análise dos problemas sociais, como problemas do
individuo isolado, perdendo-se a dimensão coletiva e isentando a sociedade de
classes da responsabilidade na produção das desigualdades sociais”.
(IAMAMOTO, 2001, p.18)
Tendo em vista os questionamentos a cima se percebe que nessa sociedade desigual não
podemos nos afastar da luta de classe, tendo o movimento feminista como representante das lutas
das mulheres, colaborando nas estratégias de enfretamento às formas de opressão para que não haja
um obscurecimento das relações mais profundas da sociedade do capital, pois, de acordo com
Saffioti:
Não se pode generalizar, para todas as mulheres, a mesma forma de opressão a que
estão submetidas. É inegável que todas as mulheres sofrem discriminação e
opressão de gênero. Essas opressões, no entanto, são vivenciadas de forma
diferenciada de acordo com as condições materiais de cada um. (SAFFIOTI, 1992,
191).
Em se tratando do obscurecimento das relações da sociedade do capital, alguns teóricos
afirmam que após a Segunda Guerra Mundial, houve muitas mudanças na sociedade (mudanças
relacionadas ao consumo, à mídia, à vida e até nas artes). Esses teóricos têm como base a
“perspectiva” pós-moderna para justificar tais mudanças.
A influência pós-moderna vem adentrando, contundentemente no movimento feminista,
seguindo a lógica cultural do capitalismo contemporâneo, ou seja, é funcional ao capitalismo, há
então o que José Paulo Netto chama de semiologização do real, pois a materialidade da vida social
não é posta em questão. É importante pontuar, também, que a critica pós-moderna é uma critica
dogmática ao marxismo.
As análises sobre a pós-modernidade chegam à pauta do movimento feminista, tendo em vista
que há um crescente aumento nos estudos de gênero referenciados pela pós-modernidade que
desconsideram a perspectiva de totalidade, apoiados em abordagens pós-estruturalistas. Essas
abordagens enfatizam nas diferenças e não consideram a sociedade de classes para justificar as
desigualdades das mulheres, denominada como a fuga da realidade a qual Sousa (2005) apontou
que:
“[...] Esta tendência revela-se necessária ao desenvolvimento da ordem burguesa e
não como algo residual, ao contrário, é um componente sócio-objetivo - como
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Lukács bem assinalou - que limita a elaboração teórico-filosófica em diferentes
momentos do estágio de desenvolvimento do capitalismo, posto que passa a repelir
da razão moderna duas de suas categorias constitutivas: o historicismo concreto e a
dialética. Uma vez que por meio destas, é possível ao sujeito superar o momento
imediatamente dado e conduzir a compreensão histórico-transitório do capitalismo,
o que em direta conseqüência abre a possibilidade de instauração de uma nova
sociabilidade” (2005, p.07).
Por isso, atualmente, a categoria gênero e o movimento feminista encontram-se ambos, em
uma cisão entre duas tendências, são elas: a liberal e a socialista que possui pontos divergentes e
também comuns. A primeira assume uma postura que não considera o capitalismo como fator
central para se estudar as relações de desigualdades entre o homem e a mulher. Já a segunda analisa
a opressão da mulher, considerando a dimensão classe e gênero.
Esse cenário vem se apresentando dessa forma, porque as diversas transformações no mundo
contemporâneo rebatem na vida da mulher moderna, fazendo surgir inúmeras formas de
enfrentamento à situação de opressão vivida pelas mulheres. Por fim, conclui-se que a análise de
conjuntura não pode ficar ausente da luta de classes.
No que se refere à violência contra a mulher, são diversos os fatores que contribuem para tal
violência, mas as desigualdades sociais se expressa com maior evidência. Como senão bastasse
ainda tem de conviver com o preconceito nos espaços públicos e privados.
3- A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO MANUTENÇÃO DO SISTEMA
“É hora de efetuar uma revolução nos modos das mudanças, hora de devolver lhes
a dignidade perdida e fazê-las, como parte da espécie humana, trabalhar
reformando a si mesmas para reformar o mundo”. (WOLLSTONECRAFT, 2016,
p. 69)
A citação da autora wollstonecraft (2016), nos faz refletir sobre algo tão incoerente que é a
dignidade de que as mulheres tanto almejam. E coloco como incoerente, tendo em vista que há de
se perguntar: Que dignidade é essa que as mulheres procuram? Será que essa dignidade é possível
na sociedade capitalista, ou é apenas ilusão?
Em se tratando da violência contra a mulher, como forma de destruição de sua dignidade, esta
se apresenta na contemporaneidade, como expressão da questão social em que é agravada pela
desigualdade social, decorrente do modo de produção capitalista. Evidencia-se nessa conjuntura,
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não apenas os preconceitos e as diversas formas de opressão, as quais as mulheres convivem, mas
também diferentes formas de exploração.
É importante deixar claro que, a opressão a qual as mulheres estão sujeitas não surge com a
sociedade de classes, contudo nessa sociedade a desigualdade entre o homem e a mulher é
remontada, favorecendo apenas o homem, tendo em vista que não há alterações na estrutura do
patriarcado (sistema de dominação-exploração do homem sobre a mulher), ou seja, enquanto as
mulheres continuam sendo exploradas, o patriarcado é sustentado.
Sobre o sistema do capital destaca Santos:
O sistema do capital se beneficia da opressão das mulheres, tanto do ponto de vista
ideológico, por meio da reprodução do papel conservador da família e da mulher,
como na perspectiva da inserção precária e subalterna no mundo do trabalho. No
bojo dessas determinações é necessária uma luta ampliada para obter uma nova
condição social, política e econômica para as mulheres, que possibilite igualdade
entre os gêneros. O próprio sistema dominante está atravessado por várias
contradições, que abrem caminho para lutas e transformações que objetivam uma
nova ordem social. (SANTOS, 2010, p. 04).
Como vimos à violência contra a mulher está intimamente relacionada ao patriarcado que
surge em decorrência da sociedade capitalista, esse último, se apresenta de forma mais contundente
em seu estagio monopolista. É importante lembrar que a violência contra a mulher sempre existiu,
ela é histórica, pode estar alinhada até o surgimento da humanidade. O fato é, existe uma grande
diferença entre a violência contra a mulher praticada na era medieval e a praticada na idade
moderna.
A violência contra a mulher ocorre em todas as classes sociais, mas há uma grande
diferença da que acontece na periferia, tendo em vista que “a situação das mulheres não privilegiada
por sua posição de “raça” e classe, as quais constituem a maioria da classe das mulheres e a parte
dessa classe mais afetada pela globalização, deve ser colocada no centro da análise”. (FALQUET,
2016, p.43) Por isso, deve ser tratada considerando as desigualdades sociais impostas pelo sistema,
pois “[...] o sexo, fator de há muito selecionado como fonte de inferiorizarão social da mulher, passa
a interferir de modo positivo para atualização da sociedade competitiva na constituição das classes
sociais”. (SAFFIOTI, 2013, p.66).
No período histórico denominado feudalismo, na Europa medieval, mais precisamente, a
opressão das mulheres em relação aos homens era vista como algo cultural, ou seja, a cultura era
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determinante. Um exemplo é casamento, ele era uma forma de fortalecer as alianças entre as
famílias, em que as mulheres eram encarregadas aos afazeres domésticos e cuidadas dos filhos. “A
felicidade da mulher, tal como era então entendida, incluía necessariamente o casamento. Através
dele é que se consolidava sua posição social e se garantia sua estabilidade ou prosperidade
econômica” (SAFFIOTI, 2013, p. 63). A diferença é que nessa época não havia “consciência de
classe” das mulheres, enquanto sujeitos explorados, nem mesmo de desigualdade entre os homens.
Saffioti (2013) retrata que nas sociedades pré-capitalistas, antes da revolução agrícola e
industrial a mulher das camadas trabalhadoras era ativas, “enquanto a família existiu como unidade
de produção, as mulheres e as crianças desempenhavam um papel econômico fundamental” ( 2013,
p. 62).
A mulher só passa a se reconhecer enquanto classe com surgimento da propriedade
privada e com a divisão sexual do trabalho. Isso pode ser comprovado seguindo as argumentações
de Engels no livro: As origens da família, a propriedade privada e o estado. Segundo Engels “[...]
desenvolvem-se a propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza, a possibilidade de
empregar força de trabalho alheia e com isso a base dos antagonismos de classe” (2004, p.8).
Tendo em vista o exposto, entende-se que a violência contra a mulher, quando tratada como
expressão da questão social deve ser enfrentada a partir de abordagens que considerem a sua
historicidade e sua relação com o modo de produção capitalista, dispondo de base com recorte de
classe na finalidade de combater esse sistema desigual que oprime e estigmatiza as mulheres
cotidianamente
A obra Sexo e poder: a família no mundo 1900-2000 de Goran Therbon, publicada em 1941,
ganha visibilidade entre as feministas classistas quando nesta é discutido as configurações do
patriarcado nesse período. Therbon aponta que em 1900 o espancamento da esposa era natural e
legítimo na maior parte do mundo.
Logo, este autor é enfático ao falar dos sistemas familiares na modernidade, apontando que o
patriarcado no mundo não era igual, porque o poder dos homens dentro da família mudava
dependendo da classe e da cultura. Além disso, nossa história não começa com “Era uma vez um
patriarcado tradicional”. Tal noção é vazia, e ignora a grande variedade de tradições (idem, 2015, p.
34).
A opressão da mulher sob a vertente do materialismo - histórico- dialético, por entender que
esse é o melhor caminho para tratar tal opressão, entendendo-se que essa possa ser amenizada com
uma sociedade sem classes.
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O fim da sociedade de classes não significa direta e indiretamente o fim da
opressão de gênero. Claro que o fim das formas de opressão de classe, se gerador
de uma forma societal socialmente livre, autodeterminada e emancipada,
possibilitará o aparecimento de condições histórico-sociais nunca anteriormente
vistas (ANTUNES, 1999, p.110 apud CISNE, 2012, p.132).
Para tanto, a partir das considerações acima, faz-se necessário estudar esse fenômeno, tendo
como fundamento o método de conhecimento científico dialético, pois a nosso ver é só a partir
desse método que compreenderemos com mais contundência as abordagens e análises da violência
contra a mulher, tendo o patriarcado como um dos elementos centrais para se estudar esse problema
social.
No Brasil para o enfretamento da violência contra a mulher, tomamos como norte a Lei
Federal Nº 11.340/2006, Lei Maria da Penha que define como violência doméstica e familiar contra
a contra a mulher, “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, e também a recente Lei Nº
13.104/ 2015, Lei do feminicídio que “Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de
homicídio”.
As medidas de enfrentamento a violência contra a mulher no Brasil se fortalecem a partir da
criação da Secretaria de Políticas para as mulheres no ano de 2003, pois antes, tal violência era
enfrentada de maneira isolada, já que não existiam políticas especificas para combater esse tipo de
prática. Após a criação da secretaria são criados vários instrumentos protetivos a mulher, como por
exemplo: os Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres, a Lei Maria da Penha, a Política e o
Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, as Diretrizes de Abrigamento
das Mulheres em situação de Violência, as Diretrizes Nacionais de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres do Campo e da Floresta, Norma Técnica do Centro de Atendimento à Mulher
em situação de Violência, Norma Técnica das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher,
entre outros.
Entretanto, diante dos retrocessos por meio do Governo do presidente Michel Temer, iniciado
em 31 de agosto de 2016, houve modificações na Secretaria de Políticas para Mulheres, posto que,
até o final do governo Dilma Rousseff, está tinha caráter de ministério, porém, com todas as
mudanças no governo Temer a secretaria foi incluída a um único ministério junto à Igualdade
Racial e os Direitos Humanos, fazendo parte da estrutura do Ministério da Justiça.
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Nesse cenário de mudanças, as políticas para as mulheres ficam cada vez mais ameaçadas já
que é diminuído o orçamento em torno dessas políticas, dificultado a sua operacionalização e
execução de muitas delas nos Estados e Municípios. Assim, presenciamos hoje a retração do Estado
e consequentemente a fragilização das políticas e de direitos historicamente conquistados.
Sem proteção, a violência massifica-se, aumentado os casos de feminicídio no país. Um
exemplo claro da ineficiência das políticas de proteção à mulher foi à “chacina em Campinas”, em
que doze pessoas de uma mesma família foram assassinadas em uma festa de réveillon. A vítima
principal era a ex- mulher do assassino que brigava na justiça pela guarda do filho. O fato é que a
vitima já havia feito vários boletins de ocorrência, não havendo nenhuma intervenção da justiça
culminou em sua morte e de mais onze pessoas incluindo o filho do casal de apenas oito anos de
idade.
Nesse sentido afirma Saffioti (1994, p. 451): “[...] que o homem pode ser violento com sua
companheira e manter relações sociais consideradas adequadas nos demais setores da vida contando
com a mudez da companheira dominada [...].”, mas quando a mulher rompe com a mudez precisa
de proteção do Estado e quando isso não ocorre o resultado é drástico, resultando, muitas vezes em
sua morte, apenas por ser mulher. Por esse e outros motivos elencados até aqui o machismo mata
todos os dias.
É importante problematizar que o reconhecimento do Estado da violência contra a mulher,
por meio da materialização de algumas políticas não quer dizer que as mulheres estão, de fato,
protegidas, mas é traçado um caminho para que essas políticas aconteçam de fato.
A violência contra a mulher é encoberta pelo capitalismo, já que essa violência é intensificada
de acordo com a classe social, ainda mais agravada quando as mulheres são negras, trans, e
periféricas. Percebe-se que a libertação das mulheres só será possível se conseguirmos por fim a
propriedade privada e a divisão sexual do trabalho, já que não é aceitável emancipar mulheres no
capitalismo, dado que a ideologia baseada no instinto da propriedade privada é legitimada
socialmente.
No que concerne aos dados sobre a violência contra a mulher, no país, se intensificam a cada
ano, deixando cada vez mais clara a necessidade da criação de políticas públicas e de proteção
social à mulher.
Conforme os dados do Mapa da Violência 2015 de Homicídios de Mulheres no Brasil,
realizado pela FLACSO/ Brasil- Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, utilizando os
dados finais de violências para o ano 2010, a taxa de homicídios é de 4,8 por 100 mil mulheres.
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Com esses dados o Brasil fica atrás, somente, El Salvador, Colômbia, Guatemala e a Federação
Russa.
Compreende-se que a violência acometida as mulher é um fenômeno intrínseco a história da
humanidade, já que “[...] as desigualdades atuais entre homens e mulheres são resquícios de um
patriarcado não mais existentes ou em seus últimos estertores [...]” (SAFFIOTI, 2015, p.48, grifo
do autor). Obviamente, com as diversas mudanças na vida social esse mecanismo de dominação
também acompanhou essas transformações, por isso a necessidade de se considerar o feminismo
alinhado à luta de classes, pois nesse sistema a opressão da mulher é intensificada de acordo com a
posição social que ela ocupa.
Um ponto que também merece destaque é o ascenso da direita, no Brasil e no mundo com
resquícios de fascismo, racismo, estimulação ao ódio para com os negros, mulheres, homossexuais,
deficientes, índios e população em situação de rua. Dessarte aumenta também o número de atos de
crueldade para com esses públicos.
No Brasil, figuras como o atual Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), ocupam esses
espaços para incitar o ódio a esses grupos, com declarações machistas, racistas, homofobicas, de
apologia à tortura e discursos misóginos. O Deputado foi um dos mais votados no Estado e suas
redes sociais tem milhões de seguidores, fanáticos, por suas insanidades.
Essa figura execrável possui um público de apoiadores bastante expressivo, que pretende
defender sua candidatura à presidência do Brasil. Pois bem, enfoco a figura do deputado, porque os
discursos de parlamentares como ele, vêm influenciando, nitidamente, a prática de atos violentos no
Brasil, pois vários grupos se sentem legitimados em suas ações, já que segundo Marcelo Braz:
Vivemos um tempo histórico que abriu as portas para uma onda conservadora na
qual navegam duas formas de conservadorismo: um conservadorismo de direita e
um de esquerda, ambos resultantes de uma cultura própria do capitalismo
contemporâneo que se coaduna na ideologia pós-moderna. (BRAZ, 2012, p. 468,
grifo nosso).
O ponto positivo é que mesmo com o avanço do conservadorismo ainda existe o movimento
feminista, apesar de fragmentado, movimentos que não deixam à luta das mulheres morrer. Então,
enquanto existir feminismo articulado, haverá possibilidades de mudanças nas estruturas sociais.
Tendo como bandeira de luta, “[...] lutar pela extinção das desigualdades, opressão e exploração,
enfim, lutar por emancipação plena, liberdade, exige a defesa de valores libertários”. (CISNE, 2005,
p. 03).
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Na cena internacional, figuras como Donald John Trump, empresário americano, que agora é
o atual presidente dos Estados Unidos, declarou diversas expressões machistas durante sua
campanha, assim como tomou medidas radicais como é o caso da construção de uma muralha,
críticos chamam o de o “muro da discórdia” fechando as fronteiras entre os Estados Unidos e o
México. Essas e outras medidas tomadas pelo presidente resultaram em vários protestos em muitos
Estados Americanos. Esses protestos, em sua maioria, realizados por militantes feministas. Pessoas
famosas também se juntaram à luta como é o caso de cantora Madona.
Uma expressão da luta do movimento de mulheres, contra o Governo de Trump, foi à marcha
das mulheres de Washington, ocorrida um dia depois da sua posse, constituída por feministas,
negros e pela população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Apresentou
como principal bandeira de luta o presidente Trump, haja vista que “A onda Trump” ameaça a
autonomia das mulheres de todo mundo, já que muitos direitos das mulheres podem ser revistos,
representado um grande retrocesso. Além do mais, discursos ideológicos veiculados por membros
de comunidades machistas, racistas e homofóbicos podem vir a se fortalecer. Afirma Netto (2001).
[...] no âmbito do pensamento conservador – a ”questão social”, numa operação
simultânea à sua naturalização, é convertida em objeto de ação moralizadora. E, em
ambos os casos, o enfrentamento das suas manifestações deve ser função de um
programa de reformas que preserve, antes de tudo e mais, a propriedade privada
dos meios de produção (NETTO, 2001, p. 44, grifo do autor).
Nessa conjuntura de barbárie a questão social passa a ser tratada como problema individual,
pois como diz Mascaro “o Estado está talhado a funcionar conforme o capital”. Sendo assim “[...] a
opressão generalizada contra as mulheres continua a ser uma muleta essencial para o capitalismo”.
(DAVIS, 2016, p.203).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as análises obtidas até aqui problematizaram a respeito da impossibilidade de assegurar
os direitos das mulheres no capitalismo e sobre a violência contra a mulher como sustentação do
sistema, já que nesse universo dominado pelo capital o que existe é a reprodução das desigualdades
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e para “[...] transformar radicalmente o mundo só será Possível se as mulheres forem, com
igualdade, sujeitos legítimos deste processo” (GOUDINHO, 2011, p.11).
Desse modo, na direção de se construir uma sociedade sem misoginia, opressão e machismo é
preciso eliminar as desigualdades sociais, ou seja, lutar por uma nova sociedade, em que seja
possível a emancipação efetiva das mulheres. Nesse sentido, a teoria social marxista, por meio do
método materialista-histórico e dialético, se faz indispensável para a luta das mulheres, pois é
através dela que se consegue desvendar os mecanismos de opressão das mulheres por meio da
associação capitalismo/patriarcado.
Por isso, podemos concluir, que as criticas ao marxismo, no que se refere a ele não ser capaz
de perceber o gênero, são infundadas e superficiais, uma vez que as políticas sociais tal como é
vista hoje, não foi um tema dos tempos de Marx, no entanto, pode-se encontrar nele, valiosas
indicações para a sua abordagem.
Além disso, é valido relembrar, que com o avanço do conservadorismo e ascensão da
burguesia o movimento feminista deve reafirmar que sem “socialismo não há feminismo e sem
feminismo não há socialismo”, porquanto que precisamos barrar as abordagens pós-modernas no
que se refere aos estudos de gênero, dado que estas obscurecem outras categorias, tais como: classe,
etnia/raça, porquanto que enfatizam as diferenças e se distanciam da prática política.
Finalmente, afirma-se que é fundamental fortalecer a luta contra o capital. Afinal, como bem
descreveu Heleieth Saffioti, “Não existe feminismo autônomo, desvinculado de uma perspectiva de
classe”.
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VIOLENCE AGAINST WOMEN IN CAPITALISM: oppression, exploitation and
maintenance of the system
Abstract: The present paper aims to demonstrate that violence against women is not a current
problem, but its relation to the capitalist mode of production, it is seen, that this social problem is
intensified, especially when capital goes into crisis . This intensification can be seen in several
aspects, especially when we place the labor market, because women earn less than men, work
informally and unprotected. When they are mothers, the situation is aggravated, since the
proletarian women do not have with whom to leave their children to carry out work activities, since
the number of crèches is reduced and limited, causing that by many times, they give up of the
employment And be sustained by your companion. This situation makes room for violent practices
of the man on the woman, since the man now holds the economic power and the woman is once
again in charge of the care. In support of this position, some of the arguments raised by the classist
feminists, who defend the idea of the oppression of women, aligned with the emergence of private
property, following the arguments of Marx and Engels in: "The origin of the family of private
property and State, "" The Holy Family, "" German Ideology, "which is reaffirmed in the
Communist manifesto. The present work is the result of bibliographical and documentary research,
whose purpose was to prove this inafastavél relation of violence against the woman associated with
capitalism / patriarchy that give support to the system.
Keywords: Violence against women, patriarchy, capitalism and oppression.