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-“Aberlado: o primeiro homem moderno”? (Entra em discussão com o texto de Gilson, mas aqui não escrevi o debate, apenas a fala para dizer da Chenu) Chenu desenvolve uma análise em defesa que a “moral da intenção” era uma subversão, pois “o valor de nossas ações e julgamento que elas evocam diante de Deus e diante dos homens, se determinam não radicalmente pelos objetos, bons ou maus em si, envolvidos por essas ações - um roubo, um assassinato, um ato carnal -, mas pelo consentimento interior que damos a eles. Não é o fato de matar que, em si, é pecado, mas o injusto consentimento prévio ao assassinato. É a vontade de cumprir um ato proibido que constitui o mal, mesmo se essa vontade se encontra impedida de o cumprir efetivamente.” (P.20) Desta maneira, Chenu compreende a intenção como sinônimo de consentimento, desta forma não seria um pecado. O assentimento é critério da moralidade. A bondade de seu ato é medida pela pureza da intenção. Assim, para Chenu a prova do “valor supremo da intenção” é a paixão de Heloísa por Abelardo (“são prova viva da doutrina”). A Heloísa defende “a verdade e a santidade de seu amor” (p.21), pois diz que o amor dela era “desinteressado”. Chenu diz que analisaria as razões psicológicas e religiosas de põem em conflito com os comportamentos efetuados por Abelardo. Pontuando a prática do sacramento da penintência que comporta a consciência dos atos cometidos não foi removida com a “Reforma Gregoriana”. Então a Reforma não eliminou por completo as práticas, as regras e a mentalidade que a difusão dos penitenciários célticos tinha permanecido no continente. Sem necessidade de negligenciar a renúncia espiritual, a conversão do coração, o “regime” buscava as densidades penitenciais. O mecanismo deste regime vivia sensível a acabar. O aparelho societário do poder da Igreja e o caráter judiciário das obrigações penitenciais infligidas restringiam a

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-“Aberlado: o primeiro homem moderno”? (Entra em discussão com o texto de Gilson, mas aqui não escrevi o debate, apenas a fala para dizer da Chenu)

Chenu desenvolve uma análise em defesa que a “moral da intenção” era uma subversão, pois “o valor de nossas ações e julgamento que elas evocam diante de Deus e diante dos homens, se determinam não radicalmente pelos objetos, bons ou maus em si, envolvidos por essas ações - um roubo, um assassinato, um ato carnal -, mas pelo consentimento interior que damos a eles. Não é o fato de matar que, em si, é pecado, mas o injusto consentimento prévio ao assassinato. É a vontade de cumprir um ato proibido que constitui o mal, mesmo se essa vontade se encontra impedida de o cumprir efetivamente.” (P.20)

Desta maneira, Chenu compreende a intenção como sinônimo de consentimento, desta forma não seria um pecado. O assentimento é critério da moralidade. A bondade de seu ato é medida pela pureza da intenção. Assim, para Chenu a prova do “valor supremo da intenção” é a paixão de Heloísa por Abelardo (“são prova viva da doutrina”). A Heloísa defende “a verdade e a santidade de seu amor” (p.21), pois diz que o amor dela era “desinteressado”.

Chenu diz que analisaria as razões psicológicas e religiosas de põem em conflito com os comportamentos efetuados por Abelardo. Pontuando a prática do sacramento da penintência que comporta a consciência dos atos cometidos não foi removida com a “Reforma Gregoriana”. Então a Reforma não eliminou por completo as práticas, as regras e a mentalidade que a difusão dos penitenciários célticos tinha permanecido no continente. Sem necessidade de negligenciar a renúncia espiritual, a conversão do coração, o “regime” buscava as densidades penitenciais. O mecanismo deste regime vivia sensível a acabar. O aparelho societário do poder da Igreja e o caráter judiciário das obrigações penitenciais infligidas restringiam a emancipação das consciências e juízo pessoal. Dentro deste sistema as obras de reparação, fator eclesiástico e objetivo, ultrapassava ao arrependimento, fator subjetivo.

O arrependimento era o ponto central na disciplina penitencial para Abelardo, pois ela liberaria do pecado, diminuindo o papel da absolvição que ameaça o papel da absolvição criada pela autoridade sacerdotal, assim o fator societário objetivo. São Bernardo denunciou esta como uma das heresias de Abelardo, no Concílio de Sens (1140). A partir disto é criada a teologia da contrição (livre de criticar a subjetividade de Abelardo) pelas “Sentenças” de Pedro Lombardo e pelo “Decreto” de Graciano. Lombardo em sua obra diz que o perdão de Deus através da confissão ao padre, mas para que seja perdoado teria que chorar seu pecado e amor por Deus (Sentenças IV, d 18, c 4). Desta maneira, Santo Tomás os atos de sacramento que unem em dois movimentos do livre-arbítrio são elas: o movimento para Deus e movimento para o Pecado.

Abelardo contribuiu para a eliminação da prática, chamada de paenitentia solemnis, nela a imposição pública de sanções exteriores, em beneficio da penitencia privada. Desta forma, Chenu visualiza uma incorporação do “subjetivismo” na literatura

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penitencial, onde existe um cuidado de adaptação psicológica à personalidade do penitente. O “liber de paenitencia” de Alano Lille que se desenvolve principalmente na legislação do Concílio de Latrão (1215) onde foi distinguido por Michaud-Quantin: de um lado os “manuais de confissão”, desenvolvidos em vista do exercício do exame de consciência; o outro, as “sumas de caso de consciência”, prática formalista da penitência, que são: as intenções, a circunstância, responsabilidade, “personalização e fineza psicológica, que dão um novo tom”. Neste contexto, do século XII “vê triunfarem críticas cada vez mais categóricas contra os ordálios, os duelos judiciários, as provas de fogo e água, as promessas e as maldições, tudo concebido como ‘julgamento de Deus’ num sobrenaturalismo sumário que operava uma alienação das consciências, transferindo para a divindade aquilo que se referia (...) a discernimentos e provas de inocência ou culpabilidade.” (p. 25)

Chenu conta que existe certo obediencialismo nas regras monásticas no paternalismo feudal, que é recusado pelas exigências dos movimentos evangélicos durante todo o século. Um ideal de fraternidade impõe de modo de exercício novo às relações de autoridade, não só de comportamentos, mas, sobretudo, nas estruturas governamentais, onde passa a remeter critérios internos estabelecidos nos tratados “Sobre os regimes dos príncipes”.

Concluindo Chenu, que Abelardo foi o primeiro doutor dos direitos da consciência errônea (não dividiu a comunhão cristã quando não mais acreditava na divindade de Cristo), porém ele não foi responsável involuntário, pois o erro anulou sua culpabilidade. Além de Abelardo não acreditar que o pecado original é um pecado, se o pecado se julga através da interioridade e culpabilidade da consciência. Chenu dividiu o pecado em duas partes, na moral da pessoa e da natureza, então como Abelardo possuía domínio sobre as disciplinas do espírito (trivium), e não da natureza (quadrivium), ele possuía uma imagem de universo interior (microcosmo). Diferentemente, da Escola de Chartres que seguiam uma moral da natureza. Na alta idade média, os “maiores mestres” (ex: Santo Anselmo) já possuía uma configuração estável como a lei do próprio homem. Abelardo com sua exaltação do “’sujeito’ humano” promove uma mudança no encadeamento: “o ser humano detém os meios e o risco de uma iniciativa; sua intenção é criadora de valor moral, mesmo que em detrimento da ordem das coisas. O homem é uma pessoa, sujeito irredutivelmente original, cuja intervenção escapa (...) à natureza.”. Santo Tomás fez uma moral em que a lei do homem entra nas leis gerais da natureza, com suas objetividades. Santo Tomás percebeu a originalidade do sujeito e elaborou uma filosofia da pessoa. Abelardo foi o precursor deste pensamento, então para Chenu Abelardo foi o primeiro homem moderno.

Bibliografia

CHENU, Marie-Dominique. O despertar na consciência na civilização medieval. São Paulo: Loyola, 2006. 62 p.