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ABERRAÇÕES OCULARES ASSOCIADAS AO USO DE
LENTES DE CONTACTO HIDROFÍLICAS MENSAIS
Estudo Clínico
Inês Rebordão Pereira Batista
Dissertação para obtenção do grau de mestre em Engenharia Biomédica
Júri
Presidente: Prof.ª Maria Teresa Haderer de la Peña Stadler
Orientadores: Prof. Manuel Monteiro Grillo
Prof. João Alberto dos Santos Mendanha Dias
Vogal: Prof. Carlos Marques Neves
Setembro de 2007
1
2
Agradecimentos
A todos os voluntários que participaram neste estudo.
A todos os colegas, amigos e família que me apoiaram, nomeadamente a David Afonso, Ricardo
Farinha, João Fernandes e Renato Alves. Um agradecimento especial é também dirigido a Filipa Viola,
por todo o apoio e ajuda.
Ao pessoal da Clínica ALM OFTALMOLASER onde tiveram lugar os testes que serviram de base a
este estudo, com um agradecimento especial ao Pedro Reis, que realizou todas as medições.
Aos Professores Mendanha Dias e Monteiro Grillo, que me orientaram e apoiaram.
3
Resumo
Objectivos: Este estudo clínico teve como objectivo determinar quais as alterações nas qualidades do
mapa da frente de onda e da imagem retiniana em olhos com lentes de contacto extraoculares, à medida
que o tempo de uso dessas lentes aumenta.
Método: Foram medidas as aberrações dos olhos de 8 voluntários, com e sem lentes colocadas e para
diferentes tempos de uso das lentes, com um Aberrómetro de Hartmann-Shack. Os dados recolhidos
foram tratados utilizando métricas do plano pupilar e do plano da imagem.
Resultados: Os resultados obtidos apresentam uma tendência para as qualidades do mapa da frente de
onda e da imagem retiniana serem menores para um maior uso das lentes de contacto, mesmo que não
se verifiquem aumentos naturais da quantidade de aberrações presentes nos olhos dos voluntários.
Adicionalmente, procedeu-se a uma análise da variação da presença de aberrações oculares, entre
casos sem e com lentes colocadas, tendo-se verificado uma tendência para que determinadas
aberrações de ordem superior, nomeadamente aberrações anti-rotacionais, aumentem ao colocar as
lentes.
Conclusões: Apesar de se ter verificado uma diminuição das qualidades do mapa da frente de onda e
da imagem retiniana para lentes de contacto mais usadas, essa diminuição não justifica a não utilização
de lentes para correcção de erros refractivos. Sugere sim, uma necessidade de averiguar o porquê
dessa menor performance óptica das lentes, à medida que vão sendo usadas, e de quantificar essa
diminuição. Assim, os vários estudos que se venham a desenvolver sobre este tema, e outros
relacionados, permitarão que o cada vez maior número de utilizadores de lentes de contacto
extraoculares possa ver aumentada a qualidade da sua visão e a satisfação relativa ao seu uso.
Conceitos-chave: Aberrações oculares, diâmetro pupilar, lentes de contacto, métricas, variações.
4
Abstract
Purpose: The aim of this clinical study was to determine how the wavefront’s and the retinal image’s
qualities, of eyes with extraocular contact lenses, are modified as the time of use of the lenses increases.
Method: The aberrations of the eyes of 8 volunteers were measured, with and without lenses and for
different time of use of the lenses, with a Hartmann-Shack Aberrometer. The collected data was then
analyzed with the use of pupil plane and image plane metrics.
Results: The results present a trend for the wavefront map’s and the retinal image’s qualities to decrease
when comparing data obtained with less used and more used lenses, even if the amount of the eye’s
natural aberrations does not increase. Additionally, it was analyzed the presence of ocular aberrations’
variation between cases without and with lenses and it was verified a trend to higher order aberrations,
specially the anti-rotational ones, increase when placing the lenses.
Conclusions: Despite the verified decrease of the wavefront map’s and the retinal image’s qualities, as
the lenses are more used, such does not justify not using the contact lenses to correct refractive errors.
Such decrease suggests a need to find out why the lenses’ optical performance decreases and a need to
quantify that decrease. Thus, the several studies concerning this issue, and other related, will allow the
increasing number of contact lenses’ users to become more satisfied, as the quality of their vision
increases throughout the lenses lifespan.
Key-concepts: Ocular aberrations, contact lenses, metrics, pupil diameter, variations.
5
Índice
Agradecimentos ............................................................................................................................................ 2
Resumo ......................................................................................................................................................... 3
Abstract ......................................................................................................................................................... 4
Índice ............................................................................................................................................................. 5
Lista de Figuras ............................................................................................................................................. 8
Lista de Tabelas .......................................................................................................................................... 12
Lista de Abreviaturas .................................................................................................................................. 15
Introdução ................................................................................................................................................... 16
Capítulo I – Bases Teóricas ....................................................................................................................... 17
1. Introdução ........................................................................................................................................... 18
2. Visão ................................................................................................................................................... 19
2.1. Anatomia e Fisiologia do olho humano ............................................................................................ 19
2.2. Processo de formação da imagem .................................................................................................. 21
2.2.1. Refracção dos raios de luz........................................................................................................ 22
2.2.2. Acomodação ............................................................................................................................. 22
- Constricção da pupila ...................................................................................................................... 23
2.2.3. Convergência ............................................................................................................................ 23
2.3. Acuidade visual ................................................................................................................................ 25
3. Aberrações oculares ........................................................................................................................... 27
3.1. Tipos de aberrações ........................................................................................................................ 27
3.1.1. Aberrações cromáticas ............................................................................................................. 27
3.1.2. Aberrações monocromáticas (ou geométricas) ........................................................................ 27
3.2. Aberrómetro de Hartmann-Shack .................................................................................................... 30
3.3. Reconstrução de frentes de onda - Polinómios de Zernike ............................................................. 32
3.4. Medição da qualidade visual ............................................................................................................ 36
3.4.1. Point Spread Function (PSF) .................................................................................................... 37
3.4.2. Modulation Transfer Function (MTF) ........................................................................................ 37
6
4. Lentes de contacto .............................................................................................................................. 38
4.1. Evolução histórica ............................................................................................................................ 38
4.2. Classificação das lentes de contacto ............................................................................................... 39
4.1.1. Por função ................................................................................................................................. 39
4.1.2. Pelo material de fabrico ............................................................................................................ 40
4.1.3. Pelo padrão de uso ................................................................................................................... 41
4.1.4. Pela geometria .......................................................................................................................... 41
4.3. Prescrição ........................................................................................................................................ 43
4.4. Complicações associadas ao uso de lentes .................................................................................... 43
Capítulo II – Estudo Clínico ........................................................................................................................ 44
1. Introdução ........................................................................................................................................... 45
2. Método ................................................................................................................................................ 46
2.1. Definição inicial de parâmetros ................................................................................................... 46
2.2. Material utilizado ......................................................................................................................... 47
2.3. Características da população estudada ...................................................................................... 49
3. Definição das métricas a utilizar ......................................................................................................... 52
3.1. Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike ............................................. 52
3.2. Método da pupila crítica ................................................................................................................ 53
3.3. Raiz quadrada do segundo momento de distribuição de luz (baseada na qualidade da PSF) .. 55
3.4. Área da MTF ............................................................................................................................... 56
4. Resultados .......................................................................................................................................... 58
4.1. Comparação entre medições realizadas sem e com lentes ....................................................... 58
4.2. Análise ao longo do tempo de uso das lentes ............................................................................ 65
4.2.1. Análise da variação das diferentes métricas para os casos pertencentes ao Grupo 1 ............ 66
4.2.2. Análise da variação das diferentes métricas para os casos pertencentes ao Grupo 2 ............ 84
Capítulo III - Conclusões ............................................................................................................................ 99
Bibliografia............................................................................................................................................... 103
Anexo I ..................................................................................................................................................... 107
7
Anexo II .................................................................................................................................................... 110
Anexo III ................................................................................................................................................... 117
8
Lista de Figuras
Figura 1. Representação esquemática de um corte sagital de um olho humano e identificação das três
camadas que o constituem: a camada mais externa ou túnica fibrosa, constituída pela córnea e a
esclerótica, a camada intermédia ou túnica vascular, composta pela coróide, o corpo ciliar e a íris, e a
camada interna, ou retina ........................................................................................................................... 19
Figura 2. Representação esquemática simplificada do modo como as imagens são focadas na retina e
comparação com o que acontece com uma máquina fotográfica .............................................................. 21
Figura 3. Representação esquemática do processo de acomodação do olho ........................................... 23
Figura 4. Representação esquemática do percurso percorrido pela informação visual, desde os olhos até
ao cérebro ................................................................................................................................................... 24
Figura 5. Representação esquemática do ângulo visual que deve ser ocupado por um optotipo, no caso
de "visão padrão" e exemplo de Quadro de Snellen .................................................................................. 25
Figura 6. Representação esquemática de olho com miopia e do mesmo olho com a aberração corrigida
com uma lente côncava. ............................................................................................................................. 28
Figura 7. Representação esquemática de um olho com hipermetropia e do mesmo olho com a aberração
corrigida com uma lente convexa. .............................................................................................................. 29
Figura 8. Representação esquemática do modo de funcionamento de um aberrómetro de Hartmann-
Shack .......................................................................................................................................................... 31
Figura 9. Representação esquemática e exemplificativa do padrão de pontos captado pelo detector CCD,
nos casos ideal (olho sem aberrações) e com frente de onda aberrada ................................................... 31
Figura 10. Representação gráfica das frentes de onda das aberrações individuais correspondentes aos
primeiros 15 polinómios de Zernike ............................................................................................................ 36
Figura 11. Lente de contacto feita a partir de vidro soprado, pelo alemão Muller Sohne, em 1930. ......... 38
Figura 12. Lentes de contacto cosméticas de cores diferentes. ................................................................. 40
Figura 13. Menu interactivo disponibilizado pelo programa desenvolvido por Filipa Viola e utilizado neste
estudo para análise dos dados devolvidos pelo Aberrómetro de Hartmann-Shack. .................................. 49
Figura 14. Representação gráfica da distribuição do poder refractivo esférico das lentes de contacto, em
dioptrias. ...................................................................................................................................................... 50
Figura 15. Mapas da frente de onda obtidos para o olho direito do voluntário IB, com uma lente mais
usada e uma lente menos usada. Apresentam-se também os mapas obtidos após aplicação da métrica 2
aos mapas anteriores.. ................................................................................................................................ 54
Figura 16. Representação de duas PSF de diferente qualidade: a da esquerda, mais compacta (more
compact) e com elevado contraste (high contrast), apresenta maior qualidade que a da direita, menos
compacta (less compact) e de baixo contraste (low contrast) .................................................................... 55
9
Figura 17. Representação das PSF’s obtidas para o olho esquerdo do voluntário IB, com uma lente
menos usada e uma lente mais usada ....................................................................................................... 56
Figura 18. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações dos coeficientes de
Zernike correspondentes ao “coma total” e à aberração esférica de 4.ª ordem e das somas dos valores
absolutos dos coeficientes de Zernike associados a aberrações de ordem superior (de todas as
aberrações de ordem superior – até à ordem 20 – e de todas – até à ordem 20 - excepto os comas e a
aberração esférica), em função de intervalos das variações dos raios pupilares, para os casos em que se
comparam medições sem e com lentes colocadas. ................................................................................... 60
Figura 19. Mapa da frente de onda a duas dimensões e representações da PSF e do Quadro de Snellen
correspondentes, de um dos testes realizados ao olho esquerdo do voluntário DA, com a respectiva lente
colocada. ..................................................................................................................................................... 63
Figura 20. Mapa da frente de onda a duas dimensões e representações da PSF e do Quadro de Snellen
correspondentes, do teste realizado ao olho direito do voluntário MS1, com a respectiva lente colocada.
.................................................................................................................................................................... 63
Figura 21. Mapa da frente de onda a duas dimensões e representações da PSF e do Quadro de Snellen
correspondentes, do teste realizado ao olho direito do voluntário MS1, com a respectiva lente colocada,
com o coeficiente de Zernike correspondente à desfocagem anulado. ..................................................... 64
Figura 22. Mapas tridimensionais da frente de onda, obtidos para a medição realizada com lente ao olho
direito do voluntário MS1, após anulação de todos os coeficientes de Zernike excepto o associado à
desfocagem ou o correspondente à aberração esférica de 4.ª ordem. ...................................................... 65
Figura 23. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos (segundo x e segundo y) e das somas dos valores
absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e
para intervalos bem definidos das variações do raio pupilar. ..................................................................... 67
Figura 24. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo x e segundo y), à aberração esférica de 4.ª ordem e à soma dos
valores absolutos dos CZ de superior (de todas as aberrações de ordem superior e de todas excepto
comas e aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos
das variações do raio pupilar. ..................................................................................................................... 68
Figura 25. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) e à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo,
em dias, entre as medições. ....................................................................................................................... 71
Figura 26. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de quarta ordem e das
médias das variações das somas dos valores absolutos dos CZ de ordem superior (todas e todas
excepto comas e aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo,
em dias, entre as medições. ....................................................................................................................... 72
Figura 27. Representação gráfica das distribuições das médias aritméticas das variações da métrica
Método da Pupila Crítica, para diferentes intervalos das variações do raio pupilar, para os 16 casos
pertencentes ao Grupo 1. ........................................................................................................................... 74
10
Figura 28. Representação gráfica das distribuições das médias aritméticas das variações da métrica
Método da Pupila Crítica, em função do intervalo entre medições (em dias), para os 16 casos
pertencentes ao Grupo 1. ........................................................................................................................... 76
Figura 29. Representação gráfica, detalhada, das variações da métrica 3, em função do raio pupilar, para
os 16 casos do Grupo 1. ............................................................................................................................. 78
Figura 30. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações da métrica 3, em
função do intervalo entre as medições, para os 16 casos do Grupo 1. ..................................................... 79
Figura 31. Representação gráfica, detalhada, das variações das área das MTF’s (segundo x – mtf_x – e
segundo y – mtf_y), em função do raio pupilar, para os 16 casos do Grupo 1. ......................................... 80
Figura 32. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações das áreas das
MTF’s, em função do intervalo entre as medições, para os 16 casos pertencentes ao Grupo 1. ............. 81
Figura 33. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) e à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes
intervalos de variação do raio pupilar considerados. .................................................................................. 84
Figura 34. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de quarta ordem e à soma
dos valores absolutos dos CZ de aberrações de ordem superior (todas e todas excepto comas e
aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes intervalos de variação
do raio pupilar considerados. ...................................................................................................................... 85
Figura 35. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) , à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de 4.ª
ordem e à soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem superior (todas e
todas excepto comas e aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes
intervalos entre medições (em meses). ...................................................................................................... 88
Figura 36. Representação gráfica da distribuição das médias aritméticas das variações da métrica
Método da Pupila Crítica, para diferentes intervalos das variações do raio pupilar, para os 10 casos
pertencentes ao Grupo 2. ........................................................................................................................... 90
Figura 37. Representação gráfica da distribuição das médias aritméticas das variações da métrica
Método da Pupila Crítica, em função do intervalo entre medições, para os 10 casos pertencentes ao
Grupo 2. ...................................................................................................................................................... 91
Figura 38. Representação gráfica das variações da métrica 3, em função do raio pupilar, para os 10
casos pertencentes ao Grupo 2. ................................................................................................................. 93
Figura 39. Representação gráfica das médias aritméticas das variações da métrica 3, em função do
intervalo entre as medições (em meses), para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2. ............................ 93
Figura 40. Representação gráfica das variações da área das MTF’s (segundo x – mtf_x – e segundo y –
mtf_y), em função do raio pupilar, para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2. ........................................ 95
11
Figura 41. Representação gráfica das médias aritméticas das variações da área das MTF’s, em função
do intervalo entre as medições (em meses), para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2. ....................... 96
Figura 42. Pormenor da representação gráfica da correlação entre os valores das variações das áreas
das MTF’s (segundo y – mtf_y – e segundo x – mtf_x), para os casos pertencentes ao Grupo 1. ......... 117
Figura 43. Pormenor da representação gráfica da correlação entre os valores das variações das áreas
das MTF’s (segundo y – mtf_y – e segundo x – mtf_x), para os casos pertencentes ao Grupo 2. ......... 117
12
Lista de Tabelas
Tabela 1. Listagens dos principais dados relacionados com a refracção das diferentes estruturas do
globo ocular ................................................................................................................................................. 22
Tabela 2. Listagens dos primeiros 15 polinómios de Zernike e respectivas aberrações oculares ............ 35
Tabela 3. Listagem de dados técnicos relevantes do aberrómetro utilizado neste estudo ........................ 47
Tabela 4. Características das lentes de contacto utilizadas pelos voluntários do estudo. ......................... 50
Tabela 5. Listagem dos dados referentes às lentes tóricas alvo de estudo. .............................................. 50
Tabela 6. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e
das médias aritméticas dos diferentes parâmetros considerados, para os casos em que se comparam
medições sem e com lentes colocadas. ..................................................................................................... 61
Tabela 7. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior consideradas, para os casos
pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar. .................... 67
Tabela 8. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior consideradas, para os casos
pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar. .................... 69
Tabela 9. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao
Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado. ........................... 72
Tabela 10. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior, para os casos pertencentes ao
Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado. ........................... 73
Tabela 11. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações da métrica Método da Pupila Crítica e dos valores dos desvios
padrão (DP) associados, para os casos pertencentes ao Grupo 1. ........................................................... 75
Tabela 12. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições (em
dias), das médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 1. ................................................................................ 76
Tabela 13. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 3 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 1. ............................................................................................................ 79
Tabela 14. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 4 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 1. ............................................................................................................ 82
Tabela 15. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes
ao Grupo 2. ................................................................................................................................................. 85
13
Tabela 16. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior, para os casos pertencentes
ao Grupo 2. ................................................................................................................................................. 86
Tabela 17. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2. ...................................................................................................... 89
Tabela 18. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados,
para os casos do Grupo 2. .......................................................................................................................... 90
Tabela 19. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos do Grupo 2. .................................................................................................................................. 92
Tabela 20. Listagem do número de casos compreendido nos diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 3 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 2. ............................................................................................................ 94
Tabela 21. Listagem do número de casos compreendido nos diferentes intervalos entre medições (em
meses), das médias aritméticas das variações da métrica 4 e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 2. ................................................................................ 96
Tabela 22. Listagem das características das lentes utilizadas pelos diferentes voluntários. ................... 107
Tabela 23. Listagem das medições realizadas com e sem lentes colocadas, aos dois olhos de cada
voluntário, que serviram de base à análise da variação de aberrações entre os casos sem e com lentes
– Ponto 4.1. ............................................................................................................................................... 108
Tabela 24. Listagem das medições realizadas com lentes colocadas, aos dois olhos de cada voluntário,
que serviram de base à análise da variação de aberrações ao longo do tempo de uso das lentes, para os
casos do Grupo 1 e do Grupo 2 – Ponto 4.2. ........................................................................................... 109
Tabela 25. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas dos diferentes parâmetros considerados e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos em que se comparam medições sem e com lentes colocadas. ................... 110
Tabela 26. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ consideradas e dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do
diâmetro pupilar. ....................................................................................................................................... 111
Tabela 27. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ consideradas e dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do
diâmetro pupilar – continuação. ................................................................................................................ 112
Tabela 28. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados,
para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições
considerado. .............................................................................................................................................. 112
14
Tabela 29. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados,
para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições
considerado – continuação. ...................................................................................................................... 113
Tabela 30. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 2. .............................................................................. 114
Tabela 31. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 2 – continuação. ...................................................... 115
Tabela 32. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2. .................................................................................................... 115
Tabela 33. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2 – continuação. ............................................................................ 116
15
Lista de Abreviaturas
CCD – Charge Coupled Device (Dispositivo de Carga Acoplada).
CR – Critério de Repetibilidade.
CZ – Coeficientes de Zernike.
DP – Desvio padrão.
MTF – Modulation Transfer Function (Função de Transferência da Modulação).
PMMA – Poli (metil-metacrilato).
PSF – Point Spread Function (Função de Espalhamento de um Ponto).
RMS – Root-Mean-Squared.
RPG – Rígidos Permeáveis aos Gases.
SLD – Super Luminescent Diode (Díodo Super Luminescente).
16
Introdução
Devido às várias vantagens que as lentes de contacto extraoculares oferecem - são menos
afectadas por ambientes molhados, não embaciam, fornecem um campo de visão mais alargado e são
particularmente indicadas para a prática de desportos -, o seu uso tem-se tornado extremamente popular
nas últimas décadas, essencialmente entre os jovens e adultos e principalmente como substituição de
óculos para correcção de erros refractivos. Devido a este crescente sucesso, cada vez mais os
especialistas focam a sua atenção nestes dispositivos e nas suas características, tendo sempre sido
conferido algum destaque ao modo como o uso de (diferentes tipos de) lentes de contacto influencia a
presença e variação de diferentes aberrações ópticas.
Uma das questões que surgiu ao ler a diferente bibliografia referente a este tema, e sendo também
uma utilizadora de lentes de contacto, prendia-se com a presença e variação de diferentes aberrações
ópticas, mas como tal varia ao longo do tempo de uso das lentes. Tal questão surge visto que vários
utilizadores se queixam de que a qualidade da visão vai piorando à medida que as lentes de contacto
vão sendo usadas, algo que não se esperava que acontecesse durante o tempo de vida útil das lentes.
Esta problemática serviu como ponto de partida para a formulação do objectivo principal deste trabalho:
determinar, de modo objectivo, como varia a qualidade da imagem vista pelos utilizadores de lentes de
contacto, ao longo do tempo de uso das mesmas.
Para tal, foi desenvolvido um estudo clínico em que se mediram, com o auxílio de um Aberrómetro
de Hartmann-Shack, as aberrações ópticas monocromáticas de olhos de voluntários utilizadores de
lentes de contacto hidrofílicas mensais, ao longo do tempo de uso das mesmas. Note-se que o
inicialmente desejado era realizar este tipo de estudo com utilizadores de diferentes tipos de lentes de
contacto, de modo a poder comparar e/ou generalizar resultados, mas tal não foi possível devido à falta
de voluntários.
Paralelamente, foi analisada a variação da presença de aberrações oculares, nomedamente de
ordem superior, entre casos sem e com lentes colocadas.
O trabalho que se segue começa por apresentar os princípios e conceitos teóricos que serviram de
base a este trabalho (além da variadíssima bibliografia disponível referente a outros estudos, levados a
cabo por especialistas, sobre lentes de contacto e aberrações ópticas) – Capítulo I. A este primeiro
capítulo, segue-se um – Capítulo II – em que são descritas as características do estudo clínico realizado
(definição inicial de parâmetros, material utilizado e características da população estudada) e são
apresentados e analisados os resultados, recorrendo-se ao uso de diferentes métricas e a um Programa
de Simulação da Acuidade Visual, desenvolvido em MATLAB® por Filipa Viola
[1]. Conclusões retiradas
deste estudo são apresentadas no último capítulo – Capítulo III.
17
Capítulo I
Bases teóricas
18
1. Introdução
No primeiro capítulo deste trabalho são apresentados os conceitos teóricos que lhe serviram de
base.
Descrevem-se, como ponto de partida, aspectos referentes à visão humana, nomeadamente
aspectos da anatomia e fisiologia do olho humano e do processo de formação de imagem,
apresentando-se também o conceito de acuidade visual – o modo subjectivo de medição da qualidade
da função visual mais usado a nível clínico.
O segundo ponto deste capítulo é dedicado ao conceito de aberrações oculares, sendo
apresentados os diferentes tipos de aberrações e em que é conferida especial atenção ao grupo de
aberrações monocromáticas. São ainda descritos o modo de funcionamento e princípios base do
Aberrómetro de Hartmann-Shack, um dos instrumentos mais utilizados em Oftalmologia para medição
das aberrações monocromáticas, e apresentam-se algumas das métricas objectivas que permitem medir
a influência das aberrações oculares na qualidade visual.
O último ponto centra-se na apresentação de aspectos e conceitos relacionados com lentes de
contacto: evolução histórica, classificação dos diferentes tipos de lentes, modo de prescrição e
complicações associadas.
19
2. Visão
Formada através de um sistema complexo, que inclui não só a capacidade de detectar luz e imagens
mas também de as interpretar, a visão representa um dos cinco sentidos que conferem a inúmeros seres
vivos, nomeadamente ao Homem, a capacidade de percepcionarem e se relacionarem com o que
acontece no Mundo que os rodeia.
2.1. Anatomia e Fisiologia do olho humano
Responsável por proporcionar o sentido da visão, o olho humano representa um complexo sistema
óptico, capaz de detectar luz e transformar essa percepção em impulsos eléctricos, a serem processados
e interpretados a nível cerebral. Este orgão tem, na idade adulta, um diâmetro antero-posterior (sagital)
entre 24 e 25 mm e um diâmetro transversal, ao nível do “equador”, de aproximadamente 24 mm, sendo
uma esfera ligeiramente assimétrica. Estas dimensões são aproximadamente constantes, variando
apenas um ou dois milímetros entre diferentes indivíduos[2]
.
Figura 1. Representação esquemática de um corte sagital de um olho humano e identificação das três
camadas que o constituem: a camada mais externa ou túnica fibrosa, constituída pela córnea e a esclerótica,
a camada intermédia ou túnica vascular, composta pela coróide, o corpo ciliar e a íris, e a camada interna,
ou retina[3]
. (Adaptado)
A camada mais externa do globo ocular, também designada por túnica fibrosa, é constituída pela
córnea e a esclerótica. A primeira, uma camada fibrosa transparente não vascularizada, cobre a porção
colorida do olho, a íris, recebendo e refractando a luz, o que permite obter imagens claras. A esclerótica,
comummente conhecida como “o branco do olho”, é uma camada de tecido conjuntivo denso que cobre
todo o globo ocular à excepção da córnea. Dá forma ao olho e torna-o mais rígido, protegendo as suas
porções internas.
20
A um nível intermédio, encontra-se a chamada túnica vascular, composta pela coróide, o corpo ciliar
e a íris. A coróide, ou coroideia, uma membrana fina que assenta sob a maioria da superfície interna da
camada esclerótica, contém inúmeros vasos sanguíneos que fornecem à retina o sangue necessário. O
corpo ciliar (designação da coróide na porção frontal do olho) é constituído por processos ciliares –
dobras na superfície interna do corpo ciliar, cujos capilares segregam um fluido aquoso, o humor aquoso
– e pelo músculo ciliar – músculo liso que altera a forma do cristalino para visão ao perto ou visão ao
longe. A íris representa a porção colorida do globo ocular e é constituída por fibras musculares lisas,
circulares e radiais. Estas fibras, controladas pelo sistema nervoso autónomo, permitem regular a
quantidade de luz que entra no olho: contraem quando o olho é estimulado com luz brilhante e dilatam
quando o olho se ajusta a luz mais fraca. A abertura central da íris designa-se por pupila.
A camada mais interna do globo ocular, a retina, cobre os ¾ posteriores do olho e é constituída por
duas porções: um epitélio pigmentado (porção não visual) e uma porção neuronal (visual). O primeiro é,
essencialmente, uma folha epitelial que contém melanina, depositada entre a coróide e a porção
neuronal da retina. A melanina, também existente na coróide, absorve os raios de luz difusos,
prevenindo fenómenos de reflexão e difusão de luz dentro do olho. A porção neuronal da retina é uma
estrutura de múltiplas camadas – camada fotorreceptora, camada de células bipolares e camada de
células ganglionares, separadas por camadas sinápticas onde têm lugar os contactos sinápticos – que
se desenvolve a partir de tecido cerebral e que processa a informação visual de modo extensivo, antes
de transmitir ao tálamo os respectivos impulsos nervosos.
Localizados na camada fotorreceptora, estão dois tipos de células altamente especializadas na
detecção de luz: os bastonetes, que permitem ver em situações com pouca luz e não fornecem visão
colorida, e os cones, estimulados por luz mais brilhante e responsáveis por uma visão colorida,
altamente precisa. Os cones concentram-se mais densamente na fóvea, uma pequena depressão no
centro da mácula lútea (ou ponto amarelo) que representa, assim, a área de maior resolução visual. À
medida que a distância à fóvea aumenta, a densidade de cones diminui, diminuindo também a
capacidade de resolução espacial da retina neuronal. Contrariamente aos cones, os bastonetes estão
ausentes da fóvea, aumentando em número em direcção à periferia da retina.
A partir destes fotorreceptores, a informação é transmitida às células bipolares e, posteriormente, às
células ganglionares, cujos axónios se estendem até ao chamado disco óptico (ponto cego; não contém
cones nem bastonetes), de onde saem formando o nervo óptico.
No interior do globo ocular, existem ainda uma estrutura, o cristalino, e duas cavidades, a cavidade
anterior e a cavidade vítrea, que importa mencionar. O cristalino é uma estrutura transparente,
constituída por numerosas camadas de fibras proteicas e elásticas, que foca os raios de luz na retina.
Esta estrutura é mantida na posição correcta por um conjunto de ligamentos, que a prendem ao músculo
21
ciliar. A cavidade anterior, tal como o nome indica, localiza-se anteriormente ao cristalino e está cheia de
humor aquoso (fluido aquoso semelhante ao fluido cerebroespinal) que ajuda a manter a forma do globo
ocular, além de fornecer oxigénio e nutrientes ao cristalino e à córnea. Localizada por detrás do
cristalino, a cavidade vítrea contém o chamado corpo vítreo (ou humor vítreo): uma substância clara e
gelatinosa que ajuda a prevenir colapsos do globo ocular, mantendo a retina empurrada contra a coróide.
Ao contrário do humor aquoso, que é alvo de constante reposição, esta substância é formada durante a
vida embrionária e não é mais substituída[4]
.
2.2. Processo de formação da imagem
No que diz repeito ao processo de formação de imagem, o olho é semelhante a uma câmara
fotográfica (ver Figura 2): os elementos ópticos focam a imagem dos objectos num filme sensível à luz, a
retina, assegurando que a exposição à luz é a correcta. As imagens focadas na retina estão duplamente
invertidas (de pernas para o ar e com uma inversão da direita para a esquerda: a luz do lado direito de
um objecto atinge o lado esquerdo da retina e vice-versa). No entanto, o cérebro aprende desde cedo a
coordenar a imagem visual com a orientação dos objectos, o que nos permite ter uma percepção do
Mundo como ele é.
Figura 2. Representação esquemática simplificada do modo como as imagens são focadas na retina e
comparação com o que acontece com uma máquina fotográfica[5]
.
Para perceber o melhor possível o modo como se formam na retina imagens claras, é necessário
entender três processos elementares: refracção de luz pelo cristalino e pela córnea, alteração na forma
do cristalino e convergência[4]
.
22
2.2.1. Refracção dos raios de luz
A refracção de luz ocorre na fronteira entre dois meios transparentes diferentes, portanto, com
diferente índice de refracção. O índice de refracção (n), é uma relação entre a velocidade da luz num
determinado meio ( ) e a velocidade da luz no vácuo (c=3x108 m/s):
(1)
Cerca de 75% da refracção total que ocorre ao nível do olho, dá-se nas superfícies anterior e
posterior da córnea. Além disso, ambas as superfícies do cristalino refractam também os raios
luminosos, de modo a que estes sejam focados exactamente na retina. Na tabela seguinte apresentam-
se, de modo sistemático, os dados referentes à refracção total que acontece no olho:
Estrutura Índice de refracção (n) Tipo de refracção Observações
Interface ar – córnea 1.38 Convergente Principal meio refractivo
Interface córnea-humor
aquoso 1.33 Divergente Único meio divergente
Cristalino 1.40 Convergente --
Corpo vítreo 1.34 -- --
Tabela 1. Listagens dos principais dados relacionados com a refracção das diferentes estruturas do globo
ocular[6]
. (Adaptado)
Quando um objecto se encontra a mais de seis metros de um observador, os raios de luz reflectidos
pelo objecto até ao olho são aproximadamente paralelos e as curvaturas da córnea e do cristalino focam
a imagem exactamente na retina. No entanto, os raios de luz de objectos a menos de seis metros de
distância são divergentes, tendo que ser mais refractados para que sejam focados na retina. Esta
refracção adicional é conseguida através de alterações na forma do cristalino, por um processo
denominado de acomodação.
2.2.2. Acomodação
A superfície convexa de uma lente refracta raios de luz, uns em direcção aos outros, de modo a que,
eventualmente, se intersectem. O cristalino é uma lente convexa nas suas superfícies anterior e posterior
e a sua capacidade de refracção aumenta à medida que a sua curvatura se torna mais acentuada.
Assim, quando o olho pretende focar um objecto próximo, o cristalino torna-se mais convexo, refractando
mais os raios luminosos: é a este aumento da curvatura do cristalino, para uma visão mais nítida ao
perto, que se chama acomodação.
O que acontece é que, ao vermos objectos distantes, o músculo ciliar é relaxado e o cristalino sofre
um ligeiro achatamento (esticado em todas as direcções pelos ligamentos rígidos de suspensão),
contraindo quando o que se pretende é ver objectos mais próximos. Esta contracção vai aproximar os
23
processos ciliares e a coróide do cristalino, permitindo a este relaxar a sua tensão e tornar-se mais
redondo (mais convexo), aumentando o seu poder de foco e provocando uma maior convergência dos
raios luminosos.
Com a idade, o cristalino perde alguma da sua elasticidade, enrijecendo, e a sua capacidade de
acomodação diminui, originando uma condição conhecida como presbiopia.
Figura 3. Representação esquemática do processo de acomodação do olho[7]
. (Adaptado)
- Constricção da pupila
A constricção da pupila é um reflexo autónomo que ocorre em simultâneo com a acomodação e
previne a entrada de raios luminosos pela periferia do cristalino – estes raios não são focados na retina,
originando uma visão desfocada (blurred). Neste fenómeno, que ocorre devido à contracção dos
músculos ciliares da íris, dá-se uma diminuição do diâmetro da pupila, a abertura pela qual a luz penetra
no olho.
Além de o fazer durante o processo de acomodação, a pupila também contrai aquando da exposição
a luz brilhante, limitando a quantidade de luz que atinge a retina.
2.2.3. Convergência
Nos humanos, são utilizados os dois olhos para focar objectos ou conjuntos de objectos, daí que a
nossa visão seja designada por visão binocular. É esta característica do nosso sistema visual que nos
permite ter percepção de profundidade e uma noção da natureza tridimensional dos diferentes objectos.
Ao olhar directamente para um objecto, os raios de luz são direccionados para as pupilas dos dois
olhos, sendo refractados para pontos comparáveis das suas retinas. Para que tal continue a acontecer,
24
ao aproximarmo-nos desse objecto, os nossos olhos devem rodar em direcção ao nariz. Convergência é
a designação atribuída a este movimento automático dos globos oculares em direcção à linha mediana
do corpo, um movimento da responsabilidade da acção coordenada dos músculos extrínsecos do olho.
Quanto mais próximo estiver o objecto a observar, maior é a convergência necessária à manutenção da
visão binocular.
Após a formação da imagem na retina, pelos processos anteriormente descritos, os raios de luz são
convertidos em sinais neuronais: os raios de luz são absorvidos pelos fotopigmentos dos cones e dos
bastonetes que, após estimulação pela luz, fazem disparar sinais eléctricos para as células bipolares,
sendo depois transmitidos às células ganglionares. Os axónios destas células deixam o globo ocular
como constituintes do nervo óptico, extendendo-se até ao quiasma óptico onde cerca de metade dos
axónios de cada olho cruzam para o lado oposto do cérebro. Após passarem pelo quiasma, os axónios
passam a fazer parte do chamado tracto óptico e terminam no tálamo, em que estabelecem sinapses
com neurónios cujos axónios atingem as áreas visuais primárias, nos lobos occipitais, onde a informação
é processada e interpretada.
Note-se que, devido ao cruzamento de axónios no quiasma óptico, o lado direito do cérebro recebe
sinais dos dois olhos para interpretação das sensações visuais transmitidas pelo lado esquerdo de um
objecto, e o lado esquerdo do cerébro recebe também informações dos dois olhos, mas para
interpretação das sensações visuais transmitidas pelo lado direito do mesmo objecto.
Figura 4. Representação esquemática do percurso percorrido pela informação visual, desde os olhos até ao
cérebro[8]
.
25
2.3. Acuidade visual
A acuidade visual, um dos modos subjectivos de medição da função visual mais usados a nível
clínico, representa uma medida quantitativa da capacidade de identificar símbolos pretos num fundo
branco, a uma distância padrão e com variação do tamanho dos símbolos.
Os quadros de letras geralmente utilizados nestes testes foram inventados em 1862 pelo holandês
Hermann Snellen. Este oftalmologista definiu ainda a “visão padrão” (ou visão normal) como a
capacidade de reconhecer as diferentes letras, que designou por optotipos, quando estas ocupavam um
ângulo visual de 5 minutos de arco ((1/12)º), devendo as porções individuais compreender um ângulo
visual de 1 minuto de arco. Existem outros quadros que se podem utilizar, com mais ou menos
diferenças em relação aos Quadros de Snellen originais, mas que se baseiam nos mesmos princípios.
Podem salientar-se, por exemplo, quadros que, em vez de utilizarem letras como optotipos, utilizam
outro tipo de símbolos. Particularmente úteis para testes com crianças ou indivíduos analfabetizados, o
objectivo deste teste é o de indentificar a orientação de determinadas porções/características dos
símbolos que figuram nos quadros.
Figura 5. Representação esquemática do ângulo visual que deve ser ocupado por um optotipo, no caso de "visão
padrão" (à esquerda) e exemplo de Quadro de Snellen (à direita).
Existem diferentes modos de expressar a acuidade visual: usando números fraccionários (em pés ou
em metros), usando notação decimal ou numa escala LogMAR.
Quando a acuidade é expressa utilizando número fraccionários, define-se a “visão padrão” como
sendo a visão 20/20 (em pés) ou visão 6/6 (em metros). Tal deve-se ao facto de, nos EUA, o
comprimento padrão das salas de exame (distância do indivíduo ao quadro de teste) ser de
aproximadamente 20 pés. A esta distância de um quadro de símbolos, alguém com uma visão 20/20
deve ser capaz de decifrar um símbolo que compreenda um ângulo visual de 5 minutos de arco. Na
Europa, o comprimento padrão das salas de exame é de 6 metros (19.685 pés) daí referir-se a “visão
padrão” como visão 6/6. Em ambos os casos, quanto menor o denominador, para um mesmo valor do
numerador, melhor é a qualidade visual do indivíduo em causa.
26
Em 1875, Monoye propôs substituir a notação fraccionária, adoptada por Snellen, por um equivalente
decimal (ex.: 20/40=0.5, 6/12=0.5), que torna mais simples a comparação entre valores de acuidade
visual. Com este tipo de notação é atribuído à “visão padrão” o equivalente decimal 1.0.
Outra escala, raramente usada a nível clínico mas bastante útil em estatísticas, é a escala LogMAR,
expressa como o logaritmo do ângulo de resolução mínimo, o que permite converter a sequência
geométrica de um quadro tradicional numa escala linear. Utilizando este tipo de escalas, o que realmente
se mede é a perda de acuidade visual: valores positivos indicam perda de visão e valores negativos
denotam acuidade visual normal ou melhor que a normal.
Para testar a acuidade visual de perto, são geralmente utilizados Cartões de Acuidade de Snellen –
semelhantes aos Quadros de Snellen mas de menores dimensões – mantidos a uma distância de cerca
de 40 cm dos olhos do indivíduo. Também neste caso, um indivíduo com visão de perto 20/20 deve ser
capaz de decifrar símbolos que compreendam ângulos visuais de 5 minutos de arco[9]
.
Quando a acuidade visual de um indivíduo não é suficiente para que esse identifique o maior
optotipo de um quadro, deve-se diminuir a distância entre o quadro e o doente, até que este o consiga
ler. Se o doente não conseguir ler o quadro, a qualquer distância, deve-se prosseguir com os seguintes
testes: contagem de dedos – teste à capacidade do indivíduo contar dedos a determinadas distâncias;
movimento de mãos – teste à capacidade do indivíduo distinguir se uma mão, em frente à sua cara, está
ou não em movimento; e percepção de luz - teste à capacidade do indivíduo detectar alguma luz (caso
não seja capaz de o fazer, o indivíduo é totalmente cego, de um ou ambos ou olhos).
27
3. Aberrações oculares
No que diz respeito ao processo de formação da visão, vários elementos podem introduzir limites à
qualidade óptica que se pode atingir. Esses limites podem ser de carácter retínico, neuronal ou óptico.
Sendo os dois primeiros de natureza demasiado complexa para serem aqui tratados, é no campo dos
último que este trabalho se centra. Dentro deste tipo de limites, podem ainda diferenciar-se três fontes
diferentes de erros: dispersão – pouco relevante em olhos jovens e sãos –, difracção – apenas tida em
conta com pupilas com menos de 1 mm de diâmetro, o que é praticamente impossível na prática clínica
– e refracção, em que nos focaremos neste trabalho.
3.1. Tipos de aberrações
Os diferentes tipos de aberrações, resultado de erros de refracção, podem ser divididas em dois
grupos: as aberrações monocromáticas e as aberrações cromáticas.
3.1.1. Aberrações cromáticas
Este tipo de aberrações está associado à diferença de refracção sofrida pelas diferentes cores: luzes
com diferentes cores têm diferentes comprimentos de onda associados, o que equivale a índices
refraccionais ligeiramente diferentes ( =λ/T). Assim, a luz verde (menor comprimento de onda) é focada
mais perto da córnea e do cristalino que a luz vermelha (maior comprimento de onda). Importa mesmo
salientar que a diferença cromática no espectro visual inteiro é de quase duas dioptrias1, o que tem
efeitos significativos na degradação da qualidade da imagem retiniana.
O conjunto de aberrações cromáticas pode ainda ser dividido em dois grupos de aberrações:
- axial ou longitudinal;
- lateral ou transversal.
As características de cada um destes tipos de aberrações cromáticas, assim como as diferenças
entre eles, não serão apresentadas dado que este tipo de aberrações não é tomado em consideração
nas diferentes análises realizadas neste trabalho.
3.1.2. Aberrações monocromáticas (ou geométricas)
As aberrações ópticas deste tipo incluem aberrações em superfícies reflectoras de qualquer cor e em
superfícies refractoras de luz monocromática de um único comprimento de onda. São geralmente
divididas em erros corrigíveis com correcções esfero-cilíndricas e os que não podem ser corrigidos desse
1 Dioptria é uma unidade de medida do poder refractivo de uma lente ou de um espelho curvado (m
-1).
28
modo. As primeiras são normalmente designadas por erros de frente de onda2 de ordem inferior e as
últimas por erros de frente de onda de ordem superior - mais aparentes em situações de pouca luz[7, 10,
11]. Descrevem-se em seguida algumas das características mais relevantes das aberrações de ordem
inferior e de algumas das aberrações de ordem superior.
Aberrações de ordem inferior (ou de menor ordem):
- Tilt e Piston: não são verdadeiras aberrações, dado não representarem ou modelarem
curvaturas na frente de onda: se uma frente de onda perfeita for “aberrada” com estas
aberrações, vai ainda formar uma imagem perfeita, livre de aberrações, apenas com a sua
posição alterada.
- Miopia: os raios de luz das imagens distantes são focados em pontos anteriores à retina, o que
não as permite ver de modo claro. Tal pode dever-se ao facto dos olhos serem mais compridos
que o normal ou ao facto da córnea ser demasiado curva. Associada a valores negativos de
dioptria.
Figura 6. Representação esquemática de olho com miopia (à esquerda) e do mesmo olho com a aberração
corrigida com uma lente côncava (à direita)[7]
.
- Hipermetropia: os raios de luz são focados atrás da retina, não permitindo ver claramente
imagens próximas. Tal pode dever-se ao facto dos olhos serem curtos demais ou ao facto da
córnea ser demasiado plana. Associada a valores positivos de dioptria.
- Astigmatismo (primário): devido ao facto da córnea não ser verdadeiramente esférica, as
imagens são focados em diferentes pontos, tanto atrás como à frente da retina, o que faz com
que tanto as imagens próximas como as distantes pareçam desfocadas e distorcidas: neste
defeito de refracção, os pontos não são reproduzidos como pontos mas como barras. A distorção
que se verifica depende da direcção do astigmatismo.
2 Frente de onda - superfície esférica imaginária que junta todos os pontos com a mesma fase e que têm como
centro a fonte de luz.
29
Pode aparecer combinado com qualquer uma das duas condições anteriores. Um dos modos
de corrigir este tipo de aberrações prende-se com o uso de lentes com características
particulares, as chamadas lentes cilíndricas.
Figura 7. Representação esquemática de um olho com hipermetropia (à esquerda) e do mesmo olho com a
aberração corrigida com uma lente convexa (à direita)[7]
.
Exemplos de aberrações de ordem superior (ou de ordem elevada):
- Coma: aberração de 3.ª ordem que faz com que os objectos pareçam ter uma forma de
cometa, o que causa um espalhamento da visão: a imagem de um ponto que “cai” fora do eixo
óptico, tem uma forma de gota – a imagem fica borrada em forma de gota. Assim, quando a
imagem de um objecto é obtida com uma lente que sofre de coma, os raios que passam pela
periferia da lente vão formar uma imagem mais larga que os raios que passam pela lente, mais
perto do eixo.
- Tri-corno (Trefoil): aberração de 3.ª ordem.
- Aberração esférica: aberração de 4.ª ordem que ocorre devido a diferenças na curvatura entre
o centro e os bordos da pupila, podendo dar-se o aparecimento de múltiplos pontos focais, ao
longo do eixo óptico, o que resulta no aparecimento de halos na visão. Raios que formam um
pequeno ângulo com o eixo óptico, viajando próximos dele, são chamados de raios paraxiais.
Raios periféricos são raios que interagem com os limites/bordos dos componentes de um
sistema óptico. Quando uma frente de onda é esfericamente aberrada, os raios periféricos focam
mais próximo da lente que os raios paraxiais. A diferença entre os pontos em que estes dois
tipos de raios são focados é um modo de medir a severidade da aberração esférica do sistema.
- Quadri-corno (Tetrafoil): aberração de 4.º ordem.
- Astigmatismo secundário: aberração de 4.ª ordem, com características semelhantes ao
astigmatismo primário.
30
- Penta-corno (pentafoil): aberração de 5.ª ordem.
A aberração total que afecta um olho, consequência de erros de refracção, é, assim, resultado da
soma dos efeitos de cada uma das aberrações existentes, devendo sempre ter-se em atenção que nem
todas as aberrações individuais contribuem do mesmo modo para o deterioramento da qualidade visual.
3.2. Aberrómetro de Hartmann-Shack
A medição das aberrações do olho humano tem vindo a ganhar uma importância crescente nos
últimos anos, dado permitir não só uma avaliação objectiva da qualidade visual e da performance óptica
(definida como o quão bem uma tarefa visual de interesse pode ser realizada por um determinado
indivíduo ou um grupo de indivíduos, e para a qual a qualidade da imagem retiniana contribui), mas
também, e nomeadamente a partir do conhecimento das aberrações de ordem superior e possível
correcção das mesmas, uma melhoria da qualidade das imagens visuais de indivíduos com problemas
de visão.
O desenvolvimento de métodos para medição dessas aberrações oculares teve início no final do
século XIX, quando Tscherning construiu um aberrómetro simples para tal finalidade, tendo este tópico
voltado a ser abordado somente na segunda parte do século XX, por Howland e Howland, com a
aplicação de um novo método envolvendo um cilindro cruzado. Já no início dos anos 90, Mierdel et al.
actualizaram e modernizaram o aberrómetro original de Tscherning enquanto, na mesma época, Liang et
al. optimizaram um outro tipo de sensor, denominado de Hartmann-Shack. Desde essa altura que muitos
laboratórios e companhias deram início a pesquisa e desenvolvimento de técnicas próprias para medição
das aberrações oculares, usando, essencialmente, as técnicas de aberroscopia de Tscherning ou de
Hartmann-Shack. O uso destes aberrómetros veio em grande parte substituir a topografia cornenana
computorizada que, apesar de também descrever as frentes de onda definidas por irregularidades
fisiológicas e não-fisiológicas, fornece somente informação sobre a superfície anterior da córnea,
enquanto este tipo de sensores dá informação acerca do desempenho total de todos elementos ópticos
do olho em conjunto (córnea, cavidade anterior, cristalino e corpo vítreo).
O sensor de Hartmann-Shack, que se tornou um dos instrumentos mais utilizados nos dias de hoje
para medição das aberrações oculares, foi proposto pelo alemão Hartmann, em 1900, e construído por
Roland Shack e Ben Platt, em 1971. Inicialmente usado em Astronomia para medir e corrigir aberrações
ópticas em imagens de galáxias e estrelas, causadas pela turbulência da nossa atmosfera, esta
tecnologia foi depois optimizada e aplicada ao olho humano em 1994 pela primeira vez, tendo vindo a
ser desenvolvida desde então, possibilitando o aparecimento de instrumentos muitos úteis e precisos
para a medição das aberrações oculares.
Na área da Oftalmologia, estes sensores medem o erro da frente de onda de luz (diferença entre a
forma real da frente de onda, com “altos e baixos”, e uma frente de onda de referência – plana) que
31
abandona a pupila do olho. Para tal, um raio de luz fino (0.1mm) é projectado, por um laser ou SLD, na
fóvea, sendo a imagem reflectida pelas estruturas da retina ou da própria coróide. A luz reflectida
emerge da pupila como uma frente de onda aberrada e viaja do olho para um conjunto de microlentes
expostas uniformemente numa grade externa, num plano conjugado do olho – deste modo, a forma da
frente de onda no plano deste conjunto de lentes é semelhante à sua forma na pupila do olho –, sendo
capturada através de todo o diâmetro da pupila. Cada microlente vai focar uma porção da frente de onda
num ponto do seu plano focal, formando um padrão de pontos que é captado por um detector CCD -
dispositivo constituído por um chip de silício que contém células fotossensíveis, capazes de registrar a
luz[12]
.
Os foto-detectores utilizados devem ter uma eficiência quântica tão elevada quanto possível, para os
comprimentos de onda desejados[13]
.
Figura 8. Representação esquemática do modo de funcionamento de um aberrómetro de Hartmann-Shack[12]
.
(Adaptado)
Uma frente de onda ideal, totalmente plana, vai produzir uma grelha de pontos perfeitamente regular.
Por seu lado, uma frente de onda deformada vai originar uma grelha de pontos com desvios laterais ou,
até, com alguns dos pontos ausentes.
Figura 9. Representação esquemática e exemplificativa do padrão de pontos captado pelo detector CCD, nos
casos ideal (olho sem aberrações) e com frente de onda aberrada[12]
. (Adaptado)
32
A informação registada no CCD é processada com o objectivo de, em primeiro lugar, verificar se
existe realmente um ponto para cada microlente, e, em segundo lugar, medir os desvios de todos os
pontos encontrados. O valor destes desvios – distância entre os pontos obtidos e os pontos ideais
correspondentes – permite obter os valores dos declives locais da frente de onda quando chega ao plano
das microlentes, a partir das equações:
(2)
(3)
Em (2) e (3), (xa, ya) representam as coordenadas de um ponto da frente de onda com aberrações e
(xc, yc) as coordenadas de um ponto de referência (frente de onda não aberrada), enquanto f representa o
comprimento focal3 das microlentes.
Assim, e a partir da distribuição de pontos recolhida na matriz CCD, é possível calcular a forma do
erro da frente de onda na sua totalidade[14]
. Note-se que a posição de cada ponto, nomeadamente no
caso do padrão obtido para olhos com aberrações, pode ser estimada, por exemplo, através do máximo
da intensidade de distribuição.
3.3. Reconstrução de frentes de onda - Polinómios de Zernike
Para, a partir da distribuição de pontos recolhida na matriz CCD, calcular a forma da frente de onda
aberrada, utilizam-se, geralmente, polinómios de Zernike. Tendo adquirido este nome devido ao físico
holandês Frederik Zernike, vencedor do prémio Nobel da Física de 1953 pela invenção do microscópio
de contraste de fase, este sistema de equações matemáticas foi usado pela primeira vez no estudo de
aberrações do olho humano por Howland e Howland, em 1977.
Cada um dos polinómios representa uma aberração típica isolada, que se torna mais complexa com
o aumento da ordem (nível) do polinómio e é dependente do diâmetro da pupila (um polinómio de quarta
ordem, por exemplo, é uma função dependente da quarta potência do raio da pupila). Deste modo, estes
polinómios permitem representar as aberrações ópticas como função das suas subcomponentes
(aberrações de diferentes ordens de Zernike) e a sua fidelidade depende unicamente do número e
precisão dos seus componentes. A aberração total é o resultado da soma da contribuição de todos os
polinómios[10]
.
Apesar de outros sistemas de equações, como as Séries de Taylor e de Fourier, serem também
adequados à utilização na área da Oftalmologia, estes polinómios têm um conjunto de características
que os tornam particularmente indicados e úteis nestas situações: representam um modo eficiente de
detalhar um mapa de aberrações de frente de onda, com um conjunto relativamente pequeno de
3 O comprimento focal representa a distância do centro da lente ao foco principal da lente.
33
coeficientes; as funções individuais básicas de Zernike (designadas de modos) ajustam-se muito bem às
formas das aberrações clássicas, como a desfocagem ou o astigmatismo, e as combinações dos
diferentes modos encaixam bem em superfícies de aberrações de frentes de onda razoavelmente bem
comportadas; formam um conjunto de funções completo e normalizado, sobre o círculo unitário (
) e têm ainda algumas propriedades de invariância, desejáveis em termos de simetria e elegância
matemática.
Em coordenadas polares, os polinómios de Zernike resultam do produto entre um polinómio radial e
um mapa azimutal:
(4)
em que l pode ser um qualquer número inteiro, desde que n ≥ l, e n pode ser qualquer inteiro não
negativo. Os componentes radiais dos polinómios de Zernike são dados por:
(5)
Nas duas equações anteriores, ρ representa o raio normalizado da pupila e θ é o ângulo azimutal em
torno da pupila (0 ≤ θ ≤ 2π)[15]
.
Se definirmos k, n.º do termo de Zernike, como uma função dos índices n e l:
(6)
a frente de onda pode ser representada pela equação:
(7)
com derivadas parciais:
(8)
(9)
Note-se que, para uma frente de onda plana, as derivadas parciais da equação da frente onda serão
nulas, também o sendo os diferentes coeficientes de Zernike (Ck) – CZ. Tal não se verifica para frentes
34
de onda não planas (aberradas), caso em que os coeficientes que contribuem para as aberrações mais
acentuadas vão ter maiores valores.
Por último, importa atentar nos extremos do somatório das equações (7) a (9). Estes são geralmente
escolhidos tendo em conta que muitos autores consideram que é suficiente, de modo a obter uma
descrição elevadamente precisa da maior parte das aberrações mais comuns nos olhos humanos,
utilizar somente os primeiros 15 polinómios de Zernike linearmente independentes[15]
, cuja lista se
apresenta de seguida.
No entanto, e tendo em conta que neste Estudo Clínico foi utilizado um Programa de Simulação de
Acuidade Visual previamente desenvolvido (ver Capítulo II – Resultados) e que tem em conta os
primeiros 20 coeficientes de Zernike, à excepção do piston, na construção de frente de onda, são
sempre adquiridos e tidos em conta na análise de dados esses 20 termos.
35
Termo Polar Cartesiano Significado
1 1 Termo constante
(Piston)
Tilt na direcção x
Tilt na direcção y
Astigmatismo com eixo
a +/- 45o
Desfocagem (miopia e
hipermetropia)
Astigmatismo com eixo
a 0o ou 90
o
Tri-corno
Coma de 3.ª ordem ao
longo do eixo dos x
Coma de 3.ª ordem ao
longo do eixo dos y
Tri-corno
Quadri-corno
Astigmatismo
secundário
Aberração esférica
Astigmatismo
secundário
Quadri-corno
Tabela 2. Listagens dos primeiros 15 polinómios de Zernike e respectivas aberrações oculares[15]
.
(Adaptado)
Na figura que se segue, apresentam-se ainda as frentes de onda características das aberrações
individuais correspondentes aos primeiros quinze polinómios de Zernike (à excepção do piston).
36
Figura 10. Representação gráfica das frentes de onda das aberrações individuais correspondentes aos
primeiros 15 polinómios de Zernike[10]
.
3.4. Medição da qualidade visual
Existem diferentes parâmetros que permitem medir a qualidade visual, ou melhor, o quanto as
aberrações oculares afectam a qualidade visual de um indivíduo, de modo objectivo. Além das variações
de frente de onda já referidas, importa destacar duas funções: a Point Spread Function (PSF) e a
Modulation Transfer Function (MTF), ambas base de métricas utilizadas neste estudo[16]
.
37
3.4.1. Point Spread Function (PSF)
A Point Spread Function (Função de Espalhamento de um Ponto) – PSF – é, como o nome indica,
um parâmetro que nos dá o melhor palpite de como um sistema óptico vai ver um ponto de luz bem
definido: se o sistema visual fosse perfeito, a imagem de um pequeno ponto de luz na retina seria
idêntica ao ponto original de luz. No entanto, e dado que a óptica do olho não é perfeita, a intensidade
relativa desse ponto de luz vai apresentar um certo espalhamento, em maior ou menor extensão, em
torno de um máximo central. A PSF é calculada como o quadrado do inverso da Transformada de
Fourier da função pupilar P(x,y), definida como:
(10)
em que k é o número de onda (2π/comprimento de onda) e A(x,y) é a função opcional de apodização das
coordenadas pupilares x e y.
A forma exacta desta função depende do sistema de produção de imagens em questão e o seu
conhecimento permite a reconstrucção de imagens, ponto por ponto, recorrendo ao processo
matemático de convolução.
3.4.2. Modulation Transfer Function (MTF)
Este parâmetro representa uma medida da capacidade de um sistema óptico transferir contraste de
um objecto para uma imagem, a uma determinada resolução.
(11)
(12)
Atentando nas expressões anteriores, em que Imax e Imin representam, respectivamente, as
intensidades máxima e mínima de uma imagem, é trivial concluir que um sistema óptico perfeito,
ignorando o inevitável efeito de difracção, deverá ter uma MTF unitária em todas as frequências
espaciais. No entanto, para uma lente comum – não ideal – esta função tem geralmente, a uma
frequência espacial nula, um valor próximo da unidade, decaindo com o aumento da frequência espacial.
Assim, e quando mais lentamente o seu valor cair para zero, de melhor qualidade é a imagem desse
sistema óptico.
38
4. Lentes de contacto
O uso de lentes de contacto extraoculares (sobre as quais se centra este trabalho), tem-se tornado
extremamente popular nas últimas décadas, essencialmente entre os jovens e adultos, dos 12-14 anos
aos 50-60, principalmente como substituição de óculos para correcção de erros refractivos. Note-se
mesmo que o uso de destas lentes, a nível mundial, passou de apenas dois milhões de usuários, em
1975, para mais de cem milhões na actualidade, prevendo-se mesmo um crescimento que atinja os 150
milhões de usuários até ao ano 2010[17]
. Tal deve-se a diferentes factos: as lentes de contacto são
menos afectadas por ambientes molhados, não embaciam, fornecem um campo de visão mais alargado
e são particularmente indicadas para a prática de desportos. Além disso, existem certas condições
oftalmológicas, como o queratocone – anomalia hereditária que se manifesta por uma alteração gradual
da forma da córnea, que acaba por ficar parecida com um cone –, que não podem ser devidamente
corrigidas com óculos.
4.1. Evolução histórica
O princípio geral das lentes de contacto foi apresentado pela primeira vez em 1508 por Leonardo da
Vinci, no seu livro Codex of the eye, Manual D. Aí, da Vinci descreve um método de alterar directamente
a potência da córnea por submersão do olho numa tijela de água. Esta ideia não foi, no entanto, sugerida
como um modo de corrigir a visão, estando o artista mais interessado em perceber os mecanismos de
acomodação do olho. A partir daí, essencialmente com o objectivo de levar a cabo estudos de
acomodação, nomes como René Descartes ou Thomas Young apresentaram evoluções destes
conceitos e método.
Foi em 1845 que Sir John Herschel, astrónomo, numa nota de rodapé da Encyclopedia
Metropolitana, apresentou duas ideias para a correção visual: “uma cápsula esférica de vidro cheia com
uma geleia animal” e “um molde da córnea que podia ser impresso nalgum meio transparente”. Estas
ideias foram posteriormente testadas e desenvolvidas por diversos inventores independentes,
nomeadamente o alemão F.A. Muller, que criou a primeira lente de contacto de vidro de que se tem
conhecimento.
Figura 11. Lente de contacto feita a partir de vidro soprado, pelo alemão Muller Sohne, em 1930. O método
utilizado é semelhante ao apresentado por F. A. Muller em 1877[18]
.
39
Apesar dos diferentes estudos efectuados e dos vários nomes associados a esta problemática, só
em 1887 é que o fisiologista alemão Adolf Eugen Fick colocou num olho, com sucesso, a primeira lente
de contacto. Esta lente, difícil de manter no olho e que não podia ser usada durante muitas horas, era
feita de vidro acastanhado pesado e tinha 18-21 mm de diâmetro – cobria toda a superfície frontal do
olho. O espaço livre entre a córnea e o vidro foi preenchido com uma solução de açúcar de uva. Esta
lente sofreu vários aperfeiçoamentos, impostos por diferentes pessoas, nomeadamente em termos de
material: em 1936, o optometrista William Feinbloom introduziu o uso de plásticos na fabricação de
lentes de contacto. Estas lentes tinham uma porção central de vidro, que assentava sobre a córnea, e
uma banda periférica de plástico, que assentava sobre a esclerótica. Em 1948, Kevin Tuohy fabricou as
primeiras lentes completamente de plástico, que assentavam sobre toda a córnea. Várias modificações
foram posteriormente impostas a estas lentes, que as tornaram cada vez mais finas e de menores
dimensões.
Mantinha-se no entanto um problema: apesar da leveza e maior facilidade de uso conseguidas com
estas lentes, estas não permitiam uma oxigenação adequada da córnea, originando problemas de
vascularização. Para colmatar este problema, passaram a utilizar-se, desde o final dos anos 70,
materiais rígidos mas permeáveis aos gases (RPG).
As lentes de hidrogel, largamente utilizadas nos dias de hoje, foram inventadas pelo checo Otto
Wichterle, em 1959, tendo sido apresentadas em 1960. Os polímeros utilizados no seu fabrico têm vindo
a ser melhorados, garantido cada vez melhor permeabilidade ao oxigénio e maior conforto.
Já em 1999, foram lançadas no mercado as primeiras lentes de hidrogel com silicone –
permeabilidade ao oxigénio extremamente elevada[19, 20]
.
4.2. Classificação das lentes de contacto
As lentes de contacto podem ser classificadas de diferentes modos, de acordo com diferentes
parâmetros[17, 21, 22]
:
4.1.1. Por função
Lentes de contacto correctivas – desenhadas para melhorar a visão, permitindo a focagem correcta
de luz na retina. Condições corrigíveis com lentes de contacto incluem miopia, hipermetropia,
astigmatismo e presbiopia. Para pessoas que tenham, ao nível da visão, certas deficiências relativas à
cor, podem usar-se lentes de contacto “X-Crom” tingidas. Apesar destas não restaurarem uma visão de
cor normal, permitem a alguns indivíduos “cegos à cor” distinguir melhor as diferentes cores.
Lentes de contacto cosméticas – desenhadas para modificar a aparência do olho. Dentro deste tipo
de lentes, podem considerar-se diferentes tipos, cada qual com diferente objectivo: as chamadas lentes
de cor têm como única finalidade alterar a cor do olho; as lentes espectrais, com coloração uniforme, têm
40
a função de filtrar selectivamente algumas radiações do espectro visível, proporcionando uma visão de
maior contraste; as lentes de oclusão têm como propósito impedir a passagem de luz pela área pupilar.
Existem ainda lentes que são utilizadas para mascarar defeitos da superfície ocular ou estrabismos.
Figura 12. Lentes de contacto cosméticas de cores diferentes.
Lentes de contacto terapêuticas – fabricadas essencialmente a partir de materiais hidrofílicos, são
geralmente usadas no tratamento de desordens não refractivas do olho, nomeadamente em casos de
olhos secos, úlceras corneanas, edemas corneanos, distrofias anteriores da córnea, erosões da córnea,
etc. Uma importante inovação prende-se com o desenvolvimento de lentes de contacto capazes de
proceder à entrega de drogas a nível local.
4.1.2. Pelo material de fabrico
Vidro – material a partir do qual eram feitas as primeiras lentes de contacto. Causavam irritações
oculares e o seu uso não era possível por longos períodos de tempo.
PMMA – Apresentadas por William Feinbloom, têm a desvantagem de não permitir a transmissão de
oxigénio através da lente para a córnea, o que pode provocar vários problemas clínicos. As lentes
fabricadas a partir deste tipo de material são geralmente designadas por lentes “rígidas” (hard lenses).
Materiais semi-rígidos permeáveis aos gases (RPG) – fabricadas a partir de polímeros muito
resistentes, estas lentes são capazes de substituir a forma natural da córnea com uma nova superfície
refractora. Deste modo, estas lentes de contacto rígidas com uma forma regular (esférica) podem
fornecer um bom nível de visão a pessoas com astigmatismo ou queratocone, casos em que as córneas
têm formas distorcidas. Após colocadas no olho, é necessário um período de adaptação antes do
conforto ser totalmente alcançado. Têm geralmente dimensões mais reduzidas que as lentes fabricadas
com hidrogéis.
Hidrogéis – apresentadas por Otto Wichterle, as lentes fabricadas com estes materiais hidrofílicos
são comummente designadas por lentes “moles” (soft lenses) e permitem um conforto imediato, após a
41
sua colocação no olho. Este tipo de polímeros tem vindo a ser melhorado nos últimos 25 anos,
principalmente em termos de aumento de permeabilidade ao oxigénio, por variação dos seus
constituintes.
Hidrogéis de silicone – disponíveis desde 1999, as lentes fabricadas a partir destes materiais são
extremamente permeáveis ao oxigénio (característica do silicone) e têm a desejável performance clínica
dos hidrogéis convencionais. Neste tipo de lentes são geralmente utilizados determinados hidrogéis para
compensar a hidrofibicidade do silicone, causadora de desconforto e secura dos olhos durante o seu
uso.
Lentes híbridas (“rígidas”/“moles”) – indicadas em certas condições clínicas em que as
características de um só tipo de lente não são suficientes para colmatar o problema em causa,
combinam em si as propriedades dos diferentes tipos de materiais, conjungando as suas vantagens e
tentando colmatar algumas das suas falhas.
4.1.3. Pelo padrão de uso
Diárias – usadas durante um dia e nunca durante o sono.
Uso contínuo ou extensível – utilizadas de dia e de noite, continuamente, durante um determinado
período de tempo. Para que tal seja possível, estas lentes possuem um conjunto de características
próprias: grande conteúdo em água e elevada permeabilidade ao oxigénio.
Uso tradicional/convencional – trocadas anualmente, são usadas durante o dia e não durante o sono.
Descartáveis ou disposable – são trocadas após um período de uso especificado pelo fabricante:
diário, semanal, quinzenal, mensal ou trimestral.
Ocasional – lentes indicadas para uso ocasional, como actividades sociais ou desportivas.
4.1.4. Pela geometria
Lentes esféricas – lentes de contacto em que tanto a superfície óptica interna como a externa são
porções de uma esfera. Podem ser fabricadas com diferentes materiais e são utilizadas para compensar
defeitos de refracção esféricos e, ao usar certos materiais, astigmatismos corneanos.
Lentes asféricas – são principalmente fabricadas com materiais RPG e hidrofílicos e com o seu uso
pretende-se obter uma boa adaptação a superfícies corneanas asféricas e corrigir astigmatismos baixos,
42
melhorando a qualidade visual. A principal característica que as define é o factor de excentricidade, que
pode ter um valor padrão nas lentes para adaptações convencionais ou valores mais elevados para
córneas muito irregulares, como acontece no caso do queratocone.
Lentes tóricas – fabricadas essencialmente com materiais RPG, hidrofílicos e hidrogéis de silicone, o
seu principal propósito é a compensação de todo o tipo de astigmatismo. Neste tipo de lentes, pelo
menos uma das superfícies tem o efeito de uma lente cilíndrica, normalmente em combinação com o
efeito de uma lente esférica. Têm, geralmente, partes superior e inferior esféricas distintas, não sendo
simétricas em torno do centro e não devendo ser rodadas: devem ser desenhadas de modo a manter a
sua orientação, independentemente do movimento ocular. Para tal, estas lentes são muitas vezes mais
grossas no fundo sendo esta zona puxada para baixo ao piscar os olhos. São geralmente marcadas com
finas estrias para auxiliar à correcta colocação.
Lentes bifocais/multifocais – fabricadas a partir de materiais RPG, hidrofílicos e com hidrogéis de
silicone, são principalmente usadas na compensação de presbiopia e têm mais que um plano focal.
Muitas vezes, são desenhadas de modo a corrigir a visão ao longe no centro da lente e corrigir a visão
de perto na periferia, ou vice-versa. As lentes de materiais RPG têm geralmente uma pequena lente na
parte inferior da lente para correcção da visão de perto: quando se baixam os olhos para ler, esta lente
fica no caminho óptico.
Lentes de geometria inversa – são lentes fabricadas de materiais RPG e utilizam-se principalmente
para redução da miopia por moldagem da córnea. Podem também ser indicadas em casos de córneas
de geometria oblatada (mais planas no centro que na periferia), normalmente resultado de algum
procedimento cirúrgico ou traumático.
Lentes esclerais – lentes com diâmetros maiores que 15 mm que assentam sobre a camada
esclerótica, menos sensível e frágil, evitando o contacto directo com a córnea, protegida por um
reservatório de líquido. Deste modo, possibilitam uma hidratação constante do olho, essencial na
melhoria de várias patologias da superfícies ocular, nomeadamente queratite neurotrófica4 e secura
ocular grave, favorecendo a cicratização das córneas[23]
.
Lentes especiais para astigmatismo irregular – possuem geometrias especiais para adaptação
sobre córneas com graus severos de irregularidade. São fabricadas principalmente de materiais RPG
mas também existem algumas lentes deste tipo fabricadas com materiais hidrofílicos.
4 Queratite neurotrófica é uma patologia que se caracteriza por uma anomalia/perda da sensibilidade da córnea.
43
4.3. Prescrição
A prescrição para uma lente de contacto é diferente da usada para óculos. Além da potência da
lente, que geralmente não é a mesma dos óculos – o que se deve ao facto de a lente de contacto estar
colocada sobre o olho, enquanto os óculos estão a uma distância de 10-14 mm à frente do olho –, a
prescrição das lentes de contacto contém, geralmente, informação relativa ao tamanho, raio de curvatura
e tipo de lente.
Os parâmetros especificados na prescrição de lentes de contacto podem incluir:
Material (permeabilidade ao oxigénio, percentagem de água, etc);
Raio de curvatura;
Diâmetro;
Potência em dioptrias (esféricas, cilíndricas, com ou sem adição de correcção para leitura);
Eixo cilíndrico;
Espessura central;
Geometria;
Marca.
Note-se que é sempre importante verificar, durante um exame ocular, a capacidade de um indivíduo
usar lentes de contacto: deve ser analisada a saúde da córnea, deve-se confirmar que não existem
alergias oculares e que os olhos do doente não são muito secos, factores que podem, à partida,
comprometer o sucesso no uso de lentes de contacto.
4.4. Complicações associadas ao uso de lentes
Apesar de todas as vantagens que o uso de lentes de contacto extraoculares pode trazer,
nomeadamente em comparação com o uso de óculos, as complicações que lhe estão associadas
afectam quase 5% dos utilizadores por ano.
Os indivíduos que usam lentes de contacto, principalmente lentes de uso mais extenso, têm um risco
aumentado de desenvolver infecções, principalmente da conjuntiva (revestimento delgado e resistente
da porção posterior da pálpebra, que tem a função de proteger o olho contra corpos estranhos e
infecções), e úlceras da córnea, muito devido a maus cuidados e limpeza, estagnação de bactérias, uso
excessivo e instabilidade do filme lacrimal.
Outro problema comum, quando se usam lentes que não de hidrogel ou silicone, é a
neovascularização da córnea, devido à baixa permeabilidade ao oxigénio.
44
Capítulo II
Estudo Clínico
45
1. Introdução
No segundo capítulo deste trabalho é apresentado todo o estudo clínico levado a cabo e são
analisados os resultados obtidos. Saliente-se que, apesar de inicialmente se ter referido que o
pretendido com este estudo era verificar se a qualidade da visão piora ao longo do tempo de uso de
lentes de contacto hidrofílicas, o que realmente se estuda, visto que não são tidos em conta
processamentos neuronais nem de reconhecimento de imagens (percepção subjectiva), é se a qualidade
da imagem retiniana diminui – através de métricas do plano da imagem – e se existem aumentos do erro
da frente de onda – através de métricas do plano pupilar –, ao longo do tempo de uso das lentes. Como
já referido, tal pressuposto parte do facto de as lentes terem um limite máximo de horas de uso e de
vários utilizadores se queixarem de maiores dificuldades em ver de modo “claro” à medida que as lentes
vão sendo mais usadas.
Além deste estudo particular, são também analisados e comparados resultados de medições feitas
sem e com lentes de contacto colocadas, de modo a verificar de que modo o uso de lentes influencia a
variação de determinadas aberrações.
À apresentação dos resultados, analisados recorrendo ao uso de diferentes métricas a seguir
descritas, segue-se uma discussão dos mesmos, em que são sistematizados.
46
2. Método
Para atingir os objectivos propostos neste trabalho, foram medidas as aberrações oculares em olhos
de voluntários utilizadores de lentes de contacto mensais, fabricadas a partir de materiais hidrofílicos –
lentes “moles” –, com um Aberrómetro de Hartmann-Shack. As medições, realizadas entre os meses de
Maio e Setembro do ano de 2007, tiveram lugar na clínica de oftalmologia ALM OFTALMOLASER –
Serviços de Ofalmologia Médica e Cirúrgica, S.A., situada em Lisboa, e foram todas realizadas pelo
mesmo optometrista.
Todas as medições foram realizadas sob condições normais de acomodação e tendo sempre em
atenção o estado do filme lacrimal dos olhos aos quais eram medidas as aberrações: foi tido um cuidado
constante para que as medições não fossem realizadas a olhos muito secos, pois tal introduzia erros nos
dados obtidos. Sempre que tal acontecia, as medições eram repetidas após ser pedido ao voluntário
para pestanejar algumas vezes, hidratando a superfície ocular.
2.1. Definição inicial de parâmetros
Antes de iniciar a recolha de dados, foi necessário atentar em dois parâmetros cruciais e que podem
influenciar significativamente os resultados obtidos: n.º de medições realizadas e o diâmetro pupilar.
No que diz respeito ao número de medições realizadas, o ideal teria sido realizar várias medições a
cada olho ao longo de um mês completo, ou seja, fazendo a primeira medição coincidir com os primeiros
dias de uso de uma lente e efectuando várias medições ao longo dos 30 dias seguintes, com intervalos
constantes entre os testes e iguais entre os diferentes casos. No entanto, devido ao carácter de
voluntariado não pago que regeu este estudo e ao próprio horário e às condições de funcionamento da
Clínica, tal não foi possível. Assim foi, em muitos casos, realizado o maior número possível de medições
por olho, mas ao longo de mais que um mês.
Quanto ao diâmetro pupilar, é conferido a este parâmetro um papel crucial neste tipo de estudos,
visto que os efeitos das aberrações, assim como da difracção, são muito dependentes do diâmetro das
pupilas: os efeitos das aberrações ópticas geralmente aumentam com aumentos do tamanho pupilar. O
que acontece é que, quando as pupilas são mais largas, o aumento da quantidade de raios que entram
pela periferia das mesmas, sujeitos a uma maior quantidade de aberrações, resulta num decaimento da
qualidade da visão[11]
, podendo diâmetros pupilares reduzidos resultar num melhoramento da visão,
mesmo em olhos com aberrações ópticas[7]
. Não é, portanto, apropriado comparar e correlacionar
aberrações medidas com diferentes tamanhos pupilares, dado que essas medições não reflectem, de
modo absoluto, em que quantidade determinadas aberrações (nomeadamente de ordem superior) estão
presentes nestes sistemas ópticos. Outro aspecto pelo qual o diâmetro pupilar ganha particular destaque
47
neste tipo de estudos prende-se com o facto de ser aconselhável que as medições sejam realizadas a
pupilas com diâmetro igual ou superior a 6 mm, o que garante uma maior precisão dos dados medidos
com um Aberrómetro de Hartmann-Shack.
Infelizmente, não foi possível garantir que as medições eram sempre realizadas a olhos com o
mesmo diâmetro pupilar, nem mesmo que esse diâmetro era igual ou superior a 6mm, pois para tal seria
necessário recorrer ao uso de fármacos dilatadores de pupilas, que provocam algum desconforto e
dificuldade em ver de modo “claro” durante períodos de tempo posteriores aos testes, o que dificultaria a
angariação de voluntários para o estudo.
2.2. Material utilizado
Para realizar as medições pretendidas, utilizou-se um Aberrómetro de Hartmann-Shack ZYWAVETM
,
fabricado por Technolas GmbH Ophalmologische Systeme, uma empresa da Bausch&Lomb.
A mesa de diagnóstico deste instrumento possui apoios para testa e queixo – com altura ajustável –
que ajudavam a manter o centro da pupila alinhado com a câmara do aberrómetro, limitando os seus
movimentos e minimizando a introdução de erros e variações nos dados adquiridos.
O díodo laser deste aberrómetro funciona na zona infravermelha, emitindo raios com comprimentos
de onda de 785 nm. Outros dados técnicos relativos a este instrumento são listados na tabela seguinte:
Escala de medição
Esférica +6.00 D – -12.00 D
Cilíndrica 0.00 D – -5.00 D
Eixo 0º – 180º
Diâmetro pupilar 2.5 mm – 8.5 mm
Classe de protecção laser 1 M
Tempo de exposição por medição 0,1 segundos
Modo de operação Onda luminosa contínua (cw)
Potência na córnea ≤ 3.5 μW
Diâmetro mínimo do raio 15 μm na focagem
Tabela 3. Listagem de dados técnicos relevantes do aberrómetro utilizado neste estudo[24]
.
O processo de medição compreende os seguintes passos:
1. Num primeiro passo, o aberrómetro efectua uma procura automática da melhor compensação
para o erro esférico de refracção. Este ajuste automático é feito segundo valores de refracção medidos e
e introduzidos no sistema informático associado ao aberrómetro, antes de cada medição. Para fazer
essa medição da refracção utilizou-se um refractómetro Auto-Ref R50 da Canon.
2. O segundo passo é o de medição da frente de onda para determinar as aberrações do olho.
Dentro de cada aquisição realizam-se 5 medições consecutivas, demorando cada uma 1,5 segundos.
48
Das cinco medições realizadas são escolhidas as 3 que apresentem um menor valor de critério de
repetibilidade (CR).
Realizada a aquisição dos dados, são apresentadas as imagens a duas dimensões dos mapas de
frente de onda (de ordem superior ou completos), os contornos pupilares e as grelhas de pontos das 3
medições com menor CR, sendo possível, posteriormente, visualizar um mapa bidimensional da frente
de onda completa e outro da frente de onda de ordem superior (eliminando as aberrações de ordem
inferior), resultantes de uma média das imagens anteriores, a PSF de ordem superior e uma listagem de
diferentes parâmetros (que não são relevantes para este estudo).
Além das imagens já referidas, outras imagens e vários gráficos, a diferentes dimensões e com
diferentes esquemas de cores, estão à disposição do profissional que opera este instrumento. Destaque-
-se, por exemplo, a possibilidade de visualizar mapas dos modos individuais de Zernike e da frente de
onda a três dimensões, de obter gráficos de barras representativos da magnitude dos diferentes
coeficientes de Zernike e de visualizar na mesma janela os resultados de diferentes exames relativos ao
mesmo doente, o que permite análises expeditas das variações que ocorrem com o passar do tempo[24]
.
Para tratar e analisar os dados recolhidos foi utilizado um programa desenvolvido em MATLAB® por
Filipa Campos Viola, mestre em Engenharia Biomédica pelo Instituto Superior Técnico. Este programa
recebe, num menu interactivo, o nome do ficheiro que contém a informação fornecida pelo aberrómetro
em cada medição e pode devolver diferentes gráficos de métricas da qualidade da imagem retiniana e da
frente de onda – coeficientes de Zernike, mapas da aberração da frente de onda (a duas e a três
dimensões), PSF e MTF – e imagens que dão uma ideia de como cada voluntário vê diferentes formas e
imagens – Quadro de Snellen, barras verticais (de baixa e elevada frequências) e uma mira.
Um tutorial deste Programa de Simulação da Acuidade Visual, de muito simples e intuitiva utilização
pode ser consultado no Apêndice 2 da tese de mestrado de Filipa Viola[1]
.
49
Figura 13. Menu interactivo disponibilizado pelo programa desenvolvido por Filipa Viola e utilizado neste
estudo para análise dos dados devolvidos pelo Aberrómetro de Hartmann-Shack.
2.3. Características da população estudada
As medições foram realizadas a ambos os olhos de 8 indivíduos normais (16 olhos), sem patologias
oculares. Um dos voluntários (MS) mudou de lentes a meio do estudo (lentes identificadas como MS1), o
que perfaz um total de medições realizadas a 18 lentes. No entanto, tanto a este voluntário com as
últimas lentes como a outros dois (RG e RM), não foi possível avaliar a qualidade da imagem visual ao
longo do tempo de uso das lentes, dada a indisponibilidade dos mesmos para a realização de um maior
número de testes. Assim, os dados adquiridos na medição das aberrações dos olhos destes voluntários
foram apenas utilizados na análise da variação da presença de aberrações entre medições com e sem
lentes de contacto.
Dois dos voluntários eram do sexo masculino e os restantes seis do sexo feminino, com idades
compreendidas entre os 22 e os 24 anos (média de 23 anos), sendo todos utilizadores de lentes de
contacto mensais com função de corrigir miopia e, em alguns casos, também astigmatismo. Na tabela
que se segue são apresentados os dados mais relevantes relativos às características das lentes de
contacto usadas pelos diferentes voluntários.
50
Características das lentes de contacto Observações
N.º de lentes de contacto com função correctiva esférica
(correcção da miopia) 18 __
Poder esférico Entre -2 e -7 Gráfico da distribuição
apresentado na Figura 14
N.º de lentes de contacto com função correctiva esférica e
cilíndrica – lentes tóricas (correcção da miopia e do
astigmatismo)
5
(31,25%) __
Poder cilíndrico Lentes com
-1,25 e -1,75
Dados referentes a estas lentes
apresentados na Tabela 5
Variação do eixo de curvatura Entre 8,4 e 8,9 Média de 8,58
Valor mediano de 8,6
Tabela 4. Características das lentes de contacto utilizadas pelos voluntários do estudo.
Figura 14. Representação gráfica da distribuição do poder refractivo esférico das lentes de contacto, em
dioptrias.
Identificação da lente Poder refractivo esférico Poder refractivo
cilíndrico Eixo astigmatismo
Olho esquerdo do
voluntário DA
-4,25 -1,25 180
Olho direito do
voluntário JT
-5 -1,25 180
Olho esquerdo do
voluntário JT
-7 -1,25 180
Olho direito do
voluntário AN
-2,5 -1,75 50
Olho esquerdo do
voluntário AN
-3 -1,75 150
Tabela 5. Listagem dos dados referentes às lentes tóricas alvo de estudo.
51
Note-se que, apesar de apenas 5 das lentes de contacto terem, além da função de corrigir miopia, a
função de corrigir também astigmatismo, quase todos os outros voluntários sofrem também desta última
condição, mas a níveis tão reduzidos que não justificam o uso de lentes tóricas – há uma compensação
desta aberração por aumento do poder refractivo esférico.
Informação referente aos diâmetros pupilares dos olhos aquando das medições, e às variações dos
mesmos, é apresentada no Ponto 4 deste Capítulo, em função das diferentes análises realizadas.
No Anexo I é possível consultar uma listagem mais discriminada das características das lentes
utilizadas pelos diferentes voluntários.
Importa salientar que, dado que este estudo envolvia medições em seres humanos, foi utilizada
como orientação para o mesmo a Declaração de Helsínquia, desenvolvida pela Associação Médica
Mundial (World Medical Association). Assim, os voluntários para este estudo foram devidamente
informados dos objectivos e métodos utilizados, tendo posteriormente assinado uma declaração em que
afirmavam participar de livre vontade neste estudo e permitiam a divulgação dos dados recolhidos.
52
3. Definição das métricas a utilizar
Antes de iniciar a análise dos dados foram determinadas quais as métricas a utilizar, com o objectivo
de verificar se existe realmente uma degradação da imagem retiniana e do mapa da frente de onda, ao
longo do tempo de uso das lentes de contacto. Para tal, tirou-se partido das métricas que o Programa de
Simulação da Acuidade Visual e o próprio sistema informático associado ao aberrómetro calculam, tendo
sido também desenvolvido algum trabalho de pesquisa em que se analisaram e compararam estudos
clínicos já realizados nesta área[25,26,27,28]
. Estes estudos tinham como objectivo, único ou não, definir
quais as melhores métricas para a determinação da qualidade óptica da imagem retiniana e da
performance visual, em diferentes situações (com o uso de óculos, com o uso de diferentes tipos de
lentes de contacto, etc.) e para determinadas tarefas visuais. Infelizmente, concluiu-se em todos que
ainda não é possível estabelecer qual a métrica, ou conjunto de métricas, ideal em qualquer condição e
para qualquer tarefa visual: diferentes métricas têm melhor comportamento em determinadas situações e
para tarefas visuais específicas, enquanto outras se comportam melhor noutros casos. Como em
nenhum dos estudos encontrados as condições ou objectivos eram semelhantes aos do estudo aqui
apresentado, foram escolhidas métricas que tenham apresentado bons comportamentos na predicção do
impacto na visão das diferentes aberrações em diversas situações e/ou cuja aplicação seja, como já
referido, facilitada pelos dados e ferramentas de que se dispõe.
As métricas escolhidas para serem utilizadas neste estudo foram as seguintes:
Análise e comparação da magnitude dos Coeficientes de Zernike;
Método da pupila crítica (método de fracção pupilar);
Raiz quadrada do segundo momento da distribuição de luz (métrica de compactação da
PSF);
Área da MTF.
As duas primeiras métricas são exemplos de métricas do plano pupilar, visto que descrevem
variações do erro da frente de onda no plano pupilar, sendo as duas últimas tipos de métricas do plano
da imagem, dado descreverem a imagem retiniana, tanto para fontes de luz pontuais (métrica baseada
na PSF) como para barras sinusoidais (métrica baseada na MTF).
3.1. Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike
A primeira métrica definida atenta nos valores dos coeficientes de Zernike das diferentes
aberrações, calculando-se as variações dos mesmos entre casos com e sem lente e ao longo do tempo
de uso das lentes.
A equação utilizada para calcular as variações referidas é a que se segue:
53
(13)
em que os índices i e f se referem aos valores absolutos dos parâmetros em causa no instante inicial (ou
de referência) e no instante final (qualquer outro instante que não o de referência), respectivamente.
Esta equação é também usada posteriormente para determinar as variações dos valores calculados
para as diferentes métricas.
3.2. Método da pupila crítica
O método da pupila crítica é uma métrica da qualidade da frente de onda que se baseia no conceito
de fracção pupilar, definido por:
(14)
Este método, desenvolvido em MATLAB®, examina, sucessivamente e segundo um determinado
critério, a qualidade do mapa da frente de onda dentro de círculos concêntricos com a pupila, de raios
cada vez maiores. A análise começa com uma abertura muito reduzida (raio do círculo=5%(raio da
pupila)), abertura essa que vai sendo expandida até o critério em causa atingir um valor crítico pré-
determinado. O raio do círculo com que se atinge este valor crítico designa-se por raio crítico e a partir
dele pode calcular-se a fracção pupilar:
(15)
Deseja-se que esta fracção tenha valores tão elevados quanto possível pois tal significa que
grandes quantidades da luz que entram no olho contribuem para uma imagem retiniana de boa
qualidade.
Apesar desta métrica conferir um maior peso à região central da pupila, esta é uma aproximação
razoável dado que esta parte central tem uma maior contribuição para a visão, posto que o sistema
visual é mais sensível a raios daí provenientes (efeito de Stiles-Crawford).
No que diz respeito ao critério a utilizar na examinação da qualidade da frente de onda, existem
várias hipóteses que podem ser consideradas[29]
, tendo-se optado usar como critério o Root-Mean-
Squared wavefront error (RMS), calculado para as diferentes aberturas:
54
(16)
Na equação anterior, é a frente de onda aberrada dentro da abertura em questão,
representa a média dessa frente de onda, A é a área da abertura e o integral é calculado sobre toda a
abertura. Computacionalmente, o RMS mais não é que o desvio padrão dos valores do erro de frente de
onda, nos vários pontos pertencentes aos círculos de diferentes raios.
O valor determinado como crítico para este critério foi de 0,1963 micrómetros (comprimento de onda
do laser/4 = 0,785/4)[28, 29]
.
Para que se tenha uma ideia de como esta métrica mede a qualidade do mapa da frente de onda,
apresentam-se na figura seguinte as imagens da frente de onda obtidas para o olho direito do voluntário
IB, para uma lente mais usada (A) e uma lente menos usada (C). Neste caso, o raio aumenta 6,24%
entre as medições que permitiram obter as imagens (A) e (C) e a métrica sofre também uma variação
positiva, de 1,24%.
A
B
C
D
Figura 15. Mapas da frente de onda obtidos para o olho direito do voluntário IB, com uma lente mais usada
(A) e uma lente menos usada (C). Em B e D apresentam-se os mapas obtidos após aplicação da métrica 2
aos mapas A e C, respectivamente. Estas pupilas foram cortadas para raios superiores áquele em que se
atinge o valor de RMS crítico. Note-se que, em cada linha da Figura, os códigos de cores não são iguais nos
dois mapas.
frente de onda - 2D (micrometros)
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
20 40 60 80 100 120 140 160
20
40
60
80
100
120
140
160
55
Se se compararem os mapas da frente de onda obtidos para uma lente mais usada (A) e para uma
lente menos usada (C) tem-se que no último a densidade de “linhas de nível”, que limitam áreas da
frente de onda com igual avanço ou atraso de fase, é menor que no primeiro caso, o que sugere que
esta é uma frente de onda menos aberrada, o que é confirmado pelo facto da fracção pupilar associada
a este último caso ser mais elevada.
Apesar das duas métricas anteriores fornecerem informação acerca da qualidade dos mapas da
frente de onda, a realidade é que não permitem prever qual a qualidade da imagem retiniana: além do
facto de ainda não se saber totalmente o quanto as aberrações de ordem superior podem contribuir para
o deterioramento da qualidade da visão, o modo como os diferentes coeficientes, de menor e maior
ordem, se combinam tem também um impacto significativo na acuidade visual, podendo diferentes
combinações resultar em imagens retinianas de melhor ou pior qualidade que o previsto a partir das
componentes individuais.
É, assim, importante utilizar outras métricas que permitam ter uma ideia mais clara de qual a
qualidade da imagem produzida, ao longo do tempo de uso das lentes, as chamadas métricas da
qualidade da imagem retiniana, das quais as duas que se seguem são exemplos.
3.3. Raiz quadrada do segundo momento de distribuição de luz (baseada na
qualidade da PSF)
Métricas da qualidade da imagem retiniana baseadas na qualidade da PSF podem ser concebidas
de modo a analisar um de dois parâmetros: compactação ou contraste. Quanto mais compacta e de
maior contraste for uma PSF, melhor a sua qualidade.
Figura 16. Representação de duas PSF de diferente qualidade: a da esquerda, mais compacta (more
compact) e com elevado contraste (high contrast), apresenta maior qualidade que a da direita, menos
compacta (less compact) e de baixo contraste (low contrast)[29]
.
Esta métrica foi desenvolvida em MATLAB® e mede a compactação espacial da PSF, através do
cálculo da raiz quadrada do segundo momento da distribuição de luz – SMDL:
56
(17)
Quanto mais baixo for o valor desta métrica, particularmente sensível à presença de caudas da
PSF, mais compacta é a PSF que lhe está associada.
Para que se perceba melhor o que esta métrica mede, assim como a referida sensibilidade à
presença de caudas da PSF, apresentam-se na figura seguinte as imagens da PSF obtidas para o olho
esquerdo do voluntário IB, para uma lente menos usada (A) e uma lente mais usada (B) e com o raio da
pupila a diminuir 7,57% de (A) para (B).
A
B
Figura 17. Representação das PSF’s obtidas para o olho esquerdo do voluntário IB, com uma lente menos
usada (A) e uma lente mais usada (B). A variação do raio pupilar entre as medições realizadas em A e B é de
-7,57%.
A métrica 3, que mede a compactação de uma PSF, vê o seu valor aumentar (variação positiva de
0,98%) da Figura A para a Figura B. Tal deve-se ao facto de a PSF representada em B, apesar de
aparentar ter um máximo de intensidade com uma forma mais compacta, apresentar uma cauda de
dimensões consideráveis, característica da presença de aberrações coma na pupila, e vai deteriorar de
modo muito particular a qualidade da imagem retiniana.
3.4. Área da MTF
A quarta métrica utilizada mede a área da MTF associada às diferentes medições. Partindo da
definição desta função, apresentada no Capítulo I, facilmente se percebe que é desejável que a área da
MTF seja tão elevada quanto possível.
Tendo em conta que o Programa de Simulação da Acuidade Visual utilizado devolve duas MTF’s,
MTF segundo x e MTF segundo y, esta métrica foi aplicada a ambas, pelo que a cada caso considerado
57
estão associados dois valores desta métrica. A MTF segundo x é representada por mtf_x e a MTF
segundo y por mtf_y.
58
4. Resultados
Neste ponto do Capítulo II são apresentados e analisados os resultados obtidos por aplicação das
diferentes métricas aos dados recolhidos.
Utilizando a primeira métrica e através da análise do mapa da frente de onda, obtido com Programa
de Simulação da Acuidade Visual, são primeiramente analisados e comparados os resultados obtidos
para medições realizadas sem e com lentes colocadas, com o objectivo de averiguar o modo como
diferentes aberrações de ordem superior variam entre os dois casos. Saliente-se que esta análise se
foca somente nas aberrações de ordem superior dado que a colocação de lentes de contacto resulta
numa correcção (não total mas próxima da totalidade) das aberrações de ordem inferior, as aberrações
de maior magnitude presentes nos olhos dos vários voluntários. A correcção destas aberrações vai
resultar num aumento significativo da qualidade da imagem retiniana e a fracção pupilar. Assim, e visto
que as últimas três métricas apresentadas não permitem distinguir nem quantificar a variação da
quantidade de aberrações de ordem superior presentes entre medições sem e com lentes, não foram
utilizadas neste primeiro ponto de análise.
Posteriormente, as quatro métricas descritas são utilizadas na análise das variações dos coeficientes
de Zernike das diferentes aberrações, da evolução do erro da frente de onda e da qualidade da imagem
retiniana, ao longo do tempo de uso das lentes.
4.1. Comparação entre medições realizadas sem e com lentes
A análise e comparação entre os casos sem e com lentes colocadas, baseou-se num total de 76
medições realizadas (38 medições feitas sem lente e 38 feitas com lente) a ambos os olhos dos vários
voluntários. A listagem do número de medições realizadas por olho e por lente é apresentada no Anexo
I.
Note-se que o ideal, de modo a que os resultados das diferentes medições fossem comparáveis,
era que o tempo que cada voluntário esteve sem lentes antes dos testes tivesse sido sempre o mesmo e
o maior possível. Tal deve-se ao facto de, apesar de mais estudos sobre este tópico serem necessários,
se crer que a influência que o uso de lentes de contacto tem sobre a qualidade visual se faz sentir, em
maior ou menor magnitude, até 7 dias após a paragem do seu uso continuado. No entanto, e mais uma
vez devido ao carácter de voluntariado não pago que regeu este estudo, não foi possível controlar esse
período sem lentes antes das várias medições.
Destas 76 medições, 46 (60,5%) foram realizadas a pupilas com diâmetros iguais ou superiores a 6
mm, tendo estes diâmetros pupilares variado entre os 4,166 e os 8,376 mm, com um valor médio de 6,16
59
mm (superior a 6 mm), para os casos sem lentes, e entre os 4,58 e os 8,46 mm, com um valor médio de
6,12 mm (superior a 6 mm), para os casos com lentes.
Das medições realizadas, resultaram 38 casos (cada caso compreende um par de medições feitas
ao mesmo olho, com uma diferença entre elas da ordem dos minutos, e em que uma foi realizada sem
lente e outra com a lente colocada) para análise da variação dos coeficientes de Zernike ao colocar
lentes. Em 18 destes 38 casos (47,37%), houve um aumento do diâmetro pupilar ao passar da situação
sem lentes para a situação com lentes, tendo acontecido nos 20 restantes casos (52,63%) uma variação
negativa. O valor médio destas variações foi de -0,032%.
Se se tiver em conta o que já foi apresentado sobre diâmetros pupilares e aberrações ópticas, sabe-
-se que aumentos do diâmetro pupilar resultam geralmente num aumento das aberrações. Visto que não
é ainda quantificável de que modo aumentos do tamanho pupilar influenciam o aumento das várias
aberrações, a análise feita neste ponto tem um carácter mais qualitativo que quantitativo, não sendo
possível correlacionar os vários resultados.
De modo a reduzir a complexidade da análise dos dados, ao utilizar os coeficientes de Zernike, teve-
-se em conta que cada modo individual de Zernike afecta a acuidade de modo diferente: em cada ordem,
modos próximos do centro da árvore de Zernike (coma, aberração esférica, …) tendem a afectar mais a
acuidade visual que os localizadas próximo dos extremos da árvore (ex.: trefoil, quadrafoil)[11, 27]
. Assim,
foram examinadas variações dos coeficientes de Zernike correspondentes aos comas (segundo x e y) e
à aberração esférica de quarta ordem. Foram também tidas em conta variações das somas de todos os
coeficientes de Zernike de ordem superior (em valor absoluto) e das somas de todos os coeficientes de
Zernike de ordem superior (em valor absoluto) com excepção dos referentes a ambos os comas e à
aberração esférica, de modo a verificar a possível existência de compensações entre as aberrações de
ordem mais elevada.
Para facilitar a visualização e interpretação dos resultados apresentados no gráfico seguinte, foram
determinadas as médias das variações dos diferentes coeficientes (ou das somas de CZ referidas), para
intervalos de variação do raio pupilar bem definidos. Além disso, optou-se por não apresentar as médias
para variações dos CZ de Zernike associados a ambos os comas, mas sim dos CZ associados ao “coma
total”, visto que tanto o coma segundo x como o coma segundo y seguem geralmente a mesma
tendência, bem representada por este último parâmetro. Para cada medição, os CZ referentes ao “coma
total” foram determinados por aplicação da seguinte equação:
(18)
60
Figura 18. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações dos coeficientes de
Zernike correspondentes ao “coma total” e à aberração esférica de 4.ª ordem e das somas dos valores
absolutos dos coeficientes de Zernike associados a aberrações de ordem superior (de todas as aberrações
de ordem superior – até à ordem 20 – e de todas – até à ordem 20 – excepto os comas e a aberração
esférica), em função de intervalos das variações dos raios pupilares, para os casos em que se comparam
medições sem e com lentes colocadas.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
61
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 14 3 4 11 3
Média da variação dos
raios (%)
-11,27 -5,05 -0,77 1,46 5,23 14,29
Média da variação dos
CZ(coma total) (%)
101,61 135,85 74,04 83,14 -12,06 789,41
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-86,77 48,69 43,36 211,55 -43,49 367,43
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-36,53 -1,17 13,5 -34,54 2,38 117,02
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-40,39 -2,75 20,8 -56,60 31,72 118,61
Tabela 6. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e das
médias aritméticas dos diferentes parâmetros considerados, para os casos em que se comparam medições
sem e com lentes colocadas.
Partindo da figura e tabela anteriores, é possível analisar o que acontece com cada parâmetro
considerado, dentro dos diferentes intervalos de variação do raio pupilar:
1. Para variações positivas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar aumenta ao colocar a
lente, espera-se que a quantidade de aberrações de ordem superior medida aumente, aumentando mais
com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. Tal verifica-se para as médias das variações das
duas somas dos valores absolutos dos CZ de ordem superior consideradas: à medida que a variação do
raio pupilar é mais acentuada, aumenta o total de aberrações de ordem superior medidas, o que se pode
dever a um aumento da quantidade de raios de luz que penetra na pupila pela sua periferia.
No que diz respeito às médias das variações dos CZ associados ao “coma total” e à aberração
esférica, verifica-se uma excepção a esta tendência de aumento no intervalo para variações do raio
pupilar entre os 2 e os 10%. No entanto, é importante salientar que, no mesmo intervalo em que se
verificam estas duas médias negativas, a média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ
associados a aberrações de ordem superior, excepto os comas e a aberração esférica, tem um valor
positivo consideravelmente elevado em comparação com o valor da outra soma considerada. Este valor
tão elevado pode dever-se a compensações entre as aberrações de ordem superior: as restantes
aberrações de maior ordem somadas têm um valor consideravelmente elevado para compensar os
62
valores negativos dos comas e da aberração esférica, permitindo ao total das aberrações de ordem
superior aumentar com aumentos mais acentuados do raio pupilar.
2. Para variações negativas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar diminui ao colocar a lente,
espera-se que a quantidade de aberrações de ordem superior medida diminua, tendo essas diminuições
maiores valores absolutos com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. Apesar desta tendência
ser respeitada pelas duas somas consideradas, que vêem os seus valores diminuir à medida que as
variações do raio pupilar são mais negativas, não o é pelos outros dois parâmetros considerados,
principalmente pelo “coma total”. Este aumento dos comas ao colocar a lente está de acordo com
resultados obtidos noutros estudos realizados[16]
, em que se mostrou que os modos de Zernike
rotacionalmente anti-simétricos (como é o caso dos comas) podem revelar tendência a aumentar a sua
presença ao colocar lentes “moles”, devido a uma má adaptação destas a córneas irregulares.
De um modo geral, pode afirmar-se que, apesar da tendência das médias das somas consideradas
poder ser explicada pelas variações do raio pupilar associadas, se verifica uma propensão para algumas
aberrações de ordem superior aumentarem ao colocar a lente de contacto “mole” no olho. Tal é sugerido
por dois aspectos particulares: em primeiro lugar, pelo facto de se registarem algumas médias com valor
positivo para intervalos correspondentes a variações negativas do raio, nomeadamente para variações
de 0 a -10%, e em segundo lugar, porque para variações positivas do raio se parecem registar, para as
diferentes médias, maiores valores que o que seria de esperar. Se se compararem, por exemplo, os
valores das diversas médias para os intervalos com variações do raio mais acentuadas (de -20 a -10% e
de 10 a 20%), verifica-se que os valores absolutos dessas médias são maiores para variações positivas
do tamanho pupilar, o que sugere a presença de outro factor, possivelmente a presença de lentes de
contacto, a induzir um aumento das aberrações de ordem superior, em todo o espectro de variações do
raio pupilar.
Se antes da colocação das lentes a proporção destas aberrações de ordem superior em comparação
com as de ordem inferior pode ser vista como sendo praticamente desprezável, ao colocar as lentes
verifica-se que a magnitude das primeiras passa, em muitos casos, a ser comparável à das segundas,
passando a ter uma influência considerável na qualidade e acuidade visuais.
Para que se possa ter uma ideia de quais os possíveis efeitos dos comas e da aberração esférica –
aberrações que apresentam uma tendência para aumentar ao colocar as lentes – na frente de onda e
nas imagens retinianas, é interessante concentrar a análise em dois casos particulares:
1. Num dos testes realizados ao olho esquerdo do voluntário DA, apesar de haver uma variação
de -12,681% do raio pupilar, ao colocar a lente, os coeficientes de Zernike dos comas sofrem uma
variação positiva bastante acentuada: o coeficiente de Zernike do coma y sofre uma variação de
105,80% (de -0,069 para 0,1420) e do coma x uma variação de 84,91% (de -0,053 para 0,098);
63
A
B
C
Figura 19. Mapa da frente de onda a duas dimensões (A) e representações da PSF (B) e do Quadro de
Snellen (C) correspondentes, de um dos testes realizados ao olho esquerdo do voluntário DA, com a
respectiva lente colocada. As imagens foram obtidas com o Programa de Simulação da Acuidade Visual.
Como se pode constatar na figura anterior, a influência da presença acentuada dos comas (y e x) é
bem visível na forma da PSF (Figura 19-B), que apresenta a cauda em forma de cometa característica
deste tipo de aberrações. O facto de, além da existência da cauda, a PSF apresentar um espalhamento
triangular em torno do ponto central (intensidade mais elevada) é característico da presença de
astigmatismo: o astigmatismo segundo y (o que a lente tórica usada por este voluntário pretende corrigir
é o astigmatismo segundo x) tem um valor relativamente elevado após colocação da lente. No que diz
respeito ao mapa da frente de onda, a presença de comas não é tão facilmente identificável devido à
referida presença do astigmatismo segundo y, que tem uma grande influência na forma deste mapa. Os
padrões característicos do astigmatismo são, no entanto, espalhados do exterior para a porção interior
da pupila.
2. No teste realizado ao olho direito do voluntário MS1, apesar de haver uma variação de -6,208%
do raio pupilar, ao colocar a lente, os coeficientes de Zernike da aberração esférica de 4.ª ordem sofrem
uma variação de 607,87% (de 0,127 para 0,899).
A
B
C
Figura 20. Mapa da frente de onda a duas dimensões (A) e representações da PSF (B) e do Quadro de
Snellen (C) correspondentes, do teste realizado ao olho direito do voluntário MS1, com a respectiva lente
colocada. As imagens foram obtidas com o Programa de Simulação da Acuidade Visual.
64
A
B
C
Figura 21. Mapa da frente de onda a duas dimensões (A) e representações da PSF (B) e do Quadro de
Snellen (C) correspondentes, do teste realizado ao olho direito do voluntário MS1, com a respectiva lente
colocada, com o coeficiente de Zernike correspondente à desfocagem anulado. As imagens foram obtidas
com o Programa de Simulação da Acuidade Visual.
As imagens da Figura 20 foram obtidas para o olho direito do voluntário MS1, com a lente de
contacto colocada. Pretendia-se, a partir destas imagens, verificar a influência da presença acentuada da
aberração esférica de 4.ª ordem. Note-se, no entanto, que no mapa da frente de onda o único padrão
que facilmente se identifica é o característico dos comas, nomeadamente na porção exterior inferior da
pupila. Quanto à PSF, se a sua forma pode sugerir a presença de aberração esférica, tal pode dever-se
ao facto de, apesar da lente colocada, o valor absoluto do coeficiente de Zernike associado à
desfocagem ter ainda um valor muito elevado (2,00). Assim, e modo a perceber se existia realmente
influência da aberração esférica de 4.ª ordem, anulou-se o coeficiente de Zernike correspondente à
desfocagem, tendo-se obtido as imagens da Figura 21. Neste caso, é já possível identificar facilmente
um padrão característico da aberração esférica no mapa da frente de onda, nomeadamente na porção
central da pupila, continuando presente o padrão característico do coma na porção inferior da mesma. A
influência da aberração esférica passa a ser também mais facilmente identificável nesta PSF.
Um ponto a destacar da análise das duas últimas figuras prende-se com a possível compensação
de aberrações: se compararmos as imagens dos Quadros de Snellen entre os casos com lente e com
lente com o coeficiente de Zernike associado à desfocagem anulado, é claro que a qualidade da primeira
imagem é superior à da segunda, apesar de nesta se ter “eliminado” a aberração de maior magnitude
presente. Tal sugere que deve existir algum tipo de compensação entre as diferentes aberrações e todas
elas contribuem, com alguma dependência uma das outras, para um equilíbrio total: apesar de tanto o
CZ associado à desfocagem como o associado à aberração esférica de 4.ª ordem terem valores totais
positivos, na porção central do plano pupilar o primeiro apresenta valores negativos enquanto o segundo
valores positivos. Para que seja mais perceptível o que acontece nesta zona da pupila, apresentam-se
na figura seguinte os mapas tridimensionais das frentes de onda, com todos os coeficientes anulados
excepto o correspondente à desfocagem (Figura 22-A) ou à aberração esférica de 4.ª ordem (Figura 22-
B). Tal compensação entre este par de aberrações (desfocagem e aberração esférica de 4.ª ordem) já
tinha sido sugerida e verificada em alguns estudos anteriores a este[27, 28]
.
65
A B
Figura 22. Mapas tridimensionais da frente de onda, obtidos para a medição realizada com lente ao olho
direito do voluntário MS1, após anulação de todos os coeficientes de Zernike excepto o associado à
desfocagem (A) ou o correspondente à aberração esférica de 4.ª ordem (B).
4.2. Análise ao longo do tempo de uso das lentes
A análise realizada ao longo do tempo de uso das lentes baseou-se num total de 38 medições
realizadas com as lentes colocadas, a ambos os olhos dos vários voluntários. Do total das medições
consideradas, 16 (42,11%) foram realizadas a pupilas com diâmetros iguais ou superiores a 6 mm, tendo
os diâmetros pupilares variado entre os 4,28 e os 8,64 mm, com um valor médio de 5,94 mm
(ligeiramente inferior a 6mm).
As 38 medições que serviram de base a esta parte do estudo permitiram considerar 26 casos, que
se podem dividir em dois grupos distintos:
1. Grupo 1: 16 casos (par de medições realizadas ao mesmo olho, com a mesma lente colocada,
mas para tempos de uso da lente diferentes) em que foram determinadas as variações de diferentes
parâmetros ao longo de tempo de uso de lentes crescente;
2. Grupo 2: 10 casos (par de medições realizadas, com lentes colocadas, ao mesmo olho; uma
delas com uma lente em final de tempo de vida e outra com uma lente menos usada) em que foram
determinadas as variações dos mesmos parâmetros, entre as duas medições de cada caso.
O último ponto corresponde à análise de variações entre dados obtidos com lentes no final de um
mês e os dados obtidos com lentes no início de um mês posterior (consecutivo ou não). Optou-se por
fazer tais análises visto que se levantou a hipótese de que aumentos de determinadas aberrações ou
piorias na qualidade da imagem retiniana, que se pudessem observar ao longo do tempo de uso das
lentes, se devessem a um aumento natural das aberrações presentes no olho, e não devido a uma
66
menos eficaz performance das lentes de contacto. A listagem do número de medições realizadas por
olho e por lente, para cada um dos grupos considerados, é apresentada no Anexo I.
4.2.1. Análise da variação das diferentes métricas para os casos pertencentes ao Grupo 1
Dos 16 casos analisados ao longo do tempo de uso das lentes, 7 (43,75%) são caracterizados por
uma variação positiva do diâmetro pupilar e 9 (56,25%) são caracterizados por uma variação negativa do
mesmo. O valor médio destas variações do diâmetro pupilar é de 0,307%.
Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike
À semelhança do que aconteceu na análise das variações dos coeficientes de Zernike para
comparação entre os casos sem e com lente, também aqui foi necessário reduzir a complexidade da
análise. Assim, foram somente consideradas variações dos coeficientes de Zernike correspondentes à
desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e segundo y), aos comas (segundo x e y) e à
aberração esférica de quarta ordem. Os três últimos tipos de aberrações são considerados pelas razões
já apresentadas, enquanto os três primeiros são considerados porque se julgou interessante verificar
como estes variam ao longo do tempo de uso das lentes, visto que são estas aberrações de ordem
inferior que se pretendem corrigir com o seu uso. Foram também tidas em conta variações das somas
dos valores absolutos dos coeficientes de Zernike de ordem inferior e de ordem superior (total e total
com excepção dos comas e da aberração esférica).
Neste ponto da análise dos resultados, de modo a confirmar a hipótese de que a qualidade da frente
de onda diminui com maior tempo de uso das lentes de contacto, espera-se que para os 16 casos em
que o tempo de uso aumenta, aumentem também os coeficientes de Zernike e as somas das aberrações
consideradas, o que indica um aumento das aberrações presentes nos olhos medidos.
De modo a facilitar a visualização e interpretação dos resultados, foram determinadas as médias das
variações dos diferentes coeficientes (ou das somas de CZ referidas), para intervalos de variação do raio
pupilar bem definidos. As médias referidas são apresentadas em dois gráficos distintos, um referente às
aberrações de ordem inferior e outro às de ordem superior.
67
Figura 23. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos (segundo x e segundo y) e das somas dos valores
absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e
para intervalos bem definidos das variações do raio pupilar.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 4 2 2 1 4
Média da variação dos
raios (%)
-13,88 -6,40 -1,01 1,17 9,40 13,96
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
2099,76 230,82 -20,65 -26,37 -46,30 183,94
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
12,31 23,33 15,89 -15,10 -31,53 38,37
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
-74,17 -22,29 -44,85 671,33 51,68 38,37
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
8,75 41,35 8,02 54,39 -20,02 26,19
Tabela 7. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior consideradas, para os casos
pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar.
-200,00
-100,00
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
entre -20 e -10%
entre -10 e -
2%
entre -2 e 0%
entre 0 e 2%
entre 2 e
10%
entre 10 e 20%
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo das variações do raio pupilar
média das variações dos CZ associados à desfocagem
média das variações do CZ associado ao astigmatismo y
média das variações do CZ associado ao astigmatismo x
68
Figura 24. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo x e segundo y), à aberração esférica de 4.ª ordem e à soma dos
valores absolutos dos CZ de superior (de todas as aberrações de ordem superior e de todas excepto comas
e aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos das variações
do raio pupilar.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
-200,00
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
entre -20 e -10%
entre -10 e -
2%
entre -2 e 0%
entre 0 e 2%
entre 2 e 10%
entre 10 e 20%
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo das variações do raio pupilar
média das variações dos CZ associados ao coma y
média das variações dos CZ associados ao coma x
média das variações dos CZ associados à aberração esférica
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem superior
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem superior excepto comas e aberração esférica
69
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 4 2 2 1 4
Média da variação dos
raios (%)
-13,88 -6,40 -1,01 1,17 9,40 13,96
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
106,42 162,46 -31,82 -23,38 60,00 228,74
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
374,36 586,35 127,90 -82,14 -32,29 -8,61
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
3,63 116,61 -32,20 -9,22 111,91 1267,68
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-40,95 -6,52 -6,57 -30,03 45,427 50,56
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-52,46 -13,51 -2,74 -35,72 73,826 49,58
Tabela 8. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior consideradas, para os casos
pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar.
Partindo das figuras e tabela anteriores, é possível analisar o que acontece com cada parâmetro
considerado, dentro dos diferentes intervalos de variação do raio pupilar:
1. Para variações positivas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar aumenta das primeiras para
as segundas medições de cada par, espera-se que a quantidade de aberrações medida aumente,
aumentando mais com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. Além disso, se realmente se
verificar uma pioria da qualidade da frente de onda com maior tempo de uso das lentes, devem registar-
se variações positivas dos CZ considerados e das diferentes somas tidas em conta: estas variações
positivas indicam que, entre as medições realizadas com lentes com menos tempo de uso e as medições
feitas com lentes com mais usadas, as aberrações presentes aumentam, induzidas por uma pior
qualidade das lentes de contacto. Note-se no entanto que, por análise das figuras e tabela anteriores, as
médias das variações das aberrações de ordem inferior não podem ser explicadas em função de
nenhum destes dois parâmetros, principalmente em função das variações dos raios pupilares: mais do
que não se registar nenhum tendência para as aberrações aumentarem com variações mais acentuadas
dos raios pupilares, verifica-se que existe um considerável número de médias com valor negativo. No
70
que diz respeito às aberrações de ordem superior, se é verdade que também se registam algumas
médias com valor negativo, verifica-se já uma tendência geral para as médias aumentarem o seu valor
para variações mais acentuadas dos raios pupilares.
2. Para variações negativas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar diminui das primeiras para
as segundas medições de cada par, espera-se que a quantidade de aberrações medida diminua,
diminuindo mais com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. No entanto e como já referido, se
realmente existisse uma pioria da qualidade da frente de onda com maior tempo de uso das lentes,
deveriam registar-se variações positivas dos CZ considerados e das somas referidas. A questão que se
põe é, além de saber se realmente existe um aumento das aberrações presentes, induzido pelo maior
tempo de uso das lentes, se este aumento é capaz de se sobrepôr à tendência das aberrações
diminuirem com variações negativas do raio pupilar, de modo a que sejam identificáveis. De um modo
geral, regista-se um número considerável de médias com valores positivos, nomeadamente para os dois
intervalos que compreendem as variações mais acentuadas dos raios e o maior número de casos, em
que as médias correspondentes a ambos os comas e à desfocagem têm valores particularmente
elevados. No entanto, as médias correspondentes às somas consideradas seguem uma tendência que
pode ser explicada pela variação do raio pupilar, diminuindo para variações mais acentuadas desses
raios.
Se é verdade que se regista um número considerável de médias positivas para todo o espectro de
variações do raio pupilar, o que reflecte uma tendência para algumas das aberrações aumentarem com
maior tempo de uso das lentes, algumas das variações e distribuições destas médias também são
justificáveis pelas variações dos raios pupilares. Optou-se, assim, por agrupar os resultados obtidos em
função dos diferentes intervalos entre medições de modo a perceber se existe alguma relação entre
maiores intervalos entre medições e aumentos dos CZ, esperando-se que quanto maiores esses
intervalos forem, maiores aumentos dos CZ se registem.
As médias dos CZ e das somas destes já referidas, em função dos diferentes intervalos entre
medições (dias ao longo de um mês de uso de lentes) registados, são apresentadas nas figuras
seguintes.
No primeiro gráfico apresentam-se as médias das variações relacionadas com os CZ associados a
aberrações de ordem inferior e no segundo gráfico as médias das variações relacionadas com os CZ
associados a aberrações de ordem mais elevada.
71
Figura 25. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) e à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em
dias, entre as medições.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
-200,00
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
6 8 21 23 29 30
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo entre medições (dias)
média das variações dos CZ associados à desfocagem
média das variações dos CZ associados ao astigmatismo y
média das variações dos CZ associados ao astigmatismo x
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem inferior
72
Intervalo entre
medições (dias) 6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
-59,89 177,55 1055 312,19 288,17 23,09
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
-13,41 72,94 33,86 -8,68 -0,75 188,37
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
-6,69 -68,91 15,85 679,27 -51,83 -49,03
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-25,75 54,91 8,90 96,25 24,59 23,90
Tabela 9. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições e das médias
aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em
função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado.
Figura 26. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de quarta ordem e das médias
das variações das somas dos valores absolutos dos CZ de ordem superior (todas e todas excepto comas e
aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre as
medições.
-200,00
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
6 8 21 23 29 30
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo entre medições (dias)
média das variações dos CZ associados ao coma y
média das variações dos CZ associados ao coma x
média das variações dos CZ associados à aberração esférica
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem superior
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem superior excepto comas e aberração esférica
73
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
Intervalo entre
medições (dias) 6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
-27,48 314,34 155,52 -62,37 220,52 -5,21
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
11,97 595,51 0,39 -69,62 1176,35 77,40
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-7,40 23,08 918,84 35,15 -27,61 -63,26
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-24,51 -12,36 24,57 -5,70 -26,54 8,18
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-24,13 -29,65 24,11 -4,56 -41,59 19,51
Tabela 10. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições e das médias
aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e em
função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado.
Infelizmente, as conclusões que se podem retirar da análise das duas figuras e da tabela anteriores
não são mais esclarecedoras que as obtidas para uma apresentação dos resultados em função dos
intervalos de variação do raio pupilar: não é possível, tanto para as aberrações de ordem inferior como
para as de ordem superior, estabelecer qualquer relação entre maiores intervalos entre medições e a
evolução das várias médias. De salientar apenas a elevada quantidade de médias associadas a
aberrações de ordem inferior com valores positivos, para intervalos entre medições maiores que 6 dias, o
que sugere um aumento dessas aberrações ao comparar lentes menos usadas com lentes mais usadas.
Método da Pupila Crítica
Atentando nas 16 variações registadas ao longo do tempo, espera-se que a variação desta segunda
métrica seja negativa. Tal implica que, à medida que o tempo de uso das lentes aumenta, a qualidade da
frente de onda diminui, o que resulta numa diminuição da fracção pupilar.
74
À semelhança do que aconteceu para a análise anterior, também neste ponto se apresenta uma
distribuição das médias das variações desta métrica, para intervalos bem definidos de variação do raio
pupilar.
Figura 27. Representação gráfica das distribuições das médias aritméticas das variações da métrica Método
da Pupila Crítica, para diferentes intervalos das variações do raio pupilar, para os 16 casos pertencentes ao
Grupo 1.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo e as médias
acima representadas. Também nesta tabela, e em todas as semelhantes posteriormente apresentadas,
DP representa o desvio padrão associado às médias apresentadas nas células imediatamente acima.
Este parâmetro foi obtido recorrendo ao software EXCEL, que o calcula a partir da fórmula:
(19)
em que representa os vários elementos da amostra em questão, representa a média da amostra e
o tamanho da mesma.
-1,00
-0,50
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
entre -20 e -10%
entre -10 e -2%
entre -2 e 0%
entre 0 e 2%
entre 2 e 10%
entre 10 e 20%
mé
dia
das
var
iaçõ
es
da
mé
tric
a 2
(%
)
intervalo das variações do raio pupilar
75
Intervalos das
variações dos
raios pupilares
(%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 4 2 2 1 4
Média da
variação dos
raios (%)
-13,88 -6,40 -1,01 1,17 9,40 13,96
DP (%) 5,25 1,06 1,38 0,85 0 2,32
Média da
variação da
métrica 2 (%)
1,47 0,19 0,10 0,05 -0,63 -0,41
DP (%) 2,28 0,61 0,58 1,11 0 0,03
Tabela 11. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar,
das médias aritméticas das variações da métrica Método da Pupila Crítica e dos valores dos desvios
padrão (DP) associados, para os casos pertencentes ao Grupo 1.
Atentando nos resultados apresentados na Figura 27, verifica-se que para os casos em que há
variações negativas do raio pupilar, a distribuição das médias das variações da métrica 2 pode ser
explicada pelas variações do raio: os valores são positivos, visto que diminuições do raio resultam em
diminuições das aberrações presentes e em aumentos da qualidade da frente de onda, e diminuem à
medida que os valores absolutos das variações do raio diminuem.
Ao analisar os casos em que há variações positivas do raio pupilar, as médias registadas têm já
um valor positivo muito baixo (para o intervalo de variação dos raios de 0 a 2%) ou são mesmo negativas
(para variações do raio de 2 a 20%), o que pode dever-se simplesmente ao aumento do raio pupilar. No
entanto, a tendência apresentada, para variações cada vez mais acentuadas do raio pupilar, não é a
esperada: as médias não são mais negativas com maior aumento das aberrações presentes por
aumento da pupila.
Da análise da figura anterior, tem-se que a distribuição verificada para variações da métrica 2 em
função de variações do raio pupilar parece poder ser maioritariamente explicada em função dos
aumentos e diminuições do raio, não sendo possível distinguir possíveis influências do maior tempo de
uso das lentes na qualidade da frente de onda.
Optou-se, assim, por agrupar os resultados obtidos em função dos diferentes intervalos entre
medições (em dias) de modo a perceber se existe alguma relação entre maiores intervalos entre
medições e as variações desta métrica, esperando-se que quanto maiores esses intervalos forem, mais
negativas sejam as variações da métrica Método da Pupila Crítica.
76
Figura 28. Representação gráfica das distribuições das médias aritméticas das variações da métrica Método
da Pupila Crítica, em função do intervalo entre medições (em dias), para os 16 casos pertencentes ao Grupo
1.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas e os desvios padrão associados.
Intervalo entre
medições
(dias)
6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da
variação da
métrica 2 (%)
0,67 0,03 -0,05 -0,59 1,91 -0,25
DP (%) 0,23 0,19 0,66 0,21 3,08 0,09
Tabela 12. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições (em dias),
das médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 1.
Ao analisar a distribuição das médias das variações desta métrica, para intervalos entre medições
de 6 a 23 dias, é possível observar que, com um aumento do número de dias entre medições, há uma
tendência para as médias das variações desta métrica se irem tornando mais negativas. A excepção
acontece depois para os valores registados para intervalos de 29 e 30 dias. Note-se, no entanto, que os
casos pertencentes ao intervalo de 29 dias têm associadas variações negativas dos raios pupilares
(-19,91% e -7,568%), que induzem uma melhoria da qualidade da frente de onda – dada a menor
-1,00
-0,50
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
6 8 21 23 29 30
mé
dia
das
var
iaçõ
es
da
mé
tric
a 2
(%
)
intervalo entre as medições (dias)
77
quantidade de raios que penetram na pupila pela sua periferia – que podem justificar o valor positivo da
média associada. Os dois casos pertencentes ao último intervalo, têm também associadas variações
negativas do raio pupilar (de -5,258% e de -1,981%) mas mais altas que no caso anterior. Apesar das
variações do raio associadas induzirem um aumento da qualidade do mapa da frente de onda, e
consequentemente um valor positivo para esta média, este aumento não é suficiente para superar a
diminuição da qualidade induzida por um maior tempo de uso das lentes, resultando um valor negativo
para média das variações desta métrica.
Assim, e a partir da Figura 28, pode afirmar-se que o maior tempo de uso das lentes de contacto
parece influenciar uma pior qualidade do mapa da frente de onda, que se manifesta por decréscimos do
valor das variações da métrica Método da Pupila Crítica, à medida que o intervalo entre medições
aumenta.
Raiz quadrada do segundo momento de distribuição de luz (baseda na qualidade da PSF)
Neste ponto da análise dos dados, assim como no seguinte, foi já possível, utilizando o Programa de
Simulação da Acuidade Visual, determinar qual a forma da PSF e das MTF’s associadas a uma medição
para um diâmetro pupilar imposto. Tal vantagem permite-nos calcular as variações das terceira e quarta
métricas utilizadas sem que lhes estejam associadas variações dos raios. Assim, para cada olho a que
foram feitas medições, os cálculos das duas últimas métricas consideradas basearam-se em PSF’s e
MTF’s obtidas para raios pupilares correspondentes ao menor valor de todos os raios pupilares
registados nas medições desse olho – os raios pupilares foram cortados para esse valor.
Posto isto, e tendo em conta que esta terceira métrica mede a compactação da PSF associada às
diferentes medições, espera-se que para os 16 casos considerados neste grupo haja uma variação
positiva desta métrica, o que reflecte uma diminuição da compactação da PSF, e uma consequente
diminuição da qualidade da imagem retiniana, com um maior tempo de uso das lentes.
Na figura que se segue, é apresentada a distribuição das variações da métrica 3, em função do raio
pupilar. De modo a facilitar a visualização, este gráfico vem acompanhado de um detalhe do mesmo,
visto que as variações da métrica correspondentes aos raios de 2,534 mm e 3,249 mm têm valores tão
elevados (1,02x104% e 1,13x10
4%, respectivamente) que não permitiam analisar a tendência das
variações desta métrica.
78
Figura 29. Representação gráfica, detalhada, das variações da métrica 3, em função do raio pupilar, para os
16 casos do Grupo 1.
Analisando os valores das variações das métricas apresentados na Figura 29, verifica-se que uma
considerável percentagem dos casos considerados (75%) tem associada uma variação positiva da
métrica 3. Tal significa que, para os 12 casos em que se registam variações positivas desta métrica,
lentes de contacto com maior tempo de uso vão ter associadas PSF’s menos compactas, o que tem
implícita uma menor qualidade da imagem retiniana, que as mesmas lentes menos usadas.
Optou-se por também agrupar os dados para diferentes intervalos entre medições (em dias),
apresentando-se para cada intervalo a média dos diferentes valores. Também este gráfico vem
acompanhado de um detalhe do mesmo, dado que as médias das variações desta métrica
correspondentes aos 21 e 30 dias de intervalo entre as medições têm valores tão elevados (1883,36% e
5,10x103%, respectivamente) que não permitem analisar a tendência das restantes médias. Estas
médias têm valores tão altos visto que para elas contribuem as variações muito elevadas referidas na
apresentação de resultados anterior – em função das variações do raio pupilar.
Note-se que se espera que, com maiores intervalos entre medições, as médias registadas sejam
mais positivas, i.e., espera-se que para intervalos maiores de tempo de uso das lentes o decaimento da
qualidade da imagem retiniana, associado a um aumento da métrica 3 – maior espalhamento da PSF -,
seja mais acentuado.
79
Figura 30. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações da métrica 3, em
função do intervalo entre as medições, para os 16 casos do Grupo 1.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas e os desvios padrão associados.
Intervalo entre
medições
(dias)
6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da
variação da
métrica 2 (%)
0,23 0,17 1883,36 0,19 0,21 5100,21
DP (%) 0,22 0,63 4613,19 0,11 0,52 7212,19
Tabela 13. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 3 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 1.
Na Figura 30, as médias das variações desta métrica para diferentes intervalos entre medições,
apresentam todas os esperados valores positivos, indicadores de decaimento da qualidade da imagem
retiniana. Mais que isso, verifica-se mesmo uma tendência, com excepção para intervalos entre
80
medições de 6 e 21 dias, para as médias das variações aumentarem para maiores intervalos entre
medições.
Área da MTF
Na figura que se segue são apresentadas as distribuições das variações da métrica 4, em função do
raio pupilar a que foram realizadas as medições. De modo a facilitar a visualização, este primeiro gráfico
vem acompanhado de um detalhe do mesmo, visto que as duas variações das áreas das MTF’s
correspondentes a raios de 2,534 e 3,249 mm têm valores tão elevados (mtf_x=1,03x104%,
mtf_y=1,17x104% e mtf_x=5,08x10
3%, mtf_y=4,45x10
3%) que não permitiam analisar a tendência das
variações para os restantes raios pupilares.
Figura 31. Representação gráfica, detalhada, das variações das área das MTF’s (segundo x – mtf_x – e
segundo y – mtf_y), em função do raio pupilar, para os 16 casos do Grupo 1.
Partindo da análise da Figura 31, há dois aspectos que importa destacar: o primeiro diz respeito ao
facto das variações das áreas das MTF’s segundo y e x seguirem, de modo geral, a mesma tendência, o
que pode revelar alguma dependência entre elas. No entanto, num gráfico da correlação entre as duas
métricas, que pode ser consultado no Anexo III, verifica-se que a correlação linear entre as variações
das duas MTF’s tem associado um valor de R2 mais baixo que o previsto – 0,328. O segundo ponto a
destacar é o de que se verifica uma tendência para que a variação desta métrica seja positiva. Mais
81
particularmente, se as variações das áreas da mtf_x têm associadas iguais percentagens de valores
positivos e negativos, as variações das áreas da mtf_y têm associadas uma maior percentagem de
valores positivos, o que indica um aumento da capacidade de transferir contraste, nomeadamente para
frequências espaciais mais elevadas, de lentes com maior tempo de uso. Tal indica que lentes mais
usadas têm tendência a ter associadas imagens retinianas de melhor qualidade que lentes com menos
tempo de uso, o que contraria os resultados até agora obtidos.
Os resultados obtidos foram, posteriormente, agrupados em função dos diferentes intervalos entre
medições (em dias), calculando-se para cada intervalo a média das variações registadas. Os resultados
assim agrupados, são apresentados no gráfico seguinte que, de modo a facilitar a visualização, vem
acompanhado de um detalhe do mesmo, visto que as médias das variações das áreas das MTF’s
correspondentes aos 21 e 30 dias de intervalo entre as medições têm valores tão elevados
(mtf_x=849,91%, mtf_y=741,88% e mtf_x=5149,81%, mtf_y=8549,91%) que não permitiam ter uma ideia
geral da tendência destas médias. Mais uma vez, estas médias têm valores tão altos visto que para elas
contribuem os valores de variações muito elevados referidos na apresentação de resultados anterior –
em função das variações do raio pupilar.
Figura 32. Representação gráfica, detalhada, das médias aritméticas das variações das áreas das MTF’s, em
função do intervalo entre as medições, para os 16 casos pertencentes ao Grupo 1.
Na tabela seguinte, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como as
médias acima representadas e os desvios padrão associados.
82
Intervalo entre
medições
(dias)
6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da
variação da
área da mtf_y
(%)
0,30 -0,47 741,88 -0,09 -0,44 8549,91
DP (%) 0,0 0,19 1816,6 0,29 0,05 12091,66
Média da
variação da
área da mtf_x
(%)
0,18 -0,31 846,91 -0,18 -0,20 5149,81
DP (%) 0,25 0,21 2073,78 0,51 0,21 7283,46
Tabela 14. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 4 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 1.
Analisando a Figura 32 e a tabela anterior, registam-se já, para as médias das variações das áreas
de ambas as MTF’s, iguais percentagens de valores positivos e negativos. É, no entanto, pouco clara a
tendência para a qualidade da imagem retiniana diminuir à medida que o intervalo entre as medições
aumenta.
Discussão dos Resultados
Para os 16 casos que fazem parte do Grupo 1, os resultados obtidos com cada uma das métricas
consideradas foram analisados em função de dois parâmetros: para as duas métricas do plano pupilar,
os resultados foram agrupados em função de diferentes intervalos de variação do raio pupilar e de
diferentes intervalos entre medições (em dias), enquanto que para as duas métricas do plano da imagem
foram apresentados os resultados em função dos raios pupilares e foram calculadas as médias das
variações após agrupamento dos diferentes resultados em função do intervalo entre medições (em dias).
Para todas as métricas tidas em conta, os resultados foram mais satisfatórios ao serem agrupados
em função do intervalo entre medições: apesar de nem sempre seguirem a tendência desejada –
indicadora de uma pior qualidade da visão à medida que o tempo de uso das lente aumenta –, são
sempre mais expressivos em termos percentuais que quando apresentados em função dos valores dos
raios ou que quando agrupados para diferentes intervalos de variação do raio pupilar.
83
Assim, e partindo das análises realizadas com as diferentes métricas aos casos pertencentes ao
Grupo 1, é possível afirmar que, de um modo geral, existe realmente uma tendência para tanto a
qualidade do mapa da frente de onda como a qualidade da imagem retiniana diminuirem com lentes de
contacto mais usadas. No entanto, não foi possível verificar um acentuamento da diminuição dessas
qualidades à medida que o intervalo entre medições aumentava para as primeira e quarta métricas
(análise da variação dos CZ e área das MTF’s). Para as duas em que essa tendência se verificou
(Método da Pupila Crítica e medição da compactação da PSF), não foi possível quantificá-la ou
estabelecer qualquer relação entre ela e o maior ou menor tempo de uso das lentes. Tal deve-se em
grande parte ao elevado número de parâmetros que variou ao longo de todo o estudo.
84
4.2.2. Análise da variação das diferentes métricas para os casos pertencentes ao Grupo 2
Dos 10 casos considerados neste grupo, 7 (70%) têm associada uma variação positiva do diâmetro
pupilar, enquanto 3 (30%) são caracterizados por uma variação negativa desse diâmetro. Estas
variações do diâmetro têm um valor médio de 3,39%, consideravelmente mais acentuado que o
registado para os casos do Grupo 1.
Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike
Para a análise realizada neste ponto foram tidas em conta as variações dos mesmos CZ e das
mesmas somas que foram considerados para a esta métrica, ao analisar os casos do Grupo 1.
Assim, apresentam-se os valores das médias das variações dos diferentes coeficientes (ou das
somas de CZ referidas), para os intervalos de variação do raio pupilar já considerados para análise dos
casos do Grupo 1, com excepção o intervalo em que se registaram variações entre -20 e -10% visto que
não compreendia nenhum dos casos deste Grupo 2. As médias consideradas são apresentadas em dois
gráficos distintos, um referente às aberrações de ordem inferior e outro às de ordem superior. O primeiro
gráfico apresentado vem acompanhado de um detalhe de regiões próximas do eixo das abcissas, visto
que a média das variações dos CZ correspondentes ao astigmatismo x do último intervalo (variação do
raio pupilar entre 10 e 20%) tem um valor tão elevado que não permitia analisar com detalhe a tendência
das restantes médias.
Figura 33. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) e à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes intervalos
de variação do raio pupilar considerados.
85
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 2 1 2 4 1
Média da variação dos
raios (%)
-7,27 -1,64 1,36 7,64 13,67
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
-28,05 1,43 -12,78 54,42 -72,15
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
-37,32 5,29 -34,60 565,82 27,10
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
72,47 -74,37 -16,04 122,54 6800
Média da soma dos
valores absolutos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-12,89 -35,42 -20,90 8,09 -3,94
Tabela 15. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem inferior, para os casos pertencentes ao Grupo
2.
Figura 34. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de quarta ordem e à soma dos
valores absolutos dos CZ de aberrações de ordem superior (todas e todas excepto comas e aberração
esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes intervalos de variação do raio pupilar
considerados.
-150,00
-100,00
-50,00
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
350,00
entre -10 e -2%
entre -2 e 0%
entre 0 e 2%
entre 2 e 10%
entre 10 e 20%
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo das variações do raio pupilar
média das variações dos CZ associados ao coma y
média das variações dos CZ associados ao coma x
média das variações dos CZ associados à aberração esférica
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem superior
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados às aberrações de ordem superior excepto comas e aberração esférica
86
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 2 1 2 4 1
Média da variação dos
raios (%)
-7,27 -1,64 1,36 7,64 13,67
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
21,49 36,70 180,28 -11,01 -93,33
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
306,67 -60,61 49,95 121,83 -70,13
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-23,77 233,33 -7,55 106,68 -32,42
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
10,97 -96,72 30,73 12,09 25,12
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-5,05 -10,26 24,58 7,88 26,20
Tabela 16. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar e das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ de ordem superior, para os casos pertencentes ao
Grupo 2.
Partindo das figuras e tabelas anteriores, é possível analisar o que acontece com cada parâmetro
considerado, dentro dos diferentes intervalos de variação do raio pupilar:
1. Para variações positivas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar aumenta das primeiras para
as segundas medições de cada par, espera-se que a quantidade de aberrações medida aumente,
aumentando mais com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. No entanto, se realmente se
verificar a esperada melhoria da qualidade da frente de onda, ao trocar lentes mais usadas por lentes
novas, devem registar-se variações negativas dos CZ considerados e das diferentes somas tidas em
conta: estas variações negativas indicam que ao trocar lentes mais usadas por lentes novas se verificam
melhorias da qualidade da visão. A questão que se põe é, além de saber se realmente existe uma
diminuição das aberrações presentes, ao passar a usar lentes novas, se esta diminuição é capaz de se
sobrepôr à tendência das aberrações aumentarem com variações positivas do raio pupilar, de modo a
87
que sejam identificáveis. Começando por atentar nas aberrações de ordem inferior, todas as médias
compreendidas no intervalo de variações do raio pupilar menos acentuadas (entre 0 e 2%) apresentam
valores negativos, o que se pode dever ao facto da quantidade de aberrações de menor ordem
presentes ter diminuído, ao trocar lentes mais usadas por lentes novas – as lentes mais usadas não
estariam a desempenhar a sua função do modo mais correcto, não corrigindo adequadamente as
aberrações de ordem inferior. Variações mais acentuadas do raio influenciam já um aumento das
aberrações, capaz de se sobrepôr à diminuição resultado da troca das lentes, não se verificando no
entanto uma tendência para os diferentes parâmetros aumentarem para variações mais acentuadas do
raio.
Para as aberrações de ordem superior, verifica-se uma predominância de médias com valores
positivos, que pode ser explicada pelas variações positivas do raio. A excepção acontece para o
intervalo que compreende as variações positivas mais acentuadas (de 10 a 20%), em que as médias
correspondentes aos comas e à aberração esférica têm valores negativos apesar das médias das
variações das somas dos valores absolutos dos CZ das aberrações de ordem superior apresentarem
valores positivos.
2. Para variações negativas do raio pupilar, i.e., quando o raio pupilar diminui das primeiras para
as segundas medições de cada par, espera-se que a quantidade de aberrações medida diminua,
diminuindo mais com variações do tamanho pupilar mais acentuadas. Além disso, e como já referido, se
realmente existisse uma melhoria da qualidade da frente de onda ao trocar lentes mais usadas por lentes
novas, deveriam registar-se variações negativas dos CZ considerados e das somas referidas.
Tal como esperado, verifica-se, além de algumas excepções pontuais, uma tendência para as
médias associadas aos diferentes parâmetros diminuirem o seu valor, ao trocar lentes mais usadas por
lentes novas, apesar de não se registar a tendência para essas médias diminuirem com variações mais
acentuadas dos raios.
Por último, optou-se por apresentar as médias dos CZ e das somas já referidas, determinadas para
os diferentes intervalos entre medições (meses) registados. Neste gráfico, e nos seguintes semelhantes,
o valor 0 para o intervalo entre medições corresponde a casos em que as variações correspondem a
medições realizadas nos últimos dias de utilização de uma lente e os primeiros da lente seguinte (meses
consecutivos); o valor 1 corresponde a casos em que as variações correspondem a medições realizadas
com um mês de intervalo (usou-se outra lente nesse tempo) e o valor 2 a casos em que se registaram
dois meses de intervalo entre as medições (usaram-se duas outras lentes nesse período).
88
Figura 35. Representação gráfica das médias aritméticas das variações dos coeficientes de Zernike
correspondentes à desfocagem, aos astigmatismos primários (segundo x e y) , à soma dos valores
absolutos dos CZ de ordem inferior, aos comas (segundo y e segundo x), à aberração esférica de 4.ª ordem e
à soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem superior (todas e todas excepto
comas e aberração esférica), para os casos pertencentes ao Grupo 2 e para os diferentes intervalos entre
medições (em meses).
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas. Uma tabela mais completa, em que se apresentam também os desvios
padrão associados às diferentes médias, pode ser consultada no Anexo II.
-500,00
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
0 1 2
mé
dia
das
var
iaçõ
es
(%)
intervalo entre medições (meses)
média das variações dos CZ associados à desfocagem
média das variações dos CZ associados ao astigmatismo y
média das variações dos CZ associados ao astigmatismo x
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem inferior
média das variações dos CZ associados ao coma y
média das variações CZ associados ao coma x
média das variações dos CZ associados à aberração esférica
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem superior
média das variações da soma dos valores absolutos dos CZ associados a aberrações de ordem superior excepto comas e aberração esférica
89
Intervalos entre
medições (meses) 0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
24,14 -21,78 27,93
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
10,76 -26,66 1107,72
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
1817,27 19,54 -9,30
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-7,32 -21,14 19,64
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
-25,09 112,90 6,27
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
19,00 171,49 142,32
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
43,00 51,23 75,18
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-3,56 25,47 18,50
Média da soma dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-0,27 12,14 11,29
Tabela 17. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2.
Ao analisar a figura e tabela anteriores, facilmente se verifica a maior percentagem de variações
positivas dos diferentes parâmetros, contrária ao que se desejava que acontecesse ao aplicar esta
métrica a este grupo de casos. Importa no entanto salientar o facto de, para os dois últimos intervalos, os
valores das médias serem geralmente mais acentuados que para o primeiro: o facto dos dois últimos
intervalos compreenderem médias mais elevadas que o primeiro pode dever-se a aumentos naturais das
aberrações presentes nos olhos dos voluntários, que influenciam já significativamente estas variações
quando se registam intervalos de um e dois meses entre medições.
90
Método da Pupila Crítica
Para os 10 casos deste Grupo, espera-se que a variação da segunda métrica considerada seja
positiva, i.e., espera-se que a qualidade de lentes com menos tempo de uso seja maior que a qualidade
de lentes mais usadas, o que deveria implicar um aumento da qualidade da frente de onda, resultando
num aumento da fracção pupilar. Uma distribuição das médias das variações desta métrica, para os
intervalos de variação do raio pupilar considerados, é apresentada na figura seguinte.
Figura 36. Representação gráfica da distribuição das médias aritméticas das variações da métrica Método da
Pupila Crítica, para diferentes intervalos das variações do raio pupilar, para os 10 casos pertencentes ao
Grupo 2.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas e os desvios padrão associados.
Intervalos das
variações dos
raios pupilares
(%)
-10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 2 1 2 4 1
Média da
variação dos
raios (%)
-7,27 -1,64 1,36 7,64 13,67
DP (%) 1,56 0 0,79 1,89 0
Média da
variação da
métrica 2 (%)
-0,30 -0,35 0,43 0,04 -0,15
DP (%) 0,66 0 0,67 0,82 0
Tabela 18. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para os
casos do Grupo 2.
-0,40
-0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
entre -10 e -2%
entre -2 e 0%
entre 0 e 2%
entre 2 e 10%
entre 10 e 20%
mé
dia
das
var
iaçõ
es
da
mé
tric
a 2
(%
)
intervalo das variações do raio pupilar
91
Para os casos em que se registam variações positivas do raio pupilar, as médias registadas
apresentam os desejados valores positivos quando os raios variam entre 0 e 10%. Estes valores
positivos indicam que, apesar do aumento do raio poder originar um aumento das aberrações presentes
e uma consequente diminuição da qualidade da frente de onda, essa tendência é em parte superada
pelo facto de, ao passar a usar lentes menos usadas, as aberrações oculares medidas diminuirem. No
entanto, a influência do aumento do raio pupilar faz-se notar na diminuição dos valores destas médias à
medida que as variações dos raios pupilares vão sendo mais acentuadas, atingindo mesmo valores
negativos para variações do raio entre 10 e 20%.
No entanto, para os casos em que se registam variações negativas do raio pupilar, as médias
registadas apresentam valores negativos, contrariamente ao que seria de esperar, quer como resultado
da troca de lentes quer como resultado da diminuição do raio: esperava-se que, pelos dois motivos
apresentados, as médias das variações tivessem valores positivos – indicadores de aumentos da
qualidade do mapa da frente de onda – tornando-se mais positivos para variações mais acentuadas do
raio.
Na figura seguinte, apresentam-se as médias das variações da métrica 2, para os casos do Grupo
2, obtidas após agrupamento das diferentes variações registadas em função do intervalo entre medições
(em meses).
Figura 37. Representação gráfica da distribuição das médias aritméticas das variações da métrica Método da
Pupila Crítica, em função do intervalo entre medições, para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2.
Na tabela que se segue, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como
as médias acima representadas e os desvios padrão associados.
-0,30
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0 1 2
mé
dia
das
var
iaçõ
es
da
mé
tric
a 2
(%
)
intervalo entre as medições (meses)
92
Intervalo entre
medições
(meses)
0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da
variação da
métrica 2 (%)
0,17 -0,07 -0,26
DP (%) 0,77 0,71 0,13
Tabela 19. Listagem do número de casos compreendido para diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 2 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para os
casos do Grupo 2.
Ao analisar a distribuição das médias das variações desta métrica, para diferentes intervalos entre
medições, apenas para o primeiro intervalo considerado se registam valores positivos, indicadores de
uma melhoria da qualidade do mapa da frente de onda ao trocar lentes mais usadas por lentes novas. A
tendência para as médias das variações desta métrica se irem tornando mais negativas, à medida que o
intervalo entre medições aumenta, pode dever-se a um aumento natural das aberrações presentes nos
olhos dos voluntários.
Raiz quadrada do segundo momento de distribuição de luz (baseada na qualidade da PSF)
À semelhança do que aconteceu para a análise dos casos comprendidos no Grupo 1, também aqui
foram determinadas as variações das terceira e quarta métricas utilizadas sem que lhes estejam
associadas variações dos raios. Assim, para cada olho a que foram feitas medições, o cálculo desta
métrica e da seguinte baseou-se novamente em PSF’s e MTF’s obtidas para raios pupilares
correspondentes ao menor valor de todos os raios pupilares registados nas medições desse olho – os
raios foram cortados para esse valor.
Para os 10 casos pertencentes a este Grupo, espera-se que a variação desta métrica seja negativa,
i.e., espera-se que a compactação das PSF’s associadas a medições com lentes de contacto com
menos tempo de uso seja maior que a de PSF’s associadas a medições realizadas com lentes mais
usadas, o que deve significar um aumento da qualidade da imagem retiniana e, consequentemente, uma
diminuição da métrica aqui testada.
Na figura que se segue são apresentadas as distribuições das variações da métrica 3, em função do
raio pupilar.
93
Figura 38. Representação gráfica das variações da métrica 3, em função do raio pupilar, para os 10 casos
pertencentes ao Grupo 2.
Na Figura 38, verifica-se que em 60% dos 10 casos considerados existe uma variação negativa da
métrica 3. Tal significa que, nestes casos, ao trocar as lentes de contacto por umas menos usadas, as
PSF’s associadas tornam-se mais compactas, o que reflecte um aumento da qualidade da imagem
retiniana. Esta percentagem não é, no entanto, muito elevada, pelo que se optou por levar a cabo um
agrupamento dos dados: as variações da métrica 3 foram agrupadas para diferentes intervalos entre
medições (em meses), determinando-se para cada intervalo a média das variações aí compreendidas.
A distribuição das médias das variações da métrica 3, em função dos vários intervalos entre
medições (em meses), é apresentada na figura que se segue.
Figura 39. Representação gráfica das médias aritméticas das variações da métrica 3, em função do intervalo
entre as medições (em meses), para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2.
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
2 2,2 2,4 2,6 2,8 3 3,2 3,4va
riaç
ão d
a m
étr
ica
3 (
%)
raio pupilar (mm)
-0,25
-0,2
-0,15
-0,1
-0,05
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
mé
dia
das
var
iaçõ
es
da
mé
tric
a 3
(%
)
intervalo entre medições (meses)
94
Na tabela seguinte, listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como as
médias acima representadas e os desvios padrão associados.
Intervalo entre
medições
(meses)
0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da
variação da
métrica 2 (%)
-0,06 -0,09 -0,23
DP (%) 0,39 0,17 0,40
Tabela 20. Listagem do número de casos compreendido nos diferentes intervalos entre medições, das
médias aritméticas das variações da métrica 3 e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 2.
Se a percentagem de variações negativas registadas em função do raio pupilar não é muito
significativa, na Figura 39 as médias das variações desta métrica, para diferentes intervalos entre
medições, apresentam todas os esperados valores negativos. Apresentam, no entanto, uma tendência a
aumentar o seu valor absoluto à medida que o intervalo entre medições aumenta, um resultado que vem
contradizer o encontrado para esta situação utilizando as duas métricas anteriores.
4.2.4. Área da MTF
Para os 10 casos do Grupo 2 espera-se que a variação desta métrica seja positiva, i.e., espera-se
que ao colocar lentes com menos tempo de uso a qualidade da imagem retiniana aumente. Tal implica
um aumento da capacidade de transferir contraste de um objecto para a imagem correspondente, o que
tem associado um decaimento mais suave das MTF’s e, consequentemente, um aumento da área
debaixo das linhas definidas por esta função.
Na figura que se segue é apresentada a distribuição das variações da métrica 4, em função dos
vários valores considerados para o raio pupilar.
95
Figura 40. Representação gráfica das variações da área das MTF’s (segundo x – mtf_x – e segundo y –
mtf_y), em função do raio pupilar, para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2.
Os resultados obtidos com esta métrica para este grupo estão já, pelo menos a níveis percentuais,
mais de acordo com o esperado e com o verificado nas análises realizadas com as restantes métricas:
em 60% dos casos, as variações das áreas das MTF’s são positivas, o que reflecte um aumento da
qualidade da imagem retiniana ao passar a usar lentes mais novas.
À semelhança do que aconteceu para a análise dos casos pertencentes ao Grupo 1, também aqui se
verificou que as variações da área das MTF’s segundo y e x aparentavam seguir a mesma tendência.
Foi, mais uma vez, construído um gráfico da correlação linear entre as duas métricas, apresentado no
Anexo III, que tem associado um valor de R2
(0,489) mais baixo que o previsto a partir da figura anterior,
mas maior que o obtido para o Grupo 1.
Também neste último ponto se optou por agrupar os dados referentes ao mesmo intervalo entre
medições, determinando-se posteriormente as médias das variações dentro de cada intervalo. Na figura
seguinte é apresentada a distribuição das médias referidas.
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2 2,5 3 3,5 4
vari
ação
da
áre
a d
as M
TF's
(%
)
raio pupilar (mm)
variação da área da mtf_y
variação da área da mtf_x
96
Figura 41. Representação gráfica das médias aritméticas das variações da área das MTF’s, em função do
intervalo entre as medições (em meses), para os 10 casos pertencentes ao Grupo 2.
Na tabela seguinte listam-se o número de casos compreendido em cada intervalo, assim como as
médias acima representadas e os desvios padrão associados.
Intervalo entre
medições
(meses)
0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da
variação da
área da mtf_y
(%)
0,48 -0,03 -0,23
DP (%) 0,54 0,41 0,40
Média da
variação da
área da mtf_x
(%)
0,43 0,27 -0,31
DP (%) 0,92 0,52 0,04
Tabela 21. Listagem do número de casos compreendido nos diferentes intervalos entre medições (em
meses), das médias aritméticas das variações da métrica 4 e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos pertencentes ao Grupo 2.
Atentando na Figura 41, verifica-se que para os dois primeiros intervalos entre medições
considerados os valores das médias das variações da área das duas MTF’s (segundo x e segundo y)
são positivos, o que indica uma tendência para a qualidade da imagem retinina aumentar ao trocar lentes
de contacto com maior tempo de uso por lentes menos usadas. Além disso, os valores destas médias
diminuem à medida que o intervalo entre medições aumenta, atingindo valores negativos para um
-0,4
-0,3
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0 1 2 3m
éd
ia d
as v
aria
çõe
s d
a ár
ea
das
M
TF's
(%
)
intervalo entre medições (meses)
média das variações da área da mtf_y
média das variações da área da mtf_x
97
intervalo entre medições de 2 meses. Esta diminuição da qualidade da imagem retinina pode dever-se a
um aumento natural das aberrações presentes nos olhos dos voluntários ao longo dos meses.
Discussão dos Resultados
Para os 10 casos que fazem parte do Grupo 2, foram analisadas as médias das variações das
métricas do plano pupilar em função dos diferentes intervalos de variação do raio pupilar e do intervalo
entre medições (em meses) e as variações das métricas do plano da imagem para diferentes raios
pupilares e as médias das variações das mesmas métricas para diferentes intervalos entre medições (em
meses).
Para as duas métricas do plano pupilar, os resultados são mais claros e fáceis de interpretar quando
agrupados para diferentes intervalos entre medições, visto que para agrupamentos em função dos vários
intervalos de variação do raio pupilar essas variações do raio vão mascarar possíveis efeitos resultantes
da troca de lentes. Partindo assim do primeiro agrupamento referido, pode-se afirmar que a qualidade do
mapa da frente de onda aumenta ao trocar lentes mais usadas por lentes novas, para medições
realizadas em meses consecutivos – apesar de algumas aberrações individuais terem tendência a
aumentar. Mais que isso, e analisando os resultados assim agrupados com a métrica Método da Pupila
Crítica, é clara uma tendência para a qualidade do mapa da frente de onda diminuir à medida que o
tempo entre medições aumenta, o que se pode dever a um aumento natural das aberrações presentes
nos olhos dos voluntários.
No que diz respeito às métricas do plano da imagem, ao apresentar os resultados em função dos
vários valores considerados para os raios pupilares, esses são satisfatórios a níveis percentuais, apesar
de não serem muito expressivos: para as duas métricas, verifica-se em 60% dos casos um tendência
para a qualidade da imagem retiniana aumentar ao trocar lentes mais usadas por lentes novas.
Ao agrupar os resultados obtidos por aplicação da métrica 4 (área das MTF’s), em função do
intervalo entre medições, verifica-se uma concordância com os resultados obtidos com a métrica Método
da Pupila Crítica: há uma clara melhoria da qualidade da imagem retiniana quando as medições são
realizadas em meses consecutivos, havendo para intervalos entre medições maiores uma tendência
para essa melhoria se ir tornando menos acentuada, tornando-se mesmo numa pioria para um intervalo
de 2 meses. Os resultados obtidos por aplicação da métrica 3, apresentam a mesma tendência para a
qualidade da imagem retiniana aumentar quando as medições são realizadas em meses consecutivos
mas, ao contrário do verificado com as restantes métricas, essa tendência torna-se mais acentuada para
maiores intervalos entre medições.
De um modo geral, pode concluir-se que a qualidade da visão (medida a partir das qualidades do
mapa da frente de onda e imagem retiniana) tem realmente uma tendência a melhorar ao trocar lentes
98
de contacto mais usadas por lentes novas, quando as medições são realizadas em meses consecutivos
ou apenas com um mês de intervalo entre elas. Assim, pode afirmar-se que a tendência da qualidade da
visão piorar com maior uso das lentes de contacto, ao longo de um mês, se deve a uma pior
performance das lentes de contacto, e não a um aumento natural das aberrações presentes nos olhos
dos vários voluntários.
99
Capítulo III
Conclusões
100
O estudo clínico levado a cabo permitiu alcançar os objectivos gerais traçados no início deste
trabalho: apesar de não ter sido possível estabelecer uma correlação entre o tempo de uso das lentes e
a sua performance (medida pelas qualidades do mapa da frente de onda e da imagem retiniana), um
maior tempo de uso de lentes de contacto hidrofílicas mensais, dentro do seu tempo de vida útil, induz
uma diminuição da qualidade da visão (componente não neuronal), o que indica uma menos eficaz
correcção das aberrações presentes no olho. Para que fosse possível chegar a esta conclusão, os dados
obtidos por medição, com um Aberrómetro de Hartmann-Shack, das aberrações presentes em olhos de
vários voluntários, com as lentes de contacto colocadas, foram analisados recorrendo a 4 métricas
diferentes:
- Análise e comparação da magnitude dos Coeficientes de Zernike;
- Método da Pupila Crítica;
- Raiz quadrada do segundo momento da distribuição de luz (métrica da compactação de PSF’s);
- Área da MTF.
Esperava-se que as duas primeiras métricas, exemplos de métricas do plano pupilar, fossem as que
apresentassem pior comportamento ou cujos resultados fossem mais difíceis de analisar, visto terem
associadas variações do raio pupilar, capazes de mascarar os possíveis efeitos que lentes mais usadas
tivessem na qualidade do mapa da frente de onda. Tal verificou-se principalmente para a primeira
métrica, não tendo sido possível verificar como diferentes aberrações individuais variam para diferentes
tempos de uso das lentes. Por seu lado, a métrica Método da Pupila Crítica apresentou resultados
bastante satisfatórios e que iam de encontro ao esperado, sempre que os dados a analisar eram
agrupados em função do intervalo entre medições e não em função das variações do raio pupilar. Um
modo de, em estudos futuros, compensar em parte a variação do raio pupilar associada às várias
medições seria introduzir algumas alterações a esta métrica de modo a que, em vez de devolver a
fracção pupilar, devolvesse o raio crítico determinado para os vários mapas da frente de onda, sendo
esses os valores comparados.
Apesar dos resultados obtidos com a segunda métrica considerada serem bastante satisfatórios,
importa mais uma vez referir que a quantidade de aberrações presentes num mapa da frente de onda
não reflecte o modo como um indivíduo vê uma imagem, dada a existência de compensações, algumas
delas verificadas na análise da variação dos coeficientes de Zernike, e a dificuldade ainda existente em
prever como certas aberrações vão contribuir para deterioramentos da visão. Se se juntar a este aspecto
o facto de ter sido possível, por utilização do Programa de Simulação da Acuidade Visual, calcular as
variações das duas últimas métricas, entre os pares de medições considerados, sem lhes estarem
associadas variações do raio pupilar, acredita-se que os resultados obtidos com as duas últimas
métricas – exemplos de métricas do plano da imagem – sejam mais significativos no que diz respeito à
determinação da qualidade da visão dos voluntários que as duas primeiras.
101
À semelhança do verificado com as restantes, os resultados obtidos com as duas últimas métricas
foram mais expressivos ao agrupar os dados em função dos intervalos em medições: nestes casos, os
resultados são, a nível percentual, satisfatórios, indicando que na maior parte dos casos considerados se
verifica uma tendência para lentes mais usadas terem associadas imagens retinianas de pior qualidade
que lente menos usadas, dentro de um mês de uso das lentes, apesar de só com a métrica que mede a
compactação da PSF se verificar uma tendência para essa diminuição da qualidade ser mais acentuada
à medida que o tempo de uso das lentes aumenta. Quando os resultados são apresentados em função
dos raios pupilares considerados, a análise realizada com a última métrica não permite mesmo verificar
uma diminuição da qualidade da imagem retiniana ao comparar as medições realizadas com lentes
menos usadas e as realizadas com lentes mais usadas, apesar de permitir verificar um aumento da
qualidade ao trocar lentes mais usadas por lentes novas.
Além desta análise particular, e apesar de não fazer parte dos objectivos iniciais, foi levada a cabo
uma outra análise em que se compararam as variações de diferentes coeficientes de Zernike associados
a aberrações de ordem superior (assim como algumas somas dos valores absolutos destes coeficientes)
de medições realizadas a olhos sem e com lentes, tendo-se verificado que a colocação de lentes de
contacto, apesar de levar à diminuição de algumas das aberrações presentes no olho – as de ordem
inferior –, pode influenciar o aumento de outras de ordem superior, nomeadamente de aberrações anti-
rotacionais, possivelmente devido a uma má adaptação das lentes “moles” à superfície ocular.
Tendo em conta que não foram encontradas quaisquer referências a outros estudos em que
diferentes métricas são utilizadas para medir as qualidades do mapa da frente de onda e da imagem
retiniana ao longo do tempo de uso das lentes, o estudo aqui apresentado ganha particular destaque e
importância na medida em que levanta algumas questões referentes a este tema e tenta encontrar para
elas uma resposta. Falha, no entanto, por não concentrar a sua análise numa maior e mais heterogénea
população de olhos e de tipos de lentes, em que diferentes parâmetros – como o diâmetro pupilar, os
intervalos entre medições, o tempo que se esteve sem lentes antes das medições, etc –, são
controlados, algo que dificultou bastante a análise dos resultados obtidos, que não são tão significativos
como se desejava.
Seria assim interessante, a realização de um estudo mais aprofundado sobre o tema aqui abordado,
em que se utilizasse um maior número de métricas, nomeadamente de métricas policromáticas –
melhores preditoras da qualidade e da performance ópticas – e/ou, caso se venha entretanto a
determinar que existe uma métrica (ou conjunto de métricas) que adequadamente prevê a performance
visual, para uma variedade de tarefas sob vários várias condições de estímulos, utilizar essa métrica
num estudo deste tipo. Sugere-se também que, tanto as métricas que aqui foram apresentadas como
outras que se decida utilizar, sejam aplicadas a dados obtidos sob situações em que os diferentes
102
parâmetros referidos são controlados, o que tornará os resultados mais significativos e, possivelmente,
mais expressivos e quantificáveis. Recomenda-se também a realização de estudos com um forte poder
estatístico, não presente neste trabalho devido ao carácter essencialmente qualitativo e bastante
dependente das variações do raio pupilar que regeu este estudo.
Outra análise que seria interessante levar a cabo, tendo em conta que a colocação de lentes
pretende corrigir apenas as aberrações ordem inferior, prende-se com uma simulação da correcção
ideal dessas aberrações e a realização de uma análise mais detalhada e focada na variação das
aberrações de ordem superior ao longo do tempo de uso das lentes, sem influência das aberrações de
menor ordem.
Resta salientar que, apesar de se ter verificado uma diminuição das qualidades do mapa da frente
de onda e da imagem retiniana para lentes de contacto mais usadas, essa diminuição não justifica a não
utilização de lentes para correcção dos erros refractivos. Sugere sim, uma necessidade de averiguar o
porquê dessa menor performance óptica das lentes, à medida que vão sendo usadas, e de quantificar
essa diminuição. Assim, os vários estudos que se venham a desenvolver sobre este tema, e outros
relacionados, permitarão que o cada vez maior número de utilizadores de lentes de contacto
extraoculares possa ver aumentada a qualidade da sua visão e a satisfação relativa ao seu uso.
103
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107
Anexo I
Neste Anexo são listadas as características das lentes usadas pelos diferentes voluntários deste
estudo (Tabela 22), assim como o número de medições realizadas por lente e que serviram de base às
análises dos Pontos 4.1 (Tabela 23) e 4.2 (Tabela 24) – Capítulo II.
Olho Lente
PRE [D]
PRC [D]
EA C Marca
DA Direito Não tórica -4 -- -- 8,4 Precision UV®
DA Esquerdo Tórica -4,25 -1,25 180 8,5 Bausch&Lomb
SofLens® TORIC
JT Direito Tórica -5 -1,25 180 8,5 Bausch&Lomb
Soflens 66TM
TORIC
JT Esquerdo Tórica -7 -1,25 180 8,5 Bausch&Lomb Soflens 66
TM
TORIC
MS Direito Não tórica -6,5 -- -- 8,6 Focus® MONTHLY
Visitint
MS Esquerdo Não tórica -6,5 -- -- 8,6 Focus® MONTHLY
Visitint
MS1 Direito Não tórica -6,5 -- -- 8,6 Bausch&Lomb
SofLens®
MS1 Esquerdo Não tórica -6,5 -- -- 8,6 Bausch&Lomb
SofLens®
VM Direito Não tórica -3 -- -- 8,9 Focus® MONTHLY
Visitint
VM Esquerdo Não tórica -2 -- -- 8,9 Focus® MONTHLY
Visitint
AN Direito Tórica -2,5 -1,75 50 8,5 Bausch&Lomb Soflens® 66
TM
TORIC
AN Esquerdo Tórica -3 -1,75 150 8,5 Bausch&Lomb Soflens® 66
TM
TORIC
RG Direito Não tórica -6 -- -- 8,7 Supreme
RG Esquerdo Não tórica -3,25 -- -- 8,7 Supreme
RM Direito Não tórica -5 -- -- 8,6 Bausch&Lomb SofLens® 59
RM Esquerdo Não tórica -5 -- -- 8,6 Bausch&Lomb SofLens® 59
IB Direito Não tórica -7 -- -- 8,4 Bausch&Lomb SofLens® 38
IB Esquerdo Não tórica -7 -- -- 8,4 Bausch&Lomb SofLens® 38
Tabela 22. Listagem das características das lentes utilizadas pelos diferentes voluntários. Legenda: PRE –
Poder refractivo esférico, PRC – Poder Refractivo Cilíndrico, D – Dipotrias, EA – Eixo Astigmatismo e C –
Curvatura.
108
Voluntários Medições realizadas aos olhos dos vários voluntários
DA
Lente 1: medições para lentes com 3 e 24 dias de uso
Lente 2: medições para lentes com 12 e 18 dias de uso
JT
Lente 1: medições para lentes com 9 dias de uso
Lente 2: medições para lentes com 2 dias de uso
MS
Lente 1: medições para lentes com 7 dias de uso
MS1
Lente 1: medições para lentes com 12 dias de uso
VM
Lente 1: medições para lentes com 2 e 23 dias de uso
AN
Lente 1: medições para lentes com 26 dias de uso
Lente 2: medições para lentes com 30 dias de uso
Lente 3: medições para lentes com 2 dias de uso
RG
Lente 1: medições para lentes com 30 dias de uso
RM
Lente 1: medições para lentes com 2 dias de uso
Lente 2: medições para lentes com 20 dias de uso
IB
Lente 1: medições para lentes com 28 dias de uso
Lente 2: medições para lentes com 2 e 10 dias de uso
Tabela 23. Listagem das medições realizadas com e sem lentes colocadas, aos dois olhos de cada
voluntário, que serviram de base à análise da variação de aberrações entre os casos sem e com lentes –
Ponto 4.1.
109
Voluntários Medições realizadas aos olhos dos vários voluntários, para os dois Grupos
considerados
DA
Grupo 1: medições com lentes com 3 e 24 dias de uso (intervalo de 21 dias) e com
outras lentes com 12 e 18 dias de uso (intervalo de 6 dias)
Grupo 2: medições com lentes com 24 dias de uso e com outras lentes com 12 dias de
uso (intervalo de um mês entre o uso das duas lentes consideradas)
JT
Grupo 1: medições com lentes com 9 e 30 dias de uso (intervalo de 21 dias) e com
outras lentes com 2 e 32 dias de uso (30 dias de intervalo)
Grupo 2: medições com lentes com 30 dias de uso e com outras com 2 dias de uso
(intervalo de dois meses entre o uso das duas lentes consideradas)
MS
Grupo 1: medições com lentes com 7 e 30 dias de uso (23 dias de intervalo)
VM
Grupo 1: medições com lentes com 2 e 23 dias de uso (intervalo de 21 dias)
AN
Grupo2: medições com lentes com 26 dias de uso, com outras lentes com 30 dias de
uso e com umas terceiras com 2 dias de uso (intervalo de um mês entre as primeiras e
as terceiras lentes consideradas e de 0 meses – meses consecutivos – entre as
segundas e as terceiras lentes consideradas)
IB
Grupo 1: medições com lentes com 2, 10 e 31 dias de uso (intervalos de 8 e 29 dias)
Grupo 2: medições com lentes com 28 dias de uso e outras com 2 dias de uso (meses
consecutivos)
Tabela 24. Listagem das medições realizadas com lentes colocadas, aos dois olhos de cada voluntário, que
serviram de base à análise da variação de aberrações ao longo do tempo de uso das lentes, para os casos
do Grupo 1 e do Grupo 2 – Ponto 4.2.
110
Anexo II
Neste segundo Anexo são apresentadas listagens dos dados que serviram de base às
representações gráficas relativas à análise da variação dos coeficientes de Zernike, que constam no
Capítulo II. Em todas as tabelas seguintes, DP representa o desvio padrão associado às médias
apresentadas nas células imediatamente acima. Este parâmetro foi obtido recorrendo ao software
EXCEL, que o calcula a partir da fórmula (19), apresentada no mesmo Capítulo.
Ponto 4.1: Comparação entre medições realizadas sem e com lente
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 14 3 4 11 3
Média da variação dos
raios (%)
-11,27 -5,05 -0,77 1,46 5,23 14,29
DP (%) 1,29 1,62 0,25 0,58 1,79 5,62
Média da variação dos
CZ(coma total) (%)
101,61 135,85 74,04 83,14 -12,06 789,41
DP (%) 110,49 414,66 112,53 75,27 48,43 1370,76
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-86,77 48,69 43,36 211,55 -43,49 367,43
DP (%) 13,56 258,88 160,08 574,19 41,58 734,01
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-36,53 -1,17 13,50 -34,54 2,38 117,02
DP (%) 11,78 50,65 25,06 71,41 21,24 133,10
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-40,39 -2,75 20,8 -56,60 31,72 118,61
DP (%) 14,89 52,38 25,11 68,61 46,18 139,11
Tabela 25. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas dos diferentes parâmetros considerados e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos em que se comparam medições sem e com lentes colocadas.
111
Ponto 4.2.1: Análise ao longo do tempo de uso das lentes – Casos pertencentes ao Grupo 1
Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 4 2 2 1 4
Média da variação dos
raios (%)
-13,88 -6,40 -1,01 1,17 9,40 13,96
DP (%) 5,25 1,06 1,38 0,85 0 2,32
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
2099,76 230,82 -20,65 -26,37 -46,30 183,94
DP (%) 3464,33 193,66 101,42 1,47 0 316,26
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
12,31 23,33 15,89 -15,10 -31,53 38,37
DP (%) 17,23 86,78 299,02 41,44 0 234,17
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
-74,17 -22,29 -44,85 671,33 51,68 38,37
DP (%) 40,43 15,49 45,67 24,24 0 234,17
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
8,75 41,35 8,02 54,39 -20,022 26,19
DP (%) 17,98 55,91 74,67 86,43 0 47,11
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
106,42 162,46 -31,82 -23,38 60,00 228,74
DP (%) 172,49 206,82 24,24 24,58 0 483,62
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
374,36 586,35 127,90 -82,14 -32,29 -8,61
DP (%) 715,08 1209,15 56,10 25,25 0 91,84
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
3,63 116,61 -32,20 -9,22 111,91 1267,68
DP (%) 81,13 283,59 8,04 45,67 0 2103,01
Tabela 26. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ consideradas e dos desvios padrão (DP) associados,
para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar.
112
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-20 <-> -10 -10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 3 4 2 2 1 4
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-40,95 -6,52 -6,57 -30,03 45,427 50,56
DP (%) 30,76 14,01 37,85 20,29 0 59,74
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-52,46 -13,51 -2,74 -35,72 73,826 49,58
DP (%) 25,10 17,53 48,39 34,53 0 35,37
Tabela 27. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ consideradas e dos desvios padrão (DP) associados,
para os casos pertencentes ao Grupo 1 e para intervalos bem definidos de variação do diâmetro pupilar –
continuação.
Intervalo entre
medições (dias) 6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
-59,89 177,55 1055 312,19 288,17 23,09
DP (%) 45,93 128,22 2472,79 477,32 248,57 39,56
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
-13,41 72,94 33,86 -8,68 -0,75 188,37
DP (%) 20,85 113,77 178,47 97,04 34,62 291,85
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
-6,69 -68,91 15,85 679,27 -51,83 -49,03
DP (%) 8,31 37,81 57,79 939,34 67,16 39,75
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-25,75 54,91 8,90 96,25 24,59 23,90
DP (%) 26,91 89,26 29,95 27,23 25,09 52,21
Tabela 28. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições, das médias
aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para os
casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado.
113
Intervalo entre
medições (dias)
6 8 21 23 29 30
N.º de casos 2 2 6 2 2 2
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
-27,48 314,34 155,52 -62,37 220,52 -5,21
DP (%) 30,38 152,57 392,19 30,56 21,16 13,38
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
11,97 595,51 0,39 -69,62 1176,35 77,40
DP (%) 107,85 854,88 76,96 42,96 1730,51 127,52
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-7,40 23,08 918,84 35,15 -27,61 -63,26
DP (%) 43,10 35,00 1726,63 108,42 88,23 51,96
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-24,51 -12,36 24,57 -5,70 -26,54 8,18
DP (%) 12,48 8,46 65,06 54,69 54,79 17,00
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-24,13 -29,65 24,11 -4,56 -41,59 19,51
DP (%) 18,14 6,13 57,61 78,59 46,98 16,92
Tabela 29. Listagem do número de casos compreendido entre cada intervalo entre medições, das médias
aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para os
casos pertencentes ao Grupo 1 e em função do intervalo, em dias, entre cada par de medições considerado
– continuação.
114
Ponto 4.2.2: Análise ao longo do tempo de uso das lentes – Casos pertencentes ao Grupo 2
Análise e comparação da magnitude dos coeficientes de Zernike
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 2 1 2 4 1
Média da variação dos
raios (%)
-7,27 -1,64 1,36 7,64 13,67
DP (%) 1,56 0 0,79 1,89 0
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
-28,05 1,43 -12,78 54,42 -72,15
DP (%) 49,45 0 47,79 104,26 0
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
-37,32 5,29 -34,60 565,82 27,10
DP (%) 7,68 0 12,99 1128,00 0
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
72,47 -74,37 -16,04 122,54 6800
DP (%) 158,60 0 13,48 278,62 0
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-12,89 -35,42 -20,90 8,09 -3,94
DP (%) 7,83 0 10,10 46,57 0
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
21,49 36,70 180,28 -11,01 -93,33
DP (%) 46,43 0 250,12 54,38 0
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
306,67 -60,61 49,95 121,83 -70,13
DP (%) 480,83 0 55,06 129,63 0
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
-23,77 233,33 -7,55 106,68 -32,42
DP (%) 14,77 0 43,72 187,36 0
Tabela 30. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 2.
115
Intervalos das
variações dos raios
pupilares (%)
-10 <-> -2 -2 <-> 0 0 <-> 2 2 <-> 10 10 <-> 20
N.º de casos 2 1 2 4 1
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
10,97 -96,72 30,73 12,09 25,12
DP (%) 52,80 0 46,69 17,63 0
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-5,05 -10,26 24,58 7,88 26,20
DP (%) 39,36 0 46,27 23,10 0
Tabela 31. Listagem do número de casos compreendido em cada intervalo de variação do raio pupilar, das
médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP) associados, para
os casos pertencentes ao Grupo 2 – continuação.
Intervalos entre
medições (meses) 0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da variação dos
CZ(desfoc.) (%)
24,14 -21,78 27,93
DP (%) 122,81 39,52 23,91
Média da variação dos
CZ(astig. y) (%)
10,76 -26,66 1107,72
DP (%) 85,49 22,91 1619,59
Média da variação dos
CZ(astig. x) (%)
1817,27 19,54 -9,30
DP (%) 3332,83 113,70 34,58
Tabela 32. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2.
116
Intervalos entre
medições (meses)
0 1 2
N.º de casos 4 4 2
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem inferior) (%)
-7,32 -21,14 19,64
DP (%) 32,57 12,86 54,37
Média da variação dos
CZ(coma y) (%)
-25,09 112,90 6,27
DP (%) 51,29 164,19 6,94
Média da variação dos
CZ(coma x) (%)
19,00 171,49 142,32
DP (%) 133,37 322,61 155,82
Média da variação dos
CZ(aberração esférica)
(%)
43,00 51,23 75,18
DP 213,43 124,03 39,46
Média da soma dos
valores absolutos dos
CZ(aberrações de
ordem superior) (%)
-3,56 25,47 18,50
DP (%) 18,68 12,86 20,78
Média da soma dos
valores absolutos
CZ(aberrações de
ordem superior,
excepto comas e ab.
esférica) (%)
-0,27 12,14 11,29
DP (%) 23,84 35,72 38,63
Tabela 33. Listagem do número de casos compreendido em cada um dos intervalos entre medições, em
meses, das médias aritméticas das variações referentes aos CZ e dos valores dos desvios padrão (DP)
associados, para os casos do Grupo 2 – continuação.
117
Anexo III
No terceiro Anexo apresentam-se os gráficos das correlações lineares entre os valores das áreas
das MTF’s, para os casos pertencentes ao Grupo 1 e ao Grupo 2:
Figura 42. Pormenor da representação gráfica da correlação entre os valores das variações das áreas das
MTF’s (segundo y – mtf_y – e segundo x – mtf_x), para os casos pertencentes ao Grupo 1.
Figura 43. Pormenor da representação gráfica da correlação entre os valores das variações das áreas das
MTF’s (segundo y – mtf_y – e segundo x – mtf_x), para os casos pertencentes ao Grupo 2.
y = 0,625x + 0,018R² = 0,328
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
-1 -0,5 0 0,5 1
vari
açõ
es
da
áre
a d
a m
tf_x
(%
)
variações da área da mtf_y (%)
Linear (correlação entre os valores das variações das áreas da mtf_y e da mtf_x)
y = 0,919x + 0,096R² = 0,489
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5
vari
açõ
es
da
áre
a d
a m
tf_x
(%
)
variações da área da mtf_y (%)
Linear (correlação entre os valores das variações das áreas da mtf_y e da mtf_x)
118