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ABORDANDO OS RAIOS CÓSMICOS NO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DE ENSINO Marilaine dos Santos Souza Dourados Fevereiro/2017

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ABORDANDO OS RAIOS CÓSMICOS NO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE

SEQUÊNCIA DE ENSINO

Marilaine dos Santos Souza

Dourados

Fevereiro/2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE FÍSICA

ABORDANDO OS RAIOS CÓSMICOS NO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE

SEQUÊNCIA DE ENSINO

Marilaine dos Santos Souza

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação (Universidade Federal da Grande

Dourados) no Curso de Mestrado Nacional Profissional

de Ensino de Física (MNPEF), como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre

em Ensino de Física.

Orientador: Prof. Dr. Márcio Roberto da Silva Oliveira

Coorientadora: Profa. Dra. Ariane Baffa Lourenço

Dourados

Fevereiro/2017

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AUTORIZO, CONFORME A LICENÇA INTERNACIONAL CRIAÇÃO COMUM (CC) -

ATRIBUIÇÃO 4.0, (CREATIVE CIMMUNS - CC-BY) A REPRODUÇÃO E

DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO

CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE

QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Informação – UFGD

Souza, Marilaine dos Santos Souza Abordando os Raios Cósmicos no Ensino Médio: Uma

proposta de Sequência de Ensino / Marilaine dos Santos Souza;

orientador Márcio Roberto da Silva Oliveira, coorientadora

Ariane Baffa Lourenço. Dourados, 2017. 92 p.

Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Física) – Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

da Universidade Federal da Grande Dourados.

1. Ensino de Raios Cósmicos. 2. Sequência de Ensino Investigativa.

3. Atividade Experimental. 4. Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

I. Título.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

ABORDANDO OS RAIOS CÓSMICOS NO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE

SEQUÊNCIA DE ENSINO

Marilaine dos Santos Souza

Orientador: Prof. Dr. Márcio Roberto da Silva Oliveira

Coorientadora: Profa. Dra. Ariane Baffa Lourenço

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação (Universidade

Federal da Grande Dourados) no Curso de Mestrado Nacional Profissional de Ensino

de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Ensino de Física.

Aprovada em XX/XX/XXXX

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Dr. Márcio Roberto da Silva Oliveira

_________________________________________

Dr. Fernando Cesar Ferreira

_________________________________________

Dr. Pedro Donizete Colombo Junior

Dourados

Fevereiro/2017

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Ao meu amado filho Eduardo Benicio

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AGRADECIMENTOS

Eu gostaria de agradecer a Deus em primeiro lugar, pela vida, por ter me dado forças

de continuar e não desistir dos meus objetivos. Ao meu marido, Cristiano, que sempre me

motivou, sendo companheiro, cuidando de tudo, fazendo o melhor por nossa família.

Ao meu filho Eduardo Benicio, a quem eu tenho maior e incondicional amor.

Aos meus pais, Jair e Lucy, que sempre estiveram ao meu lado em todos os momentos

da minha vida, me apoiando.

As minhas irmãs, Maristelaine e Magislaine, que foram responsáveis por momentos

inesquecíveis em todas as fases da minha vida. Minhas melhores amigas! Ao meu irmão

Marcos Vinicius, um presente lindo de Deus que veio trazer mais alegria em nossas vidas.

Ao professor Dr. Márcio Roberto da Silva Oliveira pela sua orientação e dedicação

durante o desenvolvimento do trabalho. Muito Obrigada!

À professora Dra. Ariane Baffa Lourenço pela orientação, paciência e dedicação na

elaboração deste trabalho. Muito obrigada!

Aos professores do mestrado Fernando Cesar Ferreira, Giovani Manzeppi Faccin,

André Luiz Martinez, Fabio de Alencar dos Santos, Seila Rojas de Souza, Eriton Rodrigo

Botero, Márcio da Silva Figueiredo e José Ezequiel de Souza que tanto colaboraram na nossa

formação acadêmica.

À minhas amigas Danyara, Luana, Regiane e Adriélli companheiras do mestrado.

Pessoas que compartilharam comigo momentos agradáveis e muitas vezes difíceis, momentos

de superação. Muito obrigada!

À Universidade Federal da Grande Dourados pela oportunidade de ingresso no

Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física.

À Sociedade Brasileira de Física por investir na formação de professores de Física da

Educação básica por meio do Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física.

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À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo

apoio financeiro durante o mestrado.

Ao Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências (GPEC) da Universidade Federal da

Grande Dourados.

À Escola Estadual Vilmar Vieira Matos por propiciar as devidas condições físicas e

pedagógicas para a aplicação do produto educacional.

Aos alunos que participaram durante toda a pesquisa de forma séria, receptiva e

dedicada.

À Delma, uma amiga que sempre me apoiou e me incentivou, em todos os momentos

de forma alegre e prestativa.

Agradeço também a direção e coordenação da escola por me apoiar durante todas

atividades relacionadas ao mestrado.

Enfim, a todos que não foram citados, mas que direta ou indiretamente contribuíram

na minha formação.

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RESUMO

Esta pesquisa compreendeu na elaboração e implementação de um produto educacional que se

trata de uma Sequência de Ensino Investigativa (SEI) para o ensino de tópicos da Física

Moderna Contemporânea (FMC) para a modalidade de Ensino Médio. A SEI foi elaborada

conforme os elementos característicos do Ensino por Investigação constituída por atividade

experimental sobre os Raios Cósmicos, envolvendo a montagem de um aparato experimental

de detecção e aliada ao Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw. A SEI foi

implementada em uma turma de terceiro ano do Ensino médio, na qual possibilitou aos alunos

investigarem o comportamento dos fenômenos físicos em um detector de Raios Cósmicos.

Também buscou-se identificar quais os tipos de contribuições que a SEI elaborada trouxe à

apropriação de conceitos científicos sobre a temática de Raios Cósmicos a partir das

perspectivas dos alunos. Os resultados, referentes à implementação das atividades, basearam-

se nas análises das respostas aos questionários, aos registros do experimento, a elaboração de

hipóteses e aos textos escritos pelos alunos. Dessa forma, foi verificado que a SEI utilizada foi

capaz de promover uma mudança conceitual sobre os conceitos físicos relacionados aos Raios

Cósmicos. Além disso, foi observada a aceitação da SEI por parte dos estudantes, no qual os

mesmos destacaram o uso da atividade experimental e o Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw como estratégias importantes na compreensão dos conceitos envolvidos

neste estudo.

Palavras-Chave: Ensino de Raios Cósmicos, Sequência de Ensino Investigativa, Atividade

Experimental, Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

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ABSTRACT

This research comprised the development and implementation of an educational product that

is a Sequence of Investigative Teaching (SIT) for the teaching topics

of Contemporary Modern Physics (CMP) in the modality of High School. The SIT was

elaborated according to the characteristic elements of the Teaching by research constituted by

experimental activity of the Cosmic Rays, involving the assembly of an experimental

apparatus of detection and combined to the Jigsaw Cooperative Learning Method. The

SIT was implemented in a third year high school class, which students were able to

investigate the behavior of the physical phenomena in a Cosmic Ray detector. It was also

sought to identify the which types of contributions that the SIT elaborated brought to the

appropriation of scientific concepts on the theme of Cosmic Rays from the perspectives of the

students. The results, related to the implementation of the activities, based on the analysis of

the answers to the questionnaires, in the records of the experiment, in the elaboration

of hypothesis and in the texts written by the students. In this way, we see that the SIT has

been able to promote, in the students, a conceptual change about the subject related to the

Cosmic Rays. In addition, students' acceptance of SIT was observed, in which

they highlighted the use of the experimental activity and the Jigsaw Cooperative

Learning Method as important strategies in the understanding of the concepts involved in this

study.

Keywords: Teaching of Cosmic Rays, Sequence of Investigative Teaching, Experimental

Activity, Jigsaw Cooperative Learning Method.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática do Método Cooperativo de Aprendizagem. Fonte: LEITE et al.,

2013, p. 4. ..............................................................................................................................................28

Figura 2: (a) Fotografia de eletroscópio de folha contendo um cilindro que internamente aloja duas

pequenas folhas de papel alumínio leve. (b) Diagrama representando o estado neutro do eletroscópio

“sem cargas” e (c) mostrando o estado carregado “eletrizado” do dispositivo. Fonte: (a):

http://minf.ufpa.br/index.php/eletroscopio-de-folhas; (b) e (c):

https://www.tecnolegis.com/provas/comentarios/139435..................................................................... 29

Figura 3: Diagrama do fluxo de Raios Cósmicos para energias superiores a 100 MeV. Fonte: Oliveira,

Rockenbach e Pacini; 2014.....................................................................................................................33

Figura 4: Exemlo de um diagrama de Feynman para o decaimento do π+, ele é composto por um quark

up (u) e um antiquark down ( ), no entanto decaem devido ao processo fraco (mediado pela partícula

W+) em um múon (µ) e um neutrino do múon (νµ). Fonte: Steinkirch,

2010...........................................................................................................................................34

Figura 5: Concepção artística de um chuveiro extenso de raios cósmicos. Fonte: Oliveira, 2000........ 36

Figura 6: Pósitron, partícula detectada na Câmara de Nuvens. Fonte:

https://www.sprace.org.br/divulgacao/noticias/vendo-particulas-subatomicas......................................37

Figura 7: Traço deixado por partícula de biaxa energia. Fonte: Laganá, 2011......................................38

Figura 8: Partícula energética produziu um elétron de ionização formando uma bifurcação. Fonte:

Laganá, 2011...........................................................................................................................................38

Figura 9: Traço deixado por um próton secundário. Fonte: Laganá, 2011.............................................38

Figura 10: Duas partículas de alta energia (>100 MeV) atravessando a Câmara de nuvens

simultaneamente. Fonte: Laganá, 2011..................................................................................................39

Figura 11: Fluxograma das atividades desenvolvidas na Sequência de Ensino Investigativa...............44

Figura 12: Alunos visualizando os fenômenos presentes no detector....................................................49

Figura 13: Registro dos rastros dos fenômenos identificados no experimento......................................49

Figura 14: Organização dos grupos de base para o Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.....51

Figura 15: Socialização dos grupos de especialistas α...........................................................................52

Figura 16: Retorno dos especialistas ao grupo de base para a sistematização do conhecimento...........52

Figura 17: Resposta de um dos grupos de alunos a respeito ao comportamento dos fenômenos

detectados no Detector de Raios Cósmicos/ Câmara de Nuvens............................................................59

Figura 18: Respostas elaboradas por um grupo de alunos sobre os rastros identificados no Detector de

Raios Cósmicos.......................................................................................................................................60

Figura 19: Registro feito por um dos integrantes do grupo sobre as observações experimentais, os

rastros identificados no Detector de Raios Cósmicos.............................................................................60

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Categorias sobre o conhecimento das partículas elementares e sua organização no Modelo

Padrão.....................................................................................................................................................54

Gráfico 2: Categorias obtidas a respeito conhecimento dos Raios Cósmicos........................................55

Gráfico 3: Categorias obtidas a respeito conhecimento dos Chuveiros Cósmicos.................................55

Gráfico 4: Categorias obtidas a respeito da concepção dos alunos após o questionário final sobre as

partículas elementares.............................................................................................................................62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Diferentes níveis de organização conforme o maior ou menor direcionamento do professor

diante de elementos essenciais no ensino de ciências. Fonte: Munford e Lima, 2007.........................25

Tabela 2: Elementos extraídos de referências da área do Ensino por Investigação e que estão presentes

na Sequência de Ensino Investigativa....................................................................................................45

Tabela 3: Organização dos alunos para o Método Cooperativo de Aprendizagem

jigsaw...................................................................................................................................................50

Tabela 4: Categorias obtidas para o conhecimento dos alunos a respeito da constituição dos átomos..54

Tabela 5: Categorias obtidas a respeito das hipóteses elaboradas pelos alunos sobre a origem dos

rastros observados no experimento.........................................................................................................56

Tabela 6: Categorias obtidas sobre as hipóteses levantadas a respeito do que são os rastros

visualizados pelos alunos por meio do Detector Caseiro de Raios Cósmicos........................................57

Tabela 7: Categorias obtidas a partir do questionário final sobre a constituição dos átomos................61

Tabela 8: Categorias obtidas a respeito do conhecimento dos alunos sobre dos Raios Cósmicos.........63

Tabela 9: Categorias dos rastros identificados pelos alunos no Detector Caseiro de Raios Cósmicos..64

Tabela 10: Categorias obtidas a partir dos relatos dos alunos sobre as atividades desenvolvidas em

sala..........................................................................................................................................................66

Tabela 11: Categorias obtidas a respeito se a SEI contribuiu para aprendizagem dos alunos...............66

Tabela 12: Categorias identificadas a respeito dos pontos positivos da SEI.........................................68

Tabela 13: Itens identificados sobre os pontos negativos da SEI...........................................................69

Tabela 14: Itens identificados como sugestão para a SEI.......................................................................69

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

BNCC-Base Nacional Comum Curricular

CAE-Chuveiro Aéreo Extenso

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CERN- Centro Europeu de Pesquisas Nucleares

EM-Ensino Médio

FM- Física Moderna

FMC- Física Moderna Contemporânea

LHC- Large Hadron Collider

LIP-Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas

MNPEF- Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física

PCN + Ensino Médio-Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: Orientações

Educacionais Complementares aos parâmetros Curriculares Nacionais

PROGELAB- Professora Gerenciadora de Laboratório

SEI-Sequência de Ensino Investigativa

SBF-Sociedade Brasileira de Física

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Sumário

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO............................................................................................................ 18

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 19

CAPÍTULO 2: REFERENCIAL TEÓRICO- METODOLÓGICO ...................................................... 22

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ................................................................... 23

2.1. Ensino por Investigação ....................................................................................................... 23

2.2 Aprendizagem Cooperativa................................................................................................... 26

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA ........................................................................................................ 40

3 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 41

3.1 Contexto da pesquisa ............................................................................................................ 41

3.2 Atividades desenvolvidas ...................................................................................................... 42

CAPÍTULO 4: RESULTADOS ............................................................................................................ 46

4 RESULTADOS .................................................................................................................................. 47

4. 1 Descrição dos momentos da Sequência de Ensino Investigativa ......................................... 47

4.2 Resultados: Implementação da Sequência de Ensino Investigativa ...................................... 53

CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 72

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 75

APÊNDICES ......................................................................................................................................... 80

APÊNDICE (A): QUESTIONÁRIO INICIAL ........................................................................... 81

APÊNDICE (B): ROTEIRO EXPERIMENTAL DO DETECTOR DE RAIOS CÓSMICOS .. 83

APÊNDICE (C): REGISTRO DA ATIVIDADE EXPERIMENTAL ........................................ 86

APÊNDICE (D): REGISTRO DAS HIPÓTESES ELABORADAS PELOS ALUNOS ........... 87

APÊNDICE (E): TEXTO SOBRE A DESCOBERTA DOS RAIOS CÓSMICOS .................. 88

APÊNDICE (G): ETAPAS PARA DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO COOPERATIVO

DE APRENDIZAGEM JIGSAW ................................................................................................ 90

APÊNDICE (H): QUESTIONÁRIO FINAL .............................................................................. 92

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Apresentação

APRESENTAÇÃO

Esta pesquisa compreendeu a elaboração e aplicação de um produto educacional

constituído de uma Sequência de Ensino sobre Raios Cósmicos, focada em uma perspectiva

investigativa e aliada à Aprendizagem Cooperativa. Nesta seção será apresentado um breve

panorama das motivações que influenciaram à elaboração e implementação deste produto

educacional para alunos do Ensino Médio.

O interesse em trabalhar com a temática de Raios Cósmicos com alunos do Ensino

Médio surgiu devido à participação da mestranda, que também é professora de Física de

escolas públicas da cidade de Dourados (doravante denominada de professora-pesquisadora),

na Escola de Professores do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) em língua

portuguesa dos dias 24 à 29 de agosto de 2014. O referido evento foi organizado pela

Sociedade Brasileira de Física (SBF), com o apoio do Laboratório de Instrumentação e Física

Experimental de Partículas (LIP), e financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Na ocasião a professora-pesquisadora teve oportunidade de conhecer as instalações do

LIP em Lisboa, o CERN, e os experimentos do Large Hadron Collider (LHC) na Suíça. O

objetivo principal da escola foi oportunizar aos professores brasileiros, portugueses e

africanos, o contato com a Física de Partículas para que introduzissem essa temática aos seus

alunos da Educação Básica. As ações desenvolvidas na escola foram conduzidas por

pesquisadores portugueses e brasileiros, contendo palestras sobre a temática Física de

partículas, visitas ao complexo experimental do CERN e atividade experimental da Câmara de

Nuvens.

Diante da experiência em participar da escola do CERN e com o ingresso no Mestrado

Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), Polo Dourados, a professora-

pesquisadora se interessou em oportunizar aos alunos do Ensino Médio o contato com a Física

de Partículas, por meio da elaboração e aplicação de um produto educacional voltado para o

professor de Física da Educação Básica. O produto educacional configura-se em uma

Sequência de Ensino Investigativa (SEI), a qual envolve como uma de suas estratégias de

ensino a atividade experimental na perspectiva investigativa aliada ao Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw.

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Apresentação

A professora-pesquisadora optou em desenvolver uma atividade experimental, pois no

decorrer de sua atuação como docente sempre buscou proporcionar aos alunos contato com

atividades desta natureza. Suas ações experimentais em sala de aula estavam focadas

exclusivamente para verificar a aprendizagem de um fenômeno físico pelos alunos, para

despertar nestes o interesse pelo conteúdo abordado, e sua a participação na aula. No entanto,

ao cursar a disciplina de atividades experimentais para o Ensino Médio e Ensino Fundamental

no MNPEF a professora-pesquisadora teve conhecimento da atividade experimental no

enfoque investigativo até então desconhecida para a mesma. Optou-se pelo uso da SEI, pois a

mesma, dentre as diferentes características possibilita ao professor oferecer um ambiente em

que o aluno pode atuar como protagonista do processo de ensino-aprendizagem, investigar o

fenômeno em estudo e o professor atua como um mediador em sala de aula.

Desta maneira, optou-se em utilizar como uma das ações para trabalhar a temática de

Raios Cósmicos uma atividade experimental na perspectiva investigativa, atrelando-a ao

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw. A professora-pesquisadora teve contato com

esta metodologia, por meio da disciplina oferecida no MNPEF, intitulada, Processo e

Sequências de Ensino e Aprendizagem em Física no Ensino Médio. Tendo contato com o

referido método a professora-pesquisadora se interessou em aliá-lo com a atividade

experimental na perspectiva investigativa.

As duas metodologias (Ensino por Investigação e Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw) possibilitam o trabalho em grupo oportunizando a interação social, o

uso de perguntas, discussões e compartilhamento de ideias/conhecimento. Além disso,

oportuniza ao professor ser um mediador e propicia aos alunos um ambiente potencialmente

significativo para a interação social, posicionamento diante ao conhecimento,

desenvolvimento de habilidades e procedimentos. Tira a responsabilidade somente do

professor de ensinar e coloca o aluno como ser reflexivo, responsável e ativo no processo de

ensino aprendizagem.

Assim, após o conhecimento da professora-pesquisadora destas metodologias, até

então “novas” para a mesma houve interesse em trabalhar com os estudantes nesta

perspectiva. Para isto, uma Sequência de Ensino Investigativa sobre Raios Cósmicos foi

elaborada e implementada a alunos do Ensino Médio de uma escola pública da Cidade de

Dourados. Pelo fato da professora-pesquisadora desde o começo do ano letivo de 2016

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Apresentação

encontrar-se na função de Professora Gerenciadora de Laboratório (Progelab) da Escola

Estadual Vilmar Vieira Matos, Dourados, a SEI não foi implementada em suas aulas, mas sim

em aulas de um professor parceiro de outra escola do município. Destacamos que a função de

um Progelab é auxiliar o professor regente, no planejamento, na organização e no

desenvolvimento de atividades experimentais no Laboratório de Ciências.

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1. Introdução

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

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1. Introdução

19

1 INTRODUÇÃO

Atualmente a Física abordada nas escolas da Educação Básica compreende,

geralmente, conteúdos da Física Clássica como Mecânica, Física Térmica, Ondas, Óptica e

Eletromagnetismo, acarretando em um ensino de tópicos de Física desenvolvidos até o século

XIX (TERRAZAN, 1992; PINTO e ZANETIC, 1999). Tal quadro remete a necessidade de se

ampliar os tópicos trabalhados abarcando, assim, o ensino de uma Física Contemporânea.

Considerações nesta perspectiva são encontradas também nos Parâmetros Curriculares

Nacionais do Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNEM+) (BRASIL, 2002). O documento estabelece que para o

desenvolvimento de competências e habilidades no entendimento da Física, é necessária a

introdução de tópicos da Física Moderna Contemporânea (FMC) no Ensino Médio (EM) :

Alguns aspectos da chamada Física Moderna serão indispensáveis para permitir aos

jovens adquirir uma compreensão mais abrangente sobre como se constitui a

matéria, de forma que tenham contato com diferentes e novos materiais, cristais

líquidos e laseres presentes nos utensílios tecnológicos, ou com o desenvolvimento

da eletrônica dos circuitos integrados e dos microprocessadores. A compreensão dos

modelos para a constituição da matéria deve, ainda, incluir as interações no núcleo

dos átomos e os modelos que a ciência hoje propõe para um mundo povoado de

partículas. Mas será também indispensável ir mais além, aprendendo a identificar,

lidar e reconhecer as radiações e seus diferentes usos (BRASIL, 2002, p. 70).

Além disso, a proposta atual da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) visa

promover a equidade na formação escolar dos estudantes brasileiros estabelecendo os

conhecimentos e habilidades essenciais na Educação Básica. A BNCC tem como finalidade

ser referência para as escolas e sistemas de ensino na elaboração de suas propostas

curriculares, tendo como fundamento o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento, em

acordo com o que preceituam o Plano Nacional de Educação e a Conferência Nacional de

Educação (BRASIL, 2016).

A BNCC prevê na área de ciências da natureza e componente curricular Física a

inserção de tópicos de FMC no EM. Para a organização da componente Física o documento

propõe seis unidades curriculares. A introdução de FMC aparece na quarta unidade curricular

por meio da abordagem de dispositivos quânticos, como semicondutores e laseres na Física do

EM. Na unidade curricular cinco é sugerido o estudo da Matéria e Radiação, sua constituição

e interações, a constituição submicroscópica da matéria, a sucessão histórica de modelos da

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1. Introdução

20

composição infinitesimal das substâncias, a sistematização das radiações eletromagnéticas e

suas aplicações diagnósticas e terapêuticas. Na sexta unidade curricular propõem a inserção

de Astrofísica e Cosmologia, na qual objetiva a explicação da evolução do universo e tudo

que o compõem até chegar na visão contemporânea (BRASIL, 2016).

A inserção de FMC no EM encontra apoio também no Referencial Curricular do

estado de Mato Grosso do Sul, documento norteador que subsidia a prática pedagógica nas

escolas do estado. No referido documento a temática partículas elementares é apresentada

como um conteúdo que deve ser ministrado aos alunos do 3º ano do EM. Embora,

recomendada a inserção de temas relacionados à FMC no ensino médio em contexto de sala

de aula (PCNEM+, 2002; BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, 2016;

TERRAZZAN, 1992; PINTO E ZANETIC, 1999; OSTERMANN, 2001; CAVALCANTE E

TAVOLARO, 2001; CARUSO, 2009; BARCELLOS E GUERRA, 2015), esta temática ainda

é pouco abordada no contexto escolar da Educação Básica.

Com relação à temática deste trabalho, Raios Cósmicos, podemos destacar da

literatura os trabalhos de Saran (2012) e Corrêa (2015). Os autores utilizaram atividades

originadas do projeto intitulado “A Física Moderna no Ensino Médio e a formação de

multiplicadores para a Rede Pública de Professores de Física” (CORRÊA, 2015) com a

temática “Partículas Elementares e Raios Cósmicos”. Ambos escolheram a mesma atividade

trabalhada no referido curso de formação, na qual visava o uso de dados do Observatório

Pierre Auger para determinar o ponto de impacto e a reconstrução da direção de chegada de

um Raio Cósmico primário.

Tanto Saran (2012) quanto Corrêa (2015) fizeram adaptações, elaboraram e

implementaram sua respectiva sequência de ensino e aprendizagem sobre Raios Cósmicos

em escolas públicas da rede de ensino estadual para alunos de EM. No entanto, Saran (2012)

aplicou a sequência de ensino e aprendizagem sob as regras e características da teoria da

Transposição Didática. Já, Corrêa (2015) aplicou a mesma atividade sob viés da teoria da

Aprendizagem Significativa de Ausubel. De acordo com os autores o assunto Raios Cósmicos

mostrou-se possível ser ensinado aos alunos do EM.

Ainda sobre propostas de introdução de FMC no EM, Pinheiro (2015) propõe o uso do

aparato experimental, Câmara de Nuvens, para a abordagem de temas da Física Clássica e da

FMC na Educação Básica. Já Pereira (2014) sugere em seu trabalho sobre Práticas de ensino

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1. Introdução

21

de Física das radiações monitoramento por meio de um conjunto experimental de baixo custo

de Raios Cósmicos secundários e medição da radiação de fundo, como uma alternativa de

trazer para sala de aula uma metodologia diferenciada.

Buscando contribuir com a inserção da FMC no EM, o presente trabalho propõe uma

Sequência de Ensino Investigativa a qual envolve como uma de suas estratégias de ensino a

atividade experimental na perspectiva investigativa aliada ao Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw, de modo que venha auxiliar o docente, em sala de aula no processo de

ensino-aprendizagem dos Raios Cósmicos. Para isto, duas questões de pesquisa nortearam o

estudo, a saber: Como o tema Raios Cósmicos pode ser trabalhado por meio de uma

Sequência de Ensino Investigativa com alunos do Ensino Médio? E Como e que tipos de

contribuições a Sequência de Ensino Investigativa elaborada trouxe à apropriação de

conceitos científicos dos alunos sobre a temática de Raios Cósmicos?

Para a apresentação do referido estudo organizamos esta dissertação em cinco

capítulos. O primeiro compreende esta Introdução do trabalho abordando a importância da

inserção da FMC no EM e as questões de pesquisas que nos pautamos para desenvolvermos o

trabalho. No segundo capítulo apresentamos uma breve introdução sobre o Ensino por

Investigação, Aprendizagem Cooperativa e histórico dos Raios Cósmicos.

No terceiro capítulo apresentamos o contexto e os sujeitos envolvidos na pesquisa, as

atividades desenvolvidas e os instrumentos utilizados na coleta de dados. Apresentamos em

sequência, os resultados no quarto capítulo, iniciando com a descrição detalhadas das

atividades em quatro momentos didáticos e a análise dos resultados obtidos. Destacamos que

pelo fato do nosso produto constituir-se em uma Sequência de Ensino, as atividades a ela

relacionadas foram por nós consideradas como resultados. No capítulo 5 apresentamos as

considerações finais a respeito desta pesquisa. Finalizamos a dissertação com as referências e

os apêndices.

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2. Referencial Teórico-Metodológico

CAPÍTULO 2: REFERENCIAL TEÓRICO-

METODOLÓGICO

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2. Referencial Teórico-Metodológico

23

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.1. Ensino por Investigação

O Ensino por Investigação teve início no século XIX sob influência do filósofo

americano John Dewey, e teve grande relevância, principalmente nos países europeus e nos

Estados Unidos em que os Parâmetros Nacionais de Ensino de Ciências estão centrados no

ensino por investigação. Muito embora exista um interesse crescente entre os pesquisadores e

professores de ciências no Brasil o ensino nesta perspectiva ainda não é significativo no

contexto de sala de aula (ZOMPERO e LABURÚ, 2011; MUNFORD e LIMA, 2007; SÁ, et

al., 2007).

A crescente recomendação por trabalhar o ensino de ciências em uma perspectiva

investigativa repousa no fato de que ações nesta perspectiva colaboram no aprimoramento do

raciocínio dos alunos e de suas habilidades cognitivas, favorece a argumentação, o trabalho

em grupo e permite a compreensão da natureza do trabalho científico colocando o aluno na

ação de refletir, discutir, explicar e relatar os conceitos em sala de aula (ZOMPERO e

LABURÚ, 2011; AZEVEDO, 2009; SÁ, et al., 2007).

Uma das opções em se trabalhar o ensino de ciências em uma perspectiva investigativa

é por meio das Sequências de Ensino Investigativas (SEI), as quais são apontadas por

Carvalho (2013) como sendo sequências de atividades/aulas que são planejadas, abrangendo

um conteúdo do referencial curricular escolar de maneira a propiciar aos alunos um ambiente

que permite trazer para sala de aula os conhecimentos prévios, como ponto de partida para os

novos (científicos), propiciando aos alunos discussão de suas próprias ideias com os demais

colegas e o professor.

Para o desenvolvimento de uma SEI Carvalho (2013) destaca algumas atividades

chaves como a introdução de um problema, a sistematização do conhecimento e a

contextualização do mesmo. Na maioria das vezes a SEI inicia-se com a introdução de um

problema experimental ou teórico relacionado/contextualizado com o fenômeno científico

central do conteúdo programático que se deseja trabalhar. Dessa forma, o problema deve ser

contextualizado para oferecer condições aos alunos a pensarem e trabalharem a respeito do

fenômeno em estudo. É sugerido ainda que após a resolução do problema ocorra a

sistematização do conhecimento, e também que os conteúdos trabalhados sejam de alguma

maneira relacionados ao cotidiano dos alunos.

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2. Referencial Teórico-Metodológico

24

No Ensino por Investigação, o professor deve atuar como um mediador do

conhecimento em vez de transmissor, e o estudante ser mais ativo em relação ao seu objeto de

estudo em vez de passivo no processo de ensino-aprendizagem (AZEVEDO, 2009; MAUÉS e

LIMA, 2006). Nesta perspectiva, o professor deve oferecer um ambiente encorajador que

estimula à participação ativa dos estudantes, favorecendo a relação aluno-aluno durante o

processo de investigação.

Segundo Munford e Lima (2007) na sala de aula é natural o professor direcionar seus

alunos na elaboração de questões na perspectiva investigativa principalmente quando a turma

possui pouca experiência com atividades investigativas ou também quando há limitação de

tempo para o desenvolvimento das mesmas. Dessa forma, o professor terá maior

direcionamento e conforme a Tabela 1 (Coluna 5) os aprendizes engajam-se com questões

fornecidas pelo professor, materiais. No entanto, já no contexto escolar em que os alunos são

mais experientes com o Ensino por investigação, haverá por parte dos estudantes maior

direcionamento nas aulas com esta perspectiva de ensino e consequentemente os aprendizes

propõem uma questão de orientação científica a ser investigada. (Tabela 1, Coluna 1).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

25

Característica

Essencial Variações

1.Aprendizes engajam-

se com perguntas de

orientação científica

Aprendizes propõem

uma questão Aprendizes

selecionam

questão entre questões

previamente

propostas,

colocam novas

questões

Aprendizes

delimitam

melhor e

tornam mais

clara questão

fornecida pelo

professor, ou

outras fontes

Aprendizes

engajam-se com

questão

fornecida pelo

professor,

materiais ou

outras fontes

2.Aprendizes dão

prioridade às evidências

ao responderem às

questões

Aprendizes

determinam quais

seriam as evidências

e realizam coletas de

dados

Aprendizes são

direcionados na

coleta de dados

Aprendizes

recebem dados

e têm de

analisá-los

Aprendizes

recebem dados e

instruções de

como

analisá-los 3.Aprendizes formulam

explicações a partir de

evidências

Aprendizes formulam

explicações após

sumarizarem as

evidências

Aprendizes são

guiados no

processo de

formulação de

explicações a

partir de

evidências

Aprendizes

recebem

possíveis

formas de

utilizar

evidências para

formular

explicações

Aprendizes

recebem

evidências

4.Aprendizes avaliam

suas explicações à luz de

explicações alternativas

e conectam suas

explicações ao

conhecimento científico

Aprendizes

examinam

independentemente

outros recursos e

estabelecem as

relações com as

explicações

Aprendizes são

direcionados para

áreas ou fontes de

conhecimento

científico

Aprendizes são

informados

acerca de

possíveis

conexões

5.Aprendizes

comunicam e justificam

explicações

Aprendizes

constroem

argumentos razoáveis

e lógicos para

comunicar

explicações

Aprendizes

treinados no

desenvolvimento

da comunicação

Aprendizes

recebem

diretrizes para

tornar sua

comunicação

mais precisa

Aprendizes

recebem

instruções passo

a passo e

procedimentos

para se

comunicarem

Mais ---------------Nível de Auto- direcionamento dos Aprendizes -------------Menos Menos ------------Nível de direcionamento do professor ou de material ------------ Mais

Tabela 1: Diferentes níveis de organização conforme o maior ou menor direcionamento do professor

diante de elementos essenciais no ensino de ciências. Fonte: Munford e Lima, 2007.

No contexto das Sequências de Ensino Investigativas uma estratégia que pode ser

utilizada é a experimentação. Visto que de acordo com Carvalho (2013) em uma SEI o tipo

de problema mais comum e que tem o maior envolvimento de alunos é o problema

experimental, no qual pode ser conduzida em uma natureza demonstrativa. A atividade

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2. Referencial Teórico-Metodológico

26

experimental em uma perspectiva investigativa permite aos alunos a participação na

formulação de hipóteses acerca da problemática e na análise dos resultados experimentais.

Nesta abordagem, cabe ao professor sistematizar as explicações, enfatizar a definição da

ciência a respeito do fenômeno e quando necessário ilustrar as expressões matemáticas que

ilustram os conceitos estudados. (AZEVEDO, 2009).

2.2 Aprendizagem Cooperativa

A Aprendizagem Cooperativa tem como premissa o desenvolvimento em sala de

aula de atividades em pequenos grupos heterogêneos com objetivos de aprendizagem bem

definidos, a diversidade presente nesses grupos é vista como um elemento que potencializa a

aprendizagem. Os alunos partilham conhecimento, com vista de atingirem objetivos comuns,

no processo de ensino aprendizagem (RAMOS, SILVA e LOPES, 2013). Para que

Aprendizagem Cooperativa ocorra de maneira efetiva, cinco princípios e elementos precisam

estar presentes:

1) a interdependência positiva, na qual os alunos envolvidos saibam que o

sucesso não e atingido individualmente, mas sim por todos os envolvidos; 2) responsabilidade individual, uma vez que cada participante deve se

esforçar para adquirir conhecimento, de forma a contribuir ativamente na

discussão; 3) competências cooperativas, que envolve a habilidade de compreender o

tema e encontrar uma maneira didática de transmiti-lo ao demais, de avaliar

seu desempenho junto com os dos outros alunos e de trabalhar com

problemas; 4) competências de interação, que envolvem o uso adequado das habilidades

interpessoais; e 5) a interação face a face, que coordena os esforços de todos para atingir o mesmo objetivo (p.3).

Os elementos outrora mencionados são essenciais e característicos de um trabalho

cooperativo, visto que o auxílio mútuo para atingir um objetivo comum é um dos

componentes fundamentais na Aprendizagem Cooperativa. Dessa forma, cada integrante do

pequeno grupo tem a função de aprender e ajudar o colega a aprender o que foi ensinado.

Assumindo, assim, a característica de uma metodologia alternativa para o individualismo e a

competitividade presentes no ensino tradicional (TEIXEIRA, 2013).

Neste método os alunos se beneficiam e também aos outros integrantes do grupo pelo

seu esforço, cria-se um vínculo entre os integrantes do grupo, o sucesso de um é sucesso dos

outros. Cabe ao professor na implementação da Atividade Cooperativa o papel de ser um

facilitador, observador e mediador do processo de ensino aprendizagem. No decorrer da

Atividade o professor deve acompanhar os grupos supervisionando a interação entre os

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2. Referencial Teórico-Metodológico

27

estudantes, as falas/discussões de cada grupo, dessa forma verificar se as competências

interpessoais e grupais estão sendo utilizadas (TEIXEIRA, 2013).

Teixeira (2013) cita em seu trabalho aspectos importantes do papel do professor na

implementação da metodologia da Aprendizagem Cooperativa:

1. Definir os objetivos do trabalho;

2. Tomar todas as decisões e efetuar todos os preparativos necessários,

motivando previamente os alunos para uma eficaz execução das tarefas,

explicando-lhes os objetivos das mesmas, os procedimentos cooperativos a

adotar para que o grupo atinja o sucesso, assim como pôr em funcionamento

os princípios básicos que permitem aos grupos de trabalho serem

verdadeiramente cooperativos, nomeadamente, a interdependência positiva,

a responsabilidade individual, a interação pessoal, a integração social e a

avaliação do grupo;

3. Integrar os alunos nos grupos de aprendizagem;

4. Fazer o levantamento do rendimento de cada um dos elementos;

5. Promover o estreitamento dos laços cooperativos dentro do grupo;

6. Apresentar com clareza a explicação das tarefas;

7. Dar informações pertinentes durante o trabalho de grupo;

8. Responder às questões que sejam colocadas e que estejam relacionadas

com o desenvolvimento da tarefa e com os conceitos que vão aprender e

aplicar (p. 26).

Para Teixeira (2013) cabe ao professor orientar os estudantes no processo de ensino-

aprendizagem cooperativa de maneira que ocorra de forma bem sucedida, responsável e

autônoma. Dentre os Métodos de Aprendizagem Cooperativa tem-se o Método Cooperativo

de Aprendizagem jigsaw, o qual foi utilizado neste trabalho.

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw

O Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw tem como principal objetivo criar

um ambiente de interdependência entre os integrantes do grupo por meio da divisão de tarefas

de aprendizagem (TEIXEIRA, 2013; FATARELI et al. 2010; FERREIRA e QUEIROZ,

2010). A dinâmica deste método assemelha-se a de um quebra-cabeça, em que a atividade é

concluída somente quando todas as partes estão encaixadas. Nesse sentido o trabalho é

cooperativo, cada integrante do grupo fica responsável por uma parte do trabalho, sendo assim

essencial para a concretização do trabalho final (FERREIRA e QUEIROZ, 2010; TEODORO,

CABRAL e QUEIROZ, 2015).

No referido método as ações têm início (Figura 1, 1º momento) com a organização

dos alunos em pequenos grupos de base. O professor divide o conteúdo, na mesma quantidade

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2. Referencial Teórico-Metodológico

28

de integrantes do referido grupo e distribui o material para estudo. Cada aluno fica

responsável por um tópico do conteúdo. O professor faz um questionamento para que todos os

alunos que ficaram com o mesmo assunto se reúnam para discutir a pergunta, estudar e

consequentemente aprender o conteúdo de forma cooperativa, tornando-se com os demais

especialistas nesse assunto (Figura 1, 2º momento). Os alunos retornam ao grupo de base,

cada um expõe o que aprendeu no grupo de especialistas, com os demais colegas, dessa forma

todo o conhecimento necessário para o entendimento do assunto central é reunido

(FATARELI et al. 2010).

Figura 1: Representação esquemática do Método Cooperativo de Aprendizagem.

Fonte: Leite et al., 2013, p. 4.

Além disso, sugere-se que o grupo seja formado por quatro elementos, tendo cada

integrante uma das seguintes funções: redator, mediador, relator ou porta- voz. O redator tem

a função de redigir as respostas elaboradas pelo grupo, o mediador organiza as discussões

permitindo que todos os elementos do grupo participem, o relator expõe os

resultados/conclusões do grupo e o porta-voz quando necessário tira dúvidas do grupo com o

professor.

Atribuir uma função para cada integrante do grupo no decorrer da aplicação do

Método Cooperativo jigsaw favorece ainda mais o desenvolvimento de algumas habilidades

relacionadas ao trabalho cooperativo, como a mediação da comunicação de ideias/

conhecimento do grupo, desenvolvimento de habilidades de comunicação oral pelo porta-voz

e relator de cada grupo. E finalmente, a habilidade de comunicação escrita, desenvolvida

pelos relatores dos grupos (FATARELI et al. 2010).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

29

2.3 Descoberta dos Raios Cósmicos

Para uma primeira abordagem sobre o tema discutiremos, nesta seção do trabalho,

aspectos de conceitos básicos que acreditamos ser relevantes sobre os Raios Cósmicos. No

final do século XIX e início do século XX houve muitas descobertas científicas relacionadas

as radiações. Primeiro a descoberta dos Raios X em 1895 por Roentgen. A radioatividade em

1896 por Henri Becquerel estudando corpos fosforescentes. E as emissões radiativas

compostas pelos raios alfa (α) e raios beta (β) descobertas por Marie e Pierre Curie e

Rutherford. No entanto, por volta de 1910 um fenômeno chamou atenção dos físicos que

pesquisam sobre as radiações α e β, o fato de objetos carregados e isolados perderem cargas

após algum tempo (SARAN, 2012).

Para investigar este fato foi utilizado um aparato experimental conhecido como

eletroscópio (Figura 2). Dispositivo constituído de uma haste contendo duas folhas finas de

ouro isoladas em uma das extremidades no interior de um recipiente de vidro e na outra

extremidade, uma esfera metálica. Carrega-se a haste com uma carga conhecida e em seguida

as folhas de ouro carregadas por indução se afastam uma da outra. No entanto, passado algum

tempo, as folhas do eletroscópio voltam a se encostar, isso acontece devido à ionização do ar.

Figura 2: (a) Fotografia de eletroscópio de folha contendo um cilindro que internamente aloja duas

pequenas folhas de papel alumínio leve. (b) Diagrama representando o estado neutro do eletroscópio

“sem cargas” e (c) mostrando o estado carregado “eletrizado” do dispositivo. Fonte: (a):

http://minf.ufpa.br/index.php/eletroscopio-de-folhas; (b) e (c):

https://www.tecnolegis.com/provas/comentarios/139435.

Devido este fenômeno, os físicos da época se questionavam a respeito da causa da

ionização do ar. Uma das hipóteses levantadas para explicar a perda de carga elétrica do

eletroscópio para o ar seria uma eventual presença de componentes radioativos no meio

ambiente que contribuiria para uma constante formação de novos íons no ar (SARAN, 2012).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

30

Para compreender o fenômeno de ionização do ar, Domenico Pacini utilizou o

eletroscópio para fazer a medição da condutividade residual do ar. Já Viktor Franz Hess a

bordo de voos de balão também utilizou o eletroscópio associado a um detector de ionização.

Ambos identificaram variações elevadas dos efeitos ionizantes devido à altitude. Em resumo,

eles esperavam que a ionização deveria diminuir com o aumento de altitude, uma vez que

estaria mais distante da fonte radioativa. Mas o que se observou foi justamente o contrário,

que com o aumento da altitude, houve um aumento progressivo do grau de ionização do ar,

que não poderia ser atribuído aos constituintes do ambiente, mas sim a alguma causa

misteriosa com origem nas profundezas do espaço (SARAN, 2012; BUSTAMANTE, 2013).

Portanto, notaram que a origem da radiação que descarregavam os eletroscópios não

proviam do solo ou devido aos elementos radioativos presentes nele. A radiação vinha “de

cima”, do espaço e assim foi descoberta a “radiação ultrapenetrante”, no século XX, mais

precisamente em 1911, depois de uma década foi denominada pelo Robert Millikan por Raios

Cósmicos (BUSTAMANTE, 2013).

Do ponto de vista da Física Moderna Contemporânea os Raios Cósmicos não são de

fato “raios” (feixes de radiação) mas sim partículas subatômicas extremamente energéticas

que atingem a atmosfera do nosso planeta, vindas do espaço, de todos os cantos do universo

com velocidades altíssimas, muitas vezes próximas à própria velocidade da luz. Os Raios

Cósmicos mais comuns provenientes de explosões de estrelas e nebulosas, dependendo de sua

energia formam partículas secundárias. Em sua maioria são prótons (90%), partículas alfa

(9%) e o restante são núcleos atômicos pesados, como, por exemplo, o ferro. Seu espectro de

energia varia de 109

eV até 1020

eV (VALE e SOUSA, 2012; LAGO, 2007).

O físico Pierre Auger em 1938 descobriu o impacto gerado por um Raio Cósmico ao

atingir um núcleo da atmosfera terrestre, formando assim uma cascata de partículas, que ele

mesmo chamou de Chuveiros Aéreos Extensos. Fenômeno identificado por meio de

detectores que havia espalhado na região do Alpes na França. Dessa forma, detectando um

sinal de partículas simultaneamente (SARAN, 2012; CENTRO BRASILEIRO DE

PESQUISAS FÍSICAS).

No Brasil a pesquisa em Raios Cósmicos teve início em 1933 pelo alemão Bernhard

Gross no Instituto Nacional de Tecnologia. Em 1933, em São Paulo pelo físico Gleb

Wataghin e os brasileiros Marcelo Damy e Paulus Pompéia. Eles foram responsáveis pela

detecção dos chuveiros penetrantes. Posteriormente, esta equipe de pesquisadores, descobriu o

alto poder de penetração dos múons na matéria. É importante também mencionar as pesquisas

do físico brasileiro Mário Schenberg sobre as origens dos Raios Cósmicos, das partículas

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2. Referencial Teórico-Metodológico

31

elementares e a unificação das teorias das interações fundamentais. (CENTRO BRASILEIRO

DE PESQUISAS FÍSICAS; HAMBURGER, 2002; VIEIRA, 2012). Mário Schenberg se

destacou pelo pioneirismo na Física Teórica e Matemática e seus estudos sobre os Raios

Cósmicos em Astrofísica estão presentes nos livros didáticos.

No entanto, a pesquisa com participação de Físicos brasileiros sobre os Raios

Cósmicos com repercussão internacional foi a descoberta do méson-pi (píons- nome coletivo

para o π+, π

- e π

0), em 1947 com participação de Cesar Lattes em colaboração de G.

Occhialini e C. F. Powell. Em 1935 foi predito por Yukawa a existências de mésons que

carregariam as partículas da força nuclear. E foi no monte Chacaltaya localizado na Bolívia à

5,2 km de altitude, que Lattes confirmou a existência do mésons-pi, partículas responsáveis

pela união e estabilidade no núcleo atômico. No ano seguinte, Lattes foi para Universidade de

Califórnia, em Berkeley detectou o méson-pi artificialmente. Trabalho executado em parceria

de Eugene Gardner no acelerador sicro-cíclotron (SARAN, 2012; CENTRO BRASILEIRO

DE PESQUISAS FÍSICAS; STEINKIRCH, 2010).

Origem dos Raios Cósmicos

Apesar dos grandes esforços científicos e tecnológicos não há uma completa

explicação para o surgimento dos Raios Cósmicos. Contudo, observação cuidadosa das

energias associadas aos Raios Cósmicos ao atingirem a Terra permite inferir as possíveis

regiões do espaço em que elas foram geradas. A origem dos Raios Cósmicos é inferida, então,

a partir do espectro de energia das partículas como mostrado na Figura 3, na qual se apresenta

a incidência de partícula em função de sua energia.

Para facilitar a compreensão da forma que a ocorrência dos Raios Cósmicos é

distribuída pela sua energia utilizaremos a equação do fluxo dos Raios Cósmicos. Nesta

equação se verifica que as partículas mais energéticas são menos prováveis de serem

detectada quando comparadas com partículas de mais baixa energia, que tem incidência muito

mais pronunciada.

A medida do fluxo dos Raios Cósmicos foi feita por meio de dados observacionais que

levaram a equação da lei de potência (OLIVEIRA, ROCKENBACH e PACINI, 2014).

(1)

Onde N indica o número de partículas, E o espectro energético e o índice espectral.

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2. Referencial Teórico-Metodológico

32

Na prática, esta lei descreve um fluxo de raios cósmicos decrescentes com

relação a energia, tal que é possível encontrar uma partícula com energia de

ordem de 100 MeV a cada centímetro quadrado por segundo, mas a

ocorrência de partículas com energias de ordem de 1020

eV é de uma a cada

quilômetro quadrado por século (OLIVEIRA, ROCKENBACH e

PACINI,2014, p. 2).

Assim, no diagrama de fluxo (Figura 3) constam dois pontos em maior destaque,

denominados de joelho e tornozelo. Pontos que dividem o diagrama de acordo com o fluxo de

níveis de energia. Para energia de aproximadamente 1015

eV ocorre uma mudança no índice

espectral de ~2,6 para ~3,0, denomina-se essa região de joelho do espectro, de acordo com o

fluxo de Raios Cósmicos com essa energia nesta região do espectro é de 1 partícula por m2

por segundo. A segunda região chamada de tornozelo do espectro de 1018

eV, quando o

passa a ~ 3,0 para 2,5. O fluxo é de 1 partícula por m2

por ano (OLIVEIRA, ROCKENBACH

e PACINI, 2014; LAGO, 2007).

As energias que compreende até o joelho tem origem galáctica. Na região do

tornozelo, os Raios Cósmicos extragalácticos começam a dominar. Logo a origem que

compreende energias de até 109

eV são explicados pelos fenômenos solares denominados de

Raios Cósmicos solares. As energia entre 109

eV a 1016

eV são excedentes de supernovas. No

entanto, não pode afirmar a origem dos Raios Cósmicos com energias acima de 1019

, porém

há um consenso sobre sua fonte ser extragaláctica. (OLIVEIRA, ROCKENBACH e PACINI,

2014).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

33

Figura 3: Diagrama do fluxo de Raios Cósmicos para energias superiores a 100 MeV. Fonte: Oliveira, Rockenbach e Pacini, 2014.

Raios Cósmicos interagindo com o planeta Terra

Os Raios Cósmicos interagem de várias formas com o nosso planeta. Partículas vindas

do espaço que podem modificar o clima global, isso acontece devido à ação catalisadora na

formação de nuvens na parte superior da atmosfera. Também são responsáveis pela formação

das Auroras. Isso acontece devido muitos destas partículas cósmicas serem provenientes do

sol, resultado das suas violentas explosões que acabam interagindo com o campo magnético

terrestre. As partículas entram em contato com os gases da ionosfera (camada acima de 80 km

de altitude) originando o fenômeno (SARAN, 2012).

Os Raios Cósmicos ao atingirem o topo da atmosfera terrestre, em sua grande maioria,

os prótons com velocidade próxima à da luz, possuem elevadas energias, sendo denominados

de Raios Cósmicos primários. Ao interagirem a atmosfera (átomos que a compõem)

produzem novas partículas e outras sofrem decaimento se transformando novamente, assim

são denominadas de Raios Cósmicos secundários. Um único próton incidindo no topo da

atmosfera gera uma reação em cadeia de bilhões de partículas que chegam ao solo em uma

área de até dezenas de km2. O resultado desta interação da radiação primária com a atmosfera

é análogo ao de uma cascata, neste caso, uma cascata de partículas conhecida como Chuveiro

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2. Referencial Teórico-Metodológico

34

Aéreo Extenso (CAE) (BUSTAMANTE, 2013; SARAN, 2012; LAGANÁ, 2011;

PINHEIRO, 2015).

Uma maneira de representar o comportamento do decaimento das partículas, como no

caso do CAE, é por meio do diagrama de Feynman. O diagrama busca facilitar a visualização

dos fenômenos (Figura 4) de colisão e espalhamentos de partículas segundo os princípios da

Teoria Quântica. Existem algumas características presentes no diagrama de Feynman, que

serão descritas a seguir para facilitar a interpretação dos fenômenos representados no

diagrama explicativo do CAE.

Em geral, nos diagramas de Feynman os férmions (quarks e léptons) são representados

por linhas retas e os bósons (partículas mediadoras das interações) por linhas curvas e o vertex

é o ponto onde as linhas se conectam. As linhas são representadas de três formas: (1) as linhas

internas são responsáveis por conectar os vértices, (2) as linhas no sentido entrando

representam o momento inicial e (3) as linhas no sentido saindo representam o momento final

das interações entre as partículas (STEINKIRCH, 2010).

Figura 4: Exemplo de um diagrama de Feynman para o decaimento da partílula π+ . Ele é composto

por um quark up (u) e um antiquark down ( ), no entanto decaem devido ao processo fraco (mediado

pela partícula W+) em um múon (µ+) e um neutrino do múon (νµ). Fonte: Steinkirch, 2010.

O CAE (Figura 5) está dividido em três componentes para melhor visualização dos

principais processos que ocorrem em sua formação. A cascata hadrônica juntamente com as

componentes eletromagnética e muônica formam o eixo do CAE. No entanto, fisicamente os

processos de superpõem. O Raio Cósmico ao colidir com o núcleo atmosférico interagem

produzindo em sua grande maioria píons e neste processo acaba cedendo parte de sua energia.

Nesta interação fragmentos dos núcleos tanto do Raio Cósmico como dos núcleos da

atmosfera podem ser emitidos (OLIVEIRA, 2000).

Ainda sobre o Chuveiro Aéreo Extenso (CAE) a componente hadrônica é formada por

píons carregados ou kaons resultados de decaimentos, colisões ou ressonâncias de bários. Os

referidos píons (π0, π

±) são importantes no desenvolvimento das cascatas na componente

muônica (Figura 5) que é formada pelos π+ e π

-. Já a componente eletromagnética é formada

pelos π0. No entanto, outros fragmentos podem colidir com núcleos de camadas mais

profundas da atmosfera e formar novas cascatas hadrônicas (VALE e SOUSA, 2012;

OLIVEIRA, 2000).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

35

A representação do CAE (Figura 5) os π0 são mais comum decairem π

0 2γ , Oliveira

(2000) ainda descreve mais sobre o processo da formação da cascata eletromagnética:

Os fótons são produzidos a altas energias (na faixa dos raios-γ) e interagem

eletromagneticamente com a matéria a sua volta preferencialmente através

do processo de criação de pares (γ +γn e+

+ e-). Os elétrons e pósitrons

resultantes interagem preferencialmente a altas energias via Bremsstrahlung

que é a emissão de raios-γ devido às acelerações provocadas pelos campos

elétricos dos núcleos ao redor. Estes raios-γ realimentam o processo gerando

uma cascata de elétrons, pósitrons e fótons (p. 10).

A componente muônica dos chuveiros é gerada pelo decaimento dos π± . Devido a

baixa seção de choque dos múons para interação são bem penetrantes e atravessam a

atmosfera e chegam a profundos níveis abaixo da superfície. Ainda de acordo com Oliveira

(2000):

A componente muônica é menos numerosa que a eletromagnética, no

entanto, se mantém e não é absorvida rapidamente. A grandes distâncias do

eixo do chuveiro, a componente muônica permanece e se distribui

lateralmente por áreas muito maiores que a componente eletromagnética, por

isso é a componente mais facilmente detectada, constituindo o sinal

dominante ao nível do mar e níveis subterrâneos. Os múons podem também

eventualmente decair (µ± e

± + νe + νµ) alimentando a componente

eletromagnética juntamente com os múons são produzidos os neutrino

atmosféricos (p. 10).

Os múons de altas energias tem uma trajetória próxima de ser retilínea. Devido a esse

comportamento chegam mais rápidos do que os elétrons no solo. Sendo assim são muito úteis

na reconstrução das frentes do CAE (VALE e SOUSA, 2012).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

36

Figura 5: Concepção artística de um CAE de Raios Cósmicos.

Fonte: Oliveira, 2000.

A detecção e descrição da evolução do CAE são costumeiramente realizadas por

detectores e uso de simulações computacionais que auxiliam para a melhor compreensão dos

dados. No Observatório Pierre Auger, considerado um dos principais referências em detecção

de Raios Cósmicos, é utilizado dois tipos de detectores, telescópios de superfícies e

telescópios de fluorescência. Os dados de ambos os detectores são cruzados, dessa forma

elaboram a trajetória e energias das partículas que formam o CAE (VALE e SOUSA, 2012).

Câmara de Nuvens

A câmara de nuvens também se trata de um método usado para detecção de Raios

Cósmicos. Foi desenvolvida em 1911 pelo físico Charles Wilson na Universidade de

Cambridge. A câmara de nuvens trata de um recipiente fechado contendo vapor super-

resfriado de água ou álcool. No qual é condensado em torno da passagem de um feixe de

partículas carregadas, proveniente de Raios Cósmicos. Os traços deixados por essas partículas

são visíveis a olho nu na forma de condensação do vapor em forma líquida, possibilita a

visualização/registro da trajetória que a partícula deixou na linha de condensação

(PINHEIRO, 2015; AGUIAR, 2013; VALE e SOUSA, 2012).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

37

Esse aparato experimental foi o primeiro detector com a capacidade de mostrar os

traços produzidos pelas partículas subatômicas, corroborando na investigação da radiação e

das partículas elementares. Sua grande conquista foi possibilitar a detecção do pósitron (figura

6) em 1932 pelo físico Carl Anderson (LAGANÁ, 2011; PINHEIRO, 2015). Aparato

experimental que ainda tem sido utilizado para pesquisa de partículas elementares, estudo de

interações de partículas carregadas com a matéria e Física Nuclear (LAGANÁ, 2011) na

atualidade.

Figura 6: Pósitron, partícula detectada na Câmara de Nuvens. Fonte: https://www.sprace.org.br/divulgacao/noticias/vendo-particulas-subatomicas

Dentro da Câmara de Nuvens são visualizados alguns traços produzidos por partículas

de baixa energia, elétrons de ionização, prótons e partículas de alta energia que podem ser

analisados de acordo com o seu comportamento (LAGANÁ, 2011).

As partículas detectadas pelo detector de Raios Cósmicos, conhecido como Câmara de

Nuvens, possui comportamento característico e podem ser identificadas através do traço

deixado no detector de acordo com a sua respectiva energia.

Partículas de baixa energia

Estas partículas de energia da ordem de 0.05 eV deixa um traço com grande

quantidade de desvio dentro do detector. Propõe-se que o traço da (Figura 7) seja um elétron

ou múon. (LAGANÁ, 2011).

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2. Referencial Teórico-Metodológico

38

Figura 7: Traço deixado por partícula de baixa energia. Fonte: Laganá, 2011.

Elétrons de ionização

Os elétrons de ionização são a maioria das partículas de baixa energia detectada na

Câmara de Nuvens, elétrons arrancados dos átomos por partículas energéticas (Figura 8). Os

elétrons de ionização tem a característica de percorrer poucos centímetros até depositarem

toda sua energia (LAGANÁ, 2011).

Figura 8: Partícula energética produziu um elétron de ionização formando uma bifurcação. Fonte: Laganá, 2011.

Prótons

Os prótons secundários podem ser visualizados na Câmara de Nuvens, eles deixam um

traço bem reto e extremamente forte (Figura 9) (LAGANÁ, 2011).

Figura 9: Traço deixado por um próton secundário. Fonte: Laganá, 2011.

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2. Referencial Teórico-Metodológico

39

Partículas de alta energia

As partículas de alta energia ao atravessarem o detector praticamente sem desvio, por

serem energéticas têm menos chances de, sofrer mudança na trajetória por colisão com as

moléculas do vapor de álcool resultando em traços retos e fracos (Figura 10). Logo, as

partículas mais energéticas ionizam menos que as partículas de baixa energia (LAGANÁ,

2011).

Figura 10: Duas partículas de alta energia (>100 MeV) atravessando a Câmara de nuvens

simultaneamente. Fonte: Laganá, 2011.

Assim, por meio da Câmara de Nuvens um aparato relativamente simples de ser

executado pode ser realizado um estudo qualitativo e quantitativo dos Raios Cósmicos, bem

como dos demais fenômenos decorrentes deste experimento.

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3. Metodologia

40

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA

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3. Metodologia

41

3 METODOLOGIA

Pautamos o trabalho para responder a duas questões de pesquisa, a saber: Como o

tema Raios Cósmicos pode ser trabalhado por meio de uma Sequência de Ensino

Investigativa com alunos do Ensino Médio? e Como e que tipos de contribuições a Sequência

de Ensino Investigativa elaborada trouxe à apropriação de conceitos científicos dos alunos

sobre a temática de Raios Cósmicos?. Para responder às referidas questões nossos objetivos

foram:

1. Desenvolver um produto educacional constituído de uma Sequência de

Ensino de apoio ao professor do Ensino Médio, para abordar os Raios Cósmicos

por meio de uma atividade experimental em uma perspectiva investigativa e o

Método Cooperativo de Aprendizagem.

2. Implementar a Sequência de Ensino Investigativa em uma turma de

terceiro ano do Ensino Médio da rede pública estadual da cidade de Dourados.

3. Possibilitar aos alunos investigar o comportamento dos fenômenos

físicos em um Detector Caseiro de Raios Cósmicos.

4. Identificar nos discursos dos alunos apropriações de conceitos de

Física de Partículas e aos Raios Cósmicos.

Apresentaremos a metodologia em duas etapas, nas quais serão contempladas o

contexto no qual a pesquisa foi realizada e uma breve descrição das atividades desenvolvidas

na Sequência de Ensino Investigativa (SEI). Destacamos que pelo fato da pesquisa também

tratar-se da aplicação do produto educacional elaborado, a descrição detalhada dos momentos

da SEI foi considerada como parte dos resultados e será feita no respectivo capítulo.

3.1 Contexto da pesquisa

As atividades foram desenvolvidas em uma escola pública da cidade de Dourados, que

atende cerca de 1400 alunos nos três períodos de funcionamento. A instituição contempla as

modalidades da Educação Básica: Ensino Fundamental do 1º ao 9º ano, Ensino Médio do 1º

ao 3ºano e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), Ensino Médio. Do público atendido pela

instituição participaram da pesquisa trinta e um alunos do 3º ano do Ensino Médio do período

matutino. A escolha por trabalhar com o terceiro ano do Ensino Médio está ancorada no fato

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3. Metodologia

42

de ser neste ano que o Referencial Curricular do estado de MS sugere o conteúdo partículas

elementares no primeiro bimestre do terceiro ano do Ensino Médio.

3.2 Atividades desenvolvidas

Para responder a primeira questão de pesquisa “Como o tema Raios Cósmicos pode

ser trabalhado por meio de uma Sequência de Ensino Investigativa com alunos do Ensino

Médio?” elaboramos um produto educacional que se trata de uma Sequência de Ensino

Investigativa (SEI) para o ensino Raios Cósmicos para o Ensino Médio. A SEI foi elaborada

conforme os elementos característicos do Ensino por Investigação (Tabela 2), a qual envolve

como uma de suas estratégias de ensino a atividade experimental na perspectiva

investigativa, a qual foi neste trabalho aliada ao Método Cooperativo de Aprendizagem

jigsaw.

As atividades foram realizadas em quatro momentos (Figura 11) e implementadas no

segundo semestre de 2016. No primeiro momento, fez-se um mapeamento dos conhecimentos

prévios dos alunos sobre a constituição da matéria e dos Raios Cósmicos por meio de um

questionário. No segundo momento foram ministradas aulas expositivas e dialogadas sobre a

Física de Partículas, implementada a atividade experimental do Detector Caseiro de Raios

Cósmicos e a elaboração de hipóteses pelos alunos a respeito dos fenômenos observados no

experimento. No terceiro momento foi trabalhado o texto sobre os Raios Cósmicos e a análise

dos dados coletados na atividade experimental por meio do Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw utilizando o artigo de Laganá (2011). No quarto momento foi aplicado

o questionário final.

Tendo em vista, responder a segunda questão de pesquisa “Como e que tipos de

contribuições a Sequência de Ensino Investigativa elaborada trouxe à apropriação de

conceitos científicos dos alunos sobre a temática de Raios Cósmicos?” Foram realizadas

análises dos resultados obtidos a partir de hipóteses elaboradas pelos alunos a respeito dos

fenômenos visualizados no experimento, dos produtos decorrentes da atividade do Método

Cooperativo de Aprendizagem jigsaw e do questionário final.

A Sequência de Ensino foi elaborada em uma perspectiva investigativa, e o nível de

organização da SEI foi o de maior direcionamento da professora-pesquisadora (Tabela 1) a

respeito do fornecimento de perguntas de orientação científica. Os alunos/aprendizes foram

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3. Metodologia

43

orientados a fazer a coleta de dados durante a execução da atividade experimental tendo o

maior nível de direcionamento neste momento da SEI.

Na presente SEI os alunos/aprendizes receberam formas de usar os dados

coletados/evidências para utilizar nas explicações das questões propostas pela professora-

pesquisadora no decorrer das etapas do Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw, dessa

forma os alunos/aprendizes analisam suas explicações e as relacionam com o conhecimento

científico, quando foi fornecido aos alunos o artigo de Laganá (2011). E por fim os alunos

foram direcionados a comunicarem e justificarem suas explicações.

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3. Metodologia

44

Figura 11: Fluxograma das atividades desenvolvidas na Sequência de Ensino Investigativa.

Primeiro Momento

Identificação dos

conhecimentos prévios

Segundo Momento

Atividade Experimental na

perspectiva Investigativa

Atividade experimental investigativa

demonstrativa

Apresentação de tópicos da Física de

Partículas

Elaboração de hipóteses a respeito

dos fenômenos observados na

atividade experimental

Terceiro Momento

Método Cooperativo de

aprendizagem Jigsaw

Leitura e discussão do texto sobre os

Raios Cósmicos

Análise dos registros experimentais

por meio do Método jigsaw e uso do

artigo de Laganá (2011).

Aplicação do Questionário final

Aplicação do questionário inicial

Quarto Momento

Questionário final

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3. Metodologia

45

Tabela 2: Elementos extraídos de referenciais da área do Ensino por Investigação e que estão

presentes na Sequência de Ensino Investigativa elaborada neste trabalho.

Referencial Elementos Momentos da SEI Objetivos C

arv

alh

o

(20

11

) Identificação dos

conhecimentos

prévios

1ºMomento:

Questionário inicial

Dar início às atividades após a

verificação das concepções dos

alunos a respeito da temática

que será trabalhada.

Car

val

ho

(20

11

) e

Aze

ved

o

(20

09

)

Ambiente

encorajador/

ambiente

investigativo

2º Momento: uso de uma

Atividade Experimental

Investigativa (AEI).

Criar condições para um

ensino investigativo aos

alunos, permitindo uma

postura mais ativa e interativa

em sala de aula.

Aze

ved

o (

20

09

),

Car

val

ho

(2

01

3)

Mac

had

o

e

Sas

sero

n (

20

12)

Problema

experimentais/

Demonstração

investigativa

Pergunta

Problematizadora

2º Momento: no início

da AEI.

3º Momento: nas três

etapas do Método

jigsaw.

Permitir aos alunos investigar

os novos conhecimentos.

Car

val

ho

(20

11

)

Mau

és e

Lim

a (2

00

6).

Fer

reir

a e

Qu

eiro

z

(20

10

) T

eod

oro

,

Cab

ral

e Q

uei

roz

(20

15

)

Trabalho em grupo 2ºMomento: durante a

execução da AEI.

3º Momento: na

aplicação do Método

jigsaw.

Favorecer a interação aluno –

aluno em uma abordagem

investigativa, favorecer os

questionamentos sobre as

observações experimentais,

levantamento e o registro de

evidências de forma

colaborativa.

Car

val

ho

(20

11

)

Aze

ved

o (

20

09

)

Mau

és e

Lim

a (2

00

6)

Análise de

evidências,

registros dos

fenômenos

observados,

discussões em

grupo a respeito da

situação problema,

levantamento e

registros de

hipóteses

2º Momento: durante a

AEI.

Oportunizar aos alunos uma

postura reflexiva tanto com o

funcionamento do aparato

quanto aos fenômenos

observados pelos alunos.

Fer

reir

a e

Qu

eiro

z (2

01

0)

Lei

te,

et

al.

(201

3)

Tei

xei

ra (

201

3)

Teo

do

ro,

Cab

ral

e

Qu

eiro

z (2

01

5)

Reflexão/interpreta

ção dos fenômenos

abordados,

comunicação das

ideias e a

socialização do

conhecimento.

2º Momento: no decorrer

da AEI

3º Momento: aplicação

do Método Cooperativo

de Aprendizagem

jigsaw.

Oportunizar aos alunos a

observação, reflexão e registro

dos fenômenos em estudo. A

participação ativa no próprio

processo de ensino

aprendizagem e dos colegas do

grupo.

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4. Resultados

46

CAPÍTULO 4: RESULTADOS

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4. Resultados

47

4 RESULTADOS

Os resultados serão apresentados em duas etapas, a primeira será referente à descrição

dos quatro momentos da Sequência de Ensino Investigativa e a segunda contemplará os

resultados referentes à implementação das atividades e análise dos dados obtidos por meio dos

questionários, registro e levantamento de hipóteses sobre os fenômenos observados na

atividade experimental, e dos textos escritos pelos alunos na última etapa do Método

Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

4. 1 Descrição dos momentos da Sequência de Ensino Investigativa

Primeiro momento: Identificação do conhecimento prévios dos alunos

As ações tiveram início com a professora-pesquisadora explicando sobre a pesquisa

que seria desenvolvida, esclarecendo como seria feita a aplicação do produto educacional e

quais atividades seriam desenvolvidas. Após o consentimento dos alunos em participarem da

pesquisa foi entregue o questionário inicial (Apêndice A) com o qual se visava a identificação

dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito da estrutura da matéria, partículas

elementares e dos Raios Cósmicos.

O questionário foi composto por cinco questões, sendo três de múltiplas escolhas e

duas dissertativas. A primeira questão buscava identificar os conhecimentos que os alunos

possuíam sobre a constituição dos átomos, a segunda sobre suas concepções das partículas

elementares e a terceira o conhecimento dos alunos sobre os Raios Cósmicos. Já a quarta

questão abarcava questionamentos sobre o conhecimento dos alunos a respeito dos Chuveiros

Aéreo Extenso (CAE). A aplicação do questionário inicial teve duração de uma aula de 50

minutos.

Segundo momento: Atividade experimental investigativa

No segundo momento foram trabalhados conceitos teóricos da Física de Partículas e

a realização da atividade experimental investigativa. Para execução das atividades foram

necessárias três aulas de 50 minutos cada. A professora-pesquisadora iniciou expondo a teoria

científica conhecida como Modelo Padrão na tentativa de criar um ambiente encorajador para

a participação dos alunos. Nas discussões, perguntou se eles tinham conhecimento a respeito

da teoria do Modelo Padrão e o que caracteriza uma teoria científica. Por meio desta ação a

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4. Resultados

48

professora identificou que os alunos desconheciam a teoria do Modelo Padrão. Dessa forma,

as atividades foram direcionadas e dada uma maior ênfase nas dificuldades dos alunos, a

respeito da referida teoria.

Como a Sequência de Ensino foi abordada na perspectiva investigativa aliada a

Aprendizagem Cooperativa após a apresentação da teoria do Modelo Padrão a professora-

pesquisadora conduziu as outras atividades seguintes com os alunos organizados em pequenos

grupos visando favorecer a interação social e a socialização do conhecimento pelos os

mesmos. A docente deu início à atividade experimental demonstrativa no enfoque

investigativo montando o Detector Caseiro de Raios Cósmicos na presença dos alunos

solicitando a observação deles em todas as etapas da montagem do experimento, conforme

consta na descrição do roteiro mostrado no Apêndice B.

Uso do Detector de Raios Cósmicos na Sequência de Ensino Investigativa

Para o desenvolvimento da SEI foi utilizado o experimento do Detector Caseiro de

Raios Cósmicos, sendo inicialmente feita uma explicação do funcionamento do experimento,

em nenhum momento o mesmo foi associado ao um detector de Raios Cósmicos. Após o

término da montagem do aparato experimental com intuito de que os alunos refletissem sobre

o funcionamento e sobre os fenômenos que poderiam ser observado, a professora-

pesquisadora fez um questionamento sobre o que aconteceria no experimento.

Os alunos, na formação de grupos (Figura 12 e 13), observaram os fenômenos dentro

do aparato experimental e fizeram os registros dos mesmos em folhas entregues pela

professora exclusivamente para esse fim (Apêndice C). Em seguida a professora-pesquisadora

introduziu a pergunta-problema aos alunos sobre os rastros/fenômenos observados no

experimento. Dessa forma, os alunos reunidos em grupo debateram/refletiram sobre os

fenômenos identificados no experimento, analisaram as evidências, levantaram hipóteses,

argumentaram, comunicaram as ideias e por fim, registraram (Apêndice D) individualmente a

conclusão acerca da problemática.

A professora-pesquisadora observou que durante estas atividades os alunos

participaram mais das aulas, faziam mais questionamentos e discutiam entre eles na tentativa

de solucionar a situação problema, competindo à professora-pesquisadora mediar quando

preciso os questionamentos para fomentação das discussões e favorecendo a comunicação das

ideias.

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4. Resultados

49

Figura 12: Alunos visualizando os fenômenos presentes no detector.

Figura 13: Registro dos fenômenos identificados no experimento.

Terceiro momento: Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw No terceiro momento foram abordados conceitos sobre os Raios Cósmicos, a sua

detecção por meio da Detector/Câmara de Nuvens e análises dos dados coletados na atividade

experimental por meio das etapas do Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw utilizando

o artigo científico de Laganá (2011). Para execução das atividades nesta terceira etapa foram

utilizadas três aulas de 50 minutos cada.

A professora-pesquisadora entregou aos grupos um texto (APÊNDICE E) sobre a

fundamentação teórica dos Raios Cósmicos visando uma discussão sobre a relação dos

fenômenos observados na atividade experimental investigativa e com os conceitos presentes

no texto. A professora-pesquisadora reservou um tempo para a leitura do texto e socialização

das ideias. Após este período fez colocações a respeito do texto, explicou o detector de Raios

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4. Resultados

50

Cósmicos, fez alguns questionamentos, com o intuito que os alunos percebessem que os

rastros visualizados no experimento foram deixados por Raios Cósmicos e assim as hipóteses

elaboradas por eles foram comprovadas ou refutadas a partir da leitura/ discussão do texto e

da explicação do experimento.

Para que os alunos tivessem condições de analisar os fenômenos visualizados no

experimento permaneceram organizados em grupos (Apêndice F) e assim foi introduzido pela

professora-pesquisadora o Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw em três etapas

(Apêndice G) conforme ilustrado (Figura 1). Todas essas etapas foram realizadas em grupos

conforme os elementos da Aprendizagem Cooperativa (FATARELI et al. 2010).

No primeiro momento a professora entregou aos alunos uma lista contendo tabelas

para a organização dos grupos de base (Figura 14) e a função de cada integrante do grupo

(Tabela 3). Foram organizados sete grupos de quatro alunos e dois grupos de cinco

integrantes. Para que todos os alunos participassem de forma ativa durante esta atividade,

atribuiu-se a cada integrante uma das funções: redator, mediador, relator e porta- voz. Nos

grupos de cinco integrantes, repetiu a função de relator. Estratégia utilizada por Fatareli et al.

2010, no qual o redator tem a função de redigir as respostas elaboradas pelo grupo. Já o

mediador organiza as discussões permitindo que todos participem, o relator expõe os

resultados/conclusões do grupo e o porta-voz quando necessário tira dúvidas do grupo com o

professor.

Grupo A

Nome Especialista Função

Α Relator

Β Redator

Γ Mediador

Γ Porta- voz

Tabela 3: Organização dos alunos para o Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

A professora-pesquisadora iniciou com a sistematização dos conceitos que envolviam

os Raios Cósmicos discutidos anteriormente, para assim fazer a apresentação da pergunta

inicial pela professora-pesquisadora aos integrantes do grupo de base sobre como detectar

partículas que vêm do espaço. O intuito de iniciar com esta pergunta foi de oportunizar a

reflexão dos alunos a respeito do uso do Detector de Raios Cósmicos para a detecção de

partículas que vêm do espaço, ou seja, os Raios Cósmicos. A professora-pesquisadora

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4. Resultados

51

circulava entre os grupos e fazia questionamentos quando necessário para fomentar as

discussões.

Após debateram sobre a pergunta, os grupos elaboraram uma conclusão e em seguida

houve a exposição do relator do a respeito do assunto da problemática inicial. Estratégia que

acabou favorecendo também o desenvolvimento de algumas habilidades relacionadas ao

trabalho cooperativo, como a mediação da comunicação de ideias/ conhecimento do grupo,

desenvolvimento de habilidades de comunicação oral pelo porta-voz e relator de cada grupo.

E finalmente, a habilidade de comunicação escrita, desenvolvida pelos relatores dos grupos.

Figura 14: Organização dos grupos de base para o Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

No segundo momento foi realizada a formação dos quatro grupos de especialistas (α,

β, γ e δ), cada integrante do grupo de base se tornou um especialista (Tabela 3), foi feita

também a entrega de uma subdivisão de um artigo para cada aluno dos grupos dos

especialistas. Foi utilizada a mesma subdivisão feita por Laganá (2011), no qual em seu artigo

faz uma classificação e análise dos fenômenos presentes no detector de Raios

Cósmicos/Câmara de Nuvens. De tal modo que os alunos do grupo de especialistas α ficaram

com o tópico, Partículas de baixa energia, os especialistas do grupo β ficaram com a

subdivisão, Elétrons de ionização, o grupo de especialistas γ ficaram com o tópico, Prótons, e

os especialistas δ ficaram com a subdivisão, Partículas de alta energia.

A professora-pesquisadora escreveu a pergunta para a especialização na lousa sobre

o comportamento característico do fenômeno em estudo que foi detectado no experimento.

Com o texto em mãos e ciente da pergunta problema, os quatros grupos de especialistas foram

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4. Resultados

52

organizados, dois dentro da sala de aula (Figura 15) e os outros dois no Laboratório de

Ciências. Dessa forma, os alunos leram o texto, debateram as ideias, socializaram o

conhecimento e dúvidas sobre o assunto e responderam a questão de especialização. Enquanto

isso a docente circulava entre os grupos para orientá-los quando tinham dúvidas e fazia

questionamentos para promover mais discussões sobre o fenômeno em estudo.

Figura 15: Socialização dos grupos de especialistas α.

No terceiro momento os alunos retornaram aos grupos de base (Figura 16), a

professora-pesquisadora escreveu na lousa a questão final para que os alunos tivessem

condições de classificar as partículas visualizadas no detector a partir do seu respectivo

comportamento.

Figura 16: Retorno dos especialistas ao grupo de base para a sistematização do conhecimento.

A professora-pesquisadora entregou os registros da atividade experimental

investigativa que os alunos fizeram segundo momento da SEI, para que os mesmos

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4. Resultados

53

identificassem/relacionassem os rastros observados com os fenômenos estudados durante a

permanência nos grupos de especialistas. Dessa forma, houve a socialização dos conteúdos

entre os integrantes do grupo base, com o auxílio do aluno que tinha a função de mediar toda

a discussão. Os grupos que apresentavam dúvidas o aluno porta-voz se remetia a professora-

pesquisadora para solucionar as dúvidas. Após os grupo de base ter analisado, discutido e

elaborado uma resposta para a questão final o redator elaborou um texto a partir da discussão

realizada. Então, cada relator do grupo expôs oralmente ao demais a conclusão sobre o tema

abordado se baseando no texto elaborado pelo grupo, no qual sistematizou o conhecimento a

respeito dos fenômenos que podem ser observados em um detector caseiro de Raios

Cósmicos/Câmara de Nuvens.

Quarto Momento: Questionário final

No quarto momento os alunos responderam o questionário final (Apêndice H), na

primeira questão buscava-se identificar os conhecimentos que os alunos possuíam sobre a

constituição dos átomos, na segunda sobre as concepções sobre as partículas elementares,estas

perguntas foram as mesmas do questionário inicial para identificar se houve alguma mudança

conceitual com a implementação da SEI.

Na terceira questão buscou-se identificar qual era o conhecimento dos alunos sobre

Raios Cósmicos e os fenômenos observados no Detector de Raios Cósmicos e a última

questão buscou-se a opinião dos alunos sobre a SEI, os pontos positivos, negativos e as

possíveis sugestões. O questionário final foi utilizado pela professora-pesquisadora como

instrumento de avaliação juntamente com o texto elaborado na última etapa do Método

Cooperativo de Aprendizagem Jigsaw, com o intuito de responder a segunda questão de

pesquisa. Foi necessária uma aula de 50 minutos, para que os alunos respondessem o

questionário final.

4.2 Resultados: Implementação da Sequência de Ensino Investigativa

Identificação dos conhecimentos prévios

Para a compreensão dos alunos sobre a composição dos átomos foram obtidas dez

categorias (Tabela 4). Identificou-se que para aproximadamente 36% dos alunos, os átomos

são constituídos de “elétrons, prótons e nêutrons”, resultados semelhantes foram identificados

nos trabalhos de Santana, Sarmento e Wartha (2011) e França, Marcondes e Carmo (2009),

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4. Resultados

54

sendo que 52% e 33% respectivamente dos alunos entrevistados apresentaram as partículas

subatômicas como sendo os elétrons, prótons e nêutrons.

Categoria Quantidade (%)

Elétrons, prótons e nêutrons 35,5

Não respondeu 22,6

Cargas negativas e positivas 13,0

Micropartículas 13,0

Moléculas 9,6

Matéria 9,6

Carbono 6,4

Partículas elementares 3,2

Células 3,2

Material orgânico 3,2

Tabela 4: Categorias obtidas para o conhecimento dos alunos a respeito da constituição dos átomos.

Com relação ao conhecimento dos alunos sobre as partículas elementares e a sua

organização no Modelo Padrão (Gráfico 1), notou-se que 90,3% não respondeu a questão e os

que responderam de forma equivocada e incompleta. Pinheiro, Costa e Moreira, (2009)

obtiveram resultado similar a respeito do pouco ou quase nenhum conhecimento científico

dos alunos entrevistados sobre a constituição da matéria e das partículas elementares.

Gráfico 1: Categorias sobre o conhecimento das partículas elementares e sua organização no

Modelo Padrão.

3,2

6,4

90,3

átomos

elétrons, prótons e nêutrons

não respondeu

Quantidade de alunos (%)

Cate

gori

as

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4. Resultados

55

Sobre o conhecimento dos alunos a respeito dos Raios Cósmicos (Gráfico 2) observa-

se que 70,9 % dos alunos não possuem o conhecimento e os que afirmaram ter conhecimento

associaram somente à radiações emitidas pelo sol, aos raios ultravioletas, raios radioativos e

energia forte.

Gráfico 2: Categorias obtidas a respeito conhecimento dos Raios Cósmicos.

Com relação ao conhecimento dos alunos sobre os chuveiros cósmicos (Gráfico 3), o

maior índice das respostas assinaladas foi o de “não ter conhecimento” a respeito desse

assunto. Confirmando o que já era esperado, pois os alunos já não tinham conhecimento sobre

os Raios Cósmicos, consequentemente o mesmo aconteceu sobre os Chuveiros Extensos.

Gráfico 3: Categorias obtidas a respeito conhecimento dos Chuveiros Aéreos Extensos.

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4. Resultados

56

Atividade Experimental na Perspectiva Investigativa

Após os registros dos rastros visualizados no Detector Caseiro de Raios Cósmicos, os

alunos organizados em pequenos grupos levantaram hipóteses, analisaram as evidências,

comunicaram as ideias sobre os fenômenos observados a partir da pergunta problema

apresentada pela professora-pesquisadora a respeito dos fenômenos observados no

experimento, e por fim registraram a conclusão discutida em grupo na tentativa de solucionar

a problemática. As categorias obtidas sobre as hipóteses levantadas pelos alunos a respeito da

origem dos rastros (Tabela 5).

Dessa forma, foram identificadas nas categorias uma relação do surgimento dos

rastros com a diferença de temperatura do gelo seco, um dos elementos presentes na atividade

experimental. Para a maioria dos alunos o álcool em contato com a placa congelada e a

diferença de temperatura presente no experimento foram suficiente para originar os rastros

identificados no aparato experimental. Alguns alunos conseguiram relacionar corretamente a

relação do álcool com a placa congelada resultando em uma condensação/neblina dentro da

caixa de vidro. No entanto, percebeu-se que os alunos levantaram hipóteses sobre a origem

dos rastros no experimento a partir dos conhecimentos relacionados somente com o

funcionamento do experimento explicado pela professora-pesquisadora no momento da

execução do mesmo.

Categoria Quantidade (%)

Álcool em contato com a placa congelada 38,7

A diferença de temperatura 29,0

Álcool em contato com o gelo seco 9,6

Álcool condensado 6,4

Vapor de álcool congelado 3,2

Neblina em contato com a placa congelada 3,2

Dilatação das partículas 3,2

Temperatura 3,2

Não respondeu 3,2

Tabela 5: Categorias obtidas a respeito das hipóteses elaboradas pelos alunos sobre a origem dos

rastros observados no experimento.

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4. Resultados

57

As hipóteses dos alunos (Tabela 6) sobre os rastros observados na atividade

experimental foram relacionados aos raios, no entanto, não foi especificado nas respostas se

tratavam dos Raios Cósmicos. Provavelmente os alunos relacionaram os formatos e a

aparência com as descargas elétricas conforme alguns mencionaram. Muito embora, os alunos

relacionaram os rastros com a névoa/neblina e a diferença de temperatura no aparato

experimental devido o álcool estar na temperatura ambiente inicialmente e o gelo seco.

Categoria Quantidade (%)

Raios 19,3

Energia 12,9

Álcool condensado 12,9

Trocas de Cargas elétricas 9,6

Choque térmico 9,6

Descargas elétricas 6,4

Ondas 6,4

Contato entre a neblina e a placa 6,4

Não respondeu 6,4

Rastros de substâncias 3,2

Concentração do vapor 3,2

Correntes de álcool 3,2

Tabela 6: Categorias obtidas sobre as hipóteses levantadas a respeito do que são os rastros

visualizados pelos alunos por meio do Detector Caseiro de Raios Cósmicos.

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw

Durante a dinâmica do Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw a professora-

pesquisadora fez uma pergunta em cada etapa do Método, com objetivo de favorecer as

discussões e socialização de conhecimento entre os alunos. Na pergunta inicial, a docente

pretendia identificar na fala dos alunos, se os mesmos associaram o experimento com um

Detector Caseiro de Raios Cósmicos.

O Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw por se tratar de uma atividade que

permite à interação dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, desse modo todas as

respostas foram elaboradas pelos grupos de alunos, totalizando 9 grupos. Diante disso, a

professora-pesquisadora selecionou as respostas de um grupo a respeito da segunda e terceira

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4. Resultados

58

pergunta realizado durante a execução do Método. Sendo que ainda na última etapa os alunos

identificaram nos registros da atividade experimental os desenhos dos rastros que mais se

aproximavam dos fenômenos em estudo que fez enquanto estava no grupo de especialização.

Os fenômenos que foram inicialmente fragmentados para estudo, de cada subtópico,

por um grupo de alunos que foram denominados, especialistas. Posteriormente, foi feita a

união desses subtópicos por meio da apresentação dos especialistas. Assim reunindo o

conhecimento necessário para a compreensão dos fenômenos em estudo.

De tal modo, que no processo de elaboração das respostas os alunos comunicaram as

características do fenômeno no qual se especializaram para os demais integrantes do grupo.

Sendo assim, os alunos tiveram a possibilidade de identificação e conhecimento do

comportamento dos rastros identificados na atividade experimental. Após discussão,

compartilhamento e sistematização de ideias/conhecimento, o redator do grupo elaborou a

resposta para a segunda pergunta. Na Figura 17, encontra-se a resposta elaborada por um

grupo de alunos.

Na resposta dos alunos (Figura 17) identifica-se que foi feita as descrições sobre os

quatro comportamentos dos fenômenos que foram estudados na segunda etapa do Método

Cooperativo jigsaw. Assim nota-se que todos os integrantes do grupo comunicaram sobre o

subtópico no qual se especializou, houve essa troca de informações/conhecimento. Além das

descrições sobre os comportamentos desses fenômenos, foram detalhados os nomes das

partículas subatômicas e Raios Cósmicos, as características em relação à quantidade desvio,

energia, ramificações e diferentes formatos.

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4. Resultados

59

Figura 17: Resposta de um dos grupos de alunos a respeito ao comportamento dos fenômenos

detectados no Detector de Raios Cósmicos/ Câmara de Nuvens.

Sobre a resposta dos alunos (Figura 18) à terceira pergunta, observou-se que os

mesmos relacionaram no registro experimental (Figura 19) os quatro fenômenos presentes no

Detector Caseiro de Raios Cósmicos/Câmara de Nuvens relacionando o desenho do rastro

com os Raios Cósmicos (prótons, partículas de alta e baixa energia) e elétrons de ionização.

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4. Resultados

60

Figura 18: Respostas elaboradas por um grupo de alunos sobre os rastros identificados no Detector de

Raios Cósmicos.

Figura 19: Registro feito por um dos integrantes do grupo sobre as observações experimentais, os

rastros identificados no Detector de Raios Cósmicos.

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4. Resultados

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Questionário final

O questionário aplicado no último momento da SEI (Apêndice H) objetivando analisar

se houve mudança conceitual dos alunos sobre a temática dos Raios Cósmicos. Com relação

ao conhecimento dos alunos a respeito da constituição dos átomos, foram obtidas cinco

categorias. Sendo que nenhuma resposta identificada foi relacionando a composição dos

átomos à micropartículas, carbono, células, material orgânico, e não soube responder,

conforme encontrado anteriormente no questionário inicial. Na tabela 7, podemos notar que

nas respostas dos alunos sobre o entendimento deles a respeito das partículas que formam os

átomos 39,1 % associaram as partículas elementares na sua resposta, evidenciando uma

mudança conceitual sobre a constituição dos átomos, que até então no entendimento dos

alunos eram formados por elétrons, prótons e nêutrons.

Categoria Quantidade (%)

Partículas elementares 39,1

Prótons, elétrons e nêutrons 39,1

Cargas elétricas positivas e negativas 21,7

Moléculas 8,7

Energia 4,3

Tabela 7: Categorias obtidas a partir do questionário final sobre a constituição dos átomos.

Como exemplo do entendimento dos alunos sobre a constituição dos átomos, destaca-

se o trecho transcrito a seguir.

Os átomos são constituídos por prótons, nêutrons e elétrons,

além das partículas elementares que constituem os prótons e

nêutrons que são os quarks e o elétron que é lépton (Aluno 1).

Sobre o entendimento dos alunos a respeito das partículas elementares, como estão

organizadas no Modelo Padrão e das interações que estão sujeitas, foram identificadas nas

respostas dos alunos oito categorias. Por meio do questionário inicial (Gráfico 1) foi

identificado que 90,3% dos alunos não possuíam conhecimento sobre as partículas

elementares. Após a SEI observou-se (Gráfico 4) que 52,1% dos alunos conseguiram até citar

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4. Resultados

62

nomes de partículas elementares em suas respostas. Já, 30,4% dos alunos demonstraram

conhecimento de como as partículas elementares estão organizadas nas famílias dos quarks e

léptons. Muito embora, não associaram a família das partículas mediadoras como parte do

Modelo Padrão. No entanto 4,33 % dos alunos mencionaram a força forte e os glúons como

partícula mediadora desta interação. É importante destacar mesmo não havendo perguntado

sobre as antipartículas foi identificado na resposta de um aluno, no qual menciona o pósitron

(antipartícula do elétron). Portanto, pode-se concluir que houve uma mudança conceitual

sobre o conhecimento das partículas elementares dos alunos.

Gráfico 4: Categorias obtidas a respeito da concepção dos alunos após o questionário final sobre as

partículas elementares.

Na Tabela 8 estão as categorias identificadas sobre o conhecimento dos alunos sobre

Raios Cósmicos após participarem da SEI. Observa-se que houve maior frequência nas

respostas a respeito da origem dos Raios Cósmicos. No entanto, 26,1% dos alunos associaram

os Raios Cósmicos às partículas, e também associaram aos rastros visualizados na atividade

experimental desenvolvida em sala de aula.

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4. Resultados

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Categoria Quantidade (%)

Os raios cósmicos veem do espaço 47,8

Não respondeu 34,7

Os raios cósmicos são partículas 26,1

Rastros de partículas detectadas na câmara de nuvens 13,0

Os raios cósmicos são energias 8,7

Os raios cósmicos são radiações 4,3

Tabela 8: Categorias obtidas a respeito do conhecimento dos alunos sobre dos Raios Cósmicos.

Alguns alunos relacionaram os Raios Cósmicos somente com o experimento do

detector caseiro demonstrado em sala, evidenciando que a atividade experimental foi

significativa para os mesmos, pois por meio dela houve entendimento sobre as partículas

subatômicas vindas do espaço. Quando comparado com o resultado obtido no questionário

inicial, onde 70,9% dos alunos não tinham conhecimentos sobre os Raios Cósmicos, essa

porcentagem diminui consideravelmente. Alguns trechos foram transcritos identificando a

relação que eles fizeram aos Raios Cósmicos e a sua origem e foram mencionando no trecho

sobre os Raios Cósmicos secundários também conhecidos como Chuveiros Extensos.

Raios cósmicos são partículas vindas do espaço que bombardeiam a terra

constantemente. (Aluno 1) São partículas que ao chegarem a terra colidem com os núcleos dos átomos

da atmosfera formam a “chuva” de partículas com menos energia

chamados raios cósmicos secundários. (Aluno 2) Os Raios Cósmicos são certos traços que foi possível observar no Detector

Caseiro. (Aluno 3) Os raios eram rastros de partículas que foram observadas quando atingiram

as moléculas de álcool que estavam “dispersas” dentro da caixa de vidro,

quando essas partículas atingem o mesmo deixa rastros observados no

experimento. (Aluno 4)

Sobre o conhecimento dos alunos a respeito das partículas subatômicas que deixaram

rastros no Detector e consequentemente visualizados no experimento, identificaram-se nas

respostas dos alunos (Tabela 9) seis categorias. Nas quais os alunos relacionaram os

rastros/observações experimentais com os fenômenos apresentados no trabalho de Laganá

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4. Resultados

64

(2001), sendo que o artigo foi trabalhado no decorrer do Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw.

Os rastros observados pelos alunos com maior frequência (34,8 %) (Tabela 9) foram

os deixados por partículas de baixa energia, possivelmente por elétrons e múons, em seguida

os rastros deixadas por partículas de alta energia. Pode ser enfatizado que 17,4 % dos alunos

não relacionaram os rastros com as partículas cósmicas e deram somente ênfase no formato

dos mesmos.

Categoria Quantidade (%)

Partículas de baixa energia 34,8

Elétrons de ionização 21,7

Prótons 21,7

Partículas de alta energia 21,7

Diferentes rastros 17,4

Não respondeu 13,0

Tabela 9: Categorias dos rastros identificados pelos alunos no Detector Caseiro de Raios Cósmicos.

Como exemplo dos fenômenos observados no experimento e a suas respectivas

análises realizadas pelos alunos, durante as etapas do Método Cooperativo de Aprendizagem

jigsaw, apresenta-se a seguir trechos transcritos das respostas dos alunos.

Na câmara de nuvens, os raios deixam rastros que determinam se são fracos

ou fortes, e a energia de cada um define características, como os de alta

energia, possuem um traço reto longo e pouco intenso. (Aluno 5) As partículas que observei no Detector Caseiro foi as de baixa energia onde

o “raio” fazia curvas e os de alta energia que tinham seus raios retos.

(Aluno 6 ) Observei “partículas” de formas diferentes, porém todas compridas e

rápidas. (Aluno 7) Raios finos, grosso, mediano, grande e outros pequenos. (Aluno 8)

Eles são fininhos e rápidos. (Aluno 9)

As auto – energias que faziam os raios serem retos, quebradiços e também os

raios ramificados (Aluno 10)

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4. Resultados

65

Sequência de Ensino Investigativa na perspectiva dos alunos

A professora-pesquisadora propôs aos alunos a elaboração de um relato individual

sobre as atividades desenvolvidas, e solicitou que apresentassem as possíveis contribuições da

atividade experimental na perspectiva investigativa para aprendizagem da temática abordada,

destacando os pontos positivos, negativos da SEI e sugestões. Na tabela 10 estão as categorias

presentes nos relatos dos alunos relacionados às atividades desenvolvidas na SEI. Os itens que

estavam mais presentes foram atividade Experimental do Detector de Raios Cósmicos, o

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw, os debates/discussões e atividades em grupo.

Foi identificado nos relatos escritos dos alunos que 78,2% mencionaram a atividade

experimental, destacando que o experimento foi significativo para os estudantes, resultados

semelhantes foram identificados no trabalho de Araújo e Abib (2003) onde mencionam que

professores e alunos têm apontado o uso de atividades experimentais como estratégias

significativas e eficientes para o ensino aprendizagem de Física.

Ainda na Tabela 10 pode-se observar que o uso do Método Cooperativo de

Aprendizagem jigsaw foi a segunda atividade que mais esteve presente nos relatos dos alunos,

assim pode-se concluir que foi uma atividade significativa para os mesmos. O que também foi

constatado por Fatareli et al. (2010) em seu trabalho. No qual teve receptividade pelos alunos

a respeito do uso Método jigsaw para o ensino de cinética Química. Segundo a pesquisa os

alunos tiveram uma postura ativa e responsável no processo de ensino-aprendizagem.

Os alunos que mencionaram que houveram debates (Tabela 10) no decorrer das

atividades da SEI, provavelmente estavam se referindo as discussões e troca de

ideias/conhecimento realizadas por eles em grupo. Dessa forma, notou-se que tanto os debates

quanto às atividades realizadas em grupos foram significativas para os alunos, pois também

foram mencionadas nos relatos.

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4. Resultados

66

Categoria Quantidade (%)

Atividade experimental 78, 2

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw 26,1

Modelo Padrão e as partículas elementares 17,4

Debates 17,4

Atividades em grupo 13,0

Elaboração de hipóteses 8,7

Não respondeu 8,7

Questionários 4,3

Validação e refutação das hipóteses 4,3

Tabela 10: Categorias obtidas a partir dos relatos dos alunos sobre as atividades desenvolvidas em

sala.

Sobre as justificativas das contribuições da SEI na perspectiva dos alunos foram

identificadas sete categorias (Tabela 11). Observou-se que para 47,8 % dos alunos a SEI

contribuiu, pois permitiu a observação dos Raios Cósmicos por meio do detector. Segundo os

alunos por meio da SEI despertou-se o interesse e entendimento dos estudantes sobre a

temática trabalhada. E ainda na opinião dos alunos as atividades em grupos desenvolvidas no

decorrer da SEI contribuíram para a aprendizagem dos Raios Cósmicos.

Categoria Quantidade (%)

Observação dos raios cósmicos por meio do experimento 47,8

Despertou interesse e entendimento sobre o assunto 34,8

Atividades em grupo contribuíram para a aprendizagem 17,4

Não respondeu 13,0

Explicações, conteúdos e material 8,7

Conhecimento sobre as partículas elementares 8,7

Pela postura de alunos-pesquisadores 4,3

Tabela 11: Categorias obtidas a respeito se a SEI contribuiu para aprendizagem dos alunos.

Sobre a importância da SEI na perspectiva dos alunos observa-se que os mesmos

mencionam o quanto foi interessante o contato com a atividade experimental, pois permitiu

observações dos rastros e entendimento do assunto, aprendizado na prática. Ainda identificou-

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4. Resultados

67

se nos relatos dos alunos a importância do trabalho em grupo, do aprender com o outro. A

seguir alguns os trechos dos relatos transcritos.

“As atividades apresentadas teve grande importância para a compreensão

de radiações cósmicas....O aprendizado foi o que mais teve, onde o

conhecimento desta área é de extrema importância no ensino das escolas,

através de esclarecimentos práticos, aumentando o interesse pessoal.”

(Aluno 11) “... foi muito interessante, algo que nunca tinha visto, algo que me motivou

por ver os rastros no experimento. Não sabia e não fazia ideia do que era

uma Radiação Cósmica, nessas aulas deu para entender

perfeitamente.”(Aluno 12) Houve debate entre colegas e isso ajuda muito na aprendizagem, pois cada

um expõe o seu ponto de vista, ou seja, um aprende com o outro. Os rastros

que observamos na experiência tivemos capacidade de identificar cada um

deles, dando nome e características. (Aluno 13) Com o experimento sobre a Radiação Cósmica aprendemos na prática... e

com isso pudemos entender o comportamento dos Raios Cósmicos. As

atividades em grupo trouxeram aprendizagem. (Aluno 14)

As atividades desenvolvidas sobre radiação cósmica contribuíram na

aprendizagem pelo fato de nos colocar como pesquisadores sobre o tema.

(Aluno 15)

Na Tabela 12 estão as categorias obtidas a respeito dos pontos positivos mencionados

pelos alunos nos relatos escritos sobre a SEI. É observado (Tabela 11) que 43,4 % dos alunos

mencionaram a atividade experimental como ponto positivo da SEI. Fato que vai ao encontro

da pesquisa de Araújo e Abib (2003). Observa-se que muitos alunos não responderam

literalmente se havia pontos positivos no decorrer da SEI. No entanto, 17,3 % mencionaram

que o uso de vários recursos didáticos e as explicações foram objetivas para alcançarem a

aprendizagem. E ainda, as atividades em grupo foi um aspecto positivo para 8,7% dos alunos.

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4. Resultados

68

Categoria Quantidade (%)

O uso da Atividade experimental 43,4

Não respondeu 34,8

Uso de vários recursos didáticos e explicação objetiva 17,3

Atividade em grupo 8,7

A aula não foi somente expositiva e centrada no professor 4,3

As aulas envolveram os estudantes na teoria e na prática 4,3

Entendimento sobre os Raios Cósmicos 4,3

Tabela 12: Categorias identificadas a respeito dos pontos positivos da SEI.

A seguir alguns trechos transcritos que abordam os aspectos positivos destacados

pelos alunos, nos quais relacionam a postura mediadora da professora-pesquisadora no

decorrer da SEI, aulas que permitiram o envolvimento dos alunos e o uso da atividade

experimental do Detector de Raios Cósmicos.

Essas aulas não foi só uma aula em que o educador ficou falando e

passando aqueles textos grandes no quadro, fizemos aula prática e isso

estimula os alunos. Eu gostei muito do experimento porque não foi um vídeo

que vimos, foi um experimento que participamos. (Aluno 16)

As aulas envolveram os participantes, não só na teoria porém na prática, e

as aulas teóricas foram importantes para entender a prática. (Aluno 4 ) A explicação foi objetiva e tivemos conteúdo e material para alcançar a

aprendizagem... (Aluno 5) As explicações, a realização do experimento. (Aluno 7) O uso de experimentos para melhor explicar o assunto. (Aluno 15)

Os itens relacionados aos pontos negativos evidenciados pelos alunos a respeito da

SEI (Tabela 13), foi identificado que 43,4% dos alunos não responderam literalmente os

pontos negativos a respeitos da SEI que foi implementada em sala de aula. No entanto, 13,0 %

dos alunos afirmaram que não houve aspectos negativos na SEI, porém observa-se que foi

mencionado que o assunto, Raios Cósmicos não é interessante e que este conteúdo é muito

complicado de se aprender.

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4. Resultados

69

Categoria Quantidade (%)

Não respondeu 43,4

Não houve pontos negativos 13, 0

Assunto de pouco interesse 8,7

Conteúdo complicado 8,7

Menos aula teórica em sala 4,3

Pouco debate entre professor e alunos 4,3

Pouco tempo para abordar o tema 4,3

Muitas aulas seguidas 4,3

Não teve entendimento sobre o gelo seco 4,3

Tabela 13: Itens identificados sobre os pontos negativos da SEI.

Como exemplo dos aspectos negativos da SEI na opinião dos alunos apresenta-se dois

trechos transcritos a seguir.

Não tenho nenhum interesse no conteúdo, pois não me ajudará em minha

área de atuação profissional. (Aluno 17)

É um conteúdo demorado e complicado na teoria. (Aluno 15)

Na tabela 14 estão os itens mencionados a respeito das sugestões para a melhoria da

SEI na concepção dos alunos. Observa-se que alunos sugeriram o uso de outros tipos de

recursos didáticos durante a explicação teórica dos Raios Cósmicos e que se possível

houvessem menos aulas teóricas.

Categoria Quantidade (%)

Não respondeu 82,7

Na explicação teórica utilizar outros

recursos

8,7

Menos aula teórica em sala 4,3

Mais debates entre professora e alunos 4,3

Tabela 14: Itens identificados como sugestão para a SEI.

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4. Resultados

70

Como exemplo de sugestões dos alunos a respeito da SEI, destaca-se alguns trechos das

respostas dos alunos.

Talvez como sugestão na explicação teórica utilizar mais recursos digitais.

(Aluno 15) Para melhoria da aula e melhor envolvimento dos alunos o tempo de aula

teórica em sala deve ser menor. (Aluno 4)

Ainda sugeriram que houvesse mais debates/discussões entre professor/alunos, no

entanto acredita-se que esta sugestão foi devido os alunos estarem acostumados com o

professor estar no centro das discussões e os alunos estarem como coadjuvantes. Já na

abordagem da SEI o professor é visto como um mediador e os alunos se torna mais ativo no

processo de ensino-aprendizagem.

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5. Considerações Finais

CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES

FINAIS

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5. Considerações Finais

72

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na busca em responder a primeira questão de pesquisa, a saber: “Como o tema Raios

Cósmicos pode ser trabalhado por meio de uma Sequência de Ensino Investigativa com

alunos do Ensino Médio?” elaboramos um produto educacional que se trata de uma

Sequência de Ensino Investigativa (SEI) para o ensino de Raios Cósmicos para o Ensino

Médio, a qual envolve uma atividade experimental na perspectiva investigativa aliada ao

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

As atividades da SEI foram desenvolvidas em quatro momentos didáticos. No

primeiro momento, fez-se um mapeamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a

constituição da matéria e dos Raios Cósmicos por meio de um questionário. No segundo

momento ministradas aulas expositivas e dialogadas sobre a Física de Partículas,

implementada a atividade experimental na abordagem investigativa do Detector Caseiro de

Raios Cósmicos, o registro experimental e a elaboração de hipóteses pelos alunos a respeito

dos fenômenos observados no experimento. No terceiro momento trabalhado um texto sobre

os Raios Cósmicos e a análise dos dados coletados na atividade experimental por meio do

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw utilizando o artigo de Laganá (2011). E no

quarto momento foi aplicado o questionário final.

Para elaborar a SEI nos pautamos nos elementos do referencial Ensino por

Investigação, dessa forma foi feita a identificação dos conhecimentos prévios, como ponto de

partida para o mapeamento das concepções dos alunos a respeito da temática trabalhada.

Outro elemento utilizado foi a criação de um ambiente encorajador/investigativo no decorrer

das aulas permitindo assim uma postura mais participativa dos alunos no processo

investigativo. Foi trabalhado com uma problemática experimental, por meio da atividade

experimental do Detector Caseiro de Raios Cósmicos e realizada também perguntas

problematizadoras durante a execução da atividade experimental e nas etapas do Método

Cooperativo de Aprendizagem jigsaw oportunizando aos alunos a investigação dos novos

conhecimentos.

O trabalho em grupo foi outro elemento desenvolvido na SEI, visto que é tão

importante no Ensino por Investigação e na Aprendizagem Cooperativa, dessa forma foi

trabalhada a interação aluno-aluno no decorrer da atividade experimental e na execução do

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw, favorecendo também outros elementos

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5. Considerações Finais

73

característicos do Ensino investigativo como a análise de evidências, registros dos fenômenos

observados, discussões em grupo a respeito da situação problema, levantamento e registros de

hipóteses. Oportunizando assim aos alunos uma postura reflexiva tanto no funcionamento do

aparato quanto aos fenômenos observados pelos alunos e na socialização do conhecimento.

Favorecendo a produção de conhecimento e aprendizagem de procedimentos e a participação

ativa no próprio processo de ensino aprendizagem e dos colegas do grupo.

O uso do Método Cooperativo de Aprendizagem Jigsaw propiciou também o

desenvolvimento de algumas habilidades relacionadas ao trabalho cooperativo, como a

mediação da comunicação de ideias/conhecimento do grupo, desenvolveram as habilidades de

comunicação oral pelo porta-voz e relator de cada grupo. E finalmente, a habilidade da

comunicação escrita, desenvolvida pelos relatores dos grupos.

Para responder a segunda questão de pesquisa, a saber: “Como e que tipos de

contribuições a Sequência de Ensino Investigativa elaborada trouxe à apropriação de

conceitos científicos dos alunos sobre a temática de Raios Cósmicos?” foi implementada a

atividade experimental investigativa do Detector de Raios Cósmicos aliada ao Método

Cooperativo de Aprendizagem jigsaw.

A análise dos resultados obtidos foi realizada a partir de registro experimental, de

hipóteses elaboradas pelos alunos a respeito dos fenômenos visualizados no experimento, dos

produtos decorrentes da atividade do Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw e do

questionário final. Dessa forma foi verificado que a SEI utilizada foi capaz de promover o

entendimento sobre partículas elementares e Raios Cósmicos, propiciando assim, uma

mudança conceitual sobre esses conceitos físicos.

Dessa forma, foi identificado no questionário inicial que somente 3,2% dos alunos

associaram as partículas elementares na constituição dos átomos, já no questionário final foi

verificado um aumento para 39,1 % de alunos que relacionaram os átomos com as partículas

elementares no questionário final. Evidenciando uma mudança conceitual sobre a constituição

dos átomos, que até então no entendimento da maioria dos alunos eram formados por elétrons,

prótons e nêutrons.

Identificamos também que inicialmente 90,3% dos alunos não possuíam conhecimento

sobre as partículas elementares e após a implementação da SEI 52,1% dos alunos

conseguiram até citar nomes de partículas elementares em suas respostas. Sobre o

conhecimento dos alunos a respeito dos Raios Cósmicos observou que 70,9 % dos alunos não

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5. Considerações Finais

74

possuem o conhecimento sobre o fenômeno, observando uma mudança conceitual identificada

após a SEI, na qual 26,1% dos alunos associaram os Raios Cósmicos às partículas, associando

também aos rastros visualizados na atividade experimental desenvolvida em sala de aula.

Identificando, as partículas de baixa energia (possivelmente por elétrons e múons), como

sendo os Raios Cósmicos mais observados (34,8 % dos alunos).

Na análise dos dados da atividade experimental realizada pelos alunos durante a

aplicação do Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw, os estudantes identificaram nos

registros experimentais os quatro fenômenos observados na execução do Detector Caseiro de

Raios Cósmicos, relacionando os desenhos dos rastros com os Raios Cósmicos (prótons,

partículas de alta e baixa energia) e aos elétrons de ionização.

Ainda foi identificada a aceitação da SEI por parte dos estudantes, o que foi

identificado nos relatos escritos dos alunos, sendo que 78,2% mencionaram a atividade

experimental, ainda foi identificado que o uso do Método Cooperativo de Aprendizagem

jigsaw foi a segunda atividade que mais esteve presente nos relatos dos alunos, assim pode-se

concluir que foi uma atividade significativa para os mesmos. Observou-se também que para

47,8 % dos alunos a SEI contribuiu, por permitir a observação dos Raios Cósmicos por meio

da atividade experimental, despertando o interesse e entendimento dos estudantes sobre a

temática trabalhada e as atividades em grupos desenvolvidas no decorrer da SEI também

contribuíram para a aprendizagem dos Raios Cósmicos.

A SEI implementada, portanto, propiciou aos alunos uma postura mais ativa na

construção de seu conhecimento, possibilitando à professora-pesquisadora a mediação desse

processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, espera-se que este trabalho venha contribuir

com a inserção dos Raios Cósmicos no Ensino Médio. Visto que a Sequência de Ensino

Investigativa elaborada propiciou um ambiente favorável à apropriação de conceitos físicos

relacionados a composição da matéria, das partículas elementares, dos Raios Cósmicos e dos

fenômenos presentes no Detector Caseiro de Raios Cósmicos. Tanto o uso da atividade

experimental, quanto a aprendizagem cooperativa do Método jigsaw contribuíram de forma

positiva na compreensão dos conceitos físicos abordados.

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75

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Apêndices

80

APÊNDICES

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Apêndices

81

APÊNDICE (A): QUESTIONÁRIO INICIAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

Mestrado Profissional em Ensino de Física-UFGD/SBF

Questionário Inicial

Nome: _____________________________________________________________

Prezado (a),

Este questionário tem por finalidade identificar as suas concepções prévias a

respeito da temática Raios Cósmicos.

1) Os átomos são as partículas constituintes de toda matéria existente, mas o que

constitui os átomos?

____________________________________________________________________

2) Dê exemplos de partículas elementares, como elas estão organizadas no Modelo

Padrão, quais são as interações fundamentais e as suas partículas mediadoras?

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Apêndices

82

3) O planeta Terra é constantemente bombardeado por Raios Cósmicos, radiação

altamente energética vinda do espaço. Você tem conhecimento dessa informação?

Sim Não

Se responder sim, escreva mais a respeito deste assunto:

4) Você sabe do que se trata os Chuveiros Cósmicos? Assinale por qual meio

você obteve este conhecimento?

( ) livro didático

( ) revistas científicas

( ) internet

( ) sala de aula

( ) não tenho conhecimento

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Apêndices

83

APÊNDICE (B): ROTEIRO EXPERIMENTAL DO DETECTOR

DE RAIOS CÓSMICOS

Você vai precisar:

Caixa de vidro (40 cm x 20 cm x 20 cm);

Caixa de madeira ou um recipiente de

plástico (60 cm x 30 cm); Placa metálica

pintada de preto rosco (60 cm x 30 cm)

com ranhuras na dimensão da caixa de

vidro; 2 kg gelo seco; Pisseta para colocar

o álcool; 100 ml de álcool isopropílico;

Feltro (12 cm x 6 cm); Pistola de cola

quente; Lanterna ou datashow; Luvas;

Óculos transparentes e Papel toalha.

Na parte interna e central da caixa

de vidro fixe um pedaço de feltro

utilize a pistola de cola quente.

Aguarde alguns minutos para a cola secar.

Utilize um par de luvas e óculos

de proteção para colocar o gelo

seco dentro da caixa de madeira

(Figura 1).

Sobre a caixa de madeira coloque

a placa metálica.

Com auxilio de uma pisseta

umedeça o feltro com o álcool

isopropílico (Figura 2).

Verifique se o gelo seco está em

contato com a placa e se a mesma

está congelando-a (Figura 3).

1

2

3 4

5

Figura 1: Caixa de madeira completa

com gelo seco.

Figura 2: Caixa de vidro com feltro

fixado na parte interna umedecido com

álcool.

Fonte: Autoria própria.

Figura 3: Ilustração da placa em

contato com gelo seco.

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Apêndices

84

Coloque o Datashow/lanterna

próximo do aparato experimental

(Figura 4) deixando uma parte da

luz incidir sobre a placa metálica para

melhor visualização do funcionamento do

experimento.

Aguarde em torno de 10 minutos,

vão surgir pequenas gotículas de

álcool e quando o vapor do álcool

supersaturar próximo da placa metálica,

surgirá uns rastros (Figura 5) entre o vapor

supersaturado de álcool e a placa. Quando

necessário utilize o papel toalha para

limpar a caixa de vidro para facilitar na

visualização.

Figura 5: Rastros deixados por Raios

Cósmicos em um detector.

Fique por dentro

A caixa de vidro sobre a placa metálica

congela por estar em contato com o gelo

seco a uma temperatura de

aproximadamente -78º C no decorrer de

aproximadamente 10 minutos. O álcool

isopropílico contido no feltro que se

encontra à temperatura ambiente evapora

preenchendo toda caixa de vidro, a

densidade do vapor aumenta condensando

sobre a placa resfriada e mais vapor

chegará à placa e se resfria. Assim inicia o

processo de convecção, onde o álcool

isopropílico evapora constantemente e

condensa sobre a placa metálica.

Logo, acima da placa o vapor se

encontra supersaturado, as partículas ao

passarem pelo vapor ionizarão as

moléculas que encontram na sua trajetória.

Assim pode- se observar traços

característicos do tipo de partícula que

atingiu o aparato experimental. Isso

acontece porque a ionização leva a

condensação das gotículas de álcool,

formando rastros característicos (Figura 5)

que pode ser observada a olho nu quando

iluminado por uma lanterna.

Cada rastro é característico de uma

partícula subatômica que atinge o detector

de Raios Cósmicos.

6

7

Figura 4: Uso do Datashow para

facilitar a visualização dos fenômenos

presentes no experimento.

Fonte: Autoria própria.

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Apêndices

85

Uso de vídeo um do experimento do

Detector de Raios Cósmicos

Uma sugestão se não for possível

montar o Detector de Raios Cósmicos ou

segunda opção é utilizar um vídeo que

aborda o experimento. Na Figura 6,

apresenta-se uma sugestão para usá-lo no

lugar do experimento. Esse vídeo é

interessante porque aparece a montagem

do experimento e em seguida o seu

funcionamento (Figura 7), possibilitando a

visualização de vários rastros deixados por

partículas subatômicas.

Figura 6: Imagem do vídeo sobre o Detector

de Raios Cósmicos.

Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=qQp

XGQ4Igks.

Figura 7: Imagem do vídeo do Detector de

Raios de Partículas em pleno funcionamento. Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=qQp

XGQ4Igks.

Saiba mais...

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Apêndices

86

APÊNDICE (C): REGISTRO DA ATIVIDADE

EXPERIMENTAL

Nome: ______________________________________________________________

Desenhe no quadro abaixo, os fenômenos identificados durante a atividade

experimental.

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Apêndices

87

APÊNDICE (D): REGISTRO DAS HIPÓTESES ELABORADAS

PELOS ALUNOS

Nome:__________________________________________________________

Apresente hipóteses da origem e sobre os fenômenos identificados durante a atividade

experimental.

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Apêndices

88

APÊNDICE (E): TEXTO SOBRE A DESCOBERTA DOS

RAIOS CÓSMICOS

Fonte:http://cds.cern.ch/journal/CERNBulletin/2011/18/News%20Articles/1345733.

Os Raios Cósmicos são partículas subatômicas extremamente energéticas que atingem a

atmosfera do nosso planeta, vindas de todos os cantos do universo. Em sua maioria são

prótons (90%), partículas alfa (9%) e o restante são núcleos atômicos pesados.

Partículas vindas do espaço que interagem de várias formas com o nosso planeta,

sendo responsáveis pela formação das Auroras Boreais. Isso acontece devido muitos destas

partículas cósmicas serem provenientes do sol, resultado das suas violentas explosões que

acabam interagindo com o campo magnético terrestre. As partículas entram em contato com

os gases da ionosfera (camada acima de 80 km de altitude) originando o fenômeno.

Os Raios Cósmicos ao atingirem o topo da atmosfera terrestre, em sua grande maioria,

os prótons com velocidade próxima à da luz, possuem elevadas energias, sendo denominados

de Raios Cósmicos primários. Ao interagirem a atmosfera (átomos que a compõem)

produzem novas partículas e outras sofrem decaimento se transformando novamente, assim

são denominadas de Raios Cósmicos secundários. Um único próton incidindo no topo da

atmosfera gera uma reação em cadeia de bilhões de partículas que chegam ao solo em uma

área de até dezenas de km2. O resultado desta interação da radiação primária com a atmosfera

é análogo ao de uma cascata, neste caso, uma cascata de partículas conhecida como Chuveiro

Aéreo Extenso (CAE)

A detecção e descrição da evolução do CAE são costumeiramente realizadas por

detectores e uso de simulações computacionais que auxiliam para a melhor compreensão dos

dados. No Observatório Pierre Auger, considerado um dos principais referências em detecção

de Raios Cósmicos, é utilizado dois tipos de detectores, telescópios de superfícies e

telescópios de fluorescência. Os dados de ambos os detectores são cruzados, dessa forma

elaboram a trajetória e energias das partículas que formam o CAE.

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Apêndices

89

A câmara de nuvens também se trata de um método usado para detecção de Raios

Cósmicos. Foi desenvolvida em 1911 pelo físico Charles Wilson na Universidade de

Cambridge. A câmara de nuvens trata de um recipiente fechado contendo vapor super-

resfriado de água ou álcool. No qual é condensado em torno da passagem de um feixe de

partículas carregadas, proveniente de Raios Cósmicos. Os traços deixados por essas partículas

são visíveis a olho nu na forma de condensação do vapor em forma líquida, possibilita a

visualização/registro da trajetória que a partícula deixou na linha de condensação.

Figura 1: Pósitron, partícula detectada na Câmara de Nuvens.

Fonte: https://www.sprace.org.br/divulgacao/noticias/vendo-particulas-subatomicas

Esse aparato experimental foi o primeiro detector com a capacidade de mostrar os

traços produzidos pelas partículas subatômicas, corroborando na investigação da radiação e

das partículas elementares. Sua grande conquista foi possibilitar a detecção do pósitron (figura

1) em 1932 pelo físico Carl Anderson. Aparato experimental que ainda tem sido utilizado para

pesquisa de partículas elementares, estudo de interações de partículas carregadas com a

matéria e Física Nuclear na atualidade.

.

Referências:

AGUIAR, R. Vendo partículas subatômicas. 2013. SPRACE São Paulo Research and Analysis Center. Disponível em:

<https://www.sprace.org.br/divulgacao/noticias/vendo-particulas-subatomicas.>. Acesso em: 29 de out. de 2016.

BUSTAMANTE, M. C. A descoberta dos raios cósmicos ou o problema da ionização do ar atmosférico. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 2, 2013.

Breve Histórico de César Lattes, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Disponível em: < http://www.cbpf.br/Staff/Hist_Lat.html >. Acesso em: 02 de nov.

2016.

LAGANÁ, C. Estudo de raios cósmicos utilizando a câmara de nuvens de baixo custo. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 33, n. 3, nov. 2011.

LAGO, B. Estudo dos raios cósmicos galácticos com o observatório Auger. 2007. 67f. Dissertação (Mestrado)- Instituto de Física, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

PINHEIRO, L. A. A câmara de nuvens: uma abordagem integrada entre a física clássica e a física moderna. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 32, n. 2, p.

517- 528, 2015.

SARAN, M.C.B. Astrofísica de partículas na sala de aula-uma sequência de ensino e aprendizagem sobre raios cósmicos para o ensino médio. 2012. 131 f.

Dissertação (Mestrado), Universidade de São Carlos, São Paulo, 2012.

STEINKIRCH, M. V. O Modelo Padrão. Instituto de Física da USP. 2010. Disponível em:< http://www.astro.sunysb.edu/steinkirch/reviews/sm07.pdf >. Acesso

em 14 de dez. 2016.

VALE, A. L.; SOUSA, C. M. G. A importância do estudo dos raios cósmicos: o método de detecção do observatório Pierre Auger. Curso de Física da

Universidade Católica de Brasília, DF. Disponível em:

<https://www.ucb.br/sites/100/118/TCC/1%C2%BA2012/AImportandiadsRaiosCosmicosOmetododedete.pdf>. Acesso em: 19 de set. de 2016.

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Apêndices

90

APÊNDICE (G): ETAPAS PARA DESENVOLVIMENTO DO

MÉTODO COOPERATIVO DE APRENDIZAGEM JIGSAW

Método Cooperativo de Aprendizagem jigsaw

1ª etapa: A distribuição dos grupos de base e a função de cada integrante do grupo.

Formação de quatro grupos de alunos e atribuição de uma função para cada integrante: um

redator, um mediador, um relator e um porta-voz.

2ª etapa: Apresentação da pergunta para ser inicialmente discutida entre os integrantes

do grupo de base.

Como detectar as partículas que vêm do espaço?

3ª etapa: Formação de quatro grupos de especialistas, entrega dos textos e perguntas

para a especialização. Pergunta para especialização:

Qual o comportamento característico do fenômeno físico em estudo? Este

fenômeno foi detectado no experimento?

A formação dos quatro grupos de especialistas (α, β, γ e δ), consiste que cada

integrante do grupo de base se torna um especialista. Faça a entrega da subdivisão do artigo

para cada aluno do grupo. Recomenda-se o uso da subdivisão feita por Laganá (2011), no qual

em seu artigo faz uma classificação e análise dos fenômenos presentes no detector de Raios

Cósmicos/Câmara de Nuvens. De tal modo que os alunos do grupo de especialistas α fiquem

com o tópico, Partículas de baixa energia, os especialistas do grupo β fiquem com a

subdivisão, Elétrons de ionização, o grupo de especialistas γ fiquem com o tópico, Prótons, e

os especialistas δ fiquem com a subdivisão, Partículas de alta energia.

4ª etapa: Retorno dos alunos aos grupos de base, socialização dos conteúdos pelos

especialistas e discussão da pergunta inicial pelos alunos e solução para a questão final.

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Apêndices

91

Escolha quatro desenhos distintos e os analise com base nas discussões

dos especialistas. Faça a descrição dos rastros das partículas detectadas.

Qual/quais partícula (s) foi/foram detectada (s)?

5ª etapa: Apresentação oral dos relatores de cada grupo, entrega das respostas dos

grupos a respeito da questão final no formato de um texto com objetivo de sistematizar o

conhecimento.

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Apêndices

92

APÊNDICE (H): QUESTIONÁRIO FINAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física-UFGD/SBF

Questionário Final

Nome: _____________________________________________________________

Prezado (a),

Este questionário tem por finalidade identificar seu conhecimento a respeito da temática

Raios Cósmicos e obter a sua avaliação sobre a Atividade Experimental Investigativa.

1) Os átomos são as partículas constituintes de toda matéria existente, mas o que

constitui os átomos?

2) Dê exemplos de partículas elementares, como elas estão organizadas no

Modelo Padrão, quais são as interações fundamentais e as suas partículas mediadoras?

3) Descreva sobre os Raios Cósmicos e quais foram as partículas que você observou no

Detector Caseiro de Raios Cósmicos?

4) Relate sobre as atividades desenvolvidas em sala com a temática Radiação Cósmica.

Houve contribuição para sua aprendizagem? Justifique. Destaque os pontos positivos e

negativos destas aulas e dê sua sugestão.