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Abuso do Direito Sindical

Abuso do Direito Sindical - ltr.com.br · Muito me felicita prefaciar obra fruto de estudo dedicado do jovem e atuante advogado Carlos Eduardo Dantas Costa que enriquece a comunidade

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Abuso do Direito Sindical

Carlos Eduardo Dantas CostaSócio do Escritório Peixoto & Cury Advogados.

Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.Especialista em Administração de Empresas pela FGV.

Especialista e Mestre em Direito do Trabalho pela PUC/SP.Professor convidado em cursos de Pós-Graduação.

[email protected]

Abuso do Direito Sindical

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1151www.ltr.com.brMaio, 2016

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: Pietra DiagramaçãoProjeto de capa: Fábio Giglio Impressão: Graphium Gráfica

Versão impressa — LTr 5421.1 — ISBN 978-85-361-8808-9Versão digital — LTr 8924.0 — ISBN 978-85-361-8816-4

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Costa, Carlos Eduardo Dantas

Abuso do direito sindical / Carlos Eduardo Dantas Costa. -- São Paulo : LTr, 2016.

Bibliografia. 1. Abuso de direito - Brasil 2. Direito sindical - Brasil I. Título.

16-02659 CDU-347.124:331.88 (81)

1. Abuso de direito sindical : Brasil 347.124:331.88(81)

A Deus, pela graça;

Aos meus pais, Benê e Lúcia e meus irmãos, Bhá e Cesar, família amada;

Por fim, com muito carinho, dedico este trabalho à minha esposa Bia, e nossa filha Helena, meus amores.

SUMÁRIO

PREFÁCIO .............................................................................................................. ..91 – INTRODUÇÃO .................................................................................................. 132 – ANALOGIA INICIAL ........................................................................................... 153 – ATIVIDADES, PRERROGATIVAS, DEVERES OU FUNÇÕES SINDICAIS ..... 184 – ABUSO DE DIREITO ......................................................................................... 254.1 Noção de abuso de direito................................................................................. 254.2 Discussão acerca da terminologia..................................................................... 284.3 Histórico............................................................................................................. 294.4 Legislação ......................................................................................................... 324.5 Conceituação e critérios para verificação do abuso de direito .......................... 334.6 Distinção entre abuso de direito e figuras usualmente associadas ................. 415 – ABUSO DO DIREITO SINDICAL ....................................................................... 455.1 Diferenciação entre abuso do Direito Sindical e prática antissindical ............... 46

5.1.1 Casuística .................................................................................................... 555.2 Exercício da liberdade e autonomia sindical ..................................................... 585.3 Abuso na organização sindical .......................................................................... 61

5.3.1 Sindicato de cartório .................................................................................... 625.3.2 Número de dirigentes .................................................................................. 665.3.3 Prazo de duração do mandato .................................................................... 705.3.4 Processo eleitoral ........................................................................................ 725.3.5 Processo de filiação e desfiliação ............................................................... 805.3.5.1 Casuística ................................................................................................. 865.3.6 Abuso no desmembramento/ invasão de base ........................................... 885.3.6.1 Casuística ................................................................................................. 935.3.7 Abuso na convocação e realização de assembleias ................................... 94

5.4 Abuso na ação sindical ...................................................................................... 975.4.1 Inércia na representação – descumprimento do mandato .......................... 975.4.1.1 Casuística ...............................................................................................1055.4.2 Abuso da prerrogativa de inamovibilidade sindical ....................................1055.4.3 Abuso da prerrogativa de estabilidade sindical ..........................................1085.4.4 Abuso na função política e função econômica ............................................1115.4.5 Fixação de contribuições sindicais (tipos e valores) .....................................1165.4.5.1 Casuística ..............................................................................................1245.4.6 Cobrança de honorários .............................................................................1285.4.7 Aplicação das receitas do sindicato e ausência de prestação de contas......129

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5.4.8 Abuso na recusa de realizar homologação de rescisão de contrato de trabalho .............................................................................................................1335.5 Abuso na negociação coletiva .........................................................................135

5.5.1 Por ausência de boa-fé objetiva ................................................................1355.5.1.1 Por ausência de negociação ...................................................................1365.5.1.2 Durante a negociação: falta de lealdade no processo negocial ................1405.5.1.3 Após a negociação: reivindicações posteriores à celebração de acordo

("pauta extra"); greve após acordo; divulgação de dados sigilosos .......................1475.5.2 Compromisso além do autorizado pela parte ............................................152 5.5.3 Cláusulas de acordos e/ou convenções abusivas (limites da negociação).....1535.5.3.1 Casuística ...............................................................................................1585.5.4 Cláusulas de acordos e/ou convenções coletivas abusivas quanto às

concessões (negociação nitidamente prejudicial) .................................................1585.5.4.1 Casuística ...............................................................................................160

5.6 Abuso do direito de greve ................................................................................1615.6.1 Casuística ..................................................................................................1645.6.2 Abuso quanto ao interesse defendido ........................................................1645.6.2.1 Casuística ...............................................................................................1725.6.3 Abuso quanto à forma de condução ...........................................................1725.6.4 Abuso pela adoção do “estado de greve” ...................................................1815.6.4.1 Casuística ...............................................................................................185

5.7 Efeitos jurídicos decorrentes do abuso do direito sindical ...............................1855.7.1 Casuística ..................................................................................................188

6 – CONCLUSÃO ..................................................................................................189REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................191

PREFÁCIO

Muito me felicita prefaciar obra fruto de estudo dedicado do jovem e atuante advogado Carlos Eduardo Dantas Costa que enriquece a comunidade acadêmica com pre sente obra na qual se debruça sobre o abuso do direito sindical.

É cediço que os direitos e deveres, embora possuam limites estabelecidos, po der ser e de fato são violados. Por tal motivo, segundo Gaio, male enim nostro iure uti non debemus(1).

Segundo a filosofia hegeliana, pela dialética se determina e estabelece a auto-mani festação da ideia absoluta, sendo ela responsável pelo movimento mediante do qual uma ideia, denominada tese, dá corpo a outra denominada antítese, para regressar de forma con creta pela síntese.

De acordo com tal entendimento, os direitos originam constantemente antíteses que após conflito se sintetizam em nova e concreta ideia.

Eis a necessidade e importância absoluta de se estudar o abuso do direito. Por ele se pode observar as imperfeições do sistema, as necessidades sociais e os meios para seu controle, de modo a terminar a concreção de uma síntese funcional e isenta dos vícios e problemas que a maculavam.

No entanto, árdua a tarefa de quem se dedica ao estudo, aprofundamento ou elaboração da antítese, força motriz da evolução jurídica e social pois, como ensina Bobbio os conservadores sempre vêem “o passado com benevolência e o futuro com espanto”(2).

Digo árdua pois, em diversas vezes, a análise das críticas aos sistemas se esbar ronda no poder constituído, conceituado por Weber como a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas.

Segundo Bertrand Russell, o poder está para as ciências sociais assim como a ener gia está para a física, ou seja, não se pode estudar as relações entre os homens sem compreender o fenômeno do poder, como não se pode estudar física sem conhecer sobre energia.

Com dedicação e esmero o autor discorreu sobre o abuso de direito em geral e, de pois, adentrou a sua análise desde a eleição sindical, passando pela sua atuação, para concluir acerca do abuso na negociação coletiva e no exercício do direito de greve.

(1) Não devemos usar mal o nosso direito. (2) A teoria das formas de governo. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: Editora Universitária de Brasília, 2000. p. 183.

Publica-se a presente obra, inclusive, em momento socioeconômico complexo, pois passa o Brasil, após bem-aventurança, por tempestade que ameaça em muito a vida de milhares de trabalhadores.

Em momentos de crise o poder se mostra mais forte e os direitos se abalam.

O Excelentíssimo Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Presidente do Co lendo Tribunal Superior do Trabalho, em seu discurso de posse, afirmou que o excesso de intervencionismo estatal, quer legiferante, quer judicante, pode desorganizar a economia mais do que proteger o trabalhador e promover o desenvolvimento produtivo.

Com efeito, incentivar as partes a solucionar os conflitos constitui salutar medida mas que pode ensejar abusos, principalmente no momento em que o país enfrenta problemas de grande repercussão e, em tal situação, a presente obra se mostra fundamen tal, por estabelecer o contraponto necessário, os limites entre o direito e seu abuso, ainda que marcado por tênue linha.

Portanto, estamos diante de obra de escol que enriquece e envaidece a doutrina bra sileira, com tema de fundamental importância para os estudantes e profissionais do di reito.

Dra. Ivani Contini BramanteDesembargadora do TRT da 2ª Região

A doutrina social ensina que as relações no interior do mundo do trabalho devem ser caracterizadas pela colaboração: o ódio e a luta para eliminar o outro constituem métodos de todo inaceitáveis, mesmo porque, em todo o sistema social, são indispensáveis para o processo de produção tanto o trabalho quanto o capital. À luz desta concepção, a doutrina social “não pensa que os sindicatos sejam somente o reflexo de uma estrutura ‘de classe’ da sociedade, como não pensa que eles sejam o expoente de uma luta de classe, que inevitavelmente governe a vida social”.

Os sindicatos são propriamente os promotores da luta pela justiça social, pelos direitos dos homens do trabalho, nas suas específicas profissões: “Esta ‘luta’ deve ser compreendida como um empenhamento normal das pessoas ‘em prol’ do justo bem: [...] não é uma luta ‘contra’ os outros”. O sindicato, sendo antes de tudo instrumento de solidariedade e de justiça, não pode abusar dos instrumentos de luta; em razão da sua vocação, deve vencer as tentações do corporativismo, saber auto-regular-se e avaliar as conseqüências das próprias opções em relação ao horizonte do bem comum.

João Paulo I.Compêndio da Doutrina Social da Igreja

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1 – INTRODUÇÃO

Como revela a história da existência humana, o homem, quando dotado de algum tipo de poder ou prerrogativa, por vezes, tem inclinação para o abuso. Segundo a célebre expressão do historiador britânico Lord Acton (1887), “o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente”(1). A experiência com as entidades sindicais não se mostra diferente.

Assim, temos que, se, por um lado, nos tempos mais remotos – como na época em que sucedeu a Revolução Francesa –, a inexistência de entidades sindicais representativas ou quaisquer outras formas associativas de representação já comprovou sua nocividade, por outro, quando as entidades sindicais, no exercício de suas funções, usurpam tais funções, as referidas entidades igualmente, senão de forma mais grave, comprometem o desenvolvimento e o equilíbrio das relações coletivas de trabalho.

Desse modo, o presente estudo tem por finalidade analisar de que se trata e como se verificam os casos de abuso do Direito Sindical.

Para tanto, principia-se por uma breve ilustração do tema, por meio de uma analogia inicial, após a qual serão apresentadas as principais atribuições e prerrogativas sindicais, ponto de partida do estudo, uma vez que é por meio delas que se verificarão, mais à frente, algumas das hipóteses de abuso do Direito Sindical.

Na sequência, serão trazidos os conceitos necessários ao desenvolvi-mento do tema, acerca da teoria do abuso de direito, partindo-se, em seguida, para a verificação de casos de abuso do Direito Sindical.

Para melhor estruturação do trabalho, os casos de abuso do Direito Sindical serão divididos e abordados em quatro grupos: i) abuso na organização sindical; ii) abuso na ação sindical; iii) abuso na negociação coletiva; e iv) abuso nos conflitos coletivos. Cada um desses grupos será, por sua vez, fracionado em comportamentos individualizados, por meio dos quais se pretende chegar à demonstração de práticas sindicais efetivamente tidas como abusivas.

Na medida do possível, e conforme a pertinência do tema, os tópicos

(1) Em artigos críticos, Lord Acton questionou o sacerdote anglicano Mandell Creighton, autor de History of Papacy during the Period of the Reformation, por não condenar o papado medieval, que promoveu a Inquisição. Contudo, Acton e Creighton mantinham uma relação cordial, o que gerou uma de suas inesquecíveis cartas, escrita em 5 de abril de 1887: “Eu não posso aceitar o seu princípio, segundo o qual devemos julgar o Papa e o Rei diferentemente dos outros homens, com uma presunção favorável de que não fizeram nada de errado. Se há alguma presunção, esta deverá ser contra aqueles que detêm o poder, que aumenta à medida que aumenta o poder. A responsabilidade histórica tem que compensar a falta de responsabilidade legal. O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente.” (ACTON, 1887, tradução nossa)

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serão finalizados com a apresentação de item indicado como “casuística”, no qual serão apresentadas questões pragmáticas, sobretudo cláusulas de normas coletivas que ilustrem a conduta objeto de censura. Ademais, sempre que pertinente, apresentaremos as avaliações e propostas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) acerca dos temas abordados.

Posteriormente, serão tratadas as consequências advindas do abuso do Direito Sindical e, por derradeiro, serão trazidas conclusões pessoais acerca do estudo apresentado.

Assim, sem a ambição de esgotar o assunto ou apresentar verdades absolutas, o que se pretende, nesta dissertação, é contribuir para o debate de um tema que merece maior atenção da comunidade jurídica e das próprias entidades sindicais (tanto patronais quanto profissionais).

Isso se realmente almejarmos, a partir do que está posto em nossa legislação, implementar melhorias em nosso modelo de relações coletivas de trabalho.

A proposta, nessa linha, é fazer um juízo de valor acerca do tema, desprovido de paixões e impulsos sentimentais; logo, será adotada uma abordagem técnico-jurídica, desprezando-se considerações de ordem político--ideológica.

Temos consciência de que alguns dos posicionamentos aqui apresentados estão em dissonância quanto àqueles sustentados pela OIT, por intermédio de sua Comissão de Liberdade Sindical (CLS). Todavia, entendemos que esses últimos tendem a funcionar bem em sistemas sindicais maduros, efetivamente democráticos e nos quais haja plena liberdade sindical, o que, indiscutivelmente, não se verifica no caso brasileiro, sendo entre nós um objetivo a perseguir.

O propósito final do presente estudo é a apresentação da teoria do abuso de direito, e sua análise vista sob a ótica do Direito Sindical.