85
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7 GRUPO II - CLASSE V - Plenário TC-028.893/2010-7 (Processo Eletrônico) Apensos: TC-003.348/2011-3 e TC-029.293/2010-3 Natureza: Relatório de Auditoria Unidade: Município de Araguatins/TO Responsáveis: Andrea Gonzalez Graciano, CPF 806.193.121-49; André Luiz Mendonça Bastos, CPF 651.855.105-44; Antonio Carlos Mendes, CPF 061.018.996-40; Francisco da Rocha Miranda, CPF 060.151.821-72; Joarisa Nogueira Duarte, CPF 329.345.212-49; José Fábio de Alcântara Silva, CPF 822.045.783-04; José Roberto Ribeiro Forzani, CPF 411.388.566-49; Kácio dias Soares, CPF 003.192.971-01, Leonardo Ribeiro Nunes, CPF 206.620.683-00; Maria de Fátima Gomes Matos, CPF 575.736.031-34; Renato Santana Gomes, CPF 117.598.361-68. Advogado constituído nos autos: Públio Borges Alves, OAB/TO 2.365. SUMÁRIO: AUDITORIA. POSSÍVEL DESVIO DE FINALIDADE DE RECURSOS DO PAB VARIÁVEL. FALHAS ADMINISTRATIVAS NO SETOR DE SAÚDE. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES TEMPORÁRIOS PARA CARGOS EFETIVOS. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM LICITAÇÕES DO MUNICÍPIO. INDÍCIOS DE PAGAMENTO IRREGULAR DE BENEFÍCIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA. AQUISIÇÕES PARA O PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR POR INTERMÉDIO DE MODALIDADE INADEQUADA. PENDÊNCIAS NA QUALIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS CONTRATADOS PARA PRESTAR SERVIÇOS MÉDICOS. JUSTIFICATIVAS CAPAZES DE AFASTAR PARTE DAS IRREGULARIDADES E DE MITIGAR A RESPONSABILIDADE, NOS DEMAIS CASOS. DETERMINAÇÕES. CIENTIFICAÇÃO. ENCAMINHAMENTO DE CÓPIA DA DELIBERAÇÃO ADOTADA. RELATÓRIO Trata-se do Relatório de Auditoria de Conformidade, Registro Fiscalis 1036/2010, realizada, no período de 18/10 a 19/11/2010, na Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, com o objetivo de avaliar a 1

AC-1112-15/13-P - tcu.gov.br€¦  · Web view- Word Investimentos Ltda. (R$ 9.760,00); ii) pagamentos de serviços próprios do bloco de financiamento de Média e Alta Complexidade

Embed Size (px)

Citation preview

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

GRUPO II - CLASSE V - PlenárioTC-028.893/2010-7 (Processo Eletrônico)Apensos: TC-003.348/2011-3 e TC-029.293/2010-3Natureza: Relatório de AuditoriaUnidade: Município de Araguatins/TOResponsáveis: Andrea Gonzalez Graciano, CPF 806.193.121-49; André Luiz Mendonça Bastos, CPF 651.855.105-44; Antonio Carlos Mendes, CPF 061.018.996-40; Francisco da Rocha Miranda, CPF 060.151.821-72; Joarisa Nogueira Duarte, CPF 329.345.212-49; José Fábio de Alcântara Silva, CPF 822.045.783-04; José Roberto Ribeiro Forzani, CPF 411.388.566-49; Kácio dias Soares, CPF 003.192.971-01, Leonardo Ribeiro Nunes, CPF 206.620.683-00; Maria de Fátima Gomes Matos, CPF 575.736.031-34; Renato Santana Gomes, CPF 117.598.361-68.Advogado constituído nos autos: Públio Borges Alves, OAB/TO 2.365.

SUMÁRIO: AUDITORIA. POSSÍVEL DESVIO DE FINALIDADE DE RECURSOS DO PAB VARIÁVEL. FALHAS ADMINISTRATIVAS NO SETOR DE SAÚDE. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES TEMPORÁRIOS PARA CARGOS EFETIVOS. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM LICITAÇÕES DO MUNICÍPIO. INDÍCIOS DE PAGAMENTO IRREGULAR DE BENEFÍCIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA. AQUISIÇÕES PARA O PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR POR INTERMÉDIO DE MODALIDADE INADEQUADA. PENDÊNCIAS NA QUALIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS CONTRATADOS PARA PRESTAR SERVIÇOS MÉDICOS. JUSTIFICATIVAS CAPAZES DE AFASTAR PARTE DAS IRREGULARIDADES E DE MITIGAR A RESPONSABILIDADE, NOS DEMAIS CASOS. DETERMINAÇÕES. CIENTIFICAÇÃO. ENCAMINHAMENTO DE CÓPIA DA DELIBERAÇÃO ADOTADA.

RELATÓRIO

Trata-se do Relatório de Auditoria de Conformidade, Registro Fiscalis 1036/2010, realizada, no período de 18/10 a 19/11/2010, na Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, com o objetivo de avaliar a boa e regular gestão de recursos públicos federais repassados àquele município, tendo como focos o Programa Nacional de Alimentação Escolar - Pnae, o Programa de Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica - Pnate, o Piso de Atenção Básica Variável - Saúde da Família - PSF, o Programa Bolsa Família, Convênios e Contratos de Repasse, no interregno de 1º/1/2007 a 30/6/2010.2. Realizada a missão fiscalizatória, a equipe de auditoria da Secex/TO, no Relatório constante da peça nº 99, consignou haver identificado indícios da ocorrência das seguintes irregularidades:

a) pagamento por obra ou etapa não executada ou, na melhor das hipóteses, pagamento antecipado - obra de construção de escola de educação infantil, objeto do Convênio 700188/2008 (Proinfância);

b) fiscalização de convênio insatisfatória ou não realizada - implantação e recuperação de estradas vicinais em projetos de assentamentos, objeto do Convênio 14000/2009;

c) aplicação indevida de recursos do componente Piso da Atenção Básica Variável (PAB variável), que integra o bloco de financiamento da Atenção Básica, consistente de:

1

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

c.1) aquisição de medicamentos;c.2) pagamentos de atendimentos fisioterápicos e psiquiátricos;c.3) pagamentos de profissionais contratados temporariamente e de servidores estatutários;c.4) transferências de recursos do PAB Variável para contas correntes utilizadas

exclusivamente para o pagamento de salários desacompanhadas de relatórios analíticos que comprovem a adequação dos valores requeridos e a vinculação orgânica ou funcional dos beneficiários;

c.5) pagamentos a título de pensão alimentícia, sem que conste o desconto correspondente do suposto alimentante;

c.6) execução de reforma e ampliação de Posto de Saúde, quando tais dispêndios deveriam ser atendidos pelo bloco de financiamento denominado Investimento na Rede de Serviços;

d) significativas deficiências de conteúdo do Relatório Anual de Gestão (RAG) atinente ao sistema de saúde municipal, assim como falta de comprovação de entrega dos RAGs relativos aos exercícios de 2008 e 2009 ao TCE/TO e à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), associada a indicações de que tal entrega ocorreu com atraso;

e) realização de pagamentos, à conta do PAB Variável, sem consulta prévia da situação de regularidade dos fornecedores e prestadores de serviços perante o INSS e o FGTS;

f) ausência de apuração do superávit financeiro dos recursos vinculados à área de saúde, o qual, caso apurado, pode dar ensejo à abertura de créditos adicionais (suplementares ou especiais) nos exercícios seguintes e, inclusive, evitar eventuais desvios de objeto;

g) ausência de designação do titular da Secretaria Municipal de Saúde para participar do processo de empenho ou da autorização de pagamentos de despesas que utilizam dotações orçamentárias e recursos financeiros vinculados ao SUS;

h) ausência de “atestos”, em documentos fiscais, da efetiva entrega de produtos, mercadorias ou prestação de serviços, em despesas à conta do PAB Variável;

i) exigências irregulares em editais e descumprimento das exigências de publicidade nas licitações destinadas à contratação de obras públicas custeadas com recursos federais (Convênios 14000/2009 - Siafi 703592, 700188/2008 - Siafi 639441, TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147, 504/2008 - Siafi 648091 e Contratos de Repasse CR 025401-79/2008 - Siafi 630083 e CR 257918-13/2008 - Siafi 629522);

j) realização de licitação de obra de aterro sanitário, objeto do Convênio 504/2008, sem que se dispusesse das licenças ambientais necessárias;

k) orçamentos de obras, objetos dos Convênios 504/2008 e 14000/2009, que não contavam com o adequado detalhamento;

l) possíveis inclusões indevidas de servidores municipais como beneficiários do Programa Bolsa Família;

m) possível contratação irregular, no âmbito do Programa Saúde da Família, de profissionais para o exercício de atividade médica, tendo em vista a não identificação de seus respectivos registros junto ao Conselho Federal de Medicina;

n) falta de criação de instância de controle social (ICS) específica para o acompanhamento, avaliação e fiscalização da execução, no âmbito local, do Programa Bolsa Família, controle esse que vem sendo exercido pelo Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) sem a devida legitimação ou de plano de trabalho específico para tanto;

o) fracionamento de compras, com fuga à modalidade licitatória adequada ou, até mesmo, com a dispensa irregular de licitação;

p) contratação de servidores temporários, à conta de recursos federais do PAB Variável, com inobservância dos princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade;

q) aceitação, no âmbito de certame licitatório destinado a contratar transporte escolar para atendimento da zona rural do município (Pregão Presidencial 1/2010), de licitante (único participante)

2

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

que não atendia a exigências constantes do instrumento convocatório, observando-se, ainda, a ausência da devida publicação de aviso atinente ao edital do procedimento licitatório em questão;

r) utilização, para a aquisição de gêneros alimentícios destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, da modalidade convite, em vez de Pregão, além de constatar-se que, em tais procedimentos, foi convidado apenas o número mínimo legalmente exigido (três), circunscritos ao próprio município, observando-se, ainda, que, em regra, findaram por participar dos certames apenas um ou dois licitantes.

3. Diante desse quadro, a equipe de auditoria apresentou proposta no sentido de que fossem realizadas as audiências dos seguintes responsáveis, a cada qual segundo seu grau de envolvimento com as ocorrências indicadas:3.1. Sr. Francisco da Rocha Miranda, então Prefeito Municipal de Araguatins/TO, em relação aos itens “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, “f”, “g”, “h”, “i”, “j”, “m”, “n”, “o”, “p” e “r”;3.2. Sr. André Luiz Mendonça Bastos, engenheiro fiscal da obra, em relação ao item “a”;3.3. Sr. José Roberto Ribeiro Forzani, então Superintendente Regional do Incra no Tocantins, em relação ao item “b”;3.4. Srª Maria de Fátima Gomes Matos, Secretária Municipal de Saúde de 1/1/2008 a 26/4/2010, em relação ao item “d”;3.5. Sr. Antônio Carlos Mendes, Secretário Municipal de Saúde de 26/4/2010 a 9/8/2010, em relação ao item “d”;3.6. Sr. Leonardo Ribeiro Nunes, então Presidente da Comissão de Licitações e Pregoeiro, em relação aos itens “i” e “q”;3.7. Srª Andrea Gonzales Graciano, Assessora Jurídica a partir de 11/5/2010, em relação aos itens “i”, “q” e “r”;3.8. Sr. José Fábio de Alcântara Silva, Assessor Jurídico a partir de 18/2/2010, em relação ao item “i”;3.9. Srª Joarisa Nogueira Duarte, Assessora Jurídica a partir de 19/4/2010, em relação ao item “i”;3.10. Sr. Renato Santana Gomes, Assessor Jurídico desde 8/7/2009, em relação ao item “i”;3.11. Srª Kácio dias Soares, Secretária Municipal de Saúde desde 1/2/2005, em relação ao item “n”.

4. Na mesma oportunidade, a ocorrência referida no item “l” motivou proposta de diligência e a constante da letra “k” serviu de fundamento para a proposição de alerta, sendo que esta última providência também foi alvitrada em relação às ocorrências atinentes aos itens “m” e “n”.5. Em seu pronunciamento, o Secretário de Controle Externo optou por que, preliminarmente, fossem promovidas apenas as audiências sugeridas, ficando a eventual expedição de alertas para uma etapa posterior. Posicionou-se o titular da unidade técnica, ainda, por que a diligência atinente aos beneficiários do Programa Bolsa Família (referida no item “l”) fosse promovida, posteriormente, diretamente sob a forma de determinação. Tendo por base, então, delegação de competência por mim outorgada, a realização das audiências foi autorizada (peça nº 101).6. Acerca das audiências levadas a efeito, das justificativas apresentadas e das análises sobre elas promovidas no âmbito desta Casa, adoto como relatório a instrução lançada pela Secex/TO (peça nº 208), cujas conclusões e propostas de encaminhamento foram ratificadas pela Diretora da Área (peça nº 209) e pelo Secretário de Controle Externo daquela unidade técnica (peça nº 210):

“Introdução

3

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

1. Cuidam os autos da apreciação de atos e fatos levantados em auditoria de conformidade realizada no Município de Araguatins/TO (Fiscalis 1036/2010), no período compreendido entre 25/10/2010 e 05/11/2010. A fiscalização supra foi realizada após autorização do Min. Augusto Sherman, a partir de proposta formulada pela Secex/TO (TC-012.061/2010-7), visando a implementar ações do TMS Local 11 (Transferências voluntárias - gestão municipal de recursos federais no Tocantins), vinculado à unidade técnica.

2. A proposta inicial previa a realização dos trabalhos no âmbito da Rede de Controle, em conjunto com o Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (TCE/TO), contudo, a tramitação independente das proposições em cada Corte de Contas inviabilizou a realização em conjunto dos trabalhos.

3. A equipe de fiscalização foi designada para as distintas fases do trabalho por meio das Portarias de Fiscalização 2142 e 2147, ambas de 14 de outubro de 2010 e, seguindo a proposta original aprovada, concentrou seus exames nas transferências de recursos federais alusivas ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), Programa de Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica (Pnate), Piso de Atenção Básica Variável (PAB Variável), Programa Bolsa Família (PBF), Convênios e Contratos de Repasses, todos tendo o município fiscalizado como beneficiário das transferências voluntárias da União ocorridas a partir de 2007.

4. O resultado da fiscalização está consignado no Relatório de Fiscalização (peça 99) que integra estes autos, cuja proposta de encaminhamento contemplou a realização de audiências, a expedição de alertas e a realização de diligência (peça 99, fls. 63-77). Em caráter preliminar e com base em delegação de competência inserta no inciso VIII, do artigo 1º, da Portaria Gab-MINS-ASC 6/2009, o titular da Secex/TO (peça 101) determinou que fossem promovidas as audiências sugeridas pela equipe de fiscalização. A presente instrução visa, primordialmente, a analisar as justificativas interpostas pelos responsáveis chamados aos autos por força da medida processual ora referida, além de propor encaminhamento processual condizente com as avaliações a seguir empreendidas.

Responsáveis, imputações, justificativas e análises da unidade técnica5. Todos os responsáveis chamados em audiência foram devidamente notificados,

obtiveram dilação de prazo para o pleno exercício da defesa, diretamente ou por meio de procurador legitimado, bem como apresentaram razões de justificativa, conforme se extrai da peça 198 destes autos. Registrados tais fatos, cumpre proceder à apreciação dos argumentos oferecidos pelos responsáveis como justificativa para as irregularidades que lhes foram atribuídas no âmbito deste processo de fiscalização.

Francisco da Rocha Miranda6. Por intermédio de Procurador constituído (peça 184), foram apresentadas justificativas

(peça 188) pelo responsável Francisco da Rocha Miranda (CPF 060.151.821-72), nos termos adiante discriminados. Apesar do documento de defesa referir-se ao assunto como atendimento a diligência, em homenagem ao princípio da fungibilidade das formas, o expediente é recebido e tratado nestes autos como razões de justificativa, conforme previsão regimental.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 1-2, item 1)6.1. Elaboração, conteúdo e encaminhamento dos Relatórios Anuais de Gestão (RAG) das

ações de saúde desenvolvidas no âmbito municipal, com as seguintes impropriedades: i) intempestividade na elaboração e encaminhamento para apreciação e deliberação pelo

Conselho Municipal de Saúde quanto ao RAG/2009; ii) ausência de vinculação do RAG/2009 com o Plano de Saúde e com a Programação

Anual de Saúde, carecendo de análise crítica quanto aos fatores que afetaram negativamente a gestão em qualquer aspecto, da identificação das ações mais eficazes eventualmente adotadas, de modo a contribuir para o aperfeiçoamento do sistema de planejamento das estratégias, políticas e compromissos da área de saúde;

4

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

iii) ausência de dados, informações e documentos auxiliares necessários à identificação das origens, do volume, da destinação e da efetiva aplicação dos recursos financeiros carreados ao longo de cada exercício, inviabilizando a comprovação da boa e regular gestão dos recursos financeiros utilizados;

iv) ausência de comprovação de entrega, ainda que intempestiva, ao Tribunal de Contas do Estado do Tocantins e à respectiva Comissão Bipartite de Saúde, dos Relatórios Anuais de Gestão alusivos aos exercícios 2008 e 2009.

Justificativas (peça 188, fls. 2-8)6.2. Preliminarmente, argui ilegitimidade passiva, atribuindo a responsabilidade pelos atos

inquinados ao Secretário Municipal de Saúde. Outrossim, acrescenta outros argumentos pontuais, quais sejam:

a) dependência da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau/TO) para elaboração de modelo de documento e definição de prazo de entrega (peça 188, fls. 3-4);

b) existência de tópicos no RAG/2009 que tratam de análise dos resultados da Programação de Saúde e da utilização de recursos financeiros, em que pese a possibilidade de aprimoramento e detalhamento das informações (peça 188, fls. 4-5);

c) reconhece que desconhecia os aspectos legais quanto ao prazo de entrega do RAG ao Tribunal de Contas do Estado - TCE e à Comissão Intergestores Bipartite - CIB (peça 188, fls. 8);

d) em variados momentos assevera ter levado ao conhecimento de sua equipe o teor das falhas apontadas na fiscalização, a fim de serem adotas práticas corretivas, evitando a reincidência.

Avaliação da unidade técnica6.3. A preliminar suscitada não merece prosperar, considerando que, à revelia do

ordenamento jurídico, o Secretário de Saúde não é o gestor único do SUS no âmbito municipal, tendo o responsável, na condição de Prefeito e superior hierárquico daquele, assumido relevantes funções de gestão da área de saúde municipal compartilhando, em consequência, riscos e responsabilidades pela decisão. Tal situação foi, inclusive, objeto de Achado 3.7 do Relatório de Fiscalização (peça 99). Ademais, a nomeação do titular da Secretaria de Saúde é ato privativo do responsável, circunstância que o sujeita à possibilidade de imputação culposa, na modalidade in eligendo e/ou in vigilando, no caso de ação, omissão, negligência ou imprudência na atuação de seus subordinados.

6.4. Outrossim, conforme estabelecido no art. 4º, caput, § § 1º a 4º, da Portaria GM/MS 3.332, de 28 de dezembro de 2006, o RAG é o principal instrumento de avaliação do sistema de planejamento e da gestão do SUS em cada esfera de governo, servindo também como instrumento das ações de auditoria e de controle. O § 3º do citado normativo indica expressamente quais apurações, análises e recomendações devem estar contidas no RAG. Ato contínuo, as características, o conteúdo, a estrutura e o fluxo de informações do RAG estão delineados nos artigos 3º a 8º da Portaria GM/MS 3.176, de 24 de dezembro de 2008, descabendo, portanto, a alegação de dependência de instruções e modelos a serem fornecidos pela CIB.

6.5. Por outro lado, o § 5º do art. 4º da Portaria GM/MS 3.332/2006 determina que o RAG deva ser submetido à apreciação e aprovação do Conselho de Saúde (CS) até o final do primeiro trimestre do ano subsequente ao que se referir. De outra parte, o art. 8º, inciso I, da Portaria GM/MS 3.176/2008 define prazo até 31 de maio de cada ano para encaminhamento, à CIB, da resolução do CS que aprovar o RAG, ordenando, ainda, a remessa de tais instrumentos aos respectivos tribunais de contas (art. 9º).

6.6. O reconhecimento de deficiências na elaboração do RAG e a demonstração de inocorrência de certas impropriedades, somadas ao compromisso de que os setores competentes serão orientados ao cumprimento daquilo que foi apontado como irregularidade na fiscalização são circunstâncias que admitem o acolhimento parcial das justificativas. Outrossim, entendemos que as impropriedades remanescentes relatadas no Achado podem ser objeto de expedição do alerta proposto no subitem 15.7.1, aproveitando a oportunidade de fazer com que a atuação desta Corte de

5

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

Contas contribua para o aperfeiçoamento da administração pública, notadamente porque a correção procedimental interfere em várias instâncias.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 2-4, item 2)6.7. Uso indevido de recursos do componente Piso da Atenção Básica Variável,

transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde, relativamente às situações caracterizadoras de desvio de objeto abaixo descritas:

i) pagamento de medicamentos ao longo do exercício 2008 até junho de 2010, sendo despesa inerente ao bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica, aos fornecedores abaixo listados, totalizando R$ 172.853,40 (cento e setenta e dois mil oitocentos e cinquenta e três reais e quarenta centavos);

- Almeida e Nascimento Ltda. (R$ 3.156,20); - Brasfarma Comercial Ltda. (R$ 11.500,00); - C.C. Barbosa Comércio (R$ 23.500,00); - Dismed Distribuidora de Medicamentos Ltda. (R$ 17.663,81); - Forçamed Distribuidora de Medicamentos Ltda. (R$ 8.240,00); - Ninafarma Medicamentos Ltda. (R$ 5.408,00); - Profarm Comércio Atacadista de Materiais e Medicamentos Ltda. (R$ 2.360,00); - R. C. de Sá Comércio (R$ 34.873,00); - R.C. Madalena Comércio (R$ 3.300,00); - R. dos Santos Costa Comércio. (R$ 30.870,00); - V.A.A da Silva Comércio (R$ 22.222,39); e- Word Investimentos Ltda. (R$ 9.760,00);ii) pagamentos de serviços próprios do bloco de financiamento de Média e Alta

Complexidade (MAC), no montante de R$ 13.800,00 (treze mil e oitocentos reais), em 2008, conforme discriminado a seguir:

- Leonardo da Silva Baião, fisioterapeuta - R$ 8.800,00; e- José Wilson Bezerra Rodrigues, psiquiatra - R$ R$ 5.000,00;iii) pagamentos realizados até 30/6/2010, de materiais e serviços utilizados na reforma e

ampliação do Posto de Saúde do distrito rural de Macaúbas, sendo a finalidade e natureza das despesas próprias do bloco de financiamento Investimento na Rede de Serviços, previstas na Portaria GM/MS nº 837, de 23 de abril de 2009, totalizando até então R$ 11.486,99 (onze mil quatrocentos e oitenta e seis reais e noventa e nove centavos), composto pelos pagamentos aos fornecedores abaixo identificados:

- Antenor Costa Armages (cheques 852905, 852910, 842912 e 852937) - R$ 3.041,23; - Eucleber Ferreira Amaral (cheques 852883, 852884, 852885, 852904 e 852911) -

R$ 6.358,76; - F. de Sousa Cardoso (cheque 852909) - R$ 1.140,00; e- Sivan Moreira do Nascimento (cheque 852882) - R$ 947,00;iv) pagamento de salários de ocupantes de cargos de áreas meio, estatutários ou

temporários (auxiliares de serviços gerais, assistentes administrativos, vigilantes e etc.), violando as disposições do inciso II, do § 2º, do art. 6º, da Portaria GM/MS nº 204/2007, no montante de R$ 20.814,95 (vinte mil oitocentos e quatorze reais e noventa e cinco centavos), conforme discriminado abaixo:

- Cirlene Aparecida L. dos Santos (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 7.205,33; - Francinete Lobo de Sousa (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 5.566,70; - Jandira Rodrigues da Silva (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 234,17;- Maria Luíza da Silva Ferreira (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 542,50;- Paulo Augusto Farias Soares (Vigilante) - R$ 3.682,80; - Maria Luziene Lima da Silva (Assistente Administrativo) - R$ 541,72;- Solange Dantas Nogueira (Assistente Administrativo) - R$ 516,30;

6

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

- Vanderléia Borges da Silva (Assistente Administrativo) - R$ 2.216,15; e- Welcia Passos de Jesus Gamboge (Assistente Administrativo) - R$ 309,28; v) transferências para contas correntes (Banco do Brasil, agência 1305, conta 11.034-5 e

Caixa Econômica Federal, agência 2812, conta 233-5) utilizadas para o pagamento de salários de servidores ativos da prefeitura, realizadas nos exercícios 2009 e 2010, no montante de R$ 197.340,31 (cento e noventa e sete mil trezentos e quarenta reais e trinta e um centavos), circunstância que também caracteriza inobservância do inciso II, do § 2º, do art. 6º, da Portaria GM/MS nº 204/2007;

vi) pagamentos realizados a partir de janeiro de 2009 e até junho/2010, a título de pensão alimentícia, em parcelas não descontadas dos honorários devidos aos médicos contratados Leocárdio Miranda Labre Rodrigues e Semidarkuia Araújo da Silva, bem como de pensão favorecendo a Srª Maria Divina da Costa Lima, os quais resultaram em desembolsos de R$ 4.593,78 (quatro mil quinhentos e noventa e três reais e setenta e oito centavos), de acordo com os registros financeiros disponibilizados (dois mil duzentos e cinquenta reais; mil setecentos e cinquenta e oito reais e setenta e oito centavos e; quinhentos e oitenta e cinco reais, respectivamente).

Justificativas (peça 188, fls. 8-18)6.8. As irregularidades na gestão e aplicação de recursos do componente Piso da Atenção

Básica Variável (PAB Variável) foram objeto de idênticas justificativas, ignorando-se o caráter específico de cada circunstância discriminada no subitem precedente, consistindo na seguinte síntese argumentativa:

i) que não houve desvios de finalidade e que os hipotéticos desvios de objeto levantados na auditoria visaram a atender necessidades básicas da comunidade, evocando também o princípio da eventualidade;

ii) que a natureza de falha formal das ocorrências não indica má-fé, dolo, locupletamento ou prejuízo ao erário;

iii) transcreve excertos de Acórdãos do TCU (1262/2005 - Plenário e 6545/2009 - 2ª Câmara) alegando que em situações similares esta Corte deliberou pela expedição de determinações a entes públicos alcançados;

iv) admite sujeição à sanção com multa relativamente às irregularidades detalhadas nos subitens ‘iii’, ‘iv’ e ‘v’ do item 6.7 desta Instrução (peça 188, fls. 14, 16 e 17);

v) especificamente quanto ao pagamento de pensões alimentícias, sustenta que os valores pagos aos beneficiários foram descontados dos honorários dos médicos contratados (peça 188, fls. 18).

Avaliação da unidade técnica6.9. Mesmo tratando-se de amostras extraídas nos registros orçamentários, financeiros e

contábeis do Ente fiscalizado, verifica-se que as irregularidades na gestão dos recursos vinculados transferidos pelo FNS são recorrentes, havendo óbice instransponível para considerar, no caso concreto, o princípio da eventualidade.

6.10. Também não foram apresentados relatórios, diagnósticos, manifestações ou pareceres dos gestores, prévios ou contemporâneos aos atos inquinados, capazes de demonstrar a necessidade, naquelas ocasiões, de utilizar os recursos do PAB Variável para outras despesas não enquadráveis nas finalidades previstas em regulamento esse componente de financiamento, além da carência ou inexistência de outras fontes, de forma a atender necessidades básicas da comunidade. Por último, não há razoabilidade em considerar a transferência de volumosos recursos do PAB Variável para o custeio de pessoal vinculado à prefeitura como evento destinado a atender, genericamente, necessidades básicas da comunidade.

6.11. De fato, na fiscalização, não foram apurados casos de superfaturamento nas despesas custeadas indevidamente com recursos do PAB Variável, desvios em favor de particulares e, ainda, considerando o reconhecimento do gestor, por meio das suas justificativas, sobre a ocorrência das

7

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

impropriedades, afastam-se as hipóteses de locupletamento, má-fé ou prejuízo ao erário. Contudo, tais circunstâncias não elidem todos os aspectos das irregularidades em debate.

6.12. Admite-se o entendimento de que os recursos utilizados para as despesas discriminadas nos subitens ‘i’ a ‘iii’ do item 6.7 desta Instrução tenham inquestionável pertinência temática com ações de saúde e, portanto, o custeio com recursos do PAB Variável implicou em desvio de objeto e não de finalidade, afinal, o próprio normativo que regula as transferências automáticas do FNS em favor dos fundos de saúde estaduais e municipais prevê a hipótese de remanejamento entre blocos, ainda pendente de normatização predominando, contudo, a regra de vinculação em ações específicas de cada bloco de financiamento (art. 6º, caput e § 4º, da Portaria GM/MS 204, de 29 de janeiro de 2007).

6.13. Outrossim, não se podem acolher os argumentos quanto aos pagamentos efetuados em favor de ocupantes de cargos de áreas meio, estatutários ou temporários (auxiliares de serviços gerais, assistentes administrativos e vigilantes), por expressa vedação do inciso II do § 2º do art. 6º da Portaria GM/MS 204/2007 que preconiza:

‘[...]§ 2º Os recursos referentes aos blocos da Atenção Básica, Atenção de Média e Alta

Complexidade Ambulatorial e Hospitalar, Vigilância em Saúde e de Gestão do SUS, devem ser utilizados considerando que fica vedada a utilização desses para pagamento de:

[...]II - servidores ativos, exceto aqueles contratados exclusivamente para desempenhar

funções relacionadas aos serviços relativos ao respectivo bloco, previstos no respectivo Plano de Saúde;’ (grifos nossos)

6.14. Vê-se que os servidores referidos no subitem ‘iv’ do item 6.7 desta Instrução além de servidores ativos, obviamente não são contratados para desempenhar serviços relativos a ações de qualquer bloco de financiamento contemplado pelo FNS, nem o exercício das suas atribuições estejam contemplados no plano de saúde da municipalidade, sem nenhum demérito à denominação do cargo ou importância fática dos profissionais em questão, reputando-se aqui somente à inexistência de subsunção à norma;

6.15. A transferência constante, pura e simples de valores para custeio da folha de pagamento geral da prefeitura (item 6.7, subitem ‘v’, desta Instrução) também não permite estabelecer o liame indispensável à demonstração de utilização de recursos em ações e serviços de saúde inerentes ao componente do PAB Variável, conforme exigências do parágrafo único do art. 8º e § 2º do art. 25, ambos da Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000 (LRF). Ademais, nenhum documento foi acrescentado para demonstrar qualquer nexo entre as transferências e a eventual remuneração de prestadores ou servidores vinculados ao SUS.

6.16. Derradeiramente, a informação de que os valores pagos a título de pensões alimentícias decorreram de descontos efetuados em honorários de médicos contratados não vieram acompanhadas de documentos, conferindo suporte documental à alegação e teor capaz de comprovar a veracidade do argumento, como prevê o art. 162 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União - RI/TCU, não havendo como considerá-lo.

6.17. Assim esclarecido, opinamos que merecem acolhimento aos argumentos tendentes a justificar os gastos impugnados objeto de discriminação nos subitens ‘i’ a ‘iii’ do subitem 6.7 desta peça instrutória, descabendo, entretanto, a aceitação das justificativas quanto aos valores tratados nos subitens ‘iv’ a ‘vi’ do tópico supracitado.

6.18. Considerando haver restado caracterizada a ocorrência de pagamentos ilegítimos, com desvio de finalidade, a hipótese dá ensejo à instauração de tomada de contas especial, cuja autuação e processamento devem ser feitos por meio de processo apartado, formado a partir de peças extraídas destes autos, conforme proposição do subitem 15.4 desta Instrução, no qual se contempla, além de outras situações danosas também apuradas neste processo, os fatos geradores objeto da impugnação ora tratada.

8

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 4, item 3)6.19. Adotar licitação na modalidade ‘convite’ para as compras de gêneros alimentícios

destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, em detrimento do pregão, para compra integral ou para sistema de registro de preços, conforme impõem a regulamentação em vigor, especialmente as disposições do art. 15, inciso II, Lei 8.666/1993; art. 1º, caput e § 1º, do Decreto 5.504/2005; art. 2º, caput, 3º, caput e § 2º, do Anexo II do Decreto 3.555/2000 e do art. 18, § 6º, da Resolução 38/CD/FNDE/2009.

Justificativas (peça 188, fls. 18-20)6.20. A defesa do responsável aponta circunstâncias como a localização geográfica do

município, afastada de centros urbanos desenvolvidos, o comércio local inexpressivo, sem estrutura e com poucas opções, como razões para justificar a adoção da modalidade licitatória do convite como procedimento licitatório simplificado para a compra de gêneros alimentícios destinados à alimentação escolar. Insere, por fim, trecho do Acórdão TCU 2568/2010 - 1ª Câmara (Voto, item 14) para enfatizar julgado em que a observância do postulado da licitação prevaleceu sobre o fato de o jurisdicionado haver adotado modalidade inadequada.

Avaliação da unidade técnica6.21. As limitações suscitadas inicialmente pelo responsável são de caráter genérico e

abstrato, não estão amparadas por documentos ou qualquer elemento, mesmo indiciário, de existência real de situações restritivas, além de não ser fato notório, circunstâncias que esvaziam o valor do argumento.

6.22. Convém lembrar, o Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 57-60, Achado 4.10) consigna que a prática do âmbito do município é o convite dirigido ao número mínimo de 3 possíveis fornecedores do ramo, predominantemente os mesmos e, com muita frequência, ocorrendo inabilitação de uma ou duas ou, ainda, com a efetiva participação de apenas uma empresa, muitas vezes com cotação parcial dos itens de produtos licitados. Mesmo sob tais condições, os convites são homologados, sem repetição visando à obtenção do número mínimo de 3 propostas válidas e sem qualquer justificativa quanto à ocorrência de manifesto desinteresse ou limitação de mercado, afrontando a legislação e a jurisprudência concernente ao assunto (Súmula TCU 248, § 7º do art. 22, da Lei 8.666/1993) e consolidando um círculo vicioso entres as partes.

6.23. Nesse ponto, remetemos a análise ao teor do disposto no § 6º do art. 18 da Resolução CD/FNDE 38, de 16 de julho de 2009, onde está previsto que as aquisições destinadas ao Pnae podem obedecer às modalidades de licitação previstas na Lei 8.666/1993, na Lei 10.520/2002 (pregão) e, ainda, por dispensa de licitação, na forma estabelecida na Lei 11.947/2009 (aquisição direta de gêneros alimentícios da agricultura familiar e do empreendedor rural ou de duas organizações).

6.24. Foram coligidos pela equipe de fiscalização documentos que indicavam a iniciativa de órgãos municipais na implementação de procedimentos visando à realização de aquisições de produtos da agricultura familiar, nos termos da Lei 11.947/2009 (peças 47-49). Vale lembrar, a aquisição de gêneros alimentícios é considerada aquisição de bens de consumo comuns, consoante Anexo II, do Decreto 3.555/2000, com a redação dada pelo Decreto 3.784/2001;

6.25 É indiscutível o fato de que as aquisições e o fornecimento regular e parcelado de insumos são inerentes à operacionalização do Pnae, em função do calendário escolar e por razões de espaço, estocagem, segurança, conservação, cautelas sanitárias (refrigeração, validade etc.) e fatores logísticos (numero de unidades educacionais, de alunos, localização urbana ou rural). Não se pode esquecer, também, há um universo significativo de fornecedores capazes de atuar e distribuir mercadorias nas regiões mais diversificadas, suprindo, senão todos, quase a totalidade dos produtos requeridos, alguns daqueles fornecedores especializados em certos segmentos (alimentos industrializados, massas e pães, carnes, bebidas, hortifrutigranjeiros e etc.). Nessas condições, observadas as disposições normativas sobre o assunto, bem como o interesse mercadológico que as aquisições de insumos para o Pnae têm potencial para despertar, mostra-se evidente que a melhor

9

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

alternativa para obtenção de preços mais vantajosos é estabelecendo modelos concorrenciais mais acirrados, marcados por ampla difusão dos certames. Há de se convir, com base nas disposições normativas e nas situações fáticas ora descritas, o tipo do negócio aponta preferencialmente para o registro de preços como opção mais adequada para a operacionalização das aquisições regulares, formatado mediante a realização de concorrência (Lei 8.666/1993) ou pregão (Lei 10.520/2002). A observância dos procedimentos legais para tanto enseja maior abrangência na divulgação, amplificação do alcance e participação concorrencial, confere transparência e impessoalidade aos processos de compras, além de incorporar vantagens na diminuição de riscos como oscilações de preços, capacidade de fornecimento integral dos produtos solicitados, solução de continuidade, bem como de facilitar o planejamento e o tratamento de aspectos logísticos e operacionais que envolvem a disponibilização dos insumos.

6.26. Diante do acima exposto, entendemos que as justificativas oferecidas não foram capazes de afastar as irregularidades descritas, contudo, mitiga a responsabilidade do gestor o fato de ter promovido a homologação dos convites especificados sob o amparo de parecer de sua assessoria jurídica. Sem embargo de restar demonstrada a ocorrência de falha, acreditamos que o quesito admite a oportunidade desta Corte de Contas contribuir com sua função pedagógica e orientadora para tratar o assunto com a expedição da recomendação e do alerta propostos nos subitens 15.5.1 e 15.7.2 desta Instrução, respectivamente.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 4, item 4)6.27. Realização de pagamentos em desacordo com o avanço físico dos serviços da obra de

construção da creche Pró-Infância (Convênio 700188/2008 - Siafi 639441), em desacordo com os arts. 62 e art. 63 da Lei 4.320/1964.

Justificativas (peça 188, fls. 21-23)6.28. Desdobram-se as justificativas sobre a questão nuclear da imputação nas teses

seguintes:i) os pagamentos foram autorizados em conformidade com os boletins de medição

atestados e encaminhados pelo setor competente;ii) as obras e edificações realizadas já ultrapassaram o índice de 50% do projeto, embora

ainda não tenha sido liberada a 2ª parcela do convênio;iii) não foi constatado superfaturamento, nem desatendimento de especificações técnicas

na execução em curso.Avaliação da unidade técnica6.29. Conforme descrição da situação encontrada na fase de execução da auditoria (peça

99, fls. 10-11, subitem 3.1.1), a partir do cotejo da planilha de itens de serviços e preços unitários anexa à proposta da licitante vencedora, boletins de medição, notas fiscais, dados lançados em sistema informatizado de controle e monitoramento da obra, além do relatório fotográfico produzido na ocasião, são robustos os indícios de medição inadequada da execução da obra, ensejando pagamento em valores superiores ao percentual correspondente à execução física real da obra e, por consequência, representando antecipação de pagamentos de uma parcela dos pagamentos liberados até a quarta medição.

6.30. Procedem os argumentos de que as autorizações de pagamento tiveram por base os boletins de medição elaborados pelo fiscal da obra, também chamado em audiência (peças 115 e 183) nestes autos em razão de suas responsabilidades na configuração da irregularidade ora tratada.

6.31. O registro fotográfico utilizado pelo procurador do audiente para ratificar a assertiva de que a execução da obra já é superior a 50% do projeto (peça 188, pg. 64) possui caráter de verossimilhança e razoabilidade, podendo ser referendado por fotografias apresentadas pelo fiscal da obra, também inquinado por atos correlatos à matéria (peça 183, pg. 6).

6.32. Também se confirma a declaração de que somente foi liberada a primeira parcela do Convênio que dá suporte à realização da obra, evidenciada em consulta ao Siafi (peça 199). Cabe registrar, a parcela liberada pelo FNDE (R$ 470.250,00) até a data de elaboração desta Instrução

10

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

corresponde a 50% do valor a que o órgão federal concedente comprometeu-se por força da avença firmada com o Município de Araguatins/TO.

6.33. A argumentação sobre ausência de superfaturamento é inócua, tendo presente que a equipe de fiscalização não tratou deste aspecto, considerando que as creches do programa Pró-Infância possuem especificações e preços referenciais previamente aprovados no âmbito do FNDE (Concedente) e, considerando que a proposta da empresa contratada estava dentro do limite de preço, tal ponto não foi objeto de exames específicos na auditoria. Os aspectos de obediência às especificações técnicas, assegurados pelo responsável, poderão ser apreciados pelo próprio órgão Concedente, por meio de vistoria, porém, salientamos que esses requisitos não foram apontados na Audiência dirigida ao gestor.

6.34. Tendo presente a análise configurada nos itens anteriores, entendemos que as justificativas não afastaram de maneira irrefutável os indícios de pagamentos superiores ao avanço físico da obra, porém, as circunstâncias do caso concreto comportam o acolhimento parcial das justificativas, admitindo que o assunto possa ser tratado através da expedição da recomendação sugerida no subitem 15.5.2.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 5, item 5)6.35. Não efetuar regularmente a apuração de superávit financeiro dos recursos da área de

saúde, distinguindo todas as origens e aplicações, inclusive aquelas afetas aos blocos de financiamento patrocinados pelo Fundo Nacional de Saúde, procedimento que viabilizaria a abertura de créditos adicionais no montante dos excedentes financeiros remanescentes dos exercícios 2008 e 2009, com base nas informações oferecidas pelo próprio município, oportunizando a utilização tempestiva, legítima e regular das disponibilidades nos objetos e ações de saúde pertinentes.

Justificativas (peça 188, fls. 23-24, item 5 e fls. 66-69)6.35. Resumidamente, o responsável apresenta demonstrativos específicos que integram os

Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária (RREO) do município, relativos aos exercícios 2008 e 2009, afirmando não existir óbices para viabilização da abertura de créditos adicionais com os excedentes financeiros remanescentes.

Avaliação da unidade técnica6.36. Inicialmente, registra-se que há óbice intransponível para abertura de créditos

adicionais que repercutam em exercícios financeiros encerrados, diferentemente do que defende o audiente.

6.37. Segundo, os demonstrativos apresentados (peça 188, fls. 66-69) ou não merecem confiabilidade, por conterem informações inconsistentes e contraditórias, ou reforçam a ocorrência da irregularidade objeto da audiência.

6.38. Para caracterizar a hipótese de insubsistência acima arguida, deve-se observar os valores divergentes que deveriam ser representativos do total de gastos com ações e serviços de saúde registrados no RREO relativo a 2008 (peça 188, fls. 66-57, itens 9 e 10). Além da inexplicável e indevida diferença de valores para a mesma informação, o último valor favorece a ampliação do percentual de receitas próprias aplicadas no SUS pelo município. Outro ponto nesse mesmo sentido refere-se à informação pouco provável de inexistência de valores pagos a título de pensões e inativos pelo município (peça 188, fls. 66 e 69, subitem 11 da planilha) em qualquer daqueles exercícios, sendo uma dedução obrigatória, conforme previsto no art. 8º, inciso I, do Anexo à Portaria GM/MS 2.047, de 5 de novembro de 2002.

6.39. No que concerne aos dados que corroboram a irregularidade inquinada, serve para ilustrar o caso a comparação quanto às receitas e despesas obtidas ou realizadas a partir de recursos repassados por outros entes públicos em favor do município. Em 2008, o demonstrativo elaborado indica um total de receitas de R$ 3.565.739,84 destinados ao SUS oriundos dos demais entes da Federação, sendo R$ 2.487.874,83 de transferências da União (peça 188, fls. 66, itens 2 e 2.1 do demonstrativo). A suposta despesa liquidada com recursos de terceiros importou R$ 2.435.750,15

11

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

(peça 188, fls. 67, item 12.1 do demonstrativo). Haveria, portanto, superávit a ser calculado tanto em relação do total, conforme a origem, e até mesmo considerando somente o valor repassado pelos cofres da União.

6.40. Ainda na mesma análise empreendida acima, vislumbra-se, quanto a 2009, que o demonstrativo consigna em R$ 3.034.679,19 a contribuição dos demais entes públicos para o SUS municipal, com R$ 2.474.320,81 (peça 188, fls. 68, itens 2 e 2.1 do demonstrativo) atribuídos aos cofres federais. A despesa total com recursos de terceiros alcançou o montante de R$ 1.399.470,04 (peça 188, fls. 69, subitem 12.1 do demonstrativo), circunstância que indica novamente a necessidade de apuração de superávit de tais fontes, de forma a permitir a utilização dos saldos financeiros remanescentes, exclusivamente em ações de saúde vinculadas às suas origens, além de servir para separar os gastos efetivamente patrocinados com recursos de terceiros, daqueles suportados com recursos próprios, quando da apuração do percentual mínimo de gastos com ações e serviços de saúde (art. 77, inciso III e § 4º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional 29/2000).

6.41. Importa lembrar, somente em relação ao componente PAB Variável, do bloco de financiamento da Atenção Básica, contemplado no escopo da fiscalização, a equipe de auditores apurou a ocorrência de superávits de R$ 417.939,80 e R$ 438.565,15 relativos a 2008 e 2009, respectivamente, a partir dos dados fornecidos pelos gestores do município fiscalizado.

6.42. De qualquer forma, não foram encontrados na fase de execução da auditoria, nem nesta ocasião de análise das justificativas, elementos comprobatórios de apuração anual de superávit de recursos de terceiros, muito menos de abertura de créditos adicionais em 2008, em 2009 ou 2010, e que tenha tido como suporte econômico esse fundamento. A ausência de apuração de superávit das transferências de recursos federais para o município facilita a manipulação de dados, pode contribuir para a diminuição do volume de receitas próprias nas ações e serviços de saúde, prejudica o controle e a aferição da aplicação em gastos pertinentes à vinculação legal, além de violar o princípio da transparência na gestão fiscal. Por conseguinte, rejeitam-se as justificativas, sugerindo-se a aplicação de sanção prevista no inciso II, da Lei 8.443/1992, por descumprimento do disposto no art. 8º, parágrafo único, combinado com o art. 25, § 2º, e 50, inciso I, todos da Lei Complementar 101/2000 (LRF), impossibilitando o controle da aplicação de recursos legalmente vinculados, bem como a utilização destes como se fossem recursos próprios, adulterando o cálculo dos percentuais mínimos de aplicação de receitas nas ações e serviços públicos de saúde, conforme previsto no art. 77, inciso III e § 4º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional 29/2000 e Portaria GM/MS 2.047/2002.

6.43. Diante das circunstâncias, entendemos cabível a aplicação de multa proposta no subitem 15.2.1 ‘i’ desta Instrução. Por oportuno, salientamos que a falta de apuração de superávit de recursos federais repassados voluntariamente aos municípios tocantinenses, em especial as transferências fundo a fundo e as automáticas provenientes do Fundo Nacional de Saúde (FNS) e do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Escolar (FNDE), tem sido uma constatação comum nas auditorias realizadas pela Secex/TO, situação que configura a ocorrência das irregularidades mencionadas no item precedente, de modo abrangente e contumaz. O fato oportuniza a expedição de comunicação ao Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, a fim de dar conhecimento da impropriedade àquela Corte de Contas, nos termos sugeridos no subitem 15.10, subsequente.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 5, item 6)6.44. Autorizar a realização de licitação da obra de construção de Aterro Sanitário

(Convênio 504/2008) sem dispor de licença ambiental prévia para o empreendimento, em desacordo com o prescrito no art. 6º, inciso IX, da Lei 8.666/93 e Acórdão 516/2003 - Plenário, sob pena de aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/92.

Justificativas (peça 188, fls. 24-25, 70, 103-104)

12

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

6.45. Alega-se perda de objeto, em razão da rescisão contratual havida antes da execução dos serviços pela empresa contratada, anexando cópia dos elementos rescisórios e de licença ambiental.

Avaliação da unidade técnica6.46. A cronologia explicitada no Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 42, subitem

4.2.1) da auditoria demonstra cabalmente que a licença prévia só foi expedida pelo órgão ambiental competente um ano após a data de lançamento do edital de licitação destinado à contratação das obras destinadas à implantação do aterro sanitário objeto do Convenio 504/2008 (Siafi 648091). A documentação trazida aos autos por meio da resposta à audiência confirma o fato.

6.47. Entretanto, por vias transversas, a ocorrência da rescisão contratual antes de iniciadas as obras, somada à posterior emissão de licença prévia pertinente ao empreendimento, além da natureza destes autos e do objetivo estratégico desta Corte de Contas de contribuir para o aperfeiçoamento da gestão pública, exercendo sua função orientadora, tais circunstâncias incitam a proposição que objetive a expedição do alerta proposto no subitem 15.7.3 consignado na parte final desta peça.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 5, item 7)6.48. Atuar com gestor efetivo dos recursos financeiros vinculados ao SUS, em detrimento

do titular da Secretaria Municipal de Saúde, conforme preconizam a Constituição Federal de 1988 (art. 198, inciso I) e a Lei 8.080/1990 (art. 7º, inciso IX e art. 9º, caput, inciso III).

Justificativas (peça 188, fls. 25, item 7 e fls. 95)6.49. O audiente declara já ter providenciado delegação em favor da atual titular da

Secretaria de Saúde para que esta seja a gestora efetiva dos recursos financeiros vinculados ao Fundo Municipal de Saúde, incluindo cópia de decreto municipal para que comprove a medida de adequação à legislação aplicável ao funcionamento do SUS, acrescentando que nenhum prejuízo subsistiu ao Erário enquanto geriu os recursos em causa.

Avaliação da unidade técnica, 6.50. Como indica o próprio texto da audiência, a responsabilidade pela gestão integral das

ações e dos recursos do SUS é única e está legalmente atribuída ao titular do ministério ou secretaria de saúde, no caso da União ou dos estados e municípios, independentemente de outras formalidades tomadas pelos chefes do poder executivos na diferentes esferas de governo. Todavia, as justificativas e o documento apresentado pelo gestor indicam o conhecimento da impropriedade levantada e a adoção de medidas efetivas para suprimi-la implicando, pois, o acolhimento das justificativas.

6.51. A propósito, situação idêntica recentemente analisada em outro processo de fiscalização de mesma natureza comportou a expedição de alerta (subitens 9.2 e 9.2.11 do Acórdão 477/2011 - Plenário), pelas razões justificada nos itens 7 e 8 do Voto condutor daquele Acórdão, encaminhamento que acreditamos também ser apropriado para a presente situação, consoante termos apresentados no subitem 15.7.4 da proposta de encaminhamento.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 5, item 8)6.52. Formalizar, de forma contínua e regular, a contratação temporária de servidores para

ocupação de cargos regulares de enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários de saúde, médicos, fisioterapeutas e farmacêuticos, especificamente daqueles que tiveram remuneração suportada por recursos federais do PAB Variável, sem demonstrar ter adotado procedimentos que resguardassem os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e da publicidade, preconizados no art. 37 da Constituição Federal de 1988, eivando de irregularidade as contratações promovidas de profissionais para aquelas ocupações.

Justificativas (peça 188, fls. 25-26, item 8; fls. 71-84)6.53. Alega o responsável que, à época da realização da auditoria, estava em andamento o

Concurso 01/2010, destinado ao provimento de vagas para os cargos discriminados na comunicação da irregularidade apurada nesta Audiência, salientando recente convocação de candidatos aprovados

13

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

no certame em causa. Derradeiramente, assevera que as contratações temporárias inquinadas na auditoria objetivaram atender serviços básicos e necessários à população da localidade, evitando prejuízos e transtornos com eventuais paralisações por indisponibilidade de servidores municipais.

Avaliação da unidade técnica6.54. A documentação apresentada nas justificativas (peça 188, fls. 71-84) permite inferir

que em 2010 houve a realização de concurso público para provimento de cargos regulares, alcançando todos aqueles elencados (enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários de saúde, médicos, fisioterapeutas e farmacêuticos) na fundamentação da audiência. Contudo, a convocação de candidatos aprovados (peça 188, fls. 83-84) só contempla médicos e agentes comunitários de saúde dentre aqueles cargos supracitados, estando a iniciativa distante de uma solução satisfatória.

6.55. Já no texto do Relatório de Fiscalização que delineou a irregularidade (peça 99, fls. 53, subitem 4.8) registramos que, num modelo sui generis, o Prefeito do município é autorizado anualmente pela Câmara de Vereadores a contratar servidores temporariamente (peça 21), sem especificar cargos ou áreas de atuação. A própria regularidade com que as autorizações legislativas são expedidas descaracteriza o caráter de excepcionalidade. Ademais, os profissionais contratados a partir desse modelo supostamente excepcional foram, na verdade, destinados ao exercício de cargos tipicamente efetivos, de atribuições e necessidade permanente para o Ente, preenchidos paliativa e inadequadamente, ou por incúria administrativa ou por real desinteresse do gestor em realizar o provimento pela via e forma adequadas.

6.56. Apesar de a legislação municipal estipular exigências de apresentação de justificativas da necessidade, do excepcional interesse público (peça 21, art. 2º, incisos III e IV) e dos danos ou prejuízos que a não contratação de servidores temporários pudessem ocasionar, nem na ocasião dos levantamentos de auditoria, nem no atendimento à audiência comprovou-se que os processos de contratações temporárias fossem instruídos com despachos, manifestações ou pareceres destinados a atender àqueles requisitos legais.

6.57. Desde a fase de execução da auditoria, não foi demonstrada a adoção de formalidades mínimas para que as contratações ora atacadas indicassem obediência aos princípios da impessoalidade, moralidade, publicidade e transparência. Mesmo tratando-se de procedimentos simplificados de recrutamento de servidores, não se pode prescindir nesses casos de comprovar a veiculação de avisos na imprensa oficial e em outros veículos de comunicação (jornais, rádio e televisão, quando possível ou viável), prazos adequados para recebimento de documentação de interessados, critérios prévios e objetivos para comprovação de qualificação acadêmica, experiência profissional, realização de entrevistas e pontuação de quaisquer fatores predefinidos para a classificação e convocação de interessados habilitados. Sem cautelas dessa natureza não há licitude nos atos, eivando de vícios a contratação do pessoal com o obscuro rito adotado pela municipalidade.

6.58. As considerações acima são pertinentes tendo em vista que vários foram os profissionais contratados da forma ora impugnada, cujas despesas remuneratórias foram custeadas com recursos federais do componente PAB Variável, transferido pelo Fundo Nacional de Saúde - FNS, circunstância que submete o gestor à competência e jurisdição do TCU. Não se questionou se houve ou não a efetiva prestação laboral dos obreiros temporários, mas sim a inobservância de requisitos legais imprescindíveis nos processos de recrutamento e seleção conduzidos pelo gestor.

6.59. Diante da análise consubstanciada nos subitens precedentes, opinamos pela rejeição das razões de justificativa, com aplicação de multa ao responsável, incluída dentre as motivações para a proposta inserta no subitem 15.2.1 ‘ii’ da proposta de encaminhamento.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 6, item 9)6.60. Contratar e autorizar pagamentos em favor das pessoas abaixo indicadas, para a

prestação de serviços médicos no âmbito do Programa Saúde da Família, para cujas despesas concorreram recursos do PAB Variável, repassados pelo FNS, havendo indícios de prática ilegal da medicina (art. 282, do Código Penal), de violação de dispositivos da Lei 3.268/1957, do Decreto

14

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

44.045/1958 e da Portaria GM/MS nº 648/2006 (Anexo I, item 2), conforme situações a seguir discriminadas:

i) sem identificação ou comprovação de registro em conselho regional de medicina, até a data de realização da auditoria:

- Camila Cunha Canto Gerbi - R$ 73.109,08 (junho/2009 a março/2010); - Josué Rodriguez Puron - R$ 34.485,35 (fevereiro a setembro/2008); - Rondson Freitas do Vale - R$ 71.729,68 (junho/2009 a março/2010); - Simydarkuia Araújo da Silva - R$ 126.727,49 (setembro/2008 a março/2010); ii) contratados na condição de estagiários, sem comprovação de inscrição em conselho

regional de medicina, à época da vigência contratual:- Alberto Gustavo de Oliveira Teles e Frederico Vargas Xavier - R$ 24.829,50 (2007); - Carlos Walfredo Reis Júnior - R$ 4.138,25 (fevereiro/2008);- Daiana Cinara da Mata - R$ 12.600,00 (agosto/2008 a abril/2009); - Thiago Sanches Flores Pinto - R$ 3.600,00 (fevereiro a março/2008); - Fernando Xavier Borges - R$ 10.800,00 (fevereiro a dezembro/2008); - Ivan Graça Rêgo - R$ 10.800,00 (fevereiro a dezembro/2008).Justificativas (peça 188, fls. 26-29, item 9; fls. 51-62; fls. 85-92)6.61. Além de trazer aos autos documentos (diplomas, documentos de identificação de

pessoal, convênio e termos de compromisso de estágio), as justificativas alusivas a cada impropriedade motivadora da audiência específica consistem na seguinte estratégia:

i) quanto aos indícios de prática ilegal da medicina, enfatizam que as condições geográficas e econômicas da localidade são desfavoráveis, afastando o interesse de atuação de profissionais de medicina, mesmo recém egressos de universidades. Alegam, ainda, a inexistência de prejuízo em razão da efetiva prestação de serviços dos profissionais relacionados pela equipe de auditoria do TCU, cumprindo a finalidade social e oferecendo ‘alento médico à paupérrima comunidade’;

ii) relativamente aos estagiários, reitera a falta de atrativos da região como fator capaz de conferir maior importância à celebração de convênio com escola de medicina viabilização de estágios curriculares supervisionados, a serem desenvolvidos nas unidades de saúde do município, como alternativa capaz de contribuir para a formação acadêmica e melhorar a oferta de serviços médicos.

Avaliação da unidade técnica6.62. Antes da análise propriamente dita, convém ressaltar, os diplomas de formação

acadêmica apresentados (peça 188, fls. 51-61) relativos a pessoas sobre as quais recaíram os indícios de exercício ilegal da profissão foram expedidos por instituições estrangeiras, de Cuba e de El Salvador.

6.63. A Lei 3.268, de 30 de setembro de 1957, estabelece as condições para o exercício da medicina, quais sejam:

[...]‘art. 17 - Os médicos só poderão exercer legalmente a medicina, em qualquer de seus

ramos ou especialidades, após o prévio registro de seus títulos, diplomas, certificados ou cartas no Ministério da Educação e Cultura e de sua inscrição no Conselho Regional de Medicina, sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade.

art. 18. Aos profissionais registrados de acordo com esta lei será entregue uma carteira profissional que os habilitará ao exercício da medicina em todo o País.’

6.64. A Resolução CFM 1.832, de 11 de janeiro de 2008 (DOU de 25/2/2008, Seção I, pg. 99-10), do Conselho Federal de Medicina:

‘art. 1º O cidadão estrangeiro e o brasileiro com diploma de Medicina obtido em faculdade no exterior terão o registro para o exercício profissional no Brasil regulamentado por esta resolução.

15

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

art. 2º Os diplomas de graduação em Medicina expedidos por faculdades estrangeiras somente serão aceitos para registro nos Conselhos Regionais de Medicina quando revalidados por universidades públicas, na forma da lei.

[...]art. 9º O médico estrangeiro, detentor de visto temporário de qualquer modalidade, não

pode cursar Residência Médica no Brasil.Parágrafo único. O brasileiro com diploma de Medicina obtido em faculdade estrangeira só

poderá cursar a Residência Médica no Brasil após cumprir o disposto no caput do artigo 2º desta resolução.’

6.65. Em consulta ao sítio eletrônico do Conselho Federal de Medicina (CFM) (http://www.portalmedico.org.br), em 10/4/2011, verificamos que os senhores Josué Rodriguez Puron e Simydarkuia Araújo da Silva não possuem inscrição, ativa ou inativa, primária ou secundária, em qualquer Conselho Regional de Medicina (CRM). Pode-se presumir que também não tiveram seus diplomas revalidados por universidade pública, como exige a norma pertinente. Mesmo que tenha existido a revalidação dos diplomas, ainda falta-lhes outro requisito fundamental para habilitá-los ao exercício da medicina, consistente no registro em CRM;

6.66. Ainda no mesmo portal de informações institucionais do CFM, acima mencionado, verificamos inscrições relativas aos senhores Camila Cunha Canto Gerbi (CRM-SP 14718) e Rondson Freitas do Vale (CRM-TO 2726). Por meio de consulta dirigida aos respectivos Conselhos Regionais, apuramos que as inscrições para tais profissionais só foram deferidas em 22/2/2011 (peça 200) e 24/2/2011 (peça 202), respectivamente. Logo, está evidenciado que, à época em que foram realizados pagamentos a tais profissionais, eles também não reuniam as condições legais exigidas para a prática da Medicina, situação que macula de modo insanável a atuação profissional dos mesmos, assim como os desembolsos efetuados pela comuna. Nesse caso, julgamos cabível que o CFM seja comunicado do fato, para que adote as providências disciplinares que entender adequadas à infração, na forma sugerida no subitem 15.9.

6.67. São irrelevantes as alegações de natureza geográfica, econômica, social ou infraestrutural da localidade para suplantar as exigências legais e permitir o exercício ilegal de pessoas no sistema público de saúde sob gestão municipal, ainda mais quando são utilizados recursos federais para custear os agentes em situação irregular. Os elementos caracterizados na apuração desta irregularidade são capitulados como contravenção penal (art. 47, Decreto-lei 3.688/1941).

6.68 Nas consultas realizadas no endereço eletrônico do CFM também foi possível verificar que o Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos (ITPAC) está cadastrado como escola de Medicina (peça 201). Contudo, é oportuno destacar que o Convênio celebrado entre o Município de Araguatins/TO e o ITPAC (peça 188, pg. 85-88) estabelecia a realização de parceria para operacionalização de estágio curricular supervisionado em regime de internato (peça 188, pg. 85, subitem 1.1), onde se pactuou expressamente como obrigação do município, condizente com o objeto da avença, a oferta de moradia, água, luz, gás, impostos prediais, refeições e transporte para áreas rurais (peça 188, pg. 87, subitens 5.2 e 5.3). Na avença supra não se previa pagamentos remuneratórios aos estagiários, a qualquer título;

6.69. Sem entrar no mérito da legalidade ou legitimidade do instrumento celebrado entre o Município de Araguatins/TO e o ITPAC, nenhuma das despesas havidas em função daquela avença poderia utilizar recursos federais, tendo presente que a Portaria GM/MS 648, de 28 de março de 2006, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, com diretrizes e normas para a organização do Programa Saúde da Família (PSF) e do Programa Agentes Comunitários de Saúdes (PACS) define e nomina objetivamente os ‘profissionais’ que devem compor as equipes profissionais, não se contemplando estagiários no rol específico de cada programa, por razões óbvias.

16

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

6.70. Diante dessas circunstâncias, não resta alternativa se não a rejeição integral das justificativas ora apreciadas. A análise dos fatos até esta etapa configurou a ocorrência de pagamentos ilegítimos, implicando dano suportado por recursos federais repassados pelo FNS, circunstância que conduz a processualística própria que vise à recomposição dos valores desembolsados indevidamente, por meio de tomada de contas especial (TCE), merecendo, pois, a instauração de processo apartado daquela natureza, a ser formado inicialmente pelas peças extraídas destes autos vinculadas à irregularidade em causa, na forma proposta no subitem 15.4 (iv e v) desta Instrução.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 6, item 10)6.71. Deficiência na fiscalização das obras de implantação e recuperação de estradas

vicinais (Convênio 14000/2009 - Siafi 703592), em desacordo com o art. 67 da Lei 8.666/93, sob pena de aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II da Lei 8.443/92.

Justificativas (peça 188, fls. 29-30 e fls. 93)6.72. Sucintamente, esclarece que a falha atribuída esteve circunscrita à primeira medição

da obra, comprometendo-se a repassar aos setores competentes orientações para que sejam adotadas medidas corretivas, com base nos apontamentos do Relatório de Fiscalização, obedecendo aos desígnios legais.

Avaliação da unidade técnica6.73. O Achado 4.1 do Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 40-41) elaborado pela

equipe técnica do TCU apontou a ocorrência da falha já na primeira medição física, relativa ao período de 21/6 a 20/9/2010, da execução das obras de implantação e recuperação de estradas vicinais objeto do Convênio 14000/2009 (Siafi 703592), celebrado com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, como também reconhece a parte. Ocorre que a irregularidade expressamente indicada nos autos reside no descumprimento do disposto no art. 67 da Lei 8.666/1993, materializada pela ausência de representante da Administração formalmente designado para acompanhar, fiscalizar e exercer os demais encargos de controle inerentes ao acompanhamento da execução contratual. Não se trata apenas do aspecto puramente formal mas, como descrito na situação encontrada no achado de auditoria, a constatação fática de que o contrato patrocinado com recursos federais não dispunha de representante da Administração Municipal encarregado de acompanhar as obras, dadas as dificuldades demonstradas pelo suposto fiscal indicado para prestar informações básicas, como o estágio da obra, razões do lento avanço ou mesmo os locais onde serviços já haviam sido realizados.

6.74. A comprovação de designação acima referida, ainda que tardia, por meio de documentos anexados ao expediente que atendeu à audiência, bem como de outros elementos capazes de demonstrar a efetiva atuação do representante nas funções de fiscalização contratual (art. 162, do RI/TCU) seria a medida apropriada para eventual acolhimento das justificativas podendo, a depender das circunstâncias, até mesmo afastar proposição de caráter sancionatório para o fato. Assim esclarecido, consideramos que a ausência de documentos produzidos com a finalidade de sanar a irregularidade supra implica na rejeição das razões de justificativa interpostas, cabendo sua consideração como motivo para aplicação da multa proposta no subitem 15.2.1 ‘iii’, adiante registrada, sem prejuízo de fazer a recomendação proposta no subitem 15.5.3 desta Instrução.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 6, item 11)6.75. Autorizar a realização sistemática de pagamentos com recursos federais transferidos

pelo FNS, sem verificar a situação de regularidade ou não de fornecedores e prestadores de serviços junto à Fazenda Nacional (RFB e PGFN), ao INSS e ao FGTS.

Justificativas (peça 188, fls. 30-31, item 11)6.76. Assevera que, antes da contratação e de qualquer pagamento a fornecedores e

prestadores de serviço, sempre é checada a situação de regularidade fiscal destes perante a Receita Federal do Brasil (RBF), a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), alegando, em

17

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

complemento, que existe a hipótese de que os comprovantes de consulta não tenham sido juntados à época, evocando o princípio da eventualidade.

Avaliação da unidade técnica6.77. Descabido o argumento que busca mitigar a impropriedade mediante invocação do

princípio da eventualidade. Está consignado no Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 23-24, item 3.5.1) que as amostras utilizadas nos exames foram extensas, alcançando documentação de pagamentos havidos de 2008 até junho/2010, nos quais foram utilizados recursos do PAB Variável transferidos pelo FNS, sem que houvesse como padrão a consulta prévia da situação de regularidade fiscal dos favorecidos.

6.78. A irregularidade descrita alcança não apenas pagamentos eventuais, mas, inclusive, os pagamentos decorrentes de contratos para fornecimentos parcelados ou prestação continuada de serviços. Além da violação legal, especialmente quando os pagamentos decorrem de obrigações contratadas e, mesmo nas hipóteses previstas no art. 62, da Lei 8.666/1993, em que se admite a substituição do contrato por outros instrumentos hábeis, a razão do dispositivo é evitar situação esdrúxula e ofensiva ao interesse público, caracterizada pela realização de pagamentos pela Fazenda Pública a quem lhe é devedor (RBF, PGFN e INSS) ou encontra-se inadimplente quanto a contribuição social relevante (FGTS).

6.79. Apesar da omissão contumaz em consultar a situação de regularidade por ocasião do processamento de pagamentos nos quais são utilizados recursos federais, não se configurou no caso concreto a existência de pagamentos a devedores da Fazenda Federal, da Seguridade Social ou do FGTS, sendo possível tratar a irregularidade por meio da expedição do alerta proposto no subitem 15.7.5 desta peça processual.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 7, item 12)6.80. Autorizar aquisições e pagamentos de medicamentos e materiais odontológicos,

mediante fracionamento e dispensa irregular de licitação, relativamente aos fornecedores abaixo indicados (2008 a 30/6/2010), violando disposições do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, além do art. 2º, caput, art. 3º caput, e art. 24, inciso II, da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993:

- Brasfarma Comercial Ltda. (R$ 11.500,00); - C.C. Barbosa Comércio (R$ 23.500,00); - Dismed Distribuidora de Medicamentos Ltda. (R$ 17.663,81); - Forçamed Distribuidora de Medicamentos Ltda. (R$ 8.240,00); - R.C. de Sá Comércio (R$ 37.323,00); - R. dos Santos Costa Comércio (R$ 30.870,00); - V.A.A da Silva Comércio (R$ 22.222,39); - Word Investimentos Ltda. (R$ 9.760,00); - Dental Tocantins Com. De Produtos Odontológicos Ltda. (R$ 23.880,49); - Lotus Intermediação de Crédito Ltda. - ME (6.945,00).Justificativas (peça 188, fls. 31-33, item 12)6.81. Além de outras divagações dissociadas da questão central, justifica o gestor

acoimado que todas as dispensas de licitação que resultaram nas compras observaram o valor efetivo e que, estando abaixo do limite previsto no art. 23, inciso II, alínea ‘a’, da Lei 8.666/1993, não era viável fática e juridicamente a instauração de procedimento licitatório, considerando, além da suposta inexigência legal, considerações atinentes ao envolvimento de custos derivados da realização de atos materiais da licitação, bem como demora para o desenvolvimento e conclusão dos atos.

Avaliação da unidade técnica6.82. A narrativa da defesa sustentada evidencia a prática rotineira de realização de

compras frequentes de medicamentos e materiais odontológicos, mediante dispensa de licitação fundada apenas no valor de cada operação isoladamente considerada, bem como argumentos

18

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

tendentes a justificar tais decisões administrativas para evitar custos ou tempo de processamento de licitações em qualquer modalidade. Não assiste razão ao responsável para promover essa indevida e ilegal flexibilização de instituto inafastável e obrigatório a ser rigorosamente cumprido pelos administradores públicos, salvo as hipóteses verdadeiramente ressalvadas pela Lei e que efetivamente se coadunem com situações e circunstâncias reais, o que não é o caso.

6.83. Os custos eventualmente incorridos com o processamento de licitações são, em regra, superados pelas vantagens econômicas que a disputa concorrencial é capaz de promover e, ainda que isto não ocorra, a instauração de licitação decorre de comando constitucional (art. 37, inciso XXI da CF/1988), além de possuir lei específica para regular a matéria, tendo por fim último fazer cumprir princípios constitucionais e administrativos inalienáveis (legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade, transparência e etc.).

6.84. A alegação furtiva de que a realização de licitação típica provoca demora ou atrasos na consumação das compras não merece prosperar. Além de tratarem-se de prazos razoáveis e de, eventualmente, certas situações darem curso a impugnações ou interposição de recursos administrativos, esses são fatores que devem servir para reforçar a necessidade de realização de levantamentos prévios e do planejamento tempestivo das demandas do Ente Público, visando à elaboração de editais bem instruídos e em conformidade com a Lei, meios seguros de mitigar ou eliminar as possibilidades de delongas no processamento de licitações. Ademais, não é facultado ao gestor dispensar licitação quando apenas isso lhe parece conveniente.

6.85. Por outro lado, a jurisprudência consolidada desta Corte de Contas estabelece que o dimensionamento do valor das compras, para efeito de escolha da modalidade de licitação ou da dispensa com base em valor, deve ter por parâmetro o valor anualizado das despesas geradas com o mesmo objeto, coincidindo com o período de execução orçamentária (subitem 1.5.13 do Acórdão 4086/2009 - 1ª Câmara, subitem 1.5.1.11 do Acórdão 5660/2008 - 2ª Câmara, subitem 9.5.2 do Acórdão 1281/2010 - Plenário), ainda que as compras ou etapas dos serviços sejam feitas de maneira parcelada, por meio de licitações distintas, servindo a estimativa anual também para definição da modalidade licitatória adequada (art. 23, § § 1º, 2º e 5º, da Lei 8.666/1993).

6.86. Nessa senda, por comandos diretos, expressos e de fácil compreensão, a lei, a doutrina e a jurisprudência interditam, em termos peremptórios, dispensas de licitações nos moldes observados no caso concreto. A solução legítima, de intelecção meridiana, seria a de efetuar o parcelamento, quando técnica e justificadamente se mostrasse alternativa viável, apropriada e conveniente, respeitando-se, contudo, a realização obrigatória de certames e a preservação da modalidade de licitação aplicável ao todo.

6.87. Considerando que as justificativas, além de afrontar a legislação, a doutrina e a jurisprudência firmadas sobre o tema, assumem a feição de sofismas, deduz-se, pois, pela rejeição integral de seus fundamentos, razão pela qual a irregularidade foi incluída como motivo da penalidade proposta no subitem 15.2.1 ‘iv’, subsequente.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 7, item 13)6.88. Autorizar pagamentos de despesas com a utilização de recursos federais,

prescindindo de exigir o ato de sua liquidação, mediante despacho ou registro específico, a constar no corpo dos próprios documentos fiscais ou equivalentes que lhes dão suporte, violando as disposições do art. 62, caput, e 63, caput, § § 2º e 3º, da Lei 4.320/1964.

Justificativas (peça 188, fls. 33-34)6.89. Naquilo que é aproveitável à análise da questão imputada, o responsável descreve

suposta rotina de conferência de material ou de execução de serviço, em cotejo com a apresentação da documentação fiscal emitida por fornecedores ou prestadores, afirmando que, diante da regularidade da documentação e da procedência das cobranças, procede-se ao atesto no verso da documentação concernente, por intermédio de servidor legitimado para isso.

Avaliação da unidade técnica

19

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

6.90. Preliminarmente, chama-se a atenção para a ressalva consignada no Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 29, subitem 3.8.1) quanto à conformidade legal dos atos de liquidação de despesas alusivas a documentos fiscais emitidos em função da execução de convênios e contratos de repasse firmados entre o município e órgãos ou entidades da União. A irregularidade registrada restringiu-se aos documentos fiscais que deram causa a pagamentos nos quais foram utilizados recursos federais do PAB Variável.

6.91. A descrição procedimental contida nas justificativas expressam a situação ideal que deveria efetivamente ter sido adotada e que, se de fato fosse praticada, não daria guarida à constatação levantada na fiscalização. Não obstante, as evidências juntadas aos autos (peças 75, 76 e 77) contemplam abundante documentação fiscal que integra a movimentação financeira dos exercícios financeiros de 2008, 2009 e 2010 do município. Na documentação supra está caracterizada, de forma irrefutável, a ausência de atos ou registros adequados para produzir os efeitos contábeis e jurídicos da liquidação da despesa, nos termos dos dispositivos legais especificados na Audiência.

6.92. Conclui-se que, por completa ausência de suporte fático, as justificativas devem ser rejeitadas, inserindo a irregularidade no rol de motivações ensejadoras da multa proposta no subitem 15.2.1 ‘v’ desta peça instrutória.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 7, item 14)6.93. Não haver providenciado a constituição e estruturação de instância de controle social

específica, ou a legitimação do Conselho Municipal de Assistência Social, por meio de lei ou decreto emanado do Poder Público Municipal, violando as disposições do art. 8º da Lei 10.836/2004 e dos artigos 11, § 3º, 14, inciso VI, e 29, caput e § 2º, do Decreto Federal 5.209/2004 e Item I da Cláusula Segunda do Termo de Adesão ao Programa Bolsa Família e ao Cadastro Único de Programas Socais, formalizado pelo Chefe do Poder Executivo do município.

Justificativas (peça 188, fls. 34-36 e fls. 94)6.94. Em suma, defende que o caráter descentralizado da conjugação de esforços dos entes

federados que participam da operacionalização do Programa Bolsa Família (PBF) confere autonomia ao gestor municipal para definir o modo de formalização ou constituição da instância de controle social vinculada ao Programa, divergindo do entendimento da equipe de fiscalização quanto à necessidade de lei ou decreto para tanto. Acrescenta, por fim, cópia autêntica de decreto municipal que designa o Conselho Municipal de Assistência Social como Instância de Controle Social (ICS) incumbida de acompanhar, avaliar e fiscalizar a execução do PBF no âmbito municipal, nos termos da legislação vigente.

Avaliação da unidade técnica6.95. Há alegações impertinentes, todavia, a expedição do Decreto que atribuiu poderes à

conselho preconstituído para exercer as atribuições legais de ICS do PBF implica o acolhimento parcial das justificativas, pois a medida elide adequadamente a irregularidade, considerando que encontra respaldo no art. 29, caput e § 2º, do Decreto 5.209/2004, ainda que tal fato tenha ocorrido após a realização da auditoria.

Irregularidade imputada (peça 123, fls. 8-11, item 15)6.96. Homologar os processos licitatórios abaixo indicados, eivados com as irregularidades

adiante discriminadas, configurando o comprometimento do caráter competitivo das licitações, em função de exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, violando disposições da Lei 8.666/1993 e da jurisprudência do Tribunal de Contas da União:

1 - na Tomada de Preços 2/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de implantação e recuperação de 58 km de estradas vicinais (ref. ao Convênio 14000/2009 - Siafi 703592):

20

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

i) exigência de índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente pç. 73, fls. 12) maiores que 2,5 (dois inteiros e cinco décimos), sem justificativas interpostas nos autos de respectivo processo administrativo (Acórdãos TCU 2553/2007 e 402/2008, ambos do Plenário);

ii) exigência de capital social integralizado (Acórdão TCU 170/2007 - Plenário), cumulativamente com patrimônio líquido correspondente a 10% (dez por cento) e garantia de participação correspondente a 1% (um por cento) do valor estimado para a obra (Acórdãos TCU 1905/2009 e 2993/2009, ambos do Plenário);

iii) exigência de apresentação de quitação no Crea respectivo, além do registro de inscrição (Acórdão 1168/2009 - Plenário);

iv) data única para realização da vistoria dos locais das obras/serviços, anterior à data de abertura, podendo restringir a participação de interessados, por via indireta (Acórdãos TCU 2104/2009 e 4377/2009, da todos da 2ª Câmara);

v) ausência de publicação do aviso resumido da licitação no Diário Oficial da União;2 - na Tomada de Preços 12/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras

de pavimentação asfáltica de vias urbanas (ref. aos Contratos de Repasse CR 025401-79/2008 e CR 257918-13/2008, Siafi 630083 e 629522, respectivamente):

i) exigência de índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente maiores que 2,5 (dois inteiros e cinco décimos), sem justificativas interpostas nos autos do respectivo processo administrativo (Acórdãos TCU 2553/2007 e 402/2008, ambos do Plenário);

ii) exigência de capital social integralizado (Acórdão TCU 170/2007 - Plenário), cumulativamente com patrimônio líquido correspondente a 10% (dez por cento) e garantia de participação correspondente a 1% (um por cento) do valor estimado para a obra (Acórdãos TCU 1905/2009 e 2993/2009, ambos do Plenário);

iii) exigência de apresentação de quitação no Crea respectivo, além do registro de inscrição (Acórdão TCU 1168/2009 - Plenário);

iv) data única para realização da vistoria dos locais das obras/serviços, anterior à data de abertura, podendo restringir a participação de interessados, por via indireta (Acórdãos TCU 2104/2009 e 4377/2009, da todos da 2ª Câmara);

v) ausência de publicação obrigatória do aviso resumido da licitação, no Diário Oficial da União;

vi) exigência de qualificação e certificação, no Nível ‘A’, do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP) em Obras Rodoviárias, não contemplado no art. 30 da Lei 8.666/1993 (Acórdãos TCU 2377/2008 e 374/2009, ambos da 2ª Câmara);

3 - na Tomada de Preços 3/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de construção de uma escola de ensino infantil (ref. Convênio 700188/2008 FNDE - Siafi 639441):

i) exigência de índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente maiores que 2,5 (dois inteiros e cinco décimos), sem justificativas interpostas nos autos do respectivo processo administrativo (Acórdãos TCU 2553/2007 e 402/2008, ambos do Plenário);

ii) exigência de capital social integralizado (Acórdão TCU 170/2007 - Plenário), cumulativamente com patrimônio líquido correspondente a 10% (dez por cento) e garantia de participação correspondente a 1% (um por cento) do valor estimado para a obra (Acórdãos TCU 1905/2009 e 2993/2009, ambos do Plenário);

iii) exigência de Atestado de Capacidade Técnica definindo como item de maior relevância descrição genérica (área construída), em percentual não razoável, semelhante à totalidade da construção licitada;

iv) data única para realização da vistoria dos locais das obras/serviços, anterior à data de abertura, podendo restringir a participação de interessados, por via indireta (Acórdãos TCU 2104/2009 e 4377/2009, da todos da 2ª Câmara);

v) valor estimado superior ao montante conveniado;

21

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

vi) ausência de publicação obrigatória do aviso resumido da licitação, no Diário Oficial da União;

4 - na Tomada de Preços 04/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras/serviços de melhorais habitacionais para controle da doença de chagas (ref. Convênio TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147):

i) exigência de índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente maiores que 2,5 (dois inteiros e cinco décimos), sem justificativas interpostas nos autos do respectivo processo administrativo (Acórdãos TCU 2553/2007 e 402/2008, ambos do Plenário);

ii) exigência de capital social integralizado (Acórdão TCU 170/2007 - Plenário), cumulativamente com patrimônio líquido correspondente a 10% (dez por cento) e garantia de participação correspondente a 1% (um por cento) do valor estimado para a obra (Acórdãos TCU 1905/2009 e 2993/2009, ambos do Plenário);

iii) exigência de apresentação de quitação no Crea respectivo, além do registro de inscrição (Acórdão TCU 1168/2009 - Plenário)

iv) data única para realização da vistoria dos locais das obras/serviços, anterior à data de abertura, podendo restringir a participação de interessados, por via indireta (Acórdãos TCU 2104/2009 e 4377/2009, da todos da 2ª Câmara);

v) ausência de publicação obrigatória do aviso resumido da licitação, no Diário Oficial da União.

5 - na Concorrência 01/2009, destinada à contratação de empresa para execução do sistema de tratamento de resíduos sólidos (ref. Convênio 504/2008 - Siafi 648091):

i) exigência de índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente maiores que 2,5 (dois inteiros e cinco décimos), sem justificativas interpostas nos autos do respectivo processo administrativo (Acórdãos TCU 2553/2007 e 402/2008, ambos do Plenário);

ii) exigência de capital social integralizado (Acórdão TCU 170/2007 - Plenário), cumulativamente com patrimônio líquido correspondente a 10% (dez por cento) e garantia de participação correspondente a 1% (um por cento) do valor estimado para a obra (Acórdãos TCU 1905/2009 e 2993/2009, ambos do Plenário);

iii) exigência de apresentação de quitação no Crea respectivo, além do registro de inscrição (Acórdão TCU 1168/2009 - Plenário);

iv) exigência de responsável técnico empregado da empresa, em regime celetista, em data anterior à da licitação, dispensando-se a hipótese de responsabilidade técnica prestada mediante contrato de prestação de serviços, regido pela legislação civil (Acórdãos TCU 126/2007, 597/2007, 103/2009 e 727/2009, todos do Plenário);

v) data única para realização da vistoria dos locais das obras/serviços, anterior à data de abertura, podendo restringir a participação de interessados, por via indireta (Acórdãos TCU 2104/2009 e 4377/2009, da todos da 2ª Câmara);

vi) ausência de publicação obrigatória do aviso resumido da licitação, no Diário Oficial da União.

Justificativas (peça 188, fls. 36-45, item 15 e fls. 103)6.97. Dentre as muitas razões de justificativa elencadas pelo representante do audiente,

algumas tiveram caráter genérico e outras específicas, estas dirigidas às impropriedades arroladas na comunicação de Audiência. Quanto às primeiras, firmam-se com destaque as seguintes assertivas:

i) os editais impugnados foram elaborados em conformidade com a prática licitatória do Estado e da União;

ii) primou-se pela objetividade e clareza, exigindo-se apenas os requisitos necessários e úteis;

iii) ainda que persista alguma impropriedade, não tiveram o condão de afetar a competitividade do certame;

22

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

iv) as inserções das exigências editalícias inquinadas observaram peculiaridades regionais, a cautela, risco de inadimplência, custos de atos administrativos, eficácia e execução do contrato;

v) suscita, transcrevendo trecho de julgado do STJ, que a falta de demonstração inequívoca da presença de elementos subjetivos de responsabilidade, como a má-fé ou má-intenção, na materialização dos atos em análise, impede o sancionamento com base na Lei de Improbidade Administrativa, que exige conduta dolosa do administrador público.

6.98. Direcionados às exigências editalícias objetivamente impugnadas no Relatório de Fiscalização, o responsável justifica as inserções alegando:

i) que as exigências de índices de liquidez nos patamares refutados, bem como de capital social integralizado cumulativamente com garantia de manutenção de proposta visaram à correta avaliação da situação econômico-financeira das empresas, tendo em vista o histórico de risco empresarial das entidades privadas que atuam na região norte do Estado do Tocantins;

ii) que a exigência de comprovação de quitação de débitos junto ao Crea encontra amparo no art. 67 da Lei 5.194/1996, que regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro Agrônomo;

iii) que a restrição para vistorias em uma única data se deu em razão de reduzida disponibilidade de servidores para o acompanhamento, associado ao custo, pretendendo-se atender aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade;

iv) que a publicação de avisos na imprensa oficial do Estado do Tocantins tem alcance amplo pela internet;

v) que a exigência de certificação no nível ‘A’, do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP) buscou alcançar eficácia e satisfatoriedade na execução dos serviços eventualmente contratados, além de comprovar a capacidade de produzir bens e serviços que atendessem normas de segurança próprias para o tipo de atividade;

vi) perda do objeto quanto às inquinações que gravaram a Concorrência 01/2009, fato jurídico provocado pela rescisão do contrato decorrente da licitação em causa.

Avaliação da unidade técnica6.99. Tendo natureza de questão preliminar levantada pela parte, convém esclarecer que,

no âmbito do TCU, a responsabilidade eventualmente apurada e imputada ao ‘gestor’ não requer a comprovação do dolo como elemento indispensável, conforme fundamentação do Voto condutor do Acórdão TCU 2006/2006 - Plenário:

‘Voto[...]Quantos aos gestores públicos, devem estar presentes os seguintes elementos, para que se

possa apená-los:a) ação comissiva ou omissiva e antijurídica;b) existência de dano ou infração a norma legal, regulamentar ou contratual

(irregularidade);c) nexo de causalidade entre a ação e a ilicitude verificada; ed) dolo ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia) do agente.’ 6.100. No caso concreto, trata-se de apuração tendente a verificar possível violação de

normas legais, sujeitando os responsáveis à apenação com multa, hipótese prevista em comando legal objetivo (inciso II do art. 58 da Lei 8.443/1992) e que não requer comprovação de nenhum pressuposto de má-fé, locupletamento ou desfalque. Trata-se de responsabilidade objetiva do gestor, que independe da verificação de culpa ou dolo (subitem 12.5, do Relatório que integra o Acórdão TCU 2546/2008 - Plenário).

6.101. Ato contínuo, no que concerne às alegações genéricas, não podem sequer ser admitidas como razoáveis as alegações de que os editais seguiram a prática dos órgãos federais, que contemplaram apenas exigências necessárias e úteis e que estas não tiveram potencial para afetar a competitividade do certame. A primeira, por ser declaração temerária e não comprovável.

23

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

A segunda, porque a farta jurisprudência indicativa das irregularidades que macularam os editais constou expressamente da comunicação de audiência, evidenciando que não se tratava de exigências lícitas, úteis ou necessárias. A terceira, porque é mais verossímil admitir que exigências indevidas ou exorbitantes puderam restringir a ampla participação de potenciais interessados, em vez de considerar que a presença dos itens vergastados foi indiferente naquele aspecto. Outro aspecto que deve ser atacado diz respeito às referências de estipulação de condições supostamente baseadas no risco de entidades privadas que atuam na região geográfica de situação do município, sugerindo que o edital buscava alcançar um grupo restrito e localizado de empresas, situação que se opõe à ampla participação, mormente quando se promove adequada divulgação dos avisos sobre os certames.

6.102. São sobejamente comuns as alegações de que os excessos cometidos na concepção e inclusão de exigências habilitatórias estipuladas em processos licitatórios tiveram por fim resguardar interesses da Administração, aferir a capacidade técnica ou financeira de licitantes ou selecionar a empresa mais qualificada, quando, na prática, a maioria dos requisitos dessa natureza são dispensáveis e servem, em última instância, para restringir a competição, afastar empresas capazes de cumprir a contento o objeto licitado, direcionar o negócio e, não raras vezes, encarecer a contratação, especialmente quando não se demanda, na fase de execução, a qualificação extremada que se exigiu no edital. O espírito da Lei 8.666/1993, reiteradas vezes demonstrado na jurisprudência do TCU, é de orientar os gestores a expedir exigências mínimas, suficientes para demonstrar a regularidade na atuação do futuro contratado, além de aferir, com razoável segurança, sua capacidade de atender às demandas verdadeiramente necessárias. A dosagem equilibrada é concebida com observância do princípio da razoabilidade e bom senso administrativo.

6.103. O argumento de que as possíveis ilegalidades que atingiram a Concorrência 01/2009, apontadas pela equipe de fiscalização do TCU, perderam o objeto, considerando que o contrato decorrente daquele certame foi rescindido, antes mesmo de iniciada a execução, não elide, nem mesmo mitiga, as irregularidades que contaminaram o processo licitatório.

6.104. Apesar da celebração do contrato ter sido ato consectário da realização do certame, a rescisão intempestiva, o distrato, a resilição ou qualquer outro instituto jurídico que extinga a avença obrigacional não é capaz, sob nenhum ângulo jurídico, de desfazer ou retificar as irregularidades que macularam os procedimentos licitatórios já consumados. Pode não agravar as consequências das ilicitudes havidas no primeiro ato, mas, longe de realizar inferências para prejudicar a isenção da análise, o intempestivo rompimento contratual pode ter sido ocasionado justamente pela forma como foi conduzida a licitação, contaminada por exigências ilegítimas ou exorbitantes, capazes de afastar da disputa almejada empresas idôneas e mais capacitadas, técnica ou economicamente.

6.105. Importa lembrar, a homologação das licitações consiste no ato emanado da autoridade competente ratificando todas as condições, decisões e atos praticados no processamento.

6.106. Derradeiramente, ressalta-se que os argumentos relativos às questões específicas não contemplaram todos os eventos elencados na comunicação de audiência, caracterizando a apresentação parcial de justificativas. Outrossim, como já relatado em subitem anterior desta Instrução, as comunicações processuais foram pródigas em arrolar abundante jurisprudência sobre cada irregularidade levantada na análise dos editais vinculados à execução de convênios e contratos de repasse formalizados com órgãos e entidades federais, inexistindo justificativas capazes de desconstituí-las.

6.107. Por todo o exposto, manifestamo-nos pela rejeição das justificativas oferecidas para as irregularidades ora apreciadas, sujeitando o responsável à imputação de multa, consoante proposta do subitem 15.2.1 ‘vi’ desta Instrução.

André Luiz Mendonça Bastos

24

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

7. De forma similar ao responsável identificado no item 6 desta peça processual, o Sr. André Luiz Mendonça Bastos (651.855.105-44), apresentou justificativas (peça 183) por intermédio de Procurador constituído (peça 184), em atendimento à Audiência promovida (peças 115 e 125).

Irregularidade imputada (peça 115)7.1. Realizar de atesto de Boletins de medição da obra de construção da creche Pró-

Infância (Convênio 700188/2008 - Siafi 639441) em desacordo com a execução física da obra, contrariando os arts. 62 e 63 da Lei 4.320/1964, sob pena de aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/92.

Justificativas (peça 183)7.2. Além de argumentos idênticos àqueles resumidos no subitem 6.28 desta Instrução, o

responsável levanta questão preliminar, arguindo sua ilegitimidade passiva para responder pela irregularidade atribuída, por não deter competência de ordenador de despesas.

Avaliação da unidade técnica7.3. Primeiramente, a questão preliminar suscitada não encontra abrigo legal, doutrinário

ou jurisprudencial no campo de competência e jurisdição desta Corte de Contas. Não é condição sine qua non para sujeitar agentes públicos à possibilidade de responsabilização a condição de ordenador de despesas ou mesmo a existência de dano ao erário. Há diversas hipóteses de aplicação de multa previstas no art. 58 da Lei 8.443/92 que não pressupõem a ocorrência de dano, inclusive a do inciso II daquele artigo, expressamente indicado como fundamento legal da possível sujeição à punibilidade apurada nestes autos. Nesse sentido, o registro consignado no item 3, do Voto que integra o Acórdão TCU 810/2006 - Plenário.

7.4. A irregularidade levantada foi atribuída ao responsável pela condição efetivamente exercida de representante do município para fiscalizar a execução de obra pública contratada, encargo que exigia sua qualificação como engenheiro civil, dada a natureza particular do objeto que requer aquela formação técnica. Tal condição não foi contestada pela parte e pode ser comprovada por informações e documentos presentes nos autos (peça 61, fls. 14 e peça 95).

7.5. Superadas as questões preliminares e, ainda que implicado por conduta específica, avaliamos que as demais razões interpostas comportam a mesma análise e conclusão arrazoadas nos subitens 6.29 a 6.34 da presente Instrução, por estarem inquestionável e intimamente ligadas ao fato objeto da análise.

Antonio Carlos Mendes e Maria de Fátima Gomes Matos8. A exemplo dos demais responsáveis já mencionados acima, os responsáveis ora

identificados manifestaram-se por intermédio de Procurador legitimado nos autos (peça 184), protocolizando razões de justificativa em função das Audiências de idêntico teor que lhes foram dirigidas (peças 114 e 113), haja vista que as impropriedades verificadas na Auditoria se consolidaram num período no qual ambos exerceram a titularidade da Secretaria Municipal de Saúde de Araguatins/TO, em momentos alternados. Em virtude de tais circunstâncias, a argumentação produzida pelas partes exibe inquestionável similitude, admitindo, pois, a análise em conjunto.

Irregularidades imputadas (peças 114 e 113, respectivamente)8.1. Quanto à elaboração, conteúdo e encaminhamento dos Relatórios Anuais de Gestão

(RAG):i) intempestividade na elaboração e encaminhamento para apreciação e deliberação pelo

Conselho Municipal de Saúde quanto ao RAG/2009;ii) ausência de vinculação do RAG/2009 com o Plano de Saúde e com a Programação

Anual de Saúde, carecendo de análise crítica quanto aos fatores que afetaram negativamente a gestão em qualquer aspecto, da identificação das ações mais eficazes eventualmente adotadas, de modo a contribuir para o aperfeiçoamento do sistema de planejamento das estratégias, políticas e compromissos da área de saúde;

25

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

iii) ausência de dados, informações e documentos auxiliares necessários à identificação das origens, do volume, da destinação e da efetiva aplicação dos recursos financeiros carreados ao longo de cada exercício, inviabilizando a comprovação da boa e regular gestão dos recursos financeiros utilizados;

iv) ausência de comprovação de entrega, ainda que intempestiva, ao Tribunal de Contas do Estado do Tocantins e à respectiva Comissão Bipartite de Saúde, dos Relatórios Anuais de Gestão alusivos aos exercícios 2008 e 2009;

Justificativas (peças 189 e 196; peça 194, respectivamente)8.2. Observada correspondência inequívoca com as justificativas elencadas no subitem 6.2

desta Instrução, à exceção da alegação de ilegitimidade passiva, alimentada pelo Prefeito, conforme esclarecimento daquele tópico, motivo pelo qual julgamos dispensável a transcrição.

Avaliação da unidade técnica8.3. Em decorrência da proposta da equipe de fiscalização (peça 99, fls. 22, subitem

3.4.10), as audiências para apuração das irregularidades especificadas no subitem 8.1 acima abrangeram o Prefeito e os titulares da Secretaria de Saúde do município no período em que foi situada a ocorrência.

8.4. As circunstâncias informadas nos dois subitens precedentes, somadas ao fato de que a concisão textual não afeta a adequada apreciação das inquinações em causa, sugerimos que a análise e conclusão defendidas nos subitens 6.4 a 6.6 desta Instrução processual sejam integralmente aproveitadas na avaliação das irregularidades ora tratadas.

Andrea Gonzalez Graciano9. A Srª Andrea Gonzalez Graciano atendeu à Audiência por intermédio de Procurador

legitimado nos autos (peça. 184).Irregularidades imputadas (peça 118)9.1. A Audiência foi promovida para que a responsável supra, na qualidade de Assessora

Jurídica do Município de Araguatins/TO, tivesse a oportunidade de justificar sua efetiva participação na consumação de irregularidades relacionadas à realização de processos licitatórios em decorrência dos quais foram utilizados recursos federais, conforme discriminado abaixo:

i) emitir parecer jurídico recomendando ao Prefeito de Araguatins/TO promover a adjudicação do objeto e homologação dos Convites nº 23, 50 e 74/2009 (aquisição de gêneros alimentícios para o Pnae), mesmo existindo licitantes ou propostas válidas em número inferior ao mínimo de três, determinado em lei, antes de propor a repetição das licitações, de forma a atender aos comandos legais e ampliar a competitividade, mesmo inexistindo demonstração irrefutável de limitação de mercado ou o manifesto desinteresse dos convidados, conforme jurisprudência firmada na Súmula 248 do Tribunal de Contas da União;

ii) emitir parecer jurídico recomendando ao Prefeito de Araguatins/TO promover a adjudicação do objeto e homologação do Pregão Presencial 01/2010, em favor de entidade privada que não atendia condições de habilitação jurídica e econômico-financeira, além de estar contaminado por severa restrição na publicidade oficial dos avisos da licitação, com descumprimento das exigências estabelecidas no art. 11, inciso I, alínea ‘c’, do Regulamento anexo ao Decreto 3.555/2000;

iii) emitir, na condição de Assessora Jurídica, parecer vinculativo recomendando ao Prefeito de Araguatins/TO promover a adjudicação do objeto e a homologação da Tomada de Preços 04/2010 (contratação de empresa para executar obras/serviços de melhorais habitacionais para controle da doença de chagas, ref. Convênio TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147), eivada de irregularidades por ter o caráter competitivo comprometido em função de exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, elencadas abaixo, além de não veicularem os respectivos avisos no Diário Oficial da União, violando disposições da Lei 8.666/1993 e da jurisprudência do Tribunal de Contas da União (impropriedades discriminadas no tópico 4, do subitem 6.96 desta Instrução).

26

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

Justificativas (peça 190)9.2. Cabe registrar, em benefício da racionalidade e suficiência da análise, que não foram

oferecidas quaisquer justificativas para as irregularidades mencionadas nas letras ‘i’ e ‘ii’ do subitem precedente.

9.3. Não obstante, revisando os autos, verificamos que a participação da responsável nos atos alusivos à letra ‘i’ do subitem 9.1 deve restringir-se aos Convites 50 e 74/2009 (peça 51, fls. 27 e peça 52, fls. 24), considerando que a audiente, de fato, não teve participação no Convite 23/2009 (peça 50, fls. 28).

9.4. Em razão das circunstâncias acima observadas e, ausentes elementos capazes de elidir as inquinações, ainda que apresentados por outros responsáveis arrolados nestes autos, mantêm-se as conclusões de irregularidades consignadas no pertinente Relatório de Auditoria (peça 99, fls. 58-60 e fls. 54-57) no que concerne às duas primeiras irregularidades, com a ressalva indicada no subitem anterior.

9.5. Quanto às variadas impropriedades que macularam a Tomada de Preços 04/2010 (contratação de empresa para executar obras/serviços de melhorais habitacionais para controle da doença de chagas, ref. Convênio TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147), cujo detalhamento consta na comunicação de audiência (peça 118, fls. 2-3, item ‘iii’), o representante legal da Responsável reitera ipsis litteris os argumentos já sintetizados nos subitens 6.97 e 6.98 desta Instrução, oferecido em nome de outro gestor responsabilizado nestes autos. Por paralelismo à racionalidade, aproveita-se, então, a análise já defendida nos subitens 6.99 a 6.102 deste mesmo expediente processual, que opinou pela rejeição das justificativas.

9.6. Sem prejuízo da aplicação de sanção pecuniária proposta no subitem 15.1.2, vislumbramos como iniciativas convenientes e complementares a expedição da recomendação, da determinação e do alerta elencados nos subitens 15.5.1, 15.6.1 e 15.7.2, respectivamente.

José Fábio de Alcântara Silva, Joariza Nogueira Duarte, Renato Santana Gomes e Leonardo Ribeiro Nunes

10. Tratam-se de assessores jurídicos e presidente de comissão de licitação do Município de Araguatins/TO, nesta ordem, que atuaram diretamente em um, alguns ou todos os cinco processos licitatórios relacionados no subitem 6.96 desta Instrução, cujas participações individuais se perfizeram de modo formal e determinante para a materialização das irregularidades que macularam tais licitações.

Irregularidades imputadas10.1. Os assessores jurídicos foram chamados aos autos, por meio de Audiências, por

terem emitido, na condição de assessores jurídicos daquele município, pareceres recomendando ao Prefeito promover a adjudicação e a homologação dos processos licitatórios abaixo individualizados, mesmo contaminados com irregularidades capazes de comprometer o caráter competitivo das licitações em função de exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, violando disposições da Lei 8.666/1993 e da jurisprudência do TCU, além de não veicularem os respectivos avisos no Diário Oficial da União:

i) José Fábio de Alcântara Silva, notificado da realização desta Audiência (peças 117 e 136), pela sua participação na Tomada de Preços 2/2010 (destinada à contratação de empresa para executar obras de implantação e recuperação de 58 km de estradas vicinais, ref. ao Convênio 14000/2009 - Siafi 703592), maculada pelas irregularidades listadas no tópico 1, do subitem 6.96 desta Instrução;

ii) Joariza Nogueira Duarte, notificada da realização de Audiência (peças 119 e 132) em virtude de sua participação na Tomada de Preços 3/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de construção de uma escola de ensino infantil (ref. Convênio 700188/2008 FNDE - Saifi 639441) e na Tomada de Preços 12/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de pavimentação asfáltica de vias urbanas (ref. aos Contratos de Repasse CR 025401-79/2008

27

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

e CR 257918-13/2008, Siafi 630083 e 629522, respectivamente), contaminadas pelos vícios arrolados nos tópicos 3 e 2, respectivamente, do subitem 6.96 desta peça processual;

iii) Renato Santana Gomes, notificado da realização de Audiência (peças 116 e 137) em decorrência de sua participação na Concorrência 01/2009 (destinada à contratação de empresa para execução do sistema de tratamento de resíduos sólidos, ref. Convênio 504/2008 - Siafi 648091), conspurcada pelas impropriedades elencadas no tópico 5, do subitem 6.96 desta Instrução.

10.2. Por seu turno, ao Sr. Leonardo Ribeiro Nunes foi facultada a oportunidade de apresentar justificativas (peças 122 e 127) em função de sua atuação como Presidente da Comissão de Licitação encarregada de conduzir e processar todas as licitações referidas no subitem 6.96, sendo responsabilizado por admitir o comprometimento do caráter competitivo das licitações, mediante exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, violando disposições da Lei 8.666/1993 e jurisprudência do TCU, além de não veicular os respectivos avisos no Diário Oficial da União.

10.3. Demonstrada a inequívoca conexão dos fatos e responsáveis, a utilização de argumentos idênticos pelos diversos responsáveis, inclusive já externados e analisados em subitens precedentes desta peça instrutória e, ainda, visando à objetividade e melhor concatenação dos elementos indispensáveis à formação de juízo de mérito, as avaliações a seguir serão feitas levando em consideração esses parâmetros.

Justificativas10.4. No que concerne à Tomada de Preços 2/2010, Tomadas de Preços nº 3/2010 e

12/2010, os senhores José Fábio de Alcântara Silva (peças 185 e 187), Joariza Nogueira Duarte (peça 191) e Leonardo Ribeiro Nunes (peça 192) sustentam os mesmos argumentos já propalados nos subitens 6.97 e 6.98, ‘i’ a ‘v’, retro.

10.5. Especificamente quanto à Concorrência 01/2009, manifestam-se os senhores Renato Santana Gomes (peça 193) e Leonardo Ribeiro Nunes (peça 192), nos termos já sintetizados no subitem 6.98, ‘vi’, supracitado.

Avaliação da unidade técnica10.6. Em relação aos argumentos referidos no subitem 10.4, cabem, por indubitável

pertinência, as análises empreendidas nos subitens 6.99 a 6.102 e 6.106, deste expediente processual.

10.7. Por último, as alegações alusivas à Concorrência 01/2009 ensejam as mesmas avaliações defendidas nos subitens 6.103 e 6.104 desta Instrução.

10.8. Conclusivamente, propõe-se a rejeição das razões de justificativa oferecidas pelos José Fábio de Alcântara Silva, Joariza Nogueira Duarte, Renato Santana Gomes e Leonardo Ribeiro Nunes, sujeitando-os a penalidade proposta no subitem 15.2 (15.2.2 a 15.2.6) adiante, na medida da culpabilidade de cada um.

Kácio dias Soares11. A Audiência da responsável supracitada, titular da Secretaria Municipal de Assistência

Social à época da fiscalização, foi realizada por irregularidade para a qual também teria concorrido juntamente com o Prefeito do município fiscalizado. A exemplo dos responsáveis anteriores, manifestou-se por intermédio de Procurador constituído nos autos (peça 184).

Irregularidade imputada (peça 121)11.1. Não ter providenciado a constituição e estruturação de instância de controle social

específica, ou a legitimação do Conselho Municipal de Assistência Social, por meio de lei ou decreto emanado do Poder Público Municipal, violando as disposições do art. 8º da Lei 10.836/2004 e dos artigos. 11, § 3º, 14, inciso VI e 29, caput e § 2º, do Decreto Federal 5.209/2004 e, Item I, da Cláusula Segunda, do Termo de Adesão ao Programa Bolsa Família e ao Cadastro Único de Programas Socais, formalizado pelo Chefe do Poder Executivo do município.

Justificativas (peças 181 e 195)

28

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

11.1. Além de documentos (peça 181), reitera argumentos (peça 191) apresentados pelo gestor municipal e já relatados no subitem 6.94 precedente.

Avaliação da unidade técnica11.2. Por pertinência dos documentos e argumentos apresentados, bem como por coerência

com análise já consubstanciada em relação a outro responsável, pelo mesmo fato, reputamos as justificativas adequadas e suficientes para sanear a irregularidade, conforme enunciado no subitem 6.95.

José Roberto Ribeiro Forzani12. O ex-superintendente regional do Incra no Tocantins foi devidamente notificado da

Audiência que lhe foi facultada (peças 120 e 124), tendo requerido dilação de prazo (peças 144, 161 e 164) para apresentação de razões de justificativa, bem com vista e cópia dos autos (peça 157), com deferimento de ambos os requerimentos. Diferentemente dos demais audientes já mencionados nesta peça instrutória, manifestou-se diretamente em todos os atos processuais.

Irregularidade imputada (peça 120)12.1. Ausência de fiscalização e acompanhamento das obras objeto do Convênio

14000/2009 (Siafi 703592), em desacordo com o art. 67 da Lei 8.666/93 e arts. 51 e 53 da Portaria Interministerial MF/MPOG/CGU 127/2008.

Justificativas (peça 162)12.2. Elenca fatos cronológicos e alega limitações específicas vividas pelo órgão do qual

foi gestor para dar suporte à sua defesa, resumida nos seguintes termos:i) circunscreve sua responsabilidade como dirigente regional do Incra no Tocantins até

31/3/2010, quando foi exonerado, a pedido;ii) declara que a comissão de fiscalização e acompanhamento das obras e serviços em

referencia foi designada em 27/1/2010, através de Ordem de Serviço. Naquela ocasião o órgão regional contava apenas com dois engenheiros civis habilitados para a fiscalização de obras;

iii) dada a limitação da força de trabalho da Superintendência Regional do Incra, em especial no Serviço de Infraestrutura, da Divisão de Desenvolvimento, era rotina que a fiscalização das obras acontecesse após o repasse recursos ou quando da solicitação de medição por parte dos convenentes;

iv) relativamente ao convênio supra, o primeiro repasse de recursos federais foi realizado somente em 17/6/2010 e, dadas as circunstâncias, não houve fiscalização das obras até a ocasião do seu afastamento do órgão.

Avaliação da unidade técnica12.3. A exoneração do cargo de direção regional no Incra pode ser confirmada em

documentos que integram os autos (peça 133, fls. 2-3).12.4. A declaração de designação de servidores para comporem comissão de fiscalização

acompanhada de documento, mais o Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 14, último parágrafo), que exibe manifestação expressa de tal providência, salientando que a comissão supra deveria ser responsável pelo acompanhamento e fiscalização das obras e serviços de engenharia objeto de todos os convênios de firmados pelo órgão e municípios tocantinenses.

12.5. A data do único repasse efetuado pelo Incra condiz com a informação constante do registro pertinente no Siafi e no Portal da Transparência do Governo Federal.

12.6. Por fim, a alegação de limitações no quadro de pessoal na Superintendência Regional do Incra no Tocantins (SR-TO/Incra) encontra respaldo nas apurações conduzidas por essa Corte de Contas através dos TCs 028.422/2009-7 (Denúncia) e 003.917/2011-8 (Monitoramento).

12.7. Entende-se como plausível a alegação de que, diante das circunstâncias fáticas aludidas, mormente as limitações de pessoal habilitado para acompanhar e fiscalizar obras, em cotejo com o significativo número de convênios pactuados com diversos municípios tocantinenses, a atuação da comissão supra fosse mobilizada nos momentos imprescindíveis da execução,

29

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

especialmente nas medições físicas de serviços já realizados para liberação dos respectivos pagamentos.

12.8. Logo, inclinamos-nos pelo acolhimento integral das justificativas, considerando ser oportuna a expedição do alerta proposto no subitem 15.8.

Demais propostas do Relatório de Fiscalização13. Com mínimos ajustes redacionais, sugerimos a manutenção dos alertas propostos na

parte final do Relatório de Fiscalização (peça 99, fls. 76-77), relativos aos Achados 3.4, 4.3 e 4.5 daquela peça processual, os quais estão reiterados nos subitens 15.7.6, 15.7.7 e 15.7.8 da proposta de encaminhamento adiante formulada.

14. Inobstante, no que concerne à diligência relacionada ao Achado 4.4 do Relatório supra (peça 99, fls. 77), relacionada a indícios de não atendimento de condições de elegibilidade por parte de servidores municipais beneficiários de auxílios financeiros do Programa Bolsa Família e, ainda, levando em consideração o teor do despacho exarado pelo titular da Secex/TO (peça 101), sugerimos a sua conversão em determinação, com os ajustes devidos, conforme consta do subitem 15.6.2, ulterior.

Proposta de Encaminhamento 15. Tendo em vista os fatos, circunstâncias, justificativas e conclusões precedentes,

submetemos os autos à consideração do Ministro-Relator Augusto Sherman, com as seguintes proposições:

15.1. com fundamento do art. 250, § 1º, do RI/TCU:15.1.1. acolher parcialmente as justificativas apresentadas pelos senhores Francisco da

Rocha Miranda e Kácio dias Soares, considerando elidida a irregularidade levantada na fase de execução da auditoria, quanto à legitimação de instância de controle social incumbida de acompanhar e fiscalizar as ações implementadas no âmbito municipal relativas ao Programa Bolsa Família e ao Cadastro Único de Programas Socais;

15.1.2. acolher parcialmente as justificativas oferecidas pelos senhores Francisco da Rocha Miranda e André Luiz Mendonça Bastos, quanto à realização de pagamentos iniciais em desacordo com o avanço físico dos serviços da obra de construção da creche Pró-Infância (Convênio 700188/2008 - Siafi 639441);

15.1.3. acolher parcialmente as justificativas oferecidas pelos senhores Francisco da Rocha Miranda, Antonio Carlos Mendes e Maria de Fátima Gomes Matos, no que concerne às impropriedades na elaboração, conteúdo e encaminhamento dos Relatórios Anuais de Gestão (RAG);

15.1.4. acolher integralmente as justificativas apresentadas por José Roberto Ribeiro Forzani, ex-superintendente Regional do Incra no Tocantins, quanto à suposta ausência de fiscalização e acompanhamento das obras objeto do Convênio 14000/2009 (Siafi 703592);

15.2. com fundamento no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/92, c/c art. 250, § 2º, art. 268, inciso II, ambos do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União (RI/TCU), aplicar multa aos responsáveis abaixo identificados, por sua participação nos atos que deram causa às irregularidades apuradas e individualmente imputadas, fixando-lhes o prazo de 15 quinze dias, a contar das respectivas notificações, para que comprovem perante este Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do RI/TCU) o recolhimento das dívidas em favor do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente, caso recolhidas após o vencimento, na forma da legislação em vigor:

15.2.1. Francisco da Rocha Miranda (CPF 060.151.821-72), Prefeito de Araguatins/TO, pelas seguintes imputações:

i) não realizar periodicamente a apuração de superávit financeiro dos recursos federais repassados pelo Fundo Nacional de Saúde e estritamente vinculados a ações e serviços de saúde específicos, permitindo que os saldos de um exercício sejam utilizados em outro sem indicar a origem federal, circunstâncias que implicam descumprimento do art. 8º, parágrafo único, combinado com o art. 25, § 2º e 50, inciso I, todos da Lei Complementar 101/2000 (LRF),

30

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

impossibilitando o controle da aplicação de recursos legalmente vinculados, bem como o alcance do percentual estabelecido no art. 77, inciso III e § 4º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional 29/2000, conforme metodologia definida na Portaria GM/MS 2.047/2002;

ii) realização de sucessivas contratações temporárias de profissionais para o exercício de atribuições típicas de cargos regulares de enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários de saúde, médicos, fisioterapeutas e farmacêuticos, mediante procedimentos de recrutamento e contratação que violaram os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e da publicidade, preconizados no art. 37 da Constituição Federal de 1988; tendo em vista que foram utilizados recursos federais transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde para o custeio dessas contratações eivadas de vícios;

iii) não designar, ainda que intempestivamente, representante (s) da Administração para acompanhar e fiscalizar obras de implantação e recuperação de estradas vicinais objeto do Convênio 14000/2009 (Siafi 703592), celebrado com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, descumprindo o disposto no art. 67 da Lei 8.666/1993;

iv) autorizar aquisições e pagamentos, com a utilização de recursos federais, de medicamentos e materiais odontológicos, mediante fracionamento e dispensa irregular de licitação, violando disposições do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, além do art. 2º, caput, art. 3º, caput, e art. 24, inciso II, da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993:

v) autorizar pagamentos de despesas com a utilização de recursos federais, prescindindo de exigir o ato de liquidação das mesmas, mediante despacho ou registro específico, a constar no corpo dos próprios documentos fiscais ou equivalentes que lhes dão suporte, violando as disposições do art. 62, caput, e 63, caput, § § 2º e 3º, da Lei 4.320/1964;

vi) homologar os processos licitatórios abaixo indicados, conspurcados com exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, além de conterem falhas na publicidade oficial obrigatória dos avisos, violando disposições da Lei 8.666/1993 e de abundante jurisprudência do Tribunal de Contas da União:

1 - na Tomada de Preços 2/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de implantação e recuperação de 58 km de estradas vicinais (ref. ao Convênio 14000/2009 - Siafi 703592);

2 - na Tomada de Preços 12/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de pavimentação asfáltica de vias urbanas (ref. aos Contratos de Repasse CR 025401-79/2008 e CR 257918-13/2008, Siafi 630083 e 629522, respectivamente);

3 - na Tomada de Preços 3/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de construção de uma escola de ensino infantil (ref. Convênio 700188/2008 FNDE - Saifi 639441);

4 - na Tomada de Preços 04/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras/serviços de melhorais habitacionais para controle da doença de chagas (ref. Convênio TC/PAC 0762/07 - Saifi 633147);

5 - na Concorrência 01/2009, destinada à contratação de empresa para execução do sistema de tratamento de resíduos sólidos (ref. Convênio 504/2008 - Siafi 648091);

15.2.2. Andrea Gonzalez Graciano (CPF 806.193.121-49), Assessora Jurídica da Prefeitura de Araguatins/TO:

i) emitir parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e homologação dos Convites nº 50 e 74/2009 (aquisição de gêneros alimentícios para o Pnae), mesmo existindo licitantes ou propostas válidas em número inferior ao mínimo de três, antes de propor a repetição das licitações;

ii) emitir parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e homologação do Pregão Presencial 01/2010, em favor de entidade privada que não atendia condições de habilitação jurídica e econômico-financeira, além de estar contaminado por severa restrição na publicidade oficial dos avisos da licitação;

31

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

iii) emitir parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e a homologação da Tomada de Preços 04/2010 (contratação de empresa para executar obras/serviços de melhorais habitacionais para controle da doença de chagas, ref. Convênio TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147), eivado de exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, além de conter falhas na veiculação da publicidade oficial dos avisos;

15.2.3. José Fábio de Alcântara Silva (CPF 822.045.783-04), Assessor Jurídico da Prefeitura de Araguatins/TO, por ter emitido parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e a homologação da Tomada de Preços 2/2010 (destinada à contratação de empresa para executar obras de implantação e recuperação de 58 km de estradas vicinais, ref. ao Convênio 14000/2009 - Siafi 703592), contaminada por exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, além de conter falhas na veiculação da publicidade oficial dos avisos, circunstâncias capazes de comprometer o caráter competitivo da licitação;

15.2.4. Joarisa Nogueira Duarte (CPF 329.345.212-49), Assessora Jurídica da Prefeitura de Araguatins/TO, por ter emitido parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e a homologação da Tomada de Preços 3/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de construção de uma escola de ensino infantil (ref. Convênio 700188/2008 FNDE - Siafi 639441) e da Tomada de Preços 12/2010, destinada à contratação de empresa para executar obras de pavimentação asfáltica de vias urbanas (ref. aos Contratos de Repasse CR 025401-79/2008 e CR 257918-13/2008, Siafi 630083 e 629522, respectivamente), inquinadas por exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, além de conter falhas na veiculação da publicidade oficial dos avisos, circunstâncias capazes de comprometer o caráter competitivo das licitações;

15.2.5. Renato Santana Gomes (CPF 117.598.361-68) Assessor Jurídico da Prefeitura de Araguatins/TO, por ter emitido parecer jurídico recomendando ao Prefeito promover a adjudicação do objeto e a homologação da Concorrência 01/2009 (destinada à contratação de empresa para execução do sistema de tratamento de resíduos sólidos, ref. Convênio 504/2008 - Siafi 648091), maculada por exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes para a habilitação de licitantes, além de conter falhas na veiculação da publicidade oficial dos avisos, circunstâncias capazes de comprometer o caráter competitivo da licitação;

15.2.6. Leonardo Ribeiro Nunes (CPF 206.620.683-00), Presidente da Comissão de Licitação da Prefeitura de Araguatins/TO, por ter admitido o comprometimento do caráter competitivo das licitações das Tomadas de Preços 02/2010, 03/2010, 04/2010, 12/2010 e na Concorrência 01/2009, mediante exigências editalícias ilegais, impertinentes ou exorbitantes, além de conterem falhas na veiculação da publicidade oficial dos avisos;

15.3 nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992 autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas acima referidas, com as atualizações monetárias pertinentes, caso não sejam efetuados os recolhimentos nos prazos devidos;

15.4. com espeque no art. 197 e no art. 202, inciso II, ambos do RI/TCU, c/c o art. 37, da Resolução TCU 191/2006, determinar a autuação e formação de processo apartado de tomada de contas especial, a partir da extração de peças destes autos, visando à recomposição do Fundo Nacional de Saúde (FNS), tendo em vista a aplicação ilegítima pelo Município de Araguatins/TO, com desvio de finalidade, materializadas pelos pagamentos abaixo discriminados, para os quais foram utilizados recursos vinculados oriundos do PAB Variável, autorizando desde já a citação do próprio município, por intermédio do Prefeito, considerando que o Ente Público em causa foi diretamente beneficiado em decorrências do uso de recursos federais para as destinações reputadas irregulares:

i) pagamentos de salários a assistentes administrativos, auxiliares de serviços gerais e vigilante, no montante de R$ 20.865,49 (peça 203, com valores retificados) ;

32

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

ii) transferências para contas bancárias destinadas exclusivamente ao pagamento de salários de servidores municipais, indistintamente, sem demonstrar vinculação com a área de saúde, com importe de R$ 197.340,31 (peça 204);

iii) pagamentos de pensões alimentícias não descontadas de contratados ou de servidores, alcançado R$ 4.593,78 (peça 205);

iv) remuneração de pessoas que não atendiam, à época dos contratos e dos pagamentos, os requisitos legais para o exercício profissional da Medicina, no valor de R$ 306.051,60 (peça 206, com valor retificado);

v) pagamentos de estagiários vinculados ao Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos (ITPAC), com valor histórico de R$ 66.767,75 (peça 207);

15.5. Com fulcro no art. 250, inciso III, do RI/TCU, expedir as seguintes recomendações ao Município de Araguatins/TO, por intermédio do Prefeito:

15.5.1. para que avalie com sua equipe de auxiliares a possibilidade de adotar, com brevidade, se ainda não o fez, sistema de registro de preços para a compra regular de insumos destinados à alimentação escolar, especialmente quando custeados com verbas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) transferidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mediante prévia realização de concorrência ou pregão, atentando para a necessidade de ampla divulgação dos avisos na imprensa oficial, inclusive no Diário Oficial da União, em jornais locais e em mídia eletrônica, via internet, dada a participação de recursos federais. Sistema similar deve ser implementado nas aquisições realizadas diretamente da agricultura familiar, mediante dispensa de licitação, observadas as normas e condições previstas no art. 14 da Lei 11.947/2009, especialmente quando da realização de chamadas públicas e definição de preços a serem praticados;

15.5.2. previamente à aprovação de boletins de medição das obras e serviços de construção da creche do Pró-Infância, objeto do Convênio 700188/2008 (Siafi 639441), certifique-se de que o percentual de execução física dos itens unitários de serviços e preços obedecem ao detalhamento da planilha licitada e anexa à proposta de preços da licitante vencedora, autorizando pagamentos somente dos valores correspondentes ao real avanço físico dos itens unitários previstos no projeto, sob pena de sujeitar-se à sanção prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, caso este Tribunal de Contas, em fiscalizações futuras, verifique a ocorrência de pagamentos à contratada em desacordo com estas orientações e que, por sua natureza, impliquem antecipação de pagamentos;

15.5.3. designe formalmente, se ainda não o fez, pessoa ou comissão encarregada de acompanhar e fiscalizar obras de implantação e recuperação de estradas vicinais objeto do Convênio 14000/2009 (Siafi 703592), celebrado com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra; adotando idêntica providência em relação a qualquer contrato custeado total ou parcialmente com recursos vinculados a convênios ou contratos de repasses firmados com órgãos ou entidades federais, oferecendo os meios para que a fiscalização seja efetiva, de forma a dar cumprimento ao disposto no art. 67 da Lei 8.666/1993;

15.6. com espeque no art. 250, inciso II, do RI/TCU, determinar ao Município de Araguatins/TO, por intermédio do seu Prefeito:

15.6.1. a partir da notificação, abstenha-se de utilizar recursos transferidos pelo FNDE à conta do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate) para pagamento de despesas relativas à execução do contrato de locação de veículos 097-A/2009, caso ainda esteja vigente, decorrente do Pregão Presencial 01/2009, haja vista a ocorrência de ilegalidades que eivaram o processamento e julgamento da licitação supracitada, sob pena de sujeitar-se à aplicação de sanção caso se verifique descumprimento da presente determinação em procedimentos fiscalizatórios realizados por esta Corte de Contas, posteriormente. A situação da vigência do contrato supramencionado, bem como o mês de competência a partir do qual a presente determinação iniciará seus efeitos devem ser comunicados a esta Corte de Contas, por meio da Secretaria de

33

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

Controle Externo no Estado do Tocantins (Secex/TO), no prazo de 30 dias, também contados da notificação;

15.6.2. no prazo de noventa dias, a contar da notificação, efetue levantamento de todos os servidores municipais contemplados com benefícios financeiros do Bolsa Família, em qualquer período compreendido nos exercícios de 2009 a 2011, demonstrando analiticamente, por meio de planilha, se o quociente entre a remuneração anual (incluídas férias e 13º salário) patrocinada pelo Tesouro Municipal e o número de dependentes declarados nos assentamentos funcionais enquadram-se nas condições de elegibilidade previstas no art. 18, do Decreto Federal 5.209/2004, com a redação dada pelo Decreto 6.917/2009, informando o resultado ao TCU, por meio da Secretaria de Controle Externo no Estado do Tocantins (Secex/TO);

15.7. Autorizar a expedição dos seguintes alertas ao Município de Araguatins/TO:15.7.1. por meio do (a) titular da Secretaria Municipal de Saúde, para a relevância do

Relatório Anual de Gestão (RAG), como instrumento fundamental de avaliação do sistema de planejamento e da gestão do SUS em cada esfera de governo, além de servir como mecanismo de prestação de contas e de apoio às ações de auditoria e de controle, características que impõem a necessidade de estrita observância das disposições da Portaria GM/MS 3.332, de 28 de dezembro de 2006 e da Portaria GM/MS 3.176, de 24 de dezembro de 2008, especialmente quanto ao conteúdo, estrutura, fluxo de informações e detalhamento, bem como aos prazos para encaminhamento do RAG ao Conselho de Saúde (o § 5º, do art. 4º, da Portaria GM/MS 3.332/2006) e, após a apreciação deste Colegiado, respeitar os prazos de encaminhamento à Comissão Intergestores Bipartite - CIB e ao Tribunal de Contas (art. 8º, inciso I e art. 9º, da Portaria GM/MS 3.176/2008, respectivamente), juntamente com a deliberação da instância de controle social quanto ao Relatório supracitado;

15.7.2. a ser dirigido ao Prefeito, para que seja evitada a utilização da modalidade de licitação ‘convite’ para compra de insumos destinados ao Pnae, observando como parâmetro não o montante de cada compra isoladamente, mas a estimativa do valor anual de aquisições de insumos para aquela finalidade. Quando for cabível a utilização de convite, observar as disposições da Súmula TCU 248 e do § 7º do art. 22 da Lei 8.666/1993;

15.7.3. por intermédio do Prefeito, para que observe a legislação ambiental, especialmente quanto à necessidade de obtenção tempestiva das licenças de instalação e de operação, permitindo a adoção de eventuais medidas mitigadoras e compensatórias estipuladas pelos órgãos ambientais competentes decorrentes da construção e operacionalização do aterro sanitário objeto do Convênio 504/2008);

15.7.4. ao Prefeito municipal, para a necessidade de obediência aos ditames estabelecidos no inciso I, do art. 198, da Constituição Federal de 1998, combinado com o art. 7º, inciso IX, e art. 9º, caput e inciso II, ambos da Lei 8.080/1990, que atribuem ao titular da Secretaria de Saúde competência para a gestão plena das ações e serviços públicos de saúde a cargo do município, contemplando, além dos aspectos gerencias e operacionais, a gestão das dotações orçamentárias e das disponibilidades financeiras vinculadas ao SUS, salientando que a inobservância injustificada desses preceitos poderá ensejar a imposição de sanções em futuras ações de controle a serem empreendidas por esta Corte de Contas;

15.7.5. por meio do Prefeito, para a necessidade de se adotar como procedimento padrão a consulta da situação de regularidade fiscal de fornecedores e prestadores de serviço do município perante a Receita Federal do Brasil (RFB), Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), previamente à autorização dos pagamentos, em particular nos casos onde a obrigação seja suportada total ou parcialmente por recursos federais e decorre de qualquer modalidade de licitação, dispensa ou inexigibilidade, ainda que dispensável o instrumento de contrato, juntando comprovantes de tal providência, sob pena de sujeitar-se a multa, caso se verifique em fiscalizações posteriores que a situação irregular persiste;

34

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

15.7.6. por intermédio da Presidência do Conselho Municipal de Saúde, para os seguintes aspectos, cuja inobservância, negligência ou omissão poderá ensejar a responsabilização solidária dos integrantes do colegiado (peça 99, fls. 76, relativa ao Achado 3.4 do Relatório de Fiscalização):

i) cumprimento da legislação municipal que instituiu a instância de controle social da saúde, inclusive as disposições do Regimento Interno do Colegiado;

ii) exercício pleno das competências previstas na Cláusula Quinta da Resolução 333/2003 do Conselho Nacional de Saúde, especialmente as atribuições de planejamento e controle que detêm, exercendo as prerrogativas inerentes ao poder-dever que lhe foi atribuído quando da designação/nomeação;

iii) caso não recebidas as prestações de contas ou relatórios de gestão nos prazos regulamentares, ou quando não for atendido pelos órgãos municipais solicitação ou requerimento de informações ou documentos indispensáveis ao exercício de suas funções, denunciem o fato, de forma fundamentada, ao Ministério da Saúde ou à Secretaria de Estado de Saúde, conforme o caso, ou, ainda, aos órgãos de controle competentes (Conselho Nacional de Saúde, Conselho Estadual de Saúde do Tocantins, Ministério Público do Estado do Tocantins, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas do Estado do Tocantins e Tribunal de Contas da União), para as providências que lhes cabem, conforme o caso;

iv) envidem esforços e tratativas junto aos gestores do SUS no âmbito municipal e estadual para que viabilizem a realização de programa de capacitação para conselheiros e suplentes do CMS, a ser ministrado obrigatoriamente antes da posse de novos membros designados/nomeados, titulares e suplentes, bem como curso periódico de atualização para aqueles que já exercem o encargo;

15.7.7. ao Prefeito e ao titular da Assessoria de Controle Interno da Prefeitura de Araguatins/TO, para a obrigatoriedade de integrarem os processos licitatórios o orçamento estimativo, acompanhado de planilhas detalhadas que expressem a composição de todos os custos unitários, particularmente naqueles certames deflagrados com vistas à contratação de obras e serviços de engenharia previstos em convênios ou contratos de repasse firmados com órgãos ou entidades federais, dando cumprimento ao art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei 8.666/1993 (peça 99, fls. 76, relativa ao Achado 4.3 do Relatório de Fiscalização);

15.7.8. ao Prefeito e ao titular da Secretaria Municipal de Saúde do município, para que exija de médicos efetivos ou contratados temporariamente, antes da entrada em exercício, comprovação de inscrição no CRM/TO, seja primária, secundária ou por transferência, de forma a atender às disposições da Lei 3.268, de 30 de setembro de 1957 (peça 99, fls. 77, relativa ao Achado 4.5 do Relatório de Fiscalização);

15.8. Alertar o Superintendente Regional do Incra no Estado do Tocantins (SR-TO/Incra) para a responsabilidade que devem ter os integrantes das comissões encarregadas de fiscalizar e acompanhar obras contempladas no objeto de convênios firmados pelo órgão e outros Entes Públicos, especialmente quando devem atestar boletins de medição física de tais empreitadas, bem como nas implicações que a omissão contumaz em participar validar atos de acompanhamento daquela natureza, tendo presente tratar-se de obrigação prevista em cláusula padrão estabelecida pelo próprio Incra nas cláusulas daquelas avenças, sendo incumbência dos dirigentes da SR-TO/Incra exigir o cumprimento do estabelecido por parte dos servidores designados para a fiscalização das avenças;

15.9. comunicar o Conselho Federal de Medicina (CFM) que, em processo de fiscalização conduzida por este Tribunal perante o Município de Araguatins/TO foram levantados indícios consistentes de que Camila Cunha Canto Gerbi (CRM-SP 14718) e Rondson Freitas do Vale (CRM-TO 2726) exerceram atribuições exclusivas de profissionais médicos (junho/2009 a março/2010) quando ainda não reuniam condições exigidas para a prática da Medicina, conforme disposições dos art. 17 e 18 da Lei 3.268, de 30 de setembro de 1957, combinada com os art. 1º e 2º da Resolução CFM 1.832, de 11 de janeiro de 2008. Também foram levantados elementos documentais que comprovam a prática médica pelos senhores Josué Rodriguez Puron

35

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

(CPF 532.107.432-15) e Simydarkuia Araújo da Silva (CPF 565.639.651-72), em relação aos quais não foram encontrados registros disponibilizados por esse Conselho Federal;

15.10. comunicar o Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (TCE/TO), para conhecimento e providências que julgar pertinentes, que, nas fiscalizações mais recentes empreendidas pelo TCU perante municípios tocantinenses para verificar aspectos de legalidade e conformidade na aplicação de recursos federais repassados mediante transferências voluntárias, especialmente aquelas patrocinadas de forma regular e automática pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), têm-se apurado as seguintes impropriedades:

i) não adoção de codificação específica, adequada e uniforme para fins de contabilização de eventos orçamentários e financeiros, tanto na realização de receita quanto no registro da despesa, destinadas a demonstrar inequivocamente a origem de recursos, distinguindo os próprios daqueles oriundos dos demais Entes Públicos, bem como a natureza ordinária ou vinculada a certas finalidades, de forma a permitir a triagem e o controle preconizado no art. 8º, parágrafo único, combinado com o art. 25, § 2º e 50, inciso I, todos da Lei Complementar 101/2000 (LRF), mormente quanto a receitas e despesas vinculadas à Saúde e à Educação;

ii) não apuração de superávit financeiro de recursos federais vinculados a ações e serviços de saúde, bem como à manutenção e desenvolvimento do ensino, apesar de ser um fato recorrente a existência de saldos financeiros no cotejo anual de receitas e despesas, sendo que tal incúria permite que os excedentes financeiros sejam efetivamente utilizados nos exercícios subsequentes como recursos próprios, mediante o artifício de abertura de créditos adicionais suplementares nos quais se utiliza como fundamento econômico alegação genérica e abstrata de ‘excesso de arrecadação’. As impropriedades ora descritas permite que ações de saúde ou de educação efetivamente patrocinadas pela União sejam contabilizadas como se fossem gastos suportados por receitas ordinárias municipais, reduzindo a mobilização de recursos do próprio município para tais fins, além de distorcer o alcance dos percentuais mínimos de custeio e investimento a que estão obrigados tais Entes Públicos em relação àquelas ações e serviços públicos, conforme patamares definidos na Constituição Federal vigente (art. 212 e art. 77, inciso III, combinado com o § 4º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional 29/2000);

15.11. Com fulcro no § 1º do art. 42 da Resolução TCU 191/2006, determinar à Secex/TO que monitore o cumprimento das determinações referidas nos subitens 15.6.1 e 15.6.2.”

É o relatório.

VOTO

Autorizei, no âmbito do TC-012.061/2010-7, proposta elaborada pela Secex/TO para que fosse realizada auditoria de conformidade no Município de Araguatins/TO, nos termos do art. 6º, § § 2º e 3º, da Resolução TCU 185/2005, de modo a implementar ações do TMS (Tema de Maior Significância) Local 11 (Transferências voluntárias - gestão municipal de recursos federais no Tocantins). 2. Os presentes autos tratam, assim, do Relatório de Auditoria de Conformidade, Registro Fiscalis 1036/2010, realizada, no período de 18/10 a 19/11/2010, na Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, com o objetivo de avaliar a boa e regular gestão de recursos públicos federais repassados àquele município, tendo como focos o Programa Nacional de Alimentação Escolar - Pnae, o Programa de Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica - Pnate, o Piso de Atenção Básica Variável - Saúde da Família - PSF, o Programa Bolsa Família, Convênios e Contratos de Repasse, no interregno de 1º/1/2007 a 30/6/2010.

36

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

3. Realizada a missão fiscalizatória, a equipe de auditoria da Secex/TO, no Relatório constante da peça nº 99, consignou haver identificado indícios da ocorrência das seguintes irregularidades:3.1. no que se refere ao Pnae, da utilização, para a aquisição de gêneros alimentícios, da modalidade convite, em vez de Pregão, além de constatar-se que, em tais procedimentos, foi convidado apenas o número mínimo legalmente exigido (três), circunscritos ao próprio município, observando-se, ainda, que, em regra, findaram por participar dos certames apenas um ou dois licitantes.3.2. quanto ao Pnate, da aceitação, no âmbito de certame licitatório destinado a contratar transporte escolar para atendimento da zona rural do município (Pregão Presidencial 1/2010), de licitante (único participante) que não atendia a exigências constantes do instrumento convocatório, observando-se, ainda, a ausência da devida publicação de aviso atinente ao edital do procedimento licitatório em questão;3.3. no que diz respeito à gestão da área de saúde, de modo geral:

a) ausência de designação do titular da Secretaria Municipal de Saúde para participar do processo de empenho ou da autorização de pagamentos de despesas que utilizam dotações orçamentárias e recursos financeiros vinculados ao SUS;

b) ausência de apuração do superávit financeiro dos recursos vinculados à área de saúde, o qual, caso apurado, pode dar ensejo à abertura de créditos adicionais (suplementares ou especiais) nos exercícios seguintes e, inclusive, evitar eventuais desvios de objeto;

c) significativas deficiências de conteúdo do Relatório Anual de Gestão (RAG) atinente ao sistema de saúde municipal, assim como falta de comprovação de entrega dos RAGs relativos aos exercícios de 2008 e 2009 ao TCE/TO e à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), associada a indicações de que tal entrega ocorreu com atraso;

d) realização de pagamentos, à conta do PAB Variável, sem consulta prévia da situação de regularidade dos fornecedores e prestadores de serviços perante o INSS e o FGTS;

e) fracionamento de compras, com fuga à modalidade licitatória adequada ou, até mesmo, com a dispensa irregular de licitação;

f) contratação de servidores temporários, à conta de recursos federais do PAB Variável, para cargos que deveriam ser supridos por servidores efetivos, além de tais seleções serem realizadas sem a adoção de formalidades que assegurem o efetivo respeito aos Princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade;3.4. no que tange ao PAB Variável - Programa Saúde da Família:

a) aplicação indevida de recursos do componente Piso da Atenção Básica Variável (PAB variável), que integra o bloco de financiamento da Atenção Básica, consistente de:

a.1) aquisição de medicamentos;a.2) pagamentos de atendimentos fisioterápicos e psiquiátricos;a.3) pagamentos de profissionais contratados temporariamente e de servidores estatutários;a.4) transferências de recursos do PAB Variável para contas correntes utilizadas

exclusivamente para o pagamento de salários desacompanhadas de relatórios analíticos que comprovem a adequação dos valores requeridos e a vinculação orgânica ou funcional dos beneficiários;

a.5) pagamentos a título de pensão alimentícia, sem que conste o desconto correspondente do suposto alimentante;

a.6) execução de reforma e ampliação de Posto de Saúde, quando tais dispêndios deveriam ser atendidos pelo bloco de financiamento denominado Investimento na Rede de Serviços;

b) possível contratação irregular, no âmbito do Programa Saúde da Família, de profissionais para o exercício de atividade médica, tendo em vista a não identificação de seus respectivos registros junto ao Conselho Federal de Medicina;

c) ausência de “atestos”, em documentos fiscais, da efetiva entrega de produtos, mercadorias ou prestação de serviços, em despesas à conta do PAB Variável;

37

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

3.5. em relação ao Programa Bolsa Famíliaa) possíveis inclusões indevidas de servidores municipais como beneficiários do Programa

Bolsa Família;b) falta de criação de instância de controle social (ICS) específica para o acompanhamento,

avaliação e fiscalização da execução, no âmbito local, do Programa Bolsa Família, controle esse que vinha sendo exercido pelo Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) sem a devida legitimação ou plano de trabalho específico para tanto;3.6. no que se refere a outros convênios e instrumentos congêneres:

a) realização de licitação de obra de aterro sanitário, objeto do Convênio 504/2008, sem que se dispusesse das licenças ambientais necessárias;

b) exigências irregulares em editais e descumprimento das exigências de publicidade nas licitações destinadas à contratação de obras públicas custeadas com recursos federais (Convênios 14000/2009 - Siafi 703592, 700188/2008 - Siafi 639441, TC/PAC 0762/07 - Siafi 633147, 504/2008 - Siafi 648091 e Contratos de Repasse CR 025401-79/2008 - Siafi 630083 e CR 257918-13/2008 - Siafi 629522);

c) pagamento por obra ou etapa não executada ou, na melhor das hipóteses, pagamento antecipado - obra de construção de escola de educação infantil, objeto do Convênio 700188/2008 (Proinfância);

d) fiscalização de convênio insatisfatória ou não realizada - implantação e recuperação de estradas vicinais em projetos de assentamentos, objeto do Convênio 14000/2009;

e) orçamentos de obras, objetos dos Convênios 504/2008 e 14000/2009, que não contavam com o adequado detalhamento;

4. Diante desse quadro, a equipe de auditoria apresentou proposta no sentido de que fossem realizadas as audiências dos seguintes responsáveis, a cada qual segundo seu grau de envolvimento com as ocorrências indicadas:4.1. Sr. Francisco da Rocha Miranda, então Prefeito Municipal de Araguatins/TO, em relação aos itens 3.1, 3.3.a, 3.3.b, 3.3.c, 3.3.d, 3.3.e, 3.3.f, 3.4.a, 3.4.b, 3.4.c, 3.5.b, 3.6.a, 3.6.b, 3.6.c e 3.6.d;4.2. Sr. André Luiz Mendonça Bastos, engenheiro fiscal da obra, em relação ao item 3.6.c;4.3. Sr. José Roberto Ribeiro Forzani, então Superintendente Regional do Incra no Tocantins, em relação ao item 3.6.d;4.4. Srª Maria de Fátima Gomes Matos, Secretária Municipal de Saúde de 1/1/2008 a 26/4/2010, em relação ao item 3.3.c;4.5. Sr. Antônio Carlos Mendes, Secretário Municipal de Saúde de 26/4/2010 a 9/8/2010, em relação ao item 3.3.c;4.6. Sr. Leonardo Ribeiro Nunes, então Presidente da Comissão de Licitações e Pregoeiro, em relação aos itens 3.2 e 3.6.b;4.7. Srª Andrea Gonzales Graciano, Assessora Jurídica a partir de 11/5/2010, em relação aos itens 3.1, 3.2 e 3.6.b;4.8. Sr. José Fábio de Alcântara Silva, Assessor Jurídico a partir de 18/2/2010, em relação ao item 3.6.b;4.9. Srª Joarisa Nogueira Duarte, Assessora Jurídica a partir de 19/4/2010, em relação ao item 3.6.b;4.10. Sr. Renato Santana Gomes, Assessor Jurídico desde 8/7/2009, em relação ao item 3.6.b;4.11. Srª Kácio dias Soares, Secretária Municipal de Saúde desde 1/2/2005, em relação ao item 3.5.b.

38

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

5. Na mesma oportunidade, a ocorrência referida no item 3.5.a motivou proposta de diligência e a constante do item 3.6.e serviu de fundamento para a proposição de alerta, providência também alvitrada em relação às ocorrências atinentes aos itens 3.4.b e 3.5.b.6. Em seu pronunciamento, o Secretário de Controle Externo optou por que, preliminarmente, fossem promovidas apenas as audiências sugeridas, ficando a eventual expedição de alertas para uma etapa posterior. Posicionou-se o titular da unidade técnica, ainda, por que o saneamento da ocorrência atinente aos beneficiários do Programa Bolsa Família (referida no item 3.5.a) fosse promovido, posteriormente, diretamente sob a forma de determinação. Tendo por base, então, delegação de competência por mim outorgada, a realização das audiências foi autorizada (peça nº 101).7. Após a promoção das audiências determinadas, a Secex/TO, em uníssono (peças nºs 208, 209 e 210), posicionou-se no sentido do acolhimento de parte das justificativas e, em função de rejeitar as demais, da aplicação de multas e a formação de apartado de tomada de contas especial, assim como da expedição de recomendações, determinações e alertas e do envio de comunicações ao Conselho Federal de Medicina e ao Tribunal de Contas do Estado de Tocantins.8. Com as vênias de estilo, no entanto, considero que as conclusões e propostas de encaminhamento da unidade instrutiva merecem alguns reparos, consoante passo a discorrer. Desde logo explicito, no entanto, o aspecto de que, quando se tratar de entendimentos a que me alinhe, incorporo as análises da unidade técnica às minhas razões de decidir.

I - No que se refere ao Pnae9. A fiscalização levada a cabo identificou que as aquisições de gêneros alimentícios destinados ao Pnae foram operacionalizadas por licitação na modalidade convite, e não por pregão, em desacordo com o art. 1º, caput e § 1º, do Decreto 5.504/2005 c/c art. 2º, caput, 3º, caput, e § 2º, do Anexo II do Decreto 3.555/2000 e c/c art. 18, § 6º, da Resolução 38/CD/FNDE/2009 (ocorrência 3.1).10. Ainda que rejeitando as justificativas apresentadas, atinentes, de modo genérico, às limitações do mercado local, a unidade instrutiva entendeu mitigada a responsabilidade dos gestores e que a ocorrência poderia ser tratada apenas mediante a expedição de recomendação e alerta, posicionamento a que me alinho, em especial por constatar o aspecto de a ocorrência envolver recursos de reduzida monta (vide peças nºs 50, 51 e 52), bem como de não haverem sido apontados indícios de desvirtuamento das aquisições em questão. Com eventuais ajustes de forma, então, ratifico as propostas de encaminhamento apresentadas a respeito pela unidade técnica.

II - Quanto ao Pnate11. No âmbito do Programa de Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica (Pnate), verificou-se a contratação de associação de classe para locação de veículo para transporte escolar, sem que tal entidade atendesse a todas as exigências de qualificação constantes do instrumento convocatório. Além disso, constatou-se que o Município deixou de promover a devida publicação do chamamento público no Diário Oficial da União (ocorrência 3.2).12. A respeito do tema, o posicionamento da unidade técnica é de rejeitar as justificativas dos Srs. Leonardo Ribeiro Nunes e Andrea Gonzales Graciano, propondo que o ocorrido sirva de fundamento para sua apenação com a multa prevista no inc. II do art. 58 da Lei 8.443/92, bem como que se determine ao Município de Araguatins/TO que, de imediato, deixe de utilizar recursos do Pnate na locação dos veículos escolares em questão, tendo em vista o respectivo contrato derivar de certame irregular.13. Desde logo divirjo, entretanto, da determinação nos termos em que formulada, ante o risco de descontinuidade ao atendimento dos usuários do serviço, com a possibilidade de ocasionar-lhes perda de dias letivos. A partir do exame dos autos, contudo, verifico que a vigência do contrato em questão, inicialmente prevista para até 31/12/2010, poderia, nos termos da subcláusula 9.2.6 do edital do pregão e do item 3.1 daquele instrumento, vir a ser prorrogada nos termos do inc. II do art. 57 da Lei 8.666/1993 (vide fls. 12 e 74, peça nº 57). Considero, assim, que o interesse público, na hipótese,

39

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

possa ser adequadamente atendido mediante o estabelecimento de determinação à Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, no sentido de que se abstenha de prorrogar o Contrato 097-A/2010 (fls. 73/6), caso esse ainda se encontre vigente, promovendo, caso ainda não o haja feito, nova licitação com vistas a contratar o serviço de transporte escolar.14. O momento de determinar-se a promoção de novo procedimento licitatório, ademais, mostra-se oportuno para que também se verifique a adequação de aspecto atinente aos requisitos fixados no instrumento convocatório do Pregão Presencial 1/2010. Consoante se verifica do Relatório de Fiscalização (vide fls. 55, peça nº 99), a habilitação, no referido certame, da “Associação dos Transportadores de Escolares do Nível Fundamental, Médio e Superior do Estado do Tocantins (ATEC-TO)” foi considerada irregular em função das exigências constantes dos subitens 4.1 e 5.5.1 do edital, de que somente poderiam participar do procedimento “empresários” ou “sociedades empresárias”, condição não atendida pela ATEC-TO.15. Desde logo, no entanto, caberia questionar até que ponto efetivamente pretendia a Prefeitura de Araguatins/TO que a contratação em tela se restringisse a “empresários” ou “sociedades empresárias”, presente o aspecto de, por meio do subitem 5.5.3 do instrumento convocatório (fls. 5, peça nº 57), as “sociedades sem fins lucrativos de interesse social” haverem sido excepcionadas da obrigatoriedade de apresentar “balanço patrimonial e demonstrações contábeis do exercício social de 2008”, ressalva que, inclusive, foi considerada, pela equipe de fiscalização desta Casa, como “contraditória e incompatível com as exigências de habilitação jurídica” (fls. 55, peça nº 99).16. Por um lado, não posso deixar de entender que o instrumento convocatório, da forma como foi redigido, possa, efetivamente, induzir à compreensão, tal como o fez a unidade instrutiva, de que o certame seria restrito a “empresários” ou “sociedades empresárias”, condição que, caso corresponda de fato à intenção do ente licitante, clamaria, ao menos, por uma revisão da redação do edital, a fim de sanar a aparente incompatibilidade entre as disposições constantes dos subitens 4.1 e 5.5.1 com a excepcionalidade inserida no subitem 5.5.3.17. De outra parte, contudo, considero que o questionamento deva ser levado ainda mais adiante, com vistas a que se inquira se, na hipótese, seria o caso de estabelecer a restrição, nos termos em que entendida pela Secex/TO. Tenho sérias dúvidas quanto à validade da limitação da prestação de serviços de transporte somente a “empresários” ou “sociedades empresárias”, presente a realidade que parece se verificar em diversas localidades do Brasil, de que tal ofício seja levado a efeito por pessoas físicas, ainda que se tratem de motoristas profissionais. Tal condição, ademais, aparenta haver influído significativamente na hipótese, tendo em vista somente se haver habilitado, para participar do certame, uma associação de profissionais.18. Por certo reconheço que, no interesse da segurança da Administração, pode, eventualmente, ser necessário o estabelecimento de condições que possam resultar em limitação parcial dos potenciais prestadores. Considero, no entanto, que tal situação somente se possa verificar caso haja justificativas suficientes para tanto.19. Considero, assim, que, na determinação no sentido de que se proceda a nova licitação para o serviço de transporte escolar, deverá ser acrescida de comando no sentido de que o estabelecimento dos critérios de qualificação jurídica sejam calcados na efetiva necessidade da Administração, de modo a evitar a restrição desnecessária do universo de potenciais licitantes - tal como parece se haver verificado com a limitação do certame a “empresários” ou “sociedades empresárias” -, devendo eventuais escolhas que resultem em tal limitação ser formal e devidamente justificadas no âmbito do processo licitatório.20. Além disso, também considero que a realidade que parece vincular-se ao mercado de prestadores do serviço clama para a necessidade de que, previamente, também se verifique se não seria mais apropriado, com vistas a incrementar a possibilidade de participação de potenciais interessados, que o objeto em questão seja adjudicado por itens, em vez de o ser de forma global, tal como ocorreu no Pregão Presencial 1/2010. Ademais, verifico que o objeto em questão, da forma como explicitado no “Anexo I-A - Planilha de Custos”, já se encontrava devidamente parcelado nos itens de 1 a 36 (vide

40

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

fls. 20, peça nº 57). Assim, embora, uma vez mais, reconheça que a decisão final pelo parcelamento, ou não, do objeto a ser licitado se insira na esfera discricionária do ente contratante, avalio que, à luz da legislação vigente e do entendimento desta Corte, reconhecido por intermédio da Súmula 247, a escolha pela não divisão do objeto a contratar deva ser devidamente justificada.21. Deixo de acompanhar a unidade instrutiva, igualmente, no que se refere à possibilidade de penalização da Srª Andrea Gonzales Graciano, presente o aspecto de haver ela sido ouvida por “emitir parecer jurídico”, tendo em vista que sua conduta, no caso, não se enquadra nas hipóteses em que foi reconhecida, pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito do MS 24.584/DF, a viabilidade de responsabilização do parecerista jurídico. Ademais, constato que idêntica situação se configura nas outras ocorrências pelas quais a Srª Andrea foi chamada em audiência, aqui referidas, logo acima, nos itens 3.1 e 3.6.b. Entendo caracterizada a hipótese, portanto, de que referida parecerista deva ser excluída desta relação processual.22. Posto que em idêntica situação, encaminhamento similar deverá ser adotado, também, em relação aos Srs. José Fábio de Alcântara Silva, Joarisa Nogueira Duarte e Renato Santana Gomes, tendo em vista que, na ocorrência por que foram ouvidos (item 3.6.b), igualmente atuaram como pareceristas jurídicos, sem que se configurasse nenhuma das hipóteses previstas no já referido MS 24.584/DF.23. Entendo, ainda, que a responsabilidade do Sr. Leonardo Ribeiro Nunes possa ser considerada mitigada, tendo-se em conta tratar-se do único procedimento por que foi ouvido, além do fato de que o valor de contratação foi inferior ao orçado (vide fls. 20 e 65, peça nº 57), embora se deva reconhecer que o desconto obtido não foi tão expressivo (1 - R$ 1.539.975,01 / R$ 1.542.262,36 * 100% = 0,15%).

III - No que diz respeito à gestão da área de saúde, de modo geral24. Quanto à gestão da área de saúde de modo geral, aponta-se, de início, a ausência de delegação, por parte do Prefeito Municipal, para que a Secretária Municipal de Saúde possa atuar como gestora dos recursos financeiros do Fundo Municipal de Saúde (ocorrência 3.3.a). Com efeito, tal centralização contrapõe-se à diretriz traçada pelo art. 9º, inciso III, da Lei 8.080/1990, verbis:

“art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos:

(...)III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.”

25. A partir da informação (fls. 25, peça nº 188), corroborada pelo Decreto promotor da medida (fls. 95, peça nº 188), de que o Sr. Francisco da Rocha Miranda, enquanto ainda Prefeito Municipal, procedeu à nomeação da titular da Secretaria Municipal de Saúde como gestora do Fundo Municipal de Saúde, a Secex/TO, em sintonia com posição externada por esta Casa quando da prolação do Acórdão 477/2011 - TCU - Plenário, entendeu saneada a irregularidade, alvitrando, apenas, a expedição de alerta a respeito do tema, posicionamento a que me alinho. 26. Observou-se, também, que o Município de Araguatins não vinha apurando devidamente o superávit financeiro dos recursos da área de saúde (ocorrência 3.3.b), situação de fato indesejável, em função de redundar na possibilidade de que o município venha a se beneficiar indevidamente de recursos federais repassados e não utilizados no mesmo exercício, vindo, eventualmente, a aplicá-los em objeto diverso daquele fixado em lei.27. Para a ocorrência, em função de rejeitar os demonstrativos apresentados quando da audiência, a unidade instrutiva propõe que as justificativas do Sr. Francisco da Rocha Miranda sejam rejeitadas, aplicando-se-lhe a multa do inc. II do art. 58 da Lei 8.443/92.28. Tendo em vista, no entanto, ainda não haver indícios, ao menos até o momento retratado nos autos, de que a prática em questão haja resultado em efetivos prejuízos, assim como em

41

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

consonância com o posicionamento desta Corte quando da adoção do Acórdão 45/2011 - TCU - Plenário, deixo de acompanhar a proposta de multa apresentada pela Secex/TO, optando, desta feita, por que sejam cientificados os responsáveis de que a não apuração, ao final do exercício financeiro, de eventual superávit de recursos da área de saúde implica ofensa ao art. 50, incisos I e II, da Lei Complementar 101, de 4/5/2000, e enseja, em caso reincidência, aplicação de multa prevista na Lei 8.443/1992.29. Outra ocorrência no âmbito da gestão da saúde municipal que foi objeto de audiência refere-se às deficiências na elaboração e encaminhamento do Relatório Anual de Gestão de 2009 (ocorrência 3.3.c), documento previsto no art. 4º, inciso IV, da Lei 8.142/1990 e que, conforme pontua a unidade técnica, “é o principal instrumento de avaliação do sistema de planejamento e da gestão do SUS em cada esfera de governo, servindo também como instrumento das ações de auditoria e de controle”. Aliás, os arts. 2º, caput, e 8º da Portaria MS 3.176, de 24 de dezembro de 2008, dispõem, respectivamente, que o citado relatório é “diretamente relacionado com o exercício da função gestora em cada esfera de governo” e que deve ser encaminhado pelo município à comissão tripartite.30. Embora reconhecendo que, na hipótese, restou configurada afronta às Portarias GM/MS 3.332/2006 e 3.176/2008, diante do reconhecimento de deficiências por parte dos gestores, somado ao compromisso de que providências serão adotadas com vistas a elidir tais falhas, a unidade instrutiva posiciona-se pelo acolhimento parcial das justificativas, entendendo suficiente, no caso, a cientificação dos responsáveis a respeito da necessidade de estrita observância das disposições regulamentares aplicáveis à percepção de recursos do SUS, acrescida do alerta de que a reincidência nas condutas assinaladas poderá ensejar imposição das sanções previstas na Lei 8.443/1992, proposta a que me alinho.31. Detectou-se, igualmente, que as aquisições realizadas com recursos transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde não foram precedidas de confirmação quanto à regularidade fiscal dos contratados perante a Receita Federal do Brasil, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, o Instituto Nacional do Seguro Social e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (ocorrência 3.3.d).32. Embora reconhecendo a omissão contumaz dos responsáveis ouvidos em promover as referidas verificações, mas tendo em conta a ausência de caracterização de pagamentos a sociedades inadimplentes perante o Poder Público, a unidade técnica considerou suficiente que se cientificasse a Prefeitura Municipal de Araguatins/TO de que o procedimento de consulta sobre eventual inadimplência do fornecedor, previamente à contratação e à realização de pagamentos, é inafastável, podendo a sua não realização servir de fundamento para a aplicação de multa por parte deste Tribunal de Contas.33. Constatou-se, igualmente, o fato de o município haver realizado a contratação de servidores temporários - cuja remuneração foi ou ainda é custeada com recursos federais do PAB variável - para a ocupação de cargos regulares de enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários de saúde, médicos, fisioterapeutas e farmacêuticos, verificando-se, ainda, que a seleção para tais contratações não observou a adoção de medidas que assegurassem o efetivo respeito aos princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade, ainda que considerado o rito mais simplificado da contratação temporária (ocorrência 3.3.f).34. Das justificativas apresentadas, constou documentação atinente à realização, em 2010, de concurso público para provimento de cargos regulares, alcançando todos aqueles mencionados no parágrafo precedente (fls. 71/84, peça nº 188). Segundo ressalta a unidade técnica, no entanto, o ato de convocação de candidatos aprovados apresentado (fls. 83/4, peça nº 188) só contemplaria médicos e agentes comunitários de saúde.35. A unidade instrutiva, contudo, à luz das irregularidades caracterizadas, posiciona-se pela rejeição das justificativas apresentadas e, consequentemente, pela aplicação de multa.36. De minha parte, considerando os aspectos de a conduta em questão não haver resultado em prejuízos e de já se encontrarem em andamento providências com vistas à sua solução, no caso, o concurso público, avalio que a aplicação de multa constituiria medida de extremo rigor.

42

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

37. Entendo, no entanto, tratar-se de situação que não mais deve perdurar, cabendo a atuação deste Tribunal, haja vista o envolvimento, para o custeio dos servidores envolvidos, de recursos públicos federais. Avalio, contudo, que a adoção de medida que resultasse na interrupção dos serviços prestados pelos programas de saúde não consistiria na melhor solução para o caso. Sustento, pois, que o encaminhamento mais consentâneo seja de determinar-se que a Prefeitura Municipal de Araguatins/TO se abstenha de prorrogar os referidos contratos temporários, ante a necessidade de prover os cargos correspondentes em caráter efetivo mediante concurso público, nos moldes do art. 37, inciso II, da Constituição Federal.38. Consigna-se, ainda, que as aquisições de medicamentos e materiais odontológicos pelo município caracterizaram-se pela dispensa irregular ou pelo “fracionamento de despesa” (ocorrência 3.3.e), ocorrência para a qual a Secex/TO propõe a rejeição das correspondentes justificativas e a subsequente aplicação de multa.39. Diante, contudo, da ausência de indicativos de que as ocorrências hajam ocasionado prejuízos à Administração, assim como da constatação de envolverem valores módicos (vide fls. 17, peça nº 208), divirjo do entendimento quanto à existência de fundamento suficiente para a aplicação de multa, defendendo que o caso possa ser objeto de saneamento por meio de cientificação dos responsáveis a respeito da incorreção da conduta.

IV - no que tange ao PAB Variável - Programa Saúde da Família40. A Portaria MS 698/2006 estabelece que os recursos federais destinados ao custeio de ações e serviços de saúde passam a ser organizados e transferidos na forma de blocos de financiamento. O primeiro desses blocos é o Piso de Atenção Básica (PAB), consistente, segundo sítio oficial do Fundo Nacional de Saúde (FNS) na internet, “em recursos financeiros destinados a investimentos de procedimentos e ações de assistência básica, tipicamente municipal”. O PAB, por sua vez, é composto por duas vertentes, sendo o Piso da Atenção Básica Variável (PAB Variável), de interesse para a análise da ocorrência ora enfocada, destinado ao custeio de estratégias tais como o financiamento de agentes comunitários de saúde, iniciativas de saúde bucal, Política de Atenção Integral à Saúde do Adolescente etc.41. A auditoria levada a efeito no município em epígrafe, todavia, identificou possíveis desvios no uso de recursos do PAB Variável - que incluiriam desde gastos com medicamentos e serviços médicos pertencentes a outros blocos de financiamento até o pagamento de salários e pensões alimentícias de servidores da prefeitura (ocorrência 3.4.a).42. Após a realização das audiências, o posicionamento da unidade instrutiva foi no sentido de acolher aquelas atinentes a (i) aquisições de medicamentos, (ii) pagamentos de serviços (de saúde) do bloco de financiamento de média e alta complexidade e (iii) pagamentos de materiais e serviços utilizados na reforma e ampliação de posto de saúde, posto considerar que, em tais hipóteses, a pertinência temática com ações de saúde seria inquestionável, configurando-se, portanto, quando muito, desvios de objeto, não de finalidade. A Secex/TO ainda acrescenta que o próprio normativo que regula as transferências automáticas do FNS em favor dos fundos de saúde estaduais e municipais compreenderia a previsão da hipótese de remanejamento entre blocos, embora ressaltando tratar-se de disposição pendente de regulamentação específica. Quanto a tais dispêndios, portanto, entende-se dispensável a adoção de qualquer medida, posicionamento a que me alinho.43. Já no que tange aos desembolsos sem pertinência com ações de saúde - pagamento de salários de servidores da prefeitura, temporários ou efetivos (R$ 218.155,26), e de pensões alimentícias (R$ 4.593,78), havendo ainda, neste último caso, indicativos de que os valores correspondentes a estas não haveriam sido descontados dos alimentantes a elas obrigados (R$ 4.593,78) -, o posicionamento da unidade instrutiva, diante da rejeição das justificativas correspondentes, foi de reiterar seu entendimento acerca da ilegitimidade dos dispêndios, concluindo, assim que a hipótese daria ensejo à instauração da competente tomada de contas especial.

43

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

44. Ainda que acompanhando a conclusão quanto à ilegitimidade das despesas, à conta dos recursos do PAB Variável, em que não restou demonstrada a pertinência com ações de saúde, à luz da identificação de que, na hipótese, os dispêndios em questão findaram por reverter em favor da municipalidade e considerando o caráter de excepcionalidade de que se reveste a instauração da tomada de contas especial, entendo que, no caso, se possa, antes, buscar o saneamento do ocorrido por intermédio de determinação à Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, no sentido de que promova a devida recomposição, no que tange às parcelas aqui inquinadas, do Fundo Municipal de Saúde, comprovando o cumprimento da tal providência perante este Tribunal.45. Os elementos colhidos pela equipe de fiscalização demonstraram, estritamente em relação à execução financeira à conta do PAB variável, a ausência do procedimento de, na documentação fiscal correspondente, apor-se o devido “atesto” (ocorrência 3.4.c), circunstância que dificulta a aferição do efetivo procedimento de liquidação da despesa, etapa que, nos termos do art. 62 da Lei 4.320/1964, deve preceder àquela do pagamento.46. Também em relação a tal ocorrência, a conclusão da Secex/TO é de rejeitar as correspondentes justificativas e propor a aplicação de multa.47. Ainda que reconhecendo a importância de que a despesa pública seja formalmente submetida aos estágios previstos na Lei 4.320/1964, constato não haver notícia de que os bens e serviços correspondentes às notas fiscais juntadas aos autos (peças 75, 76 e 77) hajam sido sonegados ao município, correspondendo sua descrição, em qualidade e valor, aos tópicos analisados pela equipe de auditoria (serviços médicos, medicamentos etc.).48. Diante do quadro, considero suficiente, na hipótese, cientificar-se a Prefeitura de Araguatins/TO de que o descumprimento das etapas referentes à execução financeiro-orçamentária das despesas realizadas com fonte em recursos federais, em especial aos arts. 60, 62 e 65 da Lei 4.320/1964, podem sujeitar o responsável às penalidades da Lei 8.443/1992.49. Ainda no que concerne ao PAB Variável, verificou-se que o município empregou recursos no pagamento por serviços médicos de agentes cujo registro no Conselho Regional de Medicina não foi localizado (ocorrência 3.4.b). Argumentou a equipe de fiscalização, assim, que a Secretaria Municipal de Saúde de Araguatins/TO haveria patrocinado o exercício irregular da profissão.50. Detalhando um pouco mais o fato em destaque, verifica-se haverem sido apontadas, pela equipe de fiscalização, as seguintes constatações:

a) profissionais remunerados por serviços médicos, sem identificação ou comprovação de registro em conselho regional de medicina, até a data da realização da auditoria:

a.1) Camila Cunha Canto Gerbi - R$ 73.109,08 (junho/2009 a março/2010);a.2) Josué Rodrigues Puron - R$ 34.485,35 (fevereiro a setembro/2008);a.3) Rondson Freitas do Vale - R$ 71.729,68 (junho/2009 a março/2010);a.4) Simydarkuia Araújo da Silva - R$ 126.727,49 (setembro/2008 a março/2010);b) profissionais remunerados por serviços médicos, embora contratados na condição de

estagiários, sem comprovação de inscrição em conselho regional de medicina, à época da vigência contratual:

b.1) Alterto Gustavo de Oliveira Teles e Frederico Vargas Xavia - R$ 24.829,50 (2007);b.2) Carlos Walfredo Reis Júnior - R$ 4.138,35 (fevereiro/2008);b.3) Daiana Cinara da Mata - R$ 12.600,00 (agosto/2008 a abril/2009);b.4) Thiago Sanches Flores Pinto - R$ 3.600,00 (fevereiro a março/2008);b.5) Fernando Xavier Borges - R$ 10.800,00 (fevereiro a dezembro/2008);b.6) Ivan Graça Rêgo - R$ 10.800,00 (fevereiro a dezembro/2008).

51. Mediante diligências, a Secex/TO detectou que a Srª Camila Cunha Canto Gerbi e o Sr. Rondson Freitas do Vale regularizaram sua situação junto ao Conselho Regional de Medicina. No entanto, verificou-se que tal providência somente foi adotada em momento posterior aos fatos identificados na auditoria. Além disso, não foi identificado o saneamento da questão no que tange aos outros dois profissionais mencionados no item “a” do parágrafo precedente. No que se refere aos

44

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

estagiários, a unidade instrutiva consignou que o convênio celebrado com o ITPAC (Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos), ainda que estabelecesse, como obrigações do município, a obrigação de custear a oferta, aos estagiários, de moradia, água, luz, gás, impostos prediais, refeições e transporte para áreas rurais, em nenhum momento previa que ele também devesse promover pagamentos remuneratórios a eles, a qualquer título.52. Posiciona-se aquela unidade técnica, portanto, pela ilegitimidade de tais dispêndios e, consequentemente, pela necessidade da instauração da competente tomada de contas especial.53. Com as vênias de estilo, contudo, sou levado a divergir do posicionamento adotado pela unidade instrutiva.54. No que tange aos profissionais contratados como médicos, não posso me furtar à constatação de que, apesar do possível descumprimento de exigências legais e regulamentares atinentes ao registro profissional, os serviços foram efetivamente prestados, ao que tudo indica por pessoas que detinham a formação necessária, tendo em vista a apresentação de diplomas do competente curso superior, ainda que emitidos por instituições estrangeiras. Quanto a questionar-se a validade, ou não, de tais títulos no âmbito do Brasil, considero tratar-se de questão que escapa à esfera de atuação deste Tribunal, entendimento que entendo estender-se, também, ao questionamento em relação a se tais profissionais poderiam, de fato, já exercer a medicina, ainda que com pendências no tocante a seu registro junto ao CRM.55. Ao mesmo tempo, vislumbro plausibilidade nas considerações do Sr. Prefeito, no sentido de que a miserabilidade de Araguatins/TO - Município de 31.000 habitantes posicionado em 3922º lugar no último ranking de desenvolvimento humano realizado pelo Pnud - pode haver inviabilizado, na época dos fatos, conduta diversa da reportada, ante a dificuldade de despertar-se o interesse de profissionais de medicina, ainda que recém egressos da universidade, para lá atuarem.56. Por motivos semelhantes, discordo, também, das conclusões da Secex/TO a respeito daqueles contratados como estagiários. Especificamente nesse caso, além das dificuldades reportadas pelo responsável, entendo que ainda se deva ter em conta o aspecto de que, embora haja reconhecido que, no âmbito do convênio firmado com o ITPAC, poderiam ser custeados “moradia, água, luz, gás, impostos prediais, refeições e transporte para áreas rurais”, a equipe de fiscalização não explicitou haver verificado se, na hipótese, a opção pelo pagamento diretamente aos estagiários não se destinou, justamente, a substituir a ausência do pagamento por algum desses itens. De qualquer modo, mesmo no que se refere à possível ilegitimidade da destinação de recursos públicos federais para o convênio em questão, uma vez mais me sensibilizo com a ponderação acerca da dificuldade de atração de profissionais da área para atuar no município.57. Avalio, assim, que a exigência de restituição dos recursos constituiria medida de extremo rigor. Ressalto, além disso, o aspecto de o quadro observado, ao que indicam elementos constantes dos autos, corresponder a situação excepcional que tende a não se repetir, tendo em conta a identificação da realização de concurso público em 2010, do qual resultou a convocação de profissionais médicos nele aprovados (vide fls. 83/4, peça nº 188). Posiciono-me, assim, pela acolhida das justificativas atinentes à ocorrência. Presente a notícia a respeito do concurso público realizado, também entendo desnecessária a adoção, por este Tribunal, de providências adicionais. Admito, no entanto, que se possa encaminhar cópia da deliberação que vier a ser adotada ao Conselho Regional de Medicina em Tocantins, a fim de que tome conhecimento dos fatos e, em seu âmbito de atuação, avalie a eventual necessidade da adoção de medidas.

V - em relação ao Programa Bolsa Família58. Em relação à área do Programa Bolsa Família, a equipe de fiscalização havia identificado a ausência de constituição e estruturação de instância de controle social específica ou, até mesmo, a legitimação do colegiado que vinha cumprindo tal incumbência, o Conselho Municipal de Assistência Social, por intermédio de lei ou decreto (ocorrência 3.5.b). Após o exame das justificativas aportadas,

45

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

diante da constatação da expedição de normativo que saneou a lacuna, ainda que após a constatação da auditoria, a Secex/TO entendeu resolvida a questão, posicionamento a que me alinho.59. A auditoria realizada no município em epígrafe também identificou que 95 servidores municipais constavam como beneficiários do referido programa, circunstância que poderia constituir indício de concessão indevida do benefício, presente o disposto no art. 28 do Decreto 5.209/2004, no que tange ao critério de elegibilidade para recebimento do benefício, qual seja, a percepção de renda familiar mensal per capita de até R$ 140,00 (cento e quarenta reais - ocorrência 3.5.a). A esse respeito, alvitra-se o estabelecimento de determinação no sentido de que a Prefeitura Municipal de Araguatins/TO efetue o levantamento de todos os servidores municipais contemplados com benefícios financeiros do Programa Bolsa Família, a fim de que se apure seu enquadramento nas condições previstas para a percepção de referido auxílio, encaminhamento que também entendo adequado.

VI - no que se refere a outros convênios e instrumentos congêneres60. Investigando a execução do Convênio 504/2008, a unidade técnica averiguou que o Sr. Prefeito autorizara a realização de licitação da obra de construção de Aterro Sanitário sem dispor de licença ambiental prévia para o empreendimento, em desacordo com o prescrito no art. 6º, inciso IX, da Lei 8.666/93 (ocorrência 3.6.a). Entretanto, em resposta à audiência, comprovou-se a superveniente rescisão contratual antes mesmo de iniciadas as obras, conjugada com a subsequente emissão de licença pelo órgão ambiental competente. À vista de tal quadro, a unidade técnica considera suficiente, em relação à ocorrência, a expedição de alerta, sugestão que endosso.61. Em relação aos Convênios 14000/2009, 700188/2008 e 0762/2007 e aos Contratos de Repasse 025401-79/2008 e 257918-13/2008, apuraram-se falhas quanto aos requisitos editalícios da licitação, destacando-se a exigência de índice de liquidez aparentemente exorbitante, e a ausência de publicação do aviso resumido do edital no Diário Oficial da União (ocorrência 3.6.b). Em função de rejeitar as justificativas dos responsáveis, a Secex/TO alvitrou que a ocorrência servisse de fundamento para a aplicação de multa.62. Desde logo ressalvo, no entanto, minha discordância em relação a que, pela ocorrência ora em destaque, sejam penalizados os Srs. José Fábio de Alcântara Silva, Joarisa Nogueira Duarte, Renato Santana Gomes e Andrea Gonzales Graciano, em função daquilo que já consignei em relação à responsabilidade desta última no que tange às ocorrências 3.1 e 3.2. Consoante já registrei, na oportunidade, foram tais agentes ouvidos em função da emissão de pareceres jurídicos. Assim, sua conduta, no caso, não se enquadra nas hipóteses em que foi reconhecida, pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito do MS 24.584/DF, a viabilidade de responsabilização do parecerista jurídico. Caracteriza-se a hipótese, portanto, de que devam eles ser excluídos desta relação processual.63. Mesmo em relação aos responsáveis faltantes, a saber, o então Prefeito e o então Presidente da Comissão de Licitações e pregoeiro, entendo que, ausente comprovação de prejuízo efetivo às licitações mencionadas, deva a gravidade de suas condutas ser mitigada, saneando-se a questão, apenas, mediante a cientificação dos responsáveis acerca dos efeitos cominados à omissão da correta publicidade dos instrumentos convocatórios (art. 21 da Lei 8.666/1993) e à inserção de exigências desarrazoadas quanto aos índices previstos no art. 31, § 1º, da Lei Geral de Licitações e Contratos.64. Foi identificado, também, o pagamento antecipado quando da execução da obra de construção de escola de educação infantil objeto do Convênio 700188/2008 (ocorrência 3.6.c). Diante, no entanto, da identificação de que, embora efetivamente demonstrada a antecipação, a falha restringiu-se a uma única parcela, bem como de que já havia sido realizado percentual superior ao que fora adiantado, a unidade instrutiva posicionou-se pelo acolhimento parcial das correspondentes justificativas, considerando, ao final, que a questão poderia ser sanada, apenas, mediante a expedição de recomendação, encaminhamento a que me alinho em essência, alternativamente alvitrando que a Prefeitura Municipal de Araguatins/TO seja cientificada a respeito da necessidade de observância aos dispositivos violados na ocorrência em questão.

46

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

65. Ainda em relação ao Convênio 14000/2009, atinente à implantação e recuperação de estradas vicinais em projetos de assentamentos, diante das dificuldades daquele que se afirmou ser o fiscal da obra em prestar informações a respeito do estágio do empreendimento, concluiu a equipe de auditoria pela incidência de fiscalização insatisfatória ou insuficiente (ocorrência 3.6.d). Como justificativa, o Sr. Francisco da Rocha Miranda, então Prefeito, além de alegar que a falha em questão seria restrita à primeira medição da obra, comprometeu-se a orientar os setores competentes de sua administração para a observância dos apontamentos da fiscalização (fls. 29/30, peça nº 188). Tais argumentos, todavia, são rejeitados pela unidade instrutiva, que conclui no sentido de que a ocorrência seja considerada como fundamento para a aplicação de multa.66. A meu ver, contudo, tendo em conta não haver sido apontado qualquer indício de que a ocorrência haja resultado em prejuízos efetivos à Administração, considero que a aplicação de multa, na hipótese, constituiria medida de rigor exacerbado. Entendo suficiente, no caso, a cientificação da prefeitura, acerca da necessidade de ser assegurada a efetiva fiscalização das obras e serviços que vierem a ser contratados por aquele ente.67. No que tange, por fim, ao aspecto de os orçamentos das obras objetos dos Convênios 504/2008 e 14000/2009 não contarem com o adequado detalhamento (ocorrência 3.6.e), seguindo o direcionamento indicado na instrução anterior, a unidade instrutiva limita-se a apresentar proposta de expedição de alerta, encaminhamento que apoio, sob a forma de cientificação.

Diante das considerações acima, uma vez mais com as devidas vênias pelas divergências parciais em relação ao encaminhamento sugerido pela unidade técnica, manifesto-me no sentido de que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 08 de Maio de 2013.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI Relator

ACÓRDÃO Nº 1112/2013 - TCU - Plenário

1. Processo TC-028.893/2010-7 (Processo Eletrônico)1.1. Apensos: TC-003.348/2001-3 e TC-029.293/2010-32. Grupo: II - Classe: V - Assunto: Relatório de Auditoria.3. Responsáveis: Andrea Gonzalez Graciano, CPF 806.193.121-49; André Luiz Mendonça Bastos, CPF 651.855.105-44; Antonio Carlos Mendes, CPF 061.018.996-40; Francisco da Rocha Miranda, CPF 060.151.821-72; Joarisa Nogueira Duarte, CPF 329.345.212-49; José Fábio de Alcântara Silva, CPF 822.045.783-04; José Roberto Ribeiro Forzani, CPF 411.388.566-49; Kácio dias Soares, CPF 003.192.971-01, Leonardo Ribeiro Nunes, CPF 206.620.683-00; Maria de Fátima Gomes Matos, CPF 575.736.031-34; Renato Santana Gomes, CPF 117.598.361-68.4. Unidade: Município de Araguatins/TO.5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade técnica: Secex-TO.8. Advogado constituído nos autos: Públio Borges Alves, OAB/TO 2.365.

9. Acórdão:

47

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Relatório de Auditoria de Conformidade, Registro Fiscalis 1036/2010, realizada, no período de 18/10 a 19/11/2010, na Prefeitura Municipal de Araguatins/TO, com o objetivo de avaliar a boa e regular gestão de recursos públicos federais repassados àquele município, tendo como focos o Programa Nacional de Alimentação Escolar - Pnae, o Programa de Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica - Pnate, o Piso de Atenção Básica Variável - Saúde da Família - PSF, o Programa Bolsa Família, Convênios e Contratos de Repasse, no interregno de 1º/1/2007 a 30/6/2010,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. excluir, desta relação processual, os Srs. Andrea Gonzales Graciano, José Fábio de Alcântara Silva, Joarisa Nogueira Duarte e Renato Santana Gomes;

9.2. com fundamento no at. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c art. 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU, determinar à Prefeitura Municipal de Araguatins/TO que:

9.2.1. se abstenha de prorrogar o contrato de locação de veículos 097-A/2010, caso ainda se encontre vigente, promovendo, na hipótese de ainda não o haver feito, nova licitação com vistas a contratar o serviço de transporte escolar, devendo atentar-se, na elaboração do instrumento convocatório de tal certame, para que os critérios de qualificação jurídica sejam calcados na efetiva necessidade da Administração, de modo a evitar a restrição desnecessária do universo de potenciais licitantes - tal como parece se haver verificado com a limitação a “empresários” ou “sociedades empresárias” -, assim como para o exame da possibilidade de o objeto em questão ser adjudicado por itens, em obediência à legislação vigente e ao entendimento deste Tribunal de Contas consolidado na Súmula 247, devendo eventuais escolhas que não atendam a tais diretrizes ser formal e devidamente justificadas no âmbito do processo licitatório;

9.2.2. se abstenha de prorrogar os contratos temporários firmados com servidores que exerçam cargos tipicamente de provimento efetivo, ante a necessidade de prover os cargos correspondentes em caráter efetivo, mediante concurso público, nos moldes do art. 37, inciso II, da Constituição Federal, alertando-se que o descumprimento de tal diretriz poderá ensejar a imposição das penalidades previstas na Lei 8.443/1992;

9.2.3. adote providências com vistas à recomposição do Fundo Municipal de Saúde em relação às importâncias desembolsadas no âmbito do PAB Variável, discriminadas a seguir, em que a pertinência com ações de saúde não restou demonstrada, comprovando, no prazo de noventa dias, o cumprimento da providência perante este Tribunal:

9.2.3.1. pagamento de salários de ocupantes de cargos de áreas meio, estatutários ou temporários (auxiliares de serviços gerais, assistentes administrativos, vigilantes e etc...), violando as disposições do inciso II, do § 2º, do art. 6º, da Portaria GM/MS nº 204/2007, conforme discriminado abaixo:

9.2.3.1.1. Cirlene Aparecida L. dos Santos (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 7.205,33 (sete mil duzentos e cinco reais e trinta e três centavos);

9.2.3.1.2. Francinete Lobo de Sousa (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 5.566,70 (cinco mil quinhentos e sessenta e seis reais e setenta centavos);

9.2.3.1.3. Jandira Rodrigues da Silva (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 234,17 (duzentos e trinta e quatro reais e dezessete centavos);

9.2.3.1.4. Maria Luíza da Silva Ferreira (Auxiliar de Serviços Gerais) - R$ 542,50 (quinhentos e quarenta e dois reais e cinquenta centavos);

9.2.3.1.5. Paulo Augusto Farias Soares (Vigilante) - R$ 3.682,80 (três mil seiscentos e oitenta e dois reais e oitenta centavos);

9.2.3.1.6. Maria Luziene Lima da Silva (Assistente Administrativo) - R$ 541,72 (quinhentos e quarenta e um reais e setenta e dois centavos);

9.2.3.1.7. Solange Dantas Nogueira - (Assistente Administrativo) - R$ 516,30 (quinhentos e dezesseis reais e trinta centavos);

48

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

9.2.3.1.8. Vanderléia Borges da Silva (Assistente Administrativo) - R$ 2.216,15 (dois mil duzentos e dezesseis reais e quinze centavos);

9.2.3.1.9. Welcia Passos de Jesus Gamboge (Assistente Administrativo) - R$ 309,28 (trezentos e nove reais e vinte e oito centavos);

9.2.3.2. transferências para contas correntes (Banco do Brasil, agência 1305, conta 11.034-5 e Caixa Econômica Federal, agência 2812, conta 233-5), utilizadas para o pagamento de salários de servidores ativos da prefeitura, realizadas nos exercícios 2009 e 2010, no montante de R$ 197.340,31 (cento e noventa e sete mil trezentos e quarenta reais e trinta e um centavos), circunstância que também caracteriza inobservância do inciso II do § 2º do art. 6º da Portaria GM/MS nº 204/2007;

9.2.3.3. pagamentos realizados a partir de janeiro de 2009 e até junho/2010, a título de pensão alimentícia, em parcelas não descontadas dos honorários devidos aos médicos contratados Leocárdio Miranda Labre Rodrigues e Semidarkuia Araújo da Silva, bem como de pensão favorecendo a Srª Maria Divina da Costa Lima, os quais resultaram em desembolsos no montante de R$ 4.593,78 (quatro mil quinhentos e noventa e três reais e setenta e oito centavos), de acordo com os registros financeiros disponibilizados;

9.2.4. efetue levantamento de todos os servidores municipais contemplados com benefícios financeiros do Programa Bolsa Família, desde o exercício de 2009 até o presente, conferindo seu enquadramento nas condições de elegibilidade previstas no art. 18, do Decreto Federal 5.209/2004, com a redação dada pelo Decreto 6.917/2009, informando o resultado a este Tribunal no prazo de noventa dias, a contar da notificação;

9.3. cientificar a prefeitura do Município de Araguatins/TO a respeito dos seguintes aspectos:9.3.1. a aquisição de insumos, inclusive os destinados ao Programa Nacional de Alimentação

Escolar - Pnae, seja para compra integral ou para registro de preços, deve ser promovida preferencialmente por intermédio da realização de pregão, em atenção ao disposto no art. 1º, caput e § 1º, do Decreto 5.404/2005 e art. 2º, caput e § 2º, do Anexo I do Decreto 3.555/2000, observando-se, na hipótese de tal diretriz mostrar-se inviável, que a escolha da modalidade licitatória deve ter como parâmetro a estimativa do valor anual de aquisições de insumos para a finalidade pretendida, devendo, ainda, atentar-se, no caso de adoção da modalidade convite, para o disposto nos § § 3º e 7º do art. 22 da Lei 8.666/1993 e na Súmula TCU 248;

9.3.2. a não apuração, ao final do exercício financeiro, de eventual superávit de recursos da área de saúde implica ofensa ao art. 50, incisos I e II, da Lei Complementar 101, de 4/5/2000, e enseja, em caso de reincidência, aplicação de multa prevista na Lei 8.443/1992;

9.3.3. deficiências na elaboração e encaminhamento do Relatório Anual de Gestão previsto no art. 4º, inciso IV, da Lei 8.142/1990 podem comprometer a percepção de recursos do SUS, ficando os gestores ainda alertados de que a reincidência em tais falhas poderá ensejar imposição das sanções previstas na Lei 8.443/1992;

9.3.4. a omissão quanto à inafastável conferência dos requisitos do art. 29 da Lei 8.666/1993, quando da contratação de fornecedores, pode ocasionar aplicação de multa por parte deste Tribunal de Contas;

9.3.5. o descumprimento das etapas referentes à execução financeiro-orçamentária das despesas realizadas com fonte em recursos federais, em especial aos arts. 60, 62 e 65 da Lei 4.320/1964, podem sujeitar o responsável às penalidades da Lei 8.443/1992;

9.3.6. a omissão da correta publicidade dos instrumentos convocatórios (art. 21 da Lei 8.666/1993) e a inserção de exigências desarrazoadas quanto aos índices previstos no art. 31, § 1º, da Lei Geral de Licitações e Contratos constituem irregularidades a ensejar a aplicação das sanções previstas na Lei 8.443/1992;

9.3.7. quanto à necessidade de obediência aos ditames estabelecidos no inciso I do art. 198 da Constituição Federal de 1998 combinado com o art. 7º, inciso IX, e art. 9º, caput e inciso II, ambos da Lei 8.080/1990, que atribuem ao titular da Secretaria de Saúde competência para a gestão plena das ações e serviços públicos de saúde a cargo do município, contemplando, além dos aspectos gerenciais

49

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

e operacionais, a gestão das dotações orçamentárias e das disponibilidades financeiras vinculadas ao SUS, salientando-se que a inobservância injustificada desses preceitos poderá ensejar a imposição de sanções em futuras ações de controle a serem empreendidas por esta Corte de Contas;

9.3.8. o dimensionamento do valor das compras, para efeito de escolha da modalidade de licitação ou da dispensa com base em valor, deve ter por parâmetro o valor anualizado das despesas geradas com o mesmo objeto, coincidindo com o período de execução orçamentária, ainda que as compras ou etapas dos serviços sejam feitas de maneira parcelada, por meio de licitações distintas, servindo a estimativa anual também para definição da modalidade licitatória adequada (art. 23, § § 1º, 2º e 5º, da Lei 8.666/1993);

9.3.9. quanto à necessidade de se observar a legislação ambiental, especialmente quanto à obrigatoriedade e conveniência de obtenção tempestiva das licenças de instalação e de operação, permitindo a adoção de eventuais medidas mitigadoras e compensatórias estipuladas pelos órgãos ambientais competentes;

9.3.10. no que tange à necessidade de estrita observância ao disposto no art. 67 da Lei 8.666/1993, no sentido de assegurar-se que o representante designado pela Administração efetivamente acompanhe e fiscalize a execução dos contratos firmados;

9.3.11. quanto à necessidade de que os pagamentos a fornecedores ou prestadores de serviço somente sejam autorizados após a verificação precisa do efetivo percentual de execução física, sob pena de configurar-se a antecipação de pagamentos, em ofensa aos arts. 62 e 63 da Lei 4.320/1964;

9.3.12. no que se refere à obrigatoriedade de que os processos licitatórios, em especial se direcionados à contratação de obras e serviços de engenharia previstos em convênios ou contratos de repasse firmados com órgãos ou entidade federais, sejam integrados de orçamento estimativo, acompanhado de planilhas detalhadas que expressem a composição de todos os custos unitários, em obediência ao disposto no inc. II do § 2º do art. 7º da Lei 8.666/1993;

9.4. determinar o encaminhamento de cópia deste Acórdão, bem como das peças que o fundamentam, aos responsáveis e ao Conselho Regional de Medicina em Tocantins (CRM/TO);

9.5. determinar à Secex/TO que monitore o cumprimento das determinações constantes do item 9.2, e desdobramentos, deste Acórdão, representando ao Tribunal, caso identifique irregularidades, e

9.6. determinar o arquivamento destes autos, após o encaminhamento das comunicações devidas.

10. Ata n° 15/2013 – Plenário.11. Data da Sessão: 8/5/2013 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1112-15/13-P.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (Presidente), Valmir Campelo, Benjamin Zymler, Raimundo Carreiro, José Jorge, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator).13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)JOÃO AUGUSTO RIBEIRO NARDES

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)

50

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 028.893/2010-7

PAULO SOARES BUGARINProcurador-Geral, em exercício

51