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AVENIDA GUAXENDUBA, 1.490, BAIRRO DE FÁTIMA, SÃO LUÍS/MA – CEP 65.015‐560
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DA _____ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO MARANHÃO
(PAJ 2014/012-01744)
PEDIDO DE PRIORIDADE NATRAMITAÇÃO (INTERESSES DE PESSOAS IDOSAS) (ART. 1º, LEI
10.741/2003)
PEDIDO DE ABRANGÊNCIA DAS DECISÕES EM TODO O
TERRITÓRIO NACIONAL
EMENTA: SEGURADOS E PENSIONISTAS DE BAIXA RENDA DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. OMISSÃO DO INSS EM SEU DEVER DE FISCALIZAÇÃO OPERAÇÕES DE “CRÉDITO ROTATIVO” (RMC). VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO E À TRANSPARÊNCIA NO TRATO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES ESSENCIAIS QUANTO AO PERCENTUAL DE JUROS COBRADOS, AO CUSTO EFETIVO COM A COBRANÇA DE JUROS, À IDENTIFICAÇÃO DO NÚMERO DE PARCELAS DEVIDAS, À DISCRIMINAÇÃO DO INÍCIO E DO FIM DO PERÍODO DE PAGAMENTO. ENDIVIDAMENTO PROGRESSIVO E PERPÉTUO. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do defensor público
federal signatário, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, atuando
na defesa dos interesses coletivos dos segurados do INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL (INSS), vem perante Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 5º, II, da Lei nº. 7.347/85 (com redação dada pela Lei nº. 11.448/07) e no
artigo 4º, VII, da Lei Complementar nº. 80/1994 (com redação dada pela Lei
Complementar nº. 132/2009), propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA EM CARÁTER LIMINAR
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em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, pessoa
jurídica de direito público (autarquia federal), localizado na Av. dos Holandeses, Nº
32, Calhau, CEP: 65.071-380, São Luís/MA, pelos fatos e fundamente que seguem:
I. SÍNTESE DA PRETENSÃO
Espera-se com a presente ação coletiva:
Seja imposta ao INSS a obrigação de não fazer, consistente na imediata
vedação de autorizar novos descontos em benefícios previdenciários ou
assistenciais pagos pelo Regime Geral de Previdência Social a pessoas de
baixa renda, aqui entendidas como as que auferem renda mensal igual ou
inferior a 3 (três) salários mínimos, e decorrentes da celebração de contratos
de Cartão de Crédito com Reserva de Margem Consignável para Desconto
(“Crédito Rotativo”, “RMC” ou “Consignação Associada a Cartão de
Crédito”) celebrados com instituições financeiras; ou subsidiariamente,
Que o INSS esteja autorizado a efetuar descontos em benefícios
previdenciários ou assistenciais pagos pelo Regime Geral de Previdência
Social a pessoas de baixa renda, aqui entendidas como as que auferem renda
mensal igual ou inferior a 3 (três) salários mínimos, e decorrentes da
celebração de contratos de Cartão de Crédito com Reserva de Margem
Consignável para Desconto (“Crédito Rotativo”, “RMC” ou “Consignação
Associada a Cartão de Crédito”) celebrados com instituições financeiras,
inclusive adotando-se para tal as providências de natureza normativa
cabíveis, somente quando o contrato celebrado entre segurado/pensionista e
instituição financeira clara e expressamente respeite as seguintes condições:
- que o limite de crédito disponibilizado ao beneficiário venha
expresso e não seja superior a 2 (duas) vezes o valor mensal do
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benefício, na forma do §1º do art. 30, da Instrução Normativa
INSS/PRES no 28/2008;
- que o saque permitido nas operações do cartão de crédito com
reserva de margem consignada se restrinja ao limite de 5% destinados
exclusivamente às despesas com cartão de crédito, conforme dispõe a
Resolução no 1.326, de 16 de setembro de 2015, do Conselho Nacional
de Previdência Social;
- que o contrato inclua, de forma clara e ostensiva, a
informação sobre a possibilidade do consumidor liquidar,
antecipadamente, o débito total ou parcial, mediante redução
proporcional dos juros e demais acréscimos, indicando os meios e
locais disponibilizados para consecução desse pagamento antecipado,
conforme o disposto no art. 52, § 2º, do CDC;
- que o contrato indique, de forma ostensiva e destacada, o
nome e o endereço da agência financeira, bem como haja carimbo
contendo o nome e o endereço comercial do preposto que efetivou a
contratação, incluindo, ainda, o CNPJ da agência bancária que
realizou a contratação, quando realizado na própria rede, ou o CNPJ
do correspondente bancário e o CPF do agente subcontratado pelo
anterior;
- que o contrato indique de forma clara e objetiva o tipo de
operação realizada, qual seja a de cartão de crédito com reserva de
margem consignável, discriminando com clareza sua forma de
pagamento;
- que seja aplicada, como limite máximo, a taxa de juros 3,06%
(três vírgula zero seis por cento) ao mês aos contratos de cartão de
crédito RMC, conforme determina o inciso III do art.16 da Instrução
Normativa INSS/PRES n. 28/2008; e
- que o contrato traga ainda informações quanto ao montante
dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; aos acréscimos
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legalmente previstos; ao número e periodicidade das prestações
(incluindo seus termos inicial e final); e à soma total a pagar, com e
sem financiamento.
II. DA PRIORIDADE NO JULGAMENTO DESTA DEMANDA
A presente ação coletiva defende interesses de coletividade em sua
grande maioria composta por pessoas idosas, aposentados e pensionistas vinculados
ao Regime Geral de Previdência Social do INSS. Necessário, portanto, destacar a
prioridade que as lides envolvendo idosos têm em suas tramitações, consoante Lei nº
10.741/2003 (Estatuto do Idoso):
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos
e procedimentos e na execução dos atos e diligências
judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em
qualquer instância (grifou-se).
No mesmo sentido, o Código de Processo Civil:
Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure
como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave, terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias (grifou-se).
Requer-se, pois, a tramitação prioritária da presente ação.
III. DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA E DAS PRERROGATIVAS
DOS DEFENSORES PÚBLICOS FEDERAIS.
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Inicialmente, requerem os autores os benefícios da Justiça Gratuita, por
não poderem arcar com as custas e despesas do presente processo sem prejuízo de
seu sustento próprio e de sua família, com esteio no artigo 4º da Lei nº. 1.060/50.
Realce-se, ademais, a necessidade de observância das prerrogativas dos
defensores públicos federais previstas na Lei Complementar nº. 80/94 e demais
diplomas legais, especialmente no que tange à contagem em dobro dos prazos
processuais e à intimação pessoal, inclusive com carga dos autos, de todos os atos do
processo (LC 80/94, artigo 44, X).
IV. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
A Defensoria Pública tem por função institucional a orientação jurídica e
a defesa, em todos os graus, dos necessitados. É instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, justamente por garantir o direito fundamental à assistência
jurídica integral e gratuita aos necessitados, conforme assegura o art. 5º, LXXIV, da
Constituição Federal, intrinsecamente ligado ao direito fundamental do acesso à
justiça, consagrado no art. 5º, XXXV, da CF.
A presente ação trata interesses predominantes de hipossuficientes, quais
sejam aposentados e pensionistas do INSS que vivem em condições financeiras
desfavoráveis e que, por isso mesmo, recorrem a Instituições Financeiras em busca
de crédito facilitado, aceitando taxas de juros elevadas, e mesmo nesta situação,
ainda são enganados.
No intuito de abrigar a ideia inerente ao reconhecimento da legitimidade
para o ajuizamento de demandas coletivas pela Defensoria Pública, e harmonizar a
aplicação do Código do Consumidor, o legislador pátrio alterou, por meio da Lei nº
11.448/07, a redação do art. 5º, II da Lei no 7.347/1985, legitimando explicitamente
a propositura de ação civil pública pela Defensoria Pública.
A respeito da legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ação
coletiva, o Superior Tribunal de Justiça recentemente solidificou o entendimento de
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que se trata de uma permissão amplíssima, abrangendo, inclusive a tutela do meio
ambiente, patrimônio público e quaisquer outros bens metaindividuais, sobretudo os
difusos. Trata-se da adoção da teoria da hipossuficiência organizacional, conforme
julgado ora transcrito:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA
PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI
Nº 7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007).
PRECEDENTE.
1. Recursos especiais contra acórdão que entendeu pela
legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ação
civil coletiva de interesse coletivo dos consumidores.
2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no
sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85
(com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria
Pública tem legitimidade para propor a ação principal e a ação
cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir
responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências”.
Sepultando de vez qualquer dúvida quanto ao tema, a Lei nº 80/1994, lei
esta que Organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos
Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá outras
providências, em seu art. 4º, VII, dispõe:
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de
ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o
resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas
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hipossuficientes; (Redação dada pela Lei Complementar nº
132, de 2009).
Por fim, acrescente-se que a Emenda Constitucional de nº 80/2014, eleva
a defesa coletiva dos necessitados à condição de incumbência da Defensoria Pública
como expressão do Estado Democrático de Direito.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, LXXIV do art. 5º desta
Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 80, de 2014) (grifou-se).
Nada obsta, portanto, a atuação da Defensoria Pública da União como
polo ativo de uma Ação Civil Pública. E não faria mesmo sentido a existência de um
órgão, que só pudesse defender necessitados individualmente, deixando à margem a
defesa de lesões coletivas, que são muito mais graves.
V. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS
A legitimidade do INSS para figurar no polo passivo desta ação resta
evidente, haja vista ser a autarquia previdenciária o agente operacional da demanda
aqui apresentada, gerenciando os valores a serem recebidos pelos segurados e,
principalmente, autorizando os descontos a serem efetuados nos benefícios que
gerencia.
Isso porque a operação de mútuo só é perfectibilizada mediante a
chancela do INSS, necessitando de sua fiscalização e controle. Assim, o art. 6º da
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Lei nº 10.820/2003 prevê que o INSS é autorizado, por meio de ato próprio, a dispor
sobre determinados critérios para o processamento da consignação. Observe-se:
“Art. 6o Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão
do Regime Geral de Previdência Social poderão autorizar o
Instituto Nacional do Seguro Social – INSS a proceder aos
descontos referidos no art. 1o desta Lei, bem como autorizar,
de forma irrevogável e irretratável, que a instituição
financeira na qual recebam seus benefícios retenha, para fins
de amortização, valores referentes ao pagamento mensal de
empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento
mercantil por ela concedidos, quando previstos em contrato,
nas condições estabelecidas em regulamento, observadas as
normas editadas pelo INSS (Redação dada pela Lei nº 10.953,
de 2004)
§ 1º. Para os fins do caput, fica o INSS autorizado a dispor,
em ato próprio, sobre:
I – as formalidades para habilitação das instituições e
sociedades referidas no art. 1o;
II – os benefícios elegíveis, em função de sua natureza e
forma de pagamento;
III – as rotinas a serem observadas para a prestação aos
titulares de benefícios em manutenção e às instituições
consignatárias das informações necessárias à consecução do
disposto nesta Lei;
IV – os prazos para o início dos descontos autorizados e para
o repasse das prestações às instituições consignatárias;
V – o valor dos encargos a serem cobrados para
ressarcimento dos custos operacionais a ele acarretados pelas
operações; e
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VI – as demais normas que se fizerem necessárias (grifou-se).
Pelo teor da normativa, os titulares de benefícios de aposentadoria e
pensão do RGPS poderão autorizar o INSS a proceder aos descontos de empréstimos
consignados firmados juntos a certas instituições financeiras. Ora, se é competência
do INSS realizar os descontos e repassá-los ao agente bancário, é claro que a
conduta da Autarquia-Ré faz parte da cadeia de eventos que, como será
demonstrado, culmina em danos aos segurados. Extrai-se, daí, a legitimidade
passiva do INSS.
No caso em tela, é evidente que o INSS não procede com os devidos
deveres de cuidado por ocasião da análise dos contratos que lhe são submetidos
pelas instituições financeiras. Outrossim, em sendo comunicados os dados da
operação de empréstimo consignado à autarquia previdenciária, faz parte do seu
dever de cuidado e fiscalização a verificação da regularidade de tais operações.
Além disso, a legitimidade do INSS para figurar no polo passivo se torna
ainda mais latente quando vista sob a óptica da Teoria do Dano Direto e Imediato.
Tal teoria, adotada pelo STF, estabelece que entre a conduta e o dano,
deve haver uma relação de causa e efeito direta e imediata. Nesse caso, o que
interessa é que o dano seja efeito direto e imediato do fato causador, e não o remoto,
ou o advindo de novas causas. As expressões dano direto e dano imediato são
consideradas reforçativas a ideia de necessariedade, ou seja, o dano deve ser
consequência necessária da causa.
No caso em análise, tem-se que o evento danoso consiste em descontos
indevidos de parte do benefício previdenciário dos segurados e pensionistas, que se
dão em virtude de contratos inerentemente nulos, respaldados que estão em normas
violadoras aos deveres de informação e à transparência no trato das relações de
consumo. No entanto, é de se observar que o evento danoso somente foi possível em
virtude da chancela do INSS e de sua conduta negligente, no que tange a seu dever
de fiscalização de possíveis irregularidades.
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Tais contratos, como adiante será melhor demonstrado, carecem de
informações essenciais, como as taxas de juros, o valor de início e o termo final de
pagamento das prestações, além de violarem a Instrução Normativa nº 28 do INSS.
É tão evidente a legitimidade do INSS no presente caso que a TURMA
NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS
(TNU) reafirmou recentemente a legitimidade passiva da Autarquia Previdenciária
para figurar no polo passivo nas demandas por descontos indevidos em benefício a
título de empréstimo consignado. Nesse sentido:
“De acordo com a TNU, embora o art. 6º da Lei n.10.820/2003
permita ao INSS realizar descontos autorizados pelos titulares do
benefício, para pagamento de empréstimos, a efetivação dos
descontos é ato praticado pela autarquia previdenciária, não
havendo meios materiais de as instituições financeiras se
apropriarem de parcela de benefícios sem a autorização do INSS
(PEDILEF 05126334620084058013, relator juiz federal Adel
Américo De Oliveira, DJ 30/11/2012). Segundo o relator, sem a
colaboração do INSS, a instituição financeira que se alega credora
“no máximo, poderia propor uma ação judicial para a cobrança, na
qual precisaria apresentar provas da existência da obrigação e o
autor teria garantido o direito ao exercício da ampla defesa”1
(grifou-se).
Ou seja, sendo o INSS a entidade que administra o pagamento dos
benefícios e previdenciários e assistenciais do RGPS, autorizando a realização dos
descontos, a Turma reconheceu o nexo de causalidade entre a sua conduta e a
produção do dano alegado.
1 TNU reafirma legitimidade passiva do INSS nas demandas por descontos indevidos em benefício a título de empréstimo consignado. Disponível em < http://www.jfes.jus.br/jfDigital/2014/arq20140318164730_JF_n255_-_14.03.pdf>
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A título ilustrativo convém transcrever, no mesmo sentido, acórdão
proferido pela Turma Recursal Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte:
“DIREITO DO CONSUMIDOR E ADMINISTRATIVO.
RECURSOS DO AUTOR E DOS RÉUS. RESPONSABILIDADE
CIVIL. EMPRÉSTIMOS FRAUDULENTOS COM DESCONTO
EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. RESPONSABILIDADE DO INSS
CONFIGURADA. PRECEDENTE DA TNU. INCIDENTE DE
UNIFORMIZAÇÃO. PEDIDO PROCEDENTE. MAJORAÇÃO
DEVIDA. VOTO Hipótese em que a parte autora teve firmado em
seu nome, sem autorização, empréstimos bancários, cujas parcelas
foram descontadas do seu benefício previdenciário. Sentença que
julgou o feito parcialmente procedente para: a) condenar o INSS a
cancelar em definitivo as consignações; b) condenar o BANCO
BMG a devolver em dobro os valores indevidamente descontados;
c)condenar o INSS e BANCO BMG a pagarem indenização na
quantia total de R$ 3.000,00 (três mil reais). Recurso da parte
autora, pugnando pela majoração dos danos morais; por outro lado,
recorre o INSS alegando sua ilegitimidade passiva e o BANCO
BMG pugnado pela improcedência. No tocante à responsabilização
do INSS deve-se aplicar o recente entendimento da TNU em
incidente de uniformização, PEDILEF 05025789420124058013,
que assim decidiu: “(...) 3.O INSS age com base no princípio da
legalidade, de acordo com normas regulamentares. Assim, se é
praticado um ato administrativo em conformidade com a norma de
regência, em regra, não há que se falar em responsabilidade civil
por parte da autarquia previdenciária. No entanto, se o INSS atua
fora do seu propósito-mor, como, por exemplo, na averbação de
empréstimos feitos por instituições financeiras no cadastro do
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segurado, com a finalidade de facilitar o pagamento ao credor, seus
atos escapam da natureza do ato administrativo stricto sensu e dão
ensejo a questionamentos que desbordam da simples verificação do
direito ao benefício previdenciário. Ao agir nessa seara, os atos do
INSS, se ilegais e causadores de prejuízos, ensejam, sem o
rigorismo do sistema ordinário, a responsabilidade civil. 4. No
caso, os elementos causadores da responsabilidade civil estão
presentes, acarretando o dever de indenizar. (...). A Lei nº
10.820/2003, ao dispor que o INSS não responderá solidariamente
pelo débito contraído pelo segurado, refere-se à situação em que o
débito fora contraído licitamente e que, por qualquer motivo,
deixara de ser quitado, não eximindo-o, assim, de examinar, no
mínimo, se foi de fato o segurado que celebrou o contrato de
mútuo. A omissão em promover análise criteriosa da documentação
apresentada e a insuficiência de medidas de segurança implica na
existência de nexo de causalidade necessário à responsabilização da
autarquia. No caso em tela, evidencia-se a existência de nexo
causal entre a conduta ilícita da autarquia previdenciária e o dano
causado à parte autora, não havendo que se falar em causa
excludente de responsabilidade (...)
Resultado: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos,
ACORDAM os Juízes da Turma Recursal da Seção Judiciária do
Estado do Rio Grande do Norte, por maioria, em NEGAR
PROVIMENTO aos recursos do INSS e do BANCO BMG, e em
DAR PROVIMENTO ao recurso da parte autora, nos termos do
Voto do Juiz Relator, vencido o Exmo Juiz Federal FRANCISCO
GLAUBER PESSOA ALVES. Honorários advocatícios fixados em
10% (dez por cento) sobre o valor da condenação imposta a cada
um dos demandados. Em se verificando o trânsito em julgado da
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decisão, remetam-se os autos ao Juizado Especial Federal Cível
para o cumprimento do acórdão, após baixa na distribuição”
(grifou-se).2
Nessa esteira, reforçando a tese, assim vêm entendendo os Tribunais
Regionais Federais, ao se posicionarem no sentido de admitir o INSS na composição
do polo passivo de demandas que versam sobre descontos indevidos em benefícios
previdenciários em virtude de empréstimos consignados. Nessa linha:
“AGRAVO EM APELAÇÃO. VENDA DE PRODUTO
COM FRAUDE AO CONSUMIDOR. PREÇO PAGO POR
MEIO DE CONSIGNAÇÃO EM BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS.
1. O INSS é parte legítima para ocupar o polo passivo de
demanda pela qual a parte autora busca resolver contrato de
venda de produto com fraude à relação de consumo, e obter
indenização por danos morais, tendo em vista que o
pagamento se deu por meio de consignação direta do seu
benefício previdenciário, contrato submetido à fiscalização da
referida autarquia. 2. Reconsiderada a decisão do evento 2
para acolher o recurso de apelação, reformando a sentença de
primeiro grau para reconhecer a legitimidade do INSS para
ocupar o pólo passivo da demanda e, consequentemente, a
competência da justiça federal para o processo e julgamento
do feito, devendo os autos retornarem a origem para regular
prosseguimento do feito 3. Agravo provido” (TRF4 5001418-
63.2011.404.7109, Terceira Turma, Relator p/ Acórdão
2 INFORMATIVO Nº 01-2015 TURMA RECURSAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE. Disponível em: https://www.jfrn.gov.br/pjsp/turmarecursal/informativo/INFORMATIVO-TURMA-RECURSAL-01-2015.pdf
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Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 02/03/2012)
(grifou-se).
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEGITIMIDADE
PASSIVA DO INSS. DESCONTO EM BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. NÃO AUTORIZAÇÃO. O INSS é
parte legítima para figurar no pólo passivo de demanda que
busca indenização por danos decorrentes de empréstimos
efetivados no benefício de aposentadoria não autorizados pelo
beneficiário. (TRF4, AG 5011957-75.2011.404.0000, Quarta
Turma, Relator p/ Acórdão João Pedro Gebran Neto, D.E.
08/03/2012)”.
“EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESCONTOS
INDEVIDOS EM PROVENTOS DE APOSENTADORIA.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS. O INSS é parte
legítima para figurar no polo passivo de demanda em que os
segurados buscam desconstituir contrato de compra e venda
de produto que deu origem a descontos nos benefícios
previdenciários por meio de consignação em folha de
pagamento. (TRF4, AC 5001421-18.2011.404.7109, Quarta
Turma, Relatora p/ Acórdão Vivian Josete Pantaleão
Caminha, D.E. 29/03/2012)”.
Assim, de acordo com a legislação pátria e com o entendimento
jurisprudencial, a atuação do INSS em casos de consignação de parcelas de
empréstimo em folha de pagamento, conforme disposto no § 2º do art. 6º da Lei nº
10.820/2003, é a de agente de retenção e repasse dos valores consignados, não
figurando, por óbvio, na relação jurídica de mútuo consignado, de natureza
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eminentemente privada, nas quais figuram, exclusivamente, o beneficiário
previdenciário tomador do empréstimo e a entidade privada financeira.
Todavia, sendo o INSS gestor do Sistema de Previdência Social, cabe
esta autarquia a exclusividade de administrar e executar o pagamento dos benefícios
previdenciários, incumbindo-lhe a suspensão dos descontos em folha de seus
beneficiários, caso seja informado de suspeita de fraude ou de abusividade.
Por estas razões, requer-se o acolhimento da legitimidade passiva da
Autarquia arrolada como ré.
VI. DA ABRANGÊNCIA TERRITORIAL DA DECISÃO: ÂMBITO
NACIONAL
O art. 16 da Lei 7.347/85, com redação dada pela Lei 9.494/97, limitou a
competência do juiz de primeira instância para julgamento das ações civis públicas,
estabelecendo que "a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator...".
O art. 2º-A da última Lei citada prescreve:
“Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter
coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos
interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação,
domicílio no âmbito da competência territorial do órgão
prolator”.
No entanto, a limitação territorial aos limites subjetivos da coisa julgada
não pode ser aplicada às ações coletivas. Ao restringir a abrangência dos efeitos da
sentença de procedência proferida em ação civil pública aos limites da competência
territorial do órgão prolator, a Lei 9.494 de 10.09.1997 confundiu os limites
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subjetivos da coisa julgada erga omnes com os da jurisdição e da competência, que
nada tem a ver com o tema.
A interpretação literal - e equivocada - do dispositivo aludido significa
que, se diversos atos iguais ou semelhantes, que produzem idênticos efeitos, são
praticados em vários Estados ou Municípios, a competência deve ser dos vários
juízes, cada um competente em relação aos atos praticados e danos sofridos na sua
comarca (Justiça Estadual) ou subseção judiciária (Justiça Federal). Assim, não
poderia ser admitido que ocorra a extensão da competência de qualquer juiz, para
que a sua sentença proferida erga omnes alcance os réus em todo o território
nacional.
Dessa forma, a decisão do juiz na ação civil pública ficaria restrita aos
limites territoriais de sua competência, não podendo abranger todo o território
nacional/ estadual ou outro, não integrante de sua jurisdição. Todavia, a norma
aludida não pode assim ser interpretada.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu no sentido de que a
competência referida não está ligada à organização judiciária, mas, à extensão do
dano:
“(...) A regra do art. 16 da Lei 7.347/85 deve ser interpretada
em sintonia com os preceitos contidos na Lei 8.078/90,
entendendo-se que os "limites da competência territorial do
órgão prolator", de que fala o referido dispositivo, não são
aqueles fixados na regra de organização judiciária, mas, sim,
aqueles previstos no art. 93 do Código de Defesa do
Consumidor. Assim: a) quando o dano for de âmbito local,
isto é, restrito aos limites de uma comarca ou circunscrição
judiciária, a sentença não produzirá efeitos além dos próprios
limites territoriais da comarca ou circunscrição; b) quando o
dano for de âmbito regional, assim considerado o que se
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estende por mais de um município, dentro do mesmo Estado
ou não, ou for de âmbito nacional, estendendo-se por
expressiva parcela do território brasileiro, a competência será
do foro de qualquer das capitais ou do Distrito Federal, e a
sentença produzirá os seus efeitos sobre toda a área
prejudicada (...)” (grifou-se).
Adotando-se interpretação diversa da exposta, seria necessário
reconhecer a inconstitucionalidade da limitação da atuação jurisdicional, com base
no art. 5º, XXXV, da CF, uma vez que a própria Carta Magna reconhece o direito à
ação coletiva, podendo reunir, como substituídas, pessoas com sede em vários
Estados da Federação.
Portanto, dependendo do caso concreto, os efeitos da decisão podem
abranger todo o território nacional ou local diverso da jurisdição do juízo, quando o
dano se perpetuar em mais de um município, dentro ou não de mesmo Estado.
Nesse passo, ciente de que os danos advindos da aplicação do artigo 281-
A da instrução normativa nº 64 extrapolarão a jurisdição desta respectiva vara
federal, a resolução do impasse no que tange a abrangência da decisão em sede da
presente ação civil pública deverá está amparada na aplicação subsidiária da norma
contida no artigo 93 da Lei nº 8.078/90, emprego consentido expressamente pelo
artigo 21 da Lei nº 7.347/85, segundo o qual:
“Art. 21 Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos,
coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do
Título III da Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, que
instituiu o Código de Defesa do Consumidor”.
Assim, à luz do dispositivo supracitado (art. 93 da lei nº 8.078/90) e
admitindo-se a transcendência da dimensão, bem como dos reflexos dos danos para
todo território nacional, pugna-se que a decisão a ser proferida nestes autos não reste
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adstrita a uma única região/ âmbito da jurisdição deste MM. Juízo, mas a todo o
país.
VII. SINOPSE FÁTICA
Trata-se de ação civil pública ajuizada em desfavor do INSS, na qual se
invoca tutela jurisdicional de modo a assegurar que a Autarquia Previdenciária se
abstenha em autorizar os descontos previdenciários de seus aposentados e
pensionistas de baixa renda, oriundos de contratos de cartões de crédito com
Reserva de Margem Consignável para Desconto (RMC) ou Consignação Associada
a Cartão de Crédito.
O Procedimento de Assistência Jurídica (PAJ n. 2014/012-01744) sob o
qual versa a presente demanda, foi instaurado mediante provocação do Núcleo de
Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Maranhão (ANEXO 1 –
Documentos do Procedimento de Assistência Jurídica n. 2014/012-01744).
A Defensoria Pública Estadual trouxe ao conhecimento da DPU a prática
recorrente e visivelmente lesiva da venda do chamado Crédito Rotativo – também
conhecido como Reserva de Margem Consignável para Desconto (RMC) ou
Consignação Associada a Cartão de Crédito – a aposentados e pensionistas de baixa
renda.
Porem, antes disso, ainda em março de 2015, a Defensoria Pública do
Estado ajuizou ação civil pública (Processo n. 10064-91.2015.8.10.0001
(108732015), em trâmite na Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Comarca
desta Capital, na qual, inclusive, houve pedido de liminar deferido. A ação coletiva
foi proposta em face dos seguintes bancos: BANCO BMG e BANCO
BONSUCESSO e BANCO DAYCOVAL e BANCO INDUSTRIAL DO BRASIL e
BANCO PAN AMERICANO (ANEXO II – Petição inicial do Processo n. 10064-
91.2015.8.10.0001 – ACP da DPE/MA – e respectiva decisão liminar).
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A referida demanda teve como escopo prevenir e reparar danos a
consumidores, necessitados na forma da lei, que se encontrassem na condição de
aposentados, pensionistas e servidores públicos municipais e estaduais que tiveram
celebrado contrato de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RMC)
com as instituições financeiras acima mencionadas.
Pois bem, do que se extraiu da ação da DPE e das informações colhidas
pela Defensoria Pública da União, impende destacar que, de fato, os titulares dos
benefícios previdenciários de aposentadoria e pensão por morte pagos pela
Previdência Social podem constituir RMC para utilização de cartão de crédito, nos
exatos termos da Instrução Normativa do INSS/PRES Nº 28/2008.
Ocorre que, no entanto, contratos firmados por vários aposentados e
pensionistas do INSS junto a bancos são visivelmente nulos, pois violam direitos
relacionados à informação e à transparência no trato das relações de consumo.
Na maioria dos contratos celebrados, conforme aponta a DPE em sua
ACP e pode constatar a DPU através de outros documentos, não há indicação do
percentual de juros cobrado, do custo efetivo com e sem a incidência de juros; do
número de parcelas; data de início e de término das prestações etc.
Além disso, os mesmos contratos contêm práticas abusivas, pois tal
como formulados, geram parcelas infindáveis e pagamentos que ultrapassam
facilmente três, quatro vezes o valor inicialmente obtido por empréstimo,
constituindo vantagem manifestação excessiva e onerosa ao consumido.
Após reiteradas provocações feitas pela Defensoria Pública da União à
Gerência Executiva do INSS no Maranhão, demandando o acesso a uma
amostragem de “créditos rotativos” fiscalizados pela autarquia, a DPU se viu
obrigada a manejar mandado de segurança (Processo n. 17158-36.2015.4.01.3700,
5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Maranhão) (ANEXO III – Ofícios da DPU
ao INSS, mandado de segurança para acesso a informações e respectiva decisão
liminar).
Em cumprimento à ordem judicial, o INSS apresentou, ainda que
parcialmente, as informações exigidas pela DPU, quais sejam amostras de contratos
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de “créditos rotativo” de cidadãos de baixa renda vinculados ao RGPS (ANEXO IV
– Amostra de contratos de “crédito rotativo” fornecida pelo INSS).
Ocorre, Excelência, que tais contratos são visivelmente simplistas, sendo
não raras vezes omissos em relação a informações vitais ao mínimo de entendimento
da avença por parte do cliente, tais como percentual de juros cobrado, custo efetivo
com e sem a incidência de juros, número de parcelas e data de início e de término
das prestações.
Registre-se que em comum, aposentados e pensionistas procuram por
crédito facilitado na modalidade de consignado em Instituições Financeiras e, apesar
de terem adimplido os valores do empréstimo, descontando de suas respectivas
folhas, ao entrar em contato com tais instituições, os assistidos tomavam ciência que
a dívida ainda persistia, e as Instituições financeiras informavam também que o
empréstimo contraído pelos assistidos era, na verdade, um Crédito Rotativo (RMC).
Para se entender como esta operação ludibriosa se concretiza, reputa-se
imprescindível descrever o desenrolar do modus operandi dos agentes financeiros
em questão, já satisfatoriamente discriminado pela Defensoria Pública do Estado do
Maranhão na ação coletiva referida (ANEXO II, já referido) e aqui reproduzido em
parte.
A operação abusiva é posta em prática da seguinte forma: o cliente busca
o representante do banco com a finalidade de obtenção de empréstimo consignado
(os assistidos relatam que buscaram o banco para celebrar empréstimo consignado).
O banco, por sua vez, nitidamente ludibriando o consumidor, realiza
outra operação – contração de cartão de crédito com reserva de margem consignável
– RCM, pela qual é creditado na conta bancária do requerente, antes mesmo do
desbloqueio do aludido cartão e, sem que seja necessária a utilização deste, o valor
solicitado e o pagamento integral é enviado no mês seguinte sob a forma de fatura.
Se o requerente pagar integralmente o valor contraído, nada mais será
devido; não o fazendo, porém, como é de se esperar, será descontado em folha
apenas o VALOR MÍNIMO desta fatura (o equivalente a 6% do total da fatura) e,
sobre a diferença, incidem encargos rotativos da ordem média de 3,06% ao mês, em
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muito superiores ao praticado pelo mercado em se tratando de empréstimos
consignados em geral.
Um exemplo facilita a compreensão. Se um consumidor, que receba
um salário mínimo mensal, buscar o banco para contratar um empréstimo
consignado no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), e na verdade for celebrado um
cartão de crédito com reserva de margem consignável, no mês seguinte a fatura
fechará, sem considerar os tributos incidentes, em R$ 1.040,00 (um mil e quarenta
reais), montante mais juros de 4% (quatro por cento) ao mês, e o valor descontado
em sua folha de pagamento será apenas o correspondente ao mínimo desta fatura,
isto é, R$ 62,40 (sessenta e dois reais e quarenta centavos) correspondentes a 6%
(seis por cento) do valor total devido.
Desde modo, o valor a ser pago no mês seguinte ao da obtenção do
empréstimo é o valor TOTAL da fatura, isto é, o valor total obtido de empréstimo,
acrescido dos encargos e juros. Esse pagamento deve ocorrer por duas vias: o
mínimo pela consignação (no exemplo citado, R$ 62,40) e o restante por meio de
fatura impressa enviada à residência do consumidor (no caso, R$ 978,00)
Como dificilmente aquele que busca empréstimo consignado tem
condições de adimplir o valor total já no mês seguinte, incidirão em todos os meses
subsequentes juros médios de 3,06% sobre o valor não adimplido.
Além disso, o desconto via consignação leva o cliente a supor que o
empréstimo está sendo adequadamente quitado. No âmbito do Município e na esfera
federal havia expressa proibição dessa prática – obtenção de empréstimos, saques ou
obtenção de crédito por meio do cartão de crédito com reserva de margem
consignável.
A ilegalidade da contratação realizada normalmente só vem à tona
quando o cliente percebe, após anos de pagamento, que o tipo de contratação
realizada não foi a solicitada e ainda, QUE NÃO HÁ PREVISÃO PARA O FIM
DOS DESCONTOS.
Para melhor compreensão dos abusos e ilegalidades inerentes aos
contratos de cartão de crédito – RMC, da forma como oferecidos pelas instituições
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financeiras, convém mencionar alguns casos ilustrativos utilizados pela DPE na
referida ACP oposta.
O primeiro caso descrito foi o da Senhora MARIA NEUZA SILVA DE
AMORIM, pessoa hipossuficiente e idosa. Relata que havia realizado empréstimo
consignado no valor aproximado de R$ 800,00 (oitocentos reais) no Banco BMG,
ora requerido, em fevereiro de 2009 e que, apesar de pagar as parcelas desde então,
ainda estavam sendo realizados descontos em sua folha de pagamento.
Relatou ainda que ao entrar em contato com o banco foi informada de
que o aludido empréstimo se tratava na verdade de CARTÃO DE CRÉDITO COM
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL - RMC e que não possuía data certa
para quitação.
Em reposta a ofício enviado pela DPE, o banco BMG informou a
existência de um contrato de cartão de crédito, registrado sob o nº
5313040613380010, firmado em 18/06/2008, com limite de R$ 1.368,00 (hum mil
trezentos e sessenta e oito reais), com reserva de margem consignável para desconto
-RMC no valor de desconto mensal em folha de pagamento de R$ 62.20 (sessenta e
dois reais e vinte centavos).
Aduziu ainda que teria sido realizado “saque autorizado” no valor de R$
865,80 (oitocentos e sessenta e cinco reais e oitenta centavos) em 16 de janeiro de
2009. Por fim, suscitou que caso o pagamento fosse realizado à vista o saldo
devedor seria de R$537,86 (quinhentos e trinta e sete reais e oitenta e seis centavos).
Ou seja, ao longo de cinco anos após adimplir quase três vezes o valor obtido por
saque havia sido amortizado apenas R$ 327,94 (trezentos e vinte e sete reais e
noventa e quatro centavos) (!!!).
Outro caso mencionado foi a Srª MARILEA MELO DA SILVA,
datilógrafa pública estadual, relatando que, em 02 de março de 2011, obteve via
cartão de crédito do banco BMG empréstimo consignado no valor de R$ 1.000,00
(hum mil reais), a ser pago por meio de parcelas sucessivas a serem consignadas em
sua folha de pagamento.
Dois anos após a avença, a requerente já havia adimplido o valor de R$
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2.467,00 (dois mil, quatrocentos e sessenta e sete reais) e mesmo assim o banco
ainda acusava a existência de um saldo devedor para pagamento à vista num total de
R$ 1.388,39 (hum mil, trezentos e oitenta e oito reais e trinta e nove centavos).
Em resposta a ofício da DPE-MA, o banco BMG informou a existência
de um contrato de cartão de crédito por meio do qual foi realizado “saque
autorizado” no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).
Extrato juntado, a requerimento da DPE, pela empresa Consignum, que
realiza a administração dos empréstimos consignados dos servidores públicos do
Estado do Maranhão, contém expressamente a informação de que a contratação de
cartão de crédito com reserva de margem consignável – RMC não possui prazo
determinado de quitação, isto é, há previsão do valor da parcela a ser descontada,
mas não há previsão de início e de término. Do mesmo modo, no contrato desta
assistida não há indicação de taxa de juros, data de início e de término das parcelas.
Em regra, nos casos analisados, os contratos respectivos não possuem
taxa de juros, data de início e de término do pagamento, nem sequer possuem todas
as folhas rubricadas.
Tais omissões, no plano federal, constituem afronta à INSTRUÇÃO
NORMATIVA Nº 28 DO INSS, pois essas informações são obrigatórias e que
devem estar presentes nas operações supracitadas. O INSS por sua vez, como se
demonstrará adiante, sendo o agente responsável pela administração e pagamentos
dos benefícios previdenciários e assistenciais vinculados ao RGPS, detém o dever de
fiscalizar a regularidade de tais contratos.
Ademais, convém registrar que o cliente costuma buscar orientação
jurídica quando já pagou duas ou três vezes o valor solicitado e ainda resta um saldo
devedor, para pagamento à vista, exorbitante. Reforça esse quadro o fato de a maior
parte dos consumidores contratantes ser de baixa renda e, normalmente, de baixa
escolaridade e ser reduzido o valor da parcela descontada em folha.
Desse modo, ainda no plano federal, é notório que a postura negligente
da Autarquia Previdenciária, sobretudo diante de seu dever de fiscalização em
relação às irregularidades escancaradas em tais contratos, contribui sobremaneira
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para que aposentados e pensionistas sejam lesados em seus direitos consumeristas.
Essa prática leonina deve, portanto, ser ABOLIDA em todo o território
nacional, tendo em vista sua ocorrência não só no Estado do Maranhão, mas em todo
país, ocasionando o endividamento de milhões de aposentados e pensionistas, em
sua grande maioria pessoas de baixa escolaridade, que não podem mais continuarem
na condição de reféns da omissão fiscalizadora do INSS.
VIII – DO DIREITO
VIII.1 A finalidade do Cartão de Crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC). Do desvirtuamento da prática
A inadimplência total ou parcial da fatura do cartão de crédito implica, de
regra, a incidência de juros acima de 10% (dez por cento) ao mês. Uma forma de
reduzir esse percentual de juros pela inadimplência total ou parcial é autorizar às
administradoras de cartão de crédito que seja efetuado desconto em folha de
pagamento do valor mínimo da fatura, 6% (seis por cento) do valor total devido
naquele mês.
Ao assim proceder, o consumidor é “beneficiado” com a redução da taxa
de juros incidente sobre o valor não adimplido para o limite, ficando em torno de
3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) a 4% (quatro por cento) ao mês.
Obviamente, a contratação somente pode significar alguma vantagem
para o consumidor se a inadimplência for esporádica e parcial, porquanto, o mesmo
valor de crédito pode ser obtido no mercado com percentual de juros muito menor, a
exemplo do que se verifica com o empréstimo pessoal e com o empréstimo
consignado.
Esse tipo de contratação, objeto da presente ação, é o que se chama
cartão de crédito com reserva de margem consignável – RMC.
A prática, entretanto, FOI DESVIRTUADA, em manifesto prejuízo ao
consumidor. Vejamos. A eventual “vantagem” ao consumidor resultante da redução
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da taxa de juros incidente sobre o valor inadimplido, como mencionado, somente se
verifica se a inadimplência for esporádica e o cartão estiver sendo utilizado
exclusivamente para compras, como, aliás, expressamente o determinava a
legislação federal.
Ao investigar acerca do tipo de contratação realizada constatou-se, na
maioria dos casos, que o consumidor embora houvesse solicitado um empréstimo
consignado, contratou na verdade um cartão de crédito com reserva de margem
consignável – RMC, atravessado pelo banco como condição para obtenção do valor
pretendido.
Restou evidenciado, pois, que o cartão não foi contratado para fins de
realização de compras para atendimento das necessidades diárias do consumidor,
mas, em regra, uma condição para obtenção do empréstimo, esse sim o pretendido.
Ocorre que pela via desse tipo de contrato o valor descontado em
folha de pagamento, como mencionado, corresponde apenas ao mínimo da fatura e
sobre todo o restante devido incidirão encargos rotativos. O consumidor, entretanto,
que buscou o banco para contratar um empréstimo consignado é induzido a erro ao
supor que o valor descontado em folha é o pagamento da parcela mensal do
empréstimo consignado que teria realizado.
Desta forma, a inadimplência parcial da fatura ocorrerá em todos os
meses, e não de forma esporádica. Há, além disso, outro fator que contribui para
prática abusiva – o fato de que o consumidor saiu do banco convicto de que havia
celebrado um contrato de empréstimo consignado, o que o faz supor que o valor
constante da fatura enviada a sua residência é de pagamento opcional, caso queira
quitar mais rapidamente o empréstimo realizado.
A inadimplência deste tipo de contratação, pois, nunca é esporádica. Nas
dezenas de atendimentos feitos pela DPE-MA e nos contratos remetidos à DPU pelo
INSS, é evidente que o consumidor não compreende adequadamente o
funcionamento deste tipo de contratação.
Portanto, fica claro, a partir corroborado pelos documentos acostados aos
autos, que o aludido cartão de crédito com reserva de margem consignável – RMC
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está sendo utilizado, em regra, apenas para obtenção de empréstimo, quando
somente o deveria para realização de compras.
VIII.2. Tripé ilegal de sustentação do Crédito Rotativo. Da violação à Instrução Normativa nº 28 do INSS, ao CDC e ao Código Civil.
DA VIOLAÇÃO À INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES NO 28, DE 2008.
Após análise, verificou-se que os contratos de cartão de crédito - RMC,
firmados entre as instituições financeiras e os aposentados e pensionistas do INSS
(ANEXO IV, já referido), têm sua sustentação alicerçada na violação expressa de
normas importantes do direito brasileiro.
Com efeito, pode-se imaginar um tripé, onde ao topo está o Crédito
Rotativo e a base é formada pela violação a Instrução Normativa nº 28 do INSS,
violação ao Código de Defesa do Consumidor e pela violação ao Código Civil.
Quanto à violação da Instrução Normativa nº 28 do INSS de 2008, como
já exposto anteriormente, muitos aposentados e pensionistas procuram as
instituições financeiras no intuito de obter um empréstimo consignado e,
ludibriados, acabam firmando um contrato de cartão de crédito rotativo. Isso, por si
só, já demonstra o caráter abusivo de tal operação.
Percebe-se, além disso, que mesmo esse contrato, qual seja o de cartão de
crédito RMC, firmado mediante a indução ao erro, contraria expressamente a
Instrução Normativa nº 28 do INSS de 2008.
Nesse viés, preliminarmente, insta consignar que a autorização para os
descontos provenientes das operações de cartão de crédito com reserva de margem
consignável - RMC encontra-se prevista na Lei no 10.820, de 17 de dezembro de
2003:
“Art.6º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral de Previdência Social poderão autorizar o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a proceder os
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descontos referidos no art. 1º e autorizar, de forma irrevogável e irretratável, que a instituição financeira na qual recebam seus benefícios retenha, para fins de amortização, valores referentes ao pagamento mensal de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de arrendamento mercantil por ela concedidos, quando previstos em contrato, nas condições estabelecidas em regulamento, observadas as normas editadas pelo INSS (Redação dada pela Medida Provisória nº 681, de 2015).
§ 1o Para os fins do caput, fica o INSS autorizado a dispor, em ato próprio, sobre:
I - as formalidades para habilitação das instituições e sociedades referidas no art. 1o;
II - os benefícios elegíveis, em função de sua natureza e forma de pagamento;
III - as rotinas a serem observadas para a prestação aos titulares de benefícios em manutenção e às instituições consignatárias das informações necessárias à consecução do disposto nesta Lei;
IV - os prazos para o início dos descontos autorizados e para o repasse das prestações às instituições consignatárias;
V - o valor dos encargos a serem cobrados para ressarcimento dos custos operacionais a ele acarretados pelas operações; e
VI - as demais normas que se fizerem necessárias.
Nesse sentido, visando regulamentar as matérias constantes do § 1o do
dispositivo supramencionado, foi editada a Instrução Normativa INSS/PRES no 28,
de 2008. Tal espécie normativa é de suma importância para a compreensão do
funcionamento do cartão de crédito RMC, haja vista que estabelece critérios e
procedimentos operacionais relativos à consignação de descontos para pagamento de
empréstimos e cartão de crédito contraídos nos benefícios da Previdência Social.
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Dentre as violações expressas à Instrução Normativa no 28, de 2008 está
a do inciso II, do art.16. O dispositivo em questão estabelece o limite máximo de
comprometimento do cartão de crédito:
“Art. 16. Nas operações de cartão de crédito serão
considerados, observado, no que couber, o disposto no art. 58
desta Instrução Normativa:
II - o limite máximo de comprometimento é de até duas vezes o valor da renda mensal do benefício” (grifos nossos)
Mas adiante, o § 1º do art. 30 do mesmo diplomo normativo preleciona
que:
“Art. 30 A Dataprev, ao receber os arquivos para averbação de empréstimo ou cartão de crédito, considerará como campos obrigatórios de informação no arquivo magnético, além dos fixados no protocolo CNAB/Febraban, os seguintes: I - valor do contrato: corresponde ao valor principal contratado e recebido pelo beneficiário; II - número de parcelas do contrato: corresponde à quantidade de prestações contratadas; III - valor das parcelas: corresponde ao valor uniforme consignado mensalmente pela instituição financeira; e IV -número do contrato: deve ser único e específico para cada contratação ou refinanciamento. V - o CNPJ da agência bancária que realizou a contratação quando realizado na própria rede, ou, o CNPJ do correspondente bancário e o CPF do agente subcontratado pelo anterior. (Incluído pela IN INSS/PRES nº 43, de 19/01/2010) § 1º Para contrato de cartão de crédito o valor constante no campo "valor do contrato", onde deverá constar o limite de crédito disponibilizado ao beneficiário, não pode ser superior a duas vezes o valor mensal do benefício” (grifos nossos)
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Ignorando tais proibições evidentes, os bancos impuseram aos assistidos
contratos de cartões de créditos cujo valor ultrapassava facilmente três, quatro vezes
o valor de seus respectivos benefícios (ANEXO IV, já referido). O mais grave de
tudo é que o INSS OMITIU-SE diante de tais violações, adotando postura
nitidamente relapsa.
Outra grave violação referente Instrução Normativa INSS/PRES no 28,
de 2008 consistia na proibição, prevista em § 3º do art. 16, qual seja a de utilização
do cartão RMC para fins de saque. Ocorre que o referido dispositivo foi
recentemente revogado pela Instrução Normativa INSS/PRES no 81, de 18 de
setembro de 2015.
Desse modo, atualmente o saque por meio de cartão de crédito
consignado é permitido e se restringe ao percentual de 5% (cinco por cento)
destinados exclusivamente às despesas com cartão de crédito, já estabelecido pela
Medida Provisória 681, de 10 de julho de 2015, e regulamentação correlata,
(ANEXO V – Atos normativos aplicáveis ao RMC).
A esse respeito impende destacar que os contratos submetem-se, quanto
ao seu estatuto de regência, ao ordenamento normativo vigente à época de
sua celebração. Assim, mesmo os efeitos futuros oriundos de
contratos anteriormente celebrados não se expõem ao domínio normativo de leis
supervenientes. As consequências jurídicas que emergem de um ajuste negocial
válido são regidas pela legislação em vigor no momento de sua pactuação.
Sendo assim, no momento em que os assistidos foram induzidos a
contratarem o cartão de crédito com reserva de margem consignável, quando em
verdade pretendiam pactuar um empréstimo consignado, o §3º do art. 16
da Instrução Normativa nº 28/INSS/PRES, que proibia expressamente a utilização
do cartão RMC para fins de saque, estava em pleno vigor.
Nos casos em espécie, ignorando por completo a referida determinação,
os bancos, na época, deram início ao empréstimo justamente mediante saque do
valor pretendido, via cartão de crédito. O INSS, por sua vez, adotou postura
negligente, pois não procedeu com os devidos deveres de cuidado por ocasião da
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análise dos contratos que lhe foram submetidos pelas instituições financeiras,
autorizando operações abusivas e lastreadas em parâmetros ilegais, como acima
demonstrado.
Aliás, medidas como a revogação do § 3º do art. 16 da Instrução
Normativa nº 28/INSS/PRES só tem contribuído para aumentar o número já
considerável de aposentados e pensionistas endividados por conta de tais
empréstimos.
Com efeito, devido ao baixo grau de escolaridade que caracteriza grande
parte do grupo aqui defendido, aposentados e pensionistas vem se revelando presas
fáceis nas armadilhas abusivas dos cartões de crédito – RMC. A consequência disso
é a redução drástica de despesas pessoais, cortando compras de remédios, de
mantimentos e até cancelando plano de saúde.
DA VIOLAÇÃO AO CÓDIGO CIVIL E AO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR
Preceitua o Código Civil pátrio em seu artigo 186:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Neste caso em questão, podemos interpretar este dispositivo sobre a
perspectiva de duas visões: a Ação e a Omissão. No polo da Ação encontram-se as
Instituições Financeiras que de forma claramente dolosa, mediante a violação do
dever de informação e da boa-fé objetiva, causaram e ainda causam danos materiais
consideráveis aos segurados do INSS.
A outro giro, no polo da Omissão encontra-se o INSS que, como já
enfatizado anteriormente, adotou postura claramente NEGLIGENTE ao não exercer
o seu poder/dever de fiscalizar as normas instituídas por si próprio para controlar
atividades econômicas danosas aos seus segurados.
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A não fiscalização por parte do INSS é claramente um ato omissivo do
qual resultou o superendividamento de seus segurados, contribuindo, dessa forma,
para a drástica degradação da qualidade de vida dessas pessoas. A reparação de tais
danos causados, cuja postura negligente do INSS também tem relação direta é
prevista no Código Civil brasileiro no artigo 927, o qual preceitua a seguinte norma:
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.”
Além disso, os danos causados aos aposentados são oriundos do vício do
negócio jurídico chamado de Dolo. Trata-se de um vício em que uma das partes da
relação jurídica induz a outra ao erro, causando-lhe um dano. Todo negócio jurídico
que possui como fato gerador o dolo é anulável nos termos do Art. 145 do Código
Civil:
“Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo,
quando este for a sua causa”.
O final do artigo 145 demonstra a necessidade em que um negócio
jurídico para ser anulado por dolo faz-se necessário que este elemento tenha sido sua
causa. No caso em questão, poucos seriam as pessoas que aceitariam um contrato
tão adverso, se não fossem levadas a cometer tal erro.
Vale destacar também o artigo 147 do Código Civil:
“Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio
intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade
que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa,
provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.
Por outro lado, os contratos atravessados pelas instituições financeiras e
negligenciados pelo INSS violam escancaradamente o Código de Defesa do
Consumidor.
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O CDC, em seu art. 6º prevê ser um dos direitos básicos do Consumidor
a prestação que as informações sobre o produto ou serviço devam ser adequadas e
claras, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentarem,
além de proteção contra práticas e cláusulas abusivas no fornecimento de produtos e
serviços.
Em todos os casos restou evidenciado que os segurados do INSS não
possuíam informações claras sobre o serviço que estavam adquirindo. Não sabiam
que aquele contrato de crédito consignado que acreditavam estavam assinando, era
na verdade um contrato de Crédito Consignado.
Não sabiam eles, igualmente, que a parcela debitada mensalmente em
seus contracheques era apenas uma forma de adimplemento mínimo, incapaz de
amortizar a dívida, bem como que teriam que adimplir 3 (três) vezes ou mais o valor
da dívida original, e ainda assim permaneceriam com saldo devedor.
Para se ter uma ilustração do prejuízo suportado com essa modalidade de
contrato, a Defensoria Pública do Estado do Maranhão, em conjunto com a
Secretária Municipal de Administração do Município (SEMAD) realizou a
convocação dos 97 aposentados e pensionistas do Município, que integram a lista de
titulares de cartão de crédito com reserva de margem consignável e que,
possivelmente, teriam realizado o saque ou obtenção de empréstimo por meio do
cartão.
Embora todos os assistidos convocados estivessem na lista da SEMAD
como titulares de cartão de crédito com reserva de margem consignável-RMC, foi
flagrante a ausência de compreensão quanto ao tipo de contratação realizada: em
nenhum dos casos analisados, o consumidor afirmou compreender o que seja o
cartão de crédito com reserva de margem consignável. O gráfico, a seguir, indica
que, do total de 33 idosos atendidos naquela ação, nenhum compreende o que seja o
cartão de crédito com reserva de margem consignável – RMC.
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Sendo assim, registre-se que a publicidade enganosa é definida pelo
Código de Defesa do Consumidor como:
“Art. 37, §1º: Qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente
falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão,
capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem,
preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços”.
Quando a Instituição Financeira omite que o valor descontado no
contracheque é insuficiente para amortizar a dívida, incorre com propaganda
enganosa, induzindo os clientes a erro, uma atitude claramente criminosa nos termos
do Código de Defesa do Consumidor:
“Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria
saber ser enganosa ou abusiva:
Pena: Detenção de três meses a um ano e multa”.
Portanto, a desvirtuação do contrato de empréstimo buscado pelo
segurado para um de saque por cartão de crédito, implica em ofensa aos princípios
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da transparência e da boa-fé, além de caracterizar abusividade, colocando o
consumidor em franca desvantagem ao gerar um endividamento sem termo final.
DA VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO NA FASE PRÉ-
CONTRATUAL.
Outra constante na realização do contrato de cartão de crédito com
reserva de margem consignável – RMC é a ausência de informações mínimas acerca
da data de início e de término das parcelas referentes à obtenção do empréstimo e
das taxas de juros aplicadas ao contrato, o que viola o disposto pelo Código de
Defesa do Consumidor em seu art. 52:
“Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo previa e adequadamente sobre:
– preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem financiamento”.
Das duas uma: ou o cartão de crédito com reserva de margem
consignável – RMC somente pode ser utilizado para fins de compras admitindo-se
também nesse caso, o saque até o limite de 5% conforme deliberação recente do
Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e, assim, não há como definir
previamente data de início e de término das respectivas parcelas, restando, por meio
dele, proibida a contração de empréstimo, como, aliás, o é no âmbito municipal e
federal; ou é possível por meio dele à obtenção do empréstimo e neste caso aplica-se
necessariamente o aludido artigo 52 do CDC no que este impõe como observância
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do dever de informação a indicação expressa nos contratos de empréstimo do
número e de parcelas e das respectivas taxas de juros, entre outros.
Na maioria dos contratos analisados não constam informações quanto
à data de início e de término das parcelas, percentual de juros incidentes, nem
tampouco valor total de pagamento em razão do acréscimo de juros. E se assim o é,
deve incidir a regra disposta no art. 46 do CDC:
“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance”.
A forma de comercialização do produto impõe ao consumidor,
indubitavelmente, desvantagem exagerada, sobretudo quando se observa que o
mesmo crédito poderia ter sido obtido por vias pelo menos duas ou três vezes mais
baratas, como se verifica com o empréstimo consignado que é também praticado
pelas empresas requeridas.
Portanto, o atual estado de endividamento das pessoas naturais de baixa
renda com as instituições financeiras, a exemplo de aposentados e pensionistas,
deve-se, em regra, à equivocada, desmedida, imediata e obscura forma com que os
bancos concedem o seu produto, o crédito.
Não obstante, como já, exaustivamente demonstrado, o INSS ao adotar
postura negligente, ao não proceder com seu dever de fiscalização, contribuiu
decisivamente para o superendividamento dos muitos aposentados e pensionistas,
vítimas desta operação abusiva.
Nesse contexto, o superendividamento deve ser visto como um
PROBLEMA DE EXCLUSÃO SOCIAL e caso não sejam tomadas medidas
eficazes em sede jurisdicional para proteger os segurados, diante do atual quadro de
economia instável e insuficiente, com carência de renda, os bancos continuarão
lucrando bilhões, em detrimento da redução radical do poder aquisitivo da nossa
população e da sua própria dignidade, que afetará diretamente a nossa economia.
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Desse modo, em vista de todos os argumentos supramencionados, faz-se
urgentemente necessário que o INSS se comprometa em não mais autorizar esse tipo
de operação abusiva, pois tais contratos oferecidos pelas instituições financeiras são
inerentemente nulos e têm gerado um superendividamento involuntário de milhões
de aposentados e pensionistas.
IX. DA NECESSIDADE DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA EM CARÁTER
LIMINAR
Conforme disposto no artigo 273 do CPC, a antecipação, total ou parcial,
dos efeitos da tutela pretendida depende da satisfação de dois requisitos, quais
sejam, a verossimilhança das alegações, fundadas em prova inequívoca, e o receio
de dano irreparável ou de difícil reparação (nos casos de “tutela de urgência”) ou o
abuso do direito de defesa do réu (nos casos de “tutela punitiva”). Conforme se
depreende do exposto até então, é patente o preenchimento de tais requisitos, senão
vejamos.
Por VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES deve se entender a
plausibilidade, ante os fatos narrados e as provas pré-constituídas, do que se alega
para fins de direito. Apesar de resultar da íntima convicção do magistrado, é
evidente, no caso em tela, a veracidade de tudo quanto se relatou, dos danos
existentes e das causas que os ensejaram.
Nesse sentido, a amostragem dos contratos remetidos pelo INSS em
virtude de Mandado de Segurança impetrado por esta DPU é suficiente para
demonstrar a nulidade das operações de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RMC) e postura negligente do INSS ao não fiscalizar as patentes
irregularidades presentes nestes contratos, senão vejamos:
1. VIOLAÇÃO A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 28 DO INSS, que
expressamente, no § 1º do art. 30 que para o contrato de cartão de
crédito o valor constante no campo "valor do contrato", deverá
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constar o limite de crédito disponibilizado ao beneficiário, não pode
ser superior a duas vezes o valor mensal do benefício;
2. VIOLAÇÃO DOS DIREITOS À INFORMAÇÃO E À BOA-FÉ
OBJETIVA. Em todos os casos analisados, de fato, o segurado
buscou o representante bancário. Entretanto, o fez com finalidade
nítida de obtenção de empréstimo consignado; na prática, contudo,
foi assinado um contrato de cartão de crédito com reserva de margem
consignável – RMC. Enquanto aquele possui datas certas de início e
de fim das parcelas e juros de no máximo 2,5% ao mês; este não
possui datas limites para os descontos e a taxa de juros é de 4% ao
mês;
3. VIOLAÇÃO AOS DIREITOS À INFORMAÇÃO E À
TRANSPARÊNCIA NO TRATO DAS RELAÇÕES DE
CONSUMO. Porquanto os contratos celebrados para obtenção de
empréstimo/saque por meio do cartão de crédito com reserva de
margem consignável – RMC não há previsão da taxa de juros, data de
início e de término dos respectivos descontos, quantum devido com e
sem juros.
4. VIOLAÇÃO DA PROIBIÇÃO DE PRÁTICAS ABUSIVAS,
porquanto os contratos, tal como formulados, geram parcelas
infindáveis e pagamentos que ultrapassam facilmente três, quatro
vezes o valor inicialmente obtido por empréstimo, constituindo
vantagem manifestação excessiva e onerosa ao segurado.
Como já mencionado, vários dos contratos analisados não possuem taxa
de juros, data de início e de término do pagamento. Além disso, houve a
desvirtuação do contrato de empréstimo buscado pelo segurado para um de saque
por cartão de crédito implica em ofensa aos princípios da transparência e da boa-fé,
além de caracterizar abusividade, colocando o consumidor em franca desvantagem
ao gerar um endividamento sem termo final.
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Já o RECEIO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL reparação é
constituído pela própria situação apresentada: O superendividamento involuntário de
milhares de aposentados e pensionistas do INSS, pois devido ao baixo grau de
escolaridade que caracteriza grande parte deste grupo, aposentados e pensionistas
vem se revelando presas fáceis nas armadilhas abusivas dos cartões de crédito –
RMC. A consequência disso é a redução drástica de despesas pessoais, cortando
compras de remédios, de mantimentos e até cancelando plano de saúde, danos estes
iminentes e irreversíveis.
Portanto, a antecipação dos efeitos da tutela se impõe no sentido de que o
INSS não mais autorize os descontos em benefícios previdenciários para fins de
operações atinentes ao cartão de crédito com reserva de margem consignável- RMC.
X. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO requer:
1. A intimação pessoal da Defensoria Pública da União de todos os atos
processuais e a contagem dos prazos processuais em dobro, na forma do
inciso I do art. 44 da Lei Complementar nº 80/94;
2. Seja concedida prioridade à tramitação do presente feito, haja vista
envolver, também, interesses de pessoas idosas, nos termos artigo 1º da
Lei 10.741/2003;
3. Seja concedida a produção de efeitos das decisões, liminar e de
mérito, com abrangência em todo o território nacional, pelas razões já
elencadas nesta peça;
4. A citação do INSS para, querendo, apresentar resposta no prazo legal,
sob as penas da lei;
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5. A intimação do representante do Ministério Público Federal (LACP,
art. 5º, § 1º);
6. Seja, inaudita altera parte, concedida liminar de antecipação da tutela
desta ação civil pública, impondo ao INSS obrigação de NÃO FAZER,
consistente na IMEDIATA vedação de autorizar novos descontos em
benefícios previdenciários ou assistenciais pagos pelo Regime Geral de
Previdência Social a pessoas de baixa renda, aqui entendidas como as
que auferem renda mensal igual ou inferior a 3 (três) salários mínimos, e
decorrentes da celebração de contratos de Cartão de Crédito com Reserva
de Margem Consignável para Desconto (“Crédito Rotativo”, “RMC” ou
“Consignação Associada a Cartão de Crédito”) celebrados com
instituições financeiras, fixando-se, ainda, multa, para a hipótese de
descumprimento total ou parcial da decisão, na razão de R$ 10.000,00
(dez mil reais) por nova autorização indevida, a ser depositada em conta
bancária aberta por este MM. Juízo (art. 13, parágrafo único, da LACP)
7. Subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda pelo não
acolhimento do item anterior, que o INSS esteja autorizado a efetuar
descontos em benefícios previdenciários ou assistenciais pagos pelo
Regime Geral de Previdência Social a pessoas de baixa renda, aqui
entendidas como as que auferem renda mensal igual ou inferior a 3 (três)
salários mínimos, e decorrentes da celebração de contratos de Cartão de
Crédito com Reserva de Margem Consignável para Desconto (“Crédito
Rotativo”, “RMC” ou “Consignação Associada a Cartão de Crédito”)
celebrados com instituições financeiras, inclusive adotando-se para tal as
providências de natureza normativa cabíveis , sob pena de multa na razão
de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por autorização indevida, somente
quando o contrato celebrado entre segurado/pensionista e instituição
financeira clara e expressamente respeite as seguintes condições:
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7.1 Que o limite de crédito disponibilizado ao beneficiário venha
expresso e não seja superior a 2 (duas) vezes o valor mensal do
benefício, na forma do §1º do art. 30, da Instrução Normativa
INSS/PRES no 28/2008;
7.2 Que o saque permitido nas operações do cartão de crédito com
reserva de margem consignada se restrinja ao limite de 5%
destinados exclusivamente às despesas com cartão de crédito,
conforme dispõe a Resolução no 1.326, de 16 de setembro de 2015,
do Conselho Nacional de Previdência Social;
7.3 Que o contrato inclua, de forma clara e ostensiva, a informação
sobre a possibilidade do consumidor liquidar, antecipadamente, o
débito total ou parcial, mediante redução proporcional dos juros e
demais acréscimos, indicando os meios e locais disponibilizados
para consecução desse pagamento antecipado, conforme o disposto
no art. 52, § 2º, do CDC;
7.4 Que o contrato indique, de forma ostensiva e destacada, o
nome e o endereço da agência financeira, bem como haja carimbo
contendo o nome e o endereço comercial do preposto que efetivou a
contratação, incluindo, ainda, o CNPJ da agência bancária que
realizou a contratação, quando realizado na própria rede, ou o CNPJ
do correspondente bancário e o CPF do agente subcontratado pelo
anterior;
7.5 Que o contrato indique de forma clara e objetiva o tipo de
operação realizada, qual seja a de cartão de crédito com reserva de
margem consignável, discriminando com clareza sua forma de
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pagamento;
7.6 Que seja aplicada, como limite máximo, a taxa de juros 3,06%
(três vírgula zero seis por cento) ao mês aos contratos de cartão de
crédito RMC, conforme determina o inciso III do art.16 da Instrução
Normativa INSS/PRES n. 28/2008; e
7.7 Que o contrato traga ainda informações quanto ao montante
dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; aos acréscimos
legalmente previstos; ao número e periodicidade das prestações
(incluindo seus termos inicial e final); e à soma total a pagar, com e
sem financiamento.
8. Caso Vossa Excelência entenda não ser possível o deferimento dos
pedidos liminares da forma pretendida, tendo em conta a fungibilidade
prevista no artigo 273, §7º, do Código de Processo Civil, bem como o
poder geral de cautela positivado no artigo 798 do Código de Processo
Civil, que determine outras medidas provisórias que julgue adequadas,
para assegurar que a demanda não cause ao direito da coletividade aqui
representada lesão grave e de difícil reparação;
9. No mérito, seja ratificada a tutela antecipada, determinando-se ao
INSS a obrigação de NÃO FAZER, consistente em não mais autorizara
descontos nos em benefícios previdenciários ou assistenciais pagos pelo
RGPS a pessoas de baixa renda, na forma do item 06 supra, ou,
subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda pela legalidade de tal
operação, que seja condenada a autarquia-ré a observar as exigências
discriminadas no item 07 destes pedidos;
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8. Por fim, pugna-se pela produção de todos os meios de prova em
direito admitidos, especialmente o documental.
Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), para fins fiscais.
Nestes termos,
Pede deferimento.
São Luís - MA, 20 de novembro de 2015.
YURI COSTA Defensor Público Federal