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Ministério Público Federal Procuradoria da República no Amazonas EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA_ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM AÇÃO CIVIL COLETIVA ASSUNTO: VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO ARIRANHAS O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, com suporte no art. 129, XI, da Constituição Federal; art. 5º, III, alínea "e", e art. 6º, XII, ambos da Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), art. 82, I, da Lei n.º 8.078/90; bem como do art. 796, caput, do CPC, vem, perante V.Ex.ª, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA cumulada com AÇÃO CIVIL COLETIVA (COM PEDIDO LIMINAR) Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública federal, representado neste Estado por seu Superintendente de Negócios, passível de ser citada na Avenida Ramos Ferreira, 596 – 5º, Andar, Centro, Manaus/AM; Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 1

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA_ VARA DA SEÇÃOJUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM AÇÃO CIVIL COLETIVAASSUNTO: VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO ARIRANHAS

O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, peloProcurador da República signatário, com suporte no art. 129, XI, da ConstituiçãoFederal; art. 5º, III, alínea "e", e art. 6º, XII, ambos da Lei Complementar nº 75/93 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), art. 82, I, da Lei n.º 8.078/90; bem como doart. 796, caput, do CPC, vem, perante V.Ex.ª, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA cumulada com

AÇÃO CIVIL COLETIVA(COM PEDIDO LIMINAR)

Em face de

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa públicafederal, representado neste Estado por seu Superintendente de Negócios,passível de ser citada na Avenida Ramos Ferreira, 596 – 5º, Andar, Centro,Manaus/AM;

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SASSE – COMPANHIA NACIONAL DESEGUROS GERAIS, pessoa jurídica de direito privado constituídasob a forma de sociedade anônima, podendo ser citada na pessoa de seurepresentante estadual, Sr. Luís Botelho de Lima, na Avenida Sete deSetembro, 1251/103 – Parte – Centro, Manaus/AM;

PLANECON – PLANEJAMENTO,EMPREENDIMENTO E CONSTRUÇÃO LTDA.,pessoa jurídica de direito privado, podendo ser citada na pessoa de seuPresidente, na sede da Empresa, sito à Rua Chaves Ribeiro, 50, Bairro de SãoRaimundo, Manaus/AM;

GEORGE ANTISTHENES LINS DEALBUQUERQUE, Engenheiro Civil registrado no CREA/AM/RRsob o n.º 1821-D/AM/RR, podendo ser citado na Rua Chaves Ribeiro, 50,Bairro de São Raimundo, Manaus/AM;

WELLINGTON LINS DE ALBUQUERQUE,Engenheiro Civil registrado no CREA/AM/RR sob o n.º 116943-D/SP,podendo ser citado na Rua Chaves Ribeiro, 50, Bairro de São Raimundo,Manaus/AM;

URBAM – EMPRESA MUNICIPAL DEURBANIZAÇÃO, empresa pública municipal, podendo ser citada napessoa de sua Diretora Presidente Maria Auxiliadora Dias Carvalho, na RuaFloriano Peixoto, 134, Edifício Garagem – Centro, Manaus/AM;

I. DO OBJETO DAS AÇÕES

a) Objeto da ação civil pública

1. A presente Ação Civil Pública visa obter provimentojurisdicional em defesa dos moradores do Conjunto Residencial Ariranhas, localizado naRua Henrique Bastos, Bairro de Flores, Manaus/AM, na recuperação de seus imóveis vez que,por defeito de construção, os Blocos do susomencionado Conjunto Residencial não foramconstruídos em conformidade com o projeto original, oferecendo riscos de ordensdiversas, inclusive de desabamento de parte de sua estrutura, causando assim constanteperigo de vida aos moradores.

b) Objeto da ação civil coletiva

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2. A presente Ação Civil Coletiva tem por objeto oressarcimento de dano material e moral causado aos moradores do Conjunto ResidencialAriranhas, diante da depreciação de seus imóveis causados pela baixa qualidade dos serviçosprestados e da privação psicológica ocasionada pela falta de condição de habitabilidade dosimóveis, imposta aos mutuários e suas respectivas famílias, durante 5 anos.

II. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

3. O Ministério Público, como Instituição essencial à Justiça,conforme art. 127 da CF/88, tem como função precípua a defesa da ordem jurídica, do regimedemocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Desta feita, a ConstituiçãoFederal, em seu art. 129, estabelece como mecanismo de atuação do MP a propositura de açãocivil pública em defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos.

4. Por seu turno, o Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º.8.078/90 , em seu artigo 82, confere legitimidade ao Ministério Público para ajuizar toda equalquer ação coletiva na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,estes entendidos como aqueles oriundos de uma base comum (art. 81, parágrafo único, incisoIII, da lei retrocitada).

5. A Lei Complementar n.º 75/93, explicitou as prerrogativasinerentes ao Ministério Público Federal, em seu art. 6º., abaixo transcrito:

“Art. 6º. Compete ao Ministério Público daUnião:

[...]

XII – promover a ação civil coletiva para adefesa de direitos individuais homogêneos

d)outros interesses individuais indisponíveis,homogêneos, sociais, difusos e coletivos;

XIV – promover outras ações necessárias aoexercício de suas funções institucionais, emdefesa da ordem jurídica, do regime democráticoe dos interesses sociais e individuaisindisponíveis”

6. No presente caso, o MPF vem a Juízo defender os interessesdos mutuários da Caixa Econômica Federal frente a esta instituição, por conseguintesegurados da SASSE – Companhia de Seguros Gerais S/A, em específico aos moradores doConjunto Residencial Ariranhas, Blocos 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24 e 25, que seencontram em situação perigosa em face dos diversos vícios de construção que ocasionammúltiplas situações de risco, inclusive de iminente ruína, a qualquer tempo, de parte estruturalde todos os blocos de apartamentos em que se encontram alojados.

7. O liame existente entre os moradores, substituídos napresente lide pelo Ministério Público Federal, e os requeridos baseia-se na relação deAcao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 3

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consumo concretizada em face da construção do imóvel pela empresa Planecon –Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., financiado pela Caixa EconômicaFederal, sendo posteriormente seus apartamentos re-financiados individualmente aosadquirentes, mutuários substituídos na presente lide. Desta feita, ao assinar o contrato demútuo com a CEF, automaticamente o adquirente, por força da normatização desta instituiçãofinanceira, encontra-se segurado pela SASSE, Companhia Geral de Seguros S/A, no caso depossíveis danos físicos ao imóvel.

8. Estabelece o art. 3 º., da Lei n.º 8.078/90, verbis:

“Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física oujurídica, pública ou privada, nacional ouestrangeira, bem como os entesdespersonalizados, que desenvolvem atividadesde produção, montagem, criação, construção,transformação, importação, exportação,distribuição comercialização de produtos ouprestação de serviços.

§1º. Omissis

§2º. Serviço é qualquer atividade fornecida nomercado de consumo, mediante remuneração,inclusive as de natureza bancária, financeira,de crédito e securitária, salvo as decorrentesdas relações de caráter trabalhista”

9. A jurisprudência pátria tem-se firmado no entendimento dalegitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de ações visando a defesa deinteresses individuais homogêneos em relações de consumo, bem como da legitimidade deinstituições financeiras para figurarem no pólo passivo como fornecedoras, conforme ojulgado do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, abaixo transcrito:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVILPÚBLICA, LEGITIMIDADE, MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL, REBATE DE COBERTURA DO PROAGRO.

1. O Banco Central do Brasil é Administrador doPROAGRO, sendo que seus recursos são eridos eliberados pela autarquia. Nessa qualidade, oBACEN é parte legítima para figurar no pólopassivo da relação processual.

2. Omissis;

3. O Ministério Público Federal é partelegítima, como substituto processual, parapromover a Ação Civil Pública, relativamente adefesa dos direitos e interesses difusos,coletivos e individuais homogêneos, estesúltimos restritos a danos decorrentes derelações de consumo (artigo 81, parágrafoúnico, inciso III e 91 da Lei n.º 8.078/90). Em

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casos excepcionais, mesmo na ausência deautorização legal, o Ministério Público Federalpode atuar como substituto processual, nadefesa de interesses individuais homogêneos quetenham significação social relevante (art. 127,da Constituição Federal).

4. O Ministério Público Federal temlegitimidade para a propositura da presenteAção Civil Pública, como substituto processualdos produtores, titulares de interessesindividual homogêneo, na qualidade deconsumidores do Serviço Securitário doPROAGRO.”( TRF3, AC 03007950-9/94, Decisão05/12/1995, DJ 31/01/96)

10. Nesse aspecto, mister se faz colacionar a lição de NelsonNery Júnior, abaixo transcrita:

“Como é função institucional do MinistérioPúblico a defesa dos interesses sociais(art. 127, caput, CF), essa atribuição dadapelo art. 82 do CDC, obedece ao disposto noart. 129, n. IX, da CF, pois a defesacoletiva do consumidor, no que tange aqualquer espécie de seus direitos (difusos,coletivos ou individuais homogêneos) é, exvi, de interesse social.

(...)há evidente e indisputável interessesocial no ajuizamento de ações coletivas.Consulta aos interesses de toda asociedade, o fato de ajuizar-se uma demandaapenas, cujo objetivo seja solucionarconflitos coletivos (coletivos strictosensu ou individuais homogêneos) oudifusos. Assim, a simples circunstância dea lei haver criado uma ação coletiva , oseu exercício já é de interesse social,independentemente do direito material neladiscutido.(...) Pode o Ministério Públicoajuizar qualquer demanda coletiva, nadefesa de qualquer direito que possa quepossa ser defendido por meio de açãocoletiva (difuso, coletivo ou individualhomogêneo)” (O Ministério Público e asAções Coletivas, in MILARÉ, Édis. AçãoCivil Pública. Lei 7.347/85 –Reminiscências e Reflexões após dez anos deaplicação. São Paulo : RT, 1995)

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11. No presente caso, as Ações Civis Pública e Coletiva têmcomo escopo a defesa dos interesses individuais homogêneos dos consumidores, mutuários daCaixa Econômica Federal, que se encontram a mercê de terem seus imóveis totalmentedeteriorados, sem que qualquer providência de fato tenha sido tomada por parte dos réus emtermos de reparação do sinistro e cobertura das despesas de desalojamento. Sem o presentemecanismo, como adiante explicitar-se-á, corre-se o risco de se ter desabrigada umacoletividade de mutuários, agravando-se os danos materiais e morais suportados pelosmesmos há cinco anos.

12. Assim, comprovada está a legitimidade ativa do parquetpara a propositura da presente Ação Civil Pública cumulada com Ação Civil Coletiva, sendocompetente a Justiça Federal para processar e julgar o feito, eis que a questão toca a CaixaEconômica Federal, empresa pública federal, por força do art. 109, inciso I, da Carta Magna.

III) RESUMO FÁTICO

a) Histórico da situação

13. O Conjunto Residencial Ariranhas teve seu projeto aprovadopela Caixa Econômica Federal e executado pela Construtora PLANECON – Planejamento,Empreendimento e Construção Ltda., através de financiamento obtido junto à CEF, dentro dosmoldes normativos ditados por essa Empresa Pública Federal, conforme contrato padrão. Portal instrumento particular (cópia a fls. 30/41 do volume II) a referida Construtora secomprometia a entregar as unidades habitacionais conforme o projeto aprovado pelo Setor deEngenharia da CEF, bem como ao pagamento dos valores obtidos posteriormente à título deempréstimo, enquanto que à CEF competia a transferência ao patrimônio da empresa dosvalores necessários à execução do contrato durante a sua vigência, devendo exercersistemática fiscalização sobre o cumprimento do cronograma físico financeiro doprojeto. Essa atividade, em particular era realizada através de medições físicas da obra, daqual resultava os chamados Relatórios de Vistoria de Obra.

a.1) Irregularidades

14. O referido Contrato de Financiamento foi assinado em 17de dezembro de 1991 devendo a construção do Conjunto estar concluída no prazo de 18(dezoito) meses, consoante o PA ENGER/AM N.º 0124/91, datado de 09/12/1991 (fls. 86/87do vol. I).

15. Apesar de todos esses procedimentos burocráticos, inclusiveo repasse de 97,5% do financiamento, várias irregularidades foram detectadas na execução doprojeto. Em primeiro lugar, a construção dos Blocos 16 a 25 do Conjunto Residencial FOISIMPLESMENTE EXECUTADA SEM A OBSERVÂNCIA DAS RECOMENDAÇÕESda ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ou de qualquer normabásica de construção, denotando absurda incúria por parte do órgão executor e fiscalizadordo projeto.

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16. O RESULTADO NÃO PODERIA SER OUTRO, A NÃOSER O FATO DAS ESTRUTRURAS DESSES BLOCOS ESTAREM ABSOLUTAMENTECOMPROMETIDAS !!!

17. Em 29 de outubro de 1997, 60 (sessenta) mutuários járesidentes no Conjunto Residencial Ariranhas, através de Requerimento (fls. 94/104 dovolume I) encaminhado à Superintendência da Caixa Econômica Federal no Amazonas,solicitaram, dentre outras providências, a realização de “Perícia Técnica para avaliar todos osapartamentos”, vez que os mesmos apresentavam diversos problemas diretamenterelacionados à sua construção, dentre os quais destacamos:

Varandas rachadas com risco de desabar;

Falta de tomadas, de fiação interna e externa dosapartamentos;

Água sem pressão para subir até os apartamentos do 4o andardos Blocos;

Rede de Esgoto deficiente exalando mau cheiro nas ruas eapartamentos, etc.

18. Tais fatos, que já eram do conhecimento da CaixaEconômica Federal e da PLANECON, são comprovados pelos LAUDOS PERICIAISelaborados pela Empresa Municipal de Urbanização – URBAM relativos aos Blocos citadosdo Conjunto Residencial Ariranhas, acostado aos autos a fls. 25/26 e 27/29 do anexo II, nosquais os Peritos constataram que:

“LAUDO DE VISTORIA DO SEPTE

SOLICITAÇÃO DA VISITA:

PROCESSO N.º 3089/96 HABITE-SE PARCIAL

INTERESSADO: CONJUNTO ARIRANHAS

...

MOTIVO DA VISITA:

Desabamento das varandas do segundopavimento bloco 16 e de uma parte da paredede alvenaria...

GERENALIDADES:

Comparecemos ao local da vistoria noCondomínio Ariranha ... e constatamos odesabamento de uma das varandas do segundopavimento do bloco – 16. Foi solicitado deimediato ao Sr. Anderson Bonifácio(pedreiro que estava no local reconstruindoum trecho da parede de alvenaria...) a

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paralisação dos serviços e orientamos omesmo a proceder um escoramento em todas asoutras varandas que restaram, fazendo assimuma transmissão de carga das varandassuperiores até as varandas do pavimentotérreo que se encontram apoiadas aosolo ...” (Laudo datado de 22 de abril de1998).

“LAUDO DE VISTORIA DO SEPTE

...

MOTIVO DA VISITA:

Periciar as condições de construção eacabamento dos blocos de apartamento doconjunto supracitado que se encontram emsituação de risco segundo os própriosmoradores.

GENERALIDADES:

Esclarecemos que tal situação trata-se deuma reincidência, uma vez que já estivemosno local em abril deste ano, para fazer aperícia do desabamento da varanda dosegundo pavimento do bloco 16, constatandoque todo o edifício apresenta problemasconstrutivos, deixando-o em condiçõesinabitáveis pela situação de riscoapresentada...

Retornando ao local para uma nova vistoriapor solicitação dos moradores pelo motivode que as patologias manifestadas no bloco16 ao que tudo indica parecem sercongênitas para os demais blocos.

A seguir passamos a descrever de acordo comas fotos anexas, os principais problemasdetectados no Conjunto ResidencialAriranha.

FOTO N.º 01:

O castelo de água apresenta deterioração noseu componente estrutural, percebidasatravés de armadura positiva do fundo dacaixa exposta e submetida as intempéries, oque com o tempo e alta umidade existente emManaus pode causar problemas de vazamentos.

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FOTO N.º 02:

Na entrada principal do conjunto, existeuma torre utilizada para comunicações,localizada próximo ao muro limite doconjunto. Nossa preocupação no momento é oavanço da erosão que se processa no maciço,podendo vir a representar riscos seprovidências no sentido de conte-las nãoforem tomadas.

FOTOS N.º 03, 04, E 05:

Existe um progressivo destelhamento dealguns blocos, resultantes de ventanias,provavelmente por falhas na execução deamarração das telhas, oferecendo riscospara os moradores dos blocos e transeunteslocais. Tal manifestação influênciadiretamente na proteção dos blocos contraas ações do tempo. Percebe-se também a máqualidade do reboco lançado no revestimentoexterno dos blocos devido a desagregação daargamassa de acabamento, conseqüente talvezda má composição do traço de reboco.

FOTOS N.º 06, 07, 08 e 09:

Internamente os apartamentos apresentamproblemas caracterizados como mostra asfotos (anexo), onde se vê fissuras nosrebocos, ausência de mangueiras contraincêndio, falta de extintores e falha defuncionamento na rede de hidrantes. Asfotos n.º 09 e 12, mostram uma das falhasmais graves e que foi relatada no laudoanteriormente citado, motivado pelodesabamento de uma das varandas do B-16,fato que levou-nos a solicitar um laudo,emitido pelo calculista responsável pelaestrutura dos blocos, do Conjunto Ariranha.

Tudo isso, nos leva a acreditar napossibilidade de novos incidentes ouacidentes, pela continuidade dodeslocamento (rotação) das placas embalanço (varandas) evidenciadas no localpelas fotos supracitadas.

Assim, recomendamos de imediato oescoramento de todas as varandas através deum sistema de transferência de carga ao

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solo (o que já ocorre no Bl-16, foto N.º11), em todos os blocos do ConjuntoAriranha.

FOTOS 10, 13, 14 e 15:

Nas fotos supracitadas percebe-se uma sériede anomalias construtivas, constituídas portrincas, deslocamentos de alvenaria edeslocamento dos revestimentos dos tetos oque revela a precariedade que se encontramos blocos já habitados e que porconseguinte colocam em risco a vida de seususuários...”

19. Atendendo à determinação do Sr. Secretário de Estado daInfraestrutura, uma Comissão formada pelos Engenheiros Eduardo Tuyoshi Chiba, SirioLittaiff de Vasconcelos, Maria do Carmo Vieira Golvim, Raimundo Nonato Belo Soares eAnselmo Lima de Moraes, sob a Coordenação do Engenheiro Arminio José Martins Prestes,efetivou, ainda em 1998, nova vistoria do Conjunto Residencial Ariranhas constantando que:

“...

Para melhor visualização dos problemas,procedemos análise da área interna dosblocos e área externa geral ao conjunto,separadamente.

1.1 – Área Interna

Após minuciosa inspeção nos apartamentosforam constatadas as seguintes anomaliasconstrutivas:

Infiltrações provenientes de vazamentosnas tubulações hidro-sanitárias, tendocomo consequência desabamento de pedaçosde forro no banheiro e cozinha.

Trincas nas paredes onde há janela,iniciadas nos cantos dessas janelas.

Rachaduras verticais e horizontais emparedes.

Retorno de água de esgoto pelo ralo dacozinha em alguns apartamentos do pav.Térreo.

Recalque de piso de banheiro.

Trincas nos patamares das escadas emtodos os blocos.

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Espelho das escadas com altura muitoacima da ideal.

Falta de equipamento contra incêndio emtodos os blocos.

Instalação elétrica irregular.

Rachadura em todas as varandas.

Constante queda de telhas por falta deamarração correta nos beirais.

Ataque de cupim em alguns apartamentos.

1.2 – Área Externa aos Blocos

Ausência de calçadas.

Caixa d’água com ferragem aparente.

Taludes verticais sem proteção.

Rede de esgoto com odor insuportável.

Pilares, vigas e paredes externasdesaprumadas.

2.0 – CONCLUSÃO:

De modo geral essa obra, não atendeu a boatécnica de construção apresentando víciosconstrutivos dos mais primários...

Entre todos os problemas construtivoscitados acima destacamos como mais gravesos seguintes:

2.1 – Varandas

Tendo em vista haver ocorrido desabamentode uma varanda no bloco 16 e ter sidoconstatado nesta vistoria que todas asvarandas apresentam trincas verticais namureta de alvenaria nos dando indicação depossível deslocamento da estrutura,recomendamos: que seja revisto o cálculoestrutural das peças que compõem a varanda;que seja feita pesquisa “in loco” porempresa especializada em controletecnológico de concreto, da resistênciareal das referidas peças;...

Recomendamos ainda que por medida desegurança os moradores não usem essa áreaenquanto não for solucionada a questão.

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2.2 – Taludes

Para execução da terraplanagem fez-senecessário corte do terreno com autilização de taludes naturais. Observe-seentretanto que esses taludes apresentaminclinação de quase 90º, sem a devidacontenção. Por esse motivo existe risco dedesmoronamento por ação de águas pluviais,como já ocorreu em um trecho próximo aomuro do terreno da TELAMAZON.

Tendo em vista que alguns blocos situam-sebem próximos aos taludes eles poderão seratingidos se houver outros desmoronamentos.

2.3 – Instalações Elétricas

Observamos instalações elétricas executadastotalmente fora de normas chamando aatenção para a existente do bloco 19, umemaranhado de cabos que oferece perigo paraa segurança dos moradores.

2.4 – Rede de esgoto externa

Constatamos também um odor insuportávelproveniente de esgoto sanitário em toda aárea externa, provavelmente causado pelolançamento indevido desse esgoto no sistemade águas pluviais. Deverá ser revisado aexecução desse serviço pois o mau cheiroexalado causa mau estar aos moradores...”(Laudo a fls. 40/62).

20. Em 07 de maio de 1999, uma equipe do CREA-AM/RR,formada pela Engenheira Civil Maria do Socorro Lamego Vasconcelos (CREA 4743-DAM/RR) e pelo Engenheiro Civil Raimundo Agnelo de Souza Rodrigues (CREA 187-DAM/RR), constataram as seguintes irregularidades no Conjunto Residencial Ariranhas:

“...

Observa-se, no aspecto da infra-estrutura,irregularidades visíveis destacadas aseguir:

a) Abastecimento e Reservação de águas – acaixa com sua estrutura em concretoarmado sem revestimento deixa à mostra aferragem do fundo do reservatórioelevado, o que pode vir a acarretar aoxidação dessa ferragem e, devido ao

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esforço a que está sujeita, entrar emcolapso abruptamente. (FOTO 06)

b) Esgoto sanitário – Objeto de períciaespecífica de vez que, provavelmente,uma única rede também serve para acoleta de águas pluviais, devido aexagerada emanação de gases provenientesdas bocas de lobo. Não se localizoutratamento para os efluentes dessa redeque provavelmente são despejados “innatura” em igarapés próximo ao local.Cabe observar que, consideradas asirregularidades existentes já há muitotempo, algumas vistorias, relatórios,certidões o que fazem parte desteRelatório devidamente identificados pelaordem cronológica, já revelamos asirregularidades e vícios de construçõespraticados. O Código de Obras doMunicípio de Manaus (Lei n.º 1208 de 25de março de 1975) em seus diversosartigos estabelece, até com certo rigor,a postura do município a ser tomada emcasos como esses, sem entretanto, ter-seobservado uma ação mais contundente.(FOTO 04)

c) Verificamos no Bloco n.º 24 umdesalinhamento das paredes entre umpavimento e outro, apesar de não termosdetectado nenhum indício que comprometaa estrutura, percebe-se um desconfortona harmonia estética. Este bloco estálocalizado próximo a um talude deaproximadamente 7m de diferença denível, portanto, detectamos problemas dedrenagem de águas pluviais, face alocalização do bloco. No período dechuvas, o fluxo de água torna as áreasde piso dos apartamentos do pavimentotérreo deste bloco alagadas,comprometendo a utilização e apavimentação do edifício. (FOTO 07)

d) Internamente os blocos encontram-seinoperantes quanto a funcionalidade daRede de Prevenção e Combate a Incêndio,pois detectamos a ausência demangueiras, falta de extintores e os

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demais dispositivos para aoperacionalização da rede. (FOTO 08)

e) Reiteramos as observações no dia27/05/99 tratando-se de uma reincidênciacom novas fotografias, uma vez queestivemos no local em 07/05/99. Todas asocorrências verificadas naquelaoportunidade, objeto do retorno,constatamos uma deformação na laje davaranda do apartamento 201, localizadono bloco 23/A. Tal deformação externou-se através de rasgos perpendiculares aposição das vigotas, o que torna a visãonítida pela ausência de estabilidade daestrutura da área do balanço. (FOTO 09)

f) Com base nestas observações, efetuamos aseguinte pergunta a Síndica: Quem era oresponsável pelos serviços de rasgos nalaje? A mesma nos respondeu que fora aConstrutora PLANECOM através de seurepresentante Sr. GEORGE A. LINSALBUQUERQUE acompanhado de um EngenheiroPerito para analisar a estrutura. Amesma não lembrou do nome desteEngenheiro.

O projeto do conjunto sofreu aprovação pelaPrefeitura em março de 1991 e algumasirregularidades podem ser hoje observadas,tanto cometidas pela Prefeitura, quantopelo Agente Financeiro e pelo próprioConselho de Engenharia, senão vejamos:

À Prefeitura caberia exigir o projeto docálculo estrutural da obra (Art. 12 daLei 1208 de 25 de março de 1975 – Códigode Obras) por ocasião do licenciamentoda obra e somente, hoje, sabe-se quem éo autor desse projeto pela declaração dopróprio profissional (doc. n.º 10) queentretanto não registrou o projeto noCREA infringindo a Legislação Federalque trata do assunto (Art. 1o da Lei6496/77). Ao CREA caberia fiscalizar afalta desse registro.

Não poderia a Prefeitura conceder“habite-se parcial” ao empreendimentosem que os serviços de infra-estrutura

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básicos estivessem concluídos, como porexemplo, proteção contra incêndio etratamento de esgoto.

na inspeção de qualidade da obrafinanciada por ocasião da liberação dosrecursos, pois constatou-se flagrantedesrespeito às normas e padrões deconstrução nos prédios existentes ondealinhamento e prumos inexistem, além daqualidade duvidosa do materialempregado, por exemplo, no revestimentode paredes e tetos.

3. CONCLUSÃO

Os documentos declaratórios anexos à essavistoria somados à inspeção efetuada pelaequipe técnica do CREA-AM proporcionam aconclusões pelas seguintes providências:

Contratação de profissional devidamentehabilitado para realização de PeríciaTécnica minuciosa da obra.

Demolição e reconstrução de todas asvarandas do conjunto, obedecendo projetoestrutural compatível e, aliás, seguindoa orientação do próprio calculista autordo projeto (doc. n.º 10)

Completa revisão das redes de esgotosanitário e drenagem pluviais, segundoprojeto aprovado.” (fls. 02/04 do Vol.I).

21. Seguindo a orientação dos Engenheiros do CREA-AM, evisando comprovar de forma inequívoca a existência dos vícios de construção, bem como asmedidas necessárias para correção dos mesmos, esta Procuradoria da República encomendouuma perícia de engenharia de um engenheiro indicado pelo CREA/AM, o Dr. Nelson Pedrode Aguiar Falcão que, procedendo à vistoria do Conjunto Residencial Ariranhas respondeuaos quesitos formulados pelo Ministério Público Federal nos seguintes termos:

“...

Em atenção ao Ofício n.º 30/2000 datado de16 de fevereiro de 2000 Cabe-me informar aV.Exa., o que segue:

1 – Quais os vícios de construção que aobra em questão apresenta?

1.1 – Os vícios de construção são:Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 15

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a) Vazamentos nas tubulações de esgotos ehidráulicas.

b) Infiltração no forro de gesso e paredesdos banheiros.

c) Falta de ferragem negativa nasvarandas.

d) Paredes fora do prumo e alinhamento.

e) Reboco das cimalhas soltando.

f) Falta da calçada no contorno dosPrédios.

g) Falta da canaleta para águas pluviais.

h) Corte dos taludes com inclinação maiorque 45º graus.

i) Inexistência dos dissipadores de águaspluviais.

j) Inexistência de um poço.

k) Faltam os Extintores.

l) Faltam as mangueiras dos hidrantes.

m) Faltam os esguichos.

n) Os degraus das escadas estão comalturas variadas.

o) Trincas nas paredes.

p) Telhas soltas e caindo por falta defixação.

q) Madeirame do telhado com cupim porfalta do tratamento.

r) As esquadrias de madeira foram atacadaspor cupim.

s) As esquadrias de ferro estão atacadaspela ferrugem.

2. Tais vícios decorreram da má qualidadedos serviços (descumprimento de normastécnicas) e/ou materiais empregados (foradas especificações previstas no projetooriginal)?

2.1 – Vícios decorrentes da má qualidadedos serviços são:

a) Vazamentos nas tubulações de esgotos ehidráulicas.

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b) Infiltração no forro de gesso e paredesdos banheiros.

c) Paredes fora de prumos e alinhamentos.

d) Reboco das cimalhas soltando.

e) Corte dos taludes.

f) Degraus das escadas com alturasvariadas.

g) Trincas nas paredes.

h) Telhas soltas e caindo.

2.2 – Vícios decorrentes do não cumprimentodas especificações:

a) Desabamento das varandas e trincas.

b) Madeira do telhado imunização.

c) Telhas soltando e caindo.

d) Esquadrias de ferro.

e) Inexistência dos dissipadores de águaspluviais.

f) Inexistência das Mangueiras.

g) Inexistência dos Extintores.

h) Inexistência de um poço.

i) Falta da calçada no perímetro do prédio.

j) Falta da Canaleta das águas pluviais.

2.3 – Vícios decorrentes da má qualidadedos materiais:

a) As trincas nas paredes são provenientesdos Blocos de cimento pré-fabricados enas junções das paredes com a estruturado prédio.

b) Pintura das esquadrias de ferro, peloque apresenta não foi aplicado oanticorrosivo.

c) Reboco se soltando.

3. A ocorrência de tais vícios poderia serdetectada pela Engenharia da CaixaEconômica Federal, através dasfiscalizações periódicas, que fazia na obrapara apresentação dos Relatórios de

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Vistoria de Obra, para fins de liberaçãodas parcelas do financiamento?

Todos os vícios apontados são visíveis,principalmente os que decorrem da máexecução ou seja da qualidade dos serviços.

Os vícios decorrentes do não cumprimentodas especificações técnicas, estes temobrigatoriamente que ser comunicados pelaConstrutora a seu Contratante e solicitarautorização para fazê-los, pois se não ofizer, corre risco de ter que refazer denovo.

Os vícios decorrentes da má qualidade dosmateriais, estes demoram um pouco aparecer,pois somente aparecem em decorrência dotempo e do uso.

Assim sendo, podemos dizer que a maioriados vícios, poderiam ter sido detectadosdurante as visitas, pelos Engenheiros daC.E.F.-AM.

4. Houve superfaturamento do valor dasunidades?

Não houve superfaturamento propriamentedito, até porque para construção de moradiapopular a Caixa Econômica Federal é quemestabelece o limite do valor do Imóvel.

O que ocorreu no caso específico doConjunto Residencial Ariranhas foi àredução dos custos da construção, comaplicação de mão de obra não especializada,materiais de qualidade inferior, nãocumprimento das especificações técnicas eprincipalmente a não execução dos serviçosque foram pagos.

No contrato para construção do ConjuntoResidencial Ariranhas, a Construtorafaturou e recebeu da C.E.F.-AM 97,57% dovalor total do contrato, e não concluiu 40apartamentos dos 200 contratados.

O Valor avaliado para os apartamentos com opadrão de baixa qualidade como do ConjuntoResidencial Ariranhas são:

Apartamento com 67,09 m2, valor calculadode R$ 20.850,00.

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Apartamento com 46,04 m2 valor calculado deR$ 20.330,00.

Calculando pela tabela do SINDUSCON-AmProjeto Padrão Habitacional.

Teríamos o Preço por Apartamento de R$475,18 por m2.

Apartamento com 67,09 m2, valor de R$31.879,82.

Apartamento com 46,04 m2, valor de R$21.877,28.

4. De que ordem?

Os serviços não executados e os que deverãoser refeitos pela Construtora, são da Ordemde R$ 706.339,80 (setecentos e seis miltrezentos e trinta e nove reais e oitentacentavos).

5. – Qual o valor orçado para a recuperaçãocompleta das unidades para o cumprimentodas especificações do projeto original?

Para essa resposta, tempos que dividí-la em4 (quatro) partes distintas:

Primeira Parte

Para as unidades que foram dadas comoprontas e entregues aos mutuários, foiorçado para recuperar cada apartamento, R$2.150,15 (dois mil cento e cinqüenta reaise quinze centavos).

Segunda Parte

Para os apartamentos do Bloco 17, que estãopor concluir em fase de acabamento, foiorçado para concluir cada apartamento, R$4.447,45 (quatro mil quatrocentos equarenta e sete reais e quarenta e cincocentavos).

Terceira Parte

Para os apartamentos do Bloco 25, que estãopor concluir em fase fechamento interno einstalações prediais, foi orçado paraconcluir cada apartamento R$ 10.564,05 (dezmil quinhentos e sessenta e quatro reais ecinco centavos).

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Quarta Parte

E para concluir os serviços na área externado conjunto que estava orçado e não foiexecutado foi orçado em R$ 69.351,00(sessenta e seis mil trezentos e cinqüentae um reais).

Calculando dessa maneira, nos teremos umValor Total para recuperar o ConjuntoResidencial Ariranhas, de R$ 706.339,80(setecentos e seis mil trezentos e trinta enove reais e oitenta centavos).

7. – Há risco de desabamento das Unidades?

Não há risco de desabamentos das Unidades,o risco que há de desabamento são dasvarandas dos apartamentos, das cimalhasexternas dos prédios, ou de cair telhas,pode também ocorrer desmoronamento dotalude, principalmente do talude que fazfundos com o terreno da Telemar...”

22. Consoante restou exaustivamente demonstrado, os vícios deconstrução existentes no Conjunto Residencial Ariranhas eram de fácil detecção, mesmoassim, a Caixa Econômica Federal através do seu Setor de Engenharia, negligenciou emconstatar a má qualidade da obra e mesmo diante dos descalabros apontados nos Laudossusomencionados aceitou como concluído 97,57% (noventa e sete inteiros e cinqüenta e setedécimos por cento), liberando recursos desta ordem à PLANECON.

23. A URBAM, por sua vez, expediu Habite-se para 196 (centoe noventa e seis) apartamentos sem que os serviços de infra-estrutura básica tivessem sidoconcluídos, como exemplo da inexistência de proteção contra incêndio e de tratamento deesgoto.

a.2) Conseqüências das irregularidades

24. Esse quadro, Exa., além de denotar inconcebível descaso dopoder público na execução de sua política habitacional, revela um prejuízo social muito alémdo que as simples perícias já demonstraram. Estamos falando dos danos material e moral quevêm sofrendo essas famílias de mutuários do Conjunto Ariranhas há nada mais nada menosdo que 5 anos.

a.2.1. Dano Material

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25. A primeira espécie de dano que se verifica nesse contexto éo chamado dano material. Primeiro, no que diz respeito à desvalorização dos imóveis e depoisem relação às despesas que os mutuários tiveram que incorrer para fazer aquilo que os réusnão se dignaram.

a) desvalorização dos imóveis

26. As precárias condições em que se encontram as unidadeshabitacionais do Conjunto Residencial Ariranhas têm acarretado invariavelmente adesvalorização de todos os apartamentos. A falta de serviços básicos de infra-estrutura deesgoto e calçada, por exemplo, diminui sobremodo o valor dos imóveis.

27. Segundo perícia, anexa, a depreciação do imóvel é de 35%de seu valor original. Uma unidade habitacional daquele conjunto, que deveria valer R$31.879,82 (trinta e um mil, oitocentos e setenta e nove reais e oitenta e dois centavos), nãoalcança hoje no mercado mais que R$ 20.850,00 (vinte mil, oitocentos e cinqüenta reais).

28. ISTO REPRESENTA PARA OS 200 APARTAMENTOS, UMA

DESVALORIZAÇÃO E UM PREJUÍZO MATERIAL DA ORDEM DE R$ 2.205.964,00 (DOIS

MILHÕES, DUZENTOS E CINCO MIL, NOVECENTOS E SESSENTA E QUATRO REAIS):

TABELA DE DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL DO CONJUNTO ARIRANHAS

Fonte Valor m2 Valor do Imóvel67,09 m2

DEPRECIAÇÃO

TOTAL

(200 UNIDADES)

SINDUSCON 475,18 31.879,82

CREA-AMAVALIAÇÃO DOIMÓVEL (BAIXAQUALIDADE)

310,77 20.850,00

DEPRECIAÇÃODO IMÓVEL

35% 11.029,82 2.205.964

b) despesas arcadas pelos mutuários

29. O prejuízo material ainda é agravado por outros custos queos mutuários tiveram que arcar em função de benfeitorias necessárias que não foramprovidenciadas pelos réus.

30. Conforme consta nos autos do Inquérito Civil Público04/99, Volume 1, do Anexo II, a fls. 94/97, os mutuários do Conjunto Ariranhas, através deum abaixo assinado, enumeraram vários problemas ali vivenciados, acrescentando o pedido

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de ressarcimento de despesas da ordem de R$ 29.940,00, que tiveram que ser por eles arcadas,diante da falta de condições de habitabilidade do imóvel.

31. A fls. 71/73, do Volume 3, do supracitado Inquérito CivilPúblico, o Condomínio Residencial Ariranhas solicita o ressarcimento dos seguintes serviçosque tiveram que ser executado a custo dos próprios moradores:

Serviços efetuados no poço do Condomíniopela Empresa Só Poços – Turbo ConstruçõesLtda. (fls. 89).

R$ 2.000,00

Bomba Centrifugar Mod. CF. 10.7,5 CV.TRIF.

R$ 660,00

Indenizações pagas a empregados (fls.77/84).

R$ 4.500,00

Construção de lixeiras (fls. 87). R$ 280,00

Construção de uma calçada perimetral atrásdo Bloco 18 (fls. 88).

R$ 100,00

Perfuração de outro poço com 100 m deprofundidade (fls. 91/93).

R$ 22.400,00

TOTAL DE SERVIÇOS R$ 29.940,00

32. No item V-XIX – Serviços realizados pelos Condôminos, doLaudo de Vistoria e Perícia Técnica, elaborado pelo Perito Engenheiro Nelson Pedro deAguiar Falcão, apresenta-se a manifestação da síndica no sentido de pleitear o ressarcimentodas despesas com instalações elétricas, nos seguintes termos:

“Segundo informações da Síndica Sra. Martado Socorro Ferreira de Almeida, oscondôminos para habitarem os Blocos 18 e19, tiveram que arcar com as despesas deInstalações Elétricas dos Q.D.G’s que foifeito pela Concessionária Manaus Energia,cobrando por cada Bloco, a quantia de R$2000 (dois mil reais), valores estes que oscondôminos solicitam ressarcimentos.”

33. Destaque-se, ainda, que foi constada pela Manaus Energia,uma ligação clandestina da bomba d’água do Condomínio, motivo pelo qual o Condomínio seviu obrigado ao pagamento de R$ 8.345,74 (fls. 153, do Volume 3).

34. As despesas diretamente suportada pelos Mutuários somam,assim, a importância de R$ 42.285,74 (quarenta e dois mil, duzentos e oitenta e cinco reaisAcao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 22

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e setenta e quatro centavos), que somadas à depreciação sofrida pelo imóvel importa ovalor de R$ 2.248.249,74 (dois milhões, duzentos e quarenta e oito mil, duzentos equarenta e nove reais e setenta e quatro centavos).

35. Desta forma, mister se faz a responsabilização pelos danosmateriais sofridos pelos moradores daquele Condomínio, quando estes de forma a amenizar osproblemas ali vivenciados tiveram que arcas com despesas que em hipótese alguma poderia sepermitir que uma construção decente viesse a ter.

a.2.2. Dano Moral

36. A segunda espécie de dano que pouco se fala, mas que deforma insidiosa têm atingindo todas as famílias do conjunto, é a do dano moral.

37. Esse dano evidencia-se diante da privação psicológica que ascondições de inabitabilidade dos imóveis lhes impuseram, durante 5 anos, a eles e suasfamílias.

38. De acordo com o Laudo de Vistoria e Perícia Técnica,elaborado pelo Perito Engenheiro Nelson Pedro de Aguiar Falcão, chegou-se a comprovaçãoinequívoca dos vícios de construção, conforme se observa na conclusão do referido Laudo:

“Não temos nenhuma dúvida, em afirmarnossas opiniões conclusivas sobre aVistoria e Perícias Técnicas realizadas noConjunto Residencial Ariranhas, pois ficaevidenciado, tanto nos autos constante dopresente processo, quanto in loco as falhasconstrutivas, caracterizando vícios deconstrução que geram descontentamentos einsatisfações dos seus moradores, que nãocontentam-se em pagar tão caro para morartão ruim e sem as mínimas condições.”

39. Não há como negar que os vícios de construção constatadosna área interna dos blocos, como por exemplo infiltrações provenientes de vazamento dastubulações; retorno de água do esgoto pelo ralo da cozinha; espelhos das escadas fora dospadrões recomendáveis; constantes quedas de telhas por falta de amarração, entre outrasfalhas dispostas no Laudo de Vistoria e Perícia Técnica, acarretaram sofrimento psíquico nosmoradores daquele condomínio, manifestado muitas das vezes pela irritação, baixa estima eaté vergonha de ser mutuário, sem contar com o sentimento de injustiça de ter que arcar comprestações sem a menor correspondência com aquilo que de boa fé adquiriram.

40. Os vícios externos serviram por sua vez para diminuir adignidade dos mutuários nas relações sociais internas e externas ao condomínio. A ausênciade calçadas, bem como a rede de esgoto com odor insuportável, em virtude do sistema estarinacabado, contaminando e poluindo o meio ambiente, são dois exemplos que revelam por si,esse constrangimento. Conforme o item V-VI do referido Laudo:Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 23

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“A Construtora não executou o sistema deesgoto de acordo com o projeto e deixou deconstruir Fossa Séptica para atender oBloco 25.Com relação ao Bloco 17, a Construtora nãofez o filtro, nem as ligações com a rede deáguas pluviais e os dejetos dosapartamentos que estão sendo habitados,transbordam da Fossa Séptica e correm a céuaberto, atravessando terreno baldio atéatingir o igarapé in natura expondo a todosque por ali passam ao incôdo de odoresfétidos.A construtora deixou de construir osdissipadores de água em número de 5 paralançamento dos efluentes no igarapé.O pior de tudo, é que a Prefeitura, - URBAM– expediu o Habite-se para o Bloco 17.”

41. Isto tudo, Exa., sem falar, NO RISCO DEDESABAMENTO DAS VARANDAS, TELHAS E TALUDE CONSTATADO NOLAUDO ACIMA REFERIDO:

“Não há risco de desabamento das Unidades,o risco que há de desabamento são dasvarandas dos apartamentos, das cimalhasexternas dos prédios, ou de cair telhas,pode também ocorrer desmoronamento dotalude, principalmente do talude que fazfundos com o terreno da telemar.”

42. Tais condições de moradia impostas pelos réus aosmutuários são desumanas e degradantes, Exa., ferindo-lhes direitos personalíssimos,essenciais e indispensáveis à pessoa humana. Isto, somado a outros problemas de segurança ehigiene, vivenciados pelos moradores do Conjunto Residencial Ariranhas afeta negativamenteseu estado psíquico, ofendendo a sua integridade moral.

43. A FIM DE QUANTIFICAR O DANO MORAL SOFRIDO PELOS

MORADORES DO CONJUNTO RESIDENCIAL ARIRANHAS, PODEMOS TOMAR POR BASE O

SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE NO PAÍS DE R$ 180,00, CUJO VALOR DEVE SER MULTIPLICADO

PELOS 200 MORADORES DAQUELE CONJUNTO NO PERÍODO DE 60 MESES (5 ANOS QUE,APROXIMADAMENTE, OS MORADORES DAQUELE CONDOMÍNIO VEM SUPORTANDO AS

CONDIÇÕES DE INABITABILIDADE DOS IMÓVEIS), OBTENDO-SE UM TOTAL DE,APROXIMADAMENTE, R$ 2.160.000,00, QUE DEVE SER RESSARCIDO AOS MORADORES DO

CONJUNTO, A TÍTULO DE DANO MORAL.

CONSOLIDAÇÃO DO VALOR DO DANO

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DANO VALOL R$ 1,00

RECUPERAÇÃO DOS IMÓVEIS 706.339

DANO MATERIAL

. Depreciação do Imóvel

. Despesas Arcadas pelos Mutuários

2.248.249

2.205.964

41.285

DANO MORAL

12.000 salários mínimos (60 x 200 = 12.000)

2.160.000

2.160.000

TOTAL 5.114.588

a3. Tentativas de Acordo Extrajudicial

44. Esta Procuradoria da República, visando resolver oproblema de forma amigável, promoveu várias audiências com a participação da diretoria daCEF e seu corpo de Engenheiros, dos verdadeiros representantes da referida Construtora, napessoa do seu sócio à época da execução do projeto George Lins, e dos mutuários.

45. Concedeu-se a oportunidade para que o senhor George Linsapresentasse uma contra-perícia, fls. 336/371, a qual, demonstrando muito pouca vontade doresponsável em assumir sua culpa, sequer contemplou todos os aspectos abordados na períciado CREA-AM, alegando o mesmo que o valor do prejuízo girava em torno não deR$ 700.000,00 comprovados pela perícia, e sim de apenas R$ 210.324,18, valor este queestranhamente correspondia aproximadamente aquilo que a mesma Construtora, sem o menorpudor, diz ter ainda a receber da CEF!

46. Após várias visitas ao referido Conjunto a própria CEF e aSeguradora SASSE, concluíram um LAUDO DE VISTORIA/ORÇAMENTO em quereconhecem a existência de vícios de construção no conjunto, fls. 2.360 a 2.365, nos seguintestermos:

“Vistoria / Elaboração de Orçamento paraConclusão / Recuperação do Conj. Ariranhas

...

1. O presente tem por objetivo uma vistoriano conjunto Ariranhas para detectarproblemas técnicos ali existentes eelaborar um orçamento com vistas aconclusão do empreendimento erecuperação do mesmo.

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2. O empreendimento não foi totalmenteconcluído pela construtora faltando aperfuração de um poço profundo, 01conjunto Fossa/Filtro, complementação deinstalações de combate à incêndio,serviços de conclusão dos blocos 17 e25A, calçada circundante aos blocos,canalização da rede de esgoto/drenagematé o igarapé.

3. Procedemos vistoria em váriosapartamentos constatando que algunsproblemas se repetiam com grandeincidência como é o caso dasinfiltrações causadas por vazamentos detubulações de água/esgoto na cozinha eno banheiro, a maioria dos espelhos deescadas apresentando dimensões variadas,fora da boa técnica, trincas emvarandas, descolamento do friso lateralda fachada, inclinação do talude acimado aceitável, todos qualificados comovício de construção.

...”

47. Na citada vistoria a CEF e a SASSE orçaram um valor de R$308.316,37 (trezentos e oito mil, trezentos e dezesseis reais e trinta e sete centavos) para osserviços necessários para a restauração do Conjunto.

48. Os orçamentos elaborados pelo CREA-AM, PLANECON, eCAIXA/SASSE espelham os seguintes valores:

QUADRO COMPARATIVO DOS ORÇAMENTOS APRESENTADOS

(VALOR EM R$1,00)

CREA-AM (PR/AM) CONST. PLANECON CAIXA/SASSE

706.339 210.321 308.316

49. Apesar de tudo isso, Exa., do reconhecimento expresso dosréus sobre a existência de vícios, não contemplando nenhum dele, evidentemente, a totalidadedos itens exaustivamente demonstrados pela Procuradoria, através da perícia encomenda aoEngenheiro do CREA-AM, nem a CEF, nem a Construtora na pessoa de seus sócios, nemmuito menos a SASSE através de suas rotinas internas, vez que existe protocolado no seusetor competente pedido de recuperação dos imóveis, deram qualquer resposta à situação.

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50. A CEF, como política institucional que tem adotado, diz quenão é responsável por nada, mesmo tendo figurado como órgão fiscalizador da execução doprojeto a qual tinha o poder-dever de embargar a obra diante do não cumprimento docronograma físico-financeiro. A PLANECON, através de seus sócios de fato limita-se aempurrar o problema para a própria CEF, aceitando apenas a responsabilidade em relação aalgumas varandas. E a SASSE, também como política institucional, mesmo já tendo sidoinstada diversas vezes pelos mutuários e pela Procuradoria da República, não se digna acumprir a apólice do seguro, cujas prestações têm-lhe sido religiosamente pagas, embutidaque estão nas prestações.

51. O Direito e a Justiça, Exa., são chamados a intervir.

III. DO DIREITO

52. O Direito à moradia, hoje erigido em nível constitucional(art. 6o, caput da CF), impõe ao Estado o dever de formular e empreender política habitacionalcapaz de garantir seu efetivo exercício. O Sistema Financeiro de Habitação, instituído pela lein. 4.380 de 21 de agosto de 1964 teve o objetivo de facilitar e promover a construção e aaquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda dapopulação (art. 8o).

53. A primeira conseqüência do direito à moradia é a de todocidadão poder exigir do poder público meios de facilitação da construção de sua moradia, sejaatravés de um financiamento a juros especiais, seja através de um controle público efetivo daexecução dos próprios empreendimentos.

54. Quando essa obrigação não é cumprida pelo Estado, esobretudo, quando é a mesma cumprida de forma viciada, proporcionando, só na aparência, aexecução dessa política, surge o direito de cada cidadão mutuário de exigir sejam osresponsáveis a corrigir tais desvios.

55. Este é o fundamento da presente Ação Civil Pública que visaa condenação dos réus à obrigação de fazer a devida recuperação dos imóveis financiados earcar com os encargos derivados dessa recuperação.

56. Por outro lado a construção de “fachada” desseempreendimento, acarretou outras espécies de danos aos mutuários, como o dano material emoral.

57. Tais danos são indenizáveis, conforme a ConstituiçãoFederal (art. 5o, X), podendo ser pleiteados de forma coletiva através da presente Ação CivilColetiva, cujo rito é previsto a partir do art. 94 do CDC.

1. Direito Público Subjetivo ao ressarcimento dos danosmaterial e moral

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58. A Constituição Federal, em seu art. 5.º, inciso X, assegura aindenização pelo dano material e moral, decorrentes da violação dos direitos personalíssimosda pessoa humana:

“São invioláveis a intimidade, a vidaprivada, a honra, a imagem das pessoas,assegurado o direito a indenização pelodano material ou moral decorrente de suaviolação.”

59. Por outro lado, o Código Civil Brasileiro em seu art. 159,estabelece a reparação do dano, quer tenha sido este causado voluntária ou involuntariamente:

“art. 159 – Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência, ou imprudência,violar direito, ou causar prejuízo a outrofica obrigado a reparar o dano.”

60. O Colendo Superior Tribunal de Justiça já consagrou apossibilidade de indenização de danos materiais e morais provocados por defeitos deconstrução, conforme aresto abaixo:

“Responsabilidade civil. Desgaste dasinstalações hidráulicas. Infiltrações evazamentos. Danos materiais e morais. 1. Admitindo o réu ser responsável pelosdanos materiais, decorrentes deinfiltrações e vazamentos que causaramprejuízo à autora, deve esta, por isso, serindenizada tanto no que se refere aos danosmorais quanto no que se refere aos danosmateriais. 2. Recurso Especial não conhecido.( STJ -SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA; RecursoEspecial – 168073; UF: RJ; Órgão Julgador:Terceira Turma; Data Da Decisão:16/08/1999; DJ: 25/10/1999; Pág. 78)

61. Sobre a indenização do dano moral, destaca-se ajurisprudência abaixo:

“Os danos morais, mesmo quando traduzeminconforto psíquico, ou abalo moral puro,merecem ser reconhecidos e indenizados naproporção da extensão da ofensa e

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considerando a condição financeira davítima e do ofensor”( TARS, 1.ª Câm. Cív.,AC 196.265.722, rel. Juíza Terezinha deOliveira Silva, j. 02.09.1997).

...........................................

“Como assentado em precedente desta Corte,não há que falar em prova do dano moral,mas sim da prova do fato que gerou a dor, osofrimento, sentimentos íntimos que oensejam. Provado assim o fato, impõe-se acondenação, sob pena de violação ao art.334 do Código de Processo Civil.” (STJ, 3.ªT., Resp 145.297-SP, rel. Min. CarlosAlberto Menezes Direito, DJU: 14.12.1998)

...........................................

“Responsabilidade Civil – Acidenteferrorviário – Vítima fatal – Dano moral –Hipótese em que é patente a dor moral daesposa e filhos menores da vítima – Adoçãodo critério estabelecido no CódigoBrasileiro de Telecomunicações ( Lei4.117/62) – Fixação com base em quarentasalários mínimos, cabendo 20 à esposa e 20aos filhos menores – Recurso desprovido.”(1.º TACSP – 6.ª Câmara – Ap. – Rel. CarlosRoberto Gonçalves – j. 30.01.91 – JTACSP-RT128/172).

...........................................

“A reparação do dano moral deve adotar atécnica do quantum fixo. Apelo provido.”(TJRJ 1.ª C. – AP. – Rel. Carlos AlbertoMenezes Direito – j. 19.11.91 – RDP185/198).

62. O Código de Defesa do Consumidor ao estabelecer osdireitos básicos do consumidor, determina em seu art. 6.º, inciso VI, a efetiva reparação dedanos morais e materiais:

“art. 6.º - São direitos básicos doconsumidor:

...........................................

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VI - a efetiva prevenção e reparação dedanos patrimoniais e morais, individuais,coletivos e difusos”.

63. Diante da vulnerabilidade do consumidor, o CDC instituiu aresponsabilidade objetiva, devendo ser aplicada ao presente caso nos termos dos arts. 12 e 14:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, oconstrutor, nacional ou estrangeiro, e oimportador, independentemente da existênciade culpa, pela reparação dos danos causadosaos consumidores por defeitos decorrentesde projeto, fabricação, construção,montagem, fórmulas, manipulação,apresentação ou acondicionamento de seusprodutos, bem como por informaçõesinsuficientes ou inadequadas sobre suautilização e riscos.”

...........................................

“Art. 14. O fornecedor de serviços respondeindependentemente da existência de culpapela reparação dos danos causados aosconsumidores por defeitos relativos àprestação dos serviços, bem como porinformações insuficientes ou inadequadassobre sua fruição e riscos.”

64. Destaque-se que, nos termos do art. 23, do mesmo diplomalegal, a ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos eserviços não o exime de responsabilidade.

65. O ressarcimento imediato e satisfatório do consumidor éuma das metas traçadas pelo CDC, conforme salienta Hélio Zaguetto Gama:

“As ações das autoridades e dosfornecedores devem estar sempre voltadaspara o bem-estar e a segurança dosconsumidores. Os produtos e serviços devemobjetivar a plena satisfação dosconsumidores e não devem causar males à suasaúde e segurança.

Todo prejuízo ou qualquer lesão impingidosao consumidores devem ser imediatamente

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ressarcidos. O CDC inaugura mecanismoságeis para facilitar as substituições deprodutos e serviços, as suas revisões e asindenizações pelos danos causados aoconsumidor.”

66. Cumpre ressaltar que nada impede que sejam pleiteadoscumulativamente danos morais e danos materiais, conforme entendimento da Súmula n.º 37do Superior Tribunal de Justiça:

“Súmula 37 – São cumuláveis asindenizações por dano material e dano moraloriundos do mesma fato.

2. Responsabilidade pelo ressarcimento do dano material emoral

a) Da responsabilidade da CEF

67. O papel da Caixa Econômica Federal no Sistema Financeiroda Habitação, depois da extinção do Banco Nacional de Habitação, é o de orientar,disciplinar e controlar o sistema financeiro da habitação (art. 17, inciso I, da Lei4.380/64), conforme o Decreto-Lei nº 2.291/86.

68. O controle desse sistema, mais especificamente, passou aimpor à CEF uma série de condutas que visando primeiro que os recursos públicos destinadosa financiar a construção de habitação de baixa renda, efetivamente, tivessem essa destinação.

69. Isto, antes de valer para o cidadão que deveria honrar com ocontrato firmado para a obtenção de sua moradia, deveria ser uma verdade para a pessoajurídica que interviesse no processo, seja a empresa construtora ou empreendedora, seja acooperativa de mutuários, sejam os órgãos técnicos de assistência às cooperativas.

70. Afinal, estamos diante de um projeto de resgate social,pautado na hipossuficiência do mutuário que não tem meios de obter recursos no mercadofinanceiro para construir sua moradia.

71. O Sistema então, deveria ser concebido e gerenciadoeficientemente por instituições públicas idôneas do ponto de vista técnico e político.

72. Por meio das operações pertinentes a esse sistema, a CEFfirma contratos inicialmente com as empresas de engenharia, responsáveis pela execução deprojetos previamente aprovados pelo seu setor de Engenharia, transferindo ao patrimôniodaquelas o montante necessário à execução da obra.

73. Em face do próprio instrumento contratual, a CEF é dotadade poderes que, por força da atividade administrativa que desempenha, transformam-se emdeveres, pertinentes à fiscalização da execução do projeto previamente aprovado. Estafiscalização não se restringe apenas às medições feitas no decorrer da obra, mas diz respeito,

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num mesmo patamar, à constatação da utilização do material acordado e aprovado para aconstrução, bem como os possíveis vícios de construção apresentados durante sua execução.

74. É do teor do instrumento contratual padrão firmado entre aCaixa (Agente Financeiro), Credora, e as empresas de construção Civil, Devedora –Compradora, no caso em tela, a empresa PLANECON – PLANEJAMENTO,EMPREENDIMENTO E CONSTRUÇÃO LTDA., acostado a fls. 469/483 do Volume 5 doanexo II do Inquérito Civil Público n.º 004/99 que:

“CLÁUSULA VIGÉSIMA-OITAVA – FISCALIZAÇÃO –Sem que lhe possa ser atribuídaresponsabilidade de qualquer natureza, ficaassegurada à CEF o direito de fiscalizar ointeiro cumprimento do contrato, obrigando-se o DEVEDOR a facilitar aos fiscaiscredenciados o acesso a todos os documentose serviços, a fornecer as informações eelementos que lhe forem solicitados e acumprir as determinações que lhe foramformuladas, tudo dentro dos prazosestabelecidos nas respectivasnotificações.”

75. Nesse aspecto, vale colacionar declarações do próprioSuperintendente da CEF, prestadas ao órgão ministerial no dia 06 de Junho de 1999, nos autosdo Inquérito Civil Público n.º 004/99, em trâmite nesta Procuradoria da República noAmazonas, cópia acostada aos autos da presente representação em fls. 250/251:

“Que no financiamento, a Engenharia daCaixa Econômica Federal não procede umacompanhamento em relação à qualidade daobra; QUE na execução do projeto, aEngenharia da Caixa Econômica Federalanalisa a execução do cronograma físico-financeiro e que a mesma tem a obrigação derelatar qualquer defeito construtivo,vícios de construção, especificaçãoinadequada de materiais”

76. Detinha a CEF poder de embargar a obra executada pelaPLANECON - Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., devendo,sistematicamente, fiscalizar e exigir a utilização do material anteriormente acordado, bemcomo a execução da obra, dentro dos padrões normais da Engenharia.

77. Conforme já reconhecido pelo Colendo STJ, “A CEF devefigurar no processo em que se discute defeitos de construção, financiada com recursosdo sistema financeiro de habitação, pois compete-lhe fiscalizar, apontar as

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irregularidades e determinar as respectivas correções a empresa encarregada daobra”(DJ 26.02.1999).

PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVAPENDENTE DE DECISÃO EM RECURSO ESPECIAL.ANTECIPAÇÃO DE TUTELA QUE TORNAIRREVERSÍVEL A SITUAÇÃO DE FATO.

I – No âmbito deste Tribunal, é pacífica ajurisprudência no sentido de que a CaixaEconômica Federal deve figurar no processoem que se discute defeitos de construção,financiada com recursos do SistemaFinanceiro de Habitação, POIS COMPETE-LHEFISCALIZAR, APONTAR AS IRREGULARIDADES EDETERMINAR AS RESPECTIVAS CORREÇÕES ÀEMPRESA ENCARREGADA DA OBRA.

II – omissis

III- omissis

IV- omissis (STJ, AG 96.01.34137-4/PI, Rel.Juiz Jamil Rosa de Jesus, 3a Turma, Dec.13.11.1998, DJ 26.02.1999)

78. Quando do financiamento do Imóvel ao adquirente final, aCEF, por força da normatização do extinto Banco Nacional de Habitação, encampado pelaCEF posteriormente, estava o mutuário adstrito o contrato de seguro contra danos físicossofridos pelo imóvel firmado com a SASSE – Companhia Geral de Seguros.

79. Ocorre que, a prática que se instalou naquela empresapública violou assustadoramente o princípio geral do direito de vedação ao enriquecimentosem causa, conforme agora se passa a demonstrar.

80. Na aprovação do projeto de Engenharia pela CEF, há aprevisão da utilização de determinados materiais pela Empreiteira, o que fazem estimar umpreço médio de unidade de apartamento para o financiamento final. Porém, dada a inércia daCEF em fiscalizar a utilização de tais materiais, ou mesmo à falta de verificação final quandoda entrega do apartamento ao mutuário, os valores financiados correspondem a montantesbastante superiores ao real valor do imóvel, ocasionando prestações de trato sucessivo quenão condizem com a realidade do objeto adquirido.

81. Assim, o mutuário paga, em alguns casos, até três vezes ovalor real do imóvel, o que contraria todo o ordenamento jurídico vigente, beirando aimoralidade administrativa, dada a natureza jurídica da Caixa Econômica Federal, umaempresa pública cujo patrimônio é totalmente afetado à União. Isso sem contar na práticaabusiva vedada pelas leis de proteção ao consumidor, como a de alguém pagar mais por umamoradia sem condições mínimas de habitabilidade.

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82. Assim sendo, tinha a Caixa Econômica Federal o poder-dever de fiscalizar a obra executada pela empreiteira, PLANECON - Planejamento,Empreendimento e Construção Ltda., por força do próprio instrumento de contratofirmado com a empreiteira. Ao descurar-se desse dever, não detectando tais defeitos deconstrução, a CEF simplesmente não cumpriu cláusula constante do contrato, provocandoprejuízos morais e materiais aos moradores do Conjunto Residencial Ariranhas.

83. Estabelece o art. 159, do Código Civil Brasileiro:

“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência, ou imprudência,violar direito, ou causar prejuízo aoutrem, fica obrigado a reparar o dano”.

84. Maria Helena Diniz, em Curso de Direito Civil Brasileiro,sobre o aspecto do ato ilícito, assim leciona:

“O ato ilícito é o praticado culposamenteem desacordo com a norma jurídica destinadaa proteger interesses alheios; é o queviola direito subjetivo individual,causando prejuízo a outrem, criando o deverde reparar tal lesão. Para que se configureo ilícito será imprescindível um danooriundo de atividade culposa(...) É deordem pública o princípio que obriga oautor do ato ilícito a se responsabilizarpelo prejuízo que causou, indenizando-o”( 7º. Volume, 9ª ed., São Paulo: Saraiva,1995)

85. Por seu turno, o Código de Defesa do Consumidor, em seuart. 14, abaixo transcrito, assinala a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo danocausado por serviços defeituosos:

“Art. 14. O fornecedor de serviçosresponde independentemente da existência deculpa pela reparação dos danos causados aosconsumidores por defeitos relativos àprestação dos serviços, bem como porinformações insuficientes ou inadequadassobre sua fruição e riscos.”

b) Responsabilidade da PLANECON - Planejamento, Empreendimento eConstrução Ltda.

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86. Nessa esteira, a Construtora PLANECON também seencontra responsabilizada pelo dano que causou aos mutuários, inicialmente, por construirdefeituosamente, todos os blocos de apartamentos em questão. Em segundo lugar, por saberda necessidade de observar a normatização de Engenharia Nacional, passando ao longe dorespeito às normas de segurança.

87. Isto é provado pelos Laudos de Vistoria Externaempreendidos pela URBAM, pelo CREA, pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e doPerito contratado pelo Ministério Público Federal, anteriormente transcritos, que sãouníssonos em afirmar o gritante descumprimento de normas básicas, elementares mesmo, deEngenharia por parte da empreiteira, tais como:

a) Vazamentos nas tubulações de esgotos ehidráulicas.

b) Infiltração no forro de gesso e paredesdos banheiros.

c) Falta de ferragem negativa nasvarandas.

d) Paredes fora do prumo e alinhamento.

e) Reboco das cimalhas soltando.

f) Falta da calçada no contorno dosPrédios.

g) Falta da canaleta para águas pluviais.

h) Corte dos taludes com inclinação maiorque 45º graus.

i) Inexistência dos dissipadores de águaspluviais.

j) Inexistência de um poço.

k) Faltam os Extintores.

l) Faltam as mangueiras dos hidrantes.

m) Faltam os esguichos.

n) Os degraus das escadas estão comalturas variadas.

o) Trincas nas paredes.

p) Telhas soltas e caindo por falta defixação.

q) Madeirame do telhado com cupim porfalta do tratamento.

r) As esquadrias de madeira foram atacadaspor cupim.

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s) As esquadrias de ferro estão atacadaspela ferrugem.

88. Cumpre, nesse sentido, invocar o dispositivo do CDC queresponsabiliza objetivamente o construtor ao ressarcimento do dano causado pela obraviciada:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, oconstrutor, nacional ou estrangeiro, e oimportador, independentemente da existênciade culpa, pela reparação dos danos causadosaos consumidores por defeitos decorrentesde projeto, fabricação, construção,montagem, fórmulas, manipulação,apresentação ou acondicionamento de seusprodutos, bem como por informaçõesinsuficientes ou inadequadas sobre suautilização e riscos.”

89. Pelo que já restou demonstrado anteriormente, os vícios deconstrução existentes no Conjunto Residencial Ariranhas são de toda ordem.

90. Através de várias perícias realizadas, foram constadasdiversas irregularidades relativas à falta de observância do projeto ou mesmo de normasmínimas de construção, em especial destacamos:

a) Bloco 17 – Não foram executadas pela Construtora, asinstalações dos Quadros de Distribuição Geral dos Circuitosque deveria ser instalado no Hall da Entrada, não tendo sidoexecutados o cabeamento dos postes aos ditos Quadros e asfiações das prumadas.

b) Bloco 25 – Não foram executadas pela Construtora, asinstalações para distribuições dos circuitos internos dosapartamentos, bem como o Quadro de Distribuição Geraldos Circuitos.

91. Ressalte-se que, segundo noticiaram os mutuários à CEF emexpediente datado de 29 de outubro de 1997, os apartamentos foram entregues faltandotomadas, fiação interna e externa dos apartamentos.

92. Tais fatos denotam o descaso com que foram executados osserviços de instalação elétrica no referido conjunto, impondo-se a punição aos Responsáveispelos serviços mencionados.

93. Quanto aos defeitos de construção relativos ao Sistema deÁguas, Sistema de Esgotos e Instalação Sanitária, a responsabilidade técnica por tais serviçosrecai sobre o Engenheiro José F. de Souza Lobo.

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94. Os vícios construtivos relativos a esses serviços foramconstatados, igualmente, em todas as perícias realizadas, e são os a seguir relacionados:

a) Vazamentos e infiltrações nos banheiros e cozinhas;

b) Sistema de Combate a Incêndio inoperante em todos osBlocos;

c) Ausência de Fossa Séptica para atender o Bloco 25;

d) Ausência de Filtro e de ligações com a rede de águaspluviais e os desejos dos apartamentos que estão sendohabitados, transbordam da Fossa Séptica e correm a céuaberto;

e) Falta de construção de dissipadores de água em número de 5(cinco) para lançamento dos efluentes no igarapé;

f) Construção de apenas um poço artesiano mesmo assim foradas especificações, quando o projeto previa a construção dedois poços artesianos, o que vem ocasionando constanteinterrupção no fornecimento de água aos moradores;

g) Caixa d’água com ferragem positiva exposta;

95. É de se destacar que todos os peritos que vistoriaram oconjunto foram unânimes em afirmar que o odor exalado pelo sistema de esgoto éinsuportável.

96. As falhas acima citadas denotam a total ausência deacompanhamento técnico na execução dos projetos, ou mesmo que a execução da obra ficouabsolutamente dissociada do projeto, o que impõe a punição à Construtora.

97. A construção dos 200 (duzentos) apartamentos quecompõem o Conjunto Residencial Ariranhas, não seguiu as mais elementares normas deconstrução, eis que, consoante frisou a Comissão de Vistoria da Secretaria Estadual deInfraestrutura, “de modo geral essa obra, não atendeu a boa técnica de construçãoapresentando vícios construtivos dos mais primários”.

98. Os vícios de construção encontrados, praticamente, em todosos apartamentos são:

a) Falta de ferragem negativa nasvarandas.

b) Paredes fora do prumo e alinhamento.

c) Reboco das cimalhas soltando.

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d) Falta da calçada no contorno dosPrédios.

e) Falta da canaleta para águas pluviais.

f) Corte dos taludes com inclinação maiorque 45º graus.

g) Os degraus das escadas estão comalturas variadas.

h) Trincas nas paredes.

i) Telhas soltas e caindo por falta defixação.

j) Madeirame do telhado com cupim porfalta do tratamento.

k) As esquadrias de madeira foram atacadaspor cupim.

l) As esquadrias de ferro estão atacadaspela ferrugem.

2. A desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.

99. Apesar da flagrante responsabilidade que deve ser imputadaà empresa construtora, há que se considerar nesse contexto um fato extremamente grave, Exa,que diz respeito à atitude de seus dois sócios à época do empreendimento (fls. 15/21, doVolume II), Welington Lins de Albuquerque e George Antithenes Lins de Albuquerque.

100. Esses dois senhores, após o ocorrido, quando a empresajá respondia várias execuções judiciais, simplesmente, através de uma alteração contratual,deixaram a empresa, levando do capital social de R$ 5.000.000,00, nada mais nada menos queR$ 4.800.000,00, divididos em partes iguais.

101. Hoje essa empresa está praticamente inativa. Não épreciso dizer que tais empresários constituíram outras firmas, através das quais puderamempreender novos negócios, inclusive com o Estado do Amazonas.

102. Mas embora tenham deixado a firma, são eles quem têmatuado, inclusive perante esta Procuradoria da República, durante as tentativas de acordolevadas a efeito, demonstrando absoluto poder de decisão nas negociações.

103. A situação é no mínimo estranha, pois se continuam essessenhores a serem os responsáveis de fato pela empresa, por que abandonaram seu quadrosocietário levando 96% do capital ?

104. Qualquer ação que venha a ser proposta contra essaempresa Exa., não poderá desprezar esse fato, sob pena de jamais tornarmos efetivo e justoqualquer provimento judicial favorável.

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105. Como solução jurídica para esse fenômeno, a doutrinaconstruiu e o Direito do Consumidor incorporou a chamada desconsideração dapersonalidade jurídica.

106. O art. 28 do Código de Defesa do Consumidor estabeleceque:

“art. 28 - O juiz poderá desconsiderar apersonalidade jurídica da sociedade quando,em detrimento do consumidor, houver abusode direito, excesso de poder, infração dalei, fato ou ato ilícito ou violação dosestatutos ou contrato social. Adesconsideração também será efetivadaquando houver falência, estado deinsolvência, encerramento ou inatividade dapessoa jurídica provocados por máadministração.”

107.Como visto, a construção do Conjunto ResidencialAriranhas foi executada sem observância das Recomendações da Associação Brasileira deNormas Técnicas, ou de qualquer norma básica de construção.

108.Não apenas infração às normas técnicas de engenharia sãodetectadas naquele Conjunto. O descaso com que se tratou a construção, especialmente por serelacionar com vidas humanas, revela ofensa à Constituição Federal, quando esta protege ocidadão brasileiro do tratamento desumano e degradante, em seu art. 5.º, inciso III.

109.Por outro lado, além da infração à lei, o Código de Defesado Consumidor, também considera o fato ou ato ilícito capaz de promover a desconsideraçãoda personalidade jurídica.

110.E foi justamente o que aconteceu com a atuação dessesSenhores à frente daquela Empresa.

111.A desconsideração da personalidade jurídica procura,sobretudo, evitar que os sócios da empresa possam escudar-se em formalidades ou na pessoajurídica para não se responsabilizar dos prejuízos que tenham causado a terceiros, na condiçãode pessoa física.

112.Nesse sentido, tem se manifestado a Jurisprudência pátria:

“Doutrina da DESCONSIDERAÇÃO daPERSONALIDADE JURÍDICA. Art. 28 do Códigode Defesa do Consumidor. Precedentes.

1. Não desqualificada a relação de consumo,possível a DESCONSIDERAÇÃO da PERSONALIDADEJURÍDICA, provada nas instâncias ordinárias

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a existência de ato fraudulento e o desviodas finalidades da empresa, ainda maisquando presente a participação direta dosócio, em proveito próprio.

2. Recurso especial não conhecido.”(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA; Processo: 2000.00.27914-5; UF: SP;Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA; Data daDecisão: 12/09/2000; DJ DATA:27/11/2000;PÁGINA:157; Relator CARLOS ALBERTO MENEZESDIREITO)............................................

RESPONSABILIDADE CIVIL. NAUFRÁGIO DAEMBARCAÇÃO "BATEAU MOUCHE IV". ILEGITIMIDADE DE PARTE PASSIVA "AD CAUSAM".SÓCIOS. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DAPERSONALIDADE JURÍDICA'. DANOS MATERIAIS.PENSIONAMENTO DECORRENTE DO FALECIMENTO DEMENOR QUE NÃO TRABALHAVA.

1.Argüições de ilegitimidade de partepassiva e imputações recíprocas dos réusacerca da responsabilidade pelo trágicoevento. Em sede de recurso especial não édado rediscutir as bases empíricas da lidedefinidas pelas instâncias ordinárias.Incidência da súmula nº 07-STJ.

2.Acolhimento da teoria da "desconsideraçãoda PERSONALIDADE jurídica". O Juiz podejulgar ineficaz a personificaçãosocietária, sempre que for usada com abusode direito, para fraudar a lei ouprejudicar terceiros.

3. Reconhecido que a vítima menor com seisanos de idade não exercia atividadelaborativa e que a sua família possuirazoáveis recursos financeiros, os autores- pai e irmã - não fazem jus aopensionamento decorrente de danosmateriais, mas tão-somente, nesse ponto,aos danos morais fixados. Recurso especial interposto por RamonRodriguez Crespo e outros não conhecido;

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recurso da União conhecido, em parte, eprovido.” (STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA; Processo: 1997.00.87886-4; UF: RJ;Órgão Julgador: QUARTA TURMA; Data da Decisão: 22/09/1998; DJDATA:12/04/1999; PÁGINA:159; LEXSTJ VOL.:00121; SETEMBRO/1999; PÁGINA:207; RSTJVOL.:00120; PÁGINA:370; Relator BARROSMONTEIRO).

113.Desta forma, a personalidade jurídica pode ser consideradaineficaz, quando usada com abuso de direito, para fraudar a lei e prejudicar terceiros.

c) Responsabilidade da SASSE

114.Segurador é aquele que suporta o risco assumido, medianteo pagamento de um prêmio, condicionado à verificação de ocorrência do fato.

115.O Código Civil Brasileiro, em seu art. 1.432, estabelece aresponsabilidade da sociedade seguradora quanto ao prejuízo decorrente do sinistro previstono contrato, a saber:

“Art. 1.432. Considera-se contrato deseguro aquele pelo qual uma das partes seobriga para com a outra, mediante a paga deum prêmio, a indenizá-la do prejuízoresultante de riscos futuros, previstos nocontrato.”

116.Assim sendo, a SASSE – Companhia Geral de Seguros,seguradora do Imóvel, por força da apólice de seguros firmada entre os mutuários e aSeguradora, responsabiliza-se pela ocorrência do sinistro, dando cobertura aos riscosdescritos, bem como à indenização por prejuízos causados aos moradores, consoante aCláusula 5ª da Apólice de Seguro Padrão, abaixo transcrita:

“CLÁUSULA 5ª - PREJUÍZOS INDENIZÁVEIS

São indenizáveis os seguintes prejuízos:

a) danos materiais, diferentes dosresultantes dos riscos cobertos”

117.A jurisprudência pátria tem-se consolidado no sentido deque à Seguradora cabe, inclusive, o pagamento dos aluguéis aos moradores alijados de suapropriedade por ocorrência de sinistro ao imóvel, conforme o julgado do Tribunal de Justiçade Santa Catarina, abaixo transcrito:

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INDENIZAÇÃO. DANOS CAUSADOS POR ENCHENTE.SEGURO HABITACIONAL. BENEFICIÁRIOS QUE SEOPUSERAM A REPAROS INICIAIS POR CONSIDERÁ-LOS INSUFICIENTES. RECUSA QUE SE JUSTIFICA.RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA PELAAMPLIAÇÃO POSTERIOR DOS DANOS EMDECORRÊNCIA DE NOVO E IGUAL SINISTRO.

Não se dispondo a reparar devidamente osdanos causados a imóvel segurado atingidopor enchente, é justa a recusa do seguradoem impedir a realização de consertosinsuficientes ou incompletos para reporaquele em condições de perfeita segurança ehabitabilidade. Sua recusa, em talhipótese, não afasta o dever de indenizarda seguradora que responde, inclusive, pelaampliação dos danos provocados por nova eigual catástrofe. Aluguéis despendidospelos beneficiários. Ônus da seguradora. Osaluguéis despendidos pelos beneficiários,em virtude de impossibilidade material deutilizarem sua residência, devem serressarcidos pela seguradora. A indenizaçãodevida pelo descumprimento da cláusula deseguro deve ser a mais ampla possível eabranger todos os danos causados”(TJSC, 2ªCCv, Acv 41.690, j. 27-6-1995, rel. Des.Gaspar Rubik, DJSC, 16 de maio de 1996, p.7)

118.Em relação aos imóveis quitados, num outro aspecto,cumpre destacar que o próprio representante da SASSE, em audiência do dia 12 de maio de1999, na presença do órgão ministerial estadual, nos autos da Representação PRDC Nº99.0000281-4, fls. 81/86, admitiu a responsabilidade da SASSE pelos reparos aos imóveiscujo defeito fosse anterior à quitação, conforme abaixo se transcreve:

“(...)O representante da SASSE disse que oseguro só cobre se o laudo constatou airregularidade antes da quitação.”

d) Da Responsabilidade da URBAM

119.De acordo com o Relatório de Vistoria Técnica elaboradopelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA-AM, houvenegligência por parte da URBAM ao conceder habite-se parcial ao empreendimento sem queos serviços de infra-estrutura básicos estivessem concluídos, conforme se observa asseguir:

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“Não poderia a prefeitura conceder “habite-se parcial” ao empreendimento sem que osserviços de infra-estrura básicosestivessem concluídos, como por exemplo,proteção contra incêndio e tratamento deesgoto.”

120.Cumpre ressaltar que à Prefeitura caberia exigir o projeto docálculo estrutural da obra, nos termos do art. 12, da Lei 1.208/75 – Código de Obras, porocasião do licenciamento da obra.

121.O Laudo elaborado pelo perito engenheiro Nelson Pedro deAguiar Falcão, atesta que a URBAM expediu para o Bloco 17,o habite-se para o Bloco 17,sem que fossem concluídos serviços essenciais:

“O Bloco 17 foi dado pela Prefeitura URBAM,em 27.12.96, o Habite-se n.º 002441, semque fossem concluídos serviços essenciais:

A Instalação elétrica não foi executado ocabeamento dos postes até os QDG’s nem afiação das prumadas e os QDG’s não forammontados.

O sistema de fossa séptica e filtroanaeróbico para atender o bloco 17 não foiexecutado, e seus efluentes correm a céuaberto exalando odor insuportável.

As instalações de combate a incêndio, estãoincompletas faltando as caixas, mangueirascom suportes, faltam também os extintoresde incêndio.

As cozinhas e banheiros estão sem os forrosrebaixados em gesso.

Faltam as calçadas laterais.”

122.Concederam o Habite-se acostados a fls. 21/22, do AnexoII, volume 1, dos autos do Inquérito Civil Público n.º 04/99:

Fernando Henrique Alves Pedrosa,arquiteto e urbanista, chefe da divisãode Controle urbano da Empresa Municipalde Urbanização – URBAM;

Rui Lima Toscano, Engenheiro Civil,Chefe da Divisão de Controle Urbano da

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Empresa Municipal de Urbanização –URBAM;

Marco Aurélio de Mendonça, EngenheiroCivil, Diretor Técnico da URBAM;

Waldison R. da Cruz, Diretor Presidenteda URBAM.

123.É evidente o descaso com que foi tratada a concessão dohabite-se parcial em questão, demonstrando a negligência dos representantes da URBAM,quando atestaram condições de habitação de unidades que se revelam carecedoras de infra-estrutura básica.

124.Ressalte-se que com essa conduta arbitrária, osrepresentantes da URBAM feriram princípios da Administração Pública, faltando com aeficiência e moralidade, que devem ser observados por qualquer agente público.

125.A situação é insustentável e depõe contra um projeto degrande alcance popular e social que é a casa própria, revelando o descaso com que se temtratado a pessoa humana.

III. DO PEDIDO

6.1. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

a) Do fumus boni juris

126.A plausibilidade do direito aqui invocado baseia-se no fatodo prejuízo absolutamente provado e na responsabilidade contratual de todas as rés, quantoaos danos morais e materiais causados aos mutuários do Conjunto Ariranhas.

127. A Caixa Econômica Federal é por tais danos responsávelpor força do instrumento contratual assinado com a Construtora PLANECON – Planejamento,Empreendimento e Construção Ltda., o qual, em sua Cláusula Vigésima Oitava, estabelece oseu DEVER DE FISCALIZAR A OBRA E ANUNCIAR OS POSSÍVEIS VÍCIOS QUEAPRESENTASSE, essa responsabilidade inclusive já foi reconhecida pelo STJ1.

1PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA PENDENTE DE DECISÃO EM RECURSO ESPECIAL. ANTECIPAÇÃO DE

TUTELA QUE TORNA IRREVERSÍVEL A SITUAÇÃO DE FATO.I – No âmbito deste Tribunal, é pacífica a jurisprudência no sentido de que a Caixa Econômica Federal deve figurar noprocesso em que se discute defeitos de construção, financiada com recursos do Sistema Financeiro de Habitação, POISCOMPETE-LHE FISCALIZAR, APONTAR AS IRREGULARIDADES E DETERMINAR AS RESPECTIVASCORREÇÕES À EMPRESA ENCARREGADA DA OBRA.II – omissisIII- omissisIV- OMISSIS (STJ, AG 96.01.34137-4/PI, REL. JUIZ JAMIL ROSA DE JESUS, 3A TURMA, DEC. 13.11.1998, DJ 26.02.1999).Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 44

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128.Ademais, conforme o art. 14, do Código de Defesa doConsumidor a CEF também é responsável objetivamente pelos danos causados, em virtude dorisco assumido, vez que é fornecedora de serviços e assim proporcionou a construção deapartamentos com vícios, que poderiam, perfeitamente, ser detectados, constatados e evitados,se a fiscalização da obra fosse de fato realizada pela CEF2.

129.É de se ver, ainda, que sempre subsistirá a responsabilidadesubjetiva da Instituição Financeira, por força da prática do ato ilícito cometido, vez que suanegligência foi a causadora de todo o dano hoje amargado pelos moradores dos Blocos 16 a25 do Conjunto Residencial Ariranhas.

130.Da mesma forma, verifica-se a responsabilidade daEmpresa PLANECON - Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., e de seus sócios,à época, que desrespeitaram normas técnicas para a construção dos Blocos de Apartamentosem tela, fornecendo produto (apartamento) defeituoso, com vício de construção, que seencontra, atualmente, na iminência de ruína, prática que se tornou “regra” em Manaus.

131.De outro modo, a SASSE – Companhia Geral de Seguros éresponsável solidariamente com os demais réus, pelos danos causados aos moradores dosBlocos 16 a 25 do Conjunto Residencial Ariranhas, por força da Apólice de Seguros firmadacom os mesmos. A cláusula Quinta da Apólice prevê a cobertura de danos diferentes dosriscos cobertos.

b) Periculum in mora

132.O perigo da demora de uma decisão favorável, encontra-seamplamente comprovado, Exa., em face da iminência de ruína a que estão sujeitos todos osBlocos do Conjunto Residencial Ariranhas, atestado por todos os laudos periciais,recomendando-se, inclusive, A EVACUAÇÃO IMEDIATA DOS PRÉDIOS QUANDO DOINÍCIO DAS OBRAS DE RECUPERAÇÃO.

133.Nesse aspecto, destacamos que os serviços necessários parao término e recuperação dos Blocos do Conjunto Ariranhas são das mais diversas ordens,devendo obrigatoriamente envolver diversos profissionais da Construção Civil.

134.Para a execução dos ditos serviços, é imprescindível adesocupação de todos os Blocos do Conjunto Residencial Ariranhas, vez que a presençados moradores num canteiro de obras tão diversificado colocará em risco a vida dosmesmos.

135.A segurança dos moradores encontra-se ameaçada, seja pelasituação em que já se encontra o imóvel, seja pelo seu agravamento no momento em queforem iniciadas as obras de reconstrução. Por outro lado, para se exigir que essas famílias

2

Dispõe o art. 3.º, § 2.º, do CDC:art. 3º - (omissis)§ 2.º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante renumeração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 45

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desocupem seus apartamentos lhes devem ser proporcionadas as condições mínimas de abrigoo que, só se concretizará com uma providência judicial que obrigue as rés a levarem mais asério a vida dos seus consumidores mutuários e pararem com a indiferença que insistem emmanter em relação às providências básicas de recuperação do imóvel a que estão, por força decontrato, obrigadas.

136.Em face dos entraves causados pela Caixa EconômicaFederal e pela SASSE – Companhia Geral de Seguros, nenhuma providência foi adotada,encontrando-se uma situação extremamente injusta e desumana no Conjunto ResidencialAriranhas, de abandono e insegurança, isto diante da possibilidade dos mutuários serematingidos por telhas que comumente se desprendem dos telhados.

137.Isto sem falar na iminência do desabamento das varandas,visto que, consoante restou comprovado, todas elas estão para ruir em decorrência de teremsido construídas à revelia do projeto original e das normas técnicas de construção, consoantese vê das conclusões constantes de todos os laudos periciais apresentados, em especial doscolacionados a seguir, verbis:

“LAUDO DE VISTORIA DO SEPTE

SOLICITAÇÃO DA VISITA:PROCESSO N.º 3089/96 HABITE-SE PARCIALINTERESSADO: CONJUNTO ARIRANHAS...MOTIVO DA VISITA:Desabamento das varandas do segundopavimento bloco 16 e de uma parte da paredede alvenaria...GERENALIDADES:Comparecemos ao local da vistoria noCondomínio Ariranha ... e constatamos odesabamento de uma das varandas do segundopavimento do bloco – 16. Foi solicitado deimediato ao Sr. Anderson Bonifácio(pedreiro que estava no local reconstruindoum trecho da parede de alvenaria...) aparalisação dos serviços e orientamos omesmo a proceder um escoramento em todas asoutras varandas que restaram, fazendo assimuma transmissão de carga das varandassuperiores até as varandas do pavimentotérreo que se encontram apoiadas aosolo ...” (Laudo datado de 22 de abril de1998).

“LAUDO DE VISTORIA DO SEPTE...MOTIVO DA VISITA:Periciar as condições de construção eacabamento dos blocos de apartamento do

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conjunto supracitado que se encontram emsituação de risco segundo os própriosmoradores.GENERALIDADES:Esclarecemos que tal situação trata-se deuma reincidência, uma vez que já estivemosno local em abril deste ano, para fazer aperícia do desabamento da varanda dosegundo pavimento do bloco 16, constatandoque todo o edifício apresenta problemasconstrutivos, deixando-o em condiçõesinabitáveis pela situação de riscoapresentada...Retornando ao local para uma nova vistoriapor solicitação dos moradores pelo motivode que as patologias manifestadas no bloco16 ao que tudo indica parecem sercongênitas para os demais blocos.A seguir passamos a descrever de acordo comas fotos anexas, os principais problemasdetectados no Conjunto ResidencialAriranha.FOTO N.º 01:O castelo de água apresenta deterioração noseu componente estrutural, percebidasatravés de armadura positiva do fundo dacaixa exposta e submetida as intempéries, oque com o tempo e alta umidade existente emManaus pode causar problemas de vazamentos.FOTO N.º 02:Na entrada principal do conjunto, existeuma torre utilizada para comunicações,localizada próximo ao muro limite doconjunto. Nossa preocupação no momento é oavanço da erosão que se processa no maciço,podendo vir a representar riscos seprovidências no sentido de conte-las nãoforem tomadas.FOTOS N.º 03, 04, E 05:Existe um progressivo destelhamento dealguns blocos, resultantes de ventanias,provavelmente por falhas na execução deamarração das telhas, oferecendo riscospara os moradores dos blocos e transeunteslocais. Tal manifestação influênciadiretamente na proteção dos blocos contraas ações do tempo. Percebe-se também a máqualidade do reboco lançado no revestimento

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externo dos blocos devido a desagregação daargamassa de acabamento, conseqüente talvezda má composição do traço de reboco.FOTOS N.º 06, 07, 08 e 09:Internamente os apartamentos apresentamproblemas caracterizados como mostra asfotos (anexo), onde se vê fissuras nosrebocos, ausência de mangueiras contraincêndio, falta de extintores e falha defuncionamento na rede de hidrantes. Asfotos n.º 09 e 12, mostram uma das falhasmais graves e que foi relatada no laudoanteriormente citado, motivado pelodesabamento de uma das varandas do B-16,fato que levou-nos a solicitar um laudo,emitido pelo calculista responsável pelaestrutura dos blocos, do Conjunto Ariranha.Tudo isso, nos leva a acreditar napossibilidade de novos incidentes ouacidentes, pela continuidade dodeslocamento (rotação) das placas embalanço (varandas) evidenciadas no localpelas fotos supracitadas.Assim, recomendamos de imediato oescoramento de todas as varandas através deum sistema de transferência de carga aosolo (o que já ocorre no Bl-16, foto N.º11), em todos os blocos do ConjuntoAriranha.FOTOS 10, 13, 14 e 15:Nas fotos supracitadas percebe-se uma sériede anomalias construtivas, constituídas portrincas, deslocamentos de alvenaria edeslocamento dos revestimentos dos tetos oque revela a precariedade que se encontramos blocos já habitados e que porconseguinte colocam em risco a vida de seususuários...”

138.Exigir-se que os mutuários desocupem os seusapartamentos, arcando sozinhos com os custos de aluguel e mudança que este ato acarreta,abalando, sem dúvida, o já comprometido orçamento familiar, ou que, sem condições reais decorrer do perigo, sujeitem-se, dia após dia a conviver entre ruínas, é recompensar o descaso eirresponsabilidade de todos os agentes envolvidos na construção do Conjunto Ariranhas.

139.O não reparo imediato dos imóveis em questão, com onecessários custeio de sua desocupação, Exa., comprometerá, sem dúvida, eventualprovimento favorável da presente Ação Civil Pública.

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c) Do pedido Liminar

140.Por tudo isto caracterizada está a utilidade da presente AçãoCivil Pública, e dado o caráter de urgência da situação, vê-se imprescindível a CONCESSÃODE MEDIDA LIMINAR, posto tratar-se de perigo de vida aos moradores dos blocos deapartamentos.

141.Assim sendo, em face da presença do fumus boni juris e dopatente periculum in mora, requer o MPF seja concedida MEDIDA LIMINARINAUDITA ALTERA PARS, para que sejam as rés obrigadas ao:

a) PAGAMENTO DO VALOR DE R$ 700,00(SETECENTOS REAIS) CORRESPONDENTESAO ALUGUEL DERIVADO DA DESOCUPAÇÃODE CADA IMÓVEL A SER RESTAURADOS, osquais deverão ser depositados mensalmente emconta específica aberta em nome de cada mutuárioou gaveteiro, moradores dos Blocos 16 a 25 doConjunto Residencial Ariranhas, em uma agênciada Caixa Econômica Federal, a partir da efetivadesocupação do imóvel, por cada mutuário,estendendo-se esse pagamento até a devolução doimóvel, plenamente restaurado;

b) EXECUÇÃO DAS OBRAS ESTRUTURAISnecessárias à recuperação de todos os blocos eAPARTAMENTOS DO CONJUNTORESIDENCIAL ARIRANHAS, devendo os réusapresentar a esse Juízo, antes do início das obras,prova da idoneidade técnica da Construtoracontratada, bem como Projeto de Engenharia eCronograma Financeiro da obra;

c) seja cominada a MULTA DE r$ 1.000,00 (hum milreais) aos réus, por cada dia de atraso no início dasobras de reparo susomencionadas e pagamento dealugueres, nos termos do art. 11 da Lei 7.347/85;

d) Do Pedido Definitivo

142.Ante o exposto requer o MPF:

a) Sejam os réus citados para apresentaremcontestação sob pena de revelia;

b) EXECUÇÃO DAS OBRAS ESTRUTURAISnecessárias à recuperação de todos os blocos eAPARTAMENTOS DO CONJUNTO

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RESIDENCIAL ARIRANHAS, devendo osréus apresentar a esse Juízo, antes do início dasobras, prova da idoneidade técnica daConstrutora contratada, bem como Projeto deEngenharia e Cronograma Financeiro da obra;

c) seja a presente ação civil pública julgadatotalmente procedente para obrigar os réus aopagamento, em conta específica, a cadamorador dos Blocos 16 a 25 do Conjuntoresidencial Ariranhas, de aluguel no valor deR$ 700,00 (setecentos reais), por todo períodonecessário para a restauração dos Blocos emquestão, bem como a determinação de imediatoreparo ao imóvel pela seguradora SASSE –Companhia Geral de Seguros, condenando-os,ainda, nas custas e despesas processuais;

6.2. DA AÇÃO CIVIL COLETIVA

a) Do fumus boni juris

143.Em relação à Ação Civil Coletiva, a plausibilidade dopedido reside no direito dos mutuários ao ressarcimento dos danos morais e materiais por elessofridos, encontrando guarida no art. 5.º, inciso X, da CF/88, que determina a indenizaçãodecorrentes da violação dos direitos personalíssimos da pessoa humana, bem como no art. 159do Código Civil Brasileiro c/c arts. 12 e 14 da Lei 8.078/90, que prevê a reparação de danoscausados aos consumidores.

144.Diante da vulnerabilidade do consumidor, a Lei 8.078/90,através art. 6.º, inciso VI, considera como direito básico do consumidor a reparação dos danosmorais e patrimoniais.

145.A responsabilidade dos danos sofridos pelos moradores doConjunto Residencial Ariranhas é atribuída aos réus, não se podendo negar as precáriascondições em que se encontram as unidades habitacionais daquele Conjunto.

146.É de se reconhecer que o dano material sofrido pelosmoradores se apresenta na medida em que estes pagaram por uma unidade habitacionalrepleta de vícios e até mesmo inacabada, resultando na desvalorização do imóvel, além deterem que arcar a seu próprio custo com despesas que jamais lhes poderiam ser atribuídas.

147.É irracional permitir que os moradores, além de pagar amensalidade do referido imóvel, tenham que arcar com as despesas oriundas dos vícios deconstrução, resultantes da péssima qualidade da obra.

148.Convém esclarecer que, a título de dano material, devem serressarcidos aos moradores do Conjunto Residencial Ariranhas R$ 2.248.249,00 (dois milhões,duzentos e quarenta e oito mil, duzentos e quarenta e nove reais), correspondentes àdepreciação do imóvel acrescida das despesas diretamente efetivadas pelos mutuários paratornar o mesmo habitável, que apesar do valor financiado ser de, aproximadamente, R$Acao Civil Publica - Ariranhas - MPF.doc - bpca 50

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30.000,00, hoje não se consegue avaliá-lo em R$ 20.850,00, devendo-se portanto multiplicaro valor resultante da desvalorização do imóvel por 200 unidades habitacionais, obtendo-seassim, aquele valor.

149.Ainda, evidencia-se o dano moral causado aos moradoresdo Conjunto residencial Ariranhas em face da privação psicológica que as condições deinabitabilidade dos imóveis lhes impôs por, aproximadamente, 5 anos.

150.Os vícios de construção constatados na área interna dosblocos, como por exemplo as infiltrações; o retorno de água do esgoto pelo ralo da cozinha; orisco de desabamento das varandas, acarretam sofrimento psíquico nos moradores daquelecondomínio.

151.Não apenas as falhas na área interna dos blocos, mastambém os vícios externos são capazes de atingir o íntimo da pessoa de forma negativa,devendo-se ressaltar o odor insuportável proveniente do sistema de esgoto inacabado, quecontamina e polui o meio ambiente.

152.Mister se faz quantificar o dano moral sofrido pelosmoradores do Conjunto Residencial Ariranhas, podendo ter por base o salário mínimo no país,de R$ 180,00 , cujo valor deve ser multiplicado pelos 200 moradores daquele Conjunto e por60 meses (5 anos que os moradores vem suportando as condições de inabitabilidade dosimóveis), obtendo-se um total de R$ 2.160.000,00 (dois milhões, cento e sessenta mil reais).

153.Portanto, o valor total de danos materiais e morais é de R$4.408.249,00 (quatro milhões, quatrocentos e oito mil, duzentos e quarenta e nove reais, dosquais R$ 2.248.249,00, devem ser ressarcidos a título de dano material e R$ 2.160.000,00correspondestes ao ressarcimento do dano moral sofrido pelos moradores daquele Conjunto.

b) Do periculum in mora

154.O perigo de demora de uma decisão favorável à reparaçãodos danos materiais e morais sofridos pelos mutuários do Conjunto Residencial Ariranhas estáconsubstanciado na precária situação material e psicológica, que se encontram os mutuárioshá aproximadamente 5 anos, tendo que a todo tempo realizar reparos nos seus imóveis.

155.Não se pode conceber que os moradores continuem arcandocom despesas de responsabilidade dos réus e que famílias sejam privadas de vida moradiadigna.

156.Essa situação caso se prolongue até a decisão definitiva dapresente ação, prejudicará, notoriamente, o sustento daquelas famílias.

c) Do Pedido Liminar

157.Diante dos pressupostos acima, revelando-se o caráter deverossimilhança e urgência da situação, sendo imprescindível a CONCESSÃO DE MEDIDALIMINAR.

158.Assim sendo, em face da presença do fumus boni juris e dopatente periculum in mora, requer o Ministério Público Federal seja concedida MEDIDALIMINAR INAUDITA ALTERA PARS, para que sejam as rés obrigadas ao:

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a) PAGAMENTO DO VALOR DE R$4.408.249,00 (QUATRO MILHÕES,QUATROCENTOS E OITO MIL,DUZENTOS E QUARENTA E NOVEREAIS), CORRESPONDENTES AORESSARCIMENTO DOS DANOS MORAISE MATERIAS SOFRIDOS PELOSMORADORES DOS BLOCOS 16 a 25 DOCONJUNTO RESIDENCIAL ARIRANHAS.

b) A publicação de EDITAL a fim de que osinteressados possam intervir no processocomo litisconsortes, sem prejuízo de ampladivulgação pelos meios de comunicação socialpor parte dos órgãos de defesa doconsumidor, conforme o art. 94 da Lei.8.078/90.

c) Do Pedido Definitivo

159. Ante o exposto, requer o Ministério Público Federal:

a) Sejam os réus citados para apresentaremcontestação sob pena de revelia;

b) seja a presente ação civil coletiva julgadatotalmente procedente no sentido de condenaros réus ao pagamento, de R$ 4.408.249,00(QUATRO MILHÕES, QUATROCENTOS EOITO MIL, DUZENTOS E QUARENTA ENOVE REAIS), correspondentes aoressarcimento do danos morais e materiaissofridos pelo moradores do dos Blocos 17 a 25do Conjunto Residencial Ariranhas,condenando-os, ainda, nas custas e despesasprocessuais;

160. Protesta-se provar o alegado por todas as provas emdireito admitidas.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.114.588,00 (cinco milhões, centoe quatorze mil, quinhentos e oitenta e oito reais) .

Manaus, 08 de maio de 2001.

Sérgio Lauria Ferreira

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Procurador da República

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